DISSERTAÇÃO_Avaliação de um sistema combinado anaeróbio

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  • ANA CARLA DE CARVALHO NOGUEIRA

    AVALIAO DE UM SISTEMA COMBINADO ANAERBIO AERBIO PARA TRATAMENTO DA VINHAA

    LAVRAS - MG

    2014

  • ANA CARLA DE CARVALHO NOGUEIRA

    AVALIAO DE UM SISTEMA COMBINADO ANAERBIO

    AERBIO PARA TRATAMENTO DA VINHAA

    Dissertao apresentada Universidade Federal de Lavras, como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Recursos Hdricos em Sistemas Agrcolas, rea de concentrao em Irrigao e Saneamento Ambiental, para a obteno do ttulo de Mestre.

    Orientador

    Dr. Cludio Milton Montenegro Campos

    Coorientadores

    Dra. Ftima Rezende Luiz Fia

    Dr. Ronaldo Fia

    LAVRAS - MG

    2014

  • Ficha Catalogrfica Elaborada pela Coordenadoria de Produtos e Servios da Biblioteca Universitria da UFLA

    Nogueira, Ana Carla de Carvalho. Avaliao de um sistema combinado anaerbio-aerbio para tratamento da vinhaa / Ana Carla de Carvalho Nogueira. Lavras : UFLA, 2014.

    151 p. : il. Dissertao (mestrado) Universidade Federal de Lavras, 2014. Orientador: Cludio Milton Montenegro Campos. Bibliografia. 1. Vinhaa. 2. Sistema combinado anaerbio-aerbio. 3. Ensaio

    hidrodinmico. 4. UASB. 5. FBS. I. Universidade Federal de Lavras. II. Ttulo.

    CDD 628.746

  • ANA CARLA DE CARVALHO NOGUEIRA

    AVALIAO DE UM SISTEMA COMBINADO ANAERBIO

    AERBIO PARA TRATAMENTO DA VINHAA

    Dissertao apresentada Universidade Federal de Lavras, como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Recursos Hdricos em Sistemas Agrcolas, rea de concentrao em Irrigao e Saneamento Ambiental, para a obteno do ttulo de Mestre.

    APROVADA em 28 de Fevereiro de 2014.

    Dr. Alisson Carraro Borges UFV

    Dr. Luiz Fernando Coutinho de Oliveira UFLA

    Dr. Ronaldo Fia UFLA

    Dr. Cludio Milton Montenegro Campos Orientador

    LAVRAS - MG

    2014

  • Aos meus pais Jos Celso e Alessandra.

    DEDICO

  • AGRADECIMENTOS

    Primeiramente agradeo a Deus pelo dom da vida!

    Aos meus amados pais, Jos Celso e Alessandra, pelo apoio e incentivo

    de sempre, pelas palavras amigas, por sempre acreditarem em meu potencial e

    nunca me deixarem desistir dos meus sonhos.

    Aos meus irmos, Alexandre e Alice, e aos meus cunhados Mariana e

    Joo Guilherme, pela amizade e carinho nos momentos que mais foram precisos.

    minha pequena princesa, minha afilhada Maria Fernanda, pelo sorriso

    inocente e amor sem medidas.

    Aos meus avs queridos, David, Geralda e Tereza, que sempre torceram

    pelo meu sucesso e com suas oraes sempre me abenoaram.

    s minhas tias Claret, Carla e Mal, pelas palavras amigas, conselhos e

    oraes.

    Aos meus tios e primos pelos momentos de alegria e diverso nas

    reunies de famlia.

    Ao meu namorado Douglas, pelo amor, companheirismo, pacincia e

    colo de sempre. Por ser meu porto seguro nas horas que mais preciso e por no

    me deixar desistir dos meus objetivos.

    Aos meus sogros, Antnio e Raquel, aos cunhados Daniel, Nayara e

    Elizandra, pelo carinho, amizade e oraes. Por se tornarem minha segunda

    famlia.

    Aos amigos de longa data, que mesmo nos vendo pouqussimas vezes ao

    ano, sempre tiveram uma palavra amiga e um incentivo para me colocar para

    frente.

    Aos amigos conquistados durante a graduao, no citarei nomes para

    no esquecer ningum, pelos momentos inesquecveis que passamos durante os

    cinco anos de UFLA.

  • Aos amigos da ps-graduao, pelos momentos de dificuldades que

    passamos juntos, pelo apoio mtuo e pela amizade que ficar para o resto da

    vida.

    s amigas de repblica durante esses dezoito meses de mestrado, Karen

    e Raquel, pela amizade e apoio.

    Em especial, gostaria de agradecer s pessoas que me ajudaram a

    concluir este trabalho com grande satisfao:

    Ao meu orientador, professor Cludio Montenegro, por sempre acreditar

    em meu potencial, pela orientao, pelo incentivo, pelas palavras amigas e

    ensinamentos valiosos que levarei para minha vida profissional.

    Aos meus coorientadores, professores Ronaldo Fia e Ftima Fia, por

    contriburem grandiosamente para que meu experimento desse certo, pelas

    orientaes, intervenes necessrias e amizade.

    Aos bolsistas de iniciao cientfica: Dbora, Tatyanna, Jaza e

    Emanuel, pela ajuda e esforo para que todas as anlises fossem feitas e que o

    experimento sasse conforme o planejado. Aos alunos da Engenharia Ambiental

    que me ajudaram voluntariamente no multiro para monitorar o ensaio

    hidrodinmico.

    Aos tcnicos do LAADEG: Wesley, Alex e Isael, pelo suporte dado para

    que as anlises dessem certo.

    Waina, colega e amiga de ps-graduao, que virou a mezona de

    todos no LAADEG, pelo apoio, ajuda e disponibilidade sempre que necessitei.

    empresa Sistemaq Sistemas de Irrigao, pela oportunidade de

    exercer meu trabalho, aplicando todos os conhecimentos adquiridos durantes

    esses anos de estudos, pelo apoio e compreenso para que conclusse essa etapa

    com xito.

  • coordenao, aos funcionrios e a todo corpo docente do Programa de

    Ps-Graduao em Recursos Hdricos em Sistemas Agrcolas do Departamento

    de Engenharia, pelos ensinamentos, ajuda e convivncia.

    Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    (CNPq) e Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais

    (FAPEMIG), pelas bolsas concedidas e pelo financiamento do projeto.

    Universidade Federal de Lavras (UFLA) e ao Departamento de

    Engenharia (DEG), pela oportunidade de realizar esse curso.

  • Por vezes sentimos que aquilo que fazemos

    no seno uma gota de gua no mar.

    Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota...

    (Madre Teresa de Calcut)

  • RESUMO

    O trabalho teve como objetivo a avaliao de um sistema combinado anaerbio-aerbio em escala laboratorial no tratamento da vinhaa. O sistema monitorado teve duas fases: a Fase I teve 77 dias de monitoramento e trabalhou com um TDH de 0,95 d-1 e a Fase II teve 123 dias de monitoramento e trabalhou com um TDH de 1,85 d-1. Para avaliao do sistema, foram monitoradas, nos afluentes e efluentes de cada reator, as seguintes variveis: demanda biolgica de oxignio (DBO), demanda qumica de oxignio (DQO), slidos totais (ST), slidos totais volteis (STV), slidos totais fixos (STF), nitrognio total Kjeldahl (NTK), nitrato, fsforo total, pH, temperatura, alcalinidade, acidez e compostos fenlicos. Todas as anlises foram feitas no LAADEG/UFLA, seguindo metodologia descrita em American Public Health Association - APHA (2005). Para o estudo hidrodinmico das unidades, foram realizados ensaios empregando cloreto de ltio (LiCl) como traador. Quanto ao desempenho do sistema, as eficincias de remoo para: ST, SFT, SV, compostos fenlicos, NTK, fsforo, DBO5, DQObruta e DQOfiltrada, foram baixas e apresentaram variaes consideradas, podendo observar que o sistema no entrou em steady-state. As variveis pH e temperatura apresentaram valores de 6,1 e 24,3 C, respectivamente, enquadrando nos valores adequados para o bom funcionamento do sistema. A produo terica de gs metano para o UASB 1 foi de 19,4 LCH4 d-1 na Fase I e de 10,9 LCH4 d

    -1 na Fase II; para o UASB 2 foi de 6,9 LCH4 d-1 na

    Fase I e de 5,7 LCH4 d-1 na Fase II. Os valores mdios encontrados para

    alcalinidade parcial (AP), alcalinidade intermediria (AI) e alcalinidade total em ambas as fases de monitoramento do sistema estavam abaixo da faixa recomendada para o processo de anaerobiose. Atravs do ensaio hidrodinmico, os reatores UASB 1 e UASB 2 apresentaram fluxo tendendo a pistonado com moderada intensidade de disperso e o reator FBS apresentou fluxo tendendo mistura completa com grande intensidade de disperso.

    Palavras-chave: Vinhaa. Eficincia na remoo de matria orgnica. Reator UASB. FBS. Ensaio hidrodinmico.

  • ABSTRACT

    The purpose of this study was to assess a combined aerobic-anaerobic system used for vinasse treatment. The experiment was performed in the laboratory scale during two different stages, namely, the stages I and II, which lasted respectively 77 and 123 monitoring days for a Hydraulic Retention Time of around 0.95 d-1 and of 1.85 d-1. On the affluents and effluents of each reactor were monitored the following parameters: biological oxygen demand (BOD), chemical oxygen demand (COD), total solids (TS), total volatile solids (TVS), total fixed solids (TFS), total Kjeldahl nitrogen (TKN), nitrate, total phosphorus, pH, temperature, alkalinity, acidity, and phenolic compounds. Analyses were carried out as outlined in American Public Health Association (2005), in the Laboratory of Effluent and Water Analysis of the Department of Engineering, at Federal University of Lavras. For the hydrodynamic study were performed experiments using lithium chloride as tracer. The system performance did not reach the steady-state, as result of low removal efficiency for TS, TFS, VS, phenolic compounds, NKT, phosphorus, BOD5, crude COD, and filtered COD, which showed significant variations. The pH of 6.1 and temperatures of 24.3oC were suitable for the best system working. The theoretical production of methane gas from the UASB 1 and UASB 2 were respectively of 19.4 LCH4 d-1 and 6.9 LCH4 d-1 at the stage I, and of 10.9 LCH4 d-1 and 5.7 LCH4 d-1 at the stage II. The averages of partial, intermediate and total alkalinity of both system monitoring stages were under the range recommended for the anaerobic process. Therefore, the reactors UASB 1 and UASB 2 showed a plug-flow tendency, with moderate dispersion. Besides, the Biological and Submerged Aerated Filter (BSAF) showed a tendency for complete mixing flow with intensive dispersion.

