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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO COORDENADORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATERIAIS GERAÇÃO DE EPS NO TRATAMENTO DE ÁGUA RESIDUÁRIA DE REFINARIA DE PETRÓLEO EM MBR E SUA INFLUÊNCIA EM MICRO E ULTRAFILTRAÇÃO ANDRÉ ALBERTO LOVATEL Caxias do Sul 2011

DISERTAÇÃO ANDRE LOVATEL-VERSÃO FINAL (1).pdf

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  • UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

    PR-REITORIA DE PESQUISA, INOVAO E DESENVOLVIMENTO TECNOLGICO

    COORDENADORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO STRICTO SENSU

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM MATERIAIS

    GERAO DE EPS NO TRATAMENTO DE GUA RESIDURIA DE REFINARIA

    DE PETRLEO EM MBR E SUA INFLUNCIA EM MICRO E ULTRAFILTRAO

    ANDR ALBERTO LOVATEL

    Caxias do Sul

    2011

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Universidade de Caxias do Sul UCS BICE Processamento Tcnico

    ndice para catlogo sistemtico:

    1. Poluio causada por efluentes de refino de petrleo 504.5:665.66

    2. guas residuais Tratamento 628.5

    3. Efluentes lquidos industriais 628.4.038

    4. Tratamento de resduos 658.567

    5. Filtrao por membranas 628.354

    6. gua Poluio 628.515

    Catalogao na fonte elaborada pela bibliotecria

    Ktia Stefani CRB 10/1683

    L896g Lovatel, Andr Alberto Gerao de EPS no tratamento de gua residuria de refinaria

    de petrleo em MBR e sua influncia em micro e ultrafiltrao /

    Andr Alberto Lovatel, 2011. 128 f. : il. : Il. ; 30 cm.

    Dissertao (Mestrado) Universidade de Caxias do Sul, Programa de Ps-Graduao em Materiais, 2011.

    Orientao: Prof. Dr. Mara Zeni Andrade e Prof. Dr. Lademir Luiz Beal

    1. Poluio causada por efluentes de refino de petrleo. 2.

    guas residuais Tratamento. 3. Efluentes lquidos industriais. 4. Tratamento de resduos. 5. Filtrao por membranas. 6. gua Poluio. I. Ttulo.

    CDU : 504.5:665.6

  • ANDR ALBERTO LOVATEL

    GERAO DE EPS NO TRATAMENTO DE GUA RESIDURIA DE REFINARIA

    DE PETRLEO EM MBR E SUA INFLUNCIA EM MICRO E ULTRAFILTRAO

    Dissertao apresentada ao Programa de

    Mestrado em Materiais da Universidade de

    Caxias do Sul visando obteno do grau de

    Mestre em Cincia e Engenharia de Materiais.

    Orientadora Prof. Dr. Mara Zeni Andrade

    Coorientador Prof. Dr. Lademir Luiz Beal

    Caxias do Sul

    2011

  • RESUMO

    A gerao de substncias polimricas extracelulares (EPS) em biorreatores

    associados a membranas seletivas (MBR) destinados remoo de matria orgnica e

    nitrogenada presentes em guas residurias de refinaria de petrleo, bem como eventual

    influncia dessas EPS no desempenho hidrulico das membranas, foram estudadas em

    condies operacionais que simularam estados estacionrios e transientes para as relaes

    matria orgnica/biomassa (A/M), carga orgnica volumtrica (COV), matria

    nitrogenada/biomassa (N/M) e carga nitrogenada volumtrica (CNV) em uma unidade

    experimental de tratamento dessas guas que operou durante 2.387 horas e 14 minutos com

    mdulos de membranas de fibras ocas submersas em PVDF, duas de ultrafiltrao (W21 e 28)

    e uma de microfiltrao (M0). Nesse perodo, o tempo de deteno hidrulico foi variado

    deliberadamente entre 7,8 e 20,1 horas, ainda que dois picos de 45,7 e 66,4 horas tenham sido

    observados em decorrncia da reduo do fluxo de permeado provocados por distrbios no

    premeditados no sistema, durante os quais ficou clara a importncia dos mecanismos de

    retrolavagem, relaxao e aerao das membranas para manuteno do fluxo de permeado e

    da presso transmembrana em patamares estveis, que foram de 17,5 Lm-2

    h-1

    e entre 5.500 e

    9.000 Pa para W21 e W28 e 14,0 Lm-2

    h-1

    e 17.000 a 20.000 Pa para M0. O desempenho do

    MBR na remoo de matria orgnica foi superior a 90% da DQO enquanto A/M e COV

    estiveram acima de 0,01 gDQOgSSV-1

    h-1

    e 25,0 gDQOm-3

    h-1

    , simultaneamente. A

    oxidao da matria nitrogenada variou entre 60 e 98% sem tendncia claramente definida. A

    concentrao de slidos suspensos totais variou entre 10.000,0 e 4.000,0 gm-3

    e em 53% das

    anlises essa concentrao foi superior a 7.000,0 gm-3

    , com quedas marcantes com COV

    inferior a 30,0 gDQOm-3

    h-1

    . A concentrao de EPS variou entre 4,5 e 250,3 gm-3

    para a

    frao solvel, entre 4,2 e 36,5 gm-3

    para frao fracamente ligada e entre 60,4 e 461,9 gm-3

    para frao fortemente ligada. Desses valores se conclui que a frao fracamente ligada

    pouco representativa, no justificando sua extrao em separado da frao fortemente ligada.

    A velocidade de centrifugao adotada na extrao de EPS no promoveu adequada separao

    EPS/lodo. A anlise de protenas e cidos hmicos pelo mtodo de Lowry et al. (1951)

    modificado por Frolund et al (1995), com base nos resultados das curvas padro

    concentrao/absorbncia, pareceu adequada. No foi possvel estabelecer com clareza

    relao de causa e efeito entre desempenho do MBR, EPS e desempenho hidrulico das

    membranas, provavelmente em funo dos distrbios observados durante a operao.

    AdministradorRealce

  • ABSTRACT

    The production of extracellular polymeric substances (EPS) in membranes bioreactor

    (MBR) for the removal of organic matter and nitrogen compounds present in wastewater from

    oil refinery as well as a possible influence of EPS in the hydraulic performance of the

    membranes was studied under simulated transient and steady states conditions for organic

    matter/biomass (F/M), volumetric organic load (VOL), nitrogen compounds/biomass (N/M)

    and volumetric nitrogen load (VNL) in an experimental unit for treatment of these waters that

    was operated for 2,387 hours and 14 minutes with modules of submerged hollow fiber

    membranes in PVDF, two of ultrafiltration (W21 and 28) and one of microfiltration (M0).

    During this period, hydraulic detention time was deliberately varied between 7.8 and

    20.1 hours, however, two peaks of 45.7 and 66.4 hours were observed due to the reduction of

    permeate flow caused by unpremeditated disturbances in the MBR during which it became

    clear the importance of the mechanisms of backwash, relaxation and membrane aeration to

    maintain the permeate flux and transmembrane pressure at stable levels that were

    17,5 Lm-2h-1 and 5,500 to 9,000 Pa for W21 and W28, 14 Lm-2h-1 and 17,000 to 20,000 Pa

    for M0. The performance of the MBR in removing organic matter was above 90% when F/M

    and VOL was higher than 0.01 gCODgVSS-1h-1 and 25.0 gCODm-3h-1, respectively. The

    oxidation of nitrogenous matter varied between 60 and 98% without clearly defined trend.

    The concentration of total suspended solids ranged from 10,000 and 4,000 gm-3 and 53% of

    the analysis this concentration was greater than 7,000 gm-3, marked decreases were observed

    when the VOL was less than 30.0 gCODm-3h-1. The concentration of soluble EPS ranged

    from 4.5 to 250.3 gm-3, from 4.2 to 36.5 gm-3 to the loosely bound EPS and from 60.4 to

    461.9 gm-3 to the tightly EPS. Based on these concentrations it is possible to conclude that

    the loosely bound fraction is not very representative, not justifying it separate extraction from

    the tightly bound EPS. The centrifugation speed adopted in the extraction of EPS did not

    provide adequate separation EPS/sludge. The analysis of proteins and humic acids by the

    method of Lowry et al. (1951) modified by Frolund et al. (1995), based on the results of the

    standard curve concentration/absorbance, seemed appropriate. It was no possible to establish a

    clear cause and effect relationship between performance of MBR, EPS and hydraulic

    performance of the membranes, probably due to disturbances during the operation of the

    MBR.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Identificao das fraes que compem as EPS. ..............................................................................24

    Figura 2 Representao esquemtica das relaes entre as diferentes fraes de EPS e a biomassa. ................25

    Figura 3 Topo da bancada, painel eletro eletrnico e unidades da UETAR. ....................................................35

    Figura 4 Tela principal do programa supervisrio da UETAR. .......................................................................36

    Figura 5 Componentes do sistema de operao e controle de fluxo. ...............................................................37

    Figura 6 Rotmetros (RT5, RT6) e vlvulas (VC3, VC4, VC5, Var5) do controle de fluxo de ar comprimido. 40

    Figura 7 Imagens dos mdulos de membranas utilizados na UETAR: mdulo W21 (igual ao W28) (A); detalhe

    de membrana danificada com suporte exposto (B) e mdulo M0 submerso em gua limpa (C). .........................41

    Figura 8 Mdulo M12 em construo, camada de silicone depositada na extremidade das membranas (A),

    detalhes do sistema de aerao do mdulo (B e C) e sob teste de estanqueidade (D). .........................................42

    Figura 9 Sistema para teste de estanqueidade (A), mdulos com vazamentos na conexo de suco e entrada de

    ar (B), e com membranas rompidas junto base de fixao (C) e na faixa intermediria (D). ............................44

    Figura 10 Exemplos de mdulos de membranas submetidos retrolavagem durante limpeza qumica (A) e

    ensaio de filtrao com gua limpa para determinao da permeabilidade do mdulo (B). .................................45

    Figura 11 Procedimentos tpicos da limpeza fsica: desplacamento parcial da torta acumulada pela ao da

    fora peso (A), remoo da torta mediante raspagem manual (B) e aplicao de jatos dgua (C). .....................46

    Figura 12 Ilustrao esquemtica da UETAR com indicao dos pontos amostrais. ........................................48

    Figura 13 Fluxograma simplificado dos procedimentos para extrao de EPS. ...............................................54

    Figura 14 Representao grfica de COV, SST e SSV entre maio e setembro/2010 na UETAR. .....................60

    Figura 15 Representao grfica das relaes J20 f(PTM) com dados dos ensaios de permeabilidade a gua

    limpa a que foi submetido o mdulo M12 dos quais resultaram os valores de Rm listados na Tabela 13. ...........65

