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Direito Constitucional 187

Direito Constitucional

Paulo Lépore

�QUESTÕES

1. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

01. (FGV – OAB 2011.1) Em 2010, o Congresso Nacio-nal aprovou por Decreto Legislativo a Convenção Inter-nacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Essa convenção já foi aprovada na forma do artigo 5º, § 3º, da Constituição, sendo sua hierarquia normativa de

A) lei federal ordinária.

B) emenda constitucional.

C) lei complementar.

D) status supralegal.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: a questão exige conhecimento da EC/45 de 30 de dezembro de 2004.

Alternativa correta: letra “b”: nos termos do art. 5°, § 3º, da CF, os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

Alternativa “a”: Convenção aprovada na forma do 5º, § 3º, da Constituição terá hierarquia normativa de emenda constitucional, não de lei federal ordinária.

Alternativa “c”: Convenção aprovada na forma do 5º, § 3º, da Constituição terá hierarquia normativa de emenda constitucional, não de lei complementar.

Alternativa “d”: Convenção aprovada na forma do 5º, § 3º, da Constituição terá hierarquia normativa de emenda constitucional, não status supralegal.

1.1. DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS, COLE-TIVOS

02. (FGV - Exame de Ordem 2014.3) Pedro promo-veu ação em face da União Federal e seu pedido foi jul-gado procedente, com efeitos patrimoniais vencidos e vincendos, não havendo mais recurso a ser interposto. Posteriormente, o Congresso Nacional aprovou lei, que foi sancionada, extinguindo o direito reconhecido a

Pedro. Após a publicação da referida lei, a Administra-ção Pública federal notificou Pedro para devolver os valores recebidos, comunicando que não mais ocorre-riam os pagamentos futuros, em decorrência da norma em foco.

Nos termos da Constituição Federal, assinale a opção correta.

A) a lei não pode retroagir, porque a situação versa sobre direitos indisponíveis de Pedro.

B) a lei não pode retroagir para prejudicar a coisa jul-gada formada em favor de Pedro.

C) a lei pode retroagir, pois não há direito adquirido de Pedro diante de nova legislação.

D) a lei pode retroagir, porque não há ato jurídico per-feito em favor de Pedro diante de pagamentos pen-dentes.

|COMENTÁRIOS|.

Alternativa correta: letra “b” (responde a todas as alternativas): em face de uma decisão judicial em relação à qual não caibam mais recursos opera-se a coisa julgada, qualidade que torna o pronunciamento judicial imutável. De acordo com o art. 5°, XXXVI, da CF, a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Assim é que a nova lei não pode retroagir para prejudicar a coisa julgada formada em favor de Pedro.

03. (FGV - Exame de Ordem 2014.2) A Sra. Maria da Silva é participante ativa da AMA-X (Associação de Moradores e Amigos do bairro X). Todos os dias, no fim da tarde, a Sra. Maria da Silva e um grupo de associados reuniam-se na praça da cidade, distribuindo material sobre os problemas do bairro. A associação convocava os moradores para esses encontros por meio da rádio da cidade e comunicava, previamente, o local e a hora das reuniões às autoridades competentes. Certa tarde, um grupo da Associação de Moradores do bairro Y ocupou o local que os participantes da AMA-X habitualmente utilizavam. O grupo do bairro Y não havia avisado, pre-viamente, a autoridade competente sobre o evento, organizado em espaço público.

A Sra. Maria da Silva, indignada com a utilização do mesmo espaço, e tendo sido frustrada a reunião de

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seu grupo, solicitou aos policiais militares, presen-tes no local, que tomassem as medidas necessárias para permitir a realização do encontro da AMA-X.

Em relação à liberdade de associação e manifesta-ção, assinale a afirmativa correta.

A) a AMA-X deve buscar novo local de manifestação, tendo em vista que o local de reunião é público e que a associação do bairro Y possui os mesmos direitos de reunião e manifestação.

B) a associação do bairro Y deve buscar novo local de manifestação, pois não tem o direito de frustrar reu-nião anteriormente convocada para o mesmo local, já que houve prévio aviso à autoridade competente sobre o uso do espaço público pela AMA-X.

C) a AMA-X deve dividir o espaço com a associação do bairro Y, tendo em vista que o local de reunião é público e que o direito à livre manifestação de ideias é garantido.

D) a associação do bairro Y poderá ser dissolvida por ato da autoridade pública municipal em razão de não ter comunicado previamente à Prefeitura a rea-lização de suas reuniões em espaço público.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do Autor: vale notar que a FGV tem modifi-cado o conteúdo das questões sobre os direitos individu-ais e coletivos previstos no art. 5° da CF. Antigamente se cobrava apenas o conteúdo seco dos incisos, mas, nas últimas provas, a fundação vem trazendo situações-pro-blemas para que o candidato resolva com base no que dis-põe o texto constitucional. Assim, durante o estudo, vale a pena pensar sobre a aplicação prática dos incisos previstos no art. 5° da CF, pois dessa forma o candidato se prepará melhor para as provas vindouras.

Alternativa correta: letra “b” (responde a todas as alternativas): de acordo com o art. 5°, XVI, da CF, todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente con-vocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente. Assim, se a associação do bairro X previamente avisou às autoridades que faria uma reunião na praça da cidade, não pode a associação do bairro Y frustrar o direito constitucional da AMA-X. Isso não impede que a AMA-Y utilize o mesmo espaço em reu-nião futura, desde que avise as autoridades competentes antes de quaisquer outras pessoas ou associações, ou seja, na situação narrada no enunciado, a AMA-X é quem terá direito de utilizar o espaço não porque sempre o fez, mas sim porque avisou às autoridades antes de outras pessoas ou organizações sociais.

04. (FGV - Exame de Ordem 2014.2) Deise pretende ter acesso a informações pertinentes à atividade estatal que estão em poder de específico órgão público, adu-zindo que todos os dados de interesse coletivo ou geral devem ser públicos.

Nos termos da Constituição Federal, o direito de acesso às informações estatais

A) é absoluto, em decorrência da publicidade dos atos.

B) tem, como limite, o sigilo imprescindível à segu-rança do Estado.

C) depende de autorização excepcional do Executivo.

D) está limitado aos dados constantes nos sítios de informações estatais.

|COMENTÁRIOS|.

Alternativa correta: letra “b” (responde a todas as alternativas): consoante art. 5°, XXXIII, da CF, todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabi-lidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescin-dível à segurança da sociedade e do Estado. Portanto, não se trata de direito absoluto, nem tampouco que se restringe aos dados constantes de sítios estatais ou que depende de autorização do Executivo.

05. (FGV - Exame de Ordem 2013.3) A Constituição declara que todos podem reunir-se em local aberto ao público. Algumas condições para que as reuniões se realizem são apresentadas nas alternativas a seguir, à exceção de uma. Assinale-a.A) Os participantes não portem armas.

B) A reunião seja autorizada pela autoridade competente.

C) A reunião não frustre outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local.

D) Os participantes reúnam-se pacificamente.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: a questão exige que o candidato tenha pleno domínio do conteúdo dos direitos encartados no art. 5° da CF. Recomendamos a leitura atenta e a memo-rização dos principais aspectos desse dispositivo constitu-cional.

