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Juristas Leigos - Direito Penal e Processual Penal 2002 - AATR-BA
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Direito Penal eProcessual Penal
Juristas Leigos - Direito Penal e Processual Penal 2002 - AATR-BA
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INTRODUO
Neste mdulo, sero vistos, de forma conjunta e sinttica, contedos bsicos de Direito Penal e Processual Penal.
O Direito Penal trata do crime em seus aspectos gerais e especficos, disciplina a aplicao da pena, assim comoinforma sobre os elementos, o espao e o momento de efetivao do delito.
J o Direito Processual Penal disciplina o conjunto de procedimentos que devem ser tomados quando algumcomete um delito e acionado penalmente. Parte daqueles Princpios de que ningum pode ser condenado sem o devidoprocesso legal, ampla defesa, etc.
O Direito Penal uma das mais importantes disciplinas jurdicas, porque tem por objeto, diretamente o homemem si mesmo. O direito penal dispe da liberdade, da honra, do patrimnio, da sade, e da vida. Esse ramo do Direitodisciplina a vida em circunstncias importantes, como por exemplo, antes do nascimento (crime do aborto) e depois damorte (contraveno de exumao de cadver, violao de sepultura e calnia contra o morto, etc.).
J o Direito Processual Penal uma disciplina jurdica instrumental, pois tem a finalidade de fazer com que ospreceitos do direito penal sejam cumpridos, visando proteger os cidados de prises arbitrrias, garantindo uma ampladefesa. A prtica do processo penal no , portanto, restrita aos advogados, pois, em alguns casos mais emergenciais,existe possibilidade de qualquer cidado fazer uso de seus enunciados. Observe-se que qualquer pessoa poder efetuarpriso em flagrante, impetrar Habeas Corpus nas hipteses em que seja cabvel sem necessidade de advogados, e,ainda, qualquer do povo poder fazer o mais importante dos julgamentos, compondo o Jri que julga os crimesdolosos contra a vida (homicdio, induzimento ou auxlio ao suicdio, infanticdio e aborto).
1.1 Alguns Princpios do Direito Penal e do Processo Penal
A Constituio Federal de 1988, em seu art.5, dando importncia ao tema, elencou dentre os direitos fundamentais
alguns princpios e regras que regulam a matria do Direito Penal e do Processo Penal que no podem, em hiptese
alguma, serem esquecidos.
Assim destacam-se:
a) Princpios da Presuno da Inocncia (Art. 5, LVII)Ningum ser considerado culpado at o trnsito em julgado da sentena penal condenatria.
Aparece esse princpio como uma das principais garantias processuais penais, visando tutela da liberdade
pessoal.
b) Princpios do Devido Processo Legal ( Art. 5, LIV)Ningum ser privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.
c) Princpio do Contraditrio e da Ampla Defesa (Art. 5, LV)aos litigantes em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral so assegurados o contraditrio
e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
d) Princpios da reserva Legal/ Princpios da Anterioridade (art. 5, XXXIX)No h crime sem lei anterior que o defina nem pena sem prvia cominao legal.
e) Princpios da Irretroatividade da Lei mais Severa (Art. 5, XL)a lei penal no retroagir salvo para beneficiar o ru.
Podemos concluir que a lei mais benfica exceo, pois pode retroagir.
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f) Princpios do In dubio Pro ReuEx: na dvida, no se pode condenar o ru pois seria um absurdo arriscar condenar um inocente.
g) Princpios de Proteo Organizao do Jri ( Art. 5, XXXVIII) a) plenitude de defesa ;
b) sigilo das votaes;
c) soberania dos vereditos;
d) competncia para julgamento dos crimes dolosos contra a vida.
2. DIRETO PENAL - CONCEITO
Conceituar qualquer ramo do direito no simples, pois exige muita habilidade para que o conceito no sejadbio ou mal interpretado. Por isso, optou-se por esta afirmao de um jurista brasileiro:
Direito Penal o conjunto de normas jurdicas que define as infraes penais, estabelecendo as penas e asmedidas de segurana.
Este ramo do Direito, conforme mostrado, relaciona-se com o crime e a pena . Vamos falar disso agora?
3. TEORIA DO CRIME
a conduta, ao ou omisso, ilcita, ou seja, a prtica de um comportamento contrrio ao direito e previsto outipificado no Cdigo Penal.
3.1. Formas de Conduta : Ao e Omisso
A conduta criminosa pode ocorrer atravs de duas maneiras, quais sejam:A ao consiste num fazer algo, numa ao positiva do agente. Os crimes praticados por ao so chamados de
crimes comissivos.Ex: homicdio (matar algum).
A omisso que consiste em fazer algo, numa absteno da ao devida. Tanto se omite quem nada faz, comoquem se ocupa com coisa diversa do que deveria ser feito. Tais condutas so tambm chamadas de crimes omissivos. Ex:omisso de socorro dever de prestar socorro a algum em estado grave de sade.
3.2. Algumas Classificaes
3.2.1. Crime Doloso e Crime Culposo
Crime Doloso aquele praticado com dolo. O dolo consiste no propsito, na vontade de praticar o ato descritona Lei Penal. Crimes dolosos so os crimes intencionais, pois conta com a participao do agente.
A Lei Penal diz que o crime doloso quando o agente quis o resultado (dolo direto) ou assumiu o risco deproduzi-lo (dolo eventual) - Art. 18, I, do Cdigo Penal.
Crime Culposo aquele praticado com culpa. A culpa consiste na prtica no intencional do fato descrito naLei Penal, causada pela falta ao dever de ateno e cuidado. A essncia da culpa est na previsibilidade. Se o agentedevia, mais no podia prever as conseqncias de sua ao no h culpa.
Modalidades da culpa so :
a) Negligncia - a displicncia, o relaxamento, a falta de ateno devida. Ex: deixar arma ao alcancede criana.
b) Imprudncia - a conduta precipitada ou afoita, a criao desnecessria de um perigo. Ex: dirigirem excesso de velocidade.
c) Impercia - a falta de habilidade tcnica para certas atividades. Ex: mdico que vai curar
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um ferimento e amputa a perna do paciente.
A Lei Penal diz que o crime culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudncia, negligncia ouimpercia - Art. 18, II, do Cdigo Penal.
IMPORTANTE! Ocorrer apenas quando houver previso expressa na lei da punio por crime culposo.
3.2.2. Crime Consumado e Crime Tentado
Crime Consumado aquele em que foram realizado todos os elementos constantes de sua definio legal.
Crime Tentado - no h consumao do crime. H uma iniciao da conduta delituosa, porm interrompidapor circunstncias alheias vontade do agente.Pena de tentativa (art. 14, pargrafo nico) salvo disposio em contrario, pune-se a tentativa com a penacorrespondente ao crime consumado, diminuda de um a dois teros.
3.2.3. Crime Impossvel
Crime Impossvel aquele que pela ineficcia absoluta do meio empregado ou pela impropriedade absolutado objeto material, impossvel de se consumar. Ex: matar um cadver ou envenenar algum com acar pensando serveneno.
3.3. - Causas de Excluso da Conduta Ilcita
Existem condutas ilcitas que, embora contrrias ao direito, no so consideradas como crime, emrazo de uma causa que justifique tal conduta.
As causas que excluem a ilicitude da conduta esto previstas no Cdigo Penal, ressaltando-se que,nesses casos, embora haja conduta contrria ao direito, no h crime.
Vejamos quais so estas causas :
a) Estado de Necessidade
Considera-se em Estado de Necessidade quem pratica o fato contrrio ao direito para salvar, direitoprprio ou alheio, de perigo atual, que no provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, cujo sacrifcio, nascircunstncias, no era razovel exigir-se - (Art. 24 do cdigo Penal).
Requisitos para a configurao do estado de necessidade :
a) Perigo atual;b) Perigo a direito prprio ou alheio;c) No ter o agente, por sua vontade, provocado o perigo;d) Necessidade de salvar o direito prprio ou alheio;e) Comportamento lesivo inevitvel do agente.
Exemplos :- A disputa de nufragos pela posse de uma tbua de salvao.
