View
221
Download
3
Embed Size (px)
Citation preview
Direito Penal Ambiental
Uma visão a partir da Lei 9.605/98
Aula n° 06
Profa. Angela Issa Haonat
Tutela Penal do Meio Ambiente
Três Pontos básicos
Justificativa da tutela penal;Como proteger penalmente
o meio ambiente;Características dos crimes
ambientais.
1. Justificativa da Tutela Penal
PREOCUPAÇÃO GLOBALIZADA COM A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE (DIREITO
FUNDAMENTAL)
1. Justificativa da Tutela PenalA relevância dos bens
ambientais (dignidade penal) aliada à grande eficácia
dissuasória do direito penal (necessidade penal) justificam a criminalização de condutas que
agridem o meio ambiente.
2. Proteção Penal do M. A.
ART. 225, § 3º DA CF:
“As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados”
2. Proteção Penal do M. A.
O DIREITO PENAL DEVE FUNCIONAR EM
OBSERVÂNCIA AO PRINCÍPIO DA ULTIMA
RATIO.
2. Proteção Penal do M. A.
CARÁTER FRAGMENTÁRIO DO D.P.:
O DP DEVE TUTELAR OS VALORES MAIS ELEVADOS E RELEVANTES
PARA A SOCIEDADE, SEMPRE QUE OS OUTROS MECANISMOS SEJAM
INSUFICIENTES (DIGNIDADE PENAL + NECESSIDADE PENAL)
3. Características dos Crimes Ambientais
A AUTORIA DO CRIME AMBIENTAL É DIFERENCIADA:
A) O EMPREENDEDOR;
B) O CIDADÃO QUE NÃO POSSUI ENTENDIMENTO DO CRIME QUE COMETEU.
3. Características dos Crimes Ambientais
A legislação civil em matéria de proteção ambiental avançou bem
mais que no Direito Penal:6.938/81 – PNMA7.347/85 - LACP 8.078/90 - CDC
Princípios Específicos do Direito Penal Ambiental
Princípio da Prevenção Crimes de Perigo: se consumam
com a simples possibilidade/ameaça de dano. O perigo pode ser
ABSTRATO ou CONCRETO, sendo que o primeiro prescinde de prova –
perigo presumido - e o segundo a exige).
Princípios Específicos do Direito Penal Ambiental
Princípio da efetiva reparação dos danos ambientais
(composição civil e reparação do dano na transação penal e na
suspensão condicional do processo)
CONSIDERAÇÕES INICIAIS ACERCA DA LEI 9.605/98
Com a edição da Lei 9.605/98 para tutelar penalmente o
meio ambiente, ficou clara a intenção do legislador de
unificar as várias leis penais existentes em um só diploma
PRINCIPAIS INOVAÇÕES
Aplicação da Lei 9605/98Responsabilidade Penal
da Pessoa Jurídica
Harmonização do Regramento Penal em Matéria de Meio
AmbienteCRIMES CULPOSOS: (Antes da Lei 9.605/98, só a Lei 7.802/89 – agrotóxicos - previa os crimes culposos, nos artigos 15 e 16. O art. 15 foi alterado pela lei 9.974/00
e agora não mais prevê a modalidade culposa)
Algumas ConsideraçõesA Lei 9.605/98 não revogou
todos os crimes e contravenções penais
previstos em outras leis (vide art. 82)
Algumas ConsideraçõesArt. 82. Revogam-se as
disposições em contrário.
Exige do intérprete uma cuidadosa análise do que está
ou não em vigor
Algumas Considerações
CRÍTICAS: EXCESSO DE TIPOS ABERTOS E NORMAS PENAIS EM BRANCO (???)
