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Universidade Federal de So Carlos
Programa de Ps-Graduao em Cincias Sociais
Na busca dos novos lderes: o processo de construo de
candidaturas ao legislativo municipal aspectos tericos e
um estudo de caso.
Jos Elias Domingos Costa Marques
Dissertao de mestrado apresentada ao
Programa de Ps-Graduao em Cincias
Sociais do Centro de Educao e Cincias
Humanas da Universidade Federal de So
Carlos, como parte dos requisitos para a
obteno do Ttulo de Mestre em Cincias
Sociais.
Orientadora: Prof. Dra. Maria do Socorro
Braga
So Carlos - SP
Outubro de 2007
Ficha catalogrfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitria da UFSCar
M357bn
Marques, Jos Elias Domingos Costa. Na busca dos novos lderes : o processo de construo de candidaturas ao legislativo municipal aspectos tericos e um estudo de caso / Jos Elias Domingos Costa Marques. -- So Carlos : UFSCar, 2008. 197 f. Dissertao (Mestrado) -- Universidade Federal de So Carlos, 2007. 1. Cincia poltica. 2. Novo institucionalismo. 3. Seleo de candidatos. 4. Recrutamento poltico. 5. Carreira poltica. I. Ttulo. CDD: 320 (20a)
1
Quem deseja dedicar-se poltica, e principalmente, quem deseja dedicar-se poltica em termos de vocao deve tomar conscincia
destes paradoxos ticos e da responsabilidade quanto quilo em que ele prprio poder transformar-se sob presso daqueles
paradoxos. Repito que ele se compromete com potncias diablicas que atuam com toda a violncia
Max Weber A poltica como vocao
2
Agradecimentos
Em primeiro lugar agradeo ao GADU pelas muitas graas concedidas. Gostaria de agradecer Universidade Federal de So Carlos e ao Departamento de
Ps-Graduao em Cincias Sociais, pelo amparo institucional fornecido durante o
mestrado.
Agradeo de corao minha orientadora e amiga Prof. Dra. Maria do Socorro
Braga. Seu auxlio e suas instrues foram fundamentais no somente para a construo
desta dissertao, mas tambm para o meu amadurecimento enquanto estudante e
pesquisador. Mesmo que me esforasse mais, meus agradecimentos aqui nunca seriam
suficientes.
Agradeo ao Prof. Dr. Fernando Azevedo e Prof. Dra. Maria Teresa Kerbauy, que
gentilmente aceitaram fazer parte da banca de defesa. Agradeo tambm ao Prof. Dr.
Eduardo Noronha, meu primeiro orientador e porta de entrada para o universo da pesquisa
acadmica.
Agradeo tambm a todos os professores de vrias Universidades do pas que
pacientemente leram meus e-mails, solucionaram muitas dvidas, enviaram arquivos,
criticaram e elogiaram meus textos. Enfim, agradeo de corao aqueles que de alguma
forma colaboraram com esta pesquisa.
CAPES, pelo apoio financeiro concedido, possibilitando-me a dedicao integral
ao trabalho de pesquisa.
Aos meus amigos, que certamente estaro comemorando comigo mais uma vitria.
No poderia deixar de citar a minha amiga Karina Mariano. Sem sombra de dvidas
voc foi a melhor pessoa que conheci em meus longos seis anos na cidade de So Carlos.
Deixo aqui um TFA a todos os meus irmos da Maonaria e da Ordem DeMolay.
Agradeo tambm a minha querida Mnica. Sua importncia resume-se na nossa
tima convivncia.
Aos meus familiares que deixei em Cuiab, minha terra Natal, em So Paulo e em
Ribeiro Preto, mas que sempre estaro comigo, porque somos praticamente um s.
3
Aos meus irmos Tiago e Danilo, meu alicerce, as nicas pessoas que eu tenho
certeza que estaro comigo pelo resto da vida.
Ao meu pai, guido Pedro da Costa Marques. Certamente nenhuma distncia
capaz de abalar um sentimento to forte e puro.
E principalmente agradeo aquela que sem sombras de dvidas a pessoa mais
importante que eu tenho na vida: minha ME, Judete Domingos. Esta dissertao
dedicada especialmente ela.
4
Sumrio
Resumo/Abstract...................................................................................................................08 Introduo Apresentao e justificativa para a realizao da pesquisa...................................................09 Estrutura da dissertao.........................................................................................................13 Captulo I - O papel do neo-institucionalismo na Cincia Poltica e o amparo da rational choise como ferramenta terica na compreenso do processo de escolha de candidatos................................................................................................................................16 1.1) O institucionalismo e a escolha de candidatos................................................................22
Captulo II - O processo de construo de candidaturas aspectos de carreira e organizao partidria...............................................................................................................................30
2.1) Perspectivas de carreira poltica problematizando as interpretaes correntes................................................................................................................................34
2.2 ) O cargo de vereador.....................................................................................................46
2.3) Organizaes partidrias organizando carreiras.........................................................53
Captulo III Partidos e lideranas: o subsistema partidrio da cidade de So
Carlos...................................................................................................................................64
Captulo IV - A lgica da seleo: um estudo de caso sobre o PT e o PSDB na cidade de
So Carlos eleies de 2000 e 2004...................................................................................89
4.1) A seleo no discurso: uma sntese dos critrios formais de escolha dos candidatos do
PT e PSDB em mbito municipal..........................................................................................95
4.2) A busca por evidncia: o contexto das eleies no ano 2000 na cidade de So
Carlos....................................................................................................................................99
4.3) A rivalidade PT x PSDB: o contexto das eleies no ano de
2004......................................................................................................................................131
5
Consideraes Finais............................................................................................................164
Apndice - Procedimentos Metodolgicos
Coleta de dados...................................................................................................................172 Anlise dos dados................................................................................................................179
Bibliografia...........................................................................................................................181
Anexos
Anexo I Roteiro de entrevistas semi-estruturadas.............................................................192
Anexo II Ocupao dos vereadores eleitos pelo PT e PSDB nas eleies de 2000 e
2004...........................................................................................................................................
6
Lista de figuras, tabelas, grficos e diagrama.
Diagrama I Variveis subjetivas e partidrias....................................................................24
Figura I Estrutura da carreira poltica no Brasil.................................................................42
Figura II - Matria publicada no Jornal Primeira Pgina.....................................................138
Tabela I Primeiro cargo pblico segundo o nvel da federao.........................................51
Tabela II Primeiro cargo pblico dos deputados federais (legislatura 2002 2006).........52
Tabela III - Resultado das eleies para prefeito no municpio de So Carlos 1982..........70
Tabela IV Resultado das eleies para prefeito no municpio de So Carlos 1988.........73
Tabela V Resultado das eleies para prefeito no municpio de So Carlos 1992...........76
Tabela VI - Resultado das eleies para prefeito no municpio de So Carlos 1996........79
Tabela VII - Resultado das eleies para prefeito no municpio de So Carlos 2000.........82
Tabela VIII - Resultado das eleies para vereador no municpio de So Carlos 2000......83
Tabela IX - Resultado das eleies para prefeito no municpio de So Carlos 2004........85
Tabela X - Resultado das eleies para vereador no municpio de So Carlos 2004........85
Tabela XI - Nmero de vereadores eleitos pelo PT e PSDB................................................87
Tabela XII - Ocupao dos vereadores por partido eleies em So Carlos no ano
2000.....................................................................................................................................107
Tabela XIII - Distribuio de vagas por gnero eleies ano 2000 em So Carlos.........112
Tabela XIV - Candidatos presentes em 1996 que no disputaram as eleies em 2000 pelo
PSDB - Relao candidato/nmero de votos......................................................................117
Tabela XV - Candidatos presentes em 1996 que disputaram as eleies em 2000 pelo PSDB
Relao candidato/nmero de votos....................................................................................118
Tabela XVI - Candidatos presentes em 1996 que no disputaram as eleies em 2000 pelo
PT Relao candidato/nmero de votos...........................................................................119
Tabela XVII - Candidatos presentes em 1996 que disputaram as eleies em 2000 pelo PT
Relao candidato/nmero de votos.................................................................................119
Tabela XVIII - Candidatos selecionados para disputar as eleies em 2000 pelo PT
Relao candidato/tempo de filiao..................................................................................121
7
Tabela XIX - Candidatos selecionados para disputar as eleies em 2000 pelo PSDB
Relao candidato/tempo de filiao..................................................................................124
Tabela XX - Ocupao dos vereadores por partido eleies em So Carlos no ano
2004.....................................................................................................................................140
Tabela XXI - Distribuio de vagas por gnero eleies ano 2004 em So Carlos.........147
Tabela XXII - Candidatos presentes em 2000 que no disputaram as eleies em 2004 pelo
PT Relao candidato/ nmero de votos..........................................................................148
Tabela XXIII - Candidatos presentes em 2000 que disputaram as eleies em 2004 pelo PT
Relao candidato/nmero de votos.................................................................................149
Tabela XXIV - Candidatos presentes em 2000 que no disputaram as eleies em 2004 pelo
PSDB Relao candidato/nmero de votos......................................................................151
Tabela XXV - Candidatos presentes em 2000 que disputaram as eleies em 2004 pelo
PSDB - Relao candidato/nmero de votos......................................................................152
Tabela XXVI - Candidatos selecionados para disputar as eleies em 2004 pelo PT
Relao candidato/tempo de filiao..................................................................................156
Tabela XXVII - Candidatos selecionados para disputar as eleies em 2004 pelo PSDB
Relao candidato/tempo de filiao..................................................................................158
Grfico I Proporo de votos por partido eleies para prefeito em So Carlos............86
Grfico II - Grau de escolaridade dos candidatos a vereador pelo PSDB eleies ano
2000.....................................................................................................................................109
Grfico III - Grau de escolaridade dos candidatos a vereador pelo PT eleies ano
2000.....................................................................................................................................110
Grfico IV - Mdia de idade eleies ano 2000 em So Carlos......................................111
Grfico V - Eixo comparativo mdia de idade nas eleies do ano 2000........................112
Grfico VI - Grau de escolaridade dos candidatos a vereador pelo PT eleies ano
2004.....................................................................................................................................142
Grfico VII - Grau de escolaridade dos candidatos a vereador pelo PSDB eleies ano
2004.....................................................................................................................................143
Grfico VIII Mdia de idade eleies ano 2004 em So Carlos...................................145
Grfico IX - Eixo comparativo mdia de idade nas eleies do ano 2004.....................146
8
Resumo O presente trabalho objetiva, sob o prisma dos estudos neo-institucionalistas, analisar o processo de construo de candidaturas ao legislativo municipal, partindo da premissa de que os partidos polticos participam ativamente deste processo enquanto agentes institucionais de controle sobre a carreira poltica. A pesquisa adota a perspectiva da rational choise de forma a apontar o candidato como sendo fruto do jogo poltico envolvendo as lideranas partidrias. A dissertao estrutura-se em torno de dois eixos: um de carter mais terico, abordando e atrelando as principais discusses bibliogrficas sobre os temas seleo de candidatos e carreira poltica; e um estudo de caso, que engloba o processo de seleo de candidatos a vereador nos dois principais partidos polticos da cidade de So Carlos, durante as duas ltimas eleies municipais (2000 e 2004). Palavras-chave: seleo de candidatos; recrutamento poltico; carreira poltica, neo-
institucionalismo
Abstract This article subjects, under the prism of the neo-institutionalism studies, analyze the process of building of candidacies to the municipal legislative, which the political parties has an important paper in this process while institutional agents of control above the career policy. The research adopts the prospect of the rational choise to show the candidate as being result from the political encompassing the leaderships parties. The dissertation bodywork shares in two parts: one involving a theory work, approaching the most important researches about the subject; and like a case work, beyond a study of the candidate selection process on the two most important political parties of So Carlos city, during last two municipal elections (2000 and 2004).
