Dissertação

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  • Universidade Federal de So Carlos

    Programa de Ps-Graduao em Cincias Sociais

    Na busca dos novos lderes: o processo de construo de

    candidaturas ao legislativo municipal aspectos tericos e

    um estudo de caso.

    Jos Elias Domingos Costa Marques

    Dissertao de mestrado apresentada ao

    Programa de Ps-Graduao em Cincias

    Sociais do Centro de Educao e Cincias

    Humanas da Universidade Federal de So

    Carlos, como parte dos requisitos para a

    obteno do Ttulo de Mestre em Cincias

    Sociais.

    Orientadora: Prof. Dra. Maria do Socorro

    Braga

    So Carlos - SP

    Outubro de 2007

  • Ficha catalogrfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitria da UFSCar

    M357bn

    Marques, Jos Elias Domingos Costa. Na busca dos novos lderes : o processo de construo de candidaturas ao legislativo municipal aspectos tericos e um estudo de caso / Jos Elias Domingos Costa Marques. -- So Carlos : UFSCar, 2008. 197 f. Dissertao (Mestrado) -- Universidade Federal de So Carlos, 2007. 1. Cincia poltica. 2. Novo institucionalismo. 3. Seleo de candidatos. 4. Recrutamento poltico. 5. Carreira poltica. I. Ttulo. CDD: 320 (20a)

  • 1

    Quem deseja dedicar-se poltica, e principalmente, quem deseja dedicar-se poltica em termos de vocao deve tomar conscincia

    destes paradoxos ticos e da responsabilidade quanto quilo em que ele prprio poder transformar-se sob presso daqueles

    paradoxos. Repito que ele se compromete com potncias diablicas que atuam com toda a violncia

    Max Weber A poltica como vocao

  • 2

    Agradecimentos

    Em primeiro lugar agradeo ao GADU pelas muitas graas concedidas. Gostaria de agradecer Universidade Federal de So Carlos e ao Departamento de

    Ps-Graduao em Cincias Sociais, pelo amparo institucional fornecido durante o

    mestrado.

    Agradeo de corao minha orientadora e amiga Prof. Dra. Maria do Socorro

    Braga. Seu auxlio e suas instrues foram fundamentais no somente para a construo

    desta dissertao, mas tambm para o meu amadurecimento enquanto estudante e

    pesquisador. Mesmo que me esforasse mais, meus agradecimentos aqui nunca seriam

    suficientes.

    Agradeo ao Prof. Dr. Fernando Azevedo e Prof. Dra. Maria Teresa Kerbauy, que

    gentilmente aceitaram fazer parte da banca de defesa. Agradeo tambm ao Prof. Dr.

    Eduardo Noronha, meu primeiro orientador e porta de entrada para o universo da pesquisa

    acadmica.

    Agradeo tambm a todos os professores de vrias Universidades do pas que

    pacientemente leram meus e-mails, solucionaram muitas dvidas, enviaram arquivos,

    criticaram e elogiaram meus textos. Enfim, agradeo de corao aqueles que de alguma

    forma colaboraram com esta pesquisa.

    CAPES, pelo apoio financeiro concedido, possibilitando-me a dedicao integral

    ao trabalho de pesquisa.

    Aos meus amigos, que certamente estaro comemorando comigo mais uma vitria.

    No poderia deixar de citar a minha amiga Karina Mariano. Sem sombra de dvidas

    voc foi a melhor pessoa que conheci em meus longos seis anos na cidade de So Carlos.

    Deixo aqui um TFA a todos os meus irmos da Maonaria e da Ordem DeMolay.

    Agradeo tambm a minha querida Mnica. Sua importncia resume-se na nossa

    tima convivncia.

    Aos meus familiares que deixei em Cuiab, minha terra Natal, em So Paulo e em

    Ribeiro Preto, mas que sempre estaro comigo, porque somos praticamente um s.

  • 3

    Aos meus irmos Tiago e Danilo, meu alicerce, as nicas pessoas que eu tenho

    certeza que estaro comigo pelo resto da vida.

    Ao meu pai, guido Pedro da Costa Marques. Certamente nenhuma distncia

    capaz de abalar um sentimento to forte e puro.

    E principalmente agradeo aquela que sem sombras de dvidas a pessoa mais

    importante que eu tenho na vida: minha ME, Judete Domingos. Esta dissertao

    dedicada especialmente ela.

  • 4

    Sumrio

    Resumo/Abstract...................................................................................................................08 Introduo Apresentao e justificativa para a realizao da pesquisa...................................................09 Estrutura da dissertao.........................................................................................................13 Captulo I - O papel do neo-institucionalismo na Cincia Poltica e o amparo da rational choise como ferramenta terica na compreenso do processo de escolha de candidatos................................................................................................................................16 1.1) O institucionalismo e a escolha de candidatos................................................................22

    Captulo II - O processo de construo de candidaturas aspectos de carreira e organizao partidria...............................................................................................................................30

    2.1) Perspectivas de carreira poltica problematizando as interpretaes correntes................................................................................................................................34

    2.2 ) O cargo de vereador.....................................................................................................46

    2.3) Organizaes partidrias organizando carreiras.........................................................53

    Captulo III Partidos e lideranas: o subsistema partidrio da cidade de So

    Carlos...................................................................................................................................64

    Captulo IV - A lgica da seleo: um estudo de caso sobre o PT e o PSDB na cidade de

    So Carlos eleies de 2000 e 2004...................................................................................89

    4.1) A seleo no discurso: uma sntese dos critrios formais de escolha dos candidatos do

    PT e PSDB em mbito municipal..........................................................................................95

    4.2) A busca por evidncia: o contexto das eleies no ano 2000 na cidade de So

    Carlos....................................................................................................................................99

    4.3) A rivalidade PT x PSDB: o contexto das eleies no ano de

    2004......................................................................................................................................131

  • 5

    Consideraes Finais............................................................................................................164

    Apndice - Procedimentos Metodolgicos

    Coleta de dados...................................................................................................................172 Anlise dos dados................................................................................................................179

    Bibliografia...........................................................................................................................181

    Anexos

    Anexo I Roteiro de entrevistas semi-estruturadas.............................................................192

    Anexo II Ocupao dos vereadores eleitos pelo PT e PSDB nas eleies de 2000 e

    2004...........................................................................................................................................

  • 6

    Lista de figuras, tabelas, grficos e diagrama.

    Diagrama I Variveis subjetivas e partidrias....................................................................24

    Figura I Estrutura da carreira poltica no Brasil.................................................................42

    Figura II - Matria publicada no Jornal Primeira Pgina.....................................................138

    Tabela I Primeiro cargo pblico segundo o nvel da federao.........................................51

    Tabela II Primeiro cargo pblico dos deputados federais (legislatura 2002 2006).........52

    Tabela III - Resultado das eleies para prefeito no municpio de So Carlos 1982..........70

    Tabela IV Resultado das eleies para prefeito no municpio de So Carlos 1988.........73

    Tabela V Resultado das eleies para prefeito no municpio de So Carlos 1992...........76

    Tabela VI - Resultado das eleies para prefeito no municpio de So Carlos 1996........79

    Tabela VII - Resultado das eleies para prefeito no municpio de So Carlos 2000.........82

    Tabela VIII - Resultado das eleies para vereador no municpio de So Carlos 2000......83

    Tabela IX - Resultado das eleies para prefeito no municpio de So Carlos 2004........85

    Tabela X - Resultado das eleies para vereador no municpio de So Carlos 2004........85

    Tabela XI - Nmero de vereadores eleitos pelo PT e PSDB................................................87

    Tabela XII - Ocupao dos vereadores por partido eleies em So Carlos no ano

    2000.....................................................................................................................................107

    Tabela XIII - Distribuio de vagas por gnero eleies ano 2000 em So Carlos.........112

    Tabela XIV - Candidatos presentes em 1996 que no disputaram as eleies em 2000 pelo

    PSDB - Relao candidato/nmero de votos......................................................................117

    Tabela XV - Candidatos presentes em 1996 que disputaram as eleies em 2000 pelo PSDB

    Relao candidato/nmero de votos....................................................................................118

    Tabela XVI - Candidatos presentes em 1996 que no disputaram as eleies em 2000 pelo

    PT Relao candidato/nmero de votos...........................................................................119

    Tabela XVII - Candidatos presentes em 1996 que disputaram as eleies em 2000 pelo PT

    Relao candidato/nmero de votos.................................................................................119

    Tabela XVIII - Candidatos selecionados para disputar as eleies em 2000 pelo PT

    Relao candidato/tempo de filiao..................................................................................121

  • 7

    Tabela XIX - Candidatos selecionados para disputar as eleies em 2000 pelo PSDB

    Relao candidato/tempo de filiao..................................................................................124

    Tabela XX - Ocupao dos vereadores por partido eleies em So Carlos no ano

    2004.....................................................................................................................................140

    Tabela XXI - Distribuio de vagas por gnero eleies ano 2004 em So Carlos.........147

    Tabela XXII - Candidatos presentes em 2000 que no disputaram as eleies em 2004 pelo

    PT Relao candidato/ nmero de votos..........................................................................148

    Tabela XXIII - Candidatos presentes em 2000 que disputaram as eleies em 2004 pelo PT

    Relao candidato/nmero de votos.................................................................................149

    Tabela XXIV - Candidatos presentes em 2000 que no disputaram as eleies em 2004 pelo

    PSDB Relao candidato/nmero de votos......................................................................151

    Tabela XXV - Candidatos presentes em 2000 que disputaram as eleies em 2004 pelo

    PSDB - Relao candidato/nmero de votos......................................................................152

    Tabela XXVI - Candidatos selecionados para disputar as eleies em 2004 pelo PT

    Relao candidato/tempo de filiao..................................................................................156

    Tabela XXVII - Candidatos selecionados para disputar as eleies em 2004 pelo PSDB

    Relao candidato/tempo de filiao..................................................................................158

    Grfico I Proporo de votos por partido eleies para prefeito em So Carlos............86

