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DIRETOR - FRANCISCO MADELINO JORNAL BIMEStrAL 3. a SÉRIE • 1€ N. 0 15• JAN-FEV 2019 Turismo Um luxo ou um direito?

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DIRETOR - FRANCISCO MADELINO JORNAL BIMEStrAL3.a SÉRIE • 1€ N.0 15• JAN-FEV 2019

Turismo Um luxo ou um direito?

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TL JAN-FEV 2019 3

Jornal Tempo Livre | email: [email protected] | Propriedade da Fundação Inatel | Presidente do Conselho de Administração Francisco Madelino Vice-Presidente Lucinda LopesVogais Álvaro Carneiro e José Alho Sede da Fundação Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 Lisboa Diretor Francisco Madelino Publicidade Tel. 210027000/ [email protected]ão Lidergraf Sustainable Printing – Rua do Galhano, 15 – 4480-089 Vila do Conde Tel. 252 103 300 Dep. Legal 41725/90 Registo de propriedade na ERC 114484Preço 1 € Tiragem deste número 119.207 exemplares Membro da APCT – Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação | Estatuto editorial publicado em www.inatel.pt

4Entrevista: Elida

Almeida

6INATEL 55+

8Viajando com livros

9A Casa na árvore

10Memórias de Júlio

Isidro

12Entrevista: Lucinda

Lopes

14Ciclo Mundos

15Fotorreportagem

16Viagens: Unidades Hoteleiras Inatel

18Coluna do Provedor |

Notícias

20Teatro da Trindade

Inatel

21Ver | Ouvir

22Contos do Zambujal

23Passatempos ÍN

DICE

Programa 55+: a Inatel no centro da sua Missão

A Inatel tem, na sua génese, a função de disponibilizar atividades de lazer turístico e cultural aos trabalhadores e pensionistas de mais baixos rendimentos, cujas pro-curas não são solventes, pelas regras de funcionamento dos mercados normais, sendo assim deles excluídos.

Foi assim que nasceram, na Europa, organizações de turismo social e sénior, sejam junto de organizações de

trabalhadores e sociais, sejam associadas à Segurança Social, se-jam ainda associadas ao Estado.

A Fundação Inatel iniciou, em 2018, uma nova geração de po-líticas de turismo sénior, com o nome de 55+, intensificando o número de seniores envolvidos, depois da suspensão, durante vários anos, agora com uma forte componente de inserção social e envelhecimento ativo, onde milhares de pessoas, de baixos ren-dimentos, têm direito a férias e atividades de inclusão, gratuita-mente ou então com valores bastante diminutos.

Ao longo do século XX, as relações de trabalho foram-se trans-formando, desde o direito ao descanso, passando pelo direito ao tempo de lazer e de se instruir dos trabalhadores, até ao direito de ocupar esse lazer em atividades turísticas. A implementação dos sistemas de Segurança Social, permitiram, também, dispo-nibilizar tempo aos homens, na fase final da sua existência, de forma a puderem envelhecer, com rendimento e autonomia, e, também, a conhecerem lugares e culturas diferentes.

É verdade que muitos, por várias vicissitudes, a vida e a igual-dade de oportunidades não lhe deram rendimentos elevados, que possam usar em atividades turísticas. Compete então ao Es-tado, e às entidades como a Inatel, disseminar a igualdade de oportunidades a todos, sobretudo àqueles mais sujeitos a fenó-menos de exclusão social.

O Programa 55+ é, assim, um conjunto de ações na linha da Missão da Fundação, tendo como herança a sua tradição nos programas de turismo sénior, introduzindo, contudo, novas variáveis de seletividade e inclusão sociais, e intensificando a quantidade de pessoas envolvidas, numa parceria que envolve o Ministérios da Economia e do Trabalho e da Solidariedade e Segurança Social.

Este número do Tempo Livre é assim dedicado a esta importante função da Fundação Inatel.

FRANCISCO MADELINOPresidente da fundação inatel

Editorial

ilustraçãoGonçalo Viana

capa

De Lisboa, onde concluiu o curso de arquitectura, Gonçalo Viana mudou-se para Macau e aí assinou as suas primeiras colaborações no âmbito da ilustração editorial. Viveu alguns anos em Londres,

trabalhando como arquitecto, sem nunca perder de vista a ideia de tornar-se ilustrador, carreira que iniciou em 2002. Da formação em arquitectura perdurou o vínculo à geometria, que desde cedo lhe pontuou o trabalho gráfico e continua a estruturar o seu trabalho de ilustrador. Tendo já publicado nos principais títulos da imprensa portuguesa, as suas ilustrações são também presença assídua em publicações internacionais, incluindo o prestigiado The New York Times.

O seu traço de pendor conceptual foi reconhecido pela Society for News Design, pela revista Creative Quarterly e pela colectânea 200 Best Illustrators Worldwide, da Lüerzer’s Archive.

Em 2008, ganhou o Prémio Stuart para melhor ilustração e cartoon de imprensa.

Em 2011, as ilustrações para o livro Esqueci-me Como Se Chama foram também distinguidas pela revista 3x3 na selecção anual de ilustração infantil.

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Elida Almeida sempre foi muito precoce. Era demasiado nova quando lhe morreu o pai e ado-lescente, 17 anos, quando teve um filho. Foi também apenas com 22 anos que ganhou, em 2015, o im-portante prémio RFI Découvertes,

que lhe permitiu condições para gravar um disco e ir de tournée por vários países do mundo. O primeiro disco foi lançado pela editora discográfica Lusoafrica, casa de nomes grandes da música de Cabo Ver-de, como Cesária Évora e Mário Lúcio.

A sua descoberta tem um toque de sorte, em 2014, José da Silva, homem da editora Lusoafrica, faz uma volta pelos bares da Praia e descobre uma voz juvenil, com cara de miúda, mas que canta histórias vividas.

Quando o produtor percebe que é ela própria que canta e compõe as suas can-ções, decide levá-la para gravar um disco. Ela ultrapassa o medo e vai gravar músicas que “tinha medo que não fossem aceites”. É um sucesso, os seus dramas colocados na métrica livre das músicas ecoam por muitos dos jovens de Cabo Verde. Acaba por se colocar como intérprete da sua ge-ração. Um feito notável para uma jovem que aprendeu a cantar numa igreja e que chegou a animar uma emissão de correio sentimental numa pequena rádio da ilha de Maio.

ELIDA ALMEIDA

As músicas que fazem a terraA jovem cantora cabo-verdiana começou a cantar a sua vida, e a sua vontade de vencer, com tanta sinceridade que se tornou um arauto de uma geração

Na canção “Nta Konsigui” (“Eu conse-guirei”), ela canta: “Eu posso resumir em menos de um minuto (…) É a minha vida, a minha pequena história/Contada num pedaço de papel, tanto doce como amar-ga, (…) Mas eu vim ao mundo, e pouco a pouco, farei o meu caminho”. Tenhamos o prazer de pronunciar as palavras originais que Elida Almeida traçou:

“Keli e nha vida/Keli e storia pikinoti/Ki ta leba num padas di papel/Ora doci, ora margos/Ora dretu, ora mariadu/E si ke nha vida/Ora pretu, ora branku/Ora ta ri, ora ta txora/E si ke nha storia/Mas mundu dja nbem dja/Nta futi futi ti ki ntxiga la/Mas mundu dja nbem dja/Nta futi futi ti ki ntxiga la/Pamodi nsabi ma nta konsigui”.

Quando se lhe pergunta se acha que conseguiu cumprir a sua vida, faz um sor-riso tímido e responde: “Não, não, “Nta Konsigui” não significa que já consegui, mas que vou conseguir as coisas da mi-nha vida. A música fala sobretudo da fé e da esperança que eu tenho de um dia conseguir o que eu quero. E o que é isso? É ver a minha família bem, é ver os meus irmãos – nós perdemos o nosso pai muito cedo e ficamos completamente sem rumo, porque a nossa mãe teve que viajar para a ilha vizinha para trabalhar para nós po-dermos viver. A minha preocupação é a minha mãe e conseguir aquilo para que

ela trabalhou uma vida inteira. É isso que para mim é conseguir”.

O seu caminho vê-se passo a passo, nas-cida a 15 de fevereiro de 1993 na ilha de Santiago, Elida Almeida cresceu com os seus avós, na pequena aldeia de Kebrada, um lugar afastado pequeno e montanho-so perto de Pedra Badejo, a Este da capi-tal em que agora vive. “Um lugar sem es-tradas, sem electricidade” onde apenas um pequeno aparelho de rádio a pilhas estabelece a ligação ao exterior, mas onde existe a felicidade de inventar a vida e as coisas para fazer. Quando se lhe pergunta se tem regressado ao sítio da sua infância e se tudo mudou, volta a rir com franqueza: “O tempo quase não passou por este local, só há um ano ligaram a luz eléctrica. Não dá todos os dias e nem toda a gente a tem. Quando estou lá eu esqueço quase tudo do que é o mundo moderno. Eu de qualquer forma preciso de voltar lá. São as minhas raízes. Vivo presentemente na Praia, mas sempre que eu posso vou ter com a minha avó. Passo um, dois dias, e no terceiro dia, fujo até porque não há internet” (risos).

Partiu aos 14 anos para a ilha de Maio. Aí ajudava a sua mãe que vendia legumes e fruta no mercado da Vila de Maio, igual-mente chamada de Porto Inglês. Foi mãe aos 17 anos, mas conseguiu nunca abando-nar os estudos. É nessa nova ilha para ela

Fotos: beatriz Lorena

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As músicas que fazem a terraque Elida Almeida aperfeiçoa a sua cultu-ra musical ao apresentar um programa na rádio local. Aprendeu a cantar nos cantos da Igreja, não tem músicos na família. É ali que a sua voz começa a ecoar para o céu. Depois de conhecer José da Silva, grava “Ora doci, Ora margos” em 2014, o título “Nta Konsigui” que ela compôs com a ida-de de 17 anos, foi logo incluído no genérico da telenovela portuguesa “A Única Mu-lher”, fazendo-a ultrapassar fronteiras.

Em Cabo Verde, terra pequena de gen-te que tem de emigrar para sobreviver, a música parece ser um dom maior. Elida concorda, não concordando totalmente, “muitas vezes dizem-me isso, mas não sei explicar, e de alguma forma acho que não se pode dizer que seja só em Cabo Verde que a música tem essa importância. Eu fiz uma tournée em 2016 por vários países de África, por 16 países, e reparei que a música é fundamental na África em geral. Em toda a África ouve-se música e ouvem-se instrumentos de outro mundo. A diferença é que nesses países há várias escolas de música, como no Mali e Congo, mas em Cabo Verde não há, todos os mú-sicos aprenderam de ouvido, com um pai, com um tio ou com um irmão. Eu não tive essa hipótese, não tinha ninguém na fa-mília ligado à música. Comecei na Igreja. Era uma comunidade muito católica, foi aí que eu comecei a cantar”, recorda.

Esse lugar na música e tudo que con-quistou não lhe foi dado à nascença: Eli-da Almeida, construi-o com persistência. Para criar com toda a liberdade “Bersu d’Oru” (“Berço de Ouro”), uma canção que fala disso, Elida Almeida serviu-se de um ritmo muitas vezes silenciado, a ta-banka, utilizado nas festas de carnaval na ilha de Santiago, tendo-se tornado num símbolo da luta pela independência do país. Quando canta a canção Elida vai evo-cando nomes, os nomes das pessoas que deram sangue, ritmo e música à tabanka: Manuzinhu, Sema Lopi, Nha Nacia, Ka-txás, Norbetu… “Cresci com a presença destes mestres ancestrais da tabanka, so-nhei muitas vezes encontrá-los, de dançar com eles. A tabanka é uma tradição cria-da para contornar a proibição dos ritmos e instrumentos africanos decretada pelo colonizador”, diz numa entrevista. O carnaval servia para um ajuste de contas disfarçado de festa com o colonizador: anualmente, reis e rainhas negros desa-fiam os senhores brancos, divertem-se com as suas falhas e reconstituem num grande carnaval o esplendor negro. “Gos-tei de aproveitar esse ritmo. Para mim é algo das minhas raízes e significa também fazer justiça às nossas músicas silenciadas. Faz-me muita confusão a injustiça, como a repressão à nossa música, até por isso eu

gostava de ter estudado Direito, para dar um maior contributo para a correção das injustiças”, confessa-nos quando falamos com ela.