Key-words: candidate selection; political recruitment; political career; neo-institutionalism.
9
Introduo
1.1 Apresentao e justificativa para a realizao da pesquisa
A Cincia Poltica no Brasil vem paulatinamente preenchendo lacunas no que tange
compreenso do nosso sistema poltico. Dentro das Cincias Sociais, a Cincia Poltica
possui um importante papel em propiciar iniciativas que possibilitem a capacidade de
compreenso da realidade poltica nacional, tal como uma ferramenta que aperfeioe o
entendimento seguido da transformao do pas. Nesta iniciativa repousa a escolha do tema
a ser pesquisado nesta dissertao.
O presente trabalho tem como objetivo principal analisar o processo que envolve a
construo de uma candidatura. Busca-se neste trabalho analisar a interferncia de um
partido poltico, enquanto um veculo institucional, que possibilita (limitando ou
alavancando) um indivduo estar se inserindo na disputa eleitoral. Os fatores que tornam
possveis o ingresso em um cargo pblico eletivo no residem somente em aspectos
subjetivos de cada pessoa. preciso que essa vontade individual seja reconhecida por
aqueles que controlam o nico grupo legtimo que intermedia um indivduo e uma
candidatura: os membros de um partido poltico. Neste contexto surgem algumas
indagaes como:
a-) Porque uma determinada pessoa escolhida em detrimento de outra ?
b-) Quais os critrios utilizados para esta escolha expressividade eleitoral, tempo de
militncia, reduto eleitoral ?
c-) Qual o candidato cujo perfil o mais constante1 ?
d-) Este processo envolve somente a seleo por parte das lideranas partidrias ou
descentralizado para as bases ?
e-) A escolha feita tendo como base a escolha dos candidatos pelos partidos rivais ?
Diante das adversidades (tempo-espao) oriundas da ampla dificuldade em realizar
um diagnstico dos padres de seleo de candidatos abrangendo todos os partidos e
diretrios do territrio nacional, priorizou-se nesta pesquisa um estudo mais restrito
esfera municipal, especificamente ao processo que culmina na construo de uma 1 De acordo com sua composio social.
10
candidatura ao cargo de vereador. Atravs de um estudo de caso em um municpio com
mais de 200 mil habitantes2, no caso a cidade de So Carlos, buscou-se aplicar e visualizar
via trabalho emprico, como ocorreu a construo da lista de candidatos e composio
social da mesma pelos dois principais partidos da cidade (PT e PSDB) em dois pleitos,
2000 e 2004. Analisamos assim o perodo que engloba os momentos que antecedem as
eleies (o contexto poltico de recrutamento dos candidatos), e o resultado desta situao,
ou seja, a lista de candidatos.
A escolha da cidade de So Carlos e dos seus dois mais expressivos partidos na
atualidade no foi feita de maneira aleatria. No municpio os dois partidos em questo
vm progressivamente ocupando maior espao na disputa poltica na cidade, a exemplo do
que acontece em nvel nacional. O PT ascende ao poder nas eleies municipais do ano
2000, elegendo o prefeito e o maior nmero de vereadores de sua histria na cidade; reelege
novamente o prefeito em 2004, elegendo tambm um nmero expressivo de vereadores. E
nesta disputa o PSDB vem sendo o seu principal rival nas urnas, desde 2000, quando ento
elege a maior bancada de vereadores, e 2004, quando polariza com o PT a disputa pelos
cargos Executivo e Legislativo.
Dentro do objetivo geral da pesquisa, que entender o processo de construo de
uma candidatura, surgem dois objetivos especficos:
1 - Construo de um balano terico, amparado teoricamente pela corrente neo-
institucionalista e recheado de discusses bibliogrficas anteriores, que possa servir de base
para futuros estudos sobre seleo de candidatos;
2 - Verificar empiricamente, por meio de um estudo de caso, algumas concluses
sobre o processo de seleo de candidatos, oriundas deste suporte terico.
O carter genrico desta proposio est passvel de repousar na indagao sobre
quais seriam os pontos a serem destacados neste tipo de estudo. A complexidade deste
processo poltico ilustra o rduo caminho que um pesquisador ir trilhar, uma vez que,
estudar seleo de candidatos invariavelmente envolve elementos como o carter da
organizao partidria e a carreira poltica, que convergem em sinergia entre si, sendo
muito difcil pensar em escolha de candidatos dissociando-os. Ou seja, a partir do momento
que uma determinada pessoa entra em uma disputa eleitoral, automaticamente ela passa a 2 Esta demarcao remete aos critrios de classificao do IBGE, situando as cidades com mais de 200 mil
11
figurar no rol daqueles que se aventuraram na carreira poltica. Admitimos ento que a
carreira poltica no contempla somente aqueles que so eleitos, mas que se propem para
tal. Um candidato no propriamente um poltico (quando anteriormente no ocupara
nenhum cargo pblico, ou seja, um outsider), mas ao entrar na disputa poltica em tese3
ambiciona s-lo.
Por esta razo alentamos a importncia de enquadrar o tema em questo dentro da
esfera dos estudos de carreira poltica. Carreira remete a trilho, caminho, e este sempre
possui um princpio. O princpio que envolve uma carreira poltica justamente toda a
disputa poltica prvia a visualizao do candidato enquanto o escolhido para representar
um interesse de grupo.
TOCQUEVILLE (2001) salientou que os cargos pblicos eletivos so ocupados por
mandatos curtos, em disputa aberta todos. Observando as instituies polticas dos
Estados Unidos no sculo XIX, concluiu que as eleies no garantem qualquer tipo de
segurana de se manter nela, tal como em uma carreira pblica. Podemos discordar de seu
diagnstico no que diz respeito ao cargo eletivo no se constituir em uma carreira pblica,
pois o nmero crescente de polticos dedicados quase que exclusivamente carreira
enquanto profisso vem crescendo nas democracias contemporneas (MEZEY, 1976), sob a
tica do tipo ideal de poltico profissional sugerido por WEBER (1997) em Poltica como
vocao.
No entanto concordamos com o clebre pensador francs quando este salienta o
grau de instabilidade que um cargo pblico eletivo possui. Em um intervalo de anos mdio
que varia de pas para pas democrtico, o poltico est invariavelmente sujeito ser
submetido ao teste das urnas. preciso a cada eleio enfrentar novamente todo o processo
que envolve uma disputa eleitoral, que tramita desde reconhecer subjetivamente a
viabilidade de uma nova ou indita candidatura, at enfrentar as limitaes e barreiras
institucionais, como as condies legais de elegibilidade e o crivo partidrio para seleo de
candidatos, que uma eleio coloca frente do aspirante.
As condies legais de elegibilidade so aqueles pr-requisitos constitucionais que
cada cidado deve se enquadrar para almejar a possibilidade de entrar no mundo da
habitantes com porte mdio. 3 Digo em tese porque, como se ver mais adiante, no podemos concordar completamente com a idia da disputa poltica ser motivada nica e exclusivamente pela disputa por cargos eletivos.
12
poltica. So condies reconhecidas como os nicos pressupostos estipulados para que o
eleitor obtenha o direito de ser votado. As condies, como constam na Constituio
Federal de 1988, no art. 14 inciso 3, so: nacionalidade, estar em gozo com o exerccio dos
direitos polticos, alistamento, filiao partidria e idade mnima exigida. Estas so as
chamadas condies prprias de elegibilidade. Segundo COSTA (2002) existem tambm
as condies imprprias, que seriam a alfabetizao, desincompatibilizao, especiais para
militares e indicao em conveno partidria. A distino entre ambas as condies so
por causa do critrio topolgico, ou seja, so prprias aquelas previstas no inciso 3 do
artigo 14. e imprprias as demais.
