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CURSO PREPARATÓRIO PARA AFT 2015 Professor Gáudio R. de Paula [email protected] DISCIPLINA: DIREITO MATERIAL DO TRABALHO TRABALHO RURAL Temas: 1. Trabalho rural: empregador, empregado e trabalhador rural. Normas de proteção ao trabalhador rural. 2. Relação de trabalho empregatícia rural. 3. Contrato por pequeno prazo. 4. Prescrição. 5. Relações de trabalho rural não empregatícias - parceria e arrendamento. 1. TRABALHO RURAL 1.1. INTRODUÇÃO 1.1.1. MARCOS NORMATIVOS Os principais marcos normativos quanto ao trabalho rural são os seguintes: 1.1.1.1. CONVENÇÕES DA OIT Eis uma síntese das convenções internacionais da OIT que versam sobre trabalho rural: CONVENÇÃO APROVAÇÃO RATIFICAÇÃO MATÉRIA PRINCIPAIS DISPOSIÇÕES 11 1921 1957 (Decreto Legislativo Direito de Sindicalização Todos os membros da Organização Lei 5.889/73 Decreto 73.626/74 CF, 7º, caput Convenções 11, 12, 99, 101, 141 OIT

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DISCIPLINA: DIREITO MATERIAL DO TRABALHO TRABALHO RURAL Temas: 1. Trabalho rural: empregador, empregado e trabalhador rural. Normas de proteção ao trabalhador rural. 2. Relação de trabalho empregatícia rural. 3. Contrato por pequeno prazo. 4. Prescrição. 5. Relações de trabalho rural não empregatícias - parceria e arrendamento.

1. TRABALHO RURAL 1.1. INTRODUÇÃO

1.1.1. MARCOS NORMATIVOS

Os principais marcos normativos quanto ao trabalho rural são os

seguintes:

1.1.1.1. CONVENÇÕES DA OIT

Eis uma síntese das convenções internacionais da OIT que versam sobre

trabalho rural:

CONVENÇÃO APROVAÇÃO RATIFICAÇÃO MATÉRIA PRINCIPAIS

DISPOSIÇÕES

11 1921 1957 (Decreto

Legislativo

Direito de

Sindicalização

Todos os membros da

Organização

Lei 5.889/73

Decreto 73.626/74

CF, 7º, caput

Convenções 11, 12, 99, 101, 141

OIT

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24/56 e

Decreto

41.721/57)

na Agricultura Internacional do

Trabalho que ratificam

a presente convenção

se comprometem a

assegurar a todas as

pessoas ocupadas na

agricultura os mesmos

direitos de associação

e união dos

trabalhadores na

indústria e a revogar

qualquer disposição

legislativa ou outra

que tenha por efeito

restringir esses

direitos em relação

aos trabalhadores

agrícolas (art. 1º).

12 1921 1956 (Decreto

Legislativo

24/56 e

Decreto

41.721/57)

Indenização por

Acidente do

Trabalho na

Agricultura

Todos os Membros da

Organização

Internacional do

Trabalho que ratificam

a presente convenção

comprometem-se a

estender a todos os

assalariados agrícolas

o benefício das leis e

regulamentos que têm

por objeto indenizar as

vítimas de acidentes

ocorridos no trabalho

ou no curso do

trabalho (art. 1º).

99 1951 1957 (Decreto

Legislativo

24/56 e

Decreto

41.721/57)

Métodos de

Fixação de

Salário Mínimo

na Agricultura

Cada Membro da

Organização

Internacional do

Trabalho que ratifica a

presente convenção se

obriga a instituir ou a

conservar os métodos

apropriados que

permitam fixar os

totais mínimos de

salários para os

trabalhadores

empregados nas

empresas de

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agricultura e assim

também as ocupações

conexas (art. 1º, 1).

Cada Membro que

ratifica a presente

convenção tem a

liberdade, depois de

consultar as

organizações mais

representativas de

empregadores e

trabalhadores

interessadas, se

houver, de determinar

as empresas, as

ocupações e as

categorias de pessoas

às quais serão

aplicados os métodos

de fixação dos salários

mínimos previstos no

parágrafo precedente

(art. 1º, 2).

A legislação nacional,

as convenções

coletivas ou as

sentenças arbitrais

poderão permitir o

pagamento parcial do

salário mínimo in

natura nos casos em

que este modo de

pagamento é

desejável ou de prática

corrente (art. 2º, 1).

Nos casos em que o

pagamento parcial do

salário mínimo in

natura é autorizado,

devem ser tomadas

medidas apropriadas a

fim de que:

a) as prestações in

natura sirvam ao uso

pessoal do trabalhador

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e de sua família e lhes

tragam benefício;

b) o valor dessas

prestações seja justo e

razoável (art. 2º, 2).

As taxas mínimas de

salário que forem

fixadas serão

obrigatórias para os

empregadores e

trabalhadores

interessados, e não

poderão ser

diminuídas (art. 3º, 4).

A autoridade

competente poderá,

onde isso for

necessário, admitir

derrogações

individuais das taxas

mínimas de salários, a

fim de evitar a

diminuição das

possibilidades de

emprego dos

trabalhadores de

capacidade física ou

mental reduzida (art.

3º, 5).

101 1952 1957 (Decreto

Legislativo

24/56 e

Decreto

41.721/57)

Férias

Remuneradas

na Agricultura

Aos trabalhadores

empregados nas

empresas de

agricultura, assim

como nas ocupações

conexas, deverão ser

concedidas férias

anuais remuneradas,

depois de um período

de serviço contínuo

prestado ao mesmo

empregador (art. 1º).

A concessão das férias

remuneradas na

agricultura poderá ser

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assegurada

eventualmente por via

de convenção coletiva

ou confiando-se a sua

regulamentação a

organismos especiais

(art. 2º, 1).

Quando a maneira

pela qual é assegurada

a concessão das férias

remuneradas na

agricultura o permite:

a) deverá ser efetuada

ampla consulta

preliminar às

organizações mais

representativas de

empregadores e de

trabalhadores

interessados, se

existem, a todas as

outras pessoas

especialmente

qualificadas a este

respeito por sua

profissão ou suas

funções, às quais a

autoridade

competente julgue útil

dirigir-se;

b) os empregadores e

trabalhadores

interessados deverão

participar da

regulamentação das

férias remuneradas,

ou ser consultados ou

ter o direito de serem

ouvidos, na forma e na

medida que poderão

ser determinadas pela

legislação nacional,

mas em todos os casos

em base de igualdade

absoluta (art. 2º, 2).

Quando oportuno,

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deverá ser previsto, de

conformidade com o

procedimento

estabelecido para a

regulamentação das

férias remuneradas na

agricultura:

a) um regime mais

favorável para os

jovens trabalhadores,

inclusive os

aprendizes, nos casos

em que as férias

remuneradas anuais

concedidas aos

trabalhadores adultos

não forem

consideradas

apropriadas para os

jovens trabalhadores;

b) aumento da

duração das férias

remuneradas, com a

duração do serviço;

c) férias proporcionais

ou, em falta delas,

uma indenização

compensadora, se o

período de serviço

contínuo de um

trabalhador não lhe

permitir tomar férias

anuais remuneradas,

mas ultrapassar um

período mínimo

determinado de

conformidade com o

procedimento

estabelecido;

d) exclusão dos dias

feriados oficiais e

costumeiros dos

períodos de repouso

semanal, nos limites

fixados de

conformidade com o

procedimento

estabelecido, das

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interrupções

temporárias de

trabalho devidas

notadamente à

enfermidade ou a

acidente (art. 5º).

As férias anuais

remuneradas poderão

ser fracionadas nos

limites que podem ser

fixados pela legislação

nacional, por

convenções coletivas,

sentenças arbitrais ou

organismos especiais

encarregados da

regulamentação das

férias remuneradas na

agricultura, ou por

qualquer outra forma

aprovada pela

autoridade

competente (art. 6º).

Toda pessoa que gozar

férias em virtude da

presente convenção

receberá, por toda a

duração das ditas

férias, uma

remuneração que não

poderá ser inferior à

sua remuneração

habitual [...] (art. 7º,

1).

Quando a

remuneração da

pessoa que goza férias

comporta prestações

in natura, poderá ser-

lhe pago, pelo período

de férias, o

equivalente em

espécie dessas

prestações (art. 7º, 3).

Todo acordo referente

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ao abandono do

direito de férias anuais

pagas ou à renúncia às

ditas férias deverá ser

considerado nulo (art.

8º).

141 1975 1994 (Decreto

Legislativo 5/93

e Decreto

1.703/95)

Organizações

de

Trabalhadores

Rurais

Todas as categorias de

trabalhadores rurais,

quer se trate de

assalariados ou de

pessoas que

trabalhem por conta

própria, têm direito de

constituir, sem prévia

autorização, as

organizações que

estimem

convenientes, assim

como o direito de a

elas se afiliarem, com

a única condição de

observar os estatutos

das mesmas (art. 3º).

1.1.1.2. APLICAÇÃO DA CLT AOS RURÍCOLAS

Uma das primeira indagações a ser formulada quanto aos marcos

normativos do trabalho rural é a seguinte: a CLT pode ser aplicada aos trabalhadores

rurais?

Em seu art. 1º, a Lei do Trabalhador Rural (Lei 5.889/73) estabelece

que:

Lei 5.889/73, 1º - As relações de trabalho rural serão reguladas por esta Lei e, no que com ela não colidirem, pelas normas da CLT.

A esse respeito, a doutrina tem salientado a possibilidade de aplicação

de diversos preceitos da CLT aos rurícolas, o que ocorria mesmo antes da entrada em

vigor do aludido diploma:

Antes mesmo do advento do Estatuto do Trabalhador Rural não estavam os trabalhadores rurais totalmente excluídos do campo de aplicação do Direito do Trabalho. A eles se estendiam as

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disposições da Consolidação relativas ao salário mínimo (art. 76); às férias (art. 129, parágrafo único); ao aviso prévio e às normas gerais sobre o contrato de trabalho (art. 505). A aplicação do art. 76 importava, implicitamente, em reconhecer-lhes o legislador o limite de 8 horas para a jornada de trabalho (‘dia normal de serviço’). Tinham, ainda, os rurais, o direito ao repouso semanal e à remuneração dos domingos e feriados (Lei n. 605, de 5 de janeiro de 1949) (MARANHÃO, Délio. “Campo de aplicação do Direito do Trabalho”. In: SUSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio & SEGADAS VIANNA. Instituições de Direito do Trabalho. 10. ed., v. 1, Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1987, p. 155).

Em caso de conflito, de todo modo, deve prevalecer a Lei 5.889/73, até

por ser posterior (lex posterior derogat lex priori) e mais específica (lex specialis

derrogat lex generalis).

