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Disciplina Positi Va

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livrosobre formas de trabalhar a disciplina positiva

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  • Disciplina positiva na sala de aula Inclusiva e amiga da aprendizagem: um guia para professores e formadores de professores

    Banguecoque: UNESCO Bangkok, 2006

    (Na verso original, vi+110 pginas)

    (Adotar a diversidade: Manual Especializado 1 de Ferramentas para criar ambientes inclusivos e amigos da aprendizagem)

    1. Educao inclusiva. 2.Salas de Aula. 3.Guia para professores. 4.Castigo corporal. 5.Disciplina positiva.

    ISBN 92-9223-086-7

    UNESCO 2006

    Publicado por:

    UNESCO Departamento Regional para a sia e Pacfico

    920 Sukhumvit Rd., Prakanong,

    Bangkok 10110, Tailndia

    Impresso na Tailndia

    As designaes utilizadas e a apresentao do material ao longo da publicao no implicam, de modo algum, a expresso de qualquer opinio por parte da UNESCO sobre o estatuto jurdico de qualquer pas, territrio, cidade ou rea ou das suas autoridades ou sobre as suas fronteiras ou limites.

    APL/06/OS/21-500

    Texto traduzido do Ingls por Ana Cachado, Dinah Mendona, Ana Maria Bnard e Jos Vaz Pinto

    Reviso e arranjo grfico de Jos Vaz Pinto

    Capa de Valdemar Lopes

    Associao Cidados do Mundo Rede Incluso - Portugal

    Ano de 2013 - Maio

  • Adotar a diversidade: Ferramenta para criar

    ambientes inclusivos e amigos da aprendizagem

    Manual Especializado 1

    A Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem Um guia para professores e formadores

    de professores

  • Este manual dedicado ao trabalho do Secretrio-geral das Naes Unidas sobre a Violncia contra as Crianas (Resoluo UNGA 57/190) que baseado no direito humano das crianas proteo face a todas as formas de violncia. O Manual pretende promover aes que previnam e eliminem a violncia contra as crianas nas escolas e ambientes educativos

  • Prefcio

    Para as crianas de muitos pases, o castigo corporal faz parte da experincia quotidiana: tambm uma forma de abuso da criana. O castigo corporal consiste em violncia deliberadamente infligida s crianas e ocorre a uma escala gigantesca. Em muitos pases do mundo ainda continuam a vigorar prerrogativas legais para os professores que batem nas crianas. Contudo, o castigo corporal no tem sido considerado eficaz, especialmente no longo prazo, e provoca na criana sentimentos de vergonha, culpa, ansiedade, agresso, falta de independncia, e perda de estima pelos outros e, assim, maiores problemas para os professores, cuidadores/auxiliares e outras crianas.

    Uma das maiores razes que faz com que persista o castigo corporal os professores no compreenderem que ela diferente de disciplina. Enquanto o castigo corporal procura fazer parar a criana de se comportar de determinado modo, as tcnicas da disciplina positiva podem ser utilizadas para ensinar criana comportamentos novos e corretos sem passar pelo medo da violncia. Outra razo importante que os professores geralmente no so sensibilizados para as razes das crianas se portam mal e como podem ser disciplinados de forma positiva partindo desses comportamentos. Muitas vezes, quando uma criana sente que as suas necessidades no esto a ser satisfeitas, como por exemplo a necessidade de ateno, ela ou ele porta-se mal. A frustrao que o mau comportamento provoca, e a falta de competncia para lidar com a situao, leva alguns professores a bater nas suas crianas e a usar o castigo corporal ou formas de humilhao de punio emocional.

    Este guia para professores e formadores prolonga a publicao da UNESCO Adotar a Diversidade: Ferramentas para Criar Ambientes Inclusivos e Amigos da Aprendizagem (Manuais AIAA). um manual especializado cujo objetivo ajudar os professores, gestores e responsveis pela educao a lidar de forma correta com os alunos na sala de aula apontando caminhos no violentos par lidar com comportamentos disruptivos de forma positiva e proactiva. Apresenta ferramentas de disciplina positiva que sero alternativas concretas s prticas punitivas como reguadas, palmadas, belisces, ameaas, discusses, subornos, gritos, prepotncias, chamar nomes, trabalhos exagerados e outras aes ainda mais humilhantes.

  • Este Guia realmente um produto coletivo. Primeiro, foi feito um rascunho; depois, este foi revisto por George Attig do Instituto de Nutrio, da Universidade de Mahidol, que tambm trabalhou como consultor para a UNESCO na incluso educativa e o gnero, bem como consultor do Departamento Regional do UNICEF para a sia Oriental e Pacfico (EAPRO) e para o Save the Children no desenvolvimento de escolas amigas das crianas. Este Guia beneficiou tambm de comentrios e sugestes de formadores de todo o mundo. A UNESCO Bangkok gostaria de agradecer a todos eles pelas suas contribuies. O mais simples contributo foi tido em conta e concorreu para o enriquecimento deste guia, bem como para o Manual AIAA. Ochirkhuyag Gankhuyag coordenou o projeto na qualidade de Assessor de Programas do Departamento Regional da UNESCO para a sia Oriental e Pacfico.

    Sheldon Shaeffer

    Diretor, Departamento Regional de Educao da UNESCO para a sia e Pacfico.

  • ndice

    Viso global ................................................................................... 1

    O NOSSO DESAFIO............................................................................................................................ 1 O QUE UMA SALA DE AULA INCLUSIVA E AMIGA DA APRENDIZAGEM? ................ 2 PARA QUE SERVE ESTE DOCUMENTO ......................................................................................... 4 O QUE IR APRENDER? .................................................................................................................... 5

    Compreender o Castigo versus Disciplina ................................................. 8

    PASSADO E PRESENTE DAS CRIANAS ..................................................................................... 8 O SIGNIFICADO DO CASTIGO (PUNIO) ............................................................................. 10 O SIGNIFICADO DE DISCIPLINA ............................................................................................... 21 DISCIPLINA POSITIVA NA SALA DE AULA ........................................................................... 26 EVITAR O DILEMA DA DISCIPLINA .......................................................................................... 31

    Construindo relaes positivas entre professor e aluno .................................. 34

    AS BASES DA RELAO PROFESSOR-ALUNO........................................................................ 34 PORQUE SE COMPORTAM ASSIM AS CRIANAS ................................................................. 35 PORQUE SE PORTAM MAL AS CRIANAS? ............................................................................. 38 APRENDER SOBRE OS SEUS ALUNOS ...................................................................................... 42 COMPREENDER O CONTEXTO DAS VIDAS DOS SEUS ALUNOS ..................................... 45 INVESTIGAO SOBRE AS FAMLIAS DOS ESTUDANTES ............................................. 53 COMUNICAO PAIS-PROFESSOR ............................................................................................ 57 ESTRATGIAS DE APOIO .............................................................................................................. 61

    Criao de um Ambiente de Aprendizagem Positivo e com Apoios ....................... 63

    GESTO DA AULA NUM SIAA ..................................................................................................... 63 TORNAR O AMBIENTE DE APRENDIZAGEM CONFORTVEL ............................................ 64 CRIAR ROTINAS NA AULA ........................................................................................................... 67 CRIAO DE REGRAS PARA A SALA DE AULA COM OS ALUNOS E OS PAIS .............. 69 NORMAS PARA O COMPORTAMENTO E BOA GESTO ........................................................ 73 OFERECER REFORO POSITIVO ................................................................................................. 79

    Lidar com alunos problemticos ............................................................ 83

    MELHORAR A EFICCIA DAS TCNICAS DE DISCIPLINA POSITIVA .......................... 83 DICAS DISCIPLINARES POSITIVAS ........................................................................................ 84 DICAS POSITIVAS PARA O ENSINO NA SALA DE AULA .................................................. 88 UTILIZAR CONSEQUNCIAS ADEQUADAS, POSITIVAS OU NEGATIVAS ................ 90 CAUTELA NO USO DA SADA DA SALA DE AULA .............................................................. 91 RESOLUO DE CONFLITOS ....................................................................................................... 93 ENSINO EM FUNO DA IDADE E DISCIPLINA POSITIVA ............................................ 95 APOIO A CRIANAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS ................................................... 100

    Leituras aconselhadas .................................................................... 105

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 1

    Viso global

    O NOSSO DESAFIO

    As crianas chegam a este mundo desprotegidas e incapazes de se desenvolveram adequadamente sem a nossa interveno. Como professores, a nossa tarefa cri-las e ensin-las como viver. No uma tarefa fcil. Nuns dias, as nossas aulas so excitantes, divertidas, e espaos alegres para aprender para os nossos alunos e para ns prprios. Noutros dias, podemos sentir-nos tensos e inseguros sobre a nossa capacidade para realizar o nosso trabalho. Ser professor raramente uma tarefa aborrecida; mas ser professor tambm o trabalho mais importante alguma vez feito.

    Sabemos quo difcil o ensino pode ser. Tambm sabemos quanto se interessa pelos seus alunos. Mas as crianas no trazem manual de instrues. Ao contrrio dos pais, voc responsvel por muitas crianas ao mesmo tempo, no apenas algumas, e todas so de algum modo nicas. Elas tambm nem sempre se comportam da forma que voc queria. Parece que, o que voc pensava que funcionava com dada turma, esses alunos desapareceram, substitudos por um novo conjunto de rostos com um novo conjunto de alegrias e desafios.

    Todos os professores querero o melhor para os seus alunos e estaro preocupados em fomentar a confiana nas suas capacidades e aumentar a sua autoestima. Mas quando os seus alunos no lhe prestam ateno, recusam fazer o que lhes pede, provocam-no ou ignoram-no, fcil ficar aborrecido e frustrado. Quando isto acontece, ou melhor antes, volte-se para este documento de ajuda. Ele fornece-lhe formas de lidar com este desafio de forma positiva e proactiva, prevenindo o mau comportamento antes que ele comece, lidando eficazmente com desafios inesperados, e encorajando os seus alunos a ouvir e a cooperar numa sala de aula inclusiva e amiga da aprendizagem. As ferramentas da disciplina positiva aqui apresentadas so alternativas concretas s prticas punitivas como reguadas, palmadas, belisces, ameaas, discusses, subornos, gritos, prepotncias, chamar nomes, trabalhos exagerados e outras aes ainda mais humilhantes.

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 2

    O QUE UMA SALA DE AULA INCLUSIVA E AMIGA DA

    APRENDIZAGEM?

    Quando entramos nas nossas salas, vemos os rostos das crianas que estamos a ensinar. Mas temos de nos lembrar que estas crianas podero no ser todas aquelas que era suposto estarem na nossa aula. Poder haver outras que no esto includas porque no so capazes de chegar at escola. Outras, que esto fisicamente l, mas que se sentem como no fazendo parte dela e realmente podem no participar na turma ou podem portar-se mal.

