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Direitos de autor e condições de utilização do trabalho por terceiros

Este é um trabalho académico que pode ser utilizado por terceiros desde que respeitadas as regras e

boas práticas internacionalmente aceites, no que concerne aos direitos de autor e direitos conexos.

Assim, o presente trabalho pode ser utilizado nos termos previstos na licença abaixo indicada.

Caso o utilizador necessite de permissão para poder fazer um uso do trabalho em condições não previstas

no licenciamento indicado, deverá contactar o autor, através do RepositóriUM da Universidade do Minho.

Licença concedida aos utilizadores deste trabalho

Atribuição

CC BY

https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

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Agradecimentos

Agradeço, primeiramente, a Deus, que me deu energias e graças para concluir a dissertação,

sabemos que nem todo mundo consegue chegar a esta fase, muitos param no término do primeiro ano

do mestrado, não prosseguindo com a dissertação.

Agradeço a minha esposa, Judite Gonçalves João Tassoça e ao meu filho, Pedro David Tassoça

Direito, por compreenderem os dois anos em que estive ausente por causa do desenvolvimento deste

trabalho, mas em todos os momentos pensava neles, ao longo desta caminhada.

Agradeço às minhas irmãs, Amélia David Direito, Sílvia David Direito, Simon David Direito Guias,

Angelina David Direito Guias, Suzana David Direito Guias e Jaqueline David Direito Guias por estarem ao

meu lado e por fazerem-me ter confiança nas minhas decisões.

Agradeço, à minha orientadora, Professora Doutora Leonor Maria de Lima Torres, pela sua

dedicação e paciência, apesar da intensa rotina de sua vida académica que aceitou me orientar nesta

dissertação e que dedicou inúmeras horas para sanar as minhas questões e colocar-me na direção

correta. As suas valiosas indicações fizeram toda a diferença.

Agradeço a todos os meus colegas do curso do Mestrado em Ciências da Educação, área de

Especialização em Administração Educacional (2017/2018) que compartilharam inúmeros desafios que

enfrentamos, sempre com o espírito colaborativo, especialmente aos meus colegas do grupo, Emília

Lemos e Jorge Faria, que nunca desistiram do nosso trabalho e sempre me ajudaram em cada passo

desta dissertação.

Agradeço, ao Instituto de Bolsas de Estudo de Moçambique (IBE) e à direção da antiga

Universidade Pedagógica, Delegação de Tete atualmente Universidade Púnguè - Extensão de Tete por

concederem-me a bolsa para continuação dos estudos em Portugal, na Universidade do Minho.

Agradeço, à direção da escola e aos atores escolares que participaram neste estudo pela

calorosa receção e colaboração durante o tempo que permanecemos na escola.

Também quero agradecer à Universidade do Minho e ao seu corpo docente, especialmente do

Instituto de Educação, do departamento de Ciências Sociais da Educação que demostrou estar

comprometido com a qualidade e excelência do ensino.

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Declaração de integridade

Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e confirmo que não

recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou falsificação de informações ou

resultados em nenhuma das etapas conducente à sua elaboração.

Mais declaro que conheço e que respeitei o Código de Conduta Ética da Universidade do Minho.

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O Papel do Diretor como Instância de Regulação Cultural e Simbólica da Escola: Um estudo de caso

numa escola do ensino secundário geral de Moçambique

Resumo

O estudo desenvolvido nesta Dissertação incide sobre o papel do Diretor escolar e tem como

objetivos: caraterizar o Sistema Educativo Moçambicano; analisar o papel do diretor, perspetivado como

instância de regulação cultural e simbólica na escola; identificar as especificidades culturais da escola;

analisar a articulação entre a política educativa, a liderança e a cultura escolar. Do ponto de vista teórico,

este estudo mobiliza os modelos racional-burocrático e cultural para análise das instituições escolares,

por se considerar os mais adequados à análise das dimensões centralizadoras do sistema educativo

moçambicano e à compreensão das dimensões culturais e simbólicas, designadamente a missão, a

visão, os valores e crenças dos atores escolares.

O estudo empírico foi realizado numa das escolas do ensino secundário geral em Moçambique

no ano letivo de 2018. A metodologia adotada inscreve-se no paradigma de investigação qualitativa,

apoiada no método foi o estudo de caso e nas técnicas da entrevista, da observação e da análise

documental; para o tratamento e análise dos dados utilizamos a análise do conteúdo.

Tendo em vista os aspetos observados, constatamos que o alto nível de centralização do Sistema

Educativo Moçambicano pressiona as escolas a serem reprodutoras dos normativos estabelecidos a nível

central e o distanciamento entre a conceção no topo (ministério) e a execução na base (escola) pressiona

as periferias escolares à reprodução, embora esta não seja integral. No contexto local percebemos que

o papel do diretor no quotidiano escolar condiciona a criação, desenvolvimento e manutenção da cultura

escolar, em função do seu tipo de liderança, das suas relações com os atores escolares e com os órgãos

da escola (conselho da escola, coletivo de direção, conselho pedagógico), entre outros aspetos relevantes

no seio da instituição escolar.

Palavras-chave: centralização, cultura escolar, liderança, papel do diretor, participação.

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The Role of the Principal as the School's Cultural and Symbolic Regulation Body: A case study in a

general secondary school in Mozambique

Abstract

The study developed in this dissertation focuses on the role of the school principal and aims

to: characterize the Mozambican education system; analyze the role of the principal, viewed as an

instance of cultural and symbolic regulation at school; identify the cultural specificities of the school; to

analyze the articulation between the educational policy, the leadership and the school culture. From the

theoretical point of view, this study mobilizes the rational-bureaucratic and cultural models for the analysis

of school institutions, as they are considered the most adequate to the analysis of the centralizing

dimensions of the Mozambican education system and to the understanding of the cultural and symbolic

dimensions, namely the mission, the vision, values and beliefs of school actors.

The empirical study was carried out in one of the general secondary schools in Mozambique

in the 2018 school year. The methodology adopted is part of the qualitative research paradigm, supported

by the method was the case study and the techniques of interviewing, observing and document analysis;

for the treatment and analysis of the data we use the content analysis.

In view of the observed aspects, we find that the high level of centralization of the Mozambican

Education System puts pressure on schools to reproduce the centrally established norms and the gap

between top conception (ministry) and bottom execution (school) pressures school peripheries to

reproduction, although it is not integral. In the local context we realize that the principal's role in school

daily life conditions the creation, development and maintenance of the school culture, depending on his

type of leadership, his relationships with the school actors and the school bodies (school council, collective

management, pedagogical council), among other relevant aspects within the school institution.

Keywords: centralization, leadership, participation, principal's role, school culture.

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Le Rôle du Directeur d'école en tant qu'organe de Régulation Culturelle et Symbolique de l'école: Étude

de cas dans une école secondaire générale au Mozambique

Résumé

L'étude développée dans cette thèse met l'accent sur le rôle du directeur d'école et vise à:

caractériser le système éducatif mozambicain; analyser le rôle du directeur d'école, considéré comme

un exemple de régulation culturelle et symbolique à l'école; identifier les spécificités culturelles de l'école;

analyser l'articulation entre la politique éducative, le leadership et la culture de l'école. D'un point de vue

théorique, cette étude mobilise les modèles rationalistes, bureaucratiques et culturels d'analyse des

institutions scolaires, considérés comme les plus adéquats pour l'analyse des dimensions centralisatrices

du système éducatif mozambicain et pour la compréhension des dimensions culturelles et symboliques,

à savoir la mission, la vision, les valeurs et les croyances des acteurs de l'école.

L’étude empirique a été réalisée dans l’un des lycées d'enseignement général du Mozambique

au cours de l'année scolaire 2018. La méthodologie adoptée s'inscrit dans le paradigme de la recherche

qualitative, étayée par la méthode, elle était l'étude de cas et les techniques d'interview, d'observation et

de suivi. analyse de documents; pour le traitement et l'analyse des données, nous utilisons l'analyse de

contenu.

Compte tenu des aspects observés, nous constatons que le niveau élevé de centralisation du

système éducatif mozambicain incite les écoles à reproduire les normes établies de manière centralisée

et à créer un fossé entre les pressions exercées par les conceptions supérieures (ministères) et les

exécutions inférieures (écoles). périphéries scolaires à la reproduction, bien que ce ne soit pas intégral.

Dans le contexte local, nous réalisons que le rôle du directeur dans la vie quotidienne de l’école

conditionne la création, le développement et le maintien de la culture de l’école, en fonction de son type

de leadership, de ses relations avec les acteurs et les instances de l’école (conseil d’école, organisation

collective). conseil pédagogique), entre autres aspects pertinents au sein de l’institution scolaire.

Mots-clés: centralisation, culture scolaire, leadership, participation, rôle du directeur.

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El Papel del Director como el Organismo Regulador Cultural y Simbólico de la Escuela: Un estudio de

caso en una escuela secundaria general en Mozambique

Resumen

El estudio desarrollado en esta tesis se centra en el papel del director de la escuela y tiene

como objetivo: caracterizar el sistema educativo de Mozambique; analizar el papel del director, visto

como una instancia de regulación cultural y simbólica en la escuela; identificar las especificidades

culturales de la escuela; analizar la articulación entre la política educativa, el liderazgo y la cultura escolar.

Desde el punto de vista teórico, este estudio moviliza los modelos racionales-burocráticos y culturales

para el análisis de las instituciones escolares, ya que se consideran las más adecuadas para el análisis

de las dimensiones centralizadoras del sistema educativo mozambiqueño y para la comprensión de las

dimensiones culturales y simbólicas, es decir, la misión, la visión, valores y creencias de los actores

escolares.

El estudio empírico se llevó a cabo en una de las escuelas secundarias generales en

Mozambique en el año escolar 2018. La metodología adoptada es parte del paradigma de investigación

cualitativa, respaldado por el método de estudio de caso y las técnicas de entrevista, observación y

análisis de documentos; para el tratamiento y análisis de los datos utilizamos el análisis de contenido.

En vista de los aspectos observados, encontramos que el alto nivel de centralización del

Sistema Educativo de Mozambique ejerce presión sobre las escuelas para reproducir las normas

establecidas centralmente y la brecha entre las presiones de la concepción superior (ministerio) y la

ejecución inferior (escuela) periferia escolar a la reproducción, aunque no es integral. En el contexto local,

nos damos cuenta de que el papel del director en la vida diaria de la escuela condiciona la creación, el

desarrollo y el mantenimiento de la cultura escolar, dependiendo de su tipo de liderazgo, sus relaciones

con los actores escolares y los cuerpos escolares (consejo escolar, colectivo gestión, consejo pedagógico),

entre otros aspectos relevantes dentro de la institución escolar.

Palabras clave: centralización, cultura escolar, liderazgo, participación, rol del director.

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Índice Geral

Direitos de autor e condições de utilização do trabalho por terceiros ii

Agradecimentos iii

Declaração de integridade iv

Resumo v

Abstract vi

Résumé vii

Resumen viii

Dedicatória xvi

Introdução 1

CAPÍTULO I - Organização do sistema educativo e do ensino secundário em Moçambique 6

1. Retrospetiva da Educação em Moçambique 7

2. A Educação Colonial 1930 a 1974 8

2.1 A Educação nas zonas libertadas da Frelimo 10

3. A Organização do Sistema Educativo Pós-independência 12

4. Estrutura do SNE segundo a lei 4/83, de 23 de Março e 6/92, de 6 de Maio 14

5. Estruturas das Escolas do ensino Secundário Geral 18

6. Diretor de escola e formas de acesso ao cargo 20

CAPÍTULO II - Abordagens teóricas: o modelo racional-burocrático e o modelo cultural 23

1. O Modelo Racional-Burocrático: A escola como organização burocrática 25

2. O Modelo Cultural: A escola como organização cultural 31

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2.1 Manifestações ou perspetivas da cultura no contexto escolar 37

3. Estilos de liderança 39

CAPÍTULO III - Estratégias metodológicas 44

1. Contextualização e formulação do problema de investigação 46

Contextualização do problema 46

Pergunta de partida 48

2. Objetivos gerais 48

2.1 Objetivos específicos 49

3. Hipóteses 49

4. Paradigma de investigação 50

5. Método de pesquisa 52

5.1 Amostra: caraterísticas e critérios de seleção 53

5.2 Delimitação espácio-temporal 54

6. Técnicas de pesquisa 54

6.1 Análise Documental 55

6.2 Entrevistas 56

6.3 Observação direta 58

7. Técnicas de tratamento e análise de dados empíricos 59

8. Modos de operacionalização do processo de pesquisa 63

CAPÍTULO IV - Apresentação, análise e interpretação dos dados empíricos 66

1. Direção e Administração do Sistema Educativo Moçambicano 67

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2. Caraterização da Escola Secundária Belga 71

3. Instrumentos que orientam o diretor da Escola Secundária Belga na tomada de decisão 75

4. Participação e relações dos atores escolares no quotidiano da escola 78

4.1 Relação entre o diretor e os atores escolares 81

4.2 Relação do diretor com conselho pedagógico e o conselho da escola 82

4.3 Relações entre os professores 83

4.4 Estratégias adotadas pelo diretor para a promoção das relações entre os professores 85

5. Política educativa, liderança e as manifestações culturais na Escola Secundária Belga 86

5.1 As funções do diretor da Escola Secundária Belga 87

5.2 Estilo de liderança do diretor da Escola Secundária Belga 88

5.3 Processo de construção da cultura organizacional da Escola Secundária Belga 92

5.4 Manifestações culturais na Escola Secundária Belga 93

5.5 Especificidades culturais da Escola Secundária Belga 98

Conclusão 106

Referências Bibliográficas 113

Apêndices 120

Apêndice 1 - Guião de entrevista ao Diretor da Escola 121

Apêndice 2 - Guião de entrevista à Presidente do Conselho da Escola 123

Apêndice 3 - Guião de entrevista à Representante dos Professores no Conselho da Escola 125

Apêndice 4 - Guião de entrevista à Representante dos Funcionários (pessoal não docente) no Conselho

da Escola 127

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Apêndice 5 - Guião de entrevista à Representante dos Alunos no Conselho da Escola 129

Apêndice 6 - Guião de observação: Grelha de observação de reuniões do Diretor 130

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Lista abreviaturas siglas

CD Coletivo de Direção

CE Conselho da Escola

CP Conselho Pedagógico

CPLP Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

DE Diretor da Escola

DPEDH Direção Provincial de Educação e Desenvolvimento Humano

ESG Ensino Secundário Geral

MINEDH Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano

PCE Presidente do Conselho da Escola

RACE Representante dos Alunos no Conselho da Escola

RFCE Representante dos Funcionários no Conselho da Escola

RPCE Representante dos Professores no Conselho da Escola

SDJT Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologias

SEM Sistema Educativo Moçambicano

SNE Sistema Nacional de Educação

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Índice de Figuras

Figura 1: Elementos de cultura organizacional................................................................................... 33

Figura 2: Processo de construção de cultura organizacional da escola ............................................... 35

Figura 3: Modelo de análise – estilo de gestão e liderança em contexto escolar ................................. 42

Figura 4: Organigrama do Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano ................................. 67

Figura 5: Organigrama da Escola Secundária Belga........................................................................... 71

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Índice de Tabelas

Tabela 1: Duração das entrevistas .................................................................................................... 64

Tabela 2: Efetivos estudantis da Escola Secundária Belga ................................................................. 73

Tabela 3: Funcionários da Escola Secundária Belga .......................................................................... 74

Tabela 4: Horário das aulas .............................................................................................................. 74

Tabela 5: Instrumentos que privilegiam na tomada de decisão .......................................................... 75

Tabela 6: Participação dos atores escolares no quotidiano da escola ................................................. 79

Tabela 7: Relações do diretor e os atores escolares........................................................................... 81

Tabela 8: Relações do diretor com o conselho da escola e o conselho pedagógico ............................. 83

Tabela 9: Relações entre os professores ........................................................................................... 84

Tabela 10: Estilo de liderança do diretor ........................................................................................... 88

Tabela 11:Horário de atendimento do gabinete do diretor ................................................................. 89

Tabela 12: Ações do diretor da Escola Secundária Belga ................................................................... 91

Tabela 13: Ambiente da escola em termos de conflitos ..................................................................... 93

Tabela 14: Missão da Escola Secundária Belga ................................................................................. 98

Tabela 15: Traços identitários da escola Secundária Belga que a diferencia das outras escolas ......... 99

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Dedicatória

“Aos meus queridos pais, David Direito Guias e Valentina Conforme (in memoriam), cujo

empenho em me educar sempre veio em primeiro lugar e que me ensinaram como me erguer diante

das adversidades da vida. Aqui estão os resultados dos seus esforços. Com muita gratidão.”

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Introdução

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Moçambique é uma ex-colónia portuguesa, que se tornou independente em 25 de junho de

1975. Possui cerca de 27,9 milhões de habitantes com cerca de 20 grupos etnolinguísticos, segundo o

Censo Populacional de 2017, o que justifica a sua rica e vasta diversidade cultural existente. Contudo, a

língua portuguesa é a oficial do país.

É de conhecimento geral, que o Sistema Educativo Moçambicano, desde o período colonial, foi

centralizado e, após a independência, continua altamente centralizado. A legislação vigente inspira-se na

legislação portuguesa herdada no período colonial sem alterações significativas quanto à estrutura, à

direção e à educação, permanecendo sempre ao cargo do Estado, nomeadamente a concessão das

políticas educativas, planificação do sistema educativo, implementação, controlo, e os meios e as

técnicas de ensino-aprendizagem.

No nosso país, desde o tempo colonial, o acesso ao cargo de diretor da escola é feito por

nomeação ou indicação pelos órgãos centrais ou os seus respetivos superiores hierárquicos, por vezes,

não por confiança técnica, mas sim por confiança política. Neste caso, são indivíduos pertencentes ao

Partido no poder (a FRELIMO). Este fato, em algumas circunstâncias, causa conflitos no interior das

escolas, sobretudo advindas dos outros atores que não pertencem a mesma coligação política ou mesmo

que não estejam filiados em nenhum partido político e que almejam o mesmo cargo.

De acordo com Resolução n.º 18/2012, de 7 de setembro, o diretor da escola “assegura o

cumprimento das decisões e orientações do setor da educação, do Conselho da Escola e dos órgãos

locais do Estado do território onde se situa a Escola”, concentrando em si quase todas as atenções ou

competências, podendo ser considerado o representante do ministério na instituição escolar.

Nesta senda, temos como objetivo analisar o papel do diretor, perspetivada como instância de

regulação cultural e simbólica, visto que ele desempenha um papel preponderante na criação,

desenvolvimento e manutenção da cultura escolar, pelo nível de responsabilidades que desempenha

segundo a resolução supracitada. Deste modo, a nossa intenção baseia-se na compreensão do modo

como o diretor influencia o processo de construção cultural e simbólica da escola.

Neste sentido, para aprofundar a compreensão do fenómeno em causa, recorremos, do ponto

de vista teórico, a algumas abordagens organizacionais contextualizadas nas organizações educativas,

nomeadamente o modelo racional-burocrático e o modelo cultural, e do ponto de vista empírico, ao

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estudo de uma das escolas de ensino secundário geral em Moçambique, no ano letivo de 2018. A

pesquisa realizada foi meramente qualitativa baseando-se no método de estudo de caso.

A abordagem das organizações escolares como sistemas simbólicos constitui, hoje, um dos

paradigmas privilegiados nos estudos das organizacionais escolares. Conforme Sarmento (1994):

“Após décadas de produção de estudos sobre as estruturas organizacionais e as suas

tecnologias; explorando o filão teórico das organizações como sistemas de autoridade e espaços

de lutas por, e exercício do, poder; no quadro da tradição do estudo sobre os fatores e as

interações humanas em contexto organizacional, e na sequência da abertura do campo

investigativo pela colocação à análise das estratégias dos atores organizacionais, a perspetiva

teórica que se redescobre na abordagem simbólica das organizações, mobilizando, reanalisando

e reinterpretando todos os contributos destas abordagens passadas, e em diálogo com as

representações contemporâneas, procura reequacionar aquilo que constitui o fator

especificamente humano nas organizações: o sistema constituído pelas crenças, pelos valores,

pelas assunções, pelas representações sociais e pelos artefactos culturais onde se entretece o

diálogo e onde se exprime a divergência e o conflito entre as pessoas”. (Sarmento, 1994:11;

itálico no original)

Poder-se-ia pensar que, no sistema altamente centralizado e hierarquizado, como tem sido

tradicionalmente, no sistema educativo moçambicano, o desenvolvimento da dimensão cultural e

simbólica no interior da escola poderia ser inibido. Na realidade, a dimensão informal1 constitui uma

parte intrínseca da organização, qualquer que seja o seu grau de formalização e centralização.

O interesse na investigação desta temática, “O papel do Diretor como instância de regulação

cultural e simbólica na escola” consiste na sua pertinência para as escolas, já que a maior parte das

decisões tomadas ao nível da escola estão centradas na figura do diretor como sendo o gestor máximo

da mesma. Por outro lado, em Moçambique existem poucos estudos acerca deste assunto

comparativamente a Portugal, cujos estudos organizacionais sobre a gestão escolar remontam a finais

do século XX. Denota-se ainda, que a cultura é o ponto fulcral para o desenvolvimento de qualquer

organização e é através dela que as pessoas se interrelacionam no desempenho das suas atividades

numa determinada organização. Se tivermos uma liderança “forte”, capaz de conduzir ou influenciar os

outros na partilha dos valores e objetivos da coletividade, estaremos perante a construção,

1 Segundo Chorão (1992:23), organização informal “é um sistema dinâmico de relações interpessoais que se desenvolve espontaneamente no interior das

organizações formais, e que tem origem nas necessidades e aspirações específicas dos atores organizacionais”.

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desenvolvimento e manutenção de uma cultura numa organização, tomando em consideração os aspetos

mais subtis no ambiente interno e externo da mesma, bem como as relações dos atores escolares e os

órgãos nela existentes.

Para Ferreira e Torres (2012):

“Independentemente do perfil, o diretor da escola desempenha um papel privilegiado no

processo de reconstrução da cultura organizacional, ora emitindo sinais para a ação

proporcionadores da consolidação de uma cultura integradora, levando os professores a

partilharem e a identificarem-se com os valores e a missão da escola defendidos pelo poder

central, ora sustentando a sua gestão quotidiana na diversidade de valores, crenças e ideologias,

bem como nas autonomias grupais e individuais que se foram instalando historicamente na vida

da organização, por via dos costumes, rotinas e hábitos”. (Ferreira e Torres, 2012:94)

Conforme referenciam Torres e Palhares (2009:78), entre os diversos patamares da

administração e da organização escolar, “o campo da gestão e da liderança destacou-se como um dos

mais dilemáticos e controversos no atual contexto das políticas educativas, justamente por representar

o espaço onde se disputam e entrecruzam, por um lado, os valores da cidadania e da participação

democrática e, por outro lado, os valores do gerencialismo e da eficácia técnica”.

O presente trabalho de pesquisa, para além dos elementos pré-textuais, pós-textuais, introdução

e a conclusão, está subdividido em quatro capítulos, nomeadamente: o primeiro capítulo que trata da

caracterização do sistema educativo moçambicano, fazendo uma retrospetiva desde a era colonial, a

organização do sistema de ensino, o funcionamento das escolas do ensino secundário geral e a forma

como os diretores das escolas acedem ao cargo para o exercício das suas atividades no quotidiano.

No segundo capítulo descrevemos as abordagens ou lentes para a análise das organizações

educativas, nomeadamente o modelo racional-burocrático, o modelo cultural nas organizações

educativas e alguns aspetos ligados à liderança nas instituições escolares como uma dimensão da cultura

escolar.

O terceiro capítulo aborda as estratégias metodológicas adotadas para a elaboração e efetivação

do presente trabalho de investigação, elucidando a problematização, o problema de investigação, os

objetivos da pesquisa, as hipóteses de trabalho, o paradigma de investigação, os métodos e as técnicas

de recolha, análise e tratamentos das dados empíricos e também o modo de operacionalização da

pesquisa desde o primeiro contato com o objeto da pesquisa até à nossa retirada do campo.

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Finalmente, no quarto e último capítulo, consta a apresentação, análise e interpretação dos

dados empíricos recolhidos: a administração do Sistema Educativo Moçambicano; a caracterização da

escola em estudo; as funções do diretor, as relações entre o diretor e os atores escolares e a relação

entre o diretor e o conselho da escola e pedagógico; a liderança do diretor da escola; o processo de

construção da cultura da escola; as manifestações culturais da escola e as suas especificidades culturais.

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CAPÍTULO I

Organização do sistema educativo e do ensino secundário em Moçambique

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1. Retrospetiva da Educação em Moçambique

Segundo o senso populacional de 2017, Moçambique possui cerca de 27,9 milhões de

habitantes, é uma ex-colónia Portuguesa que se tornou independente em 1975. É um país com uma

vasta diversidade linguística e cultural, a língua portuguesa é a língua oficial e o país faz parte da

Comunidade dos Países falantes da Língua Portuguesa (CPLP).

No período colonial o governo português assinou uma Concordata e o Estatuto Missionário com

a Santa Sé (hierarquia da Igreja Católica), nos seus artigos 3.º, 6.º, 66.º – 69.º e 81.º, fala de “indígenas”,

“população indígena”, “língua indígena”, “pessoal indígena2”. O artigo 66.º estabelece que o “ensino

especialmente destinado aos indígenas deverá ser inteiramente confiado ao pessoal missionário e aos

auxiliares”. Só era permitido o uso da língua indígena para o ensino da religião (art. 69.º). Nesta mesma

concordata descriminavam escolas para os indígenas e para os europeus e priorizavam a envangelização

dos indígenas.

O governo português desenvolveu nas suas colonias uma política de assimilação, que atribuiu

ao nativo civilizado o “status de cidadão português”. Com o fracasso dessa política assimilacionista e da

multirracionalidade dos povos, o regime passou a reconhecer as revindicações dos nativos pela sua

personalidade como individuo, mas não como sujeitos políticos. Conforme Manuel Golias (1993:31)

acrescenta, os “povos requerem a cidadania portuguesa a um tribunal local, abandonando deste modo,

o seu status de indígena”, sendo que os requisitos necessários eram: (i) Dominar a língua portuguesa

falada e escrita; e (ii) Possuir uma estabilidade financeira. No ato do juramento deveriam jurar abandonar

os costumes nativos e viver a maneira europeia.

Desta forma passavam a ter algumas regalias da época, como por exemplo: ter bilhete de

identidade e o passaporte; os seus filhos poderiam frequentar a Escola do Estado; ter precedência sobre

os outros nativos; ter direito a voto; deixar de pagar o “Imposto de palhota3”, passando a pagar o imposto

de rendimento como qualquer outro europeu. (Idem:32)

2 Segundo o Decreto Lei n.º 39.666, de 20 de maio de 1954, consideravam indígenas “os indivíduos de raça negra ou seus descendentes que, tendo nascido

ou vivendo habitualmente nelas, não possuíam ainda a ilustração e hábitos individuais e sociais pressupostos para a integral aplicação do direito público e

privado dos cidadãos portugueses”. (art. 2.º)

3 Uma espécie de contribuição predial, que era pago em género ou espécie.

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2. A Educação Colonial 1930 a 1974

Este período marcou uma estreita colaboração entre o Estado e a Igreja, passando a Igreja a

desempenhar um papel preponderante na educação dos indígenas, diferentemente do período de

descobrimento até 1934; neste período de descoberta o estado assumiu o papel da educação dos

indígenas nas suas colonias. Foi com o Estado Novo que essa colaboração se estreitou mais.

Para responder melhor aos objetivos da colonização e sob impulso do próprio Estado Novo,

foram sendo criadas instituições especializadas. Orientado pelos mesmos objetivos, destacava-se o

“Acordo Missionário de 7 de Maio de 1940, assinado entre a Santa Sé e a República Portuguesa, na

qual as missões eram consideradas “corporações missionarias” ou “religiosas” (art. 1.º,5.º,9.º,18.º e

19.º) e, como tal, instâncias económicas de “moralização dos indígenas”, isto é, de “preparação de

futuros trabalhadores rurais e artífices que produzem” (art. 68.º).

A filosofia antropológica educativa tinha como objetivo assegurar a hegemonia política e a direção

cultural da classe colonial dominante sobre as sociedades ditas tradicionais ou primitivas. A educação

devia transformar-se num aparelho ideológico por excelência.

Segundo Brazão Mazula (1993:80), o sistema nacional de educação estava organizado em dois

subsistemas de ensino diferentes: “um oficial, destinado aos filhos dos colonos ou assimilados e outro

indígena, engenhosamente articulado à estrutura do sistema de dominação em todos os seus aspetos”.

Conforme o diploma legislativo n.º 238, de 17 de maio de 1930, o ensino indígena tinha por fim

“elevar gradualmente da vida selvagem a vida civilizada dos povos cultos a população autóctone das

províncias ultramarinas”; enquanto o ensino primário elementar para os não-indígenas visava a “dar a

criança os instrumentos fundamentais de todo o saber e as bases de uma cultura geral, preparando-a

para a vida social”.

De acordo com estes princípios, o sistema de ensino indígena passou, em 1930, a organizar-se

em: 1) Ensino Primário Rudimentar, com três classes, previsto para sete, oito e nove anos de idade no

ingresso; 2) Ensino Profissional Indígena, que, por sua vez, se subdividia em (i) Escolas de Artes e Ofícios,

com quatro classes, destinados a rapazes e (ii) Escolas Profissionais Femininas, com duas classes,

geralmente ministradas a “Formação Feminina”.

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O ensino de artes e ofícios previa a permanência de dois a três anos em cada uma das três

primeiras classes, uma vez que a permanência na última (a 4ª) era de tempo “ilimitado”. Em 1962 este

curso passou a chamar-se Ensino de adaptação. Para José Castiano e Severino Nguenha (2013:39), a

mudança de nome de “Ensino Rudimentar para Ensino de Adaptação foi apenas cosmética. Na prática,

o sistema manteve-se discriminatório para a população nativa de Moçambique”.

O sistema de ensino europeu estava estruturado de modo a permitir ao aluno prosseguir os seus

estudos até ao ensino superior.

Conforme Mazula (1993), em 1930, foi criada a primeira Escola de Preparação de Professores

Primários Indígenas, para as escolas primárias rudimentares, com 73 alunos. Em 1937, foi criada a

primeira Escola Técnica de Lourenço Marques.

O Ensino Técnico Profissional, aberto a todos os indígenas, respondia às pressões económicas

da necessidade de mão-de-obra qualificada, para trabalho industrial e atividade comercial.

As reformas de 1964 resultaram da abolição aparente do Estatuto de Indígena, de 1961, e da

consequente alteração da situação jurídica do nativo. As causas reais estavam ligadas à conjuntura

política que Portugal vivia: a realidade das guerras de libertação em Angola e Moçambique, exigiu do

Governo Português a restruturação do ensino nas suas colonias, que consistiu na estatização do ensino

dos indígenas.

Segundo Mazula (1993), a reforma iniciou com a substituição do ensino de adaptação pelo

ensino pré-primário e, em segundo, o Ensino Rudimentar pelo Ensino Elementar dos Indígenas, formados

em Postos Escolares da zona rural. A 4.ª classe desse ensino equivalia à 3.ª das Escolas Primárias

Oficiais. O aluno precisava de frequentar mais uma 4.ª classe das Escolas Primárias Oficiais para

ingressar na Escola de Artes e Ofícios, na Formação de Professores de Posto Escolar e na Escola

Industrial e Comercial para Indígenas.

