148
DIREITO PENAL PARTE ESPECIAL PROFESSOR DENIS PIGOZZI CURSO DAMÁSIO DEL. POL. CIVIL E

Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

DIREITO PENAL

PARTE ESPECIAL

PROFESSOR DENIS PIGOZZI

CURSO DAMÁSIO

DEL. POL. CIVIL E FEDERAL

2014

Page 2: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

SUMÁRIO1. DOS CRIMES CONTRA A VIDA.....................................................................................6

1.1 Homicídio........................................................................................................................6

1.2 Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio............................................................20

1.3 Infanticídio....................................................................................................................21

1.4 Aborto............................................................................................................................23

2. LESÕES CORPORAIS.....................................................................................................29

2.1 Introdução.....................................................................................................................29

2.2 Classificação da Lesão Corporal Dolosa....................................................................29

Lesão Corporal Culposa....................................................................................................33

2.3 Aplicação da pena.........................................................................................................33

3. CRIMES CONTRA HONRA............................................................................................35

3.1 Calúnia...........................................................................................................................35

3.2 Difamação......................................................................................................................36

3.3 Injúria............................................................................................................................37

3.4 Ação Penal.....................................................................................................................39

3.5 Causas de aumento de Pena.........................................................................................40

3.6 Retratação.....................................................................................................................40

3.7 Causas de exclusão do crime.......................................................................................40

4. PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE................................................................42

5. CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL.....................................................43

5.1 Constrangimento Ilegal................................................................................................43

5.2 Ameaça..........................................................................................................................43

5.3 Sequestro e Cárcere Privado.......................................................................................43

5.4 Redução a condição análoga a de escravo..................................................................43

5.5 Violação de domicílio...................................................................................................44

5.6 Invasão de dispositivos Informatizados......................................................................44

Page 3: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

6. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO........................................................................46

6.1 Imunidade penais aplicadas contra o crime contra o patrimônio...........................46

6.2 Furto..............................................................................................................................47

6.3 Roubo.............................................................................................................................56

6.4 Extorsão.........................................................................................................................61

6.5 Extorsão Mediante Sequestro......................................................................................64

6.6 Dano...............................................................................................................................67

6.7 Apropriação Indébita...................................................................................................67

6.8 Apropriação Indébita Previdenciária.........................................................................67

6.9 Apropriação de Coisa achada......................................................................................68

6.10 Estelionato...................................................................................................................68

6.11 Receptação...................................................................................................................73

7. DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL.......................................76

8. DOS CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO................................76

8.1 Introdução.....................................................................................................................76

Atenção: No entanto se existir conexão entre crime de Competência Estadual e Federal a Competência da Justiça Federal prevalece.......................................................................76

9. DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO E CONTRA OS MORTOS................................................................................................................................77

10. DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL...................................................77

10.1 Disposições Gerais......................................................................................................77

10.2 Estupro........................................................................................................................77

11. DOS CRIMES PRATICADOS CONTRA A FAMÍLIA..............................................78

12. DOS CRIMES PRATICADOS CONTRA A SAÚDE PÙBLICA...............................78

13. DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA................................................................78

14. DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA...................................................................78

14.1 Introdução...................................................................................................................78

14.2 Crime de Moeda Falsa...............................................................................................78

Page 4: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

14.3 Falsificação de documento público...........................................................................80

14.4 Uso de documento falso..............................................................................................82

14.5 Falsidade de chassi ou de sinal identificativo de veículo automotor......................82

14.6 Supressão de documento, Sonegação de papel ou objeto de valor probatório, Subtração ou inutilização de livro ou documento e Inutilização de edital ou de sinal.83

14.7 Falsificação de atestado médico................................................................................84

14.8 Falsificação de documento particular.......................................................................84

14.9Falsidade ideológica.....................................................................................................85

15. DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL........................................................................................87

15.1 Introdução...................................................................................................................87

15.2 Peculato.......................................................................................................................88

15.3 Concussão....................................................................................................................93

15.4 Excesso de Exação......................................................................................................94

15.5 Corrupção Passiva......................................................................................................95

15.6 Facilitação do contrabando ou descaminho.............................................................97

15.7 Prevaricação................................................................................................................97

15.8 Prevaricação Imprópria.............................................................................................99

15.8 Condescendência Criminosa......................................................................................99

16. DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL......................................................................................101

16.1 Resistência.................................................................................................................101

16.2 Desobediência............................................................................................................102

16.3 Desacato.....................................................................................................................103

16.3 Corrupção Ativa.......................................................................................................103

16.4 Descaminho...............................................................................................................103

16.5 Contrabando.............................................................................................................104

16.6 Inutilização de Sinal ou Edital.................................................................................104

Page 5: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

16.7 Sonegação de contribuição previdenciária.............................................................104

17. DOS CRIMES PRATICADOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA..105

17.1 Reingresso de estrangeiro expulso..........................................................................105

17.2 Denunciação caluniosa.............................................................................................106

17.3 Comunicação falsa de crime ou de contravenção..................................................107

17.4 Autoacusação Falsa..................................................................................................107

17.5 Falso Testemunho ou Falsa Perícia.........................................................................108

17.6 Coação no Curso do Processo..................................................................................109

17.6 Exercício Arbitrário das Próprias Razões.............................................................109

17.6 Favorecimento Pessoal.............................................................................................110

17.7 Favorecimento Real..................................................................................................111

17.8 Patrocínio Infiel........................................................................................................112

Page 6: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

1. DOS CRIMES CONTRA A VIDA

1.1 Homicídio

A- Homicídio simples:

Previsão legal: Art. 121 do CP “Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos”.

Conceito: Como é sabido, homicídio é a eliminação da vida extrauterina, provocado por uma outra pessoa.

Objeto Jurídico: vida humana extrauterina, de modo que é classificado como crime simples, por atingir um só bem jurídico. Ao contrário crime complexo é aquele que atinge mais de um bem jurídico. Alguns doutrinadores o chamam de crime pluriofensivo.

Objeto material: é toda pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta do agente.

A titulo de informação a maioria dos crimes previsto no Código Penal possuem objeto material. Ressalvados alguns, no caso os de ato obsceno (art. 233 do CP) e o de falto testemunho (art. 342 do CP).

No caso do homicídio, e o ser humano que sofre a conduta.

O homicídio é considerado um crime comum, porque pode ser praticado por qualquer pessoa (a lei não exige nenhum requisito especial para sua prática, como no crime de peculato – ser funcionário público).

Observação: não é crime próprio a exigir uma legitimidade ativa ou passiva especial.

Concurso de agente: É possível a ocorrência tanto da coautoria como da participação no crime de homicídio.

Observação: Também vale ressaltar os requisitos do concurso de agentes a seguir mencionados (PRIL):

Pluralidade de agentes;

Relevância causal de todas as condutas;

Identidade de infração de todos agentes;

Liame subjetivo (vínculo psicológico que une as condutas dos agentes).

Coautoria: duas ou mais pessoas praticam os atos executórios do crime.

Exemplo: “A” segura “B” para que “C” atire. Nesta hipótese “A” e “C” são coautores.

Participe: o agente não pratica a conduta típica, mas de um modo qualquer concorre para a ocorrência do delito (art. 29 do CP).

Page 7: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Na verdade a participação pode ser moral (induzimento ou instigação) e material (quando o individuo presta efetivamente o auxilio).

Autoria Colateral: ocorre quando duas ou mais pessoas querem cometer o mesmo crime e agem ao mesmo tempo, sem que uma saiba da intenção da outra é o resultado morte decorre de apenas uma delas. As pessoas são identificadas, sendo assim, aquele que foi apontado como causador deste resultado responde pelo crime de homicídio consumado, ao passo que o outro agente responde por tentativa de homicídio.

Exemplo: Sheik e Valdívia querem matar Rogério Ceni, em um determinado momento, os dois individuo fazem uma embosta no mesmo local, sem que um tome conhecimento da intenção do outro, e ambos efetuar disparados com arma de fogo contra Ceni. A pericia constar que o disparo da arma de fogo que ocasionou a morte de Ceni foi o de Sheik.

Atenção: Nesta hipótese Sheik deve responder por homicídio consumado e Valdívia por tentativa.

Autoria incerta: ocorre quando na autoria colateral não se sabe quem foi o causador do resultado morte, desta forma, mesmo com o resultado morte da vítima ambos devem responder por tentativa de homicídio.

Exemplo:

Tanto na autoria colateral como na autoria incerta não se fala em concurso de agente por falta de liame subjetivo. Destaca-se também a diferença entre autoria incerta e autoria ignorada, pois neste última não se sabe quem praticou a conduta, como por exemplo no caso da “bala perdida”.

Cuidado: ao contrário, para se falar no liame subjetivo é dispensável o acordo prévio de vontades, bastando que a vontade de uma dos agentes adira à vontade dos demais.

Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa.

Sujeito passivo: pode ser qualquer ser humano, após o nascimento, desde que esteja vivo.

Observação: qualquer conduta visando matar pessoa já morta caracteriza crime impossível pela impropriedade absoluta do objeto e o fato atípico.

Também há crime impossível quando ficar comprovado absoluta ineficácia do meio utilizado para matar alguém, como por exemplo, a utilização de “bala de festim”.

Observação: Nas hipóteses legais de crime impossível o fato torna-se atípico.

Art. 17 do CP “Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime”.

Consumação: ocorre com a morte da vítima “na hipótese de cessação da massa encefálica”. Trata-se de crime material porque exige a produção do resultado naturalístico para a sua consumação.

Page 8: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

A prova da materialidade do homicídio e feita pelo exame necroscópico ou cadavérico, sendo por isso classificado como crime não transeunte porque deixa vestígios. No caso de tentativa de homicídio, faz-se o exame de corpo de delito.

Atenção: o homicídio é classificado como um crime instantâneo de efeitos permanentes, porque a morte se na no exato instante, mas seus efeitos são irreversíveis.

Tentativa de homicídio: é perfeitamente possível, salientando que ela tem dois requisitos, a saber:

Inicio da execução do delito;

Não consumação do crime por circunstâncias alheias a vontade do agente.

Art. 14, inciso II do CP “Diz-se o crime tentado quando iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente”.

Atenção: diferença entre tentativa de homicídio no caso da vítima sofrer lesões e o crime de lesões corporais é dada pelo dolo do agente (verificada no local da agressão) por sua vez a tentativa branca ou incruenta ocorre quando a vítima não é atingida e, portanto não sofre lesão.

Cuidado: quando o agente tem dolo de lesar alguém e atinge a veia que acarreta forte sangramento, levando a vítima a óbito deve responder o agente pelo crime de lesão corporal seguida de morte.

Art. 129, § 3° do CP “Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos”.

Este delito é classificado como crime preterdoloso porque o agente agiu com dolo do antecedente e culpa no consequente.

Havendo a desistência voluntária, afasta-se a tentativa e o agente só responde pelos até então praticados. Na desistência voluntariamente obrigatoriamente o agente inicia a execução do crime e podendo prosseguir nela resolve parar (não vai até o fim da execução) e assume uma conduta negativa.

Exemplo: Tico quer matar Mevío e dispara um de seus projeteis da arma e ao verificar que a vítima não morreu resolver ir embora.

Já no arrependimento eficaz o agente vai até o fim da execução do crime, e depois prática uma nova conduta para impedir que o resultado aconteça.

Exemplo: Tico com a intensão de matar Mevío disparou todos os projeteis de sua arma de fogo e depois o levou a um hospital para ser socorrido.

Cuidado: tanto na desistência voluntária como no arrependimento eficaz afasta-se a atentiva e o agente só responde pelos atos até então praticados.

Page 9: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Qual é a diferença da progressão criminosa no crime de homicídio é o crime de lesão corporal seguida de morte?

Em breves palavras, na progressão criminosa havia inicialmente há um dolo inicial de lesionar e um dolo final de matar. Nesse caso, o agente somente responde por crime de homicídio, porque a lesão fica absolvida em razão do princípio da consunção, alias solucionador do conflito aparente de normas. Por outro lado no crime de lesão corporal dolosa seguida de morte há um dolo de lesionar e culpa na morte, sendo por isso classificado como crime preterdoloso, alias o único crime previsto no Código Penal que tem essa previsão expressa.

Art. 129, § 3° do CP “Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos”.

B- Homicídio Privilegiado:

Art. 121,§ º1 do CP “Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço”.

As três hipóteses de caracterização do homicídio privilegiado são subjetivas:

Se o homicídio é praticado por motivo de relevante valor moral;

Se o homicídio é praticado por motivo de relevante valor social;

Sob o domínio de violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima.

Observação: O CP não diz homicídio privilegiado, alias tal denominação é dada pela doutrina .

Natureza Jurídica: causa de diminuição de pena. Incide na terceira fase de sua aplicação. Trata-se de redução obrigatória pelo juiz no montante de 1/6 a 1/3.

As hipóteses de homicídio privilegiado sempre natureza subjetiva e são as seguintes:

Motivo de relevante valor social: aqui o privilegio existe porque o agente mata alguém, pensando que ira beneficiar a coletividade.

Exemplo: Sujeito que mata um sujeito que cometeu diversos roubos em um determinado bairro. Desde que não seja em atividade típica de grupo de extermínio.

Motivo de relevante valor moral: são motivos considerados nobres, que demonstram bondade do agente, mas que acarretam sua condenação porque ninguém pode tirar a vida alheia.

Quanto o agente comete o crime após sofrer violenta emoção: se o agente mata sob o domínio de violenta emoção, logo após provocação da vítima. O maior exemplo ocorre

Page 10: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

quando alguém mata em flagrante adultério, não se admitindo neste caso, a absolvição por legitima defesa da honra e sim o privilegio da violenta emoção.

Atenção: O privilegio da violenta emoção pressupõe que a conduta homicida ocorra logo em seguida à provocação e disso se estende que a pratica do delito deva ocorrer como desdobramento fático, imediatamente ao ato provocador.

Exemplo: briga em um bar, na qual um dos sujeitos vai a sua casa e retorna logo após armado com um revolver.

Atenção: Nesta hipótese não caracteriza homicídio privilegiado, mas sim a atenuante genérica prevista no art. 65, inciso III alínea “c” do CP.

No privilegio o agente está sob o domínio de violenta emoção. Ao passo que na atenuante genérica do art. 65, inciso III alínea “c” do CP basta que o agente esteja sob a influência de violenta emoção. A outra diferença e que no privilegio o homicídio deve ocorrer logo em seguida à injusta provocação, requisito que não existe na atenuante.

Atenção: Todas as hipóteses de privilégio, por assumirem o caráter subjetivo, não se estendem aos comparsas, em razão do disposto no artigo 30 do CP, salvo se os jurados reconhecerem que o privilégio atingiu a todos.

Exemplo: Pai e Filho que surpreendem a sua esposa/mãe em pleno ato sexual traindo a confiança do pai/filho. Sendo que os dois resolvem atear fogo nos dois, ocasionando a morte dos amantes.

C- Homicídio Qualificado:

Previsão Legal:

Art. 121 §2º do CP “Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos”. 

Antes de tudo o homicídio qualificado é hediondo, seja consumado ou tentado, porque consta no rol taxativo do art. 1 da Lei 8.072/90.

É possível a caracterização de homicídio qualificado privilegiado? Sim, desde que as qualificadoras do homicídio sejam objetivas, porque todas as hipóteses de privilegio são subjetivas. Trata-se de um homicídio hibrido.

Exemplo: Marido que chega em sua residência e surpreende a sua esposa com o amante em sua cama, e que incendeia o quarto durante o ato de traição.

Page 11: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Atenção: No entanto o STF entende que o homicídio qualificado privilegiado não é considerado hediondo.

Quais são as qualificadoras objetivas? São aquelas ligas aos meios e modos de execução do homicídio, respectivamente (com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido).

Quais são as qualificadoras Subjetivas? As qualificadoras subjetivas são aquelas ligadas ao motivo do crime (- mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; por motivo fúti) e as hipóteses de conexão (para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime).

Qualificadoras em espécie:

Crime praticado sob paga ou promessa de recompensa: em breve palavras, e correto falar que a lei se refere a valores econômicos, de acordo com o posicionamento da doutrina, e por isso que esse homicídio é chamado de mercenário. Desta forma se alguém faz promessa de manter relação sexual para convencer alguém a matar a vítima, será aplicada a qualificadora do motivo torpe.

A figura em analise se enquadra no conceito de crime de concurso necessário, pois tem como premissa o envolvimento de duas ou mais pessoas. O fato de não conseguir identificar alguns dos envolvidos não impedi o reconhecimento da qualificadora.

De acordo com o STF, como o crime pressupõe o envolvimento de ambos a qualificadora deve ser aplicada tanto para o mandante como para o executor.

Excepcionalmente podemos ter um caso onde o homicídio será privilegiado para o mandante e qualificado para o executor, na hipótese do pai que contrata alguém para matar o estuprador de sua filha.

Motivo torpe: e a motivação repugnante, imoral, como por exemplo, a morte por preconceito (raça, cor, religião, opção sexual). Inclusive o crime pode ser cometido por motivo torpe, desde que não exista a promessa de paga ou promessa de recompensa.

Exemplo: O irmão que mata o outro para ficar com a herança de seu pai sozinho. Integrantes de uma organização que mata um policial em razão de sua função.

Atenção: A vingança pode ou não caracterizar motivo torpe, dependendo do que tenha motivado.

Exemplo: O assaltante que mata o policial que havia efetuado a sua prisão. Por outro lado, o pai que mata o estuprador de sua filha, comete homicídio privilegiado.

Page 12: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Atenção: O motivo do crime somente qualificar o homicídio uma única vez. A qualificadora do motivo torpe e genérica de modo que somente pode ser utilizada se o fato não se enquadrar no motivo fútil e nem nas qualificadoras na conexão.

Motivo Fútil: em breves palavras, motivo fútil e considerado um motivo pequeno para matar alguém.

Exemplo: Sujeito que mata outra pessoa porque fez uma barbeiragem no trânsito; Matar por motivo de brincadeira relacionadas a time; Matar a espoja porque não fez o almoço.

Atenção: Nunca um homicídio pode ser qualificado ao mesmo tempo por motivo torpe e fútil. Na verdade deve se escolher a qualificadora que melhor se aplica para a hipótese. O motivo fútil e especial em relação ao motivo torpe. Sendo que se a principal característica for à pequenez caracterizará o motivo fútil, caso contrário será considerado motivo torpe.

Prevalece o entendimento de que o ciúme não configura motivo fútil, entendimento esposado pela doutrina, mas na prática quando o motivo ocorreu por um motivo pequeno os jurados acabam reconhecendo o motivo fútil.

A ausência de prova quanto ao motivo não permite que se presuma que o motivo é fútil. Por sua vez se o réu confessa que matou, mas alega que o fez sem nenhum motivo isso também não será considerado motivo fútil, mas nesse caso a interpretação que se dá e que o agente matou por prazer, o que se enquadra no motivo torpe.

Qualificadoras referentes ao meio empregado para matar:

Emprego de veneno: O homicídio praticando com o emprego de veneno é denominada de venefício. Essa qualificadora apenas se aplica quando a substância é inoculada no corpo da vítima de forma dissimulada, ou seja, sem que ela perceba. Pois, se for empregado violência para a inoculação do veneno, aplica-se a qualificadora do meio cruel.

Veneno pode ser qualquer substância que provoque reação alérgica ou qualquer outro distúrbio na saúde da vítima, desde que o agente saiba desta condição. Temos o exemplo do açúcar para o diabético que pode provocar a sua morte.

Atenção: Não se esquecer que o Código Penal adotou a responsabilidade penal subjetiva, ou seja, ninguém pode ser condenado no Brasil com base em presunção de dolo ou culpa, vedando-se a aplicação do dolo ou culpa in re ipsa (dolo ou culpa presumido). Além disso, o réu não pode ser culpado também com base em presunção de culpabilidade, aliás que sempre tem que ser provada, ressaltando que os seus elementos são: imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa.

Fogo e explosivo: estas qualificadoras ocorrem com o emprego de fogo ou explosivo.

Observação: Se alguém além de matar a vítima empregando fogo ou explosivo danificar a coisa alheia o crime de dano qualificado ficará absorvido em razão do disposto no art. 163,

Page 13: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

paragrafo único inciso II do CP, tal artigo e expressamente subsidiário em relação a um crime mais grave.

A titulo de informação no princípio da subsidiariedade a norma primária prevalece sobre a norma subsidiária, alias funciona como um “soldado de reserva”, conforme os ensinamentos de Nelson Hungria.

Asfixia: em breves palavras é o impedimento da função respiratória que pode se dar de forma mecânica (esganadura, estrangulamento, enforcamento, sufocação, afogamento, soterramento e imprenssamento ou sufocação indireta “peso colocado no abdômen”) ou tóxica (confinamento ou uso de gás asfixiante).

Tortura ou outro meio cruel: são meios que causam grande sofrimento na vítima antes de sua morte. Na tortura, de forma mais precisa, o meio empregado demora a causar a morte.

Exemplo: Matar alguém de fome, sede ou insolação.

Por sua vez os outros meios cruéis são mais rápidos. Como por exemplo, o atropelamento voluntário, pauladas, emprego de acido etc. Se após a morte da vítima o autor esquartejar o cadáver ou queimar caracteriza o crime de destruição de cadáver previsto no art. 211 do CP.

Art. 211 do CP “Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa”.

A reiteração de golpes, facadas ou tiros somente qualificam o homicídio quando se demonstra no caso concreto que tal repetição de atos causou grave sofrimento a vítima antes de gerar sua morte.

Qual e a diferença entre homicídio qualificado pela tortura e o crime de tortura qualificada pela morte? No homicídio a morte e dolosa e a tortura e o meio escolhido para provoca-la. Já no crime de tortura qualificada, a morte e decorrência culposa da tortura (crime preterdoloso) conforme o art. 1, §3º da Lei 9.455/07.

Art. 1, §3º da Lei 9.455/07 “Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos”.

Meio insidioso: é o meio fraudulento, velado para matar a vítima, como ocorre nas sabotagens e armadilhas, como por exemplo o dano freios do carro, do paraquedas etc.

Meio que possa resultar em perigo comum: é o meio que além que ocasionar a morte da vítima expõe a risco um grande número de pessoas.

Exemplo: provocar desabamento, disparar uma arma de fogo em direção a vítima no meio de uma multidão (MC Daleste).

Page 14: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Atenção: Não e necessário que o meio empregado tenha mesmo causado perigo comum, pois o texto legal diz que basta para qualificar o crime que o meio possa provar o perigo comum.

Qualificadoras do modos de execução do homicídio:

Art. 121, § 2°, inciso II “Se o homicídio é cometido: à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido”

Tal como os meios, são qualificadoras objetivas.

O Art. 121, inciso III do § 2° do CP prevê três qualificadoras iniciais que são especificas e para as quais a lei parte da premissa que a vítima não teve como se defender. Por isso, o legislador fez previsão da qualificadora genérica “qualquer outro recurso que dificulte ou impossibilite a defesa da vítima” só pode ser utilizada se não for possível o enquadramento nas outras três figuras.

Emboscada – tocaia: o agente fica escondido para atingir a vítima de forma inesperada.

Traição: o agente se vale de alguma facilidade, da previa confiança que a vítima nele deposita para mata-la em um momento inesperado.

Exemplo: A esposa que mata seu esposo que estava dormindo.

Mediante dissimulação: é o meio fraudulento utilizado para se aproximar da vítima e mata-la de forma inesperada.

Dissimulação material: quando o a gente usa um disfarce ou uma fantasia;

Dissimulação moral: é aquela a farsa meramente verbal, que viabiliza a aproximação.

Exemplo: Ex-marido que marca um encontro para devolver alguns objetos e aproveita a oportunidade para cometer o homicídio.

Qualquer outro recurso que dificulte ou torne impossível à defesa da vítima: Somente caracteriza essa figura quando não configurar as três figuras anteriores (Art. 121, § 2°, inciso III do CP).

Exemplos: espancamento realizado por diversas pessoas contra uma única vítima; matar pessoa que esta dormindo ou que está em coma ou com golpes nas costas, desde que não configure emboscada, matar pessoa presa ou algemada.

Homicídio praticado em conexão:

Art. 121, § 2°, inciso V do CP “para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime”.

Trata-se de qualificadora subjetiva e decorre da conexão do homicídio com outro crime.

Matar par assegurar a execução de outro crime (conexão teleológica): Caso o agente efetivamente cometa posteriormente a pratica de outro crime.

Page 15: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Exemplo: Sujeito mata o segurança para se infiltra na patroa e assim efetuar o sequestro.

Neste caso responderá pelo homicídio qualificado em concurso material com o outro delito. Não caracterizando “bis in idem”, pois as vítimas são distintas.

Atenção: Entretanto existem algumas exceções a essa regra, como por exemplo, o latrocínio onde se mata para subtrair os pertences de alguém. Na verdade tal exceção e contemplada pelo princípio da especialidade, alias solucionador do conflito aparente de normas. Nessa figura qualifica em que o homicídio ocorre antes do outro crime, tem se a chamada conexão teleológica.

Matar para garantir a ocultação de outro crime: nessa modalidade a intenção do agente e evitar que a ocorrência do crime anterior chegue ao conhecimento público ou das autoridades. Caso o crime seja cometido para assegurar o cometimento de uma contravenção não caracteriza essa qualificadora, mas a de motivo torpe.

Exemplo: Matar alguém que estava prestes a descobrir o crime ou que era a única pessoa que sabia de sua existência.

Matar para a garantir a impunidade do outro crime: aqui a ocorrência do crime anterior já é de conhecimento público ou das autoridades, de modo que a intenção do homicida e a de evitar a concretização da pena.

Exemplo: Matar a testemunha no curso do inquérito policial ou da ação penal. Da mesma forma aplica-se quando o agente já foi condenado e mata o policial para evitar o cumprimento do mandado de prisão contra ele expedido.

Matar para assegurar a vantagem da prática de outro crime: temos o exemplo de matar para evitar a apreensão de um produto furtado ou roubado ou ainda quando o ladrão que mata o comparsa para ficar com todo o produto do crime. Este último caso não gera latrocínio porque a vítima deste crime pode ser qualquer uma que interfira na ação com exceção do comparsa ressalvado a “aberratio ictus”.

