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PROCESSO CIVIL III 1) Avaliação: Prova 1º - 10 pontos + trabalho; Prova 2º - 10 pontos + trabalho; Assuntos do período: Processo de Execução Cumprimento de Sentença Bibliografia: Curso de Execução Civil, Ed. Lumen Juris – 2ª Ed. Gediel Araújo Júnior – Prática cível UNIDADE I – TEORIA GERAL DA EXECUÇÃO 1. PROCESSO DE EXECUÇÃO 1.1. Evolução do direito processual Passou por três fases distintas: 1ª fase: SINCRÉTICA. Estendeu-se até meados do século XIX. O processo de execução estava ligado ao direito material. Não havia um código civil e um código de processo civil, somente um código que contemplava todas as normas. 2ª fase – AUTONOMISTA. Científica ou conceitual: durou de meados do séc. XIX até meados do séc. XX. Nesta fase, o direito processual foi separado do direito material. Passou a existir um código civil e um código de processo civil. Importância: em 1868, Oscar Von Bulow identifica a existência de duas relações jurídicas independentes, uma relação de direito material e uma de direito processual. A relação de direito material é bilateral, formada pelo credor x devedor. Enquanto a relação de direito processual é triangular, formada por autor x juiz x réu. Obs.: é possível existir relação jurídica de direito material sem que haja relação jurídica de direito processual. É possível, também, existir relação jurídica de direito processual sem que haja relação jurídica de direito material. Problema: o processo passou a ser o centro de estudos dos juristas (deixando o direito material de lado). 3ª fase: INSTRUMENTAL. Inaugurada a partir de meados do séc. XX, com o Professor Candido Rangel Dinamarco (A Instrumentalidade do Processo). Importância: o processo passou a ser somente um “meio” para a realização do direito material. É a fase atual do direito processual.

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PROCESSO CIVIL III

1) Avaliação:

Prova 1º - 10 pontos + trabalho;

Prova 2º - 10 pontos + trabalho;

Assuntos do período:

Processo de Execução

Cumprimento de Sentença

Bibliografia: Curso de Execução Civil, Ed. Lumen Juris – 2ª Ed.

Gediel Araújo Júnior – Prática cível

UNIDADE I – TEORIA GERAL DA EXECUÇÃO

1. PROCESSO DE EXECUÇÃO

1.1. Evolução do direito processual

Passou por três fases distintas:

1ª fase: SINCRÉTICA.

Estendeu-se até meados do século XIX. O processo de execução estava ligado ao direito material. Não havia

um código civil e um código de processo civil, somente um código que contemplava todas as normas.

2ª fase – AUTONOMISTA.

Científica ou conceitual: durou de meados do séc. XIX até meados do séc. XX. Nesta fase, o direito

processual foi separado do direito material. Passou a existir um código civil e um código de processo civil.

Importância: em 1868, Oscar Von Bulow identifica a existência de duas relações jurídicas independentes,

uma relação de direito material e uma de direito processual.

A relação de direito material é bilateral, formada pelo credor x devedor. Enquanto a relação de direito

processual é triangular, formada por autor x juiz x réu.

Obs.: é possível existir relação jurídica de direito material sem que haja relação jurídica de direito

processual. É possível, também, existir relação jurídica de direito processual sem que haja relação jurídica

de direito material.

Problema: o processo passou a ser o centro de estudos dos juristas (deixando o direito material de lado).

3ª fase: INSTRUMENTAL.

Inaugurada a partir de meados do séc. XX, com o Professor Candido Rangel Dinamarco (A

Instrumentalidade do Processo).

Importância: o processo passou a ser somente um “meio” para a realização do direito material.

É a fase atual do direito processual.

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1.1. Trilogia Estrutural do Direito Processual:

O direito processual como um todo, está pautado em três institutos fundamentais:

a. Jurisdição: É uma atividade de composição/solução de conflitos. A jurisdição apresenta uma

característica que lhe é muito peculiar: inércia. A inércia significa que nem um juiz pode resolver

um conflito ex officio. Ele precisa ser provocado pelas partes (Art. 262 e 2º do CPC).

Essa característica é chamada também de princípio dispositivo (OAB)

b. Ação: Mecanismo de provocação da jurisdição, de modo a retirá-la do seu estado de inércia.

c. Processo: Instrumento da atividade jurisdicional. O processo não se confunde com o procedimento.

O procedimento/rito é a forma pela qual o processo se desenvolve; é o conjunto dos atos do

processo.

Processo de conhecimento (procedimentos)

Comum (Art. 272 CPC)

Ordinário (Art. 282, CPC)

Sumário (Art. 275, CPC)

Especial (Livro IV, CPC)

Ao conjunto desses três elementos, a doutrina chamou/denominou de Trilogia Estrutural do Direito

Processual. Esses elementos não se confundem com os chamados elementos da ação (partes, causa de

pedir e pedido – Art. 301, § 2º, CPC).

1.2. Tipos de Processos:

a. Conhecimento/Cognição: Visa declarar ou não a existência de um direito. Ex.: ajuizamento de uma

ação de investigação de paternidade – pretendo declarar que o requerido é pai do requerente.

b. Execução: Aqui, não se pretende declarar o direito e sim a realização/materialização de um direito

declarado. Ex.: estou saindo com meu carro da faculdade de forma regular e neste momento vem uma

ambulância, na contramão e em alta velocidade e provoca um acidente. Eu ajuízo uma ação de

indenização para reparar o dano causado. Essa ação ensejará um processo de conhecimento, visando

declarar o meu direito. Ao final desse processo, o juiz condena o estado do ES a pagar o valor

requerido. Transitando em julgado essa sentença, pra que eu tenha a execução da minha pretensão,

terei que entrar com uma ação de execução, gerando aqui, um processo de execução, por meio do qual

o juiz irá praticar atos que efetive o direito do credor.

c. Cautelar: (Art. 796 CPC e seguintes): Visa assegurar/resguardar o resultado útil de um outro processo.

Ex.: eu estou ingressando com uma ação de cobrança contra alguém e cobrarei uma importância de R$

1.000,00. Provarei isto, mediante a oitiva de uma testemunha. Porém, essa testemunha já tem 90 anos

de idade e está doente, correndo o risco de falecer a qualquer momento. Até que se marque a

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audiência, pode ser que a testemunha já tenha morrido. Para resguardar esse direito, posso propor

uma ação cautelar de produção antecipada de provas (Art. 846 CPC).

1.3. Sentenças que comportam execução:

A sentença que comporta a execução, por excelência, é a condenatória. A sentença declaratória e a

constitutiva não comportam a execução porque uma vez proferidas elas se esgotam/finalizam em si

mesmas.

Obs.¹: A sentença declaratória e a sentença constitutiva, no que tange ao seu eventual capítulo

condenatório, podem ser executadas. Ex.: ação de investigação de paternidade (ação declaratória) foi

julgada procedente (sentença declaratória), porém no bojo da sentença há um capítulo condenatório para

o requerido pagar pensão alimentícia.

Obs.²: Após o advento da Lei nº 11.232/2005, parcela da doutrina (Freddie Didier e Humberto Teodoro

Júnior) passou a sustentar que a sentença declaratória pode ser executada. Eles sustentam esse

entendimento com base no Art. 475-N, inciso I, do CPC que dispõe que pode ser executada a sentença que

reconhece uma obrigação.

1.4. Meios de execução

a. Sub-rogação: o Estado se coloca no lugar do devedor e cumpre a obrigação, retirando bens do

seu patrimônio e alienando esses bens.

b. Coação ou coerção: pressiona o devedor a cumprir a obrigação (prisão civil ou multa processual).

b1. Astreintes (multa processual). Ex.: juiz determina a entrega um automóvel no prazo de 5

dias, sob pena de incidir multa diária. Art. 645 e 621, § único CPC.

b2. Prisão Civil: É um regime de exceção. Só é admitida pelo texto constitucional em duas

hipóteses: devedor de alimentos (o devedor vai ser citado para pagar o que deve em até 3 dias

sob pena de prisão) e depositário infiel (é prevista na Constituição, porém o STF, no julgamento

do Recurso extraordinário 466.343-SP, reconheceu a inconstitucionalidade da prisão do

depositário infiel. O Art. 5º, § 2º, CF os direitos e garantias não excluem os direitos e garantias

previstos em outros tratados. O Tratado São José da Costa Rica (Dec. 678/92) prevê somente

uma possibilidade de prisão, ou seja, somente a prisão do devedor de alimentos. Portanto, com

essa interpretação derrogou a possibilidade da prisão do depositário infiel.

1.5. Processo e procedimentos executivos

a) execução das obrigações de dar (Art. 621 a 631 do CPC).

b) execução das obrigações de fazer e de não fazer (Art. 632 a 645 do CPC).

c) execução por quantia certa contra devedor solvente (Art. 646 a 724 CPC).

d) execução contra a fazenda pública (devedora). Art. 730 e 731 do CPC // Art. 100 CF.

e) procedimento da execução pela fazenda pública (credor) – LEF (lei de execução fiscal, n. 6.830/80).

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f) execução da prestação de alimentos (Art. 732 a 735 do CPC e lei de alimentos n. 5.478/68).

g) execução por quantia certa contra devedor insolvente (Art. 748 e seguintes do CPC).

• Devedor empresário:

Se o empresário é insolvente, aplica-se a lei de falência e recuperação de empresas, Lei 11.101/05.

1.7. Processo sincrético

Também conhecido como processo misto ou híbrido.

É a união de dois processos (conhecimento e execução). O credor não precisa ajuizar uma ação de

execução, pois ela é uma continuação de outro processo já iniciado (conhecimento).

É formado por duas etapas: fase de conhecimento + fase de execução.

Ex.: Art. 461-A, § 2º do CPC – Mandado de busca e apreensão do bem (se for móvel). Se for bem imóvel,

haverá Mandado de imissão na posse.

1.8. Princípios:

a. Efetividade: a execução deve ser feita de modo que produza resultados.

b. Menor sacrifício possível do devedor (Art. 620 do CPC): Quando a execução puder ser feita por mais de

uma maneira, o juiz determinará que ela seja processada da forma menos gravosa para o devedor.

c. Contraditório: divergência na doutrina.

1ª corrente: o princípio do contraditório não é aplicado a execução, pois na execução o devedor é

citado para cumprir a obrigação, não para apresentar defesa.

2ª corrente: defende que o contraditório é aplicado na execução, pois todo processo é

contraditório, sendo que a execução também é regida por este princípio.

3ª corrente (majoritária): o contraditório na execução é atenuado e relativizado, somente é

aplicável nas hipóteses expressamente previstas em lei. Ex.: Art. 571.

d. Desfecho único: a execução tem um único objetivo: a realização do direito do credor.

e. Princípio do sincretismo: Tendência nas reformas processuais em se unificar o processo de

conhecimento e o de execução.

1.9. Aplicação subsidiária

São aplicáveis subsidiariamente ao processo de execução as normas que tratam do processo de

conhecimento. Art. 598 do CPC. Ex.: procuração ao advogado na execução (Art. 38 CPC).

1.10. Classificação das execuções:

a. Genérica: Execução para cobrança de importância em pecúnia (dinheiro). Ex: Cheque.

b. Específica: Destinada a cobrança de uma obrigação de dar, fazer ou não fazer. Ex. Empreitada.

Segunda Classificação:

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a. Tradicional: Feita em processo autônomo, independente de execução. Ex. Contrato de locação, cheque.

b. Imediata: Realizada no processo sincrético. Continuação de um processo que já foi iniciado.

2. PARTES:

Conceito: Aquele que pede e aquele em face de quem se pede (Chiovenda).

Polo ativo: Exequente ou Executante.

Polo passivo: Executado.

2.1. Legitimidade ativa (Art. 556 e 567 CPC)

Art. 556 CPC: Quem pode apenas requerer a execução.

Art. 567 CPC: Quem pode requerer ou prosseguir uma execução proposta por outro.

Quem pode requerer a execução (Art. 556 CPC):

I. O credor a que a lei atribui título com eficácia executiva. Ex. O contrato de locação escrito é

título executivo. O locador figura como credor, logo tem legitimidade ativa.

II. O MP nos casos prescritos em lei. Ex. Art. 16 da Lei 4.717/65 - Lei de ação popular. Art. 15

Lei 7.347/85 – Lei de ação civil pública.

Quem pode requerer a execução ou nela prosseguir (Art. 567 CPC):

I. O espólio, herdeiros ou sucessor do de cujus.

Espólio é conjunto de bens, direitos e obrigações do falecido. O espólio pode ser autor ou

réu de ações porque apresenta a personalidade judiciária.

Morte (De cujus) Aberta sucessão Ação de inventário e Partilha Espólio Sentença de partilha Herdeiros.

II. O cessionário nos casos de cessão de crédito.

III. O sub-rogado nos casos de sub-rogação legal ou convencional.

Sub-rogação significa colocar-se na situação jurídica de outrem. Pode decorrer de lei (legal)

ou de um contrato (convencional). Ex. O fiador que paga a dívida de seu afincado se sub-

roga nos direitos do credor.

2.2. Legitimidade Passiva (Art. 568, I, CPC)

Art. 568, I: São sujeitos passivos na execução:

I. O devedor, reconhecido como tal no título executivo;

Ex1: Contrato escrito de locação. Locatário = inquilino = devedor.

Ex2: Cheque. Emitente = devedor.

II. O espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor;

Espólio Sentença de Partilha Herdeiros

III. O novo devedor, que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigação resultante do título executivo;

Assunção de dívida.

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IV. O fiador judicial;

É o garante cujo encargo da fiança foi constituído nos autos de um processo.

Também se aplica para o fiador convencional.

V. O responsável tributário, assim definido na legislação própria.

Sujeição passiva tributária: É o estudo daquelas pessoas que podem figurar no polo passivo de uma

demanda tributária. Pode ser:

a. Contribuinte: aquele que tem relação pessoal e direta com o fato que dá origem a obrigação

tributária (IPVA, IPTU).

b. Responsável tributário: É aquela pessoa que, mesmo não tendo relação com o fato que dá origem

a obrigação tributária, por força de lei pode ser obrigada a pagar o tributo. Ex. Os pais respondem

pelos tributos devidos pelos filhos.

2.3. Cessão de crédito e assunção de dívida

Quando o credor realiza uma cessão de crédito ele não precisa da concordância do devedor.

Quando o devedor realiza uma assunção de dívida, necessariamente precisará da concordância do seu

credor.

2.4. Litisconsórcio, Assistência e Interação de Terceiro.

a. Litisconsórcio: consiste na pluralidade de pessoas em um ou ambos os pólos da relação jurídica

processual, está previsto no Art. 46 do CPC. Pode ser utilizado na execução.

b. Assistência: o assistente é o terceiro que tem um interesse jurídico na obtenção de uma

sentença favorável a uma das partes, está previsto no Art. 50 do CPC. Segundo a doutrina e a

jurisprudência, a assistência não é cabível na execução, pois na execução não será proferida uma

sentença de mérito.

c. Intervenção de terceiros: suas modalidades são: oposição (Art. 56 do CPC), nomeação à autoria

(Art. 62 do CPC), denunciação da lide (Art. 70 do CPC) e o chamamento ao processo (Art. 77 do

CPC). Nenhuma das modalidades é admitida na execução segundo a doutrina e a jurisprudência,

pois não há sentença de mérito.

2.5 Regras diversas da execução

Desistência da Execução (Art. 569 CPC): Pode desistir de toda a execução ou de algumas medidas

executivas. É necessário de anuência do devedor para a desistência? Depende:

a. Sem embargos do devedor: Não precisa da concordância do devedor para desistência.

b. Com embargos do devedor:

b1. Exclusivamente sobre questões processuais. Não preciso da concordância do devedor para

desistência.

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b2. Mérito. É necessária a concordância do devedor para a desistência. Prescrição de

decadência são questões de mérito (Art. 269, IV, CPC).

Obs. 1: Embargos do devedor: Constitui um mecanismo de defesa do devedor na execução (Art.

736 CPC).

Obs. 2: Prescrição é matéria de mérito (Art. 269, IV do CPC).

Obs. 3: Pode desistir do processo de conhecimento? Depende se já transcorreu o prazo para

resposta (Art. 267, §4º CPC). Se não tiver passado, pode desistir sem anuência, porém, se já

transcorreu o prazo deve ter a anuência do réu para a desistência do processo. Se o réu for revel, a

maioria da doutrina diz que não é necessária a anuência do réu, mesmo depois do prazo da

resposta. Somente Marcelo Abelha, entende que mesmo revel deve ter o consentimento do réu.

Obrigações alternativas (Art. 571 CPC): é aquela pela qual o credor ou devedor pode escolher o objeto da

prestação. Ex.: o devedor tem obrigação de entregar um carro ou uma moto. Como regra geral, o direito de

escolha pertence ao devedor, pode pertencer ao credor desde que haja disposição contratual neste

sentido. Em eventual execução de obrigações alternativas, o devedor é citado para que no prazo de 10 dias

ele escolher se ele quer entregar o carro ou a moto e, nestes 10 dias, deve também entregar o que foi

escolhido. Se não o fizer, se o devedor não exercitar o direito de escolha, o direito passará para o credor.

Relação Jurídica sujeita a termo ou a condição: Termo é evento futuro e certo, por exemplo, a nota

promissória vence no dia 21. A condição é evento futuro e incerto, por exemplo, doação de pai para a filha

se ela casar com determinada pessoa. Quando juiz decidir uma relação jurídica subordinada a um termo ou

condição, o credor não vai poder executar essa sentença sem provar que se realizou a condição ou que

ocorreu o termo (Art. 572, CPC).

