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Direito do consumidor 1. Direito do consumidor O Direito do Consumidor tem como objeto regular relaes que se constituem entre fornecedor e consumidor, a partir das necessidades sociais e da distribuio de bens e servios. Tem como funo proteger as complexas relaes jurdicas existentes entre consumidores e fornecedores e resolver conflitos que afetam mais diretamente aqueles, com objetivo de reduzir os abusos a que podem estar submetidos em uma relao de consumo. Haver relao jurdica de consumo sempre que um polo da relao jurdica for caracterizado como consumidor e outro como fornecedor, ambos transacionando produtos e servios. A Constituio de 1988 demonstrou a preocupao do poder constituinte com a proteo do consumidor, sua defesa um dos direitos fundamentais do indivduo e um dos princpios da ordem econmica do Estado, conforme art. 5, XXXII, e art. 170, V. A Constituio tambm estabeleceu o princpio da obrigatoriedade da interveno do Poder Pblico para a proteo dos interesses dos consumidores, ao fixar o dever do Estado de promover, na forma determinada na lei, a defesa do consumidor. O art. 48 das Disposies Constitucionais Transitrias determinava que o Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgao da Constituio, elaborasse um cdigo para a defesa dos consumidores, Dando cumprimento a tal preceito, no sem um certo atraso, o Congresso Nacional aprova em 11 de setembro de 1990 a Lei n. 8.078, que institui o Cdigo de Defesa do Consumidor. O Cdigo de Proteo e Defesa do Consumidor (Lei n 8.078/90) veio, portanto, concretizar a determinao da Constituio Federal de conferir ao consumidor a proteo do Estado, com meios jurdicos adequados de tutela, tendo em vista que a sociedade de massa contempornea trouxe relao de consumo um diferenciador em relao a situaes que no so meramente individuais, mas, sim, transindividuais, de titulares indeterminados e ligados por circunstncias de fato, como a publicidade enganosa ou a propaganda abusiva. O CDC, por ser norma especial e de carter protecionista, somente pode ser aplicado se houver uma relao jurdica de consumo.

2. Natureza e Fonte de Suas regras Natureza At o advento do Cdigo do Consumidor, Lei 8078/90, os consumidores brasileiros, e suas relaes eram regidas pelo Cdigo Civil e pelo Cdigo Comercial, que os deixava bastante vulnerveis perante as prticas consubstanciadas no mercado de consumo. Preponderava o Princpio da Autonomia da Vontade Contratual, onde se presumia que as partes contratantes estavam em igualdade de condies. Antes do Cdigo de Proteo e Defesa do Consumidor, Lei 8078/90, o consumidor brasileiro amparava-se na Lei n. 1.521 de 26.12.1951, que trata dos crimes contra a economia popular.; Lei delegada n. 04 de 26 de setembro de 1962, Lei n. 73.437, de 24 de julho de 1985, que disciplina a Ao Civil Pblica. Ainda podemos citar a Lei n. 8.137/90, referente aos crimes contra a ordem tributria,1

econmica e as relaes de consumo e a Lei Antitruste, Lei n. 8884/90, que combate a formao de cartis e monoplios no mercado fornecedor de bens e servios. O art. 1 do CDC1 determina que suas normas so de ordem pblica, relevncia social e de observncia obrigatria. Desta forma, o direito do consumidor foi retirado do campo do direito privado. Neste sentido, apesar de firmados entre particulares, o contrato de consumo de direito pblico e a plena liberdade de contratar mitigada. Por outro lado, as normas constantes no CDC incidem nas relaes de consumo ainda que o consumidor no queira. Em outras palavras, a relao de consumo privada, mas as normas que a regulam so de ordem pblica, ou seja, normas cogentes. Trata-se de direito fundamental. Por essa razo, defende-se, entre os consumeristas, que a aplicao de tais normas deve ser de ofcio. Portanto, a natureza das regras do CDC so de cunho constitucional, ordem pblica e interesse social, uma vez que o Artigo 5, inciso XXXII da CF/88 (clusula ptrea), obriga o Estado a criar a legislao de consumo: Art.5, XXXII, CF/88: O Estado promover na forma da lei a defesa do consumidor. Ainda no mbito constitucional, temos: Artigo 170, V, CF/88: A ordem econmica, fundada na valorizao do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existncia digna, conforme os ditames da justia social, observados os seguintes princpios: (...) V- defesa do consumidor;

Fontes As normas previstas no CDC, no obstante sejam de aplicao obrigatria e cumprimento coercitivo, o art. 72, que trata das fontes do direito do consumidor, deixa claro que o CDC no esgota a proteo consumerista em si, no excluindo quaisquer outras normas decorrentes de Tratados, convenes internacionais de que o Brasil seja signatrio, leis ordinrias internas e demais dispositivos de aplicao especfica, naquilo que no conflitar com o Estatuto Consumerista. Trata-se do que a doutrina chama de DILOGO DAS FONTES, expresso cunhada pelo doutrinador Erik Jaime e j citada pelo STF. Dilogo um conceito de aplicao simultnea e coerente de muitas leis ou fontes de direito privado sob a luz da CF/88. Quanto utilizao de fontes internacionais, importa lembrar que o CDC apenas inclui aquelas que garantam direitos ao consumidor, e no aquelas que os limitam.1

Artigo 1 do CDC: O presente cdigo estabelece normas de proteo e defesa do consumidor, de ordem pblica e interesse social, nos termos dos arts. 5, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituio Federal e art. 48 de suas Disposies Transitrias.2

Artigo 7 do CDC: Os direitos previstos neste cdigo no excluem outros decorrentes de tratados ou convenes internacionais de que o Brasil seja signatrio, da legislao interna ordinria, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princpios gerais do direito, analogia, costumes e eqidade. Pargrafo nico. Tendo mais de um autor a ofensa, todos respondero solidariamente pela reparao dos danos previstos nas normas de consumo.

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O direito do consumidor um direito de interveno do Estado na economia, e assim um direito que existe da autoridade administrativa. O CDC norma principiolgica, de conceitos abertos a serem detalhados tambm por essa autoridade no exerccio de suas competncias. A natureza e a fonte geradora do Direito do Consumidor a norma constitucional, o que torna o Cdigo do Consumidor e demais leis consumeristas, relevantes e preponderantes, sobre as demais normas ordinrias.

3. Caractersticas e princpios do Cdc Caractersticas O CDC um microssistema multidisciplinar: no bojo do CDC, tem-se regras de direito constitucional (ex.: dignidade da pessoa humana), administrativo (ex.: sanes administrativas), civil (ex.: responsabilidade civil do fornecedor), penal (ex.: tipos penais) e processo civil (ex.: inverso do nus da prova). O CDC lei principiolgica: o CDC traz prerrogativas parte mais fraca da relao de consumo, com a inteno de reequilibrar tal relao que bastante desigual O CDC traz normas de ordem pblica e de interesse social: tais normas no podem ser derrogadas pela vontade das partes, e um caso particular pode atingir toda a coletividade.

Princpios O instituto do contrato sempre foi regido por princpios herdados do direito romano. Destacam-se dentre eles trs principais: o principio da autonomia da vontade; o do respeito absoluto ao contratado ou da fora obrigatria do contrato, o conhecido pela expresso pacta sunt servanda; e o da responsabilidade fundada na culpa do agente. Os trs princpios ostentam o mesmo objetivo: assegurar o cumprimento do contrato nos exatos termos constantes de suas clusulas, como forma de resguardar a segurana dos negcios jurdicos. Dessa forma, no perodo anterior publicao do Cdigo do Consumidor, desde que houvesse ocorrido um dano ao consumidor em decorrncia de defeito do produto ou dos servios prestados, o ressarcimento dependia da comprovao de ter o fornecedor agido culposamente. A nova realidade econmica, todavia, tornou obsoletos esses antigos princpios romanistas. Os antigos princpios de cunho liberal acabavam intensificando ainda mais a situao de vulnerabilidade a que fora conduzido de facto o consumidor na sociedade massificada, na medida em que os fornecedores se serviam de tais princpios para eludir sua responsabilidade em relao aos produtos e servios colocados no mercado.

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A deficincia da legislao civil e comercial originria da primeira metade do sculo XX para a proteo do consumidor estimulava a proliferao, no meio empresarial, de prticas abusivas, formao de cartis e contratos leoninos. A realidade levou o Direito a estabelecer novos princpios e normas, capazes de proporcionar maior equilbrio jurdico relao entre fornecedor e consumidor, sem impedir a livre formulao de contratos de massa e sem embaraar o mercado de consumo. Desenvolveram-se, assim, novos princpios jurdicos, aplicveis s relaes de consumo e tendentes a proteger o consumidor. os princpios da autonomia da vontade e da liberdade de contratao foram substitudos pelos princpios da vulnerabilidade do consumidor e da interveno estatal; a clusula pacta sunt servanda deu lugar rebus sic stantibus; a responsabilidade deixou de ser fundada na prova da culpa do fornecedor e assim por diante.

4. poltica nacional das relaes de consumo A Poltica Nacional das Relaes de Consumo, descrita no artigo 4 do CDC, uma sntese de todas as diretrizes, princpios e objetivos criados pelo Estado que devem ser observadas e perseguidas por todos os agentes do mercado de consumo. O caput deste dispositivo assim estabelece: A Poltica Nacional das Relaes de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito sua dignidade, sade e segurana, a proteo de seus interesses econmicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparncia e harmonia das relaes de consumo (). Por meio de uma poltica nacional, busca-se implantar um sistema jurdico nico e uniforme, por meio de normas de ordem pblica e interesse social, de aplicao necessria, destinada a tutelar os interesses de todos os consumidores. Diante disso, possvel afirmar que o artigo 4 do CDC possui a natureza de uma norma-objetivo. A expresso poltica nacional designa um programa de ao de interesse pblico, ou seja, uma srie organizada de aes, para a consecuo da finalidade: a harmonia, a compatibilidade e o equilbrio entre todos os agentes e o mercado de consumo. Para alcanar o projeto definido na PNRC, diversos princpios especficos foram criados para disciplinar as relaes jurdicas de consumo.

Princpios institudos pela Poltica Nacional das Relaes de Consumo Artigo 4, incisos, do CDC: I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; II - ao governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor:4

a) por iniciativa direta; b) por incentivos criao e desenvolvimento de associaes representativas; c) pela presena do Estado no mercado de consumo; d) pela garantia dos produtos e servios com padres adequados de qualidade, segurana, durabilidade e desempenho. III - harmonizao dos interesses dos participantes das relaes de consumo e compatibilizao da proteo do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econmico e tecnolgico, de modo a viabilizar os princpios nos quais se funda a ordem econmica (art. 170, da Constituio Federal), sempre com base na boa-f e equilbrio nas relaes entre consumidores e fornecedores; IV - educao e informao de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas melhoria do mercado de consumo; V - incentivo criao pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurana de produtos e servios, assim como de mecanismos alternativos de soluo de conflitos de consumo; VI - coibio e represso eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrncia desleal e utilizao indevida de inventos e criaes industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuzos aos consumidores; VII - racionalizao e melhoria dos servios pblicos; VIII - estudo constante das modificaes do mercado de consumo.