Veja-se, nessa perspectiva, o escólio de GODINHO DELGADO que

ressalta a isonomia de direitos entre urbanos e rurais:

A fase contemporânea vivenciada pelos empregados rurais é de plena aproximação jurídica com os empregados urbanos. Resguardam-se, contudo, algumas poucas especificidades

Lei 5.889/73, 1º

Possibilidade de aplicação supletiva

Omissão / compatibilidade

Conflito CLT Vs. Lei 5.889/73

lex posterior derogat lex priori

lex specialis derrogat lex

generalis

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normativas tópicas em torno dessa categoria especial de obreiros.

Os aspectos especiais à normatização do trabalho rural estão aventados, ilustrativamente, pela Lei n. 5.889/73. Trata-se, por exemplo, de parâmetros ligeiramente distintos de trabalho noturno, respeitada a sobrerremuneração constitucional mais elevada (art. 7º, Lei n. 5.889/73; art. 7º, IX, CF/88). Ou, ainda, certa flexibilidade na duração do intervalo intrajornada, observados os usos e costumes da região (art. 5º, Lei n. 5.889/73). Tais pequenas particularidades preservam-se na ordem jurídica, dado que a Constituição revogou tacitamente apenas os preceitos infraconstitucionais que lhe fossem antagônicos1.

Vale notar que a Lei 5.889/73, em seu art. 1º, parágrafo único, explicita

a possibilidade de aplicação das seguintes normas, desde que observadas as

particularidades do trabalho rural:

Por fim, convém destacar que se revela aplicácel, ainda que

parcialmente, a lei do rurícola a trabalhadores rurais não empregados (autônomos e

eventuais), segundo o art. 17 da Lei 5.889/73:

Lei 5.889/73, 17 - As normas da presente Lei são aplicáveis, no que couber, aos trabalhadores rurais

1 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr.

LEIS

• 605/49 - Repouso semanal remunerado

• 4.090/62 - 13º salário

• 4.725/65 - Dissídios coletivos

DECRETOS-LEIS

• 15/66 - Reajustes salariais

• 17/66 - Reajustes salariais

• 368/68 - Mora salarial

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não compreendidos na definição do art. 2º, que prestem serviços a empregador rural.

2. RELAÇÃO DE TRABALHO EMPREGATÍCIA RURAL

Pode-se dizer que, no meio rural, existem, essencialmente, três espécies

de trabalhadores rurais:

2.1. CARACTERIZAÇÃO DA RELAÇÃO DE EMPREGO RURAL

O rurícola pode ser empregado. Sendo assim, são exigidas,

evidentemente, as mesmas condições previstas nos arts. 2º e 3º da CLT para que se

caracterize a relação de emprego (subordinação, pessoalidade, onerosidade e não-

eventualidade).

Mas o que diferencia os empregados dos urbanos?

Em um primeiro contato com a distinção entre empregado urbano e

empregado rural, pode-se ficar tentado a acreditar que a diferença estaria lastreada no

local da prestação de serviços (meio rural e não meio urbano) ou no conteúdo

ocupacional da atividade laborativa desenvolvida pelo trabalhador (na agricultura,

pecuária, etc.).

Empregados rurais

•Em relação aos quais os requisitos da relação de emprego estão presentes (subordinação, pessoalidade, onerosidade e não-eventualidade)

•Rurícola e safrista

Autônomos

•Parceiro

•Quanto ao qual, há cessão de imóvel rural para se desenvolver atividade agro-econômica, mediante participação de lucros

•Meeiro

•Em que se dá uma espécie de parceria em que o proprietário fica com 50% do que parceiro produzir

•Arrendatário

•Para o qual há cessão da propriedade rural por tempo determinado mediante pagamento de aluguel mensal para exploração de atividade agro-econômica)

Eventuais

•Em relação ao qual, não se atende o requisito da não-eventualidade (requisito já estudado no tópico concernente à relação de emprego)

•Boia-fria, por exemplo.

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Contudo, o critério que se tem entendido como determinante, na

doutrina e jurisprudencia prevalentes, é o da atividade econômica

preponderantemente exercida pelo empregador. Assim, empregado rural seria

aquele que presta serviços a um empregador rural. Por sua vez, o empregador rural é

aquele que explora atividade agro-econômica.

Nessa direção pode ser citado o magistério de SUSSEKIND, com a

ressalva quanto à ausência de referencia aos prédios rústicos:

Obviamente, só no campo poderá haver trabalho rural; mas nem todos os que nele trabalham são rurícolas. Os empregados de hotel, armazém, farmácia, bar, indústria de transformação etc., ainda que os respectivos estabelecimentos localizem-se no campo, não são trabalhadores rurais. O conceito destes decorre da circunstância de prestarem serviços em empreendimentos agroeconômicos. [...].

Essa atividade compreende o setor agrícola (qualquer tipo de lavoura), o pastoral (qualquer modalidade de pecuária) e a indústria rural. Para que a indústria seja considerada rural, é necessário que se dedique apenas ao primeiro tratamento dos produtos agrários, in natura, sem alterar sua natureza, de forma a retirar-lhe a condição de matéria-prima (art. 2º, §§ 4º e 5º, do Regulamento aprovado pelo Decreto n0 73.626/74). O que a indústria rural promove é o beneficiamento e o preparo dos produtos agropecuários e hortigranjeiros e das matérias-primas de origem animal ou vegetal para sua venda ou industrialização, bem como o aproveitamento dos subprodutos oriundos dessas operações (art. 2º, § 4º, I, II, do Regul. cit.).

Desde a vigência do Estatuto do Trabalhador Rural, em 1963 (revogado pela Lei n0 5.889 cit.), tornou-se irrelevante saber se a atividade rural é principal ou acessória: como empregado é trabalhador rural.

Porque o conceito legal de empregador rural está condicionado à exploração agroeconômica, é evidente que no campo pode haver empregado doméstico, quando o serviço for prestado, sem finalidade lucrativa, no âmbito residencial, aos ocu-pantes da casa de campohavendo empreendimento

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rural, há empresário rural, e quem para ele trabalhar.2

É o que também ressalta GODINHO DELGADO:

O critério de identificação do trabalhador rural brasileiro hoje vigorante é distinto do tradicional oriundo da CLT. Insculpido na Lei de Trabalho Rural (n. 5.889/73 — art. 2º) e em seu Regulamento Normativo (Decreto n. 73.626/74 — art. 3º), o critério hoje prevalecente busca se ajustar ao modelo geral de enquadramento obreiro clássico ao Direito do Trabalho do país: o segmento de atividade do empregador.

A partir desse critério ora hegemônico, rurícola será o empregado vinculado a um empregador rural. O que importa à sua classificação como rurícola ou urbano é o próprio posicionamento de seu empregador: sendo rural este, rurícola será considerado o obreiro, independentemente de seus métodos de trabalho e dos fins da atividade em que se envolve.

Noutras palavras: o enquadramento rural (ou não) do obreiro perfila-se, hoje, como regra geral, pelo enquadramento de seu empregador, conforme estabelecido pela Lei n. 5.889/73 (que suplantou, neste aspecto, o antigo critério metodológico do art. 7º, “b”, CLT). Desse modo, sendo rural a empresa, rurícolas serão seus empregados que laborem no campo, ainda que não exercendo atividades tipicamente rurais; não sendo rurícola a empresa, também não serão tidos como trabalhadores do campo seus empregados3.

Por isso, indepentemente de sua ocupação o empregado que prestar

serviços a empregador rural, será considerado rurícola (ressalvado, naturalmente, os

integrantes de categorias diferenciadas, sujeitos a condições de vida singulares ou a

um estatuto legal próprio), como se vê, por exemplo, no caso de motorista, previsto

na OJ 315 da SbDI-1:

2 SUSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho, pp. 108-109. São Paulo: Renovar.

3 Op. cit.

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OJ 315 da SbDI-1 - É considerado trabalhador rural o motorista que trabalha no âmbito de empresa cuja atividade é preponderantemente rural, considerando que, de modo geral, não enfrenta o trânsito das estradas e cidades.

ALICE MONTEIRO DE BARROS leciona, nesse sentido, que mesmo

ocupações não diretamente relacionados à lavoura ou pecuária podem ser objeto de

emprego rural4:

Consideram-se, igualmente, empregados rurais os que, embora não trabalhando em funções típicas da lavoura ou da pecuária, têm seus serviços direcionados para a finalidade da empresa. Dessa forma, são rurais os motoristas, apontadores, fiscais, administradores, tratoristas, pedreiros e outros, cujos serviços convergem para a atividade agroeconômica, sendo relevante para a conceituação do rurícola a finalidade da empresa.

Também pode ser mencionada a OJ 419 da SBDI-1, que alude à

atividade economica preponderantemente exercida pelo empregador como critério

para definição do rurícola:

OJ 419 da SbDI-1 - ENQUADRAMENTO. EMPREGADO QUE EXERCE ATIVIDADE EM EMPRESA AGROINDUSTRIAL. DEFINIÇÃO PELA ATIVIDADE PREPONDERANTE DA EMPRESA. Considera-se rurícola empregado que, a despeito da atividade exercida, presta serviços a empregador agroindustrial (art. 3º, § 1º, da Lei nº 5.889, de 08.06.1973), visto que, neste caso, é a atividade preponderante da empresa que determina o enquadramento.

Pode ser ainda citada, a contrario sensu, a Súmula 196 do STF:

Súmula 196 do STF - Ainda que exerça atividade rural, o empregado de empresa industrial ou comercial é classificado de acordo com a categoria do empregador.

4 BARROS, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho, p. . São Paulo, LTr, 2010.

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Não prevalece mais, nessa esteira, a diretriz fixada pelo art. 7º, b, da

CLT, que definia como trabalhador rural aquele que exercia “funções diretamente

ligadas à agricultura e à pecuária”.

Nesse cenário, convém delinear em que consiste a atividade agro-

econômica. Em síntese, pode-se afirmar que se trata de atividade econômica cujo

objeto principal é a agricultura ou a pecuária, o que inclui a “exploração industrial”

em estabelecimento agrário (Lei 5.889/73, 3º, § 1º).

Deve ser esclarecido, nesse particular, que não desnatura o caráter

agro-econômico da atividade empresarial o primeiro tratamento dos produtos

agrários "in natura" sem transformá-los em sua natureza como (Decreto 73.626/74,

2º, § 4º):

Critérios não prevalentes

• Local da prestação de serviços (meio rural) – prédio rústico

• Conteúdo ocupacional da atividade laborativa (agricultura / pecuária) – CLT, 7º, b – OJ 315 SbDI-1 e Súmula 196 STF

Critério determinante

• Atividade econômica preponderantemente exercida pelo empregador (OJ 419 da SbDI-1)

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Não será considerada, contudo, atividade agro-econômica aquela que,

operando a primeira transformação do produto agrário, altere a sua natureza,

retirando-lhe a condição de matéria-prima (Decreto 73.626/74, 2º, § 5º).