A organização escolar em Moçambique e os respetivos programas curriculares obedeciam ao

plano de ensino nacional seguido em todos os territórios de Portugal dessa época.

O sistema educativo vigente em Moçambique na era colonial consistiu sempre em dois tipos

diferentes de ensino: educação para o indígena e educação de elite para o colonizador e o assimilado.

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O ensino oficial organizava-se para atender aos valores e padrões aristocráticos, representando

basicamente a educação da elite colonial. O ensino para o indígena, por sua vez destinado ao povo

colonizado, “reduz-se quase exclusivamente a uma instrumentalização técnica (aprender a ler e escrever)

e a domesticação sem apresentar uma preocupação nitidamente formativa”. (Golias, 1993:57)

2.1 A Educação nas zonas libertadas da Frelimo

Em Junho de 1962, cria-se a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), fruto da união

das três organizações nacionalistas, nomeadamente: União Nacional Africana de Moçambique (MANU),

União Democrática Nacional de Moçambique (UDENAMO) e a União Nacional Africana para a

Independência de Moçambique (UNAMI). A FRELIMO simbolizava, nesse momento, o culminar de um

processo de resistência secular do povo moçambicano, conduzido isolada e localmente contra o

colonialismo. Não se tratava, apenas, de conduzir militarmente a luta pela liquidação total e completa do

colonialismo, mas de iniciar, ao mesmo tempo, o processo de construção e consolidação da unidade

nacional, numa dimensão politica-cultural mais abrangente para a edificação de um Estado-Nação.

A medida que a guerra de libertação nacional foi avançando, foram surgindo territórios fora do

controlo da administração portuguesa e sendo ocupados pela FRELIMO. Estes territórios passaram a ser

chamados de “zonas libertadas”.

Conforme analisa Gasperinni (1984), o sucesso político e militar consolidava-se e estendia-se as

novas zonas quando o movimento de libertação, uma vez tornado dominante, conserva e aprofunda a

sua hegemonia cultural.

Tratava-se de transformar qualitativamente a educação e o crescimento quantitativo de escolas

ou centros educacionais para responder às necessidades da luta e às exigências das populações

(idem:109). Ou seja, a nova escola devia permitir a apropriação de uma “nova maneira de pensar e

agir”.

Foi configurando, assim, nas zonas libertadas, a escola como 1) Centro de Formação da Frente

de Libertação de Moçambique, esta tomada no sentido de um povo organizado em Frente de luta pela

sua libertação e emancipação; 2) centro de combate às conceções e hábitos da cultura tradicional, a que

aprisionavam a iniciativa e a criatividade, pugnando por um novo tipo de relacionamento entre jovens e

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velhos, entre homens e as mulheres e por uma nova visão do mundo (Machel, 1974); 3) centro de

difusão de conhecimentos científicos, mesmo que elementares, para introdução de novos métodos de

trabalho, com vista ao aumento da produção e a satisfação das necessidades crescentes da luta; 4)

centro de formação de combatentes para exigências da luta; e 5) de formação de produtores, ao mesmo

tempo militares e dirigentes, numa permanente ligação entre o trabalho manual e intelectual (I e II

Congressos, realizados, respetivamente, em Setembro de 1962 e Julho de 1968).

Quando a luta se transformou em revolução democrática popular (1969/1970), foi definido

como objetivo central do sistema educacional “a Formação do Homem Novo, com uma nova mentalidade

que, para além de ser capaz de resolver os problemas imediatos colocados pela revolucionária, deveria

estar apto a transformar revolucionariamente a sociedade moçambicana”. MEC (1980:35)

A definição dos objetivos da educação vai ser condicionada: (i) pela natureza humana

revolucionária do trabalho nas zonas libertadas; (ii) pelas transformações revolucionárias provocadas

pela luta e (iii) pelas consequentes transformações da consciência dos dirigentes, dos combatentes e

das massas populares, em geral.

O processo educativo era tema de discussão popular, ou seja, objeto de entendimento, e que,

na medida da sua inserção na comunidade, a educação tornava-se instrumento de mobilização efetivo

da revolução, ajudava a criar e a consolidar as próprias zona libertadas. Nesse sentido Graça Machel

(1979):

“Nas zonas libertadas alcançamos um grau elevado de integração das escolas na vida da

comunidade. Qualquer problema que afetava a vida da escola ou da aldeia era discutido

conjuntamente e em conjunto se encontravam as melhores formas de superar as dificuldades

surgidas”. (Graça Machel, 1979:1)

Para Mazula (1993:112), “a educação constituiu-se num dos três eixos da revolução, ao lado da

produção e do combate, articulados dialeticamente”. A palavra de ordem era “Estudar, Produzir e

Combater”. A educação não era simples tarefa dos professores, nem se destinava somente a crianças,

todos envolviam-se nela, inclusive o próprio exército. Assim dizia Eduardo Mondlane:

“O exército tem um papel muito importante a desempenhar nas campanhas de mobilização e

de educação. Os militantes não se prendem só a ciência militar. Tanto quanto possível,

aprendem português e alfabetização básica, sendo os instrutores muitas vezes aqueles que tem

educação elementar. A educação política é parte preponderante do treino, no decorrer do qual

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adquirem alguma experiência de falar em público e do trabalho dos comités, enquanto também

aprendem rudimentos de discussão política e das bases históricas e geográficas da luta. Assim,

o próprio exército torna-se agente importante na mobilização política e na educação da

população”. (Mondlane, 2009:139)

3. A Organização do Sistema Educativo Pós-independência

Os esforços que desde 1975 a FRELIMO e o Governo levaram a cabo constituem uma prova do

interesse de boa vontade dada ao desenvolvimento do país. Segundo Golias (1993:64), “esses esforços

foram, efetivamente, impostos por imperativos de desenvolvimento do pais e por falta de pessoal técnico

devidamente qualificado”. Deste modo, a organização do ensino, quer primário, quer secundário e

formação de professores ocupou um lugar de destaque entre as prioridades do desenvolvimento

definidas no primeiro decénio da independência nacional.

Em 1976 é formado em Moçambique o Ministério de Educação e Cultura (MEC), que teve como

desafios naqueles primeiros anos após a independência,

“a restruturação da administração da educação, a construção de estabelecimentos para o

Ensino técnico-profissional, a formação e contratação de novos professores, a extensão das

oportunidades educativas para os adultos e trabalhadores que até então haviam tinham sido

excluídos do sistema, o desenvolvimento de novos programas de ensino, assim como de novos

materiais educacionais”. (Castiano e Ngoenha, 2013:57)

De 1975 a 1979 assistiu-se a um crescimento descontrolado dos efetivos escolares no nível

primário do 1.º grau de 671.617 em 1975 para 1.498.729, cerca de 200% (cf. MINED, 1992) e o

surgimento de muitas escolas primárias incompletas.

De 1979-1985, o Ministério da Educação iniciou um longo processo de planificação, direção e

controlo das atividades educativas. Foi nesta época, concretamente em 1983, que se introduziu a

primeira lei do Sistema Nacional de Educação 4/83, de 23 de março. As tais escolas ditas incompletas

foram sendo reduzidas e/ou agregadas as escolas completas.

As reformas curriculares introduzidas a partir de 1975, 1977 e 1983, pouco impacto produziram

na elevação qualitativa do ensino primário, pois os índices de aproveitamento continuaram a decrescer

(cf. Doc. Relatório do MINED ao conselho de Ministros, 1988).

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Um estudo realizado pelo MINED verificou que, de um cahorte de 1000 crianças que no ano de

1983 ingressaram na 1.ª classe, apenas 102 é que transitaram para a 5.ª classe, em 1987, isto quer

dizer, só 10% dos ingressos (cf. MINED, 1988).

Não obstante o fato de as taxas de admissão terem subido consideravelmente nestes dois

períodos (200% em 1979), uma grande maioria de crianças em idade escolar continuou fora da escola

sobretudo por carência de lugares, tanto em 1981 como em 1984.

Segundo Golias (1993:67), o período de 1985-1992 caraterizou-se por uma “erosão profunda

tanto das condições materiais e físicas dos equipamentos e estabelecimentos educativos como da própria

qualidade do ensino neles ministrado”.

De 1977 até 1982, na busca de alternativa do sistema colonial, implantou-se passo a passo

uma administração extremamente centralizada no setor da educação. No entanto, este processo socorre-

se, paradoxalmente, à herança do sistema colonial: teve que se recorrer aos professores formados, a

uma parte então do existente material escolar, assim como aos próprios edifícios administrativos e

escolas.

Para Castiano e Ngoenha (2013:61), “a intenção do Governo de Moçambique em montar um

aparelho centralizado era, no entanto, a de construir, um sistema revolucionário que refletisse a

Independência ora Conquistada e garantisse a Unidade Nacional”.

Desde a independência em 1975 até 1983, Moçambique ainda continuou a inspirar-se no

sistema educativo colonial; precisamente em 1983 é aprovada a primeira Lei do Sistema Nacional de

Educação 4/83, de 23 de Março, e tinha como objectivos: “(i) a erradicação do analfabetismo; (ii) a

introdução da escolaridade obrigatória; e (iii) a formação de quadros para as necessidades do

desenvolvimento económico e social e da investigação científica tecnológica e cultural”.

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4. Estrutura do Sistema Nacional de Educação segundo a lei 4/83, de 23 de Março e 6/92, de 6 de

Maio

Segundo a lei 4/83, de 23 de Março, o sistema nacional de Educação era constituído por

seguintes subsistemas:

i. Subsistema de Educação Geral – constituído pelo ensino primário, secundário e pré-

universitário;

ii. Subsistema de educação de Adultos – também constituído pelo ensino primário, secundário

e pré-universitário;

iii. Subsistema de Educação Técnico – Profissional – compreendia o ensino elementar técnico-

profissional, ensino básico técnico – profissional, e ensino médio técnico profissional.

iv. Subsistema de Formação de professores – compreendia dois níveis médio e superior.

v. Subsistema de Educação Superior.

A administração do Sistema Nacional de Educação estava na responsabilidade do Ministério da

Educação e Cultura (MEC), que era responsável pela planificação, direção e controlo, assegurando a

unicidade do sistema, desta forma mostrando claramente que era um sistema de administração

centralizada, onde todas as decisões eram tomadas ao nível do topo, neste caso o ministério de tutela.

Conforme Castiano e Ngoenha (2013:96), o período de 1987 a 1992 “foi caraterizado por uma

profunda crise económica e social que conduzia a um colapso verificado na esfera política. A crise pode

ser considerada o resultado da implantação das medidas da restruturação económica e da guerra”.

Este período foi marcado por uma crise geral do sistema de educação em Moçambique. Esta

crise generalizada teve repercussões muito serias na política educativa. Por outras palavras, nesta época,

o Estado mostrou-se incapaz de assegurar o acesso de todas as crianças à educação básica e um mínimo

de qualidade àquelas crianças que estão na escola. Cresce o número de crianças sem possibilidades de

ir à escola e também aumentam as desistências e as reprovações.

O surgimento de estabelecimentos de ensino privado, a mudança na estrutura do sistema escolar

e as transformações na própria política de educação viriam a ser as consequências dessa crise.

Nos finais dos anos 80 surgem as primeiras escolas privadas. As disposições legais para o

surgimento e a abertura de escolas privadas em Moçambique são estabelecidas a 1 de junho de 1990,

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através do Decreto n.º 11/90 do Conselho de Ministros. Trata-se do Decreto que “autoriza atividades do

ensino privado e explicações”. Este Decreto revoga um anterior, o Decreto n.º 12/75 que “proíbe as

atividades do ensino privado” em Moçambique. Segundo o art.1.º, a abertura de uma escola ou

estabelecimento de ensino privado carece de autorização do Ministro da Educação. Em contrapartida, a

autorização para abertura de creches, jardins-de-infância e de escolas especiais carece da autorização

do Ministro da Saúde. Por seu turno, segundo o decreto, o Ministro da Cultura autoriza a abertura de

escolas privadas vocacionadas para promover crianças que demostrem aptidões excecionais (por

exemplo música, desporto, etc). Por último o mesmo Decreto determina que a fundação das

universidades privadas carece de uma apreciação positiva do Conselho de Ministros.

O Decreto n.º 11/90 obriga as escolas privadas a seguirem os programas e o calendário escolar

aprovado pelo MINED (art.9.º). Constituem exceção a esta regra as escolas criadas por representações

diplomáticas que podem lecionar seguindo os programas dos seus países, desde que o programa tenha

sido antes submetido a uma apreciação por parte do Ministro da Educação (art.15.º). O art.11.º

responsabiliza as repartições administrativas e de inspeção no MINED e nas Direções Provinciais de

Educação a procederem à verificação das condições físicas dos edifícios, assim como a verificar a

observância das normas organizacionais especificas para as escolas privadas. Cada escola privada tem

que estar filiada a uma escola oficial do mesmo nível, esta última jogando a função de supervisora

pedagógica, para além disso, a escola oficial encarrega-se das questões de certificação e equivalência

dos alunos.

Na perspetiva de Castiano e Ngoenha (2013):

“A privatização e a liberalização parcial do sistema de ensino abriu caminho a duas novas

tendências no sistema educativo. Por um lado, elas vêm institucionalizar e legalizar o processo

de criação de escolas para as elites económicas, políticas e intelectuais moçambicanas. Assim,

há uma espécie de separação oficial entre escolas para os privilegiados e escolas para a maioria.

Por outro lado, as igrejas e as ONGs começam a ganhar peso tanto na administração como na

definição de políticas educacionais. No fundo, a liberalização abre e divide o sistema de

educação em duas partes: um sistema em que alguns aprendem com qualidade muito boa e

um sistema onde o que interessa é a quantidade e a qualidade é muito baixa”. (Castiano e

Ngoenha 2013:113):

Depois dos 16 anos da guerra civil, que culminou com a assinatura do acordo de paz em 1992,

o país se encontrava em condições sociais, económicas e políticas deploráveis, e em maio de 1992 o

parlamento aprova a lei 6/92 sobre o “Sistema de Educação em Moçambique”, revogando a lei 4/83

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de 23 de março, com os seguintes objetivos: “A educação é direito e dever de todos os cidadãos; o

Estado, no quadro da lei, permite a participação de outras entidades, incluindo comunitária, cooperativas,

empresariais e privadas no processo educativo; o Estado organiza e promove o ensino, como parte

integrante da ação educativa, nos termos definidos na Constituição da República e o ensino público é

laico”.

O Sistema Nacional de Educação deve “valorizar e desenvolver as línguas nacionais, promovendo

a sua introdução progressiva na educação dos cidadãos” (art. n.º 4.). A idade de ingresso é de 6 anos,

e os pais, a família, os órgãos locais do poder e as instituições económicas e sociais contribuem para o

sucesso da escolaridade obrigatória, promovendo a inscrição das crianças em idade escolar, apoiando-

as nos estudos, evitando as desistências, particularmente antes de completar as sete classes do ensino

primário (art. n.º 5.), desta forma abrindo espaço para a participação de outros atores escolares na

gestão do sistema educativo.

Segundo a lei 6/92, de 6 de Maio, o Sistema Nacional de Educação passou a estruturar-se da

seguinte forma: ensino pré-escolar, ensino escolar e ensino extra escolar.

O ensino pré-escolar realiza-se em creches e jardins-de-infância para crianças com idades

inferiores a 6 anos como complemento ou supletivo da ação educativa da família, com a qual coopera

estreitamente.

O ensino escolar compreende: o ensino geral, técnico-profissional e ensino superior. O ensino

geral é composto por dois níveis: primário (1.º grau, da 1.ª à 5.ª classes e do 2.º grau 6.ª e 7.ª classes)

e secundário (1.º ciclo, da 8.ª à 10.ª classes e o 2.º ciclo, 11.ª e 12.ª classes). O ensino técnico-

profissional compreende os seguintes níveis: elementar, básico e médio. Ao ensino superior compete

assegurar a formação a nível mais alto de técnicos e especialistas nos diversos domínios do

conhecimento científico necessário ao desenvolvimento do país.

Com a entrada em vigor da lei 6/92, de 6 de Maio, a administração do Sistema Educativo

permaneceu centralizada ao cargo do Ministério da Educação pela planificação, direção e controlo do

Sistema Nacional de educação, assegurando a sua unicidade.

Os currículos e programas têm um carater nacional e aprovados pelo Ministro de Educação e

Cultura. Sempre que se revele necessário, podem ser introduzidas adaptações de caráter regional aos

currículos e programas nacionais por forma a garantir uma melhor qualificação dos alunos, desde que

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com isso não se contrariem os princípios, objetivos e conceções do Sistema Nacional de Educação. Estas

adaptações são aprovadas pelo Ministro da Educação e Desenvolvimento Humano. (Idem).

A lei 6/92, de 6 de Maio está em vigor até hoje, apesar de recentemente o parlamento ter

aprovado na generalidade a revisão da lei, e também a comissão de especialidade que introduz algumas

alterações na estrutura.

Segundo o Jornal Noticias do dia 02 de Novembro de 2018, a escolaridade obrigatória no país

passara a ser da 1.ª a 9.ª classe, ao abrigo da nova Lei do Sistema Nacional de Educação (SNE),

aprovada consensualmente no dia 1 de Novembro de 2018 pela Assembleia da República de

Moçambique. Este modelo altera o atual, introduzido pela Lei n.º 6/92, de 6 de Maio, que estabelece a

escolaridade obrigatória da 1.ª a 7.ª classe, ciclo conhecido como primário completo, e ministrado por

regime de um docente da 1.ª a 5.ª classe, e um docente por disciplina na 6.ª e 7.ª classe.

A lei aprovada introduz, entre outras alterações, a redução do ensino primário de 7 para 6

classes, com um plano curricular continuo e em regime de mono docência.

Propõe a passagem da 7.ª classe para o Ensino Secundário Básico, que por sua vez passa a ser

de apenas 9 classes, com caráter obrigatório, para que toda a criança do país conclua o nível em tempo

útil.

Para tal, a Lei determina que as crianças devem ser obrigatoriamente matriculadas na primeira

classe no ano em que completarem 6 anos de idade. Estabelece também que a frequência do ensino

primário é gratuita nas escolas públicas.

Na apresentação da Lei ao Parlamento, Conceita Sortane, Ministra da Educação e

Desenvolvimento Humano, disse que o propósito da alteração é garantir uma educação básica inclusiva

a todos os cidadãos nacionais, com o alargamento da escolaridade obrigatória. Sortane refere ainda que

se pretende promover o acesso à educação, a salvaguarda do princípio de equidade de género e

igualdade de oportunidades, e erradicação do analfabetismo.

A Governante acrescentou que a revisão da Lei do SNE visa reajustar este instrumento ao atual

contexto político, social, e económico, garantindo uma educação equitativa e inclusiva, bem como a

modernização e ajustamento da sua estrutura de funcionamento.

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A nova Lei estabelece que o Sistema Nacional de Educação passa a ser constituído por seis

subsistemas, nomeadamente a Educação: Pré-Escolar; Geral; de Adultos, Profissional; Formação de

Professores e Superior.

Determina que compete ao Conselho de Ministros aprovar os currículos e programas dos

diferentes subsistemas de ensino e que, sempre que se revele necessário, sejam introduzidas adaptações

de caráter local aos programas de ensino nacionais, desde que, com isso não se contrariem os princípios,

objetivos e conceção do Sistema Nacional de educação.

5. Estruturas das Escolas do ensino Secundário Geral

Segundo o Diploma Ministerial n.º 61/2003, de 11 de Junho, é aprovado o “Regulamento das

Escolas do Ensino Secundário Geral”, com os seguintes objetivos: “consolidar, ampliar e aprofundar as

capacidades e os conhecimentos dos alunos nas ciências matemáticas, naturais e sociais e nas áreas

de cultura, estética e educação física; aperfeiçoar as faculdades intelectuais dos alunos; formar e

enriquecer o carácter, as virtudes morais e físicas; desenvolver o espírito e a consciência patriótica”.

As escolas do ensino secundário geral são aquelas que lecionam o 1.º e/ou 2.º ciclos: o primeiro

ciclo inclui a 8.ª à 10.ª classes e o segundo ciclo 11.ª e 12.ª classes.

Cada escola identifica-se através de um nome e ostenta, num lugar destacado, os seguintes

símbolos nacionais:

(i) Bandeira da República de Moçambique;

(ii) Emblema Nacional;

(iii) Retrato do Presidente da República de Moçambique. E é admitido a aprovação e adoção de

símbolos próprios (hino, emblema e lema), respeitando estritamente a Constituição da

República de Moçambique e a Lei do Sistema Nacional de Educação.

As escolas do ensino secundário classificam-se em A, B e C. São do tipo A as que possuem no

mínimo e cumulativamente, 30 salas de aulas e 60 turmas, para além das infraestruturas obrigatórias

(bloco administrativo com secretaria e gabinetes para a Direção da Escola; salas de aulas com carteiras

e cadeiras para o professor e quadro preto e armários; biblioteca; laboratório de física, química e biologia;

sala de desenho com equipamento adequado; sala de informática; sala de professores; ginásio; gabinetes

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para as disciplinas e núcleos estudantis; sala para posto médico; campo de jogos; cantina; balneários e

casas de banho masculino e feminino para os alunos e professores em separado; anfiteatro; salão para

projeção de filmes, teatro, espetáculos, etc). As do tipo B possuem no mínimo ou cumulativamente, 20

salas de aulas e 40 turmas e as do tipo C possuem menos de 20 salas de aulas, para além das

infraestruturas obrigatórias no cadastro.

As escolas do ensino secundário geral devem adotar um uniforme escolar estabelecido pelo

respetivo regulamento interno, e o uso do uniforme escolar “é obrigatório para todos os alunos e da

responsabilidade da escola garantir o uniforme escolar aos alunos carenciados através dos fundos da

Ação Social Escola (ASE)”. (Idem, art. 10.º)

Os Órgãos de Direção da Escola do Ensino Secundário Geral são os seguintes, segundo o

Diploma Ministerial n.º 61/2003, de 11 de Junho:

a) O Conselho da Escola;

b) Direção da Escola;

c) Coletivo de Direção;

d) Conselho Pedagógico.

Para além dos órgãos de Direção previstos, poderão existir nas escolas, órgãos de coordenação

da participação comunitária criados pelos Conselhos da Escola, para a melhoria do trabalho.

a) Composição do Conselho da Escola

i. O Presidente do Conselho da Escola;

ii. O Diretor da Escola;

iii. O Coletivo de Direção;

iv. Dois Representantes dos Professores;

v. O Chefe do Clube Escolar;

vi. Um Chefe de Turma por Ciclo (em representação dos alunos);

vii. Comissão de Pais;

viii. Representantes da Comunidade

ix. O Chefe da Secretaria (em representação do pessoal administrativo)

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b) Composição da Direção da Escola

i. Diretor da Escola;

ii. Diretor Adjunto-Pedagógico;

iii. Diretor Adjunto-Administrativo/Chefe da Secretaria.

c) Composição do Coletivo de Direção

i. Diretor da Escola;

ii. Diretor Adjunto-Pedagógico.

iii. Diretor Adjunto-Administrativo/Chefe da Secretaria;

iv. Chefe do Internato nas Escolas com Internato.

6. Diretor de escola e formas de acesso ao cargo

Em Moçambique, desde a era colonial até ao presente momento, a figura máxima de gestão das

escolas sempre foi unipessoal (Diretor). Contudo, escasseiam os estudos sobre a figura do diretor da

escola, cenário semelhante a Portugal há duas décadas atrás, conforme referenciava Barroso (2005):

“Ao contrário do que acontece em muitos outros países, não há em Portugal, investigações

significativas que permitam caraterizar profissionalmente os diretores das escolas e o modo

como exercem as suas funções. Contudo, no quadro das investigações que realizou quer sobre

os trabalhos dos “reitores” entre 1836 e 1960, bem como os “diretores executivos” no quadro

da avaliação do processo de aplicação do decreto-lei 172/91 é possível encontrar alguns

elementos de informação importantes sobre a temática”. (Barroso, 2005:152)

Este problema em Portugal já foi ultrapassado, existindo na atualidade vários estudos acerca da

temática (cf. Lima e Torres, 2017). No caso de Moçambique, os estudos ainda são muitos escassos,

provavelmente devido à herança colonial que, como sempre, inspirou-se na legislação portuguesa.

Com o alcance da independência, havendo a necessidade de assegurar a gestão das escolas, o

Estado Moçambicano não teve outra saída se não aproveitar as pessoas formadas na era colonial para

poderem assegurar o ensino naqueles primeiros anos após a independência. As pessoas pouco

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escolarizadas passaram a ter capacitações de modo a terem algumas habilidades para ensinarem os

outros compatriotas.

Essas não foram as únicas medidas implementadas pelo governo. Iniciou-se um processo de

formação acelerada, dentro e fora do país, oferecendo bolsa de estudo para a sua formação em diversas

áreas para o desenvolvimento socioeconómico do país.

Conforme a situação que o país se encontrava mergulhado após a independência, com falta de

quadros qualificados, a gestão das escolas passou a ser confiada a aqueles que eram pouco

escolarizados, ou aos indivíduos que tinham concluído a 4.ª classe do antigo sistema de ensino em

moçambique. Volvidos alguns anos, com o crescimento notável da taxa de analfabetismo no país, para

acesso ao cargo de diretor de escola, além de ter concluído a 4.ª classe deveria ter experiência em

lecionação, continuando sendo nomeado pelos serviços centrais.

A Resolução n.º 18/2012, de 7 de Setembro, “Cria e extingue as funções de direção e chefia

nos estabelecimentos de ensino, bem como aprova os respetivos qualificadores” e define os requisitos

para o acesso ao cargo de diretor dos estabelecimentos de ensino em Moçambique, nomeadamente:

“Possuir formação psicopedagógica; possuir, pelo menos, o nível de licenciatura ou equivalente

e cinco anos de experiencia na área de docência, dos quais três neste nível de ensino; estar

enquadrado nas carreiras de regime especial da educação e ter classificação de desempenho

não inferior a Bom nos últimos dois anos; e ter exercido a função de Diretor Adjunto ou outra

no setor pedagógico, atestado por documento comprovativo emitido pelo respetivo

estabelecimento de ensino”. (Resolução n.º 18/2012, de 7 de Setembro; itálico no original)

Segundo a mesma resolução, o diretor da escola:

“Assegura o cumprimento das decisões e orientações das estruturas superiores do setor da

educação, do Conselho da Escola e do Órgãos locais do Estado do território onde se situa a

Escola; assegura a direção científica, técnica e pedagógica da escola; realiza os atos

administrativos que lhes foram atribuídos por lei e os que, por delegação de poderes lhe forem

definidos; garante uma gestão racional dos recursos humanos, materiais e financeiros; garante

o cumprimento dos princípios pedagógicos plasmados na Lei do Sistema Nacional de Educação;

avalia e assegura a avaliação de desempenho dos funcionários e agentes afetos na escola;

leciona a classe mais alta na instituição que dirige”. (Resolução n.º 18/2012, de 7 de Setembro)

Deste modo, nota-se uma centralidade no papel do diretor no desempenho das suas funções,

tornando-se como elo de ligação entre as decisões ministeriais e os atores escolares. Continua sendo

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uma pessoa nomeada, permitindo, desta forma, que um diretor não seja consensual dentro da escola,

nem que tenha competência para o desempenho da sua função.

Apesar das escolas possuírem alguns instrumentos de autonomia, como por exemplo: o plano

de atividades, o plano estratégico da escola, o orçamento da escola, entre outros, não existe um

dispositivo legal que atribua autonomia; nesse sentindo, o diretor sempre é refém dos normativos já

prescritos ao nível central para o funcionamento das escolas. Podemos considerar que existe uma

autonomia relativa ou uma autonomia aparente.

Se o diretor não obedecer ao que está prescrito, logo está a agir à margem da lei, com risco de

ser sancionado pelos seus superiores hierárquicos. Isso deve-se ao elevado nível de centralização da

administração do sistema educativo. O diretor parece prestar contas ao nível central e transmitir as

orientações centrais aos atores escolares.

Desta forma, o capítulo subsequente tratará das abordagens racional-burocrática e cultural, a

partir das quais se analisará o papel do diretor como instância de regulação cultural e simbólica da escola

e explorará alguns aspetos ligados a liderança nos sistemas educativos. Para o caso concreto de

Moçambique, estes modelos enquadram-se na configuração e estrutura do Sistema Educativo, bem

como ajudam a compreender as lógicas de organização e liderança das escolas.

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CAPÍTULO II

Abordagens teóricas: o modelo racional-burocrático e o modelo cultural

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Para o estudo da temática “O Papel do Diretor como Instância de Regulação Cultural e Simbólica

da Escola” privilegiou-se as abordagens ou modelos racional-burocrático e cultural na análise da escola.

Optamos por estes modelos porque o Sistema Educativo em Moçambique é centralizado e consideramos

que estes modelos permitem compreender e interpretar melhor o papel do Diretor na escola.

Quando a uma administração centralizada do ensino se associa um regime político autoritário e

uma escola politicamente confessional, como o que existe em Moçambique desde a independência, é

essa administração que tende a construir-se como agência exclusiva de produção do cultural e centro

irradiante de uma cultura que tende a uniformizar os atores escolares.

Segundo Sarmento (1994:29-30), “uma administração centralizada, mesmo num contexto

político democrático, tende a operar processos uniformizantes e indiferenciadores entre escolas e

assegurar que o sistema seja, todo ele, concebido e administrado por uma gigantesca organização de

âmbito nacional”. Conforme afirma Lima:

“Com efeito, do ponto de vista de uma administração tradicionalmente centralizada, a escola é

mais frequentemente considerada como uma unidade elementar de um grande sistema – o

sistema educativo. E é, designadamente, o sistema escolar que nesta perspetiva é apreendido

como uma organização, uma macro organização”. (Lima, 1992:56)

Atualmente, com o desenvolvimento da tecnologia, as organizações tendem a centralizar todos

os seus processos, criando departamentos dentro do seu sistema que se interrelacionam entre si,

formando estruturas de subordinação entre os elementos ou atores dentro da organização. Neste

sentindo, dão mais relevância à burocratização no desenvolvimento das suas atividades para alcance

dos objetivos almejados.

Por outro lado, a análise das culturas organizacionais constitui um dos vetores mais atuais de

estudo dos fenómenos simbólicos que se geram e exprimem nas organizações. O estudo das culturas

organizacionais das escolas constitui, assim, um desafio teórico importante no campo da Administração

Escolar.

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1. O Modelo Racional-Burocrático: A escola como organização burocrática

A burocracia evoca pensamentos de desentendimentos - longas filas, comportamento grosseiro

dos empregados, formulários intermináveis, e passagem de um departamento para outro para completar

uma tarefa simples. A burocracia foi de fato culpada de tais excessos e distorções; mas as burocracias

também têm sido indispensáveis ao governo, aos militares e às ocupações profissionais por mais de um

século. A crescente complexidade da organização durante os últimos estágios da Revolução Industrial

rapidamente sobrecarregou a capacidade de coordenação de gerentes pessoais ou patriarcais. (Marion,

2002:32)

O sociólogo alemão Max Weber está indelevelmente associado ao desenvolvimento da teoria da

burocracia. A teoria da burocracia de Weber pode ser melhor compreendida dentro do contexto mais

amplo de suas propostas sociológicas. Weber escreveu que existem três tipos de autoridade:

1. Autoridade tradicional - baseada em uma crença estabelecida na santidade das tradições

imemoriais e na legitimidade do exercício da autoridade sob elas.

