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4ª Aula: O Direito Coletivo e a Administração Pública.
1º módulo (50 minutos).
Direito coletivo. Conceito e Princípios.
2º módulo (50 minutos).
O direito de associação do servidor público. A formação de Convenções Coletivas e Acordos Coletivos e sua aplicabilidade em face do
empregador público.
3º módulo (50 minutos).
O direito de greve e seu exercício nas atividades públicas. O julgamento
da greve (Tema de repercussão geral 0544 do E. STF).
1º módulo (50 minutos).
Direito Coletivo. Conceito e
Princípios.
Aspectos históricos
Deve-se considerar que o sindicato e o movimento social que lhe é próprio, o
sindicalismo, são produtos da sociedade capitalista.
Assim, mesmo que se investigue a existência de associações entre seres humanos ao longo da história sempre existirão diferenças fundamentais
perante os atuais sindicatos.
Pois jamais houve na história sistema econômico e social em que a relação de emprego ocupa papel central na produção, como vem
ocorrendo nos últimos dois ou três séculos.
Na Idade Média existiam as corporações de ofício que eram associações de pessoas do mesmo ofício. Nelas havia uma divisão hierárquica entre mestres,
companheiros e aprendizes.
Os mestres eram quem determinavam tudo e havia um monopólio de
fabricação, venda e regulamentação dos produtos.
Há certa semelhança com os sindicatos modernos, pois há um interesse do grupo, mas dirigiam-se contra o consumidor e não contra
a outra parte do contrato como ocorre hoje.
Houve em certo momento revolta dos companheiros descontentes com o que era imposto pelos mestres. Mas eram movimentos esporádicos, protestos de
pequenos grupos, não constituíam um movimento de massa de protesto entre capital e trabalho.
Na Revolução Industrial com o agrupamento de homens em massa em
torno da máquina é que se começou a despertar a consciência dos operários
da comunhão de seus interesses, surgindo assim o movimento operário moderno do sindicalismo.
Diz-se que o início do sindicalismo deu-se na Inglaterra em 1720, quando se
formaram as primeiras associações de trabalhadores para reivindicar melhores condições de trabalho. E não poderia ser diferente, pois a Inglaterra é o berço
do capitalismo.
Mas não havia ambiente propício a vida associacionista, pois dominava a
filosofia do individualismo e do liberalismo econômico.
A Revolução Francesa, por exemplo, ao mesmo tempo em que suprimia as corporações de ofício não reconhecia o direito de associação (coalizão).
O direito de associação propriamente dito foi conquistado na Inglaterra em
1871 e na França em 1884, assinalando o início da liberdade sindical.
Mas os sindicatos independentes em face do Estado encontram resistência nos governos autoritários e nas chamadas democracias populares.
Algumas décadas após em 1919 com o Tratado de Versalhes, com a criação da Organização Internacional do Trabalho em 1919 e suas
Convenções 87 de 1948 e 98 de 1949, a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, os direitos de livre associação e
sindicalização tornam-se sedimentados na cultura jurídica ocidental.
No Brasil
Enquanto na Europa existiam as corporações de ofício, as imensas áreas brasileiras eram descobertas com o aprisionamento dos índios e com a busca
de escravos negros na África.
Com a outorga da Constituição Imperial (1824), dois anos após a independência lia-se no seu texto: “Ficam abolidas as corporações de
ofício, seus juízes e mestres.”
Corporações essas que nunca existiram no Brasil diante do regime de trabalho escravagista.
Com a Lei do Ventre Livre (1871) e com a abolição (1888) é que surgiram
condições para a formação do Direito Coletivo no Brasil, enquanto na Europa já se reconhecia a liberdade sindical.
A economia no Brasil, nesta época, era essencialmente agrícola. A nossa
Revolução Econômica marcou o seu início com o progresso industrial verificado no primeiro triênio da 1ª Guerra Mundial. Tal como na Europa e em toda a
parte a criação das primeiras associações profissionais decorre do industrialismo moderno.
As primeiras Confederações de Trabalhadores surgiram em 1920, a
Confederação Geral dos Trabalhadores e posteriormente, se opondo, a
Confederação Nacional do Trabalho.
Após a Revolução Liberal de 1930 começa a surgir no Brasil uma filosofia de Estado intervencionista, sujeitando o Sindicato ao Estado, suprimindo-lhe a
autonomia.
Seguiu-se então sindicato único, com funções públicas delegadas pelo Estado,
representando os interesses da categoria de produção. Estipulava contratos coletivos de trabalho obrigatório para todos os associados. Impunha
contribuições por lei e não só aos associados, mas a todos os membros da profissão representada.
No final dos anos 70 os sindicatos começaram a desafiar as leis
existentes, realizando-se greve em São Bernardo do Campo por reajustes salariais. O regime militar ainda vigente na época responde
ao movimento com dureza.
Em 1988 após 20 anos de ditadura militar veio a declaração da liberdade de
associação profissional, não podendo a lei exigir autorização do Estado para seu funcionamento, ressalvando o registro no órgão competente.
Estabelece a regra da unicidade sindical entre outras disposições que serão
estudadas posteriormente.
Conceito
São empregadas diversas denominações a esta parte do Direito do Trabalho que estudaremos: Direito Coletivo do Trabalho, Direito Sindical e Direito
Corporativo.
O direito coletivo do trabalho não tem autonomia é um segmento do direito do trabalho.
O direito do trabalho está dividido em dois segmentos:
O direito individual do trabalho, que trata das relações entre trabalhadores e empregadores individualmente considerados e o direito coletivo do trabalho
que trata das organizações coletivas de trabalhadores e empregadores.