Atenção: Matar para garantir a ocultação de outro crime, matar para assegura a vantagem da prática de outro crime e para garantir a ocultação enquadra-se no conceito de conexão consequencial.

O Art. 121, § 2°, inciso V do CP a lei só trata do homicídio praticado em conexão com outro crime. Assim, esta qualificadora não se aplica quando se mata para assegurar a execução de uma contravenção penal (Exemplo Jogo do Bixo), mas se aplica ao motivo torpe.

Observações: A premeditação por si só não qualifica o homicídio. No Brasil o homicídio praticado contra o pai e denominado de parricídio ao passo que o da mãe e conhecido como matricídio. Tais crimes não geram a qualificadora, mas sim a agravante genérica do art. 61, inciso II, alínea “e” do CP.

Não se esquecer que é possível a existência do homicídio qualificado privilegiado desde que a qualificadora seja objetiva, pois o privilegio e sempre subjetivo.

Page 16: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Vale lembrar que o homicídio qualificado privilegio não e hediondo porque prepondera o privilegio.

Feminicídio:

Art. 121, §2, inciso VI do CP “contra a mulher por razões da condição de sexo feminino”.

Art. 121, § 2o-A do CP “Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I - violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher”. 

Atenção: Trata-se de crime hediondo.

Segundo a professora Patrícia Vanzolini o objetivo da reforma é legitimo: “Não há que se cogitar em violação da isonomia”. As mulheres tem sido historicamente vitimas de agressões e abusos de gênero. A Lei do feminicidio se insere no contexto das chamadas “ações afirmativas” que são politicas publicas destinadas a proteger grupos socialmente vulneráveis e descriminados. Um homem pode até ser agredido dentro de casa, por exemplo, mas quando isso acontece não é pelo fato de ser homem. Já a mulher muitas vezes é agredida apenas por ser mulher, para “aprender a se colocar no seu lugar”, para “aprender quem é que manda”   e outros argumentos dessa espécie. É isso que constitui a chamada violência de gênero. É importante entender que a lei não considera feminicidio qualquer assassinato que tenha como vitima mulher, mas apenas o homicídio praticado contra mulher “por razões de gênero”. Considero que a Lei é constitucional e, de forma geral, é positiva. Agora, é ingenuidade pensar que apenas mudanças legislativas e aumento de pena terão o poder de transformar uma realidade tão arraigada culturamente quanto essa. Se as mulheres tiverem medo de denunciar as agressões e, quando o fizerem,  não tiverem o respeito, o respaldo e a proteção do órgãos públicos, qualquer mudança na lei terá muito pouca efetividade.”

Homicídio praticado contra os agentes de segurança pública ou contra seus parentes em razão de suas funções:

Art. 121, §2, inciso VII do CP “contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição”.

Atenção: ocorrendo mais de uma qualificadora o juiz reconhece uma e as outras serão consideradas agravantes genéricas (art. 61 do CP).

D- Causas de Aumento de Pena:

Obviamente estamos no terreno da terceira fase da fixação da pena, alias a única em que o juiz pode extrapolar os limites legais.

 Art. 121 § 4o do CP “Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos”. 

Page 17: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

As hipóteses de aumento são as seguintes:

Vítima menor de 14 anos e Vítima maior de 60 anos;

Atenção: De acordo com o art. 4 do CP, o que se leva em conta e a idade da vítima no momento da ação delituosa e não no momento da morte, caso ocorram em datas diversas.

E- Causas de Aumento de Pena:

Art. 121 § 4o do CP “No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos”. Antes de tudo vale lembrar os elementos do homicídio culposo:

I- Conduta voluntária;

II- Resultado involuntário;

III- Nexo de causalidade;

IV- Tipicidade;

V- Ausência de previsão, salvo na culpa consciente;

VI- Previsibilidade objetiva;

VII- Quebra do dever objetivo de cuidado, que se manifesta pela imprudência, negligencia ou imperícia.

Imprudência: e a ação perigosa.

Exemplo: limpar uma arma carregada e disparar acidentalmente.

Negligencia: e a omissão, ausência de precaução.

Exemplo: o responsável pela obra que não force os capacetes aos seus empregados e um deles morre pela queda de um tijolo acidentalmente.

Imperícia: e falta de aptidão técnica para o exercício de arte, oficio ou profissão.

Exemplo: O medico que por falta de habilidade do manuseio de um bisturi corta uma artéria da vítima que morre por hemorragia.

Compensação de culpas: No Direito Penal Brasileiro esse instituto não e, de modo que se alguém contribuir para própria morte isso não exclui ao homicídio culposo por parte de outra pessoa que tenha também agido com culpa e que pela lógica tenha sobrevivido.

Page 18: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Concorrência de culpas: duas ou mais pessoas agiram culposamente (negligencia, imprudência e imperícia). Se duas pessoas agirem com negligencia, imprudência ou imperícia e ocasionarem a morte de uma pessoa deverão responder por homicídio culposo.

Exemplo: Duas pessoas estão fazendo a manutenção de uma arma e acidentalmente ocasionam a morte de um terceiro.

Atenção: Na concorrência de culpa não há a participação da vítima, ao contrario do que ocorre na compensação de culpas.

O Homicídio Culposo previsto no CPB somente se configura se o agente não tiver praticado o fato na direção de veículo automotor, pois neste caso o crime seria previsto no art. 302 do CTB, cuja pena e de 2 a 4 anos de detenção.

Atenção: Ressalta-se que a conduta culposa na direção de jetsky, lancha ou avião caracterizam o homicídio culposo previsto no CPB. Pois o CTB se restringe a fatos ocorridos em via terrestre.

Causas de aumento de pena no homicídio culposo:

 Art. 121 § 4o do CP “No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante.”. 

Se o agente não prestar o socorro em razão de ameaças no local não incide a causa de aumento de pena.

Também não se aplica o aumento de pena se a vítima já extava evidentemente morta e o socorro por consequência seria inócuo.

Se o agente percebe que o socorro percebe que o socorro já estava sendo prestada por outra pessoa de forma imediata sua pena não será aumentada.

Se no local além do responsável pela conduta culposa havia outra pessoa além da vítima e ninguém a socorre, temos a seguintes soluções:

O autor da conduta culposa responde pelo crime de homicídio culposo com pena aumentada em um terço por não ter socorrido;

A outra pessoa que estava no local deve responder pelo crime de omissão de socorro (art. 135 do CP) o qual e classificado como omissivo próprio ou puro, não admite tentativa é esta previsto como tipo autônomo no CP.

Observação: Conforme o art. 68, parágrafo único do CP, caso existam duas causas de aumento previsto na parte especial (o agente não socorre e foge para evitar o flagrante), o juiz aumentara a pena uma única vez.

Page 19: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Se o crime resulta da inobservância de regra técnica de arte, profissão ou oficio essa hipótese e denominada de negligencia agravada em que o agente por descaso deixa de tomar uma precaução necessária-obrigatório no desenvolvimento de sua atividade e com isso causa a morte da vítima.

Exemplo: Médico que não faz a estetização dos instrumentos cirúrgicos.

Causa de extinção de punibilidade:

Art. 121 § 5o do CP “Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária”.

Exemplo: Pai que transitava com seu filho na garupa em uma motocicleta e que se envolve em um acidente, onde o próprio filho do motociclista em a falecer em decorrência do acidente.

Antes de tudo, o perdão judicial e identificado no CP pela expressão “o juiz pode deixar de aplicar a pena”. No caso do homicídio culposo, o perdão judicial pela lei somente e aplicável quando se verificar que as consequências deste crime atingiram o próprio agente de forma tão grave que a imposição da pena se torna desnecessária.

O perdão judicial independe de aceitação para gerar efeitos, diferentemente do perdão do ofendido.

A natureza jurídica do perdão judicial e ser causa de extinção de punibilidade, conforme art. 107, inciso IX do CP.

Atenção: O perdão judicial somente pode ser concedido na sentença, pois o juiz tem que analisar todas as provas.

Natureza Jurídica da Sentença que concedi o perdão judicial e declaratório da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório, inclusive a reincidência (sumula 18 do STJ e art. 120 do CP).

F- Homicídio praticado por milícia privada:

A Lei 12.720/12 acrescentou o §6 no art. 121 do CP “A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio”.

Atenção: Milícia é uma organização de caráter paramilitar.

Além disso, o art. 129, §7º do CP foi alterado para ter o aumento da pena de um terço, além da incidência do §4º do art. 121 do CP, também havendo a ocorrência do §6º do mesmo diploma legal.

Por fim, foi acrescido o crime de milícia privada no art. 288-A do CP, com pena de reclusão de 4 a 8 anos.

Page 20: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Atenção: O homicídio simples praticado em atividade típica de grupo de extermínio é caracterizado hediondo. Ainda que o crime seja cometido por uma só pessoa.

G- Ortotanásia:

Ortotanásia não é crime, pois praticamente o medico deixa que o paciente siga seu trajeto normal para que a morte ocorra, sem que a vida seja estendida de forma artificial. No entanto para que isso seja realizado o médico deve ser autorizado pelos familiares ou do próprio paciente.

1.2 Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio

Art. 122 do CP “Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. Parágrafo único - A pena é duplicada: I - se o crime é praticado por motivo egoístico; II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência”.

É lógico que a lei não pune quem tenta se matar e não consegue. Por sua vez, a lei pune quem colabora com o suicídio alheio, é por tal motivo que este crime é conhecido como participação em suicídio.

Sujeitos do crime:

Sujeito ativo: Quem diretamente induz, instiga ou auxilia um suicídio é autor do crime de participação em suicídio. No entanto, quem não realiza nenhuma dessas condutas, mas incentiva outrem a fazê-lo é participe no crime previsto no art. 122 do CP.

Sujeito passivo: qualquer pessoa que tenha capacidade de compreensão ( consciência e condições físicas para cometer o suicídio).

Elemento objetivo: temos as condutas típicas induzir e instigar, e neste caso a participação e moral.

Induzir: dar a ideia inicial (sugerir);

Instigar: e reforçar uma ideia já existente;

Auxiliar: é denominado de participação material, pois o agente, de forma secundária fornece meios para alguém se matar, como por exemplo, o individuo que entrega uma arma para que o suicida cometa o suicídio.

Atenção: Tal conduta tem que ser acessória sob pena do cometimento do crime homicídio.

Trata-se de crime de ação múltipla ou de tipo misto alternativo porque a violação de mais de uma conduta típica no mesmo contexto fático, implica no cometimento no cometimento de um só crime.

Page 21: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Observação: O sujeito passivo desse crime pode ser qualquer pessoa que tenha capacidade de compreensão, sob pena da pratica de homicídio.

Elemento subjetivo: é o dolo direto ou eventual, a lei não se pune a modalidade culposa. Por sua vez, a existência do dolo pressupõe pessoa determinada ou grupo de pessoas determinado.

Consumação: ocorre com a morte do suicida ou com a produção de lesões corporais de natureza greve no mesmo, inclusive com penas autônomas.

Tentativa: Trata-se de crime material, no entanto não é admitido o crime na modalidade tentada, pois a lei exige a caracterização do resultado naturalístico. Caso resulte lesão de natureza leve o fato será considerado atípico.

Causas de aumento de pena: § único do Art. 122 do CP “duplicação da pena”.

Se o crime é praticado por motivo egoístico: a vantagem econômica ou não.

Se a vítima tem diminuída, por qualquer causa a capacidade de resistência: depressão, vítima drogas, crise financeira, crime afetivo.

Se a vítima é menor.

Atenção: A expressão menor deve ser entendida com o suicida menor de 18 anos e maior de 14. Se o suicida for menor de 14 anos o crime será considerado homicídio.

Pacto de suicídio: é aquele pacto realizado entre duas pessoas que combinam de se matar na mesma hora. Se um dos pactuantes sobrevive será responsabilizado penalmente pela pratica do art. 122 do CP.

Atenção: Se no pacto de morte ficar combinado de “A” deve atirar em “B” e depois em si mesmo. Se “B” falecer e “A” sobreviver ao disparado realizado contra o próprio corpo devera ser responsabilizado por homicídio. Se “B” sobreviver e “A” falecer ele deverá ser responsabilizado pelo art. 122 do CP. Se “A” e “B” sobreviverem “A” deve responder por tentativa de homicídio e “B” pelo crime aqui estudado se resultar lesão de natureza grave em “B”, pois caso contrario o crime será atípico.

Atenção: Aquela pessoa que coage o suicida para evitar que o mesmo cometa o suicídio não pratica crime, pois sua conduta está amparada pelo art. 146, § 3º do CP.

Art. 146, § 3º do CP “Não se compreendem na disposição deste artigo: II - a coação exercida para impedir suicídio”.

1.3 Infanticídio

Art. 123 do CP “Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos”.

Page 22: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Conceito de Estado puerperal: o CP adota o critério psicológico, fisiopsicológico e por último o critério misto.

Critério psicológico: desonra própria- mãe que pratica o crime a fim de evitar a desonra que ela sofre,

Critério fisiopsicológico: Estado puerperal (adotado) na hora do parto ou após ele.

Atenção: O Código Penal Brasileiro adota o critério fisiopsicológico. Vale lembrar que o deve ser realizado um exame pericial para que seja constatado o Estado Puerperal.

Critério Misto: ocorrem as duas modalidades. Sujeitos do Crime:

Sujeito passivo: somente pode ser o filho nascente ou recém-nascido.

Caso a mãe ainda que em estado puerperal mate seu outro filho de oito anos, que esta ali ao lado do filho recém-nascido, comete o crime de homicídio.

Caso a mãe em estado puerperal imaginando matar seu próprio filho recém nascido, mate outro recém-nascido, filho de uma terceira pessoa, pensando ser seu próprio filho deve ser responsabilizada pelo crime de infanticídio, de acordo com o art. 20, §3º do CP.

Com base nesse dispositivo, o agente responde normalmente pelo crime, levando-se em consideração as qualidades da vítima virtual e não da vítima sobre qual recaiu a conduta, trata-se de infanticídio putativo.

Não confundir erro sobre a pessoa (art. 20 do CP) com aberratio ictus (art. 73 do CP), pois nesta hipótese houve apenas erro na execução do crime e não confusão mental entre as pessoas.

Embora exista tal diferença, as consequências dos dois institutos são as mesmas, ou seja, o agente responde normalmente pelo crime levando-se em consideração as qualidades da vítima virtual e não daquela que foi efetivamente atingida.

Ainda dentro do erro na execução caso seja atingidas as duas pessoas, o agente deve responder pelos dois crimes em concurso formal próprio. Aplica-se o critério da exasperação da pena.

Sujeito ativo: própria mãe (genitora do nascituro).

Crime próprio: o infanticídio é um crime próprio, pois a lei exige para a caracterização do crime que o autor seja a mãe e que ela tenha cometido o crime em estado puerperal.

Trata-se de um crime próprio porque a sua autora e sempre a mãe que está em estado puerperal (é o conjunto de alterações que ocorre no organismo da mulher, em razão do fenômeno do parto e que podem levar a um certo sentimento de rejeição em relação ao filho, tal fato deve ser provado por perícia medica psiquiátrica, em caso positivo a mulher deve responder por infanticídio, tal estado não tem um período certo e pode variar de uma pessoa para outras, mas e sabido que dura apenas alguns dias).

Page 23: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Atenção: O CESPE entendeu há alguns anos atrás que o estado puerperal é um estado presumido, que não necessita ser atestado por exame pericial.

O crime de infanticídio é um crime de mão própria? Crime de mão própria é aquele crime que somente pode ser praticado pelo autor em pessoa, é nunca admite coautoria, mas apenas participação. Portanto, o infanticípio não é crime de mão própria e por isso admite a coautoria e a participação, dai terceiro, conforme art. 30 do CP pode ser autor ou participe, dependendo do caso concreto, desde que a mãe seja a autora. Por outro lado caso a mãe em estado puerperal induzir terceiro a matar seu próprio filho que acabara de nascer, ela deverá responder por infantíssimo por razões de política criminal, ao passo que o terceiro será responsabilizado por homicídio.

Elemento subjetivo: dolo da mãe em matar o próprio filho. Caso a mãe mate seu próprio filho atuando por imprudência deverá responder por homicídio culposo. Na prática tal entendimento e inútil, pois existe a possibilidade da concessão do perdão judicial aplicado à mãe.

AULA 2. DEL POL CIVIL 2014

1.4 Aborto

Conceito de aborto: e a interrupção da gravidez com a consequente morte do feto.

Classificação do aborto:

Aborto natural: é a interrupção espontânea da gravidez (não é crime).

Aborto acidental: é aquele decorrente de um acidente (não é crime).

Objetividade jurídica: e a proteção da vida intrauterina. Em alguns casos, principalmente quando o aborto for praticado sem o consentimento da gestava está protegida também a integridade física e psíquica, sendo assim classificado como crime complexo ou crime pluri ofensivo (aquele que atinge mais de um bem jurídico).

O aborto pode ser praticado por qualquer meio, sendo por isso classificado como crime de ação livre.

O meio utilizado deve apto a provocar o aborto, pois caso contrário haverá crime impossível. Também caracteriza crime impossível quando a gravidez e psicológica ou quando o feto já está morto por impropriedade absoluta do objeto material.

Cuidado: Para efeitos de punibilidade ou não do crime impossível, também conhecido como quase-crime foi adotada a teoria objetiva temperada.

Elemento subjetivo: não existe crime de aborto culposo autônomo no Código Penal, pois tal crime somente pode ser praticado a titulo de dolo direto ou eventual (nesta última hipótese a mulher prática esporte violento tendo consciência de que poderia vir a abortar).

Page 24: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Na verdade, o aborto culposo e uma qualificadora da lesão corporal de natureza gravíssima (crime preterdoloso: dolo do antecedente e culpa no consequente).

Consumação: em todas as espécies de consumação de aborto a consumação se da com a morte do feto, sendo por isso classificado como crime material.

Por sua vez e fácil perceber a ocorrência da tentativa “conatus”.

Inicio da gravidez:

1ª Corrente: o inicio da gravidez se dá com a fecundação.

2ª Corrente: o inicio da gravidez se da com a nidação, que ocorre após a fecundação; quando o óculo fecundado se aloja ao útero.

A pílula do dia seguinte e o “dio” podem agir após a fecundação exatamente para evitar a nidação, como esses métodos são legalmente autorizados no país, entende-se que nossa legislação optou pela tese de que a gravidez começa com a nidação, não sendo, portanto, abortivo tais métodos. Há quem entenda que a gravidez começa com a fecundação, e por isso, para quem adota essa teoria, por haver autorização para fabricação e comercialização em faz uso se utiliza do exercício regular de um direito.

Aborto legal ou permitido:

Aborto necessário ou terapêutico:

Art. 128, I do CP “Não se pune o aborto praticado por médico: se não há outro meio de salvar a vida da gestante”.

Esse aborto somente pode ser praticado por médico e desde que não aja outro meio para salvar a vida da gestante. Não e necessário que a gestante corra risco atual, bastando um diagnostico de que o prosseguimento da gestação lhe trará risco de vida.

O aborto necessário ou terapêutico pode ser praticado por outra pessoa que não seja médico? Sim. Desde que a gestante corra risco atual ou eminente de morrer. A lei não exige consentimento da geste.

Aborto sentimental ou humanitário:

Art. 128, II do CP “Não se pune o aborto praticado por médico: se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal”.

Esse aborto somente é praticado por médico e desde que a gravidez seja resultado de estupro, ressaltando, ainda, a necessidade do consentimento da gestante ou de seu representante legal (no caso da gestante ser incapaz). Nesta hipótese não é necessário para a realização do aborto autorização judicial.

Page 25: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Atenção: Neste caso como não existe situação de emergência para gerar o estado de necessidade, haverá crime de aborto se a conduta não for praticada por médico.

Não é necessária a previa condenação pelo crime de estupro, bastando algum tipo de prova que o crime aconteceu.

Exemplos: boletim de ocorrência; inquérito policial; testemunhas etc.

Atenção: A lei não exige autorização judicial para a realização do aborto sentimental ou humanitário.

Observação: se uma gestante procurar uma Delegacia e elabora um boletim de ocorrência de Estupro que não aconteceu, para que um medico realize as manobras abortivas. Ela comete o delito de aborto e de falsa comunicação de crime (art. 340 do CP). Por sua vez, o medico não comete o crime em fase da descriminante putativa descrita no art. 20, §1º do CP.

Aborto eugênico: e aquele que é feito em razão dos exames pré-natais terem constato alguma anomalia no feto. Este tipo de aborto, em regra, é crime, como por exemplo, fazer aborto porque se constatou síndrome de down.

Anencéfalo: O STF entendeu recentemente que nesta questão, na verdade, não existe vida possível, ressaltando que o anencéfalo é natimorto, não caracterizando crime (pois caracteriza atipicidade da conduta). Nesta hipótese cabe à mãe decidir se interrompe ou não a gravides, não precedendo de autorização judicial.

Atenção: Obviamente que o aborto natural e acidental não constituem crime. Não existe crime de aborto culpo autônomo previsto no Código Penal. Na verdade, o aborto culposo é uma hipótese exclusivamente preterdolosa a lesão corporal gravíssima do art. 129, §2º, inciso V do CP (vale lembrar que o crime preterdoloso é marcado dolo do antecedente e culpa no consequente). Por sua vez todas as espécies de aborto criminoso são punidas a titulo de a dolo direto ou eventual.

Consumação do aborto criminoso: Em todas as hipóteses de aborto criminoso a consumação do delito com a morte do feto.

Crimes em espécies: Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento:

Art. 124 do CP “Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de um a três anos”.

Auto aborto: é aquele cometido pela própria gestante que prática; ou seja, a própria gestante é quem efetua as manobras abortivas.

Crime de mão própria: somente a gestante responde por esse crime. Portanto neste caso nunca e admitindo coautoria, mas apenas participação. O participe pode ser qualquer pessoa que incentive a prática do aborto.

Page 26: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Exemplo: O namorado da gestante que induziu ou instigou ou prestou auxilio a gestante. Pois são condutas ligadas a gestante.

Consentir para que terceiro pratique o aborto: aqui também somente se pune a gestante.

Observação: Nesta hipótese o terceiro, sujeito ativo que realizou as manobras abortivas responde pelo art. 126 do CP. Trata-se de uma acessão pluralista a teoria monista, pois cada agente responde por um tipo penal diferente mesmo estando naquela situação delituosa.

Atenção: Mesmo nessa modalidade o crime se consuma com a morte do feto, sendo crime material.

Aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante:

Art. 125 do CP “Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos”.

O inicio da execução capaz de gerar a tentativa desse crime somente ocorre com o inicio das manobras abortivas pelo terceiro. Este crime pode ocorrer em duas hipóteses:

Quando não havia consentimento por parte da gestante;

Quando há, no plano fático, consentimento da gestante, mas este é nulo, conforme as hipóteses estabelecidas no art. 126, § único do Código Penal. Alias, que são as seguintes:

Consentimento objetivo com o emprego de violência ou grave ameaça;

Consentimento objetivo com o emprego de fraude;

Consentimento prestado por gestante menor de 14 anos.

Consentimento prestado por gestante alienada ou débil mental.

Art. 126, paragrafo § único do CP “Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência”.

Sujeito ativo: e terceiro que pratica a manobra abortiva.

Sujeito passivo: é duplo, no caso o feto e a gestante. Não se esquecer de que quando o crime tem dois sujeitos passivo ele é classificado como crime de dubla subjetividade passiva.

Se alguém mata uma mulher grávida responde por homicídio doloso, e se por consequência também ocasionar a morte do feto, deve responder também pelo aborto sem o consentimento da gestante se tivesse conhecimento do estado gestacional da vítima. Por outro lado, se o agente não sabia da gravidez ele somente responde por homicídio, por falta de dolo direto ou eventual em relação ao aborto.

Page 27: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Atenção: Nesta hipótese o agente responde por concurso formal impróprio (as penas ser somadas).

Na hipótese do agente eliminar a vida intrauterina de um casal de gêmeos o agende deve responde pela pratica de que crimes? Se o agente imaginava trata-se de uma gravidez única ele responderá por um só crime. Por sua vez, se os exames realizados já tinham dado ciência ao agente que a gravidez era de gêmeos pode se dizer que havia dolo em provocar dois abortos, de modo que ele responde por dois crimes. Neste último caso, ainda que um só ato abortivo tenha resultado os dois abortos as penas serão somadas por se tratar de concurso formal imperfeito (art. 70 “caput” segunda parte do CP).

 Art. 70 do CP “Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior”.

Aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante:

Art. 126 do CP “Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência”.

Consumação: O inicio da execução capaz de gerar a tentativa desse crime somente ocorre com o inicio das manobras abortivas pelo terceiro.

Sujeito ativo: qualquer pessoa que pratique as manobras abortivas após a obtenção do consentimento da gestante. Neste caso temos uma verdadeira exceção pluralista à teoria monista, pois cada criminoso, mesmo estando naquele evento delituoso, ira responder por crimes diferentes.

Sujeito passivo: é apenas o feto.

Esse crime não é de mão própria, admitindo coautoria (duas ou mais pessoas praticando as manobras abortivas) e participação (recepcionista da clinica). Temos outras exceções a teoria monista, como por exemplo, funcionário público que o dever de reprimir o contrabando ou descaminho e comete o crime do art. 318 do CP, ao passo que o particular que pratica o contrabando ou descaminho incorre no delito previsto no art. 334 do CP.

Cuidado: Por expressa previsão legal do art. 126 § único do CP o consentimento da gestante deve ser desprezado e consequentemente deve ser aplicada a pena do crime previsto no art. 125 do CP, alias mais grave nas seguintes hipóteses:

Quando a gestante possuir idade inferior a 14 anos;

Quando a gestante é alienada mental;

Quando o consentimento for obtido mediante fraude;

Page 28: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Quando o consentimento for obtido mediante grave ameaça;

Quando o consentimento for obtido mediante o emprego de violência. Causas de aumento de pena:

Art. 127 do CP “As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte”.

Pena aumentada em ¹/3 quando restar lesão corporal de natureza grave;

Pena é duplicada quando resultar a morte da gestante.

