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ALINE MARQUES MESQUITA EFEITO DO BORO COMO PROMOTOR EM ÓXIDOS DE FERRO: ESTUDO DA OXIDAÇÃO DE COMPOSTOS ORGÂNICOS MODELO LAVRAS - MG 2014

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ALINE MARQUES MESQUITA

EFEITO DO BORO COMO PROMOTOR EM ÓXIDOS DE FERRO: ESTUDO DA OXIDAÇÃO

DE COMPOSTOS ORGÂNICOS MODELO

LAVRAS - MG

2014

ALINE MARQUES MESQUITA

EFEITO DO BORO COMO PROMOTOR EM ÓXIDOS DE FERRO: ESTUDO DA OXIDAÇÃO DE COMPOSTOS ORGÂNICOS MODELO

Dissertação apresentada à Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Agroquímica, para a obtenção do título de Mestre.

Orientador

Dr. Mário César Guerreiro

Coorientadora

Dra. Iara R. Guimarães

LAVRAS - MG

2014

Mesquita, Aline Marques. Efeito do boro como promotor em óxidos de ferro : estudo da oxidação de compostos orgânicos modelo/ Aline Marques Mesquita. – Lavras : UFLA, 2014.

77 p. : il. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Lavras, 2014. Orientador: Mario Cesar Guerreiro. Bibliografia. 1. Processo Fenton. 2. Ácido bórico. 3. Goethita. I. Universidade

Federal de Lavras. II. Título. CDD – 546

Ficha Catalográfica Elaborada pela Coordenadoria de Produtos e Serviços da Biblioteca Universitária da UFLA

ALINE MARQUES MESQUITA

EFEITO DO BORO COMO PROMOTOR EM ÓXIDOS DE FERRO: ESTUDO DA OXIDAÇÃO DE COMPOSTOS ORGÂNICOS MODELO

Dissertação apresentada à Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Agroquímica, para a obtenção do título de Mestre.

APROVADA em 25 de fevereiro de 2014. Dr. Cleiton Antônio Nunes UFLA Dr. Jonas Leal Neto UFLA

Dr. Mário César Guerreiro

Orientador

LAVRAS - MG

2014

AGRADECIMENTOS

Agradeço a toda minha família, em especial à minha mãe e à minha avó,

pelo imenso amor e incentivo incondicional. E, principalmente, por entenderem

a minha ausência, serei eternamente grata. Ao Tio Nonô, pelo exemplo de

simplicidade, muito trabalho, perseverança e muita alegria. A todas as tias e os

tios, pelo carinho, por olharem por mim como mais uma filha e às primas e aos

primos, pelos momentos felizes.

Ao Paulo, menino de ouro, trabalhador e esforçado, pela paciência, o

companheirismo e o comprometimento com nossa relação. Após tantas idas e

vindas, finalizamos mais uma etapa de nossas vidas, com muito amor, paciência

e, principalmente, cumplicidade. E, não muito menos importante, na mesma

cidade! Que venham os próximos desafios e etapas! Vida nova sempre! À

família do Paulo, que também acompanhou de perto essa jornada e me apoiou,

com preocupação, zelo e carinho.

Ao professor Guerreiro, pela oportunidade de trabalhar no grupo, pela

paciência e pelos incansáveis ensinamentos profissionais e pessoais,

principalmente de compromisso e humildade. Obrigada pelo exemplo e por toda

dedicação ao longo do trabalho.

À professora Iara, que tenta nos contagiar com toda a sua paixão pelo

que faz, sempre encontrando um lado positivo nas adversidades dos

experimentos, pela infinita disponibilidade em dar explicações com toda

paciência e elegância possível, nos fazendo acreditar em nosso trabalho e em nós

mesmos. Iara, você “semeia paixão e escreve na alma”. Obrigada, pelo exemplo

e por toda a dedicação ao longo do trabalho.

Aos eternos amigos, Deise, Lucas, Wil, Josué, Aline Gomes e “Anas

Carolinas”, pelo companheirismo. Em especial, a Lili, pela paciência, atenção e

pelos helps de última hora. Aos companheiros de laboratório, Furmiga, Diogo,

Gleys, Débora, Éster, Tetê, Flavia, Uni César (Júlio), Grasi, Alice, Carlos, Gian

e Kxumba. É bem mais divertido o trabalho com vocês. Aos funcionários do

Departamento de Química, Ana, Bruna, Lydiane, Maíra e, em especial, a

Shirley, pela ajuda e paciência.

À Universidade Federal de Lavras e ao Departamento de Química, pela

oportunidade concedida para a realização deste projeto de pesquisa.

À CAPES, pela bolsa de estudos ao CNPq, à FINEP e à FAPEMIG, pelo

apoio financeiro.

RESUMO

O estudo foi realizado com o objetivo de obter óxidos de ferro (fase goethita, α-FeOOH) para ser utilizado como catalisadores em reações baseadas na química Fenton, na oxidação catalítica do azul de metileno e da quinolina. Além disso, por meio do tratamento com ácido bórico, buscaram-se modificações superficiais, visando melhorar as propriedades catalíticas do óxido pela geração de grupos mais ativos na superfície das goethitas. Para investigar os tipos de estruturas formadas na superfície, as goethitas foram caracterizadas por análise termogravimétrica, microscopia eletrônica de varredura, espectroscopia vibracional na região do infravermelho, espectroscopia Mössbauer, espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios X, espectroscopia de absorção de raios X e difratometria de raios X. A associação dessas técnicas evidenciou a complexação do ácido bórico na superfície das goethitas e a redução de algumas espécies de Fe(III) para Fe(II). Quando testada na oxidação dos compostos orgânicos, a nova classe de óxido de ferro apresentou elevada capacidade de degradação dos componentes orgânicos presentes em solução. O aumento de atividade catalítica pode ser atribuído à atuação do boro como promotor na transferência de elétrons do ferro para o peróxido de hidrogênio, além da presença de espécies de Fe(II), que são cineticamente mais favoráveis para a química Fenton.

Palavras-chave: Processo Fenton. Ácido bórico. Goethita e compostos orgânicos.

ABSTRACT

The aim of this study was to obtain iron oxides (goethite phase, α -

FeOOH) for using as catalysts in reactions based of chemical Fenton in the catalytic oxidation of methylene blue and quinoline. Moreover, by means of the treatment with boric acid, it was attempted to surface modifications in order to improve the catalytic properties of the oxide through the generation of more active groups on the surface of goethites. The types of structures formed on the surface were investigated through the characterization by thermogravimetry analisys, scanning electron microscopy, spectroscopy vibrational infrared, spectroscopy Mössbauer, spectroscopy X-ray excited photoelectron, spectroscopy X-ray absortion and diffraction. The association of these techniques revealed the complexation of boric acid on the surface of goethites and partial reduction of some species of Fe(III) to Fe(II). When tested in the oxidation of organic compounds, the new class of iron oxide showed high capacity for degradation of organic components present in the solution. The increase in catalytic activity is assigned the role of boron as a promoter in the transfer of electrons from iron to hydrogen peroxide, and the presence of species of Fe(II), which are kinetically more favorable for Fenton’s reaction. Keywords: Fenton process. Boric acid. Goethite and organic compounds.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...............................................................................10 2 OBJETIVOS ...................................................................................12

3 REFERENCIAL TEÓRICO ..........................................................13 3.1 Processo Fenton...............................................................................13 3.2 Processo Fenton heterogêneo..........................................................15 3.3 Processo foto-Fenton.......................................................................17 3.4 Óxidos de ferro como catalisadores................................................19

3.5 Óxidos de ferro modificados...........................................................20 4 SEÇÃO EXPERIMENTAL ............................................................23 4.1 Síntese dos materiais.......................................................................23 4.2 Caracterização dos materiais..........................................................24 4.2.1 Análise termogravimétrica (TGA)..................................................24

4.2.2 Microscopia eletrônica de varredura (MEV) e mapeamento dos elementos (EDS)..............................................................................24

4.2.3 Espectroscopia vibracional na região do infravermelho (FTIR) ...25

4.2.4 Difratometria de raios X (DRX).....................................................25

4.2.5 Espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios X (XPS).........25 4.2.6 Espectroscopia Mössbauer..............................................................25 4.2.7 Espectroscopia de absorção de raios X (XAS) e estudos XANES..26

4.3 Testes catalíticos..............................................................................26 4.3.1 Decomposição de H2O2....................................................................26 4.3.2 Avaliação das goethitas para processos tipo-Fenton......................28 4.3.3 Avaliação das goethitas para o processo foto-Fenton ....................29 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................31

5.1 Caracterização dos materiais..........................................................31 5.1.1 Análise termogravimétrica (TGA)..................................................31

5.1.2 Microscopia eletrônica de varredura (MEV) e mapeamento dos elementos (EDS)..............................................................................33

5.1.3 Espectroscopia vibracional na região do infravermelho (FTIR) ...34

5.1.4 Difratometria de raios x (DRX) ......................................................37

5.1.5 Espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios X (XPS).........40 5.1.6 Espectroscopia Mössbauer..............................................................45 5.1.7 Espectroscopia de absorção de raios X (XAS) e estudos XANES..48

5.2 Testes catalíticos..............................................................................52 5.2.1 Decomposição de peróxido de hidrogênio......................................52

5.2.2 Avaliação das goethitas para processos tipo-Fenton......................55 5.2.2.1 Degradação do corante catiônico azul de metileno (AM) ..............55 5.2.2.2 Oxidação da quinolina....................................................................58 5.2.3 Avaliação das goethitas para o processo foto-Fenton ....................60

5.2.3.1 Monitoramento por espectroscopia UV-Visível .............................60

5.2.3.2 Monitoramento de processos UV-irradiados por espectrometria de massas com ionização por electrospray (ESI-MS)....................62

6 CONCLUSÕES...............................................................................67 REFERÊNCIAS ..............................................................................68

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1 INTRODUÇÃO

Muitos compostos orgânicos são considerados potenciais contaminantes

de águas naturais, em razão da sua elevada toxidez, difícil degradação natural e,

portanto, elevada persistência no ambiente (JANDA et al., 2004; GAJÓVIC et

al., 2011; GUIMARÃES et al., 2013). A remoção ou a destruição de

contaminantes orgânicos presentes em efluentes sempre constituíram um sério

problema para o setor produtivo. Dessa forma, diversos estudos têm sido

realizados, visando buscar novos métodos que permitam minimizar os impactos

gerados (SOUZA; PERALTA-ZAMORA, 2005; PEREIRA et al., 2011; BAE;

KIM; LEE, 2013).

A intensa busca por processos para controlar a poluição ambiental leva a

estudos de otimização dos processos oxidativos avançados (POAs). Esses

processos degradam poluentes orgânicos recalcitrantes no ambiente, originando

produtos finais, em sua grande parte, inofensivos, tais como dióxido de carbono,

água e sais. Para esses processos, a degradação é devido à formação,

principalmente, de radicais hidroxila (HO●), espécie altamente reativa, segundo

Garrido-Ramírez, Theng e Mora (2011).