Alternativa correta: “b” (responde a todas as alter-nativas): nos termos do art. 5°, XVI, da CF, todos podem reunir-se pacificamente (conforme alternativa “d”), sem armas (conforme alternativa “a”), em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local (conforme alternativa “c”), sendo ape-nas exigido prévio aviso à autoridade competente. Assim, o direito de reunião não se vincula a nenhuma autorização de autoridade competente.

06. (FGV - Exame de Ordem 2013.2) Assinale a alterna-tiva que completa corretamente o fragmento a seguir.

A desapropriação para fins de reforma agrária ocorre mediante prévia e justa indenização

A) em dinheiro, incluindo-se as benfeitorias úteis e necessárias.

B) em dinheiro, mas as benfeitorias não são passíveis de indenização.

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C) em títulos da dívida agrária, incluindo-se as benfei-torias úteis e necessárias.

D) em títulos da dívida agrária, mas as benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: o tema da desapropriação não é comum nas provas de direito constitucional da OAB. Entre-tanto, como foi lembrado em prova recente, merece aten-ção do candidato para os próximos exames.

Alternativa correta: “d” (responde a todas as alter-nativas): o art. 184, caput, da CF normatiza a desapropria-ção por interesse social, para fins de reforma agrária, de “imóvel rural que não esteja cumprindo a sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária (o que demonstra o erro das alternativas “a” e “b”), com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei”. Por sua vez, o § 1° do mesmo art. 184 da CF disciplina que “as benfeito-rias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro” (o que exclui a alternativa ”c”).

07. (FGV – OAB 2012.1) A Constituição assegura, entre os direitos e garantias individuais, a inviolabilidade do domicílio, afirmando que “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem o con-sentimento do morador” (art. 5°, XI, CRFB).

A esse respeito, assinale a alternativa correta.

A) O conceito de “casa” é abrangente e inclui quarto de hotel.

B) O conceito de casa é abrangente, mas não inclui escritório de advocacia.

C) A prisão em flagrante durante o dia é um limite a essa garantia, mas apenas quando houver man-dado judicial.

D) A prisão em quarto de hotel obedecendo a man-dado judicial pode se dar no período noturno.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: a questão exige conhecimento do Texto Constitucional, mas também da jurisprudência atu-alizada do STF. Sendo assim, o candidato não pode se ater aos estudos dos dispositivos legais.

Alternativa correta: letra “a”: nos termos da juris-prudência do STF, o conceito de “casa” é abrangente e inclui quarto de hotel, motel, escritório e congêneres.

Alternativa “b”: para o STF o conceito de casa é abrangente e inclui escritório de advocacia.

Alternativa “c”: a prisão em flagrante durante o dia é um limite a essa garantia, independentemente de man-dado judicial (art. 5°, XI, da CF).

Alternativa “d”: a prisão em quarto de hotel obe-decendo a mandado judicial não pode se dar no período noturno, somente durante o dia (art. 5°, XI, da CF).

08. (FGV – OAB 2011.1) A respeito da garantia consti-tucional do acesso ao Poder Judiciário, assinale a alter-nativa correta.

A) O Poder Judiciário admitirá ações relativas à disci-plina e às competições desportivas paralelamente às ações movidas nas instâncias da justiça despor-tiva.

B) De acordo com posição consolidada do Supremo Tribunal Federal, não ofende a garantia de acesso ao Poder Judiciário a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de cré-dito tributário.

C) A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramita-ção.

D) É assegurado a todos, mediante pagamento de taxas, o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: mais uma vez a banca examinadora exige conhecimento da EC/45, de 30 de dezembro de 2004.

Alternativa correta: letra “c”: nos termos do art. 5°, LXXVIII, com redação dada pela EC 45/04, a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoá-vel duração do processo e os meios que garantam a celeri-dade de sua tramitação.

Alternativa “a”: o Poder Judiciário não admite ações relativas à disciplina e às competições desportivas parale-lamente às ações movidas nas instâncias da justiça despor-tiva. Nos termos do art. 217, §1°, da CF, o Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.

Alternativa “b”: de acordo com posição consolidada do Supremo Tribunal Federal, a exigência de depósito pré-vio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributá-rio ofende a garantia de acesso ao Poder Judiciário. Essa é a conclusão que se extrai da Súmula Vinculante 28, apro-vada em 2010, após encaminhamento pelo Ministro Joa-quim Barbosa com base no julgamento da Corte na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 1074. Nela, o STF jul-gou inconstitucional o artigo 19, da Lei 8.870/94, que exigia depósito prévio para ações judiciais contra o INSS.

Alternativa “d”: é assegurado a todos, independen-temente do pagamento de taxas, o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegali-dade ou abuso de poder, nos termos do art. 5°, XXXIV, da CF.

09. (FGV – OAB 2011.1) Determinado congressista é flagrado afirmando em entrevista pública que não se relaciona com pessoas de etnia diversa da sua e não permite que, no seu prédio residencial, onde atua como

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síndico, pessoas de etnia negra frequentem as áreas comuns, os elevadores sociais e a piscina do condomí-nio. Ciente desses atos, a ONG Tudo Afro relaciona as pessoas prejudicadas e concita a representação para fins criminais com o intuito de coibir os atos descritos. À luz das normas constitucionais e dos direitos humanos, é correto afirmar que

A) o crime de racismo é afiançável, sendo o valor fixado por decisão judicial.

B) o prazo de prescrição incidente sobre o crime de racismo é de vinte anos.

C) nos casos de crime de racismo, a pena cominada é de detenção.

D) o crime de racismo não está sujeito a prazo extin-tivo de prescrição.

|COMENTÁRIOS|.

Alternativa correta: letra “d”: nos termos do art. 5°, XLII, da CF, a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.

Alternativa “a”: o crime de racismo é inafiançável (art. 5°, XLII, da CF).

Alternativa “b”: o crime de racismo é imprescritível (art. 5°, XLII, da CF).

Alternativa “c”: nos casos de crime de racismo, a pena cominada é de reclusão, não de detenção (art. 5°, XLII, da CF).

10. (FGV – OAB 2010.3) A Constituição garante a plena liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar (art. 5°, XVII). A respeito desse direito fundamental, é correto afirmar que a criação de uma associação

A) depende de autorização do poder público e pode ter suas atividades suspensas por decisão adminis-trativa.

B) não depende de autorização do poder público, mas pode ter suas atividades suspensas por decisão administrativa.

C) depende de autorização do poder público, mas só pode ter suas atividades suspensas por decisão judicial transitada em julgado.

D) não depende de autorização do poder público, mas só pode ter suas atividades suspensas por decisão judicial.

|COMENTÁRIOS|.

Alternativa correta: letra “d”: conforme determina-ção do art. 5°, XVIII e XIX, da CF, a criação de uma associa-ção não depende de autorização do Poder Público, mas só pode ter suas atividades suspensas por decisão judicial.

Alternativa “a”: a criação de uma associação não depende de autorização do poder público e não pode ter suas atividades suspensas por decisão administrativa, somente judicial (art. 5°, XVIII e XIX, da CF).