Vale lembrar que as causas de aumento prevista no art. 127 somente se aplicam aos artigos 125 e 126. Pois a autolesão (art. 124 do CP) não pode ser punida. A autolesão somente é responsabilizadas quando praticada nas fraudes para o recebimento de indenização ou valor de seguros (art. 171, §2º, inciso V do CP) e nos crimes militares do art. 184 do CPM.

Atenção: Em primeiro lugar, com todo o respeito ao legislador, não se trata de forma qualifica, pois não houve alteração no limite abstrato nas penas. Na verdade, temos uma causa de aumento de pena (que deve ser aplicada na terceira de aplicação da pena), são hipóteses exclusivamente preterdolosas (dolo de abortar e culpa em um destes dois resultados), sendo que a consumação nestes crimes ocorre com a produção do resultado agravador que sempre vem a titulo de culpa, lembrando que não é admitido à tentativa.

Observação: Nas provas organizadas pelo CESPE, os examinadores deste instituto atualmente têm entendido como correta a figura nomeada como qualificado.

Page 29: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

2. LESÕES CORPORAIS

2.1 Introdução

Conceito: Lesão corporal é a ofensa à integridade corporal ou a saúde de outrem.

Observação: Ofensa à integridade corporal é a lesão corporal que provoca dano anatômico (aquele que rompe ou dilacera algum tecido interno ou externo no corpo da vítima).

Exemplo: Queimadura, corte, hematoma, equimose (manja na pele com uma tonalidade inicialmente roxa).

Cuidado: O eritema é uma vermelhidão momentânea, que não constitui lesão. A dor, por si só não é considerada lesão.

O corte de cabelo ou barca caracteriza lesão corporal, ainda que a intenção seja a de vender o cabelo. A subtração de partes do ser humano não caracteriza os crimes contra o patrimônio,

Caso o corte seja realizado com a finalidade de ofender a vítima caracteriza o crime de injuria real (art. 140, §2º do CP). Caso a intenção seja de humilhar criança ou adolescente caracteriza o crime do art. 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Consumação: o crime de lesão corporal se consuma no momento em que ocorre a lesão, não se esquecer de que se trata de crime não transeunte ou de fato permanente, porque deixa vestígios, sendo indispensável à comprovação da materialidade pelo exame de corpo de delito (direito ou indireto), não podendo supri-lo a confissão do acusado. Por sua vez a tentativa é perfeitamente possível.

2.2 Classificação da Lesão Corporal Dolosa

A- Lesão Corporal Leve:

Lesão Corporal Simples: Trata-se de crime de menor potencial ofensivo porque a pena máxima não é superior a 2 (dois) anos, abrangido pela Lei dos Juizado Especial Criminal (art. 88 da Lei 9.099/95) e por consequência crime de ação penal pública condicionada a representação.

Art. 129 do CP “Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano”.

Observação: A lesão corporal leve simples é conceituada por exclusão, ou seja, aquela que não é grave ou gravíssima.

Lesão Corporal qualificada pela violência doméstica: trata-se de crime de médio potencial ofensivo, sendo cabível ao réu, desde que preencha requisitos subjetivos a

Page 30: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

medida despenalizadora denominada suspensão condicional do processo, até porque a pena mínima não é superior a um ano. Se a lesão leve for provocada em ascendente, descendente, irmão, cônjuge, companheiro, pessoa com quem o agente conviva ou tenha convivido, ou ainda se o agente tiver praticado o crime prevalecendo de relação doméstica ou hospitalidade ou de coabitação. Nesse caso a vítima da figura qualificada pode ser homem ou mulher.

Art. 129, §9º do CP “Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos”.

Atenção: Se a vítima for mulher haverá outras consequências possíveis da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha). Vale observar que nesta hipótese a ação penal será pública incondicionada a representação.

Nas hipóteses da lesão corporal de natureza leve qualificada pelo art. 129, §9º do CP e se a vítima for portadora de deficiência a pena será aumentada de um terço (art. 129,§11º do CP).

Art. 129, § 11 do CP “Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência”.

B- Lesão Corporal Grave: A doutrina entende que a lesão corporal grave somente abrange as hipóteses previstas no art. 129, § 1º do CP.

 Art. 129, § 1º do CP “Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de

trinta dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de um a cinco anos”.

Incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias: está hipótese abrange qualquer ocupações habituais, de modo que qualquer pessoa que tenha atividade habitual pode ser vítima, como crianças, adultos e aposentados. Essa qualificadora é classificada como crime a prazo, porque depende do decurso de um lapso temporal para a sua caracterização. Vale lembrar que essa qualificadora somente é aplicada na hipótese da prática de ocupações habituais licitas, ainda que imorais.

Atenção: Na verdade, para a comprovação dessa qualificadora, exigisse a realização de dois exames periciais, sendo que o último é chamado de exame complementar, alias feito após 30 dias, para que os legistas verifiquem e afirmem se a vítima permanece incapacitada. Certamente, caso o exame complementar tenha resultado negativo a lesão será classificada como leve.

Art. 168, § 2o do CPP “Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime”. 

Perigo de vida: Para a sua caracterização necessita ser fundamentada no exame pericial (em que consiste o perigo de vida), sob pena de desclassificação (para leve).

Page 31: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Atenção: Essa hipótese de lesão grave é exclusivamente preterdolosa (dolo do antecedente e culpa no consequente). Isso porque se o agente que provocou o perigo de vida queria matar a vítima ele deverá responder por homicídio tentado.

Debilidade permanente de membro, sentido ou função: A debilidade permanente representa uma redução, uma diminuição na capacidade do membro, sentido ou função. Sendo que para a sua caracterização é imprescindível à realização de exame pericial que comprova a debilidade.

Debilidade de membro:

Exemplo: Agressão que provoque uma diminuição muscular do braço ou da perna, dedos decepados.

Debilidade de sentido:

Exemplo: agressão que provoque a diminuição de até 30% da capacidade visual ou auditiva.

Atenção: A cegueira ou a surdez de um só olho ou ouvido caracteriza lesão corporal de natureza grave. Porque apenas ocasiona uma redução da capacidade visual ou auditiva, embora as funções estejam debilitadas.

Debilidade de função: e a agressão que provoque problemas nas funções circulatórias, mastigatórias etc.

Aceleração de parto: é agressão que provoca o nascimento prematuro e sua premissa é a de que o bebê sobreviva, porque quando a agressão provoca aborto (eliminação na vida intrauterina) o crime é outro. Outro premissa e de que ao causar o nascimento prematuro o agente não tinha a intenção de provocar aborto pois neste caso, responderia por tentativa de aborto. Essa hipótese é exclusivamente preterdolosa, onde a intenção do agente é apenas a de lesionar a gestante e disso decorre culposamente a aceleração do parto.

C- Lesão Corporal Gravíssima: A doutrina entende que a lesão corporal gravíssima somente abrange as hipóteses previstas no art. 129, § 2º do CP. A doutrina faz essa diferenciação em razão de a pena prevista no art. 129, §2º é superior a prevista no §1º.

Art. 129, § 2º do CP “Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - reclusão, de dois a oito anos”.

Atenção: Caso seja constatado no exame pericial que as consequências da agressão enquadra-se em mais de uma hipótese de lesão grave e também gravíssima o agente somente será responsabilizado pela lesão gravíssima.

Incapacidade permanente para o trabalho: A doutrina entende que somente a incapacidade para o trabalho em geral é que faz a lesão ser gravíssima. Como base nisso se uma agressão romper o tendão de um dedo de um guitarrista e ele não puder mais ser

Page 32: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

musico profissional, podendo exercer outra profissão não caracterizara a lesão corporal gravíssima.

Enfermidade incurável: é a transmissão intencional sem cura, como por exemplo, a hepatite C.

Atenção: Com relação à transmissão intencional do HIV a doutrina é divergente. Sendo que uma parcela da doutrina entende que a AIDS continua sendo uma doença mortal e os medicamentos constituem exatamente a circunstância alheia à vontade do agente que evita a morte, devendo o agente responder por tentativa de homicídio. Outra parcela da doutrina entende que o HIV não é mais um doença mortal em razão da utilização do coquetel de medicamentos que fica a disposição das pessoas portadoras da doença, devendo o agente responder por lesão corporal gravíssima.

Perda ou inutilização de membro, sentido ou função: trata-se da lesão que ocasiona a perda ou a inutilização do membro, sentido ou da função de forma total. Essa qualificadora somente se caracteriza quando não ocasionar a perda ou inutilização de membros ou funções vitais.

Exemplo: Provocar a cegueira completa nos dois olhos caracteriza a perda da função. Se a lesão ocasionar uma imagem distorcida ocasiona a inutilização.

Deformidade permanente: Essa hipótese se refere ao dano estético, como por exemplo, aquelas fraturas na fase que deixam o rosto deformado.

O STJ entendeu no HC 306.677-RJ que “a qualificadora “deformidade permanente” do crime de lesão corporal (art. 129, § 2º, IV, do CP) não é afastada por posterior cirurgia estética reparadora que elimine ou minimize a deformidade na vítima. Isso porque, o fato criminoso é valorado no momento de sua consumação, não o afetando providências posteriores, notadamente quando não usuais (pelo risco ou pelo custo, como cirurgia plástica ou de tratamentos prolongados, dolorosos ou geradores do risco de vida) e promovidas a critério exclusivo da vítima”.

Aborto: trata-se de uma hipótese exclusivamente preterdolosa (dolo na lesão e culpa no aborto). É indispensável que o agente tenha conhecimento da gravides.

D- Lesão Corporal seguida de Morte: trata-se de um crime exclusivamente preterdoloso, porque pressupõe dolo na lesão e culpa quando o resultado morte. É ó único crime no Código Penal que a motalidade preterdolosa é expressa, nos demais casos é implícita, como por exemplo, no estupro qualificado pela lesão grave ou morte.

Art. 129, § 3° do CP “Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos”.

Exemplo: Caio dispara com uma arma de fogo a pena de Mévio e acerta a artéria femoral, provocando rápida perda de sangue.

Page 33: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

E- Lesão Corporal Privilegiada: Esta hipótese é uma causa de diminuição de pena, que pode ser aplicada em todas as hipóteses de lesão corporal dolosa.

Art. 129, §4º do CP “Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço”.

Atenção: As hipóteses de privilegio são as mesmas do homicídio privilegiado.

Lesão Corporal Culposa

Art. 129, § 6° do CP “Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de dois meses a um ano”.

A lesão corporal culposa é apurada por meio de ação penal pública condicionada a representação, conforme art. 88 da Lei 9.099/95.

Por fim, o art. 129, §7º prevê as causas de aumento do homicídio culposo, para fins de se estender a lesão culposa.

Atenção: O perdão judicial também é aplicado na lesão culposa, com as mesmas regras do homicídio culposo.

2.3 Aplicação da pena

A- Causas de Substituição da Pena:

Art. 129, § 5° do CP “O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; II - se as lesões são recíprocas”.

A substituição da pena pela imposição de multa somente pode ser realizada nas hipóteses da pratica de lesão leve.

Sendo que se a lesão for privilegiada o juiz poderá reduzir a pena com base no art. 129, §4º do CP ou substituir a pena com multa com base no art. 129, §5º, inciso I do CP.

Além disso, a imposição de multa também pode substituir a aplicação da pena quando as lesões forem reciprocas, e desde que os envolvidos não estejam acobertados pela excludente de ilicitude de legitima defesa.

B- Causa de Aumento de Pena:

Vítima menor de 14 anos e maior de 60 anos ou se a lesão for pratica por milícia privada ou sob o pretexto da prestação de serviços de segurança:

Art. 129, §7º do CP “Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código”.

Page 34: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

A pena das lesões corporais dolosa é aumentada em 1/3 se a vítima for menor de 14 anos e maior de 60 anos.

Além disso, apena é aumentada de apenas um 1/3 na hipótese se o crime for praticado por

milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.

Causa de aumento de pena na hipótese de caracterização da lesão grave, gravíssima ou seguida de morte cometidas no âmbito domestico e familiar:

Art. 129, § 10 do CP “Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço)”.

Causa de aumento de pena quando o crime for metido contra agentes do sistema de segurança pública ou contra seus familiares em razão de suas funções:

Art. 129, § 12 do CP “Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços”.

Page 35: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

3. CRIMES CONTRA HONRA

Os crimes contra honra são os de:

Calúnia (art. 138 do CP);

Difamação (art. 139 do CP);

Injuria (art. 140 do CP).

3.1 Calúnia

 Art. 138 do CP “Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. § 2º - É punível a calúnia contra os mortos; § 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo: I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141; III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível”.

Conceito: calunia é a imputação falsa da pratica delituosa um fato certo e determinado a alguém.

Exemplo: João disse que viu seu vizinho Bruno estuprando Aline.

Requisitos da calunia: Imputação de um fato certo e determinado a alguém;

O fato deve ser definido como crime ou delito e nunca contravenção penal, sob pena da prática de difamação.

A imputação deve ser falsa.

Atenção: Essa imputação deve ser falsa. Dos três crimes contra honra, apenas o de calúnia é punível contra os mortos, por expressa disposição legal do art. 138, §2º do CP.

Observação: Essa imputação deve ser crime, se for contravenção penal caracteriza difamação.

Honra objetiva: A calúnia atinge a honra objetiva, ou seja, o conceito que a comunidade tem a cerca de seus atributos físicos, intelectuais ou morais.

Consumação: acontece quando terceira pessoa toma conhecimento do ocorrido.

Exceção da verdade: e a prova da veracidade de um fato. Por sua vez a exceção da verdade em regra geral e cabível na calúnia, salva as exceções contidas no 138, §3º do CP, como por exemplo quando o ofendido for o Presidente da República ou Chefe de Governo Estrangeiro.

Page 36: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Art. 138, § 3º do CP “Admite-se a prova da verdade, salvo: I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141; III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível”.

Atenção: Também pode ser sujeito passivo de calúnia a pessoa jurídica porque cometi crime ambiental nos termos da Lei 9.605/98. Aproveitando a oportunidade, vale ressaltar que, para efeitos de responsabilidade penal da pessoa jurídica, foi adotado o sistema da dupla imputação, conforme art. 3, paragrafo único da mencionada lei. Isso significa dizer que toda vez que uma pessoa jurídica for indiciada igualmente deverá ser seu dirigente ou colegiado.

Qual e a diferença entre os crimes de calúnia (crime contra honra o de denunciação caluniosa (crime contra administração da justiça)?

A calúnia limita-se a imputação falsa de crime; já a denunciação caluniosa (art. 339 do CP) admite a imputação a alguém que o agente sabe ser inocente da prática de crime ou de contravenção penal, sendo que nesta a pena e reduzida pela metade. Na calúnia, o agente limita-se a ofender a honra objetiva da vítima quando lhe imputa falsamente a pratica de crime, ao passo que na denunciação caluniosa, além de atingir a honra da vítima, o agente movimenta a maquina estatal com a instauração do procedimento investigativo. Caso o agente, na denunciação caluniosa, se vale do anonimato ou de nome falto a pena é aumentada de sexta parte.

Art. 339 do CP “Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. § 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. § 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção”.

Atenção: A falta imputação da pratica de contravenção penal também caracteriza o crime de denunciação caluniosa com uma causa de diminuição de pena.

Retratação: o sujeito ativo do crime pode se retratar antes do juiz prolatar a sentença.

3.2 Difamação

Art. 139 do CP “Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções”.

Exemplo: Chamar alguém de assassino, corno, ladrão.

Requisitos: Imputação de um fato de um fato certo e determinado há alguém;

Fato esse imputado ofensivo à reputação da vítima ou definido como contravenção penal, perante o meio que vive.

Page 37: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Exemplo: Caio disse a seu amigos que viu Maria fazendo suruba na festa da empresa na data de ontem, com Mévio e Tício.

Observação: A imputação do fato não precisa ser falta. A difamação atinge a honra objetiva

Consumação: ocorre no momento em que uma terceira pessoa toma conhecimento do ocorrido.

Atenção: Também pode ser vítima de difamação a pessoa jurídica porque também goza de honra objetiva.

Exceção da verdade: Em regra geral não é cabível a exceção da verdade, salvo se o ofendido for funcionário público e a ofensa for relativa ao exercício funcional.

Retratação: Conforme o art. 143 do CP é possível à retratação da difamação, desde que seja realizada antes da sentença. A retratação e causa extintiva da punibilidade.

3.3 Injúria

Art. 140 do CP “Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. § 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena - reclusão de um a três anos e multa”.

Conceito: A injuria consiste nos xingamentos a determinada pessoa ou a imputação de qualidade negativa. Sendo que a qualidade negativa imputada por ser verdadeira ou falsa.

Exemplos: Xingar alguém de corno, assassino, ladrão.

Excepcionalmente podemos ter crime de injuria envolvendo a imputação de fato, mais precisamente quando uma pessoa imputa a um fato definido como crime sem que ninguém presencie essa imputação.

Exemplo: Caio diz a Mévio que o viu furtando um banco (mas não especifica qual).

Por sua vez, a injuria atinge a honra subjetiva, ou seja, o conceito que cada pessoa tem de seus próprios aspectos físicos, intelectuais ou morais. E desta forma a injuria se consuma quando a própria vítima toma conhecimento do que foi falado em seu desfavor.

A honra subjetiva também pode atingir o decoro de alguém quando recai sobre os atributos físicos ou intelectuais.

Caso um sujeito chegue a uma delegacia de polícia e pergunte “cadê o delegado Caio, aquele corrupto” caracteriza o crime de injuria se tais palavras não forem proferidas em sua

Page 38: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

presença. Se tivessem sido proferidas na presença da autoridade policial caracterizaria o crime de desacato, salso na hipótese da caracterização da injuria qualificada (injuria real).

Exemplos: Monstro, burro, CDF.

Atenção: Nunca se admite a exceção da verdade, porque geralmente nunca se imputa fato.

Qual é a diferença entre o crime de injuria cometida contra funcionário público do exercício de suas funções (art. 140 combinado com o art. 142 do CP) e o crime de desacato (art. 331 do CP)?

No desacato a vítima presencia a conduta do sujeito ativo, sendo que não é admitido a pratica do crime cometido por escrito. Ao passo que a injuria pressupõe a ausência do funcionário público.

Retratação: Nunca é admitida a retratação no crime de injuria, diferente dos outros crimes contra honra, conforme art. 143 do CP.

Injuria real: é injuria qualificada pelo modo da execução. Trata-se de injuria praticada mediante violência ou em vias de fatos aviltantes por sua própria natureza ou pelo meio empregado.

Art. 140, §2º do CP “Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência”.

Exemplo: Cortar o cabelo de alguém com a finalidade de humilha-lo, bater com um Chicote de rabo de tatu.

Cuidado: O preceito secundário do Art. 140, §2º do CP prevê que se da violência resultar lesões corporais o agente responderá pela injuria real e pelas lesões corporais, sendo que as penas serão somadas.

Enquanto o desacato e cometido na presença do funcionário público, a injuria é praticada na ausência do mesmo.

Cuidado: o art. 140, §3 do CP caracteriza uma exceção a essa regra, assim sendo, chamar o Delegado de macaco na presença do mesmo constitui injuria qualificada, ao passo que ao chama-lo de corno, em sua presença constitui desacato.

Injuria qualificada:

Art. 140, §3 do CP “Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena - reclusão de um a três anos e multa”.

Quais são as diferenças entre os crimes de injúria qualificada e o de racismos, alias este previsto na Lei 7716/89?

Page 39: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Não se esquecer que os crime de racismo (Lei 7.716/89) e os de grupos armados civis ou militares contra a ordem constitucional (Lei 7.170/83) são imprescritíveis e inafiançáveis. A injúria qualificada é prescritível.

Não se esquecer também de que o prazo prescricional e de no mínimo e de três anos e que o patamar máximo da prescrição e de vinte anos. Vale lembrar que no porte de entorpecente (art. 28 da Lei de Drogas) a prescrição ocorre em dois anos.

No Crime de Racismo há sempre uma segregação no comportamento das pessoas, como por exemplo, não deixar entrar na escola pessoas de uma determinada religião ou cor. Também gera racismo quando a ofensa, por exemplo, atingir toda uma raça.

Por sua vez, no crime de injúria qualificada há apenas xingamentos referentes à raça, cor, religião, origem, etnia ou a pessoa idosa ou portadora de deficiência.

Exemplo: O jogador argentino que xingou o jogar Grafite de macaco.

Cuidado: Quando a ofensa for dirigida a opção sexual da vítima caracteriza injúria simples (art. 140 do CP).

Observação: Em todos os crimes contra honra se faz necessário à comprovação dolo acrescido de uma finalidade especial, denominado elemento subjetivo especial do tipo (dolo especifico), alias que vem implicitamente no tipo penal.

Consumação: Todos os crimes contra honra são formais, bastando que a conduta seja manifestada com o proposito ofensivo a honra (não se exige a efetiva lesão a honra).

Retratação: A retratação somente é permitida nos crimes de calunia e difamação, mas não no crime de injuria. Também é cabível a retratação quando o crime de calunia e difamação for apurados por meio da ação penal privada, devendo ser feita antes da sentença de forma cabal (tota), clara é inequívoca. Não se esquecer que a retratação significa voltar a trás do que foi dito. A retratação gera a extinção da punibilidade do agente (art. 107, inciso VI do CP).

Exceção de notoriedade do fato:

Art. 523 do CPP “Quando for oferecida a exceção da verdade ou da notoriedade do fato imputado, o querelante poderá contestar a exceção no prazo de dois dias, podendo ser inquiridas as testemunhas arroladas na queixa, ou outras indicadas naquele prazo, em substituição às primeiras, ou para completar o máximo legal”.

Ocorre quando o fato e conhecido por todos e tal circunstância não tem o condão de excluir o delito quando o agente tem ciência da falsidade.

3.4 Ação Penal

Em regra gera os crimes contra a honra são apurados por meio da ação penal privada. Salvo nas seguintes exceções:

Page 40: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

1ª No caso da injúria qualificada (art. 140, §3º do CP) a ação penal é pública condicionada a representação.

2ª Crie praticado contra o Presidente da República ou contra o Chefe de Governo Estrangeiro. Neste caso a ação penal e condicionada a requisição do Ministro da Justiça;

Atenção: Não se esquecer de que quando o crime é praticado por estrangeiro contra brasileiro, fora do Brasil, à ação também e pública condicionada a requisição do Ministro da Justiça (art. 7, §3, aline “b” do CP).

3ª Crime praticado contra funcionário público no exercício de suas funções. Neste caso a ação penal poderá ser privada ou pública condicionada à representação. Segundo a súmula 714 do STF que se trata de legitimidade concorrente, podendo a ação penal ser deflagrada de forma privada ou de pública, condicionada a representação.

4ª Havendo injúria real, que resulta em lesão leve, a ação e pública condicionada a representação, conforme art. 88 da Lei 9.099/95; Caso resulte em lesão corporal grave ou gravíssima, a ação penal será pública incondicionada; caso seja praticada por vias de fato, a ação penal será privada.

3.5 Causas de aumento de Pena

Art. 141 do CP As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido: I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro; II - contra funcionário público, em razão de suas funções; III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. IV - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria.  Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro”.

3.6 Retratação

Art. 143 do CP “O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena”.

Art. 144 do “Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa”.

Art. 145 do CP “Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal. Parágrafo único.  Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3º do art. 140 deste Código”.

3.7 Causas de exclusão do crime

Art. 142 do CP “Não constituem injúria ou difamação punível: I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou

Page 41: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

difamar; III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício. Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade”.

Atenção: Com relação ao advogado Art. 7, §2º da Lei 8.906/94 prevê que “O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação  puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer”

De acordo com o Prof. Damásio de Jesus, a honra é um bem jurídico disponível. É o consentimento do ofendido exclui a ilicitude do fato, desde que o ofendido seja maior de 18 anos e tenha dado o seu consentimento antes ou durante o fato, além da necessidade de ciência do agente. Preenchidos esses requisitos o consentimento do ofendido é causa supralegal de exclusão da ilicitude.

Atenção: Nos crimes contra honra é necessário para a condenação a presença do chamado elemento subjetivo especial do tipo que está implícito no tipo penal (especial fim de agir). Em todos os crimes contra a honra é necessário a comprovação do dolo acrescido de uma finalidade especial (isso é chamado de elemento subjetivo especial do tipo) ou para a doutrina tradicional de dolo especifico.

Page 42: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

4. PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE

Mauro Argachoff (aula 14/02/2014)

Page 43: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

5. CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL

5.1 Constrangimento Ilegal

5.2 Ameaça

Mauro Argachoff

5.3 Sequestro e Cárcere Privado

Previsão Legal:

Art. 148 do CP “Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado: Pena - reclusão, de um a três anos. § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias. IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; V – se o crime é praticado com fins libidinosos. § 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral: Pena - reclusão, de dois a oito anos”.

Conceito: O crime de sequestro ou cárcere privado viola a liberdade individual, embora o sequestro e cárcere privado estejam previstos no mesmo tipo penal, existe uma diferença entre tais expressões. Isso por que, no cárcere privado a privação da liberdade é mais intensa (sujeito ativo deixa sua vítima trancada dentro da porta malas de um carro ou de um carro), ao passo que no sequestro a intensidade da privação da liberdade é menos contundente (o sujeito ativo deixa a vítima trancada em uma casa ou em uma chácara).

Atenção: O consentimento da vítima capaz exclui a tipicidade da conduta, como causa supralegal. Para fins penais, pessoa incapaz é aquela menor de 14 anos.

Consumação: trata-se de crime que material que se consuma com a privação da liberdade da vítima.

Atenção: No entanto, se o crime for cometido para fins libidinosos (art. 148, §1º, inciso V do CP) o crime será classificado como formal. O crime de rapto (art. 219 do CP) foi revogado formalmente, mas não material, pois segundo o princípio da continuidade delitiva a conduta do rapto continua sendo punida em decorrência da migração da conduta para o art. 148, §1º, inciso V do CP.

Classificação: trata-se de crime permanente, podendo a prisão em flagrante ser realizada a qualquer momento.

5.4 Redução a condição análoga a de escravo

Previsão legal: art. 149 do CP.

Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer

Page 44: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. § 1o Nas mesmas penas incorre quem: I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. § 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: I – contra criança ou adolescente; II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.

O crime de redução à condição análoga a de escrava, que está previsto no art. 149 do CP trata-se de um crime que viola a liberdade individual, sendo denominada de plagio, que é aquela situação onde uma pessoa fica totalmente submissa a outra.

Atenção: trata-se de crime permanente, cuja consumação se prolonga no tempo. Vale ressaltar que é o referido crime é de competência da Justiça Federal e de atribuição da Polícia Federal.

Sujeitos do Crime

Sujeito passivo: a vítima pode ser qualquer pessoa, porem a pena é aumentada pela metade se a vítima for criança, adolescente, ou seja, o crime for motivado pela por preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.

Atenção: A existência de um eventual consentimento do ofendido é considerado irrelevante, ou seja, o sujeito ativo do crime comete o crime, mesmo que a vítima tenha consentido.

Sujeito ativo: qualquer pessoa. Conceito de Redução: significar submeter a condição análoga a de escravo nas condutas

indicadas na lei, é por tal motivo que esse crime é classificado como de ação vinculada (rol taxativo que não pode ser ampliado). Caso o agente viole mais de uma conduta, no mesmo contexto fático, comete um único crime (trata-se de um tipo misto alternativo, também conhecido como crime de ação múltipla ou de conteúdo variado).

Classificação: trata-se de crime permanente, sendo possível a realização da prisão em flagrante a qualquer momento, enquanto não cessada a permanência (art. 303 do CPP).

Consumação: ocorre quando a vítima fica nessa situação análoga à de escravo por um período razoavelmente longo. Até para constatar que houve o plagio.

Atenção: Caso o agente sujeite a vítima a trabalhos forçados de forma eventual, comete o crime de maus tratos (art. 136 do CP).

Ação Penal: trata-se de um crime de ação penal pública incondicionada.

5.5 Violação de domicílio

Mauro Argachoff

5.6 Invasão de dispositivos Informatizados

Page 45: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Mauro Argachoff

Page 46: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

6. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

6.1 Imunidade penais aplicadas contra o crime contra o patrimônio

A- Imunidade Penais Absolutas ou Escusas Absolutórias:

Art. 181 do CP “É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural”.

Natureza jurídica: são consideradas excludentes de punibilidade, ficando a autoridade policial impedida de instaurar o respectivo inquérito policial.

Hipóteses:

Quando o crime é praticado em prejuízo do cônjuge na constância da sociedade conjugal, não importando o regime de bens adotado;

Aplica-se mesmo que os cônjuges encontrem-se separados de fato;

Aplica-se também aos que vivem em união estável em razão da analogia “in bonam partem”;

Quando o crime é praticado em prejuízo de ascendente ou descontente. Trata-se do parentesco na linha reta, inclusive os adotados. Não havendo limite de grau.

Atenção: Essa hipótese não se aplica essas imunidades ao parentesco por afinidade, como por exemplo, o cunhado, a sogra, aos crimes envolvendo padrasto e enteado e vice-versa.

Atenção: Também se aplica as exclusas absolutórias na hipótese de caracterização do crime de favorecimento real (348, §2º do CP).

B- Imunidades Penais Relativas ou Processuais: são causas supralegais de excludente de punibilidade, que impedem a instauração de inquérito.

Art. 182 do CP “Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo: I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita”.

Natureza jurídica: transforma um crime que era apurado por meio de ação penal pública incondicionada passa a ser apurado por meio de ação penal pública condiciona à representação do ofendido.

Atenção: É lógico que o art. 182 do CP não será aplicado aos crimes já apurados por meio desta última ação, como o furto de coisa comum do art. 156 do CP e aos delitos apurados por meio de ação penal privada, como por exemplo, os de dano simples e o dano qualificado por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima, além do esbulho possessório se a propriedade e particular e não há o emprego de violência.

Page 47: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

As hipóteses das imunidades penais relativas: Quanto o crime e praticado em prejuízo do cônjuge do qual o agente se encontra separado

judicialmente;

Atenção: Essa hipótese não se aplica em relação ao casal divorciado, em razão da existência do vinculo matrimonial.

Crimes praticados entre irmãos, não importando se são filhos do mesmo pai e da mesma mãe ( irmãos germanos) ou irmãos do mesmo pai ou da mesma mãe (irmãos unilateriais);

Quando o crime for praticado em prejuízo de tio ou sobrinho com quem o agente coabita.

C- Não aplicação das imunidades penais nos crimes contra o patrimônio: As duas espécies de imunidade penais relativas aos crimes contra o patrimônio não são aplicáveis nas hipóteses prevista no art. 183 do CP.

Art. 183 do CP “Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores: I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; II - ao estranho que participa do crime. III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos”.

Hipóteses de não aplicação: Crime de roubo ou extorsão e no esbulho possessório.

6.2 Furto

A- Furto Simples:

 Art. 155 do CP “Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa”.

Antes de tudo, vale salientar que o furto simples é um crime de médio potencial ofensivo, já que a pena mínima em abstrato não é superior a um ano, sendo cabível a suspensão condicional do processo, desde que o réu também preencha os requisitos de natureza subjetiva (vide art. 89 da Lei 9.099/95).

É importante destacar que o ato de subtração também pode compreende a hipótese em que a vítima entrega ao furtador a posse vigiada da coisa.

Exemplo: André recebe um livro da bibliotecária, para ler dentro da biblioteca, e posteriormente, após algumas horas, resolver colocar o objeto na mochila e ir embora.

Atenção: O crime de furto não ocorre somente quando o agente se apossa sorrateiramente de um bem alheio e o leva embora sem autorização da vítima. Posse vigiada é aquela em que o agente não está autorizado a deixar o local em que recebeu o bem com este. Por outro lado, só existe o crime de apropriação indébita (art. 168 do CP), quando a vítima entrega ao agente a coisa com uma posse desvigiada (aquela em que o agente recebe o bem e, é autorizado a deixar o local com o mesmo).

Page 48: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Objeto material: e a pessoa ou coisa sobre qual recai a conduta do agente. No furto trata-se de coisa móvel alheia. A maiorias dos crimes possuem objeto material, salvo no falso testemunho e no ato obsceno.

Atenção: Para o direito penal, coisa móvel é aquela que pode ser deslocada de um lado para outro, inclusive os semoventes (são aqueles animais que se movimentam por si só). Não se esquecer que a subtração de gado e chamada de abigeato.

No direito penal também e possível furto de navios e aviões, mesmo que a lei civil os considere para fins de hipoteca como bens imóveis.

Furto de energia:

Art. 155, § 3º do CP “Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico”.

Observação: com relação ao chamado golpe do “gato net”, o Ministro Joaquim Barbosa do STF entendeu que o “goto net” é fato atípico, porque sinal de tv a cabo não pode ser confundido com energia. No entanto existem vários doutrinadores que entendem que tal conduta pode ser considerada como furto de energia, tendo em vista o disposto no art. 35 da Lei 8.977/95.

A coisa móvel deve ser “alheia”, é aquela coisa que tem dono, ressaltando que tal expressão reflete o chamado elemento normativo do tipo ( que é aquele que demanda um juízo de valor por parte do magistrado). Portanto, um bem somente pode ser considerado alheio, quando tiver dono.

É por tal motivo que a “res nulliuns” (coisa de ninguém) não pode ser objeto material de furto, mas sim de crime ambiental. Da mesma forma, que a chamada “res derelicta” (que são as coisas abandonadas) não pode ser objeto material de furto ou de qualquer crime.

Por outro lado, a chamada “res desperdita” (coisa perdida, que é aquela coisa que tem dono), é quem e não devolve ao seu dono ou autoridade, no prazo de 15 dias, comete o crime de apropriação de coisa achada (art. 169, § único, inciso II do CP).

Atenção: O credor quando subtrai bem do devedor, para se auto ressarcir de divida vencida e não paga, prática o crime de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP). No caso em analise houve a subtração de coisa alheia, mas o furto não se configurou por não ter havido a intenção de locupletamento ilícito por parte do credor, o que é requisito nos crimes contra o patrimônio, exceto no crime de dano.

Coisas de uso comum: como por exemplo, a água e o ar deixam de ter essa característica e passar a ter dono quando já foram tiradas do meio ambiente, como por exemplo a água encanada.

Subtração de órgãos ou partes de seres humanos:

Atenção: o ser humano e suas partes integrantes não estão inseridas no conceito de coisa. Por isso, o corte de cabelo sem autorização da vítima constitui lesão corporal e não furto, ainda que a intenção seja patrimonial. Não se esquecer que o corte de cabelo da ´vitima para fins de

Page 49: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

humilha-la caracteriza o crime de injuria real (art. 140, §2º do CP), ao contrário, e possível o furto de peruca, dentadura.

Se ocorrer a subtração de órgão de ser humano vivo ou morto para fins de transplante, caracteriza o crime previsto no art. 14 da lei 9.434/97. Por sua vez quem adquire tais órgãos comete o crime do art. 15 da citada lei.

Por sua vez, quem subtrai cadáver comete o crime do art. 211 do CP. Entretanto tal conduta pode gerar crime de furto previsto no art. 155 do CP quando o cadáver integrar o patrimônio de alguma instituição (exemplo faculdade de medicina, museu).

Subtração de coisas enterradas com o cadáver:

Há doutrinadores que entendem pelo cometimento do crime de violação de sepultura (art. 210 do CP), na verdade não será crime de furto, porque tais objetos são equiparados à coisa abandonada, por não haver interesse dos familiares.

Ao contrário, existem doutrinadores que entendem que afirmam que tal conduta reflete o crime de furto, porque tais objetos tem dono que são os familiares, além disso, o arrombamento e qualificadora do furto e não crime autônomo de violação de sepultura.

Furto de Coisa Comum: O art. 156 do CP faz previsão do crime de furto de uso comum, que é ação penal pública condicionada à representação e que pune o herdeiro, sócio ou condômino que subtrair a toda a coisa móvel fungível, que só lhe pertence em parte.

Art. 156 do CP “Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. § 1º - Somente se procede mediante representação. § 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente”.

Atenção: O agente somente e processado se a vítima representar.

Furto Noturno:

Art. 155, § 1º do CP “A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno”.

Natureza jurídica: trata-se de causa de aumento de pena, incidente na terceira fase do cálculo da pena.

Para a configuração da causa de aumento de pena não basta que o furto ocorra à noite, sendo necessário que o crime seja cometedo durante o repouso noturno, período em que há menor vigilância por parte da vítima. Não e possível aplicar o aumento quando o furto ocorrer durante o repouso diurno ( “analogia in malam partem”).

O período de repouso noturno pode varias de uma localidade para outras, havendo diferença entre a zona rural e a urbana.

Page 50: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

O aumento também é aplicável quando o furto é cometido em local que não é próprio para repouso noturno, como por exemplo, nas áreas externas (jardim, quintal, garagem, etc).

Atualmente o STJ vem entendendo que o aumento também é aplicável quando o furto for praticado em estabelecimento comercial fechado. É irrelevante que a casa esteja habitada ou não durante a prática do furto no repouso noturno, como por exemplo, quando todas as pessoas foram a um casamento.

Por fim, não se aplica o referido aumento quando o furto for praticado na rua, mesmo que de madrugada, como por exemplo, no caso de uma subtração de um veículo estacionado na rua.

Da mesma forma não se aplica o aumento quando estiver tendo uma festa na casa durante a madrugada.

Atenção: O aumento de pena não se aplica quando o furto for realizado durante o repouso diurno.

Furto Privilegiado: é um beneficio aplicável ao réu condenado por furto, quando presentes dois requisitos: que o réu seja primário (aquele que não é reincidente) e que a coisa furtada seja de pequeno valor ( que é aquela coisa de pequeno valor, cujo valor seja superior ao do furto de bagatela (20% do salário mínimo) e que não ultrapasse o valor de um salário mínimo. Não importa se a vítima e pobre ou rica, pois o critério é objetivo, também não importa se a coisa foi recuperada pelo policiais e devolvida a vítima.

Atenção: Trata-se de um beneficio de direito subjetivo do réu.

Art. 155, § 2º do CP “Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa”.

Atenção: o que se leva em conta é o valor do bem e não o prejuízo final da vítima, de modo que se ocorrer o furto de um relógio rolex, o réu não terá direito ao privilégio, ainda que o relógio, no valor de 20.000 mil reais, seja recuperado pelos policiais e devolvido à vítima.

Consequências do reconhecimento do furto privilegiado:

Substituir a pena de reclusão pela de detenção;

Diminuir a pena privativa de liberdade de 1/3 a 2/3;

Ignorar a aplicação da pena privativa de liberdade e aplicar apenas a pena de multa.

Atenção: É o juiz que escolhe uma destas opções.

É possível à existência de furto noturno (causa de aumento de pena) com algumas das caracterizadoras dos parágrafos (4º e 5º do art. 155 do CP)? Não. Tendo em vista que o furto noturno por estar no parágrafo primeiro do mencionado artigo, somente se aplica ao furto simples se o juiz reconhecer algumas das qualificadoras.

Page 51: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

É possível à coexistência de furto qualificado-privilegiado? Sim, conforme entendimento dos Tribunais Superiores .

Furto de bagatela: E um instituto aceito pela doutrina e pela jurisprudência, segundo o qual o fato é atípico em razão do princípio da insignificância (que é uma causa de excludente da tipicidade material).

Atenção: Podemos aplicar o princípio da insignificância quando a “res furtiva” não ultrapassar o montante de 20% do salário mínimo ou mais. Vale acrescentar que o princípio da insignificância somente pode ser aplicado nos crimes cometidos sem o emprego de violência ou grave ameaça.

Também não se aplica o princípio da insignificância nos crimes protegidos pela fé pública, alias aqueles previstos nos art. 289 a 311 do CP (a fé pública é um bem jurídico intangível).

B- Furto Qualificado:

Art. 155, § 4º do CP “A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas”.

Art. 155, § 5º do CP “A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior”.

De inicio, de todas as qualificadoras do furto, apenas duas são consideradas causa de aumento do roubo, no caso do concurso de duas ou mais pessoas e a subtração de veículo automotor que venha a ser transportado para outro estado ou para o exterior.

Furto praticado mediante Escalada (art. 155, §4º, inciso II do CP): significa que o acesso ao local do furto tenha sido realiza por uma via anormal (que não é necessariamente subir em algo).

Exemplos: pular um muro alto, entrar pelo telhado, escavar um túnel.

Atenção: O art. 171 do CPP exige a realização de pericia para constatar que houve a escalada, pois se trata de um crime transeunte (aquele crime que deixa vestígios).

Essa qualificadora somente se caracteriza quando o agente precisou fazer um esforço considerável para ter acesso ao local do furto ou ainda, quando se utiliza de uma escada ou corda.

Furto praticado com o emprego de Destreza (art. 155, §4º, inciso II do CP):

A doutrina e a jurisprudência só reconhecem essa qualificadora quando a destreza consiste em subtrair objetos que estão com a vítima, sem que ela perceba, tal como faz “o batedor de carteiras/punguista”.

Atenção: Tal qualificadora não se aplica por não se mostrar necessária a destreza quando a vítima estava dormindo no metrô ou quando estava inteiramente embriagada “bêbada”.

Page 52: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Caso o agente seja descoberto por um terceiro que estava ali perto da vítima e acaba preso ali mesmo, temos tentativa de furto qualificado, se por falta de habilidade, a vítima percebe a conduta do agente, essa qualificadora não se aplicara não se aplica.

Furto praticado com o emprego de chave falsa (art. 155, §4º, inciso III do CP):

A cópia de uma chave feita sem autorização da vítima também é considerada chave falsa. No entanto vale ressaltar que a utilização de uma chave reserva não e considerada chave falsa.

Qualquer instrumento que introduzindo na fechadura, que consiga acioná-la e que não seja a chave verdadeira é considerado chave falsa, como por exemplo uma chave de fenda, grampos, mas principalmente aqueles instrumentos confeccionados pelos próprios ladrões para servirem como chave falsa, que são denominados de chave mixa ou gazua.

Por fim, pegar a chave embaixo do tapete da casa da vítima para furtar, não gera tal qualificadora.

Furto praticado com abuso de confiança (art. 155, §4º, inciso II do CP):

Requisitos:

Que fique demonstrado que a vítima tinha uma especial confiança que a vítima depositava no agente.

Exemplos: crimes praticados entre irmãos, entre casal de namorados, entre noivos, grandes amigos etc.

Observação: Apesar dos exemplos acima mencionados, é sempre prudente realizar uma análise no caso concreto. Como por exemplo, na hipótese de dois irmãos que são inimigos não haverá uma relação de confiança, o que afastaria automaticamente a incidência dessa qualificadora. Da mesma forma, se o furto for praticado por empregado, ainda que doméstico, o reconhecimento da qualificadora só será possível se ficar comprovada a relação de confiança.

Observação: o furto praticado por empregado, mesmo o doméstico é denominado de famulato.

Que o agente se aproveite se alguma facilidade decorrente da relação de confiança para praticar o furto.

Exemplo: O irmão que pratica um furto quando estava sendo recebido pela vítima.

Furto praticado com rompimento ou destruição de obstáculo (art. 155, §4º, inciso I do CP): Em primeiro lugar, para a caracterização dessa qualificadora é necessário à realização do exame pericial (art. 171 do CPP) no obstáculo, para que seja constatado os vestígios ali deixados.

Atenção: O rompimento do obstáculo (ativos é passivos) gera um dano parcial no objeto e a destruição ocasiona um dano total.

Page 53: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Atenção: A simples remoção de um obstáculo sem que ele seja danificado não qualifica o furto. Pois adoutrina entende que a incidência dessa qualificadora só se justifica quando gerar um duplo prejuízo.

Portanto a referida qualificadora só se aplica quando o obstáculo atingido não é parte integrante do bem furtado.

Quando o obstáculo integra o bem furtado e é levado junto, não é possível a realização de perícia e não gera um duplo prejuízo para a vítima. Assim, ao arrombar o portão da garagem para furtar um veículo caracteriza a incidência dessa qualificadora, mas se o sujeito arrombar a porta do carro para leva-lo não qualifica o crime.

Atenção: Não se esquecer de que arrombamento de uma porta do carro para levar objetos que estão em seu interior qualifica o furto, inclusive o toca cd.

Subtração de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou País: é a qualificadora que tem a pena mais grave.

Art. 155, § 5º do CP “A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior”.

Para se reconheça essa qualificadora também e necessário o reconhecimento de dois requisitos:

A intenção de levar o veículo para outro Estado ou país, desde a prática do furto;

Que o agente consiga fazer o veículo cruzar a fronteira ou a divisa. Se havia a intenção, mas o agente não cruza a fronteira ou a divisa, essa qualificadora (Art. 155, § 5º do CP) está automaticamente afastada.

Exemplo: Tício furtou o carro às 8 horas da manhã pretendendo levá-lo até o Estado de Minas Gerais, mas foi detido a um quilometro antes de cruzar a divisa.

É possível a tentativa dessa qualificadora, quando o agente furta o carro, mas é imediatamente perseguido e acaba sendo preso depois de ingressar no outro Estado.

Por fim, se além da qualificadora § 5º do art. 155 do CP se estiver presente qualquer das qualificadoras do §4º do art. 155 do CPP, o juiz aplica apenas a pena prevista no §5º do art. 155, porque é maior e porque houve um só crime. Na fixação da pena-base o juiz levará em consideração a circunstância do §4º do art. 155 do, não como qualificadora, mas sim como circunstância judicial.

Furto praticado mediante o concurso de duas ou mais pessoas (art. 155, §4º, inciso IV do CP): Como o texto legal não fez qualquer restrição, referindo-se genericamente a concurso de pessoas, essa qualificadora aplica-se para casos de coautoria ou participação.

A qualificadora poder ser reconhecida, ainda que só um meliante tenha estado num local no momento do furto, desde que ele tenha contado com a colaboração de terceira pessoa (participe).

Page 54: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Quando a lei quer restringir o agravamento da pena a caso de coautoria, deve fazer de forma expressa, tal como ocorre no constrangimento ilegal (art. 146, §1º do CP).

É possível que o juiz reconheça a qualificadora, apesar de condenar uma só pessoa, quando fica provada a participação de outrem que por alguma razão não pode ser punida, como por exemplo, agente desconhecido, menor de 18 anos, filho ou marido da vítima, desde que está não tenha idade igual ou superior a 60 anos.

A STJ fixou o entendimento na Súmula 442 do STJ “É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo”.

Furto praticado com o Emprego de fraude (art. 155, §4º, inciso II do CP): A caracterização do furto praticado com o emprego de fraude difere da caracterização do estelionato. Fraude é qualquer artimanha utilizada pela agente para viabilizar a subtração de uma coisa alheia móvel.

Exemplos:

o Tício se veste de empregado da VIVO para poder ingressar no local furto, valendo-se dessa condição para subtrair os bens de Mévio.

o Tício e Mévio entram numa loja com um só vendedor e um deles desvia a atenção desta, possibilitando que seu comparsa furto os bens.

o Fraude pela internet para obter o número e a senha do correntista par transferir dinheiro da vítima para outra conta, geralmente aberta com documentos falsos.

Atenção: Uma das grandes dificuldades do operador de direito é diferenciar os crimes de furto qualificado pela fraude com o de estelionato, pois neste há sempre o emprego de fraude.

No estelionato a vítima e enganada pela fraude, é quem faz a entrega da vantagem ilícita ao estelionatário, como por exemplo, no golpe do bilhete premiado.

Já no furto qualificado, a fraude serve para distrair a atenção da vítima e permitindo que o furtador tenha uma maior facilidade na subtração, conforme exemplos já mencionados.

Atenção: Se o a gente emprega a fraude para obter uma posse vigiada e, em seguida, leva o bem sem autorização da vítima, o crime e o de furto qualificado pela fraude, porque sempre que o bem é tirado da esfera de vigilância do dono o ato e entendido como subtração.

É por tal motivo, que no caso de falsos manobristas ou cobradores que recebem o carro só para estacionar, mas o veículo some, o crime é o de furto qualificado pela fraude, porque se entende que houve posse vigiada.

Como é tratado atualmente o cartão clonado? Depende da situação.

Da mesma forma, se o cartão clonado for utilizado para enganar o caixa do banco para que ele entregue o dinheiro o crime configurado é o de estelionato, porque o caixa do banco foi induzido em erro e entregou o dinheiro ao agente, autorizando a sua retirada.

Page 55: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Atenção: No estelionato a vítima entrega a posse desviada de um bem.

Se o agente utilize esse cartão para fazer uma compra em uma loja e recebe a mercadoria do vendedor para que a leve embora, o crime é o de estelionato porque uma vítima foi induzida em erro.

Por outro lado, se o agente utiliza o cartão clonado para sacar dinheiro não estará induzindo uma pessoa, mas uma maquina, sendo por isso caracterizado o crime de furto.

C- Observações finais:

É possível a caracterização do furto privilegiado qualificado, desde que a qualificadora seja objetiva (todas são).

O furto noturno por estar previsto no §1º do art. 155 do CP somente é aplicado ao furto simples, devendo ser afastado se o juiz reconhecer alguma das qualificadoras dos parágrafos 4 e 5 do art. 155 do CP.

D- Consumação do furto: O furto se consuma, conforme a teoria da “amotio” (inversão da posse) quando a vítima perde a posse do bem e o agente a obtenha.

Ocorre essa inversão quando o agente obtém a posse e cessa a clandestinidade em relação à coisa subtraída, ainda que por um breve tempo, por ter conseguido tira-la do local.

Segundo a “teoria da amotio” a cessação da clandestinidade ocorre quando a coisa é retirada do local onde se encontrava, sem que ocorra perseguição imediata e ininterrupta, que resulte na sua prisão e na restituição dos bens a vítima.

Dessa forma, a cessação da clandestinidade significa que o sujeito por alguns minutos, não correu o risco de ser tolhido dos bens subtraídos, por não ter havido a perseguição imediata ou na hipótese da perseguição ter sida interrompida momentaneamente. Portanto não é necessário que o agente detenha a posse mansa e pacifica.

Casos práticos: Se Tício inicia a execução de um furto entrando na casa da vítima ou abrindo a porta do

carro, mas acaba preso antes de ter se apossado do bem, o crime se considera tentado.

Também haverá tentativa de furto se o agente se apoderou do bem, mas acabou sendo preso no próprio local, porque neste caso o bem não foi tirado da esfera de vigilância do dono.

Se o agente se apodera do bem se sai correndo do local, mas é imediatamente perseguido por terceira pessoa que consegui prendê-lo em outro local, após uma perseguição em que esteve o tempo todo no encalço do ladrão, o crime se considera tentado desde que os bens sejam recuperados e entregues a vítima. O crime não se consumou porque não houve cessação de clandestinidade em nenhum momento.

E possível existir furto consumado sem que tenha havido cessação de clandestinidade?

Page 56: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Excepcionalmente sim, como por exemplo, no último caso estudado, se durante a perseguição o ladrão joga ou venha a perder os bens da vítima e ela não os mais recupera no todo ou em parte. Na verdade, o delito estará consumado com a justificativa de que houve lesão patrimonial.

Se o agente se apodera do bem e sai correndo sendo imediatamente perseguido, mas durante a fuga começa a despistar por alguns minutos os perseguidores policiais, os quais ficam sem saber o local exato onde está o bandido. Teremos crime consumado ainda que este seja reencontrado e preso com o argumento de que houver momento de cessação de clandestinidade ainda que por pouco tempo.

Se o agente consegui se apossar do bem e deixar o local sem ser perseguido, mas a vítima comunica o furto a polícia, passando as características do objeto furtado ou do bandido e os policiais alguns minutos depois encontrar o bandido na posse do bem. Temos neste caso crime consumado porque houve cessação de clandestinidade, além da possibilidade da prisão em flagrante em razão do disposto no art. 302, inciso IV do CPP (flagrante ficto ou presumido).

6.3 Roubo

Art. 157 do CP “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. § 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade: I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma; II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância. IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. § 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa”.

A- Roubo Simples:

Roubo próprio:

Art. 157 do CP “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa”.

