Direito Reais

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DIREITOS REAIS A vida em sociedade implica sempre em uma srie de complicaes. Pressupe invariavelmente relaes humanas e integrao entre as pessoas. Essas relaes originam contnuos conflitos. O CC destina-se exatamente para regular essas relaes de direito. Direitos reais ou direitos das coisas conceito: complexo de normas por meio das quais se regulam as relaes jurdicas referentes s coisas suscetveis de apropriao econmica e exclusiva pelo homem. Portanto, coisa significa o gnero do qual o bem vem a ser uma das espcies. S interessa ao campo dos direitos reais as coisas teis, que tenham valor econmico. Existem muitas coisas que no so pertinentes a esse campo do direito. Tudo aquilo que existe em abundncia, no interessa ao direito das coisas. No entanto, necessrio saber distinguir essas coisas, vez que existem excees. Ex: Israel extrai gua do mar e a transforma em gua potvel. A partir do momento em que a gua retirada do mar e convertida em alguma outra coisa, passa a ter valor econmico e consequentemente, passa a ser objeto do direito das coisas. Da mesma forma, o ar quando industrializado. Importante ressaltar que existem alguns bens que no so coisas no mbito do direito das coisas. A vida um bem, mas no suscetvel de apropriao pelo homem. Um homem no pode se tornar bem de outro homem, um homem no pode transformar outro em seu escravo. A vida, a liberdade, a honra, so bens privativos do homem. Quando o poder do homem sobre a coisa concreto, material, isto se enquadrar dentro do direito das obrigaes, mas neste caso, teremos uma colocao especial. Sempre que fazemos referncia a apropriao exclusiva pelo homem, estamos nos referindo ao poder fsico do homem sobre uma coisa material, ou seja, a propriedade. Contudo, prefervel no usar o termo propriedade. mais adequado usar o termo domnio, deixando a palavra propriedade para designar outros direitos que so de propriedade, mas so de propriedade intelectual. Propriedade Domnio Este termo deve ser reservado para mais especfico para estabelecer a relao propriedades imateriais, propriedades de propriedade sobre coisas materiais. intelectuais (artstica, cientfica e literria). Contedo do direito de propriedade: No CC temos um livro que fala especificamente disso (art. 1196). A propriedade um direito real por excelncia. Elementos da propriedade: 1. Posse (poder fsico, fato de algum estar com o poder daquela coisa); 2. Uso (algum se utilizar da coisa); 3. Gozo (poder que algum tem de utilizar aquela coisa); 4. Disposio (poder que a pessoa tem de alienar, doar a coisa). Sempre que esses elementos estiverem reunidos, temos a propriedade plena. perfeitamente possvel que a pessoa por sua prpria vontade, retire (desmembre) algum desses prprios elementos e transfira para outra pessoa. Assim sendo, como o direito de propriedade um direito real por excelncia, o que deriva dele tambm direito real (art. 1225 do CC). Art. 1.225 - So direitos reais: I a propriedade; II a superfcie; um dos elementos do direito de propriedade transferido a um terceiro. A propriedade fica com um e somente o direito da superfcie transferido para o terceiro, para que este possa realizar alguma atividade. III as servides; o proprietrio transfere a posse, o uso eventual para uma determinada finalidade. IV o usufruto; sou proprietrio do terreno e posso celebrar um contrato com um terceiro transferindo a utilizao da coisa, mas a coisa permanece comigo. Vo uso; posso conceder o uso da casa a um terceiro para que este simplesmente more na casa com sua famlia. Esse direito mais amplo do que o da habitao. Neste caso, o terceiro pode alugar a casa para receberDireitos reais1

VI a habitao; posso conceder para que o terceiro a habite. A coisa no poder ser alugada. VII o direito do promitente comprador do imvel; (art. 1417) VIII o penhor; IX a hipoteca; Direitos reais de garantia X a anticrese. O direito de propriedade tem outra qualidade excepcional Toda vez que o desmembramento se desfaz, a propriedade se reequipa e volta a ser plena novamente. Direitos Reais e Direitos Pessoais Na idade mdia (poca do direito romano, direito cannico) no havia nenhuma distino entre direitos reais e direitos pessoais. Na realidade no se falava em direitos, mas sim em aes (jus in re e jus ad rem). - Aes reais (jus in re): sempre que algum tinha o poder direto sobre a coisa e exercia esse direito, ingressava com a ao in re. Obrigao sobre a coisa, mas devida ao proprietrio. - Aes pessoais (jus ad rem): sempre que algum ia exigir alguma coisa de alguma pessoa, ingressava com a ao ad rem. A pessoa que detinha a coisa estava obrigada para com essa pessoa. Direitos reais A concepo clssica partilha a premissa de que direito real o poder fsico direto que uma pessoa (titular do direito) tem sobre uma determinada coisa e que pode opor a qualquer outra pessoa que se oponha ou que venha a turbar a relao. A relao do direito real foi tranqila durante muito tempo. J a relao do direito pessoal, aquele vnculo que se estabelece entre o credor e o devedor, seja por fora de uma conveno ou por disposio legal, que permite ao credor exigir do sujeito passivo (devedor) uma determinada obrigao de dar, fazer ou no fazer, segundo o que foi ajustado. Na relao de direito real existia apenas dois elementos: o titular do direito, que aquele que exerce o poder sobre a coisa e a prpria coisa. No h a figura do sujeito passivo. Todas as outras pessoas da coletividade so obrigadas a respeitar essa relao que se estabelece entre a pessoa e a coisa. No h propriamente um sujeito passivo. Este pode surgir a partir do momento em que algum interferir na situao. Este que interferiu ser determinado como o sujeito passivo desta relao. Ex: Sou proprietrio de um terreno e exero poder fsico sobre este. Um terceiro invade meu terreno, desrespeitando meu direito. A partir do momento que o terceiro invade meu terreno ele passa a ser sujeito passivo determinado dessa relao. Eu posso, usando desse poder fsico sobre a coisa, ir contra todos erga omnes ou posso ir contra ele exigindo a recomposio do meu direito. nisto que consiste a teoria prtica. Esta teoria perdurou por muito tempo sem nenhuma contestao, at que um jurista francs insurgiu contra esta teoria, afirmando que no existe relao jurdica sem um sujeito passivo. Afirma que no existe direito real, mas sim direito fortes e direitos fracos, direitos absolutos e relativos. O direito absoluto aquele oponvel contra todos (direito real). O direito relativo oponvel apenas contra uma ou algumas pessoas determinadas (direito pessoal). Em princpio essa afirmao causou um abalo muito grande em relao teoria prtica. Acabaram surgindo muitos problemas e abalou de certa forma a teoria adotada at ento. Aps certo tempo, Savigny diz que essa teoria de direito relativo e absoluto contraria tudo. Inclusive o conceito romano de obrigao. A partir da comeam a surgir crticas, chamando a ateno para os vcios dessa teoria personalista (direito relativo e direito absoluto). Essas crticas a teoria personalista, recaiam especificamente nos seguintes pontos: 1. Tornava obscuro o conceito romano de obrigao. No direito romano sempre existia o sujeito ativo e passivo e uma nesta teoria desaparecia tudo. 2. Havia ainda outra particularidade que tinha que ser destacada. O conceito de obrigao, alm de ficar descaracterizado, no abrangia propriamente totalmente todos os direitos e, evidentemente, no inclua os direitos de crdito.

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Diante de todas essas crticas surge outra teoria que diz que no existem direitos pessoais, no existem relaes de pessoa a pessoa, o que existe so relaes patrimoniais. o patrimnio de um em relao ao patrimnio de outro. A partir daqui, tudo passa do campo do direito das obrigaes para os direitos reais. A outra teoria, ao contrrio desta, acaba com o direito das coisas e tudo passa a ser direito das obrigaes. Verdadeiramente aqui, encontramos um elemento da razo. A referncia freqente: a garantia do credor genericamente o patrimnio do devedor. Quando se fala em relao de patrimnio a patrimnio, parece que este conceito vem em abono desta teoria, porque, em tese, realmente o que ocorre. No entanto, nesta referncia a garantia no est empregada no sentido tcnico jurdico de uma garantia. Garantia um direito acessrio, que somente surge se a obrigao for descumprida. um direito acessrio, no um direito a ser cumprido. Alm do mais h uma critica que certeira nesta teoria, que so as obrigaes de fazer. Na obrigao de fazer interessa saber quem vai cumprir a obrigao. Por este motivo, a teoria clssica da relao direta imediata da pessoa sobre a coisa a que ainda hoje perdura e que foi adotada pelo direito brasileiro. Direitos reais X Direitos pessoais - direito real aquele oponvel erga omnes. Se eu sou titular de um domnio posso opor esse meu direito a qualquer pessoa que venha a turbar o meu direito. Se um direito pessoal, s posso opor meu direito aquele que celebrou o contrato comigo. O devedor s pode cumprir a sua obrigao em relao ao seu credor. - O direito da coisa recai sobre coisas materiais e o patrimnio no composto s de coisa. composto de coisas e bens, os bens podem ter contedo positivo ou negativo. Ex: Posso ter uma dvida (bem negativo). - O direito real no tem existncia sobre coisa que no existe. O direito real recai sempre sobre algo existente em relao ao qual o titular tem poder fixo. Ao passo que o direito pessoal pode existir sobre algo que ainda no existe. Ex: Posso adquirir de algum uma safra de algodo que ainda no foi plantada. - O direito real sempre determinado, sempre recai sobre algo determinado. J o direito pessoal pode ser indeterminado. - O direito real d origem a uma ao real contra quem o detm. Ex: Na ao de reivindicao o que se discute quem tem o domnio da coisa. - O direito real no desaparece pelo no uso. Ex: Sou proprietrio de uma casa, fico nele de 1960 at 1970. Em 1970 passo a morar na Rssia e fica l at 2010, quando retorno ao Brasil. Posso retornar e voltar a morar na casa. Se eu sou credor de algum e se no cobrar em um determinado tempo, o direito prescrever. Caractersticas fundamentais dos direitos reais No h consenso entre os autores sobre isso. De modo geral, analisando-se as vrias referncias de diversos autores, podemos chegar a um consenso: 1. O direito real adere coisa, sujeitando-a ao seu titular. 2. Tipicidade: os direitos reais tm nmero certo definido por lei. No sentido oposto, em relao aos direitos pessoais, no h restrio. Os direitos reais s existem quando criados por lei. No h possibilidade de duas pessoas celebrarem um contrato criando direitos reais. Por esse motivo, dizemos que os direitos reais so numerus clausus. 3. Oponibilidade: ele oponvel erga omnes. J nos direitos pessoais, o credor s pode agir exigindo o cumprimento da obrigao do credor,. 4. O direito real tem que ser determinado sempre. O direito pessoal determinvel. 5. O direito real exige uma existncia atual e real. 6. O direito real exclusivo. No h possibilidade de um direito real se sobrepor sobre outro. No existem dois direitos reais sobre a mesma coisa. Um exclui o outro. 7. O direito real subsiste mesmo que no seja utilizado. O direito pessoal se no for exercido, no subsiste. 8. Os direitos reais de garantia tm a preferncia de recebimento. 9. O direito real tem duas caractersticas especficas: poder de elasticidade e o poder de consolidao.Aula 09.02.11