Alternativa “b”: não depende de autorização do poder público, e também não pode ter suas atividades suspensas por decisão administrativa, somente judicial (art. 5°, XVIII e XIX, da CF).

Alternativa “c”: não depende de autorização do poder público, e só pode ter suas atividades suspensas por decisão judicial, independentemente do trânsito em jul-gado. Somente se exige decisão judicial com trânsito em julgado para a dissolução das associações (art. 5°, XVIII e XIX, da CF).

1.2. AÇÕES OU REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS. TUTELA CONSTITUCIONAL DAS LIBERDADES: MANDADO DE SEGURANÇA, HABEAS CORPUS, HABEAS DATA, AÇÃO POPULAR, MANDADO DE INJUNÇÃO E DIREITO DE PETIÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

11. (FGV - Exame de Ordem 2014.2) Isabella pro-move ação popular em face do Município X, por enten-der que determinados gastos realizados estariam cau-sando graves prejuízos ao patrimônio público. O pedido veio a ser julgado improcedente, por total carência de provas. Inconformada, Isabella apresenta a mesma ação com fundamento em novos elementos, e, mais uma vez, o pedido vem a ser julgado improcedente por carência de provas.

Nos termos da Constituição Federal e da legislação de regência, assinale a opção correta.

A) sendo o pedido julgado improcedente, haverá con-denação em honorários advocatícios.

B) a improcedência por ausência de provas caracteriza a má- fé do autor popular.

C) a reiteração na propositura da mesma ação acarreta o pagamento de custas pelo autor popular.

D) as custas serão devidas se declarada, expressa-mente, a má-fé do autor popular.

|COMENTÁRIOS|.

Alternativa correta: letra “d” (responde a todas as alternativas): nos termos do art. 5°, LXXIII, da CF, qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência. Assim, as custas judiciais e os ônus da sucumbência serão devidos apenas se houver expressa declaração da má-fé do autor. A propositura de ações seguidas, ainda que ambas sejam julgadas improcedentes por ausência de provas, não gera presunção de má-fé.

12. (FGV - Exame de Ordem 2014.1) A ação de habeas data, como instrumento de proteção de dimensão do direito de personalidade, destina-se a garantir o acesso de uma pessoa a informações sobre ela que façam parte de arquivos ou banco de dados de entidades governa-

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mentais ou públicas, bem como a garantir a correção de dados incorretos.

A partir do fragmento acima, assinale a opção cor-reta.

A) conceder-se-á habeas data para assegurar o conhe-cimento de informações relativas à pessoa do impe-trante ou de parente deste até o segundo grau, constantes de registro ou banco de dados de enti-dades governamentais ou privadas.

B) além dos requisitos previstos no Código de Pro-cesso Civil para petição inicial, a ação de habeas data deverá vir instruída com prova da recusa ao acesso às informações ou o simples decurso de dez dias sem decisão.

C) do despacho de indeferimento da inicial de habeas data por falta de algum requisito legal para o ajuiza-mento caberá agravo de instrumento.

D) a ação de habeas data terá prioridade sobre todos os atos judiciais, com exceção ao habeas corpus e ao mandado de segurança.

|COMENTÁRIOS|.

Alternativa correta: letra “d”: segundo o art. 19 da Lei 9.507/97 (Lei do Habeas Data), os processos de habeas data terão prioridade sobre todos os atos judiciais, exceto habeas corpus e mandado de segurança. Na instância supe-rior, deverão ser levados a julgamento na primeira sessão que se seguir à data em que, feita a distribuição, forem con-clusos ao relator.

Alternativa “a”: não há previsão constitucional ou legal de concessão de habeas data para assegurar o conhe-cimento de informações elativas à parente do impetrante.

Alternativa “b”: nos termos do art. 8°, parágrafo único, I, da Lei 9.507/97, além dos requisitos previstos no Código de Processo Civil para petição inicial, a ação de habeas data deverá vir instruída com prova da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão (e não de simples dez dias).

Alternativa “c”: do despacho de indeferimento da inicial de habeas ata por falta de algum requisito legal para o ajuizamento caberá apelação e não agravo de instru-mento), consoante art. 10, parágrafo único c.c. art. 15 da Lei 9.507/97.

13. (FGV - Exame de Ordem 2013.2) Em atenção às recentes manifestações populares, fora noticiado na TV que determinados deputados estaduais de dado Estado da Federação estavam utilizando a verba do orçamento destinada à saúde para proveito próprio. Marcos, cida-dão brasileiro, insatisfeito com a notícia e de posse de documentação que denota indícios de lesão ao patri-mônio de seu Estado, ajuíza Ação Popular no Juízo com-petente em face dos aludidos deputados e do Estado.

Em atenção ao disciplinado na Lei n. 4.717/65, que trata da Ação Popular, assinale a alternativa incor-reta.

A) Marta, cidadã brasileira, residente e domiciliada no mesmo Estado, pode habilitar-se como litiscon-sorte de Marcos.

B) Na mesma linha da ação de Mandado de Segu-rança, o direito de ajuizá-la decai em 5 (cinco) anos.

C) O Estado, a juízo de seu representante legal, em se afigurando útil ao interesse público, poderá atuar ao lado de Marcos na condução da ação.

D) Sendo julgada improcedente a ação movida por Marcos, poderá este recorrer, além do Ministério Público e qualquer outro cidadão.

Alternativa certa (a questão pede a incorreta): “b”: nos termos do art. 21 da Lei 4.717/65, a ação popular pres-creve em 5 anos. Entretanto, de acordo com o art. 23 da Lei 12.016/09, o direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, con-tados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado, e não em 5 anos.

Alternativa “a”: à luz do art. 6°, § 5°, da Lei 4.717/65, é facultado a qualquer cidadão habilitar-se como litiscon-sorte ou assistente do autor da ação popular.

Alternativa “c”: consoante art. 4°, § 3°, da Lei 4.717/65, a pessoas jurídica de direito público ou de direito pri-vado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster--se de contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal ou dirigente.

Alternativa “d”: conforme art. 19, § 2°, da Lei 4.717/65, das sentenças e decisões proferidas contra o autor da ação e suscetíveis de recurso, poderá recorrer qualquer cidadão e também o Ministério Público.

14. (FGV – OAB 2013.1) Em relação aos remédios constitucionais, assinale a afirmativa correta.

A) O habeas data pode ser impetrado ainda que não haja negativa administrativa em relação ao acesso a informações pessoais.

B) A ação popular pode ser impetrada por pessoa jurí-dica.

C) O particular pode figurar no polo passivo da ação de habeas corpus.

D) O mandado de segurança somente pode ser impe-trado quando as questões jurídicas forem incontro-versas.

|COMENTÁRIOS|.

