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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

DIANA MARIA DA BELA NOVO

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

Orientador

Prof. Doutor Arquitecto Bruno Marques

Porto, 2011

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AGRADECIMENTOS

Não podia dar como concluída esta dissertação, sem manifestar os meus mais sinceros

agradecimentos a algumas pessoas.

- Aos meus pais por ter chegado até aqui, por todo o esforço que fizeram para que tudo fosse

possível.

- A quem sempre acreditou em mim e me deu apoio, especialmente à minha irmã e ao meu

companheiro Tiago Coelho.

- Ao arquitecto Bruno Marques e à arquitecta Marina Jiménez agradeço toda a paciência,

disponibilidade e transmissão de conhecimentos.

“Não basta conquistar a sabedoria, é preciso usá-la.”

Cícero

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FACULDADE DE ARQUITECTURA E ARTES

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

I

ÍNDICE

ÍNDICE DE IMAGENS......................................................................................................... III

RESUMO ......................................................................................................................... VII

ABSTRACT ........................................................................................................................ IX

PALAVRAS-CHAVE ............................................................................................................ XI

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO ................................................................................................1

1.1. A escolha do tema ............................................................................................................................ 1

1.2. Estrutura ........................................................................................................................................... 2

1.2. Estado da Arte .................................................................................................................................. 3

CAPÍTULO II – O HOMEM E O AMBIENTE ............................................................................7

2.1. Enquadramento demográfico ..................................................................................................... 8

2.2. Os problemas ambientais ......................................................................................................... 11

2.3. Arquitectura sustentável .......................................................................................................... 33

2.4. Desmistificação do conceito de sustentabilidade .................................................................... 35

CAPÍTULO III – DA MATÉRIA-PRIMA À CONSTRUÇÃO ........................................................ 39

3.1. Situação geográfica ................................................................................................................... 40

3.2. Carga energética ....................................................................................................................... 45

3.3. Indicadores de impacto ambiental ........................................................................................... 49

3.4. Selecção dos materiais ............................................................................................................. 53

CAPÍTULO IV – MATERIAIS E SISTEMAS CONSTRUTIVOS .................................................... 59

4.1. Matéria-Prima ........................................................................................................................... 60

4.2. Produto ..................................................................................................................................... 79

CAPÍTULO V – PROPOSTA DE UM CENTRO NÁUTICO PARA VILA NOVA DE GAIA............... 103

5.1. Enquadramento geográfico .................................................................................................... 104

5.2. Implantação e linguagem arquitectónica ............................................................................... 108

5.3. Programa ................................................................................................................................ 116

5.4. Materialidades ........................................................................................................................ 127

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II

CAPÍTULO VI – CONCLUSÃO............................................................................................ 131

6.1. Ciclo de Vida dos Materiais .......................................................................................................... 132

6.1. Materiais Usados .......................................................................................................................... 134

6.2. Materiais Sugeridos ...................................................................................................................... 135

CONCLUSÃO FINAL ......................................................................................................... 139

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................ 141

CRÉDITOS DAS IMAGENS ................................................................................................ 143

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

III

ÍNDICE DE IMAGENS

Figura 1 – Fragmento do aglomerado populacional de Vila Nova de Gaia ............................... 8

Figura 2 – Poluição que afecta a qualidade do ar ao nível global ............................................ 12

Figura 3 – Complexo Habitat 67, Canadá ................................................................................ 20

Figura 4 – Cais de Gaia, uma das zonas turísticas mais atractivas de Vila Nova de Gaia ....... 29

Figura 5 – Vista do local de implantação do Centro Náutico, na margem esquerda entre as

duas pontes mais próximas ....................................................................................................... 30

Figura 6 – Jean Marie Tjibaou Cultural Center ........................................................................ 32

Figura 7 - Pedreira e mármore tratado da empresa do Grupo Galrão Mármores e Granitos ... 39

Figura 8 – Refinaria da Galp em Leça da Palmeira ................................................................. 46

Figura 9 – Pavilhão de Portugal – Expo 2010, revestido a cortiça .......................................... 59

Figura 10 – Canas de Bambu ................................................................................................... 61

Figura 11 – Exemplo de aplicação de Bambu numa estrutura de cobertura ............................ 62

Figura 12 – Pilhas de cortiça .................................................................................................... 63

Figura 13 – Crude ..................................................................................................................... 65

Figura 14 – Mineral Ferro ........................................................................................................ 66

Figura 15 – Minério de Ferro ................................................................................................... 67

Figura 16 – Madeira ................................................................................................................. 68

Figura 17 – Exemplo de Construção com Critoméria Japónica ............................................... 69

Figura 18 – Fardos de Palha ..................................................................................................... 71

Figura 19 – Exemplo de aplicação de fardos de palha, como paredes estruturais ................... 72

Figura 20 – Exemplo de aplicação de fardos de palha, aglutinados com argamassas ............. 73

Figura 21 - Mapa-mundo com indicação das zonas e elevada densidade de construção em

terra ........................................................................................................................................... 74

Figura 22 – Habitação unifamiliar em Beja, onde os arquitectos Bartolomeu Costa, João

Gomes e Mário Anselmo, utilizaram a terra como material principal do edifício ................... 74

Figura 23 – Habitação unifamiliar em Serpa (arquitecta Maria de Luz Seixas) ...................... 80

Figura 24 – Casa em Taipa ....................................................................................................... 81

Figura 25 – Perfis Tubulares de Aço ........................................................................................ 83

Figura 26 - Tadao Ando, ―Casa Koshino‖ em Kobe, Japão ..................................................... 84

Figura 27 – Exemplo de construção com sacos de areia .......................................................... 86

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IV

Figura 28 - Azulejos CZECH da autoria de Correia/Ragazzi arquitectos, que foram premiados

em São Francisco ..................................................................................................................... 87

Figura 29 – Casa feita com Tijolo Konlix ................................................................................ 89

Figura 30 – Fluxograma do Processo Konlix de Reciclagens .................................................. 89

Figura 31 – Pavilhão do Japão, Expo 2000 - Hannover ........................................................... 90

Figura 32 – Cardboard Bridge, Shigeru Ban ............................................................................ 92

Figura 33 – AffordableHouse ................................................................................................... 94

Figura 34 – Parede construída com pneus ................................................................................ 96

Figura 35 – Plástico .................................................................................................................. 97

Figura 36 – Exemplo de aplicação de garrafas de plástico, no enchimento de uma parede .... 98

Figura 37 – Vidro ................................................................................................................... 100

Figura 38 – Praia do Areinho no Verão .................................................................................. 103

Figura 39 – Planta de Localização da Proposta de Intervenção ............................................. 105

Figura 40 – Planta de Localização da praia do Areinho ......................................................... 106

Figura 41 – Fotomontagem de vista aérea da proposta de intervenção ................................. 109

Figura 42 – Vista da proposta e sua relação com o rio Douro................................................ 110

Figura 43 – Fotomontagem de vista aérea da proposta de intervenção ................................. 111

Figura 44 – Vista do aglomerado de habitação, de comércio e de serviços ........................... 113

Figura 45 – Vista dos perfis tubulares que fazem a composição dos alçados ........................ 114

Figura 46 – Zona Pública ....................................................................................................... 115

Figura 47 – Interior de uma sala de estar de um equipamento público .................................. 116

Figura 48 – Relação do espelho de água com o rio, que se envolve com a infra-estrutura ... 117

Figura 49 – Interior da cozinha e da sala da tipologia ........................................................... 118

Figura 50 – Vista aérea da tipologia ....................................................................................... 119

Figura 51 – Planta da Cave .................................................................................................... 120

Figura 52 – Planta do Piso da Tipologia T1 ........................................................................... 121

Figura 53 – Planta da Cobertura ............................................................................................. 122

Figura 54 – Corte AA’ ............................................................................................................ 123

Figura 55 – Corte BB’ ............................................................................................................ 124

Figura 56 - Alçado .................................................................................................................. 125

Figura 57 - Alçado .................................................................................................................. 126

Figura 58 – Pormenor Construtivo ......................................................................................... 128

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

V

Figura 59 – Pormenor Construtivo ......................................................................................... 129

Figura 60 – Pormenores Construtivos .................................................................................... 130

Gráfico 1 – Emissões de carbono a nível mundial derivadas da produção de energia (WEO,

2009) ......................................................................................................................................... 54

Gráfico 2 – Evolução da dependência energética de Portugal, segundo o Eurostat, 2007 ...... 55

Gráfico 3 - Água absorvida por diferentes materiais quando a humidade relativa sobe para os

80%. .......................................................................................................................................... 75

Gráfico 4 - Carbono incorporado em materiais para alvenarias ............................................... 75

Tabela 1 – Tabela de Berge, 2009, sobre o consumo de matérias-primas esgotáveis .............. 41

Tabela 2 – Indicação da energia incorporada dos principais materiais de construção ............. 48

Tabela 3 – Consumo de energia primária ................................................................................. 54

Organigrama 1 – Actividade da construção entre a Revolução Industrial e Pós-Industrial ..... 18

Organigrama 2 – Impacto ambiental dos edifícios ................................................................... 50

Organigrama 3 – Factores que condicionam a eficiência energética ....................................... 50

Organigrama 4 – Ciclo de vida dos materiais de construção ................................................... 55

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VI

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APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

VII

RESUMO

Actualmente, na prática da arquitectura sustentável, utilizam-se soluções parecidas com a

arquitectura tradicional, quando haviam poucos materiais artificiais.

Recuperando antigas técnicas ou utilizando novas, há várias razões para adoptar uma

arquitectura mais sustentável.

“Quanto mais um sistema ou modo de vida está construído sobre o verde e a fotossíntese,

mais ele é renovável e sustentável... Até que se apague o sol.”

Evaristo E. de Miranda

É necessário, no entanto, integrar adequadamente as diferentes estratégias e relacioná-las com

outros aspectos do desempenho ambiental, como a escolha dos materiais. Estes, com virtudes

de isolamento e capacidade de armazenamento, conservam a temperatura, não dando menos

importância à concepção interior dos espaços, para um bom desempenho no isolamento

térmico.

Cada construção sustentável tem em conta as possibilidades e limitações, avaliando o

ecobalanço final, que idealmente, será positivo.

Em França, por exemplo, a crise dos anos 70, levou os construtores a focarem-se na obtenção

dos melhores desempenhos energéticos ao menor custo, o que se traduziu no recurso, em larga

escala, a novos materiais de isolamento altamente eficientes e pouco dispendiosos. Passou a

valorizar-se a participação do habitat na saúde dos seus habitantes e os novos materiais de

isolamento, foram então, postos em causa, pelo impacto ambiental: desde a impossibilidade

de reciclagem dos materiais em fim de vida, à elevada taxa de emissões de carbono.

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VIII

Uma casa construída exclusivamente com base em materiais com a reputação de serem os

mais ―sãos‖, sem qualquer compromisso, corre o risco de ser um problema face ao nível de

consumo energético.

A arquitectura tem, por isso, de considerar a origem dos materiais utilizados, privilegiar os de

origem em recursos renováveis (se possível locais), a partir de ciclos curtos de produção e

pouco dispendiosos em energia, os menos poluentes, degradáveis ou passíveis de serem

reciclados.

Optar por uma casa que apresenta temperaturas, que na maior parte do ano, dispensam

equipamentos de aquecimento ou arrefecimento, em detrimento das casas que são muito

quentes no Verão e muito frias no Inverno, está associado a inúmeras vantagens, sobretudo

num clima que goza de condições que o tornam significativamente mais afável do que países

com climas mais rigorosos.

As condições existem, basta perceber como aplicar as técnicas.

“Doing the right thing” is no longer merely a matter of making ourselves feel good; it’s

a matter of survival, for ourselves and for generations to come.

Muhammad Yunus – Creating a World Without Poverty. 2007

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

IX

ABSTRACT

Currently, with the practice of sustainable architecture, we use solutions similar to traditional

architecture, back from when there were few artificial materials.

Recovering old techniques or using new ones, there are several reasons to adopt a more

sustainable style of architecture.

"The more a system or way of life is built on the green and photosynthesis, the more it is

renewable and sustainable ... Until the sun goes out. "

Evaristo E. Miranda

One must, however, properly integrate the different strategies and relate them to other aspects

of environmental performance, such as the choice of materials. These, with the virtues of

isolation and storage capacity, help to retain temperature, while not trading away the

importance of interior space design for good thermal insulation performance.

Each sustainable construction takes into account its possibilities and limitations, while

evaluating the final ecobalance, which will ideally be positive.

In France, for example, the crisis of 70’s led the builders to focus on getting the best

performance at the lowest energy cost, which resulted in large scale usage of new, highly

efficient and affordable insulation materials. A new importance was given to the role of the

habitat in its inhabitants’ health and the new insulation materials were then questioned

regarding their environmental impact: from the impossibility of their recycling at their end-of-

life, to the high carbon footprint.

A house built entirely based on materials with a reputation for being the most "healthy",

without any commitment, is likely to be a problem given the level of energy consumption.

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X

Architecture must, therefore, consider the origin of the materials, focus on those originating

from renewable resources (local, if possible), from short production cycles and with less

energy cost, with less polutants, and those biogradable or altogether recyclable.

To opt for a home that has temperatures that most of the year, does not call for heating or

cooling equipment, to the detriment of the houses that are too hot in summer and very cold in

winter, brings numerous advantages, especially in a climate that enjoys conditions that make

it significantly more affable than countries with more rigorous climates.

The conditions are gathered, all it takes is to understand how to apply the techniques.

“Doing the right thing” is no longer merely a matter of making ourselves feel good; it’s

a matter of survival, for ourselves and for generations to come.

Muhammad Yunus – Creating a World Without Poverty. 2007

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

XI

PALAVRAS-CHAVE

Arquitectura

Materiais

Mochila Ecológica

Impacto Ambiental

Sustentabilidade

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APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

1

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

1.1. A escolha do tema

Presentemente, devido a interacções conjuntas entre a actividade humana, o ambiente urbano

e o clima, a abundância de poluentes no ar que respiramos e as instabilidades climáticas, há

uma ameaça perante a sustentabilidade de muitas das cidades actuais. Isso traduz-se numa

qualidade de vida mais precária.

Grande parte das cidades, enfrenta hoje muitos problemas ambientais (má qualidade do ar,

trânsito congestionado, ruído, pressão urbanística e falta de espaços públicos, emissões de

gases de efeito de estufa e grande volume de resíduos) com consequências nocivas para a sua

qualidade de vida. O desenvolvimento urbano sustentável procura um modelo de mobilidade

eficiente, representa um desafio incontornável e mais urgente do que nunca.

A forma como o ser humano se organiza e como estrutura a construção das cidades, baseia-se

sempre numa falsa ideia de eternidade, considerando todos os recursos disponíveis como

ilimitados e sem olhar para as consequências arrasadoras que alguns deles impõem ao

ambiente.

A tendência no ramo da construção, tem sido criar uma harmonia entre a arquitectura e o

ambiente, de forma a proporcionar conforto ao utilizador e controlo de custos. Há uma maior

preocupação pela qualidade arquitectónica.

Por estes motivos, considerou-se um tema relevante para ser explorado. Com este trabalho,

pretende-se verificar como é possível, usando um edifício com determinados materiais em que

não se teve em conta a questão da sustentabilidade, criar uma construção mais sustentável,

não o desprovendo de conforto, estética ou qualidade arquitectónica.

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2

1.2. Estrutura

Esta dissertação é composta por quatro capítulos de desenvolvimento, que sucedem a presente

introdução e antecedem a conclusão.

Estará assim, contido no segundo capítulo, uma leitura e análise ao passado e presente, para

que mais conscientemente, sejamos capazes de prever e avaliar o futuro. Assim sendo, torna-

se importante conhecer os principais traços definidores da evolução da construção, sejam eles

originados por uma base teórica, ou pela sua concretização.

No terceiro capítulo, é feita uma análise da situação geográfica das matérias-primas e são

explicados os critérios de selecção dos materiais para a construção.

No quarto capítulo, temos um estudo sobre os materiais, no seu estado bruto de matéria-

prima, ou na forma de produto já alterado. Abordaremos os materiais que melhor respondem à

sustentabilidade ambiental ou cujas técnicas de produção têm vindo a evoluir

progressivamente nesse sentido. Poderemos ver a sua aplicação em algumas situações.

No quinto capítulo, é analisado o caso de estudo. Vai-se proceder à comparação dos materiais

usados no projecto e perceber que utilizando outros materiais mais sustentáveis, consegue-se

reduzir de uma forma significativa o seu impacto ambiental.

Fizeram-se diferentes tipos de abordagem ao tema, como uma sequência de pequenos

objectivos, cujo encadeamento de resultados, permite clarificar e responder ao objectivo

principal. Assim sendo, esperam-se alcançar os seguintes patamares:

‐ Partindo do princípio de que se aprende sempre com o passado, devem apreender‐se os

ensinamentos históricos a retirar da evolução da construção, para a estruturação do futuro em

padrões de sustentabilidade;

‐ Sabendo que existe uma linha ténue entre a idealização e a realidade, devem procurar‐se os

elementos que permitem alcançar o equilíbrio, a partir do qual se criarão esses mesmos

padrões, recorrendo‐se para tal à análise de casos de situações consideradas ideais.

- Deve existir consciência de que a cidade se faz de um conjunto de parâmetros que

individualmente e na sua interacção permitem ou não atingir o estatuto de sustentável. Por

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APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

3

isso, é importante saber qual a verdadeira dimensão da sustentabilidade, quando aplicada à

construção, sendo que esta deve ser entendida como algo em constante mutação.

A técnica de investigação aplicada, consiste da análise e comentários bibliográficos,

conseguido pela leitura de livros, trabalhos académicos, artigos de revistas e informação

divulgada através da internet, referenciando e complementando os casos específicos com a

observação fotográfica e o estudo de esquemas relacionados com os temas em questão.

Com esta dissertação, pretende-se apresentar as diferentes abordagens que existem no

contexto da sustentabilidade da construção e chegar a uma metodologia para a avaliação de

soluções construtivas de edifícios.

No final, a metodologia é aplicada a um caso de estudo - Centro Náutico na Praia do Areinho,

na cidade de Vila Nova de Gaia, que tem como objectivo, avaliar comparativamente a

sustentabilidade das soluções adoptadas, com as que poderiam ter sido utilizadas.

1.2. Estado da Arte

Para a prática da Arquitectura Sustentável, o objectivo é fornecer um conjunto de

conhecimentos e métodos de análise básicos, que a suportem, resultando na boa concepção e

construção dos edifícios, devido ao impacto negativo de construções sobre o meio ambiente,

materiais de construção e principalmente devido ao seu processo de produção. No entanto,

este impacto varia de país para país e de acordo com aplicações ecológicas no local nas

instalações de produção. Dependendo da taxa de sucesso destas aplicações, o impacto sobre o

meio ambiente durante a produção de materiais de construção, é reduzido.

A construção tem uma grande responsabilidade no impacto ambiental global. Qualquer

actividade humana requer a utilização de materiais para se poder desenvolver. Desde as

necessidades mais básicas (alimentação, abrigo) até às mais sofisticadas (telecomunicações,

deslocações a alta velocidade), todas elas exigem a utilização de materiais que cumpram na

sua configuração e propriedades, a satisfação dessas necessidades.

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O nosso modelo ocidental de desenvolvimento baseia-se num crescente aumento dessa

actividade, da geração e satisfação de novas e mais exigentes necessidades que trazem um

aumento correspondente do uso de materiais. Esse modelo oferece-se hoje como referência

para uma população em constante aumento e como apoio a uma economia alargada já a todo o

planeta.

Só ponderando factores como o ambiente, a economia, a sociedade e a cultura, durante a fase

de um projecto, é que uma construção pode ser considerada sustentável.

Para além de se considerarem critérios ao nível da escala do edifício, também se podem

considerar parâmetros que avaliem a interacção do edifício com o meio em que este está

inserido. Normalmente, as normas que servem de apoio à avaliação da sustentabilidade, estão

relacionadas com a redução da utilização de energia e materiais não renováveis, redução do

consumo de água, redução da produção de emissões, resíduos e outros poluentes.

Segundo os autores Luís Bragança e Ricardo Mateus1, nas diferentes metodologias de

avaliação da sustentabilidade, normalmente é possível identificar os seguintes objectivos:

optimização do potencial do local, preservação da identidade regional e cultural, minimização

do consumo de energia, protecção e conservação dos recursos de água, utilização de materiais

e produtos de baixo impacte ambiental, adequada qualidade do ambiente interior e

optimização das fases de operação e manutenção.

Actualmente, existe uma variedade de ferramentas no mercado da construção, que têm sido

utilizadas na avaliação e no apoio à concepção da construção sustentável. As mais conhecidas

são a BREEAM (desenvolvida no Reino Unido) e a LEED (desenvolvida nos Estados

Unidos)2. Existem também ferramentas baseadas nos sistemas Análise de Ciclo de Vida

(ACV) que foram especialmente desenvolvidas de modo a abranger os edifícios na sua

globalidade.

A maioria das ferramentas está desenvolvida numa soma e combinação do desempenho dos

diversos materiais e componentes do edifício que resultam em grande parte no desempenho

1 Tecnologias para a Sustentabilidade da Construção

2 Edwards & Bennett 2003

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APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

5

global do mesmo, apesar de se considerar o edifício no seu todo, incluindo as necessidades

energéticas (Erlandsson & Borg 2003).

Reunir dados e reportar informação que servirá de base aos processos de decisão que surgem

durante as diversas fases do ciclo de vida de um edifício, é o objectivo da avaliação da

sustentabilidade. Para se poder classificar e atribuir um perfil sustentável a um edifício, é

necessário criar um processo, no qual os factores mais importantes vão ser identificados,

analisados e avaliados.

Actualmente, podem-se identificar duas tendências, antagónicas no contexto das ferramentas

de avaliação: de um lado, a complexidade e a diversidade de indicadores desenvolvidos por

diferentes entidades e do outro, a evolução no sentido da sua efectiva implementação, através

do desenvolvimento de indicadores comuns e simplificação do processo de avaliação.

Segundo os autores Fernando Pacheco Torgal e Said Jalali, na Europa, a indústria da

construção constitui um dos maiores e mais activos sectores, representando 28,1% e 7,5% do

emprego, respectivamente na indústria e em toda a economia europeia. A nível mundial, a

indústria da construção, também consome mais matérias-primas (aproximadamente 3000

Mt/ano, quase 50% em massa), que qualquer outra actividade económica. Da mesma forma,

consome elevadas quantidades de energia e os resíduos de construção e demolição

representam a grande maioria dos resíduos produzidos em toda a Europa, sendo que grande

parte tem a vantagem de poder ser reciclada. O aumento da população mundial, (espera-se

que supere mais de 2000 milhões de pessoas até ao ano 2030) e as necessidades em termos de

construção de edifícios e outras infra-estruturas, agravarão ainda mais o consumo de matérias-

primas não renováveis, bem como a produção de resíduos. A sustentabilidade da indústria da

construção, principalmente o caso dos materiais de construção assume, desta forma, um papel

primordial que importa explorar.

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

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CAPÍTULO II – O HOMEM E O AMBIENTE

Introdução

Cada vez mais, as actividades humanas têm influência na qualidade do ambiente que nos

rodeia. A dimensão do impacto ambiental causado pelo Homem, encontra-se directamente

relacionada com o crescimento da população global, devido ao facto de cada vez mais porções

do território ficarem ocupadas pelo Homem, existir necessidade de aumentar a exploração dos

recursos naturais e consequentemente produzir resíduos prejudiciais ao ambiente.

Por estes motivos, faremos neste capítulo, um enquadramento demográfico ao nível global,

seguido de uma análise sobre os impactos ambientais mais significativos que afectam o

planeta e a tomada de consciência da humanidade para os efeitos dramáticos desses impactos.

Abordaremos ainda as medidas que a Humanidade tem tomado para inverter os impactos

ambientais que o Homem tem causado, analisando-se alguns documentos de âmbito

internacional sobre este tema e o caso específico do município de Vila Nova de Gaia, por

conter o território escolhido para a implantação da proposta académica do centro náutico. Por

fim, abordaremos ainda o conceito de arquitectura sustentável de maneira a entender qual o

contributo que a disciplina da arquitectura pode dar para a minimização dos impactos

ambientais.

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Figura 1 – Fragmento do aglomerado populacional de Vila Nova de Gaia

2.1. Enquadramento demográfico

Como se tem vindo a constatar, o aumento da poluição e a progressiva diminuição dos

recursos naturais, é propiciada pela acção do Homem, que os explora desenfreadamente num

crescendo cada vez mais acentuado, em paralelo com o aumento da população global, cujo

número de habitantes nunca atingira níveis tão elevados.

Os especialistas referem que este número tende a aumentar cada vez mais no futuro, caso não

se tomem políticas que invertam esta tendência. Desta forma, é importante referir que o

crescimento descontrolado da população é uma das grandes causas para a exploração intensa

dos recursos naturais do planeta.