No caso das reações tipo Fenton, em que os radicais são gerados pela

decomposição do peróxido de hidrogênio sobre a superfície do ferro em fase

heterogênea, a formação desses radicais depende da capacidade de transferência

de elétrons do metal para o peróxido de hidrogênio (VENNY; NG, 2012). A

literatura descreve bem o potencial de minerais à base de óxidos de ferro para

catalisar a oxidação de compostos orgânicos por meio de reações Fenton e tipo

Fenton (ANDREOZZI; D’APUZZO; MAROTTA, 2002; SÁNCHEZ-

SÁNCHEZ et al., 2007; GUIMARÃES et al., 2008; GARRIDO-RAMÍREZ;

THENG; MORA, 2011; GAJOVIĆ et al., 2011; GUIMARÃES et al., 2013).

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A goethita (α-FeOOH), um hidróxido de ferro estável, geralmente exibe

uma forte afinidade por oxiânions. Essa afinidade tem um impacto significativo

sobre as propriedades físicas e químicas da goethita, podendo, após interação,

levar a um material diferente do óxido precursor (GOLI et al., 2011). Essa

possibilidade de modificação se torna bastante interessante, uma vez que, em

catálise heterogênea, o método de preparação de um catalisador determina sua

atividade catalítica e seletividade. Nesse contexto, métodos de modificação são

cada vez mais estudados para a otimização dessas propriedades (AQUINO et al.,

2008).

A modificação de goethitas foi, primeiro, realizada baseando-se no

comportamento de seus análogos, como AlOOH, e em sistemas naturais que

continham elementos substituintes. Um caso típico de dopagem natural ocorre

com alumínio em goethitas, sistema em que já foram observados cerca de 30%

de substituição (CORNELL; SCHWERTMANN, 2003). Também no ambiente

natural foi verificado que uma fração significativa de boro apresenta-se ligada às

superfícies de ferrominerais e cujo compósito exibe propriedades diferentes dos

materiais puros. Sendo assim, existe um interesse em métodos de preparação de

compostos de metais de transição e boro, especialmente sob a forma de

partículas para potenciais aplicações tecnológicas ou ambientais (PEAK;

LUTHER; SPARKS, 2003; KOSMULSKI et al., 2004). Rotas de síntese

utilizando boro-hidreto de sódio (NaBH4) e ácido bórico (H3BO3) são bem

difundidas na literatura. Porém, a redução dos íons metálicos causada pelo

tratamento com NaBH4 modifica a estrutura do material e, geralmente, pode

alterar características desejáveis do catalisador, como a área superficial

específica (KIM; KIRKPATRICK, 2006; RESENDE et al., 2007).

Estudos de goethita modificada com ácido bórico apresentaram

resultados promissores para degradação fotocatalítica de compostos orgânicos

(LIU et al., 2010; SHAHWAN et al., 2011). Esses estudos revelaram um

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aumento na taxa de oxidação e o atribuíram à maior facilidade na transferência

de elétrons criada pela formação de complexos de superfície, além da maior

separação no par elétron-lacuna, que impossibilita que goethitas puras sejam

aplicadas em processos fotocatalíticos. No entanto, a forma de complexação do

boro com óxidos de ferro e o mecanismo de separação elétron-lacuna para os

processos fotoassistidos ainda não foram completamente elucidados (KHAN et

al., 2008; LIU et al., 2012), assim como a atividade de goethitas modificadas

com boro para processos sem irradiação, que se limitam a processos de adsorção

de metais (LIU et al., 2010).

2 OBJETIVOS

Diante das consideraçõess mostradas anteriormente, este estudo foi

realizado com o objetivo geral de entender melhor a estrutura e as propriedades

catalíticas de uma série de goethitas sintéticas modificadas com boro. Esse

material foi aplicado em diferentes sistemas redox, para a degradação de

compostos orgânicos de interesse ambiental.

Para atingir este objetivo, a seguinte estratégia experimental foi seguida:

(i) sintetizar uma série de óxidos de ferro na fase goethita; (ii ) modificar a

superfície desses materiais por meio da impregnação de boro e (iii ) caracterizar e

testar as atividades catalíticas dos materiais na oxidação do azul de metileno e

quinolina via sistemas utilizando goethita modificada/peróxido de hidrogênio

(reação Fenton heterogênea ou tipo Fenton), goethita modificada/peróxido de

hidrogênio/ácido fórmico e goethita modificada/peróxido de

hidrogênio/irradiação (reação foto-Fenton heterogênea) .

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Processo Fenton

Glaze, Kang e Chapin (1987) definiram os processos oxidativos

avançados (POAs) como processos de tratamento de água que envolvem a

geração de radicais hidroxila (HO●) em quantidade suficiente para promover

uma purificação eficiente de água, atuando à temperatura ambiente (25 oC) e à

pressão atmosférica (1 atm). O radical hidroxila é um poderoso e não seletivo

oxidante químico, capaz de oxidar a maioria dos compostos orgânicos. De

acordo com Nogueira et al. (2007), dependendo da estrutura do poluente em

questão, diferentes reações podem ocorrer, incluindo a (i) transferência de

elétrons, (ii) a abstração de um átomo de hidrogênio para formar água e (iii) a

hidroxilação ou a adição eletrofílica a uma ligação não saturada, como ilustrado

no esquema da Figura 1.

Figura 1 Modos de ataque possíveis do HO● (i) transferência de elétrons, (ii)

abstração de um átomo de hidrogênio e (iii) hidroxilação (adaptado de NAVALON; ALVARO; GARCIA, 2010)

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Um dos mais importantes processos para a geração de radicais hidroxila

(HO●) em um processo oxidativo avançado é alcançado pelo sistema Fenton.

Esse sistema teve origem em 1876, quando, em um trabalho pioneiro, Fenton

assinalou a possível utilização de uma mistura de H2O2 e Fe(II) solúvel (reagente

de Fenton) para destruir o ácido tartárico. Parte da comunidade científica, no

entanto, considera que a química de Fenton começou em 1894, quando o mesmo

autor publicou um estudo mais profundo sobre a oxidação deste ácido com o tal

reagente Fenton (KOPPENOL, 1993; KEHRER, 2000; DUNFORD, 2002).

A utilidade prática do reagente de Fenton para a oxidação de compostos

orgânicos foi consolidado na década de 1930, quando Haber e Weiss sugeriram

um mecanismo radicalar para a decomposição catalítica do H2O2 por sais de

ferro. Por este motivo, a reação de Fenton é, muitas vezes, chamada reação de

Haber-Weiss (KOPPENOL, 2001).

A reação entre o Fe(II) e peróxido de hidrogênio leva à formação de

espécies intermediárias do tipo radicais, como mostrado pela Eq. 1. Esta reação

é propagada pela redução do Fe(III) a Fe(II) como evidenciado pela Eq. 2, com a

geração de mais radicais (Eq. 3-4). Valores típicos para energia de ativação e

constante de velocidade de cada reação são mostrados nas equações a seguir

(GARRIDO-RAMÍREZ; THENG; MORA, 2011).

Fe2+ + H2O2 → Fe3+ + HO- + HO● Ea=39,5 kJ mol-1 k1=76 mol-1Ls-1 (Eq. 1)

Fe3+ + H2O2 → Fe2+ + HOO● + H+ Ea=126 kJ mol-1 k2=0,001-0,01 mol-1Ls-1 (Eq. 2)

Fe3+ + HOO● → Fe2+ + O2 + H+ Ea=33 kJ mol-1 k3=1,2x106 mol-1Ls-1 (Eq. 3)

HO● + H2O2 → H2O + HOO● Ea=14 kJ mol-1 k4=2,7x107 mol-1Ls-1 (Eq. 4)

O uso desse sistema como agente oxidante para o tratamento de

efluentes aquosos é especialmente atrativo e apresenta algumas vantagens, uma

vez que o ferro é um elemento abundante e não tóxico. Associado a isso, existe o

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fato de o H2O2 ser totalmente miscível com a água e ambientalmente correto, já

que seus produtos de decomposição são oxigênio e água, que não causam um

efeito de contaminação adicional (SÁNCHEZ-SÁNCHEZ et al., 2007).

Apesar da alta eficiência e fácil implementação, o sistema Fenton, na

sua forma clássica, em escala industrial, apresenta algumas inconveniências de

operação, uma vez que requer quantidades estequiométricas dos reagentes e

grandes quantidades de ácidos para se conseguir o pH ótimo da reação.

Consequentemente, uma série de novas reações é necessária, como a

neutralização do efluente e adequação à legislação vigente, para que possa,

finalmente, ser descartado no curso d’água. Com a neutralização, uma grande

quantidade de lodo contendo o precipitado de Fe(III) é formada, o que é uma

importante limitação do processo, devido ao problema de disposição final da

lama gerada (WANG; LIU; SUN, 2012; POURAN; RAMAN; DAUD, 2014).

Esses problemas levaram à necessidade de desenvolver um novo processo que

utilizasse a química Fenton, sem, contudo, permanecer com as dificuldades do

sistema clássico. Assim, a aplicação de reações Fenton heterogêneas, como uma

possível solução para superar as deficiências da catálise homogênea, tem sido

colocada em evidência.

3.2 Processo Fenton heterogêneo

Dentre as variações do processo Fenton clássico, o processo Fenton

heterogêneo é um dos que incluem os principais esforços desenvolvidos para

evitar a necessidade de controle de pH (WANG; LIU; SUN, 2012; LIANG et al.,

2013). Economicamente, a utilização de catalisadores heterogêneos, em especial,

apresenta vantagens em comparação aos homogêneos. Por exemplo, os

catalisadores heterogêneos podem ser facilmente reciclados e regenerados.

Sendo assim, as operações de tratamento de efluentes são significativamente

16

simplificadas quando o catalisador sólido é fácil de manusear (PIRKANNIEMI;

SILLANPAA, 2002; PEREIRA et al., 2011; BABUPONNUSAMI;

MUTHUKUMAR, 2013).

Embora tenha sua eficiência comprovada, o mecanismo de

decomposição de peróxido de hidrogênio sobre catalisadores heterogêneos não é

ainda claramente esclarecido. Para a decomposição sobre superfícies metálicas,

segue-se o mecanismo modificado baseado em dados cinéticos, proposto,

inicialmente, por Weiss (1977) apud Pardieck, Bouwer e Stone (1992), e

mostrado pelas equações a seguir. Nas Eq. (5-9), Msup e M+sup representam o

metal imobilizado na superfície de uma matriz ou presente na constituição de

óxidos, em sua forma fundamental, não carregada, e após oxidação. Nos

processos heterogêneos, a principal função do metal na superfície é o processo

de transferência de elétrons por um mecanismo similar ao mecanismo Fenton

clássico.

