DISTINÇÕES ENTRE ANTROPOLOGIA E FILOSOFIArevistapandorabrasil.com/revista_pandora/filosofia_34/sinara.pdf · tanto as respostas, ... responsável pelo estudo dos caracteres biológicos

  • Upload
    lynhu

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • Revista Pandora Brasil Nmero 34, Setembro de 2011 ISSN 2175-3318 Sinara Leite Queiroz

    Distines entre antropologia e filosofia, p. 87-98.

    87

    DISTINES ENTRE ANTROPOLOGIA E FILOSOFIA

    Sinara Leite Queiroz

    Resumo: A antropologia, que uma cincia do homem, trata de todos ns, busca um conhecimento primitivo ligado a nossa origem desde formas simples as mais complexas da evoluo social. No desenrolar histrico, o estudo do homem passou de uma viso cosmocntrica na antiguidade, para uma viso teocntrica no mundo medieval, at chegar perspectiva antropocntrica nos mundos moderno e contemporneo. Palavras-chave: Cincia. Homem. Cultura. Antropologia. Filosofia.

    Introduo

    Iremos perceber que a antropologia se preocupa com o estudo do homem e que

    uma rea separada da filosofia. Mas ela usa dos princpios filosficos na sua atuao.

    A Filosofia busca perene, constante, amor a sabedoria. A Antropologia cincia,

    surge realmente no final do sculo XVIII, na Europa, e suas respostas so do seu modo

    particular. Como a antropologia estuda sobre o homem, esse um animal diferente

    dos outros, pois utiliza da razo, cria em seu universo a diversidade de religies, mitos,

    cultura, isso que impulsiona dentro da filosofia, transformando numa antropologia

    filosfica.

    Para a Antropologia Filosfica de que vamos tratar interessa muito mais do que

    simplesmente uma filosofia da vida, conversas ou observaes ocasionais. Isso no

    significa, no entanto, que tenhamos que nos restringir meras conceituaes tericas,

    o mais importante o questionamento, a pesquisa, a capacidade de criar e expressar

    conceitos, o posicionamento crtico aprofundado e defensvel, o rompimento com as

    Graduanda em Filosofia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), E-mail:

    [email protected].

    mailto:[email protected]

  • Revista Pandora Brasil Nmero 34, Setembro de 2011 ISSN 2175-3318 Sinara Leite Queiroz

    Distines entre antropologia e filosofia, p. 87-98.

    88

    ideologias de massa do dia-a-dia; a compreenso dos aspectos individuais e coletivos

    que determinam aquilo que somos e a nossa forma de estar no mundo.

    Tornar o homem dialeticamente, isso o que exige a Antropologia Filosfica.

    Nesse intento, primordial no tanto um mtodo, mas as questes colocadas; no

    tanto as respostas, mas a maneira de respond-las. Veremos que as respostas nem

    sempre so as mesmas e que podem ser conduzidas em diferentes direes, visto que

    existem mltiplas tendncias e disposies do homem em seu "ser plural":

    personalidade, sociedade, cultura, psiquismo, espiritualidade etc. Essa multiplicidade

    prova a complexidade da condio humana, que no se revela em uma nica dimenso

    e que se mostra um terreno de aprofundamento rido e ao mesmo tempo instigante.

    Antropologia

    A antropologia a cincia que estuda o homem. Ela faz parte da filosofia, mas

    funciona como uma cincia autnoma, especfica e moderna. Kant distinguiu a

    antropologia fisiolgica, a que a natureza faz do homem, da antropologia

    pragmtica, o homem faz como ser livre.

    A antropologia se divide em 5 reas:

    Antropologia Biolgica Antigamente era chamada de antropologia fsica,

    responsvel pelo estudo dos caracteres biolgicos do homem no tempo e no

    espao. O antroplogo biologista levar em considerao os fatores culturais

    que influenciam o crescimento e a maturao do indivduo (LAPLANTINE,

    2006, p.17).

    Antropologia Pr-Histrica Estuda o homem atravs de escavaes, ossadas,

    marcas, que so vestgios enterrados no solo. Tem como viso reconstituir as

    sociedades desaparecidas, em tcnicas e organizaes sociais, e tambm em

    produes culturais e artsticas. A partir do que os fsseis nos revelam, estuda a

    origem e evoluo do homem.

  • Revista Pandora Brasil Nmero 34, Setembro de 2011 ISSN 2175-3318 Sinara Leite Queiroz

    Distines entre antropologia e filosofia, p. 87-98.

