166
Bernardo G. B. Nogueira Emerson Luiz de Castro | Organizadores | Direito, Justiça e Memória

Direito justica e memoria

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Publicação da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva

Citation preview

  • Bernardo G. B. NogueiraEmerson Luiz de Castro| Organizadores |

    Direito,Justia eMemria

  • Bernardo G. B. NogueiraEmerson Luiz de Castro| Organizadores |

    | Belo Horizonte | 2015 |

    Direito,Justia eMemria

  • Direito, Justia e Memria

    2015 Os organizadores2015 by Centro Universitrio Newton Paiva

    2015

    ISBN 978-85-98299-49-5

    Centro Universitrio Newton Paiva

    Unidade Juscelino Kubitschek: Av. Presidente Carlos Luz, 220 - Caiara

    Unidade Buritis: Rua Jose Claudio Rezende, 26 - Buritis

    Belo Horizonte - Minas Gerais - Brasil

  • Direito, Justia e Memria

    PResideNte do GRUPo sPLiCe: Antnio Roberto Beldi

    ReitoR: Joo Paulo Beldi

    ViCe-ReitoRA: Juliana salvador Ferreira de Mello

    diRetoR AdMiNistRAtiVo e FiNANCeiRo: Antnio Roberto Beldi

    seCRetRiA GeRAL: Jacqueline Guimares Ribeiro

    CooRdeNAo GeRAL dA esCoLA de diReito do

    CeNtRo UNiVeRsitRio NeWtoN PAiVA: emerson Luiz de Castro

    CooRdeNAdoRA do CURso de diReito - UNidAde CCL: Valria edith Carvalho de oliveira

    CooRdeNAdoRA do CURso de diReito - UNidAde BURitis ii: sabrina torres Lage de Melo

    oRGANiZAo

    Bernardo G.B. Nogueira

    emerson Luiz de Castro

    CoLABoRAo

    Nathlia Ventura

    APoio tCNiCo

    Ncleo de Publicaes Acadmicas do Centro Universitrio Newton Paiva

    editoRA de ARte e PRoJeto GRFiCo: Hel Costa - Registro Profissional 127/MG

    diAGRAMAo: Knia Cristina e Mrcio Junio Gonalves (estagirios do Curso de Jornalismo)

    exPedieNte

  • Direito, Justia e Memria

    APReseNtAo

    ImperfeiesPoderia ser uma apresentao de textos escritos pelos alunxs da escola de

    direito do Centro Universitrio Newton Paiva. Poderia ser um agradecimento ao

    estado de Minas e mais precisamente aos responsveis pelo Caderno direito e

    Justia. Poderia ser mais uma compilao de trabalhos interessantes acerca de te-

    mas atuais do mundo jurdico. Poderia ser um momento de exaltar o servio que

    um veculo de informao como o estado de Minas presta comunidade jurdica

    e aos seus leitores. Poderia ser um novo caderno de memrias. Poderia ser uma

    homenagem aos alunxs e ex-alunxs da nossa escola de direito. Poderia ser mais

    uma ideia interessante de uma coordenao preocupada em manter prximos

    aqueles que construram sua histria misturada com a histria da escola de di-

    reito. Poderia ser um exerccio retrico procurar um motivo para tal construo

    acadmica. Poderia...

    o direito uma construo histrica. d-se no tempo. fruto dele. e

    tambm seu artfice. Na mesma direo, na medida em que alargamos a reflexo

    acerca do fenmeno jurdico. H um alargamento das possibilidades de justia.

    ou seja, a cada margem avanada pelo pensamento dos juristas, nela podemos

    ver habitar um cadinho mais de humanidade. estamos a falar de construes

    humanas, certo?

  • Direito, Justia e Memria

    Logo, se o direito figura nessa posio de regulador e construtor do tem-

    po, h que se cuidar para que o criador e sua obra estejam em sintonia. essa a

    dimenso importante assumida em pases democrticos que possuem no direito

    seu organizador social. No basta apenas a criao de leis a regularem o fazer

    humano cotidiano. Por detrs do cenrio, o trabalho rduo. talvez a coxia deva

    ser um local a ser cuidado dentro do teatro jurdico-social. os atores passam por

    l. L fica o diretor. o figurinista. o roteirista. os cmeras. o responsvel pelo

    som. o que deixa cair a cortina. todas as pessoas que so citadas nos crditos

    que ningum l. o holofote no incide sobre quem o opera, tampouco o zelo

    das pessoas que trabalham nas limpezas reflete-se no tratamento dado a elas.

    Nesse sentido, um caderno que traz o ttulo direito e Justia e recebe

    textos de alunxs, de alguma maneira acompanha a reflexo proposta. ora, o

    direito enquanto esse construtor de tempos, no poderia deixar de lado, de

    fora, sem luz, aqueles que com seus prprios sonhos inscrevem-no em seu

    tempo. Assim, quando recebemos o texto de uma reflexo feita por um alunx,

    o mesmo assume um relevo interessante. Alis, no bem e exatamente o

    texto que possui uma importncia maior. em verdade, esse caderno presta uma

    funo social e humanitria importantssima: simboliza a hospitalidade de um

    rosto que ainda est a se esculpir. o texto discente traz em suas linhas o temor

    da exposio. o medo da crtica. Mas, ao mesmo tempo, traz em seu bojo o

    frescor de quem se descobre tambm construtor do direito. Logo, tambm

    construtor de tempos. o espao se torna mais plural com a paixo do alunx

    que tem frente todo o desconhecido da carreira jurdica. esse desconhecido

    sua possibilidade, portanto, infinita.

    o caderno direito e Justia construtor de tempos. inaugura com esse es-

    pao possibilidades que sequer os vidos estudantes tm a real dimenso. uma

    publicao de encontros. encontros feito aqueles que nos surpreendem quando

    ao invs do ator principal, dedicamos um olhar atento ao esmero artstico daque-

  • Direito, Justia e Memria

    le que deixa brilhando o palco. essa surpresa, raiz do conhecimento segundo os

    gregos, a mesma que os estudantes so tomados quando sentem suas palavras

    ganhando dimenso, tambm infinita, que o Jornal estado de Minas possui.

    Poderia ser uma apresentao a se regozijar por fazer andar prximos alun-

    xs e professores. Juristas formados e aqueles em formao. Regozijo pelo cuidado

    com quem fez parte de uma histria. A escola de direito do Centro Universitrio

    Newton Paiva, acima de tudo, so seus alunxs. Contudo, em verdade, trata-se de

    um agradecimento, estendido aos alunxs que deixaram nestes textos a graa do

    frescor de suas reflexes, at aos editores do estado de Minas que recebem estas

    palavras e unem direito e Justia. Que deixam falar quem no est no palco. Que

    do voz plural ao seu Jornal. Que acolhem juristas, diretores, atores, roteiristas,

    decoradores, limpadores, alunxs e humanos. todos com sua arte pronta a ser

    publicada, espera de justia. No presente, no no pretrito, imperfeito.

    EmErson Luiz dE Castro

    BErnardo G.B. noGuEira

  • Direito, Justia e Memria

    sUMRio

    CLAReZA NA LiNGUAGeM........................................................................................................11

    exeRCCio dA CidAdANiA......................................................................................................15

    CoNstRANGiMeNto No tRABALHo CoNstRANGiMeNto No tRABALHo.................19

    esFoRos PeLo FiM dA VioLNCiA doMstiCA.................................................................23

    desPeRtAR dA CoNsCiNCiA.................................................................................................27

    MAioRidAde PeNAL..................................................................................................................29

    CoNFLitos eNtRe PAtRes e eMPReGAdos.......................................................................33

    ResPeito Aos diReitos HUMANos.......................................................................................37

    diReito sAde Aos PACieNtes CoM CNCeR.................................................................41

    CoRRUPo: UM dos LeGAdos dA CoLoNiZAo........................................................45

    toMBAMeNto e o diReito de CoNstRUiR.......................................................................49

    deVeR do AdVoGAdo............................................................................................................51

    ReiNseRo do CoNdeNAdo NA soCiedAde.................................................................55

    A PRiso PReVeNtiVA e o estAdo de iNoCNCiA..............................................................59

    eNtRe A LeGALidAde e A eFiCiNCiA.....................................................................................63

    CiNeMA soB A tiCA do diReito.........................................................................................67

    BeM dA FAMLiA: PRoteo A UMA VidA diGNA.................................................................71

  • Direito, Justia e Memria

    A LiBeRdAde de exPResso...................................................................................................75

    sisteMA PeNAL..........................................................................................................................79

    eCA - CoNQUistA PARA seR PostA eM PRtiCA..................................................................83

    Mtodo APAC e o sisteMA PRisioNAL................................................................................87

    Assdio MoRAL No AMBieNte de tRABALHo....................................................................91

    o tRABALHo do MeNoR.......................................................................................................95

    eLeMeNto tiCo NA PoLtiCA.............................................................................................97

    Assdio sexUAL No tRABALHo..........................................................................................103

    AdiCioNAL de iNsALUBRidAde CoMo PARCeLA sALARiAL.............................................107

    CLUsULA de No RestABeLeCiMeNto............................................................................111

    BeNeFCios dA NoVA Lei do AGRAVo................................................................................115

    A RetRiCA do PodeR..........................................................................................................119

    o sisteMA CARCeRRio BRAsiLeiRo....................................................................................123

    o MeLHoR iNteResse dA CRiANA e o eCA.....................................................................127

    PRoJeto iNoVAdoR PARA tRAtAR o LoUCo iNFRAtoR......................................................131

    ACo tRABALHistA e A NeCessidAde do AdVoGAdo...................................................135

    etiCA NA PoLtiCA.................................................................................................................139

    As MedidAs soCioedUCAtiVAs do eCA............................................................................143

    ALieNAo FidUCiRiA de iMVeL PoR PARtiCULAR......................................................147

    LiBeRAo dAs dRoGAs iLCitAs........................................................................................151

    FRiAs PRoPoRCioNAis Ao disPeNsAdo PoR JUstA CAUsA...........................................155

    NoRMA sUCessRiA do CoMPANHeiRo...........................................................................159

  • Direito, Justia e Memria

    Data/Pgina16 de abril de 2007

    pg. 02

    A linguagem uma ferramen-

    ta que tem como funo primordial

    possibilitar o entendimento entre as

    pessoas. Porm, aplic-la de maneira

    clara e compreensvel por todos no

    tem sido algo de uso corriqueiro por

    parte de muitos magistrados e outros

    profissionais da rea jurdica. Em vez

    de ser mais um instrumento de exer-

    ccio de cidadania (sinnimo de aces-

    so a todos os outros direitos), falar ou

    escrever juridicamente tem sido algo

    usado como um fim em si mesmo.

    Tal afirmao decorre do fato

    de que muitos profissionais da rea

    tentam impressionar pelo uso de uma

    linguagem desnecessariamente re-

    buscada, como se esse tipo de atitude

    conferisse qualidade aos trabalhos.