2. Autoridade racional4 - autoridade legal - baseada na crença na "legalidade" dos padrões de

regras normativas e no direito daqueles elevados à autoridade de tais regras para emitir comandos.

3. Autoridade carismática - baseada na devoção à santidade específica e excecional, heroísmo,

ou carta exemplar de uma pessoa individual, e dos padrões normativos de ordem ou ordenado por ele

(Weber, 1978).

Weber argumentou que apenas a estrutura de autoridade tradicional e racional-legal é

suficientemente estável para permitir a governança de longo prazo e que, embora a liderança carismática

sirva para iniciar ou fortalecer uma estrutura de governança, ela deve ser substituída pela autoridade

tradicional ou racional-legal.

A burocracia, segundo Weber, é a forma mais eficiente, portanto, a mais alta expressão da

autoridade5 racional-legal. De acordo com Simon (1970:74), uma decisão organizativa racional orienta-

se pelos objetivos organizacionais; e uma pessoa racional orienta-se pelos objetivos individuais. A teoria

4 Para Simon (1970:73), “La racionalidade se ocupa de la elección de alternativas preferidas de acuerdo con un sistema de valores cuyas concecuencias

de comportamento puedem ser valoradas”.

5 Conforme Blau e Scott (1979:41), “a autoridade deve ser distinguida de outras formas de influência social – do poder, por um lado, e da persuasão e de

outras espécies de influência pessoal por outro”.

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burocrática de Weber, no entanto, não é um modelo para o controlo organizacional; antes, via-o como

um "modelo ideal" ou modelo generalizado de governança. Não é "ideal" no sentido normativo; em vez

disso, representa as caraterísticas mais importantes de sua solução para a necessidade de controlo

eficiente de sistemas grandes e complexos. Mintzberg (1995:21) “considera como elementos

fundamentais da estrutura6, a cola que aglutina as diferentes partes de uma organização”, enfatizando

que as estruturas formais7 e informais estão interligadas ao ponto de se tornarem indissolúveis. Merton

(1978:109-110), refere que a “burocracia proporciona o máximo de segurança profissional. A função da

inamovibilidade, das pensões dos salários reajustáveis e das promoções regulamentadas é assegurar o

desempenho leal dos deveres do cargo sem consideração de pressões estranhas”. A principal virtude da

burocracia baseia-se na eficiência técnica devido à importância que da à precisão, rapidez, controlo

técnico, continuidade, descrição e por suas ótimas quotas de produção. Na esteira do mesmo autor “a

estrutura esta concebida para eliminar por completo as relações de tipo pessoal e as considerações

emocionais (hostilidade, ansiedade, vínculos efetivos, etc.)” (Merton, 1978:109-10). Morgan (1986), na

sua metáfora que considera as organizações como máquinas, passa a vê-las como

organizações/empresas racionais e estruturadas para atingirem um determinado objetivo, e também

todas as atividades são planificadas minuciosamente, passando deste modo a tornarem-se burocráticas,

ou seja, o modo de pensar e agir tende a ser mecanicista nas organizações.

Merton (1978:110) considera que a burocracia clarifica os processos, que antes eram confusos.

A burocracia implica uma separação entre “os indivíduos e os meios de produção”, tanto nas

organizações privadas como nas estatais. Acrescenta ainda que “A burocracia é um tipo de administração

que evita quase por completo a discussão pública dos seus procedimentos, ainda que seja possível que

se critiquem seus fins”. Eisenstadt (1978:84), vê “a burocratização como expansão de esferas de

atividades e poder da burocracia, seja em seu próprio interesse ou nu de alguma das suas elites”.

Richard Hall (1978), distinguiu seis dimensões da conceituação da burocracia de Weber:

1. Divisão do trabalho baseado na especialização funcional;

6 A estrutura de uma organização “é o total da soma dos meios utilizados para dividir o trabalho em tarefas distintas e em seguida assegurar a necessária

coordenação entre as mesmas”. (Mintzberg, 1995:20)

7 Segundo Mintzberg (1995:29), vários estudos mostram “a supervisão direta e a estandardização” as vezes são utlizadas como “mecanismos informais

para adquirir o poder” e reciprocamente, e os meios concebidos para “reforçar o ajustamento mútuo foram ulteriormente formalizados e incluídos na

estrutura formal”.

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2. Uma definida hierarquia de autoridade;

3. Um sistema de normas englobando os direitos e deveres dos ocupantes de cargos;

4. Um sistema de procedimentos que ordenam a atuação no cargo;

5. Impessoalidade das relações interpessoais;

6. Promoção e seleção, segundo a competência técnica.

Na perspetiva de Hall,

“Na burocracia de “tipo ideal” todas essas dimensões estariam presentes em alto grau,

enquanto as organizações não burocratizadas ou simplesmente apresentariam, idealmente,

baixo grau de frequência em todas as dimensões. Mais precisamente uma organização

altamente burocratizada seria caraterizada por uma complexa divisão do trabalho, uma

estrutura hierárquica multigraduada e rigorosamente observada; normas extensivas de controlo

da atuação no trabalho; normas de trabalho bem desenvolvidas e sistematicamente observadas;

comportamento impessoal tanto entre os membros da organização como entre estes e não

membros – orientados por normas que enfatizam o cargo e não o seu ocupante com base de

interação; e a importância do êxito no desempenho das tarefas em oposição aos sentimentos

como base para a promoção e salário. A organização burocrática por um lado seria caraterizada

por uma pirâmide hierárquica relativamente achatada e frequentemente desprezada, uma

divisão de trabalho mais simples, etc.” (Hall, 1978:33)

Para Per-Erik Ellström (2007:456), o modelo racional possui objetivos claros e compartilhados

(existe um consenso na organização), e as tecnologias e processos organizacionais são

transparentes/claros, isso significa que existem meios e fins bem planificados na organização para o

alcance dos objetivos almejados. Concordando, Bush (2003:37) afirma que os modelos formais

“assumem que as organizações são sistemas hierárquicos” nos quais os gestores usam “meios racionais

para perseguir os objetivos” pré-definidos.

Weber sugeriu que a divisão do trabalho serve para compartimentar os componentes da tarefa

organizacional, permitindo assim que cada um seja realizado por pessoas ou grupo com conhecimento

especializado e habilidades sobre o componente dado. As responsabilidades de cada pessoa ou grupo,

então, são bem definidas e claramente delineadas de outras responsabilidades. Isso reduz a possibilidade

de redundância e conflito interpessoal em relação a responsabilidades e aumenta a eficiência. Além

disso, cargos dentro da hierarquia têm autoridade claramente definida sobre cargos de nível inferior e,

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por sua vez, são supervisionados por cargos de nível superior claramente especificados. Como as

responsabilidades e a autoridade são cuidadosamente definidas, o sistema pode ser coordenado através

de regras e procedimentos, e não através de supervisão pessoal; isso permite uma operação mais

eficiente e, mais uma vez, tende a embotar o conflito interpessoal. Finalmente, a nomeação é baseada

na avaliação impessoal, portanto racional, do mérito.

Conforme Lima (1992:36), uma das marcas evidentes da burocratização8 das instituições de

ensino “é o monopólio da educação que o Estado hoje detém, pelo menos em termos de controlo9, foi

conquistado em boa parte ao ensino doméstico e ao ensino promovida pela igreja”, ou seja, o estado

passou a controlar a educação, “através de uma administração fortemente centralizada”. O autor

acrescenta para além das reformas das universidades10:

“não se pode afirmar que aqueles dois diplomas regulamentem pormenorizadamente o

funcionamento das escolas. Eles concentram-se, sobretudo, em questões de acesso (de alunos

e de professores), criação e localização das escolas, controlo público do ensino particular e

doméstico (principalmente através de exames prévios aos professores particulares),

regulamentação geral dos horários letivos mínimos, férias, procedimentos disciplinares,

substituição de professores, etc) e, sobretudo, nos métodos de ensino”. (Lima,1992:37).

Para Silva (2004:70), “a burocracia mostra-nos como a política (enquanto processo de decisão

e resultado disso mesmo) pode ser levada a cabo no interior da organização depois que é aprovada

(revelando-se como aplicação congruente, unívoca e consensual)”. Lima (1992:56) sublinha que “do

ponto de vista de uma administração da educação, tradicionalmente centralizada, a escola é mais

frequentemente considerada como uma unidade elementar de um grande sistema – o sistema

educativo”.

8 No caso português, várias investigações de relevo foram realizadas acerca da escola como uma organização burocrática. Cf., entre outras, as teses de

doutoramento de António Manuel de Sousa Fernandes “A Centralização Burocrática do Ensino Secundário: Evolução do Sistema Educativo português durante

o período liberal e republicano (1836 a 1926) ”, de João Formosinho “Educação para a passividade, para o conformismo e para a desmobilização operada

pelo regime político do Estado Novo (1926-1968) ”, de Licínio C. Lima “A Escola como Organização e a Participação na Organização Escolar (1974-1988)

”, e de Eugénio Adolfo Alves da Silva “O burocrático e o político na administração Universitária: Continuidades e rupturas na gestão dos recursos humanos

docentes na Universidade Agostinho Neto (Angola).

9 De acordo com Lima “A laicização do ensino constituiria o primeiro passo para a efetivação do controlo estatal sobre a educação e tal processo de controlo

só poderia ser garantido através da consideração das dimensões organizacionais do processo educativo, isto é, pela implementação de um novo tipo de

organização - a escola pública”. (Lima, 1992:36)

10“Alvará de 28 de Junho de 1759, que cria o equivalente ao ensino secundário e a Carta de Lei de 6 de Novembro de 1772 que institui a instrução primária

oficial”. (Lima, 1992:37)

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Sendo a escola vista como organização, tem caraterísticas semelhantes a qualquer outro tipo de

organizações formais:

“Objetivos, poder, estruturas, tecnologias, etc., - de ser uma unidade socialmente construída

para obtenção de certas finalidades, e de acentuar os processos de controlo, a especialização

e a divisão social e técnica do trabalho, entre outros aspetos, não parece possível ir muito mais

além no seu estudo, nem ultrapassar o enunciado de generalidades, ou até de imagens

estereotipadas, sem remeter esta questão para o quadro de modelos teóricos de análise”.

(Lima, 1992:57)

Silva (2004:66) salienta que “a burocracia consegue gerar estabilidade, previsibilidade e

eficiência por força de normas e dos controlos fazendo com que a ação organizacional decorra

supostamente segundo os padrões normativos e as regras legais estabelecidas”. Na mesma esteira Lima

(1992:66; itálico no original) “acentua a importância das normas abstratas e das estruturas formais, os

processos de planeamento e de tomada de decisões, a consistência dos objetivos e das tecnologias, a

estabilidade, o consenso e o carater preditivo das ações organizacionais”. O autor refere ainda que

“O estudo da escola como organização burocrática tende, assim, a transferir para a escola

dimensões caraterísticas das organizações burocráticas, desde a rigidez, passando pela

delegação de autoridade, a departamentalização e a especialização, até aos desenhos mínimos

aceitáveis, consagrados por regras universais e abstratas, considerando muito menos, ou

mesmo não considerando, a importância dos conflitos organizacionais, a definição problemática

dos objetivos, as dificuldades impostas por uma tecnologia ambígua e as estruturas informais”.

(Lima, 1992:70)

Para Silva (2004:60) o modelo racional-burocrático “destaca o lado formal e que mostra a faceta

oficial da organização através de um organigrama”. No mesmo sentido, Lima refere que

“Em Portugal, a tradicional centralização política e administrativa e o correspondente controlo

político administrativo da escola, sem tradição de autonomia, configuram um centralismo

educativo comandado por um aparelho administrativo central (o Ministério de Educação) que

todos atacam (e que a ninguém parece agradar), mas que resiste obstinadamente mesmo aos

propósitos reformistas dos seus responsáveis políticos. É, neste sentido, uma imagem do poder

da burocracia, capaz de contrariar o poder político democrático e de se eximir, aparentemente,

aos cursos da decisão política”. (Lima, 1992:149)

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O mesmo autor (Lima, 1992:165) acrescenta que na administração centralizada do sistema de

ensino, toda a legislação é produzida fora do contexto escolar, “[...] pelos órgãos com poderes

legislativos, mas com um sentido mais amplo que inclui a administração”, sustentando que

“Do ponto de vista racional-legal, nas escolas opera-se por referência a estas orientações

normativas; um problema é resolvido a partir do momento em que lhe é conferida solução

formal; um órgão existe a partir do momento em que é juridicamente previsto e normativamente

criado, etc., existe uma separação nítida entre a concepção e a execução, entre os superiores

e os subordinados e, neste sentido, quanto mais as políticas educativas são decididas e

promulgadas a nível central, mais uma conceção burocrática da escola tenderá a predominar.

De modo semelhante, é de admitir que quanto mais os interessados (associações, grupos,

indivíduos) reclamarem por medidas concretas junto dos poderes centrais, mais centralizadora

se tornará a administração” (Lima, 1992:165)

A escola “constituirá um locus de reprodução de regras formais, uma instância (hétero)

organizada para a reprodução normativa”. (Lima, 1992:166; itálico no original)

Para Costa (1996), entre os indicadores mais significativos da imagem burocrática da escola,

apontam-se os seguintes:

“Centralização das decisões nos órgãos de cúpula dos ministérios de educação, traduzida na

ausência de autonomia das escolas e no desenvolvimento de cadeias administrativas

hierárquicas; Regulamentação pormenorizada de todas as atividades a partir de uma rigorosa e

compartimentada divisão do trabalho; Previsibilidade de funcionamento com base numa

planificação minuciosa da organização; Formalização, hierarquização e centralização da

estrutura organizacional dos estabelecimentos de ensino (modelo piramidal); Obsessão pelos

documentos escritos (duplicação, certificação, arquivomania); Atuação rotineira

(comportamento estandardizados) com base no cumprimento de normas escritas e estáveis;

Uniformidade e impessoalidade nas relações humanas; Pedagogia uniforme: a mesma

organização pedagógica, os mesmos conteúdos disciplinares, as mesmas metodologias para

todas as situações; Conceção burocrática da função docente”. (Costa,1996:39; itálico no

original).

Lima e Fernandes (1992), nas suas teses de doutoramento, destacam algumas caraterísticas

das escolas como organizações burocráticas: centralização do sistema educativo, forte legislação

(regulamentação), produção e reprodução de regras, normatização,

compartamentalização/departamentalização, hierarquização, formalização, uniformização, etc. Na

mesma esteira, Silva (2004), destaca: legalidade, hierarquia, impessoalidade e especialização.

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2. O Modelo Cultural: A escola como organização cultural

Todos nós vivemos em organizações independentemente da posição que ocupamos dentro

delas, sejam formais ou informais e temos experiência em lidar com elas. Conforme a literatura, as

organizações atualmente são vistas como culturas após terem sido vistas como máquinas, como

organismos e como cérebros”. De acordo com Schein

“Uma compreensão mais profunda das questões culturais nas organizações é necessária não

apenas para decifrar o que acontece nelas, e ainda mais importante, para identificar quais

podem ser as questões prioritárias para líderes e lideranças. A cultura organizacional é criada

pelos líderes, e uma das funções mais decisivas da liderança pode ser a criação, a

administração, e se quando isso for necessário, a destruição da cultura. Cultura e liderança,

que os examina de perto, são dois lados da mesma moeda, e nenhum deles pode realmente

ser entendido por si mesmo”. (Schein, 1985:2)

O conceito de cultura organizacional foi transportado para a área da educação na década de 70,

tendo dado origem a trabalhos de muito interesse (Brunet, 1988; Erickson, 1987; Lieberman, 1990). É

possível distinguir várias utilizações deste conceito, sendo a definição de Schein a mais clássica e citada

na literatura internacional:

"Conjunto de suposições e crenças básicas que são compartilhadas por membros de uma

organização, que operam inconscientemente, e que definem de uma forma básica tomada como

garantida a organização, visão de si e do seu ambiente. Essas suposições e crenças são

respostas aprendidas para os problemas de sobrevivência de um grupo em seu ambiente

externo e seus problemas de integração interna. Eles são tomados como garantidos porque

resolvem esses problemas repetidamente”. (Schein, 1985:6)

Conforme Nóvoa (1995), este conceito permite:

“Distinguir entre a cultura interna (conjunto de significados e de quadros de referência

partilhados pelos membros de uma organização) e cultura externa (variáveis culturais existentes

no contexto da organização, que interferem na definição da sua própria identidade). Ora, a

cultura enquanto elemento unificador e diferenciador das práticas da organização, comporta

dimensões de integração das várias subculturas dos seus membros e da adaptação ao meio

social envolvente” (Novoa, 1995:29; itálico no original).

O maior número de produções científicas que se verificou após a década de 80 contribuiu para

o desenvolvimento da “problemática da cultura escolar na comunidade académica” (Torres, 2004:156).

Neste período existiram duas tendências dominantes: indissociação da cultura escolar dos fenómenos

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da eficácia, da modernização e da mudança (Prosser, 1999: 7) e a abundância de vários conceitos sobre

a cultura escolar, produzidos de forma ad hoc desde a década de sessenta.

A primeira tendência deve ser compreendida no quadro de uma nova conjuntura política,

económica e internacional que marcou o final do século XX, no que tange “à redefinição das orientações

e das funções das instituições escolares” (Torres, 2004:156). E a segunda relaciona-se com “a

multiplicidade de olhares (teóricos, disciplinares e politico-ideológico), bem como os efeitos de

transferência para os contextos educativos de quadros teóricos produzidos por referência a realidade

empresarial”. (Idem)

Na perspetiva de Torres (2004:162), estudos produzidos sobre a problemática da cultura

organizacional “se inscrevem em correntes teóricas diferenciadas e frequentemente antagónicas” e

sustentam dois polos que têm vindo a se desenvolver: o primeiro “centrado na compreensão dos

processos de construção da cultura nas organizações” e o segundo “preocupado com a forma de

perspetivar o grau de partilha da cultura”. O primeiro remete-nos para a origem da cultura, se a cultura

organizacional se constrói através de fatores externos, internos ou interações sociais e o segundo enfatiza

o modo como a cultura se manifesta, “podendo esta estar situada num continuum representativo de três

possíveis modalidades de partilha: a integradora, a diferenciadora e a fragmentadora”.

Estes dois polos são marcados por pressupostos e lógicas diferentes: o contexto académico de

caráter teórico e reflexivo, preocupado com as três formas de manifestação da cultura (integradora,

diferenciadora e fragmentadora); e no contexto empresarial dominado, pelas “políticas, normativas e

pragmáticas”, assumem a cultura como interna (variável dependente) e de cariz integrador. (Idem:163)

Para Sergiovanni (2004a:24), “a cultura é geralmente encarada como a cola normativa que une

uma determinada escola. Composta por visões, valores e crenças comuns no seu centro, a cultura serve

como o Norte de uma bússola, conduzindo as pessoas numa mesma direção”. Deste modo, a cultura

fornece a conduta aceitável que os indivíduos pertencentes a uma organização ou sociedade devem

pautar e delimitando os padrões para uma convivência sã. Nóvoa (1995:30), salienta que “a cultura

organizacional é composta por elementos vários, que condicionam tanto a sua configuração interna,

como o estilo de interações que estabelece com a comunidade. Definidos numa perspetiva antropológica,

estes elementos integram aspetos de ordem histórica, ideológica e psicológica”.

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A esse respeito Nóvoa (1995), adaptando um esquema de Hedley Beare (1989), apresenta

alguns elementos da cultura organizacional da escola, “sistematizados numa zona de invisibilidade

(bases concetuais e pressupostos invisíveis) e uma zona de visibilidade (manifestações verbais e

concetuais; manifestações visíveis e simbólicas; manifestações comportamentais)” (Nóvoa, 1995:30) (cf.

figura abaixo).

Figura 1: Elementos de cultura organizacional

Fonte: António Nóvoa (Coord.) (1995). As Organizações Escolares em Análise. Lisboa: Publicações Dom Quixote, p. 30.

Sergiovanni (2004a) afirma que para obterem sucesso na construção de uma cultura:

“Os líderes escolares têm de dedicar especial atenção aos aspetos informais, mais subtis e

simbólicos, da vida escolar. Professores, pais e alunos precisam de respostas para perguntas

como estas: Para que serve e qual é a especificidade desta escola? O que é verdadeiramente

importante aqui? Em que é que acreditamos? Porque funcionamos assim? Em que é que somos

únicos? Como é que eu e os outros nos enquadramos numa mesma estrutura?” A resposta a

estas perguntas fornece-nos um quadro concetual que nos permite compreender a vida escolar

de cada um. De fato, a partir desta compreensão origina-se um sentido de objetivo e um

significado enriquecido. Ambos, objetivo e significado, são essenciais para ajudarem a escola a

tornar-se numa comunidade de ensino eficaz – uma comunidade de espírito e de coração”.

(Sergiovanni 2004a:24)

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Na perspetiva de Sergiovanni (2004a:25), um indicador de uma boa escola é a “capacidade que

a sua imagem tem de refletir as necessidades e desejos” dos atores escolares, bem como da comunidade

circunvizinha. Estas necessidades e desejos devem ser acolhidos e encarados como importantes no

quotidiano da escola.

Como descrito por Selznick (1984):

“The art of the creative leader11 is the art of institution-building, the reworking of human and

technological materials to fashion an organism that embodies new and enduring values. The

opportunity to do this depends on a considerable sensitivity to the politics of internal change.

This is more than a struggle for power among contending groups and leaders. It is equally a

matter of avoiding recalcitrance and releasing energies. Thus winning consent to new directions

depends on haw secure the participants feel”. (Selznick, 1984: 152-153)

Outro detalhe importante relativo ao papel criativo e que é bem ressaltado por Selznick

(1984:149), tem a ver com dois aspetos. Primeiro, "incorporação institucional de propósito", e o

segundo, “a criatividade é exercida pelo planeamento estratégico e tático, ou seja, pela análise do

ambiente para determinar se é melhor usar os recursos e capacidades existentes da organização”.

Em face disso Selznick (1984:150) afirma que o fortalecimento da finalidade é um desafio

para a criatividade, pois exige um processo educacional de transformação dos atores. Acrescenta ainda

que o líder eficaz deve conhecer o significado e dominar as técnicas do educador.

Segundo Sergiovanni (2004a:26), “o mundo-da-vida” consiste em estratégias “normalmente

experimentadas pelas escolas como sistemas de gestão”. Neste mundo-da-vida são componentes

essenciais “a cultura, o significado e a importância”; segundo o autor esses sistemas de gestão

“deveriam ajudar as escolas a atingir de forma eficaz os seus objetivos e metas”, reforçando “a cultura

e enriquecer o seu sentido e importância”.

A cultura fornece os valores e o padrão de vida, que os indivíduos necessitam para ser

considerados membros integrantes numa determinada sociedade, organizações (com e sem fins

lucrativos) cumprindo tais normas no seu dia-a-dia. “Uma escola demostra personalidade quando esta

cultura é consistente com os objetivos e fornece as normas que guiam o comportamento”. (Segiovanni,

2004a:39)

11 Selznick (1984:28), “The institutional leader, on the other hand, is primarily an expert in the promotion and protection of values”

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Conforme afirma Ferreira e Torres (2012: 90), “entre as diversas abordagens ao fenómeno da

liderança escolar, ora de registo mais técnico-gerencialista, ora de natureza mais crítica e reflexiva,

situamos a nossa focalização no âmago das abordagens culturais”. Partindo da concetualização da

cultura organizacional escolar enquanto processo de construção proposta por Torres (2004), considera-

se um conjunto de fatores no desenvolvimento da cultura: “a natureza formal (estrutura) e informal

(ação), e a localização externa (fora) e interna (dentro) desses fatores”. Nesse cruzamento resultam

quatro quadrantes (cf. figura 2). De acordo com a autora, “A cultura organizacional escolar seria,

portanto, simbolizada por uma mancha central, resultante da interseção dos quatro quadrantes”. (Torres,

2004:241-242).

Figura 2: Processo de construção de cultura organizacional da escola

Nas organizações em desenvolvimento a liderança incorpora-se lentamente e insistentemente

“na missão, objetivos, estruturas e procedimentos de trabalho de grupo”. Nesse momento, “o líder

precisa tanto da visão quanto da capacidade de articulá-la e aplicá-la" (Schein, 1985:317-318). A partir

Estrutura / Formal

Fatores endógenos Dentro / Interior

Fatores exógenos Fora / Exterior

Ação / Informal

Fonte: Retirado de Torres, L. L. (2004). Cultura Organizacional em Contexto Educativo. Sedimentos Culturais e Processos de Construção do Simbólico Numa Escola Secundária. Braga: Centro de Investigação em Educação da Universidade do Minho.

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do momento em que os novos membros da organização interiorizam as experiências organizacionais e

culturais, passam a trocar mensagens claras dando importância e significado ao contexto, obedecendo

às estruturas no desempenho das suas tarefas para o alcance dos objetivos organizacionais.

De acordo com Schein (1985:317-318) “O líder na criação de cultura, portanto, também precisa

de persistência e paciência”. Como refere o autor

“Esse processo de criação, incorporação e reforço da cultura traz consigo problemas e soluções.

Muitas organizações sobrevivem e crescem, mas, ao mesmo tempo, operam de forma

inconsistente ou fazem coisas que parecem mutuamente contraditórias. Uma explicação para

esse fenómeno é que os líderes não apenas incorporam nas suas organizações aquilo que

pretendem transmitir conscientemente, mas também transmitem seus próprios conflitos

internos e as inconsistências em sua constituição pessoal. O sinal mais poderoso que os

subordinados respondem é o que chama a atenção do líder de forma consistente,

particularmente o que o desperta emocionalmente. Mas muitas das coisas que eles respondem

emocionalmente refletem não tantas suas intenções conscientes quanto seus conflitos

inconscientes”. (Schein, 1985:319)

O autor acrescenta que a “organização desenvolve uma cultura em torno dessas inconsistências

e conflitos, ou o líder gradualmente perde sua posição de influência se seu comportamento começar a

ser visto como muito perturbador ou realmente destrutivo” (Schein, 1985:319). Deste modo, o líder cria

condições para o surgimento das culturas diferenciadoras e fragmentadoras dentro da organização, ou

seja, o surgimento de grupos organização, com ideias opositoras ao fundador. Neste caso, o líder pode

perder o poder de influência, sobretudo quando as suas visões rompem com as visões da organização.

Às vezes, é difícil para o líder fundador da cultura reconhecer que as habilidades e qualidades

que o tornaram líder, mais tarde, podem tornar-se fontes de dificuldades, ele precisa crescer à medida

que a organização cresce. “Essa perceção torna-se especialmente importante, uma vez que as questões

de sucessão de liderança têm de ser enfrentadas, porque as discussões de sucessão forçam os aspetos

abertos da cultura que antes talvez não tivessem surgido”. (Schein, 1985:319)

Conforme Schein (1985:319-320),

“a cultura organizacional não começa do zero ou não ocorre acidentalmente. As organizações

são criadas por pessoas, e os criadores de organizações também criam cultura através da

articulação de suas próprias assunções. Embora a forma final da cultura de uma organização

reflete a complexa interação entre o impulso fornecido pelo fundador, as reações dos membros

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do grupo e suas experiências históricas compartilhadas, há pouca dúvida de que a força

modeladora inicial é a personalidade e o sistema de crenças daquela organização fundadora”.

(Schein, 1985:319-320)

Nesse âmbito, Coleman (2005:64), destaca alguns elementos da cultura organizacional12:

“valores que são comumente mantidos na organização, o comportamento daqueles que estão dentro

dela e os símbolos visuais e rituais que são importantes para a organização”.

2.1 Manifestações ou perspetivas da cultura no contexto escolar

Dos dois polos anteriormente referenciados, vamos cingirmo-nos ao segundo, numa perspetiva

mais académica, teórica e reflexiva na compreensão das três manifestações da cultura (integradora,

diferenciadora e fragmentadora) no contexto escolar.

A perspetiva integradora

A perspetiva integradora concentra-se nas dimensões consensuais da cultura. Conforme Martin

(2002:94), “um retrato de integração de uma cultura vê o consenso (embora não necessariamente a

unanimidade) em toda a organização. Do ponto de vista da integração, cultura é aquilo que é claro;

ambiguidade é excluída. A cultura é como um monólito sólido que é visto da mesma maneira pela maioria

das pessoas, não importa de qual ângulo elas a visualizem”.

Para Torres (2004), esta perspetiva inspira-se:

“nos enfoques funcionalistas, que concetualizam a cultura organizacional como uma variável

estrutural (dependente e/ou independente), a perspetiva integradora enfatiza os aspetos mais

consensuais da cultura, sendo esta tanto mais forte e consensual quanto mais alargado for o

grau de partilha entre os trabalhadores da organização. O protagonista cultural, ou o elemento

central na criação da cultura é o líder (fundador ou empresário) da organização, que adquire

12 “Por exemplo, uma escola formal, com uniformes tradicionais para os alunos; uma assembleia matinal de estudantes e professores, e troféus em exibição

no saguão de entrada sintetizam um tipo de cultura. Uma escola onde não há uniforme, nenhum cinturão que marca o fim da aula e onde alunos e

professores comem juntos e até se chamam pelo primeiro nome indica um tipo muito diferente de cultura organizacional”. (Coleman, 2005: 64)

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poderes de eleger os seus próprios valores como crenças como aqueles que passarão impostos

aos restantes membros da organização”. (Torres, 2004:188; itálico no original)

A perspetiva diferenciadora

Esta perspetiva dá mais relevância às diferenças culturais, aos dissensos, aos conflitos e aos

antagonismos culturais emergentes numa mesma organização. Conforme Torres (2004):

“A organização carateriza-se pela coexistência (simultânea ou não) de diferentes subculturas

cujo desenvolvimento e cristalização radica na segmentação da organização do trabalho

contemporânea - a divisão vertical e horizontal, a departamentalização, a existência de vários

postos de trabalho - que ao permitir o estabelecimento de interações privilegiadas no espaço e

no tempo entre determinados grupos profissionais, lança as condições para a emergência de

múltiplas (sub) culturas, tornando-se mesmo difícil identificar as suas fronteiras, o seu grau de

infiltração e extensão”. (Torres, 2004:189)

A perspetiva diferenciadora foca-se nos dissensos e conflitos. Para Martin (2002:94), “o

consenso sai dentro de uma organização - mas apenas em níveis mais baixos de análise, denominadas

‘subculturas’. As subculturas podem existir em harmonia, independentemente ou em conflito umas com

as outras. Dentro de uma subcultura, tudo é claro, a ambiguidade é banida para os interesses entre as

subculturas”.

Contrariamente à anterior, esta perspetiva atribui um “papel de protagonismo aos atores no

processo de construção e reconstrução da cultura da organização, pois visibiliza o papel ativo e

determinante dos diferentes grupos profissionais na negociação dos significados, valores, normas,

estruturadores da organização. Aproxima-se, portanto, de um enfoque mais interpretativo”. (Torres,

2004:190)

A perspetiva fragmentadora

A perspetiva fragmentadora privilegia as ambiguidades e as desconexões. De acordo com

Martin (2002:94), para expressar a perspetiva fragmentadora em uma metáfora, “imagine que os

indivíduos em uma cultura recebem uma lâmpada de luz. Quando uma questão se torna saliente (talvez

porque uma nova política tenha sido introduzida ou o ambiente da coletividade tenha mudado), algumas

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lâmpadas se acenderão, sinalizando quem está envolvido ativamente (tanto aprovando quanto

desaprovando) nesta edição”.