    Keys-words: Vinasse. Efficiency in the organic matter removal. UASB reactor. BSAF. Hydrodynamic testing.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Desenho esquemtico de um reator UASB ...................................... 38

    Figura 2 Diferentes formas de injeo do traador ......................................... 57

    Figura 3 Principais anomalias existentes em escoamentos no ideais ............ 59

    Figura 4 Configuraes dos reatores UASB 1, UASB 2 e FBS ..................... 62

    Figura 5 Configuraes do separador trifsico ............................................... 63

    Figura 6 Configuraes do equalizador de presso ........................................ 64

    Figura 7 Gasmetros para o monitoramento do biogs .................................. 65

    Figura 8 Condutes utilizados como material suporte do FBS ....................... 66

    Figura 9 Sistema de aerao do FBS composto por quatro unidades

    perfuradas ligadas a um compressor para injeo de ar na base do

    FBS ................................................................................................... 67

    Figura 10 Tanque de acidificao e equalizao (TAE) para alimentao

    dos reatores ....................................................................................... 68

    Figura 11 Efluente gerado pelo FBS sendo descartado em galo de 20 litros

    para o monitoramento dirio da vazo do sistema ........................... 69

    Figura 12 Sistema de tratamento em escala laboratorial compreendendo

    associao em srie dos reatores UASB com o FBS instalado no

    LAADEG ......................................................................................... 70

    Figura 13 Intervalo entre as duas fases quando se realizou o teste de

    estanqueidade para verificao de vazamentos ................................ 71

    Figura 14 Estruturao para realizao do ensaio hidrodinmico nos

    reatores UASB 1, UASB 2 e FBS .................................................... 79

    Figura 15 Variao nos valores de temperatura observados no afluente e a

    mdia encontrada nas duas fases do experimento ............................ 82

    Figura 16 Variao nos valores de temperatura observados no reator UASB

    1 e a mdia encontrada nas duas fases do experimento .................... 83

  • Figura 17 Variao nos valores de temperatura observados no reator UASB

    2 e a mdia encontrada nas duas fases do experimento .................... 83

    Figura 18 Variao nos valores de temperatura observados no FBS e a

    mdia encontrada nas duas fases do experimento ............................ 84

    Figura 19 Condutividade eltrica medida no afluente e nos reatores UASB

    1, UASB 2 e FBS durante a ltima semana de monitoramento do

    experimento ...................................................................................... 85

    Figura 20 Variao nos valores de pH observados no afluente e a mdia

    encontrada nas duas fases do experimento ....................................... 87

    Figura 21 Variao nos valores de pH observados no UASB1 e a mdia

    encontrada nas duas fases do experimento ....................................... 87

    Figura 22 Variao nos valores de pH observados no UASB 2 e a mdia

    encontrada nas duas fases do experimento ....................................... 88

    Figura 23 Variao nos valores de pH observados no FBS e a mdia

    encontrada nas duas fases do experimento ....................................... 88

    Figura 24 Variao dos valores encontrados para alcalinidade total o

    afluente e nos reatores UASB 1 e UASB 2. Mdia geral do

    sistema na Fase I (632 mgCaCO3 L-1) e na Fase II (751

    mgCaCO3 L-1) ................................................................................... 90

    Figura 25 Variao dos valores encontrados para o Coeficiente de Ripley

    (AI/AP) no afluente e nos reatores UASB1 e UASB2. Mdia

    geral do sistema na Fase I (3,9) e na fase II(1,9) .............................. 91

    Figura 26 Variao dos valores encontrados para alcalinidade parcial (AP)

    no afluente e nos reatores UASB1 e UASB2. Mdia geral do

    sistema na Fase I (219 mgCaCO3 L-1) e na Fase II (455

    mgCaCO3 L-1) ................................................................................... 93

  • Figura 27 Variao dos valores encontrados para alcalinidade intermediria

    (AI) no afluente e nos reatores UASB1 e UASB2. Mdia geral

    do sistema na Fase I (444 mgCaCO3 L-1) e na Fase II (434

    mgCaCO3 L-1) ................................................................................... 93

    Figura 28 Variao dos valores encontrados para alcalinidade bicarbonato

    no afluente e nos reatores UASB1 e UASB2. Mdia geral do

    sistema na Fase I (-233 mgCaCO3 L-1) e na Fase II (-

    239mgCaCO3 L-1) ............................................................................. 94

    Figura 29 Variao dos valores encontrados para cidos volteis totais no

    afluente e nos reatores UASB1 e UASB2. Mdia geral do

    sistema na Fase I (1138 mgCaCO3 L-1) e na Fase II (1353

    mgCaCO3 L-1) .................................................................................. 96

    Figura 30 Variao nos valores de concentrao de oxignio dissolvido no

    FBS somente na Fase II do experimento. Valores medidos por

    titulao e pelo oxmetro .................................................................. 97

    Figura 31 Slidos totais (ST) presentes no sistema combinado anaerbio -

    aerbio ............................................................................................ 101

    Figura 32 Slidos fixos totais presentes no sistema combinado anaerbio -

    aerbio ............................................................................................ 101

    Figura 33 Slidos volteis totais presentes no sistema combinado anaerbio

    aerbio ......................................................................................... 102

    Figura 34 Perfil dos slidos atravs da concentrao de SVT para o ao

    longo do monitoramento do sistema. A Reator UASB 1 / B

    Reator UASB 2 / C Reator FBS / D Mdia do perfil dos

    slidos nos reatores UASB 1, UASB 2 e FBS ............................... 104

    Figura 35 Valores mdios de concentrao de DBO5, DQO bruta e DQO

    filtrada, encontrados no afluente e nos reatores UASB 1, UASB

    2 e FBS durante o monitoramento do sistema ................................ 108

  • Figura 36 Produo de biogs nos reatores UASB 1 e UASB 2 atravs do

    deslocamento de gua nos gasmetros ........................................... 110

    Figura 37 Concentraes mdias de NTK no afluente e nos reatores UASB

    1, UASB 2 e FBS durante o monitoramento do sistema ................ 115

    Figura 38 Concentraes mdias de nitrato (NO3-) no afluente e nos

    reatores UASB 1, UASB 2 e FBS durante o monitoramento do

    sistema ............................................................................................ 116

    Figura 39 Concentraes de fsforo no afluente e nos reatores UASB 1,

    UASB 2 e FBS durante o monitoramento do sistema .................... 119

    Figura 40 Concentraes dos compostos fenlicos no afluente e nos

    reatores UASB 1, UASB 2 e FBS durante o monitoramento do

    sistema ............................................................................................ 122

    Figura 41 Curva de DTR para o UASB 1 ....................................................... 126

    Figura 42 Curva de DTR para o UASB 2 ....................................................... 127

    Figura 43 Curva de DTR para o FBS ............................................................. 127

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Composio da vinhaa de cana-de-acar segundo vrios

    autores .............................................................................................. 31

    Tabela 2 Evoluo da legislao brasileira sobre a disposio da vinhaa ..... 33

    Tabela 3 Vantagens e desvantagens de um reator UASB ............................... 39

    Tabela 4 Parmetros da vinhaa por diversos autores ..................................... 42

    Tabela 5 Carga orgnica volumtrica (COV), carga orgnica biolgica

    (COB), tempo de deteno hidrulica (TDH) e vazo (Q)

    utilizados durante as duas fases do experimento .............................. 73

    Tabela 6 Frequncia e mtodos de anlises .................................................... 75

    Tabela 7 Caractersticas operacionais dos reatores UASB 1, UASB 2 e

    FBS para realizao do ensaio hidrodinmico ................................. 80

    Tabela 8 Temperaturas mdias no afluente e nos reatores UASB 1, UASB

    2 e FBS ao longo das duas fases de monitoramento do sistema....... 82

    Tabela 9 Valores mdios do pH no afluente e nos reatores UASB 1,

    UASB 2 e FBS ao longo das duas fases de monitoramento do

    sistema .............................................................................................. 86

    Tabela 10 Valores mdios da alcalinidade parcial, alcalinidade

    intermediria e alcalinidade total (mgCaCO3 L-1) e do coeficiente

    de Ripley para o afluente e para os reatores UASB 1 e UASB 2 ..... 92

    Tabela 11 Valores mdios da alcalinidade bicarbonato (mgCaCO3 L-1) para

    o afluente e para os reatores UASB 1 e UASB 2 ............................. 94

    Tabela 12 Valores mdios dos cidos volteis totais (mgCaCO3 L-1) no

    afluente e nos reatores UASB1 e UASB2 ........................................ 95

    Tabela 13 Eficincia de remoo dos ST, SFT e SV no sistema anaerbio-

    aerbio em estudo ............................................................................. 99

  • Tabela 14 Valores mdios dos ST, SFT e SVT presentes nos reatores

    UASB 1, UASB 2 e FBS ................................................................ 100

    Tabela 15 Valores mdios das eficincias na remoo de DBO5, DQO bruta

    e DQO filtrada durante o monitoramento do sistema ..................... 109

    Tabela 16 Valores encontrados para a produo terica de metano ............... 111

    Tabela 17 Valores mdios de NTK no afluente e nos reatores UASB 1,

    UASB 2 e FBS durante o monitoramento do sistema .................... 114

    Tabela 18 Eficincia mdia de remoo de NTK nos reatores UASB 1,

    UASB 2 e FBS durante o monitoramento do sistema .................... 114

    Tabela 19 Concentraes mdias de nitrato no afluente e nos reatores

    UASB 1, UASB 2 e FBS durante o monitoramento do sistema..... 117

    Tabela 20 Eficincia de remoo do nitrato nos reatores UASB 1, UASB 2

    e FBS durante o monitoramento do sistema ................................... 117

    Tabela 21 Valores mdios de fsforo no afluente e nos reatores UASB 1,

    UASB 2 e FBS o monitoramento do sistema ................................. 118

    Tabela 22 Eficincia mdia de remoo de fsforo nos reatores UASB 1,

    UASB 2 e FBS, durante as duas fases de monitoramento do

    sistema ............................................................................................ 118

    Tabela 23 Valores mdios dos compostos fenlicos no afluente e nos

    reatores UASB 1, UASB 2 e FBS durante o monitoramento do

    sistema ............................................................................................ 121

    Tabela 24 Eficincia mdia de remoo dos compostos fenlicos nos

    reatores UASB 1, UASB 2 e FBS durante o monitoramento do

    sistema ............................................................................................ 121

    Tabela 25 Resultados do ensaio hidrodinmico realizado no sistema

    combinado anaerbio-aerbio em estudo ....................................... 123

    Tabela 26 Interpretao do resultado para a disperso (d) quanto

    intensidade ...................................................................................... 123

  • Tabela 27 Interpretao do resultado para a disperso (d) quanto ao

    escoamento ..................................................................................... 123

    Tabela 28 Interpretao do resultado para o nmero de sries (N) quanto ao

    escoamento ..................................................................................... 124

    Tabela 29 Resultados dos ndices utilizados para a avaliao mais precisa

    do ensaio hidrodinmico do sistema anaerbio-aerbio,

    juntamente com a interpretao dos resultados .............................. 125

  • LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    Bx - Grau Brix

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    AI Alcalinidade Intermediria

    ANOVA Anlises de varincias

    AP Alcalinidade Parcial

    AT Alcalinidade Total

    ATP Trifosfato de adenosina

    AVT cidos Volteis Totais

    CE Condutividade Eltrica

    CERH Conselho Estadual de Recursos Hdricos

    CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    COB Carga Orgnica Biolgica

    CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

    COPAM Conselho Poltico Ambiental

    COV Carga Orgnica Volumtrica

    CV Coeficiente de Variao

    DBO Demanda Bioqumica de Oxignio

    DEG Departamento de Engenharia da UFLA

    DQO Demanda Qumica de Oxignio

    DTR Tempo de residncia

    EPDM Ethylene Propylene Diene Monomer (M- class rubber)

    FAPEMIG - Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais

    FBS Filtro Biolgico Aerado Submerso

    IDM ndice de Disperso de Morril

    K(t) Fator de correo

    L/B Relao altura / dimetro

  • LAADEG - Laboratrio de Anlise de gua e Efluentes do Departamento de

    Engenharia

    NBR Normas Brasileiras

    NPK Nitrognio / Fsforo / Potssio

    NTK Nitrognio Total Kjeldahl

    OD Oxignio Dissolvido

    P Presso atmosfrica

    pH Potencial Hidrogeninico

    PVC Cloreto de polivinila

    Q Vazo

    R2 Coeficiente de correlao

    RAC Reator Anaerbio Compartimentado

    SFT Slidos Fixos Totais

    SST Slidos totais em suspenso

    ST Slidos Totais

    SVT Slidos Volteis Totais

    TAE Tanque de Acidificao e Equalizao

    TDH Tempo de Deteno Hidrulica

    UASB Reator anaerbio de manta de lodo (Upflow Anaerobic Sludge Blanket)

    UFLA Universidade Federal de Lavras

    UFV Universidade Federal de Viosa

    V Volume

    Y Crescimento bacteriano

  • LISTA DE SMBOLOS E UNIDADES

    % - Porcentagem

    C Graus Celsius

    atm Presso atmosfrica

    Ca Clcio

    Ca(OH) Hidrxido de clcio

    CaCO3 Carbonato de clcio

    Cd Cdmio

    CH4 Metano

    cm Centmetro

    CO2 Gs carbnico

    Cr Cromo

    d Dia

    g L-1 Grama por litro

    g m-3 Grama por metro cbico

    g mol-1 Grama por mol

    h Hora

    K Potssio

    kg m-3 d-1 Quilograma por metro cbico por dia

    kg m-3 Quilograma por metro cbico

    kg mol-1 Quilograma por mol

    kPa Quilo Pascal

    L Litro

    L d-1 Litro por dia

    L h-1 Litro por hora

    L mol-1 K-1 Litro por mol por Kelvin

    Li+ - Ltio

  • LiCl Cloreto de ltio

    m Metro

    m h-1 Metro por hora

    m m-1 Metro por metro

    m s-2 - Metro por segundo a cada segundo

    m2 m-2 h-1 Metro quadrado por metro quadrado por dia

    m3 m-3 d-1 Metro cbico por metro cbico por dia

    mg L-1 Miligrama por litro

    Mg Magnsio

    mg mg-1 Miligrama por miligrama

    mL Mililitro

    mL d-1 Mililitros por dia

    mm Milmetro

    mS cm-1 Mili Siemens por centmetro

    N Nitrognio

    N2 Nitrognio

    NaOH Hidrxido de sdio

    NH3 Amnio

    NH4+ - Amnia

    Ni Nquel

    NO2- Nitrito

    NO3- Nitrato

    Dimetro

    K Graus Kelvin

    O2 Oxignio

    P Fsforo

    Pb Chumbo

    SO4 Dixido de enxofre

  • Comprimento de onda

    Sigma

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................................... 25 2 OBJETIVOS .................................................................................... 27 2.1 Objetivo geral .................................................................................. 27 2.2 Objetivos especficos ....................................................................... 27 3 REVISO DE LITERATURA ...................................................... 28 3.1 A vinhaa ......................................................................................... 28 3.1.1 Composio da vinhaa .................................................................. 29 3.1.2 Alternativas de tratamento da vinhaa e disposio final ........... 32 3.1.3 A vinhaa utilizada na fertirrigao e seus impactos .................. 35 3.2 Reatores anaerbios de manta de lodo UASB ........................... 37 3.3 Biofiltros aerados submersos (FBS) .............................................. 46 3.3.1 Nitrificao em filtro biolgico aerado submerso (FBS) ............. 50 3.4 Sistema combinado anaerbio aerbio....................................... 52 3.5 Hidrodinmica dos sistemas de tratamento .................................. 53 3.5.1 Utilizao de traadores nos estudos hidrodinmicos ................. 55 4 MATERIAL E MTODOS............................................................ 61 4.1 Localizao do experimento ........................................................... 61 4.2 Configurao do experimento ........................................................ 61 4.3 gua residuria ............................................................................... 67 4.4 Alimentao do sistema .................................................................. 68 4.5 Amostragem ..................................................................................... 69 4.6 Monitoramento do sistema ............................................................. 70 4.7 Produo terica de biogs............................................................. 76 4.8 Ensaio hidrodinmico do sistema .................................................. 78 5 RESULTADOS E DISCUSSES .................................................. 81 5.1 Temperatura .................................................................................... 81 5.2 Condutividade Eltrica ................................................................... 84 5.3 Potencial hidrogeninico (pH) ....................................................... 86 5.4 Alcalinidade e acidez ....................................................................... 89 5.5 Oxignio Dissolvido ......................................................................... 96 5.6 Slidos totais (ST), fixos (SFT) e volteis (SVT)........................... 97 5.7 Avaliao do perfil de slidos nos reatores ................................... 102 5.8 Eficincia na remoo de matria orgnica no sistema ............... 105 5.9 Produo de biogs ......................................................................... 109 5.9.1 Medio do biogs feita por deslocamento de gua ..................... 109 5.9.2 Produo terica de biogs............................................................. 110 5.10 Remoo de nitrognio e fsforo .................................................... 112 5.10.1 Remoo de nitrognio ................................................................... 112 5.10.2 Remoo de fsforo ......................................................................... 117

  • 5.11 Compostos fenlicos ........................................................................ 119 5.12 Ensaio hidrodinmico do sistema .................................................. 122 6 CONCLUSES ............................................................................... 130 7 CONSIDERAES FINAIS E SUGESTES ............................. 132 REFERNCIAS .............................................................................. 134 ANEXO ............................................................................................ 148

  • 25

    1 INTRODUO

    Para as indstrias que utilizam grandes quantidades de gua, tais como

    as do setor sucroalcooleiro, fundamental tratar e reutilizar seus efluentes. Desta

    forma, tem sido sugerida a aplicao da vinhaa no solo, como fonte de

    nutrientes para as culturas. Porm, a disposio inapropriada pode levar

    contaminao dos solos e das guas subterrneas. Associado a este fato, verifica-

    se que os padres de descarga aplicados s agroindstrias so muitas vezes

    rigorosos e abaixo dos nveis que podem ser alcanados com tecnologias de

    tratamento biolgico convencional.

    No Brasil, os processos anaerbios empregados em sistemas de

    tratamento de efluentes so comumente utilizados devido s diversas vantagens

    que apresentam, quando comparados aos aerbios. Porm, esses sistemas

    quando utilizados individualmente para tratamento de guas residurias

    agroindustriais produzem efluentes com concentraes de nutrientes (N e P)

    acima do valor permitido pela legislao. O uso combinado dos processos

    anaerbio e aerbio apresenta grande potencial para tratamento dessas guas

    residurias. A combinao desses processos possibilita a construo de modelos

    mais compactos (menor rea de implantao da estao), com menor consumo

    de energia com aeradores, devido a menor demanda de oxignio dissolvido (OD)

    e menor produo de biomassa (lodo).

    O sistema combinado anaerbio/aerbio mostra ser uma opo vivel

    quanto aos aspectos econmico e tcnico, pois esse sistema promove oxidao

    carboncea, nitrificao, desnitrificao e, algumas vezes, remoo de fsforo.

    Portanto, essa combinao torna possvel aproveitar as vantagens de cada um

    deles e minimiza seus aspectos negativos.

    Sendo assim, o projeto de pesquisa justifica-se medida que se constata

    a importncia, para a economia brasileira, da produo de derivados da cana-de-

  • 26

    acar, como o acar e o etanol. Ultimamente, o governo federal imps um

    estmulo relevante produo de lcool como combustvel; em vista disto, as

    reas de produo de cana-de-acar e consequentemente a produo da vinhaa

    tm aumentado continuamente. Alm disso, o aumento na produo artesanal de

    cachaa no estado de Minas Gerais tem demandado solues tcnicas viveis e

    simplificadas para o tratamento de seus efluentes. Ressalta-se que nas regies

    produtoras, o despejo da vinhaa em corpos de gua tem se tornado um grande

    problema ambiental. O aprofundamento do conhecimento de sistemas

    anaerbios e aerbios, quando operados de forma combinada, contribuir para

    futuras aplicaes que estaro ao alcance dos produtores, com consequente

    disseminao de tecnologia e incentivo a prticas sustentveis de produo.

  • 27

    2 OBJETIVOS

    2.1 Objetivo geral

    O objetivo geral desse trabalho foi avaliar o desempenho de dois

    reatores anaerbios de manta de lodo (UASB) em srie, seguidos por um filtro

    biolgico aerado submerso (FBS) no tratamento da vinhaa, em escala

    laboratorial.

    2.2 Objetivos especficos

    Os objetivos especficos da pesquisa foram:

    a) Analisar a remoo de matria orgnica dos reatores UASB e FBS,

    por meio da avaliao das concentraes de DQO, DBO, ST, SVT,

    SFT nos afluentes e efluentes dessas unidades de tratamento.

    b) Avaliar o potencial de remoo de nitrognio e fsforo dos reatores

    UASB e FBS.

    c) Quantificar e tambm estimar teoricamente o biogs produzido pelos

    reatores UASB.

    d) Quantificar a eficincia na remoo de fenis.

    e) Determinar o perfil dos slidos ao longo dos reatores UASB e FBS.

    f) Avaliar o comportamento hidrodinmico dos reatores UASB e FBS.

  • 28

    3 REVISO DE LITERATURA

    3.1 A vinhaa

    O setor agroindustrial no reconhecido pela sociedade como um setor

    que afeta o meio ambiente. De acordo com Abarca (1999), talvez tal fato seja

    devido sociedade valorizar mais a contribuio da atividade agroindustrial na

    produo de alimentos sendo, entretanto, desconhecido, para a maior parte dela,

    a complexidade dos processos tecnolgicos existentes neste tipo de atividade,

    bem como o montante de subprodutos poluidores que so gerados e depositados

    no meio ambiente.

    Dentre as diversas atividades agroindustriais com elevado potencial

    poluidor, destaca-se o processamento da cana-de-acar. O processo clssico da

    produo de lcool, a partir de acares por fermentao e destilao, gera um

    efluente chamado vinhaa, tambm conhecido por restilo e vinhoto.

    Dos resduos da indstria sucroalcooleira, a vinhaa , sem dvida, o

    mais importante, no s em termos de volume gerado, mas tambm em potencial

    poluidor. Aproximadamente de 6 a 15 litros de vinhaa so obtidos para cada

    litro de lcool produzido e sua composio varia de acordo com a matria prima

    e os equipamentos utilizados no processo de obteno do lcool, representando

    um srio problema ambiental (CHAUDHARI; MISHRA; CHAND, 2007;

    JIMNEZ; BORJA; MARTN, 2004).

