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CLÍNICA ANIMAL 2 20 PRÁTICA CLÍNICA Dirofilariose Canina e Felina, uma Parasitose em Evolução (I) – Etiologia, Biologia e Epidemiologia A Dirofilariose é uma doença cada vez mais preocupante devido à sua elevada prevalência, ritmo alarmante de crescimento, gravidade da patologia e potencial zoonótico. Introdução A Dirofilariose é uma parasitose causada por espécies do género Dirofilaria, transmitida por vetores (mosquitos culi‑ cídeos) e capaz de infetar mais de 30 hospedeiros distintos. As espécies de Dirofilaria mais relevantes a nível mundial são Dirofilaria immitis e D. (Nochtiella) repens, devido à sua elevada prevalência, gravidade da patologia e potencial zoonótico. D. immitis é responsável pela dirofilariose car‑ diopulmonar nos canídeos, felídeos e humanos; D. repens é responsável pela dirofilariose subcutânea nos canídeos e felídeos e pela forma subcutânea e ocular nos humanos. Ana Margarida Alho 1 , José Meireles 1 , Silvana Belo 2 , Luís Madeira de Carvalho 1 1 Centro de Investigação Interdisciplinar em Sanidade Animal (CIISA), Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa 2 Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Unidade de Parasitologia Médica, Universidade Nova de Lisboa Contato do autor de correspondência: [email protected] Impacto dos fatores humanos e climáticos na sua dinâmica de transmissão Na última década tem vindo a observar‑se uma incidên‑ cia crescente de dirofilariose animal e humana (DirHum), evidência clara de que esta zoonose se está a tornar um sério problema de Saúde Pública. 1 Casos de dirofilariose passaram a ser reportados em zonas tradicionalmente con‑ sideradas livres da doença e casos de origem autóctone foram relatados no centro e norte da Europa, regiões onde até então, apenas tinham sido descritos casos importados. 2 A prevalência de dirofilariose canina (DirCan) e felina (Dir‑ Fel) está a aumentar em todo o globo. Na Europa observa‑ ‑se uma alteração no padrão de distribuição da doença, com um crescimento das zonas hiperendémicas (bacia Mediterrânica) para o Norte e Leste Europeu. 1,2 O aumento do número de casos tem uma etiologia multifatorial, po‑ dendo‑se destacar os seguintes fatores: Alterações climáticas: tendo em conta que temperatu‑ ras mais elevadas permitem uma maturação mais rápida das larvas nos mosquitos, o aquecimento global veio proporcionar melhores condições para o desenvolvimen‑ to dos vetores. Deste modo, tem ocorrido um aumento Figura 1. Distribuição Geográfica da Dirofilariose canina. Azul – D. immitis; Laranja – D. immitis e D. repens; Verde – D. repens. Fonte: Simón F, Siles-Lucas M, Morchón R, González-Miguel J, Mellado I, Carretón E, Montoya-Alonso JA. (2012). Human and animal Dirofilariasis: the emergence of a zoonotic mosaic. In Clinical Microbiology Reviews (CMR), 25(3): 507-544.

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    20 PRTICA CLNICA

    Dirofilariose Canina e Felina, uma Parasitose em Evoluo (I) Etiologia, Biologia e EpidemiologiaA Dirofilariose uma doena cada vez mais preocupante devido sua elevada prevalncia, ritmo alarmante de crescimento, gravidade da patologia e potencial zoontico.

    Introduo

    A Dirofilariose uma parasitose causada por espcies do gnero Dirofilaria, transmitida por vetores (mosquitos culicdeos) e capaz de infetar mais de 30 hospedeiros distintos. As espcies de Dirofilaria mais relevantes a nvel mundial so Dirofilaria immitis e D. (Nochtiella) repens, devido sua elevada prevalncia, gravidade da patologia e potencial zoontico. D. immitis responsvel pela dirofilariose cardiopulmonar nos candeos, feldeos e humanos; j D. repens responsvel pela dirofilariose subcutnea nos candeos e feldeos e pela forma subcutnea e ocular nos humanos.