Msup + H2O2→ M+sup + HO- + HO● (Eq. 5)

HO● + H2O2→ H2O + HOO● (Eq. 6)

Msup + HOO● → M+sup + HOO- (Eq. 7)

HOO● + H2O → H3O+ + O2

●- (Eq. 8)

M+sup + O2

●- → Msup + O2 (Eq. 9)

Devido a estas vantagens e à alta reatividade do radical, o processo

heterogêneo baseado na reação de Fenton tem larga aplicação na degradação de

poluentes orgânicos, em processos de descontaminação ambiental (SOON;

HAMEED, 2011). Catalisadores à base de óxidos de ferro têm sido usados em

reações tipo Fenton, uma vez que esses materiais são eficientes e de baixo custo

(OLIVEIRA; FABRIS; PEREIRA, 2013). Além disso, catalisadores férricos em

fase heterogênea têm recebido considerável atenção porque promovem a

17

estabilização das fases de ferro e favorecem a alta concentração local de espécies

ativas.

No entanto, esses catalisadores férricos heterogêneos podem apresentar

problemas de desativação. Apesar da possibilidade de desativação devido à

lixiviação dos íons ferro, por exemplo, o catalisador mantém-se ativo durante

sucessivas aplicações, quando “imobilizado” na estrutura de um óxido, nos

poros de um carvão ativado ou nas lamelas de uma argila (NEYES; BAYENS,

2003; GUIMARÃES et al., 2008; CASTRO et al., 2009; GUIMARÃES et al.,

2013). Nesse contexto, o desenvolvimento de novos materiais mássicos estáveis

com propriedades redoxes que possam ser empregados como catalisadores em

reações de oxidação ainda é um desafio de grande importância científica.

3.3 Processo foto-Fenton

Durante as duas últimas décadas, as reações foto-Fenton foram objeto de

numerosas investigações como um tipo de tecnologia de oxidação avançada (HE

et al., 2002). Assim como o processo Fenton clássico e o processo Fenton

heterogêneo, apresentados anteriormente, elas têm sido propostas para degradar

vários compostos e/ou melhorar a biodegradabilidade de efluentes aquosos

(ORTIZ et al., 2008).

Resumidamente, no processo foto-Fenton homogêneo, espécies de Fe(II)

são oxidadas com peróxido de hidrogênio, produzindo radicais hidroxila, que

são responsáveis pela degradação do poluente. O Fe(III) obtido absorve radiação

UV-vis e produz mais radicais livres, ao passo que o Fe(II) é regenerado, o que

torna o processo combinado Fe/H2O2/UV mais eficiente do que o uso de cada

um deles separadamente, devido a essa produção adicional de radicais e por

evitar a acumulação de Fe(III) (BRILLAS; SIRE´S; OTURAN, 2009).

18

Segundo Órtega-Gomez et al. (2012), mais de 30 reações para o

processo foto-Fenton já foram descritas. De forma simplificada, esses autores

consideraram as mais importantes às reações apresentadas nas Equações 10 e 11.

Fe2+ + H2O2→ Fe3+ + HO− + HO• (Eq. 10) Fe3+ + H2O + hν → Fe2+ + HO• + H+

(Eq. 11)

Para superar a necessidade de recuperação dos íons ferro homogêneos,

os quais envolvem custos adicionais com técnicas de precipitação e

redissolução, a imobilização de espécies foto-Fenton ativas sobre matrizes

heterogêneas (zeólitas, argilas, sílicas, nanotubos de carbono, etc.) tem sido

extensivamente estudada, de maneira similar à utilização direta de catalisadores

heterogêneos para a degradação de poluentes orgânicos em soluções aquosas

(MOLINA et al., 2012).

Os oxi-hidróxidos de Fe(III) são capazes de absorver luz em

comprimentos de onda de até 600 nm (HAN et al., 2011). Hematita (α-Fe2O3),

maghemita (β-Fe2O3), magnetita (Fe3O4), goethita (α-FeOOH), etc. exibem

propriedades semicondutoras com valores de “bandgap” estreitos (2,0-2,3 eV)

(GULSHAN et al., 2010).

A goethita, em especial, além da fotossensibilidade, apresenta

resistência à fotocorrosão, funciona em uma grande faixa de pHs e, em especial,

apresenta uma lixiviação quase indetectável de ferro na solução, fazendo dessa

fase de ferro um material promissor para processos Fenton irradiados. Além

disso, em estudos orientados acerca do mecanismo de crescimento do cristal de

goethita foi demonstrado que as condições de síntese, tais como o pH,

temperatura, concentração inicial dos reagentes, bem como a razão [Fe]/[HO-],

podem ser modificadas, a fim de controlar a morfologia de suas partículas, uma

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variável representativa para o comportamento do processo frente ao processo

foto-Fenton (ORTIZ et al., 2008).

O mecanismo de reação de sistemas foto-Fenton heterogêneos sobre

catalisadores mássicos ainda não está completamente esclarecido. A ação dos

fótons e a formação das espécies reativas de oxigênio ainda são complexas e

necessitam ser investigadas. Por isso, a fim de tornar o processo ainda mais

eficiente, estudos são necessários para esclarecer o mecanismo de reação de

sistemas foto-Fenton heterogêneos, utilizando, sobretudo, fases condensadas de

ferro.

3.4 Óxidos de ferro como catalisadores

Uma vasta gama de materiais tem sido utilizada como catalisadores

Fenton. A habilidade e o potencial de materiais baseados em óxidos de ferro

para acelerar reações de oxidação orgânica, seguindo um mecanismo do tipo

Fenton, tem sido bem documentados (DE LA PLATA; ALFANO; CASSANO,

2008; VENNY; NG, 2012; GUIMARÃES et al., 2013). Os óxidos de ferro

podem ser encontrados na natureza em abundância e também facilmente

sintetizados em laboratório. Atualmente, esses óxidos são submetidos a

manipulações especiais para se obter estruturas físicas e químicas com vantagens

adicionais para as reações de destino (WANG; LIU; SUN, 2012). Na catálise

heterogênea, as características superficiais do catalisador afetarão fortemente a

cinética e a eficiência da reação (SOON; HAMEED, 2011).

Óxidos de ferro utilizados para a descontaminação de efluentes podem

ser recuperados e reutilizados porque são praticamente insolúveis em água.

Além disso, o sistema operacional não requer controle rigoroso do pH, como no

caso do processo em fase homogênea (DE LA PLATA; ALFANO; CASSANO,

2008).

20

Com relação ao mecanismo do processo, aparentemente, ele envolve

radicais hidroxila formados na superfície das partículas de ferro, por meio de um

mecanismo comum de reação em cadeia. O primeiro passo desse mecanismo

(Eq. 12-16) é a abstração de hidrogênio para iniciar a oxidação, como descrito

por Venny e Ng (2012).

RH + HO● → H2O + R● (Eq.12) 2 HO● → H2O2 (Eq.13) R● + H2O2 → RHO + HO● (Eq.14) R● + O2 → ROO● (Eq.15) ROO● + RH → ROHO + R● (Eq.16)

O ataque do radical HO●, na presença de oxigênio, leva a uma complexa

cascata de reações oxidativas que podem culminar com a mineralização do

composto orgânico. O mecanismo, contudo, ainda não é completamente

elucidado (BARBUSIŃSKI, 2009).

Dentre os óxidos de ferro mais largamente empregados em processos

industriais, aqueles que despertam maior interesse por parte da indústria são

hematita (α-Fe2O3), maghemita (γ- Fe2O3), magnetita (Fe3O4), goethita (α-

FeOOH) e akaganeíta (β-FeOOH), os quais apresentam elevada atividade

catalítica aliada a uma significativa estabilidade termodinâmica. No que se

refere à química Fenton, óxidos contendo espécies de Fe(III) são cataliticamente

menos ativos que aqueles que apresentam Fe(II). Assim, estudos de modificação

desses óxidos de ferro são necessários para facilitar as transferências eletrônicas

e, consequentemente, maximizar a atividade catalítica do processo heterogêneo.

3.5 Óxidos de ferro modificados

Recentemente, muitos estudos têm sido direcionados à investigação de

diferentes óxidos de ferro parcialmente modificados para a geração de radicais

21

em reações Fenton heterogêneas, sobretudo aqueles que apresentam apenas

Fe(III) em sua estrutura, como a goethita (α-FeOOH ), a hematita (α-Fe2O3) e

outros (POURAN; RAMAN; DAUD, 2014). No entanto, o processo torna-se

pouco atrativo, no sentido de que há uma baixa atividade do material associada à

cinética de reação, desfavorecida pela presença do estado trivalente do metal

(GAJÓVIC et al., 2011; YUAN et al., 2013; POURAN; RAMAN; DAUD,

2014). Para se obter uma atividade catalítica desejável, esses óxidos devem ser

modificados, seja pela dispersão em um material suporte, por impregnação ou

dopagem com outros elementos, por exemplo (GUIMARÃES et al., 2008).

Para processos envolvendo sistemas tipo Fenton com a utilização de

catalisadores contendo boro, na literatura encontram-se materiais à base de

dióxido de titânio (TiO2) (CHEN et al., 2006; FENG et al., 2011; WANG; LIU;

SUN, 2012) e reatores eletrolíticos (processo fotoeletro-Fenton) utilizando

diamante dopado com boro (boron-doped diamond, BDD) como ânodo

(BRILLAS; SIRE´S; OTURAN, 2009; GARZA-CAMPOS et al., 2013;

GARCIA-SEGURA; SALAZAR; BRILLAS, 2013). No entanto, embora sejam

processos eficientes, o TiO2, por exemplo, não é um material com abundância

natural elevada como a do ferro, presente em uma grande variedade de óxidos; já

os processos fotoeletroassistidos apresentam custo adicional com energia e com

a preparação do eletrodo.

Existem poucos métodos disponíveis para a preparação, principalmente

em forma de partículas, de materiais contendo boro e ferro (RESENDE et al.,

2007). Esse tipo de material é conhecido por sua aplicação em ligas metálicas,

com uso conhecido principalmente com aplicação nas engenharias. Sua

utilização relacionada à ciência de materiais com finalidades ambientais se

resume a ensaios de adsorção e a fotomateriais UV-estimulados (LIAO et al.,

2007; LIU et al., 2010; LIU et al., 2012; WANG; LIU; SUN, 2012). Nesse

contexto, a utilização de catalisadores modificados, baseados na formação de

22

compósito de ferro-boro, tem recebido considerável atenção. Sua síntese é

atraente, principalmente, devido à atividade apresentada pelo material após a

formação do composto Fe-B. Estudos mais detalhados desses sistemas são

necessários para elucidar o efeito do boro como aditivo no estado de oxidação

do metal, a saber, o ferro, e sua efetividade em processos catalíticos.

