38
Licenciatura em Engenharia do Ambiente Disciplina de Mecânica dos Fluidos Propriedades dos Fluidos e do Campo de Velocidades Ramiro eves 2003

Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

Licenciatura em Engenharia do Ambiente

Disciplina de Mecânica dos Fluidos

Propriedades dos Fluidos e do Campo de Velocidades

Ramiro �eves

2003

Page 2: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

Índice

1 Introdução ...................................................................................................... 1

2 Sólidos e fluidos ............................................................................................. 1

3 Massa Volúmica: ........................................................................................... 3

4 Peso volúmico ............................................................................................... 3

5 O fluido como meio contínuo ......................................................................... 4

5.1 Velocidade .............................................................................................. 4

5.2 Fluxo advectivo ....................................................................................... 7

5.3 Divergência da velocidade ...................................................................... 8

5.4 Propriedades do campo de velocidades ............................................... 10

5.4.1 Escoamento estacionário .............................................................. 10

5.4.2 Dimensionalidade do escoamento ................................................ 11

5.4.3 Linhas de corrente, trajectórias e linhas de emissão ..................... 12

5.4.4 Forma das linhas de corrente e forças de pressão........................ 13

5.5 Difusividade .......................................................................................... 15

5.6 Viscosidade e Tensão de corte ............................................................ 18

5.7 Operadores com tensores .................................................................... 21

5.7.1 Gradiente ....................................................................................... 21

5.7.2 Divergência ................................................................................... 23

5.7.3 Laplaciano ..................................................................................... 24

5.7.4 Rotacional ..................................................................................... 25

5.7.5 Rotacional e efeitos viscosos ........................................................ 30

6 Equação da continuidade ............................................................................ 33

7 Equação de transporte de quantidade de movimento ................................. 33

Page 3: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

3

8 Equação de Bernoulli ................................................................................... 34

9 Nota Final .................................................................................................... 35

Page 4: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

1

1 Introdução

Este texto é constituído por um conjunto de notas sobre as propriedades mais

importantes dos fluidos e do campo de velocidades. Os conceitos de massa

volúmica, peso volúmico e concentração não são novos para os alunos de

Mecânica dos Fluidos, sendo o objectivo de os apresentar aqui chamar a

atenção para que são grandezas definidas num ponto e que por isso, sempre

que se usam para caracterizar propriedades em sistemas de dimensões finitas é

necessário associar-lhes um volume de fluido.

A velocidade e a difusividade/viscosidade são apresentadas como propriedades

que se complementam e resultantes do conceito de fluido como meio contínuo.

Quando se faz esta aproximação perde-se informação sobre os processos

associados ao movimento individual de cada molécula, cujo efeito é quantificado

pela difusividade. Mais adiante veremos que também no caso dos escoamentos

turbulentos não é possível quantificar explicitamente os processos de

associados às altas-frequências da variação da velocidade, sendo eles também

quantificados por uma difusividade (turbulenta neste caso).

2 Sólidos e fluidos

A matéria pode encontrar-se na forma sólida ou fluida e os fluidos podem ainda

dividir-se em líquidos e em gases.

Nos gases as moléculas são completamente livres e movem-se por todo o

espaço ocupado pelo gás com uma energia cinética que depende da

temperatura. Por as moléculas se poderem mover livremente, e terem energia

cinética, uma molécula move-se até chocar com outra ou com um obstáculo

(e.g. uma parede, chocando efectivamente com as moléculas da parede!).

Destes choques resultam forças que alteram a velocidade de cada molécula.

Este movimento é normalmente designado por movimento Browniano em

homenagem ao cientista que demonstrou a sua existência.

Page 5: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

2

Devido ao movimento browniano, os gases ocupam todo o espaço dos

recipientes em que são colocados. Se o volume do recipiente aumentar a

pressão baixa, por a frequência dos choques com as moléculas baixar. A

pressão que um gás exerce sobre as paredes do reservatório (que é a pressão a

que o gás está sujeito) mede a força por unidade de área exercida pelos

choques das moléculas nas paredes do recipiente, dependendo por conseguinte

da intensidade e da frequência dos choques.

Nos líquidos as moléculas apresentam-se em grupos, que podem ter movimento

relativo. A dimensão destes grupos de moléculas diminui com o aumento de

temperatura, até que as moléculas têm movimento individual quando os líquidos

vaporizam.

Nos sólidos as moléculas ocupam posições relativas fixas, o que lhes permite

manterem a forma ao longo do tempo. O aumento da energia cinética das

moléculas com a temperatura aumenta a amplitude dos seus movimentos

oscilatórios fazendo-os aumentar de volume, mas mantendo a forma.

Assim, uma diferença básica entre os sólidos e os fluidos é que os primeiros

podem suportar tensões tangenciais sem haver movimento relativo permanente

entre as moléculas, enquanto nos fluidos, as tensões tangenciais dão sempre

origem a movimento do fluido1. Veremos mais abaixo que a relação entre a

tensão tangencial e o gradiente de velocidades que gera é uma das

propriedades mais importantes dos fluidos (viscosidade).

Outra característica importante dos fluidos decorrente da sua estrutura molecular

e da liberdade relativa das moléculas é a chamada condição de não -

escorregamento. Quando um fluído se move sobre um sólido, a força de

atracção entre as moléculas do sólido é normalmente superior à força de

atracção entre as moléculas do fluido e por isso este adere à parede, sendo a

1 O vidro é o fluido mais emblemático deste movimento. Sendo um fluído, a força da gravidade

dá origem a escorregamento, do qual resulta com o envelhecimento um aumento da espessura

na parte inferior e diminuição da parte superior. Como a viscosidade à temperatura ambiente é

muito elevada, este processo é muito lento.

Page 6: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

3

velocidade do movimento sobre a parede igual à velocidade da parede. Outra

razão para baixar a velocidade junto à parece é a rugosidade da parede que,

mesmo para uma parede “lisa” é muito superior à dimensão das moléculas,

oferecendo por conseguinte uma resistência de forma que se traduz numa

redução da velocidade junto à parede.

Do mesmo modo, quando dois fluidos se movem um sobre o outro, as moléculas

de um, ou são atraídas pelas do outro, ou se interpenetram (fluidos miscíveis) e

por isso a velocidade dos dois fluidos, na interface é também a mesma. Mais

abaixo veremos que a força de atrito entre os fluidos é também a mesma, sendo

estas as duas condições de fronteira que nos permitirão conhecer o perfil de

velocidades na interface entre dois fluidos imiscíveis.

3 Massa Volúmica:

É a massa por unidade de volume. A massa volúmica só fica objectivamente

definida se calculada em cada ponto e em cada instante, por poder ser variável

no espaço e no tempo. Assim define-se massa volúmica como:

dV

dm

V

mV =

∆= →∆ 0limρ

e por conseguinte tem dimensões de massa sobre volume:

[ ] 3−= MLρ

que no sistema SI são (kg m-3), no sistema gravítico são (UMM m-3), onde UMM

representa Unidades Métricas de Massa e no sistema CGS as unidades da

massa volúmica são (g cm-3).

4 Peso volúmico

É a força com que a unidade de volume é atraída para a terra:

gργ =

Page 7: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

4

Como a massa volúmica, define-se num ponto e em cada instante de tempo.

Tem unidades de força por unidade de volume: (N m-3) no sistema SI, (kg m-3)

no sistema gravítico e (dine cm-3) no sistema CGS.