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PRINCPIOS DIREITOS REAIS Princpio da elasticidade: O direito real por excelncia (mais completo de todos) o direito de propriedade. Abrange os seguintes elementos: a posse, o uso, o gozo e a disposio da coisa. O proprietrio pode abrir mo de algum desses poderes. Nesta situao, ocorrer o desmembramento do direito real de propriedade, dando margem criao de outros direitos reais. Ex: Jos proprietrio de uma casa e tem um amigo, Luis, que est passando por dificuldades. Jos resolve criar um direito real de habitao em favor de Luis e sua famlia. Jos dirige-se ao cartrio e lavra uma escritura, abrindo mo da posse e do uso da casa. Luis registra a escritura no cartrio. Jos abriu mo da posse e do uso da casa em favor de Luis e pelo prazo de 20 anos foi criado um direito real de habitao. Houve um desmembramento do direito real de propriedade, dando origem a outro direito real, em face do princpio da elasticidade. Ao final dos 20 anos, vencido o prazo, os poderes transmitidos voltam para Jos e a propriedade torna-se plena novamente. Importante: Sempre que houver desmembramento de um dos poderes da propriedade ser criado outro direito real. Vencidos os prazos ou os poderes desmembrados, a propriedade volta a ser plena. Princpio da concentrao: reconhece no Registro de Imveis a fora atrativa de todos os fatos relevantes aos bens imveis, servindo como um m aos ttulos que interessam juridicamente sociedade. EFEITOS DOS DIREITOS REAIS Direito de seqela: costuma-se dizer na rea jurdica que a propriedade chama pelo seu dono. Isto o que vem a ser o direito de seqela. O proprietrio tem o direito de perseguir aquilo que seu em poder de quem quer que o detenha. Ex: Se A proprietrio de um terreno, se algum se apossar dele, A tem o direito de pleitear em juzo o terreno. O direito de seqela o direito de perseguir o que meu est em posse de outra pessoa para que ele volte ao meu poder. Art. 1.228. O proprietrio tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reav-la do poder de quem quer que injustamente* a possua ou detenha. injustamente*: aqui, significa que a reivindicao da coisa, o direito de reivindicar, previsto neste artigo, deixa claro que ser discutido quem o dono daquilo. O dono tem o direito de ficar na posse da coisa, por isso neste artigo h referncia ao termo injustamente, ou seja, a coisa est na posse de quem no dono dela. 2) Direito de preferncia: h somente no que diz respeito aos direitos reais de garantia (hipoteca, penhor, anticrese). O credor tem o direito de preferncia no sentido de cobrar a dvida, da qual ele titular, e que garantida por ele antes de qualquer outra pessoa que no esteja no lugar dele. Ex: A hipoteca de um mesmo imvel pode ser dada inmeras vezes. O que estiver escrito em primeiro lugar, ser o primeiro a receber e sem concorrncia. Se acabar o dinheiro, a conseqncia que eventuais credores hipotecrios que estiverem relacionados depois, no recebero nada em relao a este imvel. Se o devedor tiver outros bens, pode ser que os outros credores recebam em cima dos outros bens. Penhor Penhora Instituto do direito civil em que Consiste no ato em que algum, devedor de uma alguma coisa dada em garantia de obrigao lquida e certa, citado para cumprir uma determinada dvida. aquela obrigao. A pessoa deve pagar, sob pena de direito real de garantia. penhora. A penhora o arresto (separao) dos bens do devedor, no valor suficiente para cobrir as despesas.

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CLASSIFICAO DOS DIREITOS REAIS Existem vrias classificaes: 1. Direito real sobre a prpria coisa (jus in re propria): este o direito de propriedade plena, no h o que questionar. o cerne de onde partem todos os outros direitos reais. No existe nenhum direito real que no tenha sido originado, que no tenha correlao com o direito da propriedade.Direitos reais

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2. Direitos reais sobre coisas alheias: so todos os descritos no art. 1225, com exceo do

direito de propriedade. Todos so originados pelo direito de propriedade. Algum estar usando um direito real sobre algo que no lhe pertence. - O CC de 1916, trazia o direito real de enfiteuse, direito pelo qual a pessoa transfere a outra a posse, o uso e o gozo de uma coisa, inclusive, com direito de alien-la para um terceiro. No entanto, toda vez que alienasse a coisa teria que pagar um percentual estabelecido no contrato ao proprietrio e era conferido ao proprietrio o direito de resgatar o bem. Isso no pode mais ser criado, mas o que foi criado sob a vigncia do CC de 1916, ainda vlido. O CC de 2002 no pode simplesmente abolir esse direito que era permitido na poca do antigo CC. 3. Direitos acessrios e direitos principais: direito acessrios so os direitos reais de garantia, todos os outros direitos so principais. 4. Direito do promitente comprador na aquisio do imvel: anteriormente no era aceito. AES REAIS Sempre que lidarmos com direitos reais, ou seja, sempre que a ao envolva direitos reais ou qualquer um dos seus desmembramentos, previstos no art. 1225, estaremos diante de uma ao de natureza real. Na ao pessoal existe um negcio jurdico celebrado, vinculando o credor e o devedor, de forma que o credor s pode cobrar o devedor certo e determinado. J as aes reais envolvem somente um tema: Quem o titular do direito real discutido? Quem o proprietrio? O conceito de direito real do direito civil, o CPC apenas aplica aquilo que o CC dispe. Ex: Numa ao reivindicatria, se vou reivindicar uma coisa que minha, terei que juntar provas de que a coisa minha. Se vamos discutir quem o dono, temos que juntar todos os ttulos de aquisio do imvel durante o tempo requerido para preencher o tempo de usucapio. A outra parte deve seguir o mesmo procedimento, pois o juiz ir analisar todos os documentos pertinentes apresentados e declarar como legtimo proprietrio aquele que tiver o ttulo perfeito. Na base de ao real o tema discutido o direito de propriedade, consequentemente, o juiz analisar os ttulos apresentados a fim de verificar qual dos ttulos perfeito, vez que no h possibilidade das duas partes estarem com a razo. As duas partes necessariamente devem apresentar os ttulos que possuem. A ao ser procedente ou improcedente conforme os ttulos apresentados. CONSTITUIO DOS DIREITOS REAIS Os direitos pessoais decorrem de um contrato celebrado, por meio de um acordo de vontades ou por um ato ilcito. O credor desta ao poder se voltar ao devedor e pleitear a indenizao ou realizar a cobrana. A constituio de direito real ter origem no usucapio; por disposio de um testamento ou ainda, por ocasio de um contrato de compra e venda. Quando o ttulo de origem decorre de um contrato de compra e venda, verifica-se que h transmisso de uma coisa de uma pessoa para outra, a doutrina alem denomina-a como a origem causal co m base em direito real, que a escritura de compra e venda devidamente registrada no cartrio de imveis. No direito brasileiro, a transmisso da propriedade recai na compra e venda e o titulo bsico da transmisso da propriedade tem que ser perfeito. Se houver algum vcio neste ttulo, acaba por invalidar o direito real. Se A celebra um contrato de compra e venda e o registra no cartrio, em princpio, ele o proprietrio. Se aparecer algum reivindicando o imvel e tiver um ttulo perfeito e, por exemplo, comprove que o ttulo de A foi falsificado, a aquisio ser invalidada. No direito alemo, a coisa mais complicada. Em razo do princpio da abstrao causal Lavrado o ttulo, este passar por uma comisso de juzes que analisar o ttulo sob todos os aspectos, a fim de se verificar se est tudo correto. Se for aprovado, o ttulo poder ser registrado e a partir da, transcrito o ttulo, prevalecer o registro em si, abstraindo-se a causa. Ainda que se demonstre posteriormente que o ttulo nulo, a propriedade permanece com quem a registrou.

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No direito brasileiro, no prevalece o sistema alemo. Sempre que existe alguma invalidade na base, anula-se o ttulo. A invalidade da causa invalida a prpria aquisio do direito real. O termo posse tem vrios significados, no entanto nenhum deles corresponder ao significado tcnico jurdico POSSE - No sentido de proprietrio, mistura posse e propriedade, que so coisas totalmente diferentes. - A posse representar um estado de fato semelhante relao jurdica. A posse pode significar uma posio equiparada ou semelhante posio jurdica de outra pessoa. uma pessoa que est numa posio e age como se realmente fosse a outra pessoa. Ex: Posse de estado de casado, na impossibilidade de provar o casamento, prevalece a posse do estado de casado. - Designa tambm a investidura de algum em cargo pblico.

Normalmente, quando nos referimos a posse, estamos procurando colocar que uma pessoa tem um certo poder sobre uma pessoa ou sobre alguma coisa. Conceito de posse: sempre um poder que uma pessoa tem sobre alguma coisa de alguma forma. Este estado de fato que aparentemente representa um poder, na realidade pode envolver trs diferentes situaes: 1) Poder de fato que decorre de um poder de propriedade ou de seus desmembramentos. Vai corresponder a um poder resultante da propriedade ou de algum dos seus desmembramentos O que decorre do direito de propriedade a posse. 2) Poder de fato que decorre de algum direito, mas no o direito de propriedade. 3) Poder de fato que no corresponde verdadeiramente a nenhum direito Aqui temos a deteno. Deteno a posse natural que no produz nenhum efeito jurdico. Disto no decorre nenhum efeito. O grande problema que existe est no poder de fato que decorre de um direito que no direito real. Normalmente, quando se fala em algum que tenha o poder fsico sem nenhum direito, estamos nos referindo a algum que usurpou, ou seja, algum que colocou quem estava na posse ou o dono da coisa para fora. Contudo, a grande maioria dos casos das pessoas que esto nessa situao, foi devido ao fato do prprio dono os ter colocado l. a que surgem os problemas. Temos duas teorias para esta situao: Uma corrente diz que se a pessoa foi investida na posse pelo legtimo dono, ele o possuidor. A pessoa no preenche determinados requisitos, portanto, ele mero detentor, tem apenas o poder fsico sobre a coisa.Aula 10.02.11