    89

    Antropologia Lingustica Estuda a linguagem, como parte do patrimnio

    cultural de uma sociedade. Atravs da linguagem os indivduos compem uma

    sociedade se expressam e expressam valores, pensamentos e preocupaes.

    Antropologia Psicolgica Estuda o funcionamento do psiquismo humano.

    Antropologia Social e Cultural (ou Etnologia) Abrange tudo na sociedade, as

    instituies, segundo os autores britnicos, modos de produo econmica,

    tcnicas, organizao poltica e jurdica, parentesco, conhecimento, crenas

    religiosas, lngua, psicologia, criaes artsticas. Surgiu nos sculos XIX e XX nos

    Estados Unidos, derivada da etnologia do sculo XIX, o estudo das sociedades

    primitivas, ligada arqueologia, lingustica, histria, psicologia e

    sociologia, priorizam ao estudo das culturas dos diversos grupos humanos.

    Os autores americanos estudam mais na antropologia cultural os

    comportamentos. A etnologia se deve a pluralidade de etnias e culturas, que

    corresponde para os franceses e antropologia utilizada mais pelos americanos

    estadunidenses, e se relaciona com o humano.

    Lvi-Strauss distingue a antropologia da sociologia porque a primeira h o

    destaque do observador e, a sociologia prevalece o observador. Lvi-Strauss fez um

    estudo sobre as estruturas elementares do parentesco (1947), pois o prprio filsofo

    contra o incesto, que envolve relaes sexuais entre parentes, mas no no ponto de

    vista de uma lei biolgica da natureza humana, mas sobre a cultura, pois ficaria com a

    mesma cultura e nada iria ser acrescentado.

    Os filsofos ressaltaram muitas vezes a importncia da antropologia como cincia filosfica, ou seja, como determinao daquilo que o homem deve ser, em face do que . Humboldt, por exemplo, queria que a antropologia, embora procurasse determinar as condies naturais do homem (temperamento, raa, nacionalidade etc.), visasse a descobrir, atravs dessas condies, o prprio ideal de humanidade, a forma incondicionada qual nenhum indivduo est completamente adequado, mas que continua sendo o objetivo a que todos os indivduos tendem (ABBAGNANO, 2007, p. 75).

    Malinowski dizia que a famlia uma instituio universal. Da ele nos leva a

    uma aceitao das categorias inglesas que os termos consanguneos e afinidade tm

  • Revista Pandora Brasil Nmero 34, Setembro de 2011 ISSN 2175-3318 Sinara Leite Queiroz

    Distines entre antropologia e filosofia, p. 87-98.

    90

    valor universal. o que impulsiona os antroplogos a tratar as palavras sibling, filiao,

    descendncia e afinidade como termos especificamente tcnicos, e que podem ser

    interpretados distintamente pelo uso do raciocnio a priori sem fazer referncia

    etnografia. Nossa sociedade repudia tal cultura porque diferente para o momento,

    ela quer que seja semelhante, seja de comportamento ou cultura. A sociedade tem

    preconceito para essa realidade em alguns pases.

    Existe nos sistemas de parentesco um fascnio

    perene, h um grau atrativo, pois h coincidncia precisa. No sistema de parentesco

    exige uma necessidade de discusso sobre o comportamento normal. Existem cls que

    o casamento parental devido a alianas polticas, so famlias aristocrticas, mas com

    o intuito de conservar os recursos econmicos, tudo para manter a mesma linhagem.

    Pondo de lado a polmica, a principal hiptese generalizada que at aqui emergiu desse ensaio que, em qualquer sistema de parentesco e casamento, h uma oposio ideolgica fundamental entre as relaes que dotam um indivduo da pertinncia a algum tipo de ns o grupo (relaes de incorporao) e aquelas outras semelhantes (relaes de aliana), e que, nessa dicotomia, as relaes de incorporao so distinguidas simbolicamente como sendo de substncia comum, enquanto as relaes de aliana so consideradas como de influencia metafsica (LEACH, 2006, p. 42).

    A antropologia demonstrou as convices do homem de ambiente e rea de

    contato, tipo mito, expresso de uma compreenso cerca de uma determinada

    realidade. Deus a rigor um mito, um cone, acerca do surgimento do mundo e de

    tudo. Para a antropologia, os mitos contriburam nesta cincia, e produzem outro tipo

    de conhecimento. O antroplogo participa na questo das heranas do colonialismo e

    da luta para as minorias tnicas e os direitos humanos. A antropologia visa levar a uma

    reflexo racional cerca dos problemas da crise mundial, no que diz a crise de

    identidade, ou o pluralismo cultural: lnguas, tcnicas e mentalidades. O objeto de

    especulao da antropologia o modo de vida das pessoas, seus mitos e crenas.