    Grfico II - Grau de escolaridade dos candidatos a vereador pelo PSDB eleies ano

    2000.....................................................................................................................................109

    Grfico III - Grau de escolaridade dos candidatos a vereador pelo PT eleies ano

    2000.....................................................................................................................................110

    Grfico IV - Mdia de idade eleies ano 2000 em So Carlos......................................111

    Grfico V - Eixo comparativo mdia de idade nas eleies do ano 2000........................112

    Grfico VI - Grau de escolaridade dos candidatos a vereador pelo PT eleies ano

    2004.....................................................................................................................................142

    Grfico VII - Grau de escolaridade dos candidatos a vereador pelo PSDB eleies ano

    2004.....................................................................................................................................143

    Grfico VIII Mdia de idade eleies ano 2004 em So Carlos...................................145

    Grfico IX - Eixo comparativo mdia de idade nas eleies do ano 2004.....................146

  • 8

    Resumo O presente trabalho objetiva, sob o prisma dos estudos neo-institucionalistas, analisar o processo de construo de candidaturas ao legislativo municipal, partindo da premissa de que os partidos polticos participam ativamente deste processo enquanto agentes institucionais de controle sobre a carreira poltica. A pesquisa adota a perspectiva da rational choise de forma a apontar o candidato como sendo fruto do jogo poltico envolvendo as lideranas partidrias. A dissertao estrutura-se em torno de dois eixos: um de carter mais terico, abordando e atrelando as principais discusses bibliogrficas sobre os temas seleo de candidatos e carreira poltica; e um estudo de caso, que engloba o processo de seleo de candidatos a vereador nos dois principais partidos polticos da cidade de So Carlos, durante as duas ltimas eleies municipais (2000 e 2004). Palavras-chave: seleo de candidatos; recrutamento poltico; carreira poltica, neo-

    institucionalismo

    Abstract This article subjects, under the prism of the neo-institutionalism studies, analyze the process of building of candidacies to the municipal legislative, which the political parties has an important paper in this process while institutional agents of control above the career policy. The research adopts the prospect of the rational choise to show the candidate as being result from the political encompassing the leaderships parties. The dissertation bodywork shares in two parts: one involving a theory work, approaching the most important researches about the subject; and like a case work, beyond a study of the candidate selection process on the two most important political parties of So Carlos city, during last two municipal elections (2000 and 2004).

    Key-words: candidate selection; political recruitment; political career; neo-institutionalism.

  • 9

    Introduo

    1.1 Apresentao e justificativa para a realizao da pesquisa

    A Cincia Poltica no Brasil vem paulatinamente preenchendo lacunas no que tange

    compreenso do nosso sistema poltico. Dentro das Cincias Sociais, a Cincia Poltica

    possui um importante papel em propiciar iniciativas que possibilitem a capacidade de

    compreenso da realidade poltica nacional, tal como uma ferramenta que aperfeioe o

    entendimento seguido da transformao do pas. Nesta iniciativa repousa a escolha do tema

    a ser pesquisado nesta dissertao.

    O presente trabalho tem como objetivo principal analisar o processo que envolve a

    construo de uma candidatura. Busca-se neste trabalho analisar a interferncia de um

    partido poltico, enquanto um veculo institucional, que possibilita (limitando ou

    alavancando) um indivduo estar se inserindo na disputa eleitoral. Os fatores que tornam

    possveis o ingresso em um cargo pblico eletivo no residem somente em aspectos

    subjetivos de cada pessoa. preciso que essa vontade individual seja reconhecida por

    aqueles que controlam o nico grupo legtimo que intermedia um indivduo e uma

    candidatura: os membros de um partido poltico. Neste contexto surgem algumas

    indagaes como:

    a-) Porque uma determinada pessoa escolhida em detrimento de outra ?

    b-) Quais os critrios utilizados para esta escolha expressividade eleitoral, tempo de

    militncia, reduto eleitoral ?

    c-) Qual o candidato cujo perfil o mais constante1 ?

    d-) Este processo envolve somente a seleo por parte das lideranas partidrias ou

    descentralizado para as bases ?

    e-) A escolha feita tendo como base a escolha dos candidatos pelos partidos rivais ?

    Diante das adversidades (tempo-espao) oriundas da ampla dificuldade em realizar

    um diagnstico dos padres de seleo de candidatos abrangendo todos os partidos e

    diretrios do territrio nacional, priorizou-se nesta pesquisa um estudo mais restrito

    esfera municipal, especificamente ao processo que culmina na construo de uma 1 De acordo com sua composio social.

  • 10

    candidatura ao cargo de vereador. Atravs de um estudo de caso em um municpio com

    mais de 200 mil habitantes2, no caso a cidade de So Carlos, buscou-se aplicar e visualizar

    via trabalho emprico, como ocorreu a construo da lista de candidatos e composio

    social da mesma pelos dois principais partidos da cidade (PT e PSDB) em dois pleitos,

    2000 e 2004. Analisamos assim o perodo que engloba os momentos que antecedem as

    eleies (o contexto poltico de recrutamento dos candidatos), e o resultado desta situao,

    ou seja, a lista de candidatos.

    A escolha da cidade de So Carlos e dos seus dois mais expressivos partidos na

    atualidade no foi feita de maneira aleatria. No municpio os dois partidos em questo

    vm progressivamente ocupando maior espao na disputa poltica na cidade, a exemplo do

    que acontece em nvel nacional. O PT ascende ao poder nas eleies municipais do ano

    2000, elegendo o prefeito e o maior nmero de vereadores de sua histria na cidade; reelege

    novamente o prefeito em 2004, elegendo tambm um nmero expressivo de vereadores. E

    nesta disputa o PSDB vem sendo o seu principal rival nas urnas, desde 2000, quando ento

    elege a maior bancada de vereadores, e 2004, quando polariza com o PT a disputa pelos

    cargos Executivo e Legislativo.

    Dentro do objetivo geral da pesquisa, que entender o processo de construo de

    uma candidatura, surgem dois objetivos especficos:

    1 - Construo de um balano terico, amparado teoricamente pela corrente neo-

    institucionalista e recheado de discusses bibliogrficas anteriores, que possa servir de base

    para futuros estudos sobre seleo de candidatos;

    2 - Verificar empiricamente, por meio de um estudo de caso, algumas concluses

    sobre o processo de seleo de candidatos, oriundas deste suporte terico.

    O carter genrico desta proposio est passvel de repousar na indagao sobre

    quais seriam os pontos a serem destacados neste tipo de estudo. A complexidade deste

    processo poltico ilustra o rduo caminho que um pesquisador ir trilhar, uma vez que,

    estudar seleo de candidatos invariavelmente envolve elementos como o carter da

    organizao partidria e a carreira poltica, que convergem em sinergia entre si, sendo

    muito difcil pensar em escolha de candidatos dissociando-os. Ou seja, a partir do momento

    que uma determinada pessoa entra em uma disputa eleitoral, automaticamente ela passa a 2 Esta demarcao remete aos critrios de classificao do IBGE, situando as cidades com mais de 200 mil

  • 11

    figurar no rol daqueles que se aventuraram na carreira poltica. Admitimos ento que a

    carreira poltica no contempla somente aqueles que so eleitos, mas que se propem para

    tal. Um candidato no propriamente um poltico (quando anteriormente no ocupara

    nenhum cargo pblico, ou seja, um outsider), mas ao entrar na disputa poltica em tese3

    ambiciona s-lo.

    Por esta razo alentamos a importncia de enquadrar o tema em questo dentro da

    esfera dos estudos de carreira poltica. Carreira remete a trilho, caminho, e este sempre

    possui um princpio. O princpio que envolve uma carreira poltica justamente toda a

    disputa poltica prvia a visualizao do candidato enquanto o escolhido para representar

    um interesse de grupo.

    TOCQUEVILLE (2001) salientou que os cargos pblicos eletivos so ocupados por

    mandatos curtos, em disputa aberta todos. Observando as instituies polticas dos

    Estados Unidos no sculo XIX, concluiu que as eleies no garantem qualquer tipo de

    segurana de se manter nela, tal como em uma carreira pblica. Podemos discordar de seu

    diagnstico no que diz respeito ao cargo eletivo no se constituir em uma carreira pblica,

    pois o nmero crescente de polticos dedicados quase que exclusivamente carreira

    enquanto profisso vem crescendo nas democracias contemporneas (MEZEY, 1976), sob a

    tica do tipo ideal de poltico profissional sugerido por WEBER (1997) em Poltica como

    vocao.

    No entanto concordamos com o clebre pensador francs quando este salienta o

    grau de instabilidade que um cargo pblico eletivo possui. Em um intervalo de anos mdio

    que varia de pas para pas democrtico, o poltico est invariavelmente sujeito ser

    submetido ao teste das urnas. preciso a cada eleio enfrentar novamente todo o processo

    que envolve uma disputa eleitoral, que tramita desde reconhecer subjetivamente a

    viabilidade de uma nova ou indita candidatura, at enfrentar as limitaes e barreiras

    institucionais, como as condies legais de elegibilidade e o crivo partidrio para seleo de

    candidatos, que uma eleio coloca frente do aspirante.

    As condies legais de elegibilidade so aqueles pr-requisitos constitucionais que

    cada cidado deve se enquadrar para almejar a possibilidade de entrar no mundo da

    habitantes com porte mdio. 3 Digo em tese porque, como se ver mais adiante, no podemos concordar completamente com a idia da disputa poltica ser motivada nica e exclusivamente pela disputa por cargos eletivos.

  • 12

    poltica. So condies reconhecidas como os nicos pressupostos estipulados para que o

    eleitor obtenha o direito de ser votado. As condies, como constam na Constituio

    Federal de 1988, no art. 14 inciso 3, so: nacionalidade, estar em gozo com o exerccio dos

    direitos polticos, alistamento, filiao partidria e idade mnima exigida. Estas so as

    chamadas condies prprias de elegibilidade. Segundo COSTA (2002) existem tambm

    as condies imprprias, que seriam a alfabetizao, desincompatibilizao, especiais para

    militares e indicao em conveno partidria. A distino entre ambas as condies so

    por causa do critrio topolgico, ou seja, so prprias aquelas previstas no inciso 3 do

    artigo 14. e imprprias as demais.

