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6 OBSERVAÇÕES SOBRE AS ORIENTAÇÕES JURISPRUDENCIAIS DA SEÇÃO DE DISSÍDIOS COLETIVOS E A INSTRUÇÃO NORMATIVA 04/93 DO TST Neste tópico, pretendemos fazer uma breve análise sobre os procedimentos adotados pelo Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais, sob o ponto de vista das exigências estabelecidas pelo legislador e, principalmente, de acordo com aquelas regras impostas pelo Poder Judiciário Trabalhista para o eventual exercício do poder normativo da Justiça do Trabalho. O Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais teve seu reconhecimento como entidade sindical de 1º grau em 14 de agosto de 1942, então com denominação de Sindicato dos Professores de Ensino Secundário de Belo Horizonte. Em 20 de dezembro de 1950 teve sua base territorial estendida a todo o Estado de Minas Gerais, à exceção do Município de Juiz de Fora, passando a denominar-se Sindicato dos Professores do Ensino Secundário de Minas Gerais. Possui a atual denominação desde 14 de julho de 1970, sendo que a Portaria Ministerial n.º 485, de 1963, criou a categoria profissional “professores” (diferenciada), estendendo sua representação a todos os professores, independentemente do nível de ensino ministrado pelo docente. Desde 1980, após vitória em pleito eleitoral, tem sua direção efetivamente vinculada aos interesses da categoria que

Dissídio Coletivo

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6 OBSERVAÇÕES SOBRE AS

ORIENTAÇÕES JURISPRUDENCIAIS DA

SEÇÃO DE DISSÍDIOS COLETIVOS E A

INSTRUÇÃO NORMATIVA 04/93 DO TST

Neste tópico, pretendemos fazer uma breve análise sobre os

procedimentos adotados pelo Sindicato dos Professores do Estado de Minas

Gerais, sob o ponto de vista das exigências estabelecidas pelo legislador e,

principalmente, de acordo com aquelas regras impostas pelo Poder Judiciário

Trabalhista para o eventual exercício do poder normativo da Justiça do Trabalho.

O Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais teve seu

reconhecimento como entidade sindical de 1º grau em 14 de agosto de 1942, então

com denominação de Sindicato dos Professores de Ensino Secundário de Belo

Horizonte.

Em 20 de dezembro de 1950 teve sua base territorial estendida a todo o

Estado de Minas Gerais, à exceção do Município de Juiz de Fora, passando a

denominar-se Sindicato dos Professores do Ensino Secundário de Minas Gerais.

Possui a atual denominação desde 14 de julho de 1970, sendo que a

Portaria Ministerial n.º 485, de 1963, criou a categoria profissional “professores”

(diferenciada), estendendo sua representação a todos os professores,

independentemente do nível de ensino ministrado pelo docente.

Desde 1980, após vitória em pleito eleitoral, tem sua direção efetivamente

vinculada aos interesses da categoria que representa.

Vivenciou momentos de grandes mobilizações da categoria na segunda

metade da década de 1980, com seguidas greves, que atingiram a ampla maioria

de seus integrantes, obtendo conquistas importantes, assim como diversas outras

categorias profissionais à época.

Dentre as conquistas obtidas nesse período, merece destaque o direito à

percepção do denominado “adicional por atividades extraclasse”, da ordem de 20%

do salário mensal do docente, visando a remuneração do tempo despendido pelo

professor com elaboração de aulas, produção e correção de provas, dentre outras

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atividades vinculadas à docência, posto que a ampla maioria dos professores é

contratada por horas-aula, isto é, sua remuneração é vinculada ao número de aulas

ministradas por semana, não computando o tempo despendido com as atividades

descritas.

A categoria econômica, até 1994 era representada por apenas um

sindicato, com base territorial em toda Minas Gerais: Sindicato dos

Estabelecimentos de Ensino de Minas Gerais. Seu desmembramento implicou, além

de sua manutenção com base territorial reduzida, na criação de outros cinco

sindicatos: Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Minas Gerais – Região

Sudeste; Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Nordeste Mineiro; Sindicato

dos Estabelecimentos de Ensino de Poços de Caldas; Sindicato dos

Estabelecimentos de Ensino do Triângulo Mineiro e Sindicato dos Estabelecimentos

de Ensino de Idiomas de Minas Gerais.

No ano de 1995 foi firmada convenção coletiva de trabalho assinada pelo

Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (SINPRO/MG) e os demais

sindicatos econômicos, com exceção do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino

de Poços de Caldas e Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Idiomas do

Estado de Minas Gerais.

A partir de 1996 foram firmadas convenções com cada um dos sindicatos

econômicos, todas elas baseadas na convenção firmada anteriormente. As datas-

base originais (1º de fevereiro – para professores de educação infantil, ensinos

fundamental, médio, superior e posterior e supletivo regular – e 1º de março – pré-

vestibular, supletivo e cursos livres) foram mantidas.

Assim, em razão de sua história e dimensão política, aliadas ao

reconhecimento de sua atuação em prol da categoria, bem como pelo grande

número de associados – cerca de 25.000 – e extensa base territorial, utilizaremos

as campanhas salariais do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais

para estudarmos a prática do poder normativo da Justiça do Trabalho.

A apresentação dos procedimentos necessários à instauração da

instância coletiva nos permitirá traçar uma análise crítica das orientações

jurisprudenciais da SDC do TST, um dos objetivos deste trabalho.

Não seria incorreto afirmar que dificilmente – para não dizer nunca – um

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sindicato profissional terá sucesso na Justiça do Trabalho se buscar suas

reivindicações apenas nos dispositivos consolidados. Na verdade, o dissídio coletivo

não será sequer conhecido.

Isto porque, não obstante a moderna doutrina processualista venha

defendendo a maior efetividade do processo, como forma de assegurar a

efetividade da norma, através da simplificação de procedimentos e do que se pode

chamar de de-formalização dos ritos e simplificação das formas, caminho oposto

tem o trilhado o processo de dissídio coletivo.

Sendo ato de representação da categoria firmar acordos e convenções

coletivas de trabalho, ou mesmo instaurar dissídio coletivo, a legitimação das

entidades sindicais, especialmente as profissionais, é fator essencial para tanto. E,

já neste aspecto, as orientações jurisprudenciais da SDC/TST se fazem presentes.

A legitimação da entidade sindical é conferida através da manifestação

da categoria representada. Tal manifestação se dá através de assembléia geral da

categoria.

Primeiramente, hão de ser observados no estatuto da entidade sindical

quais os procedimentos para a convocação da assembléia, no que diz respeito ao

prazo mínimo de antecedência entre a publicação do edital de convocação e a data

de sua realização e lapso temporal entre a 1ª e a 2ª convocações.

Também encontraremos nos estatutos, pelo menos em sua grande

maioria, que o edital de convocação será publicado em jornal de grande circulação

ou no Diário Oficial do Estado. Porém, embora assim esteja estabelecido nos

estatutos da entidade, já se fazem notar as orientações jurisprudenciais da

SDC/TST. Neste aspecto, a Orientação Jurisprudencial n.º 28, assim redigida:

28. Edital de convocação da AGT. Publicação. Base territorial. Validade. O edital de convocação para AGT deve ser publicado em jornal que circule em cada um dos municípios componentes da base territorial.

O TST entende como “jornal que circule em cada um dos municípios” os

denominados jornais de ampla circulação, aqueles vendidos em bancas de jornais,

não se prestando para tanto a publicação de editais em órgão oficial. Este

entendimento é predominante, embora, em razão da ampla base territorial do

Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (852 municípios), já se tenha

admitido a publicação em órgão oficial do Estado. Mas é exceção.

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A questão da validade da publicação de editais no órgão oficial do

Estado, para convocação das assembléias para aprovação da pauta de

reivindicações dos representados pelo Sindicato dos Professores de Minas Gerais,

foi decidida pelo TST, em razão de agravo regimental interposto contra decisão

monocrática que extinguiu o Dissídio Coletivo n.º TRT/DC 08/99, tendo como

suscitado o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Nordeste Mineiro.

Interposto recurso ordinário contra a sentença normativa TRT/DC 08/99,

pelo sindicato profissional, o Min. Relator, Vantuil Abdala, monocraticamente o

extinguiu, por desrespeito à orientação jurisprudencial n.º 28 da SDC do TST.