- Ocupao de uma propriedade para nela morar, trabalhar e produzir o sustento que garanta uma vidadigna.
- Saques de alimentos em feiras e supermercados para socorrer pessoas que esto passando fome.
b) Legtima Defesa
Entende-se em legtima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessrios, repele injusta
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agresso, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem (Art. 25 do Cdigo penal).
Requisitos para configurao da legtima defesa :
a) Atualidade ou iminncia da agresso a direito prprio ou alheio;b) Injusta agresso;c) Meios necessrios;d) Uso moderado desses meios.
Ex: Algum aponta uma arma para Joo, disparando contra ele um tiro. Logo em seguida, para se proteger, ele,tambm armado, revida o tiro atingindo o agressor.
c) Estrito Cumprimento do Dever Legal
No h crime quando o agente pratica o fato em estrito cumprimento de dever legal.
Exemplo : Policiais que revidam tiros de assaltantes e matam um deles.
d) Exerccio Regular de Direito
No h crime quando o agente pratica o fato no exerccio regular do direito.
Exemplo : Recusa de depor em juzo por parte de quem tem o dever legal de sigilo, como o mdico, o advogado eoutros.
EXCESSO PUNVEL
O Cdigo Penal, no pargrafo nico do artigo 23, disciplina que o agente, no uso de qualquer das hiptesesacima referidas, responder pelo excesso culposo ou doloso.Exemplo: Joo, na iminncia de ser agredido por uma faca empunhada por Pedro, saca de uma arma de fogo e disparavrios tiros no peito do agressor.
3.4 - Os Penalmente Inimputveis
Considera-se que o indivduo inimputvel (irresponsvel penalmente) quando no momento da ao ou daomisso era incapaz de entender o carter ilcito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento.
A responsabilidade penal tem a ver com a menoridade penal (idade inferior a 18 anos), com a doena mental,bem como embriaguez.
a) Menores de 18 Anos
Os menores de 18 anos so penalmente irresponsveis, ficando sujeitos apenas s medidas do Estatuto da Crian-a e do Adolescente.
Estabelece o Estatuto da Criana e do Adolescente que verificada a prtica de ato infracional, a autoridadecompetente poder aplicar ao adolescente as seguintes medidas :
I - Advertncia;II - Obrigao de reparar o dano;III - Prestao de servios comunidade;IV - Liberdade assistida;V - Insero em regime de semi-liberdade;VI - Internao em estabelecimento educacional.
No permita que menores sofram constrangimentos e maus tratos. DENUNCIE ! PROTESTE ! Procureo Conselho Tutelar, o Promotor de Justia ou o Juiz de Direito de sua cidade.
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b) Doena Mental
Os loucos (irresponsveis criminalmente por doena mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retarda-do) so isentos de pena. Ficam eles porm sujeitos a MEDIDA DE SEGURANA consistente em internao em hospi-tal de custdia e tratamento, ou apenas a tratamento ambulatorial, se as condies do agente permitirem e o fato forapenado com deteno.
c) A Embriaguez
A embriaguez pode ser voluntria, culposa ou fortuita. A voluntria provocada intencionalmente. A culposaresulta do exagero no uso de bebida alcolica. A embriaguez fortuita ou de fora maior resulta de causas alheias vontadedo sujeito, como na hiptese de quem foi drogado fora ou por meio de artifcio.
A embriaguez voluntria, bem como a embriaguez culposa, no excluem a responsabilidade penal (Art. 28, II,do Cdigo Penal).
A embriaguez fortuita, se for completa, isenta de pena (Art. 28, 1, do Cdigo Penal), ou a reduz, de um a doisteros, se for incompleta ( Art. 28, 2, do Cdigo Penal).
3.5. Concurso de Agentes
A forma mais simples da prtica delituosa consiste na interveno de uma s pessoa mediante sua condutapositiva ou negativa . Ocorre que, muitas vezes, a interveno praticada por mais de uma pessoa, repartindo tarefas naproduo do crime . Quando isso ocorre, temos o que se chama Concurso de Agentes ou Concurso de Pessoas.
Ex: rixa e bando ou quadrilha.
Ex: Praticado roubo por mais de uma pessoa; uma delas aponta a arma para a vtimae a outra apreende a coisa roubada.
3.6. Formas de Conduta no concurso de agentes:
a)Autoria: autor quem, como figura central do acontecimento, possuio domnio do fato e pode, assim, deter ou deixar decorrer, segundo a sua vontade arealizao do tipo.
Assim, todos os agentes que atuam, de forma conjunta e consciente, realizando o fato tpico so co-autores.
b)Participao: partcipe aquele que, sem um domnio prprio do fato,promove , como figura lateral do acontecimento real, o seu cometimento.
O Cdigo Penal, em seu art. 29, prev: Quem, de qualquer modo, concorre para o crime, incide nas penas a estecominadas na medida de sua culpabilidade.
ATENO! Observe que, independente do grau de participao, todos estaro realizando e respondendo pelo mesmocrime.
4 A SANO PENAL
Nas sociedades primitivas, o direito de punir era difuso em toda a sociedade. Assim, aquele que sofresse algumaagresso poderia retribu-la da mesma forma, sem inqurito policial e sem o devido processo judicial. Valia, nesta poca,a famosa Lei do Talio olho por olho, dente por dente.
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Com a evoluo do Direito Penal, deixou se de lado a vingana privada que o Estado impe queles que violamo ordenamento Jurdico penal.
Alguns juristas entendem que a razo de ser da pena est na retribuio. A pena deve ser equivalente ao malpraticado. Outros, porm, nos tempos atuais, buscam na penalidade o sentido de ressocializao do indivduo.
Todos ns sabemos, todavia, que as cadeias, penitencirias, manicmio judicirio e o sistema penitencirio, demodo geral, no oferecem condies mnimas de dignidade humana.
4.1 O Cdigo Penal prev as seguintes espcies de Pena:
I- Privativas de liberdade;II- Restritivas de direitos;III- De Multa.
4.1.1. Das Penas Privativas da Liberdade
As penas privativas de liberdade retiram o condenado do convvio social, privando-o da liberdade comum atodos os homens. So elas:
Pena de Recluso : Destina-se aos crimes dolosos (mais graves). Deve ser cumprida em regime fecha-do, semi-aberto ou aberto.
Pena de Deteno : Destina-se tanto aos crimes dolosos como aos culposos. A pena de deteno cumprida s nos regimes semi-aberto ou aberto.
Considera-se:
a)Regime Fechado: a execuo da pena em estabelecimento de segurana mxima ou mdia;
b)Regime Semi-aberto : a execuo da pena em colnia agrcola, industrial ou estabelecimento simi-lar;
c)Regime Aberto : a execuo da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado.
OBS: 1- A cadeia pblica destina-se apenas ao recolhimento de presos provisrios.
2- A execuo da pena privativa de liberdade feita de forma progressiva, do regime mais rigoroso para o menosgrave, levando-se em considerao o mrito do condenado e a satisfao do cumprimento.
3- No se aplica a forma progressiva nos crimes hediondos (prtica da tortura, trfico ilcito de entorpecentes edrogas afins e terrorismo), pois a pena para esse tipo de crime ser cumprida integralmente em regime fechado, de acordocom a Lei 8.072/90 (Lei dos crimes hediondos).
4.1.2.Das Penas Restritivas de Direitos
As penas restritivas de direitos so:
a)Pecuniria- a prestao pecuniria consiste no pagamento em dinheiro vtima, a seus dependentes,ou a entidade pblica ou privada com destinao social, de importncia fixada pelo juiz.Valor da Pena: a pena ter valor no inferior a 01(um) salrio mnimo e nem superior a 360 (trezentos e sessenta)salrios mnimos.
b)Perda de bens e valores a perda de bens e valores pertencentes ao condenado se dar em favor doFundo Penitencirio Nacional, e seu valor ter como teto (o que for maior) o montante do prejuzo causado ou davantagem obtida pelo agente ou por terceiros, em conseqncia da prtica do crime.
c) Prestao de servios comunidade - consiste na atribuio ao condenado de tarefas gratuitas juntoa entidades assistncias, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congneres, em programas comunitrios
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ou estatais.
d) Interdio temporria de direitos - consiste na proibio, temporria, de exercer cargo, funo ouatividade que dependa de habilitao ou licena ou autorizao do Poder Pblico.
e) Limitao de fim de semana - consiste em obrigar o condenado a permanecer, aos sbados e domin-gos, em casa de albergado ou estabelecimento adequado, onde lhe sero ministrados cursos e palestras ou atividadeseducativas.