    A segunda barreira institucional diz respeito justamente condio de elegibilidade

    prpria e imprpria, em resumo, estar filiado a um partido poltico e ser aprovado em

    conveno realizada pela agremiao partidria. exatamente neste ponto que est inserida

    a questo chave da pesquisa: institucionalmente qual a influncia do partido na seleo e

    construo da lista de candidatos? Como o partido, enquanto uma instituio legtima nos

    sistema polirquicos modernos, exerce controle sobre a representao poltica,

    direcionando, influenciando, apoiando e restringindo carreiras polticas?

    importante salientar que este trabalho tem como preceito terico o amparo da

    corrente institucionalista, especificamente a teoria da escolha racional (rational choise).

    O foco est na atuao do partido enquanto uma instituio poltica, que por meio de suas

    lideranas delimitam as regras do jogo, no caso, o controle da representao poltica.

    SANTOS (2004) aponta que os sinais mais evidentes de um rgido controle da

    organizao partidria sobre o processo de representao poltica recai na estabilidade dos

    resultados eleitorais, disciplina nas decises legislativas e continuidade nas carreiras

    polticas. Mesmo os trs vetores no convergindo, no caso do sistema partidrio brasileiro,

    na mesma direo e sentido, o partido assume o papel de estar intermediando, ou melhor,

    sendo o elo entre o indivduo e a carreira poltica.

    O partido, imerso nas suas inmeras funes que exaustivamente vem sendo

    estudadas dentro do sistema partidrio no qual se insere, assume um papel que o diferencia

    de qualquer outra estrutura similar: o nico grupo abertamente legtimo4 que tem a funo

    4 O partido escolhendo os candidatos no significa que necessariamente estes candidatos sejam frutos das vontades dos prprios membros do partido, mas tambm de diferentes grupos que utilizam a organizao partidria como veculo de entrada e/ou atuao na vida poltica. Mais adiante este ponto ser enfatizado.

  • 13

    de colocar para o eleitor aquele que melhor lhe convm para ser escolhido por meio do

    voto. A importncia poltica desta funo tamanha que SARTORI (1982) sugere que os

    partidos so colocados prova de modo mais severo justamente quando perdem o controle

    sobre a seleo de candidatos, em detrimento de esta funo caber nica e exclusivamente a

    si, em se tratando de sistemas democrticos representativos. Por isso acredita-se que estudar

    a seleo de candidatos importante tanto por ser um estgio chave no processo poltico de

    recrutamento, como envolve uma arena fundamental no conflito intra-partidrio

    (GALLAGHER, 1988).

    1.2 - Estrutura da dissertao

    A dissertao est estruturada em duas partes, sendo que a primeira composta pelo

    captulo 1 e 2, e a segunda pelo captulo 3 e 4 e pelas consideraes finais.

    9 A primeira parte, de carter mais terico, tem como propsito no primeiro captulo fazer uma breve apresentao da corrente denominada neo-

    institucionalismo, atrelando-o como ferramenta terica para a compreenso da

    seleo de candidatos. A opo pelo neo-institucionalismo, com nfase para o

    institucionalismo da escolha racional e elementos do institucionalismo histrico,

    sugere o contexto da construo de uma candidatura imersa no mbito das

    delimitaes institucionais que o partido poltico impe neste cenrio. O olhar

    neste contexto volta-se para a influncia institucional partidria e no somente

    para as ambies individuais (tpico dos estudos behavioristas). O segundo

    captulo est dividido em trs tpicos. O primeiro tpico busca colocar em pauta

    o tema da carreira poltica, apresentando algumas contribuies tericas e o

    contexto pelo qual este tema se insere no objetivo geral da pesquisa. O segundo

    tpico dispe a organizao partidria tendo como papel influenciar na

    constituio da carreira poltica. Neste tpico justifico a importncia de observar

    o partido enquanto um agente ativo em qualquer carreira. Por fim, o terceiro

    tpico objetiva apresentar algumas consideraes a respeito do cargo de

  • 14

    vereador, uma vez que ser exatamente sobre este cargo que o estudo de caso no

    captulo seguinte ir estar focalizado.

    9 A segunda parte consiste no captulo 3, 4 e nas consideraes finais. No captulo 3 apresentada uma contextualizao do subsistema partidrio em So Carlos,

    atravs da anlise da distribuio das principais lideranas municipais nos

    principais partidos durante os perodos eleitorais entre 1982 e 2004 (composio

    das chapas e resultados). Este captulo justifica-se mediante a importncia de

    conhecermos o processo poltico-partidrio que antecede a ascenso das

    lideranas petistas e peessedebistas no cenrio poltico da cidade. No captulo 4

    buscou-se justificar a discusso prvia realizada nos dois primeiros captulos e

    complementar o terceiro com um estudo de caso. O objetivo deste ltimo

    captulo analisar o processo de seleo de candidatos em dois partidos rivais

    no mbito da esfera da disputa ao legislativo municipal. O cenrio escolhido foi

    a cidade de So Carlos, e o perodo as duas ltimas eleies municipais (ano

    2000 e 2004). Este captulo traz um estudo emprico, construdo atravs de um

    exame detalhado de diversas fontes5, que elucidam os diversos fatos que

    marcaram o perodo pr-eleitoral no seio das duas mais influentes organizaes

    partidrias, PT e PSDB. Estas fontes foram agrupadas de acordo com o modelo

    de NORRIS (1995), atravs da anlise do background dos candidatos

    selecionados, assim como de demandas como tempo de filiao, experincia

    como candidato e recursos financeiros. Buscou-se apresentar na prtica a

    construo hipottica, que at ento teve respaldo com uma apresentao

    terica. O modelo de partido de quadros e partido de massas proposto por

    DUVERGER (1980) tambm apresentado no captulo 4 como ferramenta para

    o enquadramento e a diferenciao dos dois partidos em questo quanto ao

    aspecto organizacional referente ao processo de construo de candidaturas. Na

    concluso apresentada uma considerao final, resumindo os principais pontos

    discutidos no trabalho.

    5 Ver o apndice, procedimentos metodolgicos.

  • 15

    Como forma de tornar mais sucinta e objetiva esta introduo, todo o trabalho

    metodolgico que envolveu a realizao desta pesquisa est minuciosamente exposto no

    apndice deste trabalho.

    Enfim, espera-se que esta dissertao possa contribuir de alguma forma para o

    enriquecimento dos estudos de carreira poltica e seleo de candidatos, servindo tanto

    como forma de amparo terico-analtico, como forma de incentivo novas produes

    acadmicas.

  • 16

    Captulo 1 O papel do neo-institucionalismo na Cincia Poltica e o amparo da

    rational choise como ferramenta terica na compreenso do processo de

    escolha de candidatos

    O estudo das instituies melhora a nossa compreenso dos fenmenos sociais George Tsebelis (1998, pg. 104)

    A pretenso deste primeiro captulo recai na necessidade de apresentar um panorama

    objetivo do referencial terico escolhido para o desenvolvimento dessa pesquisa. A escolha

    do neo-institucionalismo enquanto modalidade de referncia deve-se no somente a sua

    crescente importncia adquirida nos ltimos 40 anos na Cincia Poltica, mas tambm em

    virtude dos seus preceitos (o foco sobre as instituies), terem sidos considerados os mais

    adequados na compreenso e apresentao do contexto do estudo.

    A corrente neo-institucionalista, segundo LIMONGI (1997), apresentou-se como uma

    resposta aos modelos comportamentalistas (behavioristas) e pluralistas que imperavam na

    Cincia Poltica at a dcada de 70. Estas correntes tericas germinaram nas Cincias

    Sociais em geral no perodo ps-guerra, subalternizando o papel das instituies

    influenciando diferentes processos sociais (vistas no mais como agentes, mas resultados de

    encadeamentos estruturais) e procedimentos de compreenso poltica.

    Para os institucionalistas, a ao social estaria condicionada pelas instituies, e no

    somente pela soma de preferncia dos atores (repouso da crtica ao behaviorismo). As

    abordagens estritamente holsticas tambm seriam alvo dos neo-institucionalistas, pois estes

    rejeitavam a atribuio a uma determinada estrutura social a fora causal de todas as

    situaes sociais (IMMERGUT, 1998). O institucionalismo seria uma alternativa na

    compreenso das aes dos indivduos e suas manifestaes coletivas.

  • 17

    O termo neo-institucionalismo remete ao hiato pelo quais os estudos polticos

    institucionalistas atravessaram durante mais de 20 anos desde o fim da II Guerra (superados

    pela influncia das teorias de grande alcance que estavam em evidncia).

    Importante ressaltar que tambm os estudos de Polticas Pblicas nos anos 50 e 60,

    atravs de demonstraes empricas comparativas entre os diferentes pases em diferentes

    graus de desenvolvimento, contriburam para corroborar a importncia de se entender as

    diferentes instituies polticas para assim melhor se compreender as diferenas entre estes

    pases, obstruindo assim a predominncia de formas de compreenso voltadas para estudos

    de variaes de comportamento ou diferena entre as foras das classes (ROSTHEIN,

    1996). Os tericos do neo-institucionalismo, mesmo em discordncia em muitos aspectos,

    entram em concordncia em dois pontos bsicos:

    1-) as normas e os procedimentos operacionais influem no resultado positivo, uma

    vez que estruturam o comportamento poltico e moldam a identidade, o poder e a estratgia

    dos atores em selecionar preferncias;

    2-) as instituies moldam a poltica e so moldadas pela histria, podendo os

    indivduos escolher suas instituies, mas no o fazendo em circunstncias que eles mesmo

    criaram (PUTNAM, 1945, pg 44).

    HALL & TAYLOR (2003) assinalam que a confuso proveniente do sentido do

    termo neo-institucionalismo na Cincia Poltica fundamenta-se no fato de esta corrente no

    ser uma perspectiva unificada, admitindo-se a existncia de ao menos trs modelos (ou

    mtodos) diferentes de anlise: institucionalismo sociolgico, institucionalismo histrico e

    institucionalismo da escolha racional.

