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FÁBIO JOSÉ CONDINO FUJARRA Disfunção temporomandibular e síndrome fibromiálgica: caracterização de amostra segundo critérios clínicos Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título Mestre em Ciências Área de Concentração: Neurologia Orientador: Dr. José Tadeu Tesseroli de Siqueira São Paulo 2008

Disfunção temporomandibular e síndrome fibromiálgica: … · 2008. 6. 6. · Disfunção temporomandibular e síndrome fibromiálgica: ... 2.Fibromialgia 3.Dor facial 4.Articulação

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FÁBIO JOSÉ CONDINO FUJARRA

Disfunção temporomandibular e síndrome fibromiálgica:

caracterização de amostra segundo critérios clínicos

Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título Mestre em Ciências Área de Concentração: Neurologia Orientador: Dr. José Tadeu Tesseroli de Siqueira

São Paulo 2008

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FÁBIO JOSÉ CONDINO FUJARRA

Disfunção temporomandibular e síndrome fibromiálgica:

caracterização de amostra segundo critérios clínicos

Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título Mestre em Ciências Área de Concentração: Neurologia Orientador: Dr. José Tadeu Tesseroli de Siqueira

São Paulo 2008

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FICHA CATALOGRÁFICA

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Preparada pela Biblioteca da

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

©reprodução autorizada pelo autor

Fujarra, Fábio José Condino Disfunção temporomandibular e síndrome fibromiálgica : caracterização de amostra segundo critérios clínicos / Fábio José Condino Fujarra. -- São Paulo, 2008.

Dissertação(mestrado)--Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Departamento de Neurologia.

Área de concentração: Neurologia. Orientador: José Tadeu Tesseroli de Siqueira.

Descritores: 1.Síndrome da disfunção da articulação temporomandibular 2.Fibromialgia 3.Dor facial 4.Articulação temporomandibular 5.Estudos transversais

USP/FM/SBD-025/08

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AGRADECIMENTOS

A todos os doentes envolvidos neste trabalho. Não fosse por eles e, em

proveito deles próprios, todo o nosso trabalho seria inútil.

Ao Dr. José Tadeu Tesseroli de Siqueira, pela confiança em mim creditada e

pela orientação, incentivo e apoio durante a realização deste trabalho. Ao seu lado,

pude experimentar de um entusiasmo, sabedoria e senso ético ímpares, de que jamais

esquecerei, pois fizeram com que eu sentisse orgulho de minha profissão;

À Dra. Helena Hideko S. Kaziyama, pelos conhecimentos transmitidos e pelo

apoio durante o recrutamento dos doentes;

À Dra. Cinara M. Camparis, pelo apoio irrestrito durante a confecção do

banco de dados;

À Flávia Yumi, que em um gesto de desprendimento, soube compreender

meus anseios e, com delicadeza, paciência e dedicação esteve ao meu lado em todos

os momentos desta árdua jornada de aprimoramento profissional.

À minha família, sempre presente, pelo carinho e apoio incondicionais;

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RESUMO

FUJARRA FJC. Disfunção temporomandibular e síndrome fibromiálgica:

caracterização de amostra segundo critérios clínicos [dissertação]. São Paulo:

Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2008. 66p.

Estudo transversal em que foram avaliados 48 doentes consecutivos (todas do gênero

feminino) com diagnóstico de Síndrome Fibromiálgica (SFM). A idade média das

doentes foi de 46,3 anos (±8,7, 23-59 anos). A avaliação clínica constou do

questionário RDC/TMD e de avaliação em dor orofacial (EDOF-HC). Quanto à

queixa principal, 26 doentes (54,2%) apresentaram dor na face, 18 (37,5%) dor na

face associada a alguma queixa oral, uma (2,1%) teve queixa de estalidos na

articulação temporomandibular, uma (2,1%) teve queixa exclusivamente oral e duas

doentes (4,2%) não tiveram qualquer queixa. Em relação à presença de dor

generalizada, as 48 doentes avaliadas tinham dores no corpo. A dor na face esteve

presente em 44 doentes (91,7%). Quarenta e quatro doentes (91,7%) apresentaram

cefaléia. Otalgia esteve presente em 19 doentes (39,6%). A dor na face se iniciou

antes da dor no corpo em 17 doentes (38,6%), depois em 20 (45,5%),

simultaneamente em seis doentes (13,6%) e uma doente (2,1%) não soube definir

esta relação temporal. Os sintomas orofaciais melhoraram com o uso de medicação

para tratamento da SFM em 24 doentes (54,5%), e três (6,8%) não souberam

responder. Quanto à abertura bucal voluntária sem dor a média foi de 32,3 mm (0-60;

± 12,9). Quanto às disfunções musculares mastigatórias, pelo Eixo I do RDC/TMD,

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16 doentes (33,3%) apresentaram dor miofascial e 29 (60,4%) tiveram dor miofascial

e limitação de abertura bucal. Com relação ao grau de dor crônica, sete doentes

(14,6%) tiveram dor e incapacidade baixa, 21 (43,8%) tinham dor alta e baixa

incapacidade, 12 (25%) tinham alta incapacidade e moderada limitação e sete

(14,6%) tinham alta incapacidade e grave limitação. Pelo Eixo II do RDC/TMD a

depressão foi considerada leve em seis (12,5%) doentes, moderada em nove (18,8%),

grave em 33 (68,8%). A alta prevalência de dor facial e de dor de cabeça nesta

amostra indica a necessidade de avaliação sistemática do segmento cefálico dos

doentes com SFM. Este estudo descritivo mostra que as características desta amostra

brasileira são compatíveis com aquelas relatadas pela literatura vigente e sugere que

a adição dos sintomas da SFM aos da Disfunção temporomandibular agrave as

queixas orofaciais. A presença de doentes que referiram a dor facial ter precedido os

sintomas de dor generalizada no corpo sugere investigação de fatores locais e a

necessidade de controle da dor regional como possível fator de controle da SFM.

Descritores – Síndrome da disfunção da articulação temporomandibular – Dor facial

- Fibromialgia – Articulação temporomandibular – Estudos

transversais

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ABSTRACT

FUJARRA FJC. Temporomandibular disorders and fibromyalgic syndrome:

characterization of a sample according to clinical evaluation [dissertation]. São

Paulo: “Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo”; 2008. 66p.

This descriptive study evaluated 48 female consecutive patients with diagnosis with

fibromyalgic syndrome (FMS). The mean age of these patients was 46.3 years (± 8.7,

23-59 years) .The clinical examination was conducted according to the Research

Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (RDC/TMD) and evaluation

of orofacial pain (EDOF-HC). Concerning the main complaint, 26 patients (54.2%)

presented facial pain, 18 (37.5%) facial pain associated to some oral complaint, one

(2.1%) complained of temporomandibular joint clicking, one (2.1%) had exclusively

oral complaint and two patients (4.2%) didn't have facial pain. All patients showed

body pain, while the facial pain was observed in 44 patients (91.7%). Headache was

reported by 44 patients (91.7%) and earache by 19 (39.6%). The facial pain had

initiated before the body pain in 17 patients (38.6%), and the inverse situation in 20

(45.5%). For six patients (13.6%) the facial and body pain started simultaneously and

one (2.1%) was not able to answer the question. Conserning the orofacial symptoms

relieve by use of FMS medication, orofacial symptoms relieved for 24 patients

(54.5%) and tree patients (6.8%) couldn´t answer the question. The mean of

voluntary mouth opening without pain was 32.3 mm (0-60; ±12.9). Regarding the

muscle dysfunctions, following the RDC/TMD axis I, 16 patients (33.3%) presented

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myofascial pain, 29 (60.4%) showed limited mouth opening as well myofascial pain..

Based on RDC/TMD Axis II, the level of depression was considered mild in six

(12.5%) patients, moderate in nine (18.8%) and severe in 33 (68.8%). In relation to

chronic pain level, seven patients (14.6%) reported pain and mild incapacity, 21

(43.8%) had severe pain and mild incapacity, 12 (25%) had severe incapacity and

moderate limitation and seven (14.6%) had severe incapacity and severe

limitation.The high prevalence of facial pain and headache reported by the patients

examined indicates that the head and neck must be evaluated systematically. This

cross-sectional study shows that the characteristics analyzed in this Brazilian sample

are compatible with the current literature and concludes that adding the symptoms of

FMS and temporomandibular dysfunctions may aggravate the orofacial complaints.

Some patients related the beginning of facial pain before the generalized body pain,

suggesting that the investigation of local factors and the requirement of regional pain

control could be a possible FMS control factor.

Descriptors – Temporomandibular joint dysfunction syndrome – Facial pain – Fibromyalgia – Temporomandibular joint – Cross-sectional studies.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição dos doentes com Síndrome Fibromiálgica por faixa

etária (n = 48)................................................................................. 26

Tabela 2 - Distribuição das queixas orais e ou faciais dos doentes com

Síndrome Fibromiálgica (n=48) .................................................... 27

Tabela 3 - Distribuição das queixas iniciais orofaciais em relação à lateralidade

da dor na face................................................................................. 27

Tabela 4 - Distribuição da qualidade da dor na face e ou no crânio, em

comparação com sua localização, dos doentes com Síndrome

Fibromiálgica (n = 48) ................................................................... 28

Tabela 5 - Distribuição dos fatores de piora para a dor facial da amostra de

doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48) ............................. 29

Tabela 6 - Distribuição dos fatores de acalmia para a dor facial da amostra de

doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48) ............................. 30

Tabela 7 - Distribuição das queixas de dor das doentes com Síndrome

Fibromiálgica (n = 48) ................................................................... 30

Tabela 8 - Distribuição da amostra de doentes com Síndrome Fibromiálgica

quanto à presença de dor associada a formigamento, dormência ou

queimação (n = 48) ........................................................................ 32

Tabela 9 - Distribuição da amostra em relação à melhora da dor na face por uso

da medicação comparativamente ao surgimento da dor na face e no

corpo dos doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48)............. 33

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Tabela 10 - Distribuição da amostra de doentes com Síndrome Fibromiálgica

quanto à presença de dentes (n = 48)............................................. 34

Tabela 11 - Distribuição da amostra de doentes com Síndrome Fibromiálgica

quanto aos movimentos mandibulares (n = 48)............................. 35

Tabela 12 - Características do auto relato quanto à presença de desconfortos

oclusais e ou faciais segundo o questionário RDC/TMD dos

doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48) ............................. 35

Tabela 13 - Distribuição da amostra quanto à presença de dor miofascial

mastigatória segundo o questionário RDC/TMD dos doentes com

Síndrome Fibromiálgica (n = 48) .................................................. 36

Tabela 14 - Distribuição da amostra quanto à presença de distúrbios do disco

articular da ATM segundo o questionário RDC/TMD dos doentes

com Síndrome Fibromiálgica (n = 48)........................................... 37

Tabela 15 - Distribuição da amostra quanto à presença de outras condições

articulares da ATM segundo o questionário RDC/TMD dos doentes

com Síndrome Fibromiálgica (n = 48)........................................... 38

Tabela 16 - Distribuição da amostra quanto ao nível de dor facial e

incapacidade segundo o Eixo II do questionário RDC/TMD dos

doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48) ............................. 39

