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DIREITO DA CONCORRÊNCIA E COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL

Direito Da ConCorrênCia e Cooperação JuríDiCa internaCional · FTC Comissão Federal do Comércio (Federal Trade Commission) dos Estados Unidos GATT Acordo Geral de Tarifas e

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Direito Da ConCorrênCia e Cooperação JuríDiCa

internaCional

Direito Da ConCorrênCia e Cooperação JuríDiCa

internaCional

MARIANNE MENDES WEBBERMestre em Direito Internacional pela Faculdade de

Direito da Universidade de São Paulo – USP Especialista em Direito do Comércio Internacional pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa - UL

Especialista em Direito Societário pela Faculdade de Direito do Centro Universitário Curitiba – Unicuritiba

Advogada

Belo Horizonte2015

341.3787 Webber, Marianne Mendes W372 Direito da concorrência e cooperação jurídica internacional Marianne Mendes Webber. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2015. 282p. ISBN: 978-85-8238-109-0

1. Direito da concorrência. 2. Direito internacional da concorrência. 3. Cooperação jurídica internacional. 4. Defesa da concorrência. 5. Acordos de cooperação. I. Título.

CDD – 341.3787 CDU – 339.137:34

Belo Horizonte2015

CONSELHO EDITORIAL

Elaborada por: Fátima Falci CRB/6-nº700

É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico,inclusive por processos reprográficos, sem autorização expressa da editora.

Impresso no Brasil | Printed in Brazil

Arraes Editores Ltda., 2015.

Coordenação Editorial: Produção Editorial e Capa:

Revisão:

Fabiana CarvalhoDanilo Jorge da SilvaResponsabilidade do Autor

Rua Oriente, 445 – Serra Belo Horizonte/MG - CEP 30220-270

Tel: (31) 3031-2330

www.arraeseditores.com.br [email protected]

Álvaro Ricardo de Souza CruzAndré Cordeiro Leal

André Lipp Pinto Basto LupiAntônio Márcio da Cunha Guimarães

Bernardo G. B. NogueiraCarlos Augusto Canedo G. da Silva

Carlos Bruno Ferreira da SilvaCarlos Henrique SoaresClaudia Rosane Roesler

Clèmerson Merlin ClèveDavid França Ribeiro de Carvalho

Dhenis Cruz MadeiraDircêo Torrecillas Ramos

Emerson GarciaFelipe Chiarello de Souza Pinto

Florisbal de Souza Del’OlmoFrederico Barbosa Gomes

Gilberto BercoviciGregório Assagra de Almeida

Gustavo CorgosinhoJamile Bergamaschine Mata Diz

Janaína Rigo SantinJean Carlos Fernandes

Jorge Bacelar Gouveia – PortugalJorge M. LasmarJose Antonio Moreno Molina – EspanhaJosé Luiz Quadros de MagalhãesKiwonghi BizawuLeandro Eustáquio de Matos MonteiroLuciano Stoller de FariaLuiz Manoel Gomes JúniorLuiz MoreiraMárcio Luís de OliveiraMaria de Fátima Freire SáMário Lúcio Quintão SoaresMartonio Mont’Alverne Barreto LimaNelson RosenvaldRenato CaramRoberto Correia da Silva Gomes CaldasRodolfo Viana PereiraRodrigo Almeida MagalhãesRogério Filippetto de OliveiraRubens BeçakVladmir Oliveira da SilveiraWagner MenezesWilliam Eduardo Freire

V

Para Dione Kroll,mãe e modelo de força e virtude.

VI

“Man is in his actions and practice, as well in his fictions, essentially a story-telling animal. He is not essentially, but becomes through his history, a teller of stories that aspire to truth. But the key question for men is not about their own authorship; I can only answer the question ‘What am I to do?’ if I can answer the prior question ‘Of what story or stories do I find myself a part?’ We enter human society, that is, with one or more imputed characters - roles into which we have been drafted - and we have to learn what they are in order to be able to understand how others respond to us and how our responses to them are apt to be construed.”

Alasdair MacIntyre (After Virtue)

VII

agraDeCimentos

Agradeço, primeiramente, ao prof. associado Dr. Wagner Menezes, por ter acre-ditado no projeto desta obra e por ter me concedido a oportunidade única de com-por o seu primeiro grupo de orientandos de pós-graduação no Largo São Francisco. Seus constantes estímulos para a construção de uma trajetória acadêmica compro-metida, bem como a sua ideologia no desenvolvimento de um Direito Internacional cosmopolita, foram determinantes para lançar a semente do meu desejo de contínuo aprimoramento acadêmico.

A todos os professores do Programa de Pós-Graduação da Universidade de São Paulo, agradeço pela paciência na minha instrução. Em especial, agradeço ao prof. as-sociado Dr. André de Carvalho Ramos, que despretensiosamente inspirou a evolução deste estudo nos bancos da disciplina de Cooperação Jurídica Internacional, e que, sempre disponível ao apoio do meu crescimento enquanto pesquisadora, inclusive fora dos bancos da Universidade de São Paulo, contribuiu imensamente ao direcio-namento e amadurecimento desta obra, em vista dos oportunos comentários tecidos por ocasião da minha banca de qualificação e de defesa da dissertação de mestrado.

Agradeço também ao prof. Dr. Augusto Jaeger Júnior, da Universidade Fe-deral do Rio Grande do Sul, não somente por trazer à comunidade de juristas brasileiros substanciais conhecimentos relacionados à temática do Direito Interna-cional da Concorrência, compartilhando assim o seu extenso saber sobre a matéria, mas também pelas discussões que me motivaram enquanto iniciante pesquisadora. Sua contribuição a esta publicação foi ímpar, primeiramente em virtude dos va-liosos apontamentos ofertados na sua qualidade de membro da minha banca de avaliação do mestrado, mas também pela presteza e dedicação na confecção da apresentação deste livro.