    Figura 16 Representao grfica das relaes J20 f(PTM) com dados dos ensaios de permeabilidade a gua

    limpa a que foram submetidos os mdulos W21 e W28 cujo resumo est na Tabela 13. ....................................65

    Figura 17 Dados de J20, PTM e eventos de retrolavagem na operao do mdulo W21 entre os dias 16 e

    21/08/2010. Entre meados dos dias 17 e 20 interrupo da retrolavagem provocou elevao da PTM. ...............67

    Figura 18 Resumo dos dados de operao do mdulo W21 apresentados na Figura 17. ..................................67

    Figura 19 Desempenho de J20 e PTM do mdulo W28 na corrida de 11/05 a 17/07/2010, com operao da

    UETAR programada para regime estacionrio, e indicao de perodos sem aerao das membranas. ...............70

    Figura 20 Variaes de Rt do mdulo W28 resultantes do desempenho ilustrado na Figura 19 com indicao da

    Rm, dos eventos de retrolavagem com as PTM atingidas e dos perodos sem aerao. ......................................70

    Figura 21 J20 e PTM do mdulo W28 na corrida de 23/07 a 03/09/2010, com UETAR em regime transiente. 72

    Figura 22 Variaes de Rt na corrida de 23/07 a 03/09/2010 do mdulo W28 resultantes de PTM e J20

    ilustrados na Figura 21, indicao da Rm e dos eventos de retrolavagem com as PTM atingidas........................72

    Figura 23 Resumo dos dados de fluxo e presso transmembrana observados na corrida do mdulo W21 no

    perodo entre 17/07 e 29/08/2010, com operao da UETAR em regime transiente. ..........................................74

    Figura 24 Resumo dos valores de Rt resultantes de J20 e PTM apresentados na Figura 23, eventos de

    retrolavagem e indicao da Rm do mdulo W21 para o perodo entre 17/07 a 29/08/2010. ..............................74

    Figura 25 Resumo dos valores de J20 e PTM da corrida do mdulo M0 entre 02 e 23/07/2010, com operao

    da UETAR prevista para estacionrio at o ponto 329:00 e indicao de perodos sem aerao das membranas. 76

  • Figura 26 Eventos de retrolavagem, indicao dos intervalos sem aerao das membranas e da Rm do mdulo

    M0, alm do resumo dos valores de Rt resultantes de J20 e PTM indicados na Figura 25. .................................76

    Figura 27 Representao grfica do comportamento de SST, SSV e Rt/Rm durante operao da UETAR. .....81

    Figura 28 Imagens de topo dos segmentos de membrana nova (A) e de M12 (B) obtidas com MEV em

    magnificao de 5000, onde se observa poros com dimetros variando entre 0,2 m e 0,8m. ........................82

    Figura 29 Detalhes das seces transversais da membrana M12 (A), obtida com MEV em magnificao de

    150 com indicao da espessura aparente da camada filtrante e aumento da porosidade nas subcamadas em

    direo ao lmen e da membrana W21 (B) obtida com MEV em magnificao de 600....................................82

    Figura 30 Imagens da seco transversal da membrana W21, com detalhe para camada filtrante, obtida com

    magnificao de 10000 (A), e da microestrutura desse fragmento obtida com magnificao de 6000 (B).......83

    Figura 31 Imagem da seco transversal de fragmento de membrana M12 obtida com MEV em magnificao

    de 350 identificando a estrutura da subcamada (A) e detalhe da estrutura interna dessa subcamada em imagem

    obtida com magnificao de 3500 (B) onde se identificam cavidades com dimetros entre 1,25 e 2,50 m. .....83

    Figura 32 Curvas padro de absorbncia elaboradas com as concentraes da Tabela 16. ...............................88

    Figura 33 Curvas padro de absorbncia elaboradas com as concentraes da Tabela 19. ...............................88

    Figura 34 Curvas padro de BSA com adio de AH e fenol. .........................................................................90

    Figura 35 Concentraes de substncias semelhantes a cidos hmicos, protenas e carboidratos em P0. ........95

    Figura 36 Soma das fraes de EPSs, EPSfr e EPSfo nas amostras do P2. ......................................................95

    Figura 37 Concentraes de cidos hmicos, protenas e carboidratos nos extratos de EPSs do P2. ................96

    Figura 38 Concentraes de cidos hmicos, protenas e carboidratos nos extratos de EPSfr do P2. ...............96

    Figura 39 Concentraes de cidos hmicos, protenas e carboidratos nos extratos de EPSfo do P2. ...............96

    Figura 40 Soma das fraes de EPSs, EPSfr e EPSfo nas amostras do P4. ......................................................97

    Figura 41 Concentraes de cidos hmicos, protenas e carboidratos nos extratos de EPSs do P4. ................97

    Figura 42 Concentraes de cidos hmicos, protenas e carboidratos nos extratos de EPSfr do P4. ...............98

    Figura 43 Concentraes de cidos hmicos, protenas e carboidratos nos extratos de EPSfo do P4. ...............98

    Figura 44 Soma das fraes de EPSs, EPSfr e EPSfo nas amostras do P5. ......................................................99

    Figura 45 Concentraes de cidos hmicos, protenas e carboidratos nos extratos de EPSs do P5. ................99

    Figura 46 Concentraes de cidos hmicos, protenas e carboidratos nos extratos de EPSfr do P5. ...............99

    Figura 47 Concentraes de cidos hmicos, protenas e carboidratos nos extratos de EPSfo do P5. ............. 100

    Figura 48 Concentraes de cidos hmicos, protenas e carboidratos nos extratos de EPSs no P6. .............. 100

    Figura 49 Soma de EPSs, EPSfr e EPSfo nas amostras de P5 sobrepostas pelas variaes de COV. .............. 101

    Figura 50 Soma de EPSs, EPSfr e EPSfo nas amostras do P5 sobrepostas pelas variaes de A/M. .............. 101

    Figura 51 Soma de EPSs, EPSfr e EPSfo nas amostras do P5 sobrepostas pelas variaes de CNV............... 101

    Figura 52 Soma de EPSs. EPSfr e EPSfo nas amostras do P5 sobrepostas pelas variaes de N/M. .............. 102

    Figura 53 Soma de EPSs, EPSfr e EPSfo nas amostras do P5 sobrepostas pelas variaes de TDH. .............. 102

    Figura 54 Soma de EPSs, EPSfr e EPSfo nas amostras do P5 sobrepostas pelas variaes de HO. ................ 102

    Figura 55 Soma de EPSs, EPSfr e EPSfo nas amostras do P5 sobrepostas pelas variaes de SSV. ............... 103

    Figura 56 Soma de EPSs, EPSfr e EPSfo nas amostras do P5 sobrepostas pelas variaes de Rt/Rm. ........... 103

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Caractersticas dos processos de separao por membrana. ..............................................................15

    Tabela 2 Materiais usuais na fabricao de membranas seletivas. ...................................................................16

    Tabela 3 Caractersticas genricas da composio das EPS. ...........................................................................24

    Tabela 4 Aspectos construtivos dos mdulos utilizados na operao da UETAR e em ensaios de filtrao. .....42

    Tabela 5 Caractersticas da gua residuria disponibilizada pela REPAR para a operao da UETAR no

    perodo entre maio e setembro de 2010. ...........................................................................................................47

    Tabela 6 Ensaios analticos relacionados ao objetivo do estudo realizados em amostras coletadas durante

    operao da UETAR. .......................................................................................................................................48

    Tabela 7 Ensaios realizados e frequncia por ponto amostral. ........................................................................48

    Tabela 8 Resumo dos parmetros e mtodos analticos para os extratos de EPS..............................................51

    Tabela 9 Resultados analticos de caracterizao da gua residuria e do permeado, eficincia de remoo de

    DQO e oxidao de NOX e concentrao de slidos no MBR. .........................................................................59

    Tabela 10 Resultados analticos para fenol. ...................................................................................................61

    Tabela 11 Resultados nas anlises de hidrofobicidade (HO) e dimetro de floco (dl). .....................................61

    Tabela 12 Dados dos ensaios de filtrao com gua limpa realizados com os mdulos M0, W21 e W28. ........62

    Tabela 13 Resumo de ensaios para determinao da permeabilidade com gua limpa a que foram submetidos

    os mdulos W21, W28 e M12. .........................................................................................................................64

    Tabela 14 Corridas de filtrao a que foram submetidos os mdulos utilizados durante operao da UETAR. 68

    Tabela 15 Valores de Rt e da resistncia intrnseca (Rm) e da razo entre Rt e Rm dos mdulos de membranas

    nas datas onde foram efetuadas amostragens para anlises de HO e EPS. ..........................................................80

    Tabela 16 Concentraes (gm-3) do primeiro conjunto de curvas padro traadas para anlises de cidos

    hmicos e protenas em extratos de EPS. ..........................................................................................................85

    Tabela 17 Valores de absorbncias para as concentraes padro com BSA da Tabela 16. .............................85

    Tabela 18 Valores de absorbncia para as concentraes padro AH da Tabela 16. ........................................86

    Tabela 19 Concentraes (gm-3) para conjunto consolidado de curvas padro traadas para anlises de cidos

    hmicos e protenas em extratos de EPS. ..........................................................................................................86

    Tabela 20 Valores de absorbncia para as concentraes padro com BSA da Tabela 19. ...............................87

    Tabela 21 Valores de absorbncia para as concentraes padro AH da Tabela 19. ........................................87

    Tabela 22 Concentraes de cidos hmicos (ah), protenas (p), carboidratos (c) e slidos totais volteis (STV)

    nos extratos de EPS solvel e correlao (R) desses resultados com A/M, COV, N/M, CNV, SSV e TDH

    listados na Tabela 9, com HO e dl da Tabela 11 e Rt/Rm da Tabela 15. ............................................................92

    Tabela 23 Concentraes de cidos hmicos (ah), protenas (p), carboidratos (c) e slidos totais volteis (STV)

    nos extratos de EPS fracamente ligado e correlao (R) desses resultados com A/M, COV, N/M, CNV, SSV e

    TDH listados na Tabela 9, com HO e dl listados na Tabela 11 e Rt/Rm apresentados na Tabela 15. ..................93

    Tabela 24 Concentraes de cidos hmicos (ah), protenas (p), carboidratos (c) e slidos totais volteis (STV)

    nos extratos de EPS fortemente ligado e correlao (R) desses resultados com A/M, COV, N/M, CNV, SSV e

    TDH listados na Tabela 9, com HO e dl listados na Tabela 11 e Rt/Rm apresentados na Tabela 15. ..................94

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    a absorbncia

    A rea

    A/M razo entre a matria orgnica (DQO) afluente e concentrao de biomassa

    nos reatores

    ah cidos hmicos na amostra

    AH cidos hmicos grau analtico

    aR absorbncia relativa

    Aw permeabilidade da membrana com gua limpa

    BAP produtos associados biomassa

    BSA albumina de soro bovino

    c carboidratos na amostra

    CER resina catinica

    CNV carga nitrogenada volumtrica

    COV carga orgnica volumtrica

    D coeficiente de difusividade mssica

    DBO demanda bioqumica de oxignio

    d dimetro

    DQO demanda qumica de oxignio

    EN eficincia de oxidao da matria nitrogenada

    EO eficincia de remoo da matria orgnica

    EPS substncia polimricas extracelulares

    EPSfo substncia polimricas extracelulares fortemente ligadas biomassa

    EPSfr substncias polimricas extracelulares fracamente ligadas biomassa

    EPSs substncias polimricas extracelulares solveis

    FC reagente Folin Ciocalteu

    g fora centrfuga

    HO hidrofobicidade

    J fluxo de permeado

    J20 fluxo de permeado normalizado 20C

    J20e fluxo de permeado normalizado 20C por unidade de presso

    LATAM Laboratrio de Tecnologia Ambiental

  • LCMAT I Laboratrio de Caracterizao de Materiais I

    MBR associao biorreatores e membranas seletivas

    MEV microscopia eletrnica de varredura

    MF microfiltrao

    N/M razo entre matria nitrogenada oxidvel afluente e concentrao de

    biomassa nos reatores

    NH4-N nitrognio amoniacal

    NOX matria nitrogenada oxidvel

    NTK nitrognio total Kjeldahl

    OD oxignio dissolvido

    p protenas na amostra

    PETROBRAS Petrleo Brasileiro S. A.