A música é algo que constrói a identida-de dos cabo-verdianos. Mais que as ilhas de que são naturais é nas notas da música que eles se afirmam. “Nas viagens que eu fiz à Cova da Moura eu encontrei pessoas que nunca foram a Cabo Verde, mas que são muito mais cabo-verdianos que eu, na forma de falar e na pronúncia. É incrí-vel parece que está na massa do sangue. Onde quer que seja encontramos o nosso povo, a nossa terra e cultura. Nos EUA há filhos de cabo-verdianos que não falam crioulo, mas é uma minoria, a maior parte deles sente e vive Cabo Verde. Trabalham um ano inteiro de uma forma desumana, com três ou quatro trabalhos por dia, para no Verão irem ver a família para as ilhas. A nossa comunidade é muito especial. Vivem a nossa música parece que viajam para a terra nas nossas canções. Em Fran-ça estavam a dançar no meu concerto e parece que não estavam lá, que estavam a dançar na sua terra”, explica.

No novo disco insiste neste caminho, como confirma: “Continuo na mesma li-nha do primeiro disco: a ter o meu povo inspiração, tudo o que se passa ao meu redor, o meu dia-a-dia, o que acontece com os vizinhos, os familiares, os amigos”, disse à agência Lusa, Elida Almeida, sub-linhando que um dos objetivos do novo trabalho é “promover, o máximo possível, a tabanka, um estilo que está a cair em de-suso”. Segundo Elida Almeida, autora da quase totalidade dos temas que integram o novo trabalho, “Djunta Kudjer”, “tem Cabo Verde lá dentro”.

“Temos funaná, temos tabanka, temos fusões entre Cuba e Cabo Verde e outros países de África”, acrescentou, sublinhan-do que este disco pretende ainda apelar às pessoas para que cultivem mais a amizade e o amor entre si.

Não gosta que lhe digam que os seus temas são políticos, acha que essa pala-vra se presta a conotações que não quer. “Não gosto da palavra. Sou apenas uma pessoa que as pessoas gostam de ouvir, por isso gosto de reflectir e passar uma mensagem. Fiz uma radiografia de coisas que preocupam a minha família, os meus vizinhos, como a violência doméstica, a droga, guerras de grupos de gangues”, ar-gumenta, para concluir, “Cabo Verde não tem riqueza, vivemos do turismo e da mú-sica, o que faz que a camada jovem siga caminhos mais fáceis do roubo e da delin-quência, eu só fiz essa radiografia”.

Nuno Ramos de Almeida[O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

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O que aconteceu para o Programa ter sido suspenso?A Fundação Inatel, até 2011, tinha um programa de Turismo Sénior que, durante a época baixa, seja em hotéis Inatel, seja em hotéis privados, chegou a envolver cerca de 50 mil pessoas ano. Neles se disponibilizava, a preços baixos, uma semana de férias, com animação cultural, a pessoas seniores. O Programa era financiado pelos ministério da Economia e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, e em tempos juntaram-se inclusive outros ministérios.Com a assinatura do Memorando com a Troika, em 2011, e a necessidade de fazer um ajustamento forte das finanças públicas nacionais, num quadro de grande contenção das transferências para programas sociais, foram suspensas estas transferências para o Programa Sénior e reduzidas as da Segurança Social para a Inatel.Assim a Segurança Social cortou 45% das transferências correntes para a Fundação Inatel, aplicando os cortes que foram feitos às Fundações. Evidentemente isto teve um enorme efeito sobre a sua atividade, obrigando a grandes ajustamentos, por quem a dirigia na altura, e a suspender o caráter intensivo do Programa.E agora o que se alterou para recuperar o Turismo Sénior na Inatel?O que se alterou foi sobretudo a vontade de gestão de repor o Turismo Sénior, com uma forte dimensão de inclusão social, e de envelhecimento ativo, ou seja, juntando à estadia num hotel, para além duma componente cultural e animação que sempre teve, atividades específicas, criadoras de competências que permitam reduzir a exclusão social, de grupos delimitados da População, ou promover o seu envelhecimento ativo.Na base disto, todavia, um apoio e incentivo fundamentais da tutela

Entrevista Francisco Madelino

Presidente da Fundação Inatel desde janeiro de 2016, aquando da sua tomada de posse, o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, lançou-lhe o desafio de repor em funcionamento os programas de Turismo Sénior, com uma forte componente social.

“Inatel aposta nas relações intergeracionais”

governamental, o que levou à disponibilização de meios financeiros para a sua implementação, e a parceria renovada com o ministério da Economia, através do Turismo de Portugal, que também disponibilizou vontades e meios financeiros para se voltar, de novo, a atingir a dinâmica anterior.Houve também a colaboração das associações empresariais, seja da Confederação do Turismo, seja da ARHESP, em se mostrarem disponíveis a apoiar o seu relançamento.Para além dessa componente de inserção social e envelhecimento ativo, o que mais tem de novo o Programa?Basicamente mais duas coisas. Por um lado, com os incrementos financeiros, regressou-se a uma dimensão quantitativa bastante elevada. Depois, por outro lado, tem uma elevada seletividade social, organizada em escalões de rendimento, priorizando os dois escalões de rendimento mais baixo, realçando-se que um destes é mesmo completamente gratuito, atendendo a que as pessoas têm rendimentos muito baixos.Como correu até agora?Ao longo de 2018, a primeira experiência nestes novos moldes, correu bem. Foram envolvidas cerca de seis mil pessoas e as candidaturas individuais superaram as vagas abertas. As pessoas que fizeram parte do Programa gostaram dos moldes em como correu e, por outro lado, a relação com as associações culturais do País, que aderiram a desenvolver atividades para estes grupos seniores, foi muito boa, havendo uma disponibilização de centenas de associações, servindo então também o Programa para desenvolver esta rede e a relação da Inatel com ela.E para 2019 como é? Vai haver de novo Inatel 55+.pt?Claro que vai. Tem havido, todavia,

um ligeiro atraso em reabrir novas candidaturas, mas tal deve-se ao facto deste Programa ter partes financiadas pelos fundos comunitários, no caso o FSE, sendo esta outra originalidade, havendo que harmonizar regras com os gestores destes fundos, e só agora se vislumbrar todas as aprovações em questão. Serão lançados rapidamente os procedimentos concursais para que rapidamente sejam abertas as candidaturas.E qual a razão de haver este Programa 55+? Apenas razões sociais?Apenas, só pode ser uma forma de expressão (risos). Já seriam muitas. Mas não se esconde, há também razões que se prendem com a promoção de emprego, pois decorre em época de baixa sazonalidade do turismo, nomeadamente nas regiões do interior do País, tendo aqui também um objetivo de combater as assimetrias regionais. Lembra-se ainda que há componentes deste Programa viradas para as pessoas com incapacidades ou de promoção do uso das termas.E, terminando, a Fundação Inatel concentra os seus programas de turismo apenas no público sénior?Longe disso. Temos também um programa massificado agora para públicos de todas as idades, com componentes de inserção e cidadania menores, a que denominamos o Inatel Primavera 2019, que pretendemos redinamizar todas as épocas baixas, já disponível em todos os Inatel locais, a par de todas as nossas ofertas hoteleiras e de viagens normais, sejam nos nossos 16 hotéis ou sejam para todo o Mundo. A Inatel aposta nas relações intergeracionais, seja no turismo, seja na cultura e no desporto, mais evidentes, e, neste momento estamos precisamente a estreitar significativamente ações nesse domínio e, inclusive, em colaboração com o IPDJ. Maria João Costa

“Ao longo de 2018, a primeira experiência nestes novos moldes, correu bem. Foram envolvidas cerca de seis mil pessoas e as candidaturas individuais superaram as vagas abertas. As pessoas que fizeram parte do Programa gostaram dos moldes em como correu”

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“Inatel aposta nas relações intergeracionais”

INATEL 55+.pt BEM-ESTAR TERMAL – UMA EXPERIÊNCIA COM SAÚDEPrograma regressa em 2019

A Fundação Inatel tem desenvolvi-do o projeto INATEL 55+.pt des-de o início do ano 2018, destinado ao público sénior com 55 anos de idade, ou mais, com programas de

alojamento e atividades de lazer.Entre as diferentes ofertas disponíveis,

destacamos “Bem-estar Termal” – presente na oferta de 2019 – disponível apenas em unidades hoteleiras da Fundação Inatel com balneário termal. Este programa dá a oportunidade aos inscritos de experiencia-rem 4 tratamentos (banhos termais) de 15 minutos, cada um adaptado às necessida-des de cada aquista. Inatel de Entre-os Rios é um dos hotéis de destino INATEL 55+.pt.

Este balneário Termal está aberto du-rante 6 meses por ano, onde as principais indicações terapêuticas são as doenças osteoarticulares e as doenças respirató-rias, prolemas relacionados com os ossos, e problemas como a bronquite, asma e a enfisema pulmonar. Sobre os tratamentos respiratórios, é possível realizar a inalação, irrigação e pulverização e aerossol; na área osteoarticular os aquistas têm disponível o banho Vichy, banho de imersão simples, hidromassagem, duche de agulheta, vapor à coluna, e pés e mãos localizados.

As mais de 50 pessoas que viajaram do sul do país até Entre-os-Rios tinham à sua espera 5 dias de atividades de lazer que incluíam saúde pela manhã, com a expe-riência dos banhos termais, e pela tarde, cultura, gastronomia e tradição, com visita a cidades como Porto, Gondomar e Paços de Ferreira, e pela noite as animações cul-turais com Grupos Associados Inatel e for-mação relacionada com alimentação.

A satisfação era evidente, muitos foram os que experienciaram pela primeira vez as termas e conheceram a unidade ho-teleira local, destacando a envolvência e a sensação de lazer e de descanso, bem como o contacto com outras localidades portugueses que até então desconheciam.

“É calmo, muito bem organizado, e eu não gosto de confusões”, contou Elvira Pedro, associada Inatel, a viajar no pro-grama INATEL 55+.pt, e a primeira vez a usufruir das termas: “É a primeira vez que estou a fazer e já estou a pensar que para ano tenho que vir para aqui fazer termas. É calmo, não há confusões, não há cidades agitadas por perto, é só descansar.”

Quem partilha da mesma opinião é o casal Maria José Silva e Herculano Silva: “Sentimo-nos muito bem com estas mas-sagens”; “E é preciso, porque andar de au-tocarro cansa”, acrescentou prontamente o marido que mostrou grande interesse pelos programas gastronómicos e tradi-cionais organizados pela Inatel.

O programa INATEL 55+.pt tem conse-guido alcançar os objetivos pretendidos, onde a inclusão social e a igualdade de oportunidades e promoção de lazer para todos são as prioridades.

Os resultados do primeiro ano são a garantia de que é necessário continuar, e 2019 é de novo ano de INATEL 55+.pt. Maria João Costa

beatriz Lorena

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8 TL JAN-FEV 2019

A narrativa real e simbólica da História Trágico-Marítima é, tal como Os Lusíadas, de Camões e a Peregrinação, de Fernão Men-des Pinto, uma das referências emblemáticas da cultura portu-guesa e sem paralelo nas gran-

des literaturas do mundo.Os Lusíadas refletem num discurso épi-

co, os grandes problemas do tempo de Camões e as grandes questões dos tempos que o antecederam, a História de Portugal desde a fundação da nacionalidade até à viagem do caminho marítimo para a Ín-dia.