Gustavo Garcia assim o conceitua:
“Segmento do direito do trabalho que regula a organização sindical, a negociação coletiva, os instrumentos normativos decorrentes, a
representação dos trabalhadores na empresa e a greve.”
Princípios
Muito embora não seja disciplina autônoma o direito coletivo do trabalho tem
princípios próprios.
Liberdade sindical
Deriva de um princípio mais amplo que é o da liberdade de associação. Art. 5º XVII e XX e 8º V, ambos da Constituição Federal.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de
caráter paramilitar;
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;
Tem várias dimensões: em relação ao indivíduo, em relação ao grupo e de
ambos perante o Estado.
Autonomia Coletiva dos Particulares
Entre a autonomia individual e a autonomia pública há a autonomia coletiva, que é a autonomia entre os grupos intermediários entre o indivíduo e o Estado.
Reconhecendo os grupos intermediários e o direito de associação, o Estado
reconhece também o direito dos grupos de regular os próprios interesses.
A autonomia não é o mesmo que soberania, que pertence somente ao Estado.
Corresponde:
Autonomia organizativa - resulta da autonomia do sindicato de elaborar seus
próprios estatutos.
A autonomia administrativa - direito do sindicato de eleger a sua diretoria e exercer a própria administração.
A autonomia negocial - poder que se confere aos entes sindicais de criarem
normas a serem aplicadas as relações trabalhistas – acordos e convenções coletivas. (fontes formais de direito do trabalho)
Autotutela - o reconhecimento de que os sindicatos devem ter meios de luta
para a solução dos conflitos, previstos nos termos da lei, como a greve.
Jurisprudência:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PETROBRAS. PRÁTICA DE CONDUTAS
ANTISSINDICAIS. VIOLAÇÃO AO DIREITO DE GREVE. I - A greve é direito social expressamente previsto na Carta Maior, em seu artigo
9º. Trata-se, portanto, de meio de autotutela, utilizado pelos trabalhadores, através do ser coletivo por eles constituído, o sindicato
profissional, único modo de igualar a relação jurídica mantida com o empregador, aptos naturalmente a produzirem atos coletivos. Assim, é
por excelência o modo de expressão dos trabalhadores, mecanismo
necessário para que a democracia atinja às relações de trabalho. II-
Nesse sentido, ao empregador não é dado impedir ou utilizar de meios que dificultem ou impeçam o exercício de tal direito, garantido
constitucionalmente. DANO MORAL COLETIVO. CARACTERIZAÇÃO. I - No caso de direitos individuais homogêneos, a conduta ilícita do
empregador além de ser apta a geral o dano moral individual, também pode repercutir não somente sobre os trabalhadores diretamente
envolvidos, mas sobre toda a coletividade. II- No caso em apreço, mostrou-se cabível a indenização por danos morais coletivos, eis que a
conduta da reclamada, de práticas antissindicais, acarreta dano a toda a sociedade. III- Nesse contexto, afigura-se pertinente a imposição da
indenização postulada pelo Ministério Público, com fins repressivo e
pedagógico, em favor do FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador. TRT-1 - Recurso Ordinário RO 00008915920115010203 RJ (TRT-1) -
Adequação setorial negociada
É o limite jurídico da norma coletiva.
Somente podendo se estabelecer normas coletivas com direitos mais benéficos
ao trabalhador. (princípio de direito individual do trabalho da proteção/aplicação da norma mais favorável).
Somente quando a Constituição Federal autorizar é que se poderão estabelecer
normas desfavoráveis.
Jurisprudência:
Medicina e Segurança do Trabalho na CLT, previsto no CAPÍTULO V -
DA SEGURANÇA E DA MEDICINA DO TRABALHO – artigos até 154 até 223 da CLT.
Por fim, de acordo com o princípio da adequação setorial negociada,
as regras autônomas juscoletivas podem prevalecer sobre o padrão geral heterônomo, mesmo que sejam restritivas dos direitos dos
trabalhadores, desde que não transacionem setorialmente parcelas justrabalhistas de indisponibilidade absoluta. Embora, o critério
definidor de quais sejam as parcelas de indisponibilidade absoluta seja vago, afirma-se que estão protegidos contra a negociação in pejus
os direitos que correspondam a um “patamar civilizatório mínimo”, como a anotação da CTPS, o pagamento do salário
mínimo, o repouso semanal remunerado, as normas de saúde e
segurança do trabalho, dispositivos antidiscriminatórios, a liberdade de trabalho etc.
Enquanto tal patamar civilizatório mínimo deveria ser preservado pela legislação heterônoma, os direitos que o excedem sujeitar-se-iam à
negociação coletiva, que, justamente por isso, constituiria um valioso mecanismo de adequação das normas trabalhistas aos diferentes setores
da economia e a diferenciadas conjunturas econômicas. Recurso
Extraordinário (RE) 590415
Liberdade sindical
Diversos autores conceituam liberdade sindical, não só por ser princípio de Direito Coletivo do Trabalho, como por ser considerado direito fundamental.
Luiz Alberto Matos dos Santos, em sua obra “A liberdade sindical como direito
fundamental” cita que Octavio Magano enfatiza a tradição de nosso direito que é conceber a liberdade sindical em três dimensões:
sindicalização livre, autonomia e pluralidade sindical e a define como sendo “o direito dos trabalhadores e empregadores de não sofrerem interferência nem
dos poderes públicos, nem de uns em relação aos outros, no processo de se organizarem, bem como de promoverem interesses próprios ou de grupos que
pertençam.”
