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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA RUDI ROCHA DE CASTRO DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE RIO DE JANEIRO 2004

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA

RUDI ROCHA DE CASTRO

DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE

RIO DE JANEIRO

2004

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RUDI ROCHA DE CASTRO

DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INSTITUTO DE ECONOMIA – IE/UFRJ

ORIENTADOR: Prof. ANDRÉ URANI

RIO DE JANEIRO

SETEMBRO 2004

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PÁGINA COM ASSINATURAS

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos e todas me que acompanharam ao longo deste trabalho, àqueles reais, de carne e osso, com nome e sobrenome e aos imaginários que nunca nos abandonam. Em relação aos primeiros, agradeço em inicialmente à gentileza e ao apoio de todos os profissionais envolvidos diretamente com a pesquisa do ISSP. Agradeço a Celi Scalon, Adalberto Cardoso, Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação dos dados recebeu o suporte da equipe de estatísticos do IETS, em especial da amiga Alinne Veiga. Agradeço muito aos professores que colaboraram com idéias e sugestões, Getulio Borges, Hugo Boff, Valéria Pero, Ronaldo Fiani, Carlos Eduardo Young e Maria Lucia Werneck Viana. Agradeço também aos professores João Sabóia, Ricardo Paes de Barros e ao meu orientador André Urani, que participaram da banca de defesa deste trabalho - sou grato aos valiosos comentários e ao incentivo a posteriores desdobramentos das idéias aqui contidas.

Agradeço aos meus amigos e amigas que influenciaram direta ou indiretamente o desenvolvimento desta dissertação, entre eles, Dimitri Joe, Heloisa Borges, Flavia Alexim, Gabriel Ulyssea, Maria Isabel Andrade, Adriana Fontes, Rafael Garaffa, Thiago Renault e André Wagner. Um agradecimento especial à Paulinha Lobato, minha amiga e companheira inseparável, pelo carinho e dedicação, em todos os momentos de dificuldade e sucesso.

Por fim, agradeço muito a minha família querida, minha mãe, minha irmã e meu paidrasto, pelo amor e apoio incondicionais.

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RESUMO

CASTRO, Rudi Rocha de. Distribuição de Renda e Percepção de Desigualdade. Rio de Janeiro, 2004. Dissertação (Mestrado em Economia) – Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004

As diferenças de renda são muito grandes em seu país? Com base nesta pergunta, a presente dissertação discute a percepção que cidadãos comuns têm acerca da desigualdade de renda em seus respectivos países. Supõe-se tal percepção enquanto um método de avaliação da desigualdade e, a partir desta idéia, sugere-se a investigação da hipótese na qual a desigualdade percebida pelos cidadãos comuns é positivamente relacionada à distância ou grau de adequação entre duas categorias referenciais de avaliação – o nível de desigualdade de renda que estes observam a sua volta e o nível de desigualdade de renda que estes consideram ideal ou apropriado existir. Como base empírica de investigação desta hipótese, utiliza-se a pesquisa do ISSP (1999), cujo questionário, implementado em mais de 20 países, versa sobre temas relacionados às opiniões que pessoas comuns têm sobre justiça distributiva e desigualdade social. Ao final do trabalho, uma seção é dedicada exclusivamente ao caso brasileiro e às diferenças de percepção de desigualdade entre os cidadãos localizados ao topo e à base da distribuição de renda neste país.

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ABSTRACT

CASTRO, Rudi Rocha de. Distribuição de Renda e Percepção de Desigualdade. Rio de Janeiro, 2004. Dissertação (Mestrado em Economia) – Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004 Are differences in income too large in your country? Based on this question, the purpose of this study is to present a discussion about the feelings and perceptions ordinary people have in relation to the existing income inequality in their own countries. Assuming the inequality perception as a method of subjective inequality evaluation, the key question this study will address is the extent to which this perception is positively related to the distance between two referential categories of evaluation: (i) the degree of income inequality observed by those citizens in their respective countries and (ii) the degree of income inequality they judge would be proper to exist. This hypothesis will be empirically investigated and supported by means of the ISSP (1999) survey, applied in more than 20 countries and based on distributive justice and social inequality matters. In the end of this study, the Brazilian case will be examined in details, particularly by the use of information provided by two groups of respondents, those situated at the top of the income distribution and those located at the bottom.

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Sumário

Introdução................................................................................................................................ 8

1 Aspectos Metodológicos e Questões Preliminares...................................................... 13

1.1 Introdução ...............................................................................................................................13 1.2 O Survey ISSP (1999).............................................................................................................13 1.3 Padrões de Percepção de Desigualdade ..................................................................................21 1.4 Conclusão ...............................................................................................................................27

2 Avaliando a Desigualdade de Renda: Mensuração Técnica e Percepção ................ 29

2.1 Introdução ...............................................................................................................................29 2.2 Medidas de Desigualdade .......................................................................................................29 2.3 Percepção de Desigualdade ....................................................................................................54 2.4 Conclusão ...............................................................................................................................65

3 Desigualdade Percebida, Observada e Normativa: Análise Empírica..................... 67

3.1 Introdução ...............................................................................................................................67 3.2 Desigualdade Observada.........................................................................................................68 3.3 Desigualdade Normativa.........................................................................................................77 3.4 Desigualdade Percebida, Observada e Normativa ..................................................................85 3.5 Conclusão ...............................................................................................................................93

4 Diferenças entre Ricos e Pobres e o Caso Brasileiro.................................................. 95

4.1 Introdução ...............................................................................................................................95 4.2 Percepção de Desigualdade entre Ricos e Pobres...................................................................95 4.3 Brasil: a Desigualdade Aceitável ............................................................................................99 4.4 Conclusão .............................................................................................................................106

Conclusão ............................................................................................................................. 107

Referências Bibliográficas .................................................................................................. 108

Anexos .................................................................................................................................. 112

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Introdução

As diferenças de renda são muito grandes em seu país? Como os cidadãos comuns

responderiam a esta pergunta? O presente trabalho discutirá um tópico não convencional à teoria

econômica, a avaliação da desigualdade de renda implementada por pessoas leigas, avaliação esta

que associarei ao termo “percepção da desigualdade” e à pergunta que inicia esta dissertação.

Amiel e Cowell (1999, p.1) justificaram o estudo da percepção da desigualdade do

seguinte modo: “...perceptions of inequality affect economic choices and political decisions. A

sensitivity to inequality coupled with comparison for the poor motivates charitable giving by

individuals and states. Notions about inequality appear to inform popular views about that

appropriateness or otherwise of pay awards. And any parent with two or more children needs no

formal analysis to be persuaded of the importance of distributive justice. Fashionable or not,

thinking about inequality plays a part in the judgments and actions of politicians, planners and

ordinary people”.

Como mencionado acima, estudar a percepção da desigualdade é uma maneira de se

compreender um fenômeno estreitamente relacionado às escolhas econômicas e decisões políticas

de uma população. Assim, decifrar como as pessoas avaliam as diferenças de renda em seus

respectivos países pode servir de subsídio a explicações acerca da própria existência destas

diferenças. Tal motivação vale em especial ao caso brasileiro, país desigual por natureza, onde a

compreensão de como seus cidadãos percebem esta desigualdade pode ser uma das formas de se

conhecer o porquê de sua estabilidade inaceitável1.

1 Termo mencionado por Henriques (2000). Ver também Barros, Henriques e Mendonça (2000).

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Na teoria econômica existem poucas contribuições teóricas e empíricas sobre este tema. A

percepção da desigualdade vem sendo recentemente associada ao teste empírico dos axiomas

distributivos fundamentais implícitos nas medidas de desigualdade2. Existe também uma vasta

literatura econômica sobre assuntos que tangenciam o tema, como a questão da aversão à

desigualdade e da relação entre expectativas de mobilidade futura e tolerância às diferenças de

renda3.

A despeito deste viés teórico e econômico, a pesquisa sobre opiniões de justiça

distributiva e desigualdades sociais elaborada pelo ISSP (1999) vem contribuir para o

entendimento empírico das atitudes e percepções das pessoas em relação ao modo como suas

respectivas sociedades estão ordenadas4. Esta pesquisa motiva uma incursão às possíveis fontes

de explicação para a percepção da desigualdade, apesar da ausência de um arcabouço teórico na

economia que sirva como guia para tanto.

Tendo em vista essas considerações, em uma tentativa de contribuir à compreensão deste

fenômeno a partir de leitura econômica e não sociológica ou política, sugere-se nesta dissertação

investigar a percepção da desigualdade em relação a duas outras dimensões perceptivas

abordadas na pesquisa5: (i) a primeira diz respeito à forma como a sociedade está estruturada, isto

é, a imagem que a população tem da configuração dos estratos sociais e da desigualdade

2 Amiel e Cowell (1999). 3 Refiro-me a literatura econômica que surge com Atkinson (1970) ou Hirshman e Rotchshild (1973), Benabou e Ok (2000). 4 Desenvolvida pelo ISSP (International Social Survey Programme), módulo de 1999, referente a opiniões sobre desigualdade e justiça social. Quase trinta países participaram da pesquisa sobre o tema, dentre eles o Brasil. A pergunta que iniciou esta introdução é um dos itens do questionário. 5 Esta decomposição é sugerida por Scalon (2004).

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existente; (ii) a segunda refere-se a concepções de justiça social, uma dimensão normativa que

serve de referência basal ao julgamento das pessoas sobre o grau de desigualdade apropriado ou

que deveria existir na sociedade.

Como guia desta investigação, parte-se de uma interpretação desta percepção enquanto

um método de avaliação individual e subjetivo da desigualdade de renda existente em

determinada população6. Assim, por ser um método de avaliação, segue receita metodológica que

implica na estimação do grau de adequação ou distância entre duas categorias referenciais, uma

positiva e outra normativa - o grau de desigualdade de renda visualmente percebido pelas pessoas

(grau este que chamarei de desigualdade observada, no sentido de ser visualmente perceptível) e

o grau da desigualdade de renda considerado por estas como o apropriado (a desigualdade

normativa ou apropriada).

Posto isso, com a intenção de isolar e examinar um aspecto do complexo problema da

desigualdade e sua percepção, propõe-se nesta dissertação o desenvolvimento conceitual e a

investigação empírica da hipótese na qual esta percepção é relacionada à comparação de duas

categorias referenciais e à estimação subjetiva da distância ou do grau de inadequação entre

ambas - o nível de sua intensidade varia positivamente em relação à diferença entre a

desigualdade que as pessoas observam e aquela considerada como a ideal. Por suposição, esta

interpretação estará circunscrita conceitualmente à repartição da renda enquanto espaço de

percepção ou avaliação7.

6 Supõe-se, portanto, que por trás da resposta à pergunta “as diferenças de renda são muito grandes em seu país?” existe um processo de avaliação subjetivo. 7 Assim, leia-se a desigualdade normativa como o grau de desigualdade existente na repartição da renda que as pessoas consideram apropriado existir em seus países e; a desigualdade observada como o grau de desigualdade

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A idéia que fundamenta a construção desta hipótese surge a partir da leitura de

contribuições da teoria econômica sobre medidas de desigualdade. Em última instância, estas

medidas podem ser interpretadas como estimadores de uma distância ou grau de inadequação

entre dois tipos de referências: a distribuição objetiva de renda e uma referência basal – em geral,

a distribuição de renda igualitária; Uma estimativa para o índice de Gini em um determinado

país, por exemplo, consiste no dobro da área entre a curva de Lorenz associada à repartição de

renda vigente neste país e a linha de perfeita igualdade; a medida de Atkinson (1970) ou de Van

Praag (1978) podem ser interpretadas de modo semelhante, incluindo, todavia, considerações

sobre a maximização do bem-estar social. Assim, partindo de uma analogia a estas idéias, supõe-

se que a correspondência e a verificação do grau de inadequação entre as duas categorias

referenciais faz parte da natureza de um processo de avaliação da desigualdade de renda, seja ele

técnico e sofisticado ou leigo e subjetivo.

Em relação à dimensão empírica, tendo em vista a pesquisa e a base de dados do ISSP

(1999), três questões serão cruzadas e relacionadas entre si. A primeira, a avaliação leiga da

desigualdade será representada pelo item do questionário já mencionado no início desta

introdução: “as diferenças de renda são muito grandes em seu país?”. A segunda refere-se à

desigualdade observada e será associada empiricamente a uma questão da pesquisa onde os

entrevistados escolhiam, dentre alguns diagramas representativos do ordenamento social, aquele

que mais se pareceria à estrutura social vigente em seu país; pode-se supor que os diagramas são

ordenados em termos de desigualdade. A terceira, relacionada à desigualdade normativa, refere-

existente na repartição da renda que as pessoas observam em seus países. A desigualdade percebida (ou avaliada subjetivamente) seria então relacionada a uma diferença entre a desigualdade observada e aquela normativa.

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se aos mesmos diagramas, mas pergunta aos entrevistados qual daquelas estruturas deveria estar

em vigor na sociedade em que vivem.

Os resultados empíricos serão examinados intrapaíses, embora algumas interpretações

possam servir à compreensão das diferenças de percepção da desigualdade inter países. Para o

exame da relação entre as desigualdades percebida, observada e normativa, levarei em conta

tabulações e cruzamentos dos itens do questionário que servirão de base à investigação empírica

da hipótese.

Posto isso, segue a estrutura desta dissertação. No primeiro capítulo, descrevo a pesquisa

do ISSP (1999) e apresento as diferenças entre os padrões de percepção de desigualdade

existentes entre os entrevistados dos países considerados na análise. No capítulo 2, desenvolvo

conceitualmente a hipótese deste trabalho. No capítulo 3, examino a validade empírica desta

hipótese. O capítulo 4 é complementar ao corpo central do trabalho e discutirá as diferenças de

percepção de desigualdade entre as pessoas localizadas ao topo e à base da distribuição de renda

em países selecionados. Na última seção deste capítulo, analiso o caso brasileiro. Uma seção de

considerações finais encerra esta dissertação.

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1 Aspectos Metodológicos e Questões Preliminares

1.1 Introdução

Apresento neste capítulo dois tópicos relevantes ao desenvolvimento do trabalho. O

primeiro deles relaciona-se à descrição dos principais aspectos metodológicos da base de dados

do ISSP (1999), que será utilizada para a análise empírica da hipótese levantada pela introdução

anterior.

Em uma terceira seção, apresento empiricamente os distintos padrões de percepção de

desigualdade de renda encontrados entre os países participantes da pesquisa do ISSP (1999). Não

obstante, discuto a fraca correspondência entre a desigualdade objetiva de renda (medida pelo

índice de Gini) e um indicador de percepção de desigualdade calculado para cada país da

pesquisa. Uma seção de comentários finais encerra este capítulo.

1.2 O Survey ISSP (1999)

Esta seção tem como objetivo apresentar a pesquisa do ISSP (International Social Survey

Programme, 1999) sobre percepções de desigualdade, tendo em vista os países participantes, a

padronização metodológica, a tradução do questionário, o trabalho de campo e a amostragem.

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Disto isto, apresento o ISSP a partir da seguinte descrição8: “The ISSP is a continuing

annual programme of cross-national collaboration on surveys covering important topics for

social science research. It brings together pre-existing social science projects and coordinates

research goals, thereby adding a cross-national, cross-cultural perspective to the individual

national studies. Thirty-nine countries are members of the ISSP”.

Este programa existe desde o início dos anos 1980’s e já implementou aproximadamente

vinte pesquisas referentes a temas sociais, dentre elas, três relacionadas a opiniões sobre

desigualdade social – em 1987, 1992 e 1999. Na tabela abaixo, encontra-se a relação de pesquisas

já elaboradas pelo programa.

Tabela 1.2.1 – Relação de Pesquisas do ISSP

Ano Tema de Pesquisa Ano Tema de Pesquisa

1985 O Papel do Governo I 1994 Família e Gênero II1986 Redes Social I 1995 Identidade Nacional I1987 Desigualdade Social I 1996 O Papel do Governo III1988 Família e Gênero I 1997 Trabalho II1989 Trabalho I 1998 Religião II1990 O Papel do Governo II 1999 Desigualdade Social III1991 Religião I 2000 Meio Ambiente II1992 Desigualdade Social II 2001 Relações Sociais1993 Meio Ambiente I 2002 Família e Gênero III

2003 Identidade Nacional IIFonte: www.issp.org

São 39 países membros do ISSP, embora nem todos participem de todos os módulos. Os

temas e os questionários são avaliados e testados em um conjunto pequeno de países antes da

rodada principal. Os questionários são geralmente elaborados em inglês e traduzidos para o

idioma do país participante. Existe um grande esforço de padronização metodológica e unificação

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8 www.issp.org.

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das bases de dados originais de cada país. A junção dessas bases em um banco de dados

unificado é de responsabilidade da Universidade de Colônia (Zentralarchiv für Empirische

Sozialforschung, ZA), que recebe colaborações de centros de pesquisas de outros países

participantes. Esta instituição é responsável também pelo zelo às regras metodológicas básicas.

A pesquisa ISSP (1999)

As pesquisas sobre desigualdade social foram elaboradas em 1987, 1992 e 1999. Neste

último ano, o Brasil participou através do IUPERJ (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de

Janeiro), que hoje coordena a pesquisa no Brasil9. Juntamente com o Brasil, outros 26 países

participaram da pesquisa ISSP (1999).

O questionário de 1999 contém perguntas sobre percepções individuais de desigualdade e

de posição social, opiniões sobre justiça distributiva, percepções de mobilidade social passada e

futura, questões relacionadas a crescimento e distribuição de renda, relação entre educação e

remuneração, preferências políticas e religiosas, percepções do ordenamento social e de

remunerações de distintas categorias profissionais; enfim, um número grande de questões

relacionadas à justiça distributiva e desigualdades sociais10.

Aspectos Metodológicos

9 Agradeço a Maria Celi Scalon, coordenadora do ISSP no Brasil, por facultar acesso aos dados utilizados nesta dissertação. 10 Os itens utilizados nesta dissertação serão descritos na próxima seção e ao longo dos próximos capítulos.

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Apresento, na seqüência, informações sobre algumas das principais considerações

metodológicas da pesquisa ISSP (1999)11. A tabela a seguir descreve os dados gerais de cada país

participante – tamanho da amostra e ano da elaboração da pesquisa12.

Tabela 1.2.2 – Dados Gerais da pesquisa ISSP (1999)

Países Participantes Tamanho da Amostra

Ano do Trabalho de Campo

Áustria 1606 2000Australia 1672 1999/2000Bulgária 1102 1999Canada 984 1999/2000Chile 1503 2000Rep. Tcheca 1834 1999Alemanha Ocidental 921 1999Espanha 1211 2000França 1889 1999Reino Unido 804 1999Hungria 1208 1999Israel 1208 1999/2000Japão 1325 1999Letônia 1100 1999Noruega 1268 1999Nova Zelândia 1108 1999Portugal 1144 1999Polônia 1135 1999Filipinas 1200 1999Russia 1705 1999Suécia 1150 1999Eslovênia 1006 1999Estados Unidos 1272 2000Eslováquia 1082 ndIrlanda do Norte 809 ndBrasil 2000 2001

Fonte: ISSP Study Monitoring 1999 (2003)Nota: nd - não disponível

Dados Gerais

Como mencionado, são 27 países incluídos nesta pesquisa, sendo que o Chipre não foi

incorporado nesta apresentação. O tamanho das amostras é limitado; em geral, aproximadamente

11 A referência está no documento ISSP Study Monitoring 1999 (ISSP, 2003). 12 Ao longo desta dissertação, não estarei considerando no conjunto de países da pesquisa o Chipre, que seria o vigésimo sétimo participante.

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entre 1000 e 2000 observações. Na tabela abaixo se encontram algumas perguntas questões

relativas à padronização metodológica do questionário ISSP (1999).

Tabela 1.2.3 – Questões Metodológicas sobre o Questionário da Pesquisa ISSP (1999)

Por Especialistas

Pela Equipe de Pesquisa

Outros Não Sim Não Sim Não

Áustria nd nd nd nd x xAustralia x - xBulgária x x xCanada x x xChile x x x xRep. Tcheca x xAlemanha Ocidental x x x x xEspanha x xFrança x x xReino Unido x x xHungria x x xIsrael x x xJapão x x xLetônia x x xNoruega x x xNova Zelândia x - xPortugal x x xPolônia x x xFilipinas x x xRussia x x xSuécia x x xEslovênia x x xEstados Unidos x xEslováquia nd nd nd nd nd nd nd ndIrlanda do Norte nd nd nd nd nd nd nd nd

Fonte: ISSP Study Monitoring 1999 (2003)Nota: nd - não disponível

O Questionário

Países Participantes

TraduçãoO questionário foi

testado previamente?

As Perguntas seguiram a mesma ordem prescrita

originalmente pelo ISSP?

Existem outras considerações metodológicas em relação ao questionário não apresentadas

aqui, como problemas de tradução (Alemanha, Austrália, Japão e Eslovênia apontaram este tipo

de problema) e a adequação do questionário quando aplicado em meio a outra pesquisa de campo

(muitos países aproveitaram pesquisas maiores para a aplicação do questionário). A seguir,

apresento algumas considerações metodológicas sobre amostragem.

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Tabela 1.2.4 – Questões Metodológicas sobre a Amostragem da Pesquisa ISSP (1999)

Conhecida e igual

Conhecida, mas não igual

Áustria Não 18 Não x Endereço Kish Grid

Australia Sim 18 Não x Individual -

Bulgária Sim 18 Não x Endereço Kish Grid

Canada Sim 18 Não x Individual Aniversário

Chile Não 18 Não x Outros Kish Grid

Rep. Tcheca Sim 18 Não x Endereço Aniversário

Alemanha Ocidental Sim 18 Não x Individual -

Espanha Sim 18 Não x Outros Kish Grid

França Não 18 Não x Endereço Aniversário

Reino Unido Sim 18 Não x Endereço Kish Grid

Hungria Sim 18 Não x Individual -

Israel Não 18 Não x Outros Kish Grid

Japão Sim 16 Não x Individual -

Letônia Sim 18 85 x Endereço Aniversário

Noruega Sim 18 79 x Individual -

Nova Zelândia Sim 18 Não x Individual -

Portugal Sim 18 Não x Individual Aniversário

Polônia Não 18 Não x Endereço Aniversário

Filipinas Sim 18 Não x Outros Kish Grid

Russia Não 16 Não x Endereço Kish Grid

Suécia Sim 18 80 x Individual -

Eslovênia Não 18 Não x Individual -

Estados Unidos Não 18 Não x Domicílio Kish Grid

Fonte: ISSP (2003)Nota: Informações para Eslováquia e Irlanda do Norte não disponíveis

Qual a probabilidade de selecação de cada indivíduo da

população amostrada?

Amostragem

Amostra desenhada para ser

representativa de toda a população?

Idade Mínima

Idade Máxima

Qual foi a unidade de

amostragem?

Qual o método de seleção

utilizado para identificar o

respondente?

Países Participantes

O documento de metodologia do ISSP (ISSP, 2003) afirma que em alguns casos as

informações sobre amostragem relatadas pelos países participantes são contraditórias. Um ponto

que devo chamar atenção relaciona-se à representatividade da amostra. Em alguns países, esta

não foi desenhada para ser representativa de toda a população, o que limitará as interpretações

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dos dados ao longo deste trabalho. A tabela a seguir destaca as últimas considerações

metodológicas sobre a pesquisa apresentadas nesta seção, referentes ao trabalho de campo.

Tabela 1.2.5 – Questões Metodológicas sobre o Trabalho de Campo da Pesquisa ISSP

(1999)

Países Participantes Face a FaceSelf-Completion (via

entrevistador)Self-Completion

(postal)

Áustria x

Australia x

Bulgária x

Canada x

Chile x

Rep. Tcheca x

Alemanha Ocidental x

Espanha x

França x

Reino Unido x

Hungria x

Israel x

Japão x

Letônia x

Noruega x

Nova Zelândia x

Portugal x

Polônia x

Filipinas x

Russia x

Suécia x

Eslovênia x

Estados Unidos x

Fonte: ISSP (2003)Nota: Informações para Eslováquia e Irlanda do Norte não disponíveis

Trabalho de Campo

Existem outras considerações sobre o trabalho de campo nos países participantes, dentre

elas, se as entrevistas eram supervisionadas, dados sobre a duração total do trabalho, horários das

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entrevi

lho de campo foi implementado entre Abril e Maio de 2001, em 26

estados brasileiros e 195 municípios13. O questionário foi testado previamente e traduzido pela

equipe

brasileiros elaboraram artigos ainda

não publicados, mas cujas idéias estarão incorporadas ao longo do presente texto – em especial,

Scalon

presentação das principais considerações metodológicas

relacionadas à pesquisa ISSP (1999). Na próxima seção, apresentarei empiricamente as

diferen

stas e se os entrevistadores eram pagos de acordo com desempenho. No entanto, para não

tornar esta seção mais extensa, não as inclui nesta apresentação.

