Dissertação_henrique Jose Nicolau

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Dissertação_HENRIQUE JOSE NICOLAU.pdf

Citation preview

  • PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA DA INFORMAO MESTRADO EM CINCIA DA INFORMAO

    CONVNIO UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE ARTE E

    COMUNICAO SOCIAL INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAO EM CINCIA E TECNOLOGIA

    HENRIQUE JOS NICOLAU

    O FOMENTO PESQUISA NA FIOCRUZ: UMA ANLISE QUANTITATIVA E QUALITATIVA DAS INFORMAES REGISTRADAS NAS BIENAIS DE

    PESQUISA

    Niteri Rio de Janeiro

    2008

  • HENRIQUE JOS NICOLAU

    O FOMENTO PESQUISA NA FIOCRUZ: UMA ANLISE QUANTITATIVA E QUALITATIVA DAS INFORMAES REGISTRADAS NAS BIENAIS DE

    PESQUISA

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps- Graduao em Cincia da Informao (PPGCI), convnio entre a Universidade Federal Fluminense (UFF) e o Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia (IBICT), como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Cincia da Informao.

    Orientadora: Lena Vania Ribeiro Pinheiro Doutora em Comunicao e Cultura UFRJ/ECO

    Niteri Rio de Janeiro

    2008

  • N639 Nicolau, Henrique Jos

    O fomento pesquisa na Fiocruz: uma anlise quantitativa e qualitativa das informaes registradas nas Bienais de Pesquisa / Henrique Jos Nicolau. Rio de Janeiro: UFF IBICT, 2008.

    xiv, 143 f. : il. ; 30 cm.

    Orientador: Lena Vania Ribeiro Pinheiro Dissertao (Mestrado em Cincia da Informao) Programa

    de Ps-Graduao em Cincia da Informao; Universidade Federal Fluminense, Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia, 2008.

    Bibliografia: f. 125-128

    1. Comunicao cientfica formal. 2. Anlise de contedo. 3. Fomento pesquisa. 4. Bienais de Pesquisa da Fiocruz. 5. Pesquisa em Sade. I. Pinheiro, Lena Vania Ribeiro. II. Ttulo.

    CDD 025.524

  • HENRIQUE JOS NICOLAU

    O FOMENTO PESQUISA NA FIOCRUZ: UMA ANLISE QUANTITATIVA E QUALITATIVA DAS INFORMAES REGISTRADAS NAS BIENAIS DE

    PESQUISA

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao (PPGCI), convnio entre a Universidade Federal Fluminense (UFF) e o Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia (IBICT), como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Cincia da Informao.

    Orientadora: Lena Vania Ribeiro Pinheiro

    Aprovado em 27 / 03 / 2008

    BANCA EXAMINADORA

    Prof Lena Vania Ribeiro Pinheiro Orientadora Doutora em Comunicao e Cultura UFRJ/ECO

    Prof Maria Cristina Soares Guimares Membro externo Doutora em Cincia da Informao UFRJ-IBICT

    Prof Isa Maria Freire Membro interno Doutora em Cincia da Informao UFRJ-IBICT

    Prof Rosali Fernandez de Souza Membro suplente Ph.D. Information Science, Polytechnic of North London / Council for National

    Academic Awards (CNAA) atual University of North London, Inglaterra

  • DEDICATRIA

    A Deus por tudo...

    Para os meus amados pais Alberto e Maria, por suas palavras sempre incentivadoras e fortalecedoras

    Para a minha esposa Sandra e meus filhos Carolina e Felipe, principais motivos de minha existncia, pelos momentos de ausncia e privao a que os submeti

    Para minha querida prima Hilda sempre presente nas horas mais difceis, e aos nossos eternos amigos, sem palavras...

  • AGRADECIMENTOS

    O primeiro pensamento ao idealizar um agradecimento, de que podemos estar esquecendo de mencionar pessoas que de alguma forma contriburam para o alcance deste importante feito, acarretando em sentimento de decepo por parte dos esquecidos que se interessarem em ler esta pesquisa de dissertao.

    Portanto, para amenizar este tipo de situao, e tambm evitar uma extensa lista de citaes, os meus primeiros agradecimentos so dirigidos queles (e foram muitos felizmente) que se fizeram presentes em diversos momentos desta trajetria, incentivando, apoiando, colaborando, compreendendo, ensinando, enfim, aos verdadeiros amigos, colegas, professores e colaboradores que me transmitiram, atravs dessas aes, motivao pessoal para o xito desta jornada.

    Alguns nomes e fatos, entretanto, devem ser mencionados uma vez que esto (e sempre estaro) relacionados minha histria neste difcil, porm revitalizador processo de retomada dos estudos, e que me levaram concluso do curso de mestrado.

    Em primeiro lugar, os meus sinceros agradecimentos a Ilma Noronha, diretora do ICICT e a Antonio Marinho, Vice-Diretor de Desenvolvimento Institucional do ICICT, pela confiana e incentivo, desde minha participao no curso de Especializao em Informao Cientfica e Tecnolgica em Sade - ICTS, at o apoio irrestrito para o mestrado.

    Aos inesquecveis professores, colegas de turma e colaboradores do curso do ICTS que me forneceram o combustvel e confiana necessrios para participar do processo de seleo do curso de mestrado que ora finalizo, em especial professora Maria Cristina, mentora em todos os momentos de meu aprendizado.

  • Ao Francisco Bastos, Vice-Diretor de Pesquisa, Ensino e Desenvolvimento tecnolgico do ICICT, meu chefe, pelo incondicional e inconteste apoio.

    A Maria Angela, amiga e companheira de trabalho, por sua competncia e profissionalismo nas minhas ausncias e, principalmente, pela inestimvel e integral ajuda na construo dos quadros estatsticos componentes desta pesquisa.

    Aos professores, colegas de mestrado e doutorado e colaboradores do IBICT, pelo excelente convvio e pela oportunidade mpar em adquirir e compartilhar conhecimentos ao longo dos ltimos dois anos.

    A professora Gilda Braga pela personalidade intelectual e facilidade na transmisso de conhecimento no curso de metrias da comunicao cientfica, uma das molas propulsoras para o meu direcionamento acadmico neste campo do conhecimento.

    A minha orientadora, Lena Vania, por me conduzir at aqui atravs de sua competncia, entusiasmo e sensibilidade na transmisso de seus conhecimentos, arrebanhando mais um discpulo para o campo frtil da Cincia da Informao.

  • RESUMO

    Anlise de contedo das informaes relacionadas aos projetos de pesquisa apresentados na V Bienal de Pesquisa da FIOCRUZ, atravs de mtodos quantitativos e qualitativos, e anlise extrnseca dos Anais das cinco edies das Bienais realizadas at o momento. A anlise de contedo utiliza a amostra de 569 projetos apresentados na V Bienal e tem por objetivos mapear a incidncia de projetos e traar um panorama sobre o fomento pesquisa institucional, a partir do cruzamento de dados entre as variveis: Unidade de lotao do autor principal, linha de pesquisa, vnculo do autor principal, situao de andamento da pesquisa e apoio de instituies e/ou programas aos projetos. A anlise extrnseca desenvolvida considerando os Anais das cinco edies das Bienais de Pesquisa realizadas at o momento na FIOCRUZ, representando 10 anos de cobertura de projetos de pesquisa apresentados no evento (1997-2006), e busca contribuir para o aperfeioamento do processo de organizao e de comunicao cientfica do evento. observada a importncia de se preservar a memria dos Anais das Bienais de Pesquisa da FIOCRUZ, uma vez que se caracterizam como potencial fonte secundria de informao para os estudos no campo da informao cientfica e tecnolgica em sade.

    Palavras-chave: Comunicao cientfica formal. Anlise de contedo. Fomento pesquisa. Bienais de Pesquisa da FIOCRUZ. Pesquisa em Sade.

  • ABSTRACT

    Content analysis of information related to the research projects presented on the V FIOCRUZ Research Biennial (V Bienal de Pesquisa da FIOCRUZ), through quantitative and qualitative methods, and extrinsic analysis of the annals from the five biennials held to the moment. The content analysis deals with a sample of 569 (five hundred and sixty nine) projects presented in the V Biennial and the objectives are to set an overview on the frequency of institutional projects and to draw a panorama about the incentive to the institutional research, come from cross the tabulation of several variables such as: main author research unit, research field, position of the main author, research progress, and financial support. The extrinsic analysis is developed considering the annals of the five editions of the Research Biennial up to this moment in FIOCRUZ, representing ten years of research projects presented in the event (1997-2006), and intends to contribute to the improvement of the process of organization of the Biennial as a means for scientific communication. The importance of the preservation of the Annals of the FIOCRUZ Research Biennial as a potential source of information to the studies in the field of scientific and technologic information in health, is observed.

    Keywords: Formal scientific communication, analysis of content, incentive to the research, FIOCRUZ Research Biennials, research in health.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Lista de Quadros

    QUADRO 1 Informaes gerais sobre as Bienais ...................................................... 63

    QUADRO 2 Distribuio de projetos por Unidade de lotao do autor ...................... 67

    QUADRO 3 Distribuio de apoios por Unidade......................................................... 73

    QUADRO 4 Apoio por Instituio / Programa ............................................................. 75

    QUADRO 5 Distribuio de apoios dos Programas de induo da FIOCRUZ, por Unidade ...................................................................... 78

    QUADRO 6 Nmero de apoios por projetos ............................................................... 82

    QUADRO 7 Distribuio de projetos por linha de pesquisa ....................................... 84

    QUADRO 8 Distribuio de projetos por Unidade e linha de pesquisa ...................... 87

    QUADRO 9 Distribuio de apoios por linha de pesquisa .......................................... 92

    QUADRO 10 Distribuio de apoios dos Programas de induo da FIOCRUZ, por linha de pesquisa ............................................................ 95

    QUADRO 11 Distribuio de projetos por vnculo do autor principal ........................... 98

    QUADRO 12 Distribuio de projetos por vnculo e Unidade ..................................... 101

    QUADRO 13 Distribuio de projetos por situao de andamento da Pesquisa ....... 103

    QUADRO 14 Informaes sobre o fomento, presentes nas Bienais de Pesquisa (1997-2006) ........................................................................... 108

    QUADRO 15 Informaes sobre organizao, recuperao e disseminao da informao, presentes nas Bienais de Pesquisa (1997-2006) .............. 112

    QUADRO 16 Informaes sobre os padres documentais nas Bienais de Pesquisa (1997-2006) ........................................................................... 117

    Lista de Grficos

    GRFICO 1 Distribuio de projetos por Unidade de lotao do autor ........................ 68

    GRFICO 2 Distribuio de apoios por Unidade .......................................................... 74

  • GRFICO 3 Distribuio de projetos por linha de pesquisa ......................................... 85

    GRFICO 4 Distribuio de apoios por linha de pesquisa ........................................... 93

    GRFICO 5 Distribuio de apoios dos Programas de induo da FIOCRUZ, por linha de pesquisa ........................................................ 96

    GRFICO 6 Distribuio de projetos por vnculo do autor ........................................... 99

    GRFICO 7 Distribuio de projetos por situao de andamento da pesquisa ......... 104