    Muitos ainda acreditam que o uso de

    palavras com significados pratica-

    mente desconhecidos pela maioria das

    pessoas e de frases inteiras em latim -

    algumas sem qualquer conexo com o

    sentido do texto em que so inseridas

    - sinnimo de vasto saber jurdico e

    de competncia profissional.

    Contudo, os estudiosos do direi-

    to devem se mobilizar para no con-

    taminar seus textos com tais vcios.

    necessrio que se conscientizem

    de que suas palavras, faladas ou es-

    critas, tm uma importante funo

    social. So eles que, utilizando-se de

    CLAREZA NA LINGUAGEMBLANdINA MARA dE LIMA FREITASAluna do 9 perodo da Escola de direito do Centro Universitrio Newton Paiva

    Aluno: Blandina Mara de Lima Freitas

    Texto: Clareza na Linguagem

  • 12 Direito, Justia e Memria

    linguagem tcnica adequada e aces-

    svel ao entendimento das pessoas

    comuns, funcionaro como facilita-

    dores da aplicao dos princpios

    constitucionais basilares que podem

    ser resumidos em um s preceito:

    garantir a dignidade da pessoa.

    A linguagem jurdica tcnica

    e isso no h como negar. O direito

    uma cincia revestida de todos os

    pressupostos necessrios para que

    assim seja considerada. E, entre es-

    ses requisitos, coloca-se a existncia

    de uma linguagem tcnica prpria.

    Mas essa caracterstica deve obje-

    tivar um bem maior, cumprindo o

    importante papel a que se destina:

    esclarecer os cidados, os quais so

    seus verdadeiros destinatrios.

    A tcnica jurdica deve pri-

    mar pela conquista da confiana

    daqueles que procuram (sozinhos

    ou orientados por seus advogados),

    junto ao Poder Judicirio, uma res-

    posta para suas dvidas sobre o que

    ou o que no direito.

    A linguagem dos estudiosos

    da rea h que ser tcnica, sim. Mas

    aquela que seja verdadeiramente

    assim considerada. No est vincu-

    lada ao uso de vocbulos incompre-

    ensveis s pessoas comuns, muito

    menos ao uso de frases em latim -

    lngua de beleza incontestvel, mas

    inadequada para a atualidade jurdi-

    ca -, cujo uso fere at mesmo o que

    preceitua o artigo 156, do Cdigo de

    Processo Civil: Em todos os atos e

    termos do processo obrigatrio

    o uso do vernculo. Consequen-

    temente, atinge, tambm, todas as

    garantias processuais referentes ao

    devido processo legal, entre elas a

    ampla defesa, assegurada constitu-

    cionalmente pelo artigo 5, LV.

    A verdadeira tcnica jurdica

    est em se usar uma linguagem que

    prime no pela forma erudita da le-

    tra, mas pela clareza e correo de

    seu contedo. A principal preocupa-

    o deve se voltar ao atendimento

    dos critrios de consistncia e coe-

    rncia entre o que os profissionais

    do direito dizem ou escrevem e o que

    realmente querem dizer ou escrever.

    to somente a partir de

    suas palavras, livres de quaisquer

    falcias, que nascer no cidado

    comum o sentimento de confiana

    no Judicirio, pois somente enten-

    dendo o que seus direitos realmente

    significam que ter esperana de

    v-los garantidos.

    E, para comprovar a importn-

    cia do que neste artigo se expressa,

    basta realizar uma simples interpre-

    tao sistemtica da Constituio

    Federal de 1988, que em seu Ttulo II,

    dos direitos e Garantias Fundamen-

    tais, esclarece no incio de seu artigo

  • 13Direito, Justia e Memria

    5 que: Todos so iguais perante a

    lei. depois, em seu artigo 13, inse-

    rido nesse mesmo ttulo, afirma: A

    lngua portuguesa o idioma oficial

    da Repblica Federativa do Brasil.

    Portanto, o portugus (e no

    esta espcie de dialeto conhecido

    como juridiqus) o idioma capaz

    de garantir igualdade de acesso a

    todos os cidados brasileiros. Ele

    deve ser usado sempre com a maior

    clareza, simplicidade e objetividade

    possvel, para que cumpra a sua fi-

    nalidade de promover entendimento

    entre as pessoas dos mais diferentes

    nveis culturais e educacionais.

    O emprego do juridiqus cer-

    ceia as garantias fundamentais que

    a CR/88 promete estender a todos

    igualitariamente e, por isso, deve ter

    seu uso evitado pelos profissionais

    do direito, ou, melhor ainda, deve

    ser eliminado dos textos e discursos

    produzidos por eles.

  • Direito, Justia e Memria

    Data/Pgina02 de abril de 2007,

    pg. 02

    A importncia dos juizados es-

    peciais cveis de Belo Horizonte, j

    previstos constitucionalmente (artigo

    98, I), se mede pelo que proporcionam

    populao, em especial economi-

    camente menos favorecida. Ou seja,

    o acesso Justia, em respeito aos

    princpios basilares, previstos na

    Constituio da Repblica Federativa

    do Brasil de 1988, que so: a digni-

    dade da pessoa, a cidadania, a igual-

    dade e a reduo das desigualdades

    sociais, entre outros.

    Os juizados especiais cveis so

    regidos pelo microssistema - Lei Fede-

    ral n 9.099, de 26 de setembro de 1995,

    complementada pela Lei n 10.259/01

    e tm como objetivo e competncia a

    conciliao das partes envolvidas no

    processo, respeitando o princpio da

    oralidade, da economia processual, da

    segurana e da celeridade.

    da competncia dos juizados

    especiais processar e julgar as cau-

    sas que versarem sobre direitos pa-

    trimoniais, cujo valor no exceda a 40

    vezes o salrio mnimo. At 20 sal-

    rios mnimos, o autor poder deman-

    dar sem a presena obrigatria de

    advogado. Acima desse valor, se faz

    necessria a presena de procurador.

    Ainda que constitudo advogado, este

    no poder representar as partes, as

    quais devero comparecer pessoal-

    EXERCCIO dA CIdAdANIANATLIA RIBEIRO dE OLIVEIRAAluna do 9 perodo da Escola de direito do Centro Universitrio Newton Paiva

    Aluno: Natlia Ribeiro de Oliveira

    Texto: Exerccio de Cidadania

  • 16 Direito, Justia e Memria

    mente s audincias.

    A Lei n 9.099/95 trouxe ao ci-

    dado a possibilidade de ter o seu

    conflito resolvido com eficincia, em

    tempo hbil e sem custo, amparado

    pelo Estado, o qual tem o dever de

    prestar a jurisdio. Os juizados

    especiais cveis no devem ser vis-

    tos como sucessores dos juizados

    de pequenas causas, e sim, como

    uma nova fonte de acesso Justia,

    permitindo sociedade evoluir na

    afirmao dos direitos sociais, reco-

    nhecendo que no existem pequenas

    causas, mas conflitos que precisam

    de soluo.

    Existem quatro unidades de

    juizados especiais cveis localizadas

    em Belo Horizonte. A do Gutierrez

    atende a aes ajuizadas contra em-

    presas concessionrias de servios

    de telecomunicaes, a aes exe-

    cutivas de ttulos extrajudiciais e a

    aes ajuizadas por microempresas.

    O Juizado Especial das Rela-

    es de Consumo atende s deman-

    das ajuizadas por consumidores

    contra empresas fornecedoras de

    produtos ou prestadoras de servi-

    os. J a unidade na UFMG tem com-

    petncia residual, abrangendo as

    aes cveis em geral, exceto aque-

    las previstas nas unidades Gutierrez

    e Consumo.

    E a Unidade Barreiro atende

    a aes cveis em geral, previstas na

    Lei dos Juizados Especiais. Porm,

    uma das partes deve ser residente

    ou estar estabelecida na regio do

    Barreiro, ou seja, deve haver compe-

    tncia territorial.

    A partir da Constituio Fede-

    ral de 1988, conhecida como Consti-

    tuio Cidad, houve uma reconstru-

    o social, com origens na Revoluo

    Francesa, e, posteriormente, na

    declarao dos direitos Humanos.

    As normas passaram de um modelo

    rgido e inflexvel para moldes volta-

    dos ao fortalecimento do contedo

    tico das relaes sociais.

    A Lei dos Juizados Especiais

    faz parte desse processo de decodi-

    ficao, juntamente com o Estatuto

    da Infncia e da Juventude, o Cdigo

    de defesa do Consumidor e o Esta-

    tuto do Idoso. Esse carter princi-

    piolgico trouxe a possibilidade de

    interpretaes solidaristas, ou seja,

    aquelas engajadas na realidade

    social brasileira, fazendo com que

    o direito sofresse modificaes de

    acordo com a evoluo da sociedade,

    caminhando para uma vida justa e

    digna para todos, tratando desigual-

    mente os desiguais.

    Por meio da Lei dos Juizados,

    o Brasil consegue dar mais um pas-

    so em busca do bem-estar social.

    A Justia no pode estagnar, mas

  • 17Direito, Justia e Memria

    sempre acompanhar a evoluo da

    sociedade. Todas as causas que do

    entrada nos juizados especiais so

    grandes causas, pois atrs de cada

    petio, de cada histria, existe um

    ser humano, um cidado que precisa

    ser ajudado.

    A Lei n9 9.099/95, ainda que

    deva ser aprimorada e valorizada

    consegue solucionar conflitos inter-

    subjetivos de forma rpida e desbu-

    rocratizada. Os juizados especiais

    aproximaram o Judicirio da popu-

    lao, dando cumprimento ao pacto

    social firmado na Constituio Fede-

    ral de 1988, o que nos leva a pensar

    e a repensar o Judicirio, e o atual

    significado de justia e cidadania.

  • Direito, Justia e Memria

    Data/Pgina27 de novembro de

    2006, pg. 02

    desde setembro de 2005, o seg-

    mento aerovirio brasileiro convive

    com uma polmica. Foi quando a Jus-

    tia decidiu que as empresas do setor

    podem usar o polgrafo, mais conhe-

    cido como detector de mentiras, para

    monitorar o comportamento de seus

    funcionrios.

    A deciso foi proferida pelo Tri-

    bunal Superior do Trabalho, aps ter

    julgado pedido de pagamento de in-

    denizao por danos morais de uma

    ex-funcionria de uma companhia a-

    rea norte-americana, que trabalhou

    como agente de segurana no Aero-

    porto de Confins (MG). Tal prtica

    era justificada pelo fato de a empresa

    estar sujeita a ataques terroristas e

    sequestros.

    Ora, o teste do polgrafo, de efi-

    ccia duvidosa, consiste em analisar

    as reaes fsicas de uma pessoa, tais

    como a sudorese e os batimentos car-

    dacos, medida em que responde a

    perguntas - inclusive sobre sua vida

    pessoal. Porm, releva observar que

    nosso direito constitucional consagra

    o princpio de que ningum obriga-

    do a produzir prova contra si mesmo.

