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Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas “Amor e Esperança” - Ano 5 - nº 44 - Agosto/2004 Distribuição Gratuita Eurípedes Barsanulfo, o Apóstolo da Caridade Cantinho do Verso em Prosa - Página 11 Drama Paterno Nesta seção buscamos o entendimento em prosa de versos dos autores à Luz da Doutrina Espírita Família Reconciliar-se com os adversários. Página 14 Kardec em Estudo Não creiam em todos os espíritos. Página 15 Página 3

Distribuição Gratuita Eurípedes Barsanulfo, · por acontecimentos marcantes, como médium de cura e orientador espiritual, daquela sua amada Sacramen-to. Eurípedes, desde pequenino,

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Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas “Amor e Esperança” - Ano 5 - nº 44 - Agosto/2004 Distribuição Gratuita

Eurípedes Barsanulfo,o Apóstolo da Caridade

Cantinho do Verso em Prosa - Página 11

Drama Paterno

Nesta seção buscamos o entendimento em prosa de versos dos autores à Luz da

Doutrina Espírita

Família

Reconciliar-se com osadversários.

Página 14

Kardec em Estudo

Não creiam emtodos os espíritos.

Página 15Página 3

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editorialEditorial

Publicação mensaldoutrinária-espírita

Ano V – nº 44 – Agosto/2004Órgão divulgador do Núcleo de

Estudos Espíritas Amor e EsperançaCNPJ: 03.880.975/0001-40

CCM: 39.737

Seareiro é uma publicação mensal, desti-nada a expandir a divulgação da doutrinaespírita e manter o intercâmbio entre osinteressados em âmbito mundial. Ninguémestá autorizado a arrecadar materiais emnosso nome a qualquer título. Conceitosemitidos nos artigos assinados refletem aopinião de seu respectivo autor. Todasas matérias podem ser reproduzidas desdeque citada a fonte.

Direção e RedaçãoRua Turmalinas, 56

Jardim DoniniDiadema – SP – Brasil

CEP: 09920-500

Endereço para correspondênciaCaixa Postal, 42Diadema – SP

CEP: 09910-970Telefone: (11) 4044-1563

com EloísaE-mail: [email protected]

Conselho EditorialRoberto de Menezes Patrício

Wilson AdolphoVanda Novickas

Ruth Correia Souza SoaresReinaldo Salles Licatti

Fátima Maria GambaroniRosângela Neves de Araújo

Geni Maria da Silva

Jornalista ResponsávelEliana Baptista do Norte

MTb 27.433

DiagramaçãoMarcos GalhardiTel: 4067-3378

Arte e ImpressãoVan Moorsel, Andrade & Cia Ltda

Rua Souza Caldas, 343 – BrásSão Paulo – SP

CNPJ: 61.089.868/0001-02Tel.: (11) 6097-5700

Tiragem8.000 exemplares

Distribuição Gratuita

Está sendo divulgada uma mensagem em alguns agrupa-mentos espíritas, de um espírito chamado Plutão, ser de Orion, recebida mediunicamente, dizendo que um portal (via Inter-net) foi aberto de abril até julho de 2004, para que todo mal saísse da Terra.

Vamos tentar analisar: por mais evoluído o espírito, ele não poderia transmitir este tipo de informação, mesmo porque não existe passe de mágica que eliminaria todo o mal da Terra em apenas quatro meses.

Queremos alertar que este tipo de mensagem prolixa, redun-dante, está sendo divulgada como verdadeira e, quem estuda o Espiritismo não pode aceitá-la porque a evolução é lenta, pois sabemos que para todo o mal ser eliminado de nosso planeta será necessário, não a transformação da Humanidade, mas de cada indivíduo em particular (ainda detemos muitos erros e vícios milenares de outras reencarnações).

Assim encontramos no final da Introdução de O Livro dos Espíritos que a verdadeira Doutrina Espírita está no ensina-mento dado pelos Espíritos, e os conhecimentos que esse ensi-namento comporta são muito graves para serem adquiridos de outro modo, de que por um estudo sério e continuado.