Segundo Savigny, na posse temos dois elementos: Corpus: que seria o poder fsico sobre a coisa e A inteno de ter a coisa para si (animus rem sibi habendi). Sem a inteno de ter a coisa para si, temos a deteno. Afirma ainda, que qualquer desses elementos isolado no representa a posse. A importncia da distino no tocante a pessoa ser ou no possuidora, reside na questo de que se a pessoa considerada possuidora, ela tem o direito de convocar os interditos possessrios para defender a posse. Se a pessoa for mera detentora, tem a posse natural, mas no tem o direito de invocar proteo alguma. Temos duas maneiras de retirar tudo aquilo que a coisa pode oferecer: O uso direto da coisa pelo dono. Ex: Se sou o dono de uma fazenda, posso plantar e explor-la da melhor maneira. Outra forma de explorao ceder o uso da coisa para algum, com ou sem retorno financeiro. Ex: a locao da coisa. De acordo com a teoria de Savigny, toda pessoa que no tem a inteno de ter a coisa para si, no possuidor, portanto no tem a possibilidade de proteger a coisa contraDireitos reais6

terceiros. Dentro dessa teoria, o locatrio, o credor pignoratcio, o arrendatrio, o depositrio, todos esses so meros detentores. O que significa que se algum invadir a casa que est locada, o locatrio no tem como se defender. E todo aquele que recebe uma coisa, cuja posse foi transferia pelo proprietrio, na realidade detm a coisa em nome do proprietrio, ento ele no tem a posse, porque no existe a posse em nome de outrem, nesta teoria. Alm dessa colocao, importante ressaltar que como todo aquele que detm o poder fsico em nome de outrem no possuidor, dentro da teoria de Savingy, no podemos admitir a possibilidade da classificao da posse em posse direta e indireta. A teoria de Savigny foi to profunda e bem engendrada que seu maior opositor, Ihering, reconheceu a importncia desta teoria. Para Ihering na posse temos dois elementos: O corpus e O animus. No entanto, ele coloca o animus de forma diferente, no como a inteno de ter a coisa para si, mas simplesmente como o poder de ter a coisa. Tem a coisa todo aquele que age em relao a coisa como se fosse o proprietrio. Ihering diz que quem eventualmente v uma pessoa em relao a uma coisa, ele est vendo o dono pela forma de agir desta pessoa em relao coisa. Ex: Sou proprietrio de uma casa e celebro um contrato de locao com A. As pessoas alheias a essa relao, ao observar o comportamento de A em relao a casa locada, pensar que A o proprietrio, pois est realizando todos os atos como se fosse legtimo proprietrio dela. Ihering diz que a posse a visibilidade do domnio, quem v o possuidor est vendo o proprietrio. O fato do proprietrio dar a coisa para alugar algum, como essa pessoa que est na posse da coisa age exatamente da mesma forma como agiria o proprietrio, para todos os fins e efeitos de direito, ele tambm o possuidor. Ento, o locatrio, credor pignoratcio, depositrio, podem invocar os interditos de maneira plena. Como ele admite a possibilidade de algum, pura e simplesmente agir em relao a coisa como dono, em decorrncia disso, todos podem se valer dos interditos possessrios, inclusive, contra o legtimo proprietrio naqueles casos em que o proprietrio possa perturbar o locatrio. Ihering passou a fazer uma srie de consideraes. Na realidade tem que se observar o problema do possuidor em relao coisa, observando a utilizao da coisa. Procurou chamar ateno para o fato de que no o poder fsico, pura e simplesmente, que caracteriza propriamente a posse e nem a inteno de ter a coisa para si, mas sim, levando em conta o poder fsico, a possibilidade de dispor da coisa e a utilizao que possa ser dada a coisa, tendo como base todos os atos que o proprietrio pode praticar em relao coisa. O professor Caio Mario Silveira d exemplos que mostram bem essa situao: - Temos que levar em conta a destinao econmica que se pretenda dar coisa. O fato de existir uma distncia entre a coisa e o possuidor, por exemplo, o possuidor residir em outro lugar, no faz com que, por ele no ter o contato fsico direito, ele deixe de ser o possuidor. O importante que ele tenha a coisa sua disposio. - Se o proprietrio tem um terreno e quer nele plantar, se ele mandar despejar adubo na terra, o fato dele no estar l tomando conta de tudo, no faz com que ele deixe de ser dono das coisas, s porque no est l para vigiar tudo. - Se o caador encontra uma determinada pessoa com a armadilha que ele havia colocado em determinado lugar para apanhar um animal, ele pode acusar aquele que estiver com a armadilha de ladro, vez que o fato dele ter destinado e colocado aquela armadilha em um lugar para apanhar a caa, no faz com que ele deixe de ser o possuidor dela. Da mesma forma, se um animal cair na armadilha dele e algum se apossar da caa capturada, estar praticando furto. - Algum v um terreno vazio, sem ningum. Esse algum invade o terreno e nele planta verduras e frutas. Se outra pessoa invadir o terreno e colher as verduras e frutas, ele no tem o direito de defender a posse? Ningum pode invadir um terreno qualquer e explorar o trabalho de outro, mesmo o legtimo dono. O dono poder pleitear a posse, mas no explorar o trabalho do outro. A razo que tudo isso realiza a sua finalidade econmica no local onde est.Direitos reais7

Se uma pessoa deixa propositalmente a sua cigarreira de prata numa rea de terra e algum pega, no existe a possibilidade de se falar em violao do direito de posse, porque a cigarreira ali no tem nenhuma destinao econmica. Em outras palavras, podemos dizer que ele renunciou a propriedade da coisa. Da mesma forma, se uma pessoa deixasse um livro dentro de uma rea de plantao. O que que o livro est fazendo ali? Ele est tendo alguma destinao econmica ali? Qual a finalidade do livro naquele local? Nenhuma. Portanto, no se pode dizer que h posse quando a coisa deixada em um local onde ela no tenha nenhuma destinao. A destinao econmica a razo por meio da qual o proprietrio pode explorar a sua propriedade, aquilo que seu. Sem explorao, para que serve a coisa? Por todos esses motivos, fundamental manter-se a posse de algum em relao a alguma coisa. Ihering diz que ter a propriedade sem a posse o mesmo que ter um tesouro sem a chave para abri-lo. Porque na realidade, se algum proprietrio de uma coisa e no puder explor-la, ter apenas nus. A posse verdadeiramente a razo determinante da explorao econmica da propriedade. o mesmo que ter uma rvore frutfera cheia de frutos e no ter uma escada para colh-los. A propriedade sem a posse como o corpo sem alma, ou seja, no faz sentido. Defesa da posse O possuidor tem a possibilidade de invocar os interditos e proteger aquilo que seu. J o detentor no tem essa possibilidade. nesse sentido que se procura aceitar a noo de posse, reconhecer onde h posse, para o efeito de possibilitar ou no a defesa da posse. Ihering diz que possuidor aquele que age em relao a coisa como se proprietrio fosse, s no ser se existir um obstculo de ordem legal. Isto apresentado em trs dispositivos distintos no CC: Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relao de dependncia para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instrues suas. Pargrafo nico. Aquele que comeou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relao ao bem e outra pessoa, presume-se detentor, at que prove o contrrio. Ex: A no tem onde morar, vez que est passando por dificuldades. Ento cedo um apartamento para A morar. A passa a ocupar meu apartamento porque eu o autorizei. Passa a ocup-lo em meu nome, por minha ordem e instruo. A considerado detentor, pois age em nome e por ordem de outrem. Art. 1208: No induzem posse os atos de mera permisso ou tolerncia assim como no autorizam a sua aquisio os atos A teoria de Ihering est violentos, ou clandestinos, seno depois de cessar a violncia bem ou a clandestinidade. clara nestes artigos: Art. 1.209. A posse do imvel faz presumir, at prova contrria, a das coisas mveis que nele estiverem. Tanto o CC de 1916 como o de 2002 adotam a teoria de Ihering. O CC de 11916 foi o primeiro CC no mundo a adotar a teoria de Ihering. Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exerccio, pleno ou no, de algum dos poderes inerentes propriedade. Outra questo saber A posse: um fato ou um direito? A doutrina diverge e encontramos trs posies diferentes: Alguns autores dizem que a posse um fato. Aqui temos juristas estrangeiros notadamente. Outros dizem que a posse um direito. Ihering , Teixeira de Freitas adotam esse posicionamento. Outros dizem que um fato e um direito. Savigny adepto dessa teoria. Se a posse um fato ou se um direito, faz-se necessrio verificar que direito esse. Alguns dizem que um direito real, outros que simplesmente um direito. Temos que admitir que a posse em si um fato. O grande reflexo disto ir refletir nas aes possessrias. Se entendermos que a posse um direito real, se surgir alguma lide referente a esse tema, o CPC dispe que todas as vezes que discutimos um direito real, dever ser proposta uma ao real. Se deixarmos de lado e excluirmos a idia de direito real, consequentemente, a posse um fato e responder pelo fato aquele que o praticou.Direitos reais8

A posse um fato, at para efeito de facilitar a possibilidade da discusso da questo, temos que admitir que a posse um fato. Se considerarmos que um direito real, estaremos diante de discusses infindveis. A POSSE PROTEGIDA PORQUE: Savigny Ihering O direito tem a obrigao de proteger a A posse protegida em ateno pessoa do possuidor, em ateno pessoa do propriedade, muito mais fcil proteger a possuidor, a posse protegida. Visa-se posse do que a propriedade. Protege-se a resguardar o possuidor de uma eventual posse porque por meio dela que se explora violncia. Todo ataque posse de algum economicamente a propriedade. pode resultar na morte. Se a posse a visibilidade do domnio, protegendo a posse, estamos protegendo indiretamente a prpria propriedade.Aula 16.02.11

CLASSIFICAO DA POSSE Sempre que nos referimos classificao, procuramos separar os vrios institutos existentes, considerando os elementos que so comuns ao instituto e isolando-os, para que possamos aplicar os princpios e as leis pertinentes a cada grupo. CLASSIFICAO: 1) Posse direta e indireta O CC no diz o que a posse direta ou indireta, estabelece apenas quem o possuidor. Art. 1.196: Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exerccio, pleno ou no, de algum dos poderes inerentes propriedade. O direito de propriedade composto por vrios poderes inerentes propriedade posse, uso, gozo e disposio. Toda vez que houver o desmembramento do direito do proprietrio e algum tiver um desses poderes, ele ser considerado, em princpio, possuidor direto. - possuidor direto aquele que detm diretamente a coisa. - Na locao, o locatrio tem a posse derivada, em razo de que esta decorre de um contrato que ele mantm com aquele que lhe transmitiu a posse direta. Ex: A proprietrio de uma casa. A aluga a casa para B. O contrato Posse direta de locao permite que B opere a sublocao para C. A posse direta de C. A e B so possuidores indiretos. A posse de C emana dos contratos de A e B. - A posse direta sempre temporria, ou seja, dura enquanto existir o vnculo com o possuidor indireto ou enquanto o direito pessoal tiver validade, o contrato celebrado for vlido ou o direito real (art. 1125) existir. - possuidor indireto aquele que transmitiu a posse para outra pessoa. Posse indireta Ele detm a posse como uma emanao do direito de propriedade. Finalidade de se determinar se a posse direta ou indireta permitir que qualquer um dos dois (possuidor direito ou indireto) possa defender seus direitos atravs dos interditos. O importante dar ao possuidor direto e ao indireto o direito de evocar os interditos. AES POSSESSRI AS TPICAS OU INTERDITOS POSSESSRI OSDireitos reais

Reintegrao da posse: Quando ocorre a perda da posse, em razo do esbulho, o legtimo possuidor, aquele que estava na posse e a perdeu por fora do esbulho, tem a ao de reintegrao de posse, que objetiva fazer voltar a posse a quem foi dela despojada. Esbulho o ato pelo qual algum, mediante violncia, pe outro para fora da posse. Manuteno na posse: Quando ocorre uma simples turbao da posse e algum comea a atrapalhar os exerccios dos atos do possuidor. Essa perturbao denominada turbao. Sempre que ocorre a turbao, a pessoa perturbada, prejudicada, mas no perde a posse. A ao pertinente neste caso a de manuteno na posse.9

