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UNIVERSIDADE POSITIVO PROGRAMA DE MESTRADO EM BIOTECNOLOGIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: BIOCOMBUSTÍVEIS ESTUDO DA VIABILIDADE DE USO DE REDES NEURAIS ARTIFICIAIS PARA A PREDIÇÃO DO RENDIMENTO DA FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA EDERSON LUIS AMGARTEN CURITIBA 2012

Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

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Page 1: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

UNIVERSIDADE POSITIVO

PROGRAMA DE MESTRADO EM BIOTECNOLOGIA

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: BIOCOMBUSTÍVEIS

ESTUDO DA VIABILIDADE DE USO DE REDES NEURAIS

ARTIFICIAIS PARA A PREDIÇÃO DO RENDIMENTO DA

FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA

EDERSON LUIS AMGARTEN

CURITIBA

2012

Page 2: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

EDERSON LUIS AMGARTEN

ESTUDO DA VIABILIDADE DE USO DE REDES NEURAIS ARTIFICIAIS

PARA A PREDIÇÃO DO RENDIMENTO DA FERMENTAÇÃO

ALCOÓLICA

Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado em Biotecnologia Industrial da

Universidade Positivo.

Orientador: Prof. Dr. José Rodríguez León

Co-Orientador: Prof. Dr. Evandro Bona

CURITIBA

2012

Page 3: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

III

Amgarten, Ederson Luis

Estudo da viabilidade de uso de redes neurais artificiais para a predição

do rendimento da fermentação alcoólica / Ederson Luis Amgarten;

Universidade Positivo. – 2012.

85 f. : il.

Orientador: José Rodríguez León

Co-orientador: Evandro Bona

Dissertação (mestrado) – Universidade Positivo

Inclui bibliografia

1. Fermentação alcoólica. 2. Rendimento de fermentação. 3. Modelo

neuronal perceptron de multicamadas.

I. Amgarten, Ederson Luis. II. León, José Rodríguez. III. Bona, Evan-

dro. IV. Universidade Positivo. V. Título.

CDU 2007 606

Page 4: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

IV

TÍTULO: “ESTUDO DA VIABILIDADE DE USO DE REDES NEURAIS ARTIFICIAIS PARA A PREDIÇÃO DO

RENDIMENTO DA FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA”

ESTA DISSERTAÇÃO FOI JULGADA E ADEQUADA COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO

DO TÍTULO DE MESTRE PROFISSIONAL EM BIOTECNOLOGIA INDUSTRIAL (Linha de Pesquisa

Biocombustíveis). A DISSERTAÇÃO FOI APROVADA EM SUA FORMA FINAL EM SESSÃO PÚBLICA DE

DEFESA, NO DIA 19 DE MARÇO DE 2012, PELA BANCA EXAMINADORA COMPOSTA PELOS SEGUINTES

PROFESSORES:

1) Prof. Dr. Prof. Dr. José Angel Rodriguez Leon - (Orientador)

2) Prof. Dr. Wilerson Sturm - (Examinador)

3) Prof. Dr. Daniel Ernesto Rodriguez Fernandez - (Examinador)

CURITIBA – PR, BRASIL

PROFª DRª VANETE THOMAZ SOCCOL

COORDENADORA DO MESTRADO PROFISSIONAL EM BIOTECNOLOGIA INDUSTRIAL

DA UNIVERSIDADE POSITIVO

Page 5: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

V

Dedico esta dissertação a minha esposa amada, meu amor, Dione, pelo

amor, compreensão, apoio, incentivo e pelas horas de companheirismo, por

me apoiar e me mostrar que podemos alcançar nossos sonhos e objetivos.

Mas principalmente por ter sido minha companheira e amiga, por ter estado

sempre ao lado, durante todo caminho que percorri até chegar e por nunca

me deixar desistir.

Page 6: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

VI

Agradecimentos

- Agradeço a Jeová Deus que me deu a vida e me tem abençoado com amor,

saúde e paz.

- À minha família, minha esposa pelo incentivo, apoio e compreensão em

todos os momentos.

- Agradeço aos meus colegas do SENAI, pelo companheirismo nas aulas de

mestrado e principalmente à Silvana e Valdomiro pelas horas de viagens

que compartilhamos juntos.

- Aos professores Saul Nietzsche, Marcelo Barga, Evandro Bona, Vanete

Soccol, pelas sugestões, correções, colaborações e informações.

- Aos funcionários da Universidade Positivo pela ajuda e colaboração.

- À Universidade Positivo pela estrutura oferecida para a realização de

estudos e trabalhos.

- À UTFPR pelo trabalho em conjunto na montagem das redes

Page 7: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

VII

RESUMO

O uso de etanol como combustível é explorado no Brasil como aditivo para a gasolina

desde 1931 quando foi oficialmente regulamentado, e a partir de 1975, com o programa

PROÁLCOOL o país tornou-se o primeiro país no mundo a ter parte de sua frota de

automóveis movidos por este biocombustível. Atualmente a importância da produção de

etanol se justifica pelo seu caráter renovável, por suas vantagens ambientais e econômicas

como substituto de combustíveis fósseis. Somente nos últimos 30 anos, de uso de etanol como

combustível, o país economizou mais de um bilhão de barris de petróleo. O crescente

interesse mundial em produzir fontes de energia renováveis impulsiona o desenvolvimento de

novas tecnologias a fim de aperfeiçoar os processos produtivos diminuindo as perdas

inerentes ao processo o que permitirá produzir mais sem, necessariamente, elevar às áreas de

plantio de cana, antes reservadas a produção de alimentos. Têm-se nos modernos sistemas

computacionais disponíveis hoje uma forte aliada na busca desse aperfeiçoamento, a rede

neural artificial (RNA). O trabalho aqui proposto apresenta a utilização de redes neurais

artificiais na construção de um modelo matemático preditor do rendimento de fermentação.

As entradas utilizadas no modelo foram selecionadas pelo método estatístico de correlação

linear a partir de uma série de parâmetros monitorados em usinas de produção de etanol e

açúcar. Uma análise teórica baseada em informações fornecidas por outros autores foi

necessária para confirmação dos resultados estatísticos. Finalmente, os parâmetros escolhidos

foram testados em três diferentes combinações dentro de uma rede neural perceptron de

múltiplas camadas (MLP- Mult Layer Perceptron), com resultados promissores para o uso

dessa tecnologia em processos envolvendo sistemas biológicos tão complexos como a

fermentação alcoólica.

Palavras chaves: Fermentação Alcoólica, Rendimento de fermentação, Modelo

Neuronal Perceptron de multicamadas.

Page 8: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

VIII

ABSTRACT

The use of ethanol as fuel is explored in Brazil as an additive to gasoline since 1931

when it was officially regulated, and since 1975, with the program PROÁLCOOL the nation

became the first country in the world to be part of its fleet of vehicles powered by this biofuel.

Currently the importance of ethanol production is justified by its renewable character and for

its environmental and economic advantages as a substitute for fossil fuels. Only in the last 30

years of using ethanol as fuel, the country saved more than one billion barrels of oil. The

growing worldwide interest in producing renewable energy drives the development of new

technologies to improve production processes, reducing losses inherent in the process, which

would produce more without necessarily raising the cane growing areas, previously reserved

for food production. Have been in modern computer systems available today, a strong ally in

the pursuit of improvement, the artificial neural network (ANN). The work presented here

shows the use of artificial neural networks to construct a mathematical model that predicts the

performance of fermentation. The entries in the model used was selected by statistical method

of linear correlation from a number of parameters monitored in plants for the production of

ethanol and sugar. A theoretical analysis based on information provided by other authors was

necessary to confirm the statistical results. Finally, the chosen parameters were tested in three

different combinations within a neural network multilayer perceptron (MLP Mult-Layer

Perceptron) with promising results for using this technology in processes involving biological

systems as complex as the alcoholic fermentation.

Keywords: Alcoholic Fermentation, fermentation yield, Multilayer Perceptron Neural

Model.

Page 9: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

IX

ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................1

2 OBJETIVOS ..........................................................................................................................2

2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................................... 2

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................................... 2

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...............................................................................................3

3.1 FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA .................................................................................................. 3

3.1.1 Breve histórico da fermentação alcoólica ......................................................................... 3

3.1.2 Fermentação Alcoólica Em Processos Industriais ............................................................ 5

3.1.3 Fatores físico-químicos e microbiológicos que interferem no rendimento da fermentação

......................................................................................................................................................... 5

3.1.4 Influência Das Condições Ambientais Nos Processos Fermentativos .............................. 6

3.2 CÁLCULO DO RENDIMENTO DA FERMENTAÇÃO ................................................................... 12

3.2.1 Rendimento Estequiométrico ........................................................................................... 12

3.2.2 Rendimento por subprodutos ........................................................................................... 13

3.3 REDES NEURAIS ARTIFICIAIS – RNA. ................................................................................... 15

3.3.1 Treinamento ..................................................................................................................... 15

3.3.2 Perceptron ....................................................................................................................... 16

3.3.3 Perceptron de Múltiplas Camadas .................................................................................. 19

3.3.4 Algoritmo da retropropagação (ou backpropagation) .................................................... 21

3.3.5 O estudo de redes neurais em processos de produção de etanol. ................................... 22

4 MATERIAIS E MÉTODOS................................................................................................. 27

4.1 A NATUREZA DOS DADOS UTILIZADOS ................................................................................. 27

4.2 O TIPO DE PROCESSO DE FERMENTAÇÃO .............................................................................. 30

4.3 A ESCOLHA DOS PARÂMETROS PARA A CONSTRUÇÃO DA REDE NEURAL. ........................... 31

4.3.1 Análise de estatística de correlação ................................................................................ 31

Page 10: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

X

4.3.2 Análise teórica ................................................................................................................. 31

4.3.3 Análise de Sensibilidade .................................................................................................. 32

4.4 A ESCOLHA E A MONTAGEM DA REDE NEURAL .................................................................... 33

4.4.1 Usando redes neurais do tipo perceptron de múltiplas camadas para predizer o

rendimento da fermentação .......................................................................................................... 33

4.5 OS RECURSOS COMPUTACIONAIS ......................................................................................... 34

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................... 36

5.1 RESULTADOS DAS ANÁLISES PARA A ESCOLHA DE FATORES PARA A REDE NEURAL ........... 36

5.1.1 Seleção dos parâmetros da Usina A (A2008) para a montagem da rede neural MLP-1 ... 36

5.1.2 Seleção dos parâmetros da Usina B (B2008, B2009 e B2010). ............................................... 39

5.2 RESULTADOS DAS REDES NEURAIS ...................................................................................... 43

5.2.1 Resultados da Rede Neural MLP-1. ................................................................................ 44

5.2.2 Resultados da Rede Neural MLP-2. ................................................................................ 47

5.2.3 Resultados da Rede Neural MLP-3. ................................................................................ 55

6 CONCLUSÕES ................................................................................................................... 59

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ................ 60

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 61

9 ANEXOS ............................................................................................................................. 68

9.1 ANEXO 1 – INTERPRETAÇÃO DOS DADOS DO LABORATÓRIO INDUSTRIAL E MÉTODOS

ANALÍTICOS ....................................................................................................................................... 68

9.1.1 Percentual de Açúcares Redutores na cana (AR cana) ................................................... 68

9.1.2 Açúcares Redutores Totais (ATR) ................................................................................... 68

9.1.3 Acidez da Cana ................................................................................................................ 68

9.1.4 Dextrana na Cana ........................................................................................................... 69

9.1.5 Percentual de Álcool na Cana ......................................................................................... 69

9.1.6 Quantidade de Bastonetes no Caldo Primário (x10^5). .................................................. 69

9.1.7 Frequência de Paradas de Fábrica ................................................................................. 69

9.1.8 Temperatura Mosto ......................................................................................................... 70

Page 11: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

XI

9.1.9 Percentual de impureza no Mosto ................................................................................... 70

9.1.10 Unidades Formadoras de Colônias no Mosto ................................................................. 70

9.1.11 Mosto Acidez gH2S04/L (titulação) .................................................................................. 70

9.1.12 Mosto % ART ................................................................................................................... 70

9.1.13 Mosto Nitrogênio Amoniacal ........................................................................................... 70

9.1.14 Viabilidade Vinho ............................................................................................................ 71

9.1.15 Tempo de Fermentação ................................................................................................... 71

9.1.16 Rendimento da Fermentação ........................................................................................... 71

Page 12: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

XII

Lista de Figuras

Figura 3.1 - Neurônio biológico. Fonte: Bona (2008). ......................................................................... 17

Figura 3.2 - Topologia de um perceptron simples. Fonte: Eyng (2006). ............................................. 18

Figura 3.3 - Arquitetura de uma rede neural artificial. Fonte: Eyng (2006). ....................................... 20

Figura 3.4- Evolução dos erros de treinamento (cinza) e de teste (preto) durante o treinamento da

RNA. Fonte: Oliveira et al. (2009). .............................................................................................. 22

Figura 4.1- Fluxograma de batelada alimentada. Fonte: adaptado de Melle-Boinot. .......................... 30

Figura 5.1- Comparação rendimento x dextrana B2008 ......................................................................... 42

Figura 5.2 - Parâmetros escolhidos de entrada para rede neural de predição do rendimento da

fermentação MLP-1. ..................................................................................................................... 44

Figura 5.3 - Estrutura da rede MLP-1. ................................................................................................. 45

Figura 5.4 - Representação gráfica da série original (azul) e da prevista pela rede neural (verde) do

rendimento da fermentação para a rede MLP-1............................................................................ 46

Figura 5.5 - Parâmetros escolhidos de entrada para rede neural de predição do rendimento da

fermentação MLP-2. ..................................................................................................................... 47

Figura 5.6 - Gráfico para a escolha da melhor rede. ............................................................................ 48

Figura 5.7 - Estrutura rede MLP-2 (Usina B) MLP-2 7:1-11-8-1:1. .................................................... 49

Figura 5.8 – Histograma do rendimento da fermentação usina A ( número de observações X

rendimento da fermentação). ........................................................................................................ 50

Figura 5.9 - Histograma do rendimento da fermentação usina B ( número de observações X

rendimento da fermentação). ........................................................................................................ 51

Figura 5.10 - Representação gráfica da série original (azul) e da prevista pela rede neural (vermelha)

do rendimento da fermentação para a rede MLP-2. ...................................................................... 52

Figura 5.11 - Resultados com os dados de teste para MLP-2 (seleção). .............................................. 52

Figura 5.12 - Diagrama de estrutura RNA MLP-2 (completo) MLP 19:19-15-13-1:1. ....................... 53

