Dissertacao Definitivo

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    CONSTRUINDO COM TUBOS DE

    PAPELO

    UM ESTUDO DA TECNOLOGIA DESENVOLVIDA POR SHIGERU BAN

    GERUSA DE CSSIA SALADO

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo da Escolade Engenharia de So Carlos Universidade de SoPaulo, como parte dos requisitos para obteno dottulo de mestre.

    rea de concentrao:Tecnologia do Ambiente Construdo

    Orientador:Prof. Assoc. EDUVALDO PAULO SICHIERI

    So Carlos2 0 0 6

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    A estabilidade de uma construo nodepende da resistncia mecnica de

    seu material.

    Shigeru Ban

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    Dedico este trabalho

    Ao Prof Carlos Eduardo T. Packer (in memorian)por, nos ltimos anos de sua misso, ter me

    apresentado as obras arquitetnicas de ShigeruBan com tubos de papelo e ter me despertado

    o interesse por esta linha de pesquisa,

    encorajando-me at o fim,

    A todas as pessoas que valorizaram eincentivaram a minha pesquisa, por

    acreditarem e apoiarem o seudesenvolvimento.

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    GR DECIMENTOS

    Agradeo,

    FAPESP Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo, peloapoio sem o qual no seria possvel a realizao deste trabalho;

    ao meu orientador, Eduvaldo Paulo Sichieri, pela parceria, disposio e ajudaem momentos de dificuldade;

    Zelepel Indstria e Comrcio de Artefatos de Papel S/A, e em especial ao seu

    diretor-presidente Dr. Paulo Cavalcanti, por me receber em sua empresa tantas vezes,sempre disposto a ajudar, e por fornecer os tubos de papelo utilizados nesta pesquisa;

    aos funcionrios da Zelepel Indstria e Comrcio de Artefatos de Papel S/A, Sr.Aguinaldo J ac omini, Sr. Helio Pamponet Cunha Moura, J oana e Marciel, por serem toreceptivos e atenciosos, colaborando com as informaes necessrias para odesenvolvimento deste trabalho;

    aos funcionrios do Laboratrio de C onstruo C ivil da EESC-USP, Srgio Trevelin,Paulo Pratavieira e Paulo Albertini, pela dedicao e capricho na montagem eexecuo dos ensaios tcnicos realizados;

    aos funcionrios do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da EESC-USP,Marcelo Celestini, Srgio Celestini, Geraldo Pereira e Paulo Ceneviva por todo o auxlioprestado;

    s amigas Sandra Lima e Rafaelle Tiboni, pela fora e companheirismo em boaparte do tempo gasto no desenvolvimento deste trabalho;

    aos amigos Dominique Fretin, Valter Lus Caldana J r, Ivana Bedendo e MnicaJ unqueira, que sempre me incentivaram a seguir este caminho;

    minha amada famlia, minha me D. Rita, meus irmos Rigeria e Thiago, e meu

    Anjinho Ricardo, pela pacincia, compreenso, incentivo e companhia em todos osmomentos.

    Sem a participao de cada um de vocs, este trabalhono seria possvel.

    Muito obrigada!

    Gerusa Sa la d o.

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    RESUMO

    SALADO, G.C. Construindo com tubos de papelo: Um estudo da tecnologiadesenvolvida por Shigeru Ban. Dissertao (mestrado). So Carlos: Universidade de SoPaulo, Escola de Engenharia de So Carlos, 2006.

    Diante do contexto atual de grande preocupao com apreservao do meio ambiente e, ao mesmo tempo, milhares depessoas desabrigadas devido pobreza e s catstrofesambientais, surge a necessidade de se estudar materiais deconstruo alternativos, que possam contribuir para amenizaressas questes.

    Com base nisso, este trabalho enfoca o emprego de tubosde papelo na construo civil pelo arquiteto japons ShigeruBan.

    Estudou-se os sistemas construtivos criados pelo referido

    arquiteto e as caractersticas tcnicas dos tubos de papelo queeste utiliza em suas obras.

    Foram realizados alguns ensaios tcnicos preliminares paraa caracterizao de tubos de papelo fabricados por umaindstria brasileira, e tambm para se chegar concluso se suascaractersticas tcnicas possibilitariam gerar sistemas construtivoscomo os das obras japonesas.

    Este estudo, porm, apenas o incio de muitas pesquisasque devem ser feitas at que se identifique a viabilidade de

    aplicao desta tecnologia no Brasil.

    Palavras-chave: Materiais de construo, materiais de construoalternativos, tubos de papelo.

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    BSTR CT

    SALADO, G.C. Building with paper tubes: A research into the technology developed byShigeru Ban. Dissertao (mestrado). So Carlos: Universidade de So Paulo, Escola de

    Engenharia de So Carlos, 2006.

    According to the actual context of great concern with theenvironment preservation and, at the same time, millions ofhomeless people due poverty and environmental catastrophes,arises the nec essity of studying alternative construction materials,which can contribute to soften these issues.

    Based in this, this work focuses the use of paper tubes in theconstruction by the J apanese architect Shigeru Ban.

    The construction systems created by the referencedarchitect and the technical characteristics of paper tubes that heuses in his works have been studied in this research.

    Preliminary technical tests have been done to characterizepaper tubes made by a Brazilian industry and to check if theirtechnical characteristics would become possible the production ofconstruction systems as the J apanese works.

    This study, however, is only the beginning of severalresearches that will made until identify the viability of applicationthis technology in Brazil.

    Key-words: Construction materials, alternative construction materials,paper tubes.

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    SUMR O

    Agradecimentos

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    Resumo

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    Abstract

    vi

    1 Introduo 01

    1.1. Consideraes iniciais e definio de conceitos.......................................................... 01

    1.2. Proposta e importncia do estudo................................................................................... 04

    1.3. Objetivos do trabalho............................................................................................................ 05

    1.4. Contedo do trabalho............................................................................................................ 05

    2 O material papelo 07

    2.1. Histrico....................................................................................................................................... 07

    2.2. As preocupaes com o meio ambiente......................................................................... 10

    2.3. A fabricao do papel kraft e dos tubos de papelo........................................... 14

    2.3.1. Tipos, qualidades e aplicaes de diversos tipos de papis e seus

    derivados.............................................................................................................................................

    20

    3 O uso do papelo na construo civil 23

    3.1. As chapas de papelo abrindo caminho para o uso desse material naconstruo civil.................................................................................................................................

    25

    3.2. O uso de tubos de papelo na construo civil........................................................ 36

    3.2.1. Formas de papelo para pilares de concreto.................................................. 36

    3.2.2. Os tubos de papelo como elementos de vedao e

    estrutura.............................................................................................................................................

    38

    4 O uso dos tubos de papelo pelo arquiteto Shigeru Ban em suas

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    obras 46

    4.1. Apresentao e anlise tcnica das obras de Shigeru Ban com tubos de

    papelo................................................................................................................................................. 48

    5 Ensaios tcnicos realizados com tubos de papelo 96

    5.1. Ensaios tcnicos realizados por Shigeru Ban............................................................. 97

    5.1.1. Ensaios realizados para a Biblioteca do Poeta............................................... 97

    5.1.2. Ensaios realizados para a Casa de Papelo.................................................... 99

    5.1.2.1. Ensaio de resistncia compresso.......................................................................................... 99

    5.1.2.2. Ensaio de resistncia flexo.................................................................................................... 101

    5.1.2.3. Ensaio de tenso ao cisalhamento simples............................................................................ 102

    5.1.3. Ensaios realizados para o Domus de Papelo................................................. 104

    5.1.3.1. Ensaio de resistncia compresso.......................................................................................... 105

    5.1.3.2. Ensaio de resistncia flexo.................................................................................................... 106

    5.1.3.3. Ensaio de resistncia compresso para diferentes teores de umidade................ 108

    5.1.3.4. Ensaio de resistncia ao cisalhamento na ligao.............................................................. 110

    5.1.3.5. Ensaio de resistncia flexo na ligao.............................................................................. 112

    5.1.4. Ensaios realizados para o Pavilho Japons na Expo 2000...................... 1145.1.4.1. Ensaio de resistncia compresso.......................................................................................... 115

    5.1.4.2. Ensaio de resistncia flexo.................................................................................................... 116

    5.1.4.3. Simulao do ensaio de resistncia compresso, aps a montagem...................... 116

    5.1.4.4. Ensaio de resistncia toro................................................................................................... 117

    5.1.4.5. Teste de aplicabilidade de revestimento impermevel nos tubos................................ 118

    5.1.4.6. Desempenho de proteo ao fogo da membrana de papel.............................................. 119

    5.2. Ensaios tcnicos realizados por este trabalho......................................................... 1215.2.1. Ensaio de absoro de umidade............................................................................. 123

    5.2.2. Ensaio de resistncia compresso................................................................... 127

    5.2.3. Ensaio de flambagem.................................................................................................. 131

    5.2.4. Ensaio de resistncia flexo............................................................................. 137

    6 Discusso....................................................................................................................................... 144

    6.1. Quanto s obras de Shigeru Ban..................................................................................... 144

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    6.2. Quanto aos ensaios tcnicos realizados por Shigeru Ban.................................... 147

    6.3. Quanto aos ensaios tcnicos realizados por este trabalho................................ 148

    6.3.1. Quanto ao ensaio de absoro de umidade....................................................... 1496.3.2. Quanto ao ensaio de resistncia compresso............................................. 150

    6.3.3. Quanto ao ensaio de flambagem........................................................................... 151

    6.3.4. Quanto ao ensaio de resistncia flexo....................................................... 151

    6.4. Quanto relao entre os ensaios tcnicos e as obras

    arquitetnicas....................................................................................................................................

    152

    6.5. Quanto comparao, em termos de resistncia, entre os tubos de

    papelo brasileiros e os tubos japoneses............................................................................

    154

    6.6. Quanto comparao entre os tubos de papelo e os materiais

    convencionais usados em estruturas......................................................................................