A vantagem da criação dos sistemas de unidades SI e gravítico, em que o SI

tem como grandezas fundamentais Massa, Comprimento e Tempo e o gravítico

tem Força, Comprimento e Tempo e de os dois sistemas e de a força do sistema

gravítico ser 9.8 vezes superior à do SI é que o peso no gravítico é dado pelo

mesmo número que a massa no SI. É por esta razão que o kg é usado para

massa no SI e para força no gravítico. A conjugação destes dois sistemas é

prática, pois é muito mais fácil medir o peso de um corpo do que a sua massa.

5 O fluido como meio contínuo

A aproximação do fluido como meio contínuo decorre da nossa incapacidade de

considerarmos as moléculas individualmente num escoamento. Como tal define-

se porção elementar de fluido (volume elementar) como um volume de fluido

suficientemente pequeno para que todas as propriedades sejam uniformes, mas

muito maior do que a distância entre moléculas, para que não haja

descontinuidade da matéria.

5.1 VELOCIDADE

Matematicamente define-se velocidade num fluído como a taxa de deslocamento

médio das moléculas contidas num volume elementar2. Sendo o volume

elementar infinitesimal, a velocidade define-se num ponto.

A velocidade de um sólido define-se como a taxa de deslocamento do sólido:

( )321 ,, vvvdt

dxv

dt

xdv i

i ==<=>=

rr

Num fluido, a velocidade definida do mesmo modo num ponto do escoamento,

representa a taxa de deslocamento de um volume infinitesimal de fluido. Sendo

2 O que é equivalente a dizer que a velocidade num ponto do fluido é a velocidade média das

moléculas que ocupam aquele ponto em cada instante.

Page 8: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

5

o volume elementar constituído por moléculas, poderemos dizer que a

velocidade do escoamento representa a velocidade média das moléculas

contidas no volume infinitesimal, filtrando por conseguinte o movimento

browniano das moléculas (cujo efeito será quantificado pela difusividade,

definida mais abaixo).

Poderemos então dizer que através de uma superfície paralela à velocidade, o

fluxo de moléculas devido à velocidade (fluxo advectivo) é nulo (o número de

moléculas que passa num sentido é igual ao que passa em sentido contrário).

Para termos fluxo advectivo através de uma superfície precisamos então que a

normal à superfície faça com a velocidade um ângulo diferente de 90º (o produto

interno da velocidade pela normal tem que ser diferente de zero).

Podemos então definir velocidade como o volume de fluido que passa por

unidade de tempo numa unidade de área perpendicular à velocidade. Sendo a

velocidade um vector, ela é representada por 3 quantidades num espaço

tridimensional.

Se considerarmos um volume elementar, com faces perpendiculares aos eixos

coordenados (um cubo no caso de um referencial cartesiano), como

representado na Figura 1, as três componentes da velocidade serão os fluxos

volúmicos através da unidade de área de cada uma dessas superfícies.

Essas componentes podem ser definidas para cada uma das 6 faces como:

i

idA

dQv =

Se fizermos tender o volume para zero, as faces perpendiculares ao mesmo eixo

convergem uma para a outra e os valores da velocidade passam a ser os

mesmos em faces paralelas. Assim passamos de 6 quantidades para 3

quantidades, que são as componentes da velocidade no ponto para o qual

fizemos convergir o volume.

Page 9: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

6

Figura 1: Figura representando um volume elementar de dimensões ∆x1∆x2∆x3

Sendo a velocidade definida como o deslocamento médio das moléculas

contidas num volume de fluido, isso significa que quando a medimos, o valor que

obtemos corresponde à velocidade média num volume com dimensões idênticas

às do instrumento que a está a medir. Assim, quando se usa um anemómetro de

copos com 10 cm de diâmetro por 5 cm de altura, a velocidade que ele mede é o

deslocamento médio das moléculas num volume elementar com dimensões da

ordem de 103 cm3. Este anemómetro, colocado numa sala fechada medirá

velocidade nula e por conseguinte o fluxo advectivo calculado com base nesta

velocidade será nulo. O transporte de ar correspondente ao deslocamento das

moléculas não medido pelo anemómetro é tratado como fluxo difusivo e será

analisado mais abaixo.

É por isso que se pode dizer que a velocidade num fluido e a viscosidade são

grandezas complementares. Se conseguíssemos medir a velocidade em pontos

infinitamente próximos (e por isso com instrumentos de dimensões

infinitesimais), o único movimento não caracterizado por esta velocidade seria o

browniano, o qual dá origem à difusividade molecular. Porque os instrumentos

V1

X1

X3

X2

∆X1

∆X3

∆X2

V3

V2

Page 10: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

7

não são infinitesimais e porque temos que medir num número finito de pontos, a

difusividade a usar em problemas sem solução analítica depende da “rede de

amostragem”.

5.2 FLUXO ADVECTIVO

O fluxo advectivo representa o transporte de uma propriedade pela velocidade,

através de uma superfície. O transporte associado ao movimento das moléculas,

não resolvido pelo fluxo advectivo designa-se por fluxo difusivo e será tratado

após a introdução do conceito de difusividade.

Se a velocidade for dirigida de dentro para fora do volume elementar, o fluido

entra para o volume, se for dirigida para fora o fluido sai o volume. Se a

quantidade de fluido que entra for igual à quantidade de fluido que sai, o

somatório destes caudais será nulo.

Consideremos o volume elementar representado na Figura 1. Para sabermos se

o fluido entra ou se sai do volume através de uma face, consideremos a normal

exterior a essa face. O produto interno da velocidade pela normal a uma

superfície dá a componente da velocidade perpendicular a essa superfície, a

qual é responsável pelo fluxo advectivo através dessa superfície.

( )dAnvdQrr.=

Uma área tem duas normais, de sentidos opostos, uma de cada lado. No caso

de a área pertencer a um volume de controlo, a normal a considerar na

expressão anterior é a exterior (por convenção). Nas faces onde a velocidade

tiver o mesmo sentido da normal (produto interno positivo), o fluxo é para fora do

volume elementar e é para dentro no caso contrário.

Assim, se integramos o produto interno ao longo de toda a superfície do volume

obtemos a diferença entre o caudal que sai e o que entra no volume de controlo

por unidade de tempo (por via do sinal do produto interno). A diferença entre o

volume de fluido que sai e o volume de fluido que entra por unidade de tempo, é

a taxa de variação do volume do fluido que atravessa o volume de controlo.

Page 11: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

8

dAnvdt

dvol

A

∫=rr.

O integral dá também a definição de fluxo advectivo. Sendo positivo quando sai

e negativo quando entra, quando integrado ao longo de toda a área, dá a

diferença entre o volume que sai e o que entra. Esta diferença é igual ao volume

de fluido produzido no interior do volume de integração (volume de controlo)

que, como veremos mais abaixo é o integral da divergência no interior do

volume de integração.

No caso de a superfície ser aberta, não faz sentido falar em volume de controlo

e o integral representa o caudal através da superfície:

∫∫ ==A

jj

A

dAnvdAnvQrr.

