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UnB / FAC / SOS Imprensa Brasília, maio de 2012 Edição 02 Conheça o homem que mudou o modo de se fazer jornalismo no Brasil Foto: Divulgação Opinião Memória Até onde o Estado pode intervir no direito de escolha das pessoas? Ponto de Vista Mistura de nomes é mais um exemplo da imprecisão do jornalismo atual A arte de Brasília que não sai nos jornais

DiscurSOS - 2ª edição

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Segunda edição de 2011 do jornal Discursos, produzido pelos extensionistas do projeto SOS Imprensa ao longo do ano.

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UnB / FAC / SOS ImprensaBrasília, maio de 2012Edição 02

Conheça o homem que mudou o modo de se fazer jornalismo no Brasil

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Opinião MemóriaAté onde o Estado pode intervir no direito de escolha das pessoas?

Ponto de VistaMistura de nomes é mais um exemplo da imprecisão do jornalismo atual

A arte de Brasília que não sai nos jornais

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Carta do Editor Nas ruas...

O Google classificou um vídeo sobre o beijo gay da rede Youtube como im-próprio para menores de 18 anos. O vídeo é uma crítica sobre a censura do beijo gay na televisão. O problema é que a rede classifica como inadequado os vídeos que tratam sobre: sexo ou nudez, apologia ao ódio, chocante e repugnante, perigoso e ilegal. Isso causou grande revolta nas redes sociais. Um vídeo que fala sobre a censura é censurado, e o povo? O que acha?

2 Brasília, maio de 2012

Por Jorge Macedo

O desafio de se fazer um jornal não é algo simples. Nós, estudantes de diferentes cursos na UnB, experimentamos um pouco disto aqui no SOS Imprensa. A segunda edição do DiscurSOS mantém a proposta de fazer uma análise crítica da comunicação, sem a correria – mas com o mesmo estresse – de um jornal diário.

Na reportagem de capa, fruto da parceria entre Brunna Ribeiro e Johna-tan Reis, os desafios de se fazer cultura em Brasília. Sem o devido espaço nos grandes meios de comunicação, resta aos nossos artistas divulgar seu trabalho nas redes sociais e veículos alternativos, forma cada vez mais comum e efi-ciente de se fazer notar entre os nomes já reconhecidos do cenário nacional.

Lembra-se da bagunça com os nomes do ex-ditador morto da Líbia? Este é o mote da reflexão de Paulo Paniago, jornalista e professor da UnB. Ele nos convida a pensar sobre a imprecisão do jornalismo e quais são os valores fundamentais da prática da profissão. A propósito, como é o mesmo o nome do morto? Kadhafi, Gaddafi...?

Na coluna Arquivo, Luana Luizy presta uma homenagem a João Paulo Al-berto Barreto, vulgo João do Rio. Conhecido como o Poeta das Ruas, João ex-erceu de maneira ímpar o jornalismo nos primeiros anos do século XX na Ci-dade Maravilhosa. Por fim, no Ponto de Vista, Camila Curado traz a opinião de um produtor visual e de um professor universitário sobre A Serbian Film, produção censurada no Brasil por seu conteúdo. Um abraço, boa leitura!

SOS Imprensa Projeto de Extensão da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília Editor-chefe Jorge Macedo Secretário de Redação Johnatan Reis Editores Davi de Castro, Denise Ribeiro e Paulo Victor Chagas Diagramação Denise Ribeiro Fotografia Beatriz Ferraz Repórteres Brunna Ribeiro, Camila Curado, Johnatan Reis, Luana Luizy e Marcella Ludmila Coordenadores Luís Martins da Silva e Fernando Oliveira Paulino E-mail: [email protected] Twitter: @sosimprensa Facebook: www.facebook.com/sosimprensa Blog: http://sosinterativo.blogspot.com

Expediente

“Tem muitas cenas heterossexuais que são mais picantes. O Youtube não está tratando porque é algo mais sensual, mas sim porque é homossexual. Se tem um beijo heterossexual, pode ter um beijo gay.”Hugo Nogueira, estudante de Psicologia