Russomano afirma que a liberdade sindical é uma figura triangular, cujas partes distintas, sindicalização, autonomia sindical e pluralidade sindical, ao se
tocarem nas extremidades, formam um triângulo jurídico.
Normalmente os autores entendem a liberdade sobre três enfoques, Orlando Gomes e Elson Gottschalk a entendem sobre três aspectos: em relação ao
indivíduo, em relação ao grupo e de ambos perante o Estado.
Liberdade sindical em relação ao indivíduo:
- Liberdade de filiar-se a um sindicato;
É considerado o aspecto positivo da liberdade de associação. A liberdade de filiar-se sem nenhuma condição, senão de cumprir os estatutos. Não pode
haver despedida ou recusa de admissão em razão do indivíduo ser filiado a um sindicato. Também não pode haver cláusula no contrato de trabalho em que o
empregado se obrigue a não se filiar.
- Liberdade de retirar-se de um sindicato;
É o complemento lógico do regime de sindicalismo livre.
Liberdade sindical em relação ao grupo: - Liberdade de fundar um sindicato;
Deve-se entender sob esse aspecto que se devem minimizar as formalidades para a constituição de um sindicato. Não pode haver formalidades que
impliquem, de fato, a negação da liberdade.
A publicidade é o máximo exigido. Não pode haver “autorização” para funcionamento.
- Liberdade de determinar o quadro sindical na ordem profissional e territorial;
O quadro territorial e profissional em que o sindicato é constituído é
determinado pelos próprios interessados. Pode ser constituído dentro de uma só profissão ou profissões similares. É
permitida a constituição de vários sindicatos dentro de uma profissão ou categoria, obedecendo a pluralidade sindical.
- Liberdade de estabelecer relações entre sindicatos para formar agrupações
mais amplas;
Liberdade de constituir federações e confederações, assim como a elas filiar-
se. E de as organizações filiarem-se a organizações internacionais.
- Liberdade de fixar regras internas para regular a vida sindical;
A liberdade de criarem seus estatutos e para elegerem seus administradores.
- Liberdade nas relações entre os sindicatos de empregados e de empregadores;
Deve haver o reconhecimento e a independência dos sindicatos de empregados
em relação aos sindicatos de empregadores.
- Liberdade sindical em relação ao Estado;
A independência do sindicato em relação ao Estado, o conflito entre a
autoridade do Estado e a ação sindical e a integração do Sindicato no Estado são problemas que se relacionam com o mono ou plurisindicalismo, com o
sindicato obrigatório, sua representação em face da categoria ou profissão.
Estabilidade (liberdade) do Dirigente sindical
Liberdade sindical no Brasil A autonomia dos Sindicatos perante o Estado, conforme já dito, sempre sofreu
restrições no Brasil.
A Constituição de 1988 eliminou o controle político administrativo do Estado sobre os sindicatos quer quanto à sua criação, quer quanto a sua gestão e
alargou as prerrogativas de atuação dos sindicatos.
Porém manteve: unicidade sindical; representação por categoria
profissional/econômica; financiamento genérico e compulsório de toda a sua estrutura; poder normativo dos tribunais trabalhistas.
2º módulo (50 minutos).
O direito de associação do servidor público. A formação de Convenções
Coletivas e Acordos Coletivos e sua aplicabilidade em face do empregador público.
O Direito de Associação do Servidor Público
O art. 9º da CF/88 traz a previsão constitucional do direito de associação
sindical aos trabalhadores de forma geral.
Art. 9º - É assegurado o direito de greve, competindo aos
trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
Ao servidor público, este direito é garantido especialmente pelo inciso VI do
art. 37 da CF/88: “É garantido ao servidor público civil o direito à livre associação sindical.”
Perceba que a garantia alcança somente o servidor público civil.
Os servidores militares não têm direito à associação sindical (art. 142, § 3º, IV
da CF/88).
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares,
organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade
suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes,
da lei e da ordem. IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve;
Embora os servidores públicos civis possam associar-se em sindicatos, eles
não podem ter seus vencimentos fixados através de convenções coletivas com a Administração Pública em razão da Súmula 679 do STF:
“A fixação de vencimentos dos servidores públicos não pode ser objeto
de convenção coletiva.”
A Formação De Convenções Coletivas E Acordos Coletivos e sua Aplicabilidade em Face do Empregador Público.
Forma de Solução dos Conflitos Coletivos
Autodefesa As partes procedem à defesa de seus interesses, sendo que uma delas impõe
sua vontade a outra.
Greve e lockout são formas de autodefesa.
Greve
Justamente em função da paralisação dos trabalhadores em busca de melhores condições de trabalho que surgiu o direito do trabalho.
Mais que um direito é o mecanismo máximo de autodefesa dos trabalhadores.
Pode ser exercida como mecanismo de negociação ou reação ao não-
cumprimento de disposições legais ou convencionais (não são admitidas greves por solidariedade ou políticas).
Previsão legal – Lei 7.783/89.
Conceito – Art. 2º - Para os fins desta Lei, considera-se legítimo exercício do direito de greve a suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial,
de prestação pessoal de serviços a empregador.
Tratando-se de suspensão do contrato de trabalho, não há pagamento de salário, salvo acordo em sentido contrário.
É garantido ao empregado o retorno ao posto de serviço ocupado antes da causa suspensiva.
Ainda por tratar-se de suspensão, o empregado não pode ser despedido sem
justa causa.