    O institucionalismo histrico, que surgiu em resposta ao funcionalismo que

    dominava a Cincia Poltica nos anos 60 e 70, define instituies como sendo os

    protocolos, normas e convenes oficiais e oficiosas inerentes a estrutura organizacional da

    comunidade poltica. A assimetria do poder, que gera os conflitos (e consequentemente as

    mudanas) so associadas ao desenvolvimento e funcionamento das instituies. O

    desenvolvimento institucional privilegiaria as trajetrias (Path Dependency), vinculando-se

    sempre a uma concepo particular do desenvolvimento histrico. Acontecimentos em um

  • 18

    determinado contexto histrico gerariam e determinariam resultados e acontecimentos

    sociais e polticos futuros, tanto nos pases como nas instituies (FERNANDES, 2002).

    Mudanas de trajeto so decorrentes de mudanas institucionais. uma concepo ampla,

    que mescla elementos culturalistas e calculadores, na forma de observar os fenmenos. Um

    exemplo so as constantes buscas de indcios e razes, por parte dos pesquisadores desta

    vertente, em arquivos histricos, trabalhando dados conceituais atravs da induo.

    No institucionalismo sociolgico, as instituies so definidas de maneira mais

    generalista, abarcando regras, normas formais, procedimentos somados a smbolos,

    esquemas cognitivos, modelos morais, padres de significao. A instituio para esta

    vertente , antes de tudo, um fenmeno cultural. Os indivduos incorporam, por meio da

    cognio, os esquemas e modelos propostos institucionalmente. Focar-se nas instituies

    pode ser uma ferramenta importante na compreenso dos significados da vida social. A

    ao do indivduo, nesta vertente, vista como completamente dotada de significado

    cultural.

    A rational choise ser aqui abordada de forma mais completa, uma vez que a

    opo instrumental terica desta pesquisa. Segundo FEREJOHN & PASQUINO (2001), a

    escolha racional sempre esteve intimamente atrelada com a economia, sendo que sua

    aproximao com a Cincia Poltica partiu da influncia de autores considerados

    economicistas como Downs, Gordon Tullock e Mancur Olson. Para estes autores, os

    agentes sociais estariam constantemente interessados na maximizao da riqueza, de votos,

    ou de outras dimenses mais ou menos mensurveis em termos de quantidades, e sujeitos a

    constrangimentos de recursos materiais.

    A definio do conceito de instituio segundo a concepo da escolha racional tem

    como alicerce referencial a proposio de Douglas North, em seu trabalho Institucional

    Change teory and empirical findings. North define as instituies como formal rules,

    informal constrains (norms of behavior, conventions, and self-imposed codes of conduct),

    and the enforcement characteristics of both (pg. 36). O autor acredita que as instituies,

    limitando as aes dos seres humanos, no somente facilitariam a interao entre os

    mesmos, como geraria certo grau de previsibilidade de aes (uns com os outros). As

    instituies teriam um papel fundamental em agir na diminuio dos custos de transao

    ligados concluso de acordos. Para HOLLINGSWORTH (1998) os hbitos e valores

  • 19

    tambm devem ser reconhecidos enquanto instituies. Na citao do autor, institutions

    are norms, rules, conventions, habits and values (pg. 131)

    O papel coercitivo das instituies apontado pela escolha racional sugere que os

    indivduos esto inseridos num contexto de regras e constrangimentos, e a ao individual

    nasce como uma adaptao tima a um ambiente institucionalizado (TSEBELIS, 1998). Se

    existe a preponderncia de uma instituio, o comportamento dos atores deve ser observado

    a partir da perspectiva do papel que as instituies exercem no seu contexto social.

    Qualquer forma de manifestao poltica ou social surge dentro deste contexto de regras.

    Desta forma, pode-se pensar em uma estabilidade nos processos polticos como

    fruto da influncia das instituies delimitando o jogo das regras, leis, procedimentos e

    arranjos organizacionais6. No caso dos partidos, os atores polticos se movimentam de

    acordo com a demanda partidria em buscar os objetivos polticos almejados.

    Nesse contexto, HALL & TAYLOR apontam quatro pontos chaves que

    caracterizam o institucionalismo da escolha racional:

    a compartilhao de gostos ou preferncias dos atores, buscando maximizar a satisfao destas preferncias, atravs do uso de clculos e estratgias;

    fora da interao estratgica na determinao das situaes polticas; a vida poltica estaria permeada de dilemas de ao coletiva, surgindo o risco de

    resultados sub-timos para a coletividade (implicao da falta de arranjos institucionais);

    as instituies teriam sua origem de forma primordialmente consciente.

    A perspectiva da racionalidade sugere que os atores, numa determinada situao,

    tomam decises conscientes e estratgicas, em uma esfera de ao poltica que conjugue

    contextos institucionais e sociolgicos. A racionalidade requer crenas, desejos e aes que

    se relacionam de uma forma particular (FEREJOHN & PAQUINO, 2001). A validade desta

    relao uma condio de consistncia sustentada justamente pela racionalidade, sendo

    vlida para empregar em contextos que envolvam desejos, ambies e paixes.

    6 Isso no implica na imutabilidade das instituies, uma vez que as instituies, para os tericos da escolha racional, so alteradas e criadas conscientemente.

  • 20

    Assume-se ento que a racionalidade seria uma correspondncia tima entre meio e

    fins. Como seria possvel explicar que indivduos, sedentos pelos prprios interesses

    individuais, agissem (como havia-se observado) em constante cooperao, buscando

    maiorias para resolverem problemas comuns ? Buscou-se como soluo a atribuio da

    pr-existncia de instituies polticas que promovessem incentivos seletivos, por meio de

    procedimentos e regras anteriores ao inicio do jogo de interao (ROTHSTEIN,1996).

    Busca-se a compreenso na tomada de deciso dos indivduos considerando as

    consequncia e decises tomadas por outros.

    A condio de interdependncia que se situam os atores racionais, estando os

    mesmos sujeitos constantemente em situaes que envolvam decises estratgicas o que

    caracteriza a teoria da escolha racional. A premissa lgica que A > B > C, logo A > C

    (nomeado de princpio de transitividade) exemplifica que comportamentos, em uma

    determinada situao, seriam melhor analisados em correspondncia com a regra de

    interao cujas finalidades correspondem ao atendimento de seus interesses maximizados

    em forma de ao.

    Esta interdependncia resulta em princpios da busca de coordenao entre as

    pessoas, estas tambm estando imersas na possibilidade de conflito sobre a distribuio dos

    recursos que pensam conseguir. Por isso a instituio permite manter a tenso entre os

    princpios de conflito e da cooperao, constitutivos das transaes (RUGGIERO, 2005).

    Como toda vertente terica, o institucionalismo possui suas limitaes e crticas.

    Para BAERT (1997), a teoria da escolha racional emerge trazendo algo revolucionrio, ao

    mesmo tempo em que corresponde a uma invaso do homem econmico. A economia,

    vertiginosamente preponderante em diferentes ramos de explicao das Cincias Humanas,

    incumbe-se de assaltar, de forma imperialista, a sociologia, de forma a subornar o homo

    sociologicus ao homo economicus.

    MONSNA (2000) aponta para a incapacidade da escolha racional em esclarecer as

    relaes entre micro e macro, entre estruturas e aes. A viso generalizante da escolha

    racional contestada, pois universaliza tendncias e gostos oriundos das diferenas dadas

    por algum processo social. Se uma pessoa age de determinada forma, ela motivada por

    algum desejo e preferncia. Desejos de sobrevivncia, de segurana, poder so exgenos

  • 21

    analise. Quando se aplica uma concepo de ao amparada num modelo analtico,

    automaticamente se estabiliza e hierarquiza essas preferncias.

    A apresentao de modelos reduzidos e a simplificao da imagem das motivaes

    humanas so tambm pontos bastante contestados na rational choise. O enfoque julga

    determinadas situaes baseadas potencialmente na capacidade de predio de seus

    modelos do que pela exatido de seus postulados (HALL & TAYLOR, 2003).

    A escolha racional tem o mrito de problematizar o carter de formao e arranjo

    dos sujeitos coletivos ou sistemas de ao, que envolveriam estratgias por vezes ignoradas.

    No entanto, pode-se supor que o pressuposto da maximizao da utilidade adotado pela

    escolha racional os leva bem prximos abordagens comportamentalistas behaviorismo-

    outrora to criticados (IMMERGUT, 1998).

    Diante das diferentes formas de contestaes, que em muitos aspectos apresentam-

    se como uma alternativa para futuros re-arranjos e adaptaes terico-metodolgicos do

    enfoque, a escolha racional ainda pode ser a ferramenta mais til quando pensarmos em

    situaes sociais e polticas que envolvam determinados contextos. TSEBELIS (1998)

    afirma que o Cientista Social, ao admitir que os atores se comportam de uma maneira

    racional, esto propensos a uma reduo e uma formulao de propsitos. Esta reduo

    pauta-se na excluso (ou substituio) de processos como aprendizados e mecanismos de

    seleo social, em busca de seus resultados.

    Em correlao com a path dependency, possvel pensar que o comportamento do

    indivduo no apresenta-se como linearmente homogneo, uma vez que, o funcionamento e

    o desenvolvimento das instituies acabam por fomentar estruturas diferenciadas. A

    racionalidade no implicaria necessariamente em orientaes pr-definidas. Ela buscaria

    sim apoio em protocolos.

    Por isso podemos pensar que a escolha racional, frente s suas limitaes, acaba sendo

    uma importante ferramenta perante algumas situaes polticas e sociais especficas, a

    saber: quando a identidade e os objetivos dos atores so estabelecidos; e as suas regras de interao so precisas e conhecidas pelos atores em interao (TSEBELIS, pg. 45). Por

    exemplo, numa arena Legislativa onde situaes de interao so observadas levando-se em

  • 22

    conta os arranjos institucionais no qual os polticos estariam imersos, o denominador

    comum oriundo desta interao partiria das observaes do papel destes arranjos. Todas as

    preferncias individuais surgiriam em meio a fora e a presena das regras da referida

    instituio.