Cumulação de execuções: Podem-se cumular execuções, porém devem preencher os quatro requisitos

(Art. 573, CPC): Identidade de credor; Identidade de devedor; Mesma competência e Mesmo

procedimento.

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3. COMPETÊNCIA:

É a medida da jurisdição. Identificar o juízo competente consiste em identificar quem vai processar e julgar

uma determinada ação/demanda. A competência na execução é bipartida. Em se tratando de execução de

título judicial, a regra a ser baseada está no Art. 475-B CPC. Porém, se tratar de título extrajudicial deve-se

buscar no Art. 576 CPC.

3.1. Execução de título judicial (Art. 475-P CPC):

Art. 475-P. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante:

I – os tribunais, nas causas de sua competência originária;

Se a ação tramitou originalmente no TJ, o próprio TJ é competente para proferir execução é o próprio TJ.

Ex: Ação rescisória de sentença.

II – o juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição;

Ajuízo uma ação em face do devedor cobrando um valor de R$ 1.000,00 que ele me devia. Essa ação

tramitou originalmente perante a 1ª Vara Cível de Vila Velha, o juiz condenou o devedor a me pagar. O

devedor interpôs uma apelação, que foi conhecida, mas no mérito foi negado o provimento. Transitou em

julgado. Quem vai executar essa decisão é o juiz de 1º grau. Deve-se analisar onde a ação iniciou

originalmente. No caso, ainda que chegue ao tribunal, por força de recurso, o juiz competente para

executá-la será o da 1ª Vara Cível de Vila Velha.

III – o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral ou de sentença

estrangeira.

A sentença penal condenatória é o que mais importa aqui. A sentença penal condenatória gera efeitos na

esfera cível, sendo um deles o previsto no Art. 91, I CP – efeito de tornar certa a obrigação do autor do

crime em reparar danos que foram causados à vítima, podendo, dessa forma, ocorrer a execução da

sentença criminal na esfera cível, isso perante foro do domicilio do requerido (Art. 94, CPC), o foro do

domicilio do autor e o foro do local do fato (Art. 100, § único, CPC).

Inovação da Lei nº 11.132/05: permitiu que a sentença além de ser executada perante o juiz que a

proferiu, possa ser executada em outros dois locais: no local do atual domicilio do devedor ou no local que

estiver situado os seus bens (Art. 475-B, § único CPC).

3.2. Execução de título extrajudicial (Art. 576 CPC): Regra geral: O título extrajudicial será executado no

domicilio do devedor, por força do Art. 64 do CPC. Se houver uma cláusula de eleição de foro, será

competente aquele eleito (essa cláusula é lícita e prevista no Art. 111 CPC).

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Execução do cheque: é regido pela Lei nº 7.357/85. O cheque é um título de crédito e por isso segue os

princípios cambiais. O foro competente para execução do cheque é no local do cumprimento da

obrigação, local do banco sacado (Art. 100, IV, “d”, CPC).

3.3. Execução Fiscal: Trata-se da execução movida pela Fazenda Pública em face de determinada pessoa. É

regida por lei própria, Lei nº 6.830/80 (Lei de execução fiscal). No entanto, a regra de competência na

execução fiscal está prevista no Art. 578, CPC. A execução fiscal deve ser ajuizada, segundo a doutrina,

em três locais:

a. Perante o foro do domicílio do devedor (requerido);

b. Perante o foro do local de ocorrência do fato gerador da obrigação tributária;

c. Perante o foro do local da coisa.

Essas regras são associadas a outras regras, dependendo da competência do imposto cobrado:

a. Impostos da competência da União Federal (Art. 153 CF) Justiça Federal. Ex. IR, IPI, ITR, etc.

b. Impostos da competência dos Estados (Art. 155 CF) Justiça Estadual. Ex. IPVA, ICMS, ITCD, etc.

c. Impostos da competência dos Municípios (Art. 156 CF) Justiça Estadual. Ex. ISS, ITBI, IPTU.

4. REQUISITOS PARA REALIZAR QUALQUER EXECUÇÃO (Art. 580 CPC):

Para requerer a execução deve-se preencher, simultaneamente, os dois requisitos abaixo:

a. Título executivo. Ex. Cheque, contrato escrito de locação.

b. Inadimplemento do devedor: descumprimento da obrigação.

5. TÍTULOS EXECUTIVOS:

5.1. Conceito: consiste no documento previsto em lei e que autoriza o imediato requerimento de execução.

Ex: Sentença condenatória proferida no processo civil (para ser título executivo não precisa ter trânsito em

julgado), sentença penal condenatória (desde que tenha transito em julgado), cheque, contrato de locação

escrita, nota promissória.

Os títulos executivos são regidos pelos princípios da taxatividade e da tipicidade. Significa dizer que

somente é título executivo aquele documento que se enquadra ao modelo definido pelo legislador. Não se

pode criar um título executivo. Ex: O contrato, para ser título executivo, deve ser assinado por DUAS

testemunhas. A ação, então, não pode ser de execução e, sim, de conhecimento.

5.2. Natureza Jurídica: Natureza jurídica consiste na essência de determinado instituto. São três correntes

na doutrina:

a. Prova/documento: defendida por Carnelutti. Foi rejeitada pelos demais porque no processo de execução

não são produzidas provas, logo não seria prova.

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b. Ato Jurídico: defendida por Liebman. É um encontro de vontades.

c. Ato Jurídico e documento: defendida por Chiovenda. Todo título executivo é escrito e por isso tem

natureza jurídica de um documento e de também um ato jurídico. Preponderante

5.3. Classificação dos Títulos Executivos:

a. Judicial: são aqueles que têm origem na manifestação, no pronunciamento de um magistrado. Previstos

no Art. 475-N, CPC.

Ex1: Sentença condenatória proferida no processo civil;

Ex2: Sentença penal condenatória com trânsito em julgado;

Ex3: Sentença estrangeira homologada pelo STJ.

A execução, nesse caso, é imediata (sincrética).

b. Extrajudicial: é aquele que decorre de um encontro de vontades. Previsto no Art. 585, CPC.

Ex: Contrato de locação escrito; Seguro de vida; Contrato de hipoteca; Cheque.

A execução, nesse caso, é tradicional, não é imediata.

5.4. Títulos em espécie:

a. Títulos Executivos Judiciais (Art. 475-N, I, CPC):

I. Sentença proferida no processo civil que reconhecem uma obrigação de dar, fazer, não fazer e pagar

quantia. Duas correntes que divergem do que se tratam essas sentenças:

Alexandre Câmara: Só é título executivo a sentença condenatória.

Fredie Didier e Humberto Theodoro Júnior: Título executivo é a sentença condenatória e também a

declaratória. Predominante

II. Sentença penal condenatória com trânsito em julgado. Essa sentença para ser título executivo deve ter

transitado em julgado, diferentemente da civil que independente de trânsito em julgado é título executivo.

Se a sentença penal condenatória não contemplar o valor da indenização civil, ela deverá ser objeto de

liquidação de sentença. O valor da indenização civil é apurado na esfera cível (Art.475-A, CPC). Art. 387, IV,

CPP: é dever do juiz criminal ao proferir uma sentença penal condenatória deve fixar o valor mínimo da

indenização civil. Assim, essa sentença poderá, de imediato ser executada.

III. Sentença homologatória de conciliação e transação, ainda que inclua matéria não posta em juízo.

Diferença entre a conciliação e a transação: A conciliação é feita perante um juiz de direito, onde o juiz

exerce influência em relação às partes. Já a transação é feita na esfera extrajudicial, mas ela é levada para

ser homologada pelo juiz, num segundo momento. Ex: Ajuízo uma ação em face de Amábile, cobrando dela

R$ 5.000,00. No dia da audiência de conciliação, Amábile afirma que pagará, em contrapartida, eu terei que

devolver um televisor que ela me deu como garantia do pagamento. O juiz pode homologar esse acordo

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mesmo que a televisão não havia sido anteriormente dita no processo. O limite de aplicação do dispositivo

é a competência em razão da matéria.

IV. Sentença arbitral. A arbitragem é regida pela Lei 9.307/96. A arbitragem consiste na possibilidade de

duas pessoas maiores e capazes, instituírem um terceiro, na condição de árbitro, para julgar um

determinado conflito. O árbitro, hoje, profere uma sentença arbitral; antes, emitia um laudo judicial, que

era homologado pelo juiz. A partir dessa lei, o árbitro profere uma sentença arbitral e se essa sentença não

for cumprida poderá ser executada.

V. O acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente. Diferença do inciso III e V: no

inciso III já há uma ação ajuizada. Porém, se não houver uma ação ajuizada e as partes fazem um acordo e

pedem para que o juiz homologue esse acordo, será o inciso V.

VI. Sentença estrangeira homologada pelo STJ. Quem homologa uma sentença estrangeira é o STJ. Porém,

quem executa a sentença estrangeira homologada é o juiz federal de 1º grau e não o STJ.

VII. O formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos

sucessores a título singular ou universal. O formal de partilha consiste numa documentação/autuação que

é extraída a partir do inventário e que contém os documentos previstos no Art. 1.027, CPC. Serve para que

o herdeiro ou interessado de posse daquele documento vá para o RGI (Registro Geral de Imóveis) e solicite

a transferência do imóvel para o seu nome. O formal de partilha é título executivo tão somente em relação

aos herdeiros e em relação ao inventariante. Não pode ser executado em relação a terceiros.

Ex: De cujus Inventário Sentença de partilha (Art. 1.026 CPC) Herdeiro A (imóvel) Formal de partilha

Herdeiro B (automóvel)

b. Títulos Extrajudiciais (Art. 585, I, CPC):

I. A letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque (títulos de crédito). “Título

de crédito é o documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele mencionado”

(Vivante) – Art. 887 CC. Todo título de crédito é titulo executivo extrajudicial, mas nem todo título

executivo extrajudicial é título de crédito (ex. contrato de locação).

Prazo para executar a nota promissória, a letra de câmbio e a duplicata: 03 anos.

Prazo para executar um cheque:

Mesma praça (município): 06 meses + 30 dias;

Praças (municípios) diversas: 06 meses + 60 dias.

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Esse prazo está previsto no Art. 59 da Lei 7.357/85 (lei do cheque). Passado esse prazo,

pode-se entrar com uma Ação de cobrança ou Monitória (Súmula 299 STJ). O prazo desta

ação é de 02 anos (Art. 61 Lei 7.357/85). Passado também esse prazo, pode-se ajuizar uma

Ação de locupletamento ilícito (Art. 62 da Lei 7.357/85), onde o prazo será de 05 anos

(Fábio Ulhoa Coelho – Art. 206, §5º, CC) e 10 anos (Marcelo Bertoldi – Art. 203, CC).

II. A escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o documento particular

(contrato) assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transação (acordo)

referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores.

Qualquer contrato assinado pelo devedor e por duas testemunhas é título executivo extrajudicial.

III. Os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os de seguro de vida.

Hipoteca e penhor são direitos reais de garantia.

A hipoteca é um contrato que dá origem a um direito real de garantia e que recai sobre bens imóveis.

Penhor é o contrato que dá origem a uma garantia e recai sobre bens móveis.

A caução pode ser de duas espécies (Art. 826 CPC):

Real: hipoteca e penhor.

Fidejussória (fiança): aqui o legislador faz referência ao contrato de fiança.

Diferença entre Fiança e Aval. Fiança se destina a contratos, já o Aval é a garantia para assegurar títulos de

crédito.

Seguro de vida: Somente é título executivo o seguro de vida, o seguro de veículo não (Art. 275, II, “e”, CPC).

IV. O crédito decorrente de foro e laudêmio. São verbas relacionadas a um instituto chamado enfiteuse

(aforamento) que existia no CC/19 e no CC/02 não foi repetida. Enfiteuse é um direito real que existia, as

enfiteuses que existiam antes continuam valendo. Na enfiteuse há duas pessoas: de um lado o senhorio e

do outro o enfiteuta ou foreiro. O senhorio detém aquilo que é chamado de domínio direto. O foreiro

detém aquilo que é chamado de domínio útil. É como se a propriedade do imóvel. Na prática, significa que

quem pode morar/alugar no imóvel é o enfiteuta ou foreiro. Já o senhorio tem uma propriedade que está

apenas no papel. Pelo fato de o senhorio ter transferido o domínio útil ao enfiteuta ou foreiro, todo ano o

enfiteuta ou foreiro paga uma verba ao senhorio (foro). Além disso, quando o enfiteuta ou foreiro resolve

vender esse domínio útil para outra pessoa, deve pagar outra verba ao senhorio, chamado laudêmio. Isso é

o que ocorre com os chamados terrenos de marinha. Quem fica como senhorio é a União Federal e quem

fica como enfiteuta ou foreiro é o particular. Em contrapartida, o particular tem que pagar o foro à União

todo ano, chamado taxa de ocupação. Da mesma foram, se o particular resolver vender, deverá pagar a

verba de laudêmio.

Page 13: Direito Processual Civil - Apostila

V. Crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos

acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio. Contrato de locação escrito é título executivo

extrajudicial mesmo que esse contrato de locação não tenha sido assinado por duas testemunhas é título

executivo, conforme jurisprudência do STJ. Encargos de condomínio: Art. 585, V, CPC: diz que os encargos

serão cobrados em execução, já o Art. 275, II, “b”, CPC: prevê que os encargos serão cobrados pela ação de

cobrança/ação de conhecimento (rito sumário). O que ocorre aqui é o que a doutrina diz chamar antinomia

(duas leis que se contradizem, divergência de lei). Ficou pacificada, depois de profunda divergência, que:

Autor da ação Ação a ser proposta Fundamento legal

Condomínio Ação de cobrança Art. 275, II, “b”, CPC

Proprietário/locador Ação de execução Art. 285, V, CPC

VI. O crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, quando as custas,

emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão judicial. Esse inciso é de pouco aplicação na

prática porque as custas são pagas, geralmente, quando do ajuizamento da ação. Na prática, somente

aplica-se este inciso em relação aos honorários do perito, caso o perito não receba, ele poderá mover uma

ação de execução com base nesse inciso, ele irá executar esses honorários.

VII. A certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios

e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei. A C.D.A (certidão de dívida ativa)

constitui título executivo extrajudicial e pode ser executada pela Fazenda Pública. Permite a propositura da

Execução Fiscal com base na Lei 6.830/80.

VIII. Todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva. O legislador

permitiu, neste inciso, que a legislação extravagante crie outros títulos. Ex: contrato de honorários de

advogado (Art. 24 da Lei nº 8.906/94); decisão do Tribunal de Contas da União dos estados e municípios

(Art. 71, §3º, CF).

Contrato de abertura de crédito em conta corrente:

É o contrato de cheque especial. Nesse contrato, o banco coloca a disposição do correntista um crédito na

conta dele para que ele possa utilizar independentemente de provisão de fundos. Foi firmado o

entendimento (Súmula 233, STJ) no sentido de que o contrato de abertura de crédito em conta corrente

não é título executivo, portanto, não poderá ser executado (ação de execução). O banco poderá ajuizar

uma ação moritória (Súmula 247, STJ). Assim, o banco passou a emitir nota promissória na troca da

abertura, mas o STJ também vedou (Súmula 258, STJ).

Page 14: Direito Processual Civil - Apostila

5.5. Título que contemple obrigação certa, líquida e exigível (Art. 586, CPC): além de inadimplemento e

título executivo, o título deve contemplar obrigação certa, liquida e exigível (requisitos para a execução).

Título certo é aquele em relação ao qual não há dúvida quanto a sua existência. Ex. de um título

que não é certo: Nota promissória rasgada e colada com fita adesiva.

Titulo líquido é aquele que estabelece o quantum que é devido. Ex: Contrato de locação. Ex. que

não é titulo liquido: sentença penal condenatória, com trânsito em julgado, que não contemple

valor de indenização.

Titulo exigível é aquele que não está subordinado a nenhuma condição ou termo suspensivo. Ex. de

título que não é exigível: nota promissória que vencerá daqui a 30 dias.

Natureza jurídica da certeza, liquidez e exigibilidade: São condições da ação. Servem para o regular

exercício do direito de ação, ou seja, de condições da ação. A ausência dessas condições acarretará a

nulidade da execução (Art. 618, I CPC).

Nulidade da execução (Art. 618, CPC): Consequência de ajuizamento de uma execução de titulo que não

contemple obrigação certa, líquida e exigível. Nulidade absoluta, ou seja, resultará na extinção do processo

sem apreciação do mérito na forma do Art. 267, VI CPC c/c Art. 598 CPC. Também pode ser reconhecida de

ofício pelo juiz e também pode ser alegada por meio de simples petição, também chamada de objeção ou

exceção de pré-executividade.

Ação de cobrança e título certo, líquido e exigível: Eu tenho um título que é certo, líquido e exigível, mas

ao invés de executá-lo, eu ajuízo uma ação de cobrança (ação de conhecimento). A consequência disso

será: carência da ação, pois estará ausente o interesse de agir, falta o interesse de necessidade. Então, o

processo será extinto sem resolução do mérito na forma do Art. 267, VI do CPC.

Natureza jurídica da certeza, liquidez e exigibilidade: é de condições para o regular exercício do direito de

ação, ou seja, de condições da ação.

Nulidade da execução (Art. 618, CPC): Consequência de ajuizamento de uma execução de titulo que não

contemple obrigação certa, líquida e exigível. Nulidade absoluta, ou seja, resultará na extinção do processo

sem resolução do mérito na forma do Art. 267, VI CPC c/c Art. 598 CPC.