4.1.3. Da Pena de Multa
A pena de multa consiste no pagamento, ao fundo penitencirio, da quantia fixada na sentena e calculada emdias-multa. Ser, no mnimo, de 10 (dez) e, no mximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.
O valor do dia-multa ser fixado pelo juiz no podendo ser inferior a um trigsimo do maior salrio mnimomensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5(cinco) vezes esse salrio.
O juiz ao fixar a pena de multa, deve considerar a situao econmica do condenado, podendo triplicar o valormximo fixado, quando for insuficiente, em relao s posses do condenado.
OBS.: O valor da multa ser atualizada, quando da execuo, pelos ndices de correo monetria.
NOTA : O Cdigo Penal estabelece o tipo de pena e sua quantidade nofim de cada conduta criminosa.
4.2. A Execuo da Pena
Existe legislao especfica que disciplina o cumprimento da pena, que a Lei de Execuo Penal. Vejamosalgumas condies que, se verificadas, interferem diretamente no seu cumprimento. So elas:
a)Livramento Condicional ocorre quando o juiz concede liberdade antecipada ao condenado, mediante aexistncia de pressuposto e condicionada a determinadas exigncias, durante o restante da pena.(Art. 83, I a VI)
O livramento condicional poder ser concedido nas hipteses em que for fixada a pena privativa de liberdadeigual ou superior a 2 anos, sendo necessrio o cumprimento de parte dela para possibilitar a sua aplicao. Portanto, adepender do crime praticado, da reincidncia, dos antecedentes e da conduta do ru durante a execuo da pena, serexigvel uma parcela varivel de cumprimento para a concesso da medida.
A existncia dos pressupostos legais obriga o juiz a conceder o livramento condicional, independentemente desua vontade.
b) Suspenso Condicional da Pena (Sursis) medida jurisdicional que determina a suspenso da pena, por umperodo de dois a quatro anos, quando so preenchidos certos pressupostos legais e mediante determinadas condiesimpostas pelo juiz. aplicado nas penas privativas de liberdade no superiores a dois anos. Os pressupostos legais estoprevistos no art. 77 do CP.
O sursis extingue a pena privativa de liberdade depois de cumpridas as obrigaes impostas na sentena e findoo perodo probatrio.
c) Remio a reduo do cumprimento da pena privativa de liberdade, nos regimes fechados ou semi-aberto,pelo trabalho prestado, razo de um dia de pena por trs de trabalho.
5. INQURITO POLICIAL
O direito de punir pertence ao Estado. Em princpio a ningum permitido fazer justia com as prprias mos.Existem casos, porm, que a Lei permite que a pessoa reaja a uma agresso, como por exemplo : a Defesa da Posse ( Art.502 do Cdigo Civil ) e a Legtima Defesa pessoal ou de outrem ( Art. 25 do Cdigo Penal ).
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O Estado, antes de julgar o criminoso, desenvolve intensa investigao com o objetivo de descobrir tudo sobre ainfrao praticada. Essa investigao tem o nome de Inqurito Policial.
Inqurito Policial o conjunto de diligncias realizadas pela polcia judiciria para a apurao de umainfrao penal e sua autoria, para que o titular da ao penal (Ministrio Pblico) possa ingressar em juzo, pedindo aaplicao da lei ao caso concreto.
O Inqurito Policial feito pela polcia judiciria (polcia civil), delegado de polcia e seus auxiliares, que umrgo do Estado, cuja funo principal investigar as infraes penais e zelar pela ordem pblica.
5.1. Como se inicia o Inqurito Policial
O inqurito policial inicia-se por portaria ou por priso em flagrante. A portaria que d incio ao inqurito baixada de ofcio pela autoridade policial, assim que tiver notcia do crime, ou por requisio do juiz ou do promotor dejustia.
O inqurito policial deve ter justa causa, sem o que poder ser trancado por habeas corpus. A justa causapressupe a existncia de indcios da autoria e da materialidade da infrao penal.
Em certos casos a instaurao do inqurito policial depende de manifestao da vtima ou de seu representantelegal. o que ocorre na hiptese de crimes que se processam apenas mediante Representao. Vale lembrar que nessashipteses, encontram-se expressa previso legal.
FIQUE ATENTO!:1 - Qualquer cidado pode comunicar autoridade a existncia de uma infrao de ao pblica.
2 - So representantes legais da vtima : O cnjuge, ascendente, descendente ou irmo.
O inqurito policial deve ser escrito - isto , todas as peas do inqurito policial devem ser escritas oudatilografadas e processadas.
O inqurito policial sigiloso - isto , certos atos e investigaes conduzidas pelo delegado devem ficar emsegredo. Note-se que uma exceo ao princpio da publicidade.
Diz a Lei, Art. 20 do CPP, que a autoridade assegurar no inqurito o sigilo necessrio elucidao do fato ouexigido pelo interesse da sociedade.
BOM SABER QUE: Apesar de contestado, o sigilo relativo, pois o advogado tem o direito de manusear a qualquertempo os autos do inqurito, findo ou em andamento. (Art. 7, XIV do Estatuto da Advocacia - Lei n 8.906/94)
O Inqurito Policial Inquisitivo - Isto , no est sujeito ao princpio do contraditrio. No inqurito noexiste acusao e defesa.
ATENO : se o delegado de polcia se negar a instaurar o inqurito policial, cabe recurso para o Secretrio da Seguran-a Pblica. Da mesma forma cabe reclamaes sobre qualquer ato ou diligncia praticada pela autoridade policial.
5.2. - Diligncias que podem ser determinadas durante o Inqurito Policial
O artigo 6 do Cdigo de Processo Penal, determina que logo que tiver conhecimento da prtica da infraopenal, a autoridade policial dever, dentre outras medidas :
a) Dirigir-se ao local do crime;b) Apreender os instrumentos e objetos relacionados com o crime;
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c) Colher todas as provas, testemunhal, exame de corpo de delito e outras percias;d) Ouvir o ofendido e o indiciado.
LEMBRE-SE:1. Quando a infrao deixar vestgio, ser indispensvel o exame de corpo de delito, no podendo supri-lo a
confisso do acusado ( Art. 158 do CPP).
2. A casa asilo inviolvel do indivduo, ningum nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvoem caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia por determinao judicial.(Art. 5, XI,CF)
REBELE-SE CONTRA OS ABUSOS : Durante a noite o acesso casa s possvel com o consentimento domorador, ou na ocorrncia de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro.
FIQUE LIGADO : No tem qualquer valor a prova obtida em busca domiciliar feita sem ordem judicial, vez que s ojuiz pode ordenar a diligncia.
5.3. Prazo para concluso do Inqurio Policial
a) Se o indiciado estiver preso : o prazo de 10 (dez) dias;b) Se o indiciado estiver solto : o prazo 30 (trinta) dias;
Obs.: Esses prazos podem ser prorrogados pelo Juiz de Direito, mediante solicitao da autoridade policial. Se o indiciadoestiver preso este prazo s pode ser prorrogado se o indiciado for posto em liberdade.
5.4 - Concluso do Inqurito
Concluda as investigaes, a autoridade policial elabora um relatrio e remete os autos do Inqurito Policialpara o Juiz. Com base nessas investigaes o Ministrio Pblico ( Promotor de Justia) pode oferecer denncia, inician-do, caso aceita pelo juiz, a Ao Penal.
6. AO PENAL
Conceito: o direito que assiste a qualquer pessoa de pedir a interveno do Estado, atravs do Poder judicirio,a proteo legal. Ao Estado cabe zelar pela harmonia social.