Nesta equação é usada a notação vectorial no primeiro integral e a notação

tensorial no segundo. Na notação tensorial é usada a convenção de soma de

Einstein. De acordo com esta convenção, quando um índice aparece repetido,

representa uma soma de termos (soma dos termos que se obtêm fazendo variar

o índice entre 1 e o número de dimensões do espaço, 3 neste caso). A

expressão mostra que os fluxos mais fáceis de calcular são os que se fazem

através de superfícies perpendiculares à velocidade, para as quais a convenção

de somatório de Einstein origina só um termo.

A este fluxo estão associados fluxos de todas as propriedades transportadas

pelo fluído (e.g. massa, calor, quantidade de movimento).

5.3 DIVERG�CIA DA VELOCIDADE

Consideremos de novo o volume de controlo representado na Figura 1. Vamos

considerar um volume suficientemente pequeno para podermos admitir que a

velocidade é uniforme em cada uma das suas faces.

Nesse caso o integral de superfície do fluxo advectivo dá o somatório:

Page 12: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

9

( ) ( )[ ]

( ) ( )[ ]( ) ( )[ ]

333

222

111

321321

231231

132132

)()(

)()(

)()(.

xxx

xxx

xxx

A

vxxvxx

vxxvxx

vxxvxxdAnvdt

dvol

∆+

∆+

∆+

∆∆−∆∆

+∆∆−∆∆

+∆∆−∆∆== ∫rr

Dividindo a equação pelo volume ( )321 xxx ∆∆∆ e considerando um volume

suficientemente pequeno para que a divergência da velocidade no seu interioir

seja uniforme, obtém-se:

( ) ( )[ ]

( ) ( )[ ]

( ) ( )[ ]

∂+

∂+

∂=

=>∆∆∆

∆∆+∆∆−

+∆∆∆

∆∆+∆∆−

+∆∆∆

∆∆+∆∆−=

∆∆∆

∆+

∆+

∆+

3

3

2

2

1

1

321

321321

321

231231

321

132132

321

vol

)()(

)()(

)()(1

333

222

111

x

v

x

v

x

v

dt

dvol

xxx

vxxvxx

xxx

vxxvxx

xxx

vxxvxx

dt

dvol

xxx

xxx

xxx

xxx

No caso de a divergência da velocidade não ser uniforme no interior do volume,

a taxa de variação do volume seria obtida integrando a divergência no interior do

volume de fluido:

∫∫ ==Avol

dAnvdvolvdivdt

dvol vrr.)(

A equação acima é o teorema da divergência e mostra que a divergência da

velocidade é igual à taxa de variação da unidade de volume de fluido, estando

por conseguinte associada à compressão e expansão do fluido. Assim, se não

existir expansão nem compressão de uma massa de fluido durante o seu

deslocamento (escoamento incompressível), a divergência da velocidade tem

que ser nula.

Para se perceber melhor o papel da divergência da velocidade, consideremos

uma porção de fluido em movimento, num campo de velocidade com divergência

positiva. Vamos permitir ao volume que se deforme de modo a conter sempre a

Page 13: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

10

mesma massa de fluido. Vamos considerar um caso em que o campo de

velocidades tem divergência positiva e, por uma questão de simplicidade, que a

velocidade só tem uma componente (e.g. escoamento no interior de um tubo).

No caso do escoamento num tubo, o volume de controlo terá a forma de um

cilindro. Se o campo de velocidades tiver divergência positiva, isso significa que

a velocidade vai aumentando para jusante e por isso que os dois topos do

cilindro se vão afastando um do outro, para que nenhuma massa de fluido possa

sair. A taxa de variação do volume ocupado por aquela porção de fluido é o

integral de volume da divergência.

5.4 PROPRIEDADES DO CAMPO DE VELOCIDADES

Caracterizar um escoamento consiste basicamente em caracterizar a velocidade

em cada ponto3 e em cada instante de tempo. Conhecido o campo de

velocidades podemos calcular as outras propriedades do escoamento (fluxos,

acelerações e forças, variação da massa volúmica, etc.).

5.4.1 Escoamento estacionário

Um escoamento diz-se estacionário se todas das suas propriedades (P) se

mantêm constantes no tempo, em todos os pontos do espaço.

ioestacionár escoamento num 0=∂

t

P

Num escoamento estacionário o campo de velocidades não se altera, o que não

significa que a velocidade de uma porção de fluido se mantenha constante no

tempo.

ioestacionár escoamento num 0≠dt

dP

3 A distribuição de velocidades é normalmente designada por “campo de velocidades”.

Page 14: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

11

5.4.2 Dimensionalidade do escoamento

O número de dimensões do escoamento é o número de dimensões ao longo das

quais a velocidade varia4.

Um escoamento tridimensional é um escoamento onde a velocidade varia nas 3

direcções do espaço. É o escoamento mais complexo que se pode ter. São

exemplos de escoamentos tridimensionais, o escoamento na atmosfera e no

oceano.

Um escoamento é bidimensional se a velocidade só varia em duas direcções do

espaço. É frequentemente o caso dos escoamentos em estuários de baixa

profundidade. Nesse caso as propriedades variam menos na direcção vertical do

que nas outras direcções do espaço e por isso duas dimensões são suficientes

para as descrever. A velocidade efectivamente varia nas 3 direcções do espaço,

mas o escoamento pode ser resolvido considerando uma velocidade média na

coluna de água e parametrizando o atrito de fundo em função dessa velocidade

média5.

Um escoamento diz-se unidimensional se a velocidade só varia numa direcção

do espaço. Os canais rectangulares e os tubos cilíndricos são exemplos de

escoamentos unidimensionais, onde a velocidade varia essencialmente entre o

fundo e a superfície livre no canal e entre o raio e a parede no tubo. Nos rios, a

as propriedades transportadas pela água variam essencialmente ao longo do

eixo do rio e por isso são normalmente tratados como problemas

unidimensionais, mas é ao longo da direcção axial que se considera a

variabilidade. Nestes casos, como no caso do estuário, o efeito da variação

vertical da velocidade é parametrizado na forma de uma força de atrito,

calculada em função da velocidade média na secção do rio.

4 Não de deve confundir dimensão do escoamento com dimensão do problema. Com efeito o

número de dimensões em que cada propriedade pode variar não tem que ser o mesmo.

5 Mais adiante veremos como aparece e o que significa a força de atrito.

Page 15: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

12

No caso de estarmos só interessados no estudo do escoamento, a velocidade é

a única propriedade que temos que ter em consideração para a classificação da

sua dimensionalidade.

No caso de escoamentos em canais de secção variável o escoamento já tem

variação longitudinal e na profundidade e por, isso em rigor, o escoamento deve

ser considerado bidimensional ou mesmo tridimensional. É frequente no entanto

continuar a tratá-lo como unidimensional. Neste caso o efeito da variação da

largura é quantificado através das consequências para a variação da velocidade

média na secção.

Em resumo, os escoamentos são sempre tridimensionais, no entanto, sempre

que a variação das propriedades numa direcção é muito menor do que nas

outras, a consideração de aproximações que envolvam a redução da

dimensionalidade por ter vantagens em termos de custo/benefício, em que o

custo é a perda de precisão e o benefício é a redução do esforço de cálculo.

5.4.3 Linhas de corrente, trajectórias e linhas de emissão

Entre os aspectos importantes para a caracterização de um escoamento, está a

caracterização das forças que estão na origem das variações da velocidade

(acelerações) e identificação de zonas de fluxos particulares. As linhas mais

frequentes para caracterizar um campo de velocidades são:

• Linhas de emissão,

• Trajectórias,

• Linhas de corrente.