    Lista de Tabelas

    TABELA 1 Instituio ou Programa de apoio ............................................................... 72

    TABELA 2 Linhas de Pesquisa .................................................................................... 86

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABRASCO Associao Brasileira de Ps-Graduao em Sade Coletiva

    Bio-Manguinhos Instituto de Tecnologia em Imunobiolgicos

    BIREME Centro Latino-Americano e do Caribe de Informao em Cincias da Sade

    C&T Cincia e Tecnologia

    CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CECAL Centro de Criao de Animais de Laboratrio

    CNCTI/S Conferncia Nacional de Cincia, Tecnologia e Inovao em Sade

    CNCTS Conferncia Nacional de Cincia e Tecnologia em Sade

    CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    CNS Conferncia Nacional de Sade

    COC Casa de Oswaldo Cruz

    CONICIT Consejo Nacional de Investigaciones Cientificas y Tecnolgicas COSATI Committee on Scientific and Technical Information

    CPqAM Centro de Pesquisa Aggeu Magalhes

    CPqGM Centro de Pesquisa Gonalo Moniz

    CPqLMD Centro de Pesquisa Lenidas e Maria Deane

    CPqRR Centro de Pesquisa Ren Rachou

    DECIT Departamento de Cincia e Tecnologia

    DIREB Diretoria Regional de Braslia

    DIREH Diretoria de Recursos Humanos

    DNERu Departamento Nacional de Endemias Rurais

    DOAJ Directory of Open Access Journals

    ENERPEIXE Grupo Energias do Brasil

    ENSP Escola Nacional de Sade Pblica Srgio Arouca

    EPSJV Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio

    FACEPE Fundao de Amparo Cincia e Tecnologia do Estado de Pernambuco

  • FAPEAM Fundao de Amparo Pesquisa do Estado do Amazonas

    FAPEMIG Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais

    FAPERJ Fundao Carlos Chagas Filho de Amparo Pesquisa no Estado do Rio de Janeiro

    FAPESP Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo

    FAP Fundao de Amparo Pesquisa

    Far-Manguinhos Instituto de Tecnologia em Frmacos

    FGV Fundao Getlio Vargas

    FINEP Financiadora de Estudos e Projetos FIOCRUZ Fundao Oswaldo Cruz

    FUNASA Fundao Nacional de Sade

    IBBD Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentao

    IBICT Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia

    IC Iniciao Cientfica

    ICICT Instituto de Comunicao e Informao Cientfica e Tecnolgica em Sade

    ICSU International Council of Scientific Unions

    IDC Innovative Developing Countries

    IEC Instituto Evandro Chagas

    IFF Instituto Fernandes Figueira

    INCA Instituto Nacional do Cncer

    INCQS Instituto Nacional de Controle e Qualidade em Sade

    INERu Instituto Nacional de Endemias Rurais

    INSERM Institut National de la Sant et de la Recherche Mdicale

    IOC Instituto Oswaldo Cruz

    IPEC Instituto de Pesquisa Clnica Evandro Chagas

    ISF Instituto Soroterpico Federal

    ISI Institute for Scientific Information

    LAVITE Laboratrio de Virologia e Terapia Experimental

  • LCCDMA Laboratrio Central de Controle de Drogas, Medicamentos e Alimentos

    LILACS Literatura Latino-americana e do Caribe de Informao em Cincias da Sade

    MCT Ministrio da Cincia e Tecnologia

    MS Ministrio da Sade

    NEP Ncleo de Pesquisas da Bahia

    NIH National Institute of Health

    NLM National Library of Medicine

    OCLC Online Computer Library Center

    OMS Organizao Mundial da Sade

    OPAS Organizao Pan-Americana da Sade

    OPS Organizao Pan-Americana da Sade

    P&D Pesquisa e Desenvolvimento

    PADCT Plano de Apoio ao Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    PAPES Programa de Apoio Pesquisa Estratgica em Sade

    PBDCT Plano Bsico de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    PDTIS Programa de Desenvolvimento Tecnolgico de Insumos em Sade

    PDTSP Programa de Desenvolvimento e Inovao Tecnolgica em Sade Pblica

    PIAF Programa Integrado de AIDS da FIOCRUZ

    PIB Produto Interno Bruto

    PIBIC Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica

    PIDE Programa Integrado de Doenas Endmicas

    PIG Programa Integrado de Gentica

    PNCTI/S Poltica Nacional de Cincia, Tecnologia e Inovao em Sade

    PND Plano Nacional de Desenvolvimento

    PPA Plano Plurianual

    PPGCI Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao

    PRONEX Programa de Apoio a Ncleos de Excelncia

  • RAIC Reunio Anual de Iniciao Cientfica

    SciELO Scientific Eletronic Library Online

    SIC Superintendncia de Informao Cientfica

    SNDCT Sistema Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    SPSS Statistical Package for Social Science

    SUS Sistema nico de Sade TDR Tropical Disease Research

    TEC-TEC Tcnico-Tecnologista

    TICs Tecnologias de Informao e Comunicao

    UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    UFBA Universidade Federal da Bahia

    UFF Universidade Federal Fluminense

    UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

    UFPE Universidade Federal de Pernambuco

    UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

    UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

    UNISIST United Nations in Scientific and Technical Information

    USP Universidade de So Paulo

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................................................................. 15 2 ORIGENS E INSTITUCIONALIZAO DA CINCIA NO BRASIL: BREVE

    HISTRICO ................................................................................................................. 19 2.1 A pesquisa em sade no Brasil: polticas, tendncias e investimentos........................ 23

    3 COMUNICAO CIENTFICA..................................................................................... 30 3.1 A comunicao cientfica em Sade ............................................................................ 35

    4 FIOCRUZ: GNESE E EVOLUO DA PESQUISA ................................................. 41 4.1 Origem da pesquisa na FIOCRUZ ............................................................................... 41 4.2 Unidades tcnico-cientficas ........................................................................................ 44 4.3 O fomento pesquisa institucional .............................................................................. 50

    5 OBJETIVOS ................................................................................................................. 54

    6 METODOLOGIA E MATERIAL ................................................................................... 55 6.1 Procedimentos metodolgicos ..................................................................................... 55 6.2 Material da pesquisa .................................................................................................... 59

    7 A PESQUISA NA FIOCRUZ: ANLISE QUANTITATIVA E QUALITATIVA ............. 66 7.1 Projetos de pesquisa por Unidade ............................................................................... 66 7.2 Apoios por Unidade ...................................................................................................... 71 7.3 Projetos por linha de pesquisa ..................................................................................... 83 7.4 Apoios por linha de pesquisa ....................................................................................... 91 7.5 Projetos por tipo de vnculo do autor principal ............................................................. 98 7.6 Projetos por situao de andamento da pesquisa ....................................................... 103

    8 ANLISE EXTRNSECA: ORGANIZAO, RECUPERAO E DISSEMINAO DA INFORMAO NA BIENAL .................................................................................. 106

    9 CONSIDERAES FINAIS ......................................................................................... 121 10 REFERNCIAS ........................................................................................................... 125 ANEXOS

    ANEXO A Dados gerais dos projetos de pesquisa ................................................... 129 ANEXO B Dados e informaes presentes na estrutura bsica dos Anais das

    Bienais de Pesquisa da FIOCRUZ (1997-2006) .....................................

    142

  • 15

    1 INTRODUO

    No se faz cincia sem informao cientfica e, conseqentemente, sem a comunicao dos resultados alcanados nas pesquisas que, por sua vez, fornecem sustentao a novas pesquisas.

    A Comunicao Cientfica, como disciplina integrante do campo de estudo da Cincia da Informao, est presente nas possveis vertentes investigatrias dessa rea, uma vez que a cincia dela no prescinde e a informao cientfica por ela apropriada.

    Entender o processo da comunicao cientfica, em toda a sua abrangncia e potencialidade , portanto, pr-requisito fundamental para que o cientista da informao possa desenvolver estudos interdisciplinares envolvendo quaisquer reas do conhecimento.

    Considerando que a pesquisa cientfica componente do processo de comunicao cientfica nesta disciplina, e no mbito da Cincia da Informao, que a disseminao da informao oriunda de projetos de pesquisa, inscritos e apresentados em evento cientfico, ser analisada.

    A escolha do tema da pesquisa de dissertao se d a partir de observao feita no contexto das atividades desenvolvidas pela Assessoria da Vice-Diretoria de Pesquisa, Ensino e Desenvolvimento Tecnolgico do Instituto de Comunicao e Informao Cientfica e Tecnolgica em Sade da Fundao Oswaldo Cruz ICICT/FIOCRUZ.

    Essa observao, inicialmente relacionada ao tratamento de dados sobre a produo cientfica e o fomento a projetos de pesquisa desenvolvidos no mbito do ICICT, se expande em um segundo momento para o contexto maior da FIOCRUZ, que vem se caracterizar como lcus principal desta pesquisa.

  • 16

    Como a FIOCRUZ orienta as suas atividades com base no Plano Nacional de Sade, o qual circunscreve a Poltica Nacional de Cincia, Tecnologia e Inovao em Sade (PNCTI/S), o tema pode ser visto como de importncia estratgica, uma vez que os estudos sobre o fomento pesquisa se situam no contexto dessa Poltica.

    Para melhor caracterizar esta pesquisa no escopo da PNCTI/S, importante observar que a sua temtica se alinha com os eixos condutores que norteiam os princpios dessa Poltica (BRASIL, 2004, p. 25-27), dentre os quais, e para efeito do estudo, se destacam:

    inclusividade insero dos produtores, financiadores e usurios da produo tcnico-cientfica;

    complementaridade lgicas entre induo e espontaneidade; competitividade forma de seleo dos projetos tcnicos e cientficos; e relevncia social carter de utilidade dos conhecimentos produzidos.

    Alguns dos eixos condutores da PNCTI/S, comeam a ser estabelecidos na 12 Conferncia Nacional de Sade (12 CNS), realizada em 2003, e so complementados e aprofundados na 2 Conferncia Nacional de Cincia, Tecnologia e Inovao em Sade (2 CNCTI/S), realizada em 2004, na qual foi definida uma Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sade.

    Nesse contexto, a pesquisa de dissertao pretende delinear o panorama do fomento pesquisa Institucional, atravs das anlises de contedo das informaes relacionadas aos projetos de pesquisa apresentados na V Bienal de Pesquisa da FIOCRUZ (2005-2006), bem como contribuir para o aperfeioamento do processo de organizao e de disseminao da informao em futuras Bienais.

    A escolha da V Bienal de Pesquisa como objeto emprico para o desenvolvimento de estudos sobre o fomento pesquisa, se justifica por sua peculiaridade de reunir, em um mesmo espao, um nmero significativo de projetos de pesquisas,

  • 17

    que se apresentam em diversas fases de desenvolvimento, e que disponibilizam vrios dados por projeto, traduzindo-se como importante e diferenciada fonte de informao para esta dissertao.

    Como trajetria para construo do conhecimento, alm deste captulo introdutrio, o captulo 2 faz um breve histrico sobre as origens e institucionalizao da cincia no Brasil, bem como traa um contorno sobre as polticas, tendncias e investimentos no contexto da pesquisa em Sade no Brasil, com um breve olhar no cenrio internacional.