Figura 5.13 - Representação gráfica da série original (azul) e da prevista pela rede neural (vermelha)

do rendimento da fermentação para a rede MLP-2 (completa). ................................................... 54

Figura 5.14 - Estrutura da rede MLP-3 (MLP 11:11-12-4-1:1). .......................................................... 56

Figura 5.15 - Representação gráfica da série original (azul) e da prevista pela rede neural (vermelha)

do teor alcoólico para a rede MLP-3. ........................................................................................... 57

Figura 5.16 - Gráfico com os resultados de teste da MLP-3. ............................................................... 58

Page 13: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

XIII

Lista de tabelas

Tabela 3.1 - Agentes tóxicos e seus efeitos inibidores para Saccharomyces cerevisiae. ..................... 10

Tabela 4.1- Parâmetros analisados da Usina A2008. .............................................................................. 28

Tabela 4.2- Parâmetros analisados na Usina B durante as três safras (2008 a 2010). .......................... 29

Tabela 5.1- Análise de correlação do conjunto de dados usina A (A2008). ........................................... 37

Tabela 5.2 - Análise de correlação do conjunto de dados Usina B (B2008, B2009 e B2010). ..................... 40

Tabela 5.3 - Análise de correlação desconsiderando a safra do conjunto de dados Usina B. .............. 41

Tabela 5.4 - Escolha da rede neural MLP-1. ........................................................................................ 45

Tabela 5.5 - Ranks para os parâmetros segundo coeficientes de sensibilidade e de correlação linear. 47

Tabela 5.6 - Resultado das interações neurais testadas para escolha da MLP-2. ................................. 48

Tabela 5.7 - Parâmetros utilizados na rede neural MLP-2. .................................................................. 49

Tabela 5.8 - Comparação entre a rede MLP-2 e MLP-2 (completo). ................................................... 53

Tabela 5.9 - Número de interações (redes neurais) testadas para escolha da MLP-3. .......................... 55

Tabela 5.10 - Análise de sensibilidade e parâmetros de entrada da MLP-3. ........................................ 56

Page 14: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

XIV

Lista de equações

Equação 3.1: ............................................................................................................................... 4

Equação 3.2 ................................................................................................................................ 7

Equação 3.3 ................................................................................................................................ 8

Equação 3.4 ................................................................................................................................ 8

Equação 3.5 .............................................................................................................................. 12

Equação 3.6 .............................................................................................................................. 13

Equação 3.7 .............................................................................................................................. 13

Equação 3.8 .............................................................................................................................. 13

Equação 3.9 .............................................................................................................................. 14

Equação 3.10 ............................................................................................................................ 14

Equação 3.11 ............................................................................................................................ 18

Equação 3.12 ............................................................................................................................ 18

Equação 3.13 ............................................................................................................................ 19

Equação 3.14 ............................................................................................................................ 19

Page 15: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

1

1 INTRODUÇÃO

Em uma entrevista dada a agência internacional de notícias Reuters (LUNA, 2011), o

então presidente da Petrobrás Biocombustível (PETRÓLEO BRASILEIRO S.A.), Miguel

Rossetto, maior empresa estatal brasileira de combustíveis, mencionou o interesse no

investimento de tecnologias inovadoras na busca de um aumento da produção de etanol.

Rossetto afirmou que um dos desafios é o crescimento vertical, ou seja, investir para

aumentar a produção nas áreas já plantadas. “Hoje produzimos 7 ou 8 mil litros por hectare;

temos que passar para 11 ou 12 mil litros”, acrescentou.

Aumentar a produtividade envolve o desenvolvimento de tecnologias capazes de

aperfeiçoar os processos envolvidos no plantio, corte, transporte da cana-de-açúcar como

também os processos de obtenção do etanol a partir da cana de açúcar. Dentro desses

processos um dos que mais se destacam é o processo de fermentação alcoólica que segundo

Lopes atinge um rendimento que varia de 82 a 91% em relação ao estequiométrico (LOPES,

2006). Rendimento considerado ainda muito baixo para se alcançar um patamar aceitável de

produtividade.

Diante do desafio apresentado e da importância econômica e ambiental relacionada à

produção de etanol como combustível, novas tecnologias devem ser aplicadas ao processo de

fermentação existente. Hoje muito se faz em matéria de monitoração de parâmetros

associados à fermentação alcoólica, no entanto, uma análise precisa e especialista desses

parâmetros ainda se faz necessária. E para essa análise já é possível utilizar de técnicas

computacionais capazes de resolver os complexos sistemas biológicos, tais como modelos

fenomenológicos, redes neuronais e híbridas neuronais (MANTOVANELI, 2005).

A grande vantagem de se utilizar uma rede neuronal é o fato de esta possuir alta

capacidade de ajustar seu desempenho para aproximar-se o mais exatamente possível aos

resultados que ocorrem in loco em processos fermentativos reais, podendo, de certa forma,

prever os resultados mesmo em face de múltiplas variáveis aleatórias.

Outra vantagem mencionada por Mantovaneli (2005) para o uso de redes do tipo

Functional Link é que a estimação dos seus pesos é um problema linear, logo o treinamento

destas redes é rápido e tem convergência garantida, o que facilita bastante a utilização de um

esquema adaptativo.

Page 16: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

2

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo deste projeto é propor um modelo de rede neural capaz de prever o

rendimento da fermentação em função da variação de parâmetros monitorados durante um

processo fermentativo, permitindo assim elaborar estratégias para melhorar o desempenho de

usinas de produção de etanol.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Identificar os principais parâmetros físico-químicos, microbiológicos e de produção

responsáveis pelo rendimento em processos de fermentação alcoólica;

Estudar o uso das redes neurais na descrição do processo de fermentação alcoólica;

Projetar, treinar e validar uma rede neural capaz de predizer com uma taxa de erro de

0,05 na previsão (dados de teste) do rendimento da fermentação.

Page 17: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

3

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA

A fermentação alcoólica é um processo anaeróbico em que as enzimas, no interior da

levedura, realizam uma transformação química do açúcar em etanol e gás carbônico. (LIMA

et al., 2001b)

A transformação de açúcar (glicose), em etanol e CO2, é conhecida como glicólise, e é

uma característica comum a todo organismo vivo. A levedura como ser vivo independente,

realiza a fermentação do açúcar com o objetivo de conseguir a energia química necessária

para sobreviver, sendo o etanol considerado um subproduto desse processo (AMORIM et

al.,1996).

Portanto, para se beneficiar desta característica metabólica desses microrganismos, se

deve compreender melhor as condições ideais para que a célula possa produzir com maior

eficiência esse subproduto que tanto interessa ao homem.

3.1.1 Breve histórico da fermentação alcoólica

A utilização das leveduras pelo homem remonta a mais remota antiguidade, sendo os

produtos da fermentação conhecidos pelos homens. Há mais de 4.000 anos os egípcios

fabricavam o pão e produziam bebidas alcoólicas a partir de cereais e frutas (CAVALIERI et

al., 2003). Jarros de vinho com mais de 7.000 anos de idade foram encontrados em escavações

realizadas nas montanhas de Zagros no Irã e acham-se expostas na Universidade da

Pensilvânia (PHILLIPS, 2000).

No entanto, o entendimento de como os processos envolvidos na fermentação

alcoólica ocorre, foram sendo elucidados com passar das épocas (AMORIM et al., 1996).

Esses microrganismos (leveduras) foram primeiramente observados por Leeuwenhoek

(1632-1723) através de um rudimentar microscópio, ao observar uma amostra de fermentação

de cerveja no ano de 1680.

Em 1815, Gay Lussac propõe uma equação química para descrever o processo de

fermentação alcoólica da glicose, até então considerado uma reação química, dada por:

Page 18: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

4

Equação 3.1:

C6H12O6 = 2C2H5OH + 2CO2

Glicose álcool etílico dióxido de carbono

Em 1818, Erxleben relaciona a fermentação à ação de microrganismos chamados de

levedura, e explicitando que a reação tem o caráter biológico e não químico como muitos

imaginavam na época.

Entre 1834 e 1837, três cientistas, o francês Gagniard-Latour e os alemães Schwan e

Kützing, independentemente chegaram a única conclusão de que a fermentação é realizada

pelos corpos ovais descobertos por Leeuwenhoek. Então propuseram chamar esses

organismos de Saccharomyces ou fungos do açúcar e posteriormente de leveduras. Kützing

justificou a fermentação como um processo associado à multiplicação das leveduras. Algum

tempo depois, Turpin, afirmou que não há fermentação sem multiplicação das leveduras

(ORD e STOCKEN, 1999).

A comprovação do papel vital das leveduras no processo de fermentação veio a ser

reconhecido em 1856, pelo químico francês Louis Pasteur. Naquela época acreditava-se que

as leveduras eram compostos químicos sem vida. Louis Pasteur provou o contrário ao

demonstrar que somente as células viáveis das leveduras (células vivas) eram capazes de se

reproduzir e gerar a fermentação em condições anaeróbicas (ORD e STOCKEN, 1999).

Estava então elucidado o segredo da fermentação alcoólica? Ainda faltava algo mais

para esclarecer esse mistério milenar. Anos depois da morte de Pasteur, mais apropriadamente

em 1897, os irmãos Buchner conseguiram realizar uma fermentação somente com um extrato

de levedura livre de células. Chegaram à conclusão que isso se devia a um elemento ativo

existente no interior da célula (que passou a ser conhecido como enzima), dissolvido no suco

da levedura a qual chamaram de zimasa alcoólica (ORD e STOCKEN, 1999). Finalmente

estava totalmente compreendido o fenômeno da fermentação alcoólica. A partir desse

conhecimento foi possível estudar e aprimorar o processo de fermentação através de melhores

controles sobre as fases reprodutivas e fermentativas das leveduras, suas necessidades

específicas e a influência de fatores externos sobre estas atividades (AMORIM et al., 1996).

Devido à sua importância econômica em processos biotecnológicos a levedura

Saccharomyces pode ser considerada o eucariótico mais estudado e cujo metabolismo é o

mais conhecido (AMORIM et al., 1996).

Page 19: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

5

3.1.2 Fermentação Alcoólica Em Processos Industriais

Trabalhar com microrganismos exige cuidados, pois algumas alterações em condições

ambientais no meio fermentativo podem levar ao colapso ou baixo rendimento de todo o

processo de fermentação. A transformação do açúcar em etanol e CO2 envolve um total de 12

reações em uma determinada sequência específica, sendo cada reação catalisada por uma

enzima em particular. As enzimas são em geral, compostos proteicos muito sensíveis as

variações de temperatura, pH, nutrientes minerais, vitaminas, inibidores, substâncias do

próprio metabolismo, etc. Podendo ter seu desempenho estimulado ou reduzido em razão

desses fatores. (LIMA et al., 2001b)

Em matéria de processos industriais, duas variáveis sofrem constantes alterações: a

matéria-prima e o microrganismo. Mudanças no clima, no tipo de solo, na adubação e até

mesmo a composição do mosto (maior proporção de caldo ou melaço) podem interferir na

matéria-prima. O microrganismo também pode mudar, pois à medida que ocorrem diversas

fermentações pode ocorrer a substituição das leveduras inoculadas por leveduras nativas e

selvagens, que em função de um ambiente mais favorável, se sobrepõem dominando a

fermentação (ANDRIETTA, 1994). Segundo Lima et al. (2001b), esse fenômeno pode ser

constatado pela técnica de cariotipagem que identifica a cepa da levedura pelo seu DNA.

Para cada microrganismo existe uma característica específica relacionada aos parâmetros

cinéticos que descrevem seu metabolismo, originando diferentes situações de rendimento

(ANDRIETTA, 1994).

3.1.3 Fatores físico-químicos e microbiológicos que interferem no rendimento da

fermentação

Obviamente quando se pretende produzir algo, se deseja alcançar o melhor rendimento

possível de matéria-prima e energia gasto neste processo. Para atingir este objetivo, em

processos industriais, é utilizada uma série de mecanismos para controlar os aspectos relativos

à transformação da matéria-prima de forma eficiente evitando desperdícios. Em processos

biotecnológicos as transformações são creditadas a seres vivos microscópicos que, para

cumprir seu trabalho, devem dispor de uma série de fatores ambientais, físicos, químicos e

microbiológicos específicos para alcançar um bom desempenho nessa tarefa (AMORIM et al.,

1996).

Page 20: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

6

Deve-se levar também em consideração o fato de que a ação principal do

microrganismo, no caso uma levedura, é garantir sua sobrevivência e reprodução, sendo o

produto metabolizado somente uma consequência dessas duas tarefas anteriores. Portanto,

cabe ao homem, explorando a capacidade de adaptação da levedura, aumentar a produção de

um determinado metabólito por garantir condições especiais para que esse processo ocorra.

Ter isso em mente leva a um estudo detalhado de como reage um microrganismo diante dos

diversos fatores citados anteriormente. (LIMA et al., 2001a)

3.1.4 Influência Das Condições Ambientais Nos Processos Fermentativos

Segundo descreve Amorim et al. (1996), o desempenho do processo fermentativo é

fortemente influenciado pelo tipo de levedura que está envolvida neste. Portanto, as

características genéticas de um microrganismo tem uma grande relevância quando se trata de

se obter bons resultados em matéria de rendimento alcoólico. Outro aspecto muito importante

a ser considerado está na identificação do efeito que os fatores ambientais têm sobre o

crescimento e formação do produto.

Segundo a literatura, os principais fatores que limitam a produtividade dos

microrganismos chamados de levedura, responsáveis pela fermentação alcoólica aqui

estudada são (AMORIM et al., 1996):

a) Temperatura;

b) Acidez (pH);

c) Nutrientes;

d) Concentração de Etanol;

e) Agentes tóxicos;

f) Pressão osmótica e;

g) Contaminação com outros microrganismos.

Conforme a descoberta feita pelos irmãos Buchner em 1897, as enzimas contidas no

citoplasma celular são as responsáveis pela função de catalisar as 12 reações envolvidas na

transformação do açúcar (glicose) em etanol e gás carbônico, sendo nessa região da célula que

Page 21: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

7

ocorre a fermentação alcoólica. Essas enzimas, denominadas glicolíticas, sofrem a ação de

muitos fatores (nutrientes, minerais, vitaminas, inibidores, substâncias do próprio

metabolismo, pH, temperatura e outros), que de alguma forma podem estimular ou inibir a

atividade enzimática, podendo causar alterações no desempenho do processo fermentativo

proporcionado pelas leveduras. (LIMA et al., 2001b)

O estudo de como cada um desses principais fatores influencia no resultado do

rendimento da fermentação é muito importante para o entendimento dos mecanismos

relacionados à eficiência da levedura em produzir etanol.