Interdito proibitrio: ao por meio da qual aquele que se sente ameaado vai pedir ao juiz que proba aquele que o est ameaando a levar a ameaa avante, sob pena de pagar uma multa, caso venha a se concretizar a ameaa. Quando a pessoa ameaada, mas no foi turbada, no sentido da prtica de atos materiais e no perdeu a posse, a ao cabvel o interdito proibitrio. Tanto podemos ter um direito pessoal: como o caso da locao, arrendamento, etc, por meio do qual a posse direta transmitida a algum temporariamente, como pode existir, por meio de ao real, um direito real onde o proprietrio do direto abre mo de uns dos poderes, emanando direitos reais derivados da propriedade. Assim sendo, teremos a hiptese de bipartio da posse em posse direta e posse indireta. A concesso da posse direta trar algumas conseqncias: I. O locatrio, o usufruturio, o arrendatrios, o credor pignoratcio, detm a posse e so titulares de uma posse verdadeira, eles no detm a coisa em nome de outro. Toda pessoa que detm a posse direta tem a posse em nome prprio com direito de usufrula plenamente. diferente daquele que detm a coisa em nome de um terceiro. Ex: motorista de uma empresa (ele detm a posse de um caminho da empresa). So exemplos tambm: o caseiro (ele servidor da posse e no possuidor), a empregada domstica, o bibliotecrio. Se porventura, algum os confundi-los e moverem ao contra eles e os citarem, caber esclarecer a questo para que os reais possuidores sejam citados (devem dizer que no so os possuidores e sim os seus patres). Na doutrina alem, eles so chamados de fmulo da posse (servidor da posse). II. Toda vez que a posse se desdobra em direta e indireta, teremos duas posses perfeitas e paralelas. Cada um dos possuidores, dentro dos limites de sua atuao, tem a mais ampla liberdade para defender a sua posse contra atos de terceiros. Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, no anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. O Conselho de Justia Federal esclareceu que embora a lei s mencione que o possuidor direto pode defender sua posse contra o possuidor indireto, qualquer um deles pode usar das aes possessrias cabveis de um contra o outro. No existe nenhuma limitao. III. O desdobramento da posse em direta e indireta depende sempre da existncia de uma relao jurdica entre os dois (possuidor direto e indireto). No existe posse direta ou indireta sem que ocorra um contrato ou um ajuste de natureza real. IV. A posse direta sempre temporria, em virtude de que est limitada a durao de contrato celebrado entre as partes. uma relao que est sempre vinculada a um contrato. No existe posse direta permanente.

2) Posse justa e injusta A distino decorre da forma e dos eventuais vcios objetivosna forma de aquisio da posse. Posse Se a aquisio feita observando-se todas as regras da transmisso da posse, Justa temos uma posse justa. Posse Se na aquisio da posse as regras de transmisso forem violadas, se no Injusta houver a observncia aos modos de aquisio estabelecidos por lei, a posse injusta. Art. 1.200: justa a posse que no for violenta, clandestina ou precria. A violncia no precisa ser fsica, pode ser cometida atravs de ameaa. Quando isso ocorre, a posse no foi obtida observando-se as regras de transmisso da posse. A posse violenta pblica, no se esconde de ningum. No se confunde posse violenta com a posse de m f a diferena muito grande. Posse violenta Posse deDireitos reais

aquela obtida de forma contrria ao ordenamento jurdico. A posse foi obtida objetivamente contrariando o que estabelece o ordenamento jurdico. O elemento subjetivo que definir a posse como sendo de m f. Ex: Estou na posse da coisa, sabendo que estou prejudicando algum. A partir do momento10

m f

Posse clandesti na

Posse precria

que tenho a conscincia de que aquilo no meu e que o meu ato est prejudicando algum, a posse passa a ser de m-f. clandestina a posse quando obtida de forma obscura, s escondidas, sem que o legtimo possuidor tenha conhecimento e escondendo do possuidor. Ex: A possuidor de uma rea. B se instala numa parte da rea de A e passa a exercer posse clandestina, sem o conhecimento do legtimo possuidor. As pessoas tm conhecimento de que B est instalado na rea de A, pois este age normalmente. Para todos os fins e efeitos de direito, perante as pessoas alheias a esta relao, B o legtimo dono da rea. Tem uma caracterstica diferente de todas as outras posses. O vicio da precariedade nunca sanado. Se a posse precria, ela continuar a ser precria sempre. A posse precria se caracteriza a partir do momento em que a pessoa que recebeu a coisa a ttulo precrio se revela contra aquele que lhe transmitiu a coisa e se recusa a devolv-la. Tem a sua origem especificamente na recusa do possuidor, legtimo de incio, em devolver a posse. H na posse precria violncia por abuso de confiana por parte daquele que recebeu a coisa do possuidor, em razo da confiana nele depositada. O possuidor a ttulo precrio um exemplo de fmulo da posse, porque ele recebeu a coisa para desfrutar dela pelo legtimo proprietrio e depois se rebela contra essa pessoa.

As posses violentas e clandestinas so denominadas vcios relativos, vez que cessada aviolncia e a clandestinidade, essas posses at podem levam at mesmo ao usucapio. A posse deixa de ser clandestina e passa a ser pblica em relao aquele que dia de ser possuidor. No direito romano, se a posse apresentasse algum vcio, esse vcio jamais seria sanado. No direito cannico, o possuidor tinha que ser de boa f do comeo ao fim para poder ser beneficiado. No direito civil, existem dois outros institutos que tem uma amplitude muito maior do que no campo do direito pessoal. Ex: Se A agredido por B, A tem o direito de se defender. No mbito da posse, se A vier tomar a posse de B, A pode se defender, exercendo a legtima defesa da posse. No campo do direito civil temos o instituto do desforo imediato. A pode reunir seus amigos e tomar a posse de B de volta. Se A conseguir retomar a posse, para todos os efeitos, A nunca a perdeu. J se A perder a posse e no reagir, no tomar nenhuma medida judicial, a partir do momento que B permanece na posse mais de ano e dia, B se torna possuidor legtimo e como conseqncia, se B ficar na posse durante o tempo necessrio, poder requerer o usucapio. A violncia e a clandestinidade podem desaparecer com o decurso do tempo, desde que cesse a violncia e a posse deixe de ser clandestina e passa a ser pblica, em relao quele que seja o legitimo possuidor da rea obtida clandestinamente. A partir do momento em que o possuidor passa a agir publicamente na posse, ela deixa de ser clandestina. analisada sob o aspecto subjetivo. possuidor de boa f todo aquele que detm a posse de uma coisa, ciente e consciente de que o legtimo dono da coisa e no est prejudicando Posse de boa ningum. f Todo aquele que age de acordo com o ordenamento jurdico possuidor de boa f. possuidor de m f todo aquele que detm a posse de uma coisa, ciente e Posse de m consciente de que esta coisa pertence a outra pessoa, que est, f consequentemente, sendo prejudicada. Conforme Washington de Barros Monteiro, justo ttulo aquele ttulo hbil a transferncia do domnio, da propriedade ou posse de alguma coisa a algum que s no transfere o que contm um vcio decorrente da emanao de quem no seja o vendedor legitimo. Havendo isso, at que isso seja descoberto o que temos a figura de um possuidor ciente e consciente de boa f. A partir do momento que o possuidor passa a ter conhecimento de que aquilo no seu e que est prejudicando outra pessoa, ele torna-se possuidor de m f.Direitos reais11

3) Posse de boa f e posse de m f decorre especificamente da pessoa.

Art. 1.214. O possuidor de boa-f tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos. Pargrafo nico. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-f devem ser restitudos, depois de deduzidas as despesas da produo e custeio; devem ser tambm restitudos os frutos colhidos com antecipao. Art. 1.219. O possuidor de boa-f tem direito indenizao das benfeitorias necessrias e teis, bem como, quanto s volupturias, se no lhe forem pagas, a levant-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poder exercer o direito de reteno pelo valor das benfeitorias necessrias e teis. Art. 1.220. Ao possuidor de m-f sero ressarcidas somente as benfeitorias necessrias; no lhe assiste o direito de reteno pela importncia destas, nem o de levantar as volupturias. Ao possuidor de boa f todos os benefcios so concedidos. J para o possuidor de m f, no s negado qualquer benefcio, como tambm so impostas determinadas obrigaes. No existe momento certo para que ocorra a transformao do possuidor de boa f em possuidor de m f. Pode acontecer at mesmo antes do incio de qualquer processo, desde que o possuidor fique sabendo que aquilo no dele. Se for demonstrado que ele j sabia anteriormente ao processo que aquilo no era dele, ele est de m f muito antes disso. Se isso se der durante o processo, existem vrias correntes que afirmam qual seria o momento exato dessa mudana: - A partir do momento que o possuidor toma conhecimento que algum est pleiteando a posse e esse algum trar documentos provando ser o real possuidor da coisa. Ento, segundo alguns, a partir deste momento, ocorre a mudana de possuidor de boa f para possuidor de m f. - Proferida a sentena, o possuidor pode recorrer e ganhar a sentena. - Outra corrente afirma que depender da sentena indicando desde quando ele dono da coisa. Uma coisa certa, a sentena transitada em julgado deixa claro O exato momento em que houve a mudana da boa f para m f. Importante: Tudo que o possuidor fez enquanto possuidor de boa f gerar o direito de ser indenizado. Tudo que ele fez depois da cincia de que ele possuidor de m f, ele no ser restitudo por nada e ainda, dever indenizar por eventuais obrigaes.Aula 17.02.11

POSSE DE BOA F X POSSE DE M F O critrio para verificar se a posse justa ou injusta objetivo. J para se verificar se a posse de boa f ou de m f, considera-se o elemento subjetivo. Art. 1.201. de boa-f a posse, se o possuidor ignora o vcio, ou o obstculo que impede a aquisio da coisa. Pargrafo nico. O possuidor com justo ttulo tem por si a presuno de boa-f, salvo prova em contrrio, ou quando a lei expressamente no admite esta presuno. A posse de boa f sempre que a pessoa detiver a coisa, ciente e consciente de que aquilo seu e no prejudica ningum. O que pressupe, de incio, uma forma correta de aquisio. Se a aquisio foi feita de acordo com os princpios do direito, portanto, a decorrncia lgica que a posse de boa f. Se em determinado momento, a pessoa tiver conscincia de que a coisa no dela, mas continua com ela, passa a ser posse de m f. Para o possuidor de boa f, o direito, em princpio, concede todos os benefcios. J para o possuidor de m f, o direito nega todos os benefcios. A distino de suma importncia por essa razo. O CC faz essa distino, notadamente, em relao aos efeitos da posse. O possuidor de boa f tem direito a todos os frutos, tem direito tambm as benfeitorias necessrias, teis e volupturias. Benfeitoria tudo aquilo que se faz em alguma coisa j existente para melhor-la, embelez-la ou conserv-la. As benfeitorias so obras realizadas em alguma coisa. No caso da construo de uma casa nova, isto no uma benfeitoria, uma acesso. Ex: Benfeitoria necessria: obra realizada para a conservao da propriedade - troca de telhado; Benfeitoria til: a coisa tem necessidade de ter uma utilidade maior, aumenta aDireitos reais12

