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SEÇÃO 6 SUA PETIÇÃO Direito Constitucional

direito constitucional sua peticao secao 6direito.club/wp-content/uploads/2018/07/ES1-CONSTITUCIONAL-CASO-6.pdf · Sua causa! Seção 6 Direito Constitucional Olá, aluno! Estamos

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SEÇÃO 6

SUA PETIÇÃO

Direito Constitucional

Sua causa!

Seção 6

Direito Constitucional

Olá, aluno! Estamos chegando ao fi m do nosso NPJ de Direito Constitucional. Vamos agora iniciar a nossa última Seção. Certamente alguns pontos se repetirão, mas vamos aprofundar aquilo que já aprendemos, ok? Lembre-se que seu objetivo é acumular conhecimento, devendo sempre agregar tudo o que vimos até aqui.

Vimos que a Ação Civil Pública proposta pela Associação dos Moradores Unidos de Caicó foi extinta sem resolução de mérito pelo juiz de primeiro grau, com fundamento no art. 23 da Constituição Federal, em suposta ilegitimidade passiva das partes. Diante disso, foi interposta Apelação ao Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, a fi m de reformar a decisão que extinguiu a ação sem resolução de mérito e proferir outro julgamento.

A fundamentação utilizada pela Defensoria Público no recurso de apelação foi baseada na repartição constitucional de competências, com especial fundamento do art.30 da Carta que trata da competência dos municípios. Entretanto, apesar disso, a decisão judicial se manteve. O Tribunal de Justiça do Estado do Ceará proferiu acórdão, publicado em 05/03/2018, mantendo o entendimento exarado pela decisão a quo, e interpretou os dispositivos constitucionais do sentido da obrigatoriedade de fi gurar no polo passivo todos os entes responsáveis pela proteção

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NPJ - NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COM SUPORTE EM AVA

DIREITO CONSTITUCIONAL - SUA PETIÇÃO - SEÇÃO 6

do patrimônio histórico e cultural, União, Estado e Munícipio. Explicou que esse deve ser o entendimento, negando vigência ao art. 30 da Constituição.

A Associação, muito preocupada com o futuro da ação, voltou a Defensoria para saber o que pode ser feito, se ainda cabe algum recurso que possa reverter a situação. Foram atendidos mais uma vez por José Afonso, o estagiário mais dedicado da Instituição, que rapidamente repassou o caso para um dos defensores responsáveis.

Agora é com você, advogado! Diante da situação narrada,

utilizando todo o conhecimento que você possui, verifi que

qual o recurso de natureza extraordinária cabível contra o

acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do

Ceará que violou o dispositivo constitucional. Elabore a

sua peça, utilizando a fundamentação jurídica adequada

para pleitear a reforma da decisão. Fique atento ao prazo

recursal! Mãos à obra.

Fundamentando!

DOS RECURSOS CONSTITUCIONAIS EXTRAORDINÁRIOS

Quais são?

São o Recurso Especial e o Recurso Extraordinário, de

competência do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo

Tribunal Federal, respectivamente.

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Qual a finalidade?

A finalidade básica desses recursos é buscar a uniformização

do entendimento jurisprudencial acerca da interpretação

de dispositivos de lei federal, ou tratado internacional e de

dispositivos constitucionais. Buscam, portanto, evitar que haja

uma grande discrepância no julgamento dos Tribunais.

• CARACTERÍSTICAS COMUNS: O Recurso Extraordinário (RE)

e o Recurso Especial (Resp) possuem alguns traços/requisitos

em comum inerentes à sua própria natureza extraordinária.

• Esgotamento dos recursos ordinários: Para que seja cabível,

necessitam que haja o esgotamento dos outros recursos, ou

seja, não há mais a possibilidade de interposição de nenhum

recurso que não eles, por isso são de natureza extraordinária,

são a última via recursal.

• Impossibilidade de revisão de matéria fática: Não servem

como instrumento de reapreciação de matéria fática.

Somente se admite para a revisão de matéria de direito.

Para que qualquer questão fática seja apreciada através

desses recursos é necessário que ela esteja vinculada a uma

matéria de direito, a uma questão jurídica posta em causa

no recurso. Sobre o assunto, vejas as seguintes Súmulas:

SÚMULA 456 STF: O Supremo Tribunal Federal,

conhecendo do recurso extraordinário,

julgará a causa aplicando o direito à espécie.