    155

    7 Concluses 159

    7.1. Prosseguimento do estudo.................................................................................................. 161

    8 Bibliografia 163

    8.1. Referncias bibliogrficas.................................................................................................... 163

    8.2. Bibliografia complementar consultada............................................................................ 169

    Lista de siglas e abreviaturas 174

    Lista de quadros 176

    Lista de tabelas 177

    Lista de figuras 179

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    1 INTRODUO

    1 1 Consideraes iniciais e definio de conceitos

    A sociedade atual est cada vez mais preocupada com o meio

    ambiente e a sua sobrevivncia na Terra, devido ao crescimento acelerado da

    explorao de recursos naturais para suprir sua demanda de consumo,

    grande quantidade de resduos gerados e aos danos que isso tem causado ao

    planeta.

    Ao longo dos tempos, a humanidade vem adaptando os recursos

    naturais, tais como pedra, madeira, barro, fibras vegetais, peles animais, etc

    para satisfazer suas necessidades. A metalurgia, a produo de vidros, plsticos

    e outros transformados so exemplos comuns deste processo de dominao da

    natureza pelo homem. A descoberta e o desenvolvimento contnuo de

    conhecimentos e tcnicas tm revelado, ao longo dos anos, novas

    possibilidades de produo e utilizao de materiais.

    Dentro desta perspectiva observa-se, atualmente, uma mudana na

    relao estabelecida entre a humanidade e os recursos naturais. Materiais

    sintticos que atendem s novas exigncias de produo e utilizao,

    superando os limites relacionados disponibilidade dos recursos naturais, esto

    sendo desenvolvidos. Mas, como em todas as evolues tecnolgicas ocorridas

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    at hoje, as conseqncias desse progresso tm deixado marcas e questes a

    serem respondidas.

    Assim, uma corrente tem estado em evidncia nos ltimos anos. Esta

    corrente formada por ecologistas e baseada nos princpios doDesenvolvimento Sustentvel definidos pela Agenda 211. Segundo ela, estamos

    enfrentando um grande dilema mundial e o homem j percebeu que com seus

    hbitos consumistas e inconseqentes est levando o planeta a uma catstrofe

    ambiental.

    Ao mesmo tempo, os altos nveis de pobreza tm se alastrado

    intensamente. Atualmente, uma parcela considervel da populao tem baixo

    poder aquisitivo e encontra grandes dificuldades em adquirir os materiais de

    construo convencionais.

    Como resultado dessa conjuntura, a pobreza e as catstrofes naturais

    fazem o nmero de pessoas desabrigadas no mundo atingir grandezas

    milionrias e ser maior a cada dia.

    Por outro lado, o estudo de materiais alternativos para a construo civil,

    que busquem a preservao do meio ambiente e atender as necessidades deurgncia e baixo custo da populao de classe pobre, ainda significa uma

    porcentagem bem pequena das pesquisas desenvolvidas nas melhores

    universidades do mundo.

    Essa deficincia talvez ocorra porque os materiais de construo

    convencionais so usados com tanta freqncia e de forma to automtica

    em nossa arquitetura, que podemos perceber um certo preconceito,

    desinteresse ou mesmo descaso por outras opes de materiais por parte dos

    profissionais da rea.

    1A ONU - Organizao das Naes Unidas - atravs da sua Comisso Mundial para o MeioAmbiente e Desenvolvimento, criou o conceito de Desenvolvimento Sustentvel. Atravs deste,a ONU elaborou a Agenda 21 Global e a lanou na C onferncia das Naes Unidas sobre MeioAmbiente e Desenvolvimento Humano, conhec ida como ECO-92, realizada no Rio de J aneiroem 1992. A Agenda 21 um programa de aes que busca promover, em escala planetria,

    um novo padro de desenvolvimento, conciliando mtodos de proteo ambiental, justiasoc ial e eficincia econmica.

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    ...se supe que a tecnologia uma constante e no uma

    varivel manipulvel com algum grau de liberdade. (ALVA, 1984,

    p.32).

    No entanto, cabe ao arquiteto e ao engenheiro perceberem isso e

    utilizarem a sua criatividade para encontrarem outras alternativas de materiais,

    que contribuam na soluo das questes colocadas, ao invs de se limitarem

    ao que o mercado formal lhes oferece.

    Em suma, pelos poucos estudos realizados, podemos perceber que os

    materiais alternativos possuem, assim como os materiais convencionais, as suas

    vantagens e desvantagens de uso. Assim sendo, os materiais alternativos tm o

    seu potencial - que depende de material para material e da aplicao que se

    pretenda - e, portanto, poderiam ser mais utilizados ou difundidos.

    Para este trabalho, deve-se entender que os m a teria is d e c onstruo

    convenc i ona i sso os utilizados comumente na maior parte das edificaes, e

    que os m a teria is d e c o nstruo a lte rna tivo s constituem opes de materiais

    para substituir o uso dos materiais convenc ionais.

    Da mesma forma, c o nstrues tem po rriasdevero ser entendidas como

    construes feitas para serem usadas provisoriamente, apenas por pouco

    tempo ou alguns meses.

    Alm disso, toda vez que o termo elem ento c onst ru t ivo for usado, este

    referir-se- a um tubo de papelo, ou outra pea, isolado. Mater ia l de

    c onstruo ser usado para um conjunto de elementos do mesmo tipo,

    utilizados numa construo. O conjunto de procedimentos para se executar

    uma construo ser tratado por tc nic a c onstrutiv a, e sistem a c on strutivoser

    referncia ao conjunto de elementos construtivos dispostos e ordenados entre si

    de uma determinada forma, ou seja, o produto da unio entre materiais e

    tcnicas construtivos.

    Por fim, dever entender-se por t ecno log iao conjunto de conhecimentos

    e tcnicas que se aplicam a um determinado ramo de atividade.

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    1 2 Proposta e importncia do estudo

    Com base nas consideraes citadas, esta pesquisa se prope a estudar

    um material alternativo para a construo civil brasileira, o qual seja tubos depapelo.

    No entanto, para que os tubos de papelo sejam aplicados na

    construo civil como elementos de vedao e estrutura, necessrio

    conhecer as caractersticas desse material.

    Estas se referem a aspectos de custo, segurana, caractersticas tcnicas,

    durabilidade, implicaes ao meio ambiente, construtibilidade e mo-de-obra,

    aceitao cultural, conforto ambiental, plstica, manuteno, etc2.

    Baseando-se no trabalho do arquiteto japons Shigeru Ban, este trabalho

    apenas um estudo inicial a respeito da viabilidade de se utilizar tubos de

    papelo em construes no Brasil, pois se limita ao estudo de somente dois

    aspectos: as caractersticas tcnicas do elemento construtivo e os sistemas

    construtivos que podem ser gerados a partir do mesmo.

    Este um material que, como todos os outros, possui as suas qualidades,

    vantagens, especificidades de uso e justificativas por existir; e que pode

    representar uma boa opo para alguns tipos de construes no Brasil, como

    as de carter popular, emergencial e temporrio, entre outras, sem gerar danos

    to irreversveis para o meio ambiente.

    Este trabalho tem grande importncia, uma vez que enfoca um material

    barato, de grande produo nacional e versatilidade, maior resistncia do que

    se imagina, que pode ser oriundo de reciclagem e reciclado aps seu uso. E

    tudo isso ainda pode gerar uma arquitetura de grande qualidade e beleza.

    Certamente isso poder ser muito til principalmente num pas onde o

    dficit habitacional to preocupante, como o Brasil.

    A significncia desse estudo est, ainda, em contribuir para a construo

    do conhecimento e sua utilidade para a prtica profissional e, mesmo, para a

    2Conhecendo-se essas caractersticas e associando-as a uma determinada poca e local,pode-se determinar a viabilidade de implementao desta tecnologia.

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    formao de novas polticas. Isso porque a importncia desta pesquisa est

    relacionada melhor utilizao de nossos recursos (no s os naturais, mas

    tambm no que se refere reciclagem e aceitao de novos materiais

    existentes no mercado) sempre usados com convenincia e criatividade e

    tendoseus atributos suficientemente explorados.

    Face a esta exposio, torna-se clara a importncia dessa pesquisa, a

    necessidade de se estudar, difundir e incentivar o uso dos materiais e tcnicas

    construtivas alternativas e a urgncia que temos em investir nessas reas

    temticas.

    1 3 Objetivos do trabalho

    O objetivo principal deste trabalho consiste em determinar se tubos de

    papelo fabricados no Brasil possibilitam gerar sistemas construtivos neste pas.

    Como objetivos complementares, pretende-se:

    - estudar o emprego de tubos de papelo na construo c ivil, baseando-

    se principalmente nas obras do arquiteto japons Shigeru Ban;

    - enfocar o estudo dos sistemas construtivos utilizados por este arquiteto

    em suas obras com tubos de papelo, assim como estudar as caractersticas

    tcnicas desses tubos;

    - realizar alguns ensaios tcnicos preliminares para a caracterizao de

    tubos de papelo fabricados por uma indstria brasileira, e comparar os

    resultados obtidos com os resultados dos ensaios feitos por Shigeru Ban.

    1 4 Contedo do trabalho

    Este trabalho est estruturado da seguinte forma:

    No item 1, feita a introduo ao assunto estudado atravs de algumas

    consideraes iniciais. So definidos os principais conceitos utilizados neste

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    trabalho, apresentada a proposta de estudo e discutida a sua importncia,

    alm de serem expostos os objetivos do mesmo.

    No captulo 2 feito um estudo a respeito dos materiais papel e papelo,

    apresentando um histrico, discutindo as preocupaes relacionadas suaproduo e ao meio ambiente, a fabricao do papel kraft e dos tubos de

    papelo, os tipos, qualidades e aplicaes de diversos tipos de papis e seus

    derivados.

    No captulo 3 apresentado o uso do papelo na construo c ivil, desde

    o incio, atravs de chapas e outros tipos de elementos de vedao

    desenvolvidos a partir do papelo. Tambm so apresentadas algumas

    aplicaes isoladas dos tubos de papelo na construo civil, tanto como

    formas de pilares de concreto quanto como elementos de vedao e estrutura,

    por alguns arquitetos e pesquisadores.

    No captulo 4so apresentadas as obras arquitetnicas de Shigeru Ban

    com tubos de papelo. A fim de entender como so os sistemas construtivos

    utilizados pelo arquiteto, feita uma anlise tcnica da maioria das obras

    apresentadas.

    No captulo 5 so estudados os ensaios tcnicos realizados por Shigeru

    Ban e, a partir destes, so feitos ensaios tcnicos preliminares com tubos de

    papelo fabricados no Brasil.

