DIREITO PENAL - Parte Especial

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A) CRIMES CONTRA A VIDA

1) HOMICDIO ART. 121 DO CP

1.1)DIREITO ABSOLUTO No se trata de um direito absoluto, ex.: legtima defesa e pena de morte em tempo de guerra declarada (meio: fuzilamento).

1.2) VIDA INTRA-UTERINA E EXTRA-UTERINA A vida intra-uterina tem incio a partir da nidao (fixao do vulo no tero, que ocorre, em regra, 14 dias aps a fecundao). Com o incio do parto, tem-se a origem da vida extra-uterina. No parto normal, o incio do parto se d com a dilatao do colo do tero, preparando-se para a expulso do feto, enquanto que no parto cesariana, inicia-se com o rompimento da membrana amnitica. A vida intra-uterina tutelada pelos delitos de aborto. A extra-uterina tutelada pelos os outros delitos contra a vida. Ex.: mulher grvida de oito meses e realiza uma manobra abortiva, o feto expulso, vive por 2 meses, vindo a bito posteriormente deve-se analisar o momento da ao a mulher responde por aborto sua vontade era abortar (seu dolo era o de abortar). Ex2: mulher faz manobra abortiva e o feto expulso, sobrevivendo, por isso, a mulher taca o filho dentro de um rio (num primeiro momento, seu dolo era abortar. Porm, a mulher faz uma substituio de dolo ao tac-lo no rio, j que no conseguiu consumar o aborto s responder por homicdio consumado progresso criminosa. Pelo princpio da consuno, o delito de tentativa de aborto ser absorvido pelo delito de homicdio consumado.

1.3) SUJEITOS DO CRIME O crime de homicdio um crime comum pode ser praticado por qualquer pessoa. OBS.: irmos xifpagos/siameses homicdio praticado por um dos xifpagos: o gmeo responsvel pelo delito deve ser condenado, mas a pena fica suspensa at sua prescrio ou at que o outro irmo pratique o delito. Homicdio praticado contra um dos irmos xifpagos (morrendo o outro, consequentemente): se o agente quer matar apenas um dos irmos, mas acaba

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2 produzindo a morte de ambos, responder por dois crimes de homicdio em concurso formal imprprio OBS.1: diferenas entre concurso material, formal e crime continuado: Concurso material o agente por meio de duas ou mais aes ou omisses, pratica dois ou mais crimes. O critrio que se aplica quanto pena o do cmulo material (as penas so somadas). H autores que classificam em concurso material homogneo (os delitos so semelhantes) e heterogneo (os crimes so diferentes). Concurso formal o agente, mediante uma ao ou omisso, pratica 2 ou mais crimes, idnticos ou no. No caso de crimes de roubo praticados no interior de um nibus, trata-se de uma nica ao, desdobrada em vrios atos. Concurso formal prprio (art. 70, caput, primeira parte, CP) critrio da exasperao da pena (pena aumentada de 1/6 at metade) quando o agente no quer praticar os dois ou mais crimes; queria apenas um. Concurso formal imprprio (quando o agente tem vontade de praticar cada um dos delitos), porm, o faz mediante uma s ao ou omisso critrio do cmulo material (as penas so somadas) art. 70, caput, segunda parte, do CP. Crime continuado est previsto no art. 71 do CP. Requisitos: a) duas ou mais aes; b) crimes da mesma espcie (homicdio e homicdio, por ex.) e entre crimes derivados? R: possvel, por ex: furto simples e furto qualificado; c) homogeneidade de circunstncias de tempo, lugar, modus operandi etc. OBS.: o prazo usado pela jurisprudncia de 30 dias devem eles ser praticados num intervalo de 30 dias critrio da exasperao da pena.

OBS.: possvel continuidade delitiva em crimes contra a vida? R: H a smula 605 do STF que diz no caber continuidade delitiva nos crimes contra a vida mas ela est ultrapassada diante da nova redao do art. 71 do CP (a smula anterior reforma do CP). Logo, cabe continuidade delitiva nos crimes contra a vida art. 71, pargrafo nico do CP

Pargrafo nico - Nos crimes dolosos, contra vtimas diferentes, cometidos com violncia ou grave ameaa pessoa, poder o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstncias, aumentar a pena de um s dos crimes, se idnticas, ou a mais grave, se diversas, at o triplo, observadas as regras do pargrafo nico do art. 70 e do art. 75 deste Cdigo.(Redao dada pela Lei n 7.209, de 11.7.1984)

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3 OBS.: crime contra a vida do Presidente da Repblica quando o sujeito passivo do delito de homicdio for o Presidente da Repblica, do Senado Federal, da Cmara dos Deputados, e desde que o crime tenha sido praticado por motivos polticos, responde o agente pelo crime do art. 29 da Lei 7170/83. OBS.: ao tendente a matar um cadver crime impossvel por absoluta impropriedade do objeto!!!

1.4) CRIME MATERIAL um crime material delito cujo resultado est inserido no tipo penal. Em se tratando de um crime material que costuma deixar vestgios, provar-se- a materialidade por meio de exame de corpo de delito (aplica-se a qualquer crime material que deixe vestgios). Porm, quando desaparecem os vestgios, a prova testemunhal poder suprir a ausncia do exame de corpo de delito direto o chamado exame de corpo de delito indireto art. 158 e 167 do CPPArt. 158. Quando a infrao deixar vestgios, ser indispensvel o exame de corpo de delito, direto ou indireto, no podendo supri-lo a confisso do acusado. Art. 167. No sendo possvel o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestgios, a prova testemunhal poder suprir-lhe a falta.

Excees: 1) Lei do JECRIM 9099/95 orienta-se pela celeridade, informalidade e economia processual no precisa do exame de corpo de delito um simples Boletim mdico j valeria; 2) Lei Maria da Penha apenas boletim mdico; 3) Laudo preliminar de constatao, o qual deve ser confirmado pelo exame definitivo.

1.5) TIPO SUBJETIVO o dolo e a culpa (pargrafo 3). Elementos do dolo: conscincia (elemento cognitivo) e vontade (elemento volitivo). Dolo, assim, a vontade e inteno de praticar um delito. Dolo direto de 1 grau trata-se do fim diretamente desejado pelo o agente. Dolo direto de 2 grau/dolo de conseqncias necessrias o resultado desejado como conseqncia necessria do meio escolhido. Ex.: quero matar meu inimigo que est preso, ento boto fogo numa cela com 45 presos dentro dela quanto ao inimigo, o dolo direto de 1 grau; quanto as outras pessoas que morreram, o dolo direto de 2 grau.

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4 Dolo eventual o agente prev a supervenincia do resultado, assumindo o risco de produzi-lo. Culpa a inobservncia do dever objetivo de cuidado, causadora de um resultado no desejado, mas objetivamente previsvel. Modalidades de culpa: a) imprudncia a culpa na sua forma comissiva; b) negligncia a culpa na sua forma omissiva; c) impercia a falta de aptido tcnica no exerccio de arte, profisso ou ofcio.

**No existe crime culposo sem resultado, exceto o crime de prescrever culposamente drogas lei 11343/2006 o simples fato de prescrever a droga culposamente j consuma o delito**

1.6) CONSUMAO E TENTATIVA Art. 3 da lei 9434/97 a lei diz que, com a morte enceflica ocorrer a morte do ser-humano consumao com o diagnstico de morte enceflica. O elemento subjetivo do delito de homicdio, para que possa ser diferenciado do elemento do crime de leses corporais, deve ser comprovado a partir dos dados objetivos do caso concreto.

1.7) HOMICDIO SIMPLES ART. 121, CAPUT, DO CP Ele ser considerado hediondo quando praticado em atividade tpica de grupo de extermnio, ainda que cometido por um s agente. Na verdade, o tipo continua sendo um homicdio simples, todavia, na prtica, no d para afastar as qualificadoras (de qualquer forma, este tipo de homicdio ser qualificado). 1 corrente precisa de 2 pessoas para caracterizar o grupo (crtica: o CP quando quer se referir a duas pessoas, ele o faz de maneira expressa duas pessoas). 2 corrente precisa de 3 pessoas; 3 corrente grupo composto por 4 pessoas (leia-se quadrilha ou bando) melhor corrente a ser adotada. O homicdio, neste caso, indeterminado ou impessoal em relao vtima. Esta simplesmente pertence a determinado grupo, classe social ou racial. A verificao desse fato compete ao juiz presidente, no devendo ser apresentado quesito especfico aos jurados matria referente aplicao da pena.

1.8) GENOCDIO

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5 Ele no crime contra a vida. Est previsto na lei 2889/56. O bem jurdico tutelado pelo crime de genocdio a existncia de grupo racial, tnico ou religioso. A morte uma das formas de se praticar o genocdio, mas no a nica. Caso o agente mate 10 ndios com homogeneidade de circunstncias, dever responder pelos 10 crimes de homicdio (em continuidade delitiva) em concurso formal imprprio com o delito de genocdio. No possvel a aplicao do princpio da consuno, na medida em que os bens jurdicos so distintos.

1.8.1) Competncia criminal para julgar genocdio contra ndios Em regra, crime praticado contra ou por ndio, julgado na Justia Estadual Smula 140 do STJ.

Smula: 140 Compete a justia comum estadual processar e julgar crime em que o indigena figure como autor ou vitima.

Todavia, caso o delito envolva direitos indgenas, a competncia ser da Justia Federal art. 231 da CF. Assim, genocdio contra ndios de competncia da Justia Federal (envolve direitos indgenas) como a forma do genocdio foi a morte (homicdio) dos membros do grupo, os homicdios devero ser julgados por um Tribunal do Jri Federal, que exercer fora atrativa em relao ao crime conexo de genocdio (RE 351487 STF).

RE 351487 / RR - RORAIMA RECURSO EXTRAORDINRIO Relator(a): Min. CEZAR PELUSO Julgamento: 03/08/2006 rgo Julgador: Tribunal Pleno Ementa EMENTAS: 1. CRIME. Genocdio. Definio legal. Bem jurdico protegido. Tutela penal da existncia do grupo racial, tnico, nacional ou religioso, a que pertence a pessoa ou pessoas imediatamente lesionadas. Delito de carter coletivo ou transindividual. Crime contra a diversidade humana como tal. Consumao mediante aes que, lesivas vida, integridade fsica, liberdade de locomoo e a outros bens jurdicos individuais, constituem modalidade executrias. Inteligncia do art. 1 da Lei n 2.889/56, e do art. 2 da Conveno contra o Genocdio, ratificada pelo Decreto n 30.822/52. O tipo penal do delito de genocdio protege, em todas as suas modalidades, bem jurdico coletivo ou transindividual, figurado na

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6existncia do grupo racial, tnico ou religioso, a qual posta em risco por aes que podem tambm ser ofensivas a bens jurdicos individuais, como o direito vida, a integridade fsica ou mental, a liberdade de locomoo etc.. 2. CONCURSO DE CRIMES. Genocdio. Crime unitrio. Delito praticado mediante execuo de doze homicdios como crime continuado. Concurso aparente de normas. No caracterizao. Caso de concurso formal. Penas cumulativas. Aes criminosas resultantes de desgnios autnomos. Submisso terica ao art. 70, caput, segunda parte, do Cdigo Penal. Condenao dos rus apenas pelo delito de genocdio. Recurso exclusivo da defesa. Impossibilidade de reformatio in peius. No podem os rus, que cometeram, em concurso formal, na execuo do delito de genocdio, doze homicdios, receber a pena destes alm da pena daquele, no mbito de recurso exclusivo da defesa. 3. COMPETNCIA CRIMINAL. Ao penal. Conexo. Concurso formal entre genocdio e homicdios dolosos agravados. Feito da competncia da Justia Federal. Julgamento cometido, em tese, ao tribunal do jri. Inteligncia do art. 5, XXXVIII, da CF, e art. 78, I, cc. art. 74, 1, do Cdigo de Processo Penal. Condenao exclusiva pelo delito de genocdio, no juzo federal monocrtico. Recurso exclusivo da defesa. Improvimento. Compete ao tribunal do jri da Justia Federal julgar os delitos de genocdio e de homicdio ou homicdios dolosos que constituram modalidade de sua execuo.