    O Art. 5, II, da Constituio Federal,

    tambm dispe que ningum ser obri-

    gado a fazer ou deixar de fazer alguma

    coisas e no em virtude de lei. Inserido

    na mesma Carta no artigo 5, inciso X,

    CONSTRANGIMENTO NO TRABALHOdCIO GUIMARES JNIORAluno do 8 perodo da Escola de direito do Centro Universitrio Newton Paiva

    Aluno: dcio Guimares Jnior

    Texto: Constrangimento no Trabalho

  • 20 Direito, Justia e Memria

    l-se: So inviolveis a intimidade, a

    vida privada, a honra e a imagem das

    pessoas, assegurando o direito inde-

    nizao pelo dano material ou moral

    decorrente de sua violao.

    H aqueles que defendem o

    uso do detector de mentiras, entre

    eles o juiz Ronald Cavalcante So-

    ares, relator do agravo, que diz: A

    alegao da defesa de que a condu-

    ta empresarial violou o dispositivo

    constitucional que protege a intimi-

    dade e a honra das pessoas no se

    sustenta em face da natureza da

    empresa e da constatao de que o

    teste era aplicado desde o incio do

    contrato de trabalho.

    Todavia, no so poucos os

    que condenam tal procedimento,

    sob a alegao de que a submisso

    do funcionrio ao teste de polgra-

    fo fere direitos constitucionais e

    do trabalhador. Tambm entendem

    que, o ato de sujeitar o empregado

    a essa situao, tolhendo-lhe a liber-

    dade e diminuindo-lhe a capacidade

    de autodeterminao - pelo fato de

    lhe causar constrangimento ilegal

    - pode configurar-se como crime do

    artigo 146 do Cdigo Penal.

    Por sua vez, o Tribunal Regio-

    nal do Trabalho, em Minas Gerais,

    afastou a caracterizao de dano mo-

    ral em razo do tempo de servio da

    agente de segurana, assim expres-

    sando- se: Considerando que, desde

    1999, estaria a ex-funcionria sob a

    influncia do regulamento geral da

    empresa, submetendo-se aos testes,

    sua tolerncia afasta a ideia de omis-

    so regra protetiva de sua intimi-

    dade. Aquilo que violenta a moral e a

    tica ser sempre imediato.

    Se a todo empregado facul-

    tada a prerrogativa de cobrar seus

    crditos resultantes das relaes de

    trabalho, em cinco anos, at o limite

    de dois anos aps a resciso con-

    tratual (artigo 11,I, CLT e CF 88, 7,

    XXIX), deduz-se que o conceito de

    imediato na rea trabalhista no

    to simples. Nesse caso, h que se

    mencionar entendimentos diversos.

    Tais direitos devem ser reclamados

    durante o teste do polgrafo? Um dia

    aps o primeiro ou o ltimo teste?

    Um ms depois? dentro do perodo

    estabelecido na CLT? V-se que tra-

    ta-se de elemento normativo. Isto ,

    o vocbulo imediato depende de

    valorao. subjetivo.

    Embora a funcionria tenha

    concordado em fazer o teste uma

    vez, no quer dizer que ela tenha se

    conformado com o procedimento con-

    tnuo. Muitas vezes, para se manter

    no emprego, o funcionrio submete-

    se a situaes ridculas, mesmo no

    concordando com elas. Como se sabe,

    o empregado encontra-se em posio

  • 21Direito, Justia e Memria

    de hipossuficincia, com subordina-

    o jurdica e objetiva perante o em-

    pregador. Assim, tolerar no quer di-

    zer concordar com a situao. No

    de praxe que o empregado questione

    procedimentos da empresa, mesmo

    quando se sente ofendido, o que aca-

    ba por criar uma situao de extremo

    constrangimento.

    Portanto, entendo ser equivo-

    cada a aprovao do uso do polgra-

    fo pela Justia. mister considerar

    que as empresas podem adotar o

    mtodo de segurana que melhor

    lhes aprouver. Todavia, nenhum pro-

    cedimento pode ser contrrio s leis

    e ao consentimento expresso e es-

    pontneo de seus funcionrios.

  • Direito, Justia e Memria

    Data/ Pgina05 de fevereiro de

    2007, pg. 02

    durante um ano, desenvolve-

    mos um estudo que investigou as

    consequncias jurdico-sociais do

    aumento da pena em relao aos cri-

    mes cometidos no ambiente familiar,

    bem como o impacto gerado pela tipi-

    ficao dessa conduta (Lei n 10.886,

    de 17 de junho de 2004). O trabalho

    desenvolveu-se por meio do acompa-

    nhamento processual junto ao Juiza-

    do Especial Criminal de Contagem;

    de entrevistas com 50 mulheres vti-

    mas da violncia domstica; alm de

    pesquisa de campo nos conselhos,

    centros e ncleos de apoio mulher

    da capital, bem como na delegacia de

    Crimes contra as Mulheres.

    No mbito do Juizado Especial

    Criminal, verificamos uma reincidn-

    cia considervel e representativa.

    Analisamos cerca de 100 Termos de

    Ocorrncia Circunstanciados, em que

    foram narradas situaes acerca da

    violncia domstica. Constatamos

    que 60% desses termos j vinham

    acompanhados de Termo de desis-

    tncia no prosseguimento da repre-

    sentao assinado pela vtima na

    prpria delegacia de Mulheres.

    Nos casos em que elas persisti-

    ram, constatamos em 30% a ocorrncia

    da suspenso em sede de audincia

    preliminar, podendo a vtima retomar

    ao juizado e declarar o desejo de conti-

    ESFOROS PELO FIM dA VIOLNCIA dOMSTICAHLIA MARTA TEIXEIRA GONALVESAluna do 10 perodo da Escola de direito do Centro Universitrio Newton Paiva

    Aluno: Hlia Mara Teixeira Gonalves

    Texto: Esforos pelo fim da violncia domstica

  • 24 Direito, Justia e Memria

    nuar com a representao no perodo

    de seis meses, a contar da data do co-

    nhecimento da autoria do delito.

    Na praxe, a intervenincia do

    Ministrio Pblico, e at mesmo dos

    conciliadores, faz calar a mulher,

    que acuada no seu papel de vtima,

    induzida a deixar o processo sus-

    penso em nome da to clamada pa-

    cificao social. E 10% dos casos

    tiveram o triste fim de penalizao

    com o pagamento de cestas bsicas,

    prestao de servios ou at mesmo

    arquivamento por falta de provas

    consistentes, como testemunhas,

    exames de corpo de delito, entre ou-

    tras. Vale ressaltar que constatamos

    uma reincidncia de 20% nos casos

    anteriormente citados.

    A Lei n 9.099/95, que instituiu

    os juizados especiais criminais, tra-

    ou um modelo de consenso que, em

    tese, representou um avano para as

    vtimas e trouxe grandes novidades,

    entre elas a composio civil, a tran-

    sao penal e a suspenso condicio-

    nal do processo. Todos esses insti-

    tutos, se bem usados, podem servir

    para resolver a questo penal e re-

    parar o dano causado pelo delito. Po-

    rm, no so suficientes para garan-

    tir a reparao do dano em todos os

    casos, sendo necessrio ao Estado

    criar mecanismos para que essa re-

    parao seja efetiva, principalmente

    no que tange aos crimes de violncia

    domstica, em que a vtima acaba

    tendo que abandonar o prprio lar e,

    muitas vezes, at mudar de emprego

    ou cidade para fugir do agressor.

    A problemtica jurdica, por

    conseguinte, continuou a residir no

    mbito processual, pois, embora o

    legislador tenha tido a inteno de

    coibir a prtica da violncia com

    o acrscimo da pena do crime de

    leso corporal cometida no seio fa-

    miliar, processualmente esta con-

    tinuou a gerar os mesmos efeitos

    que gerava antes do advento da lei,

    pois o autor da violncia continuou

    a gozar dos mesmos benefcios an-

    teriores, quais sejam, a transao

    penal e o sursis processual, o que

    impede a aplicao de priso ou

    mesmo da condenao.

    Corrobora-se ao nosso estudo

    o advento da Lei n 11.340/06 (Lei

    Maria da Penha), que cria mecanis-

    mos para coibir a violncia doms-

    tica e familiar contra a mulher, dis-

    pondo sobre a criao dos juizados

    de Violncia domstica e Familiar

    contra a Mulher; alterando o C-

    digo de Processo Penal, o Cdigo

    Penal e a Lei de Execuo Penal.

    A lei traz grandes inovaes, entre

    elas o disposto em seu art. 41: Aos

    crimes praticados com violncia do-

    mstica e familiar contra a mulher,

  • 25Direito, Justia e Memria

    independente da pena prevista, no

    se aplica a Lei n 9.099/95. Alm de

    estabelecer a aplicao subsidiria

    do Cdigo de Processo Penal, do C-

    digo de Processo Civil, do Estatuto

    da Criana e do Adolescente, do Es-

    tatuto do Idoso e de outras normas

    especficas, autoriza-se a criao

    dos juizados de Violncia domstica

    e Familiar contra a Mulher.

    No podemos afirmar que a

    nova lei ser mais eficaz. Mas temos

    certeza de que, para isso, mais do

    que disposies legais, necessrio

    o trabalho conjunto e o comprometi-

    mento de toda a sociedade.

  • Direito, Justia e Memria

    Data/Pgina19 de novembro de

    2007, pg. 02

    A sociedade tem experimenta-

    do momentos de extrema reflexo.

    A midia escrita e falada divulga no-

    tcias que preocupam os brasileiros.

    O que causa maior perplexidade, en-

    tretanto, so os intensos deslizes das

    classes superiores do nosso Estado

    democrtico de direito: o executivo,

    o legislativo e, infelizmente, o judi-

    cirio. H uma percepo clara da

    total banalizao desses setores, to

    importantes para a evoluo do pas.

    Pretendo aqui ressaltar uma

    classe, cuja funo de suma impor-

    tncia, e que, infelizmente, tem des-

    virtuado sua trajetria, sem nenhum

    constrangimento: a classe poltica. Os

    polticos tm a funo de representar

    o povo. Podemos considerar sua exis-

    tncia como reflexo das vozes da so-

    ciedade, ou seja, cabe a eles defender

    os direitos das pessoas.

    Contudo, o que se v uma bus-

    ca egocntrica por poder e dinheiro,

    para satisfao futura, quando no

    estiverem mais na liderana. A so-

    ciedade, to estigmatizada, sobrevive

    s torturas dirias. Felizmente, vive-

    mos em uma repblica relativamente

    nova, denominada Brasil, mas, devido

    ao seu intenso crescimento e evolu-

    o, ocorrem distores e injustias.

    A ns, brasileiros, homens ou

    mulheres, seja qual for a crena ou

    dESPERTAR dA CONSCINCIAVALdEANA dIAS dOS SANTOSAluna do 6 perodo da Escola de direito do Centro Universitrio Newton Paiva

    Aluno: Valdeana dias dos Santos

    Texto: despertar da Conscincia

  • 28 Direito, Justia e Memria

    raa, cabe a funo de guardies, em

    gritarmos incansavelmente por uma

    sociedade politicamente correta, ti-

    ca, justa e igualitria, palavras estas

    cada vez menos usadas.