    No captulo 6 so feitas discusses a respeito de cada tpico abordado

    nesta pesquisa, desde o estudo feito sobre as construes feitas por Shigeru Ban

    com tubos de papelo at os ensaios realizados com o material por ele e por

    este trabalho. Nesta parte, os materiais brasileiro e japons so comparados e

    discutida a relao existente entre os ensaios tcnicos e os projetos

    arquitetnicos.

    O item 7 apresenta as concluses obtidas com a realizao deste

    trabalho, alm de sugestes para futuros trabalhos.

    Por fim, oitem 8 expe a bibliografia utilizada para a elaborao deste

    trabalho, compreendendo as referncias bibliogrficas citadas e a bibliografiacomplementar consultada.

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    2 O MATERIAL

    PAPELO

    Oficialmente, o papel foi fabricado pela primeira vez na China, por TsAi

    Lun, no ano de 105, utilizando uma mistura de fibras de amoreira, bambu, rami,

    redes de pescar e roupas velhas para fazer a massa do papel, e formas de

    madeira para moldar as folhas. Logo, os pergaminhos feitos de peles de

    animais, at ento usados para a escrita, foram substitudos pela folha de

    papel. (BRACELPA, 2005b).

    No sculo VIII, a tcnica de fabrica o do papel comeou a ser passada

    para outros povos, como os rabes, que contriburam para sua evoluo. Assim,

    outras fibras passaram a ser empregadas, como as fibras de linho e cnhamo, e

    o amido da farinha de trigo foi usado para dar liga s fibras.

    A chegada do papel na Europa se deu pelas caravanas que

    transportavam seda para l. A partir da Frana, Espanha e Itlia, a fabricao

    de papel se espalhou por todo o continente, conforme mostra a figura 2.1.

    2 1 Histrico

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    8 SALADO,G e rusa d e Cssia ( 2006)

    Figura 2.1 Inveno do papel e disseminao da tecnologia pelo Mundo.Fonte: Ilustrao da autora.

    Os livros eram escritos mo e exigiam quantidades maiores de papel,para atender a demanda do pblico. Porm, aps Gutemberg ter criado a

    imprensa, em 1440, o desenvolvimento das tcnicas de fabricao dos livros e

    do papel foi acelerado.

    Quanto ao processo de produo do papel, aps a idia inicial de se

    utilizar fibras extradas de vegetais, surgiu o uso de fibras extradas de trapos de

    tecido. Este processo era demorado e levava de cinco a trinta dias, pois os

    trapos tinham que ser classificados, depurados, cortados e fermentados.

    Algumas evolues marcantes aconteceram no final do sculo XVIII e

    incio do XIX. Em 1774, o qumico alemo Scheele descobriu o potencial do

    cloro como branqueador do papel; em 1798 passou-se a fabricar papel em

    mquina de folha contnua, inventada pelo francs Nicolas Louis Robert que

    cedeu sua patente aos irmos Fourdrinier; e em 1806, Moritz Illig substituiu a cola

    animal por resina e almem.

    Em 1884, Friedrich Keller desenvolveu uma pasta de fibras de madeira,

    mas por um tempo as fibras extradas de tecidos ainda foram misturadas a esta

    pasta.

    Segundo Bracelpa (2005b), surgiram ento diferentes formas de separar

    as fibras de celulose da lignina: processo de pasta mecnica, processo com

    soda, processo sulfito e processo sulfato (para papis do tipo kraft).

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    Co nst ru indo c om tubo s de pa p elo: Um estudo da tec nolog ia d esenvo lv ida po r Shige ru Ban

    SALADO,G e rusa d e Cssia ( 2006) 9

    No contexto brasileiro, figura 2.2, o primeiro papel foi feito no Rio de

    J aneiro, no dia 16 de novembro de 1809. A primeira fbrica brasileira, ali

    sediada, comeou a operar entre 1810 e 1811.

    Figura 2.2 Os Estados que marcaram o incio da produo de celulose e papel no Brasil.Fonte: Ilustrao da autora.

    Em 1889 surgiu a primeira indstria de papel brasileira, tambm a primeirada Amrica Latina, situada no interior de So Paulo. Assim, a Fbrica de Papel

    de Salto, de Melchert & Cia, funciona at hoje devidamente modernizada e

    produz papis especiais, sendo uma das poucas no mundo a fabricar papel

    para a produo de dinheiro.

    No comeo, a indstria brasileira de papel utilizava papis velhos. A

    produo industrial de celulose, no Brasil, iniciou-se em Monte Alegre, Paran,

    apenas nos anos 40. Inicialmente, a celulose era extrada do pinheiro e os

    processos utilizados eram o sulfito e o soda/enxofre. O processo kraft e a

    produo em grande escala de celulose de eucalipto, a mais utilizada

    atualmente, surgiram no Estado de So Paulo, em 1957. (BRACELPA, 2005e).

    Todo este desenvolvimento possibilitou a produo de uma grande

    variedade de tipos de papis e, posteriormente, outros produtos feitos a partir

    do mesmo.

    Nas ltimas dcadas, este setor passou por intenso processo de

    racionalizao, aumentando consideravelmente a sua produtividade. Nos

    ltimos anos, esse crescimento foi, em mdia, cerca de 6% para papel e 7%

    para celulose, ao ano. Com isso, as exportaes, os rendimentos e os

    investimentos crescem cada vez mais.

    Segundo Bracelpa (2005f), atualmente, o Brasil considerado o stimo

    produtor mundial de celulose de todos os tipos, com uma produo em torno

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    Co nst ru ind o c om tubo s de pa pe lo: Um estudo d a te c nolog ia d esenvo lv ida p or Shige ru Ba n

    10 SALADO,G e rusa d e Cssia ( 2006)

    de 8 milhes de toneladas, e o 11 fabricante de papel, ou 7,7 milhes de

    toneladas ao ano.

    No entanto, conforme Caf Bandeira (2004), os maiores fabricantes de

    papel no mundo, atualmente, so os Estados Unidos, o J apo e o Canad.

    Pelo exposto acima, pode-se perceber que o Brasil possui grande

    potencial para a produo de celulose e papel. Alm disso, notvel que oclima brasileiro, a extenso territorial do pas e a sua disponibilidade de terras

    para o cultivo de rvores favorece o desenvolvimento deste setor.

    O crescimento ou a reduo desta produo, assim como dos

    investimentos feitos no setor, e os lucros ou prejuzos do mesmo, so levados em

    considerao para se aferir o desenvolvimento econmico do pas.

    Dessa forma, o governo brasileiro tende a expandir o setor cada vez mais,

    gerando facilidades para as indstrias do ramo, como reduo de alguns

    impostos, e buscando atrair sempre mais investidores.

    No entanto, embora no se use vegetao nativa, mas sim rvores de

    plantios florestais3, a produo de celulose e papel causa uma srie de danos

    sc ioambientais e, conseqentemente, gera muitas polmicas e problemas. Por

    causa disso, h pases que preferem no investir neste tipo de produto.

    No Brasil e no Mundo, diversas entidades e organizaes no-governamentais (ONGs) observam atentamente as indstrias de celulose e

    papel e as pressionam por causa desses danos scioambientais. Entre estas

    entidades, pode-se destacar a ONU (Organizao das Naes Unidas), a

    Apedema (Assemblia Permanente de Entidades em Defesa do Meio

    Ambiente), a Fetag (Federao dos Trabalhadores de Agricultura), a Comisso

    3 Atualmente, h no Brasil 1,4 milho de hectares de florestas plantadas, distribudas em 16estados e 450 municpios, e 1,5 milho de florestas nativas preservadas e cultivadas. (BRACELPA,2005c, 2005e).

    2 2 As preocupaes com o meio ambiente

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    SALADO,G e rusa d e Cssia (2006) 11

    Pastoral da Terra, a CUT (Central nica dos Trabalhadores), o MST (Movimento

    dos Trabalhadores Sem-Terra) e a Assoc iao dos Engenheiros Agrnomos4.

    Freqentemente, estas entidades realizam protestos, passeatas e at

    ocupaes de terras e propriedades no Brasil, a fim de manifestarem suasreivindicaes e se demonstrarem contra as indstrias de papel e celulose aqui

    instaladas.

    Conforme Folha de So Paulo (2002), os motivos que levam estas

    entidades a fazerem tantos protestos, so que as indstrias do setor se

    apropriam das melhores terras, que serviriam para a agricultura, tomam terras

    indgenas e ocupam reas de proteo permanente, substituindo mata nativa

    por eucaliptos, contaminam rios e crregos. Alm disso, o eucalipto afasta as

    espcies animais e absorve muita gua do solo, deixando-o exaurido, e

    grandes reas de monocultura criam um deserto verde5.

    O solo tambm perde seus nutrientes, ficando deteriorado, os rios da

    regio secam e as fbricas de celulose contaminam o ar e a gua (FOLHA DE

    SO PAULO, 2006).

    Essa contaminao se d devido ao processo de recuperao dosprodutos qumicos usados no cozimento da matria-prima, que formam o

    chamado licor negro6. Essa recuperao feita atravs de caldeiras que

    fazem a combusto deste lquido. Assim, este processo se torna a maior fonte

    emissora de materiais particulados e odores da fbrica; uma fumaa branca

    com cheiro de enxofre (EXPRESSO, 1998).

    Segundo Folha de So Paulo (2003a), as indstrias de papel tambm

    emitem uma fumaa rica em gases no-condensveis concentrados (GNCC).

    4 Em termos mundiais, a ONU faz exigncias s indstrias do setor sobre a organizao eelaborao de relatrios ambientais. No Estado de So Paulo, a CETESB (Companhia deTecnologia de Saneamento Ambiental) exige que as indstrias implantem tecnologias quereduzam os nveis de poluio (ECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO, 1992).5 O deserto verde formado por uma extensa rea de monocultura, que reduz abiodiversidade local e a possibilidade de gerao de empregos no campo.

    6O licor negro um resduo txico composto por uma mistura de soda custica e sulfeto desdio, resultante do cozimento da madeira para extrao da celulose. (FOLHA DE SO PAULO,2003b).

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    12 SALADO,G e rusa d e Cssia ( 2006)

    Este, inclusive, um ponto que compromete o cumprimento das exigncias do

    Protocolo de Kyoto7.