Ação de cobrança e título certo, líquido e exigível: eu tenho um título que é certo, líquido e exigível, mas

ao invés de executá-lo, eu ajuízo uma ação de cobrança (ação de conhecimento). A consequência disso

será: carência da ação, pois estará ausente o interesse de agir, falta o interesse de necessidade. Então, o

processo será extinto sem resolução do mérito na forma do Art. 267, VI CPC.

Page 15: Direito Processual Civil - Apostila

5.6. Impugnação do débito pela via ordinária (Art. 585, §1º CPC): a propositura de qualquer ação

impugnando o débito que consta em um título executivo não impedirá o credor de propor a execução. Ex:

dívida de jogo, carnês de IPTU, mesmo sem morar mais no local, posso entrar com uma ação para que se

declare a nulidade, porém isso não impede que o Estado cobre o meu IPTU.

Exceção: caso seja concedida uma medida de urgência/tutela antecipada/tutela cautelar a execução ficará

suspensa. Ex.: Carol condenada a pagar R$ 10.000,00, a sentença transitou em julgado. Após o trânsito em

julgado cabe algum recurso? No nosso sistema não. Para a Carol só resta uma alternativa para impugnar

essa decisão: ação rescisória (Art. 485 CPC). Vamos supor que a Carol ajuíza essa ação. O fato de tê-la

ajuizada, não impede a execução. Caso haja concessão de tutela na ação rescisória, a execução poderá ficar

suspensa (Art. 489 CPC).

6. EXECUÇÃO PROVISÓRIA E DEFINITIVA

6.1. Considerações iniciais: o legislador em determinadas hipóteses, previstas em lei, autorizou a execução

da sentença antes mesmo de seu trânsito em julgado. A essas hipóteses denominam-se de execução

provisória. A execução provisória tem a finalidade de acelerar o processo, estando em perfeita harmonia

com os princípios da celeridade processual e da razoável duração dos processos (Art. 5º, LXXVIII, CF).

6.2. Hipóteses:

a. Título judicial (Art. 475-I, §1º CPC):

Definitiva: quando a sentença ou acórdão tiver transitado em julgado.

Provisória: quando a sentença ou acórdão for impugnado por recurso recebido com efeito somente

devolutivo. Ex: apelação nos casos dos incisos do Art. 520 CPC; Art. 497 e Art. 542, §2º CPC.

Também tem efeito somente devolutivos os Recursos Especial e Extraordinário e o Agravo de

Instrumento.

b. Título extrajudicial:

Definitiva: regra geral.

Provisória: A execução do titulo extrajudicial será provisória somente quando for interposto

recurso de apelação contra a sentença que tiver julgado improcedentes os embargos do devedor,

desde que estes tenham sido recebidos com efeito suspensivo (Art. 587 CPC). Ex:

Execução do cheque (Art. 585, I CPC) Citação do devedor (Art. 652 CPC) Ação de embargos do devedor

(Art. 736 CPC) concede Efeito suspensivo Sentença dos embargos do devedor sentença

improcedência Apelação (Art. 513 CPC).

Page 16: Direito Processual Civil - Apostila

6.3. Regras da execução provisória (Art. 475-O, CPC): a regra geral é que a execução provisória é feita da

mesma maneira que a execução definitiva. Porém, há algumas particularidades que estão previstas nos

incisos do Art. 475-O CPC:

I. Ocorre por iniciativa, conta e responsabilidade do exeqüente, que se obriga, se a sentença for

reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido. A execução provisória não pode ser

executada de ofício, pois ocorre por iniciativa do credor. A execução provisória é um risco para o

credor porque está pendente no Tribunal um recurso da outra parte (devedor) e que amanhã ou

depois este recurso pode ser provido e eventual prejuízo que se cause ao devedor, deve ser

reparado/ressarcido.

II. Fica sem efeito, sobrevindo acórdão que modifique ou anule a sentença objeto da execução,

restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidados eventuais prejuízos nos mesmos autos, por

arbitramento. A execução será extinta se sobrevier um acórdão (decisão do Tribunal) que modifique

a sentença exequenda e as partes deverão ser restituídos ao status a quo ante (estado anterior).

III. Neste inciso observa-se a grande diferença entre a sentença definitiva e provisória: na execução

provisória o credor precisa prestar uma garantia (caução), porque nessa execução está pendente um

recurso do devedor e se o mesmo for provido, deverá ressarcir o prejuízo. Hipóteses que exigem a

caução:

Se o credor levantamento de depósito em dinheiro

Se o credor requerer a prática de alienação de domínio de alienação do devedor

Porém, há duas hipóteses que o legislador dispensou a caução na execução provisória (Art.

475-O, §2º, I e II CPC):

No caso de crédito de natureza alimentar ou resultante de ato ilícito que não

exceda a 60 vezes o salário mínimo e desde que o credor esteja passando por uma

situação de necessidade.

Quando estiver pendente o Recurso de Agravo contra decisão que inadmitiu

Recurso Especial ou Extraordinário (Art. 544 CPC).

6.4. Realização da execução provisória: é realizada por simples petição ao juiz. Junto com esse pedido,

devem ser anexados alguns documentos:

Cópia das procurações que foram concedidas aos advogados das partes

Cópia da sentença ou do acórdão que será executada e

Cópia da decisão de recebimento de recurso com efeito somente devolutivo.

Essas cópias deverão ser autenticadas, mas o próprio advogado pode autenticá-las (Art. 365, IV CPC).

Page 17: Direito Processual Civil - Apostila

7. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL:

1.1. Considerações iniciais: a execução moderna é regida pelo principio da realidade da execução, ou seja,

a execução recairá sobre o patrimônio/bens do devedor e não sobre o seu corpo/a pessoa do

executado. No direito romano, a execução recaia sobre o próprio corpo do executado, era regida pelo

principio da pessoalidade, o credor tinha o direito de levar o devedor para casa como escravo. Ainda

hoje existe situação onde o devedor responde com o próprio corpo. Ex.: o devedor de alimentos pode

ser preso de 1 a 3 meses (Art. 733, §1º, CPC).

1.2. Bens presentes e futuros (Art. 591 CPC): bens presentes são aqueles bens que já existiam no

patrimônio do devedor à época da propositura da execução. Bens futuros são aqueles que o devedor

vem a adquirir após o ajuizamento da execução. Numa execução o devedor responderá com todos os

bens que já existam no patrimônio dele, assim como aqueles bens que ele vier adquirir durante a

tramitação da execução. Não há fundamento para eventual defesa do devedor, no sentido de que a

dívida foi contraída antes do bem ser comprado.

Exceções estabelecidas em lei: bens impenhoráveis (Art. 649 e 650 CPC e Lei 8.009/90). Ex: salário,

instrumento de trabalho, entre outros.

1.3. Responsabilidade secundária: é também chamada de sujeição dos bens à execução. A

responsabilidade secundária ocorre naquelas situações nas quais os bens de um terceiro, que não é

parte da execução, poderão ser apreendidos/penhorados. As hipóteses de responsabilidade

secundária não podem ser criadas pelas partes, são previstas em lei. No caso do CPC, as hipóteses

estão previstas no Art. 592:

Art. 592: Ficam sujeitos à execução os bens:

I. Do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória.

Ação Reivindicatória: Ação de conhecimento, no rito ordinário, fundada no diretito real de

propriedade.

Ação Reipersecutória: Ação de conhecimento, no rito ordinário, fundada no direito das obrigações.

Ex.: eu ajuízo uma ação em face de Carol, pedindo ao juiz que a condene a me entregar o automóvel.

O juiz o faz. Mas ela não quer entregar o veículo, por isso ela vende o bem para Camila. De acordo com

esse inciso o automóvel vendido para a Camila poderá ser apreendido, pois este bem estava sujeito a

execução. Se isso não ocorresse todos os devedores venderiam o bem para não ter que entregá-lo em

uma execução. Nada impede que a Camila entre com uma ação regressiva contra a Carol para eventual

prejuízo.

II. Dos sócios, nos termos da lei.

Sócio e sociedade são pessoas diferentes/distintas, possuem personalidades jurídicas independentes.

Quem paga a divida do sócio é o próprio sócio e quem paga a divida da sociedade será ela própria. No

entanto, nas hipóteses previstas me lei, é possível que o sócio venha a responder pela dívida da

sociedade.

Ex.: sócio que delibere pelo não pagamento de um tributo em uma determinada sociedade responde

com os seus bens particulares por uma dívida da sociedade (Art. 135 CTN – Código Tributário

Nacional), desconsideração da personalidade jurídica da sociedade (Art. 50 CC) quando ocorre abuso

da personalidade jurídica (confusão patrimonial ou desvio de finalidade).

Page 18: Direito Processual Civil - Apostila

III. Os bens do devedor quando em poder de terceiro.

Ex.: ajuízo uma execução de contrato em face de Camila que é proprietária de um veículo. Ela para não

pagar a divida esconde o automóvel na casa de Carol para que não seja executado. Esse bem pode ser

apreendido/executado.

IV. Do cônjuge, nos casos em que os seus bens próprios, reservados ou de sua meação respondem pela dívida.

Bens próprios: são aqueles que o cônjuge leva para o casamento.

Bens da Meação: Quando uma pessoa se casa pela comunhão parcial de bens forma-se, após o

casamento, uma massa patrimonial comum, dessa massa, metade pertence ao homem e metade à

mulher, esses bens que pertencem aos dois correspondem a meação.

Bens reservados: eram aqueles em que a mulher (só a mulher) reservava uma parcela do patrimônio

do casal exclusivamente para ela. Atualmente, não existe mais os bens reservados, por ser

inconstitucional.

Duas regras resolvem os problemas envolvendo os bens dos cônjuges:

a. Se as dívidas contraídas em proveito da família respondem, numa ação de execução, ambos os bens

os bens próprios de ambos os cônjuges e os bens da meação.

b. Se a divida for contraída no exclusivo interesse de um dos cônjuges, respondem, apenas, os seus

bens próprios e os bens da sua respectiva meação.

V. Alienados ou gravados com ônus real em fraude de execução.

1.4. Bens pretéritos: são aqueles que não existem mais no patrimônio do devedor à época da constrição

judicial. Regra geral: os bens pretéritos não respondem na execução.

Exceção: os bens pretéritos responderam na execução quando esses bens forem alienados de forma

fraudulenta (fraude contra credores e fraude de execução).

1.5. Fraude contra credores e fraude de execução:

Fraude contra credores Fraude de execução

Instituto de direito material (Código Civil) Instituto de direito processual (Código de Processo Civil)

Defeito do negócio jurídico (Art. 158 e 159 CC) Ato atentatório a dignidade da justiça (Art. 600, I e 601 CPC)

Precisa de ação própria para ser reconhecida (Ação Pauliana ou Revocatória)

Não precisa de ação própria, pode ser reconhecida na própria execução.

Ocorre antes da citação para o processo de conhecimento Ocorre, regra geral, após a citação.

1.6. Benefício de ordem de fiador (Art. 595 CPC): consiste no direito que tem o fiador de exigir que

primeiro seja esgotado/exaurido o patrimônio do devedor principal, ou seja, o patrimônio do

afiançado. Bens livres e desembargados são aqueles que não apresentam qualquer tipo de gravame.

Ex.: bens arrestados, imóvel que está hipotecado... O que ocorre, na prática, com muita freqüência, é a

inserção de uma cláusula de renúncia ao benefício de ordem, essa cláusula é lícita, pois está prevista

no Art. 827 e 828, I, CC.

1.7. Bens particulares dos sócios (Art. 596, CPC): regra geral, os bens particulares dos sócios não

respondem por dívidas da sociedade empresária. No entanto, nas hipóteses previstas em lei é possível

Page 19: Direito Processual Civil - Apostila

que os bens dos sócios respondam por dívida da sociedade. Ex.: sócio que delibera pelo não

pagamento de tributo, responde pelas dívidas da sociedade com seus bens particulares. Mesmo nos

casos que os sócios respondam pelas dívidas da sociedade com seus bens particulares, o sócio tem

direito de exigir que primeiro seja exaurido os bens da sociedade e depois o seu.

UNIDADE II - LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA

1. Noções gerais:

1.1. Finalidade: atribuir um valor a um título executivo que é ilíquido. Ex.: devedor condenado a indenizar

os danos causados por um acidente de carro (sentença ilíquida), sentença penal condenatória que não

estabelece o valor da indenização.

1.2. Cabimento: é cabível apenas em relação a sentença/título judicial. Isso se dá por dois motivos: os

títulos executivos extrajudiciais já são líquidos por natureza (ex.: contrato de locação: já prevê o valor

do aluguel) e o Art. 475-A, CPC só faz referência a liquidação de sentença e não a título extrajudicial.

1.3. Natureza Jurídica: deve-se analisar em dois momentos: antes da lei nº 11.232/05 e após essa lei. Antes

da lei nº 11.232/05: a liquidação de sentença tinha a natureza jurídica de uma ação, inaugurava um

processo: processo de liquidação (ação de conhecimento) e ao final era proferida uma sentença, o

recurso era de apelação. Após o advento da lei supramencionada: deixou de ser uma ação e passou a

ser um mero requerimento, uma mera petição (simplex petita), passou a ser um incidente processual e

passou a ser finalizada através de uma decisão interlocutória, recurso: agravo de instrumento (Art. 475-

H, CPC).

ANTES DA LEI DEPOIS DA LEI

AÇÃO REQUERIMENTO

PROCESSO INCIDENTE PROCESSUAL

SENTENÇA DECISÃO INTERLOCUTÓRIA

APELAÇÃO (ART. 513, CPC) AGRAVO DE INSTRUMENTO (ART. 475-h, CPC)

1.4 Intimação: a partir do momento que a liquidação passou a ser um incidente processual, o devedor

deixou de ser citado, passou a ser intimado. Essa intimação se dará na pessoa do seu advogado (Art.

475-A, §1º, CPC).

1.5 Matéria objeto de discussão: é apenas a matéria relativa ao quantum debeatur - ao quanto é devido, o

quantum indenizatório - (Art. 475-G, CPC). Lide, pelo conceito de Carnelutti, é um conflito de interesses

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qualificado por uma pretensão resistida, ou seja, lide é o próprio mérito da demanda (item 6 da

exposição de motivos do CPC). Na liquidação é proibido discutir o mérito da demanda.

2 Tipos de liquidação: são três:

a. Liquidação por artigos: o credor pode alegar e provar fatos novos.

b. Liquidação por arbitramento: será realizada uma prova pericial.

c. Liquidação por cálculos do contador: foi extinta/banida do CPC. Foi substituída pela memória

de atualização de dívida ou demonstrativo de débito atualizado

3 Liquidação por arbitramento:

3.1. Cabimento (Art. 475-C CPC): em três hipóteses: quando for determinado na sentença, quando for

convencionado pelas partes ou quando o exigir o objeto da condenação. Essas três podem ser sintetizadas

numa única situação: quando houver a necessidade de realização/produção de prova pericial. Ex.: o

devedor foi condenado a pagar todos os danos causados pelo acidente de automóvel, o juiz não fixou o

valor (sentença ilíquida), a liquidação vai ser feita na modalidade de liquidação por arbitramento, o juiz vai

determinar um perito para realizar o exame e fixar o valor dos danos.

3.2. Procedimento (Art. 475-D CPC): a parte fará um requerimento, uma simples petição requerendo a

liquidação. Antes de nomear um perito, o juiz vai intimar a parte contrária (em observância ao que está

previsto no Art. 475-A, §1º, CPC). Havendo manifestação ou não da parte contrária, o juiz nomeará um

perito e fixa um prazo para a entrega do laudo. Do despacho de nomeação de perito, as partes serão

intimadas para querendo adotar a providência do Art. 420, §1º, CPC, no prazo de 05 dias: as partes

podem nomear um assistente técnico e apresentar os seus quesitos. Em seguida, o perito apresenta o

laudo em juízo. Apresentado o laudo, as partes serão novamente intimadas para se manifestarem

sobre esse laudo no prazo de 10 dias. Em seguida, o juiz profere uma decisão interlocutória.

3.3. Recurso: o recurso cabível nesse caso será de agravo de instrumento. O agravo retido não é cabível,

pois não haverá sentença para reiterar as questões do agravo retido.

4. Liquidação por artigos:

4.1. Cabimento (Art. 475-E, CPC): hipóteses em que o credor pretender alegar ou provar fatos novos.

Conceito de fato novo: são os fatos anteriores concomitantes ou supervenientes a ação de indenização e

que tenham relação direta com o quantum indenizatório. É irrelevante o critério temporal. Fato novo, para

efeitos de liquidação, é aquele fato que não está nos autos, que não foi carreado aos autos. Ex.: uma

pessoa foi vítima de lesão corporal grave, motivo pelo qual a mesma ajuizou uma ação de indenização em

face do autor, o pedido dessa ação foi ilíquido (não especificou o valor da indenização), a ação correu

normalmente e o juiz prolatou uma sentença de procedência ilíquida. A vítima requereu a liquidação e essa

Page 21: Direito Processual Civil - Apostila

liquidação será por artigos, pois a mesma vai alegar fatos novos que tem relação com o quantum

indenizatório: gasto com medicações, valor da intervenção cirúrgica, cirurgia estética em decorrência do

dano causado.

De acordo com a jurisprudência preponderante, um fato é considerado novo até a decisão proferida pelo

Tribunal.

4.2. Procedimento (Art. 475-F, CPC): procedimento comum: ordinário ou sumário.

4.3. Recurso: o recurso a ser interposto será o agravo de instrumento (Art. 475-H, CPC), pois essa fase será

finalizada por uma decisão interlocutória.