3.1.4.1 Efeito da temperatura

O crescimento microbiano e a formação de produto são os resultados de uma série

complexa de reações químicas conhecidas como metabolismo, e como todas as reações

químicas, elas são influenciadas pela temperatura (DALE et al., 1990). O crescimento pode

ser descrito como um balanço entre células que nascem e células que morrem (SCHIMIDELL

et al., 2001), e pode ser descrito conforme equação 3.2.

Equação 3.2:

dX.X .X

dt

Onde

: taxa específica de crescimento celular

: taxa específica de morte celular

Ocorre o crescimento dos microrganismos quando a taxa específica de crescimento

celular é maior que a taxa específica de morte celular. Ambas as taxas dependem da

temperatura. Em geral, em função dessas características pode-se concluir que existe sempre

uma temperatura ótima para cada microrganismo, onde o crescimento microbiano é maior.

Schimidell et al. (2001) definiram que as taxas de crescimento e morte celular

possuem uma relação com a velocidade das reações químicas catalisadas pelas enzimas,

Page 22: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

8

portanto utilizando-se a Equação de Arrhenius, é possível demonstrar qual a relação entre a

temperatura e essas taxas, conforme expostas nas equações 3.3 e 3.4, respectivamente:

Equação 3.3:

aEA.exp

R.T

Equação 3.4:

aE 'A '.

R.T

As temperaturas ótimas para a produção industrial de etanol situam-se na faixa de 26 a

35 ºC. A velocidade da fermentação aumenta com o aumento da temperatura, mas esse

aumento favorece a contaminação bacteriana, aumentando a competição pelo substrato

(glicose) e reduzindo consequentemente o rendimento (LIMA et al., 2001b).

Levando em consideração os fatores citados torna-se de extrema importância o

controle da temperatura, justificando seu monitoramento no processo industrial.

3.1.4.2 Efeito do pH

O potencial hidrogeniônico (pH) é um fator significativo para os processos de

fermentação industrial devido a sua importância, tanto no crescimento da levedura, como na

formação do produto. Pode ser também, um indicativo de contaminação bacteriana, por essa

razão ele deve ser monitorado nas fermentações industriais. (OLIVA-NETO, 2008).

Amorim et al. (1996) indicam que o pH dos mostos industriais encontram-se na faixa

de 4,5 a 5,5 com uma boa capacidade tamponante. As leveduras mantêm sua homeostase de

forma quase independente dos valores de pH do meio e isto as ajuda a se manterem viáveis

mesmo quando, no processo de tratamento ácido, a acidez chega a níveis de pH entre 2 e 3,2.

Este processo visa a diminuição da carga de contaminação bacteriana (LIMA et al., 2001b).

Podem ocorrer variações do pH durante as fermentações por diversas razões, algumas

delas relacionadas a variações devido ao consumo de fontes de nitrogênio, bem como a

variações originadas pela formação de ácidos, tais como acético, láctico, pirúvico, succínico

(DORTA et al., 2006).

Page 23: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

9

3.1.4.3 Efeito da concentração de nutriente

Em uma alta concentração de nutrientes, no caso açúcares, têm-se observado um

aumento na velocidade de fermentação e aumento na produtividade (LIMA et al., 2001b). No

entanto, segundo observado por Amorim et al. (1996), a relação ideal para se obter os

melhores rendimentos, encontra-se entre 3,3 a 3,8 kg de ART (açúcares redutores totais)

mosto e kg de levedura seca. Muito acima desses valores o rendimento começa a declinar

motivado pelo estresse osmótico na levedura ocasionado pela alta concentração de açúcares e

pela alta toxidade do etanol. (BISSON e BUTZKE, 2000; MALACRINÒ et al., 2005).

Outra possibilidade de inibição tem a ver com a concentração de algumas substâncias

específicas que podem estar no meio. Tais substâncias podem ser tanto agentes tóxicos, como

uma alta concentração dos metabólitos produzidos pela própria levedura (AMORIM et al.,

1996).

3.1.4.4 Concentração de etanol

Muitos estudos realizados sobre o aumento de concentração do etanol e produtividade

da levedura Saccharomyces cerevisiae, demonstram o efeito inibidor que altas concentrações

de etanol no substrato ou no meio tem sobre a cinética de fermentação (SILVA, 1997;

CASEY e INGLEDEW, 1976). Isto ocorre em grande parte devido às alterações da

composição da camada lipídica da membrana celular podendo ocasionar o rompimento da

parede celular e a morte do microrganismo. Algumas enzimas como hexoquinase, álcool

desidrogenase, invertase, frutose-1,6-bifosfato aldolase e piruvato descarboxilase são

consideradas por alguns autores como as mais sensíveis a grandes concentrações de etanol

(CASEY e INGLEDEW, 1976; SHARMA e TAURO, 1987; MILLAR et al., 1982). A síntese

de proteínas estressoras pode ser considerada outra razão para essa inibição

(HALLSWORTH, 1998, MARTINI et al., 2004).

Concentrações elevadas de etanol (acima de 10ºGL) limitam o rendimento e

produtividade durante a fermentação industrial (WALKER-CAPRIOGLIO et al., 1985). A

toxidade gerada por estas concentrações tem uma influência sobre a capacidade de a levedura

sobreviver em temperaturas mais elevadas ocasionando a sua morte (CARVALHO,1996).

Page 24: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

10

3.1.4.5 Agentes tóxicos

Muitos minerais, às vezes encontrados no meio, se mostram prejudiciais à

multiplicação e à fermentação, quer inibindo a atividade das enzimas quer alterando a

permeabilidade de membranas celulares (AMORIM et al., 1996).

Na Tabela 3.1 são demonstrados alguns dos efeitos inibidores do crescimento e da

fermentação causados por alguns minerais comumente encontrados durante uma fermentação

alcoólica a partir de cana de açúcar.

Tabela 3.1 - Agentes tóxicos e seus efeitos inibidores para Saccharomyces cerevisiae.

Cátion Efeito

Au, Ag Potentes inibidores do crescimento e fermentação; alteram a permeabilidade da membrana

com perda massiva de K+. Inibe o crescimento com concentração de 10 μM, e inibe

fermentação com 100 μM.

Al Toxico ao nível das membranas. Concentrações de 2 mM diminuem o crescimento.

Cd, Pd, Os Absorção acompanhada da perda de K+ 10 μM inibe o crescimento bloqueando a síntese de

proteínas. A fermentação é inibida com 0,1 mM. Inibe a absorção de cátions bivalentes.

Cr Inibe o crescimento a 10 μM e a fermentação a 30 mM bloqueando a absorção de açúcar.

Hg Inibe a fermentação em 0,1 mM, impede a síntese de ATP na mitocôndria e inibe a invertase.

Causa perda de K+.

Pb, Sn Inibição com 0,1 mM. Efeitos tóxicos diminuídos pela adição de fosfato.

Th 2 mM inibe o crescimento e 40 mM inibe a absorção de açúcar. Ação sobre as membranas

U 10 μM inibe o crescimento e 0,1 mM inibe a fermentação. Bloqueia a absorção de açúcar,

ligando-se aos grupos fosfóricos e carboxílicos das membranas.

Va 0,4 mM inibe o crescimento. Ação semelhante ao U. Em baixas concentrações estimula

síntese de proteínas e de tiamina.

Na, Li Fermentação e crescimento comprometidos com 1 M. Aumentam a energia de manutenção.

F Bloqueia crescimento e fermentação a 4 mM, inibindo enzimas glicolíticas (enolase).

Fonte: Rodney & Greenfield (1984)

Page 25: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

11

3.1.4.6 Pressão osmótica

A elevada pressão osmótica do meio pode aumentar a toxicidade do ácido lático que

em baixa pressão osmótica (0,6) inibe o crescimento de Saccharomyces cerevisiae a partir de

5 g/L. Já em alta pressão osmótica (1,6) inibe a partir de 2,5 g/L. (NGANG et al. 1989).

3.1.4.7 Contaminação

Em um processo industrial de produção de etanol existem muitos focos de

contaminação microbiana, provenientes desde o momento em que a cana-de-açúcar se

encontra no campo até o momento em que o caldo ou mosto entram nos fermentadores. Esses

microrganismos podem ter sobrevivido aos tratamentos de caldo e às condições de pH,

temperatura e produtos inibitórios no meio fermentativo (como antibióticos) e se

estabeleceram nas dornas de fermentação (ANGELIS, 2010).

A existência de bactérias junto com as leveduras no meio fermentativo cria uma

competição entre estas duas espécies pelo substrato, diminuindo a produção de etanol, pois

somente as leveduras têm em sua rota metabólica a transformação do açúcar em etanol e CO2.

Os níveis de bactérias que representam um processo de fermentação sadio encontram-se

próximos de 105 células/mL (ANDRIETTA et al, 2006).

Alcançar uma assepsia completa em processos industriais de fermentação é muito

difícil em razão das dimensões do processo. Portanto é comum encontrar-se contaminação

bacteriana, em especial de Lactobacillus e Bacillus. Dependendo da intensidade dessa

contaminação, ocorre o comprometimento do rendimento do processo fermentativo.

Temperaturas altas de fermentação favorecem a contaminação bacteriana, o aumento do

tempo de fermentação e o estresse da levedura. A contaminação bacteriana está associada ao

aumento da acidez do meio, em razão da formação de ácido láctico e, embora não confirmado

de forma conclusiva, sobre as causas da floculação da levedura (LIMA et al., 2001b).

Até que ponto a contaminação bacteriana pode influenciar no rendimento fermentativo

pode ser observado no trabalho de Serra et al. (1979), que registrou uma queda de 15% do

rendimento devido a ação das bactérias. Alterthum et al. (1984), demonstraram em seus

experimentos, quedas de rendimento na faixa de 14 a 90%, quando os níveis de contaminação

atingiram os valores de 108 a 10

9 cel/mL.

Além dos efeitos prejudiciais causados pela contaminação bacteriana no ambiente

fermentativo, em muitos casos esta ocorre ainda no processo de corte da cana-de-açúcar,

Page 26: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

12

sendo detectada pela presença de dextrana, gerando perdas no rendimento da fermentação. A

causa dessa contaminação se dá principalmente por bactérias do gênero Leuconostoc que são

produtores de biopolímeros de forma gomosa como a dextrana. A dextrana causa perda da

viabilidade, nas células de levedura, levando a necessidade da substituição por novas células

(MUTTON, 2003).

Ficam claros os prejuízos causados pela contaminação bacteriana para a fermentação.

Como contramedida para reduzir ou limitar a proliferação bacteriana, o uso de antibióticos é

comumente aplicado nas usinas de fabricação de etanol (AMORIM et al., 1996).

3.2 CÁLCULO DO RENDIMENTO DA FERMENTAÇÃO

Um fator importante para identificar o desempenho de processos fermentativos e

corrigir problemas na fermentação é o cálculo de rendimento da fermentação.

Existem dois métodos utilizados para isso:

Cálculo de Rendimento Estequiométrico e;

Cálculo de Rendimento por Subprodutos.

Esses dois métodos são descritos nos próximos tópicos.

3.2.1 Rendimento Estequiométrico

O cálculo do rendimento estequiométrico, segundo proposto por Schimidell et al.

(2001), é o observado na equação abaixo:

Equação 3.5:

C12H22O11 H2O 2C6 H12O64CH3 CH2 OH 4CO2

342g sacarose 18g água 2*180g Açúcares invertidos 4*46g etanol 4*44g Gás carbônico

A equação da transformação de glicose a etanol e gás carbônico acima, sem levar em

conta a produção de mais células e de subprodutos é conhecida como equação de Gay Lussac.

Page 27: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

13

Assim, 342 gramas de sacarose produzem 360 gramas de açúcares redutores totais,

que por sua vez produzem 184 gramas de etanol, ou seja, cada 100 gramas de sacarose

correspondem a 53,80 gramas de etanol.

No entanto, essa fórmula não é adequada para o cálculo de rendimento da fermentação

em usinas, pois em uma fermentação, parte dos açúcares presentes no meio é consumida em

reações paralelas necessárias para a síntese de etanol. Outros produtos como glicerol e ácidos

orgânicos (principalmente ácido acético e succínico) podem ser formados (AMORIM, 2005).

3.2.2 Rendimento por subprodutos

O rendimento da fermentação na indústria ( ( )) é usualmente

determinado de acordo com os subprodutos gerados no processo. O cálculo originalmente foi

proposto pelo então Centro de Tecnologia Copersucar (1987) e posteriormente descrito por

Fernandes (2003).

Levando em consideração a formação de subprodutos e seu impacto no cálculo do

rendimento da fermentação utiliza-se as seguintes equações para utilizar no cálculo de

rendimento.

KI = perdas de fermento:

Equação 3.6:

KI =

KG = glicerol produzido

Equação 3.7:

KG =

Kart = perdas de açúcares totais

%FVOLANTE: Porcentagem de

fermento no vinho do volante

GLVT: Porcentagem de álcool

(vol/vol) do vinho turbinado

Glicerol: Teor de glicerol produzido em

%m/v

Page 28: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

14

Equação 3.8:

KART =

Kac = acidez produzida

Método balanço de massas:

Equação 3.9:

KAC=

[ ((

) ) ((

) )]

[

((

)

)]

Onde:

Acidezdorna: Quantidade de ácidos totais na dorna em gH2SO4/L.

Acidezpé: Quantidade de ácidos totais no pé-de-cuba em gH2SO4/L.

Acidezmosto: Quantidade de ácidos totais no mosto em gH2SO4/L.

%FDorna: Porcentagem de fermento na dorna.

%Fpé: Porcentagem de fermento no pé-de-cuba.

ºGLdorna: Porcentagem de álcool (vol/vol) da dorna.

ºGLpé: Porcentagem de álcool (vol/vol) do pé-de-cuba.

Calculados todos os coeficientes, o rendimento fermentativo por este método

de subprodutos será dado pela seguinte equação:

Equação 3.10:

( )

( )

ARRT: teor de açúcares redutores

residuais total.

Page 29: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

15

3.3 REDES NEURAIS ARTIFICIAIS – RNA.

Redes neurais são unidades de processamento de informação compostas por um

conjunto de elementos conectados, unidades ou nós de processamento simples, cuja

funcionalidade baseia-se no funcionamento de um neurônio cerebral. A habilidade de

processamento da rede está na memória armazenada nas conexões dessas unidades, chamadas

de pesos, que são adquiridas por um processo chamado de aprendizagem, a partir de padrões

de treinamento (GURNEY, 1997).