Aos meus colegas pesquisadores que, no cativante ambiente das Arcadas, com muita amizade me ofereceram essencial suporte e compartilharam comigo as con-quistas próprias de um intenso programa de pós-graduação que cultimou neste

VIII

trabalho. Faço também menção ao apoio recebido dos colegas de escritório, advoga-dos que com maestria aplicam diariamente o Direito e cujas contribuições desperta-ram um olhar pragmático em torno do objeto desta pesquisa.

Finalmente, agradeço à minha família e aos meus amigos, que não obstante os prolongados períodos de minha ausência, justificados pelo tempo e energia ne-cessários a este estudo, mostraram-se sempre disponíveis para me oferecer ânimo e conforto, sem os quais esta conquista não seria possível.

IX

lista Das prinCipais abreviaturas utilizaDas

ACC Acordo em Controle de Concentrações

ALADI Associação Latino-americana de Integração

ALALC Associação Latino-americana de Livre Comércio

APRO Acordo de Preservação da Reversibilidade das Operações

CADE Conselho Administrativo de Defesa Econômica

CCMR Casos de Concentração no Mundo Real – Um Estudo dos Procedimentos de Controle das Concentrações da OCDE

CEPAL Comissão Econômica para a América Latina

CMC Conselho do Mercado Comum do Mercosul

Constituição Federal Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988

DEE Departamento de Estudos Econômicos do CADE

DOJ Departamento de Justiça (Department of Justice) dos Estados Unidos

Estados Unidos Estados Unidos da América do Norte

FTC Comissão Federal do Comércio (Federal Trade Commission) dos Estados Unidos

GATT Acordo Geral de Tarifas e Comércio (General Agreement on Tariffs and Trade)

GMC Grupo Mercado Comum do Mercosul

GTCPC Grupo de Trabalho sobre a Interação entre Comércio e Política de Concorrência da OMC

IAEAA Lei de Assistência à Execução Internacional (International Enforcement Assistance Act) dos Estados Unidos

ICN Rede Internacional da Concorrência (International Competition Network)

X

Lei da Concorrência Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011.

Lei de Acesso à Informação

Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011.

Mercosul Mercado Comum do Sul

NAFTA Acordo de Livre Comércio da América do Norte (North American Free Trade Agreement)

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OEA Organização dos Estados Americanos

OEA-CJI Comissão Jurídica Interamericana da Organização dos Estados Americanos

OMC Organização Mundial do Comércio

ProCADE Procuradoria Federal Especializada junto ao CADE

RCMR Recomendações do Conselho para Análise de Concentrações da OCDE

RICADE Regimento Interno do CADE

SBDC Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência

SDE Secretaria de Defesa Econômica

SEAE Secretaria de Acompanhamento Econômico

Séries PERs Acordos Multilaterais de Princípios e Regras Equitativas para o Controle de Práticas Empresariais Restritivas da UNCTAD

SG Superintendência Geral do CADE

TFUE Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia

TJUE Tribunal de Justiça da União Europeia

Tribunal Administrativo

Tribunal Administrativo de Defesa Econômica do CADE

TRIMS Acordo sobre Medidas de Investimento Relacionadas ao Comércio (Agreement on Trade Related Investment Measures)

TRIPS Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (Agreement on Trade Related Aspects of Intellectual Property)

TUE Tratado da União Europeia

UNCTAD Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (United Nations Conference on Trade and Development)

UNASUL União de Nações Sul-Americanas

XI

sumário

PREFÁCIO .................................................................................................................... XV

APRESENTAÇÃO ....................................................................................................... XVI

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1

CAPíTulO 1DIREITO DA CONCORRÊNCIA: ENFOQUES, CONCEITOS E DIMENSÕES ................................................................................................................ 61.1 O DIREITO DA CONCORRÊNCIA ............................................................... 6

1.1.1 A economia e o Direito da Concorrência ............................................... 61.1.2 Influência do Direito norte-americano no desenvolvimento da matéria nos variados sistemas jurídicos nacionais ................................ 121.1.3 O Direito da Concorrência brasileiro ...................................................... 151.1.3.1 Legislação vigente ...................................................................................... 191.1.3.1.1 Constituição Federal de 1988 .............................................................. 191.1.3.1.2 Lei da Concorrência (Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011) 211.1.3.1.3 Regulamentos relevantes ....................................................................... 221.1.3.2 Atos de concentração multijurisdicionais ............................................ 231.1.3.2.1 Conceito................................................................................................... 231.1.3.2.2 A análise dos atos de concentração pelo SBDC ............................... 261.1.3.3 Tratamento de informações confidenciais ........................................... 34

1.2 O DIREITO INTERNACIONAL DA CONCORRÊNCIA: TERMINOLOGIA E CONCEITO .................................................................... 381.3 AS DIMENSÕES DO DIREITO INTERNACIONAL DA CONCORRÊNCIA ............................................................................................... 40