O empregador não poderá contratar trabalhadores durante a greve, salvo nas
seguintes hipóteses:
- quando o empregador não conseguir formar acordo com a entidade sindical ou a comissão de negociação no sentido de ver assegurada a prestação dos
serviços capazes de evitar prejuízo irreparável pela deterioração irreversível de bens, máquinas e equipamentos ou ainda, pela ausência de ajuste capaz de
dar manutenção aos serviços essenciais à retomada das atividades da empresa quando da cessação do movimento grevista.
- quando a greve for considerada abusiva pelo judiciário.
Coletiva - Deve decorrer de um ato de interesse coletivo, com força de
promover a ruptura da normalidade da produção.
Pode não englobar todos os trabalhadores, caso em que será parcial. Quando
alcançar todos os trabalhadores será total.
Indispensável que essa paralisação seja de trabalhadores.
Pacífica - as “armas” da greve são unicamente a paralisação coletiva do trabalho com propósito de turbar a normalidade produtiva e o diálogo, a
proposta para restabelecimento da normalidade. Fora desse limite a greve será
considerada abusiva.
Temporária - Mesmo que se diga que é por tempo indeterminado, tem que ter uma finalidade, deve ser provisória. Essa indeterminação sinaliza a paralisação
das atividades até que alguma proposta seja oferecida.
Formalidades
A lei estabelece alguns requisitos para a validade do movimento grevista que não se chocam com a garantia do exercício de greve, apenas o regulamentam,
devido ao impacto social que causa.
- Real tentativa de negociação coletiva - fase antecedente e necessária da
greve.
Não é admitida greve quando houver acordo coletivo, convenção coletiva ou sentença normativa em vigor sendo cumpridos.
Excepcionalmente é admitida quando houver substancial modificação nas
condições de fato. - Convocação pelo sindicato de empregados de assembléia geral que deverá
definir as reivindicações da categoria e deliberar sobre a paralisação. O estatuto do sindicato deverá tratar das formalidades de convocação, quorum
para deliberação e etc.
- Aviso prévio ao empregador com antecedência mínima de quarenta e oito
horas e setenta e duas horas em serviços e atividades essenciais. O aviso prévio não prejudica a liberdade sindical, pois cumpre um aspecto de
comunicação da existência da greve. Tem como objetivo evitar que a greve seja deflagrada de surpresa, sem que o empregador possa tomar as medidas
de prevenção necessárias.
- Atendimento às necessidades inadiáveis quando tratar-se de greve em serviços ou atividades essenciais.
Consideram-se atividades essenciais: tratamento e abastecimento de água;
produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; assistência médica e hospitalar; distribuição e comercialização de medicamentos e
alimentos; funerários; transporte coletivo; captação e tratamento de esgoto e lixo; telecomunicações; guarda, uso e controle de substâncias radioativas,
equipamentos e materiais nucleares; controle de tráfego aéreo; compensação
bancária.
Lockin é o movimento grevista com ocupação dos locais de trabalho A atual lei não faz qualquer referência. Não há proibição, mas não pode
provocar dano ao patrimônio da empresa
Negociação Coletiva
Para chegar-se a solução dos conflitos pela autocomposição é imprescindível a negociação prévia, a chamada negociação coletiva. É um procedimento pelo
qual empresas ou sindicatos econômicos e sindicatos profissionais, sujeitos do conflito, mediante contemporização, alcançam como resultado uma convenção
ou acordo coletivo.
Na negociação coletiva é obrigatória a atuação sindical na representação da classe profissional. Os sindicatos têm legitimidade privativa, as associações
sindicais de segundo grau (federações ou confederações) somente podem realizar a negociação coletiva quando inexistente sindicato. Assim, as
negociações coletivas produzem efeitos meramente locais. Essa previsão
legislativa brasileira contraria a Recomendação 163 da OIT, que sugere a diversidade de organizações sindicais com capacidade de negociar
coletivamente.
Importante frisar que, em não ocorrendo a atuação sindical representando a classe trabalhadora, não se trata de negociação coletiva, e se dessa
negociação resultar algum instrumento este não terá caráter normativo e sim contratual, sujeitando-se as regras do art. 468 da CLT. (Lei 13.467/2017 –
Representação dos empregados)
DA REPRESENTAÇÃO DOS EMPREGADOS (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
Art. 510-A. Nas empresas com mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de uma comissão para representá-los, com a
finalidade de promover-lhes o entendimento direto com os
empregadores. 1º A comissão será composta:
I - nas empresas com mais de duzentos e até três mil empregados, por três membros;
II - nas empresas com mais de três mil e até cinco mil empregados, por cinco membros;
III - nas empresas com mais de cinco mil empregados, por sete membros
§ 2 No caso de a empresa possuir empregados em vários Estados da
Federação e no Distrito Federal, será assegurada a eleição de uma
comissão de representantes dos empregados por Estado ou no Distrito
Federal, na mesma forma estabelecida no § 1º deste artigo Art. 510-B. A comissão de representantes dos empregados terá as
seguintes atribuições: I - representar os empregados perante a administração da empresa;
II - aprimorar o relacionamento entre a empresa e seus empregados com base nos princípios da boa-fé e do respeito mútuo;
III - promover o diálogo e o entendimento no ambiente de trabalho com o fim de prevenir conflitos;
IV - buscar soluções para os conflitos decorrentes da relação de trabalho, de forma rápida e eficaz, visando à efetiva aplicação das normas legais e
contratuais;
V - assegurar tratamento justo e imparcial aos empregados, impedindo
qualquer forma de discriminação por motivo de sexo, idade, religião, opinião política ou atuação sindical;
VI - encaminhar reivindicações específicas dos empregados de seu âmbito de representação;
VII - acompanhar o cumprimento das leis trabalhistas, previdenciárias e das convenções coletivas e acordos coletivos de trabalho.
