96
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA CENTRO DE HUMANIDADES CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS MESTRADO ACADÊMICO EM POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE BRUNA MUNIZ DA SILVA ENSINO DE SOCIOLOGIA E CURRÍCULO: UM OLHAR DOCENTE SOBRE SUAS (RE)SIGNIFICAÇÕES EM DUAS ESCOLAS DE FORTALEZA FORTALEZA-CEARÁ 2016

DISSERTAÇÃO BRUNA MUNIZ DA SILVA - Portal da … as melhores maneiras de adequar-se à escola (onde não se formam sociólogos), esta i nstituição impôs limites de espaço e tempo

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U

NIV

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ST

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ZA

FO

RT

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AR

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2016

B

RU

NA

MU

NIZ

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SILV

A

EN

SIN

O D

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IOLO

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S

(RE

)SIG

NIF

ICA

ÇÕ

ES

EM

DU

AS

ES

CO

LAS

DE

FO

RT

ALE

ZA

Dissertação subm

etida ao curso de M

estrado

Acadêm

ico em P

olíticas Públicas e S

ociedade

da U

niversidade

E

stadual

do C

eará,

como

requisito parcial à obtenção do título de M

estre em

Políticas P

úblicas. Á

rea de C

oncentração: Políticas P

úblicas O

rientadora: Profª. D

rª Rosem

ary de O

liveira

Alm

eida

FO

RT

ALE

ZA

- CE

AR

Á

2016

A

quem m

e ensina a ensinar: meus alunos.

AG

RA

DE

CIM

EN

TO

S

Aos m

eus pais, Sônia e F

ernando, por te

rem sido sem

pre tão amo

rosos e corajosos em

meio

às dificuldades da vida. D

evo a vocês essa força para se

guir e resistir aos desafios.

A

meu

irmão

Bruno,

minha

outra m

etade n

essa vida,

pela

intensidade e

por tanto

compartilham

ento da sabedoria que n

ão está nos livros.

A m

eu irmão F

abrício, pela disponibilidade em

me socorre

r quando estive perdida com a

metodologia.

Ao m

eu amado com

panheiro de todas as horas, José B

runo, por en

carar o

desafio de fazer o

Mestrado e não m

e deixar desistir no caminho! O

brigada pelas palavras e carinhos d

e

incentivo, parceria, por cada viradão de estudos e

por acreditar em m

im qu

ando eu duvidara.

Às boas e velhas am

igas de escola, com quem

tenho p

razer de compartilha

r minhas alegrias e

dores mesm

o com o passar dos anos: S

amara, M

irian, K

arol, Elizabeth, N

aya

ne e T

assy.

Ao m

eu eterno amigo “feio”, C

ícero, porque sua for

ça me inspira.

Aos am

igos em m

inha passagem

pelo PIB

ID/U

EC

E, que c

arrego com

o herança valiosa desta

fase: Katury, Jaim

e, Giza

, Laís, Ca

rol, Lucas e W

illiam

.

Aos cole

gas de trab

alho, com quem

compa

rtilho seman

almente

a dor e a delícia de

ser

professora: Luciana, Inácio, Lucien

e, Beth, V

icente, D

yego, N

atália, Fátim

a e Delano.

Ao professor Judas T

ade

u, com quem

prim

eiro aprendi sobre

a im

portância da Sociolo

gia na

escola.

Aos núcleos gestores d

as escolas em que atuo, por a

poiarem a re

alização desta pesquisa.

A todos os colegas de trabalho, sobretudo àqueles q

ue fazem da necessidade de um

a nova

escola e de um

novo mundo, o com

bustível de suas pr

áticas cotidianas.

Aos queridos jovens qu

e constroem com

igo a Sociolog

ia em sala d

e aula, tecendo

a cada

semana, o sab

er e a crítica do mundo.

À querida R

ose, pela confiança e sensibilidade na orientação da pesqu

isa e por todas as

oportunidades e contribuições à minha fo

rmação d

ocente desd

e a graduação

.

Aos dem

ais professores do M

estrado pela am

pliação de olha

res sobre o

ato de pesquisar e

pelo am

adurecim

ento intelectual

proporcionado

ao lo

ngo do

curso. U

m

obrigado m

uito

especial à Mônica M

artins, pelo com

partilhamento

tão adm

irável de ideias e

mem

órias.

À C

ristina, meu ‘salva vidas’ no M

estrado. Ob

rigada

pela p

rontidão e gentileza com

que

sempre trata nossas dem

andas de estudantes e pela

s altas gargalhad

as.

À am

ada U

EC

E, po

r mais dois anos de

descobertas, li

ções e desconstru

ções sobre eu mesm

a e

minha profissão.

”A criatividade socioló

gica se alim

enta de um

a

situação am

bígua,

o rigor

e o

controle

científico, e uma vinculação apaixonada com

o

mundo.”

(Renato O

rtiz)

RE

SU

MO

A inclusão da S

ociologia no currículo do E

nsino Méd

io gerou novos desafios e possibilidades

para a instituição escolar e, nos dias atuais, ressignifica os sentidos da form

ação escolar. Ao

mesm

o tempo em

que sociólogos passaram

a refletir sobre as m

elhores maneiras de ad

equar-

se à escola (onde não se

formam

sociólogos), esta

instituição im

pôs limites de esp

aço e tempo

para a disciplina

de So

ciologia. Das tensões e

ntre o contexto da esco

la pública em suas

diversidades e os objetivos e demandas próprias à d

isciplina de Sociologia é que surgem

as

questões desta pesquisa. Então, com

preendendo as relaçõ

es entre a disciplina e a realidade

escolar em que se insere

, o objetivo é situar os pr

incipais contextos e práticas envolvidos na

realização do currículo de Sociologia, sejam

próprios da disciplina ou com

uns aos demais

saberes do currículo escolar. O

olhar sobre o currículo através das práticas escola

res se

debruça tanto

sobre os

sentidos da

formação

escolar

como

sobre o

caráter próprio

de

conhecimento escola

rizado assumido pela S

ociologia, nas políticas públicas desta subáre

a –

PC

N’s, O

CN

’S e M

atrizes Curriculares C

eará para a S

ociologia – e nas minhas reflexões e de

dois professores que lecionam a disciplina nas esco

las Alfa e B

eta, situadas no bairro Centro

de Fo

rtaleza. Nesse sentido, as condiçõ

es e possibi

lidades constituídas a partir da relação

entre o

contexto escolar

e o

conhecim

ento so

ciológico

ampliam

a

dimensão

curricular,

compreendida então, pelas tensões e disputas den

tro e fora d

a sala de aula pela escola e pelo

saber. A pergunta prim

ordial sobre o que ensinar em S

ociologia ganha outros contornos nesta

compreensão am

pliada, che

gando às qu

estões de com

o, p

ara que

e para quem

ensinar ou

formar. E

m m

eio a tantas perguntas que envolvem

o ensino

de Sociolo

gia n

a escola pública, a

reflexão sobre o currículo apresentada é um feixe d

e luz, um clarão sob

re nossa situação e

nossas necessidades no E

nsino Médio.

Palavras-chave: C

urrículo. E

nsino de Sociologia. C

otidiano escolar.

AB

ST

RA

CT

The

inclusion of

sociolog

y in

high school

curriculum

has

created ne

w

challenges

and

opportunities for the educational institution and, toda

y, reframes the w

ay o

f school education.

While that sociologists began to refle

ct on the be

st w

ays to adapt to th

e school (whe

re they

form not sociologists), th

is institution has imposed lim

its of space and time for the

discipline

of sociology. T

ensions between the public school co

ntext in their diversity and the goals and

own

demands

to S

ociology

course

is that

come

the qu

estions of

this research.

So,

understanding the

relationship between

discipline a

nd school reality in wh

ich it operates, the

goal is to place th

e main contexts and practices in

volved in making th

e sociology curriculum

,

are themselves the subje

ct or comm

on to other school curriculum

knowledge. T

he look on the

curriculum through scho

ol practices focuses both on the senses of school education and on the

very character of educated know

ledge assum

ed b

y soc

iology, public policy of this sub

area -

PC

N's O

CN

'S and C

urriculum M

atrices Ceará to

sociolog

y - and in my reflections and tw

o

teachers w

ho teach the discipline in the Alpha and

Beta schools, located in F

ortaleza Center

neighborhood. In this sense, the conditions and possibilities m

ade from

the relationship

between the

school context and sociological kn

owled

ge expand the curricular dimension,

understood then, the tensions and disputes within and outside of the classroom

by the school

and for learning. T

he primary qu

estion of what to t

each Sociolog

y win other contours in this

expanded understanding, com

ing to the questions of how

, for what and for w

hom teaching or

form. A

mid so m

any qu

estions surrounding the sociolog

y of education in public schools, the

reflection on the curriculum

presented is a b

eam of

light, a flash about ou

r situation and our

needs in high school.

Keyw

ords: Curriculum

. Sociolog

y of teachin

g. school routine.

LIST

A D

E ILU

ST

RA

ÇÕ

ES

Gráfico 1 –

Estudou sem

pre em escola pública?

.......................................................

......... 27

Gráfico 2 –

Q

ue etapas na rede priva

da? ...........

................................................................. 28

Gráfico 3 -

Qual a persp

ectiva futura

ao sair da escola?

.................................................... 31

Gráfico 4 -

Por que estuda nesta esco

la? ............................................................

................ 35

Gráfico 5 -

Qual a principal contribu

ição da Sociolo

gia? .............................................

..... 38

Gráfico 6 -

Você gosta de

Sociologia

? .............

.................................................................. 39

Gráfico 7 -

A S

ociologia é uma m

atéria ............

................................................................ 40

Gráfico 8 -

Renda fam

iliar ...........................................................................

...................... 52

Gráfico 9 -

Quantas pessoas m

oram em

sua casa? ....

......................................................... 53

LIST

A D

E S

IGLA

S

BN

CC

Base N

acional C

omum

Curricular

CA

PE

S C

oordenação de Ape

rfeiçoamento d

e Pe

ssoal de Nível S

uperior

EE

EP

E

scola Estadual d

e Ensino P

rofissional

EN

EM

Exam

e Nacional d

o Enino M

édio

LDB

Lei d

e Diretrizes e

Bases d

a Educaçã

o (1996)

ME

C M

inistério da Educa

ção

OC

N O

rientaçõe

s Curriculares N

acionais (S

ociologia)

PC

A P

rofessor Coordenador d

e Áre

a

PC

N P

arâmetros C

urriculares Nacionais

(Sociologia)

PC

NE

M P

arâmetros C

urriculares Nacionais p

ara o E

nsino Médio

PIB

ID P

rogram

a Nacional de B

olsas de Ini

ciação à Docência

PN

LD P

rogram

a Nacional do Livro D

idático

SE

DU

C S

ecretaria de Educa

ção Básica do C

eará

SP

AE

CE

Sistem

a Perm

anente de Avaliação da

Edu

cação Básica do C

ea

SIG

E S

istema Integrado de G

estão Escolar

UE

CE

Universida

de Estadual do C

eará

SU

RIO

1. IN

TR

OD

ÃO

...........................................................................................

.............. 13

2. O

CU

RR

ÍCU

LO E

SE

US

SIG

NIF

ICA

DO

S: O

QU

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ST

Á E

M JO

GO

? ........... 22

2.1 O C

UR

RÍC

ULO

ES

CO

LAR

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IGN

IFIC

AD

OS

NO

SIS

TE

MA

ES

CO

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EN

SE

.............................................................................................

................... 23

2.2 SIG

NIF

ICA

DO

S E

CO

ND

IÇÕ

ES

DA

SO

CIO

LOG

IA N

O C

UR

CU

LO ............... 37

3. O

C

UR

RÍC

ULO

D

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SO

CIO

LOG

IA

E

A

(RE

)SIG

NIF

ICA

ÇÃ

O

DA

ES

CO

LA.............................................

........................................................................ 48

3.1 SO

CIO

LOG

IA E

JUV

EN

TU

DE

S N

A E

SC

OLA

....................................................... 49

3.2 SO

CIO

LOG

IA E

AF

RIC

AN

IDA

DE

S N

A E

SC

OLA

................................................ 58

4. E

NS

INO

D

E

SO

CIO

LOG

IA

E

SU

AS

P

ER

SP

EC

TIV

AS

N

O

CU

RR

ÍCU

LO

ES

CO

LAR

..............................................................................................

.................... 63

4.1 CU

RR

ÍCU

LO D

E S

OC

IOLO

GIA

NA

S E

SC

OLA

S A

LFA

E B

ET

A ........................ 65

4.2 OS

CO

NT

DO

S S

OC

IOLÓ

GIC

OS

NA

S E

SC

OLA

S A

LFA

E B

ET

A E

M 2015 .. 70

4.3 SO

CIO

LOG

IA

E

A

(RE

)SIG

NIF

ICA

ÇÃ

O

DA

S

AB

OR

DA

GE

NS

ME

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DO

LÓG

ICA

S E

M S

ALA

DE

AU

LA .............................................................. 76

4.4 OS

SIG

NIF

ICA

DO

S D

O LIV

RO

DID

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ICO

NO

EN

SIN

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E

SO

CIO

LOG

IA .... 80

CO

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IDE

RA

ÇÕ

ES

FIN

AIS

......................................................................................... 86

BIB

LIOG

RA

FIA

CO

NS

ULT

AD

A ..............................................................................

.. 90

13

1 INT

RO

DU

ÇÃ

O

Nos dias atuais, a escola brasileira passa por u

m m

omento de revisão do se

u

papel, refletindo a própria revisão

do país. Em

mei

o à crise política e social que vivemos, as

instituições como a fam

ília, o Estado e a própria

escola se dep

aram com

a difícil tarefa de

adequar-se às

necessida

des do

mundo

contemporâneo.

Nesse

contexto, o

Ministério

da

Educação publicou, em

setembro de 2015, o docum

ento prelim

inar da nova B

ase Nacional

Com

um C

urricular (BN

CC

), elaborado por especialistas de diversas U

niversidades. Este

documento, que foi sub

metido à consulta pública, é

uma resposta do M

inistério às Metas do

Plano N

acional de Edu

cação (P

NE

) que tra

ça os objet

ivos e melhoram

entos necessá

rios para a

década se

guinte e à própria Lei de Diretrizes e B

ases (LD

B/96).

A revisão da escola com

eça, então, pela revisão do

currículo? S

e sim, a dim

ensão

estratégica

do currículo

extrapola a

determ

inação d

e conteúdos

e

opera a

própria

ressignificação desta instituição. No caso do E

nsino M

édio, incluso na BN

CC

por causa da

Meta do P

NE

que propõ

e a universalização d

esta etap

a, o próprio do

cumento m

enciona sua

complexidade pelo núm

ero maior d

e componentes (disc

iplinas) e pela m

aior necessidade de

articulação destes compo

nentes com a vida p

rática d

os estudantes.

A

ressignificação da

escola e

do currículo

é o

cenário

atual do

debate

que

proponho neste

trabalho.

Desta

forma,

o objetivo

aqui

é com

preen

der as

orientações

pedagó

gico-curriculares oficiais, representadas p

or docum

entos consolidados e ante

riores à

BN

CC

(P

arâmetros

Curriculares

Nacionais,

Orientaçõe

s C

urriculares N

acionais, a

nível

nacional) e a prática docente na Educa

ção Bá

sica na disciplina de S

ociologia, dadas as

condições de atuação encontradas nas escolas públic

as de Fortaleza. T

raçando o panoram

a das

políticas curriculares qu

e influenciaram

a inserção e os sentidos da S

ociologia no Ensino

Médio no contexto de duas escolas d

esta cidade, esp

ero contribuir co

m o debate sobre a

importância desta disciplina na revisão da escola b

rasileira proposta recentem

ente pelo ME

C

através da nova B

NC

C.

No

entanto, o

currículo não

se restrin

ge

às orienta

ções dos

órgãos

governam

entais, ele ganha form

a no ch

ão da escola e na

sala de aula. P

or este motivo é qu

e

retomo, ao longo do tra

balho, minha própria tra

jetória form

ativa e as reflexões de minha

prática docente em

duas escolas da red

e estadual do

Ceará: a E

scola A

lfa e a E

scola Beta

1.

1 Atrib

uí no

mes fictício

s às esco

las po

r com

preend

er q

ue a análise do

cam

po

escolar revela as relaçõ

es d

e forças

instrínsecas ao

cam

po

, logo

, verifica te

nsões en

tre sujeito

s. Po

r conviver p

rofissio

nalme

nte com

tais

tensõ

es e

14

Além

disso, contribuem para o d

ebate a perspectiva

de dois outros professores que també

m

lecionam S

ociologia nas mesm

as escolas (aos quais a

tribuí nomes fictícios neste escrito). O

recorte temporal das entrevistas realizadas com

estes professores e d

as reflexões e relatos

sobre minha própria prática inicia em

julho de 2014, quando ingressei no ensino, e encerra em

dezembro de 2015, ao fim

do ano letivo nas escolas.

Na

escola A

lfa, além

de

mim

, o

professor R

oberto le

ciona S

ociologia,

completando sua carga h

orária com F

ilosofia no Ensi

no Médio e H

istória e E

nsino Religioso

no Ensino F

undamental. C

oncursado há três anos na red

e estadual (no enta

nto, leciona desde

2002), este professo

r possui Licenciatura em S

ociologia e P

olítica e B

acha

relado em D

ireito,

ambos pela U

niversidade de F

ortaleza (U

NIF

OR

). Na e

scola Beta tam

bém existem

dois

professores de Sociologia: eu e Lucas. Lucas lecion

a Sociologia e F

ilosofia e é professor em

regim

e de contratação te

mporária d

esde 2001 nesta e

scola. Possui Licenciatura e B

acharelado

em F

ilosofia e Ba

charelado em

História, am

bos pela U

niversidade F

ederal do Ceará (U

FC

).

As

declarações

do pro

fessor R

oberto e

do p

rofessor Lu

cas con

cecidas em

entrevistas individuais

e sem

iestruturadas são

revelado

ras do

cenário

da S

ociologia nas

escolas Alfa e B

eta, são outras vozes nos informand

o sobre suas práticas em

relação ao debate

aqui proposto.

Por contribuírem

fundamentalm

ente em m

inha formação pa

ra a docência, retomo

reflexões importantes d

e m

inha época de bolsista do

Pro

grama Institucional de B

olsas de

Iniciação

a D

ocên

cia/PIB

ID 2 (entre

2010 e

2013),

para revelar

que

posições

e q

ue

perspectivas sobre o ensino de S

ociologia foram

elaboradas e ressignificadas em

minha

trajetória docente d

esde o PIB

ID até

a chegad

a a escola. E

sta pesquisa é, então, o esfo

rço

crítico de uma

professora de Sociolo

gia da rede bás

ica de F

ortaleza de

pensar em

sua prática

de ensino compreend

endo as determ

inações form

ativas na carreira e as co

ndições de atuação

encontradas nos dias atua

is, nas escolas em que atua.

Neste caso se faz necessária um

a problem

atização in

icial: a minha dupla posição

de pesquisadora e professora neste caso, um

a vez qu

e investigo a realidade na qual atuo. É

uma dupla posição

que se confund

e em m

inha form

ação

deste o co

meço por, d

esde os

pelo

caráter púb

lico d

este trabalho

, ado

to tais no

mes co

mo

critério ético

frente à

rede esta

dual d

e en

sino na q

ual atuo

. 2 O

Pro

gram

a Institucional d

e Bo

lsas de Iniciação

à D

ocência (P

IBID

) é financiado

pela C

oo

rdenação

de A

perfeiço

am

ento

de P

essoal d

e Nível S

uperio

r (CA

PE

S) e

, através de ed

itais, visa con

tribuir co

m a fo

rmação

d

ocente d

e licenciando

s para atuare

m no

En

sino M

édi

o, b

em

com

o co

m a fo

rmação

contin

uada d

e pro

fessore

s da

rede b

ásica, buscand

o inte

grar esta persp

ectiva à realização

de p

esquisas na área ed

ucacional, ap

roxim

ando

esco

la e

Universid

ade.

Para

mais

inform

ações,

consu

ltar < http

://ww

w.cap

es.gov.b

r/educacao

-b

asica/capesp

ibid>.

15

primeiros passos na licenciatura, tom

ar a escola com

o ambiente de investiga

ção, como objeto

de estudo. Ponho-m

e, então, o desa

fio já encarad

o por G

ilberto Velho de observar o fam

iliar,

o próximo. C

omo resolver essa questão?

Com

o investiga

r e esclarecer sobre a realidade em

que trabalho sem

descrever apenas m

eu ponto de vist

a, ou ainda, sem sequ

er problematizá-lo?

A saída é a postura qu

e tanto reforço junto aos m

eus alunos: estranha

r e desnaturalizar a

realidade conhe

cida. No

escrito “observando o fam

iliar”, G

ilberto V

elho revela qu

e só é

possível estranhar o familiar quando conhe

cemos direfentes inte

rpretações sobre os fatos e as

situações e

temos

capacidade intelectu

al e

emocional

de confrontar

essas diferenças.

(VE

LHO

, 2003; VE

LHO

, 1994).

Estranhar o

familiar, no

caso da investigação

sobre o cu

rrículo de S

ociologia,

implica ver a dim

ensão curricular em

tudo, em suas

condições e desobram

entos na dinâmica

escolar vivenciada no

meu trab

alho. O currícu

lo aqui não

se restrin

ge aos conteúdos ou

assuntos a serem abo

rdados em

sala de aula, uma vez

que pode ser revelado pelas relações

entre sujeitos

nos sistem

as de

ensino, nas

práticas

e discursos

do

cotidiano, sejam

documentadas em

leis ou realidades vivenciadas nas

escolas Alfa e B

eta. Fujo de um

a noção

substancialista ou do currículo em si, pois o currí

culo é uma constru

ção social prática, que

delinea-se cotidian

amen

te por

relações de

ensino-aprendiza

gem,

posturas ético-políticas,

decisões sobre metodolo

gias ou aborda

gens de e

nsino, sentidos do ensino no contexto social

em que se inserem

as escolas. O currículo, nesta co

ncepção é tanto o que ensinam

os, quanto

para que, para quem

ou como estam

os ensinando.

Além

de reflexões sobre o cotidiano e d

e entrevistas sem

i-estruturadas re

alizadas

com os dem

ais professores de Sociologia das escolas

, apliquei questionários junto aos alunos

para dimensionar a realidade em

questão, isso por que, neste caso, a m

inha caracterização

pudesse ser insuficiente para esclarecê-la, lo

go, recorri ao re

curso quantitativo.

Enquanto as entrevistas com

os professores abordam

as questões curriculares

dentro e fora da sala de aula (carga horá

ria, conteúdos, livros, m

etodologias, objetivos, etc.),

os questionários

aplicados

com

os alunos

nas duas

escolas

situam

a realidad

e socio-

econômica, su

as impressões sobre a escola e sob

re a disciplina d

e Sociologia. P

ara o cálculo

da amostra, do

tipo aleatória estratificada3, foi utilizado com

o critério o índice de

confiança de

3 Am

ostra aleató

ria estratificada e p

ropo

rcional co

nsiste e

m criar grup

os o

u estratos e

m u

ma p

op

ulação,

ond

e

nenh

um

elem

ento se rep

ete em cad

a estrato. N

esta pe

squisa, send

o a p

op

ulação o

núm

ero

total d

e alunos

nas

escolas A

lfa e B

eta, os p

rimeiro

s estratos são

cada

um

das esco

las e aparece

m sub

estratos, as séries,

ou

turma

s d

e 1º, 2º e 3° ano

. Co

nsideran

do

a quantid

ade d

e cad

a estrato na p

opulação

, as pro

po

rções d

e cada u

m d

eles são m

antid

as para garan

tir sua rep

resentatividad

e, ou s

eja, o nú

mero

de q

uestionário

s po

r estrato é p

rop

orcio

nal ao

tam

anho

do

s me

smo

s.

16

95%, com

ma

rgem d

e erro de 5%

para

223 questionários na escola

Beta (que tem

, no total,

555 alunos) e 122 questionários na escola A

lfa (que tem

290 alunos). Se

ndo a professora de

muitos

destes alunos,

nas duas

escolas solicitei

que

não se

identificassem

para n

ão

comprom

eter suas respostas. A

lunos do 1º, 2º e 3º ano responde

ram ao

questionário. No

processamento dos d

ados, os instrum

entais utilizados foram

os softwares Micro

soft E

xcel

20

10 e P

gA

min

III (banco de dados).

Mesm

o com a realizaçã

o de entrevistas e questionários, a investigação realizada

só ganha sentido por re

velar o saber docente, q

ue se ca

racteriza não só

pelo processo de

formação para a docência, m

as pelo saber sobre e

na prática d

e ensino. Co

mpreendido assim

,

o saber docente é reconstruído, neste trabalho, a

través da abo

rdagem

etnográfica da prática

escolar (A

ND

, 1995).

Esta

abordagem

justifica-se

pela

necessidade

de com

preende

r

organicamente a realida

de em que se configura e se

insere o cu

rrículo. Ainda que seja

efetivamente

realizado e

m sala de aula, o cu

rrículo diz respeito à escola com

o um todo e

conhecer a escola mais de perto é fundam

ental para diagnostica

r a realidade curricular,

sobretudo da Sociologia.

As escolas pesquisad

as, Escola A

lfa e Escola B

eta, fazem

parte da rede estadual,

logo são ge

ridas pelo m

esm

o órgão, a Secreta

ria de E

ducação do E

stado d

o Ceará (S

ED

UC

);

localizam-se no bairro C

entro da cidade de F

ortaleza e são escolas an

tigas na cidade (a

primeira, tem

91 anos de existência e a segunda, 131 anos). P

orém, isso não significa nem

de

longe uma hom

ogeneidade nas realidades de cad

a uma

delas, a começar pela m

odalidade de

ensino. A escola A

lfa funciona em

regim

e regula

r, ou seja, são form

adas turmas nos turnos

manhã e tarde, com

carga horária de 5 horas/a

ula por turno. A

escola Beta funciona em

regim

e integral, com ca

rga horária d

e 9 horas/aula por dia. V

erificaremos, então, ao longo do

trabalho, como esta dife

rença, que com

eça com o tipo de m

odalidade escolar, mas qu

e não se

encerra nesse asp

ecto influencia a im

portância, a elaboração e a re

alização do currículo d

e

Sociologia. É

óbvio que a questão curricular no caso d

a Sociologia envolve tam

bém

sua

condição própria de disciplina recém inclusa (assim

como a F

ilosofia), se comparad

a com as

demais. A

lém disso, esta

s disciplinas possuem ap

enas 1 ho

ra/aula por sem

ana em cad

a turma,

nas duas escolas em qu

e atuo e na m

aioria da

s escolas da rede. N

os casos em que são

ofertadas com

2 horas/a

ula por seman

a, é adotado o re

gime sem

estral. Com

preender que

objetivos, conteúdos e sentidos a S

ociologia assume

na re

alidade escolar im

plica conhecer su

a

condição institucional ou mesm

o seu estado de legitim

ação nos dias atuais, passados oito anos

de sua inclusão como disciplina obrigatória.

17

A reflexão sobre o currículo não se restringe aos c

onteúdos ou temas de ca

da aula,

pois concepções d

e conhecim

ento e aprendizage

m, im

portância d

e disciplinas e m

etodologias

de ensino revelam o quanto a inserção de cada sa

ber na escola é com

plexa. Basta ter noção da

dimensão estrutural que tem

a escola pública dian

te da form

ação d

e jovens para esta

r à frente

de dilemas e expecativa

s diversas. Em

tempos de m

últiplas linguagens e tecnolo

gias e de

desgaste da organização escolar que perdu

ra, o deba

te sobre o currículo é am

pliado: mais do

que a pergunta clássica “o que ensin

aremos?

”, vem a

pergunta “qu

em e

para que estam

os

formando?

” Esta perspe

ctiva amplia

da de currículo exige qu

e o pensem

os ao mesm

o tempo

em que pensam

os a escola ou as relações objetivas q

ue subsidiam ou fundam

entam o que

chamam

os de currículo escolar. P

or outro lado, para

superar a noção de

currículo como m

ero

instrumento de realizaçã

o das relações educa

cionais da instituição, situam

os sua construção

cotidiana, evidente nas práticas sociais de ressign

ificação do próprio ensino e seus objetivos.

A am

pliação do olhar a que me refiro, então, é a nã

o redução da categoria

currículo aos

conteúdos

ensinados. P

ara com

preender

tal

categoria,

estabeleço um

a

correspondência com

sua natureza escola

rizada, logo, dim

ensiono o problem

a do ensino de

Sociologia sob

o ponto de vista do

currículo escolar. N

esta pesquisa, ressignifiquei a cate

goria

currículo para testar e

m aberto as m

últiplas possibilidades de diálogo entre a discussão

propriamente p

edagó

gica e as contribuiçõ

es teóricas da ciên

cia sociológica.

V

ivemos

um

mom

ento em

que

os conhecim

entos

de cada disciplina

são

repensados na form

a com

o são transmitidos no E

nsino M

édio e, para a Sociologia, esta

revisão constante faz parte da inserção ainda em an

damento com

o disciplina. Há m

enos de

cinco anos o livro didático de Sociologia che

gou às

escolas, o que causou

impacto na prática

dos professores, mesm

o não homogeneam

ente.

Desde 2012 o

Ministério da E

ducação sinaliza para u

ma reform

a do E

nsino

Médio,

em

busca d

e u

m

currículo

mais

flexível e

men

os en

gessado

pelo excesso

de

disciplinas 4. Nas escolas em

que atuo, é recorre

nte o diálogo sobre a inadaptabilidade de

nossos alunos ao modelo curricular e de ensin

o da instituição escolar. T

al diálogo, que

permeia as relaçõ

es do cotidiano entre professores, coorde

nadores e alunos, não afirm

a o

esgotamento da instituição escolar, m

as recria a

s práticas curriculares d

e modo a repensar

4 O E

nsino M

édio

brasileiro

se divid

e em

quatro

gran

des á

reas do

conhecim

ento

: Lin

gu

agens, C

ód

igos e S

uas

Tecno

logias, M

atem

ática e S

uas Tecno

logia

s, Ciências H

um

anas e

Suas T

ecnolo

gias, Ciências d

a Natureza

e

Suas T

ecnolo

gias.

18

tanto a importância de conteúdos e tem

as quando a r

elação de produção/rep

rodução do

conhecimento, dentro e fora da sala de aula.

Então, no cená

rio atual de questionam

ento sobre a c

ontribuição e a necessidade d

a

escola, o currículo do E

nsino Médio com

o um todo e

o de cada

disciplina é rep

ensado à luz

das novas demandas fo

rmativas em

tempos de centrali

dade das tecnolo

gias. Com

preender o

currículo neste cenário é possível quando am

pliamos

nossas perguntas de “o que”, para “po

r

que?”, “com

o?” ensinar.

Com

tais perguntas não está esgotad

a a proble

matiza

ção sobre o currículo d

e

Sociologia, pelo

contrário, são pontos de p

artida que convergem

para

aspectos também

importantes do ensino desta disciplina, a saber, o

livro didático, as múltiplas identidades

juvenis, as

estratégias

em

sala de

aula, os

objetivos

e contribuições

próprias do

olhar

sociológico na vida dos jovens. P

ara am

pliar a imag

inação

sociológica (MILLS

, 1959) sobre

tema tão característico d

a pedago

gia, o currículo tam

bém será dabatido através das condiçõe

s

desiguais de d

esempenh

o de cada escola no sistem

a escolar qu

e desdobram

na relação do

s

jovens com a própria escola e seus objetivos.

Considerando isso, retom

o a importância da abord

agem

etnográfica sobre a escola

para compre

ender as configuraçõ

es do currículo p

or que se trata

de um am

biente que reflete a

realidade social m

ais am

pla, ou seja, as posições,

hierarquias e relações que aconte

cem na

escola revelam sobre

os papéis e as posturas assu

mi

das por cada a

gente d

a realidade

escolar

sobre e no currículo. Qu

ando dimensiona a abordagem

etnográfica em estudos da educação,

André (1995) considera

o pesquisador como prin

cipal fonte

de pesquisa e o esclarecim

ento

sobre o processo da

pesquisa com

o elemento fun

damen

tal dessse tipo de investigação. N

este

caso, meu próprio traba

llho é uma fonte valiosa par

a dimensinar o cotidiano escolar. A

o

mesm

o tempo em

que é uma possibilidade de co

nhecer “por dentro

” a escola, este esforço é

um grande

desafio, pessoal e intelectual, po

r exigir um

a desnaturalizaçã

o consistente e de

fato, problematizadora d

as práticas, inclusive da m

inha própria atuação do

cente.