    Ana Margarida Alho1, Jos Meireles1, Silvana Belo2, Lus Madeira de Carvalho11Centro de Investigao Interdisciplinar em Sanidade Animal (CIISA), Faculdade de Medicina Veterinria, Universidade de Lisboa2Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Unidade de Parasitologia Mdica, Universidade Nova de LisboaContato do autor de correspondncia: [email protected]

    Impacto dos fatores humanos e climticos na sua dinmica de transmisso

    Na ltima dcada tem vindo a observar se uma incidncia crescente de dirofilariose animal e humana (DirHum), evidncia clara de que esta zoonose se est a tornar um srio problema de Sade Pblica.1 Casos de dirofilariose passaram a ser reportados em zonas tradicionalmente consideradas livres da doena e casos de origem autctone foram relatados no centro e norte da Europa, regies onde at ento, apenas tinham sido descritos casos importados.2 A prevalncia de dirofilariose canina (DirCan) e felina (DirFel) est a aumentar em todo o globo. Na Europa observase uma alterao no padro de distribuio da doena, com um crescimento das zonas hiperendmicas (bacia Mediterrnica) para o Norte e Leste Europeu.1,2 O aumento do nmero de casos tem uma etiologia multifatorial, podendose destacar os seguintes fatores: Alteraes climticas: tendo em conta que temperatu

    ras mais elevadas permitem uma maturao mais rpida das larvas nos mosquitos, o aquecimento global veio proporcionar melhores condies para o desenvolvimento dos vetores. Deste modo, tem ocorrido um aumento

    Figura 1. Distribuio Geogrfica da Dirofilariose canina. Azul D. immitis; Laranja D. immitis e D. repens; Verde D. repens. Fonte: Simn

    F, Siles-Lucas M, Morchn R, Gonzlez-Miguel J, Mellado I, Carretn E, Montoya-Alonso JA. (2012). Human and animal Dirofilariasis: the

    emergence of a zoonotic mosaic. In Clinical Microbiology Reviews (CMR), 25(3): 507-544.

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    do nmero e da distribuio geogrfica dos vetores capazes de transmitir a doena, potenciando um crescimento acentuado desta parasitose a nvel global.3 Outras alteraes climticas como a ocorrncia de chuvas torrenciais tem promovido a acumulao de guas estagnadas, ideais para a multiplicao de vetores.

    Alteraes ecolgicas artificiais: a criao de barragens e de novas zonas de produo agrcola, com alterao da drenagem de terrenos no urbanizados, tem levado formao de novas zonas de gua, originando locais adequados para reproduo em massa de populaes de mosquitos autctones ou recm introduzidas. Acresce ainda, a expanso da zona de urbanizao para reas naturais previamente intocadas, aumentando o risco de exposio doena. Alm disso, a expanso urbana tem levado formao de ilhas de calor, i.e., reteno de calor durante o dia pelos aglomerados de edifcios e posterior irradiao do mesmo, durante a noite, potenciando micro ambientes para o desenvolvimento larvar de vetores nos meses mais frios, aumentando a estao de transmisso.

    Globalizao: como consequncia da vasta rede internacional de transportes, as viagens de humanos e animais tornaram se mais frequentes e acessveis, aumentando o risco de infeo e contribuindo para a introduo de doenas em regies previamente no infetadas.

    Emergncia de novas espcies de mosquitos vetores competentes, tais como: Aedes albopictus, nativo do

    sudeste Asitico e Pacfico ocidental, que se disseminou pela Europa, frica e Amrica nas ltimas dcadas, uma espcie altamente adaptvel e atualmente presente em Espanha, Frana, Itlia, Grcia, entre outros; A. aegypti, vetor do dengue e febre amarela, identificado em Portugal, na Ilha da Madeira.

    Aparecimento de resistncia aos inseticidas Hospedeiros silvestres sentinela: em alguns pases da

    Europa como a Hungria, a vacinao oral das raposas contra a raiva, tem contribudo bastante para aumentar o tempo de vida destes animais reservatrio.Para alm dos fatores acima descritos, refira se ainda a

    atual conjuntura econmica de crise, com consequncias negativas na profilaxia adequada dos animais.

    Epidemiologia da dirofilariose

    A Dirofilariose encontra se distribuda por todo o mundo em particular nas zonas quentes/temperadas do globo com humidade suficiente para permitir o desenvolvimento larvar nos vetores. D. immitis afeta populaes das zonas tropicais e temperadas do globo, enquanto D. repens exclusiva do Velho Mundo, i.e., Europa, frica e sia, no existindo nas Amricas e Ocenia. Na Europa, a dirofilariose inexistente nos pases nrdicos. Coexistem, no entanto, as duas espcies na Europa central, prevalecendo D. repens na zona leste e D. immitis no sudoeste europeu (Figura 1):

    Figura 2. Mapa de distribuio de D. immitis na populao canina e felina em Portugal (original). AS animais aparentemente saudveis;

    SD suspeitos de doenas transmitidas por vetores. Fonte: Dra. Ana Margarida Alho.

