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Direito das Relações Internacionais Sujeitos que a Corte Interamericana de Direitos Humanos pode responsabilizar: - Estados-partes da Convenção Americana de Direitos Humanos que reconheceram a jurisdição da Corte. Obs: A Corte não pode proceder à responsabilização solidária. Ou seja, a Corte responsabiliza somente o Estado-parte. Ex: Ximenes Lopes x República Federativa do Brasil → Neste caso, a Corte responsabilizou somente o Estado, não realizando nenhuma medida com relação à clínica. Assim, o Estado é responsável por tudo o que ocorre em seu território, não importando quem foi o praticante. → Para que haja responsabilização do sujeito que praticou, p.x. a clínica onde Ximenes Lopes estava internado, o Estado deverá, se quiser, se encarregar de responsabilizá-lo. → O Estado Brasileiro responde internacionalmente e os ônus são arcados pela União (Fazenda Pública). Organizações Internacionais Públicas Privadas Empresas Públicas Corte Interamericana de Direitos Humanos Estados

Direito Das Relações Internacionais

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Breve resumo acerca da disciplina.

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Page 1: Direito Das Relações Internacionais

Direito das Relações Internacionais

Sujeitos que a Corte Interamericana de Direitos Humanos pode responsabilizar:

- Estados-partes da Convenção Americana de Direitos Humanos que reconheceram a jurisdição da Corte.

Obs: A Corte não pode proceder à responsabilização solidária. Ou seja, a Corte responsabiliza somente o Estado-parte.

Ex: Ximenes Lopes x República Federativa do Brasil

→ Neste caso, a Corte responsabilizou somente o Estado, não realizando nenhuma medida com relação à clínica. Assim, o Estado é responsável por tudo o que ocorre em seu território, não importando quem foi o praticante.

→ Para que haja responsabilização do sujeito que praticou, p.x. a clínica onde Ximenes Lopes estava internado, o Estado deverá, se quiser, se encarregar de responsabilizá-lo.

→ O Estado Brasileiro responde internacionalmente e os ônus são arcados pela União (Fazenda Pública).

Organizações Internacionais Públicas

Privadas

Empresas Públicas

Privadas / Mistas ($ público)

Indivíduo

Corte Interamericana de Direitos Humanos Estados

Não são responsabilizados

Não há responsabilização solidária

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Sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos

Final Inapelável Não precisa ser unânime Considerada sentença internacional (não precisa de homologação)

Obs:

- Cabem Embargos de Declaração, pois, como no Direito Interno Brasileiro, não são considerados recurso.

- Esquema de Cumprimento de Sentença:

República Federativa do Brasil → Plano Internacional

União (Fazenda Pública) → Interno

Sentença = Indenização à vítima ($)

Título Executivo Judicial

Justiça Federal

Verba Alimentar (art. 100, CRFB/88)

Obs: Vítimas com mais de 60 anos de idade têm prioridade

Quando há condenação, o indivíduo deve ingressar perante a Justiça Federal, não havendo processo de conhecimento, pois há título executivo judicial e irá direto à execução.

Sentença internacional é dotada de executoriedade.

A execução se dará pelas regras executórias do próprio Estado.

No Brasil, as sentenças internacionais constituem título executivo judicial (instrumento de execução) → O MPF ordena ao Juiz Federal que execute contra a Fazenda Pública.

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Qualquer sentença sobre direitos humanos tem caráter alimentar.

Natureza dos Tratados de Direitos Humanos no Brasil

CRFB/88 (Preâmbulo + CF + ADCT) + Emendas Constitucionais

Normas Supralegais

Leis Ordinárias

Infralegais

Direitos Humanos Antes de 2004 = Supralegal (jurisprudência)

Tratados

Demais Assuntos De acordo com o §3º do art. 5º da CF = E.C. Se não obtiver o quórum = Supralegal

Súmula Vinculante nº 25 = Depositário Infiel

“É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito.”

Importante: A questão da prisão do depositário infiel ocupa posição de

supralegalidade, ou seja, só está abaixo da CRFB/88. Não existe status de supraconstitucionalidade (acima da CF) no

Brasil. Lei Complementar, embora precise de quórum qualificado,

segundo a maioria da doutrina, não está acima de lei ordinária.