    P(?) presso

    PTM presso transmembrana aplicada

    PVC poli (cloreto de vinila)

    PVDF poli (fluoreto de vinilideno)

    r fator de reteno da torta

    Rb resistncia filtrao decorrente de bloqueio dos poros

    Rc resistncia da torta filtrao

    REPAR Refinaria Presidente Getlio Vargas

    Rf resistncia do fouling filtrao

    Rg resistncia da camada gel filtrao

    Rm resistncia intrnseca da membrana permeao de gua limpa

    rpm rotaes por minuto

    Rt soma de todas as resistncias filtrao

    SF slidos fixos

    SMP produtos microbianos solveis

    SSF slidos suspensos fixos

    SST slidos suspensos totais

    SSV slidos suspensos volteis

    ST slidos totais

    t tempo

    T temperatura

    TDH tempo de deteno hidrulica

  • TRS tempo de reteno dos slidos

    TU turbidez

    UAP produtos associados utilizao do substrato

    UCS Universidade de Caxias do Sul

    UETAR Unidade Experimental de Tratamento de guas Residurias

    UF ultrafiltrao

    V volume

    LISTA DE SMBOLOS

    resistncia especfica da torta

    espessura da camada limite alm da qual forma-se gradiente de

    concentrao

    x espessura da membrana

    porosidade

    comprimento de onda

    viscosidade dinmica

    massa especfica

    fator de transferncia de massa

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................................................................... 12

    2 REVISO BIBLIOGRFICA ....................................................................................... 14

    2.1 MICRO E ULTRAFILTRAO ................................................................................ 15

    2.2 CARACTERIZAO DAS EPS ................................................................................ 23

    2.3 BIOFOULING E EPS .............................................................................................. 29

    3 MTODOS EXPERIMENTAIS .................................................................................... 32

    3.1 UNIDADE EXPERIMENTAL DE TRATAMENTO DE GUAS RESIDURIAS ... 32

    3.1.1 Controle de fluxo .................................................................................................. 37

    3.2 MEMBRANAS .......................................................................................................... 41

    3.2.1 Procedimentos de rotina aplicados aos mdulos de membranas ........................... 43

    3.3 GUA RESIDURIA E BIOMASSA ....................................................................... 47

    3.4 MTODOS ANALTICOS ........................................................................................ 48

    3.4.1 Hidrofobicidade ................................................................................................... 50

    3.4.2 Ensaios de EPS .................................................................................................... 51

    4 RESULTADOS E DISCUSSES ................................................................................... 56

    4.1 DESEMPENHO GLOBAL DA UETAR .................................................................... 56

    4.2 PERMEABILIDADE DAS MEMBRANAS ............................................................... 62

    4.3 HIDRODINMICA DAS MEMBRANAS NA OPERAO DA UETAR ................ 66

    4.3.1 Desempenho hidrodinmico das membranas ........................................................ 77

    4.4 ANLISE DAS IMAGENS DAS MEMBRANAS AO MEV ..................................... 81

    4.5 DISCUSSO DO MTODO ANALTICO ADOTADO PARA DETERMINAO

    DE PROTENAS E CIDOS HMICOS. ....................................................................... 84

    4.6 RESULTADOS DAS ANLISES DE EPS ................................................................ 91

    5 CONCLUSES ............................................................................................................. 105

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................ 108

    APNDICE A PROTOCOLO DE EXTRAO E ANLISES DE EPS .................. 113

    APNDICE B MTODO ANALTICO: HIDROFOBICIDADE .............................. 126

  • 12

    1 INTRODUO

    A gerao de substncias polimricas extracelulares (EPS) em biorreatores

    associados a membranas seletivas (MBR) destinados a remoo de matria orgnica e

    nitrogenada presentes em guas residurias de refinaria de petrleo, bem como eventual

    influncia dessas EPS no desempenho hidrulico das membranas foram estudadas em

    condies operacionais que simularam estados estacionrios e transientes para o tempo de

    deteno hidrulica (TDH), que repercutiram nas relaes entre essas matrias, a

    concentrao de biomassa nos biorreatores e o volume de reao.

    Aparentemente adotada pela primeira vez por Geesey em 1982 (WINGENDER, et

    al., 1999), a expresso substncias polimricas extracelulares denomina um conjunto de

    materiais polimricos biossintetizados em culturas microbianas compostos por

    polissacardeos, protenas, cidos nucleicos (BROWN, et al., 1979), lipdios, cidos hmicos

    e urnicos (FROLUND, et al., 1996), secretados ou liberados aps o rompimento das

    membranas celulares (lise) e que permitem a agregao desses microrganismos.

    Embora inerentes e fundamentais ao metabolismo e estruturao de biofilmes ou

    flocos microbianos, as EPS, associadas a outros compostos presentes no licor, que o termo

    utilizado para identificar a mistura gua residuria - biomassa, promovem interaes fsicas e

    qumicas com a superfcie das membranas seletivas nos MBRs que resultam em reduo da

    capacidade de permeao.

    O uso crescente de recursos hdricos como fonte de abastecimento de gua ou como

    receptor de guas residurias de diversos processos antrpicos tem alterado, principalmente

    em termos qualitativos, o ciclo biogeoqumico natural da gua.

    Em resposta a isso, cresce o rigor dos rgos reguladores e fiscalizadores das

    condies ambientais, estimulando a sociedade a desenvolver e aperfeioar operaes e

    processos destinados a minimizar a carga de contaminantes presentes nas guas residurias e,

    principalmente, adequ-las aos requisitos mnimos de qualidade necessrios a seu reuso.

    Segundo Santos et al. (2011), entre os anos de 1999 e 2009, enquanto a taxa de

    crescimento anual nas instalaes de MBRs foi de 13%, as pesquisas publicadas sobre o tema

    cresceram 20%, com 31% delas tendo a reduo da capacidade de permeao como tema

    central e na sua maioria as EPS foram o tpico principal, de forma que apenas pesquisas

    relacionadas micropoluentes alavancadas pela legislao cresceram mais rapidamente.

    AdministradorRealce

  • 13

    O refino de petrleo um exemplo tpico de atividade antrpica onde, tais os

    volumes envolvidos, os recursos hdricos tm especial importncia. Segundo informaes no

    publicadas disponibilizadas pela Petrleo Brasileiro S/A (PETROBRAS) em 2010, o

    consumo de gua e a gerao de guas residurias tpicos em refinaria so, respectivamente,

    da ordem de 0,78 m3 e 0,30 m

    3 por m

    3 de leo processado.

    Esses valores no contabilizam os volumes abundantes que devem estar disponveis

    para combates a eventuais incndios. J a diferena entre o consumo de gua e a gerao de

    guas residurias em refinarias deve-se s perdas sob forma de vapor.

    Dessalgao do petrleo, destilao, coque, tratamentos custicos de produtos

    caracterizados pela contaminao com sulfetos, mercaptdeos, cianetos e fenis, bem como a

    drenagem de fundo dos tanques de armazenagem de petrleo ou produtos do refino so as

    principais correntes contribuintes das guas residurias em refinarias.

    Nesse contexto, o objetivo desta dissertao em avaliar as interaes entre condies

    operacionais e gerao de EPS em MBR destinado a remoo microbiolgica de matria

    orgnica e nitrogenada presentes em guas residurias de refinaria de petrleo se justifica

    plenamente como produto do conhecimento j existente e, se possvel, motivador de novos

    questionamentos que possam contribuir para melhor compreenso dos fenmenos envolvidos.

    Os objetivos especficos estabelecidos para esse fim foram:

    Quantificar e qualificar as diferentes formas de EPS presentes;

    avaliar a gerao das EPS em diferentes relaes entre a carga de matria orgnica

    e nitrogenada afluentes ao MBR, a concentrao de biomassa nos biorreatores e o

    tempo de deteno hidrulica;

    avaliar relaes entre o aumento da resistncia filtrao e as concentraes das

    diferentes formas de EPS presentes.

    As atividades desenvolvidas para atendimento dos objetivos da dissertao so

    abordadas de forma detalhada, enquanto outras atividades, cuja importncia reside na

    contextualizao e determinao das condies de contorno experimentais, so mencionadas

    de forma resumida.

  • 14

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    Em MBRs, as membranas seletivas propiciam eficincia tal na separao lquido-

    slidos que permitem clarificao do efluente e reteno da biomassa, composta por

    microrganismos que metabolizam os compostos biodegradveis presentes nas guas

    residurias convertendo-os em compostos mais simples, superiores quelas observadas em

    estaes de tratamento de efluentes (ETEs) cuja separao lodo efluente clarificado se d

    mediante sedimentao dos slidos (LIAO, et al., 2004).

    Assim, segundo Rosenberger & Kraume (2002), desde que atendidos os fatores

    limitantes ao crescimento microbiano, como disponibilidade de substrato biodegradvel ou,

    em processos aerbios, suprimento de oxignio dissolvido (OD), possvel obter maior

    concentrao de biomassa, reduo do tempo de deteno hidrulica (TDH) das guas

    residurias e por consequncia do volume dos biorreatores.

    A constante evoluo da tecnologia de membranas seletivas, que faz cair os custos de

    instalao e operao, aumenta a viabilidade econmica dos MBRs no tratamento de guas

    residurias, produzindo efluentes com qualidade superior aos obtidos por outros sistemas

    convencionais de tratamento de guas residurias, tornando real a perspectiva de reuso dessas

    guas em muitos processos (YIGIT, et al., 2009).