Interposto agravo regimental (TST-AG-RODC 645.063/2000.4) pelo

sindicato obreiro, foi proferida a seguinte decisão:

Tipo: AG-RODC Número: 645063 Ano: 2000 A C Ó R D Ã OAgravo regimental provido para determinar o prosseguimento do recurso ordinário na forma da fundamentação do voto. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Regimental em Recurso Ordinário em Dissídio Coletivo nº TST-AG-RODC -645.063 /2000.4, em que é Agravante SINDICATO DOS PROFESSORES DO ESTADO DE MINAS GERAIS e Agravado SINDICATO DOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO DO NORDESTE MINEIRO .Interpõe o sindicato-obreiro agravo regimental (fls. 776/781) contra a decisão que, com fulcro no art. 557 do CPC, extinguiu seu processo na forma do art. 267, incisos IV e VI, do CPC. Aduz que foi ofendido o princípio do devido processo legal (art. 5º, LV, da Constituição Federal), na medida em que não lhe foi dada oportunidade de sanar as irregularidades argüidas pela v. decisão ora inquinada. Sustenta que as exigências: da constatação, na ata da Assembléia, do número de presentes à Assembléia Geral da categoria e da publicação do edital de convocação das Assembléias ter de se dar em jornal de grande circulação, não estão inseridas dentre aquelas dispostas na Instrução Normativa nº 04 deste TST, que regula e disciplina o processo de dissídio coletivo. Alega que não concorda que tenha ocorrido descumprimento das regras legais para instauração da instância. Requer seja modificada a v. decisão ora impugnada, dando seguimento ao processo para que o recurso impetrado seja julgado pelo órgão competente.É o relatório.V O T OTrata-se de agravo regimental interposto pelo Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais contra o r. despacho proferido em recurso ordinário em dissídio coletivo em que foi decretada a extinção do processo por ausência de cumprimento de requisitos para a instauração do dissídio coletivo, conforme a jurisprudência desta Eg. Corte Superior. Os dois fundamentos adotados no r. despacho para decretar a extinção do processo foram: - segundo a ata, havia um número de participantes na assembléia e a lista de presença acusava outro número; e - a comunicação da assembléia havia sido feita somente pelo Diário Oficial, e não por meio de um jornal de grande circulação, conforme determina a Orientação Jurisprudencial nº 28 desta Eg. SDC. No agravo regimental ora interposto, ficou comprovado que as pessoas que assinavam a lista eram, efetivamente, associadas do sindicato, de forma que, mesmo com o número que se conseguiu fazer a prova - algumas das

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assinaturas eram ilegíveis - verificou-se que havia mais de um terço de associados presentes às Assembléias. Outro aspecto trazido nas razões de agravo regimental que entendo ter razão a agravante, é quanto a publicação do edital da Assembléia ter sido feita somente no Diário Oficial do Estado. Conforme salientado pelo agravante, assim foi feito porque embora se trate de um sindicato estadual, o dissídio coletivo ajuizado pelo sindicato-obreiro se referia também a uma base do nordeste mineiro, composta por pequenas cidades onde, em boa parte delas, não existe um jornal local e, muitas vezes, sequer recebe ou há pessoas que assinam o jornal da Capital, o qual inúmeras vezes chega no dia seguinte a essas cidades ou com dois ou três dias de atraso. Mas o Diário Oficial, com certeza, circula em todas essas cidades, de maneira que isso faz a diferença no presente caso. Ora a publicação do edital de convocação ter sido feita no Diário Oficial se justifica, na medida em que, na realidade este era o único jornal de circulação na maioria dessas cidades que compõem a base territorial do sindicato-suscitante. Assim sendo, ultrapassados os óbices impostos pelo r. despacho que julgou extinto o processo sem julgamento do mérito, dou provimento ao agravo regimental para determinar o prosseguimento do recurso ordinário, nos termos da fundamentação supra. É o meu voto.ISTO POSTOACORDAM os Ministros da Seção Especializada em Dissídios Coletivos do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, dar provimento ao agravo regimental para determinar o prosseguimento do recurso ordinário, nos termos da fundamentação do voto do Exmº Ministro Relator.Brasília, 28 de junho de 2001.ALMIR PAZZIANOTTO PINTOPresidenteVANTUIL ABDALARelator(Publicado no D.O.U. de 08/02/02)

No mais das vezes, argumenta a máxima Corte Trabalhista que ao

trabalhador não é dado o hábito de ler jornais oficiais. No entanto, desconsidera que

a ninguém é dado o direito de alegar ignorância da lei para eximir-se de seu

cumprimento, sendo certo que qualquer dispositivo legal é publicado (ou seja, dele é

dado conhecimento) no órgão oficial pertinente. Além disso, há que ser

acrescentado o desrespeito às normas estatutárias que regem a matéria, o que, no

nosso entendimento, ofende o princípio da liberdade sindical.

A ementa a seguir transcrita demonstra esse entendimento:

EMENTA: EDITAL DE CONVOCAÇÃO – PUBLICAÇÃO APENAS NO DIÁRIO OFICIAL. Não tem validade à título de convocação para assembléia da categoria, a publicação no Diário Oficial devido a dificuldade de acesso dos associados ao órgão de publicação oficial (TST – RODC – 400349/97 – DJ 03.04.98 unânime [publicado apenas no diário oficial do Estado de São Paulo])

E mais. Aqueles que militam na área trabalhista, especialmente a coletiva, têm absoluta consciência de que a efetiva convocação se dá pelos meios de comunicação já consolidados pela prática sindical, ou seja, carros de som, boletins da entidade sindical, até mesmo por convocações de rádio. Deste modo, embora sob o manto de maior democratização do processo de convocação, permitindo, supostamente, maior acesso ao chamamento da

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entidade sindical profissional, estamos diante de uma exigência não prevista em lei, e que, como dissemos, ofende o princípio da liberdade sindical, ao desconsiderar as determinações estatutárias quanto a esta matéria.

Da ordem do dia (pauta dos trabalhos) deverão constar expressamente

dois itens: aprovação da pauta de reivindicações e concessão de poderes à diretoria

da entidade para negociação coletiva e para acordo judicial (autorização para

instauração de dissídio coletivo, caso frustradas as negociações) – item VII, alínea c

da Instrução Normativa n.º 04, de 8 de junho de 1993, do TST.

Passo seguinte é a realização da assembléia geral da categoria, ou

melhor, das assembléias. Isto em razão do que estabelece a Orientação

Jurisprudencial n.º 14 da SDC/TST, assim redigida:

14. Sindicato. Base territorial excedente de um município. Obrigatoriedade da realização de múltiplas assembléias. Se a base territorial do sindicato representativo da categoria abrange mais de um município, a realização de assembléia deliberativa em apenas um deles inviabiliza a manifestação de vontade da totalidade dos trabalhadores envolvidos na controvérsia, pelo que conduz á insuficiência de quorum deliberativo, exceto quando particularizado o conflito.

Mais uma vez, ainda sob o manto de suposta democracia, vemos o TST

impor nova obrigação, também não prevista em lei, a teor do que estabelece o art.

612 da CLT.

Esta obrigação, em casos como o do SINPRO/MG, em razão de sua

extensa base territorial, implica toda uma grande operação de logística, pois são

realizadas mais de 50 assembléias em todo o Estado a cada campanha salarial.

Tarefa hercúlea, como definida pela eminente relatora da sentença normativa

TRT/DC 05/01 (SINPRO/MG x SINEPE/MG), Dra. Emília Facchini.

A validade das assembléias está condicionada à obtenção de quorum

determinado. Mais uma vez, ocorridos debates e discussões, a SDC/TST optou pelo

quorum mais elevado: aquele previsto no art. 612 da CLT, deliberação esta

estabelecida pela Orientação Jurisprudencial n.º 13, assim redigida:

13. Legitimação da entidade sindical. Assembléia deliberativa. Quorum de validade. Art. 612 da CLT. Mesmo após a promulgação da Constituição Federal de 1988, subordina-se a validade da assembléia de trabalhadores que legitima a atuação da entidade sindical respectiva em favor de seus interesses à observância do quorum estabelecido no art. 612 da CLT.

O debate sobre a questão do quorum deliberativo das assembléias não é

recente, sendo certo que a própria Instrução Normativa n.º 04 de 1993 do TST traz

em seu bojo a contradição à época existente, pois no item VI, b, afirma o quorum

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estatutário, ao passo que no item VII, c, afirma o quorum legal.

