23
Diretrizes de projeto para arquitetura de jardins verticais Luisa Silva Pereira IC Voluntária 2014 ORIENTADOR: Prof. Dr. Antonio Castelnou PROJETO: Arquitetura e Sustentabilidade: Bases Conceituais para o Projeto Ecológico BANPESQ/THALES: 2007021212

Diretrizes de projeto para arquitetura de jardins verticaisgrupothac.weebly.com/uploads/6/8/3/8/6838251/ufpr2014_apres_luisa.pdf · projeto para arquitetura de jardins verticais

Embed Size (px)

Citation preview

Diretrizes de projeto para

arquitetura de jardins verticais

Luisa Silva Pereira

IC – Voluntária 2014

ORIENTADOR: Prof. Dr. Antonio Castelnou

PROJETO: Arquitetura e Sustentabilidade: Bases Conceituais para o Projeto Ecológico

BANPESQ/THALES: 2007021212

OBJETIVOS Caracterizar os elementos mais importantes para a

compreensão, projeto e execução de JARDINS VERTICAIS (vertical

gardens), levando em consideração as vantagens e desvantagens

de sua aplicação.

Estudar diferentes sistemas, imposições técnicas e viabilidade

econômica dessa prática, de modo a traçar DIRETRIZES PARA

PROJETOS ARQUITETÔNICOS com o seu uso que, além de

estético, seja ecológico, visando maior SUSTENTABILIDADE.

Selecionar, descrever e analisar um caso real, a fim de expor, por

meio de um EXEMPLO JÁ EXECUTADO, os benefícios do jardim

vertical não só como elemento decorativo e compositivo, como

também como fator contribuinte para a arquitetura sustentável.

METODOLOGIA Pesquisa teórico-conceitual, de caráter exploratório,

realizada por meio de investigação web e bibliográfica

sobre JARDINS VERTICAIS, abordando informações gerais,

bases históricas, dados técnicos e exemplos executados.

Etapas de desenvolvimento da pesquisa:

- Seleção de fontes;

- Leitura, fichamento e coleta de dados;

- Síntese e redação de texto científico;

- Estudo de caso;

- Análise e discussão de resultados; e

- Conclusões (diretrizes de projeto)

INTRODUÇÃO Diante do quadro de CRESCENTE URBANIZAÇÃO, surgiram

frequentes discussões acerca das questões de sustentabilidade e

dos modelos de desenvolvimento socioeconômico, passando-se a

buscar cada vez mais uma forma de se aliar o incremento à vida

urbana a preocupações ecológicas.

Graves catástrofes ambientais, assim como problemas

relacionados à poluição, desertificação e crise energética,

tornaram-se fatos que levaram a humanidade à reflexão sobre

quais seriam os maiores vilões do DESEQUILÍBRIO AMBIENTAL.

Entre os fatores que contribuem para isto estão: a produção

excessiva de resíduos industriais, a emissão de poluentes por

veículos e os impactos gerados pela CONSTRUÇÃO CIVIL.

Deste modo, a ARQUITETURA também

contribui para com a degradação da natureza,

devendo os profissionais voltarem seus

esforços para a melhoria e eficiência de sua

prática, visando a harmonia e reintegração

com o meio ambiente e, acima de tudo, o

bem-estar e qualidade de vida nas grandes

cidades.

A partir disso, começaram a surgir

propostas de mecanismos, materiais e

técnicas, os quais contribuiriam para reduzir

ao máximo o impacto causado pelas

edificações sobre a natureza, tais como:

diminuir o desperdício, limitar o consumo de

energia e reduzir o lançamento de poluentes,

entre outras medidas capazes de amenizar os

problemas ambientais (SATTLER, 2004).

Nestes termos, o uso da

VEGETAÇÃO pode trazer grande

contribuição para que as

edificações tornem-se menos

danosas ao meio ambiente, por

se tratar de um elemento natural

capaz de auxiliar em benefícios

notáveis ao controle térmico de

um edifício, amenizando a

radiação solar por meio de

SOMBREAMENTO e controlando

a temperatura por meio da

transpiração do vegetal.