Kardec nos recomenda estudar sempre e no O Livro dos Médiuns, Capítulo XXIV, da Identidade dos Espíritos, item 267, parágrafo 8°, ele nos diz que reconhecemos os Espíri-tos levianos, pela facilidade com que predizem o futuro e precisam fatos materiais que de que não é dado aos Espíri-tos ter o conhecimento. Os bons Espíritos fazem com que as coisas futuras sejam pressentidas, quando esse pressentimento convenha; nunca, porém, determinam datas. A previsão de qualquer acontecimento para uma época determinada é indício de mistificação.

E no parágrafo 9, deste mesmo item, que os Espíritos Supe-riores se exprimem com simplicidade, sem prolixidade. Têm o estilo conciso, sem exclusão da poesia das idéias e das ex-pressões, claro, inteligível a todos, sem demandar esforço para serem compreendidos. Têm a arte de dizer muitas coisas em poucas palavras, porque cada palavra é empregada com exa-tidão.

Os Espíritos inferiores ou falsos sábios, ocultam sob o em-polamento ou a ênfase e o vazio de suas idéias. Usam de uma linguagem pretensiosa, ridícula ou obscura, à força, para pare-cerem profunda.

Portanto, recomendamos aos nossos leitores que estudem as obras básicas de Kardec, Emmanuel, André Luiz e tantos outros Espíritos Superiores que se utilizaram da mediunidade do nosso Chico Xavier, e ainda as do nosso Roque Jacintho, Carlos A. Baccelli, J.Herculano Pires, para citar alguns dos melhores autores espíritas.

3Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas Amor e Esperança

grandes pioneirosGrandes Pioneiros

Eurípedes BarsanulfoFoi no dia

primeiro de maio de 1880, na cidade de Sacramento, estado de Minas Gerais, que reencarna quem seria, no futuro, o grande e respeitadís-simo médium Eurí-pedes Barsanulfo.

O lar do senhor Hermógenes Ernesto de Araújo e de dona Jerônima Pereira de Almeida, ficou

repleto de luzes, pois Eurípedes seria uma pessoa de nobres sentimentos, e que seria também o responsável por acontecimentos marcantes, como médium de cura e orientador espiritual, daquela sua amada Sacramen-to.

Eurípedes, desde pequenino, mostrou sua capaci-dade no aprendizado. Sua inteligência e dedicação ao estudo e ao trabalho, o dignificaram diante dos pro-fessores, que o admirava pela precocidade em cor-responder ao alto índice de compreensão, fosse onde fosse chamado para resolver questões, que até mesmo o mais inteligente dos alunos não saberia solucionar.

Foi ele criado num lar cristão, pois seus pais eram criaturas fervorosas e tementes a Deus, portanto, se não eram ricos materialmente, eram ricos da felicidade e da paz, sempre presentes em quaisquer circunstâncias.

Eurípedes compreendia a situação apertada do orça-mento doméstico, e por isso, muito jovem trabalhou, pro-curando de alguma forma suprir e ajudar no que pudesse fazer, pois sua pouca idade não lhe oferecia campo para um emprego mais arrojado. Como era muito estudioso, dava aulas de arrimo aos alunos mais atrasados. Quan-do havia falta de professores ele também os substituía, pois eram poucos aqueles que lecionavam na época,

principalmente em zonas rurais.Dessa forma, como não poderia deixar de ser, ele

forma-se no magistério. Era muito querido pelos co-legas, pois não acumulava compromissos, para poder atender a todos que o procuravam para aulas e troca de idéias, sobre qualquer assunto, pois ele sempre in-dicava um caminho a ser seguido.

Em janeiro de 1902, juntamente com seus antigos professores, como João Gomes Vieira de Melo, Iná-cio Martins de Melo, José Martins Borges e outros colegas, fundou o Liceu Sacramentano que atendia o curso primário e secundário. Durante cinco anos foi o responsável por toda parte administrativa, e quando ne-cessário lecionava todas as matérias do curso.

Além do trabalho constante do Liceu, ele ainda re-digiu o jornal “Gazeta de Sacramento”, que o levou a tornar-se jornalista. Escrevia artigos sobre economia, política, direito público, métodos educacionais, litera-tura, filosofia e outros.

