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DISCIPLINA: Psicologia JurídicaPSICOLOGIA JURÍDICA – APRESENTAÇÃO DO CURSO.
Caros alunos!
Bem-vindos ao curso de Psicologia Jurídica!
As aulas são baseadas em um breve roteiro de estudo, que orientará o aluno para a leitura indicada.
Espera-se que o aluno esteja apto a responder o questionário após a leitura do roteiro e do texto.
A leitura básica será a parte de Psicologia Jurídica do livro Vade Mecum Humanístico, da Editora Revista dos Tribunais.
A indicação bibliográfica acima não exclui outras leituras que possam se fazer necessárias, e que serão indicadas conforme a aula.
Todas as avaliações serão realizadas com questões extraídas dos questionários das aulas.
Para acompanhamento, o roteiro de aulas abordará os seguintes assuntos:
AULA 1 – Fundamentos da Psicologia Jurídica.AULA 2 – Funções mentais superiores.AULA 3 – Behaviorismo.AULA 4 – Gestalt.AULA 5 – Psicanálise.AULA 6 – PersonalidadeAULA 7 – Transtornos de personalidade.AULA 8 – Psicologia e Direito Civil.AULA 9 – Alienação Parental e Abandono Moral.AULA 10 – Psicologia e Direito Penal.AULA 11 – Assédio Moral.AULA 12 – Assédio Sexual.
Qualquer dúvida, entrem em contato.
Cordialmente,Dalton Oliveira.
Objetivos da disciplina
Direito e Psicologia buscam um diálogo que tem como objetivo máximo a justiça e a garantia
dos direitos humanos e o respeito pela individualidade de cada ser
humano. A disciplina Psicologia Jurídica, por sua vez, tem por finalidade o estudo e a análise
do comportamento humano na contemporaneidade, sobretudo no que tange aos conflitos e
disputas no âmbito jurídico. À luz das ciências psicológicas procura-se compreender os
principais conflitos jurídicos que se desenrolam tanto na esfera civil, quanto criminal e colaborar
na resolução destes conflitos. Com a discussão de algumas concepções da Psicologia durante
a formação em Direito,espera-se ampliar o conhecimento e a compreensão acerca dos fatores
psicossociais subjacentes às questões jurídicas. O estudo da Psicologia Jurídica pretende
auxiliar os futuros operadores do Direito a observarem os aspectos latentes dos diversos
problemas, entender melhor quem é a parte que clama por justiça, possibilitando atender de
forma ampla, buscando garantias e legitimando espaços.
DISCIPLINA: Psicologia JurídicaSemana 1
FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA JURÍDICA
O Direito é uma ciência que possui natureza interdisciplinar, visto que se comunica com outras áreas do conhecimento.
O Direito e a Psicologia são ciências que têm por objeto comum o comportamento humano. Enquanto o Direito busca regulá-lo, a Psicologia procura investigá-lo.
Dessa forma, para que o Direito possa melhor regular o comportamento da sociedade, é fundamental que se conheça o comportamento do indivíduo, cujos elementos são fornecidos pela Psicologia.
Na realidade, as duas ciências se relacionam por diferentes maneiras.
Por exemplo, uma das preocupações do Direito Penal é justamente investigar as circunstâncias do crime e a motivação do agente criminoso na prática do delito. A análise de aspectos com personalidade do réu ou crime praticado com “forte emoção” requer fundamentos que, necessariamente, a psicologia irá fornecer.
Por outro lado, o Direito de Família irá tratar de questões circundantes às relações afetivas. As disposições legais a respeito da família regulam questões decorrentes dos fatos relativos à esse grupo, tais como casamento, divórcio, guarda de filhos, direito de visita.
Dessa forma, quem será o melhor genitor para a guarda dos filhos, se um dos genitores impede o outro de exercer seu regular direito de visita, se tal pessoa ou casal preenche ou não os requisitos para adotar uma criança são questões a serem enfrentadas pelo direito que carecerão de fundamentos da psicologia.
Outro ramo do Direito Civil irá se debruçar sobre os danos morais. Ora, mas que aspectos serão analisados na valoração sobre tais danos, senão a vergonha, a humilhação, o constrangimento sofridos pela vítima? E tais sentimentos são nada mais que aspecto a serem estudados no campo emocional que, por sua vez, encontra eco no estudo do psiquismo.
Sem esgotar a grande possibilidade de exemplos que se travam entre as duas áreas, está cada vez mais em voga o estudo do impacto jurídico da violência psíquica, que se manifesta em fenômenos conhecidos pelo aluno no noticiário, como assédio moral (incluindo o bullying), o assédio sexual e stalking (perseguição obsessiva).
Como se verifica, faz-se imperioso para o estudante de Direito dominar os mínimos fundamentos da Psicologia, dada a sua importância para compreender determinados fenômenos jurídicos que demandem conhecimentos da psique humana.
Para saber mais sobre essas relações, leiam os textos indicados e respondam as questões abaixo.
TEXTOS INDICADOS:
∑FRANÇA, Fátima. Reflexões sobre psicologia jurídica e seu panorama no Brasil. Psicologia: Teoria e Prática, 6(1), p. 73-80, 2004.(disponível em daltonoliveira.com.br/psicologia-juridica senha de acesso: disciplina)
∑OLIVEIRA, Dalton. Psicologia Jurídica in VADE MECUM HUMANÍSTICO (coord. por Álvaro de Azevedo Gonzaga). 2ª Edição. Ed. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2011.