Vale dim

ensinar, neste caso, os possíveis limites desta aborda

gem para a discusão

teórica do trabalho. Oliveira (2013) re

conhece a incipiência e os p

roblem

as da pesquisa

educacional com

a abordagem etnográfica pelo uso m

eram

ente descritivo e microssocial da

Antropologia n

a educaçã

o. Para o autor, n

ão é a técnica d

e coleta de dados que caracte

riza o

trabalho etno

gráfico,

estando ele

atento aos

“atos cognitivos

do trabalho

etnográfico”

apontados por Robe

rto Cardoso de O

liveira, a saber, o ouvir, o olhar e o escrever sob u

m

olhar treinado em relação às ideias antropoló

gicas. O

liveira (2013) destaca que

estar em

campo não é suficiente p

ara identificar o trabalho com

o método etno

gráfico, m

as reconhece a

19

importância

dos estudos

com

abordagem

etn

ográfica p

ara a

forma

ção do

campo

da

Antropologia d

a Educaçã

o.

Se

nos esforcássem

os para

classificar este

trabalho

em

alguma

ciência

de

referência, esta seria a S

ociologia. Ainda assim

, é im

portante conhecer e

stas ressalvas entre

campos de estudo – no caso, entre a A

ntropologia e a E

ducação – para dim

ensionar a real

contribuição da abord

agem

etnográ

fica neste caso: o

portunizar o conhecim

ento da realidade

escolar “por dentro” pa

ra desnaturalizá-la

em suas

rotinas e fatos “insignificantes”. Esta

postura extrapola a me

ra descrição por revela

r sobr

e os atores e suas tensões na escola que

influenciam

o currículo

tanto

quanto as

orientações

ped

agó

gicas o

ficiais, a

partir d

a

construção do olhar d

a observadora e também

professora das escolas p

esquisadas, no meu

caso.

O caráter tão desafiador desta pesquisa m

e fez en

cará

-la como um

a atividade qu

e

se experimenta com

o artesanato intele

ctual (MILLS

, 1959

), construída cuidadosam

ente de

acordo com as questões ou problem

as da realidade empírica, o qued

esconstrói a rigidez e

mecanicidad

e que a metodologia pode assum

ir na empr

eitada investigativa. N

esta pesquisa, o

“esforço artesanal” m

e levou a construir um raciocí

nio metodológico conectado

com as

questões empíricas e

teóricas, então, com

preendo que a abo

rdagem

teórica e a

aborda

gem

empírica se com

binam neste caso pa

ra elucida

r a met

odologia. Assim

, é a natureza do

problema

que d

elimita

as escolh

as m

etodológicas, e

não

as afirm

ações teó

ricas e

procedimentais.

O q

ue conta, na realid

ade, é a co

nstrução d

o o

bjeto

, e a eficácia de u

m m

étod

o d

e

pensar

nu

nca se

manife

sta tão

b

em

q

uanto

na

sua ca

pacid

ade

de

reconstruir

cientificam

ente o

s grandes o

bjeto

s socialm

ente im

po

rtantes, apreend

endo

-os d

e um

âng

ulo im

pre

visto. (B

OU

RD

IEU

, 20

11a, p

. 20

) O

Ensino da S

ociologia com

o um problem

a a ser investigado é

marca

do, em

minha trajetória, pela fu

são de teorias e realidade

s empíricas. D

esde as primeiras aulas e

reflexões sobre o que é a ciência socioló

gica e com

o esta se conecta com a realidad

e escolar,

ainda na Licenciatura e

m C

iências Sociais, este pro

blema já ía se form

atando. Ainda vieram

as experiências form

ativas de estudo e contato constante com

a escola a partir de m

inha

inserção como bolsista de iniciação à docên

cia no P

IBID

-UE

CE

.

À

época d

a graduação,

minha

preocupação

central era

a

especificidade do

conhecimento socioló

gico em relação aos dem

ais do currículo escolar. B

uscava nas leituras os

vários sentidos, abordagens e inovações que a Socio

logia pode desenvolver na formação de

jovens e, ao ir à escola sempre atuando em

atividades do P

IBID

, redim

ensionava estes

20

sentidos ao conhece

r a sala de

aula e presenciar a

im

aginação

sociológica sendo tecida a cad

a

semana. D

esde estas primeiras experiências, aind

a em

form

ação para do

cência, todas as vezes

em que am

pliei o olhar da sala de aula pa

ra a com

preensão d

e suas relações com a escola e o

próprio entorno escolar, me vi diante de condiçõ

es

e contradições até então

imperceptíveis.

Ao ingressa

r no Mestrad

o e, ao mesm

o tempo, na carr

eira docente, a ampliação do

meu olhar se tornou

orgânica, uma vez qu

e perm

anentem

ente vivenciad

a e re

fletida. Esta

r

todos os dias na escola, sentindo na pele cada avan

ço e lim

ite da disciplina de S

ociologia,

ainda em inserção no co

ntexto escolar, é uma experi

ência que ressignifica as rela

ções entre

reflexões teóricas e realidades em

píricas. Então, n

os dias atuais, meu olhar busca respostas

para os problemas de

investigação no

diálogo en

tre autores e

atores da e

sobre a escola e a

Sociologia. O

s autores, das Universidades, M

inistério ou S

ecretarias, e os atores, professores,

alunos, gestores, é que constroem

o universo de

relaçõ

es que será explorado neste

trabalho.

Entre os atores, estou inclusa e dim

ensiono minhas reflexões e experiên

cias como um

dos

recursos centrais

de investiga

ção. T

al inclusã

o jus

tifica-se pela

natureza form

ativa e

processual da So

ciologia – como problem

a de pesquis

a – em m

inha carreira do

cente e ao

mesm

o tempo discente.

Um

desafio

inerente a

o estudo

proposto é

a fronteir

a tênue

entre

estudo

sociológico, mais especificam

ente no âmbito das pol

íticas públicas, e estudo educacional, da

área ped

agó

gica. A contribuição fundam

ental que suponho para

este caso é a problem

atização

sociológica, ou com a

rgumentos socioló

gicos, sobre a p

rópria inserçã

o da Sociologia

na

educação básica. Lo

go, a aborda

gem ped

agó

gica inclusa neste caso não está descone

ctada, em

nenhum m

omento, dos contextos e abordagens socio-po

líticos próprios da Sociologia. A

compreensão fund

amental de

socialização (ou relação

entre indivíduo e so

ciedade) qu

e funda

a ciência sociológica está im

plícita em todo o esfo

rço de analisar as práticas individuais e as

condições estruturais do ensino de Sociologia.

A discussão se inicia co

m o capítulo “O

currículo e seus significados: o que está

em jogo?

”, onde discutirei o lugar da

sociologia n

o currículo atualm

ente. Para isso, as escola

s

Alfa e B

eta serão diagn

osticadas em relação à estru

tura, à realidade so

cio-econômica dos

alunos e suas perspectivas sobre

o ensino, à relação

com a S

ecretaria de E

ducação e

às

relações cotidianas no tocante à S

ociologia. Após diagnosticar o cam

po, trato da trajetória e

dos sentidos

assumidos

pela S

ociologia

na

escola. O

re

curso p

rincipal

neste caso

é

o

cruzamento da trajetó

ria da disciplina com

minha tr

ajetória na disciplina desde os estudos

escolares até o Mestrado.

21

No se

gundo capítulo, intitulado “O currículo d

e Soc

iologia e a (re)significação d

a

escola”, cham

arei atençã

o para a dim

ensão estraté

gica do

currículo no caso da S

ociologia, que

pode funcionar com

o “resgate

” dos sentidos da e

scola pública. N

este caso, discutirei tanto a

dimensão das juventude

s em m

eio à escolarização qua

nto a inclusão do debate sob

re a

diversidade étnico-ra

cial nas práticas escolares Al

fa e Beta.

No

último

capítulo, intitulado

“Ensino

de S

ociologia

e suas

perspectivas

no

contexto escolar cearense” discutiremos os sentidos

atribuídos à disciplina a partir de seus

conteúdos, recursos didá

ticos e aborda

gens meto

dológicas. A

tendência de re(significação)

constante das práticas escolas pela S

ociologia obse

rvada no se

gundo capítulo, é apro

fundada

pelas condições de ensin

o-aprendizagem

verificadas

na sala de aula.

Com

este esforço analítico, espera-se que ao final deste trabalho o leitor tenha um

panorama

da realidade d

a Sociologia

nas duas escola

s – Alfa e

Beta –

sob o viés do currículo

e com

preenda

os discursos

e as

práticas em

jogo

no condicionam

ento

institucional da

disciplina. Mesm

o sendo em referência a duas escola

s, esta reflexão pretende gen

eralizar-se

captando o “universal no

particular” através da dinâm

ica escolar que revela sobre as tensõ

es

entre o mundo social m

ais amplo e a form

ação instit

ucionalizada das escolas públicas.

22

2 O C

UR

RÍC

ULO

E S

EU

S S

IGN

IFIC

AD

OS

: O Q

UE

ES

EM

JOG

O?

“Um

a vez que currículo é cultura,

ele é uma d

as culturas possíveis.”

(José G. S

acristán)

O currículo é m

uito mais que conteúdo, teoria, fórm

ula. Assim

como a cultura d

e

uma sociedad

e não se

realiza som

ente por leis escritas, o currículo na

escola não se restringe

ao que

está

escrito n

as orienta

ções, nos

papéis.

O

currículo

possui um

a identidad

e

multidim

ensional, por ser diferentemente interpre

tado e realizado por professores, gestores e

alunos. Ainda assim

, no sistema escolar brasileiro

, o esforço d

e unidade curricular é efetivado

pelas políticas educacionais, o que inclui o curríc

ulo nas disputas próprias de cada cultura

,

pelo conhecimento, pela interpreta

ção da realidade

para dominá

-la ou simplesm

ente, torná-la

mais justa. A

disputa pelo que ensinar, como ensina

r e até m

esmo onde ensinar é cenário

diário de conflitos entre alunos e professores. Na

escola A

lfa, a escola regular em

que atuo,

um grupo de alunos veteranos re

alizou por contra própria um

a reunião de sua turma com

a

maioria de seus pro

fessores e a gestão da escola para

tratar dos assuntos de seu interesse.

Pautavam

a necessidade de aulas m

ais dinâmicas, com

recursos diferentes da lousa e do pincel

e, com o tem

or de se comprom

eterem com

os professores por m

edo da avaliação dos mesm

os,

deram sugestões de m

elhorias para as aulas, como o

uso mais frequente dos recursos digitais

(TV

, internet) e

a re

alização de aulas de

campo. N

esta reunião, o tom

de justificativa entre

gestores e professores era o mesm

o, o que não ameni

zou a ansiedade dos alunos para soluções

ao que apresentavam.

Esta

reunião foi

só m

ais

um

mom

ento dos

inúmeros

em

que os

alunos

se

colocaram na disputa pelo currículo, m

as foi um dos únicos em

que tantos professores

ouviram com

atenção. N

o geral, os professores estão disputando o currículo “por de

ntro”,

com

cada

um

desem

penhando

um

trabalho m

uitas vezes isolado

em

sala d

e aula

e,

principalmente

quando há

choque d

e posições

políticas,

nas conve

rsas das

salas do

s

professores. O uso de tecnologias e a posição diant

e de alunos indisciplinados na sala de aula

são temas re

correntes dessas disputas, ou debates na sala dos professores.

A disputa, em

suas múltiplas form

as, é inerente

ao processo de realiza

ção do

currículo desde sua elaboração, à concep

ção sobre o

que deve ser e ensinar a escola e como

deve avaliar ou qualifica

r o conhecim

ento que trans

mite. C

omo toda disputa, envolve ato

res e

23

seus discursos externos à escola – aqueles que gere

nciam o sistem

a escolar, ME

C, S

ED

UC

e internos – com

conhecim

entos e trajetórias diferentes. Intern

amente, o cruzam

ento de

agentes com form

ações tão diferen

ciadas gera ten

sões políticas e pedagó

gicas, principalmente

quando são atribuídas posições distintas para os vá

rios saberes escolares.

O objetivo deste capítulo é dim

ensionar estas dispu

tas pelo e do currículo por

vários agentes e em

várias esferas, situando o debate no cená

rio das escolas públicas A

lfa e

Beta. A

ssim che

garem

os ao lugar conquistado pela disciplina de S

ociologia nesta disputa e

como ela se situa hoje no contexto da escola públic

a em m

eio ao desafio de revisão da

formaçao escola

r.

2.1 O

C

UR

RÍC

ULO

E

SC

OLA

R

E

SE

US

S

IGN

IFIC

AD

OS

N

O

SIS

TE

MA

E

SC

OLA

R

CE

AR

EN

SE Em

2008, quando concluía o E

nsino Médio em

uma escola re

gular da cidade d

e

Horizonte, um

a piada e

ra clássica

e com

um n

a sala de

aula: vez ou outra quando algum

aluno

era repreendido pelo pro

fessor ou professora por indisciplina, alguém

respondia “estudar pra

quê professora, se o futuro é a Vulcabrás?

”. Esta f

ala, que até os dias de ho

je ecoa nas salas d

e

aula de Horizonte, faz referência à principal em

presa m

ultinacional da cidade, a que mais

contrata a mão d

e obra horizontina. M

ais do que sorrisos, acusa

a perspe

ctiva dos alunos das

escolas públicas da cid

ade que, ao concluírem

o Ens

ino Médio e co

m idade adequ

ada,

conseguem

um trabalho

com pouca ou nenhum

a ascenção profissional e financeira. É

o

trabalho da indústria que, ali, quase sem

pre se con

funde (ou se confundia) com

não estudar

mais.

Não caberia aqui investiga

r os motivos do desintere

sse dos jovens horizontinos

em continuar os estudos, m

as a “piada” relatada revela o quanto o de

bate do currículo é

influenciado pelas persp

ectivas em relação à escola

rização dos jovens. Para sab

er como se

formata “o que ensinar”, se faz ne

cessária a

compre

ensão das diferentes e

scolas e do sistema

de ensino que produzem as respostas de “para q

uê ensinar” ou “para quê

estamos form

ando

quando ensinamos isto ou aquilo.”

As m

odalidades de ensino le

gitimadas pela LD

B/96

5 ofertadas atualmente

na rede

de educação básica do C

eará, no caso do Ensino M

édio, são: E

nsino Médio R

egular (estudos

5 Os P

arâm

etros ap

resentad

os na Lei ind

icam

as co

ndi

ções m

ínim

as à o

rganização

do

Ensino

Méd

io no

s estab

elecime

ntos d

e ensino. E

stes deve

m ter a p

ropo

rção d

e alunos, p

rofesso

res e carga ho

rária orientad

as pelas

autorid

ades lo

cais, e, em

tod

os o

s casos, resp

eitar a d

uração m

ínima d

e 3 ano

s.

24

em um

turno de 5 a 6 horas/aula por dia); Ensino M

édio Inte

gral (estudos em dois turnos de 9

horas/aula por dia); e E

nsino M

édio Integral e P

rossionalizante (E

scolas Estaduais de E

nsino

Profissionalizante – E

EE

P, estudos em

dois turnos de 10 horas/aula por dia, com

formação

técnica con

comitante

aos

conhecimentos

do e

nsino m

édio

regular).

Além

disso,

há a

Educação de Jovens e A

dultos que pode ser ofertada nas escolas re

gulares (formando turm

as

de EJA

) ou em centro educa

cional próprio, com

carga horá

ria flexível e possibilidade de

estudos domiciliares.

A relação entre essas m

odalidades, no Ceará, reve

la a tendência de am

pliação das

EE

EP

’s, a diferenciação

dos alunos em cada m

odalidade e as necessidad

es curriculares em

cada escola. Em

bora estejamos nos referindo a m

odalidades diferentes d

e uma m

esma rede

(pública e

gratuita), as

práticas obse

rvadas na

s es

colas A

lfa

e

Beta

descaracterizam

a

neutralidade do sistema escolar e revelam

os limite

s de quem, com

o e por que estudará em

cada estabelecim

ento (BO

UR

DIE

U&

PA

SS

ER

ON

, 2013; BO

UR

DIE

U, 2

007).

Por isso, um

a generalização ou correspondência im

ediata entre os sentidos do

ensino nas escolas Alfa e B

eta simplificaria a com

plexa relação entre e

scola e sociedade e

deixaria de expor os mecanism

os de reproduçã

o das desigualdad

es sociais pelos sistemas

escolares. Esta reprodução, que diz respeito à sele

ção cultural do conhecim

ento escolar,

desdobra-se na hierarquização dos estabelecim

entos

de um m

esmo sistem

a escolar, como

observado nas escolas Alfa e B

eta.

Ressaltar

as posições

diferentes

que elas

ocupam

na

rede

básica do

Estado

descontrói a hom

ogeneidade aparente de

realidades n

as escolas públicas no contexto de

ampliação do a

cesso ao E

nsino Médio verifica

do nos últim

os anos no Brasil. A

suposta

proporcionalidade de

condições estruturais das e

scolas da rede

estadual é

muito presente nos

discursos oficiais (de pro

fissionais da SE

DU

C) que

Faze

m co

m q

ue o siste

ma

de en

sino, a

mp

lam

ente ab

erto

a tod

os e, no

entan

to,

estritam

ente

reservad

o

a

algun

s, co

nsiga

a

façan

ha d

e reunir

as ap

arências d

a

‘de

mo

cratização’ co

m a

realidad

e da rep

rod

ução q

ue se re

aliza em

grau sup

erior d

e d

issimulação

, po

rtanto, co

m u

m e

feito ace

ntuado

de

legitimação

social. [...] C

om

o

sem

pre, a esco

la exclui; m

as, a p

artir de ago

ra, exclui d

e mane

ira contín

ua [...], e m

anté

m e

m se

u seio aq

ueles q

ue exclui, co

ntenta

ndo

-se

em

relegá-los p

ara os ra

mo

s m

ais ou m

eno

s devalo

rizado

s (BO

UR

DIE

U, 2

00

7, p

. 25

0)

V

ale ressaltar que m

esmo esse caráter reproduto

r da instituição escolar d

eve ser

problematizado

e verificado,

visto em

sua

construçã

o ou

produção

diária. F

ugindo

à

perspectiva substancialista ou a

prio

ri das escolas Alfa e B

eta, a intenção aqui é verificar

como são produzidas sua

s posições e, sobretudo, relações no sistem

a escolar.

25

As escolas A

lfa e Beta a

ssemelham

-se pelo tempo de existência (a prim

eira com

91 anos

e a

segunda,

com

131 anos),

mas

diferenciam-se

pelas condições

atuais de

funcionamento. E

nquanto a escola Alfa tem

, em

dois turnos, 290 alunos (divididos nas

seguintes séries: 8° e 9° ano do E

nsino Fundam

ental

e as três séries do Ensino M

édio, sendo

uma turm

a de cada série

), a escola Beta, em

regim

e integral, tem

555 alunos (divididos em

seis turmas de 1º ano, cinco turm

as de 2° ano e qua

tro turmas de 3º an

o, todos do Ensino

Médio).

Além

do número de alunos, outros fatores revela

m a

diferença proporcional entre

estas escolas.

Se

à p

rimeira

vista a

diferença

da

quantidad

e de

alunos

parece

não

ser

representativa, os equipam

entos e estrutura física

e a composição do

quadro profissional

revelam o qu

anto o funcionam

ento de cada uma destas

escolas é diferente e im

bricado por

desafios particulares. Mesm

o que, por fazerem

parte do m

esmo sistem

a, sejam

escolas que

contam com

as mesm

as fontes de financiam

ento, inclusive de equipam

entos, a estrutura física

e pedagó

gica nestas escolas não tem

a mesm

a eficiência.

A escola

Alfa é um

a escola onde “tudo funciona

”, então, m

inistrar aulas na sala de

informática com

acesso

à internet é possível com um

agendamento prévio. Lá, os aluno

s

seguem

os horários de entrada na escola sob pena de

, após o terceiro atraso, levarem um

a

suspensão da escola e terem

os pais convocados. O f

ardamento é com

pleto (calça e blusa da

escola e tênis) e não dificilmente encontram

os alunos com

boa desenvoltura em língua

estrangeira. Lá, as re

gras de horário, disciplina e os recursos (digitais e im

pressos) funcionam

minim

amente de acordo com

as necessidades cotidianas.

Já a escola Beta é um

a típica escola regular da

red

e estadual, nem

a mais (com

o é

o caso das EE

EP

’s) nem

a menos assistida pela S

ecreta

ria de Educação (geralm

ente, as

escolas regula

res de bairro da periferia), m

as que passa pelos dias letivos sobrevivendo a cad

a

pequena ausência de auxílio por parte da mesm

a. Nes

ta escola, poucos são os dias em

que a

internet funciona o dia inteiro sem ter nenhum

problem

a de sinal e, ao chamar os técnico

s

responsáveis, a espera pela visita é sem

pre muito l

onga. Os livros didáticos e

os diários de

classe só chega

ram após o início das aulas. O

fardam

ento não é tão rígido e, principalmente

no turno da tarde, existe alta evasão e atrasos (por m

uitos alunos já trabalharem).

Na escola A

lfa, 29 profe

ssores6 com

poem

o quadro docente

e a

gestão con

ta com

uma

diretora, a

coord

enadora

peda

gógica,

um

assistente

financeiro

, secretária

e

seis

servidores de seguran

ça e limpeza. E

xiste uma sala de vídeo, um

a sala de inform

ática, uma

6 Nesta so

ma, inclue

m-se o

s pro

fessores q

ue atuam

em

sala d

e aula e outro

s com

funçõ

es diversas, co

mo

a

regência ou ap

oio

da sala d

e mu

ltimeio

s, regência do

labo

ratório

de info

rmática e o

rientação

educacio

nal.

26

sala de multim

eios, uma sala de jo

gos, a secretaria

, sala dos professores, seis salas de aula e

uma

sala pa

ra gestão,

coordenadação

escolar. O

s pro

fessores, divididos

pelas áreas

do

currículo, realizam

o planejamento de aulas d

e acordo com

o horário/lotação individual,

podendo ou

não coincidir

com

os horários

do

Professor

Coorden

ador

de Á

rea (P

CA

),

responsável por acom

pa

nhar os planejamentos o

u outras estraté

gias peda

gógicas da á

rea que

lhe compete.

Na escola B

eta, 42 professores com

poem o quadro doc

ente e a gestão conta com

uma diretora, du

as coordenadoras peda

gógicas, um

assistente financeiro, secretária e quinze

servidores de se

gurança

e limpeza (dos qu

ais, treze são terceirizados). E

xiste uma sala de

vídeo, uma sala

de inform

ática, uma sala de

multim

eios, um

a sala de arq

uivos, uma sala d

e

repogra

fia, uma sala do P

IBID 7, um

a sala para co

ordenação peda

gógica, a secretari

a, sala dos

professores, quinze salas de aula e uma sala pa

ra gestão. O

s professores, divididos pelas áreas

do currículo, realizam

o planejamento d

e aulas de acordo com

o horário/lotação individual,

ainda assim, pelo m

enos a metade

deste tempo d

eve coincidir com

os horários do P

rofessor

Coordenador d

e Áre

a (PC

A).

A

estrutura e

composição

profissional destas

escolas,

brevemente

resumidas

acimas, revelam

as proporções dife

renciadas em

cada um

a delas. É

óbvio que a escola B

eta

tem e necessita de um

quadro profissional maior pel

o número m

aior de alunos, mas a

eficiência dos equipame

ntos e recursos e a grande d

ivisão de tarefas ou “subáre

as” marca

profundamente

sua realidade. Isso implica, no dia a

dia, no m

elhor fluxo de tarefas d

a rotina

escolar, seja tirar um

a xerox, seja ministrar um

a a

ula com

uso de víd

eo. Na

escola A

lfa os

recursos equivalem à qua

ntidade de alunos, mas não são tão eficientes qua

nto na outra escola.

No dia a dia, isso pode

ser percebido pela man

utenção de equipam

entos e recursos, com

o

folhas ou tonners de impressão, ser m

enos rigorosa

e pontual que na escola B

eta.

No entanto, n

as duas escolas o cenário d

e precariza

ção do trabalho docente pela

contratação em

re

gime

de

contrato tem

porário é

seme

lhante. A

alta

rotatividade

(logo,

desempre

gabilidade) e a desvalorização profissional

, política e simbólica dos professores

temporários na escola pú

blica é preocupante se considerarm

os que, no caso da rede estadual

cearense, a partir de da

dos do Censo E

scolar 2012,

mais da m

etade dos professores estã

o

nesta condição. O professor Lucas faz parte dessa

realidade e, a cada início de ano (quando o

contrato acab

a e é refeito), fica m

eses sem re

ceber salário d

evido à dem

ora no processo

7 A p

equena

sala fo

i utilizada p

ara reuniões e

ntre bo

lsistas e p

rofesso

res superviso

res na esco

la Beta

durante

os

anos letivo

s de 2

014

e 2015

. Em

20

16

, sob

retudo

pel

a po

rtaria XX

da C

AP

ES

qu

e anunciava co

rtes no

Pro

grama, a sala fo

i transform

ada em

anexo

da rep

rografia, na ed

ição e im

pressão

de avaliaçõ

es.

27

burocrático de

recontrata

ção pelo E

stado. Eu e

o pr

ofessor R

oberto, por sermos professore

s

efetivos (concursados), não passam

os por tal situação, o que evidencia

uma diferença n

a

própria condição

profissional

no caso

destas duas

escolas.

também

diversidade

na

condição das juventudes de cada escola, comp

aradas

neste mom

ento por gráficos produzidos

a partir dos qu

estionários aplicados com os alunos.

Neste

aspecto, as escolas A

lfa e

Beta tem

comum

o fato de não se

rem escolas d

e bairro, por re

ceberem

alunos de lu

gares diferentes da

cidade, que chegam

à escola de ônibus.

A condição so

cioeconômica dos alunos varia

nas duas escolas se tom

arm

os com

o

critério a origem escolar do ensino fundam

ental: enquanto n

a Alfa os alunos continuam

na

escola pública desde o fundam

ental, na Beta os alun

os são, na grande m

aioria, egressos da

escola particular. O

gráfico 1 demonstra tal relaçã

o

F

ON

TE

: elabo

rado

pela auto

ra

Se, além

da trajetória na escola pública, considerarm

os as séries cursadas no

ensino particular, as diferenças se tornam

mais perceptíveis, com

o mostra o

gráfico 2

28

F

ON

TE

: elabo

rado

pela auto

ra

Vem

os que, dos 75% de

alunos que nem sem

pre estudar

am na escola pú

blica na

escola Beta, 77%

cursaram

todo o ensino funda

mental

na rede privada de ensino. T

ive a

impressão, ao che

gar pela prim

eira vez nesta escola, de estar num

a escolar particular, pela

rigidez do

fardam

ento e

correspondência entre

faixa

etária e

série

escolar

(baixíssima

distorção idade-série). C

om o tem

po, vi que a origem

escolar dos alunos condiciona a

s

relações com

o ensino nesta escola, m

as não contribui, por si só, para

a valorização da mesm

a,

pois outros fatores contribuem e determ

inam com

mai

s objetividade esta valorização. Assim

,

a disposição e até familiaridade frente ao conteú

do escolar e ao professo

r que compoem

o

ha

bitu

s (BO

UR

DIE

U, 2

007) dos estudantes neste caso

são tão

significantes quanto suas

percepções sobre a escola e as relaçõ

es desta com a

Secretaria d

e Educa

ção. N

esse sentido,

Os a

gentes so

ciais, aluno

s que

escolhe

m u

ma e

scola

ou u

ma

discip

lina, fam

ílias que

esco

lhem

um

a instituição

para seus filho

s, etc., não

são p

artículas subm

etidas a

fo

rças m

ecânica

s, agind

o

sob

a

pressão

d

e ca

usa

s, ne

m

tam

po

uco

sujeitos

conscie

ntes e con

hecedo

res ob

edecend

o a

razõ

es e agind

o co

m p

leno

conhecim

ento

d

e causa. [...] Os “sujeito

s” são

, de fato

, agentes

que

atuam

e que sab

em

, do

tado

s de

u

m se

nso

prá

tico, de u

m siste

ma ad

quirid

o d

e preferê

ncias, de p

rincíp

ios d

e visão e

d

e d

ivisão

(o

que

com

um

ente

cham

am

os

de

gosto

), d

e estruturas

cogn

itivas d

urado

uras (que são

essencialm

ente p

rod

uto d

a incor

poração

de estruturas o

bjetivas)

e de esq

uem

a d

e ação q

ue o

rientam

a p

ercepção

da si

tuação

e a respo

sta ad

equad

a. O

ha

bitu

s é essa espécie d

e senso p

rático d

o q

ue se deve fazer em

cada situação

– o

q

ue cham

am

os, no

espo

rte, o senso d

o jo

go, a arte d

e an

tecip

ar o

futuro d

o jo

go

inscrito, e

m e

sbo

ço, no

estado atual d

o jo

go. (B

OU

RD

IEU

, 20

11b

, p. 4

1-4

2)

A

dmitir as relações entre

os diferentes h

ab

itus dos alunos nas escolas A

lfa e B

eta

e a posição destas escolas no sistem

a escolar ceare

nse possibilita observar com m

ais precisão

29

as estratégias fam

iliares frente à escola para além

da dicotomia entre ensino público e ensino

privado.

No âm

bito do ensino público, a relação

das escolas com

a S

ecretaria de E

ducação

não é a mesm

a sem

pre: cada escola tem

uma dinâm

ica próp

ria que se cruza com

a re

ferida

Secreta

ria de uma m

aneira espe

cífica. Apesa

r de ter

sido escolhida para sediar o evento de

abertura do

ano letivo

de 2015

nas

escolas d

o E

stado,

com

presença do

secretário

de

Educação, a

escola Alfa não é

uma “queridinha

” da SE

DU

C. S

er “queridinha” qu

er dizer ser

igualmente im

portante como todas as escolas da rede

de acordo com

o discurso oficial desta

Secreta

ria, mas ter dem

andas atendidas com eficiênc

ia e prontidão incomuns em

outras

escolas. Mas, com

o eu poderia ter certeza sobre ist

o?

As pistas foram

sendo reveladas ao longo do prim

eiro dia e n

a rotina de ensino.

Ouvir, em

conversa inform

al com outros professores,

do aviso da Secretaria

sobre o evento de

abertura em cim

a da hora (na sexta anterior à segun

da de início das aulas), da emergên

cia da

própria Secretaria p

ela reforma na fach

ada da escola e a própria surpresa

geral pela presença

de muitos de seus funcionários naquele dia, foi tão

contundente quanto os aconte

cimentos

cotidianos: o envio insuficiente de livros didáticos para todos os alunos ou a sim

ples ausência

desses funcionários ou a

gentes da SE

DU

C em

qualquer outro dia do ano letivo.

Já na escola Beta, que não foi escolhida p

ara sediar o evento de início

do ano

letivo, mas que, por solicitação, enviou parte de s

ua banda m

arcial para recepcionar a che

gada

na Alfa aquele dia, não precisaria nem

ter sua fachad

a reform

ada, dado sua estrutura física

bem m

antida com re

gularidade. A m

anutenção física e

estrutural, o índice de aprovação no

vestibular e as soluções rápidas para problemas do cotidiano (com

o a troca de quadros d

e

todas as salas após um serviço contratado m

al sucedido), situam

esta escola se não como

“queridinha”, pelo m

enos, m

elhor assistida pela Sec

retaria.

Para além

das situações vivenciadas em cad

a escola, as relações com

a SE

DU

C

estão situadas nos contextos das políticas públicas

do governo do E

stado, sobretudo na áre

a

da educação. A

pesar d

e me refe

rir às duas escolas em

que atuo, compre

endo que o impacto

das ações do E

stado em cada um

a é diferente, assim

como as tendên

cias de ação política

adotadas explicam, em

boa medida, a possibilidade d

e escolas “queridinhas” e os critérios de

tal preterimento. C

om o term

o “queridinha” não esto

u insinuando que haja um polo de açã

o

por parte da Secreta

ria (“escolas que apoia” x “esc

olas que não apoia”), mas, na verdade,

identificando como as te

ndências das políticas ed

ucacionais adotadas sob

retudo nos últimos

oito anos, reestruturaram

os contextos de assistência e

exigência para as escolas d

a rede

estadual.