A segunda barreira institucional diz respeito justamente condio de elegibilidade
prpria e imprpria, em resumo, estar filiado a um partido poltico e ser aprovado em
conveno realizada pela agremiao partidria. exatamente neste ponto que est inserida
a questo chave da pesquisa: institucionalmente qual a influncia do partido na seleo e
construo da lista de candidatos? Como o partido, enquanto uma instituio legtima nos
sistema polirquicos modernos, exerce controle sobre a representao poltica,
direcionando, influenciando, apoiando e restringindo carreiras polticas?
importante salientar que este trabalho tem como preceito terico o amparo da
corrente institucionalista, especificamente a teoria da escolha racional (rational choise).
O foco est na atuao do partido enquanto uma instituio poltica, que por meio de suas
lideranas delimitam as regras do jogo, no caso, o controle da representao poltica.
SANTOS (2004) aponta que os sinais mais evidentes de um rgido controle da
organizao partidria sobre o processo de representao poltica recai na estabilidade dos
resultados eleitorais, disciplina nas decises legislativas e continuidade nas carreiras
polticas. Mesmo os trs vetores no convergindo, no caso do sistema partidrio brasileiro,
na mesma direo e sentido, o partido assume o papel de estar intermediando, ou melhor,
sendo o elo entre o indivduo e a carreira poltica.
O partido, imerso nas suas inmeras funes que exaustivamente vem sendo
estudadas dentro do sistema partidrio no qual se insere, assume um papel que o diferencia
de qualquer outra estrutura similar: o nico grupo abertamente legtimo4 que tem a funo
4 O partido escolhendo os candidatos no significa que necessariamente estes candidatos sejam frutos das vontades dos prprios membros do partido, mas tambm de diferentes grupos que utilizam a organizao partidria como veculo de entrada e/ou atuao na vida poltica. Mais adiante este ponto ser enfatizado.
13
de colocar para o eleitor aquele que melhor lhe convm para ser escolhido por meio do
voto. A importncia poltica desta funo tamanha que SARTORI (1982) sugere que os
partidos so colocados prova de modo mais severo justamente quando perdem o controle
sobre a seleo de candidatos, em detrimento de esta funo caber nica e exclusivamente a
si, em se tratando de sistemas democrticos representativos. Por isso acredita-se que estudar
a seleo de candidatos importante tanto por ser um estgio chave no processo poltico de
recrutamento, como envolve uma arena fundamental no conflito intra-partidrio
(GALLAGHER, 1988).
1.2 - Estrutura da dissertao
A dissertao est estruturada em duas partes, sendo que a primeira composta pelo
captulo 1 e 2, e a segunda pelo captulo 3 e 4 e pelas consideraes finais.
9 A primeira parte, de carter mais terico, tem como propsito no primeiro captulo fazer uma breve apresentao da corrente denominada neo-
institucionalismo, atrelando-o como ferramenta terica para a compreenso da
seleo de candidatos. A opo pelo neo-institucionalismo, com nfase para o
institucionalismo da escolha racional e elementos do institucionalismo histrico,
sugere o contexto da construo de uma candidatura imersa no mbito das
delimitaes institucionais que o partido poltico impe neste cenrio. O olhar
neste contexto volta-se para a influncia institucional partidria e no somente
para as ambies individuais (tpico dos estudos behavioristas). O segundo
captulo est dividido em trs tpicos. O primeiro tpico busca colocar em pauta
o tema da carreira poltica, apresentando algumas contribuies tericas e o
contexto pelo qual este tema se insere no objetivo geral da pesquisa. O segundo
tpico dispe a organizao partidria tendo como papel influenciar na
constituio da carreira poltica. Neste tpico justifico a importncia de observar
o partido enquanto um agente ativo em qualquer carreira. Por fim, o terceiro
tpico objetiva apresentar algumas consideraes a respeito do cargo de
14
vereador, uma vez que ser exatamente sobre este cargo que o estudo de caso no
captulo seguinte ir estar focalizado.
9 A segunda parte consiste no captulo 3, 4 e nas consideraes finais. No captulo 3 apresentada uma contextualizao do subsistema partidrio em So Carlos,
atravs da anlise da distribuio das principais lideranas municipais nos
principais partidos durante os perodos eleitorais entre 1982 e 2004 (composio
das chapas e resultados). Este captulo justifica-se mediante a importncia de
conhecermos o processo poltico-partidrio que antecede a ascenso das
lideranas petistas e peessedebistas no cenrio poltico da cidade. No captulo 4
buscou-se justificar a discusso prvia realizada nos dois primeiros captulos e
complementar o terceiro com um estudo de caso. O objetivo deste ltimo
captulo analisar o processo de seleo de candidatos em dois partidos rivais
no mbito da esfera da disputa ao legislativo municipal. O cenrio escolhido foi
a cidade de So Carlos, e o perodo as duas ltimas eleies municipais (ano
2000 e 2004). Este captulo traz um estudo emprico, construdo atravs de um
exame detalhado de diversas fontes5, que elucidam os diversos fatos que
marcaram o perodo pr-eleitoral no seio das duas mais influentes organizaes
partidrias, PT e PSDB. Estas fontes foram agrupadas de acordo com o modelo
de NORRIS (1995), atravs da anlise do background dos candidatos
selecionados, assim como de demandas como tempo de filiao, experincia
como candidato e recursos financeiros. Buscou-se apresentar na prtica a
construo hipottica, que at ento teve respaldo com uma apresentao
terica. O modelo de partido de quadros e partido de massas proposto por
DUVERGER (1980) tambm apresentado no captulo 4 como ferramenta para
o enquadramento e a diferenciao dos dois partidos em questo quanto ao
aspecto organizacional referente ao processo de construo de candidaturas. Na
concluso apresentada uma considerao final, resumindo os principais pontos
discutidos no trabalho.
5 Ver o apndice, procedimentos metodolgicos.
15
Como forma de tornar mais sucinta e objetiva esta introduo, todo o trabalho
metodolgico que envolveu a realizao desta pesquisa est minuciosamente exposto no
apndice deste trabalho.
Enfim, espera-se que esta dissertao possa contribuir de alguma forma para o
enriquecimento dos estudos de carreira poltica e seleo de candidatos, servindo tanto
como forma de amparo terico-analtico, como forma de incentivo novas produes
acadmicas.
16
Captulo 1 O papel do neo-institucionalismo na Cincia Poltica e o amparo da
rational choise como ferramenta terica na compreenso do processo de
escolha de candidatos
O estudo das instituies melhora a nossa compreenso dos fenmenos sociais George Tsebelis (1998, pg. 104)
A pretenso deste primeiro captulo recai na necessidade de apresentar um panorama
objetivo do referencial terico escolhido para o desenvolvimento dessa pesquisa. A escolha
do neo-institucionalismo enquanto modalidade de referncia deve-se no somente a sua
crescente importncia adquirida nos ltimos 40 anos na Cincia Poltica, mas tambm em
virtude dos seus preceitos (o foco sobre as instituies), terem sidos considerados os mais
adequados na compreenso e apresentao do contexto do estudo.
A corrente neo-institucionalista, segundo LIMONGI (1997), apresentou-se como uma
resposta aos modelos comportamentalistas (behavioristas) e pluralistas que imperavam na
Cincia Poltica at a dcada de 70. Estas correntes tericas germinaram nas Cincias
Sociais em geral no perodo ps-guerra, subalternizando o papel das instituies
influenciando diferentes processos sociais (vistas no mais como agentes, mas resultados de
encadeamentos estruturais) e procedimentos de compreenso poltica.
Para os institucionalistas, a ao social estaria condicionada pelas instituies, e no
somente pela soma de preferncia dos atores (repouso da crtica ao behaviorismo). As
abordagens estritamente holsticas tambm seriam alvo dos neo-institucionalistas, pois estes
rejeitavam a atribuio a uma determinada estrutura social a fora causal de todas as
situaes sociais (IMMERGUT, 1998). O institucionalismo seria uma alternativa na
compreenso das aes dos indivduos e suas manifestaes coletivas.
17
O termo neo-institucionalismo remete ao hiato pelo quais os estudos polticos
institucionalistas atravessaram durante mais de 20 anos desde o fim da II Guerra (superados
pela influncia das teorias de grande alcance que estavam em evidncia).
Importante ressaltar que tambm os estudos de Polticas Pblicas nos anos 50 e 60,
atravs de demonstraes empricas comparativas entre os diferentes pases em diferentes
graus de desenvolvimento, contriburam para corroborar a importncia de se entender as
diferentes instituies polticas para assim melhor se compreender as diferenas entre estes
pases, obstruindo assim a predominncia de formas de compreenso voltadas para estudos
de variaes de comportamento ou diferena entre as foras das classes (ROSTHEIN,
1996). Os tericos do neo-institucionalismo, mesmo em discordncia em muitos aspectos,
entram em concordncia em dois pontos bsicos:
1-) as normas e os procedimentos operacionais influem no resultado positivo, uma
vez que estruturam o comportamento poltico e moldam a identidade, o poder e a estratgia
dos atores em selecionar preferncias;
2-) as instituies moldam a poltica e so moldadas pela histria, podendo os
indivduos escolher suas instituies, mas no o fazendo em circunstncias que eles mesmo
criaram (PUTNAM, 1945, pg 44).
HALL & TAYLOR (2003) assinalam que a confuso proveniente do sentido do
termo neo-institucionalismo na Cincia Poltica fundamenta-se no fato de esta corrente no
ser uma perspectiva unificada, admitindo-se a existncia de ao menos trs modelos (ou
mtodos) diferentes de anlise: institucionalismo sociolgico, institucionalismo histrico e
institucionalismo da escolha racional.
