Direito Civil - Pablo Stolze

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1 LFG - Intensivo I

DIREITO CIVILProf. Pablo Stolze Gagliano www.novodireitocivil.com.br Personalidade Jurdica Conceito: personalidade jurdica a aptido genrica para se titularizar direitos e contrair obrigaes na ordem jurdica, ou seja, a qualidade para ser sujeito de direito. Pessoa Fsica ou Natural Em que momento a pessoa fsica adquire personalidade? Em um primeiro momento pode-se dizer que o momento est no art. 2 do CC que diz a personalidade civil da pessoa fsica adquirida a partir do nascimento com vida. Nascimento com vida traduz a idia de funcionamento do aparelho cardio-respiratrio (Conselho Nacional de Sade Resoluo 01/88). Obs: Afastando-se do sistema espanhol (art. 30 do Cdigo da Espanha), o direito brasileiro, luz da dignidade da pessoa humana, no exige para efeito de aquisio de personalidade forma humana e tempo mnimo de sobrevida. No caso da anencefalia existem outros aspectos mais profundos como a completa inviabilidade de vida e a dignidade da gestante. Em um primeiro plano o CC diz no art. 2 que a personalidade jurdica comea com o nascimento com vida, porm na segunda parte do mesmo dispositivo est contido mas a lei pe a salvo, desde a concepo, os direitos do nascituro. Teorias explicativas do nascituro Nascituro, com base na doutrina do professor Limongi Frana, o ente concebido, mas ainda no nascido. Obs: nascituro um embrio com vida intra-uterina. Nascituro tem personalidade jurdica? Existem duas correntes doutrinria tentando explicar a natureza jurdica do nascituro: 1) Teoria Natalista ( a tradicional no Brasil Eduardo Espnola, Vicente Ro, Slvio Venosa etc): sustenta que o nascituro no considerado pessoa, gozando de mera expectativa de direito, uma vez que a personalidade jurdica s adquirida a partir do nascimento com vida. Esta teoria muito usada por aqueles que defender o aborto.

2 2) Teoria Concepcionista (Teixeira de Freitas, Clvis Bevilqua, Silmara Chinelato etc): sustenta que o nascituro considerado pessoa, inclusive para efeitos patrimoniais, uma vez que a personalidade jurdica adquirida desde a concepo. Obs: A denominada Teoria da Personalidade Formal ou Condicional, referida por alguns autores como a professora Maria Helena Diniz, sustenta que o nascituro teria personalidade apenas para determinados efeitos de ordem no patrimonial, porquanto a plena aquisio de sua personalidade, inclusive para efeitos patrimoniais s ocorreria a partir do nascimento com vida. Questo especial de concurso: Qual foi a teoria adotada pelo Cdigo Civil Brasileiro? Segundo Clvis Bevilqua, em seu Cdigo Civil dos Estados Unidos do Brasil, edio histrica, editora Rio, 1975, pg. 178, o codificador aparentemente adota a teoria Natalista, por ser mais prtica (1 parte do art. 2), mas acaba por sofrer forte influncia da teoria concepcionista (2 parte do art. 2) ao reconhecer direitos ao nascituro. Que direitos efetivamente o nascituro tem? Ex: direito vida (inclusive proteo contra o aborto); direito proteo prnatal; direito de receber doao e herana; direito de lhe ser nomeado curador dos seus interesses (art. 877 e 878 do CPC); Obs: embora no seja to comum na casustica pode-se tambm imputar ao nascituro obrigao, a exemplo da dvida fiscal que acompanha o imvel que lhe doado. Nascituro tem direito aos alimentos? A jurisprudncia brasileira em geral, sempre foi resistente tese, havendo excees (Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul, Agravo de instrumento 70006429096). Recentemente, foi aprovada a lei dos alimentos gravdicos (Lei 11804/08) que reconheceu e regulou expressamente o direito aos alimentos do nascituro. Art. 6 - Convencido da existncia de indcios da paternidade, o juiz fixar alimentos gravdicos que perduraro at o nascimento da criana, sopesando as necessidades da parte autora e as possibilidade da parte r. Pargrafo nico - Aps o nascimento com vida, os alimentos gravdicos ficam convertidos em penso alimentcia em favor do menor at que uma das partes solicite a sua reviso. E se descobrir posteriormente que no era pai? Os alimentos so irrepetveis, portanto, no h como devolver, podendo apenas buscar o ressarcimento atravs da responsabilidade civil ou at mesmo um dano moral caso a me soubesse que ele no era o pai. O nascituro tem direito indenizao por dano moral? O STJ, a exemplo do recente julgado referente ao REsp 931556/RS, tem concedido indenizao para nascituro por danos morais.

3 O natimorto goza de tutela jurdica? O natimorto aquele que nasceu morto. O enunciado n 1 da primeira jornada de direito civil reconhece determinados direitos extrapatrimonias ao natimorto, em respeito ao princpio da dignidade.1 Art. 2: a proteo que o Cdigo defere ao nascituro alcana o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura.

Capacidade Teixeira de Freitas afirmava que a capacidade seria a medida da personalidade. A capacidade se desdobra em duas: - Capacidade de direito - Capacidade de fato Quando se soma a capacidade de direito com a capacidade de fato tem-se a capacidade civil plena. No se deve confundir capacidade com legitimidade. A falta de capacidade no pode ser confundida com o impedimento para a prtica de determinado ato. A falta de legitimidade uma ausncia de pertinncia subjetiva para a prtica de determinado ato, ou seja, podem-se ter pessoas capazes que no tem pertinncia subjetiva para determinado ato. Ex: dois irmos maiores e capazes no podem casar entre si. A capacidade de direito a capacidade genrica, ou seja, qualquer pessoa tem. No momento em que se adquire personalidade jurdica automaticamente se adquire capacidade de direito. Qual a diferena entre capacidade de direito e personalidade jurdica? Orlando Gomes diz que no queira visualizar uma diferena entre capacidade de direito e personalidade jurdica, pois nos dias de hoje so conceitos que se confundem. A capacidade de fato a aptido para pessoalmente praticar atos na vida civil. Esta capacidade de fato nem todo mundo tem. Faltando a capacidade de fato surge a incapacidade civil. A incapacidade civil pode ser absoluta ou relativa. Os absolutamente incapazes so representados e os relativamente incapazes so assistidos. Obs: no sistema protetivo do incapaz no se deve inserir o benefcio de restituio (restitutio in integrum). Tal benefcio consistiria na prerrogativa conferida ao incapaz de desfazer o ato praticado, ainda que formalmente vlido, caso lhe fosse prejudicial.Art. 3 So absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I os menores de dezesseis anos; (menores impberes) II os que, por enfermidade ou deficincia mental, no tiverem o necessrio discernimento para a prtica desses atos; III os que, mesmo por causa transitria, no puderem exprimir sua vontade.

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Obs: a despeito da incapacidade absoluta do menor abaixo dos 16 anos de idade, a sua vontade relevante, ainda que no vinculativa, no que tange situaes existenciais (enunciado 138 da terceira jornada de direito civil)A incapacidade absoluta por enfermidade ou deficincia mental deve ser aferida no bojo de um procedimento de interdio (art. 1177 e seguintes do CPC), nomeando ao incapaz interditado um curador. Toda ao de estado da pessoa deve ser conduzida pelo juiz de direito (estadual). Se o interditado incapaz vier a praticar um ato, ainda que em momento de lucidez, sem a participao de seu curador este ato nulo de pleno direito. O ato praticado pelo incapaz ainda no interditado, pode vir a ser impugnado a posteriori? Orlando Gomes, amparando-se no direito italiano, estabelece que o ato poder ser invalidado se concorrerem trs requisitos: - Demonstrao da incapacidade; - Prova do prejuzo; - M-f da outra parte. Slvio Rodrigues conclui que a m-f pode ser circunstancialmente demonstrada. O art. 503 do Cdigo da Frana refora a tese defensiva da invalidade do ato praticado pelo incapaz no interditado

Toda pessoa, que no seja doente metal, mas que no puderem exprimir sua vontade, seja por causa transitrio ou permanente absolutamente incapaz. Ex: aquele que sofreu um acidente de trnsito e est em como no hospital. Obs: o inciso III ao reconhecer a incapacidade absoluta da pessoa que, por causa transitria, esteja impedida de discernimento, implicitamente contemplou o surdo-mudo sem habilidade especial para manifestar vontade, o qual vtima de uma causa permanente privativa de discernimento. A pessoa que vtima de intoxicao fortuita pode alegar incapacidade absoluta com base no inciso III do art. 3. Obs: segundo Alvino Lima, em sua tese de ctedra Da Culpa ao Risco, a teoria da actio libera in causa tambm deve ser aplicada no direito civil: a pessoa que voluntariamente coloca-se em estado de incapacidade no se isenta de responsabilidade civil. A senilidade no causa de incapacidade civil.Art. 4 So incapazes, relativamente a certos atos, ou maneira de os exercer: I os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; (menores pberes) II os brios habituais, os viciados em txicos, e os que, por deficincia mental, tenham o discernimento reduzido; III os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV os prdigos. Pargrafo nico. A capacidade dos ndios ser regulada por legislao especial.

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A embriaguez, a toxicomania e deficincia mental podem tambm se tornar incapacidade absoluta quando privar do discernimento. O prdigo tambm pode ser interditado nomeando-lhe um curador. O curador do prdigo vai assisti-lo em atos de cunho patrimonial. O prdigo a pessoa que gasta imoderadamente o seu patrimnio, podendo reduzir-se misria. Questo de concurso: O que estatuto jurdico do patrimnio mnimo? Trata-se de uma tese desenvolvida pelo professor Luiz Edson Fachin, segundo a qual, em uma perspectiva constitucional de promoo da pessoa humana, as normas legais devem resguardar para cada pessoa um mnimo de patrimnio para que tenha vida digna. As normas do bem de famlia traduzem esta teoria, assim como a tutela dada ao prdigo. Obs: o Estatuto do ndio, Lei 6001/73, em seu art. 8, considera como regra geral a incapacidade absoluta do ndio que no revele conscincia do ato praticado. Efeitos da Reduo da Maioridade Civil - Efeito no campo previdencirio: a nota SAJ n 42/03 da Casa Civil da Presidncia da Repblica, assim como o Enunciado 03 da I Jornada de Direito Civil fixaram o entendimento de que no regime geral de benefcios da previdncia social o limite etrio de pagamento permanece aos 21 anos de idade, em virtude de norma especial. - Efeito da reduo no que tange o direito aos alimentos: desde o informativo 232, passando por diversos julgados ( exemplo do REsp 442502/SP), o STJ j firmou o entendimento segundo o qual atingindo o alimentando a maioridade civil no se cancela automaticamente a penso alimentcia. Reforando esse entendimento a smula 358 do STJ obriga a instalao do contraditrio antes da deciso exoneratria. O MP tem legitimidade para recorrer da deciso que exonera o alimentante da penso alimentcia? O STJ vem firmando o entendimento (REsp 982410/DF) no sentido de que o MP no tem legitimidade para recorrer contra deciso que extingue o dever de prestar alimentos.