A opção pelo quorum previsto pelo art. 612 da CLT, em que pesem

opiniões divergentes, é mais uma forma de impedir ou, no mínimo, dificultar o

acesso dos sindicatos ao poder normativo da Justiça do Trabalho.

Sabem aqueles que militam na atividade sindical, que a aprovação da

pauta de reivindicações é o primeiro passo de uma campanha salarial. É comum

que a mobilização de maior número de membros da categoria profissional vá se

formando com o processo de negociação, com os informes sobre seu andamento,

as respostas da representação econômica negando algum pleito, pretendendo a

retirada de conquistas já asseguradas em instrumentos anteriores.

É um processo crescente e dinâmico. Daí, exigir-se que estejam

presentes em assembléia para aprovação da pauta de reivindicações 2/3 dos

associados, em 1ª , ou 1/3, em 2ª convocação (caso de convenção, em se tratando

de acordo a referência é o número de interessados), logo no primeiro passo da

campanha, não guarda sintonia com a própria dinâmica do procedimento.

Não estamos defendendo que a pauta seja aprovada por reduzido

número de associados ou interessados. Porém, encontraremos em dispositivos

legais estabelecimento de validade de assembléia com número bem inferior. Como

exemplo podemos citar o art. 859 da CLT, específico no tocante à instauração da

instância. Ele dispõe que

a representação dos sindicatos para instauração da instância fica subordinada à aprovação de assembléia, da qual participem os associados interessados na solução do dissídio coletivo, em primeira convocação, por maioria de 2/3 (dois terços) dos mesmos, ou, em segunda convocação, por 2/3 dos presentes.

Podemos citar, ainda, a Lei n.º 7783/89 – a Lei de Greve – que confere

aos estatutos da entidade sindical a deliberação sobre o quorum de validade de

assembléia que decide pela suspensão coletiva das atividades laborais.

A esse respeito cabe a transcrição dos ensinamentos de Freitas (2001, p.

109):

um novo elemento de interesse para o exame da matéria surgiu, contudo, com a Lei 7783, de 28.6.89, cujo ART. 4º estabelece que, ‘caberá à entidade sindical correspondente convocar, na forma de seu estatuto, assembléia-geral que definirá as reivindicações da categoria e deliberará sobre a paralisação coletiva da prestação de serviços’ e no § 1º, que, ‘O estatuto da entidade sindical deverá prever as formalidades de convocação e o quorum para a deliberação, tanto da deflagração quanto da cessação da greve’.

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Como a lei 7.783 é de JULHO/89, não deve ser ignorada quanto à prevalência do Estatuto no tocante ao quorum das assembléias-gerais. Os ARTS. 612 e 859 da CLT são anteriores à Constituição de 1988. Este dado é importantíssimo, tendo em vista que a referida Constituição, como já ressaltado, rompeu com o clima de intervencionismo estatal na vida sindical. O ART. 4º e seu § 1º, da Lei 7.783, constituem, portanto, as únicas disposições legais relativas a quorum das assembléias sindicais que se podem qualificar como consentâneas com a nova ordem vigente a partir de 5 de outubro de 1988.

Se bem andou o legislador pátrio, no que tange conferir às entidades

sindicais, por seus estatutos, a faculdade de prever livremente o quorum para

aprovação da pauta de reivindicações da categoria e para decidir sobre a

deflagração ou cessação de movimento grevista, em sentido oposto caminhou o

“legislador” judicial.

Desta forma, não nos parece que a única preocupação motivadora da

Seção de Dissídios Coletivos do TST tenha sido a maior participação de

trabalhadores ao decidir sobre pauta de reivindicações da categoria quando optou

(o mesmo verbo é utilizado por Freitas (2001, p. 108) ao comentar a Orientação

Jurisprudencial n.º 13 da SDC do TST) pelo quorum do art. 612 da CLT. Temos a

nítida impressão de que a opção foi permeada também, ou principalmente, pela

intenção de dificultar o conhecimento dos dissídios coletivos, extinguindo-os por

ilegitimidade ativa ad causam. Como conseqüência, a categoria profissional ficava

ao desabrigo de instrumento coletivo de trabalho.

O Tribunal Regional do Trabalho, por sua Seção de Dissídios Coletivos,

em sua maioria, tem entendido que o quorum assemblear deve ser aquele

estabelecido pelos estatutos sociais da entidade profissional.

Por isso, rejeitou a preliminar eriçada pelo Sindicato dos

Estabelecimentos de Ensino de Minas Gerais – Região Sudeste, nos autos do

dissídio coletivo TRT/DC 06/01, no qual foi suscitante o Sindicato dos Professores

de Juiz de Fora. Interposto recurso ordinário pelo sindicato econômico, distribuído

no TST ao E. Juiz Convocado Georgenor de Sousa Franco Filho, foi por ele,

monocraticamente, extinta a instância, por ofensa à Orientação Jurisprudencial n.º

13 da SDC/TST.

Interposto agravo regimental pelo sindicato obreiro, a ele foi negado

provimento, como se vê da decisão a seguir transcrita:

Tipo: AG-RODC Número: 5558 Ano: 2002PROC. Nº TST-AG-RODC-5558/2002-900-03-00.9

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A C Ó R D Ã OAGRAVO. DISSÍDIO COLETIVO. ASSEMBLÉIA GERAL. QUORUM DE INSTALAÇÃO. ART. 612 DA CLT. 1. O sindicato apenas representa os trabalhadores, verdadeiros titulares dos interesses reivindicados. Assim, para ingressar em juízo, deve obter a respectiva autorização, que se dá por meio de assembléia geral, observado o quorum legal de instalação, verdadeiro indicativo de que a deliberação representa, efetivamente, a vontade da categoria (art. 612 da CLT). Não se admite desconsiderá-lo em prol de quorum estatutário inferior, sob pena de conferir-se aos dirigentes de plantão poderes intransferíveis da categoria, em afronta ao princípio da representatividade sindical. 2. Agravo a que se nega provimento.Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Regimental em Recurso Ordinário em Dissídio Coletivo nº TST-AG-RODC-5558/2002-900-03-00.9, em que é Agravante SINDICATO DOS PROFESSORES DE JUIZ DE FORA SINPRO/JF e é Agravado SINDICATO DOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO DE MINAS GERAIS REGIÃO SUDESTE SINEPE/SUDESTE .SINDICATO DOS PROFESSORES DE JUIZ DE FORA SINPRO/JF interpõe agravo contra a r. decisão monocrática de fls. 1.090/1.092, que deu provimento ao recurso ordinário interposto pelo SINDICATO DOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO DE MINAS GERAIS REGIÃO SUDESTE SINEPE/SUDESTE, para julgar extinto o dissídio coletivo sem exame do mérito (fls. 1.153/1.160).Fundou-se a r. decisão agravada na Orientação Jurisprudencial nº 13 da Eg. Seção de Dissídios Coletivos do Tribunal Superior do Trabalho, que considera indispensável a observância ao quorum de instalação da assembléia deliberativa, tal qual estabelecido no art. 612 da CLT, para a sua validade.Alega, todavia, o Agravante violação aos arts. 8º, caput, incisos I, III e VI, da Constituição da República e 859 da CLT, porquanto, em suma, bastaria a observância ao quorum estatutário, ainda que inferior ao legal, mesmo porque, afirma, neste sentido, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que os sindicatos NÃO PRECISAM DE AUTORIZAÇÃO DA CATEGORIA para representá-la, processualmente ( sic, fl. 1.156).É o relatório.1. CONHECIMENTOSatisfeitos os pressupostos legais de admissibilidade, conheço do agravo.2. MÉRITO DO AGRAVO O Agravante alega que a exigência de quorum para deliberação de assembléias sindicais é afronta ao princípio da liberdade e autonomia da organização sindical e arremata: o despacho, ao não admitir o quorum estatutário para a instauração de instância para o dissídio viola o direito do sindicato de representar os interesses coletivos da categoria, jurídica e administrativamente (fl. 1.156). Argumenta, ainda, que a Lei é clara no sentido de que o quorum para a instauração de instância em dissídio coletivo é o do art. 859 da CLT (fl. 1.157). Em decorrência, como visto, aponta violação aos arts. 8º, caput, incisos I, III e VI, da Constituição da República e 859 da CLT. Não assiste razão ao Agravante.Conforme consignado no v. acórdão embargado, o sindicato apenas representa a categoria, verdadeira titular dos interesses reivindicados. E, ao contrário do que afirma o Agravante, não há orientação contrária proferida pelo Excelso Supremo Tribunal Federal. Assim, para ingressar em juízo, o sindicato deve obter a respectiva autorização, que se dá por meio da assembléia geral. Trata-se de verdadeira condição da ação, na medida em que somente após a realização da assembléia é que o sindicato encontra-se devidamente legitimado a instaurar o dissídio coletivo.Ora, a autorização concedida ao sindicato em assembléia geral tem sua eficácia subordinada à observância de requisitos previamente estabelecidos, dentre os quais sobressai, por sua importância, o quorum