Esta perspetiva logo a priori parece inspirar-se nos modelos de ambiguidade,

"Enfatiza as ambiguidades na vida organizacional contemporânea, cujas origens podem ser

diversas: a simples ignorância acerca dos mais variados aspetos, problemas aparentemente

complexos e insolúveis, multiplicidade de crenças e pontos de vista culturalmente diversos,

expetativas difusas e confusão associada a sistemas imperfeitos e complexos e a tecnologias

vagamente articuladas. Assume-se que os membros da organização podem não ter reações

similares face a esta diversidade de ambiguidades, e considera-se impossível decifrar todo o

conjunto de valores, de práticas formais, de regras informais, dado poderem ser alvo de diversas

interpretações" (cf. Torres, 1997: 46; itálico no original).

Distintamente das perspetivas integradora e diferenciadora, que optam pela clareza, ordem e

previsibilidade no que tange a unidade/consistência e a diferença/inconsistência, a perspetiva

fragmentadora resulta de diversas interpretações. Podemos afirmar que se criam pequenos grupos, e

ninguém dentro da organização consegue unir esses grupos, tudo parece estar desconetado da realidade.

3. Estilos de liderança

Na esteira de Susan Moore Johnson (1996:14) “a liderança13 parece diferente – e é diferente –

consoante é posta em prática numa legislatura, num campo de batalha, numa manifestação, numa

fábrica ou num distrito escolar”. Sergiovanni (2004b: 124) define a liderança “como o processo de levar

um grupo a agir de acordo com os objetivos do líder, ou propósitos partilhados”. Salienta que a liderança,

“não é comandar ou exigir cumprimento de ordens no que diz respeito a influenciar outros através de

persuasão”.

Selznick (1984: 22-24) destaca algumas premissas da liderança: “a liderança é um trabalho

realizado para atender às necessidades de uma situação social; a liderança não é equivalente a um

grande prestígio, autoridade ou decisão e a liderança é dispensável”. Dentro desta ótica define padrões

13Etzioni (1965:690-91) define liderança com sendo as habilidades pessoais do líder, de carregar massas sem coação para resolução ou alcance de certos

objetivos organizacionais. Desta forma ela diferencia-se do poder na medida que impõe a influência ou autoridade. Na mesma senda Hall (1984:114), afirma

que “a liderança está estreitamente relacionada com o poder, mais envolve do que simplesmente o poder atribuído a uma posição na organização ou

reivindicado por um membro ou membros da organização”.

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da liderança: “a falha em definir metas e quando as metas, embora bem formuladas, desfrutam apenas

de uma aceitação superficial e não influenciam genuinamente a estrutura total da empresa”. (Idem: 25-

26)

Na ótica de Sergiovanni (2004a):

“As escolas necessitam de uma liderança especial, porque são locais especiais. É claro que

partilham com outras organizações requisitos comuns de gestão que asseguram o cumprimento

de objetivos organizacionais básicos, como competência, confiança, estrutura e estabilidade.

Mas as escolas têm igualmente de dar respostas às realidades políticas singulares que

enfrentam”. (Sergiovanni, 2004a:172)

Na visão de Selznick (1984:22), a liderança é um fenômeno delicado que foge à ideia familiar

e quotidiana. Para Serviovanni e Corbally (1986:115) é difícil compreender a liderança sem o contexto

organizacional. Por sua vez, Sergiovanni refere que as escolas precisam de liderança especial14 ou

heróica, porque estes profissionais têm pouca tolerância relativamente a rituais burocráticos. (Segiovanni,

2004a:173)

É difícil falar da liderança escolar sem falar também da visão15 do diretor de escolas. A sabedoria

pactual, nas organizações, é que os líderes devem ter visão e depois trabalhar para moldar a organização

que gerem em concordância com a sua visão. Nanus (1992) realça que:

“There is no mystery about this. Effective leaders have agendas; they are total results oriented.

They adopt challenging new visions of what is both possible and desirable, communicate their

visions, and persuade others to become so committed to these new directions that they are

eager to lend their resources and energies to make them happen”. (Nanus, 1992:4)

Sobre esse assunto Nanus (1992:7-8), afirma que “a visão de um líder também inspira ação e

ajuda a moldar o futuro, mas, ao contrário de uma visão pessoal, o faz através dos efeitos poderosos

que tem sobre as pessoas que trabalham, usam ou têm interesse na organização do líder”.

O desafio dos líderes é tornar as suas ideias ou visões, estando isto dependente do modo de

transmissão desses ideais aos outros membros da organização. Ou seja, “a visão da liderança parece

14 Embora o controlo esteja sempre nas mãos dos líderes escolares, os melhores deles têm perfeita consciência de que os professores, que eles próprios

supervisionam, têm mais consciência daquilo que deve ser feito e de como deve ser feito. Esta realidade cria grandes falhas nas competências de autoridade,

falhas estas que devem ser ultrapassadas (Segiovanni, 2004a:173).

15 Nesse sentido, Nanus (1992:8), considera que, “uma visão é um futuro realista, credível e atraente para sua organização”.

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fazer sentido quando as fontes de autoridade para o que é feito estão presentes nas organizações,

políticas e ideologias formais e também nos propósitos e personalidades dos líderes”. (Sergiovanni,

2004b:119-120)

Em face dessa possibilidade Nanus (1992), afirma que:

“As escolas agora passam a maior parte do tempo transmitindo conhecimento, socializando os

alunos com as normas da sociedade mais ampla e desenvolvendo habilidades críticas, analíticas

e de comunicação. Tudo isso é importante para os líderes visionários, mas um elo vital em falta

é a identificação de problemas, em oposição à resolução de problemas e habilidades. Já não é

suficiente para os alunos dominarem o conhecimento e a sabedoria recebidos dos mais velhos”.

(Nanus, 1992:183)

A liderança baseada na “autoridade burocrática e pessoal” favorece “a existência de seguidores”

(Sergiovanni, 2004a:120). No primeiro caso, baseado na autoridade burocrática, os membros da

organização seguem o líder pelo cargo que ocupa na instituição, baseado na estrutura e na hierarquia

definida pela organização burocrática, ou seja, os membros não têm outra alternativa se não seguirem

o que está plasmado ou regulamentado; e no segundo caso, a liderança baseada na autoridade pessoal,

os membros da organização seguem o líder pelas suas capacidades e habilidades individuais

demostradas aos membros do grupo no ambiente interno e externo.

Segundo Coleman (2005:14-15), “os estilos de liderança são definidos em termos de influência:

quem está exercendo; para o que é exercido; e qual o seu resultado”. As seis categorias definidas são:

“i) Liderança instrucional - o foco principal é a aprendizagem dos alunos, baseia-se na eficácia

dos professores na sala de aula; ii) Liderança transformacional, pode ser exercida por outras

pessoas além do líder formal, preocupam-se com os resultados e melhoria contínua; iii)

Liderança moral, privilegia os valores na liderança e visa ações moralmente justificadas e

escolas democráticas; iv) Liderança participativa, partilha na tomada de decisão com a

instituição de ensino. v) Liderança gerencial, o objetivo é atingir metas eficientes; e vi) Liderança

contenciosa, com o objetivo de aumentar a capacidade da organização de responder

produtivamente às demandas por mudança”. (Coleman, 2005:14-15; itálico no original)

Se considerarmos a cultura como um processo de construção, que pode manifestar-se de

diferentes formas (integradoras, diferenciadoras e fragmentadoras), abre-se espaço para a compreensão

da liderança escolar na organização como uma das dimensões da cultura.

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Como afirmam Ferreira e Torres (2012), partindo da matriz proposta na figura 3 para a leitura

dos processos de liderança em contexto escolar, “podemos perspetivar as suas relações dialéticas entre

a organização (dentro) e o contexto societal (fora), bem como entre o formal (estrutura) e o informal

(ação)”. Os autores partem da concetualização de Quinn e Mcgrath (1985), dos modelos de cultura e

respetivos valores (consensual, prospetiva, racional e hierárquica), articulados com o estilo de liderança,

que segundo os autores podem coexistir na organização.

Figura 3: Modelo de análise – estilo de gestão e liderança em contexto escolar

Fonte: Retirado de Ferreira, N. C. & Torres, L. L. (2012). Perfil de Liderança do Diretor de Escola em Portugal: Modos de Atuação e Estratégias de Regulação da Cultura Organizacional. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação (ANPAE), Recife (Brasil), Vol. 28, nº 1, pp. 86-111.

A cultura da escola não aparece ao acaso, começa lentamente e evolui ao longo do tempo; é

guiada por líderes, adotada pela equipe e influencia as pessoas nas escolas todos os dias. Comummente,

é um esforço colaborativo e contínuo dos atores escolares.

Inicialmente, é o papel do líder da escola que determina a cultura da escola e o modo como

ela funciona. Valores e políticas da escola são estabelecidos, na maioria das vezes, informalmente,

durante o início do ano letivo. A abordagem do líder e o comportamento são frequentemente refletidos

no comportamento geral da equipe de trabalho da escola. No entanto, torna-se necessário definir

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formalmente e comunicar claramente os valores culturais e o comportamento esperado de seus

funcionários.

Segundo Thacker, Bell e Schargel:

“O estilo de liderança do diretor da escola é frequentemente baseado na educação anterior e

experiências pessoais. Alguns dos valores e caraterísticas do líder, tornam-se regras que são

seguidas pela equipe. Estes valores formam a base de cultura da escola e pode tornar-se fatores

importantes que geram desempenho a longo prazo da escola. O desempenho da escola é

determinado pela cultura e todos os tópicos relativos à melhoria da escola”. (Thacker, Bell e

Schargel, 2009:3-4).

No capítulo seguinte abordaremos as estratégicas metodológicas adotadas no estudo da

problemática do diretor como instância de regulação cultural e simbólica da escola, correlacionado com

alguns aspetos ligados a liderança nas instituições de ensino.

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CAPÍTULO III

Estratégias metodológicas

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Neste capítulo abordamos as estratégias metodológicas que conduziram a pesquisa, desde o

planeamento até à análise e interpretação dos dados empíricos, ou seja, mostramos os caminhos

percorridos para a realização do trabalho, partindo da conceção e problematização do objeto de estudo

até ao tratamento e análise dos dados recolhidos empiricamente.

Além desses aspetos de caráter metodológico, descrevemos o modo da operacionalização da

pesquisa, desde o primeiro contato com o objeto da pesquisa até à retirada do terreno. Nesta ordem de

ideias, selecionamos o grupo alvo da pesquisa e o principal objeto de estudo. Não obstante, definimos o

horizonte temporal e espacial do presente trabalho de pesquisa, de modo a delimitar o nosso objeto de

estudo.

Para um trabalho desta natureza, é preciso que estejam bem explícitos os procedimentos

adotados para a realização do trabalho, dando mais credibilidade para o mesmo em termos científicos.

Estes procedimentos também se tornam um fio condutor para os pesquisadores na realização dos seus

trabalhos, de modo que não percam muito tempo em aspetos de menor relevância.

O presente trabalho baseou-se na lei 6/92, de 6 de maio, do Sistema Nacional de Educação

(SNE) de Moçambique, que está em vigor até finais do presente ano (2019), apesar do Governo da

República de Moçambique já ter aprovado a nova lei 18/2018, de 28 de dezembro, que "estabelece o

regime jurídico do Sistema Nacional de Educação na República de Moçambique", que só entrará em

vigor a partir de 2020, com algumas alterações significativas quanto a estrutura dos sistemas de ensino

e a escolaridade obrigatória para os cidadãos moçambicanos, para que possuam elementos ou

habilidades para os desafios da sociedade, como foi apresentado no capítulo I do presente trabalho.

Deste modo, a pesquisa norteou-se pela legislação em vigor no horizonte temporal em que decorre o

trabalho empírico.

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1. Contextualização e formulação do problema de investigação

Contextualização do problema

Com o alcance da independência nacional em 1975, o país teve a necessidade de estruturar o

sistema educativo, continuando mesmo assim a usar os modelos de educação do país colonizador

(Portugal). Só em 1983 é que é aprovada a primeira lei n.º 4/83, de 23 de março e revogada pela lei

n.º 6/92, de 6 de maio, com os seguintes objetivos: “A educação é direito e dever de todos os cidadãos;

o Estado, no quadro da lei, permite a participação de outras entidades, incluindo comunitária,

cooperativas, empresariais e privadas no processo educativo; o Estado organiza e promove o ensino,

como parte integrante da ação educativa, nos termos definidos na Constituição da República e o ensino

público é laico”.

Os currículos e programas têm um carater nacional, com exceção do ensino superior, e são

aprovados pelo Ministro de Educação e Desenvolvimento Humano. Sempre que se revele necessário,

podem ser introduzidas adaptações de caráter regional aos currículos e programas nacionais, por forma

a garantir uma melhor qualificação dos alunos, desde que com isso não se contrariem os princípios,

objetivos e conceções do Sistema Nacional de Educação. Estas adaptações são aprovadas pelo Ministro

da Educação e Desenvolvimento Humano. (Idem)

Desde o tempo colonial, o órgão de gestão das escolas sempre foi unipessoal e nomeado, não

dando espaço para o desenvolvimento da democracia nas escolas quanto ao seu gestor do topo. Com a

resolução do diploma ministerial n.º 46/2008, de 14 de maio, é aprovado o Regulamento Geral do

Ensino Básico com o objetivo da “participação das famílias e comunidades na direção estratégica dos

estabelecimentos de ensino”. Em 2012 aprova-se a resolução n.º 18/2012, de 7 de dezembro, que “cria

e extingue funções de direção e chefia nos estabelecimentos de ensino e aprova os seus respetivos

qualificadores”, e revogada a resolução n.º 8/2005, continuando o diretor a ser nomeado. O diretor

continua no centro das atenções das escolas, deste modo aumentando a sua responsabilidade na

prestação de contas junto das famílias e da comunidade.

No caso da realidade portuguesa, o Diretor é visto como um rosto, um primeiro responsável a

quem poderão ser assacadas as responsabilidades (Decreto-Lei 75/2008, de 22 de abril). Nesta ótica

de ideias referidas por Lima (2011b):

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“o diretor concentra entre si várias competências, tudo parecendo girar em seu torno,

fragilizando as estruturas colegiais, existentes e pondo fim a quase totalidade dos processos de

escolha democrática nas escolas, salvo aquelas que respeitam o conselho de escola, embora

aqui já existam também indícios de que faz sentir, estrategicamente, a sua ação, especialmente

no que concerne a representação docente. Sobretudo os professores correm risco de ficar reféns

do diretor, sem órgãos próprios e autónomos, sem intermediação do tipo colegial, no quadro de

uma estrutura interna, extremamente centralizada na figura de diretor”. Lima (2011b:58)

Segundo Ferreira e Torres (2012):

“a forma como foi construída a figura do diretor, pelo poder central, deixa transparecer a ideia

de associação linear entre liderança e eficácia organizacional, conduzindo à emergência e/ou à

sedimentação de valores gerencialistas (obsessão do controlo da qualidade, da excelência, da

responsabilização, da eficácia técnica), que poderão conduzir a uma certa conflitualidade com

os valores democráticos e participativos imanentes ao contexto escolar”. (Ferreira e Torres,

2012:87)

Nesta ordem de ideias, Sergiovanni (2004a) introduz a cultura como um elemento crucial no

desenvolvimento, estabilidade e melhoramento de todos os processos decorrentes nas instituições de

ensino:

“a cultura é um fator importante no melhoramento das escolas. Menos óbvia é a ligação entre

a cultura e a teoria. A alma da cultura escolar é aquilo em que as pessoas acreditam, os

pressupostos da base do funcionamento da escola e o que se considera ser verdadeiro e real.

Estes fatores, por sua vez, estabelecem uma teoria de aceitabilidade que permite que cada um

saiba como se deve comportar. Os esforços levados a cabo para mudar as culturas escolares

envolvem, inevitavelmente, a mudança de teorias de escolarização e da vida escolar".

(Sergiovanni, 2004a: 23; itálico no original)

Desta forma as escolas passam a ganhar um lugar importante na sociedade em que estão

inseridas, porque os anseios da comunidade refletem-se na cultura da escola, dando mais relevância à

escolarização das crianças e jovens.

O diretor, sendo o representante dos órgãos centrais (Ministério de Educação e Desenvolvimento

Humano) na escola, dotado de quase todas competências e poderes para tomada de decisão a nível da

escola, é o elemento fulcral na criação e desenvolvimento da cultura escolar, isto tudo devido à

centralização do próprio sistema educativo moçambicano, em que todas as atividades escolares estão

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regulamentadas ao pormenor. Cabe ao diretor transmitir essas orientações aos demais funcionários,

para a sua efetivação nos níveis meso e micro da escola.

Face à conjuntura do sistema educativo moçambicano, o diretor no seu quotidiano procura

formas de como transmitir as orientações centrais aos seus funcionários de modo que todos aceitem e

cumpram as suas atividades, de uma forma espontânea e livre, não coerciva, acreditando e

compartilhando nos valores que são transmitidos pelo diretor na instituição escolar.

Este é um dos grandes desafios do diretor da escola, porque lida com pessoas com uma vasta

diversidade cultural e cada um com suas espectativas individuais, bem como coletivas de um certo grupo

dentro da escola. Perante as diversidades, é expectável que o Diretor procure gerir esses grupos ou

classes sociais diferentes, de modo a transmitir os seus ideais no cumprimento das orientações

superiores e para o desenvolvimento da instituição escolar.

Pergunta de partida

Quivy e Campenhoudt (2017:44), afirmam que “a pergunta de partida servirá de primeiro fio

condutor da investigação, para desempenhar corretamente a sua função, a pergunta de partida deve

apresentar qualidades de clareza, de exequibilidade e de pertinência”.

Tomando como referência o pressuposto de que “Os espaços-tempos de desenvolvimento da

gestão e da liderança são perspetivados enquanto locus de produção e reprodução de cultura e, nesta

ótica, revelam-se como instâncias de regulação cultural e simbólica” (Torres e Palhares, 2009:78),

elaborou-se a seguinte questão de partida:

De que modo o Diretor influencia o processo de construção cultural e simbólica da escola?

2. Objetivos gerais

Caraterizar o sistema educativo moçambicano;

Analisar o papel do Diretor, perspetivado como instância de regulação cultural e simbólica na

escola;

Identificar as especificidades culturais da escola.

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2.1 Objetivos específicos

Explicar a organização/funcionamento das escolas do ensino secundário geral em Moçambique;

Analisar a articulação entre a política educativa, a liderança e a cultura escolar;

Identificar o (s) tipo (s) de liderança exercida pelo Diretor no desempenho das suas tarefas na

escola e nas suas relações com os atores escolares.

3. Hipóteses

Muitos trabalhos de pesquisa começam com o estabelecimento de uma hipótese, que é definida

por Verma e Beard como:

“Uma proposição hipotética que será sujeita a verificação ao longo da investigação subsequente.

Pode também ser vista como um guia para o investigador, na medida em que se representa e

descreve o método a ser seguido no estudo do problema. Em muitos casos, as hipóteses são

palpites do investigador sobre a existência de uma relação entre variáveis”. (Verma e Beard,

1981:184)

Conforme Bell (2010:39), “as hipóteses fazem, portanto, afirmações entre variáveis e oferecem

ao investigador uma linha de orientação quanto à forma como o palpite original poderá ser testado”.

Neste contexto, para o presente trabalho, elaboramos as seguintes hipóteses que nortearam a

nossa pesquisa:

A regulação centralizada do Sistema Educativo Moçambicano pressiona as escolas a

reproduzirem as orientações centrais;

A centralidade das funções do diretor escolar no desempenho das suas atividades, tende a gerar

conflitos no interior da escola, criando condições para o surgimento da cultura diferenciadora;

A divulgação dos instrumentos de autonomia das escolas (como por exemplo: o projeto

educativo, regulamentos internos, planos de atividades, orçamento e outros dispositivos para a

orientação das escolas) contribui para a participação dos atores na escola;

O estilo de liderança do diretor (ora mais próxima do centro, ora mais próximo da comunidade)

condiciona o desenvolvimento da cultura de escola.

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4. Paradigma de investigação

De acordo com Chizzotti (2001:85), "a pesquisa é uma criação que mobiliza a acuidade inventiva

do pesquisador, sua habilidade artesanal e sua perspicácia para elaborar a metodologia adequada ao

campo de pesquisa, aos problemas que ele enfrenta com as pessoas que participam da investigação".

Neste contexto, para compreendermos “O Papel do Diretor como Instância de Regulação Cultural

e Simbólica da Escola”, utilizamos uma abordagem qualitativa16. Em educação a investigação qualitativa,

"é frequentemente designada por naturalista, porque o investigador frequenta os locais em que

naturalmente se verifica os fenómenos nos quais está interessado, incidindo os dados recolhidos nos

comportamentos naturais das pessoas: conversar, visitar, observar, comer, etc". (Bogdan e Biklen,

1994:17).

Inscrevemos a nossa pesquisa na abordagem qualitativa, porque não estamos preocupados com

a identificação da causa e efeito ou comprovar certas relações, como é habitual nas pesquisas

quantitativas. O nosso maior foco é a compreensão e interpretação dos fenómenos, uma das grandes

caraterísticas das pesquisas qualitativas. Deste modo, compreender a "relação dinâmica entre o mundo

real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o

mundo objetivo e a subjetividade do sujeito". (Chizzotti, 2001:79)

Bogdan e Biklen (1994) utilizam a expressão investigação qualitativa:

"como um termo genérico que agrupa diversas estratégias de investigação que partilham

determinadas caraterísticas. Os dados17 recolhidos são designados por qualitativos, o que

significa ricos em pormenores descritivos relativamente a pessoas, locais e conversas, e de

complexo tratamento estatístico. As questões a investigar não se estabelecem mediante a

operacionalização variáveis, sendo, outrossim, formuladas com objetivo de investigar os

fenómenos em toda a sua complexidade e em contexto natural" (Bogdan e Biklen, 1994:16;

itálico no original)

16 Segundo Stake (1995:53), “os investigadores quantitativos privilegiam a explicação e o controlo; os investigadores qualitativos privilegiam a compreensão

das complexas inter-relações entre tudo o que existe”. Conforme Bardin (2009:141), "corresponde a um procedimento mais intuitivo, mas também mais

maleável e mais adaptável a índices não previstos, ou à evolução das hipóteses".

17 Bogdan e Biklen (1994:149), "refere-se aos materiais em bruto que os investigadores recolhem do mundo que se encontram a estudar; são os elementos

que formam a base da análise. Os dados incluem materiais que os investigadores registam ativamente, tais como transcrição de entrevistas e notas de

campo referentes a observações participantes. Os dados também incluem aquilo que os outros criaram e que o investigador encontra, tal como diários,

fotografias, documentos oficiais e artigos de jornais. Os dados são simultaneamente as provas e as pistas".

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Os autores acrescentam, “as abordagens da investigação privilegiam, essencialmente, a

compreensão dos comportamentos a partir da perspetiva dos sujeitos da investigação. Recolhem

normalmente os dados em função de um contato aprofundado com os indivíduos, nos seus contextos

ecológicos naturais” (Bogdan e Biklen, 1994:16). Paralelamente, para Stake (1995:56), “a investigação

qualitativa da uma prioridade elevada à interpretação direta dos acontecimentos, uma prioridade mais

baixa a interpretação de dados de medição”.

De acordo com Stake (2009),

"A epistemologia da investigação qualitativa é existencial (não determinista) e construtivista.

Estas duas perspetivas vêm geralmente acompanhadas da expetativa de os fenómenos estarem

relacionados de formas complexas através de muitas ações coincidentes e de que compreendê-

los requerer olhar para uma gama variada de contextos: temporal e espacial, histórico, político,

económico, cultural, social e pessoal". (Stake, 2009:58)

O investigador qualitativo "enfatiza os episódios significativos, a sequencialidade dos

acontecimentos em contexto, a totalidade do individuo" (Idem:12). Haguette, (1995:63), salienta que

“os métodos qualitativos enfatizam as especificidades de um fenómeno em termos de suas origens e de

sua razão de ser”. Nessa sequência só com o paradigma qualitativo podemos constatar as

especificidades do diretor da escola na regulação cultural e simbólica da escola.

Para Bogdan e Biklen (1994:47-51) as investigações qualitativas possuem cinco caraterísticas,

sendo que nem todos os estudos que consideramos qualitativos patenteiam estas caraterísticas com

igual eloquência: a fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento

principal; é descritiva; interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou

produtos; tendem a analisar os seus dados de forma indutiva; e o significado é de importância vital na

abordagem qualitativa.

Conforme Bogdan e Biklen (1994:48), "os investigadores qualitativos frequentam os locais de

estudo porque se preocupam com o contexto. Entendem que as ações podem ser melhor compreendidas

quando são observadas no seu ambiente habitual de ocorrência".

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5. Método de pesquisa

Neste trabalho, associamos à abordagem qualitativa de investigação o método de estudo de

caso: “Uma perspetiva de estudo de caso que deriva de métodos de investigação naturalistas, holísticos,

etnográficos, fenomenológicos e biográficos”. (Stake, 1995:11)

Segundo Bell (2010),

“Um estudo de caso interessa-se sobretudo pela interação de fatores e acontecimentos. O

método de estudo de caso particular é especialmente indicado por investigadores isolados, dado

que proporciona uma oportunidade para estudar, de uma forma mais ou menos aprofundada,

um determinado aspeto de um problema em pouco tempo". (Bell, 2010:23)

Para Bogdan e Biklen, (1994:89), “o plano do estudo de caso pode ser apresentado como um

funil". Yin (2009:24) acrescenta que o método de estudo de caso “permite que os investigadores

retenham as caraterísticas holísticas e significativas dos eventos da vida real". A título de exemplo, "o

comportamento dos pequenos grupos, os processos organizacionais e administrativos, o desempenho

escolar”. (Idem)

Espera-se que um estudo de caso consiga,

“captar a complexidade de um caso único. Estudamos um caso quando ele próprio se reveste

de um interesse muito especial, e então procuramos o pormenor da interação com os seus

contextos. O estudo de caso é o estudo da particularidade e complexidade de um único caso,

conseguindo compreender a sua atividade no âmbito de circunstância importantes”. (Stake,

1995:11).

Para o presente trabalho recorremos ao estudo de caso de observação proposto por Bogdan e

Biklen (1994:90): “o estudo de caso de observação que se centra numa organização particular (escola,

centro de reabilitação) ou nalgum aspeto particular dessa organização”, e ao estudo de caso descritivo

proposto por Yin (2009: 39-41), que se caraterizam por “uma intervenção e o contexto da vida real no

qual ela ocorreu e podem ilustrar determinados tópicos em uma avaliação”. Nesta ordem de ideias

concentramo-nos numa escola de ensino secundário geral em Moçambique, num grupo específico de

pessoas nesse caso, o conselho da escola, para observar o diretor no desempenho das suas funções.

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Neste caso privilegiamos o estudo de alguns atores escolares, especificamente o diretor da

escola, para perceber o seu papel como instância de regulação cultural e simbólica na escola e para

apreender a relação deste com todos os atores escolares.

5.1 Amostra: caraterísticas e critérios de seleção

Num estudo de caso a definição da amostra é muito importante, uma vez que o estudo se cinge

a um aspeto muito específico ou particular – O diretor e as suas relações com os atores escolares.

Conforme Guerra (2010),

"as caraterísticas da análise qualitativa não facilitam uma definição a priori do universo de

análise, porque, em primeiro lugar, a pesquisa qualitativa é muito maleável, o objeto evolui, a

amostra pode alterar-se ao longo do percurso; e, por outro lado, é difícil (se não mesmo

impossível) definir uma amostra sem fazer referência ao processo de construção do objeto;

assim, é quase impossível definir uma amostra para as análises qualitativas, dada a diversidade

de objetos e métodos". (Guerra, 2010:43)

Este estudo incide sobre os membros do conselho da escola (diretor da escola, presidente do

conselho da escola, representante dos professores, representante do corpo técnico

administrativo/funcionários e representante dos alunos). Selecionamos este órgão de gestão por ser uma

estrutura de gestão estratégica da escola, que delibera e fiscaliza as ações para o funcionamento da

escola.

Este órgão funciona como consultivo para o coletivo da direção da escola, deste modo, permitiu-

nos observar a ação do diretor na regulação da cultura da escola, do topo até a base, através dos seus

membros representados nesse órgão (CE).

Conforme Bogdan e Biklen (1994),

"Os investigadores procuram locais ou pessoas que possam ser objeto de estudo ou fontes de

dados e, ao encontrarem aquilo que pensam interessar-lhes, organizam uma malha larga,

tentando avaliar o interesse do terreno ou das fontes de dados para os seus objetivos. Procuram

indícios de como deverão proceder e qual a possibilidade de o estudo se realizar. Começam

pela recolha de dados, revendo-os e explorando-os, e vão tomando decisões acerca do objetivo

do trabalho. Organizam e distribuem o seu tempo, escolhem as pessoas que irão entrevistar e

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quais os aspetos a aprofundar. À medida que vão conhecendo melhor o tema em estudo, os

planos são modificados e as estratégias selecionadas". (Bogdan e Biklen, 1994:89-90)

Segundo a classificação de Guerra (2010:44), utilizamos a amostragem por caso único que

"consiste na escolha de uma pessoa, situação ou local para fazer uma análise intensiva, do tipo estudo

de caso".

5.2 Delimitação espácio-temporal

O estudo realizou-se numa escola secundária de ensino geral em Moçambique. É uma das

maiores e antiga escola a nível da província, que leciona da 8ª à 12ª classe. O período de análise refere-

se ao ano letivo de 2018, para conhecer e compreender o papel do diretor da escola como instância de

regulação cultural e simbólica da escola.

Frisar que em Moçambique o período de aulas inicia no mês de fevereiro e termina em

novembro. A publicação dos resultados e exames é de finais de novembro a dezembro. O mês de janeiro

é reservado a férias para os professores e alunos.

A recolha de dados realizou-se nos meses de fevereiro e março de 2019, sendo que os dados

recolhidos também refletem dos primeiros três meses de 2019, respetivamente, até à nossa retirada do

campo onde recolhemos os dados empíricos.

6. Técnicas de pesquisa

Para Chizzotti (2001:89), "a coleta de dados não é um processo acumulativo e linear cuja

frequência, controlada e mensurada, autoriza o pesquisador, exterior a realidade estudada e dela

distanciando, a estabelecer leis e prever fatos". O autor realça,

"Os dados são colhidos, iterativamente, num processo de idas e voltas nas diversas etapas da

pesquisa e na interação com seus sujeitos. No desenvolvimento da pesquisa, os dados colhidos

em diversas etapas são constantemente analisados e avaliados. Os aspetos particulares novos

descobertos no processo de análise são investigados para orientar uma ação que modifique as

condições e as circunstâncias indesejadas. (Chizzotti, 2001:89; itálico no original)

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Neste estudo de caso, optamos pelas seguintes técnicas de recolha de dados: a análise

documental, a entrevista e a observação.

6.1 Análise Documental

Segundo Yin (2009),

“para os estudos de casos, o uso mais importante dos documentos é para corroborar e

aumentar a evidência de outras fontes”. Em primeiro lugar, os documentos são úteis na

verificação da correção da ortografia e dos títulos ou nome das organizações que talvez tenham

sido mencionados em uma entrevista. Em segundo lugar, os documentos podem proporcionar

outros detalhes específicos para corroborar a informação de outras fontes. Os documentos

desempenham um papel explícito em qualquer coleta de dados na realização de estudos de

caso. As buscas sistemáticas de documentos relevantes são importantes em qualquer plano de

coleta de dados". (Yin, 2009:129-130)

Bogdan e Biklen (1994:180) referem que "nesses documentos os investigadores podem ter

acesso à perspetiva oficial, bem como as várias maneiras como o pessoal da escola comunica".