1. Princpio (do Reconhecimento) da Vulnerabilidade do Consumidor A vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo fundamenta a criao das regras protecionistas. H reconhecimento universal no que tange a essa vulnerabilidade. Ser vulnervel assumir uma posio de inferioridade numa relao contratual. Assim, tendo em vista haver desequilbrio nas relaes entre consumidor e fornecedor, pretende o legislador igualar esta equao. Vulnerabilidade qualidade intrnseca, peculiar, de todos que se colocam na posio de consumidor, pouco importando sua condio social, cultural ou econmica. A doutrina aponta diversas espcies de vulnerabilidade do consumidor, quais sejam: vulnerabilidade tcnica - falta de conhecimento tcnico sobre o produto ou servio a ser consumido. Falta de conhecimento aprofundado sobre determinado assunto. vulnerabilidade jurdica - falta de experincia ou falta de conhecimento sobre as consequncias jurdicas. Resulta da falta de informao do consumidor de seus direitos. vulnerabilidade poltica ou legislativa resulta da fraqueza poltica do consumidor no cenrio brasileiro, mesmo reconhecendo o papel fundamenta das entidades de proteo aos consumidores. vulnerabilidade ftica (ou socioeconmica) desproporo de foras econmicas. Baseia-se no reconhecimento de que o consumidor o elo fraco da corrente e que o fornecedor encontra-se em posio de supremacia, sendo detentor do poder econmico.5

A concorrncia desleal evidencia a imensa vulnerabilidade econmica do consumidor, o qual no tem acesso aos nveis de concentrao do mercado, de unies empresariais, ficando merc deste pesado jogo de domnio econmico que, atualmente, acontece no plano mundial. H uma tendncia, da doutrina e dos Tribunais, inclusive os superiores, de se reconhecer o idoso como um consumidor hipervulnervel, ou seja, uma intensa vulnerabilidade, mais aguda. Pode ser aplicado a outras categorias de consumidores: consumidores deficientes e consumidor de servios virtuais. Difere-se de hipossuficincia: artigo 6, VIII, do CDC. Todos os consumidores so vulnerveis, mas nem todos so hipossuficientes. Esta legitima alguns tratamentos diferenciados no interior do CDC. Pode ser econmica ou processual. Deve ser verificada no caso concreto, e caracterizada quando o consumidor apresenta traos de inferioridade cultural, tcnica ou financeira. Para o CDC, poder ocorrer a inverso do nus da prova quando for verossmil a alegao feita em juzo ou quando o consumidor for hipossuficiente.

2. Princpio da Interveno do Estado Para defender os interesses do consumidor, protege-lo, assegurar o acesso aos produtos e servios essenciais e garantir a qualidade e adequao dos produtos e servios, o Estado pode e deve intervir no mercado de consumo. A interveno deve respeitar a livre iniciativa (artigo 170 da CF), porm, deve ser atuante e com resultados positivos, coibindo abusos e concorrncia desleal. Na prtica, verificamos esta atuao estatal atravs da Secretaria de Direto Economico (SDE), dos PROCONs, do MP, IDEC, ADECON, etc.

3. Princpio da Harmonizao de Interesses Garante a compatibilidade entre o desenvolvimento econmico e tecnolgico e a efetiva proteo do consumidor, com base na boa-f e no equilbrio nas relaes entre consumidores.

4. Princpio da Boa-f e da Equidade A boa-f aparece em duas passagens do CDC: no artigo 4, III, in fine, e no artigo 51, IV. exige que as partes, na relao de consumo, atuem com sinceridade, seriedade, veracidade, lealdade e transparncia, sem objetivos maldisfarados de esperteza, lucro fcil e imposio de prejuzo ao outro. a boa-f objetiva que, desvinculada das intenes ntimas do sujeito, indica o comportamento objetivamente adequado aos padres de tica, lealdade, honestidade e colaborao exigveis nas relaes de consumo. BOA-F OBJETIVA TICA NEOCIAL. O CDC adotou, implicitamente, a clusula geral de boa-f objetiva no seu art. 4, III, o que importa dizer que deve ser ela considerada inserida em todas as relaes jurdicas de consumo, e desempenha trs funes: funo criadora ela fonte de novos deveres anexos ou acessrios, tais como o dever de informar, de cooperao, de lealdade.6

funo interpretativa ela um critrio hermenutico ou paradigma interpretativo destinado ao juiz para ser utilizado na interpretao de todo negcio jurdico que gera relao de consumo. funo de controle limita o exerccio de direito subjetivos. A equidade impe o equilbrio nas relaes entre consumidores e fornecedores. O juiz no julgar por equidade, mas dir o que no est de acordo com a equidade no contrato sobe seu exame, dele excluindo o que for necessrio para restabelecer o equilbrio e a justia contratual no caso concreto. O desequilbrio do contrato, a desproporo das prestaes das artes, ofendem o princpio da equidade.

5. Princpio da Educao, da Transparncia e da Informao dos Consumidores O princpio revela a necessidade de educao e informao aos consumidores acerca de seus direitos e deveres. So responsveis por esta obrigao no s o estado como tambm os fornecedores de produtos e servios. A transparncia complementa o princpio, j que nas relaes de consumo devem se firmar em ambiente de absoluta transparncia entre as partes, sob pena de viciar a manifestao de vontade do consumidor. Significa clareza, preciso, sinceridade. A principal consequncia do princpio da transparncia , por um lado, o dever de informar do fornecedor e, por outro, o direito informao do consumidor. A transparncia tem haver com a qualidade e a quantidade da informao que o fornecedor tem que prestar ao consumidor, consoante os artigos 8, PU, 9, 10, 30, 31, 36, 46, 52, 54, 4, do CDC.

6. Princpio do Controle de Qualidade e Segurana dos Produtos e Servios Impe ao fornecedor de produtos e servios cuidados especiais acerca da qualidade e da segurana, incentivando a criao de meios eficientes para o controle. Pelo princpio da segurana todo o sistema de responsabilidade civil se estrutura. O fundamento da responsabilidade civil do fornecedor o risco incrementado pelo principio da segurana. O dever de segurana uma verdadeira clusula geral imposta a todos os fornecedores, sob pena de responder independentemente de culpa (objetivamente) pelos danos que causar ao consumidor. O fornecedor passa a ser garante dos produtos e servios que oferece no mercado de consumo. O que se quer uma segurana dentro dos padres da expectativa legtima dos consumidores. O padro no estabelecido tendo por base a concepo individual do consumidor, mas a concepo coletiva da sociedade de consumo.

7. Princpio da Coibio e Represso das Prticas Abusivas O consumidor teme especial proteo quanto coibio e represso das prticas abusivas, que se encontram previstas nos artigos 39 a 41 do CDC.7

8. Princpio da Racionalizao e Melhoria dos Servios Pblicos De forma a garantir que todos os consumidores tenham acesso irrestritos aos servios pblicos necessrios, tais como, gua, esgoto, energia eltrica, telefonia, etc. no basta a existncia do servio, ele tem que ser eficaz, qualificado, adequado e acessvel.

9. Princpio do Estudo Constante das Modificaes do Mercado O mercado de consumo no esttico e as modificaes do mercado devem ser estudadas e analisadas pari passu (ao mesmo tempo, simultaneamente), de forma a garantir que o consumidor no seja prejudicado.

Instrumentos de Defesa do Consumidor: Efetividade da Poltica nacional das Relaes de Consumo O artigo 5 do CDC enumera instrumentos jurdicos que o Poder Pblico pode lanar mo para dar efetivo cumprimento Poltica Nacional de das Relaes de Consumo. Assistncia Jurdica Integral e Gratuita orientar o consumidor e defende-lo em juzo. princpio constitucional que todo carente tenha acesso irrestrito Justia, sem nus, isento de custas processuais e honorrios advocatcios sucumbenciais {artigo 5, LXXIV, CF Lei 1.060/1950}. Promotorias de Justia e defesa do consumidor o MP tem especial atuao junto defesa dos consumidores artigo 127 e 129, III, da CF e nos termos dos artigos 51, 4, 81, 82, 91 e 92, do CDC. Quando no atuar como legitimado ordinrio, dever atuar como fiscal da lei. Delegacias especializadas com o objetivo de efetivar a punio dos que cometem crimes de consumo, o artigo 5 prev a criao e instalao de delegacias de polcia especializadas para este fim. Juizados Especiais Cveis e Varas Especializadas impe o texto a criao de Juizados Especiais para o julgamento de causas relativas s relaes de consumo, assim como varas especializadas para tal finalidade Lei 9.099/95. Associao de Defesa do Consumidor a lei prev que o Poder Pblico estimule a criao e o desenvolvimento de associaes para a defesa do consumidor, como forma de educar, informar e auxiliar o consumidor nos conflitos que possam surgir da relao de consumo.

5. Integrantes e Objeto da Relao de consumo Relao jurdica toda relao social disciplinada pelo Direito, ou seja, por uma fonte normativa. Trata-se de uma situao da vida real produtiva de consequncias jurdicas.8

A doutrina, comumente, entende haver, em qualquer relao jurdica, quatro elementos estruturais: sujeitos, objeto, fato jurdicos e garantia. Sem eles a relao jurdica no se molda. Relao jurdica de consumo aquela a que se estabelece necessariamente entre fornecedores e consumidores, tendo por objeto a oferta de produtos e servios no mercado de consumo. Diante deste conceito, pode-se afirmar que esta espcie de relao se forma a partir de 3 elementos essenciais: elemento subjetivo sujeitos envolvidos na relao jurdica, ou seja, o consumidor e o fornecedor; elemento objetivo objeto sobre o qual recai a relao jurdica; elemento finalstico traduz a ideia de que o consumidor deve adquirir ou utilizar o produto ou servio como destinatrio final. Sem a presena de todos os elementos essenciais, a relao jurdica se descaracteriza como de consumo para efeitos de aplicao do CDC e de outros diplomas de proteo do consumidor.