Tabela 17 – Níveis de somatização e depressão segundo o eixo II do

questionário RDC/TMD dos doentes com Síndrome Fibromiálgica

(n = 48) .......................................................................................... 39

Tabela 18 - Distribuição da amostra de doentes com Síndrome Fibromiálgica

quanto ao relato subjetivo de bruxismo segundo a ficha clínica da

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EDOF-HC (n = 48) ........................................................................ 40

Tabela 19 - Relação entre as queixas subjetivas de bruxismo do sono e

presença de cansaço matinal nos músculos mastigatórios dos

doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48) ............................. 41

Tabela 20 - Distribuição da amostra de doentes com Síndrome Fibromiálgica

quanto à relação entre presença de dor facial ou cefaléia matinais e

presença de dor miofascial mandibular (n = 48) ........................... 42

Tabela 21 - Distribuição da amostra de doentes com Síndrome Fibromiálgica

quanto à condição.periodontal (n = 48) ......................................... 42

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LISTA DE SIGLAS

AAINES Analgésicos antiinflamatórios não esteroidais

ADT Antidepressivo Tricíclico

ATM Articulação temporomandibular

CAPPesq Comissão de Ética para Análise de Projetos de Pesquisa do HC-

FMUSP e da FMUSP

CAR Colégio Americano de Reumatologia

DTM Disfunção mandibular

EDOF/HC Equipe de Dor Orofacial/ATM da Divisão de Odontologia do

Instituto Central do Hospital das Clínicas da FMUSP

EVA Escala visual analógica

FBS “Failed Back Syndrome”

FMUSP Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

HC Hospital das Clínicas

NMDA N-metil-D-aspartato

RDC/TMD Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders

SDM Síndrome Dolorosa Miofascial

SFM Síndrome Fibromiálgica

SIDA Síndrome da imunodeficiência adquirida

SNC Sistema Nervoso Central

sP substância P

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SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1

2 - REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................... 3

2.1 - Dor Orofacial: ................................................................................................. 3

2.1.1 Dor músculo-esquelética da face:................................................................ 4

2.1.1.1 Disfunção mandibular (DTM): ................................................................ 5

2.1.1.1.1 Dor na articulação temporomandibular (ATM): ................................ 7

2.1.1.1.2 Dor nos músculos da mastigação ....................................................... 9

2.2 - Síndrome Fibromiálgica (SFM).................................................................... 11

2.3 - Disfunção mandibular e Síndrome Fibromiálgica ........................................ 14

3 - OBJETIVOS .................................................................................................... 21

4 - CASUÍSTICA E MÉTODOS .......................................................................... 22

4.1 - Tamanho da amostra..................................................................................... 22

4.2 - Critérios de exclusão..................................................................................... 23

4.3 - Instrumentos de avaliação............................................................................. 23

4.4 - Análise dos dados ......................................................................................... 24

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4.5 - Aprovação do Projeto de Pesquisa ............................................................... 25

5 - RESULTADOS................................................................................................ 26

6 - DISCUSSÃO ................................................................................................... 44

7 - CONCLUSÕES ............................................................................................... 50

8 - ANEXO............................................................................................................ 51

9 - REFERÊNCIAS............................................................................................... 54

APÊNDICE

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1

1 - INTRODUÇÃO

Disfunção temporomandibular (DTM) é um termo coletivo, usado para

designar diversas condições clínicas que afetam os músculos mastigatórios, a

articulação temporomandibular (ATM) e estruturas associadas 1. As DTM são

consideradas as causas mais comuns de dores crônicas da face e de cefaléias

secundárias de origem mandibular e podem ser consideradas como subclassificação

das disfunções músculo-esqueléticas. A dor decorrente das disfunções

temporomandibulares localiza-se, freqüentemente, na face e ou cabeça,

particularmente nas regiões: pré-auricular, zigomática, ângulo de mandíbula, fundo

do olho, têmpora e nuca; pode ser unilateral, bilateral ou tipo migratória; ser

espontânea, porém, o mais comum é ser desencadeada ou agravada pela mastigação

ou por movimentos mandibulares 1,2.

Embora a dor muscular por disfunção temporomandibular (DTM) seja

considerada condição dolorosa regional, alguns estudos mostram que ela pode

também ocorrer em doentes com síndromes álgicas sistêmicas, como a Síndrome

Fibromiálgica (SFM). Entretanto, diversos estudos indicam que, a despeito de

apresentarem alguns sinais e sintomas semelhantes, elas são condições álgicas

diferentes 3,4,5 e, freqüentemente, podem co-existir como morbidades associadas 6.

Tanto as DTM quanto a SFM afetam principalmente mulheres, e seus sintomas

incluem distúrbios do sono, depressão, fadiga, ansiedade e estresse; além disso, as

duas condições têm diversos fatores de risco, tanto físicos quanto psicológicos 2,7.

Isto indica que a Síndrome Fibromiálgica deve ser incluída no diagnóstico diferencial

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2

da dor decorrente dos músculos mastigatórios. Entretanto, devido à alta prevalência

de sintomas neurológicos e gastrointestinais, e à diferença entre os descritores

empregados para definir a dimensão da dor, é provável que a SFM seja uma condição

mais debilitante 3,4.

A SFM provoca dor generalizada e redução da tolerância à dor. Sua freqüência

é significativa na população em geral e causa impacto na vida do doente. Por outro

lado, as DTM são também freqüentes na população em geral e, muitas vezes, essas

duas condições podem estar associadas, havendo superposição dos sintomas. É

indispensável o diagnóstico diferencial entre as duas afecções para o tratamento

adequado da dor, particularmente quando esta afeta as regiões cefálica e cervical.

Assim, é possível controlar de forma mais ampla todos os fatores envolvidos.

Além disso, a complexidade da região orofacial traz desafios aos profissionais

da Odontologia e da Medicina, no que tange ao tratamento da dor, particularmente

em síndromes como a fibromiálgica, o que torna necessária a atuação

multiprofissional para melhor reconhecimento das doenças que provocam dor no

segmento cefálico.

Desse modo, julgamos conveniente a realização de estudo transversal para

avaliar a condição odontológica e a prevalência de sinais e sintomas de dor por

disfunção temporomandibular em doentes com Síndrome Fibromiálgica.

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3

2 - REVISÃO DE LITERATURA

2.1 - Dor Orofacial:

Genericamente, a denominação Dor Orofacial refere-se às condições álgicas

relacionadas às estruturas da cavidade oral e da face propriamente dita.

De acordo com a Academia Americana de Dor Orofacial, o campo de atuação

nessa área inclui as condições álgicas decorrentes dos diferentes tecidos da cabeça e

do pescoço, incluindo todas as estruturas que formam a cavidade oral. O diagnóstico

diferencial abrange grande número de doenças ou afecções que afetam, primária ou

secundariamente, esse segmento corpóreo 8. Portanto, dor orofacial pode ser o

principal sintoma das ínúmeras doenças que acometem diretamente as estruturas

orofaciais; mas pode também ser o sintoma de doenças alojadas nas regiões

adjacentes da cabeça e do pescoço, ou em regiões mais distantes, como do tórax e do

abdômen, quando provocam dores referidas. Todas as potenciais causas de dores

orofaciais podem cruzar as fronteiras de muitas disciplinas médicas ou

odontológicas, o que faz com que a abordagem interdisciplinar seja freqüentemente

necessária para estabelecer tanto o seu diagnóstico quanto o seu tratamento 9,10,11.

As dores orofaciais podem ser agudas ou crônicas, sendo as primeiras de

ocorrência comum e normalmente relacionadas às doenças que afetam primária ou

secundariamente a face. As dores crônicas têm diferentes níveis de complexidade,

exigindo métodos de diagnóstico e tratamentos muitas vezes complexos. Os estudos

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4

que investigam dores orofaciais crônicas demonstram que os doentes apresentam,

freqüentemente, alterações neurais e emocionais; parecem ter também maior

susceptibilidade à dor músculo-esquelética, apresentando, com maior freqüência,

queixa de dores em várias partes do corpo 12,13,14. A dor aguda é associada a

condições clínicas de início recente, que cessam com o tratamento da causa. Quanto

às dores crônicas, têm diversas origens e nem sempre cessam com a eliminação da

causa e, atualmente, utiliza-se o critério temporal (acima de seis meses) para

caracterizá-la, embora o período de tempo não seja o melhor método para diferenciá-

las; seu uso baseia-se na experiência acumulada 15.

Em resumo, as potenciais fontes de dores orofaciais são: alvéolo-dentárias,

músculo-esqueléticas, neuropáticas, neuro-vasculares, psiquiátricas/psicológicas.

Nesta revisão bibliográfica será dado enfoque principal às dores orofaciais músculo-

esqueléticas que é o tema do presente estudo.

2.1.1 Dor músculo-esquelética da face:

Na face, como em qualquer parte do aparelho locomotor, músculos, fáscias

musculares, articulações, ligamentos, tendões, periósteo, bursas sinoviais e enteses

são ricamente inervados, o que justifica a ocorrência de dor quando sofrem lesões

traumáticas, inflamatórias, isquêmicas, tumorais e/ou sobrecargas funcionais. A dor

músculo-esquelética é, portanto, predominantemente resultante da ativação por

estímulos físicos ou químicos intensos dos nociceptores presentes nestas estruturas

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5

16.

O diagnóstico das dores músculo-esqueléticas faciais é essencialmente clínico,

isto é, feito de maneira descritiva, com base nos sinais e sintomas 17,18, sendo que

uma das principais responsáveis por essas dores são as condições agrupadas sob a

denominação genérica de Anormalidades Temporomandibulares 8. No Brasil essas

condições álgicas são amplamente reconhecidas como disfunções

temporomandibulares (DTM), as quais no presente estudo serão denominadas

“Disfunções Mandibulares” 19.

2.1.1.1 Disfunção mandibular (DTM):

Entre as possíveis causas de dores músculo-esqueléticas faciais, destacam-se as

disfunções mandibulares (DTM), que são anormalidades do aparelho locomotor

mastigatório que podem causar dor, aguda ou crônica, normalmente recorrente, não

progressiva e associada a discreto ou moderado impacto na atividade funcional e

social do doente 20,8.

Há evidências de que mais de 90% dos doentes com DTM procurem

assistência devido à dor 1. Considerando sua natureza músculo-esquelética, a dor por

disfunção mandibular pode ser de origem articular, muscular ou mista 21. Portanto,

engloba condições álgicas decorrentes de anormalidades dos músculos mastigatórios,

articulação temporomandibular (ATM) e/ou estruturas associadas 22.

Dor localizada na articulação temporomandibular, desencadeada durante algum

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6

movimento mandibular, reduz-se em freqüência de 16% na faixa etária entre 15 a 29

anos para 9% na faixa etária entre 50 a 75 anos 23,24. Por outro lado, considera-se que

a idade de pico para a dor muscular por disfunção mandibular é aos 45 anos, com

variações que dependem do subgrupo de anormalidade envolvido. Portanto, a dor

muscular por disfunção mandibular parece ser mais freqüente na faixa etária entre 30

e 60 anos, enquanto anormalidades funcionais da própria ATM são mais freqüentes

em jovens e as doenças degenerativas da ATM, nos idosos, havendo, em geral,

redução da dor por disfunção mandibular nas idades mais avançadas 25. O sexo

feminino é considerado fator de risco para a dor músculo-esquelética da face, a

exemplo de outras dores crônicas, como cefaléias primárias, lombalgias e Síndrome

Fibromiálgica, e é possível que o uso de estrógenos no período da menopausa

aumente o risco de DTM 26,27.