30

No E

stado do C

eará, h

á seis anos criou-se8 a

rede e

stadual de E

scolas de E

ducação

Profissional (E

EE

P’s), caracterizada por inte

grar o

Ensino M

édio à educação profissional,

habilitando, ao final, ao nível técnico-p

rofissionalizante. N

esse contexto, com

4230 matrículas

totais no Estado em

2008 (abran

gendo 20 m

unicípios), as E

EE

P’s cea

renses quase

triplicam

os matriculados no ano seguinte

(abran

gendo m

ais 19 m

unicípios), e, em

2013 alcançam

o

número de 38.499

alunos. Ao total, atualm

ente existem

140 EE

EP

’s no Cea

rá, das quais 18 se

situam em

Fortaleza. E

stes dados, articulados à realidade d

e avaliação d

a educa

ção estadual

através do SP

AE

CE 9, evidenciam

a ênfase a esta m

odalidade de ensino, em

detrimento da

modalidade re

gular, sem

formação profissional integ

rada.

Mais do que núm

eros que ascend

em a cada ano, esta r

ealidade se faz sentir pelos

professores que são inclusos na responsabilidad

e que assum

em todas a

s escolas diante do

SP

AE

CE

. Estas escolas sentem

o impacto direto da A

valiação n

a relação estabelecida com

o

órgão estatal da educação, quanto se re

fere, sobret

udo, aos benefícios, investim

entos e/ou

contribuições que isso pode implicar na m

elhoria do ensino nestas e

scolas. As E

EE

P’s

atingem as m

elhoras notas no SP

AE

CE

, logo, acompanh

adas de outras escolas regulares que

também

atingem bons ín

dices, são bem am

paradas, tan

to estruturalmente com

o politicamente,

sendo referências centrais nas ações do E

stado e até utilizadas no m

arketing político dos

gestores.

O desem

penho das escolas sobre as quais re

flito e d

as EE

EP

’s no SP

AE

CE

revela

esta tendência. C

onsiderando os resultados de

2013, referentes à

avaliação aplicada nas

turmas de 3º ano, os percentuais da escola A

lfa, da escola B

eta e de uma

EE

EP

situada no

mesm

o bairro são crescentes, ou seja, a prim

eira tem

médias de proeficiên

cia em P

ortuguês e

Matem

ática inferiores à

média da

cidade de

Fo

rtalez

a; já a se

gunda e a te

rceira escola citad

as

tem m

édias superiores e, no caso da EE

EP

, médias be

m acim

a da mé

dia da cidade.

A aquisição de re

cursos e vantagens na Secreta

ria de E

ducação pelas escolas

depende, em boa pa

rte, destas médias e d

as taxas de aprovação no

EN

EM

, o que causa um

cenário de busca pelos “m

elhores alunos”. Não à

toa, o apa

rato estrutural e peda

gógico nas

escolas da rede estadual m

elhoram d

e acordo

com o p

erfil dos alunos e das médias qu

e

alcançam nestas avaliações, o qu

e hierarquiza os es

paços e os sujeitos de um

só sistema

escolar. Nesta realidade, as rela

ções entre a Se

cretaria e as escolas contribu

em para

8A ad

oção

desta p

olítica ed

ucacio

nal po

r parte d

o C

eará, em

20

08

, é reflexo d

o co

mp

rom

etime

nto e in

vest

imento

firm

ado

pelo

Estad

o através d

o P

rogra

ma B

rasil Pro

fissio

nalizad

o, lançad

o em

20

07

pelo

Go

verno F

ederal

. 9S

istem

a de A

valiação P

erma

nente d

a Ed

ucação B

ásica, ad

otado

no E

stado d

esde 1

992

, que avalia o siste

ma

de

ensino d

o E

stado

em relação

aos co

nhecime

ntos d

o cu

rrículo esco

lar.

31

Transfo

rmar a ed

ucação e

m si nu

m m

ercado

(ou p

elo m

eno

s um

sem

imercad

o), no

q

ual as esco

las são o

brigad

as a com

petir p

or aluno

s e

fund

os. A

s esco

las são tratad

as

com

o u

m tip

o d

e agência de entrega

s, que d

eve se concentrar em

resultad

os e p

restar p

ouca atenção

ao p

rocesso

ou ao

conte

údo

do

que é entre

gue. Co

mo

resultado

, os

pro

pósito

s da esco

laridad

e são d

efinido

s em

termo

s cad

a vez mais in

strum

entais,

com

o u

m m

eio p

ara outro

s fins. [...] Nessa ab

ord

agem

, a p

olítica ed

ucacional, o

ensino

e o ap

rendizad

o são

do

minad

os p

ela definição

, avaliação e aq

uisição d

e

metas

e a

prep

aração do

s aluno

s p

ara p

rovas

e exa

me

s. (Y

OU

NG

, 2

00

7, p.

12

91

/129

3) N

a “corrida” por m

elhores índices, apesar de tere

m

se tornado centrais na política

educacional adotad

a nos últimos anos do C

eará, as E

EE

P’s não superaram

a força de distinção

entre as escolas operadas pelo E

NE

M e outros vestib

ulares como critério de ingresso na

Universidade.

A possibilidade de inse

rção no nível superior em ca

da escola, com

preendida pelo

histórico de

aprovações

e pelas

expectativas dos

alunos

(duplamente

condicionantes e

condicionadas pelas práticas dos professores e aval

iações escolares com ênfase nos processos

seletivos), revela o cenário de afirm

ação de cada instituição diante da S

ecretaria de Educaçã

o

e da socied

ade como u

m todo. O

gráfico 3 d

em

onstra esta

ênfase no ingresso

no ensino

superior nas perspectivas dos alunos da escolas A

lfa e B

eta. Nota-se qu

e, além do vestibular,

existe um interesse m

aior em cursos técnico-pro

fissionalizantes por parte dos alunos da escola

Alfa.

F

ON

TE

: elabo

rado

pela auto

ra

No que diz respeito à

expectativa de ap

rovação d

o vestibular, a escola B

eta é um

a

escola “que aprova”, o q

ue a coloca num

a posição m

ais favorecida

em relação às escolas que,

32

de bairro ou não, “não a

provam” ou aprovam

pouquíss

imos alunos a cad

a ano. Esse

contexto

que domina a avaliação, aquisição de m

etas, prepara

ção de alunos para exam

es, em síntese, a

relação de ensino e apre

ndizagem escolar, é um

a abord

agem

da educação como resultado

,

com ênfase nos resultad

os gerados pela escola atrav

és da transmissão de conhecim

entos em

áreas específicas. (YO

UN

G, 2007).

Ainda assim

, o contexto das escolas Alfa e B

eta e da rede qu

e fazem parte é

composto por um

sistema de posições interna

s ou de disposições “ra

zoáveis” do campo

escolar e suas relações com outros cam

pos (como

o estatal, o fam

iliar ou ainda o acad

êmico).

Isso implica que os pesos e volum

es das capacidades já incorporad

as pelos agentes escolares

(alunos, professores, ge

stores etc.), ou capitais, no próprio âm

bito escolar e no sistema

escolar em que se in

cluem (e, ao

mesm

o tempo, insti

tuem) são relacion

ados à posição da

escola neste sistem

a. Co

nsiderando a escola como

campo próp

rio de lutas ou investidas d

e

capitais diversos, ou seja, com

o estrutura de relaç

ões objetivas construídas sob determinadas

condições históricas, na qual os capitais herda

dos do âm

bito familiar de cada aluno são

articulados na carreira escolar e em suas estraté

gia

s.

Os capitais adquiridos e m

obilizados criam as condi

ções para cada indivíduo

realizar a trajetória escolar. Os capitais, na pe

rsp

ectiva de Bou

rdieu, são enfatizados em sua

dimensão sim

bólica e operacion

alizam as hiera

rquias em

cada campo. O

s capitais, nesse

sentido, são abordados n

a sua dim

ensão social (rede

de relaçõ

es sociais), cultural (na forma

incorporada,

pelo habitus, inscrito

no corpo; objetivado,

na form

a de

bens c

ulturais; e

institucionalizado, na

forma

de

títulos), e

econôm

ico

(relativo à

produção

material).

Considerando que tais capitais existem

um em

relação ao outro, e que

são construídos e

reforçados em vários esp

aços

A

fa

mília

e a

esco

la fu

nciona

m,

inseparavelm

ente,

co

mo

esp

aços

em

q

ue se

co

nstituem

, pelo

pró

prio

uso, as co

mp

etências julga

da

s necessárias em

determ

inado

m

om

ento

s, assim co

mo

espaço

s em

que se fo

rma o

valor d

e tais com

petê

ncias, ou

seja, co

mo

mercad

os q

ue, po

r suas sanções p

ositiva

s o

u nega

tivas, co

ntrola

m o

d

esem

pen

ho, fo

rtalecendo

o q

ue é “aceitável”, desin

centivando

o q

ue não o é,

votand

o

ao

desfalecim

ento

grad

ual as

disp

osiçõ

es d

esp

rovid

as d

e valo

r. (B

OU

RD

IEU

apud

GO

AL

VE

S&

GO

NC

AL

VE

S, 2

01

1, p. 7

8)

S

e os contextos políticos e sociais m

udam, m

udam-se

tamb

ém os va

lores e

estratégias de d

esempenh

o mais favo

ráveis no âmbito

familiar e

escolar. Quanto a este últim

o,

o valor simbólico dos certificados escola

res não é absoluto e

O

po

der co

nferido

po

r um d

iplo

ma não

é pesso

al, mas

coletivo

, um

a vez que não

se

po

de co

ntestar o p

od

er legítimo

(os d

ireitos) co

nfe

rido

po

r um

dip

lom

a ao

seu

p

ortad

or, sem

con

testar, ao

mesm

o te

mp

o, o

po

der d

e to

do

s os p

ortad

ores d

e

33

dip

lom

as e a auto

ridad

e do

sistem

a de ensino

que lh

e dá garantia. D

e fato

, a força d

e u

m

dip

lom

a não

se

m

ede

pela

força

de

subversão

(p

or

tanto,

unica

me

nte p

elo

núm

ero) d

e seus detento

res, ma

s pelo

capital so

cial d

e que são

pro

vido

s e que

acum

ulam

em

deco

rrência da d

istinção q

ue os co

nstitui o

bjetiva

men

te com

o grup

o e

po

de tam

m servir d

e base para agrup

am

ento

s intern

acion

ais. (BO

UR

DIE

U, 2

00

7, p

15

3)

Os diplom

as são valorizados em função

de sua ra

ridade, d

e acordo

com as

possibilidades de concorrência

pelos títulos escolares e, ressalto que, no contexto das escolas

em que atuo, a am

pliação das possibilidades de ingr

esso na universida

de (sobretudo para

alunos egressos

da escola

pública), contribuiu

para

reconverter

as estraté

gias escola

res,

principalmente no que diz respeito ao âm

bito de investim

ento (do ensino particular no nível

fundamental ao ensino público no ensino m

édio).

No

caso da

escola B

eta, a

entrada

crescente de

alunos

egressos

da

escola

particular acabou con

figurando-a como espaço de inv

estimento privilegiado por parte das

famílias e das instâncias estatais. Isso significa

que os alunos recém

-chegados na escola

pública que

percorreram

um

a carreira

escolar na

iniciativa

privada são

conduzidos por

estratégias

familiares

de investim

ento no

capital c

ultural transm

itido pela

escola. E

sta

disposição à escolaridad

e, acrescida da posição dom

inante ocupada ao longo da vida nas

instituições particulares, contribui para que as ex

pectativas avaliativas da e

scola, o domínio de

códigos e compre

ensões do ensino sejam contem

plados

por seus alunos e, consequentemente,

contribuam pa

ra a valorização da E

scola pública

em

questão. S

endo um

a escola

valorizada,

acaba atraindo a

gentes dispostos a investir em dipl

omas, e, por vezes, diplom

as raros e

valorizados. Mas, estejam

os atentos para a natureza diversa da red

e particular de ensino, que

tem grandes e pequ

enas escolas, alcançando resultados diversos nas avaliações em

questão.

Neste caso, os alunos da escola B

eta egressos de

escolas particulares vê

m das m

enores, que

atendem jovens do m

esmo bairro e com

estrutura reduzida, m

esmo se co

mparada

as escolas

públicas. No caso da escola A

lfa, a lei das cotas sociais

10, apesar de contribuir p

ara a

modificação

do hab

itus escolar em

relação ao vestibular (incorporando a i

deia de que

“é

possível”), sobretudo com

a ênfase dada ao E

NE

M, nã

o modificou profundam

ente o público

10 A Lei n

°12

.71

1/12

estabeleceu q

ue as instituiçõe

s p

ública

s de E

nsino S

uperio

r vinculad

as ao M

EC

deve

m

reservar 50

% d

o to

tal das vaga

s ofertad

as nos curso

s d

e graduação

para estud

antes que ten

ham

cursado

inte

gralme

nte o E

nsino M

édio

em esco

las púb

licas. N

este p

ercentual de vagas reserva

das d

eve haver ainda a

reserva 50

% p

ara estuda

ntes com

renda p

er capital i

nferio

r a 1,5

salários m

ínimo

s e reserva pro

po

rcion

al à p

op

ulação afro

-brasileira e ind

ígena registrad

a em

cad

a Unid

ade F

ederativa.

34

de alunos

e suas

posições sociais

11.

Nesse

caso,

mesm

o incorporando

a am

pliação d

as

perspectivas prováveis ocasionadas pela Le

i na esco

la pública, esta escola continua re

cebendo

alunos dos quais as famílias investem

menos priorit

ariamente na edu

cação escolar como

mecanism

o de ascensão social (existem outros m

ecanism

os, como o ingre

sso no mercado d

e

trabalho durante ou logo após o ensino médio).

As lógicas de investim

ento na escolaridade revela

das em

cada uma destas escolas,

além de se incluírem

em um

contexto de translação global das distâncias 1

2 (BO

UR

DIE

U,

2007) entre os diferentes estabele

cimentos escolare

s, revelam que

as posições possíveis d

e

serem

ocupadas

pelos agentes

do

sistema

de

ensino s

ão diferenciad

oras e

socialm

ente

modificáveis.

Não há aqui um

“enquad

ramento” d

a teoria nos e

xempl

os práticos, mas o esforço

de problematizar a realidade das E

scolas em re

lação à com

preensão so

ciológica sobre o

significado e

o luga

r da form

ação escolar n

as sociedad

es atuais. T

al problematização

é

fundamental

para refletirm

os sobre

a instituição

escolar

como

instância

produtora e

reprodutora de dife

rença

s e desigualdades (externas

e internas a sua realidade) qu

e organiza e

é organizada pelo espaço social m

ais amplo (B

OU

RD

IEU

, 2007)

Ao m

esmo tem

po, o dia

gnóstico da ló

gica dos investi

mentos escolares q

ue se dá

em

cada um

a destas

escolas elucida,

em

um

primeiro

mom

ento, as

tendências de

hierarquização interna das diferentes escolas em

um

mesm

o sistema escola

r. Mais do que um

a

condição estrutural, estas diferen

ças entre as escolas A

lfa e Beta produzem

diferenças tam

bém

no currículo. A resposta

à pergunta “para quê se ensina?

” nas duas escolas é bem distinta,

mesm

o que a interpretação dos alunos sobre seu ambi

ente de estudo seja, proporcionalmente

,

semelhante n

as duas escolas. Nota-se, no

entanto, que as escolhas po

r indicação são

mais

recorrentes na escola B

eta, como indica o gráfico 4

11A ê

nfase d

ada ao

ingresso

na U

niversidad

e é ob

servad

a na esco

la Beta, m

as existe

m açõ

es da S

ecretaria d

e E

ducação

(com

uns às d

em

ais escolas d

a rede estad

ual) q

ue estim

ula

m a p

articipação

do

s aluno

s no E

NE

M (

a realização

das in

scrições na e

scola, sim

ulad

os, aulõ

es, kits d

e lanche p

ara os d

ias de p

rova) e, a hie

rarquização

sim

lica das esco

las segu

ndo

suas taxas d

e apro

vação

no exa

me é u

m d

os im

pacto

s de tais açõ

es. 12

Co

m a a

mp

liação d

o acesso

à escola (q

ue, no co

ntexto

analisad

o p

or B

ourd

ieu, se deu na d

écada de

19

50

e, no co

ntexto b

rasileiro, co

nstitui desa

fio p

ara o en

sino

méd

io, q

ue ainda

não

foi co

mp

letam

ente

universalizad

o), no

vos co

ncorrentes e no

vos inve

stim

ento

s se incluíram

na luta pelo

s títulos, o

que m

in

imizo

u o

pro

cesso d

e eliminação

direta d

o siste

ma esco

lar e

diluiu ta

l eliminação

na duração

da carreira esco

lar, o

u seja, a

instituição

escolar p

assou

a ser “habitad

a, perm

anente

men

te, po

r excluído

s po

tenciais que intro

duze

m n

ela as

contrad

ições e co

nflito

s asso

ciado

s a um

a escolarid

ade cujo

único o

bjetivo

é ela mesm

a.” (BO

UR

DIE

U, 2

00

7, p

. 2

46

). As d

istâncias entre excluído

s e incluíd

os d

as p

ossib

ilidad

es escolares fo

ram

sub

stituídas, e

ntão, p

ela “e

xclusão

do

interior”, d

ond

e se resinificam

as fronteiras e

ntre d

iferentes estabelecim

ento

s. Esta “e

xclusão

” tem

seu

s m

ecanismo

s de

valorização

ou d

esvalorização

reve

lado

s pela relação

da esco

la com

a secretaria d

e

educação

(deb

atida anterio

rme

nte).

35

F

ON

TE

: elabo

rado

pela auto

ra

Em

bora a ênfase na melhoria de desem

penho no E

NE

M p

areça ser o qu

e mova

igualmente as escolas A

lfa e Beta, as persp

ectivas

de ensino e aprendizagem entre alunos e

professores não são homogên

eas. Isso revela o quant

o os ha

bitu

s e capitais adquiridos pelos

professores e gestores n

o campo escolar e

em o

utros cam

pos, como a

fam

ilia, são influentes

no dia-a-dia d

e disputas pelo ensino mais adequ

ado,

assim com

o o contexto de trab

alho (logo,

de capitais e hab

itus tam

bém próprios) dos profissionais da S

ecretaria d

e Educação.

Além

disso, mesm

o que, a todo mom

ento, a referência aqui seja à S

ecretaria –

como órgão direto responsável pelas escolas esta

duais – estam

os nos referindo a profissionais

que têm o trabalho im

bricado com os trab

alhadores da escola sem

estar presente no dia-a-dia

da mesm

a, mas com

influência estratégica. N

as duas

escolas em qu

e atuo, estes profissionais

são vistos como “os qu

e cobram

” demand

as verticalm

ente e

que não reso

lvem os problem

as

técnico-burocráticos qu

e lhes cabem por m

uitos prof

essores e, por vezes, até gestores. Com

o

professora, é re

corrente que com

partilhe desta

visão com

meus cole

gas, no entanto, ao

confrontar tal posição ao longo desta pesquisa, no

tei o quanto ela reflete o conflito de

ha

bitu

s

no trabalho dos profissionais da S

educ e no me

u trabalho. E

m outras p

alavras, a ênfase

na

cobrança por

informaçõ

es do

SIG

E

online (S

istema

Inte

grado de

Ge

stão E

scolar), pela

inscrição e bons índices no EN

EM

e pela particip

ação dos gestores em

inúm

eras reuniões por

parte da S

ecretaria são conflituosas para os profe

ssores que veem

na relação direta com

os

alunos no

ambiente

e

scolar, no

enfrentam

ento

de con

dições

estruturais

e salariais

desfavoráveis (para ficar no espaço escolar), a fo

rm

a mais legítim

a de atuação na educa

ção.

36

Na

escola A

lfa, existe

um

grupo consideráve

l de

professores

(de diferentes

geraçõ

es e form

ações) q

ue desenvolvem um

trabalho p

edagó

gico para a

lém do E

NE

M, ou

seja, atividades culturais, lúdicas e até mesm

o científicas que não estão ce

ntradas no EN

EM

,

mas na aquisição de ca

pacidades críticas (e nã

o necessariam

ente teórico-conceituais). O

professor Rob

erto, que tam

bém leciona

Sociologia e

Filosofia n

esta escola e n

ão faz parte

deste grupo, adota um

a aborda

gem curricular centrad

a no livro didático, so

b uma pe

rspectiva

de mem

orização. Aqui vê-se, exem

plificando com apenas um

agente isolado, o quanto é

diversa a com

preensão sobre com

o e para quê

ensinar

na escola. Enqu

anto a aborda

gem do

s

professores de outras disciplinas é “sociologizante

”, a do próprio professor da disciplina se

gue

a tendência tradicional do conhecim

ento.

Na escola B

eta, mais professores se

guem a tend

ência do professor R

oberto, pela

rotina de aulas ser centrada no E

NE

M. E

ntão, desde o 1º ano, ao ch

egarem

à escola, os alunos

são familiarizados com

os temas, as questões e abor

dagens do E

xame. Q

uando, após o

EN

EM

, os professores da á

rea de

Lingu

agens e C

ódigos organizaram

um sem

inário com

apresentações culturais

com

o tem

a “D

iversidade”,

som

ente os

professores da

área

de

Hum

anas estiveram presentes, além

daqueles que orga

nizavam e avaliavam

os alunos.

Quando, antes do E

NE

M de 2015, nós, da á

rea

de Hum

anas, tentam

os organizar

um sem

inário cultural com

os alunos do 1º ano, fomo

s orientados a adiar por conta do E

NE

M

e, quando notamos que, no cade

rno de avaliaçõe

s bimestrais (com

90 qu

estões por dia), as

questões da área ficavam

ao final (o qu

e era apon

tado com

o motivo de

cansaço por parte do

s

alunos que não liam

por serem

muitos textos no fina

l da prova), foi a este

exame qu

e

precisamos re

correr para m

udar a posição de nossas questões. A

situação de hierarquização

dos conhecimentos escolares será abord

ada adiante e

m refe

rência à situa

ção da disciplina de

Sociologia, que reflete pa

rcialmente a realidad

e das outras disciplinas da área de H

umanas.

Com

a obrigatoriedad

e imposta pela S

ecretaria de E

duca

ção de inscrição de todos

os alunos do 3º e 2º anos no EN

EM

, as duas escolas adotaram

-no como critério de nota n

o

último bim

estre do ano letivo, o que significou

, sobretudo pa

ra os alunos e alguns professores,

que o mais im

portante do ano letivo acab

a assim que

passa o exame, que não há m

ais nada o

que ensinar, o que fazer na escola. Esta centralida

de do Exam

e como etapa

obrigatória do ano

letivo é o que movim

enta todas as escolas, principalm

ente as regula

res que, assim com

o a

Alfa, buscam

melhorias nos índices para alcan

çar ma

is benefícios junto à Secreta

ria.

A im

portância dos resultados de avaliações externas nas escolas da rede estadua

l

foi um

a reflexão

trazida por

esta investigação

que rom

peu lacun

as carre

gadas desd

e a

experiência do PIB

ID. Q

uando era bolsista de iniciação à docência em

outra escola regula

r da

37

cidade, percebia as ausê

ncias estruturais e pedagó

gicas da S

ecretaria através das rela

ções

desta com o núcleo gestor em

exercício em ca

da escola. À

época, o p

rofessor supervisor

revelava bastante esta tensão pela instabilidade po

lítica de núcleos gestores na escola e o

quanto isso foi prejudicial para a instituição. Sem

descosiderar que o tipo de diálogo travad

o

entre núcleo gestor das escolas e profissionais d

a S

ecretaria impa

cta bastante no cotidiano

escolar, reconheço, hoje

e na condição de docente,

as situações estruturais nas quais estão

imbricadas tanto as leis quanto as práticas de prof

essores, gestores escolares e técnicos da

SE

DU

C.

Neste contexto, a dim

ensão curricular nas escolas p

úblicas em que atuo – A

lfa e

Beta - pa

rece cumprir a

lógica de resultados, sobretudo num

éricos, que funcionam

como

mecanism

o de valorização ou desvalorização de

stas escolas junto aos alunos, professores e

sociedade com

o um todo. A

lém disso, as orige

ns fami

liares dos alunos e as condições de

trabalho encontradas pelos professores im

pactam

na prática curricular, se

ja pela disposição

dos alunos

ao saber

e

à rotina

escolar,

seja

pela a

usência

ou m

au

funcionamento

de

equipamentos e procedim

entos estruturais, sobretudo

no que diz respeito a não-equidade dos

sistemas de ensino.

2.2 SIG

NIF

ICA

DO

S E

CO

ND

IÇÕ

ES

NA

SO

CIO

LOG

IA N

O C

UR

CU

LO

Em

2011,

quando era

bolsista

de iniciação

à

docência,

presenciei d

iversos

mom

entos nas observações em

sala de aula ond

e o pro

fessor que acom

panh

ava questionava os

alunos sobre o motivo ou a im

portância de discutir

cada tem

a em aula. U

m dia, após a

pergunta sobre p

ara quê

servia a

aula de S

ociologia, um

aluno ao fund

o da sala respondeu

“pra fazer a gente pensar, coisa rara”. Já em

2015,

como professora, retom

o esta questão com

meus alunos e ouço

respostas rela

cionadas ao “se

r crítico, sabe

r pensar”, q

ue concern

em com

a opiniao que ouvi qua

ndo estagiária. N

o gráfico 5,

vemos as percep

ções dos alunos das

escolas Alfa e B

eta sobre a contribuição d

a Sociologia

38

F

ON

TE

: elabo

rado

pela auto

ra

Esta com

preensão, por p

arte dos alunos, dá pista

s para localizar as contribuições

da Sociologia no currícu

lo do Ensino M

édio, e suger

e outras dimensões da questão, a saber,

como, nas relações cotidianas do am

biente escolar, se configu

ra o lugar e importância da

Sociologia, ou qual é

me

smo o caráte

r dessa disciplina nas condições atuais da escola pública,

uma vez que

Visto

que

ela preenche freq

uentem

ente

funçõ

es crítica

s, que se

us resultado

s são

geralme

nte legíveis p

elos m

esm

os “o

bjeto

s” de suas

pesq

uisas, a So

ciolo

gia é um

a

ciência freque

ntem

ente fo

rçada a p

assar tanto

tem

po

a exp

licar e a justificar se

u

pro

cedim

ento

e

sua e

xistência

quanto

a

entregar

os

resultado

s d

e sua

análise.

(LA

HIR

E, 2

01

3, p

. 17

)

Por isso que, ao discutirm

os a inserção da Sociolog

ia no currículo, além

dos

elementos relativos à

estrutura escolar, as relações entre pro

fessores e gestores ou as relações

entre escola

e órgáos/secretarias

responsáveis, out

ros condicionam

entos

precisam

ser

compreendidos, com

o a carga ho

rária da disciplina, a rela

ção aluno-pro

fessor, métodos de

ensino, recursos

didáticos ou

conteúdos e

abordagen

s. P

ara isso,

é necessário

antes

contextualizar a realidade da disciplina d

e Socio

logia encontrad

a nas escolas Alfa

e Beta.

Tanto o professor R

oberto quanto o professor Lucas

destacaram

a não consolidação desta

disciplina

“E

u acho q

ue ainda é u

m ca

mp

o m

uito

restrito. A

gen

te tira p

elo últim

o co

ncurso q

ue

teve, a quan

tidad

e de vagas q

ue teve foi m

ínim

a, filo

sofia ne

m tin

ha, socio

logia era

q

uase nada, p

raticam

ente não

abriu vaga

s. Lem

bra-se

da ú

ltima vez?

Praticam

ente

nad

a. E o

professo

r de so

ciologia vai p

ara a escola

e a maio

ria da carga ho

rária dele

39

não é em

socio

logia, se eu nã

o d

esse aula de histó

ria, não

desse aula de religião

, não

teria nem

com

o e

u preencher m

inha carga horária, e

olhe q

ue eu só ten

ho ce

m ho

ras, se tive

sse duze

ntas ho

ras eu ficaria d

oid

o, teria q

ue dar aula e

m d

ez escolas. Q

uer d

izer, fica

um

a co

isa assim

p

orq

ue a

lei o

briga, nã

o

tem

m

uito

espaço

p

ara so

ciólo

go, não

é? (p

rofesso

r Ro

berto

)

“Pela

carga ho

rária d

a d

isciplina,

que

são

apenas

cinq

uenta m

inuto

s d

e aula

se

ma

nais, isso d

ificulta m

uito o

po

der d

e dem

on

stração

do

que d

e fato

a socio

logia

é. Q

uando

eles vêm

do

ensino

funda

men

tal, que não

te

m so

ciolo

gia na maio

ria do

s co

légios, a ge

nte sente u

ma lim

itação no

s alunos e

m p

erceber a so

ciolo

gia com

o

matéria o

brigató

ria, um

a matéria q

ue de fato

vai ser co

brad

o m

ais na frente na

s p

rovas seletivas.” (p

rofesso

r Lucas)

Mesm

o com esta com

preensão por parte dos professores sobre a le

gitimação da

disciplina, os alunos, no questionário aplicado, apontam

outras noções. O

gráfico 6 revela

opiniões favoráveis à disciplina.

F

ON

TE

: elabo

rado

pela auto

ra N

este cenário de relativa aprova

ção, os alunos se posicionaram

sobre a carga

horária da disciplina. A seguir, com

o mostra o grá

fico 7, eles identificaram

a insuficiência do

tempo de aula e, m

esmo entre os que considera

ram a

carga horária atua

l suficiente, ainda

houve reconhecim

ento da contribuição d

a disciplina no currículo

40

F

ON

TE

: elabo

rado

pela auto

ra O

cenário da Sociologia nas escolas A

lfa e Beta rev

ela o quanto o currículo une e,

ao mesm

o tempo separa (S

AC

RIS

N, 2013, p. 17) os s

ujeitos na escola: organiza e

estrutura um projeto de sociedade em

cada saber e r

otina escolar enquanto institui fronteiras

entre as áreas do saber distintas. T

al ambiguidade

do currículo se refe

re à lógica das disputas

pelo que é e como é transm

itido e à organização do

ensino escolar, na qual

A

parece essa hierarq

uia, base

ada nas d

istinções d

as e

sferas d

e saber, fechad

as em

si, nas

pro

duçõ

es, na

po

sição

e no

co

nsenso

sim

lico d

a reprod

ução so

cial do

conhecim

ento

científico

aplicad

o. T

anto o

s pais

quanto

os aluno

s e até p

rofesso

res, de aco

rdo

com

a p

osição

que o

cupa no

espaço

esco

lar, exercem

um

po

der sim

lico, d

efinindo

quai

s as relações são

colo

cadas em

relevo

nas rela

çõe

s do p

ensam

ento

e da so

ciedad

e, quais as d

isciplinas

que d

etêm

m

aior legitim

idad

e social d

evido

ao cap

ital social e cultural q

ue po

ssuem

e com

o,

pela m

arca, as fronteiras são

mais d

rásticas e rígid

as. (ER

AS

&C

AM

AR

GO

, 20

07

, p.

6)

No caso

da Sociolo

gia, tais fronteiras são reivind

icadas a todo m

omento. A

luta

simbólica quanto à o

rganização e especificidade d

e conteúdos d

as disciplinas pauta as práticas

escolares dos professore

s, e, para a Filosofia e a

S

ociologia ganhou novo fôlego após a Lei

11.684/08, que tornou tais disciplinas obrigatórias nas três séries do E

nsino Médio. A

luta de

legitimação

destas disciplinas não come

çou no dia de p

romulgação

da Lei, tam

pouco se

encerrou com seu

exercício: com um

a trajetória inte

rmitente na educaçã

o básica e

para se

afirmar

completam

ente, a

disciplina de

Sociologia

enfrenta

ainda

problem

áticas que

se

originam n

ão só da instituição escolar, m

as de sua própria n

atureza científica. O

professor

Roberto revelou este asp

ecto na entrevista concedid

a

41

“O p

essoal não

sabe q

ual o o

bjeto d

a socio

logia m

es

mo

, o q

ue estuda, o

que ela traz,

as pesso

as acham

que so

ciolo

gia e história é u

ma co

isa só. E

u acho q

ue a visão tan

to

do

s alunos, q

uanto

do

s gestores é essa. E

u acho q

ue eles acha

m q

ue as outra

s d

isciplinas ele

s vão usar na vid

a prática d

eles, qu

e o m

und

o p

rofissio

nal vai exigir,

se ele conse

guir u

m e

mp

rego

a em

pre

sa vai exigir q

ue

ele saib

a fazer con

tas, que

eles saib

a da m

atem

ática, que

ele saiba p

ortuguês,

que saib

a falar direito

, vai exigir isso

dele. E

ntão, se

eles não tivere

m d

om

ínio

nessas área

s, eles não vão

arranjar um

e

mp

rego, o

u não vão

durar.” (p

rofesso

r Ro

berto

)

Se considerarm

os o alto índice de aprovação da S

ociologia por pa

rte dos alunos

(observado no grá

fico 6) e que a m

aioria destes co

nsidera ne

cessário um

a carga horária

maior

para esta disciplina, nas duas escolas (observado no grá

fico 7), verificarem

os uma contradição

em relação à n

ão-consolidação apontada pelos pro

fessores R

oberto e Lucas. N

este caso, ao ser

surpreendida com

tais respostas dos alunos nos q

uestionários, busquei ele

mentos práticos qu

e

pudessem justificar tam

anha aprovação mesm

o em condições tão difíce

is de realização da

disciplina. Pergunta

va-me: qu

e interesse tem estes alunos na S

ociologia se eles mesm

os

apontam problem

as ou apresentam

resistência à disci

plina? M

esmo cogita

ndo a influência de

a aplicadora ter sido a

própria professora da disci

plina para m

uitos que responderam

ao

questionário, constatei,

pela aprova

ção acerca

da S

ociologia, o

autoreconhecim

ento dos

alunos como sujeitos aptos a debater sobre a re

alidade social em

que se inserem. E

ntão,

atentos ou não ao currículo proposto pelo professor

, os alunos são, antes de alunos, sujeitos

que se

formam

e

se

compreend

em

em

um

meio

social pr

óprio, logo,

associam

sua

socialização aos conhecim

entos sociológicos.