Atenção: Neste crime, o agente primeiro domina a vítima, e em seguida subtrair os bens da vítima. A lei prevê três formas de execução para o agente dominar a vítima:

Violência contra pessoa “vis absoluta”: significa qualquer forma de agressão ou força física empregadas contra alguém.

Exemplos: utilização de socos, pauladas, pontapés, trombadas, etc;

Page 57: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Mediante grave ameaça contra pessoa “vis relativa”: promessa de um mal injusto e grave a ser causado no próprio dono do bem ou em terceiro.

Exemplos: ameaça de morte ou de lesão.

Cuidado: A simulação de arma ou o uso de arma de brinquedo tem poder intimatório e por isso configuram grave ameaça, caracterizadora do roubo.

Qualquer outro meio que reduza a vítima à impossibilidade de resistência: trata-se de uma formula genérica que conhecida também como a denominação de violência imprópria.

Exemplos: utilização de soníferos, boa noite cinderela, hipnose, etc.

Atenção: No roubo próprio e admitido somente duas formas de execução, que no caso é a violência ou a grave ameaça contra a vítima. Nunca há violência imprópria no roubo próprio.

Consumação do roubo próprio: ocorre no exato instante em que o agente se apossou do bem, ainda que seja preso no local (posição pacifica dos Tribunais Superiores).

Tentativa do roubo próprio: é possível quando o ladrão emprega a violência ou grave ameaça, mas não consegui se apoderar de nada.

Roubo impróprio: Neste crime, o agente inicialmente só queria praticar o furto, porem logo após de se apoderar de algum bem da vítima ele emprega violência ou grave ameaça a fim de assegurar a impunidade ou a detenção da coisa para si ou para terceira pessoa.

Art. 157, §1º do CP “Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.

Atenção: Na prática, para o reconhecimento do roubo impróprio, exige-se que a violência ou grave ameaça sejam empregadas imediatamente após a subtração, ou seja, no mesmo contexto fático do furto que estava em andamento.

Casos práticos complexos: o Tíco furtou um celular há três horas, e três horas depois se deparam com a vítima que

reconhece o celular em outro local e a agride para permanecer na posse do bem, ele responde pelos crimes de furto consumado em concurso material com o de lesões corporais.

o Tício queira inicialmente praticar um crime de furto, mas a vítima percebe, e ele emprega violência contra a mesma no intuito de fugir, comete os crimes de tentativa de furto em concurso material com o de lesão corporal, pois são crimes autônomos.

o Tício queira inicialmente praticar um crime de furto, mas a vítima percebe e ele emprega violência contra a mesma no intuito de ficar com o bem, tendo sucesso para tanto, comete o crime de roubo impróprio.

Page 58: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Consumação do roubo impróprio: ocorre no exato instante em que o agente emprega a violência ou a grave ameaça, ainda que ele não consiga garantir a impunidade do crime ou a detenção da coisa.

Tentativa de roubo impróprio: não é possível, uma vez que se o ladrão emprega violência ou grave ameaça o crime está consumado e se não o fez, só responde pelo furto praticado.

Observação: Existem doutrinadores renomados, como por exemplo, Guilherme Nucci, adotando a possibilidade da tentativa de roubo impróprio.

Exemplo: após a subtração, Tício não consegue empregar a violência contra a vítima por circunstâncias alheias a sua vontade.

Casos práticos complexos:

o Tício já se apoderou do bem e joga pedras ou desfere pauladas contra a vítima, mas não consegue atingi-la, nesta hipótese se considera empregada à violência e consumado o roubo impróprio.

o Tício corre em direção da vítima com um pedaço de madeira para agredi-la, mas outras efetuam a sua detenção, antes dele desferir o primeiro golpe, entende-se que ele já empregou a grave ameaça e, assim, já consumou o roubo impróprio.

Conclusão: As diferenças entre roubo próprio e impróprio são as seguintes:

1ª O roubo próprio admite três formas de execução, no caso a violência, a grave ameaça e a violência imprópria contra pessoa, ao passo que o roubo impróprio não admite a violência imprópria.

2ª No roubo próprio as formas de execução são empregadas antes ou durante a subtração, enquanto no roubo impróprio tais formas, com exceção da violência imprópria, são utilizadas após a subtração para fins de garantirem a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.

3ª E possível à tentativa de roubo próprio, diferentemente do roubo impróprio (está última posição encontra resistência na doutrina e na jurisprudência).

Roubo majorado ou circunstanciado:

Atenção: Nas provas realizadas pelo CESPE, o examinador já chamou em provas anteriores de roubo qualificado ao invés de roubo majorado se ocorrer uma das hipóteses previstas no ar. 157, §2º do CP.

Art. 157, §2º do CP “A pena aumenta-se de um terço até metade: I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma; II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância. IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade”.

Page 59: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Súmula 443 do STJ: “O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de majorantes”. 

Emprego de armas (art. 157, §2º, I do CP): arma é qualquer instrumento que tenha potencialidade lesiva, ou seja, capacidade de ferir gravemente ou de ocasionar a morte da vítima, como a lei não fez qualquer distinção, o aumento vale tanto para a arma própria como para a arma imprópria.

Arma própria é aquele instrumento feito para servir mesmo como arma, como por exemplo, uma arma de fogo, punhal, espada, soco inglês etc.

Arma imprópria é aquela feita com outra finalidade, mas que também tem potencialidade lesiva, como por exemplo, faca, estilete, foice, enxada etc.

Atenção: A simulação de arma não gera o aumento, pois não houve o emprego de arma.

Emprego de Arma de brinquedo: é praticamente pacífico na doutrina como na jurisprudência de a utilização de uma arma de brinquedo não ocasiona a incidência da elevação da pena, porque o brinquedo não tem potencialidade lesiva. Por outro lado, há poucos doutrinadores que insistem na possibilidade do aumento em razão da maior facilidade que a pessoa armada encontra para dominar a vítima, facilidade que a mesma quando ele mostra a arma de brinquedo que parece verdadeira, pois isso também diminui a possibilidade de reação.

Atenção: Da mesma forma, que a arma desmuniciada ou quebrada não gera o aumento, valendo-se dos mesmos argumentos utilizado nos crimes cometido com arma de brinquedo. Para a prova de Delegado Civil ou Ministério Público e desnecessário a realização de perícia na arma.

Concurso de pessoas (art. 157, §2º, II do CP): vide os comentários feitos no art. 155, §4º, inciso IV do CP, com a ressalva de que tal hipótese no roubo gera causa de aumento de penal.

Atenção: como o texto legal não faz distinção o aumento vale para casos de coautoria e participação, o juiz pode aplicar o aumento, ainda que condene uma só pessoa, desde que fique comprovada a conduta de outra pessoa que por alguma razão não pode ser punida, como por exemplo, da participação de um menor de 18 anos ou de uma pessoa não identificada.

Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância (art. 157, §2º, III do CP): é necessário que a vítima esteja trabalhando com transporte de valores. Somado a isto, o agente deve ter pleno conhecimento dessa circunstância, e por isso costuma-se dizer este inciso somente é compatível quando existir a presença do dolo direto, não sendo compatível o dolo eventual. Caso o agente subtraia bens pessoas da vítima não incide a causa de aumento de pena. Tal dispositivo não é encontrado no furto como qualificadora.

Exemplo: Mévio, juntamente com seus parceiros assaltam um carro forte em uma rodovia.

Page 60: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Atenção: Está majorante não se aplica ao carteiro que transporta cartões de credito ou talões de cheque, se vir a ser vítima de roubo.

Roubo de veículo automotor que venha ser transportado para outro Estado ou outro país (art. 157, §2º, IV do CP): para que caracterize essa qualificadora é necessário que ocorra o efetivo transpasse da divisa ou fronteira, sob pena de afasta-la.

Se o agente mantém a vítima em seu poder restringindo sua liberdade (art. 157, §2º, V do CP): Essa hipótese somente se aplica quando há uma mera restrição de liberdade, e só se aplica quando a vítima permanece durante um tempo juridicamente relevante com os roubadores.

Atenção: Se vítima permanecer nas mãos dos assaltantes por um tempo maior, por horas, haverá privação de liberdade, e o agente responde pelo roubo em concurso material com o crime de sequestro e cárcere privado (art. 148 do CP), sem a causa de aumento de pena prevista no art. 157, §2º, V do CP.

Roubo qualificado:

Art. 157, §3º do CP “Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa”.

Se da violência resulta lesão corporal de natureza grave:

Atenção: Está qualificadora não é considerada hedionda.

Exemplo: Durante o roubo, havendo reação da vítima, o agente atira na perna dela, provocando lesão grave.

Se da violência resulta morte (latrocínio): Trata-se de crime hediondo, seja consumado ou tentado.

Consumação do latrocínio: ocorre com a morte da vítima, pouco importa se o sujeito ativo do crime consiga ou não subtrair os bens.

O tipo penal do latrocínio não abrange a hipótese em que a morte é uma decorrência exclusiva da grave ameaça, utilizada durante o roubo. Pois isso, se a vítima tem um ataque cardíaco e morre em razão da grave ameaça, o agente deve responder por roubo em concurso formal com homicídio culposo (na verdade trata-se de concurso formal próprio ou perfeito, porque o agente não agiu com desígnios autônomos).

O latrocínio não é um crime exclusivamente preterdoloso, pois o agente pode ter o dolo de roubar e o dolo de matar. De acordo com a Súmula 603 do STF o latrocínio é julgado pelo juízo singular, sob o argumento que o latrocínio é crime contra o patrimônio.

Cuidado: O latrocínio pode ser caracterizado tanto no roubo próprio quanto no roubo impróprio (neste último caso para garantir a impunidade do crime ou a detenção da coisa).

Page 61: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Desta forma se após o encerramento do crime de roubo, estando o assaltante em outro contexto fático, caso veja a matar para garantir a impunidade do roubo anterior, o sujeito responderá por homicídio qualificado em concurso material com roubo. Portanto, para que haja o latrocínio, em breves palavras, é indispensável que a violência causadora da morte tenha sido empregada durante e em razão do roubo.

Observação: Presente os requisitos da caracterização do latrocínio, teremos latrocínio, qualquer que seja vítima fatal, mesmo que não seja o proprietário do bem, como por exemplo, seu filho ou espoja que estava dentro do carro, alguém que fazia a escolta armada da carga roubada.

Atenção: Caio estava juntamente com sei filho Mévio parado em um semafaro com seu veículo que havia acabado de comprar, é Tício com a finalidade de subtrair o veículo de Caio, mata Mévio que reagiu ao assalto.

Somente não haverá latrocínio quando o agente matar intencionalmente o seu comparsa durante o roubo, porem se ficar demonstrado que o agente queria matar a vítima do roubo, mas por erro de pontaria errou caracteriza a “aberratio ictus” prevista no art. 73 do CP (erro na execução), ou seja, o agente responde por latrocínio, como se tivesse matado quem ele pretendia.

Portanto, a consumação do latrocínio ocorre com a morte da vítima, independentemente do sucesso da subtração da coisa alheia móvel, conforme a súmula 610 do STF.

O latrocínio é um crime complexo ou pluriofensivo, porque atinge o patrimônio e a vida (dois ou mais bens jurídicos), e por essa razão, firmou-se entendimento de que cada crime de latrocínio deve ser fruto da soma de uma morte com uma subtração, de modo que só existem dois latrocínios se ocorrerem duas mortes e duas subtrações.

Por isso, se os bandidos roubam o dinheiro de um banco e matam três seguranças respondem apenas por um latrocínio, sendo que a pluralidade de mortes deve ser levada em conta na fixação da pena.

Por fins, quando ficar claro que o agente praticou um homicídio e que só depois da vítima já estar morta (crime instantâneo de efeitos permanente), surgiu na cabeça do homicida a ideia de revistar os bolsos da vítima morta e de subtrair seus pertences, ele responde pelo crime de homicídio em concurso material com furto, pois as vítimas do furto são os familiares do falecido, ou seja, os seus sucessores.

6.4 Extorsão

Art. 158 do CP “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. § 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade. § 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior. § 3o  Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente”.

Page 62: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Súmula 96 do STJ “O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida”.

Atenção: O crime de extorsão é muito semelhante ao crime de roubo, porque em ambos há o emprego de violência ou grave ameaça contra a vítima. No crime de roubo o agente subtrai o bem da vítima, por sua vez, quando a vítima for coagida a entregar a coisa, poderá caracteriza o crime de roubo ou extorsão. Se ficar provado que naquela circunstância o agente poderia ter realizado a subtração caracteriza o roubo (na hipótese do comportamento da vítima ser irrelevante).

Exemplo: Ticio aponta uma arma de fogo na cabeça de Mévio e exige que ele entregue o seu relógio rolex.

Por lado, configurará o crime de extorsão quando a vítima entregar a coisa, mas ficar provado que o seu comportamento foi imprescindível (relevante) para o agente efetuar a extorsão, uma vez que se a vítima se recusasse a faze-lo o agente não teria naquele momento como obter a indevida vantagem econômica.

Exemplo: Tício, valendo-se de grave ameaça obriga Mévio a entregar uma folha de cheque, para que possa descontar posteriormente.

Atenção: E por tal motivo que todas as ameaças feitas à distância configuram crime de extorsão. Na extorsão o sujeito ativo sempre tem um comportamento comissivo, pois ele sempre emprega violência ou grave ameaça. Por outro lado, a vítima da extorsão pode se comportar de forma comissiva (fazer algo) ou omissiva (deixando de fazer algo ou tolerar que se faça).

Atenção: Para que haja o crime de extorsão é necessária à comprovação que o agente queria obter uma indevida vantagem econômica.

Consumação: o crime de extorsão é um crime formal, porque se consuma com a ação ou omissão da vítima coagida, após ter sofrido o constrangimento. Alias, conforme a Súmula 96 do STJ a obtenção da indevida vantagem econômica é irrelevante para a consumação do delito.

Exemplo: Tício emprega grave ameaça contra sua ex-mulher, ao constrangê-la a efetuar um deposito bancário, sob pena de mostrar algumas fotos comprometedoras da vítima, mas está não sede as exigências (nesta hipótese ocorre uma tentativa de extorsão).

Distinção entre extorsão e constrangimento ilegal (art. 146 do CP): Em ambos os crimes há o emprego de grave ameaça contra a vítima, é está é forçada a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, a diferença e que na extorsão pressupõe uma vantagem econômica, ao posso que no constrangimento ilegal, o agente tem a intenção de obter qualquer espécie de vantagem, menos a econômica.

Art. 146 do CP “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. § 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas. § 2º - Além das penas cominadas,

Page 63: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

aplicam-se as correspondentes à violência. § 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II - a coação exercida para impedir suicídio”.

Exemplo: Um corintiano, com o emprego de uma arma de fogo obriga um palmeirense a cantar o hino do Corinthians.

Distinção entre extorsão e exercício arbitrário das próprias razões: Na extorsão, o agente deseja obter uma indevida vantagem econômica, ao passo que no exercício arbritrário das próprias razões, crime contra administração da justiça, o agente quer obter uma devida vantagem econômica.

Exemplo: Credor que ameaça o devedor para que pague a dívida.

Atenção: O exercício arbitrário das próprias razões é apurado por crime de ação penal pública incondicionada se for cometido com violência, ou ação penal privada se for praticado sem violência.

Extorsão majorada: a pena é aumentada de 1/3 até 1/2 se o crime for cometido por uma ou mais pessoas.

Art. 158, § 1º do CP “Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade”.

Atenção: Esse aumento de pena somente é aplicado na hipótese da existência de coautoria e não de participação, diferentemente do roubo majorado (art. 157, §2, inciso II do CP). Isso porque no roubo majorado a lei prevê o aumento no concurso de duas ou mais pessoas.

Observação: Se o crime for cometido com o uso de arma própria ou imprópria, com exceção da arma de brinquedo, desmuniciada ou quebrada (vide as mesmas explicações dadas no art. 157, §2º, I do CP).

Art. 158, § 2º do CP “Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior. § 3o  Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente”.

Extorsão qualificada:

Extorsão praticada mediante o emprego de violência:

Art. 158, §2º do CP “Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior”. 

Atenção: vide as mesmas explicações dadas no art. 157, §3º do CP.

Extorsão praticada mediante restrição da liberdade da vítima: No art. 158, §3º do CP o legislador enquadrou a conduta daquele sujeito que comete o sequestro relâmpago, pois

Page 64: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

há a restrição da liberdade da vítima, sendo que o comportamento da vítima é essencial para que o sujeito ativo obtenha a indevida vantagem econômica.

Atenção: Se durante a extorsão mediante sequestro a vítima sofrer lesão corporal grave ouvir a falecer o sujeito será aplica a pena prevista no art. 159, §§ 2o e 3o do CP.

Art. 158, §3º do CP “ Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente”.

Distinção entre extorsão e estelionato: No estelionato a vítima entrega o bem porque foi enganada por uma fraude, como por exemplo, no golpe do bilhete premiado. Ao passo que na extorsão a vítima entrega o bem por se sentir atemorizada, em razão do emprego de violência ou grave ameaça. Caso, todavia, o agente empregue uma fraude e grave ameaça, para obter uma única vantagem econômica, ele responderá pelo crime de extorsão, tal como faz um falso policial quando exige dinheiro, ou quando o agente telefone para os pais da vítima simulando ter sequestrado o filho e exige dinheiro.

Atenção: Quando o próprio filho simula seu sequestro com a finalidade de obter indevida vantagem econômica caracteriza a extorsão mediante sequestro, não podendo ser aplicado a escusa absolutória prevista nos artigos 181 e 182 do CP, por expressa prevista no art. 183, inciso I do CP.

6.5 Extorsão Mediante Sequestro

Art. 159 do CP “Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de oito a quinze anos. § 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha. Pena - reclusão, de doze a vinte anos. § 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:  Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.  § 3º - Se resulta a morte:  Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.  § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços”.

Atenção: Em primeiro lugar, este crime é hediondo em todas as suas figuras, sejam simples ou qualificadas, consumado ou tentado.

A- Extorsão mediante sequestro simples:

Art. 159 do CP “Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de oito a quinze anos.

Sujeito passivo do crime: a própria redação do tipo penal, exige que o sequestro seja de um ser humano, de modo que o sequestro de um animal de estimação com a finalidade de obter um resgate configura o crime de extorsão (art. 158 do CP).

Page 65: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Pessoa jurídica pode ser vítima do crime de extorsão mediante sequestro? Aproveitando a oportunidade, este crime também tem como sujeito passivo aquele que paga o resgate, podendo ser uma pessoa física, incluído o próprio sequestrado, ou uma pessoa jurídica.

Consumação: trata-se de um crime formal (é aquele que possui conduta e resultado naturalístico, mas este e dispensável para a consumação), e que se consuma com a simples privação da liberdade (captura da vítima) e não com pedido de resgate, sendo imprescindível para a consumação o resultado naturalístico, sendo que o recebimento do resgate caracteriza o exaurimento do crime, é por consequência é prescindível para a consumação do delito (tanto faz).

Atenção: tal crime e formal, ou de consumação antecipada, ou de evento naturalístico cortado porque o tipo legal prevê a conduta e o resultado naturalístico, mas este é prescindível para sua consumação. O recebimento do resgate apenas tem importância nos reflexos da pena nos crimes formais.

Não se esquecer de que o crime em analise é permanente, porque seu momento consumativo se prolonga no tempo, e sendo assim, enquanto o bem jurídico liberdade continuar sendo afetado, e possível a realização da prisão em flagrante em qualquer momento (art. 303 do CPP).

Caso a vítima seja sequestrada em uma cidade e mantida em cativeiro em outra a ação penal pode ser proposta em qualquer uma delas em razão do que dispõe o art. 71 do CPP, o qual determina a aplicação da prevenção (Isso também vale para o crime continuado).

Tentativa: A tentativa deste crime é possível, somente na hipótese em que o sequestrador abordar a vítima, mas não consegue captura-la, por circunstâncias alheias a sua vontade.

Atenção: Nesta hipótese, é necessário provar que o agente pretendia solicitar um resgate.

Tipo subjetivo: dolo de privar a liberdade da vítima, acrescido de uma finalidade especial (elemento subjetivo especifico) traduzido na expressão com o fim de obter o pagamento de um resgate.

Cuidado: tal elemento subjetivo especial do tipo e o que diferencia o crime aqui estudado daquele previsto no art. 148 do CP, no caso é o de sequestro e cárcere privado. Isso porque no ultimo crime citado, alias crime material, o tipo subjetivo restringe-se ao dolo de privar a liberdade da vitima.

Observação: O art. 159 do CP contém a expressão “qualquer vantagem”, apesar disso, a vantagem tem que ser cunho econômico, porque tal crime esta inserido no titulo II da parte especial do CP, ao contrario, se o sequestro visar a obtenção de uma vantagem de outra natureza, o agente responde pelo crime de sequestro (art. 148 do CP), em concurso material com algum outro crime, dependendo do lapso temporal de duração da privação da liberdade.

Atenção: A expressão “qualquer vantagem” tem a finalidade de esclarecer que mesmo que seja devida a vantagem, configura-se o crime aqui estudado.

Exemplo: O credor que sequestra o filho do devedor.

Page 66: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

No entanto, existem doutrinadores que entendem que nesta hipótese caracterizaria o crime de sequestro ou cárcere privado em concurso formal com o de exercício arbitrário das próprias, alias este crime é contra a administração da justiça.

B- Extorsão mediante sequestro qualificada:

Vítima menor de 18 anos ou maior de 60 anos quando a privação da liberdade durar mais de 24 horas ou se o crime for cometido quadrilha ou bando (associação criminosa com a nova redação dada ao art. 288 do CP):

Art. 159 § 1o do CP “Se o sequestros dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha. Pena - reclusão, de doze a vinte anos”.

Observação: Quando o crime é praticado por quadrilha ou bando, gera um abalo psicológico maior na vítima. Não se esquecer de que o denominação quadrilha ou bando (nome iuris) do art. 288 do CP foi substituída por associação criminosa, alias, constituída no mínimo por três pessoas.

Uma parcela da doutrina entende que essa hipótese qualifica foi revogada, outra parte da doutrina entende que continua sendo crime e que é exigido para a sua configuração o número de quatro participantes.

Atenção: Ainda não existe jurisprudência sobre esse tema.

Com resultado lesão corporal de natureza grave:

Art. 159 § 2o do CP “Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos”. 

Com resultado morte:

Art. 159 § 3o do CP “Se resulta a morte: Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos”.

Atenção: As qualificadoras previstas nos §§ 2 e 3 do art. 159 do CP somente podem ser aplicadas no caso do resultado recaiam sobre a vítima do sequestro. Sendo que a morte de um segurança para facilitar a realização do sequestro caracteriza o homicídio qualificado previsto no art. 121, §2º, inciso V do CP “para assegurar a execução de outro crime”, alias qualificadora de natureza subjetiva.

Exemplo: Tício pretende sequestrar Médio e para isso mata o segurança de sua vítima. Atenção: O reconhecimento de uma qualificadora mais grave afasta as qualificadoras menos graves, que só poderão ser consideradas como circunstâncias judiciais para fins de aumento da pena base.

C- Delação eficaz ou premiada:

Art. 159 § 4o do CP “Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços”.

Page 67: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Se o crime for praticado mediante concurso o envolvido que delatar o fato a autoridade, facilitando a libertação da vítima terá sua pena diminuída de 1/3 a 2/3. Quando maior a colaboração maior será a redução e vice versa. 6.6 Dano

6.7 Apropriação Indébita

6.8 Apropriação Indébita Previdenciária

Previsão Legal:

Art. 168-A do CP “Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa”.

Sujeito do Crime:

Sujeito Ativo: a apropriação indébita previdenciária é cometida pelo responsável pela empresa, que desconta dos salários dos empregados as contribuições previdenciárias, deixando de recolhe-las no prazo legal a União.

Atenção: A principal tese da defesa é a comprovação das dificuldades financeiras, caracterizando assim a inexigibilidade de conduta diversa, alias, causa supralegal de exclusão da culpabilidade.

Sendo que o debito previdenciário pode ser parcelado antes do recebimento da denuncia, sendo que o pagamento for realizado de forma integral acarreta a extinção da punibilidade do agente.

Sujeito Passivo: A União o empregado.

Classificação do crime: existe uma discussão muito grande sobre a classificação doutrinaria desse delito, porem a melhor posição para o concurso de delegado é a de crime material, pois o art. 83 da Lei 9.430/96 estabelece uma condição de objetiva de punibilidade.

Atenção: Conforme o art. 83 da Lei 9.430/96 a representação fiscal para fins penais desse crime, bem com outros ali indicados, será encaminhada ao Ministério Público após ser proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente.

Art. 83 da Lei 9.439/96 “A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária previstos nos arts. 1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e aos crimes contra a Previdência Social, previstos nos arts. 168-A e 337-A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), será encaminhada ao Ministério Público depois de proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente. § 1o  Na hipótese de concessão de parcelamento do crédito tributário, a representação fiscal para fins penais somente será encaminhada ao

Page 68: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Ministério Público após a exclusão da pessoa física ou jurídica do parcelamento. § 2o  É suspensa a pretensão punitiva do Estado referente aos crimes previstos no caput, durante o período em que a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no parcelamento, desde que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado antes do recebimento da denúncia criminal. § 3o  A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva.  § 4o  Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no caput quando a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos, inclusive acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de parcelamento. § 5o  O disposto nos §§ 1o a 4o não se aplica nas hipóteses de vedação legal de parcelamento. § 6o  As disposições contidas no caput do art. 34 da Lei no 9.249, de 26 de dezembro de 1995, aplicam-se aos processos administrativos e aos inquéritos e processos em curso, desde que não recebida a denúncia pelo juiz”.

Figuras equipadas:  

Art. 168-A, § 1o do CP “Nas mesmas penas incorre quem deixar de: I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público; II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços; III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido

reembolsados à empresa pela previdência social”. 

Extinção da punibilidade:

Art. 168-A, § 2o do CP “É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal”.

Substituição da pena privativa de liberdade por multa:

Art. 168-A, § 3o do CP “É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais”. 

6.9 Apropriação de Coisa achada

6.10 Estelionato

A- Estelionato comum:

Art. 171 do CP “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis”.