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tanto o de instalação a que se refere o art. 612 da CLT, quanto o de deliberação, do art. 859 da CLT , que é o verdadeiro indicativo de que a deliberação representa, efetivamente, a vontade da categoria. Portanto, não se admite que o quorum legal de instalação da assembléia geral seja desconsiderado em prol de quorum estatutário inferior, sob pena de conferir-se aos dirigentes de plantão poderes intransferíveis da categoria em afronta ao princípio da representatividade sindical. Daí afirmar-se que a decisão que exige o quorum previsto no art. 612 da CLT não viola os arts. 8º, caput, incisos I, III e VI, da Carta da República e 859 da CLT. Na espécie, o Agravante não demonstrou que o Estatuto do Sindicato profissional Suscitante preveria quorum de instalação da assembléia geral em número inferior ao quorum legal. No mesmo sentido, a análise da Seção II do Capítulo III do referido Estatuto confirma que, de fato, não há norma estatutária a contrariar as disposições do art. 612 da CLT.Assim, considerando que dos 3.280 associados, somente 995 são empregados de escolas particulares e, portanto, diretamente interessados (fls. 141 do Protesto Judicial, em apenso), o quorum exigido para instalação da assembléia geral deliberativa é de 331 professores associados. Todavia, não se alcançou o quorum legal, malgrado realizadas sete assembléias sucessivas em quatro meses, nas quais se discutiram propostas de negociação coletiva: 24 presentes na AGE de 1º/12/2001 (fls. 118/154); 105 na AGE de 09/12/2001 (fls. 186/238); 125 na AGE de 15/02/2001 (fls. 251/308); 148 na AGE de 21/02/2001 (fls. 320/379); 55 na AGE de 07/03/2001 (fls. 401/442); 42 na AGE de 09/03/2001 (fls. 454/492) e 66 na AGE de 16/03/2001 (fls. 501/554).Note-se, igualmente, que os respectivos editais convocaram todos os professores, sindicalizados e não sindicalizados e que muitos dos presentes em uma das assembléias compareceram às demais. Portanto, ainda que a r. decisão agravada contrarie os interesses do Sindicato profissional Agravante, revela-se uníssona à legislação aplicável à espécie, não merecendo reforma.Nesse sentido, a jurisprudência esposada pela Eg. Seção de Dissídios Coletivos do TST e sedimentada na Orientação Jurisprudencial nº 13:13. LEGITIMAÇÃO DA ENTIDADE SINDICAL. ASSEMBLÉIA DELIBERATIVA. QUORUM DE VALIDADE. ART. 612 DA CLT.Mesmo após a promulgação da Constituição Federal de 1988, subordina-se a validade da assembléia de trabalhadores que legitima a atuação da entidade sindical respectiva em favor de seus interesses à observância do quorum estabelecido no art. 612 da CLT. Ante o exposto, nego provimento ao agravo.ISTO POSTOACORDAM os Ministros da Seção Especializada em Dissídios Coletivos do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, negar provimento ao Agravo Regimental.Brasília, 12 de setembro de 2002.GEORGENOR DE SOUSA FRANCO FILHOJuiz Convocado(Publicado no D.O.U. de 11.10.02)

Cabe ainda uma observação. A orientação jurisprudencial n.º 13 da SDC

do TST é dirigida aos sindicatos dos trabalhadores, como forma de verificar a real

vontade da categoria profissional. Pergunta-se: por que não se exige o mesmo das

entidades econômicas, para conhecimento e reconhecimento da real vontade das

empresas por elas representados?

Não se exige idêntico procedimento, com idêntico rigor para validade,

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quando se examina a contraproposta patronal.

Como reconhecer, então, que a negativa a determinado pleito ou a

pretensão de inclusão de determinado dispositivo no instrumento coletivo em

desfavor dos trabalhadores é realmente a vontade da categoria econômica? Dois

pesos e duas medidas? Onde fica a igualdade de tratamento que deve ser

dispensada às partes litigantes? Não temos resposta a tais questionamentos.

O quorum para instalação da assembléia deve ser comprovado através

de lista de presença, na qual deve constar, em caso de negociação visando celebrar

convenção coletiva de trabalho, o número da matrícula sindical dos trabalhadores

sindicalizados presentes (item VII, d, da Instrução Normativa n.º 04 de 1993 do TST

– cópia autenticada do livro ou das listas de presença dos associados participantes

da assembléia deliberativa, ou outros documentos hábeis à comprovação de sua

representatividade). Deverá, ainda, ser apresentada a indicação do total de

associados à entidade sindical profissional, como preconizado na Orientação

Jurisprudencial n.º 21 da SDC/TST (Legitimidade ad causam do sindicato. Ausência

de registros do total de associados da entidade sindical. Insuficiência de quorum

[art. 612 da CLT]), em caso de necessidade de instauração da instância judicial.

Das atas das assembléias deverá constar, em sua integralidade, a pauta

de reivindicações aprovadas, como estabelece a Orientação Jurisprudencial n.º 8 da

SDC/TST, assim redigida:

8. Dissídio Coletivo. Pauta reivindicatória não registrada em ata. Causa de extinção. A ata da assembléia de trabalhadores que legitima a atuação da entidade sindical respectiva em favor de seus interesses deve registrar, obrigatoriamente, a pauta reivindicatória, produto da vontade expressa da categoria.

As orientações jurisprudenciais da SDC/TST são relativamente recentes e

são fruto, é sabido, de consolidação jurisprudencial. Nas questões apresentadas, é

de fácil constatação a opção pela situação que impõe maiores dificuldades às

entidades sindicais obreiras. Com base nestas orientações, ou mesmo nas decisões

anteriores, diversos dissídios coletivos foram extintos, sem julgamento do mérito,

com prejuízos incalculáveis aos trabalhadores, em clara leitura da opção do TST por

evitar ao máximo o julgamento destes, evitando exercer o poder normativo que lhe

confere a Constituição da República (art. 114, § 2º).

É importante destacar, ainda, que as orientações em comento seguem a

Page 12: Dissídio Coletivo

mesma linha de raciocínio que entende como recepcionados diversos dispositivos

consolidados, pela atual Constituição, muito embora consagrado o princípio da

liberdade sindical e, com ele, a não interferência ou intervenção do poder público

sobre as entidades sindicais. A este respeito merece destaque o entendimento de

que o art. 522 da CLT foi recepcionado pela atual Carta Política, embora se trate de

típico dispositivo intervencionista (Orientação Jurisprudencial n.º 266 da SDI – 1 do

TST).

Cumpridas as formalidades expostas, elaborada a pauta de

reivindicações, deve ser ela enviada à respectiva representação econômica para

início das tratativas, mediante comprovante de recebimento.

A demora por parte da representação econômica para designação de

reunião de início das negociações permite à entidade sindical obreira solicitar

reunião perante a Delegacia Regional do Trabalho, na forma do previsto pelo art.

616 da CLT:

Os sindicatos representativos de categorias econômicas ou profissionais e as empresas, inclusive as que não tenham representação sindical, quando provocados, não podem recusar-se à negociação coletiva. § 1º- Verificando-se a recusa à negociação coletiva, cabe aos Sindicatos ou empresas interessadas dar ciência do fato, conforme o caso, ao Departamento Nacional do Trabalho [atualmente Secretaria de Emprego e Salário] ou aos órgãos regionais do Ministério do Trabalho, para convocação compulsória dos Sindicatos ou empresas recalcitrantes. § 2º- No caso de persistir a recusa à negociação coletiva, pelo desatendimento às convocações feitas pelo Departamento Nacional do Trabalho [atualmente Secretaria de Emprego e Salário] ou órgãos regionais do Ministério do Trabalho, ou se malograr a negociação entabulada, é facultada aos Sindicatos ou empresas interessadas, a instauração de dissídio coletivo [...].