No entanto, a realidade geo-demográfica europeia, é diferente da tendência global. Neste

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

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continente, os níveis de crescimento da população parecem estabilizados e a Europa depara-se

com um outro problema que é o envelhecimento da sua população. A pirâmide demográfica

encontra-se cada vez mais invertida, existindo já menos jovens que idosos, sendo estes

últimos a faixa etária dominante.

Desta forma, um dos grandes desafios que se colocam aos países da comunidade europeia, é

precisamente o de saber como enfrentar esta realidade e tentar equilibrar novamente a

pirâmide etária. Para se obter uma percepção mais detalhada sobre o estado actual da Europa

ao nível demográfico e como poderá estar no futuro, tomaremos como referência o X

Colóquio Ibérico de Geografia3.

Ao manterem-se as actuais tendências demográficas e sem contar com os fluxos migratórios,

observar-se-á na Europa 15 uma redução populacional elevada, contrariando assim, como já

se referiu, a tendência global. Esta previsão de redução da população é de tal ordem que o

conjunto dos 15 países perderá um quinto da população, fazendo com que em 2050 o número

de população da Europa 15, seja igual ao número observado em 1960. Verifica-se assim que a

pirâmide etária equilibrada que se encontrava em 1960 ficará completamente invertida4 em

2050, a faixa etária com mais de 65 anos ocupará cerca de um quarto da população total.

Mesmo tendo em conta os fluxos migratórios, a Europa perderá população, no entanto, com

uma redução menos intensa. O efeito dos fluxos migratórios reduzirá também, ainda que de

uma forma ligeira, o envelhecimento da pirâmide etária5.

Fazendo-se uma breve comparação com os valores de emigração actuais e os necessários para

2050 para manter o número de população activa necessária à sustentabilidade do modelo

3 AVV. A Geografia Ibérica no Contexto Europeu. 2005

4 A Europa a 15 terá a sua população reduzida em mais de 80 milhões de habitantes (um quinto da população). Os 10 novos países do

alargamento perderão cerca de 20 milhões (um quarto da população). De verificar que no ano 2000, a população envelhecida ocupava já

16,3% da Europa a 15 e em 2050 atingirá os 27%. Ao nível de cada Estado, Luxemburgo e Reino Unido terão uma redução da população

inferior a 10% e a Letónia, Bulgária, Estónia Hungria, Eslovénia, Itália República Checa e Alemanha terão uma redução da população

superior a 30%. Regionalmente a diminuição da população será mais intensa no leste da Alemanha, no Báltico, nas regiões entre a Bulgária e

a Roménia, no norte da Itália e de Espanha, e no centro e sul de Portugal

5 Por apresentarem saldos migratórios negativos o envelhecimento será mais acelerado na Letónia e Estónia, ao contrário da Irlanda, Malta e

Luxemburgo, cuja estrutura etária é mais jovem vê reforçada a população jovem pelos forte imigração que se incide nos seus países. A

estrutura etária é rejuvenescida através dos fluxos migratórios nos países como Portugal, Itália e Grécia

Page 27: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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10

social europeu, verifica-se que no extremo, atingirão dez vezes mais os valores actuais6.

De notar, que estes estudos não têm como objectivo prever o futuro, mas têm a vantagem de

nos elucidar sobre os limites da evolução demográfica e prever as tensões territoriais que se

aproximam. A demografia actual é uma consequência em grande medida daquilo que se

desenhou acerca de quatro décadas atrás e qualquer medida no sentido de inverter estas

tendências só terá efeitos daqui a duas ou três décadas.

Analisando-se as projecções demográficas das Nações Unidas, pode-se notar que os países de

leste europeu não constituem uma alternativa ao preenchimento das vagas existentes para

ocupação do quadro de população activa do ocidente europeu. Pelo contrário, a África, a

América Latina e a Ásia, são potenciais continentes de recrutamento de mão-de-obra

imigrante, não só pela taxa elevada de população que possuem como também pela

qualificação necessária que detêm.

Para a manutenção ou melhoramento da demografia actual, é necessário encontrar as políticas

adequadas de emprego, educação e desenvolvimento tecnológico, a par da urgente

necessidade de fomentar o índice de fecundidade, através de medidas de apoio e incentivo à

maternidade.

Nas políticas de emprego devem ser tomadas medidas como o aumento do número de pessoas

activas, através do alargamento da taxa de mulheres no trabalho, e o prolongamento da idade

activa. Ao nível tecnológico deve-se continuar a aumentar a produtividade, sendo para isso

indispensável a qualificação da população.

De notar que estas medidas que têm sido tomadas pelos diversos governos europeus contêm

uma contradição paradoxal: o facto de se incentivar o sector feminino da sociedade a

trabalhar, faz com que naturalmente se reduza a possibilidade dos casais sentirem necessidade

de ter um maior número de filhos, uma vez que o ritmo de vida não o permite.

Assim, verificamos que ao contrário da tendência global no continente europeu, o número da

população começa a dar sinais progressivos de estabilização e até diminuição. Este facto pode

6 Sendo necessários actualmente 93 milhões de imigrantes para o conjunto dos países a 15 da União Europeia

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

11

ser um ponto a favor da redução do impacto ambiental do Homem no continente, uma vez que

além de se começar a poder planear e ordenar o território para um número de habitantes

controlado, o facto de a população não aumentar, implica que não haja necessidade de

explorar mais áreas do território e não se produzam mais resíduos do que aqueles que já são

produzidos.

2.2. Os problemas ambientais

“Nós, presidentes de municípios da Europa e regiões vizinhas, reconhecemos que apesar de

todos os esforços para melhorar o ambiente, a maioria das tendências ambientais, globais e

europeias, levantam preocupações sérias: enquanto as alterações climáticas, a

desertificação, a diminuição dos recursos aquáticos e a perda de biodiversidade têm e

continuarão a ter um impacte global, muitas das causas desta degradação têm origem na

poluição atmosférica, poluição sonora e tráfego excessivo que são provocados e afectam os

habitantes das cidades no seu dia-a-dia.”

Declaração de Hannover (2000)

Como é do conhecimento geral, decorrente das notícias da televisão e jornais, das inúmeras

campanhas de sensibilização e das vozes mais sonantes da ciência mundial, o meio ambiente

tem sofrido grandes modificações devido não só à taxa galopante de ocupação do território

pelo Homem, decorrente do aumento acelerado da população mundial (como vimos no

subcapítulo anterior), mas também devido à exploração desenfreada dos recursos naturais, à

poluição proveniente dos equipamentos industriais, dos meios de transporte e produção de

energia não renovável como também da acumulação de resíduos sem tratamento.

Page 29: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO

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12

Figura 2 – Poluição que afecta a qualidade do ar ao nível global

Toda esta actividade humana, tem reflexos prejudiciais cada vez mais evidentes, como são

exemplo as alterações climáticas que se fazem sentir por todo o planeta, onde muitos

especialistas referem que o clima se encontra descontrolado, propiciando tempestades intensas

em algumas regiões ou em oposto secas demasiadamente longas para o normal.

Os recursos naturais que têm vindo a ser explorados de forma cada vez mais intensa pelo

Homem ao longo dos dois últimos séculos, têm prejudicado o ambiente e provocado um

desequilíbrio cada vez mais acentuado do ecossistema planetário, culminando cada vez mais

frequentemente no seu desaparecimento.

Tomando como referência as teorias de Ulrich Beck, pode-se afirmar que a crise ambiental

que a maioria dos especialistas vaticina, representa o expoente máximo de uma sociedade de

risco e que só após a tomada de consciência global para este problema, é que viraremos a

Page 30: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

13

página deste drama rumo a um desenvolvimento sustentável, transitando-se da modernidade

clássica para a modernidade reflexiva7.

Para isso, é então necessário o surgimento de um movimento ambiental que critique

duramente a forma antropocêntrica com que o Homem se situa no planeta, uma vez que a

exploração propiciada pela estrutura técnico-científica desta sociedade capitalista, tem levado

à devastação e escassez de vários recursos naturais.

Assim, haveria uma contra-resposta às actividades humanas que severamente prejudicam o

ambiente e por conseguinte as populações, nomeadamente aquelas que se encontram nas

zonas sujeitas a períodos de seca extrema, tempestades violentas ou ainda, sem ter a ver

exactamente com o clima, a degradação dos solos e dos recursos hídricos e, na pior das

circunstâncias, radiações nucleares como as verificadas actualmente (2011) no Japão, cujo

descontrolo de reactores nucleares, após uma avaria provocada por um sismo, prejudicará o

ambiente envolvente durante uma série de anos, tornando-o num espaço impróprio para a

habitação humana e outros ecossistemas.

Como os causadores da poluição, mesmo que distantes de nós, nos afectam directa ou

indirectamente nem que seja através do ar, o surgimento de um movimento ambiental teria de

ter um carácter global.

As raízes para o surgimento de um movimento ambiental global tiveram início, ao contrário

do que comummente se pensa, não em meados do século XX, mas sim no final do século

XIX, com as oposições aos efeitos dramáticos propiciados pela revolução industrial, como são

exemplo disso as críticas que John Ruskin fazia ao progresso emergente da indústria e aos

efeitos nocivos que implicava na vida dos aglomerados populacionais.

No entanto, só realmente em 1960 é que se começou a traçar verdadeiramente o surgimento

de um movimento ambiental global que tem vindo a crescer de forma exponencial até aos dias

de hoje. Para esta breve análise seguiremos o pensamento de John McCormick exposta numa

7 AUTOR. ANO. p. 49. (Capítulo IV – O movimento ambiental e a ética ambiental como factores de consciencialização face aos problemas

do ambiente. Os primeiros ecos da Modernidade Reflexiva)

Page 31: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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14

das suas exposições históricas8.

A partir da década de 1960 a Humanidade começou a tomar consciência de que o

desenvolvimento acentuado da civilização através da expansão da sociedade industrial e dos

transportes em paralelo com a energia nuclear começava a dar grandes sinais de prejudicar

gravemente os habitats naturais, fazendo-os desaparecerem se não houver uma atenção

especial dedicada ao facto.

Este movimento ambiental, surge primeiramente constituído por pessoas e grupos dispersos e

heterogéneos que defendiam uma reforma política e social, no sentido de inverter a

degradação ambiental que se verificava, o que acabou por dar os primeiros sinais de oposição

ao progresso da sociedade técnico-científica e lançar as bases para o aparecimento de novos e

cada vez mais influentes defensores desta causa9.

Uma das primeiras e mais influentes defensoras destas ideias, foi a bióloga Rachel Carson,

uma cientista americana que criticou duramente a forma como a ciência e a indústria

encaravam os problemas ambientais. Tendo publicado um livro denominado de Silent

Spring10

, no qual referia o quão nefastos eram os pesticidas11

utilizados nos ambientes

naturais e na saúde das populações, este livro foi considerado um best-seller e despertou a

consciência de inúmeros cidadãos americanos para o facto das actividades humanas estarem a

prejudicar severamente o ambiente12

.

De entre outros nomes importantes, são de destacar ainda Paul Erlich, Lynn White, DeKeneth

Boulding e Garrett Hardin, que nos anos 60 em paralelo com Rachel Carson apelaram à

reflexão de todos para a emergência dos danos ambientais.

DeKenneth Boulding13

e Garrett Hardin14

, reflectiam essencialmente sobre a capacidade

8 Exposição histórica de John McCormic descrita em The Global Environmental Movement

9 MCCORMIC. 1991. p. 57

10

Silent Spring, publicado no verão de 1962, que fez com que Rachel Carson seja hoje considerada uma das pessoas mais referenciadas no

âmbito do movimento ambiental 11 Dos pesticidas destacava-se o DDT que era o mais utilizado na agricultura para combater os insectos devido aos reduzidos custos

envolvidos na sua produção 12 MCCORMIC. 1991. p. 60 13 BOULDING.1996

14 HARDIN. 1968

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

15

limitada de regeneração dos recursos naturais do planeta; Lynn White15

referiu questões

religiosas para os danos ambientais e Paul Erlich16

referiu que as consequências do

crescimento desenfreado da população global, se não for controlado, contribuirá para o

esgotamento e impedimento da renovação dos recursos naturais. Em consonância com estas

vozes influentes, e principalmente com Elrich, o MIT17

organizou um estudo onde se

verificava que o crescimento da população global era a maior causa para dos problemas

ambientais.

Neste documento, publicado no início da década de 1970, já se prenunciava aquilo que hoje se

confirma, embora, felizmente, de forma não tão dramática, onde nos finais do século XX

assistir-se-iam a catástrofes naturais, devido à devastação dos recursos naturais e poluição do

ar. Concluiu-se assim, que era urgente alterar a forma como a sociedade global se

desenvolvia18

.

Todas estas vozes sonantes e estudos, contribuíram para que em 1972 se organizasse pela

primeira vez uma cimeira de carácter internacional, organizada pelas Nações Unidas, para

debater o ambiente humano19

. Assim, pela primeira vez, os problemas ambientais foram

olhados de forma intergovernamental, onde os representantes dos diversos Estados se

reuniram para encontrar e tomar as medidas necessárias para reduzir o impacto da acção do

Homem sobre o planeta.

Da realização deste evento surgiu a United Nations Environmental Programme20

, que tem

como intuito a formulação de padrões de conduta ambientais de âmbito global. No entanto, a

implementação das suas directivas encontra-se bloqueada, em grande medida pelo poder

político dos países mais desenvolvidos, uma vez que lhes é difícil conseguir conciliar as

15 WHITE. 1967

16 EHRLICH. 1968

17 Este estudo foi pedido pelo Clube de Roma e foi publicado no documento Limits to Growth em 1972, e os especialistas intervenientes

foram Donnela Meadows, Dennis Meadows, Jorgen Randers e William Bherens III. O clube de Roma consiste numa associação de cientistas,

industriais, professores universitários, economistas, constituída para estudar os problemas da humanidade

18 MCCORMICK, 1991. p.93

19 Em Estocolmo em 1972 organizou-se a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano

20 Programa Ambiental das Nações Unidas

Page 33: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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16

políticas ambientais com o desenvolvimento económico que pretendem que seja forte e

competitivo. Ainda assim, apesar da forte resistência dos dirigentes políticos e industriais, é

de louvar o debate público que esta organização propiciou e notar que foi dado o primeiro

grande passo ao nível internacional para a resolução conjunta dos problemas ambientais21

.

É ainda de destacar o engenheiro florestal americano Aldo Leopold (1887-1948) que teorizou

o conceito de ética ambiental, que implica a atribuição de um valor moral não apenas entre os

homens mas também entre o Homem e o meio ambiente. Desta forma, o Homem deixaria de

ter uma visão antropocêntrica em relação ao ambiente, uma vez que o mesmo é indispensável

para a coexistência da Humanidade. Assim, a Natureza deixaria de ser vista apenas como um

mero recurso subordinado às necessidades humanas.

Este conceito de ética ambiental, encontra-se publicado pela primeira vez, em The Land Ethic

de Aldo Leopold22

, tendo sido este documento que inspirou muitos dos especialistas atentos

aos problemas ambientais a reflectirem sobre o direito próprio que o ambiente tem na sua

relação com o Homem.

Segundo Leopold, a relação que os humanos estabeleciam com a Natureza eram puramente

económicos, não existindo preocupações com os danos que lhe causavam. No entanto,

paradoxalmente, esta forma de mal tratar o ambiente, culminaria futuramente num género de

―vingança‖ propiciada pela Natureza, uma vez que sem um ambiente são, o Homem não

consegue obter qualidade de vida.

Desta feita, deve existir uma ética ambiental, que no fundo engloba colectivamente todos os

actores do planeta Terra: o solo, a água, a fauna, a flora e o Homem. Sendo uma forte

oposição ao antropocentrismo, a Humanidade deve ter a obrigação ética de encontrar um

equilíbrio harmonioso entre aquilo que a terra produz e as necessidades humanas23

.

Estas ideias de Aldo Leopold, abriram caminho à proposta de Hans Jonas para o conceito de

responsabilidade do Homem em relação às acções que pratica no meio ambiente e a

21 MCCORMICK. 1991. p. 107

22 LEOPOLD. 1970

23 LEOPOLD. 1970. pp. 238-240

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

17

sustentabilidade dessas acções para o presente e para as gerações vindouras.

Segundo Hans Jonas, a civilização humana tem evoluído a um ritmo vertiginoso devido ao

grande avanço da ciência e das técnicas contemporâneas, não havendo dúvidas de que esta

evolução se acentuará cada vez mais no futuro, e consequentemente a mão do Homem no

planeta far-se-á sentir com cada vez mais intensidade no planeta.

Assim, se o Homem mantiver os padrões de desenvolvimento actuais, decorrentes da sua

visão antropocêntrica para com o planeta, este mesmo grande avanço tecnológico e científico,

pode implicar o fim da Humanidade, devido a uma grave crise de auto regeneração do

planeta, que vê os seus recursos a serem todos consumidos num ritmo de tal modo acentuado

que lhe é impossível recuperar.

Desta forma, Hans Jonas refere também a importância de reavaliar os princípios éticos com

que o Homem encara a sua forma de actuação da Natureza e responsabilizar-se pelos seus

actos, acrescentando ainda que estas preocupações não têm apenas a ver com a possível

extinção humana, decorrente das suas políticas de desenvolvimento, mas têm ainda mais a ver

com a integridade da essência humana, ou seja o conceito que possuímos do destino do

Homem24

.

Desde a revolução industrial, que a sociedade se desenvolveu a um ritmo sem precedentes,

devido aos avanços científicos e técnicos; no entanto é de se notar que ao nível ético, o

Homem nunca tinha contemplado a sua relação com o meio ambiente que o envolve. O que

propicia um acentuado desequilíbrio entre o desenvolvimento económico, técnico e científico

que é claramente superior ao fraco ou inexistente progresso ético que existia em meados do

século XX neste campo.

De notar que também cada vez mais o Homem é um refém do seu próprio desenvolvimento,

sendo dominado pelos mecanismos que ele próprio criou. Está de tal forma dependente da sua

evolução, que os problemas mais urgentes que tem para resolver são aqueles que ele próprio

cria.

24 JONAS. 1995. p. 16

Page 35: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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18

Organigrama 1 – Actividade da construção entre a Revolução Industrial e Pós-Industrial

Esta falta de ética, compromete indubitavelmente as gerações vindouras. Por estes motivos,

Jonas refere que no futuro deveria haver um mundo apto a que o Homem o habite por uma

Humanidade digna desse nome, por isso a acção humana não deve basear-se apenas no

presente mas actuar de forma racional de modo a que o futuro das gerações seguintes não

fique comprometido25

.

Com a análise destes vários protagonistas do movimento ambiental, verificamos que a

consciencialização ambiental da humanidade é fundamental para a resolução destes

problemas. Todos os habitantes devem ser responsabilizados pelos seus actos e todos podem

contribuir para o regresso a uma qualidade ambiental digna.

Esta consciencialização propicia uma progressiva alteração de comportamentos no meio

25 JONAS. 1995. p. 38

Page 36: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

19

ambiente, de onde se destaca aquilo que tem maior interesse na presente dissertação, como

seja a diminuição da produção de resíduos, que é conseguida fundamentalmente através da

desmaterialização. A partir desta nova forma de actuação, nota-se até aos nossos dias, a

existência de estratégias cada vez mais eficientes no âmbito da separação e recolha selectiva

de resíduos, atribuindo-lhes um novo ciclo de vida, ou seja a sua reciclagem.

Assim, neste contexto, actualmente verifica-se que os governos, poderes regionais ou locais,

manifestam um interesse crescente, ainda que não suficiente, na diminuição do impacto

ambiental que os resíduos propiciam. Em Portugal, um dos planos mais referenciados é o

Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos26

, que tem como objectivo sensibilizar todos os

intervenientes a aplicarem mudanças de actuação nos resíduos, como sejam a sua selecção e

separação; aplicar políticas educativas que sensibilizem os cidadãos a atribuir importância à

sustentabilidade ambiental e sua respectiva responsabilização pelas acções que prejudiquem o

meio ambiente.

2.2.1. Agenda Habitat II

―Promover métodos de construção e tecnologias disponíveis, apropriadas, a custos

acessíveis, seguros, eficientes e ambientalmente correctos, em todos os países, especialmente

nos em desenvolvimento, em níveis local, nacional, regional e sub-regional, que enfatizem a

optimização do uso dos recursos humanos locais e estimulem métodos de economia de

energia e que protejam a saúde humana.”

Agenda Habitat II, Istambul, 1996

A tomada de consciência global que se intensificou a partir de meados do século XX e que

analisamos no subcapítulo anterior, propiciou as condições necessárias para que a partir da

década de 70, começassem a surgir conferências internacionais para debater assuntos

relacionados com a minimização dos impactos ambientais causados pelo Homem.

26 PERSU II: Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos

Page 37: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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20

Figura 3 – Complexo Habitat 67, Canadá

Uma das conferências de maior destaque para esta dissertação é a Agenda Habitat II (1996),

decorrente da Declaração de Istambul, assinada por 171 países na Conferência Global para os

Assentamentos Humanos. Foi elaborada com o intuito de definir estratégias para as entidades

administrativas locais, como os municípios no caso de Portugal, sobre como tornar o território

mais sustentável ao nível do seu ordenamento e edifícios que sobre ele se implantam.

Como é descrito nesta agenda, ao nível da sustentabilidade, a evolução dos assentamentos

humanos por todo o mundo não correspondeu àquilo que se encontrava previsto pela

comunidade internacional, aquando da conferência das Nações Unidas sobre este tema

realizada em 1976 em Vancouver (Agenda Habitat I).

Tendo-se constatado que a habitação digna, serviços básicos e infra-estruturas para todos se

encontrava em fraco desenvolvimento em diversos países, na Agenda Habitat ficou traçado

como principal objectivo, a concepção de habitações de qualidade para todos e o

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

21

desenvolvimento dos espaços ocupados pelo Homem de forma sustentável, de maneira a

combater os desequilíbrios sociais, económicos e ambientais que propiciam má qualidade de

vida a grande parte da população mundial27

.

Assim, nesta agenda, todos os governos comprometeram-se com o objectivo de garantir: a

coordenação das políticas macroeconómicas e de habitação como uma prioridade social; o

acesso igual à terra a todos os cidadãos; o acesso a todas as pessoas à água potável, o

saneamento básico, áreas de lazer; e conceber padrões que garantam a acessibilidade para

todos, incluindo pessoas com deficiências; e de maior interesse na presente dissertação

encontra-se a promoção de métodos de construção e tecnologias a custos acessíveis e

eficientes, que sejam os mais correctos possíveis ambientalmente28

.

2.2.2 A Agenda 21 Local e a Europa

Paralelamente à Agenda Habitat, outro documento de âmbito internacional de destaque, é a

Agenda 21 Local que resultou da conferência Eco-92, ocorrida no Rio de Janeiro em 1992.A

Agenda 21 foi elaborada com o com o intuito de servir de base de orientação aos governantes

de cada país no sentido de reflectirem, não apenas global mas também localmente, sobre a

forma pela qual governos e representantes de outras entidades públicas ou privadas,

governamentais ou não governamentais, possam colaborar na definição da estratégia a seguir

para a redução dos problemas ambientais que o Homem tem criado.

A Agenda 21 Local, como o próprio nome indica, é uma agenda que deve ser elaborada pelas

administrações locais, sendo no caso português os municípios. Tem como objectivo definir

princípios orientadores que contribuam para a progressiva modificação da sociedade

industrial, para uma sociedade que detenha um novo conceito de progresso, baseado numa

maior qualidade e harmonia entre as actividades económicas poluentes e o meio ambiente. Há

assim uma preocupação a favor da qualidade, em detrimento da quantidade de produção.

27 AVV. 2003. Agenda Habitat para Municípios. Rio de Janeiro. pp. 17-22

28 AVV. 2003. Agenda Habitat para Municípios. Rio de Janeiro. pp. 33-35

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22

Esta conferência reforçou o caminho rumo à alteração da forma como o Homem planeia a

ocupação do território e desempenho das suas actividades, através de uma política de acção ao

nível local, de forma progressiva e controlada. Promovendo-se o planeamento dos sistemas de

produção e consumo contra a cultura do desperdício, onde por exemplo no sector da

construção se verifica existir a produção de inúmeros resíduos que podem ser atenuados se

existir uma melhor selecção e gestão dos materiais de construção como veremos nos próximos

capítulos.

Em 1994 foi realizada em Aalborg a primeira Conferência Europeia das Cidades e Vilas

Sustentáveis, na qual participaram representantes de 80 municípios e outras autoridades locais

e regionais europeias que aprovaram o documento denominado ―Carta de Aalborg‖. Esta

campanha teve como objectivo incentivar a reflexão sobre a sustentabilidade do ambiente

urbano, a troca de experiências e a difusão das melhores práticas ao nível local para elaborar

recomendações que visem influenciar as políticas de ordenamento do território.

Desta carta, destacam-se os seguintes objectivos gerais de desenvolvimento sustentável:

participação da comunidade local e obtenção de consensos; economia urbana na conservação

da área natural; equidade social; correcto ordenamento do território; mobilidade urbana; clima

mundial; e conservação da Natureza.