23

4 SEÇÃO EXPERIMENTAL

4.1 Síntese dos materiais

A metodologia utilizada para a obtenção das goethitas foi a descrita por

Cornell e Schwertmman (2003) e consiste do gotejamento gota a gota de 100

mL de NaOH 5 mol.L-1 em uma solução 0,1 mol.L-1 de Fe(NO3)3.9H2O. A

suspensão resultante foi tratada hidrotermicamente a 60 °C, durante 72 horas.

Após este tempo, o material foi lavado com água destilada, à temperatura

ambiente, até a neutralização do pH. Em seguida, foi filtrado e seco, a 60 °C,

durante 24 horas.

Os materiais do tipo Gt-B (goethita-boro) foram sintetizados pela reação

entre as partículas das goethitas sintéticas e ácido bórico. Diferentes proporções

de goethita e ácido bórico foram utilizadas: 1:0.5, 1:1, 1:2, 1:3 e 1:4 m/m. As

suspensões foram obtidas pela adição de 1 g de goethita a 100 mL de água

destilada e quantidade suficiente de H3BO3. Todas as reações foram conduzidas

à temperatura ambiente (25±2 °C) e mantidas em agitação constante, durante 60

minutos. Após esse período, os materiais foram lavados até a neutralidade e

secos em estufa, a 60 °C, durante 24 horas. Os materiais obtidos foram

identificados de acordo com a proporção de goethita/ácido bórico impregnada,

como descrito na Tabela 1.

Tabela 1 Tratamentos realizados Proporção goethita/ácido bórico (m/m) Identificação do material

1:0,5 Gt-B1x0,5 1:1 Gt-B1x1 1:2 Gt-B1x2 1:3 Gt-B1x3 1:4 Gt-B1x4

24

4.2 Caracterização dos materiais

Os materiais foram caracterizados por análise termogravimétrica (TGA),

microscopia eletrônica de varredura (MEV)/análise elementar (EDS) e

mapeamento dos elementos espectroscopia vibracional na região do

infravermelho (FTIR), difratometria de raios X (DRX), espectroscopia de

fotoelétrons excitados por raios X (XPS), espectroscopia Mössbauer e

espectroscopia de absorção de raios X (XANES).

4.2.1 Análise termogravimétrica (TGA)

As análises termogravimétricas foram realizadas utilizando-se o

aparelho TG-DTA mod 8065 D1, da Shimadzu. Foi utilizado um termistor de Pt

e α-Al 2O3, como material de referência. Cerca de 5,0 mg das amostras foram

aquecidas continuamente com temperatura variando de 25 a 700 ºC, a uma taxa

de aquecimento de 10ºC.min-1, sob fluxo de ar.

4.2.2 Microscopia eletrônica de varredura (MEV) e mapeamento dos

elementos (EDS)

A morfologia dos materiais foi analisada por microscopia eletrônica de

varredura, em um microscópio eletrônico LEO EVO 40XVP, usando uma tensão

de 25 kV. A amostra foi colocada sobre a superfície do suporte de alumínio

coberto com fita de carbono dupla face. O material foi coberto com uma camada

delgada de ouro de poucos Ǻ de espessura, em um evaporador (Balzers SCD

050). Os catalisadores foram analisados por energia dispersiva de raios X, em

um equipamento EDS/INCA 350 e os elementos foram mapeados.

25

4.2.3 Espectroscopia vibracional na região do infravermelho (FTIR)

Os espectros na região do infravermelho foram obtidos em um

espectrômetro Digilab Excalibur, série FTS 3000, com faixa espectral de 400 a

4.000 cm-1 e resolução de 4 cm-1. As amostras foram preparadas em forma de

pastilha de KBr.

4.2.4 Difratometria de raios X (DRX)

Os difratogramas de raios X foram obtidos em um difratômetro de raios

X Rigaku Geigerflex, munido de tubo de cobre e monocromador de grafite. As

análises foram obtidas à temperatura ambiente, utilizando-se radiação Kα do Cu

(λ=1,5406 Ǻ), corrente de 30 mA e tensão de 45 kV. A velocidade de varredura

utilizada foi de 1θ.min-1, utilizando-se a contagem de tempo de 5 segundos por

incremento e uma variação angular de 20º e 80º.

4.2.5 Espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios X (XPS)

As análises de XPS foram realizadas utilizando-se um espectrômetro da

Kratos Analytical, modelo XSAM HS. Como fonte excitadora foi empregada a

radiação Kα -Mg. Como referência de energia de ligação foi adotado o valor

284,6 eV para o sinal C 1s de hidrocarboneto (C-C ou C-H).

4.2.6 Espectroscopia Mössbauer

A série de goethitas foi submetida à análise por espectroscopia

Mössbauer utilizando-se um espectrômetro com transdutor e gerador de função

CMTE, modelo MA250, fonte de 57Co/Rh. As amostras foram diluídas em

26

sacarose, na proporção de 1:2 e acondicionadas em pastilhas, utilizadas como

absorvedores. Os espectros Mössbauer foram obtidos à temperatura ambiente

(25 ºC), à velocidade de 10,356 mm.s-1. As calibrações foram realizadas com

folha de ferro metálico (α-Fe).

4.2.7 Espectroscopia de absorção de raios X (XAS) e estudos XANES

Os espectros de absorção de raios X foram adquiridos no Laboratório

Nacional de Luz Síncrotron (LNLS, Campinas), com radiação síncrotron usando

a borda K do ferro, com um mínimo de três espectros coletados para cada

amostra. O LNLS opera a 1,37 GeV e 250 mA. As energias foram alcançadas

com monocromadores de cristais de silício com energia de 7112 eV para a

calibração do sistema.

4.3 Testes catalíticos

4.3.1 Decomposição de H2O2

Para a decomposição de peróxido de hidrogênio (VETEC, 30% p/p) foi

utilizado o sistema mostrado na Figura 2.

27

Figura 2 Sistema utilizado no estudo da atividade dos catalisadores na

decomposição de H2O2

A decomposição do peróxido foi medida pela quantidade volumétrica de

O2 formada (Equação 17) em um sistema fechado, contendo 2,0 mL de solução

30% de H2O2, 5,0 mL de água destilada e 30,0 mg dos óxidos de ferro, sob

agitação magnética em temperatura ambiente. O volume de O2 liberado na

reação foi medido pelo deslocamento da coluna de água em uma proveta

invertida.

H2O2(L)→H2O(L) + ½ O2(g) (Eq. 17)

A decomposição de H2O2 pelos diferentes materiais foi também

realizada na presença de corante orgânico azul de metileno (AM) (Figura 3).

28

S

N

NCH3H3CN

CH3 CH3 Azul de metileno (AM)

Figura 3 Estrutura do composto orgânico modelo

4.3.2 Avaliação das goethitas para processos tipo-Fenton

(i) Oxidação do azul de metileno via sistema Fenton (goethita modificada//H2O2)

As propriedades catalíticas dos materiais foram testadas por meio da

degradação do composto modelo azul de metileno (Figura 3), muito utilizado

como modelo de poluente referência, por sua facilidade operacional no

monitoramento da oxidação e da baixa adsorção em óxidos de ferro. Os testes

catalíticos de degradação do azul de metileno foram realizados utilizando-se 10

mg de catalisador, 9,9 mL da solução de azul de metileno 10 mg.L-1 e 0,1 mL de

H2O2 (50% V/V). Os testes de oxidação do corante foram monitorados por

medidas espectrofotométricas UV-visível (Shimadzu-UV-1601 PC), em λ= 665

nm, e por espectrometria de massas com ionização por electrospray (Agilent-

1100 MS-íon trap), possibilitando a identificação dos possíveis compostos

intermediários formados durante a oxidação do AM. A amostra foi inserida no

aparelho por infusão a um fluxo de 5 µL.min-1, com controle de carga no

quadrupolo ajustado para 30.000 e modo positivo. A temperatura do gás de

secagem (N2) foi de 325 ºC e o fluxo de 4 L.min-1, com potencial de extração de

íons de -3,5 kV.

29

(ii) Oxidação da quinolina via sistema tipo-Fenton (goethita modificada

//H2O2//HCOOH)

O mesmo estudo cinético para oxidação do azul de metileno foi

realizado para a oxidação da quinolina, um composto modelo de poluente

orgânico nitrogenado (Figura 4). Para tal, empregou-se o sistema

H2O2//HCOOH//goethita. Cerca de 120 minutos antes do início da reação,

prepara-se uma solução equimolar de H2O2 e HCOOH (Isofar, 89%) como

proposto por Ferraz et al. (2007).

N Figura 4 Estrutura da quinolina: composto modelo de poluente orgânico

nitrogenado

Os estudos da oxidação da quinolina foram feitos utilizando-se 10 mg de

catalisador, 0,1 mL da mistura equimolar de H2O2//HCOOH e 9,9 mL de

quinolina 10 mg.L-1. O monitoramento da oxidação foi realizado por

espectrometria de massas com ionização por electrospray, nas mesmas

condições descritas no item 4.3.2, porém, com razão massa carga alvo igual a

130 (129 + H+).

4.3.3 Avaliação das goethitas para o processo foto-Fenton

Oxidação do azul de metileno via sistema foto-Fenton (goethita

modificada//H2O2//irradiação)

Para avaliar o potencial fotocatalítico dos materiais, 60 mL de uma

solução 50 mg.L-1 de azul de metileno, a pH 6,0, foram misturados com 60 mg

do material fotocatalisador; 0,6 mL de H2O2 a 50% (v/v) e irradiado com luz

30

ultravioleta (λ = 365 nm). Os ensaios de degradação do AM foram realizados,

sob agitação constante, a 100 rpm, utilizando-se diferentes tempos de reação. A

temperatura utilizada nos ensaios foi de 25±1 °C. Os testes foram monitorados

por medidas espectrofotométricas UV-visível (Shimadzu-UV-1601 PC), em λ=

665 nm, e por espectrometria de massas com ionização por electrospray em

modo positivo (Agilent-1100 MS-íon trap), para a identificação dos

intermediários. A reação foi analisada por infusão direta, com taxa de fluxo de

15 mL.min.-1; os espectros foram obtidos com uma média de 50 varreduras. A

amostra foi inserida no aparelho por infusão a um fluxo de 5 µL.min-1, com

controle de carga no quadrupolo ajustado para 30.000 e modo positivo. A

temperatura do gás de secagem (N2) foi de 325 ºC e fluxo de 4 L.min-1, com

potencial de extração de íons de -3,5 kV. O espectro do íon produto resultante

foi também analisado via ESI-MS/MS.

31

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Caracterização dos materiais

As goethitas foram caracterizadas com o objetivo de investigar se houve

alteração na estrutura-morfologia da goethita, após a complexação do ácido

bórico e seu efeito nas espécies de ferro presentes na superfície desses materiais.