“Porque um beijo gay tem que ser censurado? Na medida em que têm

beijos heterossexuais, deveria poder ter de homoafetividade, porque cen-

surar isso é um ato de homofobia.” Noshua Amoras, estudante de

Ciências Sociais

“O beijo gay, como qualquer outro beijo, não deveria ter nenhuma polêmica. Esse beijo gay na internet veio por conta da censura na TV. Fazer uma crítica à censura é super válido. Minha opinião, a censura do beijo, tanto na internet quanto na TV, é moralismo.” Ricardo Guimarães, estudante de Serviço Social

“Eu não sou contra um casal, independente do sexo, demonstrar afeto e carinho. Na internet

não deveria ter essa censura. Eu acredito que seja um tabu por alcançar famílias.”

Georgia, servidora do departamento de exatas da UnB

Por Marcella Ludmila

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Opinião

3Brasília, maio de 2012

Kadhafi, Gaddafi, Ghadhafi, Qaddafi e mais uma grande variação de nomes foi apresentada

mundialmente para se falar uma mesma coisa: o ex-ditador que comandou com mão de ferro a Líbia por mais de 42 anos foi assassinado em Sirte. Já não era sem tempo, celebraram muitos, contentes com mais uma ditadura que se encerra, fruto de um movimento que varre como onda a superfície do planeta, com especial concentração nos países ainda assolados por esse tipo de praga. Os países árabes parecem especialmente convulsionados por manifestações populares e a Primavera Árabe conseguiu derrubar ditadores da Tunísia e do Egito. A Síria tem atravessado sérias turbulências.

À distância, a mídia relata como pode, altera como consegue os nomes de ditadores e sobretudo confia na cobertura proporcionada por agências de notícias. Num primeiro momento, apareceram versões conflitantes para a morte de, er, Gaddafi. É uma escolha de nome tão aleatória quanto qualquer

outra na tentativa de transliteração de nomes próprios. Falou-se em assassinato, tiroteio com rebeldes e até mesmo tiros acidentais durante a captura, com vídeo amador a registrar imagens, transmitido pela rede de TV árabe Al Jazeera. Até um ataque da Otan (aliança militar ocidental) foi sugerido e mais tarde confirmado que existiu, embora possa não ter sido o que provocou a morte do ditador.

A concentração do discurso dos veícu-los de comunicação é no fato de que a di-tadura iniciada em setembro de 1969 che-gou ao fim. É o que de objetivo se pode aferir dos acontecimentos e é nisso que os textos jornalísticos se concentram. Como ele morreu, quem exatamente o matou e como essa morte aconteceu, isso fica no terreno das especulações – onde o jorna-lismo teima em patinar de vez em quan-do, por mais que não goste –, bem como definir de uma vez por todas qual a forma correta de escrever o nome do morto.

O curioso de tudo isso é a noção clara de que há aspectos da vida, e não apenas

da particular, mas mesmo da vida de pessoas públicas, que não são exatamente apuráveis. Certas zonas cinzentas que permanecerão sempre sem esclarecimento ou clarificação. Trata-se como se pode, da melhor maneira possível, mas ainda assim fica-se com aquele incômodo de que não se está contando ao leitor, telespectador, ouvinte ou usuário toda a verdade dos acontecimentos, toda a inteireza e os pormenores envolvidos. Transparência torna-se palavra bonita para ser utilizada em diversas ocasiões, mas de aplicação um tanto limitada. O que ocorre quase sempre é um truque de prestidigitação: falo acerca do que posso falar, finjo que não existe (ou simplesmente digo que “há controvérsias”, “noções conflitantes”) aquilo que não consigo apurar.

Se transparência fosse aplicável em larga escala ao próprio exercício do jor-nalismo, algumas coisas precisariam mudar na atividade – entre elas alguns aspectos da linguagem que se adota – e estou certo de que o beneficiário seriam o público e a sociedade.