O caso brasileiro

No Brasil, o traba

de pesquisa e especialistas; a seqüência de perguntas respeitou a prescrição do ISSP e

alguns itens adicionais foram incorporados ao final do questionário. A amostra foi desenhada

para ser representativa de toda a população brasileira, a idade mínima dos entrevistados era de 18

anos, sem limite máximo. A unidade de amostragem foi o domicílio e os entrevistados foram

selecionados por quota. As entrevistas ocorreram face a face.

A partir dos resultados, sociólogos e cientistas sociais

(2004) e Cardoso (2004). Está prevista para o final de 2004 a publicação de uma coletânea

destes trabalhos pela editora da UFMG.

Esta seção teve como objetivo a a

ças entre os padrões de percepção de desigualdade de renda entre os países considerados

neste trabalho.

13 O SENSUS foi contratado para a execução da pesquisa.

20

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21

para ser representativa de toda a população do país – como é o caso de Áustria, Chile, França, Israel, Polônia, Rússia, Eslovênia e Estados Unidos.

1.3 Padrões de Percepção de Desigualdade

Nesta seção, investigo empiricamente os distintos padrões de percepção de desigualdade

de renda entre os países participantes da pesquisa do ISSP (1999). Como ilustração, tendo em

vista estes países como unidade de análise, discuto a fraca correlação entre a desigualdade real

(ou medida pelo índice de Gini) e aquela percebida. Ao final, destaco as limitações

metodológicas relacionadas ao item da pesquisa em evidência.

Para representar a percepção da desigualdade, destaca-se uma questão da pesquisa

associada às opiniões dos entrevistados sobre a magnitude das diferenças de renda em seus

países, já mencionada na introdução desta dissertação: “as diferenças de renda são muito grandes

em seu país?”. As respostas se dividiam em cinco categorias ordenadas: (i) discorda totalmente;

(ii) discorda; (iii) nem concorda nem discorda; (iv) concorda e; (v) concorda totalmente.

Para facilitar a análise, criou-se um indicador de percepção de desigualdade, estimado

para cada país da amostra, construído da seguinte forma. Ordenaram-se as categorias de 1

(discorda totalmente) a 5 (concorda totalmente) e estimou-se a média das respostas para cada

país. Assim, por exemplo, uma média próxima a 5 indicaria alta percepção de desigualdade em

dado país. Os resultados seguem na tabela abaixo14.

14 Chamo atenção para uma consideração metodológica importante: em alguns países a amostra não foi desenhada

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Tabela 1.3.1 – As diferenças de renda são muito grandes em seu país? (em % do total)

Paíse Gini Desigualdade Percebida

Concorda Totalmente

Concorda Nem Concorda Nem Discorda

Discorda Discorda Totalmente

Não soube Responder ou Sem Resposta

Tamanho da

Amostra

Australia 0,352 3,76 0,17 0,51 0,16 0,11 0,00 0,04 1672CanadEUA 0,408 3,76 0,23 0,38 0,20 0,09 0,03 0,07 1272

Reino Unido 0,361 4,05 0,29 0,49 0,12 0,06 0,01 0,04 804

Austria 0,231 4,23 0,40 0,43 0,09 0,04 0,00 0,03 1016

Noruega 0,258 3,79 0,22 0,49 0,14 0,12 0,02 0,01 12681 0,01 0,01 11448 0,02 0,02 1150

Brasil 0,600 4,77 0,84 0,10 0,01 0,02 0,01 0,02 2000Chile 0,565 4,30 0,42 0,49 0,03 0,04 0,00 0,02 1503

FilipinIsrael 0,355 4,37 0,54 0,36 0,04 0,05 0,01 0,01 1208

Bulgária 0,283 4,78 0,82 0,13 0,01 0,01 0,01 0,02 1102

Hungria 0,308 4,58 0,68 0,25 0,03 0,03 0,00 0,01 1208

Polônia 0,329 4,32 0,45 0,39 0,06 0,03 0,01 0,06 1135Rep. Tcheca 0,254 4,40 0,60 0,27 0,06 0,04 0,02 0,01 1834

1705Fonte de Dados: ISSP (1999) e Banco Mundial.

s

á 0,315 3,76 0,26 0,40 0,16 0,12 0,03 0,03 974

Irlanda N 0,359 3,77 0,16 0,49 0,19 0,08 0,01 0,07 830N. Zelândia 0,439 3,88 0,28 0,42 0,13 0,11 0,02 0,04 1108

Alemanha 0,300 3,85 0,20 0,53 0,14 0,09 0,01 0,04 921

Espanha 0,325 4,22 0,36 0,53 0,07 0,03 0,00 0,01 1211França 0,327 4,40 0,59 0,27 0,07 0,05 0,01 0,01 1889

Portugal 0,356 4,75 0,81 0,14 0,02 0,0Suécia 0,250 3,87 0,29 0,41 0,18 0,0

as 0,462 3,67 0,22 0,43 0,17 0,14 0,03 0,01 1200

Japão 0,249 3,90 0,36 0,28 0,17 0,07 0,05 0,08 1325

Eslováquia 0,195 4,65 0,73 0,20 0,05 0,01 0,01 0,01 1082Eslovênia 0,268 4,36 0,49 0,41 0,05 0,04 0,01 0,02 1006

Letônia 0,324 4,52 0,57 0,39 0,02 0,01 0,00 0,01 1100

Russia 0,487 4,71 0,78 0,16 0,02 0,01 0,01 0,02

Na tabela acima, os países participantes da pesquisa ISSP (1999) foram agrupados em 5

conjuntos conforme localização geográfica15. Na primeira coluna, apresentam-se os valores do

índice de Gini para cada país16. Na segunda coluna, destacam-se os valores do indicador de

percepção de desigualdade mencionado anteriormente, considerando apenas as respostas válidas.

15 Japão, Filipinas e Israel foram agrupados em uma categoria de “outros países”, por não se adequarem aos demais grupos.

omenclatura, associarei arbitrariamente o termo “desigualdade real” ou desigualdade objetiva” ao grau de desigualdade medido pelo índice de Gini.

16 Banco Mundial (2000). Os valores são calculados sobre renda ou consumo pessoal e seguem padronização metodológica. A escolha desta medida de desigualdade respeitou a disponibilidade de dados em comparações internacionais. Por questão de n“

22

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U o

com

am a

m

(40%), Japão (36%) e Suécia (29%).

Se comparados os extremos do ordenamento da desigualdade medida pelo índice de Gini,

verifica-se que a desigualdade percebida nos países mais igualitários não se distancia daquela

encontrada em países mais desiguais, sendo até mesmo superior em alguns casos. Na Eslováquia

e na Bulgária (país com o mais elevado indicador de percepção de desigualdade), mais de 70%

dos entrevistados concordaram totalmente com a questão. No Chile, este número ficou em

somente 42% das respostas válidas. Na Rússia, 78% dos entrevistados concordaram totalmente e,

no Brasil, esta categoria recebeu 84% das respostas, o maior valor dentre todos os países

participantes. Outros países que chamaram atenção pela alta percepção foram Portugal e França.

m primeiro fato que chama atenção refere-se às magnitudes do indicador de percepçã

de desigualdade incluídos na segunda coluna. O valor mais baixo encontrado foi de 3.67

(Filipinas) e, o segundo menor, 3.76 (EUA). Isso significa que, independentemente do país em

questão, a avaliação da desigualdade de renda tende a ser severa: a categoria média situa-se, em

todos os casos, próxima à resposta “concorda”. Este resultado será discutido à frente.

Outra questão refere-se aos indícios da fraca correlação entre a desigualdade real e a

percebida. Os Estados Unidos e as Filipinas, por exemplo, são países de reconhecida

desigualdade de renda sem, contudo, apresentarem níveis altos de percepção (mais do que isso,

o mencionado, são os dois países com os níveis mais baixos de desigualdade percebida

dentre todos os participantes da pesquisa). Observa-se que 9% dos entrevistados norte-

ericanos discordaram da questão, 14% dos filipinos e 11% dos neozelandeses seguiram

esma resposta. Entre os países mais igualitários, por outro lado, uma grande parcela dos

entrevistados concordou totalmente com a questão, como é o caso da Eslováquia (73%), Áustria

23

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A correlação entre o índice de Gini e percepções de desigualdade: ilustração.

Como ilustração da fraca correlação entre desigualdade de renda objetiva e percebida,

utilizo um gráfico de dispersão entre o índice de Gini e o indicador de percepção estimado a

partir da pesquisa ISSP (1999). Uma regressão simples por mínimos quadrados ordinários entre

as duas

A partir deste gráfico, verifica-se uma fraca correlação entre o Índice de Gini e o

indicador de percepção de desigualdade (0.08), além do baixo poder de explicação da regressão

entre as duas variáveis (valor F de significação de 0.69). Apresentando o problema por um ângulo

diferente, o gráfico abaixo ordena os países de acordo com o índice de Gini e os relaciona ao

indicador de percepção de desigualdade.

variáveis também reforça a análise.

Gráfico 1.3.1 – Relação entre o Índice de Gini e o Indicador de Percepção de

Desigualdade

3,5

4,0

5,0 Indicador de Percepção de Desigualdade

RussiaPortugal

Eslováquia

N. Zelândia

y = 0,3098x + 4,1041R2 = 0,0069

3,0

4,5

0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

Índice de Gini

Brasil

Chile

EUA

Bulgária

Noruega

Fonte: ISSP (1999) e Banco Mundial (2000)

24

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Gráfico 1.3.2 – O Indicador de Percepção d

As linhas representam grupos de países

com valores

seme ente grandes as

variações intragrupos. P o valor médio do

prim es e Filipinas

pressionam

resultados, destaco a seguir algumas restrições metodológicas relacionadas ao item da pesquisa

do ISSP (1999) em evidência.

Limitações: a pesquisa do ISSP (1999)

e Desigualdade de Renda: Ordenando Países

pelo Índice de Gini (do mais igualitário para o mais desigual)

3

4

4,5

5

íses

Eáq

uia

stria

apão

écia

Rep

.ue

gaên

iagá

riaA

anha gria

adá

ônia

panh

aan

çalô

nia

ralia

rael

ugal

da N ino

EU

AN

.lâ

ndia

ilipi

nas

ssia

Chi

leB

rasi

l

Fonte de Dados: ISSP (1999)

Indicador de Percepção de Desigualdade

3,5

Pa

slov A

u J Su

Nor

Esl

ovB

ulle

m Hun

Can Le

tE

s Fr Po

Aus

t IsP

ort

Irlan R

e

Ze F R

u

as médias dos indicadores de desigualdade em

definidos por três categorias: (i) aqueles com índices de Gini até 0.30; (ii) de 0.30 a 0.40 e; (iii)

o índice no valor de 0.40 em diante. Em média, todos os grupos apresentam

lhantes para a desigualdade percebida (em torno de 4.2), sendo relativam

ercebe-se que os países do Leste Europeu pressionam

eiro e segundo grupos positivamente, enquanto que os países anglo-saxõ

as percepções médias do segundo e terceiro grupos para baixo. A despeito destes

25

Page 26: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

A

heterogêneo de p nte em países da

OCDE e do Leste Europeu. Lembro também que em alguns países, a amostra não foi desenhada

para ser representativa de toda a população.

Percebe-se claramente que os países do Leste Europeu, apesar do baixo grau de

concentração de renda, apresentaram níveis de percepção de desigualdade elevados – em geral, se

localizam entre os países do primeiro grupo, no gráfico anterior. Não obstante, além de

numerosos, estes países possuem trajetórias históricas semelhantes e passam por um profundo

processo de transição de regimes político e econômico, o que os tornariam um grupo de

observações sócio-culturalmente homogêneo entre si, embora díspar em relação aos demais. Os

países anglo-saxões, por outro lado, destacam-se pela desigualdade de renda medida pelo índice

de Gini mais elevada e pelos baixos níveis de percepção; no gráfico 1.2.2, estão situados no

segundo e terceiro grupos.

Outro exercício foi elaborado sem a inclusão dos países do Leste Europeu, quando se

observou uma clara melhora da correlação entre a desigualdade medida pelo índice de Gini e a

percebida. No entanto, a nova correlação encontrada continuou limitada em sua magnitude

(correlação igual a 0.40, R2 igual a 0.16, valor-P não significativo para o coeficiente de inclinação

e F de significação de 0.08).

Além do viés na amostra de países, outro problema é encontrado a partir da interpretação

dos respondentes frente à questão retirada da pesquisa ISSP. Scalon (2004) também destaca, para

um subgrupo de 8 países da pesquisa, uma distância grande entre desigualdade objetiva (medida

amostra de países da pesquisa ISSP (1999) é pequena e não representa um conjunto

aíses. São apenas 26 observações concentradas majoritariame

26

Page 27: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

pelo ín

te exposto no discurso público, vinculado à ampla

propagação do ideal moderno de justiça social. Reforçando empiricamente esta crítica, como já

destaca

não haveria meios de alterar estas características sem, contudo,

desviar-me do objeto de estudo desta dissertação.

1.4 Conclusão

No presente capítulo, apresentei dois tópicos relevantes ao desenvolvimento desta

dissertação - os aspectos metodológicos da pesquisa ISSP (1999) e os distintos padrões de

percepção de desigualdade de renda encontrados entre os países em análise.

dice de Gini) e percebida, analisada justamente a partir da mesma pergunta do

questionário. No entanto, a autora afirma que seria importante atentar para o fato de que a

concordância com a afirmativa de que existe grande desigualdade de renda pode ser apenas o

reflexo de algo que tem sido constantemen

do, observa-se que, independentemente do país em evidência, em média, os respondentes

concordaram que existem grandes diferenças de renda. Logo, a observação da autora faz sentido

e deve ser levada em conta através da maior cautela na interpretação dos resultados empíricos

desta dissertação.

Portanto, as limitações levantadas acima impõem restrições à interpretação dos resultados.

Por um lado, através do conjunto de países presente na amostra. Por outro, a partir das

dificuldades de compreensão da questão escolhida para a construção do indicador de percepção

de desigualdade. Todavia,

27

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Pode-se concluir que, apesar das restrições metodológicas, o fenômeno da percepção da

desigualdade guarda fraca correspondência aos níveis de desigualdade de renda medida pelo

índice de Gini17. Em especial, verificou-se que os entrevistados dos países do Leste Europeu

avaliam severamente a magnitude das diferenças de renda, enquanto que os anglo-saxões o fazem

com menos severidade, assim como os filipinos, os japoneses e os entrevistados de outros países

europeus, como os noruegueses, suecos e alemães. Os latino-americanos e os portugueses

apresentaram percepção elevada de desigualdade, embora os chilenos não configurem entre os

entrevistados mais severos. No próximo capítulo, desenvolvo conceitualmente a hipótese desta

dissertação.

e o índice de Gini como

considerado nos exercícios acima também impõe limitações à interpretação dos resultados. De um lado, existem restrições técnicas (sobre até que ponto esta medida reflete um ordenamento – um ranking transitivo e completo – dos grau de desigualdade de diferentes distribuições de renda; para esta referência, ver Sen (1973)). Por outro, existem restrições associadas à disponibilidade das estatísticas (supondo que as opiniões sobre desigualdade de renda guardem relação ao nível de padrão de vida dos respondentes, talvez uma medida construída sobre a renda domiciliar per capita refletisse com maior fidelidade uma percepção média da desigualdade).

17 Este comentário também é mencionado por Scalon (2004). Deve-se salientar o fato de qu

s

28

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2 Avaliando a Desigualdade de Renda: Mensuração Técnica

2.1 Introdução

Este capítulo tem como objetivo desenvolver conceitualmente a hipótese sugerida por esta

dissertação, na qual a percepção da desigualdade de renda é relacionada a uma estimação

subjetiva da distância ou do grau de inadequação entre duas referências – o grau da desigualdade

que as pessoas observam em seus países e aquele que estas consideram como apropriado existir.

Para tanto, na seção 2.2 deste capítulo apresento métodos convencionais de avaliação da

desigualdade de renda e mostro seus respectivos mecanismos de funcionamento a partir da

correspondência entre referências positivas e normativas. Na seção 2.3, desenvolvo uma noção

conceitual e simplificada de percepção da desigualdade considerada neste trabalho, com o

objetivo de facilitar a sua interpretação e a visualização de suas propriedades. Em uma seção

conclusiva, apresento os comentários finais deste capítulo.

2.2 Medidas de Desigualdade

Com a finalidade de apresentar alguns dos métodos mais convencionais de avaliação da

e Percepção

desigualdade de renda existentes na literatura econômica, esta seção será organizada como se

29

Page 30: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

segue18. Inicialmente, defino alguns parâmetros normativos encontrados na literatura econômica

para ibuições; são eles os axiomas distributivos fundamentais. Em seguida,

defino um dos instrumentos mais convencionais de comparação entre os graus de desigualdade de

duas ou mais distribuições de renda, a curva de Lorenz. Discutirei algumas de suas propriedades.

Passarei então aos métodos de comparação e ordenação que sintetizam a informação sobre a

desigualdade de renda de uma distribuição em um único escalar - em especial o índice de Gini.

Na segunda metade da seção, apresento a avaliação da desigualdade de renda através da

abordagem do bem-estar social, principalmente a partir da medida de Atkinson (1970) e de Van

Praag (1978), que utiliza diretamente a noção de percepção de desigualdade em seu

procedimento. Questões metodológicas encerram esta seção.

Aspectos Normativos e os Princípios Distributivos: como comparar e ordenar

distribuições de renda segundo níveis de desigualdade?

Suponha os países A e B, ambos com populações de 4 indivíduos e mesma renda total S =

10 unidades. Ademais, sejam respectivamente as duas distribuições de renda XA = [1 2 3 4] e XB

= [1 1 4 4]. Defina agora o método de comparação e ordenação dos graus de desigualdade de

renda em cada distribuição a partir da amplitude R = (xmax - xmin), onde distribuições com maiores

ais desiguais e vice-versa. Por este critério, observar-se-ia o

mesmo nível de desigualdade de renda em ambas as distribuições.

a ordenação de distr

amplitudes seriam consideradas m

18 A literatura técnica sobre medidas de desigualdade de renda é reconhecidamente sofisticada e, por tal motivo, gera dificuldades à redação desta seção. Desse modo, a elaboração da presente seção seguirá a forma de uma resenha conceitual e será baseada nos principais fatos estilizados e em trabalhos de excelência: Atkinson (1970), Sen (1973), Sen (1992), Hoffman (1998), Cowell (2000), Barros, Carvalho e Franco (2003), dentre outros.

30

Page 31: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

No entanto, verifica-se que a distribuição XB pode ser derivada de XA, através da

transferência de renda de um indivíduo mais pobre para outro mais rico. Logo, pergunta-se: este

seria um bom método de comparação e ordenação dos graus de desigualdade de duas

distribuições de renda? A amplitude seria uma boa medida de desigualdade? Resposta: depende.

A escolha de um método de comparação entre níveis de desigualdade de distribuições de

renda demandaria uma contrapartida normativa em termos de justiça distributiva. Ou seja, a

ordenação entre duas ou mais distribuições de renda segundo níveis de desigualdade dependeria

de princípios distributivos justificáveis19. Posto isso, quais seriam então estes princípios?

A literatura econômica convencional das medidas de desigualdade definiu a estrutura de

um sis

isto é, parâmetros normativos de justiça

distributiva - uma estrutura metodológica formal baseada em axiomas elementares e proposições

matem

a ordenação

qualquer das rendas individuais de uma população, permutações de rótulos pessoais são

consideradas neutras do ponto de vista distributivo. Ou seja, a regra de ordenamento das

tema de comparação dos graus de desigualdade das distribuições de renda através de um

conjunto de princípios éticos ou axiomas fundamentais,

áticas, um sistema de regras tomadas como fundamentais; ou seja, que não derivam de

quaisquer outros axiomas ainda mais elementares; que não necessitam se basear em experiências

e observações do mundo real e; que não requerem relação a outro sistema externo de valores20.

Dentre estes princípios destacam-se, por exemplo, o princípio do anonimato e o das

transferências (ou Pigou-Dalton). O princípio do anonimato assegura que, dada um

19 Ver Kolm (1996). 20 Ver Amiel e Cowell (1999).

31

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distribu

princípio de Pigou-Dalton (ou das transferências) assegura que, dado um nível fixo de

renda t

opriada

pelo indivíduo mais rico da população, ou pelo mais pobre.

ições segundo níveis de desigualdade levaria em conta apenas a informação sobre a renda,

e não sobre quaisquer outras características pessoais, como raça, gênero, capacidades físicas e

psicológicas, idade etc.

O

otal, transferências progressivas de renda – de um indivíduo mais rico para outro mais

pobre – diminuiriam o nível de desigualdade de uma distribuição. No caso dos países A e B

acima, por exemplo, a regra de comparação baseada na amplitude não respeitaria integralmente

tal princípio, a menos que se transferisse renda de modo a atingir a proporção da renda apr

Outros princípios recorrentemente mencionados na literatura econômica são os da

população (onde replicações da distribuição são distributivamente neutros), da independência de

escala (adições proporcionais de renda não aumentam nem diminuem a desigualdade), da

independência de translação (em termos de adições absolutas) e o princípio da decomposição (se

a desigualdade aumenta em um subgrupo da população então, ceteris paribus, aumentará na

sociedade como um todo).

A importância deste conjunto de axiomas para a teoria econômica estaria na capacidade

de se ordenar os níveis de desigualdade de duas ou mais distribuições de renda e, ademais, que

isso fosse feito a partir de métodos que respeitassem determinados princípios elementares de

32

Page 33: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

justiça distributiva21. Posto isso, passo a seguir à apresentação de alguns dos principais

instrumentos de comparação e ordenação dos graus de desigualdade de distribuições de renda.

Representando a desigualdade de uma distribuição de renda: a curva de Lorenz

Figura 2.2.1 – A Curva de Lorenz

Uma maneira convencional de se representar o grau de desigualdade em uma distribuição

de renda seria através da curva de Lorenz, definida a seguir. Considere uma ordenação crescente

das rendas individuais de uma população. Os valores da proporção acumulada desta população e

da proporção acumulada da renda total apropriada definem os pontos em um sistema de eixos

cartesianos ortogonais, como ilustra a figura abaixo.

A curva de Lorenz, portanto, mostra como a proporção da renda total aumenta em função

da proporção da população, considerando uma ordenação crescente de rendas. Se todas as

21 Um ordenamento, como já mencionado, significaria um ranking completo e transitivo. Por exemplo, apesar da arbitrariedade em termos normativos, a amplitude seria uma medida capaz de ordenar distribuições em termos de níveis de desigualdade. A busca de medidas de desigualdade que possibilitassem a construção de ordenamentos foi criticada em Sen (1973), o qual as defendia como quase-ordenamentos, ou seja, rankings transitivos, porém não necessariamente completos.

Porcentagem Acumulada da População

Por

cem

ula

Re

pro

a

Curva de Lorenzenta

g A

cum

da d

and

a A

pria

d

B1

Linha de Perfeita Igualdade

0 1

A

33

Page 34: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

pessoas tivessem exatamente a mesma renda (igual à média da distribuição), a proporção

acumulada da renda seria sempre igual à proporção acumulada da população. Neste caso, a curva

de Lorenz seria o segmento de reta OB na figura acima – denominado por linha de perfeita

igualda

dida entre esta linha e a curva de Lorenz

como a área de desigualdade.

Segundo este método, quanto mais afastada estiver a curva de Lorenz do segmento 0B,

maior seria o grau de desigualdade da distribuição de renda. De fato, pode-se mostrar que se a

proporção da renda apropriada pelos x% mais pobres da população em um país A for maior que a

correspondente fração em um país B, para todo x, então o grau de desigualdade será menor em A

do que em B qualquer que seja a medida de desigualdade utilizada22. Quando isso ocorre, diz-se

que a distribuição de renda na economia A domina no sentido de Lorenz a distribuição de B.

igualitária. O método descrito acima permite então comparar duas ou mais distribuições de renda

de.

