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DIREITO À IDENTIDADE CULTURAL DOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL JOSELAINE DIAS DE LIMA SILVA 1 Resumo: O trabalho expõe a importância de reconhecer e respeitar a identidade cultural dos povos indígenas. Mostrando sem exaurir o tema, o que vem a ser o direito e os avanços ocorridos na garantia desses, com argumentações que abarcam a legislação pertinente, apresentar a necessidade de autodeterminação destes povos, e os desafios e lutas em favor da permanência em seus territórios. Observando como o Estado reconhece a democracia representativa e participativa do povo, a proposta deste trabalho é promover uma reflexão e apontar a necessidade de considerar que os povos indígenas no Brasil tenham autonomia para a organização das suas comunidades, a resolução de conflitos de acordo com seus valores culturais, e o reconhecimento do direito à sua identidade cultural, visando o cumprimento das leis, de modo que não permaneçam apenas em normas estatais e em um poder centralizado. Palavras-chave: identidade; cultura; direitos; povos indígenas. 1. Introdução O presente artigo propõe uma discussão a respeito da identidade cultural dos povos indígenas no Brasil e o exercício jurídico das políticas direcionadas à sua auto identificação. Para tanto, partimos da realidade de que, no referido país, a autonomia desses grupos étnicos não estão sendo cumpridas, de modo que infringe o que determina a Convenção nº164, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), política essa de âmbito internacional. Observando como o Estado reconhece a democracia representativa e participativa do povo, a proposta deste trabalho é promover uma reflexão e apontar a necessidade de considerar que esses povos no Brasil tenham autonomia para a organização das suas comunidades, a resolução de conflitos de acordo com seus valores culturais, e o reconhecimento do direito à sua identidade cultural, visando o cumprimento das leis. Para isso, o artigo está dividido em 4 seções, do qual, procede a presente introdução, na segunda seção, análise sobre o conceito de identidade cultural norteado pelos teóricos, Barth (1998), Hall (2011), Silva(2008), Oliveira (2003) entre outros que contribuem na compreensão e discussão do assunto. A seção três, apresenta o Direito, o território e a identidade cultural 1 *Mestra em Integração Contemporânea da América Latina pela Universidade Federal da Integração Latino- Americana- UNILA. E-mail [email protected].

DIREITO À IDENTIDADE CULTURAL DOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL€¦ · que esses povos no Brasil tenham autonomia para a organização das suas comunidades, a resolução de conflitos

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DIREITO À IDENTIDADE CULTURAL DOS POVOS INDÍGENAS NO

BRASIL

JOSELAINE DIAS DE LIMA SILVA1

Resumo: O trabalho expõe a importância de reconhecer e respeitar a identidade cultural dos

povos indígenas. Mostrando sem exaurir o tema, o que vem a ser o direito e os avanços

ocorridos na garantia desses, com argumentações que abarcam a legislação pertinente,

apresentar a necessidade de autodeterminação destes povos, e os desafios e lutas em favor da

permanência em seus territórios. Observando como o Estado reconhece a democracia

representativa e participativa do povo, a proposta deste trabalho é promover uma reflexão e

apontar a necessidade de considerar que os povos indígenas no Brasil tenham autonomia para

a organização das suas comunidades, a resolução de conflitos de acordo com seus valores

culturais, e o reconhecimento do direito à sua identidade cultural, visando o cumprimento das

leis, de modo que não permaneçam apenas em normas estatais e em um poder centralizado.

Palavras-chave: identidade; cultura; direitos; povos indígenas.

1. Introdução

O presente artigo propõe uma discussão a respeito da identidade cultural dos povos

indígenas no Brasil e o exercício jurídico das políticas direcionadas à sua auto identificação.

Para tanto, partimos da realidade de que, no referido país, a autonomia desses grupos étnicos

não estão sendo cumpridas, de modo que infringe o que determina a Convenção nº164, da

Organização Internacional do Trabalho (OIT), política essa de âmbito internacional.