6.1.Classificao da Ao Penal
PBLICA : { Incondicionada {Condicionada: {Representao do ofendido
{Requisio do Ministro da Justia
PRIVADA: {Comum (exclusiva) {Subsidiria
{Personalssima
Obs.: A Ao Penal, em regra, pblica, salvo quando a Lei expressamente a declara privativa do ofendido ou de seurepresentante legal, ou exige representao ou requisio.
6.1.1. Ao Penal Pblica Incondicionada
promovida pelo Ministrio Pblico ( Promotor de Justia). Iniciando-se o processo pelo recebimento dadenncia, que deve conter a descrio dos fatos, a indicao da autoria, a classificao do crime e o rol de testemunhas.
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Ex. Homicdio (art. 121 do Cdigo Penal); Seqestro (Art. 159 do C.P.).
Prazo para o oferecimento da denncia :
a) 05 (cinco) dias se o ru estiver preso;b) 15 (quinze) dias se o ru estiver solto.
6.1.2. Ao Penal Pblica Condicionada
Tambm promovida, atravs de denncia, pelo Ministrio Pblico (Promotor de Justia), dependendo, entre-tanto, de representao do ofendido ou requisio do Ministro da Justia. Ex. Ameaa (Art.147 do Cdigo Penal); Perigode Contgio Venreo (Art.130 do C.P.)
A lei penal exige a requisio do Ministro da Justia nos crimes contra honra praticados contra o Presidente daRepblica ou Chefe de Governo Estrangeiro e nos delitos praticados por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil.
A representao a manifestao expressa de vontade do ofendido ou de seu representante legal, dando conta daexistncia de crime de ao pblica condicionada, solicitando a instaurao da ao penal.
NO COCHILE : O direito de representao morre se o ofendido ou seu representante, no o exercer no prazo de 6meses, contados da data da cincia da autoria do crime.
6.1.3 Ao Penal Privada Comum (exclusiva)
A Ao de iniciativa privada promovida mediante queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade pararepresent-lo.
Tem qualidade para representar o ofendido : cnjuge; ascendente; descendente ou irmo.
A Queixa o documento, com o qual se d inicio Ao Penal Privada. Eqivale denncia e como esta deveser formulada juntando-se o Inqurito Policial ou outros elementos informativos. Ex. Seduo (Art. 217 do C.P.); EsbulhoPossessrio (Art. 161, parg. 1, I, do C.P.); Dano (Art.163 do C.P.).
SE COCHILAR, O CACHIMBO CAI : a Queixa deve ser oferecida no prazo de seis meses, contado do dia em que oofendido ou seu representante vier a saber quem o autor do crime.
6.1.4 Ao Penal Privada Subsidiria
tambm exercida por queixa, pelo ofendido, ou seu representante legal, nos crimes de ao pblica, em virtudede inrcia do Ministrio Pblico.
6.1.5. Ao Penal Privada Personalssima
Esta s pode ser exercida pelo prprio interessado, mediante queixa. Ex.: crime de adultrio (Art. 240 do CP).
NOTA : O Ministrio Pblico intervm em todos os termos do processo. Na ao privativa do ofendido pode ele aditar aqueixa, suprimindo eventuais incorrees. Na ao privada subsidiria pode no s aditar a queixa, mas tambm repudi-la e oferecer denncia substitutiva.
7 - MINISTRIO PBLICO
O Ministrio Pblico o rgo que congrega os Promotores de Justia. uma Instituio independente, que nointegra nem o Poder Legislativo, nem o Poder Executivo e nem o Poder Judicirio.
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So funes institucionais do Ministrio Pblico, entre outras, a promoo da ao penal pblica, o zelopelo efetivo respeito dos poderes pblicos e dos servios de relevncia pblica, aos direitos assegurados na Constituio,a promoo do inqurito civil e da ao civil pblica para proteo do patrimnio pblico e social, do meio ambiente, doconsumidor e de outros interesses difusos e coletivos, alm de exercer o controle externo da atividade policial, requisitardiligncias investigatrias e instaurao de inqurito policial. Funciona ainda como fiscal da lei.
08 - DA PRISO
A Constituio Federal de 88, art. 5, LXI, assegura que ningum ser preso seno em flagrante delito ou porordem escrita e fundamentada de autoridade judiciria competente.
8.1. - Da Priso em Flagrante
Priso em flagrante a priso efetuada quando a infrao penal est ocorrendo ou acaba de ocorrer. No prazo de24 horas a autoridade deve lavrar o auto de priso em flagrante e entregar ao preso a nota de culpa, com o motivo dapriso, o nome do condutor e o das testemunhas. O preso passar recibo.
Constitui abuso de autoridade ordenar ou executar medida privativa da liberdade, sem as formalidades legais ou comabuso de poder.
8.1.1. Tipos de Flagrante
a) Flagrante prprio - quando a pessoa est cometendo a infrao ou acaba de comet-la.
b) Flagrante imprprio - quando a pessoa perseguida logo aps o fato delituoso.
c) Flagrante presumido - quando a pessoa encontrada logo depois, com instrumentos, armas,objetos ou papis que faam presumir ser ele o autor da infrao.
Obs.: Qualquer pessoa poder declarar o flagrante e as autoridades policiais, mediante seus agentes, devero prenderquem quer que seja encontrado em flagrante delito.
8.2 - Outros Tipos de Priso
a) Priso Preventiva - a priso provisria decretada pelo juiz em qualquer fase do inqurito ou dainstruo criminal, para garantir a ordem pblica, por convenincia da instruo criminal ou para assegurar a aplicaoda Lei penal.
Fundamentos Para a Decretao:
* Garantia da Ordem Pblica - Deve-se considerar a gravidade do crime, sua repercusso social, osantecedentes e a personalidade do agente.
* Por Convenincia da Instruo criminal - O caso mais comum o do acusado que ameaa testemu-nhas ou vtimas, ou tenta subornar peritos.
* Assegurar a aplicao da Lei Penal - No caso de haver comprovao de que o acusado pretende fugir
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para evitar a aplicao da pena, vendendo bens (principalmente imveis), comprando passagens, etc.
b) Priso Resultante de Sentena Condenatria - a priso decretada por meio da sentenacondenatria, proferida aps a concluso do processo penal.
c) Priso Temporria - regulada pela Lei n 7.960/90, pode ser decretada, por prazo limitado, quandofor necessrio para a investigao de determinados crimes. O prazo da priso temporria de 5 dias, prorrogvel por umanica vez.
Casos em que cabe a Priso Temporria:
I - quando imprescindvel para as investigaes do Inqurito Policial;II - quando o indiciado no tiver residncia fixa ou no fornecer elementos necessrios ao esclareci-mento de sua identidade;III - quando houver fundadas razes, de acordo com qualquer prova legalmente admitida, de autoria ouparticipao do indiciado em homicdio doloso, seqestro, roubo, quadrilha, trfico de drogas, crimescontra o sistema financeiro etc.
Obs.: A priso temporria nos crimes considerados hediondos, ter o prazo de trinta dias, prorrogvel por igual perodo.
FIQUE ATENTO! O exerccio efetivo da funo de Conselheiro Tutelar constituir servio pblico relevante, estabele-cer presuno de idoneidade moral e assegurar priso especial, em caso de crime comum, at o julgamento definitivo.(Art.135, Lei 8069/90)
c) Priso Civil Forma de compelir algum a cumprir uma obrigao. A Constituio de 88 estabeleceno art. 5, LXVII, que no haver priso civil por dvida, exceto a do responsvel pela obrigao alimentcia (pensojudicial) que no a cumpre e a do depositrio infiel.
09 - DA FIANA
A fiana um dos meios pelo qual o indiciado pode responder em liberdade pela infrao praticada.
A autoridade policial somente poder conceder fiana nos casos de infrao punida com deteno ou prisosimples. Nos demais casos possveis, a fiana s poder ser concedida pelo juiz.