5. Hipótese de cálculo aritmético:

5.1. Contextualização: no passado quando o credor precisava fazer uma atualização monetária da dívida,

era necessário ajuizar uma ação para esse fim: ação de liquidação por cálculos do contador. Essa

modalidade de ação foi extinta do CPC, portanto, hoje se o credor precisar de uma mera atualização

monetária, ele (seu advogado) terá que elaborar um documento que se chama: memória de

atualização de dívida, constando neste documento, detalhadamente, a forma que foi atualizada (Art.

475-B, caput CPC).

5.2. Dados em poder de terceiro (Art. 475-B, §1º, CPC): na prática podem ocorrer situações nas quais o

credor para elaborar a memória de atualização de dívida precise de dados/informações que estão em

poder de terceiro ou do devedor. Ex.: sentença condenatória para o pagamento de alimentos no

importe de 30% do salário do requerido. Se a pessoa não souber quanto é o salário do requerido, o Art.

475-B, §1º do CPC permite que o juiz requisite informações que estão em poder de terceiro ou do

próprio devedor. Se o terceiro ou o devedor não quiser informar terão duas situações. Se a recusa

partiu do próprio devedor serão presumidos como corretos, os cálculos apresentados pelo credor. Se a

recusa partiu de terceiro, o juiz poderá determinar a busca e apreensão de dados e informações que

estão em poder do mesmo. Tudo sem prejuízo, de eventual, responsabilidade por crime de

desobediência.

5.3. Remessa dos autos ao contador: regra geral é de que os autos não podem ser remetidos a contadoria

do juízo, porque quem deve elaborar a memória de atualização da dívida é o próprio credor. No

entanto, há duas hipóteses que o código permite que seja feito essa remessa:

a. Quando a memória da dívida apresentada pelo credor aparentemente ultrapassar os limites da

sentença exeqüenda (Art. 475-B, §3º, CPC).

b. Quando o credor estiver tutelado/ao abrigo pela assistência judiciária (Lei nº 1.060/50).

Page 22: Direito Processual Civil - Apostila

6. Liquidação e juizado especial: a liquidação não é cabível nos juizados especiais porque a sentença do

juiz do juizado especial será obrigatoriamente uma sentença líquida, ou seja, estabelece o valor que é

devido (Art. 38, § único da Lei nº 9.099/95).

7. Questões diversas:

Liquidação zero: consiste na possibilidade de um juiz reconhecer na decisão de liquidação de que não é

devido qualquer valor. De acordo com a doutrina e jurisprudência dominante, é admitida essa

liquidação.

Título parcialmente líquido e ilíquido: é possível uma sentença que tenha parte líquida e outra ilíquida.

Ex.: uma sentença condenatória que tenha condenado alguém a pagar dano moral no valor de R$

10.000,00 e a pagar dano material a ser apurado na fase de liquidação. Essa é uma sentença que,

evidentemente, apresenta um capítulo líquido e outro ilíquido. No que tange ao dano moral, ela é

líquida e no que tange ao dano material é ilíquida. Em relação à parte líquida, o credor deve requerer a

execução. Em relação à parte ilíquida, deve requerer a liquidação. Essa liquidação e essa execução

podem ser requeridas simultaneamente (Art. 475-I, §2º, CPC).

Liquidação provisória: consiste na possibilidade de o autor requerer a liquidação da sentença mesmo

que esteja pendente um recurso do devedor. Esse recurso do devedor pode ter efeito somente

devolutivo ou efeito devolutivo e suspensivo.

UNIDADE III - DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE A EXECUÇÃO

1. Considerações sobre a penhora:

1.1. Conceito: consiste na vinculação de um determinado bem do patrimônio do devedor a um processo de

execução. Antes da penhora, o devedor respondia por todos os bens. Feita a penhora, a

responsabilização fica individualizada, passa a recair sobre um determinado bem do patrimônio do

executado.

Penhora é um instituto de direito processual enquanto o penhor trata-se de um instituto de direito

material. A penhora é uma medida executiva, já o penhor é um contrato que dá origem a um direito

real de garantia. Quando um bem for objeto de penhora, fala-se que o bem está penhorado, já quando

o bem for objeto de penhor, fala-se, diversamente, que o bem está apenhado ou empenhado.

Page 23: Direito Processual Civil - Apostila

1.2. Preferência (Art. 612 e 613, CPC): a penhora gera o direito de preferência. Que consiste na regra de

que quem primeiro penhorou o bem, terá o direito de receber em primeiro lugar.

Art. 612 CPC: Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal (Art.

751, III), realiza-se a execução no interesse do credor, que adquire, pela penhora, o direito de

preferência sobre os bens penhorados.

Art. 613 CPC: Recaindo mais de uma penhora sobre os mesmos bens, cada credor conservará o seu

título de preferência.

Ex.: um devedor tem no seu patrimônio um único bem (pré-insolvência) imóvel que tem valor de R$

10.000,00. Existem dois credores: A e B que são credores de um cheque no valor de R$ 6.000,00. O

credor A foi o primeiro a ajuizar a execução e obteve a penhora, enquanto o B obteve a penhora em

segundo lugar. Nesse exemplo, o credor A terá direito de preferência, recebendo, portanto a

importância de R$ 6.000,00 enquanto o credor B, que penhorou em segundo lugar, vai receber

somente R$ 4.000,00.

Fala-se que é aplicável o Princípio prior tempore potior jure (quem primeiro penhorou tem o melhor

direito – que é basicamente o que já foi explicado, ou seja, que a penhora gera o direito de preferência, e

que quem penhorou primeiro terá o direito de preferência, ou seja, receberá em primeiro lugar). É

aplicável somente se o devedor não foi declarado judicialmente insolvente.

No caso de devedor declarado insolvente, aplica-se o Princípio da par conditio creditorum (igual condição

de credores em cada classe de créditos), ou seja, pouco importa quem penhorou em primeiro lugar, os

credores receberão de acordo com as respectivas classes de crédito na qual estão inseridos (previstas no

Art. 83 da Lei nº 11.101/05):

Primeira classe: estão os credores de crédito trabalhistas que estão limitados a ao importe de 150x

o salário mínimo, juntamente com os credores de acidente de trabalho.

Segunda classe: credores de garantia real.

Terceira classe: o credor fiscal: fazenda pública.

Quarta classe: credores quirografários que são aqueles que não apresentam qualquer tipo de

garantia; tem apenas um título; documento.

2. Exordial: é sinônimo de petição inicial da execução que deverá preencher requisitos.

2.1. Requisitos:

a. Genéricos (Art. 282, 39, I e 84 CPC):

Art. 282 - A petição inicial indicará:

Page 24: Direito Processual Civil - Apostila

I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida. Juízo competente.

II - os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu. Tem que indicar também

o CPF obrigatoriamente da parte autora.

III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido.

IV - o pedido, com as suas especificações.

V - o valor da causa; é o valor que não foi recebido do título.

VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados. Não se aplica à execução, pois

não são realizadas provas.

VII - o requerimento para a citação do réu.

Art. 39: Compete ao advogado, ou à parte quando postular em causa própria:

I - declarar, na petição inicial ou na contestação, o endereço em que receberá intimação; (se não

indicar o endereço, mas constar no rodapé ou cabeçalho, o STJ entende que não é nula a petição.

Incumbe o advogado indicar na petição inicial, na parte perambular, o endereço do escritório

profissional, para fins de recebimento de intimações.

Art. 84: Quando a lei considerar obrigatória a intervenção do Ministério Público, a parte promover-lhe-

á a intimação sob pena de nulidade do processo. Intimação do Ministério Público desde que seja de

interesse do mesmo (hipóteses previstas no Art. 82 do CPC).

Art. 82: Compete ao Ministério Público intervir:

I - nas causas em que há interesses de incapazes;

II - nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdição, casamento,

declaração de ausência e disposições de última vontade;

III - nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural e nas demais causas em que há

interesse público evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte.

b. Específicos (Art. 614 e 615, CPC):

Art. 614: Cumpre ao credor, ao requerer a execução, pedir a citação do devedor e instruir a petição

inicial:

I - com o título executivo extrajudicial. Aplica-se o princípio da cartularidade, ou seja, o título de crédito

tem que ser original, não pode ser cópia autenticada. Porém, se não for título de crédito não é

necessário de ser o original, por exemplo, se for um contrato de locação poderá ser mera cópia.

II - com o demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da ação, quando se tratar de

execução por quantia certa. O credor tem que juntar ao seu pedido de execução a memória de

atualização da dívida.

III - com a prova de que se verificou a condição (evento futuro e incerto), ou ocorreu o termo (evento

futuro e certo) (Art. 572).

Art. 615: Cumpre ainda ao credor:

Page 25: Direito Processual Civil - Apostila

I - indicar a espécie de execução que prefere, quando por mais de um modo pode ser efetuada. Se a

execução puder ser realizada de mais de uma maneira, cabe ao credor indicar na petição a forma que

ele que seja processada. Ex.: a execução de alimentos pode ser feita sob pena de penhora (Art. 732,

CPC) ou sob pena de prisão (Art. 733, CPC). Podem-se cumular essas duas situações? Não, porque não é

o mesmo procedimento.

II - requerer a intimação do credor pignoratício, hipotecário, ou anticrético, ou usufrutuário, quando a

penhora recair sobre bens gravados por penhor, hipoteca, anticrese ou usufruto. Se for pedido ao juiz

a penhora de um bem que está hipotecado, o devedor terá que pedir, também a intimação do credor

hipotecário.

III - pleitear medidas acautelatórias urgentes. Ex.: o credor indicou à penhora sacas de café que estão

em vias de perecer. Ele pode pedir uma medida acautelatória urgente, qual seja a venda antecipada do

bem.

IV - provar que adimpliu a contraprestação, que Ihe corresponde, ou que Ihe assegura o cumprimento,

se o executado não for obrigado a satisfazer a sua prestação senão mediante a contraprestação do

credor. Aplica-se aos contratos bilaterais ou sinalagmáticos: nesta modalidade de contrato, nenhum

dos contraentes ou contratantes pode exigir o cumprimento da prestação do outro, sem provar que já

cumpriu a sua.

2.2. Emenda (Art. 616 CPC): a inicial estiver incompleta, o juiz determinará que ela seja emendada em 10

dias. Caso não seja corrigida, o juiz vai indeferir a petição, por meio de uma sentença e o recurso

cabível é o da apelação.

Retratação (Art. 296 CPC): O juiz pode se retratar em um recurso. Esse recurso tem efeito

regressivo/repositivo.

Art. 296 CPC: Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de 48

(quarenta e oito) horas, reformar sua decisão.

Prazo impróprio, que se não observado não gerará qualquer prejuízo.

3. Outras regras:

3.1. Certidão: quando o credor ajuíza uma ação de execução ele pode pedir em cartório uma certidão de

ajuizamento daquela execução. É uma novidade da reforma processual. O credor pode pedir em

Cartório. Essa certidão serve para que o credor de posse dela leve a alguns órgãos que possuem

registro de bens das pessoas e solicite a averbação desse documento. Ex.: RGI, Detran, etc. A vantagem

é que uma vez averbada, certidão neste teor, eventual venda dos bens após essa averbação, ainda que

se dê antes da citação, será considerada fraude de execução.

Page 26: Direito Processual Civil - Apostila

Art. 615-A: O exeqüente poderá, no ato da distribuição, obter certidão comprobatória do ajuizamento da

execução, com identificação das partes e valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis,

registro de veículos ou registro de outros bens sujeitos à penhora ou arresto.

§ 3º Presume-se em fraude à execução a alienação ou oneração de bens efetuada após a averbação (Art.

593).

3.2. Prescrição: a propositura da execução interrompe a prescrição, todavia, para que isso ocorra, a citação

do devedor deve ser feita conforme o Art. 219, §2º do CPC.

Art. 617 CPC: A propositura da execução, deferida pelo juiz, interrompe a prescrição, mas a citação do

devedor deve ser feita com observância do disposto no Art. 219.

Art. 219, § 2º, CPC: Incumbe à parte (credor) promover a citação do réu nos 10 (dez) dias subseqüentes ao

despacho que a ordenar, não ficando prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao serviço

judiciário; (promover execução significa pagar as custas processuais e entregar em Cartório a contra-fé, que

é a copia da petição inicial/exordial, geralmente é feito quando o advogado ajuíza a ação).

Antes da reforma o juiz não podia conhecer de ofício a prescrição. Mas com a reforma é possível que a

prescrição seja conhecida de oficio pelo juiz.

Art. 219, § 5º, CPC: O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição.

3.3. Nulidades: as principais nulidades estão previstas no artigo 618, CPC, e estas nulidades, se enquadram

na categoria das nulidades absolutas, ou seja, podem ser conhecidas de ofício pelo juiz e não estão

sujeitas à preclusão, isto é, o tempo não as convalida.

Art. 618: É nula a execução:

I - se o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa (não há dúvida quanto a sua

existência), líquida (contempla o valor devido) e exigível (aquele que não está sujeito a nenhuma condição

ou termo suspensivo - Art. 586);

II - se o devedor não for regularmente citado. A citação é um dos atos mais importantes do processo, é um

pressuposto de existência da relação jurídica processual para o réu, se o devedor na for regularmente

citado, a execução será nula. Mesmo a falta de citação, que é um defeito gravíssimo, pode ser suprida com

o comparecimento espontâneo do devedor (Art. 214, § 1º - O comparecimento espontâneo do réu supre,

entretanto, a falta de citação)

III - se instaurada antes de se verificar a condição (evento futuro e incerto) ou de ocorrido o termo (evento

futuro e certo), nos casos do Art. 572.

Page 27: Direito Processual Civil - Apostila

Essas nulidades podem ser alegadas em qualquer tempo e grau de jurisdição, por meio de uma simples

petição nos autos (matéria de ordem pública), e esta petição, na prática, é chamada de objeção de pré-

executividade ou exceção de pré-executividade. O prazo dos embargos não são suspensos por essa

petição, nem o contrário.

3.4. Ineficácia: como visto anteriormente, quando você indica à penhora um bem do devedor que já está

hipotecado , você tem que requerer a intimação do credor hipotecário. Caso não requerida essa

intimação, a consequencia será a ineficácia de eventual venda/alienação desse bem do devedor.

Art. 619: A alienação de bem aforado ou gravado por penhor, hipoteca, anticrese ou usufruto será ineficaz

em relação ao senhorio direto, ou ao credor pignoratício, hipotecário, anticrético, ou usufrutuário, que não

houver sido intimado.

O credor hipotecário deve ser intimado, pois ele possui uma garantia real (que pode ser oposta contra

todas as pessoas, é a oponibilidade erga omnes) de recebimento do crédito dele.

UNIDADE IV - EXECUÇÃO PARA ENTREGA DE COISA

1. Considerações iniciais:

1.1. Processo de execução e sincrético:

Processo de execução – é aquele que tem a finalidade de realizar o direito do credor, mas acima de tudo é

importante lembrar que ele é autônomo/independente em relação aos demais processos.

Processo sincrético – também chamado pela doutrina de processo misto ou híbrido. É aquele formado pela

união/junção dos atos que são praticados em dois processos: o de conhecimento e o de execução. De

modo que neste caso de processo sincrético, o credor não tem que ajuizar uma ação de execução, pois ela

é um prolongamento/continuação do processo que já foi iniciado.

1.2. Disciplina legal: toda vez que for executar uma obrigação de entrega de coisa é necessária fazer uma

análise:

Se estiver previsto em um título extrajudicial, uma segunda análise deve ser feita:

o Coisa certa – determinada, infungível (Art. 621 a 628, CPC);

o Coisa incerta – indeterminada, fungível (Art. 629 a 631, CPC);

Se estiver previsto em um título judicial – a execução é feita em outro rito, o do artigo 461-A do

CPC, pois estamos diante de um processo sincrético.

Page 28: Direito Processual Civil - Apostila

2. Execução para entrega de coisa fundada em título extrajudicial:

2.1. Inicial: tem que preencher os requisitos genéricos e específicos (estudados na unidade anterior). O

requisito referente a memória de atualização da dívida (Art. 612, II do CPC) não será aplicado a essa

petição inicial de execução, pois essa execução visa a entrega de um bem e não uma importância em

dinheiro. Se houver mais de um juiz competente em razão da matéria, a petição protocolada será

distribuída (princípio da publicidade e da alternância). Chegando ao cartório que a petição foi

distribuída, o cartório encaminhará para o juiz. O juiz vai despachar essa petição, regra geral,

determinando a citação do devedor ou irá determinar a emenda da inicial se tiver faltando algo.

2.2. Citação: o devedor será citado para cumprir a obrigação (entregar a coisa) no prazo de 10 dias (Art.

621 CPC). No mesmo despacho o juiz fixará as asteintes.

Astreintes: o juiz fixará as astreintes (Art.621, §único, CPC), ou seja, multa diária por dia de atraso

de cumprimento da obrigação.

2.2. Situações possíveis:

a. Depósito: depositar em juízo a coisa (Art. 622 e 623 CPC). Não quer cumprir a obrigação, quer

apenas eximir-se das penas da mora. Antes, para apresentar embargos, o depósito da coisa era

obrigatório, atualmente não é obrigatório (Art. 736 CPC).

b. Entrega: (Art. 624 CPC) é diferente de depósito. O devedor quer cumprir com a obrigação, sendo

feita a entrega em juízo, será lavrado o TERMO DE ENTREGA e o juiz vai sentenciar extinguindo o

processo (Art. 794, I c/c 795 CPC).

c. Inércia: (Art. 625 CPC) se o devedor for citado e não fizer nada, a primeira consequência é a

incidência da multa (astreintes). A segunda consequência é a expedição de um mandado que pode

ser de busca e apreensão (coisa móvel) ou mandado de imissão na posse (coisa imóvel).

