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Prof. Leonardo dos Santos Arpini Aula 00 1 de 186| www.direcaoconcursos.com.br Direito Penal – Parte Geral - MPRS. Aula 00 – Direito Penal – Parte Geral. Analista MPRS Prof. Leonardo dos Santos Arpini

Direito Penal - Direção Concursos · 2020. 10. 26. · DIREITO PROCESSUAL PENAL: Princípios gerais do processo. Interpretação e aplicação da lei processual penal. A lei processual

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Aula 00 – Direito Penal – Parte

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Sumário

SUMÁRIO ..................................................................................................................................................2

APRESENTAÇÃO ....................................................................................................................................... 5

INTRODUÇÃO. .......................................................................................................................................... 7

APLICAÇÃO DA LEI PENAL ....................................................................................................................... 9

PRINCÍPIOS APLICÁVEIS. ................................................................................................................................... 9

Princípio da legalidade. .................................................................................................................................... 9

Reserva legal. ................................................................................................................................................ 12

Analogia. ...................................................................................................................................................... 14

Anterioridade. ............................................................................................................................................... 15

Taxatividade. ................................................................................................................................................ 17

DESDOBRAMENTOS MATERIAIS ............................................................................................................. 19

LIMITAÇÕES AO CONTEÚDO DOS TIPOS PENAIS. .......................................................................................... 19

Princípio da Insignificância. ............................................................................................................................ 19

Alteridade ..................................................................................................................................................... 21

Adequação social. .......................................................................................................................................... 21

Princípio da ofensividade. .............................................................................................................................. 22

Princípio da intervenção mínima. .................................................................................................................... 22

Princípio do ne bis in idem. ............................................................................................................................. 23

Princípio da individualização da pena. ............................................................................................................ 23

LEI PENAL NO TEMPO ............................................................................................................................. 25

INTRODUÇÃO....................................................................................................................................................... 25

Retroatividade. .............................................................................................................................................. 26

Irretroatividade. ............................................................................................................................................ 31

Lei penal excepcional ou temporária. .............................................................................................................. 36

Tempo do crime. ............................................................................................................................................ 38

Lugar do crime. .............................................................................................................................................. 41

LEI PENAL NO ESPAÇO ........................................................................................................................... 45

TERRITORIALIDADE. .............................................................................................................................................. 45

Princípios aplicáveis a territorialidade. ............................................................................................................ 47

EXTRATERRITORIALIDADE. ..................................................................................................................................... 51

Pena cumprida no estrangeiro. ....................................................................................................................... 56

CONFLITO APARENTE DE NORMAS......................................................................................................... 57

INTRODUÇÃO....................................................................................................................................................... 57

Princípio da especialidade. ............................................................................................................................. 57

Princípio da subsidiariedade. .......................................................................................................................... 58

Princípio da consunção................................................................................................................................... 58

Princípio da alternatividade. .......................................................................................................................... 59

Eficácia da sentença estrangeira. ................................................................................................................... 60

Contagem de prazos. Frações não computáveis da pena. Aplicação do CP a Leis Especiais. .............................. 60

TEORIA GERAL DO DELITO. ..................................................................................................................... 62

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INTRODUÇÃO. ................................................................................................................................................. 62

Conceito de crime. ......................................................................................................................................... 62

FATO TÍPICO .......................................................................................................................................... 66

Conduta e seus elementos. ............................................................................................................................. 66

Omissão penalmente relevante. ..................................................................................................................... 69

Resultado. ..................................................................................................................................................... 72

Nexo de causalidade. ..................................................................................................................................... 73

Tipicidade. ..................................................................................................................................................... 75

Crime doloso e crime culposo. ......................................................................................................................... 76

Consumação e tentativa. ............................................................................................................................... 83

Espécies de tentativa. .................................................................................................................................... 86

Arrependimento posterior e crime impossível. ................................................................................................. 88

Erro de tipo e erro de proibição. ....................................................................................................................... 91

ILICITUDE/ANTIJURIDICIDADE. .............................................................................................................. 98

Estado de necessidade. .................................................................................................................................. 98

Legitima defesa. .......................................................................................................................................... 100

Estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito. ................................................................... 104

CULPABILIDADE ................................................................................................................................... 105

Imputabilidade: ........................................................................................................................................... 106

Potencial consciência da ilicitude. ................................................................................................................. 108

Exigibilidade de conduta diversa. .................................................................................................................. 109

CONCURSO DE PESSOAS. ..................................................................................................................... 113

DAS PENAS. .......................................................................................................................................... 118

Penas alternativas ....................................................................................................................................... 122

CONCURSO DE CRIMES. ........................................................................................................................ 126

SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA. .................................................................................................. 131

LIVRAMENTO CONDICIONAL. ............................................................................................................... 136

EFEITOS DA CONDENAÇÃO. ................................................................................................................. 140

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. .............................................................................................................. 144

QUESTÕES COMENTADAS PELO PROFESSOR ....................................................................................... 148

LISTA DE QUESTÕES............................................................................................................................. 168

GABARITO ............................................................................................................................................ 178

RESUMO DIRECIONADO ....................................................................................................................... 179

APLICAÇÃO DA LEI PENAL .................................................................................................................... 179

ANALOGIA ............................................................................................................................................ 179

DESDOBRAMENTOS MATERIAIS. .......................................................................................................... 180

LEI PENAL NO TEMPO ........................................................................................................................... 180

TEMPO DO CRIME E LUGAR DO CRIME .................................................................................................. 182

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LEI PENAL NO ESPAÇO ......................................................................................................................... 182

TERRITORIALIDADE. ............................................................................................................................................ 182

CONCLUSÕES............................................................................................................................................. 183

PRINCÍPIOS APLICÁVEIS A EXTRATERRITORIALIDADE .......................................................................... 183

LUGAR DO CRIME.................................................................................................................................. 184

EXTRATERRITORIALIDADE ................................................................................................................... 185

CONFLITO APARENTE DE NORMAS....................................................................................................... 186

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Apresentação

Olá, tudo bem? Muito prazer em conhecê-lo. Sou o professor Leonardo

dos Santos Arpini, mais conhecido como “Arpini”. Seja muito bem-vindo

ao meu curso! Aqui na DIREÇÃO CONCURSOS sou o encarregado de le-

cionar as disciplinas de Direito Penal e Direito Processual Penal.

Caso não me conheça, além de professor de curso preparatório, sou Ad-

vogado, pós-graduado em Direito Penal e Processual Penal pela Facul-

dade Damásio/SP. Me dedico ao estudo global do ordenamento jurídico

pois, assim como vocês, estou engajado no caminho dos concursos públi-

cos. Então, contem comigo para qualquer dúvida que vocês possuam so-

bre seu estudo e que esteja ao meu alcance.

Iniciaremos uma prazerosa jornada no estudo do Direito Penal e estaremos juntos até a sua APROVA-

ÇÃO, combinado? Tenha a certeza de que vamos encurtar esse caminho!

É com muita satisfação e alegria que inicio este curso de DIREITO PENAL. A programação de aulas, que

você verá mais adiante, foi concebida especialmente para a sua preparação focada nos concursos de TÉCNICO

E ANALISTA DOS DIVERSOS TRIBUNAIS FEDERAIS, ESTADUAIS E ELEITORAIS DO PAÍS E, TAMBÉM

PARA OS CARGOS DE AGENTE E ESCRIVÃO DA POLÍCIA CIVIL, FEDERAL E RODOVIÁRIA FEDERAL. To-

mei por base os últimos editais de cada um desses cargos, e cobriremos TODOS os tópicos exigidos naquela

ocasião, ok? Nada vai ficar de fora, este curso deve ser o seu ÚNICO material de estudo! E você também não

perderá tempo estudando assuntos que não serão cobrados na sua prova. Ou seja, vamos direcionar seu estudo

da melhor forma, para que você estude de modo totalmente focado e aumente as suas chances de aprovação!!

Nesta matéria você terá:

Você nunca estudou DIREITO PENAL para concursos? Não tem problema, este curso também te

atende. Nós veremos toda a teoria que você precisa e resolveremos centenas de exercícios para que você possa

praticar bastante cada aspecto estudado. Fique à vontade para me procurar no fórum de dúvidas sempre que

for necessário.

Caso você queira tirar alguma dúvida antes de adquirir o curso, basta me enviar um direct pelo Instagram:

Curso completo escrito (PDF)teoria e MAIS exercícios resolvidos sobre TODOS os pontos do edital

Acesso direto ao professorpara você sanar suas dúvidas DIRETAMENTE conosco sempre que precisar

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Conheça ainda as minhas outras redes sociais para acompanhar de perto o meu trabalho:

[email protected]

@prof.arpini

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Professor Arpini

Leonardo Arpini

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INTRODUÇÃO.

Olá, meu amigo(a)!

Antes de adentrarmos em nosso conteúdo propriamente dito, é necessário que façamos uma breve in-

trodução sobre a localização do Direito Penal para o ramo da ciência do Direito.

Para isso, cito uma breve passagem de Roberto Lyra, citando o maior penalista do século XIX, Tobias

Barreto:

“O Direito Penal é o rosto do Direito, no qual se manifesta toda a individualidade de um povo, seu pensar

e seu sentir, seu coração e suas paixões, sua cultura e sua rudeza. Nele se espelha a sua alma. O Direito

Penal dos Povos é um pedaço da história da humanidade”. 1(p.37)

Outra passagem importante é do grande professor André Estefam2:

“Dentre os ramos jurídicos, o Penal traduz, em toda sua expressão, as virtudes e vicissitudes de um

povo. Nele se expõem os valores culturais apontados como fundamentais para determinada sociedade

(como a vida humana, o patrimônio, a saúde pública, a proteção do meio ambiente e da ordem econô-

mica), o estágio civilizatório de uma nação (representado em princípios fundamentais acolhidos ou não

por determinado modelo de Direito Penal) e, em algumas vezes, até mesmo a defasagem entre o que

está prescrito e o que realmente acontece no cotidiano”. (ESTEFAM, 2017, p.33).

Desse modo, meu amigo(a), o Direito Penal é o ramo do Direito que está encarregado de regular os fatos

humanos perturbadores da vida em sociedade, de modo a assegurar, de forma efetiva, a aplicação da norma

penal quando houver alguma violação a um bem jurídico por ela tutelado.

Dados esses breves comentários, não menos importante, é o caráter subsidiário do Direito Penal. Em ou-

tras palavras, meu amigo(a), o Direito Penal é considerado a ultima ratio (última razão) do ordenamento jurí-

dico, somente vindo a ser a aplicado quando outro ramo do direito (constitucional, administrativo, civil, tribu-

tário e etc) não derem conta da situação ocorrida no mundo fenomênico.

Isso quer dizer que: ocorrida uma situação no mundo da vida e que tenha relevância para o Direito, será

necessário verificar se tal ocorrido pode ser solucionado à luz de outro ramo do direito (conforme acima men-

cionado). Caso nenhum ramo tenha o poder para sanar o conflito, será necessário que o Direito Penal interve-

nha para solucionar o imbróglio. Portanto, isso é o que caracteriza o Direito Penal como a ultima ratio do direito.

1 LYRA, Roberto. Direito Penal científico: criminologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Konfino, 1977. 2 ESTEFAM, André. Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) – 6.ed. – São Paulo : Saraiva, 2017.

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O Direito Penal também se reveste de alguns conceitos fundamentais e, dentro deste, vamos tratar es-

pecialmente acerca das suas fontes.

As fontes do direito penal se dividem em:

Fontes materiais: indicam o órgão encarregado da produção do Direito Penal. No ordenamento jurídico

brasileiro somete a União possui competência legislativa para criar normas penais (art. 22, I, da CF).

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do tra-

balho

Fontes formais: as fontes formais se dividem em imediatas e mediatas.

A partir dessa subdivisão, somente a lei pode servir como fonte primária e imediata do direito penal,

tendo em vista o princípio da legalidade (art. 5º, XXXIX e art. 1º, do CP). Entretanto, admite-se, também, de

forma secundária ou mediata como fonte do direito penal , os costumes e os princípios gerais de direito. Porém,

tais fontes encontram limitação no princípio da legalidade, razão pela qual, não se admite que o emprego dos

costumes e dos princípios gerais surjam crimes não previsto em lei ou, ainda, a agravamento da punibilidade

de delitos já existentes. Em resumo, caríssimo(a), os princípios gerais do direito e os costumes somente incidem

no âmbito da licitude penal.

Assim, meu amigo(a), encerramos nossos breves comentários introdutórios sobre o Direito Penal.

Aguardo você no próximo capítulo.

Fontes Materiais

Fontes Formais

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APLICAÇÃO DA LEI PENAL

PRINCÍPIOS APLICÁVEIS.

Princípio da legalidade.

Então, meu amigo(a), para darmos início ao nosso estudo, precisamos nos debruçar sobre os princípios

que direcionam a interpretação e aplicação de todas as disposições do direito penal.

A nossa Constituição Federal, no seu art. 5º, inciso XXXIX, define o princípio da legalidade:

Art. 5º

[...]

XXXIX – “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”.

Assim, a primeira informação que devemos guardar e que será importantíssima para o seu concurso é que

não há possibilidade de existir um crime sem que haja uma lei anterior que o regule. Ocorre que o artigo 1º do

Código Penal repetiu o comando constitucional da seguinte maneira:

Anterioridade da Lei

Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.

Assim, caríssimo, o princípio da legalidade tem o objetivo de garantir segurança jurídica a todos (eu, você,

seus familiares e quem você possa imaginar nesse momento) que estão submetidos às eis penais. Ou seja, a

segurança jurídica diz respeito ao encaixe perfeito de uma conduta realizada no mundo exterior (fato) e o tipo

penal (artigo do Código Penal que incrimina essa conduta realizada no mundo exterior – fato).

Pode ser que esteja um pouco confuso nesse momento, mas para deixar mais clara suas ideias, permita-

me uma pergunta: “Você já assistiu a série ‘la casa de papel’?” Se ainda não assistiu, aqui vai um spoiler: os per-

sonagens possuem nomes de cidades. Agora, se você já assistiu e sabe disso, permita-te apresentar nosso per-

sonagem “Austin” que será romantizado durante todo o nosso estudo para facilitar seu aprendizado.

Imagine a seguinte situação: Austin desfere dois tiros em Dallas e esse, por sua vez, acaba morrendo por

conta dos disparos. A atitude de Austin em desferir dois tiros em Dallas e matá-lo, é o nosso fato (realização de

uma conduta no mundo exterior). Dessa forma, Austin responderá pelo crime de homicídio, do art. 1213, do

3 Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

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Código Penal (que protege a vida), por sua conduta (matar alguém), se amoldar perfeitamente a redação do

referido artigo.

Vamos ver como isso caiu em concurso?

Ano: 2019 Prova: PC-ES - Escrivão de Polícia

O art. 1º do Código Penal afirma que não há crime sem lei anterior que o defina e que não há pena sem prévia

cominação legal. O mencionado dispositivo corresponde a qual princípio de direito penal?

A) Princípio da legalidade.

B) Princípio da proibição de pena indigna.

C) Princípio da proporcionalidade

D) Princípio da igualdade.

E) Princípio da austeridade.

Gabarito: A – Conforme estudamos anteriormente, o art. 1º do CP reproduziu a definição do princípio da lega-

lidade que nos foi apresentada pela Constituição Federal.

Ano: 2008 Banca: VUNESP Órgão: TJ-MT Provas: VUNESP - 2008 - TJ-MT - Técnico Judiciário

É correto afirmar que o princípio da legalidade

A) está previsto no código de processo penal.

B) pode ser entendido como in dubio pro reo.

C) é uma garantia de que à lei compete fixar os crimes e suas penas.

D) não tem previsão legal.

E) consiste na idéia de ninguém poder ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime.

Gabarito: C – Conforme estudamos anteriormente, o art. 5º, XXXIX, da CF, insculpiu o princípio da legalidade

afirmando que “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”.

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Ano: 2014 Banca: FCC Órgão: TRF - 3ª REGIÃO Prova: FCC - 2014 - TRF - 3ª REGIÃO - Analista Judiciário - Área

Judiciária

Dentre as ideias estruturantes ou princípios abaixo, todos especialmente importantes ao direito penal brasi-

leiro, NÃO tem expressa e literal disposição constitucional o da

A) legalidade.

B) proporcionalidade.

C) individualização.

D) pessoalidade.

E) dignidade humana.

Gabarito – “B” – Sabemos que o princípio da legalidade está elencado no art. 5º, XXXIX, da CF, razão pela qual,

o gabarito não pode ser a letra “a”. Dessa forma, procederemos através da exclusão das demais alternativas e

a única que não possui previsão expressa na CF é alternativa “b” que trata do princípio da proporcionalidade.

Individualização – art. 5º, XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:

a) privação ou restrição da liberdade;

b) perda de bens;

c) multa;

d) prestação social alternativa;

e) suspensão ou interdição de direitos;

Pessoalidade – art. 5º , XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar

o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles

executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;

Dignidade da pessoa humana – art. 1º,III - a dignidade da pessoa humana;

Agora que já verificamos como esse assunto é cobrado em prova, vamos adiante com nosso estudo!!

“Professor, você falou que o Código Penal repetiu as disposições do art. 5º, inciso XXXIX, da Constituição que

define o princípio da legalidade. Mas e agora, porque o título do art. 1º do CP define o princípio como “anterioridade

da lei”?

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Ótima pergunta, meu caro!

Para exemplificar a adoção dessa nomenclatura pelo Código Penal, ficará mais fácil a partir do esquema

abaixo:

Ao analisarmos esse esquema, notamos que o princípio da legalidade se subdivide em: anterioridade, ta-

xatividade e reserva legal. Saber essas subdivisões é muito importante para o seu estudo, mas não se preo-

cupe, pois cada um deles será objeto de estudo a partir de agora.

Reserva legal.

Meu amigo, a reserva legal é um dos desdobramentos do princípio da legalidade e representa a exi-

gência de lei no sentido formal para a criação de crimes no mundo jurídico, razão pela qual, costumes, por

exemplo, não podem ser utilizados como fontes de criação ou agravamento de infrações penais.

Assim, para que possamos falar em crimes no ordenamento jurídico, somente leis complementares

ou leis ordinárias são aptas a criminalizarem condutas, ou seja, a tornar determinado fato do mundo real, uma

conduta criminosa.

Vamos a mais um exemplo!

Você provavelmente deve ter tomado conhecimento através da mídia acerca de criminosos que eja-

culavam em mulheres no interior dos transportes públicos no Estado de São Paulo. Ocorre que, no período em

que essas práticas (infelizmente) se tornaram corriqueiras, não havia no Código Penal nenhuma norma que

incriminasse o indivíduo por tal fato, mas apenas a contravenção penal de perturbação da tranquilidade.

Dessa forma, o legislador ciente da gravidade dos fatos, editou a Lei n.º 13.718/18, criando o crime de

importunação sexual, previsto no art. 215-A do Código Penal. Assim, passou-se a criminalizar, através de lei em

sentido formal, um fato que acontecia no mundo real e que não havia previsão legal para punição.

“Mas professor, quem são os encarregados de criarem essas leis penais? ”

Meu jovem, a lei penal deve ser exclusivamente federal, por força do art. 22, I, da Constituição Federal.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;

Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: PRF Prova: CESPE - 2013 - PRF - Policial Rodoviário Federal

Com relação aos princípios, institutos e dispositivos da parte geral do Código Penal (CP), julgue os itens seguin-

tes.

Princípio da Legalidade

Reserva Legal

Anterioridade

Taxatividade

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O princípio da legalidade é parâmetro fixador do conteúdo das normas penais incriminadoras, ou seja, os tipos

penais de tal natureza somente podem ser criados por meio de lei em sentido estrito.

( ) Certo

( ) Errado

Gabarito – CERTO – Conforme estudamos anteriormente, os tipos penais somente podem ser criados através

de lei em sentido estrito (lei complementar ou ordinária de competência privativa da União, por força do art.

22, I, CF).

Quero que você fique atento a outra situação, meu jovem!

Agora eu lhe faço uma pergunta: Você acha que é possível Medida Provisória regular matéria que en-

volve direito penal? Responda de uma maneira franca para você mesmo! Respondeu? Pois bem, a resposta não

é positiva e nem negativa nesse momento. Agora a resposta é DEPENDE! Explico-lhes!

A medida provisória, conforme o artigo 62 da Constituição Federal é um ato do Presidente da Repú-

blica que em situação de relevância e urgência poderá editar MP, com força de lei, devendo submetê-la de

imediato ao Congresso Nacional. Entretanto, o parágrafo §1º, alínea “b”, do art. 62 da Constituição Federal diz

que é vedada a edição de medida provisória sobre matéria relativa a direito penal.

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com

força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional

§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:

I - relativa a:

b) direito penal, processual penal e processual civil;

“Mas professor, se o art. 62, §1º, I, “b”, da Constituição Federal diz textualmente que é vedado o uso de

MP para regular direito penal, como a resposta pode ser DEPENDE?”

Certo, meu amigo(a), pelo texto da Constituição você tem razão, é vedado o uso de MP para regular

matéria penal, como, por exemplo, criar um crime ou, até mesmo, agravar a pena já presente em um crime

regulado pelo Código Penal.

Entretanto, é possível Medida Provisória regular matéria BENÉFICA em direito penal, e isso já acon-

teceu no Brasil, com o art. 32 do Estatuto do Desarmamento (Lei nº. 10.826/03) que trata o instituto da entrega

espontânea de arma de fogo, tornando isso uma causa extintiva da punibilidade.

Então, meu amigo, quando você for questionado acerca do uso de MP em direito penal, a resposta é

depende, pois caso seja para piorar a situação do agente criminoso, é vedado, entretanto, se for para beneficiar,

é possível o seu uso.

Agora, veja como isso foi cobrado em concurso!

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Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: PRF Prova: CESPE - 2019 - PRF - Policial Rodoviário Federal

O art. 1.º do Código Penal brasileiro dispõe que “não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem

prévia cominação legal”.

Considerando esse dispositivo legal, bem como os princípios e as repercussões jurídicas dele decorrentes, jul-

gue o item que se segue.

O presidente da República, em caso de extrema relevância e urgência, pode editar medida provisória para agra-

var a pena de determinado crime, desde que a aplicação da pena agravada ocorra somente após a aprovação

da medida pelo Congresso Nacional.

( ) Certo

( ) Errado

Gabarito – ERRADO – pois, conforme vimos anteriormente, é vedado o uso de Medida Provisória em direito

penal para criar crimes ou AGRAVAR a pena de determinado crime. Então, para ficar mais fácil, tenha sempre

em mente a seguinte premissa: se a MP vier a piorar a situação, é vedado o seu uso em direito penal.

Superada essa primeira parte, outro ponto importante que você precisa ter o pleno conhecimento é

o instituto da analogia.

Analogia.

O instituto da analogia é um método de integração do ordenamento jurídico.

Em outras palavras, meu caro, a analogia atua no direito penal como um “tapa buracos”, ou seja, con-

siste em aplicar a um caso não contemplado de modo direto ou específico por uma norma jurídica, uma norma

prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não contemplado. Isso é o método de integração!

Vou lhes dar um exemplo:

Imagine que nosso personagem Austin praticou o crime de dano do art. 163, p.ú, do Código Penal

(figura do dano qualificado) – até dezembro de 2017 figurava como qualificadora destruir o patrimônio da

União, Estados e Município. Mas e agora, se o dano causado por Austin fosse contra o patrimônio do Distrito

Federal, seria um crime de dano simples ou qualificado? O STJ disse várias vezes que o crime que fosse come-

tido contra o patrimônio do DF seria simples, pois a lacuna não poderia ser suprida por meio da analogia, o que

geraria o que chamamos de analogia “in malan partem” (em prejuízo do réu – que é proibido pelo direito penal).

Entretanto, meu caro estudante, para suprir essa lacuna e não gerar analogia in malan partem o legislador in-

cluiu, através de lei em sentido formal (Lei n.º 13.531/17), o Distrito Federal no rol do p.ú, do art. 163 do CP,

razão pela qual, se nosso personagem Austin cometesse um dano qualificado contra o patrimônio do DF, res-

ponderia pelo crime na sua forma qualificada.

Dano

Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:

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Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Dano qualificado

Parágrafo único - Se o crime é cometido:

III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação

pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos; (Re-

dação dada pela Lei nº 13.531, de 2017)

Dessa forma, fechamos nosso estudo sobre analogia no direito penal. Porém, antes de avançarmos, vou

deixar-lhes essa tabela diferenciando a analogia, interpretação extensiva e interpretação analógica. Veja só

Interpretação extensiva Interpretação analógica Analogia

É forma de interpretação É forma de interpretação É forma de integração do di-

reito

Existe norma para o caso

concreto

Existe norma para o caso

concreto

Não existe norma para o

caso concreto

Amplia-se o alcance da pa-

lavra (não importa no surgi-

mento de uma nova

norma)

Utilizam-se exemplos segui-

dos de uma fórmula gené-

rica para alcançar outras hi-

póteses

Cria-se nova norma a partir

de outra (analogia legis) ou

do todo do ordenamento ju-

rídico (analogia iuris)

Prevalece ser possível sua

aplicação no direito penal

in bonam ou in malam par-

tem.

É possível sua aplicação no

Direito Penal in bonam ou in

malam parte.

É possível sua aplicação no

Direito penal somente in bo-

nam partem.

Ex: a expressão “arma” no

crime de roubo majorado

Ex: homicídio mediante

paga ou promessa de re-

compensa, ou por outro mo-

tivo torpe (art. 121, §2º, I, III

e IV, CP

Ex: isenção de pena, prevista

nos crimes contra o patrimô-

nio, para o cônjuge e, analo-

gicamente, para o compa-

nheiro.

Tudo certo?!

Então, vamos em frente!!

Anterioridade.

Meu amigo, minha amiga!

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A anterioridade é mais um dos desdobramentos do princípio da legalidade. Sendo assim, para que possamos

punir alguém pela prática de um crime, a lei penal deve ser anterior à conduta do agente. Em outras palavras,

a lei deve estar vigendo no ordenamento jurídico antes da prática da conduta pelo criminoso.

Que tal recordarmos o exemplo dado anteriormente acerca da importunação sexual?

Dessa forma, ficará fácil de você compreender!

Você provavelmente deve ter tomado conhecimento através da mídia acerca de criminosos que ejacula-

vam em mulheres no interior dos transportes públicos no Estado de São Paulo. Ocorre que, no período em que

essas práticas (infelizmente) se tornaram corriqueiras, não havia no Código Penal nenhuma norma que incrimi-

nasse o indivíduo por tal fato, mas apenas a contravenção penal de perturbação da tranquilidade.

Dessa forma, o legislador ciente da gravidade dos fatos, editou a Lei n.º 13.718/18, criando o crime de im-

portunação sexual, previsto no art. 215-A do Código Penal. Assim, passou-se a criminalizar, através de lei em

sentido formal, um fato que acontecia no mundo real e que não havia anterior previsão legal para punição.

Agora, preste atenção meu amigo(a)!

Ao analisarmos o exemplo acima, com base no que ensinei a vocês sobre o significado do princípio da

anterioridade (a lei penal deve ser anterior à conduta do agente), podemos ter a certeza de que o nosso crimi-

noso não poderia ter sido responsabilizado pelo crime de importunação sexual caso tivesse ejaculado nas suas

vítimas antes da entrada em vigor da Lei nº. 13,718/18, pois, nesse caso, estamos diante da irretroatividade da

lei penal (o que é regra no direito penal).

Entretanto, meu caro, é bom que você saiba que é possível a retroatividade da lei penal benéfica (e isso

será objeto de estudo logo adiante).

Assim, para que possamos fixar de forma bem clara o que acabamos de aprender, vamos ver como isso

vem sendo cobrado nos concursos!

Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-ES Prova: INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Escrivão de Po-

lícia

A impossibilidade da lei penal nova mais gravosa ser aplicada em caso ocorrido anteriormente à sua vigência é

chamada de

A) princípio da ultra atividade da lei nova.

B) princípio da legalidade.

C) princípio da irretroatividade.

D) princípio da normalidade.

E) princípio da adequação.

Gabarito: C - Trata-se do princípio da irretroatividade, pois, lendo o enunciado da questão, podemos trans-

porta-lo para o exemplo mencionado anteriormente acerca do importunador sexual, que não poderá ser punido

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pelos crimes praticados antes da entrada em vigor da Lei n.º 13.718/18, que criou o crime do art. 215-A do,

Código Penal.

Assim, para encerrarmos os desdobramentos do princípio da legalidade, falta apenas estudarmos a figura

da taxatividade. Vamos em frente?!!

Taxatividade.

Por taxatividade, meus caros, temos a exigência de lei penal com conteúdo (tanto no preceito primário –

tópico da lei penal que descreve a conduta – figura típica) e o preceito secundário (tópico da lei que comina a

pena – reclusão de tanto a tanto) determinado.

O ordenamento jurídico penal veda o empego de tipos penais vagos (cujo conteúdo é indeterminado).

“Arpini, agora fiquei um pouco confuso. Poderia me dar um exemplo de como isso funciona? ”

Mas é claro! É para isso que estou aqui. Quero facilitar e, ao mesmo tempo, potencializar seu estudo!

Vou dissecar um tipo penal para que você visualize o que é um tipo penal com conteúdo determinado e

logo em seguida um tipo penal de conteúdo vago/indeterminado.

Homicídio simples (isso é o nome do crime – você pode encontrar em prova a expressão nomem iuris)

Art. 121. Matar alguém (esse é nosso preceito primário, que possui conteúdo determinado, que se verifica através

do verbo “matar”)

Pena - reclusão, de seis a vinte anos (esse é nosso preceito secundário, que possui conteúdo determinado, que

se verifica através dos parâmetros numéricos abstratos – pena de 6 a 20 anos).

Isso que acabei de ensinar você, meu caro aluno(a) você precisa dominar, pois quando lhe for questionado

algo sobre o preceito primário ou preceito secundário, você já terá o retrato da figura criminosa em sua mente

e saberá onde encontrar a resposta para seu teste.

Agora, como prometido, disse que mostraria um exemplo do que é vedado pelo direito penal, para que

você não se confunda na hora da prova.

Se retornarmos ao período da 2ª Guerra Mundial, a Alemanha Nazista, em seu Código Penal, tinha a pre-

visão da seguinte figura criminosa:

“Praticar qualquer atentado ao sentimento sadio do povo alemão”. No preceito primário, é notória a ausência de

conteúdo de determinado. Fica o questionamento, meu amigo (a), o que poderia ser considerado atentado

para ferir o sentimento sadio do povo alemão?

“Pena – a ser fixada segundo o prudente arbítrio do juiz criminal”. Aqui, também, não há conteúdo determinado.

Que tipos de penas poderiam ser aplicada pelo juiz criminal? Pena de morte, prisão perpétua, trabalhos força-

dos, banimento? Ou seja, o preceito secundário, assim como o preceito primário são completamente vagos.

Então, meus caros, é esse tipo de situação que se apresentava no Código Penal da Alemanha nazista que

o legislador brasileiro quer evitar quando nos presenteia com o desdobramento da taxatividade.

Entretanto, meu amigo, você não deve confundir tipos penais vagos (que é o exemplo do código penal

nazista) com crime vago.

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O crime vago é aquele em que o sujeito passivo (a vítima do crime – titular do bem jurídico protegido) é

um ente sem personalidade jurídica, por exemplo: o crime de tráfico de drogas, previsto no artigo 33 da Lei

11.343/06, tem como sujeito passivo, a sociedade, ou seja, um ente sem personalidade, diferentemente do que

acontece, no crime de homicídio, em que a vítima é uma pessoa individualizada.

Não quero que você confunda crime vago com tipos penais abertos, então, para isso, vamos a diferenci-

ação!

CRIME VAGO TIPOS PENAIS ABERTOS

O sujeito passivo (a vítima do crime – titular do bem

jurídico protegido) é um ente sem personalidade ju-

rídica

É o que possuí conteúdo amplo, porém, determi-

nado. P.ex. o homicídio culposo do art. 121, §3º, do

CP, razão pela qual, a conduta culposa (negligência,

imprudência e imperícia) poderá se dar de diversas

formas.

Tudo entendimento, meu caro aluno? Aposto que sim!

Dessa forma, vamos dar seguimento ao nosso estudo, adentrando ao segundo ponto da nossa matéria.

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DESDOBRAMENTOS MATERIAIS

LIMITAÇÕES AO CONTEÚDO DOS TIPOS PENAIS.

Princípio da Insignificância.

Dando seguimento ao nosso estudo, ainda dentro do tema da aplicação da lei penal, vamos iniciar a abor-

dagem acerca das limitações ao conteúdo dos tipos penais através de outros princípios presentes no direito

penal.

O mais conhecimento deles, e afirmo sem nenhuma dúvida, o que mais DESPENCA em concurso é o

princípio da insignificância.

Então, mãos à obra!

Você deve ter em mente que condutas (fatos criminosos) que produzam lesões insignificantes aos bens

jurídicos (vida, patrimônio, honra e etc.) são consideradas atípicas (ou seja, não são consideradas crimes).

Sendo assim, quando for aplicado o princípio da insignificância há a presença da atipicidade material (que será

objeto de estudo quando tratarmos do conceito analítico de crime).

Entretanto, para que possamos verificar no caso concreto a incidência (ou não) do princípio da insignifi-

cância, o Supremo Tribunal Federal nos presenteou com os quatro vetores abaixo:

Ausência de Periculosidade Social

Reduzido grau de Reprovabilidade do fato

Mínima Ofensividade da conduta

Ínfimo grau de Lesão Jurídica.

Para que fique mais fácil de você memorizar esses quatro vetores, vou reproduzir o mnemônico “PROL”

de autoria do meu colega André Estefam.

Além do “PROL”, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) possui duas súmulas acerca do tema. Para que você

se familiarize com as nomenclaturas, meu caro(a), súmulas são o entendimento consolidado do tribunal depois

de ter enfrentado inúmeros casos que versaram sobre determinado tema. Então, dessa forma, o STJ, ao se

debruçar inúmeras vezes sobre casos envolvendo o princípio da insignificância, editou três súmulas, quais se-

jam:

STJ, 589 – Não cabe o princípio da insignificância em infrações praticadas mediante violência doméstica ou

familiar contra a mulher.

STJ, 599 – Não cabe o princípio da insignificância em crimes contra a administração pública.

STJ, 606 – Não cabe a insignificância no crime de transmissão clandestina de sinal de internet via radiofrequên-

cia.

Insignificância nos crimes matérias contra a ordem tributária: Se o valor do tributo acessório não atinge

a cifra de R$20.000,00 (entendimento do STF), não se admite a propositura da ação penal.

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Aposto que você lembra do Austin. Então, vamos colocá-lo em mais uma situação criminosa para que

você entenda o que significa a insignificância.

Imagine a situação em que Austin se dirige até o interior de um supermercado e subtrai de uma das pra-

teleiras um pacote de chicletes avaliado em R$5,00 (cinco reais). Ao verificarmos a conduta de Austin verifica-

mos que ela se amolda ao crime de furto do art. 155, do Código Penal4.

Superado esse primeiro momento, precisamos verificar no caso concreto a incidência do “PROL”.

Dessa forma, não há dúvida de que na subtração do pacote de chiclete está ausente a periculosidade so-

cial de Austin, há um reduzido grau de reprovabilidade do fato, presente também a mínima ofensividade da

conduta e, por fim o ínfimo grau de lesão jurídica, razão pela qual, o fato é materialmente atípico, fazendo

incidir o princípio da insignificância.

Olhe como isso está caindo em concurso, caríssimo!

Ano: 2016 Banca: CESPE Órgão: TRT - 8ª Região (PA e AP) Prova: CESPE - 2016 - TRT - 8ª Região (PA e AP) -

Analista Judiciário - Área Judiciária

Assinale a opção correta, considerando a lei e a jurisprudência dos tribunais superiores.

A) A conduta de vender ou expor à venda CDs ou DVDs contendo gravações de músicas, filmes ou shows não

configura crime de violação de direito autoral, por ser prática amplamente tolerada e estimulada pela procura

dos consumidores desses produtos.

B) Na aplicação dos princípios da insignificância e da lesividade, as condutas que produzam um grau mínimo de

resultado lesivo devem ser desconsideradas como delitos e, portanto, não ensejam a aplicação de sanções pe-

nais aos seus agentes.

C) O uso de revólver de brinquedo no crime de roubo justifica a incidência da majorante prevista no Código

Penal, por intimidar a vítima e desestimular sua reação.

D) A idade da vítima é um dado irrelevante na dosimetria da pena do crime de homicídio doloso.

4 Furto Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

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E) Para a configuração dos crimes contra a honra, exige-se somente o dolo genérico, desconsiderando-se a

existência de intenção, por parte do agente, de ofender a honra da vítima.

Gabarito – B – Conforme acabamos de estudar, devemos verificar na análise do caso concreto se há ou não a

presença dos elementos que compõe o “PROL” e, caso estejam presentes os requisitos, estamos diante da apli-

cação do princípio da insignificância, que considera o fato materialmente atípico, não ensejando a aplicação de

sanções penais ao criminoso.

Ano: 2018 Banca: CESPE

Tendo como referência a jurisprudência sumulada dos tribunais superiores, julgue o item a seguir, acerca de cri-

mes, penas, imputabilidade penal, aplicação da lei penal e institutos.

É possível a aplicação do princípio da insignificância nos crimes contra a administração pública, desde que o pre-

juízo seja em valor inferior a um salário mínimo.

( ) Certo

( ) Errado

Gabarito – Errado – pois, como estudamos anteriormente, o STJ já tem entendimento sumulado sobre a ma-

téria (589) vedando a aplicação do princípio da insignificância em crimes contra a administração pública.

Alteridade

Outra limitação ao conteúdo dos tipos penais é o princípio da alteridade e, por esse princípio, o direito

penal só deve punir condutas que atingem bens jurídicos alheios. Ou seja, meu amigo(a), em sentido contrário,

por exemplo, a autolesão é fato atípico, porque atinge bem jurídico do indivíduo que se auto lesionou.

Suponhamos que Austin munido de uma faca, se lesionasse propositalmente em seu braço, cortando-o

de forma superficial, causando em si mesmo, uma lesão corporal de natureza leve. Nesse caso, estaremos di-

ante a atipicidade do fato, por conta do princípio da alteridade, pois não houve lesão a um bem jurídico alheio

capaz de gerar o crime de lesão corporal do art. 129 do Código Penal.

Sendo assim, vamos encerrar nosso estudo acerca das limitações ao conteúdo dos tipos penais com a

análise do princípio da adequação social.

Adequação social.

Por adequação social, verificamos que condutas socialmente adequadas não podem ser objeto de crimi-

nalização.

As vezes o princípio é invocado em casos que haja uma leniência social.

“Não entendi, Professor! Poderia exemplificar?”

Vamos lá!

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Imagine que Austin tenha sido presenteado por Deus com o nascimento de sua filha, fruto da sua união

com Houston. Logo em seguida ao nascimento de sua filha, Houston a leva até uma drogaria perto de sua resi-

dência para furar as orelhas da menina com a finalidade de colocar brincos. Assim, em um primeiro momento,

não temos dúvidas de que a conduta de “furar as orelhas” é causadora de uma lesão corporal. Entretanto, por

conta de tal conduta ser socialmente adequada, o fato é atípico, ou seja, não há crime para o fato ora descrito.

Olhe como isso foi cobrado em concurso!

Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: TRE-RJ Prova: CESPE - 2012 - TRE-RJ - Analista Judiciário - Área Judiciária

A respeito de institutos diversos de direito penal, julgue o item a seguir.

A venda de cópias não autorizadas de CDs e DVDs — cópias piratas — por vendedores ambulantes que não

possuam outra renda além da advinda dessa atividade, apesar de ser conduta tipificada, não possui, segundo a

jurisprudência do STJ, tipicidade material, aplicando-se ao caso o princípio da adequação social.

( ) Certo

( )Errado

Resolução:

a) – ERRADO. Os tribunais superiores já foram instados a se manifestarem sobre o tema e rejeitaram a tese de

considerar socialmente adequada a conduta de vender CDs e DVDs piratas, razão pela qual, tal conduta é con-

siderada criminosa.

Princípio da ofensividade.

Para o princípio da ofensividade, não há crime sem lesão efetiva ou ameaça concreta a um bem jurídico

tutelado.

Segundo esse princípio, os crimes de perigo abstrato (aqueles que o tipo penal descreve determinada

conduta sem exigir ameaça concreta ao bem jurídico tutelado) seriam inconstitucionais.

Porém, esse não é o entendimento que prevalece nos Tribunais Superiores (STJ e STF) a respeito do tema,

razão pela qual, ambos os Tribunais consideram constitucionais os crimes de perigo abstrato.

Um exemplo de crime de perigo abstrato é o porte de arma de fogo do artigo 14 do Estatuto do Desar-

mamento, onde o legislador resolveu incutir o potencial lesivo no próprio tipo penal, sem que da conduta de

portar a arma de fogo causa alguma lesão ou perigo de lesão a terceiros.

Princípio da intervenção mínima.

A intervenção mínima se traduz no instituto da ultima ratio que estudamos na parte introdutória da nossa

aula, razão pela qual, só se deve recorrer ao Direito Penal em situações extremas. Desse modo, deve-se deixar

aos demais ramos do Direito a disciplina das relações jurídicas.

Veja o exemplo do Professor Estefam para ilustrar o referido princípio:

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“A subtração de um pacote de balas em um supermercado, já punida com a expulsão do cliente do es-

tabelecimento e com a cobrança do valor do produto ou sua devolução, já foi resolvida por outros ramos

do Direito, de modo que não necessitaria da interferência do Direito Penal”.

Entendido?!

Vamos adiante!

Princípio do ne bis in idem.

Para este princípio, é vedada a dupla incriminação, razão pela qual, nenhuma pessoa pode ser processada

ou condenada mais de uma vez pelo mesmo fato.

Outro aspecto intimamente ligado o princípio consiste na proibição de que ao mesmo fato concreto seja

encaixado mais de uma norma penal.

Veja o exemplo do Professor André Estefam:

“Assim, por exemplo, se o agente desfere diversos golpes de faca contra uma pessoa, num só contexto,

visando matá-la, objetivo atingido depois do trigésimo golpe, não há vinte e nove crimes de lesão cor-

poral e um homicídio, mas tão somente um crime de homicídio” (ESTEFAM, 2017, p.153).

Vamos adiante, meu amigo(a)!

Princípio da individualização da pena.

O princípio da individualização da penal vem insculpido no artigo 5º, inciso XLVI, da CF/88:

Art. 5º. [...]

XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:

a) privação ou restrição da liberdade;

b) perda de bens;

c) multa;

d) prestação social alternativa;

e) suspensão ou interdição de direitos;

Desse modo, o princípio da individualização da pena deve ser observado em várias vertentes.