Elemento Subjetivo: Sujeitos So as pessoas ou entes despersonalizados entre os quais se estabelece uma ligao, um liame. 1. Consumidor a parte vulnervel da relao de consumo. toda pessoa fsica ou jurdica que adquire ou utiliza produtos e servios para o seu prprio consumo. Art. 2 do CDC. Indivduo ou grupo de indivduos, os quais, ainda que empresrios, se apresentam no mercado como simples adquirentes ou usurios de servios, sem ligao com a sua atividade empresarial prpria. As caractersticas socioeconmicas marcantes da condio consumerista so: posio de destinatrio ftico ou econmico quando da aquisio de um produto ou da contratao de um servio; aquisio de um produto ou a utilizao de um servio para suprimento de suas prprias necessidades, de sua famlia ou daqueles que esto sua volta, e no para desenvolvimento de outra atividade negocial, o que significa dizer, ausncia de intermediao, de reaproveitamento ou de revenda; no-profissionalidade, como regra geral, assim entendida a aquisio ou a utilizao de produtos ou servios sem querer prolongar o ciclo econmico desses bens ou servios; vulnerabilidade em sentido amplo, isto , o consumidor reconhecido como a parte mais fraca da relao de consumo, afetado em sua liberdade pela ignorncia.9

Embora o texto legal tenha indicado o conceito de consumidor, a doutrina aponta 3 teorias para orientar a identificao do consumidor: a. Teoria Maximalista ou Objetiva mais abrangente. Identifica consumidor com a pessoa fsica ou jurdica que adquire o produto ou utiliza o servio na condio de destinatrio final, no importando se haver uso particular ou profissional do bem, tampouco se ter ou no a finalidade, desde que no haja repasse ou reutilizao do mesmo. Funda-se na ideia de que a aplicao do CDC deveria ser a mais ampla possvel. Somente perde a qualidade de consumidor aquele que adquire produto ou servio com a inteno de transformao, montagem, beneficiamento ou revenda, ou seja, atividades diretamente relacionadas com o ciclo produtivo. b. Teoria Finalista, Subjetiva ou Teleolgica mais restritiva. Identifica como consumidor a pessoa fsica ou jurdica que retira definitivamente de circulao o produto ou servio do mercado, utilizando o servio para suprir uma necessidade ou satisfao pessoal, e no para o desenvolvimento de outra atividade de cunho profissional. Para essa teoria, consumidor aquele que retira definitivamente de circulao do mercado o produto ou servio, pois os adquire para suprir uma necessidade ou satisfao pessoal ou privada, e no para o desenvolvimento de uma outra atividade de carter empresarial. Se um escritrio de advocacia adquire computadores para utiliz-los em sua atividade diria, por exemplo, afasta-se a aplicao do CDC, pois a utilizao do bem ingressou na cadeia produtiva de outros servios, fomentando a atividade econmica, ainda que indiretamente. Exige a destinao final do produto ou servio e que no haja inteno de utiliz-lo como forma de auferir lucro. Nega a qualidade de consumidor quando o adquirente utilizase da coisa para exercer alguma atividade profissional, mesmo que a inteno de auferir lucro no decorra e forma imediata de sua utilizao. c. Teoria Mista, Hbrida ou Finalismo Aprofundado surgida a partir das interpretaes jurisprudenciais, suaviza os conceitos trazidos pelo CDC, reconhecendo como consumidor a pessoa fsica ou jurdica que adquire o produto ou utiliza o servio, mesmo em razo de sua atividade e at mesmo em razo de equipamentos ou servios que sejam auxiliadores de sua atividade econmica. A relao de consumo no se caracteriza pela simples presena de um fornecedor e um consumidor destinatrio final de um de consumo, mas pela presena de um sujeito que alm de destinatrio deve ser, necessariamente, vulnervel. O princpio da vulnerabilidade o aspecto decisivo para determinao do conceito de consumidor. . Para o Procon-RJ, o consumidor pode ser descrito como destinatrio final do produto ou servio, como sendo aquele que encerra o processo econmico, ou seja, utiliza o produto ou servio para satisfao pessoal, para uso privado. Para o mesmo, crianas e adolescentes tambm so consumidores, bastando que o atendimento de suas demandas e pleitos ocorram com o acompanhamento de um responsvel. . PESSOA JURDICA COMO CONSUMIDOR: questo polmica na doutrina e na jurisprudncia. Adquirindo um bem de consumo, fora de sua rea de atuao, a pessoa jurdica pode invocar a proteo10

da legislao consumerista: apenas quando fizer uso de um determinado produto ou servio sem explorlo por meio de uma atividade econmica. A definio trazida no caput do artigo 2 do CDC a do chamado consumidor stricto sensu ou standart. Todavia, a legislao consumerista tambm aplicvel a terceiros no consumidores, mas que foram equiparados a consumidores para efeitos da tutela legal {artigo 2, PU, artigo 17 e artigo 29, do CDC}. So os denominados consumidores por equiparao. Sendo assim, em determinadas situaes, o legislador estendeu o conceito de consumidor para outras pessoas que, embora no tenham adquirido nem se utilizado de produtos ou servios, sero, por intermdio de uma fico legal, equiparadas posio de consumidoras, possibilitando a aplicao do CDC. So elas: Coletividade - equipara-se o consumidor coletividade de pessoas, ainda que indeterminveis, que haja intervindo nas relaes de consumo (art. 2, pargrafo nico). A equiparao realizada pelo mencionado pargrafo nico trata dos interesses difusos ou coletivos dos consumidores considerados como entes coletivos, ainda que indeterminados, desde que intervindo numa relao de consumo. Portanto, includos os alunos de uma determinada escola, os associados de um plano de sade, os doentes de um hospital etc. Vtima de acidente de consumo equiparam-se aos consumidores todas as vtimas do evento para aplicao das regras da responsabilidade pelo fato do produto ou servio (art. 17). Assim, quem quer que tenha sofrido um dano, em razo de produto ou servio, poder no prazo de cinco anos contados do reconhecimento do dano e de sua autoria, ingressar com ao postulando a reparao moral ou material (art. 27). A vtima do evento o consumidor bystander, ou seja, aquele que, embora no tenha contratado a aquisio de produtos ou a prestao de servios vtima por um acidente de consumo. Por exemplo, o veculo e uma pessoa que so atingidos pela queda de uma placa publicitria (REsp. 207.926). Pessoas expostas s prticas comerciais e disciplina contratual - equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determinveis ou no, expostas s prticas comercias (oferta, publicidade, prticas abusivas e cobrana de dvidas) e contratuais (art. 29). Tal dispositivo funciona como um eficiente instrumento para coibir o exerccio abusivo do poder econmico. Assim, quem quer que seja exposto publicidade abusiva, mesmo sem ter adquirido o produto ou servio, pode reivindicar a proteo peculiar ao consumidor. Exemplo mais comum: propaganda enganosa.

2. Fornecedor O Cdigo de Defesa do Consumidor estabelece de modo bastante genrico e propositadamente amplo, que fornecedor toda pessoa fsica ou jurdica, pblica ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produo, montagem, criao, construo, transformao, importao, exportao, distribuio ou comercializao de produtos ou prestao de servios. Art. 3 do CDC. Por fornecedor deve-se entender qualquer participante de um ciclo produtivo de uma cadeia econmica de consumo. Para a caracterizao de sua condio temos os seguintes critrios:11

a. Habitualidade o exerccio contnuo de determinado servio ou fornecimento de produto. Dessa forma, no caracterizam relao de consumo as estabelecidas por no profissionais, causal e eventualmente; b. Exerccio de atividade econmica organizada o fornecedor deve desenvolver um conjunto de atos coordenveis entre si, em funo de uma finalidade precpua, qual seja, o lucro. o sujeito que exerce profissionalmente e de forma preponderante a atividade de fornecimento de produtos e servios no mercado de consumo; c. Autonomia no exerccio de atividade o fornecedor exerce atividades sem ser isento de dependncia de terceiros. . A relao entre o banco e o cliente considerada relao de consumo. Este entendimento, inclusive, j foi consolidado atravs da sm. 297 do STJ o Cdigo de Defesa do Consumidor aplicvel a instituies financeiras. . PESSOA JURDICA DE DIREITO PBLICO: o Poder Pblico ser fornecedor quando, diretamente, ou por meio de concessionrias, atuar no mercado de consumo prestando servios mediante cobrana de preo ou tarifa (contraprestao paga pelos servios pedidos pelos consumidores ao Estado). Ressalte-se que no haver relao de consumo quando a prestao for de servio pblico especfico e divisvel, prestado obrigatoriamente, direta ou indiretamente, pelo Poder Pblico e a remunerao for por taxa. A relao de consumo no incide se houver relao tributria. Haver relao de consumo, por exemplo, nos servios pblicos de telefonia. So exemplos os servios de telefonia, luz, gua e esgoto. Ficam de fora da incidncia do CDC os servios pblicos pelos quais o cidado tem acesso independentemente de pagamento especfico, a exemplo de segurana pblica. . ENTES DESPERSONALIZADOS: trata-se de determinados patrimnios especiais que, conquanto destitudos de personalidade jurdica, titularizam alguns direitos e obrigaes. So entes despersonalizados a massa falida, pessoas jurdicas de fato, esplio etc. . SOCIEDADE SEM FINS LUCRATIVOS: o reconhecimento de uma pessoa fsica ou jurdica ou de um ente despersonalizado como fornecedor de servios atende a critrios puramente objetivos, sendo irrelevantes a sua natureza jurdica, a espcie dos servios que prestam e at mesmo o fato de se tratar de uma sociedade civil, sem fins lucrativos, de carter beneficente e filantrpico, bastando que desempenhem determinada atividade no mercado de consumo mediante remunerao (REsp. 519310). . OUTROS CASOS ESPECIAIS: condomnios, associaes e cooperativas no so considerados fornecedores em relao aos seus membros, j que apenas administram o bem comum e necessitam da aprovao dos condminos, associados ou cooperados para tomada de decises significativas. A jurisprudncia, por sua vez, pacificou entendimento de que as seguintes matrias no so acobertadas pelo CDC: crdito educativo; cotista de clube de investimento; contrato de prestao de servios entre Correios e determinada empresa (contrato administrativo).

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. TEORIA DA APARNCIA: se o fornecedor, voluntariamente, permitiu a aposio de sua marca em produtos os servios fornecidos por outros, gerando para o consumidor a falsa aparncia de que era de fato o fornecedor, assume a responsabilidade solidria em relao aos prejuzos causados.

Elemento Objetivo: Objetos da Relao de Consumidor Entende-se como sendo um bem sobre o qual recai o interesse dos sujeitos. Estes formam o contedo da relao jurdica.