Ainda

assim,

no contexto

de contradição

entre interesses

dos alunos

e as

perspectivas dos docentes, não são isoladas as vezes em

que muitos alunos se re

cusam a

participarem das aulas porque não consideram

que a

disciplina seja importante ou am

eaçadora

para a aprovação no final do ano. A desvalorizaçã

o da disciplina neste caso, afirm

a que

E

scolas,

alunos

e d

ocentes

brasileiro

s, em

beb

ido

s d

o

universo

do

cap

italismo

glo

balizad

o, seus fo

rtes valores e p

rop

ósito

s econô

mico

s estão ta

mb

ém

dia

nte do

d

esafio

da

imp

lantação

d

a S

ocio

logia:

discip

lina

cujas

bases

teóricas

e

meto

do

lógicas são

marcad

as pela p

luralidad

e episte

mo

lógica b

em co

mo

pelo

deb

ate franco

e

acirrado

entre

seus

princip

ais rep

resenta

ntes.

Ausê

ncia d

e co

nse

nso,

pluralid

ade, criticid

ade e d

isputas p

ela co

nstrução d

e saberes são

con

stituitivos d

as

Ciências S

ociais –

po

rtanto desto

am

com

a realidad

e utilitarista e p

ragm

ática que

co

nduz m

uitas p

ráticas ed

ucacio

nais a u

m e

ncon

tro h

armo

nioso

com

os p

rincípio

s d

o

capitalism

o

glob

alizado

, visand

o

form

ações

escol

ares

focad

as m

ais na

cap

acitação d

e mão

de o

bra p

ara o m

ercado

de trab

alho

que p

ara a form

ação d

e seres hu

ma

nos ap

tos a refletire

m critica

me

nte e com

algu

m d

istanciam

ento

sob

re si e so

bre

a realid

ade

socio

econô

mica

e cu

ltural e

m

que

estão

inserid

as. (H

AN

DF

AS

&M

AIÇ

AR

A, 2

01

2, 25

9)

42

Ainda

que a

disciplina

de S

ociologia não

correspond

a aos

interesses

mais

recorrentes dos

alunos, é

justamente

na

sua

natureza

crítica em

relação

ao

mundo

do

capitalismo globalizado com

suas macro e m

icro estr

uturas que este conhe

cimento é afirm

ado

no currículo oficial. D

e maneira geral, o

lugar da

S

ociologia no currículo é o lugar d

a crítica,

mas de um

a crítica que conform

a a cidad

ania e a preparação para o trabalh

o, de acordo com

a

LDB

/96. Os professores R

oberto e Lucas afirm

aram

nas entrevistas, con

cepções semelhantes

sobre o papel fundamental da S

ociologia na form

ação dos jovens

“E

u acho q

ue a socio

logia m

ais te

m q

ue dar e ele te

m q

ue ap

render é o

senso crítico

d

ele, se ficar tratando

isso co

mo

se fosse aula d

e histó

ria ele vai deco

rar data, vai

deco

rar conceito

s, vai ser perd

ido

. Eu acho

que

tem

que

servir para d

esenvo

lver o

senso

crítico, p

ara amp

liar os ho

rizontes, as m

ente

s. Po

r exem

plo

, se eu estou

fala

ndo

de id

eolo

gia, eu pretend

o co

m isso

que ele

am

plie o

senso crítico

dele, use

o

s conceito

s que eu vo

u dar p

ara ele sobre id

eolo

gia p

ara ele saber vo

tar, saber

escolher o

s po

líticos, sab

er aqueles q

ue têm

que d

escartar, p

ara ele saber enxergar

po

lítica. O q

ue eu

quero

é que ele

am

plie

os ho

rizontes e q

ue con

strua o

senso

crítico

na cabeça d

ele, se não fo

r po

r aí é perd

ido

, com

o se fo

sse aula de histó

ria, vai d

ecorar e vai esq

uecer. O g

rande o

bjetivo

que eu ac

ho d

a socio

logia é essa, é

a

mp

liar o sen

so crítico

do

aluno, ele ter sua p

róp

ria id

eia, é assistir o jo

rnal nacional

e tirar

a o

pinião

d

ele, não

engo

lir aq

uilo

do

jeito

que

foi

dad

o,

acho

que

é

princip

alme

nte isso.” (p

rofesso

r Ro

berto

)

“Eu acho

que a m

aior co

ntribuição

é po

r ser a abert

ura de u

ma co

nsciê

ncia crítica e

po

lítica em

relação à situaçõ

es diárias e situaçõ

es p

assadas e futuras, gerar essa

co

nsciência crítica ne

sses ado

lescentes. Talvez a m

aior b

arreira que a ge

nte po

de

enco

ntrar é

justam

ente

esse

reconhecim

ento

d

as p

róp

rias gestõ

es e

do

p

róprio

governo

em

relação à so

ciolo

gia, em

relação à eficá

cia que essa m

atéria tem

na

relação hu

ma

na e na percep

ção intelectual e

pro

fissio

nal desses alu

nos”. (p

rofesso

r L

ucas)

No C

eará, Matrizes C

urriculares para a S

ociologia f

oram de

finidas em 200

8. Estas

matrizes integram

a coleção “E

scola Aprendente

”, publicada pela S

ecretaria de E

ducação do

Estado do C

eará

(SE

DU

C) com

o resultado da a

ção P

rofessor A

prendiz. Sendo resultado d

esta

ação d

e estím

ulo à

colaboração de

professo

res na

produ

ção didático-peda

gógica

das

disciplinas, as Matrizes C

urriculares foram pensada

s por professores da

rede estadual que

atuam em

cargos técnico

-pedagó

gicos na própria S

ecreta

ria.

As

Matrizes

do C

eará, a

oficialização na

cional

em

2008,

e as

propostas

curriculares

nacionais

(Parâm

etros C

urriculares N

acion

ais –

PC

N’s

e O

rientações

Curriculares N

acionais – O

CN

’s, de 1999 e 20

06, respe

ctivamente) expressam

mom

entos

diferentes para

a legitim

ação da S

ociologia, sab

end

o das variações d

e temp

o e espaço em

cada

um desses casos (outras U

F de

finiram o ensino d

a sociolo

gia antes mesm

o de 2008, como o

Paraná).

As

propostas curriculares

determina

m

o car

áter ou

mesm

o a

natureza do

conhecimento sociológico escolarizado. C

om o intuit

o de orientar os professores para o

43

ensino da Sociolo

gia, os PC

N’s e as O

CN

’s são polít

icas de regulam

entação deste ensino p

ara

efetivar o sentido ou atribuição, no sistema educa

cional, de sua presença n

o nível médio.

Os P

arâmetros C

urriculares N

acionais, P

NC

S, foram

publicados em

1999, bem

antes da

obrigatoried

ade

da

disciplina de

S

ociologia.

Neste

docum

ento, orientaçõ

es

curriculares

pautadas pela

LDB

/1996 incluíram

os

conhe

cimentos

de S

ociologia,

Antropologia e C

iências Políticas, afirm

ando que

pela via d

o co

nhecime

nto so

cioló

gico siste

matizad

o,

o ed

ucando

po

derá co

nstruir u

ma p

ostura m

ais reflexiva e crítica d

iante da co

mp

lexidad

e do

mund

o m

od

erno. A

o

com

pree

nder m

elhor a d

inâm

ica da so

ciedad

e em q

ue vive, p

od

erá perceb

er-se com

o

elem

ento

ativo, d

otad

o d

e força p

olítica e cap

acida

de d

e transform

ar e, até mesm

o,

viabilizar, através d

o exercício

pleno

de sua cid

adania, m

uda

nças estruturais q

ue

apo

ntem

para u

m m

od

elo d

e socied

ade m

ais justo e so

lidário

. Po

r outro

lado

, o

ensino d

a So

ciolo

gia no

Ensin

o M

édio

tam

m d

eve fornecer instru

men

tais teórico

s p

ara q

ue o

aluno

ente

nda

o

pro

cesso

de

mu

ndialização

d

o

capital,

em

corresp

ond

ência com

as sucessivas re

voluçõ

es tecnol

óg

icas. P

rocesso

am

plo

que

acabo

u gerand

o

um

reo

rdena

me

nto

nas

dim

ensõ

es p

olít

icas e

sócio

-culturais. (B

RA

SIL, 1

99

9, p

. 37

) M

esmo com

tal atribuição, este documento é um

esforço de dim

ensionar as áreas

do conhecimento nas qu

ais passa a se dividir o E

nsi

no Médio.

E

nqua

nto o

s agente

s respo

nsá

veis pela realização

do

s PC

N na grand

e maio

ria, não

têm

form

ação esp

ecífica em

Ciências S

ociais, o

s con

sultores e leito

res críticos d

as O

CN

alé

m d

e serem

pro

fesso

res e pesq

uisad

ores d

a área, são

com

pro

metid

os co

m

esta batalha d

a ob

rigatoried

ade d

a So

ciolo

gia no E

nsino

Méd

io. A

o co

ntrário

do

s P

CN

, as OC

N já co

meça

m d

efend

end

o a esp

ecificidad

e e a

identid

ade d

a So

ciolo

gia

com

base

no p

ano

ram

a histórico

da co

nstituição d

a d

isciplina no

s currículo

s do

E

nsino M

édio

. Mo

stram

-se as interm

itências na co

nstitu

ição d

e um

a tradição

da

d

isciplina no

país, o

ra entrando

, ora ficando

fora

dos currículo

s. Assim

, o currículo

é

pensad

o so

ciolo

gicam

ente na

s suas vinculaçõ

es com

os m

ovim

ento

s de lu

tas nos

diferente

s cam

po

s que co

mp

õem

a socied

ade. E

ste viés, e

minente

me

nte po

lítico,

contrasta

-se com

a visão a-h

istórica d

os P

CN

que não

prob

lem

atizam

a ausência d

a

discip

lina no currículo

. Desna

turaliza-se, p

ortanto

, a idéia d

e que o

currículo é ise

nto

de interesses. (C

AS

ÃO

&Q

UIN

TE

IRO

, 200

7, p

. 233

) A

lém disso, os P

NC

S, reforçando a im

portância

da aquisição d

e compe

tências

necessárias ao m

undo do trabalho flexível, tem

um c

aráter político-ped

agógico am

plo ao

dimensionar os conhecim

entos das Ciências S

ociais e suas contribuições na form

ação do

trabalhador de novo tipo, a saber, adaptado – lo

go, flexível – a várias situações e funções no

trabalho, autônomo e criativo. A

s OC

NS

também

refletem

sobre os sentidos que a Sociolo

gia

pode e deve ter no E

nsino Médio, m

as situam o debat

e quanto a condição intermitente desta

disciplina e aos desafios próprios que o professor encara. A

s Matrizes C

urriculares do Ceará

são fundamentadas nos P

NC

S, ainda que

se iniciem

com

críticas ao contexto de reform

ulaçã

o

do capitalismo que subsidia o docum

ento nacional. Ainda assim

, estas matrizes estaduais

reconhecem

a importâ

ncia da Sociologia ser oferta

da com

o disciplina, considerando que

44

O

conhecim

ento

socio

lógico

colo

ca-se imp

rescindível

para u

ma so

ciedad

e com

a

brasileira, m

arcada p

or alta co

mp

lexid

ade e p

or m

udanças so

ciais aceleradas. A

co

mp

reensão

das estrutura

s sociais, d

os p

rocesso

s eco

nôm

icos, d

a dinâ

mica p

olítica

e id

eoló

gica tem

a sua imp

ortância fund

am

entad

a na o

rientação curricu

lar que

dem

and

a, de fo

rma co

ntu

nden

te, a construção

da cid

ad

ania do

educand

o, em

acord

o co

m o

s PC

NS

. (CE

AR

Á, 2

00

8, p

. 72

)

Ao

me

drebuçar sobre

os

documentos

citados –

PC

NS

, O

CN

S

e M

atrizes

Curriculares do C

eará – e

o impacto prático no coti

diano da escola de cada um

deles, constatei

o quanto os PC

NS

são mais reconhe

cidos institucionalm

ente do que as OC

NS

. Nas escolas

Alfa

e

Beta,

quando

eu,

o professor

Robe

rto e

o p

rofesso

r Lucas

elaboramos

nossos

currículos, as matrizes e

staduais são referências fundam

entais e, sendo fundamentadas nos

PC

NS

, contribuem para a atribuição deste com

o documento principal, no caso da S

ociologia a

nível nacional. O p

rofessor Roberto revelou

como

as m

atrizes estaduais, nom

eadas por ele d

e

“escola aprendente”, influenciam

em sua p

rática

“O nacio

nal eu não

uso m

uito, p

orq

ue as vezes não t

em

nad

a a ver com

o estad

ual, eu uso

o e

stadual, esse

escola ap

rendente. M

as q

uan

do

traz p

ara confro

ntar com

o

livro, é u

m in

ferno, p

orq

ue parece q

ue as edito

ras não

fazem

basead

a no esco

la

aprend

ente. Ai vo

cê não co

nseg

ue adeq

uar e acab

a qu

erend

o se

guir, po

rque é

um

d

ocu

men

to e d

everia ser ob

rigatório

, mas vo

cê não c

onse

gue po

rque o

livro não

aco

mp

anha

ai você acab

a fazend

o u

ma ad

aptação

enorm

e e acaba fica

ndo

muito

d

iferente do

que te

m na e

scola ap

rendente, vo

cê apr

oveita m

uito

po

uco p

ara po

der

seguir o

roteiro

. Isso p

or ca

usa do

livro, q

ue é feito

de u

ma

form

a m

uito

difere

nte. E

u acharia me

lhor u

sar o d

a escola ap

rendente, m

as fica inviá

vel po

rque o

s aluno

s tê

m o

livro e terão

que estud

ar pelo

livro. S

e eu fo

sse usa

r o esco

la aprend

ente eu teria q

ue descartar o

livro, te

ria que arranjar m

il o

utro

s livros, u

m p

edaço

de u

m,

ped

aço d

e outro

, seria um

inferno

, eu teria que arranjar um

a verdad

eira bib

lioteca

para p

oder o

bed

ecer a ordem

, mas acab

a ficand

o invi

ável. Então

eu acabo

usando

o

livro

mesm

o

e tento

ad

apta

r co

m

o

esco

la ap

rendente

, m

as

é m

uito

p

ouco

.” (p

rofesso

r Ro

berto

)

Por sua vez, o professor

Lucas tam

bém

ressaltou lim

ites na abordagem dos

documentos

“Eu co

nheço

a PC

N e a

s diretrizes estad

uais. B

em

, de u

ma m

aneira o

u de o

utra, elas

são m

ais um

ma

nual d

e com

o d

eve ser orientad

o o

pla

nejamen

to, d

e com

o d

eve ser o

rientada as aula

s, ma

s eu não

vejo grand

e contrib

uição

emp

írica em

sala de aula

não

. Acho

que é u

ma co

isa mais co

nceitual de m

an

ual d

e com

o se d

eve pro

ceder.”

(pro

fessor Luca

s)

Se, para

além d

as referên

cias cruzadas no caso do

s P

CN

S e M

atrizes Curriculare

s

do Ceará, situarm

os o contexto de aquisição de resultados ou bons índices que condiciona as

relações entre as escolas públicas e a S

ED

UC

, podem

os compre

ender m

elhor a ên

fase nos

PC

NS

, em detrim

ento das O

CN

S. A

s escolas precisam

atingir bons índices, principalm

ente n

o

45

EN

EM

, que

é um

a avaliação

estruturada em

torno

das áreas

do conhecim

ento e

das

competências atribuídas a cad

a uma d

estas áreas, e isso torna coerente a

referên

cia aos PN

CS

que tanto enfatizam na construção de com

petências. H

á, portanto, uma “cadeia” d

e objetivos

que são argumentados n

os documentos oficiais e que

se expressam, na form

a de demand

a

formativa, pelas avaliaçõ

es nas quais cada escola precisa atingir bons resultados.

Considerando a convergência d

e políticas curricular

es e políticas de avaliação

,

neste caso, tomadas pelo

s documentos que re

gulam

entam

a disciplina de S

ociologia e pelas

avaliações nas quais todas as disciplinas são diagn

osticadas, o sentido de conhecim

ento

crítico, que possibilita visões de mundo refletidas

e argumentad

as à luz de conceitos e tem

as

próprios converge nas práticas docentes nas escolas

Alfa e B

eta. Tanto o professor Lu

cas,

quanto o professor R

oberto afirm

aram nas entrevista

s este caráter crítico da disciplina, m

uito

mais vinculado à ressign

ificação dos contextos sociais vivenciados pelos alunos do que aos

próprios conceitos ou teorias desta ciência. Ain

da assim

, revelando a distância entre o que

deve se

r (n

a pe

rspectiva dos

docentes) e

o

que fato

é

(nos

contextos escolares),

o

desenvolvimento do olha

r sociológico esba

rra nas condições práticas d

e atuação e efetivação

da disciplina.

Atualm

ente, nas escolas públicas do Ceará, a discip

lina de Sociologia conta com

a

carga horária seman

al de 1 hora aula (correspondent

e a 50 minutos) em

cada turma nas três

séries; nos casos onde e

xistem 2 horas aula, o cont

eúdo anual da disciplina se dá d

e forma

concentrada em

um

único

semestre.

Esta

carga horária

é reduzida

diante das

demais

disciplinas, levando em conta até as que com

põem a

mesm

a áre

a no currículo do ensino

médio. A

escola Beta, m

esmo sendo em

tempo integral

, adota a mesm

a carga horária, com

o à

escola Alfa, de 1 hora aula por sem

ana em

cada turma.

Além

disso, é factível o descom

passo entre a área d

e formação e a

de atua

ção dos

professores de sociologia, ou seja, m

uitos professores que lecionam

sociologia são licenciados

em outras disciplinas ou áreas, com

o História, F

ilosofia, G

eografia, ou até m

esmo Q

uímica o

u

Matem

ática. A

inda qu

e

o conh

ecimento

das outras

disciplinas,

sobretudo da

Áre

a de

Hum

anas, sejam

de

fundamental

importância

para

a co

mpreensão

da

sociologia, o

direcionamento espe

cífico e muitas vezes o aprofund

amento de seus conteúdos são alterados

ou prejudicados.

Longe

de

significar irrelevân

cia destes

profe

ssores

para a

disciplina, essa

realidade dissonante entre form

ação

e atuação se im

põe como dificuld

ade tanto ao

olhar ou

modo m

etodológico e teórico próprio das C

iências S

ociais sobre a

realidade com

o aos

próprios docentes que lecionam

disciplinas não correspondentes à sua form

ação. Essa questã

o

46

ainda fica clara se considerarm

os as condições de t

rabalho dos professores e a situação de

afirmação com

o conhecim

ento escolar em que a S

ociologia se en

contra.

No

entanto, o

desafio de

ensinar outras

disciplinas,

tão conhecido

entre os

docentes de Sociologia (que lecionam

Filosofia, ou

História, ou G

eografia, ou todas em

um

mesm

o ano letivo), não é exclusividade destes, mas

síntese das condições de atuação em

que

se encontram os docentes de um

a maneira geral.

Para a sociolo

gia, a condição de carga ho

rária reduzida em

relação às demais

disciplinas cria um caráter de com

plementariedad

e no cam

po escolar, refle

tido nas práticas de

lotação de professo

res, por exemplo. N

a rede e

stadual do C

eará, as carências ou vagas d

e

professores podem ser d

efinitivas (preen

chidas por

meio de con

curso público) ou temporá

rias

(preenchidas por re

gime

s temporários de contratação

de professores). S

egundo levantam

ento

do site UO

L a partir de dados do C

enso Escolar 2012

, a rede pública esta

dual do Ceará está

entre as 7 do país que

tem m

ais da metade

de professores tem

porários, com

uma taxa d

e

60,2% do total.

A

lotação de

professores

temporários

é instá

vel e,

na m

aioria das

vezes,

multidisciplinar em

relação à á

rea do currículo. Já

a lotação dos professores con

cursados,

apesar de mais estável (pelo m

enos, um ano), tam

bém pode ser m

ultidisciplinar. Com

um

regim

e de 40 horas/aula por sem

ana, um

professo

r da rede

estadual precisa

, obrigatoriamente

,

preencher 27 horas/aula o que im

plica, no caso da Sociologia e da F

ilosofia, em 27 turm

as e,

no caso da História e da G

eogra

fia, em 14 turm

as.

No contexto cearense, a lotação de professores e

m u

ma única escola nem

sempre

é garantida e muitos preenchem

sua carga horária em m

ais de uma escola e em

mais de um

a

disciplina. Neste intento, o critério de concentraç

ão de carga horária do professor por escola

pesa mais do que a própria form

ação específica d

o mesm

o. Na escola A

lfa, tanto eu quanto o

professor Roberto, som

os gradua

dos em S

ociologia, mas, no

esforço

de concentra

ção da carga

horária, ministrei durante o ano de 2015, a discipl

ina de Filosofia, m

esmo sem

formação

específica. O professor R

oberto leciona Filosofia e

o professor Lucas, da escola B

eta, leciona

Sociologia e F

ilosofia.

Assim

, o campo da sociologia no E

nsino Médio, assim

como o cam

po das demais

disciplinas da área de Hum

anas, para ficar nesta ár

ea do currículo, é sem

pre habitado por

agentes com m

últiplas formações e p

erspectivas da p

rópria posição da disciplina no currículo.

Esta dim

ensão é importante pela diversidade nas con

dições político-pedagógicas de inserção

da disciplina e nas condições de trabalho dos professores.

47

Então, tanto os sentidos m

ais explícitos em discurs

os oficiais ou em conversas n

a

sala de aula assumidos pela S

ociologia quanto as co

ndições institucionais de seu exercício

fazem parte

da discussã

o sobre o currículo desta di

sciplina, por que revelam

sua própria

condição de legitim

ação no ambiente escola

r.

48

3 O C

UR

RÍC

ULO

DE

SO

CIO

LOG

IA E

A A

(RE

)SIG

NIF

ICA

ÇÃ

O

DA

ES

CO

LA

O docum

ento prelim

inar da Base N

acional Curricular

Com

um (B

NC

C) situa, n

a

área de H

umanas, os d

esafios próprios ao E

nsino Méd

io, a saber, a

organização curricular e a

necessária articula

ção entre seus com

ponentes, uma

vez inseridas neste nível a Sociologia e a

Filosofia. O

cenário de inclusão destas disciplina

s no currículo obrigatório “faz em

ergir um

conjunto rico de questões, no tocante às m

etodologi

as de ensino, aos conteúdos a serem

trabalhados em sala de aula, assim

como em

relação ao está

gio e à formação inicial d

e

professores de Sociologia.” (H

AN

DF

AS

&M

AIÇ

AR

A, 2012,

p. 109)

O esforço de

problematizar a re

alidade curricular no caso da

Sociologia aqu

i

desenvolvido não dará conta de todas estas questões por com

pleto, mas será inform

ativo ao

revelar a din

âmica d

e inserção da disciplina n

o dia-a-dia da

escola, em

meio a desafios

pedagó

gicos, políticos e éticos que eme

rgem dentro

e fora da sala de aula.

Considerando as reflexões do capítulo ante

rior, onde situam

os o sistema escola

r

no qual se inserem as escolas pesquisadas – A

lfa e B

eta – e os sentidos que a Sociologia

assume em

cada um

a delas, é ne

cessário agora

pensar na qu

estão de “o que ensinar em

Sociologia?

” e mesm

o “Com

o ensinar Sociologia

?”.

Se anteriorm

ente discutim

os os condicionamento

s de inserção da S

ociologia n

o

currículo, podem

os avançar p

roblematizando a

inserção atu

al da disciplina na realidade

escolar. Isto é, se as leis curriculares esclare

cem

necessidades form

ativas em cada áre

a e

componente

curicular, que

necessidades

a própria

dinâm

ica escolar

tem

vinculado à

Sociologia. Já sabem

os o que as leis esperam d

esta disciplina, resta sab

er o que a p

rópria

escola espera.

No entanto, a com

preensão curricular não se esgota na com

preensão da e

scola e

de suas relações intern

as. N

este ponto reside o asp

ecto fundam

entalme

nte sociológico do

problema: a escola

é feita do mesm

o tecido da socie

dade, ou seja, ao questionar sobre a

s

práticas e os valores que subsidiam ou deslegitim

am a disciplina de S

ociologia, estarem

os

confrontando posições que espelham

as tensões sociais m

ais amplas. Isso im

plica a própria

relação entre os sentidos da escola para a vida dos estudantes e os sentidos da S

ociologia,

inserida neste contexto.

As m

últiplas relações que envolvem a sociedade, a e

scola e a Sociologia

fazem

parte do debate do currículo por que condiciona

m de

sde seus pressupostos até seus recursos

ou modos de faze

r do professor. Então, partindo da

noção de currículo escolar com

o território

disputado por saberes e sujeitos, a inclusão da S

ociologia não encerra esta disputa, na

49

verdade, redimensiona a

mesm

a. A disputa

pelo que e

nsinar e

como ensina

r, que é tension

ada

por recom

endações o

ficiais, professores com

diferen

tes form

ações e aluno

s pressionando pela

escola que desejam

, é o plano de fundo socioló

gico das reflexões que fare

mos neste capítulo.

Verem

os que tais disputas (re)significam as relaçõ

es com

o conhecimento escolar,

evidenciando que qu

ando observado

a partir d

as relaçõ

es sociais ou em

seu movim

ento

cotidiano, o currículo escolar d

esafia até

mesm

o as

condições estruturais ou institucionais

encontradas em

cada estabelecim

ento.

3.1 S

OC

IOLO

GIA

E JU

VE

NT

UD

ES

NA

ES

CO

LA

A fo

rmação

da p

ersonalid

ade co

nstitui um

pro

cesso q

ue não co

meça na e

scola e q

ue, p

ortanto

, não enco

ntra nela um

termo

certo. D

a escola p

rimária à u

niversidad

e esse

pro

cesso se d

esenrola em

con

tinuid

ade, so

frendo

aqu

i e ali interrupçõ

es de sentid

o

ou alteraçõ

es do

s conte

údo

s das exp

eriências, m

as s

e subo

rdinand

o à fo

rma d

e um

crescim

ento

orgân

ico. Q

uanto

à escola secund

ária br

asileira, não

é difícil p

erceber-

se qual seria a co

ntribuição

das ciências so

ciais para a fo

rmação

de atitud

es cívicas

para a co

nstituição d

e um

a co

nsciencia p

olítica d

ef

inid

a em to

rno d

a com

pree

nsão

do

s direito

s e do

s de

veres do

s cidad

ãos. E

m u

m p

aís

diferenciad

o d

em

ográfica,

econô

mica, cu

ltural e socialm

ente, u

m ad

estram

ento

ad

equad

o, vivo

e construíd

o

através d

e exp

eriências

con

cretas, so

bre

as co

ndiçõ

es m

ateriais e

mo

rais d

e existê

ncia, con

stitui um

meio

po

r excelência de so

cialização

. (F

ER

NA

ND

ES

, 19

76

, p. 10

3)

A socialização, cate

goria ou ponto de partida funda

mental para qualque

r análise

sociológica, é ma

rcada p

or múltiplos espaços e suje

itos. Florestan F

ernan

des se utiliza desta

categoria

para justificar a im

portância da escola

e, com

o possibilidade, das ciên

cias sociais

inseridas na mesm

a. Ao fazer isto, ele revela a inf

luência construtiva das ciências sociais na

realidade de form

ação o

u modernização do B

rasil de sua época. S

e considerarmos que nosso

país continua com dilem

as antigos e apresenta novas

questões na atualidade, então pe

rsistem

as necessidades de conte

xtualização do conhecim

ento escola

r em relação a outras instâncias

de socialização, como as m

ídias, os aparatos estatais e o m

undo do trabalho.

No caso das escolas A

lfa e B

eta, do contato diário

com os alunos em

ergem outras

socializações, que muitas vezes tensionam

ou “com

petem

” com a socializa

ção escolar. A m

ais

recorrente destas tensões no dia-a-dia, a meu ver m

anifesta-se pelo uso do celular, ainda visto

como um

problema pelo

discurso oficial da escola. O uso do celular pelos jovens e dem

ais

sujeitos da escola não é

uma questão m

eramente ilus

trativa de seus há

bitos, mas revela a

influência das tecnologias em

quaisquer sociabilidades. P

ensando sobre esta influência n

a

escola, me

impressionei com

o aumento

da mesm

a em r

itmo a

celerado: entre 2010

e 2013,

50

quando fui bolsista do PIB

ID, já era notável a insi

stência do uso do celular em sala d

e aula

pelos alunos. Nas aulas do professor de S

ociologia

que a

companhava os bolsistas à época,

pelo menos três alunos (em

turmas de

trinta) ficavam

utilizando o celular (alguns, m

esmo

após a intervenção do professor); nas minhas aulas,

em turm

as de quarenta alunos, pelo

menos vinte utilizam

o celular.

O debate sobre a influên

cia das tecnologias na escola não se restrin

ge à influência

que exercem na vida do

s alunos ou ao uso do celular. A

alta incidência

do uso do celular

revela sobre o m

odo de sociabilidade virtual que m

arca as socied

ades contem

porâneas. Do

mesm

o modo, as p

ráticas dos professores, dos funcio

nários da S

ED

UC

e dos gestores tam

bém

são intimam

ente ligadas com as te

cnologias, com

o é no

caso dos jovens. N

esse sentido, estas

tecnologias têm colocado

desafios à escola e ao cur

rículo.

A virtualid

ade d

as novas m

ídias está acarreta

ndo

nova

s maneiras d

e aprend

er e de

ensinar, nas quais as d

ime

nsõ

es de tem

po

e espaço

são

perceb

idos co

mo

mais

flexíve

is e

mu

táveis

e

a im

ensa

quantid

ade

de

infor

maçõ

es é

transm

itida

velo

zme

nte, desa

fiand

o, p

ortanto

, a educação

a ter u

m no

vo p

apel e p

ensar novas

práticas p

ara novas d

em

and

as. (HA

ND

FA

S&

OLIV

EIR

A, 2

00

9, p

. 156

).

Assim

, as aulas na sala de informática ou vídeo sã

o cada vez m

ais recorrentes nas

práticas docentes, a organização do sistem

a escolar da red

e estadual é realizada pelo sistem

a

online SIG

E e red

es sociais de comunicação e divulg

ação de inform

ações foram

incorporadas

entre professores, aluno

s e gestores de man

eira ger

al. No

documento da B

NC

C, o M

EC

reafirma a inco

rporação de re

cursos audiovisuais ao m

aterial didático, já

realizada no Plano

Nacional do Livro D

idático de 2014.