A primeira fase desta Campanha duraria dois anos, até à realização da segunda Conferência

Europeia das Cidades e Vilas Sustentáveis em Lisboa (1996), na qual participaram 250

autoridades municipais e regionais. Esta conferência realizou-se com o intuito de sensibilizar

os presentes em relação aos progressos que ocorreram desde a primeira conferência realizada

em Aalborg. Permitiu a troca de ideias e experiências das práticas locais e a definição de

projectos conjuntos entre diversas entidades europeias. Para isso, identificou-se em primeiro

lugar, as carências das câmaras municipais envolvidas no plano da Agenda 21 e de seguida

procuraram-se soluções que beneficiem o plano de acção29

.

Os participantes desta conferência aprovaram o documento intitulado ―Da Carta à Acção‖,

29 Conferência realizada entre os dias 6 e 8 de Outubro, que contou com a participação de 1.000 representantes de autoridades locais e

regionais de toda a Europa. Nesta conferência procurou-se obter consensos quanto à aplicação da Agenda 21 (Rio de Janeiro, 1992) e da

Agenda Habitat (Istambul, 1996)

Page 40: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

23

que se baseia em experiências locais, debatidas nos 26 workshops realizados na conferência,

continuando a ter em conta os princípios defendidos na Carta de Aalborg30

.

Neste plano de acção de Lisboa, da Carta à Acção31

, os signatários referem a Carta de

Aalborg32

como um dos melhores pontos de partida para a realização do plano de Agenda

Local 21. Na qual, em paralelo devem ser utilizadas ideias da Agenda 21, do V Programa de

Acção Ambiental da União Europeia ou da Conferência Habitat II, entre outros que se

considerem seguir os mesmos princípios orientadores abaixo referenciados:

- A realização da Agenda Local 21 deve ser elaborada com base num programa de trabalho

calendarizado, onde se encontrem clarificados os objectivos da agenda. As autoridades locais,

como por exemplo os municípios, devem ser os principais impulsionadores da estratégia a

seguir. Para isso, é necessário que toda a estrutura de poder local se encontre envolvida,

independentemente da dimensão do aglomerado populacional.

- Assim, os municípios devem adoptar uma postura que não se baseie apenas na soberana ou

administrativa, disponibilizando os recursos humanos e monetários necessários para levar a

cabo os planos definidos na Agenda Local 21, devendo liderar assim o processo de execução

do plano com o cuidado, no entanto, de não o dominar em exclusivo, funcionando antes como

mediador profissional entre os diferentes intervenientes;

- Devido à sustentabilidade local contemplar componentes sociais, económicas e ambientais é

necessária uma abordagem intersectorial, onde coexista uma rede interna que envolva o

município, a administração e os funcionários dos departamentos de maior responsabilidade,

devendo todos ser sensibilizados para as ideias de sustentabilidade;

- Para obter uma melhor percepção dos problemas locais, devem ser realizados processos de

consulta aos vários sectores da comunidade e promover parcerias e negociações com as

mesmas, no sentido de haverem cooperações estratégicas com vista atingir o mesmo fim. Para

30 Em paralelo com as recomendações do relatório sobre as cidades europeias sustentáveis ―Step by Step Guide‖ da comissão de gestão das

administrações locais do Reino Unido, do grupo de peritos em ambiente urbano da Comissão Europeia, e do guia de planeamento da agenda

local 21 do conselho internacional para as iniciativas locais de ambiente

31 Aprovado pelos participantes da 2ª Conferência Europeia das Cidades e Vilas Sustentáveis em Lisboa no dia 8 de Outubro de 1996

32 Carta das Cidades e Vilas Europeias em Direcção à Sustentabilidade

Page 41: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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FACULDADE DE ARQUITECTURA E ARTES

24

isso, é necessário encontrar consensos sobre o plano adoptado para a Agenda Local 21 entre

os diferentes sectores da sociedade;

- As comunidades devem assim evitar que a resolução dos problemas ambientais presentes

seja efectuada pelas gerações futuras e evitar também a exportação desses problemas para

locais alheios à comunidade. Por isso eticamente é necessário que hajam negociações com os

representantes de outras comunidades, de modo a fomentar um equilíbrio entre procura e

oferta locais e reduzir a exportação de problemas;

- Para isso, deverão ser realizadas auditorias ao nível ecológico, social e ambiental, devendo

os resultados ser do conhecimento público de maneira a consciencializar os cidadãos para os

problemas que o seu ambiente incorpora;

- Sendo caracterizada por uma aplicação gradual das medidas delineadas no plano da Agenda

Local 21, em primeiro lugar o Fórum da Agenda Local 21, deve acordar com o município o

plano a utilizar, com os problemas devidamente identificados, procurando-se saber quais as

causas e efeitos, para depois adoptar os objectivos escalonadamente definidos, de maneira a

resolver antes de mais os que se considerem prioritários;

- Através da utilização das melhores ferramentas para a gestão da sustentabilidade, melhorar-

se-á o desenvolvimento ambiental social e económico e respectiva qualidade de vida da

comunidade, uma dessas ferramentas poderá ser o programa de sensibilização dos cidadãos e

representantes de entidades administrativas educacionais e políticas, assim será possível

ganhar força e formar parcerias entre as diferentes autoridades, associações e redes de

campanha;

- A estabilidade social deve basear-se numa economia que promova a qualidade ambiental. O

planeamento da sustentabilidade ambiental inclui os aspectos socio-económicos integrados no

meio ambiente, para isso é necessário que existam planos de gestão ambiental e de auditoria

em paralelo com a utilização de procedimentos de avaliação do impacto da sustentabilidade

na aprovação de novos empreendimentos;

- Para que exista um vasto conhecimento da relação interdependente entre os componentes

sociais, económicos e ambientais, uma das maiores ferramentas de que dispomos, consiste na

Page 42: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

25

sensibilização e educação da população. É necessário incumbir os funcionários com a devida

formação profissional de modo a estarem aptos a exercerem as melhores opções de acção,

boas práticas e métodos. Devem também ser criados programas de educação nas

universidades, escolas e jardins-de-infância de modo a sensibilizar os mais novos para a

problemática da degradação do ambiente de maneira a que actualmente e no futuro estejam

preparados para responder às necessidades de melhoria da qualidade ambiental.

- De maneira a atenuar os desequilíbrios entre os municípios da mesma região, é necessário

formar alianças, parcerias e estratégias entre os mesmos, para isso, é necessária a atenção aos

impactos globais que a utilização dos recursos locais propicia. Assim, a responsabilidade dos

impactos negativos causados ao ambiente pelas acções do Homem, deve ser assumida pela

entidade que os propicia e deve ser compensada através de uma cooperação descentralizada.

- Devem ainda ser estabelecidas parcerias, acordos internacionais ou planos de assistência

bilateral para uma acção conjunta de planos de protecção do clima, dos recursos hídricos, do

solo e da biodiversidade.

Assim, a Campanha das Cidades e Vilas Sustentáveis passou da Carta à Acção, onde, para a

concretização da Agenda Local 21 deve existir uma concertação entre os diferentes

representantes locais europeus, de maneira a formar uma rede europeia de autoridades locais

que propiciem ajuda prática e orientações de formação.

Esta declaração acabou por reforçar a importância dos municípios no impulsionamento do

desenvolvimento sustentável33

,tendo-se verificado que desde a assinatura da Carta de

Aalborg, têm havido crescentes progressos que conduziram a muitas modificações positivas

nas cidades, encorajadores para a realização de diversas outras acções que se encontram por

fazer face aos desafios que ainda se enfrentam.

33 AVV. 2000. Ponto A. Nesta altura já se tinham comprometido com a sustentabilidade local cerca de 650 autoridades locais e regionais de

32 países europeus, tendo todos assinado a Carta de Aalborg. Desta forma o número de cidadãos europeus abrangidos por estes planos

ultrapassava os 130 milhões. “A campanha tem sido coordenada em conjunto pelo Concelho de Municípios e Regiões Europeias (CEMR), a

Rede EC-Eurocidades, a Rede de Cidades Saudáveis da Organização Mundial de Saúde, o Concelho Internacional para as Iniciativas

Ambientais Locais (ICLEI) e pela Organização das Cidades Unidas (UTO), em cooperação com a Comissão Europeia e o seu Grupo de

Peritos em Ambiente Urbano.”

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26

2.2.3. Carta de Hannover (2000)

Por fim, a terceira conferência europeia das cidades sustentáveis, ocorreu em Hannover e

reuniu 250 presidentes de câmaras municipais de 36 países, com o objectivo de fazer o ponto

da situação daquilo que tem sido feito nas cidades, para as tornar mais sustentáveis e para

acordar novos rumos para o século XXI34

.

Acabou por reforçar a importância dos municípios no impulsionamento do desenvolvimento

sustentável35

. Verificou-se que desde a assinatura da Carta de Aalborg, têm havido crescentes

progressos que conduziram a muitas modificações positivas nas cidades, encorajadores para a

realização de diversas outras acções que se encontram por fazer face aos desafios que ainda se

enfrentam.

Esta declaração encontra-se dividida em três pontos principais: o primeiro sobre os princípios

e valores para a acção a nível local rumo à sustentabilidade, seguido pela liderança da cidade

e, por último, um apelo dos participantes na declaração.

Quanto ao primeiro, existe a preocupação de vincar a unidade dos signatários pela

responsabilidade de zelar pelo futuro das gerações presentes e futuras, ao nível da ―justiça e

equidade social, redução da pobreza e exclusão social e melhorar a saúde e o ambiente em

geral‖; nas actividades que transformam os recursos naturais em bens e serviços que

satisfazem as necessidades da modernidade devem ser ecologicamente eficientes; aceitando-

se para isso a partilha de responsabilidades para conseguir o desenvolvimento sustentável,

envolvendo os governos, presidentes locais e organizações não-governamentais.

No segundo ponto, referente à liderança da cidade, é referido o apoio à integração europeia e

adesão às suas normas sociais e ambientais. Referindo-se a vários desafios a combater como:

as condições de habitação e de trabalho inadequadas, a poluição atmosférica e sonora, o

34 Realizada nos dias 9 a 12 de Fevereiro de 2000

35 AVV. 2000. ponto A. Nesta altura já se tinham comprometido com a sustentabilidade local cerca de 650 autoridades locais e regionais de

32 países europeus, tendo todos assinado a Carta de Aalborg. Desta forma o número de cidadãos europeus abrangidos por estes planos

ultrapassava os 130 milhões. “A campanha tem sido coordenada em conjunto pelo Concelho de Municípios e Regiões Europeias (CEMR), a

Rede EC-Eurocidades, a Rede de Cidades Saudáveis da Organização Mundial de Saúde, o Concelho Internacional para as Iniciativas

Ambientais Locais (ICLEI) e pela Organização das Cidades Unidas (UTO), em cooperação com a Comissão Europeia e o seu Grupo de

Peritos em Ambiente Urbano.”

Page 44: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

27

tráfego automóvel, a degradação dos solos e dos habitats naturais e o esgotamento dos

recursos hídricos.

Face a estes desafios, é necessário utilizar políticas locais que diminuam a ―pegada ecológica‖

da comunidade, não se desejando assim que o padrão de vida local dependa da exploração dos

recursos humanos e naturais longínquos.

No âmbito da gestão urbana, para esta ser sustentável, é necessário melhorar ―o planeamento

e gestão integrada do tecido urbano, o desenvolvimento compacto da cidade, a regeneração de

áreas urbanas degradadas e a redução do ritmo de consumo de solo e dos recursos naturais‖.

As novas tecnologias devem ser utilizadas para aumentar a sustentabilidade das cidades.

Devem ser introduzidos indicadores de sustentabilidade local de maneira a poderem ser

comparados entre as diferentes cidades europeias como forma de comparar o progresso que se

tem alcançado.

No último ponto, o apelo dos signatários aos municípios tem como destaque o pedido para

que propiciem as condições essenciais de habitabilidade no meio ambiente, a qualidade da

água e a recolha e o tratamento de resíduos.

Indo de encontro aos objectivos presentes nos documentos acima analisados nesta dissertação,

analisaremos no sexto capítulo, a proposta académica de um centro náutico, de maneira a

percebermos os impactos ambientais que a sua construção causaria e estudar alternativas ao

nível da selecção e gestão dos materiais que permitam a minimização do seu impacto

ambiental.

Nesta selecção de materiais, não deixarão de ser tidas em conta, todos os componentes que

propiciam a qualidade de vida indispensável à sociedade contemporânea, para que este

projecto seja sustentável não apenas ao nível ambiental, como também ao nível social,

cultural e económico.

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28

2.2.4. Agenda 21 Local de Vila Nova de Gaia

“A Agenda 21 Local de Vila Nova de Gaia encontra-se inserida num projecto dinamizado

pela Associação transfronteiriça “Eixo Atlântico do Noroeste peninsular”, envolvendo 9

Câmaras Municipais do Norte de Portugal e 9 Ajuntamentos da Galiza.”36

Agenda 21 da Câmara Municipal de Gaia

Como podemos observar, segundo as informações disponibilizadas pela Câmara Municipal de

Gaia, no seu site oficial, constatamos que também no local para onde se projectou o Centro

Náutico no V capítulo da presente dissertação, se encontra abrangida pela Agenda Local 21,

numa parceria internacional entre o Norte de Portugal e da Galiza37

, denominado

“Implantação de Agendas 21 Locais e Cálculo de Indicadores UrbanAudit”, que foi

finalizado no ano de 2004.

Este processo, gerido por uma empresa independente, do Instituto Sondaxe, SL, foi feito de

forma ordenada, gerindo um plano previamente estabelecido e envolvendo a participação dos

cidadãos que foi organizado nas seguintes fases: diagnóstico integral municipal; participação

social; plano de acção; implementação e acompanhamento.

A fase de diagnóstico, teve como objectivo, definir a situação em que o município se

encontrava em termos ambientais, económicos e sociais, tendo sido elaborados indicadores

específicos para as áreas socioeconómicas, envolvimento cívico, formação e educação,

ambientais e culturais e recreativos.

36<http://www.cm-

gaia.pt/gaia/portal/user/anon/page/_CMG_0000.psml?categoryOID=C68B808080B680GC&contentid=BC86808980CO&nl=pt>,

13/04/2011, 20:45 37 O documento fundador do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular denomina-se por Declaração do Porto e data de 1 de Abril de 1992, de

onde se destaca o seguinte parágrafo: “Começamos desde hoje mesmo a trabalhar para que a Galiza e o Norte de Portugal sejam

participantes das novas centralidades europeias, para que as nossas cidades sejam centros da periferia e deixemos de ser a periferia do

centro”. Neste ano as cidades fundadoras foram, do lado português, Porto, Braga, Bragança, Chaves, Viana do Castelo e Vila Real e, do lado

galego, Ourense, Ferrol, A Coruña, Santiago e Pontevedra. Ainda nesta mesma década aderiram Vila Nova de Gaia, Guimarães, Peso da

Régua, Vilagarcía de Arousa e Monforte de Lemos, as duas últimas xuntas galegas. No novo milénio aderiram Barcelos, Mirandela,

Famalicão, Vila do Conde, Matosinhos, Lamego, Penafiel e Macedo de Cavaleiros do lado Português, e, do lado espanhol, Vivieiro, O Barco

de Valdeorras, Lalín, Verín e Carballo, Ribeira, Sarria e O Carballiño.

< http://www.eixoatlantico.com/_eixo_2009/contenido.php?idpag=2006&idcon=pag20101027171149> 14/04/2011, 11:30

Page 46: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

29

Figura 4 – Cais de Gaia, uma das zonas turísticas mais atractivas de Vila Nova de Gaia

O plano de acção conteve vários programas que tinham como objectivo solucionar os

problemas identificados durante a fase de diagnóstico. Para isso, houve a participação pública

onde os cidadãos se faziam representar pelos sectores económicos, sociais, grupos de

interesse e comunidade escolar38

.

Gaia é um município onde se constata a existência de investimentos no sentido de o tornarem

cada vez mais sustentável, de onde se destacam por exemplo, o primeiro Centro de Educação

Ambiental permanente em Portugal, situado no Parque Biológico de Gaia, que abrange uma

área agro-florestal onde se encontra uma vasta fauna e flora em estado selvagem, construções

38<http://www.cm-

gaia.pt/gaia/portal/user/anon/page/_CMG_0000.psml?categoryOID=C68B808080B680GC&contentid=BC86808980CO&nl=pt>,

13/04/2011, 20:45

Page 47: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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30

rurais, recursos hidrográficos e costumes antigos39

.

Figura 5 – Vista do local de implantação do Centro Náutico, na margem esquerda entre as duas pontes mais próximas

A longa faixa litoral com 19 km de praias que o concelho possui, detém grande qualidade e é

dotada de inúmeras infra-estruturas para os veraneantes, que nos últimos anos têm vindo a ser

ampliadas e melhoradas, como são exemplo os inúmeros bares de apoio, passadiços pedonais

sobre as dunas ligando toda a faixa litoral do concelho, tratamentos de água, todo este esforço

de relação harmoniosa do Homem com o meio natural do litoral de Gaia fez com que o

concelho ostente o título de Município com o mais vasto número de bandeiras azuis de

Portugal.

39<http://www.eixoatlantico.com/_eixo_2009/contenido.php?idpag=3&mostrar=ciudades&idcon=cid20080108175116>, 14/04/2011, 11:00

Page 48: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

31

Neste município, encontra-se ainda uma Estação Litoral na região da Aguda e que engloba um

museu de pesca, um aquário com fauna e flora marinha locais e um departamento de

investigação de ecologia marinha, aquacultura e pesca40

.

Na marginal do Douro, a zona de maior interesse na presente dissertação, foi implantado

recentemente um empreendimento de lazer, o denominado Cais de Gaia, que se tornou num

dos pólos de maior atracção do município, conseguindo competir em larga medida com a

cidade do Porto que lhe faz frente, daqui partem vários cruzeiros pelo Douro e encontram-se

ancorados inúmeros barcos rabelo, aqueles que noutros tempos transportavam o vinho do

Porto desde Trás-os-Montes até às caves de Gaia.

Verificando-se o crescente aumento do turismo fluvial no rio Douro e a necessidade de

ancorar os transportes fluviais que cada vez são mais frequentes na região, é proposta nesta

Dissertação e Trabalho de Projecto, a implantação de um Centro Náutico na marginal de Gaia

que, além de servir de complemento às infra-estruturas já existentes na proximidade,

contribuiria para desenvolver social, económica e culturalmente uma região que se encontra

praticamente desértica mas que nem por isso deixa de ter um vasto potencial que merece ser

aproveitado.

40 <http://www.eixoatlantico.com/_eixo_2009/contenido.php?idpag=3&mostrar=ciudades&idcon=cid20080108175116>, 14/04/2011, 11:00

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32

Figura 6 – Jean Marie Tjibaou Cultural Center

Page 50: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

33

2.3. Arquitectura sustentável

Embora a construção de um Centro Náutico possa ser uma mais-valia para o desenvolvimento

económico, social e cultural do território onde se implanta, é necessário ter em consideração

que a sua escala implicará um impacto ambiental elevado, não apenas no local onde se

implanta, como também nos territórios onde a matéria-prima é extraída e transformada em

material de construção, existindo ainda gastos energéticos no seu transporte até à obra.

Por estes motivos, é importante abordarmos o conceito de arquitectura sustentável de forma a

desmistificar o que realmente significa e, perceber qual o caminho a seguir num projecto que

se pretende que seja sustentável.

O conceito de sustentabilidade, começou a ser falado no âmbito da arquitectura, no final da

década de 1980, incorporando novos paradigmas que influenciaram a arquitectura e o

urbanismo nas décadas seguintes, num processo evolutivo até à actualidade, sendo

actualmente um termo imprescindível no conceito de desenvolvimento.

A designação de arquitectura sustentável é atribuída às construções que suprimem as

necessidades de qualidade de vida humanas, sem comprometer as gerações futuras.

Encontrando-se ligado ao meio ambiente e à energia; deve ainda ser justa ao nível social,

viável ao nível económico e permitir a preservação do meio ambiente.

Nas construções de arquitectura sustentável, destaca-se a valorização da paisagem natural, o

planeamento territorial, o reaproveitamento de edifícios existentes, a sua eficiência energética

e a escolha dos materiais adequados. Sendo a arquitectura uma disciplina que intervém

directamente no solo, tem potencialidade para influenciar a mudança social rumo à

sustentabilidade.

Por consumirem mais de metade da energia gasta nos países desenvolvidos, os edifícios têm

vindo a ser considerados os que provocam maior impacto negativo no meio ambiente,

produzindo grande quantidade de gases que modificam o clima.

Os projectos de arquitectura ou planeamento territoriais, englobam o aproveitamento de

factores naturais, como a exposição à luz solar, espaços ventilados naturalmente e

consideração pela direcção natural dos ventos. Deve-se também antever todo o ciclo de vida

Page 51: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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34

das construções ao nível das funções que irá contemplar, a sua manutenção e possível

reciclagem ou demolição.

No entanto, como refere o arquitecto KenYeang41

, os projectistas têm que ter em mente que

nenhuma solução encontrada será perfeita, mas apenas uma tentativa de dirigir o projecto até

uma arquitectura o mais sustentável possível, devendo por isso os arquitectos e engenheiros

estar atentos à evolução tecnológica, uma vez que surgirão sempre novas soluções cada vez

mais eficientes.

Os princípios básicos que devem ser tidos em conta num projecto arquitectónico são: a

avaliação do impacto sobre o meio ambiente, nomeadamente o ar, a água, o solo, a flora, a

fauna e o ecossistema; preferência pelos materiais que sejam reutilizáveis, recicláveis ou não

tóxicos; redução dos resíduos, optimização do uso funcional das construções; obtenção de

eficiência energética através, essencialmente, de fontes alternativas; diminuição do consumo

de água; qualidade ambiental interna e uso de arquitectura bioclimática. Sem esquecer que um

projecto sustentável não tem apenas preocupações ao nível ambiental mas também social,

cultural e económico.

A arquitectura sustentável é assim uma disciplina que se desenvolve a um ritmo galopante,

sendo cada vez mais um requisito de qualidade de vida exigido pelo mercado.

Para sabermos os níveis de sustentabilidade ou impacto ambiental de determinado material a

usar num projecto de arquitectura, é necessário averiguar: se a matéria-prima é virgem ou

reciclada; como é a sua forma de extracção; se é proveniente de um recurso renovável; qual o

seu processo produtivo; a quantidade de energia e de água que consome; se este processo é

poluente; se a instalação e manutenção geram resíduos; como é a sua logística de distribuição;

qual a quantidade de energia consumida; qual o potencial de reciclagem ou reuso da

embalagem; e qual o tipo de certificação que possui ou selo.

Assim verificamos que a arquitectura, recorrendo a todos estes princípios aqui enumerados,

poderá ser valorizada e propiciar o desenvolvimento sustentável cada vez mais ambicionado

pela sociedade, fazendo-se projectos adaptados ao meio urbano e às suas disponibilidades

41 AUTOR. Ano. Página.

Page 52: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

35

materiais e de mão-de-obra. Verifica-se assim também que não se trata necessariamente de

alta tecnologia cara podendo, e se calhar devendo, ser utilizados primeiramente soluções

técnicas simples e que têm como objectivo a valorização dos conceitos de ecologia urbana e

planeamento ambiental, propiciando assim a qualidade de vida e maior harmonia com a

Natureza.

2.4. Desmistificação do conceito de sustentabilidade

Numa sociedade consumista como a que vivemos, onde as palavras têm um peso importante

na promoção dos produtos que se pretendem vender, surgem com grande frequência imagens

ou descrições promocionais que induzem as pessoas em erro e fazem-nas comprar produtos

que não correspondem exactamente às expectativas dos consumidores.

Este panorama encontra-se fortemente presente em grande parte dos produtos ditos ―amigos

do ambiente‖, uma vez que cada vez mais a sociedade tende a optar pelos produtos que

tenham o menor impacto ambiental possível, existindo assim uma crescente ―procura alienada

pelo verde‖. Cada vez mais a associação de um produto comercial a um componente

designado de ―verde‖ ou ―sustentável‖ é motivo de cativação de clientes para a compra desse

mesmo produto42

.

Desta forma, cada vez mais, é difícil identificar o que é verdadeiramente um produto

sustentável, caindo-se numa ambiguidade, onde os produtos que são sustentáveis por

excelência, vêm as suas qualidades assim diminuídas pela concorrência desleal feita através

do uso manipulativo dos termos, uma vez que cada vez mais as empresas sabem que se forem

associadas aos termos ―verde‖, ―sustentável‖ ou ―ecológico‖ a sua marca sai valorizada e

obtém assim maior potencial de venda.

Verifica-se assim, existir uma corrida para efectuar estas associações, principalmente através

da publicidade, a ferramenta mais capaz de promover a venda dos produtos comerciais, de

maneira a que estes sejam percebidos pela população como amigos do ambiente. Mesmo para

42 Segundo uma pesquisa da Terra Choice, em 2006, a percentagem de produtos ditos verde na América do Norte situava-se nos 2% e em

2008 já ultrapassava os 10%. The seven sins of greenwashing, TerraChoice, 2009

Page 53: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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36

a imprensa e para os críticos, é cada vez mais difícil saberem identificar um produto

genuinamente sustentável de um outro que não é. Desta forma, o ambiente e a saúde humana

acabam por sair prejudicados, uma vez que o mercado acolhe inúmeros produtos prejudiciais

ao ambiente mas que se encontram disfarçados por uma publicidade verde43

.