    Por outro lado, a reduo da capacidade de permeao das membranas inerente ao

    processo, e que quando definitiva decorre de incrustaes ou fenmeno denominado fouling

    (DREWS, et al., 2006), interfere negativamente no desempenho dos MBRs como um todo.

    O biofouling, termo que segundo Liao et al. (2004) tem sido empregado de forma

    mais ampla do que fouling, pois abrange diversos fenmenos decorrentes do contato com os

    microrganismos, tem representado o Tendo de Aquiles (FLEMMING, et al., 1997) para a

    viabilidade econmica dos MBRs.

    Para Rosenberger et al. (2006), em MBRs, contribuem para o biofouling: as

    propriedades e as caractersticas construtivas das membranas e dos mdulos, as condies

    hidrodinmicas, os parmetros e variveis operacionais e as caractersticas da biomassa.

    Segundo Lesjean et al. (2005), grandes molculas orgnicas presentes no licor e

    originadas da atividade microbiana conhecidas como substncias polimricas extracelulares

    (EPS), foram identificadas como maiores responsveis pelo biofouling observado em

    membranas de MBR tratando esgotos domsticos do que a concentrao de slidos suspensos.

  • 15

    2.1 MICRO E ULTRAFILTRAO

    Conforme a Equao 1, nos processos de separao envolvendo membranas

    resumidos na Tabela 1, fluxo o volume de solvente que permeia por unidade de rea da

    superfcie da membrana transversal a sua espessura em unidade de tempo (IUPAC , 1996).

    Sabendo que a viscosidade do permeado interfere no fluxo e esta funo da temperatura,

    usual que se normalize o fluxo da temperatura de operao para 20C com a Equao 2.

    Tabela 1 Caractersticas dos processos de separao por membrana.

    Processos Fora motriz Dimetro de

    poros (nm)

    Faixa de

    operao (nm) Retentado Permeado

    Microfiltrao

    (MF)

    Diferena de

    presso (PTM) 10000 100 80 2000

    SST, turbidez,

    protozorios, oocistos,

    algumas bactrias e vrus

    gua, solutos

    dissolvidos

    Ultrafiltrao

    (UF)

    Diferena de

    presso 100 10 0,005 0,2

    Macromolculas, coloides,

    maioria das bactrias,

    alguns vrus e protenas

    gua, molculas de

    baixa massa molar,

    aucares

    Nanofiltrao (NF)

    Diferena de presso

    10 1 0,001 0,01 Acares, cidos

    dissociados, ons divalentes

    gua, cidos no

    dissociados e ons monovalentes

    Osmose inversa

    (OI)

    Diferena de

    presso < 1 0,0001 0,001 Todos os solutos gua

    Osmose (Os) Diferena de

    potencial qumico < 1 - Todos os solutos gua

    Dilise (Da) Diferena de

    concentrao < 50 0,005 0,2 Macromolculas

    gua, molculas de

    baixa massa molar

    Eletrodilise

    (ED)

    Diferena de

    potencial eltrico < 2 nm - Solutos no inicos gua, ons

    Permeao de

    gases (PG)

    Diferena de

    presso e de

    concentrao

    Densas - Gs menos permevel Gs permevel

    Pervaporao

    (PV) Presso de vapor Densas - Lquido menos permevel Lquido permevel

    Fonte: modificado de Cheryan (1998) e Metcalf & Eddy (2003).

    ( 1)

    ( 2)

    Onde:

    J fluxo permeado em condies operacionais (m3m-2s-1);

    V volume de permeado (m3);

    t tempo de operao (s),

    A rea filtrante (m2);

    J20 fluxo permeado normalizado 20C (m3m-2s-1);

    T viscosidade dinmica do permeado na temperatura de operao (Nsm-2

    );

    20 viscosidade dinmica do permeado 20C (Nsm-2

    ).

  • 16

    Alm da classificao quanto fora motriz aplicada, da porosidade e do tamanho

    nominal das partculas e compostos retidos ou permeados descritos na Tabela 1, as

    membranas podem ser classificadas quanto ao material construtivo (Tabela 2) e quanto ao

    mecanismo de filtrao e morfologia.

    Tabela 2 Materiais usuais na fabricao de membranas seletivas.

    Materiais Materiais

    Acetato de celulose (CA) Alumina

    Triacetato de celulose (CTA) Hematita

    Celulose regenerada (RC) Cermicas Slica

    Nitrato de celulose Titnia

    Poliamidas alifticas Zircnia

    Poliamidas aromticas (PA) Ao inoxidvel sinterizado

    Policarbonatos (PC) Metais Alumnio anodizado

    Poli (etileno tereftalato) (PET) Prata

    Polipropileno (PP) Poliacrilato e zircnia

    Polmeros Poli (tetrafluoretileno) (PTFE) Poliacrilato e ao inoxidvel

    Poli (cloreto de vinila) (PVC) Compsitos Poliamida e polissulfona

    Poli (acrilonitrila) (PAN) Poli (terureia) e polissulfona

    Poli (vinil lcool) (PVA) Carbono e zircnia

    Polissulfona (PS)

    Poli (tersulfona) (PES)

    Poliimida (PI)

    Poli (benzimidazol) (PBI)

    Poli (terimida) (PEI)

    Poli (metilmetacrilato) (PMMA)

    Poli (fluoreto de vinilideno) (PVDF)

    Fonte: adaptado de Cheryan (1998).

    Quanto ao mecanismo de filtrao e morfologia, as membranas so classificadas em

    duas categorias: de canais (simtricas) ou de topo (assimtricas) (CHERYAN, 1998).

    As simtricas apresentam as mesmas caractersticas construtivas ao longo de sua

    espessura. Podem ser densas ou formadas por fibras ou partculas em orientao randmica

    cujo arranjo resulta em um conjunto de canais tortuosos (poros) que se prolonga por toda a

    espessura da membrana. Parte do retentado permanece na superfcie e outra parte pode se

    acumular nos poros bloqueando-os, s vezes definitivamente. Quando os poros apresentam

    dimenses uniformes, a membrana denominada isotrpica, do contrrio, a membrana

    denominada anisotrpica (CHERYAN, 1998).

    As membranas assimtricas so multicamadas, isto , tm uma camada seletiva de

    topo pouco espessa e mais densa do que as subcamadas as quais recobre. A seletividade

    determinada pela camada de topo, logo no h acmulo de partculas nas subcamadas, apenas

  • 17

    os poros da superfcie podem sofrer bloqueio por deposio (CHERYAN, 1998). Assim,

    fluxo no sentido inverso ao da filtrao apresenta boa eficincia na remoo de deposies,

    que ao lado da concentrao de polarizao so os fenmenos responsveis pela reduo

    reversvel do fluxo de permeado ao longo da corrida de filtrao (YIGIT, et al., 2009).

    Em termos estruturais as membranas so classificadas em integrais ou suportadas. As

    integrais so fabricadas em matriz nica enquanto que as suportadas so compostas por, pelo

    menos duas matrizes: uma formada pela membrana seletiva propriamente dita e outra que lhe

    serve de suporte e lhe confere maior resistncia mecnica (CHERYAN, 1998).

    Em MBRs, os processos de separao mais utilizados so microfiltrao e

    ultrafiltrao (ROSENBERGER & KRAUME, 2002), processos esses cujos mecanismos

    operacionais e de separao, segundo Metcalf & Eddy (2003), so basicamente os mesmos.

    Ainda segundo Metcalf & Eddy (2003), a diferena entre MF e UF o tamanho dos

    poros, de forma que, do ponto de vista terico, considerando iguais as demais caractersticas

    operacionais, a escolha por um ou outro processo depende apenas das dimenses dos slidos

    que se pretende reter, de forma a minimizar que esses possam se acumular no interior dos

    poros, bloqueando-os.

    Em MF e UF, as configuraes de membranas mais utilizadas so as tubulares,

    espirais, de placas planas e fibras ocas. Quanto direo do fluxo do licor, as configuraes

    se dividem em tangencial (cross-flow), na qual o licor fluiu paralelamente superfcie da

    membrana, e frontal (dead-end), na qual o fluxo perpendicular ela.

    As membranas tubulares e espirais so instaladas em mdulos no interior de tubos

    pressurizados externos aos biorreatores, de forma que o licor dever ser bombeado pelo lmen

    das membranas e pressionado de forma que o solvente permear da superfcie interna para a

    superfcie externa das membranas e o rejeito recircular para o biorreator.

    J as membranas de placas planas e de fibras ocas so instaladas em mdulos no

    interior dos biorreatores de forma que o solvente permear por suco da superfcie externa

    para a superfcie interna das membranas, enquanto que o retentado permanecer no interior

    do reator (CHERYAN, 1998).

    Portanto, de forma geral e usual o fluxo de licor tangencial, com PTM aplicada de

    compresso, para as membranas tubulares e espirais, e frontal, com PTM de suco, para as

    placas planas e as fibras ocas. Em ambos os casos o soluto retentado eleva a concentrao de

    slidos no licor, slidos esses que permanecem submetidos biodegradao.

    AdministradorRealce

  • 18

    Dessas condies operacionais, resultam vantagens e desvantagens. Para um mesmo

    fluxo permeado, em condies usuais, o valor da PTM de compresso superior ao de suco

    e disso resultam vantagens econmicas, em termos de economia de energia, em favor das

    membranas de placas planas e de fibras ocas ( NL , et al., 2005).

    Ao contrrio das membranas tubulares e espirais, as membranas de placas planas e

    fibras ocas admitem reverso de fluxo, seja ele de lquido (WU, et al., 2008) ou de ar

    comprimido (PLIANKAROM, 1996) para relaxao e remoo de slidos depositados sobre

    os poros, porm tm maior tendncia ao acmulo de slidos em sua superfcie do que aquelas.

    O emprego de ar comprimido uma alternativa tecnolgica que tem sido utilizada

    para minimizar os efeitos das respectivas desvantagens operacionais das configuraes

    tubulares, de placas planas e de fibras ocas (YU, et al., 2003).

    O mecanismo de ao o mesmo, ar comprimido insuflado na superfcie das

    membranas que permanecem em contato com o licor, de forma que fases lquida e gasosa

    fluam intercaladamente junto a essa superfcie, resultando em fora de cisalhamento que

    reduza a taxa de acmulo de slidos e/ou remova parte dos j acumulados (YU, et al., 2003).

    No caso das membranas tubulares o ar comprimido deve ser injetado juntamente com

    o licor (air lift), fluindo ao longo do lmen da membrana (NORIT, 2008).

    J para as membranas de placas planas e fibras ocas o ar comprimido insuflado no

    interior do biorreator, sob e o mais prximo possvel das membranas (HENSHAW, et al.,

    1998). Neste caso, o posicionamento vertical das membranas contribui para a ao das bolhas,

    pois ao entrar em contato com a superfcie dessas, h a tendncia de que assim permaneam

    ao longo de sua extenso em direo a superfcie do biorreator.