1.10) HOMICDIO PRIVILEGIADO ART. 121, PARGRAFO 1, DO CP Para um crime ser privilegiado, o crime deve ter um novo mnimo e mximo de pena j estabelecido pelo legislador. Trata-se, na verdade, de causa de diminuio de pena (pena diminuda de 1/6 a 1/3), pois no h um novo mnimo nem um novo mximo. OBS.1: possvel que um crime seja privilegiado-qualificado? R: Sim, desde que a qualificadora tenha natureza objetiva. No considerado crime hediondo, pois preponderar os aspectos subjetivos (ler material de crimes hediondos). OBS.2: Deve se chamar homicdio privilegiado-qualificado ou qualificadoprivilegiado? R: No critrio trifsico de fixao de pena, as causas de diminuio e aumento de pena so verificadas num terceiro momento (que o privilgio do pargrafo 1), e a qualificadora ser incidida num segundo momento, antes do privilgio, logo a terminologia mais adequada seria homicdio qualificadoprivilegiado.

1.10.1) Causas de diminuio de pena do pargrafo 1 A) Relevante valor moral valor que atende aos interesses do prprio cidado, ex.: eutansia.

B) Relevante valor social o valor que atende aos interesses de toda a coletividade, ex.: traidor da ptria.

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7 C) Sob o domnio de violenta emoo, logo em seguida a injusta provocao da vtima j trocaram em provas o termo domnio por influncia isto seria uma circunstncia atenuante. Quanto ao logo em seguida, enquanto houver o domnio de violenta emoo, qualquer reao ser imediata.

1.10.2) Elementares X circunstncias Elementares so dados essenciais da figura tpica, cuja ausncia pode gerar uma atipicidade absoluta ou relativa. Circunstncias so dados perifricos que gravitam ao redor da figura tpica; podem aumentar ou diminuir a pena, mas no interfere no crime. Elementar interfere no tipo penal; retirando-o, acarretar numa figura no caracterizada como crime ou noutro crime. No existindo uma circunstancia, o agente responder pelo mesmo tipo penal, mas receber uma pena menor ou maior, dependendo de qual circunstncia ele no se enquadrou. Exs.: no infanticdio, o sob a influncia uma elementar se no existir, acarretar num homicdio. No peculato, o funcionrio pblico uma elementar o sujeito no sendo funcionrio pblico, responder por apropriao indbita ou outro delito contra o patrimnio, dependendo do caso. Art. 30, concluses 1) elementares se comunicam aos terceiros, desde que dela tenha conscincia; 2) circunstncias e condies de carter pessoal no se comunicam; 3) circunstancias de carter objetivo se comunicam, desde que dela tenha conscincia. OBS.1: particular responde por crime de peculato? R: Sim, pois funcionrio pblico elementar do crime. OBS.2: marido que auxilia a me do filho recm-nascido responde por infanticdio? R: Sim, sob a influncia do estado puerperal uma elementar do crime de infanticdio, comunicando ao terceiro que auxilia a gestante, desde que tenha conscincia quanto elementar.

1.10.3) Obrigao da diminuio de pena O pargrafo primeiro usa a expresso pode, mas no se trata de uma faculdade. Reconhecido o privilgio pelos jurados, a diminuio de pena se torna obrigatria, limitando-se a discricionariedade do juiz ao quantum de diminuio de pena.

1.11) HOMICDIO QUALIFICADO ART. 121, PARGRAFO 2, DO CP

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8 1.11.1) Mediante paga promessa de recompensa ou outro motivo torpe Motivo torpe aquele motivo repugnante, que causa desprezo. Por outro motivo torpe interpretao analgica. OBS.: Analogia X Interpretao analgica => 1) analogia um mtodo de integrao (consiste em mtodos em que se pode suprir lacunas). Aplica-se dispositivo legal para um caso concreto no regulado em lei, art. 128, II do CPArt. 128 - No se pune o aborto praticado por mdico: Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

E se por acaso a gravidez for resultante de AVP? R: Sim. um exemplo de analogia no Direito Penal. A analogia admitida aqui a in bonam partem em favor do ru.

2) Interpretao analgica um mtodo de interpretao. Trata-se de uma frmula casustica, exemplificativa, seguida de uma frmula genrica. Ela admitida no Direito Penal. Ex.: art. 121, pargrafo 2, I, do CP.

Promessa de recompensa tem que ser dinheiro? R: Para a corrente majoritria, esta promessa de recompensa deve ter carter econmico. O que interessa o mvel do agente o que o leva prtica do delito (se ele foi levado ao delito pela promessa de recompensa). Assim, mesmo que esta promessa no seja efetivada, o agente responder normalmente pelo homicdio qualificado. Tal inciso primeiro chamado tambm de homicdio mercenrio/por mandado remunerado. Para a doutrina, como o inciso I uma circunstancia de carter pessoal, s se aplica ao executor e no ao mandante. OBS.: HC 71582 do STF posio antiga do STF tal qualificadora se aplica tanto ao mandante como ao executor deve-se tomar cuidado com tal posio, pois, tal julgado muito antigo. Talvez nem seja mais a posio do STF.

1.11.2) Por motivo ftil

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9 No h interpretao analgica. Ftil significa insignificante/sem importncia. Ex.: briga de trnsito, briga por causa de 2 reais, etc. A ausncia de motivo qualifica o homicdio? R: Sim. Se o motivo ftil qualifica, o que dizer a ausncia de motivo posio majoritria. OBS.: Cimes no motivo ftil o que predomina.

1.11.3) Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum A) Com emprego de veneno Tambm chamado de venefcio. Ex.: pessoa aponta a arma para algum e manda ele beber o veneno, sob pena de levar um tiro na cabea para que o crime seja qualificado pelo o emprego de veneno, a vtima no pode saber que est sendo envenenada. Logo, no exemplo, no h qualificao pelo o emprego de veneno. Deve ele ser usado de forma dissimulada.

B) Com emprego de fogo O exemplo do ndio Patax, de Braslia, um exemplo de leso corporal seguida do resultado morte (foi o crime pelo qual os autores foram indiciados e condenados).

C) Qualificado pela tortura No se confunde com a tortura qualificada pelo resultado morte. Deve-se sempre analisar o dolo do agente.

Homicdio qualificado pela tortura (art. 121, pargrafo 2, III, do CP)

Tortura qualificada pelo resultado morte (art. 1, pargrafo 3, 2 parte, da Lei 9455/97)

H o animus necandi vontade de causar o resultado morte

O dolo o de torturar, mas por culpa, o agente acaba matando a

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vtima.

D) traio, de emboscada, ou mediante dissimulao ou outro recurso que dificulte ou torne impossvel a defesa do ofendido; O tiro ser qualificado pela impossibilidade de defesa quando o tiro for efetuado pelas costas (e no os tiros nas costas). OBS.1: o homicdio de um deficiente fsico entra nesta qualificadora? R: a idade avanada ou eventual deficincia da vtima no so recursos procurados pelo o agente, mas sim caractersticas inerentes prpria vtima. Portanto, isoladamente, no qualifica o crime de homicdio. OBS.2: Homicdio premeditado qualifica o crime? R: No. O homicdio premeditado por si s, no qualifica o delito de homicdio.

E) para assegurar a execuo, a ocultao, a impunidade ou vantagem de outro crime

1.12) HOMICDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO Tecnicamente falando, incorreto dizer que o homicdio ser duplamente qualificado. Na verdade, s ser qualificado por um motivo, devendo as demais qualificadoras serem levadas em considerao na anlise das circunstncias judiciais. OBS.: As demais qualificadoras, segundo posio minoritria, seriam consideradas agravantes.

1.13) HOMICDIO CULPOSO ART. 121, PARGRAFO 3, DO CP Prestar ateno ao CTB art. 302 da Lei 9503/97 homicdio culposo na direo de veculos automotores. Homicdio culposo no CP pena de 1 a 3 anos. Homicdio culposo no CTB pena de 2 a 4 anos. No CP, comporta-se suspenso condicional do processo. OBS.: Ser que possvel aplicar a pena do CP ao crime previsto no CTB? R: a ttulo de princpio da isonomia, no possvel que o julgador aplique a pena do homicdio culposo do CP ao homicdio culposo do CTB. O que justifica essa pena mais grave do CTB o desvalor da conduta. Quando algum pratica um homicdio privilegiado, a pena ser a de 6 a 20 anos, com uma diminuio de 1/6 a 1/3. Quando algum pratica um crime

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11 qualificado, a pena ser de 12 a 30 anos. O que justifica tais mudanas de pena o desvalor da conduta e o desvalor do resultado.

A) Perdo judicial

A.1) Natureza jurdica uma causa extintiva da punibilidade.Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redao dada pela Lei n 7.209, de 11.7.1984) IX - pelo perdo judicial, nos casos previstos em lei. Art. 121, 5 - Na hiptese de homicdio culposo, o juiz poder deixar de aplicar a pena, se as conseqncias da infrao atingirem o prprio agente de forma to grave que a sano penal se torne desnecessria. (Includo pela Lei n 6.416, de 24.5.1977)

OBS.: Cabe analogia no perdo judicial? R: No cabe. A prpria lei j disse: s cabe perdo judicial nos casos previstos em lei.. No CTB no est previsto expressamente a figura no perdo judicial. No projeto de lei havia a previso de tal instituto, mas foi vetado sob fundamento de que j existia do CP. Assim, de acordo com a jurisprudncia majoritria, perdo judicial tambm se aplica ao homicdio culposo do CTB.

A.2) Conceito instituto pelo qual o juiz, no obstante a prtica de um injusto penal por um agente culpvel, deixa de lhe aplicar a pena nas hipteses taxativamente previstas em lei.

A.3) Natureza jurdica da sentena concessiva do perdo judicial tratase de deciso declaratria da extino da punibilidade

Smula 18 do STJ. A sentena concessiva do perdo judicial declaratria da extino da punibilidade, no subsistindo qualquer efeito condenatrio.

Como essa deciso no condenatria, no pode ser executada no juzo cvel para reparao do dano.

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12 A.4) Momento para a concesso do perdo judicial h duas correntes: a 1 corrente, diz que o perdo judicial pressupe o reconhecimento de uma conduta tpica, ilcita e culpvel. Assim, ele s pode ser concedido ao final do processo, sob pena de violao ao princpio da presuno de inocncia ( a que prevalece) CSAR ROBERTO BITENCOURT. 2 corrente corrente minoritria, sustentada por doutrinadores do Processo Penal. Trabalham com as condies da ao, interessando, no momento, o interesse de agir, subdividindo-se em: necessidade, adequao e utilidade (qual seria a utilidade de se levar adiante um processo referente a um caso concreto no qual estivesse patente uma hiptese de perdo judicial?).