O material obtido por meio da proporção goethita/ácido bórico de 1:0,5

m/m (Gt-B1x0.5) não apresentou melhoria significativa na atividade catalítica,

quando comparado à goethita pura. Os materiais Gt-B1x1, Gt-B1x2, e Gt-B1x3

apresentaram atividades catalíticas semelhantes, com um máximo de atividade

para a Gt-B1x4. Por isso, os materiais Gt-B1x1 e a Gt-B1x4 foram selecionados e

serão objetos de discussão neste estudo.

5.1.1 Análise termogravimétrica (TGA)

Na Figura 5 é apresentada a análise termogravimétrica das amostras de

goethita. Para todos os materiais, os perfis TGA apresentam perdas de massa

correspondentes à decomposição térmica da fase goethita para a formação de

hematita no estágio de máxima desidroxilação (2FeOOH → Fe2O3 + H2O).

32

0 100 200 300 400 500 600 700 800

68

73

77

82

87

91

96

100

2α-FeOOH Fe2O

3+H

2O

2α-FeOOH Fe2O

3+H

2O

� � � � � � �

� � � �

Mas

sa/%

Temperatura/oC

� � � �

� �

� �

B2O

3+3H

2O

Figura 5 Curva TGA da goethita sintética pura e dos materiais modificados, sob

fluxo de ar e velocidade de aquecimento de 10 ºC.min-1

Especialmente para a Gt-B1x4 (Figura 5), é possível observar um

aumento na temperatura de transição de fase goethita-hematita, de 274 para 315

°C. Em comparação com o óxido de ferro puro, essas temperaturas de

desidroxilação tendem a aumentar devido à presença de boro na estrutura da

goethita. Além da desidroxilação característica da fase goethita, para a Gt-B1x4

observa-se uma perda adicional de massa (17%) entre 80 e 180 °C,

correspondente à decomposição do ácido bórico superficial a B2O3 e H2O. Para

Gt-B1x1, essa decomposição é de apenas cerca de 4% de perda de massa, o que

reflete, de maneira direta, o aumento do teor de boro incorporado à superfície da

goethita.

33

5.1.2 Microscopia eletrônica de varredura (MEV) e mapeamento dos

elementos (EDS)

A caracterização morfológica da goethita pura é mostrada, pela análise

por MEV, na Figura 6.

(a) (b)

Figura 6 Micrografia por microscopia eletrônica de varredura (MEV) (9a) e mapeamento dos elementos O (azul) e Fe (vermelho) para amostra de goethita pura (9 b).

A partir das imagens obtidas por MEV constatou-se que a goethita pura

se apresenta como aglomerados de tamanhos irregulares. Além disso, pelo

mapeamento EDS foi possivel observar uma distribuição homogênea dos átomos

de ferro e oxigênio, em perfil típico da fase goethita. Já a caracterização

morfológica para os materiais impregnados com boro mostram perfis

semelhantes ao da goethita pura, em que se pode observar a presença de um

material formado por aglomerados circulares agora um pouco mais heterogêneos

(Figura 7a-d).

34

O Fe B

(a) (b)

FerroO Fe B

(c) (d)

Figura 7 Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura (MEV) para a Gt-B1x1 (a) e Gt-B1x4 (c) e mapeamento elementar O (azul), Fe (vermelho) e B (verde), para Gt-B1x1 (b) e Gt-B1x4 (d)

Além disso, pelo mapeamento EDS, pode-se visualizar uma distribuição

uniforme dos átomos de boro nas superfícies dos materiais.

5.1.3 Espectroscopia vibracional na região do infravermelho (FTIR)

Os espectros vibracionais na região do infravermelho para goethita pura

e as tratadas com ácido bórico são mostrados na Figura 8.

35

4000 3500 3000 2000 1500 1000 500

� �

� � � �

� � �

� � � �

� � �

� �

� �

� �

Tra

nsm

itanc

ia/u

.a.

Comprimento de onda/cm-1

� �

� �

� � �

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� ��

Figura 8. Espectro FTIR para a goethita pura, Gt-B1x1 e Gt-B1x4

De acordo com os resultados da espectroscopia vibracional na região do

infravermelho (FTIR), podem-se observar bandas intensas características da fase

goethita. Essas bandas estão relacionadas a uma vibração intensa próxima a

3.140 cm-1, referente a O-H internos que constituem a estrutura da goethita e

aquelas em 890 e 790 cm-1 estão relacionadas à deformação angular O-H, dentro

e fora do plano, assim como a vibração em 625 cm-1, associada à movimentacão

Fe-O que, juntas, são bandas importantes na identificação da fase goethita e

aparecem no espectro de todos os materiais (RUAN et al., 2002; CORNELL;

SCHWERTMANN, 2003; PRASAD et al., 2006).

Os espectros dos materiais tratados com ácido bórico mostram sinais

em 1.385 cm-1, provenientes do estiramento assimétrico da espécie BO33-

trigonal. As vibrações fracas que aparecem próximas a 1.050 cm-1 são

relacionadas ao estiramento simétrico B-O, enquanto aquela observada para o

36

material Gt-B1x4 em 1.200 cm-1 é relacionada à vibração de estiramento

assimétrico (PEAK; LUTHER; SPARKS, 2003).

Com relacão aos dados obtidos por FTIR, para a região entre 500 e

1.000 cm-1, é interessante observar que uma banda relacionada à vibração Fe-OH

e uma segunda, relativa agora à vibracão B-O, são coincidentes em 800 cm-1.

Para uma goethita pura, a banda relacionada à vibração em 890 cm-1 é maior que

aquela em 790 cm-1. Contudo, para o material Gt-B1x4, pode-se observar uma

inversão nesse comportamento, com a banda em maiores números de onda com

uma intensidade relativa um pouco inferior. Esse comportamento está

diretamente relacionado ao fato de que, nesse material (GT-B1x4), a maior

quantidade de boro já propicia o acomplamento das duas bandas (Fe-OH e B-O)

em regiões próximas a 800 cm-1, o que provoca sua sobreposicão e alteracão na

intesidade relativa desses dois sinais. Essa alteração no perfil de absorção das

goethitas, devido à alteração da superfície-Fe-OH para superfície-Fe-BO2(OH)2,

comprova, mais uma vez, a impregnação do ácido bórico na superficie dos

materiais (FARMER, 1974). Um esquema ilustrativo para a impregnação do

boro na superfície do óxido de ferro é mostrada na Figura 9 (adaptado de LIAO

et al., 2007).

37

Goethita sintética

Fe

OH

Fe Fe

OH OH

H3BO3

Fe

OH

Fe Fe

O

O-H

B

H-O

Fe Fe Fe

O O

O-H

B

H-OOH

Fe Fe Fe

B

O OOH OH OH

Figura 9 Possíveis modos de complexação do ácido bórico na superfície do

óxido de ferro (adaptado de LIAO et al., 2007)

Estudos ainda se fazem necessários para a melhor compreensão dos

modos de complexação do ácido bórico, assim como o modo de atuação do boro

como promotor em reações de oxidação de compostos orgânicos.

5.1.4 Difratometria de raios x (DRX)

As análises por DRX da goethita pura e dos materiais impregnados com

boro são mostradas na Figura 10.

38

Figura 10 DRX para a Gt-pura, Gt-B1x1 e Gt-B1x4

Assim como é descrito por Cornell e Schwertmann (2003), a amostra

padrão (Gt-pura) apresentou reflexões centradas em 2θ = 21; 35; 53 e 60°,

características da fase goethita. Essas reflexões corroboram o padrão de difração

de raios x da carta JCPDS, número 1-401. Pelo perfil DRX não são observadas

reflexões relativas a outras fases de ferro.

Para os materiais impregnados com boro, além das reflexões

características da fase goethita, observam-se, ainda, reflexões relacionadas à

estrutura triclínica do elemento boro ligado às hidroxilas B(OH)3 centradas em 2θ

39

= 15, 28 e 57°, como descrito na carta JCPDS, número 30-199. As reflexões

apresentadas pelos materiais, juntamente com o perfil de decomposição térmica

e o FTIR, indicam que, para todos os materiais, houve a formação da fase

goethita como único óxido de ferro formado. Além disso, as difrações indicam

que as espécies de boro podem estar localizadas, preferencialmente, na

superfície do material, uma vez que nenhuma alteração no espaçamento d e

consequentes deslocamentos nas posições características dos sinais relacionados

à fase goethita puderam ser verificadas.

Na fase goethita (α-FeOOH), todos os átomos de ferro estão

coordenados de forma octaédrica em cadeias duplas ligadas de forma paralela à

direção (110). Os átomos de boro na estrutura apresentam coordenação

triangular, formando poliborato a partir de ligações em suas arestas. Estas

ligações levam a formações de poliboratos (cuja estrutura em cadeias não é

muito usual, mas já descrita na literatura) ligados aos átomos de ferro em

coordenação octaédrica disponíveis na superfície da goethita (YANG et al.,

2009). Como consequência, a presença do boro é responsável por causar uma

série de defeitos na estrutura do material, como os defeitos de superfície, que

refletem na diminuição na intensidade dos sinais relacionados ao óxido de ferro

com a presença do boro, o que sugere que o elemento promotor pode afetar a

organização superficial dos cristalitos (YANG et al., 2009).

Por outro lado, o tratamento com ácido bórico também parece contribuir

para dissolução de parte da fase de ferro. Segundo Cornell e Schwertmann

(2003), a forma com que o precursor dissolve e recristaliza tem um efeito no tipo

e nas propriedades da fase final (CORNELL; SCHWERTMANN, 2003). Nesse

contexto, o tamanho médio de cristalito foi estimado pela equação de Scherrer

(SCHERRER, 1918). Os valores encontrados, mostrados na Tabela 2, mostram

que o tratamento praticamente não interfere do diâmetro médio dos cristais.

40

Tabela 2 Dimensões do cristal, determinadas a partir da aplicação direta da equação Scherrer a partir da reflexão (110) selecionada no perfil de difração dos materiais

Amostra

Tamanho de cristal obtido a partir da

equação de Scherrer (nm)

Gt-pura 98 Gt-B1x1 112

Gt-B1x4 106 10 15 20 25 30 35 40

2θ(deg)/ CuK α�

Inte

nsid

ade/

u.a.

Gt-B1x1 Gt-B1x4 Gt-pura

Contudo, os dados da difratometria mostram a existência de cristais que,

mesmo apresentando um leve aumento no diâmetro d, sofreram uma diminuição

no grau de cristalinidade pela inserção de defeitos superficiais, o que é

evidenciado pela diminuição na intensidade dos sinais.

5.1.5 Espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios X (XPS)

O XPS é uma técnica interessante por permitir, por exemplo, distinguir

as contribuições de cada uma das fases oxidadas e não oxidadas do metal em

estudo. Medidas XPS da amostras de goethita pura e Gt-B1x4 foram analisados

nas regiões do Fe 2p, O 1s e B 1s. Os espectros na região do Fe 2p para os

materiais são apresentados na Figura 11.

41

730 725 720 715 710

� �

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� �

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� �

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Inte

nsid

ade/

u.a.