Nesse sentido é a lição do professor André Estefam:

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“O princípio deve ser observado, em primeiro lugar, pelo legislador, a quem se proíbe a construção de

tipos penais que retirem do magistrado a possibilidade de estabelecer uma pena que leve em conta a

natureza particular do crime cometido, com todas as suas características relevantes, bem como os as-

pectos ligados ao agente que, de algum modo, guardem relação com o fato praticado. Depois da indivi-

dualização legislativa, há a individualização judicial, que se reflete justamente no intrincado e rico pro-

cedimento de aplicação da pena.[...]. Sob esse prisma, é vedado ao julgador impor uma sanção padro-

nizada ou mecanizada, olvidando os aspectos únicos da infração cometida. Há, ainda, a individualiza-

ção executiva, a ser observada durante a execução da pena, com vistas à ressocialização do sentenci-

ado. (ESTEFAM, 2017, p. 394).

Certo, meu caro aluno! Superamos toda essa primeira parte sobre aplicação da lei penal, agora, vamos

dar início ao nosso segundo tema macro, mais precisamente o estudo da lei penal no tempo.

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LEI PENAL NO TEMPO

Introdução.

Dando início ao estudo do nosso segundo tema macro, meu amigo(a), nossa introdução parte do nasci-

mento da norma jurídica (quando ocorre sua entrada em vigor no ordenamento), a sua vida (é o período pela

qual ela permanece em vigência no ordenamento) e o seu óbito (momento em que é revogada e deixa de pro-

duzir efeitos no mundo jurídico).

Sendo assim, a partir do momento em que uma norma em vigor no ordenamento jurídico, o Estado (de-

tentor do direito de punir – jus puniendi) poderá exigir de todas as pessoas que se abstenham de praticar a con-

duta definida como criminosa.

A título de exemplo, quando entrou em vigor a Lei n.º 12.850/13, o Estado passou a ter o direito de exigir

de todos, que não pratiquem os comportamentos definidos como crimes de organizações criminosas (art. 2º

da Lei 12.850/13). Antes disso, não poderia exigir tal conduta das pessoas, visto que tal fato não era definido

como infração penal.

Os dispositivos legais que você precisa ter em mente para mapearmos o nosso estudo sobre lei penal no

tempo, são os artigos 2º a 4º do Código Penal e, também o art. 5º, XL da Constituição Federal:

Art. 5º [...]:

XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

Lei penal no tempo

Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude

dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores,

ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado – retroatividade penal benéfica.

Lei excepcional ou temporária

Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circuns-

tâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.

Tempo do crime

Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do

resultado.

Dessa forma, a lei penal poderá ser irretroativa (regra), retroativa (exceção) e também ultra ativa. Para

ficar mais fácil a visualização, preparei o esquema abaixo:

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Agora que você já sabe quais são os efeitos que a lei penal pode apresentar, vamos ver como esse conteúdo

está sendo cobrado em concurso:

Ano: 2017 Banca: FEPESE Órgão: PC-SC Prova: FEPESE - 2017 - PC-SC - Escrivão de Polícia Civil

É correto afirmar acerca dos princípios constitucionais do direito penal.

A) A fixação dos crimes e das respectivas penas não depende de lei formal.

B) Para beneficiar o réu, a lei penal poderá ser aplicada retroativamente.

C) A lei não poderá deixar de incriminar uma conduta já tipificada por legislação anterior.

D) As penas cruéis poderão ser aplicadas caso o delito cause grande comoção social.

E) Na impossibilidade de cumprimento da pena pelo réu, os seus familiares poderão ter a liberdade restringida.

Gabarito – B – A lei penal, conforme o art. 2º, p.ú, do CP, poderá retroagir para beneficiar o réu.

Então, meu aluno(a), a partir de agora vamos estudar cada uma dos efeitos da lei penal.

Retroatividade.

Conforme acabamos de ver na questão anterior, o Código Penal, em seu artigo 2º, p.ú., repetiu o co-

mando constitucional do art. 5º, XL e afirmou categoricamente que a lei penal só poderá retroagir para benefi-

ciar o réu.

“Tudo bem, Arpini! Mas e agora, como fica isso no plano prático?”

Então vamos lá! Vou exemplificar para você.

Imaginemos que Austin tenha cometido o crime de furto, previsto no art. 155, caput, do Código Penal.

Conforme estudamos no primeiro tema macro do nosso PDF de estudo, você lembra que o crime possui um

preceito primário (onde está a conduta incriminada) e um preceito secundário (onde nos traz a pena a ser apli-

cada para aquele fato).

Pois bem, se Austin cometeu o crime de furto, ao analisarmos o preceito secundário do art. 155, caput,

do Código Penal, verificamos que a pena a ser aplicada para esse crime é de 1 a 4 anos (Lei 1). Então, se Austin

for condenado pela prática de furto a uma pena de 2 anos, venha uma nova lei penal (Lei 2) dando nova redação

ao crime de furto, apenando esse crime com um preceito secundário de 6 meses a 1 ano. Essa será uma nova

lei benéfica (Lei 2), razão pela qual, ela deverá ser aplicada para beneficiar Austin.

Lei Penal

Irretroativa

Retroativa (art. 2º, p.ú, CP)

Ultra ativa (art. 3º, CP)

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“Professor, mas como será feita a aplicação dessa lei benéfica se o Austin já foi condenado definitivamente

a uma pena de 2 anos como você falou?”.

Nesse caso, meu jovem, caberá ao juiz da execução penal, com base na súmula 611 do STF, aplicar a lei

penal benéfica (Lei 2) a Austin, alterando seus benefícios de cumprimento de pena.

611, STF – Compete ao juízo da execução a aplicação da nova lei benéfica na execução penal.

Preste atenção no esquema abaixo:

Certo!

Quer ver como isso está sendo cobrado em prova? Aposto que sim!

Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: PC-AL Prova: CESPE - 2012 - PC-AL - Escrivão de Polícia

No que concerne aos princípios, direitos e garantias fundamentais, estabelecidos na Constituição Federal de

1988 (CF), julgue os itens a seguir.

A lei penal pode retroagir para beneficiar ou prejudicar o réu.

( ) Certo

( ) Errado

Gabarito – ERRADO – Conforme já estudamos em passagens anteriores, a lei penal somente poderá retroagir

para beneficiar o réu.

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Você também precisa saber que lei penal benéfica ou (lex mitior – outra terminologia que você pode

encontrar em sua prova) é gênero, do qual são espécies a abolitio criminis e a novatio legis in mellius, que serão

nosso objeto de estudo a partir de agora.

“Lex mitior” – retroativa

Abolitio criminis – nova lei que descriminaliza condutas. Não confundir os termos descriminalização

com despenalização (significa suprimir/dificultar/impedir a aplicação de pena privativa de liberdade).

Outra informação importante que quero que você não confunda com a abolitio criminis, diz respeito

ao princípio da continuidade normativo típica.

Continuidade normativo típica: significa a manutenção do caráter proibido da conduta, porém, há um

deslocamento do conteúdo criminoso para outro tipo penal. A intenção, nesse caso, é que a conduta permaneça

criminosa, enquanto na abolitio há a supressão do tipo penal.

Novatio legis in mellius – nova lei que mantém a criminalização do ato, mas lhe confere tratamento

mais brando (611, STF – compete ao juízo da execução a aplicação da nova lei benéfica na execução penal).

ABOLITIO CRIMINIS CONTINUIDADE NORMATIVO TÍPICA

Supressão da figura criminosa Supressão formal do crime

A conduta não será mais punida (o fato deixa de ser

punível)

O fato permanece punível (a conduta criminosa

passa para outro tipo penal).

O legislador não quer mais considerar o fato crimi-

noso

O legislador quer manter a conduta como crimi-

nosa.

A partir dos quadros resumo que apresentei para vocês acima, podemos verificar que no exemplo que

narrei anteriormente em que Austin havia cometido um furto e uma nova lei penal benéfica havia entrado em

vigor dando tratamento menos rigoroso ao fato criminoso, estamos diante de uma novatio legis in mellius, ou

seja, uma lei penal que mantém a criminalização (furto cometido por Austin) mas lhe confere um tratamento

mais brando (pena de 6 meses a 1 ano).

Já a abolitio criminis seria o caso, por exemplo, de uma nova que lei deixasse de considerar crime o

furto praticado por Austin

Lex Mitior (Lei mais Benéfica)

Abolitio Criminis - supressão da figura criminosa

Novatio legis in mellius - lei penal mais benigna

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Agora, veja como isso caiu recentemente em concurso.

Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: PC-MA Prova: CESPE - 2018 - PC-MA - Escrivão de Polícia Civil

A aplicação do princípio da retroatividade benéfica da lei penal ocorre quando, ao tempo da conduta, o fato é

A) típico e lei posterior suprime o tipo penal.

B) típico e lei posterior provoca a migração do conteúdo criminoso para outro tipo penal.

C) típico e lei posterior aumenta a pena correspondente ao crime.

D) típico e lei posterior acrescenta hipótese de aumento de pena.

E) atípico e lei posterior o torna típico.

Gabarito – A – Pois, conforme o exemplo em que “xxx” cometeu um furto, a sua conduta é considerada um

crime e, no momento em que há a abolitio criminis, por conta de uma lei penal benéfica, essa conduta anterior-

mente criminosa não mais é considerada crime.

Ano: 2015 Banca: VUNESP Órgão: PC-CE Prova: VUNESP - 2015 - PC-CE - Escrivão de Polícia Civil de 1a Classe

O indivíduo B provocou aborto com o consentimento da gestante, em 01 de fevereiro de 2010, e foi condenado,

em 20 de fevereiro de 2013, pela prática de tal crime à pena de oito anos de reclusão. A condenação já transitou

em julgado. Na hipótese do crime de aborto, com o consentimento da gestante, deixar de ser considerado

crime por força de uma lei que passe a vigorar a partir de 02 de fevereiro de 2015, assinale a alternativa correta

no tocante à consequência dessa nova lei à condenação imposta ao indivíduo B.

A) A nova lei será aplicada para os fatos praticados pelo indivíduo B, cessando em virtude dela a execução e os

efeitos penais da sentença condenatória.

B) A nova lei só irá gerar algum efeito sobre a condenação do indivíduo B se prever expressamente que se aplica a fatos anteriores. C) A nova lei só seria aplicada para os fatos praticados pelo indivíduo B se a sua entrada em vigência ocorresse antes de 01 de fevereiro de 2015 D) Não haverá consequência à condenação imposta ao indivíduo B visto que já houve o trânsito em julgado da condenação.

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E) A nova lei será aplicada para os fatos praticados pelo indivíduo B, contudo só fará cessar a execução persis-tindo os efeitos penais da sentença condenatória, tendo em vista que esta já havia transitado em julgado.

Gabarito: A – O enunciado da questão nos traz uma situação de abolitio criminis, razão pela qual, sobrevindo

em 2015 uma lei que deixe de considerar criminosa a conduta de aborto com consentimento da gestante,

mesmo que o agente tenha sido condenado pela pratica do referido crime, ela será automaticamente aplicada

ao seu caso através do juiz da execução penal (611, STJ) que declarará extinta a punibilidade do agente pela

superveniência da abolitio criminis.

Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: TJ-RO Prova: CESPE - 2012 - TJ-RO - Técnico Judiciário

Considere que um homem tenha sido denunciado pela prática de estelionato e que, durante a ação penal, tenha

entrado em vigor uma nova lei que prevê diminuição da pena aplicável ao referido crime. Nessa situação hipo-

tética, consoante disposições do Código Penal, a lei nova

A) não se aplica ao crime em tela, uma vez que o fato criminoso que originou a ação penal foi praticado anteri-

ormente à vigência da nova lei.

B) aplica-se ao crime em tela, independentemente do conteúdo material, dado que a lei penal obedece ao prin-

cípio da retroatividade.

C) aplica-se ao crime em tela, visto que a lei penal obedece ao princípio da retroatividade, caso caracterize-se

situação em que o acusado será beneficiado.

D) pode ser aplicada ao crime em tela, desde que não tenha ocorrido o trânsito em julgado de sentença penal

condenatória, situação que impede a retroatividade da lei nova.

E) não se aplica ao crime em tela, conforme o princípio da irretroatividade, visto que a ação penal já estava em

curso quando a nova lei passou a vigorar.

Gabarito – C – Diante da situação apresentada no enunciado, em que o indivíduo está sendo processado pela

prática do crime de estelionato (art. 171, CP) e, durante o tramite do processo, sobrevém nova lei penal bené-

fica, é o caso de aplicarmos, de forma retroativa, a nova lei ao caso concreto, beneficiado o acusado do crime

de estelionato.

Dessa forma, encerramos por aqui o estudo do primeiro efeito da lei penal benéfica e também de suas

espécies. No próximo tópico iniciaremos o estudo de mais um dos efeitos da lei penal, dessa vez a irretroativi-

dade!!

Continue firme no seu estudo e venha comigo!

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Irretroatividade.

O instituto da irretroatividade da lei penal é a regra no ordenamento jurídico, ou seja, meus caros, a

regra é de que as leis penais não retroajam para alcançar fatos passados.

Quanto a irretroatividade, você também precisa saber que ela é gênero (lex gravior – outra termino-

logia que você pode encontrar em sua prova) da qual são espécies a novatio legis incriminadora e a novatio

legis em pejus, que serão abordadas a partir de agora.

“Lex gravior“ – irretroativa

Novatio legis incriminadora – nova lei que criminaliza condutas.

Novatio legis in pejus – nova lei que mantém a criminalização, mas dá ao fato tratamento mais severo.

Ex: inclusão do §2º ao artigo 157 do CP.

Para falar para você acerca da novatio legis incriminadora, quero que você recorde, mais uma vez, do

exemplo dado no início do nosso curso no tocante ao crime de importunação sexual.

A Lei n.º 13.718/18, que criou o crime de importunação sexual (art. 215-A, do CP) é um típico exemplo de

nova lei incriminadora, pois, antes de ela entrar em vigor, não havia no ordenamento jurídico a previsão de um

crime específico para o agente que ejaculasse em uma moça nas condições em que o crime se desenvolvia (no

interior do transporte público paulistano). Assim, por ser uma nova lei incriminadora, ela é irretroativa, não

podendo punir os agentes que tenham praticado a referida conduta antes da sua entrada em vigor no mundo

jurídico.

De outra banda, ainda temos a novatio legis in pejus, que é a lei penal que mantém a criminalização da

conduta delituosa, mas da a esse fato um tratamento mais rigoroso. Voltemos ao exemplo em que Austin pra-

tica o crime de furto (art. 155, caput, do Código Penal), que prevê uma pena de 1 a 4 anos e multa. Suponhamos

que Austin depois de ter praticado esse furto e ter sido condenado a uma pena de 3 anos, sobrevenha ao orde-

namento jurídico uma nova lei que torne mais severa a punição daquelas pessoas que praticam o crime de furto,

prevendo uma pena de 10 a 20 anos. Desse modo, Austin não poderá ser alcançado por essa nova lei, pois ela é

Fato• Conduta de ejacualr nas

vítimas no transporte público

Lei 13.718/18

• Nova lei incriminadora

Art. 215-A

• Tipo penal criado. Portanto a norma é irretroativa.

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prejudicial para si e só passará a incidir a partir dos furtos praticados a partir da sua entrada em vigor no orde-

namento jurídico.

Dessa forma, meu caro, em ambos os casos as leis são irretroativas!!!

Entretanto, preciso que nesse momento você redobre a sua atenção, pois o que vou lhe ensinar agora é

importantíssimo para dar seguimento ao seu aprendizado sobre lei penal no tempo.

Em que pese a nova lei penal mais gravosa e a nova lei penal incriminadora serem irretroativas, temos um

instituto dentro do direito penal que se chama “superveniência de nova lei gravosa” que acontece durante a

permanência ou continuidade delitiva.

Para que possamos entender o que se trata a “superveniência de nova lei gravosa” precisamos entender

o que é um crime permanente.

Dentro do direito penal temos inúmeras formas de classificar os crimes de acordo com o seu momento

consumativo, ou seja, quando o crime produziu todos os seus efeitos no mundo jurídico e dá ao Estado o direito

de punir o agente que praticou tal conduta.

Dentre essas classificações uma delas é o crime permanente, que é aquele em que a consumação do crime

se prolonga no tempo.

Vamos a um exemplo: suponha que Austin sequestrou uma pessoa exigindo que lhe seja entregue uma

grande quantia em dinheiro para a libertação dessa vítima. Nesse contexto estamos diante do crime de extor-

são mediante sequestro, do art. 159 do Código Penal.

Extorsão mediante sequestro

Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como

condição ou preço do resgate:

Pena - reclusão, de oito a quinze anos.

Da análise do crime em tela, a conduta do agente é a de sequestrar, ou seja, no momento em que Austin

sequestra sua vítima, o crime está automaticamente consumado, independente do criminoso vir a receber ou

não a vantagem solicitada para a libertação da vítima.

Quero que você também perceba que a pena desse crime é de 8 a 15 anos.

Agora, tenhamos a seguinte situação em mente.

Furto

Pena 1 a 4 anos

Nova Lei Penal Gravosa

Furto

Pena 10 a 20 anos

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Se Austin mantém a vítima em seu poder por uma semana e, durante esse período de tempo, entra em

vigor uma lei penal que altera o preceito secundário do crime (de 8 a 15 anos) para 20 a 30 anos, não temos

dúvidas de que se trata de uma novatio legis in pejus, correto? Correto! Então, em que pese tratar-se de uma lei

penal gravosa, ELA VAI SE APLICAR AO CRIME QUE ACABEI DE MOSTRAR A VOCÊS, pelo simples fato de

enquanto o sequestrado estiver em poder do sequestrador, a consumação do crime está se prolongando no

tempo, pelo seu caráter permanente.

Diferentemente do crime permanente é o crime continuado, previsto no artigo 71 do CP.

Crime continuado

Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da

mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem

os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes,

se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois ter-

ços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave

ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a

personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos

crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único

do art. 70 e do art. 75 deste Código.

A partir da leitura do artigo 71 do CP, podemos concluir que a continuidade delitiva (crime continuado)

ocorre quando o sujeito, mediante pluralidade de condutas, realiza uma série de crime da mesma espécie, guar-

dando entre si um elo de continuidade (em especial, as mesmas condições de tempo, lugar e maneira de exe-

cução).

O Brasil adotou a teoria da ficção jurídica para o crime continuado.

Para tanto, alguns requisitos são necessários para a ocorrência do crime continuado, quais sejam:

Requisitos Objetivos:

1º) Os crimes praticados devem ser de mesma espécie (aquelas previstos no mesmo tipo penal);

2º) Condições semelhantes: tempo (aproximadamente 30 dias), lugar (no mesmo foro ou foros próximos)

e modo de execução (verificar o “modus operandi”).

Requisito subjetivo: Unidade de desígnios: uma programação inicial de realização sucessiva.

Espécies:

a) comum/simples – Art. 71, caput, basta o preenchimento dos requisitos acima, e uma vez verificados, o

aumento de pena é de 1/6 a 2/3.

b) Específico/qualificado (p.ú. do art.71): São requisitos adicionais aos do caput, com caráter cumulativo,

sendo todos os crimes doloso, praticados contra vítimas diferentes, cometido com violência ou grave ameaça

contra a pessoa. A pena nesse caso pode ser aumenta até o triplo

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Isso também é o que preconiza a súmula 711 do STF.

Súmula 711 do STF – A lei gravosa se aplica ao crime permanente ou continuado quando entrar em vigor

durante a permanecia ou continuidade delitiva.

Agora, meu amigo(a), preste atenção como esse conteúdo vem caindo em provas:

Ano: 2016 Banca: CESPE Órgão: PC-PE Prova: CESPE - 2016 - PC-PE - Escrivão de Polícia Civil

Um crime de extorsão mediante sequestro perdura há meses e, nesse período, nova lei penal entrou em vigor,

prevendo causa de aumento de pena que se enquadra perfeitamente no caso em apreço.

Nessa situação hipotética,

A) a lei penal mais grave não poderá ser aplicada: o ordenamento jurídico não admite a novatio legis in pejus.

B) a lei penal menos grave deverá ser aplicada, já que o crime teve início durante a sua vigência e a legislação,

em relação ao tempo do crime, aplica a teoria da atividade.

C) a lei penal mais grave deverá ser aplicada, pois a atividade delitiva prolongou-se até a entrada em vigor da

nova legislação, antes da cessação da permanência do crime.

D) a aplicação da pena deverá ocorrer na forma prevista pela nova lei, dada a incidência do princípio da ultrati-

vidade da lei penal.

E) a aplicação da pena ocorrerá na forma prevista pela lei anterior, mais branda, em virtude da incidência do

princípio da irretroatividade da lei penal.

Gabarito – C – Pois, conforme acabamos de estudar, a lei penal mais gravosa se aplica ao crime continuado ou

permanente enquanto não cessada a atividade delituosa e a entrada em vigor da lei mais gravosa. Essa também

é a redação da súmula 711 do Supremo Tribunal Federal.

Ano: 2015 Banca: CESPE Órgão: TJ-DFT Prova: CESPE - 2015 - TJ-DFT - Analista Judiciário - Judiciária

Em relação à aplicação da lei penal e aos institutos do arrependimento eficaz e do erro de execução, julgue o

item seguinte.

Se um indivíduo praticar uma série de crimes da mesma espécie, em continuidade delitiva e sob a vigência de

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duas leis distintas, aplicar-se-á, em processo contra ele, a lei vigente ao tempo em que cessaram os delitos,

ainda que seja mais gravosa.

( ) Certo

( ) Errado

Gabarito – Certo – Conforme se verifica do enunciado da questão, ela retrata o teor do entendimento sumulado

pelo STF no verbete 711, o qual diz ser possível a aplicação da lei penal mais gravosa que entra em vigor durante

a permanência ou continuidade delitiva.

Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: STF Prova: CESPE - 2013 - STF - Analista Judiciário - Área Judiciária

Acerca dos princípios gerais que norteiam o direito penal, das teorias do crime e dos institutos da Parte Geral

do Código Penal brasileiro, julgue os itens a seguir.

Considere que Manoel, penalmente imputável, tenha sequestrado uma criança com o intuito de receber certa

quantia como resgate. Um mês depois, estando a vítima ainda em cativeiro, nova lei entrou em vigor, pre-

vendo pena mais severa para o delito. Nessa situação, a lei mais gravosa não incidirá sobre a conduta de Ma-

noel.

( ) Certo

( ) Errado

Gabarito – ERRADO – A lei mais gravosa incidirá sobre Manoel, pois entrou em vigor durante a permanência

(prolongamento da consumação do crime) enquanto a vítima se encontrava sob seus domínios.

Sendo assim, meu querido(a) estudante, através das análise das questões que acabamos de resolver, é

de suma importância você estar atento a súmula 711 do Supremo e sua incidência em provas de concurso.

Diante desse panorama que apresentei a vocês, quero-lhes fazer uma pergunta. Você acha que é possível

haver a combinação de leis penais? Em outras palavras, você acha possível que o juiz, no caso concreto, possa

mesclar dispositivos benéficos da nova lei com benefícios da lei revogada?

A resposta por um “sim” pode até parecer tentadora diante de tantas nuances presentes em vários dos

institutos que já estudamos, entretanto, nesse caso é vedado ao juiz a combinação de leis penais, pois, nesse

contexto, ele estaria criando uma terceira lei (chamada de lex terxio), e o STJ, por meio da súmula 501 tratou de

pôr um ponto final na controvérsia.

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"É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas

disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976,

sendo vedada a combinação de leis."

Na época, a controvérsia pairava sob a forma de como seria aplicada a pena em crimes envolvendo o

tráfico de drogas.

Naquela ocasião, o juiz, ao condenar o indivíduo pela prática do crime de tráfico, ao realizar a dosimetria

da pena (matéria que será objeto de estudo mais adiante no nosso curso) deveria fazer duas dosimetrias, sendo

uma com a lei antiga e outra com a lei nova, aplicando-se a sentença em que chegara em uma condenação mais

branda (pena menor), sendo vedada a combinação dos dispositivos da Lei 11.343/06 (nova lei de drogas) com

os dispositivos da Lei 6.368/76 (antiga lei de drogas) para formular a sentença.

Então, para encerrarmos o estudo dos diversos desdobramentos da lei penal no tempo, ainda tenho a

incumbência de ensina-los acerca do instituto da lei penal excepcional ou temporária. Não percamos tempo!

Vamos adiante!

Lei penal excepcional ou temporária.

Dando seguimento ao nosso estudo, caríssimo, as leis penais excepcionais ou temporárias são criadas

para disciplinar condutas praticadas durante alguma situação excepcional ou temporária e sua previsão legal

encontra-se no art. 3º do Código Penal.

Lei excepcional ou temporária

Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circuns-

tâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.

Como exemplo, posso citar a vocês a Lei 12.663/12 (a Lei Geral da Copa) criada para vigorar somente

durante o período de realização da Copa do Mundo no Brasil. A referida lei criou figuras criminosas, mas fixou

um contexto temporal para que houvesse a incidência desses crimes caso a lei fosse violada. O marco temporal

estipulado pela lei geral da copa foi dia 31/12/2014. Após essa data a Lei Geral da Copa parou de produzir efeitos

no mundo jurídico.

Entretanto, meu amigo(a), como você acha que fica a punição de um indivíduo que tenha cometido um

crime previsto na Lei Geral da Copa durante o seu período de vigência, se posteriormente ele veio a perder os

seus efeitos? Pense um pouco e reflita comigo.

Se a Lei Geral da Copa, criada justamente para proteger os acontecimentos durante a Copa do Mundo,

não punisse os indivíduos que a violassem, mesmo após a sua data final (31/12/2014) de vigência, de nada teria

sentido a criação da referida norma.

Sendo assim, ambas as leis penais (excepcionais e temporárias) são aplicáveis aos fatos cometidos du-

rante a situação excepcional ou o período de tempo, mesmo após o seu termino. Então, meu brilhante aluno,

isso significa que essas leis penais possuem ultratividade.

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Para melhor visualizarmos, suponha que Austin tenha reproduzido indevidamente quaisquer um dos sím-

bolos oficias de titularidade da FIFA durante a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, conforme prevê o art. 30 da

Lei Geral da Copa.

Art. 30. Reproduzir, imitar, falsificar ou modificar indevidamente quaisquer Símbolos Oficiais de titula-

ridade da FIFA:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano ou multa.

Dessa forma, suponha que a investigação que apurou ser Austin o autor do crime de utilização indevida e

símbolos oficiais tenha se encerrado no ano de 2016, ou seja, dois anos após o término da data prevista para

perdurarem os efeitos da lei (31/12/2014).

Mesmo que Austin venha a ser processado somente em 2016 por ter violado o art. 30 da Lei Geral da Copa,

que perdeu sua vigência em 31/12/2014, o criminoso será punido com base nessa lei pois, se tratando de lei

penal excepcional ou temporária, possui ultratividade alcançado os fatos praticados durante a sua vigência.

Fique atento, meu amigo(a), agora vamos ver como esse assunto vem sendo abordado nos concursos.

Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Provas: CESPE - 2013 - Polícia Federal - Escrivão da Polícia

Federal

Julgue o item subsequente , relativo à aplicação da lei penal e seus princípios. No que diz respeito ao tema lei penal no tempo, a regra é a aplicação da lei apenas durante o seu período de vigência; a exceção é a extra-atividade da lei penal mais benéfica, que comporta duas espécies: a retroatividade e a ultra-atividade. ( ) Certo

( ) Errado

Gabarito – CERTO – pois, conforme virmos anteriormente, a regra é que a lei penal será aplicada, em regra,

apenas durante o seu período de vigência. Porém, excepcionalmente, por conta da ultra atividade, a lei poderá

alcançar fatos praticados durante a sua vigência mesmo após ela ter parado de produzir efeitos no mundo jurí-

dico.

Ano: 2014 Banca: FUNCAB Órgão: PC-RO Prova: FUNCAB - 2014 - PC-RO - Escrivão de Polícia Civil

O artigo 3º do Código Penal dispõe: “a lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua dura-

ção ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência”. O

referido artigo prevê o fenômeno da:

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A) coculpabilidade.

B) tipicidade conglobante.

C) retroatividade da lei.

D) abolitio criminis.

E) ultra-atividade da lei.

Gabarito – E – tendo em vista que o enunciado nos traz a redação do art. 3º do Código Penal, e nosso estudo

até o momento, estamos diante do caráter ultra ativo da lei penal, que tem o condão de ser aplicada durante

sua vigência, mesmo que decorrido o período de sua duração ou cessada as circunstâncias que a determinaram.

Então, espero que você tenha entendido tudo até aqui, meu caro aluno!

Qualquer dúvida acerca da matéria, lembre-se que estou à disposição do você no canal de dúvidas aqui

do Direção Concursos!

Vamos dar seguimento ao nosso estudo?

Nesse momento entraremos no último tópico dentro do estudo da aplicação da lei penal, pois vamos tra-

tar do tempo do crime.

Tempo do crime.

Meu amigo, minha amiga!

Vamos dar início a umas das partes mais importantes no estudo do direito penal! A partir desse momento,

iremos tratar sobre o tempo do crime.

Para que ocorra a correta aplicação da lei penal, é imprescindível definir o tempo do crime, ou seja,

quando um crime se considera praticado.

O nosso Código Penal, no seu art. 4º, adotou a teoria da atividade.

Art. 4º - considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o mo-

mento do resultado.

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Com o intuito de clarear o seu estudo, trago um exemplo do saudoso professor André Estefam5:

“Em 1994, o homicídio qualificado tornou-se crime hediondo; a inclusão deste fato na lista contida na

Lei n. 8.072/90 ocorreu no dia 7 de setembro do ano citado. Suponha que o agente, visando à morte de

seu inimigo, tenha desferido contra ele diversos disparos de arma de fogo, por motivo fútil, no dia 5 de

setembro de 1994. Imagine, ainda, que o atirador se evada do local e a vítima seja socorrida por tercei-

ros, ficando hospitalizada por uma semana, até que vem a óbito, por não resistir à gravidade dos feri-

mentos. Neste exemplo, a conduta foi praticada antes da entrada em vigor da lex gravior, embora o

resultado se tenha produzido despois desta” (ESTEFAM, André. pg. 166).

Assim, meu caro(a) aluno(a), podemos verificar através do exemplo acima mencionado que, o homicídio

qualificado cometido pelo agente não será considerado hediondo, tendo em vista que o tempo do crime é o da

conduta (disparos de arma de fogo), e não da consumação (morte da vítima).

Outra importante função desempenhada pela teoria da atividade, insculpida no art. 4º do Código Penal é

a delimitação da responsabilidade penal do agente criminoso. Sendo assim, através da teoria da atividade,

torna-se possível fixar o exato momento em que o agente passará a responder criminalmente por seus atos –

isso se dará somente se a ação ou omissão houver sido praticada quando ele já tiver completado 18 anos de

idade (o que ocorre no primeiro minuto de seu 18º aniversário).

Peguemos o exemplo acima e mudemos a idade do agente criminoso, teremos a seguinte situação hipo-

tética, por exemplo:

Se ao tempo do disparo de arma de fogo o agente era menor de 18 anos, terá praticado ato infracional

e será punido de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei n.º 8.069/90), ainda que

a vítima somente venha a óbito quando o agente complete 18 anos.

Confira junto comigo como esse conteúdo vem sendo cobrado em prova!

Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-ES Prova: INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Escrivão de Po-

lícia

O Direito Penal brasileiro considera como momento do cometimento do crime

A) desde o seu planejamento.

5 ESTEFAM, André. Direito Penal : parte geral (arts. 1º a 120) / André Estefam. – 6. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017.

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B) quando atingido o resultado pretendido.

C) o momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.

D) quando chega ao conhecimento das autoridades competentes.

E) o momento do cometimento do crime é irrelevante para o Direito Penal.

Gabarito – C – Ao analisar o enunciado da questão, ela nos traz a indagação acerca do marco que o Direito Penal

brasileiro resolveu adotar como momento para o cometimento do crime e, a partir dessa informação, conse-

guimos verificar na alternativa “c” que ela transcreveu a literalidade do art.4º do Código Penal, que considera

como momento do cometimento do crime, a ação ou omissão, ainda que outo seja o momento do resultado.

Ano: 2017 Banca: CONSULPLAN Órgão: TRE-RJ Provas: CONSULPLAN - 2017 - TRE-RJ - Analista Judiciário -

Área Administrativa

“João da Silva atira contra ‘X’ no dia 29/5, tendo ‘X’ falecido 20 dias depois.” Sobre o tempo do crime, o

Código Penal adota a teoria:

A) Ubiquidade.

B) Da atividade.

C) Do resultado.

D) Ambivalência.

Gabarito – C – Em que pese X ter falecido 20 dias depois da data dos disparos, o art. 4º do Código Penal, que

adotou a teoria da atividade, é claro ao afirmar que considera-se tempo do crime o momento da conduta (ação

ou omissão) ainda que outro seja o momento do resultado.

E, para fecharmos o estudo do tempo do crime, vamos analisar mais uma questão acerca do tema, para

que, na sequência possamos dar início ao nosso novo tema macro.

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Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-AL Prova: FGV - 2018 - TJ-AL - Analista Judiciário - Área Judiciária

No dia 02.01.2018, Jéssica, nascida em 03.01.2000, realiza disparos de arma de fogo contra Ana, sua inimiga,

em Santa Luzia do Norte, mas terceiros que presenciaram os fatos socorrem Ana e a levam para o hospital em

Maceió. Após três dias internada, Ana vem a falecer, ainda no hospital, em virtude exclusivamente das lesões

causadas pelos disparos de Jéssica. Com base na situação narrada, é correto afirmar que Jéssica:

A) não poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da Atividade para de-

finir o momento do crime e a Teoria da Ubiquidade para definir o lugar;

B) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria do Resultado para definir

o momento do crime e a Teoria da Atividade para definir o lugar;

C) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da Ubiquidade para definir

o momento do crime e a Teoria da Atividade para definir o lugar;

D) não poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da Atividade para de-

finir o momento do crime e apenas a Teoria do Resultado para definir o lugar;

E) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria do Resultado para definir

o momento do crime e a Teoria da Ubiquidade para definir o lugar.

Gabarito – A – Ao analisarmos o enunciado da questão, à luz do tempo do crime (art. 4º do CP), é possível

notarmos que Jéssica possuía 17 anos de idade na data dos disparos, razão pela qual, não poderá ser responder

pelo seu crime com base no Código Penal e sim com base no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei

nº 8.069/90), por ato infracional análogo ao crime de homicídio. Quanto a teoria da ubiquidade, ela será objeto

de estudo quando iniciarmos o estudo da lei penal no espaço.

Dessa forma, finalizamos por aqui o estudo do tempo do crime.

Tenho a certeza de que você irá gabaritar todas as questões sobre o tempo do crime no seu próximo con-

curso! Espero você para o estudo do nosso próximo tópico!

Até lá!

Lugar do crime.

Conforme estudamos até o presente momento, o art. 5º do Código Penal, determina que seja aplicada

a lei brasileira ao crime praticado no território nacional. Entretanto, da mesma forma que uma infração penal

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pode se fracionar em tempos diversos, é possível que ela se desenvolva em lugares diversos, alcançando o

território de dois ou mais países igualmente soberanos.

Para que ficar mais fácil a sua visualização, trago-lhes um exemplo de outro colega, também pena-

lista, Rogério Sanches Cunha6:

“Imaginemos, por exemplo, uma bomba fabricada no Brasil e enviada para explodir e matar vítima que

se encontra em país vizinho. Esse crime foi praticado no Brasil (devendo sofrer os consectários da lei

nacional) ou no país vizinho (aplicando-se a lei estrangeira)?

Me permita responder à questão e trazer a solução que você deverá ter em mente na hora de respon-

der suas questões de concurso.

A nossa solução, meu amigo(a) está no art. 6º do Código Penal, que nos apresenta a seguinte redação.

Lei comigo: “considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem

como onde se produziu ou deveria se produzir o resultado”.

Assim, quanto ao lugar do crime, o Código Penal adotou a teoria da ubiquidade. Logo, sempre que

por força do critério da ubiquidade o fato se deva considerar praticado tanto no território brasileiro como no

estrangeiro, será aplicável a lei brasileira.

CRIMES À DISTÂNCIA

O crime percorre territórios de dois Estados soberanos (Brasil e Paraguai, por exemplo)

Gera conflito internacional de jurisdição (qual país aplicará sua lei?)

Aplica-se o art.6º do Código Penal.

Vou lhes dar mais um exemplo para que fique bem claro: imagine a hipótese de um roubo que tenha

iniciado sua execução no município de Ponta Porã e que sua consumação ocorra no Paraguai. Nesse caso, vai

ser aplicada a lei penal brasileira. Como dizia o PAI do Direito Penal, Nelson Hungria, basta que o crime tenha

“tocado” o território nacional para que nossa lei seja aplicável.

Então, agora veja como isso está sendo cobrado em provas!!

Ano: 2004 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2004 - Polícia Federal - Escrivão da Polícia

Federal - Nacional

6 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral (arts. 1º a 120) / Rogério Sanches Cunha – 5. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: JusPODIVM, 2017.

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Considere a seguinte situação hipotética.

Na fronteira do Brasil com a Venezuela, mas ainda em território nacional, na cidade de Pacaraima, em Ro-

raima, Otávio desferiu cinco facadas contra Armindo, que conseguiu correr e faleceu na cidade de Santa He-

lena, na Venezuela.

Nessa situação, como o crime se consumou na Venezuela, não há competência jurisdicional do Brasil para

processar e julgá-lo.

( ) Certo

( ) Errado

Gabarito – ERRADO – Pois, conforme estudamos, estamos diante de um crime à distância (aquele que toca o

território de dois ou mais países) e nesse caso, aplicamos o art.6º do CP que trata da teoria da ubiquidade.

Sendo assim, baste que o crime toque o nosso território para que se possível a aplicação da lei penal brasileira.

Ano: 2011 Banca: CESPE Órgão: TRE-ES Prova: CESPE - 2011 - TRE-ES - Analista Judiciário - Área Judiciária -

Específicos

Lugar do crime, para os efeitos de incidência da lei penal brasileira, é aquele onde foi praticada a ação ou omis-

são, no todo ou em parte, bem como aquele onde se produziu ou, no caso da tentativa, teria sido produzido o

resultado.

( ) Certo

( ) Errado

Gabarito – CERTO – ao analisar o enunciado da questão, podemos perceber que ela retrata a literalidade do

art. 6º do Código Penal, já estudado por nós anteriormente.

Superada essa parte, quero deixar a você um mnemônico para memorização acerca da teoria da ati-

vidade e da teoria da ubiquidade.

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Dessa forma, meu nobre estudante, encerramos mais um tópico do nosso estudo e vamos dar segui-

mento a partir do tema da extraterritorialidade.

Venha comigo!

LUTALembre-se desse mnemônico

TATEMPO ATIVIDADE

LULUGAR UBIQUIDADE

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LEI PENAL NO ESPAÇO

Territorialidade.

Seja muito bem-vindo ao nosso segundo grande tema de estudo aqui no nosso curso de Direito Penal

parte geral.

Pois bem, quando estamos tratando de lei penal no espaço, precisamos definir a territorialidade, ou seja,

quais são os limites territoriais para a aplicação do direito penal brasileiro.

De acordo com o artigo 5º, caput, do CP, “aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e

regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.

A partir da regra elencada no art. 5º do Código Penal, podemos verificar que nosso CP acolheu o princípio

da territorialidade da lei penal, ou seja, a lei penal brasileira será aplicada a todos os fatos ocorridos dentro

do nosso território.

“Arpini, o que pode ser considerado território nacional? Somente o espaço físico brasileiro? “

Por território nacional, entende-se a soma do espaço físico (geográfico) com o espaço jurídico (espaço

físico por ficção ou por extensão).

Espaço físico (geográfico) Espaço terrestre, marítimo ou aéreo, sujeito à so-

berania do Estado (solo, rios, lagos, mares interio-

res, baías, faixa do mar exterior ao longo da costa

– 12 milhas marítimas de largura, medidas a partir

da linha de baixa-mar do litoral continente e insu-

lar – e espaço aéreo correspondente.

Espaço físico por extensão ou ficção Para os efeitos penais, consideram-se como es-

paço físico por ficção as embarcações e aeronaves

brasileiras, de natureza pública ou a serviço do go-

verno brasileiro onde quer que se encontrem, bem

como as embarcações e aeronaves brasileiras (ma-

triculadas no Brasil), mercantes ou de propriedade

privada, que se achem, respectivamente em alto

mar ou no espaço aéreo correspondente (art. 5º,

§1º, CP).

É também aplicável a lei brasileira aos crimes co-

metidos a bordo de aeronaves ou embarcações es-

trangeiras de propriedade privada, achando-se

aquelas em pouso no território nacional ou voo no

espaço aéreo corresponde, e estas em porto ou

mar territorial do brasil (art. 5º, §2º, CP).

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Do que acabei de mostrar a você anteriormente, podemos extrair as seguintes conclusões:

A) Quando navios ou aeronaves forem públicos ou esti-

verem a serviço do governo brasileiro, quer se encon-

trem em território nacional ou estrangeiro, são

considerados parte do nosso território.

B) Se os navios ou aeronaves forem privados, quando

em alto-mar ou espaço aéreo correspondente, se-

guem a lei da bandeira que trazem consigo.

C) Quanto aos navios e aeronaves estrangeiros, em ter-

ritório brasileiro, desde que privados são considera-

dos parte de nosso território.

Contudo, meu caro aluno(a), através da redação do art. 5º, podemos perceber que há exceções, não sendo

absoluta a regra da territorialidade, comportando a aplicação de disposições previstas em convenções, trata-

dos e regras de direito internacional (territorialidade temperada/mitigada).

Essa ressalva se refere aos casos de imunidades diplomáticas (que possuem caráter absoluto – tendo va-

lidade para todos os crimes) ou consular (tem caráter relativo – o detentor de imunidade consular só fica

isento dos crimes ligados à função). Isso é decorrência do princípio da soberania das nações.

Vamos exemplificar, caríssimo!

Imagine a seguinte situação: suponha que o embaixador italiano no Brasil, por conta de uma discussão

ocasionada com um brasileiro, acaba matando-o mediante três disparos de arma de fogo.

A partir dessa situação, não temos dúvida de que se trata de um crime de homicídio, praticado dentro do

território brasileiro, contra uma vítima brasileira, sendo assim, devemos aplicar para o caso concreto a lei brasi-

leira, correto? Errado, meu amigo(a)!!! Nesse caso, por conta do princípio da soberania das nações, e das exce-

ções previstas no art. 5º do Código Penal, o embaixador italiano, mesmo que tenha praticado um homicídio

contra um brasileiro, dentro do território brasileiro, por conta de sua função diplomática, responderá pelo ho-

micídio com base na lei italiana.

Por conta disso, permite-se a aplicação da lei penal estrangeira a fato praticado em território brasileiro,

fenômeno conhecimento como intraterritorialidade, presente, justamente na imunidade diplomática.

A intraterritorialidade não se confunde com a extraterritorialidade, que será objeto de estudo logo adi-

ante, quando analisarmos o art. 7º do Código Penal.

Vou exemplificar para você em uma tabela logo abaixo, para que facilitar sua memorização!

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Princípio da Territoriali-

dade

Princípio da Extraterri-

torialidade

Princípio da Intraterri-

torialidade

Local do Crime Brasil País estrangeiro Brasil

Lei a ser aplicada Brasileira Brasileira Estrangeira*

* Na intraterritorialidade, o fato criminoso, apesar de cometido no Brasil, será punido de acordo com a lei

estrangeira aplicada pelo juiz criminal do seu país.