Por outro lado, se toda a renda fosse apropriada por uma única pessoa, a curva de Lorenz

ficaria sobre o eixo das abscissas até a proporção acumulada da população chegar a 1 – 1/n,

sendo n o número total de pessoas, saltando em seguida para o ponto B. Entre as duas situações

extremas, haveria sempre uma curva traçada dentro do triângulo formado abaixo da linha de

perfeita igualdade. Denomina-se a área A compreen

Pode-se observar também que através de transferências progressivas de renda, seria

possível alcançar a linha de perfeita igualdade a partir de qualquer curva de Lorenz não

segundo níveis de desigualdade (desde que suas respectivas curvas de Lorenz não se 22 Ver Barros, Carvalho e Franco (2003).

34

Page 35: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

interceptem); ao respeitar o princípio de Pigou-Dalton, tal comparação apóia-se na linha de

perfeita igualdade como referência normativa basal, o que permitiria sua interpretação a partir de

um mecanismo construído sobre duas categorias analíticas distintas: uma referência positiva (a

própria curva de Lorenz) e outra normativa (a repartição de renda igualitária).

ma possível solução para alguns destes casos seria aumentar ainda mais as restrições

impost

ser

mais sensível às diferenças de renda existentes no topo da distribuição, enquanto outro, às da

base. D

Quando curvas se cruzam...

O método de comparação dos graus de desigualdade a partir da curva de Lorenz, no

entanto, é incompleto. Mais precisamente, não seria possível comparar duas ou mais curvas que

se interceptam – não haveria dominância no sentido de Lorenz.

U

as pelo conjunto de axiomas fundamentais, através do princípio das transferências

decrescentes (diminishing transfers), onde uma transferência progressiva de um indivíduo com

renda x para outro com renda x – ∆ teria maior impacto sobre a desigualdade quanto mais abaixo

o indivíduo com renda x estivesse localizado na distribuição23. Deriva-se tal propriedade a partir

do princípio da sensibilidade relativa às transferências, onde o impacto das transferências seria

distinto em diferentes partes da distribuição24. Por exemplo, um observador externo poderia

essa forma, o poderia ser possível comparar e ordenar duas curvas de Lorenz que se

interceptam.

23 Referência em Cowell (2000). 24 Ver Sen (1973) e Kolm (1976).

35

Page 36: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Segundo Sen (1973), entretanto, seria da natureza de determinados rankings, ou da

própria noção conceitual da desigualdade, a existência de situações onde não fosse possível

encontrar uma ordenação, onde duas ou mais distribuições sequer poderiam ser comparáveis

segundo seus graus de desigualdade.

Para Cowell (2000), esta é uma razão pela qual seria desejável dar um passo além dos

princípios fundamentais e da curva de Lorenz, seguindo o objetivo pragmático de se derivar

índices

ad hoc selection procedure for

methods that may have a neat statistical or graphical interpretation; (ii) the axiomatic approach

which

dispersão ou assimetria, pode servir à análise do grau de desigualdade em uma

distribuição de renda, embora encontre dificuldades sob uma avaliação mais rigorosa das

de desigualdade de implementação factível e que resultem em rankings completos e

transitivos - apesar da arbitrariedade envolvida. Para este propósito, destacam-se três paradigmas

de avaliação da desigualdade na literatura econômica: “...(i) an

invites the user to specify what the basic principles are for comparing distribution and;

(iii) the welfare-theoretic approach in which an explicit SWF is adopted as a basis for

distributional judgment; an inequality measure may then be inferred from the specified

SWF…”(Cowell 2000, p.108). O primeiro e o terceiro paradigma são tratados separadamente

nesta seção, enquanto que o segundo será examinado na próxima.

Procedimentos ad hoc de mensuração da desigualdade

A amplitude, utilizada como exemplo anteriormente, assim como outras medidas

estatísticas de

36

Page 37: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

proprie

Lorenz. Analogamente a esta

interpr o gráfica, define-se também o índice de Gini como uma média normalizada das

diferen população. Ou seja, por trás deste

índice existiria um viés intuitivo em termos de distâncias médias entre os indivíduos27. Definindo

µ (F) a

dades desejáveis das medidas de desigualdade25. No entanto, me concentrarei em especial

sobre um índice que utilizo como referência ao longo desta dissertação, o índice de Gini. Não

obstante, apresentarei brevemente outra medida amplamente reconhecida pela teoria econômica,

o índice de Theil.

Como já mencionado, a área A compreendida entre segmento de reta 0B e a curva de

Lorenz, na figura 2.1.1, é denominada área de desigualdade. Como a área do triângulo abaixo de

0B é igual a 0.5, verifica-se então que 0 ≤ A < ½. O máximo de desigualdade ocorre quando uma

única pessoa se apropria de toda a renda e as demais não recebem nada. Neste caso a área de

desigualdade é um triângulo cuja base é igual a 1 – 1/n e cuja altura é 1. Então, o valor máximo

de A, para uma distribuição discreta, seria Amax = ½ (1 – 1/n). Tem-se ainda que 0 ≤ A < ½ (1 –

1/n), sendo o limite de Amax = ½ (1 – 1/n) com n → ∞ igual a ½26.

Define-se, portanto, o índice de Gini (G) como o quociente entre a área de desigualdade A

e o valor do limite acima, ou seja, G = 2A. De imediato, percebe-se que uma das propriedades

deste índice seria a sua associação direta à posição da curva de

etaçã

ças absolutas entre todos os pares de renda existentes na

renda média da distribuição F e x e x` pertencentes ao suporte de F, a fórmula do índice

segue abaixo para o caso contínuo:

25 Ver Sen (1973, capítulo 2). 26 Esta definição é encontrada em Hoffman (1998, capítulo 3). 27 Referência em Cowell (2000).

37

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)(2 F ∫∫µ`)()(`1)( xdFxdFxxFG −= (2.1)

A análise n

ormativa desta medida, ademais, indica que um conjunto amplo de princípios

de justiça distributiva é respeitado - os princípios do anonimato, as independências de escala e de

transla

O ponto relevante para este capítulo reside na interpretação do índice de Gini como a

método de comparação dos graus de desigualdade pela curva de Lorenz. No entanto, por que a

lo

ais adequada

à concepção de justiça distributiva implícita no índice de Gini do que aquela igualitária.

Sob esta interpretação, o método de comparação dos graus de desigualdade de diferentes

cada curva de Lorenz a uma determinada referência. Esta distância seria representada pela área de

ordenam-se estas distâncias da menor para a maior, gerando então um ranking de desigualdade

normativos, a escolha da mesma referência igualitária ao

cálculo de todas as distâncias estaria de acordo com o princípio de justiça distributiva de Pigou-

Dalton.

ção e, em especial, o princípio de Pigou-Dalton.

estimativa de uma distância entre duas referências, de forma análoga à interpretação dada ao

referência normativa seria representada pe vetor de repartição de renda igualitária? Pelo

principio de Pigou-Dalton, não seria possível encontrar outra distribuição de renda m

distribuições de renda através do índice de Gini seria, em última instância, um exercício em dois

passos. No primeiro, se calcula a distância entre cada vetor de repartição de renda, ou melhor,

desigualdade (um escalar) e a referência seria a linha de perfeita igualdade. Em seguida,

transitivo e completo. Em termos

38

Page 39: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Uma outra medida de desigua

índice T de Theil, baseado em conceitos da teoria da informação. De modo breve, pode-se defini-

lo como o logaritmo de uma média geométrica ponderada das rendas relativas (dada a renda

relativa

de ponderação o vetor de repartição (a proporção de cada renda individual no total). Em termos

pulação e definindo-se a média de uma

distribuição contínua F(x) como µ(F), então pode-se escrever o índice T de Theil como:

ldade amplamente reconhecida pela literatura econômica é o

definida como a razão entre a renda individual e a média da distribuição), sendo o fator

formais, sendo x a renda dos indivíduos de uma po

∫= )(log)( xdFFT)()( F

xFx

µµ

Uma segunda medida de desigualdade de Theil, o índice L de Theil, é construída através

do logaritmo da razão entre a média aritmética e a média geométrica das rendas individua

(2.2)

is. Uma

proprie ade deste índice alternativo seria sua alta sensibilidade às rendas próximas a zero. Outra

caracte

d

rística dos índices T e L refere-se ao fato de que estes são considerados casos especiais de

uma classe mais flexível de funções de avaliação da desigualdade de renda. A fórmula

generalizada desta família de medidas segue abaixo:

− )(12 F

αα

α

µ

(2.3)

Esta nova medida teria um parâmetro α pertencente ao intervalo (- ∞, + ∞), sensível às

diferentes partes da distribuição de renda. Para α alto, a medida é sensível às mudanças na

∫ −= )(1)( xdFFI

39

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distribu

Do mesmo modo que o índice de Gini o faz, as demais medidas mencionadas acima

respeitam um conjunto amplo de princípios fundamentais, dentre eles o de Pigou-Dalton. No

entanto, o que fica claro na medida de Theil e, mais genericamente, em Iα(F), é que diferentes

valores para o parâmetro α implicam em distintas formas de se avaliar o grau de desigualdade de

uma distribuição de renda. Ou

distintos para o parâmetro normativo α, levariam a avaliação da desigualdade de renda a

resulta

Com o objetivo de não tornar esta seção ainda mais extensa, passarei na seqüência à

discussão sobre a avaliação da desig

a medida de Atkinson (1970) e de Van Praag (1978) como as principais referências teóricas.

ição que afetam a cauda superior. Para α baixo, o índice é sensível às mudanças afetando

a cauda inferior da distribuição. Quando α = 1, tem-se a medida T de Theil; para α = 0, a L de

Theil.

seja, mesmo considerando um mesmo estimador Iα(F), valores

dos diferentes. Em última instância, estas diferenças em termos de sensibilidade às

transferências de renda implicariam em formas alternativas de se avaliar a distância entre uma

distribuição qualquer de renda e a referência igualitária – assim, a depender da distribuição da

concentração da desigualdade ao longo da própria distribuição de renda, medidas alternativas

podem avaliar a desigualdade com maior ou menor severidade28.

ualdade de rendas via funções de bem-estar social, utilizando

28 Para a análise de sensibilidade das diferentes medidas de desigualdade às transferências de renda, ver Hoffman (1998).

40

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Procedimentos de mensuração da desigualdade via funções de bem-estar social29

À primeira vista, uma função de bem-estar social30 (W) não parece ser um bom arcabouço

para a esigualdade31. No entanto, reconhecendo a priori o fato de que uma

distribuição igualitária de renda possa trazer algo de positivo para a sociedade, relacionar as

medidas de desigualdade à teoria do bem-estar talvez não seja uma idéia tão inusitada . A seguir,

examina-se como a manipulação de uma W permite a construção de um instrumento para análise

distributiva.

Seja uma transformação simples de uma função de bem-estar social W, a partir da

definição da renda equivalente igualmente distribuída – o valor da renda que cada indivíduo

deveria receber para, com todos recebendo o mesmo valor de renda, o nível de bem-estar social

ser igual ao da distribuição de fato existente. Seja então uma distribuição de probabilidades

uniforme H(.), uma função de bem-estar social W e uma distribuição de renda F(x) com média

µ(F). Definimos um número ξ tal que:

W (H ( )) = W (F) (2.4)

em-

valiação da d

32

ξ

Ou seja, dada uma distribuição F, ξ (F) é extraído da equação anterior, representando a

renda que, se imputada para todos os indivíduos da população, permitiria o mesmo nível de b

29 Seção baseada em Cowell (2000), Hoffman (1998), Sen (1973) e Barros, Carvalho e Franco (2003). 30 Para uma definição básica (Mas-Colell et. al., 1995; capítulo 22), uma função de bem-estar social (W) W(u) = W(u1,....,un) agrega utilidades dos n indivíduos em utilidades sociais. 31 Devido às propriedades das funções W mais freqüentemente encontradas na literatura econômica. Ver Cowell (2000). 32 No início desta seção, destaquei a diferenças entre duas perguntas: (i) entre duas ou mais distribuições, qual seria a

que, sob certas condições, a melhor distribuição de renda seria aquela igualitária. melhor? e; (ii) entre duas ou mais distribuições, qual seria a mais desigual? Através da teoria do bem-estar pode-se mostrar

41

Page 42: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

estar so a renda

média da população µ, obtém-se uma base natural para a construção de um índice de

desigua

cial que a distribuição objetiva de renda o faz. Normalizando a diferença entre ξ e

ldade:

)()(

FF

µξ

Esta f

1)(FI A −= (2.5)

ormulação permite uma interpretação para os valores de bem-estar social a partir da

noção de aversão à desigualdade: para uma dada distribuição de rendas, quanto mais convexo o

contorn

função de bem-estar social W aditivamente sep

individuais xi para uma população de n indivíduos:

o da função W, maior a distância entre ξ e µ. Por conseqüência, mais elevada seria a

medida de desigualdade33. Pretendo exemplificar este procedimento através de uma das

principais contribuições teóricas de avaliação da desigualdade baseadas na literatura econômica

do bem-estar, a medida de Atkinson (1970), apresentada na seqüência para o caso discreto.

A medida de Atkinson

Suponha a arável e simétrica das rendas

∑=

=n

i

W1

ixU )( (2.6)

Introduzindo o conceito de renda equivalente igualmente distribuída ξ e sendo a renda

média µ(F), tem-se:

33 A referência para esta passagem está em Cowell (2000, p.114).

42

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)()(1

ξnUxUWn

i

==∑ ou

∑= n UU 1)(ξ

i=

=

n

iix

1)( (2.7)

Assim, se U(xi) é uma função côncava, então ξ ≤ µ. Para se obter a medida de

desigualdade, no -

estar marginal é inversamente proporcional a xiε, isto é:

entanto, é preciso estabelecer uma estrutura para U(xi). Suponha que o bem

β

ii

xdU )(ε

i

xdx= (2.8)

ε−1

Restringindo os valores de β > 0 e ε ≥ 0, pode-se encontrar uma função U(xi) côncava.

Integrando a equação (2.8):

(2.9)

Das equações (2.7) e (2.9), verifica-se que34:

εβγ

−+=

1)( i

ixxU

1( ) εεξ −∑ −= 111in x (2.10)

Finalmente, substituindo-se a equação (2.10) em (2.5), obtém-se a medida de Atkinson

para 0 ε ≠1: ≤

−= 1n

ix εε

ε µ

=

∑1

1

1

1

1)(i

nFA (2.11)

34 Restrito apenas ao caso onde 0 ≤ ε ≠1.

43

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O parâmetro ε representa um coeficiente de aversão à desigualdade. Pode-se interpretá-lo

como a elasticidad

maior o valor de ε, mais rápida seria a diminuição do bem-estar marginal a partir do aumento da

renda de um indivíduo. Neste caso, sendo as funções de utilidade individuais côncavas, o

aumento de bem-estar social seria maior a partir de uma elevação na renda de um indivíduo mais

pobre do que naquela de um mais rico.

Se ε é igual a zero, a utilidade marginal da renda é constante para todos os indivíduos e,

dessa f

, a medida de desigualdade de Atkinson seria

também zero e a distribuição da renda de forma igualitária não aumentaria o bem-estar social. Por

final, um dado ε tendendo ao infinito levaria a W à forma rawlsiana do maxmin35. Pode-se

mostrar ainda que as medidas Iα(F) e Aε(F) são ordinalmente equivalentes para casos onde α

– ε36.

ara um coeficiente estritamente positivo de aversão à desigualdade, a medida de

Atkinson respeita o princípio de Pigou-Dalton. Mais do que isso, observa-se que a conce

justiça distributiva da sociedade estaria explícita através deste parâmetro. Tendo em vista a

a seção, chamo atenção para o fato de que, uma vez mais, pode-se interpretar a

avaliação da desigualdade de renda descrita acima como um método baseado na estimação de

uma distância entre duas refe

e do bem-estar marginal em relação às variações de renda pessoal. Quanto

orma, o bem-estar social decorrente de um acréscimo de renda ∆x seria o mesmo para um

indivíduo pobre ou para um rico. Por conseqüência

= 1

P

pção de

finalidade dest

rências, uma positiva (o vetor de distribuição objetiva de renda e seu

35 Ver Mas Collel et al. (Capítulo 22, 1995) para exemplos da relação entre diferentes formatos da W e níveis de aversão de desigualdade. 36 Cowell (2000; p.115).

44

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respectivo nível de bem-estar social, alcançado também pela distribuição da renda no valor ξ para

toda a

são à Desigualdade e a Medida de Atkinson

Elaboração: Cowell (2000)

bserva-se que a distância entre ξ e µ depende da distribuição objetiva de renda (ponto F)

e da c

população) e outra normativa (se a aversão à desigualdade é estritamente positiva, então a

referência normativa é a distribuição de renda igualitária, cujo bem-estar social correspondente é

máximo, representado pela distribuição do mesmo montante µ para todos os indivíduos da

população). A figura abaixo ilustra esta idéia para uma população de dois indivíduos.

Figura 2.2.2 – Aver

O

urvatura da função W (representada pelo contorno das duas curvas ilustradas na figura

acima e determinada pelo parâmetro de aversão à desigualdade). Esta distância constitui a base

natural para a construção de medidas de desigualdade baseadas em funções de bem-estar social

(ver equação 2.5). Quando ε = 0, todas as possibilidades de repartição de uma renda total fixa

maximizam o bem-estar social, o que implica em uma distância nula entre ξ e µ - por exemplo,

neste caso, a medida de Atkinson teria um valor idêntico para a distribuição de renda brasileira ou

norueguesa ou qualquer outra.

45

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Na seqüência, apresento um procedimento de avaliação de desigualdade de renda baseado

em funções W e que utiliza diretamente percepções individuais para a construção de uma medida

de desigualdade – o procedimento de Van Praag (1978).

O procedimento de Van Praag

O caminho escolhido por Van Praag para a avaliação da desigualdade de renda guarda

similaridades em relação ao m sua concepção.

Enquanto Atkinson externaliza os ju dida através de um único parâmetro

de aversão à desigualdad ação de

funções individuais de bem mpíricos; sua medida de

desigualdade agregada seria deri também explícitos, mas

individualizados37 ogia para avaliação da desigualdade

sugerida pelo autor, da for ente, destaca-se um conjunto de

problemas e hipóteses.

Em primeiro lugar, para o autor, os indivíduos não avaliariam a desigualdade na

distribuição de renda através de diferenças de renda, mas de bem-estar. Por conseqüência,

existiria uma questão central: como conectar empiricamente renda e bem-estar? Em segundo

lugar, uma vez definida esta conexão conforme determinada metodologia, torna-se possível o

exame de uma distribuição de bem-estar a partir da distribuição de renda para cada indivíduo.

étodo de Atkinson, sendo, contudo, distinto em

ízos de valor de sua me

e, válido para toda a sociedade, Van Praag o faz a partir da estim

-estar por meio de experimentos e

vada a partir de juízos de valor

. Apresentarei em seguida a metodol

ma mais sintética possível. Inicialm

37 Para Van Praag (1978, p. 113), “... it is futile to search for the measure of inequality, because it does not exist. The choice of an inequality measure is essentially a political value judgment…”.

46

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Como, portanto, definir uma medida de desigualdade para aquela distribuição? Por último,

conside

omeçando então pela primeira questão, como conectar empiricamente renda e bem-

estar? S víduo, o qual a avalia como ruim, insuficiente, suficiente,

boa etc. Esta avaliação é registrada em uma escala numérica. Denotando a avaliação do nível de

renda x

aproxima de zero, = 0, x ≤ eµ ; Λ (x) = 1, x ≥ eµ. Assim, deve-se determinar os parâmetros µ

e σ para cada indivíduo – e, portanto, uma função U(x) para cada um. Para transformar esta

construção teórica em resultados empíricos, o autor admite que as pessoas seriam capazes de

avaliar intervalos de renda em termos de descrições qualitativas – ruins, bons, excelentes etc.

Dessa forma, aplicou-se o questionário abaixo para 12.000 indivíduos belgas e alemães.

rando que os resultados encontrados são individualizados, como então derivar uma

medida agregada?

C

eja x a renda anual de um indi

i como U(xi), seria natural associar zero ao pior nível de renda, U(0), e 1 ao melhor, U(∞).

Chamou-se U(x), portanto, de função individual de bem-estar, a qual tomaria valores no intervalo

[0, 1].

Segundo Van Praag (1978, p. 115), sob condições gerais, U(x) seria uma aproximação da

função de distribuição lognormal U(x) = Λ(x; µ, σ). Esta função tomaria o valor 0.5 quando x =

eµ e sua forma seria determinada por σ, chamado pelo autor de “welfare sensitivity”. O parâmetro

µ seria aquele pelo qual os indivíduos avaliariam os distintos níveis de renda. Quando σ se

Λ (x)

47

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Figura 2.2.3 - Questionário utilizado para estimação de funções de bem-estar individuais

(Extraído de Van Praag (1978))

Encontrou-se, para cada observação da amostra, uma seqüência de pontos {xi, U(xi)}, 2 ≤ i

≤ 9. Se vale a hipótese de aproximação da função U(x) pela Λ (x; µ, σ), então U(x) = N (ln (xi);

µ, σ) = N ((ln (x ) - µ ) / σ); 0, 1). Logo, ln (x ) = σµ +µ, para i = 2,....,9. Para cada indivíduo da

amostra, aplicou-se o método de mínimos quadrados ordinários para a equação anterior,

considerando εi. idêntica e independentemente distribuído, com valor esperado zero.

ln (xi) = σµi+µ+εi (2.12)

Estimaram-se os parâmetros µ e σ para cada indivíduo38. Os principais resultados foram:

(i) em média, encontrou-se um R2 de 0.98; (ii) o parâmetro σ, de sensibilidade de bem-estar, teve

i i i

38 Para mais detalhes sobre a interpretação do modelo estimado e seus parâmetros, ver Van Praag (1971), Kapteyn e Van Praag (1976), Van Praag (1977) e Van Praag (1978).

Excellent if it were above f.45,000Good if it were between f.35,000 and 45,000

Sufficient if it were between f.25,000 and 30,000

Very insufficient if it were between f.17,000 and 20,000

Fonte: Van Praag (1978)

Taking into account your own family and job situation, you would call your net-income (including fringe benefis and after substracting social secutity contributions)*:

Amply sufficient if it were between f.30,000 and 35,000

Barely Sufficient if it were between f.22,000 and 25,000Insufficient if it were between f.20,000 and 22,000

Bad if it were between f.12,000 and 17,000Very bad if it were below f.12,000

* Dados de um respondente hipotético.

48

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como m

pessoais e; (iii) eµ variou muito e

Examino a seguir os aspectos distributivos desta abordagem: como avaliar a

desigualdade? Como já exposto, o autor considera em sua formulação a distribuição de bem-estar

em detrimento à distribuição de renda. Portanto, sejam as funções individuais Ui (x), (i = 1,....,n),

e as correspondentes funções de utilidade marginal ui(x). Seja um exercício padrão de

maximização da função W do tipo Bergson-Harsanyi, sujeito ao somatório das rendas individuais

igual à renda total X.

W(X) = W (U1 (x1),.....,Un (xn)) = U1 (x1) + ..... + Un (xn) (2.13)

j ( j i i

os demais,

compreendendo e imaginado as funções de bem-estar de cada um? Neste ponto, a autor admite

eceriam perfeitamente a distribuição objetiva de renda. Todavia, não seriam

capaze nível de bem-estar concedido por esta distribuição a cada um de seus

congên

édia 0.5, variando entre os indivíduos, mas não sendo explicado por características

ntre os indivíduos39.

Dadas as condições de primeira ordem u x ) = u (x ) para todo i e j, os indivíduos

avaliariam uma distribuição de renda como desigual na medida em que esta não maximizasse W.

