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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL MARIA DO CARMO SANTOS TEIXEIRA Crescimento, desenvolvimento econômico e capital social: um estudo de caso da região Sudeste do Tocantins PALMAS - TO 2009

Dissertacao final. maria do carmo santos teixeira

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS

PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL MARIA DO CARMO SANTOS TEIXEIRA

Crescimento, desenvolvimento econômico e capital social: um estudo de caso da região Sudeste do Tocantins

PALMAS - TO 2009

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS

PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

MARIA DO CARMO SANTOS TEIXEIRA

Crescimento, desenvolvimento econômico e capital social: um estudo de caso da região Sudeste do Tocantins

Dissertação submetida ao programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Universidade Federal do Tocantins, como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio, orientada pelo Prof. Dr. Bernardo Campolina Diniz e co-orientada pelo Prof. Dr. Leonardo Santos Collier.

PALMAS – TO 2009

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Biblioteca da Universidade Federal do Tocantins Campus Universitário de Palmas

T266 Teixeira, Maria do Carmo Santos

Crescimento, desenvolvimento econômico e capital social: um estudo de caso da região Sudeste do Tocantins. / Maria do Carmo Santos Teixeira. - Palmas, 2009.

96 f.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Tocantins, Curso de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio, 2009. Orientador: Prof. Dr. Bernardo Palhares Campolina Diniz

1. Capital Social. 2. Desenvolvimento Econômico 3. Participação Social. I. Título.

CDD 338.9

Bibliotecário: Paulo Roberto Moreira de Almeida CRB-2 / 1118

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – A reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio deste documento é autorizado desde que citada a fonte. A violação dos direitos do autor (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.

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Crescimento, Desenvolvimento econômico e capital social: um estudo de caso da região Sudeste do Tocantins

Dissertação submetida ao programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Universidade Federal do Tocantins, como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio, orientada pelo Prof. Dr. Bernardo Palhares Campolina Diniz e co-orientada pelo Prof. Dr. Leonardo Santos Collier.

Aprovada em: Palmas, 10.de dezembro de 2009 ______________________________________________________________ Prof. Dr. Bernardo Palhares Campolina Diniz - orientador UFT ______________________________________________________________ Prof. Dr. Élvio Quirino Pereira UFT ______________________________________________________________ Profa . Dra Temis Gomes Parente UFT

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DEDICATÓRIA

Dedico este estudo às pessoas que ainda acreditam e contribuem para que a Região Sudeste do Tocantins encontre

uma forma de desenvolvimento includente e integrado com as dimensões social, econômica e ambiental.

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AGRADECIMENTOS É gratificante olhar para trás e ver que durante estes dois anos trilhei o caminho das pedras. Na maior parte do percurso precisei de muitas horas de trabalho, de estudo e de aprendizado. Mas, vivi também vários momentos de alegria, buscando uma vida nova, diferente, plena de grandes desafios e responsabilidades. Por isso, mesmo sabendo do risco que assumo ao esquecer de mencionar alguém, quero manifestar minha gratidão a muitas pessoas que de forma direta ou indireta tornaram esta jornada possível e gratificante. Agradeço primeiro a Deus, pela oportunidade de estudar e provar, a mim mesma que na vida tudo é possível, basta somente acreditar, confiar e trabalhar. Agradeço à minha família, que mesmo distante me apoiou com palavras de coragem e força nos momentos difíceis, acreditando sempre no meu potencial e me fazendo sentir protegida. Agradeço ao prof. Dr. Eduardo Andrea Lemus Erasmo, ao prof. Dr Jandislau José Lui e aos amigos do Sebrae/Gurupi pelo incentivo e suporte técnico contribuindo em muito, para o meu ingresso nesse mestrado e para o meu crescimento pessoal e profissional. Agradeço ao Prof. Dr. Bernardo Palhares Campolina Diniz, que me orientou nesta dissertação, da melhor maneira possível, incentivando-me na busca de informações precisas, questionando-me em todos os momentos para aprimorar o conteúdo e me fazendo enxergar que o caminho ideal quem traça sou eu, mas sem perseverança e trabalho, torna-se difícil trilhá-lo. Agradeço ao meu co-orientador, prof. Dr. Leonardo Santos Collier e ao Prof. Dr. Waldecy Rodrigues, pela paciência em me ouvir, discutindo e contribuindo para a organização das idéias e deste estudo. Aos meus colegas de turma, pela oportunidade de conhecê-los, pela rica troca de experiências e, em especial a Andréa, Graça e Adriana que me apoiaram nas horas difíceis, me acolheram e prestaram informações importantes as quais possibilitaram a construção desta dissertação. Finalmente, agradeço aos amigos, lideranças e instituições da Região Sudeste do Tocantins pelas informações que possibilitaram o meu aprendizado, o conhecimento da região e a realização desta dissertação.

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EPÍGRAFE

"Um músico deve compor, um artista deve pintar,

um poeta deve escrever, caso pretendam deixar seu coração em paz.

O que um homem pode ser, ele deve ser. A essa necessidade podemos dar o nome de auto-realização."

Abraham Harold Maslow (1908 - 1970)

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RESUMO

Esta dissertação tem como objetivo apresentar e discutir o processo de desenvolvimento da região Sudeste do Tocantins. A partir da visão proposta por Myrdal, de que as regiões crescem e se desenvolvem de forma diferenciada, o nosso objetivo é compreender que fatores contribuem para o processo de desenvolvimento de uma região. Dentre estes fatores podemos elencar as condições naturais, o capital humano, os investimentos públicos e privados e o capital social, como alguns dos elementos que influenciam esse processo de desenvolvimento. Para compreender o papel das interações sociais, bem como sua relação com os processos de crescimento e desenvolvimento econômico de uma região alguns aspectos foram analisados na região Sudeste do Tocantins. Nessa perspectiva, o objetivo mais específico dessa dissertação é discutir o capital social enquanto um dos elementos centrais do processo de desenvolvimento, a partir da visão proposta por Sen (2000) de que o desenvolvimento requer, antes de mais nada, a necessidade de que os indivíduos tenham liberdade e capacidade para decidir sobre as suas escolhas. Para atingir este objetivo foram levantadas informações históricas, dados secundários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, realizadas entrevistas qualitativas e principalmente observações participantes, as quais possibilitaram a estruturação dessa dissertação em três capítulos: o primeiro tecerá considerações sobre desenvolvimento e crescimento econômico, apresentando dados comparativos da Região Sudeste do TO, do estado do Tocantins e do Brasil como aspectos demográficos, variáveis econômicas (PIB, emprego, agropecuária) e variáveis sócio-econômicas (indicadores de educação, saúde, posse de bens, transferência de renda). Será apresentado também um conceito recente que, aliado às idéias já consolidadas na teoria econômica, aborda o papel das instituições e da interação social entre diversos agentes econômicos e é denominado de “capital social”. Sobre esse “capital”, discutiremos as origens, definições e sua importância para a promoção do desenvolvimento e do crescimento econômico de uma região. Finalizando o primeiro capítulo discutirmos alguns aspectos relacionados a participação social, a qual, segundo alguns teóricos é um instrumento que contribui para o acúmulo e fortalecimento do capital social. O segundo capítulo faz uma síntese da Região Sudeste do Tocantins abordando sua origem, caracterização, aspectos sociais e econômicos, instrumentos de gestão e projetos de desenvolvimento implementados a partir da década de 90. O terceiro e último capítulo fará uma análise do desenvolvimento socioeconômico da região Sudeste do Tocantins, na visão de lideranças locais. Finalmente conclui-se que Capital Social, principalmente aquele a que Putnam (1996), Bandeira (1999), Amartya Sen (2000), e outros teóricos se referem, ainda não existe na Região Sudeste do Tocantins e este é um dos fatores, que ao nosso ver, contribui para a estagnação do desenvolvimento social e econômico da região.

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ABSTRACT This dissertation aims at presenting and discussing the process of development of the Tocantins Southeast region. Starting from Myrdal's view that regions grow and develop in a differenciated form, our aim is to comprehend what factors contribute for the process of development of a region. Besides these factors we can rely on the natural conditions, the human capital, the public and private investors and the social capital as some of the elements that influence this development process. In order to comprehend the role of the social interactions, as well as its relationship with the process of growth and economical development of a region, some aspects of the southeast region of Tocantins were analyzed. From that perspective, the most specific object of this dissertation is to discuss the social capital as one of the central elements of the development process, starting from Sen's (2000) view that development requires, before anything, the necessity of individual freedom, and the capacity of individual decision of choice. This aim was achieved through the gathering of historical data, secondary data from the Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, from qualitative interviews and principally from participational observations. This made possible the split of this dissertation into three chapters. The first one is divided in four topics addressing the following themes: Growth, Economical Development, Social capital and its participation and accumulation. This chapter will draw upon considerations and discussions of some theorists that "believe in a change of view of the economy that adopt as its main criteria the quality of life, the ethics in the definition of the priorities and the creation of other development indexes, human and sustainable, instead of indicators based only in the growth of the production." In the second chapter were presented the origins, the characterization, the social and economical aspects of the Southeast region of Tocantins and were presented some projects of development implemented on the southeast region of Tocantins since the 90s. The third delves into the methodological procedures of data gathering and analysis and the construction of the social capital index. The third and last chapter makes an analysis of the socioeconomical development of this region, under the local leaders point of view. Finally we conclude that Social Capital, principally that which Putman (1993), Bandeira (1999), Amartya Sen (2000), and other theorists talk about, still doesn't exist in the Southeast region of Tocantins and that's one of the factors, in our view, which contribute to the stagnation of the social and economical development of this region.

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LISTA DE ABREVIATURAS

ADER Agente de Desenvolvimento Rural

CEPAL Comissão Econômica para América Latina e Caribe

CMDRS Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável

CMMAD Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento

CONDRAF Conselho Nacional do Desenvolvimento Rural Sustentável

COOPERCATO Cooperativa dos Produtores de Cachaça de Alambique do Sudeste do Tocantins

DLIS Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável

FNO Fundo Constitucional de Financiamento do Norte

GTZ Cooperação Técnica Alemã

ICS Índice de Capital Social

II Índice dos indivíduos

IICA Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

IPPP Índice de participação do poder público

IPSC Índice de participação da sociedade civil

PDRS Projeto de Desenvolvimento Regional Sustentável

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PRONAT Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais

PROPERTINS Programa de Perenização das Águas do Tocantins

SEPLAN Secretaria do Planejamento do Estado do Tocantins

SRHMA Secretaria de Recursos Hídricos e Meio Ambiente do Tocantins

STTR Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

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LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: Mapa Divisão Política do Estado e da Região Sudeste do Tocantins ............................. 34

FIGURA 2: Povoamento do Norte da Capitania de Goiás (atual Tocantins), período da mineração . 39

FIGURA 3: Perímetro Irrigado Manuel Alves ...................................................................................... 63

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: População residente nas 8 microrregiões do Tocantins, em 2007 .................................. 42

Gráfico 2: % de domicílios particulares permanentes, por classes de rendimento médio mensal

domiciliar per capita em salários mínimos - Tocantins – 2000 ............................................................. 46

Gráfico 3: Evolução do PIB per capita na região Sudeste do TO, de 2002 a 2006 .......................... 50

Gráfico 4: Taxa de analfabetismo: (%) da população com mais de 15 anos, 1991 e 2000.............. 50

Gráfico 5: Defasagem escolar (% de crianças entre sete e catorze anos com ................................ 51

Gráfico 6: Porcentagem de pessoas moradoras em domicílios com acesso a serviços de ............. 52

Gráfico 7: Porcentagem de pessoas em domicílios com acesso a serviços de ............................... 52

Gráfico 8: Percentual de domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios

particulares permanentes por situação do domicílio e existência de serviços e .................................. 53

Gráfico 9: Percentual de domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios ............ 54

Gráfico 10: Distribuição da renda per capita na região Sudeste do TO.............................................. 56

Gráfico 11: Percentual de municípios com a presença de Conselhos Municipais, ............................ 59

Gráfico 12: Processo de escolha dos integrantes da sociedade civil, no Conselhos Municipais de

Assistência Social, na Região Sudeste do TO em 2005 ...................................................................... 59

Gráfico 13: Caráter dos Conselhos Municipais de Assistência Social, na Região ............................. 60

Gráfico 14: Frequência das reuniões dos Conselhos Municipais de Assistência Social, na Região . 60

Gráfico 15: Área cultivada por produto, no Projeto Manuel Alves, em 2008 ...................................... 64

Gráfico 16: Perfil dos entrevistados..................................................................................................... 67

Gráfico 17: Faixa etária dos entrevistados .......................................................................................... 68

Gráfico 18: Tempo de moradia na Região Sudeste do TO ................................................................. 69

Gráfico 19: Participação em associações/cooperativas ...................................................................... 69

Gráfico 20: Situação das associações/cooperativas na região Sudeste do TO ................................. 70

Gráfico 21: Percentual de associados ativos e inativos na região Sudeste do TO ............................ 71

Gráfico 22: Avaliação dos Conselhos Municipais de Saúde da Região Sudeste do TO .................... 72

Gráfico 23: Avaliação dos Conselhos Municipais de Educação da Região Sudeste do TO .............. 72

Gráfico 24: Avaliação dos Conselhos Municipais de Ação Social da Região Sudeste do TO ........... 73

Gráfico 25: Avaliação dos Conselhos Tutelares da Região Sudeste do TO ...................................... 73

Gráfico 26: Avaliação dos Conselhos Municipais de Segurança Alimentar - COMSEA..................... 74

Gráfico 27: Avaliação dos Conselhos Municipais da Mulher, da Região Sudeste do TO .................. 75

Gráfico 28: Avaliação dos Conselhos Municipais de Turismo, da Região Sudeste do TO ................ 75

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Gráfico 29: Avaliação dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente, da Região Sudeste do TO ..... 75

Gráfico 30: Avaliação dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável - CMDRS,

da Região Sudeste do TO ..................................................................................................................... 77

Gráfico 31: Variação do Índice de Capital Social na Região Sudeste do TO ..................................... 83

LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Evolução da população, % de crescimento anual, % da população urbana e rural: Sudeste

do TO, Tocantins e Brasil ...................................................................................................................... 43

TABELA 2: Distribuição da população da Região Sudeste do TO, por faixa etária ............................ 44

TABELA 3: Distribuição da população da Região Sudeste do TO, por faixa etária ............................ 44

TABELA 4: Média do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e Sub-Índices Região

Sudeste do TO, Tocantins e Brasil ...................................................................................................... 45

TABELA 5: Índices de intensidade da pobreza - 1991 e 2000 ............................................................ 46

TABELA 6: Evolução do Índice de Gini, entre 1991 a 2000, na Região Sudeste do Tocantins .......... 48

TABELA 7: Evolução do Índice de GINI, entre 2000 e 2003, na Região Sudeste do Tocantins ......... 49

TABELA 8: Renda per Capita, % de renda proveniente do trabalho e de transferências governamen-

tais em 2000, na Região Sudeste do TO .............................................................................................. 55

TABELA 9: Evolução do PIB na Região Sudeste do Tocantins, no Tocantins e Brasil; 2002 a 2006 56

TABELA 10: Filiação a associações/cooperativas X tempo de filiação ................................................ 70

TABELA 11: Motivos considerados importantes e muito importantes sobre a participação da socie-

dade civil nos Conselhos Municipais..................................................................................................... 78

TABELA 12: Motivos considerados importantes e muito importantes sobre a participação da socie-

dade civil nos Conselhos Municipais .................................................................................................... 79

TABELA 13 Índice de Capital Social .................................................................................................... 82

TABELA 14 Índice de Capital Social em a Taxa de Alfabetização ...................................................... 84

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 14

1. CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E CAPITAL SOCIAL ................ 20

1.1 Crescimento ............................................................................................................. 20

1.2 Desenvolvimento Econômico ................................................................................... 21

1.3 Capital Social ........................................................................................................... 27

1.4 Participação e Acumulação de Capital Social ........................................................... 31

2. A REGIÃO SUDESTE DO TOCANTINS ......................................................................... 34

2.1 Localização .............................................................................................................. 34

2.2 Origem e caracterização .......................................................................................... 34

2.3 Aspectos sociais e econômicos ................................................................................ 42

2.3.1 Demografia .......................................................................................................... 42

2.3.2 Índice de Desenvolvimento Humano .................................................................... 44

2.3.3 Índice Intensidade de Pobreza ............................................................................. 45

2.3.4 Índice de GINI ...................................................................................................... 47

2.3.5 Educação ............................................................................................................. 50

2.3.6 Acesso a infraestrutura básica ............................................................................. 51

2.3.7 Acesso a bens de consumo ................................................................................. 53

2.3.8 Aspectos econômicos .......................................................................................... 54

2.4 Instrumento de Gestão Municipal ............................................................................. 57

2.5 Projetos de desenvolvimento .................................................................................... 61

3. Uma análise do desenvolvimento socioeconômico da região Sudeste do Tocantins, na

visão de lideranças locais .................................................................................................... 67

3.1 Perfil dos entrevistados ............................................................................................ 68

3.2 Organização social ................................................................................................... 69

3.3 Conselhos Municipais ............................................................................................... 71

3.4 Índice de Capital Social ............................................................................................ 80

4. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 85

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 90

6. ANEXOS ......................................................................................................................... 94

6.1 Questionário da pesquisa de campo ........................................................................ 94

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INTRODUÇÃO

As condições naturais, a capacitação humana, os investimentos

públicos e privados são alguns aspectos que, a partir da criação de diversos

cenários contribuem para a análise das diferentes regiões do estado do Tocantins,

para a tomada de decisões por parte dos agentes e para o desenvolvimento de

diversas atividades econômicas.

Embora a Teoria Econômica já tenha consolidado o papel destes

elementos para o processo de crescimento econômico, o papel das interações

sociais tem motivado muitas considerações teóricas e investigações práticas.

Admite-se com isso, que as interações sociais entre os indivíduos, a

confiança, a participação social e o civismo desempenham um importante papel e

efeitos positivos na promoção do crescimento e desenvolvimento econômico.

A partir dessa premissa, o presente estudo tem como propósito

apresentar e discutir alguns aspectos que contribuem para que o tão sonhado

“desenvolvimento sustentável” seja difícil de ser alcançado por determinadas

regiões, no caso deste estudo, a Região Sudeste do Tocantins, tornando-se quase

que uma utopia.

Outro aspecto que contribuiu para a decisão de realizar esta

dissertação na Região Sudeste do Tocantins, foi uma afirmação que sempre ouvi

durante as reuniões, encontros e conversas com pessoas e lideranças, dentro e fora

da região, e a qual em muito incomoda. É o fato de a mesma ser estigmatizada e

conhecida como o “Corredor da Miséria”.

Entretanto, observa-se que esta região, formada por 20 municípios

possui algumas características e potencialidades locais as quais, em outros

municípios do país e até mesmo outras regiões do Tocantins, quando identificadas,

estruturadas e articuladas com as demais políticas públicas contribuem para o

crescimento econômico e desenvolvimento social, mas nesta região ainda estão

num lento processo de amadurecimento.

A avaliação dos aspectos que promovem o crescimento econômico e

desenvolvimento social de um município, região ou país, geralmente está

relacionada aos aspectos históricos ou a dotação de diferentes estoques de capital,

como capital natural, físico, financeiro e humano.

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A compreensão do papel das interações sociais, bem como sua

relação com os processos de crescimento e desenvolvimento econômico de

determinadas regiões, possibilita a inclusão de um novo elemento explicativo, na

função de produção, geradora de crescimento.

Assim, a quase estagnação da economia na região Sudeste do

Tocantins, poderia estar relacionada com o baixo nível de organização social de

seus agentes, em grupos de ação coletiva.

