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INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS DE CONCORRNCIA, CONSUMO E COMRCIO INTERNACIONAL
REVISTA DO
Direito da Concorrncia,
Consumo e Comrcio
InternacionalVolume 23 - Nmero 2 - 2017
REVISTA DO IBRAC
So Paulo
Volume 23 - Nmero 2 - 2017
ISSN 1517-1957
IBRAC - Instituto Brasileiro de Estudos de Concorrncia, Consumo e Comrcio Internacional Rua Cardoso de Almeida 788 cj 121 05013-001 - So Paulo - SP Brasil Tel: 55 11 3872 2609 3673 6748 www.ibrac.org.br [email protected]
Editor Responsvel: Guilherme Favaro Corvo Ribas Editor Assistente: Jos Carlos Busto
Conselho Editorial
Amanda Flvio de Oliveira
Barbara Rosenberg Bernardo Macedo
Caio Mario da Silva Pereira Neto Carlos E. Joppert Ragazzo
Isabel Vaz Juliano Maranho Leonor Cordovil
Marcio Dias Soares Mariana Villela
Mauro Grinberg Patricia Regina Pinheiro Sampaio
Pedro Dutra Pedro Paulo Salles Cristofaro
Vicente Bagnoli
http://www.ibrac.org.br/mailto:[email protected]
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
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DIRETORIA E CONSELHO DELIBERATIVO DO IBRAC 2016 - 2017 DIRETORIA
Diretor-Presidente Eduardo Caminati Anders
Vice-Presidente Barbara Rosenberg
Diretor de Concorrncia Marcio de Carvalho Silveira Bueno Diretora de Consumo e Rio de Janeiro
Mariana Villela Diretor de Comrcio Internacional
Francisco Nicls Negro Diretor de Publicaes
Guilherme Favaro Corvo Ribas
Diretor de Relaes Institucionais Lauro Celidonio
Diretor de Regulao Caio Mario da Silva Pereira Neto
Diretora de Compliance Maria Eugnia Novis Diretora de Economia Slvia Fag de Almeida
Diretor de Braslia Leonardo Peres Da Rocha E Silva
Diretor de Contencioso Econmico Bruno de Lucca Drago
CONSELHO DELIBERATIVO
Pedro Zanotta - Presidente Paola Pugliese - Vice-Presidente
Adriana Giannini Alexandre Ditzel Faraco Aurlio Marchini Santos
Bernardo Macedo Bruno Peres Carbone
Carlos Francisco de Magalhes Carol Monteiro de Carvalho
Cristianne Saccab Zarzur Daniel Oliveira Andreoli Enrico Spini Romanielo
Fabiana Tito Fabricio A. Cardim de Almeida
Fernando Marques Flvia Chiquito dos Santos
Joo de Aquino Rotta Jos Incio Ferraz de Almeida
Joyce Ruiz Rodrigues Alves Juliano Maranho
Leonardo Canabrava Turra Leonardo Maniglia Duarte
Leonor Cordovil
Lcia Ancona Lopez de Magalhes Dias
Marcelo Procpio Calliari Marcio Dias Soares
Marcos Andr Mattos de Lima Carla Amaral Junqueira
Mario Girasole Mauro Grinberg
Paulo L. Casagrande Paulo Lilla
Pedro Dutra Pedro Paulo Salles Cristofaro
Priscila Brolio Gonalves Ren Guilherme da Silva Medrado
Ricardo Inglez de Souza Ricardo Lara Gaillard Srgio Varella Bruna
Sonia Maria Giannini M. Dbler Thais Matallo Cordeiro Gomes
Tito Amaral de Andrade Ubiratan Mattos Vicente Bagnoli
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
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APRESENTAO
Os frutos do Concurso de Monografias TIM-IBRAC
Nesta edio encontramos os artigos selecionados pela Comisso
Julgadora do Prmio IBRAC-TIM 2017 para publicao na Revista do IBRAC.
Alm dos trabalhos apresentados pelos trs primeiros colocados (Marcelo
Nunes de Oliveira, Guilherme de Aguiar Falco e Thaiane Vieira Fernandes de
Abreu), os leitores podero apreciar outros vinte e dois elaborados por autores
da categoria ps-graduao/profissional.
Os textos, de excelente qualidade, foram revisados no sistema blind
review, alm do subscritor, pelos seguintes examinadores, a quem agradecemos
pela incondicional dedicao ao projeto: Bruno Drago, Francisco Negro,
Leonor Cordovil, Mariana Villela, Pedro Paulo Cristfaro, Silvia Faga, Toms
Paiva e Vicente Bagnoli.
Agradecimentos especiais a Gustavo Madi, Marcelo Mejias, Mariana
Villela e Priscila Brolio, que, junto comigo, formam a Comisso Julgadora
desde 2010, primeiro ano da parceria entre IBRAC e TIM Celular.
Nesses oito anos de existncia do Concurso de Monografias, foram
apresentados mais de 300 trabalhos, 50 deles em 2017! Participaram dezenas
de estudantes (graduao e ps graduao), profissionais e autoridades, com
formaes variadas (Direito, Economia, Administrao etc.) em escolas do
Brasil e do exterior. Esses nmeros por si s comprovam o sucesso do projeto
do IBRAC de incentivo produo acadmica na rea antitruste e de
disseminao da cultura da concorrncia no pas.
O Prmio TIM-IBRAC foi objeto de reconhecimento nacional e
internacional durante a concorrida cerimnia de entrega das premiaes,
realizada em 26 de outubro de 2017, durante o 23 Seminrio Internacional de
Defesa da Concorrncia, em Campos do Jordo. Presidida por Mario Girasole
(Vice-Presidente da TIM Celular e Conselheiro do IBRAC) e Eduardo
Caminati (Presidente do IBRAC), a mesa da cerimnia foi composta por
Alexandre Barreto de Souza (Presidente do CADE), Alexandre Cordeiro
Macedo (Superintendente Geral do CADE), Professor Richard Whish (Kings
College London) e Professor William Kovacic (George Washington
University), que fizeram diversos elogios ao trabalho desenvolvido.
Boa leitura.
Guilherme Favaro Corvo Ribas
Diretor de Publicaes do IBRAC e Coordenador da Revista
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
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SOBRE OS AUTORES
Allan Fuezi de Moura Barbosa. Mestrando em Direito da Concorrncia e da
Regulao pela Universidade de Lisboa, tendo participado do Programa
Erasmus+, na Universidade de Bolonha (Itlia). Ps-Graduado em Direito
Europeu em Aco - A jurisprudncia do Tribunal de Justia da Unio Europeia
(Instituto de Direito Europeu - Universidade de Lisboa). Ps-Graduado em
Direito pela Universidade Federal do Paran (UFPR). Graduado em Direito
pela Universidade Catlica do Salvador (UCSal) e em Administrao pela
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Advogado.
Amanda Athayde Linhares Martins. Professora Doutora Adjunta de Direito
Empresarial na Universidade de Braslia (UnB) e de Direito Econmico e da
Concorrncia no Instituto de Direito Pblico Brasiliense (IDP). Doutora em
Direito Comercial pela Universidade de So Paulo (USP). Bacharel em Direito
pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e em Administrao de
Empresas com habilitao em Comrcio Exterior pelo Centro Universitrio
UNA. Coordenadora do Programa de Lenincia Antitruste do Cade.
Andressa Lin Fidelis. Mestre em economia aplicada pela Barcelona Graduate
School of Economics (2017). LL.M. em concorrncia e telecomunicaes pela
Georgetown Law (2014). Bacharel em Direito pela Pontifcia Universidade
Catlica de So Paulo - PUC-SP (2011). Inscrita na Ordem de Advogados do
Brasil e de Portugal. Ex-coordenadora da unidade de lenincia do Cade (2015-
2016). Trainee na Federal Trade Commission (2014) e associada em escritrio
de concorrncia em So Paulo (2009-2013). Advogada em Bruxelas.
Bruna Motta Piazera. Especialista em Direito e Processo Tributrio pela
Universidade Estcio de S. Bacharel em Direito pelo Centro Universitrio
Catlica de Santa Catarina. Assistente no Programa de Lenincia Antitruste do
Cade.
Bruno Bastos Becker. Doutorando em Direito Comercial pela Universidade
de So Paulo (USP), Mestre (LL.M) em Direito pela Yale University (2017).
Bacharel em Direito pela UFRGS. Advogado e professor convidado em cursos
de graduao e ps-graduao. Ex-diretor da Associao Brasileira de Direito
e Economia. Diretor do Instituto de Direito e Economia do Rio Grande do Sul.
Bruno Braz de Castro. Doutor (2017), Mestre (2012) em Direito Econmico
e Bacharel em Direito (2010) pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Advogado e consultor.
Carlos Eduardo Vieira Ramos. Mestrando em Sociologia Jurdica na
Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo (USP). Graduado em
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
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Direito pela mesma instituio, com perodo na Ruprecht-Karls-Universitt
Heidelberg. Membro do Ncleo de Estudos em Concorrncia e Sociedade
NECSO. Assistente I no Gabinete da Corregedoria-Regional da Justia Federal
da 3 Regio.
Fernanda Garibaldi Barreto de Oliveira. Mestranda em Direito
Internacional pela Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo (USP).
Graduada pela Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (2012).