De outro lado, embora o critério central seja o exercicio de atividade

agro-economica, vale notar que alguns doutrinadores ressaltam a necessidade

cumulativa de o trabalho ser prestado em imóvel rural ou prédio rústico, como é o

caso de GODINHO DELGADO:

Insista-se: são dois os elementos fático-jurídicos especiais da categoria agropastoril: o primeiro, consistente na vinculação a um tomador de serviços de caráter rural; o segundo, consistente na circunstância de o trabalho ser prestado em imóvel rural ou prédio rústico. A esses elementos rurícolas especiais somam-se os elementos fático-jurídicos gerais de qualquer relação de emprego, para formar a figura do empregado rural5.

Nesse contexto, deve ser recordado o conceito de prédio rustico.

Embora existam várias correntes, a posição mais razoável é a que o define como o

imóvel situado na zona rural ou urbana, mas é destinado à exploração de atividade

agro-econômica (é o que defendem SÉRGIO PINTO MARTINS e GODINHO DELGADO). 5 Op. cit.

BENEFICIAMENTO

•A primeira modificação e o preparo dos produtos agropecuários e hortifrutigranjeiros e das matérias-primas de origem animal ou vegetal para posterior venda ou industrialização

•Eemplo – primeiro beneficiamento do arroz / contra-exemplo – industrialização da farinha

APROVEITAMENTO DOS SUBPRODUTOS

•Oriundos das operações de preparo e modificação dos produtos "in natura", referidOs no item anterior

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Eis o que pondera GODINHO DELGADO acerca da distinção entre imóvel rural e prédio

rústico:

A definição de imóvel rural não enseja controvérsia, atada ao próprio senso comum. Refere-se à zona geográfica situada no campo, exterior às áreas de urbanização.

Já prédio rústico é conceito utilizado pela ordem jurídica para permitir o enquadramento como rurícola daqueles trabalhadores que efetivamente exercem atividade agropastoril, para empregadores economicamente atados a tais atividades campestres, porém situados em localidades que, por exceção, ficam incrustadas no espaço urbano. Trata-se, pois, do imóvel geograficamente classificado como urbano, porém envolvido, do ponto de vista econômico e laborativo, com atividades nitidamente agropastoris. Como bem exposto pelo jurista Márcio Túlio Viana, neste conceito “... o que importa mesmo é a natureza da atividade empresarial. Assim, será rurícola o lavrador que cultiva uma horta em pleno centro de São Paulo”6.

No tocante às empresas de reflorestamento (nas quais os trabalhadores

realizam labor tipicamente rural, em imóvel rural, mas para empregador enquadrado

como urbano ou industriário), note-se que o TST consolidou o entendimento, na OJ 38

da SbDI-1, segundo o qual o empregado que lhe presta serviços seria enquadrado

como rurícola:

OJ 38 da SbDI1 – EMPREGADO QUE EXERCE ATIVIDADE RURAL. EMPRESA DE REFLORESTAMENTO. PRESCRIÇÃO PRÓPRIA DO RURÍCOLA. (LEI Nº 5.889/73, ART. 10 E DECRETO Nº 73.626/74, ART. 2º, § 4º). O empregado que trabalha em empresa de reflorestamento, cuja atividade está diretamente ligada ao manuseio da terra e de matéria-prima, é rurícola e não industriário, nos termos do Decreto n.º 73.626, de 12.02.1974, art. 2º, § 4º, pouco importando que o fruto de seu trabalho seja destinado à indústria.

6 Op. cit.

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Assim, aplica-se a prescrição própria dos rurícolas aos direitos desses empregados.

É de se ressaltar, ainda, que se equipara ao empregador rural a “pessoa

física ou jurídica que, habitualmente, em caráter profissional, e por conta de

terceiros, execute serviços de natureza agrária, mediante utilização do trabalho de

outrem” (Lei 5.889/73, 4º).

Não é considerado empregado rural, contudo, aquele que presta

serviços de natureza contínua em chácara ou sítio de lazer e recreação, sem finalidade

lucrativa, por se tratar de âmbito residencial por extensão, o que leva ao seu

enquadramento como empregado doméstico, nos termos da Lei 5.859/72.

2.2. SUJEITOS DA RELAÇÃO DE EMPREGO RURAL

Quanto à relação de emprego rural, podem ser identificados os

seguintes sujeitos contemplados pela Lei 5.889/72:

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2.3. EQUIPARAÇÃO ENTRE TRABALHADORES URBANOS E RURAIS

Como se recorda, a Constituição Federal estabelece, no caput do art.

7º, caput, igualdade de direitos entre o trabalhador urbano e rural, o que significa, a

rigor, que todos os direitos previstos ali devem ser assegurados tanto para um quanto

para outro:

CF, 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

(...)

Isso não significa dizer que os direitos serão absolutamente iguais.

Ilustrativamente, pode ser lembrada a questão do adicional noturno. O

inciso IX do art. 7º, nesse ponto, assegura que a remuneração do trabalho noturno

será superior a do diurno. De fato, esse direito está assegurado sob a forma do

adicional noturno tanto para o trabalhador urbano (na CLT) quanto para o rural (na

EMPREGADO RURAL

•Lei 5.889/73, 2º

• “pessoa física que, em propriedade rural ou prédio rústico, presta serviços de natureza não eventual a empregador rural, sob a dependência deste e mediante salário”.

EMPREGADOR RURAL

•Lei 5.889/73, 3º

•“pessoa física ou jurídica, proprietário ou não, que explore atividade agro-econômica, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou através de prepostos e com auxílio de empregados”.

GRUPO ECONÔMICO RURAL

•Lei 5.889/73, 3º, § 2º)

•"Sempre que uma ou mais empresas, embora tendo cada uma delas personalidade jurídica própria, estiverem sob direção, controle ou administração de outra, ou ainda quando, mesmo guardando cada uma sua autonomia, integrem grupo econômico ou financeiro rural, serão responsáveis solidariamente nas obrigações decorrentes da relação de emprego" - denominação semelhante à da CLT (2º, § 2º), com a possibilidade explícita de reconhecimento de grupo horizontal responsabilidade solidária

CONSÓRCIO DE EMPREGADORES RURAIS

•Lei 8.212/91, 25-A e Portaria 1.964/99

•“Formado pela união de produtores rurais pessoas físicas, que outorgar a um deles poderes para contratar, gerir e demitir trabalhadores para prestação de serviços, exclusivamente, aos seus integrantes, mediante documento registrado em cartório de títulos e documentos”.

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própria Lei 5889/73). Ocorre que o percentual do adicional, o horário a ser

considerado noturno e quantitativo de minutos da hora noturna são diferentes na

regulamentação do trabalho urbano e trabalho rural.

Em síntese, o que se pode afirmar é que o conjunto de direitos

assegurados constitucionalmente a ambos os trabalhadores (urbanos e rurais) é o

mesmo, mas alguns aspectos de tais direitos podem ser objeto de regulamentação

infraconstitucional de modo diverso.

Eis um quadro com as principais diferenças entre os direitos do

trabalhador urbano e do rural. Vejamos:

DIREITOS EMPREGADO URBANO EMPREGADO RURAL

Adicional Noturno 20% 25%

Horário Noturno Das 22:00 às 05:00 Das 21:00 às 05:00 (agricultura) Das 20:00 às 04:00 (pecuária)

Hora Noturna 52min e 30seg (hora ficta)

60min (hora cheia)

Intervalo para Alimentação

1 a 2 horas Depende dos usos e costumes da região

Aviso Prévio (rescisão de iniciativa do empregador)

2 horas por dia durante os 30 dias do aviso ou 7 dias corridos.

1 dia livre por semana.

Descontos salariais pelo fornecimento de utilidades.

Descontos nos moldes previstos na CLT e legislação esparsa.

20% sobre o salário mínimo por moradia; 25% sobre o salário mínimo por alimentação (sadia e farta) *descontos previamente autorizados, sob pena de nulidade.

Contribuição Sindical Valor do salário correspondente a 1 dia de trabalho do mês de março. (1/30 do salário contratual)

1/30 do salário mínimo. (§2º do art. 4º, do Decreto-Lei 1.166/71)

2.4. JORNADA

Quanto aos parâmetros máximos da jornada diária e semanal, os

rurícolas observam as mesmas regras dos urbanos (CF/88, 7º, caput e XIII):

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No tocante às horas extras, o Decreto 73.626/74, em seu art. 7º, prevê

uma limitação idêntica à estabelecida pelo art. 59 da CLT, isto é, de 2 horas extras

diárias:

Decreto 73.626/74, 7º - A duração normal do trabalho poderá ser acrescida de horas suplementares, em número não excedente de 2 (duas), mediante acordo escrito entre o empregador e o empregado ou mediante contrato coletivo de trabalho, observado o disposto no artigo anterior.

§ 1º Do acordo ou do contrato coletivo de trabalho deverá constar, obrigatoriamente, a importância da remuneração da hora suplementar que será, pelo menos, 20% (vinte por cento) superior à da hora normal.

§ 2º Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo ou contrato coletivo, o excesso de horas em um dia for compensado pela correspondente redução em outro dia, de maneira que não exceda o horário normal de trabalho.

Contudo, ao prever um adicional de apenas 20% para a jornada

extraordinária, o dispositivo pode ser considerado incompatível e, portanto, não

recepcionado pela CF/88, que garante um adicional de horas extras de, pelo menos,

50% (CF, 7º, XVI).

8hs por dia

44hs por

semana

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Relativamente ao intervalo intrajornada (Lei 5.889/73, 5º e Decreto

73626/74, 5º, § 1º), assegura-se:

Tal como se dá quanto aos urbanos, o trabalhadores rurais não têm esse

tempo computado em sua jornada de trabalho, tratando-se de suspensão do contrato

de trabalho.

Se desrespeitado o mínimo, aplica-se o art. 71, § 4º, da CLT, à luz da

Súmula 437, I, do TST (antiga OJ 381 da SbDI-1):

Súmula 437 do TST - INTERVALO INTRAJORNADA PARA REPOUSO E ALIMENTAÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 71 DA CLT.

I - Após a edição da Lei nº 8.923/94, a não-concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica o pagamento total do período correspondente, e não apenas daquele suprimido, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho (art. 71 da CLT), sem prejuízo do cômputo da efetiva jornada de labor para efeito de remuneração.

(...)

MÍNIMO

• Uma pausa mínima de 1 hora

MÁXIMO

• Uma pausa máxima regida pelos usos e costumes da Região

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No concernente ao intervalo interjornadas, a pausa é a mesma

concedida aos trabalhadores urbanos, isto é, de 11 horas (Lei 5.889/73, art. 5º e

Decreto 73626/74, art. 6º).