SÚMULA 279 STF: Para simples reexame

de prova, não cabe recurso extraordinário.

SÚMULA 7 STJ: A pretensão de simples reexame de prova

não enseja recurso especial.

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• Possuem previsão constitucional e hipóteses de cabimento

taxativas: Os fundamentos para a interposição, tanto do

Recurso Extraordinário como do Recurso Especial, estão

previstos na Constituição e são taxativos, ou seja, é um rol

restrito e as hipóteses de cabimento se limitam as previstas na

Constituição que estão relacionadas às competências do STJ

e STF, não podendo ser modificadas por lei infraconstitucional.

• Não possuem efeito suspensivo: Em regra, não possuem

efeito suspensivo, mas o mesmo pode, em determinadas

situações, ser requerido. Logo, possuem apenas efeito

devolutivo, inerente a todos os recursos, com a exceção de

que serão apreciadas apenas questões de direito, vedada a

reanálise fática.

• Dirigidos ao presidente ou vice do tribunal recorrido:

Ambos os recursos são interpostos perante o presidente ou

vice do tribunal recorrido, em uma petição distinta das razões

recursais, ou seja, haverá uma petição de interposição e uma

petição contendo as razões recursais, essa última dirigida ao

tribunal competente para julgá-la.

• PREQUESTIONAMENTO: Para que o recurso extraordinário

e o recurso especial sejam apreciados, há a necessidade da

matéria nele discutida ter sido prequestionada, o que significa

que os fundamentos do recurso devem constar na decisão

recorrida. Neste sentido, é o entendimento sumulado do

STJ e do STF. O prequestionamento é mais um requisito

de admissibilidade dos recursos de espécie extraordinária,

por isso, deve ser demonstrado, de forma inequívoca, o seu

preenchimento na peça recursa. Veja as súmulas sobre o tema:

SÚMULA 282 STF: É inadmissível o recurso

extraordinário, quando não ventilada, na

decisão recorrida, a questão federal suscitada.

SÚMULA 283 STF: É inadmissível o recurso extraordinário,

quando a decisão recorrida assenta em mais de um

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Direito Constitucional - Sua Petição - Seção 6NPJ

fundamento suficiente e o recurso não abrange todos.

SÚMULA 211 STJ: Inadmissível recurso especial quanto

à questão que, a despeito da oposição de embargos

declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal “a quo”.

• Prazo de 15 dias para interposição: Seguem o

prazo geral estabelecido no art. 1.003, §5º do CPC.

ATENÇÃO! Como já vimos, aluno, o prazo para a Defensoria

Pública é contado em dobro e começa a contar a partir

da sua intimação pessoal. Durante muito tempo vem

sendo discutida a dificuldade da notificação pessoal das

Defensorias Públicas Estaduais em processos em trâmite

nos Tribunais com sede em Brasília. Sobre o tema, tanto

o STJ como o STF se manifestaram recentemente, pelo

que é importante você ter conhecimento desses julgados.

Ambos os Tribunais têm se manifestado pela necessidade das

Defensoria Públicas estaduais se organizarem e constituírem

escritório na Capital Federal para atuarem nos processos

em trâmite lá, entretanto, enquanto isso não ocorre o

acompanhamento dos mesmos deve ser feito pela Defensoria

Pública da União. (Julgados: AgRg no AREsp n. 230.296/

AL, Ministro Og Fernandes, Sexta Turma, DJe 4/6/2013;

HC 118294, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/

Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado

em 07/03/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-079 DIVULG

19-04-2017 PUBLIC 20-04-2017).

• Preparo: Como todos os recursos, em regra, não sendo o caso

de nenhuma das hipóteses de isenção previstas no art. 1.007,

§1º do CPC, deverá ser comprovado o preparo do recurso

através do recolhimento de custas, sob pena do mesmo ser

considerado deserto.

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• RECURSO ESPECIAL: Hipóteses de cabimento previstas no

art. 105, III da Constituição Federal, são elas:

1. contra decisão que contrarie ou negue vigência a tratado ou

lei federal;

2. contra decisão que dê a lei federal interpretação divergente da

que lhe haja atribuído outro tribunal (divergência jurisprudencial);

3. contra decisão que julgue válido ato de governo local

contestado em face de lei federal.

