Dissertação de Mestrado da aluna Karla Almeida Santana

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Título: O processo de Projeto em Construtoras e Incorporadoras do Distrito Federal - DF - Um exercício de avaliação com foco na concepção e definição do produto.

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  • Universidade de Braslia Faculdade de Arquitetura e Urbanismo FAU

    Programa de Pesquisa e Ps-Graduao PPG

    KARLA ALMEIDA SANTANA

    O PROCESSO DE PROJETO EM CONSTRUTORAS E INCORPORADORAS NO DISTRITO FEDERAL

    Um exerccio de avaliao com foco na concepo e definio do produto

    Braslia 2009

  • Universidade de Braslia Faculdade de Arquitetura e Urbanismo FAU

    Programa de Pesquisa e Ps-Graduao PPG

    KARLA ALMEIDA SANTANA

    O PROCESSO DE PROJETO EM CONSTRUTORAS E INCORPORADORAS NO DISTRITO FEDERAL

    Um exerccio de avaliao com foco na concepo e definio do produto

    Dissertao apresentada Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Braslia para obteno do ttulo de Mestre em Arquitetura e Urbanismo

    Linha de Pesquisa: Tecnologia

    Orientadora: Prof. Dra. Raquel Naves Blumenschein

    Braslia 2009

  • FICHA CATALOGRFICA

    concedida Universidade de Braslia permisso para reproduzir cpias desta Dissertao e emprestar ou vender tais cpias somente para propsitos acadmicos e cientficos. O autor se reserva outros direitos de publicao, e nenhuma parte desta Dissertao de Mestrado pode ser reproduzida sem a autorizao por escrito deste.

    Santana, Karla Almeida

    O Processo de Projeto em Construtoras e Incorporadoras no Distrito Federal - Um Exerccio de Avaliao com foco na Concepo e Definio do Produto. 182p.

    Dissertao (Mestrado) - Universidade de Braslia, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

    1. Definio do Produto 2.Concepo 3. Processo de Projeto 4.Construtoras e Incorporadoras 5.Distrito Federal

  • Universidade de Braslia Faculdade de Arquitetura e Urbanismo FAU Programa de Pesquisa e Ps-Graduao PPG

    KARLA ALMEIDA SANTANA

    O PROCESSO DE PROJETO EM CONSTRUTORAS E INCORPORADORAS NO DISTRITO FEDERAL

    Um exerccio de avaliao com foco na concepo e definio do produto

    Dissertao de Mestrado submetida Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Braslia, como parte dos requisitos necessrios para a obteno do Grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo, rea de concentrao em Tecnologia.

    Aprovado por:

    ____________________________________________________________

    Prof. Dra. Raquel Naves Blumenschein (FAU/UnB) (Orientadora)

    ____________________________________________________________

    Prof. Dra. Rosa Maria Sposto (Faculdade de Tecnologia - UnB) (Examinadora Interna Co-orientadora)

    ____________________________________________________________

    Prof. Dr. Silvio Burrattino Melhado (Escola de Politcnica - USP) (Examinador Externo)

  • Aos meus pais, Florinda e Jos Airton,

    e ao meu marido, Bernardo.

  • AGRADECIMENTOS

    minha orientadora Prof. Dr. Raquel Naves Blumenschein, pela orientao dedicada, firme e segura; pela confiana no meu trabalho e por toda a

    oportunidade oferecida de aprendizado e de crescimento acadmico e

    profissional.

    Prof. Dr. Rosa Sposto, por suas contribuies durante todo o desenvolvimento deste trabalho.

    Ao Prof. Dr. Silvio Melhado, pela participao na banca de qualificao e na

    banca final, alm de todas as contribuies, de grande importncia para o

    encaminhamento desta pesquisa.

    s empresas que participaram dos estudos de caso, cuja contribuio foi fundamental para o desenvolvimento deste trabalho. Aos profissionais dessas

    empresas, pela ateno e disposio em colaborar com as informaes

    necessrias.

    Aos funcionrios da Ps-Graduao da FAU-UnB e da Biblioteca Central, em

    especial Rosina, pela cordialidade e ateno.

    Ao engenheiro Eduardo Villela, por ter colaborado, de diversas formas, para a

    realizao deste trabalho, inclusive na divulgao e convocao das empresas

    participantes.

    Ao engenheiro Hamilton Loureno Filho, tambm pela sua ajuda no trabalho de divulgao da pesquisa junto s empresas construtoras e incorporadoras, mas principalmente por ter-me despertado o interesse pelo tema desta pesquisa.

  • Associao de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobilirio do Distrito Federal ADEMI/DF, pelo envio da carta convite a todas as empresas

    construtoras e incorporadoras de edifcios residenciais.

    companheira do mestrado, Carolina Pepitone da Nbrega, pela troca de idias, informaes e bibliografias.

    minha amiga-prima Flvia Taboada, que de to longe, participou na traduo do Abstract e de outros termos em ingls.

    Aos meus amigos, pelo apoio, compreenso e pacincia.

    Professora Maria Auxiliadora, pela reviso.

    Aos meus pais, pelo incentivo para ingressar no mestrado, pelo intenso apoio e

    pela constante ajuda durante o curso. Agradeo por todos os ensinamentos de vida, por toda a formao que recebi, pelo esforo imensurvel em ajudar-me e por todo o amor, que me fizeram crescer como filha, estudante e profissional.

    E, por fim, mas no menos importante, ao meu marido Bernardo, pela sua

    presena, apoio e auxlio em todos os momentos em que estivemos juntos. Obrigada por compartilhar comigo seus conhecimentos, pela sua ajuda com grficos e tabelas, pela sua experincia, pelo seu bom-senso, pela sua pacincia

    e principalmente, pelo seu amor.

  • SUMRIO

    LISTA DE QUADROS..................................................................................................I

    LISTA DE FIGURAS...................................................................................................II

    LISTA DE TABELAS ................................................................................................. V

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS................................................................... VI

    RESUMO................................................................................................................. VIII

    ABSTRACT............................................................................................................... IX

    CAPTULO 1 INTRODUO......................................................................................1

    1.1 Justificativa.......................................................................................................................................6

    1.2 Objetivos .........................................................................................................................................11 1.2.1 Objetivo geral.............................................................................................................................11 1.2.2 Objetivos especficos.................................................................................................................11

    1.3 Vinculao.......................................................................................................................................12

    1.4 Mtodos de estudo e pesquisa.....................................................................................................14

    1.5 Estrutura de apresentao do trabalho .......................................................................................16

    CAPTULO 2 O PROCESSO DE PROJETO EM CONSTRUTORAS E INCORPORADORAS ...............................................................................................20

    2.1 Caractersticas do Processo de Projeto ......................................................................................20

    2.2 O Projeto como Produto e como Servio ....................................................................................25

    2.3 Interfaces do Processo de Projeto ...............................................................................................28

    2.4 Influncia das decises de Projeto para a Produo.................................................................31 2.4.1 Custo..........................................................................................................................................32 2.4.2 Qualidade...................................................................................................................................36

  • 2.4.3 Produtividade.............................................................................................................................38

    2.5 Gesto no Processo de Projeto....................................................................................................41 2.5.1 O papel do coordenador de projetos .........................................................................................44 2.5.2 A importncia da Estrutura Organizacional ...............................................................................50 2.5.3 Planejamento Estratgico e o papel do projeto como agente competitivo ...............................54

    2.6 Sntese analtica .............................................................................................................................62

    CAPTULO 3 FASES INICIAIS DO PROCESSO DE PROJETO .............................65

    3.1 O Processo de Projeto em busca da Qualidade .........................................................................65 3.1.1 Deficincias nas fases iniciais ...................................................................................................69 3.1.2 Melhores prticas nas fases iniciais ..........................................................................................74

    3.2 O Fluxo de processos na Incorporao.......................................................................................80

    3.3 Fases do Processo de Projeto......................................................................................................86

    3.4 Caracterizao das Fases Iniciais do Processo de Projeto.......................................................95 3.4.1 Fase A - Concepo do produto................................................................................................97 3.4.2 Fase B Definio do produto ................................................................................................101

    3.5 Sntese analtica ...........................................................................................................................104

    CAPTULO 4 ESTUDOS DE CASO FASE 1: CARACTERIZAO DAS EMPRESAS DE CONSTRUO E INCORPORAO DO DF .............................106

    4.1 Procedimentos Metodolgicos para o Estudo de Caso FASE 1..........................................106

    4.2 Procedimentos Metodolgicos para o Estudo de Caso FASE 2..........................................108

    4.3 Caracterizao das empresas de incorporao e construo do DF.....................................109

    4.4 Objetivo e Estrutura de anlise para a Fase 2...........................................................................118

    CAPTULO 5 ESTUDOS DE CASO: APRESENTAO DOS RESULTADOS E ANLISE.................................................................................................................123

    5.1 Anlise comparativa da Estrutura Organizacional das empresas pesquisadas em relao s reas de projeto..................................................................................................................................123

    5.2 Anlise comparativa do Planejamento Estratgico das empresas pesquisadas..................127

  • 5.3 Anlise comparativa da Fase A Concepo do Produto ......................................................127

    5.4 Fase B Definio do Produto ...................................................................................................135

    5.5 Anlise comparativa da gesto do processo de projeto nas fases de concepo e definio do produto nas empresas pesquisadas ..........................................................................................140

    CAPTULO 6 CONSIDERAES FINAIS..............................................................151

    6.1 Sugesto de Temas para trabalhos futuros em Gesto do Processo de Projeto de Edifcios..............................................................................................................................................................159

    BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................160

    ANEXO A................................................................................................................173

    ANEXO B................................................................................................................175

    ANEXO C................................................................................................................176

  • I

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Subdiviso da funo de coordenao do processo de projeto (CTE, 1997) ................... 45

    Quadro 2 Atributos e Objetivos do Coordenador de Projetos (MELHADO et al., 2005) .................... 47

    Quadro 3 Modelo de coordenao e suas vantagens competitivas (MELHADO et al., 2005)........... 48