Encerrada essa parte, vamos, a partir do próximo tópico, analisar os princípios aplicáveis a territoriali-

dade.

Venham comigo!!

Princípios aplicáveis a territorialidade.

Meu caro estudante, agora que você já sabe que um fato criminoso punível pode, eventualmente, atingir

os interesses de dois ou mais Estados igualmente soberanos, gerando, nesses casos, um conflito internacional

de jurisdição, o estudo da lei penal no espaço visa apurar as fronteiras de atuação da lei penal nacional.

Em caso de eventual colisão há, pelo menos, seis princípios que sugerem algum tipo de solução.

Vamos ao estudo e cada um deles?!

PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À TERRITORIALIDADE

Princípio da territorialidade Aplica-se a lei penal do local do crime, não impor-

tando a nacionalidade do agente, da vítima ou do

bem jurídico.

Princípio da nacionalidade ou personalidade ativa Aplica-se a lei do país a que pertence o agente crimi-

noso, pouco importando o local do crime, a naciona-

lidade da vítima ou do bem jurídico violado.

Princípio da nacionalidade ou personalidade pas-

siva

Aplica-se a lei penal da nacionalidade da vítima.

Princípio da defesa Aplica-se a lei penal da nacionalidade do bem jurídico

lesado (ou colocado em perigo), não importando o

local da infração penal ou a nacionalidade do sujeito

ativo.

Princípio da Justiça Penal Universal ou da Justiça

cosmopolita

O agente fica sujeito à lei do País onde for encon-

trado, não importando sua nacionalidade, do bem ju-

rídico lesado ou do local do crime. Esse princípio está

normalmente presente nos tratados internacionais

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de cooperação de repressão a determinados delitos

de alcance transnacional.

Princípio da representação, do pavilhão, da subs-

tituição ou da bandeira.

A lei penal nacional aplica-se aos crimes cometidos

em aeronaves e embarcações privadas, quando pra-

ticados no estrangeiro e aí não sejam julgados.

Agora, vamos ver como esse assunto vem sendo cobrado nas provas de concursos!

Ano: 2016 Banca: UFMT Órgão: TJ-MT Prova: UFMT - 2016 - TJ-MT - Técnico Judiciário

Sobre a aplicação da lei penal, de acordo com o Decreto Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal,

marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.

( ) Não há crime sem lei posterior que o defina.

( ) Considera-se praticado o crime no momento da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.

( ) Considera-se como extensão do território nacional, para efeitos penais, a aeronave de propriedade privada,

que se ache no espaço aéreo correspondente.

( ) Não fica sujeito à lei brasileira, embora cometido no estrangeiro, o crime contra a liberdade do Presidente

da República.

Assinale a sequência correta.

A) V, F, F, V

B) F, V, V, F

C) V, V, F, F

D) F, F, V, V

Conforme já estudado anteriormente, você já está craque em saber que “não há crime sem lei anterior que o

defina”, razão pela qual a primeira assertiva é falsa. A segunda assertiva é cópia integral do art.4º do Código

Penal, que adotou como tempo do crime a teoria da atividade, em que este se considera praticado no momento

da conduta (ação ou omissão). A terceira assertiva é verdadeira, pois, conforme acabamos de analisar, as aero-

naves de propriedade privada que se achem no espaço aéreo correspondente são consideradas extensão do

território nacional. Por fim, a última assertiva está equivocada pois, embora cometido no estrangeiro, o crime

contra a liberdade do Presidente da República, fica sujeito a lei brasileira (esse é o fenômeno da extraterritori-

alidade – que será objeto de estudo logo em seguida).

Gabarito: Letra “B”.

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Ano: 2014 Banca: Aroeira Órgão: PC-TO Prova: Aroeira - 2014 - PC-TO - Escrivão de Polícia Civil

Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações brasileiras, mer-

cantes ou de propriedade privada,

A) que se achem em alto-mar.

B) onde quer que estejam ancoradas.

C) que se achem no mar territorial brasileiro.

D) onde quer que estejam navegando.

Gabarito – A – Assim, meu caro, conforme visto anteriormente, quando a embarcação for brasileira (mercante

ou de propriedade privada) encontrando-se em alto mar, será considerada extensão do território brasileiro.

Ano: 2013 Banca: FUNCAB Órgão: PC-ES Prova: FUNCAB - 2013 - PC-ES - Escrivão de Polícia

O marinheiro Jonas matou seu colega de farda a bordo do navio-escola NE Brasil, da Marinha Brasileira, quando

o navio estava em águas sob soberania do Japão. Assim:

A) a lei penal brasileira será aplicada ao caso, em razão do princípio da territorialidade.

B) a lei penal brasileira será aplicada ao caso, em razão do princípio do pavilhão.

C) a lei penal brasileira será aplicada ao caso, em razão do princípio da justiça universal.

D) a lei penal brasileira será aplicada ao caso, em razão do princípio da defesa.

E) a lei penal japonesa será aplicada ao caso, em razão do crime ter ocorrido em águas sob soberania do Japão.

Gabarito – A – tratando-se de navio da Marinha Brasileira, independente do navio estar sob as águas de sobe-

rania Japonesa, este considera-se território brasileiro, razão pela qual, a lei penal brasileira será aplicada ao fato.

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Assim, fechamos mais uma parte do nosso conteúdo programático para essa aula inaugural sobre

territorialidade.

No próximo tópico vamos tratar sobre o lugar do crime e a teoria adotada pelo direito penal brasileiro

para definir em que lugar se considera praticado o crime.

Vamos lá?!

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Extraterritorialidade.

Anteriormente expliquei a vocês que o critério geral adotado pelo ordenamento jurídico penal é o de

que a lei penal brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional (art. 5º, CP), vale

dentro do território nacional (geográfico e por extensão). No entanto, meu caro, em casos excepcionais, a nossa

lei poderá ultrapassar os limites do território, alcançando crimes cometidos exclusivamente em território es-

trangeiro. Esse é o fenômeno conhecido por extraterritorialidade.

A extraterritorialidade está prevista no art. 7º do Código Penal, em seus incisos I e II e, também no §3º,

nos anunciam quais são os crimes que fixam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro.

Vejamos:

Extraterritorialidade

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:

I - os crimes:

a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;

b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de

Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo

Poder Público;

c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;

d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;

II - os crimes:

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;

b) praticados por brasileiro;

c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada,

quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.

§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou con-

denado no estrangeiro.

§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condi-

ções:

a) entrar o agente no território nacional;

b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;

c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;

d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;

e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibili-

dade, segundo a lei mais favorável.

§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do

Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:

a) não foi pedida ou foi negada a extradição;

b) houve requisição do Ministro da Justiça.

Meus caros, a leitura desse dispositivo é de suma importância.

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A partir da leitura do art. 7º do Código Penal o tema da extraterritorialidade se dividem em extrater-

ritorialidade incondicionada e extraterritorialidade condicionada.

A extraterritorialidade incondicionada está prevista no art. 7º, §1º do Código Penal, alcançando os

crimes descritos no art. 7º, inciso I. Nessas hipóteses, a lei brasileira, para ser aplicada não depende do preen-

chimento de qualquer requisito. Ocorrendo um crime que se amolde a essas hipóteses, aplica-se a lei brasileira

não importando se o autor do fato foi absolvido ou condenado no estrangeiro.

Por outro lado, a extraterritorialidade condicionada alcança as hipóteses trazidas pelo inciso II do art.

7º do Código Penal. Nesses casos, para que a nossa lei possa ser aplicada, faz-se necessário o concurso das

seguintes condições (art. 7º, §2º, CP):

Agora, meu amigo(a), precisamos recordar dos princípios que ensinei a vocês quando tratei do tema

da territorialidade.

Precisamos recordar tais princípios pois o Brasil, para fundamentar as hipóteses de extraterritoriali-

dade que elenquei acima para vocês, adotou, de forma excepcional, tais princípios.

Dessa forma, para otimizar seu estudo, preparei essa tabela em que a dividindo em três colunas,

sendo a primeira delas responsável pelo dispositivo legal em que incorreu o agente criminoso; a segunda coluna

o princípio a ser aplicado e, por fim, a modalidade de extraterritorialidade (incondicional ou condicionada).

Venha comigo!!

Entrar o agente no território nacional.

Ser o fato punível também no país em que foi praticado.

Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei

brasileira autoriza a extradição.

Não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou

não ter aí cumprido pena.

Não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar

extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

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Dispositivo legal Princípio Espécie de extraterritorialidade

Art. 7º, I, a, b, c Princípio da defesa Incondicionada

Art. 7º, I, d Princípio da justiça universal Incondicionada

Art. 7º, II, a Princípio da justiça universal Condicionada

Art. 7º, II, b Princípio da nacionalidade ativa Condicionada

Art. 7º, II, c Princípio da representação Condicionada

Agora que superamos toda essa parte mais teórica sobre os critérios da extraterritorialidade (condi-

cionada e incondicionada), vou trazer exemplos para que você possa visualizar melhor minha explicação até

esse momento.

Imaginemos que Austin, brasileiro, residente nos EUA, mata, dolosamente um cidadão americano.

A partir desse exemplo, pergunt0-lhe: “Austin, autor de homicídio executado no estrangeiro, foge e re-

tornar ao território brasileiro antes do fim das investigações (nos EUA). A lei brasileira alcança esse fato praticado

no estrangeiro? ”.

Resposta: Trata-se de crime praticado por brasileiro, hipótese que se encaixa ao art. 7º, II, b, do Código

Penal, sendo caso de extraterritorialidade condicionada. O agente criminoso retornou ao Brasil (primeira con-

dição preenchida). O homicídio doloso é crime também nos EUA (então, presente a segunda condição), incluído

entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição (observada a terceira condução). Austin fugiu dos

EUA antes do início do processo, sem notícia de perdão ou de causa extintiva da punibilidade (tudo isso será

objeto de estudo aqui no nosso curso de Direito Penal mais adiante – condições quarta e quinta presentes). Con-

clusão, meu amigo(a): a lei brasileira vai ser aplicada ao crime de homicídio praticado por Austin nos EUA.

Vejamos, então, uma questão da banca FCC sobre extraterritorialidade!

Ano: 2010 Banca: FCC Órgão: TRT - 8ª Região (PA e AP) Prova: FCC - 2010 - TRT - 8ª Região (PA e AP) - Analista

Judiciário - Área Judiciária

José, brasileiro, cometeu crime de peculato, apropriando- se de valores da embaixada brasileira no Japão,

onde trabalhava como funcionário público.

Em tal situação,

A) somente se aplica a lei brasileira se José não tiver sido absolvido no Japão, por sentença definitiva.

B) somente se aplica a lei brasileira se José não tiver sido processado pelo mesmo fato no Japão.

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C) aplica-se a lei brasileira, independentemente da existência de processo no Japão e de entrada do agente no

território nacional.

D) a aplicação da lei brasileira, independe da existência de processo no Japão, mas está condicionada à entrada

do agente no território nacional.

E) aplica-se a lei brasileira, somente se for mais favorável ao agente do que a lei japonesa.

Gabarito – A – O caso envolvendo o brasileiro que comete o crime de peculato apropriação, se apropriando de

valores da embaixada brasileira no Japão, é o típico caso de extraterritorialidade incondicionada, pois, con-

forme o art. 7º, I, b, do Código Penal, fica sujeita a lei brasileira, embora cometido no estrangeiro o crime contra

o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa

pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público.

Ano: 2010 Banca: FCC Órgão: TRE-RS Prova: FCC - 2010 - TRE-RS - Analista Judiciário - Área Judiciária

Dentre os casos de extraterritorialidade incondicionada da lei penal, previstos no Código Penal, NÃO se incluem

os crimes cometidos:

A) contra a fé pública da União.

B) contra o patrimônio de autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público.

C) contra a administração pública, por quem está a seu serviço.

D) em aeronaves ou embarcações brasileiras.

E) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República.

Gabarito – D – Por exclusão, meu caro, é a única hipótese que não costa do rol do art. 7º, I, do CP.

Outra possibilidade de extraterritorialidade é a prevista na Lei de Tortura (9.455/97).

Vejamos o que as disposições da lei especial dispõem sobre o tema:

Art. 1º Constitui crime de tortura:

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I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou

mental:

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;

b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;

c) em razão de discriminação racial ou religiosa;

II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça,

a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter pre-

ventivo.

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento

físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.

§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las,

incorre na pena de detenção de um a quatro anos.

§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez

anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.

§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:

I - se o crime é cometido por agente público;

II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60

(sessenta) anos;

III - se o crime é cometido mediante sequestro.

§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exer-

cício pelo dobro do prazo da pena aplicada.

§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.

§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena

em regime fechado.

Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território

nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.

Desse modo, a extraterritorialidade prevista na lei de tortura é a representação do princípio da perso-

nalidade ou nacionalidade passiva.

Existe, ainda, um último caso de extraterritorialidade, que é a chamada extraterritorialidade hiper-

condicionada, prevista no art. 7º, §3º, do CP. Porém, para que essa modalidade seja objeto de aplicação é ne-

cessário o preenchimento dos seguintes requisitos:

Não ser pedida ou, se pleiteada, negada a extradição;

Requisição do Ministro da Justiça.

Então, nesse caso, acolheu-se o princípio da defesa ou da personalidade passiva.

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A extradição consiste na entrega de uma pessoa autora de infração penal, por parte do Estado em

cujo território se encontre, a outro que solicita a referida entrega. Assim, para que a extradição ocorra, é neces-

sário que entre os países haja um tratado bilateral ou multilateral tratando do assunto. Porém, caso não

exista, o Estado requerente deverá prometer reciprocidade de tratamento ao Brasil.

Agora, para fecharmos o nosso grande tema macro (Territorialidade) quero falar com vocês sobre

pena cumprida no estrangeiro e, logo em seguida, para encerramos nossa primeira aula de direito penal parte

geral, vou tratar com vocês sobre conflito aparente de normas.

Pena cumprida no estrangeiro.

Meu querido(a) estudante, ao analisarmos a questão envolvendo a extraterritorialidade da lei brasi-

leira, é possível que suceda a hipótese de ser o agente processado, julgado e condenado tanto pela lei brasileira

como pela estrangeira, cumprido nesta total ou parcialmente a pena.

Para esses casos, devemos aplicar o artigo 8º do Código Penal:

Pena cumprida no estrangeiro

Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime,

quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

A partir da leitura do artigo mencionado, podemos concluir que dois fatores devem ser considerados

ao mencionarmos a hipótese de pena cumprida no estrangeiro, quais sejam: a qualidade e quantidade da pena

imposta.

Exemplificando: tratando-se da mesma qualidade (duas penas privativas de liberdade) da punição

aplicada no Brasil, será computada a pena cumprida no exterior. Por outro lado, se de qualidade diversa (pena

privativa de liberdade e pecuniária), aqui no Brasil será atenuada a pena imposta.

Imagine que Austin é condenado a pena de 10 anos na Itália por ter atentado contra a vida do nosso

Presidente da República. No Brasil, é também processado e condenado, mas a pena imposta foi de 22 anos.

Neste caso, serão abatidos os 10 anos cumpridos na Itália, cumprindo Austin, no Brasil, somente os 12 anos.

Agradeço sua presença até esse momento e espero que eu esteja atendendo todas as suas expecta-

tivas. Dessa forma, seguimos por aqui e passamos para o estudo do conflito aparente de normas.

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CONFLITO APARENTE DE NORMAS

Introdução.

Dando início ao nosso encontro falando a vocês sobre conflito aparente de normas, quero que você tenha

uma certeza em mente: um mesmo fato concreto não pode ser enquadrado em vários tipos penais (ou seja, em

vários dispositivos do Código Penal ou da nossa legislação esparsa), sob pena de violação ao princípio do ne bis

in idem.

Sendo assim, o conflito aparente de normas surge no momento em que (como o próprio nome já nos diz)

quando a um único fato incidem aparentemente dois ou mais tipos penais, todos eles vigentes no ordenamento

jurídico.

Importante que você saiba que o conflito aparente de normas só ocorrerá se houver um só fato ou uma

só conduta, aos quais aparentemente se apliquem várias normas penais incriminadoras (todas vigentes). En-

tretanto, na hipótese de serem vários fatos, não há que se falar em conflito aparente de normas e sim em con-

curso de crimes, salvo nas situações de antefato e pós-fato impuníveis (todas essas informações serão objeto

de estudo individualizado no decorrer do nosso curso).

Feitas essas considerações iniciais, vamos ao estudo dos princípios que solucionam o conflito aparente de

normas!

Princípio da especialidade.

O critério da especialidade surge quando entre duas normas aparentemente incidentes sobre o mesmo

fato, houver uma relação de gênero e espécie.

Vamos a um exemplo: se a mãe mate o filho durante o parto, sob a influência do estado puerperal, incorre,

aparentemente, nos arts. 121 (homicídio) e 123 (infanticídio). No primeiro, porque matou uma pessoa; no se-

gundo, porque essa pessoa era seu filho e a morte se deu no momento do parto, influenciada pelo estado pu-

erperal.

Ao analisarmos a situação acima descrita, podemos notar que o art. 123 do Código Penal (infanticídio),

contém todas as elementares do homicídio (matar + alguém), além de outras que são especializantes (o próprio

filho + durante o parto ou logo após + sob a influência do estado puerperal), o que torna o infanticídio especial

em relação ao homicídio.

Dessa forma, meu jovem, notamos que toda a ação que realiza o tipo do infanticídio realiza a do homicídio,

mas nem toda ação que se encaixa ao homicídio tem enquadramento no tipo do infanticídio.

Assim, esse conflito se resolve no plano abstrato, sendo suficiente apenas uma comparação entre as duas

normas para saber qual é a especial.

Agora, grave isso que vou lhe dizer: O TIPO PENAL ESPECIAL PREVALECE SOBRE O TIPO PENAL GE-

RAL INDEPENDENTE DE SUA GRAVIDADE.

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Princípio da subsidiariedade.

Já quanto a relação de subsidiariedade, pressupomos que tenha entre as normas aparentemente aplicá-

veis, uma relação de conteúdo a continente, como se um tipo penal estivesse dentro (contido) no outro. O con-

tinente (maior) é o tipo primário/principal e o menor (contido nele) é o chamado de tipo subsidiário.

Nessa hipótese, o tipo penal primário prevalece, mas se sobre qualquer hipótese não puder ser aplicado,

aplica-se o tipo penal subsidiário.

Você deve ficar atento ao fato de que a subsidiariedade pode ser de duas espécies: a) expressa: quando o

próprio tipo penal se declara subsidiário, como, por exemplo, o art. 132 do Código Penal, que dispõe – “se o fato

não constituir pena mais grave” (a norma se autoproclama “soldado de reserva” – nas palavras de Nelson Hun-

gria. b) tácita/implícita: ocorre quando um tipo penal está contido em outro na condição de elementar (elemen-

tos presentes no caput do artigo) ou circunstâncias (dados acessórios que podem interferir na pena), por exem-

plo, no caso do art. 304 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que prevê a omissão de socorro em acidente de

trânsito, em relação ao homicídio culposo na direção de veículo automotor, qualificado pela omissão de socorro

(art. 302 c/c o art. 303, parágrafo único, inciso III, do CTB).

Princípio da consunção.

Pelo princípio da consunção (ou absorção), meu amigo, ocorre quando um fato definido por uma norma

incriminadora é meio necessário ou normal fase de preparação ou execução de outro crime. Nesse caso, há uma

relação de meio – fim, em que o crime fim absorve o crime meio.

Você também deve ficar atento ao fato de que o princípio da consunção é aplicado de duas formas, quais

sejam:

a) Crime progressivo (há uma uniformidade de dolo): o agente possui, desde o princípio, o mesmo es-

copo e o persegue até o final, ou seja, pretendendo um resultado determinado de maior lesividade

(por exemplo a morte de seu algoz), pratica outro fato de menor intensidade (p.ex. lesão corporal, ao

lhe desferir facadas que causam a morte). Nesse caso, as lesões corporais serão absorvidas e o agente

responderá somente pelo crime de homicídio.

b) Progressão criminosa: aqui o indivíduo inicia o caminho do crime com o objetivo específico de prati-

car determinado crime (por exemplo, lesões corporais), entretanto, após alcançar esse resultado (já

houve lesão a sua vítima) o agente criminoso MUDA de ideia e resolve matá-la. Desse modo, haverá

a progressão criminosa e o indivíduo responderá apenas pelo homicídio, ficando as lesões inicial-

mente praticadas, absorvida pelo crime do art. 121, do Código Penal.

c) Ante factum impunível: ocorre quando um fato anterior menos grave é praticado como meio necessá-

rio para a realização de outro. Preste atenção nesse exemplo, caríssimo: o crime de falsidade exclusi-

vamente utilizado com o fim de cometer estelionato, nos termos da súmula 17 do STJ.

d) Post factum impunível: essa, por sua vez, se da quando o agente, após praticar o fato, provoca nova

violação o mesmo bem jurídico, pertencente ao mesmo sujeito passivo. Outro exemplo, meu amigo

(a): o indivíduo que após furtar um relógio simplesmente o quebra (crime de dano). Nesse caso, ha-

verá apenas punição pelo crime de furto.

Agora, vamos ver qual o nível de profundidade questionado nas provas de concurso.

Venha comigo!

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Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Provas: CESPE - 2012 - Polícia Federal - Agente da Polícia

Federal

Julgue os itens a seguir com base no direito penal.

Conflitos aparentes de normas penais podem ser solucionados com base no princípio da consunção, ou absor-

ção. De acordo com esse princípio, quando um crime constitui meio necessário ou fase normal de preparação

ou execução de outro crime, aplica-se a norma mais abrangente. Por exemplo, no caso de cometimento do

crime de falsificação de documento para a prática do crime de estelionato, sem mais potencialidade lesiva,

este absorve aquele.

( ) Certo

( ) Errado

Gabarito – Certo – conforme estudamos minutos atrás, o conflito aparente de normas pode ser solucionado

com base no princípio da consunção. Ademais, o enunciado da questão traz um dos exemplos que por nós foi

explorado e que retrata o teor da súmula 17 do STJ.

E, para encerrarmos nosso estudo e finalizarmos o conteúdo teórico da primeira parte do nosso curso,

vamos para o último princípio do conflito aparente de normas.

Princípio da alternatividade.

Esse princípio está presente nos crimes que possuem diversos núcleos (verbos), separados pela conjunção

alternativa “ou”.

Quando alguém pratica mais de um verbo presente no mesmo tipo penal, num mesmo contexto fático, só

responde por um crime (e não pelo mesmo crime várias vezes).

Preste atenção no seguinte exemplo, meu caro!

Suponha que Austin exponha a venda e, em seguida, venda substância entorpecente. Nesse contexto, ele

responderá por crime único de tráfico de drogas (art. 33 da Lei 11.343/067), mesmo que tenha praticado dois

verbos nucleares (expor venda e vender).

Então, para encerrar nosso estudo acerca do conflito aparente de normas, deixo a você essa tabela resu-

mindo cada um dos principais pontos acerca dos institutos:

7 Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depó-sito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratui-tamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

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ESPECIALIDADE SUBSIDIARIEDADE CONSUNÇÃO ALTERNATIVIDADE

Pressupõe uma rela-

ção gênero - espécie

Pressupõe uma rela-

ção continente- con-

teúdo

Relação meio – fim Tipo misto alternativo

Prevalece o tipo es-

pecial sobre o tipo

geral

Prevalece o tipo con-

tinente (primário)

O crime fim absorve

o crime meio

Há crime único

quando os verbos

atingem o mesmo ob-

jeto material.

Eficácia da sentença estrangeira.

Vamos a leitura do artigo 9º do Código Penal:

Eficácia de sentença estrangeira (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas

conseqüências, pode ser homologada no Brasil para: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; (Incluído pela

Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - sujeitá-lo a medida de segurança.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984

O art. 9º do CP revela uma parceria entre países estrangeiro e Brasil.

São casos em que a algum país requer à Justiça brasileira que execute a sua sentença, ou seja, o processo

de conhecimento tramita no estrangeiro e a execução é aqui no Brasil.

Quais são os efeitos decorrentes de sentença penal estrangeira que podem ser executados no Brasil?

O CP é limitado, autorizando somente nessas hipóteses:

1) Efeitos Civis da condenação penal (p.ex. confisco de bens) ou;

2) Medida de segurança. Entretanto, para isso a sentença penal deve ser objeto de homologado pelo STJ.

Só caberá homologação quando o STJ verificar que a lei brasileira autoriza aplicação dos mesmos efeitos no

caso concreto (requisito básico).

Contagem de prazos. Frações não computáveis da pena. Aplicação do CP a Leis Especiais.

Para que possamos estudar cada um dos pontos propostos, vamos a leitura de cada um dos artigos do CP

a respeito da matéria:

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Contagem de prazo (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos

pelo calendário comum. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Frações não computáveis da pena (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de

dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Legislação especial (Incluída pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta

não dispuser de modo diverso. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

A) CONTAGEM DE PRAZO PENAL (ART.10): Prazo penal é aquele que reflete diretamente no exercício

do direito de punir. Inclui o dia do início e exclui o do final. Os meses e anos devem ser contados de acordo com

o calendário comum.

B) FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS NA PENA (ART.11): Desprezar as frações de dia em pena de prisão

e os centavos em pena pecuniária. (p.ex.: pena de 1 ano 4 meses e 3 dias – aí tem uma casa de diminuição e

o juiz resolve diminuir pela metade, ficaria 8 meses e 1 dia e meio, sendo essa fração “meia” dispensada,

ficando a pena em 8 meses e 1 dia.)

C) APLICAÇÃO DO CÓDIGO PENAL A LEIS ESPECIAIS (ART.12): As regras gerais deste código de apli-

cam a todas as leis penais especiais, salvo se essas dispuserem de modo diverso.

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TEORIA GERAL DO DELITO.

INTRODUÇÃO.

Olá, meu amigo(a), dando início ao nosso encontro, hoje trataremos alguns dos pontos mais importantes

do direito penal dentro da ‘Parte Geral’ do código. É, a partir da teoria geral do delito e seus desdobramentos,

que podemos entender toda a estrutura do crime.

Para tanto, uma das principais características do Direito Penal é a sua fragmentariedade.

Em que pese tenhamos inúmeros atos ilícitos existentes no mundo fenomênico (acontecimentos da vida),

apenas uma parcela de todos os atos interessa ao Direito Penal, sendo principalmente aqueles que atentam

contra os bens jurídicos mais importantes para o convívio social. Dessa forma, podemos afirmar que o Direito

Penal se ocupa apenas de uma fração dos inúmeros atos ilícitos existentes.

Portanto, o caráter fragmentário desenvolve-se a partir do conceito de ultima ratio (última razão) do

Direito Penal. Em outras palavras, meu(a) caro(a) estudante, o Direito Penal será chamado a atuar quando ne-

nhum outro ramo jurídico (Administrativo, Civil, Tributário, Ambiental, Difusos e coletivos e etc...) abarcar uma

solução ao ilícito do mundo fenomênico.

Feita essa breve e necessária introdução, é chegado o momento de mergulharmos definitivamente no

campo do estudo do crime.

Venha comigo!

Conceito de crime.

Antes de adentramos no conteúdo propriamente dito, é necessário que façamos uma pequena distinção

entre crime e contravenção penal.

Conforme o artigo 1º da LICP (Lei de introdução do Código Penal – Decreto-Lei n. 3.914/41), constitui

crime a infração penal apenada com reclusão ou detenção, acompanhada ou não de multa, e a contravenção

aquela punida com prisão simples (juntamente com multa) ou somente pena de multa.

Em resumo:

CRIME CONTRAVENÇÃO PENAL

Apenado com reclusão ou detenção, acompa-

nhada ou não de multa

Apenada com prisão simples (juntamente com

multa) ou somente multa.

Avante!

Antigamente, meu amigo(a), no tempo em que vigorava no Brasil o Código Criminal do Império (1830) e,

logo em seguida, em 1890 o Código Penal Republicano, a própria legislação se encarregava de trazer-nos o

conceito de crime.

O art. 2º, §1º, do Código Criminal do Império assim conceituava o crime:

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Art.2º. Julgar-se-á crime ou delicto:

§1º Toda acção ou omissão voluntaria ás leis penaes (redação original).

Já, o Código Penal Republicano de 1890, assim dizia:

Art. 2º. A violação da lei penal consiste em acção ou omissão; constitue crime ou contravenção (redação

original).

Entretanto, nos dias atuais, a partir do Código Penal de 1940 e suas posteriores alterações, nosso legis-

lador infraconstitucional não mais se preocupou em trazer um conceito de crime, deixando assim, a tarefa para

àqueles que se dedicam ao estudo do Direito Penal.

A partir de então, inúmeros doutrinadores iniciaram a difícil tarefa de classificação do conceito de crime.

Passado um longo período de tempo, a partir dos ensinamentos da doutrina clássica e, também, da doutrina

moderna, os estudiosos do direito penal nos presentaram com, pelo menos, três conceitos que ensejam outros

desdobramentos no estudo do crime:

Certo, caríssimo! Passemos, então, ao estudo de cada um dos conceitos:

Conceito Material É baseado na essência de um comportamento pe-

nalmente relevante.

Conceito Formal Crime é a conduta vedada por lei, com ameaça de

pena criminal.

Conceito de Crime

Conceito

Analítico

Conceito

Formal

Conceito

Material

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Conceito Analítico Crime é toda a ação ou omissão, consciente e volun-

tária, estando previamente definida em lei, que cria

um risco juridicamente proibido e relevante.

Ocorre que, dentro do conceito analítico de crime (o mais aceito pelo ordenamento jurídico brasileiro), há

outra divisão, vejamos:

Assim, caríssimo, essas duas são as teorias mais aceitas no Brasil para explicar a estrutura do crime e,

entre as duas, a teoria tripartida é a que tem mais força, sendo adotada pela maioria dos estudiosos do Direito

Penal e, também, pelas Cortes Superiores.

“Certo, Arpini! Mas e agora, o que é o crime? Afinal, ele é fato típico e antijurídico ou fato típico, antijurídico e

culpável?”

Certo, meu(a) jovem! Vamos por partes!

Inicialmente você deve saber que o conceito analítico de crime (que se divide nas teorias bipartida e tri-

partida) busca identificar os elementos que compõem o crime. Para tanto, conforme mencionei a você anteri-

ormente, a definição de crime mais aceita no direito brasileiro é a de que o crime é fato típico + antijurídico +

culpável. E é com essa teoria que trabalharemos, pois certamente será a cobrada de você nos concursos.

Por outro lado, há aqueles que reconhecem ser o crime apenas fato típico + antijurídico, tratando a culpa-

bilidade como pressuposto de aplicação da penal.

Então, dessa forma a estrutura do crime é a seguinte:

CRIME

FATO TÍPICO ANTIJURÍDICO CULPAVÁVEL

Conceito Análitico

Teoria Tripartida/Tricotômica

Crime = Fato Típico + Ilícito (antijurídico) + Culpável.

Teoria Bipartida/Dicotômica

Crime = Fato Típico + Ilícito (antijurídico)

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Ocorre que, a partir da estrutura do crime, precisamos verificar quais são os elementos que a compõem,

para que, logo em seguida, estudemos cada um deles pormenorizadamente.

Força, guerreiro (a)! Vamos adiante.

Verifiquemos, então, quais são os elementos:

CRIME

FATO TÍPICO ANTIJURÍDICO CULPAVÁVEL

Dolosa/Culposa

Conduta

Comissiva/Omis-

siva

Resul-

tado

Nexo de causalidade

Tipicidade

Obs.: Quando o agente não age

em:

Estado de necessidade

Legítima Defesa

Estrito cumprimento do de-

ver legal

Exercício regular de um di-

reito

Quando não houver o consenti-

mento do ofendido como causa

supralegal de exclusão da ilicitude

Imputabilidade

Potencial consciência da ilici-

tude

Exigibilidade de conduta di-

versa

“IMPOEX”

Agora que apresentei a você todos os elementos que compõe a estrutura do crime, quero dar-lhes outra

dica valiosa!

Imprima esse quadro-resumo da estrutura do crime e cole em um local que você possa visualizá-lo dia-

riamente. Garanto que mais cedo ou mais tarde você irá memorizar toda essa estrutura e terá uma base sólida

para resolver qualquer questão que envolva o tema.

Dessa forma, chegou o momento de analisarmos cada um dos elementos de forma separada!

Vamos adiante, guerreiro(a)!

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FATO TÍPICO

Conduta e seus elementos.

Veja, caríssimo(a), a conduta é o primeiro dos elementos que compõe o fato típico (formador da estrutura

do crime).

Para tanto, a conduta é toda ação ou omissão humana, consciente e voluntária dirigida a uma finali-

dade. Então, de qualquer modo, sua existência está condicionada a um comportamento humano.

Ainda, a partir do conceito que acabamos de construir, é possível verificarmos as formas pelas quais se dá

a conduta humana, quais sejam: ação e omissão.

Vejamos:

AÇÃO OMISSÃO

É toda conduta positiva, que nasce a partir de um

movimento corpóreo.

A grande maioria das figuras típicas do ordena-

mento jurídico descreve uma conduta positiva, p.ex.

“matar; subtrair; apropriar-se; ameaçar”.

É a conduta negativa, consubstanciada na indevida

abstenção de um movimento obrigatório.

Então, caríssimo(a), somente haverá conduta quando houver uma exteriorização do pensamento, através

de um movimento corpóreo ou uma abstenção indevida. Assim, vale dizer, o direito penal não pune nenhum

pensamento, por mais criminoso que ele possa ser.

Desse modo, enquanto a empreitada criminosa não irradiar para fora do pensamento do agente, por pior

que esse seja, não poderá haver reprimenda criminal sob o ato.

Imaginemos uma situação do cotidiano: Austin, indignado depois de ver seu time de futebol perder para o

maior rival, imbuído de raiva, trama em sua mente, a morte de um torcedor rival da forma mais cruel possível.

Entretanto, digerida a derrota e mais calmo após a partida, Austin esquece o plano e segue adiante sua vida.

Veja, caríssimo(a), desse modo, por mais que o pensamento seja moralmente reprovável, para o Direito

Penal ele é irrelevante, pois encontra-se no claustro psíquico de Austin, que não exteriorizou nenhum ato com

a finalidade de matar o desafeto.

Sendo assim, somente entram no campo da ilicitude os atos conscientes. Então, podemos concluir que

os atos praticados involuntariamente são penalmente atípicos, ou seja, não interessam para o Direito Penal.

“Professor, mas ato involuntário, como assim?”

Suponhamos que o agente pratique um ato sob o efeito de hipnose ou sonambulismo. Sendo o ato prati-

cado nessas condições, estamos diante de uma conduta involuntária do agente, razão pela qual, o ato é penal-

mente irrelevante.

Agora que já dissertamos bastante acerca do tema, vamos testar nosso conhecimento?

Vejamos como os concursos estão questionando acerca do tema:

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Ano: 2014 Banca: FUNCAB Órgão: PC-RO Prova: FUNCAB - 2014 - PC-RO - Escrivão de Polícia Civil

De acordo com o conceito analítico de crime, é um dos elementos do fato típico:

A) imputabilidade.

B) conduta.

C) exigibilidade de conduta diversa.

D) exercício regular de um direito.

E) potencial consciência da ilicitude.

Resolução: veja, meu(a) caro(a) estudante, a partir da tabela que formulamos anteriormente, é perfeitamente

possível respondermos o que a banca nos indaga.

a) a imputabilidade é um dos elementos da culpabilidade;

b) a conduta é um dos elementos que compõe o fato típico;

c) a exigibilidade de conduta diversa é um dos elementos da culpabilidade;

d) exercício regular de um direito é uma excludente de antijuridicidade;

e) a potencial consciência da ilicitude compõe a culpabilidade.

Gabarito: Letra B.

Conhecimento adquirido, vamos a mais uma questão!

Avante, guerreiro(a)!

Ano: 2010 Banca: PC-SP Órgão: PC-SP Prova: PC-SP - 2010 - PC-SP - Escrivão de Polícia Civil

Assinale o conceito de crime lecionado pelos penalistas que adotam a corrente doutrinária finalística, que tem

em Welzel seu maior expoente.

A) Ação típica, antijurídica e culpável.

B) Ação típica, antijurídica e voluntária.

C) Ação típica e juridicamente relevante.

D) Ação típica, antijurídica e dolosa.

E) Ação típica e culpável.

Resolução: de acordo com o nosso estudo até o momento, verificamos que a maioria dos penalistas e, tam-

bém, os Tribunais Superiores, utilizam a definição da teoria tripartida para a qualificação do conceito analítico

do crime, ou seja, caríssimo, o crime é fato típico + antijurídico/ilícito + culpável.

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“Mas professor, a questão fez menção a Welzel. Qual foi a contribuição dele para a teoria finalista?”

Welzel foi o idealizador da teoria finalista da ação. Ademais, trago a lição do Professor André Estefam8

acerca da teoria finalista da ação.

“Teoria finalista da ação: ação é a conduta humana consciente e voluntária dirigida a uma finali-

dade (Welzel). Ação e finalidade são conceitos inseparáveis. Esta é a espinha dorsal daquela. Isso

porque o homem, sendo conhecedor dos diversos processos causais que pode desencadear, dirige

seus comportamentos buscando atingir algum objetivo” (ESTEFAM, André. p. 214).

Quero que você fixe muito bem essa matéria, então, antes de avançarmos, fecharemos com mais uma

questão.

Ano: 2013 Banca: FUNCAB Órgão: PC-ES Prova: FUNCAB - 2013 - PC-ES - Escrivão de Polícia

Infração penal significa:

A) Quando um caso não previsto em lei é regulado por um preceito legal, que rege um semelhante.

B) Ofensa real ou potencial a um bem jurídico, levando-se em consideração os elementos subjetivos do tipo, a

ilicitude e a culpabilidade.

C) Todos os valores ético-sociais que estejam a exigir uma proteção especial, no âmbito do direito penal, por se

revelarem insuficientes à proteção dos outros ramos do direito.

D) Quando o princípio para o caso omitido se deduz do espírito e do sistema do ordenamento jurídico, consi-

derado em seu conjunto.

E) Que o delito é sinônimo de contravenção penal no Brasil.

Resolução: faremos um comentário geral que servirá para a resolução como um todo da referida questão. A

primeira informação que precisamos ter em mente, meu(a) jovem, é que infração penal é gênero, enquanto

crime e contravenção penal são espécies desse gênero. Desse modo, a infração penal, que se transfigura em

crime ou contravenção penal, é todo comportamento que causa lesão ou risco de lesão a um bem jurídico, le-

vando em conta o elemento subjetivo do tipo (dolo ou culpa), a ilicitude (contrariedade ao direito) e a culpabi-

lidade (imputabilidade; potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa).

Gabarito: Letra B.

Assim, fechamos essa primeira parte do nosso estudo!

8 ESTEFAM, André. Direito Penal: parte geral (art. 1º a 120) / André Estefam. – 6. ed. – São Paulo: Saraiva, 2017.

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Dessa forma, a partir do que analisamos anteriormente, conseguimos verificar que a conduta que des-

creve uma ação é praticamente dominante dentro do ordenamento jurídico. Então, cabe-nos analisar com um

pouco mais de profundidade as condutas omissivas.

Preparado?

Avante, guerreiro(a)!

Omissão penalmente relevante.

Dentro do conceito de omissão penalmente relevante, há duas teorias que explicam o objeto do nosso

estudo.

São elas: a teoria naturalística e a teoria normativa.

TEORIA NATURALÍSTICA/CAUSAL TEORIA NORMATIVA/JURÍDICA

A partir dessa teoria, a omissão (abstenção) produ-

ziria um resultado que estaria intimamente ligado

(nexo causal) ao fato do agente se abster de realizar

um determinado comportamento.

Para essa corrente, a omissão é um nada, logo, não

pode causar coisa alguma. Quem se omite nada faz,

razão pela qual, nada causa. Dessa forma, a possibi-

lidade de se atribuir ao agente criminoso (omitente)

o resultado de sua abstenção, dar-se-á a partir de

uma obrigação jurídica anterior à omissão (“dever ju-

rídico de agir”). Impondo ao agente o dever de evitar

o resultado.

Meu amigo(a), eu sei que os conceitos não são fáceis, por isso, peço encarecidamente que, se for neces-

sário, leia novamente o quadro acima.

Para tanto, o direito penal adotou a teoria normativa/jurídica para tratar dos crimes omissivos, e isso vem

exposto pelo artigo 13, §2º, do Código Penal.

Façamos uma leitura atenciosa!

Relação de causalidade

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu

causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Relevância da omissão

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resul-

tado. O dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado

Feita nossa leitura, caríssimo(a), preste bem atenção na redação do §2º - “a omissão é penalmente rele-

vante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado”.

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Dessa forma, a conduta omissiva só terá relevância (será de interesse do direito penal) quando o omitente

(o agente que se omite) devia e podia agir para evitar o resultado. Ainda, logo em seguida, o §2º nos diz: “o

dever de agir incumbe a quem:” e nos traz um rol daqueles que possuem o dever de evitar o resultado.

“Professor, pode nos dar um exemplo?”

Com certeza, meu amigo(a).

Imaginemos a seguinte situação: Austin é exímio nadador e convida seu amigo Caracas, com poucas ha-

bilidades de nado, a juntos fazerem uma travessia nadando de uma praia a outra. Iniciada a travessia, Caracas

começa a se afogar. Iniciado o afogamento, teremos duas situações:

a) na primeira delas Austin retorna até Caracas e consegue salvá-lo de um afogamento.

b) na segunda, Austin não salva seu amigo Caracas e este vem a falecer.

Perceba que, em ambas as situações Austin tem o dever legal de evitar o resultado, pois foi ele que, com

seu comportamento anterior (convite para fazer uma travessia de uma praia a outra a nado) criou o risco da ocor-

rência do resultado (afogamento de Caracas), pois sabia que seu amigo não era um nadador habilidoso.

Sendo assim, quando Austin salva Caracas, ele cumpre seu dever legal e não responderá por crime algum.

Já na segunda situação, ao não salvar o amigo, responderá pelo crime de homicídio (não por ter praticado

diretamente a conduta de matar) mas por sua omissão ser penalmente relevante em não ter evitado o resul-

tado (afogamento-morte) por um risco criado através do convite da travessia. Essa é a situação que vem disci-

plinada na alínea “c” do art. 13, §2º, do CP.

Agora, imaginemos outro exemplo: Austin e toda a sua família estão na praia com os filhos e a babá. Pas-

sado um tempo, Austin e sua esposa saem a caminhar pela areia da praia e, desse modo, pedem para que a

babá tome conta das crianças para que não entrem no mar. A babá, de plano, responde positivamente ao casal

para o cuidado das crianças. Então, nesse caso, se eventualmente as crianças vierem a se afogar por descuido

da babá, que assumiu a responsabilidade de impedir o resultado, é pacífico que poderemos imputar o homicí-

dio culposo do artigo 121, §3º, a babá. Essa é a que situação está disciplinada na alínea “b” do art. 13, §2º, do

CP.