No entanto, um indivíduo seria capaz de se colocar na posição de todos

que as pessoas conh

s de avaliar o

eres. Sugeriu-se, portanto, uma função de bem-estar social individualizada:

39 Com regressões adicionais, o autor demonstrou que µ variava positivamente em relação ao tamanho da família do indivíduo, bem como à renda pessoal - quanto mais elevada esta última, maior seriam as necessidades da pessoa (por interpretação própria do autor, o aumento da renda deslocaria as preferências do indivíduo para um nível médio superior de bem-estar; este fenômeno recebeu o nome de preference drift). Em outro exercício, observou-se que µ era também influenciado pelo ambiente em torno das pessoas; ou seja, alguém avaliaria sua renda tendo como padrão a renda média do seu respectivo grupo de referência. Os grupos de referência foram montados por posição na ocupação, nível educacional e por ambiente de trabalho (empresas privadas, autônomos, organizações sem fins lucrativos e serviço civil). Para uma metodologia mais apurada deste exercício, o autor recomenda a leitura de Kapteyn, Van Praag e Van Herwaarden (1976).

49

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Wi (X) = W (Ui (x1),.....,Ui (xn)) (2.14)

ndividual através da dispersão em ui (xj), 1≤ j≤ n40:

A equação acima não descreve a ordenação das preferências da sociedade sobre um

conjunto de distribuições de renda, como o fazem as funções de bem-estar social convencionais.

Descreve, pois, apenas o ordenamento das preferências do indivíduo i, que avaliaria o bem-estar

dos demais a partir do seu próprio ponto de vista. A percepção individual da desigualdade surge,

então, quando o indivíduo i não encontra em suas estimativas a função Wi maximizada. Estima-se

então esta percepção i

( )∑ −=n

iji uxuxuVar 2)())((=

ou41 j 1

( )∑=

=−=n

jiji uxuxVar

1

22ln))(ln()((ln µσ u (2.15)

Finalmente, o autor desenvolve uma medida agregada de desigualdade, refletindo a média

das percepções individuais. Chamou-se atenção para o fato de que tal agregação não demandaria

comparações interpessoais de utilidade, sendo a formulação apenas aplicada individualmente – o

µestar individual – com aversão absoluta ao risco constante, aversão relativa ao risco constante e com aversão relativa

lognormal:

40 Como exercício, obtiveram-se diferentes expressões para σ2 , a partir de distintos formatos da função de bem-

ao risco linearmente decrescente. Por exemplo, supondo esta última, observa-se a seguinte função de utilidade

Ln u(x) = α (ln x)2 + β ln x + γ

Adicionando a restrição ∫∞

=0

1)( dxxu e assumindo uma distribuição objetiva de renda lognormal M(x) = Λ (x; µ2,

σ2), o autor derivou a medida de percepção de desigualdade para cada indivíduo i, sendo µ*, σ*, os parâmetros estimados a partir das funções individuais de bem-estar:

]*)(2[*4

22

224

222 µµσ

σσσ µ −+=i

41 Utilizou-se a segunda medida por ser invariante às transformações lineares positivas.

50

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bem-estar seria comparado intra pessoalmente. Segundo Van Praag (1978, p. 130), “... it does

marginal level) feel equally strong about welfare inequality. Under this assumption it is natural

to use

do anonimato.

Enfim, a interpretação do modelo de Van Praag seria similar àquela sobre a medida de

Atkinson. A avaliação individual da desigualdade de renda poderia ser interpretada a partir da

comparação entre duas referências – a distribuição objetiva de renda (gerando uma determinada

distribuição de bem-estar e um nível de bem-estar social) e aquela que deveria existir (a qual

satisfaria as condições de primeira ordem e geraria o bem-estar social máximo, de acordo com

parâmetros de avaliação de bem-estar individualizados). A percepção individual da desigualdade

surgiria, pois, quando a distribuição de renda não fosse capaz de se adequar àquela

bre a dimensão do bem-estar, sua medida de desigualdade não deixaria de se relacionar

distribuição de renda.

require the assumption that people who give the same number to perceived inequality (about any

the mean value of σ2µ, averaged over the income distribution, as the aggregate

measure…”.

O autor também analisou outros aspectos da medida σ2µ de desigualdade. Em especial,

verificou-se a não validação do princípio de Pigou-Dalton42 e também a sensibilidade de ricos e

pobres às mudanças proporcionais de renda43. Não há menção ao princípio

normativamente superior, o seja, quando σ2µ >0. Embora todo o modelo de Van Praag esteja

oltado sov

à

42 O autor (Van Praag, 1978: p.126) usa o seguinte exemplo para mostrar que, por se tratar de percepções, a não validação do princípio da transferênci 10, x2 = 11 e x3 = 100, e suponha que o indivíduo em questão é o primeiro. Portanto, seria normal que uma redistribuição para [10 31

0] não fosse vista como menos desigual por aquele indivíduo. is pobres o contrário.

a seria uma qualidade da medida: seja a distribuição x1 =

843 As pessoas mais ricas perceberiam este aumento como redutor da desigualdade; os ma

51

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A seguir, destaco algumas questões metodológicas relacionadas às diferenças entre os

métodos de avaliação da desigualdade descritos ao longo desta seção.

Procedimentos ad hoc e funções de bem-estar: propriedades e preferências

Uma diferença entre as medidas de desigualdade baseadas em procedimentos ad hoc e

aquelas

vés da

função , em forma de preferências.

ribuição

construídas via funções de bem-estar social estaria na interpretação dos princípios de

justiça distributiva. Se por um lado diferentes concepções de justiça estariam implícitas nas

medidas ad hoc em forma de propriedades estatísticas, por outro, estariam explícitas atra

W

Assim, até que ponto uma estimativa encontrada a partir do índice de Gini, por exemplo,

poderia ser interpretada como a distância entre duas referências, sendo uma delas carregada de

juízos de valor? Ou melhor, até que ponto pode-se interpretar uma propriedade estatística em

termos de regra normativa? Acredito que as respostas possam surgir da relação entre os dois tipos

de procedimentos44. No entanto, devido ao escopo limitado desta dissertação, seguirei

interpretando as propriedades das medidas de desigualdade ad hoc e as preferências (por

equidade) das funções W apenas por analogia.

Repartição e Dist

44 A medida de desigualdade de Atkinson, por exemplo, seria construída sobre uma estrutura especificada da função

dade ad hoc e funções W, ver Cowell (2000, seção

W; de maneira inversa, índices ad hoc de desigualdade, como o Gini, podem ser transformados em funções W, respeitando-se uma série de restrições técnicas (como a monotonicidade das funções W). A sofisticação desta área de pesquisa, todavia, não me permitiria seguir adiante no desenvolvimento da relação entre propriedades estatísticas e preferências sociais. Para as relações entre índices de desigual5.3.).

52

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Por trás do estudo da desigualdade de renda pode existir uma possível fonte de confusão

entre os conceitos de distribuição e repartição45. Uma distribuição de rendas envolve o vetor X =

Y.S, onde Y = (y1, y2,..., yn) representaria um outro vetor, de repartição da renda total S. Assim,

uma qu entre duas ou

mais distribuições, qual seria a melhor? e; (ii) entre duas ou mais distribuições, qual seria a mais

desigua

te sobre o vetor Y - ou seja, sobre o grau da desigualdade

da distribuição de renda, circunscrito ao vetor de repartição. Essa distinção é relevante para a

compre

ou grau de inadequação entre duas referências –

uma positiva e outra normativa. Ficou claro que na maioria dos casos, a referência normativa

basal é representada pela distribuição igualitária da renda ou pelo bem-estar social máximo

associado a esta configuração. Mencionei também o fato de que as estimativas encontradas a

estão que deve ser esclarecida refere-se à diferença entre as perguntas: (i)

l?

Qual a diferença? No primeiro caso a comparação entre distribuições levaria em

consideração o vetor X, incluindo um trade-off entre variações em S e na repartição Y; no

segundo caso, a análise recairia somen

ensão da noção da desigualdade de renda e para questões relacionadas à percepção da

desigualdade sugeridas à frente.

Conclusão

A finalidade desta resenha esteve em descrever os métodos de avaliação da desigualdade

de renda enquanto estimadores de uma distância

partir de cada medida de desigualdade e a ordenação dos graus de desigualdade de diferentes

45 Ver Barros, Carvalho e Franco (2003).

53

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distribu

2.3 Percepção de Desigualdade

O fenômeno empírico da percepção da desigualdade de renda apresentado neste trabalho é

complexo e não encontra, na literatura econômica, tratamento teórico adequado. Acredito que

algumas contribuições podem servir à compreensão apenas de parte do problema, ao que

concerne principalmente à sua dimensão normativa.

Existe vasta literatura técnica concentrada sobre a noção de aversão à desigualdade

proposta por Atkinson (1970)46. Em outra linha de pesquisa correlata, Hirschman e Rothschild

(1973) e Bénabou e Ok (2000) sustentam a hipótese do efeito túnel, onde as preferências

individuais por redistribuição dependeriam das expectativas de mobilidade social futura47.

Contudo, estas contribuições concentram-se na explicação das raízes da tolerância ou aversão à

ições de renda dependem do formato do estimador e, em última instância, de juízos de

valor implícitos ou explícitos.

desigualdade são tratadas pela economia neoclássica sob a forma de externalidades ou de aversão individual ao risco

resultados. A partir de experimentos com estudantes, Amiel et al (1999) encontraram um valor de ε igual a 0.25,

al (1979), Glejser et al (1977), Van Praag (1977 e 1978). Stern (1977) apresenta um amplo survey sobre o tema e descreve várias formas metodológicas para a estimação de ε. Nesta literatura, o autor encontra uma amplitude de

47 De acordo com Hirschman e Rothschild (1973, p.545), “...in the early stages of rapid economic development,

46 Para resenha sintética, ver Amiel et al (1998), Lambert et al (2003) e Stern (1977). As raízes da aversão à

(ver Cowell, 2000). Existem tentativas de estimação empírica deste parâmetro, que me parecem arbitrárias em seus

muito inferior à amplitude convencionalmente utilizada em análise distributiva. Outros resultados estão em Gevers et

estimação para este parâmetro de ε =0.4 a ε =10.

when inequalities in the distribution of income among different classes, sectors, and regions are apt to increase sharply, it can happen that society’s tolerance for such disparities will be substantial. To the extent that such tolerance comes into being, it accommodates, as it were, the increasing inequalities in an almost providential fashion. But this tolerance is like a credit that falls due at a certain date”. Para o estudo da relação entre

tos de classes utilizando a pesquisa do ISSP (1999), ver Ribeiro (2004). expectativas de mobilidade futura e confli

54

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desigualdade, estando, portanto, apenas parcialmente associadas ao fenômeno da percepção da

desigualdade como apresentado aqui48.

Em relação à vertente empírica da teoria econômica que se refere mais especificamente ao

tema da percepção da desigualdade, existe uma linha de pesquisa que se dedica à investigação da

adequação dos axiomas distributivos fundamentais das medidas de desigualdade às concepções

de justiça das pessoas comuns49. Os resultados, contudo, não são positivos a tais métodos de

avaliação. De acordo com Amiel e Cowell (1999, pp. 43-44), “...to compare distributions in

terms of the Lorenz curve we could need to invoke scale independence, the population principle

and the transfer principle. But if we were to look at the combined response to the relevant

questions on these issues (referindo-se aos testes empíricos que utilizam estudantes universitários

como respondentes), we would find that 76% of the students reject the Lorenz axiom system. If we

also include the principle of decomposability along with those in the Lorenz system, then 84%

reject the standard axioms. Our students’ responses seem to raise a serious question of whether

the standards axioms for inequality comparisons are appropriate” 50. Estes resultados indicam

que o que é desigualdade de renda para uns – especialmente para as medidas técnicas - pode não

o ser para outros – em particular, às pessoas comuns. Nesta vertente empírica, contudo, além de

não existir uma correspondência metodológica à noção da percepção da desigualdade considerada

48 Não pretendo discutir o porquê de uma aversão alta ou baixa à desigualdade, mas sim, investigar a relação entre a percepção da desigualdade e os níveis de desigualdade considerados como apropriados pelas pessoas. 49 Existem basicamente dois tipos de testes. No primeiro, os respondentes (estudantes universitários) comparam pares de distribuições hipotéticas de renda, escolhendo aquelas mais ou menos desiguais – denomina-se esta abordagem como direta. O segundo tipo de teste se aplica aos axiomas envolvendo bem-estar social – a abordagem indireta. Neste caso, os respondentes indicavam quais seriam as melhores e piores distribuições, na comparação entre pares (substituindo, portanto, a expressão mais ou menos desigual, por melhor ou pior). 50 Uma resenha destas contribuições está no Anexo 2.3. Os questionários são estruturados sobre pares hipotéticos de distribuições de renda. Os respondentes, então, devem escolher os mais ou menos desiguais dentre os pares. Isso permite então a avaliação da validade dos princípios distributivos fundamentais, como o da transferência, da decomposição e do anonimato.

55

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no presente trabalho51, não há menção ao problema da percepção visual das diferenças de renda.

Acredito que este aspecto relevante da avaliação da desigualdade implementado pelos cidadãos

comuns (ao que chamei de desigualdade observada) ainda não foi explorado pela teoria

econôm

ica52.

Deixando de lado a teoria econômica, então, uma possível fonte de explicação para o

problema da percepção da desigualdade pode estar na investigação de trajetórias históricas e

culturais dos países. Fica clara na seção 1.3 a severidade com que os entrevistados dos países do

Leste Europeu encaram a questão das diferenças de renda. São países que passaram 2 ou 3

gerações sob regimes políticos e econômicos distantes da realidade capitalista, de seus valores e

de suas conseqüências distributivas. Por outro lado, seria natural encontrar entre chilenos,

filipinos ou brasileiros uma menor percepção relativa das diferenças de renda, posto que vivem

em países marcados por desigualdades intensas e estáveis no tempo53. Embora acreditando que

estes aspectos influenciem as concepções de justiça e as percepções de desigualdade de seus

cidadãos, creio também que qualquer tentativa de construir uma linha de argumentação utilizando

51 Os entrevistados pelo questionário do ISSP (1999) não estão comparando pares de distribuições de renda, mas avaliando uma dada distribuição de renda, a de seus países.

52 Também não pretendo discutir as raízes do processo cognitivo dos indivíduos, valendo o mesmo argumento anterior relativo à dimensão normativa da avaliação da desigualdade. Dosi, Marengo e Fagiolo (1996) fazem uma resenha teórica extensa sobre aspectos cognitivos e de aprendizagem na teoria econômica economia, destacando os

pontado como

orjadas por anos de regime

sociais particulares de cada país”.

principais fatos estilizados. Referências freqüentes nesta literatura são Margolis (1987), Johnson-Laird (1983), Mayer (1992), Clark (1993), Denzau e North (1994) e North (1995, 1996). Holland et al. (1986) é aum dos principais textos sobre o tema. 53 Aqui estou levantando a suposição de que por mais que a desigualdade de renda esteja considerada pelo discurso popular, talvez sua face real não seja conhecida em detalhes pelas pessoas ou, pior, esteja relativizada pelo tempo. Em referência à importância da história na conformação de percepções, Scalon (2004, p.35) escreve: “...a opinião de chilenos e brasileiros está impregnada da história e da cultura desses dois países, fautoritário. Só assim é possível entender tal percepção na América Latina (...). Esses resultados dão indicações de que outros fatores, que não a racionalidade utilitária, podem estar jogando papel importante na percepção das desigualdades. Nesse sentido, seriam elementos vinculados a valores que estariam fundados na história, cultura, processos de socialização e relações

56

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a relação entre percepções e história pode ser limitada pelo número elevado de países incluídos

neste trabalho e pelo arcabouço analítico que tal construção demandaria.

Assim, tendo em vista a importância do tema e a ausência de referencial teórico na

econom atégia deste trabalho consistirá em isolar e investigar duas

dimens

A Delimitação Conceitual da Percepção da Desigualdade: uma sugestão para análise

ia para desenvolvê-lo, a estr

ões do complexo problema da desigualdade de renda e sua percepção (o nível de

desigualdade que as pessoas observam à sua volta e o nível de desigualdade que estas consideram

apropriado existir), tendo como guia a interpretação desta percepção enquanto um método de

avaliação54.

Assim, com a finalidade de conectar as três dimensões em evidência em um mesmo plano

conceitual e facilitar a interpretação do problema, então, sugere-se a seguir um formato analítico

simplificador para a noção da percepção da desigualdade, a partir da interpretação desta enquanto

um método de avaliação análogo às medidas de desigualdade descritas no capítulo anterior55.

Para tanto, destacam-se algumas restrições que devem acompanhar a definição de um

estimador subjacente às percepções da desigualdade. Em primeiro lugar, este estimador subjetivo

deve explicitar as duas categorias referenciais requeridas por um processo de avaliação da

54 Assim fica claro que não se pretende investigar as raízes da cognição ou aversão à desigualdade - o objetivo do trabalho está delimitado em um patamar analítico superior a este. 55 Esta interpretação permite um passo direcionado ao exame das relações entre a desigualdade percebida, observada e normativa. Como já mencionado, propôs-se uma interpretação para a percepção da desigualdade nesta dissertação através da seguinte seqüência de suposições: (i) pode-se supor que a percepção individual da desigualdade é um método de avaliação subjetivo do grau de desigualdade implementado pelo indivíduo e; (ii) por ser um método de avaliação da desigualdade, segue receita metodológica que implica na estimação do grau de adequação ou distância entre duas categorias referenciais.

57

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desigualdade em uma mesma dimensão analítica. Em segundo lugar, deve-se supor que a

avaliação da desigualdade é elaborada em termos de repartição de renda, não sendo consideradas

explicitamente quaisquer outras dimensões avaliatórias, como, por exemplo, o bem-estar56. Em

terceiro

Figura 2.3.1 – A Percepção Individual da Desigualdade e a Curva de Lorenz

positivo ou visualmente perceptível, notado por Y p ) e uma curva de Lorenz normativa ou

, a idéia deve conter um apelo intuitivo e gráfico e deve ser elaborada em um plano

conceitual, não formalizado. Por fim, deve ser possível avaliar as propriedades deste estimador

segundo os axiomas fundamentais das medidas de desigualdade. A figura abaixo ilustra a

delimitação conceitual da percepção individual da desigualdade de renda aqui sugerida.

Por analogia ao arcabouço técnico da literatura econômica, define-se a estimativa da

percepção individual da desigualdade de renda como a área notada por Dpi existente entre uma

curva de Lorenz observada pelo indivíduo i (ou a curva determinada pelo vetor de repartição

ob i

56 Com isso, pretendo eliminar, por suposição, problemas de interpretação ocasionados pelo trade-off avaliatório entre repartição e distribuição da renda. Este ponto está adequado à própria questão da pesquisa, que versa sobre diferenças de renda em um dado país, ou seja, não existe referência às variações no montante total de renda.

Porcentagem da População

Por

cen

da

aia

tage

m R

end

Apr

opr

da

Curva de Lorenz e Percepção de Desigualdade

Yobpi

Yn piDesigualdade Percebida

Dpi

O

B

58

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apropriada (ou a curva determinada pelo vetor de repartição de renda notado por Ynpi)57.

Denomina-se a área entre Ynpi e o segmento OB de área de desigualdade normativa ou

apropriada, notada por Dnpi. Entre Yobpi e OB estaria a área de desigualdade positiva ou

observada, notada por Dobpi. Assim, Dpi poderia ser definida também pela diferença entre Dobpi e

Dnpi. Ou seja, a desigualdade percebida seria uma diferença entre a desigualdade observada (ou

grau de desigualdade de renda visualmente perceptível pelo indivíduo) e aquela normativa (ou o

grau de desigualdade considerado pelo indivíduo como o apropriado).

Não se rença

residiria nas referências utilizadas – a distribuição de renda ideal ou considerada apropriada não é

necessariam à sua volta não é

necessariamente id inarei conceitualmente as

propriedades da percepção individual da

omo a desigualdade percebida Dpi aqui sugerida se comportaria diante dos axiomas

distribu

ria coincidência a aproximação desta definição ao índice de Gini. A dife

ente a igualitária e a distribuição de renda que as pessoas observam

êntica àquela de fato existente58. A seguir, exam

desigualdade como definida acima.

Analisando as Propriedades da Percepção da Desigualdade

C

tivos fundamentais? Ao definir um estimador subjacente às percepções da desigualdade

similar ao índice de Gini, as propriedades válidas para este também o seriam para a desigualdade

percebida? Para analisar este ponto, discuto em primeiro lugar a validade das propriedades

57 As curvas definidas desse modo serão denominadas, deste ponto em diante, pela notação dos respectivos vetores de repartição.

58 Como já mencionado, pode-se definir o índice de Gini como uma média normalizada das diferenças absolutas entre todos os pares de renda existentes na população. Nesse sentido, esta delimitação da percepção individual da desigualdade atenderia à intuição distributiva em termos de distâncias médias entre as rendas dos indivíduos.

59

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quando Yobpi não se corresponde ao vetor de repartição objetivo notado por Y59, dado Ynpi fixo e

representado pela linha de perfeita igualdade. Em segundo lugar, defino um vetor Yobpi fixo e

igual a Y, e verifico a validade das propriedades da desigualdade percebida quando Ynpi domina

ou intercepta Yobpi.

A primeira questão relaciona-se à referência positiva da desigualdade percebida. Ao invés

de incorporar o vetor de repartição de renda objetivo Y, considera-se o vetor alternativo Yobpi ≠ Y,

ou seja, o indivíduo i não conheceria perfeitamente a repartição de renda objetiva na sociedade

em que

ortanto, o princípio

da decomposição não seria integralmente válido. A mesma linha de interpretação pode ser

destaca -Dalton: suponha que ocorra

uma transferência de renda progressiva entre um indivíduo mais rico de uma população, porém

não inc

A segunda questão relaciona-se à referência normativa Ynpi. Considero esta dimensão

Dp

vive. Por conseqüência, se considerarmos Ynpi fixo ao segmento OB, as propriedades do

índice de Gini são válidas para Dpi somente em relação à informação contida em Yobpi.

Por exemplo, caso ocorra uma diminuição das diferenças de renda em um grupo de

pessoas não considerado pelo vetor Yobpi, nada ocorrerá à estimativa Dpi – e, p

da para os outros axiomas; por exemplo, o princípio de Pigou

luído no vetor Yobpi e outro, mais pobre, incluído em Yobpi e localizado ao topo desta

repartição observada. Desse modo, apesar da transferência progressiva de renda nesta população,

provavelmente a desigualdade percebida pelo indivíduo i (Dpi) aumentaria. A invariância de

escala e os princípios do anonimato e da população continuariam válidos.

mais complexa que a anterior, já que todas as propriedades de i seriam espelhadas a partir do 59 Chamo por distribuição ou repartição de renda objetiva aquela de fato existente em uma população.

60

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momento em que a curva Ynpi dominasse no sentido de Lorenz a curva Yobpi. Complexos também

seriam os casos de interceptação de curvas e a interpretação da área Dnpi. Observe o exemplo

hipotético a seguir.

Figura 2.3.2 – Quando as Curvas Yobp e Ynp se Cruzam: o Exemplo de um Observador

a distribuição observada Xob, os dois indivíduos mais pobres participam cada um com

apenas

Hipotético

Indivíduos Xp Yp Xop Yop

1 1 0,02 5 0,112 1 0,02 5 0,11

4 10 0,22 5 0,115 10 0,22 5 0,11

Total 45 1

3 7 0,16 5 0,11

6 16 0,36 20 0,44

Gini 0,73 0,74

Ap 0,01

45 1 0,4

0,6

0,8

1

mnd

a Ap

ropr

iada

nDp2

Xob Xn YnYob

A figura acima ilustra o caso onde as curvas Yobp e Ynp se interceptam, considerando a

avaliação da desigualdade a partir de um observador hipotético, em relação a uma população de 6

indivíduos. A tabela apresenta duas distribuições de renda, Xob (a distribuição observada pelo

indivíduo) e Xn (a distribuição normativa), e seus respectivos vetores de repartição, Yobp e Ynp.

Observam-se também os respectivos índices de Gini, 0.39 e 0.2860. Como interpretar estes

números?

00 0,2 0,4 0,6 0,8 1

0,2

Porcentagem da População

Porc

enta

ge d

a R

e

Yobp

Y p

Dp1Dp1 + Dp2

0.39 0.28

Desigualdade Percebida

N

2% da renda total da população, 45. A classe intermediária se apropria de 60% da renda e

60 Estes índices de Gini são idênticos às desigualdades normativa e observada multiplicadas por dois. Mantenho o valor dobrado por questão de conveniência de interpretação.