Jornalista e professor da Faculdade de Comunicação da UnB

O nome do morto

Paulo Paniago

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Cultura

4 Brasília, maio de 2012

Por Brunna Ribeiro e Johnatan Reis

Desafios da música popular no Distrito FederalA falta de valorização de artistas brasilienses pela mídia local

A produção musical no Distrito Federal é considerada rica, diversa e de qualidade, porém os artistas enfrentam desafios na divulgação e no reconhecimento do seu trabalho. Reconhecida como capital do Rock, a imprensa da cidade que já exportou bandas que compõem o cenário musical do Brasil ainda é incapaz de reconhecer novos talentos. Com isso, os artistas são contemplados em espaços alternativos e redes sociais.

O SOS Imprensa, de olho na atuação da mídia, trás para debate o tema, tendo em vista que os meios de comunicação têm a obrigação de representar os vários grupos e interesses que compõem a sociedade.

Foto

: Sue

Cou

to

Desde sua fundação, Brasília já consumia e produzia música. Data de 1967 o primeiro disco independente da cidade, de autoria do grupo Os Quadradões. Nos anos 1970, o mun-do era dominado pelos hits da beatlemania e em Brasília não foi diferente. Festivais de música que valorizavam a

produção independente da cidade ganharam forte presença do público jovem, que se tornou grande apoiador da cultura alternativa de Brasília.

A 1° edição do Festival de Música Popular do Centro de Estudos Uni-versitários de Brasília (Ceub), em 1971, lançou o cearense Fagner no pa-norama nacional, classificado em primeiro lugar com a música Mucuripe, em parceria com Belchior.

Já no Festival Interno do Colégio Objetivo (FICO), em 1980, o grande destaque foi o grupo de punk rock Aborto Elétrico, liderado pelo então vo-calista Renato Russo. Surgia assim ambiente propício à música local, com a energia de jovens querendo mudar o mundo e vendo um futuro promissor na nova capital federal. A Turma da Colina era um conjunto de amigos e punks que se reuniam para tocar e discutir música, e desse grupo saiu a formação das bandas Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude e Blitz 64. Raimundos foi a banda de hardcore punk que mais vendeu CDs no Brasil nos anos 1990, com aproximadamente três milhões de exemplares.

E nem só da guitarra elétrica viveu o planalto central. Grandes nomes da MPB começaram sua carreira na cidade, como Cássia Eller, Oswaldo Montenegro e Ney Matogrosso. Atualmente quem se destaca é a cantora Ellen Oléria.

“Hoje estamos numa fase instrumental muito forte e de qualidade”, afirma Clodomir Ferreira, ex-integrante do trio Clodo, Climério e Clé-sio, da década de 1970 e 1980. Uma das explicações de Clodo para o não

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5Brasília, maio de 2012

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Foto: Ariel Martini

Foto: divulgação conhecimento do público da cultura regional é a inse-gurança das rádios comerciais em inserir na programação produções de brasilienses. Somente algumas emissoras, como a Rádio Câmara, Rádio Nacional e a Rádio Senado, tocam artistas locais.

A solução para acabar com o desconhecimento da produção local deveria vir das rádios. “O que cria o mer-cado é o acesso pelo público. Brasília produz, mas tem dificuldade nessa transmissão. É uma cadeia: se tocar vende, se vender é procurado, se é procurado o show lota, se lotar, o disco vende. E o rádio quebra essa cadeia. Se toca no rádio, as pessoas gostam, vão querer comprar e ir ao show”, afirma o músico, que ministra Comunicação e Música na UnB.

Em tese de mestrado, Clodo estudou a participação do público no processo de difusão da música. A indústria mercadológica também é responsável por não incentivar eventos regionais. Mídias nacionais têm mais compromis-so com as gravadoras do que com consumidores. E quem sofre é o público, já que a produção local fica reprimida. “A ideia sempre é criar mercado”, afirma Clodo.

Seria possível construir uma identidade musical pra Brasília? Não. Segundo o professor, é preciso entender o objetivo da construção da capital no planalto central: conceber uma síntese do Brasil: “Essa tentativa de dizer que Brasília é a cidade do rock é tentar desmentir Brasília. Dizer que ela nasceu para ser uma coisa só”.