    Sob a viso mais abrangente das atividades desenvolvidas na FIOCRUZ adota-se a seguinte definio para a pesquisa em Sade, construda por Buss e Gadelha (2002, p. 75):

    [...] pesquisa que combina harmonicamente os conhecimentos sobre os mecanismos ntimos das nossas principais doenas - propiciados pela pesquisa biomdica e biolgica, a medicina e a biologia experimentais, fonte de grande prestgio para Manguinhos e para o pas - com a pesquisa clnica, que identifica a expresso do processo de adoecimento nos indivduos, bem como suas solues, com a pesquisa em sade pblica, isto , as pesquisas epidemiolgica, social e histrica, assim como a investigao sobre polticas, sistemas e servios de sade, que agregam estratgias fundamentais para um enfrentamento global dos problemas de sade.

    No captulo 3, a comunicao cientfica brevemente abordada, desde suas origens at o surgimento dos peridicos cientficos, propiciando um maior entendimento sobre a evoluo histrica e suas inferncias na consolidao da disciplina comunicao cientfica, alm de fornecer elementos necessrios demarcao dos caminhos a serem trilhados e conectados para a estruturao da investigao.

    Entender a disciplina Comunicao Cientfica em seus aspectos histricos, terminolgicos e conceituais de essencial importncia para o desenvolvimento da pesquisa, principalmente pelo fato de que o estudo tem como objeto de investigao as pesquisas cientficas em diversos estgios de execuo e sua comunicao atravs das Bienais de Pesquisa da FIOCRUZ.

  • 18

    Assim sendo, para efeito desta pesquisa, adotada a definio de Garvey (1979, p. xi) para comunicao cientfica, considerada

    [...] o espectro de atividades associadas com a produo, disseminao, e uso da informao, a partir do momento em que o cientista concebe a idia para sua pesquisa, at que a informao sobre os resultados dessa pesquisa aceita como constituinte do conhecimento cientfico.

    Ainda no captulo 3, a comunicao cientfica observada sob o vis da Sade, considerando os componentes sociais, polticos, econmicos, culturais e ticos, caractersticos de cada campo do conhecimento.

    O captulo 4 aborda a gnese e a evoluo da pesquisa na FIOCRUZ, bem como sua conformao institucional, alm de questes relacionadas induo e ao fomento pesquisa institucional, e sua convergncia com a Poltica Nacional de Cincia, Tecnologia e Inovao em Sade.

    Os captulos de 5 a 8 so destinados ao desenvolvimento da pesquisa propriamente dita, e so compostos, respectivamente, pelos objetivos, metodologia, anlise quanti-qualitativa da V Bienal e anlise extrnseca das informaes registradas nas cinco edies das Bienais de Pesquisa da Fiocruz, at aqui realizadas.

    Os comentrios finais destacam os principais resultados alcanados atravs da pesquisa, algumas das dificuldades observadas, e aponta possveis contribuies para o aperfeioamento de futuras edies das Bienais.

    Finalmente, cabe ressaltar que esta pesquisa se inscreve no contexto da Linha 1 do Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao PPGCI, do convnio entre a Universidade Federal Fluminense - UFF e o Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia IBICT, intitulada Teoria, epistemologia, interdisciplinaridade e Cincia da Informao.

  • 19

    2 ORIGENS E INSTITUCIONALIZAO DA CINCIA NO BRASIL: BREVE HISTRICO

    Falar sobre a pesquisa no Brasil, seja na rea da Sade ou qualquer outra rea do conhecimento, implica conhecer, mesmo que em um breve olhar, as origens e os primeiros passos da cincia no pas.

    A aproximao cultura europia nas ltimas dcadas do sculo XIX influenciou a formao intelectual, cultural e poltica no Brasil e, conseqentemente, foi o acontecimento que marcou as origens da cincia no pas.

    Como legado dessa aproximao, Schwartzman (2001, cap.4, p. 4-5), ressalta que o Brasil

    [...] recebeu o transplante de verses muitas vezes distorcidas de modelos institucionais e intelectuais franceses e alemes, quase sempre atrasados. A elite intelectual brasileira ia estudar no exterior, especialmente na Frana. Muitos cientistas e pesquisadores que deveriam chefiar as instituies de pesquisa brasileiras vinham da Frana e da Alemanha. [...] Devido importncia fundamental que atribua cincia, rejeitando a viso especulativa ou contemplativa da realidade, o positivismo encorajou os brasileiros a aceitar as novas tcnicas e os novos conhecimentos que dominavam o cenrio intelectual europeu durante tanto tempo. Ao mesmo tempo, o positivismo trouxe consigo uma perspectiva que pouco tinha que ver com a realidade brasileira e contrariava tambm a forma como as atividades cientficas se desenvolveram na Europa.

    Ainda nas palavras de Schwartzman (2001, cap. 4, p.5), enquanto no Brasil se via a cincia como terminada e pronta para usar, na Europa e nos Estados Unidos a excitao da pesquisa cientfica mal comeava.

    A defasagem cientfica entre o Brasil e pases dos continentes europeu e norte-americano pode ser observada, em um primeiro momento, a partir da fundao da primeira sociedade cientfica no mundo, que foi a Royal Society, criada oficialmente em 1662, em Londres.

    A primeira instituio de pesquisa cientfica no Brasil, conforme Schwartzman (2001, p. 56-58), obviamente no com o status de uma sociedade cientfica, foi o

  • 20

    Jardim Botnico da cidade de Belm, em 1797. Portanto, em termos meramente temporais, no considerando as caractersticas organizacionais e operacionais, seria vlido pensar que a pesquisa cientfica brasileira estaria defasada, minimamente, em mais de um sculo, se comparada com a cincia europia.

    Com a chegada da Famlia Real, no sculo XIX, surgem as primeiras escolas de ensino superior no Brasil. Entre as instituies de ensino ligadas rea de Sade temos: em fevereiro de 1808, a Escola de Anatomia e Cirurgia na Bahia; e em abril de 1808, a Escola de Anatomia, Cirurgia e Medicina no Rio de Janeiro (MOREL R., 1979, apud EDUARDO, 2005, p. 65).

    No incio da Repblica, so criadas as primeiras instituies cientficas com a finalidade principal de aplicao dos seus resultados ao que era visto como as necessidades mais prementes do Brasil: a explorao dos recursos naturais, a expanso da agricultura e o saneamento dos principais portos e cidades." (SCHWARTZMAN, 2001, cap. 4, p. 7).

    No mbito da Sade, e no contexto das primeiras instituies de pesquisa cientfica brasileiras, Schwartzman (2001, cap. 4, p. 6) destaca os seguintes marcos: o Instituto Vacinognico, para o desenvolvimento de vacinas (1892); o Instituto Bacteriolgico (1893); o Instituto Butant, um centro para pesquisa de venenos e produo de antdotos (1899) - todos os trs em So Paulo; e o Instituto de Manguinhos (1900), criado no Rio de Janeiro para a pesquisa Biomdica. O Instituto de Manguinhos surgiu com o nome de Instituto Soroterpico Federal (1900), hoje Fundao Oswaldo Cruz - FIOCRUZ, no bairro de Manguinhos, municpio de Rio de Janeiro.

    Guimares R. (2004, p. 376), ressalta que, no plano histrico, a importncia da pesquisa em Sade no Brasil largamente reconhecida, estando os institutos de pesquisa em sade dentre os primeiros e mais importantes do pas desde o sculo 19, na tradio de Claude Bernard, de Pasteur e da escola alem.

  • 21

    A partir de 1920, as universidades brasileiras comeam a ser inauguradas, [...] com a misso precpua de institucionalizar o ensino de terceiro grau, at ento disperso e desregulamentado em um punhado de escolas isoladas, algumas existentes desde o imprio. Contudo, exceo da Universidade de So Paulo - USP, fundada em 1934, [...] a pesquisa no era sequer tolerada nos primeiros tempos. Esse perodo [...] durou at o final do Estado Novo e talvez um pouco mais [...]. A pesquisa surge nas universidades somente com a ps-graduao [...] a partir de meados de 60 e veio consolidar-se apenas no final da dcada de 70, por ao positiva da CAPES. (GUIMARES R., 2002, p.45)

    Aps a segunda Guerra Mundial (1945), com a corrida armamentista, e as atenes voltadas para a tecnologia da energia nuclear e a Guerra Fria entre as duas maiores potncias mundiais poca Estados Unidos e a ento Unio Sovitica, importantes eventos marcam o mundo de forma inexorvel, acarretando num verdadeiro paradigma informacional ps-guerra. A informao cientfica passa a ser vista como um dos principais insumos estratgicos para o avano cientfico e tecnolgico de uma Nao.

    Esse paradigma informacional do ps-guerra vem fortalecer, tambm, a presena de um campo do conhecimento que j se anunciava desde fins do sculo XIX a Cincia da Informao, uma cincia ps-moderna, cuja primeira definio formal se deu em 1961/62, no Georgia Institute of Technology (National Science Foundation).

    Entre os eventos que prenunciam esse paradigma, destacam-se: em 1945, o Relatrio Cincia, a Fronteira sem Fim encaminhado por Vannevar Bush ao Presidente dos Estados Unidos; em novembro de 1945, criada a United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO), rgo das Naes Unidas responsvel pela implantao de centros e sistemas de informao em pases perifricos; em 1963, nos Estados Unidos, o Relatrio Weinberg (President) sobre Cincia, Governo e Informao, levou o Presidente norte-americano a criar o Committee on Scientific and Technical Information (COSATI); ainda na dcada de 60, a UNESCO e o International Council of Scientific Unions

  • 22

    (ICSU), discutiram as bases do Sistema Mundial de Informao Cientfica e Tecnolgica UNISIST (MIRANDA, 1997, apud PINHEIRO, 2002, p. 79).

    Oportuno destacar que, para efeito desta pesquisa, adotada a tipologia de Aguiar (1991, p. 10-11) para informao cientfica e informao tecnolgica definidas, respectivamente, como [...] todo conhecimento que resulta - ou est relacionado com o resultado de uma pesquisa cientfica [...]; e [...] todo tipo de conhecimento relacionado com o modo de fazer [grifo do autor] um produto ou prestar um servio, para coloc-lo no mercado [...].

    A dcada de 50, do sculo XX, marca, em territrio nacional, a institucionalizao da pesquisa cientfica e tecnolgica. Em 1951, criado o ento Conselho Nacional de Pesquisas CNPq, com o objetivo principal de promover o desenvolvimento da investigao cientfica e tecnolgica em todos os domnios do conhecimento, e a CAPES, com o objetivo de

    [...] assegurar a existncia de um quadro de tcnicos, cientistas e humanistas suficiente para atender s necessidades dos empreendimentos pblicos e privados que visam ao desenvolvimento econmico e cultural da Nao. (VALENTIM, 2002, p. 92)

    No Brasil, em 1954, fundado o Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentao IBBD, no mbito do ento Conselho Nacional de Pesquisas, porm mais por influncia externa da UNESCO em ao conjunta com a Fundao Getlio Vargas (FGV). Em 1970, o IBBD cria o primeiro mestrado em Cincia da Informao no Brasil. Em 1976, o Instituto muda de nome passando a se chamar, at os dias atuais, Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia IBICT. (PINHEIRO, 1997, p. 81)

    Em meio a turbulentos e histricos acontecimentos polticos, o Brasil seguia um caminho tortuoso e incerto, muitas vezes retrocedendo ou compassando no que deveria ser um continuum em direo ao efetivo avano cientfico e tecnolgico. A cincia e a tecnologia estavam presentes em praticamente todos os discursos governamentais.