CORRENTES

utilidade da coisa - construo mais um quarto na casa; Benfeitorias volupturias: obra de puro embelezamento. Note que, dependendo da benfeitoria, uma benfeitoria volupturia. Possuo uma academia e construo uma piscina, esta poder ser considerada uma benfeitoria til, pois vai me permitir aumentar o meu ganho. As benfeitorias sero ou no indenizadas, conforme o possuidor seja de boa ou m f. Direito de reteno: Aquele que fez uma benfeitoria necessria tem o direito de reteno, ou seja, tem o direito de reter a coisa at ser indenizado, se for possuidor de boa f. O CC estabelece uma presuno relativa (juris tantum) de posse de boa f ao possuidor com justo ttulo. Essa presuno decorre do pargrafo nico do art. 1201. Justo ttulo: Ttulo, em princpio, um instrumento por meio do qual a coisa adquirida. Justo ttulo um modo de aquisio da coisa. Normalmente ser um contrato de compra e venda, mas pode ser um testamento, a sucesso. A presuno de boa f s existe quando h um justo ttulo. Contudo, o ttulo pode no ser sempre justo, pode conter vcios e, assim sendo, no de boa f. Ex: Joo adquire um imvel de um menor, por meio de instrumento particular. O menor deveria ter sido assistido por um responsvel para que houvesse um justo ttulo. Importante observar que o possuidor pode ser de boa f e no possuir um justo ttulo. Diz-se justo ttulo, por se tratar de ato a transferir o domnio da coisa, no fosse a existncia dele de um vcio que o torne inbil a isso, ou seja, um titulo que normalmente transferiria o domnio, no fosse o vcio contido nele. Sempre que se faz referncia a posse e presuno da posse, estamos afirmando que houve uma transmisso, portanto, ser sempre uma posse derivada. Aquele que se apresenta como possuidor da coisa o porque adquiriu a coisa e possui um ttulo derivado. O grande problema existente nesta questo est na mudana de boa f para m f. Em princpio, aquele que est ciente e consciente de que a coisa dele e no prejudica ningum, em determinado instante, pode verificar que aquilo no dele. A partir do momento que ele toma conhecimento disso, a posse de boa f passa a ser de m f. A conseqncia dessa mudana que tudo que ele fez enquanto possuidor de boa f e ter o direito de ser indenizado e ter tambm o direito de reteno. O valor da indenizao sempre corresponder ao valor atualizado at a data da entrega da coisa e sofrer correo monetria. O valor da indenizao ser sempre atual e real. Para poder ser indenizado, o autor da ao reivindicatria deve depositar o valor antes de entrar na posse da coisa. Quanto ao perodo em que o possuidor foi considerado de m f, ele no ter direito a nada e, ainda, ter o dever de indenizar o legtimo dono, pois ele tinha conhecimento que a coisa no era dele. O grande problema saber qual o exato momento em que ocorre a mudana do possuidor de boa f para possuidor de m f. Existem inmeros mtodos: Alguns autores dizem que a posse transmuta de boa f em m f no momento em que algum reivindica a coisa ou a posse em juzo como sendo sua e apresenta os documentos. Outros dizem que no, que s ocorre a partir do momento em que oferecida a contestao no processo, ou seja, no momento em que ele citado e tem a oportunidade de contestar e de ter os documentos referentes a posse analisados. Outros dizem que nem sempre isso acontece. Dizem que na sentena o juiz dir quem o legitimo possuidor. A outros dizem que o perdedor poder recorrer e ento, a sentena poder ser modificada. Na realidade, o que prevalecer o que ficar decidido com o trnsito em julgado da sentena. O que ficar decidido naquele processo o que decidir at onde o possuidor era de boa f e a partir de quando passou a ser de m f. Ainda assim, nem sempre essa posio que prevalecer. Pode ocorrer, tambm, da questo ser sanada antes do incio do processo, se o possuidor ilegtimo se convencer que ele no o legtimo possuidor e entregar a posse. Na ao reivindicatria, o que se discute no a posse, mas sim a propriedade.

Direitos reais

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A posse jurdica decorre sempre do fato de algum ter um ttulo aquisitivo da coisa e estar na sua posse. Se ela no tiver ttulo nenhum, ela meramente detentora. Poder tambm, ser detentora, se detiver o ttulo em nome de outra pessoa que detm a posse. Se verificarmos isso nos termos das teorias de Savigny e Ihering: Segundo Savigny s possuidor aquele que tem o poder fsico sobre a coisa com a inteno de te-la para si. Ento, sem a inteno mero detentor. Nos termos de Ihering todo aquele que detiver qualquer um dos poderes da propriedade possuidor. Se ele o faz tal como o legtimo proprietrio, praticando sobre a coisa todos os atos que o proprietrio praticaria, ele o dono da coisa. So os atos que ele pratica sobre a coisa que definiro se ele possuidor ou no. Note que sempre haver uma restrio. Consoante o CC s no ser possuidor aquele que pratica atos de proprietrio se a lei estabelecer essa prerrogativa, ou seja, se a lei declarar que no possuidor. Art. 1.208. No induzem posse os atos de mera permisso ou tolerncia assim como no autorizam a sua aquisio os atos violentos, ou clandestinos, seno depois de cessar a violncia ou a clandestinidade. Permisso: exige uma autorizao especfica. Tolerncia: no h autorizao expressa, mas a pessoa passa e o legtimo proprietrio no diz nada. No se confunde com a servido, pois esta exige um ttulo escrito e registrado. Ex: A proprietrio de um terreno. B seu vizinho e pede autorizao para passar algumas tubulaes de gua pelo terreno de A. Quem est de fora da relao, no sabe dessa avena, para eles, B est passando pela propriedade como se fosse o legtimo dono, ele est atravessando a propriedade como se fosse dono daquilo ningum est sabendo do acordo. Por fora da oposio que A possa ter em relao a essa passagem, ele pode ter uma tolerncia ou permisso. Em conseqncia disso, para pessoas alheias, B est agindo como legtimo proprietrio. Por isso, a lei diz que no possuidor aquele que pratique ato de mera permisso. Este tem apenas a posse natural que no gera nenhum efeito jurdico. Ex: O Bibliotecrio age como se fosse o dono dos livros, mas apenas detentor, o possuidor o dono da biblioteca. Da mesma forma: o diretor de uma empresa que age como se fosse o dono de sua sala, apesar de no o ser. POSSE AD INTERDICTA: a posse que autoriza o possuidor a invocar os interditos possessrios, na hiptese desta ser ameaada, turbada, esbulhada ou perdida. adquirida por meios regulares, permitidos pelo direito. Para tanto, deve ser uma posse justa. Se essa posse se prolonga no tempo por tempo necessrio a aquisio por usucapio, essa posse ad interdicta se transforma em posse ad usucapionem. Ex: A vislumbra um terreno desocupado e constri neste uma casinha para ele morar. Depois de um tempo, ele faz algumas plantaes que comeam a render frutos. B aparece e passa a colher seus frutos. A nunca teve a inteno de ter a posse para si, mas ele tem o direito de proteger e colher os seus frutos, mesmo que ele fosse o legtimo proprietrio do terreno. POSSE AD USUCAPIONEM: quando der origem usucapio da coisa, desde que obedecidos os requisitos legais. POSSE NOVA E POSSE VELHA O CC de 1916 no art. 517 estabelecia que na posse de menos de ano e dia (1 ano e 1 dia), nenhum possuidor ser manutenido ou reintegrado judicialmente, seno contra os que no tiverem melhor posse. O art. 508 dizia que se a posse for de mais de ano e dia, o possuidor ser mantido sumariamente at ser convencido pelos meios ordinrios. O CPC no art. 954 estabelecia que a ao de manuteno ou reintegrao de posse deveria ser proposta dentro do prazo de ano e dia. Se fosse movida a ao dentro desse prazo, o juiz podia conceder uma liminar para manter o possuidor na posse da coisa ou reintegr-lo na posse da coisa. Claro, depois de feita uma apurao sumria se no existisse uma documentao comprovando a posse. Se a ao de manuteno ou reintegrao fosse movida depois de decorrido esse prazo de ano e dia, no cabia liminar. Aquele que estivesse na posse, sendo ou no possuidor seria mantido na posse. Sendo ou no possuidor ele noDireitos reais14

obteria a reintegrao da posse da coisa. Note que isso o que estava estabelecido pelo CC de 1916. O CC atual adotou critrio totalmente diferente. No fala mais nesses termos, embora at hoje, doutrinariamente, se entenda que decorrido o prazo de ano e dia, a nova posse se consolida. Se ningum reclamou a posse de mais de ano e dia, a posse se consolida. O CC de 2002 passou a admitir a medida cautelar de antecipao de tutela. Em certas circunstncias o juiz pode conceder a antecipao de tutela, caso ele se convena da verossimilhana daquele que est pleiteando a antecipao da tutela. Contudo, continua havendo divergncia, vez que alguns juzes continuam mantendo a posse se decorrido o prazo de mais de ano e dia, conforme o CC de 1916 e outros seguem o disposto no CC de 2002. DISTINO: JUS POSSESSIONIS (direito de posse) X JUS POSSIDENDI (direito posse) Em toda ao possessria, o que se discute o direito de posse, portanto, jus possessionis, toda vez que tivermos uma ao de manuteno, reintegrao ou interdito proibitrio discutimos o direito de posse. Quando h ao reivindicatria, discutimos quem tem direito posse por ser o proprietrio. o direito posse como emanao do direito de proprietrio. No se admite na ao possessria a discusso de domnio, ao contrrio do que estabelecia o CC de 1916. O CC atual colocou a coisa no devido lugar. Se a ao reivindicatria, no adianta dizer que possuidor. No adianta o ru dizer que o dono, tendo em vista que na ao possessria que se discute a posse. A pessoa que no seja proprietria, numa discusso com o dono da coisa, pode sair com a posse da coisa, se provar que est na posse da coisa. O dono se quiser obter a coisa para si, dever ingressar com a ao de reivindicao da posse, para que possa juntar os ttulos e provar que o legtimo dono.Aula 22.02.11