Quanto à alínea “a”, podemos usar o mesmo exemplo das crianças na praia, basta apenas trocarmos a

babá pelos próprios pais. Suponha que Austin e sua esposa vejam seus filhos se afogando e nada fazem, serão

responsabilizados pelo homicídio dos filhos, pois tem por lei o dever de cuidado e vigilância dos filhos e, ao se

omitirem para com o afogamento, é perfeitamente possível imputarmos a eles a figura do homicídio do art. 121, do

CP. Essa é a situação que está disciplinada na alínea “a” do art. 13, §2º, do CP.

Então, para fecharmos esse tópico, todas as situações hipotéticas que narrei a você são mais conhecidas

no âmbito do direito penal como crimes comissivos por omissão.

Quer ver como isso vem caindo em provas?

Olha só, meu amigo(a):

Ano: 2018 Banca: NUCEPE Órgão: PC-PI Prova: NUCEPE - 2018 - PC-PI - Delegado de Polícia Civil

JOÃO e JOSÉ estão na praia e resolveram entrar no mar. Em determinado momento eles começam a se afogar.

Havia naquele local um salva-vidas que, ao avistar apenas JOÃO, notou que ele era seu desafeto e se recusou a

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salvá-lo; próximo a eles havia também um surfista, este avistou apenas JOSÉ pedindo socorro, mas, por ser seu

inimigo, não atendeu aos pedidos dele, resolvendo sair do local. As duas pessoas acabam se afogando e mor-

rendo. Em relação ao caso, qual das alternativas abaixo está CORRETA?

A) O salva-vidas responde por homicídio doloso por omissão.

B) O salva-vidas responde por omissão de socorro.

C) O surfista responde por homicídio doloso por omissão.

D) A conduta do surfista é atípica.

E) O surfista responde por homicídio culposo.

Resolução: assim como em questões anteriores, nesse questionamento, faremos um comentário geral que

abarcará toda a resolução da questão. Então, atente-se aos seguintes fatos: I – o salva-vidas assumiu a respon-

sabilidade de impedir o resultado, ao assumir a profissão. Desse modo, no caso que nos é apresentado o salva-

vidas, ao se omitir e causar a morte do seu desafeto, responderá por homicídio doloso. II – quanto ao surfista,

poderíamos imputar a ele o crime do art. 135 do CP, que trata da omissão de socorro, mas em nenhuma hipó-

tese será responsabilizado por homicídio (tanto doloso como culposo), pois ele não ostenta nenhuma das con-

dições necessárias que estão dispostas nas alíneas “a” a “c” do art. 13, §2º, CP.

Gabarito: Letra A.

Tudo entendido?! Certo!

Ano: 2010 Banca: ACAFE Órgão: PC-SC Prova: ACAFE - 2010 - PC-SC - Escrivão de Polícia Civil

Segundo o Código Penal brasileiro, “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a

quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.”

Assinale a alternativa correta que completa o enunciado a seguir:

A omissão é penalmente relevante (...)

A) quando o omitente, independentemente da preexistência de qualquer dever de sua parte, podia agir para

evitar o resultado.

B) somente nos crimes omissivos próprios.

C) quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado.

D) sempre que o omitente tiver o dever jurídico de evitar o resultado.

Resolução: veja que o CP ao tratar da omissão penalmente relevante, imputa o resultado criminoso a quem

devia e podia agir para evitar o resultado e, o §2º do art.13, elenca quem são as pessoas que possuem o dever

de agir.

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Gabarito: Letra C.

Agora que fechamos mais uma parte do nosso estudo, passemos ao estudo de mais um dos elementos

do fato típico.

Resultado.

No tocante ao resultado, meu(a) jovem, assim como na omissão penalmente relevante, há duas teorias

norteadoras do resultado.

Vejamos cada uma delas:

TEORIA NATURALÍSTICA TEORIA JURÍDICA

Para a teoria naturalística, considera-se resultado

toda a modificação no mundo fenomênico provo-

cado pela ação ou omissão (p.ex. a perda patrimo-

nial no furto, a morte no homicídio, a conjunção car-

nal no estupro e etc.)

Para a teoria jurídica, considera-se resultado toda a

lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado

pelo direito penal. Todo crime tem resultado jurí-

dico porque sempre agride um bem jurídico tute-

lado. (p.ex. o homicídio atinge o bem da vida, o

furto e o roubo atingem o patrimônio).

Desse modo, nos resta analisarmos a classificação dos crimes quanto ao seu resultado naturalístico.

Quanto ao resultado os crimes podem ser divididos em resultado naturalístico e resultado jurídico.

Preste atenção na tabela abaixo:

CRIMES QUANTO AO RESULTADO NATURALÍS-

TICO

CRIMES QUANTO O RESULTADO JURÍDICO

CRIME MATERIAL – aqui, meu amigo(a), o tipo pe-

nal descreve a conduta e o resultado material, razão

pela qual, para a existência do crime é necessária a

produção do resultado. P.ex. para que ocorra o homi-

cídio, é necessário a morte da vítima; para que ocorra

o furto, é necessária a perda patrimonial da vítima.

CRIME DE DANO OU DE LESÃO – aqui, a consuma-

ção exige que o bem jurídico seja lesionado pela con-

duta do agente, p.ex. o crime de homicídio

CRIME FORMAL – já nessa classificação, o crime

descreve conduta e resultado. Entretanto, o crime é

de consumação antecipada, perfazendo-se apenas

com a conduta, sem que o resultado ocorra. P.ex. o

crime de ameaça. O simples fato de ameaçar a vítima

já é suficiente para o crime se consumar, não neces-

sitando que as ameaças venham a se concretizar.

CRIME DE PERIGO – a consumação ocorre quando o

bem jurídico é exposto à risco, p.ex. o crime de con-

tágio venéreo do art. 130 do CP; posse (art. 12) ou

porte (art. 14 o 16) de arma de fogo (Estatuto do De-

sarmamento).

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CRIME DE MERA CONDUTA – aqui, caríssimo(a), o

tipo penal prevê apenas a conduta, sem fazer men-

ção a nenhum resultado no mundo exterior. P.ex. o

crime de omissão de socorro (art. 135, do CP).

CRIMES MATERIAIS CRIMES FORMAIS E DE MERA CONDUTA

Os crimes materiais se compõem de:

Conduta + Tipicidade + Nexo Causal + Resultado.

Os crimes formais e de mera conduta são compostos

de: Conduta + Tipicidade.

Guarde bem esses conceitos, pois eles serão de suma importância para continuarmos avançando em

nosso estudo.

Passemos ao estudo do próximo elemento do fato típico.

Nexo de causalidade.

Inicialmente, é necessário que façamos a leitura atenta do artigo 13, caput, do Código Penal.

Relação de causalidade

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu

causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

A partir da leitura concentrada que acabamos de realizar, quero que você saiba que o direito penal brasi-

leiro adotou a teoria da conditio sine qua non (condição sem a qual) para explicar a relação de causalidade entre

conduta e resultado.

Em outra palavras, meu amigo(a), haverá relação de causalidade em qualquer fator que possa anteceder

o resultado e nele tiver alguma relação. É o elo de ligação que une a conduta praticada pelo agente ao resul-

tado produzido.

Desse modo, se não houver o vínculo que liga o resultado à conduta perpetrada pelo agente, não podere-

mos falar de relação de causalidade e, assim, o referido resultado não poderá ser atribuído ao agente, tendo

em vista não ter sido ele o seu causador.

Entretanto, faz-se uma crítica no tocante a teoria da equivalência dos antecedentes, no sentido de que,

havendo a necessidade de regressar ao passado em busca de todas as causas que contribuíram para o resul-

tado, chegaríamos a uma regressão ao infinito.

Preste atenção nesse exemplo do professor Damásio de Jesus:

“Suponhamos que A tenha causado a morte de B. A conduta típica do homicídio possui uma série

de fatos, alguns antecedentes, dentre os quais poderíamos sugerir os seguintes: 1º) produção do

revólver pela indústria; 2º) aquisição da arma pelo comerciante; 3º compra do revólver pelo

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agente; 4º) refeição tomada pelo homicida; 5º) emboscada; 6º) disparo dos projéteis na vítima; 7º

resultado morte. Dentro dessa cadeia, excluindo-se os atos sob os números 1 a 3, 5 e 6, o resultado

não teria ocorrido. Logo, dele são considerados causa. Excluindo-se o fato sob o nº 4 (refeição),

ainda assim o evento teria acontecido. Portanto, sob a refeição tomada pelo sujeito não é consi-

derada como sendo causa do resultado. (JESUS, Damásio, vol I., p.218).

Perceba que, partindo dessa premissa, no homicídio ora descrito poderíamos imputar o crime até mesmo

para o proprietário da empresa encarregada da produção das armas e das munições e, também aos seus pais

por terem o colocado no mundo e, assim sucessivamente.

Então, para frear o regresso ao infinito surge o juízo de eliminação hipotética.

“Certo, professor! Mas como funciona o juízo de eliminação hipotética?”

Presta atenção na lição do colega André Estefam:

“Sob o enfoque da conditio sine qua non, haverá relação de causalidade entre todo e qualquer

fator que anteceder o resultado e nele tiver alguma interferência. O método utilizado para se aferir

o nexo de causalidade é o da eliminação hipotética, vale dizer, quando se pretender examinar a

relação causal entre uma conduta e um resultado, basta eliminá-la hipoteticamente e verificar,

após, se o resultado teria ou não ocorrido exatamente como se dera. Assim, se depois de retirado

mentalmente determinado fator, notar que o resultado não se teria produzido (ou não teria ocor-

rido exatamente do mesmo modo), poder-se-á dizer que ente a conduta (mentalmente eliminada)

e o resultado houve nexo causal. Por outro lado, se a conclusão for a de que, com ou sem a conduta

(hipoteticamente retirada) o resultado teria se produzido do mesmo modo como se deu, então

ficará afastada a relação de causalidade” (ESTEFAM, André, p. 219/220).

Tudo entendido, meu amigo(a)? Certo! Então, antes de avançarmos, vejamos, pelo menos, uma questão

sobre a matéria.

Ano: 2015 Banca: VUNESP Órgão: PC-CE Prova: VUNESP - 2015 - PC-CE - Inspetor de Polícia Civil de 1a Classe

Nos termos do Código Penal considera-se causa do crime

A) a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

B) a ação ou omissão praticada pelo autor, independentemente da sua relação com o resultado.

C) exclusivamente a ação ou omissão que mais se relaciona com a intenção do autor.

D) a ação ou omissão praticada pelo autor, independentemente de qualquer causa superveniente.

E) exclusivamente a ação ou omissão que mais contribui para o resultado.

Resolução: a questão nos indaga acerca do texto legal expresso no artigo 13 do Código Penal, que retrata a

figura da teoria da conditio sine qua non (condição sem a qual), que considera como causa, toda ação ou omis-

são sem a qual o resultado não teria ocorrido.

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Gabarito: Letra A.

Vamos avançando, caríssimo!

Tipicidade.

Seja muito bem-vindo, meu amigo(a), a mais um tópico da nossa aula 03.

Nesse momento, trataremos da tipicidade, o último elemento que compõe o fato típico.

Dessa forma, a tipicidade é conceituada com o a relação de encaixe/enquadramento entre um fato con-

creto (ocorrido no mundo fenomênico) e um tipo penal previsto de forma abstrata (aspecto formal), em con-

junto com a lesão ou perigo de lesão ao bem penalmente tutelado (aspecto material).

“Professor, um exemplo, por favor!”

Mas é claro, meu(a) jovem!

Suponha que Austin dirija-se até o estacionamento de um supermercado e lá subtraia, para si, uma Ferrari

que se encontrava no pátio de estacionamento. Veja que, desse modo, a conduta perpetrada por Austin no

mundo exterior se encaixa (formalmente) ao tipo penal do art. 155 do Código Penal, que trata do crime de furto.

Perceba também que, materialmente há o encaixe da conduta ao tipo penal do furto, tendo em vista que para

a configuração do crime de furto somente poderá ocorrer de forma dolosa, pois não existe furto culposo.

Fácil, não é mesmo?!

Essa é a definição de tipicidade.

Um sinônimo que você poderá encontrar durante sua caminhada de estudos é a expressão “adequação

típica”.

Para tanto, a adequação típica se divide em direta e indireta.

DIRETA INDIRETA

Nesse caso, a conduta praticada pelo agente crimi-

noso se amolda perfeitamente ao tipo penal descrito

abstratamente pela lei, sem depender de uma norma

de extensão. Lembre-se do furto de Austin, pois se

trata de uma adequação típica direta.

Já na adequação típica indireta, a conduta do agente

criminoso precisa de uma norma de extensão para se

amoldar a lei penal. Retornemos ao exemplo do

furto. Suponha que Austin, ao tentar arrombar a

porta da Ferrari, é surpreendido pelo segurança do

supermercado e empreende fuga do local sem con-

seguir subtrair o automóvel. Veja, meu caro, nesse

caso, estamos diante de um furto tentado, pois não

se consumou por circunstâncias alheias à vontade de

Austin. Assim, para que possamos amoldar a conduta

de Austin a norma penal incriminadora, é necessário

conjugarmos o artigo 155, do Código Penal com o ar-

tigo 14, inciso II, que trata da figura da tentativa.

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Assim, caríssimo, com a informação que acabamos de verificar acerca das circunstâncias alheias à von-

tade do agente, é possível resolvermos à seguinte questão:

Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-ES Prova: INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Escrivão de Po-

lícia

Classifica-se como crime tentado quando, iniciada a execução, não se consuma

A) por circunstâncias alheias à vontade do agente.

B) por inabilidade do agente.

C) por desistência do agente.

D) pela deterioração do objeto.

E) em razão da atipicidade da conduta.

Resolução: veja, caríssimo(a), várias são as modalidades de crime tentado, a qual analisaremos pormenoriza-

damente ao longo do nosso estudo. Entretanto, perceba que, conforme mencionei a você anteriormente, ocor-

rerá a tentativa, segundo o art. 14, inciso II, do CP, quando o agente não conseguir consuma-lo por circunstân-

cias alheias à sua vontade.

Gabarito: Letra A.

Dessa forma, fechamos mais um tópico do nosso estudo!

Vamos adiante!

Crime doloso e crime culposo.

Salve salve, meu(a) caro(a) estudante!

A partir desse momento, vamos iniciar o estudo do dolo e da culpa, elemento subjetivo que está integrado

a conduta do agente, compondo o fato típico do conceito analítico de crime.

Para isso, vamos ver como o Código Penal tratou do dolo e da culpa.

Art. 18 - Diz-se o crime:

Crime doloso

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;

Crime culposo

II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.

Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como

crime, senão quando o pratica dolosamente

Agora que já lemos atentamente o artigo 18, vamos para a nossa análise detalhada.

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O primeiro ponto que quero deixar como curiosidade para você, é que para classificar o dolo existem vá-

rias espécies. Entretanto, a que nos interessa para o estudo do concurso e que certamente é a mais cobrada, é

o dolo direto e o dolo eventual.

Dolo Direto (art. 18, inciso I, primeira parte). Dolo Eventual (art. 18, inciso I, segunda parte).

“Quando o agente quis o resultado”. “Quando o agente assumiu o risco de produzi-lo”.

DOLO DIRETO (ART. 18, INCISO I, PRIMEIRA PARTE).

DOLO DIRETO DE 1º GRAU DOLO DIRETO DE 2º GRAU.

O dolo direto de 1º grau consiste na vontade de pro-

duzir as consequências primárias do crime, ou seja,

meu amigo(a), é a busca na produção do resultado

típico visado.

O dolo direto de 2º grau é aquele que abrange os

efeitos colaterais da prática delituosa, ou seja, as

suas consequências secundárias, que originaria-

mente não são desejadas pelo agente. Aqui, o autor

não pretende produzir o resultado, mas percebe que

não pode chegar ao resultado pretendido sem cau-

sar os referidos efeitos acessórios.

Veja esse exemplo do professor Fernando Capez9:

Querendo obter fraudulentamente o prêmio do seguro (dolo de primeiro grau), o sujeito dinamita um

barco em alto-mar, entretanto, acaba por tirar a vida de todos os seus tripulantes, resultado pretendido

apenas porque inevitável para o desiderato criminosos (dolo de segundo grau). (CAPEZ, 2013, p.229).

DOLO INDIRETO OU INDETERMINADO

Nesse caso, o agente não quer diretamente o resultado, porém, aceita a possibilidade de produzi-lo (dolo

eventual) ou não se importa em produzir este ou aquele resultado (dolo alternativo).

Veja esse exemplo do professor Magalhães Noronha10:

“A namorada ciumenta surpreende seu amado conversando com a outra e, revoltada, joga uma granada no

casal, querendo matá-los ou feri-los. Ela quer produzir um resultado e não ‘o’ resultado. No dolo eventual,

conforme já dissemos, o sujeito prevê o resultado e, embora não o queira propriamente atingi-lo, pouco se

importa com a sua ocorrência (‘eu não quero, mas se acontecer, parar mim tudo bem, não é por causa deste

9 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 1, parte geral : (arts. 1º a 120) – 17. ed. – São Paulo : Saraiva, 2013 10 NORONHA, Edgard Magalhães. Direito penal. 30. ed. São Paulo, Saraiva v.1.

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rico que vou parar de praticar minha conduta – não quero, mas também não me importo com a sua ocorrên-

cia’). (NORONHA, p.135)

Perceba, caríssimo(a), que a previsão do dolo alternativo se encontra no fato de querer “matá-los ou feri-

los”.

A partir dessa definição é necessário, também, que você saiba que várias são as teorias que se desenvol-

veram ao longo da história para a explicar o que é o dolo. Porém, saber cada uma delas fica à título de curiosi-

dade, caso você queira, fazer um estudo mais aprofundando quando tiver tomado posse, combinado?!

As que nos interessam, para nosso estudo para concurso é que, o Código Penal adotou uma teoria para o

dolo direto e uma para o dolo eventual.

Para o dolo direto (art. 18, inciso I, primeira parte), o CP adotou a teoria da vontade, que diz ser o dolo a

vontade dirigida ao resultado. Dessa forma, age dolosamente a pessoa que, tendo consciência do resultado,

pratica sua conduta com a intenção de produzi-lo.

Para o dolo eventual (art. 18, inciso I, segunda parte), o CP adotou a teoria do consentimento/assenti-

mento, ou seja, aquele que, prevendo o resultado, assume o risco de produzi-lo, age dolosamente.

“Professor, poderia me dar um exemplo de dolo direto e dolo eventual?”

Mas é claro, preste atenção nos seguintes exemplos: Suponhamos que Austin quer matar seu desafeto

Caracas. Para tanto, adquire uma arma de fogo (meio tido como necessário e suficiente para a empreitada cri-

minosa). Quando Caracas passa pelo local onde Austin havia se colocado de tocaia, este efetua o disparo que

causa a morte da vítima. Assim, é possível concluirmos que o dolo de Austin era direto, pois dirigido a produzir

o resultado morte, elencado no art. 121 do Código Penal.

Quanto ao dolo eventual, podemos nos utilizar do mesmo exemplo: imagine que Austin, munido da arma

de fogo, efetua disparados contra Caracas, querendo feri-lo ou matá-lo. Desse modo, quando Austin direciona

sua conduta a fim de causar lesões ou a morte de Caracas, não se importa com a ocorrência de um ou de outro

resultado, e se o resultado mais grave vier a acontecer este ser-lhe-á imputado a título de dolo eventual.

Desse modo, encerramos o estudo do crime doloso, porém, ainda nos resta analisarmos o crime culposo,

previsto no artigo 18, inciso II, do CP.

A partir de tudo que estudamos até o momento, já formamos a base que nos permite tirarmos a seguinte

conclusão: a conduta humana que interessa para o direito penal é aquela que ocorre de duas formas, quais

sejam, quando o agente atua dolosamente, querendo ou assumindo o risco de produzir o resultado, ou, de

outro lado, o agente age culposamente, dando causa a um resultado através de imprudência, negligência ou

imperícia.

Outra informação importante acerca dos crimes culposos, é que saibamos quais são os elementos que o

compõe:

1. Conduta voluntária

2. Resultado involuntário

3. Nexo causal

4. Tipicidade

5. Quebra do dever de cuidado objetivo por imprudência, negligência

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A partir dessas informações que acabamos de visualizar, já conseguimos resolver algumas questões sobre

o tema.

Vamos conferir?!

Ano: 2018 Banca: FUMARC Órgão: PC-MG Prova: FUMARC - 2018 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto

NÃO é um elemento do tipo culposo de crime:

A) Conduta involuntária.

B) Inobservância de dever objetivo de cuidado.

C) Previsibilidade objetiva.

D) Tipicidade.

Resolução: perceba, caríssimo(a) que, a partir do elementos acima expostos, que compõe o crime culposo, o

único que não faz parte do rol é a conduta involuntária. Ademais, você deve lembrar que, conforme estudamos

no início da nossa aula, condutas involuntárias ou atos reflexos não são aptos a caracterizar uma conduta e, por

isso, está ausente um dos elementos do fato típico, fazendo com que o fato não seja considerado crime (atí-

pico).

Gabarito: Letra A.

Ano: 2016 Banca: FUNCAB Órgão: PC-PA Prova: FUNCAB - 2016 - PC-PA - Escrivão de Polícia Civil

Sobre o crime culposo, é correto afirmar que:

A) sua caracterização independe da previsibilidade objetiva do resultado.

B) é dispensável a verificação do nexo de causalidade entre conduta e resultado.

C) encontra seu fundamento legal no artigo 18, I, de Código Penal.

D) se alguém ateia fogo a um navio para receber o valor de contrato de seguro, embora saiba que com isso

provocará a morte dos tripulantes, essas mortes serão reputadas culposas.

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E) há culpa quando o sujeito ativo, voluntariamente, descumpre um dever de cuidado, provocando resultado

criminoso por ele não desejado.

Resolução:

a) um dos elementos que compõe o crime culposo é justamente a previsibilidade objetiva do resultado.

b) é indispensável a verificação do nexo de causalidade, pois o nexo é inerente ao fato típico.

c) o art. 18, inciso I, trata da figura do crime doloso

d) essas mortes ocorrerão à título de dolo, e não à título de culpa.

e) haverá culpa quando houver a quebra do dever de cuidado objetivo.

Gabarito: Letra E.

Agora que já analisamos quais são os elementos que compõe o tipo penal culposo, é necessário debru-

çarmos sobre as modalidades de culpa.

Vejamos:

IMPRUDÊNCIA NEGLIGÊNCIA IMPERÍCIA

Ocorre concomitantemente com

a ação, se manifestando de forma

ativa. Assim, consiste em agir

sem precaução, precipitada-

mente. P.ex. o indivíduo que du-

rante sua pilotagem, ultrapassa

veículo em local proibido.

Essa ocorre quando o sujeito se

porta sem a devida cautela, se

manifestando de forma omissa e,

ocorrendo antes da conduta.

P.ex. o indivíduo que, verificando

que os pneus do seu automóvel

estão gastos, inicia uma viagem

longa com os pneus nessa condi-

ção e vem a causar um acidente.

Trata-se da falta de aptidão para

o exercício de arte ou profissão.

Assim, a imperícia deriva da prá-

tica de uma atividade, seja comis-

siva (ação) ou omissiva, por indiví-

duo incapacitado ao ofício, por

falta de conhecimento acerca do

ato ou por inexperiência. P.ex. um

engenheiro que projeta um imó-

vel sem base suficiente e acaba

provocando a morte do futuro

morador.

Vejamos uma questão sobre o tema:

Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-ES Prova: INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Escrivão de Po-

lícia

Considera-se crime culposo quando

A) o agente atinge o resultado delitivo requerido.

B) o agente impede que resultado delitivo se conclua.

C) o agente não quer o resultado delitivo, mas assume o risco de se realizar.

D) o agente pratica a conduta por imperícia, imprudência ou negligência.

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E) o delito se agrava por resultado diverso do pretendido.

Resolução: perceba, meu(a) caro(a) colega, que a questão nos exige ter conhecimento acerca das três modali-

dades de culpa que acabamos de estudar, que vêm elencadas no artigo 18, inciso II, do Código Penal. Não es-

queça do que sempre digo a você: se familiarize com a letra seca da lei!

a) é a definição do crime consumado;

b) é o instituto do arrependimento eficaz (art. 15, segunda parte, do CP);

c) é a definição de dolo eventual;

d) traz as modalidades de crime culposo;

e) é a definição do crime pretrodoloso, aquele que é agravado pelo resultado (art. 19, CP).

Gabarito: Letra D.

Agora que estudamos as modalidades de culpa e as exemplificamos, você precisa ter em mente, meu

amigo(a), que no crime culposo há uma quebra do dever de cuidado objetivo, ou seja, o fundamental não é

mera provocação do resultado, mas a maneira como ele ocorreu, isto é, se o resultado derivou de alguma das

modalidades que acabamos de analisar.

O dever de cuidado objetivo é completado com a noção de previsibilidade objetiva (um elemento do fato

típico do crime culposo). Para saber qual a postura esperar do agente, devemos ter em mente o critério do

“homem-médio”. Sendo assim, é preciso verificar, antes, se o resultado, dentro daquelas condições, era obje-

tivamente previsível (segundo o que normalmente acontece).

Sendo assim, caríssimo(a), não havendo previsão, ou seja, imprevisibilidade do resultado, o agente que

age culposamente é isento de responsabilidade, tornando o fato atípico.

Agora, para fecharmos o estudo do crime culposo, você deve saber que o crime culposo é um dos que não

admite a tentativa, salvo na culpa imprópria.

“Certo, professor! Mas o que é a culpa imprópria?”

A culpa imprópria é também conhecida por “culpa por equiparação”. Nesse caso, a culpa surge através de

um erro de tipo inescusável (logo mais estudaremos pormenorizadamente) e, também no excesso culposo nas

causas excludentes de ilicitude. A culpa imprópria tem essa denominação pelo fato de o agente criminoso pra-

ticar uma conduta dolosa, mas, por decorrência da lei, responde pelo resultado à título de culpa.

Outra diferenciação importantíssima que não podemos nos confundir é sobre a linha tênue entre culpa

consciente e dolo eventual. Essa diferenciação é muito cobrada em provas, então, vejamos o que às diferencia.

CULPA CONSCIENTE DOLO EVENTUAL

Há previsão do resultado Há previsão do resultado

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O agente, prevendo o resultado e, confiando levia-

namente em suas habilidades, acha que será capaz

de evitar o resultado.

O agente, prevendo o resultado, mostra-se indife-

rente com a sua ocorrência, assumindo o risco de

produzi-lo.

Há, também, a chamada culpa inconsciente, que é a modalidade de culpa na qual o agente não prevê o

que era previsível.

Por fim, para fecharmos o presente tópico e avançarmos com nosso estudo, outra informação importan-

tíssima diz respeito ao princípio da excepcionalidade do crime culposo.

Por este princípio, um crime só pode ser punido como culposo quando houver expressa previsão legal

(art. 18, p.ú, do CP). No silêncio da legislação, a infração penal somente será punida à título de dolo.

Veja essa questão acerca do tema:

Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: PC-SP Prova: VUNESP - 2018 - PC-SP - Delegado de Polícia

“Existe_________ quando o agente prevê o resultado, mas espera, sinceramente, que não ocorrerá; configura-

se _________ quando a vontade do agente não está dirigida para a obtenção do resultado, pois ele quer algo

diverso, mas, prevendo que o evento possa ocorrer, assume assim mesmo a possibilidade de sua produção.”

Assinale a alternativa que correta e respectivamente completa as lacunas.

A) dolo indireto ... dolo alternativo

B) dolo eventual ... culpa consciente

C) culpa inconsciente ... culpa consciente

D) culpa consciente ... dolo eventual

E) culpa inconsciente ... dolo eventual

Resolução: ao lermos atentamente o enunciado da questão, podemos perceber que, quando o agente prevê o

resultado, mas espera, sinceramente que não ocorrerá, é o retrato da culpa consciente. Por outro lado, quando

o agente, prevê que o resultado possa ocorrer, assume a possibilidade de sua produção, é o retrato do dolo

eventual.

Gabarito: Letra D.

Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: PC-SP Prova: VUNESP - 2014 - PC-SP - Atendente de Necrotério Policial

Aquele que antes de praticar o fato até hipotetiza que ele pode ocorrer, mas acredita, sinceramente, que o

resultado não se verificará e, portanto, não admite previamente a possibilidade de o resultado advir, comete

crime

A) premeditado.

B) doloso.

C) tentado.

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D) intencional.

E) culposo.

Resolução: perceba, meu amigo(a), que o enunciado da questão nos traz a seguinte informação: “... ele pode

ocorrer, mas acredita, sinceramente que o resultado não se verificará”. Ao nos depararmos com essa frase,

podemos afirmar, sem nenhum medo de errar, que estamos diante de um crime culposo.

Gabarito: Letra E.

Então, fechamos assim o estudo do dolo e da culpa.

Vamos adiante!

Consumação e tentativa.

Chegou o momento de tratarmos de um tema de suma importância para o Direito Penal.

Assim, como já é conhecido por você aqui no nosso curso, iniciaremos esse tópico a partir da leitura do

art. 14 do Código Penal.

Art. 14 - Diz-se o crime:

Crime consumado

I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;

Tentativa

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do

agente.

Pena de tentativa

Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente

ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.

Realizada nossa leitura atenta, gostaria que você se lembre do exemplo do furto de Austin.

No momento em que Austin consegue subtrair a Ferrari e empreender fuga do estacionamento do super-

mercado, o crime de furto (art. 155, caput, do CP), está consumado.

“Professor, como assim? Ainda não entendi...”

Veja, caríssimo, o inciso I do art. 14 do Código Penal está assim redigido: “consumado, quando nele se

reúnem todos os elementos de sua definição”.

Agora, preste atenção da redação do artigo 155, caput, do CP: “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia

móvel”.

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Desse modo, quando Austin, subtrai, para si, a Ferrari (coisa alheia móvel) que estava no estacionamento,

o agente criminoso reuniu todos os elementos da definição legal do crime de furto, razão pela qual, o crime

está automaticamente consumado!

Fácil, não é mesmo?! Vejamos, então, a figura da tentativa!

Perceba que anteriormente, narrei a você a hipótese em que Austin, ao iniciar o arrombamento da porta

da Ferrari, foi surpreendido pelo segurança do supermercado, que fez com que o agente criminoso empreen-

desse fuga do local.

Então, no momento em que Austin empreende fuga do local, ele não consegue consumar o furto por

circunstâncias alheias à sua vontade, razão pela qual, o furto ficará na esfera da tentativa.

Ficando o crime de furto na esfera da tentativa, Austin terá direito a um redutor de pena que, conforme o

parágrafo único do artigo 14, do CP, varia de um a dois terços.

“Mas professor, como faço para saber a fração que deverá ser utilizada como redutor?”

É ótimo ver que você está completamente concentrado em nossa aula!

Para sabermos qual a fração utilizar como critério do redutor, precisamos analisar, no caso concreto, o

quão perto o agente criminoso chegou da consumação do crime. Em outra palavras, meu amigo(a), quanto

mais distante o criminoso ficar da consumação, o redutor será maior, quanto mais perto o criminoso ficar da

consumação do crime, menor será o redutor.

Preste atenção nessa questão:

Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: PC-SP Prova: VUNESP - 2014 - PC-SP - Atendente de Necrotério Policial

Dispõe o parágrafo único do art. 14 do CP que o crime tentado é punido, salvo exceção, com a pena

A) correspondente à prevista para o crime consumado, diminuída de um a dois terços.

B) igual à do crime consumado.

C) correspondente à metade da prevista para o crime consumado.

D) livremente estabelecida pelo Juiz, mas em patamar obrigatoriamente inferior à correspondente à prevista

para o crime consumado.

E) correspondente à prevista para o crime consumado, diminuída de um ano.

Resolução: conforme visualizamos anteriormente, a pena do crime tentado equivale a do crime consumado,

aplicando-se o redutor do parágrafo único do art. 14, do CP, que fará com que ela seja diminuída de 1 a 2/3.

Gabarito: Letra A.

Uma informação que é de extrema relevância para toda a sua trajetória no ramo dos concursos, é ter o

conhecimento acercadas infrações penais que não admite a tentativa.

Para isso, vou elaborar uma tabela para que possa ficar mais fácil a sua memorização!

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Preste atenção:

CRIMES QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA

Crime culposo – Salvo na culpa imprópria (art. 20, §1º e 23, do CP)

Crimes unissubssistente – são aqueles em que a conduta praticada pelo agente não admite fraciona-

mento. Ou o agente realiza o verbo nuclear e o crime está automaticamente consumado, ou não realiza o

verbo e não há crime. P.ex. o crime de injúria do art. 140 do CP. Ou o agente emprega a injúria e o crime

está consumado, ou não há injúria, e consequentemente, não há crime.

Crimes omissivos puros – aqueles em que a lei penal descreve um não fazer, como, p.ex. a omissão de so-

corro do art. 135, do CP. A impossibilidade de tentativa decorre do fato de que tais crimes são considerados

unissubssistente e de mera conduta.

Contravenções penais – o famoso “crime anão”, conforme o art. 4º da LCP não é punível. Entretanto, é

possível, em tese, no mundo fenomênico a tentativa de contravenção penal, p.ex. uma tentativa de vias de

fato (art. 21, da LCP). Porém, a própria LCP resolver não ser objeto de punição as tentativas de contraven-

ção.

Crimes habituais – são as infrações penais em que, para se chegar a consumação, é necessário que o

agente criminoso pratique a conduta de forma reiterada/habitual. Ou o agente comete uma série de condu-

tas e o crime está consumado, ou ele não pratica e não há crime, como, p.ex. o crime do art. 284, do CP (cu-

randeirismo).

Crimes preterdolosos – art. 19, CP – é quando o agente atua com dolo na sua conduta e o resultado agra-

vador advém de culpa.

Crimes de atentado/empreendimento – exemplo dessa modalidade de crime, é o artigo 352, do CP, não

importando se o agente consiga evadir-se ou somente tenha tentado evadir-se, pois a lei penal, para as

duas situações, equipara a tentativa com a consumação.

Então, vejamos a seguinte questão:

Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: PC-BA Prova: VUNESP - 2018 - PC-BA - Escrivão de Polícia

Dentro do tema do crime consumado e tentado, é correto afirmar que

A) os crimes unissubsistentes admitem tentativa.

B) os crimes omissivos impróprios consumam-se com a ação ou omissão prevista e punida na norma penal in-

criminadora.

C) só haverá consumação do crime quando ocorre resultado naturalístico ou material.

D) há tentativa cruenta quando o objeto material não é atingido, ou seja, o bem jurídico não é lesionado.

E) não admitem tentativa os crimes de atentado ou de empreendimento.

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Resolução:

a) os crimes unissubsistentes são aqueles em que a conduta do agente não comporta fracionamento, razão

pela qual, crimes dessa natureza não comportam a tentativa.

b) os crimes omissivos impróprios só se consumam quando, quem devia e podia agir, deixa de fazer alguma

coisa para evitar o resultado (conduta comissiva por omissão).

c) não necessariamente, tendo em vista as classificações de crime que visualizamos anteriormente, o crime

formal (consumação antecipada) não necessita da produção do resultado naturalístico, basta apenas que haja

a conduta do agente no mundo fenomênico.

d) a tentativa cruenta/vermelha é quando o objeto material é atingido. Quando o objeto material não for atin-

gido, a tentativa será chamada de branca/incruenta.

e) perceba como é importante a memorização da tabela que analisamos anteriormente. Desse modo, podemos

verificar que os crimes de empreendimento ou de atentado, a exemplo do art. 352, do CP, não admitem a ten-

tativa.

Gabarito: Letra E.

Dessa forma, fechamos mais um tópico do nosso estudo.

Avançando no conteúdo, passaremos a estudar as espécies de tentativa mais cobradas em concursos.

Vamos adiante!

Espécies de tentativa.

Salve, meu amigo(a).

Dando seguimento a nossa caminhada, é preciso que você saiba que dentro do ordenamento jurídico-

penal há várias espécies de tentativa. Entretanto, nosso objetivo é otimizar seu estudo e direcioná-lo para sua

prova.

A partir desse momento, passaremos a analisar, então o art. 15, do Código Penal.

Desistência voluntária e arrependimento eficaz

Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado

se produza, só responde pelos atos já praticados

Agora que analisamos o dispositivo legal, para que adentremos nas figuras da desistência voluntária e

arrependimento eficaz, é necessário que, primeiro, vejamos o iter criminis.

“Iter criminis, professor?”

Isso mesmo, meu amigo(a)! Vamos estudar o caminho do crime.

Dessa forma, vejamos a tabela que preparei para você:

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ITER CRIMINIS – CAMINHO DO CRIME.

COGITAÇÃO – é a elaboração mental do crime. Quando o agente inicia, na sua mentalidade, a formulação da

empreitada criminosa. Nesse momento, o pensamento criminoso do agente não possui relevância para o

Direito Penal.

PREPARAÇÃO – quando o agente começa a desenvolver o plano. Nesse momento, em regra, não há que se

falar em punição. Os atos preparatórios só são puníveis, de forma excepcional, quando o legislador resolve

antecipar a tutela penal, como ocorre através da Lei Antiterrorismo (que pune os atos preparatórios para o

terrorismo) e, também, o crime do artigo 34 da Lei 11.343/06 (petrechos para o tráfico).

EXECUÇÃO – é quando o agente põe em prática o crime que havia planejado. Por exemplo, efetua os dispa-

ros de arma de fogo contra a vítima.

CONSUMAÇÃO – ocorre com a reunião de todos os elementos da definição legal do crime, p.ex. a morte da

vítima.

Desse modo, saiba que a esfera da tentativa se encontra entre a execução e a não consumação do crime.

Agora que verificamos o caminho desenvolvido pelo crime, é necessário desmembrarmos o artigo 15 do

CP em duas partes, vejamos:

DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA ARREPENDIMENTO EFICAZ

“O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir

na execução”.

“O agente que impede que o resultado se produza”.

“Só responde pelos atos já praticados”.

Para a ocorrência da desistência voluntária, é necessário que o agente tenha adentrado, ao menos, na

execução do crime.

Preste atenção nesse exemplo, meu jovem: imagine que Austin resolve matar o seu desafeto Caracas.

Para isso, munido de uma arma de fogo, dispara duas vezes contra o ofendido, acertando regiões não vitais do

corpo. Logo após disparar duas vezes contra Caracas, o criminoso Austin, ainda podendo efetuar mais 6 disparos

com sua arma de fogo, voluntariamente desiste de prosseguir com os disparos. Dessa forma, ao poder prosse-

guir com a execução e voluntariamente desistir de dar continuidade, Austin não responderá pelo crime de homi-

cídio, mas tão somente pelos até então praticado (lesão corporal por conta dos disparos), devendo ser averi-

guada a extensão das lesões, para tipificá-las como grave, gravíssima.

Portanto, esse é o instituto da desistência voluntária.

Já quanto ao arrependimento eficaz, a situação apresentada deve ser visualizada por uma ótica diferente.

Peguemos o mesmo exemplo em que Austin quer matar seu desafeto Caracas. Imagine que Austin tenha efe-

tuado os outros 6 disparos que ainda eram possíveis de serem realizados. Dessa forma, Austin, ao descarregar

sua arma de fogo em Caracas, encerra todos os atos de execução do crime. Entretanto, após efetuar todos os

disparos, Austin, arrependido pelo ato, resolve socorrer Caracas levando-o até o hospital mais próximo. Por

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conta do arrependimento eficaz de Austin, Caracas é salvo. Nesse caso, Austin encerrou todos os atos de exe-

cução, entretanto, ao socorrer Caracas e levá-lo até o hospital, impediu que o resultado morte se produzisse,

razão pela qual, assim como na desistência voluntária, responderá somente pelos atos até então praticados, e

não pelo crime de homicídio. Será necessário, então, assim como no exemplo anterior, verificarmos a extensão

das lesões corporais para podermos tipificar corretamente a conduta de Austin.

Vamos colocar em prática nosso conhecimento?

Venha comigo!

Ano: 2018 Banca: NUCEPE Órgão: PC-PI Prova: NUCEPE - 2018 - PC-PI - Delegado de Polícia Civil

Caio tem um desafeto a quem sempre faz ameaças de morte. O último encontro foi num bar. Caio observou

que havia um revólver com seis munições sobre uma mesa e aproveitou para concretizar o desejo de matar seu

oponente. Anunciou que iria matar seu desafeto PEDRO, efetuando um disparo na sua perna. Neste momento

PEDRO suplica por sua vida. Caio, sensível ao apelo da vítima, desiste de continuar disparando, afirma que não

iria mais matar o rival e deixa a arma em cima da mesa. Em seguida, se retira do local. Com relação aos fatos

descritos indique a alternativa CORRETA.

A) Caio deve ser condenado por tentativa de homicídio.

B) Caio não deve responder por qualquer crime.

C) Há apenas o crime de ameaça a ser apurado.

D) Caio responde por tentativa de homicídio e ameaça.

E) Caio deve responder por lesão corporal.

Resolução: agora que analisamos o enunciado da questão e cada uma das suas assertivas, perceba, meu

amigo(a), o enunciado da questão tem um ponto chave para resolução, quando faz menção a seguinte frase:

“...desiste de continuar disparando...” .Então, através dessa informação, podemos deduzir que Caio poderia

prosseguir na execução do crime, entretanto, desiste voluntariamente de dar seguimento a execução, razão

pela qual, deverá responder apenas pela lesão causado pelo único disparo na perna de Pedro.

Gabarito: Letra E.

Tudo compreendido até aqui, meu(a) querido(a) estudante?

Então, vamos avançando em nosso conteúdo.

A partir de agora, passaremos a ver as figuras do arrependimento posterior e crime impossível.

Arrependimento posterior e crime impossível.

Vamos adiante, caríssimo! Não temos tempo a perder.

Preste atenção no que o texto legal nos diz:

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Arrependimento posterior

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou resti-

tuída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será

reduzida de um a dois terços.

Crime impossível

Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropri-

edade do objeto, é impossível consumar-se o crime.

Ambos os institutos são de suma importância para sua preparação para os concursos públicos.

Primeiro, vejamos o arrependimento posterior.

O instituto do arrependimento posterior é considerado uma causa geral de diminuição de pena, com o

intuito de incentivar o agente criminoso a reparar o dano e ter sua reprimenda minorada.

A expressão “posterior” nos demonstra que o agente criminoso se arrependeu após a consumação do

crime.

“Mas professor, qual será o critério utilizado para o redutor?”

Assim como estudamos juntos no instituto da tentativa, a ideia exposta anteriormente poderá ser trans-

portada para o estudo do arrependimento posterior. Dessa forma, quanto mais rápido o agente reparar o dano,

maior será seu redutor. Quanto mais tempo ele demorar, menor será seu redutor.

Vejamos, então quais são os seus requisitos:

Reparação integral dos danos ou restituição da coisa com o "status quo

ante" preservado.

A reparação/restituição deverá ocorrer até o RECEBIMENTO da denúncia ou queixa.

Se ocorrer após o recebimento, é possível, em tese, a aplicação da atenuante do art.