1. Produtos O conceito de produto est inserido no 1 do artigo 3 do CDC: bem, mvel ou imvel, material ou imaterial. Este dispositivo estabelece que qualquer bem corpreo ou incorpreo suscetvel de apropriao que tenha valor econmico, destinado a satisfazer uma necessidade do consumidor pode ser enquadrado como produto. Os produtos so bens que se transferem do patrimnio do fornecedor para o do consumidor, sejam eles materiais (ex.: aparelho telefnico) ou at imateriais (ex.: um programa de computador). Os produtos mveis so aqueles que como o prprio nome indica, so passveis de deslocamento, sujeitos entrega (ex.: um veculo, uma televiso, alimento), enquanto so imveis os bens incorporados natural ou artificialmente ao solo (ex.: lote de terra urbana ou rural, residencial ou comercial; um apartamento). Produtos so necessariamente bens econmico lanados pelo fornecedor no mercado de consumo, resultante de um processo de produo ou fabricao. Quanto aos bens do setor primrio, tal como so os de natureza agrcola, entende-se que sero includos sob a esfera do CDC, tanto in natura, como aps transformao, por interveno do trabalho humano ou mecnico. Se o bem adquirido ou utilizado no se inclui na atividade finalstica do fornecedor, no h relao de consumo, e, portanto, no se converte em produto. O artigo 26 do CDC, quando trata dos prazos decadenciais para reclamar dos vcios dos produtos, traz uma classificao dos produtos em: durveis bens tangveis que no se extinguem ps o seu uso regular. Foram feitos para serem utilizados de forma reiterada; no durveis so aqueles tangveis que desaparecem, se destroem, acabam com o seu uso regular. A extino pode ser imediata ou paulatina.

2. Servio O conceito de servio est inserido no 2 do artigo 3 do CDC: qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remunerao, inclusive as de natureza bancria, financeira, de crdito e securitria, salvo as decorrentes das relaes de carter trabalhista. Este dispositivo define-o como toda atividade desenvolvida em favor do consumidor. A prestao de servio, assim, para sujeitar-se ao regime jurdico do CDC deve consistir numa atividade e no num13

ato isolado no mercado de consumo. A remunerao pode ser direta ou indireta (quando o custo do produto ou servio est embutido em outros pagamentos realizados pelo consumidor). Assim, aplica-se o CDC na instalao gratuita de som por ocasio da aquisio de um automvel, estacionamentos gratuitos em supermercados, amostra grtis etc. Excluem-se da aplicao os servios sem nenhuma remunerao propriamente ditos, que so raros, mas existentes. Exemplo: um mdico viaja de avio e, durante a viagem, um passageiro tem um mal-estar; se o mdico prestar os primeiros socorros e no houver cobrana de honorrios mdicos, no se aplica o CDC hiptese. No que toca s relaes de carter trabalhista no se aplica o CDC. Portanto, empregado e no fornecedor toda pessoa fsica que presta servios de natureza no eventual a empregador, sob a dependncia deste e mediante salrio (art.3 da CLT). . PROBLEMTICA DOS SERVIOS BANCRIOS, FINANCEIROS, DE CRDITO E SECUNDRIO: as instituies financeiras esto submetidas ao CDC, exceto no que diz respeito definio do custo de operaes ativas e da remunerao das operaes passivas praticadas pelas mesmas instituies, e que o consumidor o destinatrio final das atividades bancrias, financeiras e de crdito deciso do STF na ADIn 2591. O mesmo entendimento j era consolidado pelo STJ, que editou, inclusive, uma smula 297 sobre o assunto: o CDC aplicvel s instituies financeiras. . SERVIOS PBLICOS: Carvalho filho define servio pblico como toda atividade prestada pelo Estado ou por delegados, basicamente sob regime de direito pblico, com vistas satisfao de necessidades essenciais e secundrias da coletividade. Contudo, no todos os servios pblicos que se subordinam s normas de proteo do consumidor. A distino do regime jurdico aplicvel aos servios est intimamente relacionado classificao dessas atividades. Os servios pblicos podem ser: Gerais, Prprios ou Coletivos (uti universi) so aqueles prestados a um grupo indeterminado de pessoas, ou seja, para toda a coletividade, sem a possibilidade de identificao dos destinatrios, sendo pagos por tributos, geralmente, mediante taxa, cujo pagamento obrigatrio e decorre da lei, independentemente da vontade do contribuinte. O contribuinte no tem a faculdade de optar ou no pelo fornecimento, tampouco pelo pagamento. Exemplo: coleta de lixo, iluminao pblica. Especficos, Imprprios ou Singulares (uti singuli) so aqueles prestados de forma que podem ser individualizados, ou seja, a um nmero determinado ou determinvel de pessoas, sendo pagos por tarifa. So prestado em unidades autnomas de utilizao e identificao, com a possibilidade de aferir o quantum utilizado por cada destinatrio. Em regra, so servios prestados pelo Estado, via delegao, por parceria com entes da administrao descentralizada ou da iniciativa privada. Exemplo: gua, gs, energia eltrica, telefonia.

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Nos servios pblicos uti universi, no se aplica o CDC, j que o pagamento da taxa obrigatrio e independe da vontade do contribuinte. No , portanto, uma relao de consuma, mas sim de contribuio. Exemplo: servios mdicos prestado num hospital pblico. Nos servios pblicos uti singuli, incide as regras do CDC, uma vez que h adeso do destinatrio ao servio e, por consequncia, a contraprestao, que pode ser cessada sempre que o destinatrio o pretender, j que a remunerao facultativa. . SERVIOS PROBLEMTICA DO SEU ENQUADRAMENTO: situaes especficas que so ou foram palco de profundas discusses doutrinrias e jurisprudenciais. Desta forma, no incidem as normas do CDC na relao de consumo e: locao de imveis; condomnio; franquia; relao societria;

6. Direitos Bsicos do Consumidor Direitos bsicos do consumidor so aqueles interesse nucleares, materiais ou instrumentais, relacionados a direitos fundamentais universalmente consagrados que, diante de sua relevncia social e econmica, o legislador disciplinou de maneira especfica. Os direitos previstos neste cdigo no excluem outros decorrentes de tratados ou convenes internacionais de que o Brasil seja signatrio, da legislao interna ordinria, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princpios gerais do direito, analogia, costumes e equidade artigo 7 do CDC. Portanto, so direitos bsicos do consumidor artigo 6 do CDC: I - a proteo da vida, sade e segurana contra os riscos provocados por prticas no fornecimento de produtos e servios considerados perigosos ou nocivos; Trata-se de um direito indisponvel e assegurado pelo artigo 5 da CF. O legislador deixa claro que os produtos e servios colocados no mercado de consumo no devem expor o consumidor a potenciais danos sade, segurana e patrimnio. Tem o objetivo de proteger a incolumidade fsica dos consumidores, harmonizando-se com a regra-objetivo do artigo 4, caput, do CDC: A Poltica Nacional das Relaes de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito sua dignidade, sade e segurana, a proteo de seus interesses econmicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparncia e harmonia das relaes de consumo (). Diante da nova concepo das relaes contratuais que tm em conta a desigualdade entre os contratantes, o legislador procurou proteger os mais fracos contra os mais poderosos, o leigo contra o melhor informado. Neste sentido, os contratantes devem obedecer os dispositivos de proteo ao consumidor, por tratarem de ordem pblica econmica.15

O Cdigo de Defesa do Consumidor contm normas que garantem a proteo sade e segurana dos consumidores, garantindo que os produtos e servios colocados no mercado de consumo no acarretaro riscos sade ou segurana dos consumidores, exceto aqueles considerados normais e previsveis. Tambm estabelece a responsabilidade objetiva do fornecedor, fabricante, produtor, construtor e importador pela reparao dos danos causados. Entretanto se h um direito de consumir produtos seguros, existe tambm o dever do Estado de outorgar a proteo respectiva. Decorre do direito segurana o dever de os fornecedores retirarem do mercado produtos e servios que venham a apresentar riscos incolumidade dos consumidores ou ainda de terceiros, o dever de comunicar s autoridades competentes a respeito desses riscos, e ainda, o dever de indenizar por prejuzos decorrentes de vcios ou defeitos do produto ou servio.

II - a educao e divulgao sobre o consumo adequado dos produtos e servios, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contrataes; A educao um direito de todos e um dever do estado artigo 205 da CF pelo que se deve ressaltar que os entes pblicos, de igual modo, tem o dever de educar e de informar o cidado sobre a melhor maneira de se comportar no mercado de consumo. A doutrina aponta para dois tipos de educao para o consumidor: a educao formal, a ser dada nos diversos cursos desde o ensino fundamental nas escolas, e a educao informal, de responsabilidade dos fornecedores, no sentido de bem informar o consumidor sobre as caractersticas dos produtos e servios j colocados no mercado de consumo. Sendo assim, a formao de cidados, aptos a exercer a livre manifestao de vontade, conscientes de seus deveres e direitos perante a sociedade, imprescindvel para a harmonizao das relaes de consumo. Neste raciocnio pressupe-se que havendo a existncia de vrios produtos ou servios da mesma natureza disposio do consumidor, somente saber utilizar adequadamente a liberdade de escolha se estiver bem informado sobre seus direitos e deter conhecimentos que lhe permitam identificar o produto ou servio que pretende ou deseja. Ressalte-se a importncia universal do direito educao, uma vez que reflete na igualdade de contratao entre consumidores e fornecedores. O consumidor que recebe educao formal e informal estar apto a contratar com mais segurana com seu fornecedor equilibrando as relaes.

III - a informao adequada e clara sobre os diferentes produtos e servios, com especificao correta de quantidade, caractersticas, composio, qualidade e preo, bem como sobre os riscos que apresentem; Ele est diretamente relacionado com o princpio da transparncia e da vulnerabilidade. A informao torna-se imprescindvel para colocar o consumidor em posio de igualdade (informativo 343 do STJ). Tem por finalidade garantir ao consumidor o exerccio de outro direito ainda mais importante, que o escolher conscientemente.16

O direito informao faz-se presente em todas as reas de consumo, antes, durante e depois de qualquer relao jurdica contratual. Em contrapartida ao direito de informao, nasce para o fornecedor o dever de informar, corolrio do princpio da boa-f objetiva, que se traduz na cooperao, na lealdade, na transparncia, na correo, na probidade e na confiana que deve existir nas relaes de consumo. O fornecedor est obrigado a prestar todas as informaes acerca do produto e do servio, suas caractersticas, qualidades, riscos, preos, de maneira clara e precisa, no se admitindo falhas, imprecises e omisses. Esse direito deve ser interpretado de forma sistemtica, pois o mesmo ratificado quando o cdigo protege o consumidor das prticas comerciais, especificamente, da oferta do produto no mercado, no art. 31 do CDC. Nesse sentido, cumpre-se o dever de informar, quando informao pelo consumidor preenche 3 requisitos principais: 1. Adequao os meios de informao devem ser compatveis com os riscos do produto ou do servio e do seu destinatrio; 2. Suficincia a informao deve ser completa e integral; 3. Veracidade a informao deve ser verdadeira, real. O dever de informar tem graus: dever de esclarecer dever de aconselhar dever de advertir. O dever de informar do fornecedor tambm de duas ordens: dever de informar nas relaes individualizadas ele deve ocorrer nas tratativas, na oferta e no contrato. (ver informativo 383 do STJ). dever de informar nas relaes com pessoas indeterminadas trata-se de um dever intimamente relacionado com os mecanismos publicitrios. A exceo que se faz com relao a composio do produto, pois divulgar a frmula de um produto qumico ou a composio de determinados metais expor o fabricante ao risco de ser copiado por concorrentes. Neste sentido, decorre do mesmo diploma legal o dever dos fornecedores prestarem informaes de interesse do consumidor, resguardado, porm, o segredo industrial.