    Uma sala de aula inclusiva e amiga da aprendizagem (SIAA) acolhe, apoia e educa todas as crianas independentemente do seu gnero, caratersticas fsicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingusticas ou outras. Podero ser crianas sobredotadas, ou crianas com dificuldades fsicas ou de aprendizagem. Podero ser crianas de rua ou trabalhadoras, de minorias tnicas ou culturais, crianas infetadas com VIH/SIDA, ou crianas oriundas de reas ou grupos desfavorecidos ou marginalizados.1 Uma SIAA , assim, uma Sala de Aula na qual o professor apreende o valor desta diversidade da turma e toma medidas para assegurar que todas as meninas e rapazes estejam na escola.2

    Mas trazer todas as crianas para as salas de aula somente metade do desafio. A outra metade satisfazer todas as suas diferentes necessidades de aprendizagem e comportamento para que eles queiram permanecer nas nossas turmas. Todas as turmas so diferentes tanto no tipo de crianas que ensinamos e nas formas como eles aprendem. Precisamos de ter em considerao o que cada criana necessita de aprender, como ele ou ela aprende melhor, e como ns - como professores - poderemos construir relaes positivas com cada criana de forma a eles quererem ativamente aprender connosco. igualmente importante que descubramos como pr as crianas a querer aprender juntas.

    As crianas comportam-se e aprendem de diferentes formas devido a fatores hereditrios, ao ambiente em que vivem, ou s suas prprias

    1 UNESCO. Apoiar a Diversidade: Manual para Criar Ambiente Inclusivos e Amigos da Aprendizagem. Bangkok, 2004. 2 UNESCO. Manual de Apoio 3: Conseguir que todas as crianas tenham acesso escola e educao. Apoiar a Diversidade: Ferramenta para Criar Ambientes Inclusivos e Amigos da Aprendizagem. Bangkok, 2004.

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 3

    necessidades pessoais ou psicolgicas.3 Muitas vezes, quando a criana sente que as suas necessidades no esto a ser satisfeitas, tais como a necessidade de ateno, ela poder comportar-se mal. Assim, precisamos de compreender porque a criana se comporta desse modo de forma a ns podermos tentar prevenir esse mau comportamento antes que ele aparea e utilizar diferentes meios para orientar o seu comportamento de uma forma positiva. As salas de aula podem, assim, tornar-se lugares inclusivos, acolhedores e agradveis para todas as crianas poderem aprender e locais em que o mau comportamento seja raro. Poderemos assim ter mais tempo para ensinar e aprender com os nossos alunos.

    No incio, isto pode ser uma ideia assustadora. Muitos de vs trabalharo com turmas numerosas, ou mesmo com alunos de anos diferentes e podem interrogar-se, Como posso eu utilizar mtodos diferentes de ensino e disciplina para os ajustar a cada criana em particular quando eu tenho mais de 60 crianas na minha turma? Na verdade, a frustrao causada por esta situao e a nossa falta de competncias para lidar com ela, pode levar alguns de ns a bater nos nossos alunos e a recorrer a castigos de forma a conter o mau comportamento, seja o recurso ao castigo corporal ou procedimentos humilhantes de punio emocional. Na nossa frustrao, geralmente esquecemos que as crianas se portal mal por diversas razes. Algumas dessas razes podem ser pessoais; outras podem ser o resultado da forma como eles esto a ser ensinados, como no caso de eles se aborrecerem com as lies ou as longas palestras; outras, ainda, resultam de fatores externos associados com a famlia e a comunidade que podem provocar no aluno frustrao e tristeza. Alm disso, em alguns casos e particularmente entre os professores novos, um dado incidente pode ser interpretado como um problema de disciplina quando na verdade no o ; por exemplo, quando uma pergunta de um aluno percebida como um desafio nossa autoridade ou conhecimento, mas, de facto, a criana ter simplesmente dificuldade em apresentar a questo de forma adequada e delicada. Esta errada apreciao ou equvoco geralmente origina irritao entre os alunos, que causa um real problema de disciplina.4

    3 UNESCO. Booklet 4: Creating Inclusive, Learning-Friendly Classrooms. Embracing Diversity: Toolkit for Creating Inclusive, Learning-Friendly Environments. Bangkok, 2004.

    4 Know When to Discipline! Wire Side Chats. http://www.educationworld.com/a_issues/chat/chat020.shtml [acesso online em 10/4/2005]

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 4

    Em todo o caso, a tentao existe sempre para optar pela soluo mais fcil de utilizar uma severa punio para enfrentar e parar mas no necessariamente corrigir o mau comportamento da criana. Mas afortunadamente, o mau comportamento e o recurso ao castigo podem ser prevenidos quando voc cria um ambiente de aprendizagem bem organizado no qual os seus alunos esto empenhados e ativos na sua aprendizagem.

    O objetivo de uma sala de aula inclusiva e amiga da aprendizagem estimular os alunos: Os alunos que participam ativamente e alegremente na aprendizagem na sala de aula tm poucos problemas de disciplina.5 Eles querem estar l, e eles fazem o que for necessrio para permanecer l.

    PARA QUE SERVE ESTE DOCUMENTO

    O objetivo deste documento ajud-lo a conseguir a meta acima enunciada. Voc poder ser um professor experimentado que quer adotar prticas de disciplina positiva, mas que necessita de orientao sobre como o fazer. Voc poder ser um aluno de uma instituio de formao de professores e que est a estudar como lidar de forma eficiente com o comportamento dos alunos. Voc poder ser um professor que trabalha na formao de outros colegas e que est a ensinar disciplina positiva seja a futuros professores ou na formao em servio. Este documento ser especialmente til para aqueles de vs que esto a trabalhar em escolas que esto a comear a evoluir para ambientes escolares mais centrados na criana e amigos da aprendizagem. Em muitos pases, estas escolas so designadas por Escolas Amigas das Crianas, escolas essas em que a incluso de todas as crianas na escola e a preveno da violncia para com elas so os princpios fundamentais de orientao, mas, em muitos casos, necessitam de apoio e reforo das tcnicas para os desenvolver.

    Alguns de vs podero tambm trabalhar em salas de aula grandes com turmas numerosas. Uma turma grande se voc a sente como tal. Embora uma turma de mais de 50 alunos seja geralmente considerada uma turma numerosa, para os professores que geralmente trabalhem com 25 ou menos alunos, uma turma de 35 poder ser considerada grande e assustadora. As ferramentas e recursos apresentados neste documento podem ajud-lo a gerir de forma eficaz os seus alunos,

    5 Caught in the Middle: A Perspective of Middle School Discipline. http://people.uncw.edu/fischettij/david.htm [acesso online em 10/6/2005]

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 5

    independentemente do nmero de alunos que tenha nas suas turmas e da quantidade de problemas de comportamento.

    Fundamentalmente, as ferramentas deste manual sero proveitosas para aqueles de vs que estejam a viver reformas de poltica introduzidas pelo Ministrio da Educao e, especialmente, em pases em que as polticas tenham sido implementadas, ou estejam a s-lo, no sentido de condenar o uso do castigo corporal dos alunos. Em apoio destas polticas, existem muitas publicaes que defendem a proibio do castigo corporal e os benefcios da resultantes em termos de assegurar todos os direitos das crianas relativos a uma educao bsica de qualidade em ambientes seguros, saudveis e participativos, como refere a Conveno os Direitos da Criana (CDC), das Naes Unidas. Infelizmente, porm, muitos professores tm um acesso muito limitado aos recursos sobre como conseguir isso, ou seja, como disciplinar as crianas de forma positiva e dispensar a violncia para com elas nas escolas e salas de aula. Para aqueles de vs envolvidos em processo de reforma, professores em incio de carreira e seus formadores, ou aqueles que simplesmente queiram deixar de utilizar totalmente os castigos corporais, este documento ser uma ferramenta muito til na aprendizagem sobre como adotar uma disciplina positiva nas vossas salas de aula.

    O QUE IR APRENDER?

    A experincia tem demonstrado que um dos maiores temas de preocupao para os professores o seu sentimento de inadequao na gesto do comportamento dos alunos.6 E isto no nada de espantar. Embora existam muitas orientaes sobre o assunto, no existe uma frmula mgica que lhe d de forma automtica as competncias que voc necessita par levar a cabo esta importante tarefa. Estas competncias so aprendidas e desenvolvidas ao longo do tempo. Alem disso, cada professor sabe que as competncias e estratgias corretas podem fazer a diferena entre uma sala de aula calma e uma sala de aula catica. Os professores em SIAA (Salas de Aula Inclusivas e Amigas da Aprendizagem) bem organizadas, nas quais todas as crianas esto aprendendo ativamente e seguindo regras e rotinas claramente definidas, gastam menos tempo em tarefas disciplinadoras e mais em tempo de ensino.

    6 Classroom Management, Management of Student Conduct, Effective Praise Guidelines, and a Few Things to Know About ESOL Thrown in for Good Measure. http://www.adprima.com/managing.htm [atualizado em Abril 3, 2005] [acesso online em 10/5/2005]

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 6

    Este documento tem cinco partes principais. Cada uma apresenta ferramentas que pode utilizar para criar um ambiente de aprendizagem ativo e positivo para os seus alunos, no qual voc orienta os seus comportamentos eficientemente, em vez de simplesmente reagir negativamente. Estas ferramentas foram desenvolvidas por professores e especialistas de educao com base na experincia e tm sido utilizadas atualmente com sucesso nos ambientes de aprendizagem tanto com alunos novos como mais velhos. Tambm o incentivamos a explorar as referncias citadas neste documento para obter mais informao. Elas so recursos excelentes pelas ideias que proporcionam e aqui lhes deixamos o nosso agradecimento.

    Nesta seco voc pde aprender sobre os desafios do ensino, o que uma sala de aula inclusiva e amiga da aprendizagem, e qual o seu objetivo. Nas seces seguintes, voc vai aprofundar o processo da disciplina positiva. Este processo compreende quatro elementos essenciais e cada um constituir o tema de cada uma das seces especficas seguintes deste documento.

    (a) Compreenso da diferena entre castigo e disciplina. Nesta seco, ir aprender os verdadeiros significados de castigo e disciplina, a natureza e consequncias do castigo corporal, e o poder da disciplina positiva.

    (b) Uma relao positiva e de apoio entre o professor e o aluno, uma base para a compreenso e empatia. Nesta seco, aprender porque os alunos se comportam como tal e porque se portam mal. Aprender o que so os seus alunos pela perspetiva deles, como o contexto de que so oriundos pode afetar este comportamento e a sua interpretao dele, bem como a importncia em envolver a famlia de cada criana no desenvolvimento do seu comportamento. Tambm aprender algumas estratgias de incentivo importantes.