As linhas de emissão são as mais fáceis de identificar. Elas correspondem ao

lugar geométrico de todas as porções de fluido que passaram num ponto. A

pluma de uma chaminé vista ao longe é o exemplo mais comum de uma linha de

emissão. Quando vista ao longe, a saída da chaminé pode ser considerada

como um ponto e o fumo como uma linha. Uma linha de emissão pode variar no

Page 16: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

13

tempo e por isso em cada momento poderia ser registada com uma máquina

fotográfica.

A trajectória de uma porção de fluido é o lugar geométrico de todas as posições

ocupadas pelo fluido durante o seu deslocamento. É fácil de identificar usando

uma câmara de filmar.

Linhas de corrente são linhas tangentes à velocidade em cada ponto. Estas

linhas são as mais difíceis de identificar num escoamento não estacionário, mas

são as mais úteis para caracterizar um escoamento.

As linhas de corrente podem ser identificadas colocando marcas no escoamento

e registando as suas posições em dois instantes consecutivos (duas fotografias).

Sendo o deslocamento tangente à velocidade, a união dos pontos dá a direcção

e sentido da velocidade. O espaço percorrido por unidade de tempo dá o módulo

da velocidade.

No caso de escoamentos estacionários estas três linhas são coincidentes, uma

vez que todas as partículas que passam num mesmo ponto se deslocam da

mesma maneira. No caso de a velocidade num ponto mudar de direcção, as

linhas de corrente deslocam-se perpendicularmente a elas próprias.

As linhas de corrente são as mais úteis, porque sendo paralelas à velocidade,

são linhas através das quais o caudal é nulo. Isso significa que num escoamento

estacionário as linhas de corrente não podem ter movimento perpendicular a

elas próprias. A existência desse movimento é uma condição suficiente para que

o escoamento seja não estacionário. Com efeito, nesse caso a velocidade num

ponto é variável no tempo.

5.4.4 Forma das linhas de corrente e forças de pressão

As linhas de corrente são tangentes à velocidade e por conseguinte, podemos

definir tubos de corrente no espaço tridimensional, no interior dos quais o caudal

se mantém constante. Num escoamento bidimensional em que a velocidade não

varia na direcção perpendicular ao papel, poderemos dizer que o caudal se

mantém constante entre duas linhas de corrente. Nesse caso, se duas linhas de

Page 17: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

14

corrente se afastam isso significa que a velocidade baixa, aumentando no caso

de se aproximarem (em escoamento incompressíveis). Se a velocidade se

altera, isso significa que a energia cinética também se altera e por isso que o

trabalho das forças aplicadas sobre o fluido é não nulo.

Quando a energia cinética aumenta, o trabalho das forças é positivo e por isso a

resultante das forças tem que ser no sentido do escoamento. As forças

aplicadas sobre o fluido podem ser de pressão, mássicas (peso) e viscosas.

Mais adiante falaremos das forças viscosas. Para já vamos admitir que são

muito menos importantes que as de pressão e as gravíticas. Vamos admitir um

caso em que as forças gravíticas são também pouco importantes (e.g.

escoamento na horizontal). Nesses casos, quando a velocidade aumenta, a

pressão tem que diminuir e vice-versa.

Figura 2: exemplo de linhas de corrente. O caudal em A é igual ao caudal em B e o caudal

em C é igual ao caudal em D. Como consequência do afastamento das linhas de corrente

poderemos dizer que a velocidade baixa para a direita e por isso que a pressão aumenta.

Do mesmo modo poderemos dizer que quando temos curvatura das linhas de

corrente, a pressão tem que ser maior do lado de fora do que do lado de dentro.

Com efeito, se existe curvatura das linhas de corrente, existe aceleração, com

redução da componente da velocidade que aponta para o lado de fora da curva

e aumento da que aponta para o lado de dentro. A força necessária a esta

alteração da velocidade tem que ser uma força perpendicular à linha de corrente

e dirigida de fora para dentro da curva. Veremos mais adiante que esta força é

A

B

D

C

Page 18: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

15

normalmente a força de pressão. À força medida pela massa vezes a aceleração

dá-se normalmente o nome de força centrífuga. A Figura 3 mostra um

escoamento com curvatura, indicando onde é que a pressão é maior.

Figura 3: Exemplo de uma linha de corrente com curvatura. A pressão é maior do lado de

fora da linha para equilibrar a força centrífuga resultante da aceleração associada à

curvatura.

5.5 DIFUSIVIDADE

A difusividade é como vimos aquando da definição de velocidade, uma

consequência da hipótese de meio contínuo e da definição de velocidade de um

fluido. As moléculas têm massa e por isso transportam matéria e energia, pelo

que o seu movimento não pode ser ignorado. Ele é efectivamente quantificado

pela difusividade, que no caso de se falar em quantidade de movimento, se

chama viscosidade.

Consideremos uma superfície plana no seio de um gás em repouso - velocidade

média das moléculas nula - como mostra a Figura 4. A figura mostra moléculas

de dois tipos e um gradiente de concentração. Se considerarmos a superfície

virtual representada na figura, poderemos calcular o fluxo de matéria associado

às moléculas de um dos tipos (e.g. moléculas pretas).

O fluxo resulta neste caso do movimento produzido pela velocidade browniana e

é tanto maior quanto maior for essa velocidade. No entanto, porque esta

velocidade é aleatória, há moléculas pretas a cruzarem a superfície em ambos

os sentidos. O fluxo resultante através da superfície de controlo será uma

θv-

θv-θv

-

r

vf c

2

θρ=

P+

P-

Page 19: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

16

quantidade proporcional à diferença de concentrações entre ambos os lados da

superfície e à intensidade da velocidade do movimento browniano (ub):

( ) bllld ucc ∆+−∝Φ

A distância ∆l é o comprimento típico do deslocamento de uma molécula até

chocar com outra e mudar de direcção. O fluxo através da superfície de controlo

resultante do movimento browniano das moléculas é então proporcional à

velocidade das moléculas e ao livre percurso de cada uma delas. Na equação

acima este percurso aparece implicitamente na diferença de concentrações, que

aumenta com a distância entre os pontos em que são avaliadas.

A diferença de concentrações pode ser estimada conhecendo a distância entre

os pontos em que são avaliadas e o gradiente:

( )l

clcc lll

∂∆−=− ∆+

Onde o sinal “-“ tem em conta o facto de o gradiente ser positivo no sentido

crescente do eixo.

Substituindo a equação anterior na equação do fluxo obtêm-se:

l

cul bd

∂∆∝Φ .

Sendo “x” o eixo perpendicular à superfície de controlo, o fluxo através da

superfície de controlo pode ser escrito como:

x

cdx

∂−=Φ ν

Onde ν é a difusividade, que é proporcional ao produto da componente da

velocidade das moléculas não incluída na nossa definição de velocidade pelo

comprimento do deslocamento associado a essa componente da velocidade. A

difusividade tem por conseguinte dimensões de [m2s-1]. Esta lei foi proposta por

Fick no século XIX, a partir de observações empíricas.

Page 20: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

17

Nos escoamentos de gases em que a única componente do movimento não

resolvida pela velocidade é o movimento browniano (escoamentos laminares), a

difusividade é só função das propriedades das moléculas (i.e. do fluido), da

energia cinética das moléculas (temperatura) e da distância percorrida por uma

molécula até chocar com outra (da pressão e temperatura). Esta difusividade

pode ser por isso tabelada para cada gás, em função da temperatura e da

pressão.