Alternativa correta: letra “c”: o particular pode figu-rar no pólo passivo da ação de habeas corpus, pois a restri-ção à liberdade de locomoção que enseja o habeas corpus pode emanar de ato ilegal ou abusivo praticado pelo poder público ou por um particular. Assim é a lição da doutrina, que traz hipóteses em que cabe habeas corpus contra ato de particular: “contra o médico que ilegalmente promove a retenção de paciente no hospital ou contra o fazendeiro que não libera o colono da fazenda” (CUNHA, Rogério San-ches; LORENZATO, Gustavo Müller; FERRAZ, Maurício Lins e

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PINTO, Ronaldo Batista. Processo Penal Prático. 2 ed. Salva-dor: Juspodivm, 2007, p. 180).

Alternativa “a”: o habeas data somente pode ser impetrado diante da negativa administrativa em relação ao acesso a informações pessoais. Nesse sentido, a Súmula 2 do STJ: “Não cabe o habeas data (CF, Art. 5º, LXXII, letra a) se não houve recusa de informações por parte da autoridade administrativa”.

Alternativa “b”: a ação popular não pode ser impe-trada por pessoa jurídica, pois somente o cidadão (por-tanto, pessoa física) tem legitimidade ativa para tanto. Assim dispõe a Súmula 635 do STF: “Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.”

Alternativa “d”: o mandado de segurança, de fato, pode ser impetrado quando as questões jurídicas forem incontroversas (consoante Súmula 625 do STF), mas não somente nesse caso. O mandado de segurança cabe para outras hipóteses, pois seu objeto é mais amplo, abran-gendo qualquer direito líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas data.

15. (FGV – OAB 2012.4) A respeito da ação de habeas corpus, assinale a afirmativa incorreta.

A) Pode ser impetrado por estrangeiro residente no país.

B) É cabível contra punição disciplinar militar imposta por autoridade incompetente.

C) Não é meio hábil para controle concreto de consti-tucionalidade.

D) A Constituição assegura a gratuidade para seu ajui-zamento.

|COMENTÁRIOS|.

Alternativa certa: letra “c” (a questão pede a incorreta): o habeas corpus – assim como qualquer ação – é meio hábil para controle concreto de constituciona-lidade. Ademais, o controle concreto, difuso ou incidental pode ser provocado por qualquer pessoa e realizado por todo juiz, inclusive de ofício, pois a questão constitucional somente servirá de fundamentação para decisão quanto ao pedido que envolva a resolução de um caso concreto.

Alternativa “a”: segundo o STF, o habeas corpus pode ser impetrado por estrangeiro, residente ou não no país. Para ilustrar, colacionamos o seguinte julgado: “O súdito estrangeiro, mesmo o não domiciliado no Brasil, tem plena legitimidade para impetrar o remédio constitu-cional do habeas corpus, em ordem a tornar efetivo, nas hipóteses de persecução penal, o direito subjetivo, de que também é titular, à observância e ao integral respeito, por parte do Estado, das prerrogativas que compõem e dão significado à cláusula do devido processo legal. A condição jurídica de não nacional do Brasil e a circunstância de o réu estrangeiro não possuir domicílio em nosso país não legiti-mam a adoção, contra tal acusado, de qualquer tratamento arbitrário ou discriminatório. (HC 94.016, julgado em 2009 e relatado pelo Ministro Celso de Mello)

Alternativa “b”: essa alternativa traz uma “pegadi-nha”, isso porque, nos termos do art. 142, § 2º, da CF: “Não

caberá “habeas-corpus” em relação a punições disciplina-res militares”. Entretanto, o STF admite habeas corpus se a sanção disciplinar foi imposta por autoridade incompe-tente. Nesse sentido o RE 338.840: “Não há que se falar em violação ao art. 142, § 2º, da CF, se a concessão de habeas corpus, impetrado contra punição disciplinar militar, volta--se tão somente para os pressupostos de sua legalidade, excluindo a apreciação de questões referentes ao mérito.” (julgado pelo STF em 2003 e relatado pela Ministra Ellen Gracie).

Alternativa “d”: de acordo com o art. 5°, LXXVII, da CF: “são gratuitas as ações de “habeas-corpus” e “habeas--data”, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania”.

16. (FGV – OAB 2012.4 – prova reaplicada em Ipa-tinga/MG) Em caso de militar da Marinha de Guerra, preso disciplinarmente por autoridade incompetente, é cabível

A) habeas corpus, a ser julgado pela Justiça Federal.

B) habeas corpus, a ser julgado pela Justiça Militar.

C) mandado de segurança, a ser julgado pela Justiça Federal.

D) mandado de segurança, a ser julgado pela Justiça Militar.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: veja que a resposta a essa questão é praticamente a mesma da questão anterior. Isso denota a predileção do examinador pelo tema dos remédios cons-titucionais, o que indica que o tema deve ser cobrado tam-bém em provas futuras.

Alternativa correta: letra “a” (responde a todas as alternativas): de acordo com o que comentamos na questão anterior, nos termos do art. 142, § 2º, da CF: “Não caberá “habeas-corpus” em relação a punições disciplina-res militares”. Entretanto, o STF admite habeas corpus se a sanção disciplinar foi imposta por autoridade incompe-tente. Nesse sentido o RE 338.840: “Não há que se falar em violação ao art. 142, § 2º, da CF, se a concessão de habeas corpus, impetrado contra punição disciplinar militar, volta--se tão somente para os pressupostos de sua legalidade, excluindo a apreciação de questões referentes ao mérito.” (julgado pelo STF em 2003 e relatado pela Ministra Ellen Gracie). O detalhe fica por conta da competência nos ter-mos do RHC 88.543, julgado pelo STF em 2007 e relatado pelo Ministro Ricardo Lewandowski, in verbis: “Recurso Ordinário em habeas corpus. Processual penal. Infração disciplinar. Punição imposta a membro das forças arma-das. Constrição da liberdade. Habeas corpus contra o ato. Julgamento pela Justiça Militar da União. Impossibilidade. Incompetência. Matéria afeta à jurisdição da Justiça Fede-ral comum. Interpretação dos arts. 109, VII, e 124, § 2º. I – A Justiça Militar da União compete, apenas, processar e jul-gar os crimes militares definidos em lei, não se incluindo em sua jurisdição as ações contra punições relativas a infra-ções (art. 124, § 2º, da CF). II – A legalidade da imposição de punição constritiva da liberdade, em procedimento admi-nistrativo castrense, pode ser discutida por meio de habeas

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230 Paulo Lépore

�DICAS1. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS• Os direitos civis e políticos formam, juntamente

com os direitos econômicos, sociais e culturais, e também com os direitos de solidariedade ou fra-ternidade, um conjunto indivisível de direitos fun-damentais, entre os quais não há qualquer relação hierárquica.

• Segundo apontamentos doutrinários, são todos direitos humanos, caracterizados pela indivisibi-lidade, irrenunciabilidade e incaducabilidade, e que decorrem da exigência de atendimento do princípio da dignidade da pessoa humana. Sendo assim, por terem o mesmo fundamento, tem tam-bém igual força normativa, não havendo hierarquia entre eles.

• Os tratados e convenções internacionais sobre direi-tos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

• Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obri-gações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. Trata-se do disposto no § 5° do art. 109 da CF.

1.1. DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS, COLE-TIVOS• Os direitos e deveres individuais e coletivos estão

concentrados no art. 5° da CF.