    Posta a definio concisa do papel do neo-institucionalismo na Cincia Poltica,

    passaremos a apresentar algumas indagaes preliminares sobre o processo de escolha de

    candidatos a cargos eletivos. Busca-se aqui, como j fora dito na Introduo, adequar

    proposies iniciais do processo de construo de uma candidatura perspectiva do neo-

    institucionalismo. Mais especificamente, o processo de escolha dos candidatos proposto na

    pesquisa se restringe esfera do legislativo, no mbito da poltica municipal.

    1.1 O institucionalismo e a escolha de candidatos

    A Cincia Poltica nacional vem oferecendo poucas explicaes para este processo

    que crucial em qualquer esfera de anlise de um determinado contexto poltico-eleitoral.

    E quando digo crucial, refiro-me a importncia que recai na compreenso da escolha de

    candidatos como instrumento que possibilita uma maior compreenso das eleies para

    cargos eletivos. A situao que envolve o surgimento de um candidato pode se encaixar em

    diferentes pontos e vertentes de estudo: como interesse maior deste trabalho, nos estudos de

    carreira poltica, como a primeira etapa que posteriormente envolva eleies e atuao na

    vida poltica, em qualquer cargo poltico eletivo; analisando partidos polticos, no somente

    no contexto de sua atuao no Congresso Nacional, formando coalizes ou influenciando

    nas aprovaes de emendas, por exemplo, mas dando nfase para seu aspecto

    organizacional7; ou mesmo em discusses que envolvam relaes de participao e

    representao poltica, observando a figura do candidato selecionado para o pleito em

    paralelo com o tipo de atuao e representao que ele possa ter.

    Na rational choise existem modelos clssicos que vem amparando pesquisas sobre

    interao poltica, elaborados especificamente para analisar o Congresso Americano.

    LIMONGI (1993) apresenta trs dos principais modelos: distributivista, informacional e 7 DUVERGER (1951) alertara para a dificuldade de se estudar as organizaes partidrias, uma vez que o acesso a arquivos internos do partido se torna uma tarefa rdua para o pesquisador. Dependendo do grau de

  • 23

    partidria. O modelo distributivista trata especificamente do interesse constante dos

    parlamentares de buscar a reeleio, em uma determinada arena congressual. Utilizando-se

    das comisses, como um dos meios institucionais para atingir sua finalidade principal, eles

    executam suas aes que envolvem barganhas, aprovao de matrias, respaldo da maioria

    e troca de favores. O modelo informacional, por sua vez, concentra-se na fora do processo

    decisrio majoritrio e na incerteza dos resultados polticos. No desconsiderando o papel

    das comisses, os informalistas chamam a ateno para a importncia da maioria como

    agente que define e aprova as decises finais no Congresso. Neste contexto, as incertezas

    somente seriam reduzidas com o avano na especializao e informao dos polticos,

    papel central que a instituio teria nesta situao.

    Ambos os modelos no creditam influncia poltica substantiva aos partidos polticos

    na estruturao das atividades partidrias. FELISBINO (2003) aponta que os tericos do

    modelo partidrio rechaam esta idia da pouca expressividade dos partidos, enquanto

    representantes dos interesses coletivos (pg. 22). Reorientando os interesses com carter

    individualista dos parlamentares e os reorganizando, os partidos atuariam nas comisses,

    fazendo valer o seu grau de representatividade. Ao mesmo tempo, e este ponto apresenta-se

    como fundamental na discusso a ser apresentada, o partido tambm pode promover

    incentivos carreira dos parlamentares (viso apresentada neste modelo apenas quando se

    tratando da carreira j dentro do congresso).

    No caso da construo de candidaturas, podemos utilizar a perspectiva neo-

    institucionalista (com mais nfase na escolha racional) para pensar em algumas situaes

    que dariam respaldo aos resultados empricos que mais adiante sero apresentados (valendo

    tambm o contrrio, ou seja, o trabalho emprico comprovando toda a argumentao

    terica).

    Inicialmente, podemos visualizar o surgimento do candidato na seguinte esfera de

    inter-relaes, com base no estudo feito por VIANNA (1973) sobre o candidato e o

    processo eleitoral:

    abertura e flexividade do partido, muitas informaes correm o risco de no serem precisas, obstruindo o bom

  • 24

    X1

    X3

    X4

    X2

    Aspectos Subjetivos

    Y2

    Y4

    Y3

    Y1

    Influncia partidria

    DIAGRAMA Variveis subjetivas e partidrias

    onde para as variveis de aspectos subjetivos temos:

    X1 = ambies (progressiva regressiva ou esttica SCHLESINGER, 1966).

    X2 = contato social clientela prpria, herdada.

    X3 = capital poltico acumulado (experincias de atuao com atividades

    polticas, eletivas ou no)

    X4 = razes estruturais (parentes polticos, laos afetivos, poderio financeiro)

    Nas variveis influncia partidria temos:

    Y1 = aquisio de prestgio partidrio

    Y2 = dedicao militante

    Y3 = confiana das lideranas

    Y4 = identificao como membro do grupo

    Por possurem um ncleo comum, todas as variveis esto intimamente inter-

    relacionadas. Esta inter-relao acarreta em derivaes de uma em conseqncia de outra, e andamento da compreenso dos diferentes processos partidrios.

  • 25

    assim por diante. Esta situao no envolve elementos que se dissociam no contexto de

    surgimento do candidato. Tanto a questo de aspectos subjetivos como da influncia

    partidria esto intimamente correlacionadas, podendo prevalecer uma ou outra situao,

    dependendo do contexto poltico e institucional.

    Devo ressaltar que afora as duas variveis colocadas em questo, existe um terceiro

    eixo referente a questes legais, mais especificamente a questo da elegibilidade, j tratada

    anteriormente na Introduo. Qualquer situao de eleio estar sujeita as regras legais

    que norteiam e delimitam formalmente, com base em critrios constitucionais, aqueles que

    possuem o direito de estarem passveis de concorrer um cargo pblico. Salvo as

    limitaes institucionais partidrias, existem as limitaes jurdico-formais que englobam

    aquela limitao.

    Esta distino entre aspectos subjetivos e influncia abordada de uma forma mais

    aplicvel por NORRIS (1995) quando sugere o modelo de suprimento e demanda. O

    primeiro estaria atrelado com caractersticas pessoas do indivduo, como motivao,

    vontade e ambio. A demanda nasceria das escolhas do partido frente uma necessidade

    especfica. A observao da demanda partidria surgiria com a anlise do background e de

    recursos como experincia poltica, tempo de filiao e reduto eleitoral. Este modelo

    aplicvel de NORRIS (op. cit.) ser melhor visualizado no captulo quatro, quando

    apresentaremos um estudo emprico.

    Quando adoto a perspectiva da ao racional dos indivduos, sempre limitado por

    estruturas institucionais, parto da idia de que os atores, numa determinada situao, tomam

    decises conscientes e estratgicas, em uma esfera de ao poltica que conjugue contextos

    institucionais e sociolgicos. A racionalidade requer crenas, desejos e aes que se

    relacionam de uma forma particular (FEREJOHN & PASQUINO, 2001). A validade desta

    relao uma condio de consistncia sustentada justamente pela racionalidade, sendo

    vlida para empregar em contextos que envolvam desejos, ambies e paixes. Por

    exemplo, um determinado indivduo, apesar de toda sua dedicao enquanto militante

    (varivel Y2), durante um perodo considervel de tempo, pode acabar no conseguindo

    lanar sua candidatura em detrimento de lderes ou militantes (em paralelo com o perfil de

    escolha dos candidatos de cada partido), agindo racionalmente, pressuporem que este

  • 26

    indivduo no vivel por n motivos (pouca expressividade externa, falta de carisma,

    conflitos entre grupos internos, dentre outros). Diferentes fatores podem ser trabalhados

    levando-se em conta as estratgias presentes no jogo de seleo de candidato. MAESTRAS

    (2003), como exemplo, trabalha com a hiptese de que tanto os candidatos mais ambiciosos

    preocupam-se com a opinio pblica, como o partido tambm busca enxergar no pblico

    uma reao positiva frente aos selecionveis. Os clculos de deciso dos candidatos e dos

    partidos seriam um problema multi-eleitoral, j que aquele que ambiciona um lugar na

    disputa deve assegurar e construir uma base eleitoral de suporte para um respaldo frente a

    deciso partidria, assim como para uma projeo futura para um cargo mais alto. Este

    exemplo vai de encontro com o que proposto aqui como alicerce referencial: as

    instituies (no caso, a partidria) so iminentemente atuantes em diferentes situaes

    scio-polticas.

    O partido poltico, enquanto uma organizao legtima presente em qualquer

    sistema representativo democrtico, ou nas palavras de TOCQUEVILLE (2001) um mal

    inerente aos governos livres (pg. 199), exerce uma funo institucional crucial no

    processo de surgimento do candidato. Podemos pensar em diferentes razes que

    evidenciam esta importncia, desde a necessidade de filiao prvia at o crivo partidrio,

    que a seleo destes candidatos. Possuindo suas regras, os partidos so instituies que

    constrangem e moldam a identidade, o poder e a estratgia de sua composio, ou seja,

    indivduos racionais. Resumiria os principais elementos que compem essas regras como

    sendo os estatutos, regimentos ou qualquer outro procedimento formal, assim como

    ideologia, regras e procedimentos informais.