Ex-intercambista da Faculdade de Direito da Universidad Autnoma de
Madrid. Advogada (direito concorrencial e compliance corporativo).
Fernando Amorim Soares de Mello. Doutorando em Direito pela
Universidade de Braslia UnB (2018 - atual). Mestre (2017) e Bacharel (2013)
em Direito pela Faculdade de Direito de Ribeiro Preto da Universidade de So
Paulo (FDRP/USP). Atualmente Servidor do Gabinete da Superintendncia-
Geral do Cade.
Glauco Avelino Sampaio Oliveira. Ph.D em Economia Poltica e Mestre em
Economia pela University of Southern Califrnia. Membro da carreira de
Especialista em Polticas Pblicas e Gesto Governamental em exerccio no
Cade.
Guilherme D'Alessandro Silva. Mestre em Economia do Setor Pblico pela
Universidade de Braslia - UnB (2016). Especializao em Defesa da
Concorrncia pela Fundao Getlio Vargas - FGV (2009). Engenheiro de
Redes de Comunicao pela Universidade de Braslia- UnB (2003).
Coordenador na Superintendncia-Geral do Cade.
Guilherme de Aguiar Falco. Mestre em direito (LL.M) pela Columbia
University, NY e em economia pela Universidade Federal de So Carlos.
Bacharel em direito pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-
SP) e em economia pela Universidade de So Paulo (USP).
Guilherme Teno Castilho Misale. Mestrando em Direito Comercial pela
Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo (USP). Graduado pela
mesma instituio em 2011. Especializao em Compliance pela Fundao
Getlio Vargas. Participou do Programa de Intercmbio do CADE (PinCADE)
em 2010. Cofundador do Ncleo de Estudos em Concorrncia e Sociedade
(NECSO) na Faculdade de Direito da DUSP. Ex-bolsista da Fundacin Botn.
Advogado (direito concorrencial e compliance corporativo).
Isabela Maiolino. Bacharel em Direito pelo Instituto Brasiliense de Direito
Pblico IDP (2017). Assistente na Coordenao-Geral de Anlise Antitruste
02 da Superintendncia-Geral do Cade.
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
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Joo Victor Freitas Ferreira. Mestrando em Direito Comercial pela
Universidade de So Paulo (USP). Monitor da disciplina de Concorrncia,
Mercado e Regulao. Bacharel em Direito pela Universidade Federal do
Maranho. Advogado com atuao na rea concorrencial e anticorrupo.
Levi Borges de Oliveira Verssimo. Ps-Graduando em Direito
Administrativo e Ps-Graduado em Direito Imobilirio pelo Instituto
Brasiliense de Direito Pblico (IDP). Graduado em Direito pela Universidade
de Braslia (UnB). Pesquisador do Grupo de Estudos Constituio, Empresa e
Mercado da UnB. Advogado.
Lucas DAngelo Colacino. Formado em Economia pela Pontifcia
Universidade Catlica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Mestre em Economia pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi Assessor no Cade e
Intercambista do Programa de Intercmbio do Cade, atuando no Departamento
de Estudos Econmicos. Economista.
Lucas Griebeler da Motta. Graduado em Direito pela Pontifcia Universidade
Catlica do Rio Grande do Sul PUC/RS (2015). Aluno especial do Programa
de Mestrado em Direito Comercial da Faculdade de Direito da Universidade de
So Paulo -USP. Autor de artigos acadmicos sobre aes indenizatrias
decorrentes da prtica de cartel, abuso de posio dominante e condutas
unilaterais, bem como atos de concentrao no mercado de
entretenimento/mdia. Finalista nos Concursos de Monografias sobre Defesa da
Concorrncia promovidos pelo IBRAC em 2016 e 2017. Advogado na rea
concorrencial, em So Paulo.
Luiza Andrade Machado. Bacharela em Direito pela Universidade de So
Paulo - USP (2014), com participao em intercmbio acadmico na Universit
Panthon-Assas (Paris II). Advogada.
Marcela Abras Lorenzetti. Ps-graduanda em Direito Econmico pela
Fundao Getlio Vargas GVLaw. Graduada em Direito pela Pontifcia
Universidade Catlica de So Paulo PUC/SP (2015).
Marcelo Nunes de Oliveira. Graduado em Administrao de Empresas pela
Universidade de Braslia (UnB). Ps-graduado em Defesa da Concorrncia pela
Fundao Getlio Vargas (FGV) e Mestrando em Administrao - Finanas
pela UnB. Graduando em Direito pelo Instituto Brasiliense de Direito Pblico
(IDP). Especialista em Polticas Pblicas e Gesto Governamental, do
Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto. Coordenador-Geral de
Anlise Antitruste na Superintendncia-Geral do Cade, autarquia onde est
lotado desde 2009.
Mrcio Roberto Moran. Bacharel em Economia, Mestre e Doutor em
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
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Administrao pela Universidade de So Paulo (USP), com tese desenvolvida
no Virginia Polytechnic Institute and State University (Virginia Tech), nos
Estados Unidos. MBA em Gesto Empresarial pela Fundao Instituto de
Administrao (FIA). Scio-fundador da OTB Assessoria em Projetos e
Solues de Negcios. Professor nos cursos de ps-graduao da FIA Business
School.
Maria Gabriela Castanheira Bacha. Ps-graduada em Direito Econmico
(2017) e Bacharel em Direito (2013) pela Escola de Direito de So Paulo da
Fundao Getulio Vargas. Advogada em So Paulo.
Moiss de Andrade Resende Filho. Ph.D em Economia Agrcola e Aplicada
pela University of Minnesota (2005). Professor Associado do Departamento de
Economia da Universidade de Braslia (UnB).
Murilo Machado Sampaio Ferraz. Advogado especializado em direito
concorrencial e regulatrio. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da
Universidade Presbiteriana Mackenzie (2007). LL.M. em Direito do Estado e
da Regulao pela Escola de Direito do Rio de Janeiro da FGV/RJ (2016).
Membro do Grupo de Estudos de Direito da Concorrncia da Faculdade de
Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Paolo Zupo Mazzucato. Advogado. Professor da Ps-Graduao da Escola de
Direito da Fundao Getlio Vargas/SP (GVLaw). Bacharel e Mestre em
Direito Econmico pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). Presidente da Comisso Permanente de Estudos de
Direito da Concorrncia e da Regulao Econmica da OAB/MG.
Priscilla Craveiro da Costa Campos. Especialista em Gesto Pblica pela
UniProjeo e Bacharel em Relaes Internacionais pela Universidade de
Braslia (UnB). Especialista em Polticas Pblicas e Gesto Governamental, do
Ministrio do Planejamento, Desenvolvimento e Gesto. Servidora no
Programa de Lenincia Antitruste do Cade.
Tereza Cristine Almeida Braga. Mestranda em Direito, Estado e Constituio
pela Faculdade de Direito da Universidade de Braslia. Professora Voluntria
da Universidade de Braslia. Especialista em Planejamento Tributrio pelo
Departamento de Cincias Contbeis da Universidade de Braslia (UnB).
Especialista em Direito Processual Civil pelo Instituto Brasiliense de Direito
Pblico. Bacharela em Direito pela (UnB). Chefe de Assessoria no Tribunal do
Cade.
Thaiane Vieira Fernandes de Abreu. Bacharel em Direito pela Universidade
de Braslia (UnB). Advogada.