• Apesar do caput do artigo 5° garanti-los apenas a brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil, a doutrina e o STF os estende também para estran-geiros em trânsito e pessoas jurídicas (HC 94.016, julgado em 2008 e relatado pelo Ministro Celso de Mello).

• Segundo entendimento pacífico do Supremo Tri-bunal Federal, as pessoas jurídicas também são titulares de direitos fundamentais (AC 2.032-QO/SP, relatada pelo Ministro Celso de Mello e julgada em 2008).

• O caput do art. 5° da CF enuncia que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Segundo posição doutrinária pacífica, trata-se do reconhecimento da igualdade formal. Entretanto, implícita ao texto constitucional tam-bém existe a igualdade material, que significa conferir tratamento desigual, para igualar. A igual-dade material leva em consideração os sujeitos e valores envolvidos e busca equilibrar as relações de fato.

INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO

Regra Exceções

A casa (englobando escri-tórios, motéis, hotéis e con-gêneres, segundo o STF) é asilo inviolável do indivíduo e nela ninguém pode pene-trar sem consentimento do morador.

hipóteses em que se pode penetrar em casa mesmo sem o consentimento do morador

A) a qualquer horário: em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro

B) somente durante o dia: por determinação judicial.

• De acordo com a posição do STF no HC 93.050, julgado em 2008 e relatado pelo ministro Celso de Mello, para os fins da proteção jurídica a que se refere o art. 5º, XI, da CF, “o conceito normativo de ‘casa’ revela-se abrangente e, por estender-se a qualquer compartimento privado não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade (CP, art. 150, § 4º, III), compreende, observada essa específica limitação espacial (área interna não aces-sível ao público), os escritórios profissionais, inclu-sive os de contabilidade. Sem que ocorra qualquer das situações excepcionais taxativamente previstas no texto constitucional (art. 5º, XI), nenhum agente público, ainda que vinculado à administração tribu-tária do Estado, poderá, contra a vontade de quem de direito (‘invito domino’), ingressar, durante o dia, sem mandado judicial, em espaço privado não aberto ao público, onde alguém exerce sua ativi-dade profissional, sob pena de a prova resultante da diligência de busca e apreensão assim executada reputar-se inadmissível, porque impregnada de ili-citude material. O atributo da autoexecutoriedade dos atos administrativos, que traduz expressão concretizadora do ‘privilège du preálable’, não pre-valece sobre a garantia constitucional da inviolabi-lidade domiciliar, ainda que se cuide de atividade exercida pelo Poder Público em sede de fiscalização tributária.”

• A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

• O Poder Judiciário só admite ações relativas à dis-ciplina e às competições desportivas após esgota-rem-se as instâncias da justiça desportiva. Trata--se de uma exceção ao princípio da inafastabilidade da jurisdição.

• De acordo com posição consolidada do Supremo Tribunal Federal, a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judi-cial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário ofende a garantia de acesso ao Poder Judiciário. Essa é a conclusão que se extrai da Súmula Vinculante 28, aprovada em 2010.

• Assegura-se a todos, independentemente do pagamento de taxas, o direito de petição aos Pode-res Públicos em defesa de direitos ou contra ilegali-dade ou abuso de poder.

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Direito Constitucional 231

• A prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão (não detenção).

• Associações

Associações

Objetivo Exigências

1. Criação

Não depende de autorização do poder público

É vedada a criação de associações de caráter paramilitar

2. Suspensão das Atividades Somente por decisão Judicial

3. Dissolução Somente por decisão judicial com trân-sito em julgado

• Somente os crimes de racismo e de ações de grupos armadas, civis ou militares, contra a ordem constitu-cional e o Estado Democrático são imprescritíveis (além de inafiançáveis). Já os crimes de tortura, trá-fico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terro-rismo e os definidos em lei como hediondos, são insuscetíveis de graça ou anistia (além de inafian-çáveis).

Crime Inafiancável Imprescri-tível

Insuscetível de graça ou

anistia

Racismo Sim Sim Não

Ações de Grupos Arma-dos, Civis ou

Militares con-tra a Ordem

Constitucional e o Estado

Democrático

Sim Sim Não

Tortura Sim Não Sim

Tráfico Ilícito de Entor-

pecentes e Drogas Afins

Sim Não Sim

Terrorismo Sim Não Sim

Hediondo Sim Não Sim

• Princípio da Razoável Duração do Processo: a todos, no âmbito judicial e administrativo, são asse-gurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

1.2. AÇÕES OU REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS. TUTELA CONSTITUCIONAL DAS LIBERDADES: MANDADO DE SEGURANÇA, HABEAS CORPUS, HABEAS DATA, AÇÃO POPULAR, MANDADO DE INJUNÇÃO E DIREITO DE PETIÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.• Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém

sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção (também denominada ambulatorial), por ilegalidade ou abuso de poder.

• O mandado de segurança coletivo pode ser impe-trado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional e; b) organização sindical, enti-dade de classe ou associação legalmente constitu-ída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associa-dos.

• Conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de cará-ter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo. Se forem informações de inte-resse pessoal, mas não da pessoa do impetrante, cabe mandado de segurança.

• O mandado de injunção é utilizado no caso de omissão quanto à regulamentação de norma constitucional de eficácia limitada.

1.3. DIREITOS SOCIAIS

• Os direitos sociais, econômicos, e culturais são direi-tos humanos de segunda geração, mas está errado dizer que isso significa que não são juridicamente exigíveis. Isso porque, todos os direitos humanos são juridicamente exigíveis.

• Nos termos do art. 6°, da CF, são direitos sociais: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, além da assis-tência aos desamparados, na forma da Constituição.

• Os direitos econômicos sociais e culturais são pre-vistos e detalhados, no âmbito do sistema intera-mericano, no Protocolo de San Salvador, e não no texto original da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica).

• Ainda que os direitos trabalhistas historicamente não sejam cobrados pela FGV nas provas de direito constitucional do Exame de Ordem, entendemos por bem comentarmos a EC 72/13, que trouxe nova redação ao parágrafo único do art. 7° da CF: “São assegurados à categoria dos trabalhado-res domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as con-dições estabelecidas em lei e observada a simplifi-cação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência social.” (grifos nossos)

• Para facilitar a compreensão do tema, elaboramos a seguinte tabela:

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232 Paulo Lépore

DIREITOS CONSTITUCIONALMENTE ASSEGURADOS AO TRABALHADOR DOMÉSTICO DEPOIS DA EC 72/13

Direitos incondicionados

Direitos condicionados à legislação infracons-titucional e à observância de simplificação

do cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação

de trabalho e suas peculiaridades

Os que já exis-tiam antes da EC

72/13

1. Salário mínimo

2. Irredutibilidade do salário

3. Décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria

4. Repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos

5. Férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal

6. Licença-gestante de 120 dias

7. Licença-paternidade de 5 dias

8. Aviso-prévio

9. Aposentadoria

1. Integração à previdência social

Os que foram estabelecidos pela EC 72/13

10. Garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável

11. Proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa

12. Duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho

13. Remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do normal

14. Redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança

15. Reconhecimento das convenções e acordos cole-tivos de trabalho

16. Proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil

17. Proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador porta-dor de deficiência

18. Proibição de trabalho noturno, perigoso ou insa-lubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos

2. Relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei com-plementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos;

3. Seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;

4. Fundo de garantia do tempo de serviço;

5. Remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;

6. Salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei

7. Assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas

8. Seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa

1.4. DIREITOS DA NACIONALIDADE• São brasileiros natos: a) os nascidos na República

Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangei-ros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil e; c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e

optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira (naciona-lidade potestativa).