    Quadro 4 Estratgias competitivas (Adaptado de Souza, 2004; CTE; NGI, 1999) ............................ 59

    Quadro 5 Meios para implementao das estratgias genricas em empresas incorporadoras e construtoras (Adaptado de CTE; NGI, 1999) ......................................................................................... 62

    Quadro 6 Fases do Processo de Projeto (RIBA, 2007) ...................................................................... 92

    Quadro 7 Etapas do processo de projeto (Adaptado de AGESC, 2007)............................................ 93

    Quadro 8 Atuao da coordenao de projetos nas diversas fases do processo de projeto. (Adaptado de AGESC, 2007) ................................................................................................................. 95

    Quadro 9 Classificao dos servios de coordenao de projetos da fase A Concepo do Produto. (Adaptado de AGESC, 2007) .................................................................................................. 98

    Quadro 10 Classificao dos servios de coordenao de projetos da fase B Definio do Produto. (Adaptado de AGESC, 2007) ................................................................................................ 102

    Quadro 11 Critrios de escolha das empresas estudadas ............................................................... 110

    Quadro 12 Resultados completos da Fase 1.................................................................................... 116

    Quadro 13 Cruzamento de dados: empresas participantes X critrios de seleo.......................... 117

    Quadro 14 Estrutura do questionrio da Fase 2 ............................................................................... 121

    Quadro 15 Relao das empresas que possuem gerentes e/ou coordenadores de projetos ......... 126

    Quadro 16 Sntese das respostas obtidas na Fase A Concepo do Produto. .......................... 131

    Quadro 17 Critrios de definio do processo construtivo pelas empresas pesquisadas ............... 135

    Quadro 18 Sntese das respostas obtidas na Fase B Definio do Produto. ............................. 137

    Quadro 19 Agentes envolvidos em algumas atividades de concepo do produto ......................... 140

    Quadro 20 Sugestes de melhorias para as empresas pesquisadas .............................................. 154

  • II

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Estrutura metodolgica aplicada pesquisa ....................................................................... 16

    Figura 2 O processo tradicional com sequncias de atividades e barreiras entre os agentes (Adaptado de MELHADO et al., 2005) ................................................................................................... 24

    Figura 3 Interaes entre a equipe multidisciplinar de projeto simultneo (Adaptado de FABRICIO; MELHADO, 2004) .................................................................................................................................. 25

    Figura 4 - O processo de projeto e suas duas interfaces ( Adaptado de FONTENELLE, 2002) ......... 29

    Figura 5 - Interfaces do processo de projeto (FABRICIO, 2002).......................................................... 30

    Figura 6 - Nvel de influncia das fases do processo de produo sobre os custos totais (BARRIE; PAULSON, 1978 apud CTE; NGI, 1999) ............................................................................................... 33

    Figura 7 - Potencial de influncia no custo final de um empreendimento de edifcio e suas fases (Adaptado de CII,1987 apud MELHADO et al., 2005) ........................................................................... 34

    Figura 8 Chance de reduzir o custo de falhas do edifcio em relao ao avano do empreendimento (Adapado de HAMMARLUND; JOSEPHSON, 1992) ............................................................................ 35

    Figura 9 - Relao entre o tempo de desenvolvimento de um empreendimento e o custo das atividades (MELHADO et al, 2005) ........................................................................................................ 36

    Figura 10 Parcela de custos parciais de concepo, projetos e construo em relao aos custos totais de um empreendimento (Silva; Soares, 2003) ............................................................................. 37

    Figura 11 Lacuna de produtividade no trabalho: Brasil x Estados Unidos. (McKinsey, 1995) .......... 40

    Figura 12 - Fatores internos que influenciam na gesto do processo de projeto (Adaptado de WALKER, 2007) ..................................................................................................................................... 51

    Figura 13 Fatores internos que influenciam na gesto do processo de projeto (Adaptado de WALKER, 2007) ..................................................................................................................................... 53

    Figura 14 Etapas para definio da estratgia empresarial e do plano de metas. (Adaptado de SOUZA, 2004) ........................................................................................................................................ 58

    Figura 15 Estratgia de diferenciao (adaptado de SOUZA, 2004) ................................................ 59

    Figura 16 Estratgia de liderana em custo (adaptado de SOUZA, 2004) ....................................... 60

  • III

    Figura 17 Estratgia de enfoque (adaptado de SOUZA, 2004)......................................................... 60

    Figura 18 Fluxo de Incorporao Imobiliria (SOUZA, 2004)............................................................ 83

    Figura 19 Processos do Fluxo de Incorporao Imobiliria (SOUZA, 2004)..................................... 85

    Figura 20 Fluxo geral de fases do desenvolvimento de projeto (CTE; NGI, 1999) ........................... 88

    Figura 21 Etapas do processo de projeto (TZORTZOPOULOS, 1999) ............................................ 90

    Figura 22 O processo de projeto de edificaes (ROMANO, 2003).................................................. 91

    Figura 23 Fases do projeto de edificaes (ROMANO, 2003) .......................................................... 91

    Figura 24 Etapas do processo de projeto (Adaptado de AGESC, 2007) .......................................... 94

    Figura 25 reas de atuao das empresas estudadas ................................................................... 111

    Figura 26 Mercado de atuao das empresas estudadas............................................................... 111

    Figura 27 Certificaes das empresas estudadas........................................................................... 112

    Figura 28 Realizao da coordenao de projetos das empresas estudadas ................................ 112

    Figura 29 Tempo atuao no mercado das empresas estudadas................................................... 114

    Figura 30 Metragem quadrada entregue at 2006 das empresas estudadas................................. 114

    Figura 31 Faturamento anual em 2006 das empresas estudadas .................................................. 115

    Figura 32 Caractersticas comuns das empresas selecionadas para Fase 2 ................................. 118

    Figura 33 Pontuao geral das empresas pesquisadas na Fase A .............................................. 133

    Figura 34 Agentes envolvidos na concepo do produto ................................................................ 133

    Figura 35 Pontuao geral das empresas pesquisadas na Fase B .............................................. 139

    Figura 36 Pontuao geral das empresas pesquisadas nas Fases A e B ................................. 143

    Figura 37 Presena de procedimentos para o Programa de Necessidade e Anlise de terrenos nas empresas pesquisadas ........................................................................................................................ 144

    Figura 38 Presena de procedimentos referentes contratao dos projetistas, critrios de seleo e definio de especialidades de projeto nas empresas pesquisadas................................................ 145

  • IV

    Figura 39 Presena de procedimentos referentes documentao da viabilidade e ao uso de recursos de gesto de projetos nas empresas pesquisadas............................................................... 146

    Figura 40 Presena de procedimentos referentes organizao e ao planejamento de atividades de coordenao nas empresas pesquisadas....................................................................................... 147

    Figura 41 - Presena de procedimentos referentes ao registro de decises nas empresas pesquisadas ......................................................................................................................................... 148

    Figura 42 Presena de procedimentos referentes ao planejamento das etapas de desenvolvimento de projetos e ao fluxo de informaes entre os agentes nas empresas pesquisadas ........................ 149

    Figura 43 Presena de procedimentos referentes s interfaces tcnicas dos projetos, validao final do produto e participao do coordenador na anlise dos materiais de venda nas empresas pesquisadas ......................................................................................................................................... 150

    Figura 44 Presena de procedimentos referentes anlise das propostas tcnicas dos projetistas nas empresas pesquisadas.................................................................................................................. 150

  • V

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Distribuio relativa dos custos de falhas internas e externas da qualidade ....................... 37

    Tabela 2 Pontuao das empresas na Fase A, de acordo com os itens analisados..................... 132

    Tabela 3 Pontuao das empresas na Fase B, de acordo com itens analisados.......................... 138

    Tabela 4 Pontuao das empresas nas Fases A e B, de acordo com itens analisados ............. 141

  • VI

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ADEMI/DF Associao de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobilirio do Distrito Federal

    APO Avaliao Ps-Ocupacional

    ABECE Associao Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural

    ABRASIP Associao Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais

    ABRAVA Associao Brasileira de Refrigerao, Ar Condicionado, Ventilao e Aquecimento

    AGESC Associao Brasileira dos Gestores e Coordenadores de Projeto

    ASCE American Society of Civil Engineers

    AsBEA Associao Brasileira dos Escritrios de Arquitetura

    BIM Building Information Model

    CBIC Cmara Brasileira da Indstria da Construo

    CIB International Council for Research and Innovation in Building and Construction

    CPIC Cadeia Produtiva da Indstria da Construo Civil

    CODEPLAN Companhia de Planejamento do Distrito Federal

    ICC Indstria da Construo Civil

    CII Construction Industry Institute

    ISO International Organization for Standardization

    LACIS Laboratrio do Ambiente Construdo, Incluso e Sustentabilidade

    NBR Norma Brasileira

    ONG Organizao no Governamental

    PBQP-H Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat

    PGM Programa de Gesto de Materiais

  • VII

    PGRS Programa de Gerenciamento de Resduos Slidos

    PACVM Programa de Anlise do Ciclo de Vida dos Materiais

    PLID Programa de Levantamento de Indicadores de Desempenho das Edificaes

    PMI Project Management Institute

    PMBOK Project Management Book

    PSQ Programa Setorial da Qualidade

    PQRP Programa de Qualidade, Racionalizao e Reduo de Perdas

    PRR Programa de Racionalizao e Reduo de Perdas

    RIBA Royal Institute of British Architects

    SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Pequenas e Microempresas

    SECOVI Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locao e Administrao de Imveis Residenciais e Comerciais

    SINDINSTALAO Sindicato da Indstria da Instalao do Estado de So Paulo

    SINDUSCON Sindicato da Construo Civil

    SiAC Sistema de Avaliao da Conformidade de Empresas de Servios e Obras da Construo Civil