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
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SUMRIO
Apresentao ......................................................................................................... 5
Sobre os autores .................................................................................................... 6
Ganhadores do Prmio Tim-IBRAC 2017 ........................................................ 17
Concorrncia potencial: teoria do dano ou futurologia? ................................ 21
Marcelo Nunes de Oliveira
1. Introduo ......................................................................................................... 21
2. Concorrncia potencial - conceito .................................................................... 23
3. A concorrncia potencial na viso das autoridades .......................................... 25
4. Concorrncia potencial na prtica..................................................................... 32
5. Concluso ......................................................................................................... 36
6. Referncias ....................................................................................................... 37
Para alm do antitruste: a necessidade de um novo paradigma para a
poltica de concorrncia no Brasil ..................................................................... 40
Guilherme de Aguiar Falco
1. O governo em prol da concorrncia: o modelo administrativo de represso
antitruste e os prmios e riscos trazidos pela Lei n 12.529/11 ....................... 42
2. O governo enquanto entrave concorrncia: a necessidade de o Brasil
incorporar uma poltica abrangente de promoo da concorrncia ................. 52
3. Consideraes finais concorrncia enquanto poltica de desenvolvimento para
o Brasil ............................................................................................................ 57
4. Referncias ....................................................................................................... 59
Anlise dos remdios antitruste aplicados pelo Cade a partir da vigncia da
Lei 12.529/11........................................................................................................ 64
Thaiane Vieira Fernandes de Abreu ..................................................................... 64
1. Aplicao dos remdios antitruste pelo Cade anlise de dados (2012 a 2017) 66
2. Evoluo na aplicao de remdios antitruste pelo Cade ................................. 74
3. Concluso ......................................................................................................... 78
4. Referncias ....................................................................................................... 79
Do contedo local nas licitaes liberalizao dos mercados pblicos: uma
mudana com vistas preveno de carteis? ................................................... 82
Allan Fuezi de Moura Barbosa ............................................................................. 82
1. Introduo ......................................................................................................... 82
2. O cartel em licitaes........................................................................................ 83
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
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3. O contedo local na lei geral das licitaes ...................................................... 86
4. A liberalizao dos mercados: um meio preventivo ......................................... 93
5. Concluso ......................................................................................................... 99
6. Referncias ....................................................................................................... 99
Dez parmetros para distinguir um cartel nico de mltiplos cartis ......... 102
Amanda Athayde Linhares Martins, Bruna Motta Piazera e Priscilla Craveiro da
Costa Campos
1. Introduo ....................................................................................................... 102
2. Proposta de parmetros: cartel nico ou mltiplos cartis no antitruste ......... 109
3. Concluso ....................................................................................................... 118
4. Referncias ..................................................................................................... 119
Data-driven mergers: a call for further integration of dynamic effects into
competition analysis ......................................................................................... 123
Andressa Lin Fidelis
1. Introduction .................................................................................................... 124
2. Data-driven markets: can a concentrated market still be competitive?........... 125
3. Incorporating a more dynamic approach into merger analysis: what does it
mean? ............................................................................................................ 130
4. Could a dynamic analysis have changed the outcome of
Facebook/WhatsApp? ................................................................................... 134
5. Conclusion ...................................................................................................... 139
6. References ...................................................................................................... 139
Economia comportamental e a cegueira de autoridades antitruste a
estratgias atpicas de abuso ............................................................................ 144
Bruno Bastos Becker
1. Introduo ....................................................................................................... 144
2. Conservadorismo do antitruste e a dominncia da (micro) economia
tradicional ...................................................................................................... 147
3. Os quase tipos de abuso de posio dominante .............................................. 151
4. A limitada racionalidade de autoridades concorrenciais................................. 160
5. Concluso ....................................................................................................... 162
6. Referncias ..................................................................................................... 164
A compresso de margens na fronteira do direito concorrencial ................. 167
Bruno Braz de Castro
1. Breve introduo. A compresso de margens na fronteira das teorias
tradicionais de condutas anticoncorrenciais .................................................. 168
2. A compresso de preos na jurisprudncia da Suprema Corte dos EUA .... 168
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
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3. A compresso de margens na jurisprudncia da Corte Europeia de Justia 175
4. A compresso de margens e o direito concorrencial brasileiro ...................... 180
5. Consideraes finais ....................................................................................... 184
6. Referncias ..................................................................................................... 185
Das assimetrias de informao s assimetrias de concorrncia: uma anlise
da aplicao do direito da concorrncia no mercado de informaes ao
crdito do Brasil ................................................................................................ 192
Carlos Eduardo Vieira Ramos
1. Introduo ....................................................................................................... 192
2. O problema econmico: as assimetrias de informao e os mercados de
informao sobre o crdito ............................................................................ 195
3. Da economia ao antitruste: a experincia do direito concorrencial nos mercados
de informao de crdito ............................................................................... 199
4. Concluso ....................................................................................................... 207
5. Referncias ..................................................................................................... 208
A interveno de terceiros interessados no controle de estruturas: teoria e
prtica luz da experincia do Cade .............................................................. 211
Fernanda Garibaldi Barreto de Oliveira e Guilherme Teno Castilho Misale
1. Introduo ....................................................................................................... 211
2. O instituto do terceiro interessado .................................................................. 215
3. Estatsticas de terceiros interessados em atos de concentrao e as primeiras
sinalizaes ................................................................................................... 220
4. Casos prticos envolvendo terceiros interessados .......................................... 223
5. Notas conclusivas ........................................................................................... 228
6. Referncias ..................................................................................................... 229
Uma regra per se brasileira? A aplicao da teoria da ilicitude pelo objeto
na jurisprudncia do Tribunal do Cade ......................................................... 232
Fernando Amorim Soares de Mello
1. Introduo ....................................................................................................... 232
2. Regime dos padres de prova no enforcement das condutas anticompetitivas:
elementos da regra per se e regra da razo .................................................... 235
3. Condutas anticoncorrenciais no Tratado sobre o Funcionamento da Unio
Europeia (TFUE) e no direito sancionador na Lei 12.529/2011 ................... 237
4. A ilicitude do objeto na experincia do Tribunal do Cade ............................. 245
5. Sntese: o alcance da discricionariedade administrativa no contexto
institucional da ilicitude pelo objeto no processo sancionador antitruste ...... 252
6. Concluses ...................................................................................................... 254
7. Referncias ..................................................................................................... 255
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
13
Economic globalization and competition - institutional responses ............... 259
Glauco Avelino Sampaio Oliveira
1. Introduction .................................................................................................... 259
2. Economic Globalization and Competition ...................................................... 261
3. Political economy theories of trade and competition in global markets ......... 266
4. Institutional responses to competition in international markets ...................... 270
5. Conclusion ...................................................................................................... 273
6. References ...................................................................................................... 274
Uma anlise sobre poder de mercado ao longo da cadeia produtiva da carne
bovina no Brasil ................................................................................................ 278
Guilherme D'Alessandro Silva, Moiss de Andrade Resende Filho
1. Introduo ....................................................................................................... 278
2. A cadeia produtiva da carne bovina (CPCB) no Brasil .................................. 279
3. Modelo terico ................................................................................................ 282
4. Estratgia de estimao, resultados e discusso ............................................. 287
5. Concluso ....................................................................................................... 295
6. Referncias ..................................................................................................... 295
Alternativas ao uso de documentos provenientes de acordos de lenincia nas
aes privadas de reparao pela prtica de cartel ....................................... 298
Isabela Maiolino
1. Introduo ....................................................................................................... 298
2. Represso a cartis, lenincia e confidencialidade ......................................... 300
3. Ao privada de reparao de danos............................................................... 301
4. Cenrios e opes ........................................................................................... 304
5. Concluso ....................................................................................................... 309
6. Referncias ..................................................................................................... 310
Contando cartis: muitos acordos e quantas condutas? ............................... 314
Joo Victor Freitas Ferreira
1. Contando cartis: uma experincia contraintuitiva ......................................... 314
2. O problema de mltiplos conluios na atuao repressiva do Cade em casos de
cartel .............................................................................................................. 316
3. Quantificao de conluios: fundamentos tericos e experincias em outras
jurisdies ..................................................................................................... 319
4. Contando cartis no Brasil .............................................................................. 323
5. Consideraes finais ....................................................................................... 328
6. Referncias ..................................................................................................... 329
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
14
Anlise da efetividade da arbitragem como meio de monitoramento de
remdios antitruste na jurisprudncia do Cade ............................................. 331
Levi Borges de Oliveira Verssimo
1. Introduo ....................................................................................................... 331
2. Noes sobre controle de concentrao e funo do procedimento arbitral ... 333
3. Precedentes do Cade ....................................................................................... 335
4. Concluses ...................................................................................................... 344
5. Referncias ..................................................................................................... 346
Cartel em concorrncias pblicas e corrupo: trade-off e poltica tima .. 347
Lucas DAngelo Colacino
1. Introduo ....................................................................................................... 347
2. Corrupo e cartel em concorrncias pblicas................................................ 348
3. Estudos de casos e melhores prticas ............................................................. 351
4. Melhores prticas para coibir corrupo e cartel em concorrncias pblicas . 357
5. Concluso ....................................................................................................... 360
6. Referncias ..................................................................................................... 361
Breve estudo sobre preocupaes concorrenciais e remdios
comportamentais impostos em concentraes econmicas no mercado de
televiso por assinatura (pay-tv) ................................................................. 364
Lucas Griebeler da Motta
1. Introduo ....................................................................................................... 364
2. Consideraes introdutrias sobre o funcionamento da cadeia produtiva de
prestao de servios de Pay-TV ................................................................... 365
3. Caractersticas do mercado de Pay-TV que devem ser levadas em conta em
uma anlise antitruste .................................................................................... 368
4. Breve anlise de casos .................................................................................... 375
5. Concluso: preocupaes concorrenciais semelhantes em casos, pocas e
jurisdies dessemelhantes ............................................................................ 383
6. Referncias ..................................................................................................... 384
Desafios do big data ao direito da concorrncia ............................................ 387
Luiza Andrade Machado
1. Introduo ....................................................................................................... 387
2. O conceito de big data .................................................................................... 388
3. Atos de concentrao e big data ..................................................................... 390
4. Condutas anticompetitivas e big data ............................................................. 395
5. Concluses ...................................................................................................... 400
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
15
A infrao de gun jumping na jurisprudncia do Cade ................................ 405
Marcela Abras Lorenzetti
1. Introduo ....................................................................................................... 405
2. Jurisprudncia do Cade ................................................................................... 407
3. Sinais para o mercado ..................................................................................... 412
4. Experincia internacional ............................................................................... 414
5. Concluso ....................................................................................................... 416
6. Referncias ..................................................................................................... 417
A defesa da concorrncia em setores regulados: um estudo emprico sobre a
atuao do Cade ................................................................................................ 419
Mrcio Roberto Moran
1. Introduo ....................................................................................................... 419
2. Fundamentao terica ................................................................................... 420
3. Estratgia emprica ......................................................................................... 422
4. Anlise dos resultados .................................................................................... 426
5. Consideraes finais ....................................................................................... 429
6. Referncias ..................................................................................................... 429
Funo do Cade no controle de estruturas: uma anlise dos acordos em
controle de concentrao .................................................................................. 432
Maria Gabriela Castanheira Bacha
1. Introduo ....................................................................................................... 432
2. Regulao econmica e defesa da concorrncia ............................................. 433
3. O controle de estruturas pelo Cade ................................................................. 435
4. Aspectos da funo do Cade diante dos remdios impostos em ACCs .......... 437
5. Concluses ...................................................................................................... 444
6. Referncias ..................................................................................................... 446
Fixao de preo de revenda no e-commerce: uma anlise luz da
jurisprudncia nacional e internacional ......................................................... 448
Murilo Machado Sampaio Ferraz
1. Apresentao do Caso Gerador Hipottico ..................................................... 448
2. A Fixao de preo de revenda (FPR) na legislao e na doutrina
concorrencial brasileira ................................................................................. 450
3. A FPR na jurisprudncia norte-americana ...................................................... 457
4. A FPR na jurisprudncia europeia .................................................................. 458
5. Anlise do caso gerador .................................................................................. 461
6. Concluso ....................................................................................................... 462
7. Referncias ..................................................................................................... 463
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16
Qual o termo inicial da prescrio nas aes reparatrias
por cartelizao? ............................................................................................... 465
Paolo Zupo Mazzucato
1. Consideraes preliminares ............................................................................ 465
2. Compreendendo o instituto da prescrio ....................................................... 466
3. Violao do direito ou cincia desta pela vtima? .......................................... 470
4. H outros fatores em lei a interferir no curso do lapso prescricional? ............ 475
5. As mudanas legislativas propostas pelo CADE: soluo? ............................ 478
6. guisa de concluso: qual o termo inicial? ................................................... 479
7. Referncias ..................................................................................................... 479
Remdios em atos de concentrao: aprendizados e aprimoramentos ........ 482
Tereza Cristine Almeida Braga
1. Introduo ....................................................................................................... 482
2. Premissas e inspiraes................................................................................... 484
3. Cinco anos: nova Lei, novos remdios ........................................................... 487
4. O que esperar? ................................................................................................ 492
5. Referncias ..................................................................................................... 495
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17
GANHADORES DO PRMIO TIM-IBRAC 2017
Categoria Ps-Graduao/Profissional
1 Colocado
Concorrncia potencial: teoria do dano ou futurologia?