Esta publicidade enganosa, também apelidada de ―maquilhagem verde‖ ou ―greenwash‖44

,

propicia a distorção da avaliação do produto por parte do consumidor, que se melhor

informado, não os adquiriria45

. Verifiquemos os erros mais frequentes deste tipo de

publicidade:

- Indução de que um produto é ecológico por lhe ser inerente um complemento positivo, mas

não referindo os atributos essenciais negativos;

- Indução de que o produto contempla determinados atributos positivos que não têm

comprovação credível;

- Indução de produto ecológico por via de imprecisões na informação;

- Informação de que um produto contém atributos irrelevantes para a ecologia como

suplementos que contribuíssem para torná-lo verde.

- Elucidação sobre atributos irrelevantes de um produto como se fossem ecológicos;

- Prestação de informações falsas ou inconsistentes.

43 Em 2009 nos Estados Unidos da América e Canada cerca de 98% dos produtos que continham atributos ambientais encontravam-se com

problemas de comunicação correcta. Terra Choice Environmental Marketing

44 Greenwash que traduzido para português significa ―lavagem verde‖ surgiu da junção de ―Green‖ com ―whitewash‖, que é uma género de

tinta branca barata (cal) que se aplicava na fachada das casas. Esta expressão refere-se assim à propaganda que mascara o desempenho

ambiental fraco de um de determinado produto

45 Por vezes tudo aquilo que a publicidade divulga sobre um determinado produto até é verdade, no entanto acontecem omissões de dados

essenciais que denegririam a venda do produto

Page 54: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

37

Conclusão

Neste capítulo, verificamos que apesar da demografia ao nível global subir a um ritmo

galopante, no continente europeu, o facto dos níveis da população se encontrarem já

estabilizados, implica existir uma facilidade acrescida na resolução dos problemas ambientais.

Os problemas ambientais têm vindo a ser debatidos desde meados do século XX, notando-se

que cada vez mais a Humanidade se preocupa em resolvê-los, existindo um aumento

progressivo do espírito de cooperação ao nível internacional, sendo que a sustentabilidade é

cada vez mais um conceito valorizado pela sociedade.

No sector da construção, a escolha dos materiais a utilizar é fundamental para reduzir os

impactos ambientais propiciados por esta actividade. De forma a obter um real projecto de

arquitectura sustentável ao nível dos materiais de construção, deve-se ter em conta não só a

sua eficiência no projecto a construir, como também o impacto ambiental que a sua matéria-

prima causa no território de onde é extraída e a energia gasta na sua manufacturação e

transporte.

Page 55: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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38

Page 56: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

39

CAPÍTULO III – DA MATÉRIA-PRIMA À CONSTRUÇÃO

Introdução

Encontrando-nos na sequência do capítulo anterior, abordaremos de seguida, a concepção dos

materiais, desde a extracção da sua matéria-prima, passando pela sua manufacturação,

colocação em obra tempo de vida útil e consequentes produções de resíduos e gastos

energéticos.

Para isso, faremos em primeiro lugar, um enquadramento geográfico da situação dos materiais

no planeta, qual a sua carga energética e faremos uma análise dos impactos ambientais que

causam, terminando com uma análise sobre os princípios a seguir aquando da selecção dos

materiais a colocar em obra, em projectos de arquitectura que se pretendam sustentáveis.

Figura 7 - Pedreira e mármore tratado da empresa do Grupo Galrão Mármores e Granitos

Page 57: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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40

3.1. Situação geográfica

“O sector da construção pauta a sua actividade por elevados impactos ambientais ao nível

da extracção de elevadas quantidades de matérias-primas não renováveis, de elevados

consumos energéticos e das consequentes e elevadas emissões de gases responsáveis por

efeito de estufa.”46

Fernando Pacheco Torgal e SaidJalali , 2010.

Como se constata a partir de uma breve análise sobre a acção do Homem no planeta, desde

que iniciou o processo de transformação e modelação do território que ocupa, em função das

suas necessidades, até há dois séculos atrás, nunca a Humanidade tinha-se deparado com a

possibilidade de sofrer com a falta de matéria-prima para o desenvolvimento das suas

actividades.

Até ao século XVIII, antes do período da revolução industrial, a matéria-prima predominante

no sector da construção, era a madeira. Sendo o recurso natural que abunda nas florestas, a

necessidade do abate de árvores para a recolha e tratamento da madeira era feita a um ritmo

tal, que facilmente a floresta se auto-regenerava, fazendo desta, uma matéria-prima que não

escasseava e respondia facilmente às solicitações dos povos.

Paralelamente, também os tecidos de fibras vegetais e animais eram outros recursos naturais

maioritariamente utilizados para a confecção dos mais diversos objectos, desde roupas,

mantas, cestas e cordas, entre um sem fim número de outros exemplos.

46 TORGAL e JALALI. 2010. p. (PREFÁCIO)

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

41

Tabela 1 – Tabela de Berge, 2009, sobre o consumo de matérias-primas esgotáveis

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42

Actualmente, os materiais mais consumidos para o sector da construção, são a água e o betão.

No entanto, este último, constitui apenas cerca de 1,5% do conteúdo total das construções47

.

Assim, verificamos que à semelhança do que o Homem começa a tentar fazer agora ao

reciclar os materiais ou a dar-lhes um novo uso, já a Natureza, num curto espaço de tempo,

transformava os resíduos que o Homem produzia, noutras matérias-primas não prejudiciais ao

ambiente.

A partir da revolução industrial, a extracção e purificação dos minerais, passou a ser feita a

um ritmo e qualidade sem precedentes, devido à potência dos combustíveis fósseis que

passaram a ser utilizados. Esta quantidade de energia despendida, era de tal ordem, que para

produzir a mesma quantidade de energia com recurso aos meios tradicionais biosféricos

vegetais, rapidamente o planeta ficaria sem os mesmos.

Este acesso aos minerais, propiciou um mundo onde os recursos naturais do planeta pareciam

ilimitados, no entanto foi a partir deste momento que se começaram a gerar resíduos que a

biosfera não conseguia absorver e, que ainda por cima, a danificam cada vez mais, devido às

elevadas substâncias nocivas que comportam.

Os produtos industriais seguiram normalmente apenas o modelo linear de produção que se

caracteriza sintetisadamente como: extracção do minério, fabrico do produto e produção de

resíduos. Estes resíduos, produzidos numa escala cada vez maior, prejudicam severamente a

capacidade regenerativa do planeta.

Verificando-se que o modelo linear de produção começa a prejudicar o ambiente e

consequentemente a própria qualidade de vida humana, o Homem progressivamente depara-se

com a necessidade de ser o próprio a dar uma solução aos resíduos que produz.

Para isso, é necessário encerrar os ciclos de materiais não renováveis, transformando os

resíduos em recursos, a utilizar para novos fins. Transforma-se a indústria num sistema linear

cíclico e fechado, onde os resíduos produzidos se reconvertem em novos materiais, obtendo-

se sempre que necessário, a colaboração da biosfera para a utilização de energias renováveis.

47 TORGAL e JALALI. 2010. p. 34

Page 60: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

43

No século XXI, os esforços para tornarem a indústria produtora de materiais num sector cada

vez mais sustentável, fizeram surgir um novo conceito de produção cíclico: reciclagem do que

já não se usa, fabrico de novos produtos e nova reciclagem no seu fim de vida. Caminha-se

assim para fechar definitivamente o ciclo dos materiais.

É ainda de referir que a exploração da matéria-prima para o sector da construção, começa a

ser cada vez mais insustentável para o planeta e para a própria actividade de construção. Tal

facto, deve-se fundamentalmente à forma como se procede à extracção da matéria-prima

necessária à produção dos materiais construtivos, onde vários especialistas, alertam para a

possibilidade das matérias-primas não renováveis se esgotarem no futuro48

.

No entanto, o maior problema ambiental, não é a possibilidade de escassez das matérias-

primas ditas não renováveis, mas antes a destruição dos ecossistemas e ambientes naturais

propiciados pelos impactos negativos da sua extracção49

, nomeadamente os resíduos

produzidos durante este processo, os eventuais acidentes que aconteçam e a poluição de

reservas de água potável.

Tomemos como exemplo a actividade de extracção de matéria-prima ao nível global no ano

2000, no qual se extraiu cerca de 900 milhões de toneladas de matéria-prima e se produziu ao

mesmo tempo cerca de 6000 milhões de toneladas de resíduos provenientes das minas50

.

Ao nível dos eventuais acidentes e poluição de água potável, destaca-se um exemplo em

1998, na Mina de Aznalcóllar (Espanha), onde rebentou um aterro de contenção que acolhia

lamas tóxicas, tendo sido lançadas 5 milhões de toneladas destas mesmas lamas para o rio

Agrio, um dos afluentes do rio português Guadiana51

.

Perante estes factos, surge a necessidade de repensar a forma como se exploram as matérias-

primas e reduzir a extracção tanto quanto possível daquela que não é renovável. Em paralelo,

48 TORGAL e JALALI. 2010. p. 29. Outros autores referem que não existem matérias-primas inesgotáveis, tendo todas um limite de

existência

49 MEADOWS. 2004

50 WHITMORE. 2006. pp. 309-314

51 TORGAL e JALALI. 2010. p. 29. Desde a década de 70 até à actualidade, entre os inúmeros acidentes ambientais que aconteceram nas

minas, destacam-se 30 acidentes muito grandes, cinco deles na Europa

Page 61: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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FACULDADE DE ARQUITECTURA E ARTES

44

a escolha da matéria-prima a explorar, deve ser feita, tendo-se em consideração o ciclo de

vida dos materiais, privilegiando aqueles que provenham de fontes com capacidade de

regeneração, não sejam tóxicos, sejam recicláveis, necessitem de baixos níveis de energia,

sejam susceptíveis de serem reaproveitados, emitam níveis baixos de GEE e sejam duráveis52

.

Os resíduos originados pelo sector da construção, desde a extracção da matéria-prima,

passando pelas construções até à fase final, representada pela demolição contêm, segundo

vários especialistas cerca de 35% do total de resíduos produzidos no planeta53

.

As operações de demolição dos edifícios que perdiam a sua utilidade prática, eram feitas de

forma a minimizar o custo e tempo despendido durante o processo, fazendo com que os

Resíduos de Construção e Demolição (RCD), acabassem por se encontrar misturados num

aterro. No entanto, a necessidade cada vez mais vincada de reciclar estes resíduos, fez com

que surgisse o princípio da demolição selectiva54

.

A demolição selectiva, tem como característica principal, a desmontagem da construção no

sentido invertido à utilizada na sua construção; no entanto esta forma de demolição só é

utilizada se se encontrar mecanismos que permitam obter benefícios financeiros decorrentes

destas operações55

.

Tem-se verificado que realmente cada vez mais, existe um esforço por parte do Homem em

fazer projectos que estejam de acordo com os princípios de desconstrução, esses motivos

devem-se essencialmente pela certificação ambiental dos edifícios, cuja qualidade aumenta

em função da minimização dos gastos energéticos no transporte dos materiais, da sua maior

durabilidade, da possibilidade de se efectuar a sua reciclagem e reduzida produção de

resíduos.

Para obter melhor eficiência na demolição selectiva, é necessário que durante a execução do

projecto de construção, sejam tidos em conta alguns princípios básicos: ao nível dos materiais

52 TORGAL e JALALI. 2010. p. 34

53 SOLIS-GUZMAN. 2009. pp. 2542-2548

54 TORGAL e JALALI. 2010. p. 108

55 LOURENÇO, C. 2007

Page 62: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

45

a sua escolha deve ser baseada na minimização do número de materiais distintos, preferência

pelos materiais reciclados e recicláveis, desuso dos materiais tóxicos, perigosos, compósitos

(produtos que não possam ser separados) e uso de materiais leves.

Na união dos materiais, deve-se privilegiar as ligações mecânicas sobre as químicas, separar

os revestimentos da estrutura, usar o menor número possível de rebites e outros conectores,

estando estes projectados de forma a repetir operações de construção e desconstrução e uso de

estruturas standard.

3.2. Carga energética

“Por definição, a energia incorporada nos materiais de construção (embodiedenergy),

abrange a energia consumida durante a sua vida útil (Hammond, 2008). Existem no entanto

diferentes abordagens para a referida definição, a saber: do início da extracção das

matérias-primas até à porta da fábrica (cradle to gate); do início até à obra (cradle to site),

ou do início até à fase de demolição e de deposição (cradle to grave).”56

Torgal e Said Jalali, 2010

Como é exemplo a citação acima, não existe ainda um consenso universal em relação à

apresentação de um conceito que pode ser útil para avaliar os materiais desde o ponto de vista

da sustentabilidade e forma de medir a sua carga energética.

Para o primeiro caso, há autores que consideram que a carga energética do material, é aquela

que é gasta desde a extracção da matéria-prima até à sua manufacturação na fábrica,

representando até aqui cerca de 85 a 95% do total de energia gasta, ficando os restantes 5 a

15% de energia consumidos nos processos de transporte do material até à obra, construção,

manutenção e demolição do edifício na fase final de vida.57

56 TORGAL e JALALI. 2010. p. 72

57 BERGE. 2009

Page 63: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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46

Figura 8 – Refinaria da Galp em Leça da Palmeira

Page 64: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

47

Seja qual for a forma de avaliar a carga energética dos materiais, os gastos de energia

dependem das especificidades dos mesmos e variam de país para país, das distâncias que têm

de percorrer, dos meios de transportes utilizados para o efeito, como sejam por vias

marítimas, aéreas, rodoviárias ou ferroviárias e das técnicas de extracção e produção.

Para o caso português, em 1997 a Direcção Geral de Energia58

, publicou alguns valores

relativos aos gastos energéticos necessários para a produção de diversos produtos, onde se

concluía que no transporte de materiais se despendiam grandes quantidades de energia, o que

alerta para a necessidade de se optar cada vez mais pelos materiais locais por forma a obter

uma redução imediata de gastos energéticos.

Tomando como referência os exemplos do livro de Sustentabilidade dos Materiais de

Construção59

Morel et al (2001) refere a redução de energia em 215% em várias casas

construídas em França com recurso a materiais locais; Goverse et al (2001) frisam que a

utilização da madeira na construção de habitações na Holanda reduziria 50% das suas

emissões de carbono; Reddy & Jagadish (2010) salienta que as argamassas que não sejam de

cimento despendem menor energia que as de cimento, referindo também que na utilização de

tijolos cerâmicos gasta-se mais energia que utilizando-se outros materiais.

Verificamos assim, que a escolha adequada dos materiais de construção poderá significar

ganhos energéticos importantes, não apenas na produção dos materiais, como também durante

a sua vida útil60

.

Enquanto que até recentemente os maiores gastos energéticos no sector da construção se

verificavam durante a utilização dos edifícios, onde de facto os menos eficientes tinham taxas

de consumo energético bastante elevadas, a energia incorporada dos materiais ocupava assim

apenas 10 a 15% dos gastos totais de energia num edifício.

58 AVV. 1997. Direcção Geral de Energia: Valores publicados no âmbito do regulamento de gestão do consumo de energia (RGCE)

59 TORGAL e JALALI. 2010. p. 75

60 GONZALEZ e NAVARRO. 2006. pp. 902-909. Estes autores referem que a escolha dos materiais tendo em conta a sustentabilidade

ambiental reduz cerca de 30% da quantidade de emissões de CO²

Page 65: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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48

Tabela 2 – Indicação da energia incorporada dos principais materiais de construção

Page 66: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

49

No entanto, cada vez mais os esforços no sentido de reduzir a energia gasta durante o tempo

de vida útil dos edifícios, como sejam a manutenção, reparação ou substituição dos materiais

que o constituem e a eficiência térmica que propiciam no sentido de diminuir a utilização de

equipamentos de aquecimento, arrefecimento ou ventilação, fazem com que a percentagem de

energia gasta referente àquela que se encontra incorporada nos materiais, se assuma de uma

forma cada vez mais dominante. Como é exemplo disso, o estudo de Thormark (2002), que ao

analisar um dos edifícios suecos de melhor eficiência energética, verificou que a energia

incorporada dos materiais, representa 45% do total de energia que o edifício consumirá

durante uma vida útil de 50 anos61

.

A manter-se esta tendência, num futuro próximo, os gastos energéticos dos materiais de

construção, poderão vir a exceder a energia gasta na operacionalidade dos edifícios, o que

realça cada vez mais a importância da revisão da sua forma de produção e transporte.

3.3. Indicadores de impacto ambiental

Devido ao facto de, como vimos anteriormente, existir cada vez mais necessidade de se

percepcionar exactamente quais as implicações que o nosso sistema produtivo, nomeadamente

o do sector da construção, têm no ambiente, existem vários indicadores de impacto ambiental,

que surgem a partir da relação entre os recursos utilizados na construção, como sendo

materiais, energia, água e os resíduos gerados ao nível do ar, da água e do solo. Estes

indicadores englobam ainda a eficiência funcional que a organização dos espaços propicia, de

modo a verificar-se se a área de ocupação do território é rentável.

61 TORGAL e JALALI. 2010. p. 78

Page 67: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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50

Organigrama 2 – Impacto ambiental dos edifícios

Organigrama 3 – Factores que condicionam a eficiência energética

Page 68: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

51

Os indicadores de impacto ambiental medem assim a relação entre a quantidade de energia,

materiais e água gastos, a quantidade de resíduos e emissões produzidos. A energia é medida

em mj/m² e encontra-se associada à quantidade de energia despendida durante todo o processo

de vida útil do edifício; a água é medida em l/estância e engloba o consumo sanitário, a

limpeza e rega; os materiais são medidos em kg/m² e contemplam o material consumido para

a reabilitação e manutenção da construção.

Ao nível de resíduos e emissões, temos os resíduos de construção, medidos em kg/m²

provenientes da reabilitação e manutenção do edifício e os resíduos sólidos urbanos, medidos

em kg/estância, que se encontram associados ao uso do edifício. As emissões que contribuem

para o efeito de estufa são medidas em kg/CO2/m² e contemplam a energia gasta durante a

vida útil do edifício.

Quanto ao processo e metodologia para a formulação de indicadores ambientais, tomemos

como referência um país experiente nesta actividade - a Turquia, que produz uma quantidade

de materiais de construção acima da média global e em consequência disso está mais

habituada a analisar o impacto ambiental do seu sector da construção.

Num dos vários estudos efectuados neste país sobre a relação do impacto ambiental dos

materiais de construção, verificou-se que a eficiência dos recursos se encontrava

comprometida pela utilização pouco frequente de recursos renováveis; a eficiência energética

nos processos de produção era positiva, devido ao facto da quantidade de energia despendida

no transporte dos materiais ser baixa; a quantidade de água consumida por material era baixa

devido ao facto da maioria das instalações de produção terem tratamento integrado de água;

verificou-se também existir boa eficiência por parte dos resíduos produzidos em materiais de

construção devido a serem utilizados normalmente como matéria-prima para concepção de

novos materiais ou queimados para produzir energia. Verificou-se ainda, que os processos de

produção deste país, não tinham grandes implicações na saúde da população.

Assim concluímos, que seguindo e melhorando, tanto quanto possível, a metodologia

adoptada pelo exemplo turco acima descrito, é possível reduzir substancialmente os impactos

ambientais que o sector da construção propicia.

Page 69: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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52

De forma sintética, podemos dizer que no sector da construção, para baixarmos os níveis de

impacto ambiental, existem cinco estratégias a seguir: utilização de recursos locais,

minimização da procura de materiais, aumento da sua eficiência, reciclá-los sempre que

possível e por fim a correcção do impacto que causaram.

Para se reduzir o impacto ambiental do sector da construção no ambiente, a actividade de

reabilitação poderá ser um dos caminhos mais eficientes a seguir, com resultados rapidamente

visíveis. Para isso, devem-se tomar como referência, os níveis de impacto ambiental actuais

da construção a reabilitar e definir a estratégia a aplicar na reabilitação do mesmo edifício, de

modo a que, durante o processo de reabilitação e uso útil do edifício, se encontre reduzido em

50% do seu impacto ambiental.

Na prática, para este processo, começa-se por recolher toda a informação relativa ao edifício a

reabilitar, como documentos escritos e desenhados, nomeadamente sobre os sistemas

construtivos e instalações técnicas, os consumos existentes, o mapa de funcionalidades e

articulação funcional dos espaços, a influência do clima e outros que se considerem

convenientes.

Após a recolha e estudo desta informação, deve-se conceber um perfil com a informação dos

impactos ambientais do edifício e no final elaborar um plano com as acções a realizar no

equipamento para a minimização do seu impacto ambiental e melhor eficiência energética,

tendo em conta os componentes técnicos e económicos, de maneira a que a poupança na

reabilitação e uso representem uma redução de mais de 50 % num ciclo de vida de 50 anos.

Page 70: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

53

3.4. Selecção dos materiais

Como veremos neste capítulo, a selecção cuidada dos materiais, é da maior importância para

se obter um bom projecto de arquitectura sustentável. Um dos factores mais importantes a ter

em conta é a durabilidade do material, uma vez que quanto maior for o seu tempo de

utilidade, menor será o impacto ambiental que propicia.

Vejamos alguns exemplos sobre o ciclo de vida e impacto energético de vários materiais.

A madeira, por exemplo, é um material que é usado em bruto apenas uma vez, sendo que a

partir da sua reciclagem deixa de ser usada como material puro e passa a ser usada a partir da

junção dos fragmentos triturados e colados de maneira a formar o aglomerado de madeira,

sendo um processo similar ao do betão.

Ao contrário destes dois materiais, os que são da família dos metais são normalmente

eternamente recicláveis, como é exemplo o alumínio, cuja reciclagem obedece a processos

similares ao da sua manufacturação a partir da matéria-prima.

Vejamos novamente o exemplo do betão que tem uma durabilidade média de 50 anos, se se

conseguisse fazer com que a sua durabilidade média chegasse aos 500 anos o seu impacto

ambiental seria 10 vezes menor.

Também a energia gasta no transporte dos materiais de construção deve ser tida em conta, de

maneira que se devem privilegiar os materiais locais. A terra é dos materiais mais abundantes

em qualquer sítio, por isso é um material bastante recomendado devido não apenas à

poupança energética do seu transporte mas também devido ao seu baixo custo e capacidades

isolantes termicamente.

Page 71: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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54

Gráfico 1 – Emissões de carbono a nível mundial derivadas da produção de energia (WEO, 2009)

Tabela 3 – Consumo de energia primária

Page 72: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

55

Gráfico 2 – Evolução da dependência energética de Portugal, segundo o Eurostat, 2007

Organigrama 4 – Ciclo de vida dos materiais de construção

Page 73: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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56

Sem uma análise global dos diferentes materiais a utilizar num projecto de arquitectura

sustentável, podem-se cometer vários equívocos. Vejamos uma breve comparação entre o

betão e o aço onde não é possível saber-se à partida qual dos dois materiais terá maior

impacto ambiental. Imaginemos que o betão até é feito a partir de materiais locais, mas a sua

manufacturação feita com recurso a resíduos industriais; tal propiciará uma elevada produção

de dióxido de carbono. Já o caso do aço, embora a sua reciclagem seja inesgotável, necessita

de muita energia para ser produzido, reciclado e ainda se degrada por corrosão.

A avaliação dos impactos ambientais dos materiais de construção ao longo do seu ciclo de

vida62

contém várias categorias de avaliação medidas em unidades mensuráveis,

nomeadamente: o potencial de aquecimento global, acidificação, eutrofização, formação de

smog, degradação da camada do ozono; a qualidade do ar, o consumo de combustíveis fósseis

e água; a toxicidade ecológica; a alteração do habitat e a saúde pública.

Entretanto começaram a surgir softwares para avaliar o impacto ambiental dos materiais como

é exemplo o Building for Environmental and Economic Sustainability (BEES)63

.

Em Portugal, a Universidade do Minho concebeu o programa EcoBuild que permite a efectuar

a avaliação dos impactos ambientais causados pela construção de edifícios de estrutura em

betão armado ou perfis metálicos, procedendo-se à comparação do impacto ambiental entre os

dois tipos de estrutura. A partir da introdução dos dados no programa são disponibilizados

gráficos sobre o impacto ambiental que a construção da estrutura do edifício causará.

No entanto, apesar destas inovações que avaliam o impacto ambiental das construções, não

deixam de existir inúmeras incertezas uma vez que os processos analíticos sobre o ciclo de

vida dos materiais continuam a não ser claramente objectivos.