1.14) HOMICDIO CULPOSO QUALIFICADO ART. 121, PARGRAFO 4, PRIMEIRA PARTE, DO CP 4o No homicdio culposo, a pena aumentada de 1/3 (um tero), se o crime resulta de inobservncia de regra tcnica de profisso, arte ou ofcio, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro vtima, no procura diminuir as conseqncias do seu ato, ou foge para evitar priso em flagrante. Sendo doloso o homicdio, a pena aumentada de 1/3 (um tero) se o crime praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redao dada pela Lei n 10.741, de 2003)

Ser majorado quando ocorrer a inobservncia de regra tcnica de arte, profisso ou ofcio. Tambm o ser se o agente deixar de prestar imediato socorro vtima, no procurando diminuir as conseqncias do ato ou foge para evitar a priso em flagrante. OBS.: Qual a diferena entre inobservncia de regra tcnica de arte, profisso ou ofcio e a impercia? R: a impercia a falta de aptido tcnica, no se confundindo com a inobservncia de regra tcnica o agente tem conhecimento tcnico, mas no o emprega no caso concreto. Ex. de inobservncia de regra tcnica: mdico cirurgio que no faz a assepsia do material cirrgico. Para a doutrina, essa majorante no se aplica em 3 hipteses: a) morte instantnea da vtima*; b) quando a vtima for socorrida por terceiros; c) quando o agente se afasta do local por temor de represlias. (*) STF o autor do delito no dotado de poderes adivinhatrios para prever se a vtima vai ou no morrer.

1.15) HOMICDIO DOLOSO MAJORADO PRATICADO CONTRA MENOR DE 14 ANOS E MAIOR DE 60 ANOS - ART. 121, PARGRAFO 4, SEGUNDA PARTE, DO CP

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4o No homicdio culposo, a pena aumentada de 1/3 (um tero), se o crime resulta de inobservncia de regra tcnica de profisso, arte ou ofcio, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro vtima, no procura diminuir as conseqncias do seu ato, ou foge para evitar priso em flagrante. Sendo doloso o homicdio, a pena aumentada de 1/3 (um tero) se o crime praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redao dada pela Lei n 10.741, de 2003)

Como que se prova a idade de algum? R: Prova por uma certido de nascimento, certido de batismo etc. h limitaes estabelecidas pela lei civil. O CP, de acordo com o art. 4, adota a teoria da atividade considera-se praticado o crime no momento da ao. Se a execuo se d vtima com 13 anos e o resultado morte se d quando esta vtima est com 15 anos aplica-se a causa de aumento de pena.

2) PARTICIPAO EM SUICDIO ART. 122 DO CP Conhecido tambm como autocdio ou autoquiria.

Art. 122 - Induzir ou instigar algum a suicidar-se ou prestar-lhe auxlio para que o faa: Pena - recluso, de dois a seis anos, se o suicdio se consuma; ou recluso, de um a trs anos, se da tentativa de suicdio resulta leso corporal de natureza grave. Pargrafo nico - A pena duplicada: Aumento de pena I - se o crime praticado por motivo egostico; II - se a vtima menor ou tem diminuda, por qualquer causa, a capacidade de resistncia

2.1) SUICDIO A tentativa de suicdio, no Brasil, no tpica. Geralmente, quando a conduta atpica, ela tambm ser uma conduta lcita. Mas no ocorre neste caso. A tentativa de suicdio uma conduta ilcita.Art. 146, 3, do CP (crime de constrangimento ilegal) - No se compreendem na disposio deste artigo: II - a coao exercida para impedir suicdio

2.2) TIPO OBJETIVO

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14 H 3 verbos: induzir, instigar e auxiliar. Induzir criar uma idia at ento inexistente. Instigar significar reforar uma idia preexistente. Auxiliar significa ajudar materialmente. OBS.1: Quanto ao auxiliar no possvel a interveno em atos executrios de matar algum, sob pena do agente responder pelo o crime de homicdio. OBS.2: Livros que disseminam o suicdio a vtima precisa ser certa ou determinada. No instigao ou induzimento ao suicdio. OBS.3: E se a vtima for menor de idade? R: Pargrafo nico do art. 122 do CP se a vtima menor de 14 anos, ela no ter discernimento para distinguir se tal ato correto o instigador responder por homicdio. Se a vtima tem entre 14 e 18 anos, o delito seria o do art. 122, pargrafo nico, II, do CP. OBS.4: se a vtima tem suprimida sua capacidade de resistncia art. 121 do CP. Se a vtima tem diminuda a sua capacidade de resistncia art. 122, pargrafo nico, II, do CP.

2.3) CONSUMAO E TENTATIVA 3 correntes trabalham com tal situao: 1 corrente o crime consuma-se com o induzimento, instigao ou auxlio ao suicdio, ficando a punibilidade condicionada ao implemento do resultado morte ou leso corporal grave, que funcionam como condio objetiva de punibilidade (no ocorrendo a morte ou leso corporal grave a conduta impunvel, no se admitindo a tentativa). 2 corrente ( a que prevalece) induzimento, instigao e auxlio no configuram consumao, mas sim, execuo do delito. Na verdade, o crime se consuma com o resultado morte ou leso corporal grave. Se o agente induziu e produziu o resultado morte, o art. 122 est consumado; se o agente induz, mas s produz leso grave, o art. 122 tambm est consumado, porm o preceito secundrio d uma pena menor; se a vtima no sofre nada, depois de ser induzida, o fato ser atpico. Logo, no se admite tentativa (ela equiparada ao delito consumado leso corporal grave). O crime do art. 122 do CP exemplo de uma crime material, plurissubsistente, que no admite tentativa. 3 corrente minoritria (BITENCOURT) induzimento, auxlio e instigao configuram execuo do delito, que se consuma com a produo do resultado morte. Se ocorrer leso corporal grave, estaremos diante de um crime tentado (tentativa sui generis). Se no resultar nada aps o ato, o fato atpico.

2.4) PACTO DE MORTE A e B esto num quarto hermeticamente fechado. L, h uma torneira de gs. 1 possibilidade B abre a torneira e morre => A responde pelo o art. 122 do CP; 2 possibilidade B abre a torneira e o A morre => B responde por

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15 homicdio (ele praticou ato executrio); 3 possibilidade B abre a torneira => R abre a sala e salva os dois => B responde por tentativa de homicdio; A no responde por nada, pois no resultou morte para o B, nem leso corporal grave (figura atpica ver 2 corrente sobre consumao e tentativa).

3) INFANTICDIO ART. 123 DO CPArt. 123 - Matar, sob a influncia do estado puerperal, o prprio filho, durante o parto ou logo aps: Pena - deteno, de dois a seis anos.

3.1) ELEMENTOS ESPECIALIZANTES Ele nada mais do que um homicdio com elementos especializantes (princpio da especialidade conflito aparente de normas).

3.1.1) Parturiente Trata-se de crime prprio qualidade especial do sujeito ativo.

3.1.2) Praticado contra o nascente ou neonato um crime prprio tambm quanto ao sujeito passivo crime biprprio (prprio para o sujeito ativo e passivo).

3.1.3) Elemento temporal Deve o crime ser praticado durante o parto ou logo aps o parto.

3.1.4) Sob a influncia do estado puerperal Est sempre presente na parturiente. Depender do gnio da gestante, e o que determinar o grau do estado puerperal. Trata-se de uma elementar do art. 123 do CP. Logo, comunica-se ao terceiro, desde que ele tenha conscincia, ex.: o marido que auxilia a parturiente.

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O infanticdio somente punido a ttulo de dolo, direito ou eventual. Se a morte a ttulo de culpa, a parturiente responder por homicdio culposo. OBS.: se a parturiente, sob a influencia do estado puerperal, mata o neonato errado erro sobre a pessoa responde como se tivesse atingindo a pessoa que gostaria de atingir responder por infanticdio. OBS.2: circunstncia agravante do art. 61 do CP inciso II, e contra descendente no se aplica tal caracterstica j se encontra no tipo vedao do non bis in idem.

09.03.2009 RENATO BRASILEIRO

4) ABORTO ARTS. 124 A 128 DO CP Alguns autores preferem utilizar o termo abortamento (aborto seria o resultado e abortamento seria a conduta). Os tipos de aborto so: aborto provocado pela gestante ou com o seu consentimento art. 124 do CP aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante art. 125 do CP aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante art. 126 do CP

4.1) TEORIAS SOBRE O CONCURSO DE PESSOAS So 3 teorias apontadas pela doutrina: Teoria pluralstica existem tantos crimes quanto forem os autores ou partcipes.

Teoria dualstica/dualista h 2 crimes: 1 crime para coautores e 1 crime para os partcipes.

Teoria monstica/monista independentemente do nmero de coautores ou partcipes, o delito permanece nico e indivisvel. Ex.: 20

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17 pessoas, em conjunto, praticando um homicdio, haver apenas 1 homicdio, mas a pena de cada um variar de acordo com a sua culpabilidade (juzo de reprovao) teoria adotada pelo CP art. 29 do CP

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redao dada pela Lei n 7.209, de 11.7.1984)

OBS.: Alguns doutrinadores dizem que existe uma teoria monstica temperada, pois no seria aplicada de maneira absoluta. Excees teoria monstica: aborto - uma delas a do art. 124 e 126 do CP a mulher que paga o mdico responde pelo o art. 124 e o mdico que realiza o aborto responde pelo o art. 126 do CP; corrupo corrupo passiva do funcionrio e corrupo ativa do particular; falso testemunho e corrupo ativa de testemunha a testemunha responde por um artigo e aquele que pede para que minta em audincia, responde pelo o outro; bigamia art. 235 do CP. Quem casado responde pelo caput, quem no , responde pelo o pargrafo primeiro; art. 33/36 da Lei 11343/2006 e art. 33/37 da Lei 11343/2006.

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - deteno, de um a trs anos.

Crime comum no exige qualidade especial do agente. Admite tanto a coautoria, quanto a participao. Crime prprio exige uma qualidade especial do agente, art. 312 do CP (peculato). Admite tanto a coautoria quanto a participao. Crime de mo prpria exige uma qualidade especial do agente. um crime que no aceita delegao. o delito cuja execuo no pode ser delegada. Ele no admite a coautoria. Nada impede a participao. O art. 124 uma exemplo de crime de mo prpria, enquanto que os outros dois delitos de aborto so crimes comuns. perfeitamente possvel o concurso de pessoas no art. 124 do CP, apenas na modalidade de participao. Contudo, se o terceiro for alm dessa mera atividade acessria, intervindo na realizao propriamente dos atos executrios, responder no como coautor, que a natureza do crime no permite, mas como autor do crime do art. 126 CEZAR BITENCOURT.

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18Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, s responde o agente que o houver causado ao menos culposamente.(Redao dada pela Lei n 7.209, de 11.7.1984)

Ex.; se a mulher estava grvida de 2 semanas (ou seja, no dava para saber que ela est grvida) e o marido no sabia que a mulher estava grvida, chutando-a na barriga, e abortando o feto, responder por leso corporal, pargrafo 9 - em casos de violncia domstica OBS.: ele no sabia da gravidez da mulher, logo, no poder responder pela leso seguida de aborto. Inexiste o crime nas manobras abortivas realizadas pela mulher que erroneamente acredita estar grvida (delito putativo ou de alucinao).