61

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o mais rico participa com 36%. No entanto, como deveria ser esta repartição? De acordo com

Ynp, os mais pobres deveriam participar ao todo com 22%, a classe intermediária com 33% e o

mais rico, com 44%. Neste caso, a percepção da desigualdade seria estimada pelo somatório das

áreas Dp1 e Dp2.

Para a diminuição da desiguald ida, portanto, seriam necessárias tanto

cial, quando

as curvas . Da mesma

form nuição das

ceteris paribus

de Gini diminuirá para 0.37 e a parte superior da curva Yobp se deslocará em direção à linha de

perfeita

seria em relação ao princípio da translação (em termos de adições absolutas de renda).

O princípio do anonimato continuaria válido. Pode-se observar ainda que, embora as

proprie

ade perceb

transferências progressivas como regressivas. Por conseqüência, o princípio de Pigou-Dalton não

seria válido para as percepções de desigualdade em determinadas situações: em espe

Yobp e Ynp se cruzam ou quando Ynp domina no sentido de Lorenz Yobp

a não seria válido o princípio da decomposição. Por exemplo, suponha a dimi

diferenças de renda entre os dois indivíduos mais ricos da população,

(transferindo-se 3 unidades de renda do mais rico para o segundo mais rico). Neste caso, o índice

igualdade. Por outro lado, a percepção da desigualdade aumentará, já que a área Dp2 será

maior.

Ademais, neste caso, a desigualdade percebida seria neutra em relação às adições

proporcionais de renda (ao princípio da independência de escala) e ao princípio da população,

mas não o

dades do índice de Gini sejam válidas separadamente para a desigualdade normativa e

para a observada, outras não o seriam para a desigualdade percebida61.

62

ueles encontrados nos testes empíricos realizados pela 61 Apenas para fins de especulação, os resultados encontrados em relação às propriedades da percepção da desigualdade definida nesta seção estariam de acordo com aq

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Com a finalidade de operacionalizar a análise empírica da hipótese central desta

dissertação, tendo países ou grupos sociais como unidade de análise, discuto na seqüência uma

forma de agregar a percepção individual de desigualdade. Para tanto, alguns pressupostos e

definições são necessários62.

ssim, defino para uma população: (i) uma área média de desigualdade observada Dobp

delimit

Desigualdade Percebida Média

Em primeiro lugar, defino o vetor de repartição de renda agregado Yobp como uma

combinação linear dos vetores individuais Yobpi, o mesmo ocorrendo com a definição do vetor

Ynp e os vetores Ynpi. Ou seja, estou supondo que existe, em nível agregado, uma repartição

observada média e uma referência de repartição normativa também em termos médios, para um

país cuja população é composta por i = 1, 2, ..., n indivíduos. Em segundo lugar, com o objetivo

de facilitar o exercício, supõe-se que, para todo i, as curvas Yobpi e Ynpi não se interceptam.

A

ada entre a curva Yobp e a linha de perfeita igualdade e; (ii) uma área média de

desigualdade normativa Dnp delimitada entre a curva Ynp e a linha de perfeita igualdade. Por fim,

(iii) a desigualdade percebida em uma determinada população seria uma média aritmética das

desigualdades percebidas individualmente, ou a diferença entre as áreas Dobp e Dnp. O exemplo

abaixo apresenta estas definições em um país hipotético com população igual a quatro indivíduos,

literatura descrita anteriormente (Amiel, 1999; Amiel e Cowell, 1999). Obviamente, comparar duas abordagens tão distintas não faria sentido sem um tratamento mais rigoroso do ponto de vista metodológico. 62 Reconheço a tratamento bastante simplificado de questões complexas como processos de cognição e justiça distributiva. Este novo ponto representa apenas um esforço de organização de idéias e conceitos que se afastam em muito da simplicidade analítica.

63

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onde os indivíduos 1 e 2 possuem avaliações idênticas dos vetores de repartição observada e

normat

– Exemplo de um País Hipotético com população n = 4

Nas primeiras duas colunas estão os vetores de repartição observada e normativa dos

indivíduos 1 e 2 (notados por Yobp(1e2) e Ynp(1e2)), cujas desigualdades percebidas são idênticas e

iguais a 0.175. Nas colunas seguintes estão os mesmos vetores para os indivíduos 3 e 4 (notados

por Yobp(3e4) e Ynp(3e4)). Por final, observa-se que os vetores médios, Yobp e Ynp, para o país

hipotético representam uma combinação linear entre os vetores de repartição de renda observada

e normativa dos indivíduos 1, 2, 3 e 4. Não obstante, Dp poderia ser estimado tanto pela diferença

entre Dobp e Dnp, como pela média aritmética entre Dp(1 e 2) e Dp(3 e 4) (0.363 - 0.050 ou pela

média entre 0.175 e 0.450).

Este esquema simplificado concede pesos idênticos aos indivíduos de uma população na

iva, mas distintas daquelas avaliações dos indivíduos 3 e 4 que, por sua vez, compartilham

entre si as mesmas opiniões sobre as desigualdades observada e normativa.

Figura 2.3.3

Y ob p (1 e 2) Y n p (1 e 2) Dp (1 e 2) Y ob p (3 e 4) Y n p (3 e 4) Dp (3 e 4) Y ob p Y n p Dp15 0,20 0,10 0,25 0,125 0,225

0,15 0,20 0,10 0,25 0,125 0,225

0,275 0,100 0,175 0,450 0,000 0,450 0,363 0,050 0,313

AgregadoIndivíduos 3 e 4

0,

0,20 0,30 0,10 0,25 0,150 0,2750,50 0,30 0,70 0,25 0,600 0,275

D ob p (1 e 2) D n p (1 e 2) D ob p (3 e 4) D n p (3 e 4) D ob p D n p

Nota: As áreas estão multiplicadas por dois (e, portanto, diretamente comparáveis ao índice de Gini)

Indivíduos 1 e 2

conformação de uma desigualdade percebida média. Embora ad hoc, creio ser uma estrutura

64

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analítica capaz de ilustrar a noção da percepção da desigualdade de renda em termos agregados e

ainda assegurar um viés intuitivo.

Conclusão: A interpretação e o sentido das relações

Em síntese, a interpretação sugerida por esta dissertação estrutura um sentido para a

em a

e

com

inadequação entre ambas.

e, estruturei conceitualmente a hipótese central desta dissertação, a

partir de uma analogia entre medidas técnicas de desigualdade e percepções individuais,

associa

definição da percepção da desigualdade através de um arcabouço simplificado, capaz de tornar as

investigação acerca das relações entre a desigualdade percebida, a observada e a normativa, tanto

nível individual quanto agregado: a desigualdade percebida varia positivamente com

diferença entre a desigualdade observada e a normativa. Esta interpretação, em suma, confer

base à hipótese central deste trabalho - a percepção da desigualdade de renda é influenciada pela

paração de duas categorias referenciais e pela estimação subjetiva da distância ou do grau de

2.4 Conclusão

Na seção 2.2 deste capítulo apresentei alguns dos métodos mais convencionais de

avaliação da desigualdade de renda desenvolvidos na literatura econômica e os interpretei

enquanto estimadores de uma distância ou inadequação entre uma referência positiva e outra

normativa. Na seção seguint

ndo a avaliação leiga da desigualdade de renda ao cálculo subjetivo do grau de

inadequação ou distância entre uma referência positiva e outra normativa. Disto se seguiu a

65

Page 66: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

duas categorias avaliatórias analiticamente comparáveis em uma mesma dimensão, seja em nível

individual ou agregado.

Este capítulo representou um esforço de construir uma estrutura capaz de direcionar a

investigação de um tema complexo, como a percepção da desigualdade, em meio à ausência de

teorias econômicas adequadas para tanto. O próximo capítulo será dedicado à descrição empírica

das duas categorias referenciais (a desigualdade observada e a normativa) e à investigação da

hipótese desta dissertação, a qual relaciona a inadequação entre ambas à desigualdade percebida.

66

Page 67: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

3 Desigualdade Percebida, Observada e Normativa: Análise

3.1 Introdução

Este capítulo representa a contrapartida empírica das idéias discutidas ao longo desta

dissertação e tem como finalidade investigar a hipótese levantada na introdução do trabalho a

partir dos dados do ISSP (1999). Mais precisamente, pretende-se examinar em um plano empírico

se a percepção da desigualdade de renda em cada país é relacionada ao grau de inadequação ou

distância entre as duas categorias avaliatórias supostamente consideradas pelos seus cidadãos.

Como já mencionado, os resultados empíricos serão examinados intrapaíses, embora

algumas interpretações possam servir à compreensão das diferenças de percepção da

desigualdade inter países. Para o exame da relação entre as desigualdades percebida, observada e

normativa, levarei em conta tabulações e cruzamentos dos itens do questionário que servirão de

base à investigação empírica da hipótese.

Organizo este capítulo como se segue. Na seção, 3.2 apresento os padrões de desigualdade

observada entre países, fazendo o mesmo na seção 3.3, em relação à desigualdade normativa. Na

seção 3.4 avalio a correspondência entre estas duas dimensões e a desigualdade percebida, da

qual se segue uma seção conclusiva.

Empírica

67

Page 68: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

3.2 Desigualdade Observada

Com base em um item do questionário da pesquisa do ISSP (1999), examino nesta seção

i es de desigualdade observada encontrados entre os países incluídos neste

trabalho e defino um indicador agregado para esta dimensão.

m

determ ado país. Para tanto, supõe-se que os entrevistados pela pesquisa sejam capazes de

acionar

dicador sintético.

mais fielmente o ordenamento social existente em seus

respectivos países. A figura abaixo apresenta estes diagramas e destaca com exatidão a pergunta

do questionário.

os d stintos padrõ

Ao analisar as respostas dos entrevistados ao item associado empiricamente à

desigualdade observada, será preciso destacar um pressuposto de que estas representam um olhar

sobre a realidade isento de juízos de valor. Ou seja, a desigualdade observada refere-se a uma

reflexão quantitativa a respeito das diferenças de renda que separam as pessoas em u

in

assertivas do tipo “em meu país existem poucos muito ricos e muitos muito pobres” ou

“em meu país existem muitas pessoas que se posicionam no meio do ordenamento e recebem a

mesma remuneração, alguns poucos mais ricos e outros poucos mais pobres”. Posto isso,

apresenta-se na seqüência o item do questionário do ISSP (1999) que associo à noção de

desigualdade observada e propõe-se um in

Desigualdade Observada em Números

Em uma das questões da pesquisa ISSP (1999) os entrevistados escolhiam entre 5

diagramas aquele que descrevesse

68

Page 69: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Figura 3.2.1 – Desigualdade em Diagramas

Percebe-se que a pergunta do questionário não está associada diretamente à repartição

objetiva de renda dos países – a palavra renda não é mencionada. Mesmo assim, supõe-se que a

escolha do diagrama esteja associada em grande parte ao nível de desigualdade de renda

observada no país que o respondente tem como referência.

Reconheço as limitações de tal suposição. De acordo com Sen (1999, p.132),

empiricamente, a relação entre desigualdade de renda e desigualdade em outros espaços de

avaliação pode ser muito distante e contingente devido às várias influências econômicas – além

da renda – que afetam a desigualdade de vantagens individuais e liberdades substantivas. Assim,

a suposição de que as pessoas correlacionam perfeitamente a desigualdade de renda à forma do

X X XX

X

X X

X X X XX X X X X X

X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X

X X X X X X X X X X X XX X X X X X X X X X X X X X

X X X X X X

1. Tipo A - Uma sociedade com uma pequena elite no

muitas na base

sociedade em forma de pirâmide, com uma pequena elite no topo, mais pessoas no meio e a maioria na base

3. Tipo C - Uma sociedade em forma de pirâmide, em eu apenas algumas pessoas estão na base

4. Tipo D - Uma

está no meio

5. Tipo E - Uma

estão perto do topo

Observe os desenho e leia as descrições. Os desenhos representam diferentes tipos de sociedade. Qual você acha que descreve melhor o seu país hoje?¨

XX

XX X X X X X X X X X X X X X

topo, poucas pessoas no meio e

2. Tipo B - Uma

X X X X X X X X X XX X X X X X X X X X X X X X X X

X X X X

X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X

X X

sociedade em que a maioria das pessoas

sociedade em que muitas pessoas

e apenas algumas estão perto da base

69

Page 70: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

ordenamento social seria fort s e das perguntas da

pesquisa restringe a escolha de um indicador mais apropriado para a desigualdade observada.

Os diagramas representam sociedades com diferentes graus de desigualdade. Se válida a

suposição mencionada acima de que esta desigualdade esteja associada em grande parte à

repartição de renda, observa-se então que o grau de desigualdade de renda diminui entre o

diagrama A (o mais desigual) e o diagrama D. No diagrama A, existem poucos indivíduos

localizados no topo e muitos na base, enquanto que o diagrama D lembra uma distribuição

normal de probabilidades, com uma freqüência elevada de pessoas no meio e limitada nos

extremos. O diagrama E apresenta um grau semelhante de desigualdade ao C. Para facilitar a

análise, supõe-se então que os respondentes interpretam o diagrama E como o mais igualitário

dentre os 5.

o mais desigual, (i) pelo fato destes

serem apresentados ao entrevistado de modo ordenado e (ii) tendo em vista também o fato de que

existiri

e. No entanto, a disponibilidade dos dado

Acredito que se pode associar ao diagrama E um rótulo de “melhor” do que os demais. No

entanto, apesar destas limitações, creio ser possível interpretar os diagramas segundo uma

ordenação de graus de desigualdade, incluindo o E como

a uma ordenação clara de desigualdade entre os diagramas A e D. Seguindo esta

suposição, o diagrama E seria interpretado então como o menos desigual dentre todos.

Menciono também outra questão relacionada ao grau de dificuldade associado à

interpretação da pergunta do questionário. Não à toa, na maioria dos países, uma parcela não

70

Page 71: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

desprezível dos entrevistados não soube ou não quis responder à questão. Dito isto, a próxima

tabela traz os resultados empíricos referentes à desigualdade observada63.

Tabela 3.2.1 – Qual o diagrama que melhor descreve o seu país hoje? (em % por país)

Observada Soube Escolher (6)

Australia 3,17 0,09 0,32 0,24 0,31 0,01 0,03Canadá 3,30 0,18 0,22 0,29 0,27 0,01 0,03

N. Zelândia 3,50 0,18 0,33 0,25 0,19 0,01 0,04

Austria 3,00 0,08 0,24 0,25 0,36 0,02 0,06

França 3,61 0,12 0,49 0,23 0,13 0,01 0,02Noruega 2,44 0,03 0,11 0,19 0,54 0,07 0,06

Suécia 3,09 0,10 0,24 0,27 0,33 0,01 0,05

Chile

Na tabela acima, a segunda coluna apresenta um indicador aproximado para a

Bulgária 4,59 0,65 0,21 0,04 0,02 0,01 0,07

Eslovênia 3,51 0,28 0,24 0,17 0,22 0,05 0,05

Letônia 4,52 0,66 0,23 0,05 0,04 0,01 0,02Polônia 4,22 0,49 0,16 0,08 0,07 0,03 0,17

Russia 4,51 0,59 0,18 0,05 0,03 0,01 0,13

Fonte de dados: ISSP (1999)

desigualdade observada, construído a partir de uma ordenação dos digramas de 1 a 5, sendo 1 o

diagram

a E, supostamente o menos desigual, 2 o diagrama D, e assim por diante, até a associação

do número 5 ao diagrama A, o mais desigual. Tomou-se então a média das respostas por país, não

63 Inglaterra e Irlanda do Norte não estão incorporadas à análise, pois não incluíam em seus questionários o item em evidência.

Países Desigualdade Tipo A (5) Tipo B (4) Tipo C (3) Tipo D (2) Tipo E (1) Sem Resposta ou Não

EUA 3,32 0,15 0,29 0,17 0,25 0,03 0,12

Alemanha 3,23 0,10 0,26 0,25 0,24 0,02 0,12

Espanha 3,21 0,07 0,33 0,24 0,22 0,03 0,13

Portugal 3,59 0,17 0,47 0,19 0,11 0,05 0,00

Brasil 4,02 0,32 0,36 0,05 0,05 0,05 0,173,96 0,27 0,46 0,11 0,07 0,02 0,07

ilipinas 3,36 0,25 0,29 0,11 0,20 0,12 0,03rael 3,52 0,21 0,33 0,23 0,19 0,02 0,02

Japão 3,03 0,06 0,29 0,20 0,32 0,03 0,10

Eslováquia 4,29 0,51 0,32 0,07 0,05 0,02 0,03

Hungria 4,41 0,57 0,24 0,05 0,04 0,02 0,07

Rep. Tcheca 3,81 0,30 0,35 0,18 0,12 0,02 0,03

Nota: A soma das porcentagens (1)+(2)+(3)+(4)+(5)+(6) = 100%

FIs

71

Page 72: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

incluindo os entrevistados que não souberam ou não quiseram responder. Uma média próxima a 5

corresponde, portanto, a uma desigualdade observada elevada.

A s

com

s

Filip

dema

estes

resultados em

or de

desigualdade observada ao índice de Gini.

partir dos dados, pode-se verificar grande parcela dos noruegueses (54%), sueco

(33%), japoneses (32%) e austríacos (36%) escolheram o diagrama D, o que estaria de acordo

sociedades de fato mais igualitárias, segundo o índice de Gini. Por outro lado, no entanto,

em alguns dos países mais desiguais, esta estimativa não se mostrou elevada. Nos EUA, 25% dos

entrevistados escolheram o diagrama D; na Nova Zelândia este número chegou a 19%, na

inas, 20%, no Chile, 7% e no Brasil, 5%. França e Portugal continuaram se destacando dos

is países do grupo onde estão incluídos, mostrando níveis mais altos de desigualdade

observada, assim como os países do Leste Europeu. Chamo atenção para o fato de que

apontam uma correlação positiva entre a desigualdade que as pessoas observam

seus países e a severidade pela qual avaliam as diferenças de renda.

Ilustração: a relação entre a desigualdade observada e o índice de Gini

Apenas como ilustração, o gráfico de dispersão abaixo compara o indicad

72

Page 73: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Gráfico 3.2.1 – Desigualdade Observada e Índice de Gini

observada e o índice de Gini. No entanto, percebe-se que os entrevistados dos países do Leste

3,0

3,5

Nota: Incluindo os países do Leste Europeu

O gráfico indica uma correlação positiva, mas fraca entre o grau de desigualdade

Europeu apresentaram níveis elevados de desigualdade observada. Na Eslováquia, Hungria,

Letônia e Bulgária, por exemplo, mais de 50% das pessoas escolheram o diagrama A (no gráfico

de dispersão acima, encontram-se todos acima da linha de tendência). A interpretação de tal fato

pode estar vinculada à história recente desses países. Por décadas, estas sociedades

permaneceram homogêneas no que tange ao padrão de consumo e de vida. Uma transição de

modelo sócio-econômico em pleno curso possivelmente traz impactos sobre a imagem que as

pessoas têm de seus próprios países64.

64 Uma interpretação a partir do arcabouço estruturado no capítulo anterior pode indicar um possível argumento para a alta desigualdade observada nestes países. Em sociedades homogêneas do ponto de vista de padrões de consumo e de vida, pode-se supor que as diferenças sociais que existem são mais facilmente identificadas na população. Assim, as poucas pessoas que apresentam um padrão de vida relativamente mais alto apresentariam uma probabilidade maior de serem incorporadas aos vetores individuais de repartição de renda observada, elevando então o grau médio da desigualdade observada no país.

y = 0,0134x + 3,1739R2 = 0,06R = 0,24

4,0

4,5

5,0

10 20 30 40 50 60

Índice de Gini

Desigualdade Observada

Fonte de Dados: Banco Mundial (2000) e ISSP (1999)

73

Page 74: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Afastando-me d aíses do Leste

ervada ao índice de

Gini, a partir do gráfic

2

a regressão simples em 0.17). Embora se admita que as

análises e interpretações acima devam ser cautelosas e respeitar as restrições empíricas, estes

resultados parecem indicar que a relação entre a desigualdade observada e a desigualdade medida

pelo índice de Gini é mais forte do que entre a percebida (ou avaliada subjetivamente) e este

índice.

e uma interpretação mais específica para o caso dos p

Europeu, os exclui da amostra e relacionei o indicador de desigualdade obs

o de dispersão abaixo.

Gráfico 3.2.2 – Desigualdade Observada e Índice de Gini (excluindo os países do Leste

Europeu)

y = 0,0285x + 2,3047R2 = 0,6602R = 0,81

4,0

4,5Desigualdade Observada

Verifica-se que existe uma correlação forte entre as duas dimensões (0.81, R de 0.66),

superior àquela encontrada entre o indicador de desigualdade percebida e o índice de Gini

(quando excluídos os países do Leste Europeu, Inglaterra e Irlanda do Norte, a correlação entre as

duas variáveis fica em 0.41, e o R2 d

2,0

2,5

3,0

Fonte de Dados: Banco Mundial (2000) e ISSP (1999)

3,5

20 25 30 35 40 45 50 55 60

Índice de Gini

Nota: Excluindo países do Leste Europeu

Noruega

74

Page 75: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Em outro exercício, os países foram ordenados conforme suas posições no ranking da

desigualdade observada. Cada país recebeu um número relativo a sua posição neste ranking: 1, 2,

3,...,16 – excluindo os países do Leste Europeu. Por outro lado, da mesma forma, os mesmos

países foram ordenados segundo os valores de seus respectivos índices de Gini. Estas duas

ordenaçõ

16x16). Os mesmo passos foram adotados e dicador de percepção da desigualdade,

a visualização do desvio do país

em term a diagonal que representa o

lócus de perfeita orde resentam os

resultados.

es foram expostas conjuntamente em um gráfico de dispersão (uma caixa de dimensão

m relação ao in

gerando então outro gráfico. Este tipo de exercício permite um

os de desigualdade percebida ou observada, a partir de um

nação entre estas e o índice de Gini. Os gráficos abaixo ap

75

Page 76: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Gráfico 3.2.2 – Desigualdade Percebida, Observada e o Índice de Gini

Pode-se verificar que, no primeiro gráfico, os desvios em relação à diagonal são maiores

do que aqueles encontrados no segundo gráfico. Isso indicaria a maior adequação do grau da

desigualdade observada em relação ao índice de Gini, quando comparada àquela entre este índice

e o indicador de percepção da desigualdade (excluídos os países do Leste Europeu).

1

3

4

6

8

10

11

12

13

15

Austria

Japão

Suecia

Noruega

Canada

França

Australia

Brasil

Chile

Israel

Portugal

Filipinas

Ranking: Desigualdade Percebida

2

5

7

9

14

16

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

Alemanha

Espanha EUA

Nova Zelândia

Ranking: Índice de Gini

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

BrasilChile

Austria

Japão

Suecia

Noruega

Alemanha

Canada

Espanha

França

Australia

Israel

Portugal

EUA

Nova Zelândia

Filipinas

Ranking: Índice de Gini

Ranking: Desigualdade Observada

76

Page 77: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Em síntes ção. Em

a

o

m

3.3

tiva,

r

individ al da desigualdade está associada a uma reflexão valorativa das pessoas a respeito do

grau d

desigualdade

e, pode-se chegar a algumas conclusões a partir dos resultados desta se

primeiro lugar, há entre os países do Leste Europeu um nível de desigualdade observada elevado,

quando comparado aos seus respectivos índices de Gini. Os entrevistados desses países parecem

ter uma imagem de suas sociedades enquanto ordenamentos sociais relativamente desiguais. Por

outro lado, os demais países apresentaram uma adequação maior entre a desigualdade observad

e o índice de Gini, embora existam desvios entre os dois rankings65 - de acordo com o últim

gráfico, os entrevistados da Noruega, EUA, Nova Zelândia, Austrália e Filipinas observam

enos desigualdade do que deveriam; do outro lado, o maior desvio ficou por conta dos

franceses.

Desigualdade Normativa

Apresento empiricamente nesta seção os distintos padrões de desigualdade norma

encontrados entre os países participantes da pesquisa do ISSP (1999), e defino um indicado

aproximado para esta categoria.

Como já discutido em outras seções desta dissertação, a dimensão normativa da percepção

u

e desigualdade de renda considerado como o apropriado. Neste caso, supõe-se que os

entrevistados da pesquisa do ISSP (1999) sejam capazes de refletir e que tenham uma opinião

formada sobre o modo como a sociedade deveria ser ordenada em termos de repartição da renda.