O institucionalismo histrico, que surgiu em resposta ao funcionalismo que
dominava a Cincia Poltica nos anos 60 e 70, define instituies como sendo os
protocolos, normas e convenes oficiais e oficiosas inerentes a estrutura organizacional da
comunidade poltica. A assimetria do poder, que gera os conflitos (e consequentemente as
mudanas) so associadas ao desenvolvimento e funcionamento das instituies. O
desenvolvimento institucional privilegiaria as trajetrias (Path Dependency), vinculando-se
sempre a uma concepo particular do desenvolvimento histrico. Acontecimentos em um
18
determinado contexto histrico gerariam e determinariam resultados e acontecimentos
sociais e polticos futuros, tanto nos pases como nas instituies (FERNANDES, 2002).
Mudanas de trajeto so decorrentes de mudanas institucionais. uma concepo ampla,
que mescla elementos culturalistas e calculadores, na forma de observar os fenmenos. Um
exemplo so as constantes buscas de indcios e razes, por parte dos pesquisadores desta
vertente, em arquivos histricos, trabalhando dados conceituais atravs da induo.
No institucionalismo sociolgico, as instituies so definidas de maneira mais
generalista, abarcando regras, normas formais, procedimentos somados a smbolos,
esquemas cognitivos, modelos morais, padres de significao. A instituio para esta
vertente , antes de tudo, um fenmeno cultural. Os indivduos incorporam, por meio da
cognio, os esquemas e modelos propostos institucionalmente. Focar-se nas instituies
pode ser uma ferramenta importante na compreenso dos significados da vida social. A
ao do indivduo, nesta vertente, vista como completamente dotada de significado
cultural.
A rational choise ser aqui abordada de forma mais completa, uma vez que a
opo instrumental terica desta pesquisa. Segundo FEREJOHN & PASQUINO (2001), a
escolha racional sempre esteve intimamente atrelada com a economia, sendo que sua
aproximao com a Cincia Poltica partiu da influncia de autores considerados
economicistas como Downs, Gordon Tullock e Mancur Olson. Para estes autores, os
agentes sociais estariam constantemente interessados na maximizao da riqueza, de votos,
ou de outras dimenses mais ou menos mensurveis em termos de quantidades, e sujeitos a
constrangimentos de recursos materiais.
A definio do conceito de instituio segundo a concepo da escolha racional tem
como alicerce referencial a proposio de Douglas North, em seu trabalho Institucional
Change teory and empirical findings. North define as instituies como formal rules,
informal constrains (norms of behavior, conventions, and self-imposed codes of conduct),
and the enforcement characteristics of both (pg. 36). O autor acredita que as instituies,
limitando as aes dos seres humanos, no somente facilitariam a interao entre os
mesmos, como geraria certo grau de previsibilidade de aes (uns com os outros). As
instituies teriam um papel fundamental em agir na diminuio dos custos de transao
ligados concluso de acordos. Para HOLLINGSWORTH (1998) os hbitos e valores
19
tambm devem ser reconhecidos enquanto instituies. Na citao do autor, institutions
are norms, rules, conventions, habits and values (pg. 131)
O papel coercitivo das instituies apontado pela escolha racional sugere que os
indivduos esto inseridos num contexto de regras e constrangimentos, e a ao individual
nasce como uma adaptao tima a um ambiente institucionalizado (TSEBELIS, 1998). Se
existe a preponderncia de uma instituio, o comportamento dos atores deve ser observado
a partir da perspectiva do papel que as instituies exercem no seu contexto social.
Qualquer forma de manifestao poltica ou social surge dentro deste contexto de regras.
Desta forma, pode-se pensar em uma estabilidade nos processos polticos como
fruto da influncia das instituies delimitando o jogo das regras, leis, procedimentos e
arranjos organizacionais6. No caso dos partidos, os atores polticos se movimentam de
acordo com a demanda partidria em buscar os objetivos polticos almejados.
Nesse contexto, HALL & TAYLOR apontam quatro pontos chaves que
caracterizam o institucionalismo da escolha racional:
a compartilhao de gostos ou preferncias dos atores, buscando maximizar a satisfao destas preferncias, atravs do uso de clculos e estratgias;
fora da interao estratgica na determinao das situaes polticas; a vida poltica estaria permeada de dilemas de ao coletiva, surgindo o risco de
resultados sub-timos para a coletividade (implicao da falta de arranjos institucionais);
as instituies teriam sua origem de forma primordialmente consciente.
A perspectiva da racionalidade sugere que os atores, numa determinada situao,
tomam decises conscientes e estratgicas, em uma esfera de ao poltica que conjugue
contextos institucionais e sociolgicos. A racionalidade requer crenas, desejos e aes que
se relacionam de uma forma particular (FEREJOHN & PAQUINO, 2001). A validade desta
relao uma condio de consistncia sustentada justamente pela racionalidade, sendo
vlida para empregar em contextos que envolvam desejos, ambies e paixes.
6 Isso no implica na imutabilidade das instituies, uma vez que as instituies, para os tericos da escolha racional, so alteradas e criadas conscientemente.
20
Assume-se ento que a racionalidade seria uma correspondncia tima entre meio e
fins. Como seria possvel explicar que indivduos, sedentos pelos prprios interesses
individuais, agissem (como havia-se observado) em constante cooperao, buscando
maiorias para resolverem problemas comuns ? Buscou-se como soluo a atribuio da
pr-existncia de instituies polticas que promovessem incentivos seletivos, por meio de
procedimentos e regras anteriores ao inicio do jogo de interao (ROTHSTEIN,1996).
Busca-se a compreenso na tomada de deciso dos indivduos considerando as
consequncia e decises tomadas por outros.
A condio de interdependncia que se situam os atores racionais, estando os
mesmos sujeitos constantemente em situaes que envolvam decises estratgicas o que
caracteriza a teoria da escolha racional. A premissa lgica que A > B > C, logo A > C
(nomeado de princpio de transitividade) exemplifica que comportamentos, em uma
determinada situao, seriam melhor analisados em correspondncia com a regra de
interao cujas finalidades correspondem ao atendimento de seus interesses maximizados
em forma de ao.
Esta interdependncia resulta em princpios da busca de coordenao entre as
pessoas, estas tambm estando imersas na possibilidade de conflito sobre a distribuio dos
recursos que pensam conseguir. Por isso a instituio permite manter a tenso entre os
princpios de conflito e da cooperao, constitutivos das transaes (RUGGIERO, 2005).
Como toda vertente terica, o institucionalismo possui suas limitaes e crticas.
Para BAERT (1997), a teoria da escolha racional emerge trazendo algo revolucionrio, ao
mesmo tempo em que corresponde a uma invaso do homem econmico. A economia,
vertiginosamente preponderante em diferentes ramos de explicao das Cincias Humanas,
incumbe-se de assaltar, de forma imperialista, a sociologia, de forma a subornar o homo
sociologicus ao homo economicus.
MONSNA (2000) aponta para a incapacidade da escolha racional em esclarecer as
relaes entre micro e macro, entre estruturas e aes. A viso generalizante da escolha
racional contestada, pois universaliza tendncias e gostos oriundos das diferenas dadas
por algum processo social. Se uma pessoa age de determinada forma, ela motivada por
algum desejo e preferncia. Desejos de sobrevivncia, de segurana, poder so exgenos
21
analise. Quando se aplica uma concepo de ao amparada num modelo analtico,
automaticamente se estabiliza e hierarquiza essas preferncias.
A apresentao de modelos reduzidos e a simplificao da imagem das motivaes
humanas so tambm pontos bastante contestados na rational choise. O enfoque julga
determinadas situaes baseadas potencialmente na capacidade de predio de seus
modelos do que pela exatido de seus postulados (HALL & TAYLOR, 2003).
A escolha racional tem o mrito de problematizar o carter de formao e arranjo
dos sujeitos coletivos ou sistemas de ao, que envolveriam estratgias por vezes ignoradas.
No entanto, pode-se supor que o pressuposto da maximizao da utilidade adotado pela
escolha racional os leva bem prximos abordagens comportamentalistas behaviorismo-
outrora to criticados (IMMERGUT, 1998).
Diante das diferentes formas de contestaes, que em muitos aspectos apresentam-
se como uma alternativa para futuros re-arranjos e adaptaes terico-metodolgicos do
enfoque, a escolha racional ainda pode ser a ferramenta mais til quando pensarmos em
situaes sociais e polticas que envolvam determinados contextos. TSEBELIS (1998)
afirma que o Cientista Social, ao admitir que os atores se comportam de uma maneira
racional, esto propensos a uma reduo e uma formulao de propsitos. Esta reduo
pauta-se na excluso (ou substituio) de processos como aprendizados e mecanismos de
seleo social, em busca de seus resultados.
Em correlao com a path dependency, possvel pensar que o comportamento do
indivduo no apresenta-se como linearmente homogneo, uma vez que, o funcionamento e
o desenvolvimento das instituies acabam por fomentar estruturas diferenciadas. A
racionalidade no implicaria necessariamente em orientaes pr-definidas. Ela buscaria
sim apoio em protocolos.
Por isso podemos pensar que a escolha racional, frente s suas limitaes, acaba sendo
uma importante ferramenta perante algumas situaes polticas e sociais especficas, a
saber: quando a identidade e os objetivos dos atores so estabelecidos; e as suas regras de interao so precisas e conhecidas pelos atores em interao (TSEBELIS, pg. 45). Por
exemplo, numa arena Legislativa onde situaes de interao so observadas levando-se em
22
conta os arranjos institucionais no qual os polticos estariam imersos, o denominador
comum oriundo desta interao partiria das observaes do papel destes arranjos. Todas as
preferncias individuais surgiriam em meio a fora e a presena das regras da referida
instituio.