A etiologia das dores musculares por disfunção mandibular ainda não é

totalmente compreendida em razão da complexidade morfofuncional do aparelho

mastigatório e da dificuldade de se estabelecer modelos experimentais de dor

muscular que reproduzam as variáveis observadas na prática clínica 28. Por isso,

admite-se que, a exemplo das demais regiões do corpo, a etiologia das dores

musculares mastigatórias seja multifatorial 29.

Fatores mecânico-posturais, nutricionais, metabólicos, psicossociais e

biológicos colaboram para a ocorrência da dor por disfunção mandibular 30,31. Não

obstante, doentes com dor na musculatura mastigatória relatam mais fadiga,

anormalidades do sono, depressão e transtornos menstruais 32.

Os fatores oclusais e a parafunção mandibular, como o bruxismo, continuam

sendo motivo de controvérsias, possivelmente mais quanto à prevalência de cada um,

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7

do que à sua participação propriamente dita 33,34.

A despeito da controvérsia sobre o papel da oclusão, quando o doente relata

dor ou mobilidade dentária, as interferências oclusais são fatores contribuintes em

potencial 35. A terapia oclusal para as dores por disfunção mandibular pode ser

indicada para controlar sintomas agudos, principalmente quando originados a partir

de alterações recentes da oclusão, em contrapartida, não deve ser considerada para a

profilaxia da dor por disfunção mandibular 36.

Embora diferentes estudos tenham avaliado a associação entre o bruxismo e

sintomas das disfunções mandibulares, eles não são conclusivos; particularmente

no que se refere à dor crônica crânio-facial 37,38, ainda assim, o bruxismo é

considerado fator de risco para dor por disfunção mandibular 3439.

2.1.1.1.1 Dor na articulação temporomandibular (ATM):

Doenças que afetam a articulação temporomandibular (ATM) podem provocar

alterações degenerativas da articulação, as quais não são necessariamente

progressivas e nem sempre estão relacionadas à ocorrência de dor 40. As afecções que

acometem a ATM podem ser de origem local, sistêmica ou mista; de etiologia

inflamatória ou degenerativa, agudas (traumatismos) ou crônicas e primárias ou

secundárias 41. De forma resumida, as anormalidades que afetam as ATM mais

freqüentemente são apresentadas no Quadro 1 42.

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8

Quadro 1: Doenças da articulação temporomandibular.

ATM : Articulação temporomandibular.

Desta maneira, a dor na articulação temporomandibular é indicativa de

inflamação, que pode ser proveniente tanto da instalação de uma nova doença,

quanto da agudização de enfermidade pré-existente. Os sinais e sintomas que

sugerem quadro doloroso de origem articular na ATM estão relacionados no Quadro

2 42.

Quadro 2: Sinais e sintomas sugestivos de doenças ou anormalidades da articulação temporomandibular (ATM)

- Anormalidades não inflamatórias(degenerativas): • Osteoartrose; • Deslocamento do disco articular (desarranjo interno da ATM).

- Anormalidades inflamatórias: • Sistêmicas primárias: artrite reumatóide, artrite psoriática e espondilite

anquilosante; • Sistêmicas secundárias: lúpus eritematoso sistêmico e gota.

- Fraturas. - Tumores. - Luxação. - Anquilose. - Hiperplasia de côndilo mandibular.

• Dor espontânea ou provocada, localizada na região pré-auricular, normalmente desencadeada pelo movimento mandibular;

• Edema da região pré-auricular; • Limitação da abertura bucal; • Irregularidades nos movimentos mandibulares; • Travamento da mandíbula à abertura ou ao fechamento bucal; • Alterações oclusais (mordida aberta) e ou faciais; • Ruídos articulares: estalidos e crepitação;

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9

Quando presente, a dor localizada na ATM é habitualmente desencadeada pelo

movimento mandibular. Em contrapartida, a dor articular contribui para a restrição

dos movimentos mandibulares. Assim, o grau de limitação funcional da mandíbula é

determinado pela magnitude do processo inflamatório gerado pela doença articular

10. A ação de mediadores químicos inflamatórios e a liberação de neuropeptídeos,

como a substância P (sP), induzem sensibilização central, inflamação neurogênica,

ampliação da área de dor e, conseqüentemente, envolvimento muscular 43. Enquanto

efeito secundário, a dor muscular (que pode restringir-se aos músculos mastigatórios

ou estender-se a outros grupos musculares adjacentes) costuma reverter-se com o

tratamento da condição articular 19.

2.1.1.1.2 Dor nos músculos da mastigação

A dor muscular orofacial ocorre, de forma predominante, nos músculos

mastigatórios. Pode ser de origem localizada, regional (síndrome dolorosa miofascial

[SDM]) ou sistêmica (Síndrome Fibromiálgica). Sob o aspecto fisiopatológico,

decorre da ativação de nociceptores por substâncias algiogênicas liberadas durante

microlesões teciduais 29.

A complexidade da inervação facial e o fato de a mandíbula ser um dos poucos

ossos móveis do segmento cefálico com a característica ímpar de possuir duas

articulações diartrodiais que trabalham sinergicamente, justificam plenamente as

dificuldades e variações de sinais e sintomas presentes na disfunção mandibular 44,45.

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10

Estudos recentes em humanos, baseados em modelos experimentais de dor muscular

mastigatória, demonstraram que a mastigação sofre influência modulatória da dor,

indicando que interações sensitivo-motoras podem desempenhar importante papel na

gênese de algumas disfunções mandibulares 28.

A dor muscular pode ser difusa e originar-se de um ou mais músculos da

mastigação, envolver cadeias musculares adjacentes, ser uni ou bilateral, adotar

padrão migratório e assemelhar-se à dor facial atípica 6.

As características clínicas que sugerem dor muscular decorrente de disfunções

mandibulares podem ser observadas no Quadro 3 46.

Quadro 3 : Sinais e sintomas que sugerem dor por Disfunção mandibular

• Dor difusa em várias regiões da face, como orelha, região pré-auricular, face, fundo dos olhos, ângulo mandibular, nuca e/ou têmporas. Pode espalhar-se às adjacências, incluindo a região cervical. Em geral, é unilateral, eventualmente é bilateral e, com freqüência, migratória (ora de um lado da face, ora de outro). Nem sempre é desencadeada pelo movimento mandibular. A ocorrência de dor muscular à palpação é fortemente sugestiva de sua ocorrência. Podem ocorrer fibrose, endurecimento muscular e eventualmente, pontos dolorosos ou gatilhos. • Limitação da abertura bucal não é achado freqüente, exceto em casos agudos ou durante períodos de crises. • Irregularidades nos movimentos mandibulares. • Fatores perpetuantes: bruxismo, sinais de apertamento dentário, próteses mal-adaptadas ou irregulares, respiração bucal, má-postura cervical, estressores psicológicos e dores crônicas em outras partes do corpo. • Alterações oclusais (mordida aberta) ou faciais na fase aguda ou durante períodos de crises podem ser decorrência das anormalidades instaladas. • Alterações otológicas (zumbidos), por vezes atribuídas ao bruxismo ou à musculatura cervical.

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11

2.2 - Síndrome Fibromiálgica (SFM)

A Síndrome Fibromiálgica é uma anormalidade caracterizada pela presença de

dor músculo-esquelética generalizada crônica e pontos dolorosos (PD [em inglês

“tender points”]), fadiga, alteração na qualidade do sono, estresse emocional e vários

outros sintomas 47. Em 1990, o Colégio Americano de Reumatologia (CAR)

estipulou, além dos sintomas supracitados, que doentes fibromiálgicos deveriam ter

pelo menos 11 de 18 pontos dolorosos no corpo. Estes pontos podem acometer

músculos, fáscias ou tendões musculares 48. No entanto, o número de pontos

dolorosos não foi correlacionado com dor difusa, mas com depressão, fadiga e

anormalidades do sono 49. Além disso, a despeito da alta prevalência das dores

orofaciais na população em geral 31, dentro dos critérios de diagnóstico da SFM não

foram incluídas áreas da cabeça e pescoço, o que parece contradizer a literatura

científica sobre esse tema 50.

Wolfe et al.51 observaram que a prevalência de SFM na população geral com

mais de 18 anos é de 2% e que esta se eleva com a idade, alcançando 23% em

mulheres na sétima década de vida. São do sexo feminino 89% dos acometidos e a

idade, nesses casos, varia geralmente de 30 a 60 anos.

A despeito do grande número de evidências, a SFM continua a ser um desafio

aos pesquisadores devido a etiologia e fisiopatologia incertas. Sob este aspecto,

observações oriundas de pesquisas laboratoriais e clínicas, bem como aquelas que

advém da prática clínica e terapêutica, apontam para múltiplos fatores e mecanismos

envolvidos na sua patogênese 52.

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12

Fatores precipitantes da dor generalizada são desconhecidos, porém, a

Síndrome Fibromiálgica pode ser a via final comum de diversas doenças, ou antes, a

combinação de todas elas, incluindo fatores psicossomáticos, mecânicos e

biológicos. Ansiedade, depressão ou somatização podem predispor alguns indivíduos

com SFM ao desenvolvimento e manutenção da síndrome 53. Em outros doentes,

traumatismos físicos ou psicológicos, além de algumas viroses (como hepatite B,

hepatite C e Síndrome da imunodeficiência adquirida [SIDA]) podem, parcialmente,

ser responsáveis por iniciar os eventos que conduzem à SFM. Devido a esta

complexidade etiológica, a SFM é melhor compreendida a partir de uma perspectiva

multidisciplinar 54,55,56.

A fisiopatologia da SFM está relacionada a anormalidades do Sistema Nervoso

Central (SNC), pois, a hipersensibilidade generalizada relacionada a esta doença

sugere a participação de mecanismos centrais, entre eles, sensibilização central,

desinibição e disfunção no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Contudo, parece que

estes mecanismos dependem de aferências periféricas anormais para o seu

desenvolvimento e manutenção, reforçando a importância dos fenômenos de

somação espacial e temporal da dor47,57, inclusive na dor músculo-esquelética 58.

Pesquisas apontam para a hipótese de deficiência serotoninérgica como fonte

da modulação inadequada da sensibilidade dolorosa em doentes fibromiálgicos.

Neles, os níveis séricos de serotonina são significativamente mais baixos do que em

indivíduos saudáveis. Tal fato sugere que haja deficiência do controle inibitório

exercido por neurônios serotoninérgicos que se projetam dos núcleos posterior e

anterior da rafe e que se dirigem, respectivamente, para medula espinal e áreas mais

rostrais, como o córtex, sistema límbico e tálamo 59, razão pela qual os doentes

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13

fibromiálgicos são incapazes de modular a dor quando o estímulo nociceptivo é

aplicado 60,61.

Outros mecanismos neurogênicos também contribuem na patogênese da SFM.

A substância P (sP) reduz o limiar da excitabilidade sináptica, ativando sinapses

normalmente silenciosas e, deste modo, sensibiliza neurônios espinais de segunda

ordem 62. Aliado a este fato, sabe-se que a sP aumenta três vezes no líquido

cefalorraquidiano em doentes com SFM 63,64.