Posto isso, apresento na seqüência dois itens da pesquisa que associo à noção da

65 Segue Anexo 3.2 um diagrama de ranking entre o índice de Gini e o indicador de desigualdade observada que inclui todos os países participantes da pesquisa.

no

77

Page 78: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

normat

s questões da pesquisa ISSP (1999) os entrevistados escolhiam dentre os mesmos 5

diagram s aquele que descrevesse o ordenamento social que deveria existir em seus respectivos

países66. Deve-se destacar que as restrições metodológicas e os pressupostos descritos na seção

anterior são válidos também na presente seção. A pergunta exata do questionário e os resultados

seguem na tabela abaixo.

iva – o primeiro é uma contrapartida normativa ao item utilizado para a análise empírica

da desigualdade observada; o segundo é complementar (destaca ocupações profissionais

selecionadas, distintas em termos de status social e pergunta ao entrevistado qual deveria ser a

remuneração correspondente a cada uma).

Desigualdade Normativa: Diagramas

De maneira análoga ao item utilizado para a análise empírica da desigualdade observada,

em uma da

a

66 Ver figura 3.2.1.

78

Page 79: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Tabela 3.3.1 – Diagramas: Como você acha que o seu país deveria ser? Qual deles o sr(a)

preferiria?

Na segunda coluna, uma proxy de desigualdade normativa foi construída de modo

análogo ao indicador da desigualdade observada na seção anterior - uma média próxima a 5

corresponde a uma desigualdade normativa elevada.

PaísesNormativa

Tipo A (5) TipoDesigualdade B (4) Tipo C (3) Tipo D (2) Tipo E (1) Sem Resposta ou Não Soube Escolher (6)

stralia 2,04 0,01 0,06 0,13 0,54 0,24 0,03Canadá 1,89 0,02 0,05 0,08 0,48 0,33 0,04

0,14 0,40 0,22 0,140,13 0,58 0,20 0,04

emanha 2,18 0,01 0,08 0,12 0,51 0,14 0,14Austria 2,12 0,00 0,07 0,16 0,51 0,19 0,07

França 2,20 0,00 0,08 0,22 0,44 0,21 0,04

Suécia 1,90 0,01 0,04 0,11 0,44 0,31 0,09

Filipinas 2,55 0,08 0,17 0,13 0,38 0,20 0,04

0,00 0,02 0,08 0,56 0,26 0,08Eslováquia 2,00 0,01 0,06 0,18 0,40 0,32 0,04

lovênia 2,11 0,01 0,06 0,14 0,53 0,19 0,06ngria 1,94 0,01 0,05 0,12 0,41 0,30 0,11

Letônia 1,87 0,00 0,02 0,10 0,58 0,28 0,02Polônia 2,15 0,02 0,08 0,09 0,42 0,20 0,19Rep. Tcheca 2,10 0,01 0,06 0,19 0,49 0,23 0,03Russia 1,98 0,01 0,04 0,11 0,46 0,23 0,16

Fonte de dados: ISSP (1999)Nota: A soma das porcentagens (1)+(2)+(3)+(4)+(5)+(6) = 100%

Au

EUA 2,16 0,02 0,08N. Zelândia 2,06 0,01 0,05

Al

Espanha 2,01 0,01 0,06 0,11 0,42 0,25 0,15

Noruega 1,85 0,01 0,03 0,07 0,53 0,29 0,08Portugal 2,16 0,03 0,07 0,16 0,49 0,24 0,00

Brasil 2,12 0,03 0,07 0,08 0,45 0,20 0,17Chile 2,04 0,02 0,06 0,14 0,45 0,26 0,08

Israel 1,98 0,02 0,06 0,12 0,49 0,30 0,03Japão 2,32 0,01 0,12 0,14 0,45 0,14 0,14

Bulgária 1,85

EsHu

79

Page 80: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Os resultados acima sugerem que, em média, existe uma preferência pela igualdade,

menos, segindependentemente do país em questão – ao undo a ordenação dos diagramas, a maior

es.

nado

s D e E,

me trevistados

continuam

e de

exam sigualdade

norm o que

cham

esigualdade Naturalizada

io, era apresentada ao entrevistado para que

este indicasse a remuneração que deveria

parcela dos entrevistados escolheu o diagrama D como aquele que deveria existir em seus país

Acredito que no caso normativo, exista um problema distinto de interpretação relacio

à escolha do melhor diagrama. Para este caso, em relação à interpretação dos diagrama

poderia existir um trade-off de escolha entre um ordenamento social menos desigual e outro

lhor, porém mais desigual. Deve-se destacar um pressuposto, portanto, de que os en

interpretando o diagrama E como o menos desigual dentre os 5.

Verificou-se uma fraca correlação positiva entre a desigualdade normativa e o índic

Gini (0.21 incluindo os países do Leste Europeu e 0.15, os excluindo). Em uma tentativa de

inar a partir de um ângulo alternativo esta relação e a própria questão da de

ativa, apresenta-se na seqüência outro item da pesquisa ISSP (1999) associado ao term

arei de desigualdade naturalizada67.

D

Utilizarei uma questão do questionário do ISSP (1999) onde uma lista de ocupações

profissionais, com diferentes níveis de status e prestíg

80

ser associada a cada uma delas. Além de ser

diretamente conectada à dimensão renda, destaca-se outra característica relevante deste item do

67 Scalon (2004) e Cabral (2004) associam este item ao termo “tolerância à desigualdade”. Souza (2004) trata especificamente do tema da naturalização das desigualdades no Brasil e será mencionado à frente.

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questio

nário: a pergunta não é induzida. A próxima tabela inclui, para cada país, as diferenças

entre as médias salariais de cada ocupação, tomando como base a ocupação apontada como a que

deveria receber a menor remuneração68.

Tabela 3.3.2 – Quanto deveriam ganhar as pessoas com as seguintes profissões?

(Diferenças entre as médias salariais, tomando como norma a média mais baixa)

PaísesDesigualdade Naturalizada

Oper. nao Qualificado

Balconista de Loja uma Empresa uma Grande

Operario Qualificado Medico Advogado Juiz (STF) Ministro

Australia 5,6 1,00 1,07 5,46 3,89 1,39 3,52

Presidente de

Nacional

Diretor de

Empresa

3,68 5,21 3,52Canadá 7,2 1,00 1,11 7,27 6,19 1,40 4,03 3,17 4,12 2,63EUA 7,6 1,00 1,03 6,22 4,55 1,47 4,34 3,84 4,23 3,34N. Zelândi 6,2 1,00 1,05 5,76 4,42 1,36 3,66 3,68 5,17 3,74Média 6,7 1,00 1,06 6,18 4,76 1,41 3,89 3,59 4,68 3,31

AlemanhaAustria 7,5 1,00 1,09 5,50 7,28 1,34 3,81 4,18 3,85 4,44

FrançaNoruega 2,7 1,00 1,04 2,11 2,57 1,22 2,05 2,12 2,34 1,90

Suécia 3,0 1,00 1,01 2,97 3,14 1,17 1,92 2,27 2,62 2,31

Brasil 18,1 1,40 1,00 11,16 7,82 1,94 5,64 5,79 9,24 8,112 24,76 1,00 4,17 5,10 7,55 7,379 16,29 1,47 4,91 5,44 8,39 7,74

Israel 8,7 1,00 1,25 4,57 7,89 1,32 2,37 3,74 5,57 3,67Filipinas 51,5 1,00 1,20 15,25 39,0 1,19 3,62 5,53 8,39 7,20Japão 10,15 - 1,65 4,75 4,65 5,44 7,30Média 9,99 23,44 1,39 3,58 4,64 6,46 6,06

Bulgária 6,6 1,00 1,15 3,46 6,44 1,71 2,65 3,51 4,11 4,05Eslováqui 3,4 1,00 1,21 2,84 3,17 1,59 2,27 2,66 2,99 2,76Eslovênia 8,2 1,00 1,24 5,98 7,86 1,32 2,90 3,55 4,90 4,35HungriaLetônia 15,7 1,00 1,15 9,43 12,41 1,72 2,01 3,98 5,37 4,82

Russia 15,3 1,00 1,26 13,48 8,31 2,23 2,30 4,10 8,32 8,78

* Aparentemente os dados chilenos parecem estar errados, pois a remuneração de operários não qualificados é

a

6,9 1,00 1,13 6,12 6,51 1,41 3,42 3,59 4,34 4,16

Espanha 2,8 1,00 1,01 2,42 2,52 1,18 1,68 1,90 2,41 2,4810,2 1,00 1,10 9,09 8,59 1,28 3,23 3,95 3,61 4,44

Portugal 6,9 1,00 1,17 6,06 4,46 1,41 3,47 4,19 5,82 5,38

Média 5,7 1,00 1,08 4,90 5,01 1,29 2,80 3,17 3,57 3,59

Chile* 35,0 4,05 2,79 15,4Média 26,5 13,2

12,2 1,00 1,2524,1 1,00 1,24

a

10,3 1,00 1,13 7,40 9,52 1,32 2,54 4,09 5,08 4,94

Polônia 22,9 1,00 1,10 7,93 20,13 1,47 2,67 5,17 8,70 7,19Rep. Tcheca 12,3 1,00 1,25 6,69 11,40 1,55 2,68 4,21 6,96 5,58

Média 11,8 1,00 1,19 7,15 9,90 1,61 2,50 3,91 5,80 5,31

Fonte de Dados: ISSP (1999)

superior àquela dos qualificados

68 Este método é utilizado por Scalon (2004), para um conjunto menor de países. Uma diferença em relação à autora reside no fato de que as médias mencionadas acima e incluídas na próxima tabela foram estimadas considerando apenas os entrevistados que responderam a todas as profissões.

81

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Inicialmente, verificam-se, entre os países mais igualitários, níveis baixos de desigualdade

naturalizada. Entre os respondentes noruegueses, em média, a profissão que deveria receber os

maiores salários (os(as) diretores(as) de grandes empresas) deveria ganhar, em média, apenas

2.57 vezes m não

qualificado( o(a)

presidente de uma grande empresa deveria ganhar, em média 11.2 vezes mais do que um(a)

ais do que os profissionais com a menor remuneração (operário(a) de fábrica

a)). Nas Filipinas esta amplitude chega a quase 40 vezes. Para os brasileiros,

balconista de loja69.

Na primeira coluna da tabela propôs-se o seguinte indicador. Para cada país,

selecionaram-se as duas ocupações profissionais cujas médias salariais fossem a maior e a menor

dentre todas. Assim, calculou-se, para cada entrevistado, em cada país, a razão entre os salários

destas duas profissões. Por final, tomou-se a média das razões por país, permitindo uma

ordenação de níveis de desigualdade naturalizada.

Por exemplo, no caso norueguês, a razão média entre os salários de operários não

qualificados e diretores de grandes empresas deveria ser de 2.7. Nas Filipinas, este número chega

a 51.5 e no Chile, 35 vezes70. Pode-se analisar este indicador de desigualdade naturalizada em

três grupos de países: (i) países com índices de Gini até 0.30; (ii) de 0.30 até 0.40 e; com índices

de Gini iguais a 0.40, em diante. Percebe-se então que a média dos indicadores por grupo de

69 Provavelmente haveria diferenças de prestígio e status entre as ocupações profissionais de cada país. Os resultados acima dependem em parte da tradução dos questionários, o que não permitiria a comparação fiel das categorias profissionais entre países. Chamo atenção também de que foram encontradas grandes variâncias em cada caso - em geral, em países mais desiguais, as profissões com maiores remunerações tenderam a apresentar variâncias ainda

ltados semelhantes.

mais elevadas. 70 Considero os resultados estranhos para o caso chileno, pelo fato de que a menor remuneração média estar associada aos operários qualificados. Scalon (2004) encontra resu

82

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países aumenta com o grau de desigualdade objetiva de renda: respectivamente, 7.0, 10.0 e 22.3.

Excluin

que a desigualdade de rendas naturalizada se

correla ona positivamente àquela objetiva. Além de Polônia e Letônia, os maiores valores para

este in

A inclusão do item do questionário ISSP (1999) referente às remunerações deixa clara a

ento ao A, B ou C, por

do os países do Leste Europeu, esses números passam a 6.5, 6.9 e 22.3. O gráfico de

dispersão abaixo relaciona este indicador ao índice de Gini.

Gráfico 3.3.1 – A Desigualdade Naturalizada e o Índice de Gini

Filipinas

Em síntese, os resultados parecem indicar

10

20

0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

Índice de Gini

y = 0,6186x - 9,2819R2 = 0,33 R = 0,6

0

30

40

50

60 Desigualdade Naturalizada

Fonte de Dados: Banco Mundial (2000) e ISSP (1999)

Chile

BrasilRussia

ci

dicador ficaram com Brasil, Chile, Rússia e Filipinas. A exclusão dos países do Leste

Europeu não alterou o resultado do exercício de modo substancial.

Desigualdade Normativa: Preferências, Naturalização, Aceitação, Tolerância, Justiça

complexidade da dimensão normativa da avaliação da desigualdade. Observou-se empiricamente

que, apesar de existir uma aparente preferência pela igualdade (revelada quando os entrevistados

escolhem o diagrama D como o preferível para seus países, em detrim

83

Page 84: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

exemplo), em certos países, as amplitudes normativas de renda se mostraram elevadas – por isso

o termo “desigualdade naturalizada”.

Estes fatos levantam uma questão sobre o que estaria por trás da desigualdade normativa:

preferências, concep

de renda? Não pretendo abordar esta discussão complexa no presente trabalho; com a finalidade

de simplificar as inte sobre escolhas de

diagramas como e este reflita com maior

consistência as op nto social apropriado ou

normativo71.

Em síntese, íses participantes da

pesquisa do ISSP (1999), em média, uma preferência pela igualdade. Na próxima seção, o

cruzam

ções de justiça ou a naturalização, a aceitação cultural de elevadas diferenças

rpretações e avaliações empíricas, priorizarei o item

o representante da desigualdade normativa. Acredito qu

iniões dos entrevistados em relação ao ordename

conclui-se nesta seção que parece existir entre os pa

ento dos itens descritos ao longo deste trabalho permitirá um exame intrapaíses da relação

entre a percepção da desigualdade e o grau de inadequação ou distância entre a desigualdade

observada e a normativa.

71 Como mencionado, não tratarei das causas da desigualdade normativa ou apropriada nesta dissertação. Acredito que a no o de repartição de renda normativa considerada aqui seja capaz de acomodar a concepção da desigualdade enquantoo procesdesigual e que priorize os indivíduos mais esforçados ou competentes ou, ainda, que acumulam uma alta carga de

constante no tempo possa influenciar diretamente a fronteira normativamente apropriada da repartição de renda:

cautela – tolerância pode trazer um sentimento de resignação, por exemplo. Assim, uma pessoa que tolera as

jáçã um conceito multidimensional. Por exemplo, uma pessoa que valoriza a igualdade de condições e percebe so gerador da repartição de renda em seu país como justo pode achar apropriado uma repartição de renda

responsabilidade no trabalho. Acredito também que a naturalização de uma desigualdade de renda crônica e

nesses termos, as “diferenças muito grandes de renda” poderiam ser relativizadas – o que são diferenças de renda grandes na Noruega talvez não o seja no Brasil, por exemplo. A tolerância é outro termo que deve ser tratado com

diferenças de renda talvez possa avaliá-las severamente.

84

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3.4 Desigualdade Percebida, Observada e Normativa

Neste capítulo, concentro-me em investigar a hipótese levantada na introdução deste

trabalho. Mais precisamente, pretende-se examinar em um plano empírico se a percepção da

desigualdade de renda é relacionada ao grau de inadequação ou distância entre as duas categorias

referenciais, como definidas, a desigualdade observada e a normativa – por questão de

nomenclatura, associarei a esta distância o termo “grau de inadequação distributiva”. Para tanto,

analisarei conjuntamente as respostas dos itens descritos nas duas seções anteriores, tendo em

vista as variações de percepção de desigualdade intrapaíses72.

Cruzando percepções

Em um exercício preliminar, em nível de agregação elevado, propôs-se o seguinte

exercício: fixou-se o grau de desigualdade observada e verificou-se a relação entre a desigualdade

percebida e a normativa; por outro lado, fixou-se o grau de desigualdade normativa e examinou-

se a relação entre a desigualdade percebida e a observada. Os resultados seguem abaixo

utilizando a média para o indicador de percepção de desigualdade em cada caso e em cada país.

72 Para informações complementares sobre os resultados que serão apresentados ao longo desta seção, ver Anexo 3.4.

85

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Tabela 3.4.1 – Comparação dos níveis de desigualdade percebida entre quatro grupos de

entrevistados

e

entrevistados. Para analisar estes resultados, em meiro lugar, apenas as pessoas que

escolheram os diagramas A, B e C como representantes da sociedade em que vivem foram

selecionadas. Ou seja, fixou-se o nível da desigualdade observada em um patamar elevado.

Assim, pôde-se analisar as diferenças entre os indicadores médios da desigualdade percebida

entre dois grupos de entrevistados, (i) aqueles mais igualitários (os que escolheram os diagramas

D e E como representantes de uma sociedade preferida) e (ii) os menos igualitários (os que

Como se pode verificar, em cada país a amostra foi dividida em quatro grupos d

áquia 4,76 4,67 4,69 4,52 -0,02 -0,04 -0,01 -0,03

Hungria 4,71 3,90 4,60 4,45 -0,17 -0,03 -0,02 0,14Letônia 4,42 4,25 4,56 4,18 -0,04 -0,08 0,03 -0,02

Rep. Tcheca 4,19 4,04 4,53 4,23 -0,03 -0,07 0,08 0,05Russia 4,70 4,46 4,77 4,35 -0,05 -0,09 0,01 -0,03

Desigualdade

(A, B e C) (1)

Desigualdade

(D e E) (2)

Desigualdade

(A, B e C) (3)

Desigualdade

(D e E) (4)

Canadá 3,64 4,43 4,20 3,35 0,22 -0,20 0,15 -0,24

N. Zelândia 3,87 3,43 4,16 3,52 -0,11 -0,15 0,08 0,03

Espanha 3,91 4,24 4,38 4,10 0,08 -0,06 0,12 -0,03

Noruega 3,63 4,25 4,31

Observada Alta Observada Baixa Observada Alta Observada Baixa (2)/(1) (4)/(3) (3)/(1) (4)/(2)

Australia 3,84 3,25 4,02 3,52 -0,15 -0,12 0,05 0,08

EUA 3,54 3,50 4,07 3,47 -0,01 -0,15 0,15 -0,01

Alemanha 3,83 3,92 4,14 3,54 0,02 -0,14 0,08 -0,10Austria 4,12 4,54 4,40 4,18 0,10 -0,05 0,07 -0,08

França 4,15 3,69 4,65 4,19 -0,11 -0,10 0,12 0,130,17 -0,16 0,19 -0,15

4 0,01 0,00 0,02 0,01Suécia 3,66 3,71 4,33 3,44 0,01 -0,21 0,19 -0,07

Brasi 4,67 4,69 4,84 4,64 0,00 -0,04 0,04 -0,01Chile 4,32 4,14 4,33 4,25 -0,04 -0,02 0,00 0,03

Filipin 3,44 3,77 3,71 -0,06 -0,02 0,03 0,08Israel 4,35 4,53 4,44 4,18 0,04 -0,06 0,02 -0,08Japão 3,99 3,97 4,34 3,48 0,00 -0,20 0,09 -0,12

Bulgária 4,47 5,00 4,78 4,64 0,12 -0,03 0,07 -0,07EslovEslovenia 4,69 4,60 4,48 4,19 -0,02 -0,06 -0,04 -0,09

Polônia 4,41 4,13 4,36 4,09 -0,07 -0,06 -0,01 -0,01

Fonte de Dados: ISSP (1999)

Diagramas A, B e C Diagramas D e E Normativa Observada

3,63Portugal 4,68 4,71 4,78 ,77

Fixando a Fixando a Desigualdade Normativa Alta Desigualdade Normativa Baixa

l

as 3,65

pri

86

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escolher

média, a desigualdade percebida é maio mente, os países do

Leste Europeu despontaram como exceções. Os resultados estão na coluna (3)/(1).

m

No

dia,

ior

-

pode-se supor que a curva normativa domina a observada e, por isso, a desigualdade percebida é

mais alta neste grupo de pessoas do que entre os mais igualitários, onde o ordenamento

observado e o normativo estão adequados entre si .

am os diagramas A, B e C). Como resultado, verificou-se que, na maioria dos países, em

r entre os mais igualitários. Nova

Em uma segunda etapa, os entrevistados com baixa desigualdade normativa, os mais

igualitários, foram selecionados - coluna (4)/(3). Verifica-se que, na quase totalidade dos países,

aqueles que observam mais a desigualdade apresentaram indicadores de desigualdade percebida

ais elevados – a única exceção foi Portugal.

Nas colunas (2)/(1) e (4)/(2), inexiste um padrão de respostas facilmente interpretável.

primeiro caso, quando fixada a desigualdade normativa em um nível alto, ou seja, quando apenas

os entrevistados menos igualitários foram selecionados, verificou-se o seguinte: em mé

aqueles que observam mais a desigualdade nem sempre são os que a percebem com ma

intensidade. No segundo caso, quando fixada a desigualdade observada em nível baixo, o que se

verifica são, em média, avaliações mais severas daqueles entrevistados menos igualitários. Pode

se interpretar este resultado a partir do arcabouço desenvolvido no capítulo anterior. Neste caso,

73

73 A representatividade amostral dos menos igualitários que observam pouca desigualdade é limitada (coluna (2)). Como ilustração complementar, o Anexo 3.4 apresenta uma regressão por mínimos quadrados ordinários cuja

desigualdade observada e a normativa. Como variáveis de controle, utilizam-se algumas características dos

variável dependente é o item sobre percepção da desigualdade e as variáveis independentes são os itens sobre a

entrevistados – gênero, educação, posição política, religiosidade, renda (para alguns países) e emprego.

87

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A Avaliação da desigualdade enquanto uma distância entre duas referências

A partir deste ponto, examino em maiores detalhes a questão central deste trabalho, a

relação

ido como a sociedade ideal ou normativa. Ou seja,

ao entrevistado que escolheu o diagrama A (número 5, o mais desigual dos diagramas) como o

indicat

entre a desigualdade percebida e o grau de inadequação distributiva. Para tanto, criou-se

um novo indicador da seguinte forma. Para cada entrevistado da amostra, tomou-se o módulo da

diferença entre o número associado ao diagrama escolhido como representante da sociedade

observada e o número associado àquele escolh

ivo do grau de desigualdade observada e o D (número 2, o segundo menos desigual

daqueles) como o indicativo da desigualdade normativa, associa-se o número 3 (5 – 2 = 3).

Assim, quanto maior esta diferença, maior ou grau de inadequação distributiva. A tabela abaixo

sintetiza o cruzamento entre o indicador de percepção de desigualdade e as cinco possíveis

categorias relacionadas a este indicador (categorias de 0 a 4).

88

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Tabela 3.4.2 – Valores médios para o indicador de desigualdade percebida por categorias

Antes de descrever os resultados, apresento na seqüência um gráfico construído a partir do

mesmo exercício, mas que agrupa os diagramas D e E em uma única categoria, associada ao

número 2. Dessa forma, passam a existir apenas 4 possíveis categorias relacionadas ao indicador

de inadequação distributiva (categorias de 0 a 3, já que os números associados aos diagramas

variam de 5 a 2)74.

de inadequação distributiva

74 Acredito que este agrupamento possa minimizar eventuais problemas relacionados à escolha dos diagramas D e E – particularmente tendo em vista a dimensão normativa do problema.