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As mídias alternativas do DF com-põem espaço fundamental para os artistas locais. Comprometidos com o direito à informação, Diogo Ramalho, do Jornal Miraculoso, e Marcelo Arruda, da Rádio Utopia FM, analisam o compromisso dos meios de comunicação que partici-pam com o público.A rádio se localiza em Planaltina e está no ar desde 1998. Promove em dezembro o 2° Festival Parque Su-cupira de Música Popular Brasileira. Os programas da rádio se recusam a reproduzir músicas com conteúdos que, segundo os integrantes, deni-grem a imagem da mulher, do negro e de outros grupos minoritários.O Miraculoso é um jornal popular que tem como compromisso edito-rial a divulgação da cultura regional. O espaço do jornal é aberto para co-laboradores e desta forma os artistas podem divulgar seus conteúdos. Ambos ressaltam o fato de a mídia não abrir espaço para a produção regional. “Faltam meios alternativos de comunicação. Existe esta carên-cia”, considera Diogo. Assim, artistas como GOG e Seu Estrelo, e bandas como Móveis Coloniais de Acaju e Galinha Preta, apesar de certo destaque na cena da música brasi-liense, têm dificuldade de alcançar o merecido reconhecimento nacional.

Meios alternativos como espaço de divulgação regional

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Arquivo

6 Brasília, maio de 2012

Não existiu ninguém que soube captar melhor a essência das ruas do Rio de Janeiro que João Paulo Alberto Barre-

to, mais conhecido como João do Rio. Repór-ter que saiu às ruas e construiu a história por meio dos fatos. Brito Broca, em A vida literária do Brasil, sintetiza bem a importância de João do Rio: “Uma das principais inovações que ele trouxe para nossa imprensa foi a de transfor-mar a crônica em reportagem – reportagem por vezes lírica e com vislumbres poéticos. Foi essa experiência nova que trouxe para crônica, a de repórter, do homem que, frequentando salões, farejava também as baiúcas e as tavernas, os an-tros do crime e do vício.”

João do Rio nasceu na rua do Hospício, no dia 5 de agosto de 1881. Por ser mulato, gor-do e supostamente homossexual, foi barrado pelo ministro de Relações Exteriores ao tentar entrar na diplomacia em 1902. Mais tarde, de-cidiu ingressar no jornalismo, atividade que já desempenhava desde 1900 em periódicos como O Paiz, O Dia e O Tagarela.

Além de jornalista, desempenhou o papel de cronista, teatrólogo e contista. Na Gazeta de No-tícias, publicou série de reportagens intituladas As religiões do Rio. De caráter antropológico, a obra teve como objetivo contemplar o mistério das crenças na cidade, desde bebedores de san-gue a mulheres que respeitam o oceano.

João do Rio deu voz a todos os desgraçados socialmente, criminosos, mendigos, prostitutas,

João do Rio, o poeta das ruasPor Luana Luizy

presidiários, como na obra A alma encantadora das ruas, em que pôs em pauta temas que até hoje são perenes e intrigantes na socieda-de, como a superpopulação e os maus tratos aos presos nos pre-sídios. Nesta obra, ele reflete: “O criminoso é um homem como outro qualquer. No primeiro mo-mento, sob o pavor dos grandes muros de pedra, como um guarda que nos mostra indivíduos como se mostrasse as feras de um do-mador, a impressão é esmagado-ra. Vê-se o crime, a ação tremen-da ou infame; não se vê o homem sem o movimento anormal que o pôs à margem da vida”.

João exerceu o jornalismo em um tempo em que a atividade não era considerada nobre, sua parti-cipação ativa ajudou a descobrir um Brasil marginalizado tanto socialmente quanto midiatica-mente, fato que não mudou mui-to nos dias atuais.

Morrera em um táxi em 1921, após passar mal na redação do jornal. João inovou no con-teúdo informativo, nos métodos de apuração e na reportagem. Era uma espécie de flâneur. Como ele próprio descrevia, flanar consiste em ser o vagabundo observador, ter o espírito

da observação conectado ao da vadiagem, sair por aí, meter-se nas ruas, admirar as coisas, pessoas. E não é verdade que todo aspirante a jornalista deve ter tal espírito perambulador? Pois como bem dizia João do Rio, “nada como o inútil para ser artístico”.