REVISÃO Nos EUA, os edifícios são responsáveis por 72% do consumo de

eletricidade, 39% do uso de energia, 38% de todas as emissões de

dióxido de carbono (CO2), 40% de uso de matérias-primas, 30% da

produção de lixo (136 milhões de toneladas ao ano) e 14% do

consumo de água potável global, além de promoverem impactos

sobre às áreas naturais e agrícolas (KRISTA SYKES, 2013).

Esta situação tende a se agravar com o alastramento urbano

desenfreado, já que as cidades crescem mais na horizontal que na

vertical, ocupando mais terras. Para alguns arquitetos, como

NORMAN FOSTER (1935-), os empreendimentos multifuncionais

devem procurar maior densidade, o que representaria uma

verticalização dos espaços construídos – assim como da

vegetação –, possibilitando a maior preservação da natureza e,

consequentemente, menor impacto ambiental.

Apesar dos JARDINS VERTICAIS

serem um assunto que tomou maior

proporção na atualidade, segundo

Aragão (2011), eles já apareciam de

alguma forma em civilizações antigas,

como exemplificam:

Os terraços dos zigurates e os

Jardins Suspensos da Babilônia

(século VI aC)

Os mausoléus dos imperadores

romanos Augusto (63aC-19dC) e

Adriano (76-138)

As turf houses na Era Viking da

Islândia (sécs. VIII a XI)

Machu Picchu, Peru (séc. XV )

Na passagem do século XIX

para o XX apareceram as

primeiras discussões e teorias

ecológicas para o uso de jardins

verticais com PREOCUPAÇÕES

AMBIENTAIS, passando a serem

explorados como um mecanismo

que pode ajudar a amenizar os

problemas ligados a conforto

ambiental e preservação da

natureza (WALLGREEN, 2014).

Casa Scheu

(1913, Viena)

Obra de Adolf Loos (1870-1933) que apresentava cobertura vegetal em

uma de suas fachadas, a fim de dar uma sensação de “ar livre”

Apesar de ter sido usada por muitos anos e ter contribuído

bastante para a difusão da ideia de JARDIM VERTICAL, a técnica

de fazer plantas (trepadeiras) crescerem escalando as fachadas

das edificações não se mostrou eficiente em construções muito

altas, por raramente alcançar mais que dois andares de altura.

Em meados dos anos 1930, o norte-americano Stanley H. White

(1891-1979) iniciou estudos para invenção dos BOTHANICAL

BRICKS (tijolos botânicos), protótipos que funcionavam como

unidades de plantas que podiam ser superpostas a qualquer

altura, de modo a criarem rápidos efeitos paisagísticos e

superfícies verticais cobertas por trepadeiras floridas.

Desde o final da década de 1950, ROBERTO BURLE MARX (1909-

94) desenvolveu projetos paisagísticos no Brasil e no exterior que

incluíam jardins verticais e paredes verdes. Porém, ainda contava

com sistemas não tão eficientes (WALLGREEN, 2014).

Foi o botânico francês Patrick Blanc

(1953-) quem revolucionou a proposta de

jardins verticais, através do conceito de

MUR VÉGÉTALISÉ (parede vegetalizada),

rompendo a ideia de que apenas

trepadeiras eram ideais para esse uso e

tornando possível o plantio não apenas no

solo, mas também sobre a parede.

Basicamente, sua proposta consistia em

um painel contendo substrato de

nutrientes e água, que seria aplicado sobre

as paredes e permitiria o cultivo das

plantas independente do solo. Tal técnica

(sistema hidrópico) evoluiu e difundiu-se,

sendo hoje possível ver diversas obras

com essa forma de aplicação em diversas

partes do mundo (URBANGROW, 2010).

Há jardins verticais de 02 tipos:

fachadas verdes (greenwalls), onde a

vegetação cresce aderente à parede

ou uma estrutura; e paredes vivas

(biowalls), quando ela diretamente

cresce sobre camadas geotêxteis.

Pode-se dividir seus benefícios

em: comuns, que estão presentes

em todos os tipos de jardins; e

específicos, que estão associados a

algum sistema ou técnica utilizada.

Outra forma de categorizá-los é

dividi-los em públicos ou privados, já

que o JARDIM VERTICAL traz bons

resultados tanto para o ambiente

externo como para o interior da

edificação (COSTA, 2011).