  • 23

    Em 1969 criada a Financiadora de Estudos e Projetos FINEP e o primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento I PND, que tem seu componente de C&T detalhado no I Plano Bsico de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico 1 PBDCT [...]. (MARTINS, 2005, p. 69)

    A partir dos anos 70,

    [...] foram abertos no mbito do Sistema Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico SNDCT, editais para o financiamento de programas especficos para a rea de sade. Foram o Programa Integrado de Doenas Endmicas [-] PIDE, a partir de 1973, o Programa de Produtos Naturais e o Programa de Sade Coletiva, a partir de 1975, o Subprograma de Biotecnologia, formulado no III PBDCT do Plano de Apoio ao Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico - PADCT, o Programa Integrado de Gentica PIG, a partir de 1978. (Brasil,1994: 73 a 75, apud MARTINS, 2005, p. 72-73)

    Em 1985, no governo Jos Sarney, criado o Ministrio da Cincia e Tecnologia, antiga reivindicao de parte da comunidade cientfica, que passa assumir a formulao da poltica de C&T no pas. (VALENTIM, 2002, apud MARTINS, 2005, p. 73)

    O financiamento de pesquisas pelo CNPq, FINEP e pelas Fundaes Estaduais de Amparo Pesquisa FAPs na dcada de 80, passam a ser a mola propulsora da cincia e da tecnologia no Brasil, e do o contorno do que viria ser um futuro mais promissor para o desenvolvimento econmico e social do pas.

    2.1 A pesquisa em Sade no Brasil: polticas, tendncias e investimentos

    Em termos de polticas pblicas, aps a Constituio de 1988, e com a institucionalizao do SUS, a Sade contemplada com o que pode ser considerado o primeiro grande avano do pas em termos de formulao de polticas para o campo da sade a realizao da I Conferncia Nacional de Cincia e Tecnologia em Sade 1 CNCTS, ocorrida em 1994.

  • 24

    Reinaldo Guimares (2004, p. 377) enftico ao se referir a 1 CNCTS, afirmando que: Pela primeira vez em nossa histria, foi elaborada uma proposta explcita e abrangente de uma Poltica Nacional de Cincia e Tecnologia em Sade.

    Morel (2004, p. 268) ratifica a importncia da CNCTS, e destaca que esse o frum mais adequado para se discutir Planos Estratgicos Plurianuais, com claros objetivos e metas, e cujos progressos possam ser avaliados por meio de marcos visveis e indicadores mensurveis.

    Embora as conferncias tenham sido programadas para ocorrer a cada quatro anos, a 2 Conferncia Nacional de Cincia, Tecnologia e Inovao em Sade (2 CNCTI/S), foi realizada somente em julho de 2004, motivada pela necessidade de reorientar os rumos da Poltica Nacional de Cincia e Tecnologia em Sade (PNCTI/S), no sentido de reforar o papel do Ministrio da Sade em sua construo e conduo. A Comisso Organizadora da 2 CNCTIS, destacou que esse evento foi convocado pelos setores de sade, de cincia e tecnologia e educao, tendo em vista a necessidade de se aprofundar os mecanismos de cooperao e coordenao intragovernamental nesse campo. (BRASIL, 2004, p. 7)

    De acordo com as recomendaes da 1 Conferncia Nacional de Cincia e Tecnologia em Sade, a Poltica Nacional de Cincia, Tecnologia e Inovao em Sade (PNCTI/S) parte integrante da Poltica Nacional de Sade, formulada no mbito do Sistema nico de Sade (SUS). (BRASIL, 2004, p. 15)

    A insero do componente Inovao na denominao do evento estratgica, demonstrando que a 2 Conferncia iria trabalhar sob uma nova tendncia para a pesquisa em Sade, direcionada mais aos resultados prticos, dando maior nfase pesquisa estratgica e menos pesquisa fundamental.

    A 2 CNCTI/S utiliza a definio de inovao formulada pela FINEP (2000), que significa a introduo no mercado de produtos, processos, mtodos ou sistemas

  • 25

    no existentes anteriormente ou com alguma caracterstica nova e diferente daquelas em vigor.

    Conforme Morel (op cit 18 [slide]), a pesquisa estratgica tem por objetivos ampliar as fronteiras do conhecimento e possibilitar novas aplicaes prticas. Nessa nova viso, deve ser observado estudo desenvolvido por Gibbons et all (2001, apud MOREL, 2004, p. 23-25 [slide]), no qual o autor estabelece diferenciais para o Modo 1 e Modo 2 de produo do conhecimento. No Modo 1, os problemas so escolhidos e estudados de acordo com os interesses de uma comunidade especfica, em geral acadmica, e suas caractersticas so a intradisciplinaridade, homogeneidade, hierarquia e controle da qualidade baseado em julgamento por pares de projetos individuais de pesquisa.

    O novo conhecimento, no Modo 2, gerado visando uma aplicao, ou seja, em resposta a uma necessidade (social, industrial, etc) e caracterizado como transdisciplinar, heterogneo, heterrquico e transitrio, e o controle de qualidade recorre a critrios adicionais sociais, polticos, econmicos. Portanto, a inovao estaria inscrita no Modo 2.

    Seguindo as tendncias mundiais1, essa nova lgica passa a privilegiar mais o modelo no-linear do conhecimento (Modo 2) e menos o modelo linear (Modo 1), ou seja, a pesquisa em Sade deve dar mais ateno s necessidades, e menos curiosidade, resgatando a importncia da pesquisa estratgica e do desenvolvimento tecnolgico. (MOREL, 2004a, p. 2)

    Nessa linha de pensamento, Guimares R. (2004, p. 379), destaca que

    Um dos aspectos mais debatidos nos ltimos anos tem sido o das relaes entre a pesquisa cientfica e a inovao tecnolgica. Esto sob tela de juzo faz bastante tempo as explicaes lineares que trabalham com a perspectiva de que essas inovaes so o ponto de chegada de um continuum cujo ponto de partida foi uma bancada de pesquisa bsica. Nessas novas aquisies conceituais deve ser ressaltada a pesquisa estratgica [...] por ser o tipo de pesquisa capaz de mobilizar a maior parte dos pesquisadores ativos no pas.

    1 No se acredita mais que investimentos de monta em pesquisa bsica, impulsionada apenas pela curiosidade, garantam

    o surgimento da tecnologia indispensvel competio na economia globalizada e satisfao de toda gama de necessidades (STOKES, 1997, apud MOREL, op cit, 16 [slide]);

  • 26

    O conceito de pesquisa estratgica, alis, no est restrito ao componente biolgico das investigaes em sade, mas tambm ao mbito social, conforme a definio de Bulmer (1985), no que se refere s polticas sociais e Minayo (1993), no que concerne s cincias sociais e da sade. (ABRASCO, 2002, p. 11-12).

    Esse vis pode ser claramente observado em trabalho de Gonzlez de Gmez (2003, p. 68), no qual a autora aborda, entre outros tpicos, os modelos de gesto da cincia e da tecnologia nos fins do sculo XX, destacando os estudos de Stokes (1997) com o Quadrante de Pasteur - e o de Gibbons et all (2001), com o novo modo de produo do conhecimento, anteriormente mencionados.

    De acordo com a autora, os critrios de converso (validade versus valor) da pesquisa ganham espao nas arenas deliberativas e decisrias das agncias de fomento e avaliao das cincias.

    A adoo dessa nova diretriz, voltada para obteno de resultados prticos da pesquisa, vem alterar substancialmente as polticas discutidas no mbito da 2 CNCTI/S, que passa a trabalhar na construo de uma Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sade, um dos alvos estratgicos da reformulao do papel do Ministrio da Sade no ordenamento do esforo nacional de pesquisa em sade. (BRASIL, 2004, p. 91)

    Esse esforo deve ser concentrado na relao fomento versus produtividade cientfica, que ratificada por Morel (2004a, p.2), quando destaca que a sade deve ser vista como um dos requisitos fundamentais para o desenvolvimento econmico e social, e no apenas como sua conseqncia. Por sua vez, esse desenvolvimento est diretamente relacionado s aes de pesquisa em cincia e tecnologia, que dependem de uma educao qualificada e, portanto, se configuram como componentes imbricados para o avano cientfico-tecnolgico e industrial do pas.

    Guimares J. (2004, p. 312), em estudo realizado no perodo de 1997-2001, levando em considerao a pesquisa bsica, constata que: A produo cientfica

  • 27

    mundial da rea mdica representa cerca de um quarto da produo qualificada de todas as reas nos 175 pases que compem as bases de dados do [Institute for Scientific Information] ISI. Na mesma pesquisa, observa elevada correlao entre o Produto Interno Bruto (PIB) e o desempenho cientfico e tecnolgico nos pases desenvolvidos como Estados Unidos, Japo, Alemanha, Inglaterra, Frana, Canad, Itlia, China, Rssia e Espanha.

    Para melhor situar o Brasil no contexto internacional, Guimares R. (2006, p. 5), cita estudo de Paraje et all (2005), que analisa a distribuio mundial da pesquisa em sade pelo prisma do output bibliogrfico cientfico-tecnolgico.

    Com esse enfoque, mostrado que 90,4% desse output esto concentrados em 42 pases de renda alta, sendo que EUA, Reino Unido, Japo, Alemanha e Frana respondem por 72,5% da produo total.

    O Brasil, juntamente com a China, Federao Russa, Turquia e frica do Sul, respondem por 4,4% do total de 5,4% atribudos aos 54 pases classificados como de renda mdia inferior. Os 4,2% restantes, esto distribudos da seguinte forma: 2.5% entre 31 pases de renda mdia superior; e 1,7% entre 63 pases de renda baixa.

    Ao grupo do Brasil, foi dado o nome de Innovative Developing Countries - IDC1. De acordo com Guimares (2006, p. 5),

    [...] Essa denominao foi derivada de um quadro conceitual proposto por Mashelkar [2005], onde a fora econmica de um pas confrontada com sua capacidade autctone de pesquisa. Nessa perspectiva pode-se identificar um conjunto de pases com capacidade de pesquisa bastante desenvolvida, muito embora no sejam (ainda) lderes econmicos mundiais.

    Apesar do visvel avano do Brasil em sua capacidade de produo cientfica, os investimentos em pesquisa na rea de Sade ainda so insuficientes frente magnitude dos problemas, principalmente os relacionados s desigualdades

    1 Referncia feita Morel CM, Acharya T, Broun D, Dangi A, Elias C, Ganguly NK, et al. Health innovation networks to help

    developing countries address neglected diseases. Science. 2005;309:401-4.

  • 28

    sociais, no chegando a promover alteraes significativas capazes de modificar o cenrio da sade brasileira.

    Um caminho importante e premente na direo do desenvolvimento econmico e social do pas a maior concentrao de investimentos direcionados pesquisa e o desenvolvimento tecnolgico.