Page 69: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Conceito: o estelionato é marcado pelo emprego de fraude, por parte do agente, que induz ou mantem a vítima em erro.

Classificação: O estelionato é um crime material, cujo tipo pena prevê a conduta e um resultado naturalístico, trata-se de um crime duplo objeto material, porque exige para a sua caracterização que a vítima tenha um prejuízo e que o agente obtenha uma vantagem ilícita.

Meios empregados: Conforme já falado, no estelionato a grande característica é o emprego da fraude pelo agente, alias que se manifesta por meio de um artificio, de forma ardil ou por qualquer outro meio fraudulento.

Ardil: consiste em enganar a vítima somente com palavras.

Artifício: consiste no uso de algum artefato ou objeto para auxiliar o golpe.

Exemplo: falsificação de documentos para obter uma vantagem indevida.

Atenção: Nesse caso, conforme a súmula 17 do STJ, caso o falso se exaurir no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absolvido (Princípio da Consunção).

Súmula 17 do STJ: “quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, e por este absorvido”.

No entanto, o falso não se exauri no estelionato, quando, por exemplo, o documento falsificado puder ser utilizado outras vezes. Nesta hipótese caracteriza concurso material de crimes, devendo o agente ser responsabilizado pelo falso e pelo estelionato.

Qualquer outro meio fraudulento: a exposição de motivos do Código Penal coloca como exemplo o silêncio do agente.

Com relação ao silencio do agente, o dolo deve ser anterior ao recebimento da vantagem ilícita, como por exemplo, na hipótese em que o uma pessoa percebe que o caixa de uma loja entregar o troco errado e permanece quieta, ao receber tal vantagem ilícita caracteriza o estelionato.

Por outro lado, temos o crime de apropriação havida por erro, caso fortuito ou força da natureza se a vítima entrega o bem por erro, mas o agente o recebe de boa-fé, sem notar o equívoco. Porém, depois de já estar na posse do bem, percebe o engano, mas resolve se locupletar do bem (o dolo é posterior ao recebimento do bem).

Atenção: A vítima do estelionato tem que ter discernimento, sob pena da prática do crime de abuso de incapazes do Art. 173 do CP.

Distinção:

Vale ressaltar que a vítima do estelionato tem que ser determinada ou necessariamente um grupo certo de pessoas determinadas. Assim sendo, caso sejam enganadas vítimas indeterminadas, caracterizará crime contra a economia popular da Lei 1.521/51.

Page 70: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Voltando à questão da diferença entre os crimes de estelionato e furto qualificado mediante fraude, principalmente no tocante à posse ser desvigiada ou vigiada, é que temos a solução dos casos de cartão bancário clonado.

Quem banca jogo de azar comete a contravenção penal prevista no art. 50 da Lei de Contravenção Penal, mas se ele tiver empregado fraude para facilitar a vitória do apostador, o crime é o de estelionato.

A vítima do estelionato deve ter capacidade de entendimento, sob pena da caracterização do crime de abuso de incapazes previsto no art. 173 do CP.

Art. 173 do CP “Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa”.

Caso o agente utilize esse cartão para fazer uma compra e recebe a mercadoria para que a leve embora, o crime é o de estelionato porque terceiro entregou a posse desvigiada de um bem (aplica-se o mesmo raciocínio quando o agente se vale de um cartão clonado para sacar dinheiro na boca do caixa).

Por outro lado, caso o sujeito use o cartão bancário clonado para sacar dinheiro direto no caixa eletrônico, não estará induzindo em erro uma pessoa, mas sim uma máquina, e por isso o crime é o de furto qualificado.

Consumação e Tentativa: Antes de tudo, o estelionato é um crime de duplo resultado, porque pressupõe:

Um prejuízo gerado a vítima;

É a obtenção de uma vantagem ilícita pelo agente.

Atenção: No entanto, a consumação ocorre com a efetiva obtenção da vantagem ilícita pelo agente (crime material).

Caso o agente empregue a fraude, engane a vítima, mas não consiga obter a vantagem ilícita, haverá tentativa de estelionato. No entanto, o crime tentado surge com mais frequência quando o agente emprega a fraude, mas não consegue enganar a vítima.

No entanto, essa fraude não pode ser um meio absolutamente ineficaz, sob pena de caracterizar crime impossível (ou quase-crime) do Art. 17 do CP.

A fraude deve ser analisada de acordo com a vítima do caso concreto, pois os golpistas enganam pessoas humildes com golpes que não enganariam a maior parte das pessoas.

Atenção: Como é sabido por todos, o crime de moeda falsa é de competência da justiça federal. No entanto, conforme a súmula 73 do STJ, caso o agente introduza nota grosseiramente falsificada caracteriza, em tese, o crime de estelionato, que é competência da justiça estadual.

Page 71: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Súmula 73 do STJ “A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual”.

B- Estelionato Previdenciário: é o crime cometido contra o sistema previdenciário, onde o agente obtém o beneficio previdenciário por meio fraudulento.

Também podemos dar o exemplo, do chamado estelionato previdenciário (art. 171, §3º do CP), onde a pena é aumentada em 1/3.

Súmula 24 do STJ: “Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima entidade autárquica da previdência social, a qualificadora do § 3º do art. 171 do código penal”.

Art. 171, § 3º do CP “A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência”.

Trata-se de crime permanente, em relação ao segurado que aufere mês a mês as parcelas indevidas, sendo que a prescrição da pretensão punitiva começa a ser contada quando cessa o beneficio.

Por sua vez, para o intermediário da aposentadoria fraudulenta, o estelionato é um crime instantâneo de efeitos permanentes, sendo que a prescrição da pretensão punitiva é contada com o recebimento da primeira parcela.

C- Estelionato por equiparação:

Art. 171 do CP “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis”.

Disposição de coisa alheia como própria:

Art. 171, § 2º, inciso I do CP “Nas mesmas penas incorre quem: vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria”.

Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria:

Art. 171, § 2º, inciso II do CP “vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias”.

Defraudação de penhor:

Art. 171, § 2º, inciso III do CP “defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado”.

Fraude na entrega de coisa:

Page 72: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Art. 171, § 2º, inciso IV do CP “defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém”.

Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro:

Art. 171, § 2º, inciso V do CP “destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro”.

Fraude no pagamento por meio de cheque: ocorre quando o agente de forma fraudulenta, emite sem fundos de sua própria conta corrente não encerrada. É caracterizado quando o agente emite o cheque sem fundos ou quando ele frustra o pagamento do mesmo.

Exemplo: Tício, paulista, estava com sua noiva Maria em um restaurante em Salvador (Bahia), e para impressionar a sua noiva resolve gastar mais do que poderia e para pagar a conta, emite um cheque sem fundos.

Art. 171, § 2º, inciso VI do CP “emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento”.

Atenção: A consumação desse crime somente ocorre quando o banco sacado recusa o pagando da folha de cheque, de modo que o foro competente é sempre o local deste banco.

Súmula 246 do STF “Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque sem fundos”.

Súmula 521 do STF “O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado”.

Súmula 554 do STF “O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal”.

Atenção: O pagamento realizado antes do recebimento da denuncia não haverá justa causa para o seu prosseguimento. No entanto, o pagamento realizado após inicio da ação, mas antes da sentença caracteriza a incidência da atenuante genérica prevista no art. 65, III, “b”, do CP.

Súmula 48 do STJ “Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque”.

Súmula 244 do STJ “Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de estelionato mediante cheque sem provisão de fundos”.

D- Outras modalidades: Existem outros golpes aplicados com cheque que por não se enquadrarem no art. 171, § 2º, inciso VI do CP, tipificam o estelionado comum previsto no caput do Art. 171 do CP. Como por exemplo:

A emissão de folha de cheque de conta encerrada;

Page 73: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Emissão de folha de cheque aberta com documentos falsos ou com documentação de terceiros;

Emissão de folha de cheque alheio, falsificado. A súmula 48 do STJ diz que nesta hipótese por se tratar de estelionato comum, o foro competente é o da obtenção da vantagem ilícita.

E- Causa de aumento de pena:

Art. 171, § 3º do CP “A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência”.

F- Estelionato privilegiado: O estelionato art. 171, § 1º do CP é aplicado nos mesmos moldes do Furto Privilegiado (art. 155, §2º do CP).

Art. 171, § 1º do CP “Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º”.

6.11 Receptação

A- Receptação Simples:

Receptação Própria:

Art. 180, “caput” primeira parte do CP “Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa”.

Introdução: Em primeiro lugar a receptação e um crime acessório, porque depende de um crime antecedente, sendo exemplo claro de conexão probatória do art. 76, inciso III do CPP (a prova de um crime influi na existência de outro delito).

Requisitos: O crime antecedente não precisa ser necessariamente um crime contra o patrimônio, bastando que se comprove que ele tenha reflexos patrimoniais, como por exemplo, o de peculato (Crime contra a administração pública).

Atenção: Embora a receptação seja um crime acessório, ela guarda autonomia em relação ao crime antecedente por duas regras previstas no art. 180, §4º do CP, a saber:

A receptação e punível ainda que o autor do crime antecedente seja desconhecido;

A receptação e punível ainda que o autor do crime antecedente seja isento de pena.

Atenção: A expressão “isento de pena” pode se referir a uma escusa absolutória do Art. 181 do CP ou a uma excludente de culpabilidade, também conhecida como “causa dirimente”.

Art. 180, §4º do CP “A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa”.

Page 74: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Atenção: O art. 180 do CP para a sua caracterização deve ser produto de crime, de modo que o produto de uma contravenção penal não pode ser objeto de receptação.

Objeto material da receptação: é apenas o produto de crime, independentemente se este passou por uma transformação, como por exemplo, as joias derretidas que foram transformadas em barras de ouro. Desta forma, não fazem parte do objeto material da receptação os instrumentos do crime e nem o produto de uma contravenção penal.

Atenção: É possível falar-se em receptações sucessivas, isto é, receptações praticadas por pessoas diversas em relação ao mesmo bem, desde que todos saibam da origem criminosa do bem.

Não é objeto material da receptação os instrumentos do crime que já estavam na posse do agente e que ele utilizou para cometer o delito, como por exemplo, uma faca.

Atenção: Das cinco condutas da receptação própria, três delas são permanentes, no caso, ocultar, conduzir ou transportar, e sendo assim, a prisão em flagrante é possível enquanto não cessada a permanência.

Caso o agente viole mais de uma conduta típica em relação a um mesmo bem comete um só crime, alias classificado pela doutrina como sendo crime de ação múltipla ou de conteúdo variado ou de tipo misto alternativo.

Como a lei exige que o agente saiba da procedência criminosa, pode se concluir que neste crime é necessário que o agente queira comprar algo de origem criminosa, sendo compatível apenas com o dolo direto.

Na prática, se alguém agir com dolo eventual será enquadrado na receptação culposa do Art. 180, §3º do CP “Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas”.

Sujeitos do crime:

Sujeito Ativo: é o sujeito ativo deste crime pode ser qualquer pessoa, exceto aquela que tenha tomado parte no crime anterior.

Cuidado: Excepcionalmente o dono da coisa furtada pode cometer receptação quando verificada a hipótese de mútuo pignoratício.

Exemplo: “A” emprestou de “B” R$ 20.000,00, deixando em garantida seu Iphone 5. Alguns dias depois, “C” furtou referido celular que estava na posse de “B”. Tal ladrão costuma frequentar a “feira do rolo” e em determinado dia compareceu ali para vender o telefone móvel furtado, o qual foi adquirido por “A”, que também sabia que o aparelho havia sido surrupiado.

Sujeito Passivo: O sujeito passivo da receptação é o mesmo do crime antecedente.

Page 75: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Receptação imprópria: o pune legislador pune o chamado “intermediário”, o qual, ciente da origem criminosa do bem, o oferece a um terceiro de boa-fé que desconhece tal circunstância.

Art. 180, “caput” segunda parte do CP “influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa”.

Atenção: Tal crime é formal, porque se consuma com a simples oferta, ainda que o terceiro de boa-fé resolva não adquirir ou receber o bem. A tentativa não é admitida, diferentemente no caso da receptação própria.

A tentativa não é admitida porque, se o agente fez a proposta, o crime se consumou, e se não a fez, o fato é atípico.

B- Receptação qualificada:

Art. 180, §1º do CP “Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime: Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa”.

Trata-se de crime próprio, pois a lei exige um requisito especial para a sua prática, no caso, “estar no exercício de atividade comercial ou industrial”.

Conforme art. 180, §2º do CP, equipara-se à atividade comercial qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência. Por fim, conforme já explicado, trata-se de crime de ação múltipla.

Art. 180, §2º do CP “Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência”.

C- Receptação privilegiada:

Art. 180, §5º do CP “Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155”.

Atenção: O reconhecimento do privilegio, benefícios previstos no § 2º do art. 155 do CP devem ser aplicados apenas nas receptações dolosas, quando o réu for primário e o produto do crime for de pequeno valor.

Art. 155, § 2º do CP “Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa”.

D- Receptação com causa de aumento:

Art. 180, §6º do CP “Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no caput deste artigo aplica-se em dobro”.

Page 76: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Em primeiro lugar, a pena da receptação simples, alias, apenas essa, será aplicada em dobro se o produto de crime pertencer à União, Estado, Município, Empresa concessionária de serviços públicos ou Sociedade de economia mista.

O professor Denis Pigozzi aponta que o Distrito Federal também entra, utilizando-se de interpretação extensiva, assim como a empresa pública (maior proteção ao bem / ente público).

E- Receptação culposa: (dentro dessa existe a possibilidade de aplicação do perdão judicial, conforme art. 180, §5º primeira parte do CP).

Art. 180, §3º do CP “Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas”.

Em regra geral, o tipo culposo é aberto porque é impossível ao legislador prever todas as possibilidades de cometimento de crime culposo. É por tal motivo que o legislador coloca “se o crime é culposo, pena de tanto a tanto”.

No entanto, a receptação culposa do Art. 180, §3º do CP é um tipo fechado, isso porque o legislador tipificou as condutas culposas desse crime.

7. DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL

8. DOS CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

8.1 Introdução

Antes de tudo, o artigo 109, inciso VI da Constituição Federal estabelece que a competência para julgar tais crimes é da Justiça Federal. Art. 109, inciso VI do CP “Aos juízes federais compete processar e julgar: os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira”.

Porém, o STJ continua ainda aplicando o teor da súmula 115 do TFR (já extinto), Nesse sentido, caso tais delitos atinjam somente os direitos de determinados trabalhadores, a competência é Justiça Estadual, ao passo, se tais crimes atinjam os sistemas de órgãos e instituições voltadas a preservar coletivamente o trabalho, a Competência será da justiça Federal.

Atenção: No entanto se existir conexão entre crime de Competência Estadual e Federal a Competência da Justiça Federal prevalece.

9. DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO E CONTRA OS MORTOS

10. DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

Page 77: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

10.1 Disposições Gerais

A- Tramitação dos processos:

Segundo o art. 234-B do CP, todos os processos que apuram esses crimes praticados contra a dignidade sexual tramitam em segredo de justiça.

B- Causa de aumento de pena:

Art. 226 do CP “A pena é aumentada: I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela”.

C- Ação penal: Nos crimes previstos entre o art. 213 ao 218-B do CP são processados por ação penal pública condicionada a representação, quando a vítima for absolutamente capaz (maior de 18 anos).

Art. 225 do CP “Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação. Parágrafo único.  Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável”. 

D- Sujeito passivo: Em primeiro lugar, o sujeito ativo desse crime pode ser qualquer pessoa, independentemente do sexo, podendo ser cometido pelo cônjuge, inclusive com causa de aumento de pena do art. 226 do CP.

Atenção: Nos crimes previstos entre o art. 213 ao 218-B do CP o sujeito passivo do crime pode ser qualquer pessoa, independentemente do sexo. Por sua vez, a lei não exige que a vítima seja honesta, como por exemplo, a(o) prostitua(o).

10.2 Estupro

A- Estupro simples:

Art. 213 do CP “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos”.

B- Estupro qualificado:

11. DOS CRIMES PRATICADOS CONTRA A FAMÍLIA

12. DOS CRIMES PRATICADOS CONTRA A SAÚDE PÙBLICA

13. DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA

Page 78: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

14. DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA

14.1 Introdução

Conceito de Fé Pública: é a crença da veracidade dos documentos, símbolos e sinais que são empregados pelo homem em suas relações em sociedade;

Requisitos de caracterização dos crimes contra a fé pública:

Imitação da verdade: ocorre assim:

Imutatio veri: é uma modificação realizada em um documento;

Imutatio veritatis: é a imitação da verdade, como por exemplo, na hipótese da criação de um documento falso;

Dano potencial: o prejuízo causado pelo agente não precisa ser efetivo e nem patrimonial.

Atenção: Só há dano potencial quando o documento falso é capaz de encanar um numero indeterminado de pessoas.

Dolo: todos os crimes contra a fé pública são dolosos. Na falsidade ideológica, por exemplo, existe a necessidade de comprovação do chamado elemento subjetivo especial do tipo.

14.2 Crime de Moeda Falsa

A- Crime de Moeda Falsa:

Art. 289 do CP “Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro: Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa. § 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa. § 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão: I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei; II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada. § 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada”.

Atenção: Vale lembrar que não se aplica a aplicação do Princípio da Insignificância, porque o bem jurídico fé pública é intangível.

Tipo objetivo: ocorre pela fabricação, criação da moeda falsa ou a alteração (modificação de seu valor para maior). A conduta pode recair sobre moeda nacional ou estrangeira.

Page 79: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Atenção: A Súmula 73 do STJ entende que a utilização de papel-moeda grosseiramente falsificado configura em tese o crime de estelionato (art. 171 do CP) de Competência da Justiça Estadual.

Súmula 73 do STJ “A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual”.

Atenção: A falsificação de moeda que não é mais utilizada também caracteriza o estelionato previsto no art. 171 do CP.

Sujeito ativo: trata-se de crime comum, ao passo que o sujeito passivo é o Estado.

Consumação: ocorre com a falsificação, independentemente de qualquer outro resultado. A tentativa é perfeitamente possível, no art. 289 “caput” do CP, tem a finalidade de punir o autor da falsificação.

Figuras equiparadas:

Art. 289, 1º do CP “Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa”.

Objeto Material: é a moeda que o agente sabe ser falsa.

Atenção: O Art. 289, §1º do CP pune outras pessoas que sabem da falsidade e praticam uma ou mais condutas típicas previstas no referido parágrafo. Trata-se de um tipo penal misto alternativo, pois basta para a sua caracterização a pratica de uma só conduta, é a violação de mais uma delas no mesmo contexto fático importa no cometimento de um só crime.

Art. 289, § 2º do CP “Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e multa”.

Pune a pessoa que após ter recebido a moeda falsa de boa fé, toma conhecimento da falsidade e a recolocar em circulação, trata-se de crime de menor potencial ofensivo, porque a pena máxima não é superior há dois anos, possibilitando ao investigado a concessão de transação penal, desde que preenchidos outros requisitos, alias que mitigou o princípio da obrigatoriedade da ação penal pública.

Figuras qualificadas:

Art. 289, §3º do CP “É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão: I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei; II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada”.

Page 80: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Atenção: Tratam-se de crime próprio, pois punem o funcionário público que cometem uma das condutas ali indicadas, como por exemplo, aquele funcionário público que fazer circular moeda que ainda não estava autorizada.

Art. 289, §§ 4º do CP “Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada”.

B- Petrechos para a Falsificação de Moeda Falsa:

Art. 291 do CP “Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa”.

O art. 291 do CP tem a finalidade de punir excepcionalmente os atos preparatórios da falsificação de moeda falsa, uma vez que constituem crime autônomo.

14.3 Falsificação de documento público

Art. 297 do CP “Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa

Sujeito ativo do crime: pode ser qualquer pessoa que não tenha competência para elaborar o documento. Caso o autor do crime seja funcionado público que se prevaleça do cargo a pena é aumenta de sexta parte, como por exemplo, nas hipóteses do funcionário público que trabalha no local, que manuseia o documento.

Art. 297, § 1º do CP “Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte”.

Objeto material: é aquele documento elaborado por um funcionário público, no exercício de sua função e obedecidas as formalidades legais, como por exemplo, o RG, Titulo de Eleitor, CNH, Mandado de Prisão etc.

Documentos públicos por equiparação: são aqueles que seriam documentos particulares, porem devido a sua importância a lei os equiparou.

Art. 297, § 2º, do CP “Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.

Tipo objetivo: é a falsificação e a modificação. Falsificação: é a contrafação é a fabricação ou criação de um documento. A falsificação

pode ser realizada de forma total ou parcial.

Alterar: nada mais é do que a modificação de um documento já existente, inserindo ou retirando dados. Portanto é realizado a alteração de um documento que já existe, como por exemplo, a modificação da data de nascimento de um RG.

Page 81: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Atenção: Excepcionalmente pode se ter a falsificação parcial, quando um documento verdadeiro preexiste e nele é feito um acréscimo totalmente individualizável, como, por exemplo, a criação de um aval falso em titulo de credito.

Requisitos da falsidade:

Idoneidade da falsificação: é a capacidade de enganar as pessoas em geral (o documento tem que ter aparência de verdadeiro).

Atenção: De acordo com a jurisprudência a falsidade grosseira é considerada fato atípico. Deve ser levado em conta o homem de prudência mediana, como é sabido por todos, o crime de moeda falsa é de competência da Justiça Federal, no entanto, conforme a Súmula 73 do STJ “a utilização de papel-moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato de competência da Justiça Estadual”.

Relevância Jurídica: a falsificação tem que ser capaz de causa um dano, tem que ter relevância, de acordo com a jurisprudência, a falsidade inócua gera fato atípico.

Tipo subjetivo: a falsidade é crime doloso e não é exigida nenhuma outra finalidade. O que basta e que a sujeito tenha o dolo de falsificar.

Consumação: ocorre com a pratica das condutas falsificar ou alterar. Não sendo necessária a utilização ou a obtenção de vantagem. A circulação e a utilização de documento falso configuram outro crime.

Observação: Teoricamente é possível a tentativa, porque a falsificação é um processo que pode ser interrompido.

Falsificação de documentos previdenciários:

Art. 297, § 3o do CP “Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório; II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita; III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado”.

Art. 297, § 4o do CP “Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços”.

Atenção: Os verbos “Inserir, fazer inserir ou omitir dados em documentos previdenciários” na verdade caracterizariam falsidade ideológica e não material, porem está equiparada a falsidade material e, portanto, é a pena é a mesma desta.

A não realização do registro do empregado da respectiva Carteira de Trabalha caracteriza o crime previsto no art. 297, § 4o do CP.

Page 82: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Hipóteses de concurso de crimes: Quando a falsidade se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva e por este absolvido (Sumula 17 do STJ). Aplica-se o princípio da consunção, onde o crime fim absolve o crime meio.

Exemplo: Tício, valendo-se de documento falso, obteve vantagem ilícita consistente em uma aposentadoria junto a Previdência Social, durante o período de 05/2013 há 05/2014.

Atenção: Para a prova de Delegado Federal o Estelionato Previdenciário é um crime permanente para o segurado e se consuma com a obtenção da última parcela. Já para o intermediário é um crime instantâneo de efeitos permanentes, que se consuma com o recebimento da primeira parcela.

Crime instantâneo de efeitos permanentes é aquele crime que se consuma em um determinado instante, mas seus efeitos são permanentes.

Por outro lado, caso o falso não se exaurir no estelionato “dá para utilizar os documentos outras vezes e enganar outras pessoas” haverá concurso material de crimes, de falsidade, estelionato.

14.4 Uso de documento falso

Art. 304 do CP “Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302: Pena - a cominada à falsificação ou à alteração”.

Introdução: Antes de tudo o uso de documento falso é um crime remetido, porque se refere a outros crimes, tanto nos preceitos primários e secundários.

Sujeito ativo: o sujeito ativo do crime de uso de documento falso, pode ser qualquer pessoa, exceto aquele que falsificou. Dessa forma, conforme o STJ se a mesma pessoa falsificar e usar o documento falso ela responderá pela falsificação, uma vez que o uso é tratado como “pos factum impunível”, ou seja, fato posterior impunível (princípio da consunção).

Consumação: O uso de documento falso é um crime que se consuma no momento em que o agente usa o documento falso, por sua vez a tentativa não é possível por se tratar de crime unisubsistente.

14.5 Falsidade de chassi ou de sinal identificativo de veículo automotor

Art. 311 do CP “Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificador de veículo automotor, de seu componente ou equipamento: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.  § 1º - Se o agente comete o crime no exercício da função pública ou em razão dela, a pena é aumentada de um terço.  § 2º - Incorre nas mesmas penas o funcionário público que contribui para o licenciamento ou registro do veículo remarcado ou adulterado, fornecendo indevidamente material ou informação oficial”. 

A falsificação de chassi ou de sinal identificativo de veículo automotor é crime de falsificação autônomo. Caso o funcionário público cometa o crime no exercício de sua função ou em razão dele a pena é aumentada de 1/3.

Page 83: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Atenção: Caso o agente falsifique o chassi de um carro é também o documento deste comete os dois crimes em concurso material, porque são fatos autônomos, não havendo relação de crime meio e fim.

14.6 Supressão de documento, Sonegação de papel ou objeto de valor probatório, Subtração ou inutilização de livro ou documento e Inutilização de edital ou de sinal

Supressão de Documento: Caso o documento seja insubstituível, como por exemplo, uma nota promissória, o agente comete o crime de supressão de documento, previsto no art. 305 do CP, alias que faz previsão de penas diversas quando recaem sobre documento público e particular.

Art. 305 do CP “Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o documento é público, e reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é particular”.

Atenção: Caso o documento possa ser substituído e não tenha o valor irrisório, como por exemplo, uma Certidão de Nascimento, o crime praticado é o de dano.

Sonegação de papel ou objeto de valor probatório: esse crime é cometido quando o advogado ou procurador inutiliza, total ou parcialmente, ou deixa de restituir autos, documento ou objeto de valor probatório, comete o crime previsto no art. 356 do CP.

Art. 356 do CP “Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de valor probatório, que recebeu na qualidade de advogado ou procurador: Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa”.