O aumento na excitabilidade dos neurônios da medula espinal, que transmitem

a informação nociceptiva para áreas mais rostrais do SNC, reforça o conceito de

sensibilização central, que implica em atividade nervosa espontânea, expansão dos

campos receptivos (resultando em um aumento da distribuição geográfica da dor ) e

aumento da resposta mediante estímulo [somação temporal] 65. É provável que os

receptores responsáveis pelo fenômeno de somação temporal (“Wind’up”) sejam os

receptores NMDA (N-metil-D-aspartato), os quais tornam-se ativos após repetidas

despolarizações neuronais 6667.

As células da glia que circundam os neurônios responsáveis pela transmissão

da dor podem alterar e aumentar a sinalização e percepção dolorosa 68. Células da

glia e astrócitos são ativados por estímulos nociceptivos e liberam muitas substâncias

neuroativas, incluindo óxido nítrico, prostaglandinas, leucotrienos, fator de

crescimento neuronal e aminoácidos excitatórios. Estes mediadores químicos

aumentam a excitabilidade das vias nervosas aferentes primárias causando a

expansão do campo receptivo de dor 69,53.

O estresse oxidativo e o óxido nítrico podem desempenhar algum papel na

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14

fisiopatologia da SFM, no entanto, ainda não está claro o quanto alterações destes

fatores são causa ou conseqüência desta doença 52.

Testes subjetivos de dor, avaliação objetiva de reflexos nociceptivos periféricos

e exames de neuroimagem indicam que doentes fibromiálgicos têm limiares de dor

mais baixos do que indivíduos saudáveis 53. Embora atualmente considere-se que a

SFM não decorra de afecções nos tecidos periféricos, muitos estudos têm sugerido

que alterações histopatológicas e metabólicas dos músculos podem estar envolvidas

no desenvolvimento da SFM 70. Por essa razão, o diagnóstico diferencial de SFM

inclui a síndrome dolorosa miofascial, as poliartrites, as polineuropatias periféricas, o

hipertireoidismo e a polimialgia reumática, entre outras condições 48,56.

Muitos estudos transversais sobre SFM têm mostrado elevadas taxas de

ansiedade e somatização. Entretanto, tais estudos analisaram doentes que já haviam

recebido diagnóstico de SFM. Desta maneira, não é possível determinar o quanto

destes sujeitos têm morbidade psiquiátrica que levou ao desenvolvimento da SFM,

ou, contrariamente, quantos desenvolveram transtornos psiquiátricos a partir da dor.

Ainda assim, transtornos psiquiátricos (ansiedade, somatização, estresse pós-

traumático e depressão) contribuem para o desenvolvimento e/ou persistência da

SFM 53.

2.3 - Disfunção mandibular e Síndrome Fibromiálgica

Indivíduos com quadros sistêmicos de dor podem ser mais susceptíveis à dor

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15

decorrente de afecções independentes, o que remete à possibilidade de que os

fibromiálgicos façam parte desse grupo, no qual, fatores locais podem ser

importantes no desencadeamento ou manutenção da dor 71,72.

O importante é que nestes doentes seja realizada uma avaliação cuidadosa de

todos os fatores envolvidos para definir se o quadro local é manifestação secundária

da condição sistêmica ou não e, em qualquer situação, avaliar a necessidade de

tratamento direcionado para fatores agravantes locais 73,74.

Embora as disfunções mandibulares sejam habitualmente associadas a fatores

locais, como oclusão dentária, postura mandibular ou hábitos parafuncionais, elas

podem ocorrer em doentes com quadros dolorosos sistêmicos, a exemplo da artrite

reumatóide, da síndrome dolorosa miofascial e da Síndrome Fibromiálgica 74,6.

O Quadro 4 75,3,276,77,78,79,5 sumariza alguns dos estudos epidemiológicos que

procuram correlacionar as disfunções mandibulares à Síndrome Fibromiálgica.

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16

SFM= Síndrome Fibromiálgica; DTM= Disfunção mandibular; CTRL= controle; RDC/TMD= Research Diagnostic Criteria; EVA= escala visual analógica; CAR=

Colégio Americano de Reumatologia; BDS= Beck Depression Scale; envolv = envolvimento; Apar. = aparelho.; Mast. = mastigatório.

Quadro 4: Estudos epidemiológicos que correlacionam a Disfunção mandibular à Síndrome Fibromiálgica

M F

? ?

? ?

0 29

0 19

1 29

2 8

1 222 215 15

0 67

? ?

? ?

? ?

? ?

0 31

21

41

PLESH et al., 1996

DAO et al., 1997

PENNACCHIO et al., 1998

SFM = 60

DTM = 39

SFM = 29

MAGNUSSON et al., 1997

Caso controle CTRL =

20

Descritivo

Descritivo

Caso controle

4848

DTM = 19

SFM = 30

CTRL = 10

Sexo

RDC/TMD; CAR 1990; EVA.

SFM = 23DTM = 23

50,5

44,4

22 - 45

19 - 41

?

?

AutoresTipo de estudo n

Média de idade (anos)

RDC/TMD; CAR 1990; McGill; EVA.

Exame clínico padronizado para DTM; CAR 1990;

EVA.

Instrumento de avaliação

Clinic of Oral Physiology; CAR

1990; EVA.

CTRL = 30% com DTM

?

Resultados

SFM = 75% com DTM

DTM = 18,4% com SFM

SFM = 69% com dor facial

SFM = 79,6 % com DTM

??

Conclusões

DTM é uma entidade distinta da SFM, porém muitos fibromiálgicos

apresentam sintomas de DTM.

Na maioria dos fibromiálgicos, a dor facial faz parte das manifestações da

SFM.

Doentes com DTM e doentes com SFM têm muitas características

clínicas em comum.

Doentes com SFM freqüentemente têm DTM.

DTM = 42,1 - 68,4% dor no corpo

SFM = 97% com DTM

RDC/TMD.SALVETTI et al., 2007

Caso controle

SFM = 93 Alta taxa de envolvimento do aparelho mastigatório na SFM

LEBLEBICI et al., 2007

MANFREDINI et al., 2004

Descritivo

Descritivo

CAR 1990.

RDC/TMD.

SFM = 80% com DTM

DTM = 52% com SFMA coexistência de SFM e DTM é alta

DTM = 10% com SFM

SFM = 86, 7% c/ envolv. Apar. Mast. Alta prevalência de DTM entre

fibromiálgicos

Elevada prevalência de DTM na SFMSFM = 67,6 % com

DTM

DTM = 21

SFM = 30

DTM = 30

CAR 1990; Melzack scale; BDS.

?

?

47,6

?

DTM=181 ?

RHODUS et al., 2003 Descritivo SFM = 67

SFM = 31

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17

A partir destes estudos, é possível observar que a prevalência de disfunção

mandibular entre os doentes com SFM é elevada, e variou de 67,6 a 97%. Em

contrapartida, a prevalência de SFM em doentes com diagnóstico prévio de DTM

variou de 10 a 52%.

Ao avaliar doentes com artrite reumatóide, osteoartrite e Síndrome

Fibromiálgica, Wolfe et al.80 concluíram que a presença de dor mandibular está

relacionada ao agravamento da dor generalizada e a alterções de natureza sensitiva.

Além disso, doentes com dor mandibular apresentam limitações funcionais, menor

renda doméstica e diminuição na qualidade de vida.

Doentes com Síndrome Fibromiálgica freqüentemente apresentam DTM, e

diferem significativamente dos indivíduos com mialgia local e de indivíduos

saudáveis, pois apresentam dores articulares e musculares generalizadas, maior

sensibilidade dolorosa à palpação nos músculos mastigatórios e menor limiar de dor

à pressão; também diferem dos demais grupos quanto ao nível de tolerância dolorosa

à pressão, ruídos articulares e temperatura intramuscular 76. Por outro lado, alguns

achados são comuns à SFM e à DTM e incluem história de trauma, assimetria facial,

bruxismo e limitação dos movimentos mandibulares 2.

A prevalência de sintomas como xerostomia (70,9%), glossodínea (32,8%),

disfagia (37,3%), disgeusia (34,2%) foi significativamente maior entre

fibromiálgicos quando comparada à do grupo controle 77.

A intensidade da dor facial, bem como um padrão diário de dor e o efeito que

ela produz na qualidade de vida dos doentes são similares em indivíduos acometidos

por dor miofascial nos músculos mastigatórios ou Síndrome Fibromiálgica. Isto

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18

indica que a SFM deve ser incluída no diagnóstico diferencial das dores músculo-

esqueléticas da face. Entretanto, é provável que a ela seja mais debilitante, pois

freqüentemente está associada a sintomas gastrointestinais e neurológicos; esta

diferença sugere que as duas doenças possuam etiologias distintas 3.

Estudo realizado por Korszun et al. 81 procurou determinar a morbidade

associada às DTM e outras condições associadas ao estresse em doentes com

síndrome da fadiga crônica e Síndrome Fibromiálgica. A maioria afirma que o início

dos sintomas corpóreos ocorreu antes das dores faciais, e 75% deles eram tratados

exclusivamente para os sintomas de DTM, especialmente com o uso de placas de

mordida. Estes achados sugerem uma forte associação clínica entre as DTM,

Síndrome Fibromiálgica e síndrome de fadiga crônica, indicando que as DTM

possam fazer parte de uma síndrome de dor generalizada, caracterizada por queixas

somáticas e psicológicas freqüentes, incluindo a fadiga, distúrbios do sono, ansiedade

e depressão.

Balasubramaniam et al 82 determinaram a prevalência da disfunção mandibular

e avaliaram o domínio psicossomático em indivíduos com SFM comparados a outros

com “Failed Back Syndrome” (FBS). Cinqüenta e três por cento (53%) dos doentes

fibromiálgicos relataram dor na face, contra 11% daqueles com FBS. Dentre os

fibromiálgicos que apresentaram dor facial, 71% preencheram os critérios

diagnósticos para DTM. Além disso, no grupo que apresenta SFM, foram

identificados níveis significativamente mais elevados de somatização, transtorno

obsessivo-compulsivo, uso de medicação para dormir e fadiga. Ainda neste grupo,

87% dos indivíduos relataram algum evento estressor associado ao início de seus

sintomas e, 42,3% tinham sintomas indicativos de estresse pós-traumático. Com base

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19

nestes dados, os autores concluíram que a alta prevalência de DTM e de transtornos

psicossomáticos nos doentes com SFM é sugestiva de disfunção neurovegetativa e de

alterações no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal.

Há evidências de que o consumo de suplemento alimentar a base de colágeno é

eficaz na redução dos sintomas de Síndrome Fibromiálgica e DTM, pois,

provavelmente seja responsável por maior oferta de aminoácidos e/ou proteínas

necessários para o equilíbrio do sistema neuroendócrino envolvido com a dor 83.