QUESTÕES:
1)De que maneira a Psicologia pode se relacionar com o Direito Penal?2)Como se manifesta a violência psicológica e qual seu impacto no Direito?
DISCIPLINA: Psicologia JurídicaSemana 2
Funções mentais superiores
1. Conceito de Psicologia.
A psicologia é a ciência que estuda os processos mentais e a influência desses no
comportamento humano. Etimologicamente, o termo psicologia provém da junção das palavras
gregas psyche (alma) e logos (conhecimento), ou seja, estudo da alma.
O comportamento humano é objeto de estudo de diversas ciências humanas, como
a sociologia, a economia e o direito. O que distingue a psicologia das demais áreas do
conhecimento é o enfoque direcionado ao funcionamento da unidade formada pela mente e
corpo do indivíduo, centralizando seu estudo na psique humana.
O cérebro é o palco onde estão presentes as funções mentais superiores, que são
fundamentais no modus operandi da construção da realidade psíquica do indíviduo e a
maneira como ele se comporta.
As funções mentais superiores são:
a)Sensação;
b)Percepção;
c)Atenção;
d)Memória;
e)Linguagem e pensamento;
f)Emoção.
A psicologia trabalha com a realidade psíquica, elaborada pelo indivíduo a partir
dos conteúdos armazenados na mente.
O cérebro é o palco das funções mentais superiores; o que a mente comanda não
ultrapassa os limites de funcionamento das estruturas cerebrais. As funções mentais superiores
constituem uma espécie de programação por meio da qual os indivíduos desenvolvem imagens
mentais de si mesmos e do mundo que os rodeia, interpretam os estímulos que recebem,
elaboram a realidade psíquica e emitem comportamentos.
São apresentadas a sensação, a percepção, a atenção, a memória, o pensamento,
a linguagem e a emoção, esta, o maestro na orquestração dos comportamentos.
TEXTOS INDICADOS:
∑OLIVEIRA, Dalton. Psicologia Jurídica in VADE MECUM HUMANÍSTICO (coord. porÁlvaro de Azevedo Gonzaga). 2ª Edição. Ed. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2011.
QUESTÕES:
Com base no texto acima indicado, responda:
1.Como a percepção se relaciona com a sensação?2.O que é memória e quais são seus tipos?
DISCIPLINA: Psicologia JurídicaSemana 3
BEHAVIORISMO
Também conhecida como Psicologia Comportamental, o Behaviorismo propõe
que o comportamento é observável, mensurável e objeto que pode ser reproduzido.
O resultado da pesquisa que se inicia com John B. Watson nos Estados Unidos
em 1913 foi a formulação da teoria S-R (Stimulus – estímulo e Responsio – resposta), que
procurava explicar como a relação entre estímulo do ambiente e resposta do organismo
constituía a base para descrever todo tipo de comportamento Dessa relação estabelece-se o
conceito de condicionamento respondente, o qual está associado ao comportamento
respondente.
O comportamento respondente é um comportamento involuntário provocado
por estímulos ambientais. O estímulo frio provoca a resposta de arrepio e a emissão de som,
quando se sente dor, são exemplos de estímulos que compelem um comportamento
involuntário ou reflexo. É, portanto, um estímulo incondicionado.
Com Skinner (1904-1990), surge o que conhecemos por behaviorismo radical,
termo que designa a Ciência do Comportamento. O autor se dedica ao estudo das respostas e
observa que há um outro tipo de relação entre o organismo e seu ambiente o que ele irá
chamar de comportamento operante, sendo este distinto do comportamento respondente. Já
ocomportamento operante é o comportamento voluntário e inclui tudo aquilo que fazemos e
que tem efeito sobre nosso mundo exterior, ou seja, que operam nele. Este comportamento
visa obter o efeito desejado ou evitar uma consequênciaindesejada.
Assim, enquanto que o comportamento respondente é controlado por um
estímulo antecedente (S-R), o comportamento operante é controlado por
suasconsequências – estímulos que se seguem à resposta (R-S).
A partir daí, formula-se o modelo de análise do comportamento, o fundamento
para a descrição das interações organismo-ambiente:
Portanto, tem-se, primeiramente, um comportamento que responde a um estímulo do ambiente, o qual, por sua vez, inevitavelmente levará a uma consequênciaainda não aprendida. Num segundo momento, a resposta será dada já objetivando aconsequência, pois, agora, é conhecida pelo indivíduo por intermédio da experiência anterior.
O comportamento operante, uma vez vinculado ao estímulo consequente, torna-
secondicionado a este. Esta relação é descrita por Skinner como condicionamento operante.
O condicionamento operante é mantido pelo reforço (todo estímulo que aumenta
a probabilidade de resposta futura), que pode ser:
a)reforço positivo. Consolida o comportamento desejado. Ex. Se o cachorro faz brincadeiras,
recebe o biscoito preferido.
b)reforço negativo. Incita o comportamento que remove o efeito indesejado. Ex. uma pessoa
toma um analgésico para cessar com as dores.
Da mesma forma que Skinner propôs o condicionamento, ele também previu a
possibilidade de descondicionamento do comportamento através do que ele denominou
deextinção. Tal extinção do comportamento pode se dar tanto pela ausência do reforço
(retirada do estímulo consequente) ou pela apresentação de um estímulo aversivo, ambos
constituindo formas de punição.
TEXTOS INDICADOS:
∑ OLIVEIRA, Dalton. Psicologia Jurídica in VADE MECUM HUMANÍSTICO (coord. porÁlvaro de
Azevedo Gonzaga et al). 2ª Edição. Ed. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2011.