Eventual não comparecimento da representação econômica impõe a

solicitação de nova reunião, posto que apenas uma tentativa não configurará a

recusa patronal à negociação, como se depreende da redação da Orientação

Jurisprudencial n.º 24 da SDC/TST, vazada nos seguintes termos: “24. Negociação

prévia insuficiente. Realização de mesa redonda perante a DRT. Art. 114, § 2º, da

CF/88. Violação”.

Comparecendo a representação econômica, ou tendo tomado as partes a

iniciativa de reunião direta, independentemente de provocação da Delegacia

Regional do Trabalho, dá-se início à fase de negociação coletiva.

Das reuniões diretas ou perante a DRT, quando e se necessárias, deve

ser lavrada respectiva ata que demonstrará a existência de processo negocial,

Page 13: Dissídio Coletivo

sendo documento também indispensável para a propositura de dissídio coletivo, em

caso de impasse, ou mesmo para formulação de protesto judicial de Garantia de

Data-Base.

O protesto judicial, admitido com a edição da Instrução Normativa n.º 04

de 1993 do TST, foi uma inovação salutar, pois permite maior lapso temporal para

as negociações, evitando a instauração da instância apenas no o fito de impedir a

perda da data-base.

Os itens II e III da referida instrução normativa que regulam o

procedimento têm a seguinte redação:

II– Na impossibilidade real de encerramento da negociação coletiva em curso antes do termo a que se refere o art. 616, § 3º, da CLT, a entidade interessada poderá formular protesto judicial em petição escrita dirigida ao Presidente do Tribunal do Trabalho, a fim de preservar a data-base da categoria.III– Deferida a medida prevista no item anterior, a representação será ajuizada no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da intimação, sob pena de perda da eficácia do protesto.

Deste modo, caso não haja por parte da representação patronal a

garantia de data-base, mas não se recusando a prosseguir o processo de

negociação coletiva, é possível formular protesto judicial junto ao Presidente do

Tribunal Regional do Trabalho, demonstrando, por exemplo, a designação de

reunião direta ou perante a Delegacia Regional do Trabalho para data posterior à

data-base da categoria profissional.

O requerimento de protesto judicial deverá estar instruído com toda a

documentação necessária a comprovar a legitimação da entidade obreira para

negociar (edital(is) de convocação, ata(s) da(s) assembléia(s), listas de presença,

informação sobre o número de associados à entidade sindical), comprovante de

entrega da pauta de reivindicações à representação econômica, além das atas das

reuniões diretas ou perante a Delegacia Regional do Trabalho e, em especial, a

comprovação de designação de reunião direta ou perante a DRT para data posterior

à data-base. Além da documentação anteriormente mencionada, deve ser juntada

procuração firmada pelo presidente da entidade sindical, ata de posse da diretoria, o

estatuto social do sindicato e seu registro perante o Ministério do Trabalho, se

criado após a Constituição de 1988, ou carta sindical, caso já existente em 4 de

outubro de 1988, assim como cópia do instrumento normativo revisando, seja ele

autônomo ou heterônomo.

Page 14: Dissídio Coletivo

A não apresentação de quaisquer dos documentos relacionados implicará

na concessão de prazo de 10 dias para regularização da representação (emenda),

sob pena de indeferimento da petição inicial e conseqüente perda da data-base.

Não custa lembrar que a data-base é o termo inicial de vigência dos

instrumentos normativos coletivos, autônomos ou heterônomos. É a referência para,

por exemplo, a determinação do índice de reajuste salarial com base na variação

inflacionária. Garantida a data-base, tem a categoria profissional a segurança de

que independentemente da data de publicação da sentença normativa, o reajuste

salarial que vier a ser deferido retroagirá a ela, assim como a vigência de todas as

demais cláusulas e condições deferidas no julgamento da instância.

Dito isso, as conseqüências da perda da data-base podem ser

calculadas. A vigência da sentença normativa não mais a ela retroagirá, cabendo

aos magistrados decidir sobre seu termo inicial, que poderá ser a data da

instauração da instância ou mesmo de seu julgamento. Deste modo, entre o término

de vigência do instrumento revisando e o termo de início de vigência da sentença

normativa, a categoria profissional não contará com nenhuma norma coletiva a

regular sua respectiva relação de emprego, a não ser, por óbvio, a legislação

mínima de proteção ao trabalho. Adicionais de remuneração constante do

instrumento revisando, como aqueles referentes ao tempo de serviço, não poderão

ser exigidos, por exemplo, segundo aqueles que entendem não se incorporarem ao

contrato de trabalho individual as vantagens estabelecidas em instrumentos

normativos, sejam eles autônomos ou heterônomos1.

A perda da data-base não traz conseqüências apenas aos trabalhadores.

As próprias empresas abrangidas pelo instrumento também podem sofrer

transtornos com este fato, pois sua programação salarial fica comprometida, além

da insatisfação que terá de conviver por parte de seus empregados que podem ter

reduzidas suas respectivas remunerações.

Note-se que não estamos defendendo o instituto da data-base, pois,

como vimos anteriormente, ela foi criada com o intuito de inibir um processo de

negociação mais permanente. No entanto, ela faz parte da “regra do jogo” e,

enquanto profissionais do direito, devemos adotar as medidas necessárias à

1 O debate sobre a incorporação ou não das vantagens estabelecidas em instrumentos coletivos aos contratos individuais de trabalho tem sido travado nos tribunais trabalhistas, pois entendem vários autores e operadores do direito aplicável a teoria da ultratividade da norma, que assegura esta incorporação.

Page 15: Dissídio Coletivo

preservação dos interesses de nossos representados.

Assegurada a data-base, prossegue-se na negociação coletiva que, se

bem sucedida, resultará na celebração de convenção coletiva de trabalho.

Frustradas as tratativas, é facultada a instauração de dissídio coletivo de natureza

econômica, perante o tribunal do trabalho competente para conhecê-lo e julgá-lo.

A representação para instauração da instância é regulada pelos itens VI e

VII da Instrução Normativa n.º 4, do TST.

VI– A representação para instauração da instância judicial coletiva formulada pelos interessados será apresentada em tantas vias quantas forem as entidades suscitadas mais uma e deverá conter:a) designação e qualificação da(s) entidade(s) suscitada(s), sindical ou empregadora(s);b) a indicação da delimitação territorial de representação das entidades sindicais, bem assim das categorias profissionais e econômicas envolvidas no dissídio coletivo e, ainda, do quorum estatutário para deliberação da assembléia;c) exposição das causas motivadoras do conflito coletivo e/ou greve, se houve, e indicação das pretensões coletivas, aprovadas em assembléia da categoria profissional, quando for parte entidade sindical de trabalhadores de primeiro grau, ou pelo conselho de representantes, quando for suscitante entidade sindical de segundo grau ou de grau superior;d) a comprovação da tentativa de negociação ou das negociações realizadas e indicação das causas que impossibilitaram o êxito da composição direta do conflito coletivo;e) a apresentação em forma clausulada de cada um dos pedidos, acompanhados de uma síntese dos fundamentos a justificá-los;f) data e assinatura do representante.

VII– A representação deverá estar acompanhada dos seguintes documentos:a) correspondência, registros e atas alusivas à negociação coletiva tentada ou realizada diretamente ou mediante a intermediação do órgão competente do Ministério do Trabalho, na forma do item I;b) cópia autenticada da sentença normativa anterior, do instrumento normativo do acordo ou convenção coletiva, ou, ainda, do laudo arbitral, acaso existente;c) cópia autenticada da cópia da ata da assembléia da categoria que aprovou a pauta de reivindicações e concedeu poderes para a negociação coletiva e para o acordo judicial, ou, ainda, aprovação das cláusulas e condições acordadas, observado o quorum legal;d) cópia autenticada do livro ou das listas de presença dos associados participantes da assembléia deliberativa, ou outros documentos hábeis à comprovação de sua representatividade.