1.3.1 Dimensão unilateral do Direito Internacional da Concorrência ....... 40

XII

1.3.1.1 Evolução da aplicação das legislações nacionais de defesa da concorrência a partir do Direito norte-americano .............................. 441.3.1.1.1 Precedentes legislativos norte-americanos .......................................... 461.3.1.1.2 O princípio da territorialidade estrita ............................................... 461.3.1.1.3 O Princípio da Pseudoterritorialidade ............................................... 491.3.1.1.4 A teoria dos efeitos ................................................................................ 501.3.1.1.5 O princípio da ponderação .................................................................. 531.3.1.2 A teoria dos efeitos no Direito brasileiro ............................................. 581.3.1.2.1 Art. 2º da Lei da Concorrência ............................................................ 581.3.1.2.2 Decisões das autoridades brasileiras sobre a aplicação extraterritorial do Direito da Concorrência ..................................... 611.3.1.3 Teoria dos efeitos: reflexos, limitações e reação internacional ......... 661.3.1.3.1 Protestos e reclamações diplomáticas ................................................. 681.3.1.3.2 As leis de bloqueio ................................................................................. 691.3.2 Dimensões multilateral, regional e bilateral: a cooperação em matéria da concorrência ............................................................................. 71

CAPíTulO 2COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL E O DIREITO DA CONCORRÊNCIA ..................................................................................................... 732.1 A COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL ..................................... 73

2.1.1 O Estado Constitucional Cooperativo .................................................... 742.1.2 As formas de manifestação da cooperação jurídica internacional ...... 772.1.3 Cooperação Jurídica Internacional: definição e espécies ...................... 792.1.4 Auxílio direto ................................................................................................ 812.1.5 Cooperação ativa e passiva ......................................................................... 832.1.6 Cooperação formal e informal .................................................................. 83

2.2 A COOPERAÇÃO EM MATÉRIA DA CONCORRÊNCIA ...................... 852.2.1 Relação entre o Direito Interno e o Direito Internacional e entidades envolvidas .................................................................................... 872.2.2 Dimensão multilateral do Direito Internacional da Concorrência .... 912.2.2.1 Negociações e iniciativas envolvendo a matéria concorrencial em sentido amplo ...................................................................................... 912.2.2.1.1 Da Carta de Havana ao GATT e à OMC .......................................... 922.2.2.1.2 Código Concorrencial Internacional ................................................. 992.2.2.1.3 Organização das Nações Unidas (ONU) e Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD) ............................................................................................. 1032.2.2.1.4 Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ............................................................................. 1062.2.2.1.5 Rede Internacional de Concorrência (ICN) ...................................... 1072.2.2.2 Os atos de concentração multijurisdicionais e o labor dos foros internacionais em prol da cooperação ........................................ 108

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2.2.2.2.1 Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ............................................................................. 1092.2.2.2.2 Rede Internacional de Concorrência (ICN) ...................................... 1122.2.3 Dimensão Regional do Direito Internacional da Concorrência ......... 1142.2.3.1 Mercosul ..................................................................................................... 1162.2.3.1.1 Estados-Partes do Mercosul .................................................................. 1182.2.3.1.2 Estrutura orgânica do Mercosul .......................................................... 1192.2.3.1.3 O Mercosul e suas fontes ...................................................................... 1212.2.3.1.4 O Mercosul e a matéria concorrencial ............................................... 1232.2.3.1.5 As Decisões do Conselho do Mercado Comum sobre a matéria da concorrência ....................................................................... 1262.2.3.2 Outras Organizações Internacionais e Acordos Regionais ............... 1352.2.3.2.1 União Europeia ...................................................................................... 1352.2.3.2.2 NAFTA ..................................................................................................... 1392.2.4 Dimensão bilateral: aspectos gerais dos acordos bilaterais ................... 140

CAPíTulO 3OS ACORDOS DE COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL ENTRE AS AUTORIDADES DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA: A ANÁLISE DOS ATOS DE CONCENTRAÇÃO MULTIJURISDICIONAIS ......................................................................................... 1413.1 RESTROSPECTO HISTÓRICO ........................................................................ 1413.2 ACORDOS BILATERAIS: TIPOS, OBJETO E CARACTERÍSTICAS ....... 146

3.2.1 Acordos de primeira e segunda geração ................................................... 1473.2.2 Objeto dos acordos bilaterais ..................................................................... 1483.2.2.1 Cooperação técnica ................................................................................... 1493.2.2.2 Cooperação na aplicação das legislações nacionais de defesa da concorrência.......................................................................................... 1513.2.2.2.1 Notificações trocadas entre autoridades ............................................ 1523.2.2.2.2 Princípios de cortesia negativa e de cortesia positiva ...................... 1533.2.2.2.3 Busca e compartilhamento de informações ...................................... 1583.2.2.2.4 Coordenação de atividades entre autoridades: decisões e adoção de restrições concertadas ........................................................ 164

3.3 ACORDOS DE COOPERAÇÃO CELEBRADOS PELA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL OU PELO SBDC ................................................ 167

3.3.1 Recepção dos acordos pelo ordenamento jurídico brasileiro .............. 1693.3.2 Âmbito de aplicação .................................................................................... 1723.3.3 Notificações trocadas entre autoridades .................................................. 1733.3.4 Princípio de cortesia negativa e positiva .................................................. 1743.3.5 A busca por informações ............................................................................ 1793.3.6 O compartilhamento e a troca de informações ...................................... 1813.3.7 Coordenação entre autoridades ................................................................. 1843.3.8 Outras disposições relevantes ..................................................................... 189

XIV

3.3.9 Considerações gerais sobre os acordos firmados pelas autoridades brasileiras ................................................................................. 190

3.4 APLICAÇÃO PRÁTICA DOS ACORDOS EM VIGOR AOS ATOS DE CONCENTRAÇÃO MULTIJURISDICIONAIS ..................................... 192