Neste aspe

cto, a modificação das form

as de pe

nsar e aprender reflete não só o

processo tecnológico atu

al, mas as próprias dinâm

icas juvenis que colocam

grandes desafios à

Sociologia:

Prim

eiro, acertar no

que é fun

dam

ental p

ara um

púb

lico

qu

e não esco

lheu aind

a ser cientista so

cial, ma

s que te

m p

ela frente a o

brigação

de estu

dar S

ocio

logia; seg

und

o,

estabelecer u

m enco

ntro d

e ‘ho

rizontes se

mân

ticos’

junto a u

m p

úblico

juvenil cujo

s sentid

os d

e pertença e sig

nificações são

cada vez m

ais ob

jetos d

e disp

uta entre a esco

la, com

o u

m ca

mp

o d

e socialização

específico

, e o

cam

po

social m

ais am

plo

, cap

itaneado

pelo

mercad

o, com

seus sub

cam

po

s de val

ores, sím

bo

los, p

erform

ances

e lingua

gens esp

ecíficas que co

nstituem

os cha

mad

os

‘valores e cultura juven

is’, de

tal mo

do

que, nesse

s em

bate

s, os aluno

s sejam

minim

am

ente seduzid

os a sere

m

‘afetad

os’ p

ela discip

lina So

ciolo

gia. (GO

ALV

ES

, 2

01

3, p

. 102

) 13

13A q

uestão

das juve

ntudes é te

ma rico

de d

ebates nas

ciências sociais e d

a educação

, po

is envolve a co

mp

lexa

relação entre as id

entidad

es juvenis e as d

inâm

icas

escola

res. De m

aneira geral, o

s estud

ioso

s de juventud

e, anu

nciam

o caráter hetero

gên

eo e histó

rico d

as juventud

es e nota

m o

s desafios à esco

larização d

os jo

vens, dad

o

o d

escom

passo

entre a cultura escolar e as culturas

juvenis. (H

AN

DF

AS

&M

AIÇ

AR

A, 2

01

2)

51

Nos contextos escolares em

que se insere a Sociologia, o descontentam

ento m

útuo

entre alunos e professore

s quanto ao ensino e ap

ren

dizagem é revelado

cotidinianamente, seja

pelas reclam

ações com

partilhadas entre pares na sal

a dos professores em

relação aos alunos,

seja pelo caráte

r repetitivo e enfadonho

das aulas para estes.

Da

yrell & C

arrano (2014) refletem

sobre esse “jo

go d

e culpados” entre os sujeitos

da escola, onde pro

fessores culp

am os alunos por in

disciplina, uso do celu

lar em sala

de aula

ou mesm

o uso do boné (ou outras posturas consideradas inadequ

adas) e alunos culpam

os

professores por não con

siderarem válidas p

ara o currículo

suas necessidades e

interesses

enquanto jovens. Ao de

sprezar a condição juvenil de seus alunos, a escola encara com

o

problema a

própria juventude e su

as dimensões funda

mentais: as culturas, a sociabilidade, as

relações com

os espaço

s que habitam

e com

o próprio

tempo. (D

AY

RE

LL; CA

RR

AN

O;

MA

IA, 2014)

A

juventud

e constitu

i um

mo

me

nto d

eterminad

o, m

as que não

se reduz a u

ma

p

assagem

. E

la assu

me

um

a

imp

ortância

em

si

mesm

a

com

o

um

m

om

ento

d

e exercício

de inserção

social. N

esse, o ind

ivíduo

vai se d

escob

rindo

e desco

rtinando

as p

ossib

ilidad

es em

tod

as as instâ

ncias d

e sua vid

a, desd

e a dim

ensão

afetiva a

té a

pro

fissiona

l. E

ssa realid

ade

ganha

conto

rnos

pró

pri

os

em

conte

xtos

histórico

s, so

ciais e culturais distinto

s. As d

istintas cond

ições so

ciais (orige

m d

e classe e cor d

a p

ele, por exe

mp

lo), a d

iversidad

e cultural (as iden

tidad

es culturais e religiosa

s, os

diferente

s valo

res fam

iliares etc.), a diversid

ade

de gê

nero (a hetero

ssexualid

ade, a

ho

mo

ssexualidad

e, a

transexualid

ade,

po

r exe

mp

lo)

e

até m

esmo

as

diferença

s territo

riais se

articulam

p

ara a

constituição

d

os

diferentes

mo

do

s d

e viver

a

juventude. (D

AY

RE

LL;C

AR

RA

NO

;MA

IA, 2

01

4, p

.112

)

Para situar um

exemplo, a experiência com

o tempo é

diversa se considerarm

os os

jovens da escola Alfa e

os da escola Beta. E

nquanto na prim

eira, o índice de alunos que

trabalham no contraturno

escolar é significativo, na segund

a (de jornada integral) este índice é

muito reduzido.

52

F

ON

TE

: elabo

rado

pela auto

ra O

gráfico 8 que inform

a sobre a renda fam

iliar apo

nta o alto índice de alunos que

não sabem ou

preferem

não identificar a renda

fam

iliar. M

esmo que possa

indicar a ausência

destes jovens

nas decisões

orcamentá

rias da

família

, a

variedade entre

percentuais de

diferentes rendas nas duas escolas, corrobora pa

ra a com

plexidade da dimensão juvenil em

ambas. Já sabem

os que os alunos da escola Beta são, em

sua grande maioria, e

gressos da

escola particular, o que im

pacta em su

a escolarização e n

as expectativas fam

iliares quanto aos

estudos. Mas, a julgar p

ela renda identificada, est

es jovens apresentam co

ndições semelhantes

de rend

a fam

iliar qu

e, proporcion

almente,

são

melho

res com

preendidas

conhecendo

a

quantidade de pessoas qu

e moram

em suas residên

cias.

53

F

ON

TE

: elabo

rado

pela auto

ra O

gráfico 9, acim

a apresentado, revela que tanto na

escola Alfa com

o na escola

Beta, parte significativa

dos alunos vem d

e família

s de 4, 5 ou m

ais pessoas por m

oradia. Essa

confluência indica o qu

anto mesm

o tendo carreiras e

scolares diferentes (quanto à rede,

pública ou privada), as realidades fam

iliares nas d

uas escolas podem

não ser tão divergentes.

A

combinação

hetero

gênea

entre as

condições fam

iliares,

a carreira

escolar no

ensino

fundamental e as condições estruturais das escolas

estaduais em questão dem

onstra o quanto

cada uma delas tem

um m

undo diverso e complexo. N

a escola A

lfa e na escola Beta

encontramos

alunos co

m

realidades fam

iliares

distintas

e que

estabelecem

relações

diferenciadas com

o conhecimento escolar e com

as questões sociais (violências urbanas do

dia a dia). Na escola A

lfa, a ausência de alunos é

comum

ente justificada com

problemas de

violência no bairro (sobretudo conflito entre gangu

es), ao passo em que na escola B

eta, esta

justificativa não é comum

. Então, apesar d

e declararem

rendas e com

posições familiares

semelhantes, na escola A

lfa e Beta a rela

ção com a

violência, com as m

ídias e com o m

undo

do trabalho varia em decorrência das rela

ções fam

iliares, em

suas estratégias e possibilidades

formativas aos jovens.

Ainda assim

, se considerarmos a predisposição cultu

ral aos estudos, julgada pela

participação nas rotinas escolares e disciplinares

e mesm

o assiduidade dos estudantes tanto na

escola A

lfa quanto

na

escola B

eta, notarem

os os

mec

anismos

de diferencia

ção dos

estabelecimentos d

e ensino avaliados no capítulo anterior. A

realidade

de assiduidade e

realização de tare

fas, pa

rticipação em

debates o

u quaisquer atividades e

m sala de

aula na

54

escola Beta é m

uito mais gene

ralizada do que na esc

ola Alfa. Lon

ge de pretender pola

rizar

estas escolas em term

os de interesse de seus alunos

pelos conhecimentos escolares, ponho tal

observação p

ara

problem

atizarmos

até m

esmo

a

oposição

de

interesses entre

escola e

juventude. Esta realidad

e nos impo

ssibilita generalizar um tip

o ou modelo de jove

m aluno

para as escolas Alfa, B

eta ou outra da rede estadual. Isso porqu

e, da mesm

a forma qu

e

existem escolas da rede pública em

condições diferentes de funcion

amento e valorização,

existem tam

bém diferenças quanto aos jovens que che

gam em

cada uma

delas e como saem

das mesm

as. Os jovens da escola A

lfa e Beta sã

o mar

cados por diferente

s condições juvenis

importantes para a com

preensão de

que papel pode e

deve

desempenh

ar a sociologia n

a

formação deles.

Estes jovens sentem

-se encarcerados pelo ca

ráter ob

rigatório da form

ação escolar

em

suas vidas

e m

uitas

vezes se

mostram

a

versos à

instituição

escolar. Levando

em

consideração a im

portância dada pelos jovens consul

tados nesta pesquisa à perspectiva de

ingresso no ensino superior, sobre a

qual refletimo

s anteriormente, podem

os constatar então

um caráte

r paradoxal na relação entre juventude e e

scola.

Em

outras palavras, ao mesm

o tempo em

que não se reconhecem

nas práticas e

nos discursos

escolares oficiais,

muitas

vezes sent

indo-se contra

os interesses

desta

instituição, os jovens tem

de encarar os desa

fios im

postos pelo mundo do trab

alho antes

mesm

o de sua inserção (qualificada o

u não) no mesm

o e a escola

é o espaço de

prepara

ção

por excelência para tal inserção. A

inserção no E

nsino S

uperior, representadas pela

lógica de

valorização do EN

EM

e SP

AE

CE

, demandada às escolas

Alfa e B

eta pelo sistem

a de ensino

em que se

inserem reverbera, neste ponto, em

demand

as ou exigen

cias para os próprios

jovens. Isso torna tais exigên

cias mais com

plexas por que

se re

ferem aind

a à expectativa d

e

encaminham

ento dos jovens para posições posteriores

de prepa

ração ou inserção im

ediada no

mercado

de

trabalho. E

m

que pese

essa qu

estão profi

ssional, não

podem

os esquece

r a

influência do espaço escolar na dim

ensão das sociab

ilidades e da conformação de m

últiplas

identidades juvenis,

mesm

o sob

a aparente

uniformiz

ação visual

destes jovens

pelo

fardamento ou outras re

gras.

No âm

bito de tais tensõe

s de perspe

ctivas, a S

ociologia, ao m

esmo

tempo em

que

se insere na ló

gica das disciplinas escolares de “p

reparação

para o trabalho” é am

bígua porqu

e

prepara também

“para a

cidadania”. Neste sentido, e

merge a ne

cessidade fundam

ental de

olhar os jovens como sujeitos de direitos, protagon

istas no processo de formação escolar do

qual são “alvos”. A S

ociologia contribui nesse sent

ido quanto complexifica o debate sobre os

55

sentidos da juventude na escola e da própria e

scola na vida dos joven

s, abrindo vias de

diálogo (ainda tímidas) e

ntre a institituição e seus sujeitos.

Nas escolas A

lfa e Beta, a com

plexidade das juventudes foi abordada em

sala de

aula quando propus o se

minário “C

ulturas Juvenis” às turm

as de 1° ano. D

ivividos em grupos,

os alunos

pesquisaram

sobre diferentes

galeras

ou e

stilos associados

aos significados

históricos e culturais de ser jovem e apresenta

ram

o resultado em diversos form

atos: esquetes,

jornais simulados, desenhos e perfo

rmance visual.

Na escola A

lfa, a aborda

gem sobre

os diferentes sig

nificados de ser jovem

neste

seminário foi direcionad

a pelos alunos para aspecto

s informacionais dos estilos m

usicais, nem

sempre revelando sob

re as juventudes vinculadas a estes estilos. A

inda assim

, ao abordar o

tema da violên

cia na tu

rma de 2º ano no

mesm

o período, as diferentes condiçõ

es juvenis

emergiram

em sala de a

ula pela fala dos alunos, que destacavam

a socialização conflituosa e

repleta de pre

conceitos dos jovens da periferia, m

arcados fortem

ente pela questão racial, logo,

social do Brasil.

Na escola B

eta, no seminário com

os 1ºs anos, as ma

rcas visuais, musicais e

comportam

entais de cad

a galera juvenil foram

apresentad

as com entusia

smo e criatividade

pelos alunos. Em

algumas salas, houve conflitos ent

re grupos sobre qual seria o melhor para

representar uma cultura específica, assim

como resistência a fo

rmas m

enos populares de ser

jovem, com

o a juventude punk por exemplo. N

o que diz respeito à diversidade juvenil, o

professor Lucas, da escola B

eta, considera que

“A d

iversidad

e da ju

ventud

e hoje e

m d

ia é b

astante

difícil d

e trabalhar, já q

ue eles

vêm

do

ensino fu

nda

me

ntal com

algun

s preco

nceitos b

em

latentes, e com

difere

nças culturais b

astante ace

ntuadas. M

as essa juventud

e aind

a está

be

m ab

erta ao d

iálogo

e

assuntos q

ue req

uer um

po

uco m

ais de racio

cínio crí

tico. A

inda há alg

uns e

ntraves

culturais e conceituais q

ue não

ajudam

a receb

er esse jo

vem d

o jeito

que ele é e na

m

aneira q

ue ele está

inserido

fora d

a escola. M

as a

cho q

ue estam

os ca

min

hand

o

para u

m p

rocesso

mais d

em

ocrático

em relação

à dive

rsidad

e cultural e juvenil d

e

hoje.” (pro

fessor Luca

s)

Naquele bim

estre, tive pistas importantes de com

o o ensino apresenta novas

dimensões

para tem

as e

questões já

conhecid

as, prob

lematizando

o saber

docente e

o

currículo. Nas du

as escolas, o seminário “C

ulturas

Juvenis” revelou a perspectiva dos alunos

sobre o debate, apresenta

do no livro didático e em

outras fontes de p

esquisa, das juventudes e

suas diferentes condiçõe

s sociais e históricas no Brasil. N

a escola Alfa, quando abordava a

violência em su

as múltiplas form

as, a questão das juventudes surgiu quand

o menos espe

rava e

ressignificou o plano de aulas. Ao elabora

r o currí

culo no início do ano, a ideia era que a

discussão sobre a violência fosse um

diagnóstico ge

ral da socied

ade brasileira, situando a

56

problemática

dos joven

s neste

caso, m

as se

m

centralizar

nestes. A

s experiências

ou

socializações que

os alunos

apresentaram

em

sala

de

aula restruturaram

a

abordagem

curricular inicial e en

riqueceram a discussão po

r aprofundar sob

re a condição juvenil.

Vale relem

brar a problem

ática da carga horária

reduzida da S

ociologia, o que

dificulta o desenrolar das atividades em

sala de aula. S

e pensar sociologica

mente exige tem

po

para o deb

ate, para o

confronto de id

eias e questõ

es, com

o exercitar este modo de pensar com

o tempo reduzido e

sob o risco d

e não da

r conta das

múltiplas relaçõ

es e discursos que

envolvem os tem

as sociológicos? E

sta é uma questão

profundam

ente condicionada pela

relação entre currículo e escola. N

a escola A

lfa, a abord

agem

sobre as juventudes que surgiu

por acaso nas aulas sobre

violência foi significativa para a preparação dos a

lunos para a Feira

Cultural da escola, onde

apresentaram um

a produção teatral própria abordando as diferentes

facetas da juventude e suas relações com

a violênci

a. Na escola B

eta, me

smo que tenha

sido

uma atividade planejad

a desde o início do ano e tendo depertado o interesse dos alunos, não

foi possível realizar o se

minário com

a presença de todas as turm

as do 1º ano (só foi possível

a apresentação isolada de cada sala), porqu

e os jogos esportivos interclasse foram

priorizados.

A

realização d

este se

minário

nas duas

escolas buscou

abordar

de m

aneira

construtiva as

socializações juvenis

entre os

jovens

alunos, sensibilizando-os

para a

diversidade de m

odos de ser neste caso. A

inda assim, a disciplina de

Sociologia

não consegu

e

passar por cima de todos os lim

ites ao diálogo com

a juventude im

postos pela cultura escolar

e a posição de aluno

As d

efiniçõ

es form

ais e oficia

is do

se

r alu

no m

ostra

m-se in

suficie

ntes. É necessário

d

esnaturalizá-las. Isso p

or q

ue, a d

espeito

das características no

rmativas d

o o

fício d

e aluno

, há um

a exp

eriência invisível se

ndo

construíd

a, que

consiste e

m atitud

es d

e

escape, resistê

ncia, negação, co

nform

ação o

u adesão

estratégica. H

á um

jo

go

socia

l aco

ntecendo

dentro

e fora da sala d

e aula, que co

nstó

i sentido

s variado

s para a

experiência esco

lar. O m

undo

juvenil (relação entre

pares, estilo

s, form

as de se

vestir, te

ma

s de intere

sse) qu

e se dese

nrola no

interio

r da esco

la vai co

nfo

rma

ndo

ap

rop

riações q

ue extravasa

m o

pap

el form

al de aluno

. A e

scola p

assa a ser o lo

cal de

sociab

ilidad

e, d

e enco

ntro,

de

construção

d

e id

entid

ades

e im

agen

s d

e si,

de

aprend

er a burlar regras, d

e escapar ao

contro

le do

adulto

, de criar um

esp

aço d

e auto

nom

ia e construção

pró

prios. (D

AY

RE

LL;C

AR

RA

NO

;MA

IA, 2

01

4, p

. 322

-3

23

)

Neste aspe

cto, por mais diferen

ciada que seja uma a

ula de Sociologia, ain

da assim

este espaço-tem

po da aula é um m

omento obrigatório

para os jovens, e com

o toda imposição,

enfrenta resistências, ten

sões e até desinteresses

por parte destes. N

o entanto, ao abord

ar um

assunto importante na co

ntemporaneidad

e, como a inserção dos jovens no m

undo globalizado,

com desafios e problem

as já típicos da juventude do

século X

XI (m

undo do trabalho e

57

sociabilidade violenta), a S

ociologia ao menos inic

ia uma aborda

gem m

ais construtiva da

relação entre jovens/sociedade e o currículo escolar.

Neste caso, por seu caráter reduzido no currículo,

a relação entre cu

rrículo e

contexto escolar

pode

potencializar, possibilitar

ou

impossibilitar

importantes

mom

entos

formativos, em

sala de aula ou não. Em

termos m

ais am

plos, podemos considerá-la com

o

oportunidade de

pensar

e ressignificar

a esco

larização

junto aos

jovens, m

uitas vezes

centrados em outras socializações.

Então, o caráter dinâm

ico do conhecimento sociológ

ico se insere no currículo em

relação com o contexto escolar. A

o mesm

o tempo em

que im

põe limites à S

ociologia, tal

contexto revela possibilidades para a disciplina, s

obretudo quando se amplia o im

pacto da

mesm

a para além da sala

de aula e a leva para o p

átio e para os corredores.

Por lançar um

olhar às questões sociais que são som

ente fisicamente externas à

escola, pois adentram nesta pelas práticas e experi

ênciais sociais dos alunos, a S

ociologia

assume sua contribuição

prática particular: desnatu

ralizar e problematizar as relações e

ntre

indivíduos e estruturas sociais. Assim

, ao possilitar a cria

ção de posturas m

ais éticas e

posicionamentos fundam

entados, refletidos entre os alunos, a S

ociologia não se abstem de sua

função meram

ente disciplinar do sistem

a escolar de prep

arar para

as avaliações externas, mas

cria uma

marca esp

ecífica no currículo. Esta m

arca

é evidente pela “sociologização

” do

cotidiano escolar, n

as reuniões de p

rofessores, na

rela

ção aluno-professor, no questionam

ento

sobre o papel da própria escola e principalmen

te na realização de atividades curriculares

extra-sala. Quando via

na escola em

que estagiei p

rofessores de outras disciplinas solicitando

a participação do professor de Sociologia em

projetos, feiras ou sim

plesmente para com

entar

alguma

questão social,

não compreendia

ainda qual

era

o caráter esp

ecífico do que

se

chamava

o “pessoal da

Sociologia”. A

o ingressa

r na carreira

docente, logo, representar este

“pessoal” em outras esco

las, notei o quanto é reco

rrente d

e ideia, entre gestores e professores,

de que os docentes de S

ociologia e da á

rea de H

uman

as como um

todo, tem m

ais facilidade

em gera

r discussões na escola sobre tem

as delicad

os e contem

porâneos.

Diante das diversas sociabilidades juvenis e pro

blem

as sociais que emergem

na

escola, a ressignificação

das práticas escolares po

ssibilitada pela Sociologia

pode ser um

importante instrum

ento para sua le

gitimação cu

rricular. E

mesm

o que m

uitos professores de

outras áreas e gestores geralmente considerem

que c

ompre

ender a dinâm

ica social e histórica

do bairro, da cidade ou do país “é com vo

cês das H

um

anas”, nós, da áre

a de Hum

anas e d

a

Sociologia, assum

imos o papel de revelar o que “é c

om o pessoal da S

ociologia/Hum

anas” e,

58

principalmente, o qu

e “é com

todos nós”. Nesse sent

ido, a Sociologia

assume, no currículo,

uma centralidade

de que

stionamento sobre o

papel da

escola na

sociedad

e e o p

apel de cada

sujeito na realidade escolar, com

isso dimensiona a

s relações entre

os indivíduos e suas

biografias com

as estruturas sociais e su

a história.

Portanto,

a presença

d

a S

ociologia no

currículo

encontra

limites,

mas

abre

possibilidades à escola, resultantes da própria ca

pacidade d

esta ciência d

e interrelacionar os

acontecimentos privados dos indivíduos com

as condições públicas ou com

partilhadas na

socialização por instituições e outras instâncias. S

e as escolas são somente um

a parte do

processo de socialização, a S

ociologia assume um

papel estratégico de conexão entre a

instituição escolar e as necessidades form

ativas ap

resentadas por outras instâncias, para

resgatar ou reconstruir os sentidos sociais de exis

tência da escola.

3.2 S

OC

IOLO

GIA

E A

FR

ICA

NID

AD

ES

NA

ES

CO

LA

Se aprofundarm

os a compreensão sobre o currículo es

colar e suas relações com

as

experiências sociais

ma

is am

plas, com

o a

socializaç

ão juvenil,

podem

os elenca

r outros

elementos de ressignificação d

as práticas escolares

que dem

onstram possibilidades aberta

s

pela Sociologia n

este caso.

Pensar assim

implica reconhecer que a presença dest

a ciência no currículo escolar

já é, por sua natureza problematizadora do m

eio social, um

a oportunidade de pensar o

currículo. Pensá-lo, inclu

sive, em sua dim

ensão simbólica de seleção cultu

ral (de conteúdos,

modos

de a

gir e

expectativas

educacionais), que

contribui

para

a hierarquização

das

experiências sociais.

O

reconhecim

ento de

tal hierarquização

reconfigura

a rela

ção dos

docentes com os jovens alunos ao m

esmo tem

po em

que possibilita novas concepções d

e

currículo escolar

Reco

nhecer

que

tod

o

conh

ecime

nto

é u

ma

p

rod

ução

soc

ial, p

rod

uzido

e

m

experiências so

ciais e que to

da exp

eriência social

pro

duz co

nhecime

nto p

od

e nos

levar a estratégias de reco

nhecim

ento

. Sup

erar visões d

istanciad

as, segregad

oras d

e exp

eriências, de co

nhecim

ento

s e de co

letivos h

um

ano

s e pro

fissionais. R

econ

hecer q

ue há um

a pluralid

ade e d

iversid

ade e não

um

a hierarq

uia de exp

eriências hu

mana

s e

de

coletivo

s, q

ue e

ssa d

iversidad

e d

e exp

eriências

é

um

a riq

ueza p

or

que

p

rod

uzem u

ma rica d

iversida

de d

e conhecim

ento

e de

form

as de p

ensar o

real e de

pensar-no

s com

o hu

ma

nos. (A

RR

OY

O, 2

01

3, p

. 117

) N

o contexto escolar, a em

ergência de re

conhecimento

étnico ou da afirmação d

e

identidade negra no que

implique este reconhe

ciment

o em term

os sociais e culturais é um

59

elemento pertinente d

a ressignifica

ção do currículo. N

este sentido, o docum

ento preliminar da

Base N

acional Com

um C

urricular, reitera no E

nsino M

édio o reconhecimento da diversidade

étnica brasileira

Essa etap

a da fo

rmação

, segu

ndo

a LDB

e as Diretrizes N

acio

nais Curriculares p

ara

o E

nsino M

édio

, deve co

ntemp

lar tem

áticas relativa

s às m

anife

stações culturais

regionais, à histó

ria e às culturas afrod

escententes (Lei nº 1

0.6

39

/03) e ind

ígenas

brasileiras (Lei nº 11

.645

/08

), com

o ele

mento

s funda

me

ntais para o

convívio

com

a

diversid

ade. (B

RA

SIL, 2

01

5, p

. 240

)

A S

ociologia, nesse cenário, tem

com um

de seus objetivos “problem

atizar as

relações étnico e ra

ciais e seus desdobram

entos na

estrutural desigu

al da sociedade brasileira”

(BR

AS

IL, 2015, p. 300). N

as escolas Alfa e

Beta

, este objetivo é contem

plado em

atividades

pedagó

gicas que, na m

aioria das vezes, acontecem

em alusão a datas co

mem

orativas. Então,

próximo ao dia da consciência ne

gra, 20 de nove

mbro

, vemos a

questão étnico racial send

o

abordada em tais escolas.

No segundo sem

estre de 2014, tive a prim

eira oportunidade de contribuir neste

sentido na

escola B

eta. E

m

novembro,

a sem

ana cultu

ral da

escola foi

realizada e

a

consciência negra foi o tem

a atribuído às turmas de 1º ano. C

ada turma teve que produzir um

conjunto de apresentaçõ

es que, expostos em um

a manh

ã em cada sala

, demonstraria

seus

conhecimentos e reflexõe

s sobre o tema.

Na ocasião, notei, junto com

outros colegas da á

rea de H

umanas, a ênfase dad

a

pelos alunos à escravidão, aos abusos sofridos p

elos ne

gros africanos qu

e vieram ob

rigados

constituir a nação brasileira. N

ão ne

gávamos a

impo

rtância da mem

ória deste processo

traumático em

nossa história tão bem abord

ada pelos

jovens, mas ob

servávamos qu

e a

identidade ne

gra

na fo

rma

como

com

preendia

m

estava

sempre

con

ectada

ao contexto

colonial, sem, ne

cessariam

ente, desdobrar-se em m

ecanism

os de identificação atual com os

grupos marginalizados em

questão. Os negros, na vis

ão apresentada pelos jovens, eram

“eles”, “os africanos” e não “nós”, “os afro

-brasile

iros”.

Durante

as aulas

de S

ociologia, sem

pre qu

e

abordava

questões

raciais,

o

posicionamento contrá

rio às práticas racistas era

generalizado entre os alunos. A

inda assim,

frequentemente, lidei co

m situações de racism

o em s

ala de aula, principa

lmente por m

eio de

piadas. A socialização colonizada da m

aioria dos brasileiros, com

referências escolares e

culturais com

o um

todo

direcionadas às

heranças

eur

opeias, asso

ciada à

realidad

e

socioeconômica d

e garantia de direitos básicos dive

rsificada no caso de

brancos e ne

gros,

contextualiza as piadas que ouvi. Por enxergá-las c

omo possibilidades de reflexão, m

e utilizei

60

várias vezes destas piadas para am

pliar a noção de

racismo dos jovens, evidenciando com

o

esta prática é invisibilizada nos seus discursos.

Na escola A

lfa, em 201

5, tentamos am

pliar o debate

sobre tal questão com

a

realização da I Sem

ana de H

umanidades, intitulada “

Africanidad

es: cultura e resistência

negra”. D

ecidimos

que a

realização seria

logo

após as

férias de

julho, para

escapar

à

concepção com

emorativa

ou meram

ente ilustrativa do

debate em função

do dia da consciência

negra. A

pro

gramação

da S

emana,

que

durou

três dias

, foi

variada:

no prim

eiro dia

,

realizamos um

a mesa redonda com

o tema “o negro no

Brasil hoje” e

exibimos o longa

metra

gem “Q

uanto vale ou é por quilo?

”1

4 para sucintar o debate.

No se

gundo dia, realizam

os a oficina “E

stética negr

a e os turbantes”, realizada po

r

pesquisadora convidada com

alunos, professores e dem

ais funcionários da escola. N

o dia de

encerramento, os alunos do turno da m

anhã apresentaram

uma produção teatral própria,

intitulada “Afrodescende

nte eu sou”, que abordava as várias dim

ensões da questão racial e

dos prejuízos da escravidão no país. A

lém disso

, todos os estudantes da

escola re

alizaram

produção textual com o tem

a “A im

portância do

respeito às religiõ

es afro-brasileiras” como

atividade generalizada

e de

avaliação da

participação

na

Sem

ana.

O reconh

ecimento d

as diferentes experiências étnico

raciais de nossa cultura por pa

rte dos

jovens, que dem

onstraram

os desdobramentos cotidian

os da questão, a saber, as m

últiplas

formas

de ra

cismo

e suas

“invisibilidades” no

contexto

escolar, não

aconteceu sem

resistências. Alguns alun

os se queixavam que “não a

guentavam m

ais ouvir falar de ne

gro”,

outros argumentavam

que não precisa

ria daquela sema

na porque “nós já sabemos que existe

preconceito, não precisa

deixar de ter aula pra diz

er isso não”, e també

m houve os que não

compare

ceram à escola d

urante os dias da Sem

ana

de H

umanidades.

Mesm

o com

a

resistência

de alguns

dos jovens,

a S

eman

a contribuiu

à

problematização d

as relações étnico

raciais na

escola. M

uitos alunos que estiveram

presentes

naquele evento enfatizaram a desconstrução de suas

afirmaçõ

es e posturas racistas até então

imperceptíveis. M

eses depois, no m

ês de novembro, ao produzirem

pesquisas e apresentaçõ

es

culturais que compuse

ram

a Feira cultural d

a escola A

lfa, os jovens retomaram

muitas das

reflexões da Sem

ana de

Hum

anas, tanto no esforço empreendido por a

lgumas turm

as em

14 S

inop

se “Qua

nto vale o

u é p

or q

uilo?

”: Um

a analo

gia e

ntre o antigo

com

ércio d

e escravos e a atua

l explo

ração

da m

iséria p

elo m

arketing so

cial, que fo

rma

um

a sol

idaried

ade d

e fachada. N

o século

XV

II um

capitão

-do

-mato

cap

tura um

escrava fu

gitiva, que está grávid

a. Ap

ós

entregá

-la ao seu

do

no e receb

er sua reco

mp

ensa, a

escrava

ab

orta o

filho q

ue espera. N

os d

ias atuais um

a ON

G

imp

lanta o p

rojeto

Inform

ática na P

eriferia em

um

a

com

unid

ade

carente. A

rmind

a, q

ue trab

alha no

p

rojet

o, d

escob

re q

ue o

s co

mp

utado

res co

mp

rado

s fo

ram

sup

erfaturado

s e, po

r causa d

isto, p

recisa agora se

r elimina

da. C

andinho

, um

jove

m d

esem

pre

gado

cuja esp

osa

está grávid

a, torna-se m

atado

r de alug

uel para co

nse

guir d

inheiro p

ara sob

reviver. Direção

: Sérgio

Bia

nchi, 2

00

5.

61

diagnosticar o racism

o na escola, como p

elas relações entre juventude

, violência e ra

ça

verificadas a partir da p

rodução teatral dos alunos do 2° ano da tarde. A

presenta-se, m

ais uma

vez, a diversidade da co

ndição juvenil caracterizando as dife

rentes relações dos jovens das

escolas Alfa e B

eta com

a questão racial e cultural

, seja de seu país, seja d

e seu bairro. Assim

,

devemos considerar que

Ap

esar do

s avanço

s sociais o

corrid

os no

Brasil na ú

ltima d

écada, aind

a assistimo

s a

um

a

realidad

e e

m

que

as p

olíticas

púb

licas a

inda

não

lo

graram

sup

erar as

desig

ualdad

es sociais q

ue aind

a persiste

m e q

ue afeta

m d

iretam

ente as trajetó

rias de

vida d

e milhõ

es de jo

vens. É p

arte dessa juve

ntude

que

chega, a cad

a ano o

u

sem

estre, ao

ensino m

édio

, trazendo

para seu interi

or o

s conflitos e co

ntradiçõ

es de

um

a estrutura social exclud

ente que interfere e

m su

as trajetórias escolares e im

em

no

vos d

esafio

s à escola. (D

AY

RE

LL; C

AR

RA

NO

; MA

IA, 20

14, p

. 11

4)

Nesse âm

bito, a S

ociologia é uma disciplina qu

e possibilita o diálogo sobre a

s

diferentes condições juvenis, até mesm

o quando se referem

a desigualdad

es sociais e raciais.

Lidando com o desafio próprio de tornar significati

vo para os jovens tanto sua experiência

social mais am

pla quanto sua experiên

cia escolar, o

conhecim

ento sociológico

ressignifica o

currículo escolar, dentro e fora d

a sala de aula.