§ 1o As decisões da comissão de representantes dos empregados serão sempre colegiadas, observada a maioria simples.
§ 2o A comissão organizará sua atuação de forma independente. Art. 510-C. A eleição será convocada, com antecedência mínima de
trinta dias, contados do término do mandato anterior, por meio de edital
que deverá ser fixado na empresa, com ampla publicidade, para inscrição de candidatura.
§ 1o Será formada comissão eleitoral, integrada por cinco empregados, não candidatos, para a organização e o acompanhamento do processo
eleitoral, vedada a interferência da empresa e do sindicato da categoria. § 2o Os empregados da empresa poderão candidatar-se, exceto aqueles
com contrato de trabalho por prazo determinado, com contrato suspenso ou que estejam em período de aviso prévio, ainda que indenizado.
§ 3o Serão eleitos membros da comissão de representantes dos empregados os candidatos mais votados, em votação secreta, vedado o
voto por representação. § 4o A comissão tomará posse no primeiro dia útil seguinte à eleição ou
ao término do mandato anterior. § 5o Se não houver candidatos suficientes, a comissão de
representantes dos empregados poderá ser formada com número de
membros inferior ao previsto no art. 510-A desta Consolidação. § 6o Se não houver registro de candidatura, será lavrada ata e
convocada nova eleição no prazo de um ano. Art. 510-D. O mandato dos membros da comissão de representantes
dos empregados será de um ano. § 1o O membro que houver exercido a função de representante dos
empregados na comissão não poderá ser candidato nos dois períodos subsequentes.
§ 2o O mandato de membro de comissão de representantes dos empregados não implica suspensão ou interrupção do contrato de
trabalho, devendo o empregado permanecer no exercício de suas funções.
§ 3o Desde o registro da candidatura até um ano após o fim do mandato, o membro da comissão de representantes dos empregados não
poderá sofrer despedida arbitrária, entendendo-se como tal a que não se
fundar em motivo disciplinar, técnico, econômico ou financeiro. § 4o Os documentos referentes ao processo eleitoral devem ser emitidos
em duas vias, as quais permanecerão sob a guarda dos empregados e da empresa pelo prazo de cinco anos, à disposição para consulta de
qualquer trabalhador interessado, do Ministério Público do Trabalho e do Ministério do Trabalho.
Presume-se que na negociação coletiva exista simetria entre as partes, ou
seja, que não exista mais a hipossuficiência tão presente nas relações individuais.
Deve haver boa-fé na negociação coletiva, que se caracteriza pela lealdade e
transparência na negociação coletiva, vedando-se por isso a greve quando estiver vigendo norma coletiva.
A boa-fé é um dos elementos necessários à formação de todo negócio jurídico
de qualquer natureza e também é um princípio da negociação coletiva trabalhista.
Como dito anteriormente as convenções e acordos coletivos são os instrumentos que resultam da negociação coletiva.
Os referidos instrumentos têm natureza jurídica contratual e normativa
(contrato social normativo).
Contratual por decorrer da autonomia coletiva dos particulares, e normativa, por constituir fonte formal de direito, fixando normas a serem aplicadas nas
relações de trabalho.
Os acordos e convenções coletivas estipulam cláusulas obrigacionais e normativas. (Lei 13.467/2017 – Disposições) As obrigacionais fixam direitos e
deveres entre os próprios pactuantes.
Hierárquia das Normas:
a) Constituição, Emendas a CF, Tratados Internacionais (OIT);
b) Leis Complementares, c) Leis Ordinárias;
d-) Medidas Provisórias; e-) Decretos;
f-) Convenções Coletivas; g-) Acordos Coletivos;
h-) Sentenças Normativas; i-) Regulamento Interno de Empresa, e
j-) Contrato Individual de Trabalho.
Alteração CLT:
Art. 620. As condições estabelecidas em Convenção quando mais
favoráveis, prevalecerão sôbre as estipuladas em Acôrdo. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967)
Art. 620. As condições estabelecidas em acordo coletivo de
trabalho sempre prevalecerão sobre as estipuladas em convenção coletiva de trabalho. (Redação dada pela Lei nº
13.467, de 2017)
As convenções coletivas aplicam-se aos sócios e não sócios dos sindicatos acordantes, ou seja, a todos os membros da categoria, quer empregadores,
quer empregados, observada a delimitação da base territorial dos sindicatos.
Devem ser cumpridas as formalidades previstas no art. 612 da CLT.
Art. 612 - Os Sindicatos só poderão celebrar Convenções ou Acordos Coletivos de Trabalho, por deliberação de Assembléia Geral
especialmente convocada para êsse fim, consoante o disposto nos respectivos Estatutos, dependendo a validade da mesma do
comparecimento e votação, em primeira convocação, de 2/3 (dois
terços) dos associados da entidade, se se tratar de Convenção, e dos interessados, no caso de Acôrdo, e, em segunda, de 1/3 (um têrço) dos
mesmos. Parágrafo único. O "quorum" de comparecimento e votação será de 1/8
(um oitavo) dos associados em segunda convocação, nas entidades sindicais que tenham mais de 5.000 (cinco mil) associados.
Os acordos coletivos são aplicáveis a todos os empregados da empresa
signatária representados pelo sindicato acordante, sócio ou não sócio dele.