Como sua cultura era sempre crescente, e muito inspirado pelo plano espiritual (sua mediunidade ainda não havia se evidenciado), passou a ter pro-fundos conhecimentos em Medicina e Direito. Dis-sertava sobre astronomia, ciências físicas e naturais, matemática e literatura. Em todas estas disciplinas ele palestrava sem ter os respectivos diplomas de ensino superior.

Tudo nele era simplicidade. Todos esses conheci-mentos nunca o levaram a ser uma criatura vaidosa, e com isto, as pessoas que passavam a conviver com ele, vendo-o tão sábio e tão amigo, principalmente dos carentes a quem sempre tinha uma palavra de estímulo, uma ajuda material ou simplesmente um aperto de mão, o tornaram ídolo de seus conterrâneos.

Isto incomodava Eurípedes. Essa postura de ser apontado como “santo”, o fêz aceitar o cargo de Vereador. Queria mostrar, dessa forma, que era um homem igual a todos. Pensava que em sendo político, poderia mostrar que como ser pensante poderia errar,

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como todos os humanos. E pelo espaço de seis anos exerceu a vereança.

Conseguiu traz-er para Sacramento a luz elétrica, bonde, água encanada e a construção de um cemitério público, não só para sua cidade, como para a povoação de Conquista.

Não adiantava Eurípedes não que-rer se salientar na co-letividade. Sua visão era profunda, portanto, tudo que fazia era de honestidade e honradez

de caráter, e após ter servido à munici-palidade afastou-se,

pois sentiu ele que seu caminho seria outro. Apesar de ter sido criado na religião católica, e presidente da Conferência de São Vicente de Paulo e muito contrito nessa fé, começou a se indagar sobre a questão reli-giosa. Assim tomou conhecimento de curas realiza-das no campo do Espiritismo. Aprofundou-se, queria encontrar a Verdade Cristã. Pesquisou e como alguns de seus parentes, moradores numa pequena cidade, Santa Maria, pregavam e praticavam o Espiritismo, Eurípedes para lá se locomoveu a fim de investigar os fatos.

O Centro Espírita Fé e Amor era bastante conhe-cido, pois era muito antigo na região, e principalmente pelas curas ali realizadas.

Comparecendo às reuniões, ele observou os fenô-menos de tipitologia, comunicações de alto teor filosó-fico, além das curas já mencionadas. Ficou por algum tempo estudando, observando e até trocando idéias com os espíritos comunicantes. Sentia algo, de um grande ideal, acordar dentro de si. Chegara a hora, Deus estava despertando-o pelo verdadeiro motivo de sua reencarnação.

Voltou para Sacramento, com todas as obras de Kardec, que o fêz abraçar a doutrina de corpo e alma. Era o ano de 1905, ano em que Eurípedes Barsanulfo realmente renasceu. Daí para frente ele projetou-se cada vez mais no ideal Cristão.

Fundou o Grupo Espírita “Esperança e Caridade”,

no qual foi presidente durante doze anos e sete me-ses. Depois, nas dependências desse mesmo grupo, fez surgir em 2 de Abril de 1907 o magnífico Colé-gio “Allan Kardec”, que na época matriculou mais de duzentos alunos. Este colégio teve a direção de Eurí-pedes, durante toda sua vida, pois só o deixou oito dias antes de seu desencarne.

Ali foram acolhidos pobres, órfãos de ambos os sexos. Recebiam instruções gratuitamente e todas as quartas-feiras ele pregava o Evangelho de Jesus in-centivando a todos os alunos a serem simples, e terem a Caridade como tema principal de suas vidas. E to-dos não só o ouviam, como também presenciavam as atitudes de Eurípedes em seu dia a dia, onde pregava e praticava.

Esse colégio funciona até hoje em Sacramento, muito visitado pelos espíritas, pois seus parentes, como irmãos e tios, continuam sua obra, como também nas reuniões do Centro Espírita “Esperança e Caridade”.