A

I S

emana

de

Hum

anidades

foi organizada

por

mim

e

por outros

dois

professores (respectivamente de H

istória e G

eografi

a). O pro

fessor Ro

berto propôs uma

atividade de produção te

xtual com os alunos do 8° a

no, mas não p

articipou da elaboração das

atividades que envolviam

o Ensino M

édio (as que citei anteriorm

ente). Nos dias de sua

realização, a Sem

ana foi colaborativa, sendo

que os

professores de outra

s áreas e

mesm

o o

núcleo gestor e os demais funcionários atuara

m tant

o como articuladores (contribuindo e

organizando as atividades, os alunos, etc.) qu

anto

como “público-alvo” (incorpo

rando a

postura de aprendizagem

e curiosidade esperad

a, a priori, som

ente dos alunos). Este fato

revela o quanto

Os p

róp

rios p

rofesso

res não são

mero

s transmisso

res fiéis d

e conhecim

ento

s po

r o

utros

pro

duzid

os,

acum

ulad

os

e selecio

nado

s. E

ssa visão

d

o

con

hecimen

to

curricular nega ao

s pro

fessores ta

mb

ém

sua cond

ição d

e sujeitos d

e experiências e

d

e indagaçõ

es, reduzind

o-o

s a transmisso

res passivos. N

ão se aceitare

m p

assivos é

u

m

do

s a

vanços

mais

esperançad

ores

no

fazer ed

ucativo

e

nos

pro

cessos

de

aprend

er. (AR

RO

YO

, 20

13

, p. 15

3) P

roblematizando

suas próprias

posturas e

tirando

dúvidas

em

mom

entos

de

debates na m

esa redonda e na

oficina de turban

tes, tanto professores de

outras áreas como

funcionários que atuam

na secretaria da

escola, na cantina ou n

a sala de m

ultimeios revelaram

uma apropriação produtiva da discussão étnico racia

l. Tal apropria

ção revelou o quanto a

abordagem

da história e

da cultura afro-b

rasileira na escola não deve se lim

itar ao domínio

específico das ciências hum

anas. Am

pliando a abord

agem

para os sujeitos da escola com

o

62

um todo, contribuím

os para a problem

atização de

suas experiências e iden

tidades sociais em

meio a diversidade so

cial.

A

afirmação

e

em

ergência

de

sujeitos

nas salas

de

au

la aco

mp

anha

m

a te

nsa

em

ergência

e

afirmação

d

a d

iversidad

e d

e sujeito

s s

ociais,

étnicos,

raciais, d

e gênero

, cam

po

, periferias m

an

tido

s em

longa

s e histó

ricas ausências e o

cultam

ento

s. [...] Q

uando

os sujeito

s da ação

educativa se m

ostr

am

diverso

s reconhecíveis e

críveis

as alternativas

ped

agógica

s, curriculares

são

p

ressionad

as p

ara sere

m

diversas.

Do

reco

nhecim

ento

d

essa rica

diversid

ade

de

sujeitos

po

derá

vir o

enriq

uecime

nto d

os currículo

s e a dina

mização

das s

alas de aula

e das e

scolas.

(AR

RO

YO

, 20

13

, p. 14

8)

N

esse sentido, envolvida na S

eman

a de H

umanid

ades e em

parceria com

colegas

de outras áreas, experienciei neste

mom

ento a po

sição de

socióloga n

a escola, sobretudo nos

diálogos com cole

gas professores sob

re a im

portância do tem

a em qu

estão e na sensibilização

dos jovens para a natureza curricular dos debates,

oficinas e apresentaçõe

s realizados. Então,

ampliando o espaço

de influência d

a Sociolo

gia para além

da sala

de a

ula, observamos a

potencialidade deste con

hecimento na p

roblematizaçã

o das experiências e identidades sociais,

sejam dos jovens alunos, sejam

dos adultos profissionais que atuam

na escola.

A adaptação à rotina escolar de tem

as como as juven

tudes e a diversidade étnico

racial brasileira mobilizou os saberes e experiênci

as acumulados pelos vários agentes sociais

das escolas Alfa e B

eta. Se olharm

os as (re)signifi

cações do currículo escolar possibilitadas

nos dois casos como evid

ência de form

ação cotidiana

do currículo, conh

eceremos a escola em

sua dim

ensão produtora

de rela

ções sociais,

e não

som

ente com

o reprodutora

das

desigualdades verificada

s fora de seus muros. A

seguir, ap

rofundarem

os o debate sobre esta

dimensão produtiva ao d

iscutir os métodos e

concepç

ões de

ensino e suas rela

ções com o uso

do livro

didático co

mo

material

principal

no cotidi

ano escola

r. A

tentando

aos

condicionamentos estruturais do ensino, no entanto,

analisaremos as p

erspectivas para o

currículo escola

r com

as

mudanças

importantes

na ge

stão do

sistem

a escolar

cearense

verificadas no ano letivo de 2016.

63

4 E

NS

INO

D

E

SO

CIO

LOG

IA

E

SU

AS

P

ER

SP

EC

TIV

AS

N

O

CU

RR

ÍCU

LO

ES

CO

LAR

Até aqui, observando a disciplina de S

ociologia sob o ponto de vista do currículo

escolar, vimos que

os sentidos político-educacion

ais em

que se inserem as escolas A

lfa e Beta

no sistema escolar cea

rense e as possibilidades d

e revisão dos sab

eres e práticas escolares a

situam com

o fator problem

atizador, desnaturalizante das relaçõ

es escolares, lo

go sociais.

Ainda assim

, a Sociologia está subm

etida a condições de exercício com

uns aos demais

saberes e próprios à sua recente inclusão no Ensino

Médio. A

o final do ano letivo de 2015, a

SE

DU

C apresentou novas condições e novas po

ssibilidades ao currículo

escolar que pode

m

impactar e/ou se

rem im

pactados pela consolidação da

disciplina de Sociologia.

A portaria 1169/2015 q

ue estabeleceu as norma

s de lotação dos professores d

a

rede estadual trouxe mudanças estruturais às escola

s, a saber, a redução do número de

professores lotados nos centros de multim

eios e nos laboratórios de inform

ática e ciências e o

cancelamento da atribuição do professor coo

rdenador d

e área (PC

A). A

pós resistência e

mobilização de coletivos de pro

fessores e sindicato, a porta

ria foi corrigida

parcialmente com

a criação de um

a nova atribuição: o professor coo

rdenador d

e assuntos escolares (PC

E).

A redução do quad

ro de professores nos vários espaços educativos da escola

impactou, em

muitas escolas da rede, no acesso dos

jovens aos recursos destes espaços, um

a

vez que muitos passaram

a ficar fechados em determ

inados turnos, dada a ausência d

e

profissionais. O P

CA

, que tinha a m

etade d

e sua car

ga horá

ria destinada ao

acompanh

amento

das atividades pedagó

gicas de sua área, deixou de e

xistir e deu lugar ao PC

E, que não é

atribuído por área, mas por um

a proporção de 2

0 professores para cálculo de quantos P

CE

’s

precisa cad

a escola. Alé

m das dem

andas p

edagógicas,

o cancelamento da função d

e PC

A

reestruturou o próp

rio contingente de p

rofessores q

ue, no mom

ento da lotação, am

pliou a

carga horária de m

uitos efetivos em

sala de aula e ge

rou o desemp

rego de m

uitos profissionais

contratados em re

gime te

mporário.

A portaria de

lotação, que gerou

muito polêm

ica e descontentam

ento nas escolas

da rede estadual, logo, nas escolas Alfa e B

eta, dem

onstrou o quanto m

esmo as condiçõe

s

estruturais do sistema de

ensino são flexibilizados em

decorrência de nece

ssidades políticas e

sociais. Vivendo um

a crise econôm

ica e política, o

Estado brasileiro

passa por um

mom

ento

de ajuste fiscal, que inclui a redução de despesas, e neste intento, a portaria instrum

entalizou

mudanças na articula

ção das responsabilidades pedag

ógicas do am

biente escolar. A realidad

e

conflituosa surgida após a publicação da portaria c

onsolida o argumento d

e que a escola é um

64

campo de forças e d

e lutas “no interior do qual os

agentes se enfrentam

, com m

eios e fins

diferenciados conform

e sua posição na estrutura do cam

po de forças, contribuindo assim para

a conservação ou a transformação d

e sua estrutura”

(BO

UR

DIE

U, 2011b, p

. 50).

No que diz respeito à transform

ação do

sistema de e

nsino podemos verifica

r

ainda, a amplia

ção de escolas regula

res em tem

po in

tegral a partir do ano

letivo de 2016. Em

atendimento à m

eta do Plano N

acional de Edu

cação que pretend

e ampliar para 50%

o total de

escolas em

tem

po inte

gral, 26

escolas do

C

eará

tiveram

sua

carga

horária am

pliada.

Considerando a ênfase nos resultados de

avaliações

externas alcançado

s pelas escolas de

diferentes modalidades do sistem

a de ensino cearens

e, tal ampliação p

ode significar um

a

mudança nas posiçõ

es ocupadas por cada escola neste

caso.

A m

udança político-peda

gógica representada po

r estas novas escolas inte

grais não

foi abordada ou discutida

na escola Beta n

em por ag

entes da S

ED

UC

, nem entre núcleo gesto

r

e professores.

No

entanto,

as possibilidades

de am

pliação

desta

mo

dalidade de

ensino

reiteram as necessidades de contextualização dos pr

ocessos educativos. F

undamentad

a nas

dimensões do prota

gonismo juvenil e d

a aprendizagem

cooperativa

na rotina escolar, a nova

realidade

das escolas

da rede

que

se inicia

este

ano

dem

onstra a

importância

d

e

(re)significação do conhecim

ento escolar.

A configura

ção da relaçã

o entre a SE

DU

C e as escola

s de modalidades diferente

s

e, especificamente no ca

so das escolas regulares integrais, das novas e da m

ais antiga (Beta)

pode ser avaliada futura

mente a pa

rtir do impacto d

estas mudanças apresentadas no início d

e

2016. No entanto, estas m

udanças são novos caminhos

ou perspectivas que se abrem no

sistema escolar em

que se incluem

as escolas Alfa e

Beta. A

seguir e ain

da subsidiada pelas

vivências re

gistradas

até o

final de

2015, discutir

emos

como

tem

sido a

inclusão da

Sociologia no currículo

escolar a partir de seus conteúdos, m

étodos e recursos didáticos.

Nesta pesquisa, inciam

os analisando as condições e lim

ites institucionais do currículo escolar

e da Sociolo

gia inclusa n

este. Avan

çamos refletin

do sobre as possibilidade

s de ressignificação

destas condições, a partir da problematização pela

Sociologia da diversidade juvenil e étnico

racial. Ago

ra concluirem

os a discussão com um

balanço de com

o o ensino de Sociologia e

m

Alfa e B

eta se articula, na prática cotidiana, entr

e os limites e as possibilidades encontrados.

65

4.1 C

UR

RÍC

ULO

DE

SO

CIO

LOG

IA N

AS

ES

CO

LAS

ALF

A E

BE

TA

Quando

tratamos

de

que

conteúdos devem

se

r m

inistrados

na

disciplina

de

Sociologia, devem

os considerar os papéis prim

ordiai

s da disciplina no Ensino M

édio, a saber,

a desnaturalização e o estranhamento das rela

ções sociais.

Um

pap

el central que o

pen

sam

ento

socio

lógico

realiza é a d

esnaturalização d

as co

ncepçõ

es o

u exp

licações

do

s fenô

meno

s so

ciais. H

á

um

a te

ndência

sem

pre

reco

rrente a se explicare

m as relaçõ

es sociais, as

instituições, o

s mo

do

s de vid

a, as

ações hu

ma

nas, coletiva

s ou ind

ividuais, a estrutur

a social, a o

rganização p

olítica,

etc. com

argu

mento

s naturalizado

res. Prim

eiro, p

erde-se d

e vista a historicid

ade

d

esses fenô

meno

s, isto

é,

que

nem

se

mp

re fo

ram

assi

m;

seg

undo

, q

ue certas

mud

anças o

u contin

uidad

es histó

ricas deco

rrem d

e de

cisões, e essas, d

e interesses,

ou seja, d

e razões o

bjetivas e hum

anas, não

send

o f

ruto d

e tendência

s naturais. (...) O

utro p

apel q

ue a S

ocio

logia

realiza, ma

s não exclusiva

me

nte ela, e que

está ligad

o

aos o

bjetivos d

a Filo

sofia e das C

iências, h

um

anas ou natu

rais, é o estranham

ento

. N

o caso

da S

ocio

logia, está

em

causa o

bservar q

ue os fe

nôm

eno

s sociais q

ue

ro

deiam

a tod

os e d

os q

uais se particip

a não são

de

imed

iato co

nhecido

s, po

is ap

arecem

com

o

ord

inários,

triviais, co

rriqueiro

s, n

orm

ais, se

m

necessid

ade

de

exp

licação,

aos

quais

se está

acostu

mad

o,

e q

ue na

verd

ade

nem

são

vistos.

(BR

AS

IL, 20

06

, p. 6

5)

Estas atribuições d

as Orientações C

urriculares Na

cionais de S

ociologia ap

ontam o

sentido epistemológico da disciplina no E

nsino M

édio. A

inda assim, tais orientaçõ

es não

apresentam um

a lista ou sequência

de conteúdos para

a disciplina, a partir da p

remissa d

e que

o caráter oficial assumido pudesse convertê-la

em

orientação obrigató

ria, logo

aceita ou não

por esse motivo. A

s OC

NS

orientam ainda que os reco

rtes metodológicos m

ais utilizados nas

práticas de

professores

e m

ais citados

nos livros

e

em

outras orie

ntações

no caso

da

Sociologia, a saber, os co

nceitos, os temas e as te

orias, sejam abordados relacionalm

ente, com

o rigor necessário.

Ao tratar d

e orientaçõe

s oficiais para o ensino de S

ociologia, os Parâ

metros

Curriculares N

acionais (P

NC

S, de 1999) orienta

m m

ais diretam

ente sob

re o que e

como

ensinar. O texto apresenta perspe

ctivas diversas da

análise sociológica, situando o debate nas

Ciências S

ociais, incluindo Ciência P

olítica e Antr

opologia. Inspirado neste Parâm

etro, as

orientações curricula

res do Ceará atribuem

a cada a

no do Ensino M

édio os temas sugeridos.

Distribuem

-se de

man

eira que

no 1º

ano a

aborda

gem

é sobre

a contextualização

da

Sociologia e dos autores clássicos (D

urkheim

, Marx

e Weber); no 2º ano

orienta-se para os

temas refe

rentes âs relações de poder, cidadania, Estado, em

suma, tem

as próprios da ciência

política e no 3º ano, a aborda

gem é sobre a cultura

e sobre a sociedade brasileira sob o viés

antropológico.

66

Tanto nas O

CN

S, quanto nos P

CN

S e nas orientações d

o Ceará, o im

pacto das

tecnologias e as diferentes possibilidades de práticas de ensino no caso da S

ociologia são

evidenciados. A

lém

disso, nenhum

destes

documentos

é

apresentado

como

única

possibilidade ou regra para aplicação p

elos professores da disciplina, u

ma vez que m

esmo

estabelecendo uma coesã

o sobre o caráter da S

ociologia e seus conteúdos, todos enfatizam

a

importância de

uma ap

ropriação crítica, criativa

e adaptada às condiçõ

es de cada escola po

r

parte dos docentes.

As orientações oficiais reconhe

cem com

o vantagem

o fato de a disciplina de

Sociologia não te

r ainda uma sequência padrão estab

elecida para cad

a série comum

a maioria

dos professores.

Já na

época d

e P

IBID

, eu

reconheci

a esta

realidade

quando

ouvia os

professores supervisores revelando sobre seus currí

culos, sobre o que ensinavam. N

ão havia

currículo igual a outro, em

bora houvesse muitas sem

elhanças. A divisão de tem

as próprios da

Sociologia no 1º ano, tem

as próprios da Ciência P

olítica no 2º ano e tem

as próprios da

Antropologia

no 3º

ano

que eu

atribuíra à

disciplina

na época

da

licenciatura

foi

complexificada quando ingressei na carreira do

cente

, o que revela

Co

mo

os esp

aços esco

lares realme

nte são lu

gares de

reconstrução

do

conhecim

ento

e

da

prática

prefigurad

a p

elos

currículos,

imp

osto

s

de

fora

da

instituição

ed

ucacional. C

om

o co

nseq

uência, o

ensino e o

próp

rio

currículo são

entend

ido

s co

mo

um

pro

cesso d

e constru

ção so

cial na prática. (

SA

CR

IST

ÃN

, 20

13

, p. 19

0)

A

inda que não haja uma im

posição propriamen

te dita para que os professore

s

sigam as orientaçõ

es oficiais, a percepção d

e que o

s fatores institucionais condicionam o

currículo é fundam

ental para captarmos a hetero

geneidade n

a seleção de conteúdos própria à

Sociologia (M

EU

CC

I&B

EZ

ER

RA

, 2015). Neste aspecto, a

ênfase na prática escolar não

exclui as influências de agentes externos à escola, que condicionam

mutuam

ente o cenário do

currículo em cada saber

A

op

osição

entre currículo e

prática igno

ra, po

rtanto

, a com

ple

xidad

e da o

rde

m

legal, além

de ser ind

iferente às co

nexões e

ntre os

diverso

s órgão

s op

erantes. Há

d

iversas ord

ens legais, assim

com

o d

iversas p

ráticas, send

o q

ue, por vezes, certas

legalidad

es legitim

am

determ

inadas p

ráticas com

o ta

mb

ém

o co

ntrário é verd

adeiro

. (...) O

pro

cesso ed

ucativo se realiza ta

mb

ém

na ação

de o

utros agente

s e instituiçõ

es e nu

m trânsito

com

plexo

entre o

Ministério

da E

duca

ção e suas autarq

uias, as

universidad

es, as ed

itoras e a

s escolas. O

mu

ndo

lega

l, oficial e b

urocrático

não é

m

enos rico

e me

nos co

ntraditó

rio d

o q

ue a prática e

scolar. (M

EU

CC

I&B

EZ

ER

RA

, 2

01

5, p

. 91

) N

a complexa red

e de posições a tom

adas de p

osição que envolve o currículo,

Meucci

e B

ezerra (201

5) cham

am

atenção

pa

ra políticas

curriculares que

atuam

como

“estabilizantes” no caso do currículo de S

ociologia

. São estas políticas o P

lano Nacional do

Livro Did

ático (PN

LD), o E

NE

M e o m

odelo de form

açã

o das Licenciaturas no B

rasil

67

(“3+1”, ou disciplinas b

acharelescas acrescid

as de

disciplinas pedagó

gicas nos cursos). Longe

de impactarem

somente positivam

ente na legitim

ação d

a disciplina, estas políticas contribuem

significativamente em

sua configuração curricular.

Assim

, pensando no processo de construção do curríc

ulo, o livro didático e a

abordagem

avaliativa do

EN

EM

são fund

amenta

is, muit

as vezes exercendo um

papel mais

central do que as orientações e parâm

etros direcion

ados para tal. Além

destes fatores, em

minha prática, os tem

as a serem

abordados em cada série

são subordina

dos à realidade de

cada escola. Mesm

o adotando o m

esmo livro didático

nas escolas Alfa e B

eta, a aborda

gem

dos conteúdos

pode

mudar

significativam

ente. S

e con

siderarm

os as

realidade

s

socioeconomicas

e culturais

dos alunos

em

cada esco

la, lo

go nos

confrontaremos

com

diferentes formas d

e lidar com o m

undo do trabalho,

com as relaçõ

es de poder, com as

diferenças culturais, etc. M

esmo que para cada esco

la seja necessário um

currículo próprio, o

cotidiano da

sala de

aula reconfigura

este cu

rrículo

quando em

erge

a necessidade

de

aprofundar, o que im

plica levar mais tem

po e mais aulas, alguns conteúdos.

A elabora

ção do plano curricular anual nas escolas A

lfa e Beta é com

partilhada

pelos professores da disciplina antes do início das aulas, na S

emana P

edagó

gica de cad

a

escola. Em

um dia, discutim

os que temas são m

ais pertinentes para cada

série, focalizando o

livro didático por este ser o m

aterial didático principal – e ás vezes único – dos alunos. N

a

escola Alfa, esta discussão não foi presencial com

o professor R

oberto, uma vez que nos dias

destinados a isso pela escola, eu ainda não esta

va lotada e lá trab

alhando, então, já após o

início das aulas nos comunicam

os sobre o currículo, m

as sem alterar ou correspond

ê-los em

nossas turmas (as do

professor Robe

rto no turno da m

anhã e as m

inhas no turno da ta

rde).

Este professor revelou a interdepend

ência da elabo

ração d

e seu currículo com

o livro didático

“Eu p

ego o

escola ap

rendente e o

livro e tento

adeq

uar o p

ossível, m

as não d

á. Ai e

u

acabo

pegand

o essa o

rde

m e d

ividind

o, p

orq

ue aqui (

com

o livro

did

ático

em

os

) já está b

em d

ividid

o aí acab

a ficando

do

is capítulos p

ara cada b

imestre, acab

o fazend

o to

do

o p

lano e

m cim

a do

livro, p

orq

ue é o q

ue ele te

m, é

po

r ond

e vai

estudar. E

u d

ivido

os cap

ítulo

s, divid

o o

s bim

estres e no

rmalm

ente fica

m d

ois o

u

três po

r bim

estre. A ge

nte resu

me

aqui, resu

me

acol

á, fala meno

s um

a coisa, m

as d

á. C

om

o

são

apenas

do

is cap

ítulos

e o

b

ime

stre é

grande

, às

vezes eu

fico

me

rep

etindo

, porq

ue se eu andar eu já entro

no o

utro

bim

estre.” (p

rofesso

r Ro

berto

)

Nota-se que há um

a correspondência entre currículo

e livro didático no caso da

prática do professor Roberto. A

inda que implique su

bordinação dos conteúdos e m

etodologias

ao livro didático, esta correspondên

cia pode ser co

nsiderada uma estraté

gia de legitim

ação da

Sociologia, considerando

a inserção recente do livro neste caso. T

al estratégia é tanto pessoal

quanto social no caso

da atua

ção docente: nas disci

plinas com trajetória m

ais estável na

Educação B

ásica, os consensos entre

os professores sobre qu

e conhecimen

tos serão abordados

68

são consolidados e isto se deve, em boa parte, ao u

so já tradicional do livro didático (que,

nestes casos, costuma se

r dividido em volum

es difer

entes para cada série

). Podem

os inferir

que no uso intensivo do livro didático está implicada um

a apropria

ção de professores com

o

Roberto ou aqueles que lecionem

Matem

ática ou G

eografia, das políticas (P

CN

’s, OC

N’s)

que regulam

entam as respectivas disciplinas, o que

Tem

a ver com

a tentativa d

os livro

s did

áticos d

e resp

onder co

m e

ficiência ao

s o

bjetivos m

arcado

s no currículo

, e as pro

po

stas de

atividad

es que são

feitas no

s m

esmo

s con

stituem

um

a espécie d

idática d

e circuito

fechado

no q

ual o q

ue se p

ropõ

e no livro

determ

ina, em gra

nde m

edid

a, o d

esenvo

lvimen

to curricular e

m

aula. (SA

CR

IST

ÁN

, 20

13

, p. 2

17

)

Com

preender se a aprop

riação das políticas curricul

ares para cada disciplina via

livro didático por parte dos professores é direta

ou indireta, problem

atizadora ou não das

sequências e abordagens do livro exige investigar s

uas práticas cotidianas. Um

a investigação

desta natureza pode contribuir, em

outros estudos, à com

preensão singular da inclusão do

livro didático e seus significados nas disciplinas escolares. N

a reflexão realizada aqui, no

entanto, o relato dos professores Roberto e Lu

cas são revelado

res da influência do livro

didático na consolidação do ensino de

Sociologia

, constituindo-se um

olhar prelim

inar sobre

esta influência.

Na escola B

eta, pela coincidência no ho

rário de planejam

ento semana

l e pela

participação na Sem

ana Pedagó

gica, eu e o professor

Lucas unificam

os o currículo anual das

turmas de 1º ano

(nas quais leciono) e ele

elaborou

por si só o plano

para a

s demais sé

ries. Na

ocasião, combinam

os que o últim

o mês de aulas do an

o letivo ficaria livre sob o título de

“revisão”, já prevendo que os tem

as previstos a cada m

ês pudessem se prolonga

r mais em

decorrência do tem

po reduzido da aula e de outros a

contecimentos relativos à escola, com

o

feriados. Além

disso, nas turm

as de 2º e 3º ano, L

ucas seguiu a m

esma sequência tem

ática

que descrevo ter utilizado na escola Alfa. E

ssa coi

ncidência não aconteceu ao acaso, pois

conversamos

à epoca

d

e elabo

ração tro

cando opiniões

e,

meses

depois,

conhecemos

o

currículo um do outro e

notamos ser o m

esmo plano.

Lucas revelou qu

e sua elaboração é

fundamentada n

as Diretrizes E

staduais e em fontes d

iversas

“Eu elab

oro

através de leituras d

e algun

s livros q

ue são

recom

end

ado

s po

r outro

s a

migo

s, po

r algu

mas fo

ntes d

e p

esquisa

que

eu tiro

d

a internet, b

iblio

teca, ai eu faço

a elab

oração

do m

eu pró

prio p

lano, ló

gico q

ue orientad

o p

elas diretrizes q

ue são

citadas p

elo estad

o, sem

sair do

ma

nual q

ue é expo

sto

.” (professo

r Lucas)

O planejam

ento de abordagens pa

ra a disciplina de S

ociologia é heterogên

eo,

como sua própria história interm

itente no currículo

sugere. E

ntão, mesm

o que o livro didático

69

já esteja institucionalizado neste caso, a tendência de utilização de outras fontes para subsidiar

as aulas ainda é uma cara

cterística desta disciplina.

4.2 O

S C

ON

TE

ÚD

OS

SO

CIO

LÓG

ICO

S N

AS

ES

CO

LAS

ALF

A E

BE

TA

EM

2015

Na escola A

lfa, a escolha de conteúdos anuais o

u do plano anual, no m

eu caso,

contemplou som

ente as turmas da tard

e. O p

rofessor R

oberto, docente

de Sociologia

nas

turmas da m

anhã, adotou a sequência de temas do pla

no elaborado por mim

, logo, este

representa o currículo da

disciplina nesta escola no

ano letivo de 2015. D

ividido por bimestre

,

o plano de Sociologia apresentava com

o objetivo central “desenvolver a

crítica sociológica

diante dos

acontecim

entos

históricos e

dos fatos

cotidianos

em

sociedade,

a p

artir das

relações, instituições e

desigualdades d

a atualidade, sobretudo no conte

xto brasileiro.” Na

escola Beta, tam

bém con

figurou-se um

plano único para o currículo anual, um

a vez que, por

conversas e decisões, eu e Lucas adotam

os a me

sma s

equência de temas, no caso do 2º e 3º

ano (que eu lecionava som

ente na escola Beta).

No

1º ano,

no prim

eiro bim

estre é

abordado

o

contexto

de surgim

ento da

Sociologia e com

o se constitui seu olhar sobre a re

alidade, sob a perspectiva da socialização.

Este é um

mom

ento básico para a disciplina, pois é o prim

eiro contato de muitos jovens com

ela, o

que pode

despertar curiosidade

ou ave

rsão. P

or esse

motivo,

é tão

fundamental

sensibilizá-los a posturas que desnaturalizem o sen

so comum

, as relaçõ

es e organizações

sociais m

ais corriqueira

s e

mesm

o a

intolerância à

diferença. N

o se

gundo bim

estre, a

socialização é desdobrad

a na compre

ensão sobre as instituições sociais e

suas relações com

a

cultura, na constituição de papéis sociais, valores

, hábitos diferenciados historicamente em

cada grupo, nação ou re

gião.

No terceiro bim

estre do ano letivo, o tema cultura

é o destaque das discussões,

dando margem

a abordagens diversas: no sentido antr

opológico, explorando as diferentes

condições de existência humana em

contextos urbanos ou rurais, inte

rnacionais ou nacionais,

e de identidades e poderes constituídos por ca

da povo; no que diz respeito à estrutura

econômica e sua influê

ncia nas identidades culturais e na produção social das diferenças,

abrangendo tem

as como o consum

o, a influência do me

rcado nas identida

des sociais.

No quarto

bimestre, as visões de

mundo e

ideologias

aprofundam

o deb

ate sobre a

cultura, contextualizando as sociabilidades do mund

o globalizado e aprofundando aspectos d

a

cultura brasileira. A d

esigualdade ra

cial na história e no cotidiano fechou o ciclo de aulas do

70

ano e chamou a atenção

dos jovens que nos debates em

sala de aula colocaram contextos e

experiências de vida que dem

onstraram a com

plexidade do problem

a na atu

alidade.

Os conteúdos previstos para o 1º ano revelam

questões fundam

entais sobre a

disciplina de Sociologia: a im

portância de abordar

não só temas, m

as teorias e conceitos e a

possibilidade de

discutir as

juventudes no

próprio currículo,

quando

são abodadas

as

diferenças culturais ou raciais, por exem

plo. O contato com

diferentes interpreta

ções acerca

das socializações

e organizações

sociais é

a contribuição

teórica m

ais

exigida e

mais

particular à Sociologia. E

m escritos acadêm

icos, livros didáticos, recom

endações oficiais, a

abordagem

teórica é recom

endada, mas com

as ressalvas de não

-aplicabilidade universal das

mesm

as. O texto das O

CN

S reflete sobre o uso dos au

tores clássicos em sala de aula e de

outros autores

Há p

ossíveis interseçõ

es qua

ndo

tratam

do

s me

smo

s ob

jetos o

u se refere

m ao

s m

esmo

s conceito

s. No

entanto

, pod

e ocorrer aí o

po

sição e sig

nificação d

iversa, m

ostrand

o

que

eles não

co

incide

m.

Po

r vezes,

há ent

re esses

auto

res ‘vazio

s teó

ricos’, isto

é, fenôm

enos d

e que suas teo

rias não

dão

conta, q

uer pela inexistê

ncia

de tais fe

nôm

eno

s na épo

ca quer p

elos lim

tes d

a pró

pria teo

ria. Co

mo

se sabe, as

teorias resp

ond

em

aos p

rob

lem

as de sua ép

oca, e o

s auto

res dialo

gam

com

seu

tem

po

. Assim

, outro

s autores im

pulsera

m-se e ta

mb

ém

já po

dem

ser consid

erado

s clássico

s po

r que acre

scentara

m o

utros

mo

delo

s exp

licativo

s ou co

mp

reensivo

s acerca d

e fenôm

eno

s que o

u surgiram

dep

ois d

aqueles

auto

res pio

neiros o

u que els

não co

nseg

uiram

respo

nder o

u sequer circun

screver. A

ssim, d

epend

endo

do

recorte

que se faz, certo

s auto

res são o

brigató

rios e o

utros não

, inclusive aquele

s tido

s com

o

inconto

rnáveis,

sem

co

ntar q

ue certo

s auto

res co

ntem

po

râneos

trazem

e

m

suas

teorias referências im

plícitas à

quelas d

a tradição

. (B

RA

SIL, 2

00

6, p

. 11

5-1

16)

No 2º ano da escola A

lfa, no primeiro bim

estre o tem

a foi o trabalho e suas

formas de organização em

diferentes contextos históricos, sociais e políticos. N

o segundo

bimestre, o tem

a se particulaliza na aborda

gem

sobre o m

odo de produção ou sistema

capitalista, compreenden

do as influências m

ais cotidianas de sua

lógica e

m nossas vidas. E

m

um dos m

omentos de discussão sobre o trabalho e

as desigualdad

es, aborde

i em sala de aula a

música “R

ap do Silva”, de com

posição de M

C M

acinho, que aborda

as condições de vida da

maioria da popula

ção na

s grandes cidades a partir do dia na vida d

e um sujeito com

um. N

esta

ocasião, os alunos realizaram

conexões significa

tivas entre a m

úsica e os conceitos que

vinham sendo abordados em

outras aulas.

O

terceiro e

o quarto

bimestre

foram

destinados

à a

bordagem

das

relações

políticas, às formas de E

stado, ao contexto democrá

tico e aos movim

entos sociais e suas

relações com

a cidad

ania. No

período do te

rceiro bim

estre, a re

alização da I S

eman

a de

Hum

anas na escola, com o tem

a “Te

cendo africa

nidades”, m

obilizou as aulas de Sociologia

.