Outra diferença em relação aos acordos e convenções coletivas, como se vê do art. 612 é que em relação à assembléia de autorização para a negociação
coletiva, para a convenção coletiva participam apenas os sócios do sindicato.
Os não associados não têm direito de voto. Para as assembléias para fins de
negociação de acordos coletivos participam os interessados.
As normas coletivas devem ser formalizadas por escrito, sem emendas, nem rasuras e devem ser submetidas à divulgação pública.
Devem ser levadas a registro nos órgãos regionais do Ministério do Trabalho
(atuais Superintendências Regionais do Trabalho), após oito dias da assinatura. A vigência inicia três dias após o registro.
O prazo máximo de vigência das normas coletivas é de 02 anos.
Podem ocorrer a prorrogação, a revisão, a denúncia e a revogação da norma
coletiva. Todas as hipóteses subordinadas à aprovação de assembléia geral.
Prorrogação – O prazo de vigência da norma coletiva é estendido, mantendo-
se as mesmas condições fixadas na norma coletiva cuja vigência está encerrando. Podem ocorrer tantas prorrogações quantas os interessados
pactuarem.
Revisão – Quando as partes pactuam a alteração parcial ou total das condições já fixadas no instrumento normativo vigente.
Denúncia – É ato unilateral em que uma das partes notifica a outra da sua
decisão de não mais cumprir uma ou mais cláusulas do instrumento em vigor.
Revogação – É o ato bilateral em que as partes resolvem desfazer total ou parcialmente o instrumento pactuado.
Contrato De Trabalho X Instrumento Normativo
Na teoria geral da hierarquia das normas existe a chamada “pirâmide de
hierarquia normativa”, onde no vértice está a Constituição Federal e suas emendas. Em seguida leis complementares, ordinárias, delegadas, medidas
provisórias. E, por fim decretos (regulamentos normativos).
No direito do trabalho a hierarquia das normas tem especificidades, com duas
importantes distinções nesse critério.
Primeiro fala-se em hierarquia de regras jurídicas, considerando-se as normas heterônomas (advindas do Estado) e as autônomas (pactuadas pelas partes,
os acordos e convenções coletivas ora em estudo).
Em segundo lugar a pirâmide hierárquica não é rígida e inflexível como no Direito comum, pois se baseia no princípio de direito do trabalho de aplicação
da norma mais favorável (desdobramento do princípio da proteção).
Prevalência do negociado sobre o legislado (Lei 13.467/2017)
Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm
prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: I - pacto quanto à jornada de trabalho, observados os limites
constitucionais; II - banco de horas anual;
III - intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos para jornadas superiores a seis horas;
IV - adesão ao Programa Seguro-Emprego (PSE), de que trata a Lei nº 13.189, de 19 de novembro de 2015;
V - plano de cargos, salários e funções compatíveis com a condição pessoal do empregado, bem como identificação dos cargos que se
enquadram como funções de confiança; VI - regulamento empresarial;
VII - representante dos trabalhadores no local de trabalho; VIII - teletrabalho, regime de sobreaviso, e trabalho intermitente;
IX - remuneração por produtividade, incluídas as gorjetas percebidas
pelo empregado, e remuneração por desempenho individual; X - modalidade de registro de jornada de trabalho;
XI - troca do dia de feriado; XII - enquadramento do grau de insalubridade;
XIII - prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia das autoridades competentes do Ministério do Trabalho;
XIV - prêmios de incentivo em bens ou serviços, eventualmente
concedidos em programas de incentivo; XV - participação nos lucros ou resultados da empresa.
§ 1º No exame da convenção coletiva ou do acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho observará o disposto no § 3o do art. 8o desta
Consolidação. § 2º A inexistência de expressa indicação de contrapartidas recíprocas
em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho não ensejará sua nulidade por não caracterizar um vício do negócio jurídico.
§ 3º Se for pactuada cláusula que reduza o salário ou a jornada, a convenção coletiva ou o acordo coletivo de trabalho deverão prever a
proteção dos empregados contra dispensa imotivada durante o prazo de
vigência do instrumento coletivo. § 4º Na hipótese de procedência de ação anulatória de cláusula de
convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, quando houver a cláusula compensatória, esta deverá ser igualmente anulada, sem
repetição do indébito § 5º Os sindicatos subscritores de convenção coletiva ou de acordo
coletivo de trabalho deverão participar, como litisconsortes necessários, em ação individual ou coletiva, que tenha como objeto a anulação de
cláusulas desses instrumentos.
A análise de aplicação da norma será realizada no caso concreto e a norma hierarquicamente superior será aquela mais favorável ao trabalhador. Logo, o
vértice da pirâmide normativa é variável e mutável.
3º módulo (50 minutos).
O direito de greve e seu exercício nas atividades públicas. O julgamento da greve (Tema de repercussão geral 0544 do E. STF).
GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO.
Aos militares é expressamente vedado pelo art. 143, parágrafo 3º, inciso IV da
Constituição Federal.
Os servidores militares não têm direito à greve (art. 142, § 3º, IV da CF88).
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares,
organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade
suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes,
da lei e da ordem. § 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares,
aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições:
IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve;
Aos empregados públicos das sociedades de economia mista e subsidiárias que exerçam atividade econômica aplica-se a Lei de Greve.
Os empregados públicos têm seu direito de greve reconhecido pelo art. 9º da
CF/88 e regulado pela Lei nº 7.783/1989, tal e qual os empregados da iniciativa privada.