AQUISIO DA POSSE Quando se fala em aquisio da posse tem-se em vista o modo fsico como a coisa foi adquirida. O CC de 1916 no art. 493 adotou a teoria de Ihering, assim como o atual, entretanto, ao definir o modo de aquisio da posse, deixou-se influenciar pela teoria de Savigny. O CC atual, alterando profundamente a orientao do CC de 1916, no art. 1204, deu uma definio genrica sobre o modo de aquisio da posse. Dessa forma, se aproximou ao que dispe o Cdigo alemo. Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possvel o exerccio, em nome prprio, de qualquer dos poderes inerentes propriedade. Toda vez que algum exerce os quatro poderes ou alguns dos poderes inerentes propriedade, esse algum possuidor. A crtica que se faz a este artigo em referncia a expresso: o exerccio. O exerccio pode considerar alguma circunstncia relacionada teoria de Savigny. Na realidade, para que se tenha a posse, basta o poder fsico sobre a coisa ou algum dos poderes inerentes ao direito de propriedade. Sempre que ocorrer isso, h a posse. Podemos dividir os modos de aquisio da posse em dois: originrio e derivado. Modo originrio de aquisio da posse: h um estado de fato da pessoa em relao coisa. Sempre que se estabelece este estado de fato, existe a posse, com um detalhe fundamental: - Quando o modo de aquisio originrio no existe a figura do transmitente. No h quem transmita o poder de fato sobre a coisa. isto que distingue o modo originrio do modo derivado. Modo derivado de aquisio da posse: necessariamente sempre existir um transmitente. Toda vez que se falar em modo derivado, temos: - A figura de algum que transmite a posse e, - Existir um negcio jurdico como causa desta transmisso da posse. Como decorrncia da transmisso do antigo possuidor para o novo, teremos uma conseqncia direta e imediata, identificada no art. 1206. Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatrios do possuidor com os mesmos caracteres. Se a minha posse viciada, esse vcio, que uma das caractersticas da minhaDireitos reais15

posse, ser transmitido ao novo adquirente. Se a posse que eu transmito aos meus herdeiros e sucessores, se esta posse contiver algum vcio, este vcio que uma das caractersticas dessa posse, ser transmitido tambm. Na realidade, este artigo completa o disposto no art. 1203. Art. 1.203. Salvo prova em contrrio, entende-se manter a posse o mesmo carter com que foi adquirida. MODOS DE AQUISIO DA PROPRIEDADE Modos originrios: 1. Ocupao ou apropriao do bem sem dono ou abandonado. o modo pelo qual o possuidor passa a dispor da coisa. Ocorrer sempre que no exista a figura do transmitente. Ex: A est andando na praia e apanha um caramujo. um modo originrio de aquisio da posse. Isso ocorre sempre que no exista a figura do possuidor. Ex: O antigo possuidor pega a caneta e joga fora. Se outra pessoa apanhar esta caneta, significa dizer que ele est passando a exercer a aquisio daquilo porque est se apossando da coisa abandonada - res derelictae. Se a coisa no tem dono, aquele que se apossar da coisa primeiro passar a ser seu verdadeiro dono. Ex: Res nullius coisa sem dono. 2. Coisas que efetivamente correspondem a bens de outras pessoas: se a coisa estava na posse de outra pessoa e algum a adquiriu, significa que agiu contra a vontade do possuidor e que a posse viciada pela clandestinidade ou pela violncia. Normalmente, neste modo originrio, para que se configure a apreenso preciso que se tenha o poder fsico, o contato direto com a coisa para que se configure a apreenso. No entanto, existem certas hipteses que dispensam esse poder fsico: - Se A tem uma criao de gado na fazenda, o nascimento de um bezerro no exige que A tenha que tocar nesse bezerro. O simples fato da ocorrncia da multiplicao do gado, no exige o contato fsico com a coisa. Esse princpio da apreenso se aplica tanto em relao aos mveis como aos imveis. - Quanto aos bens mveis haver a apreenso e o deslocamento da coisa, colocando-a sob o poder do possuidor. - Em relao aos imveis, o poder fsico sobre eles uma caracterstica da utilizao. O imvel normalmente se caracteriza pelo uso, pelo aproveitamento que o possuidor possa tirar dele. importante destacar que em relao aos imveis, esse poder fsico pode existir at mesmo sem que o possuidor tenha o poder direto sobra a coisa. Ex: Caador atira em uma caa e a fere, mas o caador no consegue apanhar a caa. O simples fato de ter atirado e ferido a caa no faz com que a coisa esteja na posse dele, pois a caa pode fugir e no se submeter poder fsico do caador. Ex: Caador monta uma armadilha para caar um coelho e fica a distncia. Um animal cai na armadilha dele. Mesmo que o caador no saiba que o animal caiu na armadilha, mesmo que ele esteja distante da coisa, o animal de sua posse, do caador o poder fsico sobre a armadilha. Se algum vier e pegar o animal da armadilha, estar furtando o bem do caador. 3. Exerccio do direito: considerado o direito necessrio verificar a sua utilizao. Ex: A constri um aqueduto, para levar a gua de um lugar para outro, a partir do momento que ele constri o aqueduto e passa a se utilizar dele, esse algum est exercendo o direito e pode se utilizar dos interditos, caso outro pretenda se apossar ou se aproveitar do aqueduto. Modos derivados de aquisio: a aquisio derivada pressupe sempre a figura de um transmitente, no h modo derivado sem a figura do transmitente. Como decorrncia disto, toda posse derivada bilateral, pois h a figura do transmitente e daquele que adquire a posse. A posse derivada pressupe sempre a existncia de um negcio jurdico (compra e venda; comodato, etc.). A aquisio da posse derivada pode ocorrer pelos seguintes meios: - Ato intervivos: em todos os casos em que exista um negcio jurdico.Direitos reais16

- Ato causa mortis: sempre que houver um negcio jurdico que ser um testamento ou sucesso. - Ato judicial: arrematao, leilo, adjudicao feita pelo juiz em inventrio. Em todos esses casos temos um ato jurdico de transmisso da posse por meio derivado. Em todos esses casos anteriormente mencionados, temos que considerar os requisitos obrigatrios do negcio jurdico: objeto lcito, agente capaz e o ato jurdico que o consubstancie. Hipteses de modo derivado: Tradio: entrega da coisa de um possuidor para o adquirente. preciso que exista sempre o propsito deliberado de transmitir a posse do transmitente para o outro e de outro, no sentido de receber a posse. - Pode existir tradio que no consubstancie a transmisso da posse para o outro, transmitir apenas o poder fsico ou a deteno da coisa, sem que se caracterize a transmisso da posse. Ex: A pega uma caneta e pede a empregada que guarde a caneta, A no est transmitindo a posse. - Note que nem toda tradio implicar na transmisso da posse. A tradio pode ser realizada de vrias maneiras: Tradio real ou efetiva: aquela em que uma das partes entrega a coisa definitivamente com o propsito deliberado de transmitir a posse da coisa. Tradio ficta ou simblica: aquela em que no h a entrega real da coisa, mas sim a entrega de algo que simbolize a coisa, a entrega simblica da coisa. Ex: chaves do carro, chaves do apartamento. Tradio consensual: neste caso, o que prevalecer ser o acordo de vontade entre as partes no sentido de transmisso da posse. Pode ser feita de duas maneiras: Tradictio longa manu (tradio ao alcance da mo): dispensa que o adquirente coloque suas mos na coisa, bastando que a coisa seja colocada disposio do adquirente, sempre que no existir ningum na posse. Se algum estiver exercendo o poder de fato o possuidor. Todo aquele que exercer o poder de fato sobre a coisa o possuidor. Ex: transmisso da posse de uma fazenda. Tradictio brevi manu (tradio prxima da mo): a pessoa que j detm a coisa vem a adquirir a propriedade desta coisa. Ex: A locatrio de uma casa e compra a casa. Ele que possua em nome do antigo locador, passa a possuir a coisa, por fora deste contrato em nome prprio. - No direito romano, toda vez que algum estava na posse de alguma coisa e eventualmente, mudava o titulo de sua posse, ele tinha que pegar a coisa, dar para o dono, fazer o contrato e o dono deveria devolver a coisa para ele. Como decorrncia disso, a transmisso ficava muito prejudicada. Por isso se criou o sistema que a pessoa, sem dividir o poder fsico sobre a coisa, passa a possu-la sob outro ttulo. Constituto possessrio: exatamente o oposto da tradictio brevi manu. Normalmente, tambm se usa a expresso latina clusula constituti. Na tradictio breve manu, algum que detm a posse da coisa adquire a propriedade, j na clusula constituti, algum que proprietrio da coisa, vende a coisa e continua nela. No direito romano, toda vez que algum estava ocupando a coisa em nome prprio ou como locatrio e adquiria a coisa tinha primeiro que devolver a coisa ao legtimo dono e a o adquirente entregava a coisa. Criava-se uma dificuldade muito grande e desnecessria. Por fora desta circunstncia toda foi que se criou o instituto de constituto possessrio. O importante no constituto possessrio que ele no se presume, tem que estar expressamente consignado no contrato, ou seja, h necessidade de clusula expressa no contrato. Se no estiver, no se pode presumir a existncia dele. Este instituto vem previsto no art. 1267, pargrafo nico do CC e a resoluo 77 diz que se aplica tanto aos contratos que versam sobre coisas mveis como para coisas imveis. Pelo CC o constituto possessrio s se aplica s coisas mveis. O Conselho Federal de Justia no enunciado 77 dispe que este instituto se aplica s coisas mveis e imveis. ACESSO DE POSSE ou ACESSIO POSSESSIONES vem a ser a soma de posse, ou seja, quando alieno uma coisa para outra pessoa, eu transfiro a coisa e a posse dessa coisa. ODireitos reais17