Energia de Ligaçao/eV

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� ��

� �

� �

Figura 11 Espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios X na região do

Ferro 2p

Os valores de energia (Tabela 3) encontrados a partir do espectro XPS

para o material Gt-pura, tanto para o Ferro 2p1/2 quanto para o Ferro 2p3/2, são

valores típicos de Fe(III) da fase goethita. Esse valores são reportados na

literatura como sendo de 711 e 724,5 eV, respectivamente (LIU et al., 2011).

Quando os resultados apresentados pela Figura 11 são analisados para os

materiais contendo boro, é possível observar um espectro bastante distinto, em

comparação ao espectro da Gt-pura. Os sinais sofreram um alargamento e estão

deslocados para uma menor energia de ligação (Tabela 3); para a goethita-B1x4,

essa diferença de energia ultrapassa 1eV, sugerindo, com isso, que o processo de

adição de boro pode ter causado alguma alteração no ambiente químico do ferro.

42

Tabela 3 Valores das energias de ligação, em eletrovoltz, para os materiais na região do Fe2p

Material Energias de ligação (eV) Fe2p1/2 Fe2p3/2

Gt-pura 724,70 711,11 Gt-B1x1 724,09 710,49 Gt-B1x4 723,36 709,77

Por meio da análise de deconvolução gaussiana, para esses sinais

observa-se que o alargamento permite decompor esses sinais deslocados em

outros dois com intensidades variadas. As energias de ligação obtidas são

apresentadas na Tabela 4.

Tabela 4 Energias de ligação em eletrovoltz dos sinais obtidos por deconvolução

Energias de ligação (eV) Fe(III) Fe(II)

Material Fe2p3/2 Fe2p1/2 Fe2p1/2 Fe2p3/2

Goethita-B1x1 711,9 726,19 723,93 710,03 Goethita-B1x4 710,94 724,76 722,89 709,37

Óxidos de ferro, como a magnetita (Fe3O4), apresentam sinais de menor

energia ligação. Assim, a mudança do espectro XPS sugere que o boro pode

contribuir com uma desidroxilação superfícial da goethita, devido ao

aparecimento de novos locais do tipo Fe-O-B, especialmente porque os desvios

químicos são devido, apenas, às primeiras camadas na superfície. Essa

desidroxilação superficial pode levar à redução de algumas espécies de Fe(III).

As espécies de ferro presentes na superfície do catalisador desempenham papel

importante em mecanismos de sistemas Fenton, em que reações empregando

espécies de Fe(II) são mais favoráveis que espécies de Fe(III).

43

A análise de deconvolução gaussiana na região do oxigênio para a Gt-

pura (Figura 12a) indicou que o espectro pode ser dividido em dois sinais com

intensidades variadas.

525 528 531 534 537

� �

Inte

nsid

ade/

u.a.

Energia de ligação/eV

� ��� �

� �

525 528 531 534 537

� �

Inte

nsid

ade/

u.a.

Energia de ligação/eV

O1s

� �

� �� �

(a) (b)

Figura 12 Espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios X na região do oxigênio 1s (a) Gt-pura (b) Gt-B1x4

Para a amostra de Gt-pura, não foram identificados sinais diferenciados.

O primeiro em 531,3 eV pode ser atribuído ao grupo HO- e o menor, em 528,9

eV, devido às ligações Fe-O, muito provavelmente correspondentes ao O2- na

estrutura do óxido de ferro (ABDEL-SAMAD; WATSON, 1997). Essas

caracterísccas são típicos de uma estrutura ortorrômbica de uma goethita, que

pode ser mais bem compreendida como íons de Fe(III) rodeados por três átomos

de oxigênio e três hidroxilas, formando uma estrutura octaédrica de FeO3(OH)3,

que formam duplas cadeias compartilhando arestas e se ligam a outras cadeias

por meio de compartilhamento de ápices e ligações de hidrogênio (Figura 13).

44

Célula unitária

H-ligações

Figura 13 Estrutura cristalina da goethita (Adaptado de KAUR et al, 2009)

Já para a Gt-B1x4, o espectro foi dividido em três picos de diferentes

intensidades e energia, os quais mostram que o boro está em um tipo de

interação molecular B-O, B-OH e um terceiro tipo ainda não identificado,

interações essas representadas na Figura 9. A presença de boro nas amostras

tratadas ainda pode ser comprovada pela análise de XPS na região do boro (Figura

14), pela presença do sinal próximo a 191,5 eV relacionado à ligação B-O (PARK

et al., 2013).

45

205 200 195 190 185 180

� �� �

� ��

Inte

nsid

ade/

u.a.

Energia de ligaçao/eV

Boro 1s

� �� �

� ��

Figura 14 Espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios X na região do

Boro 1s

Além disso, à medida que a quantidade de boro aumenta na partícula de

goethita, esse sinal é deslocado para maiores energias de ligação.

5.1.6 Espectroscopia Mössbauer

A espectroscopia Mössbauer é uma técnica importante não apenas na

identificação das espécies de ferro como também fornece informações acerca da

cristalinidade e do ambiente químico dos átomos de ferro. Os espectros

Mössbauer de transmissão à temperatura ambiente para a série de goethitas são

mostrados na Figura 15 e os parâmetros hiperfinos obtidos dessa mesma análise

são apresentados na Tabela 5.

46

-12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 120,84

0,88

0,92

0,96

1,00

0,84

0,88

0,92

0,96

1,00

0,88

0,92

0,96

1,00

Velocidade/mms-1

Gt-B1x1

�� �� � � �� � � � � �� ��� �

Gt-B1x4

Gtpura

Figura 15 Espectros Mössbauer 57Fe para as amostras de goethita pura, Gt-B1x1 e

Gt-B1x4, obtidos à temperatura ambiente (25 oC)

A forma geral de todos os espectros é semelhante. A diferença entre a

Gt-pura e as amostras de Gt-B (1x1 e 1x4) pode ser atribuída ao maior domínio

magnético presente na amostra pura. O espectro para a Gt-pura pode ser

considerado como a superposição de dois dupletos centrais formados pela

relaxação superparamagnética do sexteto característico do óxido, relacionado a

pequenos tamanhos de partículas. Essas partículas pequenas causam uma

flutuação do campo magnético, levando ao relaxamento superparamagnético

observado. O deslocamento isomérico (δ) e os valores de desdobramento

quadrupolar (∆) para a amostra de Gt-B1x1 são semelhantes, o que remete a um

material com predominância de Fe (III) em coordenação octaédrica, típicos de

um óxido em fase goethita.

47

Tabela 5 Parâmetros hiperfinos dos espectros Mössbauer Amostra Sítio 57Fe δ/mm.s-1 ∆/mm.s-1 Sitio

Gtpura Gt 0,37 0,42

0,04 -0,28

Fe3+(oct)

Fe3+(oct)

Gt-B1x1 Gt 0,27 0,37

-0,03 0,08

Fe3+(oct)

Fe3+(oct)

Gt-B1x4 Gt 0,32 0,39

-0,01 0,99

Fe3+(oct)

Fe3+(tet)

Gt = Goethita; δ = deslocamento isomérico relativo ao α-Fe, ∆ = desdobramento quadrupolar, tetraédrico = tet; octaédrico = oct

Para Gt-B1x4, os resultados mostram que o boro pode interagir com o

ferro de superfície e provocar algumas imperfeições cristalinas, que corroboram

os dados de DRX, quando comparados os valores do deslocamento isomérico e

do desdobramento apresentados pela Gt-pura. O processo de redução dos Fe(III)

superficiais desestabiliza a estrutura cristalina da goethita, devido ao excesso de

carga negativa. Esse excesso de carga, por sua vez, provoca uma desidroxilação

parcial, causando defeitos pontuais que podem alterar a valência e o spin do

átomo de ferro nos compostos (ABREU et al., 2012). Estas modificações

provocam o aumento do δ de 0,37 para 0,39 mm.s-1 e induzem uma distorção

local (∆) de 0,04 para 0,99 mm.s-1, na Gt-pura e Gt-B1x4, respectivamente. O

sinal da espectroscopia Mössbauer com um valor inferior de ∆ pode ser

atribuído a sítios de Fe3+ octaédricos, enquanto maior ∆ sugere ferro em

coordenação tetraédrica (CORNELL; SCHWERTMANN, 2003).

A presença de ferro em coordenação tetraédrica corrobora os dados de

DRX e FTIR quanto à presença de difrações e vibrações de boro trigonal (BO3-)

e esses dados sugerem que se tem um material híbrido composto de fase de ferro

goethita e magnetita. Na Figura 16 mostra-se uma representação esquemática da

formação de sítios de magnetita no material.

48

GOETHITA GOETHITA

MAGNETITA

H3BO3

Figura 16 Esquema do processo de formação de sítios de magnetita na superfície

do material

O perfil do espectro Mössbauer, constituído de um dupleto central

acompanhado de um sexteto mal definido, além do pequeno tamanho de

partícula, remete à presença de uma fase de ferro diferente da fase goethita,

magneticamente mais ordenada (magnetita), mas que não é suficiente para

alterar os parâmetros hiperfinos para valores típicos da fase magnetita. Devido à

alta concentração de espécies de Fe(III) típicas da fase goethita no interior do

material pode ter se sobreposto às possíveis espécies superficiais de ferro

reduzidas.

5.1.7 Espectroscopia de absorção de raios X (XAS) e estudos XANES

Os resultados anteriores de caracterização DRX, MEV, FTIR e

Mössbauer foram conclusivos para a incorporação do boro à superfície das

goethitas, no entanto, foram inconclusivas quanto à possível redução de algumas

espécies de Fe(III). A espectroscopia Mössbauer, por exemplo, seria uma técnica

promissora para a análise dessa possível redução, no entanto, os dados

Mössbauer obtidos por transmissão não foram analisados com enfoque

superficial. Assim, a alta quantidade de espécies de Fe(III) no interior do

material pode ter se sobreposto às possíveis espécies superficiais de ferro

reduzidas. Nesse contexto, os materiais foram analisados via espectroscopia

XANES, uma técnica informativa para a determinação dos estados de oxidação e

49

das simetrias locais de íons de metais de transição. Na Figura 17 apresentam-se

os espectros de XANES típicos da borda K do ferro para os materiais

impregnados com ácido bórico.

50

7100 7200 7300 7400 7500

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

Abs

orça

o/u.

a.

Energia/eV

Gt-pura Gt-B1x1

Gt-B1x4

7111 7112 7113 7114 7115 7116 7117 7118

Energia/eV

Gt-pura Gt-B1x1

Gt-B1x4

(a) (b)

Figura 17 Estudos XANES para os materiais: (a) espectros XANES, XANES com a região da pré-borda expandida (b)

51

De acordo com o espectro do material precursor, cuja fase de ferro

predominante é fase goethita (α-FeOOH), os espectros XANES (Figura 17a),

assim como as demais técnicas de caracterização, mostram que os materiais

impregnados tem uma natureza similar ao material precursor, cujos dados de

absorção de raios X comprova a formação essencial de fase goethita.