Art. 9º CF - É assegurado o direito de greve, competindo aos
trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
Art. 1º, Lei nº 7.783/1989 - É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses
que devam por meio dele defender.
Os servidores públicos da administração pública direta, fundacional e autárquica, estão sujeitos ao art. 37, VII da CF, que exige lei regulamentando.
Art. 37, VII, CF - o direito de greve será exercido nos termos e nos
limites definidos em lei específica;
Porém, ainda não existe a lei específica que definiria os limites do exercício do direito de greve pelos servidores públicos.
Essa indefinição afeta sobretudo os servidores públicos, aqueles contratados
em regime estatutário.
O STF em diversas decisões entendeu ser incabível o exercício do direito de
greve pelos servidores públicos pela ausência de lei que o regulamentasse.
Em julgamento dos mandados de injunção n° 670, 708 e 712, em 2007 o STF, finalmente, entendeu pela aplicabilidade da Lei de Greve aos Servidores
Públicos. Aplicando-se aos mesmos a Lei de Greve naquilo que não colide com a natureza estatutária de seus vínculos.
Ao resumir o tema, o ministro Celso de Mello salientou que:
"...não mais se pode tolerar, sob pena de fraudar-se a vontade da
Constituição, esse estado de continuada, inaceitável, irrazoável e abusiva inércia do Congresso Nacional, cuja omissão, além de lesiva ao direito
dos servidores públicos civis - a quem se vem negando, arbitrariamente,
o exercício do direito de greve, já assegurado pelo texto constitucional -, traduz um incompreensível sentimento de desapreço pela autoridade,
pelo valor e pelo alto significado de que se reveste a Constituição da República".
Tema de Repercussão Geral 0544 do E. STF
Excerto do julgado fls. 9/84 - SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (RELATOR)
O tema que ora é objeto de julgamento encerra divergência acerca do alcance
da competência da Justiça do Trabalho, tal como posta no art. 114 da CF/88. O que se discute neste recurso, com repercussão geral reconhecida, é a
competência para julgamento de abusividade de greve de servidores públicos celetistas: se da Justiça comum, federal ou estadual, ou da Justiça
especializada do Trabalho. De se ressaltar que a questão envolvendo servidores estatutários já foi enfrentada pelo Tribunal, que concluiu, como se
sabe, ser competente a Justiça comum. Por todos, citem-se o MI 708, DJ de
31/10/2008 e a ADI 3.395-MC, DJ de 10/11/2006. Aqui trata-se do exercício de greve por parte de servidores celetistas, situação inédita na jurisprudência
da Corte, o que demonstra a importância de seu julgamento.
Servidor fls. 12/84
A controvérsia envolvendo os servidores estatutários foi definitivamente resolvida pela Corte, no sentido de que cabe à Justiça comum seu julgamento,
e não à Justiça do Trabalho: “(…) 3. Servidor regido por vínculo de natureza jurídicoadministrativa. Incompetência da Justiça do Trabalho conforme acórdão
desta Corte no julgamento da ADI n. 3.395. 4. Ausência de fundamento novo no recurso que seja apto a ilidir a decisão agravada. 5. Agravo regimental a
que se nega provimento.” (Rcl 17.157-ED, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJ de 08/04/2016)
Fls. 17 e 18/84
Em síntese, a jurisprudência deste Tribunal é farta e uníssona no sentido de que ações de interesse de servidores estatutários serão julgadas pela Justiça
comum, federal ou estadual. Em se tratando de servidores celetistas, de seu turno, forçoso seguir linha de
raciocínio coerente com essa interpretação. Como se disse, o rol de competências da Justiça Especializada foi expressamente previsto no texto
constitucional. À Justiça Trabalhista, então, cabe processar e julgar as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo
e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, como bem assentado na redação atual do art. 114, I,
da CF/88.
Noutro giro, não há dúvidas de que estão inseridas na competência da
Justiça do Trabalho as demandas envolvendo celetistas, inclusive aqueles ligados a entes ou entidades públicas. A propósito dessa
definição, colho lição do relator da ADI 492, Min. Carlos Velloso, transcrita das discussões travadas por ocasião desse julgamento: “(...) os servidores que
podem ser admitidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – e o Professor Celso Antônio chama a atenção para esse caso – evidentemente não estarão
no Regime Único. São os contratados para obras públicas, os que exercem
funções puramente materiais; serão servidores da União Federal, das
autarquias, das fundações públicas federais sob regime contratual, que terão seus dissídios julgados, evidentemente, pela Justiça do Trabalho.”
Noutras palavras, surge cristalino que a Constituição Federal, ao definir e
limitar a competência da Justiça do Trabalho, a um só tempo, inclui nela as demandas de interesse dos servidores públicos celetistas e exclui aquelas dos
estatutários.
Caso concreto fls. 19/84
Na origem, trata-se de Dissídio Coletivo oposto pelo Ministério Público do
Trabalho com o objetivo de solucionar impasse existente entre os trabalhadores da Guarda Civil Municipal e a Administração do Município de São
Bernardo do Campo que culminou na greve dos servidores públicos.
Ao apreciar o recurso ordinário, interposto pelo Município de São Bernardo do Campo, o Tribunal Superior do Trabalho proveu o recurso para extinguir o
processo sem julgamento de mérito, no tocante ao pedido de declaração de abusividade da greve, por incompetência da Justiça do Trabalho, ainda que
reconhecido expressamente o regime celetista dos interessados. Para tanto, conclui, indevidamente, que tal decisão se harmoniza com a
jurisprudência desta Corte, ...