Marcelo Nunes de Oliveira
2 Colocado
Para alm do antitruste: a necessidade de um novo paradigma para a poltica de
concorrncia no Brasil
Guilherme de Aguiar Falco
3 Colocado
Anlise dos remdios antitruste aplicados pelo Cade a partir da vigncia da Lei
12.529/11
Thaiane Vieira Fernandes de Abreu
Recomendados pela Comisso Organizadora
Do contedo local nas licitaes liberalizao dos mercados pblicos: uma
mudana com vistas preveno de carteis?
Allan Fuezi de Moura Barbosa
Cartis e hidras de Lerna: da mitologia grega ao estudo da coluso nica ou das
coluses mltiplas no antitruste
Amanda Athayde Linhares Martins
Bruna Motta Piazera
Priscilla Craveiro da Costa Campos
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18
Data-driven mergers: a call for further integration of dynamic effects into
competition analysis
Andressa Lin Fidelis
Economia comportamental e a cegueira de autoridades antitruste a estratgias
atpicas de abuso
Bruno Bastos Becker
A compresso de margens na fronteira do direito concorrencial
Bruno Braz de Castro
Das assimetrias de informao s assimetrias de concorrncia: uma anlise da
aplicao do direito da concorrncia no mercado de informaes ao crdito do
Brasil
Carlos Eduardo Vieira Ramos
A interveno de terceiros interessados no controle de estruturas: teoria e
prtica luz da experincia do Cade
Fernanda Garibaldi Barreto de Oliveira
Guilherme Teno Castilho Misale
Uma regra per se brasileira? A aplicao da teoria da ilicitude pelo objeto na
jurisprudncia do Tribunal do Cade
Fernando Amorim Soares de Mello
Economic globalization and competition - institutional responses
Glauco Avelino Sampaio Oliveira
Uma anlise sobre poder de mercado ao longo da cadeia produtiva da carne
bovina no Brasil
Guilherme D'Alessandro Silva
Moiss de Andrade Resende Filho
Alternativas ao uso de documentos provenientes de acordos de lenincia nas
aes privadas de reparao pela prtica de cartel.
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19
Isabela Maiolino
Contando cartis: muitos acordos e quantas condutas?
Joo Victor Freitas Ferreira
Anlise da efetividade da arbitragem como meio de monitoramento de
remdios antitruste na jurisprudncia do Cade.
Levi Borges de Oliveira Verssimo
Cartel em concorrncias pblicas e corrupo: trade-off e poltica tima
Lucas DAngelo Colacino
Breve estudo sobre preocupaes concorrenciais e remdios comportamentais
impostos em concentraes econmicas no mercado de televiso por assinatura
(pay-tv)
Lucas Griebeler da Motta
Desafios do big data ao direito da concorrncia
Luiza Andrade Machado
A infrao de gun jumping na jurisprudncia do Cade
Marcela Abras Lorenzetti
A defesa da concorrncia em setores regulados: um estudo emprico sobre a
atuao do Cade
Mrcio Roberto Moran
Funo do Cade no controle de estruturas: uma anlise dos acordos em controle
de concentrao
Maria Gabriela Castanheira Bacha
Fixao de preo de revenda no e-commerce: uma anlise luz da
jurisprudncia nacional e internacional.
Murilo Machado Sampaio Ferraz
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
20
Qual o termo inicial da prescrio nas aes reparatrias por cartelizao?
Paolo Zupo Mazzucato
Remdios em atos de concentrao: aprendizados e aprimoramentos
Tereza Cristine Almeida Braga
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
21
CONCORRNCIA POTENCIAL: TEORIA DO DANO OU
FUTUROLOGIA?
Marcelo Nunes de Oliveira
Resumo: Recentes decises do Cade em anlises de atos de concentrao
trouxeram um elemento adicional, e pouco usual no histrico da autoridade,
para a avaliao dos impactos competitivos de uma concentrao econmica: a
concorrncia potencial. Analisando a literatura especializada e decises em
outras jurisdies, percebe-se que no se trata de um tema novo, no obstante
seu uso como teoria do dano seja controverso e ainda no sistematizado.
Considerando a ateno dada pelo Cade ao referido tema, este artigo buscou
explor-lo, aprofundando aspectos j apresentados pela autoridade e abordando
seu uso em outras jurisdies.
Palavras-chave: Concorrncia potencial; fuses e aquisies; inovao;
entrada; teoria do dano.
Keywords: Potential competition; mergers and acquisitions; inovation; entry;
theory of harm.
1. Introduo
Em artigo escrito por Richard A. Posner, analisando a aplicao da
doutrina da concorrncia potencial em cortes norte-americanas, o agora ex-juiz
da Corte de Apelao do Stimo Circuito, em Chicago, atestou, em tom crtico:
[a] Doutrina da Concorrncia Potencial foi desenvolvida pela Corte, e a Corte
deveria abandon-la, e deveria faz-lo logo.
O ano era 1975, e o uso da concorrncia potencial como teoria do
dano houvera sido utilizado em alguns casos1 no final da dcada de 1960 e
incio da dcada de 1970, gerando divergncias de entendimento entre as cortes
americanas a seu respeito. Segundo Posner (1975), no havia um modo de
traduzir os insights tericos sobre os possveis danos da eliminao de um
concorrente potencial em um padro objetivo de ilegalidade. A assertiva
1 United States v. Penn-Olin (1964); Federal Trade Commission v. Procter & Gamble
Co. (1967); e United States v. Falstaff Brewing Co. (1973).
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
22
apontava para a talvez principal fragilidade do argumento: avaliar, por meio um
padro objetivo, os efeitos de algo a concorrncia - existente somente no
campo terico, potencial, ainda que passvel de se estimar em termos
probabilsticos, e os efeitos de sua eliminao.
A despeito da crtica acima, no ltimo ano, o Cade se valeu da anlise
de concorrncia potencial em alguns dos casos mais complexos que passaram
pela autarquia antitruste no referido perodo, todos eles objeto de impugnao
e decididos com algum tipo de restrio, parcial ou total.
Em BM&F-Bovespa/Cetip2, a Superintendncia-Geral do Cade (SG)
abordou o tema em maior profundidade, analisando trs cenrios distintos em
que, dada a complementariedade de suas atividades, uma poderia ser vista como
uma potencial concorrente da outra. Utilizando-se de informaes qualitativas
a respeito de como uma requerente percebia a outra antes da operao e
evidncias - inclusive declarao da prpria Cetip de que estaria desenvolvendo
um servio de Contraparte Central CCP, a SG concluiu que em ao menos um
cenrio (entrada da Cetip no segmento de balco com CCP) a concorrncia
potencial era factvel, e sua eliminao poderia levar a uma perda de
competitividade efetiva no futuro. Tal concluso se somou a outras
preocupaes concorrenciais que subsidiaram a negociao de um Acordo em
Controle de Concentraes ACC entre o Cade e as partes.