IV - a proteo contra a publicidade enganosa e abusiva, mtodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra prticas e clusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e servios; Esse direito est controlado pelos arts. 36 a 38 e apontado como infrao penal prevista nos arts. 67 a 69, todos do CDC. A proteo contra publicidade enganosa e abusiva inerente ao mercado de consumo, ou seja, tudo que se diga a respeito de um determinado produto ou servio dever corresponder exatamente expectativa despertada no pblico consumidor.

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V - a modificao das clusulas contratuais que estabeleam prestaes desproporcionais ou sua reviso em razo de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; Em razo dele, pode o consumidor requerer em juzo a alterao das clusulas que estabeleam contraprestaes desproporcionais, relativizando a aplicao da regra do pacto sunt servanda, no caso concreto. Assim, o contrato passvel de alterao sempre que a clusula no se revelar justa. O consumidor pode pleitear, a qualquer tempo a nulidade da clusula injusta ou desproporcional sem que leve anulao do contrato. Na prtica significa que o Estado atravs do Poder Judicirio, quando provocado, intervm na relao contratual de consumo para sobrepor-se vontade das partes para modificar uma manifestao de livre vontade e impor um equilbrio contratual, fator que ressalta a interveno estatal no espao reservado para a autonomia da vontade, como caracterstica determinante do Cdigo de Defesa do Consumidor. Ao substituir ou modificar uma clusula considerada abusiva, o Estado atende os princpios norteadores que regem a matria de proteo ao consumidor, tais como boa - f e equilbrio contratual. Com isso, harmonizam os dispositivos que desde o princpio estabelecem que as normas de proteo e defesa do consumidor so de ordem pblica e de interesse social, e portanto, irrenunciveis. Observao: TEORIA DA IMPREVISO A teoria da impreviso se aplica aos contratos regidos pelo CDC? No. O Cdigo de Defesa do Consumidor adotou a teoria da base objetiva do negcio jurdico que, diferentemente do que preconiza a teoria da impreviso (adotada pelo CC/02), no exige que o fato seja imprevisvel para a reviso do contrato. Para a teoria da base objetiva do negcio jurdico interessa saber se o fato alterou de maneira objetiva as bases nas quais as partes contrataram, de maneira a modificar o ambiente econmico inicialmente existente. Neste sentido, dispe o CDC: Art. 6 So direitos bsicos do consumidor: (...) V - a modificao das clusulas contratuais que estabeleam prestaes desproporcionais ou sua reviso em razo de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; Portanto, tomadas tais consideraes, de se concluir que no existe a Teoria da Impreviso no art. 6, V, do CDC, mas sim algo muito mais amplo e favorvel ao consumidor, eis que o direito reviso para reajustar o equilbrio contratual em favor do consumidor pode ser exercido ainda que o fato superveniente seja previsvel, ou seja, prescinde-se do requisito da impreviso.

VI - a efetiva preveno e reparao de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; Ou seja, a lei disposio do consumidor, meios e processos que lhes permitem compelir o fornecedor a reparar financeiramente eventuais danos causados por produtos ou servios.18

Nesse acesso justia est includa a facilitao da defesa de seus direito, ou seja, o Estado deve criar mecanismos que tornem mais fcil a defesa do consumidor em juzo, como por exemplo a inverso do nus da prova no processo civil e a assistncia judiciria gratuita. No que diz respeito estrutura do judicirio, para a defesa do consumidor so instrumentos da Poltica Nacional de Relaes de Consumo, os juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a soluo de litgios de consumo.

VII - o acesso aos rgos judicirios e administrativos com vistas preveno ou reparao de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteo Jurdica, administrativa e tcnica aos necessitados; A preveno e danos deve ser efetuada atravs de polticas de conscientizao alm de outras medidas para evitar a propagao de leses e prejuzos aos consumidores. Na preveno no se exclui a ideia de uma tutela processual, mas esta dimenso mais eficaz atravs de uma tutela administrativa pelos rgos e entidades de proteo ao consumo. A efetividade do CDC nasce para garantia da plena reparao de danos, no havendo que se falar em indenizao tarifada. As clusulas contratuais que estabelecem valores limitados de indenizao por prejuzo moral ou material advindo de relao contratual entre consumidor e fornecedor so consideradas nulas artigo 51, I, do CDC.

VIII - a facilitao da defesa de seus direitos, inclusive com a inverso do nus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critrio do juiz, for verossmil a alegao ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinrias de experincias; Em razo da vulnerabilidade presumida do consumidor, o legislador conferiu ao juiz o poder para decretar, a seu critrio, a inverso do nus da prova, se presente a verossimilhana das alegaes do consumidor ou se presente a hipossuficincia. A inverso do nus da prova no automtica, deve ser examinada no caso concreto. Os requisitos so analisados objetivamente. Pressupe dificuldade ou impossibilidade da prova apenas da parte do consumidor, no a impossibilidade absoluta da prova em si. Ela pode ser requerida, especialmente, quando ficar evidenciada a vulnerabilidade tcnica em estgio acentuado, surgindo, assim, a chamada hipossuficincia tcnica. Ressalta-se que, no que diz respeito matria publicitria, no se faz necessrio atender a qualquer requisito de verossimilhana ou hipossuficincia, uma vez que o nus da prova j invertido como regra artigo 38 do CDC.

X - a adequada e eficaz prestao dos servios pblicos em geral. O servio pblico, prestado diretamente pelo Poder Pblico, por seu permissionrio ou concessionrio, deve satisfazer s condies de regularidade, continuidade, eficincia, segurana e modicidade das tarifas artigo 6, 1, da Lei 8.987/95.19

Os deveres dos rgos pblicos das empresas, concessionrias e permissionrias ou sob qualquer outra forma de empreendimento esto estipuladas no artigo 22 do CDC: Os rgos pblicos, por si ou suas empresas, concessionrias, permissionrias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, so obrigados a fornecer servios adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contnuos. Pargrafo nico. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigaes referidas neste artigo, sero as pessoas jurdicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste cdigo.

Qualidade de Produtos e Servios, Preveno e Reparao de Danos Proteo Sade e Segurana Os produtos e servios colocados no mercado de consumo no acarretaro riscos sade ou segurana dos consumidores, exceto os considerados normais e previsveis em decorrncia de sua natureza e fruio, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hiptese, a dar as informaes necessrias e adequadas a seu respeito. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informaes atravs de impressos apropriados que devam acompanhar o produto. Exemplo: agrotxicos, cigarros, bebidas alcolicas, medicamentos, fogos de artifcio.

Nocividade e Periculosidade de Produtos Classificam-se em: Nocividade ou Periculosidade Latente ou Inerente So os produtos que apresentam perigo latente previsvel. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informaes a que se refere este artigo, atravs de impressos apropriados que devam acompanhar o produto. O consumidor com grau de conhecimento-padro tem a cincia da existncia de perigo ou risco no consumo do produto fornecido. A inexistncia da informao configura tipo penal: artigo 63 do CDC. Nocividade ou Periculosidade Adquirida So os produtos que, primeira vista, no apresentam perigo ou risco latente e, posteriormente, em razo de defeitos de fabricao, pem em risco a sade e a segurana do consumidor. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informaes a que se refere este artigo, atravs de impressos apropriados que devam acompanhar o produto. Neste caso, o fornecedor ser obrigado a comunicar o fato s autoridades competentes e aos consumidores (recall), e ainda, caso tenha havido dano, o consumidor poder ser indenizado pelo20

fornecedor, j que o mesma sabe ou deveria saber sobre o alto grau de nocividade ou periculosidade do produto. Nocividade ou Periculosidade Exagerada So os produtos proibidos de serem inseridos no mercado de consumo, ainda que o fornecedor tenha todos os cuidados a cerca das informaes sobre o risco ou perigo. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informaes a que se refere este artigo, atravs de impressos apropriados que devam acompanhar o produto. Se inseridos, o fornecedor responder pelo tipo penal previsto no artigo 64 do CDC. Caso tenha conhecimento da nocividade ou periculosidade somente aps ter colocado o produto no mercado de consumo, ter o dever de informar as autoridades competentes e, ainda, o dever de informar o consumidor, de forma clara e inequvoca, mediante anncio publicitrio na imprensa escrita e falada, a respeito do defeito do produto (recall).

Nocividade e Periculosidade dos Servios A mesma classificao apresentada para a nocividade e periculosidade dos produtos tambm aplicvel aos servios, tendo em vista que os artigo 9 e 10 do CDC no fazem diferena entre seus objetos.