A representação deverá estar acompanhada dos mesmos documentos

relacionados quando tratamos da formulação de protesto judicial, bem como da

comprovação de configuração do impasse nas negociações, que pode se dar

diretamente entre as partes ou perante a Delegacia Regional do Trabalho, como

estabelecido pelo item I da Instrução Normativa n.º 04 de 1993 do TST, redigido nos

seguintes termos:

Page 16: Dissídio Coletivo

I– Frustrada total ou parcialmente a autocomposição dos interesses coletivos em negociação promovida diretamente pelos interessados, ou mediante intermediação administrativa do órgão competente do Ministério do Trabalho, poderá ser ajuizada a ação de dissídio coletivo.

Da mesma forma como na formulação de protesto judicial, a não

apresentação da documentação necessária implicará na concessão de prazo de 10

dias para emendar a inicial, sob pena de indeferimento da petição inicial de acordo

com o item VIII da Instrução Normativa n.º 04 de 1993 do TST:

Protocolizada e autuada a representação, com os documentos que a acompanham, os autos serão conclusos ao Presidente do Tribunal, ou ao Magistrado competente, na forma do Regimento Interno, que verificará a observância dos requisitos. Verificado que a representação não reúne os requisitos exigidos ou apresenta defeitos ou irregularidades capazes de dificultar a sua apreciação, ou ainda, se estiver desacompanhada dos documentos aludidos nesta Instrução, será determinado que o(s) suscitante (s) emende(m) ou complemente(m) no prazo máximo de dez dias.

Além da exposição dos motivos que levaram à instauração do dissídio

coletivo, as reivindicações deverão ser formuladas de forma clausulada, com a

respectiva justificativa ao pleito, informação sobre sua existência ou não no

instrumento revisando, a oferta patronal nas rodadas de negociações, e a aceitação

ou não da categoria profissional (itens VI e VII e suas alíneas da Instrução

Normativa n.º 04 de 1993 do TST).

Recebida a instância regularmente instruída, será designada audiência

de tentativa de conciliação. Embora o item XI da Instrução Normativa n.º 04 de 1993

do TST afirme que à audiência conciliatória a representação suscitada deva

apresentar sua defesa, no TRT da 3ª Região é prática que isso apenas se dê após

fracassada a tentativa conciliatória do juiz instrutor, quando, então, é concedido o

prazo de 10 dias para apresentação de defesa.

A audiência de conciliação é procedida, após sua instalação, na maior

parte das vezes, com a oitiva em separado das respectivas representações

econômica e profissional, a fim de que seja apresentada proposta conciliatória pelo

juiz instrutor às partes para que se manifestem através de seus respectivos

representados, em assembléia.

Acatada por suscitante e suscitado, o acordo obtido poderá resultar em

instrumento heterônomo, requerendo-se sua homologação perante a Seção de

Dissídios Coletivos (sentença normativa), ou instrumento autônomo, com a

desistência da instância e depósito do pacto (convenção coletiva, no caso) perante

Page 17: Dissídio Coletivo

a Delegacia Regional do Trabalho.

Anteriormente à nova redação do Enunciado n.º 286 do TST era mais

comum a remessa do pacto para homologação perante o Tribunal do Trabalho,

pois, enquanto equivalente a sentença normativa, não haveria discussão sobre a

possibilidade de propositura de ação de cumprimento (art. 872, parágrafo único, da

CLT). Com a nova redação do Enunciado n.º 286 do TST e mesmo em razão da Lei

n.º 8.984 de 1995, não mais se resiste à propositura de ação de cumprimento de

convenção ou acordo coletivo de trabalho.

Cabe ainda uma observação. Não poucas vezes os sindicatos obreiros,

cientes dos riscos de uma decisão normativa – pois até mesmo a substituição de um

julgador por outro poderá alterar o resultado do litígio – instauram a instância como

mais uma oportunidade de composição da pendência, visando obter, através da

tentativa de conciliação obrigatória, um acordo melhor do que aquele passível de

obtenção se não esgotada esta última tentativa. Evita-se o julgamento.

Porém, se frustrada a composição acordada, é colhida a defesa da

representação suscitada, que será formulada na forma preconizada pelo item XI da

Instrução Normativa n.º 04 de 1993 do TST, assim redigida:

XI– À audiência designada o suscitado deduzirá sua defesa, acompanhada de proposta de conciliação amigável da lide, fundamentada nas circunstâncias fáticas e jurídicas que recomendariam sua adoção, destacando, em relação às cláusulas que importem em elevações salariais, as condições financeiras da(s) empresa(s), bem assim a situação econômica do respectivo setor de atividades.

Entendemos que a redação do dispositivo normativo transcrito impõe à

categoria econômica o ônus probatório de sua incapacidade econômica em atender

às reivindicações de caráter econômico dos trabalhadores. A não demonstração

deveria implicar no atendimento dos pleitos obreiros, não sendo, porém, o que se vê

em julgamentos de dissídios coletivos de natureza econômica que, em termos de

reivindicações econômicas, limitam-se, quando muito, a deferir o reajustamento

salarial de acordo com o índice de inflação acumulada entre datas-base apurado

pelo INPC/IBGE e correção idêntica aos pisos salariais, se já previstos no

instrumento revisando.

Atualmente é possível destacar-se duas correntes de pensamento entre

os julgadores do TRT da 3ª Região: a primeira mantém as conquistas anteriores

estabelecidas no instrumento revisando, em sintonia com o estabelecido pelo § 2º,

Page 18: Dissídio Coletivo

do art. 114 da Constituição da República de 1988; a segunda entende que devem

ser deferidas apenas as reivindicações que contem com a anuência da

representação econômica ou se apoiarem em precedentes normativos normativos

do TST ou do próprio TRT, sob o curioso argumento de que a pretensão não

acordada pela representação econômica deve ser fruto de negociação coletiva. Ora,

se a instauração da instância coletiva teve como base o insucesso da negociação

coletiva, parece-nos contraditório que a ela sejam as partes remetidas pela decisão

regional, com o indeferimento das pretensões obreiras, de forma a que a decisão

normativa se reduza praticamente a homologação das ofertas patronais.

Como exemplo dessa corrente, majoritária no julgamento do já citado

dissídio coletivo TRT/DC – 08/99 (Sindicato dos Professores do Estado de Minas

Gerais x Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Nordeste Mineiro), temos

essa ementa:

EMENTA: DISSÍDIO COLETIVO – PROFESSORES – As cláusulas que contaram com a concordância do sindicato suscitado, explicitadas em sua defesa, merecem ser deferidas. Da mesma forma, o reajuste salarial ajustado entre as partes em audiência preliminar. Por outro lado, pretensões onerosas ou mesmo aquelas que impliquem ingerência no estabelecimento de ensino devem ser indeferidas, já que viáveis apenas mediante a autocomposição das partes, como entendeu recentemente o Supremo Tribunal Federal ao julgamento do RE-197911/PE (julgado em 24.09.96 – DJ 07.11.97 – Relator: Ministro Otávio Gallotti) (publicado no DJMG de 01.10.99).

A decisão do STF mencionada, anexa a este trabalho, não comporta a

interpretação restritiva que lhe emprestou o julgado.

Com isso, foram indeferidas as seguintes cláusulas já constantes de

convenções coletivas de trabalho anteriores há mais de 10 anos: Férias escolares

(coletivas no mês de janeiro); recesso escolar (quinze dias no mês de julho); aulas

de recuperação (regulamentação sobre a matéria); vale e adiantamento

(adiantamento de 40% da remuneração ou pagamento até o último dia do mês

trabalhado); adicional por atividade extraclasse (da ordem de 20% sobre o salário

mensal do docente, para remuneração das atividades desenvolvidas fora da sala de

aula – preparação de aulas, elaboração e correção de provas); bolsas de estudo –

professor do estabelecimento; bolsas de estudo – outros professores.