    Todos os povos construram suas mitologias com suas vivncias, dilogos. A

    comparao foi sempre utilizada pelos povos tribais, tem base na vivncia no cotidiano

    que leva a busca explicaes e certezas.

  • Revista Pandora Brasil Nmero 34, Setembro de 2011 ISSN 2175-3318 Sinara Leite Queiroz

    Distines entre antropologia e filosofia, p. 87-98.

    91

    A antropologia vai estudar os fenmenos humanos, e no ocupa o lugar da

    Sociologia e nem da Psicologia. As tribos apresentam todo um ritual, h uma

    compreenso do que mostrado. A antropologia a cincia que fica mais prxima da

    Filosofia. Ela responsvel por estudar os caos na organizao social, poltica,

    barbries (como exemplo homens e mulheres bombas), a produo, locomoo, ar

    condicionado, a antropologia cuida de estudar suas conseqncias. J foi objeto de

    estudos por parte dos antroplogos a briga de galo, a criao de passarinho, a

    violncia, o roubo e o crime. A antropologia est presente no laboratrio, museu,

    biblioteca e sala de aula. Ela uma cincia que desdobra uma atividade cultural

    suspeita atravs do discurso do outro.

    Antroplogos importantes: Lvi-Strauss, Frans Boas e Malinowski, este polons

    naturalizado ingls, estudou na Ilha de Samoa, eles fundaram a etnografia antes da

    Primeira Guerra Mundial. Malinowski escreveu Os Argonautas do Pacfico Sul. A

    antropologia s comeou a ser ensinada nas Universidades no sculo XX, na Inglaterra,

    a partir de 1908 e na Frana a partir de 1943.

    De fato, a filosofia clssica (antolgica com So Toms, reflexiva com Descartes, criticista com Kant, histrica com Hegel) mesmo sendo filosofia social, bem como as grandes religies, nunca se deram como objetivo o de pensar a diferena (e muito menos, de pens-la cientificamente), e sim o de reduzi-la, frequentemente de uma forma igualitria e com as melhores intenes do mundo (LAPLANTINE, 2006, p. 24).

    A antropologia um discurso sobre o homem, mas que pronunciado pelo

    homem. A partir disso surge um jogo de semelhanas e diferenas, uma dialtica de

    experincias e sistemas. preciso uma sada de nossos sistemas a fim de que

    possamos compreender o outro. Sempre a antropologia ir confrontar o problema

    hermenutico que refere questo da interpretao. A antropologia contempornea

    exige um rigor hermenutico. O antroplogo no deixa de interrogar-se sobre si

    mesmo, apesar de tentar compreender a estrutura prpria da outra sociedade. Um

    etnlogo torna-se antroplogo, mesmo sem assimilar as diversidades regionais umas

    s outras, ele aproxima os fenmenos.

  • Revista Pandora Brasil Nmero 34, Setembro de 2011 ISSN 2175-3318 Sinara Leite Queiroz

    Distines entre antropologia e filosofia, p. 87-98.

    92

    No encontro da conscincia e do mito, ela nos revela todas as dimenses

    ocultas atribuindo-nos um novo olhar. O antroplogo trabalha sobre sua prpria

    sociedade. Na antropologia filosfica o homem um animal racional e livre, o que

    podemos afirmar que se define entre Metafsica e tica: A antropologia filosfica

    deve situar-se na interseo desses dois saberes, na medida em que ela ir coroar sua

    explicao do homem com as duas prerrogativas da razo teortica e da razo

    prtica (VAZ, 2001, p. 157).

    De acordo com Franois Laplantine, antroplogo francs da Universidade de

    Lyon II, um pesquisador no Brasil. Laplantine estuda a antropologia atravs da

    histria com as perspectivas atuais.

    O conceito de homem tal como utilizado no sculo das luzes permanece ainda muito abstrato, isto , rigorosamente filosfico. Estamos na impossibilidade de imaginar o que consideramos hoje como as prprias condies epistemolgicas da pesquisa antropolgica. De fato, para esta, o objeto de observao no o homem, e sim indivduos que pertencem a uma poca e a uma cultura, e o sujeito que observa no de forma alguma o sujeito da antropologia filosfica, e sim um outro indivduo que pertence ele prprio a uma poca e uma cultura (LAPLANTINE, 2006, p. 61).