    (c) Criao de ambiente positivo e apoiante para os seus alunos e para si prprio. Devem desenvolver-se comportamentos apropriados nos ambientes de aprendizagem da sala de aula bem organizada e gerida. Nesta seco aprender sobre como gerir o ambiente fsico da sua sala de aula, de forma a ser confortvel para a aprendizagem e fomentadora de bom comportamento, mesmo se a sua turma tiver muitos alunos. Tambm aprender a importncia de estabelecer rotinas e padres de comportamento para os seus alunos, bem como o envolvimento dos pais na gesto do comportamento dos seus filhos. Uma vez que voc um modelo e exemplo importante para os seus alunos, voc tambm ir descobrir coisas sobre o seu estilo de

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 7

    gesto e como o melhorar, bem como formas de proporcionar reforos positivos para os seus alunos.

    (d) Conhecimento de formas construtivas para parar comportamentos inadequados quando eles aparecem, bem como maneiras de os prevenir. Todos os alunos tm comportamentos inapropriados at certo ponto nalguma altura da sua vida escolar. Como forma de testar os seus limites, torna-se um elemento importante no desenvolvimento do seu autocontrolo. Nesta seco final do documento, voc aprender diferentes formas de lidar com comportamentos provocantes, bem como forma de os prevenir e como resolver conflitos. Tambm aprender algumas tcnicas especficas de disciplina positiva em funo da idade, bem como as adequadas a crianas com necessidades especiais.

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 8

    Compreender o Castigo versus

    Disciplina

    O que vai aprender:

    O Passado e Presente das Crianas

    O que o Castigo

    Os Perigos do Castigo Corporal

    O que Disciplina

    Disciplina Positiva: O que e Como Funciona

    PASSADO E PRESENTE DAS CRIANAS

    O Passado

    As crianas agora gostam do luxo, tm maus modos, desprezam a autoridade, expressam falta de respeito pelos mais velhos, e preferem conversar em vez de fazer exerccio. As crianas agora so os tiranos, no os servidores dos seus lares. J no se levantam quando os mais velhos entram na sala. Elas contradizem os seus pais, trocam mensagens em vez de conviver, devoram guloseimas mesa, cruzam as pernas, e tiranizam os seus professores.

    Estas afirmaes foram feitas por Scrates, um filsofo Ateniense que viveu de 469 a 399 AC.7 Acha que, entretanto, mudou alguma coisa?

    7 Classroom Management. http://www.temple.edu/CETP/temple_teach/cm-intro.html [acesso online em 10/20/2005]

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula I

    O Presente: O Caso d

    Eu no vou s aulas deste homem! Eu no te

    Eu nem deveria estar nesta turma: a minha me diz que eu deveria estar numa escola de ensino especial. Eles dizem que eu tenho dificuldades de aprendizagem e tenho PHDA, ou que isso seja. (PHDA Perturbao de Hiperatividade com Dfice

    Ele corre pelo corredor batendo noutras crianas e professores, entra na sala de aula da manh dizendo desde logo o que no vai fazer, e grita ou corre pela sala sempre que lhe apetece. Ele chama os seus colegas por clube dos burros e acusa outros seis colegas do sexto ano de cometerem atos de que eu nem sequer tinha ouvido falar at ao meu 3 ano de faculdade.

    Este o aluno da minha turma, o Ramon. Sintocomportamento. Apeteceele, com a minha falta de competncias, e o sistema. Deixei a escola nesse dia em lgrimas, mal do meu estmago por causa desta criana.

    O Que Voc Faria?

    O caso do Ramon, embora sendo uma situao de extrema gravidade, no raro. Virtualmente todos ns j nos confrontmosa nossa autoridade ou que destroaram as nossas aulas e perturbaram os nossos alunos de diversas formas. O Ramon necessita desesperadamente de disciplina, mas que alternativas existem?

    Atividade de reflexo: Como

    Pense no passado quando voc estava na sua escola primria. Se voc ou algum dos seus colegas se comportava mal como o Ramon, que mtodos de disciplina teria, ou usou, o seu professor? Escreva esses mtodos no quadro abaixo apresentado. Depois, escreva commtodos, bem como se pensou sobre se eles eram eficazes a longo prazo.

    8 Este estudo de caso adaptado do dirio de linguagem em Turner Middle School, St. Louis, Missouri, USA. http://www.middleweb.com/msdiaries01/MSDiaryEllenB6.html [10/6/2005]

    sitiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem

    resente: O Caso de Ramon8

    Eu no vou s aulas deste homem! Eu no tenho de fazer o que dizes!

    Eu nem deveria estar nesta turma: a minha me diz que eu deveria estar numa escola de ensino especial. Eles dizem que eu tenho dificuldades de aprendizagem e tenho PHDA, ou que isso seja. (PHDA Perturbao de

    Dfice de Ateno).

    Ele corre pelo corredor batendo noutras crianas e professores, entra na sala de aula da manh dizendo desde logo o que no vai fazer, e grita ou corre pela sala sempre que lhe apetece. Ele chama os seus colegas por clube dos

    e acusa outros seis colegas do sexto ano de cometerem atos de que eu nem sequer tinha ouvido falar at ao meu 3 ano de faculdade.

    Este o aluno da minha turma, o Ramon. Sinto-me irritado com este comportamento. Apetece-me odi-lo, mas acima de tudo, estou frustrado com ele, com a minha falta de competncias, e o sistema. Deixei a escola nesse dia em lgrimas, mal do meu estmago por causa desta criana.

    O caso do Ramon, embora sendo uma situao de extrema gravidade, no ualmente todos ns j nos confrontmos com alunos que desafiaram

    a nossa autoridade ou que destroaram as nossas aulas e perturbaram os nossos alunos de diversas formas. O Ramon necessita desesperadamente de disciplina, mas que alternativas existem?

    Atividade de reflexo: Como foi a disciplina para SI

    Pense no passado quando voc estava na sua escola primria. Se voc ou algum dos seus colegas se comportava mal como o Ramon, que mtodos de disciplina teria, ou usou, o seu professor? Escreva esses mtodos no quadro abaixo apresentado. Depois, escreva como se sentiu sobre a utilizao destes mtodos, bem como se pensou sobre se eles eram eficazes a longo prazo.

    Este estudo de caso adaptado do dirio de Ellen Berg, uma professora de artes da Turner Middle School, St. Louis, Missouri, USA.

    http://www.middleweb.com/msdiaries01/MSDiaryEllenB6.html [acesso online em

    nclusiva e Amiga da Aprendizagem 9

    nho de fazer o que dizes!

    Eu nem deveria estar nesta turma: a minha me diz que eu deveria estar numa escola de ensino especial. Eles dizem que eu tenho dificuldades de aprendizagem e tenho PHDA, ou que isso seja. (PHDA Perturbao de

    Ele corre pelo corredor batendo noutras crianas e professores, entra na sala de aula da manh dizendo desde logo o que no vai fazer, e grita ou corre pela sala sempre que lhe apetece. Ele chama os seus colegas por clube dos

    e acusa outros seis colegas do sexto ano de cometerem atos de que eu nem sequer tinha ouvido falar at ao meu 3 ano de faculdade.

    me irritado com este o, estou frustrado com

    ele, com a minha falta de competncias, e o sistema. Deixei a escola nesse dia em lgrimas, mal do meu estmago por causa desta criana.

    O caso do Ramon, embora sendo uma situao de extrema gravidade, no com alunos que desafiaram

    a nossa autoridade ou que destroaram as nossas aulas e perturbaram os nossos alunos de diversas formas. O Ramon necessita desesperadamente de

    foi a disciplina para SI?

    Pense no passado quando voc estava na sua escola primria. Se voc ou algum dos seus colegas se comportava mal como o Ramon, que mtodos de disciplina teria, ou usou, o seu professor? Escreva esses mtodos no quadro abaixo

    o se sentiu sobre a utilizao destes mtodos, bem como se pensou sobre se eles eram eficazes a longo prazo.

    Ellen Berg, uma professora de artes da

    acesso online em

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 10

    Como pensa que a criana se sentiu? Observou ou sentiu uma alterao duradoura no comportamento?

    Depois, pergunte-se a si prprio, Se tivesse um aluno como o Ramon, o que que eu faria, e porqu? Pensa que isso seria eficaz em prevenir maus comportamentos futuros? Escreva tambm abaixo os seus pensamentos. Os seus mtodos so semelhantes aos dos seus professores?

    Mtodo disciplinar

    Porque foi utilizado este mtodo?

    O mtodo era sempre eficaz a longo prazo? Como se sentiu a criana?

    As aes dos seus professores

    As suas aes

    Em muitos pases e salas de aula, o Ramon seria fisicamente punido pelo seu mau comportamento, provavelmente seria aoitado com uma vara ou outro objeto do gnero. Que mtodos teriam usado os vossos professores? E voc que mtodos teria usado?

    Ao preencher a coluna Porque foi utilizado este mtodo? do quadro acima, no ser surpresa se muitas das vossas respostas forem Punir a criana pelo seu mau comportamento ou parar o seu mau comportamento. De igual forma, na ltima coluna em O mtodo era sempre eficaz a longo prazo? muitos de vs se refletiram algum tempo e seriamente - provavelmente reponderam No. Mais cedo ou mais tarde, esta mesma criana repete o mau comportamento, geralmente do mesmo modo. Porqu? A resposta reside na diferena entre o castigo e a disciplina.

    O SIGNIFICADO DO CASTIGO (PUNIO)

    O castigo uma ao (pena) que imposta pessoa por infringir uma regra ou exibir uma conduta inadequada. O castigo procura controlar o comportamento atravs de meios negativos. Geralmente so utilizados dois tipos de castigo com as crianas:

    1. Castigo atravs de repreenses e censuras verbais negativas; este tipo de castigo tambm designado por disciplina negativa.

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 11

    2. Castigo atravs da dor intensa fsica ou emocional, como no caso do

    castigo corporal.

    Infelizmente, os dois tipos de castigo centram-se no mau comportamento e pouco ou nada podem fazer para ajudar a criana a comportar-se melhor no futuro. Alm disso, a criana aprende que o adulto o que manda, e o uso da fora seja verbal, fsica ou emocional aceitvel, especialmente sobre as pessoas mais novas e mais fracas. Este ensinamento pode conduzir a ocorrncias de agresso entre pares bullying e violncia na escola, onde as crianas mais velhas dominam as mais novas e foram-nas a dar aos valentes dinheiro, comida, trabalhos de casa, ou outros artigos de valor.