4.2) CONCEITO DE ABORTO a interrupo voluntria da gravidez, com a morte do produto da concepo, dentro ou fora do tero. Pouco importa para a caracterizao do crime se a gravidez natural (fruto de cpula carnal) ou no (inseminao artificial).

4.3) ABORTO DE GMEOS Responde o agente por 2 crimes de aborto em concurso formal imprprio.

CONSUMAO E TENTATIVA Cuida-se de crime material consuma-se com a morte do feto ou a destruio do produto da concepo, pouco importando se esta ocorre dentro ou fora do ventre materno, desde que, claro, decorrente das manobras abortivas. Ocorrendo o nascimento com vida e verificando-se a morte posterior do recm-nascido, decorrncia de nova ao ou omisso do agente, o delito a se cogitar o de homicdio (ou infanticdio). A tentativa admissvel crime plurissubsistente.

4.4) FIGURAS MAJORADAS DE ABORTO H uma causa de aumento art. 127 do CP.Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores so aumentadas de um tero, se, em conseqncia do aborto ou dos meios empregados para provoc-lo, a gestante sofre leso corporal de natureza grave; e so duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevm a morte.

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19 o resultado leso corporal grave ou homicdio. Este artigo somente se aplica ao artigo 125 e 126 do CP s pode ser atribudo a ttulo de culpa crime preterdoloso.

Ex.: o mdico, responsvel pela prtica do aborto, no consegue interromper a gravidez, mas a mulher acaba falecendo. O dolo do agente era em relao ao aborto, mas restou tentado. O resultado morte da gestante dado a ttulo culposo (o que realmente aconteceu) h duas correntes: 1 corrente este mdico responde pelo o aborto com a causa de aumento da pena, em sua modalidade consumado (FERNANDO CAPEZ). 2 corrente este crime o do art. 126 com o resultado morte c.c art. 127 do CP, na modalidade tentada (LFG). Seria possvel a tentativa em crimes preterdolosos? R: No se admite tentativa em crime preterdoloso quando o que ficar frustrado for o resultado, atribudo ao agente a ttulo de culpa. Porm, quando o que ficar frustrado for a conduta do agente, praticada a ttulo doloso, ser permitido a tentativa em crime preterdoloso.

Aborto provocado por terceiro Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - recluso, de trs a dez anos.

Ser aplicada a pena deste artigo, tambm, quando o consentimento dado por gestante no maior de 14 anos, ou alienada mental, ou, ainda se obtido mediante fraude, grave ameaa ou violncia (dissenso presumido art. 126, pargrafo nico, do CP). O dolo deve compreender, tambm, as qualidades da grvida (pessoa no maior de 14 anos ou alienada ou dbil mental) ou o modo de execuo (consentimento obtido mediante fraude, grave ameaa ou violncia). Trata-se de crime de dupla subjetividade passiva, figurando como vtimas o produto da concepo (vulo, embrio ou feto) e a gestante. Matar mulher que sabe estar grvida configura tambm o crime de aborto, verificando-se, no mnimo, dolo eventual; nessa hiptese, o agente responde, em concurso formal, pelos crimes de homicdio e aborto. Se houver desgnios autnomos, isto , a inteno de praticar os dois crimes, o concurso formal ser imprprio, aplicando-se cumulativamente a pena dos dois crimes; caso contrrio, ser prprio e o sistema de aplicao ser o da exasperao CEZAR BITENCOURT.

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - recluso, de um a quatro anos.

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20Pargrafo nico. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante no maior de quatorze anos, ou alienada ou debil mental, ou se o consentimento obtido mediante fraude, grave ameaa ou violncia.

Se durante a operao (porm antes da interrupo da gravidez) a gestante desistir do intento criminoso, responder por aborto no consentido o terceiro que insistir em provoc-lo.

4.5) EXCLUDENTES DE ILICITUDE NO ABORTO

4.5.1) aborto necessrio/teraputicoArt. 128 - No se pune o aborto praticado por mdico: Aborto necessrio I - se no h outro meio de salvar a vida da gestante;

Acaba funcionando como estado de necessidade. Deve existir: a) risco de morte da gestante; b) inexistncia de outro meio para salv-la; c) de acordo com a lei, para que incida esta excludente de ilicitude, deve ser praticado por mdico. OBS.: se praticado por enfermeira, usa-se a regra geral do art. 24 do CP (estado de necessidade), pois tal inciso I do art. 128 s se aplica ao mdico. No necessria a autorizao judicial. No necessria a autorizao da gestante

4.5.2) Aborto sentimental/humanitrio ou ticoArt. 128 - No se pune o aborto praticado por mdico: Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Deve ser praticado por mdico. Este aborto depender do consentimento da gestante, ou de seu representante legal. A gravidez deve ser resultante de estupro. De acordo com a doutrina majoritria, insere-se tambm o atentado violento ao pudor (analogia in bonam partem). No depender de autorizao judicial (nem da sentena condenatria do crime sexual).

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21 Para a doutrina, deve o mdico, dentro do possvel, certificar-se da ocorrncia do crime sexual. No estupro com violncia presumida (art. 224 do CP) permite-se o aborto sentimental? R: Sim, a maioria da doutrina admite (NUCCI e MIRABETE).

4.5.3) Aborto eugnico/eugensico o caso do feto ananceflico/sem atividade cerebral. No faz parte do rol dos abortos permitidos no art. 128 do CP, todavia, h projeto de lei permitindo este aborto. O nosso Estatuto Penal, na sua Exposio de Motivos, foi claro ao incriminar o abortamento eugensico (praticado em face dos comprovados riscos de que o feto nasa com graves anomalias psquicas ou fsicas). Para a doutrina, o fato seria tpico e ilcito, mas no seria culpvel, em virtude da presena de uma causa excludente de culpabilidade (inexigibilidade de conduta diversa) STF ADPF n. 54 (acompanhar). A doutrina embasa-se na Lei 9434/97, que determina o momento da morte com a cessao da atividade enceflica. Ora, se a cessao da atividade cerebral caso de morte (no vida), feto anenceflico no tem vida intra-uterina, logo, no morre juridicamente (no se mata aquilo que jamais viveu para o direito).

4.5.4) Aborto miservel/econmico ou social Ele se d em razes de dificuldades financeiras configura crime.

4.5.5) Aborto honoris causa Realizado para interromper gravidez extra matrimonium (advinda de relaes extra-matrimoniais) configura crime. Situaes: O namorado induz a namorada a praticar o aborto: partcipe do art. 124; Namorado convence a namorada e paga o 3 provocador para realizar o abortamento: a jurisprudncia coloca o namorado como partcipe do art.126.

B) DAS LESES CORPORAIS

1) LESO CORPORAL ART. 129 DO CP

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22Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a sade de outrem: Pena - deteno, de trs meses a um ano.

1.1) OBJETIVIDADE JURDICA a integridade corporal ou a sade de outrem. A integridade corporal um bem disponvel, desde que seja de natureza leve tatuagens, piercings.

SUJEITOS DO DELITO Trata-se de crime comum. Se praticado por policial militar, a doutrina diverge sobre se a leso fica ou no absorvida pelo crime de abuso de autoridade, sustentando a maioria o cmulo de infraes. Nesse caso, reza a Smula 172 do STJ

Compete Justia Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em servio

Justia Castrense cabe o processo e julgamento pelo delito de leso corporal.

1.1.1) Consentimento do ofendido Em regra, o consentimento funciona como uma causa supralegal excludente da ilicitude. Porm, quando o dissentimento estiver inserido no tipo penal, afastar a tipicidade.

A) Requisitos para o consentimento do ofendido Deve o consentimento ser prvio, concomitante ao; Deve ser dado por pessoa capaz;

Deve se dar sobre bem disponvel;

CEZAR BITENCOURT No ordenamento jurdico brasileiro, a integridade fsica apresenta-se como relativamente disponvel, desde que no afronte

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23 interesses maiores e no ofenda aos bons costumes, de tal sorte que as pequenas leses podem ser livremente consentidas, como ocorre, por exemplo, com as perfuraes do corpo para a colocao de adereos, antigamente limitados aos brincos de orelhas. Ademais, seguindo essa linha de raciocnio, a caminho da disponibilidade, a prpria ao penal perdeu seu carter publicstico absoluto, passando a ser condicionada representao do ofendido, quando se tratar de leso corporal de natureza leve ou culposa.

1.2) AUTOLESO Ela no configura crime. figura atpica. Exceo: art. 171, pargrafo 1, V, do CP para fins de recebimento de valor de seguroArt. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilcita, em prejuzo alheio, induzindo ou mantendo algum em erro, mediante artifcio, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento; 2 - Nas mesmas penas incorre quem: Fraude para recebimento de indenizao ou valor de seguro V - destri, total ou parcialmente, ou oculta coisa prpria, ou lesa o prprio corpo ou a sade, ou agrava as conseqncias da leso ou doena, com o intuito de haver indenizao ou valor de seguro;

CEZAR ROBERTO BITENCOURT Se um inimputvel, menor, brio ou por qualquer razo incapaz de entender ou de querer, por determinao de outrem, praticar em si mesmo uma leso, quem o conduziu autoleso responder pelo crime, na condio de autor mediato. Algo semelhante, embora com fundamento diferente, ocorre quando algum, agredido por outrem, para defender-se, acaba se ferindo. A causa do ferimento foi a ao do agressor; logo, dever responder pelo resultado lesivo. Convm atentar, ademais, que o ato da vtima de ferir-se ao defender-se do ataque constitui uma causa superveniente relativamente independente, mas que no produziu, por si s, o resultado. Com efeito, afastando-se a causa anterior, isto , a agresso, a autoleso tambm desapareceria; logo, esse fato anterior causa e, portanto, o agressor deve responder pela leso. 1.3) CIRURGIA TRANSSEXUAL H vrias doutrinas: 1 corrente quando o mdico faz a ablao do rgo sexual masculino, no h dolo; 2 corrente o mdico agiria em estrito cumprimento do dever legal. 3 corrente por meio da teoria da imputao objetiva, como esse mdico cria um risco permitido e tolervel pela sociedade, sua conduta seria considerada atpica (professor disse que seria uma boa teoria a ser adotada).

1.4) VIOLNCIA DESPORTIVA

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24 exerccio regular do direito. A leso deve estar no contexto da modalidade desportiva.

1.5) TIPO OBJETIVO Prestar ateno no art. 140, pargrafo 2, do CP injria real - a inteno do agente ofender a dignidade da pessoa ou o seu decoro, ex.: tapa na cara, corte de cabelo ( indispensvel que a ao provoque uma alterao desfavorvel no aspecto exterior do indivduo, de acordo com os padres sociais mdios), tacar gua na cara de algum (ROGRIO SANCHES entende que as duas posies so possveis injria real ou leso corporal leve tudo a depender do dolo que animou o agente):Art. 140 - Injuriar algum, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: 2 - Se a injria consiste em violncia ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: Pena - deteno, de trs meses a um ano, e multa, alm da pena correspondente violncia

No h necessidade de dor, nem de efuso de sangue.