    O projeto da antropologia surge na Europa. O principal objeto de estudo da

    antropologia o estudo das populaes no ocidentais. No incio do sculo XX a

    antropologia nota que a populao primitiva tem desaparecido por conta da evoluo

    social. O homem tem um logos que um discurso sobre seu indivduo, ou seja, o

    discurso do discurso: a cincia Antropolgica esse discurso. O homem faz parte de

    um conjunto biolgico, e sua existncia est na cultura humana que abre

    possibilidades para a constituio fsica do homem. As culturas mais simples tm

    diversos padres.

    Assim, o que a cincia antropolgica pretende contender ao mesmo tempo com ambos os fatores histrico e cientfico. Por meio do estudo da cultura em ambas as frentes, surgem tcnicas e conceitos que nos permitem, de maneira cada vez mais segura, da dinmica cultural e as particulares sequncias de encandeamento histrico que fazem de cada corpo de costumes o complexo nico de sistemas de crena e de

  • Revista Pandora Brasil Nmero 34, Setembro de 2011 ISSN 2175-3318 Sinara Leite Queiroz

    Distines entre antropologia e filosofia, p. 87-98.

    93

    conduta sujeitos a padro que lhes d a sua identidade como modo de vida identificvel (HERSKOVITS, 1947, p.476).

    Podemos citar sobre a cultura indgena brasileira, ela composta por diversas

    tribos e que estas recebem nomes especficos, mas que em seu universo h uma

    cultura prpria. Quando nasce uma criana filho de um casal de ndios, mas que essa

    criana tenha problema fsico ou mental sacrificado, pois eles alegam para que no

    perpetue a espcie com alguma mazela. E o restante da populao brasileira deve

    respeitar essa cultura, na dimenso social. A antropologia uma cincia que nos

    trouxe contribuies, para que possamos admitir diversos modos de vida e

    comportamentos de vrios povos, ela nos oferece uma apresentao de seus dados, a

    dignidade essencial de todas as culturas humanas. Reconhecer as vrias manifestaes

    como o nmero de culturas existentes ser tolerante e no niilista. A antropologia

    cultural tem relao com arqueologia, lingstica, histria, psicologia e

    sociologia, sua caracterstica principal o estudo das culturas de diversos grupos

    humanos, em que h um grau de complexidade, localizao geogrfica e cronolgica

    que variam.

    Por sua vez, a Antropologia Cultural - entendida como saber cientfico que reivindica uma autonomia especfica em relao s pesquisas bioantropolgicas distingue-se pelo modo diferente de tratar a multiplicidade. Uma coisa reconhecer a multiplicidade cultural como pressuposto geral; outra coisa resolver como tal multiplicidade deve ser operacionalmente enfrentada e administrada (ABBAGNANO, 2007, p. 75).

    No Brasil, houve uma miscigenao com vrias etnias que foi o processo

    responsvel para a formao da identidade de nossa gente. De acordo com a histria,

    sabemos que os negros foram massacrados pela sociedade e pelos portugueses que

    administravam o pas na poca, e ainda ele tem sofrido pelos transtornos at hoje. Os

    negros que vieram para o Brasil atravs do trfico foram de vrios grupos, etnias,

    origens e lnguas diferentes. Eles ainda foram obrigados a se conformar a viver num

    pas desconhecido e a viver com os brancos, sendo explorados e tratados como seres

    inferiores.

  • Revista Pandora Brasil Nmero 34, Setembro de 2011 ISSN 2175-3318 Sinara Leite Queiroz

    Distines entre antropologia e filosofia, p. 87-98.

    94

    Filosofia e antropologia filosfica

    A Filosofia nos permite a especulao, o exerccio do pensamento, nos

    pressupe a transcendncia, a investigao lgico-argumentativa e a fazermos uma

    anlise precisa quanto aos fenmenos. As cincias no construram seus mtodos, mas

    utilizaram os mtodos construdos pela Filosofia. A Filosofia por sua vez criou a

    epistemologia e os mtodos. O dilogo entre antropologia e filosofia ao longo da

    histria, contribuiu de forma direta e indireta para seus estudos.

    As cincias fsica e matemtica so tidas como cincias puras e no do conta

    do ser em sua amplitude, nem mesmo a Histria e nem a Filosofia. Logo nem a

    Filosofia e nem as cincias do conta do estudo do ser humano. A Filosofia implica na

    aquisio de um conhecimento que seja, ao mesmo tempo, o mais vlido e o mais

    amplo possvel. Esse conhecimento em benefcio do homem.