6 Emancipao Regra geral, a menoridade cessa aos 18 anos completos (art. 5 do CC).Art. 5 A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada prtica de todos os atos da vida civil.

Segundo Washington de Barros Monteiro esta maioridade atingida no primeiro instante do dia em que se completa 18 anos. Emancipao traduz numa forma de antecipao da capacidade plena, podendo ser: voluntria, judicial e legal. Emancipao voluntria (art. 5, pargrafo nico, I, primeira parte): aquela concedida pelos pais, ou por um deles na falta do outro, em carter irrevogvel mediante instrumento pblico independentemente de homologao do juiz desde que o menor tenha 16 anos completos. O menor participa do ato emancipatrio, pois ir repercutir em sua esfera jurdica, porm ele no tem poderes para autorizar ou desautorizar os pais. Obs: forte parcela da doutrina na linha de julgados do prprio STF (RTJ 62/108, RT 494/92) sustenta que, na emancipao voluntria, persiste a responsabilidade civil dos pais pelo ato ilcito do menor. Emancipao judicial (art. 5, pargrafo nico, I, 2 parte): o menor emancipado pelo juiz, ouvido o tutor, desde que tenha 16 anos completos. Obs: o art. 91 da LRP (Lei 6015/73) estabelece que quando o juiz conceder a emancipao dever comunic-la de ofcio ao oficial de registro caso no conste dos autos prova de este registro ter sido feito em 8 dias. Emancipao legal (art. 5, pargrafo nico, II a V): - Pelo casamento: Homem e mulher podem casa a partir de 16 anos de idade, porm at completar 18 anos necessita da autorizao de seu representante legal ou juiz. O CC no art. 1520 estabelece duas hipteses em que possvel o casamento antes dos 16 anos, quais sejam: gravidez e para evitar cumprimento de pena criminal. Ainda que venha a se separar ou divorciar posteriormente a emancipao decorrente do casamento permanece. Seguindo a corrente que sustenta a retroatividade dos efeitos da sentena que invalida o casamento (Flvio Tartuce, Fernando Simo, Cristiano Chaves, Zeno Veloso) conclumos que a emancipao decorrente desaparece. - Pelo Exerccio de emprego pblico efetivo: um exemplo de que pode emancipar antes dos 18 anos na carreira militar. - Pela colao de grau em curso de ensino superior: - Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pelo exerccio da relao de emprego, desde que, o menor com dezesseis anos completos tenha economia prpria: o estabelecimento civil traduz o exerccio de uma atividade no empresarial (ex: um servio artstico ou cientfico); o estabelecimento comercial

7 traduz o exerccio de uma atividade empresarial (ex: compra e venda de verduras). O que se entende por economia prpria? O CC brasileiro integra um sistema jurdico aberto, permeado de clusulas gerais e conceitos vagos ou indeterminados. Segundo o professor Miguel Reale, luz do princpio da operabilidade, tais conceitos devero ser preenchidos observando as caractersticas do caso concreto (economia prpria, justa causa, risco so exemplos de conceitos vagos ou abertos). Extino da pessoa fsica ou natural O critrio que a comunidade cientfica mundial tem adotado a morte enceflica, como referencial mais seguro do momento da morte, inclusive para efeito de transplante (no Brasil, ver Resoluo 1480/97 do CFM). O CC no art. 6 estabelece que a morte marca o fim da pessoa natural.Art. 6 A existncia da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucesso definitiva.

Obs: a morte deve ser atestada por um profissional da medicina, podendo tambm ser declarada por duas testemunhas, na falta do especialista. O CC estabelece alm da morte real, duas hipteses de morte presumida: a) Decorrente da ausncia (art. 6, 2 parte) b) As situaes decorrentes do art. 7 Conceito de ausncia: a ausncia ocorre quando uma pessoa desaparece de seu domiclio sem deixar notcia ou representante que administre os seus bens (ver apostila no material de apoio) a matria disciplinada a partir do art. 22 do CC. Obs: a sentena de ausncia no registrada no livro de bito, mas sim em livro especial. No caso do art. 7 no h o procedimento de ausncia e sim o procedimento de justificao em que o juiz colhe a prova e por sentena declara o bito. Esta sentena ser registrada no livro de bito. Se aquele que teve a morte presumida voltar dever entrar com procedimento para reconhecer a inexistncia do ato que declarou o bito. Questo de concurso: O que comorincia? Comorincia traduz a situao jurdica de morte simultnea. A regra da comorincia, prevista no art. 8 do CC, somente deve ser aplicada quando no for possvel indicar a ordem cronolgica dos bitos. No podendo se indicar a ordem das mortes, presume-se que a situao de falecimento simultneo, abrindo-se cadeias sucessrias autnomas e distintas.

8Art. 8 Se dois ou mais indivduos falecerem na mesma ocasio, no se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-o simultaneamente mortos. Pessoa Jurdica

A pessoa jurdica nasce como decorrncia do fato associativo (ver sociologia jurdica Antnio Machado Neto). Conceito: a pessoa jurdica o grupo humano, criado na forma da lei, e dotado de personalidade jurdica prpria, para a realizao de fins comuns. Teorias explicativas da pessoa jurdica: a) Corrente negativista (Brinz, Planiol, Duguit): negava ser a pessoa jurdica sujeito de direito. No aceitava a tipologia. b) Corrente afirmativista: aceitava a teoria da pessoa jurdica, ou seja, reconhecia a pessoa jurdica como sujeito de direito. Varias teorias surgiram desta corrente, dentre elas: a. Teoria da Fico (Savigny): desenvolvida por Savigny a partir do pensamento de Windsheid sustentava que a pessoa jurdica seria um sujeito com existncia ideal, ou seja, fruto da tcnica jurdica. O grande erro desta teoria foi dar uma grande abstrativizao pessoa jurdica negando-lhe uma participao social. b. Teoria da Realidade Objetiva ou Organicista (Clvis Bevilqua): o contraponto da teoria da fico. Para esta teoria a pessoa jurdica no seria fruto da tcnica jurdica, mas sim um organismo social vivo. c. Teoria da Realidade Tcnica (Ferrara): esta teoria, aproveitando elementos das duas correntes anteriores, mais equilibrada, afirma que, posto a pessoa jurdica seja personificada pelo direito, tem atuao social, na condio de sujeito de direito. a teoria adotada pelo CC brasileiro. Personificao da pessoa jurdicaArt. 45. Comea a existncia legal das pessoas jurdicas de direito privado com a inscrio do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessrio, de autorizao ou aprovao do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alteraes por que passar o ato constitutivo. Pargrafo nico. Decai em trs anos o direito de anular a constituio das pessoas jurdicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicao de sua inscrio no registro.

O CC em seu art. 45 firma a natureza constitutiva do registro da pessoa jurdica, com eficcia ex nunc. Obs: regra geral, a personificao da pessoa jurdica decorre simplesmente do registro do seu ato constitutivo, mas, em algumas situaes, necessria uma autorizao especial de constituio dada pelo Poder Executivo. Ex: banco; operadora de plano de sade; seguradora.

9 As sociedades que carecem do registro do ato constitutivo no registro pblico so sociedades despersonificadas. O ato constitutivo da pessoa jurdica que ser levado a registro o estatuto ou o contrato social. Em regra, o registro ser feito na junta comercial ou no Cartrio de Registro de Pessoa Jurdica. Obs: algumas pessoas jurdicas tm registro em sistema especial, a exemplo da sociedade de advogados, que tem registro na OAB. O que se entende por ente despersonalizado? Para Maria Helena Diniz so entes com personalidades anmalas. Porm, a rigor esses entes no tm personalidade jurdica. So entes dotados de capacidade processual. Ex: esplio, condomnio, massa falida. Espcies de pessoa jurdica de direito privado O CC no art. 44 em sua redao originria dizia: So pessoas jurdicas de direito privado: I- Associaes, II- Sociedades e III- Fundaes Porm o art. 2031 dizia que essas pessoas jurdicas deveriam se adaptar ao CC. Com isso as organizaes Religiosas e os Partidos Polticos, que so espcies de associaes, se rebelaram e foram at o legislativo requerendo que houvesse modificao deste dispositivo. Portanto, o legislador deu nova redao ao art. 44 bem como ao art. 2031. O art. 44 do CC fora desdobrado, acrescentando-se as organizaes religiosas e os partidos polticos para permitir em seqncia a alterao do art. 2031 eximindo estas entidades de se adaptarem ao novo Cdigo Civil. O prazo de adaptao ao novo Cdigo Civil foi modificado vrias vezes findando em 11 de janeiro de 2007.Art. 44. So pessoas jurdicas de direito privado: I as associaes; II as sociedades; III as fundaes; IV as organizaes religiosas; V os partidos polticos. Art. 2.031. As associaes e fundaes, constitudas na forma das leis anteriores, bem como os empresrios, devero se adaptar s disposies deste Cdigo at 11 de janeiro de 2007. Pargrafo nico. O disposto neste artigo no se aplica s organizaes religiosas nem aos partidos polticos.

Pessoa Jurdica pode sofrer dano moral? Ainda vigora no Brasil a corrente que sustenta a tese segundo a qual a pessoa jurdica sofre dano moral (smula 227 do STJ e art. 52 do CC). O STJ tem admitido a reparao do dano moral pessoa jurdica, especialmente por violao sua imagem (REsp 752672/RS e REsp 777185/DF). Porm h uma

10 corrente minoritria que entende que no seria possvel o dano moral para a pessoa jurdica, pois este seria de cunho psicolgico. O enunciado 286 da IV jornada de direito civil, ainda que por via oblqua culminou por negar ou enfraquecer a tese vigente no Brasil defensiva do dano moral pessoa jurdica.286 Art. 52. Os direitos da personalidade so direitos inerentes e essenciais pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, no sendo as pessoas jurdicas titulares de tais direitos.

Obs: O STJ, conforme notcia de 17/10/08 (REsp 963387) afastou a incidncia de imposto de renda sobre a indenizao por dano moral. FUNDAES Conceito: A fundao de direito privado decorre da afetao de um patrimnio que se personifica visando atingir finalidade ideal (art. 62 do CC). Toda fundao tem finalidade ideal, ou seja, finalidade no econmica. A fundao constituda por escritura pblica ou testamento. Uma fundao pode perfeitamente gerar receita, mas isso no quer dizer que ela est gerando lucro a ser rateado entre seus administradores. Obs: as ONGs por tambm perseguirem finalidade ideal devem se constituir sob forma de fundao ou associao. Requisitos para se constituir a fundao de direito privado: a) Afetao de bens livres b) Constituio por escritura pblica ou testamento c) Elaborao do Estatuto da Fundao O estatuto da fundao pode ser elabora diretamente pelo seu instituidor ou, mediante delegao, por um terceiro. Subsidiariamente, nos termos do art. 65 do CC, a elaborao do estatuto poder ser feita pelo Ministrio Pblico. d) Aprovao do estatuto pelo MP quando a elaborao for feita pelo instituidor ou por terceiro delegado. Elaborado o estatuto pelo prprio MP, o art. 1202 do CPC submete-o aprovao do juiz. e) Registro da fundao no Cartrio de Registro de Pessoa Jurdica O MP, nos termos do art. 66 tem a precpua funo fiscalizatria das fundaes. Se a fundao atua em mais de um Estado os MPs destes estados, em parceria, tero a incumbncia de fiscaliz-la. Caso a fundao funcione do Distrito Federal ou em territrio a incumbncia para fiscaliz-la ser do Ministrio Pblico do Distrito Federal e Territrios e no do Ministrio Pblico Federal conforme determinado pelo art. 66, 1.