• São brasileiros naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exi-gidas aos originários de países de língua portu-guesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de

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Direito Constitucional 233

CARGOS PRIVATIVOS DE BRASILEIRO NATO

1. Ministro do Supremo Tribunal Federal

2. Presidente da República e Vice

3. Presidente da Câmara dos Deputados

4. Presidente do Senado Federal

5. Carreira diplomática

6. Oficial das Forças Armadas

7. Ministro de Estado da Defesa

• Para memorizar os cargos privativos de brasileiro nato, o amigo leitor pode valer-se da expressa mne-mônica “MP3.COM”

MP3.COM

M Ministro do STF

P 3

Presidente d República (e Vice)

Presidente da Câmara dos Deputados

Presidente do Senado Federal

C Carreira Diplomática

O Oficial das Forças Armadas

M Ministro de Estado da Defesa

• Atenção para as “pegadinhas” clássicas: a) o cargo de Ministro do STJ não é privativo de brasileiro nato, mas o de Ministro do STF é; b) o cargo de Ministro da Justiça não é privativo de brasileiro nato, mas o de Ministro de Estado da Defesa é; c) o cargo de Senador não é privativo de brasileiro nato, mas o de Presidente do Senado Federal é.

• O brasileiro nato pode perder a nacionalidade, pois nos termos do § 4°, do art. 12, da CF, será decla-rada a perda da nacionalidade do brasileiro que adquirir outra nacionalidade (salvo nos casos de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira ou de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para per-manência em seu território ou para o exercício de direitos civis, quando o indivíduo poderá ter mais de uma nacionalidade).

• Regras sobre extradição: a) O brasileiro nato nunca será extradito (por crime comum ou de opinião); b) O brasileiro naturalizado somente poderá ser extra-ditado em caso de crime comum (praticado antes da naturalização), ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins (antes ou depois da naturalização), na forma da lei, mas não por crime político; c) O estrangeiro pode ser extraditado pela prática de crime comum, mas não por crime político e; d) O Brasil não extradita ninguém pela prática de crime político.

POSSIBILIDADE DE EXTRADIÇÃO

Crime comum

Crime político ou de opinião

Brasileiro Nato Não Não

Brasileiro Naturalizado

Sim, desde que seja por:

• crime praticado antes da naturaliza-ção;

• comprovado envol-vimento em tráfico ilícito de entorpecen-tes e drogas afins, na forma da lei.

Não

Estrangeiro Sim Não

Regra geral: O Brasil não extradita ninguém pela prá-tica de crime político

1.5. DIREITOS POLÍTICOS E SISTEMAS ELEITO-RAIS• O alistamento eleitoral e o voto são: I – obrigató-

rios para os maiores de dezoito anos; II – facultati-vos para: a) os analfabetos; b) os maiores de setenta anos e; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

ALISTAMENTO E VOTO

Obrigatórios Facultativos

Maiores de 18 anos

A) Maiores de 16 e menores 18 anos

B) Maiores de 70 anos;

C) Analfabetos;

• São inalistáveis (para votarem ou serem votados) os estrangeiros e os conscritos, durante o período militar obrigatório.

• São inelegíveis (não podem ser votados) os inalistá-veis e os analfabetos.

• Assim, todo inalistável é inelegível, mas nem todo inelegível é inalistável, pois o analfabeto é inelegível (não pode ser votado), mas é alistável (pode votar). Somente os estrangeiros e os conscri-tos são inalistáveis e inelegíveis.

• A improbidade administrativa é caso de suspensão de direitos políticos (art. 15, V, c.c. art. 37, § 4°, ambos da CF)

• O cancelamento de naturalização por sentença judicial (e não por decisão administrativa) é caso de perda de perda de nacionalidade e, por conse-quência, também dos direitos políticos.

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Direito Constitucional 245

pode realizar controle de recepção constitucional (direito infraconstitucional anterior à Constituição vigente), nos termo do art. 1º, parágrafo único, I, da Lei nº 9.882/1999. A ADPF também é a única ação a contemplar a hipótese de controle concentrado de constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal sobre lei ou ato normativo municipal em face da Constituição da República (art. 1º, parágrafo único, I, da Lei nº 9.882/1999).

4. DA ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA: PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMI-CA. SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL• É competência do TCU fiscalizar a aplicação

de quaisquer recursos repassados pela União, mediante convênio, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Muni-cípio.

• É competência do TCU apreciar as contas pres-tadas anualmente pelo Presidente da República, mediante a emissão de parecer prévio, mas não há previsão no sentido de que o parecer prévio deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros do Congresso Nacional.

• Atenção: a sustação de contratos administrativos em que seja identificado superfaturamento ou ile-galidade cabe diretamente ao Congresso Nacio-nal, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis (art. 71, § 1°, da CF).

• Compete ao TCU aplicar aos responsáveis por ile-galidade de despesa ou irregularidade de contas as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário (e não multa sanciona-tória), em decisão dotada de eficácia de título exe-cutivo.

• Lei complementar disporá sobre finanças públicas, conforme art. 163, I, da CF.

• A lei (ordinária, porque quando a CF quer lei complementar ela pede expressamente) esta-belecerá o estatuto jurídico das empresas públicas e sociedades de economia mista, disporá sobre as formas de participação do usuário na administração pública e estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado na administração pública.

� SÚMULAS APLICÁVEIS1. DIREITOS FUNDAMENTAIS• Súmula Vinculante 1: Ofende a garantia constitu-

cional do ato jurídico perfeito a decisão que, sem ponderar as circunstâncias do caso concreto, des-considera a validez e a eficácia de acordo constante de termo de adesão instituído pela Lei Complemen-tar 110/2001.

• Súmula Vinculante 5: a falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a constituição.

• Súmula Vinculante 11: só é lícito o uso de alge-mas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justi-ficada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da respon-sabilidade civil do Estado.

• Súmula Vinculante 18: a dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do art. 14 da Constituição Federal.

• Súmula Vinculante 21: é inconstitucional a exi-gência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo.

• Súmula Vinculante 25: é ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.

• Súmula Vinculante 28: é inconstitucional a exi-gência de depósito prévio como requisito de admis-sibilidade de ação judicial na qual se pretenda dis-cutir a exigibilidade de crédito tributário.

• Súmula 654 do STF: a garantia da irretroatividade da lei, prevista no art 5º, XXXVI, da Constituição da República, não é invocável pela entidade estatal que a tenha editado.

• Súmula 711 do STF: a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

• Súmula 629 do STF: a impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe da autorização destes.

• Súmula 419 do STJ: descabe a prisão civil do depo-sitário judicial infiel.