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    De acordo com a literatura, a prevalncia e distribuio de D. repens esto a aumentar mais rapidamente que as de D. immitis, devendo se tal fenmeno evoluo assintomtica da sua infeo, passando facilmente despercebida, a que acresce a inexistncia de kits rpidos de diagnstico comparativamente ampla diversidade de kits para D. immitis.1 At ao momento no foi encontrada infeo por D. repens em Portugal. Relativamente DirFel, no existem muitos dados a nvel mundial, tendendo contudo a ser detetada nas mesmas reas que DirCan, mas com prevalncias de 5 20% das encontradas em candeos.1

    Distribuio nacional da dirofilariose canina e felina

    A infeo por D. immitis endmica/hiperendmica em Portugal, sendo uma das doenas parasitrias do co com maior relevncia no pas (Figura 2). As bacias fluviais do Tejo, Douro, Sado, Mondego e a ilha da Madeira so focos importantes da doena. Cardoso et al., (2012) observaram em Portugal, uma prevalncia global para D. immitis de 3,6% em candeos aparentemente saudveis e 8,9% em candeos suspeitos de doenas caninas de transmisso vetorial (CVBD). Observaram prevalncias de 2,9% e 3,4% na zona Norte; 0,9% e 7,4% no Centro; 2,4% e 5,8% Lisboa; 4,7% e 14% Alentejo; 5,1% e 17,1% Algarve; 0% nos Aores; e 40% e no determinado na Madeira, nos ces aparentemente saudveis (AS) e clinicamente suspeitos (CS) de CVBD, respetivamente.4

    Relativamente aos felinos, foi observada uma prevalncia de D. immitis de 1,4% no Baixo Vouga5; 1,4% na rea metropolitana de Lisboa6; 1,2% na regio do Sado7 e 6% no concelho de Olho8, pela utilizao de kits de antignio. Nos exames de pesquisa de anticorpo observou se uma

    seroprevalncia de 15,5% no Norte e Centro Norte de Portugal9 (Figura 2).

    Distribuio nacional de D. immitis nos animais silvestres

    Os animais silvestres funcionam como reservatrios da Dirofilariose, desempenhando um papel relevante na perpetuao e transmisso deste parasita aos animais de companhia, consequncia das suas interaes peridomsticas. Na Pennsula Ibrica, os carnvoros silvestres, raposa e lobo, so os principais hospedeiros sentinelas da Dirofilariose. Da anlise de 62 raposas vermelhas de 2000 2006 em Dunas de Mira, Coimbra, foi observada uma prevalncia de 3,2% para D. immitis.18 J foi tambm detetada D. immitis em lontras europeias em Coimbra e no Alentejo.19,20

    Taxonomia, biologia e dinmica de transmisso

    A primeira referncia dirofilariose canina data de h cerca de 400 anos, em 1626, com as observaes de Birago em ces de caa no norte da Itlia. Todavia, apenas em 1856, se descreveu concisamente este parasita a nvel morfolgico, sendo nomeado por Leidy como immitis. A primeira referncia a D. repens foi efetuada por Raillet e Henry, em 1911.

    As dirofilrias so nemtodes pertencentes superfamlia Filarioidea, famlia Onchocercidae, gnero Dirofilaria, dividido em dois subgneros, Dirofilaria (D. immitis) e Nochtiella (D. repens, D. tenuis e D. ursi). As espcies D. immitis e D. repens apresentam baixa especificidade de hospedeiros vertebrados, podendo infetar diversas espcies de mamferos para alm dos carnvoros domsticos: raposas

    Figura 3. Ciclo de vida de D. immitis e D. repens em candeos e feldeos (original). Fonte: Dra. Ana Margarida Alho.