Inutilização de edital ou de sinal: Caso alguém, por exemplo, rompa o lacre colocado por funcionário da Agência Nacional de Petróleo comete o crime previsto no art. 336 do Código Penal.

Art. 336 do CP “Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de funcionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por determinação legal ou por ordem de funcionário público, para identificar ou cerrar qualquer objeto: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa”.

Subtração ou inutilização de livro ou documento: Caso um funcionário público danifique livro oficial, processo ou documento confiado a sua custódia comete o crime do artigo 337 do CP.

Art. 337 do CP “Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, livro oficial, processo ou documento confiado à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não constitui crime mais grave”.

14.7 Falsificação de atestado médico

Page 84: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

De inicio, quando o médico dá, no exercício de sua função atestado falso ele pratica o crime previsto no art. 302 do CP.

Art. 302 do CP “Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso: Pena - detenção, de um mês a um ano. Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa”.

Certidão ou atestado ideologicamente falso: O médico, em razão de função pública forneça atestado falso comete o crime o crime previsto no art. 301 caput do CP “Certidão ou Atestado Ideologicamente Falso”.

Art. 301 do CP “Atestar ou certificar falsamente, em razão de função pública, fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem: Pena - detenção, de dois meses a um ano”.

Falsidade material de atestado ou certidão: No entanto, caso um particular falsifique um atestado médico comete o crime o crime previsto no art. 301, §1º do CP “Falsidade Material de Atestado ou Certidão”.

Art. 301, § 1º do CP “Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou certidão, ou alterar o teor de certidão ou de atestado verdadeiro, para prova de fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem: Pena - detenção, de três meses a dois anos”.

Art. 301, § 2º do CP “Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se, além da pena privativa de liberdade, a de multa”.

14.8 Falsificação de documento particular

Documento particular é aquele documento que não se enquadra nos requisitos de caracterização dos documentos público e nem nos documentos públicos considerados por equiparação, o conceito de documento particular é caracterizado por exclusão. A falsificação de cartão de credito ou debito caracteriza o crime de falsidade de documento público.

Art. 98 do CP “Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o cartão de crédito ou débito”.

Atenção: Uma folha de cheque devolvida pelo banco por insuficiência de fundos se for falsificado para ser repassado caracteriza o crime de falsidade de documento particular. Como a folha de cheque não é mais transmissível por endosso, passa a ser documento particular, da mesma forma que a falsificação de documento público nulo também caracteriza o crime previsto no art. 298 do CP “materialidade delitiva”, da mesma forma que a falsificação de documento público, mostra-se indispensável à realização de exame pericial.

14.9Falsidade ideológica

Art. 299 do CP “Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita,

Page 85: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular. Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte”.

Introdução: No crime de falsidade ideológica o conteúdo é falso, ao passo que nos dois crimes anteriores o que é falso é documento.

Na falsidade ideológica, dispensa-se a realização do exame pericial, diferentemente dos dois crimes anteriores (falsidade de documento público e particular).

Sujeito ativo: pode ser cometido por qualquer pessoa que tenha competência/atribuição para elaborar o documento, como por exemplo, o funcionário de um cartório respectivo que elabora uma certidão de óbito com dados falsos.

Atenção: O particular também pode cometer a falsidade ideológica de documento público quando faz um funcionário público, de boa-fé inserir ou quando elabora um documento público de sua alçada (competência).

Tipo objetivo: temos três condutas típicas:

Omitir declaração que deveria constar em documento: é uma conduta omissiva própria;

Atenção: Trata-se de norma penal em branco, pois a declaração que deveria constar está prevista em outra norma.

Inserir declaração falsa ou diversa da que deveria ser escrita:

Declaração falsa: é aquela que contraria a verdade, a realidade;

Declaração diversa da que devia ser escrita: não é necessariamente falsa, mas apenas descreve uma ao invés da outra, como por exemplo, na hipótese do agente descrever o imóvel Y no lugar no imóvel X.

Fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita: um terceiro insere.

Inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita: é o próprio agente que a pratica.

Atenção: A falsidade ideológica pode ser praticada em documento público ou particular, inclusive com penas diferentes.

Requisito para a configuração: Exige-se para configurar a falsidade ideológica que a declaração tenha valor por si mesma, assim, o fato será atípico se for necessário a realização de uma investigação/averiguação ou mesmo pode gerar a caracterização de outro crime.

Page 86: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Tipo subjetivo: trata-se de crime doloso. Sendo que o elemento subjetivo especifico é a finalidade fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.

Consumação: trata-se de crime formal, porque se consuma com a pratica de alguma das três condutas já mencionado. Na conduta omitir o crime se consuma no momento em que o agente devia fazer e não fez. Já na conduta inserir o crime se consuma com a inserção de declaração. Por fim, na conduta fazer inserir o crime se consuma quando o terceiro inseria a declaração.

Atenção: A tentativa não é admitida na conduta omissiva (crime omisso próprio puro). Diferentemente das condutas comissivas que são plurisubsistentes.

Causas de aumento de pena:

Art. 299, § único do CP “Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte”.

Atenção: A chamada adoção a brasileira (registrar como seu filho de outrem) caracteriza o crime previsto no art. 242 do CP. Fazer o registro de nascimento inexistente implica no cometimento do crime previsto no art. 241 do CP.

Page 87: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

15. DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

15.1 Introdução

Classificação: De inicio, os crimes previsto dos artigos 212 ao 226 são classificados como próprios, pois a lei exige requisitos especial para a sua prática, que no caso é ser funcionário público, hora conhecido como intra neos. Por suas vez, tais crimes são também classificados como crimes funcionais, alias divididos assim:

Crimes Funcionais Próprios: são aqueles em que retirada à qualidade de funcionário público, o fato torna-se atípico, como por exemplo, a prevaricação.

Crimes Funcionais Impróprios: são aqueles em que retirada à qualidade de funcionário público, haverá a desclassificação para crime de outra natureza, como por exemplo, o crime de peculato que pode ser classificado para apropriação indébita ou furto, dependendo, respectivamente da posse se vigiada ou desvigiada.

Conceito de Funcionário Público: para efeitos penais o art. 327 do CP define o conceito de funcionário público. O referido dispositivo legal é uma norma penal explicativa.

Art. 327 do CP “Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública”.

Atenção: O defensor dadivo, inventariante, depositário, administrador judicial, curador, tutor, muito embora nomeados pelo juiz, não são considerados funcionários públicos. O fato de serem nomeados pelo juiz não os tornam funcionários públicos, pois o critério é a função exercida. Por outro lado, peritos e tradutores judiciais são considerados funcionários públicos.

Funcionários Públicos por Equiparação:

Art. 327, § 1º do CP “Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública”.

No que tange aos funcionários públicos por equiparação (art. 327, §1º do CP), para os concursos Federais a equiparação do conceito de funcionário público tem caractere geral (sujeito ativo e passivo), como por exemplo, um funcionário da Caixa Federal que pode ser sujeito ativo do crime de peculato e sujeito ativo do crime de desacato.

Causa de aumento de Pena: As causas de aumento de pena previstas no art. 327, § 2º do CP são aplicadas quando os autores dos crimes forem detentores de cargos de comissão, direção ou assessoramento por haver uma quebra de confiança que foi depositada neles.

Art. 327, § 2º do CP “A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público”.

Page 88: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Concurso de Agentes nos Crimes Funcionais (funcionário público e particular): o particular responde pelo crime contra administração pública, desde que ele tenha conhecimento de que está agindo com funcionário público. O artigo 30 do CP trata da comunicação das circunstâncias de caráter pessoal, quando elementares do crime. Assim funcionário público é uma circunstância de caráter pessoal elementar do crime, é, portanto comunica-se com o coautor.

Exemplo: Funcionário público que deixa a porta do órgão público para o particular efetuar a subtração de computadores.

15.2 Peculato

Requisito de Caracterização do Peculato: Antes de tudo para que ocorra qualquer espécie de peculato, mostra-se indispensável que a coisa móvel esteja sob a guarda ou custódia da administração pública.

Características comuns a todas as espécies de peculato:

Objetividade Jurídica: é a probidade, a moralidade da Administração Pública.

Sujeitos do Crime:

Sujeito Ativo: é um crime próprio porque pode ser praticado pelo funcionário público “intraneus” que comete crime, e o particular em concurso de agentes, com o funcionário público.

Sujeito Passivo: é a coletividade (crime vago). Para alguns autores o sujeito passivo é a Administração Pública.

Espécies de peculato:

Peculato apropriação: Artigo 312, “Caput” primeira parte do CP.

Art. 312 do CP “Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa”.

No Peculato Apropriação sujeito ativo deve ter a posse funcional da coisa (do dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel). Portanto, para que caracteriza o peculato apropriação é necessário que o agente tenha a posse antes de se apropriar da coisa.

Atenção: Neste caso há uma inversão do título sobre a coisa, ou seja, “o sujeito tinha a posse e passa a ter a propriedade”. Objeto material: é o dinheiro, valor ou outro bem móvel público ou particular. Atenção: Bem imóvel não pode ser objeto material de peculato. Portanto, somente os bens móveis (é qualquer coisa que pode ser apreendida e transportada) que podem ser objeto de peculato.

Page 89: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

A prestação de serviços por funcionário por funcionário públicos subordinados não caracteriza peculato, pois não há previsão no tipo penal.

Atenção: O peculato pode ter como objeto, quanto este estiver custodiado, apreendido pela administração pública (Peculato Malversação).

Atenção: A apropriação de droga apreendida não caracteriza o crime de peculato, mas sim o de tráfico de drogas, pelo princípio da especialidade. Há posicionamento da ocorrência de concurso material entre os crimes de peculato e tráfico de drogas.

Tipo Subjetivo: trata-se de crime doloso, acrescido de uma finalidade especial (dolo + finalidade especial = elemento subjetivo especial do tipo), que no caso é em benefício próprio ou de outrem.

Atenção: Se a apropriação for realizada em beneficio da própria administração pública, não o peculato, mas pode caracterizar o crime previsto no Artigo 315 do CP (emprego irregular de verbas ou rendas públicas).

Art. 315 do CP “Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa”.

Consumação e tentativa: ocorre no momento em que o agente, começa a agir como se fosse o dono da coisa (pratica atos de proprietário). A tentativa, é possível, embora de difícil ocorrência.

Peculato Desvio: Artigo 312, “Caput” segunda parte do CP.

Art. 312 do CP “Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa”.

Sujeito ativo: é o funcionário público, que tem a posse da coisa móvel, em decorrência da função que exerce.

Elementos objetivos do tipo: a conduta típica é desviar, que significa alterar o destino.

Exemplo: o dinheiro que era para a educação e que foi pago o empreiteiro. (Artigo 312 do CP).

Tipo subjetivo: é o dolo de desviar, em beneficio de alguém (beneficio próprio ou alheio).

Consumação: ocorre quando a coisa chega a outro destino. Já a tentativa é possível, quando o desvio não se efetiva por circunstâncias alheias à vontade do agente.

Existe o peculato de uso? Ocorre quando a pessoa utiliza o bem, e depois efetua a devolução do bem utilizado. De acordo com a jurisprudência e a doutrina, esta figura do peculato de uso, é atípica, porque o agente não tem o dolo de se apropriar e nem o de desviar o bem infungível.

Page 90: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Exemplo: Sujeito que utiliza um veículo da administração pública para dar uma volta, e restitui o veículo posteriormente.

Atenção: Não se pode falar em peculato de uso em se tratando de bens fungíveis, pois nestes casos há sempre apropriação ou desvio.

Peculato Furto: Artigo 312, §1º do CP. O peculato furto é considerado peculato impróprio, porque é uma figura equiparada.

Art. 312, §1º do CP “Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário”.

Elementos Objetivos do Tipo:

o Subtrair: significa tirar da esfera de disponibilidade.

o Concorrer (dolosamente), para que o bem seja subtraído (facilita ou ajuda a atuação de um terceiro).

Exemplo: Sujeito que deixando a porta aberta, fornecendo a senha ou crachá para que um terceiro realize a subtração das coisas.

Atenção: Nesta hipótese ambos responderão por peculato furto, mesmo que um terceiro seja um particular. O agente deve se valer da facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Se o agente praticar a subtração sem se valer dessa qualidade, o sujeito responderá por furto e não peculato.

Sujeito ativo: é o funcionário público que não tem a posse do bem. Portanto o sujeito ativo subtrai o veículo, valendo-se da função que exerce. No entanto, se o agente tiver a posse, configura o peculato apropriação ou desvio.

Atenção: Antes de tudo, as elementares estão previstas no caput é eventualmente nos parágrafos do artigo, neste último caso, o Código Penal prevê que “nas mesma pena incorre quem”.

Tipo Subjetivo: É o dolo acrescido de uma finalidade especial, no caso em proveito próprio ou alheio.

Consumação: Ocorre com a subtração, seja pelo funcionário público ou terceiro.

Tentativa: Ocorre quando a subtração, não se caracteriza por circunstâncias alheias à vontade do agente.

Peculato mediante erro de outrem: Artigo 313 do CP.

Art. 313 do CP “Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa”.

Page 91: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Parte da doutrina entende que o denomina de peculato estelionato, no entanto outra parte da doutrina entende que esse sinônimo não está correto, porque não estão presentes os requisitos para a caracterização do estelionato.

Exemplo: Se eu pagar a conta de luz no órgão competente e o funcionário devolver dinheiro a mais e eu fico com o restante do troco de boa-fé, está cometendo este crime.

Se o funcionário público utilizar-se de uma fraude para enganar alguém ele cometerá o crime te estelionato, nesse peculato mediante erro de outrem, terceiro errou e após isso o funcionário público se apropria.

Atualmente, os pagamentos são efeitos no estabelecimento bancário, dificilmente o pagamento de contas é realizado nos órgãos públicos, ou seja, para o funcionário público. É por tal motivo que esse tipo penal não tem tanta relevância.

Peculato eletrônico: Artigo 313 –A e B do CP.

O peculato eletrônico abrange dois crimes:

Inserção de dados falsos em sistema de informações: está previsto no art. 313-A do CP.

Artigo 313 –A do CP “Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa”. 

o Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, pois para a sua caracterização a lei prevê que somente o funcionário público autorizado a trabalhar com o sistema de dados pratica esse crime.

o Condutas típicas:

Inserir ou facilitar a inserção de dados falsos em sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública.

Atenção: Nesta conduta é o próprio funcionário que efetua a inserção de dados falsos ou permite que terceiro o faça.

Alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública.

Atenção: Nesta conduta ocorre a modificação ou retirada indevida de dados verdadeiros do sistema, é necessária que a conduta se dê de forma indevida, aliás, esta considerada elemento normativo do tipo. (é aquele que depende de um juízo de valor por parte do juiz)

Observação: A expressão indevida traduz o chamado elemento normativo do tipo (depende de um juízo de valor por parte do julgado). Tal como os termos sem justa causa, sem justo motivo, alheia, contra disposição expressa de lei etc.

Page 92: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

o Consumação: Trata-se de crime formal ou de consumação antecipada, porque se consuma no instante que praticada conduta, mesmo que o agente não consiga obter a vantagem (de qualquer espécie) desejada. Já a tentativa é possível.

Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações:

Artigo 313-B do CP “Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.  Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado”.

Antes de tudo, esse crime é de menor potencial ofensivo, porque a pena máxima não é superior a dois anos. Possibilitando que o investigado faça da medida despenalizadora da transação penal (art. 76 da Lei 9.099/95) e desde que preencha ainda outros requisitos.

Atenção: Segundo o Art. 313-B, §1º do CP que se da pratica da conduta resultar dano para a administração pública ou para o administrado, o agente sofre um aumento de pena. É nesta hipótese, o acusado não pode se beneficiar da transação penal.

o Sujeito ativo: pode ser qualquer funcionário público, diferentemente do crime previsto no art. 313-A do CP.

o Tipo objetivo: Neste peculato o funcionário modifica o funcionamento do sistema de informações ou programa de informática, ao passo que no peculato anterior a conduta atinge os dados constantes do sistema.

o Consumação (meta optata): ocorre no momento em que o agente modifica ou altera o sistema de informações ou o programa de informática. Além disto, é possível a tentativa.

Peculato Culposo: Artigo 312, § 3º do CP.

Artigo 312, § 2º do CP “Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano”.

O Peculato Culposo caracteriza quando o funcionário público concorre culposamente para o crime de outrem.

Tipo objetivo: concorrer, alias, que significa auxiliar, ajudar (negligência/imprudência).

Exemplo: O funcionário público recebe um dinheiro e deixa em cima da mesa, não guardando no cofre.

Atenção: Nesta hipótese a conduta culposa do funcionário público ajudou a conduta dolosa do terceiro (há nexo de causalidade entre uma e outra). Vale ressaltar que nesta hipótese não caracteriza concurso de agentes, porque falta o liame subjetivo.

Observação: O sujeito ativo pode funcionário público ou não. Nesta hipótese, caso o sujeito ativo do crime seja funcionário público, o crime decorre da prática do peculato apropriação,

Page 93: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

desvio ou furto. Por sua vez, se for um particular os crimes praticados podem ser contra o patrimônio que tenha as condutas, apropriar-se, subtrair etc.

Consumação do peculato culposo: Ocorre com a consumação do crime de outrem.

Atenção: Se o terceiro é pego em flagrante, quando estava saindo com o dinheiro subtraído deve responder por furto tentado, ao passo que o funcionário público não responde por nada porque não há peculato culposo tentado.

Reparação do dano no peculato culposo:

Artigo 312, § 3º do CP “No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta”.

o Extinção da punibilidade: ocorre quando a reparação for realizada antes da sentença irrecorrível;

o Redução da pena imposta: ocorre quando a reparação do dano for posterior a sentença irrecorrível.

Atenção: No peculato doloso, se a reparação do dano realizada antes do recebimento da denúncia, por ato voluntário do agente caracteriza o arrependimento posterior, onde a pena é diminuída de 1/3 a 2/3. Caso a reparação seja realizadas após o recebimento da denuncia caracteriza a atenuante prevista no art. 65, inciso III, alínea “b” do CP.

15.3 Concussão

Previsão Legal:

Art. 316 do CP “Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa”.

Conceito: A concussão é um crime marcado pela conduta típica exigir, alias que significa um querer coercitivo, envolve coação, ameaça.

Atenção: Não existe bilateridade entre a concussão e a corrupção ativa (art. 333 do CP), de modo que se o particular paga a vantagem exigida ele não pratica crime, pois é vítima.

Na concussão mostra-se indispensável o nexo causal entre a exigência e a função pública exigida, sob pena da caracterização do crime de extorsão.

Exemplo: O Agente da Polícia Federal que exige vantagem indevida, sob pena de indiciar o autor de um crime.

Atenção: Nesta hipótese o Agente da Polícia Federal responde por extorsão.

Vale ressaltar que a ameaça pode ser realizada de forma direta ou indireta por um intermediário, expressa ou implícita (ameaça velada). A ameaça ainda pode ser fora do

Page 94: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

exercício da função, ou antes, de assumi-la, desde que a ameaça tenha nexo causal com conduta funcional.

Objeto material: é a vantagem indevida, se a vantagem for devida o crime será o de abuso de autoridade (Lei 4.888/65). Caso o abuso de autoridade seja praticado por um Policial Federal ele será julgado pelo Juizado Especial Criminal Federal, caso seja cometido por um Policial Militar ele será julgado pelo Juizado Especial Criminal Estadual (Súmula 172 do STJ).

Natureza da Vantagem: Prevalece o entendimento de que a vantagem deve ser econômica ou patrimonial para caracterizar o crime de concussão. A doutrina entende que a concussão decorrente da extorsão, por isso tal natureza.

Tipo subjetivo: é o dolo e vantagem deve ser para o próprio funcionário público ou para terceiro.

E, se a vantagem for para a própria administração pública? Nesta hipótese, não há concussão, porque a expressão outrem exclui a administração pública, podendo caracterizar o crime de Abuso de Autoridade (Lei 4.888/65) ou o Excesso de Exação (art. 316, §1º do CP), conduta do funcionário que exige Tributo ou Contribuição Social que sabe ou deveria saber indevido, ou quando devido, emprega meio vexatório ou gravoso que a lei não autoriza.

Consumação e tentativa: a consumação é caracterizado com a exigência, e trata-se de um crime formal, assim o momento do recebimento da vantagem caracteriza mero exaurimento. Portanto a prisão em flagrante não pode ser realizada no momento do recebimento da vantagem, pois não caracteriza nenhuma das hipóteses previstas no art. 302 do CPP.

Atenção: A tentativa ela é possível quando for realizada de forma escrita, quando por exemplo, a carta que se extravia, antes da vítima tomar conhecimento, a exigência só se aperfeiçoa, quando a vítima toma conhecimento desta.

Caso um Auditor Fiscal da Receita Federal exija vantagem indevida sob pena de cobrar tributo comete o crime funcional contra a ordem tributária prevista no art. 3, inciso II da Lei 8.137/90.

Art. 3°, inciso II da Lei 8.137/90 “Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I):  exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-los parcialmente. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa”.

15.4 Excesso de Exação

Art. 316, § 1º do CP “Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa”.

Page 95: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

15.5 Corrupção Passiva

Art. 317 do CP “Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.  § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa”.

Conceito: A corrupção passiva é um negócio, trata-se de um acordo de vontades, pois há bilateralidade entre os crimes de corrupção passiva e corrupção ativa (art. 333 do CP) , alias este praticado por particular contra a administração em geral.

Toda vez que ocorrer o crime de corrupção passiva também haverá o delito de corrupção ativa?

Não, pois quando a iniciativa da conduta for do funcionário público, solicitar, ainda que o particular concorde em pagar a vantagem indevida, só temos o crime de corrupção passiva (art. 317 do CP).

Por outro lado, quando a iniciativa da conduta for do particular, oferecer ou prometer vantagem indevida é o funcionário público a receber ou aceitar a promessa de tal vantagem, temos o cometimento dos dois crimes, constituindo uma verdadeira exceção pluralista à Teoria Monista. É lógico, que se o funcionário público se recusar a receber ou a vantagem indevida, apenas o particular comete o crime de corrupção ativa (art. 333 do CP).

Objetividade Jurídica: é a administração pública (probidade e a moralidade administrativa).

Sujeito ativo: funcionário público e o particular (quando o crime for cometido em concurso).

Tipo objetivo:

Solicitar: significa pedir (não tem ameaça e nem exigência);

Receber: significa entrar na posse;

Aceitar promessa: significa, concordar com a proposta feita pelo particular.

Atenção: A corrupção passiva envolve o ato funcional do público.

Espécie de corrupção passiva:

Corrupção passiva imprópria: é aquela que o funcionário público solicita, recebe ou aceita vantagem para fazer o que deve ser realizado.

Page 96: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Exemplo: O policial federal que recebeu direito para procurar um veículo que havia sido roubado.

Corrupção passiva própria: ocorre quando o funcionário público solicita, recebe ou aceita a vantagem para pratica ou deixar de pratica indevidamente um ato.

Atenção: O recebimento de compensa, por parte do funcionário público não acarreta a caracterização do crime de corrupção passiva, pois tem característica de ser genérica. Porem o oferecimento direto ao funcionário público não é recompensa, mas sim crime de corrupção passiva, porque perde a característica de ser genérica. Vale lembrar que o recebimento de pequeno valor a titulo de agradecimento e justificadamente não caracteriza o crime. Há julgado do STF que pequeno valor é considerado até um salário mínimo.

Observação: Se a questão for Tributária/Fiscal caracteriza o crime funcional contra ordem tributária previsto no art. 3, inciso II da Lei 8.137/90. Há concussão e a corrupção ativa são reunidas no mesmo tipo especial.

Art. 3°, inciso II da Lei 8.137/90 “Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I):  exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-los parcialmente. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa”.

Consumação: trata-se de crime formal que se conforma com a pratica dos três verbos (solicitar, receber ou aceitar promessa).

Atenção: A doutrina minoritária entende que na realização da conduta receber caracteriza crime material.

Observação: Vale lembrar que esse crime também pode ser classificado como tipo misto alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo variado, porque a pratica de uma só conduta já configura o crime.

A tentativa de corrupção passiva é possível? A tentativa somente é possível se a conduta praticada for escrita em uma carta, é está, é extraviada, antes que o destinatário tome conhecimento.

Atenção: A prisão em flagrante somente pode ser realizada no momento da pratica das condutas.

Causa de aumento:

Art. 317, § 1º do CP “A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional”.

Page 97: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Corrupção Passiva privilegiada: neste crime não há obtenção de nenhuma vantagem, na verdade o funcionário público em linhas gerais aceitou ou atendeu a influência de outrem (influência decorrente de uma conduta funcional)

Art. 317, § 2º do CP “Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa”.

15.6 Facilitação do contrabando ou descaminho

Art. 318 do CP “Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334): Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa”. 

Objetividade jurídica: é a administração pública.

Sujeito ativo: funcionário público que possui o dever funcionar de reprimir o contrabando ou descaminho.

Tipo objetivo: a conduta típica é facilitar (tornar fácil, auxiliar) a pratica de contrabando ou descaminho.

Atenção: O art. 318 do CP pode ser praticado de forma omissiva ou comissiva.

Consumação: trata-se de crime formal que se consuma com a efetiva facilitação, mesma que não ocorra a pratica do contrabando ou descaminho. Alias, se ocorrer tal prática, temos uma exceção pluralista à teoria monista.

Atenção: Já a tentativa somente é admitida na modalidade comissiva e não na omissiva própria.

15.7 Prevaricação

Previsão Legal:

Art. 319 do CP “Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa”.

Consumação: É um crime formal, o fato de consumar com o sentimento de amizade ou de inimizade não influencia na consumação.

Atenção: A obtenção de provadas desse crime que é muito difícil de ser realizada. Vale lembrar que pelo fato de ser crime apenado com detenção, não cabe nem a interceptação telefônica.

A prevaricação portanto, é crime subsidiário (soldado de reserva para Nelson Hungria) só se configura se não conseguir caracterizar a corrupção passiva ou a concussão.

É possível um particular praticar prevaricação? Pode à título de participação, as circunstância pessoas não se comunicam, salvo se relevantes, o funcionário público é passivo, é possível concurso de agentes na prevaricação apenas à título de participação portanto.