1.6) TENTATIVA Consuma-se o crime no instante em que ocorre a ofensa integridade corporal ou sade fsica ou mental da vtima (crime material). Admite-se a tentativa por tratar-se de um crime plurissubsistente. OBS.: tentativa de vidriolagem (NELSON HUNGRIA) ex.: quando uma prostituta tenta jogar cido no rosto de uma pessoa (tentativa de leso corporal grave).

1.7) ESPCIES DE LESO CORPORAL

1.7.1) Leso corporal leve Art. 129, caput leso corporal leve quando ela no for grave nem gravssima. Por conta do art. 88 da Lei 9099/95, ter-se- um crime com ao penal pblica condicionada representao. OBS.: leso corporal leve nos casos de violncia domstica e familiar de acordo com o art. 41 da Lei Maria da Penha (11340/2006), aos crimes praticados com violncia domstica e familia, no se aplica a Lei 9099/95; logo, a ao penal ser pblica incondicionada ( tambm a posio do STJ). Todavia, o entendimento do STJ sofreu alteraes, voltando a entender ser ao penal pblica condicionada representao (ver material de Processo Penal ao penal).

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1.7.2) Leso corporal grave Art. 129, pargrafo 1, do CP. Alguns incisos podem ser atribudos a ttulo de dolo ou a ttulo de culpa. Excepcionalmente, porm algumas qualificadoras so punidas somente a ttulo de preterdolo, pois, se dolosas tambm no conseqente, outro ser o delito. So elas o perigo de vida (pargrafo 2, II) e abortamento (pargrafo 2, V) leso gravssima.Leso corporal de natureza grave 1 Se resulta: I - Incapacidade para as ocupaes habituais, por mais de trinta dias dolo ou culpa; II - perigo de vida - culpa; III - debilidade permanente de membro, sentido ou funo dolo ou culpa; IV - acelerao de parto (o feto sobrevive) somente a ttulo culposo: Pena - recluso, de um a cinco anos.

A) Crime preterdoloso Tem-se dolo na conduta e culpa no resultado, ex.: leso corporal seguida de morte (homicdio preterdoloso).

B) Crime qualificado pelo resultado Este resultado pode ter sido tanto a ttulo doloso como a ttulo culposo, ex.: art. 129, pargrafo 1, I, do CP.

C) Incapacidade para as ocupaes habituais por mais de 30 dias Entende-se por ocupao habitual, qualquer atividade corporal costumeira, tradicional, no necessariamente ligada a trabalho ou ocupao lucrativa, devendo ser lcita, no importando se moral ou imoral. Desse modo, mesmo um beb pode ser sujeito passivo desta espcie de leso, vez que tem de estar confortvel para dormir, mamar, tomar banho, ter suas vezes trocadas etc. DAMSIO DE JESUS a relutncia, por vergonha, de praticar as ocupaes habituais no agrava o crime. Ex.: o ofendido deixa de trabalhar por mais de 30 dias em face de apresentar ferimentos no rosto. No esto abrangidas as atividades ilcitas, como por ex: ladro que no consegue mais roubar. OBS.: prostituta est garantida por tal inciso.

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26 Deve ser comprovado por exame complementar (de diagnstico). Tal prazo de 30 dias prazo penal. O exame deve ser realizado aps 30 dias, no tendo problema se for realizado 35 dias depois do acidente, por ex. No sendo feito o exame complementar, o agente pode ainda ser condenado nada impede que testemunhas deponham que o sujeito no pode trabalhar durante tal tempo.

D) Perigo de vida H um crime preterdosolo o perigo de vida deve ter sido causado culposamente (se doloso tentativa de homicdio). Deve ser comprovado por percia. A doutrina alerta que a regio da leso no justifica, por si s, a presuno do perigo. MAGALHES NORONHA no basta a idoneidade da leso para criar a situao de perigo: mister que esta se tenha realmente manifestado. Assim, por exemplo, um ferimento no pulmo geralmente perigoso; todavia, pode, no caso concreto, a constituio excepcional do ofendido, a natureza do instrumento ou qualquer outra circunstncia impedir que se verifique esse risco. A leso grave s existe, portanto, se, em um dado momento, a vida do sujeito passivo est efetivamente em perigo. Compete ao perito mdico-legal essa verificao.

D.1) Transmisso dolosa do vrus da AIDS Configura o delito de tentativa de homicdio, para a maioria da doutrina, caso existir o dolo de transmisso. Se a transmisso ocorrer entre namorados, e um deles sabia da doena do outro, mas usava preservativo, todavia ele se rompeu deve adotar a teoria da imputao objetiva por mais que tenha ocorrido a transmisso do vrus HIV, a conduta do agente produziu um risco permitido, tolervel pela a sociedade, portanto, ao agente no pode ser imputado o resultado lesivo.

E) Debilidade permanente de membro, sentido ou funo Resultando da eventual diminuio (reduo) ou enfraquecimento da capacidade funcional de membro, sentido ou funo, cuja recuperao seja incerta e por tempo indeterminado (no significa perpetuidade), a leso ser de natureza grave.

F) Acelerao de parto Em decorrncia da leso, o feto expulso, com vida, antes do tempo normal (parto prematuro). Se o feto expulso sem vida, ou mesmo se com vida

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27 logo vem a morrer em razo dos ferimentos, a leso corporal ser de natureza gravssima (pargrafo 2, V). Para que se configure a qualificadora em tela, indispensvel que o agente saiba (ou pudesse saber), em razo das circunstncias do fato, estar a ofendida grvida. Caso ignorada a prenhez da vtima, responder o ofensor pelo crime de leso corporal de natureza leve. BITENCOURT todas as qualificadoras contidas no pargrafo 1 so de natureza objetiva. Significa dizer que, em havendo concurso de pessoas, elas se comunicam, desde que, logicamente, tenham sido abrangidas pelo dolo do participante.

1.7.3) Leso corporal gravssima

A) Incapacidade permanente para o trabalho Prevalece na doutrina que deve se presumir que tal perda deve ser para qualquer atividade laborativa. Ficando a vtima incapacitada apenas para a atividade especfica que estava exercendo, mas puder exercer outra, no se configura a leso gravssima.

B) Enfermidade incurvel Entende-se esta como sendo a alterao permanente da sade em geral por processo patolgico, ou seja, a transmisso intencional de uma doena para a qual no existe cura no estgio atual da medicina. A doutrina tambm considera incurvel a enfermidade se o restabelecimento da sade depender de intervenes cirrgicas arriscadas ou tratamentos incertos, no estando a vtima obrigada a aventurar-se por caminhos para os quais a prpria medicina ainda no reconhece sucesso DAMSIO.

C) Perda ou inutilizao de membro, sentido ou funo No mais se fala em debilidade, mas sim em perda (amputao ou mutilao) ou inutilizao (membro, sentido ou funo inoperante, isto , sem qualquer capacidade de exercer suas atividades prprias). Tratando-se de rgos duplos, a leso para ser qualificada como gravssima deve atingir ambos. tambm gravssima a leso que produz a impotncia generandi (em e outro sexo) ou a coeundi.

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D) Deformidade permanente Consiste ela no dano esttico, aparente, considervel, irreparvel pela prpria fora da natureza e capaz de provocar a impresso vexatria (desconforto para quem olha e humilhao para a vtima). Mesmo que possvel, no se pode exigir que a vtima procure cirurgia para encobrir os ferimentos, subsistindo a qualificadora. Contudo, optando por corrigir a leso atravs de cirurgia plstica, fica afastada a circunstncia majorante.

E) Aborto Deve a leso ser praticada a ttulo de dolo e o abortamento a ttulo de culpa (crime preterdoloso ou preterintencional).

Art. 129, pargrafo 2, V

Art. 127, 1 parte

A leso querida e o aborto no

O aborto que o resultado visado, enquanto a leso no querida, nem mesmo eventualmente.

indispensvel que o agente tenha conhecimento da gravidez da vtima (ou que sua ignorncia tenha sido inescusvel), jamais querendo ou aceitando o resultado mais grave, caso em que haveria o abortamento criminoso.

OBS.: Coexistncia de qualificadoras perfeitamente possvel a coexistncia, num determinado fato, de qualificadoras vrias, inclusive de natureza grave (pargrafo 1) e gravssima (pargrafo 2) , como quando, por exemplo, alm de ficar incapacitada para as ocupaes habituais por mais de trinta dias (leso grave), a vtima sofreu deformidade permanente (leso gravssima). Nesse caso, o crime permanece nico, aplicando-se as penas do pargrafo mais grave, devendo o juiz, por ocasio da fixao da pena-base, considerar as demais conseqncias sofridas pelo ofendido.

1.8) HOMICDIO PRETERDOLOSO

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29Leso corporal seguida de morte 3 Se resulta morte e as circunstncias evidenciam que o agente no qus o resultado, nem assumiu o risco de produz-lo: Pena - recluso, de quatro a doze anos.

OBS. Se o antecedente doloso consiste num simples gesto de ameaa (art. 147) ou em meras vias de fato (contraveno penal), o evento morte s pode ser imputado ao agente a ttulo de homicdio culposo, que absorve a ameaa ou a contraveno penal. 1.9) DIMINUIO DA PENA E SUBSTITUIO DA PENADiminuio de pena 4 Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domnio de violenta emoo, logo em seguida a injusta provocao da vtima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um tero. Substituio da pena 5 O juiz, no sendo graves as leses, pode ainda substituir a pena de deteno pela de multa, de duzentos mil ris a dois contos de ris: I - se ocorre qualquer das hipteses do pargrafo anterior; II - se as leses so recprocas

OBS.: STJ possui vrias decises aplicando o princpio da insignificncia nos crimes culposos, tudo a depender da leso criada. 1.10) LESO CORPORAL CULPOSA 6 Se a leso culposa: (Vide Lei n 4.611, de 1965) Pena - deteno, de dois meses a um ano

A leso corporal culposa na direo de veculo automotor no mais se enquadra no delito tipificado no art. 129, pargrafo 6, do CP, mas sim no art. 303 do CTB, punida com 6 meses a 2 anos de deteno.

07.04.2009 RENATO BRASILEIRO

B) CRIMES CONTRA O PATRIMNIO

Smula 107 do STJ competente a Justia Federal para processar e julgar os crimes praticados contra servidor pblico federal desde que relacionados s suas funes.

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Estes crimes esto previstos no Ttulo II da Parte Especial do Cdigo Penal.

NLSON HUNGRIA dizia que patrimnio o complexo de bens ou interesses de valor econmico em relao de pertinncia a uma pessoa.. tudo aquilo que tem valor econmico para algum. Todavia, tambm se tratam de bens de valor afetivo para a vtima. STJ negou, por unanimidade, o princpio da insignificncia ao seguinte caso: porta-retrato de pouco valor cuja foto era de um filho falecido da vtima.