Além disso, de acordo com os dados apresentados na Figura (17b), pelo

aumento na região de pré-borda do espectro, observa-se um aumento na

intensidade e um leve deslocamento para regiões de mais baixa energia,

proporcionais ao teor de boro. Essas diferenças espectrais refletem a diferença

no ambiente estrutural do Fe(II) e Fe(III). De acordo Wilke et al. (2005), a

posição centroide da pré-borda depende fortemente do estado de oxidação do Fe,

enquanto sua intensidade é influenciada, principalmente, pela sua geometria de

coordenação. Assim, baixas intensidades referem-se a geometrias com um

centro de simetria, característico, por exemplo, de fases em coordenação

octaédrica. Por outro lado, a elevação na intensidade das pré-bordas, quando

comparada à estrutura tomada como padrão (Gtpura), reflete geometrias não

centrossimétricas distintivas para coordenações tetraédricas.

De acordo com os dados mostrados na Figura 17b, pode-se observar

uma variação na intensidade dos sinais relativos à energia de pré-borda dos

materiais. Quando esses sinais são avaliados da goethita pura para teores

crescentes de boro, um incremento na intensidade torna-se evidente. Esse

aumento está relacionado à formação de domínios tetraédricos em um ambiente

predominantemente octaédrico. Essa constituição tetraédrica foi evidenciada

pelos parâmetros hiperfinos mostrados na Tabela 5. Os dados apontam, dessa

forma, para a formação de uma nova fase de ferro constituída pelo metal em

coordenações octaédrica prevalescentes e associadas à fase goethita conjuntas a

coordenações tetraédricas, formadas após o tratamento com boro e derivadas,

possivelmente, da fase magnetita (Fe3O4). Portanto, a partir dos dados XANES,

52

conclui-se que o tratamento causou algumas modificações no ambiente químico

do ferro, como a possível redução de algumas espécies de Fe(III).

A partir dos testes catalíticos foi possível avaliar a atuação do boro como

promotor e a existência dessas espécies de Fe(II), uma vez que espécies ferrosas

(Ea= 39,5 kJ.mol-1 e k= 76 mol-1.L.s-1) apresentam uma vantagem cinética em

relação a espécies de Fe(III) (Ea= 126 kJ.mol-1 e k= 0,001-0,01 mol-1.L.s-1), em

reações baseadas na química Fenton.

5.2 Testes catalíticos

5.2.1 Decomposição de peróxido de hidrogênio

A decomposição de peróxido de hidrogênio foi estudada como uma

primeira avaliação da atividade catalítica do material. Os resultados obtidos são

apresentados no gráfico da Figura 18.

53

0 3 6 9 12 15 18 21 24

0,0

0,4

0,8

1,2

1,6

2,0

2,4

2,8

� �� �

� ��

� �� �

� ��

Vol

ume

de O

2 /m

L

Tempo/ min

� �� � �

Figura 18 Decomposição de H2O2 na presença dos catalisadores Gt-pura, Gt-B1x1,

Gt-B1x4

Em relação aos materiais tratados, a goethita pura (Gt-pura), apresentou

baixa atividade para decompor peróxido (Figura 18), o que pode ser relacionado

à presença de Fe(III) em sua estrutura. Íons férricos são desfavorecidos em

reações que envolvem a geração de radicais devido a fatores cinéticos que

governam a redução inicial do íon férrico por H2O2 para a posterior formação

das espécies radicalares, como mostrado nas Equações 1-4.

Além disso, o perfil da decomposição de peróxido de hidrogênio mostra

um aumento na atividade catalítica das goethitas após a impregnação com ácido

bórico. Observa-se que a decomposição de H2O2 é acelerada na medida em que

se aumenta o teor de ácido bórico na superfície das goethitas. Esse aumento de

atividade em relação ao óxido precursor está relacionado à presença de boro na

superfície do óxido de ferro, o qual pode facilitar o processo de transferência de

elétron, formando um maior número de espécies oxidantes e contribuindo para

54

uma maior decomposição do peróxido de hidrogênio, como representado pela

Figura 19.

+ H2O2HOFe

OH

Fe Fe

O

O-H

B

H-O

OH

Figura 19 Representação da atuação do boro como promotor no mecanismo de

transferência de elétron do ferro para o H2O2

Além disso, corroborando os dados de XPS e XANES, o aumento de

atividade dos materiais também pode estar relacionado à redução de alguns

sítios de Fe(III) para sítios de Fe(II), espécie muito mais ativa na química

Fenton. A decomposição de H2O2 (Figura 20) foi fortemente inibida para todos

os materiais, quando realizada na presença do azul de metileno.

0 5 10 15 20 25

0,0

0,4

0,8

1,2

1,6

2,0

2,4

2,8

Vol

ume

de O

2/m

L

Tempo/min.

Gt-pura Gt-B

1x1

Gt-B1x4

Figura 20 Decomposição de H2O2 para a Gt-pura, GtB1x1 e GtB1x4 na presença do

AM

55

Os resultados sugerem que o AM participa de processos competitivos

durante a decomposição, na qual os intermediários radicalares (Equação 18) que

levam à formação de O2 reagem com o composto orgânico, inibindo a produção

de O2.

2H2O2 → formação do radical → 2H2O + O2 (Eq. 18)

5.2.2 Avaliação das goethitas para processos tipo-Fenton

5.2.2.1 Degradação do corante catiônico azul de metileno (AM)

(i) Monitoramento por espectroscopia UV-visível

A variação na atividade catalítica dos materiais para reação de

degradação do corante azul de metileno via processo Fenton é mostrada na

Figura 21.

0 50 100 150 200 2500

20

40

60

80

100

� ��� �

� ��

���

Abso

rbân

cia/%

Tempo/min

� ��

���

Figura 21 Cinética de oxidação do corante azul de metileno na presença de H2O2

e os catalisadores. As setas que indicam os pontos P1 e P2 referem-se aos tempos monitorados tambem por ESI-MS

56

Os resultados mostram que a goethita pura apresenta baixa atividade na

descoloração do AM com, aproximadamente, 20% de descoloração após 240

minutos de reação, enquanto os materiais contendo boro mostraram-se mais

ativos. O efeito da modificação com boro já pode ser observado para a Gt-B1x1,

com 50% de descoloração. Já a Gt-B1x4 apresentou uma eficiência ainda mais

relevante para a degradação do composto. Após 240 minutos de reação, o

material foi capaz de descolorir a solução de AM em cerca de 80%.

Esses resultados sugerem que a modificação com boro realmente

propicia um mecanismo de transferência de elétrons mais facilitado,

comprovado pelo aumento da taxa de oxidação, na medida em que se aumenta a

proporção de boro nos materiais. E, corroborando a hipótese do efeito dos sítios

reduzidos na eficiência dos catalisadores, a maior atividade na reação com azul

de metileno em presença de peróxido de hidrogênio pode estar relacionada a um

favorecimento cinético na geração de radicais oxidantes, proporcionado pelo

sistema goethita modificada/H2O2. A reação na ausência do catalisador, apenas

com H2O2, não mostrou descoloração significativa da solução do corante. Os

dados de adsorção nao mostraram uma acumulacao significativa do corante na

superficie da goethita.

(ii) Avaliação da degradação do AM por espectrometria de massas com

ionização por electrospray (ESI-MS)

A descoloração do corante azul de metileno comprova a maior atividade

da Gt-B1x4. No entanto, a perda total de cor da solução de azul de metileno, após

240 minutos, não significa total oxidação do composto orgânico e nos dá poucas

informações sobre o mecanismo de reação envolvido. Para tanto, foi realizada

uma análise por electrospray acoplado a um espectrômetro de massas, nos

pontos P1 e P2, indicados na Figura 21 (Figura 22).

57

Inte

nsid

ade

rela

tiva/

u.a. � � � ��� � �� � �� � � � � � � � �

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ade

rela

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u.a. � � �

100 150 200 250 300 350 400

� � �

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� � �

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Inte

nsid

ade

rela

tiva/

u.a.

m/z

� �

��

� � �

� � �� ��

Figura 22 Espectros de massas obtidos por ionização com electrospray e

analisador de massas tipo íon trap aplicado no monitoramento da oxidação do AM pelo catalisador Gt-B1x4, nos pontos P1 (a) e P2 (b)

Para a Gt-B1x4, após apenas 30 minutos de reação, observou-se a

formação de alguns intermediários orgânicos, o sinal com m/z=301 (m/z=284AM

+ 16HO●) está relacionado à primeira hidroxilação do anel [AM-Cl+OH] +,

confirmando a formação dos radicais hidroxila e indicando um mecanismo de

degradação via ataque Fenton. Após 240 minutos de reação, observaram-se a

formação de intermediários de reação com razão massa carga inferiores a 284 e

o aparecimento do sinal com m/z=149, que é um indicativo de ruptura do anel

(PINTO et al., 2012; SOUZA et al., 2007). O aumento na taxa de oxidação está

relacionado à presença de grupos mais ativos na superfície das goethitas.

58

5.2.2.2 Oxidação da quinolina

(i) Avaliação da oxidação da quinolina por espectrometria de massas com

ionização por electrospray (ESI-MS)

A eficiência do catalisador na degradação de compostos orgânicos foi

também avaliada pela oxidação de quinolina, composto modelo de poluente

orgânico nitrogenado, monitorada por um espectrômetro de massas acoplado a

um electrospray (Figura 23).

50 100 150 200 250 300 350 400 450 5000

40

80

120

160

� � � � � � � �� � �

130 Padrao de quinolina 10mgL-1

m/z

13

27

40 Gt-pura 240 min

180146101

130

50 100 150 200 250 300 350 400 450 5000

50

100

150

Gt-B1x4

240 min

�� � �� � � �� � �

130 Padrao de Quinolina

10mgL-1

m/z

4

8

12

359

239 312

130

332

(a) (b)

Figura 23 Avaliação da oxidação da quinolina (10 mg.L-1) para a Gt-pura (a) e para a Gt-B1x4 (b)

Na Figura 23 observa-se a variação na atividade catalítica dos materiais

para a reação de degradação da quinolina. Todos os catalisadores contendo boro

mostraram-se mais ativos que o catalisador livre. A máxima atividade foi

observada para o material tratado na proporção 1:4. Em comparação com a Gt-

pura, foi possível observar vários novos picos m/z no espectro da Gt-B1x4. Para a

59

Gt-pura, foi possível observar a hidroxilação inicial da quinolina, demonstrado

por sinais com m/z= 146 e 180. Com base nesses sinais, um esquema de reação

pode ser proposto para a oxidação da quinolina utilizando a Gt-pura como

catalisador (Figura 24).

NH

+ NH

+

OH

NH

+

OHOH

OH

m/z= 130 m/z= 146 m/z= 180

HO.