Este foi um dos aspectos que despertou o interesse em realizar esta

dissertação, a qual espera-se contribua para responder a pergunta: “Por que a

Região Sudeste do Tocantins, onde desde a década de 90, são implementados

programas e projetos que visam o seu desenvolvimento econômico e social, ainda

encontra dificuldades para emergir do estado de quase estagnação para entrar num

processo de desenvolvimento econômico e social?”

Acreditamos que este estudo será importante para aumentar o

conhecimento cientifico e para contribuir com o planejamento de programas e

projetos de desenvolvimento regional e formulação e/ou readequação de políticas

públicas governamentais.

Metodologia

Essa dissertação foi realizada na região Sudeste do Tocantins e a

metodologia utilizada constituiu-se de quatro componentes: 1) estudos, pesquisas e

diagnósticos já existentes na região; 2) entrevistas semi-estruturadas junto a

lideranças das organizações sociais e do poder público; 3) observação participante;

e 4) sistematização e análise de informações secundárias de fontes diversas.

A organização e análise destas informações possibilitaram a

construção de um perfil sintético das principais características socioeconômicas,

ambientais e culturais da região.

Para conhecer a realidade organizacional dos municípios realizou-se

uma pesquisa, junto a lideranças do poder público e sociedade civil, com o objetivo

de identificar a existência ou não de órgãos/instituições como os Conselhos

Municipais e/ou Regionais de Desenvolvimento Sustentável, Fóruns de

Desenvolvimento Regional, sindicatos, grupos de interesse, bem como a sua

importância e participação no processo de formulação de políticas públicas.

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A partir dos dados e das informações obtidas construiu-se o Índice de

Capital Social – ICS cujo papel é mensurar o nível de organização e a existência ou

não de Capital Social na região Sudeste do Tocantins.

Para compor o ICS foram construídos três índices: o Índice de

Participação do Poder Público – IPPP, formado pelas variáveis “no total de

conselhos, conselhos existentes e conselhos ótimos e bons”; o Índice de

Participação da Sociedade Civil – IPSC utilizando as variáveis “associações ativas,

total de associações, associados ativos e total de associados”; e o Índice dos

Indivíduos – II, a partir da “taxa de alfabetização”. A fórmula utilizada para a

construção do ICS baseou-se numa simples média aritmética e foi a seguinte:

+ +Taxa alfabetização

Outro método utilizado nessa dissertação foi o estudo de caso, que é

um método de pesquisa qualitativa que investiga os fenômenos à medida em que

ocorrem, sem qualquer interferência significativa do pesquisador. Tem o objetivo de

compreender a situação em estudo e ao mesmo tempo desenvolver teorias mais

genéricas a respeito dos aspectos característicos do fenômeno observado. (Fidel,

1992)

Segundo Young (1960), estudo de caso é “(...) um conjunto de dados

que descrevem uma fase ou a totalidade do processo social de uma unidade, em

suas várias relações internas e nas suas fixações culturais, quer seja essa unidade

uma pessoa, uma família, um profissional, uma instituição social, uma comunidade

ou uma nação”.

São várias as situações onde se utiliza o estudo de caso e as que mais

se destacam são: i) quando as questões da pesquisa abordam o “como” e por quê?;

ii) quando o controle que o investigador tem sobre os acontecimentos é muito

reduzido; ou iii) quando o foco temporal está em fenômenos contemporâneos dentro

do contexto de vida real.

Quanto à pesquisa científica, segundo Selltiz (1987), tem a finalidade

de descobrir respostas para algumas questões mediante a aplicação de métodos

científicos.

IPSC IPPP II

3 = ICS

17

Na sociologia, as pesquisas qualitativas trabalham com significados,

motivações, valores e crenças e estes, não podem ser simplesmente reduzidos às

questões quantitativas, pois respondem a noções muito particulares.

Na opinião de Minayo (1996) os dados quantitativos e os qualitativos

acabam se complementando dentro de uma pesquisa e esta foi a metodologia

adotada na coleta dos dados desta dissertação.

Utilizamos também, a observação participante e as entrevistas semi-

estruturadas, ou seja, com perguntas abertas e fechadas, compostas por um

conjunto de variáveis previamente definidas, relacionadas aos aspectos

institucionais e sociais e aplicadas junto aos representantes do poder público, da

iniciativa privada, gestores de projetos, lideranças e formadores de opinião.

A observação participante faz com que o pesquisador tenha um contato

mais direto com a realidade, onde procura recolher e registrar os fatos sem a

utilização de meios técnicos especiais, ou seja, sem planejamento ou controle.

Esta metodologia possibilita ao entrevistado discorrer sobre o tema

proposto e, normalmente ocorre em um contexto semelhante ao de uma conversa

informal. Além disso são muito utilizadas quando se deseja delimitar o volume das

informações, obtendo assim um direcionamento maior para o tema em questão e

intervindo a fim de que os objetivos sejam alcançados. (SELLTIZ et allii, 1987).

Para Young (1960), a observação participante, entrevistas semi-

estruturadas, análise de documentos e questionários são instrumentos que podem

ser utilizados para coletar dados no estudo de caso.

Um dos instrumentos utilizados nessa dissertação foram as entrevistas

semi-estruturadas e os dados obtidos possibilitaram traçar o perfil dos entrevistados

(faixa etária, nível educacional e renda familiar), avaliar o nível de organização e

participação social e identificar o papel e a participação do estado nos processos de

desenvolvimento sustentável.

Porém, o ponto de partida de uma investigação científica deve basear-

se no levantamento de dados, os quais num primeiro momento são obtidos com a

realização de uma pesquisa bibliográfica. Num segundo momento com a observação

dos fatos ou fenômenos que proporcionaram a obtenção de maiores informações e

num terceiro momento é que realiza-se a pesquisa de campo para coletar os dados

que não foram obtidos por meio da pesquisa bibliográfica e da observação.

18

Uma das formas que complementam a coleta de dados são as

entrevistas, as quais são definidas por Haguette (1997:86) como um “processo de

interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por

objetivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado”.

A realização de entrevistas é a técnica mais utilizada no processo de

trabalho de campo, pois por meio delas é possível coletar dados objetivos e

subjetivos. Os primeiros são obtidos em fontes secundárias, tais como censos,

estatísticas, etc, mas os dados subjetivos só podem ser obtidos através da

entrevista, pois dizem respeito aos valores, às atitudes e às opiniões dos sujeitos

entrevistados.

Quanto á preparação das entrevistas é uma das etapas mais

importantes da pesquisa que requer tempo e exige alguns cuidados, dentre os quais

destacam-se: o planejamento da entrevista, que deve ter em vista o objetivo a ser

alcançado; a escolha do entrevistado, que deve ser alguém que tenha familiaridade

com o tema pesquisado; a oportunidade da entrevista, ou seja, a disponibilidade do

entrevistado em fornecer a entrevista que deverá ser marcada com antecedência

para que o pesquisador se assegure de que será recebido; as condições favoráveis

que possam garantir ao entrevistado o segredo de suas confidências e de sua

identidade e, por fim, a preparação específica que consiste em organizar o roteiro ou

formulário com as questões importantes (LAKATOS, 1996).

Nessa dissertação os cuidados sugeridos por Lakatos (1996) foram

tomados, na escolha dos entrevistados, na aplicação das entrevistas e durante a

construção do questionário, as variáveis foram elaboradas de modo a proporcionar

informações que pudessem responder a pergunta chave desse estudo.

Estrutura

A dissertação está estruturada em três capítulos: o primeiro tecerá

considerações sobre desenvolvimento e crescimento econômico, apresentando

dados comparativos da Região Sudeste do TO, do estado do Tocantins e do Brasil

como aspectos demográficos, variáveis econômicas (PIB, emprego, agropecuária) e

variáveis sócio-econômicas (indicadores de educação, saúde, posse de bens,

transferência de renda). Será apresentado também um conceito recente que, aliado

às idéias já consolidadas na teoria econômica, aborda o papel das instituições e da

interação social entre diversos agentes econômicos e é denominado de “capital

19

social”. Sobre esse “capital”, discutiremos as origens, definições e sua importância

para a promoção do desenvolvimento e do crescimento econômico de uma região.

Finalizando o primeiro capítulo discutirmos alguns aspectos relacionados a

participação social, a qual, segundo alguns teóricos é um instrumento que contribui

para o acúmulo e fortalecimento do capital social.

O segundo capítulo faz uma síntese da Região Sudeste do Tocantins

abordando sua origem, caracterização, aspectos sociais e econômicos, instrumentos

de gestão e projetos de desenvolvimento implementados a partir da década de 90.

O terceiro e último capítulo fará uma análise do desenvolvimento

socioeconômico da região Sudeste do Tocantins, na visão de lideranças locais.

20

1. CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E CAPITAL SOCIAL

1.1 Crescimento

Crescimento econômico é compreendido como o processo de

enriquecimento dos países, bem como o de seus habitantes, ou seja, na

acumulação de ativos individuais ou públicos, do crescimento da produção nacional

e pela remuneração recebida pelos que participam da atividade econômica.

Nas décadas de 1940 a 1950, a evolução teórica sobre crescimento

restringiu-se na análise das causas do aumento do produto nacional per capita,

considerado então, como elemento representativo da melhoria das condições de

vida.

Segundo Wadih João Scandar Neto1, neste período, confundiam-se os

indicadores de desenvolvimento com os de crescimento econômico, embora estudos

demonstrem que crescimento por si só, não garante o desenvolvimento e o Brasil é

um exemplo disso, pois tem aumentado consideravelmente o Produto Interno Bruto -

PIB, mas os índices de desenvolvimento nem sempre acompanham.

Outro exemplo foi a década de 70 onde o país viveu um período de

crescimento, denominado “milagre econômico”, com taxas de aumento do produto

interno bruto variando de 10,4% em 1970 a 14,0% em 1973, porém, segundo

Furtado (1974), taxas mais altas de crescimento do produto, “longe de reduzir o

subdesenvolvimento, tendem a agravá-lo”.

Para o professor Eli da Veiga, “... há muito tempo se sabe que o PIB

não serve para medir o desenvolvimento. Agora se percebe que não serve nem

mesmo para medir a riqueza.” Ainda nas palavras de Veiga, “grosso modo, o

indicador mede um fluxo de renda sem descontar a depreciação dos estoques.”2

Assim sendo, observamos que crescimento econômico não representa

melhoria da condição de vida da população, mas sim uma condição necessária ao

desenvolvimento.

1 Mestre em estudos populacionais e pesquisas sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –

IBGE, que defendeU uma tese na qual apresenta a construção metodológica de um indicador de desenvolvimento sustentável. 2 Informações obtidas no site http://pagina22.com.br/wp-content/uploads/2009/12/ed4.pdf. O professor Eli

da Veiga estava como Membro do Conselho Editorial da Revista editada pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas.

21

1.2 Desenvolvimento Econômico

Desenvolvimento econômico pode ser compreendido a partir de várias

correntes teóricas. Franklin Coelho3 afirma que o processo de desenvolvimento

econômico acontece a partir da constituição de uma ambiência produtiva inovadora,

na qual se desenvolvem e se institucionalizam formas de cooperação e integração

das cadeias produtivas e das redes econômicas e sociais, de tal modo que sejam

ampliadas as oportunidades locais e a geração de trabalho e renda, atraindo novos

negócios e criando condições para um desenvolvimento humano sustentável.

Para Sachs (2002) um processo de desenvolvimento includente é

aquele que garante os direitos civis e políticos, o exercício da democracia a

transparência e responsabilidade nas ações, valores estes, necessários ao bom

funcionamento dos processos de desenvolvimento. Segundo Sachs (2002), a

economia capitalista é eficiente na produção de bens e riquezas, porém é

responsável pela criação de males sociais e ambientais e esses problemas só

podem ser solucionados mediante a formulação de políticas públicas que priorizem a

redução da pobreza e a proteção do meio ambiente.

Por outro lado, Tocqueville, (1998) afirma que existe uma interligação

entre sociedade civil, democracia e desenvolvimento econômico, a qual descreve de

maneira objetiva, quando discorre sobre a sociedade americana de meados do

século XIX.

Putnam (2007), na pesquisa que realizou sobre o desenvolvimento das

localidades italianas nas últimas décadas do século XX, também observou a

existência de um elo entre os graus de associativismo, confiança e cooperação

atingidos por uma sociedade democrática organizada do ponto de vista cívico e

cidadão e a boa governança e a prosperidade econômica.

No final da década de 1950, Jacobs (1961) analisou as razões pelas

quais algumas cidades americanas pareciam vivas, florescentes, enquanto outras

permaneciam estagnadas, com aspecto de quem estava morrendo. Observou então,

que nas cidades consideradas "vivas" haviam pessoas conectadas e interagindo

com pessoas, segundo um padrão de rede e ocupadas com os assuntos públicos.

3 COELHO Franklin Desenvolvimento Econômico Local no Brasil: as experiências recentes num contexto de

descentralização, CEPAL/GTZ, Santiago, Chile, 2000

22

A autora denominou essas redes de capital social e, segundo ela, este

capital social era o responsável pela vitalidade das localidades americanas em

termos de desenvolvimento e não, o capital físico ou financeiro, o produto, a renda

ou a riqueza, conforme o ponto de vista do pensamento econômico.

Observa-se então que, para Sachs, Tocqueville, Putnam e Jacobs, a

organização da sociedade civil, a participação cidadã, civismo, associativismo,

confiança e cooperação estavam intrinsecamente relacionados com os níveis de

democracia, prosperidade e desenvolvimento econômico de uma determinada

localidade. Estes autores identificaram uma forte relação entre desenvolvimento e o

modo como a sociedade se estrutura e regula seus conflitos, o que levou Franco

(2002) a afirmar que desenvolvimento tem muito a ver, com rede e com democracia.

Outro aspecto importante é que grande parte das definições

encontradas na literatura associa desenvolvimento à melhoria nas condições de vida

ou no bem estar das pessoas.

Entretanto, sobre melhoria nas condições de vida ou bem estar das

pessoas, Amartya Sen (2000) faz uma crítica:

... é fundamental analisar outros fatores que afetem o bem-estar, tais como saúde e educação, pois de acordo com os pressupostos éticos da Economia, cada indivíduo tem a sua utilidade e não cabe a ninguém dizer-lhe o que ele deve valorizar. Cada um tem seu mapa de preferências. Não devemos julgar essas preferências, por mais absurdas que nos pareçam. Por conseqüência lógica, como então poderemos dizer que educação e saúde são coisas boas, se isso é uma opinião pessoal? E como poderemos comparar se alguém está com mais bem-estar ou menos bem-estar se cada um tem a sua utilidade e não há métrica cardinal pra medi-la?

Sen (2000) defende as capacitações ou a expansão das liberdades

substantivas que ele descreve no livro Desenvolvimento como Liberdade. Utilizando

um conceito de liberdade positiva, o autor acredita que quanto mais opções a

pessoa tem de ter uma vida que ela valoriza, melhor ela está. Para ele, mais

educação e saúde, ao permitirem maiores oportunidades econômicas, maior

participação política e proteção em relação a doenças facilmente evitáveis por meio

de um sistema de saúde, tornam-se requisitos cruciais para uma sociedade ser

classificada de desenvolvida.

Para Sen (2000) desenvolvimento é visto como “um processo de

expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam” e acrescenta que o

aumento do Produto Nacional ou da renda per capita deve restringir-se a um “meio

de expandir as liberdades desfrutadas pelos membros da sociedade”.

23

Segundo ele, tais liberdades devem ir além da acumulação da riqueza

e alcançar os direitos civis, políticos e sociais, pois na sua visão o crescimento não é

um fim, mas um meio relevante para o desenvolvimento.

Outra abordagem importante nas discussões sobre os processos de

desenvolvimento diz respeito à teoria do desenvolvimento sustentável. A partir da

segunda metade do século XIX, a degradação ambiental e suas catastróficas

conseqüências, em nível planetário, originaram estudos e as primeiras reações no

sentido de se conseguir fórmulas e métodos para diminuir os danos causados ao

ambiente.

Em 1948, na reunião do Clube de Roma, autoridades reconheceram

formalmente os problemas ambientais e a falência dos recursos naturais. Essa

constatação levou a realização de um estudo, que foi liderado por Dennis Meadows4,

o qual identificou que a degradação ambiental decorre, principalmente, do

descontrolado crescimento populacional e da super exploração dos recursos

naturais e que, se não houver estabilidade populacional, econômica e ecológica,

tudo um dia acabará. Esses estudos deram subsídios para a idéia de

desenvolvimento aliado a preservação.

Criou-se então a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento (CMMAD) da Organização das Nações Unidas, com os seguintes

objetivos: reexaminar as questões críticas relativas ao meio ambiente e reformular

propostas realísticas para abordá-las; propor novas formas de cooperação

internacional nesse campo de modo a orientar as políticas e ações no sentido de

fazer as mudanças necessárias; e proporcionar aos indivíduos, organizações

voluntárias, empresas, institutos e governos uma maior compreensão dos problemas

existentes, auxiliando-os e incentivando-os a uma atuação mais firme.

A partir desta época adotou-se o conceito de Desenvolvimento

Sustentável, como sendo aquele que atende às necessidades presentes sem

comprometer a possibilidade de que as gerações futuras satisfaçam as suas

próprias necessidades, conceito este que foi definitivamente incorporado como um

princípio, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

4 Dennis L. Meadows (nascido 7 de junho, 1942) É um cientista norte-americano e professor emérito

de Sistemas de Gestão, e ex-diretor do Instituto de Política e Pesquisa em Ciências Sociais na Universidade de New Hampshire. Começou a trabalhar na faculdade de Massachusetts Institute of Technology (MIT) em 1960 e de 1970 a 1972 no MIT, ele foi diretor do "Clube de Roma” e é amplamente conhecido como o co-autor do estudo denominado O Limite do Crescimento.

24

Desenvolvimento, a Cúpula da Terra de 1992, conhecida como Eco-92, que

aconteceu no Rio de Janeiro.

Outra definição para desenvolvimento sustentável tem a ver com o que

Furtado (1974) afirma em seu livro O Mito do Desenvolvimento: “não é qualquer taxa

de crescimento que pode ser perseguida; há que pensar-se antes naquilo que é

(ecologicamente) sustentável, ou seja, possível, durável, realizável”.

Em 1987, a CMMAD, presidida pela Primeira-Ministra da Noruega, Gro

Harlem Brundtland, adotou o conceito de Desenvolvimento Sustentável em seu

relatório Our Common Future (Nosso futuro comum), também conhecido como

Relatório Brundtland, o qual busca o equilíbrio entre proteção ambiental e

desenvolvimento econômico e serviu como base para a formulação da Agenda 21,

com a qual mais de 170 países, por ocasião da Eco-92, se comprometeram em

alcançar um abrangente conjunto de metas para a criação de um mundo mais

equilibrado.

A Declaração de Política de 2002 da Cúpula Mundial sobre

Desenvolvimento Sustentável, realizada em Joanesburgo, afirma que o

Desenvolvimento Sustentável é construído sobre “três pilares interdependentes e

mutuamente sustentadores” - desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e

proteção ambiental.

O desenvolvimento sustentável foca sua atenção nos aspectos

ambientais ressaltando a utilização racional dos estoques de recursos naturais para

que estes possam continuar sendo utilizados pelas futuras gerações.

Outra teoria que abordaremos é a do desenvolvimento endógeno que

enfoca os aspectos regionais, apresentando maiores contribuições para as questões

das desigualdades regionais e os melhores instrumentos de políticas para sua

correção.

O processo de desenvolvimento endógeno teve suas origens na

década de 1970, quando as propostas de desenvolvimento da base para o topo

emergiram com maior notoriedade e evoluiu com a colaboração de novos enfoques

ao problema do crescimento desequilibrado.