Como grande defensor e orador da Doutrina Es-pírita buscava esclarecer a todas as indagações, mes-mo as maldosas, onde tentavam também envolvê-lo em questões polêmicas, como a reencarnação, ponto de muita divergência entre Eurípedes e os padres, principalmente o Padre Feliciano Zague, que exigiu um debate na praça pública. Com isto, dizia ele, des-mascararia Eurípedes Barsanulfo diante do povo.

O debate foi aceito, e Eurípedes com toda segurança e serenidade, respondeu a todos os insultos, defendendo

a Doutrina e aclarando o ponto de vista reen-carnatório, sem deixar dúvidas sobre o futuro. Foi aplaudidíssimo pelo povo, que o carregou pelas ruas da cidade. Até mesmo os padres Pe-dro Santa Cruz e Julião Nunes, que assistiam a tudo, parabenizaram Eurípedes.

Ele sempre de-fendia também a tese, muito discutida na época pela igreja, sobre a qual Eurípedes dizia: “Deus

não é Jesus e Jesus não é Deus”. Escreveu vários ar-tigos longuíssimos, para o jornal “A Alavanca”, sobre

Jerônima Pereira de Almeida (D. Meca); Mãe de EurípedesBarsanulfo, aos 75 anos.

Sr. Hermógenes Ernesto deAraújo (Sr. Mogico), pai deEurípedes.

5Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas Amor e Esperança

esse tema, que causava muita confusão na mente do povo.

Com tudo isto, Eurípedes começou a desenvolver as faculdades mediúnicas, que já eram latentes em seu espírito. Começaram a surgir as curas, realizadas pelos passes magnéticos, que se aliavam aos fluídos dos Espíritos Superiores que o assistia. Receitas avia-das pelas suas mãos, através dos médicos espirituais. A audiência, a vidência, a psicofonia e a psicografia também eram comuns em reuniões ou orientações, para os que o procuravam em seus desequilíbrios. Para todos Eurípedes tinha sempre uma palavra, uma mensagem. Nada disto, porém, afetou seu interior. Continuou sendo simples, alegre e afeito à paz, sem melindres ou mágoas com aqueles que o ofendia ou repudiava.

Ele conseguiu abrir uma farmácia, para poder atender a todos os doentes, que não tinham meios para conseguir o tratamento com os remédios, aviados pelas receitas homeopáticas. Todos eram atendidos gratuita-mente.

Eurípedes tinha muita facilidade para desdo-brar-se. Costumava sair todos os dias pelos arredores da cidade, afim de socorrer aqueles que não podiam sair da cama, curava os maleitosos, os verminosos e os de outros males maiores, curava com passes e com a lei-tura do Evangelho. Quando não podia ir pessoalmente, seu espírito saía de seu corpo dormente e ia onde fosse chamado. Isto era muito comum acontecer e provado por muitos que o descrevia corretamente.

Sabe-se que Eurípedes Barsanulfo em uma de suas últimas reencarnações, fora médico na França. Por isso a facilidade em diagnosticar doenças e promover curas, que quando ele entrava em transe mediúnico, o médico espiritual Doutor Bezerra de Menezes é que atuava nas curas e até em cirurgias, comprovadas pe-los próprios médicos encarnados. E, quando em des-dobramento, era o próprio Eurípedes quem curava ou operava as pessoas, seus pacientes.

Certa feita, Eurípedes fora procurado por um me-nino de nome Jerônimo, que conhecia e queria muito bem ao professor Eurípedes, como ele o chamava. Mas este foi à procura do “professor”, para que ele fosse rapidamente à casa de sua vizinha, dona Vitorina de Je-sus, que segundo sua filha, estava passando muito mal e toda ensangüentada. O garoto, contando a Eurípedes o sucedido, disse que perguntara à filha se sua mãe fora atacada por alguém e se sofrera facadas, e a me-

nina respondeu que não, e que ele fosse rapidamente buscar Eurípedes, por isso ele ali estava, apressando-o para ir ver o caso. Mas Eurípedes, enquanto o garoto falava, já havia visto o caso e já estava lhe entregando o pacote de remédios, para que ela tomasse.

O menino, meio espantado falou:

— Mas o senhor não a viu, e já está com os remé-dios na mão?