Despojada da epopeia, a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto confronta-nos com as valentias, prosápias e desventuras do andarilho e do marinheiro português. Re-cupera as torrentes da memória: a evidên-cia da condição humana na sua intermi-nável diversidade. Veio acrescentar, com a língua recolhida no quotidiano das naus, o perfil integral dos heróis que ressurgem n’Os Lusíadas: a velhacaria dos traficantes, as rábulas, as manhas, a astúcia, os roubos e, ainda, o ecletismo sexual dos «cães mal-ditos do cabo do mundo».

Obra coletiva de cronistas, poetas e es-critores, a História Trágico-Marítima foi pu-blicada por Bernardo Gomes de Brito, em 1735 e 1736 e é constituída por dois volumes.

Trata-se da edição em livro de folhetos de cordel com relatos escritos entre 1552 e 1602, a pouca distância de acontecimentos. Podemos classificar estas narrativas como os primeiros grandes textos de jornalismo, antes das Relações de Manuel Severim de Faria e, sobretudo, do aparecimento, com periodicidade definida, da Gazeta de 1641, que é a certidão de nascimento do jorna-lismo português.

Os Lusíadas, de Luís de Camões, são con-siderados como a obra da literatura portu-guesa que melhor resume e exalta a pre-sença e a expansão de Portugal no mundo. Mas a Peregrinação, de Fernão Mendes Pin-to, na opinião de Gilberto Freire é o teste-munho do «maior de todos os homens de língua portuguesa que, desgarrados nos trópicos ou no Oriente, escreveram as suas memórias». Transmitiu-nos «o mundo novo que se levanta», «o mundo de gen-te de cor». Insere-se entre «os precursores de uma política internacional portugue-sa de confraternização do luso-europeu com culturas tropicais e orientais e com povos por outros europeus e americanos chamados desdenhosamente “de cor”. E

LIVRO NEGRO DA HISTÓRIADE PORTUGAL NOS MARESConjunto de narrativas que ultrapassam a cólera dos ventos e das vagas alterosasem situações trágicas de navegação e de transporte. Levam-nos a olhar para dentrode Portugal. Fazem-nos sentir, página a página que, muitas vezes, cada naufrágio,é o próprio País que também naufraga

Por António Valdemar

Viajando com livros

trói toda a antiga alma heróica da Pátria».Regressemos, contudo, à História Trági-

co-Marítima. Os seus relatos evidenciam a coragem dos que arrostaram «a fatalidade dos perigos», «arriscando vida e fazen-das», «dando nome com as viagens e se-pulturas a países incógnitos e bárbaros». Mas a leitura da História Trágico-Marítima também deve ser entendida como «escola de cautelas», em face da «ira dos mares ou o descuido dos pilotos». O universo tex-tual não se circunscreve, porém, e apenas, à anarquia da organização das armadas, à impreparação dos pilotos, às deficiências na construção das naus, ao excesso de car-gas no regresso.

Livro negro de Portugal nos mares, a História Trágico-Marítima ultrapassa as narrativas da cólera dos ventos e das va-gas alterosas e as reflexões acerca da au-sência de formação humana e profissional e da falta de um projeto mais amplo de precauções a adotar, em matéria de na-vegação e de transporte. Leva-nos a olhar para dentro de Portugal. Faz-nos sentir, página a página, esta verdade nua e crua: cada naufrágio, é o próprio País que tam-bém naufraga.

Também nos desvenda a História Trági-co-Marítima a ruína do império e a pro-gressiva decadência de Portugal. Resulta, sem margem para equívocos, de condi-cionalismos ancestrais: dos descarados e repetidos atos de corrupção, dos interes-ses inconfessáveis, do improviso, dum sistema de educação e ensino retrógrado; da implacável dependência da Inquisição (das várias Inquisições que nos amordaça-ram e asfixiam em diversas conjunturas); do desperdiçar de energias, das ruturas e desvios na continuidade de um plano nacional de ação política, desinserido de um modelo de sociedade voltado para as necessidades do presente e as urgências do futuro.

Decorridos vários séculos após a escrita e a publicação a leitura da História Trági-co-Marítima continua a incitar-nos a inter-rogar o mundo visível e invisível que a rodeia viagens, utopias, batalhas, naufrá-gios; e o outro mundo real e imaginário que nos envolve: a fatalidade da crise, a amplitude das atrocidades e a dimensão da tragédia que estamos condenados a su-portar. Sem, muitas vezes, conseguir atin-gir os sinais da esperança, mesmo exígua, que poderiam despontar no horizonte, longínquo ou próximo, quando as amea-ças se tornam mais inquietantes.

concluiu Gilberto Freire que – apesar dos vários autores dos textos – revela «um es-critor incomum, tão incomum que talvez deva ser considerado o maior em língua portuguesa» (in Aventura e Rotina, pp. 181-182, e 303-1952).

Já Eça de Queiroz inclinava-se para as Décadas de João de Barros. Todos sabe-mos, aliás, que as Décadas de Barros foram

uma das principais fontes de Os Lusíadas conforme, passo a passo, comentaram, os eruditos Epifânio Dias, José Maria Rodri-gues e outros investigadores das raízes da epopeia camoniana. É melhor citar a afirmação categórica de Eça: «Camões, o filho do Renascimento e das imitações la-tinas, não tem o espírito épico de João de Barros que, às vezes, numa página cons-

Bernardo Gomes de Brito, Historia Tragico-Marítima, tomo 1°, Lisboa occidental,1735

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No Parque da Quinta das Con-chas, ao Lumiar, grandes frutos redondos amarelo esverdeado, pendendo nos ramos ou caídos na erva, intrigam todos os que neles reparam. Uns interrogam--se sobre o seu nome, outros

limitam-se a dar-lhes um pontapé, fazen-do-os rolar e esmagar contra um muro. Alguém mais afoito apanha um destes frutos de estranha casca rija, mas ao sen-tir que é um pouco pegajoso, logo o atira ao chão. Por fim, ouve-se perguntar: Será comestível?

A resposta é desconcertante. Sim, em parte, mas quase nenhuma criatura o de-seja ou consegue comer. O fruto múltiplo ou infrutescência da Laranjeira-de-Osage (Maclura pomifera (Raf.) Schneid.), árvore nativa do Texas, Oklahoma e Arkansas, só entra na dieta alimentar humana através das sementes, e apesar de cientificamente se ter provado que a polpa não envene-na vacas e cavalos, na realidade, também não lhes faz grande bem. Resta assim, a esta árvore dióica (ou seja, com espécimes macho e fêmea) servir o apetite de alguns pássaros que debicam a polpa e os esqui-los que roem a semente, de muito difícil extracção.

Para se extrair a semente da Laranjei-ra-de-Osage, cujo gosto é próximo da semente de girassol crua, o fruto tem de ser previamente amolecido em água; ao ser cortado, é necessário evitar o contac-to com o suco leitoso que exsuda, impe-dindo desta forma uma eventual alergia cutânea. Todo um esforço pouco compen-sador que em conjunto com a persistência do mito da sua toxicidade na agro-pecuá-ria explicam o desinteresse pela plantação em pomar.

E, no entanto, mesmo sem o atrac-tivo alimentar, esta espécie de amoreira,

Nascida de um alcevulgarizada a utilização de arame farpa-do (a primeira patente surge nos EUA em 1867), o “homem branco” pôde instalar-se nas pradarias e outras regiões selvagens, criando áreas agrícolas protegidas e zonas de criação de gado. A ideia inicial teria sido sugerida directamente, ao presidente dos EUA, Thomas Jefferson (1743-1826), pela dupla de exploradores escoceses Wil-liam Dunbar (1750-1810) e George Hunter (1755-1823), por si enviados à região do Luisiana no início do século 19.

A percepção da resiliência da Laran-jeira-de-Osage, incluindo das suas apli-cações na tinturaria – durante a I Guerra Mundial, a cor amarela extraída da ma-deira foi usada como substituto da pro-

A Casa na árvore

(Moraceae), que pode atingir os 15 metros de altura, foi no século 19, a árvore mais plantada nos Estados Unidos da América. De 1850 a 1875, desempenhou um papel crucial na fixação dos colonos no território usurpado aos índios. Um ditado antigo do Oeste norte-americano aconselhava a construir sebes, “Da altura de um cavalo, fortes como um touro e à prova de por-co”, ora esta árvore de madeira muito rija, capaz de resistir às térmitas, invulnerável às variações de humidade, cujos ramos in-feriores ostentam picos aguçados, servia perfeitamente esse propósito.

A partir de sebes vivas, feitas com a La-ranjeira-de-Osage (também chamada de Macieira de Sebe), não tendo ainda sido

veniente do arbusto Clorophora tinctoria – resultaram necessariamente do contacto com os índios norte-americanos, em par-ticular com a tribo dos Osage, conhecida pela sua ferocidade e a produção de arcos e flechas de uma qualidade equiparável, ou mesmo superior, aos feitos com madei-ra de teixo. A procura da Laranjeira-de-O-sage ou Pau d’arco (designação atribuída pelos viajantes franceses no século 17), ne-cessário à construção dos arcos e das fle-chas mobilizaria este povo de caçadores a percorrer larga distâncias. Entre os índios norte-americanos um arco desta qualida-de era tão valioso que poderia ser trocado por um cavalo e uma manta, segundo re-lato de 1810, feito pelo viajante e botânico escocês John Bradbury (1768-1823).

Enquanto alguns investigadores de fi-logenia e biogeografia consideram que a dispersão da Maclura pomifera – o nome científico homenageia um geólogo es-cocês William Maclure (1753-1840) e po-mifera significa “que dá fruto” – poderá ter sido feita ancestralmente por uma “megafauna” que se extinguiu, segundo a cosmogonia Osage, o feijão, a batata, o milho, o nabo silvestre e todas as plantas teriam nascido a partir dos pêlos de um Alce quando por contentamento o animal se rebolou no chão.

Nascidos do Sol e da Lua, os Osage dei-xaram o Céu para viverem na Terra, mas encontraram-na inundada. O Alce que os acompanhava conseguiu que os Ven-tos transformassem as águas em nevoei-ro. Primeiro, surgiram as montanhas sem plantas, depois a terra fértil. De alegria, o Alce-demiurgo rebolou nesta terra e dos seus pêlos caídos nasceram todas as árvo-res.

Susana Neves[A autora escreve de acordo com a antiga ortografia]

1. Fruto da Laranjeira-de-Osage2. Folha amarelecida da Laranjeira-de-Osage no Inverno3. Fotografia de um índio Osage com arco e flecha

A árvore rainha das sebes produz frutos para um ser que se extinguiu

Por Susana Neves

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Chamavam-lhe e ainda lhe cha-mam Nini não sei se vestiu de organdi mas era tecido do seu tempo.

A época da Nini é o hoje quando está a perfazer 100 anos de idade, a mais antiga, a úni-

ca sobrevivente dos tempos gloriosos da rádio.

Nasceu Maria Carolina Remartinez Quilez de Matos de Freitas França mas convenhamos que o diminutivo é mais ternurento e adaptável à altura da dona.

Sempre foi pequenina no corpo e enor-me na alegria de viver.

Diz de si própria que era azougada e até maluca para a época, mas o que palpita-va naquele peito era um coração cheio de amor pela música e pelo espectáculo.

Também se dizia tímida, mas é dos tími-dos que saem as grandes figuras das artes.

A Nini cresceu, o possível do seu pouco mais de metro e meio, e aprendeu piano e violoncelo herdando da família até à ter-ceira geração, o culto dos sons.

Amava e ama o mar e perdia-se pelo prazer de cavalgar as ondas só não tendo feito surf porque ainda não se usava.

Lá de fora chegavam às nossas telefo-nias as harmonias vocais das Andrew Sis-ters fardadas da tropa a cantarem para os soldados na 2.ª Grande Guerra.

Cá dentro alguém pensou: “E porque não?”