Posta a definio concisa do papel do neo-institucionalismo na Cincia Poltica,
passaremos a apresentar algumas indagaes preliminares sobre o processo de escolha de
candidatos a cargos eletivos. Busca-se aqui, como j fora dito na Introduo, adequar
proposies iniciais do processo de construo de uma candidatura perspectiva do neo-
institucionalismo. Mais especificamente, o processo de escolha dos candidatos proposto na
pesquisa se restringe esfera do legislativo, no mbito da poltica municipal.
1.1 O institucionalismo e a escolha de candidatos
A Cincia Poltica nacional vem oferecendo poucas explicaes para este processo
que crucial em qualquer esfera de anlise de um determinado contexto poltico-eleitoral.
E quando digo crucial, refiro-me a importncia que recai na compreenso da escolha de
candidatos como instrumento que possibilita uma maior compreenso das eleies para
cargos eletivos. A situao que envolve o surgimento de um candidato pode se encaixar em
diferentes pontos e vertentes de estudo: como interesse maior deste trabalho, nos estudos de
carreira poltica, como a primeira etapa que posteriormente envolva eleies e atuao na
vida poltica, em qualquer cargo poltico eletivo; analisando partidos polticos, no somente
no contexto de sua atuao no Congresso Nacional, formando coalizes ou influenciando
nas aprovaes de emendas, por exemplo, mas dando nfase para seu aspecto
organizacional7; ou mesmo em discusses que envolvam relaes de participao e
representao poltica, observando a figura do candidato selecionado para o pleito em
paralelo com o tipo de atuao e representao que ele possa ter.
Na rational choise existem modelos clssicos que vem amparando pesquisas sobre
interao poltica, elaborados especificamente para analisar o Congresso Americano.
LIMONGI (1993) apresenta trs dos principais modelos: distributivista, informacional e 7 DUVERGER (1951) alertara para a dificuldade de se estudar as organizaes partidrias, uma vez que o acesso a arquivos internos do partido se torna uma tarefa rdua para o pesquisador. Dependendo do grau de
23
partidria. O modelo distributivista trata especificamente do interesse constante dos
parlamentares de buscar a reeleio, em uma determinada arena congressual. Utilizando-se
das comisses, como um dos meios institucionais para atingir sua finalidade principal, eles
executam suas aes que envolvem barganhas, aprovao de matrias, respaldo da maioria
e troca de favores. O modelo informacional, por sua vez, concentra-se na fora do processo
decisrio majoritrio e na incerteza dos resultados polticos. No desconsiderando o papel
das comisses, os informalistas chamam a ateno para a importncia da maioria como
agente que define e aprova as decises finais no Congresso. Neste contexto, as incertezas
somente seriam reduzidas com o avano na especializao e informao dos polticos,
papel central que a instituio teria nesta situao.
Ambos os modelos no creditam influncia poltica substantiva aos partidos polticos
na estruturao das atividades partidrias. FELISBINO (2003) aponta que os tericos do
modelo partidrio rechaam esta idia da pouca expressividade dos partidos, enquanto
representantes dos interesses coletivos (pg. 22). Reorientando os interesses com carter
individualista dos parlamentares e os reorganizando, os partidos atuariam nas comisses,
fazendo valer o seu grau de representatividade. Ao mesmo tempo, e este ponto apresenta-se
como fundamental na discusso a ser apresentada, o partido tambm pode promover
incentivos carreira dos parlamentares (viso apresentada neste modelo apenas quando se
tratando da carreira j dentro do congresso).
No caso da construo de candidaturas, podemos utilizar a perspectiva neo-
institucionalista (com mais nfase na escolha racional) para pensar em algumas situaes
que dariam respaldo aos resultados empricos que mais adiante sero apresentados (valendo
tambm o contrrio, ou seja, o trabalho emprico comprovando toda a argumentao
terica).
Inicialmente, podemos visualizar o surgimento do candidato na seguinte esfera de
inter-relaes, com base no estudo feito por VIANNA (1973) sobre o candidato e o
processo eleitoral:
abertura e flexividade do partido, muitas informaes correm o risco de no serem precisas, obstruindo o bom
24
X1
X3
X4
X2
Aspectos Subjetivos
Y2
Y4
Y3
Y1
Influncia partidria
DIAGRAMA Variveis subjetivas e partidrias
onde para as variveis de aspectos subjetivos temos:
X1 = ambies (progressiva regressiva ou esttica SCHLESINGER, 1966).
X2 = contato social clientela prpria, herdada.
X3 = capital poltico acumulado (experincias de atuao com atividades
polticas, eletivas ou no)
X4 = razes estruturais (parentes polticos, laos afetivos, poderio financeiro)
Nas variveis influncia partidria temos:
Y1 = aquisio de prestgio partidrio
Y2 = dedicao militante
Y3 = confiana das lideranas
Y4 = identificao como membro do grupo
Por possurem um ncleo comum, todas as variveis esto intimamente inter-
relacionadas. Esta inter-relao acarreta em derivaes de uma em conseqncia de outra, e andamento da compreenso dos diferentes processos partidrios.
25
assim por diante. Esta situao no envolve elementos que se dissociam no contexto de
surgimento do candidato. Tanto a questo de aspectos subjetivos como da influncia
partidria esto intimamente correlacionadas, podendo prevalecer uma ou outra situao,
dependendo do contexto poltico e institucional.
Devo ressaltar que afora as duas variveis colocadas em questo, existe um terceiro
eixo referente a questes legais, mais especificamente a questo da elegibilidade, j tratada
anteriormente na Introduo. Qualquer situao de eleio estar sujeita as regras legais
que norteiam e delimitam formalmente, com base em critrios constitucionais, aqueles que
possuem o direito de estarem passveis de concorrer um cargo pblico. Salvo as
limitaes institucionais partidrias, existem as limitaes jurdico-formais que englobam
aquela limitao.
Esta distino entre aspectos subjetivos e influncia abordada de uma forma mais
aplicvel por NORRIS (1995) quando sugere o modelo de suprimento e demanda. O
primeiro estaria atrelado com caractersticas pessoas do indivduo, como motivao,
vontade e ambio. A demanda nasceria das escolhas do partido frente uma necessidade
especfica. A observao da demanda partidria surgiria com a anlise do background e de
recursos como experincia poltica, tempo de filiao e reduto eleitoral. Este modelo
aplicvel de NORRIS (op. cit.) ser melhor visualizado no captulo quatro, quando
apresentaremos um estudo emprico.
Quando adoto a perspectiva da ao racional dos indivduos, sempre limitado por
estruturas institucionais, parto da idia de que os atores, numa determinada situao, tomam
decises conscientes e estratgicas, em uma esfera de ao poltica que conjugue contextos
institucionais e sociolgicos. A racionalidade requer crenas, desejos e aes que se
relacionam de uma forma particular (FEREJOHN & PASQUINO, 2001). A validade desta
relao uma condio de consistncia sustentada justamente pela racionalidade, sendo
vlida para empregar em contextos que envolvam desejos, ambies e paixes. Por
exemplo, um determinado indivduo, apesar de toda sua dedicao enquanto militante
(varivel Y2), durante um perodo considervel de tempo, pode acabar no conseguindo
lanar sua candidatura em detrimento de lderes ou militantes (em paralelo com o perfil de
escolha dos candidatos de cada partido), agindo racionalmente, pressuporem que este
26
indivduo no vivel por n motivos (pouca expressividade externa, falta de carisma,
conflitos entre grupos internos, dentre outros). Diferentes fatores podem ser trabalhados
levando-se em conta as estratgias presentes no jogo de seleo de candidato. MAESTRAS
(2003), como exemplo, trabalha com a hiptese de que tanto os candidatos mais ambiciosos
preocupam-se com a opinio pblica, como o partido tambm busca enxergar no pblico
uma reao positiva frente aos selecionveis. Os clculos de deciso dos candidatos e dos
partidos seriam um problema multi-eleitoral, j que aquele que ambiciona um lugar na
disputa deve assegurar e construir uma base eleitoral de suporte para um respaldo frente a
deciso partidria, assim como para uma projeo futura para um cargo mais alto. Este
exemplo vai de encontro com o que proposto aqui como alicerce referencial: as
instituies (no caso, a partidria) so iminentemente atuantes em diferentes situaes
scio-polticas.
O partido poltico, enquanto uma organizao legtima presente em qualquer
sistema representativo democrtico, ou nas palavras de TOCQUEVILLE (2001) um mal
inerente aos governos livres (pg. 199), exerce uma funo institucional crucial no
processo de surgimento do candidato. Podemos pensar em diferentes razes que
evidenciam esta importncia, desde a necessidade de filiao prvia at o crivo partidrio,
que a seleo destes candidatos. Possuindo suas regras, os partidos so instituies que
constrangem e moldam a identidade, o poder e a estratgia de sua composio, ou seja,
indivduos racionais. Resumiria os principais elementos que compem essas regras como
sendo os estatutos, regimentos ou qualquer outro procedimento formal, assim como
ideologia, regras e procedimentos informais.
Os membros de um partido possuiriam assim interesses particulares imersos numa
relao de constante interdependncia. Um candidato seria o fruto do jogo de interaes
(carregando objetivos particulares somados a influncia institucional partidria). Se o
ingresso em um determinado partido pode ser resultado de uma afinidade ideolgica, como
acontece com a maioria da composio social dos partidos de massas, seguindo o modelo
de DUVERGER (1980), ele estar sujeito, dependendo de suas ambies, a coao e
autoridade conferida pela atuao e vivncia dentro do partido. No caso dos partidos de
quadros, mesmo ocorrendo diferenas procedimentais (articulao de base, recursos de
27
filiao, estrutura partidria), de qualquer forma o indivduo estar sujeito s regras e a
adequao ao perfil do jogo.