QUESTÕES:
1)Qual a diferença entre comportamento respondente e operante?
2)Qual a diferença entre reforço positivo e reforço negativo?
DISCIPLINA: Psicologia JurídicaSemana 4
GESTALT
A Gestalt é uma palavra que provém do alemão e tem um sentido aproximado
aideia de forma. Tal teoria nasceu de uma iniciativa de pesquisadores alemães que se
preocupavam com os fenômenos de percepção. Interessava compreender processos
psicológicos envolvidos na ilusão de ótica, ou seja, quando um estímulo físico é percebido de
forma diferente da qual se apresenta na realidade.
Em contraponto ao behaviorismo, que defende o comportamento baseado na
relação entre estímulo e resposta, a Gestalt sustenta que o comportamento deveria considerar
aspectos globais, tendo em vista as condições que possam alterar a percepção. Portanto, a
relação deve ser a seguinte:
Estímulo – Processo de percepção – Resposta
Defendem o processo de percepção como essencial para a compreensão do
comportamento humano, enfatizando que o comportamento, quando isolado de seu contexto
mais amplo, perde seu significado.
Os psicólogos da Gestalt afirmavam que, quando os elementos sensoriais são
combinados, forma-se um novo padrão ou configuração. Juntemos algumas notas musicais e
algo novo — uma melodia ou tom — surge da combinação. Quando olhamos para fora de uma
janela, vemos imediatamente as árvores e o céu, e não pretensos elementos sensoriais, como
brilhos e matizes, que possam constituir a nossa percepção das árvores e do céu.
Os gestaltistas tentaram identificar as regras que governam a forma como as
pessoas percebem os estímulos separados e lhes atribuem sentido formando uma unidade.
Afirmam que as pessoas extraem significado da totalidade de um conjunto de estímulos e não
de um estímulo individual, explicitando a premissa: O todo é distinto da soma de suas
partes.
Por meio dos fenômenos perceptivos é alcançada a boa forma, ou seja, a
compreensão global do evento apreendido. A boa forma é a tendência à restauração do
equilíbrio parte-todo, superando a ilusão de ótica.
Os princípios que orientam a percepção são:
a)Proximidade: Partes que estão próximas no tempo ou no espaço parecem
formar uma unidade e tendem a ser percebidas juntas.
b)Continuidade: Há uma tendência na nossa percepção de seguir uma direção,
de vincular os elementos de uma maneira que os faça parecer contínuos ou fluindo numa
direção particular.
c)Semelhança: Partes semelhantes tendem a ser vistas juntas como se
formassem um grupo.
d)Complementação: Há uma tendência na nossa percepção de completar
figuras incompletas, preencher as lacunas.
e)Simplicidade: Tendemos a ver uma figura tio boa quanto possível sob as
condições do estímulo; os psicólogos
da Gestalt denominaram isso prãgnanz ou “boa forma”. Uma boa Gestalt é simétrica, simples
e estável, não podendo ser tomada mais simples ou mais ordenada.
f)Figura/Fundo: Tendemos a organizar percepções no objeto observado (a figura)
e o segundo plano contra o qual ela se destaca (o fundo).
Exemplo:
Pela relação figura-fundo, o indivíduo destaca uma figura principal de um cenário. Quando não
há clara separação entre as figuras é mais difícil buscar a boa forma em razão da ilusão de
ótica. Na ilustração, é possível ver dois perfis ou uma taça.
Descoberta importante atribuída à Gestalt é o insight, que é a compreensão
imediata de um fenômeno em sua totalidade. O insight ocorre após ser despendido esforço
para uma situação que não parece clara a princípio, mas que se desvenda de maneira
instantânea para o indivíduo, pela percepção do todo.
TEXTOS INDICADOS:
∑ OLIVEIRA, Dalton. Psicologia Jurídica in VADE MECUM HUMANÍSTICO (coord. porÁlvaro de
Azevedo Gonzaga et al). 2ª Edição. Ed. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2011.
QUESTÕES:
Observe a figura abaixo e responda as questões abaixo:
1)Que figura é possível enxergar entre os objetos escuros?
2)Quais princípios propiciam enxergar tal figura?
DISCIPLINA: Psicologia JurídicaSemana 5
PSICANÁLISE
Teoria formulada pelo médico austríaco Sigmund Freud (1856-1939), que tem
como base duas contribuições primordiais: primeiro, a descoberta do inconsciente e, segundo,
a formulação da teoria sexual infantil.
A psicanálise se desenvolveu contemporânea às outras escolas de psicologia,
porém emerge de uma vertente fora do âmbito das ciências naturais e dos experimentos
acadêmicos em laboratório. Sua principal influência tem origem na psicopatologia.
A psicanálise nasce de uma oposição aos tratamentos dos distúrbios mentais da
época, os quais eram precários e desumanos. A aplicação da psicanálise ao tratamento das
neuroses divergia do objetivo da psicologia, o de descobrir leis do comportamento humano,
uma vez que seu objeto de estudo detinha-se ao comportamento anormal.
As escolas de pensamento em psiquiatria atribuíam causas físicas aos
comportamentos anormais como, por exemplo, lesões cerebrais, subestimulação dos nervos ou
nervos demasiado contraídos. A psicanálise se desenvolveu como um aspecto
darevolta contra essa orientação somática. Assim, afirmava a existência de fatores
emocionais como causa de distúrbios comportamentais, atribuindo-lhes explicações mentais ou
psicológicas.