E Eurípedes:— É que enquanto você falava, eu fui até lá. Pode

levar os remédios, que ela sabe como tomá-los. O menino ainda assustado, perguntou:— O que ela tem? Foi facada mesmo?— Não — respondeu Eurípedes — um dia quando

você crescer, eu contarei o que foi...A senhora em questão, sofrera uma hemorragia

uterina.Para Eurípedes, o desdobramento era muito co-

mum. Fêz ele muitos partos dessa forma. Conta-se que um trabalhador rural, chegando em casa, constatou que sua esposa passava mal. Ela estava grávida de oito me-ses, e parecia que o bebê estava para nascer. Sem saber o que fazer, ele pede para que ela ficasse em preces, pois ele iria buscar o médium Eurípedes. Já ouvira falar dele, quase todos os roceiros tinham algo a contar sobre ele. E acalmando a esposa, partiu a cavalo.

Em suas tarefas normais, Eurípedes escutou mental-mente o pedido de socorro. Deixando o corpo, acom-panha sob o fluído vindo de longe. Chegando ao casebre depara com a senhora banhada em suores, misturados às lágrimas, rogando a Jesus amparasse o esposo em busca do Santo Eurípedes (era assim conhecido entre os pobres).

Centro Espírita Fé e Amor, de Santa Maria, fundado em 28 de Agosto de 1900.

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Com a ajuda de Jesus, Eurípedes consegue trazer a linda menina, que se demorasse mais algumas horas, teria desencarnado ainda no ventre materno, levando a mãe também, pois as contrações já evidenciavam o encaixamento da cabeça para nascer, só que o cordão umbilical estava enrolado em seu pescocinho.

A senhora, comovida, beijou as mãos do médium, que colocava em seus braços a filhinha recém-nascida.

Após horas, a esposa voltava para o lar desesperado, pois não conseguira encontrar Eurípedes. Mas este lhe aparece no caminho e com espanto, recebe a notícia de que sua filhinha acabara de nascer, e que sua esposa estava fora de perigo. E Eurípedes desaparece como por encanto. Profundamente comovido, ele ajoelha-se e procura beijar o chão, por onde pensava que Eurí-pedes passara. Realmente, dizia consigo mesmo, ele é um Santo!!!

Houve uma ocasião que o pai de Eurípedes, o senhor Hermógenes (seu Mogico, como era conhecido), ficou um tanto irritado com a paciência e a confiança que seu filho dera ao caso de uma senhora que, aflita, buscava o auxílio do médium.

Ela precisava pagar o dentista para sua filha. A conta fora fixada em 120 mil réis (valor da época) quantia exata que Eurípedes acabara de receber, por um serviço prestado em escrituração de uma casa, propriedade de seu pai (Casa Mogico).

Sem vacilar, Eurípedes de imediato passa a quantia para as mãos da senhora, que agradece-lhe sobrema-neira de ter-lhe tirado de um grande apuro finan-

ceiro. Seu Mogico, que tudo assis-tia, repreende-o severamente, pois achava que aquilo lhe parecera um assalto, uma verdadeira exploração.

Compreendendo a atitude de seu velho pai, ele fala brandamente:

— Meu pai, acredito em Deus que toda criatura que nos chega a pedir algo, seja por quaisquer motivos, de-veremos sentir que sempre, essa cria-tura, tem grandes necessidades, seja também quaisquer que lhe motivem o desequilíbrio, pois podendo ser a sua necessidade material, porém, sem dúvida alguma também é espiri-tual. Deixemos que Deus cuide do

assunto, pois o nosso dever é atender.Como médium missionário, em desempenho de

um grande trabalho na Seara do Cristo, recebia Eurí-pedes, como médium psicográfico, mensagens dos espíritos iluminados como: Maria de Nazaré, Maria Madalena, João Batista, Lutero, Marcos, Lucas, João Lamartine, Fénelon, Sócrates, Platão, Victor Hugo e outros da equipe do Cristo, para ajudá-lo a fortalecer a implantação do Espiritismo, o Consolador Prometido, no Brasil, pois este deverá ser o “Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”.