Se aceitarmos que as normas e os procedimentos institucionais so o corpo e a alma
das instituies (TSEBELIS, 1998), pode-se pensar que um candidato sair de uma mescla
dentro do partido que envolve:
INCENTIVO + DISCIPLINA + ACORDOS = CANDIDATO ESCOLHIDO
As regras comporiam um quadro de incentivo, e os partidos estariam no centro da
organizao do processo decisrio (LIMONGI, 1993, pg. 07). O equilbrio ocorreria por
meio da atuao de lderes que coordenariam os processos decisrios no partido ou na
atuao correlata de diferentes foras num plano restrito de nivelamento de influncia e
poder. No cenrio onde a carreira poltica abrolha nos seus primeiros passos e sinais de
surgimento, a estrutura partidria tem um papel significativo e decisivo.
Admitindo esta viso, no estamos ocultando possveis aspectos j analisados por
diversas pesquisas sobre o sistema partidrio nacional, que o identifica ou possuindo na
maioria partidos pouco institucionalizados8 ou divergentemente, ao creditar na coerncia de
atuao da cmara, por meio das bancadas partidrias, e na composio social um relevante
grau de institucionalizao dos partidos9. Devemos lembrar que a idia de partido enquanto
instituio que influencia no surgimento de lideranas visa abarcar diferentes partidos em
suas diferentes formas de atuao poltica (sejam eles possuindo mais fidelidade, coeso e
menos volatilidade). Obviamente devemos considerar que a competio partidria, com
partidos institucionalmente fortes, um fator importante quando se analisa a busca por
resultados eleitorais expressivos (a escolha deve partir de princpios que envolvam
estratgias que considerem este fato).
8 Ver LAMOUNIER & MENEGUELLO (1986) e MAINWARING (2001). 9 Podemos destacar os trabalhos de NICOLAU (1996) e FIGUEIREDO & LIMONGI (1999).
28
SCHLESINGER (1966), na dcada de 1960, j havia aplicado o paradigma da
escolha racional para explicar tipos de comportamentos de parlamentares no congresso
americano relacionados ambies de carreira. Para o autor, a ambio seria um fenmeno
guiado pela estrutura de oportunidades que est colocada para o candidato. Por exemplo,
para se pensar em ocupar postos eletivos, no bastariam apenas as estratgias individuais10,
mas merecendo ateno fatores como o grau de profissionalizao do legislativo em
questo, a composio partidria da constituinte, as congruncias e preferncia partidrias,
dentre outros. Como bem cita SCHLESINGER
potential candidates are more likely to seek office when they
face favorable political and a structural circumstances (pg.
644).
Fatores exgenos devem ser considerados no processo de ambio, por parte do
agente, assim como na tentativa de compreenso profcua de uma situao poltica que
envolva a construo de candidaturas.
Dentro de uma arena poltica que engloba diferentes tipos de estratgias e payoffs,
os partidos (via maioria em geral ou alguns lderes, dependendo do grau de participao dos
membros) iro procurar aqueles candidatos que lhes proporcionem resultados eleitorais
significativos ou que de alguma forma apresente uma manifestao como resultado da
escolha dos militantes, da necessidade de se refletir frente a sociedade que representa ou em
acordo com suas linhas ideolgicas. Em qualquer contexto, todo processo envolve escolhas
racionalmente timas (ou aparentemente sub-timas, que protegem e camuflam reais
intenes de jogada).
Algumas pessoas detm o monoplio das decises (como representantes polticos
democraticamente eleitos). ELGIE (1995) reconhece que as estruturas institucionais
influenciam em grande parte na escolha da liderana. O lder seria, em parte, o produto de
uma esfera, de uma interao entre pessoas de destaque.
10 Percebe-se neste aspecto uma crtica ao pensamento behaviorista.
29
the leadership process was a product of the
interaction between the ambitions and a styles of
political leaders, the needs of the society and
institutional structures. However, they also confirmed
that institutional had the most significant impact on
the interaction process (pg. 202).
As instituies definiriam assim as regras do jogo e os caminhos seriam limitados
pelas mesmas. A natureza e a formao do indivduo determinariam a escolha de caminhos
pr-fixados institucionalmente. Os lderes polticos fariam suas escolhas e seriam
escolhidos dentro de um contexto, ou seja, o comportamento no caminha como uma
varivel independente.
Concluindo este primeiro captulo, reafirmo a importncia da vertente neo-
institucionalista enquanto aparato terico para se compreender o processo de surgimento
do candidato, haja visto que o objetivo desta pesquisa focalizar a instituio partidria
como protagonista do processo de seleo do concorrente. As variveis analticas
apresentadas nesta primeira parte sero abordadas com mais detalhes nos prximos dois
captulos, amparadas pela discusso bibliogrfica pertinente ao tema de carreira poltica e
os estudos de surgimento do candidato.
30
Captulo 2
O processo de construo de candidaturas aspectos de carreira e
organizao partidria
__________________________________________________________
Para tarefas de liderana, s esto
preparados homens que foram
selecionados no curso da luta
poltica, pois a essncia de toda
poltica a luta
(Max Weber, 1997, pg. 45).
Em qualquer perodo de eleies no Brasil, sejam elas em mbito nacional ou local,
os eleitores se deparam, dentre um amplo leque de opes, com figuras que so incumbidas
e se incumbem de apresentar-se como uma opo representativa, merecedor do depsito do
voto daquele eleitor. A figura do candidato e o processo que envolve o seu surgimento, vem
sendo um tema bastante negligenciado na literatura da Cincia Poltica Nacional. Esta
escassez merece ateno porque invariavelmente acaba atrelando-se a outros dois pontos
que em igual medida requerem um diagnstico mais detalhado. Quando se cogita conhecer
os procedimentos que envolvem o nascimento de uma candidatura, preciso ter em mente
que esta situao est imersa em esferas correlacionadas a estudos de organizao partidria
e carreira poltica. Explico.
O candidato, frente a condio sine qua non de elegibilidade, deve estar filiado um
partido poltico para pleitear um cargo eletivo. Na democracia representativa, o partido
surge como uma pea chave atuando como eixo de ligao entre a ambio individual e a
disputa oficializada. Ele o agente que organiza o processo eleitoral (KINZO, 2005),
controlando a produo de representao (BRAGA, 2006). Raros so os estudos sobre os
partidos na tica de sua organizao partidria. E mais raros ainda so pesquisas
31
consistentes que tratam de sua importncia no processo de surgimento do candidato. Sendo
assim, analisar o processo de construo de candidaturas perpassa sobre a considerao de
estar entendendo os diferentes processos que envolvem a organizao partidria, no que
tange os mecanismos e processos internos de escolha de candidatos, que assim possibilitou
estar lanando determinado indivduo como representante da sua sigla.
Por outro lado, este processo de seleo de candidatos insere-se no contexto da
carreira poltica, enquanto varivel independente sujeita a diferentes formas de abordagens
e interpretaes. Quando se pensa em carreira poltica, fundamental no fazer uma direta
relao com uma seqncia de atuaes polticas previamente construdas. Por exemplo,
possvel estudar trajetrias de carreira e composio social partindo dos representantes de
uma determinada instituio (como o Legislativo Federal, alvo da grande maioria dos
estudos sobre carreira poltica no Brasil11), como tambm possvel estudar trajetrias
individuais.
Todavia, possvel acrescentar ampla gama de possibilidades de diagnsticos
sobre carreira, a questo do primeiro passo, da iniciativa, do pontap que possibilita um
cidado comum estar inserindo-se no processo poltico. Ilustrando, no possvel querer
conhecer afinco a trajetria profissional de algum sem conhecer as suas primeiras
iniciativas em determinada profisso. A mesma coisa acontece com um poltico, que ao
apresentar-se no ambiente da disputa poltica, foi obrigatoriamente envolto por situaes
prvias que ocupam a fase inicial de sua jornada. Estas situaes classifico como situaes
primrias de carreira poltica, porque representa a primeira etapa, embalada pela
obrigatoriedade, da entrada em uma disputa poltica. Obviamente que a referncia aqui no
direciona-se somente aos novatos, os chamados outsiders, que pela primeira vez inserem-se
nesta situao caracterstica. Cada eleio envolve decises eleitorais, disputas partidrias,
ambies pessoais. Mesmo aquele que galga a muito tempo uma longa trajetria estar
irremediavelmente sujeito a estas situaes primrias. 11 Em meu trabalho monogrfico realizei uma ampla reviso bibliogrfica sobre as principais produes nacionais e algumas internacionais sobre carreira poltica. Cheguei a constatao de que os Cientistas Sociais brasileiros tm dedicado, mesmo diante das raras pesquisas, ateno especial para o estudo da carreira do deputado federal, assim como da composio social da Cmara dos Deputados. Para maior detalhes ver MARQUES, Jos Elias Domingos Costa. Carreira Poltica: um balano crtico das principais produes nacionais. Monografia de concluso de curso. Depto Cincias Sociais. Dez. 2004. No prximo tpico algumas das principais produes sero abordadas.
32
Pensar em carreira poltica associar, em convergncia, a escolha dos polticos
somada aos constrangimentos institucionais na qual esto sujeitos, bem como o resultado
das eleies (BOURDOUKAN, 2006). Para KUSCHNIR (2000), a entrada na vida poltica
invariavelmente condiciona-se a dois fatores cruciais: desempenho individual + fatores
exgenos.