3.4.1 Casos envolvendo autoridades brasileiras ................................................ 1933.4.2 Casos envolvendo a União Europeia e os Estados Unidos .................. 1973.4.3 Comparação na aplicação de acordos bilaterais por terceiros países e pelas autoridades brasileiras ........................................................ 204

3.5 COOPERAÇÃO BILATERAL EM MATÉRIA DA CONCORRÊNCIA: PROBLEMAS CONSTATADOS E PERSPECTIVAS ..................................... 206

CONCLUSÃO .............................................................................................................. 216

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................... 222Referências Bibliográficas ........................................................................................... 222Documentos oficiais/publicações .............................................................................. 225Obras Consultadas ....................................................................................................... 226Sítios na Internet .......................................................................................................... 227Lista de Casos ................................................................................................................ 228

ANEXOS ........................................................................................................................ 230

ANEXO A - ACORDOS BILATERAIS CELEBRADOS ENTRE ESTADOS UNIDOS E A UNIÃO EUROPEIA .................................................. 230

ANEXO B - DECISÕES CMC/MERCOSUL RELEVANTES EM MATÉRIA DE COOPERAÇÃO ............................................................................. 233

ANEXO C - SUMÁRIO DOS ACORDOS CELEBRADOS PELO BRASIL E SBDC ................................................................................................... 237

ANEXO D - ACORDOS CELEBRADOS PELO BRASIL E SBDC COM DISPOSIÇÕES DE COOPERAÇÃO TÉCNICA ........................... 238

ANEXO E - ACORDOS CELEBRADOS PELO BRASIL E SBDC COM DISPOSIÇÕES DE COOPERAÇÃO NA APLICAÇÃO DAS LEIS DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA .................................... 243

XV

prefáCio

Recebi com muita honra o convite formulado pela autora para prefaciar a presente obra porque tenho certeza da sua qualidade e conheço seus atributos para investigação cientifica. Embora, o prefácio tenha a missão de introduzir o tema a ser discutido no livro, não posso deixar de fazer menção a um conjunto de elementos que compõe o seu valor, dado à importância da presente obra e seu significado tanto para a autora quanto para a comunidade acadêmica.

A presente obra “DIREITO DA CONCORRÊNCIA E COOPERAÇÃO JU-RÍDICA INTERNACIONAL” de autoria de MARIANNE MENDES WEBBER é resultado do talento investigativo da autora e dotada de conteúdo profundo sobre o tema da adoção de mecanismos para disciplinar o direito da concorrência interna-cional principalmente em ação coordenada entre Estados.

A obra foi concebida como resultado de estudo sistêmico desenvolvido pela autora no programa de pós-graduação em Direito da Faculdade de Direito da Uni-versidade de São Paulo com objetivo de promover estudo inovador que pudesse contribuir com a remodelação de conceitos e leituras sobre o Direito Internacional contemporâneo e seus impactos no sistema normativo dos Estados.

Para elaboração da pesquisa que resultou na presente obra, a autora passou por um conjunto de exercícios exigidos para realização do programa, tais como pesqui-sas diversas, organizou de seminários, participação em grupos de pesquisa, estudos normativos, viagens pedagógicas, tendo ministrado aulas na graduação e realizado todas essas tarefas com profundo comprometimento, o que robusteceu sua condição de intelectual de lastro e conteúdo.

Testemunhei a dedicação da autora na condução de sua investigação e seu com-prometimento com pesquisa na elaboração estrutural do livro, sua preocupação com as fontes, com o método de implementação de seu discurso e o rigor preciso no estabelecimento de metas e prazos para desenvolvimento do trabalho resultando em aprovação com louvor por banca altamente qualificada.

XVI

A propósito, trabalhar com a autora foi experiência prazerosa, além de uma grande honra. Sua alegria em realizar os trabalhos mais penosos foi uma lição. Por outro lado, a dedicação com que vivenciou o ambiente acadêmico, mesmo paralela-mente desenvolvendo exigente e pesada agenda de trabalho emescritórios, demons-trou o quanto é determinada.

A Autora MARIANNE MENDES WEBBER destacou-se como pesquisadora na Universidade de São Paulo por sua seriedade, responsabilidade e capacidade inte-lectual diferenciada e o presente livro reflete bem isso, sendo resultado de suas apre-ciações pessoais, de sua vivencia prática no escritório de advocacia e de sua pesquisa desafiadora e aprofundada.

A presente obra “DIREITO DA CONCORRÊNCIA E COOPERAÇÃO JU-RÍDICA INTERNACIONAL” certamente passa a ser obra de referência sobre o tema de direito da concorrência, pois traz, no cerne da discussão, intricado debate sobre a cooperação jurídica internacional e os mecanismos de controle, implemen-tação e fluidez do direito da concorrência, especialmente no caso dos atos de con-centração multijuridicionais, conjugando apreciação teórica e abordagens práticas, diálogo fundamental para aplicação e análise de casos complexos sobre o tema pelos operadores do direito.

Da leitura da obra denota-se a preocupação e zelo que se teve com a escolha das fontes doutrinárias, através do farto material bibliográfico nacional e estrangeiro que servem de referência extensiva ao leitor, bem como, análise de casos concretos, e diversidade da legislação comparada que disciplinam o tema, conduzindo didati-camente a compreensão do tema, envolvido pelo discurso central e teses da autora.