Em suma, o Recurso Especial é cabível nos casos em que se

verifique uma possível ofensa à dispositivo de lei federal ou

de tratado internacional sem status constitucional; ou quando

houve decisão que lhes negue vigência ou lhes dê interpretação

equivocada.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO: Hipóteses de cabimento previstas

no art. 102, III da Constituição Federal, são elas:

1. contra decisão que contrarie dispositivo da Constituição;

2. contra decisão que declare a inconstitucionalidade de tratado

ou lei federal;

3. contra decisão que julgar válida lei ou ato de governo local

contestado em face desta Constituição.

4. contra decisão que julgar válida lei local contestada em face

de lei federal.

ATENÇÃO! Em um primeiro momento, a hipótese 4 pode ser

confusa, pois faz referência à lei federal. Você pode então se

perguntar: não é o caso de recurso especial? Não, aluno.

Fique atento! Apesar do que aparenta, tal hipótese requer uma

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leitura mais dedicada. Quando uma decisão julga válida uma lei

local contestada em face uma lei federal, a ofensa que existe

é à Constituição e não à lei federal. Veja, suponha que um

Estado edite uma lei sobre um assunto que é de competência

legislativa exclusiva da União, nesse caso, o que se tem é uma

violação à própria constituição no que se refere à repartição de

competências, e não à lei federal em si. Consegue visualizar? É

por isso que nessa hipótese cabe Recurso Extraordinário e não

Recurso Especial.

Em resumo, quando se verificar possível ofensa à dispositivo

constitucional, será caso de cabimento de Recurso Extraordinário,

desde que preenchidos os seus requisitos. Além dos pressupostos

gerais que já vimos, o Recurso Extraordinário possui um

pressusposto de admissibilidade específico: a repercussão geral.

• REPERCUSSÃO GERAL: Requisito previsto no art. 102, III, §3º

da Constituição e no art. 1035 do CPC.

O que é?

É um mecanismo de filtro para os recursos levados até a Suprema

Corte. Enquadrado como um requisito de admissibilidade do

recurso, sem o qual o seu mérito não será apreciado pelo STF.

O que significa?

Dizer que o recurso possui repercussão geral significa que a

decisão proferida irá atingir mais pessoas do que as envolvidas

no processo, que a matéria nele discutida transcende o interesse

das partes e que versa sobre questões relevantes do ponto de

vista econômico, social ou jurídico.

Em que momento deve ser alegada?

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A repercussão geral é requisito de admissibilidade do recurso.

Deve, portanto, ser alegada em forma de preliminar na petição,

de forma a convencer o julgador que o recurso merece ser

apreciado, pois preenche os requisitos.

Quem irá apreciá-la?

Somente após a análise do preenchimento de todos os requisitos

de admissibilidade do recurso será feita a análise da repercussão

geral. Compete ao Supremo Tribunal Federal fazer a referida

análise e definir se há ou não a repercussão. Para que a mesma seja

recusada, é necessário, no mínimo, o voto de 2/3 dos ministros

contra o seu reconhecimento. A decisão proferia pelo STF acerca

da repercussão geral é irrecorrível. O mérito do recurso será

apreciado apenas após reconhecida a repercussão geral.

Pronto, aluno! Terminamos por aqui a nossa revisão de conteúdo.

Você já tem conhecimento suficiente para solucionar mais essa

etapa processual da Ação Civil Pública. Una tudo o que vimos

até aqui e siga em frente, você se saíra muito bem!

PRIMEIRA FASE!

QUESTÃO 01

Leia com atenção os itens abaixo sobre a admissibilidade e

cabimento do recurso extraordinário:

I – O recurso extraordinário é cabível contra decisões que violem

dispositivo de Lei Federal.

II – O recurso extraordinário não será conhecido quando a questão

constitucional nele versada não apresentar repercussão geral.

III – O recurso extraordinário possui efeito suspensivo.

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IV – A repercussão geral deverá ser demonstrada em sede

preliminar do recurso extraordinário.

Agora, analise os itens acima e assinale a alternativa que contém

somente os itens corretos:

A) I, III, IV.

B) II, IV.

C) II, IV.

D) II, III, IV.

E) IV.

ALTERNATIVA CORRETA: C

RESPOSTA COMENTADA: As hipóteses de cabimento do

Recurso Extraordinário estão previstas no art. 102, III da

Constituição Federal, e tratam, em resumo, de casos de ofensa a

dispositivo constitucional. A repercussão geral é um requisito de

admissibilidade do recurso extraordinário, sem o qual o mesmo

não será conhecido. Deve, portanto, ser demonstrado em sede

preliminar das razões recursais.