    A cada quatro anos temos em

    nossas mos uma das armas mais

    poderosas j conquistadas, o voto.

    devemos nos conscientizar de sua

    importncia e no permitir que se-

    jamos agenciados por pessoas cor-

    ruptas, sem nenhum critrio moral e

    social. Este deve ser um momento de

    reflexes e denncias. devemos dar

    crdito queles em que temos espe-

    rana e denunciar nossa indignao

    por todas as provocaes causadas.

    Esta to sonhada conquista

    no pode escoar pelo ralo. No pode-

    mos permitir que ela, muitas vezes

    obtida de forma violenta e sangren-

    ta, por cidados que j no esto

    entre ns, fique abandonada. Acei-

    tamos tudo de forma muito fcil e,

    por isso, no somos compreendidos

    no momento da indignao. Um grito

    de amadurecimento social est sen-

    do ecoado, mas infelizmente, este

    um eco interno, escondido, medroso,

    tmido, que deve ser libertado.

    Ao experimentar tanta corrup-

    o, talvez fosse o momento de requi-

    sitarmos o nosso Estado democrtico

    de direito e uma recompensa, ou seja,

    uma indenizao por danos morais e

    materiais. Caio Mrio da Silva Pereira

    entende que o dano moral qualquer

    sofrimento humano que no causa-

    do por uma perda pecuniria e abran-

    ge todo atentado sua segurana e

    tranquilidade, ao seu amor-prprio

    esttico, integridade de sua inteli-

    gncia, s suas afeies etc....

    Esse conceito diz respeito a to-

    dos os cidados que prezam por sua

    auto-integridade. A cada instante

    somos atacados, sem oportunidade

    de nos defendermos. Menosprezam a

    nossa inteligncia, a nossa dignidade.

    Ocorre, ento, uma reduo do nosso

    patrimnio, porque ao se apropriarem

    de coisas pblicas, como por exemplo,

    o dinheiro, realiza-se um desfalque no

    bolso de cada cidado, que contribui

    pagando impostos e tributos.

    Se fossemos ao judicirio re-

    quisitar indenizao por dano moral,

    o Estado no conseguiria arcar com

    essa obrigao. Sabemos que a re-

    parao medida pela extenso do

    dano, no obstante, seus lderes, sem

    nenhum constrangimento, superam,

    cada vez mais, as nossas expectati-

    vas. Enfim, como diz uma conhecida

    frase: A qualidade de um vencedor

    nunca desistir. Sendo assim, no po-

    demos nos acomodar e acreditar que

    tudo est perdido, mas reconhecer

    que existe um futuro de sucesso nas

    mos das novas geraes.

  • Direito, Justia e Memria

    Data/Pgina28 de abril de 2008,

    pg. 02

    No Brasil, a maioridade penal

    fixada em 18 anos, ou seja, a impu-

    tabilidade inicia-se aos 18. Nossa le-

    gislao adotou o sistema biolgico,

    ignorando o desenvolvimento mental

    do menor, considerando-o inimput-

    vel, mesmo tendo capacidade para

    entender a ilicitude do fato.

    O aumento do ndice de crimi-

    nalidade envolvendo menores infra-

    tores traz tona a viabilidade prtica

    do atual modelo brasileiro. Os casos

    de maiores repercusses foram, sem

    dvida, o assassinato dos estudan-

    tes Felipe Silva Caff, de 19, e Liana

    Friedenbach, de 16, em novembro de

    2003, e do menino Joo Hlio, de 6, em

    fevereiro de 2007. Caso pudessem ser

    enquadrados dentro do Cdigo Penal,

    os assassinos responderiam por ho-

    micdio qualificado, com pena de 12 a

    30 anos de priso.

    Porm, como alguns acusados

    so menores de 18, s podem ser res-

    ponsabilizados pela Lei n 8.069, de

    13 de julho de 1990, o ECA (Estatuto

    da Criana e do Adolescente), artigo

    121, que diz: Em nenhuma hipte-

    se o perodo mximo de internao

    exceder a trs anos. No de se

    espantar o tamanho da dor, revolta,

    sensao de impunidade e injustia.

    O filsofo e jurista Slon, por vol-

    ta de 590 a.C, tendo sido perguntado

    MAIORIdAdE PENAL

    KLEySON ANILTON dUARTE MARqUES Aluno do 6 perodo da Escola de direito do Centro Universitrio Newton Paiva

    Aluno: Kleyson Anilton duarte Marques

    Texto: Maioridade Penal

  • 30 Direito, Justia e Memria

    sobre a maneira mais eficaz de dimi-

    nuir os crimes, disse: Isso ocorrer

    se eles causarem tanto ressentimen-

    to nas pessoas que no so vtimas

    dos mesmos quanto nas que so.

    Foi o que aconteceu no caso

    do menino Joo Hlio. A sociedade

    brasileira tomou uma conduta tica.

    Uma conduta tica uma tomada de

    posio. No h nada mais antitico

    que a indiferena, ser indiferente

    banalizar a violncia.

    H mais de 16 anos surgia o

    ECA, em substituio ao ultrapas-

    sado Cdigo de Menores. O atual

    diploma representa um novo pacto

    poltico-social, que busca consolidar

    o Estado democrtico de direito,

    priorizando a cidadania, uma das

    faces da CRFB de 1988.

    de acordo com o artigo 112 do

    ECA a medida de internao s poder

    ser aplicada quando for esgotada todas

    as medidas especficas de proteo e

    todas as medidas socioeducativas.

    Segundo o saudoso Nelson

    Hungria, uma condenao penal ar-

    ruinar, talvez irremediavelmente, a

    existncia inteira do adolescente,

    prefervel, sem dvida, corrigi-lo por

    mtodos pedaggicos, prevenindo a

    sua recada no malefcio.

    Em 1764, na cidade de Madri,

    o Marqus de Beccaria, publicou o

    livro dei delitti e delle pene, em que

    j antecipava e recomendava:

    melhor prevenir o crime do que cas-

    tigar e a celeridade e a certeza

    da pena, mais que a sua severidade,

    que produza efetiva intimidao.

    Nem o CP, nem o ECA, a me-

    lhor doutrina defende a possibi-

    lidade de uma terceira via: uma

    responsabilidade penal diminuda,

    com consequncias diferencia-

    das, para os infratores jovens com

    idade entre 16 e 21 anos, cujas

    sanes devam ser cumpridas em

    outra espcie de estabelecimento,

    exclusivas para menores, com tra-

    tamento adequado, enfim, um tra-

    tamento especial.

    Mesmo no sendo recepciona-

    do pela Constituio Federal, o arti-

    go 50 do CPM semelhante ao texto

    do Senador demstenes Torres e da

    proposta defendida por Bitencourt.

    No entanto, o Brasil no tem uma

    estrutura moral e jurdica para via-

    bilizar tal proposta.

    Nilo Batista, em Introduo

    crtica ao direito penal brasileiro,

    cita Zaffaroni, quando trata da ques-

    to da co-culpabilidade do Estado:

    Reprovar com a mesma intensida-

    de a pessoas que ocupam situaes

    de privilgio e a outras que se acham

    em situao de extrema penria

    uma clara violao ao princpio da

    igualdade corretamente entendido.

  • 31Direito, Justia e Memria

    Jos Afonso da Silva destaca

    a responsabilidade da famlia. Essa,

    que recebe a proteo estatal, no

    tem s direitos, mas o grave dever,

    juntamente sociedade e o Estado,

    de assegurar, com absoluta priori-

    dade, os direitos fundamentais da

    criana e do adolescente enumera-

    dos no art. 227 da CR.

    A maioria desses jovens mal

    sabe ler e escrever, foram criados

    em vilas e favelas, quase todos so

    negros, vtimas de um histrico de

    desigualdade social, preconceito e

    corrupo. Segundo dados da Uni-

    cef, 45% das crianas e adolescentes

    brasileiros so pobres.

    Para Michel Foucault, o ser

    humano tem uma forma particular

    de se relacionar com aquilo que re-

    jeita, ele interna. A internao no

    o sistema mais eficiente de punir.

    Ao contrrio, criamos uma organi-

    zao terrorista dentro da prpria

    sociedade, que tende a crescer e a

    se organizar. Por isso, a pena pri-

    vativa de liberdade ser, sempre, a

    ultima ratio legis, ou seja, a ltima

    sada para a indispensvel manu-

    teno da ordem jurdica.

  • Direito, Justia e Memria

    Data/Pgina24 de setembro de

    2007, pg. 02

    As comisses de conciliao

    prvia so uma afronta ao artigo 5

    da Constituio Federal Brasileira? A

    pergunta acima algo que o advoga-

    do (geralmente do reclamante) afir-

    ma veementemente ser inconstitu-

    cional, quando a reclamada argi, na

    contestao, a inpcia da inicial, por

    no ter termo de acordo emitido pelas

    comisses de conciliao prvia.

    As mesmas foram institudas

    por meio da Lei n 9.958 de 2000,

    que acrescentou os artigos 625-A a

    625-H, na Consolidao das Leis do

    Trabalho (CLT). Essa norma tambm

    tornou o termo de conciliao ttulo

    executivo extrajudicial, conforme ar-

    tigo 625-E do mesmo dispositivo legal.

    A conciliao objeto primordial do

    processo trabalhista que, ao longo

    do tempo, tem dirimido conflitos en-

    tre empregadores e empregados, o

    que caracteriza a Justia trabalhista

    como uma das mais cleres.

    Tais comisses vieram desafo-

    garas diversas demandas trabalhis-

    tas que existem hoje nos tribunais. de

    acordo com estatstica do Tribunal

    Superior do Trabalho (TST), em 2005,

    de todas as aes impetradas na Jus-

    tia do Trabalho no pas, 443% resul-

    taram em conciliaes. Nesse mesmo

    ano, foram recebidos no TST 116.294

    processos, nos TRTs, 544.828, e nas

    CONFLITOS ENTRE PATRES E EMPREGAdOSISRAEL GONZAGA FERREIRAAluno do 8 perodo da Escola de direito do Centro Universitrio Newton Paiva

    Aluno: Israel Gonzaga Ferreira

    Texto: Conflitos entre patres e empregados

  • 34 Direito, Justia e Memria

    Varas do Trabalho espalhadas por

    todo o pas, 1.739342, somando um

    total 2.400.364 lides.

    A partir da, nota-se a impor-

    tncia do artigo 625-d da CLT. Con-

    forme dados do TST, quase metade

    dessa demanda no precisaria ter

    chegado Justia. O artigo supraci-

    tado em nada contraria o artigo 5,

    inciso XXXV, da Constituio Fede-

    ral. No existe nenhuma afronta ao

    princpio do livre acesso ao Poder

    Judicirio, uma vez que no existe

    impedimento para ingresso de ao

    na Justia, mas, sim, a exigncia de

    um pr-requisito.