    Os membros de um partido possuiriam assim interesses particulares imersos numa

    relao de constante interdependncia. Um candidato seria o fruto do jogo de interaes

    (carregando objetivos particulares somados a influncia institucional partidria). Se o

    ingresso em um determinado partido pode ser resultado de uma afinidade ideolgica, como

    acontece com a maioria da composio social dos partidos de massas, seguindo o modelo

    de DUVERGER (1980), ele estar sujeito, dependendo de suas ambies, a coao e

    autoridade conferida pela atuao e vivncia dentro do partido. No caso dos partidos de

    quadros, mesmo ocorrendo diferenas procedimentais (articulao de base, recursos de

  • 27

    filiao, estrutura partidria), de qualquer forma o indivduo estar sujeito s regras e a

    adequao ao perfil do jogo.

    Se aceitarmos que as normas e os procedimentos institucionais so o corpo e a alma

    das instituies (TSEBELIS, 1998), pode-se pensar que um candidato sair de uma mescla

    dentro do partido que envolve:

    INCENTIVO + DISCIPLINA + ACORDOS = CANDIDATO ESCOLHIDO

    As regras comporiam um quadro de incentivo, e os partidos estariam no centro da

    organizao do processo decisrio (LIMONGI, 1993, pg. 07). O equilbrio ocorreria por

    meio da atuao de lderes que coordenariam os processos decisrios no partido ou na

    atuao correlata de diferentes foras num plano restrito de nivelamento de influncia e

    poder. No cenrio onde a carreira poltica abrolha nos seus primeiros passos e sinais de

    surgimento, a estrutura partidria tem um papel significativo e decisivo.

    Admitindo esta viso, no estamos ocultando possveis aspectos j analisados por

    diversas pesquisas sobre o sistema partidrio nacional, que o identifica ou possuindo na

    maioria partidos pouco institucionalizados8 ou divergentemente, ao creditar na coerncia de

    atuao da cmara, por meio das bancadas partidrias, e na composio social um relevante

    grau de institucionalizao dos partidos9. Devemos lembrar que a idia de partido enquanto

    instituio que influencia no surgimento de lideranas visa abarcar diferentes partidos em

    suas diferentes formas de atuao poltica (sejam eles possuindo mais fidelidade, coeso e

    menos volatilidade). Obviamente devemos considerar que a competio partidria, com

    partidos institucionalmente fortes, um fator importante quando se analisa a busca por

    resultados eleitorais expressivos (a escolha deve partir de princpios que envolvam

    estratgias que considerem este fato).

    8 Ver LAMOUNIER & MENEGUELLO (1986) e MAINWARING (2001). 9 Podemos destacar os trabalhos de NICOLAU (1996) e FIGUEIREDO & LIMONGI (1999).

  • 28

    SCHLESINGER (1966), na dcada de 1960, j havia aplicado o paradigma da

    escolha racional para explicar tipos de comportamentos de parlamentares no congresso

    americano relacionados ambies de carreira. Para o autor, a ambio seria um fenmeno

    guiado pela estrutura de oportunidades que est colocada para o candidato. Por exemplo,

    para se pensar em ocupar postos eletivos, no bastariam apenas as estratgias individuais10,

    mas merecendo ateno fatores como o grau de profissionalizao do legislativo em

    questo, a composio partidria da constituinte, as congruncias e preferncia partidrias,

    dentre outros. Como bem cita SCHLESINGER

    potential candidates are more likely to seek office when they

    face favorable political and a structural circumstances (pg.

    644).

    Fatores exgenos devem ser considerados no processo de ambio, por parte do

    agente, assim como na tentativa de compreenso profcua de uma situao poltica que

    envolva a construo de candidaturas.

    Dentro de uma arena poltica que engloba diferentes tipos de estratgias e payoffs,

    os partidos (via maioria em geral ou alguns lderes, dependendo do grau de participao dos

    membros) iro procurar aqueles candidatos que lhes proporcionem resultados eleitorais

    significativos ou que de alguma forma apresente uma manifestao como resultado da

    escolha dos militantes, da necessidade de se refletir frente a sociedade que representa ou em

    acordo com suas linhas ideolgicas. Em qualquer contexto, todo processo envolve escolhas

    racionalmente timas (ou aparentemente sub-timas, que protegem e camuflam reais

    intenes de jogada).

    Algumas pessoas detm o monoplio das decises (como representantes polticos

    democraticamente eleitos). ELGIE (1995) reconhece que as estruturas institucionais

    influenciam em grande parte na escolha da liderana. O lder seria, em parte, o produto de

    uma esfera, de uma interao entre pessoas de destaque.

    10 Percebe-se neste aspecto uma crtica ao pensamento behaviorista.

  • 29

    the leadership process was a product of the

    interaction between the ambitions and a styles of

    political leaders, the needs of the society and

    institutional structures. However, they also confirmed

    that institutional had the most significant impact on

    the interaction process (pg. 202).

    As instituies definiriam assim as regras do jogo e os caminhos seriam limitados

    pelas mesmas. A natureza e a formao do indivduo determinariam a escolha de caminhos

    pr-fixados institucionalmente. Os lderes polticos fariam suas escolhas e seriam

    escolhidos dentro de um contexto, ou seja, o comportamento no caminha como uma

    varivel independente.

    Concluindo este primeiro captulo, reafirmo a importncia da vertente neo-

    institucionalista enquanto aparato terico para se compreender o processo de surgimento

    do candidato, haja visto que o objetivo desta pesquisa focalizar a instituio partidria

    como protagonista do processo de seleo do concorrente. As variveis analticas

    apresentadas nesta primeira parte sero abordadas com mais detalhes nos prximos dois

    captulos, amparadas pela discusso bibliogrfica pertinente ao tema de carreira poltica e

    os estudos de surgimento do candidato.

  • 30

    Captulo 2

    O processo de construo de candidaturas aspectos de carreira e

    organizao partidria

    __________________________________________________________

    Para tarefas de liderana, s esto

    preparados homens que foram

    selecionados no curso da luta

    poltica, pois a essncia de toda

    poltica a luta

    (Max Weber, 1997, pg. 45).

    Em qualquer perodo de eleies no Brasil, sejam elas em mbito nacional ou local,

    os eleitores se deparam, dentre um amplo leque de opes, com figuras que so incumbidas

    e se incumbem de apresentar-se como uma opo representativa, merecedor do depsito do

    voto daquele eleitor. A figura do candidato e o processo que envolve o seu surgimento, vem

    sendo um tema bastante negligenciado na literatura da Cincia Poltica Nacional. Esta

    escassez merece ateno porque invariavelmente acaba atrelando-se a outros dois pontos

    que em igual medida requerem um diagnstico mais detalhado. Quando se cogita conhecer

    os procedimentos que envolvem o nascimento de uma candidatura, preciso ter em mente

    que esta situao est imersa em esferas correlacionadas a estudos de organizao partidria

    e carreira poltica. Explico.

    O candidato, frente a condio sine qua non de elegibilidade, deve estar filiado um

    partido poltico para pleitear um cargo eletivo. Na democracia representativa, o partido

    surge como uma pea chave atuando como eixo de ligao entre a ambio individual e a

    disputa oficializada. Ele o agente que organiza o processo eleitoral (KINZO, 2005),

    controlando a produo de representao (BRAGA, 2006). Raros so os estudos sobre os

    partidos na tica de sua organizao partidria. E mais raros ainda so pesquisas

  • 31

    consistentes que tratam de sua importncia no processo de surgimento do candidato. Sendo

    assim, analisar o processo de construo de candidaturas perpassa sobre a considerao de

    estar entendendo os diferentes processos que envolvem a organizao partidria, no que

    tange os mecanismos e processos internos de escolha de candidatos, que assim possibilitou

    estar lanando determinado indivduo como representante da sua sigla.

    Por outro lado, este processo de seleo de candidatos insere-se no contexto da

    carreira poltica, enquanto varivel independente sujeita a diferentes formas de abordagens

    e interpretaes. Quando se pensa em carreira poltica, fundamental no fazer uma direta

    relao com uma seqncia de atuaes polticas previamente construdas. Por exemplo,

    possvel estudar trajetrias de carreira e composio social partindo dos representantes de

    uma determinada instituio (como o Legislativo Federal, alvo da grande maioria dos

    estudos sobre carreira poltica no Brasil11), como tambm possvel estudar trajetrias

    individuais.

    Todavia, possvel acrescentar ampla gama de possibilidades de diagnsticos

    sobre carreira, a questo do primeiro passo, da iniciativa, do pontap que possibilita um

    cidado comum estar inserindo-se no processo poltico. Ilustrando, no possvel querer

    conhecer afinco a trajetria profissional de algum sem conhecer as suas primeiras

    iniciativas em determinada profisso. A mesma coisa acontece com um poltico, que ao

    apresentar-se no ambiente da disputa poltica, foi obrigatoriamente envolto por situaes

    prvias que ocupam a fase inicial de sua jornada. Estas situaes classifico como situaes

    primrias de carreira poltica, porque representa a primeira etapa, embalada pela

    obrigatoriedade, da entrada em uma disputa poltica. Obviamente que a referncia aqui no

    direciona-se somente aos novatos, os chamados outsiders, que pela primeira vez inserem-se

    nesta situao caracterstica. Cada eleio envolve decises eleitorais, disputas partidrias,

    ambies pessoais. Mesmo aquele que galga a muito tempo uma longa trajetria estar

    irremediavelmente sujeito a estas situaes primrias. 11 Em meu trabalho monogrfico realizei uma ampla reviso bibliogrfica sobre as principais produes nacionais e algumas internacionais sobre carreira poltica. Cheguei a constatao de que os Cientistas Sociais brasileiros tm dedicado, mesmo diante das raras pesquisas, ateno especial para o estudo da carreira do deputado federal, assim como da composio social da Cmara dos Deputados. Para maior detalhes ver MARQUES, Jos Elias Domingos Costa. Carreira Poltica: um balano crtico das principais produes nacionais. Monografia de concluso de curso. Depto Cincias Sociais. Dez. 2004. No prximo tpico algumas das principais produes sero abordadas.

  • 32

    Pensar em carreira poltica associar, em convergncia, a escolha dos polticos

    somada aos constrangimentos institucionais na qual esto sujeitos, bem como o resultado

    das eleies (BOURDOUKAN, 2006). Para KUSCHNIR (2000), a entrada na vida poltica

    invariavelmente condiciona-se a dois fatores cruciais: desempenho individual + fatores

    exgenos.