Por outro lado, foi majoritária a corrente pela manutenção de conquistas

constantes em instrumentos autônomos anteriores, no julgamento do dissídio

TRT/DC 04/01 (Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais x Sindicato

Page 19: Dissídio Coletivo

dos Estabelecimentos de Ensino do Triângulo Mineiro), cuja ementa é a seguinte:

EMENTA: DISSÍDIO COLETIVO. PROFESSORES. MANUTENÇÃO DE CONQUISTAS ANTERIORES. A expressa revogação do artigo 1º, § 1º e 2º, da Lei 8542/92, pela Lei 10192/01 retirou o fundamento legal que previa a incorporação ao contrato de trabalho das conquistas obtidas na esfera coletiva. Acontece que vindo as partes a juízo, em decorrência do fracasso nas negociações diretas, caberá ao Judiciário, no exercício do poder normativo, dizer da viabilidade de manutenção dessas conquistas, além de lhe caber o exame das reivindicações novas e contrapropostas, sem olvidar que a norma nascida da sentença normativa deverá adequar-se ao quadro social e econômico do país. Ademais, essa norma constituirá a resultante equilibrada da conjugação entre as reivindicações propostas pela categoria profissional e a expectativa econômica da classe patronal, atingindo, na medida do possível, um ponto de equilíbrio entre esses dois interesses, quase sempre antagônicos. Tendo em vista a necessidade de assegurar critérios objetivos na apreciação das cláusulas, para maior segurança das partes, necessário fixar balizamento antes de ingressar no exame da proposta clausulada. E assim é que, invocando os princípios da proteção, da razoabilidade e da boa-fé, a exclusão de quaisquer das vantagens conquistadas pela categoria exige prova da inviabilidade econômica de sua manutenção, a ser produzida pela parte suscitada. De outro lado, a inserção de vantagens novas deverá vir respaldada em índices claros e objetivos a fim de confirmar o melhor desempenho econômico do setor envolvido (publicado no DJMG de 19.10.01).

Cabe ressaltar uma das críticas mais comumente produzidas em relação

ao poder normativo da Justiça do Trabalho – o compreensível desconhecimento por

parte dos julgadores das características específicas de cada setor econômico ou

profissional. Deste modo, especialmente no tocante aos precedentes normativos,

temos a prolação de sentenças normativas muitas vezes genéricas e inespecíficas

às características dos setores profissional e econômico envolvidos.

A sentença normativa é desafiada por recurso ordinário, que terá efeito

meramente devolutivo (art. 6º da Lei n.º 4.725 de 1965), salvo se concedido, pelo

Presidente do TST, efeito suspensivo, que, na forma do art. 14, da Lei n.º 10.192 de

2001 (Plano Real) terá extensão e limites estabelecidos a seu critério.

Polêmica existente diz respeito a possível revogação do estabelecido

pelo art. 9º da Lei n.º 7701 de 1988, que dispõe prazo de eficácia improrrogável de

120 dias ao efeito suspensivo, pelo art. 14 da Lei n.º 10.192 de 2001.

Entendemos que o art. 14 da Lei n.º 10.192, de 14 de fevereiro de 2001,

não revogou o estabelecido pelo art. 9º da Lei n.º 7.701, de 1988, que reza:

Art. 9º. O efeito suspensivo deferido pelo Presidente do Tribunal Superior do Trabalho terá eficácia pelo prazo improrrogável de 120 (cento e vinte) dias contados da publicação, salvo se o recurso ordinário for julgado antes do término do prazo.

Por seu turno, a redação do art. 14, da lei n.º 10.192, de 2001, é a

Page 20: Dissídio Coletivo

seguinte, in verbis:

Art. 14. O recurso interposto de decisão normativa da Justiça do Trabalho terá efeito suspensivo, na medida e extensão conferidas em despacho do Presidente do Tribunal Superior do Trabalho.

Para melhor análise sobre revogação legislativa, recorremos à Lei de

Introdução ao Código Civil (LICC), que a define no seu art. 2º, § § 1º e 2º, assim

redigido:

Art. 2º- Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.§1º- A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei.§2º- A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.

Confrontando as duas normas – art. 9º da Lei n.º 7.701 de 1988 e art. 14

da Lei n.º 10.192 de 2001 – verificamos não ocorrer qualquer das hipóteses de

revogação.

Com efeito, se o art.14 da Lei n.º 10.192 de 2001 trata da extensão do

efeito suspensivo, isto é, da autonomia e poder discricionário do Presidente do TST

para conferir eventual efeito suspensivo a cláusula(s) ou norma(s) estabelecida(s)

em sentença normativa, de outro lado, o art. 9º da Lei n.º 7.701 de 1988 diz respeito

à eficácia do efeito suspensivo.

Dois institutos distintos, que em nada se confundem ou contradizem.

Como não houve expressa declaração de revogação do art. 9º da Lei n.º

7.701, de 1988; como não são incompatíveis os institutos de extensão e eficácia;

como não houve inteira regulamentação da matéria – efeito suspensivo – pela nova

lei, que apenas trata da extensão, nada dizendo a respeito da eficácia, analisando

sob o prisma do § 1º, do art. 2º, da LICC, impossível, respeitadas as posições

divergentes, entendermos como revogado o art. 9º, da Lei n.º 7.701, de 1988, pelo

estabelecido pelo art. 14, da n.º Lei 10.192, de 2001.

Já analisando a questão sob o prisma do §2º, da LICC, temos que a

regulamentação sobre a medida e extensão do efeito suspensivo em nada se choca

com o estabelecido pelo art. 9º, da Lei n.º 7.701, de 1988.

Neste ponto, cabe outra observação. O poder ilimitado conferido ao

Presidente do TST para concessão de efeito suspensivo ao recurso ordinário é um

Page 21: Dissídio Coletivo

argumento a mais em desfavor do poder normativo da Justiça do Trabalho. Ao

redigirmos este texto, temos à frente da Corte Superior Trabalhista um magistrado,

Min. Francisco Fausto, que o concede a partir do critério de ofensa a precedente

normativo do TST, o que implica, felizmente, em menor número de cláusulas

sujeitas ao efeito suspensivo. No entanto, no período em que presidia a Corte

Superior Trabalhista o Min. Almir Pazzianoto, seu posicionamento praticamente

implicava concessão de efeito suspensivo sobre a integralidade das cláusulas objeto

da insurgência ordinária da categoria econômica, dilacerando o instrumento

heterônomo, de modo a que a suposta vitória dos obreiros nos Tribunais Regionais

não fosse concretizada na prática. Além disso, conhecedores de seu

posicionamento, os sindicatos econômicos tendiam a fomentar o descumprimento

das determinações sentenciais entre seus representados2. Vitórias de Pirro!

O descumprimento das sentenças normativas implica a propositura de

ações de cumprimento, calcadas no art. 872, parágrafo único da CLT, que deve ser

conjugado com o estabelecido pelo art. 7º, § 6º, da Lei n.º 7.701, de 1988, de modo

a permitir sua extensão a todas as cláusulas deferidas e não abrangidas por

eventual efeito suspensivo concedido pelo Presidente do Tribunal Superior do

Trabalho.

art. 7º- Das decisões proferidas pelo Grupo Normativo dos Tribunais Regionais do Trabalho, caberá recurso ordinário para o Tribunal Superior do Trabalho. [...] §6º - A sentença normativa poderá ser objeto de ação de cumprimento a partir do 20º (vigésimo) dia subseqüente ao do julgamento, fundada no acórdão ou na certidão de julgamento, salvo se concedido efeito suspensivo pelo Presidente do Tribunal Superior do Trabalho.

Acrescente-se aos elementos anteriormente apresentados, o previsto

pelo Enunciado n.º 246 do TST, que afirma ser dispensável o trânsito em julgado da

sentença normativa para propositura de ação de cumprimento. A competência para

conhecer e julgar as pretensões é da Justiça do Trabalho, ainda que envolvendo

litígio entre substituídos e empresa-ré não vinculados por relação de emprego ou

contrato de prestação de serviços, como no caso da cláusula, constante das

sentenças normativas pertinentes aos professores, referente à concessão de bolsas

de estudo para professores de outro estabelecimento de ensino (TRT/DC - 04/01;

2 Anexos ao presente trabalho estão os despachos em pedidos de efeito suspensivo a recursos ordinários contra sentenças normativas do TRT da 3ª Região, proferidos pelos Ministros Almir Pazzinotto Pinto (TST-ES-13.328/2002-000-00-00-6) e Francisco Fausto Paula de Medeiros (TST-ES-21.874-2002-000-00-00-0), de forma a permitir a exata noção de seus respectivos posicionamentos sobre a matéria.

Page 22: Dissídio Coletivo

TRT/DC – 05/01; TRT/DC – 14/01).

Sustentamos essa competência com base na redação do caput do art.

114 da Constituição de 1988 que afirma:

Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive coletivas (Grifos nosso).

Também deve ser invocado o art. 8º, III da Constituição da República, de

modo a impedir a restrição constante da redação original do parágrafo único do art.