QUESTÃO 02 – (questão adaptada – Fumarc/AGE/MG/

Procurador/2011)

Do acórdão que, por maioria de votos, denega mandado de

segurança impetrado originariamente junto ao Tribunal de

Justiça do Estado contra ato do Governador de Estado, para

proteger direito líquido e certo constante na Constituição da

República, poderá (ão) ser(em) interposto(s), além dos embargos

de declaração, qual(ais) recurso(s)?

Leia as assertivas abaixo e assinale a única alternativa que contém

a resposta exata à pergunta feita no enunciado acima.

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A) Somente Agravo de Instrumento.

B) Recurso especial e Recurso Extraordinário.

C) Apelação.

D) Recurso Ordinário.

E) Somente Recurso Extraordinário.

ALTERNATIVA CORRETA: E

RESPOSTA COMENTADA: A hipótese narrada não se refere

a caso de afronta à lei federal, ou nenhuma das hipóteses de

cabimento de recurso especial. Como é um acórdão, e não

decisão monocrática do Tribunal de Justiça do Estado, descarta-

se a possibilidade de cabimento de Recurso ordinário. Não se

trata de sentença, logo não cabe apelação. Também não se

trata de uma decisão interlocutória, pelo que não cabe agravo

de instrumento, logo a única hipótese é o recurso extraordinário

por se tratar de decisão colegiada de Tribunal, da qual não cabe

nenhum outro recurso e que versa sobre afronta à Constituição.

Vamos peticionar!

Vamos praticar? Lembre-se de utilizar todo o conteúdo

acumulado até aqui, aluno. Para elaborar corretamente a peça

processual você deve primeiro identifi car qual o recurso cabível,

não é mesmo? Bem, e qual o primeiro passo para isso? A primeira

coisa a ser feita, como em todos os casos em que estamos diante

de uma possibilidade de recurso, é verifi car o tipo de decisão

que se pretende impugnar. Por quem ela foi proferida? É uma

decisão colegiada ou monocrática? É uma decisão terminativa

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ou interlocutória? Vai se atacar o mérito ou apenas contradições,

obscuridades, etc.? Veja que no presente caso estamos diante

de um acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do

Ceará, no julgamento do recurso de apelação, ok?

Pois bem. Observados esses pontos e identificado qual o

recurso cabível contra a referida decisão, passemos ao roteiro

para a elaboração correta da peça. Inicialmente, a primeira

coisa que um bom advogado faz é ter atenção ao prazo para

interposição do recurso, esse jamais pode ser esquecido, pois a

tempestividade é um dos pressupostos de admissibilidade mais

importantes. Após, você deve verificar qual o órgão competente

para julgar o seu recurso, e a ele deve fazer o endereçamento.

Lembre-se de que muitas peças recursais são compostas por

duas petições, uma de interposição destinada ao órgão que

emitiu a decisão impugnada e a outra com as razões recursais,

dirigida ao Tribunal que irá apreciar e julgar o mérito do recurso.

Certo, observados o prazo e o endereçamento, falando ainda

em pressupostos formais, você deve observar também se o

seu recurso exige preparo, né? Feito isso, você deve fazer o

recolhimento das custas e juntar o comprovante na petição,

indicando expressamente isso, para que seu recurso não seja

considerado deserto. Preenchidos os requisitos formais, você

deve atentar aos pressupostos matérias de admissibilidade, a

depender do recurso que esteja sendo elaborado eles podem

variar. Por exemplo, se você estiver fazendo um recurso

extraordinário, deverá demonstrar a existência da repercussão

geral, se estiver fazendo um recurso especial, deverá demonstrar

a violação à lei federal, dentre outros, compreendido?

Para uma peça bem feita e o êxito da sua demanda, você precisa

deixar claramente demonstrado o cabimento do recurso,

fazendo a ligação entre fatos/direito/pedido. Para isso, faça

uma síntese do processo, dos pedidos e decisões até então

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proferidas, dando ênfase na decisão impugnada. Na parte do

mérito, deixe bem claro o que está sendo atacado no recurso,

qual o fundamento jurídico para que o juiz perceba por que a

decisão merece reformada. Feito isso, você terá uma peça de

qualidade. Vá em frente!

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