Benefícios Privados

a) EFICIÊNCIA ENERGÉTICA MELHORADA, pois aprisiona uma

massa de ar dentro da camada vegetal; limita a circulação de

calor por meio de densas massas de vegetação; reduz a

temperatura ambiente através do sombreamento e do processo

de evapotranspiração das plantas; e pode criar um amortecedor

contra o vento durante os meses de inverno, além de reduzir a

energia associada ao aquecimento e resfriamento do ambiente;

b) PROTEÇÃO DA ESTRUTURA DO EDIFÍCIO, já que protege os

acabamentos externos da radiação ultravioleta (UV) e dos

elementos e flutuações de temperatura que desgastam os

materiais, garantindo melhor proteção contra as intempéries;

c) MELHORIA NA QUALIDADE DO AR INTERIOR, porque captura

poluentes do ar (poeira e pólen), além de filtrar gases nocivos e

partículas de tapetes, móveis e outros elementos construtivos;

d) MELHORIA ACÚSTICA, uma vez que promove o isolamento

contra ruídos e diminui as reflexões sonoras.

Benefícios Públicos

a) REDUÇÃO DO EFEITO ILHA DE CALOR, pois promove

processos de arrefecimento natural, reduzindo as temperaturas

das áreas urbanas;

b) AUMENTO DA BIODIVERSIDADE, porque recria sistemas

semelhantes a ambientes naturais, resgatando paisagens e

meios importantes para a fauna e a flora;

c) MELHORIA DA QUALIDADE DO AR EXTERIOR, já que captura

partículas poluentes, filtra gases nocivos, absorve gás carbônico

(CO2) e libera gás oxigênio (O2), estimando-se que uma fachada

verde de 80 m² pode absorver até 60 kg/ano de CO2;

d) ESTÉTICA DO EDIFÍCIO, pois contribui para uma paisagem

urbana com características mais naturais, criando oportunidade

de maior contato com a natureza no cotidiano e favorecendo o

bem-estar das pessoas à sua volta.

Quanto às DESVANTAGENS, a

maior crítica aos jardins verticais

recai sobre seu custo-benefício,

pois se trata de uma técnica com

valor bem mais elevado que uma

fachada convencional, tanto na sua

aplicação quanto manutenção, já

que depende de profissionais

especializados, além de eventuais

trocas de plantas e reparos no

sistema (GARRIDO, 2011).

Porém, Aragão (2011) defende

que essa prática de estruturas

verdes ainda é pouco explorada, o

que as tornaria ainda caras, quadro

que tende a se alterar rapidamente.

ESTUDO DE CASO MUSÉE DU QUAI BRANLY

Localização: Paris, França (2006)

Área total: 40.600m²

Autoria: Jean Nouvel (arquitetura)

Gilles Clément (jardim)

Patrick Blanc (parede viva)

O objetivo de Jean Nouvel era a

criação de um marco icônico para a

capital francesa, demonstrando

conceitos de SUSTENTABILIDADE

aplicados à arquitetura museológica.

Reforçando esta ideia, uma extensa

área do terreno foi destinada ao verde,

já que cerca de 2/3 da implantação é

ocupada por um amplo jardim público.

Para ressaltar e complementar a

abundância de vegetação no projeto,

o JARDIM VERTICAL foi elaborado

em local de destaque, ocupando

toda a fachada norte da edificação, a

qual se refere à parte administrativa

do museu e está inteiramente

voltada ao rio Sena, tornando-se

referência do grandioso edifício.

O complexo abriga diversas

funções e atividades culturais, sendo

composto por 04 edifícios, todos

interligados e englobados pelo

grande jardim público. O acervo

conta com cerca de 300.000 obras,

estando apenas 3.500 em exposição

permanente (ENGEL, 2011).

Os jardins concebidos pelo paisagista francês Gilles Clément

ocupam cerca de 18.000 m2, sendo compostos por colinas

ajardinadas, pequenas trilhas, caminhos pavimentados em pedra e

lagoas propícias à meditação e lazer à sombra de

aproximadamente 200 árvores.

A parede viva possui 12 m de

altura por 60 m de comprimento,

formando uma curva com cerca

de 15.000 plantas de 150

espécies diferentes, as quais

produzem um conjunto

policromático de 15 texturas

variadas (ENGEL, 2011).