A propósito dos intervalos no trabalho rural, seguem precedentes do

TST acerca da possibilidade de aplicação analógica do art. 72 da CLT (10 minutos de

descanso a cada 90 minutos de trabalho) quanto às pausas a serem concedidas aos

empregados rurais que realizem atividades em pé ou se submetam a sobrecarga

muscular, contempladas pela NR-31 do MTE:

HORAS EXTRAS. EMPREGADO RURAL. ATIVIDADE DE CORTE DE CANA-DE-AÇÚCAR. PAUSAS PREVISTAS NA NR-31 DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 72 DA CLT. 1. A NR-31 do Ministério do Trabalho e Emprego, aprovada pela Portaria GM nº 86, de 3/3/2005, prevê a obrigatoriedade de concessão de pausas para descanso aos empregados rurais que realizem atividades em pé ou se submetam a sobrecarga muscular. A norma regulamentar, no entanto, não especifica as condições ou o tempo de duração de tais pausas. 2. A lacuna da norma regulamentar e da própria legislação trabalhista sobre aspecto de menor importância, relativo ao modus operandi das aludidas pausas, não pode servir de justificativa para a denegação de direitos fundamentais constitucionalmente assegurados ao empregado, relativos à -redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança- (artigo 7º, XXII, CF) e ao meio ambiente do trabalho equilibrado (artigo 225, caput, CF). Necessidade de utilização da técnica processual de integração da ordem jurídica, mediante analogia. Aplicação das disposições dos artigos 8º da CLT, 126 do CPC e 4º da Lei de Introdução ao Código Civil. 3. Ante a ausência de previsão, na NR-31 do MTE, quanto ao tempo de descanso devido nas condições de trabalho lá especificadas, aplica-se ao empregado que labora em atividade de corte de cana-de-açúcar, por analogia, a norma do artigo 72 da CLT. Precedentes das Turmas e da SbDI-1 do TST. 4. Embargos de que se conhece, por divergência jurisprudencial, e a que se dá provimento. (TST-E-RR-1943-81.2010.5.15.0156, Rel. Min. João Oreste Dalazen, SbDI-1, DEJT 09/05/2014)

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HORAS EXTRAS - TRABALHADOR RURAL - INTERVALO PREVISTO NA NR-31 DO MTE - APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 72 DA CLT. A Norma Regulamentadora nº 31 do Ministério do Trabalho e Emprego, em seus itens 31.10.7 e 31.10.9 estabelece que para as atividades realizadas necessariamente em pé e para aquelas que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica devem ser garantidas pausas para descanso. Trata-se de norma genérica, que não traz especificação a respeito da forma de concessão dos referidos intervalos, particularmente no que tange à frequência e à duração das pausas. Esta Corte, considerando as particularidades que envolvem a atividade de corte de cana-de-açúcar, que compreende as duas situações indignas estabelecidas na mencionada Norma Regulamentadora, bem como a abertura legal preconizada pelo artigo 8º da CLT, vem entendendo pela possibilidade de se aplicar, por analogia, o que dispõe o artigo 72 da CLT, que prevê o direito a pausas de dez minutos a cada período de noventa minutos trabalhados, de maneira a se conferir efetividade à legislação infralegal. Precedentes da SBDI-1 e de todas as Turmas desta Corte. Recurso de embargos conhecido e provido. (TST-E-Ag-RR- 122800-93.2009.5.15.0156, Rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, SbDI-1, DeJT 11/04/2014)

Instituto “sui generis” no caso dos trabalhadores rurais é o de serviços

intermitentes, previsto na Lei 5.889/73, art. 6º, e no Decreto 7.3626/74, art. 10:

Lei 5.889/73, 6º - Nos serviços, caracteristicamente intermitentes, não serão computados, como de efeito exercício, os intervalos entre uma e outra parte da execução da tarefa diária, desde que tal hipótese seja expressamente ressalvada na Carteira de Trabalho e Previdência Social.

Decreto 7.3626/74, 10 - Nos serviços intermitentes não serão computados, como de efetivo exercício, os intervalos entre uma e outra parte da execução da tarefa diária, devendo essa característica ser expressamente ressalvada na Carteira de Trabalho e Previdência Social.

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Parágrafo único. Considera-se serviço intermitente aquele que, por sua natureza, seja normalmente executado em duas ou mais etapas diárias distintas, desde que haja interrupção do trabalho de, no mínimo, 5 (cinco) horas, entre uma e outra parte da execução da tarefa.

2.5. REMUNERAÇÃO

O principal aspecto relativo à remuneração dos rurícolas concerne aos

descontos salariais (Lei 5.889/73, art. 9º e Decreto 73626/74, art. 16), a respeito dos

quais, pode-se assim sistematizar as principais regras:

A moradia do trabalhador rural está disciplinada pelo art. 9º da Lei

5.889/73. Cumpre destacar as seguintes particularidades:

O que?

• Até 20% (sobre o salário mínimo) pela ocupação da morada (habitação fornecida pelo empregador, a qual, atendendo às condições peculiares de cada região, satisfaça os requisitos de salubridade e higiene estabelecidos em normas expedidas pelas SRTs)

• Até 25% (sobre o salário mínimo) pelo fornecimento de alimentação sadia e farta (atendidos os preços vigentes na região – para se evitar o chamado "truck system")

• Adiantamentos em dinheiro.

Quando?

• Previamente autorizadas

• Os descontos exigem autorização prévia e, se for seguida a diretriz da Sumua 342 do TST, por escrito.

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Quanto ao salário mínimo para os trabalhadores rurais, há

particularidade curiosa (e incompatível com a CF/88) relativa ao trabalho do menor

(Lei 5.889/73, art. 11):

Lei 5.889/73, 11 - Ao empregado rural maior de dezesseis anos é assegurado salário mínimo igual ao de empregado adulto.

Parágrafo único. Ao empregado menor de dezesseis anos é assegurado salário mínimo fixado em valor correspondente à metade do salário mínimo estabelecido para o adulto.

Cuidade-se, naturalmente, de dispositivo não recepcionado pelo Texto

Constitucional, que não estabelece qualquer distinção etária relativamente ao salario

mínimo (CF, art. 7º, IV).

O desconto máximo no salário pela moradia é de 20% (calculado sobre o salário-mínimo)

Sempre que mais de 1 trabalhador residir no mesmo local, o desconto deve ser dividido proporcionalmente. Assim, se, por exemplo, 4 trabalhadores residirem no mesmo local, cada um deles só poderá sofre o desconto máximo de 5% do salário-mínimo

É proibida a moradia coletiva de famílias (apenas se admite que uma única família resida em cada residência)

Rescindido o contrato de trabalho, o trabalhador tem 30 dias para desocupar o imóvel

É possível a cessão pelo empregador, de moradia e de sua infra-estrutura básica, assim, como bens destinados à produção para subsistência do trabalhador rural e de sua família, não integrando o salário, desde que caracterizados como tais, em contrato escrito celebrado entre as partes, com testemunhas e notificação obrigatória ao respectivo sindicato de trabalhadores rurais (o fato de não integrar o salário é um estímulo para que o empregador faça isso, pois não haverá repercussão nas demais parcelas salariais quando da rescisão)

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Outro aspecto digno de nota diz respeito ao salário família, quanto ao

qual a Súmula 344 do TST reconhece como um direito dos rurícolas, desde o advento

da Lei 8.213/91:

Súmula 344 do TST - O salário-família é devido aos trabalhadores rurais somente após a vigência da Lei nº 8.213, de 24.07.1991.

De outra parte, há de se destacar que, à luz do art. 145 do CTN, o

lançamento de contribuição sindical exige, por conta das particularidades do meio

rural, a notificação pessoal do sujeito passivo. Assim a mera publica o de editais,

mesmo em ornais de grande circula o, n o se re ela suficiente em ra o das

dificuldades de acesso aos meios de comunica o do contribuinte que i e na área

rural. É a posição acolhida pela jurisprudência atual do TST:

AÇÃO DE COBRANÇA DE CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL. NOTIFICAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR. NECESSIDADE. ART. 145 DO CTN. Acórdão embargado em consonância com a jurisprudência reiterada desta Corte Superior, no sentido de ser necessária ao lançamento da contribuição sindical rural a notificação pessoal do sujeito passivo, a teor do art. 145 do CTN, não sendo suficiente a publicação de editais em jornais de grande circulação. Precedentes desta SDI-I. Recurso de embargos conhecido e não provido. (TST-E-RR-364-47.2010.5.05.0651, Rel. Min. Hugo Carlos Scheuermann, SbDI-1, DeJT 23/05/2014)

AÇÃO DE COBRANÇA DE CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL. AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO DE CONSTITUIÇÃO E DE DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR DO PROCESSO. NOTIFICAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR. ARTIGO 145 DO CTN. 1. A jurisprudência pacífica da SbDI-1 do TST consolidou-se no sentido de que, consoante o artigo 145 do CTN, uma das fases do lançamento tributário é a notificação pessoal do sujeito passivo, a fim de que haja ciência do devedor acerca da necessidade de recolhimento da contribuição sindical. Precedentes. 2. Diante das dificuldades de acesso do contribuinte que vive no campo, a efetiva ciência do sujeito passivo depende de notificação pessoal. Não basta à constituição do crédito tributário a mera

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publicação de editais em jornais de circulação eminentemente urbana. 3. A ausência de comprovação da notificação pessoal do devedor, nos autos de ação ordinária de cobrança de contribuição sindical rural, acarreta a extinção do processo, sem julgamento do mérito, por ausência de pressuposto de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo. Aplicação do artigo 267, IV, do CPC. 4. Embargos de que se conhece, por divergência jurisprudencial, e a que se nega provimento. (TST-E-RR-886-74.2010.5.05.0651, Rel. Min. João Oreste Dalazen, SbDI-1, DeJT 04/04/2014)

Nesse contexto, deve-se salientar, outrossim, que não se aplicam as

sanções prescritar no art. 600 CLT pelo atraso no recolhimento da contribuição

sindical rural:

Súmula 432 do TST - CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL. AÇÃO DE COBRANÇA. PENALIDADE POR ATRASO NO RECOLHIMENTO. INAPLICABILIDADE DO ART. 600 DA CLT. INCIDÊNCIA DO ART. 2º DA LEI Nº 8.022/1990. O recolhimento a destempo da contribuição sindical rural não acarreta a aplicação da multa progressiva prevista no art. 600 da CLT, em decorrência da sua revogação tácita pela Lei nº 8.022, de 12 de abril de 1990.

Por fim, há previsão legal interessante quanto à plantação intercalar ou

subsidiária (Lei 5.889/73, 12):

Lei 5.889/73, 12 - Na regiões em que se adota a plantação subsidiária ou intercalar (cultura secundária), a cargo do empregado rural, quando autorizada ou permitida, será objeto de contrato em separado.