7. Responsabilidade civilResponsabilidade, de acordo com Savatier, a obrigao que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuzo causado a outra, por fato prprio, ou por fato de pessoas, ou coisas que dela dependam. A responsabilidade civil pode ser objetiva ou subjetiva. Esta a que deriva de dolo ou culpa. Dessa forma, s surge o dever de indenizar se o dano houver sido causado dolosa ou culposamente. A responsabilidade objetiva, por sua vez, aquela em que a obrigao de indenizar independe de dolo ou culpa, bastando o nexo causal entre a conduta e o dano experimentado pela vtima. O CC adotou, como regra, a responsabilidade subjetiva (art. 186 do CC). O CDC, ao contrrio, adotou como regra a responsabilidade civil objetiva. Seno assim, a responsabilidade civil do fornecedor do tipo objetiva, ou seja, dispensada a prova da culpa do fornecedor. Na responsabilidade objetiva no h que se perquirir se o fornecedor agiu mediante culpa ou dolo, basta provar a existncia de um dano e do nexo causal. Nessa esteira, no cabe ao consumidor provar que o fornecedor agiu com culpa ou dolo para ver ressarcido seu prejuzo, tampouco cabe ao fornecedor tentar se eximir de sua responsabilidade, provando que no teve dolo e nem culpa no defeito ou vcio do produto ou servio. Desta feita o CDC assegura a efetiva reparao dos danos causados ao consumidor em decorrncia de danos patrimoniais (ao patrimnio) e morais, decorrentes das relaes de consumo. Nessa esteira, para a responsabilizao do fornecedor basta a existncia dos seguintes requisitos:

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a) Dano: que pode ser sobre o patrimnio do consumidor ou sua integridade fsica ou moral; b) nexo de causalidade: vnculo entre o dano e a utilizao do produto ou servio. Assim, para a efetiva responsabilizao do fornecedor, basta que o dano ao consumidor seja causado pela utilizao do produto ou servio. A responsabilidade civil do fornecedor de produtos e servios tratada nos artigos 12 a 25 do CDC. Preferiu o legislador distinguir a responsabilidade pelo fato do produto ou servio (artigos 12 a 17) e a responsabilidade por vcio do produto ou servio (artigo 18 a 21). Observao: A responsabilidade objetiva comporta graus. O grau mais elevado aquele em que a lei exige, daquele que causou o dano, a indenizao, sem que seja conferida ao agente qualquer possibilidade provar sua inocncia. No grau menos elevado, h possibilidade de inverso do nus da prova, no caso de culpa presumida. Por isso, a doutrina classifica essa responsabilidade objetiva em imprpria ou impura, pois o causador do dano pode provar que no teve culpa. Essa responsabilidade se encontra no CC em alguns casos, como no artigo 936, que admite a inverso do nus da prova. A responsabilidade imprpria ou impura (que admite inverso do nus da prova) a que impera no CDC.

Responsabilidade Civil pelo Fato do Produto e do Servio Artigo 12 do CDC. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existncia de culpa, pela reparao dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricao, construo, montagem, frmulas, manipulao, apresentao ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informaes insuficientes ou inadequadas sobre sua utilizao e riscos. Artigo 14 do CDC. O fornecedor de servios responde, independentemente da existncia de culpa, pela reparao dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos prestao dos servios, bem como por informaes insuficientes ou inadequadas sobre sua fruio e riscos. Tem como objetivo a falha do dever de segurana dos produtos e servios postos em circulao no mercado de consumo. Assim, a violao ou o no atendimento do dever de segurana permite a caracterizao do chamado defeito dos produtos e servios ou vcios por insegurana. O DEFEITO elevado a condio de elemento estrutural da responsabilidade peo fato, ao lado da conduta do agente, do dano e do nexo causal. Os produtos ou servios defeituosos podem ser definidos como os bens de consumo que no apresentam a segurana que deles o mercado legitimamente espera artigo 12, 1, e artigo 14, 1, do CDC. O que se espera o enquadramento dos produtos e dos servios dentro dos padres de uma22

expectativa legtima dos consumidores, o qual fixado de forma coletiva pela prpria sociedade de consumo. . CLASSIFICAO DOS DEFEITOS: a doutrina em geral classifica os defeitos em: 1. defeito de criao ou de concepo a falha de segurana est na estrutura, no projeto ou nas frmulas do produto ou do servio. Possuem trs traos caractersticos: (a) a inevitabilidade; (b) a dificuldade de reviso estatstica quanto sua frequncia; e (c) a manifestao universal [o defeito de concepo no se limita a apenas um ou outro produto ou servio da cadeia de produo, mas, ao contrrio, manifesta-se em todos os produtos daquela srie ou em todos os servios executados]. 2. defeito de produo ou fabricao o defeito decorrente da falha instalada no processo produtivo e est presente na fabricao, montagem, construo ou no acondicionamento do produto. Possuem trs traos caractersticos: (a) a inevitabilidade; (b) a previsibilidade estatstica quanto sua frequncia; e (c) a manifestao limitada em alguns consumidores. 3. defeito de comercializao e informao decorrente da apresentao do produto e do servio ao consumidor, a qual inclui todo o processo de informao destinado ao mercado de consumo, manifestada, principalmente, na rotulagem, embalagem, instrues de uso e nas mensagens publicitrias. No se trata de um defeito da coisa em si, mas da insuficiente ou errnea informao sobre seu uso adequado. Pode ocorrer de duas formas: (a) o fornecedor no esclarece a forma correta de utilizao do produto ou do servio; (b) o fornecedor no alerta o consumidor acerca dos cuidados e precaues a serem tomados na utilizao de um produto ou servio.

Critrios de valorao dos defeitos dos produtos Os incisos do 1 do artigo 12 do CDC estabelecem critrios para a aplicao do direito determinar se um produto pode ser considerado defeituoso: Apresentao ato unilateral do fornecedor para divulgao dos elementos caractersticos do produto. O consumidor, uma vez devidamente informado, tem condies de avaliar os riscos no uso e fruio do bem adquirido. Uso e riscos que razoavelmente dele se esperam a razoabilidade afasta a necessidade de uma segurana absoluta. poca em que foi colocado em circulao momento em que o produto foi colocado em circulao o marco temporal para se averiguar a existncia do defeito. A falha de segurana j deve existir no memento de sua colocao no mercado de consumo, no cabendo avali-la no instante da ocorrncia do dano ou do julgamento do juiz. por essa razo que o 2 do artigo 12 do CDC dispe que o produto no pode ser considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.23

Critrios de valorao dos defeitos dos servios Os incisos do 1 do artigo 14 do CDC repetem parcialmente os critrios de valorao apresentados no item anterior para a valorao dos defeitos dos produtos: uso e riscos esperados poca de circulao Apenas o critrio de apresentao do produto substitudo por um critrio aplicvel especificamente aos servios, qual seja o modo de seu fornecimento: no ato do fornecimento possvel verificar se as tcnicas exigidas para o desenvolvimento adequado da prestao foram utilizada corretamente, de acordo com os padres exigidos pelos rgos reguladores, bem como pela prpria sociedade de consumo.

Risco de desenvolvimento e a caracterizao do defeito no produto e no servio O risco de desenvolvimento aquele que no pode ser identificado quando da colocao do produto ou do servio no mercado em funo de uma impossibilidade cientfica e tcnica, somente sendo descoberto posteriormente com o seu uso. O defeito no pode ser perceptvel na poca do lanamento do produto ou servio. A doutrina majoritria diz que os danos advindos dos riscos de desenvolvimento devem ser indenizados pelo fornecedor, posto que os artigos 12, 3, e 14, 3, do CDC no excluem expressamente a reponsabilidade do fornecedor.

Imputao de responsabilidade pelo fato do produto O caput do artigo 12 do CDC indica quais so os responsveis imputveis pela reparao dos danos aos consumidores pelo fato do produto. Esse rol taxativo. A doutrina, para melhor explicar a responsabilidade de cada um desses fornecedores, rene-os em 3 categorias distintas. So elas: fornecedor real compreende o fabricante [pessoa fsica ou jurdica que cria ou processa produtos em escala, seja artesanal ou industrial, para serem colocados no mercado de consumo], o produtor [quem coloca no mercado de consumo produtos da natureza, ou seja, produtos da agroindstria] e o construtor [pessoa que desenvolve atividades ligadas incorporao civil, engenharia ou arquitetura]. fornecedor presumido importador de produto industrializado ou in natura. fornecedor aparente aquele que ape seu nome ou marca no produto final. Pode ser visto como o fabricante ou o produtor.24

O Comerciante tambm pode ser responsabilizado pelo fato do produto, na forma do artigo 13 do CDC. Aquele dever indenizar o consumidor sempre que no puder ser identificado ou quando no houver identificao do fornecedor (fabricante, construtor, produtor ou importador), ou, ainda, na hiptese de o comerciante no conservar adequadamente o produto. Trata-se, contudo, de uma responsabilidade subsidiria. O comerciante que arca com a indenizao ter o direito de regresso em face do causador do dano, devendo o comerciante demonstrar a culpa do fornecedor no evento danoso para ter os prejuzos ressarcidos, vedada a denunciao da lide artigo 13, PU, do CDC. Solidariedade entre os fornecedores o art. 12 determinou que apenas o fornecedor mediato (aquele que fabricou, produziu, construiu, importou o produto ou prestou diretamente o servio) quem assume a responsabilidade pela reparao dos prejuzos causados aos consumidores em decorrncia de um acidente de consumo. Se existir mais de um fornecedor mediato, todos respondero solidariamente. J o fornecedor imediato (o comerciante) responde, em carter excepcional, nas situaes previstas no art. 13, ou seja, quando o fornecedor mediato no estiver aparente ou no puder ser identificado, ou quando no armazenar adequadamente os produtos perecveis.

Imputao de responsabilidade pelo fato do servio O artigo 14 do CDC utiliza a expresso fornecedores de servio para indicar os responsveis pela reparao de danos aos consumidores pelo fato do servio. uma imputao genrica, porque, de regra, o fornecedor do servio o prprio prestador, aquele, pessoa fsica ou jurdica, que entrega a prestao. Quando o fornecimento for realizado por um terceiro, todos os prestadores de servio da cadeia sero responsabilizados. Trata-se de uma interpretao extensiva do disposto no artigo 34 do CDC. . Profissional Liberal: artigo 14, 4, CDC A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais ser apurada mediante a verificao de culpa. Profissionais liberais so aqueles que executam o seu trabalho com autonomia profissional, ou seja, tomam suas decises por conta prpria, sem subordinao. o prestador de servio solitrio, que faz do seu conhecimento uma ferramenta de sobrevivncia. A prestao do servio feita pessoalmente, embora possam transferir tarefas acessrias a empregados ou estagirios, por exemplo. Contudo, no possvel afirmar que toda e qualquer relao estabelecida com o profissional liberal , de fato, intuito personae (carter personalssimo), pois h casos em que no existe a relao de confiana. Por exemplo, o consumidor de um plano de sade procura determinado mdico de certa especialidade na relao fornecida pelo seu plano, escolhendo um mdico com base em diversos motivos, como a localidade e no necessariamente a confiana que deposita no profissional. Outra forma de caracterizar a profisso dita liberal a atividade por ele desenvolvida, que de meio e no de fim. No entanto, afirmar que os profissionais liberais no desenvolvem atividade fim no absolutamente correto, pois h casos em que a exercero, como, por exemplo, o advogado contratado para elaborao de um contrato de locao. Por fim, conclui-se que so caractersticas do trabalho de profissional liberal: autonomia profissional; prestao de servios feita pessoalmente; e25

confeco das prprias regras de atendimento profissional. Segundo o dispositivo, a prestao de servios do profissional liberal orientada pela teoria da responsabilidade subjetiva, ou seja, exige a demonstrao de sua culpa. O elemento culpa manifesta-se na conduta do agente por meio da imprudncia (conduta positiva) ou da negligncia (conduta negativa), as quais podem ser compreendidas como a falta de cautela ou cuidado, ou, ainda, da impercia (falta de habilidade no exerccio de atividade tcnica). Para configurar a culpa, temos os seguintes elementos: conduta voluntria com resultado involuntrio: na culpa, no h intenso, mas h vontade; previso ou previsibilidade: embora involuntrio, o resultado poder se previsto pelo agente; falta de cuidado, cautela, diligencia ou ateno: imprudncia, negligncia e impercia. Tem ele o deve de informar aos consumidores.