Foi o maestro António Melo (lembram--se dele a dar “boa nôte” aos estimados telespectadores no Museu de Cinema da António Lopes Ribeiro?) que desafiou Nini e a irmã Fernanda a formarem um duo feminino.

Lá em casa as duas ouviam os discos na grafonola, para tirarem as músicas e as letras das canções das Andrew Sisters enquanto preparavam afanosamente o guarda roupa para a estreia, tudo artesa-nato caseiro.

Foi na Rádio peninsular que em 1941 se estreou a primeira “Girl band” portuguesa.

Que sucesso a cantarem o “Vira viradi-nho”, o “Quem casa não pensa”, e até can-ções da América latina como “Farolito” e “Cielito lindo”.

Depois foram contratadas pela Emisso-ra nacional onde fizeram programas como “Horas de fantasia”, “Ouvindo as Estrelas” e os “Serões para trabalhadores”.

Ganhavam bem, 300 escudos por pro-grama, digamos que um euro e cinquenta.

Fizeram amizade a cantaram com Milú a criadora da “Minha casinha” que os Xutos e Pontapés recuperaram, Maria da Graça a “brasileira” do filme o Pátio das Cantigas onde cantava a “Camisa Amarela” e as fa-mosas irmãs Meireles.

Entretanto casaram e a possibilidade de carreira internacional acabou porque eles, repito eles, não deixavam.

ligeiros. Entrou para o coro feminino da Emissora Nacional e terminou a carreira no arquivo discográfico.

Também foi eleita Miss Aeronáutica e já me prometeu oferecer-me o alfinete de peito com as asas que ganhou numa noite memorável.

A Nini tem uma notável memória do pas-sado, mas de tudo, só lamenta não poder voltar a sentir as ondas do mar no corpo.

NINI DOS SEUSCEM ANOS

Com cem anos, vive feliz na Casa do Artista, aprendeu a navegar na internet e no facebook, vai aos espectáculos onde a levam e encanta-se com a vida.

Diz que um dia se vai esquecer de res-pirar e então partirá para os braços do seu eterno mais que tudo.

Nini, os cavalheiros sabem esperar.

[O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

MEMÓRIAS DE JÚLIO ISIDRO

Estamos a falar da primeira metade do século XX, embora a Nini reafirme: “Não estou nada arrependida de não viajar para o estrangeiro por causa do meu amor.”

Ainda hoje sabe de cor quanto tempo es-teve casada e quantos bons partidos recu-sou porque só ele lhe tocou e mais ninguém.

O duo acabou com a morte da irmã e em carreira a solo a Nini venceu o prémio de cançonetista do concurso de artistas

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Quando lhe perguntam ‘Quem é?’, declara: “Sou determinada, comprometida com a vida em todas as suas vertentes. Desde sempre me dediquei ao serviço público, por isso acho que posso dizer que os outros

– as pessoas – são a minha verdadeira vocação.”Antes de integrar o Conselho de Administração da Inatel o que fazia?Comecei a trabalhar na Câmara Municipal de Lisboa, em 1981. Depois, entre 1997 e 2006, assumi responsabilidades enquanto dirigente municipal. Chefiei a Divisão de Gestão de Equipamentos Diversos (1997/2002), onde se integravam o Gabinete de Estudos Olisiponenses, a Casa Fernando Pessoa, a Fonoteca e a Videoteca, a Casa da América Latina e também a Loja do Munícipe – Balcão Cultura. Posteriormente, fui responsável pela Divisão de Equipamentos Culturais (2002/2006), que à época fazia a gestão do Teatro Municipal São Luiz, do Teatro Municipal Maria Matos; do Padrão dos Descobrimentos, das Galerias de Exposições da cidade, como as Galveias, Mitra, Sala do Risco, entre outras, e dos Ateliers Municipais – Coruchéus, Bairro da Boavista, Contador-Mor e Rego – que serviam de espaço de trabalho para artistas plásticos.

Foram anos de uma enorme aprendizagem e sobretudo de muito trabalho, num momento em que Portugal, e a cidade de Lisboa, em particular, começa a ganhar escala e relevância cultural. Também fez parte do Conselho de Administração da EGEAC…Sim, assumi funções em 2007, onde

Entrevista LUCINDA LOPES

Vice-presidente da Fundação Inatel, desde maio de 2018, Lucinda Lopes, 55 anos, natural de Lisboa, licenciada em História, pela universidade Lusíada, exerce funções públicas desde o início da sua carreira profissional

“As pessoas sãoa minha verdadeira vocação”

estive até 2018, antes de vir para a Inatel. Durante onze anos, como é natural, fiz um pouco de tudo, mas as minhas áreas de competência eram, fundamentalmente, a financeira, jurídica, administração geral, aprovisionamento, sistemas de informação, logística, reabilitação patrimonial e obras.

Durante esses anos na EGEAC, o património – material e imaterial – a criação e a programação artísticas tiveram um papel incontornável para o crescimento da cidade e para o seu posicionamento internacional, em termos culturais, sociais e turísticos. Neste sentido, foi um privilégio ter tido a oportunidade de contribuir para a Lisboa cosmopolita que temos hoje.

Tenho tido a sorte, e continuo a ter, de me apresentarem desafios onde consigo acrescentar sempre. Em suma, diria que sou uma pessoa grata e envolvida com a missão do serviço público.Como foi a experiência na EGEAC?Foi extremamente gratificante e enriquecedora. Trabalhar onze anos com as diversas equipas, constituídas por profissionais de grande qualidade, empenhados em fazer todos os dias mais e melhor em prol dos cidadãos e da cultura de uma cidade como Lisboa, foi um privilégio! Para além disso, foi uma honra ter liderado um projeto que através da cultura e dos agentes culturais promovia, simultaneamente, os ativos criativos da cidade, o desenvolvimento local e a coesão social. Na EGEAC foi possível construir uma rede de ofertas e serviços culturais de excelência, em estreita articulação com os diversos agentes artísticos, económicos e políticos. A confiança depositada pela CML na autonomia da gestão e na capacidade

de ação da EGEAC permitiu que esta crescesse e se afirmasse como uma grande Empresa Municipal de Cultura, com capacidade de sustentação e com um crescimento continuado notável. Hoje a EGEAC é uma marca fortíssima, associada a Lisboa e à Cultura, conhecida e reconhecida pelos lisboetas, pelos portugueses e pelos turistas, e por isso todos os que contribuíram e continuam a contribuir para tal, particularmente os seus trabalhadores, estão naturalmente de parabéns.Em que projeto é que se envolveu mais? Tive um envolvimento transversal a todas as áreas às quais estive ligada. Os eventos foram tantos e com tão boas memórias que se torna injusto referir alguns em detrimento de outros.

Apesar disso, existem projetos e momentos incontornáveis na vida da EGEAC, que tive o privilégio de viver (foi uma década memorável), e que honram todos os excelentes profissionais envolvidos, nomeadamente, o da elevação do Fado a Património Imaterial da Humanidade, a criação do Núcleo Arqueológico do Castelo de São Jorge e também a afirmação do Castelo como um dos monumentos mais visitados do país.

Não é possível também esquecer os eventos em espaço público, designadamente, as Festas da Cidade, assim como as exposições no Torreão da Praça do Comércio, na Cordoaria, no Padrão dos Descobrimentos, nas Galerias Municipais, a criação do Museu do Aljube, bem como as atividades do Museu do Fado, do Museu da Marioneta e do Museu de Santo António e a sua afirmação como entidades de referência no contexto museológico, aos quais se juntou mais recentemente

o importantíssimo Museu da Cidade e a sua transformação no Museu de Lisboa, afirmando um novo conceito, de museu polinucleado (Palácio Pimenta, Teatro Romano, Santo António, Torreão Poente e Casa dos Bicos), permitindo uma leitura mais ampla sobre a história de Lisboa.

Finalmente, não esgotando o tema, não poderei deixar de referir as atividades desenvolvidas pelo Teatro Municipal de São Luís, pelo Cinema São Jorge e pela Casa Fernando Pessoa, e também a intervenção profunda efetuada no Teatro Luís de Camões, que permitiu devolver à cidade este espaço cultural com uma programação inteiramente dedicada às artes performativas para crianças. Comparativamente com a Inatel, o que difere e o que se mantém na atividade cultural?Há desde logo uma grande diferença: os meus pelouros na Inatel são mais abrangentes, quer em termos de responsabilidades quer em termos de alcance. A Inatel tem um âmbito nacional, e a sua missão, o desenvolvimento humano, social e cultural do país.

Na verdade, e apesar de falarmos aqui também de cultura, esta assume-se de modo distinto. Na Inatel as questões culturais mais diretas não são do meu pelouro, no entanto, a cultura num sentido mais lato, ou seja, a forma como as pessoas pensam, usufruem e crescem, está diretamente ligada ao meu dia-a-dia.

A Inatel, para além do Teatro Trindade, tem uma atividade cultural vastíssima, com o enfoque na cultura popular, em todas as suas vertentes, abrangendo todo o país. É um património enorme que merece ser valorizado e conhecido.

Por isso, como fazia antes, também agora tento encontrar estratégias e

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sinergias através do envolvimento dos agentes culturais locais, na criação de propostas sustentáveis, no estímulo às equipas, numa programação diversificada e de qualidade, no desenvolvimento de atividades direcionadas para públicos de todas as faixas etárias. No fundo, tento encontrar formas de otimizar a afirmação da Fundação Inatel enquanto instituição de referência e de excelência, no caso vertente na cultura popular em Portugal, nomeadamente, no que respeita à sua preservação, difusão e fruição.Onde é que a vemos a atuar na Inatel? Como a Fundação tem âmbito nacional, por norma, veem-me um pouco por todo o país. Pela natureza dos meus pelouros, o meu trabalho nem sempre é mediatizado, diria que é um trabalho de estruturação e cooperação, interna e externa, que sustenta todas as áreas de atuação – turísticas, culturais, sociais, etc. – mais visíveis da Fundação Inatel.

As áreas de valorização patrimonial – edificado e imaterial – e os fluxos ou dinâmicas operativas de uma organização com esta história, legado e diversidade de ação, são, como imaginam, de uma complexidade enorme.

Como gosto de atuar, de fazer, podem encontrar-me em todas as medidas estruturantes que permitam à Inatel crescer e tornar-se uma organização ainda mais competitiva, mais reconhecida e onde os seus trabalhadores sejam mais felizes. Tudo isso para que os cidadãos possam usufruir de mais e melhor oferta e sobretudo para que cada um de nós – de vós – continue a encontrar na Inatel uma casa que é sua.Com o início de mais um ano, ainda vamos a tempo de pedir desejos. Quais

“Tenho tido a sorte, e continuo a ter, de me apresentarem desafios onde consigo acrescentar sempre. Em suma, diria que sou uma pessoa grata e envolvida com a missão do serviço público”

“Sou apologista de que nunca devemos ficar absolutamente contentes com a obra feita, sob pena de cairmos na inércia”

são os seus desejos para a Inatel? Desejo sobretudo que a Fundação Inatel, com o envolvimento ativo de todos os seus órgãos, de todos os seus trabalhadores, dos seus associados e dos diversos agentes da sociedade portuguesa com os quais se relaciona, desenvolva atividades de excelência em todas as sua áreas de atuação, simultaneamente sustentáveis, com contributo inequívoco para o desenvolvimento local e regional, afirmando cada vez mais a marca INATEL como uma marca socialmente relevante (a nível local, regional e nacional), reconhecida e vivenciada por portugueses de todas as faixas etárias, cumprindo assim a Missão, Visão e Valores por que se rege. Está na Inatel desde maio último… Qual é o balanço que faz até à data? Apesar de ainda ser um período curto para fazer um balanço, diria que os resultados estão a ser bastante positivos. Acredito que há – e haverá sempre – muito por fazer. Sou apologista de que nunca devemos ficar absolutamente contentes com a obra feita, sob pena de cairmos na inércia.