O livro é didaticamente dividido em três capítulos, seguindo o método deduti-vo, sendo que no primeiro capítulo, intitulado “Direito da concorrência: enfoques, conceitos e dimensões”, a autora fixa os contornos conceituais com os quais irá trabalhar ao longo do seu trabalho, situando o leitor sobre os contornos conceituais do direito da concorrência, dos atos de concentração multijuridicionais, além dos princípios norteadores e dos valores inspiradores do direito da concorrência, do direito internacional da concorrência e de sua extensão normativa, ao mesmo tempo em que deixa transparecer sua posição e objetivos que serão resgatados ao longo do desencadeamento do discurso no trabalho.

No segundo capítulo “Cooperação jurídica e o direito da concorrência” a autora analisa aspectos ligados à dimensão normativa da cooperação jurídica internacional estabelecendo interessante leitura de vanguarda sobre a extensão do fenômeno coope-rativo no atual contexto internacional, além de sua abordagem tradicional, localizando o papel de instituições internacionais no desenvolvimento do processo cooperativo, especialmente o de organizações internacionais e blocos de integração regional, onde a dinâmica concorrencial é pauta central da produção normativa, como ocorre no caso do MERCOSUL, do NAFTA e da UNIÃO EUROPÉIA, seja com o condão de aproxi-mar, de harmonizar ou de unificar as legislações dos Estados associados.

Por fim, no terceiro capítulo, intitulado “ Os acordos de cooperação jurídica interancional entre as autoridades de defesa da concorrência” a autora analiza os

XVII

acordos bilaterais para defesa de concorrência especialmente de cooperação técnica, aplicação da legislação nacional, comunicações entre autoridades, principios relevan-tes e coordenação de atividades e ainda, enfoca os acordos de cooperação celebrados pelo Brasil a extensão e aplicação dos mesmos no direito brasileiro e seus efeios práticos, especialmente aos atos de concentração multijurisdicionais, realizando nes-se mesmo diapasão estudo comparado, quando apresenta ao final, perspectivas e desafios para o tema.

A obra é bem articulada, conduzindo o leitor a visualizar um quadro coope-rativo em matéria de direito da concorrência existente, onde ainda são necessários mecanismos mais efetivos para harmonização e unificação do tratamento normativo pelos Estados, denunciando divergências quanto ao mecanismo concorrencial adota-do por cada sistema jurídico, e a fragilidade do mesmo frente a pressões políticas e econômicas, necessitando de um aparelhamento mais efetivo a partir de sua análise concreta e aplicada.

Ao se trabalhar com o direito da concorrência, é fundamental a leitura crítica dos seus institutos jurídicos e normativos e a compreensão dos mecanismos que norteiam sua aplicação, daí a importância fundamental da obra para os operadores do direito e todos aqueles que necessitem interpretar o direito da concorrência pela ótica cooperativa.

A publicação da presente obra vem em boa hora quando existe intensa fluidez de investimento transnacional e, assentada sobre pesquisa séria e detida, serve como referencial a compor fundamentalmente a biblioteca de todos aqueles que trabalham com o tema, destacando-se que nela se pode didaticamente aprender, refletir sobre questões complexas do direito da concorrência e da cooperação jurídica internacio-nal e, ao mesmo tempo, analisar concretamente, a partir dos casos concretos e do estudo comparado da normativa internacional, seus pressupostos epistêmicos e sua aplicação concreta e é neste sentido que tais referencias fazem dela uma obra comple-ta. Recomendo, portanto, sua leitura.

São Paulo, 17 de abril de 2015.

WAGNER MENEZESProfessor Associado da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Livre--docente, Pós-doutor pela Universidade de Padova, Itália. Árbitro do Tribunal do Mer-cosul, Presidente da Academia Brasileira de Direito Internacional (ABDI); Diretor da Sociedade Brasileira de Direito Internacional (SBDI).

XVIII

apresentação

Com imenso prazer, recebi o convite da hoje mestre em direito internacional, Marianne Mendes Webber, para escrever essa apresentação do seu livro, de título Direito da Concorrência e Cooperação Jurídica Internacional, publicado nesse ano de 2015, pela Arraes Editora, de Belo Horizonte.

Essa incumbência eu aceitei com imensa honra.Conheci a então mestranda em direito na Universidade de São Paulo por inter-

médio do seu orientador, o Professor Associado Doutor Wagner Menezes, com quem mantenho desde longa data uma parceria acadêmica muito profícua. Na época, ao lado de realizar o seu curso, a Marianne o auxiliava, sempre com grande desenvoltura, na or-ganização de eventos como o Congresso Brasileiro de Direito Internacional, realizado anualmente, sempre com enorme sucesso, muito devido ao trabalho de colaboradores e colaboradoras especiais e engajadas como ela. O nosso encontro se deu na cidade de Foz do Iguaçu, em 2010, por ocasião de um dos mencionados eventos. Então tomei conhecimento que a Marianne havia residido em Curitiba, que é a cidade na qual a Marianne se graduou em direito, em 2004, e de onde partiu para Portugal, inicialmen-te, para cursar uma especialização em Direito do Comércio Internacional e Arbitragem na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, concluída em 2006, e depois para São Paulo, com vistas a atender a uma proposta de trabalho.

Por seus méritos acadêmicos, a Marianne Webber conquistou uma vaga no curso de mestrado em direito da USP, no qual veio a ser orientada pelo Professor Doutor Wagner Menezes, compondo o seu primeiro grupo de orientandos, fato que também contribuiu para a definitiva fixação de sua residência em São Paulo.

Como resultado dessa integração acadêmica com a mestranda e com o seu orientador, fui convidado a participar da banca de mestrado da Marianne Webber, que ocorreu em maio de 2013, nas dependências da USP, no Largo São Francisco, em São Paulo. Avaliando o trabalho, junto comigo, ao lado do seu orientador, Prof. Wagner Menezes, esteve ainda o colega da Casa, Professor Associado Doutor André

XIX

de Carvalho Ramos, especialista em direito internacional e profundo conhecedor da área de cooperação jurídica internacional.