2.4. Alienação da coisa litigiosa: a consequência é a expedição de um mandado contra um terceiro

adquirente, um mandado de apreensão do bem. A coisa é litigiosa a partir da citação válida (Art. 219, CPC).

O terceiro adquirente do bem poderá fazer sua defesa através da AÇÃO DE EMBARGOS DE TERCEIRO (Art.

1.046 CPC).

Art. 626: Alienada a coisa quando já litigiosa, expedir-se-á mandado contra o terceiro adquirente, que

somente será ouvido depois de depositá-la ou entregá-la.

2.5. Conversão em execução genérica: na prática é possível que o bem que o credor pretende receber,

tenha se perdido (foi furtado, roubado, sinistrada, etc.). Nesta situação deve-se requerer a conversão da

Page 29: Direito Processual Civil - Apostila

execução específica em genérica, ou seja, transformar em execução para cobrança das perdas e danos (Art.

627 CPC).

Art. 627 CPC: O credor tem direito a receber, além de perdas e danos, o valor da coisa, quando esta não Ihe

for entregue, se deteriorou, não for encontrada ou não for reclamada do poder de terceiro adquirente.

Pode pedir os valores do Art. 402 CC, que são os lucros cessantes e os danos emergentes.

Como determinar o valor do bem:

1ª alternativa: buscar o valor do bem no próprio título.

2ª alternativa: não havendo no título o valor, realizar uma liquidação incidental com a produção de

prova pericial.

3ª alternativa: estimativa do credor (Art. 627, § 1º, CPC). O juiz pode dosar eventual excesso na

estimativa do credor.

2.6. Benfeitorias indenizáveis: conceito no Art. 96 CC. Benfeitorias são melhoramentos que são feitos na

coisa (diferente de acessão, que é a primeira construção que é feita no terreno).

Existem 3 tipos de benfeitorias:

a. Necessárias: é aquela imprescindível à manutenção da coisa. Ex.: manutenção elétrica.

b. Úteis: são aquelas que incrementam o grau de utilização da coisa, são aquelas que permitem um

maior grau de utilização da coisa. Ex.: construir um quarto de hóspedes na casa, uma garagem, UVV

constrói mais uma sala;

c. Voluptuárias: é para mero incremento da coisa, são aquelas que aumentam o conforto da coisa.

Ex.: construção uma piscina em uma residência.

O possuidor de boa-fé tem direito a indenização pelo valor das benfeitorias úteis e necessárias, podem

levantar (retirar) as benfeitorias voluptuárias e tem direito de retenção em relação ao valor das

benfeitorias úteis e necessárias enquanto não indenizarem (Art. 1.219, CC). Aquele que detém de má-fé só

tem direito a indenização das benfeitorias necessárias e não tem direito a retenção.

Obs: Caso existam indenizáveis, antes de entrar com a ação de execução deve-se apurar quais benfeitorias

foram feitas e fazer a liquidação prévia, para receber o valor da indenização (Art. 628 CPC).

Benfeitorias Úteis Necessárias Voluptuárias

Possuidor de boa-fé Indenização/Retenção Indenização/Retenção Direito de Retirar

Possuidor de má-fé ----------------- Indenização --------------------

Page 30: Direito Processual Civil - Apostila

3. Execução para entrega de coisa incerta fundada em título extrajudicial:

3.1. Conceito de coisa incerta: é a coisa indeterminada, fungível. Ex.: devedor tem obrigação de entregar

100 sacas de café do tipo A.

3.2. Escolha ou concentração: particularidade das execução de coisa incerta. Essa escolha é chamada de

concentração do objeto ou da prestação da obrigação. Momento destinado à concentração do objeto

da prestação. Quando vai executar execução de entra de coisa incerta, haverá um momento destinado

a realização da escolha da entrega da prestação. Podem ocorrer duas situações:

a. O direito de escolha será do credor: ele deverá fazê-lo na inicial;

b. O direito de escolha pertence ao devedor: ele deverá realizar a escolha no prazo da citação,

que é 10 dias (Art. 629 CPC). Regra geral: escolha pertence ao devedor (Art. 244 CC). Pertence

ao credor desde que haja disposição expressa no contrato neste sentido.

Art. 629 CPC: Quando a execução recair sobre coisas determinadas pelo gênero e quantidade, o devedor

será citado para entregá-las individualizadas, se Ihe couber a escolha; mas se essa couber ao credor, este a

indicará na petição inicial.

3.3. Impugnação (Art. 630 CPC): A concentração é o ato pelo qual a parte faz a escolha do bem. Feita a

concentração a parte ex-adversa (contrária) terá o prazo de 48 horas (peremptória), para realizar a

impugnação desta escolha. Feita essa impugnação o juiz vai proferir uma decisão interlocutória

decidindo de imediato o incidente processual. O recurso cabível é o de agravo de instrumento.

O critério a ser empregado é o critério mediano (Art. 244 CC) onde o credor não pode exigir a melhor

coisa e nem o devedor pode querer entregar a pior coisa.

3.4. Aplicação subsidiária (Art. 631 CPC): Feita a escolha ou resolvida a eventual impugnação da escolha, a

coisa perde seu grau de incerteza, e deixa de ser uma coisa incerta para uma coisa certa. Sendo assim,

serão utilizadas, subsidiariamente, as regras da execução de coisa certa.

Page 31: Direito Processual Civil - Apostila

4. Execução para entrega de coisa certa ou incerta fundada em título judicial (sentença):

4.1. Inexistência de actio judicial: não há ação de execução, o processo aqui é sincrético/híbrido. O

cumprimento da decisão judicial será apenas um prolongamento daquele processo que foi inaugurado.

4.2. Procedimento:

Art. 461-A: Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao conceder a tutela específica, fixará o

prazo para o cumprimento da obrigação. Essa ação trata-se da ação de conhecimento. Tutela específica:

exato resultado pretendido pelo requerente. Já na sentença o juiz fixará o prazo para o cumprimento da

obrigação (prazo judicial: não há previsão de lei de qual prazo será, o juiz que fixa no caso concreto).

Quando acabar o prazo e o devedor não cumprir a obrigação vai ser aplicado neste caso o §2º do at. 461-A,

ou seja, será expedido um mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse.

Art. 461-A, § 2º: Não cumprida a obrigação no prazo estabelecido, expedir-se-á em favor do credor

mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel.

Móvel: mandado de busca e apreensão. Imóvel: mandado de imissão da posse.

Obs: O entendimento preponderante é de que este mandado não pode ser feito de ofício, deve ser

requerida pela parte credora.

UNIDADE V - EXECUÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER

1. Considerações iniciais:

1.1. Obrigação de dar e de fazer: distinção entre obrigação de dar e de fazer:

Obrigação de dar: o objeto da prestação já foi previamente confeccionado;

Obrigação de fazer: o objeto da prestação ainda vai ser confeccionado.

1.2. Fazer fungível e infungível: a rigor, o que é fungível e infungível são os bens. Toda a doutrina civilista

estende essa classificação para as obrigações de fazer, de tal sorte que encontramos obrigações de fazer

fungível e infungível. Distinção entre fazer fungível e infungível.

Fungível: o objeto da prestação pode ser confeccionado por qualquer pessoa. Não há um conteúdo

de pessoalidade/intuito personae. Perdas e danos e obrigação de fazer por um terceiro.

Infungível: o objeto da prestação só pode ser confeccionado por uma pessoa em particular. Há um

conteúdo intuito personae/conteúdo personalíssimo. Ex.: um cantor famoso cantar em um show.

Só perdas e danos.

Page 32: Direito Processual Civil - Apostila

1.3. Não fazer permanente e instantâneo: a obrigação de não fazer é uma obrigação negativa que implica

em uma abstenção por parte do devedor. Distinção entre o não fazer permanente e o instantâneo:

Permanente: havendo descumprimento ainda assim, existe a possibilidade de se

retornar/retroceder ao estado anterior (status quo ante). Ainda assim, cabe perdas e danos e o

exequente pode pedir que o devedor retorne o bem para o estado anterior às custas do próprio

devedor.

Instantâneo: dá-se o contrário. Havendo descumprimento da obrigação não há possibilidade de se

retornar ao estado anterior. Ex.: o engenheiro da Coca-Cola que revela o segredo da coca-cola, não

há como voltar atrás, o engenheiro já revelou o segredo.

1.4. Disciplina legal:

a. Título extrajudicial:

Fazer: Art. 632 a 638 CPC.

Não fazer: Art. 642 a 643 CPC.

De qualquer sorte, a execução nestes dois casos é tradicional e é realizada em processo autônomo de

execução.

b. Título judicial: a execução neste caso será imediata.

Processo sincrético: O cumprimento dessa decisão está no Art. 461 CPC. Mas serão aplicadas

subsidiariamente as regras que tratam da execução pautada em título extrajudicial (Art. 644 CPC).

2. Execução de obrigação de fazer fundada em título extrajudicial:

2.1. Inicial: Se inicia por uma ação de execução de obrigação de fazer com uma petição inicial com os

requisitos genéricos e os específicos. Protocolada essa petição, ela será distribuída (Art. 251 e 252, CPC) e

será encaminhada para o cartório que mandará para o Juiz que vai despachar determinando a citação do

devedor em regra geral. Pois ele também pode pedir para emendar a inicial, por exemplo.

Inicial Fórum Distribuição (Art. 251 e 252 CPC) 1ª Vara cível de Vitória Cartório Conclusão

Despacho inicial Indeferimento da inicial (Art. 295 CPC) ou

Emenda da inicial (Art. 616 CPC) ou

Citação do executado (devedor).

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da...

Comarca da capital Foro de Vitória

Foro de Vila Velha

Foro de Cariacica

Foro da Serra

Foro de Viana

Page 33: Direito Processual Civil - Apostila

2.2. Citação (Art. 632 CPC): Não é citação para apresentar resposta e, sim, para cumprir a obrigação no

prazo determinado pelo juiz. Esse prazo é de natureza judicial e não legal, ou seja, quem vai fixar é o Juiz,

de acordo com o caso concreto (depende de qual obrigação que deve ser cumprida). Quando o juiz

determina esse prazo, ele fixa as astreintes (multa diária), em relação ao descumprimento da obrigação

(Art. 645 CPC).

Art. 645 - Na execução de obrigação de fazer ou não fazer, fundada em título extrajudicial, o juiz, ao

despachar a inicial, fixará multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação e a data a partir da qual

será devida.

Obs: Alguns doutrinadores entendem que é dever do magistrado fixar a multa, mas outros entendem que é

faculdade.

Súmula 410 STJ: para incidir essa multa do Art. 645 CPC há a necessidade de intimação pessoal do réu.

2.3. Situações possíveis:

a. O devedor cumpre a obrigação: o juiz proferirá uma sentença de extinção da execução (Art. 794, I, c/c

795 CPC).

b. O devedor apresenta embargos à execução: apresenta defesa no prazo de 15 dias à partir da juntada do

mandado devidamente cumprido (Art. 738 CPC). No juizado especial o prazo será de também de 15 dias

(Enunciado nº 104 do FONAGE).

c. Inércia: Duas consequências:

1ª: Incidência de multa (astreintes);

2ª: Vai variar de acordo com a obrigação:

Tratando-se de fazer fungível: ao credor será lícito pleitear perdas e danos e que a

obrigação seja cumprida por um terceiro às custas do devedor (Art. 633, caput,CPC);

Tratando-se de fazer infungível: o credor vai pleitear as perdas e danos, sem prejuízo da

multa (Art. 633, parágrafo único c/c 634 CPC).

2.4. Considerações sobre as astreintes:

Astreintes, perdas e danos e cláusula penal. Distinção:

Astreintes: a palavra vem do direito francês. A rigor, não há uma tradução literal dessa palavra,

mas a doutrina considera que as astreintes equivalem a multa processual. Tem finalidade

coercitiva/de constranger/obrigar o devedor ao cumprimento da obrigação. Pode ser aplicada

juntamente com as perdas e danos ou juntamente com a cláusula penal. Nunca as três juntas.

Page 34: Direito Processual Civil - Apostila

Perdas e danos: é uma soma dos lucros cessantes com o dano emergente (Art. 402 CC). Soma

daquilo que razoavelmente se deixou de ganhar com aquilo que se perdeu. Tem finalidade

reparatória ou ressarcitória.

Cláusula penal (Art. 408 a 416 CC): é uma cláusula inserida no contrato que prevê uma multa para

hipótese de descumprimento da obrigação. Constitui uma pré-fixação do valor das perdas e danos.

Não pode cobrar perdas e danos juntamente com a cláusula penal, pois estaria cobrando o mesmo

valor duas vezes (bis in idem).

Limite: o valor da multa pode ser maior do que o valor principal? Está pacificado no STJ que sim. Não há

limite de valor para as astreintes. Na verdade o que está limitado ao valor principal é a cláusula penal, e as

astreintes não se confundem com cláusula penal.

Art. 412 CC: O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação

principal.

O juiz pode reduzir o valor dessa multa após incidir o seu valor. A jurisprudência do STJ é pacífica

quanto a isso porque a multa não pode causar enriquecimento ilícito para a outra parte.

Meio de cobrança: a cobrança da multa é feita por meio de execução por quantia certa, em autos

apartados/separados (Art. 739-B, CPC).

Art. 739-B CPC: A cobrança de multa ou de indenizações decorrentes de litigância de má-fé (arts. 17

e 18) será promovida no próprio processo de execução, em autos apensos, operando-se por

compensação ou por execução.

Termo a quo da cobrança: qual o momento para cobrar a multa? Há divergência (4 entendimentos):

1. Eduardo Talamini: a multa pode ser cobrada de imediato, ou seja, não há que se esperar um

prazo para a cobrança dessa multa processual. Para ele, a execução da multa seria uma

execução definitiva. ENTENDIMENTO DOMINANTE: de acordo com o STJ recentemente.

2. Ada Pelegrini Grinover: a multa pode ser cobrada após a preclusão da via recursal;

3. Cândido Rangel Dinamarco: entende que a multa é devida desde o descumprimento da

obrigação, mas só pode ser cobrada após o trânsito em julgado da sentença. Esta corrente está

pautada no Art. 12, § 2º da Lei nº 7.347/85 (Lei de ação civil pública), fazendo uma analogia

com essa lei.

Art. 12, §2º da Lei nº 7.347/85: A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito

em julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o

descumprimento.

4. Alexandre Câmara: a multa pode ser cobrada de imediato, concorda com Talamini, mas faz

uma ressalva: a execução antes do trânsito em julgado da sentença é uma execução provisória

e não definitiva como afirma Talamini.

Page 35: Direito Processual Civil - Apostila

Cabimento: é cabível em relação às obrigações de dar, fazer e não fazer. As astreintes só não podem ser

fixadas em relação às obrigações de pagar quantia em dinheiro (essa multa está prevista no Art. 475-J CPC).

São devidas ao credor: o valor das astreintes é devido ao credor, porque o maior prejudicado no atraso do

cumprimento é o próprio credor. Não é estabelecido pelo Código Civil, é construção doutrinária e

jurisprudencial. Se tratar-se de multa fixada em ação civil pública para defesa de meio ambiente a multa

será devida para um fundo chamado FUNDO DE DEFESA DOS DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS. Se for fixada

em ação civil pública para defesa do trabalho será devida ao FAT – FUNDO DE AMPARO AO TRABALHADOR.

Termo final: Incide sine die (sem um dia determinado), ou seja, a multa incide até que o devedor cumpra a

obrigação, porque ela tem finalidade coercitiva. Caso se estabeleça um limite este será obedecido.

Fixação e alteração ex officio: segundo a doutrina e jurisprudência pacífica, o juiz pode fixar o valor da

multa de ofício, para dar maior efetividade ao processo (exceção ao princípio da adstrição). Aplica-se o

princípio da extra-petição ou da ultra-petição. A alteração do valor da multa, de ofício, também é admitida,

a decisão que fixa a multa contém implícita a cláusula rebus sic stantibus processual, ou seja, se a situação

fática for modificada o juiz poderá modificar também o valor da multa. Ex.: o juiz fixou uma multa de

R$50,00 reais para um shopping (valor insignificante para o shopping), ou então um valor muito alto para

quem ganha um salário mínimo.

Astreintes e a Fazenda Pública: Existem três correntes:

1. Greco Filho: entende que não cabe a multa, pois seria paga com dinheiro público e com

precatórios. O regime dos precatórios é incompatível com a natureza da multa. E o pagamento é

dinheiro público, prejudicando assim toda a sociedade que estará pagando a multa.

2. Cândido Dinamarco: o princípio da igualdade impõe que a multa seja fixada também contra a

Fazenda Pública, porque é imposta para os particulares. Todavia, essa corrente não resolve os

problemas resultantes disso.

3. Leonardo José Carneiro da Cunha: diz que a multa (astreintes) pode ser fixada contra o próprio

agente público, e não contra a Fazenda Pública. Ex.: será fixada contra o próprio prefeito e não

contra o município de Vila Velha. Predominante

Page 36: Direito Processual Civil - Apostila

3. Execução de obrigação de não fazer fundada em título extrajudicial:

3.1. Obrigação de não fazer: é uma obrigação do tipo negativa que importa uma abstenção por parte do

devedor. Se for descumprida vai resultar em uma nova obrigação para o devedor, que é a de desfazer o que

não deveria ter feito. Vai implicar na própria execução da obrigação de fazer. Ex.: se o devedor constrói um

muro que era proibido de fazer, automaticamente ele possui a obrigação de desfazer o muro, ou seja, é

uma obrigação de fazer.

3.2. Cabimento do rito: no caso da pessoa já ter descumprido a obrigação de não fazer cabe ação de

execução de obrigação de não fazer, com base no Art. 642 do CPC, sendo assim, é um procedimento

repressivo, pois a obrigação já foi descumprida.