    O efluente caracterizado por ser um resduo com alto contedo de

    matria orgnica, elementos minerais (K, Ca e Mg), pH cido, cor marrom-

    escura devido presena de polmeros de alto peso molecular chamados

    melanoidinas e compostos fenlicos (cido tnico e hmico). Geralmente, o teor

    de matria orgnica na forma de demanda biolgica de oxignio (DBO) e

    demanda qumica de oxignio (DQO) varia de 25.000 a 45.000 mg L-1 e de

  • 29

    50.000 a 120.000 mg L-1, respectivamente. J o contedo de nitrognio e sulfato

    varia de 4.000 a 6.000 mg L-1 e de 7.000 a 9.000 mg L-1, respectivamente

    (JIMENEZ; BORJA; MARTN, 2004; MADEJN et al., 2001).

    A disposio da vinhaa no ambiente perigosa e tem elevado potencial

    de poluio. A alta concentrao de matria orgnica (DQO e DBO) e de

    nutrientes (N e P) pode resultar em eutrofizao dos cursos dgua naturais. A

    aplicao desses efluentes no solo, sem acompanhamento adequado, afeta

    perigosamente a qualidade das guas subterrneas, alterando suas propriedades

    fsico-qumicas, tais como cor, pH, condutividade eltrica (CE), etc., devido

    lixiviao dos ons orgnicos e inorgnicos (JAIN et al., 2005).

    Normas ambientais, cada vez mais rgidas, tm colocado presso nas

    cachaarias e nos produtores tradicionais de acar e lcool a partir da cana-de-

    acar, o que resulta num interesse crescente para o desenvolvimento de novas

    tecnologias e procedimentos para o tratamento da vinhaa.

    3.1.1 Composio da vinhaa

    Sua composio qumica bastante varivel e depende, principalmente,

    de fatores como a natureza e a composio da matria prima, do sistema usado

    no preparo do mosto, do mtodo de fermentao adotado e do sistema de

    conduo da fermentao alcolica, do tipo de levedura utilizada, do tipo de

    aparelho destilatrio empregado, da maneira de destilao e do tipo de flegma

    separado (GLRIA; ORLANDO FILHO, 1984; LELIS NETO, 2008).

    Consiste em um efluente lquido rico em matria orgnica e potssio,

    com significativos teores de clcio, magnsio e enxofre e outros minerais em

    pequena quantidade. Devido a sua composio, amplamente utilizada in natura

    como adubo, na fertirrigao (BORDIGNON, 2011; CABELLO et al., 2009;

    CORAZZA, 2006).

  • 30

    Segundo Barros (2013) e Giachini e Ferraz (2009), a vinhaa pode ser

    formada a partir de trs mostos diferentes, o que lhe confere nveis variveis

    para cada elemento mineral. O mosto de melao o mais rico, apresenta em

    mdia nveis de nitrognio - fsforo potssio (NPK) com cerca de 0,57; 0,10;

    3,95 kg m-3 de vinhaa, respectivamente. O mosto misto, que produzido em

    usinas como destilarias, apresenta nveis com cerca de 0,48 kg m-3 de N, 0,09 kg

    m-3 de P, 3,34 kg m-3 de K e o mosto de caldo, produzido em destilarias isoladas,

    apresenta os nveis de NPK em kg m-3 de vinhaa, 0,28; 0,09; 1,29

    respectivamente.

    A vinhaa apresenta elevadas concentraes de matria orgnica, por

    isso seu uso pode alterar caractersticas do solo, modificando o mesmo

    quimicamente, aumentando alguns elementos para as plantas e tambm pode

    alterar o solo, como aumentar a lixiviao de seus compostos e contaminar o

    lenol fretico, problemas de eutrofizao, entre outros (PREVITALI, 2011).

    Outras caractersticas da vinhaa que causam impacto ambiental

    negativo so: a cor, presena de metais pesados e poluentes orgnicos, como

    clorofrmio, pentaclorofenol, fenol e cloreto de metileno. Compostos fenlicos

    da matria prima, melanoidinas de reao Maillard de acares com protenas,

    caramelos de acares superaquecidos e resduos de hidrlise cida podem

    contribuir com a colorao do efluente. Estes compostos podem inibir a

    fermentao microbiana no rmen, assim como no tratamento biolgico da

    vinhaa, quando presentes em determinadas concentraes (VIANA, 2006).

    Rocha (2012), analisando a Tabela 1, observou uma relao mdia de

    46% de DBO/DQO, ou seja, quase metade de toda a DQO presente na vinhaa

    constituda de matria orgnica biodegradvel. Este um dado importante, pois

    indica o potencial poluidor deste resduo e uma possibilidade de tratamento

    biolgico para a remoo desta parcela, em especial o tratamento anaerbio.

  • 31

    Tabela 1 Composio da vinhaa de cana-de-acar segundo vrios autores

    Referncia Tipo de

    mosto de vinhaa

    pH DBO (g L-1)

    DQO (g L-1)

    N(total) (g L-1)

    SO4 (g L-1)

    P(total) (g L-1)

    K (K2O3) (g L-1)

    Haandel e Catunda (1994)

    Caldo 3,5 12,0 25,0 0,40 0,20 0,80 -

    Driessen et al. (1994)

    Caldo 3,5 15,0 22,0 0,40 0,06 - 0,40

    Costa et al. (1986)

    Caldo 4,2 16,5 33,0 0,70 0,09 1,74 0,76

    Callander e Badford (1983)

    Caldo 3,9 - 26,0 1,19 0,32 2,10 1,47

    Lampoglin e Rossel (1997)

    Caldo 4,1 11,0 24,0 0,45 0,65 0,11 1,65

    Costa et al. (1986)

    Misto 4,5 19,8 45,0 0,71 0,09 3,82 3,73

    Souza, Fuzaro e Polegato (1992)

    Misto 3,9 - 31,5 0,37 0,03 1,30 0,42

    Costa et al. (1986)

    Melao 4,6 25,0 65,0 1,61 0,13 6,50 6,40

    Menezes (1989)

    Melao 4,1 25,8 48,0 0,82 0,16 - -

    Haranda et al. (1996)

    Melao 4,1 30,0 120 1,60 0,06 1,92 4,60

    Sheehan e Greenfield

    (1980)

    Melao 4,2 35,7 77,7 1,78 0,17 8,90 4,36

    Driessen et al. (1994)

    Melao 3,9 39,0 100 1,03 0,03 7,00 9,5

    Goyal et al. (1996)

    Melao 4,1 60,0 98,0 1,20 1,50 1,20 5,00

  • 32

    Tabela 1, concluso

    Referncia Tipo de

    mosto de vinhaa

    pH DBO (g L-1)

    DQO (g L-1)

    N(total) (g L-1)

    SO4 (g L-1)

    P(total) (g L-1)

    K (K2O3) (g L-1)

    Sanchez Riera et al.

    (1985)

    Melao 4,8 - 100,0 2,5 0,30 1,75 0,70

    Casarini et al. (1987)

    Melao 4,2 - 24,6 0,81 0,03 1,98 0,61

    Lampogha e Rossel (1997)

    Melao 4,6 25,0 65,0 1,03 6,40 0,20 5,60

    Bazua et al. (1991)

    Melao 5,0 27,5 64,0 1,30 - - 2,80

    Fonte: Rocha (2012)

    3.1.2 Alternativas de tratamento da vinhaa e disposio final

    Com a perspectiva do aumento substancial da produo de vinhaa e

    tendo em vista o aumento do controle sobre a disposio do resduo, surgiram

    diversas iniciativas de busca de tecnologias para solucionar o problema. Neste

    sentido, observa-se que a poltica ambiental (neste caso via legislao ambiental)

    pode ter um papel ativo na seleo de possibilidades tecnolgicas (CORAZZA;

    SALLES-FILHO, 2000; ROCHA, 2012).

    A partir da dcada de 1970 ficou limitado o lanamento da vinhaa nos

    mananciais superficiais, gerando multa usina que violasse essa proibio. A

    Tabela 2 apresenta o avano da legislao brasileira no que diz respeito ao

    lanamento indevido da vinhaa nos mananciais superficiais.

  • 33

    Tabela 2 Evoluo da legislao brasileira sobre a disposio da vinhaa

    Legislao Descrio

    Portaria MINTER n 323, de 29/11/1978

    (HASSUDA, 1989)

    Probe o lanamento da vinhaa nos mananciais superficiais.

    Lei n 6.134, de 02/06/1988, art. 5, do Estado de So Paulo (HASSUDA, 1989)

    Os resduos lquidos, slidos ou gasosos, provenientes de atividades agropecurias, industriais, comerciais ou de qualquer outra natureza, s podero ser conduzidos ou lanados de forma a no polurem as guas subterrneas.

    Lei n 13.494, de 11/07/2001, do Estado de

    Minas Gerais (MINAS GERAIS, 2001).

    Trata do padro de identidade e caractersticas do processo de elaborao da Cachaa Artesanal de Minas, condicionam a obteno e a manuteno do Certificado de Controle de Origem ao cumprimento das obrigaes inerentes legislao ambiental, dentre outras.

    Deliberao Normativa COPAM n 164, de

    30/03/2011 (CONSELHO ESTADUAL DE

    POLTICA AMBIENTAL DO ESTADO DE MINAS

    GERAIS - COPAM, 2011).

    Elaborao de proposta de deliberao normativa especfica para aplicao de vinhaa e guas residurias provenientes da fabricao de aguardente em solo agrcola. Considerando que a aplicao de vinhaa, guas residurias ou sua mistura em solo agrcola benfica para a recomposio de nutrientes no solo, desde que observadas as taxas adequadas e as exigncias de controle ambiental.

    Norma Tcnica CETESB

    P4.321 (COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE

    SANEAMENTO AMBIENTAL - CETESB,

    2006).

    Dispe sobre os critrios e procedimentos para a aplicao da vinhaa, gerada pela atividade sucroalcooleira no processamento de cana-de-acar, no solo do Estado de So Paulo.

    Deliberao Normativa COPAM n 184, de 13/06/2013, art. 4 (COPAM, 2013)

    A aplicao de vinhaa, guas residurias ou sua mistura em solo agrcola s pode ser feita em rea de empreendimento do setor agrossilvipastoril para a qual tenha sido elaborado o Plano de Aplicao, cujo formulrio encontra-se no Anexo III desta Deliberao Normativa.

    Deliberao Normativa COPAM n 184, de 13/06/2013, art. 9 (COPAM, 2013)

    A vinhaa e as guas residurias produzidas durante a safra e que no forem utilizadas para aplicao em solo agrcola devem ter destinao ambientalmente adequada.