    No caso da pesquisa em Sade, os financiamentos provenientes de fontes pblicas so significativos, tanto no Brasil quanto nos demais pases no mundo, sendo interessante conhecer algumas breves informaes relacionadas ao cenrio local e global relativamente a esse tipo de investimento.

    Em 2001, de acordo com o Global Forum for Health Research, Guimares R. (2006, p.5) destaca que

    [...] foram despendidos quase US$ 106 bilhes com pesquisa e desenvolvimento em sade em todo o mundo. As fontes pblicas foram responsveis por 44% e as privadas por 56% daquele montante. O mesmo levantamento indica ainda taxa de crescimento dos dispndios de quase 25% entre 1998 e 2001. Cerca de 96% do total de recursos tiveram como fonte os pases desenvolvidos.

    Entre 2000 e 2002, o dispndio anual mdio com Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)1 em sade no Brasil, alcanou a cifra de US$ 573 milhes, de acordo com levantamento encomendado pelo Ministrio da Sade2 (GUIMARES R., 2006, p.6)

    Em 2004, no Brasil, as atividades de pesquisa em sade representavam cerca de um tero de toda a atividade de pesquisa no pas, sem levar em conta as empresas. No que se refere ao setor sade como um todo, o Brasil mobiliza hoje entre 7,5% e 8% do PIB, sendo cerca de 40% desse esforo oriundo do setor pblico nas trs esferas de governo. (GUIMARES R., 2006, p. 5-6)

    1 Conforme a 2 CNCTI/S (2004, p. 38), P&D entendido como o conjunto de aes que envolvem a gerao de

    conhecimentos, a transformao dos conhecimentos em tecnologias e a adaptao de tecnologias existentes em novas tecnologias, na forma de produtos e processos acabados que atendem s necessidades do mercado. 2 Ministrio da Sade, Secretaria de Cincia, Tecnologia. Departamento de Cincia e Tecnologia e Insumos Estratgicos.

    Fluxos financeiros para a pesquisa em sade no Brasil, 2000-2002. Relatrio de pesquisa, 2005. (Coordenao de Viana CMM) [nota de rodap do autor]

  • 29

    No plano federal, o fomento pesquisa em sade1 se destaca nas atuaes do Ministrio da Cincia e Tecnologia (MCT) atravs do CNPq e da FINEP, do Ministrio da Sade (MS) por meio da FIOCRUZ, do Instituto Nacional do Cncer (INCA) e do Instituto Evandro Chagas (IEC), e da contratao de projetos com grupos de pesquisa em diversos centros do pas. (BRASIL, 2004, p.22)

    Ainda na esfera federal, deve ser destacada a atuao do Ministrio da Educao por intermdio da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), com a formao de recursos humanos e a disseminao de informaes cientficas. (BRASIL, 2004, p.22)

    No mbito estadual, destacam-se alguns institutos de pesquisa vinculados s secretarias de sade e as Fundaes de Amparo Pesquisa, presentes em quase todos os estados da federao, principalmente aps a Constituio de 1988. Destaque especial deve ser dado Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP), que a partir da ltima dcada, vem desenvolvendo programas de apoio pesquisa estratgica, de alto impacto nacional e internacional, em sade. (BRASIL, 2004, p. 22-23)

    1 De acordo com os anais da 2 CNCTI/S (2004, p. 37), o fomento pesquisa em sade representa o conjunto de aes

    que busca fortalecer, tanto em termos de recursos como da qualidade de gesto, a pesquisa em sade no Pas (Associao Brasileira de Ps-Graduao em Sade Coletiva, 2000; Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia, 2000).

  • 30

    3 COMUNICAO CIENTFICA

    Os primrdios da comunicao cientfica se do na Grcia antiga, por volta dos sculos V e IV aC, quando os gregos j debatiam as questes filosficas praticando a comunicao da pesquisa cientfica em sua forma falada e escrita (MEADOWS, 1999, p. 3).

    Ainda da Grcia provm influncia sobre a cultura rabe e, posteriormente, sobre a da Europa ocidental, com destaque contribuio de Aristteles, que mantinha seus debates precariamente conservados em manuscritos copiados repetidas vezes, reforando a tradio da pesquisa comunicada em sua forma escrita.

    No sculo XV, o advento da imprensa na Europa passa a incrementar o que, poca, j era o anseio de muitos docentes da universidade de Oxford a disponibilidade da impresso de textos. Conforme Kronick (apud Meadows, 1999, p. 3), a produo estimada de livros passou de 420, no perodo de 1436-1536, para 5750. Meadows (1999, p. 4), afirma que: A capacidade de multiplicar os exemplares de um livro representou um passo importante rumo a uma difuso melhor e mais rpida das pesquisas.

    Outros acontecimentos, no diretamente relacionados cincia, so fatos enunciadores da disciplina Comunicao Cientfica. No sculo XVI, na Europa, o surgimento da tipografia e a difuso de notcias atravs do correio formal, mas no governamental (inicialmente os correios oficiais faziam viagens a servio do Estado, porm, transportando correspondncias oficiais e particulares).

    No incio do sculo XVII, os textos impressos passam a ocupar o lugar dos manuscritos, que continuam a circular at o sculo XVIII para fugir dos problemas relacionados censura de algumas idias que pregavam. A evoluo dos sistemas postais e a distribuio mais regular de folhas noticiosas se tornam os antecessores do jornal moderno que, por sua vez, serviriam de modelo para o surgimento das revistas cientficas (MEADOWS, 1999, p. 4).

  • 31

    Os eventos diretamente relacionados Cincia se iniciam em 1662, quando foi fundada a Royal Society of London, assim denominada em funo de seu patrocnio pelo Rei Carlos II. Em maro de 1665, imediatamente aps a deciso de seu Conselho, a Royal Society publica o primeiro nmero de sua revista Philosophical Transactions, que deveria ser impressa na primeira segunda-feira de cada ms, caso houvesse matria suficiente para tal, e desde que os textos fossem previamente aprovados pelo Conselho, aps de revistos por alguns de seus membros (KATZEN apud MEADOWS, 1999, p. 6).

    Deve-se registrar, contudo, que o Journal des Savans (grafia atualizada no comeo do sculo XIX para Journal des Savants) considerada a primeira revista em sentido moderno, com origem na Frana. O seu primeiro nmero foi publicado em 5 de janeiro de 1665 pelo francs Denis de Sallo, e foi lido parcialmente em uma reunio da Royal Society realizada em 11 de janeiro do mesmo ano, o que, ao que tudo indica, consolidou as idias do Conselho da Royal Society acerca da publicao de sua prpria revista (MEADOWS, 1999, p. 6).

    Entretanto, as variedades de temas que abordava, diferentemente do Philosophical Transactions, prejudicou a sua consistncia como um peridico cientfico, e passou a centrar-se em temas no-cientficos. Nesse sentido, o Journal des Savans pode ser considerado o precursor do peridico moderno de humanidades e o Philosophical Transactions o precursor do moderno peridico cientfico. (MEADOWS, 1999, p. 7)

    Pinheiro (2006, p.1) considera as cartas manuscritas, que circulavam entre um pequeno nmero de amigos pesquisadores que analisavam e testavam as idias antes de publicar, como o ancestral mais prximo dos peridicos cientficos. A autora ainda afirma que [...] de primeira forma de comunicao informal transforma-se em carta ao editor de peridicos como alternativa para superar perodos longos de espera para publicao. [...].

    Meadows (1999, p. 7) atribui uma srie de razes para o surgimento dos peridicos cientficos e destaca, como principal motivo, a eficcia da comunicao

  • 32

    e o aumento do interesse dos cientistas em novas realizaes, o que implicava em distinguir a comunicao cientfica informal da formal.

    Uma comunicao informal em geral efmera, sendo posta disposio apenas de um pblico limitado. A maior parte da informao falada , portanto, informal, do mesmo modo que a maioria das cartas pessoais. Ao contrrio, uma comunicao formal encontra-se disponvel por longos perodos de tempo para um pblico amplo.

    Pinheiro (2005, p.25), cita dois trabalhos de Price (1976a, p. 145 e 1976b, p. 42), nos quais o autor ressalta, respectivamente, que o peridico cientfico representa uma das inovaes mais caractersticas e notveis da revoluo cientfica, e que o artigo cientfico moderno visto tambm como um instrumento social, tendo seu surgimento e manuteno sido mantidos em funo da propriedade intelectual.

    Garvey (1979, p.5) comenta que a partir de 1665, com a formalizao e distribuio dos peridicos cientficos, o nmero de cientistas, de documentos cientficos, e de peridicos cientficos tem crescido constantemente e exponencialmente.

    Pinheiro, no seu artigo, j mencionado, em que cita Price, tambm observou que o crescimento exponencial, em especial de peridicos especializados, foi, contudo, identificado por Price (1976b, p. 47), que apontou com grande grau de preciso, que o nmero cresceu por um fator dez durante cada meio sculo. A expanso da comunidade cientfica, tambm foi prevista por Price (1976b, p. 55), a qual, inicialmente formada por poucos e conhecidos nomes, chega ao ano de 1970 com mais de um milho de pessoas com graus tcnicos e cientficos.

    Diversos acontecimentos relacionados ao surgimento de novas sociedades e academias cientficas, continuaram presentes na segunda metade do sculo XVII. Mas no sculo XVIII que o nmero dessas academias e sociedades cresce de forma acentuada.

  • 33

    Nesse ponto, cabe uma breve distino entre as formas de atuao de uma sociedade e de uma academia, que esto mais relacionados aos seus aspectos organizacionais.

    [...] Era , mais provvel que uma academia recebesse do Estado apoio financeiro e de outro tipo, estivesse mais sujeira ao controle do governo e contasse com menos membros diletantes do que as sociedades. [...] V-se uma diferena no fato de os membros da Acadmi Royale des Sciences serem remunerados como servidores pblicos enquanto os da Royal Society eram instados a pagar uma taxa de scio (MEADOWS, 1999, p. 9).

    A freqncia mdia s reunies era significativamente maior na Royal Society, em comparao com a Acadmie. Em termos de conseqncia na comunicao cientfica, um ponto de destaque era o acesso s publicaes. Enquanto A Acadmie editava um volume anual, no qual colaboravam somente seus membros, [as] Philosophical Transactions eram editadas vrias vezes por ano [...] e podiam incluir matria apresentada por no-scios. Apesar desses diferenciais, Meadows (1999, p. 10) salienta que, aos olhos contemporneos, academias e sociedades estavam todas comprometidas com a mesma misso.

    Nesse contexto, pode-se observar que o marco da Comunicao Cientfica est diretamente relacionado ao surgimento dessas sociedades e academias cientficas e, conseqentemente, ao advento dos peridicos cientficos por estas publicados.

    Ziman (1979, p. 118 e 129), afirma que a publicao cientfica o tipo de literatura que menos mudou ao longo de trs sculos (exceo feita chamada literatura de alcova), e que [as] nicas instituies da comunidade cientfica que tm fora e uma base slida so as revistas especializadas.

    Essa afirmativa de Ziman foi direcionada, na poca, aos peridicos cientficos impressos. Contudo, o advento da Internet, a Web e o surgimento das Tecnologias de Informao e Comunicao (TICs), vm alterar significativamente algum dos padres at ento observados, embora a verso eletrnica, seja tratada de forma semelhante verso impressa e continua a representar a base slida das comunidades cientficas.