Na década de 1990, a principal discussão deste modelo de

desenvolvimento concentrou-se na tentativa de entender porque o nível de

crescimento variava entre as diversas regiões e nações, mesmo quando elas

dispunham de condições semelhantes na busca de fatores produtivos, como capital

25

financeiro, mão-de-obra ou tecnologia. A solução seria encontrar, entre estes

fatores, aqueles que existiam dentro da região.

Desta forma, a teoria do desenvolvimento endógeno contribuiu para

identificar os fatores de produção existentes dentro de uma região, como capital

social, capital humano, conhecimento, informação, pesquisa e desenvolvimento e as

instituições e não aqueles trazidos de fora, ou seja, fatores exógenos, como até

então era entendido.

Por conseguinte, concluiu-se que a região dotada destes fatores, ou

estrategicamente direcionada para desenvolvê-los internamente teria as melhores

condições para trilhar o caminho do desenvolvimento.

Outro aspecto considerado importante na teoria do desenvolvimento

endógeno é a participação da sociedade civil e das relações sociais as quais são

defendidas por outros pesquisadores do desenvolvimento, dentre eles, Vázquez

Barquero (2002).

Este autor afirma que a capacidade da sociedade de liderar e conduzir

o seu próprio desenvolvimento, condicionando-o à mobilização dos fatores

produtivos disponíveis em sua área e com seu potencial próprio, traduz uma forma

de desenvolvimento denominado endógeno, do qual pode-se identificar duas

dimensões: a primeira econômica, onde a sociedade empresarial utiliza sua

capacidade para organizar, da forma mais producente possível, os fatores

produtivos da região. A segunda sócio-cultural, onde os valores e as instituições

locais servem de base para o desenvolvimento da região. (Barquero, 2002)

Argumenta ainda, que o processo de desenvolvimento, ao considerar e

dar relevância à sociedade civil local e às suas formas de organização e relação

social permite que a região atinja um crescimento equilibrado e sustentado no longo

prazo, sem entrar em conflito direto com a base social e cultural da região.

(Barquero, 2002)

Na visão de Boisier (1997), a sociedade civil e nela compreendida as

formas locais de solidariedade, integração social e cooperação, pode ser

considerada o principal agente da modernização e da transformação sócio-

econômica em uma região.

Para Godard (1987), uma das chaves do desenvolvimento reside na

capacidade de cooperação entre seus atores. Também é conveniente particularizar

26

a análise das formas de cooperação institucional ou voluntária que se produzem

entre eles contanto que o objetivo seja o desenvolvimento local.

Segundo Franco (2002), o desenvolvimento acontece quando uma

região consegue dinamizar suas potencialidades, mas acredita que, para isso

acontecer é necessário a integração de vários fatores como a melhoria do nível

educacional da população, a existência de pessoas com capacidade para tomar

iniciativas, assumir responsabilidades e desenvolver ações empreendedoras.

Aliado a isso, acrescenta a necessidade e importância da participação

da sociedade, pois a seu ver, “desenvolvimento só é desenvolvimento se for

humano, social e sustentável”.

Outro aspecto discutido pelo economista Myrdal5 (1968), diz respeito

ao princípio da causação circular e acumulativa, conhecida como “círculo vicioso”.

Segundo Myrdal (1968), “o círculo vicioso do atraso econômico e da

pobreza só pode ser interrompido através de intervenções do Estado que promovam

crescimento econômico com integração nacional”. O autor deixa claro que essa

“cláusula” imposta ao crescimento econômico, a integração nacional, é uma peça

fundamental do modelo, cuja ausência ou insuficiência acarreta a continuidade do

processo de causação circular.

Ao estudar os aspectos econômicos da saúde, o professor Winslow

afirmou que a pobreza e a doença formavam um círculo vicioso. Homens e mulheres

eram doentes porque eram pobres; tornaram-se mais pobres porque eram doentes e

mais doentes porque eram mais pobres. (WINSLOW, apud. MYRDAL, 1968)

Para ele, esse era um processo circular e acumulativo descendente

onde, um efeito negativo era, ao mesmo tempo, causa e efeito de outros fatores

negativos.

Entretanto, Myrdal (1968) acredita que é possível um processo

acumulativo ascendente a partir de uma relação circular entre menos pobreza, mais

alimento, mais saúde e enfim, maior possibilidade de trabalho.

Segundo ele, o processo acumulativo pode acontecer em ambas as

direções, além de ser o método mais objetivo para se analisar as mudanças sociais.

5 Gunnar Myrdal, nascido na Suécia em 1898, prêmio Nobel de economia de 1974 (junto com Hayek).

Considerado como um dos maiores especialistas em estudos sobre pobreza e subdesenvolvimento. Foi ministro do comércio da Suécia entre 1945 e 1947 e assessor econômico das Nações Unidas para assuntos da Europa por mais de dez anos.

27

Na visão de Myrdal (1968) a principal tarefa científica é analisar as

inter-relações causais dentro do sistema, à medida que ele se move sob a influência

de forças externas que pressionam ora em determinado sentido ora em outro, ao

ritmo de seus próprios processos internos.

No que se refere às forças externas, algumas, como oportunidade de

emprego e situação dos negócios estão sujeitas a fortes transformações a curto

prazo, outras, como valores e hábitos de uma comunidade e sua influência na

situação política e institucional, são mais estáveis.

Myrdal (1968) acrescenta ainda, que quanto mais conhecimento se tem

sobre as forças internas e externas, que atuam em determinada região, as chances

de se obter melhores resultados serão bem maiores.

Outro autor que contribui para as discussões sobre processos de

desenvolvimento é Becker (2000), e diz o seguinte:

... algumas regiões, em função dos seus arranjos cooperativos, conseguem responder positiva e ativamente aos desafios contemporâneos, construindo seu modelo de desenvolvimento, outras não. Desse processo, pode resultar uma das quatro seguintes situações: primeira, algumas regiões conseguem desenvolver suas potencialidades constituindo uma dinâmica própria local; segunda, algumas só conseguem aproveitar as oportunidades decorrentes da dinâmica global de desenvolvimento; terceira, outras conseguem combinar eficientemente o desenvolvimento de suas potencialidades locais com o aproveitamento eficaz das oportunidades globais oferecidas pelo processo de desenvolvimento contemporâneo; ou, quarta, outras não conseguem nem uma e nem outra, e tendem a desaparecer como região de desenvolvimento.

Entretanto, para que esses processos de organização e de mudança

social aconteçam e promovam um desenvolvimento sustentável interligando as

dimensões econômica, social e ambiental, torna-se necessário que as regiões sejam

providas de capital, mas não somente o capital econômico, mas um outro tipo de

capital denominado “capital social” sobre o qual discutiremos a seguir.

1.3 Capital Social

O termo capital social, segundo Durston6, (1999) refere-se às normas,

instituições, e organizações que promovem a confiança e a cooperação entre as

pessoas, nas comunidades e na sociedade como um todo. Nas propostas do

paradigma do capital social que se concentram em suas manifestações coletivas,

6 Coordenador de Assuntos Sociais da Divisão de Desenvolvimento Social da Comissão Económica

para América Latina e o Caribe (CEPAL)

28

argumenta-se que as relações estáveis de confiança e cooperação podem reduzir os

custos de transação (Coase 1937), produzir bens públicos (North, 1994) e facilitar a

constituição de atores sociais ou inclusive de sociedades civis saudáveis. (Putnam

2007)

É também definido como o conjunto das características da organização

social, que englobam as redes de relacionamentos entre indivíduos, suas normas de

comportamento, laços de confiança e obrigações mútuas. E o capital social, quando

existente em uma região, facilita a tomada de ações colaborativas que resultam no

benefício de toda a comunidade.

Outro aspecto relevante do capital social é a capacidade inovadora

para mobilizar recursos endógenos e exógenos; o grau de participação das

comunidades no processo produtivo; a capacidade de exercer uma gestão

compartilhada demonstrada pelos sujeitos do processo e pelas autoridades locais e

a capacidade de concertação com atores inter e extraterritoriais.

O capital social é compreendido, basicamente, por sua função, sendo

encontrado em organizações sociais que potencializem a produção do ser humano.

Acredita-se, portanto que onde existe “capital social” a relação entre os graus de

associativismo, confiança e cooperação são mais fortes, pois capital social não se

gasta com o uso; ao contrário, o uso do capital social o faz crescer.

Capital social é capital porque, utilizando a linguagem dos

economistas, ele se acumula, pode produzir benefícios, minimiza os custos de

transação, tem estoques e uma série de valores. Refere-se a recursos que são

acumulados e que podem ser utilizados e mantidos para uso futuro. Não se trata,

porém, de um bem ou serviço de troca. Pode, deve e tem sido um elemento

estratégico fundamental para avaliar a sustentabilidade de projetos e políticas.

A noção de capital social indica que os recursos são compartilhados no

nível de um grupo da sociedade, além dos níveis do indivíduo e da família.

Entretanto, isso não implica que todos aqueles que compartilham

determinado recurso de capital social se relacionem enquanto amigos; significa, no

entanto, que o capital social existe e cresce a partir do momento onde são

estabelecidas relações de confiança e cooperação e não somente relações

baseadas no antagonismo.

Fukuyama (1996) acredita que o acúmulo de capital social acontece

quando existe um maior grau de confiança numa sociedade e afirma que capital

29

social difere de outras formas de capital porque é acumulado por meio de valores e

hábitos culturais como religião, tradição ou hábitos históricos além de basear-se em

virtudes sociais e não somente individuais.

Por isso, tanto a idéia de capital social, quanto a de cooperação, nos

últimos anos, têm sido destacadas por organismos internacionais devido ao seu

papel na implementação e fortalecimento de políticas de desenvolvimento.

Observa-se assim, que a eficiência das instituições é diretamente

proporcional ao estoque de capital social presente na sociedade, pois o acúmulo de

capital social facilita as ações coordenadas, estimula a cooperação espontânea, e

inibe os comportamentos oportunistas.

Outro estudioso do capital social foi Robert Putnam (2007) que, a partir

de pesquisas e estudos realizados na Itália, identificou que os vários aspectos que

marcaram as diferenças sociais encontradas entre o norte e o sul daquele país

levam a acreditar que o desenvolvimento de uma região está diretamente ligado às

características da organização social e das relações cívicas encontradas.

Putnam (2007) enfatiza que na Itália contemporânea, a comunidade

cívica está estritamente ligada aos níveis de desenvolvimento social e econômico.

Visto isso, capital social é compreendido como o conjunto das

características da organização social, que englobam as redes de relações, normas

de comportamento, valores, confiança, obrigações e canais de informação e, quando

existente em uma região, torna possível a realização de ações integradas que

resultam no benefício de toda comunidade (Putnam, 2007).

Para Coleman (Apud Putnam, 2007), assim como outras formas de

capital, o capital social é produtivo, possibilitando a realização de certos objetivos

que seriam inalcançáveis se ele não existisse (...).

Entretanto, mesmo sendo um de seus grandes defensores, Putnam

(2007), argumenta que o capital social, as tradições cívicas e as práticas

colaborativas, por si só, não desencadeiam o progresso econômico, mas são a base

para as regiões enfrentarem e se adaptarem aos desafios e oportunidades. Enfatiza

ainda que qualquer interpretação baseada num único fator certamente será

equivocada.

Vale ressaltar que do ponto de vista histórico, a primeira e a segunda

Guerras Mundiais despertaram na sociedade européia um sentimento de

30

solidariedade, o qual corroborou com a recuperação e o desenvolvimento daquelas

nações.

Putnam (2007) afirma também que é crescente a retração das práticas

participativas, do engajamento cívico e do trabalho associativo na sociedade civil

mas acredita que esta fragilidade da solidariedade humana não se constitui no único

entrave às políticas de apoio a cooperação.

Como exemplo, cita o crescimento do individualismo e o declínio do

capital social, no final do século XX, especialmente nos Estados Unidos, mas

acredita que (...) este cenário caracteriza, em certa medida, muitas sociedades

contemporâneas.

No Brasil, num estudo sobre experiências recentes de políticas

participativas regionais, Bandeira7 (1999), chega a conclusões semelhantes. Para

ele, propostas de políticas públicas que visem a ampliação do capital social regional,

por meio de práticas participativas, terão que manter por um longo período o apoio

institucional, a credibilidade e a sustentação política da proposta, sob pena de

inviabilizar no futuro a continuidade das práticas cívicas e da solidariedade na

comunidade.

Em outra experiência brasileira, desenvolvida no Estado de

Pernambuco e com o apoio do Instituto Interamericano de Cooperação para a

Agricultura – IICA, Jara (1998) enfatiza que torna-se necessário um profundo

reexame das principais premissas e valores que orientem o desenvolvimento

comunitário.

O autor acredita que entender e apoiar a implementação das políticas e

programas de desenvolvimento, em movimento, em processo e em termos de suas

relações com seu ambiente multidimensional é um desafio, pois os graves

problemas com os quais defrontamos são todos inter-relacionados.

Entretanto, acreditamos que desenvolvimento é um processo de

amadurecimento social e democrático e, como tal só existe se incorporado por seus

atores e estes estiverem conscientes do contexto em que vivem e comprometidos

com o futuro desejável, o qual almejam, como objetivo de vida.

7 Economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

31

Por outro lado, numa análise sobre desenvolvimento rural, Sepúlveda8,

argumenta que, ao considerar o capital social e humano de um território, é pertinente

buscar as particularidades que esses adquirem em termos etários e de gênero e,

para ele, isso só será possível por meio da mobilização e capacitação do público

jovem do território, pois o jovem, tanto urbano como rural é uma peça importante

como agente multiplicador e de mudança nos valores, hábitos e costumes de uma

região.

Entretanto, para manter este jovem na área rural torna-se necessário

que ele encontre condições favoráveis a esta permanência e, para que isso

aconteça é preciso a participação do estado investindo em políticas públicas

voltadas, principalmente, para as áreas de saúde, educação, infraestrutura, cultura e

lazer.

Portanto, é pertinente a afirmação de Myrdal (1968) quando argumenta

sobre a importância da participação do estado:

Em países subdesenvolvidos o Estado deve interferir em alguns setores nos quais a iniciativa privada deveria estar atuando e com eficiência, como ocorre nos países desenvolvidos. Conforme os países subdesenvolvidos forem sofrendo o processo acumulativo de desenvolvimento, a iniciativa privada aumentará gradativamente sua participação na economia. Então, o país deve ter um plano nacional de desenvolvimento. O objetivo principal é aumentar a capacidade produtiva do país. Este plano deve conter uma política de controle de fertilidade, pois os avanços na medicina contribuem para reduzir o índice de mortalidade, o que exige investimentos crescentes para manter os níveis de padrão de vida da população. Deve-se então definir quanto deve ser investido e quais os meios que serão utilizados para realizar tal investimento. Investir em que setores? Transporte, energia, construção de usinas e equipamentos de indústrias pesadas e leves. Além disso, deve-se também investir para aumentar a produtividade da agricultura e melhorar a qualidade da saúde, da educação e da capacitação profissional da população. Não deve haver apenas uma diretriz geral, mas devem existir também diversas subdiretrizes meticulosamente planejadas em todos os setores de abrangência dos investimentos.

1.4 Participação e Acumulação de Capital Social

Na opinião de Dowbor (2003) o tempo das grandes simplificações

sociais já passou e o universo dividido em nações e estas em burguesia,

proletariado e campesinatos deu lugar a um conjunto de sistemas mais complexos e

imbricados entre si, evoluindo e transformando-se com grande rapidez.

8 Sepúlveda, Sérgio - Desenvolvimento microrregional sustentável: métodos para planejamento local.

Tradução de Dalton Guimaraes – Brasília:IICA, 2005

32

Ele acredita que o mais importante não é definirmos, nas escalas

superiores, a sociedade ideal que almejamos, mas sim gerar na sociedade

mecanismos e instituições que permitam a sua transformação e reconstrução de

acordo com os seus desejos e necessidades.

O autor afirma ainda, que o único compromisso real deve ser com a

democracia efetiva, mas os caminhos que as populações decidirão trilhar no futuro

pertencem a elas, e não a nós.

Na opinião de Bandeira (1999), o aumento da prática de participação

deve-se a vários aspectos. Dentre eles destaca-se a ampliação da democratização

do país interligada com a participação da sociedade civil e a articulação de atores

sociais para as ações relacionadas com a promoção do desenvolvimento.

Na opinião de Teixeira (2002), a crise do Estado, que não consegue

responder às demandas da sociedade, principalmente nos segmentos mais

desfavorecidos, facilitou o surgimento dos movimentos sociais, os quais constituem-

se como atores sociais e políticos, construindo sua identidade e autonomia com

nova maneira de encarar o Estado e de agir coletivamente para expressar suas

aspirações e demandas.

Teixeira (2002) acredita que a organização dos segmentos sociais

acontece não apenas para alcançar as necessidades materiais ou realização de

políticas públicas, mas para buscar reconhecimento como sujeito, para efetivar seus

direitos e praticar uma cultura política de respeito às liberdades, à equidade social e

à transparência das ações do Estado.

Desta forma constitui-se uma sociedade civil formada por uma rede de

associações, movimentos, grupos e instituições os quais, articulados com os

diversos setores da sociedade, lideranças empresariais e poder público, participam

ativamente nos processos de democratização.

Teixeira (2002) argumenta que a incapacidade do Estado em atender a

uma série de demandas e a dificuldade encontrada pelos movimentos sociais para

enfrentar a nova situação e criar novas alternativas, levaram à indecisão sobre como

agir. Daí, a tentativa de isolar-se em projetos alternativos, produtivos, sociais, na

busca de resolver problemas e carências de determinados grupos sociais.

Entretanto, na opinião de Bandeira (1999) é necessário criar

mecanismos que possibilitem a participação mais direta da comunidade na

33

formulação, detalhamento e implementação das políticas públicas. E esta é uma

opinião que, cada vez mais, tem sido discutida e aceita no Brasil, nos últimos anos.

Exemplo disso é a difusão da prática de promover consultas aos

segmentos diretamente ou indiretamente interessados, quando da elaboração de

projetos, planos e programas específicos.

Da mesma forma, torna-se usual a adoção de mecanismos

participativos na implementação e no acompanhamento de ações setoriais,

principalmente na área social. Um exemplo são as comissões de monitoramento e

avaliação criadas para acompanhar a execução dos projetos e programas

específicos, em nível municipal, estadual e federal e com a presença de

representantes de vários segmentos da sociedade civil.

Outra forma de participação, difundida entre as administrações locais,

são os orçamentos participativos, onde a população representada por entidades de

classe e/ou lideranças de organizações da sociedade civil são chamados a deliberar

sobre a forma de aplicação dos recursos públicos.

Ao analisar as opiniões e argumentos dos diversos autores citados

acima, observa-se que, acumulação e fortalecimento do capital social estão

diretamente relacionados ao processo de participação social e tanto um, como outro,

contribuem em muito, para a promoção do desenvolvimento e crescimento

econômico tanto a nível local, como regional e territorial.

34

2. A REGIÃO SUDESTE DO TOCANTINS

2.1 Localização

A Região Sudeste do Tocantins ou Microrregião de Dianópolis (IBGE,

2005) é composta por 20 municípios: Almas, Arraias, Aurora do Tocantins, Chapada

da Natividade, Combinado, Conceição do Tocantins, Dianópolis, Lavandeira,

Natividade, Novo Alegre, Novo Jardim, Paranã, Pindorama do Tocantins, Ponte Alta

do Bom Jesus, Porto Alegre do Tocantins, Rio da Conceição, Santa Rosa do

Tocantins, São Valério da Natividade, Taguatinga e Taipas do Tocantins.