Outro fato marcante da mediunidade de Eurípedes aconteceu no “Colégio Allan Kardec”. Ele iniciava suas aulas sobre o Evangelho. Antes orava junto com os alu-nos a prece do “Pai Nosso”. Sem que se percebesse, a voz de Eurípedes tomava uma excepcional ressonância, que passou a ser ouvida por toda Sacramento, era como se um microfone de alto alcance tivesse sido ligado.

Dizia ele:— Tomem nota. Vi no salão nobre de Versailles, o

tratado de paz!Em seguida, deu o nome de todos que assinaram

esse tratado e a hora exata, do momento tão espera-do.

Todos, após o acontecimento, passaram a esperar os jornais, para que fosse confirmada a notícia via mediúnica. Dias depois, os jornais traziam a vera-cidade do fato, com a assinatura do tratado, com os nomes mencionados e a hora exata, dita por Eurí-pedes. Alegria para muitos e tristeza para aqueles que esperavam dá-lo como louco, visionário, aproveitador do povo ingênuo e, principalmente, por tentar induzir

O Colégio Allan Kardec e sede do Grupo Espírita Esperança e Caridade, ambos fundados por Eurípedes (foto atual).

7Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas Amor e Esperança

os alunos do Colégio Allan Kardec ao fanatismo dog-mático.

A vida desse venerável médium foi, assim, sempre pautada daqueles que por inveja, ciúme e maledicên-cia, queriam vê-lo cair em contradições. Mas com sua fé inabalável e força de vontade de vencer sempre pelo Bem, e pelo Amor aos semelhantes, conseguia reverter os quadros da maldade, pois ele era conhe-cido como o “Apóstolo do Triângulo Mineiro” em sua terra, e o Apóstolo da Mediunidade, ou da Caridade, para muitos. De qualquer forma, foi ele iluminado

pelo Cristo, para reencarnar em época tão difícil para a Doutrina Espírita.

Naturalmente, para chegar a esse nível de conheci-mento cristão, teve ele muitas reencarnações, muitas experiências, por vezes dolorosíssimas.

Em seu livro “A Grande Espera”, pelo espírito de Lúcios, psicografado por Dona Corina Novelino, refere-se sobre o personagem Marcos, como sendo uma das reencarnações de Eurípedes. Diz que o jo-vem Marcos seria um seguidor do Cristo, e por esse motivo é fl agelado e levado à morte na fogueira. Dizia Chico Xavier, que esse mesmo espírito reencarnou no segundo século da era cristã e que foi aluno de Inácio de Antióquia e divulgador da Boa Nova. Foi sacrifi -cado e morto na Palestina. No tempo de Constantino reencarnou novamente, como Rufo. Este era um es-cravo cristão de Roma e que viveu nas Gálias. Foi morto por seguir Jesus. Rufo está no romance “Ave Cristo”, escrito por Emmanuel, psicografado por Chi-

co Xavier.Iniciava-se o mês de outubro de 1918. O senhor

Homilton Wilson, irmão de Eurípedes, ouvira dele o seguinte relato:

— Homilton, por favor, comunique aos nossos fa-miliares, que um espírito amigo informou-me que uma grande pedra do céu cairá sobre o edifício do Colégio Allan Kardec, no dia primeiro de novembro de 1918.

Eurípedes conta ao irmão, que ele pensa ser a data do seu desencarne.

Homilton relata o assunto a seus pais. Muito preo-cupados eles conversam com o fi lho Eurípedes, que serenamente completa seu pensamento, dizendo:

— Preparem-se, pois o espírito amigo disse-me que muitos irão chorar no dia primeiro de novembro, pois uma pessoa muito amada em Sacramento irá desencar-nar, mas que não era para ninguém se lamentar, pois essa pessoa faz muita falta no espaço, muito mais do que na Terra.

Os pais não queriam aceitar a idéia do desprendi-mento de Eurípedes, pois era ainda muito jovem, 38 anos, e estava com a saúde perfeita.

Eurípedes ainda trabalhou. Fêz discurso na Câmara Municipal, exatamente no dia 12, convidado que foi para saudar o novo Juiz de Direito de Sacramento, o Doutor Humberto Brandi. E sua última aula, no Colé-gio Allan Kardec, foi no dia 23 de outubro.