Peticionamento à Comissão Interamericana de Direitos Humanos

- Legitimidade: Qualquer pessoa (ex: vítima, parentes, etc.) Grupo de pessoas Organizações não governamentais (ONGs) Próprio Estado

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Obs: Em caso de grupo de pessoas, não é preciso que haja aquiescência de todos os ofendidos para que se possa peticionar, basta que se tenha a maioria.

- Requisitos:1. Esgotamento dos recursos da jurisdição interna, de acordo com os

princípios da jurisdição internacional. → Ir até a última instância (não cabe mais recurso).→ Princípio da Subsidiariedade.

2. Ausência de litispendência internacional.→ Litispendência = Diferentes pedidos sobre o mesmo objeto.

3. Ausência de Coisa Julgada no Direito Internacional.→ Julgada pela Corte.→ Analisada e negada pela Comissão.

4. Prazo de 6 meses entre a notificação da decisão definitiva no Estado de origem e a petição à Comissão.

→ Decisão final = Data do trânsito em julgado.→ 6 meses contados a partir do trânsito em julgado.

- Exceções:1. Ausência de recurso na legislação interna do Estado → Inexistência de

recursos. / Inexistência de Lei ou Poder Judiciário, ou ambos.2. Impedimento do esgotamento dos recursos internos.3. Demora injustificada no julgamento dos recursos internos.

Importante: A Comissão analisará cada uma das exceções e ficará incumbida de apurar se de fato há ausência, impedimento ou demora dos recursos internos.

Competências da Corte Interamericana de Direitos Humanos

Contenciosa→ Tem caráter jurisdicional→ Libação (Julgamento)→ Não depende de homologação, ou seja, suas sentenças não precisam ser aceitas pelo direito interno dos Estados-partes.→ Pública (não exige processo sigiloso → a votação é sigilosa, mas o processo não)→ Princípio da Supremacia→ Suas sentenças são vinculantes para Estados-partes

Consultiva→ Interpretação de determinado artigo ou tratado de direitos humanos.→ Seus pareceres não são vinculantes.

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Dicotomia do Sistema Internacional→ Há uma dicotomia entre os sistemas, ou seja, não há ligação entre a

Corte Interamericana de Direitos Humanos e a Organização das Nações Unidas (ONU).

→ Não há possibilidade de interposição de recursos para a ONU contra sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

→ A sentença da Corte será definitiva e inapelável. Em caso de divergência sobre o sentido ou alcance da sentença, a Corte interpretá-la-á, a pedido de qualquer das partes, desde que o pedido seja apresentado dentro de noventa dias a partir da data da notificação da sentença. (Art. 67 – Convenção Americana de Direitos Humanos)

→ Não cabe qualquer espécie de recurso contra sentença da Corte, o que se admite são Embargos de Declaração.

Composição da Corte Interamericana de Direitos Humanos

→ 7 juízes.

→ Não deve haver dois juízes da mesma nacionalidade.

→ Eleição: Serão eleitos, em votação secreta e pelo voto da maioria absoluta dos Estados-partes na Convenção, na Assembléia Geral da OEA, a partir de uma lista de candidatos propostos pelos Estados.

→ Cada um dos Estados-partes pode propor até três candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer outro Estado-membro da OEA. Quando se propuser uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de Estado diferente do proponente.

→ O mandato tem duração de seis anos e só poderá haver reeleição por uma vez. O mandato de três dos juízes designados na primeira eleição expirará ao cabo de três anos. Imediatamente depois da referida eleição, determinar-se-ão por sorteio, na Assembléia Geral, os nomes desses três juízes.

→ Os juízes permanecerão em suas funções até o término dos seus mandatos. Entretanto, continuarão funcionando nos casos de que já houverem tomado conhecimento e que se encontrem em fase de sentença e, para tais efeitos, não serão substituídos pelos novos juízes eleitos.

→ O juiz, que for nacional de algum dos Estados-partes em caso submetido à Corte, conservará o seu direito de conhecer do mesmo.

→ Não há que se falar em inamovibilidade.

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→ O mandato dos juízes nunca é vitalício.

Defesa do Estado

Segundo a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, é dever do Estado-parte, sob pena de preclusão da oportunidade de invocar a exceção de não esgotamento dos recursos internos, informar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos quais mecanismos de direito interno estavam à disposição da vítima. Ou seja, para ser oportuna, deve ser invocada nas primeiras etapas do procedimento.