Distúrbios do sono são freqüentes em enfermos com dor miofascial e ou

Síndrome Fibromiálgica 84,85. O reconhecimento das morbidades associadas a estas

anormalidades torna os profissionais da saúde mais bem preparados para combatê-

las, permitindo que os tratamentos conduzidos não sejam meramente sintomáticos. A

relação existente entre dor miofascial e Síndrome Fibromiálgica na região da cabeça

e pescoço, além da presença de DTM, são suficientes para que o cirurgião dentista

passe a reconhecer no sono um fator importante, tanto no diagnóstico, quanto no

aspecto terapêutico destas condições. Este conhecimento permite agilizar os cuidados

ao doente, com melhora na qualidade do sono e diminuição dos níveis de dor. Estudo

recente do nosso grupo identificou alta freqüência de relatos subjetivos de distúrbios

do sono em indivíduos com dores crônicas da face ou com relatos de bruxismo do

sono, embora os estudos polissonográficos não tenham identificado alteração

significativa da sua arquitetura do sono 38.

Estudo clínico sobre os motivos da persistência da dor e insucesso nos

tratamentos de doentes com diagnóstico inicial de dor por disfunção mandibular e/ou

dor facial atípica revelou, na verdade, 11 diagnósticos finais (duas pessoas

apresentavam SFM), sendo esta a razão principal do insucesso nos tratamentos

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20

prévios 6.

Em um relato de caso clínico, Miller et al. 86 descrevem a associação incomum

de DTM, Síndrome Fibromiálgica e síndrome de Ehlers-Danlos em um mesmo

doente. Ao tecer considerações sobre os problemas no tratamento deste doente, os

autores sugerem o uso de métodos conservadores, como placas de mordida e terapia

física.

A despeito das evidências de superposição de sinais e sintomas nos doentes com

disfunção mandibular e Síndrome Fibromiálgica, ainda existem dificuldades clínicas

para estabelecer critérios que facilitem o diagnóstico dessas condições em pessoas

com queixas de dor orofacial e dor generalizada no corpo, fato que justifica novos

estudos sobre essas condições crônicas de dor.

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21

3 - OBJETIVOS

Este estudo descritivo teve como objetivo avaliar as características

odontológicas e a prevalência de sinais e sintomas de dor por disfunção mandibular

(DTM) em doentes com o diagnóstico de Síndrome Fibromiálgica.

Foram avaliadas:

1. As características odontológicas dos doentes;

2. A prevalência de queixas de dor no segmento cefálico, bem como sua

relação temporal com o início da dor no corpo;

3. A prevalência de sinais e sintomas de disfunção mandibular na amostra e

4. As características comportamentais dos doentes.

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22

4 - CASUÍSTICA E MÉTODOS

Os doentes com Síndrome Fibromiálgica que constituem a amostra foram

encaminhados pela Divisão de Medicina Física do Instituto de Ortopedia e

Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O

diagnóstico da Síndrome Fibromiálgica seguiu os critérios clínicos do Colégio

Americano de Reumatologia 48.

4.1 - Tamanho da amostra

No período compreendido entre 23 agosto e 23 de dezembro de 2003, foram

avaliados 60 doentes do gênero feminino, com idade variando entre 23 e 81 anos,

com média de 50,40 anos, mediana 50 anos e desvio padrão de 11,89 anos. Destas,

em 53 doentes (88.3%) a dor facial fazia parte do quadro de dor generalizada,

enquanto que em sete delas (11.7%), a dor estava presente em todo o corpo, exceto

na face (Figura 1).

Desse total, 48 doentes preencheram os critérios de inclusão neste estudo.

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23

Figura 1- Distribuição da amostra segundo a presença de dor no corpo e na face e relação temporal entre as dores (n=60)

4.2 - Critérios de exclusão

Indivíduos com idades inferiores a 20 anos ou superiores a 60 anos e doentes

sem condições físicas ou cognitivas para responder às questões ou realizar o exame

odontológico.

4.3 - Instrumentos de avaliação

A avaliação odontológica constou de anamnese e exame físico de acordo com o

40%

15%

33.3%

11,7%

02468

101214161820222426

Dor na face iniciaantes da dor no

corpo

Dor na face e nocorpo iniciam

simultaneamente

Dor na face iniciadepois da dor no

corpo

Dor no corpoexclusivamente (n=7)

Dor no corpo associada à dor na face (n=53)

n

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seguinte protocolo:

a.) Ficha clínica da Equipe de Dor Orofacial (EDOF-HC) da Divisão de

Odontologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo. [Anexo]

b.) Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders

(RDC/TMD): questionário padronizado para pesquisa clínica, validado na

língua portuguesa, que avalia tanto o aspecto físico como o

comportamental dos doentes 8788.

c.) Escala visual analógica (EVA) para avaliação da intensidade da dor.

d.) Radiografia panorâmica (ortopantomográfica) para avaliação da condição

dentária e óssea da face.

4.4 - Análise dos dados

Os dados foram coletados, analisados e comparados em tabelas.

As medidas de dados qualitativos foram representadas e analisadas em termos

de proporções e porcentagens de cada característica, em relação à amostra dos

doentes com DTM. As medidas de dados quantitativos deram origem a medidas de

tendência central (média, mediana) para a descrição da amostra. Os dados foram

tabulados e analisados no programa Windows SPSS 15.0. O Teste exato de Fisher foi

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25

utilizado para comparar variáveis qualitativas, tais como, queixa principal e

lateralidade da dor na face.

4.5 - Aprovação do Projeto de Pesquisa

Este estudo foi aprovado pela CAPPesq – Comissão de Ética para Análise de

Projetos de Pesquisa do HC-FMUSP e da FMUSP e os doentes assinaram o

consentimento livre e esclarecido. [Apêndice].

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26

5 - RESULTADOS

Preencheram os critérios para inclusão na pesquisa 48 doentes do gênero

feminino, com idade média de 46,3 anos (variando de 23 e 59 anos), mediana de 50

anos e desvio padrão de 8,7 anos. Quanto à distribuição por faixa etária, quatro

doentes possuíam entre 20 e 30 anos, seis entre 31 e 40 anos, vinte e três entre 41 e

50 anos e quinze entre 51 e 60 anos (Tabela 1).

Tabela 1 - Distribuição dos doentes com Síndrome Fibromiálgica por faixa etária (n = 48)

Faixas etárias n (%)

20 a 30 anos 4 (8,3)

31 a 40 anos 6 (12,5)

41 a 50 anos 23 (47,9)

51 a 60 anos 15 (31,3)

Total 48 (100)

Quanto às queixas de dores orais ou faciais, 26 doentes (54,2%) apresentaram

dor na face, 18 (37,5%) dor na face associada a queixa oral (coceira gengival, prótese

total instável, ardência oral), uma (2,1%) teve queixa de estalidos em ATM, uma

(2,1%) doente apresentou apenas queixa oral, enquanto duas (4,2%) não

apresentaram queixa referente à boca e ou face (Tabela 2).

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Tabela 2 - Distribuição das queixas orais e ou faciais dos doentes com Síndrome Fibromiálgica (n=48)

Dor facial Dor na face e queixa oral

Estalos na ATM

Queixa oral

Sem queixas Total

n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) N (%)

26 (54,2) 18 (37,5) 1 (2,1) 1 (2,1) 2 (4,2) 48 (100)

Das 46 doentes (95,8%) que relataram problemas orais e ou faciais associados à dor

na face, quanto a lateralidade da queixa, em 34 (70,8%) era bilateral, em 3 (6,3%) era

unilateral direita, em 7 (14,6%) unilateral esquerda. A análise destes dados através

do Teste exato de Fisher mostrou que existe associação entre o tipo de queixa e o

lado da dor. Assim, nos doentes que apresentam queixas de ‘dor na face’ e ‘dor na

face e queixa oral’ a dor era predominantemente bilateral (p< 0,001). Ver os detalhes

na Tabela 3.

Tabela 3 - Distribuição das queixas iniciais orofaciais em relação à lateralidade da dor na face

Lateralidade da dor Direito

n(%) Esquerdo

n(%) Bilateral

n(%) Sem dor

n(%) Total n(%)

Dor na face 2 (4,2) 7 (14,6) 17 (35,4) 0 26 (54,2)

Dor na face e queixa oral

1 (2,1) 0 17 (35,4) 0 18 (37,5)

Estalido na ATM 0 0 0 1 (2,1) 1 (2,1)

Queixa oral 1 (2,1) 1 (2,1)

Total 3 (6,3) 7 (14,6) 34 (70,8) 2 (4,2) 46 (95,8)

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Considerando que 44 (91,7%) doentes apresentaram dor na face, quanto à

qualidade da dor facial, encontramos os seguintes descritores: mais de um descritor

em 15 (31,3%) cansada em nove (18,8%), latejante em oito (16,7%), aperto em duas

(4,2%), pontada em .duas.(4,2%), de outro tipo em oito (16,7%).

Quanto à localização da dor: região masseterina e/ou zigomática em nove

(18,8%) doentes; pré-auricular em nove (18,8%); mandibular em cinco (10,4%);

têmpora em uma (2,1%) e mais de um local em 20 (41,7%).

Ver detalhes na Tabela 4.

Tabela 4 - Distribuição da qualidade da dor na face e ou no crânio, em comparação com sua localização, dos doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48)

Qualidade dor

Cans. n(%)

Latej. n (%)

Aperton (%)

Pontadan (%)

Outro n (%)

Comb. n (%)

Total n (%)

Masset. / Zigomatica

5 (10,4) 2 (4,2) 0 0 1 (2,1) 1 (2,1) 9 (18,8)

Pré-auricular

0 2 (4,2) 0 2 (4,2) 2 (4,2) 3 (6,3) 9 (18,8)

Mandibular 1 (2,1) 3 (6,3) 0 0 0 1 (2,1) 5 (10,4)

Associação 3 (6,3) 1 (2,1) 2 (4,2) 0 5 (10,4) 9 (18,8) 20 (41,7)

Temporal 0 0 0 0 0 1 (2,1) 1 (2,1)

Reg

ião

da d

or

Total n (%)

9 (18,8) 8(16,7) 2 (4,2) 2 (4,2) 8 (16,7) 15 (31,3) 44 (91,7)

Cans. = Cansada; Latej. = Latejante; Comb. = Combinação; Masset. = Masseterina.

Quanto aos fatores de piora, 18 doentes (37,5%) atribuíram a piora da dor na

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face à função mandibular, seis doentes (12,5%) ao estresse emocional, uma doente

(2,1%) às atividades físicas, duas (4,2%) aos fatores ambientais, 14 doentes (29,2%)

a uma associação dos fatores anteriores e sete doentes (14,6%) não tinham fatores de

piora (Tabela 5).

Tabela 5 - Distribuição dos fatores de piora para a dor facial da amostra de doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48)

n (%)

Função mandibular 18 (37,5) Estresse emocional 6 (12,5) Atividades físicas 1 (2,1) Fatores ambientais 2 (4,2) Associação 14 (29,2) Nenhum 7 (14,6) Total 48 (100)

Quanto aos fatores de acalmia, oito doentes (16,7%) atribuíram a melhora da

dor na face às medidas físicas locais, nove doentes (18,8%) aos analgésicos

antiinflamatórios não esteroidais (AAINES), dois doentes (4,2%) aos antidepressivos

tricíclicos (ADT), sete doentes (14,6%) ao repouso, 12 (25%) a uma associação dos

fatores anteriores e 10 doentes (20,8%) não tinham fator de acalmia (Tabela 6).