Por esta data começara uma terrível gripe a espalhar-se pelo mundo. Diziam ser uma gripe pneumônica. Começou na Espanha, por isso teve o nome de “gripe espanhola”. Era um vírus poderosíssi-mo, caminhando por ataques bacterianos, ocasionando um colapso circulatório, e num prazo de vinte e quatro horas as pessoas contaminadas morriam. Foi devasta-dor esse período, no mundo inteiro.

“Seria o mal necessário para alertar as criaturas da necessidade de se vigiar e amar o semelhante, fosse quem fosse, para que a instrução se fi zesse digna nos caminhos humanos” — ressaltava Eurípedes, enquan-to cuidava dos doentes.

Eurípedes trabalhava intensamente nesses dias fatídicos, receitando e preparando remédios, na base de sulfamidas, quinino e aspirina.

Por esse espaço de tempo, muitos foram os que procuravam ajudar Eurípedes, na farmácia e no aten-dimento aos doentes, que passou a atender não só os moradores de Sacramento, como o povo dos arredores e de outras cidades, que ali aportavam, buscando o

Professores e alunos do Colégio Allan Kardec (sede antiga), em 1913. Os mestres, assentados da esq. para dir., são: Or-calino de Oliveira, Eurípedes Barsanulfo, Maria Gonçalves e Watersides Willon (irmão de Eurípedes).

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médium para curá-los. Porém, Eurípedes também começou a sentir os sintomas da gripe. A febre altís-sima, sua pele começou a roxear e o cansaço o fazia ofegante, mas ele não parava, apesar de toda a famí-lia e amigos quererem impedi-lo, insistindo para que fosse repousar. Eurípedes não aceitava, dizia não ter tempo e que este era escasso para tanto trabalho a de-senvolver na farmácia.

E na noite de 31 de outubro de 1918, vagarosa-mente falando, ele chamou seu amigo e assistente farmacêutico Odilon José Ferreira, e pedindo-lhe que aviasse uma receita, ao estender a mão, foi atingido por uma vertigem. Odilon pedindo socorro aos outros, levaram-no ao leito. Eurípedes entrava em coma, mas assim mesmo abrindo os olhos e olhando fi xamente para sua mãe, que estava ao seu lado, disse:

— Mãe, se precisar feche a farmácia, mas não per-mita que o Colégio feche. Procure ajuda para que ele continue no trabalho de instruir os jovens para a vida. Quero tam-bém ser enterrado em um caixão sim-ples, com sepultura rasa e vistam-me com as roupas mais velhas que tenho, para que as mais novas sejam dis-tribuídas para quem não as tem.

Sua mãe cho-rando intensamente beijou-lhe as faces concordando com seus pedidos. Eram seis horas da manhã do dia primeiro de novembro de 1918. Seu desprendimento foi assistido por uma plêiade de Espíritos Superiores, tendo o Dr. Bezerra de Menezes e Maria de Nazaré o acolhido em preces, para o retorno à Pátria Espiritual. Terminara a missão de Eurípedes na Terra, mas continua na espiri-tualidade.

Até hoje sabemos do amparo que o espírito ben-feitor de Eurípedes Barsanulfo presta àqueles que lhe pedem socorro, principalmente em casos complicados de partos, de cirurgias difíceis etc.

Conta-se também que nos idos de 1941, precisa-

mente no fi nal do ano, dia 31 de dezembro, uma senhora de nome Elvira, viu sua neta já desencarna-da de nome Gracieta, entrar na sala sorridente acompanhada pelo espírito de Eurípedes, o qual esten-dendo-lhe a mão, entrega-lhe um cartão de boas-festas. Dona Elvira Cândida Borges agradeceu profundamente a dupla visita e guardou o cartão, que logo após apre-sentou-o ao repórter do Jornal “Lavoura do Comércio”, que editou o acontecido.

Sabe-se também que a primeira mensagem psicogra-fada por Eurípedes, foi pelo médium Mariano da Cunha Júnior, seu tio, que também foi o responsável da aceita-ção de Eurípedes, para converter-se ao espiritismo. In-felizmente essa mensagem perdeu-se com o decorrer do tempo. Mas Eurípedes continuou depois a nos trazer suas mensagens através do médium Chico Xavier.