Segundo Haykin (2001), as redes neurais artificiais obtém sua capacidade de

processamento através do que ele chama de “plasticidade” do neurônio em desenvolvimento,

que se assemelha com a maneira como o sistema nervoso natural adapta-se ao seu meio

ambiente. Segundo ele, os neurônios artificiais imitam seus correspondentes naturais a fim de

ajustar o funcionamento da rede neural artificial ao modo como o cérebro realiza uma tarefa

em particular.

3.3.1 Treinamento

O que leva o cérebro interpretar um determinado estímulo externo, na maioria dos

casos, é definido por ligações sinápticas cerebrais reforçadas através do que se conhece como

“experiência” (HAYKIN, 2001). A experiência está ligada intimamente com o aprendizado.

De maneira similar, as redes armazenam o conhecimento adquirido por meio de interações

com o meio ambiente. A capacidade da RNA em fornecer respostas próximas ao alvo

desejado está relacionada à sua capacidade de aprender por exemplos e fazer interpolações e

extrapolações do que podem aprender e uma fase chamada de treinamento (EYNG, 2006).

A estratégia no uso de rede neural para resolver um determinado problema é escolher

uma arquitetura de rede, melhor adaptada para o problema, e um processo de aprendizagem

pelo qual exemplos representativos dos conhecimentos a serem adquiridos são apresentados à

rede que se auto-organiza para integrar, dentro de sua estrutura, a informação a ser

apresentada, ajustando acertadamente o peso sináptico das conexões neurais. A aprendizagem

geralmente requer a exibição, para a rede, de exemplos de aprendizagem muitos milhares de

vezes (THIBAULT et al., 1990).

Na fase de treinamento, a rede extrai informações relevantes de padrões de informação

apresentados a ela, criando assim sua própria representação do problema. O aprendizado é

Page 30: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

16

então feito por meio de ajustes dos parâmetros da rede chamados pesos sinápticos que se

encontram entre as unidades de processamento (neurônios). Ao final do processo de

treinamento, a rede terá adquirido o conhecimento sobre o ambiente e armazenado esse

conhecimento nos próprios pesos (PICOLI, 2006). Um conjunto de regras bem definidas para

a solução de um problema de aprendizado é denominado de algoritmo de aprendizado. Há um

número diversificado de tipos de algoritmos de aprendizado específicos para os diferentes

tipos de Redes Neurais, sendo que a diferença entre um e outro é notada pela forma como os

pesos são ajustados.

Segundo Carvalho et al. (1998), os métodos de treinamento desenvolvidos podem ser

agrupados em três paradigmas principais:

a) Aprendizado Supervisionado: quando é utilizado um agente externo que indica

à rede a resposta desejada para o padrão de entrada;

b) Aprendizado Não Supervisionado (auto-organização): quando não existe um

agente externo indicando a resposta desejada para os padrões de entrada;

c) Reforço: quando um agente externo avalia a resposta fornecida pela rede.

3.3.2 Perceptron

Um neurônio biológico faz uma somatória de todos os estímulos de entrada e produz

um impulso de saída somente se a soma for maior que um determinado valor, denominado

como valor limiar. Os estímulos (sinais de entrada) chegam até o neurônio por meio dos

dendritos, os quais se conectam as saídas de outros neurônios por meio de junções chamadas

sinapses. Os sinais são propagados como ondas pelo axônio da célula e convertidos para

sinais químicos nas sinapses. Estas junções podem alterar a eficiência com que o sinal é

transmitido; algumas sinapses são boas junções, e passam um forte sinal adiante, enquanto

que outras, muito ruins, permitem a passagem de um sinal fraco. Ao receber os sinais

provenientes das diversas entradas o corpo celular dispara, se o total de entradas excederem o

valor limiar (BEALE, 1990).

Page 31: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

17

Figura 3.1 - Neurônio biológico. Fonte: Bona (2008).

Os neurônios artificiais surgiram a partir de estudos relacionados à procura por

dispositivos artificiais capazes de imitar o modelo biológico.

Em 1943, Mcculloch e Pitts construíram um modelo de neurônio artificial baseado na

modelagem de um neurônio biológico e sua capacidade computacional.

No modelo proposto, os dendritos foram substituídos por entradas, as conexões destas

entradas com o neurônio artificial seriam estabelecidas por meio de elementos chamados

pesos, que quando multiplicados às suas respectivas entradas, simulariam as sinapses. Desta

forma, para simular sinapses mais fortes, os pesos aplicados seriam maiores, amplificando o

respectivo sinal de entrada. Dentro do neurônio artificial, uma função de soma foi

incrementada, sendo o seu resultado aplicado a outra função contendo um limiar de ativação.

Sendo alcançado o limiar de ativação o então proposto neurônio artificial reproduziria um

sinal de saída (EYNG, 2006).

Apesar da importância do trabalho de Mcculloch e Pitts (1943), ainda faltava algo para

concretizar o uso do modelo desenvolvido. Faltavam ainda técnicas de aprendizagem para que

o modelo pudesse ser capaz de ajustar seus pesos sinápticos segundo o conhecimento

adquirido durante a aprendizagem. Em 1958 esse problema veio a ser resolvido pelo trabalho

de Frank Rosenblatt. Rosenblatt apresentou um modelo denominado perceptron, composto

Page 32: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

18

por uma estrutura de rede baseada no modelo proposto por Mcculloch e Pitts, mas acrescido

de um algoritmo de treinamento (EYNG, 2006).

A Figura 3.2 demonstra a topologia do perceptron, para uma única saída.

Figura 3.2 - Topologia de um perceptron simples. Fonte: Eyng (2006).

O modelo neural descrito acima inclui um termo limiar, denotado por bk. Este termo

possui a função de causar uma redução na entrada da função transferência, vk.

Desta forma, para o neurônio k, a função de transferência vk corresponde a somatória

das entradas (x1,x2,...,xN), multiplicadas pelos seus respectivos pesos (w1k,w2k,...,wNk),

acrescida do termo limiar (bk) conforme equação 3.11.

Equação 3.11:

Equação 3.12:

( )

Onde:

Page 33: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

19

x1,x2,...,xN= Sinais de entrada.

w1k,w2k,...,wNk= Pesos sinápticos do neurônio k.

bk= Termo Limiar.

φ(vk)= Função de ativação.

vk= Entrada da função de ativação.

O termo limiar, bk, é um parâmetro externo ao neurônio k. Desta forma este termo

pode ser adicionado a somatória da Equação 3.11, na forma de uma entrada adicional x0,

caracterizada por x0 = +1, sendo o peso sináptico a ela associado o próprio bk (wk0 = bk). A

equação, conforme sugere Eyng (2006), pode ser escrita da seguinte forma:

Equação 3.13:

A função de ativação, denotada por φ, é responsável por fornecer o sinal

correspondente à saída do neurônio yk. A função de ativação do perceptron é a função degrau

da Equação 3.14.

Equação 3.14:

( ) {

3.3.3 Perceptron de Múltiplas Camadas

Segundo Haykin (2001), a rede perceptron de múltiplas camadas, ou MLP (Multilayer

Perceptron) como é mais conhecida, consiste de um conjunto de unidades sensoriais que

constituem uma camada de entrada, uma ou duas camadas ocultas de nós computacionais e

uma camada de saída. O sinal se propaga através da rede, no sentido das entradas em direção

as saídas, passando camada por camada da rede.

Page 34: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

20

As redes MLP têm obtido muito sucesso em diversas aplicações onde se faz necessário

o uso de poder computacional para resolver problemas difíceis. Seu grande sucesso deriva de

seu treinamento supervisionado com um algoritmo conhecido como algoritmo de

retropropagação de erro (error back-propagation). Este algoritmo baseia-se na regra de

aprendizagem por correção de erro (HAYKIN, 2001).

A arquitetura apresentada na Figura 3.3 mostra um exemplo de rede neural

“feedforward” completamente conectada, ou seja, cada neurônio em uma determinada camada

está conectado aos demais da camada seguinte.

Figura 3.3 - Arquitetura de uma rede neural artificial. Fonte: Eyng (2006).

A aprendizagem por retropropagação de erro envolve dois passos através das camadas

da rede. Um passo para frente, a propagação, onde um padrão de atividade (vetor de entrada)

é aplicado aos nós sensoriais, meio pelo qual ela se comunica com o ambiente externo, e seu

efeito se propaga camada após camada. Ao final um sinal correspondente à saída emerge

produzido como a reposta real da rede. No passo para trás, os pesos sinápticos são ajustados

de acordo com uma regra de correção de erro. Especificamente, a resposta real da rede é

subtraída de uma resposta desejada (alvo apresentado à rede durante a fase de aprendizado)

FUNÇÃO

ERRO

Page 35: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

21

para produzir um sinal de erro, sendo útil para o algoritmo de aprendizagem

“Backpropagation” (HAYKIN, 2001; EYNG, 2006).

3.3.4 Algoritmo da retropropagação (ou backpropagation)

As redes neurais tem a capacidade de fazer generalizações, geram suas próprias regras

para a compreensão de um determinado problema, com base nos dados obtidos durante uma

série de dados para treinamento. Isto se dá em razão de um algoritmo de aprendizagem, que

atualiza os pesos sinápticos entre as conexões em função dos resultados obtidos durante a fase

de propagação (BONA, 2008).

Em 1986, Rumelhart e Mcclelland propuseram o algoritmo de retropropagação,

também conhecido como regra delta. Nele o objetivo é minimizar o erro gerado entre a

resposta da simulação e a desejada, sendo necessário, o ajuste nos pesos sinápticos associados

às entradas dos neurônios (EYNG, 2006).

Uma apresentação completa do conjunto de treinamento é denominada, época ou

interação, e o processo de aprendizagem continua até os pesos sinápticos e os níveis de

“bias” se estabilizarem e o erro quadrático médio convergir para um valor mínimo

(HAYKIN, 2001). Na Figura 3.4, observa-se um gráfico que demonstra a progressão do Erro

Médio Quadrático em direção a um valor mínimo.

Page 36: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

22

Figura 3.4- Evolução dos erros de treinamento (cinza) e de teste (preto) durante o treinamento da

RNA. Fonte: Oliveira et al. (2009).

Assim, o erro calculado na camada de saída é retropropagado às camadas anteriores,

servindo de base para a modificação de todos os pesos, até que a resposta obtida pela rede seja

satisfatória (HAYKIN, 2001).

3.3.5 O estudo de redes neurais em processos de produção de etanol.

A demanda por combustíveis renováveis e o fato do etanol ser uma das fontes

renováveis de energia mais viáveis, associado, a tecnologia dos motores flex que permite o

uso de qualquer proporção etanol/gasolina, aumentaram significativamente o consumo e a

produção do etanol no Brasil (MANTOVANELI, 2005). O aumento de áreas de cultivo de

cana-de-açúcar tem causado muita preocupação, pois alguns temem que essas áreas de cultivo

avancem sobre terras antes destinadas a produção de alimentos. A baixa eficiência em

produzir etanol por hectare de terra plantada tornou-se uma preocupação que tem levado a

muitos estudos sobre novos métodos e práticas agrícolas, novas cepas de leveduras e mesmo a

técnicas de melhorias dos processos produtivos. Inseridos nesse cenário, encontram-se

estudos relacionados ao uso de redes neurais como ferramentas preditivas e de controle na

otimização e consequente aumento do rendimento na produção e extração do etanol.

Page 37: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

23

Meleiro et al. (2005) utilizaram redes neurais artificiais para desenvolver um

controlador adaptativo multivariável para aplicação em processos biotecnológicos.

Verificaram que “soft-sensors” baseados em redes neurais artificiais e modelos híbridos são

ferramentas computacionais confiáveis para sistemas de identificação “on-line” e podem ser

usados como bons suportes para estratégias de controle adaptativo.

Um dos primeiros trabalhos relacionados à utilização de sistemas não lineares em

processos de fermentação alcoólica foi o realizado por Meleiro (2002), onde propunha a

elaboração de controladores baseados em sistemas neurais. Ele propôs a utilização de redes

neurais em estudos de casos envolvendo dois processos fermentativos para a produção de

etanol. Um deles, baseado num sistema Melle-Boinot, muito utilizado nas usinas brasileiras, e

outro, um sistema alternativo que utiliza apenas uma dorna acoplada a uma centrífuga, um

tanque de tratamento de leveduras e um tanque “flash”, cuja principal função é extrair

continuamente parte do etanol produzido. Os resultados obtidos, segundo o autor,

demonstraram a capacidade superior, em relação a controladores lineares, do uso da técnica

de redes neurais no projeto de controladores de processos biológicos.

Em 2004, Pramanik investigou o uso de técnicas de redes neurais artificiais para

ajudar na predição de parâmetros tais como massa de células e concentração de etanol sobre

condições variáveis de fermentação e comparou os resultados obtidos por seus experimentos

com aqueles obtidos através das simulações gerados pelas redes neurais artificiais. Tratava-se

então dos primeiros testes de desempenho de redes neurais aplicadas à predição de parâmetros

biológicos realizados em laboratório. Para tanto, Pramanik utilizou suco de uva como

substrato em fermentações do tipo batelada e monitorou os parâmetros de entrada tais como

pH, temperatura, concentração de açúcar inicial e também a concentração em função do

tempo. Seus resultados revelaram um ótimo desempenho na predição desses parâmetros, com

especial precisão dentro da faixa dos dados de treinamento da rede neural.

Outro trabalho relevante para o desenvolvimento de redes neurais em processos de

fermentação alcoólica foi o desenvolvido por Mantovaneli (2005). A autora propôs a

modelagem de um sistema híbrido neural para um processo de fermentação alcoólica

utilizando balanços de massa combinados com redes neurais do tipo “Functional Link”. Neste

trabalho também foi implementado um esquema para atualização dos pesos da rede sempre

que esta não descrevesse o comportamento dinâmico da planta. O modelo foi aplicado a uma

planta de produção de etanol e os resultados obtidos foram satisfatórios, pois demonstraram

Page 38: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

24

um bom desempenho diante das perturbações da planta, evidenciando uma boa capacidade de

generalização diante destas perturbações.

Eyng (2006) utilizou controladores “feedforward-feedback”, baseados no modelo

inverso de redes neurais em uma coluna de absorção para a recuperação de etanol perdido

durante a fermentação, devido a complexidade do controle exigido nessa aplicação. Realizou

também uma série de comparações entre o método tradicional de controle PID e o uso de

controladores utilizando redes neurais artificiais. Seu trabalho conclui com a superioridade do

controlador neural, comprovada pelos valores obtidos para os parâmetros ITAE (integral do

erro absoluto ponderada pelo tempo), IAE (integral do erro absoluto) e ISE (integral do

quadrado do erro).