adquirente pode somar a sua posse com a do alienante. Isso tem muita aplicao e interesse no usucapio. Cabe ao adquirente verificar em cada caso concreto, se vale a pena ou no unir a sua posse a do alienante. Art. 1.203. Salvo prova em contrrio, entende-se manter a posse o mesmo carter com que foi adquirida. Em alguns casos, por fora do art. 1206, o adquirente no tem a liberdade de separar a sua posse do seu antecessor. Ex: Se A obteve a posse mediante violncia, quando for transmitir a posse aos seus sucessores, a posse ser transmitida com esse vcio. Os sucessores no podem separar a posse, vez que so sucessores universais. J na hiptese da venda desta posse, se a coisa for alienada para algum, esse adquirente adquire a coisa a titulo singular e, consequentemente, o CC permite ao adquirente a separao ou no da posse para os efeitos legais. Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatrios do possuidor com os mesmos caracteres. Consequncia da aplicao: so os princpios aplicveis aquisio da posse. Se uma pessoa adquire a posse, esta posse transmitida ao adquirente com todos os caracteres, todas as qualidades e defeitos a ela inerentes. Se a posse foi obtida mediante clandestinidade ou violncia, ou se foi uma posse perfeita, sem nenhum vcio, a posse ser transmitida com as respectivas qualidades ou defeitos. Cabe ao adquirente, partindo do seu interesse particular, verificar se conveniente ou na, unir a sua posse com o antecessor. Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular facultado unir sua posse do antecessor, para os efeitos legais. Sucessor universal: aquele que sucede algum em todos os seus direitos, ou seja, passa a ocupar o lugar dele, ou sozinho ou em uma quota parte do seu direito. Nesse caso, no h como separar a posse. Se o antecessor tinha vcio na posse, isso transmitido. Ex: A tem um nico filho, B, que sucede o pai em todos os direitos e deveres, designado sucessor universal, ou seja, sucede o pai em tudo. Se A tiver 3 filhos, cada um deles ter uma quota parte ideal de seus bens. Sucessor a ttulo singular: aquele que sucede a algum em coisa certa e determinada. Neste caso, a posse pode ser separada. Ex: compra e venda - se A vende a caneta para B, B sucessor singular, porque B est sucedendo A na posse da coisa. Legatrio aquele que recebe um legado, ou seja, coisa certa e determinada. Contudo, ele s receber com a morte do testador. Embora a sucesso v ocorrer sobre coisa certa e determinada, o legatrio no pode separar a posse dele, pois ele a herda pela sucesso universal. Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatrios do possuidor com os mesmos caracteres. Em princpio, possuidor aquele que exerce poder fsico sobre a coisa e pode dela desfrutar. Contudo, essa afirmao comporta excees. Art. 1.208. No induzem posse os atos de mera permisso ou tolerncia assim como no autorizam a sua aquisio os atos violentos, ou clandestinos, seno depois de cessar a violncia ou a clandestinidade. So obstculos aquisio da posse: a permisso e a tolerncia. A permisso exige uma autorizao expressa. A tolerncia, ao contrrio, simplesmente significa uma permisso, uma condescendncia do legtimo possuidor que no toma nenhuma atitude em relao quele que pratica atos que seriam de possuidor, no fosse a autorizao ou a tolerncia do legtimo possuidor. A tolerncia e a permisso, nos seus efeitos se confundem, porque nenhuma das duas produzem efeitos de possuidor. Na essncia, nos efeitos, os dois atos se confundem. O CC acrescenta a isso, que os atos clandestinos no autorizam a posse. Enquanto durar a violncia e a clandestinidade, no se pode falar em posse. A partir do momento que cessarem esses vcios, a posse pode surgir e tomar as formas de uma posse perfeita. A posse clandestina deixa de ser clandestina quando o legtimo possuidor tomar conhecimento da posse e no tomar nenhuma providncia.Aula 24.02.11

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Quem pode adquirir a posse? O CC de 2002 no dispe nada acerca disso. Art. 1.205. A posse pode ser adquirida: I - pela prpria pessoa que a pretende ou por seu representante; II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificao. bvio que aquele que pretende adquirir a posse tem que ter poderes para adquirir a posse. A aquisio da posse pressupe determinados requisitos: Objeto lcito; Forma prescrita ou no defesa em lei; Agente capaz. O adquirente deve ter capacidade plena para exercer pessoalmente os atos da vida civil ou: - Se o adquirente for relativamente capaz (maior de 16 e menor de 18 anos), ter que ser assistido por seus pais ou tutores. absolutamente necessria a manifestao de vontade do relativamente capaz e do seu assistente para a aquisio da posse; - Se for menor de 16 anos, dever ser representado na prtica dos atos da vida civil. - Os que no tiverem discernimento devem ser interditados e representados. Art. 2 A personalidade civil da pessoa comea do nascimento com vida; mas a lei pe a salvo, desde a concepo, os direitos do nascituro. Art. 3 So absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficincia mental, no tiverem o necessrio discernimento para a prtica desses atos; III - os que, mesmo por causa transitria, no puderem exprimir sua vontade. Art. 4: So incapazes, relativamente a certos atos, ou maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os brios habituais, os viciados em txicos, e os que, por deficincia mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os prdigos. Pargrafo nico. A capacidade dos ndios ser regulada por legislao especial. O CC no dispe, mas o procurador pode adquirir a posse em nome do representado, desde que este tenha poderes para isso. uma conseqncia natural, vez que o procurador se encaixe em certo sentido, na figura do representante legal. O procurador tem que ter poderes para a aquisio da posse, ou seja, tem que ter a procurao. Essa procurao no tem que ter exame rigoroso dos dados constantes dela para feitos de verificar a extenso dos poderes, vez que o prprio CC admite a aquisio da posse pelo terceiro sem mandato, desde que a manifestao de vontade dele seja ratificada pelo interessado a quem ele representa. Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196. O CC de 1916, em termos de conceituao da aquisio da posse adotou praticamente o que dispe o CC alemo. Quem exerce qualquer dos poderes de propriedade est adquirindo a posse. Perde a posse quem deixa de exercer isso. O CC de 1916 era extremamente minucioso, enumerava todas as causas de perda da posse. O CC atual simplesmente diz que perde-se a posse quando deixe de exerc-la ainda que contra a vontade do possuidor. Didaticamente o modo mais prtico que os autores adotam, seguir a ordem ou a enumerao do CC de 1916. Portanto, temos: Hiptese 1) Perde-se a posse pelo abandono, que sempre um ato voluntrio, algum demite de si a posse de uma determinada coisa, renuncia a posse da coisa. Seria como se algum simplesmente abandonasse ou jogasse fora algum objeto que no queira mais. Pode ser bem mvel ou imvel. O abandono da coisa tem o nome jurdico de DERRELIO (significa abandono). Sempre que algum abandona uma determinada coisa est renunciando a posse da coisa. Para que se possa falar em abandono, so exigidos normalmente dois requisitos: Voluntariedade: s existe abandono quando a pessoa voluntariamente abre mo da coisa. Essa voluntariedade no existe em qualquer rea. Ex: No existe voluntariedadeDireitos reais19

no caso em que, as pessoas bordo de um barco que est afundando, comeam a jogar as coisas a fim de diminuir o peso para no perderem a vida. Esse gesto de quem se despoja de bens atirando-os ao mar para evitar que o navio afunde, no um ato voluntrio. Consequentemente, a pessoa abre mo da posse naquele determinado momento, mas no abre mo da propriedade da coisa. A pessoa que encontrar essas coisas obrigada a devolver. Nessa hiptese no se pode falar em abandono. Capacidade: se a pessoa no tem capacidade plena para a prtica dos atos da vida civil, evidentemente, no se pode falar em abandono. O abandono um ato jurdico, a renncia que pressupe a capacidade. Sem capacidade, no h como se falar em renncia. Quando se fala em renncia de coisa mvel, estamos falando de algum que se despoja da coisa e a partir da, a coisa passa a ser res delictae (coisa sem dono). O primeiro que pegar essa coisa abandonada ser seu dono. Em relao ao imvel, ocorre a perda quando a pessoa abre mo do uso da coisa. Na verdade, a posse do imvel demonstrada pela utilizao dela. Quem deixa de utilizar a coisa, abre mo da posse dela. Tambm pode ocorrer a hiptese de abandono por meio do representante, para isso preciso que ele tenha uma procurao autorizando-o a abrir mo da posse de alguma coisa. Hiptese 2) Tradio a segunda hiptese em que pode ocorrer a perda da posse. Interessante notar que a tradio meio de adquirir a posse e tambm meio de perda da posse. A partir do momento que a coisa entregue, o possuidor est abrindo mo da coisa e o adquirente estar recebendo a coisa. Portanto a a tradio tanto causa de aquisio como de perda da posse. Temos verdadeiramente dois tipos de tradio: a tradio propriamente dita, no sentido tcnico jurdico, onde ocorre a entrega definitiva da posse da coisa outra pessoa. H tambm a tradio em que o possuidor pode entregar algo para algum (empregado, familiar), apenas e to somente para que a pessoa guarde a coisa. Neste caso, no h transferncia de posse. Alguns autores enumeram os requisitos para que tenhamos a tradio: 1) Entrega da coisa. 2) Que essa entrega seja feita com a inteno de transferir a posse para outra pessoa. 3) Tem que existir uma justa causa, uma razo jurdica, um negcio jurdico que justifique a transferncia da posse da coisa ao adquirente. Ex: A empresta um imvel para B. Por meio de uma entrega real, A est entregando a posse direta para B. Existir, por exemplo, uma razo jurdica para isto, neste caso, um comodato. Sempre dever existir um negcio jurdico que justifique a transferncia da coisa. Em relao a coisas mveis, essa transferncia vai significar a apreenso e o deslocamento da coisa para junto do adquirente, a fim de justificar o poder fsico do adquirente sobre a coisa. Em relao s coisas imveis, a tradio se configura atravs do registro no cartrio de registro de imveis. Quando se entrega a coisa para efeito de registro, costuma-se falar em tradio solene. Hiptese 3) Perda da prpria coisa: a perda diferente do abandono. - No abandono, a pessoa renuncia ciente e consciente renuncia a posse da coisa. - Na perda, ocorre o extravio da coisa, o possuidor no sabe o destino que a coisa teve. A partir da, temos duas situaes que podem ocorrer: 1. Posso perder alguma coisa dentro de casa. Enquanto a pessoa imagina que perdeu a coisa dentro de casa, continua sendo seu possuidor, no h nenhuma restrio sobre isso. Ex: A perdeu uma filmadora dentro de casa, mas no sabe onde est, pois no se lembra de t-la tirado de dentro de casa. Quando acontece isso, verdadeiramente A no perdeu a posse, continua sendo o possuidor da coisa. - Contudo, se A perde algo na rua, surge o problema. Enquanto a pessoa procura na rua aquilo que perdeu, para todos os fins e efeitos de direito, A continua possuidora da coisa. A partir do momento que a pessoa desiste de procurar, para todos os fins e efeitos de direito ela perde a posse da coisa.Direitos reais20