    So reconhecveis, por exemplo, na definio de Descartes, segundo a qual essa palavra significa o estudo da sabedoria, e por sabedoria no se entende somente a prudncia nas coisas, mas um perfeito conhecimento de todas as coisas que o homem pode conhecer, tanto para a conduta de sua vida quanto para a conservao de sua sade e a inveno de todas as artes (DESCARTES, 2003, p. 4).

    O fundamento desta concepo que o homem um animal racional e,

    portanto, como diz Aristteles no incio da Metafsica, todos os homens tendem, por

    natureza, ao saber: tendem significa que no somente desejam o saber, mas

    tambm podem obt-lo. O saber no privilgio ou patrimnio reservado a poucos;

    qualquer um pode contribuir para sua aquisio e para seu enriquecimento, tendo, por

    isso direito de julg-lo, aprov-lo ou rejeit-lo. A tarefa fundamental da Filosofia a

    busca e a organizao do saber.

    A primeira concepo da Filosofia a metafsica; dominou na Antiguidade e na

    Idade Mdia, distinguindo ainda hoje muitas correntes filosficas. Sua caracterstica

    principal a negao de qualquer possibilidade de investigao autnoma fora da

    filosofia. Um conhecimento filosfico ou no conhecimento. Aristteles define a

    filosofia como cincia da verdade, no sentido de que ela compreenda todas as

  • Revista Pandora Brasil Nmero 34, Setembro de 2011 ISSN 2175-3318 Sinara Leite Queiroz

    Distines entre antropologia e filosofia, p. 87-98.

    95

    cincias tericas, ou seja, a filosofia primeira, a matemtica e a fsica, e exclui somente

    a atividade prtica: mas tambm esta deve recorrer filosofia para esclarecer sua

    natureza e seus fundamentos. Todo o Iluminismo participou do conceito de filosofia

    como conhecimento cientfico. Como disse verdade: Filsofo, amante da sabedoria,

    da verdade.

    Mais especificamente, a tarefa da antropologia filosfica deveria ser considerar o homem no simplesmente como natureza, como vida, como vontade, como esprito etc., mas como homem, isto , relacionar o complexo de condies ou de elementos que o constituem com seu modo de existncia especfico (ABBAGNANO, 2007, p. 75).

    Podemos dizer que de todas as questes o problema que se encontra por trs de

    todos os outros o da determinao do que seria o homem, qual o lugar ocupado

    por ele na natureza, qual a sua relao com o cosmo, sua funo no mundo e seu

    destino. Da as perguntas: de onde viemos? Para onde vamos? Que poder temos sobre

    a natureza? Que poder a natureza tem sobre ns? Qual o sentido da nossa

    existncia? Essas so perguntas que ao longo da vida nos fazemos, mas que no so

    fceis de serem respondidas por que no so prprias ao mundo da tcnica, da

    produtividade, da mdia e do consumismo que nos cerca. Essas questes se referem

    filosofia, ao exerccio do pensamento, a um tipo de conhecimento importante, porm

    muito pouco relevante para a maioria das pessoas.

    Certo, a antropologia pode ser dita filosfica se seu mtodo filosfico, quer

    dizer se ela se aplica em considerar a essncia mesmo do homem. Neste caso, a

    antropologia se esfora por distinguir o ente que chamamos homem da planta, do

    animal e dos outros tipos de entes, e busca por esta delimitao por em luz a

    constituio essencial especfica desta regio determinada do ente. A antropologia

    filosfica afirma-se, desde ento, como uma ontologia regional tendo o homem por

    objeto, coordenada s outras ontologias que com ela partilham o domnio total do

    ente. Uma antropologia filosfica assim compreendida no pode ser considerada sem

    outra explicao como centro da filosofia e ela o pode menos ainda fundando esta

    pretenso sobre a estrutura interna de sua problemtica.

  • Revista Pandora Brasil Nmero 34, Setembro de 2011 ISSN 2175-3318 Sinara Leite Queiroz

    Distines entre antropologia e filosofia, p. 87-98.