11 A ADIN 2794, j julgada procedente, reconheceu a inconstitucionalidade do 1 do art. 66, uma vez que a atribuio fiscalizatria das fundaes do Distrito Federal no cabe, em primeiro plano, ao MPF e sim ao prprio MP do Distrito Federal. Ateno: Deve-se falar que o instituidor fez uma dotao do patrimnio para a criao da fundao, no devendo utilizar-se da expresso doao, pois nesta presume-se que a Fundao j estaria constituda. Alterao do Estatuto da FundaoArt. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundao mister que a reforma: I seja deliberada por dois teros dos competentes para gerir e representar a fundao; II no contrarie ou desvirtue o fim desta; III seja aprovada pelo rgo do Ministrio Pblico, e, caso este a denegue, poder o juiz supri-la, a requerimento do interessado. Art. 68. Quando a alterao no houver sido aprovada por votao unnime, os administradores da fundao, ao submeterem o estatuto ao rgo do Ministrio Pblico, requerero que se d cincia minoria vencida para impugn-la, se quiser, em dez dias.

A minoria vencida, nos termos do art. 68 do CC, tem o direito potestativo de impugnar a alterao do estatuto no prazo decadencial de 10 dias.Art. 69. Tornando-se ilcita, impossvel ou intil a finalidade a que visa a fundao, ou vencido o prazo de sua existncia, o rgo do Ministrio Pblico, ou qualquer interessado, lhe promover a extino, incorporando-se o seu patrimnio, salvo disposio em contrrio no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundao, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante.

Salvo disposio em contrrio, o patrimnio da fundao incorporado a outra fundao, designada pelo juiz, de fim igual ou semelhante. SOCIEDADES Conceito: A sociedade, espcie de corporao, dotada de personalidade jurdica prpria e instituda por meio de contrato social, visa a proveito econmico e partilha de lucro. Toda e qualquer sociedade visa o proveito econmico e so constitudas por contrato social (art 981 do CC). Obs: Marido e mulher podem constituir sociedade? O CC, no art. 977, restringe esta autonomia privada, sob o fundamento de evitar fraude ao regime de bens. O parecer jurdico n 125/03, bem como o enunciado 204 da III Jornada, afirmam que a proibio prevista no art. 977 do CC s se aplica a sociedades constitudas aps a entrada em vigor do Novo Cdigo Civil.

12Enunciado 204 Art. 977: A proibio de sociedade entre pessoas casadas sob o regime da comunho universal ou da separao obrigatria s atinge as sociedades constitudas aps a vigncia do Cdigo Civil de 2002.

Espcies de Sociedades: Antes do CC/2002 havia dois tipos de sociedade: sociedade civil e sociedade Mercantil ou de Comrcio. Essa diviso derivava da Teoria dos Atos de Comrcio que dizia que eram sociedade mercantil aquelas que praticavam atos de comrcio e sociedade civil aquelas que no praticavam atos de comrcio. Entretanto, o conceito de comrcio evoluiu para empresas e hoje adota-se a teoria de Empresa e, a luz do direito positivo brasileiro, no se fala mais em sociedade civil e mercantil e sim Sociedade Simples e Sociedade Empresria. Ateno: deve-se dizer que so tipos de sociedade a Sociedade Simples e a Sociedade Empresria. No se deve utilizar a expresso Sociedade Empresarial para designar um dos tipos de sociedade. Uma sociedade para ser empresria deve reunir dois requisitos. Um requisito material e um requisito formal. O requisito material que esta sociedade deve desempenhar uma atividade econmica organizada (art. 966) e o requisito formal que o registro dos atos constitutivos desta sociedade seja feito na Junta Comercial. A sociedade simples se chega por excluso, ou seja, a sociedade que no rene esses dois requisitos ser considerada sociedade simples. Sociedades: a) Sociedade Simples b) Sociedade Empresria a. Requisito Material: Desempenhar atividade econmica organizada b. Requisito Formal: ter seu ato constitutivo registrado na Junta Comercial A sociedade empresria, capitalista e impessoal por excelncia, submetese legislao falimentar, e se notabiliza pelo fato de os seus scios atuarem como meros articuladores de fatores de produo (capital, trabalho, tecnologia e matria-prima), sendo obrigatrio o seu registro na Junta Comercial. J as sociedades simples, pessoais por excelncia, tem o seu registro no Cartrio de Registro das Pessoas Jurdicas e notabiliza-se pelo fato de a sua atividade ser prestada ou supervisionada direta e pessoalmente pelo prprio scio. Exemplo de sociedade empresria: revendedora de veculos, banco. Exemplo de sociedade simples: sociedade de advogadosArt. 982. Salvo as excees expressas, considera-se empresria a sociedade que tem por objeto o exerccio de atividade prpria de empresrio sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. Pargrafo nico. Independentemente de seu objeto, considera-se empresria a sociedade por aes; e, simples, a cooperativa.

Obs: a legislao especfica da cooperativa (Lei 5764/71, lei 7231/84), bem como o enunciado 69 da I JDC afirmam que a cooperativa continua sendo registrada na Junta Comercial. Entretanto, uma segunda corrente doutrinria (Julieta

13 Lunz, Paulo Rego, Maria Helena Diniz) sustenta que por ser simples o registro da cooperativa no Cartrio de Registro das Pessoas Jurdicas. ASSOCIAO Conceito: As associaes so entidades de direito privado, formadas pela unio de indivduos, nos termos do art. 53 do CC, visando a finalidade no econmica. A associao formada pela unio de indivduos, diferentemente das fundaes. A associao, nos termos do art. 54 do CC, o ato constitutivo de uma associao o seu estatuto que registrado no Cartrio de Registro das Pessoas Jurdicas. O rgo mais importante de uma associao a Assemblia Geral, cuja as atribuies esto no art. 59 do CC.Art. 59. Compete privativamente assemblia geral: I destituir os administradores; II alterar o estatuto; III e IV Suprimidos. Lei n 11.127, de 28-6-2005. Pargrafo nico. Para as deliberaes a que se referem os incisos I e II deste artigo exigido deliberao da assemblia especialmente convocada para esse fim, cujo quorum ser o estabelecido no estatuto, bem como os critrios de eleio dos administradores.

Em uma associao pode ter categorias diferentes de associados, porm dentro de cada categoria no pode haver discriminao entre os associados.Art. 57. A excluso do associado s admissvel havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto.

Justa causa um conceito aberto (valorativo) em que o juiz ir preencher no caso concreto. A associao no se confunde com o condomnio. Portanto, no seria possvel expulsar o condmino, pois se assim o fizesse estaria realizando uma desapropriao privada. Porm, quando o condmino tem comportamento antisocial pode ser aplicado a ele multa. Extino da Pessoa Jurdica Para extinguir uma pessoa jurdica necessrio satisfazer o passivo da pessoa jurdica, para somente depois cancelar o registro da pessoa jurdica. Pode ocorrer de trs formas: a) Convencional: d-se quando os scios estipulam desfazer a pessoa jurdica mediante distrato.

14 b) Administrativa: quando resulta da cassao da autorizao de constituio e funcionamento de determinadas pessoas jurdicas. Ex: quando o Banco Central faz uma interveno em um Banco. c) Judicial: opera-se por meio de processo. Ex: o procedimento de falncia culmina em uma dissoluo judicial. Obs: O procedimento de liquidao de sociedades no sujeitas falncia regulado nos termos do art. 1218 do CPC, pelos art. 655 a 674 do CPC de 1939. Desconsiderao da Pessoa Jurdica (disregard doctrine) A doutrina da desconsiderao da Pessoa Jurdica nasce na Inglaterra no caso Salomon x Salomon Co. No Brasil o primeiro autor a cuidar da matria foi Rubens Requio. 1) Conceito: A doutrina da desconsiderao da Pessoa Jurdica pretende o afastamento temporrio da sua personalidade, para permitir que os credores possam satisfazer os seus direitos no patrimnio pessoal do scio ou administrador que cometeu o ato abusivo. A desconsiderao da pessoa jurdica pode ser aplicada at mesmo nas associaes, fundaes e entidades filantrpicas e no apenas nas sociedades empresrias. Despersonificao da Pessoa Jurdica mais severa que a desconsiderao da pessoa jurdica, pois pretende o aniquilamento da pessoa jurdica mediante o cancelamento do seu registro. Ex: as torcidas organizadas que eram associaes e tiveram o seu registro cancelado. 2) Direito Positivo Art. 28 do CDC Art. 50 do CCArt. 28. O juiz poder desconsiderar a personalidade jurdica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infrao da lei, fato ou ato ilcito ou violao dos estatutos ou contrato social. A desconsiderao tambm ser efetivada quando houver falncia, estado de insolvncia, encerramento ou inatividade da pessoa jurdica provocados por m administrao. 1 VETADO. 2 As sociedades integrantes dos grupos societrios e as sociedades controladas, so subsidiariamente responsveis pelas obrigaes decorrentes deste Cdigo. 3 As sociedades consorciadas so solidariamente responsveis pelas obrigaes decorrentes deste Cdigo. 4 As sociedades coligadas s respondero por culpa.

15 5 Tambm poder ser desconsiderada a pessoa jurdica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstculo ao ressarcimento de prejuzos causados aos consumidores. Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurdica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confuso patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministrio Pblico quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relaes de obrigaes sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou scios da pessoa jurdica.