65, III, "B",CP (procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência,

logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do

julgamento, reparado o dano)

Ato voluntário do agente (que a pessoa realiza por sua escolha). Se a reparação for feita por terceiro, não se aplica o artigo 16

Crime sem violência ou grave ameaça

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O outro instituto que está previsto, logo na sequência do Código Penal, é o crime impossível.

O crime impossível é uma causa de exclusão da tipicidade e, para isso, o Código Penal adotou a teoria

objetiva – temperada/mitigada.

“Certo, Arpini! Mas e como são as hipóteses de ocorrência do crime impossível?”

É excelente ver que você está atento a nossa aula. Veja só, pela lei, o crime impossível se dá quando hou-

ver absoluta ineficácia do meio (executório), ou quando ocorrer absoluta impropriedade do objeto (material).

Agora, caso haja relativa ineficácia ou relativa impropriedade, haverá crime tentado.

Quanto ao crime impossível pelo meio executório, imagine a situação em que um indivíduo, munido de

uma arma de fogo, aponta para seu desafeto e aciona o gatilho, momento em que, do cano da arma sai uma

bandeirinha escrito “Bang”. Nesse caso, estamos diante de um crime impossível por absoluta ineficácia do

meio executório (arma de fogo). Agora, imagine o indivíduo que deseja matar uma pessoa que já se encontra

morta, nesse caso, o crime é impossível por absoluta impropriedade do objeto (pessoa ou coisa sob a qual recai

a conduta), no caso, o cadáver.

Chegou o momento de testarmos nossos conhecimentos!

Vamos ver como os concursos estão cobrando o tema em questão.

Ano: 2010 Banca: ACAFE Órgão: PC-SC Prova: ACAFE - 2010 - PC-SC - Escrivão de Polícia Civil

O Código Penal brasileiro, em seu art. 16, estabelece: “Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à

pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do

agente, a pena será reduzida de um a dois terços.”

Esta causa de redução de pena é denominada:

Crime impossível

Absoluta impropriedade do Objeto (materia)

Absoluta ineficácia do meio

(executório)

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A) arrependimento voluntário.

B) arrependimento eficaz.

C) redução facultativa.

D) arrependimento posterior.

Resolução: através da redação do art. 16 do Código Penal e, embasado em todo o estudo até o momento cons-

truído, podemos afirmar sem nenhum medo de errar que o art. 16 do CP, retrata o instituto do arrependimento

posterior.

Gabarito: Letra D.

Dessa forma, meu amigo(a), encerramos mais um tópico do nosso conteúdo e, já nos preparando para

irmos para o final do nosso capítulo, vamos tratar sobre o erro de tipo.

Erro de tipo e erro de proibição.

Caminhando para o final do estudo do nosso primeiro capítulo na nossa aula 03 de direito penal, vamos

analisar a figura do erro de tipo e do erro de proibição.

Para tanto, façamos juntos, a leitura do artigo 20 e 21 do Código Penal.

Erro sobre elementos do tipo

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a

punição por crime culposo, se previsto em lei.

Descriminantes putativas

§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação

de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa

e o fato é punível como crime culposo.

Erro determinado por terceiro

§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.

Erro sobre a pessoa

§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se conside-

ram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria

praticar o crime.

Erro sobre a ilicitude do fato

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta

de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da

ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência

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Superada nossa leitura através do texto da lei, é necessário verificarmos o conceito de erro para o Direito

Penal.

O erro de tipo, para o direito penal, é uma falsa percepção da realidade.

Inicialmente, o erro é jurídico e se divide em duas modalidades:

Erro de tipo: aqui, a falsa percepção da realidade interfere no elemento subjetivo do tipo penal

(no dolo e na culpa)

Erro de proibição: aqui, a interferência se dá no campo da culpabilidade, mais precisamente no

elemento da potencial consciência da ilicitude.

Desse modo, meu amigo(a), no erro de tipo o agente criminoso vê uma coisa e pensa que é outra (falsa

representação da realidade).

Imagine que Austin deixa seu automóvel estacionado no supermercado e, depois de fazer suas compras,

dirige-se até o automóvel para retornar à sua residência. No instante em que Austin vai até o automóvel ele

acaba adentrando em um carro que é idêntico ao seu, mas pertence a outra pessoa. Imediatamente, Austin dá

partida no automóvel e, ao chegar em casa, percebe que o automóvel não é o seu, mas um modelo idêntico

que pertence a outra pessoa.

Dessa forma, perceba que a falsa percepção da realidade que recaiu sobre Austin interferiu no seu elemento

subjetivo, pois é nítido que Austin não teve intenção de furtar aquele automóvel, mas, por engano, acabou

entrado em um veículo igual ao seu. Dessa forma, excluído o dolo por conta da falsa percepção que Austin teve

da realidade que se apresentava. O fato não será considerado criminoso, tendo em vista que, se cogitássemos

a prática de furto, para esse crime não existe previsão culposa, razão pela qual o fato será atípico.

Já no erro de proibição o indivíduo sabe exatamente o que está acontecendo, mas supõe lícita uma con-

duta proibida.

Erro Jurídico

Erro de proibição.

Erro de tipo

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Imagine a seguinte situação: Austin está caminhando pela via pública quando encontra um relógio valioso

na rua, imediatamente pega-o e sai à procura do dono. Apesar de tentar restituir o relógio ao legítimo proprie-

tário, não o encontra e, então, decide ficar com o objeto, acreditando no ditado popular: “achado não é rou-

bado”. Nesse caso, Austin tem plena noção de que está se apoderando de um objeto pertencente a um terceiro,

mas acredita (de boa-fé) que não está fazendo nada de errado, pois tentou incessantemente encontrar o dono

sem, contudo, lograr êxito. Muito embora Austin tenha a absoluta compreensão da realidade, desconhece a

existência de uma proibição condita no art. 169, parágrafo único, inciso II, do CP, que define com crime o ato

de se apropriar de coisa achada.

Assim, no erro de proibição, a ignorância atinge a noção acerca do caráter ilícito do ato praticado.

As consequências de cada um dos erros, vou deixar em forma de tabela para que você memorize mais

facilmente:

Erro de tipo Erro de proibição

Erro evitável Crime culposo (se previsto em

lei). Nesse caso, estamos diante

da culpa imprópria. Ocorre

quando o agente supõe estar di-

ante de uma causa de ilicitude

que lhe permita praticar, licita-

mente, um fato típico. Entre-

tanto, como esse erro poderia ter

sido evitado pelo emprego de dili-

gência mediante, subsiste o com-

portamento culposo.

Reduz a pena (1/6 a 1/3)

Erro inevitável Exclui o dolo e culpa. Desse

modo, sem dolo e culpa não

existe conduta e, se a conduta é

inexistente o fato é atípico, le-

vando a exclusão do crime.

Isenta de Pena (exclui a culpabili-

dade)

O erro essencial, é o que impede o agente de perceber que pratica determinado crime, por isso, SEMPRE

EXCLUI O DOLO.

Vejamos agora, a classificação do erro essencial quanto a sua intensidade:

ERRO DE TIPO INEVITÁVEL/INVENCÍVEL/ESCU-

SÁVEL (DESCULPÁVEL)

ERRO DE TIPO EVITÁVEL/VENCÍVEL/INESCUSÁ-

VEL (INDESCULPÁVEL)

É aquele que uma pessoa de “mediana prudência e

discernimento” – homem médio – também teria co-

metido. Exclui dolo e culpa.

É aquele que uma pessoa na situação concreta não

teria cometido. Exclui o dolo mas mantém a punição

por culpa se prevista em lei.

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Veja esse exemplo do professor Capez:

“Um caçador abate um artista que estava vestido de

animal campestre em uma floresta, confundindo-o

com um cervo. Não houve intenção de matá-lo, por-

que, dada a confusão, o autor não sabia que estava

matando alguém, logo, não poderia querer matá-lo.

Exclui-se o dolo. Por outro lado, sendo perfeita a fan-

tasia não havia como evitar o erro, excluindo-se tam-

bém a culpa, ante a inexistência de quebra do dever

de cuidado (a tragédia resultou de um erro que não

podia ser evitado, mesmo com o emprego de uma

prudência mediana). Como não existe homicídio sem

dolo e sem culpa (a legislação somente prevê homi-

cídio doloso, o culposo e o preterdoloso) o fato torna-

se atípico (CAPEZ, 2013, p.248)

O professor Fernando Capez, ainda prossegue:

“Suponhamos naquele exemplo do caçador (supra)

que o artista estivesse sem fantasia, sendo o equí-

voco produto da miopia do atirador. Nesse caso, es-

taria configura o homicídio culposo” (CAPEZ, 2013,

p. 248.)

Há, também, a previsão do erro acidental, que é aquele em que não há impedimento do agente de per-

ceber que pratica determinado crime e, por isso, não exclui o dolo.

O erro acidental pode se dar das seguintes formas:

1. Erro sobre o objeto material: Lembre-se que o objeto material é toda coisa ou pessoa sob a qual

recai a conduta do agente. Dessa forma, o erro sobre o objeto material se subdivide em duas es-

pécies.

1.1) Erro sobre a pessoa: art. 20, §3º, CP – ocorre quando o agente atinge pessoa diversa da

pretendida, por confundi-la com a vítima visada (“sósia”). Nesse caso, aplicam-se as qua-

lidades e condições da vítima pretendida (visada) e não da vítima (real). Imagine a situa-

ção em que Austin, querendo matar o estuprador de sua filha, sai a caça do desafeto e,

em via pública, encontra o “sósia” do criminoso, iniciando assim, diversos disparos de

arma de fogo e levando a vítima a óbito. Ao chegar perto do ofendido, Austin percebe que

não era o estuprador de sua filha, mas sim, o seu sósia. Nesse caso, Austin responderá por

homicídio levando em conta as qualidades da vítima virtual (o estuprador da filha) e não

as qualidades da vítima real (o sósia mort0).

Veja essa questão acerca do tema:

Ano: 2012 Banca: MS CONCURSOS Órgão: PC-PA Prova: MS CONCURSOS - 2012 - PC-PA - Escrivão de Polícia

Civil

Jovelino Josualdo planejou a execução de sua esposa, grávida, pois tinha fortes suspeitas de que estava sendo

traído por ela. No dia planejado para o homicídio, aguardou a vítima escondido e quando viu um vulto, executou

o seu plano, desferindo cinco tiros na vítima, que faleceu no local. Contudo, ao certificar-se do falecimento da

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vítima, assustou-se ao ver que na verdade havia atirado em sua mãe. Diante do exposto, é correto afirmar que

se trata de:

A) Error In Objecto.

B) Error In Persona.

C) Aberratio Ictus.

D) Aberratio Causae.

E) Aberratio Criminis.

Resolução: no momento em que Jovelino executou seu plano de querer matar sua esposa e acaba por matar

sua mãe, comete erro quanto a pessoa. Entretanto, responderá pelo homicídio como se tivesse matado sua

esposa (vítima virtual) e não como se estivesse matado sua mãe (vítima real).

Gabarito: Letra B.

1.2) Erro sobre a coisa: essa espécie não exclui o dolo – não afasta o caráter criminoso do ato.

O agente erra sobre situação fática juridicamente IRRELEVANTE. Imagine que Austin

subtraia um relógio dourado supondo que se tratava de um relógio valiosíssimo de ouro.

Nesse caso, o erro se deu sobre uma situação irrelevante (a condição do relógio). Nesse

caso, Austin responderá pela prática do furto.

2. Erro na execução: aqui, também há uma divisão em duas etapas.

2.1) “aberratio criminis” ou “delicti”: art. 74, do CP – quando o agente criminoso atinge bem

jurídico diverso do pretendido. 1ª parte: com resultado único ou unidade simples –

quando o agente só atinge o bem jurídico diverso do pretendido (sujeito arremessa uma

pedra contra uma vidraça – crime de dano – mas, por erro na execução, atinge a cabeça

de uma pessoa, provocando-lhe lesão corporal. Nesse caso, o agente criminoso só res-

ponde pelo resultado, desde que prevista a figura culposa (p.ex. lesão corporal culposa).

2ª parte: com resultado duplo ou unidade complexa – o sujeito criminoso atinge o bem

jurídico visado (p.ex. crime de dano) e, também, outro bem jurídico diverso do pretendido

por erro na execução (ex. ao arremessar a pedra, além de atingir a vidraça como almejava,

o sujeito feriu uma pessoa na cabeça, por erro na execução). A solução para esse caso é o

agente responder pelos dois resultados em concurso formal.

3. Aberratio causae – trata-se do erro sobre o nexo causal. Nesse caso, o agente atinge o resultado preten-

dido, mas por meio de uma relação de causalidade diferente da imaginada. Suponha que Austin queira

matar seu desafeto Caracas. Para tanto, leva-o até uma montanha para empurrá-lo de lá, fazendo com que

caia em um rio e morra afogado. Entretanto, no momento em que Austin empurra Caracas, a vítima cai da

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montanha e durante a queda bate a cabeça em uma pedra e morre de traumatismo craniano. Nesse caso,

Austin responderá pelo homicídio normalmente, entretanto, com erro sobre o nexo causal, pois causou a

morte de Caracas por traumatismo craniano e não por afogamento.

Então, agora que já analisamos os principais pontos sobre o erro, fique com o seguinte resumo:

Imagem retirada do site: https://br.pinterest.com/pin/836965911978058408/

Vejamos como o conteúdo vem caindo em concurso:

Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: Câmara Legislativa do Distrito Federal Prova: FCC - 2018 - Câmara Legislativa

do Distrito Federal - Inspetor de Polícia Legislativa

Considerando o que estabelece o Código Penal, associe as duas colunas relacionando os conceitos com a sua

definição.

I. Delito putativo por erro de tipo.

II. Aberratio ictus.

III. Erro de proibição.

IV. Aberratio criminis.

a. O agente percebe a realidade, equivocando-se sobre regra de conduta.

b. Acidente ou erro no emprego executório culminando por atingir bem jurídico diferente do pretendido.

c. O comportamento do agente, subjetivamente, é criminoso, mas objetivamente o ato não se enquadra no

tipo penal.

d. Desvio no golpe ou erro na execução culminando por atingir pessoa diversa da pretendida.

A) I-a; II-b; III-c; IV-d.

B) I-c; II-d; III-b; IV-a.

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C) I-b; II-a; III-c; IV-d.

D) I-c; II-b; III-a; IV-d.

E) I-c; II-d; III-a; IV-b.

Resolução: vejamos que, a partir das assertivas que nos são propostas, devemos associá-las às determinadas

formas de erro. O item I guarda semelhança com os ensinamentos da letra “c” – lembre-se do exemplo do furto

de Austin. O item II guarda relação com os ensinamentos da letra “d”, considerando a aberratio ictus como des-

vio no golpe ou erro na execução. O item III guarda relação com a letra “a”, considerando que no erro de proi-

bição, o agente percebe a realidade, equivocando-se sobre regra de conduta. E, por fim, o item IV guarda rela-

ção com o item “b” pois, o instituto da aberratio criminis é justamente o acidente ou erro no emprego executório

culminando por atingir bem jurídico diferente do pretendido.

Gabarito: Letra E.

Ano: 2018 Banca: NUCEPE Órgão: PC-PI Prova: NUCEPE - 2018 - PC-PI - Delegado de Polícia Civil

O erro acidental não afasta o dolo do agente, podendo ocorrer em algumas situações. Qual das hipóteses está

CORRETA?

A) Erro sobre o objeto quando o autor, ao tentar matar o inimigo, por erro na pontaria mata outra pessoa.

B) Erro sobre o curso causal, quando o autor, ao tentar matar a vítima por afogamento e ao arremessar a vítima

de uma ponte, esta bate na estrutura falecendo de traumatismo.

C) Erro sobre a pessoa no caso do autor que, ao tentar causar dano, atira uma pedra contra uma loja, e por erro

atinge uma pessoa.

D) Erro na execução (aberratio ictus) quando, por exemplo, o autor, ao subtrair uma saca de café, pensa ser uma

saca de açúcar.

E) Resultado diverso do pretendido, quando o autor, ao desejar matar seu filho, causa a morte de seu funcio-

nário.

Resolução: a partir do nosso estudo construído até o momento, é possível verificarmos que o erro sobre o curso

causal é aquele em que o agente tenta matar a vítima por afogamento e ao arremessar a vítima de uma ponte,

esta bate na estrutura falecendo de traumatismo. Lembre-se do exemplo de Austin e Caracas na montanha.

Gabarito: Letra B.

Então, meu amigo(a), encerramos assim, o estudo do nosso primeiro capítulo que trata sobre o fato tí-

pico. A partir desse momento, vamos iniciar o conteúdo acerca da ilicitude/antijuridicidade.

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Ilicitude/Antijuridicidade.

Salve, meu amigo(a)!

Seja muito bem-vindo ao nosso segundo capítulo no estudo da estrutura do conceito analítico de crime.

A partir de agora, vamos partir para o estudo da ilicitude.

Venha comigo!

Ilicitude ou antijuridicidade (que são expressões sinônimas) expressam a contrariedade do fato criminoso

ao direito.

Dentro do tópico da ilicitude/antijuridicidade, iremos nos debruçar sobre o estudo das excludentes de

ilicitude, ou seja, aquilo capaz de excluir o caráter criminoso do fato.

Para tanto, o Código Penal está assim redigido:

Exclusão de ilicitude

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:

I - em estado de necessidade;

II - em legítima defesa;

III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

Excesso punível

Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso

ou culposo.

Iniciaremos o estudo das excludentes de ilicitude de uma forma um pouco diferente.

Inicialmente vamos tratar da figura do excesso.

O “excesso punível” (art. 23, p.ú., CP), é a desnecessária intensificação de uma conduta inicialmente

legítima. O excesso pode se dar de duas maneiras:

a) Voluntário (consciente): ocorre quando o indivíduo se dá conta do exagero. Nesse caso, o agente

responderá por crime doloso, pois, nesse caso, o excesso é doloso.

b) Involuntário (inconsciente): a pessoa não se dá conta de que foi além do necessário. O excesso

involuntário deriva de um erro (pode ser evitável – responder por crime culposo quando previsto

em lei; ou inevitável – não há dolo ou culpa).

Agora que já tratamos da figura do excesso punível, vamos tratar de cada uma das excludentes de ilicitude

de forma individualizada.

Estado de necessidade.

O estado de necessidade vem tratado no artigo 24 do Código Penal, vejamos:

Estado de necessidade

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Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual,

que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sa-

crifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo

§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de

um a dois terços.

O estado de necessidade é uma excludente de ilicitude que surge em casos em que há uma situação de

perigo que gera conflito entre dois ou mais bem jurídicos e, necessariamente um deles deverá ser sacrificado.

Para tanto, alguns requisitos precisam ser preenchidos.

1. Situação de necessidade: deverá haver a ocorrência de um perigo, ou seja, uma probabilidade de

dano a um bem jurídico. O perigo deve ser atual (presente) e inevitável. Perante o CP, o perigo deve

ser apenas atual. Entretanto, os estudiosos do direito penal reconhecem que o perigo seja iminente.

O CP ainda exige que esse perigo ponha em risco direito próprio ou alheio (qualquer bem jurídico).

2. Não provocação do perigo: o agente que se beneficia do instituto do estado de necessidade não

pode ser o provocador do perigo. Se o agente for o provocador voluntário (provoca dolosamente) não

há estado de necessidade. Por outro lado, aquele que provoca de forma involuntária (de forma total-

mente acidental), há, em tese estado de necessidade. No caso de provocação de situação de perigo

de forma culposa, ela é considerada involuntária, então há estado de necessidade.

3. Inexigibilidade de sacrifício do bem salvo: nesse caso, é necessário que façamos uma ponderação

entre o bem salvo e o bem sacrificado. A lei considera lícito o estado de necessidade se o agente

salva um bem de maior relevância ou igual. Se o bem for de relevância menor do que o sacrificado,

não há estado de necessidade. Dessa forma, o art. 24, §2º, manda aplicar em favor do agente.

4. Inexistência do dever legal de enfrentar o perigo: policiais, militares, bombeiros, possuem o dever

de encarar o perigo. Em situações de perigo extremo, essas pessoas podem agir em estado de neces-

sidade. É pacífico entre os estudiosos do direito penal a inexigência de atos de heroísmo.

Dessa forma, meu amigo(a), para o CP, o estado de necessidade sempre atuará como excludente de ilici-

tude, seja o bem salvo mais importante ou equivalente ao bem sacrificado, tendo em vista o fato de o direito

penal brasileiro ter adotado a teoria unitária.

“Arpini, poderia me dar um exemplo acerca do estado de necessidade?”

Mas é claro, doutor(a)!

O exemplo mais clássico que temos entre os doutrinadores de direito penal é o da tábua da salvação.

Imagine que, após um naufrágio, Austin e Caracas, se veem obrigados a dividir a mesma tábua, que suporta o

peso de apenas um deles. Nesse cenário, meu amigo(a), o direito penal autoriza um deles a matar o outro, se

isso for preciso para salvar a própria vida.

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Hora de testarmos nosso aprendizado!

Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-ES Prova: INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Escrivão de Po-

lícia

No Direito Penal brasileiro, o chamado estado de necessidade é

A) causa de agravamento da pena.

B) causa de exclusão de ilicitude.

C) quando o agente pratica o delito para satisfazer uma necessidade pessoal.

D) causa de perdão judicial.

E) quando o agente atua em legítima defesa.

Resolução: perceba, meu amigo(a) que, uma simples e atenta leitura do artigo 23 do Código Penal já é o sufi-

ciente para garantirmos mais um ponto valioso em busca da sua aprovação. O art. 23 do CP é claro ao dizer que

o estado de necessidade é uma excludente de ilicitude.

Gabarito: Letra B.

Encerrada a análise da nossa primeira excludente de ilicitude, passemos, então, para o estudo da legítima

defesa.

Legitima defesa.

Iniciando o estudo de mais uma excludente de ilicitude, vamos direto ao texto do Código Penal:

Legítima defesa

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, re-

pele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também

em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima

mantida refém durante a prática de crimes.

Feita nossa leitura atenta, é necessário que saibamos que o instituto da legitima defesa é um dos mais

bem desenvolvidos da história do direito penal. Está diretamente vinculado ao instinto de sobrevivência.

Para tanto, alguns requisitos são necessários para que possamos cogitar da existência da legitima defesa,

quais seja:

1. Agressão: é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo qualquer bem jurídico. Não há que se con-

fundir agressão com provocação. Deve ser atual ou iminente e injusta. A agressão deve se voltar a

direto próprio ou alheio. O elemento subjetivo é o “animus deffendendi”, implícito no art. 25 do CP.

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2. Injustiça da agressão: deve ser avaliada objetivamente. Logo há, em tese, legítima defesa contra

agressão de inimputáveis (será o próximo tópico do nosso estudo pós excludentes de ilicitude). Quero

que você tenha em mente que é inviável cogitarmos uma legitima defesa recíproca, pois, se um dos

indivíduos estiver em legítima defesa, sua reação será lícita para o direito.

3. Reação (forma de repelir a agressão):

3.1) Com o emprego dos meios necessários: aquele menos lesivo dentre os meios eficazes à dis-

posição do agente.

3.2) Moderação: aquela exercida até fazer cessar a agressão sofrida.

Se ausente algum desses requisitos, meu(a) caro(a), haverá excesso na legítima defesa e o agente

responderá pelo excesso.

O excesso pode se dar de duas formas: a) excesso intencional/voluntário: nessa modalidade, o agente

está ciente de que a agressão já cessou, e mesmo assim, prossegue em sua conduta dirigindo-se a lesar o bem

do agressor. Nessa situação, o agente responderá pelo resultado excessivo a título de dolo. Essa modalidade é

o excesso doloso. b) não intencional/involuntário: o sujeito, através de erro na apreciação da situação fática,

está supondo que a agressão ainda está ocorrendo e, dessa forma, segue com sua reação sem se dar conta do

excesso que comete. Se o erro no qual incorreu for evitável, o indivíduo responderá pelo resultado a título de

culpa, se a lei previr a forma culposa (“excesso culposo”). Entretanto, se o erro for inevitável, o indivíduo não

responderá pelo resultado excessivo, afastando-se o dolo e a culpa.

Outro ponto para o qual devemos redobrar nossa atenção, é a inserção do parágrafo único no art. 25, do

CP, inserido pela Lei Anticrime, que veio disciplinar a legítima defesa especial.

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, re-

pele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. (Redação dada pela Lei nº

7.209, de 11.7.1984)

Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também

em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a ví-

tima mantida refém durante a prática de crimes.

Dessa forma, para que haja a ocorrência da legítima defesa especial é necessário que estejam presentes

todos os requisitos previstos no caput do art. 25, ocasião em que os agentes de segurança pública repelem uma

agressão ou perigo de agressão a uma vítima em perigo na pratica de crime.

Agora, meu amigo(a), você já ouviu falar em ofendiculos? Aposto que você sabe o que é, mas pode não

ter assemelhado pelo nome jurídico.

Os ofendículos, doutor(a), são os aparatos pré-dispostos na defesa de um bem jurídico, p.ex. um cerca

elétrica, cacos de vidro em muros e etc. Entretanto, para que os ofendículos sejam considerados como um apa-

rato de excludente de ilicitude, é necessário que sejam lícitos, visíveis, inacessível a terceiros inocentes e deverá

ter a observância de eventuais normas técnicas.

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Porém, os ofendículos podem se externar de duas formas.

OFENDÍCULOS

Durante a instalação/manutenção Quando houver a utilização/acionamento

É considerado exercício regular de um direito É considerado legitima defesa preordenada.

Veja como esse conteúdo vem sendo cobrado em concurso:

Ano: 2018 Banca: FUMARC Órgão: PC-MG Prova: FUMARC - 2018 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto

Com relação às causas de exclusão da ilicitude, é CORRETO afirmar:

A) Astrogildo colocou cacos de vidro, visíveis, em cima do muro de sua casa, para evitar a ação de ladrões. Certo

dia, uma criança neles se lesionou ao pular o muro da casa de Astrogildo para pegar uma bola que ali havia

caído. Nessa situação, ainda que se tratando da defesa de um perigo incerto e ou remoto, a conduta de Astro-

gildo restaria acobertada por excludente da ilicitude.

B) No caso de legítima defesa ou estado de necessidade de terceiros, é imprescindível a prévia autorização

destes para que a conduta do agente não seja ilícita.

C) Caio, lutador de boxe, durante uma luta em que seguia as regras desportivas, atinge região vital de Tício,

causando-lhe a morte. Ante a gravidade da situação fática, a violência não encontra amparo em nenhuma causa

de exclusão da ilicitude, devendo Caio responder pela morte causada.

D) Nos moldes do finalismo penal, pode a inexigibilidade de conduta diversa ser considerada causa supralegal

de exclusão de ilicitude.

Resolução: conforme acabamos de estudar acerca dos ofendículos, para que sejam considerados como um

aparato de excludente de ilicitude, é necessário que sejam lícitos e, também, visíveis. No momento em que

Astrogildo colocou cacos de vidro visíveis, em cima do muro de sua casa para evitar ladrões, o fato de uma

criança ter se lesionado ao pular o muro para pegar uma bola, trata-se de uma fatalidade, razão pela qual, a

conduta de Astrogildo continuaria acobertada pela excludente de ilicitude.

Gabarito: Letra A.

Vejamos essa outra:

Ano: 2014 Banca: FUNCAB Órgão: PC-RO Prova: FUNCAB - 2014 - PC-RO - Escrivão de Polícia Civil

A legítima defesa é causa de exclusão da:

A) conduta.

B) imputabilidade.

C) tipicidade.

D) antijuridicidade.

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E) culpabilidade.

Resolução: perceba, meu amigo(a), como a leitura do texto seco da lei é importante. Uma leitura rápida pelo

artigo 23 do CP, garantiria mais esse ponto na sua prova, tendo em vista que a legítima defesa é uma excludente

de ilicitude/antijuridicidade.

Gabarito: Letra D.

Então, para encerrarmos mais um tópico do nosso estudo, abaixo deixarei uma tabela com as principais

diferenças entre o estado de necessidade e a legítima defesa.

ESTADO DE NECESSIDADE LEGÍTIMA DEFESA

Pressupõe perigo Pressupõe agressão

Todos os envolvidos têm razão, pois seus bens ou

interesses são legítimos

Somente um indivíduo (agredido) está com a razão,

ao repelir a injusta agressão

Só há estado de necessidade se o perigo for inevitá-

vel

Há legítima defesa ainda quando a agressão for evi-

tável.

Existe estado de necessidade contra atos de animais Não existe legítima defesa contra ataque de animal

(salvo quando ele foi o instrumento de uma agressão

humana.

Pois bem, meu amigo(a), antes de encerrarmos mais este tópico, quero tratar com você acerca da legí-

tima defesa putativa.

Inicialmente, tudo que visualizamos até agora diz respeito a legítima defesa REAL.

“Certo, professor! Mas e agora, o que seria a legítima defesa putativa?”

A legítima defesa putativa, meu amigo(a), ocorre quando o agente pensa que está se defendendo, po-

rém, na verdade, acaba praticando um ato injusto. Se é certo que o agente não sabe estar cometendo uma

agressão (pela falsa percepção da realidade) injusta contra um inocente, é certo, também, que o agredido nada

tenha a ver com isso, podendo repelir o ataque objetivamente injustificável.

Veja esse exemplo do professor Capez:

“É o caso de alguém que vê o outro enfiar a mão no bolso e pensa que ele vai sacar uma arma. Pensando

que vai ser atacado, atira em legítima defesa imaginária. Quem recebe a agressão gratuita pode revidar

em legítima defesa real. A legítima defesa putativa é imaginária, só existe na cabeça do agente; logo,

objetivamente configura um ataque como outro qualquer (pouco importa o que “A” pensou; para “B”, o

que existe é uma agressão injusta). (CAPEZ, 2013, p. 308)

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Em resumo, meu amigo(a), não será cabível legitima defesa nas seguintes hipóteses:

1. Legítima defesa real X legítima defesa real;

2. Legítima defesa real X estado de necessidade real;

3. Legítima defesa real X exercício regular de direito;

4. Legítima defesa real X estrito cumprimento do dever legal.

Tendo em vista que em nenhuma dessas hipóteses acima há injusta agressão.

Imagem retirada do Curso de Direito Penal (volume 1 – arts. 1º a 120), do professor Fernando Capez (2013;

pg. 252).

A partir de agora, veremos os outros dois institutos elencados pelo Direito Penal como causas excluden-

tes de ilicitude.

Venha comigo!

Estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito.

Primeiramente, guerreiro(a), precisamos ter em mente que o estrito cumprimento do dever legal e o

exercício regular de direito são excludente de ilicitude “em branco”.

“Como assim, “em branco”, professor?”

Trata-se de um fenômeno semelhante ao que ocorre com a “lei penal em branco” em que o conteúdo

definitivo da norma se deduz de outra norma jurídica. Sendo assim, o conteúdo de ambas as excludentes de

ilicitude decorrem de normas extrapenais.

Veja só esse exemplo do professor Estefam:

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“O policial que cumpre um mandado de prisão e, para isso, emprega força física, na medida do

necessário para conter o agente, encontra-se no estrito cumprimento de um dever legal; sua ação

não é criminosa, com fundamento na combinação do art. 23, inciso III, do CP com o art. 292 do

CPP”.(ESTEFAM, André, p. 295).

Um exemplo clássico de exercício regular de um direito diz respeito à violência desportiva, desde que o

esporte seja regulamentado oficialmente e a lesão ocorra de acordo com as respectivas regras, como, por

exemplo, os eventos do UFC e do extinto Pride.

Dessa forma, para fecharmos o estudo completo das excludentes de ilicitude, vejamos uma questão e

partiremos para mais uma etapa da nossa aula.

Preste atenção na seguinte questão:

Ano: 2012 Banca: FGV Órgão: Senado Federal Prova: FGV - 2012 - Senado Federal - Policial Legislativo Federal

São causas excludentes da ilicitude, segundo o Código Penal,

A) a legítima defesa, o exercício regular de direito e a inexigibilidade de conduta diversa.

B) o estado de necessidade, o estrito cumprimento do dever legal e a desistência voluntária.

C) o estrito cumprimento do dever legal, a legítima defesa de terceiro e o exercício regular de direito.

D) o estado de necessidade, a legítima defesa e a inexigibilidade de conduta diversa.

E) a inexigibilidade de conduta diversa, a desistência voluntária e a legítima defesa de terceiro.

Resolução: ao nos depararmos com o enunciado da questão, podemos perceber que o art. 23 do Código Penal

é o suficiente para respondermos este questionamento. Dessa forma, são causas excludentes de ilicitude, se-

gundo o CP o estrito cumprimento do dever legal, a legítima defesa de terceiro e o exercício regular de direito.

Gabarito: Letra C.

Certo, caríssimo(a)!

Qualquer dúvida fico ao seu dispor. Não hesite em me procurar.

Culpabilidade

Salve salve, meu amigo(a)!

A partir desse momento, inauguramos o terceiro capítulo da nossa aula e passaremos a estudar o último

elemento da estrutura do conceito analítico de crime.

Para que possamos introduzir nosso estudo, é necessário que saibamos que a culpabilidade é entendida,

pela grande maioria dos estudiosos do direito penal, como o juízo de reprovação que recai sobre o autor cul-

pado de um fato típico e antijurídico. Desse modo, para muitos, a culpabilidade é tratada como requisito do

crime e, para outros, como pressuposto de aplicação da pena.

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Hoje, a posição dominante no ordenamento jurídico é de que se trata de requisito do crime.

Assim, como o fato típico, a culpabilidade também é composta por alguns requisitos, vejamos:

Para que fique mais fácil a memorização dos elementos da culpabilidade, guarde o mnemônico IMPOEX.

Então, vamos ao estudo individualizado de cada uma das figuras:

Imputabilidade:

Trata-se da capacidade mental do indivíduo de compreender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de

acordo com esse entendimento (ou seja, de conter-se).

Simplificando, meu amigo(a), a imputabilidade nada mais é do que as condições de sanidade e maturi-

dade humana, a ponto de permitir a qualquer pessoa a capacidade de compreensão e autodeterminação. A

imputabilidade deve estar presente no momento da conduta.

Assim, partindo do nosso conceito de imputabilidade, é necessário que nos debrucemos sobre as causas

de exclusão da imputabilidade.

No ordenamento jurídico brasileiro há as seguintes previsões de exclusão da imputabilidade:

Para que nossa memorização se torne ainda mais fácil, vou elaborar uma tabela com cada uma das causas,

seus efeitos e suas consequências jurídicas:

CAUSAS EFEITOS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS

Culpabilidade

Potencial consciência da ilicitude

Exigibilidade de conduta

diversaImputabilidade

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Art.26 – Doença mental, desen-

volvimento mental incompleto

ou retardado. *

Supressão total da capacidade mental Inimputável – absolvição Impró-

pria – aplicação de medida de se-

gurança

Redução da capacidade mental

Semi-imputável – condenação

com pena reduzida de 1 a 2/3, ou

medida de segurança.

Art.27 – Menoridade Penal ECA – Sujeito a medidas socioedu-

cativas e protetivas.

Art.28 – Embriaguez Completa

involuntária *

Supressão das capacidades mentais Inimputável – absolvição própria –

não há que se falar em medida de

segurança

Redução das capacidades mentais

Semi-imputável – condenação

com pena reduzida de 1 a 2/3.

* Se houver qualquer dúvida acerca da sanidade mental do réu, o Código de Processo Penal nos seus arts.

149 a 154 do CPP, dispõe sobre a instauração do incidente de insanidade mental do acusado, para dirimir a

dúvida.

* Embriaguez: consiste na intoxicação aguda e transitória provocada pelo álcool ou substâncias de efei-

tos análogos (aqui, meu amigo(a) não pode se enquadrar as drogas ilícitas).

Embriaguez completa: quando se enquadra o sujeito no segundo nível (depressão) e terceiro nível (letar-

gia – coma – conduta omissiva, p.ex.).

Embriaguez involuntária: proveniente de caso fortuito ou força maior. Se a embriaguez for voluntária o

agente responde pelos atos por força da teoria da “actio libera in causa” (ação livre na causa). Para que seja

aplicado o instituto da embriaguez involuntária, sem gerar responsabilidade penal objetiva, deve-se avaliar se,

no momento em que a substância foi ingerida, era previsível o resultado produzido.

Espécies de embriaguez voluntária:

a) Dolosa: o sujeito quer se embriagar.

b) Culposa: aquela que decorre no excesso imprudente no consumo; e

c) Pré-ordenada: o indivíduo ingere bebida alcoólica para se “encorajar” para cometer o crime. Nesse

caso, estamos diante da agravante do art. 61, II, “l”, CP.

d) Embriaguez patológica: o indivíduo é alcoólatra e isso é considerado como doença mental, apli-

cando-se o art. 26 do Código Penal, que dispõe sobre a inimputabilidade.

Com isso, você tem um conteúdo fartíssimo de informações acercas das causas que excluem a imputabi-

lidade. Leia com carinho cada uma das informações que constam dessa tabela, pois ela será de muita relevância

para sua caminhada!

Chegou a hora de testarmos nosso conhecimento.

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Vejamos:

Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: PC-BA Prova: VUNESP - 2018 - PC-BA - Escrivão de Polícia

A respeito da imputabilidade penal, é correto afirmar que tal instituto

A) figura como um dos elementos da culpabilidade.

B) cuida da capacidade física do agente de praticar o ilícito.

C) figura como um dos requisitos da punibilidade.

D) não exclui da aplicação da lei penal fato praticado durante a embriaguez involuntária completa, proveniente

de caso fortuito ou força maior.

E) não exclui a menoridade (criança e adolescente) da aplicação da lei penal.

Resolução: a banca nos questiona acerca da imputabilidade, razão pela, qual estamos diante do primeiro ele-

mento que compõe a culpabilidade, uma das vertentes do conceito analítico de crime.

Gabarito: Letra A.

Avançando, chegou o momento de tratarmos do segundo elemento da culpabilidade.

Potencial consciência da ilicitude.

O elemento da potencial consciência está previsto no artigo 21 do Código Penal.

Preste atenção, meu amigo(a)!

Erro sobre a ilicitude do fato

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta

de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da

ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência

A partir da leitura concentrada que acabamos de fazer, quero que você grife a expressão “o desconheci-

mento da lei é inescusável” e, no máximo, quando o desconhecimento for relevante, poderá gerar uma ate-

nuante, conforme o artigo 65, inciso II, do CP.

Nesse ponto da culpabilidade, é necessário sabermos que já há a imputabilidade. Dessa forma, a potencial

consciência da ilicitude está ligada ao aspecto cultural de saber o que é certo ou errado e, para isso, é necessário

que se façamos um pequeno jogo de perguntas e respostas.

Vamos lá!

PERGUNTAS RESPOSTAS CONSEQUÊNCIAS

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1ª - O réu tinha conhecimento do

caráter ilícito do fato?

Sim Então está presente a potencial

consciência da ilicitude.

Não Então podemos estar diante de

um caso raro de erro de proibi-

ção.

2ª - O réu tinha possibilidade de

conhecer o caráter ilícito do fato?

Sim Erro de proibição era evitá-

vel/inescusável/indesculpável,

o que gerará condenação com

diminuição de pena de 1/6 a

1/3.

Não Será erro de proibição inevitá-

vel/escusável/desculpável. O

réu será absolvido, pois não há

potencial consciência da ilici-

tude.

Espero que tudo esteja ficando claro para você, meu amigo(a)! Caso fique alguma dúvida, não hesite em

procurar!

Exigibilidade de conduta diversa.

Iniciado o último elemento da culpabilidade, chegou a hora de tratarmos da exigibilidade de conduta

diversa.

Como já estudamos anteriormente, o Direito Penal só se interessa em punir os comportamentos social-

mente relevantes, dessa forma, o comportamento só é merecedor de censura penal quando o sujeito podia agir

de outro modo.

Assim, o artigo 22 do Código Penal nos traz duas hipóteses de INEXIGIBILIDADE de conduta diversa:

Façamos nossa clássica e importantíssima leitura!

Coação irresistível e obediência hierárquica

Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não mani-

festamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.

Agora que realizamos nossa leitura, peço gentilmente que você grife as expressões “coação irresistível”

e “obediência a ordem, NÃO manifestamente ilegal”.

A coação moral diz representa a vis relativa, ou seja, caríssimo(a), consiste na promessa de inflição de

um mal grave e injusto. Assim, é necessário a cumulação dos seguintes requisitos: seriedade da promessa +

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verossimilhança do mal prometido. Irresistibilidade: gravidade do mau pretendido + Imediatidade do mau +

ponderação entre o mau prometido e o ato exigido.

Já na coação física irresistível (“vis absoluta”) o ato é involuntário e, consequentemente, não haverá con-

duta, sendo assim, o fato será atípico.

“Arpini, poderia nos dar um exemplo?”

Claro, vamos lá, meu amigo(a).

Trago a vocês alguns exemplos dos clássicos do Direito Penal.

Primeiro, vejamos o exemplo de coação moral irresistível, na lição de Fernando Capez e Edilson Mouge-

not Bonfim11:

“...Quando o assaltante, apontando uma arma de fogo, diz para a vítima “a bolsa ou a vida”, não

lhe está excluindo totalmente à vontade, embora a tenha pressionado de modo a inviabilizar qual-

quer resistência. Assim, na coação moral irresistível, há fato típico e ilícito, mas o agente não é

considerado culpado, em face de exigibilidade de conduta diversa” (BONFIM; CAPEZ, p. 592)

O outro, diz respeito a coação física irresistível.

“...É o caso do operador de trilhos que, amarrado por assaltantes à cadeira, não tem como fazer

a mudança de nível dos trilos e, assim, não consegue impedir a colisão das locomotivas. Não

houve qualquer conduta de sua parte, pois a vontade foi totalmente eliminada pelo emprego de

força física”. (BONFIM; CAPEZ, p.592)

Em resumo, essas serão as consequências jurídicas para os casos de coação moral irresistível e obediência

hierárquica:

COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL COAÇÃO MORAL RESISTÍVEL

COATOR Condenado + agravante (art.62) Condenado + agravante (art.62)

COAGIDO Absolvido Condenado + atenuante (art.65)

A outra hipótese de inexigibilidade de conduta diversa é a obediência hierárquica e, assim como as ante-

riores, é necessário que sejam preenchidos alguns requisitos, quais sejam:

11 BONFIM, Edilson Mougenot. Direito Penal : parte geral / Edilson Mougenot Bonfim, Fernando Capez. – São Paulo: Saraiva, 2004.

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1.) Relação de hierarquia: dessa forma, somente poderá ocorrer em ambiente público;

2.) Ordem superior;

3.) Ordem ilegal não manifesta (a ilegalidade não pode ser evidente).

Por fim, as consequências jurídicas você confere abaixo!

ORDEM NÃO MANIFESTAMENTE

ILEGAL

ORDEM MANIFESTAMENTE ILEGAL

SUPERIOR Condenado + agravante (art.62) Condenado + Agravante (art.62)

SUBORDINADO Absolvido Condenado + Atenuante (art.65)

Aposto que você está cheio de vontade de resolver uma questão, então, vamos lá!

Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-SE Prova: CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia

Em um clube social, Paula, maior e capaz, provocou e humilhou injustamente Carlos, também maior e capaz,

na frente de amigos. Envergonhado e com muita raiva, Carlos foi à sua residência e, sem o consentimento de

seu pai, pegou um revólver pertencente à corporação policial de que seu pai faz parte. Voltando ao clube depois

de quarenta minutos, armado com o revólver, sob a influência de emoção extrema e na frente dos amigos,

Carlos fez disparos da arma contra a cabeça de Paula, que faleceu no local antes mesmo de ser socorrida.

Acerca dessa situação hipotética, julgue o próximo item.

A culpabilidade de Carlos poderá ser afastada por inexigibilidade de conduta diversa.

( ) Certo

( ) Errado

Resolução: agora que lemos atentamente o enunciado da questão, perceba que é completamente inviável fa-

larmos em ausência de culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa. Nesse caso, há culpabilidade,

tendo em vista que Carlos tinha completa noção da situação ao seu redor, sendo, desse modo, exigível dele

conduta diversa, qual seja, não cometer o homicídio contra Paula.

Gabarito: ERRADO.

Antes de avançarmos para o estudo do nosso outro grande tema macro, vejamos mais uma questão:

Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia Federal - Delegado

de Polícia Federal

Em cada item seguinte, é apresentada uma situação hipotética seguida de uma assertiva a ser julgada com base

na legislação de regência e na jurisprudência dos tribunais superiores a respeito de exclusão da culpabilidade,

concurso de agentes, prescrição e crime contra o patrimônio.

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Arnaldo, gerente de banco, estava dentro de seu veículo juntamente com familiares quando foi abordado por

dois indivíduos fortemente armados, que ameaçaram os ocupantes do veículo e exigiram de Arnaldo o forne-

cimento de determinada senha para a realização de uma operação bancária, o que foi por ele prontamente

atendido. Nessa situação, o uso da senha pelos indivíduos para eventual prática criminosa excluirá a culpabili-

dade de Arnaldo.

( ) Certo

( ) Errado

Resolução: dessa forma, ao analisarmos o conteúdo da coação moral irresistível, é possível afirmarmos que a

culpabilidade de Arnaldo (gerente do banco) será excluída por ter “contribuído” para a conduta criminosa.

Gabarito: CERTO.

Assim, encerramos mais um capítulo da nossa aula sobre fato típico.

No próximo capítulo vamos tratar de um tema de suma importância para o seu concurso, então, não saia

daí!

Estou te esperando no próximo capítulo!

Até lá!

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CONCURSO DE PESSOAS.

Seja muito bem-vindo, meu amigo(a), a mais um prazeroso capítulo de estudo em nossa aula sobre teoria

geral do delito.

Antes de iniciarmos quaisquer considerações acerca do tema, lhes trago o texto legal para inaugurar

nosso estudo.

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida

de sua culpabilidade.

§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um

terço.

§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena

deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.

Circunstâncias incomunicáveis

Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elemen-

tares do crime.

Casos de impunibilidade

Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não

são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado

Inicialmente, meu amigo(a), uma infração penal, na esmagadora maioria das vezes, é praticada apenas

por uma pessoa. Entretanto, há casos em que várias pessoas, em comunhão de esforços e acordo de vontades,

seja material ou intelectualmente, cooperam parra o mesmo delito.

Dessa forma, a reforma ocorrida no CP em 84, modificou a disciplina do tema. Deixou-se para trás a ex-

pressão “coautoria” e, no seu lugar, substituiu-se por “concurso de pessoas”.

Porém, o atual artigo 29 do Código Penal estabelece que todo aquele que concorre para o crime incide

nas penas a este cominadas. Entretanto, faz algumas ressalvas em seus §§1º e 2º. No §1º estamos diante da

figura da participação de menor importância e, no §2º, a concorrência dolosa distinta que, logo em seguida,

serão expostas.

Para explicarmos cada uma dessas figuras inerentes ao concurso de pessoas, existem três teorias acerca

do tema que nos propõe uma solução, vejamos:

1. Teoria monista: essa é a adotada, como regra, pelo artigo 29, caput, do CP. Assim, todo aquele que

concorre para o crime responde pelas penas a este cominada, na medida de sua culpabilidade. Então,

dessa forma, atribui um só crime a todos os concorrentes. Imagine a seguinte situação: Austin e Ca-

racas, cometeram um crime de latrocínio. Para tanto, Austin empunhou a arma de fogo e disparou

em direção a vítima e Caracas limitou-se a dar cobertura para a empreitada criminosa. Desse modo,

ambos respondem pelo artigo 157, §3º, do CP.

2. Teoria dualista: aqui, deve haver dois crimes diferentes a serem imputados. Um deles será imputado

aos autores e outro, aos partícipes. Essa teoria não foi adotada pelo CP.

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3. Teoria pluralista: deve se atribuir para cada agente um delito diferente. Há exemplos excepcionais

dessa teoria em nosso CP, que são “as exceções pluralistas à teoria monista”. Como exemplo, po-

demos citar o crime de corrupção. No caso da corrupção, o corruptor comete corrupção ativa (art.

333, do CP), e o funcionário público corrompido, corrupção passiva (art. 317, CP). Outro exemplo é o

aborto. A gestante incorrerá no crime auto aborto (art. 124, CP) e o terceiro que realiza a manobra

abortiva por autorização da gestante, responderá pelo crime do art. 125 ou 12612.

“Certo, Arpini! Mas e agora, como eu defino quem é autor, coautor ou partícipe?”

Ótima pergunta, meu amigo(a)!

Vamos à solução:

AUTOR COAUTOR PARTÍCIPE

É o sujeito que realiza o verbo nu-

clear. P.ex. “subtração”

É o sujeito que realiza atos de exe-

cução. P.ex. empunhar arma de

fogo e apontá-la para a vítima.

É o sujeito que presta auxílio moral

(que decorre de um induzimento

ou instigação) ou material (forne-

ceu a arma de fogo), sem praticar

atos de execução ou o verbo nu-

clear.

Outra informação que é importante que saibamos é a classificação de crimes conforme a quantidade de

sujeitos ativos.

Preste atenção no esquema!

a) Crimes monossubjetivos, unissubjetivos ou de concurso eventual: é um crime que pode ser praticado

por uma ou mais pessoas em concurso.

b) Crimes plurissubjetivo ou de concurso necessário: o tipo penal exige a pluralidade de sujeitos ativos

como elementar do crime.

b.1) de condutas paralelas: aquele crime plurissubjetivo em que os concorrentes possuem divisão de

tarefas em busca de um objetivo comum, p.ex. o crime de associação para o tráfico de drogas, pre-

visto no art. 35 da Lei 11.343/06 (mínimo 2 pessoas); associação criminosa, conforme o art. 288, CP

(mínimo três pessoas); organização criminosa (mínimo de 4 pessoas).

12 Aborto provocado por terceiro Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência

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b.2) de condutas convergentes: as condutas convergem ao encontro uma da outra, p.ex. crime de

bigamia (art. 235, §1º, CP);

b.3) de condutas contrapostas: aquele em que os sujeitos praticam suas condutas uns contra os ou-

tros, p.ex. crime de rixa.

Certo, meu(a) nobre estudante! Agora que já estudamos a classificação dos crimes e, também, as teorias

acerca do concurso de pessoas, para que reste configurado o referido concurso, alguns requisitos são necessá-

rios:

Pluralidade de pessoas

e de condutas

Relevância causal das

condutas

Unidade de desíg-

nio/vínculo subjetivo/

identidade de propósi-

tos

Unidade de infração

Cada uma das pessoas

deve praticar obrigato-

riamente condutas pe-

nalmente relevantes

(sejam ações ou omis-

sões)

Deverá haver nexo de

causalidade entre a con-

duta e o resultado (art.

13, caput, do CP) e, tam-

bém a presença do

verbo “concorrer” do art.

29, do CP. Feito isso, de-

verá ser verificado se o

concorrente da infração

é coautor ou participe.

Corresponde à adesão

voluntária à conduta cri-

minosa. Não se exige

acordo prévio (“pacta

sceleris”). Se não houver

unidade de desígnios,

ocorrerá “autoria colate-

ral”.

Teoria unitária/monista

(art. 29, caput, CP). To-

dos respondem pelo

mesmo crime.

“Certo, Arpini. Mas como ficam as questões dos §§1 e 2º, do CP?”

O §1º trata da participação de menor importância, sendo uma causa de diminuição de pena de 1/6 a 2/3.

É aquela conduta dotada de reduzida influência causal. É, por exemplo, o auxílio (seja moral ou material) dotada

de reduzida influência. Um exemplo para ilustrar é o do indivíduo que, sabendo da intenção homicida de um

terceiro, apenas indica o local para o terceiro adquirir uma arma. Assim, pratica uma conduta que, embora te-

nha relevância causal, pode ser considerada como participação de menor importância.

O §2º trata da concorrência dolosamente distinta e, nesse caso, se algum dos concorrentes quis participar

de crime menos grave, ser-lhe-á plicada a pena deste. Porém, se o resultado era previsível, a pena do crime

menos grave será aumentada de metade.

Trago-lhes o exemplo do colega André Estefam, vejamos:

“duas pessoas combinam praticar um furto e uma delas, sem o conhecimento da outra, leva

consigo uma arma de fogo, que vem a ser utilizada, matando o ofendido. O atirador comete la-

trocínio, e o comparsa, furto qualificado pelo concurso de duas pessoas (ESTEFAM, André, p.326).

Agora que encerramos por completo o estudo do artigo 29 e seus parágrafos, vejamos o que nos diz o

artigo 30 do CP.

Os dados da figura típica assim são compostos:

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ELEMENTARES CIRCUNSTÂNCIAS

São comunicáveis São os dados acessórios da figura típica, que influ-

enciam na pena, p.ex. agravantes, atenuantes, cau-

sas de aumento e diminuição.

São incomunicáveis as de caráter pessoal (subjetivas), p.ex. a reincidência, os antecedentes, a personali-

dade, a conduta social, os motivos do crime, a menoridade relativa, a maioridade senil e etc. Ao contrário,

caríssimo, todas aquelas que não dizem respeito ao caráter pessoal, são comunicáveis. Essa comunicabili-

dade pressupõe, ao menos, que o comparsa tenha ciência ou seja previsível. Assim, as circunstâncias objeti-

vas são comunicáveis.

Veja esse exemplo: dois sujeitos concorrem para um crime de peculato (art. 312, do CP). Um dos sujeitos é

funcionário público (intraneus) e o outro é um particular (extraneus). Nesse caso, a elementar “funcionário

público” é comunicável ao particular (se ele tiver conhecimento que seu comparsa é funcionário público) e,

dessa forma, ambos os agentes serão acusados pelo crime de peculato (art. 312, do CP).

Veja esse outro exemplo de Fernando Capez:

“A mãe mata o próprio filho, contanto com o auxílio de terceiro: mãe é autora de infanticídio, e as elemen-

tares desse crime comunicam-se ao partícipe, que, assim, responde também por ele. Somente no caso de o

terceiro desconhecer alguma elementar é que responderá por homicídio. A “circunstância” de caráter pes-

soa (estado puerperal) comunica-se ao partícipe, justamente porque não é circunstância, mas elementar.

(CAPEZ, 2013, p.383).

Então, a partir de todo o exposto, vamos nos dar ao luxo de resolvermos algumas questões e evoluirmos

ainda mais em nossa preparação.

Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: PC-BA Prova: VUNESP - 2018 - PC-BA - Escrivão de Polícia

É requisito para a configuração do concurso de pessoas

A) uma única conduta.

B) a irrelevância causal das condutas.

C) a identidade de crime para todos os envolvidos.

D) a autoria incerta.

E) o prévio ajuste entre os agentes.

Resolução: conforme o artigo 29, caput, do CP, e os requisitos necessários para a configuração do concurso de

pessoas, é necessário que tenhamos a identidade de crimes para todos os envolvidos, como regra.

Gabarito: Letra C.

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Direito Penal – Parte Geral - MPRS.

Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-ES Prova: INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Escrivão de Po-

lícia

Em relação ao concurso de agentes estabelecido no Código Penal, é correto afirmar que

A) todos respondem igualmente para o delito, independente da conduta realizada.

B) as circunstâncias de caráter pessoal, como a menor idade, serão comunicadas a todos os integrantes da ati-

vidade delitiva.

C) se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.

D) não há distinção entre partícipe e coautoria.

E) o coautor que primeiro confessar o delito está isento de pena, independente do delito praticado.

Resolução: a partir da redação do artigo 29, §1º do CP, onde estudamos a participação de menor importância,

sabemos que quando houver a incidência da referida figura, a pena do agente poderá ser diminuída de 1/6 a 1/3.

Gabarito: Letra C.

E, para fecharmos mais um capítulo de estudo na nossa aula, vejamos mais uma questão acerca do tema:

Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: PC-SP Prova: VUNESP - 2018 - PC-SP - Escrivão de Polícia Civil

A respeito do concurso de pessoas, é correto afirmar que

A) Mévio e Caio, pelo ajuste da prática de furto à residência de Tício, uma vez descoberto o plano, serão puni-

dos, ainda que o crime não chegue a ser tentado.

B) Mévio e Caio, tendo furtado a residência dos pais de Caio, são isentos de pena, aplicando-se a ambos o per-

dão legal que exime de pena os crimes patrimoniais, cometidos sem violência, em detrimento de ascendentes.

C) Mévio, tendo ajustado com Caio apenas a prática de furto à residência de Tício, responderá pelos demais

crimes eventualmente praticados por Caio, ainda que não previsíveis.

D) Caio, empresário, ciente da condição de funcionário público de Mévio, tendo o auxiliado na prática de pecu-

lato-furto, não responderá pelo crime funcional, já que a condição pessoal de funcionário público de Mévio a

ele não se comunica.

E) Mévio, pela participação de menor importância na prática de furto à residência de Tício, poderá ter a pena

diminuída.

Resolução:

a) conforme o artigo 31 do CP, o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em

contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.

b) a escusa absolutória do art. 181 do CP não se comunica a Mévio, razão pela qual, responderá pelo furto.

c) Mévio somente responderá pelos demais crimes se eles forem previsíveis.

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d) Nesse caso, Caio tem ciência da condição de funcionário público de Mévio, razão pela qual, a condição se

comunicará a Caio e ambos responderão por peculato.

e) conforme o artigo 29, §1º, do CP, quando houver a incidência da participação de menor importância, a pena

do agente poderá ser diminuída de 1/6 a 1/3.

Gabarito: Letra E.

Dessa forma, meu(a) caro(a) estudante, encerramos mais um capítulo na nossa aula sobre teoria geral do

delito.

A partir de agora, adentramos no último capítulo da nossa aula, em que estudaremos concurso de crimes.

Aguardo você no próximo capítulo!

Abraço!!

DAS PENAS.

Salve, moçada!

A partir desse momento vamos inaugurar um novo capítulo dentro da nossa primeira aula.

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Pois então, agora, quero tratar com você sobre o tema das “PENAS“ inserido no nosso Código Penal.

Inicialmente você precisa ter conhecimento acerca das penas permitidas e das penas proibidas em nosso

ordenamento jurídico. Tais informações nós encontraremos em nossa Constituição Federal, mais precisamente

no artigo 5º, XLVI e XLVII. Para ficar melhor sua memorização, preparei a tabela abaixo.

PENAS PERMITIDAS (ART. 5º, XLVI) PENAS PROIBIDAS (ART. 5º, XLVII)

a) Privação ou restrição da liberdade; a) De morte, salvo em caso de guerra decla-

rada, nos termos do artigo 84, XIX

b) Perda de bens b) De caráter perpétuo

c) Multa c) De trabalhos forçados

d) Prestação social alternativa d) De banimento

e) Suspensão ou interdição de direitos e) Cruéis.

Sobre as penas proibidas, caríssimo(a), o Brasil aboliu a pena de morte em tempo de paz no Código Penal

Republicando (1890). Conforme o Código Penal Militar, a pena de morte é cumprida por fuzilamento. A nossa

CF proíbe qualquer pena de caráter perpétuo, não só a prisão.

Outra informação que você precisa ter em mente dentro do tema da “PENA” é que ela se divide em pena

privativa de liberdade (que vamos chamar de PPL), as penas restritivas de direito (que chamaremos de PDR) e,

por fim, a pena de multa.

Dentro do gênero “PENA” encontramos as espécies de reclusão, detenção e prisão simples (está cum-

prida em regime aberto ou semiaberto).

O que você precisa saber, também, meu amigo(a), diz respeito ao regime inicial de cumprimento da re-

primenda criminal. Essas informações estão previstas no art. 33 do CP, veja só:

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção,

em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. § 1º - Consi-

dera-se:

a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média;

b) regime semiaberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar;

c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado.

§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito

do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime

mais rigoroso:

a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;

b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá,

desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto;

c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início,

cumpri-la em regime aberto.

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§ 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos critérios

previstos no art. 59 deste Código.

§ 4o O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento

da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado,

com os acréscimos legais.

Agora que você já leu o artigo 33 do CP, é muito importante que você saiba que a pena de reclusão, por

ser mais grave, terá execução prioritária, conforme o artigo 76 do CP:

Art. 76 - No concurso de infrações, executar-se-á primeiramente a pena mais grave

Com base no teor dos dois artigos que acabamos de estudar juntos, quero que você memorize essa tabela

em formato de resumo que vou lhe mostrar:

FECHADO SEMIABERTO ABERTO

LOCAL DE

CUMPRIMENTO

Estabelecimento de

segurança máxima

ou média – peniten-

ciária.

Colônia penal agrí-

cola ou industrial (ou

estabelecimento si-

milar)

Casa do albergado

ou similar.

TRABALHO Está regulamentado

na Lei de Execuções

Penais.

LEP – na prática, ad-

mite-se o trabalho

externo em institui-

ções privadas.

Pressuposto (regras

comuns).

REMIÇÃO Trabalho e/ou estudo Trabalho e/ou estudo Estudo.

AUTORIZAÇÃO

DE SAÍDA – ART.

120 A 125

P.S – permissão de

saída (pronto so-

corro)

P.S ou S.T (saída

temporária)

Idem ao semiaberto

(analogia in bonam

partem).

REGRAS DE FIXAÇÃO DO REGIME INICIAL: os critérios se encontram nos artigos 33 a 59 do

Código Penal. Porém, meu amigo(a), há algumas leis especiais com regras específicas, como,

p.ex. a lei dos crimes hediondos (8.072/90) e a lei de tortura (9.455/97). Ambas estipulam que a

pena será cumprida obrigatoriamente em regime inicial fechado, porém, no que tange a Lei

dos hediondos, o STF, no julgamento do ARE 1.052.700 (agravo em recurso extraordinário)

já reconheceu a inconstitucionalidade desta regra.

VETORES QUE INFLUENCIAM NA DETERMINAÇÃO DO REGIME INICIAL: a) reclusão ou detenção;

b) reincidência;

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c) quantidade de pena (o CPP determina que o magistrado leve em conta o tempo de prisão

provisória cumprida durante o processo – art. 387);

d) circunstâncias judiciais (CP, art. 59).

Para que fique mais fácil a sua memorização, veja essa tabela que preparei para você!

* É possível, em tese, que o juiz aplique um regime mais severo do que o previsto em lei.

O art. 387, do Código de Processo Penal, determina que eventual tempo de prisão provisória deverá ser

levado em consideração no cálculo do regime inicial. Então imagine a seguinte situação, concurseiro(a): réu

primário condenado a 8 anos e 3 meses de reclusão. Entretanto, durante a tramitação do processo, o acusado

permaneceu preso preventivamente por 6 meses. Dessa modo, conforme o artigo 387 do CPP, o juiz deverá

realizar uma subtração com o valor da pena total e esse 6 meses, ou seja, meu amigo(a), 8a3m – 6m = 7anos 9

meses. Essa deverá ser a pena aplicado para o agente na sentença condenatória. Não se trata de uma detração,

pois está é matéria de competência privativa do juízo da execução penal.

A detração encontra-se previstas no artigo 42, do CP:

Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão

provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em qualquer dos

estabelecimentos referidos no artigo anterior.

Em resumo, moçada, a detração consiste no cômputo na PPL ou na M.S. do tempo de prisão ou inter-

nação provisória. Compreendido?! Vamos adiante!

Para fecharmos nosso tópico sobre o estudo das penas, quero que você dê uma atenção especial para o

limite de cumprimento de pena privativa de liberdade. Digo isso, pois houve alteração dos limites de cumpri-

mento de pena por conta da Lei Anticrime. Você já sabe né? Inovação legislativa é a cara de qualquer banca

examinadora!

Vejamos um antes e depois do artigo 75 do CP:

REDAÇÃO ANTES DA LEI ANTICRIME REDAÇÃO APÓS A LEI ANTICRIME

Reclusão Detenção

Não

reincidente

Reincidente Não

reincidente

Reincidência

Pena maior que 8 anos Fechado Fechado Semiaberto Semiaberto

Pena menor que 8 e

maior que 4

Semiaberto* Fechado Semiaberto Semiaberto

Pena até 4 anos Aberto* Semiaberto* Aberto* Aberto

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Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos.

§ 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 30 (trinta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo.

§ 2º - Sobrevindo condenação por fato poste-rior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova unifi-cação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido.

Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40 (qua-renta) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 40 (qua-renta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao li-mite máximo deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º - Sobrevindo condenação por fato poste-rior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova unifi-cação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido.

Desse modo, a limitação de cumprimento da pena privativa de liberdade, se funda na proibição constitu-

cional das penas de caráter perpétuo. Porém, quero que você fique atento ao fato de eu o novo limite só se

aplica para os atos ocorridos a partir de 23/01/2020 (novatio legis in pejus) – data de entrada em vigor da

Lei Anticrime.

Penas alternativas

As penas alternativas, meu amigo(a) é, também, um gênero, que se divide em penas restritivas de direito

(PRD – arts. 43 a 48) e multa (art. 49 a 52). A principal diferença entre ambas as penas alternativas se dá pelo

fato de que, em caso de descumprimento, a PRD pode ser convertida em PPL, já a pena de multa não.

Elas foram inseridas no CP com a reforma de 1984 e em 1998 foram ampliadas.

As penas alternativas possuem como características:

Autonomia: indica que as PRDs não são penas acessórias;

Substitutividade: na sentença condenatória, o juiz poderá, preenchidos os requisitos, substituir

a PPL por PRD.

Conversibilidade em prisão: em caso de descumprimento injustificado das PRDs impostas, esta

poderá ser convertida em PPL. Nos casos em que houver descumprimento injustificado da PRD

imposta a conversão em PPL será obrigatória, havendo detração com saldo mínimo de 30 dias.

Os requisitos para substituição nós vamos encontrar no artigo 44 do CP:

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando:

I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com

violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;

II – o réu não for reincidente em crime doloso;

III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os

motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.

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§ 1o (VETADO)

§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena

restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma

pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos.

§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de conde-

nação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em vir-

tude da prática do mesmo crime.

§ 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumpri-

mento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será de-

duzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de

detenção ou reclusão.

§ 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal

decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena

substitutiva anterior.

A substituição, nos crimes culposos, ocorrerá desde que o réu apresente circunstâncias judiciais favo-

ráveis (culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade, motivos e circunstâncias do crime), inde-

pendentemente de qual tenha sido a quantidade de pena aplicada.

Já nos crimes dolosos, o crime não poderá envolver violência ou grave ameaça contra a pessoa e o réu

deverá ter suas circunstâncias judiciais favoráveis, e a pena aplicada não poderá ser superior a 4 anos. Po-

rém, aqui nós encontramos uma exceção, que são as infrações penais de menor potencial ofensivo (estas ad-

mitirão a substituição de PPL por PRD, ainda que cometidas com violência o grave ameaça contra pessoa, p.ex.

art. 129, caput, do CP e art. 147 – fundamento para isso é o princípio da especialidade).

Fique atento, meu amigo(a), ao fato de que, nos crimes envolvendo violência doméstica e familiar contra

a mulher, conforme a súmula 588 do STJ, é vedada a substituição de PPL por PRD.

Havendo concurso de crimes, o parâmetro para substituição é o total da pena aplicada na sentença.

É importante que você saiba que o juiz, considerando a medida socialmente adequada, em casos de cri-

mes dolosos, poderá substituir a PPL por PRD, desde que o réu não seja reincidente específico (reincidente no

mesmo crime, p.ex. furto + furto). Isso quem nos diz é o art. 44, §3º, do CP.

Tratando-se de PPL inferior a um ano, o juiz poderá substituí-la por 1 PRD ou 1 multa. Porém, caso a PPL

aplicada na sentença seja maior que 1 ano, o juiz poderá substituí-la por 2 PRDs ou 1 PRD e 1 Multa.

O STF recentemente decidiu que as condenações a penas restritivas de direitos geram a suspensão dos

direitos políticos, conforme o art. 15, III, da CF.

Penas restritivas de direito em espécie:

Veja o que o artigo 43 do CP nos diz a respeito do tema:

Art. 43. As penas restritivas de direitos são:

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I - prestação pecuniária;

II - perda de bens e valores;

III - limitação de fim de semana.

IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas;

V - interdição temporária de direitos;

VI - limitação de fim de semana.

Prestação pecuniária: art. 45, §1º - consiste no pagamento de quantia em dinheiro, à vítima, ou

seu representante legal ou dependentes ou a entidade (pública ou privada com destinação so-

cial). Valor: de 1 a 360 salários mínimos. (Parâmetro de fixação: prejuízo da vítima). Obs.: o art.

45, §2º, diz que essa prestação pode ser cumprida através de outra natureza, que não pecuniária,

desde que haja concordância do beneficiário (é a chamada “prestação inominada”);

Perda de bens e valores: art. 45, §3º - decretação do perdimento de bens ou valores pertencentes

ao sentenciado. Origem dos bens ou valores perdidos decorrerá do patrimônio lícito do conde-

nado, tendo como destinatário o FUNPEN (fundo penitenciário nacional).

Prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas: art. 46 – consiste na atribuição de

tarefas gratuitas ao sentenciado perante entidades (apontadas pelo juízo da execução penal).

Entidade destinatária: privada (com destinação social) ou pública. Duração: mesmo tempo da

PPL substituída (quando a PPL substituída for superior a um ano, o CP permite que ela seja cumprida

em menor tempo, respeitado o prazo mínimo de 6 meses). Carga horária: uma hora de tarefa para

cada dia de condenação.

Interdições temporárias de direitos: I e II – proibição do exercício de atividade privada (que de-

penda de licença ou autorização do poder público) ou atividade pública – somente em delitos

cometidos com violação os deveres funcionais. III – suspensão da autorização para conduzir

veículos automotores (só cabem nos crimes culposos de trânsito – CTB, 302 e 303). Autorização é

apenas para ciclomotor. IV – proibição de frequentar determinados lugares (PRD genérica). V –

proibição de se inscrever em certames de interesse público (aplicável em condenações pelo crime

do art. 311-A do CP – fraude em certames de interesse público);

Limitação de final de semana: art. 48. Consiste na obrigação ao sentenciado de permanecer aos

finais de semana, por cinco horas a cada dia, na casa do albergado.

E, para encerramos o nosso tópico sobre penas alternativas, é necessário analisarmos o instituto da pena

de multa.

Vamos adiante!

Multa

A pena de multa possui duas espécies:

I – A multa prevista no tipo penal, juntamente com a sanção criminal, p.ex. a pena do crime de furto –

reclusão, de 1 a 4 anos e multa.

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II – A multa vicariante ou substitutiva – art. 44, §2º, do CP.

Dada essas informações, o sistema de aplicação da multa encontra-se previsto no artigo 49 do CP. Veja

só:

Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença

e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta)

dias-multa.

§ 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário

mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário.

§ 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária.

Desse modo, o número de dias-multa será fixado entre 10 e 360, levando-se em conta para a fixação, as

circunstâncias judiciais do condenado (art. 59, do CP)13. Logo em seguida, o juiz deverá fixar o valor do dia multa

em um patamar entre 1/30 até 5(x3) o salário mínimo ao tempo do fato, mediante análise da situação econô-

mica do réu.

A execução da pena de multa se dará em 2 etapas, conforme os artigos 50 e 51 do CP:

Art. 50 - A multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em julgado a sentença. A

requerimento do condenado e conforme as circunstâncias, o juiz pode permitir que o pagamento se re-

alize em parcelas mensais.

§ 1º - A cobrança da multa pode efetuar-se mediante desconto no vencimento ou salário do condenado

quando:

a) aplicada isoladamente;

b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de direitos;

c) concedida a suspensão condicional da pena.

§ 2º - O desconto não deve incidir sobre os recursos indispensáveis ao sustento do condenado e de sua

família.

Conversão da Multa e revogação

Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da exe-

cução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda

Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.

13 Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos moti-vos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:

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Após o trânsito em julgado, o sentenciado será intimado a pagar a multa em 10 dias.

Se a multa não for paga, será movida execução, baseada nas normas (procedimentais) da dívida ativa da

Fazenda Pública (CTN e LEF), inclusive no tocante às causas suspensivas e interruptivas da prescrição. Desse

modo, concurseiro(a), a multa será cobrada na mesma sistemática dos tributos.

A legitimidade para a execução da penal de multa é exclusiva do MP, no juízo da execução penal (art. 51).

Por fim, havendo morte do executado, ocorrerá a extinção da punibilidade, conforme o artigo 107, I, do

CP cumulado com o art. 5º, LXV da CF.

Assim, encerramos mais um tópico no nosso estudo sobre direito penal.

Beba uma água, respire fundo e venha comigo!

Aguardo você!

CONCURSO DE CRIMES.

Alô, meu amigo(a)!

Seja bem-vindo a mais um capítulo da nossa aula sobre teoria geral do delito.

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Nesse capítulo estudaremos as figuras do concurso de crimes e, para tanto, já vamos nos debruçar sobre

o texto legal.

Veja só:

Concurso material

Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,

idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido.

No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.

§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade,

não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art. 44

deste Código.

§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente

as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais

Concurso formal

Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos

ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumen-

tada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente,

se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o

disposto no artigo anterior.

Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código.

Crime continuado

Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da

mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem

os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes,

se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.

Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave

ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a

personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos

crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único

do art. 70 e do art. 75 deste Código.

Agora que já realizamos nossa clássica e importantíssima leitra do texto seco da lei, iniciaremos o estudo

do concurso de crimes pelo concurso material, do art. 69 do CP.

No concurso material o agente criminoso, mediante mais de uma ação ou omissão (conduta), pratica

dois ou mais crimes, idênticos (homogêneos) ou não (heterogêneos). Então, desse modo, havendo a ocorrência

do concurso material, o sistema de aplicação da pena será o do cúmulo material, ou seja, o juiz deverá somar

a pena dos crimes praticados em concurso pelo criminoso.

Por crimes idênticos, meu amigo(a), quero que você grave que as infrações penais praticadas devem estar

no memso tipo penal, p.ex. furto simples e um furto qualificado. Ambos estão no art. 155, o simples na figura

do caput, e o qualificado na figura do §4º.

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Vamos exeplificar: Imagine a situação em que Austin mata o seu desafeto Caracas e, logo em seguida à

morte do ofendido, no mesmo contexto fático, Austin, para garantir sua impunidade, oculta o cadáver da

vítima. Desse modo, há o concurso material entre homicídio (art. 121 do CP) e a ocultação de cadáver (art. 211

do CP).

Já na redação do artigo 70 do Código Penal, estamos diante do concurso formal, em que o agente,

mediante um ÚNICA conduta, pratica dois ou mais crimes idênticos (concurso formal homogêneo) ou não

(concurso formal heterogêne0). Dentro do conceito de concurso formal, há uma subdivisão:

a) Concurso formal próprio/puro/perfeito: corresponde à 1º parte do caput do art. 70 – nesse caso,

aplica-se o método da exasperação, com aplicação da pena de 1/6 até 1/2. Quando a exasperação

resultar numa pena mais elevada que a soma das penas dos crimes praticados, o juiz não deve adota-

lá e, no seu lugar, preferir a soma das penas (cumulo material benéfico do art. 69 do CP).

b) Concurso formal impróprio/imperfeito: corresponde 2º parte do caput do art. 70. Aqui não há

exasperação, e sim a soma das penas, quando o agente praticar crimes doloso resultantes de

desígnios autônomos, pois a vontade do agente é dirigida a finalidades diversas.

Para que você possa melhor visualizar essa parte do conteúdo que, eu sei, meu amigo(a), não é tão

simples, trago-lhes um exemplo do professor André Estefam:

“Imagine, por exemplo, que um motorista de ônibus, conduzindo-o imprudentemente, perca o

controle do coletivo e colida contra outro automóvel, provocando a morte de dez pessoas.O

agente, mediante uma só ação (a condução imprudente do veículo), cometeu dez crimes idênticos

(homicídios culosos na direção de veículo automotor, qualificados pelo transporte de veículos de

passageiros – art. 302, p.ú., inciso IV, da Lei nº 9.503/97 – Código de Trânsito Brasileirro).

(ESTEFAM, André, p.437)

E, para caminharmos para o final do estudo da figura do crime formal, trago um relato do Professor

Rogério Greco14:

“Situação diversa é aquela contida na parte final do caput do art. 70 do Código Penal, em que a

lei penal fez prever a possibilidade de o agente atuar com desígnios autônomos, querendo,

dolosamente, a produção de ambos os resultados. Tomamos conhecimento, por intermédio da

impresa, das atrocidades praticadas contra os judeus durante o período nazista. Até que

encontrassem um meio rápido, efixaz e barato para exterminar o povo judeu, os nazistas,

comandados por Hitler, resolveram, em determinado momento, enfileirar os judeus a fim de que,

com um só disparo de fuzil, vários deles fossem mortos, economizando-se, com isso, tempo e

munição. Quando o disparo era efetuado, a finalidade era causar morte daquelas duas ou três

pessoas pessoas que ali se encontravam. Os designios, portanto, eram autonomos com relação a

cada uma delas, uma vez que o agente pretendia, com um único disparo, ou seja, com uma única

conduta, causar a morte de A, B e C. Desígnio autonomo quer dizer, portanto, que a conduta,

14 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal / Rogério Greco. – 9. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2007.

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embora única, é dirigida finalisticamente, vale frisar, dolosamente, à produção dos

resutlados.(GRECO, Rogério. p, 598).

Tudo entendimento, meu amigo(a)?!

Vamos em frente!

Para fecharmos por completo nosso estudo em mais uma aula aqui na plataforma do DIREÇÃO

CONCURSOS, vejamos o crime continuado.

O crime continuado decorre de mais de uma ação ou omissão (conduta) que resultam em dois ou mais

crimes, da mesma espécie (aqueles previstos no mesmo tipo penal) em condições de tempo

(aproximadamente 30 dias), lugar (no mesmo foro ou foros próximos), maneira de execução (verificar o “modus

operandi”) e outras semelhantes. Também, os crimes subsequentes devem ser havidos como continuação do

primeiro.

O crime continuado se divide em duas espécies:

1. Comum/simples: art. 71, caput, basta o preenchimento dos requisitos que vimos acima e, uma vez

verificados, o aumento de pena é de 1/6 a 2/3. Nesse caso, meu amigo(a), imagine a situação da

empregada doméstica que resolve furtar o faqueiro de prata (composto por 30 peças) do seu patrão.

Para tanto, com o fim de não levantar suspeitas, a empregada furta um talher por dia. Desse modo,

você consegue visualizar que estamos diante de 30 furtos? Porém, esses trinta furtos, levando-se em

conta o modus operandi da empregada, as condições de tempo (30 dias) e lugar, serão punidos como

1 (UM) GRANDE CRIME DE FURTO.

2. Específico/qualificado: art. 71, p.ú, do CP – São requisitos adicionais ao do caput, com caráter

cumulativo, sendo todos os crimes dolosos, praticados contra vítimas diferentes, cometidos com

violência ou grave ameaça contra a pessoa. A pena, nesse caso, pode ser aumentada até o triplo

(sempre com o cuidado do cúmulo material benéfico). A título de exemplo dessa modalidade de crime

continuado, imagine a situação do indivíduo que, por vingança, resolve exterminar com todos os

homens que compõe uma família rival à sua. Nesse caso, estaremos diante de uma continuidade

delitiva em crime de homicídio.

Desse modo, o Código Penal adotou para o crime continuado, a teoria da ficção jurídica.

“Arpini, você poderia me dar um exemplo acerca da continuidade delitiva?”

Com certeza, meu amigo(a)!

Imagine a situação em que Austin possui em sua residência um faqueiro com 30 peças que custou cerca

deR$500,00. Ocorre que, sua empregada inicia uma empreitada criminosa para a subtração do faqueiro.

Entretanto, para que não se perceba de imediato o furto, a empregada subtrai um talher do faqueiro por dia, e

ao final dos 30 dias, acaba por subtrarir o faqueiro por completo. Desse modo, caso não houvesse o crime

continuado, a empregada responderia por 30 furtos, porém, para a teoria da ficção jurídica adotada pelo CP no

caso do crime continuado, esses trinta furtos serão considerados apenas UM GRANDE FURTO em continuidade

delitiva, tendo em vista que houve o preenchimento de todos os requisitos do caput, do art. 71 do CP.

E agora, chegou o momento de testarmos nossos conhecimentos!

Vamos lá!

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Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: PC-BA Prova: VUNESP - 2018 - PC-BA - Escrivão de Polícia

O agente, movido pelo desejo de vingança, decidiu amarrar quatro pessoas no interior de um automóvel, para

depois atear fogo no veículo, o que resultou na morte de todas as vítimas.

A hipótese narrada é denominada

A) concurso material homogêneo.

B) concurso formal próprio.

C) concurso material heterogêneo.

D) concurso formal impróprio.

E) crime continuado.

Resolução: para a resolução da questão que nos é proposta, basta lembrarmos do triste exemplo que narrei a

vocês anteriormente, de autoria do professor Rogério Greco, sobre a morte dos judeus enfileirados. Dessa

forma, estamos aqui, diante de um concurso formal impróprio, que resulta de desígnios autônomos.

Gabarito: Letra D.

Ano: 2015 Banca: VUNESP Órgão: PC-CE Prova: VUNESP - 2015 - PC-CE - Inspetor de Polícia Civil de 1a Classe

A previsão legal do Código Penal acerca do concurso formal de crimes dispõe que: “Quando o agente, ______ ,

pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, so-

mente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entre-

tanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é ________ e os crimes concorrentes resultam de desígnios au-

tônomos”.

Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente, o enunciado.

A) mediante mais de uma ação ou omissão … culposa

B) mediante mais de uma ação ou omissão … dolosa

C) mediante uma só ação ou omissão … culposa

D) mediante uma ou mais de uma ação ou omissão … culposa

E) mediante uma só ação ou omissão … dolosa

Resolução: o enunciado da questão traz a letra seca do artigo 70 do Código Penal, que trata do concurso formal,

razão pela qual as lacunas se completam com as expressões “mediante uma só ação ou omissão” e “dolosa”.

Gabarito: Letra E.

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SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA.

A suspensão condicional da pena ou “sursi” foi um dos primeiros institutos concebidos pela doutrina

como alternativa a penas de prisão de curta duração. O CP adotou, na disciplina do “sursi”, o sistema belgo-

francês.

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É de suma importância que você tenha em mente os artigos do Código Penal referente ao instituto.

Veja só:

Requisitos da suspensão da pena

Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser sus-

pensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que:

I - o condenado não seja reincidente em crime doloso;

II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os

motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;

III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código.

§ 1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício.

§ 2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa,

por quatro a seis anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde

justifiquem a suspensão.

Art. 78 - Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à observação e ao cumprimento

das condições estabelecidas pelo juiz.

§ 1º - No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à comunidade (art. 46) ou

submeter-se à limitação de fim de semana (art. 48).

§ 2° Se o condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias

do art. 59 deste Código lhe forem inteiramente favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do pará-

grafo anterior pelas seguintes condições, aplicadas cumulativamente:

a) proibição de frequentar determinados lugares;

b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz;

c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas ati-

vidades.

Art. 79 - A sentença poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde

que adequadas ao fato e à situação pessoal do condenado.

Art. 80 - A suspensão não se estende às penas restritivas de direitos nem à multa.

Revogação obrigatória

Art. 81 - A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário:

I - é condenado, em sentença irrecorrível, por crime doloso;

II - frustra, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua, sem motivo justificado, a

reparação do dano;

III - descumpre a condição do § 1º do art. 78 deste Código.

Revogação facultativa

§ 1º - A suspensão poderá ser revogada se o condenado descumpre qualquer outra condição im-

posta ou é irrecorrivelmente condenado, por crime culposo ou por contravenção, a pena privativa de

liberdade ou restritiva de direitos.

Prorrogação do período de prova

§ 2º - Se o beneficiário está sendo processado por outro crime ou contravenção, considera-se pror-

rogado o prazo da suspensão até o julgamento definitivo.

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§ 3º - Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés de decretá-la, prorrogar o período de

prova até o máximo, se este não foi o fixado.

Cumprimento das condições

Art. 82 - Expirado o prazo sem que tenha havido revogação, considera-se extinta a pena privativa

de liberdade.

Para que o nosso estudo fique mais fácil, meu amigo(a), farei um sistema de numerações e sus subdivi-

sões para que você entenda melhor o instituto da suspensão condicional da pena.

1. Sistemas de suspensão da pena:

a) Belgo-francês: o réu é formalmente condenado, aplicando-se uma pena de prisão, mas o juiz, na

sentença condenatória, suspende seu cumprimento mediante a observância de condições;

b) Anglo-americano: ao final da instrução, o juiz constata que há provas para condenar o réu, porém,

deixa de condenar, sujeitando o acusado ao cumprimento de condições.

2. Contextualização do “sursis” na aplicação da pena: a tarefa de aplicação da pena possui várias eta-

pas, assim divididas:

1ª) Pré-dosimetria: é o momento na aplicação da pena em que o juiz fixa o mínimo e o máximo (isto é,

determina qual o preceito secundário aplicável).

2ª) Dosimetria: trata-se da fase da aplicação concreta da pena (sistema trifásico).

3ª) Pós-dosimetria: consiste nas tarefas que devem ser realizadas logo após a obtenção da pena con-

creta: a) fixar o regime inicial; b) verificar o cabimento de pena alternativa (art. 44 do CP); c) verificar o

cabimento do “sursis”; d) aplicação da multa.

3. Diferenças entre o “sursis” penal x “sursis” processual.

Sursis penal Sursis processual

Fundamento legal Arts. 77 a 82 do CP Art. 89 JECRIm.

Pressuposto Condenação Denúncia recebida

Requisito PPL = ou maior que 2 anos Pena mínima igual ou inferior a um ano.

Revogação Cumprimento da PLL da apli-cada

Retoma-se o andamento do processo.

Características Direito subjetivo público do réu

Negócio jurídico processual.

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4. Leis especiais:

A) Lei de Contravenções Penais, art. 11: desde que reunidas as condições legais, o juiz pode suspen-

der por tempo não inferior a um nem superior a três a execução de pena de prisão simples, bem

como conceder o livramento condicional. Qual a diferença do “sursis” no CP e na LCP? A distinção

está no período de prova: na LCP, o período de prova dura de 1 a 3 anos, enquanto que no CP, dura

2 a 4 anos.