Imagem: google

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Ponto de Vista

7Brasília, maio de 2012

Um filme SérvioPor Camila Curado

Não tem como. Eu sou a favor de proibir totalmente esse tipo de filme absurdo, de extremo mau gosto, que passa dos limites. Não tendo como proibir, porque, afinal, temos a liberdade de expressão, que pelo menos se avise com todas as letras o que tem no filme para a pessoa pelo menos ficar avisada. Colocaria uma tarja o tempo inteiro durante o filme.

Há mais de 25 anos o Brasil não proibia um filme de ser exibido. Neste ano o país abriu uma exceção. “A Serbian Film – Terror sem limites” foi vetado e teve sua es-treia (que aconteceria no último mês de agosto) cancelada. Isso provocou indigna-

ção nos cineastas e polêmica em todo o país e, o que era para funcionar como uma barreira entre o filme e o espectador, só trouxe mais curiosidade à população e, como consequência, uma grande repercussão. O episódio evidenciou questões sobre o papel do Estado em re-lação à arte e à liberdade de expressão. Um filme deve ser proibido se tiver conteúdo que possa agredir os Direitos Humanos? Traz algum benefício a intervenção Estatal na liberdade de escolha de seus cidadãos? Abaixo está a opinião do produtor do filme Rock Brasília e do professor de bioquímica médica da UnB e filiado ao DEM, confira:

Marcelo Hermes Lima

Não sei como manter o controle e acho que não se deve procurar manter o controle de nada. Depois que está veiculando, um abraço. As pessoas vão usar da forma que elas quiserem. O Estado tem que se preocupar em proporcionar a diversidade da informação, em avisar da classificação, mas permitir e autorizar que as pessoas assistam o que elas bem entendam.

Ela (sociedade) precisa da pluralidade para se manter saudável. Tem que haver espaço para todo o tipo de pensamento e expressão. É difícil responder se é adequado, se não é. Vai em função de circunstâncias e de motivações de decisão. Por premissa, eu condeno qualquer tentativa de limitar a expressão.

Como você vê a postura do Brasil em limitar a expressão artística ao proibir a exibição de um filme de conteúdo polêmico?

Quando se trata do Estado censurar a liberdade artística, o Estado está protegendo a sociedade de um filme absurdo, com apologia ao assassi-nato, à pedofilia, um filme que é contra toda a noção de Estado. Não é questão de censurar, é questão de, no mínimo, bom senso em relação aos valores da nossa sociedade.

Qual seria a melhor decisão do Estado diante dessa situação?

Realmente é proibir tais manifestações de apologia ao ódio extremo. Eu pronuncio: extremo. A gente não pode chamar qualquer outra coisa aberrante de arte. O que você acha da gente filmar o assassinato de um ser humano, filmar esquartejando a pessoa e aí “botar” isso como arte. Isso é arte? Você pode dizer que isso é arte, mas isso é crime!

Seria avisar. Se existe um conteúdo que preocupa, então de repente avi-sar daquela confecção de alguma forma, que esse conteúdo contém de-terminado tipo de cena. Uma espécie de preparação: “Olha, isso que você vai assistir tem essas características, tome a sua decisão.” Limitar jamais, acho que esse não é o caminho.

Para você, a mídia tem o poder de influenciar as pessoas ao ponto de mudar o comportamento delas?

Tem. Mas não só a mídia. A mídia reflete a sociedade, a sociedade reflete a mídia. É aquela história: “Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?”... Sociedade e mídia no fundo são a mesma coisa. É um pen-samento único que um alimenta o outro infinitamente.

Não. As pessoas têm sua inteligência a ponto de concordar ou não. Existe uma discussão aí, o tal de controle social da mídia. Isso sim é uma coisa ab-surda: controlar a mídia. Uma coisa é censurar ideias, palavras. Outra coisa é censurar um filme em que você tem pedofilia, assassinato de crianças...

A partir do momento em que o filme passa a ser vinculado, como manter o controle de quem vai assisti-lo e da forma como a informação vai ser utilizada?

Marcus Ligocki

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uma população assustada e um país contraditório

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