Obs: o que se entende por Teoria Ultra Vires Societatis? Esta doutrina no pode ser confundida com a Teoria da Desconsiderao da Pessoa Jurdica. Prevista no art. 1015 do CC, a Teoria ultra vires sustenta ser invlido e ineficaz o ato praticado pelo scio que extrapole os limites do contrato social, no vinculando por conseqncia a referida pessoa jurdica. Portanto, a Teoria ultra vires societatis uma forma de proteo da pessoa jurdica, pois se o scio, por exemplo, realizar um contrato extrapolando os limites do contrato social a responsabilidade ser pessoal do scio, no vinculando a pessoa jurdica. Regra geral, segunda a doutrina brasileira (Edimar Andrade, Gustavo Tepedino), a desconsiderao matria sob reserva de jurisdio, nos termos do art. 50 do CC, mas na excepcional situao de fraude grave comprovada a desconsiderao pode se dar de ofcio pela Administrao Pblica (RMS 15166/BA) 3) Requisitos da Desconsiderao da Pessoa Jurdica a. Descumprimento de obrigao b. Abuso caracterizado ou pelo desvio de finalidade ou pela confuso patrimonial. O art. 50 do CC, na linha de pensamento do prof. Fbio Konder Comparato, seguindo uma linha objetiva, ao cuidar da teoria da desconsiderao no exigiu que o credor provasse o dolo especfico do scio ou administrador que cometeu o ato abusivo. Obs: exemplo grave de abuso em que h confuso patrimonial opera-se quando uma pessoa jurdica atua por meio de outra visando a se eximir de responsabilidade. Neste caso, poder o juiz desconsiderar a primeira empresa (empresa podre) e atingir indiretamente a que est por trs. Questo de concurso: Qual a diferena entre Teoria Maior e Teoria Menor da Desconsiderao da Pessoa Jurdica? A Teoria Maior a adotada pelo CC, exigindo alm do descumprimento da obrigao ou insolvncia, requisitos especficos caracterizadores do abuso; j na Teoria Menor, mais fcil de ser aplicada, como no direito do consumidor e ambiental no se exigem os requisitos caracterizadores do ato abusivo, bastando o credor demonstrar que a obrigao foi descumprida (neste caso a nica sada

16 pode ser atingir o scio ou administrador que est por trs). (Ver REsp 279273/SP) Nos termos do enunciado n 7 da I JDC, seguindo a vereda dos projetos de lei 3401/08 e 4298/08, a desconsiderao, a ser formulada em requerimento especfico, respeitando o nexo de causalidade, dever atingir o patrimnio do scio ou administrador que cometeu o ato abusivo ou dele se beneficiou. Aula 04 4) Questes especiais firme a jurisprudncia no STJ no sentido de que a desconsiderao possvel no curso da execuo (REsp 920602/DF). O que desconsiderao inversa? Na desconsiderao inversa, o juiz no afasta a pessoa jurdica, pelo contrrio: verificando que o scio se valeu da pessoa jurdica para ocultar bens, atinge o patrimnio desta para alcanar o agente causador do dano. Sua aplicao se faz sentir, em especial, no Direito de Famlia. O enunciado 283 da IV JDC firmou esse entendimento.283 Art. 50. cabvel a desconsiderao da personalidade jurdica denominada inversa para alcanar bens de scio que se valeu da pessoa jurdica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuzo a terceiros.

Obs: Smulas novas do STJ Smula 369: No contrato de arrendamento mercantil (leasing) ainda que haja clusula resolutiva expressa, necessria a notificao prvia do arrendatrio para constitu-lo em mora. Smula 370: Caracteriza dano moral a apresentao antecipada de cheque prdatado

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DOMICLIO Domus = casa Para se chegar a noo de domiclio dever primeiramente passar pela noo de residncia e inicialmente pela noo de morada. Morada Residncia Domiclio Morada (estadia): o lugar em que a pessoa fsica se estabelece temporariamente. Residncia: o lugar em que a pessoa fsica se estabelece habitualmente. A residncia pressupe mais estabilidade do que a morada. Domiclio: nos termos do art. 70 do CC, o lugar em que fixa a residncia com nimo definitivo (animys manendi) transformando-o em centro de sua vida jurdica e social. Obs: na vereda do art. 83 do Cdigo de Portugal, o art. 72 do CC consagrou o domiclio profissional: Trata-se de uma forma especial de domiclio restrita a aspectos da relao profissional. Portanto, o domiclio profissional somente interessa se estiver discutindo na relao processual aspectos da relao profissional, caso contrrio dever utilizar-se da regra do domiclio natural. Mudana de DomiclioArt. 74. Muda-se o domiclio, transferindo a residncia, com a inteno manifesta de o mudar. Pargrafo nico. A prova da inteno resultar do que declarar a pessoa s municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declaraes no fizer, da prpria mudana, com as circunstncias que a acompanharem.

O que se entende por domiclio aparente ou ocasional? uma aplicao da teoria da aparncia, uma fico jurdica. Aplica-se o domiclio aparente para pessoas que no tenha domiclio certo, a exemplo dos profissionais do circo, considerando-as domiciliadas no lugar onde forem encontradas.Art. 73. Ter-se- por domiclio da pessoa natural, que no tenha residncia habitual, o lugar onde for encontrada.

18 Domiclio da Pessoa Jurdica Em regra, o domiclio civil da pessoa jurdica de direito privado a sua sede, indicada em seu estatuto, contrato social ou ato constitutivo equivalente.Art. 75. Quanto s pessoas jurdicas, o domiclio : I da Unio, o Distrito Federal; II dos Estados e Territrios, as respectivas capitais; III do Municpio, o lugar onde funcione a administrao municipal; IV das demais pessoas jurdicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administraes, ou onde elegerem domiclio especial no seu estatuto ou atos constitutivos. 1 Tendo a pessoa jurdica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles ser considerado domiclio para os atos nele praticados. 2 Se a administrao, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haverse- por domiclio da pessoa jurdica, no tocante s obrigaes contradas por cada uma das suas agncias, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.

Classificao do domiclio a) Domiclio Voluntrio: o comum, fixado por simples manifestao de vontade. Obs: Qual a natureza jurdica do ato de fixao do domiclio voluntrio? Trata-se de ato jurdico em sentido estrito. b) Domiclio de eleio: aquele estipulado pelas prprias partes no contrato (art. 78 do CC e art. 111 do CPC). A autonomia privada no pode traduzir expresso de autoridade econmica. Com isso, o exerccio da autonomia negocial e da livre iniciativa suporta parmetros constitucionais de contenso, especialmente em decorrncia da funo social e da boa f objetiva. Por isso, existe forte entendimento no sentido de ser nula a clusula de eleio que prejudique o aderente, especialmente o consumidor, podendo o juiz declinar de ofcio da sua competncia (art. 112 do CPC). c) Domiclio legal ou necessrio: decorre de mandamento da lei, em ateno condio especial de determinadas pessoas.Art. 76. Tm domiclio necessrio o incapaz, o servidor pblico, o militar, o martimo e o preso. Pargrafo nico. O domiclio do incapaz o do seu representante ou assistente; o do servidor pblico, o lugar em que exercer permanentemente suas funes; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do martimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentena.

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Martimo o marinheiro da marinha mercante privada.Art. 77. O agente diplomtico do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, no pas, o seu domiclio, poder ser demandado no Distrito Federal ou no ltimo ponto do territrio brasileiro onde o teve.

BENS JURDICOS BEM DE FAMLIA 1) Histrico O referencial histrico mais importante do bem de famlia foi o instituto texano do homestead act de 1839. 2) Espcies de Bem de famlia a. Bem de famlia voluntrio (art. 1711 e seguintes do CC): institudo por ato de vontade do casal ou de terceiro e registrado no cartrio de imveis (art. 167, I, 1 da LRP 6015/73). Exige uma atuao de vontade e um registro. O bem de famlia voluntrio produz dois efeitos: i. Impenhorabilidade: registrado o bem de famlia voluntrio ele se torna impenhorvel por dvidas futuras, com as ressalvas do art. 1715 do CC ii. Inalienabilidade (art. 1717 do CC) Nos termos dos arts. 1711 e 1712, no novo cdigo civil, o bem de famlia voluntrio tem duas caractersticas especiais: i. No poder ultrapassar o teto de 1/3 do patrimnio lquido dos instituidores. ii. Poder abranger valores mobilirios (inclusive rendas) Obs: situao diversa pode ocorrer: por necessidade econmica, o casal poder ser compelido a alugar o seu nico imvel residencial pergunta-se: Neste caso a renda proveniente do aluguel impenhorvel pelas regras do bem de famlia? O STJ j pacificou o entendimento no sentido de ser tambm impenhorvel a renda produzida pelo nico imvel residencial locado a terceiros (REsp 439920/SP AgRg no REsp 975858/SP).

20 Administrao do bem de famlia voluntrio: art. 1720 Extino do bem de famlia voluntrio: art. 1722 b. Bem de famlia legal (Lei 8009/90) A smula 205 do STJ, resguardando o mbito existencial mnimo da pessoa do devedor, admite a aplicao da lei 8009/90 para penhoras realizadas antes da sua vigncia.205. A Lei no 8.009/90 aplica-se penhora realizada antes de sua vigncia.

A grande vantagem da lei 8009/90 foi consagrar uma impenhorabilidade legal independentemente da constituio formal e do registro do bem de famlia.

Lei 8009/90 (inteira) Art. 1 O imvel residencial prprio do casal, ou da entidade familiar, impenhorvel e no responder por qualquer tipo de dvida civil, comercial, fiscal, previdenciria ou de outra natureza, contrada pelos cnjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietrios e nele residam, salvo nas hipteses previstas nesta Lei. Pargrafo nico. A impenhorabilidade compreende o imvel sobre o qual se assentam a construo, as plantaes, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou mveis que guarnecem a casa, desde que quitados. Art. 2 Excluem-se da impenhorabilidade os veculos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos. Pargrafo nico. No caso de imvel locado, a impenhorabilidade aplicase aos bens mveis quitados que guarneam a residncia e que sejam de propriedade do locatrio, observado o disposto neste artigo. Art. 3 A impenhorabilidade oponvel em qualquer processo de execuo civil, fiscal, previdenciria, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: I em razo dos crditos de trabalhadores da prpria residncia e das respectivas contribuies previdencirias; II pelo titular do crdito decorrente do financiamento destinado construo ou aquisio do imvel, no limite dos crditos e acrscimos constitudos em funo do respectivo contrato; III pelo credor de penso alimentcia; IV para cobrana de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuies devidas em funo do imvel familiar; V para execuo de hipoteca sobre o imvel, oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar; VI por ter sido adquirido com produto de crime ou para execuo de sentena penal condenatria a ressarcimento, indenizao ou perdimento de bens; VII por obrigao decorrente de fiana concedida em contrato de locao.

21Art. 4 No se beneficiar do disposto nesta Lei aquele que, sabendo-se insolvente, adquire de m-f imvel mais valioso para transferir a residncia familiar, desfazendo-se ou no da moradia antiga. 1 Neste caso poder o juiz, na respectiva ao do credor, transferir a impenhorabilidade para a moradia familiar anterior, ou anular-lhe a venda, liberando a mais valiosa para execuo ou concurso, conforme a hiptese. 2 Quando a residncia familiar constituir-se em imvel rural, a impenhorabilidade restringir-se- sede de moradia, com os respectivos bens mveis, e, nos casos do artigo 5, inciso XXVI, da Constituio, rea limitada como pequena propriedade rural. Art. 5 Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta Lei, considera-se residncia um nico imvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente. Pargrafo nico. Na hiptese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vrios imveis utilizados como residncia, a impenhorabilidade recair sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no registro de imveis e na forma do artigo 70 do Cdigo Civil.

Obs: o STJ, em mais de uma oportunidade (REsp 207693/SC, REsp 510643/DF, REsp 515122/RS), bem como no noticirio de 15/05/2007, tem admitido o desmembramento do imvel para efeito de penhora. Ex: desmembrar o imvel para penhorar a piscina e churrasqueira.