872, da CLT, no que diz respeito à limitação da substituição processual apenas aos

associados à entidade sindical autora. É claro o art. 8º, III da Constituição da

República de 1988, ao afirmar que cabe aos sindicatos a defesa dos interesses

individuais e coletivos da categoria. Também julgamos não recepcionada pela atual

Constituição a limitação de substituição processual aos associados à entidade

sindical obreira, pois ofende o princípio da não discriminação, insculpido no art. 5º,

da Carta Constitucional, e o princípio da livre filiação à entidade sindical (art. 8º, V),

em suas dimensões positiva e negativa (DELGADO, 2001, p. 42), assegurado pela

Constituição de 1988.

Infelizmente, apesar da ampla gama de dispositivos legais e

jurisprudenciais que tratam da matéria, muitos julgadores solenemente os

desconsideram, ora suspendendo a ação de cumprimento aguardando o trânsito em

julgado da sentença normativa, ora, julgando improcedente a pretensão por não

comprovação de seu trânsito em julgado. Posicionamento de difícil compreensão.

Finalmente, cabe destacar que vige ainda em nosso ordenamento jurídico

o estabelecido pelo art. 6º, § 3º, da Lei n.º 4.725, de 1965, assim estabelecendo:

Art. 6º - Os recursos das decisões proferidas nos dissídios coletivos terão efeito meramente devolutivo.[...]§ 3º - O provimento do recurso não importará restituição dos salários ou vantagens pagos, em execução do julgado.

O dispositivo transcrito é mais uma demonstração inequívoca do incorreto

procedimento daqueles magistrados que suspendem ou julgam improcedentes os

pleitos calcados em sentença normativa não transitada em julgado.

Cabe, também, destacar a correção dos dispositivos que arrimam a

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execução da sentença normativa independentemente do trânsito em julgado da

sentença normativa, muito embora, ou até por isso, criado em período negro de

nossa curta história republicana (pós-golpe militar de 1964). Ora, se a sentença

normativa substitui instrumento autônomo, tendo vigência temporal restrita a um ou

dois anos, as relações contratuais por ela abrangidas não podem ficar ao desabrigo

de regras outras que não aqueles estabelecidas em norma consolidada ou estatal

genérica. É importante sua efetividade, nada valendo se solvida apenas dois ou três

anos após sua expiração, de modo a gerar incertezas para ambas as partes,

profissional e econômica.

Todas essas variantes que afetam os dissídios coletivos e que vão desde

dispositivos legais supostamente conflitantes, até os magistrados que relutam em

observá-los – são mais uma demonstração de que mais vale a celebração de

instrumento autônomo que a busca pelo Poder Judiciário para suprir a

intransigência e, não raro, até mesmo incompetência das partes litigantes, na

formulação de instrumento normativo autônomo.

Vemos, então, que recorrer ao poder normativo da Justiça do Trabalho

ainda é uma opção dos sindicatos, até mesmo, repetimos, como forma de

resistência, se consideradas as dificuldades de mobilização das categorias

profissionais para se contraporem às investidas patronais e frente à inexistência –

na verdade ausência de confiança e tradição na arbitragem e mediação ou

impossibilidade de realização de greves – de outras formas de solução do conflito.

No entanto, a própria resistência do Judiciário Trabalhista em exercê-lo e as

dificuldades de cumprimento e execução de suas sentenças normativas, muitas

vezes impostas pelo próprio Judiciário, têm sido um fator de afastamento das

entidades desta alternativa.

Dir-se-á que é incoerente defender o fim do poder normativo, como já o

fizemos, e ao mesmo tempo criticar as dificuldades que o Poder Judiciário tem

criado para o seu exercício.

Não é assim, porém.

Entendemos que se deva distinguir, de um lado, a permanência ou não

de um determinado instituto, e, de outro, a sua utilização, enquanto direito posto.

O poder normativo, para nós, não ajuda no desenvolvimento de uma

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consciência cidadã. Ou seja: não auxilia os trabalhadores a terem noção do seu

papel na conquista de direitos e na formulação de seu próprio destino.

No entanto, o fato é que ele existe, e a ele são levadas as entidades

sindicais por razões as mais diversas.

Algumas vezes, é verdade, por lhes faltar organização suficiente para a

luta direta. Outras vezes, porque de todo modo se trata de um instrumento

disponível, e que num caso ou noutro, pode vir a ter algum efeito positivo – como,

por exemplo, o de pressionar a classe empresarial. Outras vezes, por fim, porque é

possível que o próprio sindicato se veja levado aos tribunais, como no caso de

greve.

Em outras palavras, a existência de um mecanismo – por mais falho que

ele seja – insere-o no rol das estratégias que as classes em conflito se utilizam.

Desse modo, não faz sentido impor barreiras artificiais à sua utilização.

Como vimos, essas barreiras, quase sempre, acabam se voltando contra

os trabalhadores, embora nem sempre, como vimos, eles sejam autores na ação.

Observe-se que a instauração de um dissídio coletivo não é alternativa

exclusiva da classe trabalhadora. Também os representantes do patronato

trabalham em suas estratégias de negociação com a possibilidade de sua

propositura, gerando inclusive uma verdadeira corrida ao setor de distribuição dos

tribunais.

Com efeito. Há decisões da Justiça do Trabalho no sentido de que, em

havendo distribuição de dissídio pelas duas partes em conflito, deverá ser

conhecido e julgado o primeiro deles, o que significa que, se o dissídio da categoria

econômica vencer a corrida, será extinto o da categoria profissional3.

Nessa hipótese, as reivindicações patronais, em número bem inferior e

com objetivos bem distintos, serão o trilho do julgamento, ditando o seu norte e

inviabilizando ou reduzindo eventuais conquistas da classe trabalhadora. É que,

naturalmente, o sindicato patronal, em seu dissídio, não fará constar cláusulas que

quer ver excluídas.

Note-se ainda que a simples existência do dissídio já cria expectativas, e

a sua frustração acaba enfraquecendo ainda mais a entidade sindical. Como se não

3 Há decisões que entendem tratar-se de litispendência e outras entendem tratar-se de conexão.

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bastasse, a postura dos tribunais vem de encontro a toda a tendência do processo

moderno, que pela de-formalização e simplificação, o que é mais uma prova de seu

artificialismo.

Em suma: se existe um instrumento de solução de conflitos,

independentemente de sua origem e de suas falhas, deve-se ter a possibilidade de

acioná-lo de modo real e não fictício, e aqueles que têm o dever-poder de exercê-lo

não podem furtar-se a isso através da criação de obstáculos ou subterfúgios.

O poder normativo, como forma de solução de conflitos, tem muito mais

defeitos que qualidades. No entanto, exercido – ou não exercido – da forma como

vem se dando, consegue ser ainda pior para a classe trabalhadora.

Que se extinga então esse poder – como nós defendemos com vigor –

mas de forma clara, aberta e sobretudo democrática, através de discussão no

Congresso e dentro da sociedade.

Essa discussão poderá trazer como resultado novas alternativas de

solução de conflitos. Talvez até, como defendem alguns, com o aproveitamento da

experiência adquirida em todos esses anos pelos próprios magistrados, para

transformá-los em colegiados de árbitros.

Essa nova alternativa deverá ter como base o aprendizado e a prática

construídos pela classe trabalhadora brasileira

Se o C. TST, ainda que de forma não declarada, quer que se extinga o

poder normativo, não pode ele próprio fazer isso, já que nessa hipótese também

estaria usando um poder normativo... E o que é pior: nesse caso, sem qualquer

respaldo na Constituição, já que não se trata de conflito entre empregadores e

empregados.

A propósito, o Prof. Silva (2000) já sugeria a seguinte redação a respeito

da competência da trabalhista, nela não incluído o poder normativo da Justiça do

Trabalho:

Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar:I– Os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores, empregadores, trabalhadores e empregadores, abrangidos os servidores públicos, da União, Estado, Municípios e Distrito Federal, independente de seu regime jurídico.II– Os dissídios de empregados das empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações instituídas pelo poder público, independentemente de seu regime jurídico.

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III– Os empregados de entes de direito público externo sujeitos à legislação do trabalho brasileira (SILVA, 2000, p. 112).

Obs: Capítulo da Dissertação de Mestrado “O Exercício do Poder Normativo da Justiça do Trabalho” de Marcelo Lamego Pertence