    SIQ Sistema de Qualificao

    SGQ Sistema de Gesto da Qualidade

    TI Tecnologia da Informao

  • VIII

    RESUMO

    A gesto da fase de projeto muito importante para as empresas da construo civil, visto que sua influncia sobre todo o resultado econmico, arquitetnico, construtivo e tecnolgico de um empreendimento muito grande. No entanto, diversas construtoras e incorporadoras que possuem sistemas de gesto da qualidade apresentam procedimentos formais deficientes ou praticamente ausentes, quando relacionados ao processo de projeto, particularmente no que se refere ao seu incio, na concepo e na definio do produto. Considerando a importncia dessas duas fases, esta dissertao tem o objetivo de caracterizar as empresas de construo e incorporao no Distrito Federal, descrevendo e avaliando as fases iniciais do processo de projeto, a fim de identificar pontos a serem melhorados. Os processos de projeto de construtoras e incorporadoras foram estudados, englobando sua importncia, gesto e coordenao. Com base nesses estudos, foram elaborados questionrios, fundamentados em pesquisa bibliogrfica, para a aplicao do estudo de caso em seis empresas do DF. O estudo de caso centrou-se em identificar e descrever as estruturas organizacionais, as prticas de planejamento estratgico e as prticas gerenciais adotadas nas fases de concepo e definio do produto, caracterizando as formas de relacionamento, as inter-relaes e a comunicao com os agentes envolvidos e identificando as formas de documentao e sistematizao dos processos. Com base em um sistema de avaliao, produto desta dissertao, foi possvel classificar as empresas quanto qualidade do processo de projeto nas suas fases iniciais. Os resultados sugerem aes para essas fases, que contribuiro para projetos mais eficientes e eficazes, alm de fortalecer os sistemas de melhorias e acelerar mudanas de paradigmas na cadeia da Indstria da Construo do Distrito Federal. O sistema de avaliao proposto poder ser utilizado pelas empresas como forma de autoavaliao e de implementao de aes efetivas nas fases iniciais dos seus processos de projeto. Palavras-chaves: concepo de produto, definio de produto, processo de projeto, construtoras e incorporadoras, Distrito Federal.

  • IX

    ABSTRACT

    THE PROCESS OF DESIGN IN CONSTRUCTION AND REAL STATE DEVELOPERS COMPANIES IN THE FEDERAL DISTRICT An evaluation

    exercise focusing on the conception and definition of the product

    Management of the design phase is highly important for civil engineering companies, as that phase has a strong influence on the economic, architectural, constructive and technological results of a development. However, many construction companies and real state developers in the Federal District, even those that implement internal quality control systems, have ineffective or virtually absent procedures related to design processes. This is particularly a concern when aspects such as the conception and definition of the product are decided. Considering that, this thesis aims to characterize the construction companies and real state developers in the Federal District, describing and assessing how the initial stages of the design process are conducted and identifying areas for improvement. The design processes of construction companies and real state developers were studied, including their structure, management efficiency, coordination and stages. For these studies, questionnaires based on literature research were developed. Those questionnaires were applied to a case study that comprised six firms in the Federal District. The case study focused on identifying and describing their organizational structures, strategic planning practices and their management practices at the conceptual and definition phases of products. It characterizes the forms of relationship, interrelations and communication with stakeholders and also identifies the forms of documentation and systematization of processes. Based on an evaluation tool, specifically developed for this dissertation, it was possible to classify the target companies according to the quality of their design processes, adopted at the early stages of a development. As a result of this study there are a number of suggested actions for a more efficient and effective design approach, for promoting continuous improvement, and for changing the ways the Federal District construction industry operates. As an additional benefit, the evaluation tool can be used by construction companies and real state developers for self-evaluation and to assist in the implementation of effective actions in the early stages of their design processes.

  • 1

    CAPTULO 1 INTRODUO

    Empresas de construo e incorporao vm passando por mudanas

    vinculadas a evolues tecnolgicas, sociais e de mercado, como a globalizao

    da economia, os novos mercados, a criao de pequenas empresas, a

    implantao de programas de gesto da qualidade e o aumento da

    produtividade. Essas empresas tm buscado a modernizao dos seus

    processos, o aumento da eficincia, a reduo de custos e melhores posies

    no mercado com produtos adequados realidade da empresa e dos clientes.

    Buscando atingir esses objetivos, cada vez maior o nmero de empresas que vm alterando seus processos de produo (MELHADO et al., 2005)1.

    Refletindo as mudanas institucionais e a evoluo do cenrio macroeconmico,

    a Indstria da Construo atravessou um excelente momento at o ano de 2007,

    superando metas e expectativas. A partir desse momento, a Indstria da

    Construo sofreu uma desacelerao devido crise econmica mundial. As

    empresas passaram a remodelar seus produtos e a fazer novos estudos de

    mercado para se ajustar nova realidade

    No caso do Distrito Federal, o mercado imobilirio e da construo civil no tem

    sentido tanto os efeitos da crise. Isso porque o Distrito Federal possui

    caractersticas atpicas no mercado imobilirio, quando comparado com outros

    1 O sistema de referncia bibliogrfica adotado indica o(s) sobrenome(s) do(s) autor(es) seguido(s)

    pela data de publicao. Os dados completos de cada referncia podem ser encontrados no final desse trabalho, no item Referncias Bibliogrficas.

  • 2

    estados. A capital abriga um elevado nmero de funcionrios pblicos. So 181

    mil, em um total de mais de 1,1 milho de trabalhadores. Os servidores

    representam aproximadamente 60% (sessenta por cento) da massa salarial da cidade, e so caracterizados como conservadores nos investimentos, preferindo

    aplicar em imveis (ALVAREZ, 2009).

    Alm disso, Braslia uma cidade tombada como Patrimnio Cultural da

    Humanidade e, por esse motivo, no possui muitos terrenos disponveis para

    construo. A maior parte deles terrenos pertence ao governo e sua venda

    depende de licitaes, o que provoca especulao imobiliria. As reas nobres

    destinadas a edifcios residenciais esto-se esgotando e, como a procura por

    imveis nessas reas no diminui, os valores ficam cada vez mais altos.

    Segundo Rutkowski (2002), no perodo entre 1996 e 2002, a valorizao foi de 203%, em mdia, para imveis de dois quartos (novos, nas quadras 300) e 303% para os de quatro quartos (novos, nas quadras 100).

    O mercado imobilirio do DF tem uma demanda reprimida que s faz crescer o

    custo da moradia para as classes mdia e alta (ALVAREZ, 2009). Segundo a ADEMI-DF (2008), das 41.730 unidades colocadas venda no ano de 2008, cerca de 88% (oitenta e oito por cento) foram comercializadas no mesmo ano.

    Mesmo atravessando uma crise econmica, em 2008, o setor imobilirio cresceu

    25% no Distrito Federal, quase o dobro do crescimento do mercado paulista

    (13,8 %). As lideranas empresariais esperam um crescimento de 20% (vinte por cento) no setor imobilirio em 2009, ainda considerando que a crise econmica possa se agravar. Esse cenrio demonstra que Braslia est protegida da crise

    mundial por suas peculiaridades (ALVAREZ, 2009).

  • 3

    Paralelamente s mudanas ocorridas no processo de produo e no cenrio

    econmico, vm ocorrendo mudanas no processo de projetos. Muitas empresas da Indstria da Construo (IC) tm-se preocupado em expandir a qualidade dos servios de projeto, para que o processo seja mais abrangente, de forma a solucionar as exigncias tradicionais, a suprir as necessidades da

    obra e a atender s necessidades dos usurios. Sob o ponto de vista dessas

    empresas, as atividades devem fazer parte de um nico processo e considerar

    as exigncias de todos os agentes envolvidos no processo.

    No entanto, essa viso abrangente e inovadora tem atingido apenas parte das

    empresas construtoras e incorporadoras. O fluxo tradicional de desenvolvimento

    de um projeto, caracterizado pela organizao seqencial, fragmentada e rgida, ainda utilizado. A ausncia de um processo nico faz com que cada

    especialidade de projeto seja desenvolvida independentemente das demais e encadeada uma aps a outra, resultando na falta de interao e de

    compatibilizao entre os projetos (FABRICIO, 2002).

    Na maior parte dessas empresas que constroem e incorporam, as prticas

    correntes de gesto e planejamento de projetos limitam-se ao mero controle de contratos e entregas de desenhos (MANZIONE, 2006). Essa prtica pode trazer conseqncias futuras graves para o planejamento e para a obra, principalmente quando j no h mais tempo para repar-las.

    Sabe-se que, durante a fase de projetos, so definidas as caractersticas do produto, os mtodos construtivos e principalmente os custos. Nessa fase ainda

    possvel realizar intervenes, adaptaes e ajustes necessrios.

  • 4

    Apesar de possurem sistemas de gesto da qualidade implantados, diversas

    empresas de construo e incorporao apresentam processos de projeto incompletos e ineficazes, principalmente no que se refere concepo e

    definio do produto imobilirio.

    Dessa forma, cada vez mais os projetos merecem destaque e ateno por parte das empresas construtoras e incorporadoras, principalmente em suas fases

    iniciais, concepo e definio do produto. Segundo Fabricio (2002) essas fases so de fundamental importncia para a qualidade e a sustentabilidade do

    produto e para a eficincia dos processos.

    Dentro desse contexto, o setor da construo reage s condies impostas pelo

    mercado e vem traando movimentos estratgicos de modernizao tecnolgica

    e gesto empresarial (SOUZA, 2004). Particularmente, a partir da dcada de 90, os modelos tradicionais de gesto do projeto vm-se revelando obsoletos e insuficientes para atender aos novos nveis de exigncia do mercado.

    Ainda necessrio avanar em modelos de gesto de projeto, j que os atuais preocupam-se exclusivamente com o produto final e com o desenvolvimento das

    atividades necessrias para isso. Com ajuda da Tecnologia de Informao, possvel solucionar questes ligadas organizao do fluxo de informaes e

    dos prazos de projetos. Para isso acontecer, novas ferramentas precisam ser desenvolvidas luz da realidade atual (MANZIONE, 2006).

    A importncia da gesto na fase de projetos est sendo, cada vez mais, tema de interesse de empresas da construo civil, devido grande importncia e

  • 5

    influncia que exerce sobre todo o resultado econmico, arquitetnico,

    construtivo e tecnolgico de um novo empreendimento.