B) Crime ambiental: art. 16 – a suspensão pode ser aplicada nos casos de condenação a pena privativa

de liberdade não superior a três anos.

C) Tráfico de drogas: art. 44. Os crimes previstos na lei de drogas são insuscetíveis de “sursis”.

5. Natureza jurídica do “sursis”:

1ª) Direito subjetivo público do réu X 2ª) Medida despenalizadora. O “sursis” é, sem dúvida um direito

subjetivo público do réu, isto é, estando presentes os requisitos o juiz é obrigado a conceder o benefício.

Ocorre que isso não é a natureza jurídica, mas uma característica do instituto.

6. Espécies de “sursis”

a) Simples (regra)

b) Especial (versão mais branda)

c) Etário e humanitário (versões cabíveis para um número maior de crimes).

6.1. Sursis simples

6.1.1. Requisitos:

a) Objetivos: pena não superior a 2 anos; não cabimento de PRD.

b) Subjetivos: serem as circunstâncias judiciais favoráveis; não reincidência em crime doloso

(salvo se a primeira condenação foi a pena de multa).

6.1.2. Condições:

a) Legais (diretas): PSC ou limitação a final de semana no primeiro ano. Indiretas: causas de re-

vogação – art. 81, caput, e §1º.

b) Judiciais: estas são as impostas pelo magistrado e devem ser compatíveis com a natureza do

crime e com as aptidões pessoais do réu (além disso, devem respeitar a dignidade humana e os

direitos fundamentais não atingidos pela condenação). O “sursis” vigora durante um prazo de-

nominado “período de prova” que durará de 2 a 4 anos. Este se inicia após o trânsito em julgado

e a realização da audiência admonitória. O sentenciado deverá ser pessoalmente intimado a

comparecer à audiência admonitória. Caso não seja localizado, intima-se por edital. O que

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ocorre quando o sentenciado, após intimado, não comparece à audiência admonitória? O “sur-

sis” é declarado sem efeito, ou seja, fica prejudicado e, como consequência, expede-se man-

dado de prisão.

6.2. Sursis especial (art. 78, §2º, do CP).

Requisitos: (específicos ou requisitos adicionais): ter reparado o dano até a sentença e ter as con-

dições judiciais totalmente favoráveis.

Condições: em vez de prestar serviços comunitários (ou LFS) no 1º ano, o sentenciado cumprirá 3

condições cumulativas: comparecimento mensal em juízo; proibição de se ausentar da Comarca

sem autorização judicial; Proibição de frequentar determinados lugares.

6.3. Etário e humanitário (art. 77, §2º, do CP): são cabíveis para condenações de até 4 anos de PPL. O

período de prova irá de 4 a 6 anos.

Sursi etário: é aplicado para réus maiores de 70 anos ao tempo da sentença.

Sursi humanitário: é o aplicado para réus com precária condição de saúde.

6.4. Causas de revogação: uma vez decretada pelo juiz da execução penal a revogação do “sursi”, o

sentenciado deverá recolher-se à prisão, para cumprir integralmente a PPL imposta na sentença e,

além disso, perde o período de prova para efeito de contagem no quinquênio depurador. A revoga-

ção do benefício, ainda, assinalará o início da contagem do prazo da PPE (prescrição da pretensão

executória).

6.4.1. Revogação obrigatória (art. 81, caput):

a) Superveniência de condenação transitada em julgado por crime doloso.

b) Não cumprimento injustificado da condição legal do “sursis” simples (prestação de serviços/

LFS no 1º ano).

c) Não reparação dos danos, salvo impossibilidade de fazê-lo.

d) Não pagamento da multa cumulativa (tacitamente revogada pela Lei 9.268/96).

6.4.2. Revogação facultativa (art. 81, §1º, do CP): nesses casos, o juiz não é obrigado a revogar, mas

deve tomar uma atitude. Se não revogar, deverá advertir o sentenciado, exacerbar as condições

ou prorrogar o período de prova até o máximo.

a) Superveniência de condenação transitada em julgado por crime culposo ou contravenção penal

a PPL ou PRD.

b) Descumprimento das demais condições.

7. Prorrogação do sursi (art. 81, §2º): se o sentenciado for processado, durante o período de prova, por

novo crime ou contravenção, o “sursi” será prorrogado até a conclusão do novo processo. Na vigência

da prorrogação, não vigoram as condições.

8. Extinção da pena: concluído o período de prova, o juiz declarará extinto o sursi como se a pena tivesse

sido cumprida. (art. 82, do CP). Se terminar o período de prova, mas antes de o juiz declarar extinta a

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pena, vier aos autos a informação de que o sentenciado responde a um novo processo, prevalece a

extinção ou a prorrogação? No STJ, prevalece a tese de que a prorrogação é automática.

9. Recusa. Pode o sentenciado recusar o “sursis”? Não se admite a recusa ao “sursi”, pois não cabe ao réu

ou sentenciado escolher como cumprirá a sanção penal. Ocorre, porém, que se o sentenciado, após o

trânsito em julgado, não comparecer à audiência admonitória, o benefício será declarado sem efeito

e, como consequência, a pena imposta na condenação será executada. Obs.: nesses casos, o juiz da

execução deve fixar como condição especial do regime aberto, a PSC.

Assim, meu amigo(a), encerramos o estudo de mais um tópico em nossa aula!

Aguardo você no próximo capítulo!

Até lá!

LIVRAMENTO CONDICIONAL. Com o instituto do livramento condicional não será diferente, meu amigo(a)!

Vamos direto para a redação dos artigos do Código Penal.

Requisitos do livramento condicional

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Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liber-

dade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e

tiver bons antecedentes;

II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso; III - comprovado: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) a) bom comportamento durante a execução da pena; (Incluído pela Lei nº 13.964, de

2019) b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses; (Incluído pela Lei nº

13.964, de 2019) c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e (Incluído pela Lei nº 13.964, de

2019)

d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto; (Incluído pela

Lei nº 13.964, de 2019) IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infra-

ção;

V - cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática

de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado

não for reincidente específico em crimes dessa natureza. Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça

à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pesso-

ais que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir.

Soma de penas Art. 84 - As penas que correspondem a infrações diversas devem somar-se para efeito do livra-

mento.

Especificações das condições Art. 85 - A sentença especificará as condições a que fica subordinado o livramento.

Revogação do livramento Art. 86 - Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser condenado a pena privativa de liber-

dade, em sentença irrecorrível: I - por crime cometido durante a vigência do benefício; II - por crime anterior, observado o disposto no art. 84 deste Código.

Revogação facultativa Art. 87 - O juiz poderá, também, revogar o livramento, se o liberado deixar de cumprir qualquer

das obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contraven-

ção, a pena que não seja privativa de liberdade.

Efeitos da revogação Art. 88 - Revogado o livramento, não poderá ser novamente concedido, e, salvo quando a revo-

gação resulta de condenação por outro crime anterior àquele benefício, não se desconta na pena o

tempo em que esteve solto o condenado.

Extinção Art. 89 - O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não passar em julgado a sentença

em processo a que responde o liberado, por crime cometido na vigência do livramento. Art. 90 - Se até o seu término o livramento não é revogado, considera-se extinta a pena privativa

de liberdade.

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Agora que acabamos de fazer a leitura dos artigos, você deve ter em mente o conceito de livramento

condicional, que nada mais é do que a antecipação da liberdade do preso definitivo Trata-se de medida des-

penalizadora, de competência do juízo da execução penal.

Assim como fizemos anteriormente, vou segui nosso método numeral para que você conseguir visualizar

mais fácil a matéria e saiba onde ela se encaixa dentro do estudo.

1.1. Diferenças com o “sursis”: o “sursis” consiste na suspensão condicional do cumprimento da

pena privativa de liberdade. Sua disciplina está no CP (arts. 77 a 82).

“Sursis” Livramento

Competência Juízo de conhecimento (sen-

tença)

Juízo de Execução Penal.

Cumprimento da PPL Suspende o cumprimento da

PPL

Pressupõe o cumprimento

de parte da PPL

Período de prova 2 a 4 anos (4 a 6) Sempre dura o restante da

pena.

2. Mudanças decorrentes da Lei Anticrime.

a) Alteração (“nomenclatural”) de requisito subjetivo: o legislador exigia comportamento carcerário

satisfatório e, com a Lei Anticrime, passou a exigir “bom” comportamento carcerário.

b) Referência expressa à falta grave: o livramento condicional não será concedido se o sentenciado

cometeu falta grave nos últimos 12 meses. A súmula 441 do STJ permanece totalmente em vigor

(o Junqueira diz que não).

c) Ampliação do rol de proibições de concessão do L.A.: antes da L.A., só não se concedia livra-

mento a reincidentes em crime hediondo, equiparado ou tráfico de pessoas. Agora, ficou assim:

crime hediondo ou equiparado com resultado morte (primário ou reincidente); condenado por in-

tegrar OCRIM ou por crime praticado por meio de OCRIM, caso haja prova de que o vínculo associ-

ativo se mantém.

3. Requisitos (art. 83)

3.1. Objetivos

a) Condenação a PPL = ou maior de 2 anos. O art. 84 do CP autoriza que as penas impostas

em diferentes condenações, por delitos diversos, sejam somadas para efeito de concessão

do LC.

b) Reparação dos danos, salvo impossibilidade de fazê-lo.

c) Cumprimento parcial da PPL (período aquisitivo): (I) + de 1/3 = não reincidente em crime

doloso; (II) + de ½ = reincidente em crime doloso. A fração de pena para o sentenciado

primário de maus antecedentes é a de + de 1/3. Os crimes hediondos é 2/3.

3.2. Subjetivos:

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a) Bom comportamento carcerário.

b) Aptidão para prover o próprio sustento mediante trabalho honesto.

c) Bom aproveitamento no trabalho.

d) Não ter cometido falta grave nos últimos 12 meses.

e) Requisito especial: art. 83, p.ú.: aos condenados por crime praticado com violência ou

grave ameaça contra a pessoa. Comprovar-se que o sentenciado pode voltar ao convívio

social sem a perspectiva de novamente delinquir.

4. Condições.

4.1. Condições legais.

a) Diretas: condições legais diretas do LC estão previstas no art. 132 da LEP. O §1º enumera

as condições legais obrigatórios. O §2º lista as condições legais facultativas.

4.2. Judiciais: o juiz pode fixar outras, desde que adequadas ao caso.

4.3. Período de prova: dura o restante de cumprimento de pena. Termo inicial: cerimônia de con-

cessão (art. 137 da LEP).

5. Causas de revogação.

5.1. Obrigatória – art. 86.

Ocorre quando sobrevier condenação transitada em julgado, por crime, a pena privativa de

liberdade.

5.2. Facultativas – art. 87.

a) Condenação transitada em julgado, por crime ou contravenção, a pena alternativa (PRD

ou multa)

b) Descumprimento das condições.

c) Condenação com trânsito em julgado por contravenção a PPL gera revogação do livra-

mento? A maioria da doutrina diz que houve lacuna no CP e na LP, não podendo haver ana-

logia in malan partem, o entendimento é que não pode haver revogação.

5.3. Prorrogação: art. 89 – ocorrerá quando o sentenciado for processado, durante o LC, por fato

praticado no curso do período de prova.

5.4. Conhecimento tardio: se o juiz tomar conhecimento do novo processo, por fato cometido du-

rante o período de prova, somente após o termino desse prazo, o que fazer? 617, STJ – a ausên-

cia de suspensão ou revogação do livramento condiciona antes do término do período de prova

enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena.

6. Suspensão cautelar do LC. Art. 145 – praticada pelo liberado outra infração penal, o juiz poderá orde-

nar a sua prisão, ouvidos o Conselho Penitenciário e o MP, suspendendo o curso do livramento.

7. Extinção da pena: se o período de prova for concluído sem revogação, suspensão ou prorrogação, res-

tará extinta a punibilidade.

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Acabamos, assim, o instituto do livramento condicional!

Já estou te esperando no próximo capítulo para estudarmos os efeitos da condenação

Venha comigo!

EFEITOS DA CONDENAÇÃO.

Para inaugurarmos o capítulo referente aos efeitos da condenação, é necessário que façamos uma lei-

tura atenta dos artigos 91 e 92 do CP.

Veja só:

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Efeitos genéricos e específicos

Art. 91 - São efeitos da condenação:

I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;

II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:

a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou de-

tenção constitua fato ilícito;

b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a

prática do fato criminoso.

§ 1o Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime

quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior.

§ 2o Na hipótese do § 1o, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão abranger

bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de perda.

Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior a 6

(seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens

correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível

com o seu rendimento lícito. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do condenado todos

os bens: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou indireto, na

data da infração penal ou recebidos posteriormente; e (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir do início da

atividade criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedência lícita do

patrimônio. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público, por oca-

sião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada. (Incluído pela Lei nº

13.964, de 2019)

§ 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e especificar os bens

cuja perda for decretada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias deverão

ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde tramita a ação

penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem

ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes. (Incluído pela Lei nº

13.964, de 2019)

Art. 92 - São também efeitos da condenação:

I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:

a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes prati-

cados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;

b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais

casos.

II – a incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos sujei-

tos à pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar, contra

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filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado; (Redação dada pela Lei nº

13.715, de 2018)

III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso.

Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente

declarados na sentença.

Leitura feita, concurseiro(a)?! Vamos adiante com nossos comentários!

O primeiro ponto que vamos analisar diz respeito a perda, em favor da união ressalvado o direito do

lesado * ou terceiro de boa-fé** (art. 91, II).

Lesado: sujeito que sofreu prejuízo econômico com a infiltração penal. É sinônimo de vítima? Não ne-

cessariamente.

Terceiro de boa-fé: sujeito que detém o bem de boa-fé, ou seja, desconhecendo sua origem ilícita.

a) instrumento ilícitos utilizados no crime (ex: chave falsa no crime de furto).

Pontos de atenção: art. 25, §5º - apreensão de objetos em crimes ambientais (p.ex. motosserra) os ob-

jetos poder ser lícitos ou ilícitos; Art. 25 do Estatuto do Desarmamento – entrega ao comando do exército para

destruição; Arts. 62 e 63, I, Lei drogas – pouco importa se os bens são lícitos ou ilícitos (perda em favor do fundo

de repreensão de drogas).

b) produto (ganho direto) ou proveito (lucro indireto) do crime – essa atinge bens ilícitos.

1. Efeitos extrapenais específicos: (art. 91-A e 92): aqueles aplicáveis somente a determinados crimes e

que dependem de declaração expressa na sentença + pedido expresso do ator na inicial (denúncia ou

queixa). Não esquecer: deve ter o pedido expresso.

1.1. Perda e confisco alargado (art. 91-A, e §§1º a 4º): trata-se de um efeito extrapenal específico

da condenação, que visa à perda de bens ou valores acrescidos ao patrimônio do agente por

meio do exercício da atividade criminosa. É uma forma de impedir o enriquecimento crimi-

noso. A ideia é que o acréscimo patrimonial experimentado pelo condenado, quando não com-

provada sua origem lícita, presume-se decorrente da atividade delituosa desempenhada. É

uma presunção relativa.

1.2. Âmbito de incidência: só se aplica a condenações a pena de reclusão cujo crime tenha pena

máxima superior a 6 anos. P.ex. crime de peculato – art. 312, caput – reclusão, de 2 a 12 anos.

1.3. Bens atingidos pelo confisco alargado: todos os bens ou valores que correspondam à dife-

rença entre o rendimento lícito do agente e o patrimônio efetivo. O que se entende por pa-

trimônio do condenado? Todos os bens: a) de sua titularidade, ou em relação aos quais ele

tenha o domínio e o benefício direto ou indireto, na data da infração penal ou recebidos poste-

riormente; e b) transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória,

a parir do início da atividade criminal.

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1.4. Aspecto processual:

a) descrição na denúncia: a perda deverá ser requerida expressamente pelo MP, por ocasião

do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada (§3º);

b) defesa: o condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedên-

cia lítica do patrimônio (§2º);

c) sentença (§4º): na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada

e especificar os bens sobre os quais a perda recairá.

2. Perda do cargo ou função pública (art. 92, I, do CP):

a) âmbito de incidência: condenações a PPL igual ou superior a 1 ano, em crime cometido com violação

dos deveres funcionais, ou, condenações a PPL superior a 4 anos. Depende do trânsito julgado.

b) efeito: o agente sofre a perda (definitiva) o cargo ou função e, além disso, torna-se inabilidade “in

genere” para o exercício de outro cargo ou função (interpretação sistemática dos artigos 91, I e 93 do

CP). O sentenciado, depois de cumprida a pena, poderá, mediante reabilitação criminal (CP, art. 93 e

95), torna-se novamente apto a ocupar (outros) cargos ou funções públicas. c) Esse efeito se aplica a

magistrados e Membros do MP? Como tais pessoas gozam da garantia da vitaliciedade, entende-se que

a perda do caro somente pode se dar por meio de ação judicial específica (caso do Petri).

2.1. Incapacidade para o exercício do poder familiar, tutela ou curatela:

a) crimes dolosos, punido com reclusão, praticados contra filho, tutelado, curatelado, descen-

dente, outrem, titular do mesmo poder familiar (p.ex. pai que comente delito contra a mãe de

seus filhos).

b) efeito: o agente se torna incapaz de exercer o poder familiar, a tutela ou a curatela em rela-

ção a qualquer pessoa (não só quanto à vítima do crime). Obs.: o sentenciado, depois de cum-

prir a pena, poderá obter reabilitação criminal e, nesse caso, voltará a ter a capacidade para o

exercício do poder familiar, tutela ou curatela, jamais, porém, em relação à vítima do crime

(quanto a esta, o efeito é perene).

2.2. Inabilitação para conduzir veículos automotores (art. 92, III, do CP):

a) âmbito de incidência: crime doloso, no qual o veículo automotor tenha servido como ins-

trumento;

b) efeito: o sentenciado não poderá conduzir veículos automotores, enquanto não obtiver re-

abilitação criminal.

Desse modo, meu amigo(a), encerramos por completo o estudo do nosso conteúdo sobre os efeitos

da condenação!

Já sabe né?! Estou aguardando você no próximo tópico.

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EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.

Adentrando ao nosso último conteúdo de direito penal em nossa primeira aula, quero tratar com você

sobre a extinção da punibilidade e, para isso, vamos direto para o artigo 107 do nosso Código Penal:

Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:

I - pela morte do agente;

II - pela anistia, graça ou indulto;

III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;

IV - pela prescrição, decadência ou perempção;

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V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;

VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;

VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)

VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)

IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

Agora que realizamos uma leitura atenta do dispositivo, quero que você saiba que o artigo 107 do CP é

um rol não exaustivo, ou seja, ele não esgota todas as causas extintivas da punibilidade previstas no ordena-

mento jurídico.

A extinção da punibilidade opera efeitos distintos a depender do momento em que fora decretada, veja

só:

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

Antes do trânsito em julgado Depois do trânsito em julgado.

Afasta todo e qualquer efeito da condenação Só afasta o efeito penal principal (todos os demais

permanecem). Exceção: no caso de “abolítio crimi-

nis” e anistia (após o trânsito em julgado), afastam-

se todos os efeitos penais da condenação (principal

e secundários)

Também, as causas extintivas da punibilidade são classificadas em:

I – gerais ou genéricas: são aquelas aplicáveis a todas as infrações penais (ou a maioria delas) p.ex. pres-

crição, abolitio criminis.

II – causas especiais ou específicas: são aplicáveis somente aos casos determinados expressamente em

lei (p.ex. o perdão judicial).

Vejamos, então, a partir de agora, as causas extintivas da punibilidade em espécie:

Morte do agente: essa regra legal é a concretização do princípio constitucional da individuali-

dade da pena (art. 5º, CF, XLV). Conforme o art. 62, CPP, deverá haver certidão de óbito original

e prévia manifestação do MP. Como proceder quando, após a decretação, descobrir-se que a

certidão era falsa? Há duas posições: 1ª) Os processos não podem ser retomados, sob pena de

revisão criminal “pro societate”. Resta, somente, processar o agente por crime contra a fé pública

(majoritária na doutrina). 2ª) Para o STF, a decisão se baseou num fato inexistente e, portanto,

deve ser considerada (“fato inexistente não produz efeito jurídico”); além disso, instaura-se um

novo processo pelo crime de falsidade praticado.

Perdão constitucional: é o termo que designa as causas extintivas da punibilidade (anistia, graça

e indulto), previstas na CF, em que o Estado abre mão do direito de punir, por razões de política

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criminal, praticando atos de clemência ou indulgência. A CF, no art. 5º, XLIII, impõe uma limi-

tação ao perdão constitucional. Eles não podem ser concedidos em relação a crimes hediondos

e equiparados. O STF, na ADIN 5.784, por 7 a 4, o Plenário do STF reconheceu, em 09/05/2019,

o direito de o Chefe do Poder Executivo Federal, dentro das hipóteses legais, editar decreto con-

cedendo o indulto, independentemente o mérito do decreto (desde que não viole o art. 5º, XLIII).

Cabe anistia, graça e indulto para o tráfico “privilegiado”? O STF já reconheceu que este delito

não tem natureza hedionda ou equiparada; logo, admite-se.

Graça – caráter individual

Indulto – caráter coletivo

Abolitio criminis: cuida-se da nova lei penal que descriminaliza condutas. Para que ocorra descri-

minalização, é necessário que o tipo penal seja revogado e que o comportamento nele previsto

não se enquadre em outro tipo penal. A abolitio criminis gera dois efeitos. Com relação aos fatos

anteriores à nova lei, ocorre a extinção da punibilidade, mas, com relação aos fatos novos, ocorre

sua atipicidade.

Renúncia e decadência: são causas extintivas aplicáveis aos crimes de ação privada e pública

condicionada à representação. Somente incidem antes de iniciada a ação penal. Renúncia: ato

unilateral (não precisa colher a concordância de ninguém); admite forma expressa ou tácita (ato

incompatível com a vontade de processar o agente); ato comunicável (a renúncia em favor de um

agente se estende a todos). Decadência: prazo de 6 meses contados do conhecimento da autoria

delitiva; prazo fatal e peremptório: não se suspende nem se interrompe.

Perempção e perdão aceito: são causas extintivas da punibilidade exclusivas dos crimes de ação

penal privada. Somente incidem durante a ação penal. Perempção: art. 60, CPP (querelante, in-

timado, deixa de dar prosseguimento em 30 dias; querelante não pode condenação nas alegações

finais). Perdão aceito: ato bilateral; o perdão oferecido em favor de um dos querelados se es-

tende a todos, mas só extingue a punibilidade daqueles que aceitarem.

Retratação, nos casos previstos em lei: trata-se de uma causa extintiva da punibilidade especí-

fica, pois só é cabível quando houver expressa previsão em lei. O legislador reconhece que, em

alguns delitos, a retratação funciona como uma forma de reparar (ou minimizar) a lesão ao bem

jurídico. É o caso de calúnia e difamação, p.ex. art. 143 do CP – esse dispositivo prevê a retratação

(cabal) como causa extintiva da punibilidade.

Perdão judicial, nos casos previstos em lei: também se trata de causa específica de extinção da

punibilidade. Conceito: trata-se da causa extintiva da punibilidade em que o Estado – Juiz abdica

Anistia Graça e Indulto

Competência Congresso Nacional Presidente da república.

Instrumento normativo Lei Decreto

Momento Antes ou depois do trânsito

em julgado

Só após o trânsito em jul-

gado

Incidência Fatos (concretos) Pessoas

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do direito de punir por razões de política crimina. Qual a natureza jurídica da decisão concessiva

do perdão judicial? 18, STJ – trata-se de decisão declaratória da extinção da punibilidade. Logo,

não produz nenhum dos efeitos da condenação.

Certo, meu amigo(a), dessa forma encerramos nosso estudo sobre toda a parte geral do Código Penal

cobrada em seu concurso.

Saiba que eu fico amplamente ao seu dispor nas redes sociais. Venha manter contato para que possamos

estreitar nosso estudo e alçarmos voos cada vez maiores!

Siga firme nos seus estudos!

Um forte abraço!

Fique com Deus!

Até próxima!

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Questões comentadas pelo professor

1) Ano: 2019 Prova: PC-ES - Escrivão de Polícia

O art. 1º do Código Penal afirma que não há crime sem lei anterior que o defina e que não há pena sem prévia

cominação legal. O mencionado dispositivo corresponde a qual princípio de direito penal?

A) Princípio da legalidade.

B) Princípio da proibição de pena indigna.

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C) Princípio da proporcionalidade

D) Princípio da igualdade.

E) Princípio da austeridade.

Resolução:

a) Conforme nosso estudo inicial sobre os princípios do direito penal, o art. 1º do Código Penal, reproduzindo

o art. 5º, XXXIX, da Constituição federal, elenca o princípio da legalidade.

b) O princípio da proibição da pena indigna diz respeito ao fato de que a ninguém poderá ser imposta uma pena

ofensiva à dignidade humana, como, por exemplo, a imposição de trabalhos forçados ou, até mesmo a escra-

vidão.

c) O princípio da proporcionalidade não corresponde somente a um princípio do direito penal, pois é utilizado

em todos os ramos do direito, como critério norteador para aplicação de medidas adequadas a determinados

casos concretos. Também, não há previsão legal expressa do princípio da proporcionalidade no ordenamento

jurídico.

d) Não corresponde ao significado do enunciado da questão, pois, o princípio da igualdade (ou isonomia) está

disposto no art. 5º, I, da Constituição Federal, que garante aos homens e mulheres igualdade em direitos e

obrigações na ordem jurídica.

e) O princípio da austeridade não está ligado ao direito, mas sim a economia.

Gabarito: Letra A.

2) Ano: 2008 Banca: VUNESP Órgão: TJ-MT Provas: VUNESP - 2008 - TJ-MT - Técnico Judiciário

É correto afirmar que o princípio da legalidade

A) está previsto no código de processo penal.

B) pode ser entendido como in dubio pro reo.

C) é uma garantia de que à lei compete fixar os crimes e suas penas.

D) não tem previsão legal.

E) consiste na idéia de ninguém poder ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime.

Resolução:

a) O princípio da legalidade não está expressamente previsto no código de processo penal. Ao contrário, está

expressamente previsto no Código Penal.

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b) O princípio do in dubio pro reo é próprio do direito processual penal, ocasião em que, milita a favor do réu o

benefício da dúvida quando não houver prova suficiente para embasar sua condenação. Dessa forma, deverá o

juiz aplicar o princípio do in dubio pro reo (ou favor rei – na dúvida, a favor do réu).

c) Sim, pois o artigo 1º do CP e o art. 5º, XXXIX, da CF, dispõem: “não há crime sem lei anterior (reserva legal)

que o defina e que não há pena sem prévia cominação legal (anterioridade)”.

d) Há sim previsão legal, conforme art. 1º do CP e art. 5º, XXXIX, CF.

e) A assertiva está tratando do instituto da abolitio criminis.

Gabarito: Letra C.

3) Ano: 2014 Banca: FCC Órgão: TRF - 3ª REGIÃO Prova: FCC - 2014 - TRF - 3ª REGIÃO - Analista Judiciário -

Área Judiciária

Dentre as ideias estruturantes ou princípios abaixo, todos especialmente importantes ao direito penal brasi-

leiro, NÃO tem expressa e literal disposição constitucional o da

A) legalidade.

B) proporcionalidade.

C) individualização.

D) pessoalidade.

E) dignidade humana.

a) – O princípio da legalidade está elencado no art.5º, XXXIX, da CF.

b) – Não há previsão legal expressa a respeito do princípio da proporcionalidade no ordenamento jurídico bra-

sileiro.

c) – O princípio da individualização da pena está expresso no art. 5º, XLVI, da CF.

d) – O princípio da pessoalidade da pena está expresso no art. 5º, XLV, da CF.

e) – O princípio da dignidade da pessoa humana está expresso no art. 1º, III, da CF, como um dos fundamentos

da República.

Gabarito: Letra B.

4) Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: PRF Prova: CESPE - 2013 - PRF - Policial Rodoviário Federal

Com relação aos princípios, institutos e dispositivos da parte geral do Código Penal (CP), julgue os itens seguin-

tes.

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O princípio da legalidade é parâmetro fixador do conteúdo das normas penais incriminadoras, ou seja, os tipos

penais de tal natureza somente podem ser criados por meio de lei em sentido estrito.

( ) Certo

( ) Errado

Resolução:

Conforme o enunciado da questão, devemos recordar que uma das subdivisões do princípio da legalidade é a

reserva legal, que diz ser obrigatória a criação de tipos penais através de lei em sentido estrito (seja ela com-

plementar ou ordinária).

Gabarito: CERTO.

5) Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: PRF Prova: CESPE - 2019 - PRF - Policial Rodoviário Federal

O art. 1.º do Código Penal brasileiro dispõe que “não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem

prévia cominação legal”.

Considerando esse dispositivo legal, bem como os princípios e as repercussões jurídicas dele decorrentes, jul-

gue o item que se segue.

O presidente da República, em caso de extrema relevância e urgência, pode editar medida provisória para agra-

var a pena de determinado crime, desde que a aplicação da pena agravada ocorra somente após a aprovação

da medida pelo Congresso Nacional.

( ) Certo

( ) Errado

Resolução:

A edição de MP em matéria penal, como regra geral é vedada, inclusive para criação de crimes e agravamento

dos já existentes. Entretanto, é possível MP benéfica, conforme já ocorreu no Brasil, através do art. 32 da Lei

10.826/03 – Estatuto do Desarmamento.

Gabarito: ERRADO.

6) Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-ES Prova: INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Escrivão de

Polícia

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A impossibilidade da lei penal nova mais gravosa ser aplicada em caso ocorrido anteriormente à sua vigên-

cia é chamada de

A) princípio da ultra-atividade da lei nova.

B) princípio da legalidade.

C) princípio da irretroatividade.

D) princípio da normalidade.

E) princípio da adequação.

Resolução:

a) - A ultra-atividade é um efeito decorrente das leis penais excepcionais e temporárias, fazendo que os efeitos

delas retroajam a data em que se encontravam em vigor.

b) – O princípio da legalidade diz respeito ao processo de criação de tipos penais.

c) – A irretroatividade é a regra no ordenamento jurídico, conforme o art. 5º, XL, da CF.

d) – Tentativa da banca de induzi-lo ao erro, pois o princípio da normalidade é próprio da sociologia e não do

Direito Penal.

e) – O princípio da adequação está inserido dentro dos limites materiais do direito penal, tornando atípico um

fato considerado socialmente adequado.

Gabarito: Letra C.

7) Ano: 2016 Banca: CESPE Órgão: TRT - 8ª Região (PA e AP) Prova: CESPE - 2016 - TRT - 8ª Região (PA e AP)

- Analista Judiciário - Área Judiciária

Assinale a opção correta, considerando a lei e a jurisprudência dos tribunais superiores.

A) A conduta de vender ou expor à venda CDs ou DVDs contendo gravações de músicas, filmes ou shows não

configura crime de violação de direito autoral, por ser prática amplamente tolerada e estimulada pela procura

dos consumidores desses produtos.

B) Na aplicação dos princípios da insignificância e da lesividade, as condutas que produzam um grau mínimo de

resultado lesivo devem ser desconsideradas como delitos e, portanto, não ensejam a aplicação de sanções pe-

nais aos seus agentes.

C) O uso de revólver de brinquedo no crime de roubo justifica a incidência da majorante prevista no Código

Penal, por intimidar a vítima e desestimular sua reação.

D) A idade da vítima é um dado irrelevante na dosimetria da pena do crime de homicídio doloso.

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E) Para a configuração dos crimes contra a honra, exige-se somente o dolo genérico, desconsiderando-se a

existência de intenção, por parte do agente, de ofender a honra da vítima.

Resolução:

a) – Os tribunais superiores já foram instados a se manifestarem sobre o tema e rejeitaram a tese de considerar

socialmente adequada a conduta de vender CDs e DVDs piratas, razão pela qual, tal conduta é considerada

criminosa.

b) – Está de acordo com os vetores elencados pelo STF e que foram objeto de estudo anteriormente na nossa

primeira aula. Lembre-se do mnemônico que ensineis a vocês: “PROL”.

c) – Simulacro (arma de brinquedo) ou arma de fogo desmuniciada, não são aptos a gerar o aumento do em-

prego de arma previsto para o delito de roubo.

d) – Muito pelo contrário, pois caso a vítima seja menor de 14 anos ou maior de 60 na data do fato, e o agente

tenha conhecimento desse dado objetivo, tal hipótese é uma majorante, responsável por aumentar a pena do

criminoso de 1/3 até metade.

e) – Nos crimes contra a honra (art. 138, 139 e 140, todos do CP), é necessário o elemento específico de cada

um dos crimes, animus caluniandi (art.138), animus difamandi (art. 139) e animus injuriandi (art. 140).

Gabarito: Letra B.

8) Ano: 2018 Banca: CESPE

Tendo como referência a jurisprudência sumulada dos tribunais superiores, julgue o item a seguir, acerca de

crimes, penas, imputabilidade penal, aplicação da lei penal e institutos.

É possível a aplicação do princípio da insignificância nos crimes contra a administração pública, desde que o

prejuízo seja em valor inferior a um salário mínimo.

( ) Certo

( ) Errado

Resolução:

Conforme a súmula 589 do STJ, é vedada a aplicação do princípio da insignificância nos crimes contra a adm.

pública.

Gabarito: ERRADO.

9) Ano: 2017 Banca: FEPESE Órgão: PC-SC Prova: FEPESE - 2017 - PC-SC - Escrivão de Polícia Civil

É correto afirmar acerca dos princípios constitucionais do direito penal.

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A) A fixação dos crimes e das respectivas penas não depende de lei formal.

B) Para beneficiar o réu, a lei penal poderá ser aplicada retroativamente.

C) A lei não poderá deixar de incriminar uma conduta já tipificada por legislação anterior.

D) As penas cruéis poderão ser aplicadas caso o delito cause grande comoção social.

E) Na impossibilidade de cumprimento da pena pelo réu, os seus familiares poderão ter a liberdade restringida.

Resolução:

a) – Conforme exaustivamente estudado por nós, o princípio da legalidade, pela via da reserva legal, exige lei

em sentido formal (seja complementar ou ordinária) para a criação de crimes e penas.

b) – Está em conformidade com o art. 5º, XL, da CF.

c) – Não há impedimento para que uma lei deixe de incriminar uma conduta incriminada por lei anterior. O

instituto que regula essa possibilidade é conhecido como abolitio criminis.

d) – Por vedação constitucional (art. 5º, XLVII) é proibida a imposição de penas cruéis.

e) – Conforme o princípio da personalidade da pena (art. 5º, XLV, CF) nenhuma pena poderá passar da figura

do condenado.

Gabarito: Letra B.

10) Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: PC-AL Prova: CESPE - 2012 - PC-AL - Escrivão de Polícia

No que concerne aos princípios, direitos e garantias fundamentais,

estabelecidos na Constituição Federal de 1988 (CF), julgue os itens

a seguir.

A lei penal pode retroagir para beneficiar ou prejudicar o réu.

( ) Certo

( ) Errado

Resolução:

Somente poderá retroagir para beneficiar o réu.

Gabarito: ERRADO.

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11) Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: PC-MA Prova: CESPE - 2018 - PC-MA - Escrivão de Polícia Civil

A aplicação do princípio da retroatividade benéfica da lei penal ocorre quando, ao tempo da conduta, o fato é

A) típico e lei posterior suprime o tipo penal.

B) típico e lei posterior provoca a migração do conteúdo criminoso para outro tipo penal.

C) típico e lei posterior aumenta a pena correspondente ao crime.

D) típico e lei posterior acrescenta hipótese de aumento de pena.

E) atípico e lei posterior o torna típico.

Resolução:

a) - Estamos diante da situação de abolitio criminis (quando nova lei penal deixa de considerar fato que anteri-

ormente era criminoso).

b) – Nesse caso estamos diante do princípio da continuidade normativo típica. uma novatio legis in pejus (nova

lei penal gravosa).

c) – Nesse caso estamos diante de uma novatio legis in pejus (nova lei penal gravosa).

d) – Também estamos diante de uma novatio legis in pejus (nova lei penal gravosa).

e) – Aqui estamos diante de uma novatio legis incriminadora (nova lei incriminadora).

Gabarito: Letra A.

12) Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: TJ-RO Prova: CESPE - 2012 - TJ-RO - Técnico Judiciário

Considere que um homem tenha sido denunciado pela prática de estelionato e que, durante a ação penal, tenha

entrado em vigor uma nova lei que prevê diminuição da pena aplicável ao referido crime. Nessa situação hipo-

tética, consoante disposições do Código Penal, a lei nova

A) não se aplica ao crime em tela, uma vez que o fato criminoso que originou a ação penal foi praticado anteri-

ormente à vigência da nova lei.

B) aplica-se ao crime em tela, independentemente do conteúdo material, dado que a lei penal obedece ao prin-

cípio da retroatividade.

C) aplica-se ao crime em tela, visto que a lei penal obedece ao princípio da retroatividade, caso caracterize-se

situação em que o acusado será beneficiado.

D) pode ser aplicada ao crime em tela, desde que não tenha ocorrido o trânsito em julgado de sentença penal

condenatória, situação que impede a retroatividade da lei nova.

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E) não se aplica ao crime em tela, conforme o princípio da irretroatividade, visto que a ação penal já estava em

curso quando a nova lei passou a vigorar.

Resolução:

a) – Por se trata de lei pena benéfica (novatio legis in mellius) ela retroagirá, beneficiando o estelionatário.

b) – A lei penal obedece ao princípio da irretroatividade e, também, há de ser feito uma análise acerca do seu

conteúdo material.

c) – Pois, a lei penal obedece ao princípio da retroatividade, caso caracterize situação benéfica ao acusado.

d) – A lei penal benéfica poderá ser aplicada mesmo após o trânsito em julgado, ocasião em que o juiz da exe-

cução penal será o encarregado da aplicação da nova lei penal benéfica (611, STF).

e) – Será aplicado ao crime de estelionato, mesmo com a ação penal em curso.

Gabarito: Letra C.

13) Ano: 2015 Banca: VUNESP Órgão: PC-CE Prova: VUNESP - 2015 - PC-CE - Escrivão de Polícia Civil de 1a

Classe

O indivíduo B provocou aborto com o consentimento da gestante, em 01 de fevereiro de 2010, e foi condenado,

em 20 de fevereiro de 2013, pela prática de tal crime à pena de oito anos de reclusão. A condenação já transitou

em julgado. Na hipótese do crime de aborto, com o consentimento da gestante, deixar de ser considerado

crime por força de uma lei que passe a vigorar a partir de 02 de fevereiro de 2015, assinale a alternativa correta

no tocante à consequência dessa nova lei à condenação imposta ao indivíduo B.

A) A nova lei será aplicada para os fatos praticados pelo indivíduo B, cessando em virtude dela a execução e os

efeitos penais da sentença condenatória.

B) A nova lei só irá gerar algum efeito sobre a condenação do indivíduo B se prever expressamente que se aplica

a fatos anteriores.

C) A nova lei só seria aplicada para os fatos praticados pelo indivíduo B se a sua entrada em vigência ocorresse

antes de 01 de fevereiro de 2015

D) Não haverá consequência à condenação imposta ao indivíduo B visto que já houve o trânsito em julgado da

condenação.

E) A nova lei será aplicada para os fatos praticados pelo indivíduo B, contudo só fará cessar a execução persis-

tindo os efeitos penais da sentença condenatória, tendo em vista que esta já havia transitado em julgado.

Resolução:

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a) – Entrado em vigor uma lei penal que deixei de considerar o aborto um crime, estaremos diante de uma

abolitio criminis, aplicando-se ao condenado pelo fato, fazendo cessar em virtude da lei, a execução e os efeitos

penais da sentença (art. 2º, do CP).

b) – A nova lei penal se aplica imediatamente, independentemente de qualquer previsão expressa acerca de

sua retroatividade.

c) – A figura da abolitio criminis alcança todos os fatos praticados anterior a sua entrada em vigor. Não há hipó-

tese de limitação de sua aplicação.

d) – A abolitio criminis se aplica mesmo após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

e) – Conforme redação do art. 2º do CP, todos os efeitos penais da sentença condenatória cessam.

Gabarito: Letra A.

14) Ano: 2016 Banca: CESPE Órgão: PC-PE Prova: CESPE - 2016 - PC-PE - Escrivão de Polícia Civil

Um crime de extorsão mediante sequestro perdura há meses e, nesse período, nova lei penal entrou em vigor,

prevendo causa de aumento de pena que se enquadra perfeitamente no caso em apreço.

Nessa situação hipotética,

A) a lei penal mais grave não poderá ser aplicada: o ordenamento jurídico não admite a novatio legis in pejus.

B) a lei penal menos grave deverá ser aplicada, já que o crime teve início durante a sua vigência e a legislação,

em relação ao tempo do crime, aplica a teoria da atividade.

C) a lei penal mais grave deverá ser aplicada, pois a atividade delitiva prolongou-se até a entrada em vigor da

nova legislação, antes da cessação da permanência do crime.

D) a aplicação da pena deverá ocorrer na forma prevista pela nova lei, dada a incidência do princípio da ultrati-

vidade da lei penal.

E) a aplicação da pena ocorrerá na forma prevista pela lei anterior, mais branda, em virtude da incidência do

princípio da irretroatividade da lei penal.

Resolução:

a) – Por força da súmula 711 do STF, será aplicada a lei penal mais gravosa, pois o crime que a banca trouxe é

um crime permanente (que a consumação se prolonga no tempo).

b) – Não há que se falar em aplicação da lei anterior, pois, conforme vimos, trata-se de crime permanente, que

permite a aplicação da lei penal mais gravosa que sobrevenha durante o período da permanência.

c) – É o exato conteúdo da súmula 711 do STF - A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime

permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência

d) – Nesse caso não estamos diante de uma lei excepcional ou temporária, e sim de uma lei que irá vigorar por

tempo indeterminado no ordenamento jurídico.

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e) – Não há que se falar em irretroatividade da lei penal, pois é o caso de aplicação de lei penal mais gravosa por

conta da permanência do crime de extorsão mediante sequestro.

Gabarito: Letra C.

15) Ano: 2015 Banca: CESPE Órgão: TJ-DFT Prova: CESPE - 2015 - TJ-DFT - Analista Judiciário - Judiciária

Em relação à aplicação da lei penal e aos institutos do arrependimento eficaz e do erro de execução, julgue o

item seguinte.

Se um indivíduo praticar uma série de crimes da mesma espécie, em continuidade delitiva e sob a vigência de

duas leis distintas, aplicar-se-á, em processo contra ele, a lei vigente ao tempo em que cessaram os delitos,

ainda que seja mais gravosa.

( ) Certo

( ) Errado

Resolução:

Conforme a súmula 711 do STF - A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente,

se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

Gabarito: Certo.

16) Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: STF Prova: CESPE - 2013 - STF - Analista Judiciário - Área Judiciária

Acerca dos princípios gerais que norteiam o direito penal, das teorias do crime e dos institutos da Parte

Geral do Código Penal brasileiro, julgue os itens a seguir.