Países 0 1 2 3 4

Canada 3,29 3,58 3,92 4,34 4,20

N. Zelândia 3,44 3,73 3,99 4,22 4,36

Austria 4,08 4,25 4,32 4,53 4,71

Noruega 3,50 3,87 4,31 4,09 4,14

Suecia 3,34 3,73 4,09 4,43 4,68

Chile 4,23 4,27 4,26 4,37 4,45

Israel 4,18 4,29 4,38 4,46 4,74

Bulgária 4,48 4,80 4,79 4,78 4,81

Hungria 4,44 4,49 4,55 4,59 4,644,60 4,54

Polônia 4,22 4,15 4,30 4,36 4,38Rep. Tcheca 4,09 4,29 4,42 4,52 4,75Russia 4,57 4,58 4,74 4,77 4,77Fonte de dados: ISSP (1999)

Grau de Inadequação ou distância entre a Desigualdade Observada e

Australia 3,48 3,73 3,90 4,13 4,15

EUA 3,30 3,69 3,95 4,18 4,09

Alemanha 3,46 3,78 4,01 4,28 4,44

Espanha 3,95 4,17 4,25 4,37 4,68França 3,92 4,27 4,57 4,66 4,85

Portugal 4,69 4,71 4,74 4,86 4,73

Brasil 4,63 4,74 4,80 4,82 4,85

Filipinas 3,68 3,62 3,71 3,73 3,75

Japão 3,41 3,83 4,18 4,29 4,33

Eslováquia 4,81 4,52 4,62 4,69 4,77Eslovênia 4,14 4,27 4,45 4,50 4,50

Letônia 4,06 4,30 4,43

a Normativa (em diagramas)

89

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Gráfico 3.4.1 - Valores médios para a desigualdade percebida por graus de inadequação

distributiva (categorias de 0 a 3)

positiva entre a

desigualdade percebid

afirmar que, em nte a desigualdade

são aqueles que percebem um grau mais elevado de inadequação entre a imagem que eles têm da

socieda

ervada e a normativa)76, fenômeno este sendo mais patente entre os

A tabela e o gráfico anteriores indicam a existência de uma relação

a e o grau de inadequação distributiva: para quase todos os países, pode-se

termos médios, os entrevistados que avaliam mais severame

Ale

man

ha

Aus

tria

Esp

anha

Fran

ça

Nor

uega

Por

tuga

l

Sue

cia

Bra

sil

Chi

le

Filip

inas

Isra

el

Japã

o

Bul

gária

Esl

ováq

uia

Esl

ovên

ia

Hun

gria

0

SSP

Desigualdade Categorias

3,00

3,50

4,00

4,50

5,00

Aus

tralia

Can

ada

EU

A

N. Z

elân

dia

Letô

nia

Pol

ônia

Rep

. Tch

eca

Rus

sia

1 2 3

Fonte de Dados: I

Percepção da

de em que vivem e a idéia de uma sociedade ideal75.

Pode-se verificar também em ambos os exercícios que, para a maior parte dos países, a

desigualdade percebida aumenta monotonicamente com o grau de inadequação distributiva (entre

a desigualdade obs

75 Não pretendo explorar a composição destas categorias qualitativamente; para os objetivos deste exercício, basta

ativa de grau de inadequação distributiva. mostrar suas magnitudes em relação ao indicador de percepção de desigualdade. 76 Passo a chamar a diferença entre a desigualdade observada e a norm

90

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neozelan

tchecos.

veis

dios

que

deses, os alemães, os austríacos, os espanhóis, os franceses, os suecos, os japoneses e os

Embora a relação entre a desigualdade percebida e a inadequação distributiva também

apresente resultados positivos para os países do Leste Europeu, Brasil, Chile e Portugal, verifica-

se que o indicador de percepção da desigualdade mantém-se, em média, alto e apresenta ní

baixos de variação perante as alterações nos graus de inadequação distributiva.

Analisando o problema por outro ângulo, o gráfico abaixo apresenta os valores mé

para este grau de inadequação em relação a dois grupos de entrevistados, (i) aqueles

concordaram e concordaram totalmente com o item sobre percepção de desigualdade e (ii)

aqueles que escolheram as demais categorias deste item77.

77 Esta divisão favorece a visualização gráfica dos resultados. Para o cálculo das médias, consideram-se os cinco diagramas das dimensões observada e normativa - sem o agrupamento utilizado pelo gráfico 3.4.1.

91

Page 92: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Gráfico 3.4.2 - Valores médios para o grau de inadequação distributiva, segundo

categorias de percepção da desigualdade.

Este gráfico indica que, em termos médios e independentemente do país em questão, os

entrevistados da pesquisa que avaliaram mais severamente as diferenças de renda são aqueles que

apresentaram em suas opiniões uma distância maior entre o ordenamento social observado e

aquele considerado como o ideal.

Como sugerido pela hipótese deste trabalho, os resultados empíricos apresentados ao

longo desta seção parecem corroborar o fato de que a percepção da desigualdade de renda é

positivamente relacionada ao grau de inadequação entre as duas categorias referenciais, como

definidas, a desigualdade observada e a normativa.

0,0

0,5

2,5

3,0E

UA

anha

Bra

sil

Chi

le

Isra

el

Japã

o

ssia

1,0

1,5

2,0Concorda Totalmente eConcorda

Desigualdade Observada e a Normativa

Aus

tralia

Can

ada

N. Z

elân

dia

Ale

m Aus

tria

Esp

anha

Fran

ça

Nor

uega

Por

tuga

l

Sue

cia

Filip

inas

Bul

gária

Esl

ováq

uia

Esl

ovên

ia

Hun

gria

Letô

nia

Pol

ônia

Rep

. Tch

eca

Ru

Fonte de Dados: ISSP

Valores Médios para a Distância ou Grau de Inadequação entre a

Outros

92

Page 93: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

3.5 Conclusão

em

a seção seguinte, verificou-se que, em média e independentemente do país em que

vivem,

ni.

a distância entre o nível de desigualdade

observada e aquele considerado como o apropriado, mais elevada a desigualdade percebida.

Na seção 3.2 deste capítulo, apresentaram-se padrões de desigualdade observada

termos médios por país. Verificou-se que os entrevistados do Leste Europeu descreveram seus

países como sociedades desiguais, embora estas não sejam em termos de repartição da renda. No

sentido inverso, os norte-americanos, os neozelandeses, os australianos e os filipinos descreveram

seus países como mais igualitários, embora o índice de Gini não corrobore tal imagem. Estes

resultados implicaram em um desvio entre um indicador de desigualdade observada e o índice de

Gini.

N

os entrevistados tendem a associar sociedades mais igualitárias ao ordenamento social

considerado como o ideal. No entanto, complementarmente a este resultado, considerando um

item alternativo da pesquisa do ISSP (1999), existiria um nível de naturalização das diferenças de

renda crescente com o índice de Gi

A última seção deste capítulo investigou a hipótese central deste trabalho. Em linhas

gerais, os resultados indicaram uma relação positiva entre o nível de percepção da desigualdade e

o grau de inadequação distributiva que as pessoas verificam em seus países - tendo em vista os

resultados segmentados por países, quanto maior

93

Page 94: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Complementarmente a estes resultados, as diferenças de percepção da desigualdade

encontradas entre os países podem ser interpretadas pela variação no indicador de desigualdade

observada, se considerado o indicador de desigualdade normativa fixo em um nível relativamente

igualitário. Assim, a imagem que as pessoas têm do ordenamento social em seus países guardaria

correlação positiva às suas respectivas avaliações sobre a magnitude percebida das diferenças de

renda .

78

78 Pode-se supor que o indicador de desigualdade normativa influencia este resultado parcialmente e, por isso, a adequação entre a desigualdade observada e o índice de Gini e maior do que aquela entre a desigualdade percebida e este índice. Este fenômeno ocorreria principalmente nos países que apresentaram maior variação na intensidade da desigualdade percebida frente às diferentes categorias de inadequação distributiva.

94

Page 95: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

4 Diferenças entre Ricos e Pobres e o Caso Brasileiro

4.1 Introdução

ste capítulo serve como complemento ao corpo desta dissertação e tem como objetivo

ilustrar empiricamente a relação entre a desigualdade percebida e o grau de inadequação

distributiva, a partir de um recorte analítico alternativo. Pretende-se mostrar as diferenças de

opiniões sobre estas dimensões entre as pessoas localizadas à base e ao topo da distribuição de

renda em países selecionados - no Brasil em especial.

Tendo em vista tal finalidade, este capítulo organiza-se em duas partes. Em primeiro

lugar, examino as diferenças de opiniões entre as pessoas localizadas ao topo e à base da

distribuição de renda em países selecionados. Encerro este capítulo com as atenções voltadas para

o caso brasileiro.

4.2 Percepção de Desigualdade entre Ricos e Pobres

Quais seriam as diferenças de percepção de desigualdade entre as pessoas localizadas ao

topo da distribuição de renda de um país e aquelas situadas à base? Para verificar esta questão

empiricamente, destacou-se um subconjunto heterogêneo de países participantes da pesquisa so

E

ISSP: Brasil, Rússia, EUA, Alemanha, Japão, Noruega, Suécia, Eslováquia, Bulgária e República

95

Page 96: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Tcheca79. Utilizando dados de renda domiciliar per capita, disponíveis a partir do próprio

questionário do ISSP (1999), selecionaram-se dois grupos de entrevistados para cada país. O

primeiro foi constituído pelas pessoas do décimo mais rico da distribuição de renda; o segundo,

por aquelas localizadas nos dois décimos mais pobres80. Tendo em vista os indicadores sugeridos

no capítulo anterior, os resultados seguem resumidos na tabela abaixo.

m síntese, tendo em vista os países selecionados, os resultados indicam que os

entrevistados localizados à base distribuição de renda tendem a perceber mais intensamente a

desigualdade de renda que aqueles localizados ao topo. Os mais pobres consideram maior a

distância entre a desigualdade observada e a normativa quando comparados aos mais ricos.

Quando se verifica o que se chamou de desigualdade naturalizada, em geral, a amplitude

Tabela 4.2.1 – Desigualdade Percebida, Grau de Inadequação e Naturalização

10% Ricos

20% Pobres P/R-1

10% + Ricos

20% + Pobres P/R-1

10% Ricos

20% Pobres P/R-1

Alemanha 3,35 4,01 19,5% 0,87EUA 3,84 3,77 -1,7% 1,20

Indicador de Desigualdade Desigualdade NaturalizadaGrau Médio de Inadequação

Bulgária 4,78 4,87 2,0% 3,12 3,41 9,1% 3,58 2,88 -19,6%

Japão 3,35 4,24 26,7% 0,69 1,13 63,9% 9,60 12,72 32,5%Eslováquia 4,46 4,70 5,6% 2,04 2,75 34,8% 3,01 2,65 -11,7%Brasil 4,78 4,69 -1,8% 2,62 2,12 -19,0% 19,87 14,31 -28,0%Média 12,9% 38,5% -22,3%

E

Esta escolha também foi condicionada à disponibilidade dos dados sobre renda.

80 Considerando a renda domiciliar per capita disponível na base de dados. Para esta construção, nenhuma variável 79

externa a esta base foi incorporada. A seleção dos países respeitou também a disponibilidade de dados da base – nem todos os países disponibilizaram o valor da renda pessoal e familiar do entrevistado em termos nominais. Apresento no anexo 4.1.1 os decis de renda considerados neste exercício.

1,46 67,5% 7,96 5,08 -36,1%1,33 10,9% 9,45 4,42 -53,2%

Noruega 3,12 4,09 31,2% 0,24 0,45 88,8% 2,29 2,25 -1,7%Suécia 3,06 4,16 35,9% 0,63 1,25 97,3% 4,65 2,07 -55,6%Rep. Tcheca 4,11 4,58 11,2% 1,58 1,91 21,0% 7,26 5,81 -20,0%

Rússia 4,62 4,63 0,3% 2,92 3,23 10,7% 14,06 9,90 -29,6%

Fonte de dados: ISSP (1999).

PercebidaPaíses

Distributiva

96

Page 97: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

normativa de remunerações é superior entre os mais ricos do que entre os mais pobres. Abaixo,

apresento 3 gráficos que ilustram estes resultados.

Gráfico 4.2.1 – Desigualdade Inadequada: Diferenças entre Ricos e Pobres

Verifica-se em relação ao grau de inadequação entre a desigualdade observad

tiva, de modo geral, um viés nas diferenças de opinião dos mais ricos e mais

eiros consideram mais elevada a distância entre as duas dimensões. Na Suécia e na Noruega

0,00,5

1,01,5

Alemanha EUA Noruega Suécia Rep.Tcheca

Bulgária Rússia Japão Eslováquia Brasil

Fonte de Dados: ISSP

2,0

3,03,5

4,010% + Ricos20% + Pobres

2,5

a e a

norma pobres. Os

prim

as diferenças para este indicador entre os mais pobres e os mais ricos chegam a quase 100%. O

caso brasileiro surge como única exceção dentre os dez países considerados no gráfico acima. O

próximo gráfico examina a desigualdade naturalizada.

97

Page 98: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Gráfico 4.2.2 – Desigualdade Naturalizada: Diferenças entre Ricos e Pobres

iores quando

se claram

últimos

: Diferenças entre Ricos e Pobres

Os resultados sobre a desigualdade naturalizada apresentam variações ma

consideradas as diferenças de opinião entre os mais ricos e os mais pobres de cada país. Percebe-

ente que os primeiros apresentaram níveis mais altos para este indicador do que os

0

5

Alemanha EUA Noruega Suécia Rep.Tcheca

Bulgária Rússia Japão Eslováquia BrasilFonte de Dados: ISSP (1999)

10

20

1510% + Ricos

20% + Pobres

Desigualdade Tolerada

. Na Suécia, esta diferença chega a mais de 55%, no EUA, 53.2%. A única exceção neste

caso é representada pelo caso japonês, onde os mais pobres apresentaram uma desigualdade

naturalizada, em média, 32.5% maior do que os mais ricos. O gráfico abaixo analisa a última das

dimensões da tabela 4.2.1, a percepção da desigualdade.

Gráfico 4.2.3 – Desigualdade Percebida

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0

Alemanha EUA Noruega Suécia Rep.Tcheca

Bulgária Rússia Japão Eslováquia Brasil

10% + Ricos

20% + Pobres

Desigualdade Percebida

Fonte de Dados: ISSP (1999)

98

Page 99: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Em sín rceber

menos a desigualdade do que os mais pobres. Na Noruega e na Suécia, por exemplo, as

destacam-se tam sileiro será

analisado brevem

4.3

Não escondo que grande parte do esforço despendido nesta dissertação direciona-se à

compreensão do caso brasileiro, objeto de investigação que dispensa justificativas. Segundo

Cardoso (2004, p.3), “...os estudos sobre desigualdades no Brasil parecem pressupor, quase

implicitamente, que entre nós esse fenômeno universal do capitalismo é qualitativamente diverso,

e para tanto se oferece, amiúde, um argumento de quantidade: somos um, senão o país de maior

desigualdade entre ricos e pobres, tal como medido pela distribuição de renda. O que nos

distingue é a magnitude das desigualdades, o que as torna objeto, por assim dizer, natural de

investigação, um objeto que não precisa de justificação ou sobre o qual não caberia a pergunta:

por que estudar desigualdades sociais? Não são elas, talvez, a mais importante das forças

estruturantes de nossa sociabilidade?”.

Essa

trabalho através das co esar da elevada

a

esigualdade

observada, um país menos desigual.

tese, verifica-se que em cada país, de modo geral, os mais ricos tendem a pe

diferenças entre os indicadores médios para os dois grupos sociais superam 30%. Não obstante,

bém duas exceções neste último gráfico – EUA e Brasil. O caso bra

ente a seguir.

Brasil: a Desigualdade Aceitável

força estruturante da sociabilidade brasileira mostrou sua presença ao longo deste

ntradições nas opiniões dos entrevistados deste país: ap

percepção da desigualdade, existiria uma alta naturalização das diferenças de renda, haveria um

parcela da população mostrando através da escolha dos diagramas sobre a d

99

Page 100: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Nesta seção, pretendo discutir um pouco mais as diferenças de opinião entre os mais ricos

e os mais pobres brasileiros em relação à desigualdade de rendas81. Mais precisamente, examino

brevemente o porquê das diferenças de percepção entre estes dois grupos sociais: por que os ricos

consideram a desigualdade no Brasil mais inadequada? Seriam eles mais bem informados? Para

levantar pistas sobre esta questão, começarei analisando amiúde as diferenças de desigualdade

observada entre os brasileiros mais ricos e os mais pobres. Observe a tabela abaixo.

Tabela 4.3.1 – Desigualdade Observada: Diferenças entre Ricos e Pobres (Qual Diagrama

Melhor Descreve sua Sociedade? - a linha soma 100%)

cima que, em geral, os mais ricos observam mais a

desigualdade, quando comparados aos mais pobres (escolhem o diagrama A e B com maior

freqüên

Percebe-se a partir da tabela a

Décimos Em R$ (2001)* Tipo A Tipo B Tipo C Tipo D Tipo E Responder Resposta

9 450 38,7% 41,6% 3,6% 5,8% 6,6% 2,9% 0,7%300 30,1% 47,4% 4,3% 5,3% 5,3% 5,7% 1,9%

6 167 40,8% 39,3% 4,9% 2,4% 1,9% 8,7% 1,9%

4 100 36,4% 29,3% 5,0% 4,5% 7,4% 11,6% 5,8%3 77 31,4% 23,6% 11,4% 8,6% 2,1% 17,1% 5,7%

Pobres até 38 22,0% 27,4% 8,1% 7,0% 8,1% 20,4% 7,0%

Fonte de Dados: ISSP (1999)*Calculados a partir do survey ISSP (1999)

Não Soube Sem

Ricos acima de 450 37,8% 47,9% 2,7% 4,8% 2,7% 3,2% 1,1%

87 200 31,6% 39,5% 6,8% 3,4% 4,5% 10,7% 3,4%

5 125 30,3% 40,2% 5,3% 1,5% 5,3% 12,1% 5,3%

2 60 27,6% 28,9% 4,4% 6,2% 5,8% 21,8% 5,3%

100

cia). No entanto, percebe-se também que grande parte das pessoas localizadas na cauda

inferior da distribuição de rendas brasileira não soube ou não quis responder a este item do

questionário (quase 1/3 dos respondentes).

81 Para uma abordagem sobre as opiniões da elite brasileira em relação a aspectos de justiça social, ver Reis (2000).

Page 101: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Tal fato pode subsidiar uma possível interpretação preliminar. Em primeiro lugar, o item

da pes

ue a de fato

existente. Logo, por estes motivos, a desigualdade observada entre os brasileiros mais ricos seria

relativa

No entanto, pretendo mostrar que esta interpretação não é integralmente correta. Quais

seriam as diferenças de renda observadas pelos brasileiros mais ricos no país? Para analisar esta

questão, destaco mais um item do questionário ISSP (1999). Em uma das perguntas, o

entrevistado escolhia, em uma escala de 1 a 10 (base ao topo), a categoria que melhor

representasse sua respectiva localização no ordenamento social. O gráfico abaixo mostra a

distribuição da localização percebida dos 10% brasileiros mais ricos e dos 20% mais pobres nesta

escala8

quisa seria de difícil resposta e aqueles mais preparados educacionalmente souberam

responder melhor à pergunta, apontando com maior freqüência os diagramas A e B, como

aqueles que descreveriam mais fielmente a sociedade brasileira – uma sociedade que de fato é

desigual. Não obstante, poderia existir um desvio de conhecimento elevado entre os mais pobres

da população. Essas pessoas simplesmente não conheceriam a distribuição de renda brasileira e,

por tal motivo, a desigualdade observada entre elas poderia ser menos rigorosa q

mente maior do que aquela entre os mais pobres.

2.

82 Para a construção deste gráfico, agradeço o auxílio de Alinne Veiga.

101

Page 102: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Gráfico 4.3.1 – Brasil: Localização Percebida dos 10% Mais Ricos e dos 20% Mais

Pobres na Escala Social

0 2 4 6 8 10

Kernel density eskdensity v46461

10% mais ricos

Fonte de Dados: ISSP (1999)

0.0

5.1

.15

.2D

ensi

ty

v46461

timate

20% mais pobres

Neste gráfico, tendo em vista a pesquisa do ISSP (1999), os 10% mais ricos no Brasil são

aqueles

o a escala social completa – pois, em caso contrário, se localizariam com maior

coerência à realidade. Neste sentido, a alta desigualdade observada entre os mais ricos poderia

estar associada às diferenças de renda circunscritas, possivelmente, aos décimos superiores da

distribuição de renda brasileira85. Ou seja, apesar da desigualdade observada ser alta entre os

que vivem em domicílios nos quais a renda per capita é superior a R$45083. Os 20% mais

pobres vivem em domicílios com renda per capita inferior a R$6084. No entanto, verifica-se que

os dois grupos de pessoas se localizaram na escala social percebida em grande peso na sua

metade inferior.

O gráfico parece indicar que os mais ricos da população, na verdade, não estariam

observand

83 Considerando os dados da PNAD (2001), estas pessoas estariam localizadas acima do oitavo decil da distribuição de renda brasileira. 84 Na PNAD (2001) estas pessoas estão localizadas de fato nos primeiros dois décimos da distribuição de renda. 85 A cauda superior da distribuição de renda brasileira apresenta de fato grandes diferenças de renda (Barros e Mendonça, 1997).

102

Page 103: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

ricos, tal p o

gráfico abaixo refaz o exercício para o caso norueguês.

os 20% Mais

fico, observa-se que a localização percebida dos noruegueses mais ricos e mais

pobres na escala social é quase oposta àquela encontrada no caso brasileiro. Os dois grupos de

pessoa

percepção de desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres no Brasil. Se, por um lado, uma

ros mais pobres parece desconhecer o ordenamento social no Brasil (embora tal

r

ercepção visual não estaria adequadamente correta à realidade. Como ilustração,

Gráfico 4.3.2 – Noruega: Localização Percebida dos 10% Mais Ricos e d

Pobres na Escala Social .2

.3D

ensi

ty

10% mais ricos

20% mais pobres

0.1

Neste grá

0 2 4 6 8 10v46461

Kernel density estimatekdensity v46461

Fonte de Dados: ISSP (1999)

s se percebem, em geral, na metade superior da escala. No entanto, chamo atenção para o

fato de que os noruegueses mais ricos se localizaram, em média, acima dos mais pobres, uma

situação mais coerente do que a observada entre os entrevistados brasileiros.

Estes fatos podem guardar uma possível fonte de explicação para as diferenças de

parte dos brasilei

esultado, novamente, possa ser associado às dificuldades de interpretação da pergunta da

103

Page 104: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

pesquisa do ISSP 1999), os mais ricos, por outro, parecem não observar o ordenamento correto –

considerando talvez, apenas os décimos superiores da distribuição, onde as diferenças de rendas

são relativamente bastante elevadas.

Alguns fatos estilizados pod ir desta seção. Em primeiro lugar,

parece existir um nível alto de desconhecimento sobre o grau objetivo de desigualdade no Brasil.

A análise acima sugere que parte dos entrevistados brasileiros desconhece a maneira pela qual a

sociedade deste país está realmente ordenada – incluindo os mais ricos, que supostamente teriam

maior acesso à informação e ao conhecimento.

Em segundo lugar, apesar da alta percepção da desigualdade no caso brasileiro, haveria

também níveis elevados de naturalização das diferenças de renda. Pretendo encerrar este capítulo

com a ilustração da tal característica a partir do gráfico abaixo. Neste, selecionei apenas aquelas

pessoas que concordaram totalmente com a questão de que existiriam grandes diferenças de renda

e que e

em ser destacados a part

scolheram ou o diagrama D ou o E como o ideal.

104

Page 105: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Gráfico 4.3.3 – Naturalização e Percepção da Desigualdade de Renda

25,0Indicador da Desigualdade Natura

Considero este gráfico um retrato das contradições encontradas ao longo deste capítulo

em relação às opiniões dos brasileiros. Apesar da alta percepção de desigualdade verificada neste

país e da preferência pela igualdade, diferenças de renda grandes estariam naturalizadas,

principalmente entre os mais ricos86. A comparação com os entrevistados noruegueses torna o

resultado ainda mais claro.

Seria muito difícil destacar conclusões precisas acerca deste tema. No entanto, deixo nesta

seção alguns resultados que oferecem uma indicação de como os brasileiros pensam e

compreendem o seu próprio país - em especial, sobre como os mais ricos e os mais pobres

percebem a desigualdade. Em última instância, creio ser difícil afirmar que os brasileiros

86 Para uma reflexão sofisticada sobre o tema, ver Souza (2000) e Souza (2004). Para este autor, “A desigualdade e, mais importante ainda, a naturalização da desigualdade em países como o Brasil remetem a um processo opaco e pré-reflexivo em que o valor relativo de cada um individualmente e enquanto classe ou fração de classe já foi adrede decidido por mecanismos e esquemas classificatórios que não são perceptíveis na dimensão consciente, seja para os privilegiados, seja para as vítimas de sua lógica. Esse é o ponto central da naturalização da desigualdade” (Souza, 2004; p.29).