A Lei probe a Fiana nos casos de:
I - crimes punidos com recluso em que a pena mnima cominada for superior a dois anos;II - contravenes tipificadas nos arts. 59 (vadiagem) e 60 (mendicncia) da Lei das Contravenes
penais;
III - crimes dolosos punidos com pena privativa da liberdade, se o ru j tiver sido condenado por outrocrime doloso, em sentena transitada em julgado;
IV - qualquer caso, se houver no processo prova de ser o ru vadio;
V- crimes punidos com recluso, que provoquem clamor pblico ou que tenham sido cometidos comviolncia contra a pessoa ou grave ameaa.
VI- Crime de racismo (art. 5, XLII); tortura, trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins, terrorismoe hediondos (art. 5, XLIII), e ao de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem consti-tucional e o Estado Democrtico (art. 5, XLIV).
Valor da Fiana : o valor da fiana ser fixado pela autoridade levando em conta a natureza da infrao, asituao econmica do ru e a vida pregressa do acusado.
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IMPORTANTE: Caso o indivduo no tenha condies de pagar fiana, o juiz poder conceder a liberdade provisria,sem o pagamento da fiana. Se houver recusa ou demora da autoridade policial para a concesso de fiana, o preso ou seurepresentante podero prest-la por simples petio dirigida ao Juiz, que decidir aps ouvir a autoridade.
SE LIGUE!: Constitui abuso de autoridade levar priso ou mant-la quem quer que se proponha a prestar fiana,permitida por lei.
10 - DA LIBERDADE PROVISRIA E DO RELAXAMENTO DA PRISO
10.1. Da Liberdade Provisria
Estabelece a Constituio Federal, que ningum ser levado priso ou nela mantido, quando a Lei admitir aliberdade provisria, com ou sem fiana.
A liberdade provisria ser requerida toda vez que o indivduo estiver preso em decorrncia de uma priso legal.Se houver ilegalidade da priso o requerimento de habeas corpus ou de relaxamento da priso.
A Lei admite a Liberdade Provisria quando :
a) O ru no tenha praticado crime doloso punido com pena privativa de liberdade.
b) O ru no tenha sido condenado definitivamente por outro crime doloso.c) No ser ru vadio.
10.2. Do Relaxamento da Priso
A priso ilegal ser imediatamente relaxada pela autoridade judiciria.
Toda priso ser considerada ilegal quando no resultar de flagrante delito ou de ordem de autoridade compe-tente.
ATENO!: A priso de qualquer pessoa e o local onde se encontre sero comunicados imediatamente ao juizcompetente e famlia do preso ou pessoa por ele indicado ( Inciso LXII, Art. 5 da Constituio Federal).
11 - DO HABEAS CORPUS
O Habeas Corpus uma medida jurdica, assegurada na Constituio Federal e no Cdigo de ProcessoPenal, que garante o direito individual de locomoo, toda vez que algum estiver preso ilegalmente ou estiverameaado de sofrer violncia ou coao em sua liberdade de ir, vir e permanecer.
Estabelece o inciso LXVIII, do Art. 5 da Constituio Federal:
Conceder-se- habeas-corpus sempre que algum sofrer ou se achar ameaado de sofrerviolncia ou coao em sua liberdade de locomoo, por ilegalidade ou abuso de poder.
BOM SABER!: Qualquer pessoa, com ou sem advogado, podeimpetrar Habeas Corpus, em benefcio prprio ou alheio.
11.1.Hipteses de cabimento de Habeas Corpus por constrangimento ilegal:
I - quando no houver justa causa;II - quando algum estiver preso por mais tempo do que determina a lei;III - quando quem ordenar a coao no tiver competncia para faz-lo;
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IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coao;V - quando no for algum admitido a prestar fiana, nos casos em que a lei a autoriza;
VI - quando o processo for manifestamente nulo; VII - quando extinta a punibilidade.
11.2.ESPCIES DE HABEAS CORPUS
a) Habeas Corpus Preventivo : se a pessoa sofre apenas ameaa, caso em que ser expedido um salvo-conduto em favor do paciente.
b) Habeas Corpus Liberatrio ou Reparativo : quando j est ocorrendo a violncia ou coao, casoem que ser expedido um Alvar de Soltura em favor do paciente.
Como vimos, o Habeas Corpus um instrumento muito importante para impedir que uma pessoa continue presailegalmente. Muitos colegas juristas leigos j requereram e j conseguiram a liberdade de trabalhadores detidos injus-tamente. Use voc tambm essa FERRAMENTA, ela vai impedir que cresam as injustias no seu municpio!!!
12.JUIZADO ESPECIAL
Em vinte e seis de setembro de 1995, entrou em vigor a lei 9.099, que dispe sobre juizados especiais cveis ecriminais. No caso do juizado criminal essa lei estabelece o procedimento sumrio, isto , uma maneira mais rpida deapurar o crime e punir o criminoso. Esta lei aplica-se apenas as contravenes penais e aos crimes punidos com deteno,e cujo o mximo da pena de liberdade no seja superior a um ano, so as chamadas infraes penais de menor potencialofensivo.
Consideram-se infraes penais de menor potencial ofensivo:
a) As contravenes;b) Crimes a que a Lei prescreve pena mxima no superior a um ano.
Obs.: NO se submetem apreciao desse juizado as infraes em que a Lei prev procedimento especial.
O processo, segundo disciplina a prpria Lei, ser regido pelos critrios da oralidade, informalidade, economiaprocessual e celeridade.
Essa Lei tambm tem por objetivo, sempre que possvel, a reparao dos danos sofridos pela vtima e a aplicaode pena no privativa de liberdade. Logo abaixo seguem as 4 medidas despenalizadoras que esse novo procedimento traz.
Fases do procedimento:
a) Tentativa de composio civil para reparao do dano (art. 74);b) Tentativa de transao penal (Art. 76), proposta por parte do Ministrio Pblico;c) Suspenso condicional do processo, a fim de submeter o acusado a perodos de prova, sob as condies
previstas na Lei (art. 89);d) Exigncia de representao nos crimes de leso corporal leve e culposa (Art.88).
NOTA IMPORTANTE: mesmo antes de ser instalado o juizado especial criminal no seu municpio, esse procedimento,j tem que ser adotado pelo juiz da vara criminal.
12.1. Procedimentos Especiais
Os procedimentos especiais se afastam do andamento comum previsto no ordinrio. Entre os ProcedimentosEspeciais esto, por exemplo, o Jri, os Crimes de Responsabilidade dos Funcionrios Pblicos e os Crimes Contra aHonra, etc.
12.1.1. - Julgamento Pelo Jri
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Pela sua grande aplicabilidade no Direito, vamos estud-lo mais detidamente. O Tribunal do Jri formado porum Juiz de Direito, que o seu presidente, e de 21 jurados (representantes do povo), sorteados entre os alistados. Em cadasesso, dentre os 21 jurados, sorteiam-se 7 (sete) para formar o Conselho de Sentena.
A lista geral de jurados ser organizada anualmente pelo juiz-presidente do jri, na seguinte proporo :
a) de 300 a 500 jurados no Distrito Federal e nas Comarcas de mais de cem mil habitantes.
b) de 80 a 300 jurados nas Comarcas de menor populao.
Obs.: O juiz poder requisitar s autoridades locais, associaes de classe, sindicatos e repartiespblicas a indicao de cidados que reunam as condies legais.
Ao Jri compete o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. Crimes contra a vida so assim titula-dos no Cdigo Penal :
a) Homicdio - Art. 121;b) Induzimento, instigao ou auxlio a suicdio - Art. 122;c) Infanticdio - Art. 123;d) Aborto - Art. 124 a 127;
As decises do Jri so soberanas, no sentido de no poderem ser modificadas no mrito, em grau de recurso,por juzos superiores. A este cabe apenas a anulao, por vcio processual, ou, apenas por uma vez, determinar novojulgamento no caso de deciso manifestamente contrria prova dos autos.
O servio do Jri obrigatrio e os jurados, dentro de suas funes como juizes leigos, tm as mesmas respon-sabilidades dos juizes de direito.
O exerccio efetivo da funo de jurado constitui servio pblico relevante, estabelece presuno de idoneidademoral, assegura priso provisria especial em caso de crime comum, bem como preferncia, em igualdade de condies,nas concorrncias pblicas.