Ao sul faz limite com o estado de Goiás, ao norte com a região do

Jalapão, a leste com a Bahia e a oeste com a região Sul do Tocantins.

FIGURA 1: Mapa Divisão Política do Estado e da Região Sudeste do Tocantins Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano - Montagem da autora

2.2 Origem e caracterização

Antes de ser ocupada por aventureiros em busca de riqueza, a região

Norte da capitania de Goiás, atual Estado do Tocantins, era povoada por povos

indígenas, em sua maioria pertencentes ao tronco lingüístico Macro-Jê, destacando-

se os Akroá, os Xacriabá, Xerente, Xavante, Krahô, Apinayé, Javaé, Xambioá, e

Karajá. (Apolinário, 2007)

Estado do Tocantins

Região Sudeste do Tocantins

35

Os primeiros exploradores portugueses, atraídos pelas minas de ouro

aportaram na região a partir dos séculos XVII e XVIII iniciando assim, o processo de

ocupação e colonização do norte da capitania de Goiás. Em seguida chegaram os

sertanistas, os missionários, os criadores de gado e aventureiros vindos

principalmente da Bahia, Piauí e sul do Pernambuco.

Em 1682 foi organizada a bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva, (“o

Anhangüera Pai”), acompanhado por seu filho de 14 anos, Bartolomeu Bueno da

Silva Filho, que em 1725 foi o descobridor das minas de Goiás.

Da Amazônia portuguesa, em busca de minas de ouro vieram as

entradas de sertanistas e missionários jesuítas. Bartolomeu Barreiros de Ataíde saiu

de Belém em 1644 e no percurso subiu o rio Tocantins e entrou no rio Araguaia,

onde encontrou os índios Karajá.

Era a primeira viagem pelo Rio Tocantins em busca da expansão da

pecuária, em uma região chamada sertão das Terras Novas, na confluência dos rios

Paranã e Palma a oeste de Arraias. Portanto, a pecuária antecedeu a mineração,

mas a grande expansão do povoamento dos luso-brasileiros na região só se deu

com a exploração aurífera no século XVIII.

Grande parte dos forasteiros traziam seus escravos e o mínimo

necessário de mantimentos, fato que causou grandes padecimentos em toda

capitania de Goiás, visto que não havia preocupação em plantar roças para

subsistência, pois da terra, só interessava o rico metal.

A atividade de mineração baseada na escravidão proporcionou a

chegada de numerosos escravos na região e o desenvolvimento de uma estrutura

social peculiar. Por exemplo, em 1741, encontravam-se mais de 3000 escravos em

Arraias (APOLINÁRIO, 2007).

Segundo Bertran (apud Parente, 2007), as bandeiras paulistas que

chegaram no antigo Norte de Goiás, não conseguiam encontrar o ouro mais

facilmente por absoluta ignorância da atividade mineradora e foram aprender a arte

da mineração com os negros Mina ou Costa da Mina, cuja tradição e conhecimento

sobre a extração do ouro datava de três a quatro mil anos. Estes negros eram

também identificados como negros inteligentes, de canelas finas, mulheres lindas e

esguias.

36

Diziam os antigos, que “os negros mina devido ao grande

conhecimento da mineração do ouro, só abriam “serviços” depois de comer da terra

do local, pois tinham verdadeiros laboratórios de geoquímica nas papilas da boca”.

Por isso, esses africanos da região do Zimbabué valiam o dobro ou o

triplo do preço que era pago aos negros de outras etnias.

Por volta de 1730, a “picada da Bahia” atravessou o vale do São

Francisco até alcançar o vale do Paranã e explorando o Rio São Francisco os

paulistas abriram a picada que se chamou de Goiás (Pombo, 1960).

Estas expedições acabaram contribuindo para o povoamento e

surgimento de arraiais e vilas, no distante sertão de uma Capitania, que a princípio

tinha sede em São Paulo e a partir de novembro de 1749, em Vila Boa de Goiás.

Estes arraiais existiam conforme a presença do ouro e eram praticamente isolados

uns dos outros (Póvoa, 2002).

Entre 1730 e 1750 surgiram os primeiros arraiais do norte goiano:

Arraias, Natividade, Chapada de Natividade e São José do Tocantins, dentre outros,

que abrigavam representantes da Coroa Portuguesa, os quais eram os

administradores das minas e tinham a função primordial de garantir o pagamento

dos impostos, denominados de capitação.

Mas, pelo fato do ouro extraído, ser em sua maior parte de caráter

aluvional, as técnicas usadas serem rudimentares impedindo a exploração de veios

mais profundos; a falta de braços para a extração, a falta de capital e má

administração das autoridades administrativas, o apogeu do ouro na região durou

poucos anos e a mineração entrou em declínio.

Em 1749 foi empossado o primeiro governador da Capitania de Goiás,

D. Marcos de Noronha que encontrou uma região povoada por diversas tribos

indígenas, dentre elas os Akroás e os Xacriabás.

Devido aos constantes ataques que os moradores dos arraiais de

Natividade, Almas, Itaboca (Sucupira), Remédios (Arraias) e Terras Novas do

Paranã sofriam por parte desses “gentios”, nome como eram chamados os índios, o

governador ordenou que fossem criados aldeamentos para colonizar e disciplinar os

índios da região, os quais, segundo Póvoa (2002), tinham uma área limitada média

de 12 léguas e o objetivo de confinar os gentios bravos para plantar, o necessário

para subsistência, serem evangelizados e aprenderem algumas regras básicas para

viver em sociedade.

37

Com o aumento das dificuldades enfrentadas e a não submissão dos

índios em viver confinados, em 1750 decidiu-se pela criação dos aldeamentos, os

quais iniciaram-se em 1751 e foram concluídos somente em 1752.

Dessa data, até 1757 estiveram nas duas aldeias vários padres

missionários, que constituíram a Missão de São Francisco Xavier. Essa Missão se

responsabilizava pela administração espiritual dos aldeamentos e a administração

da gestão ficava a cargo do tenente-coronel Venceslau Gomes da Silva, que

comandava os soldados dragões e uma força auxiliar composta por quarenta

pedestres. Os primeiros utilizavam arma de fogo e os últimos eram armados com

espadas.

O "boom" do ouro colocou em choque os aventureiros brancos e os

índios. Para amenizar os conflitos foram criados dois aldeamentos, o Formiga para

os Xakriabás e tinha como superior o padre Francisco Tavares e depois de sua

morte o padre José Vieira. O aldeamento do Duro, hoje município de Dianópolis,

para os Akroás e tinha como superior o padre José de Matos.

No Aldeamento do Duro os padres ergueram uma capela para devoção

de São José e o mesmo passou a ser conhecido também como Aldeamento de São

José do Duro.

Entretanto, apesar dos esforços do conde D. Marcos de Noronha, os

aldeamentos resultaram em fracasso. Primeiro devido aos atritos entre os próprios

padres e entre estes e o tenente-coronel Venceslau Gomes da Silva; segundo

devido a uma epidemia de sarampo, ocorrida em 1753 que provocou a morte de

alguns e a fuga da maioria dos índios para as matas.

Com isso, em meados de 1755 o número de Akroás aldeados foi

reduzido a menos de trinta indivíduos causando assim, o esvaziamento da aldeia.

Porém, continuaram as tentativas de trazer os gentios de volta para o

aldeamento, o que foi alcançado no final de 1755, mas a paz durou pouco, pois os

índios além de terem aprendido a manusear armas de fogo contavam com o fato da

maioria dos homens brancos não entenderem a sua língua e com isso tramavam a

fuga tranquilamente.

Em 1757, os índios se rebelaram causando um grande morticínio, mas

segundo Póvoa (2002), era de se esperar que isso acontecesse, pois o clima nos

aldeamentos era de desconfiança, ciúmes e desobediência e os índios descobriram

38

em muito pouco tempo, os pontos fracos dos homens ditos civilizados que os

mantinham confinados e souberam aproveitar essas fraquezas.

Na segunda metade do século XVIII, mineiros decadentes e outros

luso-brasileiros conquistadores das terras indígenas solicitaram da Coroa

Portuguesa terras para desenvolverem roçados e implantarem fazendas criatórias,

que segundo eles não requeria investimentos.

Segundo Bertran (1978), os alimentos mais produzidos e consumidos

nos séculos XVIII e XIX foram a rapadura, farinhas de mandioca e de milho, feijão e

arroz. Além dos alimentos eram produzidos fumo de rolo, o “mamono” cujo óleo era

utilizado para iluminação e a cachaça. Criavam-se também porcos e galinhas.

Este cenário socioeconômico constituiu as origens de dois segmentos

sociais muito distintos entre si, que se configurariam plenamente ao longo do século

XIX: os grandes proprietários rurais e os camponeses.

Sem condições para adquirirem novos escravos, os proprietários rurais

passaram a utilizar a força de trabalho familiar e aos poucos as relações de trabalho

escravistas deram lugar a novas relações de produção. Desse modo, ocupando o

espaço deixado pelos escravos surgiram os agregados, o camarada, o trabalhador

familiar.

Um aspecto que contribuiu para o desenvolvimento da economia local

foi a liberação da navegação em 1792, dos rios Araguaia e Tocantins, proibida pela

Coroa Portuguesa, no período de exploração das minas de ouro, para evitar a saída

ilegal e o contrabando do ouro.

Entretanto o ataque das tribos indígenas Avá-Canoeiros, Xavantes e

Xerentes, que habitavam as margens dos rios, principalmente o Tocantins era o

principal obstáculo para o desenvolvimento da navegação até a Praça do Pará.

Desta forma, o desembargador Theotônio Segurado solicitou ao

governo de Goiás o estabelecimento de um presídio às margens do rio Tocantins

para combater os índios, principalmente os Avá-Canoeiros que nunca aceitaram

acordo de paz com os colonizadores. Com isso, os que não fossem exterminados

seriam aprisionados e “pacificados”.

Diferentemente da mineração, nesse período surgiram poucos

municípios e a população ficou dispersa pelo sertão, dando origem aos latifúndios,

conforme a Figura 2 .

39

FIGURA 2: Povoamento do Norte da Capitania de Goiás (atual Tocantins), no período da mineração. Fonte: Luiz Antônio da Silva e Souza, 1978

Segundo Póvoa (apud Ramos, 2003), o tocantinense é de raízes

predominantemente nordestina, em geral maranhenses, piauienses e baianos.

Esses migrantes nordestinos chegaram ao Tocantins e instalaram seus

currais com criação de gado tornando-se senhores de imensas extensões de terras.

Nessa época foram fundadas as cidades de Taguatinga (1834) e Ponte Alta do Bom

Jesus.

A estrutura econômica da região organizou-se em torno das fazendas

de gado, sedimentando a sociedade em função das atividades agrárias. Neste

contexto, os pequenos aglomerados não alcançaram força suficiente para fomentar

o surgimento de atividades sustentadas nas áreas urbanas.

O antigo Norte de Goiás apoiou-se na criação extensiva de gado por

quase cem anos e no período entre 1830 a 1930 a região era comandada por

fazendeiros, mais conhecidos pela história como os famosos “coronéis”. Com isso,

todos os vícios do coronelismo9 eram encontrados nessa região, a qual ficou à

margem do desenvolvimento sendo lembrada somente na época das eleições, como

fornecedora de votos para os políticos do sudeste do país.

9 Ler o artigo científico “Coronelismo: Ecos da República Velha na Política Atual do Brasil” do historiador Marlon de

Novaes Batista. Disponível no site: http://www.webartigos.com/articles/3268/1/coronelismo-ecos-da-republica-velha-na-

politica-atual-do-brasil/pagina1.html

40

Na década de 40, no Governo Vargas teve início a intervenção do

Estado por meio do Projeto de Colonização nos Cerrados.

Em 1941 foi instalada em Goiás, na cidade de Ceres, a primeira

Colónia Agrícola Nacional de Goiás – CANG, sendo esta, a primeira de uma série de

oito Colônias Agrícolas criadas e geridas pelo governo federal. Com isso, acreditava-

se que esta região se transformaria num corredor do progresso possibilitando a

integração do Sul com o Norte do país e a ocupação dos vazios demográficos por

meio de absorção dos excedentes populacionais do Centro-Sul do país,

encaminhando-os para áreas que produziam matérias-primas e gêneros alimentícios

a baixo custo para subsidiar a implantação da industrialização no Sudeste.

Porém, na tentativa de povoação das Colônias Agrícolas surgiram

dificuldades e uma delas foi a precariedade de recursos para colonizar grandes

extensões de terras.

Com isso, apenas duas sobrevivessem: a de Goiás (CANG) e a de

Dourados no Estado de Mato Grosso.

Aliado a dificuldade financeira somou-se a hostilidade dos indígenas, o

que levou ao insucesso da ocupação desta região.

Somente na década de 60 é que houve uma transformação da

agricultura brasileira, com a implantação de estratégias de modernização e

desenvolvimento do país que integravam o Plano de Metas do Governo Juscelino

Kubitschek. Inicialmente essas metas favoreceram o desenvolvimento do Sul e

Sudeste do país, mas o esgotamento das terras disponíveis para a ocupação da

agropecuária e a necessidade de aumento da produtividade agrícola, propiciaram o

direcionamento da produção para novas áreas e a conseqüente expansão agrícola.

E foi nesse contexto, que a região dos Cerrados10 tornou-se

estratégica, tanto pela sua posição geográfica, como por suas características físico-

ambientais, que propiciavam a expansão da produção nos padrões da nova

agricultura moderna.

10

Dentre os trabalhos desenvolvidos sobre as formas do Cerrado, vale ressaltar o de EITEN (1972) e COUTINHO (1976),

que dividem e classificam as fitofisionomias do Cerrado. O primeiro, para definir a fitofisionomia do Cerrado, apresentou

cinco formas diferentes: cerradão, cerrado (sentido restrito), campo cerrado, campo sujo e campo limpo. O segundo,

considerou os aspectos geomorfológicos, os topográficos, as queimadas e as qualidades físicas e químicas dos solos, como

fatores que explicariam o maior e o menor desenvolvimento da vegetação de cada ecossistema do Cerrado. Para COUTINHO

(1976:11) o Cerrado é “um complexo de formações oreádicas; suas formas savanícolas ou intermediárias representam

verdadeiros ecótonos de vegetação, entre as formas florestais (cerradão) e campestres (campo limpo)”.

41

Outra estratégia que visava a integração nacional e ocorreu também

nesta época foi a construção da BR 153, a Belém/Brasília. Porém, essa rodovia

pouco contribuiu para o desenvolvimento da região pois, priorizou apenas o

surgimento de novos núcleos urbanos em suas margens, esquecendo-se dos

núcleos que já existiam à margem direita do Rio Tocantins.

Os estímulos governamentais para ocupação da área amazônica, por

meio de Programas Especiais, tiveram uma abrangência maior ao norte do Estado

de Goiás. A partir de 1964 os incentivos fiscais da Superintendência do

Desenvolvimento da Amazônia - SUDAM, que contemplavam a Amazônia legal

atingiram 59 municípios de Goiás.

Nas décadas de 1970/80, o esforço de modernização das atividades

agropecuárias, desenvolvido pelos governos militares, atingiu de forma contundente

a região Centro-Oeste, como reforço à entrada para a Amazônia.

Os programas especiais implantados nesse período, em sua maioria

investiam no melhor aproveitamento dos cerrados, que caracterizam quase todo o

território goiano. Além da perspectiva de ampliação da produtividade das culturas

tradicionais para exportação, iniciou-se uma ampliação na articulação agricultura-

indústria.

Com a implantação do Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento - I

PND, a ação governamental tornou-se mais sistematizada e localizada e o Programa

de Integração Nacional (PIN), Proterra e Prodoeste se transformaram em programas

de larga abrangência, com objetivos e prioridades definidos e a maior delas era a

fixação do homem à terra. Destacavam-se também, ações de infra-estrutura viária e

financiamentos a empresas agropecuárias.

No II PND, os programas tiveram como diretrizes básicas o

desenvolvimento dos setores de bens de capital e insumos básicos e o

fortalecimento da empresa privada nacional. É interessante notar que, desde as

primeiras fases da Marcha para o Oeste até a implantação de Brasília, o estímulo

para a ocupação se verificava do sul para a Amazônia que passou a ser o centro

dos interesses.

A criação das capitais Brasília e Goiânia contribuíram para o

desenvolvimento do estado de Goiás, mas somente em 1988, após a divisão do

estado de Goiás e a criação do Estado do Tocantins é que realmente o

desenvolvimento deste estado tomou um impulso.

42

Em 1989, após a criação da capital do estado, Palmas, os

investimentos, principalmente em infra-estrutura viária, com abertura e asfaltamento

de rodovias, permitiram uma maior integração com o restante do Estado e passou a

ser um importante acesso de ligação com Brasília e com as áreas de expansão

agrícola do Oeste Baiano.

2.3 Aspectos sociais e econômicos

2.3.1 Demografia

O Sudeste do Tocantins é uma região de grande extensão geográfica,

47.332 km2, o que representa 17,0% da área total do Estado e o município que

apresenta a maior extensão de área é Paranã, com 12.160,90 km2, entretanto é

também o município com maior vazio demográfico com apenas 0,86 habitantes por

km2.

Esta é uma região que pode ser considerada como um “vazio”

demográfico e econômico e os indicadores demonstram que no período de 1991-

2007, a microrregião pouco avançou em um crescimento demográfico necessário

para sua expansão econômica.

Ao comparar-se a região Sudeste do TO com as demais microrregiões

do Estado observa-se que, em termos de população, o Sudeste supera somente

duas microrregiões: Jalapão e Rio Formoso, conforme o Gráfico 1.

Gráfico 1: População residente nas 8 microrregiões do Tocantins, em 2007 Fonte: IBGE - Contagem da População, 2007

43

Em 2007, a população da região Sudeste, era de 116.972 habitantes e

estratificava-se em duas faixas: 80% dos municípios com até 10 mil habitantes e

20% entre 10 mil e 20 mil habitantes.

Quanto crescimento anual da população desta região, o percentual, tanto no

período de 1991 a 2000 como de 2000 a 2007 ficou abaixo do índice de crescimento

populacional do estado e do país.

TABELA 1 Evolução da população, % de crescimento anual, % da população urbana e rural: Sudeste do TO,

Tocantins e Brasil

Região/Estado/ Brasil

População Total

Crescimento (% a.a)

1991 a 2000; 2000 a 2007

Pop. Urbana (%)

Pop. Rural (%)

1991 2000 2007 1991/ 2000

2000/ 2007 1991 2007 1991 2007

Sudeste do TO 103.756 112.172 116.972 0,8 0,5 42,2 68,7 57,8 31,3

Tocantins 919.863 1.157.098 1.243.627 2,1 0,9 57,7 77,6 42,3 22,4

Brasil 146.825.475 169.799.170 183.987.291 1,4 1,0 75,6 83,2 24,4 16,8 Fonte: IBGE. Censo Demográfico, 1991 e 2000. IBGE. Contagem da População, 2007. Cálculos dos autores.

Segundo o IBGE, na década de 60, o Brasil ainda era um país agrícola,

com uma taxa de urbanização de apenas 44,7%. Em 1980, esta taxa aumentou e

67,6% do total da população evadiu-se para as cidades. Entre 1991 e 1996, houve

um acréscimo de 12,1 milhões de habitantes urbanos, o que se reflete na elevada

taxa de urbanização (78,4%).

Analisando a Tabela 1, observa-se que o índice de crescimento da

população urbana da região Sudeste do Tocantins, no período entre 1991 e 2007 foi

um pouco mais que o dobro do índice do estado e mais de três vezes acima do

índice de crescimento do Brasil.