Observando como o Estado reconhece a democracia representativa e participativa do

povo, a proposta deste trabalho é promover uma reflexão e apontar a necessidade de considerar

que esses povos no Brasil tenham autonomia para a organização das suas comunidades, a

resolução de conflitos de acordo com seus valores culturais, e o reconhecimento do direito à

sua identidade cultural, visando o cumprimento das leis.

Para isso, o artigo está dividido em 4 seções, do qual, procede a presente introdução,

na segunda seção, análise sobre o conceito de identidade cultural norteado pelos teóricos, Barth

(1998), Hall (2011), Silva(2008), Oliveira (2003) entre outros que contribuem na compreensão

e discussão do assunto. A seção três, apresenta o Direito, o território e a identidade cultural

1 *Mestra em Integração Contemporânea da América Latina pela Universidade Federal da Integração Latino-

Americana- UNILA. E-mail [email protected].

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indígena no Brasil. Na seção quatro será abordado a respeito da Lei nº 11.645/2008 e a temática

indígena na Educação Básica. E por fim, fechamos o texto com algumas considerações finais

que apontam avanços consideráveis do direito, relacionados ao campo teórico e a necessidade

de sua efetivação na prática.

2. Identidade Cultural Indígena

Ao abordarmos o termo identidade percebemos que trata-se de um tema que envolve

comportamentos cheios de histórias de vida, de crenças, visões de mundo, valores morais e

simbólicos. A identidade cultural desenvolve-se como algo vivo, que cada ser humano traz

consigo, sendo práticas do dia a dia e convívio mútuo com a comunidade. Ao mesmo tempo

em que é particular de cada pessoa, se forma com o meio em que o indivíduo se encontra

inserido na sociedade e está ligada ao “habitat natural”, a existência numa sucessão de

episódios. Segundo Stuart Hall (2011), atualmente uma alteração estrutural está transformando

as sociedades. “Estas transformações estão mudando nossas identidades pessoais abalando a

ideia que temos de nós próprios como sujeitos integrados.” (HALL, 2011, p. 9).

Dessa forma, passamos por uma constante busca do “eu” com o “mundo”, e com essa

busca, a manifestação e preocupação em ser aceito. Nesta perspectiva a população indígena

convive diariamente com estas transformações, na construção e reconstrução de sua cultura

junto a sociedade que o cerca. Uma vez que, em tempo de mudança e transformação cultural

provocados pela consolidação dos modelos desenvolvimentistas no Brasil, a questão da

identidade cultural e étnica merece ser discutida, como “um dos fenômenos mais comum do

mundo moderno, talvez seja o contato interétnico, entendendo-se como tal as relações que têm

lugar entre indivíduos e grupos de diferentes procedências nacionais, raciais ou culturais.”

(OLIVEIRA, 2003, p.117).

As mudanças influenciam na identidade cultural dos povos indígenas, nos

ensinamentos passados de geração em geração, sendo atualmente adaptados na

contemporaneidade como forma de sobrevivência. Consideramos portanto, nesse trabalho que

não é possível constituir uma única compreensão acerca da identidade cultural indígena, uma

vez que os povos indígenas são vários e distintos, tanto no processo de diferentes etnias, quanto

ao que se refere a seus modos de vida. Assim, “as diferenças culturais podem permanecer apesar

do contato interétnico e da interdependência dos grupos” (BARTH, 1998, p.188). Seguindo o

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pensamento de Barth, percebemos que a estima da identidade encontra-se na fronteira étnica

que determina o grupo ao qual pertence, já que os grupos étnicos são organizações sociais e

refere-se sempre a uma origem comum.

Segundo Wagner (2018) a identidade é “compreendida como a auto identificação do

sujeito, decorrente do laço de pertencimento que o liga ao seu grupo étnico e o reconhecimento

pelo grupo de que essa pessoa é um dos seus. Fundado num sentimento de origem comum

partilhado pelo grupo, que o distingue dos demais.” (WAGNER, 2018, p. 125).