    Alm disso, em vez de conduzir a criana a interiorizar o controlo, estes tipos de castigo fazem com que ela fique zangada, ressabiada e medrosa. Tambm causam vergonha, culpa, ansiedade, exacerbar da agresso, perda de independncia e perda do carinho dos outros, e, assim, maiores problemas para os professores, prestadores de apoio e para as outras crianas.9

    Castigo Verbal e Lidar com a Irritao

    A disciplina negativa uma forma de castigo destinada a controlar o comportamento do aluno, mas muitas vezes ela consiste em ordens ou declaraes verbais curtas e no se traduz numa sano, geralmente grave, como o ser sovado ou dolorosamente humilhado. Os professores que no recorrem ao castigo corporal podero em sua vez recorrer a alguns tipos de disciplina negativa. Mas, tal como no castigo corporal, estes tambm pode provocar que as crianas fiquem irritadas e agressivas ou baixem a sua autoestima. Estas estratgias negativas compreendem:

    Ordens Senta-te e fica quieto! Escreve 100 vezes, Eu no irei desperdiar o meu tempo em tarefas inteis.

    Declaraes de proibio No faas isso!.

    Declaraes repentistas e irritadas Ests mais lixado do que tu pensas.

    Declaraes satirizantes Isto o melhor que consegues fazer!

    9 Positive Guidance and Discipline. http://www.ces.ncsu.edu/depts/fcs/smp9/parent_education/guidance_discipline.htm [acesso online em 10/10/2005]

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula I

    Declaraes ameaadoras diretor.

    Declaraes de desprezo deve ser?.

    Muitas vezes, utilizamos estas estratgias negativas, bem como o castigo corporal, quando estamos zangados ou frustrados. Porm, existem diversas formas de lidar com a raiva e a frustrao. Alguns professores dizem aos seus alunos, Preciso de um tempmuito zangada. Outros acalmamalguns minutos. Alguns professores revelam os seus sentimentos aos seus alunos para os ajudar a compreender o que os arrelia. As crianas, assim,aprendem o que no devem fazer e porqu. Podero repetir o que no devem, mas eles so responsveis pelas suas aes e tm de lidar com as consequncias. O que resultar melhor consigo?

    Atividade: NO

    A maioria de ns d ordens de No aos alunos como forma de disciplina negativa: No fales na aula. No te levantes da carteira. Poderemos no nos aperceber da quantidade de vezes que utilizamos estas ordens negativas; elas saem naturalmente; mas os nossos alunos sabemvezes utiliza ordens No, escolha um aluno da aula (ou pea a um outro professor para o ajudar) e dum saco de pano ou plstico. Pea ao aluno para estar longo de uma semana. Peaordem No, tire uma pedrinha ou conchinha da caixa e a coloque no saco. No final da semana, conte as pe

    Em vez de repetir constantemente ordens necessrias), aprenda a reformulaexpressar claramente qual o comportamencorras na sala de aula, por exemplo, tente dizer, Anda na sala. Isto define claramente a forma como voc quer que os seus alunos se comportem. Por vezes pode acrescentar razes primeira vez. A explicao sala. Se correrem, podero tropear numa cadeira e magoaremtero de ir ao mdico.

    sitiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem

    Declaraes ameaadoras Se no te calas, mando-te ao gabinete do

    Declaraes de desprezo Alguma vez aprenders a escrever como

    Muitas vezes, utilizamos estas estratgias negativas, bem como o castigo corporal, quando estamos zangados ou frustrados. Porm, existem diversas formas de lidar com a raiva e a frustrao. Alguns professores dizem aos seus alunos, Preciso de um tempo para me acalmar; neste momento estou muito zangada. Outros acalmam-se contando at 10 ou saindo da sala por alguns minutos. Alguns professores revelam os seus sentimentos aos seus alunos para os ajudar a compreender o que os arrelia. As crianas, assim,aprendem o que no devem fazer e porqu. Podero repetir o que no devem, mas eles so responsveis pelas suas aes e tm de lidar com as consequncias. O que resultar melhor consigo?

    Atividade: NO Qual o meu grau de negatividade?

    d ordens de No aos alunos como forma de disciplina negativa: No fales na aula. No te levantes da carteira. Poderemos no nos aperceber da quantidade de vezes que utilizamos estas ordens negativas; elas saem naturalmente; mas os nossos alunos sabem. Se quiser saber quantas vezes utiliza ordens No, escolha um aluno da aula (ou pea a um outro professor para o ajudar) e d-lhe uma caixa com pedrinhas ou conchinhas e um saco de pano ou plstico. Pea ao aluno para estar atento ao que

    uma semana. Pea-lhe para, sempre que o aluno o ouvir dizer uma ordem No, tire uma pedrinha ou conchinha da caixa e a coloque no saco. No final da semana, conte as pedras ou conchas do saco. Ficou surpreendido

    Em vez de repetir constantemente ordens No (embora por vezes sejam necessrias), aprenda a reformula-las numa forma positiva no deixando de expressar claramente qual o comportamento desejado. Em vez de dizer, corras na sala de aula, por exemplo, tente dizer, Anda na sala. Isto define claramente a forma como voc quer que os seus alunos se comportem. Por vezes pode acrescentar razes regra, especialmente quando a anuncia pela primeira vez. A explicao de uma regra poderia ser algo como: Andem na sala. Se correrem, podero tropear numa cadeira e magoarem

    nclusiva e Amiga da Aprendizagem 12

    te ao gabinete do

    a escrever como

    Muitas vezes, utilizamos estas estratgias negativas, bem como o castigo corporal, quando estamos zangados ou frustrados. Porm, existem diversas formas de lidar com a raiva e a frustrao. Alguns professores dizem aos

    o para me acalmar; neste momento estou se contando at 10 ou saindo da sala por

    alguns minutos. Alguns professores revelam os seus sentimentos aos seus alunos para os ajudar a compreender o que os arrelia. As crianas, assim, aprendem o que no devem fazer e porqu. Podero repetir o que no devem, mas eles so responsveis pelas suas aes e tm de lidar com as

    Qual o meu grau de negatividade?

    d ordens de No aos alunos como forma de disciplina negativa: No fales na aula. No te levantes da carteira. Poderemos no nos aperceber da quantidade de vezes que utilizamos estas ordens negativas; elas

    . Se quiser saber quantas vezes utiliza ordens No, escolha um aluno da aula (ou pea a um outro

    lhe uma caixa com pedrinhas ou conchinhas e atento ao que diz ao

    lhe para, sempre que o aluno o ouvir dizer uma ordem No, tire uma pedrinha ou conchinha da caixa e a coloque no saco. No

    dras ou conchas do saco. Ficou surpreendido?

    (embora por vezes sejam las numa forma positiva no deixando de

    to desejado. Em vez de dizer, No corras na sala de aula, por exemplo, tente dizer, Anda na sala. Isto define claramente a forma como voc quer que os seus alunos se comportem. Por

    regra, especialmente quando a anuncia pela de uma regra poderia ser algo como: Andem na

    sala. Se correrem, podero tropear numa cadeira e magoarem-se; depois

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 13

    Castigo Corporal

    Ao lidar com alunos do tipo do Ramon, muitos professores provavelmente teriam recorrido a alguma forma de castigo severo. Existem dois tipos de castigo severo que ocorrem separadamente ou em conjunto que so o castigo corporal e o castigo emocional. Ambos so formas de violncia infantil que violam os seus direitos, como seres humanos, ao respeito, dignidade, igualdade de proteo pela lei, e proteo contra todas as formas de violncia.

    O Castigo Corporal ou Fsico, e o medo desse castigo, ocorre quando um professor, pai, ou cuidador pretenda causar dor fsica ou desconforto a uma criana, geralmente no intuito de parar o mau comportamento da criana, punindo-a por fazer isso, e prevenir que esse comportamento se repita.10 Cada vez mais em todo o mundo, o castigo corporal se torna ilegal e no conduz a uma melhor aprendizagem. O que constitui castigo corporal varia entre e dentro de uma dada cultura, e inclui, por exemplo:

    Bater na criana com a mo ou com um objeto (como uma vara, cinto, chicote, sapato, rgua, livro, etc.).

    Pontapear, abanar, ou empurrar a criana.

    Beliscar ou puxar o cabelo.

    Forar a criana a permanecer em posies desconfortveis.

    Forar a criana a suportar exerccio fsico excessivo ou trabalho forado.

    Queimar ou qualquer outra forma de deixar marca criana.

    Forar a criana a comer substncias imprprias (como sabo).

    Enquanto com o castigo corporal se pretende causar dor fsica, com o castigo emocional pretende-se humilhar a criana e causar-lhe dor psicolgica. Algo semelhante punio verbal negativa, mas muito mais severa, pode consistir em ridicularizar em pblico, escarnecer, ameaar, chamar nomes, gritar e ordenar, ou outras aes de achincalhamento, como negar criana roupa ou

    10 Durrant, Joan E. Corporal Punishment: Prevalence, Predictors and Implications for Child Development, em: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward to Constructive Child Discipline. Paris: Publicao UNESCO, 2005.

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula I

    comida ou fora-la a permanecer em posies menos dignas para que outros vejam e comentem.

    Enquanto o castigo corporal mais vdifcil identificao. Contudo, punir uma criana mandandoficar parada ao sol durante horas, de modo a enfraquecer a sua autoestima atravs do ridculo pblico, ou negar a uma criana comida ou roupaprejudicial como as diferentes formas de punio corporal.

    Alem disso, no existe uma linha clara de separao entre o castigo corporal e emocional. Muitas vezes, as crianas entendem o castigo corporal como algo humilhante ou degradante.castigo corporal para englobar o castigo fsico e emocional.

    Atividade: Isto Castigo Corporal?

    Leia o seguinte estudo de caso verdico. Pense os seus colegas se isto um exemplo de usada serve realmente de lio para a criana.

    Lio de Shireen

    A Shireen vai escola todos os dias e gosta da maior parte das atividades; tudo menos as aulas de ortografia. Os dias que ela mais teme so os dias de teste de ortografia. Por cada palavra que ela e os seus colegas escrevam de forma incorreta, o seu professor obrigaescola e trazer para baixo cinco tijolosconstruo de um murete volta da esccarregar tijolos a vai ajudar a aprender a escrever sem erros, mas no tem alternativa seno fazer esse trabalho. As vezes, no final da tarefa, fica com a roupa muito suja, e acaba tambm por ser admoestada em casa.

    Qual a Incidncia do Castigo Corporal e Porqu?

    Lembre-se do seu tempo de escola. Voc ou algum dos seus amigos foi castigado fsica ou emocionalmente? O mais certo voc dizer Sim porque o castigo corporal uma prtica comum por todo o mundo. Somente 15 do

    11 Ending Corporal Punishment of Children in Zambia. Save the Children Sweden, Regional Office for Southern Africa, Arcadia, 2005.

    sitiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem

    la a permanecer em posies menos dignas para que outros

    Enquanto o castigo corporal mais visvel, o castigo emocional de mais difcil identificao. Contudo, punir uma criana mandando-a para a rua para ficar parada ao sol durante horas, de modo a enfraquecer a sua autoestima atravs do ridculo pblico, ou negar a uma criana comida ou roupaprejudicial como as diferentes formas de punio corporal.