    Uma outra questo, muito enfatizada pelo MST e CUT, que a produo

    de eucalipto gera pouco emprego, necessitando apenas de um funcionrio a

    cada 15 ou 20 hec tares (FOLHA DE SO PAULO, 2005).

    Por outro lado, as indstrias se defendem dizendo que reflorestam suas

    reas sob a prtica do manejo florestal8, o que possibilita a conservao do

    solo e dos recursos hdricos, alm de auxiliar na preservao de espcies

    vegetais e animais ameaadas de extino. (KLABIN, 1998).

    Alm disso, segundo Lima9a p u d Folha de So Paulo (2006), uma rvore

    de eucalipto plantada no padro tradicional de reflorestamento (uma para

    cada seis metros quadrados) consome no mximo 15 litros de gua por dia, e

    apenas em algumas pocas do seu crescimento e certas pocas do ano. Lima

    ressalta que algumas rvores nativas brasileiras possuem consumo semelhante,

    dependendo tambm das circunstncias. Contudo, o eucalipto tem a grande

    vantagem de ser imune a pragas.

    Com relao ao eucalipto afetar a biodiversidade, Lima diz que qualquer

    plantao agrcola, seja de soja, feijo, caf, etc, um ataque variedade

    natural de espcies vegetais que existiam numa determinada rea.

    Lima ainda defende o uso do eucalipto, accia e pinus para a produo

    de celulose e papel, pois estas espcies evitam que as matas nativas sejam

    usadas, e lembra que as florestas industriais tambm contribuem para a

    qualidade do ar.

    7O Protocolo de Kyoto um documento que foi assinado entre diversos pases em 1997 (emKyoto, J apo), no qual estes se comprometem a reduzir a emisso de gases, a fim dedesacelerar a destruio da camada de oznio e, conseqentemente, as mudanasclimticas ocorridas no planeta nas ltimas dcadas.8Manejo florestal um conjunto de tcnicas empregadas para colher cuidadosamente partedas rvores grandes de tal maneira que as menores, a serem colhidas futuramente, sejamprotegidas. Oplano de manejo inclui especificao de tcnicas de extrao para diminuir osdanos floresta, estimativas do volume a ser explorado, tratamentos silviculturais e mtodos demonitoramento do desenvolvimento da floresta aps a sua explorao. (MANEJ O FLORESTAL,2006).

    9 Walter de Paula Lima especialista em hidrologia florestal, professor e pesquisador doDepartamento de Silvicultura da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz daUniversidade de So Paulo), em Pirac icaba.

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    Co nst ru indo c om tubo s de pa p elo: Um estudo da tec nolog ia d esenvo lv ida po r Shige ru Ban

    SALADO,G e rusa d e Cssia (2006) 13

    Quanto ao consumo energtico, 50% da eletricidade consumida

    autogerada pelo prprio setor, no processo de produo da celulose.

    Uma vez gerado o embate entre os danos ambientais ou mitos sobre a

    produo de papel e celulose, Aguiar10 (2006), diz acreditar que influnciasestrangeiras estejam ligadas aos ataques feitos s indstrias brasileiras. Segundo

    Aguiar, estas pretendem desestabilizar o setor de celulose no Brasil, para que

    tenham vantagens no mercado internacional.

    Referindo-se questo dos papis descartados e da reciclagem, pode-

    se afirmar que a atividade de reciclagem de papel no Brasil comeou

    praticamente junto c om a fabrica o do prprio papel.

    Como no havia produo nacional de celulose quando o papel

    comeou a ser produzido no Brasil11, suas necessidades eram supridas por

    fornecedores do exterior. Paralelamente importao de matria-prima, em

    especial da celulose de fibras longas, as primeiras fbricas eram obrigadas a

    utilizar papis descartados na produo de papis novos, para atender

    demanda existente.

    Objetivando a preservao do meio ambiente e a reduo dos lixosurbanos, a reciclagem de papel tem demonstrado, at hoje, uma forte

    tendncia ao crescimento. Atualmente, so recicladas 3 milhes de toneladas

    de papel por ano, no Brasil; o correspondente a 41,4% do consumo aparente

    nacional12.

    Segundo Bracelpa (2005a), os estados brasileiros que mais consomem

    aparas so: So Paulo (37,12%), Santa Catarina (17,37%) e Minas Gerais

    (12,81%).

    10Carlos Aguiar o atual presidente da indstria Aracruz Celulose.11 Apenas no incio da dcada de 70, a produo brasileira de celulose passou a sersignificativa e a indstria de papel passou a utiliz-la juntamente com a de origem estrangeira.Portanto, a fabrica o de papel foi ampliada no pas e estimulou um aumento considervel noseu consumo. Isso gerou maior quantidade de material disponvel reciclagem e fortaleceu

    esta atividade. (BRACELPA, 2005b).12 Pode-se entender consumo aparente como o consumo da produo nacional somadadas importaes, subtraindo-se as exportaes.

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    Co nst ru ind o c om tubo s de pa pe lo: Um estudo d a te c nolog ia d esenvo lv ida p or Shige ru Ba n

    14 SALADO,G e rusa d e Cssia ( 2006)

    Do total, 80% das aparas so destinadas fabricao de embalagens,

    18% fabricao de papis sanitrios e 8% produo de papis para

    impresso e escrita. (PROJ ETO..., 2004).

    Todo papel constitudo de matrias-primas fibrosas e no-fibrosas.

    Conforme Ino (1984), as matrias-primas fibrosas podem ser de origem vegetal,

    animal, mineral ou artificial. No entanto, as madeiras representam quase 100%

    das matrias-primas fibrosas utilizadas no Brasil para a obteno da pasta

    celulsica.

    Por conseguinte, as matrias-primas no-fibrosas so aglutinantes,

    estabilizantes, aditivos e outras substncias que tm a finalidade de melhorar as

    caractersticas do produto final, alm de gua.

    As etapas principais da fabricao do papel continuam as mesmas

    desde a poca da sua inveno, quando ainda era manual, at os dias de

    hoje, nos processos industrializados. Estas so, basicamente, o preparo da

    massa, a formao da folha e a secagem da mesma.

    O papel Kraft utilizado para a fabricao dos tubos de papelo,

    geralmente, um papel reciclado e, portanto, utiliza celulose de materiais

    descartados. Seu processo de fabricao ilustrado na figura 2.3.

    Primeiramente, as aparas de papel so lanadas juntamente com gua13

    em hidrapu lpers14que as desagregam e trituram.

    13 A celulose dissolvida em gua, formando uma soluo de 95% de gua para 5% decelulose. Essa gua usada mantida num sistema fechado e re-aproveitada por vrias vezes.No decorrer do processo, a proporo de gua na pasta vai sendo diminuda at que, quandoo papel est pronto, tem-se cerca de apenas 7% de gua para 93% de celulose. (PINHEIRO,

    2004).14Hidrapulpersso equipamentos semelhantes a liquidificadores gigantes, que contm grandeshlices internamente e servem para hidratar os papis a serem rec iclados.

    2 3 A fabricao do papel Kraft e dos tubos de

    papelo

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    ____________________________________________________________________________________________

    SALADO, Gerusa de Cssia (2006) 15

    Figura 2.3 - Esquema da produ o de p apel kraft Fonte: So CarlosS/A

    Const ruindo c om tubo s de pape lo: Um estudo da tecn ologia de senvolvida por Shigeru Ban__________________________________________________________________________________________________________________________

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    SALADO,G e rusa d e C ssia (2006) 16

    A polpa produzida bombeada para um tanque e em seguida para

    c line rs15, que lhe retira os rejeitos pesados. A partir disso, a polpa fica

    armazenada num segundo tanque. (SO CARLOS S/A, 2006).

    Continuando, a polpa passa por engrossadores e chega a refinadores.

    Depois de refinada, a polpa est pronta16 e fica armazenada em outros

    tanques, at seguir para a mesa plana, onde se inicia a formao da folha.

    A mesa plana possui micro-perfuraes por onde escoa parte da gua

    da massa. A seguir, a folha pr-formada prensada em cilindros, a fim de se

    retirar mais gua.

    Por fim, a folha passa por cilindros secadores (aquecidos) e obtm-se oproduto final. Este estocado em bobinas, que so preparadas nas

    rebobinadeiras.

    Conforme So Carlos S/A (2006), aps todo esse processo, o papel pode

    ser cortado no formato e tamanho desejados.

    Para a fabricao dos tubos de papelo, ainda na fbrica de papis, o

    papel kraft cortado em faixas e enrolado em bobinas, que so enviadas para

    as indstrias de tubos de papelo (figura 2.4).

    Figura 2.4 Bobinas de papel armazenadas na indstria de tubos de papelo.Fonte: Foto da autora.

    15Clinersso separadores centrfugos que retiram da massa os rejeitos pesados, tais comopedriscos, metais, plsticos, etc.

    16Durante a prepara o da massa, se adiciona breu ou colas especiais e aditivos para semelhorar a qualidade do papel. Neste momento, tambm ocorre a correo do pH, comadio de sulfato de alumnio, que ainda ajuda na colagem.

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    17 SALADO,Ge rusa d e C ssia ( 2006)

    Conforme as figuras 2.5 e 2.6, na indstria de tubos e tubetes, vrias

    bobinas de papel kraft so dispostas numa mesma mquina.

    Figuras 2.5 e 2.6 Bobinas de papel Kraft dispostas na mquina que produz os tubos depapelo. Fonte: Fotos da autora.

    De acordo com Lacerda (2006), as faixas de papel kraft que formam as

    camadas internas da parede do tubo so banhadas em uma cola lquida

    base de silicato de sdio, e as duas faixas que formam as camadas de

    revestimento interno e externo do tubo so banhadas em outra cola lquida,

    base de acetato de polivinila, mais conhecido como PVA17(figuras 2.7 e 2.8).

    Figuras 2.7 e 2.8 Faixas de papel Kraft passando pelos tanques de colas.Fonte: Fotos da autora.

    17A cola base de silicato de sdio no usada nos papis de revestimento do tubo porquelhe daria um acabamento spero, uma vez que esta cristaliza aps a secagem. No entanto,

    utilizada nos papis da estrutura do tubo, ou seja, os papis que formam as camadas internasda parede do mesmo, pois lhe propicia maior resistncia flexo e compresso diametral.(LAC ERDA, 2006).