Sendo assim, a modernização vai construindo novos sujeitos sociais, mudando as

práticas cotidianas, estabelecendo novas condutas sociais, políticas e organizações de vida. Em

suas discussões sobre Identidade e Diferença, Silva (2008) traz as contribuições de Jonathan

Rutherford, especialista em estudos culturais no qual define que “[...] a identidade marca o

encontro de nosso passado com as relações sociais, culturais e econômicas nas quais vivemos

agora [...] a identidade e a intersecção de nossas vidas cotidianas com as relações econômicas

e políticas de subordinação e dominação” (Rutherford, 1990, p. 19-20 apud Silva, 2008, p. 19).

Nesta concepção em que a identidade marca o encontro com o passado, repensamos a

identidade cultural dos povos indígenas, em que, num primeiro momento do processo

colonizador, a interação entre o indígena e o branco fora marcada pelo gradativo apagamento

da cultura e da etnia, pela força das armas do colonizador. “O indígena deixa de ser dono da

terra para ser habitante indesejável em seu próprio solo.” (KAUSS, 2011). Buscando os fatos

históricos e observando na contemporaneidade como o empasse da posse territorial continua

conflituoso, é que demarcamos a importância de reconhecer e respeitar a identidade cultural

indígena e o modo como querem ser reconhecidos.

A interação dos grupos indígenas é assinalada pela luta do direito autônomo de terem

suas vidas e seus costumes respeitados, abrangendo, deste modo, o individual e o coletivo.

Wolkmer (2001) argumenta que: Na verdade, o “novo sujeito histórico coletivo” articula-se em

torno “do sofrimento – às vezes centenários – e das exigências cada vez mais claras de

dignidade, de participação, de satisfação mais justa e igualitária” das necessidades humanas

fundamentais de grandes parcelas sociais excluídas, dominadas da sociedade (WOLKMER,

2001. p. 238).

Os povos indígenas demonstram persistência diante do cenário histórico de

homogeneização e marginalização, violências materiais e simbólicas que registra os conflitos e

as transformações que sucederam a esses grupos. Na década de 70 formou-se um movimento

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de representantes dos povos indígenas no Brasil direcionados à defesa de seus direitos e em

virtude de sua condição étnica. O movimento ganha força na década de 80 com a presença de

indígenas de diferentes etnias no Congresso Nacional.

A partir de então a Constituição Federal de 88 possibilitou mudanças, assegurando aos

grupos étnicos autonomia em sua organização social, costumes, línguas e tradições, percebendo

assim que tais povos passam a serem sujeitos do direito de modo a modificar o contexto em que

vivem e defenderem seus interesses. Dar condições para as transformações sócias acontecerem

com ampla liberdade aos povos originários é permitir que exerçam seus projetos de vida e

possam ter suas escolhas respeitadas.

3. O Direito, o Território e a Identidade Cultural indígena no Brasil

O direito à identidade cultural abarca a necessidade da legislação proteger as terras que

lhes pertencem, uma vez que o cuidado com seus espaços territoriais é importante para tais, não

pela questão da possessão, mas no aspecto cultural. No território indígena torna-se possível

reviver e rememorar toda cultura, nele a identidade é representada, significada e reproduzida.

A questão da territorialidade assume proporção vital, na medida em que o território

tradicionalmente habitado é fundamental para uma vida que agrega valores com o seu modo de

ser e de viver. Para Siqueira & Machado (2009) os direitos dos povos indígenas são

fundamentados atualmente em três pilares básicos que é a Fundação Nacional do Índio

(FUNAI) como órgão executor da política indigenista brasileira, o Estatuto do Índio e a

Constituição Federal de 1988.

Porém, somente a partir da promulgação da Constituição da República de 1988 é que

o indígena passou a ter seus direitos culturais “pelo menos escrito” respeitado no Brasil. Antes

da Carta Magna o objetivo era localizá-lo e inseri-lo à sociedade, onde no entendimento da

época, este deixaria de ser índio, silvícola e menos desenvolvido. Esta realidade é deparada no

artigo 1º da lei nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973 que dispõe a respeito do Estatuto do Índio2.