A população urbana da região Sudeste do TO que em 1991

representava 42,2%, subiu em 2007 para 68,7% ficando a rural com apenas 31,3%

e, atualmente, dos 20 municípios que compõem esta região, apenas dois, Chapada

de Natividade e Paranã ainda possuem a população rural maior que a urbana.

No quesito gênero, observa-se que na Região Sudeste do TO, o

percentual de homens representa 52,3%, ficando as mulheres com 47,7%.

Em se tratando dos grupos de idade, nota-se que a população da

Região Sudeste pode ser considerada uma população jovem, visto que 61% têm até

44

29 anos. Observa-se também que a população considerada economicamente

ativa11, representa 69,1% da população total, conforme dados da Tabela 212.

TABELA 2 Distribuição da população da Região Sudeste do TO, por faixa etária

Faixa etária População % % acumulado

Até 4 anos 13048 10,9 10,9

De 5 a 9 anos 12717 10,6 21,6

De 10 a 14 anos 12474 10,4 32,0

De 15 a 19 anos 12862 10,8 42,8

De 20 a 24 anos 11972 10,0 52,8

De 25 a 29 anos 9569 8,0 60,8

De 30 a 39 anos 14538 12,2 72,9

De 40 a 49 anos 12372 10,4 83,3

De 50 a 59 anos 8752 7,3 90,6

De 60 a 69 anos 6073 5,1 95,7

70 anos ou mais 5136 4,3 100,0

Total Região Sudeste 119.513 100,0

Fonte: IBGE/ IDB - Indicadores Básicos do Brasil, 2007

2.3.2 Índice de Desenvolvimento Humano

A região Sudeste do Tocantins apresenta a maior parte dos municípios,

com índices de desenvolvimento econômico e humano baixos e, comparando-a com

as 8 microrregiões do Estado observa-se que, tanto o IDHM como o sub-índice

renda ocupam o sexto lugar, superando somente as regiões do Jalapão e Bico do

Papagaio.

TABELA 3 IDHM e IDHM-Renda, 2000 das Microrregiões do TO

Microrregiões IDHM 2000

IDHM/Renda 2000

Bico do Papagaio 0,614 0,491

Jalapão 0,623 0,484

Sudeste do TO 0,654 0,547

Araguaína 0,657 0,570

Miracema do TO 0,680 0,582

Porto Nacional 0,683 0,580

Rio Formoso 0,706 0,624

Gurupi 0,711 0,595

Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil – 2000

11

População Economicamente Ativa - PEA: Corresponde a parcela da população considerada produtiva, que estão ocupada ou desempregada, com idade acima de 10 anos e mais. 12

Os dados da Tabela 2 foram obtidos das estimativas de 2007 elaboradas no âmbito do Projeto

UNFPA/IBGE (BRA/4/P31A) - População e Desenvolvimento. Coordenação de População e Indicadores Sociais.

45

Comparando-se a média do IDHM da região no período entre 1991 e

2000, observa-se que houve uma melhora. Contudo, este índice apresenta-se

abaixo da média estadual ao longo do período e o item que mais contribui para isso

é o IDHM Renda. Enquanto a média brasileira alcançou 0,644 e a média estadual

0,554, a região Sudeste do TO ficou com a média do IDHM-Renda/2000 em 0,547.

TABELA 4 Média do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e Sub-Índices

Região Sudeste do TO, Tocantins e Brasil

Média IDHM13

Região, Estado, Brasil

IDHM, 1991

IDHM, 2000

IDHM-Renda, 1991

IDHM-Renda, 2000

IDHM-Longevidade 1991

IDHM-Longevi

dade 2000

IDHM-Educação, 1991

IDHM-Educa-

ção, 2000

Sudeste TO 0,555 0,654 0,494 0,547 0,568 0,650 0,604 0,764

Tocantins 0,561 0,661 0,506 0,554 0,572 0,648 0,607 0,781

Brasil 0,611 0,699 0,644 0,781 0,641 0,712 0,548 0,604

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - 2000 - Cálculo da média realizado pela autora.

2.3.3 Índice Intensidade de Pobreza

Outro indicador analisado foi o índice intensidade da pobreza, que

refere-se à parcela da população com renda menor que ½ salário mínimo. Vale

ressaltar que em 2000 o salário mínimo era igual a R$ 151,00, portanto, esta parcela

da sociedade vivia com rendimentos iguais ou menores que R$ 75,50 e, observando

os dados da Tabela 5 nota-se que, no período entre 1991 a 2000, o índice de

intensidade de pobreza aumentou em 55% dos municípios.

13

A média do IDHM e dos sub-índices, é a média aritmética e foi calculada por meio da soma dos índices de

cada município e, em seguida, da divisão do total desta soma pelo número de municípios, ou seja, 20.

46

TABELA 5

Índices de intensidade da pobreza - 1991 e 2000

Município Intensidade da pobreza,

1991

Intensidade da pobreza,

2000

Chapada da Natividade 59,1 65,69

Santa Rosa do Tocantins 54,4 61,58

Paranã 54,36 59,55

Lavandeira 58,29 59,03

Porto Alegre do Tocantins 56,36 58,97

Taipas do Tocantins 56,35 57,89

Conceição do Tocantins 54,46 57,45

São Valério 48,89 55,67

Arraias 53,65 55,41

Dianópolis 42,43 53,08

Combinado 52,17 52,29

Taguatinga 61,09 58,58

Almas 60,23 57,41

Ponte Alta do Bom Jesus 60,84 56,73

Rio da Conceição 57,76 54,57

Aurora do Tocantins 54,2 54,27

Novo Jardim 58,74 54,16

Pindorama do Tocantins 56,48 54,04

Novo Alegre 52,44 51,38

Natividade 55,66 50,75

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - 2000

Observa-se ainda (GRÁF. 2) que o percentual de domicílios com

rendimento médio mensal per capita de ½ salário mínimo, em 2000 era igual a 46%

e ao somarmos com os que alcançam até 1 salário mínimo, este percentual aumenta

para 73,8%. Este é um dos fatores que dificulta o desenvolvimento econômico.

Gráfico 2: % de domicílios particulares permanentes, por classes de rendimento médio mensal

domiciliar per capita em salários mínimos - Tocantins – 2000 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil – 2000

47

2.3.4 Índice de GINI

O próximo indicador a ser analisado é o Índice de Gini que mede as

desigualdades sociais e varia de 0 (zero) a 1 (um), sendo que, quanto mais próximo

de 1, maior a concentração de renda e quanto mais próximo de zero, melhor a

distribuição de renda.

Segundo o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada -

Ipea, Marcio Pochmann, o Índice de Gini entre os assalariados no Brasil passou de

0,538 no segundo trimestre de 2002 para 0,503 no quarto trimestre de 2007, mas

afirma que, enquanto este índice não chegar a 0,45, significa que o país ainda está

na desigualdade extrema. Ressaltou ainda que o estudo realizado pelo Ipea mostra

que a desigualdade segue comparável àquela dos países menos desenvolvidos do

mundo, apesar da melhora.

Segundo o Ipea, o Índice de Gini melhorou porque a recuperação da

renda dos mais pobres foi quase cinco vezes maior que a recuperação da renda dos

mais ricos, portanto a previsão é de que o Índice de Gini no Brasil chegue a 0,496

em 2009 e a 0,490 em 201014.

Sobre o Índice de Gini da Região Sudeste do TO dois períodos

distintos serão analisados: primeiro o período entre 1991 e 2000, onde a

concentração de renda aumentou em 95% dos municípios ficando somente

Pindorama do Tocantins (-0,6%) e Novo Alegre (-0,1%) com uma pequena melhoria

na distribuição da renda, conforme dados da Tabela 6.

14

Estas informações foram obtidas no site: http://www.ipea.gov.br/003/00301009.jsp?ttCD_CHAVE=5187

48

TABELA 6

Evolução do Índice de Gini, entre 1991 a 2000, na Região Sudeste do Tocantins

Município Índice de Gini, 1991

Índice de Gini, 2000

%

Chapada da Natividade 0,49 0,7 2,1

Santa Rosa do Tocantins 0,52 0,65 1,3

Paranã 0,54 0,66 1,2

São Valério 0,51 0,63 1,2

Arraias 0,6 0,7 1,0

Lavandeira 0,49 0,59 1,0

Porto Alegre do Tocantins 0,52 0,61 0,9

Taipas do Tocantins 0,52 0,61 0,9

Novo Jardim 0,5 0,59 0,9

Taguatinga 0,59 0,66 0,7

Combinado 0,56 0,63 0,7

Conceição do Tocantins 0,56 0,62 0,6

Dianópolis 0,55 0,61 0,6

Aurora do Tocantins 0,54 0,6 0,6

Rio da Conceição 0,5 0,56 0,6

Ponte Alta do Bom Jesus 0,56 0,61 0,5

Almas 0,59 0,62 0,3

Natividade 0,59 0,62 0,3

Novo Alegre 0,61 0,6 -0,1

Pindorama do Tocantins 0,58 0,52 -0,6

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - 2000

Ainda neste período, observa-se que Chapada de Natividade, Santa

Rosa do Tocantins, Paranã, São Valério, Arraias e Lavandeira foram os municípios

que apresentaram os maiores índices de desigualdade, 2,1%, 1,3%, 1,2%, 1,2%, 1%

e 1% respectivamente.

Analisando o índice de Gini, no período entre 2000 a 2003, (Tabela 7),

observa-se que todos os municípios da região Sudeste do TO conseguiram diminuir

a concentração de renda e, o que mais chama a atenção é que justamente os seis

municípios que estavam com o maior índice de desigualdade no período anterior,

(1991 a 2000) foram os que conseguiram a maior diminuição neste percentual.

Observa-se ainda que Chapada de Natividade ficou novamente em

primeiro lugar, só que desta vez, com uma queda de 0,30% no índice de Gini.

49

TABELA 7 Evolução do Índice de GINI, entre 2000 e 2003, na Região Sudeste do Tocantins

Município Índice

de Gini, 2000

Índice de Gini,

2003 %

Chapada da Natividade 0,7 0,4 -0,3

Lavandeira 0,59 0,37 -0,2

Novo Jardim 0,59 0,39 -0,2

Rio da Conceição 0,56 0,37 -0,2

São Valério da Natividade 0,63 0,41 -0,2

Porto Alegre do Tocantins 0,61 0,38 -0,2

Santa Rosa do Tocantins 0,65 0,42 -0,2

Taipas do Tocantins 0,61 0,38 -0,2

Aurora do Tocantins 0,6 0,42 -0,2

Paranã 0,66 0,43 -0,2

Dianópolis 0,61 0,42 -0,2

Combinado 0,63 0,4 -0,2

Conceição do Tocantins 0,62 0,44 -0,2

Ponte Alta do Bom Jesus 0,61 0,43 -0,2

Pindorama do Tocantins 0,52 0,41 -0,1

Almas 0,62 0,43 -0,2

Natividade 0,62 0,43 -0,2

Taguatinga 0,66 0,44 -0,2

Arraias 0,7 0,44 -0,3

Novo Alegre 0,6 0,41 -0,2

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 e Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF 2002/2003

Retomando as informações do IPEA, de que a melhora no Índice de

Gini deve-se ao aumento de quase cinco vezes na recuperação da renda dos mais

pobres sobre a recuperação da renda dos mais ricos, observa-se no GRAF. 3 que a

evolução do PIB per capita no período entre 2002 e 2006, na Região Sudeste do TO

apresentou um considerável aumento.

Com isso podemos inferir que este aumento foi um dos fatores que

contribuiu para a melhoria do Índice de Gini, ou seja, na diminuição da desigualdade

na região Sudeste do TO, neste período.

50

Gráfico 3: Evolução do PIB per capita na região Sudeste do TO, de 2002 a 2006

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil – 2000

2.3.5 Educação

A taxa de analfabetismo é um indicador síntese da situação

educacional de um país. Analisando a taxa de analfabetismo da população com

mais de 15 anos, na região Sudeste do TO e comparando-a com as taxas do

Brasil e do Tocantins, observa-se que apesar do percentual de analfabetos ter

diminuído 14% no período entre 1991 e 2000, ainda está acima dos índices do

Tocantins e do Brasil e pode ser considerada uma alta taxa de analfabetismo, se

levarmos em consideração que este é um dos aspectos que dificulta o

desenvolvimento econômico de qualquer região e/ou país. (GRÁF. 4).

Gráfico 4: Taxa de analfabetismo: (%) da população com mais de 15 anos, 1991 e 2000 Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000 (www.ibge.gov.br); INEP, Censo Escolar de 2000

(www.inep.gov.br); e Nações Unidas (www.undp.org.br)

51

Quanto ao percentual de crianças com idade entre sete e catorze anos,

com defasagem escolar, (GRAF. 5) ao comparar os índices de 1991 com 2000,

observa-se que em 2000 houve uma diminuição de 18% de crianças com mais de

um ano de atraso escolar. Entretanto se levarmos em consideração que em 2000 o

contingente de crianças nesta faixa etária era igual a 22.866 são quase 10.000

crianças nesta situação, ou seja, 20,4% da população total da região Sudeste do

TO. Portanto, torna-se necessário uma maior intervenção dos governos na

implementação de políticas públicas voltadas para o aprimoramento da educação

nesta região.

Gráfico 5: Defasagem escolar (% de crianças entre sete e catorze anos com

mais de um ano de atraso escolar), 1991 e 2000 Fonte: IBGE. Censo Demográfico, 1991 e 2000

2.3.6 Acesso a infraestrutura básica

Em relação a infraestrutura básica, observa-se o seguinte: o acesso a

água encanada, no período entre 1991 e 2000 teve um aumento de 37,36 pontos

percentuais; a abrangência da energia elétrica nesta região também aumentou,

passando de quase 30% de domicílios atendidos para 66,5%; quanto ao acesso aos

serviços de coleta de lixo em 2000 teve um aumento de 24,37 pontos percentuais

em relação a 1991.

Ao comparar a evolução dos índices de cobertura por serviços de infra-

estrutura básica, entre 1991 e 2000 nota-se que o acesso a água encanada, nos

municípios da Região Sudeste (37,4%) foi um pouco maior que o índice do estado

(36,9%) e os municípios que mais se destacaram foram Combinado, Novo Alegre e

52

Pindorama do Tocantins que tiveram um aumento de 43,14%, 43,51% e 46,11%,

respectivamente, de domicílios atendidos pelos serviços de água encanada, entre

1991 e 2000.

Já o acesso aos serviços de energia elétrica e coleta de lixo ficaram

abaixo dos índices do estado. (GRAF. 6 e GRAF. 7)

Gráfico 6: Porcentagem de pessoas moradoras em domicílios com acesso a serviços de

infraestrutura básica em 1991 Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano, 2000.

Gráfico 7: Porcentagem de pessoas em domicílios com acesso a serviços de

infraestrutura básica em 2000 Fonte: IBGE. Censo Demográfico, 2000.

53

2.3.7 Acesso a bens de consumo

Em 2000, o acesso a serviços e bens duráveis, principalmente telefone

e carro, tanto no estado (19,6% e 17,3%) como na região Sudeste do TO (17,3% e

11,9%) foi pequeno se comparado com os índices do Brasil, mas há de se levar em

conta que, em 2000, o Tocantins contava com apenas onze anos de criação.

Nota-se também, que em 1991, tanto na região Sudeste do TO como

no Estado, o percentual de domicílios com acesso a carro era maior que o índice de

domicílios com acesso aos serviços de telefonia, mas, em 2000 estes percentuais se

inverteram e o número de domicílios com acesso a telefone foi maior.

Observa-se também, que o número de domicílios com acesso a

geladeira teve um aumento de 26% no período entre 1991 a 2000, entretanto,

mesmo com esse crescimento, só conseguiu abranger menos de 43% dos

domicílios, ficando dezenove pontos percentuais abaixo do índice do estado.

Quanto a televisão, o aumento do percentual de domicílios com acesso

a esse bem foi grande, tanto na região Sudeste do TO, 28%, no Tocantins, 44%

como no Brasil, 71%. (GRAF. 8 e GRAF.9)

Gráfico 8: Percentual de domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios particulares

permanentes por situação do domicílio e existência de serviços e bens duráveis em 1991

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano, 2000.

54

Gráfico 9: Percentual de domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios

particulares permanentes por situação do domicílio e existência de serviços e bens duráveis em 2000

Fonte: IBGE. Censo Demográfico, 2000.

2.3.8 Aspectos econômicos

Enquanto o salário mínimo em 2000 era igual a R$ 151,00, a média da

renda per capita da Região Sudeste do Tocantins, não ultrapassou os R$106,36

ficando abaixo da média do Estado, R$115,70.

Quanto à procedência dos rendimentos, Chapada de Natividade e Rio

da Conceição são os municípios onde os percentuais alcançaram os extremos.

Em Chapada de Natividade encontram-se os menores percentuais,

tanto os provenientes de transferências governamentais, 10,2%, como os

provenientes de rendimentos do trabalho, 41,06%, conforme dados da Tabela 8.

55

TABELA 8

Renda per Capita, % de renda proveniente do trabalho e de transferências governamentais em 2000, na Região Sudeste do TO

Município

Renda per

Capita, 2000 R$

% da renda proveniente

de rendimentos do trabalho,

2000

% da renda proveniente de transferências

governamentais, 2000

Almas 112,05 48,80 13,51

Arraias 137,35 58,48 12,70

Aurora do Tocantins 104,98 58,76 14,82

Chapada da Natividade 121,39 41,06 10,20

Combinado 131,12 59,72 17,87

Conceição do Tocantins 91,7 53,07 15,06

Dianópolis 141,27 53,23 15,29

Lavandeira 55,93 53,27 11,56

Natividade 134,9 60,01 13,55

Novo Alegre 140,38 61,24 13,51

Novo Jardim 96,81 57,69 14,29

Paranã 87,56 56,08 13,13

Pindorama do Tocantins 80,19 53,84 17,62

Ponte Alta do Bom Jesus 97,69 57,22 18,92

Porto Alegre do Tocantins 82,31 47,60 14,23

Rio da Conceição 81,88 61,58 20,37

Santa Rosa do Tocantins 86,33 46,33 13,38

São Valério da Natividade 120,43 57,50 11,99

Taguatinga 130,56 59,75 15,94

Taipas do Tocantins 92,38 51,72 15,40

Média região Sudeste TO15 106,36

Média do Tocantins 115,70

Brasil 297,23 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil – 2000

Na Tabela 8, observa-se também, que terceira menor renda per capita

da região (R$ 81,88) é a de Rio da Conceição que é o município com os maiores

percentuais, tanto da renda proveniente de rendimentos do trabalho como

proveniente de transferências governamentais, 61,58% e 20,37% respectivamente.

Outro aspecto observado é que, em 2000, 47,62% da renda per capita

da região estava abaixo dos R$ 100,00. (GRAF. 10)

15

A média da renda per capita é a média aritmética e foi calculada por meio da soma das médias de cada

município da Região Sudeste do TO e do Tocantins e, em seguida, da divisão do total desta soma pelo número

de municípios, 20 e 139, respectivamente.

56

Gráfico 10: Distribuição da renda per capita na região Sudeste do TO Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - 2000

Produto Interno Bruto (PIB)

Em se tratando da evolução do Produto Interno Bruto - PIB, no período

de 2002 a 2006, nota-se que o PIB da região não acompanhou a tendência de

crescimento estadual e nacional, conforme demonstrado na Tabela 9.

Quanto a geração de emprego, segundo a Fundação João Pinheiro, os

dois setores que empregaram o maior número de pessoas com vínculo formal, no

período de 2000 a 2006 foram a agropecuária e a administração pública, ficando o

setor de serviços em terceiro lugar, o que pode ser visto na Tabela 9.