  • 34

    Rocha (2012) e Viana (2006) mostram vrias possibilidades de

    tratamento e aproveitamento da vinhaa, tais como:

    a) Tratamentos fsico-qumicos: coagulao, floculao e

    sedimentao com baixo consumo de energia e remoo de DQO de

    at 50%, havendo inclusive remoo de cor.

    b) Osmose reversa: a vinhaa passada por presso por uma

    membrana seletiva, no permeado h reduo na DQO de 90%. um

    processo caro com grande consumo energtico e dificuldade em

    encontrar uma membrana adequada.

    c) Evaporao: para atingir cerca de 60 Bx deixando a vinhaa com

    consistncia pastosa.

    d) Incinerao: sistema de reao em leito fluidizado. Apesar de

    reaproveitar os sais minerais nas cinzas, economicamente invivel.

    e) Reciclagem industrial: A vinhaa gerada usada at 15 vezes para

    diluir o melao antes da fermentao, isto reduz o volume de vinhaa

    para 1 a 2 litros por litro de lcool destilado.

    f) Lagoas aerbias de jacinto: a planta aqutica, conhecida

    vulgarmente como Jacinto (aguap), a biomassa vegetal produzida

    a partir da remoo da matria orgnica e nutriente da vinhaa,

    podendo ser aproveitada na rao animal ou para produo de

    biogs.

    g) Lagoas de estabilizao: o resduo pode ser estabilizado com prazo

    de at nove meses por ao fermentativa natural, em que h o

    desprendimento de gases com odor desagradvel, infiltrao e

    contaminao do lenol fretico.

    h) Filtros biolgicos: biodegradao anaerbia.

  • 35

    i) Produo de biomassa proteica fngica ou unicelular:

    necessidade de tratamento posterior.

    j) Digesto anaerbia: produo de gs metano durante a degradao

    anaerbia da vinhaa.

    k) Fertirrigao: a vinhaa in natura utilizada na lavoura para

    reaproveitamento do nitrognio, fsforo e potssio.

    De todos os itens citados acima, a fertirrigao a mais difundida e

    utilizada, devido a sua viabilidade tcnica e econmica. amplamente utilizada

    em reas agrcolas, prximas das usinas de cana-de-acar, por conter elementos

    em quantidades significativas, substituindo assim, o uso de fertilizantes

    qumicos.

    3.1.3 A vinhaa utilizada na fertirrigao e seus impactos

    A fertirrigao com vinhaa uma prtica muito utilizada nas usinas e

    destilarias do Brasil. Com o aumento na produo de lcool, acarretou aumento

    tambm na produo de vinhaa, causando uma srie de problemas no meio

    ambiente pelo seu destino com despejo em rios (PREVITALI, 2011).

    A constituio da vinhaa, rica em gua e minerais, e as dificuldades

    tcnicas e econmicas envolvidas em seu tratamento, aparecem como as razes

    arroladas com maior frequncia para justificar a adoo e a ampla difuso da

    prtica vigente para o destino da vinhaa, a fertirrigao (VIANA, 2006).

    A fertirrigao empregada como expediente substituto ao uso da

    fertilizao qumica, constituindo uma fonte de nutrientes minerais,

    principalmente de potssio (CORAZZA; SALLES-FILHO, 2000); contribuindo

    tambm com a economia, pois diminui os gastos com a adubao qumica.

  • 36

    A vinhaa um resduo que no contm reconhecidamente metais

    pesados, porm, foram encontrados j em amostras de vinhaa teores baixos de

    metais pesados como Pb, Cd, Cr e Ni, sugerindo que aplicaes elevadas de

    vinhaa por um longo perodo poderiam aumentar estes no solo (CAMILOTTI

    et al., 2009).

    A aplicao desse resduo em doses compatveis com as caractersticas

    fsico-qumicas do solo, devido ao incremento de produtividade agrcola,

    aumenta tambm a produo de acar por hectare, tornando-se assim, um

    importante fator econmico principalmente para a agroindstria sucroalcooleira

    (PENHABEL, 2010).

    Segundo Viana (2006), as principais razes da ampla difuso da

    fertirrigao so:

    a) Baixo investimento inicial requerido (tanques de decantao,

    caminhes, e atualmente bombas e dutos).

    b) Baixo custo de manuteno (pouco pessoal, diesel e eletricidade

    gerada localmente).

    c) Rpida disposio da vinhaa no solo (sem necessidade de grandes

    reservatrios reguladores).

    d) Ganhos compatveis com o investimento (h lucros com a

    reciclagem do potssio no solo e o retorno do investimento

    bastante rpido).

    e) Fecha o ciclo interno que envolve a parte agrcola e a industrial no

    mesmo setor, diminuindo a dependncia de insumos externos

    (fertilizante).

    f) No envolve uso de tecnologia complexa.

    g) Aumento da produtividade da safra e da produtividade na fabricao

    do acar.

  • 37

    Mesmo diante das vantagens proporcionadas pela adoo da

    fertirrigao, restam ainda dvidas quanto adequao da prtica do ponto de

    vista da proteo dos recursos naturais, principalmente no que diz respeito a seus

    efeitos de longo prazo. O uso de volumes elevados de vinhaa pode aumentar o

    nvel de potssio no caldo da cana. Alm disso, h controvrsias sobre

    salinizao do solo e contaminao de aquferos subterrneos. Se os efeitos da

    descarga da vinhaa sobre os mananciais de superfcie so bastante conhecidos a

    ponto de no mais suscitarem disputas, o mesmo parece no ocorrer com os

    impactos ambientais de sua disposio no solo (CORAZZA; SALLES-FILHO,

    2000; VIANA, 2006).

    3.2 Reatores anaerbios de manta de lodo UASB

    O tratamento anaerbio de efluentes bastante atrativo para pases de

    clima tropical, uma vez que a aplicabilidade dessa tecnologia depende de fatores

    ambientais que neles so favorveis. Em pases como Mxico, Equador,

    Colmbia, Indonsia, Venezuela e Brasil j se encontram em operao diversas

    estaes de tratamento com tecnologia anaerbia (HAMERSKI, 2012).

    O UASB foi desenvolvido e aplicado na Holanda na dcada de 1970 e

    vem sendo utilizado para tratamento de esgotos domsticos e industriais, assim

    como no tratamento de lodo, atuando, como um decantador primrio, um reator

    biolgico, um decantador e um digestor de lodo (ROSRIO, 2007).

    Segundo Chernicharo (1997), Lettinga et al. (1991) e Passeggi et al.

    (2012), o reator UASB (Figura 1) um dos sistemas biolgicos no qual o

    efluente tratado na ausncia de oxignio livre, ocorrendo a formao de uma

    biomassa anaerbia, denominada lodo anaerbio. Um dos principais subprodutos

    da degradao anaerbia da matria orgnica o biogs (CH4 e CO2). E um dos

    aspectos mais importantes nos reatores UASB sua habilidade em desenvolver e

  • 38

    manter um lodo de elevada atividade e excelentes caractersticas de

    sedimentao.

    Figura 1 Desenho esquemtico de um reator UASB

    Fonte: Silva, J. (2007)

    Rosrio (2007) apresentou na Tabela 3 as principais vantagens e

    desvantagens da utilizao do UASB no tratamento de esgotos.

  • 39

    Tabela 3 Vantagens e desvantagens de um reator UASB

    VANTAGENS DESVANTAGENS

    - Baixo consumo de energia eltrica, devido a no utilizao de equipamentos

    eletromecnicos.

    - A partida do UASB lenta, pois as bactrias anaerbias tm uma velocidade

    de crescimento pequena.

    - Sistema compacto, no necessitando de grandes reas.

    - Pequena remoo de organismos patognicos.

    - Este tratamento suporta variao de cargas orgnicas e hidrulicas, quando o

    sistema estiver estabilizado e o lodo ativo.

    - Este sistema tem baixa capacidade de tolerar cargas txicas.

    - Eficincia de DQO e DBO na ordem de 65% a 75%.

    - Gerao de odor desagradvel por causa da degradao de compostos contendo

    enxofre e gs sulfdrico.

    - Produo de energia na forma de metano.

    - Necessidade de ps-tratamento para remoo de DQO remanescente, amnia e

    outros compostos.

    - Pequena produo de lodo. Tal lodo no precisa de tratamento, pois j vem

    estabilizado, havendo apenas a necessidade de desidratao.

    - Baixo requerimento de nutrientes.

    - Baixo custo de implantao e operao.

    - Em caso de necessidade a alimentao do reator pode ser parada por vrios

    meses, sem perdas significativas para a biomassa.

    Nos ltimos anos, a tecnologia UASB tem sido utilizada com sucesso

    para o tratamento de vrios tipos de guas residurias. Reatores UASB

    pertencem categoria de alta taxa de tratamento anaerbio de efluentes e,

    portanto, um dos reatores mais populares e amplamente utilizados no

    tratamento de efluentes de destilaria (AKUNNA; CLARK, 2000).

    O processo anaerbio se constitui em uma tecnologia adequada para a

    estabilizao das altas concentraes de matria orgnica presente na vinhaa,

  • 40

    possibilitando produzir dois produtos finais de valor econmico: o gs metano

    como fonte de energia e o efluente que pode ser usado com maior segurana

    como fertilizante de solos devido reduo de matria orgnica pelo processo

    anaerbio, mas ainda com concentraes considerveis de nutrientes

    (MADEJN et al., 2001; RIBAS, 2007).

    A tecnologia UASB adequada para guas residurias de destilaria de

    alta carga somente quando o processo for iniciado com sucesso e estiver em

    funcionamento estvel. Sendo assim, para alcanar partidas bem sucedidas, os

    reatores devem ser operados a uma baixa carga de 4 a 8 kg m-3 d-1 de DQO e a

    eficincia de remoo de DQO deve ser monitorada cuidadosamente

    (WOLMARANS; VILLIERS, 2002).

    Segundo Ribas (2007), vrios autores avaliaram o reator UASB para

    tratamento anaerbio termoflico da vinhaa por apresentar melhor desempenho

    (DRIESSEN; TIELBAARD; VEREIJKEN, 1994; HARADA et al., 1996;

    SOUZA; FUZARO; POLEGATO, 1992; VLISSIDIS; ZOUBOULIS, 1993;

    WIEGANT; CLAASSEN; LETTINGA, 1986). Alguns dos estudos mais

    significativos sobre o tratamento anaerbio de vinhaa so apresentados na

    Tabela 4 com relao s taxas mximas obtidas de carregamento orgnico.

    Harada et al. (1996) analisaram a viabilidade de reatores UASB em

    temperaturas termoflicas. Um reator UASB de 140 litros foi estudado por um

    perodo de 430 dias. A carga orgnica de at 28 kg m-3 d-1 de DQO foi aplicada

    por meio da reduo do tempo de deteno hidrulica (TDH). A remoo de

    DQO foi de 67%, enquanto a remoo de DBO foi mais significativa (mais de

    80%).

    Driessen, Tielbaard e Vereijken (1994) estudaram o tratamento

    anaerbio da vinhaa, em condies termoflicas, utilizando reator UASB. Os

    pesquisadores verificaram a tratabilidade da vinhaa por esse mtodo.

    Obtiveram eficincias de remoo de DQO na faixa entre 65 e 95%, dependendo

  • 41

    das condies do tratamento. Obtiveram carregamentos da ordem de

    22 kg m-3d-1, com eficincia de remoo de DQO de 88%, alm de formao de

    lodo bem granulado. Os autores preveem que carregamentos orgnicos maiores

    podem ser aplicados com alta eficincia de remoo de DQO se as condies de

    operao forem otimizadas.