Na atualidade o Direito no Brasil mais especificamente a Constituição, garante aos

povos indígenas condições de sobrevivência física, cultural e de organização social, onde

2 Esta Lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, com o propósito de

preservar a sua cultura e integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional.

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podem manter seus costumes e tradições com base em suas especificidades étnicas, mas

também terão o direito de ter acesso a outros meios de informações, culturas e recursos.

Com o Decreto Legislativo nº 143 a partir de 20033 o Brasil passou a fazer parte dos

países que aderiram à Resolução 169 da OIT, com isso os indígenas deveriam ter sua autonomia

governamental, podendo vetar quaisquer interferências externas prejudiciais à manutenção,

preservação e permanência em seus espaços. O território, a cultura e a identidade indígena

somente poderiam ser adentrados e/ou explorados com autorização destes. Os povos indígenas,

dentro de sua territorialidade expressam-se como “nação” com direitos e deveres próprios.

A autodeterminação dos mesmos foi aprovada em 1989, durante a 76ª Conferência da

Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ficando exposto que sempre

deverão ser consultados antes da adoção de medidas legislativas ou administrativas de qualquer

natureza, incluindo obras de infraestrutura, mineração ou uso de recursos hídricos. Foi

determinado nesta Convenção o direito a reparação pelo furto de suas propriedades no âmbito

cultural, intelectual, religioso ou espiritual, a não violação à suas normas tradicionais e o direito

de manterem suas culturas.

Sobre a necessidade de autodeterminação, na Assembleia Geral da Organização das

Nações Unidas (ONU), em 2007, foi aprovada a Declaração das Nações Unidas sobre Direitos

dos Povos Indígenas. As reivindicações dos povos originários apresentada neste encontro são a

nível global, bem como as relações destes grupos com os Estados nacionais, servindo para

estabelecer parâmetros mínimos a outros instrumentos internacionais e leis nacionais. Dentre

os princípios exigidos neste documento, encontra-se a ideia do direito a auto identificação dos

povos nativos4.

As normas jurídicas do Estado Brasileiro não possuem um sistema de

autodeterminação, o qual deveria ser discutindo. Portanto se faz necessário o questionamento

do porque os povos indígenas no Brasil não tem tal autonomia que lhes é de direito e assegurada

na Convenção 169? A Constituição da República, em seu Capítulo VIII – “Dos Índios”, no

artigo 231, caput, expõe sobre a autodeterminação dos Povos Indígenas, quando reconhece a

3 Decreto Legislativo nº 143, de 2002 - Aprova o texto da Convenção nº 169 da Organização Internacional do

Trabalho sobre os povos indígenas e tribais em países independentes 4 Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas - Nações Unidas 13 de setembro de 2007

- Sexagésimo período de sessões - Tema 68 do Programa - Informe do Conselho de Direitos Humanos.

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estes o direito a uma organização social própria, ou seja, que não se submete ao modelo de

estrutura existente na sociedade “não índia”, possibilitando dessa forma, a manutenção de seus

costumes e tradições, e permitindo a gestão das terras que tradicionalmente ocupam.

A Convenção 169 foi ratificada e internalizada no Direito brasileiro através do Decreto

Legislativo nº 143, em vigor desde 2003. Foi permitida a esses povos a condição de “nação”

com seus direitos e deveres individuais e coletivos, sendo respeitado cada grupo étnico em suas

particularidades. Mas, tal como defende Segura (2011), mesmo diante de normativas jurídicas

definindo a obrigatoriedade autônoma dos nativos e a evolução da sociedade, ainda hoje em

pleno Século XXI, o indígena não é efetivado e respeitado de forma democrática e isonômica,

como deveria ser.