Ocorre que, como sobredito, equivocou-se o Tribunal Superior do Trabalho ao concluir que as questões envolvendo greve servidores
públicos celetistas estariam também abrangidas pela competência da
Justiça comum.
De fato, no julgamento em questão ficou definida a competência da Justiça comum para dirimir conflitos apenas e tão somente envolvendo interesse de
servidores estatutários. Em nenhum momento se ampliou tal competência para igualmente abarcar os interesse dos servidores públicos celetistas, como o fez
o acórdão recorrido.
Como se denota, então, o Tribunal a quo interpretou erroneamente a jurisprudência desta Corte, já que não há qualquer precedente
concluindo ser da competência da Justiça comum as ações que envolvam interesse de servidores públicos celetistas grevistas.
Ressalte-se, por vez derradeira, que o critério diferenciador adotado pela
Constituição e pela jurisprudência do Tribunal é o regime jurídico, o vínculo
que une o servidor à Administração Pública. Se contratual, celetista, o vínculo é trabalhista, e é competente a Justiça do Trabalho. Se estatutário, o vínculo é
legal, administrativo, recaindo a competência sobre a Justiça comum.
Portanto, a decisão recorrida contraria a jurisprudência desta Corte e, como se viu, do próprio Tribunal Superior do Trabalho. Cabe ao Tribunal Superior do
Trabalho o enfrentamento do mérito, já que competente para tanto.
Assim, a proposição de voto é no sentido de que, em sede de repercussão geral, a tese jurídica seja assim assentada: “A Justiça do Trabalho é
competente para processo e julgamento de questões atinentes ao exercício do direito de greve dos servidores públicos celetistas”.
Ex positis, DOU PROVIMENTO ao recurso extraordinário.
SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (RELATOR)
CONTROVÉRSIA – Fls. 44/84
SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES:
Tenho, portanto, que a natureza das atividades efetivamente desempenhadas
pela categoria profissional é o elemento preponderante para a definição do regramento aplicável em caso de greve dessa categoria, mesmo na hipótese
em que o vínculo com a Administração é regulado pelo Direito do Trabalho.
Ou seja, uma vez reconhecida a essencialidade das atividades desempenhadas pelos servidores públicos, não há por que excetuá-los da regra de competência
firmada pelo Supremo Tribunal Federal no MI 670, mesmo em se tratando de servidores contratados pelo Estado sob o regime celetista.
A análise do prejuízo decorrente da paralisação das atividades realizadas pelos
servidores públicos não será influenciada pelo fato de serem servidores celetistas ou estatutários. Na verdade, a própria extensão das regras do
regime celetista aos servidores públicos (estatutários) demonstra que, para
efeito de greve, são situações intercambiáveis, pelo que deve prevalecer o critério de competência fixado no MI 670.
Nesse sentido, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO EXTRAORDINÁRIO e
proponho a seguinte TESE DE REPERCUSSÃO GERAL: “A Justiça Comum Federal ou Estadual é competente para julgar a abusividade de greve de
servidores públicos celetistas da administração direta, autarquias e fundações de direito público”.
Decisão Final do Recurso Extraordinário: Fls. 84/84 –
PLENÁRIO EXTRATO DE ATA RECURSO EXTRAORDINÁRIO 846.854 PROCED. :
SÃO PAULO RELATOR : MIN. LUIZ FUX REDATOR DO ACÓRDÃO : MIN. ALEXANDRE DE MORAES RECTE.(S) : FEDERAÇÃO ESTADUAL DOS
TRABALHADORES DA ADMINISTRAÇÃO DO SERVIÇO PÚBLICO MUNICIPAL -
FETAM E OUTRO(A/S) ADV.(A/S) : ERYKA FARIAS DE NEGRI (13372/DF) ADV.(A/S) : ALEXANDRE SIMOES LINDOSO (28485/BA, 12067/DF)
RECDO.(A/S) : MUNICIPIO DE SAO BERNARDO DO CAMPO PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO
RECDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA Decisão: O Tribunal, apreciando o tema
544 da repercussão geral, por maioria, negou provimento ao recurso,
vencidos os Ministros Luiz Fux (Relator), Roberto Barroso, Rosa Weber, Ricardo
Lewandowski e Marco Aurélio. Em seguida, o Tribunal deliberou fixar a tese de repercussão geral em assentada posterior. Redator para o acórdão o Ministro
Alexandre de Moraes. Falou pela recorrente, Federação Estadual dos Trabalhadores da Administração do Serviço Público Municipal – FETAM e
outros, o Dr. Alexandre Simões Lindoso. Presidência da Ministra Cármen Lúcia. Plenário, 25.5.2017.
DECISÃO: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Ministro
Alexandre de Moraes, que redigirá o acórdão, fixou a seguinte tese de repercussão geral: “A justiça comum, federal ou estadual, é
competente para julgar a abusividade de greve de servidores públicos
celetistas da Administração pública direta, autarquias e fundações públicas”. Vencidos os Ministros Roberto Barroso, Rosa Weber e Marco
Aurélio. Ausentes, justificadamente, os Ministros Dias Toffoli e Celso de Mello. Presidiu o julgamento a Ministra Cármen Lúcia. Plenário, 1º.8.2017.
Presidência da Senhora Ministra Cármen Lúcia. Presentes à sessão os Senhores Ministros Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Luiz Fux, Rosa
Weber, Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes. Vice-Procurador-Geral Eleitoral, Dr. Nicolao Dino de Castro e Costa Neto. p/
Doralúcia das Neves Santos Assessora-Chefe do Plenário.