    Vrios autores vm enfatizando a importncia do processo de projeto ao longo das duas ltimas dcadas. Picchi (1993) destacou, na sua tese de doutorado, a importncia das aes para a melhoria, garantia e controle da qualidade do

    projeto em empresas de construo de edifcios e descreve os instrumentos para garantir esses objetivos. Novaes (1996) e Melhado (1994, 2001) detalharam em seus trabalhos a estrutura dos projetos e, em especial, as aes para garantir sua qualidade.

    Alm disso, importante ressaltar que a discusso desse assunto no meio

    acadmico possui uma caracterstica interessante: os pesquisadores e autores

    so, em sua maioria, engenheiros civis. So poucos os profissionais de

    arquitetura que tm formao na gesto do processo de projeto. Fortalecer o contedo sobre gesto de projeto em cursos de ps-graduao em Arquitetura necessrio na formao desses profissionais, pois esse contedo deve auxiliar a

    [...] despertar maior interesse pelas questes relacionadas gesto de

    interfaces entre os agentes participantes desse processo. Acrescenta-se ainda

    que os mtodos de gesto adotados na coordenao do projeto podero vir a ser decisivos para o sucesso (dos profissionais arquitetos) e os currculos dos cursos de Arquitetura devem colocar maior peso na formao voltada a essa

    atividade. (MELHADO, 2001)

  • 6

    1.1 Justificativa

    Embora o atual momento, caracterizado pela crise econmica mundial, tenha

    impactos nas atividades da Indstria da Construo (IC), o mercado imobilirio de Braslia no reflete a intensidade desse cenrio. Em 2008, esse setor cresceu

    25%, quase o dobro do mercado paulista e espera-se que esse crescimento se

    mantenha no ano de 2009. (ALVAREZ, 2009).

    Com o setor imobilirio em constante ascenso, importante que os processos

    de projeto tambm acompanhem esse crescimento. Nos ltimos anos, muitas empresas construtoras e incorporadoras tm implantado sistemas de gesto da

    qualidade, como forma de aumentar a competitividade frente s mudanas

    internas do mercado de edificaes e tambm alcanar melhorias nos seus

    processos.

    cada vez maior o nmero de empresas que se tem preocupado em ampliar a qualidade dos servios de projetos e que os tem transformado em um processo mais abrangente, considerando as exigncias e necessidades da obra e dos

    usurios dos edifcios. Na viso dessas empresas, durante o processo de

    projeto, todas as atividades que compem a produo, a manuteno e o uso de empreendimentos devem ser relevantes e fazer parte de um nico processo,

    considerando as necessidades de todos os envolvidos: usurios,

    empreendedores, projetistas, construtora e setor de suprimentos.

    No entanto, diversas empresas da Indstria da Construo possuem processos

    fragmentados. Sistemas de gesto da qualidade implantados em construtoras e

    incorporadoras so incompletos e ineficazes quando se relacionam ao processo

  • 7

    de projeto, principalmente quanto concepo e ao planejamento de empreendimentos. O esforo empreendido pelas empresas de construo civil

    para aperfeioar esses processos iniciais ainda deficiente pela ausncia de

    procedimentos formais.

    A importncia do projeto, suas fases iniciais e os reflexos diretos em todas as etapas subseqentes do processo de produo de edificaes vem sendo

    defendida e demonstrada por diversos autores e pesquisadores.

    Hendriks (2007) conceitua a fase inicial como aquela em que o executor do projeto decide construir e a fase de projetos como aquela em que a forma da construo e o uso de materiais so definitivamente especificados. Sob a tica

    ambiental e sustentvel, o autor defende a importncia dessas fases pela

    influncia que o arquiteto exerce para limitar a quantidade de resduos de

    construo e demolio, em funo dos tipos de materiais, do sistema

    construtivo e de modulaes no projeto.

    Fabricio (2002), em sua tese de doutorado, afirma que a concepo e o projeto, na construo e em outros setores, so de fundamental importncia para a

    qualidade e a sustentabilidade do produto e para a eficincia dos processos.

    Ainda sob o ponto de vista da sustentabilidade, Blumenschein (2004) refora a importncia dos projetos para garantir que um edifcio seja sustentvel j que este fato [...] est diretamente ligado sua durabilidade e sua capacidade de

    sobreviver adequadamente e eficientemente ao longo do tempo.

    Para Oliveira; Melhado (2005a), a fase de projeto vista como aquela que apresenta mais oportunidades de interveno e agregao de valor ao

  • 8

    empreendimento. Por esse motivo, os processos de concepo e projeto devem ser estratgicos para a qualidade do edifcio ao longo do seu ciclo de vida.

    Castells; Heineck (2001) ressaltam que parte substantiva dos tradicionais problemas da Indstria da Construo Civil tem sua origem na etapa de

    elaborao de projetos. Os autores ainda consideram a atividade de projetos nas fases iniciais como catica, imprevisvel nos seus procedimentos, ou de alta

    variabilidade e improvisao (CASTELLS; HEINECK, 2001).

    Segundo Melhado (2001): os projetos tm importantes repercusses nos custos e na qualidade dos empreendimentos e, assim, a qualidade do projeto fundamental para a qualidade do empreendimento. O autor ainda explica que a

    fase de concepo e planejamento do edifcio ocorre de forma isolada do desenvolvimento do projeto, ou seja, a atuao do arquiteto ocorre previamente e com reduzida interao com os demais projetistas e com a equipe de obra. Essa desarticulao causa muitos problemas no processo de projeto e consequentemente, no processo de produo, uso e manuteno.

    Segundo Franco; Agopyan (1994) [...] nesta fase que se tomam as decises que trazem maior repercusso nos custos, velocidade e qualidade dos

    empreendimentos.

    Barros (1996) demonstra que o momento para a implementao sistmica de inovaes tecnolgicas no setor durante a fase de projeto. Nessa fase possvel evitar futuros problemas de patologias nas construes e,

    principalmente, reduzir custos.

  • 9

    Fontenelle (2002) defende que mudanas na rotina de trabalho na gesto do processo de projetos podem provocar um crescimento no setor da construo civil. O autor afirma ainda que a importncia da fase de projetos to significativa que cinquenta por cento dos defeitos na obra so atribudos a ela.

    Dessa forma, pode-se destacar a importncia de processos de projeto eficientes e eficazes, principalmente em suas fases iniciais. Considerando que existem

    metodologias de coordenao de projeto bem desenvolvidas, este trabalho investiga quais procedimentos formais so utilizados no momento da concepo

    e definio de novos produtos em empresas de construo e incorporao no

    Distrito Federal.

    Segundo a American Society of Civil Engineers - ASCE (2000), o empreendedor o responsvel pela busca dos melhores resultados para o empreendimento, j que contrata e coordena os projetos, e deve analis-los sob a tica da construo e incorporao de forma global.

    Nesta pesquisa, sero consideradas como fases iniciais a concepo e definio

    do produto. A delimitao dessas fases justificada pela importncia da consolidao das interfaces dos sistemas presentes antes da aprovao legal

    dos projetos. Aps a aprovao e o consequente lanamento do empreendimento, alteraes que ocorrerem em funo do planejamento e da compatibilizao geral dos projetos prejudicaro o controle dos mesmos e iro interferir gravemente nos custos, prazos e desempenho do empreendimento.

    De acordo com a AsBEA (2007) o ideal que esta consolidao ocorra sempre antes da aprovao dos projetos legais, junto s autoridades constitudas, com a

  • 10

    clara concordncia dos responsveis pelo empreendimento e execuo das

    obras, pois sero estes que viabilizaro os procedimentos executivos.

    Busca-se tambm com este trabalho contribuir com a mudana de certos

    paradigmas existentes na Cadeia Produtiva da Indstria da Construo (CPIC), fortalecendo o sistema de aprendizado local do DF. Segundo Blumenschein

    (2004): o estudo dos vetores de mudanas na CPIC [...] est diretamente vinculado s pesquisas do processo de inovao, dos modelos de evoluo

    tecnolgica de indstrias e aos instrumentos de gesto ambiental que podem

    introduzir mudanas comportamentais. Esses estudos buscam fortalecer o

    sistema de aprendizado na indstria local, integrando fatores tcnicos,

    econmicos, organizacionais, institucionais e polticos.

    Ainda segundo Blumenschein (2004), o fortalecimento do sistema de aprendizado local da CPIC est entre os principais vetores de mudana e

    estmulo ao surgimento de inovao.

    Alm disso, a introduo de pontos de melhorias por parte dos agentes da CPIC

    tambm potencializa a absoro de metodologias e tecnologias, revelando a

    importncia de compartilhar responsabilidades, recursos e instrumentos, o que

    certamente contribui para a mudana dos paradigmas vigentes na cadeia.

    Busca-se, com este trabalho, contribuir para o sistema de aprendizado da

    Indstria da Construo (IC) do Distrito Federal, identificando e avaliando as fases de concepo e definio do produto em empresas do subsetor de

    empreendimentos no Distrito Federal.

  • 11

    O objeto de estudo restringe-se anlise das fases de concepo e definio do produto em edifcios residenciais, que ser feita com base em procedimentos

    formais preestabelecidos.

    1.2 Objetivos

    1.2.1 Objetivo geral

    O objetivo da dissertao caracterizar as empresas de construo e incorporao do Distrito Federal, descrevendo e avaliando as fases iniciais do

    processo de projeto, com o objetivo de identificar pontos especficos e comuns a serem melhorados.