    Alem disso, no existe uma linha clara de separao entre o castigo corporal e emocional. Muitas vezes, as crianas entendem o castigo corporal como algo humilhante ou degradante.11 Por isso, neste documento, utilizamos o termo castigo corporal para englobar o castigo fsico e emocional.

    Atividade: Isto Castigo Corporal?

    Leia o seguinte estudo de caso verdico. Pense e possivelmente discuta com se isto um exemplo de castigo corporal e se a punio

    usada serve realmente de lio para a criana.

    A Shireen vai escola todos os dias e gosta da maior parte das atividades; tudo menos as aulas de ortografia. Os dias que ela mais teme so os dias de

    ortografia. Por cada palavra que ela e os seus colegas escrevam de forma incorreta, o seu professor obriga-os a subir a um morro atrs da escola e trazer para baixo cinco tijolos- Os tijolos esto a ser utilizados na construo de um murete volta da escola. A Shireen no compreende como carregar tijolos a vai ajudar a aprender a escrever sem erros, mas no tem alternativa seno fazer esse trabalho. As vezes, no final da tarefa, fica com a roupa muito suja, e acaba tambm por ser admoestada em casa.

    a Incidncia do Castigo Corporal e Porqu?

    se do seu tempo de escola. Voc ou algum dos seus amigos foi castigado fsica ou emocionalmente? O mais certo voc dizer Sim porque o castigo corporal uma prtica comum por todo o mundo. Somente 15 do

    Corporal Punishment of Children in Zambia. Save the Children Sweden, Regional Office for Southern Africa, Arcadia, 2005.

    nclusiva e Amiga da Aprendizagem 14

    la a permanecer em posies menos dignas para que outros

    isvel, o castigo emocional de mais a para a rua para

    ficar parada ao sol durante horas, de modo a enfraquecer a sua autoestima atravs do ridculo pblico, ou negar a uma criana comida ou roupa to

    Alem disso, no existe uma linha clara de separao entre o castigo corporal e emocional. Muitas vezes, as crianas entendem o castigo corporal como algo

    neste documento, utilizamos o termo

    e possivelmente discuta com castigo corporal e se a punio

    A Shireen vai escola todos os dias e gosta da maior parte das atividades; tudo menos as aulas de ortografia. Os dias que ela mais teme so os dias de

    ortografia. Por cada palavra que ela e os seus colegas escrevam de os a subir a um morro atrs da

    Os tijolos esto a ser utilizados na ola. A Shireen no compreende como

    carregar tijolos a vai ajudar a aprender a escrever sem erros, mas no tem alternativa seno fazer esse trabalho. As vezes, no final da tarefa, fica com a roupa muito suja, e acaba tambm por ser admoestada em casa.

    se do seu tempo de escola. Voc ou algum dos seus amigos foi castigado fsica ou emocionalmente? O mais certo voc dizer Sim porque o castigo corporal uma prtica comum por todo o mundo. Somente 15 dos

    Corporal Punishment of Children in Zambia. Save the Children Sweden, Regional

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 15

    190 pases mais ricos do mundo aboliram o castigo corporal das crianas. Nos restantes pases, pais e outros cuidadores, incluindo professores, mantm o direito de bater e humilhar as crianas.12

    Embora muitos de ns condenaria a violncia em geral e a violncia contra adultos, em particular no mundo em geral, poucas pessoas tm dado uma empenhada ateno violncia contra as crianas. Porqu? Existem tradies antigas e crenas culturais que perpetuam o uso de castigos corporais em muitas sociedades. Poupe a vara e estrague a criana um ditado muito popular. Outras razes compreendem as crenas de que o castigo corporal: (1) eficaz; (2) previne que a criana se meta em sarilhos maiores; (3) ensina-os a destrinar o bem do mal; (4) Incute respeito, e (5) diferente do abuso fsico. A investigao tem demonstrado, contudo, que o castigo corporal no tem nada a ver com estas coisas e , de facto, uma forma de violncia contra as crianas.13

    Apresentam-se abaixo outros mitos e verdades acerca do castigo corporal.14 J alguma vez ouviu algum utilizar uma ou mais destas desculpas para justificar o uso do castigo corporal? J alguma vez voc o fez, ou pelo menos pensou deste modo? Seja honesto.

    Mito n 1: Aconteceu comigo e no me fez mal nenhum.

    Realidade: Embora possam ter sentido medo, raiva, e desconfiana por terem sido sovados pelos pais ou professores, as pessoas que recorrem a este argumento, geralmente, fazem-no para reduzir a culpa que sentem ao recorrer hoje em dia ao castigo corporal das crianas. Nas suas mentes, eles esto a legitimar as suas aes violentas para com as crianas. Contudo, as suas aes revelam que o castigo corporal lhes causou, de facto, mal: ele continuou o ciclo de violncia que eles agora infligem s crianas, e, igualmente, estas crianas ficam mais propensas a perpetuar a violncia s

    12 Newell, Peter. The Human Rights Imperative for Ending All Corporal Punishment of Children, in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward to Constructive Child Discipline. Paris: Publicao UNESCO, 2005.

    13 Durrant, Joan E. Corporal Punishment: Prevalence, Predictors and Implications for Child Development, in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward to Constructive Child Discipline. Paris: Publicao UNESCO, 2005.

    14 Adaptado de: From Physical Punishment to Positive Discipline: Alternatives to Physical/Corporal Punishment in Kenya. An Advocacy Document (Draft Two) by ANPPCAN Kenya Chapter, January 2005. http://kenya.ms.dk/articles/advocacy%20document%20ANPPCAN.htm?udskriv+on%5D [acesso online em 9/29/2005]

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 16

    geraes seguintes.15 Alm disso, muitas coisas a que as geraes anteriores recorreram para sobreviver deixaram de ser agora necessrias. Por exemplo, o facto de algumas pessoas no terem sido vacinadas quando eram crianas no significa que elas prefiram isso AGORA para os seus prprios filhos.

    Mito n 2. Mais nada resulta! Ou Eles esto a pedi-las!

    Realidade: Ao contrrio da disciplina positiva que exige o desenvolvimento de uma relao de confiana e mutuamente respeitosa entre a criana e o seu ou sua professora, infligir dor a uma criana realmente uma soluo precipitada. a confisso de que falhmos no que tnhamos de fazer para ajudar a criana a aprender e interiorizar um bom comportamento. Depois de usarmos regularmente o castigo corporal, vai levar tempo e trabalho para que novos mtodos funcionem. Se temos vindo a irritar, gritar ameaar, ou castigar fisicamente os nossos alunos h muito tempo, ser difcil construir uma relao eficaz e confiante com eles de um dia para o outro. Isto pode, por seu lado, criar a sensao de que mais nada funciona, ou que as crianas esto mesmo a pedir para levar pancada. Mas o problema a abordagem disciplinar, no o mau comportamento das crianas. Justificar que a criana foi quem provocou a violncia realmente tentar fazer com que o provocador se sinta menos culpado: culpar a vtima. Alm disso, voc bate usualmente no seu patro, empregado, esposo, ou melhor amigo quando se depara com a situao de que mais nada resulta? Esperemos que no!

    Mito n 3: O castigo corporal funciona otimamente. Os outros mtodos no.

    Realidade: Fazer com que os seus alunos de portem bem com base no medo do castigo no igual a disciplina. O castigo corporal somente parece funcionar se o encarar superficialmente e tendo em vista o curto prazo. O castigo corporal ensina a criana a fazer aquilo que voc diz, mas somente quando voc est por perto, De facto, ensina-os a ser fingidos, bem como mentir sobre o mau comportamento para evitar ser sovado ou punido de um outro modo mais degradante. Ao criar um clima de desconfiana e insegurana na criana, ele destri a relao professor-criana. As crianas ganham averso por algum que sendo suposto ensinar e cuidar deles, na verdade, o que faz

    15 Durrant, Joan E. Corporal Punishment: Prevalence, Predictors and Implications for Child Development, in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward to Constructive Child Discipline. Paris: Publicao UNESCO, 2005.

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 17

    ameaar, bater ou insultar. Embora um simples ato de castigo corporal possa parecer eficaz, ele apenas intimida a criana a ser submissa.

    Mito n 4: O castigo corporal ensina a obedincia.

    Realidade: No passado, pode ter sido prtica ensinar as crianas a nunca questionar autoridade, mas os tempos mudaram. Muitos professores esto a adotar tcnicas de aprendizagem centradas-na-criana que incentivam as crianas a investigar, a pensar por elas prprias, a levantar questes, e a aprender o prazer de encontrar respostas como o principal processo de aprendizagem. O castigo corporal, contudo, cobe a criana de levantar questes, pensar criticamente, e conquistar objetivos pessoais; mas estas so as qualidades que adultos e crianas necessitam de forma a sobressair numa sociedade dinmica, competitiva e inovadora. Forar uma obedincia cega atravs do medo do castigo corporal asfixia terrivelmente a iniciativa e a criatividade das crianas (e adultos).

    Mito n 5: Eu s o utilizo como ltimo recurso. No tinha alternativas.

    Realidade: Esta desculpa uma racionalizao nossa, e ensina os nossos alunos, que o uso da violncia se justifica como ltimo recurso. No , porm, aceitvel tal argumentao; por exemplo, justificvel em ltimo recurso o marido bater na esposa? No ser ainda mais aceitvel quando nos referimos aos nossos alunos. Alm disso, muito comum pais e professores recorrerem punio fsica como primeira instncia no como a ltima e por faltas bem pequenas.

    Mito n 6: a nica forma de controlar os meus alunos na turma. Tenho muitos!

    Realidade: Esta desculpa frequente entre os professores que lidam com turmas grandes, s vezes cerca de 100 crianas todos numa nica turma. Geralmente esta situao surge porque a turma no definiu as regras e rotinas; as crianas no sabem o que se espera delas e quais as consequncias se se portarem mal; e o professor no ter tido o tempo suficiente para criar uma relao positiva com as crianas para que estas sintam a necessidade de serem bons alunos. Pode tambm ser o resultado do seu estilo de gesto autoritria da sala de aula, algum que diga, Eu sou o professor e vamos fazer as coisas minha maneira! No intuito de manter o controlo, o professor pode recorrer ao castigo corporal no para conter o mau comportamento de uma criana, mas para incutir medo nos espritos das

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 18

    outras crianas de modo a que, com sorte, eles no se portem mal tambm (mas no resulta). Como no Mito 4 acima, forar a uma obedincia cega atravs de ameaas ou violncia fsica no estimula as crianas a aprender o que vem do professor, porque tm medo dele. Como consequncia, eles no querem aprender, o que torna a nossa tarefa mais rdua, e eles no aprendem com facilidade, o que se reflete negativamente no nosso desempenho como professor.