Vejamos o exemplo do alumínio, que se encontra disponível no planeta com grande

abundância e distribuição equilibrada, cuja durabilidade, leveza e maleabilidade fazem dele

62 Este tipo de avaliação do impacto ambiental dos materiais ao longo do seu ciclo de vida foi utilizado em 1990 nos EUA através de um

método designado de Life Cycle Assesment (LCA) ou Análise do Ciclo de Vida (ACV). Um dos estudos precursores tinha sido realizado já

em 1969 pelo Midwest Research Institute para a Coca-Cola num método que pretendia quantificar os recursos necessários, as emissões e os

resíduos que as diferentes embalagens de bebidas produziam

63 Construção para a Sustentabilidade Ambiental e Económica, produzido pela U.S. Environmental Protection Agency

Page 74: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

57

um produto muito requisitado no sector da construção, no entanto não deixa de ser um dos

materiais que mais prejudica o ambiente. Para a sua produção, são necessárias grandes

quantidades de energia eléctrica e produzem-se ainda grandes quantidades de resíduos, alguns

deles com elevadas características contaminantes.

Não sabemos ainda se é pior poluir a água ou o ar; ou se uma tonelada de dióxido de enxofre

é menos poluente que três toneladas de dióxido de carbono; e entre as electricidades

produzidas por centrais termoeléctricas ou nucleares não se sabe quais são as mais poluentes.

Por estes motivos e também pelo facto de cada país possuir diferentes enquadramentos

tecnológicos e económicos, não é possível aplicar de forma não ambígua a generalização das

análises dos ciclos de vida dos materiais de construção64

.

Referem os especialistas que por metro quadrado de construção, se consome cerca de 2500 kg

de materiais directos e, se se tiver em conta os recursos necessários para a sua produção,

nomeadamente as rochas e terra para extrair a matéria-prima e o petróleo ou outros recursos

para obtenção de energia, mais a água gasta e os resíduos resultantes da sua manufactura e da

construção, entre outros, verificaríamos que teríamos de multiplicar por três para obter a

totalidade de quilogramas de recursos que foram necessários gastar para a construção de cada

metro quadrado de construção.

64 Segundo dados do WorldWatchInstitute . Cerca de 45 a 60% da matéria-prima extraída da litosfera é usada no sector da construção. O

peso dos materiais empregue na construção ocupa cerca de 2500 kg por metro quadrado do edifício

Page 75: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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58

Conclusão

De maneira a obter um tipo de arquitectura cada vez mais sustentável, o ciclo linear dos

materiais, tende a fechar-se cada vez mais no sentido de que os materiais após perderem a sua

utilidade prática, em vez de se transformarem em resíduos, serem reaproveitados ou

transformados em novos materiais. Para isso, deve-se dar preferência aos materiais

provenientes de matérias-primas renováveis e menos poluentes.

Apesar de não existir um consenso universal sobre a forma de avaliar a carga energética de

cada material, é de notar que devido à crescente eficiência energética e durabilidade dos

materiais de construção, a carga energética dos mesmos, tende a ser maior desde o processo

de extracção da matéria-prima até à colocação do material na obra, do que propriamente

durante o seu tempo de vida útil no edifício.

Verifica-se também que existem grandes gastos de energia no transporte dos materiais, de

maneira que deve-se por isso, dar preferência aos materiais locais cuja carga energética

despendida no transporte é menor.

Page 76: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

59

CAPÍTULO IV – MATERIAIS E SISTEMAS CONSTRUTIVOS

Figura 9 – Pavilhão de Portugal – Expo 2010, revestido a cortiça

Introdução

A indústria da construção tem produzido inúmeras novidades de materiais, como são exemplo

“as lajes deslizantes, que permitem aumentar a superfície útil das habitações em função das

necessidades dos utilizadores, a calha universal que serve para fixar objectos e transportar

redes (águo3a, gás, etc.), ou a casa de banho flexível, cuja posição no interior da habitação

não é fixa.”65

Um exemplo de um projecto que se aproxima destes princípios é o Pavilhão de Macau da

Expo 98, que foi desconstruído após o término da exposição mundial para ser edificado em

Loures, onde, embora tenha sido reutilizado apenas uma pequena parte do equipamento,

65 TORGAL e JALALI. 2010. pp. 109-110

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60

permitiu a poupança de 40% da energia que seria gasta se o edifício fosse construído de raiz66

.

Neste capítulo, abordaremos em primeiro lugar, os materiais que melhor respondem à

sustentabilidade ambiental ou cujas técnicas de produção têm vindo a evoluir

progressivamente nesse sentido, como são exemplo a cortiça, a madeira, os vernizes e

pinturas naturais, a cerâmica, o aço, o vidro, o plástico, o betão, entre outros.

De seguida analisaremos alguns sistemas construtivos, em que se percebe como é possível

construir com materiais sustentáveis e veremos alguns exemplos de aplicação de sistemas

construtivos como as estruturas de cartão de Shigeru Ban e as Affordable Houses.

4.1. Matéria-Prima

4.1.1. Bambu

Uma matéria-prima que se destaca por melhor responder a questões sobre a sustentabilidade é

o bambu, este material possui uma força de tracção paralela às fibras similar ao aço, sendo

mais leve que a madeira, é assim um material que propicia grandes vantagens nos locais de

difícil acesso, para vencer grandes vãos e consolas. Possui ainda uma forte resistência de

compressão transversal às fibras sem que se perca a sua plasticidade natural.

A sua flexibilidade é óptima para construções orgânicas, podendo ser usado estruturalmente

como pilar ou viga, caibro ou ripa, para telha, dreno para escoamento de águas, piso e

revestimentos. A sua durabilidade é semelhante à da madeira, quando tratado devidamente.

O bambu existe em todo o mundo ao longo da faixa equatorial, que por coincidência é a zona

mais afecta pela carência de habitações. É um material de baixo custo, que se pode recolher

com critério nas florestas tropicais em grande quantidade e anualmente sem colocar em perigo

as matas de bambu. O trabalho para obter material apto para a construção de edifícios é muito

simples e acessível a qualquer comunidade, através de ferramentas básicas. Este material

66 SANTOS e BRITO. 2007

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

61

oferece óptimas qualidades de resistência a sismos, presentes em muitos destes países. A

massa das habitações multiplicada pelos movimentos horizontais da terra resulta em muita

destruição, pelo que, sendo um material leve, este fenómeno é atenuado; a sua resistência é

maior em relação ao seu peso. Outro ponto importante, é ser uma construção segura, no

conceito que quando cai não acarreta o peso de uma estrutura de betão.

O bambu, na sua generalidade, está subvalorizado na maioria dos países, inclusive em muitos

que têm este recurso como nativo e disponível. Considerando a crise mundial de recursos,

economias em negativo e, sabendo que a população mundial nos próximos 30 anos irá crescer

em 1 bilhão de pessoas, temos de mudar os nossos horizontes. Ser um pouco mais práticos e

focados em problemas reais, ou, melhor dizendo, em soluções reais.

O bambu surge neste panorama com uma alternativa viável a mudanças de pensamento e

projectuais, devido à sua capacidade de crescimento rápido e anual permitir um

aproveitamento de solos e de material muito melhor que a madeira.

Segundo alguns autores, o bambu é um material para o futuro. Um produto excepcional que

tem sido explorado experimentalmente de forma tradicional e nativa nos continentes Africano

e Asiático, hoje já mais industrializado e moderno, atingindo o lirismo arquitectónico em

países como o Japão e a Colômbia. Nomes de referência passam por: Frey Otto, Renzo Piano,

Shoei Yoh, Oscar Hidalgo e Simon Velez.

Figura 10 – Canas de Bambu

Page 79: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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62

Figura 11 – Exemplo de aplicação de Bambu numa estrutura de cobertura

4.1.2. Cortiça

A cortiça é um material produzido principalmente na Península Ibérica, sendo Portugal o

maior exportador mundial desta matéria-prima, englobando cerca de 52% do total da quota do

mercado.

A árvore do sobreiro, após ser plantada e formar a primeira casca ―cortiça virgem‖, leva cerca

de 20 a 25 anos. O processo de extracção da cortiça começa 9 a 11 anos depois e este processo

repete-se a cada 9 anos, com recurso a métodos exclusivamente tradicionais, sem necessidade

de rega artificial, pesticidas ou fertilizantes, uma vez que é o tipo de árvore que melhor se

adapta ao território português.

Page 80: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

63

Figura 12 – Pilhas de cortiça

A cortiça no sector da construção é utilizada para o fabrico de placas de isolamento térmico e

acústico, pavimentos e revestimentos. A sua reciclagem é feita da mesma forma com que o

material é manufacturado após ser extraído dos sobreiros: sendo triturado e de seguida

aglomerado sob pressão a baixas temperaturas, sendo colado através das suas próprias resinas

que funcionam como adesivo.

Assim graças a todas estas características a energia despendida para o seu fabrico é bastante

baixa67

.

As notáveis propriedades da cortiça como isolante térmico, acústico e antivibrático são

fundamentalmente o resultado da estrutura do tecido celular e da composição química das

paredes. Além disso, é um material 100% natural, pelo que se encontra numa posição clara de

vantagem face aos standards ecológicos a que hoje se aspira.

67 <http://www.minerva.uevora.pt/publicar/cortica/Osobreiro.htm>. 18/04/2011. 16:45

Page 81: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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64

4.1.3. Crude

O crude é um combustível fóssil e trata-se de uma fonte de energia não renovável. Os

combustíveis fósseis são o resultado de um processo muito lento de decomposição da matéria

orgânica (plantas e animais). Este processo de transformação durou milhões de anos. É devido

ao longo período de tempo necessário à sua formação que dizemos que os combustíveis

fósseis não são renováveis: uma vez gastos, a humanidade não disporá deles tão cedo.

A designação de crude, provém de petróleo em bruto, antes de ser refinado. É denominado de

crude húmido o petróleo que contém uma percentagem de água.68

A transformação do crude consiste na modificação na composição química do petróleo depois

da extracção da rocha-mãe. Estas transformações podem verificar-se através de processos

físicos, térmicos e ou bacterianos.

O impacto dos combustíveis fósseis no ambiente é prejudicial. A sua queima origina produtos

de combustão, que poluem o ar a nível local e regional, entre os quais o dióxido de carbono,

que contribui para o efeito de estufa a nível global, o qual está na origem das alterações

climáticas. A sua prospecção e transporte têm também impactes negativos no ambiente.

Por se tratar de um produto com alto risco de contaminação, o petróleo provoca graves danos

ao meio ambiente quando entra em contacto com as águas de oceanos e mares ou com a

superfície do solo. Já aconteceram vários acidentes ambientais. Quando ocorre no oceano, as

consequências ambientais são drásticas, pois afecta os ecossistemas, provocando uma grande

quantidade de mortes entre peixes e outros animais marítimos. Nem sempre as medidas de

limpeza conseguem minimizar o problema. 69

Há que considerar que apenas uma pequena percentagem é utilizada para combustíveis, sendo

a sua maioria, aplicado ao desenvolvimento de polímeros.

Estima-se que, com o actual ritmo de consumo, as reservas planetárias de petróleo se esgotem

nos próximos 30 ou 40 anos.

68 crude. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012

69 http://www.suapesquisa.com/geografia/petroleo/

Page 82: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

65

Figura 13 – Crude

4.1.4. Ferro

O ferro é o quarto elemento mais abundante da crosta terrestre (aproximadamente 5%) e, entre

os metais, somente o alumínio o supera em quantidade.

À temperatura ambiente, encontra-se no estado sólido; a sua extracção é feita da Natureza sob

a forma de minério de ferro que, depois através de vários processos de transformação, é usado

na forma de lingotes. Fazendo a adição de carbono, dá-se origem a várias formas de aço.

O núcleo do nosso planeta é formado principalmente por ferro e níquel. Este ferro está numa

temperatura muito acima da temperatura de Curie do ferro, dessa forma, o núcleo da Terra não

é ferromagnético.70

70 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ferro

Page 83: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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66

Actualmente, o ferro é utilizado extensivamente para a produção de aço, liga metálica para a

produção de ferramentas, máquinas, veículos de transporte, como elemento estrutural de

pontes, edifícios, e uma imensidão de outras aplicações.

O ferro é o metal mais usado, com 95% em peso da produção mundial de metal. É

indispensável devido ao seu baixo preço e dureza, especialmente empregue em automóveis,

barcos e componentes estruturais de edifícios.

O aço é a liga metálica de ferro mais conhecida, sendo este o seu uso mais frequente. Os aços

são ligas metálicas de ferro com outros elementos, tanto metálicos quanto não metálicos, que

conferem propriedades distintas ao material. É considerada aço uma liga metálica de ferro que

contém menos de 2% de carbono; se a percentagem é maior recebe a denominação de ferro

fundido.

Figura 14 – Mineral Ferro

Page 84: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

67

Figura 15 – Minério de Ferro

As ligas férreas apresentam uma grande variedade de propriedades mecânicas dependendo da

sua composição e do tratamento que se tem aplicado.

Os aços são ligas metálicas de ferro e carbono com concentrações máximas de 2,2% em peso

de carbono, aproximadamente. O carbono é o elemento de ligação principal, porém os aços

contêm outros elementos.

Um dos inconvenientes do ferro é que se oxida com facilidade. Existem uma série de aços aos

quais se adicionam outros elementos ligantes, principalmente o crómio, para que se tornem

mais resistentes à corrosão. São os chamados aços inoxidáveis.

Quando o conteúdo de carbono da liga é superior a 2,1% em peso, a liga metálica é

denominada ferro fundido. Estas ligas apresentam, em geral, entre 3% e 4,5% de carbono em

peso. Existem diversos tipos de ferros fundidos: cinzento, esferoidal, branco e maleável.

Page 85: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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68

Dependendo do tipo apresenta aplicações diferentes: em motores, válvulas, engrenagens e

outras. Por outro lado, os óxidos de ferro apresentam variadas aplicações: em pinturas,

obtenção de ferro, e outras.71

4.1.5. Madeira

É o recurso natural que o Homem desde os primórdios explora e tem como grande vantagem

inesgotável renovação na Natureza, desde que extraído de forma controlada.

Figura 16 – Madeira

Verifica-se que a desflorestação das florestas tropicais não certificadas, avança a um ritmo que

não permite a sua regeneração, consumindo-se por ano cerca de um 1% das espécies arbóreas

de forma ilegal. Ao contrário deste panorama verifica-se que nas florestas controladas os

71 http://www.geocities.ws/afonsobejr/condutores.html

Page 86: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

69

recursos naturais estão em crescimento72

, para isso muito tem contribuído a adopção de vários

sistemas que garantem a produção sustentável.

Nas florestas controladas existem métodos de avaliação das práticas florestais, verificando-se

se as mesmas cumprem as metas a atingir ao nível não apenas ambiental, como também social

e económico, de forma a preservar o seu ecossistema.

Figura 17 – Exemplo de Construção com Critoméria Japónica73

72 As associações importadoras de madeira da Península Ibérica, em conjunto com os certificados florestais independentes como os

provenientes de organismos como o FSC ForestStewardShip, a SFI, SustainableForestryIniciative e o PEFC Sistema Voluntário de

Certificação Florestal, na década de 90 a área florestal das regiões não tropicais cresceu cerca de 29 milhões de hectares e o volume de

recurso natural que pode converter-se em madeira aumentou 21 milhões de m3

73 Conífera de folha persistente, família das Taxodiaceas, não resinosa

Page 87: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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70

Esta madeira é certificada para que possa ser identificada como proveniente de locais onde os

recursos naturais são administrados segundo as convenções internacionais, desta forma a

selecção cuidada das madeiras a utilizar, utilizando-se preferencialmente as que se encontram

certificadas contribui para a preservação e aumento do coberto arbóreo do planeta.

Em Portugal, existem 9.238.900 hectares de parque florestal, dos quais 3,4 (37%) são

ocupados com pinho bravo e eucalipto. Esta situação não é benéfica para o planeta, uma vez

que seca os níveis freáticos.

Segundo o arquitecto Jorge Lira, à excepção da madeira da Criptoméria Japónica (produzida

nos Açores), a nível nacional não há madeira que seja adequada à construção. Há que

reformular o parque florestal, no sentido de beneficiar o planeta.

No decorrer das II Jornadas Quercus de Arquitectura Sustentável, 2010, o mesmo arquitecto

explicou que a utilização sustentável da madeira para construção, faz crescer a área da floresta

e promove a floresta de qualidade em ciclos de 30 anos.

É uma actividade sustentável e de crescimento económico garantido, com impactos positivos

no ambiente, balanço hídrico favorável e garantia de condições óptimas para uma melhor e

maior biodiversidade. Além disso, em 30 anos, cada uma das árvores da floresta produz e

liberta cerca de 10.000kg de matéria orgânica sobre o solo e por compostagem o fertiliza (ao

contrário de um eucalipto).

Tem balanço hídrico (água absorvida x água libertada) com saldo positivo de 40.000 litros

libertados para a atmosfera (ao contrário de um eucalipto).

Liberta para a atmosfera cerca de 8.000m3 de oxigénio – aproximadamente a mesma

quantidade que um ser humano consome durante a sua vida inteira num período de 80 anos de

esperança de vida.

Absorve da atmosfera cerca de 25.000m3 de CO2, que transforma em oxigénio e fixa na

forma de matéria orgânica lenhosa.

Retira da atmosfera, por filtragem na superfície das suas folhas, cerca de 50kg de poeiras por

ano, ou seja, retira da atmosfera 1,5ton de poeiras em 30 anos.

Page 88: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

71

O balanço diferencial positivo entre construir em madeira ou em cimento, ou aço, é de cerca

de 3,5ton de CO2/m2 de construção.

Por todos estes motivos que foram enumerados, privilegia-se a madeira como material de eco-

construção.

4.1.6. Blocos de Palha

Figura 18 – Fardos de Palha

Nas mesmas jornadas de arquitectura sustentável74

o arquitecto Vítor Varão apresentou um

sistema construtivo ainda pouco divulgado, a utilização de fardos de palha como principal

material de construção de um edifício.

74 QUERCUS, 2010. II Jornadas Quercus Arquitectura Sustentável, 23/10/2010, Arquitecto Vítor Varão

Page 89: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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72

Os fardos de palha consistem em resíduos de sementeiras e colheita de cereais, como o arroz,

o trigo, o centeio, a cevada e a aveia, que são compactados. Podem ser utilizados como um

bloco em substituição do tijolo convencional.

Estas estruturas são fáceis de montar, não carecendo por isso de mão-de-obra qualificada,

podendo ser autoportantes ou, para construções de maior escala, podem ser reforçadas com

madeira, betão ou outros materiais, sendo posteriormente revestidas em argila ou cal.

As vantagens da utilização da palha como principal material de construção são, antes de mais,

o facto de serem de baixo custo; serem bons isolantes térmicos e acústicos; são resistentes ao

fogo desde que bem executadas, possuindo um desempenho melhor que o betão, tal deve-se

ao facto de para haver ser necessário existir oxigénio, no entanto um fardo de palha, por ser

bem compactado, praticamente não tem oxigénio no seu interior, o que dificulta assim

combustão; terem boa durabilidade, cerca de 70 anos, tal como o betão75

.

Figura 19 – Exemplo de aplicação de fardos de palha, como paredes estruturais

75 <http://sustentabilidadenaoepalavraeaccao.blogspot.com/2010/11/casas-em-palha.html>

Page 90: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

73

Figura 20 – Exemplo de aplicação de fardos de palha, aglutinados com argamassas

Com os fardos de palha é fácil ampliar uma construção, abrir ou fechar janelas e portas e

construir ou remover paredes, sendo assim barato e prático fazer alterações num edifício já

construído. As reparações deste sistema construtivo são simples, sendo apenas necessário

remover a palha degradada e substituí-la por palha nova, rebocando-se posteriormente a

parede.

4.1.7. Terra

Como já foi referido anteriormente, a terra é um dos materiais mais abundantes no planeta e a

sua utilização no sector de construção existe desde há mais de 9 mil anos, como se pode

verificar pelos inúmeros vestígios de construções em terra erguidas por várias civilizações

ancestrais76

.

Existem várias cidades, cujos edifícios são ainda hoje maioritariamente construídos em terra,

como é exemplo a cidade de Shibam, localizada no Iémen, onde grande parte dos seus

edifícios, foram erguidos em adobe. Estes datam do século XVI, possuem cerca de 5 a 11

76 MINK. 2009. No Turquemenistão descobriram-se edificações erguidas com tijolos de terra (adobe) do período compreendido entre 8.000 a

6.000 anos a.C. MINK 2009. BERGE. 2009, Refere que na bacia do rio Tigre existem também inúmeros vestígios de construções em adobe

datadas de 7.500 anos a.C

Page 91: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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74

pisos e as suas paredes exteriores são em adobe, verificando-se que conforme se sobe de piso

a espessura das paredes vai-se estreitando de maneira a aliviar o seu peso e garantir

estabilidade77

.

Figura 21 - Mapa-mundo com indicação das zonas e elevada densidade de construção em terra

Figura 22 – Habitação unifamiliar em Beja, onde os arquitectos Bartolomeu Costa, João Gomes e Mário Anselmo,

utilizaram a terra como material principal do edifício

77 HELFRITZ. 1937

Page 92: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

75

Gráfico 3 - Água absorvida por diferentes materiais quando a humidade relativa sobe para os 80%.

Gráfico 4 - Carbono incorporado em materiais para alvenarias

Page 93: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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76

Actualmente cerca de metade da população mundial habita construções em terra78,

verificando-se ainda que a densidade de construção em terra não se encontra condicionada

pelos factores climáticos, nomeadamente a temperatura ou a precipitação, uma vez que se

encontra este tipo de construção em regiões frias, como o norte europeu ou em regiões

quentes, como as que se localizam no eixo equatorial. E mesmo em regiões de elevada

precipitação, como é exemplo a Inglaterra, não deixamos de encontrar uma vasta presença de

construções em terra.

Ao contrário das extracções da matéria-prima para a produção de cimento, tijolos cerâmicos e

metais, que produzem grandes depósitos de escórias e lamas, a matéria-prima para a

construção em terra, por se localizar imediatamente abaixo do solo vegetal, não produz

resíduos. E se a obra for construída com o próprio solo que a envolve, não se provoca

poluição nem gastos de energia associados ao seu transporte.

Os desperdícios deste material, quando não foram modificados por outros materiais, podem

ser repostos no local de onde foram extraídos sem qualquer problema para o meio ambiente, e

mesmo quando a terra já se encontra tratada com cal ou cimento pode voltar a ser reutilizada

na construção79

.

A construção em terra é também benéfica para a saúde, uma vez que não contém efeitos

nocivos para o ar provenientes dos compostos orgânicos voláteis que se encontram em

inúmeros outros materiais convencionais. A qualidade do ar mede-se também pelos níveis de

humidade que existem no interior das habitações, e aqui verificamos que os blocos de terra

absorvem 10 vezes mais humidade do ar que os tijolos cerâmicos convencionais80

.

A humidade relativa excessiva no interior das habitações, acima dos 70%, cria as condições

necessárias ao aparecimento de bolores que são os responsáveis pelo desencadeamento de

alergias, ácaros e doenças asmáticas81

. A título de utilização da terra como forma de controlar

a humidade do ar, na Áustria o Hospital de Feldkirch, contém uma galeria de 180m de

78 EIRES e JALALI. 2008

79 TORGAL e JALALI. 2010. pp. 288-290

80 MINKE. 2010

81 ARUNDEL. 2006

Page 94: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

77

comprimento revestida a taipa, que foi construída com o intuito estabilizar os níveis de

humidade do ar sem utilização de recursos mecânicos.

No caso de Portugal, a construção em taipa foi amplamente propagada pela presença islâmica

no território, como é exemplo o Castelo de Silves, que perdura até aos dias de hoje onde a

taipa foi revestida com pedra vermelha grés82.

Esta forma de construção perdurou no território nacional até aos nossos dias com três métodos

construtivos principais: a taipa, o adobe e o tabique: a primeira encontra-se principalmente

entre o rio Tejo e o Algarve e consiste no levantamento de paredes autoportantes in situ; as

construções em adobe encontram-se principalmente na faixa ocidental do território nacional,

desde Aveiro até Setúbal, e neste sistema as paredes erguidas através da justaposição de

blocos de terra previamente fabricados; por último, o tabique, que consiste na construção de

paredes através de estruturas de grades de madeira preenchidas por terra, encontra-se em

abundância em Trás-os-Montes e nas Beiras Alta e Baixa83

.

Nas últimas décadas, alguns dos países mais desenvolvidos da Europa, como são exemplo a

França, a Alemanha e o Reino Unido, começaram a adoptar a terra como um material

substituto da pedra ou do tijolo convencional84

.

Em Portugal, tem-se também assistido a um crescente interesse pela construção em terra, no

entanto, este interesse é ainda reduzido tendo em consideração as condições climatéricas

favoráveis que detém e a antiga tradição de construção em terra que entretanto nas últimas

décadas quase deixou de ser utilizada. Contrariando esta tendência, actualmente, a Costa

Vicentina é a região do país onde a construção em terra se efectua com maior proeminência85

.