Quais so os bens mveis protegidos pela lei 8009/90? Exemplos, na jurisprudncia brasileira e doutrina, de bens mveis protegidos pela lei 8009/90: Freezer, mquina de lavar, mquina de secar, computador, televiso, ar condicionado. No REsp 218882/SP o STJ entendeu que a proteo se estende a instrumento musical (teclado). Vaga de garagem protegida pela lei 8009/90? O STJ j consolidou que vaga de garagem, com matrcula e registro prprios penhorvel (Ag Rg no Ag 1058070). O art. 5 da lei 8009/90 estabelece que caso o casal ou a entidade familiar seja possuidora de mais de um imvel residencial, a proteo automtica do bem de famlia legal recair no de menor valor, salvo se outro imvel houver sido inscrito como bem de famlia voluntrio. 3) Excees impenhorabilidade do bem de famlia legal Do ponto de vista doutrinrio, o professor entende que essas excees podem ser aplicadas ao bem de famlia voluntrio, pois onde h a mesma razo vigora o mesmo direito.

22Art. 3 A impenhorabilidade oponvel em qualquer processo de execuo civil, fiscal, previdenciria, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: I em razo dos crditos de trabalhadores da prpria residncia e das respectivas contribuies previdencirias; II pelo titular do crdito decorrente do financiamento destinado construo ou aquisio do imvel, no limite dos crditos e acrscimos constitudos em funo do respectivo contrato; III pelo credor de penso alimentcia; IV para cobrana de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuies devidas em funo do imvel familiar; V para execuo de hipoteca sobre o imvel, oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar; VI por ter sido adquirido com produto de crime ou para execuo de sentena penal condenatria a ressarcimento, indenizao ou perdimento de bens; VII por obrigao decorrente de fiana concedida em contrato de locao.

Obs: ficou assentado no REsp 644733/SC, no que tange interpretao do inciso I do art. 3, que trabalhadores ou empregados eventuais, como pedreiro, eletricista ou pintor, no esto abrangidos pela exceo legal. Obs: o STF j firmou entendimento, seguido pelo STJ, no sentido de que a cobrana de taxa de condomnio resulta tambm na penhora do imvel (RE 439003/SP). Obs: O STJ, por outro lado, como se l no Ag Rg no REsp 813546/DF, tem entendido que a simples indicao do bem penhora no implica renncia ao benefcio da lei 8009/90. Obs: O STF, por seu plenrio, j firmou ser constitucional a penhora do imvel residencial do fiador na locao (RE 352940-4/SP). Obs: a smula 364 do STJ firmou entendimento no sentido de que a proteo do bem de famlia alcana inclusive devedores solteiros, separados e vivos. BENS JURDICOS PARTE GERAL Com base na doutrina de Orlando Gomes, bem jurdico toda utilidade fsica ou ideal objeto de um direito subjetivo. Bem e coisa Segundo Maria Helena Diniz, acompanhada por Silvio Venoza, a noo de coisa mais abrangente do que a de bem. Orlando Gomes afirma o contrrio: bem gnero e coisa espcie. Washington de Barros Monteiro por sua vez refere que pode haver sinonmia.

23 Na linha do direito alemo, conforme 90 do BGB, a noo de coisa restringe-se a objetos corpreos. Conclui-se ento: a noo de bem jurdico genrica, abrangendo utilidades materiais (coisas), bem como utilidades ideais (a exemplo da honra ou da prpria vida). O que se entende por patrimnio jurdico? Para a doutrina clssica, patrimnio a representao econmica da pessoa, no entanto mais adequado se dizer, quanto sua natureza jurdica, que se trata de uma universalidade de direitos e obrigaes. Autores modernos, a exemplo de Carlos Bitar, Wilson Melo da Silva, Rodolfo Pamplona Filho, afirma que, para alm de mera representao econmica da pessoa, o conjunto de direitos da personalidade traduz o que se denomina de patrimnio moral. Forte doutrina no Brasil (Clvis Bevilaqua, Caio Mrio) afirma que cada pessoa titular de um nico patrimnio ainda que os bens derivem de causas diversas. Classificao dos Bens Jurdicos BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS Bens imveis so aqueles que no podem ser transportados de um lugar para outro sem alterao de sua substncia (um terreno). Bens mveis so os passveis de deslocamento, sem quebra ou fratura (um computador, v.g.). Os bens suscetveis de movimento prprio, enquadrveis na noo de mveis, so chamados de semoventes (um cachorro, v.g.). No Cdigo Civil: Art. 79. So bens imveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente. Bem Imvel por fora de lei: Art. 80. Consideram-se imveis para os efeitos legais: I os direitos reais sobre imveis e as aes que os asseguram; II o direito sucesso aberta. O direito herana nos termos do inciso II do art. 80 tem natureza imobiliria, isto explica a exigncia legal da escritura pblica para cesso de direito hereditrio (art. 1793), bem como o fato de respeitvel doutrina (Francisco Cahali) sustentar a exigncia de outorga uxria na cesso, nos termos do art. 1647. OBS.: Importantes efeitos derivam da natureza imobiliria do direito sucesso aberta, a exemplo da necessidade, apontada por parcela respeitvel da doutrina, de se exigir a outorga uxria do cnjuge do renunciante, no bojo do inventrio, por se considerar que a renncia, no caso, opera-se de forma semelhante alienao de um imvel, exigindo a vnia conjugal para aqueles que no casaram no regime da separao absoluta de bens (art. 1647). Sobre o tema, tivemos a oportunidade de escrever:

24 Outro aspecto a considerar que respeitvel parcela da doutrina sustenta a necessidade do consentimento do outro cnjuge do renunciante. Nesse sentido, FRANCISCO CAHALI preleciona que: Tratando a sucesso aberta como imvel (CC-16, art. 44, III) a renncia herana depende do consentimento do cnjuge, independentemente do regime de bens adotado (CC-16, arts. 235, 242, I e II). Considera-se que a ausncia do consentimento torna o ato anulvel, uma vez passvel de ratificao (RT675/102). Embora se possa imaginar que essa autorizao do cnjuge necessria para todo tipo de renncia inclusive a abdicativa, em que o herdeiro se despoja de seu quinho em benefcio de todo o monte partvel, indistintamente , entendemos que tal formalidade s necessria em se tratando da renncia translativa, analisada acima, hiptese em que o herdeiro renuncia em favor de determinada pessoa, praticando, com o seu comportamento, verdadeiro ato de cesso de direitos. E tanto assim que, como dissemos, nesta ltima hiptese, incidiro dois tributos distintos: o imposto de transmisso mortis causa (em face da transferncia dos direitos do falecido para o herdeiro/cedente) e o imposto de transmisso inter vivos (em face da transferncia dos direitos do herdeiro/cedente para outro herdeiro ou terceiro/cessionrio). Deve, pois, nesse particular, estar o juiz atento, para evitar sonegao tributria. Cumpre registrar ainda haver entendimento no sentido de no ser exigvel a autorizao do outro cnjuge para a renncia de direitos hereditrios. a posio de MARIA HELENA DINIZ, para quem, a pessoa casada pode aceitar ou renunciar herana ou legado independentemente de prvio consentimento do cnjuge, apesar do direito sucesso aberta ser considerado imvel para efeitos legais, ante a redao dada ao art. 242 do Cdigo Civil pela Lei n. 4.121/62 (RT, 605:38, 538:92, 524:207). Entretanto, considerando que o direito sucesso aberta tratado como sendo de natureza imobiliria (art. 44, III), foroso convir assistir razo a FRANCISCO CAHALI, quando demonstra a necessidade da outorga. Posto isso, voltemos anlise do Cdigo Civil: Bem Imvel por fora de lei: Art. 81. No perdem o carter de imveis: I as edificaes que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local; II os materiais provisoriamente separados de um prdio, para nele se reempregarem. Questo de concurso: Os bens imveis por acesso intelectual continuam em vigor? Ex: escada de incndio de um prdio. Existe profunda polmica a este respeito. O enunciado 11 sustenta que esta classificao no existe mais. Maria Helena Diniz e Flvio Tartuce entendem que permanece.

25 Art. 82. So mveis os bens suscetveis de movimento prprio, ou de remoo por fora alheia, sem alterao da substncia ou da destinao econmicosocial. Bem Move por fora de lei: Art. 83. Consideram-se mveis para os efeitos legais: I as energias que tenham valor econmico; II os direitos reais sobre objetos mveis e as aes correspondentes; III os direitos pessoais de carter patrimonial e respectivas aes. Os navios e aeronaves so bens mveis especiais, uma vez que, por exceo, admitem hipoteca e tem registro peculiar. Art. 84. Os materiais destinados a alguma construo, enquanto no forem empregados, conservam sua qualidade de mveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolio de algum prdio. O CDC, adotando peculiar classificao, subdivide os bens, quanto ao direito potestativo de reclamar por vcio de qualidade (art. 26), subdivide os bens em durveis e no durveis. Bens fungveis so aqueles que podem ser substitudos por outros da mesma espcie, qualidade e quantidade (dinheiro por ex.). Bens infungveis por sua vez, so aqueles de natureza insubstituvel. Exemplo: uma obra de arte. No Cdigo Civil: Art. 85. So fungveis os mveis que podem substituir-se por outros da mesma espcie, qualidade e quantidade. Bens consumveis so os bens mveis cujo uso importa destruio imediata da prpria substncia, bem como aqueles destinados alienao (um sanduche). Bens inconsumveis so aqueles que suportam uso continuado (um avio, um carro). No Cdigo Civil: Art. 86. So consumveis os bens mveis cujo uso importa destruio imediata da prpria substncia, sendo tambm considerados tais os destinados alienao. Bens divisveis so os que se podem repartir em pores reais e distintas, formando cada uma delas um todo perfeito (uma saca de caf). Bens indivisveis no admitem diviso cmoda sem desvalorizao ou dano (um cavalo). No Cdigo Civil:

26 Art. 87. Bens divisveis so os que se podem fracionar sem alterao na sua substncia, diminuio considervel de valor, ou prejuzo do uso a que se destinam. Art. 88. Os bens naturalmente divisveis podem tornar-se indivisveis por determinao da lei ou por vontade das partes. Bens singulares so coisas consideradas em sua individualidade, representadas por uma unidade autnoma e, por isso, distinta de quaisquer outras (um lpis, um livro). Bens coletivos ou universalidades so aqueles que, em conjunto, formam um todo homogneo (universalidade de fato um rebanho, uma biblioteca; universalidade de direito o patrimnio, a herana). No Cdigo Civil: Art. 89. So singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos demais. Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes mesma pessoa, tenham destinao unitria. Pargrafo nico. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de relaes jurdicas prprias. Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relaes jurdicas, de uma pessoa, dotadas de valor econmico. BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS Principal - o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente (a rvore em relao ao fruto). Acessrio o bem cuja existncia supe a do principal (fruto em relao rvore), acompanhando-o segundo o princpio da gravitao jurdica. So bens acessrios: a) os frutos trata-se das utilidades renovveis, ou seja, que a coisa principal periodicamente produz, e cuja percepo no diminui a sua substncia (caf, soja, laranja). Classificam-se em: Quanto sua natureza: a) naturais so gerados pelo bem principal sem necessidade da interveno humana direta (laranja, caf); b) industriais so decorrentes da atividade industrial humana (bens manufaturados); c) civis so utilidades que a coisa frugfera periodicamente produz, viabilizando a percepo de uma renda (juros, aluguel). Quanto ligao com a coisa principal:

27 a) colhidos ou percebidos so os frutos j destacados da coisa principal, mas ainda existentes; b) pendentes so aqueles que ainda se encontram ligados coisa principal, no tendo sido, portanto, destacados; c) percipiendos so aqueles que deveriam ter sido colhidos mas no o foram; d) estantes so os frutos j destacados, que se encontram estocados e armazenados para a venda; e) consumidos: que no mais existem; b) os produtos trata-se de utilidades no-renovveis, cuja percepo diminui a substncia da coisa principal (carvo extrado de uma mina esgotvel). c) os rendimentos - so frutos civis, como os juros e o aluguel. d) as pertenas trata-se das coisas que, sem integrarem a coisa principal, facilitam a sua utilizao, a exemplo do aparelho de ar condicionado (art. 93 do CC). O rdio em relao ao carro uma pertena? Jos Fernando Simo (USP) afirma que sim, ressalvada a hiptese do rdio integrado de fbrica. e) as benfeitorias trata-se de toda obra realizada pelo homem na estrutura de uma coisa, com o propsito de conserv-la (benfeitoria necessria ex.: reforma em uma viga), melhor-la (benfeitoria til abertura do vo de entrada da casa) ou embelez-la (benfeitoria volupturia uma escultura talhada na parede de pedra do imvel). Vide arts. 96 e 97 do CC. No se confundem com as acesses, tema que ser desenvolvido em nossas aulas de Direitos Reais. Acesso modo de aquisio de propriedade imobiliria ao passo que a benfeitoria um bem acessrio. A acesso implica no aumento de volume da coisa principal enquanto a benfeitoria no implica necessria e considervel aumento de volume da coisa principal. No existe benfeitoria natural. Toda benfeitoria obra do homem (artificial). J as acesses podem ser naturais ou artificiais. Construo significa aumento de volume da coisa principal, portanto, acesso e no benfeitoria. Em geral, piscinas so benfeitorias volupturias. f) as partes integrantes integra a coisa principal de maneira que a sua separao prejudicar a fruio do todo, ou seja, a utilizao do bem jurdico principal (ex.: a lmpada em relao ao lustre). BENS PBLICOS E PARTICULARES Quanto ao titular do domnio, os bens podero ser pblicos (uso comum do povo, uso especial e dominiais) ou particulares. Os bens pblicos so estudados pelo Direito Administrativo. No Cdigo Civil:

28 Art. 98. So pblicos os bens do domnio nacional pertencentes s pessoas jurdicas de direito pblico interno; todos os outros so particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem. Art. 99. So bens pblicos: I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praas; II - os de uso especial, tais como edifcios ou terrenos destinados a servio ou estabelecimento da administrao federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias; III - os dominicais, que constituem o patrimnio das pessoas jurdicas de direito pblico, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. Pargrafo nico. No dispondo a lei em contrrio, consideram-se dominicais os bens pertencentes s pessoas jurdicas de direito pblico a que se tenha dado estrutura de direito privado. Art. 100. Os bens pblicos de uso comum do povo e os de uso especial so inalienveis, enquanto conservarem a sua qualificao, na forma que a lei determinar. Art. 101. Os bens pblicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigncias da lei. Art. 102. Os bens pblicos no esto sujeitos a usucapio. Art. 103. O uso comum dos bens pblicos pode ser gratuito ou retribudo, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administrao pertencerem.

Conceito

FATO JURDICO

Fato jurdico em sentido amplo todo acontecimento, natural ou humano apto a criar, modificar ou extinguir relaes jurdicas. O fato jurdico em sentido amplo subdivide-se em: a) Fato jurdico em sentido estrito: todo acontecimento natural relevante para o direito. a. Ordinrio: quando so comuns. Ex: nascimento, morte natural, decurso do tempo.

29 b. Extraordinrio: tem carga de imprevisibilidade ou inevitabilidade. Ex: furaco. b) Ato-fato jurdico: embora o CC no haja contemplado em norma especfica o ato-fato, a doutrina trata da matria (Marcos Bernardes de Mello). No ato-fato, embora o comportamento derive do homem e deflagre efeitos jurdicos, desprovido de voluntariedade e conscincia em direo ao resultado jurdico existente. Ex: atos reflexos. Jorge Ferreira, com base em Pontes de Miranda, exemplifica tambm o ato-fato na compra de um doce por criana de tenra idade. c) Aes humanas a. Ato jurdico em sentido amplo: ato jurdico, espcie de fato jurdico em sentido amplo, toda ao humana lcita que deflagra efeitos na rbita jurdica. i. Ato jurdico em sentido estrito: tambm denominado de ato no negocial, o ato jurdico em sentido estrito traduz um simples comportamento humano voluntrio e consciente cujos efeitos esto previamente determinados em lei. Este tipo de ato pode ser exemplificado nos meros atos materiais e nos de comunicao (ex: percepo de um fruto; intimao; protesto; reconhecimento de filho em cartrio) ii. Negcio Jurdico: o negcio jurdico, por sua vez, pedra de toque das relaes econmicas mundiais , na sua essncia, de estrutura mais complexa do que o ato em sentido estrito. Isso porque, no negcio temos uma declarao de vontade, emitida segundo o princpio da autonomia privada, pela qual o agente disciplina efeitos jurdicos possveis escolhidos segundo a sua prpria liberdade negocial. b. Ato ilcito A despeito da polmica, entendemos na linha de Vicente Ro, Flvio Tartuce, Jos Simo, e Zeno Veloso que ato jurdico a ao humana lcita, no se confundindo com o ato ilcito, categoria prpria com caracteres especficos. Teoria do Negcio Jurdico O negcio jurdico deve ser analisado em trs planos: a) Plano de Existncia b) Plano de Validade c) Plano de Eficcia Teorias explicativas do negcio jurdico Corrente Voluntrias (da vontade) Baseada na teoria alem Willenstheorie Sustenta que o ncleo do negcio jurdico a vontade interna, a inteno do declarante, havendo influenciado fortemente o Cdigo Civil de 2002 (art. 112). Corrente Objetiva (da declarao) Baseada na teoria alem Erklrungstheorie.

30 Esta segunda teoria, diferentemente, sustenta que o ncleo do negcio jurdico no a vontade interna a vontade externa que se declara. Plano de existncia do Negcio Jurdico o plano substantivo do negcio jurdico, onde ir analisar sua substncia. Analisa os pressupostos existenciais ou os elementos constitutivos do negcio jurdico, sem os quais ele um nada. Todo negcio jurdico para existir dever ter os seguintes pressupostos: a) Manifestao de vontade: a soma da vontade interna com a vontade externa que se declara. b) Agente emissor da vontade c) Objeto d) Forma: A forma o revestimento exterior da vontade, ou seja, o veculo pelo qual a vontade se manifesta. Todo negcio pressupe uma forma: oral, escrita, mmica, sinais.

Quem cala consente. Este ditado popular tem respaldo no direito civil? Em carter excepcional, admite-se que o silncio seja considerado forma de celebrao do negcio? Nos termos do pensamento do professor Caio Mrio, em sua clssica obra instituies de Direito Civil, regra geral, o silncio o nada, no traduzindo manifestao de vontade. Excepcionalmente, a teor do art. 111 do Cdigo Civil Brasileiro, na linha do art. 218 do Cdigo de Portugal, o silncio em determinadas situaes pode gerar efeitos jurdicos. Ex: na doao pura, o silncio do donatrio no prazo fixado importa aquiescncia (art. 539).

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Obs: o silncio reveste-se de grande importncia na situao de dolo negativo, prevista no art. 147. Plano de validade do Negcio Jurdico O Cdigo Civil inicia o negcio jurdico com o plano de validade (art. 104), desprezando o plano de existncia, porm isso no quer dizer que devemos desprezar o plano de existncia.Art. 104. A validade do negcio jurdico requer: I agente capaz; II objeto lcito, possvel, determinado ou determinvel; III forma prescrita ou no defesa em lei.

Os pressupostos de validade traduzem requisitos de qualificao do negcio, para que tenha aptido para gerar efeitos jurdicos. a) b) c) d) So pressupostos de validade: Manifestao de vontade livre e de boa-f Agente capaz e legitimado Objeto lcito, possvel, determinado ou determinvel Forma prescrita ou no defesa em lei

Se faltar objeto no negcio jurdico ser inexistente, porm se o objeto por indeterminado o negcio jurdico ser invlido. Um negcio jurdico de prestao de servios sexuais seria vlido? Este negcio existe, pois preenche todos os pressupostos de existncia, porm ele poder ser invlido por ilicitude do objeto, apesar de ser altamente discutvel tal afirmao. Obs: Licitude, segundo Orlando Gomes, traduz compatibilidade com a lei e com o padro mdio de moralidade. Os defeitos do negcio jurdico (erro, dolo, coao, leso, estado de perigo, simulao, fraude contra credores) interferem no plano de validade, pois em geral, esses defeitos atacam o pressuposto de manifestao de vontade livre e de boa-f. Ex: se no assinar o contrato ir queimar a fazenda inteira (coao). Obs: no que tange forma, o art. 107 do CC consagra o princpio da liberdade como regra geral. Por exceo, todavia, a forma pode ser exigida ou para efeito de prova do negcio, art. 227, denominando-se negcio ad probationem, ou a forma pode ser exigida como pressuposto de validade, art. 108, denominando-se negcio ad solemnitatem. Obs: por exceo, admite-se a no observncia da forma pblica, ainda que o valor arbitrado no negcio, seja superior a 30 salrios mnimos, como se d com a promessa de compra e venda (art. 1417 e 1418)

32 O enunciado 289 da IV Jornada de Direito Civil, firmou entendimento no sentido de que o valor fixado no negcio para efeito de lavratura de escritura pblica, nos termos do art. 108, o arbitrado pelas partes e no pela Administrao Pblica para fins tributrios.289 Art. 108. O valor de 30 salrios mnimos constante no art. 108 do Cdigo Civil brasileiro, em referncia forma pblica ou particular dos negcios jurdicos que envolvam bens imveis, o atribudo pelas partes contratantes e no qualquer outro valor arbitrado pela Administrao Pblica com finalidade tributria.