    Mito n 7: O castigo corporal faz parte da nossa cultura.

    Realidade: O castigo corporal defendido algumas vezes como fazendo parte do nosso crescimento em algumas sociedades, e a ideia de promover alternativas a esse castigo corporal considerada uma imposio do Ocidente que no tem em considerao os valores Asiticos. As sociedades asiticas dependem de hierarquias de estatuto relacionadas com a idade e a ideia de que os novos devem respeitar, servir e obedecer aos mais velhos incluindo os professores. Embora o castigo corporal esteja espalhado pela sia, no existe uma conexo necessria entre o sistema de valores tradicional e a violncia contra as crianas atravs do castigo corporal. Pelo contrrio, os dois valores principais das sociedades asiticas so o manter da harmonia social e aprender a usar as capacidades mentais para disciplinar o corpo, especialmente em termos de manter o autocontrolo no meio do caos. A violncia atravs do castigo corporal, na verdade, contraria estes valores tradicionais asiticos. Ela destri a harmonia social na sala de aula em termos de relao aluno-professor e aluno-aluno, e ameaa as relaes futuras que a criana ir ter. Ela corri a confiana das crianas e a autoestima, e aprova a falta de autocontrolo como forma aceitvel para dominar os outros. Ao invs de castigo corporal, os procedimentos tradicionais podem ser utilizados como formas alternativas de disciplina quando no incluam violncia.16 Por exemplo, quando adultos respeitados exibem como modelo comportamento adequado e no violento, o qual depois imitado pelos seus filhos.17 Alm disso, os

    16 Save the Children. How To Research the Physical and Emotional Punishment of Children. Bangkok: Southeast, East Asia and Pacific Region, 2004.

    17 Informao fornecida por Elizabeth Protacio-de Castro, Diretora do Programme on Psychosocial Trauma and Human Rights, Centre for Integrative Development Studies, the University of the Philippines, e documentada em : Power, Clark F. and Hart, Stuart N. The Way Forward to Constructive Child Discipline. in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward to Constructive Child Discipline. Paris: Publicao UNESCO, 2005.

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 19

    sistemas de crenas individuais e culturais que conservam o recurso ao castigo corporal podem ser alterados em relativamente pouco tempo.18

    O Castigo Corporal d Resultado? Quais So as Consequncias?

    O castigo corporal perdura em grande parte porque os professores acreditam que ele d resultado: eficaz. Mas ser mesmo? Uma anlise alargada da investigao feita em duas dcadas mostrou que o nico resultado positivo do castigo corporal a submisso imediata, enquanto as consequncias negativas ultrapassam largamente este resultado.19 O recurso ao castigo corporal raramente proporciona o efeito desejado, isto mudana comportamental positiva e duradoura no aluno. Pelo contrrio, pode ter consequncias terrveis e negativas para a criana e para si.

    Quando recorremos ao castigo corporal, os resultados so imprevisveis. Eles podem ser a tristeza, baixa autoestima, ira, raiva, comportamento agressivo, desejo de vingana, pesadelos e enurese, desrespeito pela autoridade, agudizao de estados de depresso, ansiedade, uso de drogas, abuso sexual, abuso infantil, maus-tratos dos cnjuges, delinquncia infantil, e, naturalmente, mais castigo corporal.20

    No longo prazo, tm sido demonstrado que as crianas que tenham sofrido castigos corporais tm maior propenso para desenvolver comportamento antissocial e recorrem de imediato violncia, criando assim um contnuo do abuso fsico de uma gerao para a seguinte.21 Utilizando violncia, ns ensinamos violncia.

    Como professores, somos responsveis por melhorar o crescimento e o desenvolvimento dos nossos alunos. O castigo corporal pode

    18 Durrant, Joan E. Corporal Punishment: Prevalence, Predictors and Implications for Child Development. in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward to Constructive Child Discipline. Paris: Publicao UNESCO, 2005.

    19 Ibid. 20 Ibid. 21 From Physical Punishment to Positive Discipline: Alternatives to Physical/Corporal Punishment in Kenya. An Advocacy Document (Draft Two) by ANPPCAN Kenya Chapter, January 2005. http://kenya.ms.dk/articles/advocacy%20document%20ANPPCAN.htm?udskriv+on%5D [acesso online em 9/29/2005].

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 20

    comprometer seriamente o desenvolvimento de uma dada criana e originar problemas de adaptao, educativos, interpessoais e psicolgicos. Por exemplo, estudos tm mostrado que algumas vtimas de castigo corporal so foradas a abandonar a escola devido ao medo de serem sovados ou humilhados. Uma vez fora da escola, elas ficam suscetveis ao uso ou venda de drogas ou outras atividades socialmente condenadas.22,23

    Mesmo quando temos sucesso em parar o comportamento indesejado num dado momento, o uso de castigo corporal, contudo, no promove o comportamento adequado na criana. Porqu? A criana no sabe, ou no aprende, o que deve fazer; qual o comportamento que ele ou ela suposto adotar a no ser parar to-somente de fazer aquilo que ele ou ela estava a fazer. semelhante a dizer-lhe a si para no utilizar o castigo corporal, sem lhe ensinar que mtodos alternativos voc pode usar.

    Ao recorrermos ao castigo corporal podemos, por vezes, obter efeitos contrrios aos desejados; ou seja, pode tornar-se um reforo imprevisto. Por exemplo, o chamar a ateno dos professores e colegas para algo que uma criana faa de inapropriado, como no caso de Ramon, pode ser atrativo.

    O castigo corporal origina geralmente ressentimento e hostilidade, tornando as boas relaes e a confiana entre professor-aluno e aluno-aluno difceis de se construir no futuro. Isso conduz a que o nosso trabalho seja mais complicado, menos compensador e enormemente frustrante. Comeamos a temer ir para a escola e ensinar. Os nossos alunos podero descortinar o nosso desconforto e, tambm, ir escola insatisfeitos.

    As crianas vtimas de castigo corporal podem apresentar ferimentos que necessitem de cuidados mdicos, deixar leses para a vida ou causar morte. Mesmo a ameaa do castigo corporal pode provocar danos; por exemplo, se um professor ameaa com o uso da vara e, ao

    22 Ibid. 23 Cotton, Katherine. Schoolwide and Classroom Discipline. School Improvement Research Series. Iclose-Up #9. http://www.nwrel.org/scpd/sirs/5/cu9.html [acesso online em 10/6/2005]

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 21

    lent-la, ele ou ela, sem querer, tira um olho a um aluno. (Infelizmente, este acidente sucedeu realmente.)

    O SIGNIFICADO DE DISCIPLINA

    Disciplina geralmente uma palavra mal utilizada, especialmente quando ela equiparada erradamente ao castigo ou punio. Para muitos professores a disciplina significa castigo. Esta criana precisa de disciplina o mesmo que Esta criana precisa de umas palmadas ou umas reguadas. Isto ERRADO!

    A disciplina a prtica de ensino ou treino de uma pessoa para obedecer a regras ou cdigos de conduta tanto para o curto como para o longo prazo.24,25

    Enquanto o castigo significa controlar o comportamento do aluno, a disciplina significa desenvolver o comportamento da criana, particularmente nas reas da conduta. Ela significa ensinar a criana o autocontrolo e a confiana focando a sua ateno naquilo que queremos que a criana aprenda e que a criana seja capaz de o fazer. Ela a base para orientar as crianas sobre a forma como estar em harmonia com elas prprias e relacionarem-se com outras pessoas. O fim supremo da disciplina as crianas compreenderem o seu prprio comportamento, tomarem iniciativa, ser responsveis pelas suas escolhas, e respeitarem-se a si prprias e aos outros. Por outras palavras, elas interiorizam um processo positivo de pensamento e comportamento que perdurar para a vida. Por exemplo, quando pensa numa pessoa disciplinada, o que que lhe vem cabea? Um ginasta olmpico, algum que tenha deixado um mau hbito, como fumar, algum que mantenha a calma no meio do caos. Todos os trs casos requerem autocontrolo, que o objetivo da disciplina.

    A disciplina modela o comportamento das crianas e ajuda-as a aprender o autocontrolo ao mesmo tempo que proporciona incentivo e no consequncias dolorosas e sem sentido. Se pai, ou os seus amigos tm crianas, pense no que se passou no primeiro ou nos dois primeiros anos de vida de uma criana. Como ele ou ela a ensinava a bater as palmas, a andar ou a falar? Voc ou seu amigo provavelmente utilizaram tcnicas de ensino como mostrar atravs do exemplo (tambm conhecida por modelao) bem como dando elogios e oportunidades de prtica; no usavam gritos, palmadas, insultos ou ameaas.

    24 Kersey, Katharine C. Dont Jime It Out On Your Kids: A Parents and Teachers Guide to Positive Discipline. http://www.cei.net/~rcox/dontake.html [acesso online em 10/10/2005]

    25 Welker, J. Eileene. Make Lemons into Lemonade: Use Positives for Disciplining Children. http://ohioline.osu.edu/hyg-fact/5000/5153.html [acesso online em 10/10/2005]

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 22

    Este incentivo um tipo de recompensa que estimula a criana a trabalhar, a aprender e a conseguir coisas. Ele constri autoestima porque a criana aprende que ele ou ela foi diretamente responsvel por ganhar os seus elogios ou outra recompensa. As crianas podem escolher por a ganhar ou no. Isto proporciona-lhes um sentimento de controlo sobre as suas vidas, que um ingrediente chave para uma saudvel autoestima. De igual modo, no proporcionar incentivo pelo mau comportamento seja ignorando comportamentos de chamada-de-ateno como as birras ou chegar tarde s aulas com o tempo, a criana aprender a autocontrolar-se ao verificar que no consegue obter a ateno que procura conseguir atravs do seu mau comportamento. Ela aprende que somente obtm ateno quando se comporta calmamente ou chega a horas; ou seja, quando o apanha a ser bonzinho.

    Voltemos mais uma vez a Ramon e como o seu professor o disciplinou e aprendeu com ele.