Parágrafo único. Embora devendo integrar o resultado anual a que tiver direito o empregado rural, a plantação subsidiária ou intercalar não poderá compor a parte correspondente ao salário mínimo na remuneração geral do empregado, durante o ano agrícola.

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2.6. AVISO PRÉVIO

As regras relativas ao aviso prévio dos rurícolas encontram-se previstas

no art. 15 da Lei 5.889/73:

Lei 5.889/73, 15 – Durante o prazo do aviso prévio, se a rescisão tiver sido promovida pelo empregador, o empregado rural terá direito a um dia por semana, sem prejuízo do salário integral, para procurar outro trabalho.

Como se vê, se houver dispensa sem justa causa do empregado rural, o

trabalhador faz jus a um período de interrupção (não trabalha, mas recebe salário) do

contrato de trabalho de 1 dia por semana, durante o período de aviso prévio.

2.7. EDUCAÇÃO

Há, ainda, interessante previsão quanto à obrigação de o empregador

oferecer edução aos seus rurícolas, até por conta das naturais dificuldades de acesso

ao ensino em áreas rurais mais isoladas. Com efeito, o art. 16 da Lei 5.889/73 prevê a

necessidade de o empregador rural manter escola primária destinada aos filhos dos

trabalhadores rurais, nos seguintes termos:

Lei 5.889/73, 16 – Toda propriedade rural, que mantenha a seu serviço ou trabalhando em seus limites mais de 50 famílias de trabalhadores de qualquer natureza, é obrigada a possuir e conservar em funcionamento escola primária, inteiramente gratuita, para os filhos destes, com tantas classes quantos sejam os filhos destes, com tantas classes quantos sejam os grupos de 40 crianças em idade escolar.

A matrícula da população em idade escolar será obrigatória, sem qualquer outra exigência, além da certidão de nascimento, para cuja obtenção o empregador proporcionará todas as facilidades aos responsáveis pelas crianças.

3. CONTRATO POR PEQUENO PRAZO

3.1. MARCOS NORMATIVOS

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O denominado “contrato por pequeno prazo” contitui modalidade

contratual a termo destinada especificamente aos trabalhadores rurais, que formaliza

relação de emprego especial. Sua disciplina legal encontra-se na Lei 11.718/08, que

promoveu alteração na Lei 5.889/73, introduzindo o art. 14-A.

3.2. DISTINÇÕES – CONTRATO DE SAFRA

É de se destacar que a referida espécie contratual não se confunde com

o chamado contrato de safra. Tal contrato (de safra) encontra-se previsto no art. 14 da

Lei 5.889/73:

“Art. 14. Expirado normalmente o contrato, a empresa pagará ao safrista, a título de indenização do tempo de serviço, importância correspondente a 1/12 (um doze avos) do salário mensal, por mês de serviço ou fração superior a 14 (quatorze) dias”.

O parágrafo único do aludido dispositivo define o contrato de safra

como aquele cuja “duração dependente de variações estacionais da atividade

agrária” (Lei 5.889/73, 14, § único), en ol endo, por outro lado, “tarefas

normalmente executadas no período compreendido entre o preparo do solo para o

cultivo e a colheita”, conforme complementa o Decreto 73.626/74, em seu art. 19.

GODINHO lembra que, não obstante prevista pela Lei de Trabalho Rural,

essa modalidade contratual, na verdade, não se afastaria das características básicas

dos contratos a termo traçadas pela CLT, em seu art. 4437:

É o contrato de safra um pacto autorizado em face de “serviço cuja natureza ou transitoriedade justifique a predeterminação do prazo” (art. 443, § 2º, “a”, CLT). Seu termo pode ser fixada nos moldes celetistas (§ 1º do art. 443, CLT), quer “pela execução de serviços especificados” concernentes à safra (plantio, colheita, etc.), quer pela realização de “certo acontecimento suscetível de previsão aproximada” (extinção do período de safra, por exemplo), quer mesmo pelo termo cronológico — desde que este se ajuste à efetiva “variação estacional da atividade agrária”.

Outro aspecto ressaltado pelo doutrinador concerne à prescindibilidade

da forma, que, segundo entende, não seria um pressuposto de validade do aludido

contrato8:

7 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho, p. 538. São Paulo: LTr, 2012.

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O presente contrato não é do tipo formalística (não há tal requisito no art. 14, Lei n. 5.889/73), podendo ser tacitamente ajustado (art. 442, caput, CLT). Pode ele, desse modo, provar-se através de qualquer meia probatório lícito (art. 332, CPC). Evidentemente, não obstante a autorização legal para o ajuste tácito do contrato de safra, também neste casa a adoção da forma escrita surge como recomendável às partes, por consistir o instrumento escrita um dos mecanismos probatórios mais clássicos e convincentes.

Por fim, note-se que a previsão relativa à indenização de 1/12 do salário

mensal contemplada pela parte final do art. 14 da Lei 5.889/73, haveria duas teses

doutrinárias9:

A primeira, sustentando que a norma constitucional citada teria revogado todas as indenizações por tempo de serviço existentes, desde a do art. 477, caput, da CLT, até a do empregado safrista.

A segunda posição entende que a indenização do contrato de safra (que é contrato a termo) não se confunde com a indenização tradicional da CLT, que era inerente apenas a contratos sem prazo fixo. Esta última é que teria sida revogada pela Constituição, que previa, em seu art. 7º, I, “relação de emprega protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa...”.

3.3. CARACTERÍSTICAS

Podem ser assim sintetizadas as principais características do contrato

por pequeno prazo, à luz do art. 14-A da 5.889/73:

8 DELGADO, Maurício Godinho. Op. cit. p. 539.

9 Op. cit. p. 540.

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Esse último aspecto constitui ponto bastante polêmico da inovação

normativa trazida pela Lei 11.718/08 (ver nota pública da ANPT). Com efeito, houve

uma quebra de paradigma, o rompimento com uma certa tradição histórica

reltativamente à exigência de anotação da CTPS para formalizar as relações de

emprego. A sua inexistência acarreta, inexoravelmente, dificuldades para

comprovação do tempo de serviço para fins previdenciários e trabalhista, além de

implicar embaraços à fiscalização do trabalho, com forte estímulo à fraude e à

informalidade. Para os que defendem, nesse contexto, a inconstitucionalidade do

preceito (art. 14-A da Lei 5.889/73), um dos argumento é a sua incompatibilidade com

o principio constitucional da igualdade de direitos entre trabalhadores urbanos e

rurais (CF, 7º, caput), assim como o desrespeito ao princípio do não-retrocesso,

também contemplado pelo mesmo dispositivo constitucional (CF, 7º, caput).

3.4. DIREITOS

De acordo com o art. 14-A da Lei 5.889/73, podem ser enumerados

como direitos dos trabalhadores rurais submetidos a contrato por pequeno prazo:

•O produtor rural pessoa física, proprietário ou não, que explore diretamente atividade agroeconômica (Lei 5.889/73, 14-A, caput e § 4º)

Quem pode contratar?

•Para o exercício de atividades de natureza temporária (Lei 5.889/73, 14-A, caput) – de que seria exemplo o plantio em áreas de pequena extensão.

Para que?

•2 meses dentro do período de 1 ano (Lei 5.889/73, 14-A, § 1º)

•Se superar, converte-se em contrato de trabalho por prazo indeterminado

Qual é o prazo máximo?

•Formalização mediante inclusão do trabalhador na GFIP (se não for incluído há presunção de inexistência de contrato por pequeno prazo, sem prejuizo da prova de relação juridical diversa – autonomo, e entual, … – (Lei 5.889/73, 14-A, § 6º) e

•Anotação na CTPS e em Livro ou Ficha de Registro de Empregados; ou

•Contrato escrito, em 2 vias, uma para cada parte, onde conste, no mínimo:

•a) expressa autorização em acordo coletivo ou convenção coletiva;

•b) identificação do produtor rural e do imóvel rural onde o trabalho será realizado e indicação da respectiva matrícula;

•c) identificação do trabalhador, com indicação do respectivo Número de Inscrição do Trabalhador – NIT.

Como se formaliza e quais são seus requisitos?

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4. PRESCRIÇÃO

Quando a Constituição de 1988 foi aprovada, havia uma previsão

especial que favorecia os trabalhadores rurais: eles podiam reclamar na Justiça do

Trabalho os créditos trabalhistas relativos a todo o período trabalhado (fossem 5, 10,

20 ou mais anos), desde que o fizessem em até 2 (dois) anos após a extinção do

contrato de trabalho, conforme a redação original do art. 7º, XXIX, da CF:

CF, 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

[...]

XXIX - ação, quanto a créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de:

a) cinco anos para o trabalhador urbano, até o limite de dois anos após a extinção do contrato;

b) até dois anos após a extinção do contrato, para o trabalhador rural; (Revogado pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000)

•Equivalente à do trabalhador rural permanente (Lei 5.889/73, 14-A, § 8º)

•Parcelas devidas ao trabalhador serão calculadas dia a dia e pagas diretamente a ele mediante recibo (Lei 5.889/73, 14-A, § 9º)

Remuneração

•Lei 5.889/73, 14-A, § 10

•Deverá ser recolhido e poderá ser levantado nos termos da Lei 8.036/90

FGTS

•Filiação e inscrição na Previdência Social (Lei 5.889/73, 14-A, § 2º) - decorrem, automaticamente, da sua inclusão pelo empregador na Guia GFIP

•Contribuição do segurado trabalhador rural (Lei 5.889/73, 14-A, § 5º) - 8% sobre o salário-de-contribuição (definido no art. 28, I, da Lei 8.212/91)

Previdência

•Lei 5.889/73, 14-A, § 8º

Demais direitos de natureza trabalhista

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[...]

Não há, contudo, mais essa diferenciação no tocante ao prazo

prescricional relativamente a trabalhadores urbanos e rurais. De fato, em matéria de

prescrição, trabalhadores urbanos e rurais foram igualados pela Emenda

Constitucional 28/2000 e podem reclamar apenas os créditos dos 5 (cinco) anos

anteriores, respeitado o limite de 2 (dois) anos após a extinção do contrato de

trabalho, à luz da atual redação do inciso XXIX, do art. 7º, da CF:

CF, 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

[...]

XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho;

[...]

Vale a pena lembrar que a jurisprudência do TST reconheceu algumas

particularidades quanto à aplicação das regras de direito intertemporal concernentes

à alteração da norma constitucional (CF, 7º, XXIX) em relação aos trabalhadores rurais.

Veja, a propósito, as Orientações Jurisprudenciais 271 e 417 da SbDI-1 do TST:

OJ 271 da SbDI-1 - O prazo prescricional da pretensão do rurícola, cujo contrato de emprego já se extinguira ao sobrevir a Emenda Constitucional nº 28, de 26/05/2000, tenha sido ou não ajuizada a ação trabalhista, prossegue regido pela lei vigente ao tempo da extinção do contrato de emprego.