Sugerindo a existência de um conteúdo desconhecido e de regiões obscuras
do psiquismo, Freud formula o conceito de inconsciente. O autor propõe- se a estudar esse
conteúdo dito inconsciente, como as fantasias, sonhos e os esquecimentos, tópicos ignorados
pelos outros sistemas de pensamento em psicologia.
Foi por intermédio de sua atuação médica e do tratamento de seus pacientes
histéricos que Freud se perguntou por que os pacientes esqueciam fatos de sua vida. Logo,
concluiu que estes fatos teriam sido reprimidos para uma parte inconsciente do psiquismo.
Nestes termos, repressão seria o processo que visa oprimir fatos indesejados do plano
consciente. E chamou de resistência a força psíquica que inibe o conteúdo inconsciente
arevelar-se à consciência.
De acordo com a teoria de Freud, nada ocorre ao acaso, existe um determinismo
psíquico. Há conexões entre todos os eventos mentais e as conexões entre eles estão no
inconsciente. Existem processos mentais conscientes e inconscientes e a maior parte deles é
absolutamente inconsciente. No inconsciente, não existe conceito de tempo, de certo ou errado
e não há contradição. As pulsões, ou instintos, são as forças motivadoras do desejo humano
que impulsionam o comportamento e localizam-se no inconsciente.
O médico vienense definiu pulsão como uma espécie de energia orientadora do
comportamento, sendo Eros a pulsão da vida (energia sexual e de autopreservação)
eTanatos a pulsão da morte (pulsão autodestrutiva).
A teoria do aparelho psíquico de Freud (segunda tópica, 1920-1923) é composta
de três elementos que interagem e conflitam entre si:
a)Id: é o reservatório das pulsões, sendo a parte da mente mais primitiva, formada
de conteúdos inconscientes e guiada pelo princípio do prazer;
b)Ego: regido pelo princípio da realidade. É um regulador na medida em que
é responsável pela orientação e controle dos instintos do id, considerando as condições
objetivas da realidade. O ego não impede a satisfação dos desejos, mas decide quando e
como os instintos do id podem ser satisfeitos. É instância psíquica responsável pelo equilíbrio
das exigências da realidade, dos desejos do id e das ordens do superego.
c)Superego: atua como impositor de limites ao id, sendo o local do aparelho
psíquico onde se encontram as proibições internalizadas pelo indivíduo. É
o aspecto moral da personalidade, é a introjeção das leis morais, exigências sociais e
dosideais. Ainternalização da autoridade externa mantém a proibição dentro de si e não é
mais necessária a ação externa para se sentir culpado. O sentimento de culpainstala-
sedefinitivamente no interior do indivíduo.
Outra grande contribuição da teoria psicanalítica refere-se à formulação dateoria
sexual infantil. Freud descreve o desenvolvimento do comportamento sexual da
infância à idade adulta, sugerindo que o impulso sexual aparece já nos primórdios da
vida dos bebês.
As principais descobertas são as seguintes:
a)A vida sexual não começa apenas na puberdade, mas se inicia, com
manifestações claras, logo depois do nascimento.
b)É necessário distinguir nitidamente entre os conceitos de “sexual” e “genital”. O
primeiro é o conceito mais amplo e inclui muitas atividades que não têm nenhuma
relação com os órgãos genitais.
c) A vida sexual inclui a função de obter prazer das zonas do corpo —
funçãomais tarde posta a serviço da reprodução. As duas funções muitas vezes deixam
de coincidir completamente.
A atividade sexual surge na tenra infância, chegando a um clímax perto do final
do quinto ano de vida, seguindo-se então uma calmaria (período de latência). A vida sexual
volta a avançar com a puberdade.
TEXTOS INDICADOS:
∑ OLIVEIRA, Dalton. Psicologia Jurídica in VADE MECUM HUMANÍSTICO (coord. porÁlvaro de
Azevedo Gonzaga et al). 2ª Edição. Ed. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2011.
QUESTÕES:
1)Quais foram as duas maiores contribuições da Psicanálise?
2)Quais são as instâncias do aparelho psíquico e como elas interagem entre si?
DISCIPLINA: Psicologia JurídicaSemana 6
PERSONALIDADE
Um dos maiores temas de interesse de estudo da Psicologia, que ao mesmo
tempo é bastante utilizado pelo Direito, é a personalidade.
A personalidade se refere aos aspectos da subjetividade do indivíduo, resultado
da interação de seus aspectos físicos com seus aspectos psíquicos. Ou ainda, na lição de Ana
Mercês Bahia Bock et al (Psicologias. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 114):
De modo geral, a personalidade refere-se ao modo relativo constante e peculiar
de perceber, pensar, sentir e agir do indivíduo. A definição tende a ser ampla e acaba por
incluir habilidades, atitudes, crenças, emoções, desejos, o modo de comportar-se e, inclusive,
os aspectos físicos do indivíduo. A definição de personalidade engloba também o modo como
todos esses aspectos se integram, se organizam, conferindo peculiaridade e singularidade ao
indivíduo.
Ainda, segundo a mesma obra, a psicologia geral se ocupa de estabelecer leis
gerais sobre o funcionamento da personalidade humana (ou seja, o que existe em comum em
todos os seres humanos), ao mesmo tempo em que uma psicologia diferencial busca o singular
em cada personalidade, permitindo a descoberta da individualidade.
Ressalte-se que não há valoração de aspectos da personalidade, isto é, não
existem bons ou maus atributos, mas sim, características que se repetem de modo
relativamente constante no indivíduo.