Criado por Patrick Blanc, o

JARDIM VERTICAL foi executado

em técnica hidropônica (biowall),

com eficiente sistema de rega, o

qual varia em intensidade de

acordo com a temperatura e

estação do ano.

RESULTADOS Quanto aos BENEFÍCIOS PRIVADOS:

-Controle térmico e economia energética (redução nos gastos com

aquecimento do ambiente no inverno e resfriamento no verão)

-Proteção da fachada (isolamento das intempéries e da poluição)

Quanto aos BENEFÍCIOS PÚBLICOS:

-Contribuição para a biodiversidade (criação de um habitat natural

para insetos e pequenos pássaros)

-Melhoria da qualidade do ar e diminuição do efeito-estufa

(absorção de dióxido de carbono e liberação de oxigênio, além de ter

promovido maior umidade e resfriamento do ar).

BENEFÍCIOS tanto PÚBLICOS quanto PRIVADOS:

-Integração entre arquitetura e paisagem (interação c/o conjunto)

-Ambientação natural e marco icônico (identidade própria do museu)

CONCLUSÕES A pesquisa permitiu uma melhor compreensão sobre a

arquitetura de JARDINS VERTICAIS; sua caracterização e

potencialidades, apesar da dificuldade em se encontrar encontrar

bibliografia nacional sobre o assunto. Deste modo, possibilitou

produzir um material que fornecesse uma base geral sobre os

principais elementos a serem avaliados e pensados para a

implantação de elementos vegetais às fachadas.

O estudo resultou em uma categorização e definição de

diferentes sistemas de greenwalls e biowalls, os quais

possibilitariam novas pesquisas sobre o tema, além de avaliações

quantitativas sobre sua eficácia em relação à maior

SUSTENTABILIDADE da arquitetura. De qualquer forma, entre as

principais diretrizes que a pesquisa constatou estão as seguintes:

Diretrizes Projetuais a) Definir o tipo de jardim vertical a ser usado – fachada verde ou

parede viva –, o que requer uma análise tanto das intenções

estéticas como das condições climáticas, em especial no que

se refere à umidade e frequência de chuvas e períodos secos.

b) Especificar a espécie vegetal, conforme o tipo e o sistema de

aplicação e manutenção mais viável obra, o que varia de acordo

com o tempo de que se dispõe para a fachada ser coberta pela

vegetação; a qualidade do material de suporte (no caso de auto-

apego de trepadeiras); o uso ou não de caixas de susbtrato; e a

necessidade de resfriamento da parede, exigindo o afastamento

da mesma e a instalação de um sistema orientador das plantas;

c) Detalhar a técnica de execução, especialmente no caso de

paredes vivas, optando-se por sistemas construídos no local ou

não (sistema hidrópico, substrato leve, muro-cortina, etc.).

Assim, é preciso definir camadas de fixação, estruturas de

condução das plantas e/ou dispositivos de suporte, isolamento

e rega periódica.

REFERÊNCIAS ARAGÃO, A. C. G. de. Coberturas verdes: Um passo para a

sustentabilidade. São Paulo: Dissertação (Mestrado), FAUUSP, 2011.

COSTA, C. S. Jardins verticais: Uma oportunidade para as nossas

cidades? (2011). Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/

arquitextos/12.133/3941>. Acesso: 03.jan.2014.

ENGEL, P. Quai Branly Museum (2011). Disponível em:

<http://www.constructalia.com/english/case_studies/france/quai_branly_mu

seum>. Acesso em: 10.fev.2014.

GARRIDO, L. de. Green in Green: Sustantable architecture. Barcelona:

Monsa, 2011.

KRISTA SYKES, A. (org.) O campo ampliado da arquitetura: Antologia

teórica (1993-2009). São Paulo: Cosac Naify, 2013.

SATTLER, M. A. Edificações sustentáveis: Interface com a natureza do

lugar. Porto Alegre: UFRGS, 2004.

URBANGROW. Fachadas verdes (2010). Disponível em:

<http://www.urbangrow.com/>. Acesso em: 10.fev.2014.

WALLGREEN. Jardins verticais: Histórico. Disponível em:

<http://www.wallgreen.com.br/jardins-verticais/>. Acesso em:04.jan.2014.