Utilizando como referência o Livro da Sustentabilidade dos Materiais de Construção de

Fernando Torgal e Said Jalali (2010) podemos dividir as técnicas construtivas em terra em três

82 TORGAL e JALALI. 2010. p. 268

83 TORGAL e JALALI. 2010. p. 268-269

84 TORGAL e JALALI. 2010. p. 270

85 TORGAL e JALALI. 2010. pp. 270-271

Page 95: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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FACULDADE DE ARQUITECTURA E ARTES

78

sistemas principais: a) monolítico; b) alvenaria; e c) enchimento e revestimento86

.

a) O sistema construtivo monolítico em terra caracteriza-se por formar uma parede compacta

feita totalmente no sítio, para isso pode ser construída através da taipa, da terra vazada, da

terra armada com aço e da terra empilhada:

- Na taipa efectua-se a colocação da terra húmida em cofragens de madeira, procedendo-se

posteriormente à sua compactação;

- Na terra vazada encontra-se a terra num estado mais plástico e coloca-se também em

cofragens de madeira para ser posteriormente compactada, originando uma textura mais

rugosa que a taipa;

- Na terra armada com aço, à semelhança do betão, coloca-se no interior da estrutura de aço

painéis de madeira de maneira a poder-se projectar sobre eles a terra até fechar toda a

estrutura de aço, efectuando-se de seguida a regularização da parede;

- No caso da terra empilhada, mistura-se terra com palha e regulariza-se a parede. Aqui a

palha funciona como um material ligante e permite a concepção de paredes de carácter

escultórico87

.

b) No sistema construtivo em terra por alvenaria, utilizam-se vários tipos de unidades

previamente moldadas, das quais podemos destacar o adobe e o bloco de terra compactado

(BTC):

- No adobe a terra em estado plástico é moldada de forma manual ou mecânica;

- No BTC é manufacturado a partir compactação da terra em estado húmido, por métodos

mecânicos ou hidráulicos88

.

c) Por último, no sistema construtivo em terra por enchimento e revestimento, encontramos o

86 TORGAL e JALALI. 2010. p. 271

87 TORGAL e JALALI. 2010. p. 271-273

88 TORGAL e JALALI. 2010. p. 273

Page 96: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

79

tabique (taipa à galega ou taipa de mão) que consiste na utilização de terra em estado plástico

com ou sem cal sobre uma estrutura ou então de cana ou vime. Esta técnica pode também ser

utilizada para encher paredes duplas de alvenaria de tijolo ou pedra, e ainda para revestir

outras paredes e coberturas89

.

4.2. Produto

4.2.1. Adobe

Para o fabrico do Adobe90

recorre-se a moldes de madeira, dos quais existem diversas

dimensões e formatos, para acolher a terra e prensá-la. Posteriormente a terra é desmoldada

em estado húmido e secada à temperatura ambiente. Os formatos dos blocos de adobe podem

ser de formas platónicas ou com encaixe.

O solo mais adequado à produção dos blocos de adobe é plástico argiloso, os blocos

demasiado argilosos quando secam, apresentam fissuras; para as evitar recorre-se à mistura da

terra com palha ou outros elementos vegetais.

A alvenaria de adobe é similar à do tijolo convencional e para a melhor conexão entre os

diversos blocos a argamassa de assentamento é feita à base de terra, mantendo-se assim os

mesmos comportamentos de compressão e dilatação que variam conforme as condições

climáticas.

A alvenaria de adobe pode ficar à vista ou então ser rebocada com argamassa feita à base de

terra. Os blocos de adobe podem também ser feitos com recurso a máquinas que permitem a

sua manufacturação mais rápida91

.

89 TORGAL e JALALI. 2010. p. 271-273

90 ROGERS E SMALLEY.1995. Referem que a palavra adobe advém do árabe e significa tijolo seco ao sol

91 TORGAL e JALALI. 2010. p. 277-279

Page 97: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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80

Evoluído a partir do adobe, surge a técnica de bloco de terra compactado que consiste na

prensa da terra num molde que permite obter blocos de terra mais resistentes e duradouros que

o adobe, embora mais pesados. Estes podem ser maciços ou perfurados e aparecer em placas

de revestimento. A terra utilizada deve ser húmida como a da taipa.

Em Portugal as alvenarias de BTC têm vindo a aumentar devido à sustentabilidade que lhe é

inerente, a diminuição de resíduos e a facilidade de montagem92

.

Os blocos prensados manualmente, embora necessitem de mais tempo de fabrico e maior

quantidade de mão-de-obra, apresentam vantagens que justificam a sua utilização,

nomeadamente a poupança energética, a facilidade de transporte e o facto de os blocos

poderem ser fabricados com a terra do local onde a obra se vai realizar93

.

Figura 23 – Habitação unifamiliar em Serpa (arquitecta Maria de Luz Seixas)

92 TORGAL e JALALI. 2010. p. 279-280

93 TORGAL e JALALI. 2010. p. 280

Page 98: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

81

4.2.2. Taipa

A taipa era o sistema construtivo mais utilizado em Portugal até aos anos 50 entre o rio Tejo e

o Algarve e as suas espessas paredes contêm um melhor comportamento térmico que o tijolo

convencional agora utilizado94

.

Sendo uma construção monolítica, a taipa é feita a partir da compactação de terra húmida,

mas ainda assim requer pouca quantidade de água, por este motivo encontra-se com maior

proeminência nas regiões onde a água escasseia. Quando a terra não tem consistência

suficiente para a construção das paredes, mistura-se a terra com pedras, cortiça ou

argamassas.

Figura 24 – Casa em Taipa

94 CORREIA. 2000

Page 99: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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82

Em Portugal a taipa é executada através da colocação da terra em taipais com 0,5m de altura

por 0,40 a 0,70m de largura e 2m de comprimento, esta é colocada em camadas de 10cm de

altura de cada vez, sendo sempre compactada95

antes da colocação da nova camada. Após o

taipal ficar preenchido, este é retirado para as camadas seguintes.

Recentemente, o avanço da tecnologia propicia a concepção da taipa mecanizada, cujo

processo é similar ao tradicional. No entanto, as cofragens são agora de metal ou de

contraplacado de madeira e o processo de compactação é feito através de um compactador

pneumático.

A taipa assenta em fundações de betão armado ou alvenaria de pedra de maneira a evitar a

subida da humidade pelas paredes de taipa por efeito de capilaridade96

.

4.2.3. Aço

Tal como inúmeros outros metais, este material, demora dezenas de anos a ser absorvido pela

Natureza, no entanto a sua reciclagem comporta mais vantagens que a sua produção a partir

da matéria-prima.

Nos processos de demolição, todo o aço utilizado, quando devidamente separado, dos

restantes materiais, é todo ele aproveitado e valorizado, comportando processos de fusão

ilimitados sem que a sua qualidade seja posta em causa97

.

A reciclagem do aço lança para a atmosfera menos 74% de CO2 que a produção do aço a

partir da matéria-prima original, devido ao facto de já não ser necessário utilizar carvão nem

pedra calcária, como o utilizado para a sua produção a partir da matéria-prima.

95 O processo de compactação das camadas de terra é feito através dos designados pilões, peças de madeira maciça. Tendo a compactação de

ser feita com rapidez de maneira a que a terra não perca a humidade que dará a estabilidade desejada à parede

96 TORGAL e JALALI. 2010. p. 273-276

97 Segundo a Corus Construction Centre, a produção de aço reciclado no seu quarto ciclo de fusão necessita de uma energia de

manufacturação cerca de 30% menor que a utilizada a partir da matéria-prima do ferro, carvão, pedra calcária e sucata

Page 100: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

83

Figura 25 – Perfis Tubulares de Aço

4.2.4. Betão armado (com ferro)

O betão descende da aglutinação de inertes que derivam da natureza. As matérias-primas mais

significativas são o calcário, a marga e a argila, extraídos de pedreiras onde a ―lavra‖ –

processo de extracção, é desenvolvida a céu aberto, através do desmonte de rocha por

explosivo. Um edifício cuja estrutura seja em betão armado comporta em 60% do seu peso

fragmentos de pedra naturais extraídas de pedreiras que se encontram misturados no betão.

No fim da sua utilidade, o betão usado pode ser reciclado, separando-o do aço e outros

materiais colados é triturado e pode substituir grande parte dos granulados de pedra natural

que são utilizados para produzir o betão98

.

98 A percentagem de betão reciclado que é tolerável incorporar varia conforme as normas para as diferentes solicitações, de uma forma geral

é sempre possível substituir pelo menos 10% dos agregados de pedra natural, existindo já em casos experimentais a substituição de 100% dos

grãos grosso e 20% dos grãos finos (areia)

Page 101: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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84

Esta prática evita assim não só o desgaste das pedreiras e o impacto ambiental que isso

acarreta, como também a acumulação de resíduos de betão e a energia gasta e poluidora no

transporte do material.

Figura 26 - Tadao Ando, “Casa Koshino” em Kobe, Japão

Page 102: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

85

4.2.5. Sacos de Areia

Os sacos de areia podem também ser usados para a construção de edifícios, como são

exemplo as casas de campo ou de praia e até edifícios citadinos como hotéis, edifícios

culturais, lojas e outros que se encontram erguidos no Japão.

Os sacos são enchidos com areia ou se possível com a própria terra local e posteriormente

dispostos em torno de plantas circulares, em sucessivas camadas até formar um género de

iglô, cuja distribuição das cargas é similar às cúpulas.

Por isso, este sistema construtivo, só é possível para edifícios de pequena escala, no entanto

pode-se anexar vários iglôs de dimensões variadas para formar edifícios com programas mais

complexos, onde os vários iglôs acabam por reflectir exteriormente a articulação interna dos

espaços.

O revestimento exterior pode ser feito com reboco de diferentes texturas, sendo

posteriormente pintado.

A areia e a terra são boas isolantes térmicas e têm ainda a vantagem de propiciar um excelente

controlo dos níveis de humidade do interior dos compartimentos.

Outro sistema construtivo similar ao dos sacos de areia é feito com recurso a placas de

isolamento térmico isopor, que têm sido também construídas no Japão.

Sendo um material bastante leve, a construção destas casas pode ser feita num tempo mínimo

de quatro dias, normalmente este tipo de construções contêm uma área aproximada de 45m² e

tal como as construções em sacos de areia, é possível obter edifícios mais complexos através

da anexação de vários módulos, propiciando também um bom isolamento térmico. No entanto

esta última tem a vantagem acrescida de resistir facilmente a tremores de terra e

tempestades99

.

99 <http://www.amazoninterart.com/?p=855>

Page 103: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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86

Figura 27 – Exemplo de construção com sacos de areia

4.2.6. Cerâmica

A grande maioria destes materiais produzidos para o sector da construção, nomeadamente

azulejos ou mosaicos para o revestimento de pavimentos e paredes, contém uma eficiência

superior à necessária ao nível de impermeabilização, resistência à compressão e tracção,

dureza e resposta à abrasão. Isso faz com que no acto da sua manufacturação sejam gastos

excessivas quantidades de energia e matéria-prima.

Além disso, apesar da grande capacidade de durabilidade do material, este é não raras vezes,

substituído muito antes de ter algum tipo de problema técnico pelas mudanças de moda da

sociedade.

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

87

De modo a melhorar a eficiência energética na produção deste material começou a surgir no

mercado um novo tipo de materiais cerâmicos cujas características técnicas se adequam às

necessidades da maioria das construções e não implicam os vastos desperdícios das anteriores

no processo de manufacturação100

. Estas peças são produzidas através da solidificação

hidrotérmica101

, a baixa temperatura e são comercializadas com o nome Ecocarat. Assim, ao

nível das peças cerâmicas, é necessário ter em consideração a forma real da sua utilização

para revestimentos e pavimentos, uma vez que a sua utilização, antes de serem renovados, não

é muito superior a uma década, mesmo que estejam ainda com as suas qualidades técnicas

garantidas. Desta forma, a opção pela utilização de um tipo de cerâmica produzido de acordo

com as necessidades reais de utilização é um forte contributo para a sustentabilidade

ambiental.

Figura 28 - Azulejos CZECH da autoria de Correia/Ragazzi arquitectos, que foram premiados em São Francisco

100 Produto desenvolvido por Emile Ishida, INAX Corporation, Japão

101 Endurecimento por humidade e calor controlados

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88

4.2.7. Tijolo Konlix

O processo de reciclagem pelo qual se fabrica tijolo a partir de lixo orgânico e cimento,

encontra-se designado por Konlix, segundo o autor do processo Luiz Fernando Carvalho.

As motivações para a criação deste tipo de material foram, segundo o autor, a redução do

impacto ambiental que o lixo causa, nomeadamente o que se encontra em aterros que se não

for tratado, sofre modificações físicas e químicas que originam a matéria nociva chorume que

facilmente atinge os fluxos de água envolventes. Além disso, a colecção selectiva do lixo e

seu posterior tratamento e produção de tijolos permite a criação de novos postos de trabalho.

Os resíduos diários seleccionados com maior abundância são os orgânicos, precisamente por

serem os que representam maior volume de produção e quando juntos em aterros

descontrolados são uma das maiores fontes que emitem gases que contribuem para o aumento

do efeito de estufa, contaminam solos e recursos hídricas.

A utilização deste material no sector da construção, além da contribuir para a redução do

impacto ambiental do sector, propicia um custo 30% mais baixo que o recurso a tijolos feitos

em argila, cimento e areia.

Estes tijolos, encaixáveis, dispensam o uso de argamassas e economizam por isso também

tempo durante a execução da obra. Por exemplo uma casa de 60m² construída com tijolos

konlix demora metade do tempo que levaria se fosse construída através de tijolos

convencionais.

O lixo orgânico é também um bom isolante térmico, impedindo a penetração de calor nas

paredes de um edifício num dia quente e evita também a penetração do frio nos dias frios. O

tratamento do lixo para dar origem a novos materiais construtivos é feito quimicamente até

ficar estável e com o tamanho das suas partículas suficiente para poder originar novos

materiais como blocos, tijolos de parede de vedação e placas de isolamento térmico.

O processo é desenvolvido em seis etapas principais: separação e selecção; trituração;

tratamento químico com recurso a cal virgem e outros ingredientes; repouso da massa;

confecção das peças; e descanso para cura do cimento. Passadas 72 horas as peças estão

prontas a ser usadas na construção.

Page 106: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

89

Figura 29 – Casa feita com Tijolo Konlix

Figura 30 – Fluxograma do Processo Konlix de Reciclagens

Page 107: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

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90

4.2.8. Estruturas de Cartão

As construções do arquitecto japonês Shigeru Ban têm a particularidade de serem executadas

em tubos de cartão muito resistentes, que apresentam inúmeras vantagens, não só para a

construção, devido à sua versatilidade como também para o ambiente, uma vez que são feitos

a partir de reciclagem e mesmo após o seu uso na construção podem voltar novamente a ser

reciclados sem gerar desperdício102

.

As vantagens de utilização dos tubos de cartão são, além da sua reciclagem, o seu baixo custo

e facilidade de substituição quando danificados. Estes continuam a possuir as características

simples de tubo de cartão, mantêm-se ocos e levam um tratamento que os protege do fogo, da

humidade e aumenta a sua capacidade de resistência de maneira a ter comportamentos

estruturais viáveis.

Figura 31 – Pavilhão do Japão, Expo 2000 - Hannover

102 SALADO e SICHIERI. 2006. p. 2-3

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

91

Esta resistência é de tal ordem que é possível construir grandiosos edifícios de funções

diversas, demonstrando a grande capacidade de resistência que o cartão pode possuir.

“Uma das melhores formas para revelar a beleza desses tubos é colocá-los em curvas.”

(FROMONOT; EGO, 1996, p. 43).

Numa das suas primeiras obras, o arquitecto utilizou estes tubos para construir painéis

divisórios internos, como é exemplo a Mostra de Alvar Aalto construída em Tóquio em

1986103

.

Em 1990, novamente no Japão, utilizou estes tubos como paredes exteriores resistentes à

chuva e ao vento do Salão de comemoração do aniversário da cidade de Odawara, sendo o

edifício ainda suportado por uma estrutura metálica104

. Vejamos exemplos de obras cuja

estrutura é feita com recurso a estes tubos de cartão105

: a casa de campo pessoal, no aterro de

Lake Yamanaka (Japão, 1995) foi a primeira que obteve aprovação oficial do governo para

conter uma estrutura de tubos de cartão, protegendo os tubos da chuva e da neve colocaram-se

vidros móveis à sua volta106

.

Demonstrando as capacidades estruturais destes tubos, Shigeru Ban projectou treliças e arcos

neste material para a Biblioteca do Poeta (Japão, 1991), esta obra, de carácter permanente, foi

envolvida por uma pele de vidro107

.

Outra obra de estrutura de cartão de destaque é o galpão permanente com um vão de 28m,

concebido para uma empresa de casas de madeira, este projecto é aberto e a mão-de-obra

utilizada foram os próprios carpinteiros da empresa, sendo uma demonstração da facilidade de

103 SALADO e SICHIERI. 2006. p. 4 104 SALADO e SICHIERI. 2006. p. 6 105 SALADO e SICHIERI. 2006. p. 7. Primeiramente o sistema estrutural de tubos de cartão projectado por Shigeru Ban consistiu num painel portante de um caramanchão (1989), seis meses depois desmontou-se a estrutura e verificou-se que os tubos, expostos à chuva, ventos e sol

obtinham agora uma resistência à compressão superior à que continham inicialmente, tal facto deveu-se ao endurecimento da cola durante a

vida útil da estrutura 106 SALADO e SICHIERI. 2006. p. 9 107 SALADO e SICHIERI. 2006. p. 10

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92

construção deste tipo de sistema construtivo.

De todas as estruturas de cartão, a mais complexa foi a do Pavilhão Japonês da Expo 2000

(Hannover)108

. Este equipamento temporário ocupou uma área de 3100m²e a sua estrutura era

constituída por uma casca orgânica executada a partir de uma teia de tubos de cartão.

O princípio utilizado na escolha dos materiais que compõem o pavilhão foi o de utilizar

materiais reciclados e evitar desperdícios. Assim, os materiais utilizados foram

manufacturados a partir de papel reciclado colectado no país organizador do evento. A tela

impermeabilizante foi desenvolvida com o mesmo princípio, evitando-se assim o pvc presente

nas telas convencionais que não é reciclado e liberta gases nocivos quando queimado. Após a

desmontagem do edifício, os materiais utilizados continuam a ser maioritariamente

reutilizáveis ou recicláveis109

.

Figura 32 – Cardboard Bridge, Shigeru Ban

108 SALADO e SICHIERI. 2006. p. 13. O tema da Expo 2000 foi o desenvolvimento sustentável e para o seu projecto Shigeru Ban contou

com a colaboração de Frei Otto

109 SALADO e SICHIERI. 2006. pp. 14-15

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

93

Verificamos assim que o sistema construtivo efectuado com tubos de cartão, é bastante similar

a vários outros materiais convencionais, nomeadamente os sistemas de tubos de aço ou

madeira, para vencer grandes vãos e obter formas curvas e orgânicas; e as alvenarias

estruturais, como são exemplo paredes curvas obtidas a partir da junção de vários tubos de

forma orgânica.

Os tubos de cartão apresentam assim características de mobilidade, não necessitam de

acabamentos, formam uma estrutura leve, dispensando por isso fundações complexas, não

necessita de mão-de-obra especializada110

.

4.2.9. Estruturas Metálicas

Decorrente do desafio lançado pela Arcelor Mittal à rede científica internacional de estruturas

metálicas, a equipa da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra,

estudou e projectou uma vivenda T3 cuja arquitectura, além de moderna, é de baixo custo,

versátil e sustentável.

Os princípios orientadores para as Affordable Houses, tiveram como base a forma como as

famílias se desenvolvem e vivem os espaços, tornando-os por isso versáteis, de maneira a

adaptarem-se às solicitações das variações de utilização do mesmo espaço pela família, para

isso utilizou-se aço leve de maneira a aumentar a área útil dos compartimentos. Foi uma

alternativa às construções tradicionais, uma vez que se conseguiu fazer com que satisfizesse

os critérios mínimos de qualidade arquitectónica, conforto, segurança e eficiência.

Para este projecto, teve-se em conta o ciclo de vida dos materiais, sendo todos passíveis de

serem reciclados e onde a grande maioria é já proveniente de materiais usados.

Para o custo da construção ser baixo, a equipa de investigadores concebeu espaços em

módulos de fácil desmontagem e adaptação a outras formas, de maneira a evitar o transtorno

que causam as obras de adaptação das construções tradicionais. Permitiu assim, não só a

110 SALADO e SICHIERI. 2006. p. 15

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94

redução dos custos como, também, a inexistência de espaços não utilizáveis por serem já

dispensáveis da sua função inicialmente prevista.

Figura 33 – AffordableHouse

Ao nível da segurança, estas construções encontram-se projectadas de acordo com os critérios

europeus. Mesmo na segurança contra sismos, fizeram-se testes que demonstram a sua

resistência à actividade sísmica mais forte a que Portugal está sujeito.

Quanto à eficiência térmica e acústica, estas casas possuem uma performance de níveis

claramente superiores à média das construções convencionais. Verificou-se por exemplo, que

durante a época quente do ano não necessitam de gastar praticamente nenhuma energia no seu

arrefecimento e na época fria a energia gasta no aquecimento é bastante inferior à média de

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

95

energia gasta pelas edificações convencionais111

.

4.2.10. Pneus

As origens ―Casas Earthship‖

O Earthship (em Eng. ―Land‖ barco ―navio da terra‖), é um modelo arquitectónico de

habitação autodesenvolvido há mais de 30 anos, após a obra original do arquitecto americano

Michael Reynolds.

A casa Earthship é construída usando uma grande quantidade de materiais considerados

resíduos de pneus, ou seja, garrafas e latas.

A riqueza de informação disponível online, sugere que, nessa altura, a extensão e refinamento

do conceito tem muitas faces: a partir da criação de diversas comunidades de Earthships e

diversas empresas envolvidas na construção e difusão do conceito (venda de equipamentos,

seminários, instalações, trabalho, etc.).

O conceito deste tipo de reciclagem, parte de um espírito de reciclagem combinada com a

utilização de energias renováveis, o objectivo, sendo competitiva em custos de materiais de

construção, dar a casa respeita a natureza autónoma de redes (electricidade, água, resíduos),

bem como a sua integração no meio ambiente mais limpo.

O conceito original do Earthship é baseado em três elementos:

1 – A orientação da casa permitindo a captura de ideal de calor e luz solar.

Esta opção tem de estar em consonância com o local de intervenção.

2– A utilização de tecnologias limpas, de energia solar, eólica, para consumo interno (ou

melhor, ausência de tecnologias). Estes, além de serem rentáveis a longo prazo, permitir a

111 <http://www.construir.pt/2010/03/08/investigadores-da-fctuc-projectam-casa-low-cost/>, 19/04/2011, 19:05

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96

construção do Earthship, lugar para a independência das redes de abastecimento

convencionais.

3 – Instalação de captação e armazenamento de água, bem como tratamento de águas

residuais, permitindo a reutilização através de um sistema de filtros e drenos, e minimizar o

consumo, melhorando-o.

Figura 34 – Parede construída com pneus

4.2.11.Plástico

É um dos materiais mais recentes e que desde o seu processo de fabrico até à sua inutilização,

é um dos materiais que polui em maior quantidade o planeta. A sua produção consome muita

energia, mais que a grande maioria dos materiais e é feita a partir do petróleo que é uma

matéria-prima com um limite de existência reduzido112

.

112 Consumo de 100 mega joules por quilograma

Page 114: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

97

Figura 35 – Plástico

Durante o seu fabrico, são emitidas variadas substâncias tóxicas para a atmosfera,

nomeadamente o monóxido e dióxido de carbono, o óxido de nitrogénio e os compostos de

cloro, de fenol e formaldeído. Após o fim da sua utilização são ainda, normalmente

convertidos em resíduos, necessitando de centenas de anos para que o planeta consiga

absorvê-los na sua totalidade.

A sua reciclagem é um processo complexo113

, devido essencialmente à fraca pureza do

recurso e ao facto de ser necessário dispor de quantidade suficiente de cada componente para

tornar economicamente possível a sua reciclagem.

Um bom exemplo de eficiência na reciclagem dos resíduos plásticos, é a produção de placas

113 Sinteticamente pode-se dizer que para a acção de reciclagem existem dois tipos de plástico: os termo-estáveis, que, por não admitirem

mudanças de forma, têm de ser triturados para se aglomerarem de seguida; e os termo-plásticos, que se fundem e moldam-se com através do

calor

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98

acústicas compostas a partir da junção de espuma de poliuretano triturado ou os tabuleiros

fabricados a partir da trituração e prensa de todo o tipo de plásticos sem recurso a colas e

adesivos e, que no fim, ainda possuem uma boa eficiência em relação à humidade.

Segundo o arquitecto Vitor Varão, nas II Jornadas da Quercos, em 2010, as garrafas de

plástico, podem ser usadas no enchimento ou aligeiramento de lajes, ou na construção de

paredes. Não são uma opção para paredes estruturais, mas sim como preenchimento entre

vigas e pilares. Para proporcionar alguma resistência, podem encher-se com areia. Para um

metro quadrado de parede, usando garrafas de um litro e meio, são necessárias entre 80 e 100

garrafas. Uma vez feita a parede de garrafas de plástico, atam-se com corda sisal ou arame,

revestindo a parede com qualquer um dos materiais de revestimento.

Trata-se de uma utilização criativa de materiais recicláveis e o acesso à habitação de pessoas

com baixos rendimentos.