Existem diversas teorias da personalidade propostas pelas correntes psicológicas,
cada uma com um determinado enfoque. Ana Mercês Bahia Bock et al nos fornece os
princípios que norteiam a abordagem da personalidade (Psicologias. 12. ed. São Paulo:
Saraiva, 1999, p. 117):
a) Alguns estudiosos colocam em destaque na formação da personalidade
determinantes conscientes (Kurt Lewin), enquanto outros sustentaram a predominância dos
determinantes inconscientes;
b)Dependendo da teoria adotada, a personalidade humana pode ser produto do
determinismo ambiental, ou seja, o homem nasce como uma “folha em branco” sendo
preenchida ao longo do tempo em sua vida, ou do determinismo psíquico, que defende aideia
do indivíduo como fonte de seus atos;
c)Destaca-se a relevância de aspectos genéticos e a base biológica sobre a
formação da personalidade, variando a intensidade da influência desses fatores sobre o
indivíduo. Assim, alguns estudiosos sustentarão que as características hereditárias ou
biológicas determinarão de forma preponderante a personalidade do homem, enquanto outros
autores defenderão a influência de forma bastante relativa;
d)Para teorias isoladas, a personalidade é fruto do contexto sociocultural em que
vive, defendendo que o comportamento pode ser moldado pelas condições culturais do meio.
O instituto da personalidade sofre tratamento multifacetado pelo Direito, obtendo
desde proteção constitucional até a previsão nos mais diversos diplomas legais. A título de
exemplo, o Código Civil trata de aspectos da personalidade em seus dois primeiros capítulos.
Por sua vez, o art. 59 do Código Penal determina que o juiz atentará para a personalidade do
agente, dentre outras circunstâncias, para a fixação da pena.
TEXTOS INDICADOS:
∑ OLIVEIRA, Dalton. Psicologia Jurídica in VADE MECUM HUMANÍSTICO (coord. porÁlvaro de
Azevedo Gonzaga et al). 2ª Edição. Ed. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2011.
QUESTÕES:
1)Como pode ser definida a personalidade?
2)Como se justifica o estudo da personalidade para a compreensão do Direito?
DISCIPLINA: Psicologia JurídicaSemana 7
Transtornos de personalidade
Não se tem o intuito de esgotar todas as psicopatologias, mas apenas desfilar
alguns transtornos mais comuns.
Transtornos de personalidade são padrões de comportamento rígidos e
constantes, que comprometem o desenvolvimento da vida social do indivíduo, sendo
acompanhado de sofrimento subjetivo. É somente quando os traços de personalidade são
inflexíveis emal-adaptativos que se constituem como distúrbios da personalidade.
Dentre os trantornos já diagnosticados, listam-se os mais comuns:
TEXTOS INDICADOS:
∑ OLIVEIRA, Dalton. Psicologia Jurídica in VADE MECUM HUMANÍSTICO (coord. porÁlvaro de
Azevedo Gonzaga et al). 2ª Edição. Ed. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2011.
QUESTÕES:
1)O que é transtorno de personalidade?
2)Conceitue dois transtornos de personalidade e explique sua relação com o Direito?
DISCIPLINA: Psicologia JurídicaSemana 8
PSICOLOGIA E DIREITO CIVIL
A Psicologia se relaciona com o Direito Civil de diversas formas.
Primeiramente, como já se observou, é importante o estudo da personalidade para
saber quais aspectos seus são protegidos pelo Direito.
Ou ainda, aspectos psicológicos devem ser levados em conta no que tange aos
defeitos dos negócios jurídicos. Por exemplo, o art. 138 do Código Civil dispõe que são
anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de
erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em
face das circunstâncias do negócio.
No artigo acima, interessante notar que está envolvida a percepção de uma
pessoa de diligência normal, o que correspondia ao que se costumava chamar de “homem
médio”, ou seja, uma pessoa que se encontra em um padrão social e psíquico do que se
considera como comum no lugar e na época em que se encontra.
Em geral, os defeitos do negócio jurídico (erro, dolo, coação, lesão, etc.) são
institutos jurídicos criados a partir da percepção que o indivíduo possui em relação à realidade.
Contudo, é com o Direito de Família que a Psicologia terá maior contato, visto que
o ponto em comum serão as relações afetivas. Divórcio, guarda de filhos, regime de visitas,
entre outras questões, são casos típicos que potencialmente envolvem necessidade de perícia
psicológica a depender do grau de conflito existente.
Em primeiro lugar, a própria relação conjugal enseja uma série de obrigações
entre seus participantes previstas no próprio Código Civil. Ocorre que o descumprimento de
tais obrigações não se assemelham a outros inadimplementos contratuais. Ao contrário,
exatamente porque estão inseridos em relação conjugal, o conflito que daí se origina envolve
uma série de danos emocionais, como magoas e ressentimentos.
Exatamente em razão dessa situação, conjugado com a possibilidade de se
aplicar a responsabilidade civil, tem se admitido a configuração de dano moral de um dos
cônjuges por inadimplemento de deveres para com o outro cônjuge como, por exemplo, o
dever de lealdade.
Noutra esteira, a situação que comumente necessita de intervenção de um
psicólogo forense é a que envolve guarda de filhos, pois esses consubstanciam a
partehipossuficiente em relação ao conflito que participam seus pais.
Em caso de dissolução da união conjugal, é comum que um dos genitores
permaneça com a guarda da prole (se houver), enquanto o outro exerce seu direito de visitas
fixado pelo Judiciário.