  • 42

    Tabela 4 Parmetros da vinhaa por diversos autores

    Temperatura Configurao (volume til)

    Tempo operao(d)

    Origem vinhaa

    DQO afluente (g L-1)

    1COVmx. (kg m-3 d-1)

    2TDH (d) 3DQO (%) Rendimento

    CH4 (m3 m-3 d-1)

    Referncia

    Mesoflico (32-37 C)

    Filme fixo (0,8 L)

    90 Vincola 61 20 3 37 3,8

    Lalov, Krysteva e Phelouzat

    (2001)

    Fluidificado com pedra

    pome (0,63 L) 66 Vincola 18 36 0,5 76 8,2

    Balaguer, Vicent e Pars

    (1997)

    Fluidificado com carvo

    granular ativado( 1,5 L)

    250 Acar de beterraba

    1,7 5,3 8 87 2,3 Fdz-Polanco et al. (2001)

    Fluidificado com zeolita

    (1,0 L) 120

    lcool de cana

    66 10 0,6 80 1,2 Fernandez et

    al. (2001)

    UASB (0,5 L) n.d. Vincola 31 9,1 3,4 90 0,72 Moosbrugger et al. (1993)

    Batelada sequencial

    (5,0 L) 147

    Acar de cana

    16 2,4 6,6* 96 n.d. Ruiz (2002)

  • 43

    Tabela 4, concluso

    Temperatura Configurao (volume til)

    Tempo operao(d)

    Origem vinhaa

    DQO afluente (g L-1)

    1COVmx. (kg m-3 d-1)

    2TDH (d) 3DQO (%) Rendimento

    CH4 (m3 m-3 d-1)

    Referncia

    Termoflico (53-55C)

    UASB (2,0 L) 200 Acar de Beterraba

    60 6,0 10 86 1,9 Vlissidis e Zouboulis

    (1993)

    UASB (5,75 L) 120 lcool

    beterraba 15,4 86,4 0,2 60 26

    Wiegant, Claassen e

    Lettinga (1986)

    Fluidificado (n.d) 90 Vincola 15 40,5 2,55 82 7,5 Prez, Romero e Sales (1999)

    UASB (140 L) 430 lcool de

    cana 10 24 0,42 45 n.d.

    Harada et al. (1996)

    UASB(70 m3) 280 lcool de

    cana 31,5 25 2 72 10

    Souza, Fuzaro e Polegato (1992)

    4RAHLF(2 L) 90 lcool de

    cana 10 9,1 1,1 70 n.d. Telh (2001)

    UASB (10 L) 200 lcool de

    cana 5-6,5 5-6,5 1 45 n.d. Viana (2006)

    n.d.: dado no disponvel; *Tempo de ciclo de cada batela. 1COVmx: carga orgnica volumtrica mxima; 2 TDH: tempo de deteno hidrulica; 3DQO: eficincia de remoo;

    4RAHLF: reator anaerbio horizontal de leito fixo.

  • 44

    O conceito de reator UASB convencional mostrou srias limitaes,

    principalmente devido aos problemas relacionados resistncia de transferncia

    de massa ou o aparecimento de gradientes de concentrao dentro do sistema

    (LIER et al., 2001).

    Sistemas anaerbios podem ser operados como fase nica ou sistemas de

    duas fases. Sistemas monofsicos envolvem apenas um reator, no qual os

    microrganismos degradam a matria orgnica, enquanto nos sistemas de duas

    fases, os organismos acidognicos e os metanognicos encontram-se em dois

    reatores distintos.

    O processo anaerbio de dois estgios, segundo Haandel e Lettinga

    (1994), consiste em dois reatores em srie, um para hidrlise parcial da matria

    orgnica particulada e o outro para digerir os compostos solveis formados no

    primeiro reator. O primeiro reator hidroltico, com velocidade ascensional

    relativamente baixa, conter lodo floculento. A matria orgnica particulada do

    afluente poder ser adsorvida e parcialmente hidrolisada nos flocos e

    reintroduzida como compostos solveis na fase lquida, os quais sero tratados

    no segundo reator. A eficincia de remoo de slidos suspensos no primeiro

    reator ser maior do que a remoo da matria orgnica solvel e ser necessrio

    a descarga peridica do excesso de lodo (PEREIRA, 2004).

    Segundo Mohana, Acharya e Madamwar (2009), um sistema bifsico

    capaz de otimizar cada etapa de fermentao em fermentadores separados.

    Como resultado, a eficincia do processo e a cintica so superiores aos dos

    processos convencionais de estgio nico em que todos os organismos primrios

    e secundrios e impurezas associadas so conduzidos sob condies ambientais

    idnticas.

    Na fase preliminar da fermentao, os produtos finais so formiato,

    acetato, lactato, etanol, dixido de carbono, hidrognio e maior teor de cidos

    graxos volteis. basicamente a fase de fermentao cida. A fase secundria

  • 45

    constitui na fermentao do metano, na qual os produtos finais sero o metano e

    dixido de carbono.

    A biometanizao utilizando sistema bifsico o mtodo de tratamento

    mais adequado para as guas residurias de alta carga devido as suas mltiplas

    vantagens, tais como: possibilidade de manter condies ideais para o

    tamponamento de desequilbrios entre a produo e consumo de cidos

    orgnicos; desempenho estvel e maior concentrao de metano no biogs

    produzido (SETH; GOYAL; HANDA, 1995).

    Uma das maiores limitaes do tratamento anaerbio de guas

    residurias, com concentraes elevadas de slidos orgnicos biodegradveis,

    como a vinhaa, em sistemas de um nico estgio a hidrlise lenta, em virtude

    da produo de grandes quantidades de cidos graxos volteis no reator, os quais

    podem diminuir e inibir a atividade dos microrganismos metanognicos.

    Sabendo disso, Akunna e Clark (2000) propuseram um reator hbrido,

    que uma combinao de reatores UASB e um reator anaerbio

    compartimentado para o tratamento de efluentes de alta carga, conhecido como

    reator anaerbio de leito granular. Eficincias de remoo de at 80% de DQO e

    90% de DBO foram observadas para uma taxa de carga orgnica de 4,75 kg m-3

    d-1 de DQO. A produo de biogs aumentou de 10 a 22 L d-1 para taxas de

    carregamento de 0,99 e 4,75 kg m-3 d-1 de DQO, com teor de metano de 60 a

    70%. A eficcia do reator resultou na estabilidade do processo criada pela

    separao das fases previstas na configurao do reator. O sistema tambm

    mostrou maior reteno de slidos com concentrao de slidos suspensos no

    efluente de 80 mg L-1 para todas as condies orgnicas e hidrulicas.

    Uzal, Gokay e Demirer (2003) investigaram o tratamento anaerbio de

    resduos de destilaria de usque em reatores UASB de duas fases e concluram

    que o sistema funcionou de forma eficiente, mesmo em carga orgnica to alta

    quanto 39 kg m-3 d-1, resultando em reduo da DQO de 95%.

  • 46

    Sayed e Fergala (1995), utilizando o processo em dois estgios com

    reatores UASB (o primeiro com lodo floculento e o segundo com lodo

    granulado), para tratamento de esgoto sanitrio bruto (DQO de 200 a 700 mg L-1

    com 55% correspondendo DQO), com temperatura de 18 C a 20 C,

    verificaram eficincias de remoo de DBO e DQO de 90 a 80%,

    respectivamente, com COV de 2 e 6 kg DQO m-3 d-1 no primeiro e segundo

    reatores, respectivamente.

    3.3 Biofiltros aerados submersos (FBS)

    O Biofiltro Aerado Submerso, ou Filtro Aerbio Submerso, conforme

    designado pela NBR 13.969/97, um processo de tratamento que utiliza um

    meio suporte, imerso no reator, para fixao dos microrganismos responsveis

    pela depurao do esgoto (biofilme), sendo o oxignio necessrio fornecido por

    meio de equipamentos de aerao (ASSOCIAO BRASILEIRA DE

    NORMAS TCNICAS - ABNT, 1997). Embora o volume de ar introduzido seja

    expressivo, no interior do meio filtrante prevalece um escoamento de fluxo

    pisto (ORTIGARA, 2009).

    So tambm conhecidos como sistemas de aerao por contato e tm

    sido utilizados por mais de 50 anos. Pedra, coque, ripas de madeiras e material

    cermico so alguns dos materiais suportes utilizados no passado. Ar

    comprimido era introduzido atravs de tubos perfurados sob o meio de contato.

    Com o desenvolvimento dos difusores de ar, atualmente fabricados com

    membrana de borracha EPDM (Ethylene Propylene Diene Monomer) (M-class

    rubber) e montados em PVC (cloreto de polivinila); e com os vrios materiais de

    contato, (meio suporte) este tipo de filtro continua atraindo o interesse dos

    pesquisadores. Assim, os filtros submersos parecem ser uma boa alternativa a

    outros processos de tratamento (AISSE et al., 2001).

  • 47

    Os FBS so reatores de biomassa aderida nos quais so utilizados

    materiais de empacotamento com uma elevada rea especfica para o tratamento

    secundrio e tercirio de guas residurias. O efluente a ser tratado introduzido

    na parte inferior do biofiltro, juntamente com o ar necessrio para a atividade

    microbiana. A maioria dos FBS dispe de sistema de aerao artificial, no qual

    uma bomba succiona o afluente e injeta ar dissolvido na base dos biofiltros.

    Podem tambm ser utilizados compressores convencionais, mas o mais

    adequado em escala plena so os denominados sopradores, capazes de aplicar ar

    a elevadas presses manomtricas. gua residuria e ar percolam no meio

    suporte.

    Durante todo o trajeto, microrganismos aerbios aderidos ao suporte de

    imobilizao celular e em suspenso no lquido em tratamento utilizam a matria

    orgnica presente, estabilizando-a e produzindo, como subprodutos, gs

    carbnico, gua e energia armazenada nos microrganismos sob a forma de ATP.

    Esta configurao diferenciada de reator foi desenvolvida na Europa no

    final dos anos 80, sendo o FBS largamente difundido devido s suas vantagens,

    como a pequena necessidade de rea e cargas orgnicas aplicveis muito

    superiores aos processos biolgicos convencionais, alcanando altas eficincias

    de remoo de compostos orgnicos, nitrognio total e slidos suspensos

    (WANG et al., 2006).

    Em geral, reatores submersos de biomassa fixa alcanam uma elevada

    concentrao de microrganismos, o que permite menores tempos de deteno

    hidrulica (TDH) para os mesmos tempos de reteno de slidos, em

    comparao com sistemas em que a biomassa cresce suspensa. Isso resulta em

    um sistema compacto, que pode ser vantajoso quando no se dispe de grandes

    reas para construir o sistema de tratamento (ORTIGARA, 2009).

  • 48

    Os biofiltros aerados so capazes de atingir diferentes objetivos de

    qualidade: oxidao de matria orgnica, nitrificao secundria ou terciria,

    desnitrificao e a desfosfatao fsico-qumica (LACAMP et al., 1992).

    A remoo de matria orgnica e de slidos, bem como a nitrificao

    podem ser obtidas em uma nica unidade (MANN; MENDOZA-ESPINOSA;

    STEPHENSON, 1999). Como um processo de crescimento em leito fixo, as

    condies timas para os microrganismos relevantes ao processo podem ser

    mantidas independentes do tempo de deteno hidrulica (MOORE;

    QUARMBY; STEPHENSON, 2001), permitindo o desenvolvimento de

    organismos com baixas velocidades de crescimento, tais como as bactrias

    nitrificantes.