ROGRIO GRECO Os crimes patrimoniais previstos no ttulo II originam-se, basicamente, da ausncia do Estado Social, que cria, dada a sua m administrao, um abismo entre as classes sociais, gerando, consequentemente, um clima de tenso, altamente propcio ao desenvolvimento de uma mentalidade voltada prtica dessas infraes penais. No Ttulo correspondente aos crimes contra o patrimnio, ser fundamental ao exegeta (comentrio) utilizar a interpretao denominada sistmica ou sistemtica para que se tenha melhor compreenso dos tipos penais. Ex.: art. 159 do CPArt. 159 - Seqestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condio ou preo do resgate: Vide Lei n 8.072, de 25.7.90

O mencionado art. 159 do CP tem a vantagem como um dos elementos exigidos pelo tipo. Que vantagem seria essa? Levando-se a efeito uma interpretao sistmica, com a necessria observao da situao topogrfica do artigo em estudo, chegaramos concluso de que a vantagem exigida pelo tipo penal seria to-somente aquela de natureza patrimonial, pois que o art. 159 encontra-se inserido no Ttulo correspondente aos crimes contra o patrimnio, sendo este, portanto, o bem jurdico precipuamente protegido.

Teoria constitucionalista do Direito Penal essa teoria diz que, o Direito Penal s legtimo quando protege um bem jurdico consagrado pela a CF. Art. 5, caput, da CF o patrimnio um direito fundamental do homem. Ex.: o direito de escolha da opo sexual no garantido pela CF, logo, no pode ser punido penalmente por tal razo.

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31 1) FURTO ART. 155 DO CP

Furto Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia mvel: Pena - recluso, de um a quatro anos, e multa. 1 - A pena aumenta-se de um tero, se o crime praticado durante o repouso noturno. 2 - Se o criminoso primrio, e de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de recluso pela de deteno, diminu-la de um a dois teros, ou aplicar somente a pena de multa. 3 - Equipara-se coisa mvel a energia eltrica ou qualquer outra que tenha valor econmico. Furto qualificado 4 - A pena de recluso de dois a oito anos, e multa, se o crime cometido: I - com destruio ou rompimento de obstculo subtrao da coisa; II - com abuso de confiana, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. 5 - A pena de recluso de trs a oito anos, se a subtrao for de veculo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. (Includo pela Lei n 9.426, de 1996)

Tem-se no caput o furto simples. No pargrafo primeiro h uma causa de aumento da pena (furto noturno). No pargrafo segundo h a figura do furto privilegiado. No pargrafo terceiro h uma norma penal complementar ou explicativa. Nos pargrafos quarto e quinto h as qualificadoras. A doutrina fala modernamente na chamada interpretao geogrfica ou topogrfica do tipo penal uma norma s se aplica para aquilo que est acima dela. Ex.: a causa de aumento de pena do furto s se aplica modalidade de furto simples, no se aplicando s qualificadoras (previstas nos pargrafos 4 e 5 do CP). OBS.: quanto ao crime de homicdio, h exceo desta forma de interpretao, pois este crime ser julgado pelos jurados (princpio da soberania dos veredictos) STF assim entende.

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32 1.1) BEM JURDICO Prevalece o entendimento de que o art. 155 tutela a propriedade, a posse e tambm a deteno. HUNGRIA entende que s tutela a propriedade. ROGRIO GRECO e NUCCI entendem que s se tutela a propriedade e a posse, dizendo este ltimo que a mera deteno no protegida pelo direito penal, pois no integra o patrimnio da vtima.

1.2) SUJEITOS DO DELITO Sujeito ativo trata-se de um crime comum.

OBS.1: O proprietrio do objeto pode ser sujeito ativo do crime de furto? R.: O artigo fala em coisa alheia elementar do crime. O proprietrio, assim, no pode ser sujeito ativo do crime de furto; 1 corrente - responderia por furto de coisa comum art. 156 do CP (este crime depende de representao); 2 corrente responderia por exerccio arbitrrio das prprias razes art. 345 e 346 do CP. OBS.2: Possuidor da coisa pode ser sujeito ativo do crime de furto? R.: Responder pelo crime de apropriao indbita. Ex.: sujeito chega num estacionamento e pede a chave do carro que no seu; o manobrista a entrega e o sujeito entra no carro e vai embora pratica crime de estelionato. No estelionato, o dolo ab initio (desde o primeiro momento, o agente j agia com dolo sobre determinado objeto). Na apropriao indbita, o agente adquire a posse do objeto de maneira regular, mas posteriormente muda a sua inteno. OBS.3: Funcionrio pblico pode ser sujeito do crime de furto? R.: Se o agente se valer da facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionrio, responder pelo o crime de peculato-furto - art. 312, pargrafo 1, do CP; caso contrrio, responder pelo crime de furto. OBS.4: Ladro que rouba ladro irrelevante qualquer considerao relativa qualidade do sujeito passivo, portanto, quem furta de um ladro, responder normalmente pelo delito. ROGRIO SANCHES Protege-se somente a posse legtima; ladro que subtrai ladro pratica furto, tendo como vtima, porm, o real dono da coisa (legtimo possuidor).

Sujeito passivo poder ser qualquer pessoa, fsica ou jurdica, proprietria, possuidora ou detentora da coisa assenhorada. ROGRIO GRECO Poder algum ser condenado pelo delito de furto, sem que se possa indicar a vtima da mencionada infrao penal? R.: Embora no se

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33 exija a identificao do dono da coisa para que se possa concluir pelo furto, a condenao do agente, entretanto, somente poder ocorrer se houver certeza absoluta de que a coisa que se encontra em seu poder foi objeto de subtrao.

1.3) TIPO OBJETIVO Subtrair coisa alheia mvel. Todo e qualquer bem pode apresentar um valor de troca (valor economicamente aprecivel). Alm disso, alguns objetos podem ter um valor de uso (valor sentimental da coisa). Caso se esteja diante de um bem com valor de troca, pode-se alegar o princpio da insignificncia. Caso se esteja diante de um bem com valor de uso, no se pode alegar o princpio da insignificncia. O ncleo do tipo subtrair (retirar o bem da vtima). Significa inverter a posse. Inverter a posse significa: apoderar-se de um bem e retir-lo da esfera de segurana da vtima. Pouco importa se a vtima presencia ou no a subtrao para fins de caracterizao do furto.

1.3.1) Princpio da insignificncia

A) Pressupostos Mnima ofensividade da conduta do agente; Nenhuma periculosidade da ao; Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; Inexpressividade da leso jurdica provocada.

STF HC 84687 para os tribunais, no h falar em aplicao deste princpio ao: reincidente (STJ RHC 24326) e nas hipteses de furto qualificado (STF HC 94765). A conseqncia do princpio da insignificncia a excluso da tipicidade material.

E M E N T A: PRINCPIO DA INSIGNIFICNCIA - IDENTIFICAO DOS VETORES CUJA PRESENA LEGITIMA O RECONHECIMENTO DESSE POSTULADO DE POLTICA CRIMINAL - CONSEQENTE

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34DESCARACTERIZAO DA TIPICIDADE PENAL EM SEU ASPECTO MATERIAL - DELITO DE FURTO "RES FURTIVA" (UM SIMPLES BON) NO VALOR DE R$ 10,00 - DOUTRINA - CONSIDERAES EM TORNO DA JURISPRUDNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - MERA EXISTNCIA DE INQURITOS OU DE PROCESSOS PENAIS AINDA EM CURSO - AUSNCIA DE CONDENAO PENAL IRRECORRVEL - PRINCPIO CONSTITUCIONAL DA NO-CULPABILIDADE (CF, ART. 5, LVII) - PEDIDO DEFERIDO. O PRINCPIO DA INSIGNIFICNCIA QUALIFICA-SE COMO FATOR DE DESCARACTERIZAO MATERIAL DA TIPICIDADE PENAL. - O princpio da insignificncia - que deve ser analisado em conexo com os postulados da fragmentariedade e da interveno mnima do Estado em matria penal - tem o sentido de excluir ou de afastar a prpria tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu carter material. Doutrina. Tal postulado que considera necessria, na aferio do relevo material da tipicidade penal, a presena de certos vetores, tais como (a) a mnima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ao, (c) o reduzidssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da leso jurdica provocada - apoiou-se, em seu processo de formulao terica, no reconhecimento de que o carter subsidirio do sistema penal reclama e impe, em funo dos prprios objetivos por ele visados, a interveno mnima do Poder Pblico. O POSTULADO DA INSIGNIFICNCIA E A FUNO DO DIREITO PENAL: "DE MINIMIS, NON CURAT PRAETOR". - O sistema jurdico h de considerar a relevantssima circunstncia de que a privao da liberdade e a restrio de direitos do indivduo somente se justificam quando estritamente necessrias prpria proteo das pessoas, da sociedade e de outros bens jurdicos que lhes sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores penalmente tutelados se exponham a dano, efetivo ou potencial, impregnado de significativa lesividade. O direito penal no se deve ocupar de condutas que produzam resultado cujo desvalor - por no importar em leso significativa a bens jurdicos relevantes - no represente, por isso mesmo, prejuzo importante, seja ao titular do bem jurdico tutelado, seja integridade da prpria ordem social. A MERA EXISTNCIA DE INVESTIGAES POLICIAIS (OU DE PROCESSOS PENAIS EM ANDAMENTO) NO BASTA, S POR SI, PARA JUSTIFICAR O RECONHECIMENTO DE QUE O RU NO POSSUI BONS ANTECEDENTES. - A s existncia de inquritos policiais ou de processos penais, quer em andamento, quer arquivados, desde que ausente condenao penal irrecorrvel - alm de no permitir que, com base neles, se formule qualquer juzo de maus antecedentes -, tambm no pode autorizar, na dosimetria da pena, o agravamento do "status poenalis" do ru, nem dar suporte legitimador privao cautelar da liberdade do indiciado ou do acusado, sob pena de transgresso ao postulado constitucional da no-culpabilidade, inscrito no art. 5, inciso LVII, da Lei Fundamental da Repblica

Ementa DIREITO PROCESSUAL PENAL E PENAL. HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO. PRINCPIO DA INSIGNIFICNCIA. NO-INCIDNCIA NO CASO. POSSIBILIDADE DE CONSIDERAO DO PRIVILGIO. ART. 155, 2 E 4, CP. CONCESSO DE OFCIO DO HC. 1. A questo de direito tratada neste writ, consoante a tese exposta pelo impetrante na petio inicial, a suposta atipicidade da conduta realizada pelo paciente com base na teoria da insignificncia, o que dever conduzir absolvio por falta de lesividade ou ofensividade ao bem jurdico tutelado na norma penal. 2. O fato insignificante (ou irrelevante penal) excludo de tipicidade penal, podendo, por bvio, ser objeto de tratamento mais adequado em outras reas do Direito, como ilcito civil ou falta administrativa. 3. No considero apenas e to somente o valor subtrado (ou pretendido subtrao) como parmetro para aplicao do princpio da insignificncia. Do contrrio, por bvio, deixaria de haver a modalidade tentada de vrios crimes, como no prprio exemplo do furto simples, bem como desaparecia do ordenamento jurdico a figura do furto privilegiado (CP, art. 155, 2). 4. A leso se revelou significante no apenas em razo do valor do bem subtrado, mas principalmente em virtude do concurso de trs pessoas para a prtica do crime (o paciente e dois adolescentes). De acordo com a concluso objetiva do caso concreto, no foi mnima a ofensividade da conduta do agente, sendo reprovvel o comportamento do paciente. 5. Compatibilidade entre as qualificadoras (CP, art. 155, 4) e o privilgio (CP, art. 155, 2), desde que no haja imposio apenas da pena de

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35multa ao paciente. 6. Habeas corpus denegado. Concesso da ordem de ofcio por outro fundamento.