Surgem, então fenômenos razoavelmente modernos, como a alienação parental e
o abandono afetivo, que serão vistos na aula seguinte.
TEXTOS INDICADOS:
∑ OLIVEIRA, Dalton. Psicologia Jurídica in VADE MECUM HUMANÍSTICO (coord. porÁlvaro de
Azevedo Gonzaga et al). 2ª Edição. Ed. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2011.
QUESTÕES:
1)Como a psicologia pode ajudar a compreender a personalidade no mundo jurídico?
2)Como a Psicologia pode se relacionar com o Direito Civil?
DISCIPLINA: Psicologia JurídicaSemana 9
Alienação Parental e Abandono Moral
1. Alienação parental.
A alienação parental consiste em incutir na criança sentimentos negativos em
relação a um dos genitores, ação promovida pelo genitor ou familiar que detém o convívio por
maior tempo.
Ou, segundo o art. 2º da Lei 12.318/10 (Lei de Alienação Parental), “considera-
seato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do
adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a
criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou
que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.”
O parágrafo único do art. 2º da referida lei exemplifica medidas de alienação
parental:
∑realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou
maternidade;
∑dificultar o exercício da autoridade parental;
∑dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
∑dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
∑omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente,
inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;
∑apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou
dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;
∑ mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da
criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.
Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou
incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou biopsicossocial.
A Lei de Alienação Parental prevê medidas a serem aplicadas para coibir a
infração. Além das medidas emergenciais previstas no art. 4º, há instrumentos dispostos no art.
6º aptos a inibir ou atenuar os efeitos da alienação:
∑declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;
∑ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;
∑estipular multa ao alienador;
∑determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
∑determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;
∑determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
∑declarar a suspensão da autoridade parental.
2.Abandono moral.
O abandono moral se configura pela abdicação do convívio e amparo emocional
de um genitor em relação a seu filho, independente de eventual adimplemento da obrigação
alimentícia.
Segundo a doutrina que defende a existência de tal fenômeno, o genitor que deixa
de oferecer afeto ao filho gera um dano e deve ser responsabilizado civilmente. Nesse sentido,
é pedagógico o voto da Min. Nancy Andrighi do Superior Tribunal de Justiça nos autos do
RECURSO ESPECIAL Nº 1.159.242 – SP:
Sob esse aspecto, indiscutível o vínculo não apenas afetivo, mas
também legal que une pais e filhos, sendo monótono o entendimento doutrinário de
que, entre os deveres inerentes ao poder familiar, destacam-se o dever de convívio,
de cuidado, de criação e educação dos filhos, vetores que, por óbvio,envolvem a
necessária transmissão de atenção e o acompanhamento do desenvolvimento
sócio-psicológico da criança.
E é esse vínculo que deve ser buscado e mensurado, para garantir a
proteção do filho quando o sentimento for tão tênue a ponto de não sustentarem,
por si só, a manutenção física e psíquica do filho, por seus pais – biológicos ou não.
Nessa mesma ação, julgada em maio de 2012, o pai da autora foi condenado a
pagar a ela R$ 200 mil pelo abandono afetivo.
A tese não é pacífica, dividindo bastante a opinião dos juristas, pois há a
preocupação de se banalizar a situação como dano moral, criando uma indústria de
indenizações.
Outra questão é a discussão sobre se o desamor é algo indenizável. Em outra
ação sobre o mesmo tema, o Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo Maia da
Cunha escreveu em seu voto “A lei pode obrigar o pai a reconhecer legalmente o filho, bem
como aregistrá-lo e sustentá-lo financeiramente, mas não pode ser obrigado a amá-lo”
Portanto, é uma tema bastante polêmico e que está sendo construído
jurisprudencialmente, sem possuir todos os contornos definidos.
TEXTOS INDICADOS:
Lei n. 12.318/10 (Lei de Alienação Parental),
disponívelemhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12318.htm
Acórdão do RECURSO ESPECIAL Nº 1.159.242 – SP, disponível emhttps://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200901937019&dt_pub licacao=10/05/2012
QUESTÕES:
1)Cite dois atos que podem caracterizar a Alienação Parental?2)Qual é a principal divergência dos juristas em relação ao abandono moral?
DISCIPLINA: Psicologia JurídicaSemana 10
Psicologia e Direito Penal
Desde que a Psicologia se emancipa no final do século XIX como ciência
autônoma, é com o Direito Penal da época que ocorrem as primeiras relações disciplinares.
Também ciência do século XIX, a criminologia tinha por escopo estudar o
comportamento criminoso sob uma análise jurídica, sociológica e também psicológica.
Os elementos estudados pela criminologia sob o aspecto psicológico são o
infrator, a vítima e as instituições de exclusão que fazem parte do processo de controle social
do comportamento delitivo.
Fiorelli & Mangini (vide texto indicado) propõem a seguinte classificação
dedelinquência:
∑Delito doloso: é o crime cometido com vontade consciente, com intenção em cometer o crime.
∑Delito culposo: o agente criminoso não comete o crime com intenção, mas em uma das
modalidades previstas no Código Penal: imprudência, negligência ou imperícia.
∑Delinquência ocasional: é o delito cometido por uma pessoa aparentemente ajustada aos padrões
de comportamento social, mas que comete um delito motivado por um fator externo ou por uma
forte emoção.
∑Delinquência psicótica: é a prática criminosa cometida em razão de um transtorno mental,
devidamente diagnosticada como tal pelo especialista.