  • 34

    A principal preocupao de pesquisadores da verso eletrnica do peridico, no momento, est relacionada com o arquivo para sua preservao, o seu tempo de permanncia na rede e a recuperao da informao. Conforme Lemos (2005, apud PINHEIRO, 2006, p.7), a durabilidade do suporte digital, para alguns estudiosos no iria passar alm de 15 anos.

    No que se refere importncia da Internet na comunicao cientfica, cabe destacar o estudo de Pinheiro (2003), o qual aborda o uso dos recursos eletrnicos na comunicao e informao de pesquisadores brasileiros, na gerao de novos conhecimentos.

    Esse estudo, que teve como amostra 1307 pesquisadores brasileiros de todas as reas do conhecimento do CNPq aponta, entre alguns dos principais resultados relacionados a determinadas finalidades de uso da Internet, a importncia da rede eletrnica na comunicao cientfica, entre os quais se destacam: 96,4% dos pesquisadores usam a Internet para comunicao entre pares; 92,5% para submisso de trabalhos a congressos; 89% para fins didticos; 83.4% para submisso de trabalhos a peridicos; 75,4% para circulao de trabalhos cientficos antes da publicao; e 73,5% para comunicao de pesquisa de outras reas. (PINHEIRO, 2003, p. 68)

    O estudo em comunicao cientfica at os tempos atuais imprescindvel para que se possa observar e melhor aquilatar a evoluo e a importncia dessa disciplina no contexto da pesquisa cientfica.

    Contudo, pesquisas relacionadas ao impacto da Internet e das TICs na comunicao cientfica, que j vm sendo desenvolvidas desde a dcada de 90, no sero aqui aprofundados, por fugirem ao foco da dissertao, mas certamente se faro presentes ao longo desta pesquisa, mesmo que em breves passagens, uma vez que no mais se pode ignorar essa realidade virtual, cada vez mais presente e consolidada nos estudos da comunicao cientfica e, conseqentemente, da Cincia da Informao.

  • 35

    3.1 A comunicao cientfica em Sade

    A comunicao cientfica na rea da Sade, considerando os componentes sociais, polticos, econmicos, culturais e ticos, pode assumir uma caracterstica diferenciada da comunicao cientfica praticada nas outras reas do conhecimento, principalmente no que se refere relao produo versus efetividade1 do conhecimento cientfico alcanado.

    Conforme destaca Pinheiro (1997, p. 1), o pesquisador [...] faz parte de comunidades cientficas com padres especficos de comunicao e busca de informao e cnones prprios na estrutura da literatura, decorrncia natural da essncia e etnografia de cada campo do conhecimento [...].

    Nesse contexto, torna-se importante retomar a definio de pesquisa em sade, mencionada na introduo e construda por Buss e Gadelha (2002), a qual se caracteriza pela atuao multidisciplinar da FIOCRUZ, e que pode ser sintetizada nas pesquisas biomdica, biolgica, clnica e em sade pblica.

    Acrescente-se a essa definio, o conceito de que a pesquisa em sade aquela

    [...] cujos resultados so aplicados no setor sade, voltados, em ltima instncia, para a melhoria da sade de indivduos ou grupos populacionais. Podem ser categorizadas por nveis de atuao cientfica e compreendem [...] pesquisas em outras reas como economia, sociologia, antropologia, ecologia, demografia e cincia poltica. (BRASIL, 2004, p. 38)

    Essa abordagem inicial, a partir das definies e conceitos adotados para a pesquisa em sade, oferece a dimenso que a comunicao cientfica em Sade pode assumir, sendo necessrio, para fins de desenvolvimento deste item, focar as atenes nas origens e na atualidade de alguns dos principais meios da comunicao cientfica no Brasil, como os peridicos, os eventos, as academias e

    1Efetividade, s. f. Qualidade do que atinge os seus objetivos estratgicos, institucionais, de formao de imagem etc.

    (Houaiss)

  • 36

    sociedades cientficas, com nfase nas grandes reas das cincias da sade e das cincias biolgicas.

    De acordo com Ferreira (1997, p. 478), alguns historiadores mais tradicionais atribuem institucionalizao da Medicina no Brasil a partir da criao e evoluo das instituies de ensino. Assim, a origem da Medicina oficial no Brasil se d na instalao das academias mdico-cirrgicas do Rio de Janeiro (1813) e da Bahia (1815), posteriormente transformadas em faculdades de medicina (1832).

    At 1850 surgem novas instituies ligadas a rea mdica, entre as quais Ferreira (1999, p. 344) destaca as seguintes localizadas no Estado do Rio de Janeiro: a Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro (1829); o Instituto Homeoptico (1843); o Instituto Vacnico (1843); e a Junta Central de Higiene Pblica (1850).

    No sculo XIX surgem os primeiros peridicos mdicos brasileiros: Propagador das Cincias Mdicas (1827-28); Semanrio de Sade Pblica (1831-33); Dirio de Sade (1835-36); Revista Mdica Fluminense (1835-41); e Revista Mdica Brasileira (1841- 43). (FERREIRA, 1999, p. 331)

    Esses peridicos refletem o modelo dos europeus do sculo XVIII, e difundem conhecimento mdico europeu se dedicando [traduo de] captulos de livros, verbetes de enciclopdias e dicionrios, artigos e notcias j publicadas em jornais ou revistas cientficas estrangeiras. (FERREIRA, 1999, p. 352)

    Embora o perfil desses peridicos nacionais, que conforme j abordado tinham um perfil mais de difuso do conhecimento, Ferreira (1999, p. 332) destaca o diferencial das publicaes rotineiras da primeira sociedade mdica no Brasil - a Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro (1829) - depois denominada Academia Imperial de Medicina (1835), que inclua atas das sesses, relatrios das comisses e dos trabalhos escritos pelos acadmicos.

    Observa-se, a exemplo da fundao das primeiras sociedades e academias de cincias no sculo XVII, que as publicaes cientficas comeam a surgir como

  • 37

    conseqncia das atividades cientficas dos scios e acadmicos dessas Instituies, bem como a partir das atividades de ensino, alm de algumas iniciativas mais isoladas de peridicos independentes nas dcadas de 60, 70 e 80 do sculo XIX, entre os quais se destacam a Gazeta Mdica do Rio de Janeiro, a Gazeta Mdica da Bahia, O Progresso Mdico, a Revista Mdica, Unio Mdica e Brazil Mdico. (FERREIRA, 1997, p. 482)

    A partir do incio do sculo XX, surgem as seguintes publicaes cientficas relacionadas rea da sade no Brasil: Memrias do Instituto Oswaldo Cruz (1909) - um dos primeiros peridicos cientficos nacionais especializados na rea biomdica; o Boletim do Instituto de Higiene de So Paulo (1919), atualmente Revista de Sade Publica; Revista do Instituto Adolfo Lutz (1941); Revista do Instituto de Medicina Tropical de So Paulo (1959); Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (1962); Cadernos de Sade Pblica (1985); e o Brazilian Journal of Infectious Diseases (1996), entre outros. Atualmente, todas essas publicaes esto indexadas no Institute for Scientific Information (ISI).

    No que se refere aos eventos no campo da sade, os congressos e as conferncias, so os principais fruns para o exerccio da comunicao informal e formal. Em termos no cientficos, porm como espaos estratgicos de discusso de polticas, as conferncias ocupam lugar de destaque. Os congressos, com suas temticas especializadas e com a presena de seus respectivos pares, reafirmam a cientificidade dos saberes, e demarcam o campo cientfico.

    Nesse contexto, cabe destacar que a primeira Conferncia Nacional de Sade (CNS) foi realizada em 1941, durante o Governo Vargas. Aps 66 anos dessa 1 Conferncia, a 13 edio da CNS realizada em novembro de 2007, convocada por Decreto Presidencial em maio do mesmo ano.

    Como frum mais importante de discusso dos principais temas da cincia mdica e da sade pblica no Brasil, destaque deve ser dado ao 1 Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro (1888), evento que foi

  • 38

    realizado regularmente at as duas primeiras dcadas no sculo XX. A gnese desse evento se d a partir da criao da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro (1886), um dos principais marcos institucionais da medicina no Brasil. (FERREIRA, 1997, p. 488)

    Cabe ressaltar, contudo, que a comunicao cientfica em sade, tambm a exemplo das demais reas do conhecimento, ainda tem um importante desafio a ser superado, e que vem sendo o mote central das discusses que envolvem a informao cientfica e tecnolgica nas ultimas dcadas.

    A passagem do meio impresso para o meio eletrnico, com o advento da Internet, vem ocupando os espaos cientfico-acadmicos e tico-comerciais, em torno desse paradigma, porm, neste caso da comunicao cientfica, de forma comensurvel, ou seja, no representando um rompimento total com o passado dessa disciplina.

    Castro (2006, p.59), ressalta que,

    Nas ltimas dcadas do sculo XX, a Internet alterou no apenas a dinmica do fluxo da comunicao cientfica, mas tambm o modo de fazer cincia, com a integrao da comunidade cientfica com outros setores da sociedade, atuando em redes transdisciplinares e heterogneas de colaborao entre instituies de natureza variada. A evoluo dessas redes de colaborao foi facilitada pelos avanos dos meios de comunicao e da Internet.

    A primeira revista cientfica eletrnica da rea de sade foi a Online Journal of Current Clinical Trials, publicada em 1992 pela OCLC - Online Computer Library Center, nos Estados Unidos. Em maro de 2006, o Directory of Open Access Journals (DOAJ), coordenado pela rede de bibliotecas da Lund University, na Sucia, registrava 2.160 revistas eletrnicas publicadas em acesso aberto. (CASTRO, 2006, p. 61)

    Ainda conforme Castro (2006, p. 61), [no] caso das revistas publicadas em pases da Amrica Latina e Caribe e indexadas na base de dados LILACS, a

  • 39

    percentagem de revistas eletrnicas passou de 18% em 2001 para 78% em 2006.

    Essas realizaes, entre outras, sinalizam o que, em passado recente, era considerada uma tendncia e, na atualidade, se concretiza em fatos, ainda em (r)evoluo, abrindo novos horizontes para a pesquisa em sade e mostrando novas tendncias para os estudos no campo da comunicao cientfica.

    A complexidade, abrangncia e principalmente o volume de informaes, tanto na rea da sade quanto nas demais reas do conhecimento, demandam organizao, armazenamento e a recuperao da informao ou uma infra-estrutura de informao que sustente a C&T dessa rea.

    As Tecnologias de Informao e Comunicao (TICs), hoje nos permitem processar a informao, otimizando e ampliando a sua acessibilidade para uso em seus mais variados contextos. As bases de dados, por exemplo, se desenvolveram de forma acelerada, e representam importante fonte de recuperao de informao.

    De acordo com estudo de Packer et all (2007, p. 588), em cincias da sade, a principal base de dados bibliogrfica internacional a MEDLINE, coordenada pela National Library of Medicine (NLM) dos Estados Unidos, que complementada na Amrica Latina e Caribe pela LILACS Literatura Latino-americana e do Caribe de Informao em Cincias da Sade, um produto cooperativo coordenado pelo Centro Latino-Americano e do Caribe de Informao em Cincias da Sade (BIREME), pertencente Organizao Pan-americana da Sade.