Logo, a discussão sobre cidadania e política no B

rasil foi situada em

relação à questão racial,

71

às desigualdad

es históricas

e

sociais n

este caso.

No

sentido teórico-conceitual,

esta

abordagem

prejudicou a com

preensão de aspectos fund

amentais, com

o a historicidade do

Estado m

oderno ou os tipos ideais de dominação defe

ndidos por Weber. N

o que diz respeito à

desnaturalização de muitos estigm

as raciais e reducionism

os na compreensão da questão

racial no

Brasil

foi um

a aborda

gem

proveitosa,

sobretudo

pelas posturas

reflexivas e

mudanças atitudinais observadas entre os alunos dur

ante e após os mom

entos em sala de aula.

No 3º ano, a

influência d

a mídia e

das tecnolo

gicas em

contextos globalizados foi

tema do prim

eiro bimestre. N

o segundo bim

estre, os debates são sobre gên

ero e sexualidade e

religiosidade

na conte

mporaneidade.

Além

de

se trat

arem

de q

uestões filosóficas

fundamentais nos dias atuais, estes tem

as foram abo

rdados no prim

eiro semestre do ano em

aulas que intercalavam d

ebates com abo

rdagens de qu

estões do EN

EM

sobre tais tem

as.

No terceiro bim

estre, o enfoque no E

NE

M foi ainda m

ais intenso, mas paralelo ao

enfoque na S

emana d

e Hum

anas. Então, a qu

estão raci

al também

foi abordada nesta série. N

o

quarto bimestre, as turm

as de 2º e 3º ano foram

reunidas em

oficinas tem

áticas sobre

juventude, sexualidade, tecnologias e violência re

alizadas por professo

res de todas as áreas.

Vários eventos na escola A

lfa, aguns m

ais longos – com

o a I Sem

ana de H

umanas

– outros mais isolados, com

o o mom

ento em que os al

unos do 3º ano indispuseram

-se às aula

s

após o EN

EM

, foram d

ecisivos para a m

udança ou adeq

uação do

plano curricular idealizado

no início do ano. Os desafios dem

andados pelo cotidiano escolar pa

ra o currículo revelam o

quanto

A

s escolas e o

s currículos nã

o são

apenas lu

gares que arm

azenam

conhecim

ento

s p

rod

uzido

s em cad

a área, são lugares o

nde trab

alham

e chegam

sujeitos so

ciais ta

mb

ém

pro

duto

res de co

nhecime

ntos, lu

gares de encontro

de exp

eriências sociais,

de ind

ivíduo

s, de leituras d

e mu

ndo

e de si no

mu

ndo

que exige

m ser reco

nhecidas e

siste

matizad

as. (...) O currículo

não é um

reservató

rio d

e saberes estático

s, mas u

m

território

de d

isputa d

e saberes na p

luralidad

e epi

stem

oló

gica do

mu

ndo

atual e na

heteroge

neidad

e d

e sujeito

s so

ciais q

ue chega

m

às e

scolas.

Pensar

em

outro

s currículo

s e

xige reco

nhecer

essa p

luralidad

e d

e sab

eres, d

e co

nhecime

ntos,

reconhecer

a p

luralidad

e ep

istem

oló

gica

do

no

sso

mu

ndo

e

esp

ecificam

ente

p

luralidad

e episte

mo

lógica e cultural q

ue chega às esco

las com

os O

utros m

estres e

educand

os. (D

AY

RE

LL;C

AR

RA

NO

;MA

IA. 2

01

4, p

. 160

)

A seleção de conteúdos e sua abo

rdagem

são condicio

nadas pela concepcção d

e

cada professor ace

rca da

importância ou do sentido

do ato educativo. Em

minha prática, as

posturas cotidianas dos jovens revelam tanto sobre

sua aprendizagem

quanto as avaliações

escritas sob

re autores

e con

ceitos, lo

go, am

bas

são

elementos

fundam

entais a

serem

considerados em

um

a avaliação

global

de de

sempenho destes

jovens

na disciplina

de

Sociologia. A

inda assim

, no contexto escolar, o currículo que

é efetiva

do em sala d

e aula

72

envolve projetos de futuro tanto pessoais com

o institucionais. Isso significa que “p

ara que

ensinar” ou “para que a

prender” são questões que tam

bém condicionam

os temas a cada

bimestre. M

esmo que a

problematização de fenôm

enos sociais nã

o seja uma n

ecessidade

escolar que se restringa

à Sociologia, é nesta disc

iplina que o debate sobre a vida em

sociedade se faz como foco principal. A

vida em

sociedade n

este caso quer dizer a teia d

e

relações e estruturas que

condicionam os sujeitos q

ue compoem

a escola e que adentram na

mesm

a por suas práticas, identidades e seus discursos. S

e todos os sujeitos que compoem

a

escola fazem parte da sociedade, dive

rsa como ela é, então todos estão aptos a opinarem

sobre

a vida coletiva, mediante

o senso comum

.

Mas,

se a

Sociologia

descontrói o

senso co

mum

e,

ao

mesm

o tem

po, se

potencializa com as experiências sociais dos indiví

duos e grupos nas discussões em sala de

aula, então o que ensinar? E

como o fazer?

A perspe

ctiva do currículo como território em

disputa, nesta questão, se demonstra pelos em

bates de opiniões entre alunos e destes com

os

professores, sobre as determinações dos tem

as e conceitos sociológicos a

bordados em sala de

aula. Só podem

os compreender estes em

bates porque situam

os os jovens alunos com

o sujeitos

em

disputa pelo

conhecim

ento e

pela escola,

ao cont

rário de

uma

visão centrad

a nos

professores como sujeitos exclusivos do currículo.

Parece q

ue os jo

vens alunos, nas fo

rma

s em

que vivem

a exp

eriência esco

lar, estão

nos d

izendo

que não

quere

m tanto

ser tratado

s com

o

iguais, m

as, sim

, reconhecid

os

nas suas esp

ecificidad

es, o q

ue imp

lica serem

recon

hecido

s com

o jo

vens, na sua

diversid

ade, u

m m

om

ento

privile

giado

de co

nstrução

de id

entidad

es, de p

rojeto

s de

vida,

de

experim

entação

e

aprend

izagem

d

a auto

nom

ia.

De

mand

am

d

os

seus

pro

fessores u

ma p

ostura d

e escuta – q

ue se torne

m s

eus inte

rlocuto

res diante d

e suas

crises, dú

vidas e

perp

lexidad

es geradas ao

trilharem

os la

birinto

s e encruzilhad

as q

ue constitue

m sua trajetó

ria de vid

a. Enfim

, parece

-nos q

ue de

ma

nda

m d

a esco

la

recursos e in

strum

ento

s que o

s torne

m cap

azes de co

nduzir a p

rópria vid

a em

um

a

socied

ade na q

ual a con

strução

de si é fu

nda

menta

l p

ara do

minar se

u destino

. (D

AY

RE

LL;C

AR

RA

NO

;MA

IA, 2

01

4, p. 1

02)

N

esta pesquisa,

não tive

condições de

aprofundar

em

que im

pactam

estas

demandas por partes dos jovens em

suas percepções s

obre o currículo, o que centralizou o

debate na fala de p

rofessores até aqui. A

inda assim, as tom

adas de posiçã

o dos alunos diante

do currículo em sala de aula em

ergem neste m

omento

da reflexão inevitavelmente através de

meus relatos sobre as escolas A

lfa e Beta.

De fa

to, existe u

ma d

em

anda p

or d

iscussões m

ais pró

xima

s ao m

und

o co

ncreto d

os

jovens, ao

seu cotid

iano. E

ssas tem

áticas são alta

me

nte mo

bilizad

oras d

o jo

vem

-aluno

ao co

nsiderar q

ue tem

melho

res cond

ições d

e co

ntribuir ativa

me

nte ne

ssas

aulas. A m

issão d

e form

ar os alu

nos enq

uanto

cidad

ão

s e a necessidad

e de a

mp

liar as açõ

es ped

agógicas p

ara além

do

s aspecto

s de cad

a d

isciplina são

sentido

s po

r to

do

s os p

rofesso

res que

atuam

na educação

básica. P

ara o p

rofesso

r de S

ocio

logia,

que p

recisa med

iar deb

ates sob

re diferentes reco

rtes d

a realidad

e social, sup

erando

a

73

persp

ectiva d

o

senso

com

um

, o

d

esafio

parece

ser ai

nda

maio

r. (H

AN

DF

AS

&M

AIÇ

AR

A, 2

01

2, p

. 201

)

O papel de

estranhar e d

esnaturalizar a realidade c

onferido à Sociologia se torna

ainda mais com

plexo se considerarmos a natureza int

erpretativa desta ciência. Mesm

o o

docente m

ais tradicion

al da

disciplina, que

centra

a com

preensão dos

conteúdos em

mem

orização de datas, conceitos e auto

res, terá que encara

r em su

a prática a diversidad

e de

opiniões, fatos e perspectivas neste caso. Isso porq

ue a disciplina propõe questões e pontos de

vistas diversos

sobre os

fatos analisados,

esta

diversidade

de opiniõe

s im

plica debates,

discordâncias e resistências por parte d

os alunos.

Muitas vezes, eles estão convencidos de que já com

preendem

os assuntos da aula

de sociologia, e na verd

ade, compre

endem m

esmo, m

as nem

sempre sociologicam

ente. A

compreensão

sociológica

ao m

esmo

tempo

em

que

quebra

o senso

com

um,

gerando

desconforto, pode ampliar o escopo de visão destes

sujeitos, ressignificando suas ações na

sociedade.

Co

nsidera

mo

s imp

ortante q

ue o

aluno

tenha co

ntato

co

m d

iversas persp

ectivas para

que

se p

ossa

m

con

struir a

lternativas ao

q

ue lhes

pa

rece co

mu

m

e, assim

, d

esnaturalizar a

realidad

e reco

nhecendo

o

s p

rocessos

de

sua co

nstituição.

(HA

ND

FA

S&

MA

IÇA

RA

, 20

09

, p. 1

97).

Por esse m

otivo, a postura reflexiva exigida pela S

ociologia encontra

múltiplas

resistências na escola. A

escolarização qu

ase mecân

ica dos jovens é umas das causas d

e

resistência: é nítido o desconforto de muitos aluno

s sempre que são solicitados a responderem

exercícios oralmente ou

sem a consulta do livro did

ático, assim com

o é recorrente que m

e

peçam “a

resposta certa” em

cada atividade

ou avaliação. E

ncontrar a verdade escrita

no livro

ou dita pelo professor é a postura comum

dos jovens que confronta a argu

mentação pessoal e

questionadora exigida pe

lo olhar sociológico.

No contexto das escolas A

lfa e B

eta, esta tendê

ncia está vinculad

a à busca d

e

resultados nas avaliações externas, com

o o EN

EM

e o S

PA

EC

E, já citad

os. Mesm

o que, nas

escolas Alfa e B

eta, as aulas não sejam

monitoradas

por gestores a fim de

saber se o currículo

previsto está sendo cumprido, a aborda

gem dos tem

as ao longo do bim

estre é condionada

pelas exigências avaliativas do provão bimestral (q

ue imita a estrutura e raciocínio avaliativo

do EN

EM

). Isso porque

esta aborda

gem d

eve ser igualm

ente reflexiva e conteudista, no

sentido de apresentar po

ntos de vistas diferentes s

obre um tem

a e

sua inserção no cotidiano

dos jovens e, ao mesm

o tempo, situar este tem

a em r

elação aos conceitos e cate

gorias

sociológicas. Por exem

plo, ao abordar o E

stado nas

aulas, ao mesm

o tempo em

que se deve

recorrer às influências mais corriqueiras e im

ediatas do m

esmo na vida dos sujeitos sociais, é

74

importante am

pliar com os m

odelos histórico-políticos de E

stado, incorporando à discussão

conceitos como nação, liberalism

o, ou autores com

o M

ax Weber ou G

eog Sim

mel. S

em esta

“ponte” da experiência im

ediata à experiência colet

iva, sequer tentamos sair do senso com

um

em sala de aula e co

rremos o risco de descaracteriz

ar a análise sociológica.

Diante do desafio do tem

po de aula, como ga

rantir tal análise a pa

rtir de exemplos

suficientes e de um raciocínio teórico-prático co

nsistente em

sala de aula? E

ste é um dram

a

semanal, corriqueiro

de m

eus planejamentos de

aula.

Com

o sociologizar e

m tão pouco

tempo

e nas condições exaustivas de aprendizagem

escolar?

A cada sem

ana, a cada tem

a e a cada

turma, está posta esta

problemática, que

perpassa

a S

ociologia escolar, m

as que ainda assim

não a

“pa

ralisa” em

suas

possíveis contribuições.

Isso

significa que

m

esmo

diante d

e

condições adve

rsas de

inclusão

e desvalorização,

o conhe

cimento

sociológico se

gue

constituindo seu

lugar na

escola d

e m

odo a

demarcar

su

as fronteira

s e

contribuições

fundamentais.

Ainda que

represente u

m desafio

constante para a

docência

na So

ciologia, o

caráter fundamentalm

ente reflexivo desta ciên

cia a sujeita a posições diversas, à convergência

ou divergência delas, à conflitualidade da existênc

ia humana. Isso im

plica uma sensibilidade

maior às tensões sociais e escola

res no dia a dia de contato entre jovens, professores, gestores,

funcionários, pais, etc. N

os dias atuais, quando

tratam

os da crise

de sentid

os da escola para a

vida dos jovens, quando esta se d

emonstra cansa

tiva para os m

esmos, o resgate do “m

undo

real” ou do cotidiano, das relações de classe, de gên

ero, da violência, do trab

alho e da

tecnologia como elem

entos ressignificados e de

batidos pela escola se faz possível com

o

auxílio da Sociologia. É

óbvio que escolas e conh

ecim

entos significativos e contextualizados

em rela

ção à

socialização dos alunos n

ão é exclusividade da

Sociologia, m

as esta ciência

pode

dar contribuições im

portantes nesse sentido.

Na escola A

lfa, prestes à realização do E

NE

M, nós d

o grupo de professores e

m

conjunto com o núcleo gestor realizam

os uma reunião

e criamos vias de com

unicação online

para seguir na elaboraçã

o de oficinas temáticas q

ue substituíriam

as aulas tradicionais após o

exame. O

motivo da

ação foi o anúncio, por parte

dos alunos do 3

º ano, de que

não

compare

ceriam à escola

após o EN

EM

caso tivessem qu

e assistir a aulas cansativas. Um

grupo considerável de professores da escola proje

tou quatro sem

anas de aula em

formato de

oficinas com um

tema por sem

ana para as turm

as de 2º e 3º, com

a culm

inância na Feira

Cultural da escola.

Neste

acontecim

ento são

reveladas

condições im

portantes

de disputa

pelo

currículo e pela escola por diferentes a

gentes. A m

udança na m

etodologia das aulas, nos

75

temas e m

esmo no tem

po do dia letivo representava p

ara os jovens a oportunidade (ainda que

tardia, se considerarm

os todo o ano letivo) de tornar m

enos cansativa e mais significativa a

formaçao escolar. A

lém disso, estes jovens sugerira

m os tem

as abordados por sem

ana que

foram sexualidade, juventudes, tecnologia e vio

lência. A

aproximação da sociologia com

estes temas foi im

ediata nas reuniões de planeja

men

to entre os professo

res, o que evidencia

seu caráter estratégico d

e saber ou abo

rdagem

crítica na escola sobre as que

stões sociais.

Nesse q

uadro

, fica evidente q

ue o d

ebate te

m d

e ir a

lém

da d

efinição

ou não

de u

m

currículo m

ínimo

, de q

uem

é co

nsiderad

o o

u não ap

to a m

inistrar a discip

lina, ou

m

esmo

u

ma

ên

fase e

xcessiva no

s m

étod

os

e técnica

s. U

m

prim

eiro

asp

ecto

a

avançar diz re

speito

ao p

apel d

o p

rofesso

r de S

ocio

logia. P

ela especificid

ade d

a sua

fo

rmação

, é crucial que este ta

mb

ém

assu

ma o

pap

el d

e soció

logo

na escola, alé

m d

o

do

cente, com

o as p

róp

rias Orientaçõ

es Curriculares

para o

Ensino

Méd

io (O

CN

) su

gerem

. As refle

xões realiza

das acim

a evid

enciam

a necessid

ade d

e os p

rofesso

res d

e cada esco

la desnaturalizare

m a visão

que p

ossue

m d

os seus alu

nos, sup

erand

o

preco

nceitos e estereó

tipo

s, comp

reend

endo

-os co

mo

sujeito

s sociais co

m d

em

and

as e

necessidad

es p

róp

rias. M

as ta

mb

ém

p

recisam

p

rob

lem

atizar a

s relaçõ

es q

ue

acontece

m no

cotid

iano

escolar, alé

m d

e conhecere

m

melh

or o

pró

prio m

eio so

cial o

nde a esco

la se insere. Essa função

cabe ao

pro

fes

sor d

e So

ciolo

gia, que p

od

e fazer d

a escola um

cam

po

de p

esquisas, co

ntribuind

o p

ara q

ue a escola se co

nheça mais.

(DA

RY

RE

LL

&R

EIS

, 20

07

, p. 11

)

Então,

se constrói

uma

com

preensão

fundame

ntada sob

re a

sociedad

e, sua

s

estruturas, relações e po

sições, a Sociologia tam

bém

possibilita uma com

preensão sobre a

escola e seus jovens alunos. Ainda que sua in

serção em

sala de aula seja reduzida, as

possibilidades de inserção desta ciên

cia no cotidiano escola

r são múltipla

s. Em

reuniões do

grupo de p

rofessores e

núcleo gestor, em pre

paraçõe

s de projetos, fe

iras, ou oficinas, a

Sociologia se m

ostra não como saber único, m

as como

abordagem

ou perspectiva primordial

para esclarecim

ento das realidades e identidades m

últiplas que caracte

rizam os grupos sociais,

em diferentes contextos de espaço e tem

po.

Dado o caráter reflexivo da S

ociologia na escola, a questão de “o que ensinar” se

relaciona com

“como en

sinar”, uma

vez que o d

esenvolvim

ento de posturas críticas em

sala

de aula não se faz via mecanização do conhe

cime

nto, tam

pouco tem significado reconh

ecer as

diversidades juvenis e os impactos das tecnologias

em nossas vidas se não saím

os das

posturas confo

rtáveis d

e culpabilização

do aluno,

ou

aulas que

explorem

som

ente a

mem

orização. Se

guindo este pensamento, no próxim

o item

centralizaremos o contexto escola

r

de inserção do livro didático, com

o fator fundam

ental na re

alidade curricular da Sociolo

gia.

Além

disso, diagnosticaremos as perspectivas m

etodológicas para as aulas desta disciplina,

tendo em vista os sentidos já discutidos no âm

bito escolar.

76

4.3 S

OC

IOLO

GIA

E

A

(R

E)S

IGN

IFIC

ÃO

D

AS

A

BO

RD

AG

EN

S

ME

TO

DO

LÓG

ICA

S E

M S

ALA

DE

AU

LA

No últim

o bimestre de 2015, na escola A

lfa, a reali

zação de aulas em form

ato de

oficinas, com as turm

as de 2º e 3º ano, demonstrou

a contribuição da Sociologia para a

ressiginificação das práticas escolares. Isso não s

ignifica que esta tenha sido a única disciplina

ou o saber principal neste m

omento, m

as sua importância estraté

gica se comprovou p

elos

debates e m

omentos form

ativos entre a equipe d

e professores facilitados ou esclarecidos po

r

mim

, professora de Socio

logia e pela pro

fessora de

H

istória.

Considerando que a rotina escolar norm

almente não c

onta com horários para

reuniões gerais entre todos os professores e núcleo

gestor, as oportunidades de planejar a

s

oficinas ficaram

restritas a um

a reunião após liberação dos alunos en

tre a maioria dos

professores e núcleo gestor, aos planejamentos (e

m

cada área) e, principalm

ente, às conversas

em intervalos ou plan

ejam

entos individuais entre os

professores. Na reu

nião citada, nós d

a

área de

Hum

anas tivemo

s um papel condutor d

a discus

são, ao abord

ar as várias dimensões de

cada tema. A

o discutir sexualidade, exibimos um

curtam

etragem

que retratava a vida de dua

s

travestis para suscintar o debate sobre a com

plexidade do tem

a. Neste m

omento e nas

conversas na sala de pro

fessores, o ca

ráter de

estranham

ento e desnaturalização

da Sociolo

gia

foi desenvolvido entre professores e nú

cleo gestor, para subsidiar a aborda

gem com

os alunos.

Quando as o

ficinas fora

m realizadas, as adapta

ções dos tem

as a cada área do sab

er foram

feitas pelos professores, o que enriqueceu aind

a ma

is a discussão pelo diálogo de saberes.

Mas,

como

estas oficinas

se relacionam

co

m

a questão

de com

o ensinar

Sociologia

ou d

as m

etodologias e

recursos d

idáticos

no caso

desta

disciplina?

Sendo

professora de Sociologia

da escola, não com

pareci a

todos os dias destas oficinas (tendo em

vista a própria distribuição de p

rofessores te

r sido pensada

de acordo co

m seus horá

rios de

trabalho), m

as a

contribuição do

saber sociológico

junto aos

demais

professores esteve

presente nos mom

entos com os alunos.

Atra

vés das p

ráticas ped

agóg

icas e da no

ssa prese

nça no

me

io esco

lar, acaba

mo

s po

r d

esenvolver u

ma

dup

la (tripla

e/ou q

uádrup

la) funçã

o d

e pro

fessores, ind

o alé

m d

a

função

do

cente em

bu

scar a análise da realid

ade d

o

aluno, d

a escola e d

o amb

iente

q

ue os cerca. T

al tarefa é funda

men

tal tanto no

sen

tido

de q

uestiona

me

ntos à

realid

ade

dad

a, em

q

ue so

mo

s ta

mb

ém

co

nvo

cado

s a

fazer

o

exercício

da

desnaturalização

e estranha

mento

, quanto

em

nossa

s p

ráticas de ensino

e pesq

uisa

afim d

e con

seguir a efetiva ad

equação

das teo

rias das ciências so

ciais para o

ensino

de S

ocio

logia. (G

ON

ÇA

LVE

S, 2

01

3, p

. 90

)

Principalm

ente nas sema

nas em que fo

ram discutidos

os temas da sexualidade e

das juventudes, foram in

úmeros os m

omentos de

dúvidas entre pro

fessores sobre de qu

e se

77

tratavam tais tem

as e co

mo abordá

-los. Destas d

úvidas, a S

ociologia n

ão escap

a. Da m

esma

forma qu

e revela sobre

o dilema de

como ensinar, es

ta realidade aponta

para o dilem

a d

e

como sociologizar o ensino, ou discutir suas bases,

métodos e sentidos de a

prendizagem.

Em

todo caso, o olhar sociológico que estranha a realidade em

seus aspectos mais

“naturais”, nem

sempre pode ser d

esenvolvido soment

e com aulas expositivas, sem

levantar

questões ou dúvidas sobre o que se aborda em

sala de aula. P

or esse mo

tivo, existem vários

meios

de abo

rdar os

temas

da disciplina

sem

contar

exclusivamente

com

os sab

eres

disciplinares de seus docentes, a sab

er, debates, e

xibição de curta-m

etragens, análise d

e

charges, textos literários, músicas, etc. E

stes mei

os, mais do que técnicas ou re

cursos de

ensino, dizem respeito à própria transform

ação do c

onhecimento científico

em conhecim

ento

escolar, ou à mediação p

edagó

gica e didática dos conteúdos.

A m

ediação

ped

agógica, se a

ssim se p

od

e cham

ar, par

ece tão

mais necessária q

uanto

m

ais varia o

púb

lico no

tem

po

e no esp

aço, q

uanto

ma

is diverso

é o p

úblico

em

relação

ao p

rofesso

r. Se se co

nsiderar a te

ndência

à m

assificação

da esco

la brasileira

entendend

o esse fe

nôm

eno

no seu sentid

o p

ositivo

: acesso

às vagas –

, não p

od

e ser igno

rada a p

reocup

ação com

a med

iação entre o

co

nhecimento

e os aluno

s, m

ediação

que te

m u

m m

om

ento

imp

ortan

te no e

nsino. A

cresce que a esco

la básica

e, e

m e

special, o

ensino

méd

io fo

ram

constituind

o u

ma

cultu

ra pró

pria –

o q

ue muita

vez

se cha

ma

cultura esco

lar –

, em

q

ue sab

eres p

rod

uzido

s p

elas p

esquisa

s acad

êmicas são

transfo

rmad

os e

m sab

eres escolares,

com

características pró

prias,

definid

as po

r um

contexto

de ensino

em

que se red

efi

em

os te

mp

os, o

s conte

údo

s, o

s méto

do

s, as a

valiações e

as cond

ições d

o ap

rendi

zado d

os alu

nos. (B

RA

SIL,

20

06

, p. 1

08)

A adaptação dos conhecim

entos sociológicos ao ensino m

édio encontra limites

que parecem

se repetir nas escolas A

lfa e Beta. P

rim

eiramente, a proble

mática do tem

po de

aula de 50 minutos que é relevante tanto na hora

de planejar quanto n

a hora de ‘executar’ o

plano de aula. Em

meus planejam

entos, costumo considerar que a aula tenha 30 m

inutos, pelo

tempo despendido em

chamar a aten

ção dos jovens e com

rotinas de frequência ou avisos.

Nas duas escolas, o tem

po de deslocamento da sala d

e aula para salas de inform

ática ou de

exibição de vídeo costuma im

pactar no tempo e na qu

alidade da discussão sobre o tema em

questão. Para fica

r no exemplo da exibição de vídeo

s, costumo escolher arquivos de no

máxim

o 25 minutos, por que a

experiência de ‘dividi

r’ a exibição em du

as ou mais aulas gera

incompreensão

por parte dos jovens, principalm

ente

quando estes faltam algum

a das aulas ou

quando precisam

retoma

r informaçõ

es destas aulas anteriores em

debates m

ais gerais sobre

todas as discussões proporcionadas p

elo vídeo.

Na época em

que fui bolsista do P

IBID

, esta problem

ática do uso de recursos

audiovisuais e da própria adaptação do conh

ecimento

sociológico ao ensino vinha à tona nas

reuniões seman

ais, nas conversas com o pro

fessor su

pervisor e principalm

ente nas aulas que

78

precisávamos

planejar e

ministrar

(com

acompanham

ento

deste profe

ssor). A

tualmente,

refletindo sobre os três anos de P

IBID

, noto o q

uanto as aulas com

uso de vídeos, charges,

músicas ou dinâm

icas eram as p

referidas da m

aioria dos bolsistas, porque despertavam

a

curiosidade e interesse dos alunos com m

ais facilidade. D

este interesse e desta curiosidade é

que emergiam

debates e

m sala de aula, com

a ajuda do professor sup

ervisor na condução de

questões e sínteses. Apó

s experiências com aulas de

sse tipo, eu me força

ra a ministrar um

a

aula expositiva sem uso de recursos audiovisuais. F

oi forçado porque gerava desconforto e

insegurança a ideia de dar aula em condições “n

orma

is”, no espaço cotidiano de aulas, que é

enfadonho pa

ra os

jovens alunos.

Enquanto

bolsista,

a preferência

por

experiências

potencialmente exitosas do ofício docente, com

o aulas m

ais dinâmicas, escondia o tem

or de

encarar as experiências cotidianas de potencial desgaste, em

função d

a própria crise de

sentidos da escola na vida dos jovens alunos.

Ao se rela

cionar com as juventudes e

suas realidades contem

porâneas, a escola

também

precisa

lidar com

a

influência das

tecnologi

as em

nossas

sociabilidades. T

al

influência elucida o por quê dimensionarm

os a discussão sobre m

étodos de ensino e recursos

didáticos em relação ao u

so de salas ou re

cursos au

diovisuais, afinal, se as tecnologias são tão

centrais na vida dos jove

ns, nas nossas rotinas pessoais e profissionais de m

aneira geral, então

elas ressignificam o p

róprio debate sobre as con

cep

ções e as práticas curriculares.

Os currículo

s escolares te

m sid

o alvo

do

que p

od

em

os d

en

om

inar de

imp

erativo d

a

cibo

rguização.

O

currículo

cibo

rgue é

um

a realid

ade

entre

nós.

Ele

surge d

a co

mp

lexificação

e transfo

rma

ção d

os p

lanejame

ntos e

das p

ráticas curriculares p

or

meio

da inte

nsiva e exten

siva incorp

oração

/fusão co

m as tecno

logias d

igitais. A

sensação

pro

vocad

a é de q

ue não há escap

e: estam

os

inevitavelm

ente subm

etido

s à

presença d

as tecnolo

gias d

igitais nos currículo

s esco

lares. Tal p

resença não é d

a o

rdem

d

a sim

ples

mo

rada.

Na

verdad

e, as

tecnolo

gia

s

op

eram

mu

dança

s no

currículo

. De

ma

nda

m o

utros m

od

os d

e pla

nejar e outr

as form

as d

e organizar o

s sab

eres, afinal, pro

duze

m o

utras form

as de co

nhecer e

outro

s tipo

s de

con

hecimento

. E

xigem

a cibo

rguização d

o currículo

escolar. O

currículo

cibo

rgue é, po

rtanto, u

m

pro

duto

d

a sim

bio

se d

as p

ráticas curricu

lares co

m

as

tecnolo

gias d

igitais. (D

AY

RE

LL;C

AR

RA

NO

;MA

IA, 2

01

4, p. 2

70)

O

cruzamento d

as tecnologias com a

questão curricular não

se restringe, p

ortanto

ao uso

de

recursos

audioviduais

no m

omento

da aula,

porqu

e a

contece

em

diferentes

mom

entos. Quando nós professores nos utilizam

os da internet para ap

rofundar ou sistematizar

conteúdos, este cruzame

nto está presente, mesm

o que o m

omento da aula propriam

ente dito

não seja com o uso de recurso digital. Q

uando, na escola A

lfa, criamos um

grupo em um

a

rede social para dialo

gar sobre as o

ficinas temátic

as no final do ano, este

cruzamento entre

currículo e tecnologias tam

bém se realizou. E

stes exem

plos servem à noção de

como a

s

tecnologias digitais

circunscrevem

o cu

rrículo através

não só

da

centralidade qu

e estas

79

tecnologias têm na vida dos jovens alunos, m

as por m

eio da própria dinâmica da prática

docente, com suas rotina

s adaptadas ou ciborguizadas.

No entanto, a ciborguiza

ção das práticas docentes e

dos alunos acontece m

ais por

via de influência dos contextos exteriores à escola

em seu cotidiano (tais com

o as tecnologias

e mídias, as violências o

u as relações fam

iliares), do que

por via estrutural/institucional. E

m

outras palavras, mesm

o que os sujeitos sociais transm

itam ao espaço escolar os m

odos de

pensar e

fazer condicionados

pelas te

cnologias

usadas

dentro

ou fora

deste

espaço,

estruturalmente, a

escola (assim

como a socieda

de brasileira em

geral) n

ão está igualmente

ciborguizada.

Na prática, a h

eterogen

eidade do uso de tecno

logias na escola é notá

vel nas

escolas Alfa e B

eta pelas duas terem lousas digitai

s que não são utilizadas pelos professores.

Nestas escolas, os professores e nú

cleo gestor não

receberam

forma

ção adequada pa

ra uso da

tecnologia citada.

O

funcionamento

instável da

internet,

a quantida

de insuficiente

de

computadores funcionan

do nas salas de informática e a inexistência de equipam

ento portátil

disponível para uso nas salas de aula são exemplos

significativos da precariedade no acesso às

tecnologias nas escolas Alfa e B

eta. A coicind

ência

estrutural neste caso é notável somente no

cotidiano escolar, um

a vez que analisando de m

aneir

a geral, o supo

rte e m

anutenção à escola

Beta costum

a ser mais rá

pido do que à escola Alfa

.

No caso d

a Sociologia, as tecnolo

gias representam

possibilidades de abordagens

didáticas diferenciad

as e

mais

dinâmicas,

mas

colocam

d

esafios p

ara sua

utilização,

principalmente por sua apropria

ção e significado nem

sempre ser a m

esm

a entre alunos e

professores.

As tecno

logias são

, po

is, um

imp

ortante e

lem

ento

con

stitutivo d

a cultura juvenil,

afinal, esse grupo

está cada d

ia mais cib

orguizad

o.

