DIREITOS HUMANOS E RACISMO: O TRATAMENTO DESIGUAL

ENTRE OS GUARANI PRESOS NA REGIÃO DE DOURADOS/MS

Raphael de Almeida Silva1

Antônio Hilário Aguilera Urquiza2

Resumo: O presente trabalho trata do encarceramento de indígenas Guarani, e o

racismo enquanto componente de um tratamento desigual aos Guarani presos. O

encarceramento – compreendido aqui como um projeto de Estado – tem elementos que

o fomentam, dentre eles o que essa pesquisa pretende tratar: o tratamento desigual.

Assim, partindo do pressuposto de uma desigualdade nas políticas de encarceramento,

pretende-se abordar as motivações para essa desigualdade, tendo como norte o racismo

nos processos de encarceramento como elemento para a análise. Esta pesquisa tem por

objeto os indígenas Guarani presos em Dourados/MS, uma vez que a região possui uma

forte incidência de encarceramento indígena (em especial do povo Guarani). O objetivo

dessa pesquisa é verificar a existência de um tratamento desigual para com os indígenas

Guarani encarcerados, e a partir disso fomentar uma discussão sobre direitos humanos e

assim, servir como subsídio para a aplicação de um tratamento humanitário para com os

presos, seja através de políticas públicas ou garantia de direitos básicos. Para isso,

utilizou-se de levantamento de dados sobre os indígenas Guarani encarcerados, análise

documental sobre as políticas de encarceramento, levantamento e pesquisa bibliográfica

sobre o tema e por fim trabalho de campo. A pesquisa ainda se encontra em andamento.

Palavras-chave: 1) Encarceramento; 2) racismo; 3) direitos humanos; 4) indígenas.

1 Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Integrante

do projeto de pesquisa “Direito a rebelião: democracia e desobediência civil” e integrante do projeto de

Pibic “Direitos Humanos, Território e Políticas Públicas”, sob orientação do Prof. Dr. Antonio Hilário

Aguilera Urquiza. E-mail: raphael.92.silva@gmail.com. 2 Professor de Antropologia da UFMS. Líder do Grupo de Estudos (CNPq) Antropologia, Direitos

Humanos e Povos Tradicionais. Professor da Pós-Graduação em Antropologia da UFMS. Orientador do

PIBIC.

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Grupo de trabalho:

2. Povos tradicionais, autonomia e Direitos Humanos

Problema de pesquisa:

Encarceramento e racismo são questões cada vez mais explicitamente ligadas,

uma vez que o encarceramento há muito vem se tornando parte das políticas do Estado,

como exemplo o período de políticas eugenistas no fim do século XIX e início do

século XX, seja em prisões ou manicômios. Os levantamentos de informações

penitenciárias da DEPEN nos apontam essa realidade com mais de 60% de negros e

pardos encarcerados (DEPEN, 2014). Assim, um marcador fundamental acerca dos

presos e o tratamento a eles ofertado é a questão racial. Compreender esse fator é

fundamental para compreender o encarceramento e sua aplicação no Brasil. Os povos

indígenas, por sua vez, são vitimados por um processo de genocídio, o qual se apresenta

não somente nos elevados índices de suicídios e assassinatos (CIMI, 2015), mas

também pelo encarceramento que vem se tornando cada vez mais presente, devido a

uma diversidade de fatores, dentre eles a expulsão destes povos de seus tekohás.

A perda de seus territórios tradicionais vem ocasionando uma fragmentação nas

formas de organização social e política (BENITES, 2012), fragilizando a figura da

autoridade e as formas tradicionais de resolução de conflitos. Devido a isso, um dos

elementos em destaque na atualidade é o aumento da violência física e simbólica, contra

esse povo e em muitos casos, dentro das próprias aldeias, entre eles, com práticas de

suicídio, homicídio, tráfico de drogas, maus tratos e outras formas de violência e

contravenção.