    Dessa prtica resulta reduo drstica da PTM aplicada, pela ao da bomba de

    recirculao, nas membranas tubulares e fluxo de licor semelhante ao tangencial nas

    membranas de placas planas ou de fibras ocas (LIU, et al., 2000), o que prolonga os intervalos

    entre limpezas fsicas e/ou qumicas das membranas.

    Por outro lado, o fluxo de ar no age no interior dos poros. Tambm no possvel

    utiliz-lo em MBRs que envolvem processos anaerbios e, neste caso, a opo substituir o

    ar atmosfrico pelo biogs gerado no processo (HUANG, et al., 2011).

    O desempenho das membranas de MF e UF esperado em MBRs em termos de fluxo

    permeado pode ser estimado considerando-se alguns modelos matemticos que envolvem

  • 19

    variveis importantes nos processos de filtrao. Dentre esses modelos, os mais usuais so o

    de fluxo na faixa de presso controlada, das resistncias em srie e da transferncia de massa.

    O modelo da regio de presso controlada descrito pela Equao 3. Considera a

    situao ideal na qual os poros das membranas so de dimetros e distribuio uniforme, no

    h fouling, a concentrao de polarizao desprezvel, o nmero de Reynolds deve ser

    inferior a 2100, a densidade constante, o fluxo independente do tempo de operao e o

    fluido Newtoniano (CHERYAN, 1998).

    ( 3)

    ( 4)

    Onde:

    J fluxo de permeado (Lm-2h-1);

    porosidade da superfcie da membrana;

    dp dimetro de poro (m);

    PTM presso transmembrana (Pa);

    x espessura da membrana (m);

    viscosidade dinmica da soluo (Nsm-2);

    PL presso aplicada do lado do licor (Pa);

    PP presso aplicada do lado do permeado (Pa).

    As presses das quais resultam a PTM so presses diferenciais, isto , tem como

    referncia a presso atmosfrica local.

    No caso das membranas tubulares e espirais a fora motriz de compresso aplicada

    do lado do licor (PL) e a presso do lado do permeado (PP) igual presso atmosfrica,

    portanto na Equao 4 ela nula.

    J para as membranas de placas planas e fibras ocas, a fora motriz de suco

    aplicada do lado do permeado (PP), enquanto que do lado do licor (PL) h uma presso

    decorrente da coluna dgua acima das membranas submersas no biorreator, sendo portanto,

    superior presso atmosfrica.

    Assim, tanto para compresso quanto para suco o valor da PTM calculada com a

    Equao 4 ser positiva.

    Porm, quando as membranas esto sob condies normais de operao, as premissas

    do modelo da regio de presso controlada deixam de ser vlidas (CHEN, et al., 1997).

  • 20

    O primeiro fenmeno observado a formao de uma camada limite de concentrao

    (camada gel), para a qual contribuem a espessura da camada limite de velocidade e a

    concentrao de polarizao, que, por sua vez, resulta do fato de que uma parcela do soluto

    retido na permeao mantm-se junto superfcie das membranas (CHEN, et al., 1997).

    Quando um fluido escoa sobre uma superfcie slida, a frico existente entre o

    fluido e essa superfcie produz um gradiente de velocidades em que esta mnima junto

    superfcie. A linha que separa a regio de baixa velocidade daquela onde essa velocidade

    suficiente para escoamento da massa fluida conhecida como camada limite de velocidade,

    cuja espessura inversamente proporcional turbulncia do meio (CHERYAN, 1998).

    Dessa forma, quanto menos espessa for a camada limite de velocidade, maior ser a

    disperso da concentrao de polarizao e menor ser a espessura da camada gel.

    O clculo da Rg a partir da Equao 5 (CHERYAN, 1998) no usual, dadas as

    dificuldades para determinar todos os valores englobados pelo fator , tais como viscosidade,

    velocidade do licor na camada limite, dentre outros.

    ( 5)

    Onde:

    Rg resistncia da camada gel permeao (m-1

    );

    fator de transferncia de massa;

    PTM presso transmembrana aplicada (Pa).

    Outro fenmeno observado o bloqueio parcial ou total dos poros decorrente da

    deposio de partculas em suspenso sobre e/ou no interior dos poros (CHEN, et al., 1997).

    O terceiro fenmeno decorre dos efeitos de compresso resultantes da PTM aplicada

    sobre a camada gel durante a filtrao, tornando-a mais densa e compacta, e formando a torta

    que constitui uma barreira extra filtrao cuja resistncia pode ser calculada incorporando a

    resistncia especfica da torta conforme as Equaes 6 e 7 (GOMIDE, 1980).

    ( 6)

    ( 7)

    Onde:

    resistncia especfica da torta (m-1);

    l porosidade do lodo;

  • 21

    l massa especfica do lodo (gm-3);

    dc dimetro mdio dos poros da torta (c = cake) (m);

    Rc resistncia da torta (c = cake) filtrao (m-1);

    V volume permeado (m-3

    );

    r fator de reteno da torta (segundo Boerlage et al. (1998) r mnimo vale 1

    quando no h compresso);

    SST concentrao de slidos suspensos totais no licor SST (gm-3

    );

    A rea filtrante (m2).

    O quarto fenmeno observado a formao de incrustaes mais conhecidas por

    fouling. Essas incrustaes promovem alteraes irreversveis nas propriedades das

    membranas e em decorrncia disso, reduo progressiva e definitiva no fluxo de permeado ao

    longo do tempo, tendendo a zero conforme modelo da Equao 8, ou a um valor constante

    mnimo calculado com a Equao 9 (CHERYAN, 1998).

    ( 8)

    ( 9)

    Onde:

    Jt fluxo de permeado no tempo t (Lm-2h-1);

    J0 fluxo de permeado inicial (Lm-2h-1);

    t tempo decorrido na operao (h);

    JSS fluxo de permeado em estado estacionrio (Lm-2h-1);

    b e k constantes caractersticas do processo de fouling.

    Os fenmenos de concentrao de polarizao ou camada gel, bloqueio dos poros,

    filtrao torta e fouling so incorporados pelo modelo das resistncias em srie, definido

    pelas Equaes 10 a 13 (CHERYAN, 1998).

    ( 10)

    ( 11)

    ( 12)

    ( 13)

    Onde:

    J fluxo de permeado em condies operacionais (m3m-2s-1);

  • 22

    PTM presso transmembrana aplicada (Pa);

    viscosidade dinmica da soluo permeada (Nsm-2);

    Rt soma de todas as resistncias filtrao (m-1

    )

    Rm resistncia intrnseca da membrana permeao de gua limpa (m-1

    );

    Rg resistncia da camada gel filtrao (m-1

    );

    Rb resistncia permeao decorrente do bloqueio dos poros (m-1

    );

    Rc resistncia da torta (c = cake) filtrao (m-1);

    Rf resistncia do fouling filtrao (m-1);

    Aw permeabilidade da membrana com gua limpa (w = water) (m).

    Em determinadas circunstncias o valor de Rt cresce de forma que elevaes na PTM

    no se refletem em recuperao ou elevao proporcional do fluxo permeado descrito pelo

    modelo das resistncias em srie, de forma que esse modelo deixa de ser vlido a partir do

    ponto onde se observa inflexo da tendncia linear de J f(PTM) com origem no ponto (0,0).

    Nessas circunstncias o modelo adotado para prever o fluxo permeado o da

    transferncia de massa, que independente da PTM e considera a transferncia convectiva

    conforme descrito na Equao 14 (CHERYAN, 1998).

    ( 14)

    Onde:

    J fluxo de permeado (Lm2h

    -1);

    D coeficiente de difusividade mssica (m2h

    -1);

    espessura da camada limite alm da qual forma-se gradiente de

    concentrao (m);

    CC concentrao de soluto na torta (gL-1

    );

    CL concentrao de soluto no rejeito da filtrao (gL-1

    ).

    Para que se evite adentrar a faixa de permeao governada pela transferncia

    convectiva, ensaios de curta durao tm sido sugeridos para determinar o fluxo estacionrio

    mximo possvel de ser alcanado a partir de elevaes da PTM e manuteno da

    proporcionalidade do modelo das resistncias em srie. Esse fluxo conhecido como crtico e

    a PTM necessria para sua obteno ser a PTM crtica (BACCHIN, et al., 2006) .

    Segundo Bacchin et al. (2006), valores de J e PTM inferiores aos crticos so

    denominados sustentveis e seriam os recomendveis para prolongar as corridas de filtrao.

  • 23

    No entanto, em condies normais de operao e em decorrncia dos fenmenos

    agrupados pelas constantes b e k das Equaes 8 e 9, dentre eles a concentrao de

    polarizao, e que promovem a reduo da capacidade de permeao das membranas, por

    menor que seja o fluxo de permeado estabelecido, observa-se ao longo do tempo necessidade

    de aumento gradual da PTM para sua manuteno (BACCHIN, et al., 2006). Se o fluxo for

    elevado, o gradiente crescente de PTM acelerado ao ponto da PTM apresentar saltos.

    Segundo Chang et al. (1998), Cheryan (1998), Cho & Fane (2003), Drews et al.

    (2006), Rosenberger et al. (2006) e Wang et al. (2009) os principais fatores envolvidos na

    reduo da capacidade de permeao das membranas em MBRs so:

    propriedades das membranas: rugosidade, carga inica, porosidade, morfologia,

    hidrofobicidade/hidrofilicidade;

    configurao dos mdulos: sentido do fluxo, densidade de empacotamento,

    distribuio da aerao;

    caractersticas da gua residuria;

    condies hidrodinmicas: fluxo, PTM, velocidade tangencial, relaxao,

    retrolavagem, tenso de cisalhamento na superfcie das membranas;

    condies operacionais: pH, temperatura, TDH, tempo de reteno dos slidos

    (TRS), taxa de aerao e concentrao de OD;

    propriedades do lodo: dimetro e estabilidade do floco, hidrofobicidade,

    viscosidade, carga, concentrao de slidos suspensos totais (SST) e de slidos

    suspensos volteis (SSV), EPS.

    2.2 CARACTERIZAO DAS EPS

    As EPS so adsorvidas do ambiente, secretadas, difundidas pela membrana ou

    liberadas aps a lise celular e permanecem fora ou sobre a superfcie das clulas exercendo

    funes indispensveis s culturas de microrganismos. Promovem a adeso s superfcies,

    agregao das clulas microbianas em flocos, reteno de gua, soro de compostos

    orgnicos e concentrao de exoenzimas envolvidas na digesto exgena de macromolculas,

    conferem estabilidade aos flocos e formam uma barreira de proteo a substncias nocivas,

    como, por exemplo, a biossoro de metais pesados (BROWN, et al., 1982).