Mas se a pessoa não descumpriu ainda, mas está ameaçando descumprir, a ação cabível é a inibitória, com

base no Art. 287 do CPC: trata-se de uma ação de cognição/conhecimento dará ensejo a um procedimento

preventivo.

3.3. Citação: é feito nos termos do Art. 642 CPC, ou seja, o devedor vai ser citado na execução para

desfazer aquilo que não deveria ter feito. O prazo da citação é um prazo do tipo judicial, ou seja, o juiz que

o fixará no caso concreto, considerando as suas particularidades. Na mesma oportunidade o juiz fixa as

astreintes (Art. 645 CPC).

3.4. Situações possíveis: a partir da citação três situações são passíveis de ocorrência:

a. O devedor cumpre a obrigação e o juiz vai proferir uma sentença de extinção da execução na forma do

Art. 794, I c/c 795, CPC.

b. O devedor apresenta embargos a execução (embargos do devedor): prazo é de 15 dias, contados à partir

da juntada aos autos do mandado de citação devidamente cumprido (Art. 738, CPC). Não tem natureza de

contestação, e sim de ação, tem pagamento de custas na justiça estadual (na federal não).

c. O devedor fica inerte: as conseqüências da inércia serão duas:

1. Incidência das astreintes (multa);

2. Vai variar:

Não fazer permanente: o credor pode pleitear perdas e danos e que a obrigação seja cumprida

por um terceiro à custa do devedor (Art. 643, caput, CPC);

Não fazer instantâneo: o credor só poderá pleitear as perdas e danos (Art. 643, § único, CPC).

1. “Execução” de obrigação de fazer ou de não fazer fundada em título judicial: não tem necessidade de

ajuizar ação de execução, pois o processo é sincrético, a execução é um prolongamento do processo que já

foi iniciado. A sentença será cumprida de acordo com o disposto no Art. 461 do CPC.

Art. 461 do CPC: Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz

concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que

assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

Page 37: Direito Processual Civil - Apostila

- Ação: a ação é de conhecimento, não é de execução, pois o processo é sincrético.

- Objeto: pedido

- Tutela específica: é o exato resultado pretendido pelo autor da ação, o requerente.

- “Se procedente o pedido”: o legislador falou mais do que deveria.

- Resultado prático: não se confunde com a tutela específica, mas produz/gera o mesmo efeito da

tutela específica. Ex.: o MP ajuizou uma ação civil pública, com base na Lei nº 7.347/85, em desfavor de

uma determinada fábrica pleiteando ao juiz a condenação da fábrica a instalar filtros antipoluição (direito

difuso). A tutela específica é a instalação dos filtros. O juiz concedeu a tutela específica, e a fábrica não os

instalou. O juiz pode conceder o resultado prático equivalente, que seria, por exemplo, determinar a

interdição, ou o fechamento da fábrica ou do setor que está poluindo. O resultado prático equivalente

pode ser determinado de ofício, ou seja, não precisa de pedido/requerimento. O resultado prático do

processo pode ser, ainda, determinado após o trânsito em julgado da sentença.

§ 1º: A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela

específica ou a obtenção do resultado prático correspondente. Aqui, o legislador estabeleceu uma ordem

de preferência: em 1º lugar: o legislador opta pela tutela específica, em 2º lugar: o resultado prático do

processo e em 3º lugar: as perdas e danos.

§ 2º: A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa. Esclarece que é lícito ao credor

cumular a cobrança das perdas e danos com as astreintes.

§ 3º: Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento

final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu. A medida

liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada. Trata da tutela

antecipada específica (Art. 461, §3º, CPC), para as obrigações de fazer e não fazer, e devem estar presentes

os requisitos das tutelas de urgência. O Art. 273 do CPC trata da tutela antecipada genérica, ou seja, para as

obrigações de pagar importância em dinheiro, em pecúnia.

Liminar é o provimento do juiz que é concedido no início do processo, pode ser de 2 espécies: inaudita

altera parte, é antes da citação ou audiatur et altera pars, é após a citação e

§ 4º: O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu,

independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe

prazo razoável para o cumprimento do preceito. Trata das astreintes.

§ 5º: Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz,

de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa por

tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento

de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial. Trata das chamadas medidas de apoio,

que são providências que o juiz pode adotar no curso do processo para conceder maior efetividade às suas

decisões. Este rol é taxativo (numerus clausulus) ou exemplificativo (numerus apertus)? É exemplificativo,

por causa da expressão “tais como”. O limite da atividade do juiz é a criatividade, apenas não poderá

decretar a prisão civil – doutrina dominante.

§ 6º: O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso verifique que se tornou

insuficiente ou excessiva. Esclarece que o juiz pode modificar o valor da multa.

Page 38: Direito Processual Civil - Apostila

UNIDADE VI - EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE

1. Considerações iniciais: é uma execução para cobrança de importância em dinheiro/pecúnia. Ex.:

execução de cheque, nota promissória, contrato de locação, etc. Ela tem por objetivo expropriar bens do

devedor (Art. 646, CPC). E essa expropriação pode ser feita de quatro maneiras:

a. Adjudicação (Art. 685-A e 685-B CPC): ocorre quando o credor aceita o bem penhorado como

forma de pagamento.

b. Alienação por iniciativa do particular (Art. 685-C, CPC): o credor ou corretor devidamente

credenciado em juízo que vai alienar o bem penhorado.

c. Alienação em hasta pública (Art. 686 e seguintes CPC): é a tradicional, é feita por iniciativa do

próprio Estado-juiz. Hasta pública é gênero, suas espécies são: leilão (para venda de bens móveis) e

a praça (para a venda de bens imóveis).

d. Usufruto (Art. 716 a 724 CPC): o credor fica com o bem do devedor durante um lapso temporal até

que sua dívida seja paga. Este usufruto é o judicial. Não é muito utilizado na prática.

2. Dicotomia de regimes: existem dois ritos para a execução por quantia certa. Antes da reforma existia

um único sistema de execução por quantia certa. A partir da reforma passaram a coexistir dois sistemas de

execução por quantia certa. Um deles é destinado à execução de título extrajudicial (Art. 646 a 724 CPC), e

outro sistema é destinado à execução de título judicial (Art. 475-J CPC), este último trata-se de execução

imediata. Esses ritos não são completamente dissociados, pois se aplicam subsidiariamente ao

cumprimento da sentença (título judicial), no que couberem, as normas que regem o processo de execução

de título extrajudicial.

3. Estrutura da execução pó quantia de título extrajudicial: começa por meio de uma petição inicial (ação

de execução). Após protocolada, o juiz terá três alternativas:

a. Indeferir a exordial (Art. 295 CPC): entende a jurisprudência que o juiz deve evitar ao máximo

indeferir a petição inicial. Somente deve ser determinado em último caso, antes deve mandar

emendar a inicial, objetivando a economia processual;

b. Determinar a emenda da inicial, se estiver incompleta, no prazo de 10 dias (Art. 616 CPC); ou

c. Determinar a citação, para fazer o pagamento da dívida no prazo de três dias, sob pena de penhora

(Art. 652 CPC).

A próxima etapa é da penhora (quando o devedor não paga a dívida no prazo de três dias), arresto (Art.

653 e 654 CPC: quando o devedor não é encontrado, mas são encontrados bens em seu patrimônio) ou

avaliação do bem (feito pelo Oficial de Justiça, em regra geral – Art. 143, V CPC).

Depois, intima-se o devedor, conforme o Art. 652, §1º CPC. Ele é intimado para, querendo, requerer a

substituição do bem penhorado (Art. 668 CPC), no prazo de 10 dias. Antes da reforma, essa intimação era

para o devedor apresentar embargos, agora não mais.

A etapa subseqüente é da avaliação (Art. 680 CPC) ou da dispensa da avaliação (Art. 684, CPC). A etapa da

avaliação consiste no juiz nomear um perito para dar o valor ao bem que foi objeto de penhora, se houver

divergência no valor do bem que foi feito pelo Oficial de Justiça. Regra geral, essa fase de avaliação será

dispensada porque já foi feito pelo Oficial de Justiça.

Page 39: Direito Processual Civil - Apostila

Após será a etapa dos atos expropriatórios: Adjudicação, alienação por iniciativa do particular, alienação

em hasta pública e usufruto (Art. 685, parágrafo único CPC).

E por fim, a etapa final será a extinção da execução, por meio de sentença (Art. 795 CPC).

4. Petição inicial:

4.1. Requisitos: Tem que preencher requisitos, que são de dois tipos: a. Genéricos e

b. Específicos.

É necessário indicar o juízo competente, narrar os fatos e fundamentos jurídicos, qualificar as partes, valor

da causa (valor do proveito econômico) e etc. É imprescindível juntar à petição a memória de atualização

da dívida. O devedor deve informar o CPF (pessoa física) ou CNPJ (pessoa jurídica). O credor poderá indicar

bens do devedor que serão objeto de penhora (Art. 652, §2º CPC), na inicial, é uma mera faculdade.

4.2. Averbação da certidão (Art. 615-A, CPC): quando se ajuíza uma ação de execução por quantia certa,

pode-se pedir uma certidão do ajuizamento dessa execução no cartório. Essa certidão serve para que o

credor de posse desse documento vá até os órgãos que mantém registros de bens das pessoas e solicite a

averbação dessa certidão. Ex.: DETRAN, Cartório de Registro Geral de Imóveis. A vantagem é que eventual

alienação do bem feita pelo devedor será considerada em fraude à execução (Art. 615-A, §3º CPC).

4.3. Emenda: se não juntar o título executivo, por exemplo, ou alguma outra coisa imprescindível à petição,

o juiz dará o prazo de 10 dias para corrigir/emendar a inicial. Se não corrigir/emendar no prazo, ela será

indeferida por meio de sentença (Art. 616 CPC) e haverá a conseqüente extinção do processo (Art. 267, I

c/c Art. 268 CPC). O recurso cabível é a apelação (Art. 513 CPC). Essa apelação tem uma particularidade a

possibilidade do juiz se retratar (Art. 296 CPC), reformando sua decisão em 48h (prazo impróprio – o atraso

não gera nenhuma conseqüência para o magistrado). Nesse caso, diz-se que a apelação tem efeito

regressivo ou repositivo.

5. Citação do devedor:

5.1. Finalidade: para que o devedor pague a dívida no prazo de três dias, sob pena de serem penhorados

bens do seu patrimônio (Art. 652 CPC).

5.2. Fixação de honorários: quando o juiz despacha determinando a citação, ele fixa os honorários de

advogado também (Art. 652-A, caput CPC). A fixação dos honorários na execução não deve ser entre 10 a

20%, conforme o Art. 20, §3º CPC. Vai ser aplicado pelo juiz utilizando o critério de apreciação equitativa

(Art. 20, §4º CPC), portanto, não há limite mínimo de 10%, pode ser fixado abaixo disso.

Art. 652-A, CPC. Ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários de advogado a serem pagos

pelo executado (Art. 20, § 4º CPC ).

Obs.: Honorários do advogado: contratuais, sucumbenciais e os decorrentes da cláusula da quota litis

(percentual daquilo que o cliente ganha, não pode exceder a 50%).

5.3. Prazo para pagamento: o prazo para pagamento dessa dívida, pela Lei é de 3 dias (Art. 652 CPC). Sobre

a contagem do prazo existem duas correntes:

Page 40: Direito Processual Civil - Apostila

a. Cássio Scarpinella Bueno: o prazo de três dias começa a contar da juntada aos autos do mandado de

citação cumprido (Art. 241 CPC), não importando quando que foi citado.

b. Tereza Wanbier: afirma que o prazo é computado a partir da própria citação, e não da juntada do

mandado (Art. 184 CPC), excluindo o dia do começo e incluindo o dia do final. É o entendimento que tem

preponderado.

6. Situações possíveis: a partir da citação, quatro situações são possíveis de ocorrência:

a. O devedor faz o pagamento da dívida;

b. O devedor não é encontrado;

c. O devedor é citado, mas se mantém inerte, deixa correr o prazo in albis:

d. O devedor faz o pedido para o Juiz de parcelamento da dívida.

7. Pagamento: Pode ser realizado de 2 formas:

a. Diretamente em juízo, o devedor comparece em juízo vai ate o cartório e informa que quer realizar

o pagamento, o cartório encaminha para a contadoria, que faz uma guia para o devedor pagar. Há

incidência de imposto de renda.

b. Diretamente ao credor (advogado do credor), sendo feito o pagamento, o devedor deve se cercar

de cautelas, duas providências:

Deve pegar o recibo detalhado do pagamento da dívida,

Também é oportuno pegar uma petição pedindo a extinção da execução.

A vantagem de pagar diretamente ao credor é que, em princípio, não vai haver a incidência de

imposto de renda.

Sendo feito o pagamento (em qualquer das formas acima), o juiz proferirá uma sentença de extinção de

execução na forma do Art. 794 I c/c Art. 795 CPC.

Redução dos honorários do Advogado: caso o devedor faça o pagamento no prazo de três dias (prazo de

citação), os honorários do advogado (sucumbenciais) serão reduzidos pela metade (Art. 652-A, parágrafo

único, CPC):

No caso de integral pagamento no prazo de 03 dias, a verba honorária será reduzida pela metade.

Entendeu o legislador que neste caso, o advogado exerceu uma atividade muito pequena, por isso essa

redução.

8. Devedor não é encontrado:

8.1. Diligências: o oficial não encontra o devedor, neste caso, o Oficial deve realizar diligências, ou seja,

deve procurar saber o paradeiro do executado (perguntar para os vizinhos, porteiro, etc.).

8.2. Arresto: se ainda assim (depois das diligências), não for encontrado o devedor, mas forem

encontrados bens do devedor, caberá uma medida chamada de arresto.

Art. 653, caput, CPC: O oficial de justiça, não encontrando o devedor, arrestar-lhe-á tantos bens

quantos bastem para garantir a execução. É chamado pela doutrina de pré-penhora, pois é muito

Page 41: Direito Processual Civil - Apostila

parecido com essa medida e também porque vai ser convertido em penhora. Feito o arresto, nos

10 dias subseqüentes, em três tentativas em dias diferentes, o Oficial vai procurar novamente o

devedor, para fazer a citação do devedor. Se não encontrar o Oficial de Justiça certificará o ocorrido

e devolverá o mandado em Cartório.

Diferença entre arresto e penhora: O arresto ocorre antes da citação, já a penhora ocorre depois da

citação

Art. 653, §único, CPC: Nos 10 (dez) dias seguintes à efetivação do arresto, o oficial de justiça

procurará o devedor três vezes em dias distintos; não o encontrando, certificará o ocorrido.

Devolvido o mandado em cartório, o juiz vai mandar intimar o credor, para adotar a medida do Art.

654, CPC, que é a citação por edital, que terá um prazo de 20 a 60 dias (Art. 232, IV do CPC). Se o

juiz fixou o prazo do edital, por exemplo, de 40 dias, findo esse prazo o devedor terá ainda o prazo

do Art. 652 do CPC, que é de 03 dias, para fazer o pagamento, se não fizer, o arresto vai ser

convertido/transformado em penhora. Prazo de edital é chamado de prazo de dilação.

Art. 654 - Compete ao credor, dentro de 10 (dez) dias, contados da data em que foi intimado do

arresto a que se refere o Parágrafo único do artigo anterior, requerer a citação por edital do

devedor. Findo o prazo do edital (de 20 a 60 dias), terá o devedor o prazo a que se refere o Art. 652

(03 dias), convertendo-se o arresto em penhora em caso de não-pagamento.

Natureza jurídica do arresto: natureza de uma medida executiva (Art. 653 do CPC), não se lhe

aplicam os requisitos das cautelares (periculum in mora e fumus boni iuris – que é o arresto do Art.

813 do CPC – medida cautelar).

8.3. Aplicação nos juizados especiais: tudo falado sobre arresto executivo tem aplicação nos Juizados

(Enunciado 37 do FONAJE – Fórum Nacional de Juizados Especiais). www.fonaje.org.br

9. Inércia do devedor: o devedor foi encontrado e citado para fazer o pagamento, mas manteve-se inerte,

deixou o prazo correr in albis. A conseqüência da inércia é que o oficial voltará à residência do executado e

realizará a penhora de bens, a avaliação desses bens e a intimação do devedor.

9.1. Penhora, avaliação e intimação:

Art. 652, § 1º: Não efetuado o pagamento, munido da segunda via do mandado, o oficial de justiça

procederá de imediato à penhora de bens e a sua avaliação, lavrando-se o respectivo auto e de tais

atos intimando, na mesma oportunidade, o executado. O devedor vai ser intimado da penhora

para, querendo, requerer a substituição do bem que foi penhorado, no prazo de 10 dias (Art. 668,

CPC).

Art. 668: O executado pode, no prazo de 10 (dez) dias após intimado da penhora, requerer a

substituição do bem penhorado, desde que comprove cabalmente que a substituição não trará

prejuízo algum ao exeqüente e será menos onerosa para ele devedor (Art. 17, incisos IV e VI, e

Art.620).

9.2. Devedor não é encontrado para ser intimado (Art. 652, §5º, CPC): pode ser que o devedor não

seja encontrado para intimação. Se isso ocorrer o Juiz terá duas alternativas:

Page 42: Direito Processual Civil - Apostila

a. Dispensar a intimação do devedor ou

b. Determinar a realização de novas diligências, ou seja, que o oficial de justiça vá até o encontro

do devedor para sua intimação em outro local (trabalho, casa de familiares, etc.).