    Um Estudo de Caso: A Mudana de Ramon26

    A nova semana comeou quase da mesma forma que a anterior. O Ramon continuava com o seu comportamento disruptivo e desregrado e estava a deixar toda a gente fora de si. Mas eu pensei um pouco sobre o Ramon durante o fim-de-semana. Comecei por pensar sobre como ele me fazia sentir e as emoes que se destacavam eram a raiva e a irritao. De acordo com o livro Disciplina Cooperativa a forma como nos sentimos quando um aluno se comporta inadequadamente pode dar-nos pistas sobre os seus objetivos para esse mau comportamento. Uma vez que compreendamos a razo pela qual o aluno faz o que faz, fcil descobrir caminhos adequados para lidar com ele.27

    Sentir raiva uma pista de que o aluno est procura de poder, e irritao uma pista de que o aluno procura ateno. Tal como eu pensei, compreendi que a maior parte do comportamento irritativo do Ramon acontecia com os colegas e adultos presentes de uma forma barulhenta e selvagem quanto possvel de forma a obter ateno. Conseguida a nossa ateno, ele procurava o poder recusando abertamente cumprir os nossos pedidos para parar, causando em muitos de ns uma raiva extrema. Percebi ento que eu tinha

    26 Este estudo de caso adaptado do dirio de Ellen Berg, uma professora de artes da linguagem em Turner Middle School, St. Louis, Missouri, USA. http://www.middleweb.com/msdiaries01/MSDiaryEllenB7.html [acesso online em 10/6/2005]

    27 Albert, Linda and Desisto, Pete. Cooperative Discipline. American Guidance Service, 1996.

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 23

    dado voluntariamente ao Ramon o controlo sobre mim e a minha sala de aula. No o podia culpar; afinal, eu sou responsvel pelas minhas aes. Comecei a perceber que embora eu no o pudesse controlar, eu podia controlar o que fazia e dizia. Estava criado um novo plano e uma nova atitude.

    Numa manh de quarta-feira resolvi que, fosse o que fosse que Ramon fizesse, eu no iria dar-lhe a ateno que o seu mau comportamento exigisse. Iria ignor-lo. Quando chegou aula com 10 minutos de atraso, agi como se ele no tivesse entrado. Dei auxiliar do professor uma folha de papel e pedi-lhe para registar tudo o que Ramon fizesse, mas que no interferisse de modo algum no seu comportamento.

    O Ramon fez de tudo exceto pr-se nu durante o tempo da aula. Correu acima e abaixo pelos corredores, brincou com o cabelo de outro aluno, ps os culos do auxiliar, avanou em direo porta como se preparasse para sair, e at subiu para a parte de trs da cadeira da auxiliar. No dissemos nada. O resto da turma olhava para mim como se eu estivesse maluco. Eu expliquei-lhes que a nossas tarefas eram demasiado importantes para serem interrompidas por aqueles que no estavam interessados em aprender, de forma que iriamos avanar como de costume. Eu poderia ter beijado cada um daqueles alunos que, embora ocasionalmente se rira para si, ignorou completamente suas travessuras, mesmo quando ele ia tentar meter-se com eles.

    O comportamento do Ramon agravou-se. Ao longo do perodo, o Ramon pedia-me continuamente para ir casa de banho, para ir ao gabinete do Diretor, e ao gabinete do guarda de segurana. Continuei a ignor-lo.

    Por fim, aconteceu uma coisa interessante. Em vez de sair, sentou-se. No final da aula, estava eu a fazer a chamada para a sada dos alunos, ele veio ter comigo e disse, Posso sair tambm, Sra. Berg? Ele esperou e esperou medida que eu fazia a chamada dos outros alunos, pedindo para sair, mas no deixou a sala at eu lhe dar permisso.

    Eu imaginava o que iria acontecer no dia seguinte. Iria acontecer alguma mudana, ou teria de suportar uma nova rodada do horrvel comportamento do Ramon?

    Na quinta-feira, o Ramon chegou a horas, com o material completo, papel, lpis e livro. Sentou-se sossegado e levantou a mo para pr questes. Em todo o restante perodo, no saiu do seu lugar ou falou sem autorizao. Ele estava um pouco contrado, mas eu sei a dificuldade que ele sentir para ficar quieto. Ele no fez nenhum dos trabalhos propostos, mas penso que o controlo do seu comportamento foi trabalho para o Ramon.

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 24

    O que que eu aprendi? No basta confiar no que sempre fizemos. Se eu tivesse continuado com as mesmas estratgias que eu supunha que funcionavam para mim no passado, reconheo que no teria havido mudana no comportamento do Ramon. Sei que alguns professores acreditam que os alunos simplesmente devem agir adequadamente porque ns lhes dizemos para o fazerem, mas a realidade que muitos no o faro. Ns somos os adultos, e temos a responsabilidade de mudar o que fazemos para satisfazer as necessidades de todos os alunos, e no apenas aqueles que se sentam quietos na carteira, se comportam adequadamente ou compreendem uma ideia logo na primeira apresentao.

    O Ramon ensinou-me que eu no posso obrigar ningum a fazer nada, mas eu posso mudar as condies da minha aula para tentar influenciar as suas decises. O bibliotecrio da escola disse-me uma vez que o verdadeiro ensino comea quando um aluno manifesta problemas.

    Tambm no podemos controlar tudo, e no conseguimos na verdade controlar qualquer outra pessoa, mas devemos ter algum poder na sala de aula. o poder do que ns, como profissionais e seres humanos, decidimos fazer em resposta a situaes difceis.

    A compreenso deste ponto fez toda a diferena no mundo do Ramon.

    O seguinte quadro resume algumas caratersticas positivas da disciplina em oposio ao que define um ambiente orientado pelo castigo ou punio.28 Que caratersticas utilizou a professora do Ramon para o disciplinar? Quais as caratersticas comuns sua sala de aula?

    A disciplina : O castigo :

    Dar ao aluno alternativas positivas Ser dito apenas aquilo que NO deve fazer

    Reconhecer e recompensar os esforos e o bom comportamento

    Reagir asperamente ao mau comportamento

    28 From Physical Punishment to Positive Discipline: Alternatives to Physical/Corporal Punishment in Kenya. An Advocacy Document (Draft Two) by ANPPCAN Kenya Chapter, January 2005. http://kenya.ms.dk/articles/advocacy%20document%20ANPPCAN.htm?udskriv+on%5D [acedido online em 9/29/2005]

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 25

    A disciplina : O castigo :

    Quando as crianas cumprem as regras porque elas so discutidas e acordadas

    Quando as crianas cumprem as regras porque elas se sentem ameaadas ou so subornadas

    Consistente, orientao firme Controlar, envergonhar, ridicularizar

    Positiva, respeitadora da criana Negativo e ofensivo para a criana

    No violenta fsica e verbalmente Violento e agressivo, fsica e verbalmente

    Consequncias lgicas que esto diretamente relacionadas com o mau comportamento

    Consequncias que no esto relacionadas diretamente com o mau comportamento e so ilgicas

    Quando as crianas tm que pedir desculpa pelo comportamento que afetou negativamente os outros

    Quando as crianas so punidas pelo seu comportamento em vez de lhes mostrarem como podem pedir desculpa

    Compreender as capacidades individuais, necessidades, circunstncias e nveis de desenvolvimento

    Inapropriado para os nveis de desenvolvimento, capacidades, circunstncias e necessidades que no so tidas em conta

    Ensinar as crianas a interiorizar a autodisciplina

    Ensinar as crianas a portarem-se bem s quando h risco de serem apanhadas a portarem-se mal

    Escutar e modelar Repreender constantemente as crianas por pequenas infraes, o que leva a que elas desliguem (nos ignorem, deixem de nos ouvir)

    Utilizar os erros e oportunidades de aprendizagem

    Forar as crianas a obedecer a regras ilgicas s porque eu disse

    Dirigida ao comportamento da criana e nunca criana o teu comportamento est errado

    Criticar a criana em vez do seu comportamento s estpida; fazes mal

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 26

    DISCIPLINA POSITIVA NA SALA DE AULA

    As crianas precisam que as ensinem a compreender e a seguir regras sociais. Mas no necessrio e pode ser muito prejudicial bater ou de qualquer outra forma ofender a criana. A evidncia mostra que tanto as meninas como os rapazes respondem melhor a abordagens positivas incluindo a negociao, o sistema de recompensas, do que a punies verbais, fsicas ou emocionais.29

    Leia as seguintes cenas de sala de aula e veja se consegue identificar as formas positivas e negativas que o professor utiliza para lidar com o mau comportamento de um aluno.30

    Cena 1

    Lek entra na sala do 4 ano para dar uma aula de matemtica. Quando ela comea a lio os alunos continuam a conversar uns com os outros e no a escutam. Ela diz em voz alta: Parem todos de falar, por favor. Vamos comear a aula. Todos se calam exceto Chai. Chai continua a conversar com o colega do lado acerca do jogo de futebol que viu na televiso na noite anterior. Lek grita-lhe: Chi, porque no te calas? Vai para o canto da sala com a cara virada para a parede. Ests metido num sarilho maior do que pensas. Espera s que a aula acabe! Ao passar pela sala, o Diretor pergunta: Queres que te mostre quem manda aqui? A chorar, Chai vai para o canto onde fica a temer pelo seu destino e desejando estar longe dali. Talvez amanh no venha escola.

    Cena 2

    Lek dirige-se sala do 4ano para dar uma aula de matemtica. Ao entrar diz: Calem-se todos, por favor. Vamos comear a nossa aula de matemtica e preciso que todos ouam com muita ateno. Depois de todos se calarem, Lek ouve Chai a conversar com o colega. Lek pergunta: Quem que ainda est a conversar? Parece que h aqui algum que se esqueceu das regras. O diretor ao passar ouve o comentrio de Lek e pergunta, zangado, se h algum problema, porque se for esse o caso ele sabe como resolv-lo rapidamente. Lek agradece e diz que para j consegue lidar com a situao. Depois do

    29 Save the Children How to research the Physical and Emotional Punishment of Children Bangkok Southeast, East Asia and Pacific Region, 2004

    30 Esta seco uma adaptao de um original feito para os pais em: Doescher,S. and Burt, L. You, Your Child, and Positive Discipline. Oregon State UniversityExtension Service, March, 1995. http://eesc.orst.edu/agcomwebfile/edmat/ec1452-e.pdf [acesso online em 10/12/2005]

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 27

    diretor sair, Lek olha na direo de Chai e pergunta: Porque ser que o diretor disse isto? Tens alguma ideia? Sentindo-se culpado Chai responde: Bem, eu continuei a falar depois de a professora pedir a todos para se calarem. Lek pergunta: Quando que podemos falar sem incomodar os outros e os prejudicar de aprender a lio? Chai responde: Quando a aula acabar. Lek anui e pergunta a Chai quanto 100 a dividir poe 2. Chai responde 50. Lek sorri e diz: Muito bem. Chai ficou muito atento durante o resto da aula e s voltou a conversar quando a aula terminou.

    Cena 3

    Lek dirige-se sala do 4ano para dar uma aula de matemtica. Ao entrar diz: Calem-se todos por favor. Vamos comear a nossa aula de matemtica e preciso que todos ouam com muita ateno. Depois da turma se calar ouve Chai que continua a conversar com o seu colega. Lek pega numa ficha de registo de infraes e escreve No cumpriu as regras da sala de aula e pede a Chai que preencha a ficha com o seu nome, nvel de ensino, local, professor e data. E diz: Chai, vou pr esta ficha em cima da tua carteira; se ainda l estiver quando a aula acabar podes deit-la fora. Se continuares a falar sem autorizao, vou busc-la e ser entregue no gabinete do Diretor para ele ver.