Figura 4: Fluido com um gradiente de concentração (visualizado pela cor das moléculas) e

uma superfície virtual. As setas representam a velocidade do movimento Browniano.

No exemplo que demos, falámos de concentrações (e por isso de massa).

Poderíamos no entanto falar de qualquer propriedade transportada pela

molécula (e.g. calor, quantidade de movimento). No caso da propriedade

transportada ser a quantidade de movimento a difusividade toma o nome de

viscosidade e é responsável pela existência de força de atrito nos escoamentos,

a qual é tanto maior quanto mais viscoso for o fluido.

No caso dos líquidos as moléculas estão associadas formando grupos que se

movem uns em relação aos outros. Estes grupos são demasiado pequenos para

que a velocidade de cada um deles pudesse ser analisada individualmente e

estão permanentemente a ser partidos e reconstituídos. A sua dinâmica tem por

isso que ser também tratada através de uma difusividade. Como os líquidos são

praticamente incompressíveis, a sua difusividade só depende da temperatura, a

Cx Cx+∆x

Page 21: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

18

qual reduz a dimensão dos grupos de moléculas em movimento e por isso a

difusividade.

5.6 VISCOSIDADE E TE�SÃO DE CORTE

A difusividade toma o nome de viscosidade quando se fala de difusão de

quantidade de movimento. Quando se fala de difusão de massa, as moléculas

têm efectivamente de alterar a sua posição relativa, para que exista um

transporte efectivo. No caso da quantidade de movimento, basta que uma

molécula exerça uma força sobre outra (e.g. um choque) para que haja

transferência de quantidade de movimento. A quantidade de movimento é por

conseguinte uma grandeza com maior difusividade do que a massa6.

O facto de a quantidade de movimento poder ser difundida através de choques

faz também com que nos líquidos e nos gases os processos de difusão sejam

um pouco diferentes. Nos gases a difusão é feita exclusivamente através de

moléculas que mudam de local e de choques entre moléculas. Nos líquidos as

moléculas movem-se em grupos sendo a difusão proporcional à dimensão dos

grupos de moléculas. Esta diferença tem consequências ao nível da variação

(diminuição) da viscosidade com a temperatura.

Nos gases o aumento da energia cinética das moléculas com a temperatura

resulta numa maior capacidade de difundir quantidade de movimento porque a

velocidade do movimento browniano aumenta e porque a quantidade de

movimento de cada molécula aumenta. Como consequência a viscosidade dos

gases aumenta com a temperatura. Nos líquidos a energia cinética das

moléculas também aumenta com a temperatura, mas a dimensão dos grupos de

moléculas diminui, e por isso diminui também a quantidade de movimento

associada a cada um deles. Como consequência o choque de grupos de

6 Também o calor é mais fácil de difundir do que a massa. Sendo a temperatura uma medida da

energia cinética das moléculas, basta que uma transmita energia cinética a outra para que haja

“difusão de calor”. É por essa razão que o calor se pode difundir através de um corpo sólido.

Também por esta razão a difusividade de calor toma o nome de condutividade e neste caso a lei

de Fick é normalmente designada por lei de “Fourier”.

Page 22: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

19

moléculas é menos eficiente a difundir quantidade de movimento, quando a

temperatura aumenta. Como resultado, a viscosidade dos fluidos baixa com a

temperatura7.

No caso da quantidade de movimento a grandeza difundida é a velocidade8.

Então utilizando as expressões apresentadas aquando da descrição da

difusividade, é fácil verificar que o fluxo difusivo de quantidade de movimento é

dado por:

n

v

n

v

∂−=

∂−= µρντ

onde n é a direcção do espaço perpendicular à velocidade9 e µ é a chamada

viscosidade dinâmica e tem como dimensões [µ]=ML-3L2T-1. No sistema CGS a

unidade de viscosidade é o Poise (g cm-1 s-1). No sistema SI as unidades são (kg

m-1 s-1).

Num escoamento unidimensional a difusão de quantidade de movimento ocorre

sempre que a velocidade varia perpendicularmente a ela própria (neste caso o

7 Os óleos estão entre os fluidos mais viscosos usados em engenharia. Os petroleiros têm que

manter os tanques aquecidos, para facilitar a descarga. Tipicamente a temperatura do petróleo é

de 60 C e junto à aspiração das bombas estão situadas resistências eléctricas que aumentam a

temperatura para cerca de 90 C na conduta de descarga.

8 A quantidade de movimento é efectivamente o produto da massa pela velocidade ( vr

ρ ). No

entanto a variação de ρ tem associada a expansão/contracção do fluido e por isso é

contabilizada pela velocidade (mais precisamente pela divergência da velocidade como veremos

mais adiante).

9 Poderá perguntar-se porque é que a velocidade não se difunde na direcção perpendicular a ela

própria. Pensando nos conceitos físicos associados à definição de difusividade e no conceito de

quantidade de movimento é fácil verificar que isso não é possível. Efectivamente a difusão de

quantidade de movimento tem que estar associada a um desvio da direcção do escoamento que,

na presença de uma variação da velocidade perpendicular a ela própria, vai fazer com que o

fluido adjacente aproxime a sua velocidade da velocidade do fluido que para aí se deslocou.

Quando a flutuação da velocidade é na própria direcção da velocidade, é a própria velocidade

que se altera e essa alteração não é mais do que o próprio movimento browniano.

Page 23: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

20

rotacional é não - nulo) e é tanto maior quanto maior for a sua taxa de

variação10.

A Figura 5 mostra um escoamento sobre uma superfície alinhada com o eixo

dos “xx”. Neste caso a velocidade só tem componente segundo “x” e a difusão

de quantidade de movimento faz-se segundo “y”. O fluxo é negativo, significando

que as camadas que se deslocam em valores de “y” maiores, perdem

quantidade de movimento para as que se deslocam mais perto da parede. A

análise do fluxo difusivo mostra que ele é máximo junto à parece, onde a taxa de

variação da velocidade é máxima (admitindo que a viscosidade é uniforme).

Figura 5: Exemplo de um escoamento sobre uma superfície plana alinhada com o eixo dos

“xx”. Neste caso a velocidade só tem componente segundo “x” e a difusão de quantidade

de movimento faz-se segundo “y”. O fluxo é negativo, significando que as camadas que

se deslocam em valores de “y” maiores, perdem quantidade de movimento para as que se

deslocam mais perto da parede.

Então da difusão de quantidade de movimento resulta o arrastamento do fluido

que se desloca a menor velocidade e o travamento do fluido que se desloca a

maior velocidade. Do fluxo difusivo de quantidade de movimento resulta por

10 Há casos em que a velocidade pode variar na direcção perpendicular a ela própria e ter

rotacional nulo (é o caso do escoamento associado a ondas em águas profundas). Ver detalhes

no parágrafo abaixo, dedicado ao operador rotacional.

x

y

v

Page 24: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

21

conseguinte uma força. Essa força é normalmente designada por força viscosa

ou força de atrito ou força de corte. Ao seu valor por unidade de área chama-se

normalmente tensão de corte.