Analisando a evolução do PIB na região Sudeste do TO, observa-se

que de 2002 a 2004 houve um crescimento de 53%. Entretanto, de 2004 a 2006

esse percentual foi de apenas 13%. Isto nos leva a inferir que a economia da

região não teve o mesmo desempenho do período anterior.

TABELA 9 Evolução do PIB na Região Sudeste do Tocantins, no Tocantins e Brasil; 2002 a 2006

2002 2003 2004 2005 2006

Sudeste do TO 347.463 454.270 531.176 570.870 597.718

Tocantins 5.607.173 7.241.147 8.277.816 9.060.926 9.606.730

Brasil 1.477.821.769 1.699.947.694 1.941.498.358 2.147.239.292 2.369.796.546

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais, Sistema de Contas Nacionais 2002-2006

57

2.4 Instrumento de Gestão Municipal

A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) e Emendas

Constitucionais (BRASIL, 1998; BRASIL, 2000a; BRASIL, 2000b) estabelecem que

deve haver participação de trabalhadores, de aposentados, de empregadores, da

comunidade, da população, da sociedade civil e de usuários em órgãos gestores e

consultivos em diversas áreas da seguridade social e na gestão do Fundo de

Combate e Erradicação da Pobreza.

A legislação complementar às disposições constitucionais e a

normatização produzida pelos organismos federais responsáveis pela

implementação de políticas públicas regulamenta o modo de funcionamento de

mecanismos e de fóruns participativos.

Uma característica comum a esses processos tem sido condicionar a

transferência de recursos financeiros da esfera federal, com a criação de fóruns e

conselhos participativos em nível federal, estadual e municipal da administração

pública.

No Brasil, o processo de democratização política vivenciado a partir

das décadas de 1980 e 1990, fruto da pressão de movimentos populares, abriu

espaço para a criação de uma série de experiências de participação popular nas

esferas públicas de decisão política, dentre elas, a estruturação dos diferentes

conselhos municipais, como os de saúde, os de educação e, posteriormente, os de

desenvolvimento rural sustentável.

Embora sejam uma das mais importantes inovações institucionais na

política brasileira, a criação de conselhos de gestão municipal não garante em si um

aprimoramento da democracia brasileira. O que se observa, é que grande deles

ainda possui perfil consultivo e não desempenha seu papel de auxílio na formulação

de planos de desenvolvimento, havendo pouca participação da população nas

deliberações dos conselhos.

Para Gohn, (2000), os conselhos são uma invenção tão antiga quanto

a própria democracia participativa e na modernidade, surgiram em épocas de crises

políticas e institucionais, conflitando com as organizações de caráter mais

tradicional. Neste sentido poderiam ser pensados como uma estratégia de

colaboração entre diferentes atores sociais ou tidos como caminhos para as

58

mudanças sociais no sentido de democratização das relações de poder dentro da

sociedade.

Para Abramovay, (2001) esta profusão de conselhos gestores pode ser

compreendida como a mais importante inovação institucional das políticas públicas

no Brasil democrático uma vez que encerram em si um enorme potencial de

transformação política, propiciando a entrada de temas políticos na vida de

indivíduos ou grupos organizados que até então se encontravam às margens desta

discussão.

No entanto, os conselhos de gestão pública só são eficientes a partir

do momento que são percebidos como espaços de decisão construídos pela

capacidade efetiva de atuação da representação popular da coletividade (Bava,

2001), ou seja, os conselhos só conseguem desempenhar um papel importante para

a democracia de um país, quando há um aprimoramento nos processos de

representação e participação da população, com capacidade e competência para

interferir nas decisões políticas.

Segundo Abramovay (2001) o que observa-se é que, grande parte dos

conselhos são formados estritamente como contra-partida à exigência legal para a

obtenção de recursos públicos por parte dos municípios e não expressam uma

dinâmica social significativa.

Um aspecto importante, a ser considerado quando se trata da

ineficiência dos conselhos é que, nos processos de descentralização, o governo

federal transfere somente as regras formais, estruturas administrativas e

procedimentos burocráticos. Quanto aos valores, comportamentos, coesão social e

confiança entre os indivíduos são características impossíveis de serem transferidas

pois, dizem respeito às pessoas.

Analisando a situação dos conselhos municipais na região Sudeste do

TO, que são um dos instrumentos de gestão municipal, observa-se que em 2005,

segundo dados do IBGE, existiam os seguintes conselhos: Assistência Social, dos

Direitos da Criança e Adolescente, Tutelar, dos Direitos das Pessoas Portadoras de

Deficiência, de Segurança Alimentar, de Saúde, de Educação, dos Direitos da

Mulher, dos Direitos do Idoso, Comitê Fome Zero e outros. (IBGE, Perfil dos

Municípios Brasileiros - Assistência Social 2005)

Entretanto, somente os conselhos da Educação, Saúde e Assistência

Social foram identificados em 100% dos municípios. (GRAF. 11)

59

Gráfico 11: Percentual de municípios com a presença de Conselhos Municipais, na Região Sudeste do TO, 2005

Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros - Assistência Social 2005

Quanto aos Conselhos Municipais de Assistência Social, existentes nos

20 municípios da região Sudeste do TO, observa-se que em 50% deles, a eleição

dos conselheiros foi por indicação do poder público. (GRAF. 12)

Gráfico 12: Processo de escolha dos integrantes da sociedade civil, no Conselhos Municipais de Assistência Social, na Região Sudeste do TO em 2005

Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros - Assistência Social 2005

Quanto à composição dos Conselhos Municipais de Assistência Social,

em 2005, o IBGE identificou que somente no município de Novo Jardim o conselho

não era paritário e somente 25% tinham caráter deliberativo. (GRAF. 13)

60

Gráfico 13: Caráter dos Conselhos Municipais de Assistência Social, na Região Sudeste do TO em 2005

Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros - Assistência Social 2005

Identificou-se também, que a freqüência das reuniões dos Conselhos

Municipais de Assistência Social, em 2005 em 45% dos casos, era bimestral ou

trimestral. (GRAF. 14)

Gráfico 14: Frequência das reuniões dos Conselhos Municipais de Assistência Social, na Região Sudeste do TO em 2005

Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros - Assistência Social 2005

Sobre a atuação dos Conselhos Municipais foi avaliada na pesquisa de

campo realizada em 2009 pela autora e os dados estão no capítulo 3, que faz uma

análise do desenvolvimento social e econômico do Sudeste do Tocantins, sob a

ótica de lideranças da região.

61

2.5 Projetos de desenvolvimento

Dentre os diversos projetos de desenvolvimento implementados na

Região Sudeste nos últimos 10 anos destacam-se os seguintes:

1. Programa de Desenvolvimento Sustentado do Sudeste do Estado do Tocantins –

PROSUDESTE: Os pressupostos teóricos que nortearam as ações deste

programa tinham o intuito de alavancar o desenvolvimento local e regional e

seguiam as bases conceituais do Desenvolvimento Local Integrado e

Sustentável - DLIS, cujo tripé é o desenvolvimento do capital social, do capital

humano e do capital natural. O PROSUDESTE foi executado por meio da

parceria entre o SEBRAE/TO e o Governo do Estado do Tocantins por meio da

Secretaria do Planejamento e Meio Ambiente, no período de dezembro 2001 a

agosto de 2005. Tinha por objetivo, a implementação de projetos voltados para o

desenvolvimento local e regional e a organização dos segmentos produtivos

identificados como potencialidade da região. Dentre eles destacam-se a cachaça

de alambique com a criação da Cooperativa dos Produtores de Cachaça do

Sudeste do Tocantins – COOPERCATO; o artesanato do capim dourado e fibra

da bananeira; ovinocaprinocultura com a formação do consórcio de criadores (04

criadores) de ovinos e contratação do ADER (agente de desenvolvimento rural)

com recursos da Fundação Banco do Brasil, para assessorar os criadores;

projetos de fruticultura visando a diversificação da produção de frutas como o

caju, maracujá, abacaxi, banana e melão; o fortalecimento da associação de

fruticultores e a criação da associação de produtores de banana. Os principais

parceiros deste projeto foram o Ruraltins, Sebrae, prefeituras e a UFT. O

PROSUDESTE, com apoio das prefeituras, SETAS e PLANTEC implementou

ações de conscientização e incentivo ao turismo, capacitação em turismo e

hotelaria; mobilização e capacitação do grupo de paçoqueiras de Arraias e apoio

ao mercado. Outro segmento produtivo identificado no PRODUDESTE foi o do

leite e, neste período iniciaram-se as discussões para criação da associação dos

produtores de leite, a qual continua em funcionamento.

2. Projeto de Desenvolvimento Regional Sustentável - PDRS: O PDRS foi

implantado no Tocantins por meio do acordo de financiamento firmado entre o

Governo do Estado e o Banco Internacional para Recuperação e

Desenvolvimento – BIRD e abrange 67 municípios do Estado do Tocantins, os

62

quais foram agrupados em 04 regiões: Bico do Papagaio com 25 municípios;

Nordeste com 14 municípios; Jalapão com 8 municípios e Sudeste com 20

municípios. Tem como Macro-Componentes: (i) o planejamento e gestão do

desenvolvimento regional e local; (ii) a consolidação do sistema de proteção

ambiental e (iii) o melhoramento e conservação de rodovias estaduais e

municipais. O Macro-Componente Planejamento e Gestão do desenvolvimento

regional e local a cargo da Secretaria do Planejamento – Seplan busca promover

o planejamento e a gestão regional e municipal com participação das

comunidades envolvidas e a melhoria e fortalecimento do sistema de

planejamento e gestão das prefeituras municipais.

Algumas das ações estruturantes do PDRS são oriundas do

PROSUDESTE e serviram de base para a reestruturação do plano de

desenvolvimento do Sudeste, o PED - Plano Estratégico de Desenvolvimento da

Região Sudeste do Tocantins.

A elaboração do PED contou com os trabalhos de uma equipe

multidisciplinar de técnicos da Seplan que realizaram pesquisas e análise de

dados secundários, visitas in loco nos vários municípios da Região Sudeste,

entrevistas e reuniões com técnicos de instituições públicas do governo estadual

e dos municípios e com empresários e produtores da Região. Foram realizados

também, fóruns de debates com a participação de diversos representantes do

setor público e da sociedade, para debater as questões mais relevantes bem

como diretrizes de atuação.

3. Projeto Manuel Alves16 - O Perímetro Irrigado Manuel Alves, localiza-se no

sudeste do Estado do Tocantins, nos municípios de Dianópolis e Porto Alegre do

Tocantins e tem por objetivo o desenvolvimento de diversas atividades

produtivas e a sustentabilidade do agronegócio, fomentando o crescimento da

produção e a geração de emprego e renda em toda a região.

16

As informações sobre o projeto Manuel Alves foram obtidas no Ministério da Integração Nacional, site http://www.integracao.gov.br/comunicacao/noticias/noticia.asp?id=3203, na Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Tocantins e na empreiteira CMT.

63

FIGURA 3: Perímetro Irrigado Manuel Alves Fonte: Site do Ministério da Integração Nacional

O suprimento hídrico proporcionado pela Barragem Manuel Alves,

combinado à existência de solos com boas propriedades físicas e topografia

favorável possibilita a implantação de diversas culturas que permitem colheitas

em todas as épocas do ano. Além disso, o projeto favorece também a

implantação da piscicultura tropical.

O Ministério da Integração Nacional já investiu no projeto R$ 195

milhões, montante aplicado na construção da barragem do rio Manuel Alves e na

implantação do perímetro irrigado, que é composto pelas modalidades de

“pequenos lotes” e “lotes empresariais”. A venda dos lotes foi por meio de

licitações: a primeira licitou 58 pequenos lotes, com área variando de 9 a 13 ha,

no valor de cerca de 30 mil reais; na segunda, este valor passou para

aproximadamente 40 mil reais e o prazo de pagamento é de 25 anos com 5 anos

de carência.

Os proprietários da modalidade “pequenos lotes”, com documentação

completa e em dia, receberam seus lotes preparados, derrubados, calcareados,

desmatados e com equipamento de irrigação. Todos os lotes possuem

hidrômetro individual, energia elétrica (Programa Luz Para Todos) e os valores

da água e da energia foram determinados pelo Ministério da Integração

Nacional. Em agosto de 2008 foram licitados mais 98 lotes e acredita-se que até

o final de 2009, 50% dos lotes estejam ocupados.

Quanto aos lotes “Empresarial”, são em número de 20, com preços

mais baixos, mas sem qualquer preparação, ou seja foram entregues no estado

bruto.

64

Quanto à produção cultivada nos pequenos lotes, destacam-se as

apresentadas no Graf. 15:

Gráfico 15: Área cultivada por produto, no Projeto Manuel Alves, em 2008 Fonte: Empreiteira CMT/TO

A prestação dos serviços de assistência técnica é feita por técnicos

contratados pelo consórcio das empreiteiras CMT/FAMA, durante 5 anos, para

atender os pequenos proprietários.

Segundo informações da CMT, dois aspectos dificultam a gestão deste

perímetro irrigado: o primeiro diz respeito à falta de organização e participação

social e um exemplo disso foi a reunião de constituição da Associação dos

Produtores do Manuel Alves SH1, onde, dos 58 proprietários somente 22

compareceram, ou seja, 38% dos irrigantes. Esta falta de organização dificulta a

compra de insumos de forma coletiva e os mesmos acabam sendo adquiridos

individualmente e por um preço mais alto.

O segundo é a obtenção de crédito, pois apesar dos “pequenos lotes”

serem para pequenos agricultores, foram poucos os proprietários que se

enquadraram no Pronaf (Programa Nacional da Agricultura Familiar) e, portanto,

somente estes tiveram recursos para iniciar o plantio.

Outra linha de financiamento seria a do Banco da Amazônia, o FNO,

mas esta exige garantia. Nos perímetros irrigados os lotes podem servir de

garantia desde que tenham escritura, mas este documento, até o início de 2009

ainda não tinha sido disponibilizado pelos órgãos competentes.

65

A terceira linha de crédito que os irrigantes estão buscando está sob a

responsabilidade do Banco do Brasil. É o Pronaf Mais Alimentos, uma

modalidade de crédito do Governo Federal que financia até 100.000,00 para o

plantio de frutas, trigo, arroz e feijão.

Quanto à tecnologia para identificar os melhores frutos e melhores

práticas de manejo e plantio, os técnicos da CMT/FAMA criaram um viveiro que

funciona somente como experimento.

Segundo o Ministério da Integração Nacional, o pleno funcionamento

da primeira etapa do projeto vai proporcionar o crescimento da agricultura na

região, permitindo a criação de 15 mil empregos diretos e 30 mil indiretos. Além

disso, a Barragem Manuel Alves - que tem uma área de 21,6 km² e uma

capacidade de acumulação de 194 milhões de m³ de água para usos múltiplos -

permite a irrigação de uma área de 5,7 mil hectares da primeira etapa e ainda

tem capacidade de ofertar garantia hídrica para os outros 15 mil hectares da

segunda etapa, cujo estudo de viabilidade está em andamento.

4. Território da Cidadania17 - É um programa do governo federal que tem a proposta

de reduzir as desigualdades regionais, levar direitos a quem mais precisa e

promover o desenvolvimento sustentável em todo o País. Para que as ações

sejam efetivadas o Governo Federal mobilizou 15 ministérios e definiu um

conjunto de ações integradas e são estas ações que compõem o Programa

Territórios da Cidadania.

Além das ações do Governo Federal, os governos estaduais e

municipais poderão apresentar outros projetos e propostas voltados para o

desenvolvimento territorial e o conjunto destas propostas será discutido pelo

Colegiado Territorial que é formado por representantes dos governos federal,

estadual e municipal e representantes da sociedade.

Deste processo resulta o Plano de Desenvolvimento Territorial –

PRONAT, com as ações que serão desenvolvidas no território.

Em 2008 a região Sudeste do Tocantins foi reconhecida como

Território da Cidadania e vem desenvolvendo alguns projetos e ações em busca

do desenvolvimento regional sustentável.

17

Maiores Informações sobre Território da Cidadania encontram-se no site www.mda.gov.br

66

Observamos que, mesmo com a implementação destes projetos a

região Sudeste do Tocantins não consegue promover o tão sonhado

desenvolvimento social e econômico e a nosso ver, alguns dos fatores que levam a

isso são os seguintes: primeiro, os projetos são idealizados fora das regiões, às

vezes copiando “modelos”, esquecendo da realidade local e são apresentados

depois de prontos. Isso faz com que as comunidades não se apropriam e não se

sentem pertencentes aos projetos.

Outro fator diz respeito ao tempo de duração dos projetos, a maioria

das vezes é um período curto sem levar em conta que, nos processos de

desenvolvimento estamos trabalhando com pessoas, com tradições, com a cultura e

hábitos e isso não se muda num piscar de olhos é um trabalho lento, de

“formiguinha”. Isso faz com que os projetos, em muitas das vezes acabam se

transformando em ações pontuais e descontínuas o que faz com que caiam no

esquecimento e falta de credibilidade das comunidades.

67

3. Uma análise do desenvolvimento socioeconômico da região Sudeste do Tocantins, na visão de lideranças locais

Buscando entender a dinâmica socioeconômica da região Sudeste do

TO e encontrar possíveis respostas para a pergunta desta dissertação, adotou-se

como metodologia a pesquisa quantitativa e a observação participante.

Foram realizadas 24 entrevistas nos 20 municípios da região Sudeste

do TO: Almas, Arraias, Aurora do Tocantins, Chapada da Natividade, Combinado,

Conceição do Tocantins, Dianópolis, Lavandeira, Natividade, Novo Alegre, Novo

Jardim, Paranã, Pindorama do Tocantins, Ponte Alta do Bom Jesus, Porto Alegre do

Tocantins, Rio da Conceição, Santa Rosa do Tocantins, São Valério da Natividade,

Taguatinga e Taipas do Tocantins. A escolha dos entrevistados obedeceu aos

seguintes critérios: ser liderança do poder público, liderança da sociedade civil ou

gestor municipal. (GRAF.16)

Gráfico 16: Perfil dos entrevistados Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009

68

3.1 Perfil dos entrevistados

Quanto ao sexo, 79,2% dos entrevistados era do sexo masculino e em

relação à idade, o maior percentual ficou na faixa etária entre 30 e 39 anos (37,5%).

(GRAF. 17)

Gráfico 17: Faixa etária dos entrevistados Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009

Sobre o grau de escolaridade das lideranças entrevistadas, a situação

é a seguinte: 4,2% de ensino fundamental, 8,3% de segundo grau, 20,8 de superior

incompleto, 62,5% com superior completo e 4,2% com mestrado.

Na variável renda familiar, 50% dos entrevistados estão na faixa de até

5 SM, 25% entre mais de 5 a 10 SM e 25% acima de 10 SM.

Analisando somente a renda do chefe da casa, observou-se que o

percentual de até 5 SM aumentou para 62,5%; a faixa entre mais de 5 a 10 SM

diminuiu para 12,5% e a faixa acima de 10 salários mínimos manteve os 25% de

entrevistados.

Quanto à naturalidade do chefe da família, observa-se que a maioria,

50% é de outros estados, 12,5% é de outras regiões do Tocantins e 37,5% nasceu

nesta região.

Na variável “tempo de moradia na região Sudeste do TO”, os dados

apontaram que a maioria sempre morou nesta região. (GRAF. 18)

69

Gráfico 18: Tempo de moradia na Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009

3.2 Organização social

Nesta segunda parte do questionário foram abordadas questões

relacionadas à organização social. Na primeira variável identificou-se que 91,7% dos

entrevistados são filiados a algum tipo de organização. (GRAF. 19)

Gráfico 19: Participação em associações/cooperativas Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009

70

Na segunda variável perguntou-se sobre o tempo de filiação nestas

organizações e o cruzamento de dados, entre a primeira e a segunda variável

demonstrou que, dos 91,7% de entrevistados filiados, 63,6% estão nas

associações/cooperativas por um período que varia entre 1 e 5 anos.