• Súmula 2 do STJ: não cabe o habeas data (CF, art. 5º, LXXII, letra “a”) se não houve recusa de informa-ções por parte da autoridade administrativa.

• Súmula 376 do STJ: compete à turma recursal pro-cessar e julgar o mandado de segurança contra ato de juizado especial.

• Súmula 333 do STJ: cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação promovida por sociedade de economia mista ou empresa pública.

• Súmula 217 do STJ: não cabe agravo de decisão que indefere o pedido de suspensão da execução da liminar, ou da sentença em mandado de segu-rança.

• Súmula 202 do STJ: a impetração de segurança por terceiro, contra ato judicial, não se condiciona à interposição de recurso.

• Súmula 177 do STJ: o Superior Tribunal de Justiça é incompetente para processar e julgar, originaria-mente, mandado de segurança contra ato de órgão colegiado presidido por ministro de Estado.

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246 Paulo Lépore

• Súmula 105 do STJ: na ação de mandado de segu-rança, não se admite condenação em honorários advocatícios.

• Súmula 41 do STJ: o Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar e julgar, origi-nariamente, mandado de segurança contra ato de outros tribunais ou dos respectivos órgãos.

2. ORGANIZAÇÃO DO ESTADO• Súmula Vinculante 2: é inconstitucional a lei ou

ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

• Súmula 245 do STF: a imunidade parlamentar não se estende ao co-réu sem essa prerrogativa.

• Súmula 628 do STF: integrante de lista de candida-tos a determinada vaga da composição de tribunal é parte legítima para impugnar a validade da nome-ação de concorrente.

• Súmula 647 do STF: compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias civil e militar do Distrito Federal.

• Súmula 722 do STF: são da competência legisla-tiva da União a definição dos crimes de responsabi-lidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento.

• Súmula Vinculante 16: os artigos 7º, iv, e 39, § 3º (redação da ec 19/98), da constituição, referem-se ao total da remuneração percebida pelo servidor público.

• Súmula 651 do STF: A medida provisória não apreciada pelo Congresso Nacional podia, até a EC 32/2001, ser reeditada dentro do seu prazo de eficá-cia de trinta dias, mantidos os efeitos de lei desde a primeira edição.

• Súmula 643 do STF: o Ministério Público tem legi-timidade para promover ação civil pública cujo fun-damento seja a ilegalidade de reajuste de mensali-dades escolares.

• Súmula Vinculante 14: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em pro-cedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

3. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE• Súmula Vinculante 10: viola a cláusula de reserva

de plenário (cf, artigo 97) a decisão de órgão fracio-nário de tribunal que, embora não declare expres-samente a inconstitucionalidade de lei ou ato nor-mativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.

4. ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA E OR-DEM SOCIAL• Súmula Vinculante 3: nos processos perante o Tri-

bunal de Contas da União asseguram-se o contra-ditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administra-

tivo que beneficie o interessado, excetuada a apre-ciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.

• Súmula 653 do STF: no Tribunal de Contas estadual, composto por sete conselheiros, quatro devem ser escolhidos pela Assembleia Legislativa e três pelo chefe do Poder Executivo estadual, cabendo a este indicar um dentre auditores e outro dentre mem-bros do Ministério Público, e um terceiro à sua livre escolha.

• Súmula 347 do STF: o Tribunal de Contas, no exer-cício de suas atribuições, pode apreciar a constitu-cionalidade das leis e dos atos do Poder Público.

• Súmula 6 do STF: a revogação ou anulação, pelo Poder Executivo, de aposentadoria, ou qualquer outro ato aprovado pelo Tribunal de Contas, não produz efeitos antes de aprovada por aquele tribu-nal, ressalvada a competência revisora do Judiciário.

� INFORMATIVOS APLICÁVEIS

1. DIREITOS FUNDAMENTAIS INTERRUPÇÃO DE GRAVIDEZ DE FETO ANENCÉFALO

O Plenário, por maioria, julgou procedente pedido formulado em arguição de descumprimento de preceito fundamental ajui-zada, pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde – CNTS, a fim de declarar a inconstitucionalidade da interpreta-ção segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencé-falo seria conduta tipificada nos artigos 124, 126 e 128, I e II, do CP. Prevaleceu o voto do Min. Marco Aurélio, relator. De início, reputou imprescindível delimitar o objeto sob exame. Realçou que o pleito da requerente seria o reconhecimento do direito da gestante de submeter-se a antecipação terapêutica de parto na hipótese de gravidez de feto anencéfalo, previamente diag-nosticada por profissional habilitado, sem estar compelida a apresentar autorização judicial ou qualquer outra forma de permissão do Estado. Destacou a alusão realizada pela pró-pria arguente ao fato de não se postular a proclamação de inconstitucionalidade abstrata dos tipos penais em comento, o que os retiraria do sistema jurídico. Assim, o pleito colimaria tão somente que os referidos enunciados fossem interpreta-dos conforme a Constituição. Dessa maneira, exprimiu que se mostraria despropositado veicular que o Supremo examinaria a descriminalização do aborto, especialmente porque existi-ria distinção entre aborto e antecipação terapêutica de parto. Nesse contexto, afastou as expressões “aborto eugênico”, “eugenésico” ou “antecipação eugênica da gestação”, em razão do indiscutível viés ideológico e político impregnado na pala-vra eugenia. Na espécie, aduziu inescapável o confronto entre, de um lado, os interesses legítimos da mulher em ver respeitada sua dignidade e, de outro, os de parte da sociedade que dese-jasse proteger todos os que a integrariam, independentemente da condição física ou viabilidade de sobrevivência. Sublinhou que o tema envolveria a dignidade humana, o usufruto da vida, a liberdade, a autodeterminação, a saúde e o reconhecimento pleno de direitos individuais, especificamente, os direitos sexu-ais e reprodutivos das mulheres. No ponto, relembrou que não haveria colisão real entre direitos fundamentais, apenas con-flito aparente. Versou que o Supremo fora instado a se manifes-tar sobre o tema no HC 84025/RJ (DJU de 25.6.2004), entretanto, a Corte decidira pela prejudicialidade do writ em virtude de o parto e o falecimento do anencéfalo terem ocorrido antes do julgamento. Ressurtiu que a tipificação penal da interrupção da gravidez de feto anencéfalo não se coadunaria com a Constitui-

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ção, notadamente com os preceitos que garantiriam o Estado laico, a dignidade da pessoa humana, o direito à vida e a pro-teção da autonomia, da liberdade, da privacidade e da saúde. ADPF 54/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 11 e 12.4.2012.(ADPF-54) STF. Informativo 661.