Responsabilidade dos hospitais: o STJ tem adotado posio restritiva, dessa forma, a responsabilidade do hospital apenas existir se for provada a culpa dos mdicos: A responsabilidade dos hospitais, no que tange atuao tcnico-profissional dos mdicos que neles atuam ou a eles sejam ligados por convnio, subjetiva, ou seja, dependente da comprovao de culpa dos prepostos. Nesse sentido so as normas dos arts. 186 e 951 do novo Cdigo Civil, bem com a smula 341 do STF: Presumida a culpa do patro ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto. Em razo disso, no se pode dar guarida tese do acrdo de, arrimado nas provas colhidas, excluir, de modo expresso, a culpa dos mdicos e, ao mesmo tempo, admitir a responsabilidade objetiva do hospital, para conden-lo a pagar indenizao por morte de paciente. O art. 14 do CDC, conforme melhor doutrina, no conflita com essa concluso, dado que a responsabilidade objetiva, nele prevista para o prestador de servios, no presente caso, o hospital, circunscreve-se apenas aos servios nica e exclusivamente relacionados com o estabelecimento empresarial propriamente dito, ou seja, aqueles que digam respeito estadia do paciente (internao), instalaes, equipamentos, servios auxiliares (enfermagem, exames, radiologia) etc, e no aos servios tcnico-profissionais dos mdicos que ali atuam, permanecendo estes na relao subjetiva de preposio (culpa). (Resp 258389).

Excludentes de responsabilidade pelo fato do produto e do servio o fato que isenta o agente da conduta delituosa de arcar com os nus do resultado danoso vtima. Via de regra, so situaes que afastam o nexo de causalidade, porm, tambm, possvel reconhece-la por meio do afastamento de outros elementos de configurao da responsabilidade civil. As excludentes de responsabilidade pelo fato do produto e do servio previstas no CDC so:

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falta de colocao do produto no mercado artigo 12, 3, I, CDC3. Se o produto no foi colocado no mercado, ou seja, no existe conduta, no h que se imputar responsabilidade no fornecedor. A colocao deve ser feita de maneira consciente e voluntria. O fato de ter colocado o produto no mercado, ainda que de maneira gratuita, no exime a responsabilidade. O nus da prova cabe ao fornecedor. Ausncia de defeito do produto e no servio artigo 12, 3, II, e artigo 14, 3, I, CDC4. O defeito do produto ou do servio o pressuposto essencial da responsabilidade pelo fato. Culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro artigo 12, 3, III, e artigo 14, 3, II, CDC5. Cabe ao fornecedor provar que o consumidor ou terceiro agiu com culpa no evento danoso, considerando aqui o terceiro qualquer pessoa estranha relao de consumo. O artigo 34 do CDC prev a solidariedade entre os atos dos prepostos e representantes do fornecedor. Assim, no poder o fornecedor alegar excluso de responsabilidade por ato de seus prepostos ou representantes, posto que estes no so considerados terceiros na relao de consumo. Caso fortuito e fora maior O CDC, embora no tenha elencado o caso fortuito e a fora maior entre as causas de excluso da responsabilidade civil, no impede que elas sejam reconhecidas como excludentes, porque rompem o nexo de causalidade entre o acidente e o dano. Nesse sentido, o STJ O fato de o artigo 14, 3, do Cdigo de Defesa do Consumidor no se referir ao caso fortuito e fora maior, ao arrolar as causas de iseno de responsabilidade do fornecedor de servios, no significa que, no sistema por ele institudo, no possam ser invocadas (Resp 120647).

Responsabilidade Civil Pelo Vcio do Produto e Servio Artigo 18 do CDC. Os fornecedores de produtos de consumo durveis ou no durveis respondem solidariamente pelos vcios de qualidade ou quantidade que os tornem imprprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicaes constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitria, respeitadas as variaes decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituio das partes viciadas. Artigo 19 do CDC. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vcios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variaes decorrentes de sua natureza, seu contedo lquido for inferior s indicaes constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitria, podendo o consumidor exigir, alternativamente e sua escolha ().

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Artigo 12, 3 - O fabricante, o construtor, o produtor ou importador s no ser responsabilizado quando provar: I - que no colocou o produto no mercado (). 4 Artigo 12, 3 - O fabricante, o construtor, o produtor ou importador s no ser responsabilizado quando provar: II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; Artigo 14, 3 - O fornecedor de servios s no ser responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o servio, o defeito inexiste; 5 Artigo 12, 3 - O fabricante, o construtor, o produtor ou importador s no ser responsabilizado quando provar: III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Artigo 12, 3 - O fornecedor de servios s no ser responsabilizado quando provar: II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

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Artigo 20 do CDC. O fornecedor de servios responde pelos vcios de qualidade que os tornem imprprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicaes constantes da oferta ou mensagem publicitria, podendo o consumidor exigir, alternativamente e sua escolha: A adequao dos produtos e dos servios no mercado de consumo um dos deveres explcitos da Poltica Nacional das Relaes de Consumo do CDC. Trata-se de uma clusula gera fundamentada no princpio da boa-f e na teoria da confiana contratual. A falha no dever de adequao permite a caracterizao do vcio, cuja ocorrncia torna possvel a imputao de responsabilidade dos fornecedores da cadeia de consumo. O vcio do produto uma falha que o torna imprprio ou inadequado ao consumo, produz a desvalia, a diminuio do seu valor e frustra a expectativa do consumidor, mas sem coloca-lo em risco. um efeito decorrente da violao aos deveres de qualidade, quantidade ou informao, inviabilizando, assim, o atendimento das finalidades que dele legitimamente se espera. O vcio previsto no CDC no se confunde com o vcio redibitrio previsto no CC (artigos 441 a 446), pois a garantia assegurada pelo CDC bem mais ampla. Enquanto os vcios redibitrios do CC dizem respeito aos defeitos ocultos da coisa, no CDC, eles podem ser tanto ocultos como tambm aparentes. No pode ser confundido com defeito: o vcio uma falha de adequao, ligado apenas a fatores e caractersticas intrnsecas do produto; j o defeito trata-se de uma falha de segurana, e, em razo disso, seus efeitos extrapolam o mbito interno do produto, pondo em risco a pessoa do consumidor (incolumidade fsica ou psquica). Exemplos: 1. Dois consumidores se dirigem a uma loja de eletrodomstico e compra, cada um, 1 liquidificador. O primeiro, de posse do produto, chega a casa e o liga e no acontece absolutamente nada. O segundo, entretanto, ao ligar o aparelho, o copo do liquidificador comea a trepidar, ato contnuo, sua esposa segura o copo que se desprende do aparelho e a lmina alcana a sua mo, causando-lhe danos pessoa. Com relao ao primeiro, estamos diante de um vcio, que gera responsabilidade na forma do artigo 18 a 25 do CDC. Com relao ao segundo, estamos diante de um acidente de consumo gerado por defeito no aparelho, que gera responsabilidade na forma do artigo 12 a 17 do CDC. 2. Um consumidor se dirige a um supermercado e compra um extrato de tomate. Em casa, abre a caixa e verifica que o produto est estragado. Estamos diante de um vcio. Um outro consumidor compra o mesmo estrato de tomate. Em casa, abre-o de qualquer maneira e o entorna dentro da panela, para fazer uma macarronada e o serve para a famlia. Todos que comeram da macarronada tiveram uma infeco estomacal, tendo que ser hospitalizados. caso de defeito. A doutrina aponta a existncia de trs espcies de vcios na sistemtica do CDC: 1. Vcio de qualidade artigo 18 do CDC. aquele que afeta a funcionalidade econmica do produto e do servio, porquanto no se pode extrair proveito esperado. Inviabiliza a satisfao dos interesses do consumidor, causando prejuzo econmico ao seu adquirente. 2. Vcio de qualidade artigo 19 do CDC. Disparidade no pesa e nas medidas dos produtos, respeitadas as variaes decorrentes de sua natureza. Configura-se somente em duas hipteses: (a) se forem apuradas variaes quantitativas inferiores28

aos ndices-padres normativamente fixados; (b) se for apurado um contedo do produto inferior s indicaes constantes de recipiente, embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitria. 3. Vcio de informao Falha de adequao no fornecimento de informaes relevantes sobre o produto que oferecido no mercado de consumo, especialmente aquelas relacionadas s caractersticas essenciais, qualidade, quantidade, composio, preo, garantia, prazos de validade, origem, riscos, etc. Responsabilidade pelo vcio do produto Aspectos Gerais os artigos 18 e 19 do CDC determinam que os responsveis pela reparao dos vcios dos produtos so todos fornecedores, coobrigados e solidariamente responsveis. Sendo assim, todos os partcipes da cadeia produtiva so considerados responsveis diretos pelo vcio do produto, razo pela qual pode o consumidor escolher a quem imputar a responsabilidade. Na cadeia dos coobrigados, o comerciante eventualmente responsabilizado pelos danos por vcio do produto ter ao de regresso contra o fabricante. A regra de responsabilidade por vcios completada na artigo 19 do CDC, o qual trata especificamente de vcio de quantidade. O dispositivo permite a variao de quantidade, respeitadas as variaes decorrentes de sua natureza. O fornecedor imediato ser responsvel quando fizer a pesagem ou a medio e o instrumento utilizado no estiver aferido segundo os padres oficiais. Em se tratando de produto in natura, aquele que sofre processo de industrializao, ser responsvel perante o consumidor o fornecedor imediato. Sendo assim, na maioria das hipteses ser o comerciante o responsvel pela reparao do dano, salvo quando puder ser claramente identificado o produtor. A ignorncia do fornecedor sobre os vcios de qualidade por inadequao dos produtos e servios no o exime de responsabilidade artigo 23 do CDC. So imprprios ao uso e consumo: (a) os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; (b) os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos vida ou sade, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricao, distribuio ou apresentao; (c) os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam.