Em Kroton/Estcio3, novamente a questo foi levantada, tendo a SG
concludo que as Requerentes seriam potenciais concorrentes em diversos
mercados em que ao menos uma das partes j atuava ou mesmo em mercados
em que nenhuma das partes possua operao. Para tanto, a SG se valeu de dois
tipos de evidncia: (i) a estratgia passada de expanso de ambos os grupos,
que apontaria para o protagonismo das partes no movimento de consolidao
da educao superior no Brasil, seja via crescimento orgnico, seja via
aquisies; e (ii) os planos de expanso de ambas as instituies, inclusive com
pedidos de autorizao no Ministrio da Educao que conferiam
previsibilidade e razovel nvel de probabilidade de efetivao. Tais
argumentos tambm subsidiaram a impugnao da operao junto ao Tribunal,
que a reprovou em deciso majoritria.
Por fim, na anlise da operao envolvendo as empresas Dow e
DuPont4, embora de maneira mais tangencial e sob o enfoque de inovao, o
Cade tambm manifestou preocupao quanto ao fato de que poucos players
no mundo contam com capacidade de inovao comparvel das Requerentes,
2 AC n 08700004860/2016-11, de interesse das empresas BM&F Bovespa e Cetip. 3 AC n 08700.006185/2016-56, de interesse das empresas Kroton S.A e Estcio S.A. 4 AC n 08700.005937/2016-61, de interesse das empresas Dow e DuPont.
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
23
e que a sobreposio entre as partes no apenas em mercados j existentes mas
em pipelines de novos produtos, evidenciando que a anlise se preocupou com
os efeitos dinmicos da operao, e seus impactos na competio futura. A
operao tambm foi aprovada condicionada assinatura de um ACC.
Considerando essa sinalizao recente do Cade quanto preocupao
relativa aos efeitos sobre a concorrncia potencial de operaes de
concentrao econmica, razovel se questionar se as evidncias sugerem
uma mudana de postura, com maior ateno da autoridade em relao aos
efeitos dinmicos e no apenas estticos de operaes de fuses e
aquisies, bem como a aderncia dessa possvel tendncia em relao a melhor
prtica antitruste internacional.
Nesse sentido, alm desta introduo, este artigo contm outras quatro
sees. A seo dois apresenta uma breve conceituao da doutrina de
concorrncia potencial. Na seo trs, ser apresentado um breve resumo sobre
a abordagem de outras jurisdies quanto concorrncia potencial. A seo
quatro traz uma anlise crtica da referida doutrina com base em estudos j
realizados. A seo cinco, por fim, apresenta as consideraes finais a respeito.
2. Concorrncia potencial - conceito
A ideia bsica por trs do conceito de concorrencial potencial remonta
ao incio do sculo do sculo passado quando, em artigo denominado The real
dangers of the trusts, Clark (1904, apud Kern, 2014) afirmou que, mesmo sob
concorrncia imperfeita, a ameaa percebida de uma entrada no mercado teria
o poder de disciplinar as firmas incumbentes, o que as impediria de exercer o
poder de mercado. Dcadas mais tarde, Baumol (1982) capturou esse
entendimento em sua teoria sobre mercados contestveis. Segundo o autor, um
mercado contestvel aquele cuja entrada absolutamente livre, e a sada
pouco custosa, no sentido que um potencial entrante no se encontra em
desvantagem em relao aos incumbentes no que tange s tcnicas de produo,
qualidade ou escala5.
Nesse sentido, a mera potencialidade de entrada futura de um novo
competidor seria fator de disciplina da atuao das firmas j atuantes, na medida
em que o exerccio de poder de mercado levaria, necessariamente, atrao de
novos competidores. Segundo Kern (2014), esse efeito disciplinador tem sido
considerado nas cortes americanas no processo de anlise de fuses e aquisies
e conhecido como Concorrncia Potencial Percebida. Um concorrente
5 O potencial entrante avaliaria a lucratividade da entrada com base nos preos pr-
entrada praticados pelas incumbentes. Ou seja, preos supracompetitivos poderiam
tornar a entrada lucrativa, tornando a ameaa de entrada crvel.
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
24
potencial percebido, segundo o autor, compreendido como uma firma que no
precisa sequer entrar em um mercado pois sua mera existncia j induz as
firmas incumbentes a se comportar de maneira a tornar uma entrada no
lucrativa.
Ainda de acordo com Kern (2014), existe tambm a concorrncia
potencial no sentido de uma entrada efetiva e provvel no futuro. Nesse sentido,
a perda de um concorrente potencial cuja entrada futura seria esperada pode ser
entendida como uma precluso de uma entrada independente que teria
adicionado um novo competidor no mercado.
Kwoka (2008) segue a mesma linha, afirmando a existncia de duas
verses distintas da doutrina de concorrncia potencial. Chama de concorrente
potencial percebido o caso em que um no incumbente percebido como
possvel entrante, constrangendo o comportamento das firmas incumbentes,
ainda que no demonstre inteno de efetivar a entrada. No segundo caso, uma
firma que provavelmente entrar no mercado, mesmo que no seja percebida
como tal pelas incumbentes, denominada de entrante potencial atual ou
efetivo. Nesse ltimo caso, a fuso de um entrante potencial efetivo com uma
incumbente privaria o mercado de uma desconcentrao e do acirramento da
competio futura.
Nota-se uma completa independncia entre ambos os conceitos, j
que um concorrente potencial percebido pode jamais entrar de fato no mercado,
e mesmo assim ser capaz de disciplin-lo. Por outro lado, um concorrente
potencial efetivo pode ser assim considerado mesmo que os incumbentes jamais
tenham o percebido como um futuro entrante.
Outro aspecto de ateno quando se trata da avaliao da
concorrncia potencial relaciona-se com o prprio conceito de mercado
relevante. Um concorrente potencial, percebido ou efetivo, pode ser um agente
que atua em rea geogrfica distinta do mercado relevante objeto de anlise,
mas j produz o produto ou servio ofertado pelas incumbentes. A concorrncia
potencial tambm pode ser avaliada em relao ao aspecto do mercado
relevante produto. Ou seja, em que medida um determinado agente pode vir a
ofertar determinado produto ou servio que ainda no oferta.
Importante notar que, no caso da concorrncia potencial percebida, o
conceito pode eventualmente se confundir com a prpria definio de mercado
relevante, j que, sob a tica da substituibilidade pela oferta, empresas que
sejam capazes de vir a ofertar o bem ou servio no mesmo mercado relevante
geogrfico em que atuam as requerentes podem ser includas no mercado
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
25
relevante objeto de anlise6-7, o que traz implicaes para a anlise, j que, se
um agente entendido como integrante do mesmo mercado relevante, ainda
que no produza determinado bem na regio em que atuam as requerentes,
questionvel que seja considerado um competidor em potencial.
Essa apenas uma das controversas em que a doutrina da
concorrncia potencial est inserida, e que tornam a sua utilizao alvo de
crticas. Seria possvel, portanto, reconciliar essas questes e aplic-la segundo
padres razoveis? A seguir, sero trazidos exemplos de como a doutrina da
concorrncia potencial utilizada em outras jurisdies.
3. A concorrncia potencial na viso das autoridades
Como apresentado na introduo, a concorrncia potencial entre
requerentes de uma operao foi recentemente objeto de exame pelo Cade em
decises recentes envolvendo concentraes complexas, muito embora o
histrico da autoridade no indique esse aspecto como foco de preocupao8.
possvel que alteraes no novo Guia de anlise de atos de concentrao do
Cade (Guia H), publicado em 2016, possa ter jogado luz sobre esse ponto.
At a edio do Guia H), a teoria de concorrncia potencial no era
objeto de ateno da autoridade concorrencial brasileira, j que o guia anterior,
editado pela SEAE em 2001, no fazia meno sua existncia e as implicaes
de seu uso em anlise de concentraes econmicas. Essa omisso foi corrigida
6 Nos termos do Guia de anlise de atos de concentrao do Cade, a definio do
mercado relevante sob a tica da oferta se relaciona avaliao da capacidade e
disponibilidade de outras empresas comearem a produzir e ofertar a mercadoria em
questo na rea considerada, aps um pequeno, porm significativo e no transitrio
aumento de preos. Para ser considerado no mesmo mercado pela tica da oferta, alm
de ser necessrio passar pelas etapas de probabilidade, tempestividade e suficincia,
requer-se que: (i) a oferta deve ocorrer em menos de um ano e (ii) sem a necessidade
de incorrer em custos irrecuperveis. 7 H ainda a possibilidade de que a concorrncia potencial se refira a um novo mercado
que ainda no exista, o que Kern (2014) define como uma anlise de mercados
futuros, o que o prprio autor entende como uma extenso necessria da doutrina de
concorrncia potencial para a abordagem de inovao em concorrncia. 8 Na operao envolvendo as empresas GSK e Novartis (08700.008687/2014-50), o
Cade tangenciou a questo da concorrncia potencial entre medicamentos em
desenvolvimento pelas requerentes e que poderiam vir a concorrer o futuro sem,
contudo, elaborar a fundo o argumento. Por ausncia de evidncias quanto a efetiva
entrada de tais medicamentos no mercado, levando em considerao dentre outros
aspectos o tempo esperado para a obteno de autorizao pela Anvisa, o Cade concluiu
que a sobreposio verificada no era problemtica.