Muito frequentemente, os documentos “servem como substitutos de registos de atividades que

o investigador não poderia observar diretamente. Às vezes, é claro, a pessoa que faz os registos é um

bom observador, mais especialista do que o investigador”. (Stake, 2009:85).

Conforme Bogdan e Biklen (1994:180), "as escolas e outras organizações burocráticas têm a

reputação de reproduzir uma profusão de comunicações escritas e ficheiros".

Deste modo, analisamos os seguintes documentos na escola: o plano de atividades e orçamento,

o regulamento interno da escola, o relatório anual das atividades, as atas das reuniões do conselho da

escola, circulares, os mapas estatísticos e de outros documentos elaborados pelo diretor da escola.

Para poder compreender melhor o Sistema Nacional de Educação e o papel do diretor

recorremos também à análise da legislação publicada desde o período colonial, após a independência,

até aos dias de hoje, para percebermos como é que a educação está organizada e como a figura do

diretor das escolas em Moçambique foi concebida e quais as suas funções e competências.

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Não obstante, consultamos regulamentos e manuais do conselho de escola, que é um dos

órgãos que prevê a participação dos pais e encarregados de educação na vida da escola.

6.2 Entrevistas

Para Rubin e Rubin (1995:17), "a entrevista qualitativa18 requer uma escuta intensa, um respeito

e uma curiosidade sobre o que as pessoas dizem, e um esforço sistemático para realmente ouvir e

entender o que as pessoas dizem". O autor acrescenta "em entrevistas, muitas vezes estamos tentando

descobrir as regras da cultura que estamos estudando".(Idem:17)

Na mesma senda, o autor afirma que as,

"Entrevistas qualitativas diferem em estilo. Algumas entrevistas são mais agressivas que outras.

Eles também diferem na ênfase relativa em entender a cultura como o objeto principal do

estudo. Em algumas entrevistas, o objetivo é extrair narrativas; em outros, você fica feliz se o

entrevistado lhe contar uma história. O escopo da arena de pesquisa também varia de um tipo

de entrevista para outro". (Rubin e Rubin, 1995:26)

Conforme referencia Yin (2009:133), “as entrevistas são conversas guiadas, não investigações

estruturadas”. Esta colocação do autor vem ao encontro de Quivy e Campenhoudt (2017),

“a entrevista distingue-se pela aplicação dos processos fundamentais de comunicação e de

interação humana. Este processo permite ao investigador retirar das entrevistas informações e

elementos de reflexão muito ricos e matizados. Carateriza-se por um contato direto entre o

investigador e os seus interlocutores e por uma fraca diretividade por parte daquele”. (Quivy e

Campenhoudt, 2017:191-192)

Dentro desta ótica, para Haguette (1995:86), a entrevista “é um processo de interação social

entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de informações por

parte do outro, o entrevistado”. Paralelamente, para Ghiglione e Matalon, (1997:7) a entrevista pode ser

definida “como uma interrogação particular acerca de uma situação englobando indivíduos, com objetivo

de generalizar”. Corroborando Bogdan e Biklen, (1994:134), a entrevista é “utilizada para recolher dados

18Como refere Rubin & Rubin (1995:19), "a entrevista qualitativa abrange uma variedade de formas de questionamento. A família de entrevistas qualitativas

difere no grau de ênfase na cultura, na escolha da arena ou nos limites do estudo e nas formas específicas de informação que são procuradas".

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descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma

ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspetos do mundo”.

Conforme Yin (2009),

"as entrevistas19 são uma fonte essencial de evidência do estudo de caso porque a maioria delas

é sobre assuntos humanos ou eventos comportamentais. Os entrevistados bem informados

podem proporcionar insights importantes sobre esses assuntos ou eventos. Eles também

podem fornecer atalhos para a história prévia dessas situações, ajudando-o a identificar outras

fontes relevantes de evidência". (Yin, 2009:135; itálico no original).

A fim de compreender o papel do Diretor como instância de regulação cultural e simbólica da

escola, utilizamos a classificação do tipo de entrevistas segundo Yin: privilegiando a entrevista focada,

na qual a pessoa é entrevistada durante um curto período – uma hora, por exemplo. Nesses casos “as

entrevistas até podem permanecer abertas e assumir uma maneira conversacional, mas é a maior

probabilidade de ser seguido um determinado conjunto de questões derivadas do protocolo do estudo

de caso” (Yin, 2009:134). Neste sentido, entrevistamos os membros do Conselho de Escola (o Diretor

da Escola, o Presidente do Conselho da Escola, os Representantes dos professores, do corpo técnico

administrativo e dos alunos).

De salientar que as entrevistas decorreram no ambiente escolar, nos seus respetivos postos de

trabalho, sem nenhuma perturbação, exceto a entrevista feita ao presidente do conselho que se realizou

fora do recinto da escola. Por causa da sua agenda de trabalho tivemos que arranjar um meio-termo

para que tal acontecesse e a entrevista decorreu normalmente, sem sobressaltos.

Para Guerra (2010:60), as entrevistas "devem ser realizadas preferencialmente num lugar

neutro, ou pelo menos de fácil controlo pelo informador. O controlo do território da entrevista coloca mais

à vontade e permite-lhe também uma melhor gestão do tempo se a entrevista for longa".

19 “Ao mesmo tempo, mesmo que as suas entrevistas foquem os eventos comportamentais, porque são os integrantes principais de seu estudo de caso, elas

devem ser sempre consideradas apenas relatos verbais. Como tal, mesmo ao relatarem esses eventos ou explicarem como ocorrem, as respostas dos

entrevistados estão sujeitas aos problemas comuns de parcialidade, má lembrança e articulação pobre ou inexata. Novamente, uma abordagem razoável é

corroborar os dados das entrevistas com informações de outras fontes”. (Idem:135; itálico no original).

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6.3 Observação direta

Segundo Quivy e Campenhoudt (2017:96), “as observações sociológicas incidem sobre os

comportamentos dos atores, na medida em que manifestam sistemas de relações sociais, bem como

sobre os fundamentos culturais e ideológicos que lhes subjazem”.

Conforme referenciam Ghiglione e Matalon (1997),

“observação é um olhar sobre uma situação sem que esta seja modificada, olhar cuja

intencionalidade é de natureza muito geral, atuando ao nível da escolha da situação e não ao

nível do que deve ser observado na situação, e que tem por objetivo a recolha de dados sobre

a mesma”. (Ghiglione e Matalon, 1997:7; itálico no original)

A respeito da observação, Yin (2009:136) refere que "o estudo de caso deve ocorrer no ambiente

natural do caso, isto significa que se cria a oportunidade para as observações diretas20 do fenómeno ou

acontecimento a ser estudado". O autor salienta,

"As observações podem variar das atividades de coleta de dados formais e informais. Mais

formalmente, os instrumentos observacionais podem ser desenvolvidos como parte do protocolo

do estudo de caso. Isto pode envolver a observação de reuniões, atividades de rua, trabalho em

fábrica, salas de aulas e outros. Menos formalmente as observações diretas podem ser feitas

durante a visita de campo, incluindo as ocasiões em que outras evidências, como as das

entrevistas, estão sendo coletadas. Por exemplo, a condição dos edifícios ou dos locais de

trabalho indicará algo sobre o clima ou o empobrecimento da organização; igualmente, a

localização ou o mobiliário do escritório de um entrevistado pode ser um indicador da sua

situação na organização". (Yin, 2009:136)

Para o autor "a evidência observacional é frequentemente útil para proporcionar informação

adicional sobre o tópico sendo estudado". (Yin, 2009:136)

Para Stake (2009:78),

“as observações conduzem o investigador a uma maior compreensão do caso”. Durante a

observação, o investigador do estudo de caso qualitativo mantém um bom registo dos

acontecimentos para providenciar uma descrição relativamente incontestável para análise

posterior e para o relatório final". (Stake, 2009:78; itálico no original)

20 De acordo com Chizzotti (2001:90), "a observação direta ou participante é obtida por meio de contato direto do pesquisador com o fenómeno observado,

para recolher as ações dos atores em seu contexto natural, a partir de sua perspetiva e seus pontos de vista".

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Segundo Quivy e Campenhoudt (2017:164), "a observação direta é aquela em que o próprio

investigador procede diretamente à recolha das informações, sem se dirigir aos sujeitos interessados".

Neste estudo de caso observamos a estrutura física da escola, o ambiente interno e externo da escola e

as interações dos atores escolares (professores, alunos, pais e encarregados de educação e o diretor da

escola).

7. Técnicas de tratamento e análise de dados empíricos

Depois da recolha dos dados empíricos através das diferentes técnicas mobilizadas (entrevista,

análise documental e a observação direta não participante), fomos para etapa seguinte, dando

seguimento ao trabalho de pesquisa, designadamente o tratamento e análise da informação recolhida.

Conforme afirmam Bogdan e Biklen (1994),

“a análise de dados é o processo de busca e de organização sistemática de transcrições de

entrevistas, de notas de campo e de outros materiais que foram sendo acumulados, com o

objetivo de aumentar a sua própria compreensão desses mesmos materiais e de lhes permitir

apresentar aos outros aquilo que encontrou. A análise envolve o trabalho com os dados, a sua

organização, divisão em unidades manipuláveis, síntese, procura de padrões, descoberta dos

aspetos impotentes e o que deve ser aprendido e a decisão sobre o que vai ser transmitido aos

outros". (Bogdan e Biklen, 1994:205)

Desta forma, quando terminávamos a entrevista passávamos logo para a fase seguinte - a

transcrição, de modo que não passasse muito tempo, pois corríamos riscos de algumas informações

que estávamos observando durante as entrevistas ficassem esquecidas, como por exemplo, o estado de

espirito do entrevistado, como respondia as questões (utilizava gestos ou não), se o ambiente onde estava

a decorrer a entrevista era propício, perturbações no decorrer da entrevista, etc.

Quanto às observações diretas não participantes, pautamos a nossa conduta pelo mesmo

procedimento das entrevistas. Levamos um diário de campo todas as vezes que nos fazíamos presente

à escola, de modo a tomar nota de tudo o que observamos segundo o nosso guião de observação. Aquilo

que não constava no nosso diário, fazíamos a transcrição para o computador no mesmo dia, de modo a

não nos esquecermos da informação.

Além das transcrições das entrevistas e das notas de campo, selecionamos para análise alguns

documentos normativos relativos ao funcionamento da escola.

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Para a análise dos dados ou informações recolhidas no campo empírico, utilizamos a técnica de

análise do conteúdo, em conformidade com a abordagem qualitativa adotada no presente trabalho de

pesquisa. Para Bardin (2018),

"Análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter

por que procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens

indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às

condições de produção/receção (variáveis inferidas) destas mensagens." (Bardin, 2018:44)

Estas comunicações podem ser verbais ou escritas mediante a existência de um emissor e um

recetor. Corroborando Guerra (2010),

"a análise do conteúdo "é uma técnica e não um método, utilizando o procedimento normal da

investigação - a saber, o confronto entre um quadro de referência do investigador e o material

empírico recolhido. Nesse sentido, a análise de conteúdo tem uma dimensão descritiva que visa

dar conta do que nos foi narrado e uma dimensão interpretativa que decorre das interrogações

do analista face a um objecto de estudo, com recurso a um sistema de conceitos teóricos-

analíticos cuja articulação permite formular as regras de inferência. (Guerra, 2010:62; itálico no

original)

Deste modo, procuramos confrontar os dados recolhidos na análise documental, nas entrevistas

e na observação direta não participante, descrevendo-os e interpretando-os no confronto com o

referencial teórico elaborado.

Segundo Bardin (2018:29), "estas técnicas implicam um trabalho exaustivo com as suas

divisões, cálculos e aperfeiçoamentos incessantes do métier”. O autor afirma que a análise do conteúdo

corresponde aos seguintes objetivos: "a superação da incerteza e o enriquecimento da leitura". (Idem:30)

Para Quivy e Campenhoudt (2017:226), “a análise de conteúdo incide sobre mensagens tão

variadas como obras literárias, artigos de jornais, documentos oficiais, programas audiovisuais,

declarações políticas, atas de reuniões ou relatórios de entrevistas pouco diretivas”. Acrescentam ainda

que

"O lugar ocupado pela análise de conteúdo na investigação social é cada vez maior,

nomeadamente porque oferece a possibilidade de tratar de forma metódica informações e

testemunhos que apresentam um certo grau de profundidade e de complexidade. Melhor do

que qualquer outro método de trabalho, a análise de conteúdo (ou, pelo menos, algumas das

suas variantes) permite, quando incide sobre um material rico e penetrante, satisfazer

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harmoniosamente as exigências do rigor metodológico e da profundidade inventiva, que nem

sempre são facilmente conciliáveis". (Quivy e Campenhoudt, 2017:226)

Conforme Quivy e Campenhoudt (2017:227), a análise do conteúdo na investigação qualitativa

"é mais intensiva (análise de um pequeno número de informações complexas e pormenorizadas) e tem

como informação de base a presença ou a ausência de uma caraterística ou o modo segundo o qual os

elementos do discurso estão articulados uns com os outros".

Como afirma Bardin (2018:48), o objetivo da análise de conteúdo " é a manipulação de

mensagens (conteúdo e expressão desse conteúdo) para evidenciar os indicadores que permitam inferir

sobre uma outra realidade que não a da mensagem".

Deste modo, constituímos um corpus21, segundo as regras impostas por Bardin (2018:122), "a

regra de exaustividade, representatividade, homogeneidade e pertinência". Neste seguimento analisamos

o nosso corpus documental constituído por entrevistas feitas aos membros do Conselho da Escola, as

atas das reuniões do Conselho da Escola, o relatório anual da escola, o plano de atividades e o seu

respetivo orçamento e alguns documentos e circulares emitidos pelo gabinete do diretor da escola, bem

como as notas de trabalho de campo transcritas. Ou seja, a análise do conteúdo cingiu-se a toda a

informação coletada na escola durante o trabalho de campo ou pesquisa (nesse caso a observação direta

não participante).

No conjunto das técnicas da análise de conteúdo, privilegiamos a análise por categorias, dando

enfâse a repetição dos temas, com todas as entrevistas juntas e a técnica de enunciação, desprezando

os aspetos formais da linguagem e concentrando a atenção no conteúdo das entrevistas.

Segundo Bardin (2018), a categoria

"Funciona por operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo

reagrupamentos analógicos. Entre as diferentes possibilidades de categorização, a investigação

dos temas, ou análise temática, é rápida e eficaz na condição de se aplicar a discursos diretos

(significações manifestas) e simples". (Bardin, 2018:199)

21 Para Bardin (2018:122), “O Corpus é um conjunto de documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos”.

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Por sua vez, de acordo com Paillè e Mucchielli (2008:233), "a categoria pode ser definida como

uma produção textual na forma de uma breve expressão que possibilita nomear um fenómeno percussivo

por meio de uma leitura de pesquisa".

Na ótica de Bardin (2018:147), "a análise do conteúdo assenta implicitamente na crença de que

a categorização (passagem de dados em bruto a dados organizados) não introduz desvios (por excesso

ou por recusa) no material, mas que dá a conhecer índices invisíveis, ao nível dos dados em bruto". Na

mesma senda, Guerra (2010:80) refere que "o sentido da identificação da categoria deve ser bem

explícito, mas não unívoco, isto é, não há vantagem em dizer o tipo de variação a não ser que haja uma

posição única em todas as entrevistas".

Bardin (2018) salienta ainda que,

"A categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto

por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o género (analogia), com os

critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um

grupo de elementos (unidades de registo, no caso de análise do conteúdo) sob um título

genérico, agrupamento esse efetuado em razão das caraterísticas comuns destes elementos".

(Bardin, 2018:145)

A categorização realizada aquando a análise do conteúdo baseou-se no referencial teórico (cf.

capítulo II), tendo ainda como suporte os objetivos e as hipóteses de pesquisa apresentadas neste

capítulo. Ou seja, escrevemos frases ou palavras que representam os mesmos padrões para agrupar os

dados recolhidos no campo empírico.

A nossa matriz teórica comandou a análise documental, isto é, as nossas hipóteses e objetivos

da pesquisa, nortearam o trilho que pretendíamos traçar na pesquisa.

Segundo Bogdan e Biklen (1994:221),“as categorias constituem um meio de classificar os dados

descritivos que recolheu, de forma a que o material contido num determinado tópico possa ser

fisicamente apartado dos outros dados”. Para Bardin (2018:15) a técnica de análise da enunciação

“apoia-se numa conceção da comunicação como processo e não como dado. Funciona desviando-se das

estruturas e dos elementos formais”.

A análise dos dados foi feita manualmente, isso é, não utilizamos nenhum software de

tratamento e análise de dados. Sabemos que atualmente existem muitos softwares que ajudam o

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tratamento e análise dos dados, flexibilizando o processo. Contudo, essas plataformas informáticas

devem sempre ser acompanhadas pela criatividade do pesquisador e suportadas no referencial teórico.

Uma das vantagens no uso da técnica de análise do conteúdo reside no facto de o pesquisador

administrar e transcrever os instrumentos da recolha de dados, familiarizando-se com tipo da informação

que tem ao seu poder, o que facilita a sua localização e interpretação.

8. Modos de operacionalização do processo de pesquisa

Os primeiros contatos com o objeto de estudo, neste caso a direção da escola secundária, foram

profícuos. Desde o princípio mostraram-se recetivos para realização do trabalho, mas houve um

inconveniente na fase do contato por causa do pedido de autorização da pesquisa, pois alegaram que,

como sendo duma instituição exterior, o procedimento mais correto deveria primeiro passar pelo

Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano, depois a Direção Provincial de Educação e

Desenvolvimento Humano, os Serviços Distritais de Educação e Tecnologia e, finalmente, é que deveria

chegar à Escola Secundária. O que se pode perceber é que o diretor queria saber com o que estava a

lidar e a que instituição pertencíamos. O problema foi rapidamente ultrapassado, segundo a sugestão do

próprio diretor que nos aconselhou que devíamos submeter um pedido de autorização a partir da

Instituição que trabalhamos, de modo a diminuir essa distância entre a escola e uma Instituição do

exterior (Portugal, Braga, Universidade do Minho). Desta forma, foi feita a réplica do pedido de

autorização (emitida pela instituição – ex Universidade Pedagógica, Delegação de Tete, atualmente

Universidade Púnguè, Extensão de Tete) e, de seguida, submetemos o pedido formal à escola em

questão. No dia seguinte, já tínhamos a autorização para podermos realizar o trabalho. A partir desse

dia, não tivemos mais qualquer tipo de constrangimento, ao longo da elaboração do presente estudo.

A coleta da informação ou trabalho de pesquisa realizou-se durante os meses de fevereiro e

março de 2019, nas segundas, quartas e sextas-feiras, segundo o plano que desenhamos. Dado que já

tínhamos o aval da direção, tivemos total liberdade para consultar qualquer setor, mediante a

apresentação da autorização. Depois do término de todo trabalho, despedimo-nos da direção com a

promessa de partilhar os resultados da pesquisa.

As entrevistas realizaram-se no recinto escolar: a do diretor foi realizada no seu gabinete, assim

como a do representante dos professores; do representante dos funcionários, na biblioteca, numa hora

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morta antes dos utentes chegarem e a do representante dos alunos no pátio ou recinto escolar.

Relativamente à entrevista do presidente do conselho de escola, esta decorreu fora do recinto escolar

por causa da sua agenda de trabalho. Uma vez que não conseguimos marcar um tempo para que se

realizasse na escola, encontramos um meio-termo e, assim sendo, fomos ao seu encontro no local onde

está a frequentar o nível superior e fizemos a sua entrevista na sala dos professores.

Em termos da duração das entrevistas, apresentamos uma síntese na tabela 1.

Tabela 1: Duração das entrevistas

Entrevistado Perfil Sexo Idade Dia Duração

1 Representante dos

alunos

M 15 26/03/2019 9minutos:44segundos

2 Diretor da escola M 53 27/03/2019 43minutos:14segundos

3 Representante dos

professores

M 37-40* 27/03/2019 13minutos:06segundos

4 Presidente do conselho

da escola

M 52 27/03/2019 25minutos:33segundos

5 Representante dos

funcionários

F 41 28/03/2019 11minutos:52segundos

Fonte: Dados retirados das entrevistas realizadas aos atores escolares (março, 2019)

*O representante dos professores preferiu dizer-nos a sua idade em intervalos

Quanto à análise documental, a escola cedeu todos documentos que necessitava, tendo sido

muitos abertos quanto a esse aspeto. Contudo, alguns documentos que mereciam análise para o

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presente estudo, ainda estavam em fase de elaboração, como é o caso do plano estratégico da escola

secundária ou o plano de desenvolvimento.

Além destas técnicas aplicou-se a observação direta que consistiu em observar a estrutura física

da escola, a relação entre os autores escolares, o ambiente interno e externo e de algumas reuniões,

como é o caso da abertura do ano letivo onde estavam pais e encarregados de educação, professores,

alunos, sociedade civil, etc.

No que tange ao tratamento e análise dos dados recorremos a análise do conteúdo. Para a

efetivação da análise de conteúdo associamos a técnica de categorização dos dados empíricos e o

processamento da informação foi feita manualmente.

No capítulo seguinte, apresentaremos a análise e interpretação dos dados, bem como a

caraterização da escola em análise. Desde a estrutura física, as relações entre os atores escolares e o

ambiente interno e externo.

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CAPÍTULO IV

Apresentação, análise e interpretação dos dados empíricos

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O presente capítulo aborda, num primeiro momento, a caraterização do sistema educativo

moçambicano e da escola em estudo, doravante designada por Escola Secundária Belga, um nome

fictício, de modo a salvaguardar a integridade e confidencialidade da instituição investigada, e num

segundo momento, debruça-se sobre a apresentação, discussão, análise e interpretação dos dados

recolhidos.

1. Direção e Administração do Sistema Educativo Moçambicano

Desde o período colonial, a Direção e Administração do Sistema Educativo Moçambicano esteve

sob tutela do Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano de Moçambique - MINEDH, que é a

instância responsável pela planificação, direção e controlo do Sistema Nacional de Educação,

assegurando a sua unicidade. Os currículos e programas de ensino escolar têm um caráter nacional e

são aprovados por este mesmo Ministério.

Figura 4: Organigrama do Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano

Fonte: retirado da página http://www.mined.gov.mz/mined/PublishingImages/MEdh.jpg. Acesso 06/07/2019

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Segundo a Lei n.º 6/92, de 6 de maio, existe a possibilidade de proceder a adaptações de caráter

regional aos currículos e programas nacionais, por forma a garantir uma melhor qualificação dos alunos,

desde que, com isso, não se contrariem os princípios, objetivos e conceção do Sistema Nacional de

Educação. Estas devem ser aprovadas pelo MINEDH. É o ministério que define a forma e o método de

implementação progressiva do SNE.

Conforme ilustra a figura acima (fig. 4), nota-se claramente que o SNE em Moçambique está

centralizado, sob tutela do MINEDH, que regula e toma as decisões a nível macro do sistema educativo,

obedecendo a uma estrutura ou hierarquia: no topo encontra-se o ministério e na base as escolas a nível

meso e micro. Neste caso, as decisões são tomadas ao nível do Ministério, descendo para as Direções

Provinciais, depois para os Serviços Distritais de Educação e Tecnologias e, por fim, para as escolas, a

fim de cumprirem tais orientações emanadas pelo ministério.

Os currículos, programas, métodos e meios de ensino são uniformes em todo país, elaborados

a nível central pelo MINEDH; às vezes não vão de acordo com certas especificidades de certas

comunidades ou zonas mais recônditas. Como sabemos, Moçambique é um país muito amplo com uma

vasta e rica diversidade cultural e algumas escolas estão muito dispersas das sedes distritais, cujo acesso

dificultado pela precariedade das estradas dificulta a circulação dos transportes para chegar a esses

postos administrativos ou localidades. Assim vê-se dificultada a ação dos legisladores no momento de

fazer o diagnóstico preciso das realidades desses locais para a elaboração das suas políticas.

Apesar da uniformização dos currículos, programas e meios de ensino, de modo a atingirem os

seus objetivos, o governo, em certas escolas, introduziu o sistema bilingue de modo que os conteúdos

fossem ministrados em línguas maternas (a primeira língua é a que o cidadão tem contato logo depois

do seu nascimento) de cada região ou província em que a escola está inserida nas classes iniciais. Os

conteúdos, programas e meios de ensino aprovados centralmente, não são alterados, o que alterna é a

língua utilizada pelos professores na transmissão dos conteúdos para os alunos.

A Direção Provincial de Educação e Desenvolvimento Humano coordena a elaboração do

calendário das avaliações trimestrais, com base no calendário escolar elaborado e aprovado pelo

MINEDH. Este deve ser comunicado aos alunos, pais e encarregados de educação no início do ano letivo

e é relembrando no início de cada trimestre e uma semana antes das avaliações. Os resultados devem

ser informados aos alunos, até ao final do trimestre.

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Os exames finais do 1.º e 2.º ciclos (10.ª e 12.ª classes respetivamente), a elaboração e

coordenação competem ao MINEDH, tendo um caráter nacional para todas as escolas públicas e

privadas. A partir do ano letivo (2019) foi abolida a dispensa dos alunos nas classes com exames, ou

seja, todos são submetidos aos exames mediante uma classificação positiva igual ou superior a 10

valores.

Quanto às avaliações, houve uma desconcentração para as províncias no que tange as

avaliações trimestrais, mas o exame final ou nacional ainda continua a cargo do ministério.

Existe uma uniformização das avaliações finais trimestrais. Todas as escolas realizam a mesma

avaliação independentemente de o professor ter concluído o programa ou não. As provas são elaboradas

ao nível provincial e em cada Serviço Distrital de Educação, Juventude e Tecnologias. Concretamente,

nas escolas há uma supervisão para controlar o processo das provas e, para as classes com exames, as

provas também são de caráter nacional, seguindo o mesmo protocolo.

O calendário letivo é o mesmo para todas as escolas públicas e privadas. A abertura solene do

ano letivo decorre no mesmo dia para todas as escolas, mediante um lema e respetiva data escolhidos

pelos órgãos centrais, para o evento ser realizado com impacto nacional.

Para a redução das desigualdades sociais e assimetrias entre os alunos, o ministério da tutela

viu a necessidade da introdução do uniforme escolar em todas as escolas públicas e privadas, de modo

que as desigualdades sociais não transparecessem tanto. Esta é uma das medidas tomadas pelos órgãos

centrais e todas as escolas passaram a adotar.

Para o exercício das suas funções, os professores devem ter uma formação psicopedagógica

para o desempenho do seu cargo. Atualmente, podemos garantir que quase todos professores têm essa

formação, comparado com o período colonial e após independência, pois, por falta de quadros

qualificados, recrutavam qualquer cidadão desde que tivesse terminado a 4.ª classe do antigo sistema

de educação. À altura as pessoas eram recrutadas mesmo sem vocação para lecionação. Com o passar

do tempo tiveram que conformar-se com a situação, passando a gostar da profissão docente. O governo,

após a independência, de modo a suprir a falta de professores com formação psicopedagógica, adotou

vários modelos de formação de professores, a título de exemplo: 6 + 1 mês, 6 + 2 meses, 6 + 1 ou 2

anos, 7 + 1 ano, 7 + 3 anos, 10 + 1 ano, 10 + 3 anos, 12 + 1 ano, etc. De realçar que, todos os

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funcionários têm os seus direitos e deveres no cumprimento das suas atividades ou funções nas

instituições de ensino, de acordo com as normas que os regem.

Os funcionários são promovidos mediante o tempo de serviço e são mudados de carreira

segundo o nível académico concluído, quando ingressam com um nível inferior.

No Sistema Educativo Moçambicano, conforme ilustra a (figura 4), nota-se claramente as seis

dimensões de Richard Hall (1978) na conceitualização da burocracia de Marx Weber. A maioria das

dimensões aparecem em alto grau e as restantes em pequeno grau no SNE.

Nota-se uma centralização do Sistema Nacional de Educação no Ministério de Educação e

desenvolvimento Humano, no que concerne a planificação, controlo e monitoria de todas as atividades

e conceção das políticas educativas.

É notória a hierarquização, a departamentalização e a divisão de trabalho, do topo (ministério) e

a base (as escolas) no sistema educativo. Nessa ótica, observamos um grande distanciamento entre o

legislador e o executor das políticas educativas.

No Sistema Educativo Moçambicano existe igualmente uma uniformização dos currículos,

programas, métodos e meios de ensino e aprendizagem e das avaliações para todas as escolas do

território nacional, ou seja, tudo no sistema educativo moçambicano é regulamentado.

No exercício das suas funções os funcionários têm os seus termos de referência para

desenvolverem as atividades, para além disso têm direitos e deveres no exercício do cargo. Podemos

constatar que para a promoção e progressão não é muito considerada a competência técnica, mas a

antiguidade no posto de trabalho. Nesse aspeto a avaliação da confiança a observar não é tanto técnica,

mas muitas das vezes é mais política.

Conforme o modelo racional de Per-Erik Ellström (2007:456), no sistema educativo

moçambicano podemos notar objetivos claros e compartilhados em toda a sua hierarquia, partindo do

ministério até às escolas, incidindo em métodos e técnicas de ensino e aprendizagem transparentes, de

modo que os intervenientes as percebam, para a sua fácil concretização.

Nos últimos anos, assistimos a um esforço na profissionalização dos funcionários, no caso de

introdução de várias reformas para a formação de professores para suprir o défice de falta de professores

qualificados no sistema de ensino ou professores com formação psicopedagógica.

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2. Caraterização da Escola Secundária Belga

Conforme o Diploma Ministerial n.º 61/2003, de 11 de junho, da República de Moçambique, a

Escola Secundária Belga é considerada do tipo A, porque possui mais de 30 salas de aulas e 60 turmas,

para além das infraestruturas obrigatórias (cf. capítulo 1).

A Escola Secundária Belga localiza-se num dos bairros da urbe e possui 33 salas de aulas,

distribuídas por três edifícios A, B e bloco de laboratórios, um ginásio desportivo com balneários para

homens e mulheres, uma biblioteca e dois laboratórios, um de química e o outro de física. Os gabinetes

da escola situam-se no rés-do-chão do edifício A. É uma das maiores escolas a nível da província, leciona

da 8ª à 12ª classe, em dois períodos, diurno e noturno, com um universo de noventa e nove turmas e

recebe estudantes de quase todas as escolas da cidade.

Na esteira de Lima (1992:56), e de acordo com o organigrama da escola apresentado na figura

5, a escola é uma pequena unidade periférica de um grande sistema central em Moçambique. Dando

sequência a uma estrutura do SNE moçambicano tradicionalmente centralizada, esta escola funciona

num nível meso e micro como verdadeira executora das políticas que lhe chegam da tutela.

Figura 5: Organigrama da Escola Secundária Belga

Fonte: Adaptado a partir do Diploma Ministerial n.º 61/2003, de 11 de junho.

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Apesar de situar-se a nível meso e micro, ela também possui certas caraterísticas burocráticas,

obedece a uma certa estrutura, subdividida em departamentos, com certas regras que os seus membros

devem pautar no seu quotidiano, existindo divisão de tarefas.