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    Co nstru ind o c om tubo s d e p ap elo: Um estud o d a tec no log ia d esenvo lv id a p or Shige ru Ban

    SALADO,G e rusa d e C ssia (2006) 18

    Aps passarem pelos tanques de colas, as faixas de papel kraft so

    enroladas em espiral num cilindro metlico giratrio (figuras 2.9 e 2.10);

    deixando-se um pequeno espaamento entre as mesmas, de no mximo

    2 mm18.

    Figuras 2.9 e 2.10 Produo do tubo de papelo.Fonte: Fotos da autora.

    De acordo com as figuras 2.11 e 2.12, ao atingir o comprimento desejado,

    uma serra corta automaticamente o tubo.

    Figuras 2.11 e 2.12 Tubo de papelo sendo cortado aps atingir o comprimento desejado.Fonte: Fotos da autora.

    Segundo Lacerda (2006), os tubos com espessura de at 8 mm contm

    cerca de 12% de umidade imediatamente aps a sua fabricao e secam

    naturalmente. Assim, passado um perodo de 8 a 10 horas, estes estabilizam

    com aproximadamente 10% de umidade.

    18A espessura da parede do tubo proveniente do nmero de camadas de papel kraft. O seudimetro e comprimento podem variar muito e ficam escolha do c liente.

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    19 SALADO,Ge rusa d e C ssia ( 2006)

    Porm, os tubos com espessura superior aos citados anteriormente saem

    do processo de fabricao com cerca de 14% de umidade. Por terem uma

    parede muito espessa, estes precisam secar em estufa at atingirem 10% de

    umidade (figura 2.13); o que costuma ocorrer aps um tempo de 30 minutos a

    duas horas.

    Figura 2.13 Tubos de papelo secando na estufa.Fonte: Foto da autora.

    Finalmente, os tubos seguem para o estoque da indstria, como mostrado nas figuras 2.14 e 2.15.

    Figuras 2.14 e 2.15 Tubos de papelo armazenados no estoque da indstria.Fonte: Fotos da autora.

    Conforme Lacerda (2006), os grandes tubos fabricados no Brasil, incluindo

    os compreendidos nesta pesquisa, utilizam faixas de papel kraft que variam de

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    Co nstru ind o c om tubo s d e p ap elo: Um estud o d a tec no log ia d esenvo lv id a p or Shige ru Ban

    SALADO,G e rusa d e C ssia (2006) 20

    54 a 240 mm de largura. A espessura de sua parede pode variar entre 1,5 e 20

    mm e o seu dimetro interno pode ter de 24,8 a 505,5 mm19.

    2.3.1. Tipos qualidades e aplicaes de diversos tipos de

    papis e seus derivados

    Para atender a ampla variedade de aplicaes, os papis possuem

    propriedades que variam consideravelmente de um tipo para outro, como

    dureza, resistncia, durabilidade e caractersticas pticas.

    Assim, a qualidade do material interfibrilar, a estrutura e a formao das

    suas lminas, a classe e o comprimento da fibra interferem nas propriedades do

    papel. A resistncia e a durabilidade esto assoc iadas dureza e tambm so

    altamente variveis. E quanto s propriedades pticas, o brilho depende do

    acetinado, a cor dada pelos tratamentos qumicos e a opacidade varia

    conforme o processo de fabricao. (CAF BANDEIRA, 2004).

    A classificao dos tipos de papel feita atravs de critrios relacionados

    a sua aplicao. Alguns exemplos, entre outros, so:

    papis para impresso em mquina: apresentam superfcie spera e so

    imprprios para a escrita manual, sendo usados na produo de jornais e

    livros;

    papis acetinados: estes papis se tornam lisos e brilhantes por serem

    submetidos previamente operao de calandragem ou passagem por

    cilindros. So empregados para a escrita;

    papis cartolina: so mais espessos e podem ser usados tanto na escrita

    quanto para embrulhos especiais;

    19 Estas dimenses variam conforme o fabricante e estes tubos so empregados comoembalagens cilndricas ou grandes bobinas (destinadas a indstrias de grande porte, comosiderrgicas) e tambm como formas para pilares cilndricos de concreto (na construo civil).Os tubos de pequeno dimetro, ou tubetes, so destinados produo de cnulas de papel,

    canudos para diplomas, bobinas e pequenas embalagens cilndricas. Estes pequenos tubos tmseu emprego nas indstrias txtil (linhas e tecidos), de papis de todosos tipos, de fogos deartifcio, alimentcia, farmacutica, de fumo, etc.

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    21 SALADO,Ge rusa d e C ssia ( 2006)

    papel-moeda: feito de fibras txteis, destinado produo de dinheiro;

    papel carbono: utilizado para cpias diretas por pressionamento da

    folha;

    papel pintado: mais conhecido como papel de parede, utilizado em

    decora o de ambientes;

    papel-filtro: um tipo de papel muito poroso, usado para filtrar lquidos e

    na fabricao de coadores de papel;

    papel crepom: usado na confeco de arranjos e enfeites, possui um

    aspec to enrugado;

    papel fotogrfico: uma de suas faces revestida com material

    fotossensvel;

    papel vegetal: papel transparente usado para desenhos e projetos

    arquitetnicos;

    papel-bblia: muito fino, geralmente usado em publicaes de luxo e

    grandes volumes;

    papel kraft: um papel pardo, utilizado na produo de papel onduladoe papelo;

    papel semikraft: papel kraft de qualidade inferior, oriundo de reciclagem;

    papelo: como um papel carto de alta gramatura e resistncia, na

    maioria dos casos fabricado a partir de aparas, material este que d a

    sua colorao. Existe o papelo madeira, ou Paran, o papelo cinza e o

    papelo laminado.

    Cada tipo de papel ainda dividido numa srie de categorias, ou seja,

    papis do mesmo tipo com qualidades finais diferentes, superiores ou inferiores.

    Alm disso, h papis que diferem na sua cor, podendo ser brancos, coloridos

    ou estampados, na sua espessura e gramatura.

    De todos, o papel kraft, ou semikraft, o mais importante para o

    desenvolvimento deste trabalho, pois a matria-prima para tubetes e tubos

    de papelo.

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    Co nstru ind o c om tubo s d e p ap elo: Um estud o d a tec no log ia d esenvo lv id a p or Shige ru Ban

    SALADO,G e rusa d e C ssia (2006) 22

    No entanto, uma grande porcentagem de todo o papel kraft produzido

    no mundo destinado produo de chapas de papelo e,

    conseqentemente, produo de caixas ou embalagens para indstrias de

    diversos segmentos.

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    Co nstru ind o c om tub os de pa pe lo: Um estudo d a te c no log ia d esenvo lv ida p or Shige ru Ba n

    23 SALADO,Ge rusa d e C ssia ( 2006)

    3 O USO DO

    PAPELO NA

    CONSTRUO CIVIL

    Os materiais e tcnicas de construo alternativos20, geralmente, so

    adotados quando se objetiva suprir determinadas necessidades numa obra,

    que podem ser reduo do tempo de execuo, reduo da mo-de-obra,

    aumento de produtividade, racionalizao no uso de materiais, reduo do

    impacto ambiental, uso de materiais locais, entre outros.

    Neste contexto, alguns materiais ou tcnicas construtivos podem ser

    citados, como por exemplo, o uso da madeira, da pedra, da terra, do ao, ou

    at do solo-cimento.

    A madeira e a pedra so materiais usados desde tempos remotos, na

    construo de moradas (tocas, cabanas,...), em associao com outros

    materiais, como a terra e a palha.

    No Brasil, antes da chegada dos colonizadores portugueses, estes

    materiais j eram utilizados pelos ndios. Porm, aps a colonizao, houve uma

    mistura entre as tcnicas construtivas dos dois povos, sendo que as construes

    20Entre os materiais e tcnicas de construo alternativos, pode-se considerar os materiais etcnicas de construo vernaculares.

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    SALADO,G e rusa d e C ssia (2006) 24

    passaram a ter formas europias, mas ao mesmo tempo eram construdas sob

    as tcnicas indgenas em madeira (AKZONOBEL, 2006).

    A partir da, reconheceu-se o emprego potencial da madeira como

    elemento estrutural ou de vedao, e at os dias atuais esta tem sido utilizadacomo um material alternativo nas construes brasileiras21.

    As tcnicas construtivas que utilizam terra tambm foram trazidas para o

    Brasil pelos portugueses durante o perodo colonial, mas segundo ABCTerra

    (2006), estas j eram utilizadas em vrios outros pases, como Frana, EUA,

    Marrocos, China e J apo.

    Existem diversas tcnicas de construo com terra, como taipa de pilo,

    pau-a-pique e terra-palha. No Brasil, muitos casares, mosteiros e igrejas

    construdos com essas tcnicas continuam em p h mais de 250 anos.

    No sculo XVIII iniciou-se a utilizao do ao na construo civil. Assim,

    desde as primeiras obras, como a Ponte I ronbridgena Inglaterra, em 1779, at

    os edifcios atuais, as estruturas metlicas tm gerado construes arrojadas,

    inovadoras e de alta qualidade nas grandes cidades. (COSIPA, 2006).

    Quanto ao solo-cimento, conforme Habitar (2006), este comeou a ser

    empregado no Brasil em 1948, com a construo das casas do Vale Florido, em

    Petrpolis (RJ ).

    A partir da, o produto da mistura, compactao e cura de solo, cimento

    e gua teve seu uso consideravelmente ampliado, devido s boas qualidades

    que apresentou.

    Da mesma forma como ocorreu para os exemplos anteriores, a procurapor materiais de construo alternativos levou a testar-se o uso do papelo.

    Assim, desde a segunda metade do sculo XIX, tenta-se empreg-lo na

    construo de casas, abrigos e outras edificaes. Estudantes, pesquisadores e

    profissionais passaram a buscar neste material algumas vantagens e a

    possibilidade de uma construo rpida, leve, barata e que atendesse s

    necessidades de c ada ocasio.

    21 Em termos mundiais, a Noruega e os pa ses do Oriente, em espec ial o J apo, utilizamtradicionalmente este material nas suas construes.