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  • 24

    Segundo Wingender et al. (1999) as EPS so macromolculas orgnicas formadas

    pela polimerizao de monmeros similares ou idnticos que podem se agrupar em unidades

    repetidas de molculas polimricas como por exemplo polissacardeos. Essas macromolculas

    podem conter substncias no polimricas de baixo peso molecular que podem alterar

    significativamente a estrutura e as propriedades fsico-qumicas das EPS. A Tabela 3 resume

    a composio geral das EPS.

    Tabela 3 Caractersticas genricas da composio das EPS.

    EPS Precursores principais Ligaes principais Estrutura do polmero

    Monossacardeos

    Polissacardeos cidos urnicos Glicosdicas Linear, ramificada

    Amino acares

    Protenas Amino cidos Peptdicas Linear

    cidos nucleicos Nucleotdeos Fosfodister Linear

    cidos graxos

    Glicerol

    Fosfatos

    Fosfolipdios Etanolamina ster Cadeia lateral

    Serina

    Colina

    Acares

    Fenis ter

    Substncias hmicas Acares simples C C Reticular

    Amino cidos Peptdicas

    Fonte: adaptado de Wingender et al. (1999).

    A presena das EPS universal onde h culturas microbianas. Como a prpria

    denominao define, as EPS se localizam fora das clulas, porm podem estar ligadas a elas,

    formando as fraes de EPS fortemente (EPSfo) e fracamente ligadas (EPSfr), ou difundir no

    meio como uma soluo viscosa amorfa, a frao solvel do EPS (EPSs) (Figura 1).

    Figura 1 Identificao das fraes que compem as EPS.

    Fonte: adaptado de Wingender et al. (1999).

    EPS fracamente

    ligado

    EPS fortemente

    ligado

    Clulas Clulas

    EPS solvel

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  • 25

    Segundo Laspidou & Rittmann (2002), sob o ponto de vista do metabolismo celular,

    a principal diferena entre EPSs, EPSfr e EPSfo que as duas primeiras so passveis de

    serem hidrolisadas por ao enzimtica e servir de substrato biomassa, enquanto que EPSfo

    permanece aderida parcela inerte da biomassa mesmo aps a lise celular.

    Laspidou & Rittmann (2002), os produtos resultantes do metabolismo microbiano

    foram divididos originalmente em quatro classes: EPS, produtos microbianos solveis (SMP),

    produtos associados utilizao do substrato (UAP) e produtos associados biomassa (BAP).

    Porm diversos estudos revelaram que essas classes eram constitudas pelos mesmos

    grupos funcionais orgnicos, diferindo apenas na forma como estavam relacionados com a

    biomassa. Assim Laspidou & Rittmann (2002), concluram que EPS e SMP eram UAP e

    BAP, que EPS permaneciam aderidas s clulas e que, por permanecer em soluo ao redor

    do floco, SMP constituiriam a frao solvel das EPS (Figura 2).

    De acordo com Brown et al. (1982) e Laspidou & Rittmann (2002), a gerao de EPS

    em culturas aerbias resulta em consumo de oxignio e matria orgnica, reduzindo a

    disponibilidade desses elementos para a gerao de energia e produo de novas clulas. A

    relao entre taxa de crescimento celular e taxa de produo de EPS controversa. J a

    interferncia de outros fatores, tais como, temperatura, pH e OD de operao, caractersticas

    do substrato e da biomassa, so significativos na taxa de produo de EPS.

    Figura 2 Representao esquemtica das relaes entre as diferentes fraes de EPS e a biomassa.

    Fonte: adaptado de Laspidou & Rittmann (2002).

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  • 26

    H diversas mtodos analticos empregadas para extrao e caracterizao das

    fraes de EPS sem que uma normalizao tenha sido estabelecida, porm alguns cuidados

    relativos amostragem so recomendados.

    Segundo Wingender et al. (1999) as amostras de biofilmes ou lodos coletadas

    devero ser transportadas ao laboratrio e preservadas em temperaturas variando entre 0 e 4C

    at a extrao, que recomendam no seja em prazo superior a dois dias. Esses cuidados so

    necessrios para que a ao exoenzimtica no promova mudanas significativas nas

    caractersticas do extratos de EPS.

    O congelamento das amostras de biomassa no recomendado, pois dessa prtica

    poder resultar lise celular e liberao do contedo intracelular, principalmente das protenas

    periplsmicas. Apesar disso amostras de biofilme coletadas em sedimentos marinhos tm sido

    imediatamente liofilizadas para posterior extrao e anlise de polissacardeos.

    Comte et al. (2006) extraram EPS de amostras de lodos ativados de oito formas

    diferentes: apenas centrifugao e centrifugao aps adio de EDTA, adio de

    formaldedo, adio de glutaraldedo, ultrassom, agitao com resina catinica, ultrassom

    seguido de agitao com resina catinica e aquecimento a 80C.

    Dominguez et al. (2010) efetuaram extrao de EPS em amostras de lodo ativado

    utilizando quatro tcnicas todas seguidas de centrifugao: agitao com resina catinica,

    adio de formaldedo e NaOH, adio de formaldedo e NaOH seguido de ultrassom, e

    aquecimento a 70C.

    Liu & Fang (2002), por sua vez, obtiveram extratos de EPS em amostras de lodos

    ativados, acidognicos e metanognicos de seis formas diferentes: centrifugao e

    centrifugao aps adio de EDTA, agitao com resina catinica, adio de formaldedo,

    adio de formaldedo e NaOH, adio de formaldedo e ultrassom.

    Em todos esses trabalhos foram comparadas as concentraes de EPS e diferenas

    significativas foram observadas, sendo que os maiores valores foram obtidos nas extraes

    quimicamente assistidas. A escolha por um ou outro mtodo depende basicamente do objetivo

    da extrao e da especificidade dos componentes de interesse.

    Inmeras tcnicas so utilizadas para caracterizao das EPS. Em artigo de reviso

    sobre EPS em sistemas de tratamento de guas residurias, Sheng et al. (2010) citam tcnicas

    recentes, em sua maioria qualitativas, empregadas por diversos pesquisadores:

  • 27

    Cromatografia gasosa (GC);

    cromatografia gasosa com espectrometria de massa (GC-MS);

    cromatografia lquida de alto desempenho (HPLC);

    microscopia eletrnica de varredura (SEM ou MEV);

    microscopia eletrnica de transmisso (TEM ou MET);

    microscopia de fora atmica (AFM ou MFA);

    microscopia laser cofocal de varredura (CLSM);

    microbalano de cristal de quartzo (QCM);

    espectroscopia de raios X (XPS);

    espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (FTIR);

    espectroscopia por excitao e emisso de fluorescncia tridimensional (3DEEM);

    ressonncia magntica nuclear (NMR);

    cromatografia de alto desempenho para excluso por massa molecular (HPSEC).

    Apesar dessas opes, para quantificao dos componentes das EPS as tcnicas

    convencionais, especialmente as colorimtricas, ainda so as mais utilizadas.

    Para determinao dos cidos nucleicos, o mtodo 4,6-diamidino-2-fenilindole

    descrito por Frolund et al. (1996) e o mtodo difenilamina descrito por Liu & Fang (2002) so

    os mais utilizados. A importncia da determinao desses compostos reside no fato de que,

    em condies normais, sua presena insignificante, pois constituem componentes

    intracelulares liberados apenas depois da lise celular. Ento, a quantificao desses cidos

    pode indicar ruptura de clulas no processo de extrao de EPS ou preservao da amostra.

    A determinao dos lipdios pode ser efetuada pelos mtodos gravimtricos ou de

    infravermelho descritos no Standard Methods (APHA, 2005) e colorimtrico da reao sulfo-

    fosfo-vanilina conforme proposto por Frings et al. (1972).

    A concentrao de cidos urnicos determinada pelo mtodo m-hidroxidifenil -

    cido sulfrico proposto por Blumenkrantz & Asboe-Hansen (1973).

    As concentraes de protenas, cidos hmicos e polissacardeos, somadas

    representam mais de 90% da massa total de EPS observada nas culturas microbianas.

  • 28

    Os mtodos mais utilizadas para determinao colorimtrica da concentrao de

    polissacardeos ou carboidratos so a reao de antrone e o mtodo fenol sulfrico proposto

    por Dubois et al. (1956). Segundo Raunkjaer et al. (1994), os resultados obtidos por esses dois

    mtodos so similares, j para Frolund et al. (1996) o coeficiente de variao das

    concentraes obtidas com o mtodo de antrone inferior ao obtido com o mtodo de Dubois.

    Embora Zaia et al. (1998) apontem cinco mtodos normalmente empregadas para

    determinao espectrofotomtrica de protenas em diversas amostras, biureto, Lowry,

    Bradford, BCA e absoro no ultravioleta, para usos em amostras de guas residurias os

    mais utilizados so o mtodo de Bradford (1976) e o de Lowry et al. (1951).

    Raunkjaer et al. (1994) apontam como alternativa a determinao da concentrao de

    protenas a partir da anlise de Nitrognio Total Kjeldahl (NTK), considerando que 16,5 % da

    massa das protenas correspondem a nitrognio, porm em guas residurias em que h

    presena de outros compostos orgnicos nitrogenados, essa alternativa deixa de ser vlida.

    O mtodo de Bradford (1976) apresenta boa sensibilidade, menos suscetvel a

    interferentes do que o mtodo de Lowry et al. (1951), porm segundo diversos pesquisadores,

    dentre eles Raunkjaer et al. (1994), Frolund et al. (1996) e o prprio Bradford (1976), a

    cromatognese da reao varia significativamente de acordo com as protenas presentes,

    assim, para determinar o padro de comparao, recomendvel que se conhea a

    composio das protenas da amostra, o que de fato pouco usual em guas residurias.

    Desde que respeitados os interferentes para a cromatognese da reao de Folin do

    mtodo de Lowry et al. (1951), listados no longo estudo publicado por Peterson (1979), esse

    mtodo, considerando as modificaes propostas por Hartree (1972), Frolund et al. (1995) e

    Pomory (2008), mostra-se o mais adequado para anlises de protenas em processos

    envolvendo tratamento de guas residurias, pois segundo Sheng et al. (2010), um dos

    poucos mtodos que, a partir da proposta de Frolund et al. (1995), permite determinar a

    concentrao de cidos hmicos.

    A reao de Folin em pH bsico, na presena de substncias redutoras que

    transferem eltrons para os complexos hexavalentes dos cidos fosfomolibdnico e

    fosfotungstnico que compe o reagente Folin Ciocalteu (FC), produz compostos reduzidos

    pela perda de um, dois ou trs tomos de oxignio do tungstato ou molibdato que resultam em

    cromatognese azul caracterstica, cuja intensidade pode ser detectada com espectrofotmetro,

    em comprimentos de onda () que variam entre 405 nm e 750 nm, e correlacionada com a

    AdministradorRealce

  • 29

    concentrao das substncias redutoras, dentre elas, protenas, cido hmicos e compostos

    fenlicos (PETERSON, 1979).