Desta forma, à luz do modelo racional-burocrático, as escolas, meras executoras a nível meso e

micro, são reprodutoras das regras definidas pelo ministério, sem muito espaço de manobra no contexto

escolar. Ou seja, a carência de autonomia destas instituições decorre de estarem amarradas ao

ministério, prestando contas sempre que as instâncias superiores hierarquicamente solicitam.

A Escola Secundária Belga é constituída pelos seguintes órgãos de direção: o conselho da escola

(constituído pelo presidente do conselho da escola, o diretor da escola, o coletivo de direção,

representante dos professores, representantes dos alunos, comissão de pais, representante da

comunidade e representante do pessoal não docente ou corpo técnico administrativo); direção da escola

(diretor); coletivo de direção (diretor, diretores adjuntos-pedagógicos e administrativo e a chefe da

secretaria) e o conselho pedagógico (diretor, diretores adjuntos pedagógicos, delegados de disciplinas,

diretores de classes e diretores de turmas).

Como ilustra a figura 5, o conselho da escola é o órgão máximo do estabelecimento de ensino,

que tem como objetivos ajustar as diretrizes e metas estabelecidas a nível central e local, à realidade da

escola e garantir uma gestão democrática e transparente. Nota-se, também, segundo a hierarquia

patente, que o coletivo de direção está subordinado à direção da escola, sendo que os delegados das

disciplinas, diretores de classes e diretores de turmas subordinam-se ao conselho pedagógico.

Na Escola Secundária Belga existe uma separação das tarefas ou departamentalização para o

exercício das atividades da escola. Tal pretende concretizar os objetivos almejados tanto a nível local

como a nível central.

O conselho da escola (CE) encontra-se em pleno funcionamento, constituído por vinte e cinco

membros. O presidente do CE é eleito segundo o que rege o regulamento do CE, entre os pais e

encarregados de educação.

A Escola Secundária Belga tem três diretores-adjuntos pedagógicos, sendo dois para o curso

diurno, que respondem para o 1º e 2º ciclos, respetivamente, e um terceiro para o 1º e 2º ciclos no

curso noturno.

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Tabela 2: Efetivos estudantis da Escola Secundária Belga

Ano Início do ano letivo Total Fim do ano letivo Total

M F M F

2018 4.215 4.250 8.565 3.694 3.656 7.350

2019 3.975 4.131 8.106 a) a) a)

Fonte: Mapas de levantamento estatísticos de 3 de março de 2019 da Escola Secundária Belga

a) Não obtivemos dados deste período porque o ano letivo ainda esta em curso, só termina em dezembro

Durante o período em análise (2018), desistiram ou abandonaram cerca de mil duzentos e

quinze (1.215) alunos, correspondente a uma taxa de abandono escolar ou desistência equivalente a

14.2% dos matriculados.

De salientar que, durante o período em análise, dos 7.350 alunos, só 5.040 foram aprovados,

o que corresponde à taxa de 68.6% e a taxa de reprovação foi de 38.4%. No presente ano letivo (2019),

do total dos alunos inscritos, as mulheres representam 50.96%, o que de denota uma igualdade de

género no acesso ao ensino nessa escola, em linha com as políticas traçadas pelo governo a nível central

relativas à emancipação da mulher. Também pode estar associado aos dados demográficos pois,

segundo o censo geral da população de 2017, Moçambique tem mais mulheres do que homens.

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Tabela 3: Funcionários da Escola Secundária Belga

Funcionários Homens Mulheres Total

Pessoal docente 85 30 115

Pessoal não docente 12 23 35

Fonte: Relatório anual 2018 da Escola Secundária Belga

Quanto a funcionários, o pessoal docente tem mais homens do que mulheres, ao passo que no

pessoal não docente ou corpo técnico administrativo verifica-se o inverso.

Segundo o Regulamento Interno da Escola Secundária Belga, para os anos letivos 2018 e 2019,

as atividades escolares iniciam às 06 horas e 30 minutos e terminam às 21 horas e 55 minutos, de

segunda a sexta-feira, ou seja, nos dias úteis da semana (art.º 1), distribuídos em três períodos,

nomeadamente:

Tabela 4: Horário das aulas

Período Horas de concentração para entoarem

o hino nacional

Aulas normais

Manhã 06 Horas e 30 minutos 07: 00 Horas as 12 horas e 05 minutos

Tarde 12 Horas e 05 minutos 12 Horas e 30 minutos as 17 horas e 05 minutos

Noite a) 17 Horas e 25 minutos as 21 horas e 55 minutos

Fonte: Regulamento interno da Escola Secundária Belga

a) No período da noite não entoam o hino nacional

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Os serviços de apoio, neste caso a secretaria da Escola Secundária Belga, funcionam para o

atendimento ao público em geral, das 07 horas e 30 minutos às 15 horas e 30 minutos, todos os dias

úteis da semana.

3. Instrumentos que orientam o diretor da Escola Secundária Belga na tomada de decisão

As escolas e os diretores das escolas na República de Moçambique são orientados pelos

dispositivos legais, a partir do topo, através de decretos, diplomas ministeriais, circulares e despachos

que norteiam o quotidiano das escolas e os seus gestores, não podendo tomar as suas decisões à

margem desses dispositivos legais.

De acordo com os nossos entrevistados e segundo a tabela n.º 5, o diretor da escola, para a

tomada de decisão, centra-se fundamentalmente nas leis, nos documentos normativos da instituição e,

na perspetiva do representante dos professores, na consulta ao coletivo de direção e ao conselho da

escola.

Tabela 5: Instrumentos que privilegiam na tomada de decisão

E1

Representante

dos alunos

E2

Diretor da escola

E3

Representante

dos professores

E4

Presidente do

conselho da

escola

E5

Representante

dos funcionários

(não docente)

Na tomada de

decisão o que

privilegia o diretor

a) Leis Documentos e

consulta ao

coletivo de

direção

Sempre se

pautou pela

legislação

Normalmente a

legislação.

Fonte: Dados retirados das entrevistas realizadas aos atores escolares (março, 2019)

a) Esta questão não foi colocada ao representante dos alunos, uma vez que sentimos que não teria bases suficientes para poder responde-la.

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Para a tomada de decisão de vários assuntos ou aspetos ligados a instituição escolar, o diretor

da Escola Secundária Belga baseia-se na legislação vigente no território nacional para as instituições de

ensino e também nos estatutos para os funcionários e agentes do estado em Moçambique. É de notar

aqui uma das marcas da burocracia definidas por Marx Weber.

Segundo o Presidente do Conselho da Escola (cf. apêndice 2), o diretor da escola,

“Sempre pautou pelas regras rígidas da legislação: no estatuto geral dos funcionários e agentes

do Estado, no estatuto dos professores e o regulamento interno da escola, ele rege-se por estes

princípios; no conselho da escola, temos visto a consultar a legislação institucional”. (PCE,

E4:14)

A esse respeito, as escolas e os diretores só fazem a réplica do que está prescrito, para poder

implementar nas instituições de ensino. Se o diretor não puder implementar, considera-se estar a

cometer infrações. Esta realidade torna o trabalho dos gestores escolares monótono e sem muita

criatividade. Os serviços centrais já têm a receita para tudo, uma vez que planificam todas as atividades

minuciosamente, de modo a que o diretor só cumpra com os vários dispositivos legais existentes,

tornando-se um representante do ministério na escola.

Conforme o Diretor da escola (cf. apêndice 1), para a tomada de decisão orienta-se,

“Normalmente pelas leis, porque existe uma política educacional e reguladores. Se tento gerir

a instituição com base na realidade da escola, penso que estaria a adulterar muita coisa, a

escola é uma unidade subordinada ao ministério da educação, tem suas políticas, esse

ministério esta dentro dum país que tem uma constituição da república, leis que regulam, não

estou a ver em que momento a escola pode trabalhar ou eu posso trabalhar usando

simplesmente as regras produzidas na escola”. (DE, E2:18)

O Diretor da escola é o representante do ministério a nível micro na escola, pois está

representando o ministério, segundo ele

“porque existem documentos que guiam o processo de ensino e aprendizagem, de fato eu estou

naturalmente associado ao ministério da educação, estou a representar, neste caso, o ministério

de educação” (DE, E2:15)

Na mesma ordem de ideias, o Presidente do Conselho da Escola refere que,

“ele é o representante do ministério na escola, na direção coloca-se como representante do

governo, foi indicado entre os professores da escola para representar o estado” (PCE, E4:13)

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As escolas são meramente reprodutoras das orientações a nível central, neste caso o ministério.

O agente executor ou facilitador, para o alcance desses objetivos, é o diretor da escola. A nível micro, o

diretor é o executor no terreno, nesse caso, na escola; de todas as orientações ministeriais é o

representante do ministério no recinto escolar; aqui mais uma vez notamos em alto grau as caraterísticas

da burocracia definidas por Max Weber, o distanciamento entre o legislador e o executor, também a

regulamentação de todas as atividades existentes no seio das instituições escolares elaboradas ou

decretadas pelo ministério de tutela.

Estas constações empíricas vão de encontro às perspetivas de Lima, Sá e Silva (2017), quando

referem que nos países onde o sistema de ensino é centralizado, como acontece em Moçambique, os

diretores (as) das escolas tendem a ter contatos permanentes com as estruturas centrais (o Ministerio

de Educaçao e Desenvolvimento Humano), desde assuntos de natureza pedagógica à financeira e até

relacionados com o quotidiano escolar. Os autores salientam que “são questões verdadeiramente

nucleares no que diz respeito às dimensões burocráticas e política da organização escolar”. (Idem: 225)

Apesar de os dados recolhidos apontarem para a natureza reprodutora das escolas, as várias

investigações produzidas no âmbito da Administração Educacional evidenciam que os atores tendem a

recontextualizar e a produzir as suas próprias regras, sem distanciar-se tanto dos normativos emanados

a nível central. A título de exemplo, as escolas elaboram o seu regulamento interno, onde constam os

direitos, sanções e as obrigações ou deveres de todos os atores escolares no quotidiano da escola.

Além do regulamento interno da escola, por mais centralizadas que sejam as instituições de

ensino, no contexto escolar também elaboram o seu projeto educativo que prevê as atividades que escola

irá desenvolver num determinado período, que também podemos designar de plano de desenvolvimento

da escola.

As Escolas Secundárias em Moçambique possuem uma autonomia aparente que lhes permite

produzir algumas normas aplicadas ao contexto escolar, desde que não contradizam a lei base do

Sistema Nacional de Educação.

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4. Participação e relações dos atores escolares no quotidiano da escola

Conforme Lima (2011a:78; itálico no original), "a participação deve constituir uma prática

normal, esperada e institucionalmente justificada". O autor acrescenta que a participação pode ser direta

ou indireta:

"A participação direta, revela da concepção mais antiga de democracia, facultando a cada

individuo, dentro de critérios estabelecidos, a sua intervenção direta no processo de tomada de

decisões, a participação indireta é uma forma de participação mediatizada, realizada por

intermedio de representantes designados para o efeito". (Lima,2011a:80-81)

Atualmente nota-se muita afluência ou participação dos atores escolares na vida da escola, o

que demonstra que a escola incorpora, nas suas atividades, os anseios dos pais e encarregados de

educação, bem como da comunidade. Isto mostra que os professores, alunos, pais e encarregados de

educação participam de uma forma direta ou indireta na vida da escola, dependendo dos grupos ou

órgãos que fazem parte a todos os níveis na instituição escolar. Nota-se maior envolvimento de todos os

atores escolares na vida da escola, a título de exemplo: os pais e encarregados de educação participam

de uma forma indireta no conselho da escola através do seu representante, que é o presidente do

conselho da escola; os alunos e professores são também representados pelos seus representantes no

conselho da escola.

Apesar de terem os representantes que participam nos diversos órgãos da escola, promovem

sempre encontros com todos os funcionários de modo a acolher sensibilidades ou ideias para o

melhoramento do funcionamento da escola.

Para além das atividades curriculares, os alunos e professores participam nas atividades

extracurriculares. No início de cada ano letivo, há sempre uma jornada de limpeza na escola de modo a

criar um ambiente são na escola, tirando o capim, cortando arbustos no recinto escolar, entre outras

atividades que garantam a higiene da escola. Todos os alunos e professores são chamados para estas

atividades.

De acordo com os depoimentos recolhidos nas entrevistas, todos os entrevistados afirmaram

que os atores participam na vida das escolas (cf. tabela 6).

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Tabela 6: Participação dos atores escolares no quotidiano da escola

E1

Representante

dos alunos

E2

Diretor da escola

E3

Representante

dos professores

E4

Presidente do

conselho da

escola

E5

Representante

dos funcionários

(não docente)

Participação dos

atores escolares

na vida da escola

Participam Afluem em

massa

Participam Tenho-me

encorajado

Sinto-me

encorajada

Fonte: Dados retirados das entrevistas realizadas aos atores escolares (março, 2019)

Nas palavras do representante dos alunos (cf. apêndice 5), os professores

“participam nas atividades da escola. No sábado passado tínhamos jornada de limpeza, os

professores participaram na jornada de limpeza, estavam presentes para ver como os alunos

estão a fazer a limpeza e orientar, não simplesmente os chefes das turmas, mas estavam para

ajudar em algumas dificuldades que surgiam”. (RACE, E1:10)

Os pais e encarregados de educação participam ativamente na vida dos seus educandos,

participando nas reuniões promovidas pela escola na divulgação das notas trimestrais ou, quando existe

algum problema com o seu educando, são solicitados para solucionar o mesmo problema ou pôr-lhes a

par de algumas decisões ou orientações novas no contexto escolar.

Para o representante dos professores (cf. apêndice 3), a sua classe participa ativamente na vida

de escola,

“porque é normal, enquanto nós estamos aqui a conversar, há de ver um professor a vir a dizer

temos uma situação assim, a titulo de exemplo, ontem apareceu uma aluna, começou a criar

problemas na sala de aulas, estava aqui, só vi chamadas dum colega a reportar que alguma

coisa não estava bem, isto significa que tem a observar como que escola esta funcionar”. (RPCE,

E3:10)

De acordo com os dados de observação (cf. apêndice 6) recolhidos, notamos uma certa

divulgação dos instrumentos de autonomia das escolas, como é o caso do regulamento interno da escola,

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os planos de atividades e o respetivo orçamento, e outros dispositivos para a orientação da escola

(despachos, circulares, ordens de serviços) estão afixados na vitrina da escola para todos terem acesso

à informação. Como nem todos têm o hábito de ler as vitrinas, há certas informações que são escritas

no quadro preto, na sala de professores, para que os mesmos tenham acesso rapidamente a essas

informações, pois a sala de professores é o local onde passam mais tempo quando estão no recinto

escolar, permanecendo, por vezes, à espera da aula seguinte.

Referir que, no princípio do ano letivo, o diretor apresenta um relatório anual das atividades

desenvolvidas do ano transato, no dia da abertura solene do ano letivo, perante convidados provenientes

de vários locais, tais como: representantes do governo e da sociedade civil, pais e encarregados de

educação, presidente do conselho de escola, funcionários da escola e os demais que estiverem

interessados, porque é uma cerimónia pública. Com esta cultura de prestação de contas, os atores

escolares sentem mais confiança em participar na vida da escola e veem as suas expetativas a serem

concretizadas a nível da instituição escolar.

Neste dia, o diretor da escola clarifica a conduta que se espera dos atores escolares na instituição

de ensino e enfatiza alguns elementos cruciais que constam no regulamento interno da escola. Além

disso, toda a informação é fixada nas vitrinas da escola para que o público tenha o acesso.

Também podemos considerar a Escola Secundária Belga como sendo ativa, conforme o

representante dos alunos,

“É ativa, na escola temos vários grupos: dos ativistas da geração BIZ que eu faço parte, da

TACHIRA, tem havido concurso de ciências e os professores ajudam os alunos, temos tido feiras

para expor experiências, laboratório de química. Considero a escola como ativa”. (RACE, E1:10)

Para o representante dos professores, a escola Secundária Belga é dinâmica,

“no atendimento, acompanha a evolução, as mudanças, sempre quando há uma inovação, a

escola está em primeiro lugar em alguns momentos nas mudanças”. (RPCE, E3:10)

A escola é ativa e dinâmica, não só pela sua localização, estrutura física e efetivos, mas também

por ser uma das escolas-piloto a nível nacional.

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4.1 Relação entre o diretor e os atores escolares

No seio da escola Secundária Belga, a relação do diretor com os professores, alunos, pessoal

docente e não docente, pais e encarregados de educação é considerada pelos entrevistados como muito

positiva e salutar, conforme se pode observar na síntese apresentada na tabela 7.

Tabela 7: Relações do diretor e os atores escolares

E1

Representante

dos alunos

E2

Diretor da escola

E3

Representante

dos professores

E4

Presidente do

conselho da

escola

E5

Representante

dos funcionários

(não docente)

Relação do

diretor e os

atores escolares

Boas Boas Muito boas Espírito coletivo Boa

Fonte: Dados retirados das entrevistas realizadas aos atores escolares (março, 2019)

De acordo como os nossos entrevistados, não constatamos nenhum tipo de divergências entre

os atores escolares no desempenho das suas atividades. Segundo o diretor da escola,

“A relação com os meus colegas professores, penso eu, até agora é boa, com os alunos também

é a mesma coisa, é só ver a coisa do seguinte modo, os professores são a ponte entre a direção

e alunos, as informações quando não estão bem claras, os alunos na sala de aulas procuram

saber do professor e ele tem a capacidade de explicar para que os alunos percebam o que foi

dito pela direção e com os pais e encarregados de educação é a mesma coisa” (DE, E2:11)

Para o representante dos alunos, a relação do diretor com os atores escolares é boa e transmite-

lhes confiança,

“eu posso dizer que é boa, tenho visto na maioria das vezes que temos uma reunião, a interação

é boa, conseguimos falar com ele e expor aquilo que nos inquieta e ele responde duma forma

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positiva, não de jeito de superioridade, mais dum jeito que faz com que o conselho da escola

se sinta mais unido e sinta confiança”. (RACE, E1:9)

O diretor trata os alunos da mesma forma, independentemente do cargo que ocupa na instituição

escolar. Na mesma senda, a representante dos funcionários/pessoal não docente (cf. apêndice 4) afirma

que o diretor da escola,

“é um diretor conselheiro, ele não escolhe a cara do tipo de funcionário que ele tem, ele é um

pai mesmo, temos uma boa relação entre professores diretores e funcionários”. (RFCE, E5:9)

A relação do diretor com os atores escolares é boa, e o diretor está aberto para todo mundo, de

acordo com o representante dos professores,

“o diretor é muito aberto, atende a todos e a qualquer momento, em o ambiente a relação entre

o diretor e outros membros da comunidade escolar é boa”. (RPCE, E3:9)

4.2 Relação do diretor com conselho pedagógico e o conselho da escola

Podemos afirmar que o diretor, independentemente do órgão em que estiver, age da mesma

maneira, por conseguinte, as suas relações com o conselho pedagógico e o conselho da escola são boas

(cf. tabela n.º 8 abaixo), segundo refere,

“Como diretor tenho relações muito boas com o Conselho da Escola, a partir do próprio

presidente até todas as comissões de trabalho. Em relação ao conselho pedagógico estou a

falar, por exemplo, dos meus colaboradores, a relação é sã, não tenho razões de queixa”. (DE,

E2:10)

De igual modo, Lima, Sá e Silva (2017:227), num estudo recente sobre os diretores de

escola/agrupamento desenvolvido no contexto da realidade portuguesa, referem que o conselho da

escola, “responde ao quisito da colegialidade e, simultaneamente, ao princípio da participação

democrática na administração escolar, alargado aos representantes da comunidade na qual a escola se

insere”. O princípio da participação democrática carateriza-se pela participação de todos os atores

escolares representados pelos seus representantes no conselho da escola, como sendo um órgão

estratégico para o funcionamento da escola.

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Tabela 8: Relações do diretor com o conselho da escola e o conselho pedagógico

E1

Representante

dos alunos

E2

Diretor da escola

E3

Representante

dos professores

E4

Presidente do

conselho da

escola

E5

Representante

dos funcionários

(não docente)

Relação do

diretor com CE e

CP

Boas Muito boas Excelente Saudável Boa

Fonte: Dados retirados das entrevistas realizadas aos atores escolares (março, 2019)

De acordo com os nossos entrevistados, o diretor da escola tem um bom relacionamento com o

conselho pedagógico e o conselho da escola (cf. tabela n.º 8 acima). Para o representante dos

professores, a relação do diretor com o conselho pedagógico,

“É excelente, posso comentar só para ver, a partir de fevereiro até março já se realizou acima

de cinco reuniões com o conselho da escola, tivemos alguns problemas com alguns alunos,

vinham aqui vandalizar a escola, a nossa salvação foi o presidente do conselho da escola, junto

fomos pedir as autoridades policias que disponibilizassem um polícia para velar pela segurança,

sinto que é excelente mesmo a relação”. (RPCE, E3:15)

4.3 Relações entre os professores

Conforme os nossos entrevistados, as relações entre os professores também são muito boas,

caraterizando-se mais pelo cooperativismo entre estes no desempenho das suas atividades e para sanar

algumas dificuldades que enfrentam no seu dia-a-dia. Existe capacidade e interesse na integração de

novos professores na vida da escola, como refere o diretor da escola,

“A relação basicamente é cooperativa, porque desde que estou aqui em frente da escola,

consigo sentir, portanto, o clima que existe entre eles, é um clima cordial e de boa cooperação,

só para citar alguns exemplos: de la para ca recebi muitos professores vindos de vários sítios,

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mais hoje a quem esta só a três meses já se identifica com a escola, portanto conseguiu estar

já enquadrado, sinto que há uma cooperação entre eles”. (DE, E2:8)

Tabela 9: Relações entre os professores

E1

Representante

dos alunos

E2

Diretor da escola

E3

Representante

dos professores

E4

Presidente do

conselho da

escola

E5

Representante

dos funcionários

(não docente)

Relações que os

professores

estabelecem

entre si

Unidos Cooperativo Cooperativo Competitiva

coletiva

Bom

relacionamento

Fonte: Dados retirados das entrevistas realizadas aos atores escolares (março, 2019)

Para o presidente do conselho da escola,

“a relação entre os professores é competitiva, coletiva, há um coletivismo acima de tudo,

coletivismo no trabalho, num esforço de competitividade: cada professor quer mostrar o que

sabe e como vai transmitir o seu conhecimento para os alunos, não competitividade de orgulho

ou de arrogância, a competitividade é como abordar os temas no sentido da sua transmissão

para elevar a qualidade da própria escola, os processos de ensino e aprendizagem, os

professores entregam-se inegavelmente”. (PCE, E4:8)

Segundo a representante dos funcionários ou pessoal não docente da escola Secundária Belga,

sobre o relacionamento dos professores,

“por acaso é de louvar o relacionamento que existe entre os professores dessa escola, existe

um bom relacionamento não só com os professores como também com todos os colegas da

secretaria, porque não temos aquela separação, esse é professor e pessoal da secretaria, temos

aquela unidade, consolámo-nos um ao outro nos tempos difíceis, então isso é de louvar, temos

aquela compaixão um pelo outro”. (RFCE, E4:8)

Na ótica do representante dos professores,

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“Duma forma geral existe um ambiente cooperativo” (RPCE, E3:8)

De acordo com os nossos cinco atores escolares entrevistados, dum modo geral, as relações

entre o diretor e os conselhos da escola e pedagógicos e entre os professores são boas, mas

constatamos, durante as nossas entrevistas e observações, que no seio escolar, por vezes, têm lugar

algumas desavenças ou conflitos entre os atores, porém não perturbando o funcionamento normal da

instituição.

Conforme o presidente do conselho da escola, quando afirma que existe uma competitividade

coletiva entre os professores, isto significa que tem um grupo que se tem destacado mais em relação

aos outros. Esta diferenciação, normalmente, pode gerar um desconforto para os outros grupos, levando

uns a pensar que os outros são mais favorecidos em detrimento destes.

4.4 Estratégias adotadas pelo diretor para a promoção das relações entre os professores

De modo a promover boas relações entre os professores no seio da escola, o diretor adota várias

medidas para a sua efetivação, de entre as quais: o diálogo permanente com todas as forças vivas dentro

da instituição escolar ou todos atores escolares, e a total abertura por parte do diretor para a solução

dos problemas que afetem a instituição escolar.

Segundo o diretor da escola,

“Existem diferentes procedimentos, talvez aqui destacar o fator primeiro: o grupo de disciplina,

é um [silêncio], portanto é uma estrutura que leva avante, este relacionamento bom entre os

professores, porque nos notamos que no grupo de disciplina veem professores formados em

diferentes escolas, quando se encontram ao nível da escola no grupo, ali começa esse bom

relacionamento, cultiva-se a troca de experiência, etc”. (DE, E2:9)

O diretor acrescenta,

“para além do grupo de disciplina, temos promovidos encontros de natureza pedagógica,

encontros em assembleias da escola, é para auscultar os problemas dos colegas, e também

[silêncio], estou aberto, o que faço é, se existe alguma preocupação não vedo o professor, ele

esta livre de vir ter comigo a qualquer altura, desde momento que esteja disponível, não precisa

aquelas formalidades em marcar audiência, o professor chega, tem uma preocupação, ele é o

primeiro a ser atendido, então isso cria aquela abertura”. (DE, E2:9)

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Este contato do diretor com os atores escolares, minimiza os conflitos na instituição escolar,

porque nessas assembleias ou órgãos da escola, grupos de disciplinas, entre outros, debatem as ideias

de uma forma aberta, sem intimidação de qualquer parte envolvente. As pessoas estão livres de expor

as suas ideias sobre o que acham de determinados assuntos sobre a vida da escola.

O diretor adota essas estratégias consciente de que quanto mais as pessoas participarem, mais

esclarecidas estarão quanto aos objetivos e missão da escola, e as tarefas que devem desempenhar para

o alcance dos mesmos.

5. Política educativa, liderança e as manifestações culturais na Escola Secundária Belga

A política educativa é a visão ou ação que o governo traça para a sua sociedade, definem o tipo

de sociedade que eles pretendem, os procedimentos e meios possíveis para a sua efetivação. Na sua

definição pode ser participativa (auscultando a comunidade, sociedade civil, entre outros interessados

no processo educativo, como por exemplo os parceiros e doadores nacionais e internacional), ou

simplesmente definida por um pequeno grupo de legisladores representados pelo Estado, por vezes, não

adequadas a certos contextos, porque os legisladores não têm o conhecimento profundo de toda a

realidade e essas políticas são traçadas ao nível do topo e aprovadas na Assembleia da República de

Moçambique.

Para a sua concretização, as escolas desempenham um importante papel na operacionalização

dessas políticas, através dos programas, métodos e meios de ensino definidos para o alcance do objetivo

desejado.

Segundo a Lei n.º 6/92, de 6 de maio, os principais objetivos do Estado Moçambicano são: a

erradicação do analfabetismo, garantir o ensino básico a todos os cidadãos através da introdução

progressiva da escolaridade obrigatória, assegurar a todos os moçambicanos o acesso a formação

profissional, formar o professor como educador e profissional consciente com profunda preparação

científica e pedagógica, capaz de educar os jovens e adultos.

Como as políticas educativas são traçadas a nível macro (ministério) e implementadas ao nível

meso e micro (escola e sala de aula), existe um distanciamento enorme entre o legislador e o executor,

havendo uma necessidade de haver um representante do ministério nas escolas para coordenar e

monitorar as atividades, neste caso, o diretor da escola. Talvez esta seja uma das razões para este cargo

continuar a ser nomeado e não eleito num escrutínio.

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5.1 As funções do diretor da Escola Secundária Belga

O diretor da escola é o gestor máximo de todos os funcionários nas instituições de ensino, ele

representa o estado na escola. A Resolução n.º 18/2012, de 7 de setembro, define as competências do

diretor da escola,

“Assegura o cumprimento das decisões e orientações das estruturas superiores do setor da

educação, do Conselho da Escola e dos Órgãos locais do Estado do território onde se situa a

Escola; assegura a direção científica, técnica e pedagógica da escola; realiza os atos

administrativos que lhes forem atribuídos por lei e os que, por delegação de poderes lhe forem

definidos; garante uma gestão racional dos recursos humanos, materiais e financeiros; garante

o cumprimento dos princípios pedagógicos plasmados na Lei do Sistema Nacional de Educação;

avalia e assegura a avaliação de desempenho dos funcionários e agentes afetos na escola;

leciona a classe mais alta na instituição que dirige”. (Resolução n.º 18/2012, de 7 de setembro)

Nesta ordem de ideias, conforme Lima, Sá e Silva (2017:236), o diretor assume uma “dupla

dependência” no desempenho das suas funções, subordinando-se ao ministério pelo qual foi indicado e

ao conselho da escola como sendo órgão estratégico da escola.

As competências atribuídas ao diretor da escola tornam-no o centro das atenções das instituições

escolares, concentrando quase todas as tarefas da vida escolar numa única pessoa. A direção da escola,

como é um órgão unipessoal e nomeado ou indicado pelas estruturas superiores à escola (os Serviços

distritais de Educação, Juventude e Tecnologias, a Direção Provincial de Educação e Desenvolvimento

Humano, etc.), por lei, obedece as ordens emanadas por essa hierarquia.

Sendo um dirigente nomeado, para dirigir os destinos da escola e para alcançar os objetivos

traçados a nível central, constitui o seu coletivo de direção supostamente por elementos da sua confiança,

indicados por ele ou por recomendações dos seus superiores hierárquicos (as pessoas que o nomearam)

para fazerem parte do seu elenco, ou seja, o coletivo de direção.

Desta forma, como a figura do diretor, quanto ao acesso ao cargo, não é eleita duma forma

democrática em que todos possam concorrer no mesmo pé de igualdade, a dado momento, pode gerar

um conflito, isto é, uma separação entre os funcionários, por serem excluídos do elenco, ou seja, as suas

expetativas serem frustradas, se pretendiam também aceder ao cargo.

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5.2 Estilo de liderança do diretor da Escola Secundária Belga

O diretor como responsável máximo, dotado de poder e autoridade conferido pelos órgãos

centrais, vê todas as funções centradas nele, desde as administrativas até às de natureza pedagógica.

Na escola, é a figura responsável pela transmissão desses conhecimentos, valores para os demais

funcionários. Dotado de competências técnicas e humanas, de forma eficiente e eficaz, transmite na

escola as políticas educativas traçadas, de modo que os outros funcionários cumpram naturalmente para

o alcance do objetivo, ou seja; da sociedade desejada.

A liderança do diretor da escola é coesa, criativa, por ser uma das maiores e mais antigas escolas

do país e da província, também considerada como escola piloto sujeita a várias mudanças dependendo

do contexto e das políticas traçadas. Conforme o presidente do conselho da escola,

“por isso, disse que a direção era muito jovem e criativa, a liderança do diretor da escola” (PCE,

E4:12)

De acordo com os vários atores entrevistados, na gestão do quotidiano escolar, o diretor pauta-

se pela liderança democrática e participativa (cf. tabela n.º 10). As suas expectativas e anseios passam

a fazer parte das suas prioridades ou agenda para o desenvolvimento e alcance dos objetivos

institucionais.