    Tal entendimento j pacfico

    em vrios acrdos do TST. O artigo

    114 da Constituio Federal, em seu

    2, e o artigo 616, da CLT, exigem

    esse instituto para o ingresso da

    ao nos casos de dissdio coletivo.

    No necessria a chegada do pro-

    cesso ao tribunal para se transa-

    cionar, uma vez que isso pode ser

    feito antes. No havendo acordo ou

    quando o empregado no puder e

    no quiser dispor de direito seu, a,

    sim, poder submeter sua demanda

    apreciao do judicirio, conforme

    os 2 e 3 do artigo 625-d da CLT.

    A inovao da Lei n 9.958 de

    2000 no prejudica empregados e

    empregadores. Pelo contrrio, traz

    benefcios para ambas as partes,

    exemplo que a empresa fica livre

    de custas processuais e o empregado

    tem seus direitos garantidos, sem a

    necessidade de procurar o judicirio.

    O que geralmente ocorre no

    Brasil o desvirtuamento de tudo

    que criado. As comisses de con-

    ciliao prvia foram criadas com o

    objetivo de trazer benefcios para

    as pessoas envolvidas na relao

    de trabalho - empresa e empregado

    - alm de buscar o desafogamento

    do judicirio.

    Entretanto, advogados j no-

    ticiam que comisses ligadas a sin-

    dicatos tm chegado a cobrar at

    mesmo o percentual de 20% do valor

    da causa para possveis solues de

    conflitos, enquanto na Justia do

    Trabalho no existe nus nenhum

    para o reclamante.

    vedada a cobrana indevi-

    da de taxa de conciliao realiza-

    da, bem como qualquer percentual

    sobre o resultado da negociao. A

    tabela de honorrios da OAB prev

    a cobrana do mesmo percentual

    para o patrocnio do reclamante

    em uma ao trabalhista. Contudo,

    sob o ponto de vista dessa portaria

    editada pelo TST, ilegal a cobran-

    a de qualquer valor por parte das

    comisses, pois assim elas perdem

    a finalidade para a qual foram cria-

    das. A portaria supracitada no

  • 35Direito, Justia e Memria

    probe a cobrana de verba de cus-

    teio para as comisses, entretanto,

    o artigo 149 da Constituio Federal

    veda expressamente tal ato, uma

    vez que de competncia exclusiva

    da Unio a autorizao de contri-

    buio sindical.

    Por isso, alm da anlise cons-

    titucional da lei, deve ser feita a

    anlise teleolgica do caso, para ve-

    rificar a real eficcia da norma, pois

    quando ela criada para facilitar e

    melhorar a vida de muitos, outros j

    pensam em mil maneiras de burl-la.

  • Direito, Justia e Memria

    Data/Pgina23 de julho de 2007,

    pg. 02

    Ao longo de sculos, tem se

    discutido diversos temas. Entre eles,

    como marco principal, se encontram

    os direitos humanos fundamentais.

    Essa expresso surge com a necessi-

    dade de limitar o poder dos chefes de

    Estado, os quais usavam sua autori-

    dade para ferir a dignidade humana.

    Nasce, nesse momento, a conscincia

    de que o respeito aos direitos do ser

    humano o alicerce de um Estado de-

    mocrtico de direito.

    Sua histria remota. Consta-

    ta-se o surgimento dos direitos huma-

    nos fundamentais em alguns sculos

    a.C no antigo Egito e Mesopotmia.

    Na sociedade arcaica, 4.000 a.C, esta-

    beleceu-se o que era lcito, e ocorria

    o julgamento para quem infringisse

    as leis. A partir de 1.175 a.C., nasce

    o Cdigo de Hamurabi, constitudo de

    diversos artigos, tais como: direito

    vida, propriedade, honra, digni-

    dade, igualdade, supremacia das

    leis em relao aos governantes.

    A influncia filosfica tambm

    foi bastante expressiva, como Antgo-

    na de Sfocles defendendo o direito

    natural, considerado universal, me-

    tafsico, indivisvel e imutvel. No en-

    tanto, percebemos no direito romano

    um maior destaque, ao vis-lo como

    tutela do direito, criando-se normas

    para resolver litgios sociais.

    RESPEITO AOS dIREITOS HUMANOSVALdEANA dIAS dOS SANTOSAluna do 5 perodo da Escola de direito do Centro Universitrio Newton Paiva

    Aluno: Valdeana dias dos Santos

    Texto: Respeito aos direitos Humanos

  • 38 Direito, Justia e Memria

    Os direitos humanos funda-

    mentais tm caractersticas essen-

    ciais tais como: a imprescritibilidade

    (no perde sua validade pelo decur-

    so do tempo); a inalienabilidade (no

    pode ser transferido); a irrenuncia-

    bilidade (no pode ser renunciado);

    a inviolabilidade (no pode ser viola-

    do, principalmente por funcionrios

    pblicos): a universalidade

    (pertence a todos os indivduos, in-

    dependentemente de raa, cor, cre-

    do ou convico poltico-filosfica);

    a efetividade (o poder pblico tem

    que fazer prevalecer as garantias

    contidas na Constituio); a iso-

    nomia (todos so iguais perante a

    lei), entre outras.

    A Constituio Federal vm

    consagrar e proteger os valores in-

    dividuais do ser humano, que, por

    vezes, to vulnervel e oprimido.

    Em seu artigo 5 ela ressalta que

    todos so iguais perante a lei, sem

    distino de qualquer natureza, ga-

    rantindo-se aos brasileiros e aos

    estrangeiros residentes no pais a

    inviolabilidade do direito vida,

    liberdade, igualdade, segurana

    e propriedade (...).

    O Estado tem como dever pro-

    porcionar essas garantias, de forma

    ampla e eficaz, sendo esse o grande

    desafio para as autoridades brasilei-

    ras. Percebemos de forma ntida um

    desequilbrio em relao participa-

    o efetiva da sociedade para alcan-

    ar aquilo que seu por direito.

    A populao, desacreditada,

    cria uma concepo errnea de que

    direitos humanos so institutos de

    proteo aos delinquentes ou s au-

    toridades, afastando daqueles que

    infringiram a lei qualquer tipo de

    punio. Contudo, ao contrrio, estes

    s existem para proporcionar ao ho-

    mem um devido processo legal, com

    todos os seus direitos e garantias de-

    clarados na Constituio da Repbli-

    ca Federativa do Brasil de 1988.

    Constatamos ainda, apesar de

    tantos defensores que acreditam e

    confiam nessa misso, vrios casos

    de injustia e de condenao social

    para aqueles que lutam por essa cau-

    sa, que participam efetivamente da

    trajetria dos que tm conduta des-

    viante, mas que merecem um mni-

    mo de dignidade e respeito por parte

    da sociedade, sobretudo desses que

    operam esta arma to poderosa e de

    transformao que o direito.

    As demonstraes de barbari-

    dades que observamos no dia-a-dia,

    infelizmente, so decepcionantes e

    merecedoras de toda a nossa indig-

    nao. Mas, ser que ao proporcio-

    narmos uma situao desumana a

    essas pessoas resolveramos a situ-

    ao do nosso pas?

  • 39Direito, Justia e Memria

    Mediante isso, nasce a neces-

    sidade de aflorar uma conscientiza-

    o. Assim dizia Afonso Arinos: A

    eficcia de um conjunto de normas

    desse tipo, ainda que adotado ofi-

    cialmente por quase todos os Esta-

    dos, depende muito da penetrao

    dos seus princpios na conscincia

    coletiva dos povos, e, atravs dela,

    nas diretrizes dos governos.

    Em suma, constatamos a im-

    portncia desses direitos para a so-

    brevivncia de qualquer sociedade,

    principalmente em um Estado demo-

    crtico de direito. A lei foi promul-

    gada. necessrio que a sociedade

    tome conhecimento e faa valer o

    seu direito tico, universalmente v-

    lido. A omisso no pode perpetuar,

    pois a efetivao dos direitos huma-

    nos fundamentais cabe a cada um de

    ns, brasileiros ou estrangeiros, in-

    dependentemente.de raa, cor, credo

    ou convico poltico-filosfica.

    Muitos enxergam esses direi-

    tos como uma utopia. Entretanto,

    precisamos pensar em um pas me-

    lhor, com igualdade e respeito. Como

    disse o mesmo Afonso Arinos: No

    se pode separar o reconhecimento

    dos direitos individuais da verdadei-

    ra democracia.

  • Direito, Justia e Memria

    Data/Pgina15 de dezembro de

    2008, pg. 02

    O direito sade faz parte dos

    chamados direitos sociais, que tm

    como inspirao o valor da igualdade

    entre as pessoas. durante a Consti-

    tuinte de 1988 as responsabilidades do

    Estado foram repensadas e promover a

    sade de todos passou a ser seu dever,

    principalmente para os doentes com

    enfermidades graves como o cncer.

    A sade um direito de todos,

    porque sem ela no h condies

    de uma vida digna, e um dever do

    Estado, visto que financiada pelos

    impostos pagos pela populao. des-

    ta forma, para que esse direito seja

    uma realidade preciso que o Esta-

    do crie condies de atendimento em

    postos de sade, hospitais, progra-

    mas de preveno, medicamentos etc.

    E, alm disso, que esse atendimento

    seja universal (atingindo a todos os

    que precisam) e integral (garantindo

    tudo o que a pessoa precise).

    O Sistema nico de Sade

    (SUS) foi criado pela Constituio

    Federal de 1988 e regulamentado

    pelas leis 8.080/90 e 8.142/90. A ideia

    do SUS mais que simplesmente

    disponibilizar postos de sade e

    hospitais. Infelizmente esse sistema

    ainda no est completamente orga-

    nizado, no entanto, alguns direitos

    esto garantidos e devem ser cobra-

    dos para que sejam cumpridos.

    dIREITO SAdE AOS PACIENTES COM CNCERLUCIANA MATOZINHOSAluna do 10 perodo da Escola de direito do Centro Universitrio Newton Paiva

    Aluno: Luciana Matozinhos

    Texto: O direito Sade aos pacientes com cncer

  • 42 Direito, Justia e Memria

    Se o Estado no pode propor-

    cionar diretamente um tratamento

    ou, quando um procedimento no

    assegurado pelo SUS, ou, ainda, no

    est contemplado nas leis, deve, com

    base no princpio da isonomia da

    administrao pblica, por meio da

    aplicao de critrios mdico-cient-

    ficos (por meio de laudos e exames),

    fixar e autorizar os tratamentos e

    remdios que devem ser fornecidos

    ao indivduo. Entretanto, para que

    isso ocorra, muitas vezes, o paciente

    precisa recorrer a justia.

    No momento em que a Consti-

    tuio Federal dispe em seu artigo

    196 que a sade direito de todos

    e dever do Estado, isso significa

    que todos, sem exceo, acometi-

    dos de qualquer doena, inclusive

    cncer, tm o direito a tratamento

    pelos rgos de assistncia mdica

    mantidos pela Unio, pelos estados

    e pelos municpios.