    A cromatognese das protenas se d na reao FC com os aminocidos que s

    compe, principalmente tirosina, triptofano, cistena e histidina. Quando a reao FC ocorre

    na presena de cobre, este forma quelatos com os peptdeos da cadeia principal das protenas

    o que facilita a transferncia de eltrons para a mistura cida, intensifica a cromatognese e

    incrementa a sensibilidade do mtodo para diversas formas de protenas (PETERSON, 1979).

    A partir dessa condio, Frolund et al. (1995) relataram que a reao FC com

    albumina de soro bovino (BSA) na ausncia de sulfato de cobre gera 20% da cor produzida na

    presena desse sal, porm essa reduo no foi observada com padro de cidos hmicos

    (AH). Propuseram ento o conjunto de Equaes 15 a 18 para clculo das concentraes de

    protenas e cidos hmicos.

    ac/CuSO4 = ap + aah ( 15)

    as/CuSO4 = (0,2 ap) + aah ( 16)

    ap = 1,25 (ac/CuSO4 as/CuSO4) ( 17)

    aah = as/CuSO4 (0,2 ap) ( 18)

    Onde:

    ac/CuSO4 absorbncia resultante da cromatognese da reao FC na presena de sulfato

    de cobre;

    as/CuSO4 absorbncia resultante da cromatognese da reao de Folin na amostra sem

    a presena de sulfato de cobre;

    ap absorbncia resultante da cromatognese das protenas;

    aah absorbncia resultante da cromatognese dos cidos hmicos.

    2.3 BIOFOULING E EPS

    Apesar dos termos incrustaes ou fouling terem sido empregados originalmente

    para agrupar fenmenos que promovem a reduo irreversvel da permeabilidade das

    membranas, segundo Liao et al. (2004) o termo biofouling tem aplicao mais abrangente

    relacionada queda de fluxo de permeado ou elevao da PTM, em decorrncia da adsoro

  • 30

    de EPS solveis ou suspensas superfcie das membranas, bloqueio de poros por partculas

    coloidais, adeso e deposio de lodo sobre a superfcie das membranas formando a torta.

    Diversos estudos tm sido conduzidos na tentativa de apontar relao entre a

    concentrao de EPS, ou de seus componentes isoladamente, e o biofouling.

    Yuan et al. (2002) efetuaram ensaios de filtrao em membranas de MF nos quais

    foram variadas as concentraes de cidos hmicos em solues aquosas, TMP e velocidade

    de agitao das solues. Observaram que o declnio do fluxo de permeado esteve associado

    deposio de agregados de cidos hmicos sobre a superfcie das membranas.

    Evenblij et al. (2004) compararam concentraes de protenas e carboidratos em

    sobrenadante de MBR separado do lodo por papel filtro e no permeado das membranas desse

    MBR (dp 30 nm) e observaram que as concentraes desses compostos no permeado foram,

    respectivamente, 15 e 40% inferiores aos observados no sobrenadante filtrado em papel.

    Membranas de UF, configurao fibras ocas, construdas de poli (etersulfona)

    aditivada, foram submetidas a ensaios de filtrao com soluo aquosa contendo 100 mgL-1

    de cidos hmicos por Qin et al. (2005) nos quais foram retidos de 85 a 97 % dos AH.

    Rosenberger et al. (2006) operaram dois MBRs de 2,0 m3 cada, com membranas

    submersas, um com desnitrificao pr-anxica e outro ps-anxica, durante dois anos,

    tratando esgoto domstico e adotando parmetros operacionais idnticos em termos de SST,

    TRS, A/M, ou razo entre DQO afluente e concentrao de biomassa nos reatores, e fluxo

    permeado. Observaram que a taxa de aumento da resistncia filtrao foi maior no MBR

    com desnitrificao pr-anxica, que esteve associada a maior concentrao de frao no

    sedimentvel do lodo formada por materiais solveis e coloidais, aos quais denominaram

    frao polissacardea, que por sua vez sofreu influncia inversa da temperatura.

    Em MBR com membranas MF de placas planas submersas fabricadas em poli

    (tersulfona) tratando esgoto domstico por mais de um ano, Wang et al. (2009) identificaram

    a presena de protenas, carboidratos e substncias semelhantes a cidos hmicos e flvicos.

    Observaram correlao positiva entre a concentrao de EPS ligado e o biofouling, que a

    agitao intensa do meio promoveu fora de cisalhamento que resultou no aumento da

    concentrao de EPS solvel e que a temperatura teve efeito inverso concentrao de EPS.

    Wu & Lee (2011) avaliaram os efeitos de diversas relaes A/M na produo de EPS

    solvel e nas caractersticas da biomassa em MBR alimentado com soluo sinttica e

    verificaram que em longos perodos de dieta restrita, com A/M = 0,05 d-1

    , as EPS foram

  • 31

    consumidos como substrato doador de eltrons para a respirao endgena, a concentrao de

    cidos hmicos no EPS solvel atingiu valores prximos a 65,0 mgL-1

    e nessa situao se

    observou rpido incremento na resistncia total filtrao.

    Huang et al. (2011) conduziram experimento em trs reatores anaerbios de bancada

    com membranas submersas de MF alimentados com soluo sinttica em diferentes TRSs e

    TDHs. Observaram que a reduo do TDH promovia aumento na gerao de SMP (EPSs) e

    aceleraram o biofouling. Para TDH entre oito e dez horas e TRS infinito houve aumento da

    concentrao de SST e SMP e na velocidade de sedimentao do lodo. Com longos TRS,

    baixas concentraes de EPS reduziram a capacidade de floculao e o tamanho dos flocos,

    agravando o biofouling.

  • 32

    3 MTODOS EXPERIMENTAIS

    As atividades experimentais executadas tiveram por base a operao de uma unidade

    experimental para tratamento de guas residurias, (UETAR) em escala de bancada para

    avaliao do desempenho de MBR na descontaminao de gua residuria de refinaria de

    petrleo no perodo compreendido entre 11 de maio e 03 de setembro de 2010, doravante

    denominado operao da UETAR, sob dois regimes de operao em termos de TDH:

    7. Estacionrio: entre 11 de maio e 18 de julho o objetivo foi observar o

    desempenho global do sistema submetido TDH de 1810% horas. Variaes

    proeminentes decorreram de distrbios no premeditados.

    8. Transiente: entre 19 de julho de 03 de setembro o objetivo foi observar o

    desempenho do sistema submetido a variaes programadas no TDH e obter

    parmetros que descrevessem a cintica microbiolgica de lodos ativados

    alimentado com gua residuria de caractersticas especficas.

    As variaes de TDH repercutiram em diferentes valores de:

    COV, ou carga orgnica volumtrica, que a razo entre matria orgnica

    afluente, em termos de demanda qumica de oxignio (DQO), e volume de reao;

    A/M, ou razo entre a DQO afluente e a concentrao de biomassa nos reatores;

    CNV, ou carga nitrogenada volumtrica, definida como a razo entre a matria

    nitrogenada oxidvel (NOX) afluente, em termos de nitrognio total Kjeldahl

    (NTK) ou nitrognio amoniacal (NH4-N), e o volume de reao; e,

    N/M, ou razo entre NOX afluente e a concentrao de biomassa nos reatores.

    3.1 UNIDADE EXPERIMENTAL DE TRATAMENTO DE GUAS RESIDURIAS

    A UETAR alocada no Laboratrio de Tecnologia Ambiental (LATAM) na sala 101,

    Bloco V do Campus Central da Universidade de Caxias do Sul (UCS), foi concebida,

    instalada e aprimorada em ao conjunta dos pesquisadores do LATAM e dos tcnicos da

    Trendtech Tecnologia Biomdica Ltda., com recursos provenientes de convnio tcnico-

    cientfico firmado entre a UCS e a PETROBRAS.

  • 33

    Apesar de o perodo de operao objeto do estudo dessa dissertao ter se encerrado,

    a descrio da UETAR se dar em tempo presente, visto que as condies de operao

    descritas permanecem vlidas.

    A UETAR conta com cinco reatores em srie, dois pr-anxicos (R1 e R2), dois

    aerados (R3 e R4) e um tanque de membranas (R5) onde podem ser instalados, em paralelo,

    at dois conjuntos de mdulos de membranas configurao fibras ocas submersas (Figura 3).

    Os aspectos principais considerados no dimensionamento das unidades foram:

    1. Limitaes logsticas relativas disponibilizao da gua residuria a ser tratada

    determinaram que a UETAR operasse com vazes inferiores a 2,0 Lh-1

    ;

    2. configurao de projeto do MBR da estao de tratamento de guas residurias

    da Refinaria Presidente Getlio Vargas (REPAR);

    3. eficincia desejada para remoo da carga orgnica e nitrogenada presente na

    gua residuria alcanada nos reatores R1, R2, R3 e R4, cujos volumes teis

    poderiam ser variados entre o mnimo necessrio a acomodao dos sensores e

    atuadores e o mximo de 2,0 L para os dois primeiros e 4,0 L para os demais;

    4. volume til de R5 necessrio apenas para acomodar os mdulos de membranas e

    os sensores nele instalados, que durante a operao da UETAR foi 3,0 L.

    Mediante ao de uma bomba peristltica (B0), a gua residuria aflui ao sistema a

    partir de R1 onde misturada ao lodo formando o licor que circula para R2, R3, R4 e R5.

    H duas recirculaes internas de licor, uma de R4 para R1 e outra de R5 para R3,

    que resultam da ao de bombas peristlticas, B3 e B4, assim estabelecidas para que o licor

    saturado de OD em R5 no recircule para R1 impedindo ambiente anxico neste reator.

    Em todos os reatores so monitorados: concentrao de oxignio dissolvido (OD),

    potencial hidrogeninico (pH), potencial de oxirreduo (ORP), condutividade e temperatura.

    R1, R2, R3 e R4 contam com aquecedores (Aq), para controle da temperatura, e

    vlvulas solenides (Vac e Val), pilotadas pneumaticamente, instaladas nas redes de

    suprimento de solues cida ou alcalina, para controle do pH, na faixa de processo desejada.

    O potencial redox e a condutividade em todos os reatores, o OD em R1, R2 e R5, a

    temperatura e o pH em R5 no so controlados, porm os valores dessas variveis so

    disponibilizados permitindo monitoramento para identificar anomalias no sistema.