A equação anterior foi escrita para o caso de um escoamento com uma única

componente de velocidade que varia numa única direcção do espaço. Veremos

mais adiante que esta equação se escreve para o caso geral como:

k

kij

i

j

j

iji

x

v

x

v

x

v

∂−

∂+

∂−= µδµτ

3

2

onde ijδ é o “delta de Kronecker”, que vale “1” se i=j e “0” no caso contrário. No

caso de escoamento incompressível o segundo termo vale zero.

5.7 OPERADORES COM TE�SORES

Na Mecânica dos fluidos lidamos com vectores, (velocidades e forças, tensores

de ordem 1) e com escalares (tensores de ordem “0”), envolvendo as equações

operações com estes operadores (divergência, gradiente, rotacional e

laplaciano). A bom conhecimento destes operadores é por conseguinte

essencial para a compreensão das equações.

5.7.1 Gradiente

O gradiente de uma propriedade faz subir de uma unidade a ordem do tensor

que a representa. Assim o gradiente de um escalar é um vector que aponta no

sentido em que a taxa de variação é máxima e cujo módulo é a taxa de variação

nessa direcção. O gradiente de um vector é um tensor de segunda ordem

(representado por 9 quantidades, 3 referentes a cada uma das coordenadas do

vector).

ix

Pe

x

Pe

x

Pe

x

PPPgrad

∂=

∂+

∂+

∂=∇= 3

3

2

2

1

1

)(v

Sendo o vector na direcção da taxa de variação espacial máxima, ele é

perpendicular às isolinhas da propriedade.

Page 25: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

22

Quando existe difusão, ela faz-se no sentido contrário do gradiente e por isso o

fluxo difusivo é um vector perpendicular à isolinhas da propriedade a que se

refere.

Como consequência, o fluxo difusivo através de uma superfície com normal nv, é

dado pela expressão geral de um fluxo associado a um vector:

( )( )dAnpdAnx

p

A

j

A j

dif ∫∫ ∇=∂

∂=Φ

vv.ϑϑ

Neste integral não foi considerado o sinal “-“ do fluxo difusivo porque, no caso de

a superfície A ser fechada, a normal a considerar é a exterior e por conseguinte,

se o fluxo entra, então o produto interno do fluxo pela normal é negativo. No

caso de A ser fechada, o integral acima dá a diferença entre “o que sai e o que

entra através da superfície do volume de controlo”. Pelo teorema da divergência,

este fluxo é igual ao integral de volume da divergência do fluxo:

dVolx

p

xdAn

x

p

jVol j

j

A j

dif

∂=

∂=Φ ∫∫ ϑϑ

Este termo aparece nas equações de evolução a que chegaremos na disciplina

de Mecânica dos Fluidos e designa-se por termo difusivo.

Figura 6: Isolinhas de concentração e exemplos de

gradientes em dois pontos (P e Q). O gradiente é um

vector perpendicular às isolinhas e o comprimento do

vector que o representa é inversamente proporcional à

distância entre as isolinhas.

X1

X2

Q

P

Page 26: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

23

5.7.2 Divergência

A divergência é um operador que, ao contrário do gradiente, faz baixar a ordem

do tensor e por conseguinte não se aplica a escalares. A divergência de um

vector vvdefine-se como:

i

i

x

v

x

v

x

v

x

vvdiv

∂=

∂+

∂+

∂=

3

3

2

2

1

1)(v

Para se perceber o significado físico da divergência, consideremos um

escoamento genérico que atravessa um volume de controlo de dimensões

infinitesimais e quantifiquemos os fluxos de volume que entram e que saem do

volume de controlo. Sendo o volume infinitesimal, podemos considerar a

velocidade uniforme nas faces do volume e por isso os fluxos são dados por:

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 2132133123123213213332221

sai} que fluido de volumeo eentra que fluido volumeo entre {Diferença

xxvxxvxxvxxvxxvxxvxxxqq xxxxxx

∆∆−∆∆+∆∆−∆∆+∆∆−∆∆

=

∆+∆+∆+

Dividindo a equação pelo volume 321 xxx ∆∆∆ e fazendo o volume tender para

zero obtém-se:

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ))(

esai}/Volum que fluido de volumeo eentra que fluido volumeo entre {Diferença

3

3

2

2

1

1

3

33

2

22

1

113332221 vdiv

x

v

x

v

x

v

x

v

x

vv

x

vv

x

vv

i

ixxxxxx xxxqq v=

∂−=

∂−

∂−

∂−=

−+

−+

=

∆+∆+∆+

Que mostra que a divergência da velocidade é o simétrico da taxa de variação

de volume por unidade de volume de fluido. Esta é a razão de ser do nome

deste operador.

No caso de a velocidade ser variável nas faces do volume de controlo e no seu

interior, os fluxos e a divergência teriam que ser integrados ao longo do volume

e obter-se-ia:

( ) dVolx

vdAnv

Vol i

i

A

∫∫ ∂

∂=

rv.

Page 27: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

24

Que é o Teorema da Divergência. No caso de o escoamento ser incompressível,

o volume de fluido que entra no volume de controlo é igual ao que sai e por isso

a divergência da velocidade é nula.

Figura 7: Volume de controlo infinitesimal de dimensões 321 xxx ∆∆∆ de faces normais aos

eixos coordenados.

5.7.3 Laplaciano

O laplaciano é a divergência do gradiente. Tem particular interesse para analisar

o fluxo difusivo. Com efeito o fluxo difusivo de uma propriedade é proporcional

ao gradiente dessa propriedade. A divergência desse fluxo dá a diferença entre

o que entra e o que sai. Assim, nos casos em que a difusividade é uniforme, a

divergência do fluxo difusivo é igual à difusividade vezes o laplaciano:

( )Px

P

x

P

x iii

2

2

2

∇=∂

∂=

∂ννν

Sendo o laplaciano uma segunda derivada, ele mostra que a difusão só origina

variação da propriedade num ponto se a segunda derivada for não-nula.

1x∆

2x

3x∆

2x∆

3x

1x

Page 28: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

25

5.7.4 Rotacional

Em coordenadas rectangulares o rotacional da velocidade é dado por:

3

1

2

2

12

1

3

3

11

2

3

3

2 ex

v

x

ve

x

v

x

ve

x

v

x

vvrot

∂−

∂+

∂−

∂+

∂−

∂=

v

Para que o rotacional da velocidade seja nulo é suficiente que as derivadas de

uma componente da velocidade em relação às direcções perpendiculares a essa

componente sejam nulas. No caso de um escoamento unidimensional isso

implica que a velocidade não varie perpendicularmente a ela própria. Se isso

acontecesse, as tensões de corte seriam nulas e não existiriam efeitos viscosos

no escoamento.

Mas para que o rotacional seja nulo, é suficiente que as derivadas transversais e

anulem. Vejamos então o que isto significa fisicamente. Consideremos a

componente do rotacional segundo x3.

3

1

2

2

1 ex

v

x

v

∂−

O termo 2

1

x

v

∂origina a rotação de linhas verticais, no sentido horário e o termo

1

2

x

v

∂ origina a rotação de linhas horizontais no sentido contrário dos ponteiros do

relógio. Assim, no caso de escoamentos irrotacionais, se desenharmos uma cruz

num ponto, as linhas que a constituem ou não rodam, ou se rodarem rodam em

sentidos contrários. Imaginemos que essas linhas são os lados de um quadrado,

como mostra a Figura 8. No caso deste escoamento as duas derivadas que

compões o rotacional são simétricas e as linhas horizontal e vertical rodam do

mesmo modo. Assim, o quadrado roda sem se deformar. Imaginemos que este

quadrado era uma cadeirinha de uma roda vertical de feira popular. Nesta

cadeirinha os utilizadores ficariam alternadamente de cabeça para cima e de

cabeça para baixo. Neste caso os utilizadores teriam rotação, mas não seriam

“deformados”.