    Sendo assim, a linha de anlise deste trabalho direciona-se sob o prisma dos estudos

    de carreira poltica, especificamente no que tange a importncia legal do partido poltico em

    interferir, incentivando ou limitando indivduos a ingressar na carreira, atravs da seleo

    de candidatos.

    Isso corresponde a levantar temas que envolvam a fase de recrutamento para

    disputar eleies, a dinmica intra-partidria, as estratgias organizativas de conquista de

    apoio dentro do partido e a vinculao entre as elites partidrias, os candidatos e os

    eleitores. Partindo desta perspectiva, aparece como importante conhecer os arranjos

    internos de uma organizao partidria. No entanto, DUVERGER (1980) alertara para a

    dificuldade de se estudar as organizaes partidrias, uma vez que o acesso a arquivos

    internos do partido se torna uma tarefa rdua para o pesquisador. Dependendo do grau de

    abertura e flexividade do partido, muitas informaes correm o risco de no serem precisas,

    obstruindo o bom andamento da compreenso dos diferentes processos partidrios.

    FREINDENBERG & LPEZ (2002), na tentativa de compreenso da seleo de

    candidatos a presidncia na Amrica Latina, ressaltam os motivos para a dificuldade em

    trabalhar com este tipo de anlise, a saber:

    9 A dificuldade em se obter dados fidedignos (falta de registros, dificuldade de acesso por parte do observador externo aos arquivos no pblicos dos partidos);

    9 As constantes mudanas de procedimentos dos partidos que impedem o estabelecimento de pautas de funcionamento estveis um mesmo partido pode

    empregar mecanismos diferentes em eleies respectivas;

    9 Incongruncia entre os procedimentos formais (estatutrios) e as atitudes informais.

  • 33

    Uma vez que as organizaes possuem mecanismos para associar interesses,

    tambm vlido pensar que estas mesmas organizaes estaro passveis de restringir o

    acesso de profanos a qualquer material que envolva situaes internas que no

    obrigatoriamente esto passveis de serem divulgadas.

    PANENBIANCO (1990) aponta as razes para a resistncia em estudar

    organizaes partidrias como fruto no somente das dificuldades objetivas nesta tentativa

    de anlise, mas tambm em decorrncia de preconceitos, de hbitos mentais difundidos na

    literatura sobre partidos que criam barreiras e diafragmas difceis de romper entre o

    observador e o objeto observado (op.cit. pg. 04). Os preconceitos seriam divididos em

    duas categorias: os sociolgicos, uma vez que existe a considerao dos partidos como nada

    mais do que as manifestaes das divises sociais em mbito poltico; e o teleolgico, que

    consiste no vcio de alguns pesquisadores em atribuir razes inatas, objetivos a priori,

    procurando deduzir suas atividades e caractersticas organizativas.

    Um processo de carter ntimo como a escolha de um candidato envolve

    situaes, assuntos e questes que sero pertinentes somente queles que fazem parte como

    membros do partido. A transparncia ou no est a critrio de cada organizao, e esta

    transparncia e/ou melhor acessibilidade aos dados condizentes com esta situao interna

    tero respaldo no grau de abertura que o estatuto prev para este tipo de situao (neste

    caso um pesquisador buscando ter acesso atas, regimentos, participar de assemblias e

    reunies), na deciso dos dirigentes em fazer essa concesso ou mesmo dependendo do

    contexto poltico-social pelo qual o partido vem passado ou est passando no momento12.

    Todos estes fatores esto relacionados, podendo um ser causa ou conseqncia do outro.

    Considerando ambos os preconceitos apontados por PANENBIANCO (op.cit.),

    qualquer fenmeno que aparentemente parecer improvvel, diante da expectativa que

    previamente havia-se feito sobre um fato relacionado do partido, no deve ser encarado

    como uma anomalia. Se utilizarmos a tipologia de KIRCHERAMIER (1966) para

    classificar determinado partido de cacht-all, o que devemos esperar um comportamento X

    envolvendo o surgimento de uma candidatura que condiz com aquela tipologia especfica

  • 34

    apontada pelo autor. No entanto, e isto estar mais lcido no item organizao partidria

    organizando as carreiras, nem sempre possvel prever uma situao partindo de

    supostas razes inatas incrustadas ao partido, que por si mesma deveria estar respondendo a

    este tipo de questo atravs de fatos j pensados. A dificuldade em aceitar postulados como

    de DOWNS (1999) , que tem como prerrogativa pensar que a funo objetiva dos partidos

    consiste em ganhar eleies, recai neste paradigma. Ser que todos os candidatos

    selecionados so necessariamente destinados a ganhar eleio, mesmo aqueles que surgem

    apenas para puxar votos para a legenda e assim favorecer os mais votados dentro do

    partido? No existiriam candidatos que no buscam iniciar uma trajetria de carreira, mas

    por intermdio das eleies clamarem ateno para alguma situao aleatria ou fazer a

    propaganda ideolgica do partido, sem necessariamente ocupar o poder?

    As organizaes partidrias constituem um desafio enquanto objeto de estudo.

    A transparncia, maior clareza e melhor compreenso de diversos fenmenos polticos

    dependem do atravessar da linha entre os que se aventuram em compreender os

    mecanismos internos de um partido ou no.

    Passaremos agora a analisar os principais estudos sobre carreira poltica, com

    destaque para as produes nacionais. Afirmamos que o partido poltico interfere de

    diferentes formas na carreira poltica de um indivduo, e destacamos nesta pesquisa esta

    interferncia atravs do processo de construo das listas de candidatos. Por isso torna-se

    indispensvel problematizar os trabalhos sobre carreira, de forma a inserirmos a discusso

    proposta nesta pesquisa com as contribuies analticas j existentes.

    2.1 Perspectivas de carreira poltica problematizando as interpretaes

    correntes

    Atualmente13 o Brasil possui 59.252 polticos eleitos, distribudos nos trs

    nveis: federal, estadual e distrital. So exatamente 513 deputados federais, 1059 deputados

    estaduais, 81 senadores, 1 presidente, 27 governadores, alm dos 5.562 prefeitos e 51.819

    12 Esta pesquisa, como exemplo, teve alguns empecilhos no que diz respeito busca por documentos do PT e PSDB no municpio de So Carlos. Havia sempre a desconfiana das lideranas de ambos os partidos sobre o encaminhamento que qualquer documentao emitida poderia levar. 13 Dados postados relativos a novembro de 2004, portanto aps as eleies em todas as cidades do pas.

  • 35

    vereadores14. um nmero considervel, se formos pensar analiticamente em cada situao

    que envolveu a candidatura de cada um destes atores polticos. Absolutamente correto

    pensar que suas escolhas de carreira foram condicionadas por preferncias, no somente do

    respectivo ator (motivaes pessoais, traduzidas sob a forma de ambio poltica), mas

    tambm das estruturas institucionais que enxergaram nele um sujeito potencial para de

    alguma forma estar pleiteando tal cargo. A busca por determinado cargo construda dentro

    do contexto das oportunidades eletivas que esto postas. Estas oportunidades caminham em

    paralelo com a subjetividade que inerentemente envolve o sujeito na nsia por conquistar

    determinado posto.

    At a dcada de 60, sob a influncia das vertentes behavioristas e

    comportamentalistas, acreditava-se que o sucesso na vida poltica dependia quase que

    exclusivamente das caractersticas pessoais do candidato, ou aquele que se postulava s-lo.

    Os atributos pessoais, personalidade, motivaes eram os pontos chaves a serem

    considerados, ocorrendo assim uma valorizao das qualidades inerentemente subjetivas do

    poltico para seu sucesso ou fracasso no mundo da poltica (eloqncia, desenvoltura,

    carisma). Elementos como oportunidades, ideologia, background do candidato, socializao

    poltica (expertise), no eram levados em conta. .A intermediao institucional era vista

    como algo secundrio, sem tanta relevncia, uma vez que ambas as vertentes apoiavam-se

    na idia do indivduo autnomo, enquanto agente inserido em certo contexto poltico ou

    social15.

    Muito tempo antes WEBER (1997) ressaltava a importncia do partido no processo

    de racionalizao e orientao das opinies e atitudes polticas. Mesmo salientando as

    caractersticas que deveriam estar presentes na conduta de qualquer poltico profissional

    (tica da convico e tica da responsabilidade), onde o empreendimento poltico deveria

    caber a pessoas interessadas, o autor afirma que os polticos profissionais recorrem ao

    partido para poder fazer uma disputa saudvel e coerente, haja visto o processo de seleo

    de candidatos, nas modernas organizaes burocrticas, estarem menos informais e mais

    racionalizadas.

    14 Neste caso no foi includo os cargos de vice. Os dados esto disponveis no site do TSE e tambm na pgina www.politicosdobrasil.com.br 15 Ver as anlises sobre o behaviorismo nos estudos de carreira em Hibbing, John R. 1999. "Legislative Careers: Why and How We Study Them." Legislative Studies Quarterly 24 (Maio): 149-71.

  • 36

    Esta racionalidade das organizaes apontada por WEBER (op.cit.) nos orienta no

    sentido de considerar todo denominador comum (candidato) de qualquer seleo como um

    resultado amparado por aes calculadas. Isto do ponto de vista do agente que busca a

    candidatura, mas tambm do ambiente partidrio, dentro de uma lgica de ao coletiva

    (OLSON, 1999), que direciona fluxos de deciso conjunta.

    Diversas so as expectativas de estar concorrendo um cargo, condicionadas a

    diversos tipos de fatores, como disposies pessoais, experincia prvia (podemos pensar

    no conceito de expertise) e condies demogrficas (meio poltico de oportunidades).

    Ideologia, estrutura familiar inserida na vida poltica (educao politizada), grupos de

    interesses, expectativas competitivas (FOX & LOWLESS, 2005) so variveis que

    influenciam a postulao de um concorrente a representante pblico.