Os jurados podero ser responsabilizados criminalmente, a exemplo dos juizes, por concusso, corrupo ouprevaricao.(Crime contra a Administrao Pblica).
LEMBRE-SE!: Os princpios do Tribunal do Jri so a base para qualquer discusso sobre essa matria e devem serrespeitados para toda aplicao do procedimento especial.
Relao de alguns Crimes e Contravenes previstos no Cdigo Penal Brasileiro e na Lei das Contra-venes Penais Decreto - Lei n 3.688, de 03 de outubro de 1941.
13. CDIGO PENAL
HOMICDIO SIMPLESArt. 121 Matar algum:Pena recluso, de seis a vinte anos.
CASO DE DIMINUIO DA PENAPargrafo 1 - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domnio deviolenta emoo, logo em seguida a injusta provocao da vtima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um tero.
Ex. Antnio mata Francisco que estuprou sua irm de 12 anos.
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HOMICDIO QUALIFICADOPargrafo nico Se o homicdio cometido:
I mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;II- por motivo ftil;III- com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possaresultar perigo comum;IV- traio, de emboscada, ou mediante dissimulao ou outro recurso que dificulte ou torne impossvel adefesa do ofendido;V- para assegurar a execuo, a ocultao, a impunibilidade ou vantagem de outro crime.Pena recluso, de doze a trinta anos.
HOMICDIO CULPOSOPargrafo 3 - Se o homicdio culposo:Pena deteno, de um a trs anosAUMENTO DE PENAPargrafo 4 - No homicdio culposo, a pena aumentada de um tero, se o crime resulta de inobservncia de regratcnica de profisso, arte ou ofcio, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro vtima, no procurar diminuir asconseqncias do seu ato, ou foge para evitar priso em flagrante. Sendo doloso o homicdio, a pena aumentada de umtero, se o crime praticado contra pessoa menor de catorze anos.
Pargrafo 5 - Na hiptese de homicdio culposo, o juiz poder deixar de aplicar a pena, se as conseqncias da infraoatingirem o prprio agente de forma to grave que a sano penal se torne desnecessria.
Ex: Antnia, me de Francisco, dirigindo com alta velocidade bate o carro. No acidente, Francisco morre.O juiz pode deixar de conden-la por homicdio.
ABORTO PROVOCADO PELA GESTANTE OU COM SEU CONSENTIMENTOArt.124 Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:Pena deteno, de um a trs anos.
No se pune:ABORTO NECESSRIO
I se no h outro meio de salvar a vida da gestante;
ABORTO NO CASO DE GRAVIDEZ RESULTANTE DE ESTUPROII se a gravidez resulta de estupro e o aborto precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de
seu representante legal
Aborto: a interrupo da gravidez com a morte do feto. Se a criana nasce e a me a mata imediatamente, noconfigura o aborto e sim o crime de infanticdio.
LESO CORPORALArt. 129 - Ofender a integridade corporal ou a sade de outrem.Pena : Deteno, de 3 (trs) meses a 1 (um) ano.
A pena na leso corporal aumenta na proporo do aumento da gravidade da leso, podendo alcanar at oitoanos de priso.
LESO CORPORAL SEGUIDA DE MORTEPargrafo 3 - Se resulta morte e as circunstncias evidenciam que o agente no quis o resultado, nem assumiu orisco de produzi-lo.Pena recluso, de quatro a doze anos.
Este tipo penal no se confunde com homicdio, pois aqui o agente no tem a inteno de matar, mas somente decausar leso corporal.
PERIGO DE CONTGIO VENREOArt. 130 - Expor algum, por meio de relaes sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contgio de molstia venrea, de quesabe ou deve saber que est contaminado.Pena : Deteno, de 3 (trs) meses a 1 (um) ano, ou multa.
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RIXAArt. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores.Pena : Deteno, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa.
CALNIAArt. 138 - Caluniar algum, imputando-lhe falsamente fato definido como crime.Pena : Deteno, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
DIFAMAOArt. 139 - Difamar algum, imputando-lhe fato ofensivo sua reputao.Pena : Deteno, de 3 (trs) meses a 1 (um) ano, e multa.
INJRIAArt. 140 - Injuriar algum, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro.Pena : Deteno, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
AMEAAArt. 147 - Ameaar algum, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simblico, de causar-lhe mal injusto egrave.Pena : Deteno, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
VIOLAO DE CORRESPONDNCIAArt. 151 - Devassar indevidamente o contedo de correspondncia fechada, dirigida a outrem.Pena : Deteno, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
FURTOArt. 155 Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia mvel:Pena recluso, de 1(um ) a 4 (quatro) anos, e multa
Pargrafo 1 - A pena aumenta de um tero, se o crime praticado durante o repouso noturno.
Pargrafo 2 - Se o criminoso primrio, e de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusopela de deteno, diminui-la de um a dois tero, ou aplicar somente a pena de multa.
Pargrafo 3 - Equipara-se coisa mvel a energia eltrica ou qualquer outra que tenha valor econmico.
FURTO QUALIFICADOPargrafo 4 - A pena de recluso de 2 a 8 (dois a oito) anos, e multa, se o crime cometido:
I com destruio ou rompimento de obstculos subtrao da coisa;II com abuso de confiana ou mediante fraude, escalada ou destreza;II com emprego de chave falsa;IV mediante concurso de duas ou mais pessoas.
Pargrafo 5 - A pena de recluso de 3 (trs) a 8 (oito) anos, se a subtrao for de veculo automotor que venha sertransportado para outro Estado ou para o exterior.
ROUBOArt. 157 Subtrair coisa mvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaa ou violncia a pessoa, ou depoisde hav-la, por qualquer meio, reduzido impossibilidade de resistncia:Pena: recluso, de 4(quatro) a 10 (dez) anos, e multa.
No nosso cdigo Penal, o to famoso assalto no existe. As figuras delituosas so: furto e roubo. bom sabermosdiferenci-las. Vamos tentar!
Ex.: Joo, utilizando uma faca para ameaar Antnio subtrai a sua carteira. (roubo).Ex: Joo e Celso, sem utilizao de armas ou violncia invade a casa de Antnio e Subtrai sua carteira (furtoqualificado).
ALTERAO DE LIMITES
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Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisria, para apropriar-se,no todo ou em parte, de coisa imvel alheia.Pena : deteno, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa.
Pargrafo Primeiro : Na mesma pena incorre quem :
Usurpao de guasI - Desvia ou represa, em proveito prprio ou de outrem, guas alheias;
Esbulho possessrioII - invade, com violncia a pessoa ou grave ameaa, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou
edifcio alheio, para o fim de esbulho possessrio.
DANOArt. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia.Pena : Deteno, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
ESTELIONATOArt. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilcita, em prejuzo alheio, induzindo ou mantendo algum em erro,mediante artifcio, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento.Pena : Recluso de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Ex. Passar cheque sem proviso de fundos
RECEPTAOArt. 180 - Adquirir, receber ou ocultar, em proveito prprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir paraque terceiro, de boa f, a adquira, receba ou oculte.Pena : Recluso, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Ex: comparar produtos contrabandeados do Paraguai.
ESTUPROArt. 213-Constranger mulher conjuno carnal, mediante violncia ou grave ameaa:Pena: Recluso, de seis a dez anos.Pargrafo nico. Se a ofendida menor de catorze anos:Pena: Recluso, de quatro a dez anos.
O delito de estupro s pode ser caracterizado com a conjuno carnal. S a mulher pode ser vtima de estupro. Se a vtimativer menos de catorze anos a violncia presumida.
Ex. Joo, maior de 18 anos, mantm com sua namorada, menor de 14 anos relao sexuais. Joo, luz do cdigo
Penal Brasileiro, considerado estuprador.
ATENTADO VIOLENTO AO PUDORArt. 214 Constranger algum, mediante violncia ou grave ameaa, a praticar ou permitir que com ele se pratique atolibidinoso diverso da conjuno carnal:Pena: Recluso, de trs a nove anos.