A defesa de mestrado da Marianne Webber foi esplêndida e reproduziu a exce-lência do estudo. A Marianne recebeu a nota máxima. A sessão de que participei foi um momento ímpar para as áreas de direito internacional e direito da concorrência daquela prestigiada e importante Universidade. O livro que ora apresento resulta das pesquisas realizadas e do trabalho defendido em sede do seu mestrado em direito. Passada a defesa, a já mestre em direito Marianne Mendes Webber promoveu os ne-cessários ajustes ao texto em função das recentes normativas do CADE para os atos de concentração, um dos temas centrais do estudo.

Modestamente, posso referir com tranquilidade que tive a oportunidade de contribuir com a Marianne para o seu estudo, promovendo alguma orientação para a construção da sua dissertação de mestrado e para o seu posterior desenvolvimento acadêmico. Duas obras que eu escrevi há mais tempo serviram de base inicial para a aproximação ao tema e para o tratamento da matéria por ela. Tratam-se dos livros Liberdade de concorrência na União Européia e no Mercosul. São Paulo: LTr, 2006, que é a minha tese de doutoramento, defendida na UFRGS, e Direito Internacional da Concorrência: entre perspectivas unilaterais, multilaterais, bilaterais e regionais. Curitiba: Juruá, 2008, que é um trabalho de pós-doutorado, escrito junto à Universi-dad Carlos III de Madrid, na Espanha. Na UFRGS, também lidero um Grupo de Pes-quisa CNPq em Direito Internacional da Concorrência. Cabe dizer, com certeza, que o estudo da Marianne apenas parte do que escrevi, vindo a avançar sobremaneira, evoluindo até o acréscimo dos aspectos relativos à cooperação jurídica internacional. Essa abordagem se mostrou inovadora na doutrina jurídica brasileira.

Como bem expressa a autora, o direito da concorrência, quando comparado aos ramos clássicos do direito, não possui longa tradição, tampouco apresenta um consenso internacional quanto aos seus fundamentos. Ocorre que a crescente in-ternacionalização das atividades negociais e, consequentemente, o conflito entre a manutenção das soberanias nacionais, com ordenamentos jurídicos de aplicação li-mitada, e a abertura dos mercados promovida pelas empresas com atuações transna-cionais, demandam uma internacionalização do direito da concorrência1. Problemas internacionais clamam por soluções internacionais.

Com razão, as legislações nacionais de defesa da concorrência demonstram ser demasiadamente limitadas na execução de medidas que se oponham às práticas anti-concorrenciais provocadas no estrangeiro. É nesse aspecto que se destacam os acordos bilaterais de cooperação entre os países, baseados em recomendações de organizações internacionais, tendo em vista que estabelecem regras vinculantes quanto à coopera-ção na matéria, facilitando a troca de informações e de documentos, bem como o depoimento das partes envolvidas. Evita-se, então, a ineficácia da aplicação unilateral da jurisdição extraterritorial do direito da concorrência, de modo que a análise da sua extensão provoca relevante interesse na comunidade jurídica internacional.

1 Por internacionalização entenda-se a elevação de uma questão a um nível de tratamento internacional, por organizações de alcance interna-cional. DABBAH, Mahrer M. The internationalisation of Antitrust Policy. Cambridge: Cambridge University Press, 2003, 322 p.

XX

A obra de Marianne Mendes Webber apresenta um estudo compreensivo sobre os instrumentos de cooperação jurídica internacional no direito da concorrência, sob a perspectiva do sistema jurídico brasileiro. O seu enfoque principal reside na ma-téria de concentrações empresariais com inclinação multijurisdicional que ensejem uma cooperação jurídica entre autoridades da concorrência nacionais ou regionais.

Não há falar em pesquisa em direito da concorrência se não for observado o ca-ráter interdisciplinar da matéria, de forma que para desenvolver os objetivos propos-tos a autora apresenta pontuações em direito econômico e em direito internacional sob a perspectiva histórica, comparada e analítica.

O estudo é dividido em três capítulos que tratam, respectivamente, (i) do direito da concorrência, seus enfoques, conceitos e dimensões, (ii) da cooperação jurídica internacional e o direito da concorrência, e, (iii) dos acordos de cooperação jurídica internacional entre autoridades de defesa da concorrência.

O primeiro capítulo da obra apresenta uma análise dos fundamentos do direito da concorrência e do direito internacional da concorrência, apurando o seu conceito, terminologias e dimensões.

Para tal, inicialmente, a autora realiza um recorte material destacando a intera-ção entre as teorias econômicas e a disciplina concorrencial, bem como a sua impor-tância no desenvolvimento histórico desta, sem, no entanto, deixar de estabelecer a complexidade do direito na sua função valorativa. Sob esse aspecto, defende que a ordem concorrencial deve ser garantida pelo direito, de modo que este não se destina apenas a instrumentalizar as teorias econômicas, mas a defender os interesses dos consumidores e concorrentes.

Posteriormente, o estudo evolui para o delineamento da influência do direito norte-americano no desenvolvimento do direito da concorrência, tendo em vista a reconhecida relevância deste na promulgação de diversos sistemas legislativos nacio-nais espalhados pelo mundo afora. Destaca que a transposição de normas de um país a outro resulta em um processo difícil, especialmente em se tratando da maté-ria concorrencial, considerando-se que esta reflete uma opção ideológica, portanto, carregada de preceitos políticos. Nos termos do disposto por René David, salienta que a comparação entre os sistemas jurídicos possui, dentre as suas finalidades, a de promover a cooperação internacional2.