B) Princpio da insignificncia aos crimes contra a Administrao Pblica Posio moderna (doutrinadores conservadores): No se aplica o princpio da insignificncia aos crimes contra a Administrao Pblica. Posio contempornea (CESPE): Para o STF, possvel aplicao do princpio da insignificncia ao crime de peculato.

C) Princpio da insignificncia e porte de drogas em organizao militar Previsto no art. 290 do CPM STF - HC 94685 5 votos a 1, contrrios aplicao do princpio da insignificncia.

D) Princpio da insignificncia e suspenso condicional do processo Art 89 da Lei 9099/95. Ela possvel para todo e qualquer crime cuja pena mnima seja igual ou inferior a 1 ano. A pena prevista para o furto simples de 1 a 4 anos. Ex.: subtrao de uma lata de leite e o MP denuncia o agente, com a proposta de suspenso, a qual aceita pelo o acusado e seu defensor. Outro advogado entre na causa e impetra HC (pois a leso insignificante). Para o STJ no cabe HC, pois no h risco potencial liberdade de locomoo. Para o STF, o fato de o acusado ter aceito a suspenso condicional do processo, no impede a impetrao de HC buscando o trancamento do processo em virtude do princpio da insignificncia (STF HC 88393).

E) Princpio da insignificncia no crime de roubo No possvel a aplicao no crime de roubo (STF RE 454394).

OBS.: H jurisprudncia no sentido de que a mera subtrao de folha de talo de cheques no pode ser objeto de crime de furto, pois no tem valor econmico, constituindo apenas meio para a prtica de estelionato.

1.3.2) Coisa mvel

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36 tudo que pode ser objeto de deslocamento, podendo ser transportado de um lugar para o outro, sem destruio. E bem imvel? R: No! O CP diz que a coisa alheia deve ser mvel. da prpria essncia do furto que a coisa seja de bem mvel. Na sua conceituao, o direito penal no se socorre do direito civil, bastando que seja capaz de ser apreendida ou transportada de um lugar para outro, sem perder sua identidade. Dentro desse esprito, apesar da prescrio em sentido contrrio do CCB, para fins penais, so considerados coisas mveis os navios, aeronaves e os materiais separados provisoriamente de um prdio.

Animais e semoventes podem ser objeto material de furto h o famoso Abigeato o furto de animais, semoventes. Famulato - Furto praticado por empregados, por quem tem a deteno do bem. Coisas pblicas de uso comum (que a todos pertencem), como por exemplo, o ar, a luz, a gua do mar e dos rios, em princpio, no podem ser objeto material de furto, a no ser que destacadas do local de origem e tenham significado econmico para algum (ex.: areia da praia que serve ao artista para criar suas obras). A subtrao de objetos deixados dentro de uma sepultura configura qual crime? Para uns, haver o delito do art. 210 ou do art. 211, ambos do CP, inexistindo furto, uma vez que os objetos materiais no pertencem a algum. Outros, como ROGRIO SANCHES e LFG, ensinam que, se o intuito do agente no era o de violar ou profanar sepultura, mas subtrair ouro existente na arcada dentria de cadver, o delito cometido apenas o de furto, que absorve o art. 211 do CP. BITENCOURT os direitos, reais ou pessoais, no podem ser objeto de furto. Contudo, os ttulos ou documentos que os constituem ou representam podem ser furtados ou subtrados de seus titulares ou detentores.

1.3.3) Coisa alheia

A) Res desperdictae a coisa perdida. Trata-se do crime de apropriao de coisa achada (trata-se de um crime a prazo art. 169, II, CP) - no se pode saber quem o dono; se souber, caracterizar o crime de furto.

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37 OBS.: A coisa s tratada como perdida quando se encontra em local pblico. Se a vtima perdeu algum bem na sua prpria casa ou local de trabalho e uma outra pessoa encontra este bem e dele se apodera, a o crime ser o de furto. A coisa no est perdida; est ainda na esfera de proteo da vtima.

B) Res nullius a coisa sem dono. Um peixe, por ex., no pode ser objeto de furto.

C) Res derelictae a coisa abandonada. A coisa abandonada no pode ser objeto do crime de furto. OBS.: dinheiro jogado em fontes quem joga a moeda, est abandonando o objeto. Mas se ele tiver destinao, poder caracterizar o furto, nos casos em que o dinheiro destinado, depois, a igrejas.

1.3.4) Subtrao de cadver Se este cadver est num cemitrio, trata-se de crime de subtrao de cadver (art. 211, CP), previsto no captulo dos crimes contra o respeito aos mortos. Se este cadver est em numa faculdade, por ex., e h disponibilidade do corpo em virtude de testamento, trata-se de coisa mvel alheia, podendo ser objeto do crime de furto. OBS1.: Partes do corpo humano pode ser objeto material de furto partes que podem ser destacadas do corpo humano, ex: dentadura, perna mecnica, etc

1.3.5) Furto famlico Furto praticado em estado de necessidade. Os tribunais refutam (no aceitam) tal possibilidade, pois interpretam o art. 24 da seguinte forma nem podia de outro modo evitar sempre teria outro modo de evitar a conduta criminosa (ler estado de necessidade em Direito Penal parte geral).

ROGRIO SANCHES A jurisprudncia tem reconhecido o estado de necessidade, desde que presentes os seguintes requisitos (nus da defesa):

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Que o fato seja praticado para mitigar a fome; Que seja o nico e derradeiro recurso do agente (inevitabilidade do comportamento lesivo); Que haja a subtrao de coisa capaz de diretamente contornar a emergncia - o STJ no admitiu o furto famlico na subtrao de uma televiso, um botijo de gs e um liquidificador, argumentando que, nesse caso, a res furtiva no autoriza concluir que o agente teria agido sob influncia de falta de alimentao; A insuficincia dos recursos adquiridos pelo agente com o trabalho ou a impossibilidade de trabalhar

1.4) TIPO SUBJETIVO Tem a presena do dolo. A doutrina diz que necessita da presena do dolo especfico (especial fim de agir) para si ou para outrem.

1.4.1) Furto de uso No tipificado no Cdigo Penal, mas sim no CPM. Para a jurisprudncia, apesar do furto de uso no ser tipificado, responde o agente pelo crime de furto caso a coisa no seja devolvida no local em que estava e no mesmo estado. Requisitos para o furto de uso: Inteno, desde o incio, de uso momentneo da coisa subtrada; Coisa no consumvel; Sua restituio imediata e integral vtima

OBS.: O apoderamento momentneo de veculo configura furto de uso? Para alguns sim, pois apesar de coisa no consumvel, tem-se o problema da gasolina (que um bem consumvel). Nesse sentido, HUNGRIA assim, se a coisa transitoriamente usada um automvel suprido de gasolina e leo e se tais substncias so total ou parcialmente consumidas, j ento se apresenta um furtum rei, isto , um autntico furto em relao gasolina e ao leo. A doutrina moderna no entanto, vem ensinando a necessidade, para caracterizar o crime quando do simples uso, um desfalque juridicamente aprecivel no patrimnio da vtima, o que no se d com o mero gasto dos pneus ou desfalque de um tanque de gasolina. Alis, parece evidente que, quem usa um carro no quer se apoderar da gasolina, mas forado, obrigado e compelido

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39 a despender esse combustvel, pois do contrrio o veculo no anda, principalmente em se tratando de uma coisa mvel por excelncia. A se punir algum por furto do combustvel, pelo uso do passageiro de um veculo motorizado, por que no punir-se, pelo gasto dos pneus (ou da borrachinha do breque), aquele que se utiliza de uma bicicleta?

1.5) CONSUMAO E TENTATIVA H 4 correntes quanto consumao do crime: 1 corrente teoria da contrectatio a consumao ocorre pelo simples contato com o agente e a coisa alheia (corrente muito minoritria); 2 corrente teoria da apprehensio teoria da amotio consuma-se o delito quando a coisa passa para o poder do agente, dispensando-se posse mansa e pacfica; 3 corrente teoria da ablatio consuma-se o delito quando a coisa, alm de apreendida, entra na posse mansa e pacfica do agente, ainda que por curto espao de tempo; 4 corrente teoria da ilatio exige para a consumao que a coisa seja levada ao local desejado pelo agente. Prevalece perante os tribunais superiores a 2 corrente teoria da amotio (STJ RESP 931733).

OBS.1: Priso em flagrante e furto consumado so incompatveis? R.: art. 302 do CPP, flagrante prprio (I e II) - furto tentado (preso quando est cometendo ou acabou de comet-la); flagrante imprprio (logo aps) e flagrante ficto/presumido (logo depois) possvel a caracterizao do furto consumado (STF HC 92450).

OBS.2: Se o agente surpreendido no interior de um supermercado, ocultando objetos, trata-se de atos preparatrios, enquanto no passar pelo caixa. Os atos preparatrios no so punveis, salvo se houver figura tpica especfica. Em relao execuo, adota-se a teoria objetiva formal o agente ingressa na fase executria quando d incio prtica do verbo ncleo do tipo. OBS.3: Aps entrar numa residncia, o agente surpreendido antes de se apoderar de qualquer objeto responder por violao de domiclio. Por mais que tenha entrado na residncia, pela teoria objetivo formal, deveria praticar o verbo ncleo do tipo.

OBS.4: Subtrao com destruio sujeito vai a uma fazenda, mata uma vaca e comea a cort-la, mas no leva a carne embora, por ex., - quando houver a destruio ou perda do bem subtrado, o delito de furto estar consumado.

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40 Quando algum consome o objeto dentro do mercado aplica-se a mesma regra, mas deve-se atentar se o sujeito pagar o valor do objeto no caixa.

1.5.1) Crime impossvel Pessoa que entra num estabelecimento vigiado e leva um objeto que l vendido, se est sendo vigiada desde o incio do ato, sendo presa em flagrante no estacionamento, por ex, - para a doutrina majoritria, trata-se de crime impossvel. Para a jurisprudncia, a utilizao de dispositivos de segurana no caracteriza crime impossvel, pois a ineficcia do meio seria apenas relativa. Ex. do punguista (ladro habilidoso): ladro tenta assaltar a vtima, mas esta no tem valores nem objetos de valores na sua posse, trata-se de crime impossvel por absoluta impropriedade do objeto. Se o agente enfia a mo no bolso errado do cidado, trata-se de circunstncia acidental, respondendo ento por tentativa de furto (BITENCOURT e ROGRIO GRECO). HUNGRIA, todavia, entende que, se o agente, visando surrupiar dinheiro do bolso da cala de transeunte, depara-se com o bolso vazio, ser o caso de tentativa punvel, pois foi meramente acidental a inexistncia do dinheiro no bolso do transeunte: ou este guardava a carteira noutro bolso ou ocasionalmente no trazia dinheiro consigo.

1.6) DISTINES

1.6.1) Subtrao por arrebatamento x trombada Subtrao de arrebatamento melhor exemplo quando arrancam a corrente no pescoo da vtima nesse caso, a violncia dirigida contra a coisa (crime de furto). Trombada local de intenso movimento e algum tromba com um idoso; quando este cai no cho, o agente arranca o objeto dele; a violncia dirigida contra a pessoa (crime de roubo).