ATENO! : O homem tambm pode ser vtima de atentado violento ao pudor, mas nunca de estupro.
SEDUOArt. 217 - Seduzir mulher virgem, menor de 18 (dezoito) anos e maior de 14 (catorze), e ter com ela conjuno carnal,aproveitando-se de sua inexperincia ou justificvel confiana.Pena : Recluso, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
O crime de seduo s pode ser cometido por homem contra moa virgem, menor de dezoito anos e maior de
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quatorze. Se a moa for menor de quatorze fica configurado o crime de estupro.
FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERCIAArt. 342 - Fazer afirmao falsa, ou negar ou calar a verdade, como testemunha, perito, tradutor ou intrprete em
processo judicial, policial ou administrativo, ou em juzo arbitral.Pena : Recluso, de 1 (um) a 3 (trs) anos, e multa.
Ex: Carlos chamado a depor no Frum Rui Barbosa, porm para ajudar sua amante, depe falsamentesobre os fatos questionados pela Juza.
LEI N 9.437, DE 20 DE FEVEREIRO DE 1997(PORTE DE ARMA)
Art. 10 - Possuir, deter, portar, fabricar, adquirir, vender, alugar, expor venda ou fornecer, receber, Ter em depsito,transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, manter sob guarda e ocultar arma de fogo, de uso permi-tido, sem autorizao e em desacordo com determinao legal ou regulamentar:Pena: Deteno de um a dois anos e multa.
LEI N 9.455, DE 07 DE ABRIL DE 1997(TORTURA)
Art. 1 constitui crime de tortura:I constranger algum com emprego de violncia ou grave ameaa, causando-lhe sofrimento fsico ou mental:
a) com fim de obter informao, declarao ou confisso da vtima ou de terceira pessoa;b) para provocar ao ou omisso de natureza criminosa;c) em razo de discriminao racial ou religiosa;
II Submeter algum, sob sua guarda, poder ou autoridade com emprego de violncia ou grave ameaa, aintenso sofrimento fsico ou mental, como forma de aplicar pena recluso de dois a oito anos.
14. LEI DAS CONTRAVENES PENAIS
VIAS DE FATOArt. 21 - Praticar vias de fato contra algum.Pena : Priso simples, de 15 (quinze) dias a 3 (trs) meses, ou multa.
OMISSO DE CAUTELA NA GUARDA OU CONDUO DE ANIMAISArt. 31 - Deixar em liberdade, confiar guarda de pessoa inexperiente, ou no guardar com a devida cautela animal
perigoso.Pena : Priso simples, de 10 (dez) dias a 2 (dois) meses, ou multa.
FALTA DE HABILITAO PARA DIRIGIR VECULOArt. 32 - Dirigir, sem a devida habilitao, veculos na via pblica, ou embarcao a motor em guas pblicas .Pena : multa.
JOGOS DE AZARArt. 50 - Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar pblico ou acessvel ao pblico, mediante o pagamento de entrada
ou sem ele.Pena : Priso simples, de 3 (trs) meses a 1 (um) ano, e multa. Estendendo-se os efeitos da condenao perda dos
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mveis e objetos de decorao do local.
Pargrafo Segundo : Incorre na pena de multa, quem encontrado a participar do jogo, como ponteiro ou apostador.
VADIAGEMArt. 59 Entrega-se algum habitualmente ociosidade, sendo vlido para o trabalho, sem ter renda que lhe asseguremeios bastantes de subsistncia, ou prover a prpria subsistncia mediante ocupao ilcita:Pena: Priso simples de 15 (quinze) dias a 3 (trs) meses.
Pargrafo nico- A aquisio superveniente de renda, que assegure ao condenado meios bastantes de subsistncia, extin-gue a pena.
MEDICNCIAArt. 60 Mendigar, por ociosidade ou cupidez:Pena: Priso simples de 15 (quinze) a 03 (trs) meses.
Pargrafo nico: Aumenta se a pena de 1/6 a 1/3, se a contraveno praticada:
a) de modo vexatrio, ameaador ou fraudulento;b) mediante simulao de molstia ou deformidade;c) em companhia de alienado mental ou de menor de 18 (dezoito) anos.
17 - DIREITO DE REPRESENTAO NOS CASOS DE ABUSO DE AUTORIDADE
Antigamente, os dirigentes e as altas autoridades eram soberanos, intocveis, no existia qualquer controle sobre os seusatos. Na idade antiga, quem no lembra do poder dos Csares, dos imperadores romanos, Csar, Augusto, Nero, Calgulae Clepatra, Rainha do Egito, para registrar o poder feminino, que a tudo podiam, sem qualquer censura ou limite. E opoder do clero, dos nobres e dos reis na idade mdia, que governavam de forma absoluta, possuam, segundo eles,poderes dados por Deus, nada e ningum se opunha ao seu poder e as suas ordens. No existia qualquer controle por parteda sociedade civil. Na nossa poca, existem tambm governantes autoritrios, ditaduras militares e civis, que governamcom mo de ferro, sem qualquer controle de seus atos. Tambm entre ns, precisamos ver, existem pessoas autoritrias.Existem autoridades autoritrias, pais autoritrios, marido/mulher autoritrios, filhos autoritrios, professor autoritrio,dirigentes sindicais autoritrios, patres autoritrios, que acham que podem tudo, no respeitam nada e querem impor asua vontade e a sua lei de qualquer maneira.
Apesar da truculncia , do enorme poder dos dirigentes, o homem sempre lutou contra a opresso, contra o arbtrio,contra o poder absoluto do Estado. A histria est recheada de revoltas, insurreies e revolues.
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Os direitos do homem constituem e, inevitavelmente, continuaro sendo, uma conquista, obtidos com muito sofrimentoe muita luta. certo que, medida que a sociedade evolui, os direitos do homem tendem a ser mais respeitados.Instituies mais slidas, tripartio dos poderes, constituies democrticas, que estabelecem limites e responsabilida-des para os dirigentes e asseguram direitos e garantias individuais e coletivos so uma conquista do mundo civilizado.
Sem dvida , a lei 4.898, de 09-12-65, que regula a responsabilidade civil, penal e administrativa nos casos de abuso deautoridade, um instrumento importantssimo no controle do poder autoritrio do Estado, em favor da defesa dos direitosdo cidado.
Lei n 4.898, de 09 de dezembro de 1965.
Art. 1 - O direito de representao e o processo de responsabilidade Administrativa, Civil e Penal contraas autoridades que, no exerccio de suas funes, cometerem abusos sero regulados pela presentelei.
Todo servidor pblico que, no exerccio de sua funo ou a pretexto de exerc-la, incidir numa das figuras previstas nosartigos 3 e 4 desta lei, estar sujeito sano administrativa, civil e penal.
Art. 2 - O direito de representao ser exercido por meio de petio:
a) Dirigida autoridade superior que tiver competncia legal para aplicar, autoridade civil ou militarculpada, a respectiva sano;
b) Dirigida ao rgo do Ministrio Pblico que tiver competncia para iniciar processo-crime contra aautoridade culpada.
P. nico - A representao ser feita em duas vias e conter a exposio do fato constitutivo do abuso deautoridade, com todas as suas circunstncias, a qualificao do acusado e o rol de testemunhas, nomximo de trs, se as houver.
17.1. Direito de petio e Representao
A representao a atitude que se deve tomar quando se vtima de um abuso de autoridade. Como se faz isso?De qualquer forma? Claro que no, pode se fazer isso tanto de forma oral como escrita, mas deve ter a forma de umapetio.
Por isso, o direito de representao ser exercido por meio de petio. Para tanto, a Constituio Federal ,conforme dispe o art. 5, inciso XXXIV, letra a, assegura a todos, independentemente do pagamento de taxas:
o direito de petio aos Poderes Pblicos em defesa de direito ou contra ilegalidade ou abuso de poder.
A representao pode ser proposta pela prpria vtima de um abuso de autoridade, por meio de seu representan-te legal ou procurador.
A QUEM DEVE SER DIRIGIDA:
a) para instaurao do processo administrativo - autoridade superior, militar ou civil, de quem abusou da autoridade.