Page 29: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

26

Figura 8: Exemplo de um escoamento rotacional, com rotação pura. O escoamento é um

vórtice forçado (rotação do tipo corpo sólido).

Consideremos agora o caso do escoamento representado na Figura 9. Nesse

escoamento a componente v1 da velocidade é igual à do exemplo anterior, mas

a componente v2 é simétrica. Sendo assim, o rotacional passa a ser nulo, mas o

mesmo quadrado do exemplo anterior deforma-se como mostra a figura. Neste

exemplo um quadrado colocado na bissectriz dos quadrantes desloca-se ao

longo da bissectriz, mas vai-se alongando, pois o vértice mais afastado da

origem tem mais velocidade do que o que está mais próximo11.

Se tivéssemos colocado o quadrado noutro ponto do escoamento ele iria

deslocar-se ao longo da linha de corrente que passa pelo seu centro e iria

deformar-se, mas não rodaria porque o rotacional da velocidade é zero.

11 Consideremos dois pontos sobre essa diagonal, afastados de uma distância ds. Se a

velocidade de num dos pontos for (vx, vy), então ( ) ( ) dxx

vvv

y

xydxxy∂

∂+=

+ e

( ) ( ) dyy

vvv x

yxdyyx∂

∂+=

+como estamos na bissectriz do quadrante, então dx = dy e, como as

derivadas são iguais, então a velocidade no segundo ponto é também alinhada com a bissectriz.

A

A

X2

X1

Page 30: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

27

Figura 9: Exemplo de um escoamento irrotacional onde a velocidade tem derivadas

cruzadas. Neste caso o quadrado deforma-se mas as diagonais não rodam (nota: as setas

mais próximas do eixo positivo dos xx têm os sentidos ao contrário).

A Figura 10 mostra o perfil de velocidades de um vórtice livre. Neste caso o

escoamento também roda em torno da origem. Mas ao contrário do vórtice

forçado, a velocidade diminui à medida que nos afastamos da origem. Neste

escoamento a velocidade tangencial só depende da distância à origem e as

linhas de corrente são circulares. Neste aspecto é um escoamento idêntico ao

do vórtice forçado representado na Figura 8, mas aqui a velocidade diminui à

medida que nos afastamos da origem, sendo dada por:

)0,0,( θvv =v

X

Y Y

Page 31: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

28

r

kv =θ , onde r é ao coordenada radial. No sistema de coordenadas

rectangulares representado na figura, θθ rsenxrx == 21 e cos e as componentes

da velocidade são ( ) ( )222

1

122

2

2

1

21 cos e

xx

kxvv

xx

kxsenvv

+==

+== θθ θθ .

Assim, neste escoamento, o rotacional será dado por:

03

1

2

2

13

1

2

2

12

1

3

3

11

2

3

3

2 =

∂−

∂=

∂−

∂+

∂−

∂+

∂−

∂= e

x

v

x

ve

x

v

x

ve

x

v

x

ve

x

v

x

vvrotv

Sendo o rotacional nulo, então os elementos de fluido deslocam-se também sem

rodar, ao longo de linhas de corrente circulares. Se essas cruzes fossem as

diagonais de um quadrado, então este deslocar-se-ia como mostra a Figura 10.

Figura 10: Perfil de velocidades num escoamento do tipo “vórtice”. No caso de o perfil ser

o representado na figura, o escoamento seria irrotacional. O círculo representa uma linha

de corrente (coincidente com uma trajectória e o quadrado representado nos pontos “1” e

“2”desloca-se, sem que as suas diagonais rodem uma sobre a outra.

X1

X2

A

A

Page 32: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

29

Este escoamento é interessante pois a velocidade das linhas de corrente mais

próximas da origem é maior do que as que estão mais afastadas. Se

analisarmos as diferenças entre as velocidades dos vértices dos quadrados

temos a impressão de que este se deforma e que tem rotação. Analisemos a

diagonal vertical na posição superior. O ponto mais próximo da origem desloca-

se mais rapidamente que o ponto mais afastado e isso dá por si origem a uma

rotação no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. Do mesmo modo os

lados que se juntam no vértice A parecem rodar no mesmo sentido, o que

sugere rotacional não - nulo, com rotação no sentido anti-horário. O rotacional é

nulo porque esta rotação é anulada pela rotação global do quadrado associada

ao movimento do seu centro.

Este conjunto de exemplos mostra então que:

1. Quando falamos de volumes elementares e da linha de corrente ao longo

da qual se desloca o elemento de volume, estamos a falar da linha de

corrente que passa pelo seu centro.

2. O rotacional da velocidade dá a rotação que um elemento de volume

sofre globalmente, em torno do seu centro.

Na natureza o escoamento nos furações é do tipo vórtice livre e como veremos

mais abaixo é pouco afectado pelas forças de origem viscosa, dissipando pouca

energia e permitindo que esses escoamentos se mantenham por bastante tempo

(os habitantes da envolvente do Golfo do México que o digam...).

As cadeirinhas nas rodas da “Feira Popular” estão penduradas numa “linha de

corrente” e rodam em torno do ponto de suspensão, de modo que os utentes

têm a certeza de que não ficam de cabeça para baixo, como seria o caso se

tivessem rotação sólida (cadeiras soldadas à roda).

Consideremos agora um escoamento típico dos problemas de engenharia, como

o representado na Figura 11. Neste escoamento a velocidade tem só uma

componente (segundo xx), que varia segundo yy. Temos por isso rotacional não

nulo, com componente segundo zz. Neste caso linhas paralelas a xx não podem

Page 33: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

30

rodar porque 0=∂

x

v y , mas as linhas paralelas ao eixo dos yy rodam devido

0>∂

y

v x . Estas linhas vão-se inclinando como mostra a figura.

Figura 11: Escoamento unidimensional onde o rotacional é diferente de zero. A derivada

da velocidade no ponto P é dada pela tangente do ângulo θθθθ. Um elemento quadrado

colocado naquele ponto deforma-se como mostra a figura.

5.7.5 Rotacional e efeitos viscosos

No caso de o rotacional da velocidade ser nulo poderemos afirmar que:

i

j

j

i

x

v

x

v

∂=

Este resultado tem consequências para a resultante das forças viscosas. A

resultante das forças viscosas é dada pela divergência do fluxo difusivo de

quantidade de movimento representado pela tensão de corte. No caso de

escoamento incompressível teremos:

X1

X2

θ

P

<90º

α

Page 34: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

31

( ) 0222 =∂

∂=

∂=

∂=

∂+

∂=

j

j

ii

j

ji

j

ji

j

j

i

j

ji

j x

v

xx

v

xx

v

xx

v

x

v

xxµµµµτ

Nesta equação tivemos em consideração que as derivadas cruzadas de uma

função contínua são iguais e que o escoamento é incompressível.