Ao

se vincularem

às tecno

logias,

eles p

assam

a

ser algo

co

mo

híb

rido

s tecno

culturais,

que

op

eram

o

pró

prio

pensa

mento

e

cond

uzem

suas

ações

nu

ma

constituição

sim

lica co

m

as

tecnolo

gias. H

á mú

ltiplas p

ossib

ilidad

es de o

rientação

da vid

a em

que

esse u

so ag

e

sob

re as ações e a juventud

e estabelece u

m vínculo

co

m a tecno

logia d

a ord

em d

a

imp

regnação

e da co

mp

osiçã

o. (...) P

od

eríamo

s dizer

que

os jo

vens de ho

je são

nativos

digitais,

um

a

geração

nasicda

na era

da

internet.

(DA

YR

EL

L;CA

RR

AN

O;M

AIA

, 20

13

, p. 234

)

No contexto escola

r da S

ociologia, mesm

o que a exib

ição de cu

rta metra

gens

desperte com m

ais facilidade a curiosidade dos alun

os, a garantia de uma boa recepção de se

u

conteúdo dep

ende

das referências

já adquiridas

por estes

jovens em

m

omentos

de

entretenimento

com

o uso

das te

cnologias, o

u, em

ou

tras palavras,

o uso

de

vídeos

demasiadam

ente form

ais, antigos ou de na

rrativa “lenta” pod

e ser tão

enfadonho para os

alunos quanto uma aula com

pletamente expositiva.

80

Mesm

o assim, esta disciplina possibilita a abordage

m do im

pacto das tecn

ologias

em sala de aula com

o conteúdo program

ático. Em

turmas de 3º ano nas escolas A

lfa e Beta,

ao discutir os impa

ctos das tecnolo

gias nas sociali

zações das juventudes na

escola, em casa

e

em am

bientes de lazer, meus alunos situaram

o debat

e em suas experiên

cias e, após duas aulas

refletindo sobre tais experiências, notei o quanto

a inserção diversa d

estes jovens na realidade

abordada contribuiu à re

lativização do tema entre o

s mesm

os. Sensíveis a an

álise sobre as

tecnologias, os alunos compreende

ram com

mais facil

idade as múltiplas realidades d

e seu

acesso e uso na condição

de juventude ciborgue (D

AY

RE

LL;MA

IA;C

AR

RA

NO

, 2013).

Mesm

o envolta por condições m

ateriais diversas nas escolas públicas, a

disciplina

de Sociologia é m

arcada por possibilidades discursi

vas que “driblam” a insuficiência m

aterial

de tecnolo

gia nas

escolas A

lfa e

Beta,

contribuindo

de m

aneira crítica

ao processo

de

ciborguização nestas escolas.

4.4 O

S S

IGN

IFIC

AD

OS

DO

LIVR

O D

IDÁ

TIC

O N

O E

NS

INO

DE

S

OC

IOLO

GIA

O

livro didático

é

um

importante

instrumento

de ins

erção do

conhe

cimento

sociológico na escola, logo, exerce

influência fundam

ental na sele

ção e organização d

e

conteúdos, e em

toda a

dim

ensão curricular da disciplina. N

o contexto escolar, a che

gada do

livro didático de S

ociologia é re

cente, com su

a inte

gração

no Plano N

acional do Livro

Didático

15 (P

NLD

) de 2012. S

e no referido ano foram

6 obras avaliadas e 2 aprovad

as, a

edição de 2015 do P

lano apresentou 13 obras d

as quais 6 foram

aprovadas. E

m 2015, os livros

também

foram subm

etidos em versão digital (associad

a, mas não exclusiva ou elim

inatória da

versão impressa). A

subm

issão de livros em form

ato digital evidencia

a tendência de diálogo

s

crescentes entre tecnologia e políticas curricula

res, tendo em

vista a centralidade dos recursos

digitais nas

sociedades

contemporâne

as. R

epresentando

um

avanço

na legitim

ação da

disciplina de Sociologia, o livro didático

No

plano

did

ático-p

edagó

gico, p

od

erá favorecer o

s alu

nos q

uanto à cap

acidad

e de

estranhar e d

esnaturalizar a vida so

cial em q

ue se insere

m. N

o p

lano so

cial, o livro

did

ático rep

resenta, ao m

eno

s para um

a parcela sig

nificativa d

e estudantes, a única

o

po

rtunidad

e de acesso

a um

bem

cultural. No

plano

p

olítico

, a distrib

uição gratu

ita

do

livro d

idático p

ode co

ntribuir para a m

elhoria da q

ualidade d

e ensino d

a escola

púb

lica. S

ão

muita

s as

imp

licações

do

livro

d

idátic

o no

p

rocesso

d

e ensino

e

ap

rendizage

m, so

bretud

o no

caso d

a So

ciolo

gia, ainda se

m te

mp

o su

ficiente p

ara

15 O P

lano N

acional d

o Livro

Did

ático (P

NLD

) é a p

olí

tica naciona

l de d

istribu

ição d

e coleçõ

es de livro

s

did

áticos p

ara as esco

las púb

licas do

país. E

m cicl

os trien

ais, o M

inistério d

a Ed

ucação

pub

lica edita

is para

avaliação

de livro

s que, p

or su

a vez, com

em

o G

uia d

e Livro

s Did

áticos q

ue chega às e

scolas p

ara esco

lha do

s p

rofesso

res.

81

conso

lidar-se co

mo

discip

lina escolar. S

abem

os q

ue o

livro não

deve se co

nstituir no

único m

aterial de ensino

em

sala de aula, m

as po

de

ser um

a referência cap

az de

estimular a curio

sidad

e e o interesse p

ara a discus

são, a análise e a crítica d

os

conhecim

ento

s socio

lóg

icos. Isso

significa q

ue é tare

fa do

pro

fessor/p

rofesso

ra fazer d

o livro

did

ático u

m aliad

o d

e sua prática p

edagó

gica, ad

equand

o-o

ao p

rojeto

po

lítico-p

edagó

gico

de

sua esco

la, as

suas necessid

ades,

e a

de

seus alu

nos

. (B

RA

SIL, 2

01

2, p

. 9)

Se neste trecho do G

uia de Livros D

idáticos do P

NLD

de 2012, os impa

ctos do

livro didático no caso da S

ociologia dim

ensionam

sua incipiente inclusã

o no currículo, no

Guia de 2015 esta inclusão é relatada com

o motivo d

e comem

oração por seus avanços. E

m

2012, quando acompanh

ei a recém adesão aos livros d

idáticos de Sociologia na escola em

que

fui Bolsista do P

IBID

, pude observar hetero

geneidades na

efetivação do P

NLD

e tamb

ém

conhecer/estudar os livros selecionados em con

exão com

as experiências observadas nesta

escola.

À época, acom

panhei a

s primeiras m

ediações e

ntre ensino e livro

didático n

a

prática do professor su

pervisor e, já no prim

eiro ano da inclusão d

este recurso, tanto o

professor quanto os alunos foram surpresos com

a insuficiência de livros para todas as séries.

Alunos do 1º ano eram

priorizados na entrega dos livros para que desenvolvessem

um contato

mais consistente com

a disciplina desde o início do ensino m

édio, o que, em

alguns casos,

deixava os alunos do 3º anos sem o m

aterial. Este c

enário, observados, sobretudo entre os

anos de 2012 e 2013, me parecia típico de um

a mudan

ça recente, d

e um

a adaptação que

incorporou ao PN

LD de

materiais didáticos m

ais uma

disciplina. Entre os anos de 2014 e

2015, lecionando na rede

básica, percebi o quanto

a insuficiên

cia ou o atraso na ch

egada

dos

livros à

escola com

poem

a

própria realidade

do P

NLD

nas

escolas, independente

da

disciplina. Com

o professora,

notei tam

bém

o caráter

imediatista

da

escolha do

s livros

didáticos que, a contar p

elas etapas previstas, aco

ntece em últim

a instância com a

escolha dos

docentes. O im

ediatismo com

que deve ser escolhido o livro, quase sem

pre com prazos

curtíssimos, restringe tal decisão

a seu caráter burocrático

(de en

caminha

mento de um

a lista

de selecionados para a S

ED

UC

e da mesm

a ao ME

C). A

rigid

ez no cumprim

ento do Plano foi

relativizada em m

inha experiência ao notar dois fatos: na época de seleção dos livros, não

chegam

todos aqueles aprovados em

versões im

pressas e o senso com

um entre os professo

res

de que devem

torcer para que o livro escolhido seja

realm

ente o que a escola receberá. O

primeiro fato é significativo porque são as versões

impressas qu

e são consultadas p

elos

professores que, muitas vezes, não ch

egam

a ver o G

uia com as resenh

as de todos os livros. O

segundo aponta

falhas tanto na distribuição dos liv

ros didáticos quand

o na relação entre

82

escolas e secreta

rias no encam

inhamento da

escolha dos professores. N

esse contexto, os livros

didáticos “são produtos que con

ectam, ao seu

modo, indústria editorial, universidade (pelo

autor) e escola (pelo professor e aluno, seus leito

res).” (ME

UC

CI&

BE

ZE

RR

A, 2014, p. 92)

Os lim

ites da inserção prática do livro did

ático de

Sociologia

concerne

ntes ao

próprio funcionam

ento do PN

LD reforçam

as heterogen

eidades na inclusão deste recurso,

assim com

o as múltiplas possibilidades de escolh

a por cada escola. E

ntão, a cad

a escolha a

adaptação ao livro no caso da S

ociologia é diferent

e, tendo em vista a varie

dade de livros e d

e

contextos vivenciados

em

cada estabele

cimento.

Na

escola

Alfa

e na

escola B

eta, os

problemas de inserção d

o livro citados são comum

ente vivenciados, assim

como, o próprio

material

selecionado,

que

é

o m

esmo.

Ainda

assim

, a

s dispa

ridades quanto

ao

uso e

apropriação das discussõ

es propostas variam de esco

la para escola.

Na escola A

lfa, no período de escolha do livro didá

tico, no início do ano letivo d

e

2015, o professor Roberto foi o responsável, sen

do que eu ingressei nesta escola n

a seman

a

posterior a este processo seletivo. E

m conversa

s sobre a disciplina, ele

argumentou com

o

principal vantagem

do livro escolhido o caráter res

umido de seus textos. E

u, que escolhera

com o professo

r Lucas o m

esmo livro para a escola B

eta, o fizera por co

nsiderar sua escrita,

ou sua argum

entação didática e problem

atizadora da

re

alidade. Na o

casião de escolha,

mesm

o percebendo

os lim

ites do

livro escolhido

quanto

a exercícios,

reconhecemos

a

abordagem

de temas e e

xemplos bem

contextualizada no m

esmo, o que facilitaria o diálogo

com os alunos.

Com

o material didático que integra políticas cu

rriculares e práticas doce

ntes, o

livro tem im

pacto no planejam

ento de aulas e

na própria de

finição de saberes ou reco

rtes a

serem abordados em

sala de aula. E

mbora a sequência

do livro nem sem

pre seja interpretada

ou recomend

ada como padrão, no caso d

a Sociologia,

seu caráter de disciplina escolar a

impõe o risco de redução

didática ao livro. Em

termos político-pedagó

gicos, o livro não deve

ser a única fonte de estudo para professores e é in

desejável que seja para os alunos tam

bém,

mas,

pela força

de su

a inserção

cotidiana, m

uitas v

ezes ganha

esse caráter

não só

centralizador, mas exclusivista nas práticas dos pr

ofessores de outras disciplinas (sobretudo

das mais consolidadas) e da própria S

ociologia.

“O currículo

tem

que estar 1

00

% d

entro d

o livro

did

ático. O

currículo te

m q

ue estar relacio

nado

do

livro d

idático

, não p

od

e fugir e

m ne

nhu

m m

om

ento

, você não

tem

a

abertura d

e explo

rar outro

s assuntos q

ue não estão

no

livro. T

em q

ue estar no

currículo

e necessaria

men

te no

livro

.” (P

rofesso

r L

ucas)

N

esta complexa realida

de de apropriação

do livro didático, principalm

ente entre

diferentes professores, a

disciplina de Sociologia

resguarda relação de legitim

ação com tal

83

recurso, o

que

demonstra

questões p

articulares de

inserção

no caso

deste sabe

r (com

o

mencionado anteriorm

ente quanto à rela

ção entre livro didático e

políticas curriculares das

disciplinas). Tais questões relacionam

-se diretame

nte com

o currículo da disciplina, logo, são

de nosso interesse: como o livro pode e deve ser ut

ilizado? o livro aborda com

rigor os

conceitos sociológicos?

Com

o abordá-los sem sim

plificá-los ou reificá-los?

Antropologia e

Ciências P

olíticas são contem

pladas no mate

rial didático?

Qual o diálogo

entre os conteúdos

do livro de Sociologia co

m outras disciplinas do cu

rrículo oficial?

Em

m

inha prática

docente o

modo

de utilização

do li

vro didático

é

interrelacionado e interdependente

às escolhas curriculares, lo

go, esta utilização não diz

respeito somente a qu

e conteúdos o livro aborda e em

que sequência os le

vantarei em sala d

e

aula, mas ao p

róprio olhar que

se quer constituir p

ela disciplina e por quais cam

inhos che

gar

ao mesm

o. À

realidade

que

acompanhei

durante o

P

IBID

de

transição

do

ensino de

Sociologia sem

livro para uma S

ociologia com o

livro, atribuo a flexibilidade no uso deste

recurso em m

inha prática, tanto no que diz respeito à sequência d

e conteúdos quanto na

utilização frequente e rígida do mesm

o. Após tentat

ivas de utilização do livro por indicações

aos alunos de leituras domiciliares, assim

como observava n

a prática de m

eus professores na

época de escola e na do próprio professor supervisor do P

IBID

, passei a centralizar o uso

deste recurso em

sala de

aula. Os dois m

odos aprese

ntavam lim

ites: em casa, a m

aioria dos

alunos não lia o texto indicado e, em

sala, realizavam

exercícios escritos somente com

a

transcrição de trechos do

livro, sem ressignificar

com argum

entos próprios. E

mbora a adesão

a atividades

escritas re

spondidas a

partir do

livro

seja quase

unânime

entre os

alunos,

qualitativamente,

são pouquíssim

os os

que desenvolv

em

respostas textuais

às suas

compreensõ

es pessoais

sobre o

tem

a. R

epe

tidamente

digo

com

o

professora o

que

repetidamente ouvia co

mo aluna, “respondam

com suas próprias palavras, textualizem

suas

ideias”. Além

desta recom

endação, com o tem

po, passei a classificar atividades de uso direto

do livro como

“estudos dirigidos”, escla

recendo os

alunos também

quanto ao uso referenciad

o

de citações e à localização de informa

ções ou argum

entos mais relevantes na discussão

apresentada em cada capítulo.

Então, o uso m

ecanizado

do livro por parte dos alun

os, em função d

e sua própria

trajetória escolar ou modos de aprende

r ao longo da escolarização, escapa à tendên

cia de

interpretação crítica da realidade d

a Sociologia. O

despertar pa

ra a reflexão sobre as relações,

identidades e estruturas sociais tão necessá

rio a esta disciplina ressignificou o uso do livro

didático em m

inha prática. Esta ressignificação den

uncia o caráter interconstituitivo entre

84

currículo e livro didático

no saber do

cente, media

do pelo cotidiano escola

r em detrim

ento da

correspondência ob

rigatória ou im

ediata entre amb

os.

Outra caracte

rística do currículo de Sociologia co

mpreensível à luz de sua relação

com o livro didático é a

abordagem

teórico-conceitual ou m

esmo científica desta disciplina,

tendo em vista os riscos que corre d

e ser m

era expo

sição ou afirmação d

as verdad

es do senso

comum

. Refletindo esta relação, o próprio G

uia do PN

LD (de 2012 e d

e 2015) aponta o uso

inapropriado das referên

cias teóricas da S

ociologia com

o um dos m

aiores desafios para a

qualidade do

conhecim

ento sociológico

escolarizado.

Este

uso consiste

em

visões

simplificadas dos conce

itos, muitas vezes sem

a devida contextualização do autor e seu

pensamento, ou, noutro polo, em

visões reificadas,

que “enquadram

” o conceito na realidad

e.

Esta ca

racterística atribuída pelo G

uia aos textos

produzidos por autores, em sua

grande

maioria, inte

grantes de Universidades, pod

e ser vinculada tam

bém ao co

tidiano em sala d

e

aula.

Um

a vez que abordar a realidade à luz de conceitos

sociológicos exige reflexão,

tempo e a constru

ção de

uma visão teórico-p

rática sobre os tem

as da disciplina, desenvolver

aulas em diálogo com

autores e seus pensamentos é d

esafiador desde o primeiro contato dos

alunos com os conceitos até a apre

ensão mem

orizada dos exem

plos dados pelo professor

como “esp

elhos” da teoria. E

ste cenário, que contri

bui mais para

a afirma

ção do que pa

ra a

problematização

do sen

so com

um,

revela

a condição

estraté

gica d

e influência

sobre a

mediação de conteúdos sociológicos, ou a transpo

sição didática dos conhecim

entos científicos

a conhecim

entos escolares.

Se a adaptação dos conhecim

entos sociológicos ao ensino tem

como referên

cia

fundamental o

livro didático, que tem

as devem ser ad

aptados à prioritaria

mente, ou seja, que

temas são particulares e

imprescindíveis à S

ociologia?

Aliás, estes são tem

as das Ciências

Sociais, incluindo A

ntropologia e Ciências P

olíticas?

A julgar pelas reco

mendações oficiais

dos PN

CS

, OC

NS

e das Matrizes C

urriculares do Ceará

, os conhecime

ntos das Ciências

Sociais com

o um todo sã

o necessários, assim com

o sua abo

rdagem

e articu

lação é critério de

avaliação para escolhas de livros didáticos no P

NLD

(na fase de análise té

cnica por Com

issão

do ME

C). N

as condiçõ

es de

atu

ação d

as escolas

Alfa

e

Beta,

a

abordage

m

dos

conhecimentos antropológicos e políticos tem

catáter transversal aos tem

as propriamente

sociológicos ou são sociologizados. Neste conte

xto, os autores e as p

rincipais tendências

teóricas mais ligad

as à Antropologia e às C

iências P

olíticas são menos priorizados que a

abordagem

dos clássicos da Sociologia (E

mile D

urkheim

, Karl M

arx e Max W

eber), o que

85

concentra nestes a abord

agem teórica d

a disciplina. S

ão perceptíveis na

realização cotidiana

do currículo da disciplina

as inúme

ras dificuldades de apre

ensão destes clássicos pelos alunos.

Os dem

ais autores têm argum

entos utilizados em sala

de aula a depender do tema discutido,

mas não ganham

mais destaque que as associaçõ

es entre o tem

a em questão e a experiência

vivida ou observada pelos alunos em

suas várias socializações. N

esse sentido, o mesm

o tema

pode ser compreendido de m

aneiras diferentes nas duas escolas: po

r exem

plo, quando os

alunos têm o prim

eiro contato com

a Sociologia e

seu olhar, citam

inúmera

s manifestações d

a

influência social nas escolhas e valores pessoais. A

inda assim, os contextos exem

plificados

são reveladores das diferentes socializações: na es

cola Beta, os dilem

as da socialização

juvenil, em m

eio a afirmação da p

rópria identidade

são centrais nas falas dos alunos, ao passo

que na escola Alfa estes dilem

as são situados em re

lação a contextos de violências e violações

à vida digna da juventude (como a vunerabilidade

às drogas e a ausência de políticas culturais

e educacionais conectad

as com

suas necessidades).

Infere-se,

então, que

a

delimitação

de te

mas

próprios

à S

ociologia é

dimensionada pelo conte

xto escolar de inserção

da disciplina, o qu

e impacta diretam

ente na

apropriação do

livro didático em

sala de aula. O

cotidiano em

cada escola e em cada tu

rma

alimenta

a S

ociologia com

as

interpretações

e posturas

dos sujeitos

sociais que

estão

envolvidos no processo educativo dentro e fo

ra da

sala de

aula. Sendo utilizado ou não com

o

recurso

explicativo em

sala

de aula,

é através

desta

“contaminação”

da disciplina

pela

realidade

vivenciada

fora

da escola

que

seus conteúdos

são apre

endidos

pelos jovens,

conferindo caráter curricular, no caso do sabe

r soc

iológico, às experiências sociais relatadas,

confrontadas e problem

atizadas.

Então, longe d

e representar um

instrumento m

era

ment

e técnico, o livro didático

contribui para sucintar questões interessantes sobre o sentido ou o caráter da S

ociologia no

Ensino M

édio. Por ser m

eio tão importante d

e diálogo entre conteúdos previstos, relatos d

e

experiências cotidianas e pensam

entos cássicos no c

aso da Sociolo

gia, o livro está no centro

da questão

de com

o e

nsinar esta

disciplina. A

lém

disso,

por ser

fator

consolidador da

Sociologia com

o conhecim

ento escolar, o livro didático integra a construção do currículo

compreendida à luz da própria dinâm

ica escolar.

86

CO

NS

IDE

RA

ÇÕ

ES

FIN

AIS

O

debate

sobre

a inserção

curricula

r da

Socio

logia no

Ensino

Médio

margem

à compre

ensão sobre as relações com

plexas entre conhecim

ento, escola e sociedade.

Se tais rela

ções configuraram o cen

ário desta disciplina entre

ausências e

perman

ências no

currículo oficial,

continuam

criando

as condições,

os lim

ites e

os sentidos

do saber

sociológico na escola. C

entralmente, tratou-se n

est

e trabalho da disciplina de S

ociologia no

que diz respeito a tais condições, lim

ites e sentid

os em duas escolas d

a capital cearense,

considerando a constituição do currículo dentro e fora da sala de aula.

A

partir de reflexões sobre minha própria prática n

as escolas Alfa e B

eta,

ambas

no C

entro de

Fortaleza,

entrevistas co

m

dois professores

que

tam

bém

lecionam

Sociologia nestas escola

s e aplicação de questionár

ios junto aos alunos, busquei traçar um

panorama

das principais questões que envolvem

a inse

rção curricula

r da S

ociologia. Um

panorama p

articular, rodeado das condições de a

tuação próp

rias encontradas em

cada um

a

destas escolas,

mas

que,

por dim

ensionar as

demanda

s político-edu

cacionais e

mesm

o

culturais encaradas pela

instituição e pela

disciplina, revela a próp

ria lógica de tensões e

disputas pelo saber que constitui a dinâmica escola

r como um

todo.

A

constru

ção d

este olh

ar sobre

o

currículo d

e S

ociologia

foi, duran

te a

pesquisa, se ampliando p

ara além do dom

ínio da sala de aula. Isso porqu

e, na medida em

que

refletia sobre os tem

as ou objetivos do conh

eciment

o sociológico, me d

eparava

sempre co

m

os limites e possibilidades im

postos pelos contextos escolares à configura

ção ou efetivação na

prática deste conhecim

ento. A

ssim, em

conexão profunda com

o cotidiano escolar, a própria

condição disciplinar da S

ociologia foi sendo revelada e ressignificada, fu

gindo de descrições

asituadas sobre a natureza deste saber.

O

currículo de Sociolo

gia ganha vida na escola e p

ode dar vida nova à m

esm

a.

Ao ganha

r vida na escola, este currículo

se insere

nos mecanism

os de valo

rização e avaliação

das práticas escolares em decorrência de

sua inserç

ão no sistema

escolar ce

arense. As relaçõ

es

institucionais entre as escolas Alfa e

Beta e a S

ec

retaria d

e Educação, órgão

gerenciador d

as

escolas estaduais de ensino médio, revelaram

as demandas desta às prim

eiras, no sentido da

lógica de entrega d

e resultados, representados por

avaliações externas, com

o o SP

AE

CE

e o

EN

EM

.

Esta

lógica n

ão só

condiciona

as qu

estões e

struturais

nas du

as escolas

(de

funcionamento, ga

rantia e manutenção de recurso

s, sobretudo m

ateriais), como direciona o

s

sentidos da formação e

scolar entre jovens, professores e gestores. Inseridos no contexto

87

heterogên

eo verificado e

ntre as diferentes modalida

des de ensino em vigo

r no Ceará (escola

regular, escola inte

gral e escola inte

gral e com fo

rmação profissionaliza

nte), estes sujeitos

produzem

ou afirm

am

respostas a

“p

ara

que ensinar/a

prender?”.

Logo,

os sentidos

da

formação escolar assum

idos pelo sistema escola

r e ressignificados em

cada escola am

pliam a

dimensão curricular por que criam

as bases de valorização ou desvalo

rização, ingresso e

permanên

cia, adesão ou

distinção tanto de conh

ecime

ntos como de obje

tivos formativos e

profissionais entre os vários sujeitos envolvidos n

o ensino-aprendizagem

.

À m

edida que delimita

m os sentidos da aprend

izagem,

as dinâmicas co

tidianas

encontradas nas escolas A

lfa e Beta revelam

sobre os sentidos possíveis e d

esejáveis da

disciplina de Sociolo

gia. Neste ponto, as reflexõe

s realizadas ao lon

go do trabalho indica

ram

a am

biguidade

dos sen

tidos desta

disciplina em

cone

xão com

os

contextos escolares

analisados: ao m

esmo tem

po em qu

e a busca

por resultados em

avaliações externas cria

interdições ao conhecimento sociológico pu

rame

nte reflexivo ou direcion

ado a socializações

“insignificantes” diante de tais avaliações, esta

própria n

atureza reflexiva da S

ociologia pod

e

torná-la instrumento de ressignificação d

a escola.

Considerando isso, as revisões sobre o p

apel da for

ma

ção escolar na vida dos

jovens e mesm

o a compreensão d

a condição juvenil em sua com

plexidade são ressiginicações

importantes operad

as pela Sociologia n

as escolas Al

fa e Beta.

Além

da condição juvenil, a com

preensão sociologizada da

questão racial com

ênfase na h

erança cultural african

a e nos desd

obramentos cotidianos d

o racismo tam

bém

desempenha

ressignificações d

as práticas escolares,

tendo em

vista a

em

ergência de

novas

vozes entre as várias que “habitam” o currículo esc

olar. Por esse m

otivo, a Sociologia pod

e

favorever a

desestigm

atização

de grupos

e

coletivos

historicamente

e

culturalmente

desfavorecidos, a princípio pelo currículo escolar

e estendendo-se aos demais âm

bitos de

socialização dos indivíduos.

É

óbvio que

a refe

rência

central da

pesquisa

à m

inha

atuação red

uz esta

ressignificação às possibilidades encontrad

as em m

inha prática docente, o que não encerra

nestes exemplos todas as ressignificaçõ

es possibilitadas pela S

ociologia. O saber e m

esmo a

prática sociológica no

contexto escolar são constit

uintes da dimensão cu

rricular neste caso,

indo além dos saberes explícitos ou conteúdos progr

amáticos.

Com

um

a legitim

ação

no currículo

ainda

em

andam

ento,

a disciplina

de

Sociologia encontra realidade diversa de atua

ção profissional (no que diz respeito à relação

entre área de formação

e atuação dos docentes) e espaço no conjunto de conhecim

entos

escolares (no que diz respeito à carga horária). Ai

nda assim, a investiga

ção desta pesquisa

88

redimensinou

esta

legitim

ação: o

que,

à prim

eira vi

sta, pod

eria

ser analisado

como

problemática no caso da

Sociologia, reverte

-se em

possibilidade ou fator de le

gitimação da

mesm

a. Então, as avaliações qu

e condicionam a disci

plina, como o E

NE

M, operam

sua

legitimação

ao avaliarem tam

bém suas cap

acidades ou

competên

cias prescristas nos PN

C’s e

OC

N’s. M

esmo a inserção institucional com

suas interdiçõ

es ou limites ao

conhecim

ento

sociológico, le

gitima

este conhecim

ento

garantindo recu

rsos didáticos

(através,

principalmente,

do

Pla

no N

acional

do Livro

D

idático)

e escla

recendo,

por m

eio

de

publicações oficiais, os sentidos ou caminhos desej

áveis para a disciplina nas escolas do país

e da cidade.

Nesta com

preensão sob

re o currículo de Socio

logia, qu

e torna fund

am

ental a

relação entre esta disciplina e os contextos escolares nas quais se insere, a

questão do que se

ensina e dos métodos ou recursos utilizados é tam

bém

ressignificada. N

a disciplina de

Sociologia ainda não existem

consensos tão firmes s

obre que temas e sequência de tem

as lhe

são próprios quanto em disciplinas m

ais antigas no currículo. A

inda assim, esta im

precisão,

associada ao papel ou a

bordagem

crítica da S

ociologia na

escola, ressignifica também

sua

inserção curricular.

Ao pensarm

os sobre o currículo da Sociologia e nos

reportarmos aos sentidos

desta disciplina na formação dos jovens, a p

rópria

problematização sobre as rela

ções entre

escola e sociedad

e ganha

m destaque. Lo

go, no caso d

esta disciplina, discutir quais tem

as não

encerra o debate do currículo por que o m

esmo in

clui as necessid

ades de contextualização dos

temas, a relação entre professores e alunos, a ada

ptação re

cente ao uso do livro didático e, no

âmbito dos significados da escola na vid

a dos jovens, as aproxim

ações entre os contextos e

identidades revelados dentro e fora d

a instituição.

De m

aneira geral, a reflexão sobre o ensino de S

ociologia

que conduzi nesta

dissertação convergiu para inúm

eras ressignificações, tanto da instituição escolar, quanto d

a

própria natureza de disciplina neste caso. Ressigni

ficações porque, passados oito anos da

obrigatoriedad

e da

disciplina de

Sociologia,

não

podemos

situar o

debate quanto

a

primeiras im

pressões ou significa

ções, uma vez que

as políticas curriculares e as práticas e

discursos cotidianos

da

s escolas

produziram

e produzem

respostas

ou determ

inações

importantes para o cená

rio de legitim

ação desta disciplina.

Em

que pese o contexto escolar e seus vários agente

s – tanto internos, como

alunos, professores, funcionários e núcleo gestor,

quanto externos, como profissionais da

SE

DU

C, responsáveis p

elos docum

entos oficiais em

vínculo tem

porário ou perm

anente com

o

ME

C,

pais e

responsáveis

– esta

pesquisa foi

construída,

prioritariamente,

sob m

inha

89

perspectiva docente. Aliada à m

inha voz, as outras vozes docentes da disciplina tam

bém

contribuíram ao debate, situado tam

bém por inform

açõ

es dos alunos. Mesm

o que tenha

possibilitado reflexões importantes sobre a realida

de vivenciada nas escolas A

lfa e Beta e a

dimensões curricular da

Sociologia

nas mesm

as, a aborda

gem destas pe

rspectivas encontra

limites.

Assim

, pelo próprio olhar relacional entre currícul

o de Sociologia e escola que

desenvolvi, a discussão sobre as trajetórias e form

ações docentes foi prejudicada. Ainda que

aborde reflexões sobre minha form

ação e as ressignifica

ções que tamb

ém ocorre

ram nesta

entre a atuação como pibidiana e o ingresso na carr

eira docente, o impacto da form

ação dos

professores Roberto e Lucas em

suas práticas curriculares, ou ainda as relaçõ

es entre a

formação nas licenciaturas e seu diálogo com

a realidade en

contrada nas escolas ou com

as

prescrições curriculares o

ficiais, não foram apro

fundados.

Além

disso, outras possibilidades investigativas se abrem

no âmbito da reflexão

sobre o currículo de

Sociologia: se

compreende

mos q

ue o ensino d

e So

ciologia possibilita,

nas escolas Alfa e B

eta, um

a sociologização do ensino, ressignificand

o o mesm

o, então,

podemos avança

r. Em

reflexões futuras, no diagnótisco sobre a inse

rção curricular desta

disciplina nos dias de hoje, os elementos d

e estabilização ou de interdição a um

conhecim

ento

sociológico reflexivo e crítico na escola continuar

ão sendo revelados na prática docente

dentro e fora da sala de aula.

Então,

mais

do que

respostas definitivas

sobre a

dim

ensão curricular

da

Sociologia no E

nsino Médio, a investigação dos cont

extos escolares em suas convergências e

divergências nas escolas Alfa e B

eta colocou e

coloca inúm

eras qu

estões. E

stas questões,

esclarecidas nesta dissertação sob o ponto de vista

docente, são dimension

adas pela re

alidade

encontrada em

cada esco

la e em suas rela

ções com

o sistem

a de ensino e com as socializaçõe

s

dos sujeitos em outros espaços sociais. N

esse sentido, m

esmo com

as espe

cificidades de cada

contexto escolar, as práticas e discursos produzidos sobre o qu

e, como e para que

ensinar

Sociologia revelam

ressignificações particulares d

e questões gerais da edu

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