LEI 9.605/98
DIVIDE-SE EM 08 CAPÍTULOSI – Disposições Gerais (Art. 1° - 5°);
II – Da Aplicação da Pena (Art. 6° - 24);
III - Da apreensão do produto e do instrumento de infração Adm. ou de crime (Art. 25);
IV – Da Ação e do Processo Penal (Art. 26 a 28);
V- Dos Crimes Contra o Meio Ambiente (Art. 29 a 69-A);
VI – Da Infração Administrativa (Art. 70 a 76)
VII - Da Cooperação Internacional para a Preservação do Meio Ambiente (Art. 77-78)
VIII – Disposições Finais (art. 79-82)
Disposições GeraisResponsabilidade do
Administrador (art. 2°);
Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica (art. 3°);
Desconsideração da Personalidade Jurídica (art. 4°)
Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica
Apesar de prevista na CF/88 (art. 225 § 3°) e regulamentada
na Lei 9.605/98 (art. 3°) há controvérsias doutrinárias e
jurisprudenciais sobre a teoria.
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa,
civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por
decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão
colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas
jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-
autoras ou partícipes do mesmo fato.
03 Posições Doutrinárias apontadas pelo Prof.
Gianpaolo Smânio
1ª CORRENTE: NÃO ADMITE.A PJ, a sociedade não comete crimes; apenas a PF; Posição cristalizada no DP tradicional. A conduta criminosa é uma conduta humana e, como tal, pressupõe dolo ou culpa. A PJ não age por si mesmo; é uma ficção; Para essa corrente devemos acionar a PF responsável e não as PJ.
2ª CORRENTE: NÃO ADMITE A RESPONSABILIDADE
PENAL DA PJ, MAS ADMITE RESPONSABILIZAÇÃO POR
UM SISTEMA INTERMEDIÁRIO ESPECIAL
PARA AS PJ.
Posição de ramo de direito intermediário chamado em Portugal de Direito da
Ordenação Social. Posicionado entre o D. Administrativo e o Direito Penal.
RECONHECE A INSUFICIÊNCIA DO D.C., MAS NÃO RECONHECE QUE O SISTEMA PENAL DEVE ATUAR.
PROPÕE A EXISTÊNCIA DE UM NOVO RAMO DO DIREITO.
3ª CORRENTE: RECONHECE A RESPONSABILIDADE PENAL DA PJ;
Reconhece a PJ não como uma ficção, mas como uma realidade.
Vendo a PJ como uma realidade ela é capaz de possuir conduta, atos
distintos da pessoa humana.
O interesse da PJ é diferente das PF que a compõem. Se ela tem uma conduta diferenciada, ela pode
receber uma imputação penal ou administrativa.
Hoje é a corrente majoritária e vem sendo adotada na França, EUA,
Brasil, etc
CONSIDERAÇÕES ACERCA DA TEORIA DA RESPONSABLIDADE
PENAL DA PESSOA JURÍDICA POR DIVERSOS AUTORES
1° - A CF NÃO PREVÊ A RESPONSABILIDADE PENAL DA PJ
Posição adotada por:
José Cretella Júnior
e
Miguel Reale Júnior
A responsabilidade do dirigente é que será civil ou
penal. A responsabilidade da empresa será sempre patrimonial – a única compatível com sua
natureza jurídica. (Cretella Júnior)
A CF/88 no §3°do art. 225 não aceita o princípio da
responsabilidade penal pois se refere de um lado a PF à
quem se aplica o termo conduta e quando se refere
às PJ (Cretella Júnior), usa a terminologia atividade.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados.