OJ 417 da SbDI-1 - Não há prescrição total ou parcial da pretensão do trabalhador rural que reclama direitos relativos a contrato de trabalho que se encontrava em curso à época da promulgação da Emenda Constitucional nº 28, de 26.05.2000, desde que ajuizada a demanda no prazo de cinco anos de sua publicação, observada a prescrição bienal.

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5. RELAÇÕES DE TRABALHO RURAL NÃO EMPREGATÍCIAS.

Ao lado da relação de emprego que pode ser identificada no meio rural,

existem diversas relações de trabalho não empregatícias, como é caso das seguintes:

Entre as referidas modalidades, serão analisadas a parceria, o

arrendamento, o trabalho eventual e as cooperativas de trabalho.

5.1. CONTRATOS AGRÁRIOS – ARRENDAMENTO E PARCERIA

O Estatuto da Terra (Lei 4.504/64) e o Decreto 59.566/66 estabelecem

as principais regras acerca da celebra o dos denominados “contratos agrários”. Há,

naturalmente, a possibilidade de incidência supletiva das normas previstas no Código

Civil (Lei 4.504/64, art. 92, § 9º).

Na parceria e no arrendamento, o proprietário garante ao arrendatário ou parceiro o uso e gozo do imóvel arrendado ou cedido em parceria (Lei 4.504/64, art. 92, § 1º). De acordo com o art 1º do Decreto 59.566/66, tratam-se de “contratos agrários que a lei reconhece, para o fim de posse ou uso temporário da terra, entre o proprietário, quem detenha a posse ou tenha a livre administração de um imóvel rural, e aquêle que nela exerça qualquer atividade agrícola, pecuária, agro-industrial, extrativa ou mista”.

O art. 2º esclarece ainda que:

Art 2º Todos os contratos agrários reger-se-ão pelas normas do presente Regulamento, as quais serão de obrigatória aplicação

Parceria

Arrendamento

Trabalho eventual

Cooperativa

Prestação de serviços

autônomos

Empreitada

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em todo o território nacional e irrenunciáveis os direitos e vantagens nelas instituídos (art.13, inciso IV da Lei nº 4.947-66).

Parágrafo único. Qualquer estipulação contratual que contrarie as normas estabelecidas neste artigo, será nula de pleno direito e de nenhum efeito.

5.2. FORMA

No tocante à forma, o Estatuto da Terra assim reza, em seu art. 92:

Art. 92. A posse ou uso temporário da terra serão exercidos em virtude de contrato expresso ou tácito, estabelecido entre o proprietário e os que nela exercem atividade agrícola ou pecuária, sob forma de arrendamento rural, de parceria agrícola, pecuária, agro-industrial e extrativa, nos termos desta Lei.

Já o art. 11 do Decreto 59.566/66 reconhece a possibilidade de os

contratos serem ajustados por meio:

O preceito esclarece que, no caso do contrato verbal, tem-se por

convencionadas as cláusulas obrigatórias previstas no art. 13 do Decreto 59.566/66.

De outra parte, o § 2º do art. 11 ressalta a possibilidade de qualquer das parte exigir a

celebração de contrato escrito.

Cumpre destacar, ainda quanto à forma, que os contratos agrários,

qualquer que seja o seu valor e sua forma, poderão ser provados por testemunhas

(arts. 92, § 8º da Lei 4.504/64 e 14 do Decreto 59.566/66). Ademais, a ausência de

contrato não afasta, evidentemente, a incidência das normas legais pertinentes (art.

92, § 8º, da Lei 4.504/64).

5.3. ELEMENTOS CONTRATUAIS - CONTRATOS ESCRITOS

VERBAL ESCRITO

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No caso dos contratos escritos, o art. 12 do Decreto 59.566/66 exige as

seguintes indicações:

Observe-se que seria admissível a celebração de contratos de parceria e

arrendamento entre as mesmas partes e quanto ao mesmo imóvel rural. Nesse caso,

devem ser celebrados contratos distintos, cada qual regido pelas normas especificas

(art. 6º do Decreto 59.566/66).

5.4. CLÁUSULAS CONTRATUAIS OBRIGATÓRIAS

Lugar e data da assinatura do contrato

Nome completo e endereço dos contratantes

Características do arrendador ou do parceiro-outorgante (espécie, capital registrado e data da constituição, se pessoa jurídica, e, tipo e número de registro do documento de identidade, nacionalidade e estado civil, se pessoa física e sua qualidade (proprietário, usufrutuário, usuário ou possuidor)

Característica do arrendatário ou do parceiro-outorgado (pessoa física ou conjunto família)

Objeto do contrato (arrendamento ou parceria), tipo de atividade de exploração e destinação do imóvel ou dos bens

Identificação do imóvel e número do seu registro no Cadastro de imóveis rurais do IBRA (constante do Recibo de Entrega da Declaração, do Certificado de Cadastro e do Recibo do Imposto Territorial Rural).

Descrição da gleba (localização no imóvel, limites e confrontações e área em hectares e fração), enumeração das benfeitorias (inclusive edificações e instalações), dos equipamentos especiais, dos veículos, máquinas, implementos e animais de trabalho e, ainda, dos demais bens e ou facilidades com que concorre o arrendador ou o parceiro-outorgante

Prazo de duração, preço do arrendamento ou condições de partilha dos frutos, produtos ou lucros havidos, com expressa menção dos modos, formas e épocas desse pagamento ou partilha

Cláusulas obrigatórias

Foro do contrato

Assinatura dos contratantes ou de pessoa a seu rôgo e de 4 testemunhas idôneas, se analfabetos ou não poderem assinar.

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Nos contratos agrários, seja de arrendamento, seja de parceria, há um

conjunto de cláusulas obrigatórias previsto em lei e que estabelecem um conteúdo

contratual mínimo a ser observado pelas partes.

O art. 92 do Estatuto da Terra, em seus §§ 2º a 7º, define uma série de

regras a serem consideradas pelos pactuantes:

Já o art. 13 do Decreto 59.566/66, além de estabelecer a

impossibilidade de renúncia aos direitos e vantagens previstos em lei, determina a

inserção das seguintes cláusulas:

Os preços de arrendamento e de parceria fixados em contrato serão reajustados periodicamente, de

acordo com os índices aprovados pelo Conselho Nacional de Economia. Nos casos em que ocorra exploração de produtos com preço oficialmente

fixado, a relação entre os preços reajustados e os iniciais não pode ultrapassar a relação entre o novo preço fixado para os produtos e o respectivo preço

na época do contrato.

No caso de alienação do imóvel arrendado, o arrendatário terá preferência para adquiri-lo em

igualdade de condições, devendo o proprietário dar-lhe conhecimento da venda, a fim de que possa

exercitar o direito de perempção dentro de trinta dias, a contar da notificação judicial ou

comprovadamente efetuada, mediante recibo.

O arrendatário a quem não se notificar a venda poderá, depositando o preço, haver para si o imóvel arrendado, se o requerer no prazo de seis meses, a

contar da transcrição do ato de alienação no Registro de Imóveis.

A alienação ou a imposição de ônus real ao imóvel não interrompe a vigência dos contratos de

arrendamento ou de parceria ficando o adquirente sub-rogado nos direitos e obrigações do alienante.

O inadimplemento das obrigações assumidas por qualquer das partes dará lugar, facultativamente, à

rescisão do contrato de arrendamento ou de parceria. observado o disposto em lei.

Qualquer simulação ou fraude do proprietário nos contratos de arrendamento ou de parceria, em que o preço seja satisfeito em produtos agrícolas, dará ao arrendatário ou ao parceiro o direito de pagar

pelas taxas mínimas vigorantes na região para cada tipo de contrato.

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No concernente à conservação dos recursos naturais, além de o

contrato dever conter previsão de respeito ao Código Florestal e do Regulamento

respectivo, o referido dispositivo exige que o contrato preveja a observância dos

seguintes parâmetros quanto aos prazos mínimos de:

Fixação, em quantia certa, do preço do arrendamento, a ser pago em dinheiro ou no seu

equivalente em frutos ou produtos e das condições de partilha dos frutos, produtos ou lucros havidos na

parceria

Bases para as renovações convencionadas

Causas de extinção e rescisão

Direito e formas de indenização quanto às benfeitorias realizadas, ajustadas no contrato de arrendamento; e, direitos e obrigações quanto às

benfeitorias realizadas, com consentimento do parceiro-outorgante, e quanto aos danos substanciais

causados pelo parceiro-outorgado por práticas predatórias na área de exploração ou nas

benfeitorias, instalações e equipamentos especiais, veículos, máquinas, implementos ou ferramentas a

ele cedidos

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Também deve ser inserida cláusula contratual relativa à adoção de

práticas agrícolas admitidas para os vários tipos de exportação intensiva e extensiva

para as diversas zonas típicas do país.

Quanto à proteção social e econômica dos arrendatários e parceiros-

outorgados, são necessárias as seguintes previsões contratuais, ainda de acordo com

o mesmo preceito que remete ao art. 93 da Lei 4.504/64:

3 ANOS

Arrendamento em que ocorra atividade de exploração de lavoura temporária e ou de pecuária de pequeno e médio porte; ou em todos os casos de parceria

5 ANOS

Arrendamento em que ocorra atividade de exploração de lavoura permanente e ou de pecuária de grande porte para cria, recria, engorda ou extração de matérias primas de origem animal

7 ANOS

Atividade de exploração florestal

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Além disso, o art. 13, VII, do Decreto 59.566/66 ainda estabelece a

necessidade de concordância do arrendador ou do parceiro-outorgante, quanto à

solicitação de crédito rural feita pelos arrendatários ou parceiros-outorgados.

É de se ressaltar a vedação quanto à celebração de contrato de

arrendamento ou parceria para exploração de terras públicas (Lei 4.504/64, art. 94),

com as seguintes ressalvas:

PROIBIÇÕES

• Prestação do serviço gratuito pelo arrendatário ou parceiro-outorgado

• Exclusividade da venda dos frutos ou produtos ao arrendador ou ao parceiro-outorgante

• Obrigatoriedade do beneficiamento da produção em estabelecimento determinado pelo arrendador ou pelo parceiro-outorgante:

• Obrigatoriedade da aquisição de gêneros e utilidades em armazéns ou barrações determinados pelo arrendador ou pelo parceiro-outorgante

• Aceitação pelo parceiro-outorgado, do pagamento de sua parte em ordens, vales, borós, ou qualquer outra forma regional substitutiva da moeda

REPARTICIÇÃO DE FRUTOS E PRODUTOS

• Nenhuma das partes poderá dispor dos frutos ou dos frutos ou produtos havidos antes de efetuada a partilha, devendo o parceiro-outorgado avisar o parceiro-outorgante, com a necessária antecedência, da data em que iniciará a colheita ou repartição dos produtos pecuários

• Ao parceiro-outorgado será garantido o direito de dispor livremente dos frutos e produtos que lhe cabem por fôrça do contrato

• Em nenhum caso será dado em pagamento ao credor do cedente ou do parceiro-outorgado, o produto da parceria, antes de efetuada a partilha

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5.5. DISTINÇÕES ENTRE ARRENDAMENTO E PARCERIA

As principais distinções entre os contratos de arrendamento e parceria

podem ser assim sintetizados, na lição de ANTENOR PELEGRINO10:

5.6. ARRENDAMENTO

10

PELEGRINO, Antenor. Trabalho Rural - Orientações Práticas ao Empregado, p. 353. São Paulo: Atlas,

1997.