  • 34

    A mistura completa do licor nos reatores, fundamental para o contato, circulao e

    recirculao, promovida por agitadores (A1 a A4) formados por motores eltricos com eixos

    das hlices de material isolante eltrico, de forma que o campo eltrico gerado nesses motores

    no seja conduzido ao lquido dos reatores R1, R2, R3 e R4 e no gere rudos leitura dos

    sensores neles instalados. J em R5, essa mistura se d mediante turbulncia gerada por fluxo

    de ar comprimido a partir de um difusor (pedra de aerao) instalado no fundo desse reator.

    Alm da mistura do licor em R5, o ar comprimido necessrio na UETAR para

    suprimento de OD em R3 e R4, acionamento das vlvulas solenides que permitem fluxo das

    solues cida e alcalina para controle do pH nos reatores e aerao das membranas para

    reduo da formao de torta. Esse ar provm da rede de distribuio central para o Bloco V.

    O monitoramento e controle operacional da UETAR so executados por um sistema

    eletrnico informatizado formado por quatro mdulos eletrnicos (Figura 3), comandados

    individualmente por microcontroladores que se comunicam com um programa supervisrio

    (Figura 4), instalado em uma CPU externa que gerencia a operao e possibilita aquisio das

    informaes dela resultantes para um banco de dados sob forma de arquivos txt. Esse

    comando individual permite manter o controle sobre o processo, mesmo que a comunicao

    com o supervisrio seja interrompida, apesar da descontinuidade na aquisio dos dados.

    A linguagem de programao, tanto do supervisrio quanto dos microcontroladores

    a C, porm, enquanto o supervisrio foi construdo em compilador Visual Basic, o

    programa dos microcontroladores foi construdo em compilador IAR.

    O sistema informatizado permite controle da UETAR em malha aberta ou em malha

    fechada, exceto para agitao e recirculao cujo controle exclusivamente em malha aberta

    e temperatura para o qual o controle exclusivamente em malha fechada.

    Em malha aberta a intensidade da ao do atuador estabelecida pelo operador e

    permanece constante at nova interveno deste. J em malha fechada, o operador define o

    resultado, ou valor alvo (set point), desejado para determinada ao e o sistema promove as

    intervenes necessrias sobre os atuadores para obteno desse resultado.

    Os mdulos de controle, os sensores e os atuadores se comunicam mediante sinais

    em corrente eltrica ou por diferena de potencial, j mdulos e programa supervisrio

    comunicam-se mediante linguagem binria convertida em valores parametrizados genricos.

    Os valores parametrizados obtidos, quando os sensores so submetidos a estmulos,

    ou informados, para que resultem em ao dos atuadores, devem ser correlacionados com as

  • 35

    grandezas fsicas de interesse, tais como vazo e pH, para que sejam gerados parmetros de

    calibrao que, informados ao sistema, permitem a converso dos valores parametrizados em

    grandezas conhecidas, o que fundamental para a interao do operador com o sistema.

    Figura 3 Topo da bancada, painel eletro eletrnico e unidades da UETAR.

    B3

    B0

    B4

    Rr Rac Ral Rsp

    Ah5

    Vac1 e

    Val1

    ORP3

    Aq1

    R1 R2 R3 R4

    A1 A2 A3 A4

    Continer

    gua

    residuria

    Cond5

    F6

    F5

    Nalto

    Nmdio

    Nbaixo

    Boia

    R5

    Ar4

    R5 tanque de membranas Nalto sensor de nvel alto Nmdio sensor de nvel mdio Nbaixo sensor de nvel baixo Boia boia do controle de nvel F5 e F6 mdulos de membranas Cond5 sensor de condutividade (uS) B0 bomba de alimentao B3 bomba de recirculao de R4 para R1

    B4 bomba de recirculao de R5 para R3

    Painel eletro eletrnico da UETAR

    OD4 pH5

    TT4

    pH4

    Ah5 acumulador hidrulico 5 Vac1 vlvulas solenides para soluo cida Val1 vlvulas solenides para soluo alcalina Rr reservatrio de soluo retrolavagem Rac reservatrio de soluo cida Ral reservatrio de soluo alcalina Rsp reservatrio de coleta para transbordamentos de Ah5 e Ah6 A1 a A4 agitadores ORP3 sensores de potencial de oxirreduo (mV) R1 a R4 reatores Aq1 aquecedor TT4 sensor de temperatura (C) pH4 e pH5 sensores de potencial hidrogeninico (pH) OD4 sensores de oxignio dissolvido (mg/L) Ar4 aerador

    Fonte: o autor

  • 36

    Figura 4 Tela principal do programa supervisrio da UETAR.

    Fonte: o autor.

    Caso o suprimento de energia eltrica proveniente da rede de abastecimento seja

    interrompido, um no break manter a UETAR em funcionamento por at trs horas.

    A1

    a A

    4

    agit

    ado

    res

    1 a

    4

    Ah

    5 e

    Ah

    6

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    mu

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    ba

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    F5

    e F

    6

    mem

    bra

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    FT

    6

    sen

    sore

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    pH

    5)

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    e R

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    rea

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    TM

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    V5

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    VC

    3 a

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    Ah

    6

    Ah

    5

  • 37

    3.1.1 Controle de fluxo

    O controle de fluxo e de ao sobre as membranas tem relevncia tal para a

    compreenso do desempenho da UETAR que recebe abordagem especfica neste subcaptulo.

    A separao efluente clarificado lodo na UETAR se d por permeao em dois

    mdulos de membranas, F5 e F6, instalados em R5 com fora motriz de suco promovida

    pela ao das bombas peristlticas B5 e B6, uma para cada mdulo, ilustradas na Figura 5.

    Para a retrolavagem a bomba Bretro, tambm peristltica, age sobre os dois mdulos.

    O direcionamento para F5 ou F6 se d pelas aes de duas vlvulas solenides normalmente

    fechadas (NF), V5 e V6, que abrem intercaladamente na frequncia e pelo perodo

    programados para os eventos de retrolavagem.

    As sadas de permeado de F5 e F6 esto conectadas em srie, respectivamente com

    as extremidades de descarga de V5 e V6, com os sensores de presso diferencial PT5 e PT6 e

    com as extremidades de suco de B5 e B6.

    Figura 5 Componentes do sistema de operao e controle de fluxo.

    Fonte: o autor.

    A alimentao do sistema se d mediante ao de B0. Essa ao pode ocorrer tanto

    em malha aberta quanto em malha fechada. Em malha fechada a potncia aplicada bomba

    aquela necessria para produzir vazo igual de permeado menos de retrolavagem. Durante

    a operao da UETAR a B0 somente operou em malha aberta quando foi necessrio

    restabelecer o nvel dos reatores depois de efetuadas coletas de amostras.

    B6

    Bretro

    V5

    V6

    B5 e B6 bombas de suco de permeado; Bretro bomba retrolavagem; V5 e V6 vlvulas de retrolavagem; PT5 e PT6 sensores de presso; FT5 e FT6 sensores de vazo de permeado;

    Vah5 e Vah6 vlvulas manuais dos acumuladores hidrulicos; Ah5 e Ah6 acumuladores hidrulicos.

    FT5 FT6

    Vah5

    Vah6

    PT6 PT5

    Tubos de descarga

    B5 e B6

    Ah5 e Ah6

    Tubos de PVC

    Ah5 e Ah6

    Tubos extravasores

    e para visualizao

    de nvel

    B5

  • 38

    Os sensores de nvel instalados no R5 (Figura 3) completam o controle de fluxo.

    Quando atingido o nvel baixo, a ao de B5 e B6 interrompida impedindo suco com as

    membranas imersas. J em nvel alto, o sistema interrompe a ao de B0 e diminui o tempo

    das retrolavagens, impedindo que transbordamentos ocorram em funo do supervit de

    entradas em relao s sadas que ocasionou esses eventos.

    As funes alteradas em decorrncia de eventos de nvel baixo ou alto so

    restabelecidas quando o sensor de nvel mdio acionado imediatamente aps esses eventos.

    No incio da operao da UETAR, a estratgia de controle quando atingido o nvel

    mximo interrompia s retrolavagens, porm foi alterada para a reduo do perodo dessa

    ao, de forma que houvesse relaxao sem injeo de lquido no sistema.

    O peristaltismo das bombas de suco B5 e B6 produz oscilaes de vazo e presso.

    As presses de suco e de retrolavagem so baixas, no mximo 500 mbar, e suas

    oscilaes so suportveis pelo sistema, porm, em decorrncia da sensibilidade e da faixa de

    ao de FT5 e FT6, as oscilaes de vazo seriam sentidas por esses sensores o que limitaria a

    eficincia do controle dessa varivel.

    Para contornar essa limitao, foram instalados acumuladores hidrulicos Ah5 e Ah6

    (Figura 5), constitudos por tubo de PVC em posio vertical, tubo de polietileno (PE)

    semitransparente, comunicante e em paralelo ao de PVC, que permite visualizao da altura

    da coluna dgua nesses tubos e evita transbordamentos, pois age como extravasor para

    reservatrio pulmo, e vlvula de agulha para rede de ar comprimido de ajuste manual (Vah).

    O permeado succionado por B5 e B6 bombeado para os acumuladores hidrulicos,

    Ah5 e Ah6, e desses flui por ao da energia potencial gravitacional para os sensores de

    vazo, FT5 e FT6, respectivamente, desacoplando as extremidades de descarga dos tubos de

    sada de B5 e B6 dos sensores FT5 e FT6.

    A operao desejvel para os sistemas de membranas a obteno da vazo de

    permeado de interesse menor PTM e pelo maior tempo possveis, de forma que o principal

    parmetro de controle em malha fechada seja sempre a vazo.

    As aes do sistema sobre os mdulos de membranas, suas funes principais e

    derivadas, para suco ou retrolavagem, podem ser executadas em malha aberta ou fechada.

    Quando em malha aberta, B5 e/ou B6 operam com potncia fixa independente da

    vazo. Essa ao poder elevar a PTM alm do necessrio e contribuir para compactao da

  • 39

    torta, aumentando a resistncia filtrao e, em casos extremos, fazer a PTM ultrapassar o

    valor mximo de segurana, que para suco limitada em 455 mbar por PT5 e 409 mbar por

    PT6, situao essa que far o sistema interromper a ao destas bombas.

    A operao com B5 e B6 em malha aberta somente recomendada, e foi executada

    no perodo de operao da UETAR entre maio e setembro de 2010, em curtos intervalos de

    tempo ou em circunstncias especiais e sempre com acompanhamento do operador.

    Dentre essas circunstncias especiais esto observar comportamentos especficos do

    sistema e, principalmente, promover ao estvel de suco da(s) bomba(s) quando no h

    lquido no(s) acumulador(es) hidrulico(s) (Ah5 e/ou Ah6) ou quando o volume existente

    pequeno e resulta em vazo(es) lida(s) pelo(s) sensor(es) (FT5 e FT6) inferior(es) ao(s)

    parmetro(s) de controle para operao em malha fechada.

    Quando as vazes lidas so muito inferiores as dos parmet