    A base MEDLINE contm referncias de artigos publicados desde 1966 at o momento, e conta com mais de 5.000 ttulos de revistas publicadas nos Estados Unidos e em outros 70 pases. Contm referncias bibliogrficas e resumos que cobrem as reas de: medicina, biomedicina, enfermagem, odontologia, veterinria e cincias afins. A atualizao da base de dados mensal. (BIREME, 2007)

  • 40

    A base LILACS, disponvel desde 1982, contm artigos de cerca de 1.300 revistas mais conceituadas da rea da sade, das quais aproximadamente 730 continuam sendo atualmente indexadas. A base possui mais de 400.000 mil registros e permite acesso a outros documentos tais como: teses, captulos de teses, livros, captulos de livros, anais de congressos ou conferncias, relatrios tcnico-cientficos e publicaes governamentais. (BIREME op cit.)

    Alm das bases de dados, as plataformas tecnolgicas e portais de servios, tambm propiciam o acesso informao, como o caso, no Brasil, da Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), e do Portal de Peridicos da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), alm de outros portais desenvolvidos pelas Fundaes de Amparo Pesquisa (FAPs) e sites do Governo Federal, entre os quais esto o do Ministrio da Sade, do Ministrio da Cincia e Tecnologia e do Ministrio da Educao e Cultura.

  • 41

    4 FIOCRUZ: GNESE E EVOLUO DA PESQUISA

    A FIOCRUZ uma instituio singular, uma vez que integra atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnolgico, ensino em sade e cincia e tecnologia, produo de bens e insumos para a sade, prestao de servios de referncia em sade e produo de informao e comunicao em sade e cincia e tecnologia.

    Sua misso institucional

    [...] gerar, absorver e difundir conhecimentos cientficos e tecnolgicos em sade pelo desenvolvimento integrado de pesquisa e desenvolvimento, ensino, informao e comunicao, tecnologia e produo de bens e servios, com a finalidade de proporcionar apoio estratgico ao Sistema nico de Sade SUS e contribuir para a melhoria da qualidade de vida da populao e para o exerccio pleno da cidadania. Com estas aes, a FIOCRUZ tem por objetivo precpuo o de colocar a cincia, a tecnologia e a inovao em prol da qualidade de vida da sociedade brasileira, ciente do seu compromisso social de aportar solues s demandas nacionais em matria de sade pblica. [...] (FIOCRUZ, 2002, p. 9)

    Para entendimento da trajetria histrica, em termos cientficos e organizacionais da FIOCRUZ, necessrio um breve olhar ao seu passado, o que procedemos a seguir.

    4.1 Origens da pesquisa na FIOCRUZ

    A Fundao Oswaldo Cruz, teve suas origens a partir da criao do Instituto Soroterpico Federal ISF (1900), inicialmente dirigido pelo Baro de Pedro Afonso.

    A trajetria do Instituto marcada pela presena e atuao de Oswaldo Cruz como responsvel tcnico do ISF, funo que assume em 1902. Recm chegado da Frana, onde freqentou o Instituto Pasteur, Oswaldo Cruz desenvolvia pesquisa do modelo pasteuriano, que se baseava na microbiologia, na epidemiologia e em novos conceitos, que traziam a doena para fora do hospital e

  • 42

    a colocavam na sociedade e no ambiente, cujas condies seriam determinantes para o surgimento e proliferao das doenas.

    Em 1903, a convite de Rodrigues Alves, Oswaldo Cruz tambm assume a Diretoria Geral de Sade Pblica do Distrito Federal, passando a acumular as funes de diretor das duas instituies. (MARTINS, 2005, p.84)

    Como reconhecimento pelos feitos a frente do ISF e pelo seu trabalho de profilaxia da febre amarela no Rio de Janeiro, recebe, em 1907, a medalha de ouro no XIV Congresso Internacional de Higiene e Demografia em Berlim. Em decorrncia dessa premiao, no mesmo ano, o ISF passa a se chamar Instituto Oswaldo Cruz IOC, ficando diretamente subordinado ao ministro da justia. Em 1912 o prprio Oswaldo Cruz assume a direo do Instituto. (BENCHIMOL, 1990)

    As atividades do IOC foram se expandindo e, segundo Benchimol (1990), entre vacinas e medicamentos destinados sade humana e veterinria, o IOC cresceu de onze produtos em 1907, para vinte e seis em 1918.

    Por outro lado, as pesquisas comeam a ser disseminadas em 1909, quando foi editado o primeiro nmero do peridico Memrias do Instituto Oswaldo Cruz, em lnguas portuguesa e alem. Esse peridico foi, durante muitos anos, o principal veculo de publicao das pesquisas biomdicas do Brasil, e hoje dos poucos peridicos brasileiros dessa rea indexado no Institute for Scientific Information ISI. (MARTINS, 2005, p. 87)

    Em 1917, morre Oswaldo Cruz, mas no a sua ideologia sanitria e seus feitos, que marcaram a histria da sade pblica e aliceraram as bases institucionais do IOC, que sobreviveu aos turbulentos acontecimentos polticos que marcaram o Brasil durante a Era Vargas, desde a Revoluo de 1930, passando pelo Estado Novo (1937-1945), e at o ltimo perodo do Governo Vargas (1951-1954).

    Nas trs primeiras dcadas do sculo XX, o Instituto Oswaldo Cruz se consolida nacionalmente, como centro de excelncia em pesquisas mdicas e biolgicas,

  • 43

    de produo de vacinas, soros e medicamentos e de treinamento de recursos humanos. (MARTINS, 2005, p. 90)

    Na dcada de 70, em meio s reformulaes previdencirias e criao do Sistema Nacional de Previdncia Social, o Ministrio da Sade cria a Fundao Instituto Oswaldo Cruz FIOCRUZ, atravs da fuso do Instituto Oswaldo Cruz com diversas instituies anteriormente vinculadas ao Ministrio da Sade, [...] mas [que] possuam histrias, objetivos e culturas distintas, [e] no tinham entre si qualquer identidade e [nem] possuam qualquer programa ou projeto conjunto. (SANTOS, 1999)

    Contudo, Martins (2005, p. 94) enfatiza que essa

    [...] reunio, em um mesmo espao institucional, de diferentes instituies devotadas a assistncia, ensino, produo e pesquisa, criou as condies bsicas para a rearticulao de um projeto institucional inovador, baseado nos pressupostos da poca de Oswaldo Cruz [...]

    Santos (1999, apud MARTINS, 2005, p. 95) observa que a retomada do tonus por Manguinhos, em 1974, guarda

    [...] semelhanas com a criao do Instituto, pois em ambos os momentos as demandas pblicas foram atendidas e aproveitadas por agentes institucionais para dotar a instituio de capacitao cientfica e tecnolgica que assegurassem sua permanncia temporal e sua legitimidade social[...].

    A partir de meados da dcada de 70 e durante toda a dcada de 80, a FIOCRUZ se expande estruturalmente, tendo como um de seus principais destaques a conduo institucional por Srgio Arouca (1985-1989), o que possibilitou a implantao da gesto democrtica e participativa na FIOCRUZ, coroada com a realizao, em 1988, do seu primeiro Congresso Interno sob o ttulo Cincia e Sade: A FIOCRUZ do Futuro. Desde ento, a FIOCRUZ j realizou cinco Congressos Internos, os quais se consolidaram como a instncia mxima das deliberaes institucionais.

  • 44

    4.2 Unidades tcnico-cientficas

    Atualmente, a estrutura organizacional da FIOCRUZ constituda por rgos de Assistncia Direta Presidncia, por Unidades Tcnico-Administrativas, uma Unidade Tcnica de Apoio e por suas Unidades Tcnico-Cientficas.

    Em funo do tema maior a ser desenvolvido na pesquisa de dissertao, ou seja, a pesquisa em sade, passamos a relacionar as Unidades Tcnico-Cientficas da FIOCRUZ, por ordem cronolgica de criao e, em seguida, fazemos uma breve explanao sobre a criao dessas Unidades considerando os primrdios de suas origens. Todas as informaes deste item foram extradas, a partir do Portal FIOCRUZ. (www.fiocruz.br)

    Ressalta-se que essas Unidades Tcnico-Cientficas compem o bloco mais expressivo da estrutura organizacional da FIOCRUZ formando o seu corpus cientfico-institucional, mantendo a integralidade e interao de suas atividades tcnico-cientficas, que a seguir so destacadas.

    Instituto Oswaldo Cruz IOC (1900) RJ Centro de Pesquisa Ren Rachou CPqRR (1907) MG Instituto de Pesquisa Clnica Evandro Chagas IPEC (1918) RJ Instituto Fernandes Figueira IFF (1924) RJ Escola Nacional de Sade Pblica Srgio Arouca ENSP (1925) RJ Centro de Pesquisa Aggeu Magalhes CPqAM (1950) PE Instituto Nacional de Controle e Qualidade em Sade INCQS (1954) RJ Instituto de Tecnologia em Frmacos Far-Manguinhos (1956) RJ Centro de Pesquisa Gonalo Moniz CPqGM (1957) BA Instituto de Tecnologia em Imunobiolgicos Bio-Manguinhos (1976) RJ Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio EPSJV (1985) RJ Casa de Oswaldo Cruz COC (1986) RJ Instituto de Comunicao e Informao Cientfica e Tecnolgica em Sade

    ICICT (1986) RJ Centro de Pesquisa Lenidas e Maria Deane CPqLMD (1994) AM

  • 45

    O IOC atua nas reas de pesquisa, desenvolvimento tecnolgico e inovao e na prestao de servios de referncia para diagnstico de doenas infecciosas e genticas e controle de vetores, dentro dos padres de biossegurana, de qualidade e de gesto ambiental, alm de formar cientistas e tcnicos atravs da atuao na educao profissional e de ps-graduao. O Instituto tem como principal publicao o peridico Memrias do Instituto Oswaldo Cruz (1909), composto por oito fascculos que formam um volume anual. Essa publicao, como j abordado no item 3.1, indexada pelo Institute for Scientific Information (ISI) da Philadelphia, Estados Unidos. (FIOCRUZ, 2007, www.ioc.fiocruz.br)

    O CPqRR tem suas origens em julho de 1907, quando foi inaugurado como a filial de Manguinhos em Belo Horizonte, inicialmente com o objetivo de preparar e conservar o soro antidiftrico e anti-carbunculoso. Em abril de 1955, a direo do Instituto foi entregue ao Dr. Ren Rachou. Em maio de 1970, por fora do Decreto 66.624, o Centro incorporado Fundao Instituto Oswaldo Cruz. Hoje o CPqRR composto por 14 laboratrios, onde so estudadas a doena de Chagas, as helmintoses intestinais, a esquistossomose, as leishmanioses e a malria, alm da epidemiologia e a antropologia do envelhecimento, estas recentemente incorporadas. Sua misso

    gerar, adaptar e transferir conhecimento cientfico e tecnolgico em sade, e dar apoio estratgico ao Sistema nico de Sade, atravs de atividades integradas de pesquisa, formao de recursos humanos e prestao de servios, contribuindo para promover a sade da populao. (FIOCRUZ, 2007, www.cpqrr.fiocruz.br)