Assim sendo, e em jeito de balanço, destaco que em consonância com o Conselho de Administração, as múltiplas necessidades das várias áreas que fazem parte dos pelouros que me estão atribuídos, têm vindo a ser devidamente identificadas, priorizadas e resolvidas, ou estão já em processo de resolução. Claro que, dependendo da natureza dos elementos envolvidos, algumas soluções são mais rápidas de alcançar do que outras, mas eu acredito que com as medidas e os recursos ajustados conseguiremos encontrar todas as

respostas e melhorias necessárias. A prioridade tem sido a identificação

e valorização dos recursos da Fundação e encontrar estratégias adequadas e continuadas de investimento nos nossos ativos, as pessoas e as instalações dos serviços, como forma de incrementar a qualidade dos serviços que prestamos aos nossos associados.

Apesar de já ter conhecido muitas das pessoas e infraestruturas, ainda não foi possível visitar todos os locais, conhecer e ouvir todos os elementos de todas as equipas e conhecer todas as realidades existentes, mas esse é o desafio a que me proponho.

Temos todo um trabalho pela frente, a ser desenvolvido de forma estruturada e continuada, para o qual é preciso, convocar os esforços de todos os colaboradores e associados. Para além do meu total empenho, e dos restantes elementos do Conselho de Administração, contamos naturalmente com o de todos vós. Como se sente por fazer parte deste projeto? Sinto-me privilegiada por fazer parte de uma Instituição historicamente relevante, por fazer parte de um projeto humanista cuja Missão, Visão e Valores visam, através das diversas atividades de tempos livres e de lazer promovidas, contribuir para a inclusão social de todos cidadãos (Jovens, Trabalhadores, Seniores).

Tenho sido tratada por todos de forma excelente. Tenho contado com a dedicação e com o profissionalismo, dos elementos das várias equipas com quem tenho contactado. Contem comigo. Desejo a todos um Bom Ano. Maria João Costa (Texto)Beatriz Lorena (Foto)

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Ciclo Mundos – Fazer parte do que acreditamosQuando há um projeto que nos chama a atenção como o Festival Ciclo Mundosqueremos fazer parte dele, queremos perceber de onde veio e porquê

Para mim, tudo começou no Teatro Trindade de quem sou vizinha com muito carinho e onde já vi alguns espetáculos mas nunca tinha visto um concerto e aque-la sala pedia concertos! Eu que desenvolvo esta relação amorosa

com a música há tantos anos vou sempre lutar pelo lugar dela na cidade e nos cora-ções dos espectadores. Em conversa com amigos sobre concertos fiquei a saber que os Tank and the Bangas vinham a Lisboa, aliás, que vinham ao meu bairro! Combi-námos todos, comprámos os bilhetes (su-per acessíveis) e lá fomos nós criar memó-rias todos juntos para o Teatro Trindade Inatel. Tento sempre não aumentar as mi-nhas expectativas no que toca a concertos, ou na verdade, no que toca a tudo! Apesar de ser uma entusiasta em negação… Mas fui arrebatada! A sala do Trindade tem uma magia muito própria, uma energia condensada, muitas histórias a contar e os Tank and the Bangas aproveitaram-se disso da melhor maneira. Deram um con-certo incrível, contagiante! Dei por mim estava a dançar e olhem que não sou nada dada a essas coisas devido à minha condi-ção de “dois pés esquerdos”.

Sempre fomos um público caloroso, nós os Portugueses, mas concertos intimistas têm um sabor mais apurado e um con-forto que não me cansa. Fui percebendo o que se passava realmente, que aque-le concerto não estava solto, fazia parte do Festival Ciclo Mundos e inteirei-me sobre o mesmo – dá sempre jeito estar a par de boa música ainda por cima perto de casa. Tive de ir fazer trabalho de casa e ver todas as bandas que fizeram parte do festival nos últimos três anos. Obvia-mente ralhei muito comigo mesma por ter faltado a alguns dos concertos, parecia um senhor idoso a resmungar com o telemó-vel à medida que ouvia uma banda e ou-tra de seguida. Porque cada vez que uma banda toca, (principalmente este tipo de bandas menos “comerciais”) para além da música que trazem, trazem também um pedacinho do seu país, da sua cultura, das suas histórias, da forma diferente de ver o mundo e é isso que me atrai em ver con-certos ao vivo, para além das memórias que se criam com os mesmos.

Acabei por perceber a ligação inevitá-vel ao FMM (Festival Músicas do Mundo) que também está ligado com a Inatel e que inspirou a criação do Ciclo Mundos trazendo o conceito das bandas mais al-ternativas que normalmente atuariam em Sines para o centro da nossa Capital, num formato mais compacto e em parcelas, em vez de ser um festival de dois ou três dias temos os concertos durante todo o ano. O festival foi há pouco tempo nomeado em cinco categorias pelo Iberian Festivals Awards: Best infrastructure, Best Cultural Program, Contribution to Sustainability,

Best Indoor Festival e Best Small Festival – e é bom saber que mesmo os projetos com bandas mais alternativas têm esta atenção positiva, que não é em vão que são fei-tos. Significa sempre que as pessoas ain-da procuram música e mesmo com tanta oferta há sempre público e há sempre esta necessidade de vermos mais, de co-nhecermos mais e de vivermos mais mú-sica. E ainda bem! Ainda bem que nunca é suficiente! Adoro esta incapacidade de saciar este nosso público, faz com que to-das as empresas que preparam espetácu-los sejam cada vez mais e melhores. E ver aquela sala cheia prova precisamente isso.

Falou-se muito da falta de apoios à cul-tura nestes últimos anos e é sem dúvida uma preocupação e um assunto urgente: ter estas salas cheias chama à atenção, diz bem alto que este público precisa sempre de espetáculos, de cultura e de entrete-nimento. Aqui ou em qualquer outra ci-dade do país! E que melhor maneira de nos manifestarmos que a de ir... A de estar presente, a de fazer parte. A de encher sa-las – esgotá-las até! Provavelmente será a maneira mais ativa de corrigir o orçamen-to de estado de 2019: consumir música e

teatro, leituras e dança, consumir stand up e peças infantis! Há de tudo para to-dos. Há que estar atento, só um bocadi-nho, marcar no telemóvel ou na agenda, convidar amigos ou ir sozinho e já agora não esquecer de ir ver os “Emigrantes” no Teatro Trindade Inatel já dia 20 de março! Sem querer ter favoritos, mas sendo eu a entusiasta que sou, não poderia ser im-parcial. No que me toca a mim, como con-sumidora, só me resta agradecer à Inatel pelas inúmeras iniciativas em todo o país e por este apoio incondicional à cultura e à arte.

O Ciclo Mundos já contou com nomes como Gaye Su Akyol, Zap Mama, Las Ma-ravillas de Mali, Criatura, Alibombo, Elida Almeida, Yazz Ahmed e muitos mais por isso fiquem atentos à programação que os nomes das bandas devem estar qua-se, quase a sair! E que venham mais! Que venha mais um ano repleto de concertos de bandas de todo o mundo! Que tragam um pedaço dos seus países! Que nós pos-samos ter o prazer de absorver e receber mais projetos… E que o Ciclo Mundos continue a conquistar este espaço e se ex-panda ainda mais! Carolina Torres

“cada vez que uma banda toca, (principalmente este tipo de bandas menos “comerciais”) para além da música que trazem, trazem também um pedacinho do seu país, da sua cultura, das suas histórias”

beatriz Lorena

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O Teatro da Trindade Inatel foi o palco para o evento “Gala Reconhecer”, uma comemo-ração que revela o trabalho desenvolvido na área da intervenção social e sustentabilidade.

Este evento, que decorreu no dia 22 de ja-neiro, marcou com a presença de José Carlos Malato, Roncos do Diabo e Carlos Alberto Moniz.

Numa tarde marcada pelo reconhecimento, a Asso-ciação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21, foi aplaudida ao receber o Prémio de Mérito Inatel. Mafalda Carvalho (texto) Beatriz Lorena (fotos)

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Carlos Alberto Moniz, músico, maestro e compositor, animou a tarde com o seu quinteto. O convidado cantou alguns temas que eram bem conhecidos pela plateia de convidados.

Nesta gala marcaram presença o Conselho de Administração da Fundação Inatel e Associações que deixaram, durante o ano de 2018, uma pegada solidária.

José Manuel Alho, vogal do Conselho de Administração, entregou o reconhecimento “Aldeia dos Sonhos 2018” a Penhaforte.

O grupo musical Roncos do Diabo divulgam a música tradicional portuguesa e marcaram presença nesta tarde de reconhecimento.

O Teatro da Trindade Inatel foi o palco para esta Gala Reconhecer.

Na abertura da gala, Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel, falou sobre a importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

José Carvalho, da Casa do Povo da Abrunheira, e António Conceição, artista, receberam o reconhecimento “Ajudar”, pela Vice-presidente da Fundação Inatel, Lucinda Lopes.

OIOIOIO

Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel, fez referência à importância do trabalho que é desenvolvido pelas associações reconhecidas e homenageadas.

O Conselho de Administração da Fundação Inatel, homenageia seis colaboradores que já estão aposentados.

Miguel Palha, fundador da Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21, agradece o prémio de Mérito Inatel.

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ESPECIAL INATEL MANTEIGAS E PIÓDÃODatas: 17 a 23 de maio | 20 a 26 de

maioPartidas: Viana do Castelo, Braga,

Porto, Aveiro | Évora, Setúbal, Lisboa, Santarém

ESPECIAL INATEL SÃO PEDRO DO SUL E VILA RUIVADatas: 14 a 20 de julho

Partidas: Setúbal, Lisboa, Santarém, Leiria | Faro, Beja, Évora, PortalegreInformações: Tel. 211 155 779 | turis-

[email protected] | www.inatel.pt

MANTEIGAS E PIÓDÃOPaisagem e gastronomia

SÃO PEDRO DO SUL E VILA RUIVAUm verão tranquilo

Manteigas, inserida no parque natural da Serra da Estrela, e Piódão, incluída na rede das aldeias históricas de Portugal, são bons motivos para celebrar a natureza

Da região de São Pedro do Sul, conhecida pelas águas termais e boa gastronomia, a Vila Ruiva, para relaxar junto das paisagens serranas

Viagens

O circuito inicia-se com uma vi-sita à antiga fábrica Ecolã, em Manteigas, para conhecer to-dos os passos do processamen-to da lã de ovelha até ao ances-tral burel. À tarde, saída para Belmonte. Passeio pelos locais

mais emblemáticos da vila: Igreja de San-tiago, Panteão dos Cabrais, Castelo e Mu-seu do Azeite.

No dia seguinte, subida à Serra da Es-trela, com passagem pelo Vale Glaciar do Zêzere, considerado o maior da Europa. Estendendo-se por 13 quilómetros, serve de berço ao rio Zêzere e dá vida às deze-nas de rebanhos de cabras e ovelhas que se alimentam nas suas encostas. Passagem pela Lagoa Comprida, construída a partir de uma lagoa natural, constitui o principal reservatório de água da Serra da Estrela. Paragem na Torre, o ponto mais alto do continente português.

Mais um dia. Saída para Seia, algum tempo livre para passear na localida-

de. Continuação do circuito em direção à aldeia do Piódão. Segue-se um dia de atividades livres, em regime de pensão completa. Na manhã seguinte, saída para Arganil, um concelho rico em património ambiental, natural, arqueológico, históri-co e cultural, destacando-se a Paisagem Protegida da Serra do Açor. Visita ao San-tuário do Mont’Alto, localizado a 615 m de altitude. Passeio pedonal pela vila. De tar-de, passeio na vila de Coja, conhecida por “Princesa do Alva”, onde será servido um lanche típico com produtos regionais. No dia de regresso, visita ainda ao Santuário da Nossa Senhora das Preces, no lugar de Vale de Maceira. Este lugar de culto terá sido construído durante o século XVIII. Além da igreja, integra uma Via-Sacra, com figuras de madeira em tamanho real, envolvidas por um parque florestal. Outros elementos complementam este santuário dando várias hipóteses de per-cursos tanto de cariz religioso como arqui-tetónico ou botânico.