Ex: A recebeu um cheque e resolveu descont-lo em uma agncia bancria. No caminho para o banco, perdeu o cheque. B achou o cheque e no dia seguinte dirigiu-se ao banco. B apresentou o cheque ao caixa para sac-lo. O caixa chamou a polcia e B foi preso. Instaurado o processo, a defesa alegou que o acusado tinha 15 dias para devolver o cheque ao dono ou autoridade. Contudo, a partir do momento que B apresentou o cheque para receber o dinheiro, ele se apresentou como dono, ele se apresentou para receber o dinheiro. B foi condenado pelo crime de apropriao de coisa achada. - A partir do momento que a pessoa encontra uma coisa achada, ela tem a obrigao de devolver para o legtimo dono ou para a autoridade. No direito brasileiro, no basta estar na posse da coisa, preciso provar que a coisa sua. A posse no vale como ttulo preciso que a pessoa demonstre a legitimidade do poder fsico que ela tem sobre a coisa. Se a coisa furtada, roubada e a pessoa est na posse dessa coisa, ela responder pelo crime. Art. 169 do CP - Apropriar-se algum de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou fora da natureza: Apropriao de coisa achada - II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restitu-la ao dono ou legtimo possuidor ou de entreg-la autoridade competente, dentro no prazo de 15 dias. Ex: A pretende vender um carro. B, que seu conhecido, quer comprar o carro e d um cheque para A, que lhe entrega o carro. A deposita o cheque e este devolvido por falta de fundos. O CC estabelece como princpio, que s se pode reivindicar o que foi furtado. Aquilo que tiver sido transferido para outra pessoa, seja em razo da confiana ou por outro motivo, no h como se reivindicar a prpria coisa. A nica coisa que poder ser feita a ao de cobrana em face da pessoa na qual se confiou. - Em todo caso de perda da prpria coisa, se a coisa perdida for encontrada por algum e esta coisa for vendida em leilo ou hasta pblica, aquele que seja o legtimo dono dela, para efeito de recuperar a coisa, ter que pagar aquele que arrematou a coisa em leilo ou em hasta pblica. O legislador quer mostrar a importncia e dar garantia para quem se utilizou desse meio para adquirir a coisa. 2. Perde-se a posse pela destruio da coisa: essa coisa pode ser destruda, por exemplo, por algum fenmeno da natureza. Desaparecida a coisa, perde-se o objeto e com a perda do objeto perde-se o poder sobre ele. Se a coisa no existe mais no h sobre o que exercer a posse. Perecendo a coisa, perece o direito. - Para que possa falar em perda por destruio da coisa, preciso que a destruio seja completa. Se for possvel se aproveitar de parte da coisa, trata-se de deteriorao e no destruio. - O perecimento pode ocorrer por ato do prprio dono (res perit domino). - A coisa pode ser destruda por ato de terceiros. Nesta situao, o que ocorrer que o possuidor no poder exercer a posse sobre a coisa, mas ele passar a ter direito de reparao do dano pelo prejuzo sofrido. - A coisa pode ser perdida nos casos de mistura de slido (ex: arroz), lquido (ex: vinho) e justaposio (uma coisa que se coloca sobre a outra sou proprietrio de uma tela em branco e um pintor pinta algo na tela. Neste caso teremos que verificar se ele agiu de boa ou m f. De quem ser o quadro resultante?). Ex: possvel misturar dois vinhos de proprietrios e qualidade diferentes, surgir uma confuso. Se misturarmos um vinho bom com um vinho ruim, teremos um vinho de qualidade intermediria, evidentemente, surgir um terceiro produto e, ento, haver uma srie de questes: Houve m f de alguma das partes? A quem pertence o produto final?Aula 02.03.11

- Pode ocorrer a perda posse pela prpria perda da substncia da coisa. Ex: Se A compra um animal e este morrer, h a perda da coisa. Da mesma forma, se A adquirir um automvel, o motor fundir e no for consertado, h a perda da coisa. - Pode ocorrer a perda da posse pela perda das qualidades essenciais da coisa. Ex: Um imvel que permanentemente invadido pelas guas, consequentemente, no ser mais possvel exercer a posse sobre uma coisa que est debaixo da gua. - O desaparecimento do valor econmico da coisa. No vai existir posse sobre algo que no tem valor econmico.Direitos reais21

- Perda da coisa pela inalienabilidade dela. Se uma coisa posta fora do comrcio, a conseqncia natural que no h como exercer a posse. A coisa pode ser colocada fora do comrcio pelas seguintes razes: ordem pblica, segurana, higiene e moralidade. Em qualquer desses casos, se a coisa colocada fora do comrcio, a conseqncia o desaparecimento da posse. - Pode ocorrer a perda da posse pela posse de outrem, ainda que contra a vontade do possuidor. A posse sempre exercida com exclusividade, no h como duas pessoas diferentes exercerem a posse sobre a totalidade da coisa, vez que a exclusividade uma das caractersticas da posse. Ex: Se A tem a posse de determinada coisa e expulso, perde a posse para B. A pode reagir, seja por meios das aes possessrias, pelo desforo imediato da posse ou pela legtima defesa, se a posse for retomada por esses meios, para todos os efeitos, ser como se ele nunca tivesse perdido a posse da coisa. - Constituo possessrio: simultaneamente causa de aquisio e de perda da posse. Ex: O proprietrio do imvel vende o imvel e passa a ser locatrio do imvel. Aparentemente neste caso, a situao no muda. Para todos os efeitos, no houve mudana exterior. A mudana que h especificamente de aspecto moral, subjetivo da coisa. EFEITOS DA POSSE Efeito da posse so as conseqncias que decorrem da posse ou ela isoladamente considerada ou ela juntamente considerada em outra circunstncia. De modo geral, os autores colocam como principal efeito da posse o direito de invocar os interditos possessrios (ao de manuteno da posse; ao de reintegrao da posse; interditos proibitrios). Ao de manuteno da posse: tem na sua base a manifestao da turbao da posse do possuidor, sem implicar na sua perda. Ao de reintegrao da posse: prpria para restituir a posse, em caso de esbulho. Interditos proibitrios: a ao que previne a violncia iminente contra a posse. O CC dispe que a forma normal de defesa da posse por meio de ao, cabendo ao Poder Judicirio analisar e resolver o problema, porque a ele que compete resolver toda a violao de direito nesse sentido. O legislador vai alm, uma vez que ele no pode estar em todo lugar para impedir que ocorra a violao de ao direito de algum. Por isso, a lei permite que toda e qualquer pessoa que esteja sofrendo violncia, possa se defender, utilizando a defesa pessoal fisicamente ou em relao posse, ou seja, a legtima defesa da posse. Ex: Se A agredido e no dia seguinte vai se vingar. Teremos duas agresses: uma de A que inicialmente sofreu o ataque e outra, de A contra o seu agressor. Na posse o legislador vai muito alm. Ao lado da legtima defesa, h o instituto do desforo pessoal, ou seja, por este instituto a lei autoriza o possuidor que perdeu a posse tentar retom-la com a sua prpria fora. Se formos comparar com a legtima defesa pessoal, na legtima defesa da posse, tudo perfeitamente legal, j na defesa pessoal, o juzo competente poder ser convocado para que se pronuncie sobre a legalidade das agresses. Quanto s conseqncias da posse em si, alm do direito de invocar os interditos possessrios, os autores costumam analisar outros efeitos produzidos pela posse. Contudo, no existe entendimento uniforme dos autores em relao a isso. A grande maioria dos autores diz que o efeito principal o direito de invocar os interditos. Essa posio unnime. Temos dois efeitos da posse: o direito de invocar os interditos possessrios e o usucapio. Vicente Rao afirma que h somente o direito de invocar os interditos e critica a incluso da aquisio por usucapio como efeito da posse, porque o usucapio no decorre simplesmente da posse em si, mas o efeito da posse acrescido de mais alguma circunstncia, ou seja, o decurso do tempo, da boa f, tempo maior ou alguns outros requisitos normais do usucapio. A grande maioria dos autores apontam o usucapio como os efeitos da posse, visto que sem a posse no h usucapio. bsico para a aceitao a aquisio por meio do usucapio, a posse. Savigny d como efeito da posse os interditos e o usucapio.Direitos reais22

Washington de Barros Monteiro traz um discpulo de Savigny que aponta 72 efeitos da posse. As crticas feitas a esse estudo que na realidade no seriam efeitos propriamente da posse. Quase toda a maioria dos autores consideram como efeitos da posse a invocao dos interditos, o direito reteno pelas benfeitorias, o direito da percepo dos frutos, o direito a pagamento de indenizao. Clvis Bevilaqua afirma, ainda, que a posio do possuidor muito mais favorvel do que aquela de quem no . Alm disso, atribui como sendo um dos efeitos da posse, o fato de que o nus da prova de quem alega, de quem nega a posse do possuidor. Na realidade, no por esse fundamento eu se faz essa afirmao, mas sim porque quem est na posse no precisa provar nada, pelo simples fato do possuidor estar na posse da coisa. O legislador aborda um problema que a fundamentao do direito de posse: Por que a posse protegida? Savigny afirma que a posse tem que ser protegida em ateno a pessoa do possuidor, para evitar a violncia contra o possuidor, que pode at ser morto na tomada da posse. Ihering afirma que deve ser protegida em ateno propriedade. Protege-se a posse, porque por meio dela que se explora economicamente a propriedade. Em conseqncia disso, se a pessoa no tem a posse, a propriedade no vale nada para ela, porque ela no tem como se aproveitar da coisa da qual ela possuidora. No direito brasileiro, o fundamento da proteo da posse em primeiro lugar em ateno ao direito de propriedade. Procura o legislador proteger a posse, porque protegendo a posse est protegendo o possuidor que quase sempre o proprietrio. Essa colocao da proteo da posse em ateno ao direito de propriedade tem um inconveniente. Se, dada a proteo a uma determinada posse, porque presumidamente o possuidor o proprietrio, no h como distinguir se esse possuidor realmente o legtimo proprietrio da coisa ou se ele est ocupando indevidamente a propriedade de algum. Por fora desta colocao, pode ocorrer da posse estar nas mos de um usurpador. A possibilidade de que isto ocorra muito rara, pois normalmente quem est na posse da coisa o proprietrio ou algum detentor por ele nomeado. O legislador procurou por todos os meios dar proteo posse e no CC de 2002, esta preocupao demonstrada: Art. 505 do CC de 1916: No obsta a manuteno, ou reintegrao na posse, a alegao de domnio, ou de outro direito sobre a coisa. No se deve, entretanto, julgar a posse em favor daquele a quem evidentemente no pertencer o domnio. Ex: Com base neste artigo - A possuidor de uma determinada coisa, de repente ele se desentende com B e os dois passam a disputar a posse, dizendo que so possuidores. A est na posse do imvel h 8 anos. Durante estes anos, ele teve a posse mansa da coisa, todos os vizinhos o respeitavam como se ele fosse o legtimo dono da coisa. Na disputa judicial, B junta uma escritura de compra e venda dessa rea. Ento, pelo CC de 1916, a partir do momento em que B prova que o legtimo proprietrio da rea, o juiz obrigatoriamente no pode julgar a posse contra ele. Portanto, verdadeiramente, no existe proteo posse, mas sim propriedade. Art. 1.210 do CC de 2002: O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbao, restitudo no de esbulho, e segurado de violncia iminente, se tiver justo receio de ser molestado. 1 O possuidor turbado, ou esbulhado, poder manter-se ou restituir-se por sua prpria fora, contanto que o faa logo; os atos de defesa, ou de desforo, no podem ir alm do indispensvel manuteno, ou restituio da posse. 2 No obsta manuteno ou reintegrao na posse a alegao de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa. Se houver uma divergncia como a mencionada acima, se a escritura de compra e venda for apresentada, o juiz dir que no interesse a propriedade e sim a posse. A lide ser decidida sobre esse prisma. Ento, B dever ingressar com a ao de reivindicao, a fim de reconhecer o domnio. Mas B s poder mover a ao, depois de terminada essa ao possessria. Na atualidade temos a proteo da posse pelos simples fato da posse. O que se discute na ao possessria o jus possessionis, ou seja, o direito de posse.Direitos reais23

O que se pretende discutir na ao reivindicatria o jus possidendi, ou seja, o direito da posse como decorrncia do direito de propriedade, ou seja, quem tem o direito propriedade. PRINCPIOS AES POSSESSRIAS No passado havia uma discusso entre os autores acerca de se a posse era direito real ou pessoal. Dizia-se que a posse era um direito real, nesse caso, necessariamente para se discutir qualquer direito real era preciso envolver o cnjuge, se a parte fosse casada. Decorrente disso havia o problema de promover a citao do cnjuge. Ex: A tem uma propriedade. B vem SP em busca de trabalho e invade a propriedade de A, expulsand