TABELA 10 Filiação a associações/cooperativas X tempo de filiação

Filiação a Associações/Cooperativas

Tempo filiação

Menos de 1 ano

De 1 a 5 anos

+ De 5 a 10 anos

+ De 10 a 20 anos

Total

Pessoas filiadas 4,5% 63,6% 27,3% 4,5% 100,0%

Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009

Entretanto, utilizando o método da observação participante durante as

mobilizações e reuniões do Fórum de Desenvolvimento do Sudeste do Tocantins

percebemos que não basta ser filiado; mais importante do que a filiação está a

participação e o envolvimento nas discussões, na definição e implementação dos

projetos e das políticas públicas e estes, ainda não são hábitos incorporados na

cultura e no quotidiano dos grupos organizados da sociedade civil e do poder

público.

Os dados abaixo corroboram com as observações acima. Primeiro

demonstram que o percentual de associações/cooperativas ativas na região Sudeste

do TO é alto. GRAF. 20.

Gráfico 20: Situação das associações/cooperativas na região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009

71

Em seguida os dados identificaram que nas associações ativas, o

número de associados, também é alto, aproximadamente 6.200 associados.

Entretanto, nota-se que deste total, somente 48,6% estão ativos e participam de

alguma atividade. (GRAF. 21)

Gráfico 21: Percentual de associados ativos e inativos na região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009

Quanto à variável, “participação em movimentos sociais” identificou-se

que o percentual dos que participam (50%) e/ou participaram é igual aos que não

participam (50%).

3.3 Conselhos Municipais

Sobre os Conselhos Municipais foram avaliados por meio dos

conceitos ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo. Porém, nesta variável identificou-se

também que o desconhecimento sobre a sua existência e atuação nas comunidades

ainda é grande. Dentre os conselhos mais lembrados e avaliados pelos

entrevistados destacaram-se os Conselhos de Saúde, Educação, Ação Social e

Tutelar.

Quanto aos Conselhos Municipais de Saúde, somando-se os conceitos

ótimo e bom a avaliação alcança o percentual de 41,67%. Entretanto, 20,83% dos

entrevistados não responderam ou não souberam avaliar e o motivo foi o

72

desconhecimento sobre a existência e/ou atuação deste conselho no município.

(GRAF. 22)

Gráfico 22: Avaliação dos Conselhos Municipais de Saúde da Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009

Nos Conselhos Municipais de Educação a avaliação foi melhor com um

total de 54,17% dos entrevistados avaliando-os como ótimo e bom. Porém o

percentual de “não responderam” aumentou para 25%. (GRAF. 23)

Gráfico 23: Avaliação dos Conselhos Municipais de Educação da Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009

73

Quanto aos Conselhos Municipais de Ação Social, o desconhecimento

e desinformação sobre sua existencia/atuação é maior que o percentual de

entrevistados que fizeram uma avaliação ótima e boa (37,5%). GRAF. 24

Gráfico 24: Avaliação dos Conselhos Municipais de Ação Social da Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009

De todos os conselhos, os Tutelares foram os que obtiveram a melhor

avaliação, com a soma dos conceitos ótimo e bom alcançando os 58,33%. Acredita-

se que isto deve-se ao fato de que nos Conselhos Tutelares, os conselheiros que

trabalham diretamente nas comunidades são remunerados pelo município. Nestes

conselhos a sociedade tem mais participação e, na época de eleição da diretoria, os

conselheiros fazem campanha em busca de votos e divulgam os trabalhos

realizados. (GRAF. 25)

Gráfico 25: Avaliação dos Conselhos Tutelares da Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009

74

Quanto aos Conselhos Municipais de Segurança Alimentar - COMSEA

tiveram sua atuação avaliada como ótima e boa por 45,83% dos entrevistados. Vale

ressaltar que os COMSEAs, além de ser um instrumento de articulação entre

governo e sociedade civil na proposição de diretrizes para as ações na área da

alimentação e nutrição são também responsáveis pelo monitoramento e avaliação

do PAA - Programa de Aquisição de Alimentos18.

Mas, apesar dessa importância, 41,67% dos entrevistados ainda

desconhecem sua existência e/ou atuação no município. (GRAF. 26)

Gráfico 26: Avaliação dos Conselhos Municipais de Segurança Alimentar - COMSEA da Região Sudeste do TO

Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009

Nos Conselhos Municipais da Mulher, do Turismo e do Meio Ambiente,

ainda é grande o desconhecimento sobre sua existência e atuação. Nos Conselhos

de Turismo, os entrevistados com informação sobre sua atuação (20,84%) o

avaliaram como ótimo e bom. Porém, com os Conselhos Municipais de Meio

Ambiente19, quase 96% dos entrevistados desconhecem a sua existência e os

poucos que o conhecem avaliaram a sua atuação como péssima. (GRAF. 27, 28 e

29).

18

Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) está integrado na Promoção de Sistemas Descentralizados da Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). O governo, por meio da CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento compra alimentos de agricultores familiares e abastece a rede de proteção social, da qual fazem parte creches, asilos, escolas e restaurantes comunitários. 19

Uma das principais competências deste conselho é a proposição de normas, padrões e procedimentos para proteção ambiental e desenvolvimento sustentável dos municípios, observando as Legislações Ambientais Federal e Estadual.

75

Gráfico 27: Avaliação dos Conselhos Municipais da Mulher, da Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009

Gráfico 28: Avaliação dos Conselhos Municipais de Turismo, da Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009

Gráfico 29: Avaliação dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente, da Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009

Em relação aos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural

Sustentável (CMDRS), a sua estruturação relaciona-se com a implantação do

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF20, que

20

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) é um programa criado em 1995, no qual o governo federal destina apoio financeiro às atividades agropecuárias e não-agropecuárias exploradas mediante emprego direto da força de trabalho do agricultor familiar e de sua família, de forma a integrá-lo à cadeia do agronegócio. Entendendo-se por atividades não-agropecuárias os serviços relacionados com turismo rural, produção artesanal, agronegócio familiar e outras prestações de serviço no meio rural, que sejam compatíveis com a natureza da exploração rural e com o melhor emprego da mão-de-obra familiar.

76

indicou novas bases para a formulação das políticas públicas de desenvolvimento

rural.

O PRONAF parte da proposta de privilegiar a agricultura familiar no

desenvolvimento rural, utilizando as instâncias locais participativas, STTR –

Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais e os CMDRS, como espaço

apropriado para a manifestação de interesses e a tomada de decisão democrática.

Além de aprovar, monitorar e avaliar os planos municipais de

desenvolvimento rural, os CMDRS teriam o papel de controlar os gastos e a

destinação dos recursos, numa abordagem de “gestão pública do orçamento

público” (Governo Federal, 1995).

Entretanto, alguns pontos podem ser identificados como

estrangulamentos do papel dos conselhos como instrumentos de democratização de

poder. De um lado, Fuks et al. (2003) destacam os estudos sobre cultura política,

entendida como os valores, sentimentos, crenças e conhecimentos relevantes e que

explicam, em parte, os padrões de comportamento político adotados pelos sujeitos.

De acordo com este referencial, a distribuição desigual de recursos

cívicos em uma população poderia explicar o seu comportamento também desigual

em relação à participação política. Assim, mais do que simplesmente enquadrar as

diferentes sociedades em uma tipologia construída com base em características

externas, os estudos de cultura política podem servir para que se construa uma

compreensão da realidade que considere as diferentes experiências históricas dos

sujeitos e sua relação com o comportamento político desempenhado na sociedade

(Castro, 2000).

Outra questão importante sobre os conselhos, diz respeito à

representatividade e ao exercício de participação, porém a partir da década de 1980,

muitos movimentos populares perderam visibilidade na sociedade brasileira. Com

isso, muitos conselhos acabaram perdendo sua base política de sustentação sobre a

qual tinham forjado uma identidade própria.

Desta forma, acabaram comprometendo também a sua

representatividade e, consequentemente sua experiência participativa, junto aos

conselhos gestores (Gerschman, 2004).

Partindo do pressuposto que os conselhos devem ser entendidos como

uma instância de exercício de poder, estes pontos são importantes pois, acredita-se

que a distribuição desigual dos recursos tem como conseqüência a distribuição

77

desigual também de poder, portanto as práticas de participação neste espaço

podem concorrer para a democratização das relações ou, ao contrário, para

perpetuar as desigualdades e a submissão. (Wendhausen e Caponi, 2002).

Na região Sudeste do Tocantins, o fortalecimento e a atuação dos

CMDRS são de suma importância, pois como esta região é Território da Cidadania,

os CMDRS têm assento no colegiado que é a institucionalidade responsável pela

gestão do Território.

No início de 2009, dos 20 municípios desta região, 19 criaram e/ou

reestruturaram seus CMDRS de acordo com a legislação e metodologia proposta

pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável – CONDRAF21.

Entretanto, a pesquisa identificou que, a maioria dos CMDRS estão

praticamente inativos, com pouca representatividade e participação da sociedade

civil. Apesar de serem paritários, não existe uma integração entre a sociedade civil e

o poder público na definição e implantação dos projetos municipais e territoriais. Os

CMDRS continuam sendo “mais um conselho” e, na maioria dos municípios são

poucos os entrevistados que sabem de sua existência, o que pode ser observado no

GRAF.30.

Gráfico 30: Avaliação dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável - CMDRS, da Região Sudeste do TO

Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009

21

As diretrizes e atribuições para o funcionamento dos Territórios Rurais, Territórios da Cidadania e CMDRS encontram-se nas Resoluções de n

o 48 de 16 de setembro de 2004 e a de nº 52 de 16 de fevereiro de 2005.

Demais informações sobre territórios rurais e da cidadania podem ser obtidas no site do Ministério do Desenvolvimento Agrário/ MDA: www.mda.gov.br

78

Outra variável avaliada foi a “importância da participação da sociedade

civil nos conselhos” e analisando os dados, observou-se que 100% dos

entrevistados afirmaram que é muito importante a presença e participação da

comunidade nos conselhos e os motivos apresentados para essa avaliação são os

relacionados na Tabela 11.

TABELA 11 Motivos considerados importantes e muito importantes sobre a participação da sociedade

civil nos Conselhos Municipais

Motivos %

Para que ela tenha conhecimento e participação nas decisões tomadas 29,2

Oportunidade p/sociedade apresentar as demandas, pois ela é que conhece a região e os problemas locais

20,8

Porque além de beneficiada atua como agente de construção 12,5

Aumenta a transparência 12,5

A participação é uma das formas que a sociedade tem de fiscalizar e cobrar dos governantes as melhorias para sua região

12,5

Forma de governar melhor, participativamente 4,2

Porque ela é que tem maior interesse para que projetos sejam realizados 4,2

Para obter informações e fomentar uma melhor atuação dos conselhos 4,2

Entretanto, mesmo afirmando que é importante participar dos

conselhos, observa-se que na realidade isso não acontece. Normalmente, a escolha

dos conselheiros é definida pelo poder público e os conselheiros, em muitas vezes

participam de vários conselhos e não se sentem pertencentes a nenhum. O poder

político absorve a fala sobre participalção mas não pratica.

Para finalizar esta série de perguntas sobre organização social utilizou-

se a variável “importância da celebração de parcerias entre governos e sociedade

civil” e novamente a maioria dos entrevistados (91,7%) foi unânime em dizer que a

celebração de parcerias é muito importante.

Quanto aos motivos apresentados para explicar essa grande

importância os principais destacam-se na Tabela 12 e observa-se que a maioria

acredita que a falta de parceria entre governos e sociedade civil na implementação

dos programas e projetos dificulta a continuidade dos mesmos.

79

TABELA 12

Motivos considerados importantes e muito importantes sobre a participação da sociedade civil nos Conselhos Municipais

Motivos %

Parcerias são importantes para atender, desenvolver e solucionar os problemas 33,3

As duas partes se complementam: sociedade identifica demandas e poder público apoia com recursos.

16,7

Sozinha a sociedade civil não consegue desenvolver 12,5

A sociedade é que conhece a região e as demandas locais 8,3

Para desenvolver é necessário a participação de todos 4,2

Parcerias fazem com que a sociedade faça e participe dos tramites legais para adquirir, controlar e executar os recursos públicos

4,2

Quando há parceria o governo entra como suporte, com apoio na logística 4,2

Governo sozinho não consegue atender demandas, por isso a necessidade dessa integração 4,2

Parceria ajuda com a transparência 4,2

Quando há participação da Sociedade Civil e do Poder Público nas discussões dos projetos, aumenta a transparência

4,2

Não Responderam 4,2

Total 100,0

Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009.

A seguir analisaremos a última variável desta pesquisa, cujo objetivo foi

identificar fatores que, na opinião das lideranças tem dificultado o desenvolvimento

social e econômico desta região.

Acredita-se que a análise dos dados desta variável em conjunto com os

dados das perguntas anteriores sobre organização social, contribuam para

responder a pergunta chave desta dissertação: “Por que a Região Sudeste do

Tocantins, onde desde a década de 90, são implementados programas e projetos

que visam o desenvolvimento econômico e social, encontra dificuldades para

emergir do estado de quase estagnação para um processo de desenvolvimento

econômico e social?”

As respostas foram as seguintes: 20,8% dos entrevistados acreditam

que a falta de informação, de interesse e de contato com outras regiões para

conhecer outras realidades é um fator que dificulta o desenvolvimento da região.

Outros (16,7%) dizem que o que falta no Sudeste do TO é representação política,

integração e participação da sociedade nas discussões políticas e 8,3%

complementam esta resposta dizendo que a falta de ideologia política faz com que o

povo tenha medo de se posicionar a favor ou contra os "clãs”.

Por outro lado, tem os que acreditam que faltam empreendimentos

para geração de emprego e renda (8,3%); e 8,3% dizem que faltam terras e

melhores condições de trabalho para o agricultor familiar.

80

Outro aspecto considerado pelos entrevistados diz respeito à

organização social: alguns acreditam que falta parceria mais ampla e consolidada

entre governos estadual e municipal, outros afirmam que são dois os principais

problemas: a centralização do poder municipal excluindo a sociedade das decisões

e a falta de ações concretas do poder público. Acrescentam ainda que os conselhos

são criados somente para captar recursos, por isso inexiste uma representação de

fato, da sociedade civil. Há também os que dizem que falta monitoramento e

avaliação dos projetos implementados e políticas públicas de desenvolvimento.

Apareceram também, aspectos relacionados à educação, como baixo

nível de escolaridade, falta de ensino superior na área agrícola, capacitação para os

municípios agilizarem a implantação dos projetos, cursos de cooperativismo, de

empreendendorismo, mais conhecimento, mão de obra qualificada, orientação

ambiental, capacitação técnica para os agentes educadores, desenvolvimento do

turismo na região e curiosamente, falta de orientação sexual.

Há também aqueles que afirmam que na região as mobilizações são

feitas de ultima hora, aspecto este que dificulta e minimiza a participação da

sociedade civil; outros dizem que o problema é a baixa densidade demográfica e,

por fim uma pequena parcela de entrevistados acredita que a estagnação do

processo de desenvolvimento é um problema cultural da região Sudeste do TO.

Com base nas informações obtidas a partir da análise dos dados das

variáveis sobre Conselhos Municipais criamos o Índice de Capital Social – ICS e é

sobre a metodologia, composição e finalidade deste índice que discutiremos no

próximo tópico.

3.4 Índice de Capital Social

Para mensurar o nível de organização e a existência ou não de capital

social, construiu-se o Índice de Capital Social – ICS, a partir das variáveis “No total

de Conselhos, Conselhos Existentes, Conselhos ótimos e bons, associações ativas,

total de associações, associados ativos e total de associados e taxa de

alfabetização”

Para construir o ICS trabalhoamos com três componentes: o primeiro,

cujo papel é mensurar a participação e organização do poder público, foi o Índice de

81

Participação do Poder Público - IPPP construído a partir das variáveis no total de

Conselhos que é o número de conselhos que deveriam existir nos municípios de

acordo com parâmetros do IBGE22; Conselhos Existentes foi o número de conselhos

identificados nos municípios e Conselhos Ótimos e Bons de acordo com a

classificação dos entrevistados. O segundo componente é o Índice de Participação

da Sociedade Civil – IPSC, construído com as variáveis associações ativas, total de

associações, associados ativos e total de associados, dados estes obtidos na

pesquisa de campo e informações do Ruraltins (órgão de extensão rural e

assistência técnica do Estado). O terceiro componente é o Índice dos Indivíduos – II,

ou seja, a Taxa de Alfabetização, aspecto importante na formação do capital social.

Em seguida calculou-se uma média aritmética, ou seja, somou-se os dados e dividiu

por três, obtendo assim o ICS.

A fórmula utilizada para a construção deste índice foi a seguinte:

+ +Taxa alfabetização

Quanto ao Índice de Capital Social varia de 0 (zero) a 1 (um): quanto

mais próximo de 1, maior a concentração de capital social e quanto mais próximo de

zero, menor o estoque de capital social no município e/ou região.

Quanto às variáveis e os dados utilizados para compor o IPPP, o IPSC,

o II e consequentemente o ICS, encontram-se na Tabela 13.

22

Informações obtidas no IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros - Assistência Social 2005. Nas pesquisas do IBGE são avaliados os 10 conselhos que deveriam existir em todos os municípios: Assistência Social, dos

Direitos da Criança e Adolescente, Tutelar, dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência, Segurança Alimentar, Saúde, Educação, dos Direitos da Mulher, dos Direitos do Idoso e Comitê Fome Zero.

IPSC IPPP II

3 = ICS

* LEGENDA:

IPPP = Índice de participação do poder público

IPSC = Índice de participação da sociedade civil

II = Índice dos indivíduos

ICS = Índice de Capital Social

82

TABELA 13 - Índice de Capital Social

Municípios N

o

Associações (1)

No

Associados (1)

Associados Ativos

(1)

Paradas e/ou desativadas

(1)

Total de Conselhos Municipais

Conselhos Municipais Existentes

(1)

Conselhos ótimos e

bons (1)

IPPSC IPSC

II - (Tx de alfabetização

2000) (2)

ICS Índice de Capital Social

Almas 12 331 205 0 10 5 2 0,10 0,62 0,76 0,49

Arraias 18 553 189 10 10 5 5 0,25 0,34 0,69 0,43

Aurora do Tocantins 3 47 12 2 10 6 1 0,06 0,26 0,72 0,35

Chapada de Natividade 12 283 263 2 10 7 4 0,28 0,93 0,71 0,64

Combinado 8 1172 57 5 10 6 2 0,12 0,05 0,75 0,31

Conceição do TO 7 283 95 3 10 6 6 0,36 0,34 0,72 0,47

Dianopólis 24 665 373 4 10 7 3 0,21 0,56 0,81 0,53

Lavandeira 2 60 38 0 10 6 5 0,30 0,63 0,76 0,56

Natividade 30 361 152 5 10 6 0 0,00 0,42 0,76 0,39

Novo Alegre 2 48 0 2 10 6 2 0,12 0,00 0,84 0,32

Novo Jardim 2 62 15 1 10 6 6 0,36 0,24 0,74 0,45

Paranã 7 162 91 1 10 6 6 0,36 0,56 0,69 0,54

Pindorama 9 245 209 1 10 6 5 0,30 0,85 0,81 0,65

Ponte Alta do Bom Jesus 3 18 18 1 10 7 0 0,00 1,00 0,69 0,56

Porto Alegre do Tocantins 7 233 190 0 10 3 1 0,03 0,82 0,72 0,52

Rio da Conceição 4 103 87 0 10 4 2 0,08 0,84 0,78 0,57

Santa Rosa 8 699 699 0 10 7 7 0,49 1,00 0,75 0,75

São Valério 8 385 110 0 10 8 7 0,56 0,29 0,78 0,54

Taguatinga 10 405 166 0 10 6 2 0,12 0,41 0,74 0,42

Taipas 1 0 0 1 10 5 2 0,10 0,00 0,68 0,26

Total 177 6115 2969 38 200 118 68 0,20 0,49 0,74 0,48

Fonte: (1) Pesquisa de Campo realizada na região Sudeste, 2009 e Ruraltins - (2) Atlas de Desenvolvimento Humano / 2000

83

Analisando os dados da Tabela 13, verifica-se que o índice de Capital

Social da Região Sudeste do Tocantins está abaixo de 0,50.