Considere que Manoel, penalmente imputável, tenha sequestrado uma criança com o intuito de receber certa

quantia como resgate. Um mês depois, estando a vítima ainda em cativeiro, nova lei entrou em vigor, pre-

vendo pena mais severa para o delito. Nessa situação, a lei mais gravosa não incidirá sobre a conduta de Ma-

noel.

( ) Certo

( ) Errado

Resolução:

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Direito Penal – Parte Geral - MPRS.

Conforme a súmula 711 do STF - A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente,

se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

Gabarito: CERTO.

17) Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Provas: CESPE - 2013 - Polícia Federal - Escrivão da Polícia

Federal

Julgue o item subsequente , relativo à aplicação da lei penal e seus princípios.

No que diz respeito ao tema lei penal no tempo, a regra é a aplicação da lei apenas durante o seu período de

vigência; a exceção é a extra-atividade da lei penal mais benéfica, que comporta duas espécies: a retroatividade

e a ultra-atividade.

( ) Certo

( ) Errado

Resolução:

O enunciado da questão nos traz as hipóteses envolvendo a ultra atividade da lei penal excepcional ou tempo-

rária, conforme o artigo 3º do CP - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração

ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.

Gabarito: CERTO.

18) Ano: 2014 Banca: FUNCAB Órgão: PC-RO Prova: FUNCAB - 2014 - PC-RO - Escrivão de Polícia Civil

O artigo 3º do Código Penal dispõe: “a lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua dura-

ção ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência”. O

referido artigo prevê o fenômeno da:

A) coculpabilidade.

B) tipicidade conglobante.

C) retroatividade da lei.

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D) abolitio criminis.

E) ultra-atividade da lei.

Resolução:

a) – O fenômeno da coculpabilidade diz respeito a uma teoria de aplicação da pena de autoria de Zaffaroni (que

será objeto de estudo em nossas aulas de Processo Penal).

b) – A tipicidade conglobante, também de Zaffaroni, diz respeito ao conceito de tipicidade no conceito analítico

de crime. Não se assuste, meu amigo(a)! Isso será objeto de estudo nas nossas próximas aulas.

c) – O art. 3º do Código Penal não diz respeito a retroatividade da lei penal.

d) – O art. 3º do CP não diz respeito a abolitio criminis (que está prevista no art. 2º do CP).

e) – O art. 3º do CP traz o instituto da ultra-atividade.

Gabarito: Letra E.

19) Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-ES Prova: INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Escrivão de

Polícia

O Direito Penal brasileiro considera como momento do cometimento do crime

A) desde o seu planejamento.

B) quando atingido o resultado pretendido.

C) o momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.

D) quando chega ao conhecimento das autoridades competentes.

E) o momento do cometimento do crime é irrelevante para o Direito Penal.

Resolução:

a) – Vamos estudar em aulas próximas que o planejamento do crime (atos preparatórios – em regra, não são

puníveis).

b) – A assertiva está tratando da consumação do crime e não do tempo do crime.

c) – O tempo do crime (momento) é o da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado, con-

forme o art. 4º do CP.

d) – O tempo do crime (momento) é o da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado, e não

o momento que que chega ao conhecimento das autoridades competentes.

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e) – O momento do cometimento do crime tem inúmeras relevâncias para o direito penal, as quais serão objeto

de estudo aqui em nossa próxima aula.

Gabarito: Letra C.

20) Ano: 2017 Banca: CONSULPLAN Órgão: TRE-RJ Provas: CONSULPLAN - 2017 - TRE-RJ - Analista Judiciá-

rio - Área Administrativa

“João da Silva atira contra ‘X’ no dia 29/5, tendo ‘X’ falecido 20 dias depois.” Sobre o tempo do crime, o

Código Penal adota a teoria:

A) Ubiquidade.

B) Da atividade.

C) Do resultado.

D) Ambivalência.

Resolução:

a) – A ubiquidade diz respeito ao lugar do crime, conforme o art. 6º do Código Penal.

b) – A teoria da atividade foi adotada pelo art.4 º do CP para delimitar o tempo do crime.

c) – A teoria do resultado é adotada no âmbito do processo penal para definir a competência, conforme o art.

70 do CPP.

d) – Não faz parte do direito penal.

Gabarito: Letra B.

21) Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-AL Prova: FGV - 2018 - TJ-AL - Analista Judiciário - Área Judiciária

No dia 02.01.2018, Jéssica, nascida em 03.01.2000, realiza disparos de arma de fogo contra Ana, sua inimiga,

em Santa Luzia do Norte, mas terceiros que presenciaram os fatos socorrem Ana e a levam para o hospital em

Maceió. Após três dias internada, Ana vem a falecer, ainda no hospital, em virtude exclusivamente das lesões

causadas pelos disparos de Jéssica. Com base na situação narrada, é correto afirmar que Jéssica:

A) não poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da Atividade para de-

finir o momento do crime e a Teoria da Ubiquidade para definir o lugar;

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B) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria do Resultado para definir

o momento do crime e a Teoria da Atividade para definir o lugar;

C) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da Ubiquidade para definir

o momento do crime e a Teoria da Atividade para definir o lugar;

D) não poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da Atividade para de-

finir o momento do crime e apenas a Teoria do Resultado para definir o lugar;

E) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria do Resultado para definir

o momento do crime e a Teoria da Ubiquidade para definir o lugar.

Resolução:

a) – A teoria adotada pelo Código Penal para definir o tempo do crime é a teoria da ubiquidade.

b) – A assertiva erroneamente insere a teoria do resultado, adotada para definir a competência, conforme o art.

70 do código de processo penal.

c) – A assertiva inverte as teorias adotas pelo CP. Para o tempo do crime, o CP adotou a teoria da atividade.

Para o lugar do crime, adotou a teoria da ubiquidade.

d) – A autora do crime não poderá ser responsabilizada pois, ao tempo do crime, ela contava com 17 anos de

idade, razão pela qual está sujeita as normas do ECA.

e) – Além de não poder ser responsabilizada, o CP adotou a teoria da atividade para o momento do crime.

Gabarito: Letra D.

22) Ano: 2016 Banca: UFMT Órgão: TJ-MT Prova: UFMT - 2016 - TJ-MT - Técnico Judiciário

Sobre a aplicação da lei penal, de acordo com o Decreto Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal,

marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.

( ) Não há crime sem lei posterior que o defina.

( ) Considera-se praticado o crime no momento da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.

( ) Considera-se como extensão do território nacional, para efeitos penais, a aeronave de propriedade privada,

que se ache no espaço aéreo correspondente.

( ) Não fica sujeito à lei brasileira, embora cometido no estrangeiro, o crime contra a liberdade do Presidente

da República.

Assinale a sequência correta.

A) V, F, F, V

B) F, V, V, F

C) V, V, F, F

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D) F, F, V, V

Resolução:

1ª Proposição: a lei deve ser anterior (anterioridade) e não posterior.

2ª Proposição: – é a redação do art. 4º do CP.

3ª Proposição: – a aeronave de propriedade privada, que se ache no espaço aéreo correspondente é conside-

rada extensão do território brasileiro.

4º Proposição: - Os crimes praticados contra a liberdade do Presidente ficam sujeitos à lei brasileira, ainda que

cometidos no estrangeiro. (art. 7º, I, a, CP).

Gabarito – Letra B.

23) Ano: 2014 Banca: Aroeira Órgão: PC-TO Prova: Aroeira - 2014 - PC-TO - Escrivão de Polícia Civil

Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações brasileiras, mer-

cantes ou de propriedade privada,

A) que se achem em alto-mar.

B) onde quer que estejam ancoradas.

C) que se achem no mar territorial brasileiro.

D) onde quer que estejam navegando.

Resolução:

a) – Essa é a redação do art. 5º, §1º do Código Penal.

b) – A assertiva contraria a redação do art. 5º, §1º, do Código Penal.

c) – A assertiva contraria a redação do art. 5º, §1º, do Código Penal.

d) – A assertiva contraria a redação do art. 5º, §1º, do Código Penal.

Gabarito: Letra A.

24) Ano: 2013 Banca: FUNCAB Órgão: PC-ES Prova: FUNCAB - 2013 - PC-ES - Escrivão de Polícia

O marinheiro Jonas matou seu colega de farda a bordo do navio-escola NE Brasil, da Marinha Brasileira, quando

o navio estava em águas sob soberania do Japão. Assim:

A) a lei penal brasileira será aplicada ao caso, em razão do princípio da territorialidade.

B) a lei penal brasileira será aplicada ao caso, em razão do princípio do pavilhão.

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C) a lei penal brasileira será aplicada ao caso, em razão do princípio da justiça universal.

D) a lei penal brasileira será aplicada ao caso, em razão do princípio da defesa.

E) a lei penal japonesa será aplicada ao caso, em razão do crime ter ocorrido em águas sob soberania do Japão.

Resolução:

a) – Pois o navio-escola da Marinha Brasileira é extensão do território brasileiro. Dessa forma, para fins penais,

é como se o crime tivesse acontecido dentro do território brasileiro, aplicando-se o princípio da territorialidade.

b) – O princípio a ser adotado para o enunciado da questão não é o do pavilhão e, sim o da territorialidade.

c) – O princípio a ser adotado para o enunciado da questão não é o da justiça universal e, sim o da territoriali-

dade.

d) – O princípio a ser adotado para o enunciado da questão não é o da defesa e, sim o da territorialidade.

e) – A lei a ser aplicada é a brasileira, por conta do navio da Marinha ser extensão do território brasileiro, razão

pela qual, não há que se falar em aplicação da lei Japonesa.

Gabarito: Letra A.

25) Ano: 2004 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2004 - Polícia Federal - Escrivão da Polícia

Federal - Nacional

Considere a seguinte situação hipotética.

Na fronteira do Brasil com a Venezuela, mas ainda em território nacional, na cidade de Pacaraima, em Roraima,

Otávio desferiu cinco facadas contra Armindo, que conseguiu correr e faleceu na cidade de Santa Helena, na

Venezuela.

Nessa situação, como o crime se consumou na Venezuela, não há competência jurisdicional do Brasil para pro-

cessar e julgá-lo.

( ) Certo

( ) Errado

Resolução:

Basta que a infração penal “toque” o território brasileiro para que haja incidência da lei penal brasileira, con-

forme o artigo 6º do Código Penal.

Gabarito: ERRADO.

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26) Ano: 2011 Banca: CESPE Órgão: TRE-ES Prova: CESPE - 2011 - TRE-ES - Analista Judiciário - Área Judiciária

- Específicos

Lugar do crime, para os efeitos de incidência da lei penal brasileira, é aquele onde foi praticada a ação ou omis-

são, no todo ou em parte, bem como aquele onde se produziu ou, no caso da tentativa, teria sido produzido o

resultado.

( ) Certo

( ) Errado

Resolução:

O enunciado da questão é cópia literal do art. 6º do Código Penal - Considera-se praticado o crime no lugar em

que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o

resultado

Gabarito: CERTO.

27) Ano: 2010 Banca: FCC Órgão: TRT - 8ª Região (PA e AP) Prova: FCC - 2010 - TRT - 8ª Região (PA e AP) -

Analista Judiciário - Área Judiciária

José, brasileiro, cometeu crime de peculato, apropriando- se de valores da embaixada brasileira no Japão, onde

trabalhava como funcionário público.

Em tal situação,

A) somente se aplica a lei brasileira se José não tiver sido absolvido no Japão, por sentença definitiva.

B) somente se aplica a lei brasileira se José não tiver sido processado pelo mesmo fato no Japão.

C) aplica-se a lei brasileira, independentemente da existência de processo no Japão e de entrada do agente no

território nacional.

D) a aplicação da lei brasileira, independe da existência de processo no Japão, mas está condicionada à entrada

do agente no território nacional.

E) aplica-se a lei brasileira, somente se for mais favorável ao agente do que a lei japonesa.

Resolução:

a) – Não há que se falar em processo e julgamento Japonês pelo crime cometido por José, visto que o crime

praticado se deu na embaixada brasileira, que é considerada extensão do território nacional, se aplicando única

e exclusivamente a lei brasileira.

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b) – Não há que se falar em processo e julgamento Japonês pelo crime cometido por José, visto que o crime

praticado se deu na embaixada brasileira, que é considerada extensão do território nacional, se aplicando única

e exclusivamente a lei brasileira.

c) – Aplica-se a lei brasileira, pois o crime foi cometido no Brasil (dentro da embaixada brasileira, que é consi-

derada extensão do território nacional).

d) – A aplicação da lei brasileira não está condicionada a entrada de José no território geográfico brasileiro.

e) – Aplica-se a lei brasileira independente de qualquer outra condição, por questão de soberania brasileira.

Gabarito: Letra C.

28) Ano: 2010 Banca: FCC Órgão: TRE-RS Prova: FCC - 2010 - TRE-RS - Analista Judiciário - Área Judiciária

Dentre os casos de extraterritorialidade incondicionada da lei penal, previstos no Código Penal, NÃO se incluem

os crimes cometidos:

A) contra a fé pública da União.

B) contra o patrimônio de autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público.

C) contra a administração pública, por quem está a seu serviço.

D) em aeronaves ou embarcações brasileiras.

Resolução:

Não se incluem nas hipóteses de extraterritorialidade incondicionada, os crimes cometidos em aeronaves ou

embarcações brasileiras (assim, de forma genérica como tratou o enunciado). O restante das alternativas estão

elencadas no art. 7º do CP.

Gabarito: Letra D.

29) Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Provas: CESPE - 2012 - Polícia Federal - Agente da Polícia

Federal

Julgue os itens a seguir com base no direito penal.

Conflitos aparentes de normas penais podem ser solucionados com base no princípio da consunção, ou absor-

ção. De acordo com esse princípio, quando um crime constitui meio necessário ou fase normal de preparação

ou execução de outro crime, aplica-se a norma mais abrangente. Por exemplo, no caso de cometimento do

crime de falsificação de documento para a prática do crime de estelionato, sem mais potencialidade lesiva, este

absorve aquele.

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( ) Certo

( ) Errado

Resolução:

O enunciado da questão nos traz a súmula 17 do STJ - Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais po-

tencialidade lesiva, é por este absorvido.

Gabarito: Certo.

30) Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: TRE-RJ Prova: CESPE - 2012 - TRE-RJ - Analista Judiciário - Área Judiciá-ria

A respeito de institutos diversos de direito penal, julgue o item a seguir.

A venda de cópias não autorizadas de CDs e DVDs — cópias piratas — por vendedores ambulantes que não

possuam outra renda além da advinda dessa atividade, apesar de ser conduta tipificada, não possui, segundo a

jurisprudência do STJ, tipicidade material, aplicando-se ao caso o princípio da adequação social.

( ) Certo

( )Errado

Resolução:

Os tribunais superiores já foram instados a se manifestarem sobre o tema e rejeitaram a tese de considerar

socialmente adequada a conduta de vender CDs e DVDs piratas, razão pela qual, tal conduta é considerada

criminosa.

Gabarito: ERRADO.

Agradeço, mais uma vez a sua companhia!

Encerramos nosso primeiro encontro por aqui!

Aguardo a sua presença em nossa próxima aula.

Bons estudo! Fiquei com Deus!

Até lá,

Prof. Leonardo dos Santos Arpini

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Lista de questões

1) Ano: 2019 Prova: PC-ES - Escrivão de Polícia

O art. 1º do Código Penal afirma que não há crime sem lei anterior que o defina e que não há pena sem prévia

cominação legal. O mencionado dispositivo corresponde a qual princípio de direito penal?

A) Princípio da legalidade.

B) Princípio da proibição de pena indigna.

C) Princípio da proporcionalidade

D) Princípio da igualdade.

E) Princípio da austeridade.

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Direito Penal – Parte Geral - MPRS.

2) Ano: 2008 Banca: VUNESP Órgão: TJ-MT Provas: VUNESP - 2008 - TJ-MT - Técnico Judiciário

É correto afirmar que o princípio da legalidade

A) está previsto no código de processo penal.

B) pode ser entendido como in dubio pro reo.

C) é uma garantia de que à lei compete fixar os crimes e suas penas.

D) não tem previsão legal.

E) consiste na idéia de ninguém poder ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime.

3) Ano: 2014 Banca: FCC Órgão: TRF - 3ª REGIÃO Prova: FCC - 2014 - TRF - 3ª REGIÃO - Analista Judiciário -

Área Judiciária

Dentre as ideias estruturantes ou princípios abaixo, todos especialmente importantes ao direito penal brasi-

leiro, NÃO tem expressa e literal disposição constitucional o da

A) legalidade.

B) proporcionalidade.

C) individualização.

D) pessoalidade.

E) dignidade humana.

4) Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: PRF Prova: CESPE - 2013 - PRF - Policial Rodoviário Federal

Com relação aos princípios, institutos e dispositivos da parte geral do Código Penal (CP), julgue os itens seguin-

tes.

O princípio da legalidade é parâmetro fixador do conteúdo das normas penais incriminadoras, ou seja, os tipos

penais de tal natureza somente podem ser criados por meio de lei em sentido estrito.

( ) Certo

( ) Errado

5) Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: PRF Prova: CESPE - 2019 - PRF - Policial Rodoviário Federal

O art. 1.º do Código Penal brasileiro dispõe que “não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem

prévia cominação legal”.

Considerando esse dispositivo legal, bem como os princípios e as repercussões jurídicas dele decorrentes, jul-

gue o item que se segue.

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O presidente da República, em caso de extrema relevância e urgência, pode editar medida provisória para agra-

var a pena de determinado crime, desde que a aplicação da pena agravada ocorra somente após a aprovação

da medida pelo Congresso Nacional.

( ) Certo

( ) Errado

6) Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-ES Prova: INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Escrivão de

Polícia

A impossibilidade da lei penal nova mais gravosa ser aplicada em caso ocorrido anteriormente à sua vigên-

cia é chamada de

A) princípio da ultra-atividade da lei nova.

B) princípio da legalidade.

C) princípio da irretroatividade.

D) princípio da normalidade.

E) princípio da adequação.

7) Ano: 2016 Banca: CESPE Órgão: TRT - 8ª Região (PA e AP) Prova: CESPE - 2016 - TRT - 8ª Região (PA e AP)

- Analista Judiciário - Área Judiciária

Assinale a opção correta, considerando a lei e a jurisprudência dos tribunais superiores.

A) A conduta de vender ou expor à venda CDs ou DVDs contendo gravações de músicas, filmes ou shows não

configura crime de violação de direito autoral, por ser prática amplamente tolerada e estimulada pela procura

dos consumidores desses produtos.

B) Na aplicação dos princípios da insignificância e da lesividade, as condutas que produzam um grau mínimo de

resultado lesivo devem ser desconsideradas como delitos e, portanto, não ensejam a aplicação de sanções pe-

nais aos seus agentes.

C) O uso de revólver de brinquedo no crime de roubo justifica a incidência da majorante prevista no Código

Penal, por intimidar a vítima e desestimular sua reação.

D) A idade da vítima é um dado irrelevante na dosimetria da pena do crime de homicídio doloso.

E) Para a configuração dos crimes contra a honra, exige-se somente o dolo genérico, desconsiderando-se a

existência de intenção, por parte do agente, de ofender a honra da vítima.

8) Ano: 2018 Banca: CESPE

Tendo como referência a jurisprudência sumulada dos tribunais superiores, julgue o item a seguir, acerca de cri-

mes, penas, imputabilidade penal, aplicação da lei penal e institutos.

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É possível a aplicação do princípio da insignificância nos crimes contra a administração pública, desde que o pre-

juízo seja em valor inferior a um salário mínimo.

( ) Certo

( ) Errado

9) Ano: 2017 Banca: FEPESE Órgão: PC-SC Prova: FEPESE - 2017 - PC-SC - Escrivão de Polícia Civil

É correto afirmar acerca dos princípios constitucionais do direito penal.

A) A fixação dos crimes e das respectivas penas não depende de lei formal.

B) Para beneficiar o réu, a lei penal poderá ser aplicada retroativamente.

C) A lei não poderá deixar de incriminar uma conduta já tipificada por legislação anterior.

D) As penas cruéis poderão ser aplicadas caso o delito cause grande comoção social.

E) Na impossibilidade de cumprimento da pena pelo réu, os seus familiares poderão ter a liberdade restringida.

10) Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: PC-AL Prova: CESPE - 2012 - PC-AL - Escrivão de Polícia

No que concerne aos princípios, direitos e garantias fundamentais,

estabelecidos na Constituição Federal de 1988 (CF), julgue os itens

a seguir.

A lei penal pode retroagir para beneficiar ou prejudicar o réu.

( ) Certo

( ) Errado

11) Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: PC-MA Prova: CESPE - 2018 - PC-MA - Escrivão de Polícia Civil

A aplicação do princípio da retroatividade benéfica da lei penal ocorre quando, ao tempo da conduta, o fato é

A) típico e lei posterior suprime o tipo penal.

B) típico e lei posterior provoca a migração do conteúdo criminoso para outro tipo penal.

C) típico e lei posterior aumenta a pena correspondente ao crime.

D) típico e lei posterior acrescenta hipótese de aumento de pena.

E) atípico e lei posterior o torna típico.

12) Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: TJ-RO Prova: CESPE - 2012 - TJ-RO - Técnico Judiciário

Considere que um homem tenha sido denunciado pela prática de estelionato e que, durante a ação penal, tenha

entrado em vigor uma nova lei que prevê diminuição da pena aplicável ao referido crime. Nessa situação hipo-

tética, consoante disposições do Código Penal, a lei nova

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A) não se aplica ao crime em tela, uma vez que o fato criminoso que originou a ação penal foi praticado anteri-

ormente à vigência da nova lei.

B) aplica-se ao crime em tela, independentemente do conteúdo material, dado que a lei penal obedece ao prin-

cípio da retroatividade.

C) aplica-se ao crime em tela, visto que a lei penal obedece ao princípio da retroatividade, caso caracterize-se

situação em que o acusado será beneficiado.

D) pode ser aplicada ao crime em tela, desde que não tenha ocorrido o trânsito em julgado de sentença penal

condenatória, situação que impede a retroatividade da lei nova.

E) não se aplica ao crime em tela, conforme o princípio da irretroatividade, visto que a ação penal já estava em

curso quando a nova lei passou a vigorar.

13) Ano: 2015 Banca: VUNESP Órgão: PC-CE Prova: VUNESP - 2015 - PC-CE - Escrivão de Polícia Civil de 1a

Classe

O indivíduo B provocou aborto com o consentimento da gestante, em 01 de fevereiro de 2010, e foi condenado,

em 20 de fevereiro de 2013, pela prática de tal crime à pena de oito anos de reclusão. A condenação já transitou

em julgado. Na hipótese do crime de aborto, com o consentimento da gestante, deixar de ser considerado

crime por força de uma lei que passe a vigorar a partir de 02 de fevereiro de 2015, assinale a alternativa correta

no tocante à consequência dessa nova lei à condenação imposta ao indivíduo B.

A) A nova lei será aplicada para os fatos praticados pelo indivíduo B, cessando em virtude dela a execução e os

efeitos penais da sentença condenatória.

B) A nova lei só irá gerar algum efeito sobre a condenação do indivíduo B se prever expressamente que se aplica

a fatos anteriores.

C) A nova lei só seria aplicada para os fatos praticados pelo indivíduo B se a sua entrada em vigência ocorresse

antes de 01 de fevereiro de 2015

D) Não haverá consequência à condenação imposta ao indivíduo B visto que já houve o trânsito em julgado da

condenação.

E) A nova lei será aplicada para os fatos praticados pelo indivíduo B, contudo só fará cessar a execução persis-

tindo os efeitos penais da sentença condenatória, tendo em vista que esta já havia transitado em julgado.

14) Ano: 2016 Banca: CESPE Órgão: PC-PE Prova: CESPE - 2016 - PC-PE - Escrivão de Polícia Civil

Um crime de extorsão mediante sequestro perdura há meses e, nesse período, nova lei penal entrou em vigor,

prevendo causa de aumento de pena que se enquadra perfeitamente no caso em apreço.

Nessa situação hipotética,

A) a lei penal mais grave não poderá ser aplicada: o ordenamento jurídico não admite a novatio legis in pejus.

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B) a lei penal menos grave deverá ser aplicada, já que o crime teve início durante a sua vigência e a legislação,

em relação ao tempo do crime, aplica a teoria da atividade.

C) a lei penal mais grave deverá ser aplicada, pois a atividade delitiva prolongou-se até a entrada em vigor da

nova legislação, antes da cessação da permanência do crime.

D) a aplicação da pena deverá ocorrer na forma prevista pela nova lei, dada a incidência do princípio da ultrati-

vidade da lei penal.

E) a aplicação da pena ocorrerá na forma prevista pela lei anterior, mais branda, em virtude da incidência do

princípio da irretroatividade da lei penal.

15) Ano: 2015 Banca: CESPE Órgão: TJ-DFT Prova: CESPE - 2015 - TJ-DFT - Analista Judiciário - Judiciária

Em relação à aplicação da lei penal e aos institutos do arrependimento eficaz e do erro de execução, julgue o

item seguinte.

Se um indivíduo praticar uma série de crimes da mesma espécie, em continuidade delitiva e sob a vigência de

duas leis distintas, aplicar-se-á, em processo contra ele, a lei vigente ao tempo em que cessaram os delitos,

ainda que seja mais gravosa.

( ) Certo

( ) Errado

16) Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: STF Prova: CESPE - 2013 - STF - Analista Judiciário - Área Judiciária

Acerca dos princípios gerais que norteiam o direito penal, das teorias do crime e dos institutos da Parte

Geral do Código Penal brasileiro, julgue os itens a seguir.

Considere que Manoel, penalmente imputável, tenha sequestrado uma criança com o intuito de receber certa

quantia como resgate. Um mês depois, estando a vítima ainda em cativeiro, nova lei entrou em vigor, pre-

vendo pena mais severa para o delito. Nessa situação, a lei mais gravosa não incidirá sobre a conduta de Ma-

noel.

( ) Certo

( ) Errado

17) Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Provas: CESPE - 2013 - Polícia Federal - Escrivão da Polícia

Federal

Julgue o item subsequente , relativo à aplicação da lei penal e seus princípios.

No que diz respeito ao tema lei penal no tempo, a regra é a aplicação da lei apenas durante o seu período de

vigência; a exceção é a extra-atividade da lei penal mais benéfica, que comporta duas espécies: a retroatividade

e a ultra-atividade.

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( ) Certo

( ) Errado

18) Ano: 2014 Banca: FUNCAB Órgão: PC-RO Prova: FUNCAB - 2014 - PC-RO - Escrivão de Polícia Civil

O artigo 3º do Código Penal dispõe: “a lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua dura-

ção ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência”. O

referido artigo prevê o fenômeno da:

A) coculpabilidade.

B) tipicidade conglobante.

C) retroatividade da lei.

D) abolitio criminis.

E) ultra-atividade da lei.

19) Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-ES Prova: INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Escrivão de

Polícia

O Direito Penal brasileiro considera como momento do cometimento do crime

A) desde o seu planejamento.

B) quando atingido o resultado pretendido.

C) o momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.

D) quando chega ao conhecimento das autoridades competentes.

E) o momento do cometimento do crime é irrelevante para o Direito Penal.

20) Ano: 2017 Banca: CONSULPLAN Órgão: TRE-RJ Provas: CONSULPLAN - 2017 - TRE-RJ - Analista Judiciá-

rio - Área Administrativa

“João da Silva atira contra ‘X’ no dia 29/5, tendo ‘X’ falecido 20 dias depois.” Sobre o tempo do crime, o

Código Penal adota a teoria:

A) Ubiquidade.

B) Da atividade.

C) Do resultado.

D) Ambivalência.

21) Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-AL Prova: FGV - 2018 - TJ-AL - Analista Judiciário - Área Judiciária

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No dia 02.01.2018, Jéssica, nascida em 03.01.2000, realiza disparos de arma de fogo contra Ana, sua inimiga,

em Santa Luzia do Norte, mas terceiros que presenciaram os fatos socorrem Ana e a levam para o hospital em

Maceió. Após três dias internada, Ana vem a falecer, ainda no hospital, em virtude exclusivamente das lesões

causadas pelos disparos de Jéssica. Com base na situação narrada, é correto afirmar que Jéssica:

A) não poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da Atividade para de-

finir o momento do crime e a Teoria da Ubiquidade para definir o lugar;

B) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria do Resultado para definir

o momento do crime e a Teoria da Atividade para definir o lugar;

C) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da Ubiquidade para definir

o momento do crime e a Teoria da Atividade para definir o lugar;

D) não poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da Atividade para de-

finir o momento do crime e apenas a Teoria do Resultado para definir o lugar;

E) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria do Resultado para definir

o momento do crime e a Teoria da Ubiquidade para definir o lugar.

22) Ano: 2016 Banca: UFMT Órgão: TJ-MT Prova: UFMT - 2016 - TJ-MT - Técnico Judiciário

Sobre a aplicação da lei penal, de acordo com o Decreto Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal,

marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.

( ) Não há crime sem lei posterior que o defina.

( ) Considera-se praticado o crime no momento da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.

( ) Considera-se como extensão do território nacional, para efeitos penais, a aeronave de propriedade privada,

que se ache no espaço aéreo correspondente.

( ) Não fica sujeito à lei brasileira, embora cometido no estrangeiro, o crime contra a liberdade do Presidente

da República.

Assinale a sequência correta.

A) V, F, F, V

B) F, V, V, F

C) V, V, F, F

D) F, F, V, V

23) Ano: 2014 Banca: Aroeira Órgão: PC-TO Prova: Aroeira - 2014 - PC-TO - Escrivão de Polícia Civil

Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações brasileiras, mer-

cantes ou de propriedade privada,

A) que se achem em alto-mar.

B) onde quer que estejam ancoradas.

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C) que se achem no mar territorial brasileiro.

D) onde quer que estejam navegando.

24) Ano: 2013 Banca: FUNCAB Órgão: PC-ES Prova: FUNCAB - 2013 - PC-ES - Escrivão de Polícia

O marinheiro Jonas matou seu colega de farda a bordo do navio-escola NE Brasil, da Marinha Brasileira, quando

o navio estava em águas sob soberania do Japão. Assim:

A) a lei penal brasileira será aplicada ao caso, em razão do princípio da territorialidade.

B) a lei penal brasileira será aplicada ao caso, em razão do princípio do pavilhão.

C) a lei penal brasileira será aplicada ao caso, em razão do princípio da justiça universal.

D) a lei penal brasileira será aplicada ao caso, em razão do princípio da defesa.

E) a lei penal japonesa será aplicada ao caso, em razão do crime ter ocorrido em águas sob soberania do Japão.

25) Ano: 2004 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2004 - Polícia Federal - Escrivão da Polícia

Federal - Nacional

Considere a seguinte situação hipotética.

Na fronteira do Brasil com a Venezuela, mas ainda em território nacional, na cidade de Pacaraima, em Roraima,

Otávio desferiu cinco facadas contra Armindo, que conseguiu correr e faleceu na cidade de Santa Helena, na

Venezuela.

Nessa situação, como o crime se consumou na Venezuela, não há competência jurisdicional do Brasil para pro-

cessar e julgá-lo.

( ) Certo

( ) Errado

26) Ano: 2011 Banca: CESPE Órgão: TRE-ES Prova: CESPE - 2011 - TRE-ES - Analista Judiciário - Área Judiciária

- Específicos

Lugar do crime, para os efeitos de incidência da lei penal brasileira, é aquele onde foi praticada a ação ou omis-

são, no todo ou em parte, bem como aquele onde se produziu ou, no caso da tentativa, teria sido produzido o

resultado.

( ) Certo

( ) Errado

27) Ano: 2010 Banca: FCC Órgão: TRT - 8ª Região (PA e AP) Prova: FCC - 2010 - TRT - 8ª Região (PA e AP) -

Analista Judiciário - Área Judiciária

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José, brasileiro, cometeu crime de peculato, apropriando- se de valores da embaixada brasileira no Japão, onde

trabalhava como funcionário público.

Em tal situação,

A) somente se aplica a lei brasileira se José não tiver sido absolvido no Japão, por sentença definitiva.

B) somente se aplica a lei brasileira se José não tiver sido processado pelo mesmo fato no Japão.

C) aplica-se a lei brasileira, independentemente da existência de processo no Japão e de entrada do agente no

território nacional.

D) a aplicação da lei brasileira, independe da existência de processo no Japão, mas está condicionada à entrada

do agente no território nacional.

E) aplica-se a lei brasileira, somente se for mais favorável ao agente do que a lei japonesa.

28) Ano: 2010 Banca: FCC Órgão: TRE-RS Prova: FCC - 2010 - TRE-RS - Analista Judiciário - Área Judiciária

Dentre os casos de extraterritorialidade incondicionada da lei penal, previstos no Código Penal, NÃO se incluem

os crimes cometidos:

A) contra a fé pública da União.

B) contra o patrimônio de autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público.

C) contra a administração pública, por quem está a seu serviço.

D) em aeronaves ou embarcações brasileiras.

29) Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Provas: CESPE - 2012 - Polícia Federal - Agente da Polícia

Federal

Julgue os itens a seguir com base no direito penal.

Conflitos aparentes de normas penais podem ser solucionados com base no princípio da consunção, ou absor-

ção. De acordo com esse princípio, quando um crime constitui meio necessário ou fase normal de preparação

ou execução de outro crime, aplica-se a norma mais abrangente. Por exemplo, no caso de cometimento do

crime de falsificação de documento para a prática do crime de estelionato, sem mais potencialidade lesiva, este

absorve aquele.

( ) Certo

( ) Errado

30) Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: TRE-RJ Prova: CESPE - 2012 - TRE-RJ - Analista Judiciário - Área Judiciá-ria

A respeito de institutos diversos de direito penal, julgue o item a seguir.

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A venda de cópias não autorizadas de CDs e DVDs — cópias piratas — por vendedores ambulantes que não

possuam outra renda além da advinda dessa atividade, apesar de ser conduta tipificada, não possui, segundo a

jurisprudência do STJ, tipicidade material, aplicando-se ao caso o princípio da adequação social.

( ) Certo

Gabarito 1. A

2. C

3. B

4. Certo

5. Errado

6. C

7. B

8. Errado

9. B

10. Errado

11. A

12. C

13. A

14. C

15. Certo

16. Certo

17. Certo

18. E

19. C

20. B

21. D

22. B

23. A

24. A

25. Errado

26. Certo

27. C

28. D

29. Certo

30. Errado

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Resumo direcionado

A seguir, meu amigo(a) segue um resumão que eu preparei com tudo o que vimos de mais importante nesta

aula. Espero que você já tenha feito o seu resumo também, e utilize o meu para verificar se ficou faltando colocar

algo.

Aplicação da lei penal

Analogia

Interpretação extensiva Interpretação analógica Analogia

É forma de interpretação É forma de interpretação É forma de integração do di-

reito

Existe norma para o caso

concreto

Existe norma para o caso

concreto

Não existe norma para o

caso concreto

Amplia-se o alcance da pa-

lavra (não importa no surgi-

mento de uma nova

norma)

Utilizam-se exemplos segui-

dos de uma fórmula gené-

rica para alcançar outras hi-

póteses

Cria-se nova norma a partir

de outra (analogia legis) ou

do todo do ordenamento ju-

rídico (analogia iuris)

Prevalece ser possível sua

aplicação no direito penal

in bonam ou in malam par-

tem.

É possível sua aplicação no

Direito Penal in bonam ou in

malam parte.

É possível sua aplicação no

Direito penal somente in bo-

nam partem.

Ex: a expressão “arma” no

crime de roubo majorado

Ex: homicídio mediante

paga ou promessa de re-

compensa, ou por outro mo-

tivo torpe (art. 121, §2º, I, III

e IV, CP

Ex: isenção de pena, prevista

nos crimes contra o patrimô-

nio, para o cônjuge e, analo-

gicamente, para o compa-

nheiro.

Princípio da Legalidade

Reserva Legal

Anterioridade

Taxatividade

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Desdobramentos materiais.

Ausência de Periculosidade Social

Reduzido grau de Reprovabilidade do fato

Mínima Ofensividade da conduta

Ínfimo grau de Lesão Jurídica.

Lei penal no tempo

“Lex mitior” – retroativa

Abolitio criminis – nova lei que descriminaliza condutas. Não confundir os termos descriminalização

com despenalização (significa suprimir/dificultar/impedir a aplicação de pena privativa de liberdade).

Novatio legis in mellius – nova lei que mantém a criminalização do ato, mas lhe confere tratamento

mais brando (611, STF – compete ao juízo da execução a aplicação da nova lei benéfica na execução penal).

Lei Penal

Irretroativa

Retroativa (art. 2º, p.ú, CP)

Ultra ativa (art. 3º, CP)

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“Lex gravior“ – irretroativa

Novatio legis incriminadora – nova lei que criminaliza condutas.

Novatio legis in pejus – nova lei que mantém a criminalização, mas da ao fato tratamento mais severo.

Ex: inclusão do §2º ao artigo 157 do CP.

Fato• Conduta de ejacualr nas

vítimas no transporte público

Lei 13.718/18

• Nova lei incriminadora

Art. 215-A

• Tipo penal criado. Portanto a norma é irretroativa.

Furto

Pena 1 a 4 anos

Nova Lei Penal

Gravosa

Furto

Pena 10 a 20 anos

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Tempo do crime e lugar do crime

Lei penal no espaço

Territorialidade.

Espaço físico (geográfico) Espaço terrestre, marítimo ou aéreo, sujeito à so-

berania do Estado (solo, rios, lagos, mares interio-

res, baías, faixa do mar exterior ao longo da costa

– 12 milhas marítimas de largura, medidas a partir

da linha de baixa-mar do litoral continente e insu-

lar – e espaço aéreo correspondente.

Espaço físico por extensão ou ficção Para os efeitos penais, consideram-se como es-

paço físico por ficção as embarcações e aeronaves

brasileiras, de natureza pública ou a serviço do go-

verno brasileiro onde quer que se encontrem, bem

como as embarcações e aeronaves brasileiras (ma-

triculadas no Brasil), mercantes ou de propriedade

privada, que se achem, respectivamente em alto

mar ou no espaço aéreo correspondente (art. 5º,

§1º, CP).

LUTALembre-se desse mnemônico

TATEMPO ATIVIDADE

LULUGAR UBIQUIDADE

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É também aplicável a lei brasileira aos crimes co-

metidos a bordo de aeronaves ou embarcações es-

trangeiras de propriedade privada, achando-se

aquelas em pouso no território nacional ou voo no

espaço aéreo corresponde, e estas em porto ou

mar territorial do brasil (art. 5º, §2º, CP).

CONCLUSÕES

A) Quando navios ou aeronaves forem públicos ou esti-

verem a serviço do governo brasileiro, quer se encon-

trem em território nacional ou estrangeiro, são

considerados parte do nosso território.

B) Se os navios ou aeronaves forem privados, quando

em alto-mar ou espaço aéreo correspondente, se-

guem a lei da bandeira que trazem consigo.

C) Quanto aos navios e aeronaves estrangeiros, em ter-

ritório brasileiro, desde que privados são considera-

dos parte de nosso território.

Princípio da Territoriali-

dade

Princípio da Extraterri-

torialidade

Princípio da Intraterri-

torialidade

Local do Crime Brasil País estrangeiro Brasil

Lei a ser aplicada Brasileira Brasileira Estrangeira*

Princípios aplicáveis a extraterritorialidade

PRINCÍPIOS APLICÁVEIS E TERRITORIALIDADE

Princípio da territorialidade Aplica-se a lei penal do local do crime, não impor-

tando a nacionalidade do agente, da vítima ou do

bem jurídico.

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Princípio da nacionalidade ou personalidade ativa Aplica-se a lei do país a que pertence o agente crimi-

noso, pouco importando o local do crime, a naciona-

lidade da vítima ou do bem jurídico violado.

Princípio da nacionalidade ou personalidade pas-

siva

Aplica-se a lei penal da nacionalidade da vítima.

Princípio da defesa Aplica-se a lei penal da nacionalidade do bem jurídico

lesado (ou colocado em perigo), não importando o

local da infração penal ou a nacionalidade do sujeito

ativo.

Princípio da Justiça Penal Universal ou da Justiça

cosmopolita

O agente fica sujeito à lei do País onde for encon-

trado, não importando sua nacionalidade, do bem ju-

rídico lesado ou do local do crime. Esse princípio está

normalmente presente nos tratados internacionais

de cooperação de repressão a determinados delitos

de alcance transnacional.

Princípio da representação, do pavilhão, da subs-

tituição ou da bandeira.

A lei penal nacional aplica-se aos crimes cometidos

em aeronaves e embarcações privadas, quando pra-

ticados no estrangeiro e aí não sejam julgados.

Lugar do crime

CRIMES À DISTÂNCIA

O crime percorre territórios de dois Estados soberanos (Brasil e Paraguai, por exemplo)

Gera conflito internacional de jurisdição (qual país aplicará sua lei?)

Aplica-se o art.6º do Código Penal.

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Extraterritorialidade

Dispositivo legal Princípio Espécie de extraterritorialidade

Art. 7º, I, a, b, c Princípio da defesa Incondicionada

Art. 7º, I, d Princípio da justiça universal Incondicionada

Art. 7º, II, a Princípio da justiça universal Condicionada

Art. 7º, II, b Princípio da nacionalidade ativa Condicionada

Art. 7º, II, c Princípio da representação Condicionada

Entrar o agente no território nacional.

Ser o fato punível também no país em que foi praticado.

Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei

brasileira autoriza a extradição.

Não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou

não ter aí cumprido pena.

Não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar

extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

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Conflito aparente de normas

Crime progressivo

Progressão crimi-

nosa Antefato impunível Pós-fato Impunível

O agente possui,

desde o princípio, o

mesmo escopo e o

persegue até o final,

ou seja, preten-

dendo um resultado

determinado de

maior lesividade

(por exemplo a

morte de seu algoz),

pratica outro fato

de menor intensi-

dade (p.ex. lesão

corporal, ao lhe des-

ferir facadas que

causam a morte).

Nesse caso, as le-

sões corporais serão

absorvidas e o

agente responderá

somente pelo crime

de homicídio.

Aqui o indivíduo ini-

cia o caminho do

crime com o objetivo

específico de praticar

determinado crime

(por exemplo, lesões

corporais), entre-

tanto, após alcançar

esse resultado (já

houve lesão a sua ví-

tima) o agente crimi-

noso MUDA de ideia

e resolve matá-la.

Desse modo, haverá

a progressão crimi-

nosa e o indivíduo

responderá apenas

pelo homicídio, fi-

cando as lesões inici-

almente praticadas,

absorvida pelo crime

do art. 121, do Có-

digo Penal.

Ocorre quando um

fato anterior menos

grave é praticado

como meio necessá-

rio para a realização

de outro. Preste

atenção nesse exem-

plo, caríssimo: o

crime de falsidade

exclusivamente utili-

zado com o fim de

cometer estelionato,

nos termos da sú-

mula 17 do STJ.

Essa, por sua vez, se

dá quando o agente,

após praticar o fato,

provoca nova viola-

ção o mesmo bem ju-

rídico, pertencente

ao mesmo sujeito

passivo. Outro

exemplo, meu amigo

(a): o indivíduo que

após furtar um reló-

gio simplesmente o

quebra (crime de

dano). Nesse caso,

haverá apenas puni-

ção pelo crime de

furto.