Plano de Eficcia do Negcio Jurdico Neste terceiro plano, segundo o professor da USP Antnio Junqueira de Azevedo, estudam-se a eficcia jurdica do negcio e os elementos acidentais que interferem nesta produo de efeitos. Elementos de eficcia: a) Condio b) Termo c) Modo ou encargo Defeitos do Negcio Jurdico a) Erro Teoricamente, o erro traduz uma falsa percepo positiva da realidade, uma atuao comissiva equivocada, em prejuzo do declarante; a ignorncia, por sua vez, um estado de esprito negativo de desconhecimento. A doutrina clssica, desde Clvis Bevilaqua, costumava afirmar que o erro, para ser causa invalidante do negcio deveria ser: essencial (substancial) e escusvel (perdovel). A doutrina moderna, corporificada no enunciado 12 da I jornada de direito civil, interpretando o art. 138 do CC, tem entendido ser irrelevante a escusabilidade do erro para efeito de invalidao do negcio. Nos termos do art. 144 do CC, o erro no invalidar o negcio se houver recomposio da situao de perda. Ex: quando faz um pagamento indevido no banco e pede o estorno para o gerente. Obs: veremos nas aulas da teoria geral do contrato a diferena entre erro e vcio redibitrio. Modalidades de erro:Art. 139. O erro substancial quando: I interessa natureza do negcio, ao objeto principal da declarao, ou a alguma das qualidades a ele essenciais;

33II concerne identidade ou qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declarao de vontade, desde que tenha infludo nesta de modo relevante; III sendo de direito e no implicando recusa aplicao da lei, for o motivo nico ou principal do negcio jurdico.

a. Erro sobre o objeto: incide na identidade ou caractersticas do objeto do negcio. Ex: quem compra um relgio feminino pensando ser masculino. b. Erro sobre Negcio: incide na estrutura da declarao negocial de vontade. Ex: confundir comodato com doao. c. Erro sobre Pessoa: incide nas caractersticas pessoas do declarante. Ex: celebra um negcio com Pedro pensando estar celebrando com o seu irmo gmeo univitelino. O erro sobre a pessoa tem especial aplicao no direito de famlia, para efeito de anulao de casamento (art. 1556 e 1557). Questo especial de concurso: O erro de direito invalida o negcio jurdico? Tradicionalmente, a doutrina de Clvis Bevilaqua, e na mesma linha o CC de 1916, no se admitia a tese do erro de direito. Posteriormente, autores como Eduardo Espnola, Carvalho Santos e Cio Mrio sustentaram esta possibilidade desde que no traduzisse recusa intencional aplicao da lei. O Novo Cdigo Civil em seu art. 139, III admite o erro de direito como causa de invalidade do negcio jurdico. O erro de direito justifica-se quando o declarante de boa-f equivocase quanto ao mbito de atuao permissiva da norma, vale dizer, um erro sobre a ilicitude do fato possvel de ocorrer. O erro causa de invalidade do negcio jurdico, anulando-o. b) Dolo O dolo nada mais do que o erro provocado, resultando na invalidade do negcio jurdico (anulao). No Direito Romano este vcio traduzia o chamado dolus malus. No se confundia todavia com o dolus bonus. O dolus bonus muito utilizado como tcnica de publicidade quando a empresa reala as caractersticas de seu produto. Entretanto, pode-se passar a ser um dolus malus se a empresa alm de realar as caractersticas do produto as deturpam tambm. Obs: as mensagens subliminares traduzem prtica comercial abusiva, manifestao de dolus malus, vedada pelo ordenamento brasileiro, valendo registrar o projeto de lei 4068/08 que pretende alterar o CDC para explicitamente proibir este tipo de mensagem. Na teoria do negcio jurdico, o dolo, a teor do art. 145, para anular o negcio precisa ser principal.

34Art. 146. O dolo acidental s obriga satisfao das perdas e danos, e acidental quando, a seu despeito, o negcio seria realizado, embora por outro modo.

Obs: diferentemente, o dolo meramente acidental no prejudica a validade do negcio, impondo apenas a obrigao de pagar perdas e danos. Obs: o que se entende por dolo negativo? Dolo negativo consiste na quebra do princpio da boa-f, por descumprimento do dever anexo de informao, como se d na omisso de informao essencial celebrao do negcio (art. 147). Ex: algum vai aos EUA e compra um aparelho que no funciona no Brasil e vende para seu vizinho omitindo esta informao de que este aparelho no funciona no Brasil. O que dolo bilateral? O art. 150 estabelece que, em havendo dolo recproco (bilateral) o negcio jurdico fica como est. Dolo de terceiro:Art. 148. Pode tambm ser anulado o negcio jurdico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrrio, ainda que subsista o negcio jurdico, o terceiro responder por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.

Na forma do art. 148 do CC, o dolo de terceiro s invalidar o negcio jurdico se o beneficirio dele soubesse ou tivesse como saber. Em caso contrrio, se no soubesse e nem tivesse como saber, o negcio mantido respondendo apenas o terceiro pelas perdas danos. c) Coao A coao traduz violncia psicolgica apta a influenciar a vtima a realizar negcio jurdico que a sua vontade interna no deseja efetuar. Esta coao moral, pois caso seja coao fsica, o contrato ser inexistente por falta de manifestao de vontade. A coao moral causa de invalidade do negcio jurdico (anulao).Art. 151. A coao, para viciar a declarao da vontade, h de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considervel sua pessoa, sua famlia, ou aos seus bens. Pargrafo nico. Se disser respeito a pessoa no pertencente famlia do paciente, o juiz, com base nas circunstncias, decidir se houve coao.

A coao dever ser sempre analisada em concreto nos termos do art. 152.

35 Obs: No se pode confundir coao com a ameaa do exerccio regular de um direito nem como simples temor reverencial (art. 153). Ex: a empresa que cobra a dvida sob pena de inscrio do nome do devedor SPC. Temor reverencial o respeito autoridade instituda, que pode ser familiar, profissional, militar, eclesistica. Segundo Pontes de Miranda ser coao se junto com o temor reverencial estiver a ameaa. Qual a diferena entre coao de terceiro e dolo de terceiro? A coao de terceiro est regulamentada nos art. 154 e 155 do CC.Art. 154. Vicia o negcio jurdico a coao exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responder solidariamente com aquele por perdas e danos. Art. 155. Subsistir o negcio jurdico, se a coao decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coao responder por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.

Na coao de terceiro, nos termos do art. 154, se o beneficirio soubesse ou tivesse como saber, o negcio seria anulado, respondendo este beneficirio SOLIDARIAMENTE com o coator pelas perdas e danos. Esta previso de solidariedade no houve no dolo de terceiro. Finalmente, se o beneficirio no souber nem tiver como saber, responder apenas o coator pelas perdas e danos, mantendo-se o negcio jurdico. d) Leso - Histrico: O CC/1916 no cuidava desta matria, que tem raiz no Direito Romano. Obs: No Direito Romano, diferenciava-se leso enorme de leso enormssima. A enorme, menos grave, ocorreria quando a desproporo do negcio fosse superior metade do preo justo. J a enormssima, quando esta desproporo ultrapassasse mais de 2/3 do preo justo. A primeira lei a tratar da leso foi a lei 1521/51 (Lei de economia popular) que tipificava o crime de usura no contrato. No campo de direito privado a primeira lei que cuidou da matria foi o Cdigo de Defesa do Consumidor (art. 6, V) e posteriormente o art. 157 do CC de 2002 cuida do vcio de leso. - Conceito: Intimamente conectado ao abuso de poder econmico, o defeito da leso, causa de invalidade do negcio jurdico, verifica-se na desproporo existente entre as prestaes do negcio, em virtude do abuso da necessidade ou inexperincia de uma das partes. A leso causa de que tipo de invalidade?

36 No Cdigo Civil, para negcios civis em geral, art. 157, a leso causa de anulao do negcio; j no CDC, dada a sua superior principiologia de ordem pblica, causa de nulidade absoluta do negcio. Doutrinariamente, a leso compe-se de dois elementos: 1) Material ou objetivo: desproporo 2) Imaterial ou subjetivo: necessidade ou inexperincia da parte que assume a obrigao excessiva. Alguns doutrinadores colocam tambm dentro do elemento subjetivo o dolo de aproveitamento. Porm, para a doutrina moderna este no mais um elemento (dolo de aproveitamento) essencial da leso. Obs: O CC, assim como o CDC, dispensa a prova deste dolo de aproveitamento (art. 157). Qual a diferena entre leso e Teoria da impreviso: A leso (Teoria Geral do Direito Civil) caracteriza-se por uma desproporo que nasce com o prprio negcio, justificando a sua invalidade. J na teoria da impreviso (Teoria Geral dos Contratos), o negcio nasce vlido e se desequilibra depois em virtude de um acontecimento superveniente. Ademais, aqui no se invalida nada: a impreviso autoriza apenas a reviso ou a resoluo do negcio. e) Fraude contra credores - Conceito: A fraude contra credores traduz a prtica de um ato negocial que diminui o patrimnio do devedor em detrimento do direito de credor preexistente. - Requisitos da fraude contra credores: 1) Consilium fraudis: a m f presente na fraude. 2) Eventus damni: o prejuzo ao credor preexistente. Obs: Modernamente, a doutrina, a exemplo de Maria Helena Diniz e Marcos Bernardes de Melo, tem dispensado a prova da m f na fraude, em atos graves, a exemplo da doao fraudulenta. - Hipteses legais de fraude contra credores: 1) Negcios de transmisso gratuita de bens (art. 158) 2) Perdo fraudulento de dvida (art. 158) 3) Negcios onerosos fraudulentos (art. 159): alm dos requisitos gerais da fraude, neste caso (negcio oneroso fraudulento) o credor precisar provar ou que a insolvncia era notria ou que haveria motivo para ser conhecida pela outra parte (Ex: parentesco prximo) 4) Antecipao fraudulenta de pagamento feita a um dos credores quirografrios, em detrimento dos demais (art. 162) 5) Poder haver fraude tambm na outorga fraudulenta de garantia (art. 163)

37 Obs: Pode-se encontrar outras hipteses de fraude contra credores no ordenamento brasileiro e que no esteja elencado na parte geral do CC, como por exemplo, na hiptese em que poder haver fraude contra credores tambm na instituio fraudulenta de bem de famlia voluntrio. Questes especiais de jurisprudncia envolvendo fraude contra credores: 1) No conflito de competncia 74528/SP, o STJ firmou entendimento no sentido de que competncia da justia comum analisar o vcio da fraude, mesmo que a questo advenha do juzo trabalhista. 2) A smula 195 do STJ firmou entendimento no sentido de que em embargos de terceiro no se anula ato por fraude contra credores. 3) No pode confundir fraude contra credores com fraude execuo. Esta ltima, mais grave, implica ineficcia total do ato fraudulento por desrespeitar inclusive a administrao da justia. REsp 684925/RS1. A ao de defesa contra a fraude contra credores a Ao Pauliana. Trata-se de uma ao pessoal com prazo decadencial de 4 anos. Legitimidade ativa: o credor preexistente, quirografrio ou no. Obs: Se a garantia se tornar insuficiente o credor tambm poder manejar a ao pauliana.

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1. A fraude execuo consiste na alienao de bens pelo devedor, na pendncia de um processo capaz de reduzi-lo insolvncia, sem a reserva - em seu patrimnio - de bens suficientes a garantir o dbito objeto de cobrana. Trata-se de instituto de direito processual, regulado no art. 593 do CPC, e que no se confunde com a fraude contra credores prevista na legislao civil. 2. O escopo da interdio fraude execuo preservar o resultado do processo, interditando na pendncia do mesmo que o devedor aliene bens, frustrando a execuo e impedindo a satisfao do credor mediante a expropriao de bens. 3. A caracterizao da fraude execuo prevista no art. 185 do CTN, na redao anterior conferida pela LC 118/2005, reclama que a alienao do bem ocorra aps a citao do devedor. Nesse sentido, (Resp 741.095, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 30/05/2005;Resp 241.041, Rel. Min. Joo Otvio de Noronha, DJ de 06/06/2005) 4. Consoante consta dos autos, a empresa foi regularmente citada, oferecendo penhora caixas plsticas de vasilhame padro Skol e garrafas de vidro do mesmo padro. O Fisco discordou da nomeao e requereu que a constrio recasse sobre o imvel matriculado no Ofcio de Registro de Imveis de Caxias do Sul, o que foi deferido pelo Juzo. Lavrado o Auto de Penhora e Depsito do Imvel (fl.40), foi expedido o ulterior mandado de Registro de Penhora, o qual foi negado pelo Cartrio, sob o fundamento de que o imvel no mais pertencia empresa executada. 5. In casu, o fato de a constrio do bem imvel no ter sido registrada no competente Registro de Imveis, beneficiaria apenas o terceiro adquirente de boaf, posto que a novel exigncia do registro da penhora, muito embora no produza efeitos infirmadores da regra prior in tempore prior in jure, exsurgiu com o escopo de conferir mesma efeitos erga omnes para o fim de caracterizar a fraude execuo. Aquele que no adquire do penhorado no fica sujeito fraude in re ipsa, seno peloconhecimento erga omnes produzido pelo registro da penhora. 6. Recurso Especial desprovido.