Fazendo uma análise por municípios, observa-se que, dos 20

municípios, somente sete, Dianopólis, Lavandeira, Rio da Conceição, São Valério,

Porto Alegre do Tocantins, Paranã e Ponte Alta do Bom Jesus situam-se na faixa

entre 0,50 e 0,59. (GRAF. 33)

Gráfico 31: Variação do Índice de Capital Social na Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009 e Ruraltins

Observa-se também que Taipas é o município com o menor ICS, 0,26

e isto deve-se ao fato de que neste município só existe uma cooperativa, e mesmo

assim, inativa; na faixa entre 0,40 e 0,49 encontram-se somente quatro municípois,

Arraias, Taguatinga, Conceição do To e Novo Jardim; entre 0,30 e 0,39 encontram-

se Aurora, Combinado, Natividade e Novo Alegre; e Chapada de Natividade e

Pindorama entre 0,60 e 0,69.

Quanto ao município de Santa Rosa do Tocantins, segundo

informações do Ruraltins, tanto as associações como os associados são atuantes e

estes, somados à taxa de alfabetização foram os aspectos que contribuiram para

que o município apresentasse o melhor índice de capital social da região, (0,75).

Um aspecto que deve ser observado é que o componente “taxa de

alfabetização” tem um papel muito importante na composição do índice de capital

social. Ao exclui-lo da fórmula e tirando a média aritmética somente do IPPP e IPSC,

o Índice de Capital Social, fica abaixo de 0,50 em 80% dos municípios. Somente

Santa Rosa do TO mantém o mesmo índice de 0,75, conforme demonstrado na

Tabela 14.

84

TABELA 14 - Índice de Capital Social sem a Taxa de Alfabetização

Municípios N

o

Associações N

o

Associados Associados

Ativos Paradas e/ou desativadas

Total de Conselhos Municipais

Conselhos Municipais Existentes

Conselhos ótimos e

bons IPPSC IPSC

Índice de Capital

Social sem Taxa de

Alfatebização

Almas 12 331 205 0 10 5 2 0,10 0,62 0,36

Arraias 18 553 189 10 10 5 5 0,25 0,34 0,30

Aurora do Tocantins 3 47 12 2 10 6 1 0,06 0,26 0,16

Chapada de Natividade 12 283 263 2 10 7 4 0,28 0,93 0,60

Combinado 8 1172 57 5 10 6 2 0,12 0,05 0,08

Conceição do TO 7 283 95 3 10 6 6 0,36 0,34 0,35

Dianopólis 24 665 373 4 10 7 3 0,21 0,56 0,36

Lavandeira 2 60 38 0 10 6 5 0,30 0,63 0,47

Natividade 30 361 152 5 10 6 0 0,00 0,42 0,21

Novo Alegre 2 48 0 2 10 6 2 0,12 0,00 0,06

Novo Jardim 2 62 15 1 10 6 6 0,36 0,24 0,30

Paranã 7 162 91 1 10 6 6 0,36 0,56 0,46

Pindorama 9 245 209 1 10 6 5 0,30 0,85 0,58

Ponte Alta do Bom Jesus 3 18 18 1 10 7 0 0,00 1,00 0,50

Porto Alegre do Tocantins 7 233 190 0 10 3 1 0,03 0,82 0,42

Rio da Conceição 4 103 87 0 10 4 2 0,08 0,84 0,46

Santa Rosa 8 699 699 0 10 7 7 0,49 1,00 0,75

São Valério 8 385 110 0 10 8 7 0,56 0,29 0,42

Taguatinga 10 405 166 0 10 6 2 0,12 0,41 0,26

Taipas 1 0 0 1 10 5 2 0,10 0,00 0,05

Total 177 6115 2969 38 200 118 68 0,20 0,49 0,34

Fonte: Pesquisa de Campo realizada na região Sudeste, 2009 e Ruraltins

85

4. CONCLUSÃO

A partir das informações obtidas por meio da pesquisa de campo, da

observação participante e dos números do Índice de Capital Social inferimos que o

Sudeste do TO é uma região pobre de capital social e que ao longo de sua história,

não foram construídas relações associativas como as registradas por Putnam (1996)

em algumas áreas do centro e do norte da Itália, as quais poderiam proporcionar um

campo fértil para a difusão de procedimentos participativos.

Analisando as informações do capitulo 2, que versa sobre

a história da Região Sudeste do TO podemos inferir que a estagnação do processo

de desenvolvimento é um problema cultural desta região. Desde aquela época, a

estrutura econômica tem-se organizado em torno das fazendas de gado, e das

atividades agrárias. Porém não se tem notícias de investimentos em novas

tecnologias que venham a promover o aumento da produção e da produtividade.

Além disso, apesar do aumento da taxa de urbanização, os municípios

não alcançaram força suficiente para fomentar o surgimento de atividades

sustentadas nas áreas urbanas. O que notamos é que mesmo migrando para as

cidades, as pessoas continuam exercendo atividades econômicas voltadas para o

rural.

Tanto as atividades de comércio como as da indústria são insuficientes

para fomentar o desenvolvimento econômico dos municípios e, consequentemente

da região. Fato este que pode ser observado nas informações do PIB, no período

entre 2002 a 2006.

Quanto ao capital social, na maior parte das comunidades, são poucas

as pessoas que acreditam na importância da participação e do envolvimento, de

forma direta e continuada, na formulação e na implementação de projetos sociais e

de geração de renda, fato que pode ser comprovado nos números do Índice de

Participação da Sociedade Civil. O que predomina é a idéia de que o envolvimento

dos indivíduos na vida pública deve limitar-se à participação periódica no processo

eleitoral.

Nesse contexto, incorporar a participação ao quotidiano das ações de

governo em escala regional, ajudando a viabilizar a formulação de políticas regionais

86

mais próximas do potencial das sociedades locais e mais articuladas entre os

diversos níveis do poder público, torna-se uma tarefa difícil de ser realizada.

E dificulta ainda mais, quando essa incorporação requer um esforço

prévio de organização e de criação de novas institucionalidades, aspectos

importantes para que seja promovida a participação em escala regional e/ou

territorial.

Um exemplo disso é o Fórum de Desenvolvimento da Região Sudeste

do Tocantins, criado em outubro de 2008, após mobilização de quase um ano, junto

à sociedade civil e poder público e com apoio da Secretaria de Planejamento do

Estado - SEPLAN em parceria com o Banco Mundial, pelo projeto PDRS. Após esta

data foram realizadas mais três reuniões, sendo a última em maio de 2009, mas

sempre com a iniciativa partindo do projeto PDRS. A partir daí, nada mais foi feito

pelas lideranças locais, que não conseguem se articular para realizar um projeto

comum e com isso, o Fórum passou a existir somente no papel.

Segundo Bandeira (1999) são vários os motivos que levam a essa não

participação. O primeiro é que em geral não existem instâncias consolidadas de

organização das comunidades que proporcionem uma base institucional sólida para

desenvolver os processos de participação em escala regional e/ou territorial.

O que encontramos nas associações, cooperativas, conselhos

municipais e demais grupos organizados existentes nos municípios são

pouquíssimas pessoas participando e se envolvendo nos projetos e ações e muitas

esperando as “coisas acontecerem” para depois decidir se participam ou não, ou

seja, querem primeiro ver os resultados e isso é impossível.

Outro aspecto que favorece a não participação é a tendência de se

fazer um elo entre participação e disponibilização de recursos. Bandeira (1999)

enfatiza que é importante aumentar a influência das comunidades sobre a

distribuição e aplicação dos recursos públicos. No entanto, acredita que isso deve

ser feito de maneira a maximizar outros efeitos positivos da participação, como a

capacitação e o aprendizado coletivo, ou a acumulação de capital social, que são

talvez até mais importantes para o desenvolvimento regional no longo prazo.

Bandeira (1999) acredita também, que o fracasso de iniciativas mal

concebidas é um fator que contribui para o descrédito da própria idéia de

participação, reduzindo o estoque de capital social das comunidades e tornando

cada vez mais difícil mobilizá-la para envolver-se em ações de interesse coletivo.

87

Esta descrença foi observada como um aspecto marcante durante as

conversas e entrevistas realizadas com lideranças da sociedade civil, do poder

público e moradores das comunidades, principalmente no período das mobilizações

onde o que mais se ouviu foi: “vocês aqui novamente, vem, levantam expectativa e

depois somem. Disso estamos cansados, pois nada de concreto acontece”.

Este posicionamento demonstra como é árdua a tarefa de difundir a

adoção de práticas participativas nas ações voltadas para o desenvolvimento

regional e/ou territorial na região Sudeste do TO. Mesmo as experiências mais

antigas que existem e/ou existiram nesse sentido são frágeis e terminam se

transformando em ações pontuais, que muitas vezes alcançam pouco ou nenhum

resultado, não propulsionam processos de desenvolvimento e passam a ser

consideradas pelas comunidades como experiências mal-sucedidas.

Outro aspecto, também identificado, nessa região é que as

administrações municipais e estaduais, promotoras da maior parte das iniciativas e

projetos existentes, ainda não se convenceram sobre a importância da participação

e da integração entre elas. O espírito do coronelismo e do assistencialismo ainda é

latente. Com isso, as poucas parcerias estabelecidas com a sociedade civil, as quais

poderiam atuar como instrumento para a melhoria qualitativa e sustentável das

ações relacionadas com o desenvolvimento regional e territorial, ainda são poucas e

frágeis.

Na maioria dos projetos, observamos que quem toma decisões ainda é

o poder público, que usa o poder local apenas para legitimar e buscar recursos.

Notamos também, que em muitos casos, o poder público acredita que

a descentralização implica em perda de poder, por isso torna-se necessário que os

gestores façam um esforço permanente no sentido de distanciar as práticas

participativas de ações promocionais que, quase sempre, acabam sendo associadas

a motivações eleitorais. Só assim será possível evitar que a credibilidade dos

gestores seja desgastada por polêmicas relacionadas com a defesa de interesses

partidários.

Mas, acreditamos que a grande tendência, no âmbito das principais

organizações internacionais de fomento, em valorizar a participação da sociedade

civil seja um dos fatores que venham a contribuir para minimizar estas atitudes e

acelerar os processos de desenvolvimento social e econômico.

88

Finalmente, embasados na análise da pesquisa de campo e do

referencial teórico que apoiaram essa dissertação e na observação da região de

forma participante, sugerimos algumas ações que a nosso ver, poderiam contribuir

para que o tão sonhado desenvolvimento social e econômico aconteça na região

Sudeste do Tocantins de forma sustentável:

• Estabelecer condições políticas que possibilitem a participação social, criando

mecanismos e canais que possibilitem a integração dos grupos sociais, o

exercício da cidadania e o envolvimento das associações, cooperativas,

conselhos municipais e comunidades em torno de problemas locais especí-

ficos.

• Investir em programas de capacitação, para fortalecer as capacidades

técnicas e gerenciais dos agentes institucionais envolvidos nos processos de

desenvolvimento municipal. Promover uma aprendizagem contínua.

• Investir na implementação de projetos que promovam a inovação do setor

produtivo.

• Estabelecer mecanismos de participação social e comunicação (Conselhos

Municipais, comissões, grupos de trabalho, etc.), envolvendo representantes

dos vários atores sociais, além dos canais de representação tradicional, como

espaços institucionalizados para a expressão e debate de interesses, visando

à formulação de políticas sustentáveis, maior transparência e possibilidade de

controle social.

• Estabelecer mecanismos de participação social e comunicação (Conselhos

Municipais, Fóruns de Desenvolvimento, Território da Cidadania, Programa

de Desenvolvimento Regional Sustentável (PDRS), etc.), envolvendo

representantes dos vários atores sociais, além dos canais de representação

tradicional, como espaços institucionalizados para a expressão e debate de

interesses, visando à formulação de políticas públicas sustentáveis, maior

transparência e possibilidade de controle social.

• Estimular e fortalecer as articulações e parcerias dos órgãos públicos

estaduais e federais com os municipais, contribuindo para o desenvolvimento

de um novo sistema institucional público descentralizado, com maior

sensibilidade social, flexibilidade e eficiência, operando próximo às

comunidades e aos cidadãos.

89

• Estabelecer e operacionalizar um sistema transparente de informação que

permita a articulação do sistema municipal como um todo, alimentando o

diálogo, a comunicação, a interpretação e a tomada de consciência, como

parte de um movimento permanente de interação entre o governo local e os

cidadãos, bem como possibilitando o controle da sociedade civil sobre a

gestão da coisa pública.

90

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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94

6. ANEXOS

6.1 Questionário da pesquisa de campo

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E AGRONEGÓCIO

Bom dia/tarde eu sou aluna do curso de mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio e estou fazendo uma pesquisa para a minha dissertação, sobre aspectos organizacionais da Região Sudeste do Tocantins. O(a) sr(a) pode por favor me responder algumas perguntas?

1. [ ] Município: 1. Arraias 2. Natividade 3. Dianópolis 4. Taguatinga 5. Outro

2. [ ] RESPONDENTE: 1. Gestor Público 2. Liderança do Poder Público 2. Liderança da Sociedade Civil 4. Outro ______________________________ (anote)

3. [ ] HÁ QUANTO TEMPO EXERCE ESSA ATIVIDADE?

1. Menos de 1 ano 2. + De 1 a 2 anos 3. + De 2 a 4 anos 4. + De 4 a 8 anos 5. Acima de 8 anos

4. [ ] SEXO: 1. Masculino 2. Feminino

5. [ ] IDADE : 1. 20/29 anos 3. 40/49 anos 5. 60 a 69 anos 2. 30/39 anos 4. 50 a 59 anos 6. 70 ou mais

6. [ ] ESCOLARIDADE: 1. Ensino Fundamental incompleto 4. 2º grau completo 7. Mestrado 2. Ensino Fundamental completo 5. Superior incompleto 8. Doutorado 3. 2º grau incompleto 6. Superior completo

7. [ ] RENDA FAMILIAR 1. Até 1 SM (até 465,00) 4. + de 3 a 5 SM (1.396,00 a 2325,00)

2. + de 1 a 2 SM (466,00 a 930,00) 5. + de 5 a 10 SM (2.326,00 a acima de 4.650,00) 3. + de 2 a 3 SM (931,00 a 1.395,00) 6. Acima de 10 SM (Acima de 4.650,00)

8. [ ] RENDA CHEFE DA FAMÍLIA: 1. Até 1 SM (até 465,00) 4. + de 3 a 5 SM (1.396,00 a 2325,00) 2. + de 1 a 2 SM (466,00 a 930,00) 5. + de 5 a 10 SM (2.326,00 a acima de 4.650,00) 3. + de 2 a 3 SM (931,00 a 1.395,00) 6. Acima de 10 SM (Acima de 4.650,00)

9. [ ] NATURALIDADE DO CHEFE DA FAMÍLIA: 1. Arraias 3. Natividade 5. Outros Municípios do TO 2. Dianópolis 4. Taguatinga 6. Outros Estados

10. [ ] HÁ QUANTO TEMPO MORA NA REGIÃO? 1. De 1 a 5 anos 4. + 20 anos 2. + De 5 a 10 anos 5. Sempre morei nesta região 3. + De 10 a 20 anos

11. [ ] O SR. É FILIADO OU MEMBRO DE ALGUMA ASSOCIAÇÃO/COOPERATIVA?

1. Não 2. Sim _________________________________________ Anote o nome da organização

12. [ ] HÁ QUANTO TEMPO?

95

1. Menos de 1 ano 2. + De 1 a 5 anos 3. + De 5 a 10 anos 4. + De 10 a 20 anos 5. Acima de 20 anos

13. [ ] O SR. PARTICIPA OU PARTICIPOU DE ALGUM MOVIMENTO SOCIAL?

1. Não 2. Sim _________________________________________ Anote o nome da organização

14. [ ] QUAIS OS PROGRAMAS/PROJETOS VISANDO O DESENVOLVIMENTO DO SETOR PRODUTIVO QUE FORAM IMPLEMENTADOS NO MUNICÍPIO / REGIÃO NOS ÚLTIMOS 10 ANOS?

1. PROSUDESTE 2. COMPRA DIRETA 3. BALDE CHEIO 4. Outro ______________________________________ (Anote)

15. [ ] QUAL A IMPORTÂNCIA DESSE PROJETO PARA O DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO SUDESTE DO TO?

1. Muito importante 3. Pouco importante 2. Importante 4. Sem importância

16. [ ] POR QUE O SR. FAZ ESSA AVALIAÇÃO? __________________________________________________________________________________________

17. [ ] QUAIS AS DIFICULDADES ENCONTRADAS NA IMPLEMENTAÇÃO DESTES PROJETOS? __________________________________________________________________________________________

18. [ ] NA SUA OPINIÃO, A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL, NA IMPLEMENTAÇÃO DOS PROJETOS TEM SIDO:

1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular

19. [ ] SE REGULAR, RUIM OU PÉSSIMO, POR QUE? __________________________________________________________________________________________

20. [ ] E A PARTICIPAÇÃO DOS GOVERNOS?

1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular

21. [ ] SE REGULAR, RUIM OU PÉSSIMO, POR QUE? __________________________________________________________________________________________

22. [ ] QUAIS OS CONSELHOS QUE EXISTEM NO MUNICÍPIO?

1. Saúde 5. Turismo Outro: ______________________________ 2. Educação 6. Da Mulher (Anote) 3. Ação Social 7. CONSEA 4. Tutelar 8. CMDRS

23. [ ] COMO O SR. AVALIA A ATUAÇÃO DO CONSELHO DA SAÚDE?

1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular 6. NS

24. [ ] E DA EDUCAÇÃO?

1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular 6. NS

25. [ ] E DA AÇÃO SOCIAL?

96

1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular 6. NS

26. [ ] E O CONSELHO TUTELAR?

1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular 6. NS

27. [ ] E O DE TURISMO?

1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular 6. NS

28. [ ] E O CONSEA?

1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular 6. NS

29. [ ] E O DA MULHER?

1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular 6. NS

30. [ ] OUTRO? (ANOTE QUAL)

1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular 6. NS

31. [ ] NA SUA OPINIÃO, A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NOS CONSELHOS É:

1. Muito importante 3. Pouco importante 2. Importante 4. Sem importância

32. [ ] POR QUÊ? __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________

33. [ ] E A PARCERIA ENTRE GOVERNO/SOCIEDADE CIVIL, NA IMPLEMENTAÇÃO DOS PROJETOS, É:

1. Muito importante 3. Pouco importante 2. Importante 4. Sem importância

34. [ ] POR QUÊ? __________________________________________________________________________________________

35. [ ] NA SUA OPINIÃO QUAIS OS PRINCIPAIS FATORES QUE DIFICULTAM O DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÔMICO DA REGIÃO SUDESTE DO TOCANTINS? __________________________________________________________________________________________

Nome: _____________________________________________________________________________

Obrigado(a) !!!