Chegada a Vouzela. Esta vila si-tuada na zona de Lafões tem grande beleza natural e forte feição rural e tradicional. Cir-cuito pedonal com guia local. De tarde, visita ao património natural, histórico, cultural e ar-

quitetónico de Castro Daire. Entre os mo-numentos mais marcantes destacam-se a Ermida do Paiva ou Templo das Siglas, monumento românico do século XII, a Casa da Cerca, a Capela das Carrancas, o Solar dos Aguilares e a Igreja Matriz de Castro Daire, no centro da vila.

No dia seguinte, partida em direção a Santar, com paragem numa quinta para prova de vinho do Dão. De tarde, passeio no centro histórico de Viseu, desde a rua direita, conhecida pelo comércio tradicio-nal, até à Sé e Igreja da Misericórdia. Con-tinuação do circuito para Vila Ruiva. De manhã, partida para Seia. Visita ao Centro de Interpretação da Serra da Estrela, que tem por missão sintetizar e divulgar co-

nhecimentos sobre os processos naturais, sociais e económicos que condicionam a vida nesta montanha. De tarde, visita à Torre, com paragem no Sabugueiro.

Mais um dia. De manhã, passeio em Linhares da Beira, uma das doze aldeias históricas de Portugal. De tarde, visita a Trancoso, rodeada de muralhas com um belo castelo medieval.

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Passadas quase duas décadas do século XXI, a preocupação mantém-se.

AMBIENTE – que futuro para este Planeta, que a

maioria insiste em chamar de “azul” mas que diante das inúmeras catástrofes e calamidades ambientais luta desesperadamente para não perder a cor?

O tempo passa e longe de se notar a diferença, os acontecimentos e as tenções parece que se agravam.

Se nos últimos 25 anos se conseguiram consensos, compromissos e mesmo solidariedade entre dezenas de países com o Protocolo de Quioto (1997 e 2013) e o Acordo de Paris (2015), como é possível ter-se a sensação de que nada mudou?

A verdade é que o Protocolo de Quioto de 1997, no seu segundo compromisso a partir de janeiro de 2013, nunca foi assinado pelos Estados Unidos, o Canadá retirou-se antes do final e a Rússia, o Japão e a Nova Zelândia já não participaram na sua fase final. Por outro lado, em 2017 foram de novo os Estados Unidos que, pela voz de Trump, informaram denunciar o acordo de Paris assinado em dezembro de 2015.

É muito estranho, mas por vezes parece que da parte dos decisores se perdeu a noção do quanto é importante o ambiente para a evolução, o desenvolvimento e o bem-estar da Humanidade.

A realidade é que a necessidade de criar acordos de “ontem” transformou-se na urgência de encontrar soluções para “hoje”, sob pena de pôr em risco tudo aquilo que projetámos para “amanhã”.

ColunaDO provedor

Manuel [email protected]

Quatro sessões que culminam na edição de um livro com as in-tervenções registadas ao longo dos quatro debates, estando a sua apresentação a ser prepa-rada para setembro/outubro na Universidade Lusófona, em

Lisboa. Depois de Sendim, em Bragança no dia

15 de dezembro, de Podence, no dia 2 de fevereiro, seguem-se “Os Rituais Religio-sos” a 6 de abril, em Proença-a-Nova e a

quarta sessão, e última sessão, sobre “As Grandes Romarias”, a 10 de maio, em Via-na do Castelo.

A última apenas das primeiras Jornadas segundo Hélder Ferreira, diretor da Pro-gestur, “já temos câmaras municipais inte-ressadas que vão começar em novembro do próximo ano, como é o caso de Valon-go, Vila Nova de Gaia e Oviedo.

Sobre a escolha do tema, as Festas Po-pulares, Hélder Ferreira afirmou que estas jornadas “pretendem que entendamos o

que se está a passar (com as festas popula-res) em termos globais, como isto é impor-tante nos dias de hoje e como fazer com que continue interessante, e deixa a ne-cessidade de consciencialização do tema para que a tradição se renove e que a festa aconteça”.

A relação de proximidade da Fundação Inatel e da Progestur nasce com o FIMI, Festival da Máscara Ibérica em Lisboa, e que este ano promete ser mais estreita. Maria João Costa

Jornadas Culturais entre Inatel e Progestur debatem as festas populares A Fundação Inatel em parceria com a Progestur e a Universidade Lusófona começaram em 2018 o Projeto Jornadas Culturais sob o tema “Porque se fazem as Festas”

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Unidades hoteleiras da Fundação Inatel são cenário escolhidopara gravações da nova série da RTP A Fundação Inatel e a Francisco Manso Produções abraçaram juntos um projeto que reflete a vida de Cônsul de Eça de Queiroz

Durante três meses, de outubro a dezembro de 2018, Castelo de Vide, São Pedro do Sul e Entre-os Rios foram as cidades escolhidas para gravação da nova série da RTP, “O Nosso Cônsul em Hava-na”, tendo sido a Inatel de São

Pedro do Sul, em novembro de 2018 e de Entre-os Rios, durante o mês de dezembro, os locais escolhidos para gravações no inte-rior e exterior dos hotéis. “Quais são as pro-duções que se podem dar a este luxo? (…) eles acordam e começam a filmar”, contou--nos, de sorriso fácil, o realizador Francisco Manso, durante as gravações na unidade de Entre-os-Rios.

O realizador explicou o porquê da esco-lha da Inatel de Entre-os-Rios, por ser um espaço que se adapta facilmente à época e ao que é pretendido na série, e acrescenta que “temos uma equipa grande e não pode-mos deslocarmos-mos para 50 espaços di-ferentes, e a grande vantagem de estarmos todos aqui na Inatel, é o facto de acordar-mos e estarmos ao mesmo tempo no décor.”

Cerca de 60 atores, 33 técnicos, criam o período da primeira missão consular entre 1872 e 1874 de Eça de Queiroz em Cuba. Depois das gravações em Portugal, serão o Brasil e Cuba os locais da ação.

A época e tema escolhidos pelo realiza-dor é, nas palavras do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, um dever de Portugal. “É um de-ver, a partir deste trabalhão cinematográfi-co, passar uma mensagem, quando temos mais de 250 mil migrantes em todo o mun-do, sendo Portugal um país da emigração, temos o dever de trabalhar quotidianamen-te pelo respeito dos direitos humanos”.

Eça de Queiroz enquanto cônsul portu-guês denunciou a exploração de chineses em Havana durante vaga de imigração. Essa denúncia e vivência confirmam-se um relatório do escritor para o Ministro dos Ne-gócios Estrangeiros durante a sua estada.

Este é um projeto que conta com a cola-boração estreita da Câmara Municipal de Penafiel, que desde o primeiro momento se mostrou muito recetiva, como referiu o pre-sidente da Câmara Municipal de Penafiel, António Aurélio Sousa: “Para nós é muito gratificante fazer parte desta série e desta his-tória que vai ser seguramente um sucesso”.

Para a Fundação Inatel era inevitável não estar envolvida, nas palavras do pre-sidente, Francisco Madelino, “a Inatel está a apostar na modernização e está a fazer mais investimentos e a apostas nesta região, onde encontramos sempre muito de Portu-gal”; e acrescenta que “é com naturalidade que aqui estamos, em parceria com Câma-ra Municipal e com a RTP, porque a Inatel é uma fundação pública que existe sobretu-do para promover a cultura portuguesa”.

Entretenimento e informação em horário nobre, RTP, “O Nosso Cônsul em Havana”, a partir da primavera de 2019. Maria João Costa

Em cima, atores da série “O Nosso Cônsul em Havana” – Elmano Sancho, que interpreta Eça de Queirós, e Joaquim Nicolau

Ao lado, Presidente da Fundação Inatel, Francisco Madelino, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, realizador, Francisco Manso, presidente do Instituto Camões, embaixador Luís Faro Ramos, no Inatel de Entre-Os-Rios, um dos locais de gravação

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Estreia no dia 13 de fevereiro Zoom, uma produção própria do Teatro da Trindade Inatel, com encena-ção de Diogo Infante. E, enquan-to Boudoir – 7 diálogos libertinos, uma criação de Martim Pedroso & Nova Companhia, continua em

cena até 10 março, na Sala Estúdio, Ricar-do Boléo encontra-se a preparar o espe-táculo #Emigrantes. A partir de Al Berto, Fernando Pessoa e Slawomir Mrozek e in-terpretado por Carlos Vieira e Vítor Silva Costa, este espetáculo adentra o universo complexo de dois homens expatriados, li-gados pela tensa e desconfortável condi-ção de estrangeiros. Para ver a partir do dia 20 de março.

ZOOMZoom é, essencialmente, uma história de amor. Ela, uma fotojornalista conceituada, e ele, um jornalista de guerra freelancer, atravessam um ponto de viragem na sua relação. Regressados de experiências trau-máticas, é tempo de fazerem um balanço e colocarem as suas vidas em perspetiva. Mas o caminho que se propõem seguir, não é consensual para ambos. O título original – Time Stands Still – re-velou-se um desafio intransponível de tradução. Embora Zoom nos remeta para um imaginário fotográfico, que é o mun-do da nossa protagonista, a ideia, contida no título original, de “parar o tempo” e de o perpetuar, transcende o exercício foto-gráfico e conduz-nos para um plano mais poético, mais onírico.O contexto de Zoom é extremamente atual e fácil de identificar. A peça fala-nos de questões sobre as quais podíamos perfei-tamente discutir num jantar com amigos: como levar, hoje em dia, uma vida de acordo com determinados princípios éti-cos e morais? A maior parte de nós tem vidas relativamente confortáveis, “vidas normais”, mesmo estando rodeados por situações limite, calamitosas, sejam elas atentados terroristas, conflitos armados ou guerras civis, em que centenas de mi-lhares de pessoas lutam pela sua sobrevi-vência. O que podemos ou devemos fazer em relação a isso? A personagem de Man-dy coloca a mesma questão: “E o que é que eu sou suposta fazer com essa informa-ção? Eu, uma pessoa normal. Não é que eu possa fazer alguma coisa, pois não? Para além de me sentir mal e de agrade-cer a Deus por ter nascido na metade do mundo, onde as pessoas tem comida para comer e não andam para aí a matar-se uns aos outros.”

Há muitas questões que ficam no ar e cabe-nos a nós encontrar as respostas. O desafio que este texto nos coloca pode ser desconfortável, porque nos obriga a uma reflexão interior. Mas não é um processo isento de humor, o que, certamente, nos facilita a viagem.

TRINDADEAS PRÓXIMAS ESTREIAS

deitasse abaixo certos muros, como o Che Guevara, o Martin Luther-King, a Nina Simone, a Frida Kahlo, o Georges Batail-le, a Virginia Woolf, a Sylvia Plath, a Han-nah Arendt, o Harvey Milk, o Pasolini, a Judith Butler, a Camille Paglia, a Madon-na, o David Bowie... para não falar da-quele que é o mais avant-gard deles todos e que viveu bem à frente do seu tempo, o autor desta obra, Donatien Alphonse François de Sade, que dois séculos antes de todos estes que acabo de nomear, já escrevia a favor dos que, ainda hoje, são considerados minorias e que já propunha a aceitação de um mundo que é tudo me-nos binário.

Infelizmente, hoje há uma tendência política mundial bastante assustadora que se volta de novo para essas velhas ideias que Sade despreza e isso só quer dizer uma coisa: que o mundo não está bem. Quer dizer que o mundo esqueceu o pas-sado e todas as lutas que se fizeram, todos os muros que se abateram. Quer dizer que este pobre mundo está com uma amnésia profunda ou, então, é pura e simplesmen-te um mundo estúpido, povoado por uns parvos imbecis, como escreve o autor numa das passagens iniciais desta Philosophie a propósito do discurso do Cavaleiro sobre aqueles que exercem bullying contra os ho-mossexuais. Ou um mundo que perdeu o juízo como diz Dolmancé no início do seu discurso satânico dirigido a Eugénia referindo-se aos que ainda crêem na estó-ria de Deus. Ou então, ainda, um mundo de leis absurdas descrito por Saint-Ange quando disserta sobre esse absurdo nó que é o casamento.