    SCHLESINGER (1966), como j foi dito, inaugura o perodo da proeminncia da

    escolha racional nos mais diferentes estudos sobre carreira poltica e surgimento de

    candidatos. O curso de ao do agente estaria atrelado a trs tipos de ambies:

    progressiva, esttica e regressiva16. O resultado de uma ao seria o efeito cuja causa

    originar-se-ia da estrutura de oportunidades interligadas com a perspectiva de conduta. A

    literatura norte-americana repleta de artigos e teses que buscam dar crdito a este tipo de

    perspectiva como a que melhor explica o porqu de determinado indivduo X ser aquele

    que vai pleitear um cargo eletivo em detrimento de Y ou Z, principalmente em estudos

    voltados para o Congresso dos EUA17.

    BLACK (1972) props, atravs da frmula U (0)=(PB) C18 , um meio para tentar

    prever os cursos de ao de um candidato frente a uma possibilidade de escolha entre optar

    16 Os trs tipos de ambies apontados por Schlesinger partem da premissa do conhecimento prvio da estrutura de carreira no sistema avaliado. Nos EUA, existem algumas consideraes sobre os diferentes tipos de cargos e a sua respectiva importncia. No Brasil, as primeiras abordagens ainda so feitas de forma intuitiva, como ser visto no prximo ponto. 17 Em adendo, a literatura da Cincia Poltica Norte-americana vem prestando importantes contribuies para os estudos de carreira, principalmente enfocando o grau de profissionalismo dos membros do Congresso. Para uma busca mais apurada, vem os excelentes trabalhos de Rosenthal, Alan. 1996. "State Legislative Development: Observations from Three Perspectives." Legislative Studies Quarterly 21 (Maio): 169-98; e Squire, Peverill. 1992. "The Theory of Legislative Institutionalization and the California Assembly." Journal of Politics 54 (Novembro): 1026-54. 18 Onde U (0) a utilidade de um cargo, P a estimativa de probabilidade de obter um cargo, B o benefcio oriundo do cargo pretendido e C so os custos de campanha.

  • 37

    por tentar concorrer a um outro cargo ou manter-se no mesmo atravs da reeleio. As

    opes partem do princpio da escolha individual, delimitadas mediante o leque de

    oportunidades que esto postas na mesa, tal como um conjunto de jogadores que em uma

    partida assumem condutas, procedimentos, aes, lances, dentro das limitaes presentes na

    regra. Seguindo na mesma linha de anlise, alguns autores ora adotam a idia da propenso

    convulsiva de parlamentares em alcanar postos mais altos, assumindo os riscos frente a

    possibilidade real de vitria, ora acreditam que polticos no esto sempre dispostos a

    enfrentar desafios concorrendo a postos eletivos mais altos19. Os exemplos aqui

    apontados deixam claro que os estudos de carreira padro nos Estados Unidos so

    amparados terico e metodologicamente por anlises concernentes ao Congresso, tal como

    o ndice de renovao de postos, as migraes partidrias, as disputas internas por cargos

    em Comisses, o abandono do cargo.

    BORCHERT & STOLZ (2002)20, procuram, baseados na concepo de Schlesinger

    (1966) sobre ambies polticas, traar uma tendncia para este tipo de perspectiva de

    carreira com os polticos na Alemanha. Neste pas, a carreira poltica cercada de

    incertezas, onde a cada pleito o deputado necessita de variveis que vo desde o apoio do

    eleitorado (capital eleitoral fixo) at as disposies de patrocinadores (partidos, polticos,

    empresas). Existe uma estrutura de oportunidade, com opes e estratgias. Nem todo

    cargo ir ser acessvel a qualquer poltico. Isto ir variar de acordo com o grau de expertise

    que o poltico venha a possuir.

    Os polticos na Alemanha teriam assim certa insegurana quanto prpria

    segurana de manuteno dos seus cargos, uma vez que isto no somente depende de seu

    desempenho individual. Existiriam assim duas formas de insegurana: pelos caminhos

    incertos da prpria carreira e a questo do recrutamento minucioso.

    Nota-se que os partidos, neste contexto, estariam sempre condicionados a fazer uma

    avaliao dos riscos que invariavelmente todo poltico sofre ao disputar uma eleio. O

    candidato apto a representar o partido ser aquele que possui melhores chances de vitria.

    19 Ver MAYHEW, 1973. 20 Fighting Insecurity: Political Careers and a Career Politics in the Federal Republic of Germany(2002). Ambos so professores de Cincia Poltica da Universidade de Goettingen, Alemanha, e possuem um grupo de estudos intitulado Research Group: Politics as a Profession, no Centro de estudos Europeus e norte-americanos na mesma Universidade.

  • 38

    Na Inglaterra, como aponta KAM (2002)21, os congressistas ou aqueles que ambicionam

    estar ingressando na vida pblica so invariavelmente condicionados a seguir as linhas de

    conduta de preferncia dos partidos. Uma promoo partidria possuiria muito mais peso

    do que qualquer tentativa individual de manobra dentro do Congresso para se conseguir

    qualquer forma de apoios, seja para uma reeleio, ou mesmo para a disputa de um cargo

    mais importante. Os chamados dissidentes (ou dissents) do respaldo do lder partidrio

    dificilmente conseguem galgar algum degrau na rgida estrutura de carreira britnica.

    Quando entramos na esfera das produes nacionais, nos deparamos com uma gama

    de discusses que envolvem o tema de carreiras, que abordam principalmente a relao

    entre permanecer ou no em determinado cargo e as disputas polticas em torno da

    viabilidade eleitoral, em face com as vrias dificuldades postas.

    perceptvel que nos estudos apresentados prevalece o enfoque voltado para

    atitudes do ator social, enquanto imerso num contexto institucional que delimita suas aes.

    Os rumos das trajetrias, os avanos, os retrocessos, as decises, so observadas tendo

    como ponto de partida a atitude do sujeito. No entanto, as limitaes a que estes atores

    polticos esto sujeitos tal qual fundamentais so nos estudos de seleo de candidatos. O

    que se procura aqui deixar claro diz respeito necessidade de uma maior compreenso dos

    arranjos institucionais nos quais os futuros candidatos estaro propensos a esbarrar ou at

    mesmo colidirem.

    No Brasil, mesmo diante de alguns importantes trabalhos, os holofotes da Cincia

    Poltica ainda no so fortemente direcionados para a carreira poltica, enquanto objeto

    analtico de estudo. BOURDOUKAN (2006) aponta as duas principais maneiras de se

    estudar carreiras polticas:

    A primeira possibilidade liga-se a tradio dos estudos das elites, enfatizando o recrutamento dos polticos classe social de origem, caractersticas pessoais, grupo

    tnico, cultural, religioso a que esto envolvidos, etc. Para a autora, os objetivos destes

    estudos buscam determinar os nveis de oxigenao da elite poltica, assim como a

    comparando esta elite enquanto representante da sociedade que a elegeu.

    21 Quid Pro Quo: Loyalty, Dissent, and Career Advancement in British Parliamentary Parties, 1970-95.

  • 39

    A segunda forma observa as carreiras polticas como variveis independentes, ressaltando as oportunidades e constrangimentos a que esto sujeitos os polticos e que

    caractersticas do sistema poltico podem ser mais bem compreendidas a partir destes

    pontos de vista.

    A primeira forma de abordagem certamente tem merecido mais destaque, inclusive

    no Brasil, tanto porque realmente perpetuam-se estudos sobre o surgimento e manuteno

    das elites. Todavia possvel interligar as duas maneiras de compreender carreiras,

    buscando elementos em ambas as esferas que possibilitem uma melhor rentabilidade de

    anlise. No caso aqui proposto, foi elementar visualizar a composio social que compunha

    a chapa de candidatos de um partido, por exemplo, observando o perfil de cada um

    daqueles que iam concorrer nas eleies, para melhor visualizar as preferncias partidrias

    para este ou aquele aspirante.

    O Brasil sempre foi recheado, desde os estudos precursores de carreira, com

    diagnsticos de caractersticas pessoais que facilitavam a compreenso de situaes que

    envolviam Legislativo-Executivo, composio de chapas e alianas congressuais,

    recrutamento de filiados, seleo de candidatos. Os primeiros estudos nascem no perodo

    da Ditadura Militar, um perodo onde o Brasil, nas palavras de SANTOS (2000):

    vivia um momento poltico extremamente delicado quando surgem os primeiros estudos sobre carreira poltica e composio

    social das elites parlamentares22

    O trabalho de Maria Antonieta Leopoldi, intitulado Carreira Poltica e mobilidade

    social: O legislativo como meio de ascenso social (1973), juntamente com o trabalho de

    Nilda Pitta e Jos Maria Arruda, intitulado Composio sociolgica da Assemblia

    Legislativa do estado da Guanabara (1966) podem ser considerados os primeiros estudos

    deste gnero no Brasil.

    Publish in American Political Sciene Association, Boston, M. August. 2002. 22 SANTOS, Fabiano Deputados Federais e instituies legislativas no Brasil: 1946-99 in Elites Polticas e Econmicas no Brasil Contemporneo. Ed. Konrad Adenauer, 2000 pg. 93.

  • 40

    Leopoldi aponta os resultados de um estudo feito com os polticos do antigo Estado

    da Guanabara, e se baseou precisamente em entrevistas com os candidatos a Deputado

    Estadual e Federal pelo Estado da Guanabara nas eleies de 1970.

    Deste trabalho saram vrios artigos da autora, inclusive um sobre carreira poltica.

    Tambm foi a partir deste trabalho que alguns outros, localizados especificamente neste

    estudo de caso foram realizados23. Percebe-se que no Rio de Janeiro, mais

    especificamente no antigo estado da Guanabara, que germinam os primeiros interesses

    pelas anlises de composies e trajetrias de polticos em suas carreiras e a forma como

    isto interferia no sistema poltico.

    E quanto as produes realizadas, a maioria volta-se para anlises sobre a Cmara

    dos Deputados. Alis, no somente nos estudos de carreira poltica a Cmara vem

    merecendo muitos flashes de estudos, mas tambm,