A partir do estabelecimento dos preceitos fundamentais, a autora passa à digres-são histórica do direito brasileiro no tocante à concorrência, estabelecendo diretrizes normativas constitucionais e infraconstitucionais para a matéria. Salienta a elevação da livre concorrência à categoria de princípio fundamental pela Constituição Federal de 1988, marco legislativo responsável pelo término da intervenção do Estado no domínio econômico, acolhendo a livre iniciativa como fundamento constitucional do Estado brasileiro.

Diante dessa exposição, são conceituados os atos de concentração multijurisdi-cionais a partir da legislação brasileira, sendo estes definidos como os atos de concen-

2 DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. São Paulo: Martins Fontes, 2002, 687 p.

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tração que envolvam ou influenciem mais de uma jurisdição mediante a localização geográfica das partes ou através da propagação dos seus efeitos a mais de um país. É ressaltada, novamente, a importância da cooperação jurídica internacional na noti-ficação dessas práticas perante as autoridades de concorrência existentes no mundo, tendo em vista a intensificação do processo de globalização econômica.

No ponto, a autora confere especial destaque à análise dos atos de concentração sob o enfoque do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC), apontando as regras vigentes e os critérios para a submissão relativos à análise, notificação e caracterização desses atos pelas autoridades de defesa da concorrência brasileiras. Dis-põe, por fim, sobre o tratamento especial dispensado às informações confidenciais.

Na segunda parte do primeiro capítulo são estabelecidos os preceitos funda-mentais do direito da concorrência no plano internacional, tratando do seu conceito e das definições terminológicas, por se tratar de recente ramo de estudo do direito.

Vencidos os conceitos, na terceira parte do primeiro capítulo são analisadas as dimensões do direito internacional da concorrência, com destaque à sua dimensão unilateral, que por muito tempo ocupou exclusivamente o estudo do direito concor-rencial no âmbito internacional. Sob esse aspecto, a autora disserta a respeito da apli-cação extraterritorial das legislações de concorrência nacionais, sendo analisada, no-vamente, a influência da legislação e da jurisprudência norte-americanas na matéria.

Posteriormente, restam destacados os fundamentos da aplicação extraterritorial do direito, consistentes no princípio da territorialidade, na teoria dos efeitos e no princípio da ponderação, preparando o caminho para o exame da legislação brasilei-ra e das decisões das autoridades brasileiras sobre a matéria. Durante o estudo, a au-tora ressalta diversos casos internacionais que fundamentam as teorias mencionadas, importantes para a compreensão do desenvolvimento histórico da citada dimensão unilateral. Por último, são pontuados os reflexos, as limitações e a reação interna-cional no que tange à extraterritorialidade do direito concorrencial, citando-se os protestos e as reclamações diplomáticas e as leis de bloqueio.

O segundo capítulo da obra, por sua vez, dedica-se à cooperação jurídica in-ternacional sob o prisma do direito da concorrência, frisando-se a sua relevância no plano jurídico internacional por representar uma medida que garanta a efetividade das atuações estatais, administrativas e judiciais, em outras jurisdições. Ou seja, a coo-peração estruturaria uma forma de interação segura entre as instituições nacionais de diversos países, promovendo a estabilidade e o desenvolvimento da comunidade internacional, com o que concordamos fortemente.

Nesse instante, o estudo se centra na análise dos fundamentos constitucionais e internacionais da cooperação jurídica, fazendo relevantes considerações sobre o Estado Constitucional Cooperativo de Peter Häberle3, que corresponde ao anseio internacional de uma política de paz. Posteriormente, são pontuadas as formas de manifestação do instituto, bem como sua definição e espécies, apontando que a cooperação pode ocorrer nas esferas jurisdicional, quando apresentada aos órgãos

3 HÄBERLE, Peter. El estado constitucional. Buenos Aires: Astrea, 2007, 491 p.

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jurisdicionais nacionais estabelecidos constitucionalmente, ou administrativa, quan-do envolver os órgãos públicos administrativos ou órgãos judiciais de primeira ins-tância. Por fim, na primeira parte do segundo capítulo são destacadas as modalidades de auxílio direto, de cooperação ativa e passiva e de cooperação formal e informal.

Na segunda parte do segundo capítulo, a autora disserta sobre a cooperação jurídica especialmente em matéria de concorrência, dispondo que esta constitui um instrumento eficiente na minimização dos efeitos negativos de qualquer ato com efeitos anticoncorrenciais, na medida em que resguarda as soberanias dos Estados e a sua liberdade de regulação acerca das políticas de concorrência. Diante disso, é tra-çada uma relação entre o direito interno e o direito internacional, que possuem um paralelismo direto com os esforços existentes na resolução dos problemas resultantes da aplicação extraterritorial das legislações nacionais de direito da concorrência.

A partir do exposto, a dimensão multilateral do direito da concorrência é apu-rada, conforme as discussões e negociações ocorridas nos foros internacionais sobre a matéria concorrencial, como o Acordo Geral das Tarifas e Comércio (GATT), a Or-ganização Mundial do Comércio (OMC), a Organização das Nações Unidas (ONU), a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), a Rede Internacional da Concorrência (ICN) e o Código Internacional da Concorrência, proposto em Munique, em 1994. Passa, então, à análise da dimensão regional, com foco no Mer-cosul, na União Europeia e no NAFTA.