    1.2.2 Objetivos especficos

    Como objetivos especficos foram definidos:

    Caracterizar o processo de projeto;

    Destacar a importncia do processo de projeto em construtoras e incorporadoras, caracterizando-o como produto ou servio, e relacionando-o tambm s atividades de gesto e coordenao, com foco na qualidade;

    Descrever as principais fases do processo de projeto e sua relao com a incorporao;

    Caracterizar as empresas construtoras e incorporadoras do DF, selecionadas para esta pesquisa, de acordo com os seguintes requisitos: rea de atuao, rea geogrfica, tempo no mercado, metragem quadrada entregue, faturamento, mercado de atuao, certificaes obtidas e tipo de coordenao desenvolvida;

  • 12

    Identificar e descrever as estruturas organizacionais, as prticas de planejamento estratgico, as prticas gerenciais adotadas, nas fases de concepo e definio do produto nas empresas selecionadas e pesquisadas;

    Caracterizar as formas de relacionamento, as inter-relaes e a comunicao com todos os agentes envolvidos nas fases iniciais do processo de projeto, identificando as formas de documentao e sistematizao dos processos empregados nas fases iniciais;

    Identificar os pontos nas empresas pesquisadas que podem ser melhorados nas etapas de concepo e definio do produto;

    Propor e disponibilizar para a IC uma ferramenta de avaliao do processo de projeto para etapas iniciais de empreendimentos.

    1.3 Vinculao

    O objeto de estudo desta dissertao faz parte de uma das linhas de pesquisa do Programa de Gesto de Materiais (PGM), desenvolvido atualmente pelas Professoras Raquel Naves Blumenschein (LACIS/FAU/CDS/UnB) e Rosa Maria Sposto (ENC/FT/UnB). Este programa recebe o apoio do Sinduscon-DF, SEBRAE e da Cmara Brasileira da Indstria da Construo.

    O objetivo do PGM fortalecer o sistema de aprendizado da cadeia produtiva da indstria da construo local, relativo sua sustentabilidade e qualidade,

    potencializando a mudana dos paradigmas tecnolgicos (BLUMENSCHEIN, 2002).

    O PGM composto por trs programas: Programa de Gerenciamento de

    Resduos Slidos, Piloto 1 PGRS - P1, Programa de Qualidade,

    Racionalizao e Reduo de Perdas PQRP P2 e Programa de Anlise do

    Ciclo de Vida dos Materiais PACVM P3. O Programa de Racionalizao e

  • 13

    Reduo de Perdas, Piloto 2 - PRRP P1 tem como objetivo elaborar, desenvolver e implantar metodologia para os seus subprogramas constituintes.

    O Programa de Racionalizao e Reduo de Perdas para as empresas

    construtoras, Piloto 2 PRRP-PGM-2, j implantado no mbito do Distrito Federal, constitudo por trs subprogramas: Programa de Implantao de

    Sistemas de Gesto da Qualidade em empresas construtoras: Dados e

    Avaliao (PSGQ); Programa de Levantamento de Indicadores de Desempenho das Edificaes (PLID) e Programa para Racionalizao e Reduo de Perdas (PRRP). O PRRP tem como objetivo desenvolver metodologia de reduo e minimizao de perdas no processo de concepo e planejamento de edificaes, focando na gesto de projeto, no planejamento do empreendimento e na concepo e detalhamento do produto (BLUMENSCHEIN, 2004).

    O relatrio final do Projeto Piloto do Programa de Racionalizao e Reduo de Perdas (PRRP) apresenta resultados e anlises a partir da realizao de um diagnstico do processo de projetos de empresas construtoras do Distrito Federal. Como resultado desse programa foi proposta uma metodologia para

    avaliar a qualidade e a racionalizao de projetos, com planos de ao visando melhoria do processo.

    Alm disso, a pesquisa apresentada nesta dissertao tambm se fundamenta

    nos Manuais de Escopo de Projetos e Servios elaborados pelas entidades mais representativas da construo imobiliria (ABECE, ABRASIP, AsBEA, AGESC e ABRAVA, SECOVI-SP, SINDINSTALAO e SINDUSCON-SP). Esses manuais formam um conjunto de ferramentas que possibilitam uma poltica de melhoria contnua da qualidade na cadeia produtiva e de relaes ticas entre os seus

  • 14

    diversos intervenientes, esclarecendo e desenvolvendo melhores projetos, cumprindo, assim, todas as etapas necessrias ao atendimento de elevados

    padres de qualidade (AsBEA, 2007).

    Esses dois trabalhos nortearam a definio dos critrios de avaliao para esta

    pesquisa. O seu resultado complementa a linha de pesquisa do PGM, pelo

    aprofundamento na pesquisa por melhorias das etapas iniciais dos processos de

    projeto na rea especfica de empreendimentos no Distrito Federal, apresentando novos diferenciais de mercado, identificando os entraves e

    propondo diretrizes que venham a contribuir para a gesto do processo de

    construo civil no Distrito Federal.

    1.4 Mtodos de estudo e pesquisa

    Para atingir os objetivos propostos, esta pesquisa foi desenvolvida com base em dois procedimentos metodolgicos: pesquisa bibliogrfica e estudos de casos.

    Os estudos de caso podem ser considerados como uma das ferramentas

    disponveis para a realizao de pesquisas, j que utilizado quando se pretende estudar como e por que ocorrem determinados eventos

    contemporneos (YIN, 2005). De acordo com Serra (2006): esse mtodo pretende esgotar o conhecimento sobre certo exemplar escolhido por critrios

    que so claramente explicitados.

    Foram selecionadas seis empresas para aplicao do estudo de caso. Assim, a

    pesquisa teve o carter qualitativo, sendo o estudo de caso um exemplo desse

    mtodo, j que foi realizada em um pequeno grupo de empresas. Segundo Serra (2006), os mtodos qualitativos consistem na descrio do seu objeto, com o

  • 15

    objetivo de conhec-lo profundamente. As coletas de dados empregaram mltiplas fontes de evidncias: entrevistas, aplicao de questionrios,

    observao e anlise de documentos.

    As seguintes etapas foram desenvolvidas de forma paralela e complementar:

    Reviso bibliogrfica, para a coleta de dados secundrios e conceitos sobre o assunto pesquisado. Foram utilizados livros, teses, dissertaes, estudos e artigos cientficos, sites de internet, revistas, e outros tipos de material;

    Caracterizao e seleo de empresas construtoras e incorporadoras no Distrito Federal, a partir de caractersticas comuns, para participao nos estudos de caso (Anexo A). Para essa etapa, foram enviados formulrios por correio eletrnico, convidando as empresas a participarem da pesquisa, junto com as perguntas de caracterizao.

    Realizao de estudos de caso nas empresas selecionadas na etapa anterior. Com o auxlio de um roteiro de estudos de caso (Anexo C) foram realizadas entrevistas com os principais responsveis pela gesto do processo de projeto. O roteiro foi feito com base na literatura especializada, na metodologia para a avaliao da qualidade e racionalizao de projetos empregada no PGM e nos Manuais de Escopo de Projetos e Servios.

    Anlise dos resultados e elaborao de um diagnstico da situao atual do processo de projeto nas empresas pesquisadas, identificando os principais pontos de melhorias nas fases iniciais de concepo e definio do produto.

    Propostas de aes e diretrizes elaboradas com base nos resultados encontrados.

    A estrutura metodolgica utilizada neste trabalho est ilustrada na Figura 1.

  • 16

    Figura 1 Estrutura metodolgica aplicada pesquisa

    1.5 Estrutura de apresentao do trabalho

    A dissertao composta por cinco captulos, alm da introduo. No Captulo

    1 INTRODUO , o trabalho apresentado com uma introduo sobre o tema e o cenrio das empresas de construo e incorporao no pas, com

    destaque para a Indstria da Construo do Distrito Federal. Alm disso, so

    Envio da Carta-Convite e Formulrio de Caracterizao das Empresas Fase 1

    Escolha do perfil das empresas filiadas ADEMI-DF

    Empresas concordam em

    participar? Tabulao dos

    dados Fase 1

    No Sim

    Seleo das Empresas para Fase 2

    Aplicao do questionrio Fase 2

    Tabulao dos dados Fase 2

    Anlise dos dados Fase 2

    Concluses finais e recomendaes de

    melhorias

    Anlise dos dados Fase 1

    Caracterizao das empresas

    Fase 1

    Elaborao do formulrio Fase 1

    Critrios de seleo

    Elaborao do questionrio Fase 2

    Empresa descartada

  • 17

    descritos tambm: justificativa, objetivos, vinculao e os mtodos de estudo e pesquisa deste trabalho.

    O Captulo 2 O PROCESSO DE PROJETO EM CONSTRUTORAS E

    INCORPORADORAS constitui parte da reviso bibliogrfica e nele procura-se

    descrever alguns conceitos bsicos para a compreenso do processo de projeto nesse tipo de empresa. Alm disso, neste captulo tambm so descritas

    algumas caractersticas do projeto, destacando sua relevncia no processo. As diferenas entre as atividades de gesto e coordenao so explicitadas a fim

    de esclarecer o papel de cada profissional em sua funo. Destaca-se tambm a

    importncia da estrutura organizacional e do planejamento estratgico nas empresas de construo e incorporao, demonstrando que o projeto pode ter um papel de agente competitivo. Por fim, so destacados os programas de

    qualidade na indstria da construo como forma de atingir a qualidade no

    processo de projeto.

    No Captulo 3 FASES INICIAIS DO PROCESSO DE PROJETO abordado

    diretamente o objeto principal de estudo deste trabalho: a caracterizao das etapas iniciais do processo de projeto em construtoras e incorporadoras. Inicialmente descrita a interface entre o processo de projetos e o fluxo de processos em incorporadoras. Em seguida, so apresentadas as fases desse

    processo, com base em modelos desenvolvidos por autores nacionais. Na

    seqncia, seguem as descries de cada uma das fases iniciais do processo

    de projeto (concepo e definio do produto). Ao final do captulo, so apresentadas as principais deficincias e tambm as melhores prticas j abordadas em trabalhos sobre o tema.

  • 18

    No Captulo 4 ESTUDOS DE CASO FASE 1: CARACTERIZAO DAS EMPRESAS DE CONSTRUO E INCORPORAO DO DF , abordada a primeira etapa dos estudos de caso. Inicialmente, a metodologia da pesquisa

    explicitada e, em seguida, so apresentados os resultados dos questionrios

    aplicados em nove empresas de construo e incorporao do Distrito Federal e

    analisados os seguintes aspectos: rea de atuao, rea geogrfica, tempo no

    mercado, metragem quadrada entregue, faturamento, mercado de atuao,

    certificaes obtidas e tipo de coordenao desenvolvida. Com base nas

    informaes obtidas, foi possvel definir os critrios de escolha para selecionar

    as empresas para a Fase 2, alm de apresentar os objetivos e a estrutura de anlise para a fase seguinte.