0,0

15,0

Ricos 9 8 7 6

5,0

10,0

20,0

5 4 3 2 Pobres

Brasil

Noruega

Fonte de Dados: ISSP (1999)

lizada

105

Page 106: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

conheçam a desig ria difícil

afirm

4.4

a última seção deste capítulo, as opiniões dos brasileiros frente à desigualdade foram

investi

brasileiros parecem desconhecer a distribuição de renda vigente neste país.

ualdade de rendas de fato existente no Brasil. Mais do que isso, se

ar que esta desigualdade seja inaceitável.

Conclusão

Este capítulo serviu como complemento empírico ao corpo central desta dissertação. Não

obstante, por trás deste esforço esteve a intenção de mostrar, em um conjunto selecionado de

países, as diferenças de percepção entre os mais ricos e os mais pobres - no Brasil em especial.

Na seção 4.2, examinaram-se as diferenças de percepção de desigualdade entre as pessoas

mais ricas e as mais pobres em países selecionados. Verificou-se que, em geral, os mais ricos

tendem a considerar menos inadequada a desigualdade existente em seus países e a aceitar

maiores diferenças de remuneração.

N

gadas. Destacaram-se dois pontos relevantes. Em primeiro lugar, a aceitação ou

naturalização das diferenças de renda parece ser um fenômeno patente entre os brasileiros,

observado mesmo entre aquelas pessoas que percebem mais a desigualdade. Em segundo lugar,

embora seja alta, a desigualdade observada parece não se adequar àquela de fato existente. Os

106

Page 107: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

Conclusão

Esta dissertação se propôs enquanto um esforço à compreensão de um tema complexo e

não convencional à teoria econômica. Como objeto de estudo, sugeriu-se a investigação da

te percepção da desigualdade de renda é positivamente relacionada à distância ao

grau de adequação entre duas categorias referenciais, uma positiva e outra normativa.

a

receita metodológica que implica na estimação do grau de adequação ou distância entre aquelas

categor

ões indicaram que a intensidade da percepção individual da

desigualdade de renda varia positivamente em relação ao grau de inadequação entre a

desigua

renda. Acredito que

naturalização e desconhecimento são elementos positivos ao continuísmo de uma desigualdade

reconhecidamente inaceitável.

hipó se na qual a

Para isso, supôs-se que tal percepção é um método de avaliação subjetivo do grau de

desigualdade implementado pelo indivíduo. Assim, por ser um método de avaliação, segue um

ias referenciais, chamadas de desigualdade observada e normativa.

Empiricamente, pôde-se examinar que esta hipótese faz sentido nos países participantes

da pesquisa do ISSP (1999). Tabulaç

ldade observada e a normativa.

Por final, as idéias examinadas nesta dissertação foram investigadas empiricamente para o

caso brasileiro. Alguns fatos estilizados podem ser sugeridos aqui. Dentre eles, chamou atenção o

elevado grau de naturalização das diferenças de renda, assim como o aparente desconhecimento

acerca do modo como esta sociedade está ordenada em termos de

107

Page 108: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE … · Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação ... observam a sua volta e o nível de desigualdade de

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111

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Anexos

Anexo 2.3

Percepção de desigualdade e o teste dos axiomas: uma curta resenha87

A literatura econômica que existe sobre percepção de desigualdade tem como motivação a

investigação de opiniões individuais sobre distribuição de renda e bem-estar através de

dividualizar os juízos de valor na composição de uma medida de desigualdade agregada e de

ividem em duas linhas de pesquisa distintas, que surgiram ao longo dos últimos 30 anos.

o escopo limitado desta dissertação, não apresento em detalhes as metodologias utilizadas.

primeira linha de pesquisas refere-se à estimação empírica de funções individuais de bem-

cordo com categorias de bem-estar pré-fixadas, que variavam, em termos qualitativos de ruim à

mostra. A derivação de um índice de percepção de desigualdade se originou deste contexto89.

questionários e experimentos empíricos – o que representaria, portanto, uma forma de

in

testar os axiomas outrora dados como fundamentais. De modo geral, os trabalhos sobre o tema se

d

Apresento a seguir alguns dos principais exercícios e resultados encontrados. No entanto, devido

a

A

estar88. A partir de questionários, uma amostra de respondentes avaliava intervalos de renda de

a

excelente. Através das respostas, estimava-se uma função de bem-estar para cada indivíduo da

a

87 Baseada principalmente em Amiel (1999) e Amiel e Cowell (1999). O acesso aos trabalhos originais foi dificultado pelo fato de que a maior parte da literatura sobre o tema é composta por textos para discussão. 88 Ver Van Praag (1968). 89 Além de Van Praag (1978), ver também Van Praag (1977).

112

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A segunda linha de experimentos relaciona-se ao teste dos axiomas fundamentais das medidas de

esigualdade. Existem basicamente dois tipos de testes. No primeiro, os respondentes (em geral

universitários) comparam pares de distribuições hipotéticas de renda, escolhendo

quelas mais ou menos desiguais – denomina-se esta abordagem como direta. O segundo tipo de

e indireta. Neste caso, os

spondentes indicavam quais seriam as melhores e piores distribuições, na comparação entre

studantes alemães, uma aceitação menor ao axioma da população do que aquela encontrada por

Amiel e Cowell (1992), assim como um apoio também menor ao princípio das transferências90.

d

estudantes

a

teste se aplica aos axiomas envolvendo bem-estar social – a abordag m

re

pares (substituindo, portanto, a expressão mais ou menos desigual, por melhor ou pior).

Cowell (1985) foi o primeiro a desenvolver a abordagem direta de testes sobre os axiomas,

mostrando que a maioria dos respondentes confirmava o princípio da independência de escala, ou

seja, que adições proporcionais de renda não aumentam a desigualdade. O princípio da

translação, contudo, não recebia tal suporte. Amiel e Cowell (1995) levantaram a hipótese de que

estes tipos de transformação dependeriam do nível de renda total e do formato das distribuições

de renda.

Amiel e Cowell (1992) encontraram pouca aceitação aos princípios da transferência e da

decomposição. Por outro lado comprovaram a validade empírica do princípio de Dalton (ou da

população). Amiel e Cowell (1996) verificaram que o princípio de Pigou-Dalton dependia

especificamente do nível de renda e da posição onde os indivíduos envolvidos nas transferências

se encontravam na distribuição hipotética de renda. Harrison e Seidl (1994a) encontraram, entre

e

90 Citando brevemente os testes da abordagem indireta, McClelland e Rohrbaugh (1978) investigaram o axioma da

pondentes o contestava. Amiel e Cowell (1994) não monotonicidade e verificaram que uma grande parte dos res

113

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Anexo 3.2

11

21

Ranking: Índice de Gini

CanadáEspanha

Austrália

Israel

PortugalEUA

N. Zelândia

Filipinas Chile

11 6 11 16 21

Austria

SuéciaR. Tcheca

6

16

Ranking: Desigualdade Observada

EslováquiaJapão

Noruega

Eslovênia

Bulgária

Alemanha Hungria

LetôniaFrança Polônia

Brasil

Russia

encontraram aprovação aos princípios da decomposição e da transferência, tampouco ao da monotonicidade. Harrison e Seidl (1994b) também rejeitaram os axiomas acima, encontrando sustentação apenas ao princípio do anonimato. Para outras referências sobre esta abordagem, ver Amiel e Cowell (1999), Beckman, Cheng et al (1994) e Bernasconi (1994).

114

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Anexo 3.4.a

Tabela 3.4.1 – Comparação dos níveis de desigualdade percebida entre quatro grupos de

entrevistados (Tamanho da Amostra)

Desigualdade Observada Alta (A, B e C) (1)

Desigualdade Observada Baixa

(D e E) (2)

Desigualdade Observada Alta (A, B e C) (3)

Desigualdade Observada Baixa

(D e E) (4)

Australia 259 62 810 468Canadá 117 25 540 245EUA 234 58 512 271

Desigualdade Normativa Alta Desigualdade Normativa Baixa Diagramas A, B e C Diagramas D e E

N. Zelândia 166 32 661 182

Alemanha 136 45 403 182Austria 178 50 383 324Espanha 165 45 571 236França 494 81 1058 159Noruega 96 31 300 717Portugal 260 46 691 147Suécia 126 51 553 301

Brasil 264 73 1177 119Chile 258 53 996 78

Filipinas 300 159 467 223Israel 174 50 742 200Japão 194 160 487 261

Bulgária 102 3 864 29Eslováquia 139 74 537 182Eslovenia 228 32 727 46Hungria 189 24 810 42Letônia 127 8 895 44Polônia 179 30 613 70Rep. Tcheca 387 74 1128 180Russia 240 24 1108 42Fonte de Dados: ISSP (1999)

115

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Anexo 3.4.b – Regressões por Mínimos Quadrados Ordinários

io complementar, propõe-se o exame das relações entre a desigualdade percebida,

normativa e observada a partir de regressões. Pr étricas mais simples, o

prim os

quadrados ordinários, utilizan mo variável dependente – as

categorias relacionadas ao item sobre percepção da desigualdade: associando o número 1 à

categoria “d por diante, até associar ao

número 5 a catego

Adm a em questão,

já que o m categorias (a diferença

entre a categ uela entre o

núme por trás destas uma

bos, o diagrama

A foi associado ao núm E ser associado ao

núme os de

desigualdade.

Como exercíc

iorizando técnicas econom

eiro resultado que será apresentado a seguir foi estimado por um modelo de mínim

do uma variável categórica ordinal co

iscorda totalmente”, o número 2 à “discorda” e assim

ria “concorda totalmente”.

ite-se que a escolha desta metodologia não é a mais apropriada para o problem

odelo arbitrariamente assume uma distância idêntica entre as

oria representada pelo número 1 e o 2 são tratadas de maneira idêntica àq

ro 4 e o 5, por exemplo) e demanda o pressuposto de que existe

distribuição de probabilidades contínua91.

Dessa forma, os dois regressores relacionados à desigualdade observada e normativa foram

selecionados e transformados também em variáveis categóricas ordinais. Para am

ero 5, o B ao 4 e assim por diante, até o diagrama

ro 1. Dessa forma, supôs-se novamente que as variáveis são crescentes em term

91

A referência está em Greene (1993). Neste contexto, são recomendados modelos econométricos mais sofisticados,

como o logístico multinomial. No entanto, pela dificuldade operacional exigida por esta alternativa, escolheu-se o modelo linear como prioritário.

116

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Como variáveis de controle, foram utilizados os seguintes regressores: gênero (variável binária,

o, 2 = primário incompleto, 3 =

rimário completo, 4 = secundário incompleto, 5 = secundário completo, 6 = universidade

aíses em uma segunda rodada de regressões. Os

sultados seguem na tabela abaixo; as atenções estarão voltadas sobre os sinais dos coeficientes.

homem = 0, mulher = 1), educação (1 = nenhuma educaçã

p

incompleta, 7 = universidade completa), desemprego (empregado = 0, desempregado = 1),

posição política conservadora (simpatizantes de partidos políticos de direita e extrema direita = 1,

outras tendências = 0) e religiosidade (1 = não participa de cultos religiosos, 2 = participa de

cultos religiosos poucas vezes por ano, 3 = algumas vezes por ano, 4 = uma vez ao mês, 5 = duas

ou três vezes ao mês, 6 = uma vez por semana ou mais). Os dados relativos à renda pessoal e

domiciliar per capita não estão disponíveis para a maioria dos países da amostra e, portanto, serão

incorporados à análise apenas para alguns p

re

117

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Tabela 1 Anexo 3.4.b – Regressão por Mínimos Quadrados Ordinários

A partir da tabela anterior, pôde-se verificar que, para a maioria dos países incluídos na análise,

os sinais dos coeficientes dos regressores de desigualdade normativa e observada estão de acordo

com o arcabouço analítico sugerido por esta dissertação. Não obstante, estes coeficientes são

estatisticamente significantes (valores P inferiores a 0.05). As exceções ficaram por conta do

Canadá e, novamente, dos países do Leste Europeu. Além disso, as regressões para Filipinas,

Bulgária e Portugal não apresentaram significância estatística.

Canadá 703 4,09 0,00 0,23 0,00 -0,07 0,13 0,20 0,01 -0,19 0,00 0,36 0,09 -0,16 0,25 0,00 0,90

N. Zelândia 909 3,61 0,00 0,23 0,00 -0,11 0,02 0,14 0,03 -0,09 0,00 0,11 0,54 -0,24 0,00 0,04 0,03

Alemanha 740 4,02 0,00 0,18 0,00 -0,11 0,00 0,20 0,00 -0,11 0,00 0,26 0,10 -0,23 0,00 -0,08 0,00Austria 897 4,76 0,00 0,07 0,01 -0,08 0,03 0,07 0,19 -0,15 0,00 0,02 0,89 -0,15 0,01 0,02 0,30

França 1640 4,67 0,00 0,19 0,00 -0,11 0,00 0,20 0,00 -0,11 0,00 0,05 0,63 -0,51 0,00 -0,04 0,00

Suecia 968 4,12 0,00 0,27 0,00 -0,13 0,00 0,17 0,00 -0,20 0,00 0,20 0,18 -0,01 0,56

Chile 1252 4,17 0,00 0,05 0,02 -0,06 0,01 0,00 0,95 0,02 0,24 0,07 0,39 -0,10 0,11 0,00 0,96

Japão 1009 4,35 0,00 0,20 0,00 -0,04 0,27 0,25 0,00 -0,22 0,00 0,20 0,42 -0,08 0,37 0,02 0,59

Desig. Desig. Posição

N Coef. Sig. Coef. Sig. Coef. Sig. Cf Sig. Cf Sig. Cf Sig. Cf Sig. Cf Sig.

Australia 1251 3,67 0,00 0,18 0,00 -0,09 0,00 -0,04 0,43 -0,05 0,01 0,30 0,00 -0,39 0,00 0,05 0,00

EUA 1004 3,29 0,00 0,20 0,00 -0,10 0,00 0,16 0,01 0,00 0,98 0,08 0,72 -0,32 0,00 0,00 0,92

Espanha 976 4,23 0,00 0,07 0,00 -0,08 0,00 0,03 0,51 -0,02 0,24 0,08 0,38 -0,21 0,00 0,00 0,75

Noruega 1101 4,35 0,00 0,20 0,00 -0,17 0,00 0,18 0,00 -0,13 0,00 0,15 0,53 -0,50 0,00 -0,01 0,65

Brasil 1580 4,77 0,00 0,03 0,04 -0,05 0,00 0,01 0,67 0,02 0,09 -0,12 0,01 -0,13 0,02 -0,01 0,49

Israel 1149 3,90 0,00 0,10 0,00 0,02 0,51 0,00 0,92 0,02 0,47 -0,12 0,25

slováquia 999 4,55 0,00 0,06 0,01 0,01 0,68 0,07 0,13 -0,04 0,02 0,06 0,35 -0,20 0,00 0,00 0,95Eslovênia 900 4,24 0,00 0,08 0,00 0,07 0,01 0,04 0,41 -0,08 0,00 -0,13 0,19 0,07 0,27 0,00 0,78Hungria 1062 3,99 0,00 0,09 0,00 0,00 0,92 0,09 0,04 0,01 0,52 -0,02 0,80 0,04 0,46 0,04 0,01Letônia 1053 3,67 0,00 0,14 0,00 0,00 0,98 0,00 0,97 0,01 0,53 -0,04 0,58 0,07 0,00Polônia 868 4,19 0,00 0,10 0,00 0,01 0,77 0,02 0,79 -0,09 0,00 -0,10 0,27 -0,05 0,53 0,02 0,22Rep. Tcheca 1715 4,56 0,00 0,10 0,00 -0,08 0,00 0,07 0,14 -0,07 0,00 0,09 0,45 -0,30 0,00 -0,01 0,40Russia 955 4,19 0,00 0,12 0,00 0,03 0,27 -0,05 0,17 -0,04 0,55 -0,03 0,54 0,01 0,69

Fonte de Dados: ISSP (1999)Nota: Filipinas, Portugal e Bulgária apresentaram valores F de significação superiores a 0,05.

Observada NormativaGêneroIntercep Educ

PolíticaDesemp Relig

E

118

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Os resultados relativos aos outros regressores podem ser listados em linhas gerais: (i) as mulheres

oi

92.

e os desempregados tendem a perceber mais a desigualdade; (ii) as pessoas com maior educação

tendem a percebê-la com menor intensidade; (iii) assim como as pessoas com posições políticas

mais conservadoras; (iv) os resultados relacionados à religião, em geral, não foram

estatisticamente significativos.

A seguir apresento um novo modelo, também por mínimos quadrados ordinários, que inclui a

variável renda domiciliar per capita entre os regressores do modelo anterior. Esta variável f

construída utilizando-se os dados sobre renda da própria pesquisa do ISSP (1999) e agrupada em

cinco quintos da distribuição (em ordem crescente de renda). Os países analisados são o Brasil,

EUA, Noruega, Suécia, Alemanha, Japão e República Tcheca. Os resultados seguem abaixo

Tabela 2 Anexo 3.4.b – Regressão por Mínimos Quadrados Ordinários (incluindo renda)

Coef. Sig. Coef. Sig. Coef. Sig. Cf Sig. Cf Sig. Cf Sig. Cf Sig. Cf S

Educ Posição Política

Desemp RendaDesig. Observada

Desig. Normativa

GêneroIntercep

Brasil 4,70 0,00 0,03 0,06 -0,05 0,01 0,03 0,35 0,01 0,43 -0,08 0,08 -0,13 0,03 0,02 0,15

Rep. Tcheca 4,69 0,00 0,11 0,00 -0,11 0,01 0,07 0,12 -0,05 0,02 0,00 0,99 -0,28 0,00 -0,06 0,00

Fonte de Dados: ISSP (1999)

ig.

EUA 3,32 0,00 0,19 0,00 -0,11 0,02 0,15 0,03 0,01 0,83 0,15 0,51 -0,32 0,00 0,01 0,57

Alemanha 4,23 0,00 0,14 0,00 -0,13 0,01 0,18 0,01 -0,11 0,00 0,27 0,13 -0,19 0,04 -0,07 0,01

Noruega 4,36 0,00 0,25 0,00 -0,14 0,03 0,16 0,00 -0,10 0,00 0,11 0,73 -0,48 0,00 -0,10 0,00

Suecia 4,62 0,00 0,25 0,00 -0,19 0,00 0,17 0,01 -0,19 0,00 0,01 0,97 nd nd -0,12 0,00

Japão 4,44 0,00 0,22 0,00 -0,05 0,30 0,27 0,00 -0,20 0,00 0,20 0,44 -0,07 0,40 -0,07 0,01

Nota: nd = item não disponível na pesquisa.

92 A escolha dos países respeitou a disponibilidade de dados. A variável sobre religiosidade foi excluída desta análise.

119

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Verifica-se que a inclusão da variável de renda domiciliar per capita não altera os resultados

anteriores. Ademais, observa-se que a percepção da desigualdade varia negativamente com a

nda. Ou seja, os mais ricos tendem a perceber a desigualdade com menor intensidade do que os

re

mais pobres. Devo voltar a chamar atenção para as limitações deste modelo e para a cautela na

interpretação de seus resultados. Não obstante, o poder de explicação destas regressões foi

limitado (R2, em geral em torno de 0,10); verifica-se também que o coeficiente de intercepto é

invariavelmente significativo e alto para todos os países.

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Anexo 3.4.c

Tabela 3.4.2 – Valores médios para o indicador de desigualdade percebida por categorias de

inadequação distributiva (Tamanho da Amostra)

Países 0 1 2 3 4 N

Australia 0,21 0,41 0,26 0,10 0,01 1599Canada 0,16 0,39 0,23 0,17 0,04 927EUA 0,22 0,35 0,25 0,15 0,03 1075N. Zelândia 0,13 0,38 0,31 0,17 0,02 1041

Grau de Inadequação ou distância entre a Desigualdade Observada e a Normativa (em % de N)

Alemanha 0,22 0,41 0,10 0,01 766Austria 0,30 0,41 1 0,08 0,01 935Espanha 0,17 0,40 0,27 0,14 0,02 1017

Noruega 0,43 0,42 0,11 0,04 0,01 1144

Israel 0,09 0,34 0,33 0,20 0,04 1166

Bulgária 0,03 0,06 0,22 0,50 0,19 998

Hungria 0,02 0,14 0,24 0,39 0,21 10651 0,16 1074

Polônia 0,07 0,21 0,23 0,37 0,13 892Rep. Tcheca 0,06 0,33 0,32 0,24 0,05 1769Russia 0,03 0,12 0,23 0,43 0,19 1414Fonte de dados: ISSP (1999)

0,260,2

França 0,09 0,42 0,32 0,15 0,02 1792

Portugal 0,14 0,31 0,32 0,20 0,03 1144Suecia 0,17 0,42 0,26 0,12 0,03 1031

Brasil 0,06 0,17 0,32 0,34 0,10 1633Chile 0,04 0,23 0,39 0,26 0,09 1385

Filipinas 0,19 0,30 0,21 0,22 0,07 1149

Japão 0,19 0,45 0,26 0,09 0,01 1102

Eslováquia 0,10 0,37 0,24 0,24 0,05 932Eslovênia 0,03 0,18 0,28 0,36 0,16 1033

Letônia 0,02 0,10 0,22 0,5

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Anexo 3.4.d

Gráfico 3.4.2 - Valores médios para o grau de inadequação distributiva, segundo categorias de

percepção da desigualdade (Tamanho da Amostra).

Países Concorda Totalmente e Concorda

N

Australia 1142 1611Canada 646 947EUA 786 1188N. Zelândia 782 1069

Alemanha 468 500Austria 851 986Espanha 1069 1197França 1624 1871Noruega 906 1250Portugal 1087 1133Suecia 805 1132

Brasil 1866 1953Chile 1356 1470

Israel 1079 1201Jap

Bulgária 1044 1078Eslováquia 1007 1075Eslovênia 899 988Hungria 1118 1199Letônia 1056 1092Polônia 949 1063Rep. Tcheca 1599 1822Russia 1601 1671Fonte de dados: ISSP (1999)

3213512824734446

327

87114

122

3468898136

11422370

Outros

469301402287

Filipinas 779 1193

ão 845 1222

414

377

122

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Anexo 4.2.a

Decis de renda dom rtir do ISSP (1999).

Anexo 4.3.a

s 20%

iciliar per capita em valores correntes, calculados a pa

Gráfico 4.3.1 e 2 – Brasil e Noruega: Localização Percebida dos 10% Mais Ricos e do

Mais Pobres na escala social (em %)

rasil Suecia Noruega Alemanha EUA Japao Rep. Checa Bulgaria

38 5000 73 750 3750 700 3375 2560 7000 95 1000 6500 1000 4080 4277 8000 112 1224 9000 1250 4800 50100 9683 130 1375 11250 1500 5150 60125 11000 150 1600 13750 1750 5500 72167 12500 175 1843 16875 2125 6000 82200 14000 200 2150 22500 2500 6667 100300 16800 250 2500 27500 3167 7667 125450 20000 300 3270 37500 4000 10000 200 (1999) e IBGE.

Decis PNAD B Russia Slovakia2001

10 42 150 325020 69 233 387430 100 300 440040 134 360 500050 174 400 540060 230 450 600070 301 533 650080 433 683 746790 750 1000 10000Fonte de Dados: ISSP

Posição Social Percebida: Ricos 9 8 7 6 5 4 3 2 PobresNão

Souberam Responder

Posição Social Real

Brasil 20% mais pobres 0,01 0,03 0,04 0,04 0,07 0,08 0,11 0,16 0,14 0,23 0,09Brasil 10% mais ricos 0,02 0,01 0,01 0,12 0,20 0,11 0,20 0,16 0,06 0,10 0,02

Noruega 20% mais pobres 0,00 0,01 0,07 0,18 0,36 0,17 0,09 0,08 0,02 0,02 0,00Noruega 10% mais ricos 0,01 0,06 0,28 0,32 0,19 0,06 0,05 0,03 0,01 0,00 0,00

Fonte de Dados: ISSP (1999)

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