2HO.

Figura 24 Mecanismo de formação dos possíveis intermediários da oxidação

quinolina para a Gt-pura como catalisador. (adaptado de GUIMARÃES et al., 2013)

Já para o espectro da Gt-B1x4 foram observadas a formação de um adulto

com Na+ (m/z=239) e uma redução significativa para o sinal do pico padrão da

quinolina. Além de picos com razão massa carga maiores que 130, devido a

sucessivas hidroxilações, que levam à ruptura do anel. Esses intermediários

reagem com outra molécula, derivada de sucessivas oxidações, formando os

picos com m/z=312, 332, 359. Com base nesses sinais, sugere-se que o esquema

para a formação do pico do íon com m/z=312, para a oxidação da quinolina

utilizando a Gt-B1x4 como catalisador, ocorra segundo mecanismo semelhante ao

proposto pela Figura 25.

60

Produto poli- hidroxilado

NH

+

OH

OH

OH

OH

OH OH

OH OH

NHH

Produto da ruptura de anel

N+

OH

OH

OH

OH

OH

OH

OHOH

+

NH3

Figura 25 Mecanismo de formação dos possíveis intermediários da oxidação

quinolina para a Gt-B1x4 como catalisador

Para conclusões mais precisas, torna-se necessária a análise ESI-MS/MS

para a detecção dos intermediários, para a análise do mecanismo de formação

dos demais picos.

O aumento na taxa de oxidação está relacionado à maior facilidade na

transferência de elétrons criada pela formação de espécies do tipo [FeOxB

(OH)x], como mostrado na Figura 9. Além disso, o boro como um promotor

pode induzir uma redistribuição de elétrons no composto, reduzindo algumas

espécies de Fe(III). Esses sítios de Fe(II) são cineticamente mais favoráveis na

química Fenton, formando um maior número de espécies oxidantes e

contribuindo para uma maior degradação da quinolina.

5.2.3 Avaliação das goethitas para o processo foto-Fenton

5.2.3.1 Monitoramento por espectroscopia UV-Visível

Para avaliar o potencial fotocatalítico dos materiais, foi realizada a

fotodegradação do corante catiônico azul de metileno (AM) utilizando o sistema:

goethita modificada/peróxido de hidrogênio/irradiação de luz ultravioleta

(reação foto-Fenton heterogênea). A fotodegradação do AM pelo tempo de

reação é exibida na Figura 26.

61

0 60 120 180 240 300 360

0

10

20

30

40

50

60

70

� � � �� � ��

� � � � �

� �

� � �

Des

colo

raça

o/%

Tempo/min.

� �

� � �

Figura 26 Fotodegradação do AM para os diferentes óxidos de ferro sob

irradiação de luz ultravioleta (λ = 365 nm)

Assim como na degradação, para a fotodegradação, os materiais tratados

apresentaram atividade fotocatalítica superior à amostra padrão (4% de

descoloração). A Gt-B1x4, após 6 horas de reação, apresentou uma redução de

cor em cerca de 70%. O aumento da capacidade de remoção do azul de metileno

indica que a modificação química com adição de boro na superfície da goethita

também foi eficaz no aumento do potencial fotocatalítico desses materiais. Esse

aumento de potencial está relacionado à deficiência de elétrons do boro que, em

uma superfície de goethita ligeiramente positiva, faz com que esse material seja

mais propensa a interagir com os elétrons da banda de condução. Essa interação

evita uma recombinação eletrônica, contornando um problema comum para

sistemas fotoirradiados utilizando como semicondutor uma goethita. A remoção

do azul de metileno pela reação controle, ou seja, sem fotocatalisador, foi

insignificante, chegando a um máximo de 4% de descoloração. Da mesma

62

forma, a remoção do azul de metileno por processo de adsorção também

apresentou uma percentagem baixa de remoção, com um máximo de 9% .

5.2.3.2 Monitoramento de processos UV-irradiados por espectrometria de

massas com ionização por electrospray (ESI-MS)

O espectro de massas (Figura 27) para a reação de fotodegradação do

corante azul de metileno, empregando a Gt-B1x4 como fotocatalisador, após 300

minutos de reação, mostra picos de diferentes intensidades que indicam uma

variação na composição e na concentração dos produtos de degradação. No

primeiro espectro, observa-se o pico do padrão protonado do azul de metileno,

com razão massa/carga 284, referente ao íon [AM-Cl]+. Já no segundo espectro,

após 90 minutos de exposição à irradiação, observa-se um outro pico de

m/z=300, 16 m/z maior, referente à primeira hidroxilação do anel [AM-

Cl+OH]+.

63

284.0

+MS, 3.2-7.2min (#310-#757)

0

2

4

6

5x10Intens.

282.5 285.0 287.5 290.0 292.5 295.0 297.5 300.0 302.5 m/z

84.9106.8

150.4

182.8 228.9

247.9

284.0

300.0

+MS, 1.0-4.1min (#121-#568)

0.00

0.25

0.50

0.75

1.00

1.25

6x10Intens.

100 150 200 250 300 350 400 450 m/z

84.9

106.8

120.8

150.4

176.8 203.9228.9

247.9

284.0

318.0

391.0

+MS, 0.9-4.1min (#76-#528)

0

2

4

6

5x10Intens.

100 150 200 250 300 350 400 450 m/z

106.8

136.5

150.4

182.8 203.9228.9

247.9

275.0

303.0

391.0

+MS, 1.0-3.4min (#82-#428)

0

1

2

3

4

5

5x10Intens.

100 150 200 250 300 350 400 450 m/z Figura 27 Espectros de massas dos íons positivos da degradação do azul de

metileno pela Gt-B1x4

64

Após 180 minutos de reação, observa-se o desaparecimento por

completo do pico do íon padrão de azul de metileno, assim como surgem novos

picos com razão massa/carga 391, 300, 247,9, 275 e 150. Esses são,

provavelmente, devido à fragmentação do íon precursor para produzir alguns

homólogos do azul de metileno. São homólogos devido à clivagem de um ou

mais grupos metila ligados aos grupos aminas, provavelmente pela substituição

de um ou mais grupos metila por prótons, levando à formação de produtos n-

desmetilados, como proposto por Rauf et al. (2010) e ilustrado na Figura 28.

N

S+

N

CH3

CH3 N

CH3

CH3

N

S+

N

CH3

CH3 N

H

CH3m/z=270

N

S+

N

CH3

CH3 N

H

H

m/z=256

m/z=284

N

S+

N

H

CH3 N

H

Hm/z=242

N

S+

N

H

H N

H

H

m/z=228

Figura 28 Desmetilação do corante azul de metileno, durante o processo de degradação fotocatalítica, adaptada e proposta por Rauf et al. (2010)

As estruturas de alguns dos intermediários formados foram confirmadas

por espectrometria de MS/MS. Na Figura 29 apresenta-se o espectro MS/MS de

produtos intermediários, com m/z=300.

65

60 120 180 240 300 360 420 480

300

270178

300 284

Inte

nsid

ade/

a.u.

m/z

(a)

N

S N+ CH3

CH3

CH3

CH3

N

S N+ CH3

H

CH3

CH3

N

S N+ CH3

H

N

S N+ CH3

CH3

CH3

CH3

OH

OH

- OH/ CH3

-OH

m/z= 300

m/z= 270

m/z= 284

m/z= 178 (b)

Figura 29 Espectrometria de massas com ionização por electrospray (ESI-MS/MS) durante a oxidação do azul de metileno em água pelo sistema Gt-B//H2O2//irradiação (a) estruturas dos íons formados (b)

O ESI-MS/MS do sinal com m/z 300 (Fig. 29a), depois da dissociação

induzida por colisão (collision-induced dissociation, CID), apresenta íons de

fragmento de m/z 284, 270 e 178. Esses íons surgem pela perda de um radical

66

HO, H2O e grupos metila, como apresentado na Figura 29(b). Para a química

Fenton, geralmente, um espectro de massas apresenta um padrão de picos

provenientes de sucessivas hidroxilações com razões massa carga igual a 300

[AM-Cl+(OH)1]+, 316 [AM-Cl+(OH)2]

+ e até 332 [AM-Cl+(OH)3]+, como o

máximo de adição de radicais hidroxila. Porém, se forem observados os

espectros da reação com a Gt-B1x4, não se nota esse típico comportamento

(SOUZA et al., 2007; SOUZA et al., 2007; CARVALHO et al., 2010). Contudo,

o aparecimento de um pico, não muito intenso, com razão massa carga elevada

de 391 g.mol-1, a 180 e 300 minutos de reação, segundo Pinto et al. (2012),

também é produto de sucessivas hidroxilações do anel aromático do azul de

metileno, [AM-Cl+(OH)n]+, formado pela junção de dois outros picos com

razão massa carga 148 e 259, conforme apresentado na Figura 30.

m/z=259 g.mol-1 m/z=148 g.mol-1 m/z=391 g.mol-1

Figura 30 Mecanismo proposto para a formação do pico do íon com m/z=391 (PINTO et al., 2012)

Nesse contexto, pode-se inferir que a fotodegradação do azul de

metileno utilizando a Gt-B1x4 como fotocatalisador, acontece de forma

semelhante àquela proposta por Pinto et al. (2012). Além disso, a primeira

hidroxilação do anel, representada pelo pico do íon com m/z=300, e o

aparecimento do pico de razão massa carga igual a 150, proveniente da poli-

hidroxilação, seguida pela ruptura do anel, confirmam, mais uma vez, a natureza

radicalar das reações tipo Fenton para o processo de degração do AM.

67

6 CONCLUSÕES

A presença de boro na superfície do óxido pode ser avaliada pelas

vibrações observadas por FTIR, confirmada pelo sinal obtido por XPS, pela

variação de massa na análise termogravimétrica (TGA), pelo mapeamento de

elementos (EDS) e pela alteração dos parâmetros hiperfinos do Mössbauer. A

presença de sítios de Fe(II) foi identificada pelo deslocamento e alargamento dos

picos no XPS, além da alteração no ambiente químico do ferro nos espectros

XANES.

A goethita pura apresentou baixa capacidade de foto/degradação do azul

de metileno e baixa oxidação da quinolina, quando comparada aos materiais

impregnados com boro. Esse comportamento foi associado à presença de Fe3+

em sua estrutura, que apresenta cinética de decomposição do H2O2 bastante

lenta. A impregnação com boro na goethita pura provocou um aumento

significativo na atividade catalítica do óxido.

A presença de boro na superfície do óxido de ferro facilita o processo de

transferência de elétron e provoca a redução de algumas espécies de Fe(III) para

Fe(II), melhorando cineticamente o sistema e formando um maior número de

espécies oxidantes, proporcionando a formação de catalisadores reativos para a

química Fenton. O estudo por espectrometria de massas confirma que o

mecanismo de oxidação ocorre via sistema radicalar Fenton.

68

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