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
26
na atual verso do Guia H, que expressamente menciona a concorrncia
potencial como um mtodo alternativo de anlise. De acordo com o Guia:
ACs de concentraes entre uma empresa j ativa e um concorrente
potencial em um mesmo MR podem ter efeito anticoncorrenciais semelhantes
aos ACs entre duas empresas ativas no mesmo MR
(...) A fim de analisar a concorrncia potencial, o Cade poder demandar,
por exemplo, a apresentao de pedidos de registro, licena e/ou autorizao,
realizados junto ao poder pblico.
Nota-se, porm, que a citao teoria de concorrncia potencial feita
no Guia bastante sucinta, pouco prescritiva em termos de metodologia como
o perfil geral do atual Guia mas suficiente para demonstrar que a questo
no deve ser deixada de lado pela autoridade concorrencial, deixando,
inclusive, dicas a respeito do que pode ser levado em considerao durante a
anlise para que se comprove a tese do potencial entrante.
Em outras autoridades, a concorrncia potencial j vem sendo objeto
de ateno h bastante tempo, seja por meio dos guias de anlise editados por
tais autoridades, seja na anlise de mrito dos casos notificados nessas
jurisdies.
O Competition Bureau do Canad, em sua atual verso de seu Merger
Enforcement Guideline MEG, informa que operaes que no apenas
provocam perda de competitividade, mas tambm aquelas que previnem o
mercado de maior concorrncia devem ser objeto de escrutnio antitruste. Nesse
sentido, o guia canadense explica que tais situaes podem ocorrer quando no
h sobreposio direta entre as atividades das fusionantes no momento da
operao, mas que uma concorrncia direta entre essas empresas seria provvel
ausente a operao. Nessas circunstncias, a autoridade deve examinar se, na
ausncia da operao, a entrada do novo agente seria tempestiva e em escala
e/ou escopo suficientes para prevenir eventual exerccio de poder de mercado
das incumbentes.
Importante ressaltar que a mera expectativa ou comprovao de uma
entrada futura por parte do potencial concorrente no mercado no elemento
suficiente para que uma operao seja contestada sob o argumento de
concorrncia potencial. preciso que a entrada do novo competidor
adquirente ou alvo da operao seja tempestiva, provvel e suficiente, de
modo a contestar a posio dos agentes j estabelecidos. Ou seja, a autoridade
canadense se vale dos mesmos critrios utilizados na anlise de entrada como
elemento disciplinador de eventual poder de mercado futuro decorrente de uma
concentrao entre concorrentes efetivos para verificar se a eliminao de um
concorrente potencial pode trazer danos ao ambiente competitivo.
Em 2010, o Competition Bureau, autoridade antitruste canadense,
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
27
aplicou a doutrina de concorrncia potencial ao avaliar a fuso entre as
empresas Ticketmaster e Live Nation. A primeira era lder mundial no mercado
de venda de ingressos online, enquanto a segunda era a maior produtora de
eventos no mundo. Alm da complementariedade entre as atividades de ambas,
a Live Nation havia demonstrado interesse em entrar no mercado canadense,
colocando-a em posio de competidora em potencial da j estabelecida
Ticketmaster. Como evidncia, a autoridade verificou que a Live Nation havia
recm entrado no mercado norte-americano, provocando uma presso por
reduo das taxas de servios cobradas. A operao foi aprovada condicionada
a alienao de diversos ativos, incluindo uma subsidiria da Ticketmaster
tambm atuante no mercado de vendas de ingressos online, a Paciolan Inc9.
A poltica europeia para controle de concentraes desde 198910 j
previa que a Comisso deveria levar em considerao a necessidade de
preservar e desenvolver concorrncia efetiva no mercado comum europeu,
levando em considerao, dentre outros apectos, a concorrncia atual ou
potencial entre empresas localizadas dentro ou fora da comunidade. O atual
regulamento europeu para a anlise de concentraes11 permanece dedicando
ateno possibilidade de se considerar a concorrncia potencial entre as partes
de uma operao. Em seu artigo 2, o regulamento prev a necessidade de se
levar em conta a estrutura de todos os mercados em causa e concorrncia
real ou potencial de empresas situadas no interior ou no exterior da
comunidade.
O Guia europeu para a anlise horizontal12 ainda mais detalhado,
possuindo um captulo exclusivo para tratar do tema. Nele, afirmado que uma
fuso entre uma parte j ativa no mercado e um potencial competidor pode ter
efeito similar a uma fuso entre duas empresas j ativas no mercado. Para
avaliar os possveis efeitos de uma fuso com um concorrente potencial, duas
condies devem ser atendidas. Primeiramente, o competidor potencial deve
exercer influncia sobre o mercado objeto previamente operao, ou
demonstrar elevada probabilidade de se tornar uma fora competitiva efetiva
no futuro. Em segundo lugar, o mercado no pode apresentar nmero suficiente
de outros potenciais competidores que possam manter presso competitiva aps
a operao.
9 Ticketmaster Entertainment, Inc. and Live Nation, Inc. CT-2010-001 10 Council Regulation (EEC) No 4064/89 of 21 December 1989 on the control of
concentrations between undertakings 11 Council Regulation (EC) No 139/2004 of 20 January 2004 on the control of
concentrations between undertakings (the EC Merger Regulation). 12 Guidelines on the assessment of horizontal mergers under the Council Regulation on
the control of concentrations between undertakings.
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
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Diferentemente dos guias brasileiro e canadense, o guia europeu
indica que a concorrncia potencial pode se apresentar de duas maneiras
distintas, seja por meio da disciplina exercida pelo potencial entrante sobre o
mercado alvo, seja por meio da possibilidade desse potencial entrante se
converter em concorrente efetivo no futuro, percepo alinhada com os
conceitos de concorrncia potencial percebida e atual/efetiva conforme
sugerido pelos autores j mencionados. de se ressaltar tambm a relevante
capacidade de contestao que a Comisso confere aos potenciais
competidores. Inicialmente, ao avaliar que fuses que envolvam um potencial
competidor podem ter efeito similar ao de operaes entre concorrentes
efetivos. Por fim, ao considerar que a presena de outros competidores em
potencial tambm pode afastar as preocupaes decorrentes de concentraes
econmicas.
A tese foi utilizada na anlise da operao que envolveu a compra13,
pela Air Liquide, da BOC, as duas maiores produtoras e distribuidoras de gases
industriais do mundo. Embora ambas atuassem em diversos pases da
comunidade europeia, concorrendo efetivamente entre si nessas localidades, em
seus respectivos pases de origem uma no enfrentava a concorrncia da outra.
Enquanto a Air Liquide possua posio dominante na Frana, a BOC dominava
o mercado de gases industriais no Reino Unido e Irlanda.
Com base nessas informaes, a Comisso Europeia entendeu que
ambas as partes estariam na melhor posio para entrar nos mercados daqueles
pases, poca dominado por apenas uma delas. Como evidncia, a autoridade
verificou que a BOC havia entrado previamente operao na Holanda e na
Blgica, pases em que a Air Liquide j atuava e que se localizam na fronteira
norte da Frana, mercado dominado pela Air Liquide:
Em primeiro lugar, deve considerar-se que o BOC representa um
concorrente potencial em Frana, dado que demonstrou j que pode
desenvolver atividades no domnio do fornecimento de gases a granel e em
cilindros na Europa continental. Em segundo lugar, a supresso da posio
do BOC na Europa contribuiria para atenuar as presses concorrncias a que
a Air Liquide est sujeita, em virtude da presena do BOC num mercado
limtrofe ao seu mercado nacional.
Por outro lado, documentos recebidos pela Comisso demonstraram
que a Air Liquide havia ponderado a possibilidade de fornecer gases industriais
no Reino Unido, quando contatada por um cliente a respeito. Ademais, a prpria
Air Liquide reconheceu que a deciso de no entrar no Reino Unido seria
puramente comercial, j que no considerava os obstculos significativos.
13 Processo n COMP/M.1630 Air Liquide / BOC, de 18 de janeiro de 2000.
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
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Nota-se que, muito embora no tenha sido comprovado que uma das partes
planejava entrar efetivamente no mercado dominado pela outra, havia indcios
de que a mera presena em regio adjacente j seria suficiente para exercer
alguma presso competitiva sobre a incumbente. Trata-se de um exemplo claro
de aplicao da doutrina de concorrncia potencial percebida.
Considerando esses aspectos, dentre outros, a operao foi aprovada
condicionada a alienao de diversos ativos que afastaram as preocupaes
concorrenciais apontadas. Interessante notar que o pacote de ativos oferecido
pelas partes viabilizaria, inclusive, a entrada ou o fortalecimento de um pequeno
concorrente no Reino Unido, de forma que a posio do novo concorrente fosse
mais significativa do que aquela que a Air Liquide teria adquirido
inicialmente, caso tivesse penetrado no mercado do Reino Unido. Ainda, o
pacote de ativos incluiu instalaes na Frana, excedendo o mbito de atuao
da BOC antes da operao. Ou seja, os remdios adotados refletiram as
preocupaes a respeito da concorrncia potencial entre as partes, viabilizando
a entrada de concorrentes efetivos no Reino Unido e na Frana.