Os artigos 231 e 232 da Constituição representam a maior força jurídica dentro do

direito indígena no Brasil na atualidade, e essa condição permite que haja o respeito à identidade

cultural de tais povos, mas na prática, a realidade é bem diferente, uma vez que há um ataque a

esses direitos em todo o território brasileiro. Exemplo desse descaso e agressão, na tentativa de

destruir a construção identitária desses povos é o que acontece com os índios no Mato Grosso

do Sul, como relata o Relatório dos Direitos Humanos a terra, Território e Alimentação “a difícil

situação dos indígenas no Mato Grosso do Sul se insere num cenário nacional de expropriação

territorial. Inclusive é um processo que percorre toda a América Latina, numa disputa por

recursos naturais” (Relatório, 2014, p. 11).

Sobre tal realidade relata Barbosa que:

O direito à identidade cultural aponta maior cuidado em razão da referência direta

com outros direitos conexos: direito à vida, direito à liberdade, direito à religião,

direito ao nome, direito à saúde, direito à educação, direito à família, direito à

integridade pessoal, direito à moradia, entre outros. Seu impacto é acentuado nas

comunidades indígenas, no momento em que o direito ao reconhecimento real ao

território tradicionalmente ocupado e seus recursos naturais – elemento cultural

fundamental – é frustrado, quer seja pela inoperância do detentor do dever de agir, ou

pela presença dos incansáveis usurpadores. O caso mais exemplar, com repercussão

nos mecanismos de proteção dos direitos humanos internacionais, ocorreu com o

suicídio sequencial dos Guarani-Kaiowá, no estado de Mato Grosso do Sul

(BARBOSA, 2012, p. 11-12).

Para o Conselho Missionário Indígena (CIMI) as violências contra tais grupos étnicos

são sistemáticas, cotidianas e afetam povos, comunidades e indivíduos em todas as regiões do

Brasil, sendo que os responsáveis, na maioria dos casos, ficam impunes.

Geralmente os autores de tais práticas pretendem explorar economicamente as terras

indígenas ou algum de seus recursos naturais e, para realizar seu intento, não medem

esforços. Outras violências são praticadas por agentes dos próprios poderes públicos,

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omissos ou negligentes em funções e responsabilidades que lhes foram atribuídas, tais

como a atenção à saúde, à educação, à efetiva demarcação, fiscalização e proteção das

terras e dos povos indígenas no Brasil. (CIMI, 2008, p. 9).

Para fazer valer o direito do indígena e o reconhecimento de sua identidade cultural,

bastaria apenas que a Constituição Federativa do Brasil fosse respeitada, assegurando os

direitos plenamente consagrados nos trechos da Lei. Estes povos poderiam usufruir de forma

exclusiva da sua terra e riquezas, uma vez que para estes, terra, território, povos e cultura se

entrelaçam e se tornam singulares.

4. A Lei nº 11.645/2008 e a temática indígena na Educação Básica

Quando diferentes etnias se reuniram para lutarem pelos seus direitos, depararam com

o preconceito e inclusive com a desqualificação de suas lutas, ao serem generalizados no termo

“índio”, desconsiderando assim sua complexidade e diversidade. Esse termo usado pelos

europeus desde o descobrimento das Américas acarreta até os dias atuais discriminação e

preconceito. Ao voltar no tempo do período colonial verifica-se que na época “ser índio” era

um estágio transitório entre selvagens e o civilizado. Cunha (1992) disserta que nos últimos

quatro séculos os índios foram tratados como seres temporários, em passagem para a

cristandade, para a civilização, e que deveriam assimilar a cultura dominante e então

desaparecerem.

Por conta de desconhecerem as populações indígenas, seus costumes, suas línguas e

suas autodenominações, o estereótipo índio encontra-se presente na população brasileira.

Segundo Silva & Costa (2018) o Brasil é reconhecido um país pluriétnico, mas por razões

históricas, políticas e até mesmo ideológicas, ainda se acredita que seja monolíngue, no qual

todo habitante possui a língua portuguesa como sua primeira língua, não levando em conta as

línguas indígenas classificadas em famílias e troncos distintos. “Desde a infância, as crianças

brasileiras convivem com as estereotipadas imagens do ‘índio genérico’. Uma vez adulto

continuam a alimentar incontáveis fantasias sobre a vida daqueles a quem consideram

verdadeiros ‘fosseis humanos’.” (SILVA & COSTA, 2018, p. 19).