Tabela 10: Estilo de liderança do diretor

E1

Representante

dos alunos

E2

Diretor da escola

E3

Representante

dos professores

E4

Presidente do

conselho da

escola

E5

Representante

dos funcionários

(não docente)

Estilo de

liderança do

diretor

Compreensiva Democrática Democrática Participativa e

democrática

Ausculta as

pessoas

Fonte: Dados retirados das entrevistas realizadas aos atores escolares (março, 2019)

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Na mesma esteira, o presidente do conselho da escola refere que,

“a direção é coesa e é determinada mais acima de tudo é participativa e democrática”. (PCE,

E4:12)

Percebemos, na abertura do ano letivo, que na escola reina um ambiente democrático e

participativo de todos os atores escolares, bem como da comunidade circunvizinha. Quanto às

intervenções, a forma de expor os assuntos e os aspetos abordados eram de muita significância e

relevância para os participantes, sentindo-se estes cada vez mais parte integrante da vida escolar.

Segundo o diretor, o seu estilo de liderança carateriza-se como sendo,

“eu caracterizo-me como democrata, eu sou democrata porque gosto de trabalhar em equipa,

não gosto de tomar a dianteira e dizer que olha façam isso sem auscultar primeiro, privilégio

mais o diálogo, ideias construtivas e privilegiou também a criação de bom ambiente de

trabalho”. (DE, E2:12)

Este ambiente democrático e participativo deve-se, sobretudo, ao diretor. Apesar de ter um

horário oficial para o atendimento de cada assunto (cf. figura n.º 11 abaixo), o acesso não está vedado;

se alguém tiver alguma questão a expor, pode bater a porta do seu gabinete. Desde que não esteja

ocupado, ele atende as pessoas, sem descriminação de cor partidária, religião, região de origem, cor,

cultura, etc.

Tabela 11:Horário de atendimento do gabinete do diretor

2.ª Feira 3. ª Feira 4.ª Feira 5.ª Feira 6. ª Feira

08:00h – 09:30h Programação da semana com os membros da direção

09:00h – 12:00h Atendimento ao público

08:00h – 09:30h Estudo de documentos normativos (Regulamento interno, Estatuto Geral dos Funcionários e gentes de Estado, Regulamento de Avaliação) – membros da direção.

09:00h – 12:00h Atendimento ao público

14:00h – 15:00h Balanço da semana com os membros da direção.

Fonte: Retirado da vitrina da direção da Escola Secundária Belga (março, 2019)

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Este estilo de liderança pode-se notar no seguinte exemplo: a escola sofria de grandes

perturbações durante o período normal de funcionamento, pessoas estranhas infiltravam-se no interior

da escola provocando perturbações tanto para os alunos como para os funcionários em geral. Numa das

sessões do conselho da escola foi deliberado que deveriam ter uma guarnição policial. Foram tomadas

diligências e, neste momento, já tem um agente policial e o ritmo das atividades decorre normalmente.

Outro exemplo que podemos citar foi a reclamação dos pais e encarregados de educação quanto

ao uniforme escolar, principalmente o das mulheres ou raparigas que alegavam que eram curtas e que,

de certo modo, propiciava um assédio dos professores. Após a auscultação dos pais e encarregados de

educação, o conselho da escola, também numa das suas sessões, decidiu introduzir as saias compridas.

Desta forma, os pais e encarregados de educação, vendo as suas ideias a serem postas em prática,

sentem-se mais encorajados a participar na vida da escola.

Com esta abertura do coletivo de direção existe uma participação muito fluida dos professores,

alunos, pais e encarregados de educação em todas atividades escolares: palestras, reuniões, jornadas

de limpeza, exposições, saraus culturais, etc, ou seja, na vida escolar.

Conforme Thacker, Bell e Schargel (2009), notamos que o estilo de liderança do diretor da Escola

Secundária Belga baseia-se nas vivências ou experiências anteriores nos cargos que desempenhou antes

de ascender ao cargo de diretor da escola.

O diretor da escola sente-se mais como um líder (em complementaridade ao papel de gestor),

porque vê a função de liderança a mais importante de entre outras funções que o diretor tem, segundo

ele,

“Eu [silêncio] mais uma vez, eu prefiro quando falo de liderança, uso este termo liderança,

porque detrás disso está a gestão, consigo fazer a gestão se for um bom líder, então vejo como

um líder e faço a gestão de todo o processo”. (DE, E2:14)

O diretor, apesar de ser representante do governo, porque foi nomeado e confiado pelos órgãos

centrais, identifica-se mais com os professores, porque antes de ser diretor já foi diretor de turma, diretor

da classe, diretor da disciplina e, por último, diretor adjunto pedagógico, conhecendo muito bem como

funciona a máquina. Por outro lado, tem a noção que é um professor e, por isso, identifica-se mais com

a sua classe profissional. Mas, como foi indicado, a dado momento, tem que se colocar no lugar de

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representante do estado na instituição escolar, cumprindo com as funções que foram atribuídas (cf.

tabela n.º 12).

Tabela 12: Ações do diretor da Escola Secundária Belga

E1

Representante

dos alunos

E2

Diretor da escola

E3

Representante

dos professores

E4

Presidente do

conselho da

escola

E5

Representante

dos funcionários

(não docente)

Ação do diretor

da escola

a) Representante do

ministério

Preocupa-se mais

com a vida da

escola: os

professores,

alunos, etc

Representante do

ministério

Representa a

todos a

comunidade

como os

professores

Fonte: Dados retirados das entrevistas realizadas aos atores escolares (março, 2019)

a) Esta questão não foi colocada ao representante dos alunos, uma vez que sentimos que não teria bases suficientes para poder responde-la.

Como afirmam os estudiosos que o contexto dita o tipo de liderança a ser exercida pelo líder do

topo, neste caso, o diretor da Escola Secundária Belga reconhece e admite que o seu estilo seria diferente

se estivesse numa escola diferente da Escola Secundária Belga,

“o meio da escola molda e dita a liderança de alguém, eu quero acreditar que sim porque, o

tamanho a dimensão dessa escola remete ao dirigente, ao gestor a uma situação de redobrar

esforços, estou a falar por exemplo, é normal entrar de manhã e sair muito tarde por causa da

pressão e dinâmica de trabalho, se estivesse numa escola com dimensões pequenas acredito

que podia adotar outro tipo de liderança, a pressão às vezes é que dita a maneira de trabalhar”.

(DE, E2:13)

O diretor acrescenta que as especificidades da escola vão de encontro com a sua liderança,

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“acredito que a minha liderança vai de encontro com as especificidades da escola, se estivesse

noutra escola não iria fugir tanto, mas acredito pela natureza da escola” (DE, E2:13)

Um dos valores que privilegia mais na sua liderança é o diálogo permanente com todos os atores

escolares.

5.3 Processo de construção da cultura organizacional da Escola Secundária Belga

Mobilizando a figura 2. (Cap. II), a propósito do processo de construção da cultura organizacional

da escola (cf. Torres, 2004:241-242), notamos que a cultura da escola Secundária Belga forma-se

através do cruzamento da estrutura (o diretor) e a ação (de todos os atores escolares), partindo da

localização interna (o comportamento desejado aos atores escolares no exercício das suas funções) e a

localização externa (os ideais que a escola transmite para a sociedade, para que os pais e encarregados

de educação procurem cada vez mais a escola para a educação dos seus filhos). É nessa interseção que

se localiza a cultura da escola.

Quando novos membros se integram na escola, rapidamente se adaptam aos valores e crenças

da escola, sem qualquer dificuldade, por causa dos mecanismos adotados pelo diretor nas relações entre

os professores referenciados anteriormente. Socializam-se facilmente, passando a utilizar a mesma

linguagem na comunicação com os outros colegas e com o público em geral.

Sendo uma escola com um quadro de pessoal muito jovem, ou seja, funcionários jovens, com

expectativas diferenciadas, por causa da vasta diversidade cultural existente em Moçambique, o diretor

da escola é muito paciente e persistente na promoção do diálogo para transmitir, clarificar e unificar os

seus funcionários a fim de que andem no mesmo barco e que defendam os mesmos ideais para o

alcance dos objetivos almejados.

Constatamos que o diretor tem tido sucesso na construção da cultura escolar, por não só limitar-

se aos aspetos formais do contexto escolar como um representante do ministério cumprindo com rigidez

a legislação, mas sim por valorizar os aspetos mais subtis ou informais na instituição escolar, em

resultado de ele ter sido um professor de profissão e, tendo exercido vários cargos na instituição escolar,

ter um conhecimento profundo dos problemas ou necessidades dos atores escolares e, por vezes, agir

de acordo com o contexto escolar.

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5.4 Manifestações culturais na Escola Secundária Belga

No contexto escolar podemos observar três tipos de manifestações culturais: a integradora,

diferenciadora e a fragmentadora (cf. Cap. II). Contudo, na escola estudada apenas conseguimos

identificar duas manifestações (a integradora e a diferenciadora), embora predomine a perspetiva

integradora, pois, de acordo com os dados recolhidos, existe um consenso na partilha dos valores e

crenças da escola, ou seja, todos os membros obedecem a um e único comando que é o diretor da

escola, que é o líder na instituição escolar. As pessoas não partilham esses valores por ser só o diretor,

mas sim um líder que possui habilidades técnicas e pessoais, conseguindo mais simpatia dos

funcionários e transmitindo-lhes confiança na execução das suas tarefas quotidianas.

Tabela 13: Ambiente da escola em termos de conflitos

E1

Representante

dos alunos

E2

Diretor da escola

E3

Representante

dos professores

E4

Presidente do

conselho da

escola

E5

Representante

dos funcionários

(não docente)

Ambiente da

escola em

termos de

conflitos

Não existe Clima cordial e

boa cooperação

As vezes tende a

distanciar-se da

direção

Opositores que

criam um impulso

à direção para o

desenvolvimento

Temos um bom

relacionamento

Fonte: Dados retirados das entrevistas realizadas aos atores escolares (março, 2019)

De acordo com os nossos entrevistados e segundo a tabela n.º 13, no cômputo geral, na escola

não existem conflitos, prevalecendo um bom ambiente, consenso e partilha de valores, caraterísticas

patentes da manifestação cultural integradora. Esta realidade também foi confirmada nas nossas

observações, particularmente esse bom clima entre o pessoal docente e não docente no desenvolvimento

das suas atividades (notas de campo 19/02/2019)

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O diretor da escola sente-se mais representante dos atores escolares, principalmente dos

professores, porque preocupa-se muito com os aspetos informais mais subtis e simbólicos da vida

escolar.

Esta partilha dos valores entre os funcionários da instituição deve-se à abertura do diretor no

processo de tomada de decisão. Além dos dispositivos legais, ele privilegia a auscultação e depois é que

são tomadas as devidas decisões. Nem sempre a auscultação é possível na presença de todos os

funcionários; ele recorre frequentemente ao coletivo de direção e ao conselho da escola.

Uma das caraterísticas visíveis da manifestação cultural integradora na Escola Secundária Belga

é que notamos esta partilha dos valores e crenças no espírito de partilha da informação difundida pelo

diretor para os seus colaboradores através de vários meios, sejam circulares, avisos, despachos, etc,

que auxiliam os funcionários no comportamento que devem adotar dentro e fora da instituição de ensino,

de modo a que sejam o exemplo ou espelho da sociedade e a prestação de contas que não deixa muitas

penumbras na sua gestão quotidiana.

Todos os funcionários (docentes e pessoal não docente), alunos, pais, encarregados de educação

e o coletivo de direção respeitam os seus direitos e deveres plasmados no regulamento interno da escola

e outros documentos normativos que guiam as atividades escolares.

O diretor da escola reúne consenso na direção da escola. Antes de ser indicado como diretor fez

parte da comissão interina que assegurou a Escola Secundária Belga depois da cessação do antigo

diretor até à sua indicação. Percebemos que todos os atores da escola estão sob um único comando do

diretor e cumprem todas as orientações exigidas a nível central e as produzidas localmente, ou seja, no

contexto escolar.

Nas reuniões com o coletivo de direção, entre os funcionários e no conselho de escola reina um

ambiente democrático e participativo, já que todos têm direito à palavra, não há intimidação, as pessoas

são livres de expor o que pensam de modo a solucionar um problema ou mesmo para alcance de certo

objetivo planificado pela escola. Antes de tomar qualquer decisão, o diretor ausculta primeiro as pessoas,

ouvindo as suas opiniões, depois é que toma a decisão ou o coletivo presente toma a decisão.

Maioritariamente as decisões da escola são tomadas pelo coletivo de direção, mediante a

consulta do órgão máximo que é o conselho de escola. O conselho de escola reúne-se quatro vezes por

ano ordinariamente e extraordinariamente sempre que houver necessidade.

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O coletivo de direção reúne-se sempre uma vez por semana (cf. figura n.º11 acima), o que facilita

a não acumulação de dossiers para a tomada de decisão de certos assuntos que estejam na agenda da

semana, permitindo, assim, a fácil resolução dos problemas, evitando o descontentamento e a fúria dos

visados em caso de problemas com os funcionários. Não só, para estes tipos de situações, mas também

assuntos relacionados com o quotidiano da escola.

O ambiente interno é saudável, nota-se que os funcionários trabalham livremente e cumprem

com as suas obrigações duma forma natural, não duma forma coerciva ou sob pressão. De salientar que

há momentos de pico, por exemplo, no início do ano letivo, no período de matrículas, no final de cada

semestre e final do ano que, por natureza, exigem esforços dobrados para a realização das suas tarefas.

Para o representante dos professores o diretor,

“participa nas preocupações dos funcionários, […] ele atende a todos sem descriminar, isto faz

com que as pessoas se queriam distanciar-se aproximem”. (RPCE, E3:11)

Na escola, todos os funcionários, independentemente do cargo que ocupam, desde o elementar

até ao topo, partilham os mesmos valores, crenças e ideologias, carregam a instituição escolar nas suas

costas, nos momentos felizes e tristes, ou seja, de sucessos e insucessos. Têm uma visão comum de

onde estão e para onde querem ir, isto é, a dado momento, deve-se à maior divulgação e socialização

de todos os instrumentos normativos existentes nas escolas. Podemos notar no seguinte exemplo,

segundo o relatório anual de atividades referente ao ano de 2018, que a assiduidade dos professores,

duma forma geral, foi boa, o cumprimento das atividades ronda os 96.6%. Tal taxa de cumprimento pode

ser explicada pelo elevado nível de centralização do sistema educativo moçambicano e a hierarquia

existente no mesmo a partir do ministério até as escolas, onde o regulador ou legislador traça

minuciosamente as políticas, missão, visões, métodos e meios de ensino, cabendo as instâncias a nível

micro (a escola) incutirem nos seus membros as orientações e procedimentos centrais.

Conforme o regulamento interno da escola, os professores nas férias intercalares participam nas

atividades programadas pela escola, têm autoridade para solucionar quaisquer problemas que surjam

na sala de aula e devem canalizar para o diretor de turma e por sua vez para a direção os problemas

que não conseguem solucionar na sala de aulas. As aulas de recuperação devem ser comunicadas

atempadamente ao setor pedagógico, isto mostra-nos a entrega que esses atores têm pela escola e o

espírito de partilha da informação.

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No seio da escola o diretor criou uma cultura de estabilidade e partilha entre os membros,

incentivando o diálogo, comissões de trabalhos permanentes, de modo que as pessoas possam

conhecer-se melhor, porque, às vezes, julgam as pessoas sem de antemão as conhecer. Deste modo, é

fácil distinguir o comportamento de um em relação ao outro, quem está bem-disposto ou indisposto, ou

seja; quando tem dificuldades ou não.

De tal forma incute-se nos funcionários um espírito de solidariedade e cooperação que as

pessoas parecem que estão numa organização familiar, transmitindo-lhes mais confiança e segurança

nos seus postos de trabalho.

Esta confiança garante-lhes mais produtividade e a acreditarem no seu líder, seguindo os seus

ideais, não só por ser o líder formal, mais sim pelas suas capacidades e habilidades em convencer as

pessoas a seguirem conduta em detrimento da outra. As pessoas acreditam que com o seu líder as

coisas funcionam bem e criam condições favoráveis para a realização do trabalho tanto docente como

não docente.

Deste modo, nos últimos dois anos, o nível de conflitos na instituição escolar reduziu-se

drasticamente, muito embora não tenham sido extintos pois, como sabemos, os consensos nem sempre

são unânimes. Quando assim acontece, estamos perante a manifestação diferenciadora da cultura na

escola, expressa pelos dissensos e conflitos entre os atores escolares.

Além dessa caraterística, como a liderança do diretor é democrática e participativa, logo a priori,

existem pessoas com opiniões ou pontos de vistas diferentes em relação ao diretor ou o coletivo de

direção. Essas ideias nem sempre são destrutivas de modo a criar um mal-estar, são também

construtivas para o bem da escola, forçando a direção para que dê o máximo de si.

Podemos observar na tabela n.º 13 que alguns dos nossos entrevistados deixam claro que no

seio da escola, por vezes, tem havido alguns comportamentos desviantes, e que no fim acabam

conformando-se, desenvolvendo as atividades normalmente. Segundo o presidente do conselho da

escola, o conflito,

“existe em qualquer sociedade, quanto a oposição na direção da escola não discordo que não

exista, como sendo uma instituição, nunca notabilizei duma forma direta, sei que alguns não

podem gostar de algumas atitudes da direção ou do conselho, mais estão sujeitos a cumprir

porque não te outra forma se não cumprirem as tais decisões.” (PCE, E4:17)

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Os conflitos também surgem na escola por causa da forma de acesso ao cargo do diretor no

interior da organização (é nomeado), principalmente quando se lida com seres humanos com uma vasta

diversidade cultural, como realça o presidente do conselho da escola.

Em todas as organizações com e sem fins lucrativos existem pessoas com ideias diferentes de

modo a pressionar os dirigentes a pautarem pela boa conduta, trabalharem em prol do desenvolvimento

da instituição, bem como dos seus colaboradores.

No final da abertura do ano letivo 2019, numa conversa informal com um dos professores,

notamos um distanciamento, quando abordávamos as premiações dos melhores funcionários do ano

transato: dizia o seguinte, “não é para mim, tem certas pessoas que são reconhecidas” (notas de campo

01/02/2019).

Para o representante dos professores,

“uma das coisas que acontece com as instituições dessa natureza, se um professor se sente

lesado, tem a tendência de distanciar-se da direção, mas depois de passar um tempo verá que

aquilo que ele alegava ter razão, descobre que não tinha razão e volta”. (RPCE, E3:16)

Segundo as nossas observações, o elenco atual de direção da Escola Secundária Belga, nesses

dois últimos anos, parece ter minimizado esses conflitos entre a direção e os funcionários, bem como as

expetativas pessoais, apesar de ainda existirem em pequena escala, que não afetam o funcionamento

normal do trabalho na instituição. São mais rumores de pequenos grupos que estão descontentes num

ou outro aspeto.

Conforme o Presidente do conselho da escola, apesar desses pequenos episódios,

“ a direção era muito jovem e criativa, a liderança do diretor da escola, importa frisar, que é

uma direção que é impenetrável” (PCE, E4:12)

Como é uma direção robusta, conhecedora de todos os problemas da escola por causa da sua

larga experiência e com o diálogo permanente, consegue sanar esses pequenos incidentes que ocorrem.

Segundo o presidente do conselho da escola, a sua liderança no órgão é democrática,

privilegiando a contribuição de todos atores escolares,

“nos integramos as ideias quer dos alunos, quer dos pais, quer dos professores nos acolhemos,

somos sensíveis no acolhimento das ideias e dai nos balanceamos o que é vital e conseguimos

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desenhar dentro do ideal ver aquilo que é mais primordial para o consumo imediato da escola

mais do princípio somos democráticos”. (PCE, E4:11)

No que diz respeito à perspetiva fragmentadora da cultura, na Escola Secundária Belga,

conforme a tabela n.º 13, elaborada a partir das entrevistas dos nossos cinco entrevistados e as nossas

observações, mesmo na nossa análise documental, não constatamos essa manifestação no interior da

escola. Como sabemos, ela carateriza-se por uma desconexão de quase todos os processos, ligada a

certas ambiguidades.

Constatamos a quase a inexistência dessa manifestação no seio da escola, o que não quer dizer

que não possa existir.

5.5 Especificidades culturais da Escola Secundária Belga

A Escola Secundária Belga, sendo uma organização formal, com uma estrutura bem sólida e

departamentalização na sua estrutura hierárquica, tem certas caraterísticas que a diferencia das outras

instituições escolares e que estão incorporadas no seio dos seus membros no desempenho das suas

funções. Nesta ótica, como qualquer organização formal, tem a sua missão, visão e valores que a

distinguem das outras. Conforme ilustra a tabela n.º 14 abaixo, os vários entrevistados expressam o

sentido de missão da escola.

Tabela 14: Missão da Escola Secundária Belga

E1

Representante

dos alunos

E2

Diretor da escola

E3

Representante

dos professores

E4

Presidente do

conselho da

escola

E5

Representante

dos funcionários

(não docente)

Perceção da

missão da escola

Transmissão de

conhecimentos

Democratização e

elevar a qualidade

de ensino

Formar o homem

ou educar para

servir

Formar o homem

novo

Ver um aluno

bem formado

Fonte: Dados retirados das entrevistas realizadas aos atores escolares (março, 2019)

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De acordo com os nossos cinco atores escolares entrevistados, a missão da escola é a

transmissão de habilidade e técnicas para que os alunos tenham uma nova mentalidade e sejam capazes

de enfrentar os desafios futuros que a sociedade enfrenta, para a sua sobrevivência ou autossustento,

que possam saber estar, agir, conviver e viver com os outros.

Além da missão que a escola tem, que operacionaliza as políticas traçadas pelo governo a nível

central, ela tem uma identidade própria como qualquer outra organização formal.

Tabela 15: Traços identitários da escola Secundária Belga que a diferencia das outras escolas

E1

Representante

dos alunos

E2

Diretor da escola

E3

Representante

dos professores

E4

Presidente do

conselho da

escola

E5

Representante

dos funcionários

(não docente)

Identidade da

Escola

Secundária Belga

O nome da escola

que coincide com

o nome da

província, pelo

tamanho e os

professores dão

bem as aulas

Maior da

província e uma

das maiores do

país; muitas

individualidades

passaram pela

escola, é uma das

escolas piloto

O uniforme

escolar, a

substituição das

saias curtas pelas

saias compridas

para as raparigas

Postura no aluno,

a substituição do

uniforme escolar

as saias curtas

para as saias

compridas para

as raparigas

O aluno deve

apresentar-se no

recinto escolar

com uma boa

postura

Fonte: Dados retirados das entrevistas realizadas aos atores escolares (março, 2019)

De acordo com os cinco atores escolares entrevistados, nos últimos anos, um dos elementos

marcantes que diferenciou e que constitui uma identidade própria da Escola Secundária Belga, foi a

substituição do uniforme escolar das raparigas: as saias curtas que estavam acima do joelho, para as

saias compridas abaixo do joelho, medidas através de um palmo de adulto, depois de a direção ter ouvido

varias reclamações da comunidade escolar. Esta mudança também foi um mecanismo para evitar o

assédio entre os professores e alunos.

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O presidente do conselho da escola acrescenta,

“é uma escola com uma direção jovem dinâmica e inovadora, a Escola Secundária Belga hoje

não é como a de ontem”. (PCE, E4:6)

De facto, nas nossas observações podemos contatar ou ver essa mudança drástica na postura

do aluno quanto ao uniforme escolar, comparando aos anos anteriores, como sendo uma escola de

renome a nível provincial ou o espelho da província. As outras escolas passaram a adotar o mesmo traje

gradualmente influenciando todas a escolas. De acordo com o representante dos professores e o

presidente do conselho de escola,

“Agora o que é diferente, que não era há dois anos, para quem passou conheceu aquilo que

era o uniforme escolar, as saias curtas, o que marcou nessa escola foi a introdução das saias

compridas”. (RPCE, E3:6; PCE, E4:6)

Sendo uma das mais antigas e maiores escolas a nível da província, distingue-se em quase todos

aspetos (efetivos estudantis, infraestruturas, funcionários, etc). Para o representante dos alunos no

conselho da escola, distingue-se,

“primeiro por causa do nome que carrega, faz com que a escola seja mãe a nível da província

[…] e somos forçados em representar a província […] esta adequada ao ensino aprendizagem

dos alunos”. (RACE, E1:6)

Na Escola Secundária Belga, além dos traços identitários descritos pelos nossos entrevistados,

existem outros aspetos simbólicos que observamos na nossa análise documental e nas nossas

observações que efetuamos no campo empírico.

Os professores da escola lecionam as suas aulas trajados de batas brancas, nas aulas teóricas

e laboratoriais, exceto os professores de educação física e desporto; não devem permitir a entrada dos

alunos após a sua entrada na sala de aulas, exceto os primeiros tempos em cada turno onde a tolerância

é de 5 minutos; durante as aulas não é permitida a saída dos alunos a não ser por força maior (doença,

infelicidade e casa de banho); só podem expulsar os alunos na sala de aulas em caso de uma indisciplina

grave (estado de embriaguez, proferir injurias aos colegas ou ao professor, brigas entre alunos, ingerir

alimentos na sala de aulas); na sala de aulas devem sentar-se sobre a cadeira e não a carteira dos

alunos; organizam os alunos para entoarem o hino nacional e, por último, são expressamente proibidos

de fumar no recinto escolar ou fazer chamadas no decurso das aulas.

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Os alunos devem apresentar-se devidamente uniformizados e asseados dentro do recinto escolar

(camisas e blusas dentro das calças e saias): para os rapazes e raparigas são calças verdes, camisas e

blusas brancas, com timbre da escola no bolso e uma ou duas barras nos ombros, conforme seja do 1º

ou 2º ciclo; para o caso do curso noturno devem apresentar-se de vestes decentes; diariamente devem

entoar o hino nacional; devem estar na sala de aulas antes do professor, devendo o chefe da turma

proceder a marcação de faltas no quadro e controlar os seus colegas na ausência do professor; levantar-

se antes de responder ou fazer qualquer pergunta e cumprimentar o professor dentro ou fora da sala de

aulas; garantir a higiene e limpeza na escola, principalmente nas salas de aulas; está interdito o uso de

celulares na sala de aulas; são interditos os alunos que vierem com cortes tipo punks, tranças (aos

homens), cabelos pintados a permanentes húmidos e água oxigenada, chapéus, óculos, não

devidamente autorizados pelo médico, saias curtas e transparentes, blusas decotadas (alças) e sapatos

de salto alto e maquiagem (as mulheres); a aluna que contrair gravidez ao longo do ano, será transferida

para o curso noturno após a notificação dos pais e encarregados de educação; e nas aulas de

recuperação apresentam-se uniformizados normalmente são ministradas no final de semana.

Nenhum aluno é escutado pela direção da escola sem ter passado pelos escalões hierárquicos

inferiores, por exemplo: diretor de turma, diretor de classe, diretor adjunto pedagógico, etc.

O aluno que danificar o património da escola é responsabilizado. O pai/encarregado de educação

é notificado para a sua reparação ou reposição e a participação dos pais e encarregados de educação

na escola é um dever e obrigação segundo o seu regulamento interno para 2018 e 2019.

Os funcionários auxiliares (contínuos, guardas, etc.) devem marcar a falta dos professores,

garantir o toque da campainha pontualmente e também a limpeza e higiene da escola e a segurança da

escola.

A direção da escola programa nas semanas de interrupção atividades pedagógicas e seminários

de capacitação para os professores e outras atividades para o pessoal não docente; organiza através dos

diretores de turmas e chefes de turnos, a entoação do hino nacional, de modo que este ato traduz uma

verdadeira educação na escola e, do mesmo modo, inculca nos alunos e funcionários da escola o respeito

pelos valores e símbolos nacionais; indicam em cada domingo um funcionário para o içar da bandeira

no mastro da escola; o diretor da escola e os diretores adjuntos pedagógicos assistem as aulas dos seus

professores e as críticas aos professores são construtivas e nunca em frente dos alunos.

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Como está plasmado no regulamento interno da escola, a direção não permite que os pais e ou

encarregados de educação, ou seja quem for, falte respeito ou denigra o professor. Caso isso aconteça,

a direção da escola responde ou mesmo toma medidas judiciais, de modo a salvaguardar a situação do

professor.

O portão frontal da escola permanece fechado para os veículos, podendo abrir-se sempre que

um veículo em serviço e devidamente autorizado se aproxime.

Temos a destacar que a Escola Secundária Belga é uma das únicas escolas com uma guarnição

policial estatal a nível da província, talvez seja a nível nacional.

Um dos aspetos que notamos é que, no princípio do ano letivo, os funcionários mais destacados

do ano anterior são premiados, perante toda a comunidade escolar, motivando todos os funcionários a

se dedicarem cada vez mais no desempenho das suas tarefas para o alcance dos objetivos almejados.

As reuniões com os pais e encarregados de educação realizam-se aos sábados. Normalmente

essas reuniões são para a escolha do pai da turma e divulgação das notas trimestrais. No caso de

cometer uma infração (indisciplina), solicita-se o pai ou encarregado de educação de imediato para estar

a par do assunto e as possíveis sanções do seu educando, não só para juntos encontrarem o melhor

caminho para o problema em causa, como também para felicitar seus educandos pelas boas condutas

e bons resultados escolares.

Em síntese, a Escola Secundária Belga revela os traços culturais da perspetiva integradora da

cultura escolar, por notar-se no seio da escola uma integração dos atores nas regras escolares e um

consenso entre os mesmos para a sua efetivação; por mais que não seja por unanimidade, nota-se uma

transmissão e partilha das mesmas regras. O diretor da escola é o elemento central para o

desenvolvimento dessa manifestação cultural integradora na escola, porque quase todas as funções

estão centradas nele, com poderes de eleger os seus próprios valores, sua própria missão e crenças na

instituição escolar.

De acordo com os dados recolhidos, a maioria dos atores escolares partilham essas regras,

devido ao estilo de liderança democrática do Diretor, que privilegia mais o diálogo e o consenso entre as

partes envolvidas, mostrando abertura e disponibilidade para auscultar qualquer problema que os atores

escolares ou a comunidade escolar esteja a enfrentar.

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Como é notória a centralidade das funções no diretor da escola, essas especificidades culturais

da escola não são bem acatadas por todos os membros da organização, principalmente quando se trata

de seres humanos, cada um com suas expetativas. Ou seja, sempre existem opositores à direção que

dão um certo impulso para que funcione da melhor forma. Vendo a diversidade cultural existente entre

os atores escolares, principalmente nos professores, porque a escola alberga funcionários oriundos de

quase todo o país, por vezes surgem algumas desavenças ou dissensos no cumprimento das tais regras

impostas. Este é um dos traços culturais da manifestação cultural diferenciadora na Escola Secundária

Belga.

Das nossas observações, quanto aos traços culturais da perspetiva fragmentadora na Escola

Secundária Belga, não constatamos a sua presença, provavelmente devido ao estilo de liderança

democrática e participativa, e porque a instituição escolar é centralizada, com objetivos e processos bem

claros, não dando espaço para as desconexões nos seus processos.

Em suma, mobilizando os objetivos gerais e específicos do presente trabalho, procuramos

abordar neste capítulo: a caracterização da administração do Sistema Educativo Moçambicano; análise

do papel do diretor da escola perspetivado como instância de regulação cultural e simbólica da escola;

as especificidades culturais da escola; o modo de funcionamento da escola; a articulação entre a política

educativa, liderança e a cultura escolar; o estilo de liderança adotada pelo diretor e as suas relações com

os atores escolares.