Dessa forma, essa pesquisa tem como problema de pesquisa a existência de um

tratamento desigual aos indígenas Guarani encarcerados, onde, tendo o racismo como

norteador da análise, pretende-se identificar possíveis situações desumanizadoras aos

encarcerados a partir da negligência do tratamento humano aos guarani presos.

Objetivos:

Objetivo geral:

A pesquisa tem por objetivo realizar um estudo interdisciplinar a partir do

projeto maior “Direitos Humanos, Território e Políticas Públicas”, tendo como enfoque

o encarceramento de índios Guarani, suas motivações e como são tratados na região de

Dourados/MS. Dessa forma, investigam-se as razões sociais e jurídicas do

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encarceramento, bem como o tratamento em que estão sujeitos os Guarani encarcerados,

sob o prisma dos Direitos Humanos e do pluralismo jurídico.

Objetivos específicos:

• Averiguar os casos do encarceramento de indígenas Guarani e do racismo e sua

intrínseca relação no trato aos presos.

• Elencar as práticas desiguais no tratamento imposto aos Guarani encarcerados

em Dourados/MS.

• Examinar e criticar o vínculo entre racismo e encarceramento na aplicação das

penas e garantias mínimas aos Guarani encarcerados.

• Debater a aplicação dos Direitos Humanos nos casos concretos de

encarceramento de índios Guarani em Dourados/MS.

• Identificar normativas dos Direitos Humanos garantidos pelo ordenamento

jurídico brasileiro nas leis de execução penal e nas políticas de segurança pública, a

partir da teoria do pluralismo jurídico.

• Interpretar os motivos que levam os Guaranis a possuírem um tratamento

desigual no cumprimento de suas penas.

Referenciais teórico-metodológicos:

Considerando a complexidade do objeto de pesquisa proposto, a metodologia de

execução deverá ser interdisciplinar, tendo como aporte conteúdos das mais diversas

áreas do conhecimento e procedimentos de pesquisa bibliográfica, documental e

pesquisa de campo.

Munanga (2003) realiza uma diferenciação entre o racismo clássico e o racismo

atual, onde um se alimenta da noção de raça (morfo-biológico), o outro se alimenta da

noção de etnia (sócio-cultural-histórico). Com base nessa diferenciação, pretende-se

analisar o racismo sofrido pelos indígenas Guarani encarcerados, utilizando-se de

trabalhos sobre o tema como CASTRO (2013), FLORES (2008) e demais referenciais,

bem como documentos oficiais como a Constituição Federal (1988) e a Lei de Execução

Penal (1984), pretende-se realizar trabalho de campo que possa analisar estas hipótese

in loco coletando informações e elementos para compor a análise do referido tema.

Por fim, as modalidades de técnicas metodológicas tem enfoque na produção de

dados qualitativos e em menor proporção, quantitativos, como estatísticas econômicas e

sociais; na pesquisa bibliográfica e documental, a partir de livros, artigos científicos,

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domínio público, SciElo, entre outros; assim como, na pesquisa de campo, com ênfase

em depoimentos e relatos, entrevistas com informantes de potencial, utilizando técnicas

de gravação, fotografias e de entrevistas.

Resultados alcançados:

Por se tratar de uma pesquisa em andamento, ainda em fase inicial, os resultados

ainda são escassos. O que se observa é ainda um reduzido número de bibliografias que

tratem de encarceramento, bem como de racismo contra indígenas. As pesquisas já

realizadas ainda possuem caráter descritivo e quantitativo, havendo baixo número de

análises aprofundadas no tema. Dessa forma, pretende-se com esse trabalho utilizar o

referencial bibliográfico já levantado para produzir resultados em campo satisfatórios,

que possam servir de subsídio para pesquisas futuras, uma vez que este é um tema de

grande relevância.

Bibliografia utilizada:

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processo de territorializaçao dos Kaiowá e Guarani no sul de Mato Grosso do Sul.

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AZEVEDO, Rodrigo G de & CIFALI, Ana Cláudia. Política criminal e

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