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Tabela 6 - Distribuição dos fatores de acalmia para a dor facial da amostra de doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48)

n (%)

Medidas físicas 8 (16,7) AAINES 9 (18,8) ADTs 2 (4,2) Repouso 7 (14,6) Associação 12 (25) Nenhum 10 (20,8) Total 48 (100)

Em relação à presença de dor, as 48 doentes avaliadas (100%) tiveram dor no

corpo. A dor na face estava presente em 44 delas (91,7%). Quarenta e quatro doentes

(91,7%) apresentaram cefaléia. Otalgia estava presente em 19 doentes (39,6%)

(Tabela 7).

Tabela 7 - Distribuição das queixas de dor das doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48)

Sim

n (%) Não

n (%) Total n (%)

Corpo 48 (100) 0 48 (100)

Face 44 (91,7) 4 (8,3) 48 (100)

Cefaléia 44 (91,7) 4 (8,3) 48 (100)

Otalgia 19 (39,6) 29 (60,4) 48 (100)

A Figura 250 ilustra a freqüência e porcentagem das dores destas doentes

(n=48) distribuídas ao longo de todo o corpo.

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Figura 2 – Características e distribuição dos locais mais frequentes de

dores no corpo obtidas durante a avaliação odontológica das

doentes com Síndrome Fibromiálgica (n=48)

Quanto ao local da cefaléia, foi frontotemporal em 11 doentes (22,9 %),

parietal em uma (2,1%), occipital em quatro (8,3%), frontal em quatro (8,3%), 19

doentes (39,6%) apresentaram cefaléia em mais de um local, a cefaléia era

holocraniana em quatro doentes (8,3%), apenas uma doente (2,1%) não conseguiu

definir o local da dor.

Quando interrogadas sobre há quanto tempo tinham as dores na face, 41

doentes souberam afirmar que estas dores tiveram início, em média, havia 9,8 anos

(Desvio padrão de ± 10,14 anos; variando entre 0,25 – 45 anos). Quarenta e seis

doentes (95,8%) souberam responder a quanto tempo tinham dores generalizadas; em

média, as dores espalhadas pelo corpo estavam presentes havia 10,9 anos ( Desvio

Membros superiores

45 (93,75%)

Região lombar44 (91,7%)

Membros inferiores

45 (93,75%)

Cefaléia 44 (91,7%)

Face 44 (91,7%)

Região torácica

40 (83,3%)

Região abdominal 20 (41,7%)

Marbach, 1996.

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padrão de ± 9,75, variando entre 1,25 e 40 anos).

Das 44 doentes (91,7%) que apresentaram dor na face, esta se iniciou antes da

dor no corpo em 17 doentes (35,4%), depois em 20 (41,7%), simultaneamente em

seis doentes (12,5%). Uma doente não soube definir esta relação temporal e quatro

doentes (8.3 %) não tinham dor na face.

Quando questionadas sobre os eventos relacionados ao início ou agravamento

de suas dores corpóreas, seis doentes (12,5%) descreveram como fator causal ou

agravante das dores generalizadas algum procedimento odontológico de rotina.

Foram especificados os seguintes procedimentos clínicos: tratamento periodontal;

reabilitação protética ; dentística restauradora seguida de luxação da ATM;

exodontias e biópsia na língua.

Interrogados sobre as sensações de formigamento, dormência ou queimação

associadas à dor na face, 19 doentes (39,6%) responderam que sim, 27 (56,3%) que

não, e em duas (4,2%) doentes não foi possível obter esta informação (Tabela 8).

Tabela 8 - Distribuição da amostra de doentes com Síndrome Fibromiálgica quanto à presença de dor associada a formigamento, dormência ou queimação (n = 48)

Sim Não Indeterminados Total

n (%) n (%) n (%) n (%)

19 (39,6) 27 (56,3) 2 (4,2) 48 (100)

Comparando-se a variável ‘início da dor facial em relação à dor do corpo’ e a

variável ‘melhora da dor na face com a medicação para tratamento da Síndrome

Fibromiálgica’, das 44 doentes (91,7%) que apresentaram dores na face, 24 (54,5%)

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melhoraram com a medicação, 17 (38,6%) não melhoraram e três (6,8%) não

souberam dizer se houve melhora ou não. Das doentes que apresentaram melhora,

em nove (20,5%) a dor na face começou antes da dor no corpo, em 12 (27,3%)

começou depois e em três (6,8%) as dores começaram simultaneamente. Dentre as

doentes que não tinham melhora com a medicação, em sete (15,9%) a dor na face

começou antes da dor no corpo, em seis (13,6%) começou depois, em três (6,8%)

começaram simultaneamente e uma (2,3%) não soube definir a relação temporal

entre as dores. Três doentes (6,8%) não souberam se a dor facial melhora com a

medicação (Tabela 9).

Tabela 9 - Distribuição da amostra em relação à melhora da dor na face por uso da medicação comparativamente ao surgimento da dor na face e no corpo dos doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48)

Início da dor na face em relação à dor no corpo

Antes n (%)

Depoisn (%)

Simultâneas n (%)

Não sabe n (%)

Total n (%)

Sim 9 (20,5)12

(27,3) 3 (6,8) 0(0) 24 (54,5)

Não 7 (15,9)6

(13,6) 3 (6,8) 1 (2,3) 17 (38,6)

Não sabe 1 (2,3) 2(4,5) 0(0) 0 (0) 3 (6,8)

Melhora com a medicação

Total 17

(38,6) 20

(45,5) 6 (13,6) 1 (2,3) 44 (100)

Quanto à oclusão dentária, os indivíduos foram classificados segundo o

número de dentes por arcada. Na arcada superior, das 48 doentes, 28 (58,3%) eram

dentadas (presença de no mínimo 10 dentes por arcada), cinco (10,4%) eram

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desdentadas parciais ( menos de 10 dentes ) e 15 (31,3%) eram desdentados (

ausência de todos os dentes ). Na arcada inferior, 33 (68,6%) eram dentadas, 10

(20,8%) eram desdentadas parciais e cinco (10,4%) eram desdentados (Tabela 10).

Tabela 10 - Distribuição da amostra de doentes com Síndrome Fibromiálgica quanto à presença de dentes (n = 48)

Arcada dentária superior

Dentados

n (%)

Desdentados parciais n (%)

Desdentados n (%)

Total n (%)

Dentados 26 (54,2) 3 (6,3) 4 (8,3) 33 (68,6)

Desdentados parciais

2 (4,2) 2 (4,2) 6 (12,5) 10 (20,8)

Desdentados 0 0 5 (10,4) 5 (10,4)

Arcada dentária inferior

Total 28 (58,3) 5 (10,4) 15 (31,3) 48 (100)

Quanto à abertura bucal, a Tabela 11 indica a abertura ativa (executada pelo

doente) sem dor (32,3; 0-60; ± 12,9), a abertura máxima passiva (46,1; 32-60; ± 6,5)

e a abertura máxima ativa, executada com o auxílio do profissional (46,9; 32-60;

±6,7).

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Tabela 11 - Distribuição da amostra de doentes com Síndrome Fibromiálgica quanto aos movimentos mandibulares (n = 48)

Média (mm)

Mínima (mm)

Máxima (mm)

Desvio padrão (mm)

AB passiva sem dor 32,3 0 60 12,9

AB máx. passiva 46,1 32 60 6,5

AB máx. ativa 46,9 32 60 6,7

AB- abertura bucal; máx.- máxima.

Quanto às características do auto-relato, estalido e mordida desconfortável

estavam presentes em 38 doentes (79,2%); dor matinal estava presente em 35 doentes

(72,9%) e ruídos nos ouvidos estavam presentes em 33 doentes (68,8%) (Tabela 12).

Tabela 12 - Características do auto relato quanto à presença de desconfortos oclusais e ou faciais segundo o questionário RDC/TMD dos doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48)

Sim

n (%) Não

n (%) Total n (%)

Estalido 38 (79,2) 10 (20,8) 48 (100)

Mordida desconfortável

38 (79,2) 10 (20,8) 48 (100)

Dor matinal 35 (72,9) 13 (27,1) 48 (100)

Ruídos nos ouvidos

33 (68,8) 15 (31,3) 48 (100)

Quanto à dor por disfunção muscular, 16 doentes (33,3%) apresentaram dor

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miofascial, 29 (60,4%) tiveram dor miofascial e limitação de abertura bucal e apenas

três (6,3%) não receberam qualquer diagnóstico deste grupo de disfunções (Tabela

13).

Tabela 13 - Distribuição da amostra quanto à presença de dor miofascial mastigatória segundo o questionário RDC/TMD dos doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48)

Dor miofascial Dor miofascial c/ lim. Ab.

Nenhum Total

n (%) n (%) n (%) n (%)

16 (33,3) 29 (60,4) 3 (6,3) 48 (100)

Lim. – limitação; ab. – abertura bucal

Quanto ao deslocamento do disco articular, na ATM direita, 17 doentes

(35,4%) tiveram diagnóstico de deslocamento com redução, e 31 (64,6%) não

tiveram alterações; na ATM esquerda, 16 doentes (33,3%) tiveram deslocamento

com redução e 32 (66,7%) não tiveram alterações. Não há outros diagnósticos em

qualquer dos lados (Tabela 14).

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Tabela 14 - Distribuição da amostra quanto à presença de distúrbios do disco articular da ATM segundo o questionário RDC/TMD dos doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48)

Disco ATM esquerda

Desloc. c/ redução

n (%) Nenhum

n (%) Total n (%)

Desloc. c/ redução

9 (18,8) 8 (16,7) 17 (35,4)

Nenhum 7 (14,6) 24 (50) 31 (64,6) Disco ATM direita

Total 16 (33,3) 32 (66,7) 48 (100)

Desloc. - deslocamenrto

Das 48 doentes, 25 (52,1%) tiveram artralgia do lado direito e 26 (54,2%) do

lado esquerdo; 11 (22,9%) tiveram osteoartrite do lado direito e 7 (14,6%) do lado

esquerdo; três (6,3%) tiveram osteoartrose do lado direito e quatro (8,3%) do lado

esquerdo; 9 (18,8%) não tiveram alterações do lado direito e 11 (22,9%) não tiveram

alterações do lado esquerdo (Tabela 15).

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Tabela 15 - Distribuição da amostra quanto à presença de outras condições articulares da ATM segundo o questionário RDC/TMD dos doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48)

Condição ATM esquerda

Artralgia Osteoartrite Osteoartrose Nenhum Total

Artralgia

22 (45,8) 1 (2,1) 0 2 (4,2) 25 (52,1)

Osteoartrite

4 (8,3) 6 (12,5) 0

1 (2,1) 11 (22,9)

Osteoartrose

3 (6,3) 0

3 (6,3)

Nenhum

1 (2,1) 8 (16,7) 9 (18,8)

Condição ATM direita

Total

26 (54,2) 7 (14,6) 4 (8,3) 11 (22,9) 48 (100)

A Tabela 16 apresenta os resultados dos diagnósticos do Eixo II do formulário

RDC/TMD. Quanto ao grau de dor crônica, sete doentes (14,6%) tiveram dor e

incapacidade baixa; 21 (43,8%) tiveram dor alta e baixa incapacidade; 12 (25%)

tiveram alta incapacidade e moderada limitação e sete (14,6%) tiveram alta

incapacidade e grave limitação.