Sendo assim, a linha de anlise deste trabalho direciona-se sob o prisma dos estudos
de carreira poltica, especificamente no que tange a importncia legal do partido poltico em
interferir, incentivando ou limitando indivduos a ingressar na carreira, atravs da seleo
de candidatos.
Isso corresponde a levantar temas que envolvam a fase de recrutamento para
disputar eleies, a dinmica intra-partidria, as estratgias organizativas de conquista de
apoio dentro do partido e a vinculao entre as elites partidrias, os candidatos e os
eleitores. Partindo desta perspectiva, aparece como importante conhecer os arranjos
internos de uma organizao partidria. No entanto, DUVERGER (1980) alertara para a
dificuldade de se estudar as organizaes partidrias, uma vez que o acesso a arquivos
internos do partido se torna uma tarefa rdua para o pesquisador. Dependendo do grau de
abertura e flexividade do partido, muitas informaes correm o risco de no serem precisas,
obstruindo o bom andamento da compreenso dos diferentes processos partidrios.
FREINDENBERG & LPEZ (2002), na tentativa de compreenso da seleo de
candidatos a presidncia na Amrica Latina, ressaltam os motivos para a dificuldade em
trabalhar com este tipo de anlise, a saber:
9 A dificuldade em se obter dados fidedignos (falta de registros, dificuldade de acesso por parte do observador externo aos arquivos no pblicos dos partidos);
9 As constantes mudanas de procedimentos dos partidos que impedem o estabelecimento de pautas de funcionamento estveis um mesmo partido pode
empregar mecanismos diferentes em eleies respectivas;
9 Incongruncia entre os procedimentos formais (estatutrios) e as atitudes informais.
33
Uma vez que as organizaes possuem mecanismos para associar interesses,
tambm vlido pensar que estas mesmas organizaes estaro passveis de restringir o
acesso de profanos a qualquer material que envolva situaes internas que no
obrigatoriamente esto passveis de serem divulgadas.
PANENBIANCO (1990) aponta as razes para a resistncia em estudar
organizaes partidrias como fruto no somente das dificuldades objetivas nesta tentativa
de anlise, mas tambm em decorrncia de preconceitos, de hbitos mentais difundidos na
literatura sobre partidos que criam barreiras e diafragmas difceis de romper entre o
observador e o objeto observado (op.cit. pg. 04). Os preconceitos seriam divididos em
duas categorias: os sociolgicos, uma vez que existe a considerao dos partidos como nada
mais do que as manifestaes das divises sociais em mbito poltico; e o teleolgico, que
consiste no vcio de alguns pesquisadores em atribuir razes inatas, objetivos a priori,
procurando deduzir suas atividades e caractersticas organizativas.
Um processo de carter ntimo como a escolha de um candidato envolve
situaes, assuntos e questes que sero pertinentes somente queles que fazem parte como
membros do partido. A transparncia ou no est a critrio de cada organizao, e esta
transparncia e/ou melhor acessibilidade aos dados condizentes com esta situao interna
tero respaldo no grau de abertura que o estatuto prev para este tipo de situao (neste
caso um pesquisador buscando ter acesso atas, regimentos, participar de assemblias e
reunies), na deciso dos dirigentes em fazer essa concesso ou mesmo dependendo do
contexto poltico-social pelo qual o partido vem passado ou est passando no momento12.
Todos estes fatores esto relacionados, podendo um ser causa ou conseqncia do outro.
Considerando ambos os preconceitos apontados por PANENBIANCO (op.cit.),
qualquer fenmeno que aparentemente parecer improvvel, diante da expectativa que
previamente havia-se feito sobre um fato relacionado do partido, no deve ser encarado
como uma anomalia. Se utilizarmos a tipologia de KIRCHERAMIER (1966) para
classificar determinado partido de cacht-all, o que devemos esperar um comportamento X
envolvendo o surgimento de uma candidatura que condiz com aquela tipologia especfica
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apontada pelo autor. No entanto, e isto estar mais lcido no item organizao partidria
organizando as carreiras, nem sempre possvel prever uma situao partindo de
supostas razes inatas incrustadas ao partido, que por si mesma deveria estar respondendo a
este tipo de questo atravs de fatos j pensados. A dificuldade em aceitar postulados como
de DOWNS (1999) , que tem como prerrogativa pensar que a funo objetiva dos partidos
consiste em ganhar eleies, recai neste paradigma. Ser que todos os candidatos
selecionados so necessariamente destinados a ganhar eleio, mesmo aqueles que surgem
apenas para puxar votos para a legenda e assim favorecer os mais votados dentro do
partido? No existiriam candidatos que no buscam iniciar uma trajetria de carreira, mas
por intermdio das eleies clamarem ateno para alguma situao aleatria ou fazer a
propaganda ideolgica do partido, sem necessariamente ocupar o poder?
As organizaes partidrias constituem um desafio enquanto objeto de estudo.
A transparncia, maior clareza e melhor compreenso de diversos fenmenos polticos
dependem do atravessar da linha entre os que se aventuram em compreender os
mecanismos internos de um partido ou no.
Passaremos agora a analisar os principais estudos sobre carreira poltica, com
destaque para as produes nacionais. Afirmamos que o partido poltico interfere de
diferentes formas na carreira poltica de um indivduo, e destacamos nesta pesquisa esta
interferncia atravs do processo de construo das listas de candidatos. Por isso torna-se
indispensvel problematizar os trabalhos sobre carreira, de forma a inserirmos a discusso
proposta nesta pesquisa com as contribuies analticas j existentes.
2.1 Perspectivas de carreira poltica problematizando as interpretaes
correntes
Atualmente13 o Brasil possui 59.252 polticos eleitos, distribudos nos trs
nveis: federal, estadual e distrital. So exatamente 513 deputados federais, 1059 deputados
estaduais, 81 senadores, 1 presidente, 27 governadores, alm dos 5.562 prefeitos e 51.819
12 Esta pesquisa, como exemplo, teve alguns empecilhos no que diz respeito busca por documentos do PT e PSDB no municpio de So Carlos. Havia sempre a desconfiana das lideranas de ambos os partidos sobre o encaminhamento que qualquer documentao emitida poderia levar. 13 Dados postados relativos a novembro de 2004, portanto aps as eleies em todas as cidades do pas.
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vereadores14. um nmero considervel, se formos pensar analiticamente em cada situao
que envolveu a candidatura de cada um destes atores polticos. Absolutamente correto
pensar que suas escolhas de carreira foram condicionadas por preferncias, no somente do
respectivo ator (motivaes pessoais, traduzidas sob a forma de ambio poltica), mas
tambm das estruturas institucionais que enxergaram nele um sujeito potencial para de
alguma forma estar pleiteando tal cargo. A busca por determinado cargo construda dentro
do contexto das oportunidades eletivas que esto postas. Estas oportunidades caminham em
paralelo com a subjetividade que inerentemente envolve o sujeito na nsia por conquistar
determinado posto.
At a dcada de 60, sob a influncia das vertentes behavioristas e
comportamentalistas, acreditava-se que o sucesso na vida poltica dependia quase que
exclusivamente das caractersticas pessoais do candidato, ou aquele que se postulava s-lo.
Os atributos pessoais, personalidade, motivaes eram os pontos chaves a serem
considerados, ocorrendo assim uma valorizao das qualidades inerentemente subjetivas do
poltico para seu sucesso ou fracasso no mundo da poltica (eloqncia, desenvoltura,
carisma). Elementos como oportunidades, ideologia, background do candidato, socializao
poltica (expertise), no eram levados em conta. .A intermediao institucional era vista
como algo secundrio, sem tanta relevncia, uma vez que ambas as vertentes apoiavam-se
na idia do indivduo autnomo, enquanto agente inserido em certo contexto poltico ou
social15.
Muito tempo antes WEBER (1997) ressaltava a importncia do partido no processo
de racionalizao e orientao das opinies e atitudes polticas. Mesmo salientando as
caractersticas que deveriam estar presentes na conduta de qualquer poltico profissional
(tica da convico e tica da responsabilidade), onde o empreendimento poltico deveria
caber a pessoas interessadas, o autor afirma que os polticos profissionais recorrem ao
partido para poder fazer uma disputa saudvel e coerente, haja visto o processo de seleo
de candidatos, nas modernas organizaes burocrticas, estarem menos informais e mais
racionalizadas.
14 Neste caso no foi includo os cargos de vice. Os dados esto disponveis no site do TSE e tambm na pgina www.politicosdobrasil.com.br 15 Ver as anlises sobre o behaviorismo nos estudos de carreira em Hibbing, John R. 1999. "Legislative Careers: Why and How We Study Them." Legislative Studies Quarterly 24 (Maio): 149-71.
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Esta racionalidade das organizaes apontada por WEBER (op.cit.) nos orienta no
sentido de considerar todo denominador comum (candidato) de qualquer seleo como um
resultado amparado por aes calculadas. Isto do ponto de vista do agente que busca a
candidatura, mas tambm do ambiente partidrio, dentro de uma lgica de ao coletiva
(OLSON, 1999), que direciona fluxos de deciso conjunta.
Diversas so as expectativas de estar concorrendo um cargo, condicionadas a
diversos tipos de fatores, como disposies pessoais, experincia prvia (podemos pensar
no conceito de expertise) e condies demogrficas (meio poltico de oportunidades).
Ideologia, estrutura familiar inserida na vida poltica (educao politizada), grupos de
interesses, expectativas competitivas (FOX & LOWLESS, 2005) so variveis que
influenciam a postulao de um concorrente a representante pblico.