A verdade é que vivemos num planeta diversificado e plural. Sempre vivemos. E essa matização sempre assustou os órgãos do poder, porque o poder é controlador, cria regras e não admite o que não com-preende ou o que não lhe convém com-preender. A França monárquica do final de séc. XVIII não era muito diferente do mundo de hoje e este texto revela essa chocante proximidade. Este poderoso manifesto que aqui se convoca, que já foi apenas considerado uma obra pornográ-fica sem conteúdo, imprime, no seu tom exacerbado, um descontentamento pro-fundo sobre a humanidade e um apelo à auscultação da natureza como um exercí-cio necessário de regresso às origens. Um repensar do lugar de todos nós destruin-do todos os muros ou filtros morais que nos cercam, procurando, sem medo, a ver-dade por entre os escombros da hipocrisia social.

Martim Pedroso, encenador do espetáculoA partir de A Filosofia na Alcova de Marquês de Sade, Boudoir é uma criação de Martim Pedroso & Nova Companhia. A interpretação está a cargo de Flávia Gusmão, João Gaspar, João Telmo, Maria João Abreu, Margarida Bakker, Martim Pedroso, Pedro Monteiro e Sofia Soares Ribeiro. Para ver na Sala Estú-dio do Trindade, até 10 de março.

Fotografias: © Pedro Macedo/Framed Photos

Em cima, Zoom, com João Reis, Sandra Faleiro, Sara Matos e Virgílio Castelo

Ao lado, Boudoir – 7 diálogos libertinos.Na foto, Maria João Abreu, Margarida Bakker e João Gaspar

Reconheci neste texto todos os ingredien-tes necessários para uma boa peça de Tea-tro, o que me fez dar o passo de o colocar em cena, apoiado por este elenco de luxo. A natureza humana não deixa de me fas-cinar e comover, sobretudo nas suas con-tradições. E é a essa matéria prima que re-gresso, invariavelmente, para continuar a contar histórias, mesmo que sejam, como diz James a propósito do livro que ele e Sarah publicaram, “para porem na coffee table, para que os convidados possam fo-lhear durante os cocktails e dizer: ai queri-da, olha para estas atrocidades adoráveis. Passa-me aí um salgadinho”.

Diogo Infante, encenador do espetáculoZoom, de Donald Margulies, é uma produção do Teatro da Trindade Inatel. A encenação e tradução são da responsabilidade de Diogo Infante e a interpretação de Sandra Faleiro, João Reis, Sara Matos e Virgílio Castelo. O espetáculo estará em cena na Sala Carmen Dolores de 13 de fevereiro a 31 de março.

BOUDOIR – 7 DIÁLOGOS LIBERTINOS

Contra uns parvos imbecis:Este espetáculo é um grito de liberdade. Uma vontade de dizer em alta voz que ainda vivemos agrilhoados a conceitos e ideias velhas que teimam em perpetuar--se e que têm de ir, urgentemente, para o lixo. Os exemplos mais flagrantes desse bric-à-brac ideológico são o culto do pa-triarcado, a reverência à heteronormati-vidade e a institucionalização da moral católica como sendo comportamentos que prevalecem sobre todos os outros, e todos esses outros serem considerados, ainda, da família do alternativo ou do des-viante. Não, já não é assim. Perdoem-me os mais conservadores e os mais desaten-tos ou despolitizados, mas já não estamos nesse lugar. Já não estamos aí há muito tempo. Entretanto, já conhecemos quem

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VER OUVIR

As melhores intenções Bandas Sonoras e Artistas de Culto

Debaixo do Céu, de Nicholas Oulman | Portugal, 2018Com: participação de Eva Arond, Lolita

Goldstein, Fred Manasse, Pedro Kalb, Ginette Horowitz, Sylvain Bromberger, Henny Porter. •A História da passagem por Lisboa das dezenas

de milhares de refugiados judeus que escaparam à perseguição e aos campos de extermínio nazi revisitada num interessante documentário que reúne testemunhos de sobreviventes e imagens preciosas (e raras) de arquivo, do Portugal da época. Em 2019, assinala-se os 80 anos sobre o início da II Guerra e o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, celebrado a 27 de janeiro.

Uma Vida Sublime, de Luís Diogo | Portugal, 2018 Com: Eric da Silva, Paulo Calatré, Mafalda Banquart. •Dez prémios, em dezasseis festivais é,

convenhamos, uma colheita de palmarés duma assentada assaz invulgar para um filme português realizado por um estreante. A história – segundo nota da produção – trata de “um médico que tem

uma vida perfeita, mas que se incomoda com o facto de nem todos terem uma vida tão sublime quanto a sua. Assim, ele usa dois métodos extremos para que pessoas tristes possam voltar a ser felizes…”.

À Porta da Eternidade, de Julian Schnabel | Suíça /Reino Unido, 2018Com: Willem Dafoe, Rupert Friend, Emmanuelle Seigner. •Evocação dos derradeiros dias da vida (em Arles e Auvers-sur-Oise) do grande pintor holandês pós-impressionista do séc. XIX, Vincent Van Gogh. Eis um

filme de rara beleza e sensibilidade, de grande originalidade narrativa, sobre a arte e magia de um artista profundamente ligado à natureza e eternamente fascinado

pela existência. Sublime interpretação de Willem Dafoe.

Correio de Droga, de Clint Eastwood | EUA, 2018Com: Bradley Cooper, Clint Eastwood, Taissa Farmiga.•Inspirado na história de um velho agricultor falido que o “acaso” transformou em traficante de droga, Eastwood (que fará 89 anos em maio) regressa ao activo com um thriller

de suspense, bem-humorado, interventivo e inteligente, com alusões às duras realidades sociais de uma América profunda onde “vivem veteranos com pensões irrisórias”.

Cafarnaum, de Nadine Labaki | Líbano, 2018. Com: Zain Al Rafeea, Yordanos Shiferaw, Boluwatife Treasure Bankole.•Uma fábula realista, uma tragédia familiar sobre a pobreza, um melodrama à volta do tema do abuso infantil e um acto solidário para com os refugiados. Um filme que é tudo “isto” e, para mais, o apresenta com uma extraordinária e comovente riqueza expressiva talvez valha a pena reservar uma tarde ou uma noite para ver “Cafarnaum”, prémio do júri no Festival de Cannes do ano passado.

As Boas Intenções, de Gilles Legrand | França, 2018. Com Agnès Jaoui, Hervé Masquelier, Léonore Confino.•Uma sátira, subtil, divertida sobre uma

mulher, altruísta e generosa, mui dedicada a causas humanitárias, partidária da ajuda mútua e da solidariedade para mudar o mundo. Com: Agnès Jaoui, a

fascinante actriz do delicioso, “É Sempre a Mesma Cantiga”, de Alain Resnais.

Todos Sabem, de Asghar Farhadi | França / Espanha / Itália, 2018. Com: Penélope Cruz, Ricardo Darín e Javier Bardem. •O talentoso cineasta iraniano hiper-

premiado de “A Separação” (óscar para melhor filme estrangeiro), “O Passado” e “O Vendedor” regressa em força à análise dos comportamentos e

motivações mais íntimas do ser humano, com mais uma incursão no território familiar à volta do drama dum rapto. Impecável é o trabalho de Penélope Cruz.

Mia e o Leão Branco, de Gilles de Maistre | França /África do Sul /Alemanha, 2018Com: Daniah De Villiers, Mélanie Laurent, Langley Kirkwood. Versão

dobrada em português.•Uma simpática fábula de apelo à preservação da vida animal e conservação da natureza, reflectida numa tocante história de amizade entre uma

rapariguinha e um leão. Para todos.

Joaquim Diabinho[O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

Iniciamos a nossa viagem já no mês de abril com a visita dos ro-queiros belgas dEUS. Lisboa foi a cidade escolhida para o arranque da tournée que tem como mote a comemoração dos 20 anos do ál-bum “The Ideal Crash”. Com o

primeiro concerto marcado a 24 de abril no Coliseu dos Recreios e no dia seguinte, no Hard Club no Por-to. Lançado em 1999 foi uma marca identitária no percurso da banda, que conta já, com 28 anos de existência.

A despedida do maestro e compo-sitor Ennio Morricone, que anunciou o fim da sua carreira, passará por Lisboa. A tournée intitulada “60 years of Music World Tour” teve início em 2016 e termina em Itália, o seu país de origem. O concerto será dirigido pelo próprio e estará acompanha-do de uma orquestra e coro. Com uma longa carreira, responsável pela composição e arranjo de mais de 500 filmes e programas de televisão, é conhecido do grande público por diversas bandas sonoras, sendo as mais emblemáticas as escritas para os Western Spaghetti de Sergio Leone. O concerto está marcado para 6 de maio no Altice Arena.

Entramos no verão em grande com o NOS Primavera Sound, que acon-tece de 6 a 8 de junho, no Parque da Cidade do Porto. O cartaz merece a nossa atenção, a começar com o Jor-ge Ben Jor – compositor brasileiro que compôs canções conhecidas do grande público como “País Tropical”, “Mas Que Nada” ou “Fio Maravilha”. Jorge Ben que foi nomeado pela Rol-ling Stone Brasil como o 5.º maior ar-tista da história da música brasileira. Precursor do samba rock, pode dizer--se que foi o primeiro músico funk do brasil incorporando novos elementos sonoros no seu modo singular de to-car guitarra – um concerto para sorrir e dançar!

Para os amantes do R&B e da soul music o concerto da conhecida “Afro Queen”, Erykah Badu. A texana que alcançou o estrelato com o álbum “Baduizm” em 1997 tem como gran-des sucessos “On & On”, “Next Life-time” e “Appletree”. Badu promete uma performance só como ela sabe fazer!

Para finalizar, destaco o concerto dos paulistas O Terno. O trio com-posto por Tim Bernardes, jovem compositor já conhecido dos leitores, Guilherme D’Almeida e Gabriel Basi-le passa por Portugal, na sua primeira tournée internacional, para mostrar o que se anda a fazer por terras de Vera Cruz. A banda de estética rock formada em 2009 é já uma referên-cia da música independente brasilei-ra com influências claras de bandas como Mutantes, Clube da Esquina ou Beatles.

Para os ouvintes da estética ele-trónica, teremos a visita dos alemães Kraftwerk que sobem ao palco no dia 31 de julho, no Festival EDP CoolJa-zz, no Hipódromo Manuel Possolo em Cascais. O influente grupo ale-mão regressa a Portugal com um es-petáculo eletrónico 3D – uma expe-riência sensorial a não perder.

Finalizamos esta coluna com o anúncio da vinda de “Bituca” a Por-tugal. Milton Nascimento tem anun-ciado na sua página artística uma passagem por terras lusas com a tournée “Clube da Esquina”, álbum lançado em 1972 com a colaboração de Lô Borges – um disco ambicioso e de elevada qualidade. Estará a 26 de junho no Coliseu em Lisboa e a 27 do mesmo mês no Coliseu Porto Ageas – um concerto a não perder!

Os primeiros meses do ano já estão marcados na agenda, aguardamos ansiosamente como será o segundo semestre de 2019. Até lá… bons con-certos! Susana Cruz

Erykah Badu

O último filme do cineasta-pintor, Julian Schnabel – “À Porta da Eternidade” – é uma das (muitas) grandes novidades cinéfilas mais aguardadas do ano

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O SIM PELO NÃO

Os contos do zambujal

MárioZambujal

Pelas dez da manhã, como é habi-tual, Leonardo e Serafim encon-tram-se à mesa de um canto do Café Periquito. Acontece há anos, apesar do permanente desacordo dos seus pontos de vista. Hoje, Serafim é o primeiro a falar:

– Não tens frio?– Eu não. E não me parece que a tempe-

ratura tenha descido.– Ai não que não desceu. Ontem eu saí

em mangas de camisa e hoje não.– Não é do tempo. Não terás uma ponta

de gripe?– Não, não. Quanto à saúde não tenho

razões de queixa.– Não vale a pena falar no assunto. Tu

não tens dúvidas e só sabes dizer não. Não há pachorra.