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Tabela 16 - Distribuição da amostra quanto ao nível de dor facial e incapacidade segundo o Eixo II do questionário RDC/TMD dos doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48)

Nível da dor crônica n(%) Ausência 1 (2,1) Dor e incap. Baixas 7 (14,6) Dor alta, incap. Baixa 21 (43,8) Alta incap., mod. lim. 12 (25) Alta incap., grave lim. 7 (14,6)

Incap – incapacidade; lim- limitação; mod- moderada.

As 48 doentes foram avaliadas quanto ao índice de limitação da função

mandibular. O valor médio deste índice foi 0,42, desvio padrão de 0,26, variando

entre um valor mínimo igual a zero e um valor máximo igual a 0,91.

A Tabela 17 expressa os dados do eixo II do RDC/TMD, em relação à presença

de sintomas físicos não específicos e depressão. Quanto à presença de sintomas

físicos não específicos (somatização), foi considerada leve em uma doente (2,1%),

moderada em seis (12,5%) e grave em 41 (85,4%). A depressão foi considerada leve

em seis doentes (12,5%), moderada em 9 (18,8%) e grave em 33 (68,8%).

Tabela 17 – Níveis de somatização e depressão segundo o eixo II do questionário RDC/TMD dos doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48)

Depressão Somatização n(%) n(%) Leve 6(12,5) 1(2,1) Moderado 9(18,8) 6(12,5) Grave 33(68,8) 41(85,4)

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De acordo com os dados extraídos da ficha clínica da EDOF-HC, das 48

doentes, 17 (35,4%) rangem os dentes exclusivamente à noite, 11 (22,9%)

exclusivamente durante o dia, 4 (8,3%) durante o dia e à noite, 14 (29,2%) não

rangem os dentes e duas (4,2%) não souberam dizer(Tabela 18).

Tabela 18 - Distribuição da amostra de doentes com Síndrome Fibromiálgica quanto ao relato subjetivo de bruxismo segundo a ficha clínica da EDOF-HC (n = 48)

Ranger noturno

Ranger ou apertar diurno

Ranger noturno e

diurno Não range Não sabe Total

n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)

17(35,4) 11(22,9) 4 (8,3) 14 (29,2) 2 (4,2) 48 (100)

Quanto à relação entre bruxismo do sono e cansaço matinal nos músculos

mastigatórios, 35 doentes (72,9%) relataram cansaço matinal, sendo que destes, 13

(27%) rangiam os dentes à noite. Dentre as 13 doentes (27,1%) que não tinham

cansaço matinal, oito (16,7%) rangiam os dentes durante o sono e cinco (10,4%) não

tinham bruxismo do sono (Tabela 19).

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Tabela 19 - Relação entre as queixas subjetivas de bruxismo do sono e presença de cansaço matinal nos músculos mastigatórios dos doentes com Síndrome Fibromiálgica (n = 48)

Ranger os dentes durante o sono Sim Não Não sabe Total n (%) n (%) n (%) n (%)

Sim 13 (27,0) 20 (41,7) 2 (4,2) 35 (72,9)

Não 8 (16,7) 5 (10,4) 0 (0) 13 (27,1)

Cansaço matinal nos músculos mastigatórios Total 21 (43,7) 25 (52,1) 2 (4,2) 48 (100)

Quanto à relação entre a dor matinal e as disfunções musculares, houve 35

doentes (72,9%) com dor matinal, sendo que destes, 27 (56,3%) apresentaram dor

miofascial, sete (14,6%) tiveram dor miofascial com limitação de abertura bucal e

apenas uma doente (2,1%) não tinha qualquer diagnóstico de disfunção muscular.

Dentre as 13 doentes (27,1%) que não apresentaram dor matinal, oito (16,7%) tinham

dor miofascial, três doentes (6,3%) tinham dor miofascial com limitação de abertura

bucal e duas (4,2%) não tinham qualquer diagnóstico de Disfunção muscular (Tabela

20).

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42

Tabela 20 - Distribuição da amostra de doentes com Síndrome Fibromiálgica quanto à relação entre presença de dor facial ou cefaléia matinais e presença de dor miofascial mandibular (n = 48)

Diagnóstico

Dor

miofascial Dor miofascial

c/ lim. ab. Nenhum Total

n (%) n (%) n (%) n (%)

Sim 27 (56,3) 7 (14,6) 1 (2,1) 35 (72,9)

Não 8 (16,7) 3 (6,3) 2 (4,2) 13 (27,1) Dor matinal

Total 35 (72,9) 10 (20,8) 3 (6,3) 48 (100)

lim. – limitação; ab.- abertura bucal

Quanto à condição periodontal, cinco doentes eram desdentadas totais nos

arcos inferior e superior e, por isso, sua avaliação não foi considerada. Nas demais

(43 doentes [89,6%]) a avaliação periodontal foi realizada e os resultados estão

expressos na Tabela 21.

Tabela 21 - Distribuição da amostra de doentes com Síndrome Fibromiálgica quanto à condição.periodontal (n = 48)

Periodonto n(%)

Saudável 33 (68,8)

Gengivite 6 (12,5)

Periodontite 4 (8,3)

Total 43 (89,6)

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43

Quanto à presença de morbidades associadas, segundo a ficha clínica EDOF-

HC, dentre diversos diagnósticos os mais freqüentemente citados pelas entrevistadas

foram: gastrite que acometeu 31 doentes (64,6%), doenças psiquiátricas que

acometeram 25 doentes (52,8%), sinusite e rinite alérgica que acometeram

respectivamente 26 (54,7%) e 27 (56,2%) doentes e hipertensão que afetou 18

doentes (37,5%).

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44

6 - DISCUSSÃO

A presença de dor facial e de dor de cabeça, ambas em 91,7% da amostra

avaliada, indica que dor no segmento cefálico dos doentes com SFM é altamente

prevalente e, ainda que a palpação dos músculos mastigatórios não esteja incluída

nos critérios de diagnóstico para a SFM 48,50,73, é necessário uma avaliação

sistemática do segmento cefálico dos doentes fibromiálgicos. Dor facial nos últimos

seis meses foi relatada por 79,3% dos indivíduos com SFM 3. A dor facial que

freqüentemente se inicia simultânea ou posteriormente à dor generalizada no corpo

381, pode ser sugestiva de quadro sistêmico de dor, como na SFM. Neste estudo

todos as entrevistadas apresentaram dor crônica no segmento cefálico nos últimos

seis meses, embora essa área não esteja contemplada nos critérios de diagnóstico da

SFM 48. Além disso, a alta prevalência de dor miofascial nos músculos da mastigação

sugere a necessidade de avaliação dos fatores locais que possam perpetuar a dor nos

segmentos cefálico e cervical.

Nesta amostra, 54,2% dos doentes apresentaram essa relação temporal, número

menor que o encontrado por Korszun et al.81, que foi de 67% . Entretanto, 35,4% dos

doentes desta amostra (n=17), relataram que já apresentavam dor facial previamente

ao surgimento da dor no corpo, o que pode ser compatível com a presença de quadro

álgico local, a exemplo da dor por disfunção mandibular. Esta relação temporal entre

o surgimento da dor facial e o da dor generalizada em doentes fibromiálgicos pode

ser significante para a abordagem clínica, principalmente para a definição de

diagnóstico de DTM como morbidade associada, ou mesmo como possível fator

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45

desencadeante da SFM, já que a inflamação periférica pode levar à excitabilidade do

SNC 69 e nos doentes com Síndrome Fibromiálgica sabe-se que ocorre integração dos

mecanismos de somação temporal e espacial na dor, fenômeno que contribui para o

espalhamento da dor e realça a importância de áreas periféricas doloridas 5857,

entretanto estudos que relacionem temporalmente dor orofacial e as dores

generalizadas no corpo de doentes com Síndrome Fibromiálgica são escassos. É

possível ainda que a dor facial faça parte da própria SFM 76.

A análise do Eixo I do questionário RDC/TMD indicou que 45 (93,7%)

doentes têm dor miofascial mastigatória com ou sem limitação da abertura bucal,

ocorrendo também distúrbios articulares na ATM na maioria dos doentes com SFM,

o que confere a esse questionário a possibilidade de uniformizar a pesquisa clínica

em DTM; entretanto não é um bom instrumento para diagnóstico clínico da dor 14.

Por essa razão o diagnóstico diferencial para dor deve ser realizado por critérios

clínicos no contexto da história do doente, daí o uso adicional de ficha clínica para

avaliação das características da dor (EDOF-HC), como é de rotina em nosso grupo

46,19.

A SFM pode produzir dor facial, mas a dor miofascial na face pode ser de

natureza local e produzir quadro clínico semelhante aquele produzido pela SFM. De

maneira similar à Síndrome Fibromiálgica, porém diferente dos distúrbios da própria

articulação temporomandibular, o diagnóstico da dor miofascial que afeta os

músculos da mastigação baseia-se no relato do doente e na presença de pontos

dolorosos musculares. Sob este aspecto, a investigação minuciosa sobre a história da

doença e sintomas associados torna–se crucial 356. Indivíduos com Síndrome

Fibromiálgica nem sempre se queixam da dor facial, apesar de sua dor ser tão

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46

debilitante quanto à verificada entre os doentes com DTM. Este viés pode ser devido

ao fato de que os doentes com Síndrome dolorosa miofascial (SDM) não esperam

receber tratamento além daquele que é oferecido pelo dentista, ao mesmo tempo em

que os fibromiálgicos não esperam que seus médicos tratem de problemas que

pareçam ser exclusivamente dentários.

Queixas como de formigamento, queimação e dormência, comuns em doentes

com SFM, ocorreram em 39,6% daqueles com dor na face, sugerindo que possa fazer

parte do quadro geral. Por outro lado, os descritores espontâneos para a dor facial

foram bem variados e em geral associados, como cansado, latejante e peso, que tanto

podem sugerir componente de dor muscular como de dor fibromiálgica. A DTM e a

SFM podem ter muitas características clínicas em comum, incluindo pontos

dolorosos nos músculos da mastigação, ruídos nas ATM, história de traumatismo,

assimetria facial, bruxismo e limitação das funções mandibulares 2.

Na dor miofascial é fundamental a presença de fatores contribuintes ou

perpetuantes. Na face, esses perpetuantes podem relacionar-se ao aparelho

mastigatório, o que inclui oclusão dentária, hábitos parafuncionais, estresse

emocional e saúde geral do doente 89. Nesta amostra, 15 doentes usavam próteses

totais em pelo menos uma arcada dentária e 13 delas eram desdentadas parciais. A

característica oclusal e seu possível envolvimento como fator contribuinte deve ser

avaliada na abordagem do doente fibromiálgico com dor facial, principalmente se

observarmos que 19 doentes desta amostra apresentaram queixas orais. Hábitos

parafuncionais, como o ato de ranger ou apertar os dentes, foram relatados por 32

doentes desta amostra. O bruxismo é relacionado como fator contribuinte para a dor

músculo-esquelética da face, apresentando como características a dor e o cansaço

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47

matinal, dor fronto-temporal bilateral e cansaço faciais 14. Embora a queixa de

cansaço seja comum na SFM, neste estudo nove mulheres relataram dor facial em

cansaço e 16 relataram que tinham dor matinal e que tinham o hábito de ranger os

dentes.