Poderemos então afirmar que em escoamentos irrotacionais os efeitos viscosos

são nulos. Na realidade a afirmação para ser útil em termos de simplificação das

equações, convém ser formulada ao contrário “Se os efeitos viscosos são pouco

importantes, então o rotacional da velocidade é baixo”.

Analisemos as forças de pressão e as forças mássicas. As forças de pressão

são origem a forças normais com resultante no sentido contrário ao gradiente de

pressão. As forças de pressão podem por isso originar aceleração no sentido do

gradiente de pressão, mas não dão origem a rotação do elemento de volume.

Do mesmo modo as forças mássicas dão origem a força vertical, mas não a

rotação.

Para produzirmos rotação precisamos então de forças tangenciais. Estas forças

podem ser exercidas pelas forças viscosas. A tensão de corte é dada por:

( ) 0222 =∂

∂=

∂=

∂=

∂+

∂=

j

j

ii

j

ji

j

ji

j

j

i

j

ji

j x

v

xx

v

xx

v

xx

v

x

v

xxµµµµτ

∂+

∂=

i

j

j

iji

x

v

x

vµτ

Esta tensão aplicada a um volume de fluido daria a distribuição de tensões

representada na Figura 12. A figura mostra que a resultante das tensões

tangenciais pode fazer rodar o fluido, sendo a variação do momento angular

igual ao momento desta resultante de tensões. No escoamento unidimensional

da Figura 11 a velocidade só tem uma componente e por isso v2 e as derivadas

em x1 são nulas. Assim a resultante das tensões de corte paralelas a x2 é nula.

O binário destas tensões é igual ao das tensões paralelas a x1, que têm

resultante não - nula.

Page 35: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

32

Figura 12: Tensões de corte aplicadas num volume de fluido. O momento destas tensões

determina a taxa de variação do momento angular do elemento de volume e a resultante

das tensões determina a taxa de acumulação de quantidade de movimento em cada uma

das direcções.

Se o rotacional da velocidade fosse zero, então estas tensões seriam iguais

duas a duas (as duas que estão apontadas ao mesmo vértice) e por isso dariam

origem a deformação do volume, mas teriam resultante nula e por isso não

dariam origem a difusão de quantidade de movimento.

Podemos então dizer que:

• Num escoamento irrotacional a resultante das forças viscosas é nula e

por isso não produzem aceleração, e não aprecem na equação de

transporte de quantidade de movimento.

• Num escoamento as forças viscosas são as únicas capazes de geral

rotação. Assim, se um escoamento for pouco viscoso, a rotação tem que

ser aplicada injectando fluido no domínio com uma distribuição de

velocidades que já contenha o rotacional. Isso significa que em geral,

X1

1

X2

1 ( )

2221 xx ∆+

τ

( )2

21 xτ

( )11

12 xx ∆+τ ( )

112 x

τ

Page 36: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

33

quando os efeitos viscosos são baixos, o rotacional da velocidade é

baixo.

6 Equação da continuidade

Depois do que foi dito sobre a velocidade e sobre a divergência da velocidade, já

é possível escrever a equação da continuidade - que deduziremos de forma

mais física noutro local - e que representa a lei da conservação da massa.

A lei de conservação da massa diz “A massa de um corpo não varia no tempo”.

Aplicando esta lei a uma porção de fluido com volume V e massa volúmica ρ,

poderemos dizer que:

( ) ( )dVvdVdt

d

dt

dVoldV

dt

ddV

dt

d

dt

dM∫∫∫∫∫∫∫∫∫∫∫∫ ∇+=+==

rv.ρ

ρρ

ρρ

Admitindo um volume suficientemente pequeno para que as propriedades

possam ser consideradas uniformes no seu interior e referindo à unidade de

volume vem:

0. =∇+ vdt

d rvρ

ρ

ou, num referencial euleriano:

vvt

rvrv.. ∇−=∇+

∂ρρ

ρ

que, no caso de fluido incompressível se transforma em “divergência nula da

velocidade”.

7 Equação de transporte de quantidade de movimento

A equação de transporte de quantidade de movimento obtém-se directamente

da lei de Newton:

j

ij

iii

iii

x

vv

t

v

dt

dvf

Vol

F

dt

dvmF

∂+

∂====>= ρρρ

Para obtermos a equação precisamos das forças por unidade de volume.

As forças podem ser de pressão, viscosas ou gravíticas.

Page 37: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

34

Pressão: i

px

pf

i ∂

∂−=

Gravíticas: i

igx

gzgf

i ∂

∂−==

ρρ

Viscosas (para escoamento incompressível):

( )

∂=

∂+

∂=

∂+

∂=

j

i

ji

j

jj

i

ji

j

j

i

j

ji

j x

v

xx

v

xx

v

xx

v

x

v

xxµµµµτ

porque as derivadas cruzadas são iguais e o escoamento é incompressível, a

segunda parte da tensão de corte anula-se.

Substituindo na equação acima obtém-se:

( )

∂+

+∂−=

∂+

∂=

i

i

iij

ij

ii

x

v

xx

gzp

x

vv

t

v

dt

dvµ

ρρρρ

Esta equação designa-se por Equação de Navier-Stokes e será deduzida mais

adiante com mais detalhe.

8 Equação de Bernoulli

Se o escoamento for irrotacional então o termo das forças viscosas da equação

de Navier-Stokes anula-se (ver parágrafo 5.7.5) e, na derivada convectiva

poderemos substituir i

j

j

i

x

v

x

v

∂=

∂. Considerando ainda escoamento estacionário e

incompressível, anula-se a contribuição da derivada local temporal da

aceleração e a massa volúmica pode passar para o interior da derivada,

obtendo-se:

Page 38: Disciplina de Mecânica dos Fluidos - fenix.tecnico.ulisboa.pt · Mecnica dos Fluidos, sendo o objecivo de os apresentar aqu i camar a atenção para que são grandeas definidas num

35

( )

Constgzvvp

x

gzvvp

x

gzp

x

vv

jj

i

jj

ii

j

j

=

++

=∂

++∂

+∂−=

ρρ

ρρ

ρρ

2

1

02

1

Esta é a equação de Bernoulli que diz que num escoamento irrotacional,

estacionário, incompressível, a energia mecânica é a mesma em qualquer ponto

do escoamento.

No caso de o escoamento não ser irrotacional, mas os efeitos viscosos poderem

ser desprezados e o escoamento ser estacionário e incompressível, a mesma

equação pode ser obtida, mas com a restrição de ser ao longo de uma linha de

corrente. Nesse caso, a aceleração convectiva só pode ser transformada na

derivada espacial da energia cinética se a velocidade só tiver uma componente,

o que só acontece se o referencial acompanhar uma linha de corrente.

9 Nota Final

Este texto constitui um conjunto de notas sobre a parte introdutória da disciplina

e pretende apresentar a mecânica dos fluidos como sendo um caso particular da

física.

Efectivamente a disciplina constitui essencialmente no trabalhar dos conceitos

que são apresentados neste texto e que são integrados nas equações da

continuidade e de Navier-Stokes, analisando casos simples, com soluções

analíticas e mostrando qualitativamente os escoamentos mais importantes que

não têm solução analítica e ainda como em Engenharia se resolvem os

problemas usando informação experimental.

As soluções das equações para casos de dimensões finitas, obtidos

considerando hipóteses simplificativas para o cálculo dos fluxos serão também

analisadas com detalhe nas aulas práticas.