Nos Estados Unidos, por sua vez, as discusses acerca do tema j vm
de longa data. O debate a respeito da eliminao de um concorrente potencial
por meio de fuses e aquisies e os efeitos concorrenciais dessas operaes
iniciou-se na dcada de 1960 naquele pas. O primeiro Merger Guideline
elaborado pelo departamento de Justia DOJ, em 1968, ainda sem a
participao da FTC, j trazia um captulo especfico sobre fuses envolvendo
entrantes potenciais. Naquela dcada, diversos casos foram levados ao
conhecimento da Suprema Corte daquele pas sob a alegao de que
eliminariam um potencial concorrente no mercado. O primeiro desses casos, de
1964, ou seja, anterior edio do guia do DOJ, envolvia o mercado de gs
natural, operao por meio da qual a El Paso Natural Gas pretendia adquirir a
Pacific Northwest14. A primeira era o fornecedor de gs natural para o estado
da Califrnia, enquanto a segunda, um produtor de fora daquele estado, havia
participado de concorrncias para oferta de servios naquele mesmo estado,
embora sem sucesso. O governo sustentou que mesmo uma empresa
malsucedida nos processos competitivos em que participava no poderia ser
descartada como competidor. Embora seja possvel questionar qual a definio
de mercado relevante geogrfico fora utilizada bem como a posio da Pacific
Northwest como um competidor potencial15, fato que a intepretao dada pela
14 United States v. El Paso Natural Gas Co., 376 U.S. 651 (1964). 15 Aqui cabem duas observaes. Se a Pacific Northwest participou de licitaes para a
prestao de servios na Califrnia mesmo no atuando efetivamente naquele estado,
questionvel se o mercado relevante seria apenas aquele estado. Considerando o
primeiro ponto, em sendo o mercado relevante mais amplo do que o estado da
Califrnia, a Pacific Northwest deixaria de ser um concorrente potencial para ser um
REVISTA DO IBRAC Volume 23 - Nmero 2 - 2017
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corte foi a de que a empresa alvo contestava o mercado de atuao da El Paso
Natural Gas mesmo estando fora desse mercado, confirmando a posio do
governo em desafiar a referida operao.
Outras operaes ocorridas na mesma poca foram desafiadas tendo
como base argumentos semelhantes. Por exemplo, em 1967, a FTC desafiou a
operao por meio da qual a Proctor & Gambles (P&G) adquiriu a Clorox16,
uma empresa lder no mercado de alvejantes e outros produtos para limpeza
domstica. Segundo a FTC, a P&G era a empresa em melhor posio para entrar
no mercado de atuao da Clorox, considerando sua reputao e sucesso como
um produtor de bens de consumo similares ao portflio da Clorox, embora no
houvesse evidncias claras a respeito do interesse da P&G em adentrar o
segmento de atuao da Clorox. Tambm nesse caso a Suprema Corte
acompanhou o entendimento da FTC.
Segundo Kwoka (2008), essas decises validaram a doutrina de
concorrncia potencial em ambas suas acepes percebida e efetiva dando
ensejo a outros desafios sob o mesmo argumento. Contudo, as cortes
americanas logo levantaram dvidas acerca dos critrios utilizados para a
sustentao do argumento, envidando uma reviso do padro de provas na
operao Marine Bancorporation em 197217. No referido caso, o Departamento
de Justia (DOJ) desafiou a aquisio de uma pequena instituio financeira em
Spokane, Seattle, pelo Marine Bancorporation, sob o argumento de que o
ltimo era um potencial concorrente do primeiro. Contudo, uma regulao
estadual vigente poca praticamente impedia a entrada de bancos em novos
mercados, o que tornava a argumentao do DOJ difcil de ser sustentada.
A adoo da tese de concorrncia potencial de forma negligente e
pouco criteriosa por parte das autoridades foi alvo de crticas, como aquela j
mencionada no incio deste artigo. Tal comportamento por parte das agncias
antitruste levou a uma reao da Suprema Corte no sentido de elevar o padro
de provas requerido para enquadrar uma operao sob a doutrina de
concorrncia potencial. No que diz respeito possibilidade de uma entrada
potencial efetiva, a Suprema Corte praticamente afastou a possibilidade do seu
uso, ao afirmar que seria necessria prova inequvoca de que uma das partes
efetivamente entraria no mercado, ao mesmo tempo em que reconheceu que a
obteno de prova inequvoca seria quase impossvel. Quanto possibilidade
de enquadramento sob a tica da entrada potencial percebida, embora no tenha
rejeitado o uso da tese, estabeleceu um novo padro de prova bastante elevado
para o enquadramento da operao como tal: (i) o mercado alvo deveria ser
concorrente efetivo, j que estaria dentro do mercado relevante geogrfico. 16 FTC v. Proctor & Gamble Co., 386 U.S. 568 (1967). 17 United States v. Marine Bancorporation, 418 U.S. 602 (1972).
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substancialmente concentrado; (ii) a empresa adquirida18 deveria possuir as
caractersticas, capacidade e incentivos econmicos para uma entrada efetiva;
e (iii) a presena da firma adquirida na fronteira do mercado deveria impactar
o comportamento dos incumbentes. O ltimo critrio, ao requerer evidncia de
efeitos decorrentes da presena de uma das partes na fronteira do mercado
tornou a adoo da doutrina de concorrncia potencial bem mais difcil, uma
deciso aparentemente deliberada da Suprema Corte no sentido de restringir o
uso do argumento de maneira indiscriminada.
O tema foi retomado em 1982, quando da edio do primeiro Merger
Guideline conjunto pelo DOJ e pela FTC, que tratou explicitamente da questo
da concorrncia potencial, dedicando um captulo inteiro a esse respeito. Alm
de tecer consideraes sobre as diferentes nuances em que a concorrncia
potencial pode se apresentar, o guia trazia um padro de anlise, que levava em
considerao, dentre outros aspectos, as condies de entrada no mercado, o
market share da parte incumbente e a existncia de outros potenciais entrantes,
o que poderia afastar qualquer risco derivado da operao.
Contudo, as revises subsequentes do guia americano demonstram
uma abordagem errtica a respeito da doutrina de concorrncia potencial. A
verso de 1984, embora ainda mencione a Teoria da Concorrncia Potencial,
claramente reduz o espao destinado ao tema em relao verso anterior. As
verses de 1992 e de 1997 j no apresentam qualquer meno concorrncia
potencial como elemento de anlise em fuses e aquisies. A atual verso, de
2010, retoma a concorrncia potencial como objeto de anlise em
concentraes econmicas, embora, diferentemente dos guias de 1982 e 1984,
no contenha um captulo especfico para tratar do assunto.
Como resultado tanto da elevao do padro de prova que emergiu da
deciso no caso Marine Bancorporation, quanto do gradual ostracismo ao qual
foi relegada a doutrina de concorrncia potencial nos guias norte-americanos
subsequentes edio de 1982, as autoridades antitruste daquele pas limitaram
o uso da tese em operaes submetidas s cortes de justia. Segundo Kwoka
(2009), poucos casos envolvendo a questo so levados ao tribunal, e quando o
so, a concorrncia potencial possui papel ancilar na argumentao, sendo o
principal argumento a perda de concorrncia atual ou efetiva. Ainda segundo o
autor, outros casos envolvendo a eliminao de um concorrente potencial so
resolvidos por meio de acordos, situaes em que as autoridades preferem
evitar a reviso judicial de suas teorias.
Nota-se, por tudo que foi apresentado, que no h consenso a respeito
18 Aqui, tanto faz ser a empresa adquirida ou a adquirente. Importa para a anlise que
uma das partes seja a incumbente e a outra a potencial entrante, independente de qual
delas a adquirida e a adquirente.
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do uso da doutrina de concorrncia potencial entre as autoridades. Enquanto
nos Estados Unidos o tema j subsidiou diversas decises no passado, tendo
sofrido crticas, alteraes no padro de provas, relativo esquecimento durante
certo perodo de tempo e depois ressurgido na ltima verso do guia, embora
de maneira discreta, no Brasil a tese foi inserida na ltima verso do guia
horizontal do Cade, de 2016. Trata-se, aparentemente, de um maior
alinhamento em relao a jurisdies que conferiram maior destaque ao tema
tardiamente, como por exemplo o Canad e, principalmente a Europa.
Feitas essas consideraes, duas questes remanescem pendentes.
Primeiramente, diante da relativa ausncia de consenso entre as autoridades a
respeito de como fazer uso da teoria em casos concretos, seria possvel
estabelecer um padro de anlise objetivo para a avaliao dos efeitos da
eliminao de um concorrente potencial? Mais do que isso, qual a relevncia
da anlise de concorrncia potencial para o antitruste? Sem ter a pretenso de
dar uma resposta definitiva ambas as perguntas, em seguida sero
apresentadas algumas informaes que podem colaborar para o melhor
entendimento a respeito.
4. Concorrncia potencial na prtica
O controle de estruturas exercido pelas autoridades antitrustes mundo
afora se justifica em razo do risco que, de uma operao de concentrao
econmica entre dois competidores, emerja um agente com capacidade de
exerccio de poder de mercado. Contudo, fuses e aquisies so, em geral,
algo positivo, pois permitem que a empresa resultante obtenha ganhos de
eficincia produtiva, melhore sua distribuio, a utilizao de seus ativos,
entregando melhor performance. Por outro lado, tais operaes podem ser
anticompetitivas quando criam monoplio ou elevam o risco de coluso entre
concorrentes ou um comportamento oligopolstico (Hovenkamp, 2005). A
teoria econmica vasta em demonstrar os riscos decorrentes de operaes de
concentrao econmica, assim como h evidncias empricas que corroboram
tais preocupaes19.