– Não deves estar a falar de mim. Tu é que não te cansas de dizer não. Espírito de contradição não é comigo. Mas não quero saber, suponho que ainda não pediste os cafés.

– Eu não. Tenho eu de fazer tudo, não?– Vá lá, esta empregada diligente não

precisa que lembremos os cafés. Não de-mora. Eu acho que o café aqui do Peri-quito não é tão bom como o da Pastelaria Trampolim.

– Não, não. Este café é melhor. Não tem comparação.

– Não conheces o café da Trampolim. Mas não vamos agora discutir cafés. Há tantas notícias inquietantes, olha, não tens acompanhado o que se passa no Rei-no Unido?

– Não me preocupa.– Porque não tens consciência da im-

portância de os ingleses saírem ou não da União Europeia. Não se pode ignorar a situação.

– Não é nada que se compare ao aque-cimento global. Não tens a mínima noção e não deixas de falar no frio. Essa não, Se-rafim.

– Não és tu quem me dá lições sobre o problema do ambiente. Leonardo, se há alguém que não se preocupa com a sobre-vivência do Planeta, não sou eu.

– Ora aqui estão os cafezinhos. Eu não disse que não era preciso pedir? E não achas que esta moça é mais bonita que a que estava cá antes?

– Não, não acho. A outra não tinha sar-das.

– Eu não vejo que esta tenha sardas, Se-rafim. O que tem é umas pernas bonitas.

– Não viste ou não te lembras das per-nas da brasileira, Leonardo.

– Não era brasileira, Serafim.

– Não era? Não percebeste o sotaque. A mim não me escapa um sotaque.

– A mim o que não me escapa é que te-remos um ano complicado na política in-ternacional. Brasil, Estados Unidos, União Europeia, não se sabe o que vai acontecer em 2019. Não te preocupa, Serafim?

– Não adianta preocupar-me. Não sou como tu, não tenho a mania que sei tudo. Só sei que em Portugal, com duas eleições, não vai haver muito sossego.

– O povo não é sereno? Manifes e gre-ves não mudam o panorama, Serafim.

– Não resistes a puxar a conversa para a política, Leonardo. E se falássemos de futebol?

– Não, por favor. Já se fala demasiado de futebol em programas de televisão. Não se aguenta.

– E de mulheres, Leonardo? Já não te lembras do tempo em que tinhas namo-radas?

– Não quero pensar. A não ser da Sulpí-cia, um prodígio de beleza. Mas não vou agora falar contigo da Sulpícia. Tu não en-tendes nada de beleza feminina.

– Essa Sulpícia não suplantava a Erne-sinda, minha namorada há uns sessenta anos. Sessenta e tal. Não imaginas, meni-no.

– Só posso imaginar que não lhe faltou

paciência, Serafim. Nesse tempo tu já ti-nhas o vício de dizer não a tudo?

– Não me obrigues a falar, Leonardo. Em toda a minha vida não conheci outra pessoa tão pronta a dizer não. Chiça, não se pode conversar contigo.

– Não te conheces, Serafim. Para falar com franqueza, não sei como a tua mulher ainda te vai aguentando. Ora, com ela, tu não te atreves a estar sempre do contra. Não me admirava.

– Felizmente para ela, não sou como tu. Olha, hoje vamos almoçar ao Policar-po. Eu preferia ir ao restaurante Dente de Ouro, mas ela teimou, não, não e não… tenho de ir ao Policarpo.

– Quer dizer, não tiveste a coragem de lhe dizer não.

– Pois não. Não é que me falte persona-lidade, mas não adianta dizer não à minha mulher. Ela é teimosa e pronto. Se há coisa que me custa é dizer não.

– Não parece, Serafim. A tendência para a negativa não é dos menores defeitos humanos e tu, meu amigo, exageras. A minha mulher também é teimosa mas só me diz não quando eu quero sair sozinho à noite.

– Não me digas que ainda queres ir para as farras. Aos oitenta e quatro?

– Não vou. Ela não deixa, Serafim.– Mudando de assunto: não reparaste

nas duas lindas raparigas que se sentaram agora na mesa em frente?

– Não reparei. Não quis reparar. Já não há mulheres como antigamente, não há nenhuma que se compare com a Sulpícia.

– Menos ainda com a Ernesinda.– Então não olhes. Elas que percebam

que não estamos interessados.– Leonardo, tens toda a razão. Vamos

ignorá-las. Vão perceber que não lhes li-gamos nenhum.

– Não somos dois coitadinhos.– Tontinhos não faltam por aí. Já imagi-

naste quantas vezes por dia não se resiste a dizer a palavra não?

– Agora acertaste. O mundo anda muito negativo, não se fala pela positiva, é tudo não, não, não.

– Não há direito. Mas olha, rapaz, não aceitas um desafio?

– Não sou de recusar um desafio.– Amanhã, durante a nossa conversa

matinal, nem tu nem eu dizemos a pala-vra não. És capaz?

– Não tenhas dúvidas. Vês que hoje ti-vemos boa conversa sem nunca dizer o contrário de não.

– Vou andando, não quero chegar tarde ao almoço.

– Não te prendas.

“A mim o que nãome escapaé que teremosum anocomplicado na política internacional. Brasil, Estados Unidos, União Europeia,não se sabeo que vaiacontecerem 2019.Não te preocupa, Serafim?”

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Palavras cruzadas POR josé lattas

Sudoku POR Jorge Barata dos Santos

HORIZONTAIS: 1-Abrupta; Capital do Gana. 2-Interjeição; Cobre (s.q.) (inv.); Fundamento. 3-Espalhafatoso. 4-Parcimoniosa. 5-Monja; Protactínio (s.q.); Bário (s.q.). 6-Montanha vulcânica da costa oriental da Sicília; Bebida alcoólica destilada do melaço da cana-de-açúcar (inv.). 7-Artífices, que fazem obras ao torno. 8-Adjectivo latino, que significa o mesmo; Obsequiai. 9-Ruténio (s.q.); País da Europa Meridional, situado numa das três penínsulas, que o continente projecta no Mediterrâneo. 10-Nome masculino; Tribunal de Instrução Criminal (sigla) (inv.). 11-Estala; Região de Itália.

VERTICAIS: 1-Derramamento. 2-Específico; Austero. 3-Título dos membros de uma ordem de cavalaria inglesa; Nome por que também se designa o cânhamo-de-manila. 4-Somatologia. 5-Cano; Rádon (s.q.) (inv.); Trinitrotolueno (sigla). 6-Guiado. 7-Disparatava; Género de insectos coleópteros (pl.). 8-Aparência (inv.); Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de pequenez. 9-Prisão; Infanta de Portugal, filha do Conde D, Henrique e irmã de D. Afonso Henriques. 10-Transportes Internacionais Rodoviários (inv.); Pão de milho; Índio (s.q.). 11-Desabrida; Lastime.

Problema n.013Prencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado.

Passatempos

1-SÚBITA; ACRA. 2-ENA; UC; RAIZ. 3-MIRABOLANTE. 4-ECONÓMICA; D. 5-NONA; PA; BA. 6-T; ETNA; MUR. 7-E; TORNEIROS. 8-IDEM; HONRAI. 9-RU; ITÁLIA; N. 10-ARMANDO; CIT. 11-SOA; TOSCANA.Soluções:

Soluções:

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TORNEIO MASTER INATELNovos records nacionais Dois records individuais e quatro records coletivos,a Fundação a quebrar barreiras dentro e fora da água

Fundação Inatel: Um Acordode Empresa históricoNo dia 14 de janeiro, depois de duas décadas de negociação, foi assinado o primeiro acordo entre trabalhadores e a Fundação Inatel

No passado dia 15 de dezembro de 2018 realizou-se o primeiro Torneio Masters de Natal Inatel no Com-plexo de Piscinas do Parque de Jo-gos 1.º de Maio, em Lisboa.

Um torneio que se destina a atletas com idades entre os 25 e os 80 anos, com apai-xonados pelo desporto, pela vitalidade e bem-estar que este proporciona, bem como o convívio, a partilha e troca de his-tórias que levam outros a querem chegar mais longe. São desafios constantes, e con-seguir um record, é para muitos, o maior desafio de todos. O desafio da Fundação Inatel é manter viva esta paixão.

“Foi com muito gosto por ter nadado com Inatel, gostei de ter acompanhado o esforço da Fundação”, começou por dizer Vítor Mavioso, de 62 anos, atleta do Sport Algés Dafundo, um dos recordistas indivi-duais, um apaixonado pela natação e sem idade para o fazer.

Quando questionado sobre o record, a resposta foi simples, “estou numa piscina familiar, é normal que me sinta à vontade, e que as provas me corram bem, e ainda mais quando às vezes os pequenos se-

gundos contam”; não se sente intimidado pelos mais novos, diz: “Quando entramos numa prova estamos sempre concentra-dos em nós próprios, o facto de ter alguém ao lado não tem influência.”

Vítor Mavioso teve a melhor perfor-mance masculina, nos 400 estilos com 837 pontos, foi o mais pontuado. A melhor performance feminina foi a da Ana Rita Mendes da GesLoures com 559 pontos nos 400 estilos e nos masculinos Vítor Mavioso do Sport Algés e Dafundo tam-bém.

Na prova estiveram presentes 80 atletas em representação de 13 clubes. O Sport Algés e Dafundo foi o vencedor da classi-ficação geral coletiva foi com 205 pontos, seguida do Sindicato da Função Pública com 181 pontos e da Associação Nadado-res dos Estoris com 134 pontos.

Foram ainda estabelecidos 4 recordes nacionais por Maria Augusta Azinheira SFP com 1:25.47 nos 50 Costas e 2:55.97 nos 100 Costas do Escalão L (80 – 84 anos) e Vítor Mavioso SAD com 1:20.37 nos 100 Costas e 6:10.05 nos 400 Estilos do Escalão H (60 – 64 anos). Maria João Costa

Segundo o presidente da fun-dação, Francisco Madelino, o acordo coletivo assinado entre a administração e as estruturas sindicais da UGT e da CGTP vie-

ram “renovar as carreiras da Inatel”. Este acordo abrange os cerca de mil

trabalhadores que têm funções em vá-rias áreas de atividade, como a hotela-ria, a cultura e o desporto.

“O acordo é positivo porque é preciso manter as especificidades das catego-rias, mas permitindo que os trabalha-dores possam oscilar entre as várias funções”, afirmou Francisco Madelino. Mais acrescentou que este acordo reco-nhece as especificidades da Fundação Inatel como entidade de Economia So-cial.

O ministro do Trabalho, Solidarieda-de e Segurança Social, Vieira da Silva, esteve também presente na cerimónia e congratulou-se com a assinatura do acordo coletivo que irá abranger todos os trabalhadores que tenham relações contratuais com a Inatel.

“Este acordo é importante porque se inscreve num momento em que esta-mos todos a trabalhar para revitalizar a negociação coletiva. É importante que este acordo venha reforçar aquilo que é a entidade própria da Inatel, uma fun-dação que é principalmente orientada para os trabalhadores e pensionistas”, explicou.

O acordo em questão prevê um au-mento salarial de 2%, com efeitos re-troativos a janeiro de 2018, entre outras matérias, como por exemplo os traba-lhadores passam também a ter 24 dias de férias por ano. A partir dos 40 anos de idade passam a ter 25 dias de férias, a partir dos 50 anos, 26 dias e a partir dos 60 anos, 27 dias de férias. Mafalda Carvalho

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