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    (Vulves vulpes), lobos (Canis lupus), coiotes (Canis latrans), fures (Mustela putorius), cavalos (Equus caballus), leesmarinhos (Zalophus californianus) e castores (Castor canadensis), sendo a microfilarmia rara nestes hospedeiros. Os hospedeiros definitivos (HD) de D. immitis so os candeos domsticos e acidentalmente os felinos e humanos. A descoberta de felinos portadores de microfilarmia de D. repens sugere que sejam eles os HD reservatrios desta espcie de Dirofilaria.1

    Ciclo biolgico

    O ciclo de vida de D. immitis e D. repens heteroxeno e indireto, dividido em cinco estdios larvares, trs dos quais ocorrem num hospedeiro intermedirio (HI) obrigatrio (artrpode picador da famlia Culicidae) e os dois restantes num HD vertebrado (Figura 3). As fmeas de mosquito so infetadas com microfilrias ao realizarem hematofagia num candeo infetado. Nas 24 horas seguintes, as microfilrias ingeridas alcanam os tbulos de Malpighi onde sofrem uma muda para a forma larvar L2 em 8 10 dias ps infeo (dpi) e de L2 para L3 nos 3 dias seguintes. Posteriormente, as larvas infetantes (L3) migram para o aparelho bucal do vetor, onde permanecem at a prxima refeio de sangue. De seguida, so depositadas numa gota de hemolinfa na pele do hospedeiro e utilizam a soluo de continuidade originada pela picada, para penetrar nos tecidos conjuntivos e planos musculares. No mximo so transmitidas 10 a 12 L3 pelo mosquito ao HD. A muda de L3 para L4 ocorre entre 3 a 12 dpi e a muda posterior, que produz as L5, ocorre entre 50 a 70 dpi. As L5 atingem o corao atravs da circulao venosa, passando s artrias pulmonares onde se fixam definitivamente entre 70 a 85 dpi. Quando a infeo muito intensa, os adultos podem tambm localizar se no ventrculo e trio direitos, veia cava e veia heptica. Aos 120 dpi, atingem a maturidade e no caso da presena de adultos de ambos os sexos, iniciada a cpula, aparecendo as

    microfilrias 6 e 9 meses ps infeo (mpi). Nos candeos, a fmea adulta de D. immitis mede 250 300 mm de comprimento e 1 1,3 mm de dimetro. O macho adulto, de menores dimenses, mede 120 200 mm de comprimento, 0,7 0,9 mm de dimetro e, apresenta a extremidade posterior em forma de espiral. As microfilrias medem 290 330 m de comprimento, 5 7 m de dimetro e apresentam a extremidade ceflica afunilada e a cauda reta e pontiaguda. Os adultos podem viver mais de 7 anos e as microfilrias at 2 anos. Alguns candeos so amicrofilarmicos, possivelmente devido a fatores como infeo por um nico sexo, imaturidade das fmeas ou resposta imune do hospedeiro.1,2

    Nos feldeos, os parasitas adultos so de menores dimenses, tendo a fmea 220 mm e o macho 150 mm de comprimento. A maturao do adulto D. immitis estende se at 8 mpi, apresentando um tempo de vida mais curto (no mximo 2 anos) e geralmente no produzem microfilrias. Quando ocorre microfilarmia nos felinos, geralmente transitria e de baixa intensidade (Figura 3).1

    O ciclo de vida de D. repens idntico ao de D. immitis, excetuando a localizao dos vermes adultos que ocorre nos tecidos subcutneos dos HD e menos frequentemente, na cavidade abdominal ou fscias musculares. A fmea adulta de D. repens mede 100 170 mm de comprimento e 4,6 6,3 mm de dimetro e o macho 50 70 mm de comprimento e 3,7 4,5 mm de dimetro. Contrariamente s microfilrias de D. immitis, as de D. repens apresentam uma extremidade ceflica arredondada, uma cauda encurvada e medem 350385 m de comprimento e 7 8 m de dimetro.

    Outros filardeos importantes nos animais de companhia so Acanthocheilonema reconditum (Grassi, 1890), com localizao no tecido adiposo subcutneo/perirenal, fscias musculares e cavidade peritoneal; A. dracunculoides (Cobbold, 1870) na cavidade peritoneal; e Cercopithifilaria grassii (No, 1907), no tecido subcutneo e fscias musculares. Estes filardeos so transmitidos por pulgas e/ou ixoddeos e, apesar das dimenses dos adultos serem muito inferiores s de Dirofilaria spp., a dimenso das microfilrias muito semelhante.