    96

    Levando em conta nossa forma de estar e atuar sobre o mundo, nossas

    necessidades e criaes, em Antropologia Filosfica nos interessa a busca da

    compreenso dos seguintes elementos: o universo simblico humano, o mito, a

    espiritualidade e a religiosidade como formas especficas do homem se localizar no

    mundo; as produes tcnicas, estticas e artsticas como maneira de expresso e

    realizao interna e externa da vida humana; a vida cultural e todo o universo das

    ideologias que constri as culturas de massa e nos envolve num mundo de

    consumismo exacerbado e de indiferena ao que verdadeiramente importa em termos

    culturais; interessam-nos tambm as produes cientficas e as questes ticas, morais

    e valorativas que envolvem essas produes, sobretudo, na rea das cincias

    biolgicas; a poltica e os problemas sociais que enfrentamos atualmente como a

    violncia, as guerras e as drogas; a liberdade humana, as leis e as normas com todas as

    determinaes e necessidades que as cercam; os aspectos positivos e negativos da

    revoluo tecnolgica contempornea, no que diz respeito ao meio ambiente e

    sade desse meio, em que se inclui o prprio homem; enfim, interessa-nos o mundo

    do trabalho, a exigncia de qualificao e os retornos econmicos e pessoais que

    temos em nossas profisses.

    Concluso

    Antropologia no estuda s a sociedade, mas estuda as sociedades humanas

    como um todo em suas diversidades histricas e geogrficas. Podemos perceber que a

    cincia antropolgica no emprica. Nossa cultura passa por uma gradao, ns

    temos que conhecer outras culturas. Percebemos que as cincias utilizaram princpios

    e procedimentos criados pela Filosofia, tudo pronto. O objeto de estudos das cincias

    antropolgicas o modo de vida das pessoas. Um dos fatores importantes para um

    antroplogo fazer perguntas sempre, tipo como acontece com a Filosofia. um

    exerccio da antropologia de reencontrar uma memria e no negar a histria do

    indivduo.

  • Revista Pandora Brasil Nmero 34, Setembro de 2011 ISSN 2175-3318 Sinara Leite Queiroz

    Distines entre antropologia e filosofia, p. 87-98.

    97

    Reafirmando Scrates, conhecer-se a si mesmo o primeiro tema que envolve

    o homem na histria da filosofia e tambm o tema de toda a antropologia filosfica. A

    reflexo sobre si - exige uma anlise sempre renovada dos aspectos da nossa vida

    cotidiana e dos conhecimentos em termos cientficos. Por isso no basta

    identificarmos os problemas no nvel do senso comum, preciso aprofund-los no

    nvel cientfico da pesquisa e do pensamento, bem como na forma especificamente

    curiosa e questionadora que a filosofia nos possibilita. preciso, portanto, ultrapassar

    o simples nvel da experincia pessoal e procurar o sentido das coisas em conceitos

    mais elaborados a fim de alcanar uma viso de conjunto da vida humana e dar-lhe a

    unidade e a profundidade necessria em meio infinita multiplicidade das coisas.

    preciso que nos esforcemos para que consigamos agrupar os acontecimentos de

    maneira a ter uma viso crtica sobre a realidade, para alm do tecnicismo que engessa

    as nossas mentes. preciso que tenhamos a coragem de criar ns mesmos os nossos

    prprios conceitos, na condio de seres autnomos e reflexivos.

    Com a experincia que existe na antropologia filosfica, se relaciona do homem

    como homem, diferente de animal e planta. Ela percorre o nvel transcendental, com a

    resposta sobre o que o homem, utilizando do sujeito como mediao entre Natureza

    e Forma ou como Eu propriamente dito. O campo para a antropologia filosfica

    imenso, e sua especificidade sobre o que realmente o homem vem acumulando nos

    seus anos de histria. E nos apresenta que o ser humano complexo.

    Referncias

    ABBAGNANO, Nicola. Dicionrio de filosofia. 5 ed. So Paulo: Martins Fontes, 2007. DESCARTES, Ren. Carta-prefcio dos Princpios da filosofia. So Paulo: Martins Fontes, 2003. HERSKOVITS, Melville J. Antropologia Cultural; Man and his works. 8 ed. So Paulo: Mestre Jou, 1947. Tomos: II. LAPLATINE, Franois. Aprender antropologia. 19 ed. So Paulo: Brasiliense, 2006.

  • Revista Pandora Brasil Nmero 34, Setembro de 2011 ISSN 2175-3318 Sinara Leite Queiroz

    Distines entre antropologia e filosofia, p. 87-98.

    98

    LEACH, Edmund Ronald. Repensando a antropologia. 2 ed. So Paulo: Perspectiva, 2006. VAZ, Henrique de Lima. Antropologia filosfica. 6 ed. So Paulo: Loyola, 1991, v. I.

    Revista Pandora

    http://revistapandora.sites.uol.com.br/