Competência da Comissão

1. Exercer o juízo de admissibilidade de um pedido (pré-libação) → sem análise de mérito.

2. Realizar recomendações→ Não são obrigatórias, mas devem ser cumpridas.→ Punição ao não cumprimento: Publicação no relatório anual + Divulgação na Assembleia Geral da OEA.

Legitimidade para submeter casos à Corte Interamericana de Direitos Humanos

Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Estados-partes.

Obs:

→ A jurisprudência permite que o indivíduo tenha acesso direto à Corte em caso de pedido de medidas cautelares urgentes e em relação à estipulação da reparação do dano devida.

→ Não há ius standi, mas a atual jurisprudência permite a participação da vítima na fase de contestação para apresentar alegações e depoimentos pessoais.

→ A competência originária é dos Estados-partes e da Comissão, não existindo competência secundária.

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Caso Maria da Penha

Na cidade de Fortaleza/CE, em 29/05/83, Maria da Penha Maia Fernandes, farmacêutica, foi vítima de tentativa de homicídio com um tiro de arma de fogo nas costas, sendo o autor do disparo seu então marido, Sr. Antônio Heredia Viveiros.

Duas semanas após retornar do hospital e ainda em recuperação, a vítima sofreu um novo atentado por parte do Sr. Heredia Viveiros, que desta vez tentou eletrocutá-la durante o banho.

Mesmo sem ter esgotado os recursos da jurisdição interna, o caso foi submetido à Comissão Interamericana de Direitos Humanos em 20/8/1998 e recebeu o número 12.051.

Foram peticionários junto à Comissão: a vítima (Maria da Penha Maia Fernandes), o Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM). A República Federativa do Brasil foi indicada como Estado violador.

Os peticionários alegaram a tolerância à violência contra mulher no Brasil, uma vez que esse não adotou as medidas necessárias para processar e punir o agressor. Fundamentaram o pleito alegando violação dos artigos: 1º(1); 8º; 24º; 25º da Convenção Americana, II e XVIII da Declaração Americana dos Direitos e deveres do Homem, bem como dos artigos 3º, 4º a, b, c, d, e, f, g, 5º e 7º da Convenção de Belém do Pará.

O Estado Brasileiro não apresentou resposta à Comissão apesar das solicitações formuladas em 19/10/98, em 04/08/99 e em 07/08/2000.

Em 2001 a Comissão emitiu o relatório nº 54/2001 – responsabilizando o Brasil por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica contra as mulheres. Entenderam que a violação seguia um padrão discriminatório em razão da violência doméstica contra mulheres no Brasil. Dessa forma, foram feitas recomendações ao Estado Brasileiro, a saber:

1. Completar rápida e efetivamente o processamento penal do responsável pela agressão;

2. Realizar uma investigação séria, imparcial e exaustiva para apurar as irregularidades e atrasos injustificados que não permitiram o processamento rápido e efetivo do responsável;

3. Adotar, sem prejuízo das ações que possam ser instauradas contra o agressor, medidas necessárias para que o Brasil assegure à vítima uma reparação simbólica e material pelas violações;

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4. Prosseguir e intensificar o processo de reforma para evitar a tolerância estatal e o tratamento discriminatório com respeito à violência doméstica;

5. Medidas de capacitação/sensibilização dos funcionários judiciais/policiais especializados para que compreendam a importância de não tolerar a violência doméstica;

6. Simplificar os procedimentos judiciais penais;

7. O estabelecimento de formas alternativas às judiciais, rápidas e efetivas de solução de conflitos intrafamiliares;

8. Multiplicar o número de delegacias policiais especiais para a defesa dos direitos da mulher e dotá-las dos recursos especiais necessários, bem como prestar apoio ao MP na preparação de seus informes judiciais;

9. Incluir em seus planos pedagógicos unidades curriculares destinadas à compreensão da importância do respeito à mulher e a seus direitos reconhecidos na Convenção de Belém do Pará;

10.Apresentar à Comissão, dentro do prazo de 60 dias – contados da transmissão do documento ao Estado, um relatório sobre o cumprimento destas recomendações para os efeitos previstos no artigo 51(1) da Convenção Americana;

O Caso Maria da Penha foi o precursor na condenação de um Estado devido à violência doméstica, no âmbito de proteção dos direitos humanos.