Do exposto neste capítulo, e segundo as nossas hipóteses de trabalho, notamos uma forte

regulação centralizada22 do Sistema Educativo Moçambicano do topo (o ministério) para o nível meso

(escola) e micro (sala de aula), com uma hierarquia bem patente, forte departamentalização na execução

de tarefas e prestação de contas da base ou do nível meso e micro para o nível macro (o ministério).

Constatou-se que as escolas no contexto moçambicano são frequentemente executoras ou reprodutoras

das orientações formais aprovadas centralmente, cabendo a elas o cumprimento na íntegra do que está

plasmado na legislação, muito embora algumas adaptações sejam produzidas no contexto escolar,

através da interação quotidiana dos seus atores. Na mesma esteira Lima (1992:165) refere que, “de um

22 Para Lima (1992:165), “no quadro de uma administração centralizada do sistema de ensino, a produção de regras formais, de instruções oficiais e de

outros normativos, é realizada fora da escola. A grande quantidade e diversidade de regras assim produzidas, embora de tipologia e alcance distintos, é

normalmente designada por legislação, não apenas no sentido de leis, decretos-leis, portarias …, produzidos pelos órgãos com poderes legislativos, mais

com um sentido mais amplo que inclui circulares, ordens de serviços, esclarecimentos, etc., produzidos pelos órgãos da administração. A palavra legislação

tem, nas escolas, um sentido largo que lhes são impostas, realçando mais os conteúdos da imposição do que propriamente as formas de que se reveste”.

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ponto de vista dos atores educativos situados nas escolas, as regras assim instituídas são

heteronimamente produzidas e que o seu carater imperativo e regulamentador não depende unicamente

da categoria ou da hierarquia jurídico-formal que revestem”.

Segundo as nossas observações, constatamos no seio da Escola Secundária Belga a produção

de regras no contexto escolar, de modo a suprir alguns obstáculos que a escola enfrenta na resolução

ou tomada de decisão, mediante a consulta do conselho da escola. Em certos momentos, os normativos

estabelecidos pelas instâncias superiores não estão de acordo com as especificidades da região em que

a escola esta inserida, e nesse sentido, a escola faz certas adaptações de modo a atingir os objetivos

centralmente estabelecidos. É neste sentido que Lima (1992:170; itálico no original) argumenta que, “a

escola não será apenas um locus de reprodução, mas também um locus de produção, admitindo-se que

possa constituir-se também como uma instância (auto) organizada para a produção de regras (não

formais e informais)

Apesar de, frequentemente, o diretor da escola basear-se na legislação para a tomada de

decisão, ele não tem uma missão fácil no contexto escolar, na medida em que muitos fatores internos e

externos exigem o recurso às regras produzidas no contexto local para a sua tomada de decisão, deixando

de lado os normativos aprovados pelos órgãos centrais. Nestes casos, é possível que a escola enverede

pelo que Lima (1992:171) apelidou de “infidelidade normativa23”.

A centralidade das funções do diretor escolar no desempenho das suas tarefas, por vezes tende

a gerar conflitos ou desavenças entre os atores escolares, por ser uma pessoa nomeada pelos órgãos

centrais, não num pleito eleitoral, por isso, é notório que surjam opositores que gostariam também de

ocupar o cargo, que não tiveram oportunidades de concorrer ao mesmo pé de igualdade, fomentando

deste modo condições para o surgimento da manifestação cultural diferenciadora na escola.

A divulgação dos instrumentos de autonomia das escolas (como por exemplo: o projeto

educativo, regulamentos internos, planos de atividades e o seu respetivo orçamento, e outros dispositivos

legais para a orientação das escolas) contribui significativamente para a participação dos atores no

quotidiano da escola. Nos últimos dias nota-se uma afluência dos atores escolares no quotidiano da

23 Segundo Lima (1992:171; itálico no original), “não perspetivamos esta infidelidade como um mero desvio, com carater de exceção, mas antes como um

fenómeno típico que pode caraterizar os atores educativos e a ação organizacional escolar. De resto, tal fenómeno só pode ser considerado como constituindo

uma infidelidade por oposição à conformidade normativa-burocrática de que se parte como referência mais consensualmente aceite. Na verdade a infidelidade

seria mais corretamente compreendida se considerada enquanto fidelidade dos atores aos seus objetivos, interesses e estratégias”.

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escola, principalmente os pais e encarregados de educação, no que tange a presenças de divulgação

das notas trimestrais dos alunos e também em vários encontros promovidos pela escola, graças ao

espírito de prestação de contas da direção da escola perante os atores escolares, clarificando,

pontualmente, alguns equívocos no seio da comunidade escolar.

O estilo de liderança do diretor (ora mais próxima do centro, ora mais próxima da comunidade)

condiciona o desenvolvimento da cultura da escola, por ele sentir-se parte integrante da comunidade

escolar e com conhecimentos da realidade escolar, por ter desempenhado vários cargos na instituição

escolar antes de ascender ao cargo de diretor da escola. Essas experiências anteriores fazem com que

ele seja mais sensível aos problemas dos atores escolares e também lhes transmitindo confiança para

atingirem os objetivos almejados; a maioria deles partilha esses valores, crenças e missão que ele

incorpora a nível institucional.

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Conclusão

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Subordinada ao tema O Papel do Diretor como Instância de Regulação Cultural e Simbólica da

Escola, no contexto específico do ensino secundário geral em Moçambique a presente Dissertação

pretende responder à seguinte questão-chave: De que modo o Diretor influencia o processo de

construção cultural e simbólica da escola?

Para dar seguimento a esta pergunta de partida procuramos identificar os modelos ou lentes de

análise das instituições escolares que nos pudessem explicar melhor o fenómeno em causa, visto que,

o sistema educativo moçambicano é centralizado, regulamentado, com uma estrutura hierárquica que

divide e opõe o topo (o ministério) e a base (a escola), uma departamentalização das atividades e um

grande distanciamento entre o legislador e o executor. Estas caraterísticas mostram-nos claramente as

dimensões da burocracia de Max Weber (1978) definidas por Richard Hall (1978). Nessa senda, julgamos

conveniente optar pelo modelo racional-burocrático, de modo a compreender melhor essa conjuntura.

Por outro lado, as escolas possuem as mesmas caraterísticas burocráticas e quase todas as funções

centradas no diretor da escola, que representa o ministério na instituição de ensino, guiado pelas

orientações superiores para o desempenho das suas atividades. Para podermos captar as caraterísticas

anteriores, adotamos o modelo racional-burocrático.

Constatamos que, só com o modelo racional-burocrático, não seria possível captar todos os

aspetos levantados pela nossa pergunta de partida, por nela conterem também aspetos ligados à cultura,

designadamente ao seu processo de construção na escola, ao modo como se manifesta, às relações

entre os atores e os órgãos escolares e à liderança do diretor como uma dimensão constitutiva da cultura

escolar. Assim, optamos por mobilizar também o modelo cultural, por ser o mais elucidativo para a

compreensão das diferentes facetas da cultura - o consenso e a coesão (perspetiva integradora), os

conflitos e os dissensos (perspetiva diferenciadora) e as desconexões e as ambiguidades (perspetiva

fragmentadora).

Como a nossa abordagem se centra no âmbito compreensivo e reflexivo (não no sentido de

causa e efeito dos fenómenos), para responder à pergunta de partida optamos pelo paradigma de

investigação qualitativo. Dentro deste paradigma, o método mais adequado foi o estudo de caso, e para

a captação dos dados, as técnicas utilizadas foram a observação, a análise documental e as entrevistas.

As três técnicas de coleta de dados revelaram-se todas muito uteis, pelo confronto e complementaridade

que geraram.

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Comparando os resultados hipoteticamente esperados e os observados na análise, percebemos

que, devido ao elevado grau de centralização do sistema educativo moçambicano, as escolas em

Moçambique, no seu quotidiano, reproduzem as políticas traçadas a nível central. Essa reprodução, nas

instituições de ensino, efetiva-se através da regulação da política educativa centralmente pré-definida,

incutidas nas escolas através de dispositivos legais, como por exemplo: diplomas ministeriais,

despachos, circular, avisos, entre outros.

Para além da escola ser reprodutora das normas, percebemos também que é produtora de

regras produzidas no contexto local para satisfazer ou solucionar alguns anseios ou dificuldades da

comunidade escolar, ao que Lima (1992:171), chamou de “infidelidade normativa”, como contraposto

ao normativismo burocrático”, que pode derivar da má interpretação da legislação, desconhecimento da

legislação por parte dos atores escolares, ou reajustamento para adequar às necessidades da escola,

entre outros motivos. Um dos outros motivos para o surgimento da infidelidade normativa na escola é o

distanciamento entre o legislador e a escola. Neste circuito de comunicação, às vezes, a informação

pode chegar deturpada, porque passa por vários canais até chegar à escola. Nesta hierarquia, as pessoas

podem não perceber da mesma forma como determinada orientação foi concebida, prejudicando o nível

subsequente que a mesma deverá seguir, nesse caso concreto, a escola em última instância.

Deste modo, estes dispositivos legais chegam às escolas como diretrizes para o seu

funcionamento e cumprimento pelos atores escolares, mas, se porventura, a escola trabalhar ao seu

“belo prazer” sem a observância dessas regras, o diretor da escola corre certos riscos de ser sancionado

pela inspeção. Apesar das escolas, segundo o regulamento do ensino secundário geral e o regulamento

do conselho da escola, terem a autonomia para efetuarem certas adaptações no contexto escolar,

mediante a consulta ao conselho da escola para tomar certas decisões que não estão previstas nos

normativos para o seu funcionamento, devem comunicar às estruturas centrais, nesse caso o ministério.

Caso o ministério não tenha conhecimento, trata-se então de uma infidelidade normativa, sujeita a sanção

dos atores escolares envolvidos.

Podemos referir um exemplo de uma infidelidade normativa que ocorreu recentemente: segundo

o jornal da noite da STV (uma estação televisiva privada de moçambique) do dia 16 de julho de 2019,

foi reportado que umas das escolas de ensino secundário geral na cidade de Maputo, capital de

Moçambique, obrigava os alunos a usarem o uniforme escolar no período noturno. Esta decisão, segundo

o diretor adjunto pedagógico, foi tomada mediante a consulta ao conselho da escola e com conhecimento

da Direção Provincial de Educação e Desenvolvimento Humano de Maputo, como forma de mitigar a

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entrada de indivíduos estranhos que vandalizavam a escola naquele período. Confrontada com a

situação, a ministra do pelouro, Conceita Sortane, disse não ter conhecimento do sucedido e que iria

enviar uma equipa de inspeção para repor o assunto à normalidade, que era a abolição do uso do

uniforme no período noturno.

Entendemos que as competências formalmente atribuídas ao diretor da escola no exercício das

suas funções o tornam no centro das atenções na escola, na medida em que é responsável por quase

todas as atividades de tomada de decisão na escola, desde a gestão financeira à pedagógica, ou seja, é

o gestor máximo da instituição. A forma como ele acede ao cargo (nomeado ou indicado pelas instâncias

superiores), a dado momento, pode criar condições para emergência de certos conflitos no interior da

escola, pois quando os atores escolares enfrentam algum problema e não ficam satisfeitos com a decisão

tomada pela direção, sentem-se injustiçados, vendo-se impedidos de recorrer, porque o diretor é o

expoente máximo, a nível institucional.

Neste contexto, os dados de pesquisa mostram que os atores escolares tendem a distanciar-se

da direção, passando a adotar um posicionamento de resistência, não no sentido de boicotar, mas não

se sentindo como parte integrante do grupo. Importa salientar que para o acesso ao cargo, o diretor não

passa por nenhum pleito eleitoral, o que pode por a sua legitimidade em causa, sobretudo por outros

atores que gostariam de estar no lugar dele e não tiveram oportunidade de concorrer ao mesmo pé de

igualdade. Desta forma, podemos perceber claramente caraterísticas da manifestação da cultural

diferenciadora no seio da escola.

Tendo em vista os aspetos observados, somos levados a acreditar que, ultimamente, se nota

uma maior participação dos atores escolares no quotidiano da escola, graças à divulgação massiva dos

instrumentos de autonomia da escola, como o relatório anual das atividades, o plano de atividades e o

seu respetivo orçamento, regulamento interno, fixação nas vitrinas da escola de despachos, circulares,

avisos, entre outros.

Portanto, o estilo de liderança do diretor da escola estudada parecer estar próximo das

expectativas da comunidade escolar, desde logo por ele já ter desempenhado vários cargos na instituição

antes de aceder ao cargo de diretor da escola e, desta forma, ser conhecedor de toda a instituição e de

todos os processos que ocorrem e condicionam a criação, o desenvolvimento e a manutenção da cultura

escolar.

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Dessa forma, entendemos que esta pesquisa contribuirá para que as estruturas do Sistema

Educativo Moçambicano e para que os diretores das escolas conheçam melhor as diversas implicações

do grau de centralização da educação e, consequentemente, a natureza das competências atribuídas ao

diretor da escola no desempenho das suas funções, para a concretização dos objetivos e das políticas

educativas traçadas ao nível central.

Em contrapartida, o diretor da escola, no desempenho das suas funções no quotidiano da escola,

deverá perceber que a sua liderança influência o comportamento dos atores escolares, bem como da

comunidade envolvente. Portanto, somos levados a acreditar que, como líder máximo na escola, deve

ter a consciência que desempenha um papel preponderante para a criação e desenvolvimento da cultura

escolar. Os poderes que detém na escola criam condições para o surgimento de várias manifestações

culturais no seio da escola (integradora, diferenciadora e a fragmentadora).

Em virtude do que foi mencionado, percebemos também que esta pesquisa deu um grande

contributo para compreender a importância da divulgação, pelo diretor, de todos os documentos

reguladores do funcionamento da escola, de modo a que todos os atores e a comunidade escolar possam

ter o conhecimento e domínio dos processos escolares. Desta forma, sentindo-se como parte integrante

do quotidiano escolar, eles passam a participar na vida da escola com um maior envolvimento para a

concretização dos objetivos e sanar algumas dificuldades que possam surgir durante o processo de

ensino-aprendizagem, de modo a atingir os objetivos previamente programados. Outro aspeto importante

tem a ver também com a prestação de contas do diretor perante os atores e a comunidade escolar das

atividades programadas e o nível de execução em todos os anos letivos, bem como a disponibilidade do

diretor em resolver qualquer questão colocada pelos atores.

Além desses aspetos, esta pesquisa realçou a importância de os atores escolares perceberem a

necessidade de compartilharem os mesmos valores, crenças, etc., de modo a alcançarem os objetivos

planificados e a criação de um ambiente saudável dentro e fora da instituição escolar e na realização das

suas atividades no seu quotidiano.

Esta pesquisa dará um grande contributo para a área de Administração Educacional em

Moçambique, no que tange ao papel do diretor da escola no exercício das suas funções, uma vez que

em Moçambique existem poucas pesquisas sobre essa temática, pois os pesquisadores centram-se mais

nos aspetos de ensino e aprendizagem, avaliação da qualidade de ensino, abandono escolar, retenção

das raparigas nas escolas, entre outros.

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Para os futuros pesquisadores que queiram dar continuidade a esta temática no contexto de um

sistema educativo centralizado, entendemos que o modelo racional-burocrático e o modelo cultural

apresentam imensas potencialidades heurísticas. Advertir que a mobilização exclusiva do o modelo

cultural nas suas diversas manifestações culturais (integradora, diferenciadora e fragmentadora) pode

revelar-se muito desafiador em trabalhos futuros.

De referir que, se a pesquisa da presente temática for aplicada a instituições do ensino superior,

ou seja, tanto nos sistemas centralizados como não centralizados, recomendamos a inclusão do modelo

político de análise nas instituições escolares, porque esse modelo baseia-se na existência de conflitos

dentro das organizações, e como as universidades possuem uma autonomia administrativa, financeira e

pedagógica, no seu interior, encontramos certas faculdades ou escolas cada uma cada uma com seus

objetivos e vocação e dentro da mesma organização, às vezes, surgem conflitos na perceção deles,

favorecendo umas em detrimento das outras.

Sentimos que, no presente estudo, poderíamos ter alargado mais a nossa amostra das

entrevistas, não só aos membros do conselho da escola como estender a outros atores escolares que

não fazem parte desse conselho. O alargamento da amostra aos atores escolares que não fazem parte

do conselho da escola (alunos, professores, pais e encarregados de educação, comunidade

circunvizinha, a sociedade civil) permitiria, provavelmente, captar algumas caraterísticas da manifestação

cultural fragmentadora no seio da escola.

Durante a realização da pesquisa deparamo-nos com alguns constrangimentos no acesso ao

material para análise do conteúdo, designadamente a legislação relativa ao Sistema educativo

Moçambicano desde o período colonial, porque a escola não possui um arquivo ou uma base de dados

dessa informação. Mesmo a nível da província, esses dados são escassos. Tornou-se especialmente

difícil sistematizar os assuntos ou problemas mais frequentes que ocorrem na escola, por não ter um

livro de registos das audiências marcadas pela comunidade escolar ao diretor. Presumimos que a falta

desse registo se deve ao facto de o Diretor estar aberto a qualquer momento para resolver os problemas

que possam surgir na escola. Referir que durante o período em análise, a escola não tinha o seu plano

estratégico ou projeto educativo (que estava em construção), o que nos dificultou a perceção da visão,

missão e valores da escola.

Como limitações dessa pesquisa, não pode ser generalizada em todas as instituições de ensino

Secundário geral em Moçambique, porque dos nossos cinco entrevistados maioritariamente eram

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indicados não eleitos, o que contradiz o Regulamento do Ensino Secundário Geral, afirma que os

representantes devem ser eleitos num sufrágio para fazerem parte do Conselho da escola exceto os

membros de direção da escola (o diretor, pedagógicos e a chefe da secretaria) que fazem parte por

inerências de funções. Dos nossos entrevistados o representante dos alunos e do corpo técnico

administrativo (pessoal docente) foram indicados enquanto deveriam ser eleitos. Este estudo teve uma

grande importância ao nível da problematização do funcionamento da organização escolar,

designadamente do modo como o estilo de liderança do Diretor contribui para a construção da cultura

da escola.

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Referências Bibliográficas

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Legislação referenciada

Decreto Lei n.º 39.666, de 20 de Maio de 1954, República Portuguesa

Decreto n.º 11/90, de 1 de Junho. República de Moçambique

Decreto n.º 75/2008, de 22 de abril. República Portuguesa

Diploma Legislativo n.º 238, de 17 de maio de 1930, República Portuguesa

Diploma Ministerial n.º 61/2003, de 11 de junho, República de Moçambique

Lei 18/2018, de 28 de dezembro. República de Moçambique.

Lei n.º 4/83, de 23 de março. República de Moçambique.

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Resolução n.º 12/2018, de 7 de dezembro, República de Moçambique

Resolução n.º 18/2012, de 7 de dezembro, República de Moçambique.

Resolução n.º 46/2008, de 14 de maio, República de Moçambique.

Resolução n.º 8/2005, de 28 de dezembro, República de Moçambique.

Site consultado

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Apêndices

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Apêndice 1

Guião de entrevista ao Diretor da Escola

A investigação que estamos a realizar tem como objetivo geral analisar o papel do Diretor como

instância de regulação cultural e simbólica na escola, na tentativa de descobrir os valores, ideologias,

crenças e racionalidades que norteiam a ação do Diretor.

Agradecia que respondesse às questões que lhe vamos formular fundamentando-as com os

aspetos que considere relevantes.

1. Quantos anos tem?

2. Qual é a sua área de formação?

3. Qual é o seu nível académico?

4. Há quanto tempo exerce esse cargo?

5. Como acedeu ao cargo (nomeado ou eleito)?

6. Esta escola tem uma identidade própria, distinta das outras escolas a nível da província ou país?

a) Se sim, como carateriza a identidade desta escola? Quais são os elementos que a

diferenciam das outras escolas?

7. Qual é a missão da escola? (mais centrada na democratização/inclusão ou na produção de

resultados?)

8. Descreva o tipo de relação que os professores estabelecem entre si (de tipo individualista,

cooperativo, competitivo, conflitual, etc.)

9. Como Diretor, que procedimentos costuma adotar para promover as relações entre o pessoal

docente?

10. Como carateriza as relações entre o Diretor e o Conselho de Escola, bem como o Conselho

Pedagógico?

11. E as relações diretor/professores, diretor/alunos, diretor/funcionários e diretor/pais e

encarregados de educação?

12. Como líder formal da escola, como carateriza o seu estilo de liderança. Diga quais os valores

que privilegia no seu estilo.

13. Acha que seria um líder diferente se estivesse numa outra escola? Porquê? Ou acha que a sua

liderança vai ao encontro das especificidades desta escola? Acha que o estilo de liderança que

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pratica se deve ao facto de estar nesta escola em particular? Acha que teria de ser diferente

noutra escola? Em que é que seria diferente?

14. Vê-se mais como um líder ou como um gestor?

15. Como define o seu papel enquanto representante do ministério, e em que medida rompe como

representante para se aproximar mais dos professores?

16. O que considera mais importante nesta escola: a qualidade dos serviços educativos expressos

pela produção de resultados excelentes ou a promoção da igualdade de oportunidades do

acesso e sucesso?

17. Na sua ação, vê-se mais como um representante de Estado ou como um representante da

comunidade escolar, particularmente dos professores? Porquê?

18. Na hora de decidir, privilegia as leis, os despachos, a burocracia ou as regras não formais

produzidas em contexto escolar? (Exemplos)

19. O que o motiva para desempenhar este cargo?

20. Das várias funções que um Diretor tem de realizar (técnicas/ educativas; conceção / gestão

operacional; relações humanas / liderança e gestão pessoal e gestão externa / relação com a

comunidade), qual as que considera mais importantes? Porquê?

21. Quer acrescentar mais algum (s) aspeto (s) a esta entrevista?

Fim!

Nota: Guião adaptado das Dissertações de Mestrado de Nuno José Carrola Ferreira e Mafalda Sofia Alves Fernandes da Silva

(2010), do Instituto de Educação da Universidade do Minho.

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Apêndice 2

Guião de entrevista à Presidente do Conselho da Escola

A investigação que estamos a realizar tem como objetivo geral analisar o papel do Diretor como

instância de regulação cultural e simbólica na escola, na tentativa de descobrir os valores, ideologias,

crenças e racionalidades que norteiam a ação do Diretor.

Agradecia que respondesse às questões que lhe vamos formular fundamentando-as com os aspetos

que considere relevantes.

1. Quantos anos tem?

2. Qual é a sua área de formação e nível académico?

3. Há quanto tempo exerce esse cargo?

4. Como é que acedeu ao cargo (nomeado ou eleito)?

5. Considera que esta escola tem uma identidade própria, distinta de outras escolas?

6. Se sim, como carateriza a identidade desta escola? Quais os elementos fortes desta escola que

a diferenciam das outras escolas?

7. Na sua opinião, qual considera ser a principal missão (meta) desta escola?

8. Descreva o tipo de relação que os professores estabelecem entre si (de tipo individualista,

cooperativo, competitivo, conflitual, etc.)

9. Como carateriza as suas relações com os restantes membros do Conselho da Escola?

10. Acha que todos os membros do Conselho da Escola atuam de uma forma participativa? Todos

dão a sua opinião?

11. Como líder do Conselho da Escola, caraterize o seu estilo de liderança. Diga quais os valores

que privilegia no seu estilo.

12. Como carateriza o estilo de liderança do Diretor? Diga quais os valores que julga nortearem a

ação do Diretor.

13. Na sua opinião, como classificaria a ação do Diretor desta escola: representante do Estado ou

representante da comunidade escolar, particularmente dos professores? Porquê?

14. Na hora de decidir, o Diretor privilegia as leis, os despachos, a burocracia ou as regras não

formais produzidas em contexto escolar? (Exemplos)

15. Sente-se encorajado(a) pelo Diretor a participar na vida da escola?

16. Como classifica a relação entre o Diretor e o Conselho de Escola?

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17. Como está o ambiente de escola em termos de conflitos entre o Diretor e os membros do

conselho da escola?

18. Quer acrescentar mais algum (s) aspeto (s) a esta entrevista?

Fim!

Nota: Guião adaptado das Dissertações de Mestrado de Nuno José Carrola Ferreira e Mafalda Sofia Alves Fernandes da Silva

(2010), do Instituto de Educação da Universidade do Minho.

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125

Apêndice 3

Guião de entrevista à Representante dos Professores no Conselho da Escola

A investigação que estamos a realizar tem como objetivo geral analisar o papel do Diretor como

instância de regulação cultural e simbólica na escola, na tentativa de descobrir os valores, ideologias,

crenças e racionalidades que norteiam a ação do Diretor.

Agradecia que respondesse às questões que lhe vamos formular fundamentando-as com os aspetos

que considere relevantes.

1. Quantos anos tem?

2. Qual é a sua área de formação e nível académico?

3. Há quanto tempo exerce esse cargo?

4. Como é que acedeu ao cargo (nomeado ou eleito)?

5. Considera que esta escola tem uma identidade própria, distinta de outras escolas?

6. Se sim, como carateriza a identidade desta escola? Quais os traços fortes desta escola que a

diferenciam das outras escolas?

7. Na sua opinião, qual considera ser a principal missão (meta) desta escola?

8. Descreva o tipo de relação que os professores estabelecem entre si (de tipo individualista,

cooperativo, competitivo, conflitual, etc.)

9. Como carateriza as relações entre o Diretor e os restantes membros da comunidade

(professores, alunos, pessoal não docente, pais …)?

10. Sente que os professores participam no dia-a-dia da escola? É uma escola dinâmica?

11. Como carateriza o estilo de liderança do Diretor? Diga os valores que julgam nortearem na ação

do Diretor.

12. Na sua opinião, como classificaria a ação do Diretor desta escola: representante do Estado ou

representante da comunidade escolar, particularmente dos professores? Porquê?

13. Na hora de decidir, o Diretor privilegia as leis, os despachos, a burocracia ou as regras não

formais produzidas em contexto escolar? (Exemplos)

14. Sente-se encorajado(a) pelo Diretor a participar na vida da escola?

15. Como é que classifica a relação entre o Diretor e o Conselho de Escola?

16. Como está o ambiente de escola em termos de conflitos entre o Diretor e os professores?

17. Quer acrescentar mais algum(s) aspeto(s) a esta entrevista?

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126

Fim!

Nota: Guião adaptado das Dissertações de Mestrado de Nuno José Carrola Ferreira e Mafalda Sofia Alves Fernandes da Silva

(2010), do Instituto de Educação da Universidade do Minho.

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127

Apêndice 4

Guião de entrevista à Representante dos Funcionários (pessoal não docente) no Conselho da Escola

A investigação que estamos a realizar tem como objetivo geral analisar o papel do Diretor como

instância de regulação cultural e simbólica na escola, na tentativa de descobrir os valores, ideologias,

crenças e racionalidades que norteiam a ação do Diretor.

Agradecia que respondesse às questões que lhe vamos formular fundamentando-as com os aspetos

que considere relevantes.

1. Quantos anos tem?

2. Tem alguma formação e qual é o seu nível de escolaridade?

3. Há quanto tempo é membro do Conselho da Escola?

4. Como é que passou a ser membro (foi indicado ou houve uma eleição)?

5. Considera que esta escola tem uma cultura própria, distinta de outras escolas?

6. Se sim, como carateriza a cultura desta escola? Quais os elementos fortes desta escola que a

diferenciam das outras escolas?

7. Na sua opinião, qual considera ser o principal objetivo desta escola?

8. Como é que os professores relacionam-se entre si (de tipo individualista, cooperativo,

competitivo, conflitual, etc)

9. Como carateriza as relações entre o Diretor e os restantes membros da comunidade

(professores, alunos, pessoal não docente, pais …)?

10. Sente que os professores participam no dia-a-dia da escola? É uma escola dinâmica?

11. Como carateriza o estilo de liderança do Diretor? Diga os valores que julgam nortearem na ação

do Diretor.

12. Na sua opinião, como classificaria a ação do Diretor desta escola: representante do Estado ou

representante da comunidade escolar, particularmente dos professores? Porquê?

13. Na hora de decidir, o Diretor privilegia as leis, os despachos, a burocracia ou as regras não

formais produzidas em contexto escolar? (Exemplos)

14. Sente-se encorajado(a) pelo Diretor a participar na vida da escola?

15. Como é que classifica a relação entre o Diretor e o Conselho de Escola?

16. Como está o ambiente de escola em termos de conflitos entre o Diretor e os funcionários (pessoal

não docente)?

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128

17. Quer acrescentar mais algum (s) aspeto (s) a esta entrevista?

Fim

Nota: Guião adaptado das Dissertações de Mestrado de Nuno José Carrola Ferreira e Mafalda Sofia Alves Fernandes da Silva

(2010), do Instituto de Educação da Universidade do Minho.

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129

Apêndice 5

Guião de entrevista à Representante dos Alunos no Conselho da Escola

A investigação que estamos a realizar tem como objetivo geral analisar o papel do Diretor como

instância de regulação cultural e simbólica na escola, na tentativa de descobrir os valores, ideologias,

crenças e racionalidades que norteiam a ação do Diretor.

Agradecia que respondesse às questões que lhe vamos formular fundamentando-as com os aspetos

que considere relevantes.

1. Quantos anos tem?

2. Qual é a classe que está a frequentar?

3. Há quanto tempo faz parte do Conselho da Escola?

4. Como é que passou a ser membro (foi indicado por alguém ou eleito por outros alunos)?

5. Considera que esta escola é diferente das outras escolas?

6. Se sim, como carateriza esta escola? Quais os elementos desta escola que a diferenciam das

outras escolas?

7. Na sua opinião, qual considera ser o principal objetivo desta escola?

8. Como é que os professores relacionam-se entre si (de tipo individualista, cooperativo,

competitivo, conflitual, etc)

9. Como vê a relação entre o Diretor e os outros membros do Conselho da Escola (professores,

alunos, pessoal não docente, pais …)?

10. Sente que os professores participam nas atividades da escola? É uma escola ativa?

11. Como carateriza o estilo de liderança do Diretor? Diga os valores que julgam nortearem na ação

do Diretor.

12. Sente-se encorajado(a) pelo Diretor a participar na vida da escola?

13. Como classifica a relação entre o Diretor e os alunos? E a participação dos alunos nos diversos

órgãos?

14. Como está o ambiente de escola em termos de conflitos entre o Diretor e os alunos?

15. Quer acrescentar mais algum (s) aspeto (s) a esta entrevista?

Fim!

Nota: Guião adaptado das Dissertações de Mestrado de Nuno José Carrola Ferreira e Mafalda Sofia Alves Fernandes da Silva

(2010), do Instituto de Educação da Universidade do Minho.

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Apêndice 6

Guião de observação

Grelha de observação de reuniões do Diretor

Tipo de reunião: Data: Hora:

Assuntos tratados: Tempo gasto em cada um deles Intervenientes:

Tomadas de decisão (O Diretor partilha-as ou impõe-nas – grau de participação; privilegia as regras formais ou as

informais; usa o mesmo critério, qualquer que seja o destinatário, ou critérios diferentes; os professores participam nas

discussões, aceitam-nas passivamente, discutem-nas …)

Resolução de conflitos (O Diretor procura o consenso, a estabilidade, a negociação ou privilegia o confronto; segue a lógica

racional ou improvisa soluções? Os professores):

Nota: Guião de observação retirado da Dissertação de Mestrado Mafalda Sofia Alves Fernandes da Silva (2010), do Instituto

de Educação da Universidade do Minho.