Meleiro et al. (2009) propuseram a elaboração de uma rede neural artificial aplicada a

identificação e controle de um processo de produção de etanol combustível, utilizando como

método um algoritmo de treinamento construtivo. Os métodos construtivos começam com

uma arquitetura mínima de rede e adicionam neurônios até que uma solução adequada seja

encontrada. A determinação da arquitetura de rede inicial nestes métodos é imediata. Além

disso, os algoritmos construtivos sempre efetuam a busca a partir de arquiteturas de dimensão

reduzida, resultando em um menor esforço computacional. (CASTRO et al., 1999). A

proposta de usar um algoritmo de treinamento construtivo foi aplicada com sucesso para

identificar um bioprocesso do tipo MIMO (Múltiplas entradas e múltiplas saídas),

providenciando um modelo multivariável capaz de fielmente descrever uma dinâmica

complexa, mesmo em predições de largas amplitudes.

Rivera et al. (2009) propuseram a utilização de um sistema de controle automatizado

utilizando “software-sensors” (sensores baseados em software) projetados utilizando o

princípio de redes neurais do tipo MLP. Foram utilizados sensores de pH, turbidez,

temperatura e vazão de CO2 como variáveis de entrada da rede neural dos “software-sensors”.

Os parâmetros estimados por essas variáveis de entrada foram concentração de biomassa, de

substrato e de produto. A Figura 3.5 demonstra que a comparação entre os resultados obtidos

pela análise laboratorial e os preditos pela rede neural artificial foram bem próximos.

Page 39: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

25

Figura 3.5- Resultados do uso de redes neurais e “software-sensors”. Fonte Rivera et al. (2009)

Rivera et al. (2010) desenvolveram outro trabalho utilizando ANN-SS (Rede neural

artificial baseada em “software-sensors”), mas neste procuraram demonstrar a eficiência deste

tipo promissor de sensor, também em processos de fermentação contínua. O modelo proposto

no trabalho de Rivera e seus colaboradores contribuiu muito para o entendimento das

complexas relações entre as variáveis de processos em unidades de reação e separação, que é

de importância majoritária para que um processo de produção de etanol atinja um excelente

desempenho.

Todos os trabalhos mencionados neste referencial foram bastante importantes para o

entendimento do uso de redes neurais artificiais em processos fermentativos de produção de

etanol. No entanto, ainda pouco se tem aplicado em termos práticos nas usinas produtoras de

etanol no país. Por estas razões o objetivo deste trabalho é desenvolver redes neurais

artificiais, num enfoque diferente. Propõe-se estudar os dados já levantados pelo sistema de

controle da qualidade das usinas e inseri-los em uma rede neural artificial, com o objetivo de

predizer as melhores condições associadas a um rendimento ótimo e desta forma gerar

subsídios capazes de orientar ajustes nos parâmetros produtivos a fim de alcançar esse

rendimento.

Page 40: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

26

Para tanto, inicialmente se faz necessário uma análise aprofundada das características

físico-químicas dos substratos e do produto final, bem como das características

microbiológicas que interferem no rendimento da fermentação em situações reais, isto é,

fatores comuns nas indústrias e não sob um ambiente controlado como em laboratórios.

Page 41: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

27

4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 A NATUREZA DOS DADOS UTILIZADOS

Muito se tem feito em matéria de modelamento matemático utilizando dados obtidos a

partir de experimentação em laboratório, no entanto, neste trabalho apresentado, optou-se por

utilizar como dados os registros de parâmetros relacionados à matéria prima (tempo de

queima, pureza da cana, ATR do caldo, etc.) e de processo de fermentação (acidez do mosto,

levedo na cuba, temperatura de fermentação, etc.) encontrados nos boletins das médias

semanais provenientes de usinas de produção de etanol combustível a partir de cana de

açúcar.

Esta decisão foi tomada em função desses dados já estarem sendo monitorados pela

maioria das indústrias, com métodos analíticos já conhecidos e implementados. Segundo

AMORIM et al. (1996) o acompanhamento analítico do processo de fermentação deve ser

feito semanalmente e posteriormente analisado, quando necessário ou ao final da safra, por

meio de análise de regressão (linear ou quadrática) múltipla, para poder identificar as causas

de perda ou da variação dos rendimentos de fermentação. No entanto, ainda não foram

desenvolvidos métodos padronizados para essa análise.

Os dados propostos para o estudo referem-se à série histórica da produção semanal de

etanol de cana-de-açúcar, coletadas através de boletins de dados semanais proveniente de duas

usinas distintas agora denominadas, por questões de confidencialidade, de usina A e usina B,

e compreenderam o período de safra referente aos anos de 2008, 2009 e 2010 perfazendo um

total de 3.217 observações.

As observações, também chamadas de registros, foram agrupadas em blocos distintos

e identificadas de forma a se facilitar sua identificação da seguinte forma:

Usina A2008 – Dados semanais provenientes da usina A e referentes ao ano de

2008;

Usina BAno – Dados semanais provenientes da usina B referentes aos anos de

2008, 2009 e 2010.

Os dados representam todos os parâmetros monitorados pelas respectivas usinas no

período considerado neste estudo. Tais parâmetros já são considerados por algum tempo como

Page 42: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

28

impactantes no processo fermentativo (AMORIM et al.,1996) e podem ser observados nas

Tabela 4.1 e Tabela 4.2.

Tabela 4.1- Parâmetros analisados da Usina A2008.

Parâmetro Descrição N.° de registros

A1 Semana 25

A2 Açúcar Redutor da cana 25

A3 ATR cana (Açúcar total recuperável) 25

A4 Acidez da Cana 25

A5 Dextrana Cana 23

A6 % álcool da cana 25

A7 Bastonetes no Caldo Primário 25

A8 Frequência de paradas 25

A9 % ART Açúcar (Açúcares redutores totais) 24

A10 Mosto Impureza % 24

A11 Temperatura do mosto 20

A12 Mosto UFC (Grau de contaminação

bacteriana)

9

A13 Acidez do Mosto (gH2S04/l) 25

A14 Mosto % ART (Açúcares redutores totais) 21

A15 Nitrogênio Amoniacal Mosto 21

A16 Acidez H2SO4/Kg/Brix 24

A17 Temperatura do vinho 21

A18 Bastonetes Vinho 25

A19 % Levedo Vinho 25

A20 Viabilidade Vinho 25

A21 Tempo de fermentação 21

A22 Floculação 25

A23 % ART Biomassa 25

A24 pH levedo 25

A25 Rendimento da Fermentação % 25

Total de registros 583

Page 43: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

29

Tabela 4.2- Parâmetros analisados na Usina B durante as três safras (2008 a 2010).

Parâmetro Descrição N.° de registros

B1 Semana 132

B2 Tempo de Queima (h) 129

B3 Pureza Cana (PCTS) (%) 126

B4 ATR Cana (%) 126

B5 Dextrana Cana (ppm/Brix) 126

B6 ART (T/dia) 126

B7 Mosto impureza (%) 126

B8 ART do mosto (%) 126

B9 Acidez do mosto (gH2SO4/L) 126

B10 N. Amoniacal do mosto (ppm) 123

B11 ARRT do Vinho (%) 123

B12 Teor Alcoólico do vinho (oGL) 126

B13 Acidez do vinho (gH2SO4/L) 126

B14 Glicerol no vinho (%) 123

B15 pH Levedo 123

B16 Levedo na Cuba (%) 123

B17 Levedo na Dorna (%) 126

B18 Bastonetes no vinho (bast./mL) 123

B19 Viabilidade (%) 126

B20 Floculação (%) 123

B21 Rendimento Fermentação (%) 126

Total de registros 2634

Alguma variação existe entre os parâmetros monitorados de uma usina e outra, pois

não há um entendimento claro sobre quais seriam realmente os parâmetros mais apropriados

para um monitoramento eficaz de um processo de fermentação. A evidência disto é observada

nas tabelas acima, onde se observa que a usina B não monitora parâmetros tais como acidez

da cana, temperatura do vinho ou percentual de álcool na cana, que são monitorados pela

usina A.

Page 44: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

30

4.2 O TIPO DE PROCESSO DE FERMENTAÇÃO

O processo de fermentação analisado nas usinas em questão é o de batelada

alimentada com recirculação de levedo que é largamente empregado no Brasil. É uma

evolução do processo desenvolvido na década de 30 pelo engenheiro Boinot nas Usinas de

Melle, na França. Um fluxograma simplificado do processo é apresentado na Figura 4.1,

abaixo:

Figura 4.1- Fluxograma de batelada alimentada. Fonte: adaptado de Melle-Boinot.

O tempo de fermentação, na média, foi de 8 horas para ambas as usinas.

Terminada a fermentação, o mosto fermentado, denominado de vinho ou vinho bruto é

encaminhado para uma dorna volante de vinho bruto e segue para as centrífugas para

separação do fermento.

O cálculo de rendimento de fermentação é feito após o término da fermentação

utilizando a equação que leva em consideração a produção de subprodutos descrita no item

3.2.2 deste trabalho.

Todo o processo de fermentação é monitorado por meio de medições e registros nos

boletins diários e depois as médias desses valores constituem o Boletim de Média Semanal.

Alguns métodos analíticos utilizados para o preenchimento dos parâmetros analisados

nesses boletins semanais são descritos com maior detalhamento no ANEXO 1 – Interpretação

dos dados do laboratório industrial e métodos analíticos

Page 45: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

31

4.3 A ESCOLHA DOS PARÂMETROS PARA A CONSTRUÇÃO DA REDE NEURAL.

Para garantir uma boa escolha para os parâmetros que comporiam as entradas para as

redes neurais a serem montadas e testadas, utilizou-se alguns métodos para analisar a eficácia

dos mesmos:

Análise estatística de correlação;

Análise teórica e;

Análise de sensibilidade.

Tais análises se mostraram importantes para a organização e compreensão das etapas

para alcançar os objetivos desse trabalho.

4.3.1 Análise de estatística de correlação

Foram realizados testes estatísticos de correlação, utilizando-se o software

STATISTICA 7.0 da empresa StarSoft, entre os parâmetros selecionados comparando-se aos

resultados obtidos de rendimento da fermentação.

Duas análises de correlação foram realizadas. A primeira delas foi utilizando os dados

da usina A (A2008) onde se verificou qual seria o grau de correlação obtido utilizando-se o

modelo de Boletim de média semanal utilizado por esta usina. A segunda análise foi realizada

com os dados agregados dos três conjuntos de dados da usina B (B2008, B2009, B2010).

No entanto, somente uma análise estatística não poderia ser suficiente para a

identificação dos parâmetros de entrada da rede neural, para a confirmação e validação dessa

seleção, portanto optou-se, realizar uma análise teórica desses parâmetros já pré-selecionados.

4.3.2 Análise teórica

O objetivo dessa análise é identificar como cada parâmetro selecionado por meio da

análise de correlação, estudada anteriormente, se relaciona dentro de um contexto teórico,

com o desempenho do rendimento da fermentação.

Essa análise ou estudo foi conduzido por meio de uma revisão sobre os temas

relacionados a cada parâmetro e sua influência no desempenho do rendimento da

Page 46: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

32

fermentação, segundo os trabalhos produzidos pelos autores citados nesse trabalho. Trabalhos

produzidos por autores como Amorim et al. (1996) e Ludwig et al. (2001) foram de grande

ajuda na interpretação e seleção dos parâmetros que serviram de entradas a serem

selecionadas para a rede neural.

Análises em separado foram realizadas para os parâmetros utilizados pela usina A e

pela usina B. Dessa forma avalia-se também se existe uma diferença significativa entre os

parâmetros escolhidos pelas duas usinas para monitorar seus processos. Essa diferença pode

ser identificada quer seja pelos índices de correlação, quer seja pelos resultados obtidos na

aplicação da rede neural.

4.3.3 Análise de Sensibilidade

A análise de sensibilidade identifica quais a variáveis consideradas mais importantes

para uma rede neural em particular. Ela pode dar um importante conhecimento sobre a

utilidade das variáveis individualmente. Usualmente esta análise é usada para identificar quais

as variáveis de entrada que podem seguramente ser suprimidas de uma rede neural.

Para definir a sensibilidade de cada variável dentro de uma rede neural em particular,

usa-se o conceito de que cada variável é “dispensável” (HUNTER et al., 2000). Desta forma,

o software que executa esse teste (Statistica v. 7), calcula preliminarmente os erros da rede e

sucessivamente executa uma nova rodada da rede neural utilizando um valor nulo para a

variável em teste. A influência dessa variável dentro da rede neural então é mensurada pela

diferença entre os resultados dos erros, antes e depois do teste, definindo então a importância

(RANK) e o grau de sensibilidade (RATIO).

Essa análise foi realizada após a montagem das redes neurais para ajustar os resultados

das análises acima descritas, em função de um possível erro de critério na escolha dos

parâmetros da rede neural causada pelo comportamento não linear de alguns parâmetros

monitorados pelas usinas. Um exemplo é a temperatura do mosto, que muito abaixo ou muito

acima do ideal para a atividade metabólica da levedura, causa uma perda no rendimento da

fermentação (AMORIM et al.,1996).

Page 47: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

33

4.4 A ESCOLHA E A MONTAGEM DA REDE NEURAL

As Redes Neurais, ou redes neurais artificiais para sermos mais precisos,

representam uma tecnologia que tem raízes em muitas disciplinas: neurociência, matemática,

estatística, física, ciência da computação e engenharia (HAYKIN, 2001). As redes neurais

aplicam-se em diversos campos. Neste contexto, são muitos os tipos de redes neurais que

existem, sendo cada uma mais adequada a uma situação particular.

4.4.1 Usando redes neurais do tipo perceptron de múltiplas camadas para predizer

o rendimento da fermentação

Neste trabalho foi utilizada uma das mais conhecidas e utilizadas redes neurais, a rede

do tipo Perceptron de Múltiplas Camadas (em inglês Multilayer Perceptron ou simplesmente

MLP). A rede MLP tem sido utilizada para resolver problemas difíceis, através de seu

treinamento supervisionado com um algoritmo muito popular, conhecido como algoritmo de

retropropagação de erro (HAYKIN, 2001). Este algoritmo é baseado na regra de

aprendizagem por correção do erro. Essas características, juntamente com a habilidade de

aprender da experiência através do treinamento, tornam esse modelo mais adequado ao

processo por permitir que se utilizem os dados experimentais para o treinamento, validação e

teste.