Nos doentes que apresentaram queixas de ‘dor na face’ e ‘dor na face e queixa

oral’ a dor era predominantemente bilateral (p< 0,001). Esta associação sugere que

fatores locais tenham alguma participação no desencadeamento e ou manutenção das

dores generalizadas em doentes com SFM. Evidentemente, estas informações não

esgotam a necessidade de novos estudos para a confirmação desta hipótese.

Outro aspecto relevante deste estudo foi a limitação dolorosa da abertura bucal

em parte expressiva dos doentes, o que poderia ser justificado pela baixa tolerância à

própria dor muscular devido à SFM, ou ainda por dor miofascial mastigatória, que

neste caso justificaria tratamento local com medidas físicas ou controle de fatores

perpetuantes da dor muscular, como oclusão dental ou bruxismo.

A limitação da abertura bucal passiva devido à dor, e a piora da dor facial à

atividade mandibular, encontrados neste estudo são aspectos comuns em doentes

com DTM e em doentes com SFM 76, confirmando a necessidade de diagnóstico

diferencial em doentes com SFM e dor facial. Ao se analisar os fatores de melhora da

dor facial, verifica-se que, tanto fármacos como medidas físicas foram benéficas aos

indivíduos desta amostra, entretanto, a melhora da dor facial com os fármacos usados

para a SFM ocorreu em metade da amostra, indicando a necessidade de usar outros

métodos terapêuticos, inclusive de ação local e reavaliação dos fatores locais e

eventual morbidade associada como a DTM. Assim, pessoas com dor generalizada

no corpo não deveriam receber tratamento para a dor facial antes do diagnóstico

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48

definitivo de possível SFM, pois quando isso ocorre, a melhora não acontece ou é

parcial 81.

A análise do Eixo II do questionário RDC/TMD é fortemente sugestiva de que

traços de depressão são comuns nestes doentes e, embora, houvesse tentativa de

separar a dor facial da dor do corpo, dificilmente se pode atribuir os aspectos

depressivos apenas à dor facial. Quando comparamos a freqüência de sinais de

depressão e de sinais físicos inespecíficos em outros estudos do nosso grupo, como

em dor facial crônica por bruxismo 14 ou dor crônica por DTM 90, observamos que,

nesta amostra de SFM, a freqüência destes sinais é bem superior, o que condiz com a

presença de dor generalizada no corpo, embora dor intensa e freqüente em um

segmento do corpo, como na face, possa aumentar as queixas de dores no corpo de

doentes que não têm diagnóstico de SFM 74. Fatores como sensibilização central,

neuroplasticidade e interações sensitivo-motoras podem facilitar hiperalgesia e

dolorimento em várias regiões do corpo de doentes com dor crônica localizada

91,92,73. Korszun et al. 81 consideram as DTM como partes de um espectro de

síndromes associadas ao estresse e que se caracterizam por queixas somáticas e

psicológicas freqüentes, incluindo fadiga, distúrbios do sono, ansiedade e depressão.

A SFM também faz parte deste grupo de síndromes.

Outro aspecto relevante deste estudo foi a presença de seis doentes com SFM

que relatam piora de sua dor geral após tratamentos dentários de rotina. Se a SFM

caracteriza-se primariamente pela diminuição do limiar de dor, estímulos que

anteriormente não eram dolorosos passam a ser percebidos como dor, e este processo

de amplificação leva à instalação de um quadro de dor difusa e generalizada. Esse

baixo limiar de tolerância à dor deve ser obrigatoriamente lembrado pelo cirurgião

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49

dentista, principalmente quando fará intervenções cirúrgicas nestes sujeitos 74,57.

DTM e SFM têm muitos aspectos clínicos comuns, sendo possível que

componham um mesmo grupo de síndromes álgicas, ou que sejam condições

independentes com aspectos comuns, particularmente no que se refere ao aspecto

neurobiológico, às condições sistêmicas e psicológicas envolvidas. Desta maneira,

além de estudos prospectivos nestes grupos de doentes, também é relevante que os

médicos e dentistas envolvidos com seu tratamento avaliem todas as condições

clínicas dos mesmos para oferecer melhor tratamento e controle em longo prazo.

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50

7 - CONCLUSÕES

Pela metodologia aplicada, os resultados deste estudo permitem concluir que:

1- Quanto à presença de cáries ou doença periodontal, a condição de saúde oral

foi considerada boa na maioria da amostra, embora 52,1% fossem desdentados em

pelo menos uma arcada dentária.

2- A prevalência de dor crânio-facial nesta amostra foi de 91,7%; queimação

foi o descritor mais frequente para a dor orofacial; em 35,4% das doentes a dor facial

precedeu a dor generalizada no corpo e em 12,5% a dor generalizada no corpo foi

temporalmente relacionada a procedimentos operatórios dentários.

3- A prevalência de sinais e sintomas compatíveis com dor por disfunção

mandibular foi de 93,7%.

4- Quanto ao aspecto comportamental, pelo questionário RDC/TMD, Eixo II,

depressão e somatização graves foram prevalentes na amostra; e, quanto ao grau de

dor crônica e incapacidade, prevaleceu o ítem “dor alta e baixa incapacidade”.

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51

8 - ANEXO

FICHA CLÍNICA DA EQUIPE DE DOR OROFACIAL E ATM (EDOF/HC) DA DIVISÃO DE ODONTOLOGIA, HOSPITAL DAS CLÍNICAS – FMUSP

Data: / / . CD: _______________ Procedência:___________ Profissão:__________________________________

Nome:______________________________________________Cor: () B; () N. Idade: _______ Sexo: ()M; ()F

IQP___________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________ Duração ____________/ ()Diária ()2-3 X sem ()Sem ()Quinz ()Mes. ()M ()T ()N ()I

Fator Inicial:_______________________________________________________________________________

Fatores de acalmia da dor: () Medic/os, () Frio, () Calor,()___________________________________

Fatores de piora: ()frio, ()calor, ()doce, ()menstruacao, ()tensao emoc.,_______________________

()Pontada ()Peso ()Queimor ()Choque () Latejar ()Outro_______________________.

()fraca, () moderada, () forte, () Intermitente, () continua, ()___________________.

()Uni E D ()Bil . ()Espont.: ()S ()N . ()Prov.:()latD, ()latE, ()Prot. ()Abert.BM .

()mast ()fala ()bocejo ()____________________________________________________________

Quando tem dor você localiza? ()S, ()N. Aponte:__________________________________________________________

Tratamentos realizados para a dor:____________________________________________________________

Sente o rosto cansado: ()ao acordar, ()ao mastigar, ()ao falar, ()ao sorrir, ()___________________________________

Possui hábito de morder: ()língua, ()bochecha, ()lábio, ()0bjetos, ()__________________________________

Voce mastiga: ()lado esq, ()lado direito, ()bilat. ()na frente , ()______________________________________

Ruidos articulares(sub): ()N/ ()S: uni(D,E), Bil, mastig., fala, outro:____________________________________

Range os dentes:()S-quem disse?_______________________________________________()N ()não sabeD

Dor no corpo: ()N,()S:____________________________________________________________________

Está ou esteve recentemente em tratamento médico? ( )N, ( )S:______________________________________

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52

II- TEM OU TEVE: S N Tratamento e duração 1-Artrite reumatóide ( ) ( ) 2-Febre Reumática ( ) ( ) 3-Síndrome Fibromiálgica ( ) ( )

4- Síndrome dolorosa miofascial ( ) ( ) 5-Gastrite ( ) ( ) 6-Úlcera ( ) ( ) 7-Doencas carenciais ( ) ( ) 8-

Psiquiátricas ( ) ( ) 9- AVC ( ) ( ) 10-Parkinson ( ) ( ) 11-Labirintite ( ) ( ) 12-Sinusite ( ) ( ) 13-Rinite

Alérgica ( ) ( ) 14-Enxaqueca ( ) ( ) 15-Dor de cabeça ( ) ( ) 16-Diabetes ( ) ( ) 17-Herpes Zoster ( ) ( )

18-Cardiopatias ( ) ( ) 19-Hepatite , Infecções ( ) 20-Hipertensão ( ) ( )

21-Outro

______________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

Medicação em uso:______________________________________________________________________

III- EXAME CLÍNICO: FACE Assimetria facial ()S, ()N. () Prognatismo. () Laterog. E,D. ()Hipertrofia de masseter - E,D.

OCLUSÃO: ()edentado: ()S, ()I, ()D. Perda DV: ()S,()N ()OI TEMPO DE USO PT:________ ATUAL:________

dentes ausentes: 18 17 16 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 26 27 28

48 47 46 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 36 37 38

PF:____________ PPR_____________Obs.___________________________________ RC: OC:

Maloclusão:()ClI ()ClII ()ClIII Interf.:________Desgastes dentarios: ()Incisais, ()1/3 inc., ()1/3 md, ()1/3cerv.

Mordida aberta: ()S, ()N. Mordida cruzada: ()Ant., ()Post.- D, E. Sobremordida profunda: ()a, ()b, ()c.

Periodonto:________________________________________________________________________________

Ruidos: ()crep-()D,()E. ()estal-D: ()IA,()MA,()FA. ()IF,()MF,()FF. ()LatD,()LatE/ ()POP-E,D

()normal ()estal-E: ()IA,()MA,()FA. ()IF,()MF,()FF.

Obs.: ___________________________________________________________ IOD: _______ IOE _______ PAD:__________

PAE:____________ NUCA:_________ DLMf:______mm DLMa:________mm AB:_______mm

Exames RX solicitados: ___________________________________________________________________

Hipóteses diagnósticas: ___________________________________________________________________

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53

IV- Tratamento inicial______________________________________________________________________

1º retorno - data: __/__/__ ()SM ()PM ()S ()0 ()SD ()M : ___% . ()P . ()I .

Tratamento realizado :_______________________________________________________

2º retorno – data :__/__/__ ()SM ()PM ()S ()O ()SD ()M : ___% . ()P . ()I .

Tratamento realizado:_______________________________________________________

3º retorno - data: __/__/__ ()SM ()PM ()S ()O ()SD ()M : ___% . ()P . ()I .

Tratamento realizado :_______________________________________________________

4º retorno – data :__/__/__ ()SM ()PM ()S ()O ()SD ()M : ___% . ()P . ()I .

Tratamento realizado :_______________________________________________________

5º retorno – data :__/__/__ ()SM ()PM ()S ()O ()SD ()M : ___% . ()P . ()I .

Tratamentos realizados: ____________________________________________________________________

V- Diagnóstico final:_________________________________________________________________________

Abreviaturas: S, sim; N, não; SM, sem melhora; PM, pouca melhora; S, satisfatório; O, ótimo; SD, sem dor; M,

melhorou; P, piorou, I, igual

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__________________________________

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Adaptado de International Committee of Medical Journals Editors (Vancouver).

Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Serviço de Biblioteca e Documentação. Guia de apresentação de dissertações, teses e monografias da FMUSP. Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Júlia A. L. Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva de S. Aragão, Suely C. Cardoso, Valéria Vilhena. 2a ed. São Paulo: Serviço de Biblioteca e Documentação; 2005.

Abreviaturas dos títulos dos periódicos de acordo com List of Journals Indexed in Index Medicus.

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APÊNDICE

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