Page 98: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Atenção: Vale lembrar que há comunicação circunstâncias de caráter pessoal, quando elementares do crime, conforme o Artigo 30 do CP.

Art. 30 do CP “Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime”.

Elementos Objetivos do Tipo: temos duas condutas típicas omissivas e uma comissiva, as primeiras são traduzidas pelas condutas retardar e deixar de praticar.

Retardar: deixar para depois, retardar etc;

Deixar de praticar: inexistência da possibilidade de praticar o ato. Atenção: Ambas as condutas omissivas vem acompanhadas de um elemento normativo do tipo. No caso indevidamente, (deve-se verificar se houve ou não justa causa para tal comportamento).

Praticar: é uma conduta comissiva, que aliás, vem acompanhada de um elemento normativo do tipo (contra a lei).

Objeto Material: É o ato de ofício (é o que está dentro do rol de atribuições do funcionário público). Vale lembrar que a maioria dos crimes do código penal possui objeto material, salvo alguns, tais como os de ato obsceno e o falso testemunho.

Tipo Subjetivo: É o dolo acrescido de uma finalidade especial, no caso para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Pelos tradicionais o elemento subjetivo especial do tipo é chamado ainda de dolo específico.

O Professor Damásio de Jesus entende que não há mais a necessidade das espécies dolo genérico e dolo específico, pois o dolo é um só, variando segundo cada figura típica.

Sentimento pessoal é uma relação de afetividade ou falta de afetividade entre as pessoas.

Exemplo: amor, ódio, vingança, amizade , inimizade, e etc ...

Interesse pessoal: é qualquer vantagem, inclusive as morais.

Um funcionário público, na prevaricação, age para obter uma vantagem para terceira pessoa (o interesse é pessoal) e a vantagem pode ser de terceiro.

Exemplo: quando funcionário público libera a pesca, em época proibida, apenas para seu grande amigo, que veio do exterior.

Consumação: Se consuma no momento da omissão ou prática do ato, basta que o agente queira satisfazer sentimento ou interesse pessoal, não precisando conseguir tal objetivo, sendo classificado como crime formal.

Tentativa: Não cabe tentativa nos crimes de prevaricação nas condutas omissivos, já nas condutas comissivas praticar é possível teoricamente a tentativa

Page 99: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Exemplo: quando a conduta for plurissubsistente (ocorre quando o “iter criminis” fracionado).

15.8 Prevaricação Imprópria Previsão Legal:

Art. 319-A do CP “Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano”.

Sujeito ativo: É crime próprio, pois a Lei exige requisito especial para sua prática, no caso ser diretor de penitenciária e o agente público que lá atue.

Tipo Objetivo: deixar de cumprir seu dever de vedar, tem a intenção de deixar de fiscalizar, de impedir, de revistar dolosamente. Trata-se de crime omissivo doloso.

Atenção: Penitenciária está no sentido amplo de estabelecimento penal, englobando os Centros de Detenção Provisórios, Cadeias Públicas e o Estabelecimento de Cumprimento de Medidas Socioeducativas de Menores.

Atenção: Aparelho Telefônico é qualquer aparelho que permite a realização de comunicação, sendo que esta não precisa ocorrer.

Se levar consigo carregador de celular comete crime? Os acessórios por si só, não configuram o crime até porque a lei não os tipificou.

Consumação: Ocorre com a entrada do aparelho no estabelecimento penal, mediante a omissão do agente público. Não havendo a necessidade da efetiva comunicação do preso.

Tentativa: Não cabe tentativa, porque é crime próprio ou puro.

Atenção: Aquele que ingressa no estabelecimento penal com o aparelho telefônico comete o crime previsto no art. 349-A do CP, constituindo uma exceção pluralista a Teoria Monista. Art. 349-A do CP “Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional. Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano”. 

15.8 Condescendência Criminosa

O Artigo 320 do CP prevê o crime de condescendência criminosa. Neste crime o superior hierárquico, que deixa de punir o inferior hierárquico por indulgência, por condescendência, amigo, por dó e etc.

Art. 320 do CP “Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato

Page 100: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

ao conhecimento da autoridade competente: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa”.

Atenção: Tal crime pode ser cometido por tal superior, quando lhe falte competência, e não leva o fato ao conhecimento da autoridade competente.

Page 101: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

16. DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

16.1 Resistência

Previsão Legal:

Art. 329 do CP “Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: Pena - detenção, de dois meses a dois anos. § 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena - reclusão, de um a três anos. § 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência”.

Exemplo: “A” e “B” com a finalidade cumprir um mandado de prisão contra “C”, ao chegarem à residência de “C”, são recebidos por ele com tiros. Nesta hipótese “C” somente cometeu um crime, pois apenas um ato legal deveria ser realizado.

Atenção: Prevalece o entendimento de que a resistência pacifica (sem violência ou ameaça) não caracteriza crime (fato atípico) e muito menos o crime de desobediência ou evasão.

Exemplo: Sujeito de vai ser preso e foge dos policiais, sem ameaçar ou empregar violência.

Objetividade Jurídica: tem a finalidade de proteger a autoridade, o prestigio da administração pública.

Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), inclusive funcionário público.

Atenção: A resistência pode ser praticada por terceira pessoa, pode se opor a execução de ato legal, mesmo que este ato não recaia sobre ela.

Tipo objetivo:

Opor-se: significa querer impedir a realização do ato. As formas de execução são: a violência e a ameaça (que não precisa ser grave, trata-se da promessa de um mal sério e realizável.)

Atenção: A violência ou ameaça deve ser contemporânea ao ato. Se o individuo já estiver preso e tenta fugir com violência, não caracteriza o crime de resistência, porque o ato já foi praticado. A posição deve ser antes ou no momento da realização do atos, nunca depois.

Ato legal: é o ato formal e materialmente legal (se o ato for ilegal ele não comete crime de resistência).

Consumação: Ocorre no momento da prática da violência ou da ameaça. A pessoa não precisa conseguir impedir o ato, basta opor-se a ele mediante violência ou ameaça, portanto é o crime formal.

Atenção: Se o ato não for praticado, caracteriza o exaurimento do crime e por consequência, gera a incidência da qualificadora prevista no art. 329, §1º do CP.

Page 102: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Tentativa: É possível, salvo se a ameaça é verbal.

Atenção: O art. 329, §2º do CP disciplina que se aplica a pena da resistência cumulada com o crime decorrente da violência, como por exemplo, o homicídio (consumado ou tentado) e a lesão corporal.

Observação: De acordo com a jurisprudência, ficam absolvidos pela resistência os crimes de desacato, desobediência e vias de fato. Só haverá soma, quando for violência; já a ameaça fica absorvida pelo tipo da resistência.

Exemplo: “C” com a finalidade de se furtar do cumprimento do mando de prisão, desfere tiros contra “A” e “B” e xinga policiais de corruptos.

Atenção: Nesta hipótese “C” responde por resistência e pela tentativa de homicídio contra os dois policiais, já o desacato fica absorvido.

16.2 Desobediência

Art. 330 do CP “Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa”.

Sujeito ativo: pode ser cometido por qualquer pessoa.

Atenção: Na verdade o funcionário público pode cometer desobediência quando a ordem descumprida não estiver relacionada com suas funções, como por exemplo, o Delegado que não comparece a uma audiência como testemunha sem dar motivo justificado para tanto. Por outro lado, quando o funcionário público descumpre ordem ligada diretamente a suas funções comete o crime de prevaricação (art. 319 do CP), quando deixa de atender requisição judicial de instauração de inquérito policial.

Vale ressaltar que existem dois tipos de desobediência, as quais são:

Desobediência crime: que está relacionada com as violações prevista no Código Urbanístico, Código de Transito, etc

Desobediência administrativa: é caracterizando quando é praticada uma infração administrativa punida com pena administrativa.

Atenção: Nessa forma, caso o jurado do Tribunal do Júri, que sem causa legitima, deixe de comparecer no dia marcado para realizar a sessão de julgamento, ou retirar-se antes de ser autorizado (art. 442 do CPP), incorrera na multa ali prevista e não pode desobediência crime, porque o CPP não fez a ressalva.

Por outro lado, conforme 219 do CPP, caso a testemunha faltosa não justifique o comparecimento, responderá pelo crime de desobediência do CP, uma vez que o CPP vez a ressalva.

Consumação e tentativa: A desobediência pode ser realizada por ação ou omissão, dependendo da ordem. Já a tentativa na modalidade omissiva não é permitida. Porem se for um “fazer”, admite-se a tentativa, porque pode ser um crime subsistente.

Page 103: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

16.3 Desacato

Art. 331 do CP “Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa”.

Sujeito ativo: é um crime que pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusive pelo advogado no exercício de sua função, ressaltando que o STF declarou inconstitucional a expressão “ou desacato” do art. 7, §2º da Lei 8.906/94 (Estatuto da OAB).

Atenção: Para os concursos de Delegado Federal, o funcionário público pode praticar desacato, pois sempre que ofender o outro, se despe dessa qualidade equiparando-se a um particular.

Tipo objetivo: desacatar, significa ofender, humilhar, desprestigiar. Assim, o desacato pode ser praticado verbalmente e com gestos. Para caracteriza o crime de desacato a ofensa deve ser recorrente da atividade funcional exercida pelo funcionário público desacatado.

Atenção: O desacato só não pode ser cometido por escrito, porque a doutrina e jurisprudência entendem que para caracterizar o crime previsto no art. 331 do CP, o crime deve ser cometido na presença do funcionário público. Na ausência do funcionário, o crime será contra a honra dele.

Consumação: ocorre no momento da realização da ofensa/humilhação.

16.3 Corrupção Ativa

Art. 333 do CP “Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional”.

16.4 Descaminho

Art. 334 do CP “Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. § 1o  Incorre na mesma pena quem:  I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;  II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho; III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem; IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. § 2o Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências”.

Page 104: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Consumação: trata-se de crime formal, que se consuma com a entrada da mercadoria no Brasil. No entanto se a mercadoria for apreendida antes de chegar no Brasil, caracteriza tentativa.

Sujeito ativo: poderá ser qualquer pessoa (crime comum).

16.5 Contrabando

Art. 334-A do CP “Importar ou exportar mercadoria proibida: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos.  § 1o Incorre na mesma pena quem:  I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando;  II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização de órgão público competente; III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação; IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira;  V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. § 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. § 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial”.

Exemplo: Cigarros, Simulacros de Armas, Armas.

Consumação: trata-se de crime formal, que se consuma com a entrada da mercadoria proibida no Brasil. No entanto se a mercadoria for apreendida antes de chegar no Brasil, caracteriza tentativa.

Sujeito ativo: poderá ser qualquer pessoa (crime comum).

16.6 Inutilização de Sinal ou Edital

Art. 336 do CP “Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de funcionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por determinação legal ou por ordem de funcionário público, para identificar ou cerrar qualquer objeto: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa”.

Normalmente esse crime é praticado pelo frentista do posto de gasolina que rompe o lacre colocado por funcionário da Agência Nacional do Petróleo, por sua vez aquele que vende gasolina adulterada incorre no cometimento de crime contra a ordem econômica, previsto na Lei 8.176/91, alias de competência da Justiça Estadual. Havendo o rompimento do lacre e mais esse último crime citato, a competência para julgar será o da Justiça Federal (Súmula 122 do STJ).

16.7 Sonegação de contribuição previdenciária

Art. 337-A do CP “Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: I – omitir de folha de pagamento da empresa ou

Page 105: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

de documento de informações previsto pela legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços;  II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços;  III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.  § 1o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e confessa as contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.  § 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que:  II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. § 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou aplicar apenas a de multa. § 4o O valor a que se refere o parágrafo anterior será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices do reajuste dos benefícios da previdência social”.

Trata-se de crime material, no entanto é exigida a constituição do debito tributário para a sua caracterização, alias, verdadeira condição objetiva de punibilidade.

O referido crime também é classificado pela doutrina de forma vinculada, porque somente pode ser praticado pelas condutas mencionadas no tipo, tais como: a fraude caracterizada pela omissão em documentos previstos na Legislação Previdenciária, guias de recolhimento do FTGS etc.

17. DOS CRIMES PRATICADOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

17.1 Reingresso de estrangeiro expulso

Art. 338 do CP “Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso: Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena”.

Sujeito Ativo: Trata-se de crime próprio, pois a lei exige requisito especial para a sua prática, que no caso é o estrangeiro expulso. Não comete o crime em questão, o estrangeiro deportado ou extraditado (fatos atípicos).

Atenção: Não confundir o reingresso do estrangeiro com a permanência do estrangeiro no território nacional, ainda que irregular após o decreto de expulsão não cumprido.

Consumação: ocorre com o reingresso do estrangeiro expulso, mesmo que por um curto espaço de tempo, trata-se de crime de mera conduta e unissubsistente.

Atenção: Vale lembrar ainda que umas penas proibidas no Brasil é o banimento, ou seja, a expulsão do nacional do território brasileiro.

Por fim, a pena desse crime é de reclusão de 1 a 4 anos, sempre prejuízo de nova expulsão.

Page 106: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

17.2 Denunciação caluniosa

Art. 339 do CP “Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. § 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. § 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção”.

Distinção entre a denunciação caluniosa e a calúnia:

A denunciação caluniosa é crime contra a administração da justiça, ao passo que a calúnia é delito contra a honra;

Na denunciação caluniosa, nunca se admite exceção da verdade, ao passo que na calúnia, em regra geral, admite-se a exceção da verdade, ressalvadas as exceções do art. 138 § 3º CP.

A denunciação caluniosa refere-se tanto a crime ou contravenção penal, e nesta, a pena é reduzida pela metade, enquanto a calúnia alcança apenas crime ou delito (não alcança contravenção penal).

Exemplo: Dizer que viu fulano na rua x vendendo jogo do bicho será difamação, e não calúnia, porque jogo do bicho é contravenção. Na denunciação caluniosa, o agente, além de ofender/atingir a honra, tem a intenção de

movimentar a máquina judiciária contra a vítima, ao passo que na calúnia, a intenção é só atingir a honra da vítima.

Tipo objetivo: dar causa – provocar, iniciar, originar, etc.:

Instauração de investigação policial; Processo judicial; Investigação administrativa; Inquérito civil; Ação de improbidade administrativa.

Atenção: O crime de denunciação caluniosa é um crime de forma livre, que pode ser cometido de qualquer maneira.

Art. 19 da Lei de Improbidade Administrativa “Constitui crime a representação por ato de improbidade contra agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor da denúncia o sabe inocente. Pena: detenção de seis a dez meses e multa. Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está sujeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais, morais ou à imagem que houver provocado.”.

Atenção: Deve-se atentar que a denunciação caluniosa praticada no âmbito da Lei de Improbidade Administrativa (art. 19 da Lei 8.429/92) somente se caracteriza quando é imputado a pratica de ato de improbidade administrativa, ao passo que na denunciação caluniosa prevista no art. 339 do CP o ato além de ser improbidade administrativa é crime, como por exemplo, na hipótese da prática de peculato.

Page 107: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Para que caracteriza que denunciação caluniosa é necessária que a prática do crime ou contravenção penal (fato certo) seja imputada há alguém, que o sabe ser inocente. Caso contrário caracterizara o crime de falsa comunicação de crime ou contravenção.

Tipo subjetivo: crime doloso (dolo direto), porque a pessoa tem que saber que a pessoa é inocente e o Código Penal afasta a incidência do dolo eventual. Consumação: Ocorre com o inicio da investigação ou do processo. Já a tentativa Causa de aumento de pena:

Art. 339, §1º do CP “A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto”.

17.3 Comunicação falsa de crime ou de contravenção

Art. 340 do CP “Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa”.

Atenção: Nesse crime, alias, como já informado não se imputa o delito ou contravenção a ninguém em específico. Porem é provocado à ação da autoridade através do dolo direto de comunicar a ocorrência de crime ou contravenção que sabe não se ter verificado.

Elemento subjetivo: o dolo direto de comunicar a ocorrência de crime ou contravenção que sabe não se ter verificado.

A falsa comunicação, muitas vezes, ocorre para esconder algo errado que fez, como por exemplo uma apropriação indébita, e, nesse caso, o agente responde em concurso material pelos crimes. A narrativa falsa também é feita, muitas vezes, para conseguir alguma coisa, como o prêmio de um seguro. Neste caso, o entendimento majoritário é que o crime-fim absorve o crime-meio (geralmente o crime-fim é o estelionato).

Consumação: O delito aqui estudado é material, porque se consuma quando a autoridade age, não bastando à mera comunicação.

Tentativa: é possível quando há a comunicação mas a autoridade não age por circunstâncias alheias à vontade do agente.

17.4 Autoacusação Falsa

Art. 340 do CP “Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa”.

Na auto acusação não se imputa o delito ou contravenção a ninguém em específico, mas sim a si mesmo.

Elemento Subjetivo: é o dolo direto.

Page 108: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Observação: a falsa comunicação, muitas vezes, ocorre para esconder algo errado que fez, por exemplo, na apropriação indébita, e, nesse caso, o agente responde em concurso material pelos crimes.

A narrativa falsa também é feita, muitas vezes, para conseguir alguma coisa, como o prêmio de um seguro. Neste caso, o entendimento majoritário é que o crime-fim absorve o crime-meio (geralmente o crime-fim é o estelionato).

Consumação: O delito aqui estudado é material, porque se consuma quando a autoridade age, não bastando a mera comunicação.

Tentativa é possível quando há a comunicação mas a autoridade não age por circunstâncias alheias à vontade do agente.

17.5 Falso Testemunho ou Falsa Perícia

Art. 342 do CP “Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. § 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade”.

Sujeito Ativo: O falso testemunho é um crime próprio, porque a lei exige uma qualidade especial do sujeito ativo, no caso, ser testemunha. Além de ser um crime próprio, o falso testemunho também é um crime de mão própria. Assim sendo, cada pessoa presta o seu depoimento, o STF entende que é possível que participação neste crime, como por exemplo, a do advogado, posição essa rechaçada pela maioria da doutrina.

Atenção: Antes de tudo esse crime deixou de ser de meio potencial ofensivo porque sua pena mínima passou a ser de 1 ano para 2 anos.

Observação: Os chamados informantes (aqueles que não prestam compromisso), para a doutrina penalista cometem crime da mesma forma, um vez que o CP não fala em compromisso; já para os processualistas não há crime, pois é do compromisso que decorre o dever de dizer a verdade. A jurisprudência é dividida.

Vale observar que a falsa pericia é crime próprio, mas não é crime de mão própria, admitindo coautoria e participação.

O art. 4º II da Lei 1579/52 prevê a possibilidade da caracterização do falso testemunho durante a realização de uma CPI.

Causas de aumento de pena:

Art. 342, § 1º do CP “As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em

Page 109: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta”.

Retratação: O agente deve retratar do que disse de forma plena e deve ser realizada no processo onde o crime foi praticado.

Art. 342, § 2º do CP “O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade”.

Observação: Caso a retratação seja feita por um dos agentes, seus efeitos se estendem aos demais, pois o art. 342, § 2º do CP prevê que o fato deixar de ser punível.

17.6 Coação no Curso do Processo

Art. 344 do CP “Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena correspondente à violência”.

Sujeitos do Crime:

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: o Estado e a pessoa que sofre a violência ou grave ameaça.

Tipo objetivo: usar de violência física ou grave ameaça. Contra quem?

Tipo subjetivo: a coação é dolosa, porém tem por elemento subjetivo especial “com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio”. Deve estar relacionada com o que se discute no processo.

Consumação e tentativa: consuma-se no momento do uso da violência ou da grave ameaça → crime formal, tem previsão de resultado naturalístico, mas este não precisa ser alcançado. A tentativa é possível (crime plurisubsistente).

17.6 Exercício Arbitrário das Próprias Razões

Art. 345 do CP “Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa, além da pena correspondente à violência. Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa”.

Tal crime é apurado por meio da ação penal privada, porém, se há emprego de violência, passa a ser processado por meio da ação penal pública incondicionada.

Page 110: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Logicamente que de forma excepcional, admite-se fazer justiça pelas próprias mãos nos casos de excludente de ilicitude. É um crime que pode ser praticado por qualquer pessoa.

Já o funcionário público que se utiliza da função para satisfazer pretensão, comete abuso de autoridade.

Tipo objetivo: fazer justiça com as próprias mãos – significa praticar uma ação tendente a satisfazer uma pretensão (grave ameaça, violência, fraude). Tal pretensão pode ser legítima ou ilegítima.

Sujeito ativo: trata-se de um crime que pode ser praticado por qualquer pessoa.

Atenção: o funcionário público que se utiliza da função para satisfazer pretensão comete o crime de abuso de autoridade. Vale lembrar que, caso seja o PM, será julgado pela justiça comum, conforme Súmula 172 STJ, ainda que em serviço. Não existe o crime de abuso de autoridade no CPM.

Consumação e tentativa: consuma-se quando a pessoa age para satisfazer a pretensão, independente se conseguir ou não o que almeja. Trata-se de um crime formal, ou de consumação antecipada. Já a tentativa é admitida desde que a conduta seja plurisubsistente.

Concurso necessário: A lei determina a soma das penas do exercício arbitrário das próprias razões e o que resulta da violência. Já a ameaça ou fraude, ficam absorvidas.

17.6 Favorecimento Pessoal

Art. 347 do CP “Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. § 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa. § 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena”.

Objetividade jurídica: é a administração da justiça. O sujeito ativo somente é aquele que pratica uma conduta autônoma em relação ao crime anterior (não tomou parte do crime anterior).

Por outro lado, se o sujeito for autor ou partícipe do crime anterior, quando ajuda um comparsa a fugir, esta fuga é mero exaurimento, e responderá pelo crime anterior, e não pelo de favorecimento.

Tipo objetivo: auxiliar a subtrair-se significa ajudar de qualquer forma. A pessoa não precisa estar sendo perseguida. A autoridade está no sentido amplo.

Atenção: Só caracteriza o favorecimento se houver crime anterior, seja apenado com reclusão ou detenção, inclusive com penas distintas.

Cuidado: Não haverá o favorecimento pessoal quando a ajuda se prestar a alguém que praticou contravenção penal. Conforme art. 1º da Lei de Introdução ao CP, a principal

Page 111: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

diferença entre crime e contravenção penal reside na pena. Em linhas gerais, o crime é apenado com reclusão ou detenção, ao passo que a contravenção penal é sancionada com a pena de prisão simples ou multa.

Existem outras diferenças, como por exemplo, a tentativa, que não é punida na contravenção penal por razões de política criminal.

Escusas absolutórias: É isento de pena o CADI, quando presta auxílio ao autor de crime. Vale lembrar que quando o CP, na maioria das vezes, quando se refere à expressão “isento de pena”, quer se referir a uma escusa absolutória, ou também, a uma excludente de culpabilidade (causa dirimente).

Art. 348, §2º do CP “Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena”.

A natureza jurídica da escusa absolutória é ser causa excludente de punibilidade, ficando a autoridade policial impedida de instaurar o IP.

Vale lembrar, ainda, que as escusas absolutórias estão previstas também nos crimes contra o patrimônio, consoante artigo 181 CP, ressalvadas as exceções do art. 183 CP.

17.7 Favorecimento Real

Art. 348 do CP “Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa”.

No favorecimento pessoal, a conduta é para a pessoa do criminoso, ao passo que no favorecimento real, a conduta é voltada para a coisa (proveito do crime).

Objetividade jurídica: é a administração da justiça.

Sujeito ativo: qualquer pessoa, porém, a lei exclui a coautoria e a participação. É conduta autônoma de quem não participou do crime anterior. O agente age para tornar seguro o proveito do crime praticado por outrem. O favorecimento pode ou não ter fim lucrativo.

Exemplo: cobrar aluguel de garagem para esconder carro que seja fruto de furto.

Atenção: Não há previsão legal de escusa absolutória no crime de favorecimento, diferentemente do favorecimento pessoal.

Tipo subjetivo é doloso, sabe que a coisa tem origem ilícita.

Consumação: ocorre no momento em que o auxílio foi prestado, não precisando conseguir tornar seguro o proveito do crime (crime formal). Por fim, a tentativa é possível no prestar auxílio.

Atenção: vale lembrar que na receptação muda-se a propriedade, o agente quer ter um lucro na coisa que sabe ser produto de crime (na conduta ocultar).

Page 112: Direito Penal - Parte Especial - DPF 2014

Vale lembrar ainda, que, para alguém ser partícipe de um crime, tem que praticar a conduta até a consumação, sob pena de gerar outro crime ou o fato ser atípico (relevância causal das condutas).

17.8 Patrocínio Infiel

Art. 355 do CP “Trair, na qualidade de advogado ou procurador, o dever profissional, prejudicando interesse, cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado: Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa”.

Antes de mais nada, trata-se de crime de competência de médio potencial ofensivo, porque a pena mínima não é superior a um ano, possibilitando ao acusado o beneficio da suspensão condicional do processo, desde que sejam preenchidos outros requisitos, mitigando o princípio da obrigatoriedade da ação penal pública.

Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, pois o art. 355 do CP exige para sua caracterização a presença de dois requisitos especial ser advogado ou procurador. Tal crime ainda pode ser cometido por estagiário inscrito na OAB.

Tipo objetivo: trair, significa ser infiel aos deveres profissionais, prejudicando interesse, como por exemplo, a perda de prazos, deixando de recorrer, silenciado sobre fatos alegados pela outra parte. Vale se atentar que o prejuízo produzido deve ser de natureza material ou moral.

Atenção: Esse crime pode ser praticado em juízo civil, criminal, trabalhista, penal etc.

Consumação: trata-se de crime material, porque se consuma com o prejuízo oriundo da traição.

Patrocínio simultâneo ou tergiversação:

Art. 355, § único do CP “Incorre na pena deste artigo o advogado ou procurador judicial que defende na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias”.

Atenção: Esse crime é classificado como forma ou de consumação antecipada, porque se consuma com a realização do ato processual destinado a beneficiar a parte contraria. Nessas condutas, o advogado ou procurador judicial defende na mesma causa, partes contrarias, de forma simultânea ou sucessiva.

Observação: Quanto à tentativa, ela somente é possível na modalidade comissiva do patrocínio infiel e do simultâneo, mas não da tergiversação.