    No Captulo 5 ESTUDOS DE CASO FASE 2: APRESENTAO DOS RESULTADOS E ANLISE , so apresentados os resultados e as anlises dos estudos de caso aplicados em construtoras e incorporadoras do Distrito

    Federal, obtidos a partir da aplicao do questionrio nas empresas

    selecionadas. O estudo centrou-se em identificar e descrever as estruturas

    organizacionais, as prticas de planejamento estratgico e as prticas gerenciais adotadas nas fases de concepo e definio do produto, caracterizando as

    formas de relacionamento, as inter-relaes e a comunicao com os agentes

    envolvidos e identificando as formas de documentao e sistematizao dos

    processos empregados durante as fases iniciais. Ao final desse captulo, feita

    uma anlise comparativa da gesto do processo de projeto nas empresas, com o objetivo de descrever e avaliar as fases iniciais do processo de projeto,

  • 19

    identificando caractersticas comuns que podem ser desenvolvidas e

    aperfeioadas nas etapas de concepo e definio do produto.

    No Captulo 6 CONSIDERAES FINAIS realizado o fechamento do trabalho. demonstrada a importncia das fases iniciais do processo de projeto nas empresas de construo e incorporao, no sentido de atingir melhorias nas

    atividades de gesto e coordenao, tanto em relao s estruturas

    organizacionais, quanto em relao s prticas gerenciais de definio e

    caracterizao do produto. Alm disso, so levantadas outras questes

    referentes ao tema deste trabalho que ainda necessitam ser discutidas no meio

    acadmico.

  • 20

    CAPTULO 2 O PROCESSO DE PROJETO EM CONSTRUTORAS E INCORPORADORAS

    Nesse captulo so apresentados alguns conceitos fundamentais para

    compreender o processo de projeto em empresas de construo e incorporao, identificando suas caractersticas e relevncia. importante explicar as diferenas entre as atividades de gesto e coordenao, a fim de esclarecer o

    papel de cada profissional em sua funo. Destaca-se tambm a importncia da

    estrutura organizacional e do planejamento estratgico nas empresas, demonstrando como o projeto pode ter um papel de agente competitivo. Por fim, so descritos os programas de qualidade na indstria da construo como forma

    de atingir a qualidade no processo de projeto.

    2.1 Caractersticas do Processo de Projeto

    Antes de definir a expresso processo de projeto, necessrio definir o conceito dos dois termos: processo e projeto.

    Segundo Melhado et al. (2005), o conceito de processo deve ser entendido como um meio para alcanar objetivos perpassando por etapas progressivas e geradoras de produtos cada vez mais detalhados, que lhe imprimem

    caractersticas e complexidade mpares.

    Segundo a norma NBR ISO 9000:2005, o termo processo definido como

    conjunto de atividades inter-relacionadas ou interativas, que transformam insumos (entradas) em produtos (sadas).

  • 21

    Juran (1997) defende que um processo, sob a tica da qualidade, uma srie sistemtica de aes dirigidas realizao de uma meta. Essa definio

    abrange tambm os processos usados para realizar as etapas do planejamento no processo de projeto, como por exemplo, na identificao dos clientes e suas necessidades (pesquisa de mercado) e na caracterizao do produto.

    J o termo projeto pode ser compreendido como um esforo temporrio empreendido para criar um produto, servio ou resultado exclusivo (PMI, 2004), ou ainda:

    Um projeto um empreendimento temporrio com o objetivo de criar um produto ou servio nico. Temporrio significa que cada projeto tem um comeo e um fim bem definidos. nico significa que o produto ou servio produzido de alguma forma diferente de todos os outros produtos ou servios semelhantes (PMBOK, 2000).

    importante destacar que o conceito adotado pelo PMI no se refere diretamente a projetos de arquitetura, mas a qualquer planejamento que cria um produto ou servio. Essa definio foi adotada neste trabalho por ser cabvel a

    empreendimentos da Indstria da Construo, que exigem um resultado

    exclusivo, so nicos e temporrios.

    No campo da Arquitetura, a Associao Brasileira dos Escritrios de Arquitetura

    AsBEA (2000) considera o projeto como [...] um conjunto de aes caracterizadas e quantificadas, necessrias a concretizao de um objetivo.

    Gus (1996) conceitua projeto como sendo uma etapa do processo de construo, a qual busca uma soluo para incorporar as necessidades do

  • 22

    cliente, atravs da definio das caractersticas do empreendimento, com a

    finalidade de sua execuo.

    Melhado (1994) define o projeto como [...] atividade ou servio integrante do processo de construo, responsvel pelo desenvolvimento, organizao,

    registro e transmisso das caractersticas fsicas e tecnolgicas especificadas

    para uma obra, a serem consideradas na fase de execuo.

    Para Silva; Souza (2003) o conceito de processo de projeto entendido [...] no s como a concepo arquitetnica da edificao ou bem a ser produzido,

    mas como o processo que determina todas as especificaes de forma,

    dimenses, materiais, componentes e elementos construtivos relativos

    exigncias do usurio.

    Assim, o termo Processo de Projeto ser definido neste trabalho com base na conceituao de Fabricio (2002):

    O Processo de Projeto envolve todas as decises e formulaes que visam subsidiar a criao e a produo de um empreendimento, indo da montagem da operao imobiliria, passando pela formulao do programa de necessidades e do projeto do produto at o desenvolvimento da produo, o projeto as built e a avaliao da satisfao dos usurios com o produto.

    Esse conceito bem abrangente, j que estabelece interfaces com as outras fases do empreendimento e seus respectivos agentes. Dentro dessa

    conceituao de processo de projeto, as fases iniciais de um empreendimento tm papel importante ao longo de todo o processo, como visto anteriormente na

    justificativa desta dissertao.

  • 23

    Alm da definio do projeto, o processo de projeto pode assumir caractersticas de projetos tradicionais ou simultneos.

    Koskela (2000) ao explicar a evoluo das prticas da gesto de projetos, classifica-a em trs perodos histricos, fazendo referncia aos tipos de

    projetao:

    antes da Segunda Guerra Mundial: os produtos e os processos de produo eram simples e o projeto era considerado apenas como uma habilidade tcnica desenvolvida por um profissional generalista, no havia grandes esforos para sistematizao e coordenao.

    Aps a Segunda Guerra Mundial, com o aumento da produo e da complexidade, surgiu dentro das indstrias a necessidade de agrupar as especialidades de forma a conduzir o trabalho seqencialmente, nos moldes de uma linha de produo. Neste modelo, o projeto era organizado como uma sucesso seqencial de tarefas.

    Aps os anos 80: a indstria evoluiu para o modelo da engenharia simultnea, visando reduzir o tempo de desenvolvimento de seus produtos e integrar o processo de projeto com o processo de produo.

    Fazendo um paralelo com a indstria seriada, o processo de projeto tradicional, ainda adotado por algumas empresas, ocorre de forma sequencial, onde cada

    etapa do processo somente se inicia aps o trmino da anterior. No h inter-

    relacionamento entre os agentes do processo, nem coordenao do processo de

    forma global. Os projetistas so divididos, basicamente, em dois grupos: os que pensam no produto e trabalham somente os aspectos tcnicos e os que pensam

    no processo de produo e consideram somente os mtodos e custos de

    produo (Melhado et al., 2005).

  • 24

    No h comunicao direta entre esses dois agentes. Os projetistas que concebem os produtos no tm idia dos processos, dos custos e

    inconvenientes no momento da execuo. Do outro lado, esto os engenheiros

    de produo, que podem deixar de executar algumas caractersticas

    fundamentais do produto, em funo do elevado custo e de dificuldades de

    execuo, comprometendo sua qualidade final.

    Na Figura 2 est ilustrado o processo de projeto tradicional, onde cada atividade s iniciada aps o trmino da outra. Isso caracteriza a ausncia de inter-

    relacionamento entre os agentes do processo, falta de mecanismos de

    coordenao eficientes. A consequncia desse processo de projeto tradicional a baixa qualidade e elevados custos de produo.

    Figura 2 O processo tradicional com sequncias de atividades e barreiras entre os agentes (Adaptado de MELHADO et al., 2005)

    Na indstria da construo civil no diferente. Em diversas empresas faltam

    detalhes executivos, ocorrem erros de projeto, retrabalhos, desperdcios, alto custo e baixa qualidade dos produtos. A partir da metade do sculo 20, algumas

    indstrias passaram a perceber a necessidade de reverter esse cenrio, j que a competitividade do mercado aumentou.

    Essas iniciativas deram origem a uma nova forma de projetar, caracterizada pelo projeto simultneo do produto e do processo de produo e pela introduo de projetos voltados produo.

    ???

  • 25

    O conceito de Projeto Simultneo originou-se em setores da indstria que, devido ao aumento da competitividade, buscaram novos mtodos de trabalho,

    com o objetivo de reduzir o prazo para o desenvolvimento de seus produtos e aumentar a eficincia e eficcia de seus processos (MELHADO, 2001). O trabalho paralelo em equipes, integrando o desenvolvimento do produto aos

    demais processos envolvidos o principal enfoque do projeto simultneo, conforme ilustrado na Figura 3.

    Figura 3 Interaes entre a equipe multidisciplinar de projeto simultneo (Adaptado de FABRICIO; MELHADO, 2004)

    2.2 O Projeto como Produto e como Servio

    importante destacar duas formas de caracterizar o projeto: como produto e como servio.

    Projetistas do processo

    Produo

    Gesto da qualidade

    Marketing e vendas

    Assistncia tcnica

    Clientes e usurios

    COORDENAO

    Projetistas do produto

    Fornecedores

  • 26

    No mbito das empresas construtoras e incorporadoras, o projeto deve ser entendido de uma forma muito mais ampla, alm de uma simples entrega de

    desenhos e memoriais. Quando se trata da construo de edifcios, o projeto adquire caractersticas de um servio e pode ser definido como um processo. O

    projeto deixa de ser um insumo e passa a ser um servio prestado empresa, pois deve ser eficiente para atender s expectativas dos seus clientes.