    A questo das polticas nacio-

    nais de controle do cncer, mais uma

    vez, passa desapercebida do debate

    pblico. No raro, ouve-se dos espe-

    cialistas de oncologia a crtica de

    que a estratgia governamental de

    combate doena ainda limita-se a

    aes de campanhas pontuais. Com

    resultados para l de modestos, le-

    vando profissionais e autoridades da

    rea a perguntarem se de fato existe

    alguma poltica efetiva de combate

    ao cncer no pas. Na verdade isso

    uma utopia, visto que desconhe-

    cida qualquer poltica de sade que

    venha abranger o cncer.

    O SUS envolve ainda duas ou-

    tras questes que devem ser encara-

    das pelas autoridades. Em primeiro

    lugar, ao deixar de cobrir procedi-

    mentos como o home-care (cuidados

    em casa), muitas vezes acaba ar-

    cando com despesas maiores; neste

    caso, mantendo a internao do pa-

    ciente no hospital. Outro ponto o

    alto patamar dos custos da medicina

    moderna. Torna-se necessria a am-

    pliao dos medicamentos oncolgi-

    cos com iseno de impostos.

    A incidncia do cncer cresce

    no Brasil, como em todo o mundo,

    num ritmo que acompanha o enve-

    lhecimento populacional decorrente

    do aumento da expectativa de vida.

    com essa perspectiva que o direito

    sade deve ser tratado, porque

    um direito fundamental sem o qual

    no se realiza efetivamente a digni-

    dade da pessoa.

    Tem-se uma problematiza-

    o: de um lado est um sistema

    com filas, falhas e carncias bsi-

    cas. de outro, a lei, que prev aces-

    so universal sade e assegura

    que aqueles pacientes necessita-

    dos de remdios excepcionalmente

  • 43Direito, Justia e Memria

    caros tero a medicao fornecida

    pelo Estado. Equilibrar as duas de-

    mandas o desafio.

    O problema do acesso sade,

    especialmente sade pblica, se

    insere em uma questo bem maior,

    que o da generalizada carncia do

    pas. H uma expressiva quantidade

    de cidados carentes e o Estado tem

    inmeras necessidades sem recur-

    sos suficientes para custe-las. Essa

    situao deficitria encontra mlti-

    plas causas, dentre as quais esto

    problemas de gesto administrativa.

    Mas um erro acreditar que somen-

    te eles sejam os responsveis pelo

    quadro que se apresenta.

    O problema da efetivao das

    polticas pblicas traz inserido a dis-

    cusso do papel a ser exercido pelo

    Poder Judicirio. imprescindvel

    uma nova postura dos operadores

    jurdicos e do administrador pblico

    diante da Constituio de 1988, de

    modo que a sua atuao seja apro-

    priada aos novos direitos.

  • Direito, Justia e Memria

    Data/Pgina25 agosto de 2008,

    pg. 02

    Abolir a corrupo no Brasil

    ainda um dos maiores desafios

    no Pas. Isso porque tal prtica,

    comum nos dias atuais, tanto na

    Justia brasileira como nas esferas

    dos poderes Executivo e Legislati-

    vo - alvos de denncias de atos cor-

    ruptos e ilcitos, no fato recente

    na histria. No entanto, conside-

    rando-se o direito como dinmico

    e renovado, algumas aes dos ma-

    gistrados vm apontando efetivas

    mudanas no poder Judicirio bra-

    sileiro, j que alguns operadores

    jurdicos mostram-se comprometi-

    dos com a justia em verdadeiras

    aes de cidadania.

    Vrios momentos histricos

    de corrupo, nas mais diversas

    formas, marcam os 508 anos do

    Brasil, e o Judicirio vem se des-

    tacando como um poder, cada vez

    mais, fortalecido. O que se deve le-

    var em considerao que, desde a

    descoberta do novo mundo, as

    bases da formao jurdica nacional

    foram fundadas com a imposio do

    direito portugus por meio da bu-

    rocracia, da troca de favores e das

    relaes pessoais de parentesco.

    CORRUPO: UM dOS LEGAdOS dA COLONIZAOSILVIA IGLSIASAluna do 4 perodo da Escola de direito do Centro Universitrio Newton Paiva

    Aluno: Slvia Iglsias

    Texto: Corrupo: um dos legados da colonizao

  • 46 Direito, Justia e Memria

    Nessa configurao, estruturou-se

    o direito no Brasil: de um lado, uma

    elite com esquemas formados de

    corrupo e manuteno de status;

    de outro, magistrados dispostos a

    tudo para garantir privilgios para

    si e para os seus.

    desde os primrdios, o direi-

    to nacional no representou a con-

    tento os interesses do bem comum

    da coletividade. O papel dos juzes,

    por exemplo, que j era o cargo mais

    importante do poder Judicirio, con-

    siderando os pontos relevantes para

    tomadas de decises, dava-se com

    base na lei ou nos aspectos subje-

    tivos. Enquanto algumas heranas

    histricas se perpetuam ainda nos

    dias atuais, outras tiveram grande

    evoluo para o exerccio da cida-

    dania. A legislao no era expres-

    so da vontade das populaes ori-

    ginrias e nativas, e sim imposio

    respaldada na dominao das elites

    agrrias. diferentemente, existem,

    hoje, um regime democrtico par-

    ticipativo e a consolidao de uma

    identidade cultural e nacional.

    Com a democratizao do Pas,

    depois de 20 anos de ditadura, a cor-

    rupo tem sido constantemente co-

    locada no banco dos rus e, mesmo

    em um processo lento, os resultados

    tm sido muito benficos, j que a

    sociedade tem exigido respostas

    mais rpidas, tendo como afiada a

    imprensa, que traz a lume as suspei-

    tas de irregularidades. Isso reflete a

    responsabilidade maior do Judici-

    rio em dirimir as controvrsias com

    imparcialidade e segurana, ainda

    que pese na mais alta cpula do po-

    der - o Supremo Tribunal Federal

    (STF) - a atuao de ministros esco-

    lhidos pelo presidente da Repblica.

    Entre muitos casos envolven-

    do magistrados, a maioria j chega

    ao conhecimento da opinio pblica.

    O julgamento histrico em 2007 foi

    mais uma ao que devolveu a con-

    fiana ao poder Judicirio, desven-

    dando amplo esquema de corrupo

    poltica - o conhecido mensalo.

    Ao transformar os 40 denunciados

    em rus, em um processo criminal,

    o STF cumpriu seu papel e se agi-

    gantou como uma instituio slida

    e soberana, j que nunca ocorreu um

    processo como esse na histria dos

    tribunais, tendo em vista o interesse

    poltico que envolvia a questo.

    Atualmente, as denncias

    chegam ao conhecimento da popu-

    lao, com consideraes amplas

    e geis e atuao extensiva da im-

    prensa. So inmeras denncias de

    corrupo na magistratura. como a

    venda de sentenas, abuso de poder

    em benefcio prprio e at mesmo li-

    berao de habeas corpus a pesso-

  • 47Direito, Justia e Memria

    as que no fazem jus a esse direito,

    assegurado constitucionalmente,

    entre outras. Muitos so julgados

    e transitados independentemente

    de qualquer status, mas a impuni-

    dade ainda realidade no Brasil.

    Isso pelo formalismo que conduz s

    injustias pelos influentes reinan-

    tes nas esferas de alto escalo.

    Consciente e crtica, a nao

    brasileira poder construir um pas

    verdadeiramente democrtico, como

    assegurado na Constituio Fe-

    deral. Basta conhecer a histria no

    passado para compreender a rea-

    lidade atual e comear a agir para

    mudanas eficazes e urgentes. Mas

    ser que a sociedade realmente tem

    criado mecanismos para coibir a

    corrupo ou acredita-se que a im-

    prensa tem atuado de forma mais

    cidad no que tange s denncias de

    forma isenta e explicita, com o de-

    vido acompanhamento das prticas

    dos magistrados e dos operadores

    do Legislativo e Executivo?

  • Direito, Justia e Memria

    Data/Pgina06 de abril de 2009,

    pg. 02

    A transferncia do direito de

    construir sustentada na separao

    entre o direito de propriedade e o

    direito de construir e na questo da

    funo social da propriedade. S pas-

    sou a fazer parte do mundo jurdico

    brasileiro em 2001, com a publicao

    do Estatuto da Cidade. No entanto,

    pode-se observar que esse recurso

    vem sendo utilizado e regulamentado

    em leis municipais h algum tempo.

    Na dcada de 1970, o Centro de

    Pesquisas da Administrao Munici-

    pal (Cepam), sediado em So Paulo,

    foi palco de estudos realizados com o

    intuito de regulamentar o solo cria-

    do, instituto urbanstico inovador

    que previa a possibilidade de criar so-

    los artificiais, no mais dependendo

    apenas da extenso da rea do solo

    natural. desses estudos, originou-se

    um documento denominado Carta de

    Embu, de 1976.

    Esse documento previa aos pro-

    prietrios que sofressem limitaes

    administrativas a possibilidade de

    transferncia do potencial construti-

    vo, isto , aqueles que ficassem impe-

    didos de utilizar em sua plenitude o

    coeficiente nico de edificao pode-

    riam transferir a parcela no utiliz-

    vel do direito de construir. No caso do

    imvel tombado, ao proprietrio to-

    ma-se facultado o direito de alienar o

    TOMBAMENTO E O dIREITO dE CONSTRUIRHERBERT SILVA qUINTOAluno do 10 perodo da Escola de direito do Centro Universitrio Newton Paiva

    Aluno: Herbert Silva quinto

    Texto: Tombamento e o direito de Construir

  • 50 Direito, Justia e Memria

    direito de construir correspondente

    rea no edificada at alcanar o

    coeficiente de aproveitamento.

    Em Belo Horizonte, esse ins-

    trumento foi apresentado pela Lei

    Orgnica de 1990, sendo institudo

    em 1994 por meio da Lei 6.706/94. No

    caso de programas habitacionais,

    essa lei autoriza que seja transferido

    at 50% do saldo de potencial cons-

    trutivo da rea. diferentemente dos

    demais empreendimentos, que tm

    como limite de recepo da transfe-

    rncia o ndice de 20% excedente do

    coeficiente do potencial construtivo.

    Por meio da Lei 8.766/96, a uti-

    lizao desse instrumento por Belo

    Horizonte foi ampliada para alm

    da preservao do patrimnio cultu-

    ral e da implantao de programas

    habitacionais, isto , visa tambm a

    preservao de reas de interesse

    ambientai. Em 27 de agosto de 1996,

    foram sancionadas as leis 7.165/96 e

    7.166/96, respectivamente, o Plano

    diretor e a Lei de Uso e Ocupao do

    Solo, trazendo modificaes legis-

    lao e regulamentao da trans-

    ferncia do direito de construir.