19 Por exemplo, Prager e Hannan (1998) analisaram, por meio de exame das condies
de mercado aps algumas fuses ocorridas no mercado bancrio norte-americano na
dcada de 1990, os efeitos dessas operaes nas taxas de depsito oferecidas. Os
autores notaram que as taxas de depsito oferecidas pelas instituies financeiras
resultantes de tais operaes e por seus concorrentes reduziram significativamente em
relao as taxas oferecidas por instituies localizadas em mercados no afetados por
essas operaes. Em outro estudo dos efeitos de operaes de concentrao econmica
sobre os preos foi produzido por Werden, Joskow e Johnson (1991) no setor de aviao
norte-americano. Analisando os efeitos das operaes entre as empresas TWA/Ozark e
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Por outro lado, evidncias de efeitos decorrentes de operaes que
envolvam a supresso de um concorrente potencial so escassas.
Primeiramente, quais os elementos uma empresa deve possuir para que seja
considerada um concorrente potencial? Enquanto no h dvidas a respeito dos
atributos de um concorrente efetivo20, h relevantes questes que devem ser
consideradas para que um concorrente potencial seja assim classificado. Alis,
essa dificuldade exatamente o vetor da controversa a respeito da sua utilizao
como teoria do dano.
No entanto, Kwoka e Shumilkina (2010) tentaram superar essa
dificuldade em estudo emprico que analisou o efeito em preos da eliminao
de um concorrente potencial. Para tanto, primeiramente, escolheram um
mercado cujas caractersticas possibilitariam definir um concorrente como
potencial de maneira mais objetiva: transporte areo de passageiros. A premissa
bastante simples: considerando que o mercado relevante usualmente
definido como uma rota ligando um par de cidades, um concorrente potencial
foi definido como uma empresa area que serve alguma ou ambas as cidades
da rota definida, sem, contudo, atuar na rota em si. Por exemplo, no mercado
da rota So Paulo Rio de Janeiro, toda empresa que atuasse ou em So Paulo,
ou no Rio de Janeiro, ou em ambas, mas que no ofertasse a rota entre as duas
cidades foi considerada uma concorrente potencial, j que a empresa deteria
condies propcias entrada na rota, como base no aeroporto, recursos
humanos, e conhecimento do mercado.
Tendo como base os critrios acima definidos, os autores analisaram
a fuso entre a US Airways e Piedmont Airlines, de 1987. As rotas de atuao
de ambas as companhias foram segmentadas em trs tipos: (i) rotas em que uma
das partes era incumbente e a outra uma potencial entrante; (ii) rotas em que
ambas atuavam como concorrentes efetivas; e (iii) rotas no afetadas, como
benchmark.
Os resultados obtidos so relevantes. Nas rotas em que ambas
atuavam como concorrentes efetivas, foi detectado aumento mdio
estatisticamente significante de 10,2%. Nas rotas em que uma das partes atuava
e a outra era potencial entrante, o aumento mdio foi de 6%, tambm
estatisticamente significante superior ao das rotas no afetadas. Alm disso, os
autores verificaram que os resultados no variavam estatisticamente entre as
rotas em que as partes possuam participaes de mercado maiores ou menores.
Ou seja, mais do que o porte, a ameaa em si era o principal elemento de presso
Northwest/Republic, os autores concluram que ambas as operaes provocaram
elevaes das tarifas e a reduo de servios em rotas partindo de algumas cidades
americanas. 20 Para efeitos antitruste, basta estar no mesmo mercado relevante produto-geogrfico.
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sobre os preos. Ademais, notaram que as variaes de preos foram maiores
onde a US Airways era a incumbente e a Piedmont a potencial entrante,
resultado consistente com o fato de que a primeira foi quem props a fuso,
possivelmente, pelo fato de que se sentia pressionado pela segunda.
Os resultados obtidos pelos autores apontam no sentido de que a
presso competitiva imposta por entrantes potenciais no deve ser desprezada,
a despeito das limitaes de se generalizar os resultados para outras situaes e
mercados.
Entretanto, a maior disseminao no uso da referida teoria ainda parece esbarrar
nas dificuldades prticas de se identificar objetivamente um concorrente
potencial. Voltando a Posner (1975):
A doutrina de concorrncia potencial insatisfatria, embora o problema
menos de uma profunda confuso sobre os fundamentos da poltica do que a
inabilidade em desenvolver padres objetivos e aplicveis (...)
A Corte no tem aplicado o conceito de concorrncia potencial muito bem,
mas isso quase um detalhe. O principal problema a impossibilidade de
desenvolver regras simples e aplicveis de ilegalidade nessa rea, e sem tais
regras a efetividade das leis antitruste tendem a resultar em um custoso
exerccio de capricho judicial.
Nos anos que se seguiram s crticas feitas por Posner ao uso da
doutrina de concorrncia potencial, como visto, algumas autoridades tentaram,
por meio de seus guias, apontar critrios objetivos para seu uso de maneira mais
objetiva.
O novo guia do Cade, ao afirmar que a autoridade deve se valer de
documentos, registros, pedidos perante reguladores para que se ateste o perfil
de concorrente potencial de uma das partes parece dar nfase possibilidade de
entrada potencial efetiva, ou seja, de uma entrada que possa ocorrer com
elevada probabilidade. O guia canadense parece seguir na mesma linha, ao
requerer demonstrao de que, ausente a operao, a entrada do concorrente
potencial seria tempestiva e suficiente. Nota-se que a autoridade canadense
exige mais do que a comprovao da efetiva entrada futura, sendo necessrio
que se comprove que a entrada futura ser um efetivo fator de contestao
naquele mercado.
O guia europeu, por sua vez, parece ser aquele mais aderente teoria
da concorrncia potencial. Em uma anlise de dois passos, o referido manual
exige que se comprove que um potencial entrante exerce disciplina sobre o
mercado alvo ou que possui planos efetivos para entrar naquele mercado no
futuro prximo. Alm dessas comprovaes, requer tambm que seja
comprovada a ausncia de outros concorrentes potenciais que possam continuar
a exercer presso competitiva aps a operao. Contudo, o guia europeu no
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claro sobre quais elementos de prova podem ser considerados para classificar
um agente qualquer como um concorrente potencial.
despeito das tentativas das autoridades mencionadas em dar maior
objetividade para o uso da doutrina de concorrncia potencial, percebe-se ainda
que carecem de maior objetividade sobre o padro de prova requerido para a
comprovao. Kwoka (2008) reconhece isso, afirmando que a dificuldade
parece ser tornar tais percepes convincentemente operacionais, identificando
caractersticas dos concorrentes potenciais percebidos ou efetivos que em fuso
com uma firma incumbente possam resultar em alterao do preo de
equilbrio.
A preocupao justificvel. A falha ao identificar um potencial
concorrente pode levar a erros que comprometem toda a anlise. Ao assumir
que uma das partes um competidor potencial sem que o seja, a autoridade
pode ser levada a restringir uma operao no danosa ao ambiente competitivo.
O contrrio tambm vlido, pois, ao desconsiderar um concorrente potencial
na anlise pode-se permitir operaes que privam o mercado de uma maior
concorrncia no futuro, inclusive estimulando comportamentos desse tipo por
parte dos incumbentes.
Nesse sentido, Kwoka (2008) prope um mtodo de dois passos para
identificar um concorrente potencial. O primeiro passo seria identificar se o
mercado alvo da operao no mnimo moderadamente concentrado. O
segundo passo depende do tipo de concorrncia potencial em exame. Se for o
caso de uma operao que elimine um entrante potencial efetivo ou atual, deve-
se utilizar os mesmos critrios que se utiliza para a anlise de entrada, quais
sejam: (i) entrada em at dois anos; (ii) a entrada seria lucrativa a preos
correntes; e (iii) entrada em escala suficiente. O autor ainda sugere uma quarta
condio: que o potencial entrante seja um de no mais do que cinco agentes
igualmente bem posicionados para entrar no mercado, ou que seja aquele mais
bem posicionado para tal entrada. Para o caso de uma operao eliminar um
concorrente potencial percebido, o autor sugere que sejam levantadas
evidncias convincentes de que a empresa alvo exerce efetiva presso sobre o
comportamento das firmas incumbentes. Para tanto, sugere o uso de evidncias
documentais demonstrando que as incumbentes monitoram e respondem a
aes do potencial entrante, ou alternativamente, uso de ferramentas estatsticas
que demonstrem tal comportamento.
A proposta do autor vlida, na medida em que pretende
compatibilizar orientaes contidas em diversos manuais de autoridades
distintas com o objetivo de conferir instrumental adequado e til para o uso da
doutrina de concorrncia potencial. Nesse sentido, congrega orientaes do
guia canadense (uso do critrio de entrada como requisito de efetividade), do
guia europeu (separao entre concorrncia potencial percebida e efetiva bem
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como a considerao de outros potenciais entrantes no partcipes da operao).
Seria ainda desejvel, talvez, que fosse incorporado no mtodo a exigncia de
elementos robustos que a