    (MELHADO, 1994).

    Segundo Ramos (1992 apud MELHADO, 1994), o termo servio definido como "uma combinao de recursos humanos e materiais com o objetivo de aumentar o valor de 'estado' de alguma pessoa ou objeto, de forma a melhorar sua utilidade".

    A complexidade dessas definies deve ser reconhecida, tanto em relao

    funo do projeto, quanto quantidade de agentes envolvidos. A ao de projetar passa a ser uma atividade multidisciplinar, com intervenientes das mais diversas reas trabalhando em equipe, os quais devem buscar sempre as

    melhores solues para atingir os resultados do projeto. Trata-se de um ato coletivo e circunstanciado, j que para empreendimentos de edifcios, esse processo torna-se complexo e ganha caractersticas atribudas prestao de

    servios. A avaliao do servio ocorre sob a luz da gesto da qualidade da

    empresa contratante e sua relao com as empresas externas (MELHADO, 2001).

    Tavares Jnior (2001) define o projeto como produto quando concludo com a entrega do conjunto de plantas, memoriais, especificaes, entre outros documentos. O conceito do projeto como servio mais abrangente, j que

  • 27

    acompanha todo o processo de produo at a entrega ao usurio final,

    procurando, dessa maneira, atingir a melhoria de todo o processo.

    Buscando atender s necessidades de todos os agentes envolvidos e tambm

    propor solues a cada um desses agentes, conciliando as divergncias entre

    eles, Melhado et al. (2005) descrevem o projeto como um servio na construo, j que tm algumas caractersticas em comum. Entre elas, citam-se:

    intangibilidade: o comprador avalia a qualidade somente aps a aquisio e no participa, diretamente, do processo de especificaes;

    perecibilidade: esse tipo de servio no pode ser estocado, ou seja, o projeto, quando estocado, perde suas caractersticas dirigidas ao mercado imobilirio, deixando de atender s necessidades do pblico para o qual ele foi destinado;

    heterogeneidade: so diversas as variedades do servio;

    simultaneidade: a produo e o consumo dos servios ocorrem ao mesmo tempo;

    relao cliente-fornecedor: direta e pessoal, com grande troca de informaes;

    Ainda segundo Melhado et al. (2005), tornou-se necessrio estreitar a relao entre os que elaboram o projeto como produto e os que elaboram o projeto como processo com o: [...] treinamento dos projetistas com relao aos processamentos e custos bsicos de manufatura, envolvimentos dos gerentes

    de produo no momento de tomada de decises crticas com os projetistas, contratao de um grupo para desenvolver o projeto de produo com base nos projetos do produto.

  • 28

    2.3 Interfaces do Processo de Projeto

    Considerando o projeto como um servio, Melhado et al. (2005) diferencia o projeto em processo estratgico e processo operacional, criando, respectivamente, duas interfaces presentes no processo de projeto: INTERFACE PRODUTO-PROJETO e INTERFACE PROJETO-

    PRODUO.

    Fontenelle (2002) relaciona a interface PRODUTO-PROJETO com a dimenso do projeto como processo estratgico, no qual so definidas as caractersticas do produto que a empresa pretende lanar no mercado. O empreendedor (ou incorporador) o responsvel por definir e refletir as necessidades e restries do pblico-alvo do empreendimento. Refere-se aos aspectos mercadolgicos do

    projeto, entre os quais podem ser citados como exemplos: conceituao do empreendimento; tipologias do edifcio/unidades; definio dos equipamentos /

    servios das reas comuns e privativas; grau de flexibilidade; especificaes

    gerais e ndices de desempenho e normas tcnicas aplicveis.

    Ainda segundo o autor, a interface PROJETO-PRODUO representa a dimenso do projeto como agente do processo operacional, ou seja, est diretamente relacionada com a soluo dos aspectos tcnico-construtivos do

    projeto, exemplificados como: seleo tecnolgica e resoluo de interfaces entre subsistemas. O construtor o responsvel por definir as caractersticas do

    sistema de produo e buscar maior eficincia dos processos operacionais.

  • 29

    Na Figura 4 observa-se que as duas interfaces se relacionam, de forma

    equivalente, sem hierarquizao, ou seja, decises em uma influenciam a outra interface.

    Figura 4 - O processo de projeto e suas duas interfaces ( Adaptado de FONTENELLE, 2002)

    Semelhante ao modelo exposto na Figura 4, Fabricio (2002) tambm estudou as relaes entre as fases do processo de projeto e seus agentes, definindo cinco interfaces importantes, ilustradas na Figura 5:

    I. Interface com o cliente (i1). Relaciona-se com as necessidades e caractersticas do cliente com o desenvolvimento do projeto;

    II. Interface entre os projetistas de especialidades (i2). Est relacionada com a atuao dos projetistas e com o desenvolvimento de diferentes especialidades de projeto;

    III. Interface produto-produo (i3). Representa a construtibilidade e elaborao de projetos para produo, atendendo as especificaes do produto;

    EMPREENDEDOR:

    Objetivos, Requisitos, Estratgia

    competitiva

    PRODUO

    Prpria ou Contratada

    PROJETOS Definies

    para PRODUO

    PROCESSO DE PROJETO

    Definies sobre

    PRODUTO

    INTERFACE Produto - Projeto

    INTERFACE Projeto - Produo

  • 30

    IV. Interface retroalimentao-projeto (i4). Relaciona-se com o acompanhamento da obra e elaborao do as built, para assegurar a retroalimentao de outros projetos no futuro.

    V. Interface retroalimentao cliente-futuros projetos (i5). Representa a necessidade de acompanhar o uso e a manuteno do empreendimento, a fim de obter a satisfao dos clientes por meio de avaliaes de desempenho e ps-ocupao. Os resultados devem alimentar os novos empreendimentos, aprimorando os conhecimentos.

    Figura 5 - Interfaces do processo de projeto (FABRICIO, 2002)

    No processo tradicional e seqencial de projetos, as informaes de projeto so repassadas de forma unidirecional, ou seja, somente aps uma definio do projeto, parte-se para a etapa seguinte.

    Tratando do desenvolvimento integrado de produtos, uma viso sistmica deve

    ser adotada para facilitar a compreenso do todo e suas partes

    interdependentes, que interagem e produzem um ou mais resultados (TAVARES JNIOR, 2001).

  • 31

    A prxima gerao da Tecnologia da Informao (TI) j contempla o conceito do Modelo de Informao do Edifcio BIM, ou Building Information Modeling.

    Desenvolvido pela Autodesk (2007), esse mtodo de gesto de informao, documentao e desenho permite a modelagem da informao baseada em

    objetos 3D e ainda oferece a possibilidade de parametrizao no ciclo de vida do projeto da construo.

    O conceito utilizado no BIM permite que dados sejam compartilhados com consistncia e confiabilidade entre os participantes de vrias disciplinas no

    processo de projeto da construo, baseado na Engenharia Simultnea. A proposta da Autodesk a utilizao de uma nica plataforma onde os projetos das diversas disciplinas interagem em um nico banco de dados. Cada disciplina

    tem o seu modelo que est intimamente ligado ao modelo arquitetnico, por

    relaes internas no sistema (CRESPO; RUSCHEL, 2007).

    2.4 Influncia das decises de Projeto para a Produo

    Sabe-se que o projeto possui uma grande influncia nos resultados da obra, pois nessa fase que todas as alternativas para a construo so consideradas.

    Uma deciso errada pode acarretar grandes prejuzos.

    Considerando que os empreendimentos devem atender aos objetivos estratgicos das empresas empreendedoras e ser viveis sob o ponto de vista

    econmico e financeiro, os projetos assumem o papel de um importante instrumento, pelo seu potencial de influenciar e definir as caractersticas fsicas

    do produto edificao. Dessa forma, ele passa a desempenhar papel de

    significativa responsabilidade como otimizador dos processos de construo e

  • 32

    como instrumento de aumento da satisfao dos usurios finais (OLIVEIRA, 2005).

    Atualmente, percebe-se que diversas empresas de construo e incorporao

    ainda investem pouco nas fases iniciais de um projeto. Este fato acarreta em diversas conseqncias para o empreendimento, principalmente em relao a

    custos, qualidade e produtividade.

    2.4.1 Custo

    Segundo CTE; NGI (1999) e Silva; Souza (2003), o projeto tem um grande impacto sobre os custos diretos decorrentes da aquisio dos insumos e do

    prazo de execuo da obra. No momento da concepo, esses custos j passam a ser determinados em funo das caractersticas do projeto.

    Os custos de operao e manuteno tambm sofrem influncia do projeto e refletem, de forma positiva ou negativa, nos custos ao longo da vida til da

    edificao. Durante a fase de projetos, a seleo de tecnologia, de materiais, componentes e sistemas definem, muitas vezes, a escolha entre um custo inicial

    mais baixo e custos de operao/manuteno mais altos ou, um custo inicial

    mais alto e custos de operao/manuteno mais baixos ao longo da vida til. O

    projeto determina tambm os custos do processo de produo, com potencial para torn-los mais altos ou mais baixos em um espectro de custos possveis

    permitido pelo projeto (CTE; NGI, 1999).

    Na Figura 6 est representado um grfico de influncia sobre os custos globais

    de um empreendimento, o qual demonstra que a fase de projeto possui elevado potencial de influncia nos custos, associado a baixos custos incorridos em

  • 33

    relao aos custos acumulados. Na medida em que se avana no processo de

    produo, a possibilidade de influenciar os custos diminui consideravelmente e,

    os custos incorridos vo se elevando rapidamente.