PRISÃO CIVIL E DEPOSITÁRIO INFIEL

Em conclusão de julgamento, o Tribunal concedeu habeas cor-pus em que se questionava a legitimidade da ordem de prisão, por 60 dias, decretada em desfavor do paciente que, intimado a entregar o bem do qual depositário, não adimplira a obrigação contratual – v. Informativos 471, 477 e 498. Entendeu-se que a circunstância de o Brasil haver subscrito o Pacto de São José da Costa Rica, que restringe a prisão civil por dívida ao descumpri-mento inescusável de prestação alimentícia (art. 7º, 7), conduz à inexistência de balizas visando à eficácia do que previsto no art. 5º, LXVII, da CF (“não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;”). Concluiu--se, assim, que, com a introdução do aludido Pacto no ordena-mento jurídico nacional, restaram derrogadas as normas estri-tamente legais definidoras da custódia do depositário infiel. Prevaleceu, no julgamento, por fim, a tese do status de suprale-galidade da referida Convenção, inicialmente defendida pelo Min. Gilmar Mendes no julgamento do RE 466343/SP, abaixo relatado. Vencidos, no ponto, os Ministros Celso de Mello, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Eros Grau, que a ela davam a qualificação constitucional, perfilhando o entendimento expendido pelo primeiro no voto que proferira nesse recurso. O Min. Marco Aurélio, relativamente a essa questão, se absteve de pronun-ciamento. HC 87585/TO, rel. Min. Marco Aurélio, 3.12.2008. (HC-87585) Info 531

“MARCHA DA MACONHA”

Dar interpretação conforme a Constituição ao § 2º do art. 33 da Lei 11.343/06, com o fim de dele excluir qualquer significado que ensejasse a proibição de manifestações e debates públicos acerca da descriminalização ou da legalização do uso de drogas ou de qualquer substância que leve o ser humano ao entorpe-cimento episódico, ou então viciado, das suas faculdades psi-cofísicas. ADI 4274/DF, Rel. Min. Ayres Britto, 23.11.2011. Pleno. (Info 649)

DÉBITO ALIMENTAR E PRISÃO CIVIL

A prisão civil teria que ser aplicada a situações nas quais, de fato, servisse de estímulo para o cumprimento da obrigação. HC 106709, Rel. Min. Gilmar Mendes, 21.6.2011. 2ª T. (Info 632)

ASSOCIAÇÃO DE MORADORES E COBRANÇA DE MENSALI-DADE A NÃO ASSOCIADOS

Conforme dispõe a Constituição, ninguém estaria compelido a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei e, embora o preceito se referisse a obrigação de fazer, a con-cretude que lhe seria própria apanharia, também, obrigação de dar. Por não se confundir a associação de moradores com o con-domínio disciplinado pela Lei 4.591/64, descabe, a pretexto de evitar vantagem sem causa, impor mensalidade a morador ou a proprietário de imóvel que a ela não tenha aderido. RE 432106, Rel. Min. Marco Aurélio, 20.9.2011. 1ª T. (Info 641)

QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO PELA RECEITA FEDERAL

Conforme disposto no inc. XII do art. 5º da CF, a regra é a privaci-dade quanto à correspondência, às comunicações telegráficas, aos dados e às comunicações, ficando a exceção – a quebra do sigilo – submetida ao crivo de órgão equidistante – o Judiciá-rio – e, mesmo assim, para efeito de investigação criminal ou instrução processual penal. Conflita com a CF norma legal atri-buindo à Receita Federal – parte na relação jurídico-tributária – o afastamento do sigilo de dados relativos ao contribuinte. RE 389808, Rel. Min. Marco Aurélio, 15.12.2010. Pleno. (Info 613)

ADPF E VINCULAÇÃO AO SALÁRIO MÍNIMO

O salário mínimo, nos termos do art. 7º, IV, da CF, haveria de ter valor único, já que as necessidades vitais básicas do trabalhador e de sua família não variariam de acordo com a região do país, não sendo possível, assim, que cada Estado-membro o fixasse por lei própria. Por outro lado, em relação ao piso salarial, o inc. V desse mesmo dispositivo constitucional, ao se referir à res-pectiva extensão e complexidade, agasalharia a consideração do próprio trabalho desenvolvido. ADPF 151 MC, red. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, 2.2.2011. Pleno. (Info 614)

2. ORGANIZAÇÃO DO ESTADO POLÍTICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA E RESERVA DE VAGAS

EM UNIVERSIDADES PÚBLICAS.

O Plenário julgou improcedente pedido formulado em arguição de descumprimento de preceito fundamental ajuizada, pelo Par-tido Democratas – DEM, contra atos da Universidade de Brasília – UnB, do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universi-dade de Brasília – Cepe e do Centro de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília – Cespe, os quais instituíram sistema de reserva de 20% de vagas no processo de seleção para ingresso de estudantes, com base em critério étnico-racial. Preliminarmente, admitiu-se o cabimento da ação, por inexistir outro meio hábil para sanar a lesividade questionada. Apontou-se entendimento da Corte no sentido de que a subsidiariedade da via eleita deve-ria ser confrontada com a existência, ou não, de instrumentos processuais alternativos capazes de oferecer provimento judicial com eficácia ampla, irrestrita e imediata para solucionar o caso. Articulou-se que, diante da natureza infralegal dos atos impug-nados, a ação direta de inconstitucionalidade não seria medida idônea para o enfrentamento da controvérsia, tampouco qual-quer das ações que comporiam o sistema de jurisdição constitu-cional abstrata. De igual modo, repeliu-se alegada conexão ante eventual identidade de causa de pedir entre esta ADPF e a ADI 2197/RJ. Ocorre que as ações de índole abstrata não tratariam de fatos concretos, razão pela qual nelas não se deveria, como regra, cogitar de conexão, dependência ou prevenção relativa-mente a outros processos ou julgadores. Ademais, avaliou-se que o tema relativo às ações afirmativas inserir-se-ia entre os clássicos do controle de constitucionalidade, e seria conveniente que a controvérsia fosse definitivamente resolvida pelo STF, para colocar fim a polêmica que já se arrastaria, sem solução, por várias décadas nas diversas instâncias jurisdicionais do país. ADPF 186/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 25 e 26.4.2012. Info. 663 do STF.

PARCELA INDENIZATÓRIA POR CONVOCAÇÃO EXTRAOR-DINÁRIA

Atualmente, vigoraria no Brasil norma constitucional proibitiva do pagamento de parcela indenizatória aos membros do Con-gresso Nacional pela convocação extraordinária (CF, art. 57, § 7º) e que, por remissão expressa do art. 27, § 2º, da CF, essa regra, à primeira vista, também se aplicaria aos deputados estaduais. ADI 4509 MC, Rel. Min. Cármen Lúcia, 7.4.2011. Pleno. (Info 622)

IMUNIDADE PARLAMENTAR

Nos pronunciamentos feitos no interior das Casas Legislativas, não cabe indagar sobre o conteúdo das ofensas ou a conexão com o mandato, dado que acobertadas com o manto da invio-labilidade. Em tal seara, incumbe à própria Casa a que pertencer o parlamentar coibir eventuais excessos no desempenho dessa prerrogativa. AgRg-RE AI 639.871-MA. Rel. Min. Ayres Britto (Info 645)

PEDIDO DE “IMPEACHMENT” DE MINISTRO DO STF

A competência para recebimento, ou não, de denúncia no pro-cesso de impeachment não se restringe a uma admissão mera-mente burocrática, cabendo, inclusive, a faculdade de rejeitá-la imediatamente acaso entenda patentemente inepta ou des-pida de justa causa. Verificou que o arquivamento da denúncia