Como a demanda social dos povos indígenas na busca pelo reconhecimento e respeito

às sociodiversidades étnicas que permeia as formas de ser e viver das 305 etnias indígenas

atualmente reconhecidas no Brasil, criou-se no âmbito judicial a Lei 10.639, de 09 de janeiro

de 2003, alterada pela lei 11.645, de 10 de março de 2008, que regulamentou a obrigatoriedade

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do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena nas escolas. Conforme apresenta

Silva (2017) a Lei soma-se a um significativo aparato legal tanto internacional quanto

brasileiro, que, ao longo dos séculos XX e XXI, vem orientando práticas escolares sobre o

ensino da temática indígena. “ Nos documentos oficiais sobre educação para as relaçoes étnico-

raciais, encontra-se a Declaração sobre raça e preconceito elaborado na Conferência Geral da

ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura em sua 20ª reunião em Paris em 1978. Tornando

-se norteador dos marcos legais no Brasil.” ( SILVA, 2017, p. 225).

Por meio dos acordos internacionais o país assume o compromisso de realizar ações

para combater o racismo, a discriminação nos espaçoes escolares e na sociedade de modo a

provocar mudanças significativas entre as relações étnicas. Nesse sentido a Constituição

Federal de 1988 também contribui em seu artigo 210 e com a LDB 9394/96 no artigo 32 no

qual defende a preservação e assegura às comunidades indígenas a utilização de suas línguas

maternas e processos próprios de aprendizagem.

Ainda cabe expor os artigos 78 e 79 do Ato das Disposições Gerais e Transitórias da

Constituição de 1988, onde fica claro que é dever do Estado o oferecimento de uma educação

escolar bilíngue e intercultural que fortaleça as práticas socioculturais e a língua materna de

cada comunidade indígena e proporcione a oportunidade de recuperar suas memórias históricas

e reafirmar suas identidades, dando lhes, também, acesso aos conhecimentos técnico-científicos

da sociedade nacional. É necessário o respeito à identidade dos povos indígenas na concepção

de uma educação singular e de prioridade básica dos governos, considerando o indígena um

cidadão que tem anseios, carências e necessidades específicas que precisam ser atendidas pelo

Estado.

Para Arpini (2003) Considerar o direito a igualdade, implica também considerar o

direito a diferença, no sentido de reconhecer que esses grupos étnicos precisam de oportunidade

para decidir a respeito de suas formas de vida e exerce-las seguindo sua própria cultura. É

necessário que definitivamente o pensamento europeu focado no conceito de identidade

homogênea seja superado. Uma vez que “ao propor uma identidade homogênea e a igualdade

formal de todos os seres humanos, acaba por deixar de lado características essenciais que nos

singularizam e nos diferenciam uns dos outros.” (SCHETTINI, 2012, p. 66).

A Lei nº 11.645/2008 tem se apresentado de extrema importância, pois além de amparar

a diversidade étnica cultural obriga a inclusão de conteúdos de histórias e culturas indígenas na

Educação Básica, oportunizando de modo positivo que professores e alunos conheçam e

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reconheçam a história e as culturas étnicas para assim, desconstruírem o estereótipo índio

retratado nos últimos anos pelos livros didáticos de forma folclórica e passar a destacar a

consciente realidade das sociedades indígenas no Brasil contemporâneo. Observando ainda e

levantando o questionamento: se aos não indígenas é dado o direto de mudar e de se adequar a

diferentes temporalidades sociais, porque apenas os indígenas deveriam permanecerem para

sempre no passado? (SILVA & COSTA, 2018, p. 19).

Neste sentido é fundamental que os educadores façam valer a Lei e indicar a diversidade

das etnias indígenas localizadas no Brasil em termos sociais, políticos, econômicos, linguísticos

e culturais. Deixando claro que o termo “índio” é fruto de um erro histórico do século XVI e

assim trabalhar para que os estereótipos sejam desconstruídos, permanecendo apenas suas

marcas étnicas.