    Figura 6 - Nvel de influncia das fases do processo de produo sobre os custos totais (BARRIE; PAULSON, 1978 apud CTE; NGI, 1999)

    Na Figura 7 esto exemplificadas, de forma esquemtica, as relaes entre

    etapas de projeto com o custo final do empreendimento e com o tempo que transcorre nessas fases. Nesta figura est ilustrado como o potencial de

    influncia no custo da obra diminui medida que o tempo transcorre e os

    projetos evoluem em suas etapas. Dessa forma, torna-se mais difcil alterar o resultado da obra, pois importantes decises j foram tomadas e a obra comea a ter despesas em funo do andamento dos projetos.

  • 34

    Figura 7 - Potencial de influncia no custo final de um empreendimento de edifcio e suas fases (Adaptado de CII,1987 apud MELHADO et al., 2005)

    Na Figura 8, foi estabelecida uma relao entre o tamanho do crculo, a

    possibilidade de interferncia e o custo acumulado de produo, em uma linha

    de etapas representativas de evoluo do projeto. Observa-se que as etapas iniciais e o desenvolvimento do projeto ainda possuem baixos custos e maiores possibilidades de interferncia. Isso possibilita a identificao e a correo de

    falhas e defeitos, diminuindo o custo global da obra, desperdcios e possveis

    retrabalhos, alm de aumentar a produtividade. A partir da deciso do cliente

    para iniciar a construo, as chances de interferncias diminuem

    consideravelmente e os custos da execuo tendem a aumentar cada vez mais.

    Outros autores, como Hammarlund; Josephson (1992) tambm reforam a importncia do projeto e comprovam que as fases iniciais do projeto oferecem uma grande possibilidade de reduzir os custos de falhas com pequeno

    investimento de recursos.

  • 35

    Figura 8 Chance de reduzir o custo de falhas do edifcio em relao ao avano do empreendimento (Adapado de HAMMARLUND; JOSEPHSON, 1992)

    Mascar (2006) aponta a importncia do conhecimento das relaes entre as decises de projeto e o custo total do edifcio. O autor ainda afirma que o arquiteto acha-se impossibilitado de controlar cada uma das decises, pois

    desconhece sua influncia no custo total do edifcio e tambm suas inter-

    relaes.

    Este fato revela, por outro lado, a importncia da formao do arquiteto em

    relao economia nos custos de construo, associado ao uso de critrios de

    racionalizao construtiva nos projetos.

    Na Figura 9, ilustra-se a relao entre o custo mensal do empreendimento com o

    tempo para sua elaborao. Conclui-se que, ao aumentar o tempo e o

    investimento dedicado ao projeto, permite-se desenvolv-lo de forma mais ampla (MELHADO et al., 2005).

    Estudo de viabilidade

    Concepo de projetos

    Projetos Construo

    POSSIBILIDADE DE INTERFERNCIA

    CUSTO ACUMULADO DE PRODUO

    Tempo

    Deci

    so

    do cl

    iente

    pa

    ra es

    tuda

    r a

    viab

    ilidad

    e

    Deci

    so

    do cl

    iente

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    ra co

    nstru

    ir

  • 36

    Figura 9 - Relao entre o tempo de desenvolvimento de um empreendimento e o custo das atividades (MELHADO et al, 2005)

    2.4.2 Qualidade

    Segundo Franco; Agopyan (1994) a melhoria da qualidade dos projetos pode contribuir para avanos na obteno de melhor qualidade da construo.

    Bertezini (2006) afirma que algumas decises de projeto influenciam no ciclo de vida dos edifcios, principalmente em relao ao surgimento de patologias,

    durabilidade, economia de recursos (gua, energia, tratamento de esgotos), sustentabilidade e ao desempenho trmico e acstico.

    Segundo Hammarlund; Josephson (1992) possvel mensurar a influncia do projeto na origem de falhas. As internas so responsveis por vinte por cento (20%) e, as externas, por cinqenta e um por cento (51%) na qualidade das edificaes, como especificadas na Tabela 1.

  • 37

    Tabela 1 - Distribuio relativa dos custos de falhas internas e externas da qualidade

    (HAMMARLUND; JOSEPHSON, 1992).

    ORIGENS DA FALHA INTERNAS EXTERNAS

    Cliente 3% -

    Projeto 20% 51%

    Gerenciamento 34% -

    Execuo 20% 26%

    Materiais 20% 10%

    Equipamentos 1% -

    Ps-uso - 9%

    Outros 2% 4%

    TOTAL (em relao aos custos de produo) 6% 4%

    Silva; Soares (2003) defendem a reviso dos projetos como forma de melhorar a qualidade e reduzir custos. Em estudo desenvolvido em Portugal, observou-se

    que, em relao aos custos de concepo, projeto e construo de um empreendimento, a parcela referente concepo e projetos corresponde aproximadamente quinze por cento (15%) dos custos totais (Figura 10).

    Concepo e projetos

    15%

    Construo85%

    Figura 10 Parcela de custos parciais de concepo, projetos e construo em relao aos custos totais de um empreendimento (Silva; Soares, 2003)

  • 38

    Fabricio et al. (2006) defendem que a qualidade dos projetos impacta diretamente no aumento da produtividade nos canteiros de obras e na reduo

    dos custos das obras, eliminao de retrabalhos e de patologias.

    2.4.3 Produtividade

    Segundo o CTE; NGI (1999) as decises de projeto determinam os fatores essenciais da produtividade, tais como:

    Tipos, nmero e relaes de dependncia entre as operaes;

    Quantidade e habilidades requeridas da fora de trabalho;

    Complexidade de execuo;

    Continuidade entre as operaes;

    Repetio de operaes.

    CTE; NGI (1999) afirmam que o projeto no responsvel por garantir que esses elementos ocorram, no entanto, pode-se considerar que o projeto detm alto poder de influncia sobre esses aspectos.

    Segundo Silva; Souza (2003), os ndices de produtividade tendem a melhorar quando a mesma equipe executa a mesma operao diversas vezes. A

    repetio de dimenses, modulaes e repetio de peas estruturais e

    componentes de vedao, so, dentre outros, exemplos de definies feitas em

    projeto que influenciam a produtividade da obra.

    Em um estudo feito pela empresa de consultoria McKinsey (1995) sobre a produtividade do setor da construo civil residencial, foi demonstrado que o

    Brasil possua 35% (trinta e cinco por cento) da capacidade dos Estados Unidos,

  • 39

    no perodo de 1995 a 1997. Apesar de esse trabalho no ser to atual, os

    resultados so muito interessantes.

    O estudo considerou trs segmentos para a indstria da construo, conforme o

    produto final: pesados, comerciais e residenciais. No entanto, concentrou-se no

    estudo do segmento residencial, j que esse o que possuiu maior participao no Produto Interno Bruto PIB, maiores taxas de emprego e tambm de

    informalidade, quando comparado aos outros dois segmentos.

    As principais razes para a baixa produtividade no segmento residencial, no

    nvel do processo de produo, concentram-se nos projetos para produo e na organizao de funes e tarefas, conforme ilustrado na Figura 11. Outros

    fatores como produo em escala, intensidade de capital, variedade de produtos

    tambm so relevantes, mas no to significativos. O mais surpreendente desse

    trabalho que investimentos em treinamento da mo-de-obra no trazem

    grandes melhorias produtividade.

    Segundo o estudo da McKinsey (1995), os projetos para produo devem adotar uma concepo de baixo custo, utilizando a padronizao de materiais,

    modularidade, sistemas pr-fabricados, lay-outs otimizados, com o objetivo de reduzir as interferncias entre as fases do processo de construo. J o

    segundo item, organizao das funes e tarefas, refere-se gesto do

    projeto, utilizao de empreiteiros e ao desenvolvimento comercial. Este item responde por aproximadamente 30% (trinta por cento) da diferena (20 pontos) da produtividade em relao aos Estados Unidos, e aproximadamente 50%

    (cinqenta por cento) dessa diferena refere-se apenas melhoria na gesto dos projetos (planejamento na utilizao de recursos, incentivos e mtodos).

  • 40

    Esses nmeros mostram que no so necessrios grandes investimentos para

    melhorar os ndices de produtividade. Como esse estudo foi realizado na dcada

    de 90, quando os setores produtivos do pas aumentavam seus nveis de

    competitividade, observa-se que apenas mudanas na rotina de trabalho, com

    processos de projetos gerenciados e projetos mais fceis de construir, j so significativas para melhorar os nveis de produtividade de um empreendimento

    (McKinsey, 1995).

    Figura 11 Lacuna de produtividade no trabalho: Brasil x Estados Unidos. (McKinsey, 1995)

    A valorizao das etapas iniciais do processo de projeto cada vez mais necessria em empresas que desejam ter seus processos com maior eficincia e eficcia, j que se conclui que as etapas iniciais do processo de projeto devem ser consideradas fundamentais para o sucesso de um empreendimento.

    E.U.A. BRASIL Projeto para produo

    Organizao das funes e tarefas

    Produo em escala

    Intensidade de capital

    Variedade de produtos

    5 5

    10

    10

    10

    15

    35

    10

    Lacu

    na

    de

    pro

    dutiv

    idad

    e

    Gesto do projeto Desenvolvimento comercial

    Padronizao de materiais e modularidade

    Sistemas pr-fabricados Reduo de interferncias

    100

  • 41

    2.5 Gesto no Processo de Projeto

    Antes da discusso das etapas iniciais do processo de projeto, importante compreender os conceitos referentes gesto e coordenao, alm da

    diferena entre essas duas atividades.

    O conceito operacional de gesto definido por Cleland; King (1983 apud Walker, 2007) com base na identificao de critrios, tais como: atividades organizadas, objetivos, relaes entre recursos, trabalhos e decises. Para esses autores, os critrios utilizados para definir coordenao esto presentes

    tambm no conceito de gesto, ou seja, esses dois conceitos esto intrinsecamente ligados. Para Walker (2007), as decises da gesto so necessrias para a coordenao operar, j que esta ltima se torna a forma de ligao entre os participantes para atingir os objetivos do cliente. Ainda segundo o autor: a gesto o dado de entrada que faz a empresa funcionar. A partir

    desse conceito, revela-se a viso do autor sobre o dinamismo que a empresa

    deve assumir para adaptar-se e trabalhar para cumprir seus objetivos, enquanto a gesto preocupa-se