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    25 SALADO,Ge rusa d e C ssia ( 2006)

    Como resultado, embora este no seja um material dos mais utilizados na

    construo civil, o papelo pde ser empregado na forma de chapas, painis

    tipo colmia e, finalmente, elementos tubulares.

    Essas diferentes formas de aplicaes do papelo na construo civilsero expostas com mais detalhes nos prximos itens.

    Segundo Minke (1980), os primeiros projetos a utilizarem o papelo em

    construes o fizeram na forma de chapas, no sculo retrasado. Na maioria dos

    casos, estes eram pequenos prottipos de casas ou abrigos desenvolvidos para

    estudos ou construes temporrias.

    Com o passar do tempo, a indstria da construo civil desenvolveu uma

    srie de produtos compostos de papelo destinados a serem usados,

    principalmente, em sub-sistemas de vedao.

    Como exemplos, podem ser citados o papelo alcatroado22 e alguns

    tipos de painis de veda o, como o d ry w a ll e os painis-sanduche23.

    A seguir foi montado um panorama, em ordem cronolgica, desse

    desenvolvimento.

    22 O papelo alcatroado um produto comercialmente vendido, feito de papel kraft

    betumado. Atualmente, em poucos casos, usado para impermeabilizar coberturas e,antigamente, era usado para impermeabilizar vigas-baldrame e evitar o fenmeno chamadoumidade ascendente. Este fenmeno ocorre devido s paredes trreas da construotenderem a absorver a umidade retida no solo, gerando estragos em argamassas e pinturas.Hoje em dia, para impermeabilizar vigas-baldrame tem-se usado emulses asflticas ousintticas e outras pelculas selantes. (NOGUEIRA, 2006).23 Alguns painis, chamados de d ry wa ll e muito utilizados para se fazer paredes divisriasinternas, so compostos pela combinao de placas de gesso com chapas de papelo.Existem os painis cujo miolo feito de gesso e o revestimento externo formado por placas depapelo nas faces interna e externa, e os painis nos quais a chapa de papelo a estruturainterna e o gesso a reveste externamente. Alm disso, h ainda os painis-sanduche cujo miolo feito de uma estrutura em formato de colmia, produzido com papel Kraft reforado. Esse

    tipo de painel, de uso muito comum atualmente em divisrias de espaos internos, pode teracabamento das faces externas em chapa de fibra de madeira, chapa de alumnio, laminadomelamnico, etc.

    3.1. As chapas de papelo abrindo caminho para o

    uso desse material na construo civil

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    SALADO,G e rusa d e C ssia (2006) 26

    1869 - ADT, Pont--Mousson, Frana

    A empresa ADT exps casas pr-fabricadas feitas de chapas de papelo

    na Exposio Internacional de Paris.

    Trs modelos diferentes foram expostos pela ADT: um deles era uma

    pequena habitao medindo 6,00 x 8,00 m (figura 3.1), um outro era um abrigo

    de apenas 5,00 x 3,00 m (figura 3.2) e o terceiro era uma casa feita

    especialmente para locais de clima quente, com dimenses de 20,00 x 5,00 m

    (figura 3.3).

    Figura 3.1 Casa pr-fabricada de chapas de papelo, desenvolvida pela empresa ADT Modelo 01. Fonte: Minke, 1980, p.51.

    Figura 3.2 Casa pr-fabricada de chapas de papelo, desenvolvida pela empresa ADT Modelo 02. Fonte: Minke, 1980, p.51.

    O terceiro modelo fez uso de painis de papelo ondulado medindo de

    0,60 a 0,80 m de largura e 3,00 m de altura, fixados uns aos outros com grampos.

    A parede era dupla, com um vazio de 10 cm entre as chapas de 4 mm de

    espessura.

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    27 SALADO,Ge rusa d e C ssia ( 2006)

    Para se ter idia da leveza dessas estruturas, um metro linear de fac hada

    deste modelo pesava apenas 92 kg. (MINKE, 1980).

    Figura 3.3 Casa pr-fabricada de chapas de papelo, desenvolvida pela empresa ADT Modelo 03. Fonte: Minke, 1980, p.51.

    1944 - Instituto de Qumica do Papel dos Estados Unidos, EUA

    O Instituto de Qumica do Papel dos Estados Unidos recebeu um pedido

    do governo para que desenvolvesse uma casa porttil de papel.

    O Mundo vivia o fim da Segunda Guerra Mundial e era necessrio

    amparar os desabrigados pelas catstrofes da guerra. Para isso, a casa deveria

    ser barata e ter capacidade para ser produzida e montada rapidamente e em

    srie.

    Como uma das conseqncias da crise mundial, as fibras de celulose

    virgens estavam em falta. Ento as placas de papelo ondulado, de 2,5 cm de

    espessura, tiveram que ser fabricadas a partir de aparas de papis descartados

    e, com isso, ficaram muito porosas.

    De acordo com Sheppard (1974), para solucionar o problema,

    impregnaram-se as chapas com enxofre, o que aumentou sua qualidade e astornou rgidas, contribuindo com os processos de serragem e fixao das peas

    com pregos.

    Assim, projetou-se um abrigo de 2,40 x 4,80 m (figura 3.4), que pudesse ser

    eventualmente aumentado e que pesava, no total, 500 kg.

    Pode-se dizer que as qualidades obtidas no produto final superaram

    todas as expectativas; alm de poder ser montado por apenas uma pessoa em

    uma hora de trabalho, o abrigo que foi elaborado tendo-se em mente algo

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    SALADO,G e rusa d e C ssia (2006) 28

    provisrio, para durar cerca de um ano, ainda se mantinha erguido 25 anos

    aps ter sido construdo.

    Figura 3.4 Abrigo desenvolvido pelo Instituto de Qumica do Papel dos Estados Unidos.Fonte: Minke, 1980, p.52.

    1954 - Container Corporation of America, EUA, e Richard

    Buckminster Fuller, Itlia

    A figura 3.5 mostra um abrigo emergencial de planta circular que foi

    desenvolvido com painis plastificados de papelo. A Co nta iner Co rp ora t ion o f

    Amer i ca, sediada em Chicago, utilizou 24 painis grampeados uns aos outros.

    (MINKE, 1980).

    Figura 3.5 Abrigo emergencial desenvolvido pela Con ta ine r C orp ora tion o f Amrica.Fonte: Minke, 1980, p.52.

    No mesmo ano, na Feira Trienal de Milo, Richard Buckminster Fuller

    ganhou um prmio com uma cpula geodsica feita de chapas de papelo

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    29 SALADO,Ge rusa d e C ssia ( 2006)

    ondulado. Esta construo teve seu custo estimado, na poc a, em US$ 500,00 e

    possua uma rea de 93 m2. (INO, 1984).

    1957 - Richard Buckminster Fuller, Canad

    Richard Buckminster Fuller deu seqncia aos seus estudos e orientou

    alunos da Universidade de McGill, em Montreal, a construir uma estrutura

    geodsica de 9,5 m de dimetro, com chapas de papelo em formato de

    losangos, conforme mostra a figura 3.6. (MINKE, 1980).

    Figura 3.6 Estrutura geodsica de chapas de papelo elaborada por Richard BuckminsterFuller. Fonte: Minke, 1980, p.52.

    1962 - Universidade de Michigan, EUA

    No Laboratrio de Pesquisas Arquitetnicas da Universidade de Michigan,

    iniciaram-se estudos sobre a aplicao da espuma de poliuretano em conjunto

    com o papelo, para aplicao estrutural. Os resultados foram satisfatrios.

    (MINKE, 1980).

    1966 - Sanford Hirshen e Sym van der Ryn, EUA

    Na Califrnia, Sanford Hirshen e Sym van der Ryn projetaram abrigos

    temporrios de papelo para agricultores imigrantes figura 3.7. As placas de

    papelo, impermeabilizadas com filme de polietileno, formavam painis

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    sanduche com miolo de espuma de poliuretano de 10 mm de espessura.

    (MINKE, 1980).

    Figura 3.7 Abrigos temporrios de placas de papelo na Califrnia.Fonte: Minke, 1980, p.54.

    1968 - Hatch Mill Foundation School, Inglaterra

    Conforme Minke (1980), estudantes da Ha tc h M ill Fou nd a t ion Sc ho ol,

    Inglaterra, fizeram um novo experimento sob a coordenao de Keith

    Critchlow. Eles fizeram uma cpula polidrica de 142 m2, toda em papelo.

    1969 - Universal Paper-tech Corp. e City Investing Co., EUA

    Duas empresas norte-americanas, a Unive rsa l Pa p e r-tec h C o rp. e a City

    Inve sting C o., desenvolveram uma casa com papelo quimicamente tratado.

    A casa, destinada popula o de classe mdia, custava cerca de

    US$ 800,00. Era feita com chapas de papelo de espessura equivalente a 8,0

    mm, com um revestimento superficial de fibra de vidro. (ENGINEERING NEWS

    RECORD, 1969).

    1972 - Hbner, Huster e Hasermacher, Alemanha

    Nas Olimpadas de Munique, Hbner, Huster e Hasermacher projetaram

    instalaes temporrias com placas de papelo ondulado, como mostra a

    figura 3.8. (MINKE, 1980).

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    Figura 3.8 Instalaes de papelo para a Olimpada de Munique.Fonte: Minke, 1980, p.57.

    1974 - Polytechnic of Central London, Inglaterra

    Um outro modelo de abrigos emergenciais, figura 3.9, tambm originados

    na Inglaterra, foi desenvolvido por John Gibson, Hong Lee e J ohn Zerning, na

    Polytec hnic of C ent ra l Lon d on. (MINKE, 1980).

    Figura 3.9 Abrigos emergenciais de papelo na Inglaterra.Fonte: Minke, 1980, p.53.

    1975 - Universidade de Surrey, Inglaterra

    Vinzenz Sedlak desenvolveu em sua dissertao de mestrado, na

    Universidade de Surrey, Inglaterra, estudos sobre construes de papelo,

    dando maior nfase s questes estruturais. Como produto final, construiu um

    prottipo com papelo dobrado em vrios planos, figura 3.10, e submeteu-o a

    testes de cargas. O resultado constatou uma grande estabilidade. (MINKE,

    1980).