38 Legitimidade Passiva: o credor fraudulento e aquele com quem este celebrou contrato fraudulento em litisconsrcio. Obs: Quanto a legitimidade passiva, o prprio STJ j entendeu, em recente julgado de 02/09/2008 (REsp 242151/MG), que haver litisconsrcio necessrio entre todos aqueles que participaram do ato fraudulento, inclusive o terceiro de m f. Por outro lado, estando de boa f o bem permanecer com ele cabendo ao credor buscar outros bens do devedor. Qual a natureza jurdica da sentena na Ao Pauliana? Corrente preponderante (Clvis Bevilaqua, Moreira Alves, Nelson Nri) com base no art. 165 do CC no deixa dvidas: a sentena desconstitutiva anulatria da fraude. Todavia, h que sustente o equvoco da primeira corrente (Yussef S. Cahali, Alexandre Cmara, Frederico Pinheiro), argumentando que em verdade a sentena pauliana apenas declara a ineficcia jurdica do ato fraudulento em face do credor preexistente (REsp 506312/MS2)

f) Simulao2

Natureza Jurdica da Ao Pauliana PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ALNEA C. AUSNCIA DE DEMONSTRAO DO DISSDIO. FRAUDE CONTRA CREDORES. NATUREZA DA SENTENA DA AO PAULIANA. EXECUO. EMBARGOS DE TERCEIRO. DESCONSTITUIO DE PENHORA SOBRE MEAO DO CNJUGE NO CITADO NA AO PAULIANA. 1. O conhecimento de recurso especial fundado na alnea c do permissivo constitucional exige a demonstrao analtica da divergncia, na forma dos arts. 541 do CPC e 255 do RISTJ. 2. A fraude contra credores no gera a anulabilidade do negcio j que o retorno, puro e simples, ao status quo ante poderia inclusive beneficiar credores supervenientes alienao, que no foram vtimas de fraude alguma, e que no poderiam alimentar expectativa legtima de se satisfazerem custa do bem alienado ou onerado. 3. Portanto, a ao pauliana, que, segundo o prprio Cdigo Civil, s pode ser intentada pelos credores que j o eram ao tempo em que se deu a fraude (art. 158, 2; CC/16, art. 106, par. nico), no conduz a uma sentena anulatria do negcio, mas sim de retirada parcial de sua eficcia, em relao a determinados credores, permitindo-lhes excutir os bens que foram maliciosamente alienados, restabelecendo sobre eles, no a propriedade do alienante, mas a responsabilidade por suas dvidas. 4. No caso dos autos, sendo o imvel objeto da alienao tida por fraudulenta de propriedade do casal, a sentena de ineficcia, para produzir efeitos contra a mulher, teria por pressuposto a citao dela (CPC, art. 10, 1, I). Afinal, a sentena, em regra, s produz efeito em relao a quem foi parte, "no beneficiando, nem prejudicando terceiros" (CPC, art. 472). 5. No tendo havido a citao da mulher na ao pauliana, a ineficcia do negcio jurdico reconhecido nessa ao produziu efeitos apenas em relao ao marido, sendo legtima, na forma do art. 1046, 3, do CPC, a pretenso da mulher, que no foi parte, de preservar a sua meao, livrando-a da penhora. 5. Recurso especial provido.

(REsp 506.312/MS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15.08.2006, DJ 31.08.2006 p. 198)

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- Conceito: Na simulao celebra-se um negcio jurdico que tem aparncia normal, mas que no pretende atingir o efeito que juridicamente deveria produzir. A diferena da simulao para o dolo que neste uma das partes enganada e naquela as duas partes se unem para enganar um terceiro ou violar a lei. No novo CC, a simulao, prevista no art. 167 causa de nulidade absoluta do negcio jurdico. Obs: sob o prisma do direito intertemporal (art. 2035), vale lembrar que o negcio simulado celebrado sob a gide do cdigo de 1916 continua regido por ele (anulvel). Espcies de Simulao: 1) Absoluta: cria-se um negcio jurdico destinado a no gerar efeito jurdico algum. Ex: A e B celebram um contrato transferindo bens de A para B como se fosse para pagamento em que B ir apenas guardar esses bens e no futuro transferir novamente para A. Esse contrato feito para burlar a diviso de bens de A e sua esposa. 2) Relativa (ou dissimulao): as partes criam um negcio destinado a encobrir um outro negcio jurdico cujos efeitos so proibidos por lei. Ex: Aquele que querendo doar um bem para sua amante simula um contrato de compra e venda. Obs: a simulao relativa tambm pode se dar por interposta pessoa. Vale lembrar, com base no enunciado 153 da III Jornada que na simulao relativa o negcio simulado nulo, mas o dissimulado (encoberto), a luz do princpio da conservao, poder ser aproveitado se no violar a lei ou causar prejuzo terceiro. Ex: O marido que simula uma compra e venda para doar um bem amante. Porm, se o casamento contiver um defeito e for nulo, esta simulao poder ser aproveitada. Obs: O CC/1916 permitia a simulao inocente, aquela sem a inteno de prejudicar terceiro. O novo Cdigo Civil, conferindo tratamento mais gravoso simulao, considera que toda simulao invalida, de maneira que no h mais espao para a categoria da simulao inocente. O novo Cdigo Civil, tratando a simulao como causa de nulidade absoluta, passvel de reconhecimento de ofcio pelo juiz, rendeu ensejo interpretao cristalizada no enunciado 294 da IV Jornada de Direito Civil, para admitir que um simulador pudesse alegar o vcio contra o outro.

Questes especiais de concurso:

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- O que contrato de vaca-papel? Trata-se de um contrato de parceria pecuria, aparentemente normal, mas que, em simulao, encobre emprstimo a juros extorsivos.3 O prprio STJ tem combatido esta prtica, como se l no REsp 441903/SP. O que reserva mental (reticncia)? A reserva mental se configura quando o agente emite declarao de vontade, resguardando o ntimo propsito de no cumprir o avenado. Qual a consequncia jurdica da reserva mental manifestada?3

Nesse sentido, MARCO PISSURNO3: Sob o prisma conceitual, de ter-se a parceria pecuria como o contrato agrrio que tem por objeto a cesso de animais para cria, recria, invernagem e engorda, mediante partilha proporcional dos riscos e dos frutos ou lucros havidos (Maria Helena Diniz). Trata-se, outrossim, de vencilho sinalagmtico sustentado por um negcio jurdico parcirio. (Pontes de Miranda). Como identifica Washington de Barros Monteiro (3) "pode ser objeto desse contrato o gado grosso e mido; mas, o gado vacum, sobretudo, que de modo mais freqente propicia sua realizao, sendo comunssimas tais avenas nas zonas pecurias do pas (...)o parceiroproprietrio fornece os animais, que continuam de sua propriedade; o parceirotratador entra com o trabalho e com as despesas de custeio e tratamento, se outra coisa no se estipular." Seus pressupostos de validade resumir-se-iam, pois, : 1) entrega do gado pelo parceiroproprietrio, 2) a criao pelo parceiro-criador e a 3) diviso dos lucros havidos entre policitante e oblato. Nada obstante ressente de disciplina especfica no novo CCB, certamente o contrato de parceria pecuria ainda vige para os fins colimados pelo Cdigo de 1916, restando atualmente baseado no terreno dos contratos inominados (6). Ainda pela fora da preceituao antiga, tratava-se de contrato consensual, alheio forma especial, podendo ser provado, por testemunhas, independentemente do valor envolvido (7) e, como tal, segue atualmente oponvel, ainda que sem regramento prprio, conquanto as partes respeitem a malha permissiva preceituada pelo art. 104 do NCCB. 2 A "Vaca-Papel" Como Patologia Do Negcio Jurdico De ocorrncia comum nas parcerias pecurias, a "vaca-papel" exterioriza-se na denominao corriqueira conferida tais contratos, quando lhes seja feito uso para encobrir-se a ocorrncia real de mtuo feneratcio, por vezes regulado indevidamente no porte das rendas previstas em contrato escrito. Nestes termos, o gado s existe no contrato - o parceiro-proprietrio e o parceiro-criador revelam-se reais mutuante e muturio, em certos casos unidos por simulao relativa em torno de emprstimo haurido juros e acrscimos vedados por lei. Na jurisprudncia do STJ: Contrato denominado "vaca-papel". Inibio de prova da simulao. Cerceamento de defesa. 1. Em contratos da espcie, alegada a simulao, impe-se a realizao de ampla dilao probatria, configurando-se o cerceamento de defesa quando a improcedncia da alegao est calcada na prova testemunhal, a nica que foi deferida. 2. Recurso especial conhecido e provido. (REsp 760.206/MS, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 14.12.2006, DJ 16.04.2007 p. 185) Civil. Recurso Especial. Contrato simulado de parceria pecuria. "Vaca-papel". Mtuo com cobrana de juros usurrios. Anulao do negcio jurdico. Pedido de um dos contratantes. Possibilidade.

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Uma primeira corrente, com base no art. 110 do CC, defendida pelo ministro Moreira Alves, sustenta que se a outra parte toma conhecimento da reserva o negcio torna-se inexistente. Uma segunda corrente (Carlos Roberto Gonalves) sustenta que se o destinatrio toma conhecimento da reserva o negcio existente, mas invlido por dolo ou simulao. Ex: um autor de um livro que anuncia que toda a verba recebida na venda do livro ser revertida para uma instituio de caridade, porm tem uma reserva mental de que no ir passar nenhum dinheiro para a instituio. Enquanto ele no manifesta esta reserva mental no haver nenhuma repercusso para o direito. Porm, se o autor manifestar posteriormente esta reserva mental o destinatrio da reserva poder anular o negcio por dolo. Entretanto, se este destinatrio se conluiar com o autor haver uma simulao. So, pois, caractersticas da simulao: 1. Causa de nulidade do negcio jurdico; 2. Em caso de simulao relativa, resguardam-se os efeitos do ato dissimulado, se vlido for na sustncia e na forma; 3. No se resguardam os efeitos da simulao inocente, j que a lei no a distingue; 4. Admite-se a alegao da simulao em juzo, mesmo pelos prprios simuladores, resguardados os direitos do terceiro de boa f.

g) Estado de Perigo - Conceito Trata-se de uma a