    Inicialmente chamado de Hospital Oswaldo Cruz, o IPEC foi o primeiro hospital construdo no pas com o objetivo de desenvolver pesquisa. Sua misso [...] estudar as doenas infecciosas atravs de projetos de pesquisa e ensino interprofissionais, integrados a programas de atendimento. Sua marca a integrao de infectologistas com especialistas de outras reas clnicas. Desde a sua criao, em 1918, o IPEC foi tambm utilizado como campo de estgios e de desenvolvimento de teses dos cursos de Ps-Graduao da FIOCRUZ. (FIOCRUZ, 2007, www.ipec.fiocruz.br)

  • 46

    O IFF foi fundado em 1924 por Carlos Chagas e seu auxiliar, no ento Departamento de Sade Pblica, Dr. Antonio Fernandes Figueira. Inicialmente foi criado com o nome de Abrigo Hospital Arthur Bernardes, e tinha o objetivo de suprir a falta de um estabelecimento destinado ao atendimento especfico das crianas. Em 1946 passou a chamar-se Instituto Fernandes Figueira, em homenagem ao seu patrono falecido em 1928 e, em maio de 1970, foi incorporado FIOCRUZ tambm por fora do Decreto 66.624. Atualmente o Instituto rene as atribuies de um hospital materno-infantil e de um centro cientfico, realizando atividades de pesquisa, ensino e assistncia sade da mulher, da criana e do adolescente. centro de referncia em gentica mdica, neonatologia de alto risco, patologia perinatal e doenas infecciosas e parasitrias peditricas. Seu banco de leite humano, pioneiro no pas, referncia nacional. a maior unidade pblica de atendimento a recm-nascidos no Rio de Janeiro e abriga o nico ambulatrio gratuito de gentica clnica do pas. (FIOCRUZ, 2007, www.iff.fiocruz.br)

    A ENSP remonta do Curso Especial de Higiene e Sade Pblica, criado em 1925 na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro com o objetivo de formar mdicos para desempenhar funes na rea sanitria. O IOC era responsvel pela gesto do curso, o que viabilizou a criao da ENSP em 1954. A ENSP atua na capacitao e formao de recursos humanos, produo cientfica e tecnolgica e na prestao de servios de referncia no campo da sade pblica. Em 2003, com a morte do sanitarista Srgio Arouca, a Escola passa a se chamar Escola Nacional de Sade Pblica Srgio Arouca.

    A ENSP tem como principal publicao os Cadernos de Sade Pblica (1985), editado mensalmente e que neste ano foi indexado ao ISI, passando a fazer parte do seleto grupo das dez revistas latino-americanas indexadas por esse Instituto. Seus artigos so disponibilizados on-line, atravs do projeto SciELO (Scientific Eletronic Library Online). (FIOCRUZ, 2007, www.ensp.fiocruz.br)

    O CPqAM, fundado em 1950 no Recife e incorporado FIOCRUZ em 1970, tem por misso o enfrentamento dos problemas sociossanitrios no nordeste

  • 47

    brasileiro, atuando como suporte ao Sistema nico de Sade (SUS). O Centro desenvolve trabalho sistemtico de pesquisa e de ensino (lato e stricto sensu) em diversos campos da sade pblica, doenas infecto-contagiosas e no combate a endemias. A Unidade est dividida em seis departamentos: Biologia Celular e Ultra-estrutura, Entomologia, Imunologia, Microbiologia, Parasitologia e Sade Coletiva. O CPqAM possui dois laboratrios que o colocam em posio estratgica para o desenvolvimento de pesquisas em sade: o Laboratrio de Nvel de Biossegurana 3 (NB 3) e o Laboratrio de Virologia e Terapia Experimental (Lavite). (FIOCRUZ, 2007, www.cpqam.fiocruz.br)

    O INCQS se origina do Laboratrio Central de Controle de Drogas, Medicamentos e Alimentos (LCCDMA), criado por Lei Federal em fevereiro de 1954. Em agosto de 1978 o LCCDMA incorporado FIOCRUZ. Em julho de 1981 o Laboratrio tem sua denominao alterada pela Presidncia da FIOCRUZ para INCQS, e suas novas instalaes so oficialmente inauguradas em setembro do mesmo ano. O Instituto tem por misso contribuir para a promoo e recuperao da sade e preveno de doenas, atuando como referncia nacional para as questes cientficas e tecnolgicas relativas ao controle da qualidade de produtos, ambientes e servios vinculados Vigilncia Sanitria. (FIOCRUZ, 2007, www.incqs.fiocruz.br)

    Far-Manguinhos provm do antigo Servio de Medicamentos do Departamento Nacional de Endemias Rurais - DNERu, criado em 1956 pelo Ministrio da Sade. Em 1976 foi integrado FIOCRUZ. O Instituto tem como meta ser um centro de referncia em pesquisa, tecnologia e produo de medicamentos. Para atingir essa meta, estabeleceu como estratgia a promoo de parcerias com os setores pblico e privado para a produo de frmacos oriundos de plantas ou sntese qumica e para o desenvolvimento de formulaes farmacuticas. Hoje Far- Manguinhos um dos mais importantes laboratrios oficiais, garantindo populao o acesso a medicamentos essenciais. (FIOCRUZ, 2007, www.far.fiocruz.br)

  • 48

    O CPqGM tem suas origens do Ncleo de Pesquisas da Bahia (NEP), criado em 1957 atravs de um convnio entre o IOC, o Instituto Nacional de Endemias Rurais INERu e a Fundao Gonalo Muniz. Inicialmente sua finalidade era a de estudar as endemias parasitrias do estado da Bahia. Em maio de 1970, a exemplo do CPqRR e IFF, tambm foi incorporado FIOCRUZ atravs do Decreto 66.624, e passou a ter a sua atual denominao. Atualmente desenvolve diversas aes na rea biomdica, de ensino, de servio de referncia em sade, em informao em sade e formao de recursos humanos para o SUS. Atravs dos seus programas institucionais, o CPqGM atua principalmente no estudo de doenas infecciosas e parasitrias, na realizao de exames anatomopatolgicos, alm de abrigar dois cursos de ps-graduao stricto sensu em nvel de mestrado e doutorado, atravs de um convnio com a Universidade Federal da Bahia UFBA. (FIOCRUZ, 2007, www.cpqgm.fiocruz.br)

    Bio-Manguinhos, criado em 1976, o maior fornecedor de vacinas do Ministrio da Sade, alm de nico produtor nacional dos imunobiolgicos que compem sua linha de produtos que abrange vacinas peditricas tradicionais e vacinas para aplicao em reas geogrficas endmicas. Produz reagentes e insumos para diagnstico laboratorial e biofrmacos (a partir de 2006). o maior produtor mundial da vacina contra a febre amarela, e qualificado pela Organizao Mundial da Sade OMS, como fornecedor internacional dessa vacina. Tem como misso contribuir para a melhoria dos padres de sade pblica brasileira atravs da pesquisa e da produo de imunobiolgicos capazes de atender demanda gerada pelo quadro epidemiolgico do pas. (FIOCRUZ, 2007, www.bio.fiocruz.br)

    A EPSJV, criada em agosto de 1985, tem como principal objetivo promover, em mbito nacional, a educao profissional de nvel bsico e tcnico em Sade, com prioridade para os trabalhadores de nvel mdio do Sistema nico de Sade (SUS), do qual um rgo de referncia na formao de recursos humanos. A EPSJV desenvolve atividades de ensino, pesquisa e cooperao tcnico-cientfica e oferece cursos nas reas de Vigilncia, Ateno, Gesto, Informao,

  • 49

    Laboratrio e Manuteno de Equipamentos de Sade. (FIOCRUZ, 2007, www.epsjv.fiocruz.br)

    A COC, criada em 1986, um centro dedicado histria das cincias biomdicas e da sade pblica e educao e divulgao em cincia e sade. Desenvolve atividades de pesquisa em histria, sociologia e filosofia da cincia e da sade pblica, de arquivo e documentao, preservao do patrimnio arquitetnico, ensino, promoo cultural e de educao e divulgao cientfica. Desde 1994, publica trimestralmente a revista Histria, Cincias, Sade Manguinhos, dedicada histria das cincias e da sade. (FIOCRUZ, 2007, www.coc.fiocruz.br)

    O ICICT, criado em 1986 como Superintendncia de Informao Cientfica (SIC), ascende condio de Unidade Tcnico-Cientfica em 2006 com a denominao de Instituto de Comunicao e Informao Cientfica e Tecnolgica em Sade. Tem por objetivo desenvolver estratgias e executar aes de informao e comunicao no campo da cincia e tecnologia em sade. A pesquisa, o ensino e os servios do ICICT esto direcionados para aprimorar o SUS e ampliar cooperaes internacionais com a Organizao Mundial da Sade (OMS) e a Organizao Pan-Americana da Sade (OPAS/BIREME), alm de investir em parcerias com o Ministrio da Sade de Angola e instituies acadmicas no exterior. (FIOCRUZ, 2007, www.cict.fiocruz.br)

    O CPqLMD tem sua origem no Escritrio Tcnico da Amaznia (ETA) em janeiro de 1994. Em novembro de 1999, sua criao aprovada por unanimidade no Congresso Interno da FIOCRUZ. Tem por misso a produo e desenvolvimento cientfico, tecnolgico e de inovao em sade, integrados ao conhecimento cultural na Amaznia, mediante aes de pesquisa e ensino nas reas da scio e biodiversidade. A sua viso de futuro de se tornar uma instituio conhecida local, nacional e internacionalmente, como um Centro de referncia em desenvolvimento cientfico e tecnolgico, inovador em sade na rea da scio e biodiversidade, na Regio Amaznica. (FIOCRUZ, 2007, www.amazonia.fiocruz.br)

  • 50

    Esta breve viso sobre a estrutura das Unidades Tcnico-Cientficas da FIOCRUZ, propicia um melhor entendimento sobre as bases ideolgicas que nortearam a conformao institucional da FIOCRUZ em seu contexto maior, cabendo ressaltar que, ao longo de seus 107 anos de existncia, a FIOCRUZ manteve a consistncia de suas aes no campo da Sade, demonstrando maturidade poltico-social e integralidade institucional, atributos indispensveis para a continuidade de sua trajetria, transpondo os desafios deste complexo campo da Cincia e Tecnologia em Sade.

    Cabe destacar que, em 2006, a FIOCRUZ, foi laureada com dois importantes prmios, um internacional e outro nacional, por sua atuao no campo da Sade Pblica:

    [...] o Prmio Mundial de Excelncia em Sade Pblica 2006, concedido pela maior e mais importante instituio de Sade Pblica do mundo, a Federao Mundial de Associaes de Sade Pblica, e a Ordem do Mrito Cientfico Institucional 2006, a mais importante honraria concedida anualmente pelo governo federal.[...] (PORTAL FIOCRUZ, 2007)

    4.3 O fomento pesquisa institucional

    Na FIOCRUZ, no que se refere ao fomento pesquisa em sade, destaque deve ser dado aos programas institu