O critério para escolha entre as duas alternativas é o da razoabilidade, por exemplo, se o executado

não foi intimado, pois estava trabalhando, o juiz “deve” determinar novas diligências. Todavia, se o

executado está se escondendo o oficial, o juiz “deve” dispensar a intimação.

9.3. Localização de bens do devedor: o CPC, com as últimas reformas, foi adaptado às modernas

tendências da legislação estrangeira. De fato, o CPC permite que o juiz de ofício ou a requerimento

da parte, determine a intimação do devedor para que ele apresente um juízo o rol de bens que

estão no seu patrimônio (Art. 652, §3º, CPC). Essa intimação não será feita na pessoa do devedor,

será feita na pessoa do advogado do devedor (se não tiver advogado constituído nos autos, a

intimação será pessoal, mas a regra é a intimação do advogado). O prazo para que ele indique esses

bens, trata-se de prazo de cinco dias (Art. 600, IV, CPC). A conseqüência de o devedor não indicar

esses bens para o juízo é a imposição de uma multa de 20% do saldo devedor em aberto, que está

sendo executado (Art. 601 CPC).

Art. 601 - Nos casos previstos no artigo anterior, o devedor incidirá em multa fixada pelo juiz, em

montante não superior a 20% (vinte por cento) do valor atualizado do débito em execução, sem

prejuízo de outras sanções de natureza processual ou material, multa essa que reverterá em

proveito do credor, exigível na própria execução.

10. Requerimento de parcelamento da dívida (moratória judicial): é direito do executado requerer ao juiz

que o seu débito seja fracionado/parcelado. É um direito subjetivo do executado.

10.1. Prazo: o prazo para requerer este parcelamento é de 15 dias, contados a partir da juntada aos

autos do mandado de citação devidamente cumprido. Passado esse prazo não é possível mais pedir

o parcelamento da dívida, pois ocorre preclusão temporal (perda do direito pelo decurso do

tempo). Depois do prazo de 15 das, ele pode fazer um acordo com o exeqüente, não havendo,

assim, restrição temporal. Não pode o devedor requerer parcelamento da dívida e também

apresentar embargos do devedor, pois incide preclusão lógica, um ato é incompatível com outro.

10.2. Forma do parcelamento: O parcelamento deve ser na forma ex legis (prevista em lei). A lei

determina que o executado pague pelo menos 30% da dívida à vista, e o restante deverá ser pago

em até seis prestações mensais, as quais serão acrescidos de juros de mora de 1% ao mês e

correção monetária (pelo INPC / IBGE). O devedor só tem o direito de exigir o parcelamento nestas

condições, caso o devedor queira de outra forma ele pode procurar o credor para tentar fazer um

acordo na execução, pois, pode tudo no acordo (ex.: o devedor somente tem condições de pagar

20% da dívida à vista). Art. 745-A CPC.

10.3. Procedimento: o executado deve requerer esse parcelamento da dívida por simples petição,

não há maiores formalidades para esse requerimento. Se esse parcelamento estiver em

conformidade com a lei (30% à vista e restante em seis meses), o juiz irá deferi-lo. Deferido o

parcelamento da dívida, o juiz suspenderá a execução até que o executado finalize o cumprimento

Page 43: Direito Processual Civil - Apostila

desse parcelamento. As conseqüências para o executado pelo não cumprimento do parcelamento

são três:

a. Vencimento antecipado de todas as prestações que estão em aberto, além disso, a execução

que estava suspensa irá prosseguir;

b. Incidência de uma multa em beneficio do exeqüente, no valor de 10% do saldo devedor em

aberto, por meio de uma decisão interlocutória;

c. Ao devedor (executado) fica proibido apresentar embargos à execução.

Situações possíveis: a partir da citação, quatro situações são possíveis de ocorrência:

a. O devedor faz o pagamento da dívida;

b. O devedor não é encontrado;

c. O devedor é citado, mas se mantém inerte, deixa correr o prazo in albis:

d. O devedor faz o pedido para o Juiz de parcelamento da dívida.

11. Penhora:

11.1. Conceito: é a vinculação de um determinado bem do patrimônio do devedor a um processo de

execução. Antes da penhora, o devedor respondia com todos os bens do seu patrimônio, mas feita a

penhora, daí em diante, a responsabilidade do devedor fica individualizada, passando a recair apenas sobre

um determinado bem em particular/específico do patrimônio do devedor.

Distinção da penhora e o penhor:

PENHORA PENHOR

Instituto de direito processual Instituto de direito material

Medida executiva Contrato que dá origem a um direito real de garantia

Quando o bem for objeto de penhora, estará penhorado Quando o bem for objeto de penhor, ficará empenhado ou apenhado

Distinção entre auto e termo de penhora: são documentos que comprovam a penhora de bens.

Auto de penhora: é lavrado/confeccionado pelo Oficial de Justiça.

Termo de penhora: é lavrado pelo escrivão. O STJ, recentemente, considerou desnecessária a

lavratura do termo de penhora no processo, é uma forma de simplificar o processo judicial.

11.2. Preferência: a penhora gera o direito de preferência (Art. 612 e 613 CPC). O direito de preferência

corresponde a regra de que a primeira pessoa que tiver obtido a penhora do bem terá o direito de receber

o bem em primeiro lugar. O direito de preferência é aferido pela data que consta no auto ou no termo de

penhora. Pouco importa a data em que a execução foi ajuizada, o que importa efetivamente é a data que

consta no documento relativo à penhora.

11.3. Bens impenhoráveis: a regra geral é a penhorabilidade dos bens do devedor. No entanto, os bens não

poderão ser objetos de penhora em duas situações:

a. Quando os bens são inalienáveis. Exemplo: Bem público (não desafetado)

b. Quando os bens são declarados pelo legislador como sendo impenhoráveis. Os bens impenhoráveis

podem ser de duas espécies: absolutamente e relativamente impenhoráveis.

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Absolutamente impenhoráveis: são aqueles que não podem ser penhorados em nenhuma

hipótese. Estão previstos no Art. 649 do CPC.

Relativamente impenhoráveis: são aqueles em que em princípio não podem ser objetos de

penhora, mas na falta de outros bens para serem penhorados, eles poderão ser

penhorados. Estão previstos no Art. 650 do CPC.

Bens absolutamente impenhoráveis (Art. 649, CPC):

I. Os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução.

Regras:

a. Todo bem inalienável é impenhorável, pois, se ele não pode ser vendido e a penhora vai resultar na

venda do bem, não há como penhorar.

b. Nem todo bem impenhorável é inalienável. Ex.: bem de família, que é impenhorável, mas pode ser

vendido.

II. Os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de

elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida.

Exemplo: fogão, geladeira, televisão (desde que não seja de elevado valor). Se for bem de elevado valor

pode ser penhorado, exemplo: televisão de última geração.

Obs: A lei não define o que é de elevado valor, é um conceito legal indeterminado, o juiz que irá determinar

no caso concreto o que é de elevado valor. A doutrina recomenda a utilização do critério da essencialidade,

ou seja, o bem é indispensável à sobrevivência do devedor? Se for, o bem é impenhorável. Se não for, o

bem é penhorável.

III. Os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor.

Ex.: um relógio é impenhorável, salvo se for um relógio de ouro, por exemplo. A lei não define elevado

valor (idem do inciso anterior).

Pertenças são bens móveis que não constituindo parte integrante do todo se destinam de modo duradouro

ao uso, serviço ou aformoseamento de outro bem (Art. 93, CC). Os pertences desse inciso não as pertenças

do Art. 93, CC.

IV. Os vencimentos (verbas de servidor público investido em cargo público), subsídios (verbas que recebem

os agentes políticos, magistrados, promotores, etc.), soldos (verba que recebe o militar), salários,

remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por

liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador

autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3 o deste artigo.

O salário como um todo é impenhorável, por isso o legislador se preocupou em explicitar cada uma das

espécies de salário neste inciso. Não há limite quanto a impenhorabilidade do salário. Os honorários do

profissional liberal também são impenhoráveis (exemplo: valor recebido por um médico para realizar uma

cirurgia). Mas para todos estes casos há uma exceção para pagamento de alimentos/pensão alimentícia. Só

são impenhoráveis enquanto eles tiverem a característica salarial, ou seja, se o devedor depositar todo o

salário em uma poupança, ou ficar parado na conta durante muito tempo, o salário passa a ser penhorável.

V. Os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários

ou úteis ao exercício de qualquer profissão.

Exemplo: livros do advogado, computador do arquiteto, táxi do taxista, etc. Os bens só são impenhoráveis

se forem necessários ao exercício de uma profissão, que só pode ser exercido por pessoa física, ou seja, não

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pode ser pessoa jurídica, se não o bem deixa de ser instrumento de trabalho para o exercício de uma

profissão, passando a ser o bem penhorável. Exemplo: frota de 10 táxis (caracteriza elemento de empresa).

A jurisprudência do STJ tem estendido a aplicação deste inciso às micro empresas, principalmente as de

caráter familiar e firmas individuais. As empresas de pequeno porte não.

VI. O seguro de vida. O legislador partiu da premissa que esse valor deixado pra outra pessoa tem a

destinação/finalidade de propiciar a subsistência de uma pessoa. Tem limite de valor? Não há qualquer

limitação valorativa.

VII. Os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas. O acessório

segue o principal, se a obra é impenhorável, o material da obra também é; todavia se a obra é de um bem

penhorável, os materiais podem ser penhorados.

VIII. A pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família. O tamanho da

propriedade (módulo) é definido pelo município. O próprio bem de família é impenhorável.

IX. Os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde

ou assistência social. Recursos públicos repassadas a entidades privadas para saúde, educação. Exemplo:

um hospital particular que receba uma verba mensal do SUS, para atender um determinado número de

pessoas pelo SUS, essa verba que é repassada não pode ser penhorada.

X. Até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de poupança.

O legislador entendeu que esse é o valor mínimo que uma pessoa precisa para se manter durante um

determinado tempo. O que passar disso é suscetível de penhora. Independe se estão distribuídos em várias

cadernetas de poupança, o valor total impenhorável é de 40 salários mínimos. A interpretação deve ser

extensiva para contemplar também eventuais outras aplicações financeiras, desde que estejam limitadas a

40 vezes o salário mínimo. O que ultrapassar os 40 salários mínimos pode ser penhorado. A jusrisprudência

moderna entende que se a conta for um misto de conta popança e conta corrente esta também é

suscetível de penhora.

XI. Os recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos termos da lei, por partido político.

Não tem muita aplicação na prática. Tem cunho político.

§ 1º A impenhorabilidade não é oponível à cobrança do crédito concedido para a aquisição do próprio bem.

Art. 1º da Lei nº 8.009/90: O bem destinado a moradia da família/casal é impenhorável. Não há limitação

valorativa.

E o bem destinado a moradia de uma pessoa solteira/viúva/separada? A jurisprudência entende que é

impenhorável, pois o STJ, na Súmula 364 entende que o bem de uma pessoa solteira/viúva e etc. não pode

ser penhorado, tendo em vista o princípio da dignidade da pessoa humana, deve ter uma interpretação

extensiva. O bem de família é impenhorável, mas há exceções:

Para pagamento de dívida de alimentos o bem de família pode ser penhorado;

Para pagamento de impostos relativos ao imóvel (IPTU);

Para pagamento de dívida de condomínio (Art. 1.715, CC).

Para pagamento de Dívida trabalhista das pessoas que trabalharam naquele bem.

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11.4. Ordem de gradação (Art. 655, CPC): Escala de preferência para a penhora de bens do devedor. O

Oficial não pode fazer a penhora de forma aleatória, pois a Lei define uma ordem de

preferência/prioridade/gradação para realização da penhora de bens. Esta ordem não se trata de uma

ordem absoluta/imutável, o STJ tem entendido que esta ordem pode ser relativizada pelo Juiz no caso

concreto, desde que de forma fundamentada.

Art. 655. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:

I. Dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira. Pois, esta é uma cobrança de

quantia. Pode ser em espécie ou aplicação financeira/banco.

II. Veículos de via terrestre. Automóveis.

III. Bens móveis em geral.

IV. Bens imóveis.

V. Navios e aeronaves.

VI. Ações e quotas de sociedades empresárias;

VII. Percentual do faturamento de empresa devedora;

VIII. Pedras e metais preciosos;

IX. Títulos da dívida pública da União, Estados e Distrito Federal com cotação em mercado;

X. Títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;

XI. Outros direitos.

11.5. Penhora on-line: consiste na possibilidade do juiz a requerimento do exeqüente determinar o

bloqueio de ativo financeiro que estiver em nome do executado. Está prevista no Artigo 655-A do CPC.

Pode ocorrer por três sistemas:

a. Um sistema informatizado chamado “BACEN JUD”. O juiz recebe do Tribunal uma senha, para

acessar o sistema, e consegue obter informações sobre o saldo do devedor que estão

depositados em instituições bancárias, e também consegue bloquear valores que estão em

poder do banco.

Problemas do sistema “BACEN JUD”:

Se o juiz determina o bloqueio de uma conta do devedor, não irá bloquear apenas uma

conta do devedor e sim todas as contas do mesmo. O CNJ (Conselho Nacional de Justiça)

editou uma resolução que as sociedades empresárias de grande porte interessadas na

matéria, podem cadastrar apenas uma conta para o bloqueio. Caso não possua saldo nessa

conta, pode bloquear as demais.

Na justiça estadual, a ordem de bloqueio só vale para aquele dia em que a medida foi

determinada, se não tem saldo naquele dia, tem que ficar pedindo o bloqueio até que

tenha dinheiro, se entrar dinheiro depois o valor não é bloqueado automaticamente.

Justiça do trabalho é diferente, quando entra o dinheiro o “BACEN JUD” já bloqueia,

independente do dia que pediu o bloqueio.

Art. 655-A. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, o juiz, a

requerimento do exeqüente, requisitará à autoridade supervisora do sistema bancário,

preferencialmente por meio eletrônico, informações sobre a existência de ativos em nome do

executado, podendo no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o valor indicado na

execução.

b. A penhora on-line também pode ser feito através do “RENAJUD” que é um sistema

informatizado que permite ao juiz inserir restrições no documento de automóveis do devedor,

Page 47: Direito Processual Civil - Apostila

podendo ser restrição de licenciamento, transferência ou de circulação (mais amplo e eficaz,

porque impede de circular, transferir, vender, etc). Não são todos os cartórios que possuem

esse sistema.

c. Está sendo elaborado/desenvolvido outro sistema, o “INFOJUD”, que permite que o juiz acesse

diretamente a declaração de IR que o devedor executado emitiu à Receita Federal.

11.6. Procedimento na penhora:

Art. 659 CPC. A penhora deverá incidir em tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal atualizado,

juros, custas e honorários advocatícios.

§ 1º. Efetuar-se-á a penhora onde quer que se encontrem os bens, ainda que sob a posse, detenção ou guarda de

terceiros.

Permite/autoriza a penhora de bens do devedor onde quer que esses bens se encontrem, na posse de

quem quer que seja. Esse terceiro poderá ser até mesmo uma autoridade pública. Ex.: carro que está

apreendido pelo DETRAN.

§ 2º. Não se levará a efeito a penhora, quando evidente que o produto da execução dos bens encontrados será

totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução.

É uma exteriorização/manifestação do princípio do menor sacrifício possível do devedor. Se o valor do bem

não for capaz de pagar sequer as custas do processo, a penhora pode deixar de ser realizada.

§ 3º. No caso do parágrafo anterior e bem assim quando não encontrar quaisquer bens penhoráveis, o oficial

descreverá na certidão os que guarnecem a residência ou o estabelecimento do devedor.

É dever do Oficial de Justiça descrever no verso do mandado os bens que ele encontrou no patrimônio do

devedor, porque quem vai exercer o controle, se os bens podem ou não ser penhorados é o Juiz e não o

Oficial. Mas, na prática, a maioria dos Oficiais não cumpre tal determinação, todavia o credor, por seu

advogado, pode requerer o desentranhamento do mandado dos autos para que seja devolvido para Oficial

a fim de que cumpra o disposto neste parágrafo.

§ 4º. A penhora de bens imóveis realizar-se-á mediante auto ou termo de penhora, cabendo ao exeqüente, sem

prejuízo da imediata intimação do executado (Art. 652, § 4o), providenciar, para presunção absoluta de conhecimento

por terceiros, a respectiva averbação no ofício imobiliário, mediante a apresentação de certidão de inteiro teor do

ato, independentemente de mandado judicial.

Trata de bens imóveis e é feita da mesma forma que a penhora dos bens móveis, ou seja, mediante auto

(Oficial de Justiça) ou termo (escrivão) de penhora. Além disso, o exeqüente deve viabilizar a averbação da

certidão de penhora ou cópia do termo de penhora no Cartório de Registro de Imóveis. Essa averbação não

é obrigatória, mas é extremamente recomendável que o exeqüente o faça, porque se posteriormente um

terceiro venha adquirir esse imóvel, ele estará agindo em fraude à execução (Súmula 375 STJ).

5º. Nos casos do § 4o, quando apresentada certidão da respectiva matrícula, a penhora de imóveis,

independentemente de onde se localizem, será realizada por termo nos autos, do qual será intimado o executado,

pessoalmente ou na pessoa de seu advogado, e por este ato constituído depositário.

Para penhorar um bem que está em outra comarca é por meio de carta precatória. Como carta precatória

demora muito, o legislador permitiu que a penhora de bens imóveis que estão situados em outra comarca

sejam penhorados, independentemente de carta precatória. Para isso, basta que o credor apresente a

Page 48: Direito Processual Civil - Apostila

matricula daquele imóvel. Apresentada a Certidão da Matricula do Imóvel, o juiz permite que a penhora

seja reduzida a termo pelo escrivão.