Depois de realizada a seleção dos parâmetros nas análises de correlação e análise

teórica, descritas nos itens 4.3.1 e 4.3.2, os parâmetros selecionados foram agrupados em

planilhas identificadas pela usina e pelo ano em que foram coletadas. No caso dos parâmetros

da Usina B, todos os anos foram ajuntados de tal forma que constituíssem um só conjunto de

dados.

Aleatoriamente foram selecionados os dados contendo os parâmetros dessas planilhas.

Segundo Haykin (2001), a aleatoriedade garante que os exemplos sucessivos apresentados à

rede em uma época, raramente pertençam à mesma classe. Esses dados foram organizados

segundo a divisão abaixo:

80% dos dados foram utilizados para treinamento da rede;

10% validação da rede, processo pelo qual se obteve o desempenho da rede neural e;

10% teste.

Page 48: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

34

Algumas configurações de rede neural foram realizadas seguindo alguns objetivos

traçados para determinar a melhor predição dos resultados de rendimento. Abaixo segue a

descrição das redes montadas e suas características:

Rede Neural MLP-1 a partir dos parâmetros selecionados da usina A, para determinar

o desempenho dos parâmetros monitorados por essa usina com relação à predição do

rendimento da fermentação;

Rede Neural MLP-2 a partir dos parâmetros selecionados da usina B, para determinar

o desempenho dos parâmetros monitorados por essa usina com relação à predição do

rendimento da fermentação e sua variação em função dos anos (2008, 2009 e 2010);

Rede Neural MLP-3 utilizando os parâmetros da usina B usando o teor alcoólico (grau

GL) como saída para a rede neural.

As redes neurais seguem as seguintes características:

Rede: Perceptron multicamadas (MLP).

Normalização: mapminmax (entrada e saída).

Amostragem aleatória: 80% treinamento; 10% validação; 10% teste.

Funções de ativação: camada oculta (tangente hiperbólica); camada de saída (linear).

Escolha da melhor rede: coeficiente de correlação.

Função de erro: MSE (erro médio quadrático).

Como o objetivo desta rede é de predizer o rendimento da fermentação, sendo,

portanto um problema de regressão é proposto o uso do MSE e o coeficiente de correlação r,

como parâmetros para a escolha da melhor RNA. Para a avaliação de desempenho da rede foi

escolhido como critério a taxa de erro de testes. A taxa de erro de testes é obtida no final da

fase de teste e determina o grau de confiabilidade das predições feitas pela rede.

4.5 OS RECURSOS COMPUTACIONAIS

Os dados provenientes dos processos de fermentação fornecidos pelas usinas foram

registrados de forma manual, pelos analistas de laboratório, logo após as análises terem sido

Page 49: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

35

realizadas em triplicata, registrando-se a média das medições em planilha do Excel formato

xlsx.

Para as análises estatísticas foi utilizado o software STATISTICA da empresa StarSoft,

versão 7.0 licenciado para a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

A montagem e simulação da rede neural foram realizadas por meio do software

MATLAB versão R2007b utilizando o toolbox Neural Network licenciado para a

Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

Outras análises importantes neste trabalho foram feitas a partir do software estatístico

Minitab versão 16 versão student licenciado para o autor.

O computador utilizado nas simulações é um HP ProBook Core i5, 4 Gigabytes de

memória RAM e hard disc de 380 Gigabytes, Sistema operacional Windows Seven

Professional.

Page 50: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

36

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esta seção apresenta a seleção dos parâmetros que devem compor as entradas da rede

neural utilizando-se dos métodos de análise de correlação linear e análise teórica já descrita

neste trabalho. Também relatam os resultados obtidos pelas redes neurais montadas fazendo

comparações entre as redes e discute sobre o uso destas na determinação de rendimento da

fermentação ou na determinação do teor alcoólico do vinho. Propõe um modelo para

determinação de um preditor de rendimento da fermentação, usando uma combinação de

redes neurais do tipo MLP, compostas pelos principais componentes considerados no cálculo

de rendimento de fermentação por subprodutos, hoje utilizados pelas usinas de produção de

álcool.

5.1 RESULTADOS DAS ANÁLISES PARA A ESCOLHA DE FATORES PARA A REDE NEURAL

O sucesso na montagem de uma rede neural por vezes é atribuído a algum

conhecimento prévio que se tem sobre o comportamento das variáveis de entrada e a variável

de saída. Há certa verdade sobre isso, de forma que o processo de aprendizagem por exemplos

pode ser generalizado para incluir informações prévias que se tem sobre a função que seria

incluída no processo de aprendizagem (ABU-MOSTAFA, 1995). No caso específico,

procurou-se incluir algum conhecimento prévio obtido das análises de correlação entre os

parâmetros selecionados e confirmá-los por meio de um estudo detalhado sobre o

comportamento desses com relação ao rendimento da fermentação. Os resultados são

relatados nas seções subsequentes.

5.1.1 Seleção dos parâmetros da Usina A (A2008) para a montagem da rede neural

MLP-1

O coeficiente de correlação de Pearson foi utilizado para a determinação da força de

correlação entre os parâmetros selecionados e o rendimento da fermentação. Sendo a

definição de força de correlação baseadas em valores numéricos que variam entre -1 e 1 e:

0,70 positivo ou negativo indica uma forte correlação.

0,30 a 0,70 positivo ou negativo indica correlação moderada.

Page 51: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

37

0 a 0,30 fraca correlação.

Na Tabela 5.1 podem ser observados os fatores escolhidos que mais se correlacionam

(correlação maior que ± 0,70) com o rendimento da fermentação:

Tabela 5.1- Análise de correlação do conjunto de dados usina A (A2008).

Parâmetro Descrição Correlação com Rendimento da

Fermentação

A4 Acidez da cana 0,79

A9

A13

% ART para açúcar

Acidez do mosto

-0,88

0,89

A17 Temperatura máxima do vinho 0,83

A11 Temperatura do mosto 0,77

A15

A22

Nitrogênio Amoniacal no mosto

Floculação

-0,77

-0,71

Os parâmetros selecionados acima demonstram haver uma relação forte entre eles e o

rendimento da fermentação. No entanto, um conjunto de dados de 583 registros, que

representam uma só safra, pode ser considerado pequeno e estatisticamente inconclusivo,

podendo levar a uma interpretação errônea sobre se esses são realmente os parâmetros chaves

para a montagem de um modelo para uma rede neural, capaz de predizer o rendimento da

fermentação.

Esses sete parâmetros foram então selecionados, para a análise teórica cujos resultados

são relatados a seguir:

A4 - Acidez da cana influi positivamente no rendimento (ρ=0,79):

Segundo Ripoli e Ripoli (2004) a acidez é uma característica que pode ser atribuída

para estabelecer o padrão de qualidade do caldo de cana e deve apresentar valor inferior a

0,80 de acidez sulfúrica. Portanto, elevados valores de acidez estão relacionados a fatores

prejudiciais a qualidade da cana-de-açúcar. A deterioração da cana é um fator que diminui a

Page 52: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

38

qualidade da matéria prima. Durante o período de armazenamento, esta degradação, é

caracterizada pelo aumento dos níveis de dextrana e acidez (TASSO JÚNIOR et al., 2009).

A9 - Porcentagem ART para açúcar influi negativamente no rendimento (ρ= -0,88):

O aumento da concentração de açúcares, consequentemente eleva a velocidade de

fermentação, resultando em perdas da atividade de transporte de açúcar, produzindo menos

etanol. O estresse induzido pelo aumento da osmolaridade externa leva a redução em

crescimento e perda da viabilidade das células das leveduras, devido às perturbações no

gradiente osmótico através da membrana plasmática. Isto leva, por sua vez, a perdas em

volume das células que se contraem por causa de diferenças em pressão osmótica entre o

exterior e o interior das células (SOUZA, 2009). As concentrações de açúcar encontradas

nesta usina estavam acima da média recomendada para uma fermentação ótima que se

encontram entre 18 a 20 º Brix (LIMA et al., 2001b).

A13 - Acidez do mosto influi negativamente no rendimento (ρ= -0,88):

Teores altos de acidez no mosto acima de 1,50 a 2,00g H2SO4/litro é indicativo de

caramelização, sinal de brix do mel muito alto e pureza baixa do mosto, originando baixo

rendimento da fermentação. A acidez pode estar relacionada também, com a contaminação

bacteriana e a competição pelo substrato, entre levedura e bactéria, reduzindo a quantidade de

açúcares transformados em etanol (AMORIM et al.,1996).

A17 e A11 - Temperatura máxima do vinho e no mosto influem positivamente no

rendimento (ρ= 0,83 e ρ= 0,77 respectivamente):

A temperatura na dorna deve ser mantida entre 33 a 35ºC. Temperaturas muito baixas

atrapalham o metabolismo das leveduras e temperaturas altas favorecem a infecção

bacteriana. No caso específico, a temperatura variou no processo entre 21 e 35ºC, o que indica

que o aumento da temperatura aproximava a operação dos valores ótimos.

A15 - Nitrogênio Amoniacal no mosto influi negativamente no rendimento (ρ= -

0,77):

Observa-se uma multiplicação excessiva da levedura notadamente quando os mostos

apresentam elevados teores de nitrogênio amoniacal. Tal crescimento desvia parte

significativa do açúcar, não só para a formação da biomassa em si, como também para o

Page 53: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

39

glicerol acoplado a esse crescimento (AMORIM et al.,1996). Outro motivo para o aumento do

nitrogênio amoniacal pode ser a própria contaminação bacteriana.

A22 - Floculação influi negativamente no rendimento (ρ= -0,71):

A formação de flocos compromete a conversão de açúcar em álcool e CO2, pela redução

da superfície de contato direto entre as células e o meio (MUTTON et al., 2004). Este

fenômeno pode causar perda de células na centrífuga e o consequente gasto de substrato para

a reposição celular, determinando assim, queda no rendimento alcoólico. A floculação

dificulta o contato entre o antibacteriano usado no processo e a bactéria causando o aumento

desses contaminantes, que provocam um aumento de acidez, afetando a qualidade do álcool

produzido, seja como combustível ou para a indústria de bebidas alcoólicas (LUDWIG et al.,

2001).

Tendo havido comprovação matemática e teórica, os parâmetros acidez da cana, % ART

açúcar, acidez do mosto, temperatura máxima do vinho e no mosto, N2 amoniacal e floculação

foram escolhidos para compor a entrada da rede neural MLP-1 cujos resultados são

apresentados na seção 5.2.1 desse trabalho.

5.1.2 Seleção dos parâmetros da Usina B (B2008, B2009 e B2010).

Os anos referentes às safras monitoradas pela usina B foram consolidados em uma

única planilha contendo 2634 registros. Essa medida foi assim tomada para obtermos um

componente temporal associado ao rendimento da fermentação. Esse componente foi

identificado pelo parâmetro safra (B22) e sua correlação também foi considerada em uma

primeira análise de correlação.

Na Tabela 5.2 seguem os fatores que mais se correlacionam com o rendimento da

fermentação segundo a primeira análise:

Page 54: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

40

Tabela 5.2 - Análise de correlação do conjunto de dados Usina B (B2008, B2009 e B2010).

Parâmetro Descrição Correlação com Rendimento da

Fermentação

B22

B10

B14

B3

Safra

N. Amoniacal do mosto (ppm)

Glicerol no vinho

Pureza Cana (PCTS) (%)

0,5

-0,47

-0,28

0,26

B5

B8

Dextrana Cana (ppm/Brix)

ART do mosto (%)

- 0,20

- 0,03

B11 ARRT do Vinho (%) -0,27

B19

B7

Viabilidade (%)

Mosto impureza (%)

0,20

-0,25

Os resultados dessa primeira análise de correlação para os parâmetros da usina B

demonstraram uma correlação bem inferior aos resultados obtidos pela usina A,

demonstrando uma possível capacidade inferior à primeira usina, com relação ao

monitoramento do processo fermentativo, utilizando parâmetros pouco relacionados com o

rendimento da fermentação. Outro aspecto a ser considerado é o fato de que o parâmetro com

maior correlação positiva ao rendimento da fermentação, ter sido a safra, levando à conclusão

equivocada de que outros fatores monitorados pelos demais parâmetros não teriam influência

significativa desde que o ano da safra fosse mais recente.

Como no caso em questão, houve uma melhora do rendimento através dos anos

considerados (2008, 2009 e 2010), algo que influenciou a análise estatística. O parâmetro

safra, foi desconsiderado, em uma segunda análise de correlação e na Tabela 5.3 está

reportado os resultados dessa segunda análise.

Page 55: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

41

Tabela 5.3 - Análise de correlação desconsiderando a safra do conjunto de dados Usina B.

Parâmetro Descrição Correlação com Rendimento da

Fermentação

B3

B5

B7

B10

B11

B14

B19

Pureza da cana

Dextrana Cana (ppm/Brix)

Mosto impureza (%)

N. Amoniacal do mosto (ppm)

ARRT do Vinho (%)

Glicerol no vinho

Viabilidade (%)

0,27

- 0,20

-0,25

-0,47

-0,28

-0,25

0,21

Os parâmetros acima mencionados representam os que apresentaram a maior correlação

linear com o rendimento. Portanto foram escolhidos para a análise teórica, onde um estudo

mais profundo sobre o seu comportamento e sua relação com o rendimento da fermentação

pode ser observado nos itens abaixo descritos:

B3 - Pureza Cana (PCTS) (%) influi positivamente no rendimento:

A pureza da cana é determinada pela relação entre o Pol % Cana e o Brix % Cana,

Cálculo: ((Pol % Cana * 100) / Brix % Cana) e é um indicador de qualidade a ser obtido no

mosto usado na fermentação. Esse parâmetro pode ser omitido se o parâmetro impureza do

mosto estiver sendo considerado.

B5 - Dextrana Cana (ppm/Brix) influi negativamente no rendimento :

A produção de goma por microrganismos tem contribuído para perdas de açúcar e

dificuldade operacional, considerando que o Leuconostoc mesenteroides é o principal agente

formador de goma. Porém outros grupos estão associados, como o Bacillus, Aerobacter,

Steptococcus, Enterobacter aerogenes, E. cloacae. As espécies Bacillus subtilis, Bacillus

licheniformis e Bacillus polymyxa também podem produzir gomas levana ou dextrana. Vários

autores constataram a presença de fermentações paralelas a fermentação alcoólica devido a

Page 56: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

42

contaminantes. Estes agentes causam perdas no rendimento fermentativo, através da produção

de ácidos, acético, lático e butírico e gomas dextrana e levana (OLIVA-NETO, 1995).