    Alm de compactos, os biofiltros podem ser construdos em concreto,

    fibra de vidro ou ao revestido com epxi, podendo ser constitudos de unidades

    pr-fabricadas, possveis de serem transportadas e montadas no local da

    instalao. Essa peculiaridade facilita a instalao destes sistemas em locais

    onde a infraestrutura tende a ser precria, como pequenas localidades

    (CHERNICHARO, 2001).

    No Brasil, os FBS tm sido amplamente utilizados para o ps-tratamento

    de esgoto sanitrio de reatores anaerbios, tais como reatores UASB

    (HIRAKAWA; PIVELI; ALM SOBRINHO, 2002; NASCENTES; ROQUE,

    2003), tanque sptico (MAGRI et al., 2013) e filtros anaerbios (DOMINGUES;

    SECO; NOUR, 2005).

    Na configurao de UASB seguido por FBS, nas condies em que foi

    testado por Hirakawa, Piveli e Alm Sobrinho (2002), com taxas de aplicao de

    0,74 a 4,02 kg m-3 d-1 de DQO, o FBS apresentou bons resultados na remoo de

    matria orgnica (DQO e DBO) do esgoto domstico. No perodo em que a

    eficincia mdia de remoo de DQO no UASB foi de 59%, a do FBS foi de

    64%, sendo que a eficincia global do sistema foi de 85%.

  • 49

    Biofiltros como ps-tratamento de tanques spticos e preenchidos com

    materiais alternativos (tampas de polietileno e cascas de ostras) foram estudados

    por Magri et al. (2013) para o tratamento de esgoto domstico. Para valores

    mdios de DQO afluente de 309 mg L-1 e carga orgnica volumtrica de 0,8 kg

    m-3 d-1 de DQO, as eficincias de remoo foram de 62% para o biofiltro

    preenchido com tampas PET e 94% para o preenchido com casca de ostras.

    Alm da eficincia de remoo de DQO mais elevada, o FBS preenchido com

    casca de ostra apresentou-se mais eficiente na aderncia de microrganismos,

    com menor desprendimento de biofilme e elevada estabilidade em todos os

    processos de transformaes bioqumicas (ORTIGARA, 2009).

    Gonalves et al. (2001) conduziram outros trabalhos, com a associao

    UASB + FBS, utilizando meios minerais, com quatro formulaes de brita (4,2 e

    0), areia (2,5 e 1,1 mm) e cinazita (mdia e fina). O FBS, agora dividido em

    quatro, operou com cargas hidrulicas de 1,2, 3m2 m-2 h-1 (secundrio) e 2,4 m2

    m-2 h-1 (tercirio). A eficincia de remoo de ST foi de 80% e 90% e o efluente

    final apresentou concentrao mdia de 30 e 17 mg L-1, respectivamente para o

    FBS secundrio e tercirio. Quanto a DQO, a associao foi capaz de produzir

    um efluente com menos de 90 mg L-1.

    As principais caratersticas dos biofiltros so: compacidade, alta

    concentrao de biomassa ativa no volume reacional, idade do lodo elevada,

    pequena produo de lodo, resistncia aos choques (hidrulicos e de carga

    orgnica) e possibilidade de cobertura evitando problemas com odores e impacto

    visual. E podem ser utilizados como polimento de um sistema anaerbio de

    tratamentos de esgotos ou como a unidade principal de tratamento (YENDO,

    2003).

  • 50

    3.3.1 Nitrificao em filtro biolgico aerado submerso (FBS)

    As guas residurias podem apresentar diversos contaminantes

    biodegradveis com: compostos orgnicos, compostos orgnicos volteis, metais

    txicos, slidos suspensos, nutrientes, patgenos microbianos e parasitas

    (BITTON, 2005). Dentre eles encontra-se o nitrognio, que em altas

    concentraes, causam eutrofizao nos corpos de gua receptores dos efluentes

    podendo, dependendo da sua espcie, ser txicos biota presente (JACOBS,

    2013).

    No ciclo do nitrognio, o nitrognio amoniacal (NH3/NH4+) oxidado a

    nitrato (NO3-), mas, antes oxidado em nitrito (NO2

    -). Esse processo

    denominado nitrificao conforme segue:

    NH3/NH4+ NO2

    - NO3

    -

    A nitrificao pode ser considerada um processo vulnervel no

    tratamento de efluentes, uma vez que, o crescimento das bactrias nitrificantes

    apresenta velocidade baixa por serem microrganismos autotrficos e a

    sensibilidade com as condies do meio como o pH, temperatura e oxignio

    dissolvido (CAMPOS et al., 2006).

    Segundo Jacobs (2013), os microrganismos nitrificantes apresentam uma

    tendncia a liberar polmero extracelular facilitando sua fixao na matriz de

    lodo. A presena de materiais suportes facilita a adeso dos microrganismos,

    evitando sua sada (lavagem) do sistema.

    A faixa de temperatura em que a nitrificao pode ocorrer est situada

    entre 5 C a 50 C, sendo que a temperatura tima apresenta valores entre 28 C

    a 36 C (HENZE, 1997; MELO FILHO, 2013).

  • 51

    A reao de nitrificao encontra suas condies timas em um pH em

    torno de 7,5 (HENZE, 1997). No entanto, alguns autores afirmam ainda que o

    pH timo para este processo gira em torno de 7,2 a 8,5 (BARNES; BLISS,

    1983). Segundo Environmental Protection Agency - EPA (1975), valores de pH

    abaixo de 7,0 e acima de 9,8 reduzem a velocidade de nitrificao em cerca de

    50%. Os microrganismos nitrificantes so suscetveis a uma srie de inibidores

    orgnicos e inorgnicos (MELO FILHO, 2013).

    O processo de nitrificao em seu primeiro estgio produz cidos (ons

    de hidrognio), o que pode provocar uma diminuio do pH se a alcalinidade

    no for suficiente para proporcionar o tamponamento do sistema (MAGRI et al.,

    2013).

    Segundo Magri et al. (2013) uma prtica adotada em estaes de

    tratamento de esgotos a dosagem de NaOH ou Ca (OH) na tentativa de reduzir

    o problema de diminuio do pH em funo do consumo de alcalinidade. Em

    alternativa adio de produtos qumicos, surge a avaliao de novos materiais

    de preenchimento e adeso de biofilme, os quais podem suprir o sistema com

    alcalinidade necessria estabilidade do processo. Todos os materiais que

    interagem com o meio lquido fornecendo alcalinidade caracterizam-se como

    no inertes, podendo assim sofrer um processo de degradao dentro dos

    reatores.

    Yu et al. (2008) utilizaram gros de escria de alto forno como material

    suporte. Morgan-Sagastume et al. (2008) usaram a escria vulcnica. Han et al.

    (2009) operaram um biofiltro aerado com um material suporte fabricado

    especificamente para este fim (escala somente exploratria), composto por lodo

    de esgoto desaguado mais argila e cinza leve. Qiu et al. (2010) avaliaram a

    eficincia de trs filtros biolgicos aerados que utilizavam como materiais de

    preenchimento a cermica, a zelita e um base de carbonato. Magri et al.

    (2013) avaliaram a eficincia do processo de nitrificao utilizando conchas de

  • 52

    ostras como material suporte em reatores aerbios com biomassa fixa. Todos os

    autores citados obtiveram resultados satisfatrios no tamponamento de seus

    reatores atravs dos materiais suportes que utilizaram, resultando assim, em uma

    elevao da taxa de nitrificao e mantendo-a mais estvel.

    3.4 Sistema combinado anaerbio aerbio

    Os reatores anaerbios apresentam muitas vantagens, porm seus

    efluentes geralmente precisam de ps-tratamento para complementar a remoo

    de materiais orgnicos e poluentes remanescentes. O emprego de reator

    anaerbio seguido de reator aerbio vantajoso, por exemplo, para o processo

    de nitrificao, pois, grande parte da matria orgnica retirada na etapa

    anaerbia e, portanto, oferece maior disponibilidade de oxignio dissolvido para

    os microrganismos auttrofos nitrificantes completarem o processo de

    nitrificao. A remoo completa de nitrognio via nitrito exige uma etapa de

    desnitrificao, que pode ser prejudicada se no houver fonte de carbono para

    doar eltrons s bactrias hetertrofas desnitrificantes (SILVA JNIOR, 2011).

    De acordo com Chernicharo (2006), a utilizao de processos

    combinados anaerbio-aerbio propicia uma srie de vantagens perante as

    estaes de tratamento aerbias convencionais, tais como baixa potncia de

    aerao requerida na fase aerbia, menor produo de lodo biolgico e baixo

    custo de implantao e operao. Em sistemas combinados UASB/lodos

    ativados ou UASB/reator de biofilme aerado o excesso de lodo gerado no reator

    aerbio pode ser direcionado para o reator UASB, onde digerido e adensado

    juntamente com o lodo anaerbio, dispensando unidades de digesto e

    adensamento adicionais.

    Em que se pesem as suas grandes vantagens, os reatores anaerbios

    dificilmente produzem efluentes que atendam aos padres estabelecidos pela

  • 53

    legislao ambiental brasileira. Portanto, torna-se de grande importncia o ps-

    tratamento desses efluentes como uma forma de atender aos requisitos legais e

    propiciar a proteo dos corpos dgua receptores. Alm da complementao na

    remoo de matria orgnica, o ps-tratamento tem por objetivo a remoo de

    constituintes pouco afetados nos processos anaerbios, tais como nutrientes (N e

    P) e organismos patognicos (ARAUJO JNIOR, 2006).

    Araujo Jnior (2006) cita que estudos conduzidos por Gonalves et al.

    (2001) mostraram que o sistema combinado UASB/reator de biofiltro aerado

    submerso capaz de manter condies estveis de operao apesar das variaes

    de carga afluente e do reciclo de lodo descartado do reator aerbio para o reator

    anaerbio. Segundo o autor, os valores mdios de DQO (Demanda Qumica de

    Oxignio) e SST (Slidos em Suspenso Totais) no efluente final para esse

    sistema so usualmente mantidos abaixo de 90 mg L-1 de DQO e 30 mg L-1 de

    SST.

    3.5 Hidrodinmica dos sistemas de tratamento

    O estudo hidrodinmico tem fundamental importncia na avaliao do

    desempenho dos reatores biolgicos, principalmente para se conhecer o tipo de

    mistura predominante e assim auxiliar no modelamento e consequentemente no

    escalonamento destas unidades.

    Salienta-se ainda que a cintica bacteriana est diretamente associada ao

    tipo de mistura, portanto, sem o conhecimento hidrodinmico no h como

    simular o desempenho de uma determinada unidade de tratamento.

    Este estudo permite um maior conhecimento dos mecanismos

    hidrulicos e pode detectar problemas associados s falhas operacionais e de

    projeto, podendo causar deficincias como caminhos preferenciais (curtos-

    circuitos), zonas mortas (estagnadas), as quais podem prejudicar a eficincia no

  • 54

    tratamento, uma vez que causa diminuio do tempo de deteno hidrulica

    (CARVALHO et al., 2008; CASTRO, 2010).