    No final da aula Chai deitou fora a ficha.

    Se as tcnicas de disciplina forem negativas podem desencorajar e frustrar os alunos. Se forem positivas, pelo contrrio, ajudaro os alunos a adotar e a manter comportamentos corretos.

    Nas cenas 1 e 2, podem ver-se situaes negativas entre Lek e Chai. Consegue identific-las?

    Resposta: Na Cena 1, tanto Lek como o diretor mostram-se zangados. Eles ameaam Chai: Espera s que a aula acabe e Queres que te mostre quem manda aqui? Lek tambm usa castigos irracionais e sem sentido ao ordenar a Chai que fique de p ao canto da sala, com a cara virada para a parede. Na Cena 2 Lek inferioriza Chai com sarcasmo: Parece que h por aqui algum que se esqueceu das regras da sala de aula. Como acha que Chai se sente depois das reaes de Lek e do diretor?

    As Cenas 2 e 3 contudo, contm exemplos de situaes positivas entre Lek e Chai.

    Na cena 2, Lek entra na sala e pede um comportamento especfico (precisam de ouvir com muita ateno)

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 28

    Como resposta ao comentrio do diretor, ela pergunta, Por que razo teria o diretor dito isso? Esta pergunta ajuda Chai a pensar sobre a atitude do diretor e como o seu comportamento pode ter feito zangar o diretor, Lek e os seus colegas. Lek tambm refora o seu comportamento ao dar-lhe uma oportunidade de responder corretamente a uma questo simples de matemtica, elogia-o e sorri. O problema tinha sido o comportamento e no propriamente o aluno.

    Na Cena 3, Lek simptica, embora firme, ao lidar com o mau comportamento de Chai. D-lhe a possibilidade de escolher as suas opes de comportamento, o que d a Chai oportunidade de ser responsvel pelo seu prprio comportamento e pelas suas consequncias.

    Sete Princpios para uma Disciplina Positiva da Criana

    1. Respeite a dignidade da criana.

    2. Desenvolva o comportamento pr-social, a autodisciplina e o carter.

    3. Valorize a participao ativa da criana.

    4. Respeite as necessidades do desenvolvimento da criana e a sua qualidade de vida.

    5. Respeite a motivao da criana e a sua viso da vida.

    6. Assegure a imparcialidade (equidade e no-discriminizao) e a justia.

    7. Promova a solidariedade.

    De: Power, F. Clark and Hart, Stuart N. The Way Forward to Constructive Child Discipline, in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward to Constructive Child Discipline. Paris: Publicao UNESCO, 2005.

    Passos para a Disciplina Positiva

    Enquanto o castigo um ato singular, a disciplina positiva um processo de quatro fases que reconhece e recompensa o comportamento adequado da seguinte forma:31

    1. O comportamento correto explicitado: Calem-se todos agora, por favor.

    31 Adaptado de: Positive Discipline: An Approach and a Definition. http://www.brainsarefun.com/Posdis.html [acesso online em 12/2/2005]

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 29

    2. So dadas razes claras: Ns vamos comear a nossa aula de

    matemtica e preciso que todos prestem muita ateno. Isto significa que ao fazerem imediatamente silncio esto a mostrar respeito pelos outros. um bom exemplo tratar os outros como gostaramos que os outros nos tratassem.

    3. O reconhecimento exigido: Veem como estar calado to importante? Ou no caso de Chai, Quando que podemos conversar sem prejudicar os outros nem a sua oportunidade de aprender?

    4. O comportamento correto reforado: Contato visual, um aceno, um sorriso, cinco minutos de recreio extra no final do dia, pontos de crdito extra, direito a uma meno de sucesso perante a turma (o reconhecimento social a melhor recompensa). Quando se usam recompensas, estas devem ser sempre imediatas, pequenas mas gratificantes.

    Este procedimento eficaz para crianas individualmente. Para quem trabalha com turmas grandes, tambm pode ser eficaz com grupos de crianas. O truque fazer sentir aos alunos que eles esto numa equipa vencedora (a turma no seu todo) e elogiar os esforos feitos por cada aluno para ser um bom membro da equipa.

    Lembrem-se: Todas as vezes que encontre os alunos a atuar de forma correta, recompense-os imediatamente. esta a essncia da disciplina positiva.

    Nota: A disciplina positiva pode falhar se:

    1. O aluno, ou a turma toda, no for recompensado de forma suficientemente imediata.

    2. A nfase for posta mais nas tarefas do que nos comportamentos. Por exemplo, bom que tenhas calado a boca e parado de falar por oposio a maravilhoso que tenhas tido considerao pelos outros e te tenhas calado logo.

    3. A nfase continuar a estar no que o aluno est a fazer mal, em vez de estar naquilo que faz corretamente.

    Quando usar a disciplina positiva, procure no esquecer o rcio 4:1. Procure quatro atitudes corretas por cada atitude incorreta. Seja consistente. Ao

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula I

    usar este rcio de forma consistente mostra aos seus alunos que est mesmo interessado em v-los atuar corretamente e a premiar o seu bom comportamento de imediato.dirio, e no final de cada aula ou dia, recorde quantas vezes viu os seus alunos a portarem-se bem comparando com as vezes em que se portaram mal. Pode tambm pedir a um aluno ou a um professor ajuda para o o elogio se torne rotina e o criticismo se torne raro.

    Os professores que praticam disciplina positiva, acreditam nas capacidades dos seus alunos e transmitem afeto e respeito pelos alunos. Quando os professores esto dispostos a observencorajar comportamentos positivos, esto a ajudresponsveis pelo seu comportamento, e reduzem as probabilidades de ocorrncia de comportamentos desadequados.

    Atividade de Reflexo: Aprender e AplicaPositivas

    Todos os dias surgem na escola oportunidades para professores e alunos se relacionarem de forma positiva. Pense numa situao recente em que se relacionou bem com um aluno seu, talvez num momento de ensino individual. Descreva a sua experincia no espao abaixo. Pode usar essa informao para trabalhar melhor com outos alunos e evitar o uso de disciplina negativa.

    O que fez o seu aluno?

    O que que disse ou fez?

    32 Ibid.

    sitiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem

    usar este rcio de forma consistente mostra aos seus alunos que est mesmo los atuar corretamente e a premiar o seu bom

    comportamento de imediato.32 Para ver se est a atingir este rcio, faa um dirio, e no final de cada aula ou dia, recorde quantas vezes viu os seus alunos

    se bem comparando com as vezes em que se portaram mal. Pode tambm pedir a um aluno ou a um professor ajuda para o monitorizar at que o elogio se torne rotina e o criticismo se torne raro.

    Os professores que praticam disciplina positiva, acreditam nas capacidades dos seus alunos e transmitem afeto e respeito pelos alunos. Quando os professores esto dispostos a observar os alunos e a reagir de forma a encorajar comportamentos positivos, esto a ajud-los a tornaremresponsveis pelo seu comportamento, e reduzem as probabilidades de ocorrncia de comportamentos desadequados.

    Atividade de Reflexo: Aprender e Aplica

    Todos os dias surgem na escola oportunidades para professores e alunos se relacionarem de forma positiva. Pense numa situao recente em que se relacionou bem com um aluno seu, talvez num momento de ensino individual.

    rincia no espao abaixo. Pode usar essa informao para trabalhar melhor com outos alunos e evitar o uso de disciplina negativa.

    O que que disse ou fez?

    nclusiva e Amiga da Aprendizagem 30

    usar este rcio de forma consistente mostra aos seus alunos que est mesmo los atuar corretamente e a premiar o seu bom

    Para ver se est a atingir este rcio, faa um dirio, e no final de cada aula ou dia, recorde quantas vezes viu os seus alunos

    se bem comparando com as vezes em que se portaram mal. Pode monitorizar at que

    Os professores que praticam disciplina positiva, acreditam nas capacidades dos seus alunos e transmitem afeto e respeito pelos alunos. Quando os

    ar os alunos e a reagir de forma a los a tornarem-se

    responsveis pelo seu comportamento, e reduzem as probabilidades de

    Atividade de Reflexo: Aprender e Aplicar Lies

    Todos os dias surgem na escola oportunidades para professores e alunos se relacionarem de forma positiva. Pense numa situao recente em que se relacionou bem com um aluno seu, talvez num momento de ensino individual.

    rincia no espao abaixo. Pode usar essa informao para trabalhar melhor com outos alunos e evitar o uso de disciplina negativa.

  • Disciplina Positiva na Sala de Aula I

    Como reagiu o aluno?

    Como se sentiu?

    Como pode usar esta experincia com outras crianas?

    EVITAR O DILEMA DA DISCIPLINA

    Esta seco tem vindo a abordar o dilema da disciplina, que reside em decidir se devemos controlar o comportamento do aluno para o nosso benefcio ou para melhorar o comportamento da criana, no seu prprio interesse. Este dilema reside na ideia errada de coisa, que as aes empreendidas para cada um deles devem ser as mesmas e que os resultados sero os mesmos. Para evitar este dilema e esclarecer a confuso, temos vindo a aprender a distinguir entre castigo e dia natureza e consequncias do castigo versus disciplina positiva e o processo da disciplina positiva. Esperamos que tenhadesenvolvido algumas ideias teis e compreendido como as nossas atitudes disciplinares afetam o comportamento das crianas e encorajam (ou prejudicam) o seu desenvolvimento a longo prazo. A seguir est um ltimo exerccio para testar os seus conhecimentos sobre a diferena entre disciplina positiva e negativa.

    Atividade: Disciplina Positiva

    No quadro seguinte, quais so as aes disciplinares positivas e quais so as negativas? Marque um (

    sitiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem

    experincia com outras crianas?

    EVITAR O DILEMA DA DISCIPLINA

    Esta seco tem vindo a abordar o dilema da disciplina, que reside em decidir se devemos controlar o comportamento do aluno para o nosso benefcio ou para melhorar o comportamento da criana, no seu prprio interesse. Este dilema reside na ideia errada de que disciplina e castigo significam a mesma coisa, que as aes empreendidas para cada um deles devem ser as mesmas e que os resultados sero os mesmos. Para evitar este dilema e esclarecer a confuso, temos vindo a aprender a distinguir entre castigo e dia natureza e consequncias do castigo versus disciplina positiva e o processo

    a positiva. Esperamos que tenha descoberto muitas coisas novas, desenvolvido algumas ideias teis e compreendido como as nossas atitudes

    afetam o comportamento das crianas e encorajam (ou prejudicam) o seu desenvolvimento a longo prazo. A seguir est um ltimo exerccio para testar os seus conhecimentos sobre a diferena entre disciplina positiva e negativa.

    Atividade: Disciplina Positiva ou Negativa

    seguinte, quais so as aes disciplinares positivas e quais so as negativas? Marque