A Figura 5.1 indica a influência da dextrana no rendimento. Observa-se que na

amostra 23 um menor nível de dextrana contribuiu para o maior rendimento da fermentação e

na amostra 34 um nível maior de dextrana resulta em baixo rendimento.

Figura 5.1- Comparação rendimento x dextrana B2008

B7 - Mosto impureza (%) influi negativamente no rendimento:

A impureza do mosto é considerada o percentual de não açúcares que compõem o

mosto. Este percentual representa a quantidade de terra e bagacilho que podem encontrar-se

misturada no mosto. Um percentual alto de impurezas no mosto causa a produção de espuma

pelas leveduras, favorecendo também o surgimento de contaminação e consequentemente a

perda de rendimento da fermentação (AMORIM et al.,1996).

B10 - Nitrogênio Amoniacal do mosto influi negativamente no rendimento (ρ= -

0,48):

37332925211713951

92

91

90

89

88

Observation

Indiv

idual

Value

_X=89,948

UCL=92,009

LCL=87,886

1

I Chart of Rendimento Fermentação (%)

37332925211713951

3000

2000

1000

0

-1000

Observation

Indiv

idual

Value

_X=1017

UCL=2746

LCL=-712

11

I Chart of Dextrana Cana (ppm/Brix)

Page 57: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

43

Essa correlação confirma a conclusão tirada na Usina A.

B8 e B11 - ART do mosto (%) e ARRT do Vinho (%) influem positivamente e

negativamente no rendimento:

Neste caso houve um erro na definição dos parâmetros, pois o parâmetro ART indica

os açúcares redutores totais, incluindo os não fermentescíveis, e o ARRT do vinho representa

os açúcares redutores residuais totais, resultado final da fermentação. Entre os açúcares

redutores totais podem existir açúcares não fermentescíveis que restarão no final da

fermentação como ARRT. Para se obter, as dimensões corretas de quanto açúcar realmente

pode ser transformado em etanol ou biomassa, propõe-se trabalhar com a diferença desses

dois parâmetros, criando um novo parâmetro, denominado açúcares fermentescíveis, tendo

esse parâmetro uma correlação positiva com relação ao rendimento da fermentação.

B14 - Glicerol no vinho influi negativamente no rendimento:

Esta correlação foi considerada correta. A produção de glicerol na fermentação

alcoólica é bastante conhecida e considerada uma fonte de perda de açúcar, já que uma parte

deste é utilizada para a produção do mesmo. A produção de glicerol está associada ao

crescimento da biomassa, assim sendo uma reação que compete com a produção de etanol,

prejudicando o rendimento da fermentação (AMORIM et al.,1996).

B19 - Viabilidade (%) influi positivamente no rendimento:

Serra et al. (1980) avaliaram as condições de controle de fermentação e determinaram

que há uma correlação positiva entre a viabilidade da levedura e o rendimento

fermentativo, mostrando a necessidade de controle sobre os fatores que influem na

viabilidade celular. No entanto, a viabilidade comportou-se nesse caso, de forma inversa ao

que descrito por Serra et al..

5.2 RESULTADOS DAS REDES NEURAIS

Os resultados das redes neurais são apresentados através de gráficos e tabelas que

demonstram o desempenho, valores correspondentes ao erro médio quadrático (MSE), o

coeficiente de correlação (r) e a taxa de erro de testes, associado a comentários apropriados

Page 58: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

44

sobre o desempenho da rede em relação ao alvo desejado e em relação ao desempenho das

outras redes aqui testadas.

5.2.1 Resultados da Rede Neural MLP-1.

Uma vez selecionados os parâmetros a serem testados (Figura 5.2), os mesmos foram

inseridos no módulo de redes neurais artificiais do software STATISTICA V.7.

Figura 5.2 - Parâmetros escolhidos de entrada para rede neural de predição do rendimento da

fermentação MLP-1.

As simulações feitas no software foram analisadas utilizando-se diferentes quantidades

de interações até se alcançar os melhores parâmetros, isto é, a correlação mais próxima de um

e o menor MSE.

Sendo testadas inúmeras configurações, a rede de melhor desempenho foi uma

composta da seguinte estrutura: 6 neurônios na camada de entrada, duas camadas ocultas com

6 neurônios cada, e um neurônio na camada de saída. Todos os neurônios tem função de

ativação sigmoidal. O algoritmo utilizado para treinamento foi de retro propagação com

momentum com uma taxa de aprendizagem de 0,01 e taxa de momentum de 0,01. A estrutura

da rede pode ser observada na Figura 5.3.

Rendimento da

fermentação

% ART açúcar

Acidez da cana

Acidez do mosto

Temperatura máxima do

vinho Temperatura do mosto

N2 amoniacal

Floculação

Page 59: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

45

Figura 5.3 - Estrutura da rede MLP-1.

A escolha da melhor rede é avaliada por dois parâmetros selecionados e abaixo

representados pelo erro médio quadrático (MSE) e pelo coeficiente de correlação (r),

conforme pode ser verificado na Tabela 5.4:

Tabela 5.4 - Escolha da rede neural MLP-1.

MLP-1

Erro Médio -0,20823

MSE 1,27653

Erro médio Absoluto 0,78698

Taxa de desvio padrão 0,65891

Correlação 0,79175

Page 60: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

46

Na Figura 5.4, o gráfico evidencia uma aproximação entre os valores reais e os

preditos pela rede neural. No entanto, como indica esse mesmo gráfico, existem pontos onde a

rede não foi capaz de detectar com exatidão o comportamento da rede; nesse quesito estão os

pontos 1, 6, 14, e 20 que, em função de seu distanciamento, acabaram contribuindo para um

MSE de 1,27.

Figura 5.4 - Representação gráfica da série original (azul) e da prevista pela rede neural (verde) do

rendimento da fermentação para a rede MLP-1.

A análise de sensibilidade pode abrir um caminho para futuros esforços quanto a

melhora do desempenho, por indicar de que pelo menos um dos parâmetros escolhido não

tenha sido o mais apropriado (% ART açúcar).

Na Tabela 5.5 é apresentado uma classificação (Ranks) dando a importância para cada

parâmetro segundo a análise de sensibilidade (Rank 1) e segundo a análise de correlação

(Rank 2). Observa-se que não foi necessário o parâmetro % ART açúcar para montagem da

rede, e os componentes com maior significância para a rede não são necessariamente os de

maior correlação linear.

82

84

86

88

90

92

94

96

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Ren

dim

ento

da

ferm

enta

ção

%

Semanas

Rendim.Fermen. %

MLP-1 (50)

Page 61: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

47

Tabela 5.5 - Ranks para os parâmetros segundo coeficientes de sensibilidade e de correlação linear.

Mosto Nitro.

Amoniacal

Vinho

Temp.

Máxima

Floculação Temperatura

Mosto

Mosto

Acidez

gH2S04/L

Acidez da

Cana

% ART

açúcar

Rank 1 1 2 3 4 5 6 n/a

Sensibilidade 1,41630 1,06248 1,05420 1,00964 1,00272 0,95106 n/a

Rank 2 5 3 7 6 1 4 2

Correlação 0,77 0,83 0,71 0,77 0,89 0,79 0,88

5.2.2 Resultados da Rede Neural MLP-2.

O mesmo procedimento realizado para a montagem da rede MLP-1 foi repetido

também para rede MLP-2. No entanto, os parâmetros selecionados, em função de diferenças

de monitoração entre as usinas, mostraram-se distintos. Há também de se destacar que o

número de registros para cada parâmetro é bem maior, possibilitando o teste de uma maior

quantidade de configurações e estruturas de redes.

A Figura 5.5 mostra os parâmetros selecionados para compor as entradas da rede

neural MLP-2.

Figura 5.5 - Parâmetros escolhidos de entrada para rede neural de predição do rendimento da

fermentação MLP-2.

Várias configurações de rede e interações foram sistematicamente testadas até se

encontrar a interação com melhor desempenho (o gráfico da Figura 5.6 mostra as simulações

Rendimento da

fermentação

N2 amoniacal no mosto

Pureza da cana

Dextrana

Glicerol no vinho

% ARRT do vinho

Viabilidade

Mosto impureza

Page 62: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

48

realizadas em diferentes números de interações). Os critérios de seleção utilizados foram um

maior valor de r (coeficiente de correlação) e menor erro médio quadrático (MSE). Os

valores encontrados podem ser visualizados na Tabela 5.6.

Figura 5.6 - Gráfico para a escolha da melhor rede.

Tabela 5.6 - Resultado das interações neurais testadas para escolha da MLP-2.

Interações r MSE

10 0,59 1,02

20 0,61 1,01

30 0,67 0,96

40 0,53 1,09

50 0,699 0,93

60 0,71 0,91

70 0,64 0,98

80 0,65 0,98

100 0,56 0,84

150 0,75 0,85

200 0,59 1,04

250 0,7 0,9

300 0,66 0,98

400 0,638 0,98

500 0,726 0,89

1000 0,71 0,89

0,75

0,85

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

10 20 30 40 50 60 70 80 100 150 200 250 300 400 500 1000

Número de interações

r

MSE

Page 63: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

49

A melhor configuração da MLP-2, utilizando os parâmetros selecionados, foi

alcançada com um número de 150 interações (r = 0,755 e um MSE = 0,855), tendo uma

estrutura formada por uma camada de entrada composta de 7 neurônios, uma camada oculta

de 11 neurônios, outra camada oculta intermediária de 8 neurônios e um neurônio na camada

de saída (Figura 5.7). Os sete neurônios de entrada estão conectados aos mesmos sete

parâmetros selecionados nas análises propostas anteriormente neste trabalho (Figura 5.5).

Figura 5.7 - Estrutura rede MLP-2 (Usina B) MLP-2 7:1-11-8-1:1.

Os parâmetros selecionados pela rede neural MLP-2 estão descritos em ordem de

importância na Tabela 5.7.

Tabela 5.7 - Parâmetros utilizados na rede neural MLP-2.

N.

Amoniacal

do mosto

(ppm)

Pureza

Cana

(PCTS)

(%)

ARRT do

Vinho

(%)

Mosto

impureza

(%)

Viabilidade

(%)

Glicerol

no vinho

(%)

Dextrana

Cana

(ppm/Brix)

Rank 1 2 3 4 5 6 7

Ratio 1,443728 1,376896 1,286733 1,234084 1,203130 1,123687 1,094810

Page 64: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

50

Uma comparação entre as redes neurais MLP-1 e MLP-2, demonstra que apesar de

ambas apresentarem correlações próximas (MLP-1 r = 0,79 e MLP-2 r=0,75), o MSE da rede

neural da usina B (MSE=0,85) foi significativamente menor se comparado com o da usina A

(MSE=1,276). Esses valores em si não servem para afirmarmos com certeza de que os

parâmetros monitorados pela usina B são melhores para a determinação do rendimento que os

da usina A, pois o MSE de ambas as usinas foi afetado pela amostragem retirada de cada

usina. Como da usina A foram somente coletados dados referentes a somente um ano (safra),

este efeito pode ser notado na comparação observada no histograma dos resultados de

rendimento de fermentação das duas usinas ( Figura 5.8 e Figura 5.9)

Histogram (Spreadsheet em Redes neurais_MLP1 6v *20c)

Rendim. Fermen. % = 20*1*normal(x; 91,012; 1,9877)

86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96

Rendim. Fermen. %

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

No

of

ob

s

Figura 5.8 – Histograma do rendimento da fermentação usina A ( número de observações X

rendimento da fermentação).

Page 65: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

51

Histogram (Spreadsheet em Redes neurais_MLP2 6v *109c)

Rendimento Fermentação (%) = 109*0,5*normal(x; 90,6341; 1,2912)

87,0 87,5 88,0 88,5 89,0 89,5 90,0 90,5 91,0 91,5 92,0 92,5 93,0 93,5 94,0

Rendimento Fermentação (%)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18N

o o

f o

bs

Figura 5.9 - Histograma do rendimento da fermentação usina B ( número de observações X

rendimento da fermentação).

Observa-se no gráfico da Figura 5.10, que a rede procurou prever o comportamento

natural do processo, no entanto, existem erros relacionados à média associação entre as

capacidades preditivas da rede e o rendimento real da fermentação.

Page 66: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

52

Figura 5.10 - Representação gráfica da série original (azul) e da prevista pela rede neural (vermelha)

do rendimento da fermentação para a rede MLP-2.

Os resultados para os dados de teste desta rede podem ser verificados no gráfico da

Figura 5.11

Figura 5.11 - Resultados com os dados de teste para MLP-2 (seleção).

84

85

86

87

88

89

90

91

92

93

94

1 6

11

16

21

26

31

36

41

46

51

56

61

66

71

76

81

86

91

96

10

1

10

6

Re

nd

ime

nto

da

ferm

en

taçã

o %

Semanas

RendimentoFermentação(%)

MLP-2 (150)

86

87

88

89

90

91

92

93

94

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27

Re

nd

ime

nto

da

ferm

en

taçã

o %

Semanas

Gráfico de Teste da MLP-2 (seleção)

RendimentoFermentação (%)

MLP-2 (150)

Page 67: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

53

Em razão dos resultados acima apresentados, foi proposta a montagem de uma nova

rede neural artificial, a rede MLP-2 (completo), que não leva em consideração a pré-seleção

de parâmetros e, portanto, elucidativa no que se refere à necessidade ou não de se pré-

selecionar os parâmetros antes de submetê-los a uma montagem de uma rede neural. Essa rede

utiliza todos os 20 parâmetros monitorados pela usina B, e seus resultados podem ser

observados na Tabela 5.8.

Tabela 5.8 - Comparação entre a rede MLP-2 e MLP-2 (completo).

MLP-2 MLP-2 (completo)

Interações r MSE Redes r MSE

150 0,75 0,85 300 0,824 0,745

Após diversas configurações testadas, abaixo se observa na Figura 5.12 a estrutura da

rede de melhor desempenho (r=0,824 e MSE=0,745):

Figura 5.12 - Diagrama de estrutura RNA MLP-2 (completo) MLP 19:19-15-13-1:1.

Page 68: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

54

Todos os parâmetros monitorados foram utilizados como entradas para essa estrutura

de RNA. A taxa de erro de teste da rede foi de 0,12, maior que o objetivo proposto para esse

trabalho que é de 0,05.

Na Figura 5.13 nota-se uma sensível melhora na capacidade de predição da rede

neural, mas mesmo assim não atingindo o ideal. Nota-se, portanto que a pré-seleção dos

parâmetros reduziu o desempenho em relação à da primeira rede montada com os dados da

usina B (MLP-2). Também não se pode concluir que algum dos parâmetros possam ser

suprimido dos boletins das médias semanais que as usinas hoje utilizam.