Figura 36 – Exemplo de aplicação de garrafas de plástico, no enchimento de uma parede

Page 116: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

99

4.2.12. Vernizes e Pinturas

Até recentemente, para os poder fabricar era necessário gastar grandes quantidades de energia

e matérias-primas provenientes do petróleo, metais pesados para fazer os pigmentos e emissão

de substâncias tóxicas para a atmosfera durante a sua produção e aplicação, o que propiciava

uma avaliação ambiental sempre negativa.

No entanto, tem surgido no mercado, uma nova gama de vernizes e pinturas que são feitos a

partir de materiais renováveis e não contêm os efeitos tóxicos dos anteriores. Fabricados a

partir de azeites e resinas vegetais como a madeira, a linhaça, o tung e a colofónia,

dispensando-se assim os derivados do petróleo que eram anteriormente os seus dissolventes

orgânicos, os pigmentos são feitos a partir de óxidos de metais e minerais.

Estes vernizes e pinturas naturais têm bons efeitos em diversos tipos de materiais, sejam eles

o betão, a madeira, a cortiça e a cerâmica e a sua qualidade de acabamento e duração é similar

à dos produtos sintéticos. Mesmo os diluentes que se utilizam com estes produtos surgem

também feitos a partir de substâncias de origem natural como extractos de cascas de frutos

cítricos destilados e azeites balsâmicos.

A sua utilização reduz assim o impacto ambiental, uma vez que no seu fabrico utilizam-se

quantidades energéticas mínimas, todos os seus resíduos são biodegradáveis e a libertação de

gases tóxicos para o ar é muito menor que os produtos sintéticos.

4.2.13.Vidro

É um material feito a partir de areia, soda, pedra calcária e outras substâncias e a fusão destes

materiais lança para a atmosfera inúmeras quantidades de CO².

Este material, quando recolhido separadamente em relação a outros materiais é facilmente

reciclado114

, no entanto no sector da construção a sua reciclagem é condicionada pela

dificuldade que existe em separa-lo dos outros materiais, fazendo com que o vidro se

114 Por cada quilograma de vidro reciclado poupa-se 1,2 quilogramas de matéria-prima do planeta

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100

transforme imediatamente num resíduo. Só no continente europeu cada ano é gerado cerca de

1,2 milhões de toneladas de resíduo vidro provenientes do sector da construção, mais

precisamente na demolição e reabilitação de edifícios.

Assim, no processo de escolha dos vidros a utilizar no sector da construção deve-se ter em

conta a sua facilidade de separação em relação aos outros materiais para assim permitir a sua

fácil reciclagem e sobretudo evitar a acumulação de resíduos de vidro.

Figura 37 – Vidro

Page 118: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

101

Conclusão

Neste capítulo, percebemos que existem já inúmeros materiais no mercado, que respondem de

forma satisfatória aos princípios de sustentabilidade na construção de edifícios.

No território português, o melhor exemplo talvez seja a cortiça, uma vez que além de ser um

material local, permite fabricar vários tipos de material como por exemplo placas de

isolamento térmico, pavimentos e revestimentos. Tem ainda a possibilidade de ser

completamente reciclado da mesma forma que é manufacturado após a sua extracção da

árvore que o produz, permitindo assim uma poupança energética elevada.

De notar também que existem outros materiais que, apesar de poderem ser reciclados

totalmente, os gastos energéticos para a sua concepção ou reciclagem são muito elevados,

como é exemplo o aço.

Recuperando e melhorando técnicas de construção antigas em terra como são exemplo o

adobe ou a taipa, podemos obter construções feitas com a terra do próprio terreno onde o

edifício se implanta. Estes sistemas construtivos apresentam boas capacidades de resistência

quando submetidos a forças de compressão e permitem a obtenção de uma boa eficiência

térmica do edifício, a par de um melhor controlo dos níveis de humidade, acabando assim

também por ser benéficos à própria saúde humana.

Uma pesquisa realizada no New Jersey Institute of Technology (NJIT), dos Estados Unidos,

contou com a participação do professor Luiz Henrique Catalani, do Instituto de Química (IQ)

da USP, e dos pesquisadores do NJIT, Michael Jaffe, Antony East e Yi Zhang, para uma

pesquisa sobre a produção de polímeros epóxi de fontes renováveis, como a glicose.

Este estudo poderá contribuir para a criação de produtos que possam, no futuro, substituir os

derivados de petróleo.

Numa outra pesquisa realizada por Leonardo Gondim de Andrade e Silva, do Instituto de

Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), Waldir Ferro, da mesma instituição, e Hélio

Wiebeck, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, foram comparadas as

propriedades mecânicas e térmicas de poliamidas, conhecidas popularmente como náilon,

com carga de 30% de cinza de casca de arroz e com 30% de talco.

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102

As cinzas da casca do arroz mostraram em testes ter potencial para substituir o talco, um tipo

de silicato extraído de jazidas, na produção de polímeros, uma alternativa que pode diminuir o

impacto ambiental do descarte da queima do resíduo agrícola.

Os resultados do estudo foram publicados na revista Polímeros e mostram comportamento

semelhante entre os dois produtos utilizados, com potencial para a substituição do talco pela

cinza da casca de arroz, alternativa viável em processos industriais.

Esta alternativa, para já tem apenas como limitante a cor, havendo só a possibilidade de o

produto final ser usado na fabricação de produtos com a cor preta.

Na Natureza, os polímeros naturais já são escassos, como é exemplo a borracha (extraída da

seringueira), celulose, proteínas, polissacarídeos, entre outros. Há que continuar a apostar na

investigação de alternativas, pois cada vez mais, estamos rodeados de artigos feitos com

polímeros.

"O Reino dos Combustíveis Fósseis já não é mais útil, e torna-se hoje um perigo sério para

as nossas vidas e capacidade de vivermos neste planeta."

Robert Alan

Page 120: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

103

CAPÍTULO V – PROPOSTA DE UM CENTRO NÁUTICO PARA

VILA NOVA DE GAIA

Introdução

A proposta de um Centro Náutico para Vila Nova de Gaia, foi elaborada na disciplina de

Projecto III e mais tarde desenvolvida e levada ao concurso do Prémio Secil (2009) no qual o

júri atribuiu uma menção honrosa.

A realização deste projecto teve como base o tema do ano lançado aos alunos do 5º ano do

curso de arquitectura (2008/2009), que consistia em analisar as marginais durienses das

cidades do Porto e Gaia, desde a ponte do Freixo até à foz, para posteriormente propor um

projecto arquitectónico que beneficiasse a região.

Figura 38 – Praia do Areinho no Verão

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104

5.1. Enquadramento geográfico

Após o levantamento exaustivo do ordenamento deste território, tendo-se analisado não

apenas os seus aspectos urbanísticos, mas também os seus aspectos sociais, culturais e

económicos, verificou-se que este era um território com um carácter de tal modo vincado, que

o torna único no seu enquadramento nacional e até mesmo global.

Exemplo disso é a estreita relação económica, social e cultural que se estabelece entre as

cidades do Porto e Gaia desde tempos históricos, sendo o rio Douro o seu elo de ligação.

Este rio tem sido também ao longo dos tempos, um canal importante de ligação do Porto e de

Gaia à região de Trás-os-Montes, onde é produzido o famoso vinho do Porto, que em tempos

era transportado pelos barcos Rabelo até às caves de Gaia, cidade escolhida para armazenar o

vinho do Porto devido ao facto das suas encostas se encontrarem voltadas para Norte,

permitindo que as caves se mantenham húmidas e frias.

Já a cidade do Porto detinha os comerciantes e a actividade administrativa com poder para

negociar a exportação do vinho, pelo que o Porto contribuiu com o seu nome para a formação

e divulgação deste produto de referência internacional, sendo o produto que mais dá a

conhecer a região duriense ao mundo.

Com este breve exemplo, verificamos existir uma relação interdependente ancestral entre as

duas cidades e as regiões a montante do Douro, formando um todo harmonioso com

potencialidade turística e cultural que é cada vez mais explorado para o desenvolvimento

económico da região.

Verifica-se agora no século XIX a intensificação das actividades fluviais pela bacia

hidrográfica do Douro, como o crescente aumento de praticantes de desportos como a vela, a

canoagem, etc. e os percursos turísticos em barcos Rabelo ou outros barcos de maior porte,

que fazem a ligação entre Trás-os-Montes e o Douro litoral.

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

105

Figura 39 – Planta de Localização da Proposta de Intervenção

LEGENDA:

1 – PATAMARES DE ACESSO À PRAIA FLUVIAL 12 – HABITAÇÃO

2 – COMÉRCIO LOCAL 13 – AGÊNCIA DE VIAGENS DO DOURO / ALFÂNDEGA / POLÍCIA MARÍTIMA / BUSCA-SALVAMENTO MARÍTIMO / POSTO-

SOCORRO / POSTO BANCÁRIO

3 – HABITAÇÃO 14 – ESPELHO DE ÁGUA COM CASCATA

4 – RESTAURANTE / ESPLANADA DA PRAIA FLUVIAL 15 – CLUBE DE VELA

5 – COMÉRCIO LOCAL 16 – ACESSOS VERTICAIS AO ESTACIONAMENTO SUBTERRÂNEO

6 – HABITAÇÃO 17 – COMÉRCIO DE ARTIGOS DE ACTIVIDADES NÁUTICAS

7 – CENTRO DE CONTROLO METEOROLÓGICO E DAS MARÉS 18 – ACESSOS VERTICAIS AO ESTACIONAMENTO SUBTERRÂNEO

8 – COMÉRCIO LOCAL 19 – CAFÉ / ESPLANADA

9 – HABITAÇÃO 20 – EQUIPAMENTO DE MANUTENÇÃO DA MARINA

10 – ESCOLA NÁUTICA 21 – MIRANTE / FAROL / SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS / RESTAURANTE DO RIO

11 – COMÉRCIO LOCAL

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

106

Figura 40 – Planta de Localização da praia do Areinho

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107

Devido ao aumento progressivo das actividades fluviais no Douro, tem sido necessário

investir na construção de infra-estruturas que permitam a atracagem e manutenção dos barcos

que aqui navegam. Os locais onde estes barcos atracam, têm ainda necessidade de ser dotados

de equipamentos para acolher os turistas e navegadores, como acontece por exemplo no Cais

de Gaia, recentemente construído e, que em paralelo com a ribeira do Porto, fazem deste, um

dos pontos de ócio preferidos dos turistas e dos próprios habitantes da região. Apesar destes

investimentos, há ainda muito a explorar no rio, de forma a valorizá-lo e a tirar maior proveito

das suas potencialidades turísticas e culturais.

Verificou-se que na marginal de Vila Nova de Gaia, a praia fluvial do Areinho era detentora

de grande potencialidade para ser alvo de um projecto de requalificação que valorizasse não

só esta parte do rio, como também permitisse a atracagem de novos barcos.

A praia do Areinho situa-se na margem esquerda do rio Douro entre a Ponte do Freixo e a

Ponte de São João, ambas dos anos 90, sendo que a primeira é rodoviária e faz parte da Via de

Cintura Interna do Porto e de Gaia, já a segunda é apenas ferroviária e permite a ligação dos

comboios entre Porto e Lisboa.

Quem percorre estas pontes ou quem se encontra entre elas na marginal portuense,

percepciona que a zona da praia do Areinho carece de uma intervenção de valorização, uma

vez que possui um aspecto de abandono. No entanto, é também de notar que, apesar de se

encontrar do lado de Gaia, devido ao leve declive do terreno, é uma zona privilegiada em

termos de exposição solar, atraindo inúmeros veraneantes na estação quente. Por estes

motivos e por se verificar a carência de infra-estruturas que tornem esta uma zona bastante

mais atractiva, é proposto um projecto para a sua requalificação, dotando-a de um centro

náutico que contenha uma marina que permita a atracagem dos grandes barcos de recreio que

percorrem o rio Douro e que nesta região não contêm ainda os locais mais apropriados para o

efeito, sendo que a sua atracagem se encontra improvisada em vários pontos da marginal do

Douro.

Uma vez que a marginal se encontra relativamente descaracterizada, optou-se por redesenhá-

la com uma forma mais serpenteada, de forma a proporcionar-lhe alguma elegância.

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

108

Consegue-se assim implantar o equipamento de uma forma pouco agressiva. Consegue-se

desta forma também aumentar um pouco a área da praia.

5.2. Implantação e linguagem arquitectónica

Após a definição do local para projectar o centro náutico, as ideias gerais de implantação

deste equipamento tiveram em consideração os aspectos do território envolvente.

Destacam-se as seguintes contingências geográficas:

- Em primeiro lugar, a sinuosidade do rio Douro nesta zona e o respectivo areal da praia do

Areinho que devia ser mantido e até expandido se possível;

- A grande escala das pontes que ligam as duas margens do rio Douro, uma vez que com esta

infra-estrutura se pretende fazer aqui a principal marina do rio a sua escala será também

grande, sendo por isso importante ter em conta que relação poderá existir entre esta nova

infra-estrutura e as pontes já existentes;

- A ligação da via marginal que deste lado da marginal de Gaia se encontra interrompida e a

respectiva articulação com a Rua do Areinho que confluiria com esta;

- A disposição orgânica e dispersa do edificado preexistente, sendo necessário estudar uma

forma de implantação que consiga agarrar este edificado, para que o novo equipamento se

adapte e valorize o território sem que se imponha sobre o mesmo;

- O programa do centro náutico, a escala dos cais de atracagem para os barcos que se pretende

acolher e os bares e outros equipamentos de apoio;

- A valorização da praia, de maneira a fazer desta, uma zona potencialmente atractiva ao nível

turístico.

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109

Figura 41 – Fotomontagem de vista aérea da proposta de intervenção

Assim, por forma a valorizar o principal elemento turístico atractivo actual da região a

implantação do equipamento foi projectada uns metros a jusante do areal, permitindo a sua

expansão até sob o clube náutico.

A implantação deste projecto divide-se assim em duas partes principais: a montante do rio

encontram-se os volumes que vão acolher o clube náutico e o respectivo programa de apoio e

a jusante encontra-se a marina. Para proporcionar um melhor enquadramento da proposta

houve a necessidade de intervir no lado Sul da rua marginal de maneira a que o clube náutico

e a marina não se encontrem desgarrados do território em terra que imediatamente os envolve,

fazendo-se aqui uma área habitacional.

Optou-se por um programa multifacetado, de forma a poder oferecer usufruto aos utilizadores

da praia e não destinar-se apenas aos praticantes das actividades náuticas.

Esta infra-estrutura é ainda dotada de locais de ócio público, como bares, restaurantes e lojas

para apoiar não só a actividade turística duriense, como também dinamizar o local e servir de

apoio aos frequentadores da praia do Areinho.

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

110

Em toda a proposta trabalhou-se o espaço público, criando espaços verdes e contemplativos.

Por baixo da plataforma principal, encontra-se o estacionamento de apoio ao centro náutico.

Os acessos a esse estacionamento fazem-se em 2 momentos: a poente e a nascente.

Para se conseguir criar mais relações com a pré-existência, expandiu-se a intervenção em

direcção a sul, com a criação de edifícios de habitação intercalados com edifícios de comércio

de apoio às habitações. Desta forma, com a criação de comércio tradicional, evita-se que as

pessoas se desloquem da zona para grandes superfícies, a fim de efectuar as compras do dia-a-

dia.

Criaram-se alguns equipamentos que geram economia e postos de emprego, de forma a ser

uma infra-estrutura um pouco auto-suficiente.

Figura 42 – Vista da proposta e sua relação com o rio Douro

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111

Figura 43 – Fotomontagem de vista aérea da proposta de intervenção

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

112

Tendo em conta o ritmo das águas do rio, o clube náutico é composto por sete volumes

platónicos paralelos e com iguais distâncias entre si. Estes encontram-se precisamente entre a

terra e o rio, assinalando um gesto forte nesta parte do rio Douro.

Estes volumes encontram-se penetrados por um percurso ciclo-viário, feito através de uma

ponte que começa junto à praia e termina no topo da marina, a jusante do rio, sendo aqui

rematado por um edifício vertical que funcionará como farol, mirante, restaurante, bar e

serviços administrativos.

A escala deste percurso pedonal tem em conta não apenas o porte dos barcos que pretende

atracar, como também a escala das pontes que aqui se encontram, sendo um gesto forte que

sem receio altera e redesenha a paisagem desta parte do rio Douro.

Desta forma, apesar da grande escala do equipamento, o mesmo integra-se na paisagem e não

se impõe, complementando-a e valorizando-a, funcionando como um elemento de charneira

entre os elementos naturais que são o rio, o areal e a marginal.

Uma vez que o projecto do centro náutico não pretende apenas servir de apoio às actividades

fluviais, o programa do equipamento é multifacetado por forma a acolher os turistas da praia

do Areinho no Verão e dinamizar turística e culturalmente a região durante a restante época do

ano, valorizando assim as actividades sazonais para as quais a zona tem potencial.

O estudo do percurso da marginal é um ponto fundamental para a integração deste projecto na

região. Este percurso, naturalmente de forte relação com o rio Douro e a paisagem que se

obtém sobre a cidade do Porto, é formado por: passeio, estacionamento, via automóvel de dois

sentidos, passeio e ciclo-via, esta última contígua ao rio.

De maneira a não quebrar este ritmo e para que quem percorra este percurso não perca a

relação com o rio devido à implantação deste equipamento efectuou-se o prolongamento do

percurso pedonal e ciclo-viário contíguo ao rio pelo interior do próprio clube náutico, desta

forma quem percorre a marginal nesta zona passa directamente pelo interior dos vários

volumes do clube náutico, dando a conhecer novos ambientes e actividades que podem ser

efectuadas durante o percurso pedonal.

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113

A área habitacional que se encontra implantada apenas na parte de terra do outro lado da rua

em relação ao clube náutico, é formada por volumes também platónicos de escala similar à

dos volumes do clube náutico, no entanto são mais altos e dispõe-se de forma intercalada com

os volumes do clube náutico.

Para criar maiores relações com as preexistências, os edifícios habitacionais encontram-se

ainda intercalados com edifícios de comércio, mais pequenos, valorizando e atraindo para

aqui o comércio tradicional que prolifera nas marginais durienses, e são muito utilizados pelas

populações locais a fim de evitar o deslocamento às grandes superfícies para efectuar as

compras do dia-a-dia.

O espaço público foi trabalhado de modo a incorporar áreas verdes e contemplativas e a ter

área suficiente para o ajuntamento de uma vasta quantidade de pessoas como turistas,

veraneantes, desportistas entre outras.

Figura 44 – Vista do aglomerado de habitação, de comércio e de serviços

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

114

As áreas verdes foram desenhadas como sendo o negativo dos volumes habitacionais

projectados para a parte Sul e sob a plataforma principal do espaço público encontra-se o

estacionamento do centro náutico ao qual se acede pelos topos poente e nascente.

A imagem arquitectónica é o resultado da relação entre duas contingências diferentes: o rio e a

terra. Verificando-se que o espaço público e os volumes encontram-se relacionados de forma

entrelaçada, transmitindo a ideia de deslocação dos volumes para o rio, no entanto a

colocação dos volumes habitacionais na parte Sul reforça a ideia dos volumes se encontrarem

ligados em primeiro lugar à terra, apesar dos grandes vãos suspensos sobre o Douro.

Os alçados contêm também uma linguagem entrelaçada, numa alternância de volumes de

forma rítmica que acabam por proporcionar um novo dinamismo à região, destacando-a não

apenas pelo programa náutico e apoio à praia do Areinho como também pela linguagem da

nova infra-estrutura.

Figura 45 – Vista dos perfis tubulares que fazem a composição dos alçados

A linguagem arquitectónica utilizada, caracteriza-se pela forte relação que a proposta tem com

o lugar, tirando partido da paisagem e fazendo com que esta se valorize devido a esta

intervenção. Para isso, os volumes abrem-se ao exterior, sendo cada um deles como que uma

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115

caixa formada por dois planos horizontais: pavimento e cobertura e pontualmente planos

verticais que suportam os horizontais, obtendo-se grandes vãos envidraçados laje a laje,

ligados por estruturas metálicas tubulares de secção circular, umas verticais e outras

inclinadas, dispostas através de um padrão repetitivo.

Esta estrutura tubular, permite obter ambiências internas particulares, derivadas da métrica

orgânica e rítmica utilizada, que em conjunto com a paisagem envolvente propicia um

ambiente de características atractivas e acolhedoras, uma vez que apesar dos grandes

envidraçados que expõe no exterior os acontecimentos internos as canas atenuam e dificultam

essa visualização directa.

Os espaços tornam-se mais sensuais para quem se encontra no interior que vê para fora e para

quem de fora vê para dentro, que não tem a percepção nítida de tudo. Estes tubos preenchem

ainda os alçados da pala que penetra todos os volumes do clube náutico, servindo de estrutura

e de acompanhamento do percurso que contém momentos onde a cana deixa de existir por

forma a permitir a entrada ou saída de pessoas.

Para suportar os grandes balanços dos volumes e o percurso ciclo-viário sobre o rio poder-se-

ia utilizar uma estrutura similar, fazendo deste o elemento estrutural principal do projecto,

conferindo-lhe uma linguagem invulgar na região.

Figura 46 – Zona Pública

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

116

5.3. Programa

Analisando a parte do clube náutico de montante para jusante do rio, encontramos em

primeiro lugar os patamares que ligam a praia do Areinho ao percurso ciclo-viário. Seguindo

por este percurso, acedemos ao primeiro dos sete volumes suspensos.

Este volume, por ser o mais perto do areal, encontrando-se sobre o mesmo, destina-se a ser

usado pelos banhistas, contendo assim um balneário público e um local para nadadores

salvadores.

O volume seguinte contém um centro de controlo meteorológico e das marés. A seguir, o

terceiro volume acolhe uma escola náutica, que tem como objectivo dar formação aos

utilizadores do rio e do mar, em especial na arte de velejar como também no uso e

manutenção dos equipamentos referentes a esta actividade.

Figura 47 – Interior de uma sala de estar de um equipamento público

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117

O volume seguinte encontra-se no fim do areal, fazendo assim a transição entre a areia e o rio

e a sua dimensão permite acolher uma agência de viagens do Douro, uma alfândega, a polícia

marítima, busca e salvamento marítimo, um posto de socorro e um posto bancário/ câmbio.

Contendo um carácter privado sob este volume encontra-se o acesso a um pequeno cais que

serve para uso exclusivo da agência e atracagem de barcos que fazem os cruzeiros durienses.

Continuando pelo percurso ciclo-viário vemos um espelho de água entre a marginal e o rio e

encontramos o quinto volume que acolhe o clube de vela, que poderá incluir ainda actividades

de canoagem e optimists.

O penúltimo volume acolhe várias lojas que poderão vender artigos relacionados com as

actividades náuticas, havendo para isso espaços amplos por forma a poder-se manipular os

utensílios em espaços com as condições apropriadas.

Por fim, o sétimo volume acolhe um café com esplanada, encontrando-se aqui a confluência

entre o percurso ciclo-viário, a rua e o acesso ao cais principal da marina.

Figura 48 – Relação do espelho de água com o rio, que se envolve com a infra-estrutura

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

118

Seguindo pelo percurso que nos conduz à marina, deparamo-nos com um desnível no

percurso que baixa até aos níveis da água do rio.

Percorrendo este percurso, encontramos primeiro um local para a manutenção da marina e de

seguida o cais de atracagem dos barcos de menor porte devidamente protegidos das marés por

um paredão extenso que é rematado por um volume vertical que contém um restaurante com

vistas privilegiadas sobre o rio, um mirante e farol e os serviços administrativos.

Os edifícios habitacionais contêm 3 pisos, o rés-do-chão contém a garagem e os seguintes, as

habitações. A articulação interna dos espaços habitacionais é condicionada pela métrica rígida

dos alçados que é formada por uma alternância entre varandas protegidas por tubos de secção

circular e por envidraçados laje a laje, não se notando planos que preencham as paredes

exteriores.

Para a unidade de habitação padrão, os alçados longitudinais subdividem-se em duas varandas

e dois envidraçados que se intercalam, encontrando-se no topo exterior a sala de estar.

A sala de jantar encontra-se imediatamente no módulo a seguir, que se subdivide a meio para

acolher também a cozinha. A seguir, no terceiro módulo encontram-se as instalações sanitárias

e por fim no outro topo encontra-se um quarto.

Figura 49 – Interior da cozinha e da sala da tipologia

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119

Figura 50 – Vista aérea da tipologia

A separar as habitações existem os acessos verticais, compostos por elevadores e escadas que

se ligam às garagens. O espaço exterior é semiprivado, encontrando-se a uma cota superior à

rua por forma a atribuir maior privacidade aos habitantes destes edifícios.

Entre os edifícios habitacionais encontram-se pequenos volumes cuja altura resulta do

prolongamento da cota alta do espaço exterior semiprivado. Estes edifícios encontram-se

projectados para acolher comércio tradicional.