    Wolbachia pipientis o endosimbionte e promissor alvo teraputico

    Diversos artrpodes e filardeos contm no seu interior uma bactria intracelular obrigatria, Gram negativa, pertencente ao gnero Wolbachia, ordem Rickettsiales, localizada nos rgos reprodutores femininos e cordes laterais. responsvel pela sntese de molculas necessrias ao nemtode, como a glutationa e o grupo heme, essencial biossntese de hormonas esteroides durante a embriognese, recebendo em troca, aminocidos. D. immitis e D. repens albergam esta bactria em todos os seus estdios larvares e adultos. Do estudo da Wolbachia sp. tem resultado uma profunda mudana na compreenso da biologia e patogenia dos filardeos, potenciando o desenvolvimento de opes teraputicas promissoras. Uma delas a antibioterapia direcionada para Wolbachia sp., cujo objetivo bloquear a produo de microfilrias e reduzir os efeitos secundrios da teraputica da dirofilariose.1

    Figura 4. Exemplar de uma fmea de Culex theileri, a nica espcie

    de vetor identificada at ao momento como naturalmente infetada

    por Dirofilaria spp. em Portugal (gentilmente cedida pelo Prof. Dou-

    tor Paulo Almeida).

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    25PRTICA CLNICA

    Cenrio atual e futuro dos vetores de Dirofilaria spp. em Portugal

    Aproximadamente 70 espcies distintas de mosquitos culicdeos dos gneros Aedes, Anopheles, Culex, Coquillettidia e Culiseta so consideradas potenciais vetores de DirCan, DirFel e DirHum.1 Vrias destas espcies, nomeadamente Culex theileri, C. pipiens e Anopheles maculipennis s.l. encontram se amplamente distribudas em Portugal continental21 sobretudo em zonas estuarinas com elevada prevalncia de DirCan e silvtica. Contudo, em Portugal continental apenas a espcie C. theileri foi identificada como naturalmente infetada por Dirofilaria spp. (Figura 4). Atendendo ao baixo ndice de infeo observado (4,76%), suspeita se que outras espcies de mosquitos possam estar envolvidas na transmisso desta parasitose.21 Na Madeira, das 3 espcies de mosquitos capturados para estudo de vetores (C. pipiens L., C. theileri e C. longiareolata), apenas uma, C. theileri, foi positiva para D. immitis.22

    Nas ltimas dcadas Aedes albopictus, vetor de dirofilariose, dengue e febre amarela, disseminou se pela Europa, estando presente em diversos pases vizinhos de Portugal (Espanha, Frana, Itlia, Grcia). A presena desta espcie preocupante no s pela sua marcada antropofilia como, por ser um picador diurno, contrariamente maioria dos vetores autctones, que so noturnos. Esta particularidade predispe para um potencial aumento exponencial dos casos de DirHum e animal e para o crescimento alarmante da doena. Outra espcie preocupante A. aegypti, vetor do dengue, febre amarela e da dirofilariose na Amrica, j reportado em Portugal, na ilha da Madeira, em 2006.23

    Os culicdeos medem entre 2 10 mm de comprimento e tm apenas duas asas. Apenas as fmeas so hematfagas, possuindo uma probscide adaptada perfurao/suco, produzindo substncias anticoagulantes para facilitar a refeio. Utilizam estmulos qumicos (dixido de carbono e feromonas) e trmicos para detetar o seu hospedeiro e, aps a alimentao, fazem a ovopostura na superfcie da gua. A maturao larvar depende da temperatura exterior, tendo sido demonstrado que o tempo necessrio para o desenvolvimento de D. immitis e D. repens nos mosquitos (Aedes spp., Culex spp. e Anopheles spp.), desde microfilria at L3, de 8 10 dias a 2830C, 11 12 dias a 24C, 1620dias a 22C, tendo se estabelecido 14C como o limiar para o desenvolvimento larvar.24 Devido ao aquecimento global, o perodo anual da atividade dos culicdeos est a aumentar e o tempo necessrio para a maturao larvar a encurtar. Alm disso, a taxa de sobrevivncia do parasita e do vetor est a crescer, assim como a rea geogrfica de transmisso.1 Deste modo, pode se observar que as condies climticas esto cada vez mais adequadas propagao desta doena para novas reas e para um aumento de prevalncia nas zonas pr existentes. o

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