    O Plano diretor da capital

    disps em seu titulo IV, captulo I,

    a possvel transferncia do direito

    de construir, sendo regulamentada

    peio decreto 9.616, de 26 de junho

    de 1998. Esse decreto dispe em seu

    artigo 2 que as reas de interesse

    ambiental (AdE), zona especial de

    interesse social (ZEIS) e os imveis

    tombados so passveis de transfe-

    rncia do potencial construtivo. de-

    fine tambm as reas passveis de

    serem receptoras do potencial cons-

    trutivo de acordo com a Lei de Par-

    celamento, Ocupao e Uso do Solo

    Urbano de Belo Horizonte.

    Com o intuito de incentivar a

    preservao do patrimnio histri-

    co e minimizar o impacto financeiro

    sofrido pelos proprietrios de bens

    imveis tombados pelo municpio,

    a Prefeitura de Belo Horizonte es-

    tabeleceu medidas compensatrias

    para esses proprietrios. Entre elas,

    destacam-se a iseno de Imposto

    Predial Territorial Urbano (FTU) e

    a Transferncia do direito de Cons-

    truir (TdC). A Lei 3.640/83 oferece

    aos proprietrios de imveis tomba-

    dos pelos rgos de proteo ao pa-

    trimnio histrico e cultural desde

    que comprovado a preservao do

    mesmo.

    Atualmente regulamentada

    pelo decreto 5.531/86, a utilizao

    desse instrumento urbanstico vem

    crescendo a cada ano; e consequen-

    temente a preservao do patrim-

    nio histrico, cultural e ambiental do

    municpio.

  • Direito, Justia e Memria

    Data/Pgina16 de maro de 2009,

    pg. 02

    Em nossa sociedade, a tica

    vem ganhando destaque no mundo

    jurdico, principalmente no que tan-

    ge formao do perfil do advoga-

    do. Podemos ver claramente que a

    relao cliente e advogado deve ser

    pautada nos princpios da verda-

    de absoluta, na qual jamais dever

    existir a ocultao de dados por am-

    bas as partes que envolvam o pro-

    cesso, dando assim a mais ampla

    veracidade ao mesmo. desse modo,

    estaremos respeitando no somen-

    te os atores da lide, mas a socie-

    dade como um todo, no entorno de

    transmitir um conforto e uma maior

    segurana, o que vem garantir a pri-

    mazia da paz social.

    Na viso de Plcido e Silva,

    tica definida como A cincia da

    moral, (...) sobre a expresso de ti-

    ca profissional, para indicar a soma

    de deveres, que estabelece a norma

    de conduta do profissional no de-

    sempenho de suas atividades e em

    suas relaes com o cliente e todas

    as demais pessoas com quem possa

    ter trato.

    dEVER dO AdVOGAdO

    ANA PAULA dA SILVA, FABOLA MENdONA NIKOLAU,

    JOS HENRIqUE dOS SANTOS, LILIANA MARA dA SILVA MENdONA,

    LUIZ ANTNIO BRAGA, MARIA REGINA SOARES MOREIRAAlunos do 7 perodo da Escola de direito do Centro Universitrio Newton Paiva

    Aluno: Ana Paula da Silva, Fabola Mendona Nicolau, Jos

    Henrique dos Santos, Liliana Mara da Silva Mendona, Luz

    Antnio Braga, Maria Regina Soares Moreira

    Texto: O dever do advogado

  • 52 Direito, Justia e Memria

    Consoante ao Cdigo de tica

    da Ordem dos Advogados do Brasil

    (OAB) em seu artigo 1: Os deveres

    do advogado compreendem, alm da

    defesa dos direitos e interesses que

    lhes so confiados, o zelo do prestgio

    de sua classe, da dignidade da ma-

    gistratura, no aperfeioamento das

    instituies de direito, e, em geral, do

    que interesse ordem jurdica.

    No exposto, destarte que se

    voga ao princpio da lealdade pro-

    cessual, na qual todas as partes

    devem atuar no processo com ti-

    ca, combater a acusao, articular

    a defesa e exigir a fidelidade or-

    dem profissional. No exerccio da

    profisso, preciso que o advoga-

    do tenha conhecimento do universo

    jurdico para que possa atuar com

    independncia tcnica e confiana

    nos seus atos, desta maneira, hon-

    rosamente vai praticar a defesa do

    envolvido, desvinculada da satisfa-

    o da moral pblica.

    Mister observar que o advo-

    gado deve ter sempre uma distn-

    cia entre seu ntimo e a causa do

    cliente, de modo a traduzir a mais

    nfima pureza na conduo da de-

    fesa ou da acusao, demonstran-

    do que o importante no conse-

    guir uma vitria, e sim efetivar a

    utilizao das leis a benefcio da-

    quele que necessita de socorro.

    Nessa posio, aludimos os

    casos veiculados na midia dos quais

    pai e madrasta matam, esquartejam

    e queimam os filhos e a Operao

    Satiagraha e tantos outros. Apesar

    de a opinio pblica j os terem con-

    denado, todos merecem se valer dos

    princpios constitucionais do devido

    processo legal e da ampla defesa, o

    que vem traduzir assim a obrigao

    do advogado em negar-se da opinio

    pblica para que possa atuar com

    observncia das normas jurdicas no

    combate ao destino j intitulado peta

    sociedade que a condenao.

    O operador do direito tem por

    obrigao demonstrar ao cliente

    que os atos a serem praticados no

    lhe daro uma certeza de xito em

    seu pleito, mas sim garantir a esse

    que todos os procedimentos legais

    sero utilizados para obteno da

    justia. Cabe assim arguir que o

    advogado indispensvel admi-

    nistrao da Justia. Ao advogado

    procurado por um cliente no cabe-

    r garantir a conquista do ato alme-

    jado, mas sim trabalhar no sentido

    de conseguir o melhor, tendo como

    objetivo envidar todos os esforos

    possveis dentro da tica profissio-

    nal e da lealdade processual.

    Essa postura vem dos ensi-

    namentos do ilustre Rui Barbosa.

    Para alcanar o objetivo pretendido,

  • 53Direito, Justia e Memria

    necessrio ter em mente o real pa-

    pel do advogado, que se pautar na

    dignidade da pessoa humana, vonta-

    de pela busca da verdade e tica ao

    trabalhar com todas as dificuldades

    que possam envolv-lo em relao

    viso maledicente da sociedade.

    Conclumos assim que o pro-

    fissional do direito deve trabalhar de

    forma a trazer tona todos os meios

    legais que possam traduzir um jul-

    gamento voltado para justia verda-

    deira, e no manipulada, conforme

    a viso egostica da sociedade, que

    no deixa permear os ensinamentos

    de Rui Barbosa consoante o Cdigo

    de tica do advogado, artigo 87, XII:

    Recusar o patrocnio de causa que

    considere imoral ou ilcita, salvo a

    defesa em processo criminal.

  • Direito, Justia e Memria

    Data/Pgina21 de setembro de

    2009, pg. 02

    A progresso de regime para

    presos por crimes dolosos de di-

    fcil aceitao para a realidade

    brasileira, j que grande parte da

    populao defende a restrio do

    direito de um criminoso de sair s

    ruas enquanto cumpre pena. No en-

    tanto, a progresso de regime um

    direito do preso, que no lhe pode

    ser negado. Isto , no decorrer do

    cumprimento de uma pena privativa

    de liberdade, o preso tem o direito

    de cumprir um regime mais brando

    nas seguintes condies de clausu-

    ra: nos regimes fechado, semi aber-

    to e aberto, conforme legislao

    disposta nos artigos 34, 35 e 36 do

    Cdigo Penal (CP).

    No regime fechado, o preso per-

    manece no estabelecimento prisional

    trabalhando ou estudando durante o

    dia e fica no isolamento noite (arti-

    go 34, CP), enquanto no regime semi

    aberto, o condenado fica sujeito a

    trabalho em comum durante o per-

    odo diurno em colnia agrcola, in-

    dustrial ou estabelecimento similar

    (artigo 35, CP), podendo exercer tra-

    balho externo ou estudar, limitando

    sua sada ao horrio das atividades.

    REINSERO dO CONdENAdO NA SOCIEdAdEVICTOR MARCOS OLIVEIRA dE ASSISAluno do 8 perodo da Escola de direito do Centro Universitrio Newton Paiva

    Aluno: Victor Marcos Oliveira de Assis

    Texto: Reinsero do Condenado na Sociedade

  • 56 Direito, Justia e Memria

    Ao contrrio do que a maio-

    ria pensa, no regime semi aberto o

    preso no sai durante o dia e dor-

    me no estabelecimento prisional

    noite. Essa uma permisso do

    regime aberto, em que, segundo o

    artigo 36 do CP, o preso pode tra-

    balhar, estudar ou exercer outra

    atividade autorizada, permanecen-

    do recolhido durante o perodo no-

    turno e nos dias de folga.

    Vale ressaltar que a progres-

    so de regime no direito de qual-

    quer preso. necessrio que ele

    preencha alguns requisitos e prefe-

    rencialmente possa demonstrar, de

    forma efetiva, ao Estado que pode

    confiar nele novamente. No entan-

    to, o direito existe e inerente

    aceitao social.

    Para que se possa entender

    a importncia da progresso de

    regime necessria a quebra de

    paradigma em relao ao assunto:

    o de que a pena tem como objetivo

    castigar o criminoso. Na verdade, a

    funo da pena a ressocializao

    do preso, de forma a permitir que,

    com a condenao, ele possa se

    reintegrar sociedade. quando um

    criminoso preso em regime fecha-

    do, ele desenvolve, dentro do estabe-

    lecimento prisional, atividades que

    lhe permitem a possibilidade de se

    ressocializar. J direitos como estu-

    dar e frequentar cursos profissiona-

    lizantes so possveis apenas para

    os presos dos regimes semi aberto e

    aberto. medida que o preso avan-

    a em relao s atividades de res-

    socializao, ele vai alcanando a

    liberdade. Caso ele no tenha o com-

    portamento adequado depois da pro-

    gresso, poder regredir de regime,

    retornando para um mais rigoroso.

    Entende-se, ento, que a possibilida-

    de de progresso funciona como um

    incentivo para sua ressocializao.

    O direito formal estabelece,

    por meio do CP, a determinao dos

    requisitos para o alcance do benef-

    cio: o bom comportamento e o cum-

    primento de pelo menos um sexto

    da pena. Ou seja, durante o perodo

    em que o preso cumpre a parcela

    exigida da pena, ele ter a chance

    de mostrar bom comportamento e

    que realmente quer ser reintegrado

    sociedade. Um preso que participa

    de uma rebelio nunca progredir

    de regime porque o direito ao bene-

    fcio somente para aqueles que tm

    comportamento excepcional.

    Enfim, a possibilidade de

    progresso de regime permite que

    o preso se ressocialize enquanto

    cumpre sua pena, o que viabiliza

    gradativa reinsero na vida social.

    certo que o sistema penitencirio

    brasileiro, dadas as suas condies,

  • 57Direito, Justia e Memria

    no contribui para a correo do

    criminoso. Porm, tal fato no mo-

    tivo para que a progresso de regi-

    me penal perca seu valor. E, se em

    tais condies o preso preencha os

    requisitos para a progresso, no se

    pode negar que ele a merea.