Por derradeiro, na parte final do segundo capítulo, é apresentada a perspectiva bilateral do direito da concorrência, que é constituída pelos acordos bilaterais firma-dos com o intuito de superar os problemas da aplicação extraterritorial do direito da concorrência, como forma de preparação para o estudo realizado no terceiro capítulo da obra, específico aos acordos bilaterais celebrados pelo Brasil e por suas autoridades de defesa da concorrência.

O terceiro capítulo dedica-se aos acordos de cooperação jurídica internacional entre as autoridades de defesa da concorrência no que tange aos atos de concentração multijurisdicionais, seara em que existe um desenvolvimento efetivo nas relações en-tre os Estados em matéria concorrencial. O estudo é iniciado com a apresentação de um retrospecto histórico do instituto no plano internacional, para, em seguida serem apresentados os tipos, o objeto e as características dos acordos bilaterais.

A pesquisa é seguida por um exame minucioso dos acordos de cooperação cele-brados pelo Brasil e pelo Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, destacando--se que existiam, ao tempo da defesa da dissertação, dez acordos bilaterais em matéria de concorrência firmados nesses termos: Estados Unidos da América (1999), Rússia (2001), Argentina (2003), Portugal (2005 e 2010), Canadá (2008), Chile (2008), União Europeia (2009), França (2011), Peru (2012) e China (2012). Hodiernamente, como bem se pode ler no livro já atualizado que ora apresento, esse número foi aumen-tado em quatro, por conta dos novos acordos firmados com o Equador (2013), a Colômbia (2014), o Japão (2014) e a Coreia (2014). Todos esses acordos podem ser divididos em três categorias distintas: a primeira constitui-se daqueles que pretendem

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unicamente a cooperação técnica, a segunda, daqueles que visam à promoção de uma cooperação mais efetiva na aplicação legislativa, e, a terceira, daqueles mistos, que englobam a cooperação técnica e a aplicação legislativa.

Em seguida, são ressaltados os aspectos relacionados à recepção de tais acordos pelo ordenamento jurídico brasileiro, matéria de grande relevância, pois intrinseca-mente relacionada ao grau de vinculação que esses instrumentos encontrarão no sis-tema jurídico do Brasil. Destaca-se o âmbito de aplicação dos acordos, apontando-se a relevância das notificações trocadas entre autoridades de concorrência, do acolhi-mento, pelo Brasil, dos princípios da cortesia positiva e negativa, e, também, da troca e do compartilhamento de informações pelas autoridades brasileiras.

Na quarta parte do terceiro capítulo a autora passa ao estudo da aplicação prática dos acordos em vigor aos atos de concentração multijurisdicionais, iniciando pelos casos envolvendo as autoridades brasileiras, como os atos de concentração Du-pont/Chemtura (2008), Dow/Rohm Haas (2008) e Wyeth/Pfizer (2012). Dos debates ocorridos na sessão de defesa da dissertação de mestrado que é a base desse livro, extraiu-se que até aquele momento, segundo a autora, não haviam sido identifica-dos casos de concentração multijurisdicional em que tivesse havido um esforço na atuação da autoridade brasileira (CADE) conjuntamente com a estrangeira, fato que seria consequência da manutenção, pelo sistema jurídico brasileiro, de um sistema de revisão de concentrações a posteriori, disposição recentemente revisada pela nova lei de defesa da concorrência brasileira (Lei nº 12.529/11). Durante a preparação desse livro, contudo, o compromisso da autora com a atualização do texto permitirá ao seu leitor observar que ela passa a mencionar o caso Mach/Syniverse, que é apon-tado agora como o primeiro caso de concentração econômica julgado pelo CADE durante a vigência da nova lei em que houve efetiva cooperação internacional com autoridades estrangeiras.

Passa, então, à análise da cooperação internacional relativa aos casos de concen-tração multijurisdicional envolvendo os Estados Unidos da América e a União Euro-peia, bem como, à comparação na aplicação de acordos bilaterais por terceiros países e pelas autoridades brasileiras. Na parte final do terceiro capítulo, Marianne Mendes Webber trata dos problemas constatados e das perspectivas no tocante à cooperação bilateral, apontando diversas considerações doutrinárias especializadas no tema.

Como conclusão, é apontado que a intensificação do processo de globalização econômica e o aumento de casos com inclinação multijurisdicional levam a preocu-pações no âmbito concorrencial, de modo que a doutrina concentra-se no sentido de identificar se o futuro do direito da concorrência converge para a adoção da coope-ração jurídica internacional como instrumento com fins ao alcance de um sistema multilateral. De qualquer modo, segue a autora a expressar, existe um largo espaço para a evolução na matéria e o amadurecimento de discussões, na adoção de instru-mentos eficientes para a cooperação bilateral entre as autoridades de concorrência na análise dos atos de concentração multijurisdicionais.

Ao final dessa apresentação, renovo os meus votos de sucesso acadêmico e li-terário para a Marianne Mendes Webber, hoje mestre em direito internacional pela

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USP, e de sucesso profissional, posto que é advogada atuante, inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil e na Ordem dos Advogados Portugueses, com experiência focada em Direito Internacional, Societário, Contratos e Fusões e Aquisições, além de Membro da Academia Brasileira de Direito Internacional (ABDI) e do Comitê de Arbitragem da Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil, em São Paulo.

PROF. DR. AUGUSTO JAEGER JUNIORProfessor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq. Ex-bolsista da Fundação Alexander von Humboldt. Doutor em Direito Comunitário da Concorrência pela UFRGS. Mestre em Direito Internacional pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).