Prisões permitidas no Brasil

Prisão Temporária: A prisão temporária é uma modalidade de prisão utilizada durante uma investigação.

Prisão Preventiva: A prisão preventiva pode ser decretada tanto durante as investigações, quanto no decorrer da ação penal, devendo, em ambos os casos, estarem preenchidos os requisitos legais para sua decretação.

Prisão em Flagrante: A prisão em flagrante pode ser decretada por “qualquer do povo” que presenciar o cometimento de um ato criminoso. → Prisão sem ordem escrita.

Prisão para execução da pena Prisão preventiva para fins de extradição: Medida que garante a

prisão preventiva do réu em processo de Extradição como garantia de assegurar a efetividade do processo extradicional.

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Prisão civil do não pagador de pensão alimentícia: Esta é a única modalidade de prisão civil admitida na Justiça brasileira. Recentemente o Supremo reconheceu a ilegalidade de outra espécie de prisão civil, a do depositário infiel.

Obs: Súmula Vinculante 25 → Não permite prisão de depositário infiel.

Pena de Morte no Brasil e no Sistema Interamericano

Art. 5º - CF:

“XLVII - não haverá penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;”

→ Não é permitida a aplicação de pena de morte no Brasil.

→ Exceção: Guerra.

→ Entendimento estabelecido pela Convenção Interamericana de Direitos Humanos:

“Artigo 4º - Direito à vida

1. Toda pessoa tem direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente.

2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunal competente e em conformidade com lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o delito sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos quais não se aplique atualmente.

3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido.

4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada por delitos políticos nem por delitos comuns conexos com delitos políticos.

5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no momento da perpetração do delito, for menor de dezoito anos,

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ou maior de setenta, nem aplicá-la a mulher em estado de gravidez.

6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou comutação da pena, os quais podem ser concedidos em todos os casos. Não se pode executar a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de decisão ante a autoridade competente.

Obs:

- Pena de morte por crime político → Não cabe nunca.

- O Brasil não pode restabelecer essa pena.

Considerações Relevantes

Princípio da Supremacia → O direito interno não pode ser invocado como excludente do inadimplemento do Direito Internacional.→ No plano internacional, o Direito Internacional é superior ao Direito Interno, incluindo a Constituição.

Princípio da Subsidiariedade/ Complementaridade → Compete ao Estado apurar e tomar as providências em relação às violações de Direitos Humanos ocorridas em seu território.

Nenhum brasileiro nato pode sofrer extradição ativa; porém, se o Tribunal Penal Internacional solicitar, o Brasil deverá fazê-lo, sob pena de sanção internacional.

Extradição (Estado → Estado) ≠ Entrega (Estado → Tribunal Internacional).

Sede da OEA → Washington - EUA. Corte Interamericana de Direitos Humanos → San Jose da Costa Rica. Competências da Corte: - “Ratione personae” = Julga somente Estados,

não julga indivíduos. - “Ratione Materiae” = Qualquer assunto da Convenção Americana de Direitos Humanos. - Temporal = A partir do reconhecimento da

jurisdição. Nada que tenha ligação pública pode acionar o sistema interamericano

de direitos humanos. Sentença Estrangeira → Sentença proferida por um tribunal doméstico

que é importada por outro país (depende de homologação).

≠Sentença Internacional → Proferida por tribunal internacional (independe de homologação).

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Sentença estrangeira só se torna título executivo judicial quando homologada pelo STJ.

A ratificação da C.A.D.H. não garante a jurisdição da Corte sobre um Estado, pois é necessário que seja reconhecida. → Reconhecimento no Brasil: Decreto nº 4.463/2002.

A Corte pode se reunir em lugares diferentes de San Jose da Costa Rica. (ex: Brasil)

Competência ulterior: Irrevogável a jurisdição com relação às ações em andamento.

Todos os crimes da C.A.D.H. e do Tribunal Penal Internacional são imprescritíveis.

Depois de reconhecida pelo Estado-parte, a jurisdição da Corte só cessará se houver a denúncia da Convenção Americana de Direitos Humanos.