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Figura 51 – Planta da Cave

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121

Figura 52 – Planta do Piso da Tipologia T1

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122

Figura 53 – Planta da Cobertura

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123

Figura 54 – Corte AA’

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124

Figura 55 – Corte BB’

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125

Figura 56 - Alçado

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126

Figura 57 - Alçado

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

127

5.4. Materialidades

Ao nível dos materiais, mostraremos primeiro as escolhas efectuadas para o projecto, para a

partir daí fazermos uma análise do impacto ambiental que a escolha destes materiais

propiciaria.

De seguida, utilizaremos outros materiais para que esta intervenção tivesse um impacto

ambiental, o mais reduzido possível, sem que se perca a linguagem arquitectónica que se

pretende transmitir, assim como o respectivo programa.

Como vimos anteriormente, o material de maior destaque utilizado, são as canas que

preenchem grande parte dos alçados.

Resumidamente, os volumes que integram esta proposta, compõe-se por laje para o

pavimento, tubos metálicos para os alçados e novamente laje para a cobertura ou, como no

caso dos edifícios habitacionais, laje de tecto e pavimento do piso superior.

As lajes do rés-do-chão encontram-se projectadas de forma convencional, contendo um

acabamento final que normalmente é o parquet flutuante assente sobre uma camada de

geotêxtil.

O estrato resistente onde assenta, é em betonilha afagada sobre uma camada de betão armado.

Nas lajes entre pisos, como acontece nos edifícios habitacionais, o estrato resistente é em

betão armado, sobre o qual se colocou aglomerado de cortiça expandida na qual assenta o

acabamento final, que na maioria dos compartimentos é novamente o parquet flutuante.

Quando a laje faz de varanda, colocou-se betão aparente sobre o aglomerado de cortiça

expandida. Sob o estrato resistente, encontra-se o gesso cartonado ou o reboco sintético

armado quando a laje é exterior.

Ao nível dos alçados, as paredes exteriores contêm um estrato resistente em betão armado,

sendo revestidas exteriormente a placas de isolamento térmico em poliestireno expandido com

acabamento final em reboco sintético armado.

O interior é em gesso cartonado.

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128

Grande parte dos alçados contêm grandes vãos envidraçados de altura laje a laje, a caixilharia

é em alumínio e suporta vidros duplos. No exterior, encontram-se os tubos de aço de secção

circular que são também estruturais.

A cobertura consiste também num plano, cujo estrato resistente é em betão armado, contendo

no interior gesso cartonado e no exterior acabamento final em zinco sobre placas de

isolamento térmico em poliestireno expandido, tela de barreira ao vapor e camada de forma,

encontrando-se de seguida o estrato resistente em betão armado.

Figura 58 – Pormenor Construtivo

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

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Figura 59 – Pormenor Construtivo

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Figura 60 – Pormenores Construtivos

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

131

CAPÍTULO VI – CONCLUSÃO

Introdução

Neste capítulo, foi feita uma síntese dos materiais estudados e o seu ciclo de vida.

Estabeleceu-se um critério para determinar quais seriam as matérias-primas ou produtos mais

sustentáveis e menos sustentáveis.

De acordo com a pesquisa que foi efectuada no capítulo IV, fez-se uma distinção entre o que

seria considerado matéria-prima e produto.

Desta forma, conseguimos ter maior rigor na análise dos materiais.

Em primeiro lugar, pressupôs-se que os materiais seriam extraídos da mesma zona. Depois,

estipulou-se que os que tivessem três ou mais ciclos de vida, seriam mais sustentáveis.

Posteriormente, para se poder criar uma hierarquia e para ir reduzindo o grau de

sustentabilidade, definiram-se os que tinham menor energia incorporada.

Continuando a dar uma melhor definição nos critérios, depois escolheram-se os que gastam

mais energia e finalmente os que têm um menor ciclo de vida.

Desta forma, atribuiu-se uma cor para definir um grau de sustentabilidade, sendo o verde um

bom nível de sustentabilidade e o amarelo um médio nível de sustentabilidade.

Seguidamente, foi feita uma comparação entre os materiais utilizados no caso prático e os que

poderiam ter sido utilizados como alternativa, para se tornar uma proposta mais sustentável.

Para isso, foram utilizados modelos tridimensionais e tabelas que nos ajudam a comparar de

uma forma expedita os materiais.

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

132

6.1. Ciclo de Vida dos Materiais

CICLOS DE VIDA DA MATÉRIA-PRIMA

MATÉRIA-PRIMA

VID

A Ú

TIL

(AN

OS)

1.º CICLO DE VIDA 2.º CICLO DE VIDA

3.º OU MAIS CICLOS DE VIDA

GR

AU

DE

SUST

ENTA

BIL

IDA

DE

EXTRACÇÃO/ PRODUÇÃO

ENERGIA INCORPORADA (MJ/KG)

RECICLAGEM

ENERGIA

(MJ/KG)

EMISSÃO DE CO2

(KGCO2/KG)

ENERGIA

(MJ/KG)

EMISSÃO DE CO2

(KGCO2/KG) TIPO DE USO

ADOBE /TAIPA /

TERRA 60

0.43 (85% DA ENERGIA

INCORPORADA) 0 0.5 (1)

0.43 (85% DA ENERGIA INCORPORADA)

0 NOVA CONSTRUÇÃO OU DEVOLVIDO À TERRA INFINITAMENTE

AREIA 60 1 (1) 0.05 (1) 1.15 (1) 5 (1) 0.10 (1) AGREGADOS FIM DE CICLO

BAMBU 30 0.10 (85% DA

ENERGIA INCORPORADA)

0 (8) 0.12 (7) 0 0 DECORAÇÃO, ESTRUTURAS FIM DE CICLO

CORTIÇA 30 3.00 (1) 0.18 (1) 4.00 (2) 3.00 (1) 0.18 (1) AGLOMERADO DE CORTIÇA INFINITAMENTE

FARDOS DE PALHA 60 0.20 (85% DA

ENERGIA INCORPORADA)

0.01 (5) 0.24 (4) N/A N/A FERTILIZANTE, DEVOLVIDO À TERRA FIM DE CICLO

MADEIRA 30 21.00 (1) 0.21 (1) 8.50 (2) 15.00 (2) 0.81 (2) CONTRAPLACADO COMBUSTÍVEL PARA PRODUÇÃO DE ENERGIA

(1) BERGE (2) HAMMOND E JONES (3) REDDY E JAGADISH (4) WELLINGTON (5) ALCORN (6) REDDY E JAGADISH (7) http://abari.org/bamboohousing

(8) http://bambus.rwth-aachen.de/eng/reports/zeri/englisch/referat-eng.html

BOM NÍVEL DE SUSTENTABILIDADE MÉDIO NÍVEL DE SUSTENTABILIDADE

Page 150: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

133

CICLOS DE VIDA DOS PRODUTOS

PRODUTO

VID

A Ú

TIL

(AN

OS)

1.º CICLO DE VIDA 2.º CICLO DE VIDA

3.º OU MAIS CICLOS DE VIDA

GR

AU

DE

SUST

ENTA

BIL

IDA

DE

EXTRACÇÃO/ PRODUÇÃO

ENERGIA INCORPORADA (MJ/KG)

RECICLAGEM

ENERGIA

(MJ/KG)

EMISSÃO DE CO2

(KGCO2/KG)

ENERGIA

(MJ/KG)

EMISSÃO DE CO2

(KGCO2/KG) TIPO DE USO

AÇO 30 25.00 (1) 0.66 (1) 35.30 (2) 9.00 (1) 0.30 (1) AÇO, LATAS INFINITAMENTE

ALUMÍNIO 30 185.30 (85% DA

ENERGIA INCORPORADA)

24.48 (85% DA ENERGIA

INCORPORADA) 218.00 (2) 28.8 (2) 1.69 (2) ALUMÍNIO INFINITAMENTE

BETÃO (MISTURA DE AREIA, ETC.)

90 1.50 (1) 0.50 (1) 0.95 (2) 5 (1) 0.10 (1) AGREGADOS DE BETÃO FIM DE CICLO

CERÂMICA 30 8.00 (1) 0.17 (1) 10.0 (2) 8.00 (1) 0.17 (1) CERÂMICA INFINITAMENTE

GESSO 60 1.8 (2) 0.12 (2) 4.5 (4) 6.75 (2) 0.38 (2) PLACAS DE GESSO INFINITAMENTE

PNEUS 15 86.45 (85% DA

ENERGIA INCORPORADA)

3.18 (2) 101.70 (2) 0 0 MUROS DE SUPORTE INFINITAMENTE

POLÍMEROS 15 44.9 (2) 2.41 (2) 80.50 (2) 35.6 (2) 1.12 (2) PLÁSTICO, PETRÓLEO, ENERGIA DEPENDENDO DO TIPO DE PLÁSTICO PODE SER

RECICLADO PARA O MESMO FIM OU ENTÃO INCINERADO PARA PRODUZIR ENERGIA

VERNIZES E PINTURAS

15 57.80 (85% DA

ENERGIA INCORPORADA)

3.56 (2) 68.0 (2) N/A N/A N/A N/A

VIDRO 15 12.00 (1) 0.21 (1) 15.00 (2) 12.00 (1) 0.21 (1) VIDRO INFINITAMENTE

(1) BERGE (2) HAMMOND E JONES (3) REDDY E JAGADISH (4) WELLINGTON (5) ALCORN (6) REDDY E JAGADISH (7) http://abari.org/bamboohousing

(8) http://bambus.rwth-aachen.de/eng/reports/zeri/englisch/referat-eng.html

BOM NÍVEL DE SUSTENTABILIDADE MÉDIO NÍVEL DE SUSTENTABILIDADE

Page 151: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - DIANA NOVO

O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

134

6.1. Materiais Usados

PAREDES INTERIORES:

TIJOLO FURADO CERÂMICO / GESSO CARTONADO

LAJES:

BETÃO ARMADO

TUBOS:

PERFIS TUBULARES EM AÇO

CAIXILHARIAS:

ALUMÍNIO

COBERTURA:

BETÃO ARMADO

PILARES E VIGAS:

BETÃO ARMADO

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

135

6.2. Materiais Sugeridos

PAREDES INTERIORES:

TAIPA DE FASQUIO

LAJES:

MADEIRA COM CAMADA DE ADOBE

TUBOS:

CANAS DE BAMBU

CAIXILHARIAS:

MADEIRA COM VIDRO RECICLADO

COBERTURA:

COBERTURA PLANA EM MADEIRA, COM REVESTIMENTO EM ADOBE

PILARES E VIGAS:

MADEIRA

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136

MATERIAL UTILIZADO

-

MATERIAL SUGERIDO V

IDA

ÚTI

L (A

NO

S)

1.º CICLO DE VIDA

EXTRACÇÃO/ PRODUÇÃO

ENERGIA INCORPORADA (MJ/KG) ENERGIA

(MJ/KG)

EMISSÃO DE CO2

(KGCO2/KG) TIPO DE USO

AÇO 30 25.00 0.66 PERFIS TUBULARES NOS ALÇADOS

35.30

BAMBU 30 0.10 0 0.12

ALUMÍNIO 30 185.30 (85% DA ENERGIA

INCORPORADA) 24.48 (85% DA ENERGIA

INCORPORADA) CAIXILHARIAS

PILARES E VIGAS

218.00

MADEIRA 30 21.00 (1) 0.21 (1) 8.50

GESSO 60 1.8 (2) 0.12 (2) PAREDES INTERIORES

LAJES

COBERTURA

4.5

BETÃO 90 1.50 (1) 0.95 (2) 0.50

ADOBE / TAIPA 60 0.43 (85% DA ENERGIA INCORPORADA) 0 0.5

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

137

Conclusão

Após ter-se feito uma recolha de informação, no que diz respeito às características dos

materiais, desde a sua vida útil, a quantidade de ciclos de vida que têm, a energia, a emissão

de CO2 e ter-se atribuído um grau de sustentabilidade, chegou-se à conclusão que uma

possibilidade de tornar o edifício mais sustentável, seria aplicar outro tipo de materiais.

Nas paredes interiores optou-se por trocar o gesso cartonado por taipa de fasquio.

Nas caixilharias, optou-se por trocar o alumínio pela madeira com vidro reciclado.

Em vez de utilizar lajes em betão, escolheu-se utilizar madeira com camada de adobe.

A cobertura pode ser plana em madeira, com revestimento em adobe, em vez de ser em betão

armado.

Nos perfis que fazem a composição dos alçados, optou-se por substituir os perfis de aço, por

canas de bambu.

A nível de canalizações e infra-estruturas, verificou-se uma lacuna no actual mercado. É uma

área que é importante vir a estudar, para que os edifícios também se tornem mais sustentáveis.

De uma forma expedita, consegue-se facilmente alterar a composição de um edifício, sem o

desprover de qualidades arquitectónicas a nível de imagem e conforto.

Isso possibilita um grande contributo para o nosso meio ambiente.

Vale a pena apostar na investigação e qualificação de profissionais para poderem utilizar de

uma forma correcta, estes materiais e saberem aplicar as técnicas na construção.

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

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CONCLUSÃO FINAL

O nosso planeta sempre primou pela diversidade e por nos surpreender com as soluções mais

inimagináveis.

A Arquitectura Sustentável, pelo facto de propor uma construção com soluções específicas a

cada situação, é um desafio à criatividade de toda a comunidade.

Com o crescimento da população e aumento das suas exigências a nível de conforto, a

implantação de soluções sustentáveis é premente e inevitável.

O desafio principal ao avanço desta área é nitidamente cultural e organizacional, associado à

consciência ambiental da sociedade e não meramente a questões tecnológicas como muitas

pessoas crêem.

Diversas tecnologias ambientais já atingiram um nível de maturidade que as tornam

economicamente viáveis, visto que apesar de representarem um investimento inicial mais

elevado, têm a contrapartida de um custo operacional praticamente nulo.

Um esquentador será certamente mais barato do que um painel solar, mas o gás consumido

pelo primeiro será um custo para o consumidor durante toda a vida útil do mesmo, enquanto o

sol utilizado pelo painel é uma energia absolutamente gratuita e disponível sem preocupações

para a humanidade durante os próximos milhões de anos.

Tem-se consciência que já é possível substituir materiais não sustentáveis por outros

entendidos como sustentáveis, não obstante ainda não existir investigação e testes para

conseguir desenvolver materiais sustentáveis com as mesmas características mecânicas de

forma a formarem-se verdadeiras alternativas aos materiais de construção utilizados.

Outros factores de relevo impeditivos de um maior crescimento da área da arquitectura

sustentável, prendem-se com a falta de pessoal qualificado e mecanismos de suporte

financeiro à inovação.

Não só existe falta de qualificação, como o percurso a seguir pelas pessoas qualificadas que

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FACULDADE DE ARQUITECTURA E ARTES

140

pretendem promover esta área é bastante dificultado pela inexistência de mecanismos

adequados.

Não há materiais bons ou maus, materiais sustentáveis ou insustentáveis. Existem formas

insustentáveis de os utilizar (como a maioria dos casos na actualidade) e formas de os usar de

forma sustentável, que são as do futuro.

Existem categorias de encerramento do ciclo que devem aproveitar as oportunidades que cada

material oferece e elaborar os produtos utilizando essas estratégias.

O encerramento dos ciclos materiais, a reconversão dos resíduos de novo em recursos, é uma

necessidade do nosso sistema técnico para enfrentar o desafio da sustentabilidade.

Para o fazer, podemos usar materiais renováveis e gerir o encerramento de ciclos através da

biosfera, ou utilizar materiais não renováveis e mudá-los dentro do ciclo técnico.

Em ambos os casos, as estratégias de futuro passam por encontrar quais são as opções mais

adequadas neste caso.

Na realidade, apenas depende de nós deixar de estar no centro do problema para passar a fazer

parte da solução.

“Devemos voltar a pensar a Sociedade não contra a Natureza, mas com ela; e a Natureza

como sendo - ela mesma - um sujeito dotado de Humanidade”

Antropólogo Roberto DaMatta

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

141

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

143

CRÉDITOS DAS IMAGENS

Figura 1 – Fragmento do aglomerado populacional de Vila Nova de Gaia

<http://static.panoramio.com/photos/original/22311193.jpg>, 13/06/2011, 13:50h

Figura 2 – Poluição que afecta a qualidade do ar ao nível global

<http://www.ma.gov.br/maranhaoemalerta/images/stories/poluio.jpg >, 13/06/2011, 13:55h

Figura 3 – Complexo Habitat 67, Canadá

<http://2.bp.blogspot.com/_KBJUgVyVbTg/TKP4c3-

JyhI/AAAAAAAAAYQ/NWyZhKxycyU/s1600/DSC_9689-montreal-habitat-67.jpg>,

13/06/2011, 13:50h

Figura 4 – Cais de Gaia, uma das zonas turísticas mais atractivas de Vila Nova de

Gaia

<http://2.bp.blogspot.com/_h434dWKta6I/TBfm_7xhnvI/AAAAAAAABJU/RNOwDxZrKdg

/s1600/IMG_0661_2.JPG>, 13/06/2011, 13:50h

Figura 5 – Vista do local de implantação do Centro Náutico, na margem esquerda

entre as duas pontes mais próximas

<http://v5.cache2.c.bigcache.googleapis.com/static.panoramio.com/photos/original/21231828.

jpg?redirect_counter=2%3E>, 14/04/2011, 11:55

Figura 6 – Jean Marie Tjibaou Cultural Center

<http://atlasobscura.com/place/jean-marie-tjibaou-cultural-center>, 13/04/2011, 18:40

Figura 7 - Pedreira e mármore tratado da empresa do Grupo Galrão Mármores e

Granitos

<http://www.galrao.com>, 13/04/2011, 14h50.

Figura 8 – Refinaria da Galp em Leça da Palmeira

<http://1.bp.blogspot.com/-

d4MieJKKYKA/TfollU1bQCI/AAAAAAAAADY/zVzEsdGDwIo/s1600/DSC_0091p.jpg >,

13/04/2011, 18:40

Figura 9 – Pavilhão de Portugal – Expo 2010, revestido a cortiça

<http://2.bp.blogspot.com/_ILf-e7qt3Ow/TNF4ANcY-zI/AAAAAAAAASo/3YJaS-hxh-

k/s1600/DSC_0194.JPG>,13/04/2011, 18:40

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144

Figura 10 – Canas de Bambu

<http://download.ultradownloads.com.br/wallpaper/56321_Papel-de-Parede-

Bambu_1400x1050.jpg

Figura 11 – Exemplo de aplicação de Bambu numa estrutura de cobertura

<João Caeiro – Construção em Bambu>

Figura 12 – Pilhas de cortiça

<http://omelhordeportugalestaaqui.files.wordpress.com/2011/06/montado-

corti25c325a7a.jpg>,13/04/2011, 18:40

Figura 13 – Crude

<http://www.crudeoiltrade.com/classified_img/DP11_18.jpg>

Figura 14 – Mineral Ferro

<http://ayaestudos.blogspot.com/>

Figura 15 – Minério de Ferro

<http://economiabaiana.com.br/wp-content/uploads/2011/04/2007111920070823Ferro-

gusa_Acailandia.jpg>

Figura 16 – Madeira

<http://www.moillusions.com/wp-

content/uploads/i207.photobucket.com/albums/bb234/vurdlak8/illusions/alastair-heseltine-

tree-cut-wood-sc.jpg>,13/04/2011, 18:40

Figura 17 – Exemplo de Construção com Critoméria Japónica

<II JORNADAS QUERCUS ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL, 2010, Materiais e

Técnicas Construtivas, Jorge Lira>

Figura 18 – Fardos de Palha

<II JORNADAS QUERCUS ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL, 2010, Materiais e

Técnicas Construtivas, Vítor Varão>

Figura 19 – Exemplo de aplicação de fardos de palha, como paredes estruturais

<II JORNADAS QUERCUS ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL, 2010, Materiais e

Técnicas Construtivas, Vítor Varão>

Figura 20 – Exemplo de aplicação de fardos de palha, aglutinados com argamassas73

<II JORNADAS QUERCUS ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL, 2010, Materiais e

Técnicas Construtivas, Vítor Varão>

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

145

Figura 21 - Mapa-mundo com indicação das zonas e elevada densidade de construção

em terra

<TORGAL, JALALI, A Sustentabilidade dos Materiais de Construção, p. 269. >

Figura 22 – Habitação unifamiliar em Beja, onde os arquitectos Bartolomeu Costa,

João Gomes e Mário Anselmo, utilizaram a terra como material principal do edifício

<http://www.betaoetaipa.pt/imgs/obras/Beja/11.jpg>, 19/04/2011, 16:50.

Figura 23 – Habitação unifamiliar em Serpa (arquitecta Maria de Luz Seixas)

<http://www.betaoetaipa.pt/imgs/obras/cantar_do_grilo/4.jpg>, 19/04/2011, 20:14.

Figura 24 – Casa em Taipa

<http://3.bp.blogspot.com/-

lhjURywT904/TZy9XrLh4bI/AAAAAAAAAAk/hktxxjIS_Rg/s1600/Casa+de+taipa.jpg>

Figura 25 – Perfis Tubulares de Aço

<http://www.sammysfarmsupply.mfbiz.com/communities/1/004/007/334/001/images/452930

2188.jpg>,13/04/2011, 18:40

Figura 26 - Tadao Ando, “Casa Koshino” em Kobe, Japão

<http://www.ignezferraz.com.br/img/dicas/arq-exp_tadao-externa.jpg>

Figura 27 – Exemplo de construção com sacos de areia

<II JORNADAS QUERCUS ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL, 2010, Materiais e

Técnicas Construtivas, Vítor Varão>

Figura 28 - Azulejos CZECH da autoria de Correia/Ragazzi arquitectos, que foram

premiados em São Francisco

<http://www.por.ulusiada.pt/Upload/Noticias/4ef09e299983a.jpg>

Figura 29 – Casa feita com Tijolo Konlix

<http://2.bp.blogspot.com/_RsfMkJDx1Ug/SUbsIqov0tI/AAAAAAAAAG8/cYtZ5WTU6vA/

s1600-h/CIMG2965.JPG>

Figura 30 – Fluxograma do Processo Konlix de Reciclagens

<http://inverde.files.wordpress.com/2009/11/processo-konlix.jpg?w=630>

Figura 31 – Pavilhão do Japão, Expo 2000 - Hannover

<http://theurbanearth.files.wordpress.com/2008/05/pavillion_int1.jpg>

Figura 32 – Cardboard Bridge, Shigeru Ban 92

<http://www.inhabitat.com/wp-content/uploads/shigerubanbridge1.jpg>

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Figura 33 – AffordableHouse

< http://www.tortoiseshellhome.com/images/Bodega6.jpg>,13/04/2011, 18:40

Figura 34 – Parede construída com pneus

<II JORNADAS QUERCUS ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL, 2010, Materiais e

Técnicas Construtivas, Vítor Varão>

Figura 35 – Plástico

<http://borrowedearth.files.wordpress.com/2008/04/plasticbottlescollected.jpg>,13/04/2011,

18:40

Figura 36 – Exemplo de aplicação de garrafas de plástico, no enchimento de uma

parede

<II JORNADAS QUERCUS ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL, 2010, Materiais e

Técnicas Construtivas, Vítor Varão>

Figura 37 – Vidro

< http://www.bridgat.com/files/toughed_glass.jpg>,13/04/2011, 18:40

Gráfico 1 – Emissões de carbono a nível mundial derivadas da produção de

energia (WEO, 2009)

<TORGAL, JALALI, A Sustentabilidade dos Materiais de Construção, p. 68. >

Gráfico 2 – Evolução da dependência energética de Portugal, segundo o Eurostat,

2007

<TORGAL, JALALI, A Sustentabilidade dos Materiais de Construção, p. 69. >

Gráfico 3 - Água absorvida por diferentes materiais quando a humidade relativa

sobe para os 80%.

<TORGAL, JALALI, A Sustentabilidade dos Materiais de Construção, p. 293. >

Gráfico 4 - Carbono incorporado em materiais para alvenarias

<MORTON. 2005.>

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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO

APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

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Tabela 1 – Tabela de Berge, 2009, sobre o consumo de matérias-primas esgotáveis

<TORGAL, JALALI, A Sustentabilidade dos Materiais de Construção, Prefácio, p.30>

Tabela 2 – Indicação da energia incorporada dos principais materiais de construção

<TORGAL, JALALI, A Sustentabilidade dos Materiais de Construção, p.74. >

Tabela 3 – Consumo de energia primária

<CONCRETA, 2009, Como Reduzir para Metade o Impacto Ambiental dos

Edifícios, Paulo Mendonça, p. 3. >

Organigrama 1 – Actividade da construção entre a Revolução Industrial e Pós-

Industrial

<CONCRETA, 2009, Como Reduzir para Metade o Impacto Ambiental dos

Edifícios, Paulo Mendonça, p. 6.>

Organigrama 2 – Impacto ambiental dos edifícios

<14. CONCRETA, 2009, Como Reduzir para Metade o Impacto Ambiental dos

Edifícios, Paulo Mendonça, p. 29 >

Organigrama 3 – Factores que condicionam a eficiência energética

<14. CONCRETA, 2009, Como Reduzir para Metade o Impacto Ambiental dos

Edifícios, Paulo Mendonça, p. 29.>

Organigrama 4 – Ciclo de vida dos materiais de construção

<19. BERGE. 1999 >

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