∑Delinquência neurótica: o delito é cometido em virtude de conflitos do indivíduo consigo mesmo,
que os projeta no ato criminoso para aplacar um sentimento de culpa de outra origem.
∑Delinquência profilática: a pessoa age pretendendo que se evite um mal maior.
TEXTO INDICADO:
∑ FIORELLI, José Osmir; MANGINI, Rosana C. R. Psicologia Jurídica. São Paulo: Atlas, 2009.
Capítulo 9.
QUESTÕES:
1)Qual a diferença entre delito doloso e delito culposo?
2)Explique o objeto de estudo da criminologia.
DISCIPLINA: Psicologia JurídicaSemana 11
ASSÉDIO MORAL
Assédio moral ou mobbing é a violência moral e/ou psicológica exercida contra
indivíduo, em ambientes coletivos de convivência, por meio de condutas humilhantes ou
vexatórias, causando à vítima sérios problemas de ordem psíquica e atingindo seus direitos de
personalidade.
. O assédio moral é evento típico do meio laboral, em que o trabalhador está
subordinado às ordens do empregador e sujeito às normas sociais de convívio do ambiente
corporativo onde se encontra inserido.
No entanto, o assédio moral pode estar presente em outros ambientes coletivos,
na medida em que o sujeito esteja exposto compulsoriamente ao convívio do grupo, como
escolas, monastérios, hospitais etc.
Outro ambiente de relevante ocorrência desse tipo de assédio é o escolar.Nesse
caso, o assédio é a violência psicológica exercida contra a criança ou adolescente pelos
colegas, constituído de palavras e gestos ofensivos, em geral dirigidos por causa de uma
característica peculiar da vítima como excesso de peso; uso de óculos; ser estudioso; ter
sardas; ser gago etc.
O assédio moral exercido entre e contra crianças e adolescentes recebe a
denominação de bullying (ou mobbing infantil). Tal espécie de assédio assume gravidade
ainda maior em virtude de três fatores:
a)A hipossufiência da vítima, visto que a criança não possui desenvolvimento
psicológico completo, não tendo, portanto, mecanismos de defesa apropriados para suportar a
agressão;
b)A hipossufiência do agressor, considerando que, em geral, o agressor
também é criança ou adolescente e, por isso, as medidas adotadas para sancionar a infração
deverão ser adequadas à reeducação do indivíduo, para evitar que venha a repetir os atos de
agressão;
c)A perpetuação dos efeitos do bullying na vida adulta, podendo gerar
graves transtornos psíquicos que impossibilitam a plena realização pessoal do indivíduo.
Alguns elementos constituintes do assédio moral são:
a)Condutas abusivas;
b)Sujeitos da relação;
c)Continuidade;
d)Objetivo ou finalidade.
São condutas que visam isolar ou humilhar a pessoa diante do grupo. Tais
condutas podem ser divididas em três espécies:
a)Ações de comunicação: desprezo (não dirigir mais a palavra); exclusão;
gritos; reprovação reiterada no trabalho;
b)Ações sobre a reputação da pessoa: piadas, mentiras,
ofensas,ridicularização de um defeito físico, derrisão pública, por exemplo, de suas opiniões
ouideias, humilhação geral;
c)Ações sobre a dignidade profissional: trabalho sem sentido, humilhante ou
perigoso; metas de alcance duvidoso; atribuição de tarefas aquém da capacidade ou inferiores
ao cargo que ocupa; “roubo” de ideias.
O assédio é a agressão desferida pelo agressor à vítima.
No polo ativo, é possível a existência de um ou mais agressores. O assédio
exercido pelo chefe ao subordinado, em geral, é realizado por uma pessoa, embora ele possa
agir em conluio com outros chefes ou subordinados. Já o assédio moral exercido por colegas
exige a participação de várias pessoas.
Não há uma caracterização precisa da pessoa a ser vítima de assédio moral,
podendo qualquer pessoa ser vítima da agressão.
Para a caracterização do assédio moral, é indispensável que a conduta seja
reiterada, ou seja, deve haver ataques constantes e continuados à vítima.
Por fim, o bem atingido no assédio moral são os direitos de personalidade. Assim,
a finalidade do assediador (ou assediadores) é fragilizar, de maneira intencional, a constituição
psíquica da vítima, atingindo-a em sua autoestima, confiança e autoimagem.
No ambiente laboral, uma finalidade secundária seria o afastamento do
trabalhador do local de trabalho, ou até mesmo sua demissão.
O assédio moral no trabalho pode ser classificado em quatro espécies:
a)Assédio moral vertical (ou vertical descendente): é a relação em que o chefe assedia o
subordinado (“de cima para baixo”). É a espécie mais comum no ambiente laboral;
b)Assédio moral horizontal: ocorre quando a vítima sofre agressão por parte dos
colegas. É o assédio que caracteriza o bullying, sendo relevante também na seara laboral;
c)Assédio moral ascendente (ou vertical ascendente): é a hipótese em o superior
hierárquico sofre assédio por parte de seus subordinados (“de baixo para cima”). É a espécie
de assédio com menor ocorrência no ambiente laboral;
d)Assédio moral misto: é o assédio exercido por pessoas de diversos níveis hierárquicos,
como aquele proveniente ao mesmo tempo de chefe e colegas.
Cabe, ainda, ressaltar que o assédio moral é um fenômeno que tem sido
verificado com mais densidade (frequência e número de casos) no serviço público do que na
iniciativa privada. Tal fato ocorre em razão da estabilidade adquirida pelo ocupante de cargo
efetivo.