1.6.2) Furto x receptao x favorecimento real Responde o agente pelo crime de favorecimento real se sua conduta aderir a do agente aps a subtrao; se antes, responde como partcipe do crime de furto. Ex.: pessoa furta um carro, mas no tem onde escond-lo; logo, antes de furt-lo, pede para seu amigo guard-lo na garagem de sua casa este que guardou o carro, responder por furto ser partcipe do crime de furto. No favorecimento real, presta-se auxlio ao criminoso (a inteno no de assegurar um interesse de um terceiro).

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41 No delito de receptao, o terceiro age em proveito prprio ou de terceiro (pode ser qualquer pessoa, exceo do criminoso se o for, ser favorecimento real).

1.6.3) Posse vigiada x posse desvigiada No caso da posse vigiada, tem-se o delito de furto. No caso de posse desvigiada, tem-se o delito de apropriao indbita.

1.6.4) Venda fraudulenta de coisa subtrada Para a jurisprudncia, a venda fraudulenta da coisa subtrada ser absorvida pelo delito de furto, sendo considerada mero exaurimento do delito princpio da consuno.

1.7) FURTO PRATICADO DURANTE O REPOUSO NOTURNO PARGRAFO 1 OBS.1: Os costumes podem funcionar como fontes do Direito Penal? R.: podem, desde que no criem crimes.

Existe acirrada controvrsia na doutrina e jurisprudncia sobre o tema. Seno, vejamos. Consoante o professor NUCCI, entende-se por repouso noturno, a fim de dar segurana interpretao do tipo penal, uma vez que as pessoas podem dar inicio ao repouso noturno em vrios horrios, o perodo que medeia entre o incio da noite, com o por-do-sol, at o surgimento do dia, com o alvorecer. A vigilncia tende a ser naturalmente dificultada quando a luz do dia substituda pelas luzes artificiais da urbe, de modo que o objetivo do legislador foi justamente agravar a pena daquele que se utiliza desse perodo para praticar o delito contra o patrimnio. Portanto, ainda que numa cidade, na qual todas as pessoas trabalham a noite e dormem durante o dia e ocorrendo um assalto durante o dia, no ser considerada como causa especfica de aumento de pena de que trata o pargrafo 1 do art. 155, do CP. No se aplicaria a majorante do pargrafo 1 ao furto praticado durante o repouso diurno, sob pena de analogia in malam partem Entretanto, h doutrina vem entendendo que o critrio correto para definir repouso noturno varivel, no se identificando com a noite, mas sim com o tempo em que a cidade ou local costumeiramente

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42 recolhe-se para o repouso dirio. a doutrina do prof. ROGRIO SANCHES, MIRABETE e outros.

Natureza Jurdica: Causa especial de aumento de pena. Somente se aplica ao furto simples, nunca ao qualificado, podendo o juiz considerar o perodo de cometimento na anlise das circunstncias judiciais (interpretao geogrfica/topogrfica). Seu fundamento a maior facilidade para a prtica do crime.

OBS.2: Esta majorante aplica-se nos casos de casa desabitada ou em estabelecimento comercial? R.: Para o STJ, irrelevante o fato de se tratar de estabelecimento comercial ou de residncia, habitada ou desabitada, bem como o fato de a vtima estar ou no efetivamente repousando (STJ HC 29153).

CRIMINAL. HC. FURTO. CAUSA ESPECIAL DE AUMENTO. REPOUSO NOTURNO. ESTABELECIMENTO COMERCIAL. LOCAL DESABITADO. IRRELEVNCIA. ORDEM DENEGADA. Para a incidncia da causa especial de aumento prevista no 1 do art. 155 do Cdigo Penal, suficiente que a infrao ocorra durante o repouso noturno, perodo de maior vulnerabilidade para as residncias, lojas e veculos. irrelevante o fato de se tratar de estabelecimento comercial ou de residncia, habitada ou desabitada, bem como o fato de a vtima estar, ou no, efetivamente repousando. Ordem denegada.

1.8) FURTO PRIVILEGIADO PARGRAFO 2

Primariedade - quem no reincidente (ainda que tenha no passado vrias condenaes). H corrente minoritria que entende se trata do que, na data da sentena, no ostenta qualquer condenao irrecorrvel; Pequeno valor da res tudo que for inferior a um salrio mnimo. OBS.: no confundir coisa de pequeno valor (que no ultrapassa um salrio mnimo) com coisa de valor insignificante. Exige-se a juntada no inqurito de um auto de avaliao. A lei fala em coisa de pequeno valor e no em pequeno prejuzo da vtima, pouco importando a situao financeira da vtima.

Presente os pressupostos, trata-se de direito subjetivo do acusado.

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1.8.1) Furto qualificado e privilegiado possvel? Ex.: 2 pessoas subtraram 125 reais. Por qual crime elas respondem? R.: Para o STF, possvel o furto qualificado-privilegiado (STF HC 96843 deciso de 2009) (STJ HC 96140). Antigamente o STF entendia que tal combinao no era possvel

Ementa DIREITO PENAL. HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO. RU PRIMRIO. RES FURTIVA DE PEQUENO VALOR. POSSIBILIDADE DE INCIDNCIA DO PRIVILGIO PREVISTO NO PARGRAFO 2 DO ART. 155 DO CP. ORDEM CONCEDIDA. 1. A questo tratada no presente writ diz respeito possibilidade de aplicao do privilgio previsto no pargrafo 2 do art. 155 do Cdigo Penal ao crime de furto qualificado. 2. Considero que o critrio norteador, deve ser o da verificao da compatibilidade entre as qualificadoras (CP, art. 155, 4) e o privilgio (CP, art. 155, 2). E, a esse respeito, no segmento do crime de furto, no h incompatibilidade entre as regras constantes dos dois pargrafos referidos. 3. No caso em tela, entendo possvel a incidncia do privilgio previsto no pargrafo 2 do art. 155 do Cdigo Penal, visto que, apesar do crime ter sido cometido em concurso de pessoas, o paciente primrio e a coisa furtada de pequeno valor. 4. Ante o exposto, concedo a ordem de habeas corpus.

STJ - PRIVILGIO. CRIME CONTRA O PATRIMNIO PRATICADO MEDIANTE O CONCURSO DE DUAS PESSOAS. APLICAO DO PRIVILEGIUM DESCRITO NO 2 DO ART. 155 DO CP. COMPATIBILIDADE COM A MODALIDADE QUALIFICADA. PRIMARIEDADE E RES FURTIVA DE PEQUENO VALOR. REQUISITOS LEGAIS DEVIDAMENTE PREENCHIDOS. RECONHECIMENTO DA BENESSE QUE SE IMPE. 1. para possibilitar que a prestao jurisdicional se aproxime o quanto mais for vivel de uma apenao justa, com relao aplicao do privilegium ao furto qualificado, h de ser atenuado o rigor da lei, mesmo porque esta no probe expressamente o reconhecimento da benesse. 2. Em hipteses excepcionais, considerando-se o valor da res furtiva e a primariedade, faz-se inafastvel a concesso do benefcio inserto no art. 155, 2, do CP.

Consequncias do privilgio (as duas primeiras podem ser cumuladas): substituio da pena de recluso pela de deteno; diminuio da pena de um a dois teros; aplicao isolada da pena de multa.

ROGRIO GRECO quando se analisa a causa especial de aumento de pena relativa ao repouso noturno, conclumos que ela no se aplicava s modalidades qualificadas em razo da sua situao topogrfica, ou seja, pelo fato de se encontrar anteriormente s qualificadoras, somente poderia ser aplicada ao caput do art. 155 do CP, de acordo com regras de hermenutica.

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44 Agora temos outro pargrafo que tambm antecede a previso das modalidades qualificadas. Entretanto, ao contrrio do repouso noturno, o pargrafo 2 do art. 155 do CP beneficia o agente. Ao contrrio do raciocnio anterior (furto praticado durante o repouso noturno), a aplicao do pargrafo 2 beneficia o agente, razo pela qual, por questes de boa poltica criminal, faz-se mister a sua aplicao.

1.9) FURTO DE ENERGIA PARGRAFO 3 Equipara-se coisa mvel, a energia eltrica ou qualquer outra que tenha valor econmico. OBS.: Exemplo do gato e da alterao do medidor estelionato ou furto? R.: alterao do medidor de energia caracteriza o estelionato; no caso do gato furto de energia.

Item 56 da Exposio de Motivos do Cdigo Penal Para afastar qualquer dvida, expressamente equiparada coisa mvel, e consequentemente reconhecida como possvel objeto de furto, a energia eltrica ou qualquer outra que tenha valor econmico. Toda energia economicamente utilizvel, suscetvel de incidir no poder de disposio material e exclusiva de um indivduo (como por exemplo, a eletricidade, a radioatividade, a energia gentica dos reprodutores etc.) pode ser includa, mesmo do ponto de vista tcnico, entre as coisas mveis, a cuja regulamentao jurdica, portanto, deve ficar satisfeita.

1.9.1) Subtrao de sinal de TV a cabo BITENCOURT, ROGRIO GRECO no configura o crime. Para ele, energia deve ser algo que se consuma com o uso. Sinal de TV a cabo sinal de fluxo contnuo posio minoritria. Jurisprudncia sinal de TV a cabo equiparado coisa mvel, podendo ser objeto material de furto crime permanente (STJ HC 17867). NUCCI tambm entende desta forma. Ex.: subtrao de esperma encontra-se sob a tutela penal a energia gentica subtrada de reprodutores. Caracteriza crime de furto.

ROGRIO SANCHES - A mesma discusso se repete quando se trata de pulso telefnico. Para uns, o pulso, no tendo capacidade energtica, constitui simples medida de prestao de servios (conduta atpica). J para outros, a alegao de atipicidade inconsistente. O que caracteriza o crime de furto a

DIREITO PENAL parte especialvrios

45 subtrao, para si ou para outrem, de coisa alheia mvel, tendo o legislador equiparado coisa mvel a energia eltrica ou qualquer outra que tenha valor econmico assim, h subtrao de coisa alheia no caso de subtrao de pulsos telefnicos, ainda que sem violar o sigilo comunicativo do legtimo titular.

09.04.2009 RENATO BRASILEIRO

1.10) FURTO QUALIFICADO OBS.1: Art. 155 pena: 1 a 4 anos; art 155, pargrafo 4 - pena: 2 a 8 anos; art. 157 pena: 4 a 10 anos; art. 157, pargrafo 2 - majorante de 1/3 at 1/2. No furto, a pena do furto qualificado dobrada; a pena do roubo majorado apenas aumentado de 1/3 a . Pode-se usar este aumento de pena do roubo para o furto qualificado? R.: A ttulo de princpio da proporcionalidade e da isonomia, no pode o Poder Judicirio exercer juzo de valor sobre o quantum da sano penal estipulada pelo legislador, sob pena de violao ao princpio da separao dos poderes (STF RE 358315). OBS.2: Art. 180 do CP crime de receptao no caput, exige-se o dolo direto (coisa que sabe ser produto de crime) para caracterizar o crime, com pena de 1 a 4 anos; no pargrafo primeiro, exige-se o dolo eventual (coisa que deve saber ser produto de crime) para caracterizar o crime, com pena de 3 a 8 anos. H violao ntida ao princpio da proporcionalidade. Para o STJ, deve-se aplicar ao crime de receptao qualificada a pena prevista no art. 180, caput, do CP (STJ HC 101531).

Receptao/receptao qualificada (punibilidade menor/maior). Lei n 9.426/96