Figura 5.13 - Representação gráfica da série original (azul) e da prevista pela rede neural (vermelha)

do rendimento da fermentação para a rede MLP-2 (completa).

Em vista do que foi demonstrado nesse experimento utilizando todos os parâmetros

para compor a RNA, fica evidente que a análise de correlação conforme descrita na seção

4.3.1, não é um método eficiente para a seleção de parâmetros a RNA em questão. A

explicação deste fato talvez esteja no comportamento não linear, em relação ao rendimento da

fermentação, de alguns parâmetros monitorados pelas usinas e pertencentes a este processo de

fermentação alcoólica.

84

85

86

87

88

89

90

91

92

93

94

1 5 9

13

17

21

25

29

33

37

41

45

49

53

57

61

65

69

73

77

81

85

89

93

97

10

1

10

5

10

9

Ren

dim

ento

da

ferm

enta

ção

%

Semanas

RendimentoFermentação (%)

MLP-2 completo

Page 69: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

55

Como durante os trabalhos referentes a montagens dessas redes neurais surgiu a ideia

de se predizer o teor alcóolico do vinho, como parâmetro fundamental para o rendimento da

fermentação, desenvolveu-se a terceira rede neural artificial, a MLP-3.

5.2.3 Resultados da Rede Neural MLP-3.

Uma RNA foi montada a partir de todos os 20 parâmetros monitorados pela usina

B(2008, 2009 e 2010). Mas agora, o parâmetro de saída escolhido para a rede passa a ser o teor

alcoólico do vinho (°GL). Em suma, uma nova rede é desenvolvida para predizer o teor

alcoólico e não mais o rendimento da fermentação. A escolha foi assim feita em razão da

contribuição que o teor alcóolico no vinho tem sobre o um bom rendimento da fermentação.

Os resultados são agora apresentados para essa rede neural denominada MLP-3. Na

Tabela 5.9 mostram-se os resultados dos testes, para encontrar a rede neural de melhor

desempenho.

Tabela 5.9 - Número de interações (redes neurais) testadas para escolha da MLP-3.

Interações r MSE

20 0,97 0,18

30 0,964 0,229

40 0,968 0,197

50 0,967 0,207

75 0,974 0,176

100 0,968 0,197

200 0,966 0,205

1000 0,968 0,197

Um diagrama dos neurônios e camadas que compõem a rede MLP-3 pode ser visto na

Figura 5.14. A rede possui 11 neurônios em sua camada de entrada (nem todos os parâmetros

foram usados), 12 neurônios na primeira camada oculta, 4 neurônios em uma outra camada

oculta e um neurônio na camada de saída (MLP 11:11-12-4-1:1).

Page 70: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

56

Figura 5.14 - Estrutura da rede MLP-3 (MLP 11:11-12-4-1:1).

Os parâmetros selecionados pela análise de sensibilidade, gerada pelo software

STATISTICA v. 7, compõem as entradas selecionadas para ser utilizada na rede neural MLP-

3 e podem ser observados na Tabela 5.10.

Tabela 5.10 - Análise de sensibilidade e parâmetros de entrada da MLP-3.

ART do

mosto

(%)

Glicerol

no vinho

(%)

Dextrana

Cana

(ppm/Brix)

N.

Amoniacal

do mosto

(ppm)

ATR

Cana

(%)

ARRT

do Vinho

(%)

Viabilidade

(%)

Tempo

de

Queima

(h)

ART

(T/dia)

Acidez do

mosto

(gH2SO4/L)

Mosto

impureza

(%)

Rank 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Sens. 4,030297 1,128956 1,099715 1,061504 1,039101 1,034029 1,023598 1,023366 1,013163 1,00258 0,99909

Em razão dos excelentes valores encontrados para o coeficiente de correlação

(r=0,974) e um erro médio quadrático reduzido (MSE=0,176) a capacidade de predição dessa

rede foi considerada excelente (Figura 5.15).

Page 71: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

57

Figura 5.15 - Representação gráfica da série original (azul) e da prevista pela rede neural (vermelha)

do teor alcoólico para a rede MLP-3.

Os resultados obtidos pela RNA MLP-3 evidenciam que os parâmetros hoje

monitorados pelas usinas, podem ser usados, com grande grau de precisão, para predizer o

teor alcoólico no vinho resultante da fermentação. Em si, esse teor alcoólico pode ser usado

como indicativo de bons resultados obtidos na fermentação, pois o objetivo final, dessas

empresas, que empregam processos biotecnológicos, é produzir álcool (etanol). Sugere-se

que, em razão dos resultados obtidos, a usina A passe também a monitorar o teor alcoólico do

vinho em seus processos.

No gráfico da Figura 5.16 observa-se a capacidade de generalização da rede MLP-3

utilizando-se os dados reservados para o teste da rede. Os resultados para os parâmetros de

teste são igualmente bons, MSE de 0,22, r de 0,972, sendo que a taxa de erro ficou em 0,075,

ou seja, bem próxima do objetivo procurado nesse trabalho (0,05).

0

2

4

6

8

10

12

1 4 7

10

13

16

19

22

25

28

31

34

37

40

43

46

49

52

55

58

61

64

67

70

73

76

79

82

85

88

91

94

97

10

0

10

3

10

6

10

9

Teo

r al

coó

lico

ºG

L

Semanas

Teor Alcoólicodo vinho (oGL)

MLP-3 (oGL)

Page 72: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

58

Figura 5.16 - Gráfico com os resultados de teste da MLP-3.

Levando em consideração esses últimos resultados, a montagem de uma RNA ideal

para a predição do rendimento da fermentação teria seu desempenho ampliado, se ao invés de

uma rede específica para predizer o rendimento, fosse implementado um sistema híbrido,

semelhante a ideia proposta por Mantovaneli (2005), que inclua a equação de rendimento da

fermentação por subprodutos, sendo alimentada por redes neurais artificiais secundárias

provendo os termos dessa equação.

0

2

4

6

8

10

12

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27

Teo

r al

coó

lico

°G

L

Semanas

Rede de Teste MLP- 3 (°GL)

Teor Alcoólico dovinho (oGL)

MLP-3 (oGL)

Page 73: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

59

6 CONCLUSÕES

Esta pesquisa procurou abordar o desenvolvimento e teste de uma metodologia,

baseada em redes neurais artificiais, para prever o rendimento da fermentação em processos

industriais de produção de etanol. Para tanto, utilizou de uma série de dados provenientes de

duas diferentes usinas.

As Redes Neurais Artificiais desenvolvidas nesse trabalho demonstraram a capacidade

de predizer com certo grau de confiabilidade os resultados para o rendimento da fermentação,

tanto para a usina A e B dentro dos ranges (limites mínimos e máximos) dos parâmetros

monitorados por elas. Em especial, destaca-se a rede MLP-2 (completo) que atingiu uma taxa

de erro de testes na ordem de 0,12 e a rede MLP-3 com taxa de erro de 0,075, valores

impressionantes para os primeiros estudos, feitos com parâmetros oriundos de ambientes

industriais, onde o rigor nos ensaios laboratoriais não é tão preciso como em um laboratório.

Assim, verificou-se a eficiência da RNA no tratamento de padrões não lineares, características

peculiares aos processos fermentativos, e a sua aplicação na tarefa de previsão. Também ficou

constatado a capacidade superior da rede neural artificial do tipo perceptron de multicamadas,

em identificar por meio da análise de sensibilidade, os melhores parâmetros a serem

selecionados para as entradas da RNA em comparação com o método de correlação linear.

Como dito anteriormente, a rede para a predição do teor alcoólico (MLP-3) atingiu um

desempenho muito bom, demonstrando a capacidade de redes neurais artificiais de predizer

comportamentos em processos biológicos. A partir daí, se abre a oportunidade de futuros

trabalhos com relação a esse tipo de aplicação, para atingir uma melhor produtividade nesses

tipos de processos tão pouco lineares.

Para a obtenção de melhores resultados, modificações na topologia e treinamento da

RNA podem ser aplicadas tais como: variação da quantidade de neurônios, aumento do tempo

de treinamento e testes com outros parâmetros de treinamento. Pode-se também utilizar redes

neurais secundárias para serem usadas no cálculo do rendimento.

Page 74: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

60

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA TRABALHOS

FUTUROS

Muitos estudos têm investigado técnicas para manter o alto rendimento e aumentar a

produtividade dos processos relacionados à produção de etanol. O interesse é grande tanto do

mercado brasileiro como do internacional, principalmente após os vários incentivos com

relação a cota de dióxido de carbono que poderá ser emitida pelos países mais desenvolvidos

segundo o tratado de Kyoto. As ferramentas para ajudar a encontrar uma solução para

otimização desses processos nunca antes foram tão bem-vindas.

O estudo objeto desse trabalho demonstra como as modernas técnicas computacionais

envolvendo inteligência artificial e redes capazes de imitar sistemas complexos de

pensamento, vêm ao encontro dos anseios de evolução nos processos de produção de

biocombustíveis. Mas esse é apenas um primeiro passo para uma série de outros que ainda

virão.

Prever o resultado de processos biotecnológicos deixa de ser apenas um estudo para se

tornar uma linha de pesquisa. Diante desse desafio cabe propor que esse trabalho continue

para se montar um sistema (software ou hardware), que possa ser incluído como padrão de

monitoramento nas usinas nacionais de produção de etanol. Para tanto, a RNA aqui proposta

deverá evoluir para um modelo melhorado de preditor, e futuramente deverá ser testada

utilizando parâmetros oriundos de outras usinas e um conjunto maior de dados.

É sugerido também um estudo mais abrangente sobre qual seria um modelo mais

adequado para representar o rendimento da fermentação levando em consideração o

conhecimento adquirido nesse trabalho.

Um modelo passível de ser estudado e discutido é a utilização de redes neurais

artificiais para compor os elementos de uma equação de rendimento.

Em suma, o cenário para uso de redes neurais artificiais e processos fermentativos é

excelente e muito incentivo deverá ser dado a trabalhos nessa área.

Page 75: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

61

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Page 82: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

68

9 ANEXOS

9.1 ANEXO 1 – INTERPRETAÇÃO DOS DADOS DO LABORATÓRIO INDUSTRIAL E MÉTODOS

ANALÍTICOS

Para a interpretação correta dos dados contidos nos boletins das médias

semanais segue uma explanação sucinta de cada parâmetro e seu respectivo método

analítico de determinação.

9.1.1 Percentual de Açúcares Redutores na cana (AR cana)

O Percentual de Açúcares redutores na cana representa a quantidade de

glicose e de frutose presentes na cana, que afetam diretamente a sua pureza, já que

refletem em uma menor eficiência na recuperação da sacarose pela fábrica.

É determinada por meio de do método Titulométrico.

9.1.2 Açúcares Redutores Totais (ATR)

Os açúcares Redutores Totais é indicador que representa a quantidade total de

açúcares da cana (sacarose, glicose e frutose). O ATR é determinado pela relação

POL/0,95 mais o teor de açúcares redutores. A concentração de açúcares na cana varia,

em geral, dentro da faixa de 13 a 17,5%. Entretanto, é importante lembrar que canas

muito ricas e com baixa percentagem de fibras estão mais sujeitas a danos físicos e

ataque de pragas e microrganismos. Os estudos mostram que nas primeiras 14 horas de

deterioração da cana, 93% das perdas de sacarose foram devidas à ação de

microrganismos, 5,7% por reações enzimáticas e 1,3% por reações químicas,

resultantes da acidez.

9.1.3 Acidez da Cana

Esta análise foi realizada no caldo de cana-de-açúcar in natura, para verificar as

condições de sanidade da matéria-prima. Valores elevados de acidez são indício de

deterioração da cana-de-açúcar, que dificulta e até inviabiliza o seu processamento.

Page 83: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

69

O método titulométrico foi empregado utilizando-se uma solução de

hidróxido de sódio 0,1 mol/L e fenolftaleína alcoólica (1%) como indicador. O cálculo

de acidez foi realizado de acordo com a Equação 1, e o resultado expresso em acidez

acética (mg/100 g).

9.1.4 Dextrana na Cana

As determinações analíticas de dextrana foram feitas pelo método

espectrofotométrico de acordo com Roberts (1983) e pelo método rápido indicado por

Clarke, Begersone Cole (1987).

9.1.5 Percentual de Álcool na Cana

Representa a quantidade de álcool transformado in natura a partir da cana

de açúcar antes de processo de fermentação industrial.

9.1.6 Quantidade de Bastonetes no Caldo Primário (x10^5).

Índice de contaminação bacteriana do caldo primário. É determinado pelo

contagem de bastonetes em câmara de Neubauer.

9.1.7 Frequência de Paradas de Fábrica

Representa o número de paradas ocorridas no período. Em geral essas paradas

ocorrem por excesso de chuvas ou problemas relacionados a manutenção ou limpeza

de máquinas e equipamentos. Essas paradas causam uma probabilidade maior de

infecção no processo.

Page 84: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

70

9.1.8 Temperatura Mosto

Representa a temperatura média em que se encontra o mosto. Ela é muito

importante, pois determina a temperatura em que ocorrerá a fermentação.

9.1.9 Percentual de impureza no Mosto

Representa o percentual de impurezas provenientes do caldo. Em geral sólidos

em suspensão que interferem no processo de fermentação.

9.1.10 Unidades Formadoras de Colônias no Mosto

Índice de contaminação bacteriana no mosto. É determinado pela contagem de

bastonetes em câmara de Neubauer.

9.1.11 Mosto Acidez gH2S04/L (titulação)

O mesmo método utilizado para determinar a acidez do caldo.

9.1.12 Mosto % ART

O mesmo método utilizado para determinar o ART do caldo.

9.1.13 Mosto Nitrogênio Amoniacal

Determinado por colorimetria.

Page 85: Dissertação redes neurais e fermentação alcoolica

71

9.1.14 Viabilidade Vinho

A viabilidade é sem dúvida um aspecto importante no controle da

fermentação alcoólica. Quanto maior esse número melhor será o desempenho do

processo. Como o ambiente das dornas de fermentação não é propriamente ideal para

manutenção da viabilidade celular um controle minucioso deve ser feito nas unidades

produtoras (STECKELBERG, 2001).

9.1.15 Tempo de Fermentação

Tempo em horas até que a fermentação é dada por terminada. Leva em

consideração os valores médios de tempo e o esgotamento dos açúcares

fermentescíveis indicados por baixos valores de ARRT.

9.1.16 Rendimento da Fermentação

Representa o rendimento da fermentação em termos percentuais segundo

cálculo na seção 3.2.2 Rendimento por subprodutos.