    Conclui-se, dessa forma, que

    a resistncia da sociedade em

    aceitar a progresso se d por fal-

    ta de informao. ento dever do

    jurista, como operador do direito,

    expor sociedade os fundamentos

    da aplicao das normas jurdicas.

    quando a sociedade compreende

    os fundamentos do direito penal,

    ela est apta a aceitar aquele que

    paga sua dvida com a sociedade.

    desse modo, a pena pode cumprir a

    sua funo social: devolver, reedu-

    cado, aquele que comete um delito

    ao seio da sociedade.

  • Direito, Justia e Memria

    Data/Pgina31 de agosto de

    2009, pg. 02

    A priso preventiva um insti-

    tuto do direito processual penal pre-

    visto nos artigos 311a 316 do Cdigo

    de Processo Penal (CPP).

    Seus objetivos principais so

    impedir que o acusado, durante a fase

    de inqurito policial ou da instruo

    criminal, promova atos que dificultem

    ou impeam a formao de provas

    testemunhais ou materiais contra ele

    ou, ainda, quando o mesmo apresenta

    real possibilidade de fuga, frustrando

    a possvel execuo de sentena con-

    denatria. Conforme o disposto no

    artigo 312 do CPP, a priso preventiva

    pode tambm ser decretada se o acu-

    sado continuar comprovadamente a

    praticar ilcitos penais com perturba-

    o da ordem pblica ou econmica.

    A priso procedimento de alta

    capacidade punitiva, tendo em vista

    que invade diretamente o direito li-

    berdade. A utilizao preventiva desse

    ato deve ser analisada de modo extre-

    mamente criterioso para que a temida

    arbitrariedade e a afronta aos direitos

    e garantias constitucionais individu-

    ais no venham a acontecer, assim se

    sustentando o Estado de direito.

    quando for utilizada em ca-

    rter preventivo, importante con-

    siderar os critrios que venham a

    dar embasamento ao exerccio da

    priso preventiva, uma vez que os

    A PRISO PREVENTIVA E O ESTAdO dE INOCNCIACLIFORd ROSA E SILVAAluno do 10 perodo da Escola de direito do Centro Universitrio Newton Paiva

    Aluno: Cliford Rosa e Silva

    Texto: A priso preventiva e o estado de inocncia

  • 60 Direito, Justia e Memria

    requisitos para a aplicao dessa

    no podem se alicerar apenas em

    suposies de situaes vindouras

    e condicionais subjetivas ligadas

    ao acusado.

    Pergunta-se: ser admissvel

    priso preventiva no caso de pairar

    sobre o acusado a suspeita de que

    esse venha a dificultar ou impedir

    a produo de provas, ou que apre-

    sente uma futura real possibilidade

    de fuga? No h de se responder a

    tal questo de maneira generalista

    e padronizada, correndo-se o risco

    de a afirmativa colidir com os princ-

    pios e as regras constitucionais das

    garantias individuais.

    O estado de inocncia princ-

    pio constitucionalmente estabelecido

    no ditame do artigo 5, LVII: Ningum

    ser considerado culpado at o trn-

    sito em julgado da sentena penal

    condenatria. Ou seja, somente aps

    sentena condenatria definitiva

    que uma pessoa poder ser aponta-

    da como culpada por delito criminoso

    cometido. Portanto, durante todos os

    procedimentos do devido processo le-

    gal, o acusado considerado inocente

    e, desse modo, livre de punio e de-

    tentor de todos os seus direitos, sem

    a afetao da sentena condenatria.

    Indaga-se ento: como pode o

    acusado, na fase de inqurito ou na

    ao penal, ser submetido priso

    preventiva, se este ainda no foi

    condenado com sentena que tenha

    transitado em julgado, conforme

    prev o disposto constitucional?

    Ocorre que a priso preventi-

    va no ato punitivo condenatrio,

    ato procedimental processual do

    juiz, que pode faz-lo de ofcio, por

    requisio do Ministrio Pblico,

    por requerimento da autoridade

    policial, ou mesmo por requisio

    do querelante. distingue-se de sen-

    tena condenatria e, portanto, no

    pretende tratar o acusado como

    culpado. To somente manifesta o

    entendimento do juiz, baseado em

    elementos consubstanciados nos

    autos, de que o acusado apresen-

    ta capacidade de obstruir o devido

    andamento do processo legal no

    que diz respeito produo de pro-

    vas e/ou est com a possibilidade

    de prejudicar no s o transcurso

    processual, mas, tambm, frustrar

    sua execuo, evadindo-se do pas.

    Mesmo quando utilizada a

    priso preventiva, o preso acusa-

    do deve ser considerado em esta-

    do de inocncia. Tal afirmativa se

    baseia nos princpios constitucio-

    nais e, tambm, na prpria previ-

    so legal que garante ao acusado

    a revogao da priso preventiva

    a qualquer tempo do inqurito ou

    da instruo criminal, caso seja

  • 61Direito, Justia e Memria

    apurada a cessao das causas

    que a tenham determinado, con-

    forme o disposto no CPP.

    No dever ser considerada a

    possibilidade de aplicao da priso

    preventiva, caso no seja possvel a

    fundamentao objetiva de seus re-

    quisitos. As finalidades utilitrias

    dela esto estritamente ligadas

    garantia do devido processo legal

    no que tange formao de provas

    para a apurao da verdade proces-

    sual e garantia da devida execu-

    o da sentena sem que, para isto,

    seja admitida qualquer afronta aos

    direitos e garantias fundamentais

    do cidado e, consequentemente, ao

    Estado de direito.

  • Direito, Justia e Memria

    Data/Pgina20 de julho de 2009,

    pg.02

    A positivao das normas um

    reflexo do cotidiano e das condies

    sociopolticas como garantidoras de

    ideologias dominantes. Nesse aspec-

    to, so as condies sociais e o jogo

    poltico do momento que construiro

    a legislao que garantir uma ou

    outra ideologia: ora intervencionista,

    ora liberal. Assim, as reformas do Es-

    tado so reflexo direto da concepo

    ideolgica de quem est no poder.

    Nas ltimas dcadas, o Brasil sofreu

    duas grandes reformas da mquina

    administrativa. No entanto, no h,

    em tais reformas, grandes distines

    e sim criao de novas terminologias

    que abrigam antigos conceitos am-

    plamente difundidos pelo decreto-lei

    200/67 e ratificados pelos tericos da

    reforma da dcada de 1990.

    Consubstanciada na reforma

    de 1995, positivou-se o princpio da

    eficincia como intrnseco adminis-

    trao pblica no caput do artigo 37

    da Constituio Federal de 1988. To-

    davia, em contrassenso, no momento

    em que se inseriu no texto constitu-

    cional, por meio da Emenda 19, o de-

    ver de obedincia da administrao

    ao princpio da eficincia, instalou-se

    no cenrio nacional a ideia de um Es-

    tado em crise, ineficiente, incapaz de

    gerir e satisfazer o chamado cliente-

    cidado. Os tericos da reforma con-

    ENTRE A LEGALIdAdE E A EFICINCIASILVIA RAqUEL BARBOSA CASTELO BRANCOAluna do 10 perodo da Escola de direito do Centro Universitrio Newton Paiva

    Aluno: Slvia Raquel Barbosa Castelo Branco

    Texto: Entre a legalidade e a eficincia

  • 64 Direito, Justia e Memria

    frontaram o modelo burocratizado

    e centralizador da mquina estatal

    com nova modelao de um Estado

    estritamente gerencial, o Estado

    subsidirio, com competncia prin-

    cipal de fomentar e regular os servi-

    os e no execut-los.

    Essa formulao terica refle-

    tiu no mundo jurdico e criaram-se

    leis e instrumentos que amparassem

    essa nova concepo, como a Lei

    9.637/98, as leis 9.801/99 e 9.790/99,

    que criou as Organizaes Sociais

    Civis de Interesse Pblico (Oscip).

    Essa lei foi muito relevante para o

    terceiro setor, pois o transformou

    em um novo ator da esfera adminis-

    trativa capaz de gerenciar focado

    nos resultados sem necessitar do

    controle burocrtico estatal. Nesse

    perodo, muitas Oscips foram cria-

    das como verdadeiros braos do go-

    verno, demonstrando um processo

    lento e silencioso de privatizao do

    Estado. Comumente, essas institui-

    es absorveram, alm das ativida-

    des pblicas, as instalaes pblicas

    com seus bens mveis e imveis e

    a absoro de servidores pblicos

    para a execuo dos servios.

    Sabe-se que o Estado, por no

    ser um ente esttico, sofre modifi-

    caes pelas alteraes de governo.

    Tais transformaes tm como limi-

    te a supremacia do interesse pbli-

    co baseado na legalidade dos atos

    administrativos e em muitos casos

    necessitar de aes burocratizadas

    a fim de garantir o Estado democr-

    tico de direito. Percebe-se em algu-

    mas situaes a utilizao indevida

    dos termos de parceria como forma

    de se esquivar do regime jurdico pu-

    blicstico, pois as Oscips tm maior

    liberdade em contratar e gerir, dis-

    pondo de dotao oramentria

    para tal, bem como de incluir em seu

    quadro funcional os recursos huma-

    nos da entidade, sem concurso p-

    blico. Esse panorama refletiu direta-

    mente nas relaes de trabalho dos

    servidores pblicos, seja na sua su-

    presso, na inutilizao da sua fora

    de trabalho ou no desvio de funes

    com o remanejamento do trabalho

    exercido nos rgos instintos para

    as novas instituies privadas, em

    flagrante desvio do vnculo de traba-

    lho ao qual so submetidos.

    dessa forma, a discusso ora

    colocada o limiar imposto entre a

    desburocratizao e a legalidade,

    a fim de alcanar a eficincia. Pois,

    em dissenso ao que apregoava a re-

    forma administrativa da dcada de

    1990, as Oscips tm demonstrado

    resultados desfavorveis. Em 2008,

    o Ministrio Pblico atuou em pro-

    cessos que constataram irregulari-

    dades em quase 50% das unidades

  • 65Direito, Justia e Memria

    avaliadas. Assim, antagnico ao

    otimismo poltico anterior, h nesse

    dado o indicativo de que elas no al-

    canaram a eficincia. Esclarece-se,

    no ser eficiente o mote da discus-

    so, e sim, como s-lo. A ideologiza-

    o posta em 1995 de uma suposta

    crise estatal trouxe tona buscar

    essa eficincia sem as amarras le-

    gais da mquina administrativa.

    No entanto, pouco labutaram para

    identificar como, de forma intrnse-

    ca, poderiam buscar essa eficincia

    em vez de descentralizar delibera-

    damente as suas competncias para

    que um terceiro a exera.

  • Direito, Justia e Memria

    Data/Pgina6 de julho de 2009,

    pg. 02

    O