Embora a temática indígena ronda as escolas em longas dadas, apenas depois de

despositivos legais apontando diretrizes a serem seguidas, como a Lei nº 11.645/2008 foi que

passou nas práticas escolares difundirem a história dos povos indígenas, sendo necessária ainda

a adequação do currículo para atender a demanda. O Brasil dos povos indígenas reclama

mudança e requer políticas com ações efetivas que não permaneçam apenas em normas estatais,

mas permita a esses povos a preservação de sua visão histórico-cultural e de sua identidade,

superando ideias colonialistas eurocêntricas e hegemônicas.

5. Considerações Finais

A identidade cultural está intimamente ligada a terra e a cultura. Para os povos

indígenas a terra é mãe e respeitá-la é premissa de sobrevivência, logo, cabe ao Estado garantir

através de dispositivos legais esses direitos, incentivando a permanência em suas terras, como

também permitir que os mesmos se expressem e aprendam fazendo uso de seus costumes e

línguas, dentro de seu habitat. Verificamos através das Leis vigentes que o Estado reconhece o

direito à identidade indígena, como também aceita à profunda diferença social e cultural

existente entre os mais de trezentos povos, que habitam o território brasileiro. Prova disso, são

as adesões de instrumentos jurídicos internacionais que o Brasil ratificou e a Constituição

Federal de 1988, bem como na questão educacional a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (Lei 9394/96), além de vários decretos. Enfim há um grande aparato legal que

reconhece esses direitos.

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Por outro lado, embora a Constituição federal de 1988 tenha proporcionado enorme

avanço no que refere aos direitos dos povos indígenas, especialmente na questão do respeito à

manutenção de suas culturas, há um longo compromisso a ser percorrido. A cultura desses povos

está vinculada a vida com a comunidade e com a terra. A falta de compreensão, desse universo,

fez com que desde o período da colonização esses grupos sofressem com o desrespeito,

humilhações e desvalorização de sua cultura. No entanto, muitos mantiveram-se perseverantes

nas lutas pelo direito à língua, à terra, à autodeterminação e à preservação de sua identidade

cultural. Esse direito refere-se além do territorial e cultural, a outros conexos, como o direito à

vida, liberdade, religião, saúde, família, educação e moradia.

Examinando a legislação a respeito do assunto, verifica-se que nas últimas décadas

ocorreram avanços consideráveis tanto a nível nacional quanto internacional nas leis

direcionadas aos povos indígenas. E apresentam-se como um avanço no campo teórico, mas de

acordo com os autores, Siqueira, Machado e Barbosa, na prática, tais leis nem sempre são

efetivadas. Ficando evidenciado que, esse aparato jurídico precisa ser cumprido plenamente, já

que não é apenas uma questão de obter direitos, mas uma melhor interpretação e aplicação dos

mesmos.

Sem dúvida, as leis por si só, não modificam a realidade, pois é na prática o

compromisso de fazer valer os direitos indígenas conquistados. O campo dos direitos

educacionais é o que tem se mostrado mais promissor ao contribuir para modificar a forma de

como enxerga o indígena na Educação Básica, estabelecendo na prática o respeito, o

reconhecimento da diversidade étnica cultural brasileira. Neste contexto é preciso destacar que,

ao longo da pesquisa, observamos que além dos limites é igualmente essencial apontarmos as

conquistas que estão em jogo no reconhecimento e implementação da Lei 11.645/2008, no qual

reconhecemos os desafios para a inserção da temática indígena na escola, e destacamos o atual

ambiente o mais propício para inclusão.

O tema de forma alguma se esgota nesse artigo, mas permite abrir novas possibilidades

de pesquisas, relacionadas ao aparato jurídico dos direitos indígenas e o reconhecimento a sua

identidade cultural, bem como perceber de que maneira a cultura, os conhecimentos dos povos

indígenas podem ensinar a cultura “não índia” a ter uma relação social mais harmoniosa e

modos de vida baseados no “bem viver” (buen vivir) em comunhão com a natureza e

preservação do meio ambiente.

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Referências

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