2° - A CF/88 PREVIU A RESPONSABILIDADE PENAL DA PJ,
MAS ELA É IMPRATICÁVEL
RENÉ ARIEL DOTTI
CELSO DELMANTO
Justificação:
Os crimes e contravenções não podem ser praticados por PJ,
posto que a imputabilidade penal é uma qualidade inerente aos
seres humanos (René Ariel Dotti)
3° A RESPONSABILIDADE PENAL DAS PJ É CONSTITUCIONAL MAS O ART. 3° DA LEI 9.605/98 VIOLA O PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE
LUIZ PAULO SIRVINSKAS
LUÍS REGIS PRADO
O legislador de forma simplista apenas enuncou a
Responsablidade Penal da PJ, cominando-lhe penas, sem
lograr, contudo, a instituí-la. É inaplicável (LUÍS REGIS PRADO)
4° PELA CONSTITUCIONALIDADE E APLICAÇÃO DA RESPONSABILDADE
PENAL ÀS PJ
VLADIMIR PASSOS FREITAS
GILBERTO PASSOS FREITAS
FAUSTO MARTINS DE SANCTIS
Justificação:
A responsabilidade penal da PJ não exclui a das pessoas naturais. A
denúncia pode ser dirigida apenas contra a PJ, caso não se descubra a autoria ou participação das pessoas naturais. E pode ainda, a denúncia, ser dirigida contra ambas (PF e PJ)
EMENTA: APELAÇÃO. CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE. RESPONSABILIDADE
PENAL DA PESSOA JURÍDICA DETERMINADA PELA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL DE 1988, EM SEU ART. 225, § 3º. Preliminar de ilegitimidade passiva
afastada. LIXO HOSPITALAR. Armazenamento de substâncias tóxicas, perigosas e nocivas à saúde humana e
ao meio ambiente, em desacordo com as exigências legais. Delito previsto no art. 56, caput, Lei nº 9.605/98 configurado...
...Resíduos de serviços de saúde deixados em contato com o solo,
queimando em local freqüentado por pessoas e animais, em desacordo com a
legislação, gerando gases poluentes. Incidência do art. 54, § 2º, inciso V do mesmo diploma legal. Condenação
mantida. Apelo improvido. Unânime. (Apelação Crime Nº 70015164676, Quarta Câmara Criminal, TJRS, Relator: Aristides
Pedroso de Albuquerque Neto, J. em 08/06/2006)
EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. RESPONSABILIDADE
PENAL. A PESSOA JURÍDICA ESTÁ SUJEITA ÀS SANÇÕES PENAIS QUANDO PRATICAR
CONDUTAS E ATIVIDADES LESIVAS AO MEIO AMBIENTE. RECEBIMENTO DE
DENÚNCIA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM
DENEGADA, POR MAIORIA. (Habeas Corpus Nº 70012403929, Quarta Câmara Criminal,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Lúcia de Fátima Cerveira, Julgado em 15/09/2005)
DOS CRIMES EM ESPÉCIE
CAP V - DIVIDIDO EM 05 SEÇÕES:
Seção I – Dos crimes contra a fauna;
Seção II - Dos crimes contra a flora;
Seção III – Da poluição e outros crimes ambientais;
Seção IV – Dos crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural;
Seção V – Dos crimes contra a administração ambiental.
OBSERVAÇÃO
Como a Lei 9.605/98 não revogou expressamente nenhum dispositivo penal, o aplicador do direito tem que
fazer essa pesquisa e análise com muito critério – tendo em vista o art. 82 que diz
estarem revogadas as disposições contrárias à Lei.
Revogou alguns dispositivos da Lei 5.197/67, da Lei 7.643/87 (proibição de
pesca de cetáceos etc)
Críticas à Lei 9.605/98
EXCESSO DE TIPOS ABERTOS E NORMAS
PENAIS EM BRANCO (???)
Plenamente Justificável
A fase que antecedeu a Lei 9.605/98 os tipos penais eram
mal elaborados e as penas eram descabidas (crimes
inafiançáveis), que acabavam não sendo aplicadas.
ANTES DA LEI N. 9.605/98 BUSCAVA-SE MUITA PROTEÇÃO
NO CP E, CONFORME O CASO, ATÉ HOJE, POIS EM MUITOS CRIMES
AMBIENTAIS DÁ PARA ENQUADRAR NO 155 E NO 288 DO
CP (EX. CORTE DE ÁRVORE EM ÁREA ALHEIA POR MAIS DE
QUATRO PESSOAS)
A LEGISLAÇÃO ANTERIOR À LEI N. 9.605/98 PREVIA APENAS OS
CRIMES DE DANO.HOUVE MUITAS CRÍTICAS AOS
CRIMES DE PERIGO INSERIDOS NA LEI N. 9.605/98.
PORÉM , NOS CRIMES AMBIENTAIS OS CRIMES DE PERIGO (ABSTRATO
E CONCRETO) ATENDEM AO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO.