§ 6º. Obedecidas as normas de segurança que forem instituídas, sob critérios uniformes, pelos Tribunais, a penhora de

numerário e as averbações de penhoras de bens imóveis e móveis podem ser realizadas por meios eletrônicos.

11.7. Ordem de arrombamento (Art. 160 ao Art. 663 CPC): Se o Oficial de Justiça for recebido com

resistência, ele não pode de imediato arrombar as portas e janelas da residência do devedor. Ele deve

comunicar o ocorrido ao Magistrado e requerer a ordem de arrombamento. Se o juiz deferir a ordem de

arrombamento, sempre dois Oficiais de Justiça irão cumpri-la, sob pena de nulidade do ato processual, se

for cumprido por apenas um Oficial. Para garantir que não ocorram excessos, um oficial fiscalizará o outro.

Também devem acompanhar a diligência duas testemunhas. Na prática o juiz determina que a força policial

acompanhe os Oficiais na diligência. Eles deverão lavrar um documento chamado auto de arrombamento,

que será assinado pelos oficiais de Justiça e pelas testemunhas.

11.8. Concretização da penhora: A penhora é concretizada mediante a prática da apreensão e o depósito

do bem (Art. 664 do CPC).

A apreensão pode ser de 2 tipos:

Direta: o bem é retirado da esfera de posse/disponibilidade do devedor.

Indireta: é aquela que ocorre apenas no plano jurídico, no caso de apreensão indireta o bem não é

retirado da esfera de posse do devedor. Ex.: O bem é penhorado, mas o Oficial deixa como

depositário o próprio devedor.

Antes da reforma a regra era apreensão indireta. Mas, depois da reforma, a regra geral é a apreensão

direta do bem.

O depósito:

Quem vai nomear o depositário do bem é o Oficial de Justiça. Obviamente essa nomeação está

subordinada a um controle judicial.

Quem vai ser o depositário? As pessoas citadas no Art. 666 CPC. Em regra, é que fique como depositário um

particular (pode ser pessoa jurídica também, mas tem que ter alguém que responda). Pode ser o credor, o

vizinho do credor e etc.

O devedor só poderá ser depositário do bem se:

a. O credor concordar ou

b. Quando os bens forem de difícil remoção.

O depositário pode ser remunerado, exceto o credor (Art. 148 e 149). A pessoa pode se recusar a ser

depositário, ninguém é obrigado.

Depositário (Art. 665, IV e 666 CPC).

Art. 665 - O auto de penhora conterá: IV - a nomeação do depositário dos bens.

Art. 666. Os bens penhorados serão preferencialmente depositados:

I. No Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal, ou em um banco, de que o Estado-Membro da União possua mais

de metade do capital social integralizado; ou, em falta de tais estabelecimentos de crédito, ou agências suas no lugar,

em qualquer estabelecimento de crédito, designado pelo juiz, as quantias em dinheiro, as pedras e os metais

preciosos, bem como os papéis de crédito;

II. Em poder do depositário judicial, os móveis e os imóveis urbanos;

III. Em mãos de depositário particular, os demais bens REGRA GERAL.

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§ 1º. Com a expressa anuência do exeqüente ou nos casos de difícil remoção, os bens poderão ser depositados em

poder do executado.

§ 2º As jóias, pedras e objetos preciosos deverão ser depositados com registro do valor estimado de resgate.

§ 3º A prisão de depositário judicial infiel será decretada no próprio processo, independentemente de ação de

depósito.

Prisão do depositário infiel:

Depositário infiel é quem deu um “sumiço” no bem penhorado, ou seja, foi intimado para apresentar o

bem e não apresenta. Ele estava sujeito a pena de prisão civil (com prazo de até 1 ano). Mas o STF com sua

nova composição inverteram por completo esse entendimento, sendo pacificado que a prisão do

depositário infiel é inconstitucional (súmula vinculante nº25 STF). Como algo que está na constituição é

considerado inconstitucional? O Art. 5º da CF no §2º diz que os direitos e garantias que estão previstos no

Art. 5º não excluem outros direitos e garantias fundamentais que decorram dos tratados internacionais que

o Brasil seja signatário. E o Brasil assinou um tratado internacional de direitos humanos (Pacto São José da

Costa Rica – que foi inserido pelo Dec. 678/92). E neste decreto só há a previsão de prisão civil para o

devedor de alimentos. Sendo assim, a prisão do depositário infiel seria considerada inconstitucional. Para

fundamentar também foi adotada a teoria do bloco de constitucionalidade que diz que os Tratados

internacionais têm status de norma constitucional.

11.9. Segunda penhora

A regra geral é a realização de uma única penhora na execução. No entanto, nas hipóteses previstas no Art.

667 do CPC, autorizou-se a realização de uma nova penhora.

Art. 667 - Não se procede à segunda penhora, salvo se:

I. A primeira for anulada;

Ex.: foi penhorado em de família, ou qualquer outro bem impenhorável.

II. Executados os bens, o produto da alienação não bastar para o pagamento do credor;

É a mais comum na prática. É quando os bens penhorados não são suficientes para atender o crédito

exeqüendo.

III. O credor desistir da primeira penhora, por serem litigiosos os bens, ou por estarem penhorados, arrestados ou

onerados.

O credor não é obrigado a aceitar a penhora de um bem que já está penhorado, ou que tenha algum

gravame. Ex.: hipoteca.

11.10. Substituição do bem penhorado

O CPC contempla basicamente dois institutos para substituição do bem penhorado (Art. 668 e 656).

Um deles está no Art. 668:

Só pode ser utilizado pelo executado;

Prazo de 10 dias para pedir a substituição do bem, contados a partir da data da intimação da

penhora;

Os pressupostos/requisitos, que são dois:

a. A substituição deve ser menos gravosa pelo devedor (já é inerente ao próprio pedido, pois o

devedor que vai pedir, ou seja, obviamente vai pedir algo menos gravoso para si mesmo) e

b. A substituição não pode acarretar qualquer prejuízo para o credor.

Art. 668. O executado pode, no prazo de 10 (dez) dias após intimado da penhora, requerer a substituição do

bem penhorado, desde que comprove cabalmente que a substituição não trará prejuízo algum ao exeqüente

e será menos onerosa para ele devedor (Art. 17, incisos IV e VI, e Art. 620).

Parágrafo único. Na hipótese prevista neste artigo, ao executado incumbe:

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I. Quanto aos bens imóveis, indicar as respectivas matrículas e registros, situá-los e mencionar as divisas e

confrontações;

II. Quanto aos móveis, particularizar o estado e o lugar em que se encontram;

III. Quanto aos semoventes, especificá-los, indicando o número de cabeças e o imóvel em que se encontram;

IV. Quanto aos créditos, identificar o devedor e qualificá-lo, descrevendo a origem da dívida, o título que a

representa e a data do vencimento; e

V. Atribuir valor aos bens indicados à penhora.

E o outro está no Art. 656:

Pode ser utilizado tanto pelo executado, como pelo exeqüente;

Não há fixação de lapso temporal para que seja utilizado esse artigo como forma de substituição do

bem penhorado;

O pressuposto/requisito (critério é de taxatividade), se a situação se enquadrar em um dos incisos

do Art. 656.

Art. 656. A parte poderá requerer a substituição da penhora:

I. Se não obedecer à ordem legal;

II. Se não incidir sobre os bens designados em lei, contrato ou ato judicial para o pagamento;

III. Se, havendo bens no foro da execução, outros houverem sido penhorados;

IV. Se, havendo bens livres, a penhora houver recaído sobre bens já penhorados ou objeto de gravame;

V. Se incidir sobre bens de baixa liquidez;

VI. Se fracassar a tentativa de alienação judicial do bem; ou

VII. Se o devedor não indicar o valor dos bens ou omitir qualquer das indicações a que se referem os incisos I

a IV do parágrafo único do art. 668 desta Lei.

§ 1º É dever do executado (art. 600), no prazo fixado pelo juiz, indicar onde se encontram os bens sujeitos à

execução, exibir a prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus, bem como abster-se

de qualquer atitude que dificulte ou embarace a realização da penhora (art. 14, parágrafo único).

§ 2º A penhora pode ser substituída por fiança bancária ou seguro garantia judicial, em valor não inferior ao

do débito constante da inicial, mais 30% (trinta por cento).

§ 3º O executado somente poderá oferecer bem imóvel em substituição caso o requeira com a expressa

anuência do cônjuge.

11.11. Intimação da penhora

Feita a penhora algumas pessoas deverão ser intimadas:

A primeira pessoa é o próprio devedor (Art. 652, §1º, CPC), ele é intimado para querendo requerer

a substituição do bem penhorado.

A segunda pessoa a ser intimada é o cônjuge do executado (o cônjuge NÃO é citado, é intimado),

mas somente se a penhora recair sobre bem imóvel.

A terceira pessoa é o terceiro proprietário do bem penhorado, não há artigo na Lei a respeito disso,

é construção doutrinária e jurisprudencial.

E por fim, o terceiro credor com garantia real sobre o bem (hipoteca ou o penhor). Art. 615, II CPC.

Para conhecer essa situação deve-se solicitar uma certidão de ônus reais sobre o bem no Cartório

Geral de Imóveis.

11.12. Alienação antecipada

A regra geral é a de que os bens do devedor só serão alienados/vendidos após a fase de avaliação. Mas o

CPC no Art. 660 estabeleceu algumas hipóteses nas quais é possível realizar-se a alienação antecipada:

Art. 670. O juiz autorizará a alienação antecipada dos bens penhorados quando:

I. Sujeitos a deterioração ou depreciação; Ex.: penhora de alimentos perecíveis de um supermercado.

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II. Houver manifesta vantagem. (ex.: foi penhorada uma sala comercial no valor de 40 mil reais, aparece um

advogado que tem uma sala ao lado desta e quer ampliar o seu escritório e oferece 45 mil).

Parágrafo único. Quando uma das partes requerer a alienação antecipada dos bens penhorados, o juiz ouvirá sempre

a outra antes de decidir.

Requerida a alienação o juiz mandará ouvir a parte contrária. Trata-se de uma manifestação do princípio do

contraditório.

Determinação ex officio: poderia o juiz determinar de oficio essa venda antecipada? Se partir da

literalidade do parágrafo único do Art. 670, não poderia, pois ele faz referência ao “requerimento de

parte”. No entanto, há outro Artigo 1.113, que autoriza expressamente que o juiz de ofício determine a

alienação antecipada.

Art. 1.113. Nos casos expressos em lei e sempre que os bens depositados judicialmente forem de fácil deterioração,

estiverem avariados ou exigirem grandes despesas para a sua guarda, o juiz, de ofício ou a requerimento do

depositário ou de qualquer das partes, mandará aliená-los em leilão.

Penhoras especiais: É aquela que apresenta particularidades/especificidades em relação às demais

penhoras. Ex.: penhora de navio e aeronave. Existem dois tipos que são as mais importantes (existem

outras também, ex: penhora de título de crédito, de navio, etc.):

a. Penhora de cotas sociais: possibilidade de ser penhorada a participação do devedor no capital

social de uma determinada sociedade empresária. No passado, havia divergência na doutrina e na

jurisprudência da possibilidade ou não dessa penhora. Porém, atualmente é pacificada essa

possibilidade de penhora. A penhora é realizada mediante AVERBAÇÃO DA CONSTRIÇÃO NA JUNTA

COMERCIAL.

b. Penhora no rosto dos autos (Art. 674 CPC): consiste na possibilidade de serem penhorados os

direitos que vão decorrer de uma ação que foi ajuizada pelo devedor. É feita por simples petição e

mediante o registro/averbação da penhora na capa ou na contracapa (2ª capa) dos autos pelo

Oficial de Justiça.

Art. 674. Quando o direito estiver sendo pleiteado em juízo, averbar-se-á no rosto dos autos a penhora, que

recair nele e na ação que Ihe corresponder, a fim de se efetivar nos bens, que forem adjudicados ou vierem a

caber ao devedor.

Ex.: João ajuizou ação de execução de um cheque em face de Pedro, todavia Pedro não possui

nenhum bem. Então essa ação será suspensa na forma do Art. 791, III, CPC. Mas, Pedro no

momento em que ia entrar no banco foi revistado de forma vexatória/vergonhosa, provocando em

Pedro um dano moral. Motivo pelo qual Pedro ajuizou uma ação de indenização em face do Banco.

Se Pedro sair vitorioso na ação, ele vai receber uma importância. A penhora no rosto dos autos é a

possibilidade de, na ação de execução, penhorar os direitos que vão decorrer de outra ação, que é

a de indenização em face do Banco.

Page 52: Direito Processual Civil - Apostila

12. Atos expropriatórios (Art. 647 CPC):

Art. 685, parágrafo único CPC. Uma vez cumpridas essas providências, o juiz dará início aos atos de expropriação de

bens.

O CPC contempla quatro mecanismos de atos expropriatórios, que são (Art. 647 CPC):

a. Adjudicação;

b. Alienação por iniciativa particular;

c. Alienação em hasta pública (leilão ou praça);

d. Usufruto judicial. Menos utilizado, na prática

13. Adjudicação (Art. 685-A e 685-B, CPC):

13.1. Conceito: A adjudicação ocorre quando o credor aceita o bem que foi objeto de penhora como forma

de pagamento. A adjudicação é realizada pelo valor de avaliação (a adjudicação não quita ao débito se o

valor do bem for menor do que o valor devido). A adjudicação não se confunde com a chamada

ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA (é uma ação prevista o Decreto-Lei 58/37, em que o promitente devedor

não outorga a escritura pública).

Formalização: Petição simples. Após o Juiz profere uma decisão interlocutória (sujeita a agravo de

instrumento). Deferida, será lavrado um documento chamado AUTO DE ADJUDICAÇÃO e então considera-

se a adjudicação perfeita e acabada e irretratável. Se for bem móvel será expedido MANDATO DE ENTREGA

DO BEM. Se for imóvel será expedida CARTA DE ADJUDICAÇÃO. Esta carta é levada para o cartório de RGI e

será feita o registro na escritura do bem.

A adjudicação é realizada através de meio de simples petição. Deferida pelo juiz a adjudicação por decisão

interlocutória, o Cartório vai lavrar um documento que é chamado de Auto de Adjudicação, após a

assinatura desse documento a adjudicação está perfeita, acabada e irretratável. Além disso, se tratar de

bem móvel, além do auto de adjudicação, tem que expedir uma ordem judicial, que é um mandado de

entrega. Mas, se se tratar de bem imóvel, será expedido, além do auto de adjudicação, uma carta de

adjudicação, serve para o credor viabilizar a transferência do imóvel para seu nome no registro no RGI.

14. Alienação por iniciativa particular: (Art. 685-C CPC)

14.1. Conceito: Consiste na possibilidade do próprio credor ou um corretor credenciado em juízo alienar o

bem.

14.2. Generalidades: como é materializada essa alienação? Caberá ao credor fazer um requerimento ao

magistrado, por meio de simples petição. Em seguida, o juiz vai deferir ou não esse requerimento. Na

própria decisão que ele autoriza, ele fixara as condições da venda. O credor não é livre para vender o bem

como quer, o juiz estipulará as condições da venda. O valor mínimo da venda do bem será fixado pelo juiz,

que será o valor da avaliação. Ele definirá, também, se a venda será à vista ou a prazo. Vendido o bem, será

lavrado o TERMO DE ALIENAÇÃO. Se for bem móvel, além do TERMO DE ALIENAÇÃO, será expedido

MANDADO DE ENTREGA. Caso seja bem imóvel, além do TERMO DE ALIENAÇÃO, será expedida CARTA DE

ALIENAÇÃO, para viabilizar o registro no RGI.

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15. Alienação em hasta pública

15.1. Conceito: é alienação de bens que foram penhorados por iniciativa estatal. É o próprio estado-juiz

quem alienará o bem.

15.2. Hasta pública (é gênero). São espécies de hasta pública o leilão e a praça. Leilão e praça não se confundem, em função de 3 aspectos.

a. Leilão: Destina-se à venda de bens móveis. (art. 686, inc.IV, CPC). É conduzido pelo Leiloeiro

público, livremente indicado pelo credor (Art. 706). Ocorre no local onde estiverem os bens ou em outro local, designado pelo juiz (Art. 686, §2º);

b. Praça: Destina-se à venda de bens imóveis. É conduzida por serventuário da justiça. Ocorre no átrio/corredor/pátio do Fórum.

15.3. Generalidades: Valor mínimo do lance/lanço: vão ser realizadas 2 praças ou 2 leilões. Na 1ª praça ou no 1º leilão, o valor mínimo de venda do bem é o valor de avaliação. Se ninguém aparecer ao leilão ou à praça, entre os 10 ou 20 dias seguintes será realizado uma 2ª praça ou 2º leilão e o bem poderá ser vendido por qualquer valor, exceto preço vil (Art. 692, CPC). Sobre preço vil, existem 2 correntes:

a. Objetiva (Nelson Nery e Alexandre Câmara): preço vil é aquele que não excede/ultrapassa 60% do valor da avaliação.

b. Subjetiva (DOMINANTE – STJ): não estipula um percentual, o conceito de preço deverá ser analisado de acordo com cada caso em particular; de acordo com o caso concreto.

16. Extinção da execução: é feita por meio de sentença, na forma dos Art. 774 c/c 795, CPC.

Trabalho: Resumo ou fichamento de um dos livros (biblioteca):

1. Técnica processual e tutela jurisdicional

2. Conhecimento da sentença pecuniária

Entrega na data da avaliação 2º Bimestre

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Manuscrito

Máximo de 10 páginas.

Pontuação extra a definir.