Razões de segurança nacional

Áreas de núcleos de colonização pioneira, na sua fase de

implantação

Posse pacífica e a justo

título, reconhecida pelo Poder

Público

ARRENDAMENTO

• Preço - é certo - ajustado entre arrendador e arrendatário em quantia fixa em dinheiro (aluguel de glebas de terra ou pasto)

• Riscos - proprietário não participa dos riscos do negócio (apenas aluga as terras ou pasto)

• Direitos cedidos - proprietário cede o "uso" e "gozo" do imóvel rural arrendado (arrendatário pode tirar todo o proveito, todo o lucro é seu, apenas paga o valor convencionado pelo arrendamento)

• Amplitude - limita-se a terras e pasto (aluguel de terras para plantação ou pasto para engorda de gado ou criação)

PARCERIA

• Preço - não existe preço certo - partes dividem frutos de acordo com convencionado no contrato

• Riscos - proprietário participa junto com o parceiro-outorgante dos riscos do negócio, pois há sociedade entre parceiro-proprietário e parceiro-agricultor (os dois assumem os lucros e eventuais prejuízos)

• Direitos cedidos - proprietário cede, unicamente, o "uso" e parte do "gozo", pois os frutos e produtos colhidos no imóvel são repartidos, de acordo com o que foi convencionado no contrato e de acordo com a legislação em vigor

• Amplitude - pode abranger a entrega de animais para cria, recria, invernagem, engorda ou extração de matérias-primas de origem animal

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5.6.1. DEFINIÇÃO

Arrendamento rural, nos termos do art. 3º do Decreto 59.566/66,

poderia ser definido como:

De outro lado, ainda nos termos da legislação pertinente (Decreto

59.566/66, art. 3º, § 1º), subarrendamento seria:

Registre-se que, o subarrendamento depende de expresso consentimento do proprietário (Estatuto da Terra, art. 95, VI).

5.6.2. SUJEITOS

De acordo com o art. 3º, § 2º, do Decreto 59.566/66, haveria dois

sujeitos no arrendamento rural:

Que cede o imóvel rural ou o aluga

ARRENDADOR

Pessoa ou conjunto familiar, representado pelo seu chefe que o recebe ou toma por aluguel

ARRENDATÁRIO

“o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder à

outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel

rural, parte ou partes do mesmo, incluindo, ou não, outros

bens, benfeitorias e ou facilidades, com o objetivo de nêle ser

exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agro-

industrial, extrativa ou mista, mediante, certa retribuição ou

aluguel”.

“o contrato pelo qual o Arrendatário transfere a outrem, no

todo ou em parte, os direitos e obrigações do seu contrato de

arrendamento”.

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Arrendatário, leciona ANTENOR PELEGRINO, seria “o trabalhador que

recebe ou toma por aluguel determinado imóvel rural, com o objetivo de nele serem

exercidas atividades de exploração agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou

mista, mediante certa retribuição” 11.

5.6.3. REGRAS GERAIS

As regras gerais acerca do arrendamento encontram-se positivadas no art. 95 da Lei 4.504/64.

Relativamente aos prazos, as normas mais relevantes são as que se seguem:

11

PELEGRINO, Antenor. Trabalho Rural - Orientações Práticas ao Empregado, p. 50. São Paulo: Atlas,

1997.

Os prazos de arrendamento terminarão sempre depois de ultimada a colheita, inclusive a de plantas forrageiras temporárias cultiváveis. No caso de retardamento da colheita por motivo de força maior, considerar-se-ão esses prazos prorrogados nas mesmas condições, até sua ultimação

Presume-se feito, no prazo mínimo de 3 anos, o arrendamento por tempo indeterminado

O arrendatário, para iniciar qualquer cultura cujos frutos não possam ser recolhidos antes de terminado o prazo de arrendamento, deverá ajustar, previamente, com o arrendador a forma de pagamento do uso da terra por esse prazo excedente

Em igualdade de condições com estranhos, o arrendatário terá preferência à renovação do arrendamento, devendo o proprietário, até 6 meses antes do vencimento do contrato, fazer-lhe a competente notificação extrajudicial das propostas existentes. Não se verificando a notificação extrajudicial, o contrato considera-se automaticamente renovado, desde que o arrendador, nos 30 dias seguintes, não manifeste sua desistência ou formule nova proposta, tudo mediante simples registro de suas declarações no competente Registro de Títulos e Documentos. Tais direitos não prevalecerão se, no prazo de 6 meses antes do vencimento do contrato, o proprietário, por via de notificação extrajudicial, declarar sua intenção de retomar o imóvel para explorá-lo diretamente ou por intermédio de descendente seu

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Poderá ser acertada, entre o proprietário e arrendatário, cláusula que permita a substituição de área arrendada por outra equivalente no mesmo imóvel rural, desde que respeitadas as condições de arrendamento e os direitos do arrendatário (Estatuto da Terra, art. 95. VII).

O arrendatário, ao termo do contrato, tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis; será indenizado das benfeitorias voluptuárias quando autorizadas pelo proprietário do solo; e, enquanto o arrendatário não for indenizado das benfeitorias necessárias e úteis, poderá permanecer no imóvel, no uso e gozo das vantagens por ele oferecidas, nos termos do contrato de arrendamento e das disposições do inciso I deste artigo (Estatuto da Terra, art. 95. VIII e 25 do Decreto 59.566/66). Vale lembrar os conceitos das aludidas benfeitorias, segundo o art. 24 do Decreto 59.566/66:

Se constar do contrato de arrendamento animais de cria, de corte ou de trabalho, cuja forma de restituição não tenha sido expressamente regulada, o arrendatário é obrigado, findo ou rescindido o contrato, a restituí-los em igual número, espécie e valor (Estatuto da Terra, art. 95. IX).

O arrendatário não responderá por qualquer deterioração ou prejuízo a que não tiver dado causa (Estatuto da Terra, art. 95. X).

A remuneração do arrendamento, sob qualquer forma de pagamento, não poderá ser superior a 15% do valor cadastral do imóvel, incluídas as benfeitorias que entrarem na composição do contrato, salvo se o arrendamento for parcial e recair apenas em glebas selecionadas para fins de exploração intensiva de alta rentabilidade, caso em que a remuneração poderá ir até o limite de 30% (Estatuto da Terra, art. 95. XII).

VOLUPTUÁRIAS

• De mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do imóvel rural, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor

ÚTEIS

• Aumentam ou facilitam o uso do imóvel rural

NECESSÁRIAS

• Têm por fim conservar o imóvel rural ou evitar que se deteriore e as que decorram do cumprimento das normas estabelecidas neste Regulamento para a conservação de recursos naturais.

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Deverão constar, ainda, dos contratos de arrendamento, necessariamente, cláusulas obrigatórias definindo os seguintes aspectos (Estatuto da Terra, art. 95, XI):

5.6.4. OBRIGAÇÕES DO ARRENDADOR

As principais obrigações do arrendador, conforme o art. 40 do Decreto

59.566/66, seriam as seguintes:

5.6.5. OBRIGAÇÕES DO ARRENDATÁRIO

Já em relação ao arrendatário, suas obrigações seriam as seguintes, à

luz do art. 41 do Decreto 59.566/66:

Limites da remuneração e formas de pagamento em dinheiro ou no seu equivalente em produtos

Prazos mínimos de arrendamento e limites de vigência para os vários tipos de atividades agrícolas

Bases para as renovações convencionadas

Formas de extinção ou rescisão

Direito e formas de indenização ajustadas quanto às benfeitorias realizadas

Entregar ao arrendatário o imóvel rural objeto do contrato, na data estabelecida ou segundo os usos e costumes da região

Garantir ao arrendatário o uso e gozo do imóvel arrendado, durante o todo o prazo do contrato

Fazer no imóvel, durante a vigência do contrato, as obras e reparos necessários

Pagar as taxas, impostos, foros e toda e qualquer contribuição que incida ou venha a incidir sobre o imóvel rural arrendado, se de outro modo não houver convencionado

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No concernente à última obrigação mencionada, o preceito acentua que

o arrendatário será responsável por qualquer prejuízo resultante do uso predatório,

culposo ou doloso, quer em relação à área cultivada, quer em relação às benfeitorias,

equipamentos, máquinas, instrumentos de trabalho e quaisquer outros bens a ele

cedidos pelo arrendador (Decreto 59.566/66, art. 41, X).

5.6.6. EXTINÇÃO DO ARRENDAMENTO

De acoro com o art 26 do Decreto 59.566/66, o arrendamento poderá ser extinto nos casos a seguir:

Pagar pontualmente o preço do arrendamento, pelo modo, nos prazos e locais ajustados

Usar o imóvel rural, conforme o convencionado, ou presumido, e a tratá-lo com o mesmo cuidado como se fosse seu, não podendo mudar sua destinação contratual

Levar ao conhecimento do arrendador, imediatamente, qualquer ameaça ou ato de turbação ou esbulho que, contra a sua posse vier a sofrer, e ainda, de qualquer fato do qual resulte a necessidade da execução de obras e reparos indispensáveis à garantia do uso do imóvel rural

Fazer no imóvel, durante a vigência do contrato, as benfeitorias úteis e necessárias, salvo convenção em contrário

Devolver o imóvel, ao término do contrato, tal como o recebeu com seus acessórios; salvo as deteriorações naturais ao uso regular.

Término do prazo do contrato

Retomada

Aquisição da gleba arrendada, pelo arrendatário

Distrato ou rescisão do

contrato

Resolução ou extinção do direito

do arrendador

Força maior que impossibilite a execução do

contrato

Sentença judicial irrecorrível

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5.7. PARCERIA.