    Segundo Capela et al. (2009) e Matangue (2011), a necessidade de uma

    mistura eficiente dentro dos reatores anaerbios tem sido reconhecida e

    reforada por muitos autores. Uma mistura apropriada promove um bom

    transporte de massa ou substrato, calor aos microrganismos, mantm a

    uniformidade e outros fatores ambientais e assegura o uso efetivo de todo

    volume do reator evitando estratificao e zonas mortas.

    A eficincia dos reatores UASB depende, principalmente, da biomassa

    ativa e da carga afluente ao reator. medida que o reator vai atingindo as

    condies de estabilidade, conhecidas como permanentes (steady-state), um leito

    denso de lodo formado no fundo do reator, consistindo normalmente de

    grnulos, acima do qual formada uma zona de manta de lodo e desta outra

    zona clarificada que constitui a zona de decantao (SMITH; ELLIOT; JAMES,

    1996).

    Com o uso crescente de reatores UASB, tornou-se necessrio tambm

    um melhor entendimento dos aspectos hidrodinmicos dos reatores utilizados,

    pois na maioria, os trabalhos realizados abordam o problema sob o ponto de

    vista da eficincia de remoo de matria orgnica, slidos e outros parmetros

    (CASTRO, 2010).

    O comportamento hidrodinmico analisado a partir de estudo com

    traadores. Este estudo consiste em obter informaes sobre a distribuio do

    tempo de residncia do fluido que est escoando dentro da unidade de

    tratamento. O estudo hidrodinmico das unidades de tratamento permite

    verificar a existncia e quantificao dos volumes de zonas mortas, curtos-

    circuitos e exibir o tipo de mistura predominante na unidade examinada

    (CAPELA et al., 2009; LOURENO; CAMPOS, 2009; MATANGUE, 2011;

    SMITH; ELLIOT; JAMES, 1996; SPERLING, 2006).

  • 55

    Castro (2010) citou diversos trabalhos de autores sobre a avaliao do

    comportamento hidrodinmico de reatores, dentre os quais os de Brito e Melo

    (1997) que avaliaram o comportamento hidrodinmico de um reator UASB em

    escala de laboratrio, com volume de 480 mL e mantido temperatura de 30 C.

    O substrato era composto por mistura de cidos actico e propinico, na

    proporo de 4,5:1,0. O reator foi operado com tempo de deteno hidrulica

    (TDH) de 1,7h e velocidade ascensional de 0,22 m h-1. A inoculao do reator

    foi realizada com lodo com concentrao de 21 kg m-3 de slidos volteis. Este

    lodo aplicado na partida era anaerbio e granulado, proveniente de reator UASB

    em escala real tratando gua residuria de indstria de farinha de trigo. Os

    ensaios de estmulo-resposta, tipo pulso foram realizados com injeo de 2 mL

    de cloreto de ltio e concentrao de 5 g L-1 na linha de alimentao do reator

    UASB. Os autores verificaram um comportamento hidrodinmico semelhante ao

    reator tipo tubular ideal, denominado escoamento pistonado. Isso ocorreu devido

    baixa velocidade ascensional de operao aplicada ao reator e pouca

    produo de biogs no provendo turbulncia necessria mistura do fluido

    interno. Os autores destacaram o surgimento de efeito de cauda nas amostras do

    efluente, indicando a presena de zonas estagnadas (zonas mortas) no reator. O

    efeito de cauda corresponde em um atraso na sada de parte do traador aplicado

    no sistema em estudo. Este fenmeno ocorre porque o traador fica retido em

    zonas mortas ou possveis recirculaes internas.

    3.5.1 Utilizao de traadores nos estudos hidrodinmicos

    Um traador pode ser qualquer substncia ou partcula (qumica ou

    biolgica) que possui propriedades adequadas capazes de seguir pontualmente

    ou de forma contnua um determinado escoamento em um sistema aberto ou

    fechado (LOURENO; CAMPOS, 2009).

  • 56

    Em geral, o traador ideal possui as seguintes propriedades:

    a) Ser facilmente miscvel, no alterando as caractersticas do

    escoamento, nem suas propriedades, tais como: densidade,

    viscosidade e temperatura.

    b) No afetam a velocidade das reaes qumicas que ocorrem na

    unidade, nem provocar inibio ou toxicidade na biomassa presente

    em unidades de tratamento biolgico, no alterando a velocidade ou

    as taxas das reaes bioqumicas.

    c) Em reatores heterogneos e multifsicos, como a maioria dos

    reatores biolgicos, o traador no muda de fase durante o ensaio.

    Segundo Levenspiel (1999), quando o traador injetado num

    determinado reator ou unidade delimitada fisicamente, participa do fluxo

    inerente ao reator, sendo por fim arrastado at a sua sada. Com isso a

    informao do traador pode ser utilizada diretamente ou em conjunto com os

    modelos de escoamento para prever o desempenho dos mesmos. O mapeamento

    total da distribuio de velocidades do fluido feito por meio da distribuio do

    tempo de residncia (DTR) ou curva E (curva de distribuio de idade ou tempo

    de sada), sendo estes parmetros necessrios para o completo entendimento do

    comportamento hidrulico do reator.

    A escolha do traador apropriado no tarefa fcil, principalmente para

    uma unidade de tratamento biolgico, sendo, a adsoro pela biomassa, um dos

    problemas srios a ser enfrentado durante os ensaios. Em reatores UASB, a

    difuso do traador no lodo pode alterar as respostas, modificando as curvas de

    DTR (CASTRO, 2010).

    Apesar de serem usados vrios tipos de corantes fluorescentes, tais

    como: fluorescena, isotiocianato de fluorescena, rodamina-B, rodamina-WT e

  • 57

    eosina, nos sistemas anaerbios de tratamento de guas residurias (UASB), o

    cloreto de ltio (LiCl) tem sido indicado como traador ideal, apesar de ter sido

    verificado que, para concentraes superiores a 2 g L-1, mesmo com exposies

    temporrias a esta substncia, pode ocorrer inibio da atividade metanognica

    (ANDERSON et al., 1991).

    Segundo Castro (2010), os ensaios com traadores do tipo estmulo-

    resposta, equivale a adicionar uma quantidade conhecida de traador no lquido

    afluente, no incio do ensaio, e concomitantemente medir, a intervalos de tempo

    regular, a concentrao do traador no efluente. Determina-se ento a massa

    total de traador adicionado em relao ao tempo. Em funo do tipo de curva

    permanente do traador, tem-se o comportamento hidrodinmico do referido

    reator.

    As injees de traador podem ser feitas de diferentes formas, tais como:

    aleatria, degrau, pulso e peridica (LEVENSPIEL, 2000). Estas formas esto

    apresentadas na Figura 2.

    Figura 2 Diferentes formas de injeo do traador

    Fonte: Levenspiel (2000)

  • 58

    A aplicao pode ser:

    a) Instantnea (pulso): consiste em injetar, na entrada da unidade, um

    pequeno volume da soluo de traador, em um intervalo de tempo

    muito curto, passando-se a medir sua concentrao na sada.

    b) Contnua: consiste em alimentar a unidade durante um perodo de

    tempo pelo menos trs vezes maior que o tempo de deteno

    hidrulica terico (TDH), com o afluente contendo concentrao

    conhecida do traador, medindo-se sua concentrao na sada a partir

    do incio do teste.

    Uma informao importante na prtica em reatores o conhecimento da

    distribuio de tempos de residncia (DTR). Trata-se de um fator importante

    para se avaliar o comportamento geral de um reator, juntamente com a cintica

    da reao, a determinao da DTR permite diagnosticar problemas de

    escoamento no reator (SOUZA, 2012).

    Segundo Souza (2012), as principais anomalias so: existncia de zonas

    de estagnao do fluido ou zonas mortas; curto-circuito extremo e subpassagem

    do fluido; existncia de canalizao, especialmente em operaes em

    contracorrente; disperso axial em reatores tubulares; segregao, resultante das

    condies de mistura. A Figura 3 apresenta as principais anomalias existentes

    em escoamentos no ideais.

  • 59

    Figura 3 Principais anomalias existentes em escoamentos no ideais

    Fonte: Levenspiel (1999)

    Segundo Castro (2010), experimentos de laboratrio demonstram que

    problemas com a DTR surgem dependendo do traador utilizado. Em face disto,

    os reatores biolgicos devem ser estudados e, de acordo com suas condies

    operacionais e, ou, fsicas, obedecer aos seguintes critrios:

    a) Evitar ou minimizar o fenmeno da cauda na curva DTR;

    b) No ser adsorvido em biomassa ou ter qualquer biodegradabilidade

    em curto prazo;

    c) No ser adsorvido em bolhas de gs, tais como: CO2, O2, CH4 ou N2;

  • 60

    d) Apresentar estabilidade sob condies de processo (pH e redox);

    e) Apresentar estabilidade com o tempo;

    f) Apresentar alta solubilidade em gua/gua residuria;

    g) Apresentar faixa de concentrao com uma resposta linear e boa

    sensibilidade.

  • 61

    4 MATERIAL E MTODOS

    4.1 Localizao do experimento

    O experimento, composto por dois reatores anaerbios de manta de lodo

    (UASB) em srie seguidos por um biofiltro aerado submerso (FBS) como ps-

    tratamento, foi desenvolvido no Laboratrio de Anlise de gua do

    Departamento de Engenharia (LAADEG) da Universidade Federal de Lavras

    (UFLA), em Lavras, Minas Gerais (latitude 2114S, longitude 4200W,

    altitude mdia de 918 m).

    4.2 Configurao do experimento

    Os dois reatores UASB foram construdos idnticos, em acrlico, com

    dimetro interno de 0,18 m, altura total de 0,8 m e volume til de 16 litros, tendo

    uma relao altura/dimetro (L/B) de 4,44 m m-1. Ao longo da altura dos

    reatores, foram instalados espaadamente (9,5 cm) quatro prticos

    (amostradores), que permitiram a coleta de lodo para determinao das

    concentraes de slidos ao longo dos reatores. A Figura 4 apresenta as

    configuraes dos reatores UASB 1, UASB 2 e FBS.

    O afluente a ser tratado entrava pelo fundo dos reatores UASB em

    escoamento ascendente, formando uma biomassa contribuindo para a

    degradao do afluente. O efluente gerado em cada reator era liberado pela

    lateral, na altura do quarto prtico, servindo de afluente ao prximo reator

    interligado.

  • 62

    Figura 4 Configuraes dos reatores UASB 1, UASB 2 e FBS

    No topo de cada reator UASB, foi instalado um separador de fases

    (separador trifsico), de forma cnica, permitindo a sada do efluente, a

    coleta do biogs gerado e a reteno dos slidos dentro do sistema. A

    Figura 5 apresenta as configuraes do separador trifsico.

  • 63

    Figura 5 Configuraes do separador trifsico

    Para regular o nvel de biogs produzido nos reatores UASB, foi

    instalado um equalizador de presso em cada um desses reatores (Figura 6).

  • 64

    Figura 6 Configuraes do equalizador de presso

    Para o monitoramento da produo do biogs foram instalados

    gasmetros (Figura 7) nos reatores UASB. O biogs produzido e armazenado era

    medido por deslo