Eficcia especfica da responsabilidade por vcios de produto: Direito de Reclamao Sendo constatado o vcio do produto, o consumidor pode exercer o chamado direito de reclamao. Trata-se de uma tutela especfica da garantia legal de adequao dos produtos: ou seja, a prpria lei outorga a garantia ao consumidor, independentemente da garantia contratual. Tal garantia da lei independe de termo expresso e no lcito ao fornecedor dela exonerar-se via contratual. O artigo 26 do CDC estabelece dois prazos de natureza decadencial para o exerccio deste direito, conforme a classificao do produto: 30 dias para produtos no durveis; 90 dias para produtos durveis.29

Este prazo pode ser acrescido (somado) com o prazo da garantia convencional prestada pelo fornecedor ao consumidor. Sendo o vcio aparente, a contagem se d a partir da tradio do produto (artigo 26, 1, CDC). Tratando-se vcio oculto, ou seja, o vcio que se manifesta a partir da utilizao ou fruio do produto, o termo inicial da contagem ser o momento em que este vcio se evidenciar, isto , quando for descoberto pelo consumidor (artigo 26, 3, CDC). Contudo, at quando os fornecedores sero responsveis por vcios ocultos no produto? Trs correntes distintas: 1 CORRENTE. Aplicao subsidiria do CC, que estabelece o prazo de 180 dias, durante o qual o vcio oculto poderia manifestar-se; 2 CORRENTE. O prazo de garantia legal para o exerccio do direito de reclamao na hiptese de vcios ocultos deve ser o mesmo prazo da garantia contratual concedido pelo fabricante. 3 CORRENTE. Defende o critrio de vida til do produto como dado relevante para a definio do limite temporal da garantia legal. Esta ltima posio a mais aceita na doutrina e na jurisprudncia dos tribunais estaduais. Obstam a decadncia: (a) a reclamao comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e servios at a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequvoca; (b) a instaurao de inqurito civil, providencia que compete ao MP, at seu encerramento artigo 26 do CDC. Direito de reclamao por vcio de produto: contedo e forma do seu exerccio o direito de reclamao por vcio de qualidade, uma vez exercido no prazo fixado no CDC pelo consumidor prejudicado, garante ao fornecedor o direito de repar-lo no prazo mximo de 30 dias. Trata-se de uma prerrogativa legal deste ltimo, tendo em vista que se presume a possibilidade do saneamento (correo) da falha de adequao do produto. Podero as partes convencionar a reduo ou ampliao do prazo previsto no pargrafo anterior, no podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adeso, a clusula de prazo dever ser convencionada em separado, por meio de manifestao expressa do consumidor. Caso o vcio no seja sanado no prazo legal, pode o consumidor exigir, alternativamente, sua escolha, uma dentre as trs opes previstas no 1 do artigo 18 do CDC: I.SUBSTITUIO DO PRODUTO POR OUTRO DA MESMA ESPCIE, EM PERFEITAS

A substituio total ou de parte do produto. Esta hiptese aplica-se no caso de vcios que recaiam sobre partes do produto, cuja ocorrncia se d quando ele for constitudo de peas justaposicionadas (produtos compsitos) que possam ser substitudas por outras equivalentes, sem que se preceda destruio ou mesmo danificao do bem. A substituio tambm pode recair sobre o produto como um todo. Ocorre, assim, a troca do bem. No sendo possvel a substituio do bem, poder haver substituio por outro de espcie, marca ou modelo diversos, mediante complementao ou restituio de eventual diferena de preo.CONDIES DE USO

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II.

A RESTITUIO IMEDIATA DA QUANTIA PAGA, MONETARIAMENTE ATUALIZADA,

a restituio de quantia (ao redibitria) impe ao fornecedor a devoluo dos valores pagos pelo consumidor, devidamente corrigidas, sujeitando-se, alm disso, a eventual indenizao por perdas e danos. O pedido indenizatrio aferido objetivamente com a ocorrncia ou no de danos emergentes e lucros cessantes pelo consumidor.SEM PREJUZO DE EVENTUAIS PERDAS E DANOS

III. O ABATIMENTO PROPORCIONAL DO PREO poder o consumidor, por meio da ao estimatria, permanecer com a coisa e obter a reduo do preo do produto, levando em conta o prejuzo econmico existente, ante a constatao do vcio. O consumidor tambm poder exigir uma dessas trs hipteses sempre que, em razo da extenso do vcio, a substituio das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou caractersticas do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial. Tratando da hiptese de vicio de quantidade, descrita no artigo 19 do CDC, as regras para o exerccio do direito de reclamao so similares. Contudo, a lei no prev, neste caso, o direito do fornecedor sanar o vcio. Assim, com a sua ocorrncia, poder o consumidor, alternativamente e sua livre escolha, exigir: (a) o abatimento proporcional do preo; (b) a complementao do peso ou medida; (c) a substituio do produto por outro da mesma espcie, marca ou modelo diversos, mediante complementao ou restituio de eventual diferena de preo; (d) a restituio da quantia paga (atualizada e acrescida de perdas e danos). Vcio de Servio Os servios so considerados viciados sempre que se apresentem inadequados para os fins que deles se esperam ou no atenderem s normas regulamentares para a prestao de servio. Direito de Reclamao dos vcios de servio: contedo e eficcia de seu exerccio todas as questes desenvolvidas sobre a eficcia e o contedo do exerccio do direito de reclamao dos vcios de produto tambm aplicam-se aos vcios de servio, com particularidades prprias desta categoria, nos termos do artigo 20 do CDC. O CDC no garante aos fornecedores prazo para o saneamento, podendo o consumidor valer-se diretamente das opes previstas no artigo 20 do CDC: I. a reexecuo dos servios, sem custo adicional e quando cabvel; II. a restituio imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuzo de eventuais perdas e danos; III. o abatimento proporcional do preo. No fornecimento de servios que tenham por objetivo a reparao de qualquer produto considerarse- implcita a obrigao do fornecedor de empregar componentes de reposio originais adequados e31

novos, ou que mantenham as especificaes tcnicas do fabricante, salvo, quanto a estes ltimos, autorizao em contrrio do consumidor. O emprego de peas no originais sem autorizao do consumidor constitui crime artigo 70 do CDC. Servios Pblicos Conforme regra do CDC, os rgos pblicos, por si ou suas empresas, concessionrias, permissionrias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, so obrigados a fornecer servios adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contnuos (art. 22). Muito se discute na doutrina e jurisprudncia a possibilidade de efetuar o corte de servios pblicos quando h inadimplemento do consumidor. Isso porque a Lei 8.987/95 (Lei de Servios Pblicos) disciplina que no se caracteriza como descontinuidade do servio a sua interrupo em situao de emergncia ou aps prvio aviso, quando motivada por razes de ordem tcnica ou de segurana das instalaes ou por inadimplemento do usurio, considerado o interesse da coletividade. Embora paream contraditrias as regras do CDC e da Lei 8.987/95 a jurisprudncia majoritria tem autorizado a interrupo dos servios pblicos essenciais em tais hipteses (Resp 363.943).

8. Decadncia e prescrio A existncia de prazo para o exerccio de direitos e pretenses uma forma de disciplinar a conduta social, sancionando aqueles titulares que se matem inertes. Justamente por tais circunstancias que a ordem jurdica estabelece os prazos de prescrio e decadncia, que garantem a relativa estabilidade das relaes jurdicas na sociedade.

Prescrio Perda da pretenso, em virtude da inrcia de seu titular, no prazo previsto pela lei (artigo 189 do Cdigo Civil). A pretenso a expresso utilizada para caracterizar o poder de exigir de outrem coercitivamente o cumprimento de um dever jurdico. o poder de exigir a submisso de um interesse subordinado (do devedor da prestao) a um interesse subordinante (do credor da prestao) amparado pelo ordenamento jurdico. Pode-se dizer que a prescrio tem como requisitos: a violao do direito, com nascimento da pretenso; a inrcia do titular; o decurso do prazo fixado em lei. Estabelece o artigo 27 do CDC que o prazo prescricional para a pretenso indenizatria decorrente do fato produto ou do servio de 5 anos.

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O incio do prazo, segundo a melhor doutrina, s se opera a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. Aplicam-se as regras de impedimento, suspenso e interrupo do prazo decadencial previstas nos artigos 197 a 204 do CC. . PRAZO PRESCRICIONAL PARA O EXERCCIO, PELO FORNECEDOR, QUE RESPONDE PELA INDENIZAO, DA AO REGRESSIVA CONTRA O FORNECEDOR QUE TENHA EFETIVAMENTE DADO CAUSA AO DANO: Duas correntes: 1) prazo aplicvel o do artigo 27 do CDC. 2) aplicao do prazo geral de 10 anos do artigo 205 do CC.

Decadncia Existem direitos subjetivos que no fazem nascer pretenses, porque destitudos dos respectivos deveres. So direitos potestativos. O direito potestativo o poder que o agente tem de influir na esfera jurdica de outrem, constituindo, modificando ou extinguindo uma situao subjetiva sem que esta ppossa fazer alguma coisa seno sujeitar-se. Exemplo: direito do patro dispensar o empregado, direito de no aceitar a herana. O lado passivo da relao jurdica limita-se a sujeitar-se ao exerccio de vontade da outra parte. O tempo limita o exerccio dos direitos potestativos pela inrcia do respectivo titular, a qual recebe o nome de caducidade. Esta, em sentido amplo, significa extino de direito em geral e, em sentido restrito, perda dos direitos potestativos, quando toma o nome de decadncia. Decadncia consiste em uma limitao que a lei estabelece para o exerccio de um direito, extinguindo-o pondo termo ao estado de sujeio existente. Aplica-se s relaes que contem obrigaes. Na decadncia, o prazo comea a correr no momento em que o direito nasce, surgindo, simultaneamente, direito e termo inicial do prazo. O que se tem em mira , portanto, o exerccio do direito potestativo, no a sua exigibilidade, prpria da prescrio. No se aplicam decadncia, as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrio. Os prazos decadenciais no CDC so previstos no artigo 26, os quais regulam o direito de reclamao:

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Decadncia Produto ou servio Vcio aparente ou de fcil constatao No durvel 30 dias

Prazo

Durvel

90 dias

No durvel Vcio oculto Durvel Obstam a decadncia:

30 dias 90 dias

Incio da contagem Entrega efetiva do produto ou do trmino da execuo dos servios Entrega efetiva do produto ou do trmino da execuo dos servios Data em que o vcio se evidencia Data em que o vcio se evidencia

a reclamao comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e servios at a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequvoca; a instaurao de inqurito civil, at seu encerramento.

9. Desconsiderao da personalidade jurdica6 A pessoa jurdica no poder praticar todos os atos jurdicos admitidos para a pessoa natural. O seu campo de atuao jurdica encontra-se delimitado no contrato social, nos estatutos ou na prpria lei. No deve, portanto, praticar atos ou celebrar negcios que extrapolem da sua finalidade social, sob pena de ineficcia. um instrumento de coibio