O assédio moral é uma agressão que se dá de forma contínua, reiterada. Na
iniciativa privada, a consequência mais grave do assédio moral é a demissão, seja ela pedida
pelo empregado ou determinada pela empresa, de forma que se encerra a agressão com a
extinção do vínculo entre trabalhador e empregador.
Já na Administração Pública, conquanto o servidor seja estável, o vínculo
funcional só é rompido em hipóteses muito restritas. Dessa forma, o assédio moral pode se
prolongar por períodos significantemente longos, considerando que o servidor não consiga
alteração de lotação do cargo, submetendo-se à agressão do superior hierárquico.
TEXTO INDICADO:
∑ OLIVEIRA, Dalton. Psicologia Jurídica in VADE MECUM HUMANÍSTICO (coord. porÁlvaro de
Azevedo Gonzaga et al). 2ª Edição. Ed. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2011.
QUESTÕES:
1)Como se classificam as condutas abusivas no assédio moral?
2)De que tipo de assédio é o bullying?
DISCIPLINA: Psicologia JurídicaSemana 12
ASSÉDIO SEXUAL
Assédio sexual é uma conduta reiterada para obtenção de favores sexuais da
vítima pelo assediador. Pode ser promovida por uma ou mais pessoas, que agem de forma a
coagir outra a satisfazer desejos sexuais, aproveitando-se de sua situação de ascendência
sobre a vítima, mediante ameaça ou chantagem.
Os ambientes principais de ocorrência do assédio sexual são:
a)Ambiente laboral: sem dúvida, o ambiente de trabalho é o principal local para
a ocorrência do assédio sexual, levando-se em consideração a subordinação hierárquica entre
empregador ou chefe e empregado(a);
b)Ambiente familiar: a conduta sexual indesejada ocorre em uma família
quando não há subordinação, mas ascendência de uma pessoa sobre outra mais vulnerável;
c)Ambiente hospitalar: nesse caso, a relação imprópria pode dar entre
médicos/enfermeiros e pacientes, dada a vulnerabilidade e a confiança despendida pela vítima
ao profissional de saúde. Esse tipo de assédio ocorre em hospitais e em outros locais de
internação destinados aos cuidados relativos à saúde, tais como hospícios, casas de repouso,
casas de saúde, casas de recuperação de viciados etc.;
d)Ambiente religioso: o assédio sexual é imprimido pelo sacerdote ou líder aos
fiéis da denominação religiosa. Independe da religião, podendo ocorrer sempre que haja uma
ascendência do sacerdote sobre os membros daquela denominação;
e)Ambiente escolar ou acadêmico: em estabelecimentos de ensino, a figura
doassediador se encontra entre professores ou funcionários responsáveis pela supervisão,
cujas vítimas potenciais são os alunos.
Há quatro elementos coincidentes encontrados de modo geral entre os estudiosos
para configurar o assédio sexual:
1)Sujeitos: O assédio se dá entre duas ou mais pessoas, podendo haver mais
de um assediador ou mais de uma vítima
2)Conduta de natureza sexual: As condutas de natureza sexual se
constituem por comunicação verbal ou corporal, ou até mesmo por contatos físicos, que têm
por objetivo a obtenção de favores sexuais. São exemplos desse tipo de conduta:
a)Piadas, comentários e insinuações de natureza sexual;
b)“Cantadas”;
c)Gestos obscenos;
d)Carícias;
e)Toques;
f)Ameaças ou chantagens.
c) Rejeição à conduta do agente;
A vítima deve rejeitar expressamente a conduta que caracteriza o assédio sexual
contra o agente que intenta a ação. É importante que fique claro que a vítima tenha recusado
de maneira incisiva as investidas do assediador.
d) Reiteração da conduta.
Em geral, é comum que a conduta de que configura o assédio sexual ocorra por
diversas vezes em diferentes situações e intensidades.
No entanto, excepcionalmente, o assédio sexual pode se materializar em um único
ato, quando o agente contrange, flagrantemente, na presença de várias testemunhas, a vítima.
Para ilustrar, tome-se o caso do chefe do setor que, na confraternização de final de ano na
empresa, após consumir bebida alcoólica, resolve investir contra determinada funcionária
mediante benefício, sem perceber que estão cercados por outras pessoas.
A doutrina divide o assédio sexual em dois tipos:
a)Assédio sexual por chantagem ou quid pro quo: é a forma clássica de
assédio sexual em que o superior hierárquico ou a pessoa com ascendência quer obter favores
sexuais da vítima, mediante ameaça de uma punição (por exemplo, demissão) ou oferta de
alguma vantagem (por exemplo, uma promoção ou um aumento de salário);
b)Assédio sexual ambiental ou por intimidação: nesta espécie, o assédio
não ocorre necessariamente numa relação vertical, ou seja, entre subordinados, mas também
em uma relação horizontal, isto é, entre colegas do mesmo nível hierárquico.
No Brasil, o assédio sexual foi tipificado como crime pela Lei 10.224/2001, a qual
inseriu o art. 216-A no Código Penal, e penaliza o ato de “constranger alguém com o intuito de
obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de
superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”.
TEXTOS INDICADOS:
∑ OLIVEIRA, Dalton. Psicologia Jurídica in VADE MECUM HUMANÍSTICO (coord. porÁlvaro de
Azevedo Gonzaga et al). 2ª Edição. Ed. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2011.
QUESTÕES:
1)Quais são os quatros elementos do assédio sexual? Explique.
2)O que é assédio sexual ambiental?
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