Ex. De Crime de Perigo (abstrato): art. 56 da Lei 9.605/98: “produzir, processar,
embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar,
armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica,
perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos: pena - reclusão, de
um a quatro anos, e multa”
PORQUE AS CRÍTICAS QUANTO ÀS NORMAS
PENAIS EM BRANCO E AOS TIPOS ABERTOS SÃO
DESCABIDAS QUANDO APLICADAS À QUESTÃO DOS
CRIMES AMBIENTAIS?
ART. 54 DA LEI 9.605/98Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que
resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade
de animais ou a destruição significativa da flora:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa;
§ 1º Se o crime é culposo:Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
§ 2º Se o crime:
I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana;
II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população;
III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade;IV - dificultar ou impedir o uso público das praia;V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando
assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental
grave ou irreversível.
EM NÍVEIS TAIS – É UMA NORMA PENAL EM BRANCO.
É AINDA UM TIPO ABERTO: O LEGISLADOR PODE DESCREVER
TODAS AS FORMAS POSSÍVEIS DE POLUÇÃO. É UMA QUESTÃO DE INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA.
NO ART. 171 DO CP, O ESTELIONATO TAMBÉM É UM TIPO ABERTO (A
CRIMINALIDADE EVOLUI) E NEM POR ISSO O DISPOSITIVO É CRITICADO.
NORMAS PENAIS EM BRANCO
EXIGEM COMPLEMENTAÇÃO QUE PODE SER: DA MESMA FONTE OU
DE FONTE DIVERSA.
CR. POLUIÇÃO: O CONCEITO DE POLUIÇÃO ESTÁ NA LEI N. 6.938/81;
NORMAS PENAIS EM BRANCOART. 29 DA LEI N. 9.605/98 – CR
CONTRA A FAUNA – ART. 29 § 4º - AGRAVAMENTO LIGADO À SITUAÇÃO
DE ESPÉCIE EM EXTINÇÃO. (PORTARIA DO IBAMA)
ART. 38 DESTRUIR OU DANIFICAR FLORESTA DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE. (O QUE É? A DEFINIÇÃO ESTÁ NO ART. 2º DO CÓDIGO
FLORESTAL)
Da Aplicação das Penas (art 6°)
Na aplicação das penas (Lei 9.605/98) o Juiz levará em conta 03 requisitos:
a) a gravidade do fato e a conseqüência para a saúde pública e meio ambiente;
b) os antecedentes do infrator no cumprimento da legislação ambiental
c) a situação econômica do infrator, no caso de multa.
Penas Restritivas de Direito (art 7°)São autônomas e substituem as penas
privativas de liberdade nas seguintes hipóteses:
a) crime culposo ou pena privativa de liberdade inferior a quatro anos;
b) a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade, os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a substituição é suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime.
Espécies de Penas Restritivas de Direito ( 8°)
I - prestação de serviços à comunidade;II - interdição temporária de direitos;III - suspensão parcial ou total de atividades;IV - prestação pecuniária;V - recolhimento domiciliar.
Penas Restritivas de Direito
Atenuantes (art. 14)
Agravantes (art. 15)
Art. 21 a 24 Penas Aplicáveis
isolada, cumulativamente
ou alternadamente
às Pessoas Jurídicas
I - multa;
II - restritivas de direitos;
III - prestação de serviços à comunidade.
Penas de Prestação de Serviços à Comunidade aplicáveis às PJ
a)custeio de programas e de projetos ambientais;
b)execução de obras de recuperação de áreas degradadas;
c)manutenção de espaços públicos;d)contribuições a entidades
ambientais ou culturais públicas.
Penas de Prestação de Serviços à Comunidade aplicáveis às PJ
a)custeio de programas e de projetos ambientais;
b)execução de obras de recuperação de áreas degradadas;
c)manutenção de espaços públicos;d)contribuições a entidades
ambientais ou culturais públicas.
Penas aplicáveis às PJ
O art. 24 da Lei 9.605/98 prevê: A PJ constituída ou utilizada,
preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal perdido em favor do Fundo
Penitenciário Nacional.