5.7.1. DEFINIÇÃO E SUJEITOS

Parceria rural, à luz da definição legal (art. 96, IX, § 1o, da Lei 4.504/64 e

art. 4º do Decreto 59.566/66), seria:

Saliente-se que o § 1o inciso IX do art. 96 da Lei 4.504/64 acrescenta que o compartilhamento dos riscos pode se dar de forma isolada ou cumulativa e englobaria:

5.7.2. SUJEITOS

Caso fortuito ou força maior do

empreendimento rural

Frutos, produtos ou lucros havidos nas proporções que estipularem

Variações de preço dos frutos

obtidos na exploração do

empreendimento rural

“o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder à

outra, por tempo determinado ou não, o uso especifico de

imóvel rural, de parte ou partes do mesmo, incluindo, ou não,

benfeitorias, outros bens e ou facilidades, com o objetivo de

nêle ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária,

agro-industrial, extrativa vegetal ou mista; e ou lhe entrega

animais para cria, recria, invernagem, engorda ou extração de

matérias primas de origem animal, mediante partilha de

riscos do caso fortuito e da fôrça maior do empreendimento

rural, e dos frutos, produtos ou lucros havidos nas proporções

que estipularem, observados os limites percentuais da lei”.

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Nos termos do art. 4º, parágrafo único, do Decreto 59.566/66, haveria

dois sujeitos na parceria rural:

Segundo ANTENOR PELEGRINO, parceiro seria “o trabalhador que

recebe a propriedade ou bens, para fins próprios de explorar em parceria”. Seria

denomidado de “parceiro-agricultor ou parceiro-outorgado”, consoante recorda o

autor recorda. O “trabalhador-parceiro” assumiria com o “parceiro-proprietário a

obrigação de explorar o imóvel rural, mediante partilha dos frutos, produtos ou lucros

havidos nas proporções que estipularem” 12.

5.7.3. MODALIDADES

Em conformidade com o art. 5º do Decreto 59.566/66, haveria cinco

modalidades de parceria:

12

PELEGRINO, Antenor. Op. cit., p. 51.

Cedente, proprietário ou não, que entrega os bens

PARCEIRO-OUTORGANTE

Pessoa ou o conjunto familiar, representado pelo seu chefe, que os recebe para os fins próprios das parcerias

PARCEIRO-OUTORGADO

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5.7.4. REGRAS GERAIS

As principais regras acerca da parceria agrícola encontram-se no art. 96 da Lei 4.504/64 e nos arts. 34 a 37 e 48 a 50 do Decreto 59.566/66. Convém salientar a possibilidade de atuação supletiva das normas pertinentes ao arrendamento rural, no que couber, bem como as regras do contrato de sociedade (Estatuto da Terra, art. 96, VII). De outro lado, deve ser ressaltado que as regras a seguir não se aplicam aos contratos de parceria agroindustrial, de aves e suínos, que serão regulados por lei específica (Estatuto da Terra, art. 96, IX, § 5º).

Note-se que os contratos que prevejam o pagamento do trabalhador, parte em dinheiro e parte percentual na lavoura cultivada, ou gado tratado, são considerados simples locação de serviço, regulada pela legislação trabalhista, se a direção dos trabalhos for de inteira e exclusiva responsabilidade do proprietário, locatário do serviço a quem cabe todo o risco, assegurando-se ao locador, pelo menos, a percepção do salário-mínimo no cômputo das duas parcelas (Estatuto da Terra, art. 96, VII, parágrafo único).

Quanto aos prazos, o art. 96 da Lei 4.504/64 estabelece em seus incisos I e II, essencialmente, duas diretrizes:

•Quando o objeto da cessão fôr o uso de imóvel rural, de parte ou partes do mesmo, com o objetivo de nêle ser exercida a atividade de produção vegetal

AGRÍCOLA

•Quando o objetivo da cessão forem animais para cria, recria, invernagem ou engorda

PECUÁRIA

•Quando o objeto da cessão fôr o uso do imóvel rural, de parte ou partes do mesmo, ou maquinaria e implementos, com o objetivo de ser exercida atividade de transformação de produto agrícola, pecuário ou florestal

AGRO-INDUSTRIAL

•Quando o objeto da cessão fôr o uso de imóvel rural, de parte ou partes do mesmo, e ou animais de qualquer espécie, com o objetivo de ser exercida atividade extrativa de produto agrícola, animal ou florestal;

EXTRATIVA

•Quando o objeto da cessão abranger mais de uma das modalidades de parceria definidas nos incisos anteriores.

MISTA

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Deverão constar, ainda, dos contratos de parceria, necessariamente, cláusulas obrigatórias definindo os seguintes aspectos (Estatuto da Terra, art. 96, V):

No que diz respeito à participação dos frutos da parceria, a quota do proprietário não poderá ser superior a (Estatuto da Terra, art. 96, VI, e Decreto 59.566/66, art. 35):

O prazo dos contratos de parceria, desde que não

convencionados pelas partes, será no mínimo de 3 anos, assegurado ao parceiro o direito à conclusão

da colheita, pendente

Expirado o prazo, se o proprietário não quiser explorar

diretamente a terra por conta própria, o parceiro em igualdade de condições com estranhos, terá

preferência para firmar novo contrato de parceria

Quota-limite do proprietário na participação dos frutos, segundo a natureza de atividade agropecuária e facilidades oferecidas ao parceiro

Prazos mínimos de duração e os limites de vigência segundo os vários tipos de atividade agrícola

Bases para as renovações convencionadas

Formas de extinção ou rescisão

Direitos e obrigações quanto às indenizações por benfeitorias levantadas com consentimento do proprietário e aos danos substanciais causados pelo parceiro, por práticas predatórias na área de exploração ou nas benfeitorias, nos equipamentos, ferramentas e implementos agrícolas a ele cedidos

Direito e oportunidade de dispor sobre os frutos repartidos

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Em casos não previstos, a quota adicional do proprietário será fixada com base em percentagem máxima de dez por cento do valor das benfeitorias ou dos bens postos à disposição do parceiro (Estatuto da Terra, art. 96, VI).

As partes contratantes poderão estabelecer a prefixação, em quantidade ou volume, do montante da participação do proprietário, desde que, ao final do contrato, seja realizado o ajustamento do percentual pertencente ao proprietário, de acordo com a produção (Estatuto da Terra, art. 96, IX, § 2º). Eventual adiantamento do montante prefixado não descaracteriza o contrato de parceria (Estatuto da Terra, art. 96, IX, § 3º).

As despesas com o tratamento e criação dos animais, não havendo acordo em contrário, correrão por conta do parceiro tratador e criador (Estatuto da Terra, art. 96, III).

O proprietário assegurará ao parceiro que residir no imóvel rural, e para atender ao uso exclusivo da família deste, casa de moradia higiênica e área suficiente para horta e criação de animais de pequeno porte (Estatuto da Terra, art. 96, IV).

O proprietário pode cobrar do parceiro, pelo seu preço de custo, o valor de fertilizantes e inseticidas fornecidos no percentual que corresponder à participação deste (Estatuto da Terra, art. 96, VIII).

5.7.5. OBRIGAÇÕES DAS PARTES

20% Quando concorrer apenas com a terra nua

25% Quando concorrer com a terra preparada

30% Quando concorrer com a terra preparada e moradia

40% Caso concorra com o conjunto básico de benfeitorias, constituído especialmente de casa de moradia, galpões, banheiro para gado, cercas, valas ou currais, conforme o caso

50% Caso concorra com a terra preparada e o conjunto básico de benfeitorias enumeradas na alínea d deste inciso e mais o fornecimento de máquinas e implementos agrícolas, para atender aos tratos culturais, bem como as sementes e animais de tração, e, no caso de parceria pecuária, com animais de cria em proporção superior a 50% do número total de cabeças objeto de parceria

75% Nas zonas de pecuária ultra-extensiva em que forem os animais de cria em proporção superior a 25% do rebanho e onde se adotarem a meação do leite e a comissão mínima de 5% por animal vendido

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Quanto às obrigações das partes, ao lado das particularidades antes ressaltadas (no tópico anterior - 2.4.1.6.4.), aplicam-se à parceria as mesmas regras do arrendamento (Decreto 59.566/66, art. 48, § 1º).

Vale observar que o parceiro-outorgante e o parceiro-outorgado poderão a qualquer tempo, dispor livremente sobre a transformação do contrato de parceria no de arrendamento (Decreto 59.566/66, art. 50).

5.8. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Note-se que os dissídios decorrentes dos aludidos contratos de parceria e arrendamento, se regulares, não são objeto de competência material da Justiça do Trabalho, à luz da jurisprudência predominante no TST:

RECURSO ORDINÁRIO. AÇÃO RESCISÓRIA. CONTRATO DE PARCERIA RURAL PARA PRODUÇÃO AVÍCOLA. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. O entendimento consagrado nesta Subseção II é no sentido de que somente se conclui pela rescindibilidade prevista no artigo 485 inciso II do Código de Processo Civil quando ficar clara a incompetência absoluta do Órgão prolator da decisão rescindenda para processar e julgar matéria controvertida, em razão da existência de expressa previsão legal que designe a competência material a juízo diverso. No caso em tela, a decisão rescindenda foi proferida em ação ordinária em que se postulou a condenação ao pagamento de indenizações por lucros cessantes e dano moral em virtude da ruptura antecipada de contrato de parceria para produção avícola. O modelo contratual discutido nos autos possui características societárias em que uma das partes participa com o trabalho enquanto a outra contribui com a matéria-prima, sem que a pessoa física prometa, essencialmente, a prestação de seus serviços. Conclui-se, assim, que o pleito não alcança a descaracterização do contrato de parceria para produção agrícola. Trata-se de relação em que as partes se constituem de forma organizada e profissional e, com intuito de gerar riquezas, assumem os riscos e os lucros do negócio jurídico. Nesse diapasão, inviável admitir relação de trabalho que autorize a competência definida pelo artigo 114, I, da Constituição Federal. Recurso ordinário a que se dá provimento. (TST-RO-4341-

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19.2012.5.04.0000, Rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, SbDI-2, DeJT 30/05/2014)

PREVISTA NO ART. 485, II, DO CPC. O contrato de parceira rural, no qual uma das partes fornece os animais e a outra os aloja e cria, com a final partilha dos resultados ou outra espécie de pagamento previamente ajustado, constitui relação de natureza civil que afasta de forma absoluta a compet ncia da ustiça do Trabalho definida no art. 114, I, da C e permite a rescisão do julgado nos termos do art. 4 5, II, do CPC. Com esse posicionamento, a S DI-II, por unanimidade, invocando precedentes da Corte e do ST , conheceu do recurso ordinário e, no mérito, deu-lhe provimento para julgar procedente a ação rescis ria, a fim de desconstituir o ac rdão do egional proferido nos autos da ação ordinária em que se pleiteava indenização por lucros cessantes e dano moral em virtude da ruptura antecipada do contrato de parceria para produção avícola, e, em juízo rescis rio, reconhecendo a incompet ncia da ustiça do Trabalho para processar e julgar a ação, declarar a nulidade de todos os atos decis rios do processo e encaminhá-lo à ustiça comum do Estado do Rio Grande do Sul, nos moldes do art. 113, § 2o, do CPC. (TST-RO-7444-68.2011.5.04.0000, SBDI-II, rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 6.8.2013)