SCHLESINGER (1966), como j foi dito, inaugura o perodo da proeminncia da
escolha racional nos mais diferentes estudos sobre carreira poltica e surgimento de
candidatos. O curso de ao do agente estaria atrelado a trs tipos de ambies:
progressiva, esttica e regressiva16. O resultado de uma ao seria o efeito cuja causa
originar-se-ia da estrutura de oportunidades interligadas com a perspectiva de conduta. A
literatura norte-americana repleta de artigos e teses que buscam dar crdito a este tipo de
perspectiva como a que melhor explica o porqu de determinado indivduo X ser aquele
que vai pleitear um cargo eletivo em detrimento de Y ou Z, principalmente em estudos
voltados para o Congresso dos EUA17.
BLACK (1972) props, atravs da frmula U (0)=(PB) C18 , um meio para tentar
prever os cursos de ao de um candidato frente a uma possibilidade de escolha entre optar
16 Os trs tipos de ambies apontados por Schlesinger partem da premissa do conhecimento prvio da estrutura de carreira no sistema avaliado. Nos EUA, existem algumas consideraes sobre os diferentes tipos de cargos e a sua respectiva importncia. No Brasil, as primeiras abordagens ainda so feitas de forma intuitiva, como ser visto no prximo ponto. 17 Em adendo, a literatura da Cincia Poltica Norte-americana vem prestando importantes contribuies para os estudos de carreira, principalmente enfocando o grau de profissionalismo dos membros do Congresso. Para uma busca mais apurada, vem os excelentes trabalhos de Rosenthal, Alan. 1996. "State Legislative Development: Observations from Three Perspectives." Legislative Studies Quarterly 21 (Maio): 169-98; e Squire, Peverill. 1992. "The Theory of Legislative Institutionalization and the California Assembly." Journal of Politics 54 (Novembro): 1026-54. 18 Onde U (0) a utilidade de um cargo, P a estimativa de probabilidade de obter um cargo, B o benefcio oriundo do cargo pretendido e C so os custos de campanha.
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por tentar concorrer a um outro cargo ou manter-se no mesmo atravs da reeleio. As
opes partem do princpio da escolha individual, delimitadas mediante o leque de
oportunidades que esto postas na mesa, tal como um conjunto de jogadores que em uma
partida assumem condutas, procedimentos, aes, lances, dentro das limitaes presentes na
regra. Seguindo na mesma linha de anlise, alguns autores ora adotam a idia da propenso
convulsiva de parlamentares em alcanar postos mais altos, assumindo os riscos frente a
possibilidade real de vitria, ora acreditam que polticos no esto sempre dispostos a
enfrentar desafios concorrendo a postos eletivos mais altos19. Os exemplos aqui
apontados deixam claro que os estudos de carreira padro nos Estados Unidos so
amparados terico e metodologicamente por anlises concernentes ao Congresso, tal como
o ndice de renovao de postos, as migraes partidrias, as disputas internas por cargos
em Comisses, o abandono do cargo.
BORCHERT & STOLZ (2002)20, procuram, baseados na concepo de Schlesinger
(1966) sobre ambies polticas, traar uma tendncia para este tipo de perspectiva de
carreira com os polticos na Alemanha. Neste pas, a carreira poltica cercada de
incertezas, onde a cada pleito o deputado necessita de variveis que vo desde o apoio do
eleitorado (capital eleitoral fixo) at as disposies de patrocinadores (partidos, polticos,
empresas). Existe uma estrutura de oportunidade, com opes e estratgias. Nem todo
cargo ir ser acessvel a qualquer poltico. Isto ir variar de acordo com o grau de expertise
que o poltico venha a possuir.
Os polticos na Alemanha teriam assim certa insegurana quanto prpria
segurana de manuteno dos seus cargos, uma vez que isto no somente depende de seu
desempenho individual. Existiriam assim duas formas de insegurana: pelos caminhos
incertos da prpria carreira e a questo do recrutamento minucioso.
Nota-se que os partidos, neste contexto, estariam sempre condicionados a fazer uma
avaliao dos riscos que invariavelmente todo poltico sofre ao disputar uma eleio. O
candidato apto a representar o partido ser aquele que possui melhores chances de vitria.
19 Ver MAYHEW, 1973. 20 Fighting Insecurity: Political Careers and a Career Politics in the Federal Republic of Germany(2002). Ambos so professores de Cincia Poltica da Universidade de Goettingen, Alemanha, e possuem um grupo de estudos intitulado Research Group: Politics as a Profession, no Centro de estudos Europeus e norte-americanos na mesma Universidade.
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Na Inglaterra, como aponta KAM (2002)21, os congressistas ou aqueles que ambicionam
estar ingressando na vida pblica so invariavelmente condicionados a seguir as linhas de
conduta de preferncia dos partidos. Uma promoo partidria possuiria muito mais peso
do que qualquer tentativa individual de manobra dentro do Congresso para se conseguir
qualquer forma de apoios, seja para uma reeleio, ou mesmo para a disputa de um cargo
mais importante. Os chamados dissidentes (ou dissents) do respaldo do lder partidrio
dificilmente conseguem galgar algum degrau na rgida estrutura de carreira britnica.
Quando entramos na esfera das produes nacionais, nos deparamos com uma gama
de discusses que envolvem o tema de carreiras, que abordam principalmente a relao
entre permanecer ou no em determinado cargo e as disputas polticas em torno da
viabilidade eleitoral, em face com as vrias dificuldades postas.
perceptvel que nos estudos apresentados prevalece o enfoque voltado para
atitudes do ator social, enquanto imerso num contexto institucional que delimita suas aes.
Os rumos das trajetrias, os avanos, os retrocessos, as decises, so observadas tendo
como ponto de partida a atitude do sujeito. No entanto, as limitaes a que estes atores
polticos esto sujeitos tal qual fundamentais so nos estudos de seleo de candidatos. O
que se procura aqui deixar claro diz respeito necessidade de uma maior compreenso dos
arranjos institucionais nos quais os futuros candidatos estaro propensos a esbarrar ou at
mesmo colidirem.
No Brasil, mesmo diante de alguns importantes trabalhos, os holofotes da Cincia
Poltica ainda no so fortemente direcionados para a carreira poltica, enquanto objeto
analtico de estudo. BOURDOUKAN (2006) aponta as duas principais maneiras de se
estudar carreiras polticas:
A primeira possibilidade liga-se a tradio dos estudos das elites, enfatizando o recrutamento dos polticos classe social de origem, caractersticas pessoais, grupo
tnico, cultural, religioso a que esto envolvidos, etc. Para a autora, os objetivos destes
estudos buscam determinar os nveis de oxigenao da elite poltica, assim como a
comparando esta elite enquanto representante da sociedade que a elegeu.
21 Quid Pro Quo: Loyalty, Dissent, and Career Advancement in British Parliamentary Parties, 1970-95.
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A segunda forma observa as carreiras polticas como variveis independentes, ressaltando as oportunidades e constrangimentos a que esto sujeitos os polticos e que
caractersticas do sistema poltico podem ser mais bem compreendidas a partir destes
pontos de vista.
A primeira forma de abordagem certamente tem merecido mais destaque, inclusive
no Brasil, tanto porque realmente perpetuam-se estudos sobre o surgimento e manuteno
das elites. Todavia possvel interligar as duas maneiras de compreender carreiras,
buscando elementos em ambas as esferas que possibilitem uma melhor rentabilidade de
anlise. No caso aqui proposto, foi elementar visualizar a composio social que compunha
a chapa de candidatos de um partido, por exemplo, observando o perfil de cada um
daqueles que iam concorrer nas eleies, para melhor visualizar as preferncias partidrias
para este ou aquele aspirante.
O Brasil sempre foi recheado, desde os estudos precursores de carreira, com
diagnsticos de caractersticas pessoais que facilitavam a compreenso de situaes que
envolviam Legislativo-Executivo, composio de chapas e alianas congressuais,
recrutamento de filiados, seleo de candidatos. Os primeiros estudos nascem no perodo
da Ditadura Militar, um perodo onde o Brasil, nas palavras de SANTOS (2000):
vivia um momento poltico extremamente delicado quando surgem os primeiros estudos sobre carreira poltica e composio
social das elites parlamentares22
O trabalho de Maria Antonieta Leopoldi, intitulado Carreira Poltica e mobilidade
social: O legislativo como meio de ascenso social (1973), juntamente com o trabalho de
Nilda Pitta e Jos Maria Arruda, intitulado Composio sociolgica da Assemblia
Legislativa do estado da Guanabara (1966) podem ser considerados os primeiros estudos
deste gnero no Brasil.
Publish in American Political Sciene Association, Boston, M. August. 2002. 22 SANTOS, Fabiano Deputados Federais e instituies legislativas no Brasil: 1946-99 in Elites Polticas e Econmicas no Brasil Contemporneo. Ed. Konrad Adenauer, 2000 pg. 93.
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Leopoldi aponta os resultados de um estudo feito com os polticos do antigo Estado
da Guanabara, e se baseou precisamente em entrevistas com os candidatos a Deputado
Estadual e Federal pelo Estado da Guanabara nas eleies de 1970.
Deste trabalho saram vrios artigos da autora, inclusive um sobre carreira poltica.
Tambm foi a partir deste trabalho que alguns outros, localizados especificamente neste
estudo de caso foram realizados23. Percebe-se que no Rio de Janeiro, mais
especificamente no antigo estado da Guanabara, que germinam os primeiros interesses
pelas anlises de composies e trajetrias de polticos em suas carreiras e a forma como
isto interferia no sistema poltico.
E quanto as produes realizadas, a maioria volta-se para anlises sobre a Cmara
dos Deputados. Alis, no somente nos estudos de carreira poltica a Cmara vem
merecendo muitos flashes de estudos, mas tambm,