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    Figura 3.10 Prottipo de papelo desenvolvido por Vinzenz Sedlak em sua dissertao demestrado, Inglaterra. Fonte: Minke, 1980, p.54.

    1977 - California Polytechnic State University, EUA, e prottipos em

    Kassel, Alemanha

    Na Califrnia, foram desenvolvidos dois outros prottipos de abrigos

    provisrios, por estudantes da Ca lifo rnia Polytec hn ic Sta te University figuras

    3.11 e 3.12.

    O papelo usado foi oriundo de caixas de verduras, frutas e plantas, foi

    impregnado com cera a 160 C e usado para formar painis duplos. (MINKE,

    1980).

    Figura 3.11 Prottipo de papelo desenvolvido por estudantes da Ca liforn ia Polytec hnic Sta te

    University Modelo 01. Fonte: Minke, 1980, p.53.

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    Figura 3.12 Prottipo de papelo desenvolvido por estudantes da Ca liforn ia Polytec hnic Sta teUniversity Modelo 02. Fonte: Minke, 1980, p.53.

    O desenvolvimento deste material gerou outros frutos. O primeiro foi um

    abrigo em forma de arco, construdo em Kassel - figura 3.13. Com rea de 52

    m2, a estrutura foi toda feita em madeira e a vedao utilizou os painis duplos

    com chapas de papelo impregnados de cera. (MINKE, 1980).

    Figura 3.13 Abrigo em arco, construdo em Kassel com papelo.Fonte: Minke, 1980, p.58.

    A figura 3.14 mostra uma outra aplicao, uma construo de 79 m2, na

    qual os mesmos tipos de painis foram usados para vedao. Contudo, para

    preencher o espao entre as suas duas faces, usou-se garrafas plsticas e latas

    coladas com betume. (MINKE, 1980).

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    Figura 3.14 Construo experimental de plac as de papelo e garrafas plsticas em Kassel.Fonte: Minke, 1980, p.59.

    1984 - Escola de Engenharia de So Carlos, Brasil

    A pesquisa de mestrado da Engenheira Civil Akemi Ino, realizada na

    Escola de Engenharia de So Carlos, da Universidade de So Paulo (EESC-USP),

    resultou em mais um modelo, o qual mostrado na figura 3.15.

    O estudo, cujo objetivo principal foi avaliar a viabilidade do uso do

    papelo ondulado pintado em casas provisrias, foi concludo com a

    construo de uma pequena casa, de apenas um cmodo e 7,60 m2. Pode-se

    dizer que dois anos e meio aps sua construo, o prottipo ainda mantinha

    boas condies de uso. (INO, 1984).

    Figura 3.15 Prottipo de casa provisria desenvolvido por Akemi Ino com chapas de papeloondulado. Fonte: Ino, 1984, p.168.

    1999 - Museu de Arte das Crianas Nemunoki, Japo

    O Museu de Arte das Crianas Nemunoki (figura 3.16) um espao de

    300 m2que foi projetado pelo arquiteto japons Shigeru Ban e construdo para

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    uma escola de crianas especiais, servindo para estas exporem os seus

    trabalhos de arte.

    A cobertura, em formato triangular, feita de painis de papelo

    suportados por quinze pilares metlicos. Cada painel produzido com ummiolo tipo colmia e folhas de papel coladas nas duas faces, formando uma

    unidade.

    Algumas dessas placas medem 0,60 m x 1,00 m, outras medem 0,60 m x

    3,00 m. De trs em trs, elas formam tringulos com lados de 3,00 m ou 1,00 m, e

    altura de 0,60 m. No encontro dos tringulos de 3,00 m de lado so colocados

    os pilares e, dentro destes grandes tringulos, so inseridos os menores figura

    3.17. As juntas, desenvolvidas especialmente para este projeto, so de alumnio.

    (McQUAID, 2003).

    A figura 3.18 mostra que essa composio forma uma estrutura muito

    forte e coberta por uma membrana translcida de PVC e fibra de vidro

    reforada e corrugada, permitindo a entrada de luz natural, pois a nica

    fonte de iluminao da galeria. (THE J APAN ARCHITECTURE, winter 1999).

    Figura 3.16 Vista interna do Museu de Arte das Crianas Nemunoki.Fonte: McQuaid, 2003, p.59.

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    Figura 3.17 Estrutura da cobertura do Figura 3.18 Perspectiva explodida doMuseu de Arte das Crianas Nemunoki Museu de Arte das Crianas NemunokiFonte: McQuaid, 2003, p.57. Fonte: McQuaid, 2003, p.56.

    3.2.1. Formas de papelo para pilares de concreto

    Tubos de papelo j so fabricados no Brasil h muitos anos e

    empregados como formas para pilares de concreto cilndricos ou de outros

    formatos, como retangulares ou hexagonais, conforme as figuras 3.19 e 3.20.

    Estes tubos so feitos de papel kraft ou semi-kraft, de diversas gramaturas,

    enrolado no sistema espiral.

    Figuras 3.19 e 3.20 Formas e tubos de papelo empregados na construo civil.Fonte: Dimibu, 2004, p.02.

    3.2. O uso de tubos de papelo na construo civil

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    Segundo Dimibu (2004), as maiores vantagens desse tipo de forma so a

    sua leveza, a possibilidade de rpida colocao e fcil desforma com uma

    mo-de-obra reduzida figura 3.21.

    Figura 3.21 Tubo de papelo sendo usado para a moldagem de um pilar.Fonte: Dimibu, 2004, p.03.

    Alm disso, os tubos possuem revestimento interno impermeabilizado e

    no aderente ao concreto, no absorvem a gua do concreto nem deixam

    vazar a sua nata e no requerem escoramento. Podem ser feitos de diversos

    dimetros, comprimentos e espessuras, vide tabela 3.1, para terem a resistncianecessria e suportarem a presso da concretagem. Apresentam grande

    rigidez e no reagem com nenhum componente do concreto.

    Tabela 3.1 Peso por metro linear dos tubos de papelo. Fonte: Dimibu, 2004, p.03.

    Dimetro interno (mm) Peso por metro linear (kg)100 1,000

    150 1,400

    200 1,850

    250 2,400

    300 3,200350 3,800

    400 4,400

    450 4,950

    500 6,500

    550 7,150

    600 8,350

    650 9,200

    700 10,700

    750 11,500

    800 13,000

    850 13,800

    900 14,600

    950 15,4001.000 18,000

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    SALADO , Gerusa d e Cssia (2006) 38

    Tambm podem ser aplicados na construo de tetos abobadados,

    estacas, lajes, peas pr-moldadas e como forma perdida para tabuleiros de

    pontes ou lajes figuras 3.22 e 3.23.

    Figuras 3.22 e 3.23 Tubos de papelo sendo usados para caixo perdido.Fonte: Dimibu, 2004, p.05.

    3.2.2. Os tubos de papelo como elementos de vedao e

    estrutura

    A atratividade em se utilizar tubos de papelo na construo civil se d

    por estes serem baratos, facilmente relocados e substitudos quando

    danificados, de baixa tecnologia, manterem sua cor natural e no gerarem

    desperdcio. Alm disso, podem ser reciclados ou reutilizados, caso estejam em

    perfeitas condies de uso. (McQUAID, 2003).

    Pensando nisso, alguns engenheiros, arquitetos e pesquisadores

    desenvolveram experimentos de aplicao deste material. O primeiro deles

    surgiu em 1970, nos EUA, mas foi apenas na dcada de 80 que o arquiteto

    japons Shigeru Ban passou a estudar, desenvolver e disseminar de fato esta

    tecnologia; projetando e construindo diversas obras em vrios lugares do

    mundo at os dias atuais.

    Na seqncia sero mostrados, em ordem cronolgica, os projetos que

    utilizaram tubos de papelo. Inicialmente, sero expostos os projetos feitos por

    outros arquitetos e, no prximo captulo, o trabalho de Shigeru Ban.

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    39 SALADO , Ge rusa d e Cssia (2006)

    a) Ponte de tubos de papelo, EUA

    O engenheiro estrutural norte-americano Lev Zetlin, no ano de 1970,

    construiu uma ponte com tubos de papelo para a Internat ional Paper

    C om p a n y .

    A ponte possua um tabuleiro de 9,60 m de comprimento por 3,00 m de

    largura e vigas de 1,20 m de altura. O tabuleiro era formado por tubos de

    papelo dispostos transversalmente, em meio a duas camadas de chapas

    espessas e macias de papelo (figuras 3.24 e 3.25).

    O dimensionamento da ponte foi feito para que esta suportasse uma

    carga de 8,0 toneladas. Com uma sobrecarga de 5,0 toneladas, a ponteapresentou uma flecha de 12 mm. (MINKE, 1980).

    Figuras 3.24 e 3.25 - Ponte de tubos de papelo, EUA.Fonte: Minke, 1980, p.52.

    b) Experimento de Martin Pawley

    No Rensse la e r Po lyte c hn ic Institut e, Nova Iorque, Martin Pawley fez um

    experimento, em 1976. A construo tinha 60 m2e apoios de tubos de papelo

    de dimetro de 10 cm, preenchidos internamente com latas e garrafas figura

    3.26.

    Figura 3.26 Experimento de Martin Pawley com tubos de papelo, EUA.Fonte: Minke, 1980, p.56.

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    c) Shared Ground, Reino Unido

    No ano de 2000, o Reino Unido construiu um gigantesco domus, cerca de

    80.000 m2, para abrigar diversas zonas temticas e expor construes.

    O Dom us M ille niumteve a funo de expor ao longo de um ano produtos

    de construo e tcnicas inovadoras a profissionais da rea, como

    administradores, projetistas, tcnicos, engenheiros e arquitetos.

    Uma das zonas temticas, a Sha red G rou nd, foi projetada por Philip

    Gumuchdjian e Stephen Spence, com o intuito de mostrar s pessoas que

    possvel fazer uma arquitetura de boa qualidade com materiais no refinados.

    (HART, 2000).

    Assim, os arquitetos solicitaram a consultoria de Shigeru Ban e Buro

    Happold e construram um edifcio de 1500 m2, feito quase que inteiramente de

    papelo reciclado.

    O espao, figuras 3.27 e 3.28, consiste de 100 colunas feitas de tubos de

    papelo, com alturas variando entre 9,0 e 18,0 m, 35 cm de dimetro e 15 mm

    de espessura. Esses tubos foram reforados internamente com diafragmas de

    madeira, para aumentar a sua resistncia.