Exemplo: - contra o Delegado de Polcia, a representao deve ser dirigida ao Secretrio da Segurana Pblica.
- contra o Juiz de direito, a representao deve ser dirigida ao Presidente do Tribunal de Justia.
b) para instaurao do processo penal - ao representante do Ministrio Pblico.
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OBS.: O crime de abuso de autoridade de ao pblica incondicionada. Portanto, ainda que a vtima de abuso deautoridade somente tome as medidas de natureza civil ou administrativa, nada impede que os juzes ou tribunais, verifi-cando a existncia do crime de abuso de autoridade, remetam as peas necessrias ao representante do Ministrio Pbli-co, a fim de que seja instaurada a competente ao penal.
c) para instaurao da ao cvel - com o objetivo de reparao do dano causado, ao juiz de direito da comarca ou aotribunal, dependendo do autor do crime de abuso de autoridade.
OBS: A ao cvel s pode ser proposta atravs de procurador, advogado legalmente habilitado.
Art. 3 - Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:a) liberdade de locomoo;b) inviolabilidade de domiclio;c) Ao sigilo de correspondncia;d) liberdade de conscincia e de crena;e) Ao livre exerccio do culto religioso;f) liberdade de associao;g) Aos direitos e garantias legais assegurados ao exerccio do voto;h) Ao direito de reunio;i) incolumidade fsica do indivduo;j) Aos direitos e garantias legais assegurados ao exerccio profissional.
Como se verifica dos itens acima estudados, praticamente a lei pe a salvo o exerccio pleno dos direitos e garantiasindividuais e coletivos assegurados na Constituio Federal, art. 5 e incisos, classificando como crime de abuso deautoridade qualquer atentado ao seu exerccio.
Art. 4 - Constitui tambm abuso de autoridade:
a) Ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais oucom abuso de poder;
b) Submeter pessoa sob sua guarda ou custdia a vexame ou a constrangimento no autorizadoem lei.
c) Deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a priso ou deteno de qualquerpessoa;
d) Deixar o juiz de ordenar o relaxamento de priso ou de deteno ilegal que lhe seja comunicada;e) Levar priso e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiana, permitida em lei;f) Cobrar o carcereiro ou agente da autoridade policial, carceragem, custas, emolumentos ou
quaisquer outras despesas, desde que a cobrana no tenha apoio em lei;g) Recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importncia recebida a ttulo
de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;h) O ato lesivo da honra ou do patrimnio de pessoa natural ou jurdica, quando praticado com
abuso ou desvio de poder, ou sem competncia legal;i) Prolongar a execuo de priso temporria, deixando de expedir em tempo oportuno e imedi-
atamente, ordem de liberdade.
Art. 5 - Considera-se autoridade, para os fins desta lei, quem exerce cargo, emprego ou funo pblica,de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remunerao.
Por fora desta definio, considera-se servidor pblico, possvel autor do abuso de autoridade, no s o servidor quedesempenha cargos criados por lei, regularmente investidos e nomeados, remunerados pelos cofres pblicos, como tam-bm os contratados, mensalistas, diaristas, tarefeiros, nomeados a ttulo precrio. Equipara-se, ainda, para efeitos penais,a servidor pblico quem exerce cargo, emprego ou funo em entidade paraestatal ( empresas pblicas, as sociedades deeconomia mista e os servios sociais autnomos (SESI, SESC, SENAI e outros).
Tm entendido os autores que no necessrio que o indivduo seja servidor, necessrio que exera uma funo
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pblica, a qual qualquer atividade que realiza fins prprios do Estado, ainda que exercida por pessoas estranhas Administrao Pblica ou gratuitamente.
Art. 6 - O abuso de autoridade sujeitar o seu autor sano administrativa, civil e penal.
SANO ADMINISTRATIVA AQUELA DECORRENTE DE UMA INFRAO ADMINISTRATIVA, ISTO ,PRTICA DE ATOS QUE ATENTEM CONTRA S NORMAS DA ADMINISTRAO PBLICA.
ser aplicada de acordo com a gravidade do abuso cometido e consistir em :
a) Advertncia;b) Repreenso;c) Suspenso do cargo, funo ou posto por prazo de 5 a 180 dias, com perda de vencimentos e
vantagens;d) Destituio de funo;e) Demisso;f) Demisso, a bem do servio pblico.
A SANO CIVIL A QUE IMPE RESTRIES DE NATUREZA PATRIMONIAL, ISTO , OBRIGA OINFRATOR A REPARAR AS PERDAS E OS DANOS CRIADOS POR SEU ATO.
caso no seja possvel fixar o valor do dano, consistir no pagamento de uma indenizao dequinhentos a dez mil cruzeiros.
No caso de reparao de danos resultantes do abuso de autoridade, no apenas o autor do abuso queresponde civilmente, a Fazenda Pblica, responde igualmente pelos mesmos danos, em virtude do princpio da responsa-bilidade do Estado por atos de seus agentes. Trata-se da responsabilidade objetiva - art.37, p. 1 da Constituio FederalAs pessoas jurdicas de direito pblico e as de direito privado prestadoras de servios pblicos respondero pelos danosque seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsvel nos casosde dolo ou culpa.
OBS.: 1 - propondo a vtima do abuso to-somente a ao cvel, verificado o juiz a existncia de ilcito penal, deverencaminhar ao Ministrio Pblico cpias ou certides necessrias para que este possa intentar a ao penal.
2 - quando a vtima do dano for pobre, o representante do Ministrio Pblico poder executar a sentenacondenatria (art. 63) ou propor ao civil (art. 64, ambos do CPP).
SANO PENAL A QUE IMPE RESTRIES LIBERDADE DO INFRATOR (vide tpico de pena).
ser aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do Cdigo Penal e consistir em :
a) Multa de cem a cinco mil cruzeiros;b) Deteno por dez dias a seis meses;c) perda do cargo e a inabilitao para o exerccio de qualquer outra funo pblica por prazo de
at trs anos.
A ao penal ser iniciada, independentemente de inqurito policial ou justificao, por denncia do Ministrio Pblico,instruda com a representao da vtima do abuso.
Caso a representao no oferea os elementos necessrios para o oferecimento da denncia, poder o Promotor Pblicoefetuar diligncias para suprir as lacunas existentes, podendo, para tanto, remeter as peas Polcia, requisitando ainstaurao de inqurito policial, ou diligenciar pessoalmente.
PRAZO: apresentada a representao, o Ministrio Pblico, no prazo de 48 horas, denunciar o ru, desde que o fatonarrado constitua abuso de autoridade.
OBS.: se o rgo do Ministrio Pblico no oferecer denncia no prazo acima assinalado, ser admitida ao privada.
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Trata-se da ao penal privada subsidiria, prevista no art. 29 do CPP, j estudada anteriormente, intentada pelo ofendidoou seu representante legal, nos crime de ao pblica, em virtude de inrcia do Ministrio Pblico.
Os demais dispositivos desta lei tratam de questes de ordem processual. No entanto, bom que se esclarea que a vtimade abuso de autoridade ou seu representante legal pode indicar testemunhas para provar os fatos, produzir percia, exibirdocumentos, etc. Haver audincia de instruo, com ouvida do ru, das testemunhas, interveno do Ministrio Pblicoe do advogado ou defensor do ru, sendo assegurado, como no poderia deixar de ser, o contraditrio e a ampla defesa.
O processo nos crimes de abuso de autoridade tem um procedimento sumrio, cuja finalidade apurar com rapidez osabusos de autoridades, a fim de evitar possveis intimidaes, presses etc, sobre vtimas, testemunhas, peritos, etc.
LIVROS PESQUISADOS
ABUSO DE AUTORIDADE, de Gilberto e Vladimir Passos de Freitas
RESUMO DE DIREITO PENAL, de Maximilianus Cludio Amrico Fhrer e Maximiliano Roberto ErnestoFhrer.
O PROCESSO PENAL, de Walter P. Acosta.
DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO, de Hely Lopes Meirelles.
LEGISLAO - Cdigo Penal , Cdigo de Processo Penal e Constituio Federal.