    Alm disso, cada tubo foi composto por 32 camadas de papel kraft,

    especialmente fabricado com uma massa de pedaos de jornal e papis

    descartados, na qual o fabricante adicionou fibras longas para melhorar a sua

    resistncia.

    Figuras 3.27 e 3.28 Construo da Sha red G roun d.Fonte: Hart, 2000, p.44-5.

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    Essa estrutura foi aparafusada em painis de papelo de 1,20 x 1,80m.

    Esses painis foram constitudos de duas chapas exteriores de papelo,

    aderidas a um miolo de papelo corrugado e uma espuma de isolamento.

    Cabos de ao fizeram a amarrao do conjunto e peas de madeira foram

    usadas para conec tar os tubos.

    Segundo Hart (2000), duas questes muito importantes preocuparam com

    relao s carac tersticas do material: a sua capacidade de absorver umidade

    do ar e a sua combustibilidade.

    Assim, para evitar a absoro de umidade, a terceira camada a partir do

    exterior do tubo foi composta de um polmero que funcionou como uma

    barreira ao vapor.

    Quanto ao do fogo, alguns tubos foram envernizados com tinta

    intumescente, que expande como uma espuma resistente ao fogo quando

    exposta a temperaturas muito elevadas. Esses tubos foram testados e, como

    resultado, queimaram em processo de combusto lento e sem chama num

    pequeno pedao, mas no pegaram fogo.

    A capacidade de carregamento da coluna foi determinada como paraa madeira, por Buro Happold. (HART, 2000).

    d) Clube de msica ps-aula Anexo escolar, Inglaterra

    Construdo por Cottrell e Vermeulen em 2002, esse c lube ps-aula a

    primeira construo permanente da Europa que possui componentes de

    papelo na estrutura e vedao.

    Conforme Slessor (2002), os alunos da escola coletaram papis

    descartados para serem rec iclados e darem origem aos tubos de papelo. A

    opo por este material foi seu carter essencialmente ecolgico e seu baixo

    custo, alm da rapidez e facilidade de construo.

    O espao um pavilho musical de apenas um pavimento, cercado por

    paredes e teto em forma de sanfona figuras 3.29 e 3.30. A estrutura

    constituda de 22 tubos de papelo de 18 cm de dimetro, que suportam uma

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    trelia de madeira e o telhado. Os tubos foram revestidos com uma camada

    de verniz.

    Figuras 3.29 e 3.30 Clube de msica ps-aula c onstrudo com tubos de papelo, Inglaterra.Fonte: Slessor, 2002, p.57.

    A vedao feita com painis. Sua estrutura feita em madeira e omiolo de papelo do tipo colmia. A face externa coberta com uma placa

    de fibrocimento e a interna uma placa de papel rec iclado. (SLESSOR, 2002).

    Os painis tambm contm uma camada de barreira ao vapor e a

    massa do papelo foi quimicamente tratada para reduzir sua capacidade de

    absoro.

    O projeto foi elaborado para durar 20 anos e ser 90% reciclado.

    e) Ecovila de papel em Campinas, Brasil

    No ano de 2003, Anita de Domenico, Mirian Vaccari e Mnica

    Marcondes, alunas do ltimo ano do curso de Arquitetura e Urbanismo da

    Universidade de So Paulo (USP), desenvolveram uma proposta de interveno

    para a Vila dos Ferrovirios, em Campinas.

    O projeto, que no foi construdo, seguiu as proposies da Agenda 21

    Comunidades sustentveis ambiental, econmica e socialmentee utilizou

    tubos de papelo.

    Elementos de papelo so propostos na estrutura, cobertura e vedao

    das casas, com o intuito de demonstrar que o papelo pode ser usado em

    carter permanente e durvel. (VACCARI, 2003).

    As residncias, de dois pavimentos, tm sua estrutura em tubos depapelo, formando pilares, vigas de alma cheia e vigas-vages. Estas ltimas

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    foram propostas com tubos de menor dimetro, geralmente fabricados para a

    indstria txtil, e possibilitariam vencer vos maiores figuras 3.31 e 3.32.

    Figuras 3.31 e 3.32 Foto da maquete do sistema estrutural e elevao da casa projetada porestudantes da FAU-USP. Fonte: Vaccari, 2003, p.70.

    A vedao proposta atravs de painis-sanduche formados por placasexternas de papelo ondulado e miolo de colmia de papel. Os mesmos

    painis so propostos na cobertura, sob embalagens longa-vida re-utilizadas.

    A alvenaria convencional apenas proposta no mdulo hidrulico,

    contribuindo para o contraventamento da unidade.

    De acordo com Vaccari (2003), como soluo para impermeabilizar o

    material e torn-lo resistente a altas temperaturas, o grupo de estudantes

    sugere que, durante o processo de fabricao, sejam usadas colas especiais

    resistentes umidade e ao calor.

    As casas, de sistema estrutural modular, so elevadas do solo para evitar

    contato com umidade.

    f) Centro Cultural Zona Norte, Brasil

    Gerusa Salado, ao concluir seu curso de graduao na Faculdade de

    Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, apresentou

    como Trabalho Final de Graduao o projeto de um centro cultural no bairro

    de Santana, regio Norte da capital paulista.

    Fruto de uma pesquisa abrangente sobre materiais e tcnicas construtivas

    alternativas, o projeto arquitetnico um exerccio projetual baseado em todo

    o estudo, tido como o seu produto final. Nele, alguns dos materiais levantados e

    estudados so aplicados, em sistemas de estrutura, vedao e cobertura. Entre

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    eles, os mais importantes so o concreto reciclado, a terra-palha, os tubos de

    papelo e a madeira.

    O projeto, com rea de 23.000 m2e capacidade para atender a 18.000

    pessoas por dia, possui um programa amplo, compreendendo bibliotecas, salasde leitura, auditrios, espaos para exposies e apresentaes artsticas,

    restaurante, etc figura 3.33.

    Figura 3.33 C entro Cultural Zona Norte.Fonte: Salado, 2003, p.142.

    Segundo Salado (2003), por se tratar de uma edificao muito grande e

    conter vrios andares, os tubos de papelo foram empregados somente como

    vedao.

    Assim, dependendo do ambiente a ser vedado, os tubos foram dispostos

    com espaamentos diferentes entre si e intercalados com panos de vidro, e em

    algumas situaes foram unidos uns aos outros com espuma de poliuretano.

    Todos os tubos de papelo, 30 cm de dimetro, 6,0 mm de espessura e

    4,0 m de altura, foram propostos sobre bases de madeira, nas quais seriam

    parafusados, para evitar o contato com superfcies molhadas.

    Com esse material ainda se fizeram os reservados, nos sanitrios feminino

    e masculino. Tubos com dimetro de 1,20 m e espessura de 6 mm possuem um

    corte frontal, possibilitando o encaixe da porta, ventilao e iluminao. Foi

    proposto banh-los em amnia e uretano para ficarem impermeveis e

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    protegidos da sujeira e do mau cheiro. Tambm devem ser pintados

    internamente de branco para aumentar a claridade. (SALADO, 2003).

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    4 O USO DOS

    TUBOS DE PAPELO

    PELO ARQUITETO

    SHIGERU BAN EM

    SUAS OBRAS

    O arquiteto japons Shigeru Ban desde o princpio buscou se destacar em

    sua carreira. Estudou na Unio Cooper, em Nova Iorque, sob a orientao do

    renomado arquiteto americano J ohn Hejduk, um dos integrantes do New Yo rk

    Five24no fim dos anos 60, e se formou em 1984, junto com a obteno de um

    prmio.

    Nesse perodo de estudos, o Racionalismo lhe propiciou uma rica

    apreciao do Modernismo ocidental e uma verso racionalizada do espao

    japons tradicional. Ban tambm conheceu o voluntariado, e se surpreendeu

    com a disposio de estudantes americanos para distribuir sopas aos pobres.

    24O New York Fiveera um grupo formado por cinco arquitetos atuantes em Nova Iorque, sendoPeter Eisenman o lder e Michael Graves, Charles Gwathmey, J ohn Hejduk e Richard Meier osoutros integrantes. No fim da dcada de 60 e incio de 70, a partir dos princpios da arquitetura

    moderna e da obra de Le Corbusier, estes arquitetos buscaram desenvolver uma nova baseterica, to ideolgica e rigorosa quanto a conseguida pela vanguarda europia do pr-guerra, rompendo com o Modernismo. (FRAMPTON, 1997).

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    Ao retornar para o J apo, ele trabalhou um ano para Arata Isozaki, em

    Tquio, antes de abrir o seu escritrio.

    O uso do papel na arquitetura tradicional japonesa, em biombos,

    vedaes de janelas, papis de parede, etc, o levou a experimentar asqualidades do papelo em tubos25.

    Ban no gosta de desperdcio e defende e promove a reciclagem como

    uma soluo ps-tecnolgica e ps-industrial. (BERET; PENWARDEN, 2000).

    E alm de ser especialmente preocupado em usar os materiais com

    sensibilidade ecolgica, ele gosta de faz-lo para atender aos ricos e aos

    pobres.

    O arquiteto investe em fundamentos de pesquisa e nos clientes mais ricos

    para subsidiar os projetos que ele faz para os mais pobres; e incentiva os

    estudantes de arquitetura a serem voluntrios de suas construes. Alm disso,

    para suas obras sociais, Ban sempre tenta conseguir tubos de papelo e outros

    materiais doados.

    Shigeru Ban defende uma idia muito importante dizendo que a

    arquitetura faz, atualmente, pouca coisa para servir aos necessitados. O

    arquiteto pensa que enquanto muitos chamam as pessoas pobres de minoria,

    em termos globais esse grupo muito grande e representa um desafio para

    todos os arquitetos. (BUNTROCK, 1996).

    O trabalho de Ban mantm as caractersticas simples do tubo de papelo

    e aumenta as suas qualidades bsicas para gerar um material estrutural slido.

    Com isso, ele transforma simples tubos em construes grandiosas e dediversos tipos, fazendo-se repensar as idias de fraqueza, durabilidade e

    natureza efmera do papelo.

    Aps as primeiras experinc ias, Ban l