E Hilário Silva, através da mediunidade de Chico Xavier, nos traz o belo encontro de Eurípedes com o

Cristo. Neste en-contro poderemos perceber que real-mente ele já esti-vera com o Mestre, antes das suas re-encarnações, como já transcrevemos anteriormente. Essa narrativa de Hilário Silva está no livro “A Vida Escreve”, psicografado por Chico Xavier, editado pela F.E.B.

Passemos a ela:

VISÃO DE EURÍPEDES

Começara Eurípedes Barsanulfo, o após-tolo da mediunidade, em Sacramento, no Estado de Minas Gerais, a observar-se fora do corpo físico, em admirável desdobramento, quando, certa feita, à noite, viu a si próprio em prodigiosa volitação. Em-bora inquieto, como que arrastado pela vontade de alguém num torvelinho de amor, subia, subia...

Subia sempre.Queria parar, e descer, reavendo o veículo carnal,

Chico Xavier em visita ao Colégio Allan Kardec.

9Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas Amor e Esperança

mas não conseguia. Braços intangíveis tutelavam-lhe a sublime excursão. Respirava outro ambiente. Enverga-va forma leve, respirando num oceano de ar mais leve ainda... Viajou, viajou, à maneira de pássaro teleguiado, até que se reconheceu em campina verdejante. Repa-rava na formosa paisagem, quando, não longe, avistou um homem que meditava, envolvido por doce luz.

Como que magnetizado pelo desconhecido, aproxi-mou-se...

Houve, porém, um momento, em que estacou, trêmulo.

Algo lhe dizia no íntimo para que não avançasse mais...

E num deslumbramento de júbilo, reconheceu-se na presença do Cristo.

Baixou a cabeça, esmagado pela honra imprevista, e fi cou em silêncio, sentindo-se como intruso, incapaz de voltar ou seguir diante.

Recordou as lições do Cristianismo, os templos do mundo, as homenagens prestadas ao Senhor, na litera-tura e nas artes, e a mensagem d’Ele a ecoar entre os homens, no curso de quase vinte séculos...

Ofuscado pela grandeza do momento, começou a chorar...

Grossas lágrimas banhavam-lhe o rosto, quando adquiriu coragem e ergueu os olhos, humilde.

Viu, porém, que Jesus também chorava...Traspassado de súbito sofrimento, por ver-lhe o

pranto, desejou fazer algo que pudesse reconfortar o Amigo Sublime... Afagar-lhe as mãos ou estirar-se à maneira de um cão leal aos seus pés...

Mas estava como que chumbado ao solo estra-nho...

Recordou, no entanto, os tormentos do Cristo, a se perpetuarem nas criaturas que até hoje, na Terra, lhe atiram incompreensão e sarcasmo...

Nessa linha de pensamento, não se conteve. Abriu a boca e falou, suplicante:

— Senhor, porque choras?O interpelado não respondeu.Mas desejando certifi car-se de que era ouvido,

Eurípedes reiterou:— Choras pelos descrentes do mundo?Enlevado, o missionário de Sacramento notou que

o Cristo lhe correspondia agora ao olhar. E, após um instante de atenção, respondeu em voz dulcíssima:

— Não, meu fi lho, não sofro pelos descrentes aos quais devemos amor. Choro por todos os que conhe-cem o Evangelho, mas não o praticam...

Eurípedes não saberia descrever o que se passou então.

Como se caísse em profunda sombra, ante a dor que a resposta lhe trouxera, desceu, desceu...

Bibliografi a:

♦ Eurípedes Barsanulfo, O Apóstolo da Caridade, Jorge Rizzini, Editora Esp. Correio Fraterno do ABC, 9ª Edição, 2004. ♦ Grandes Espíritas do Brasil, Zeus Wantuil, FEB, 1ª Edição.♦ Eurípedes Barsanulfo, o Missionário da Mediunidade, Homero Moraes Bar- ros, Luz no Lar, 1ª Edição.♦ Eurípedes o Homem e a Missão, Corina Novelino, IDE, 5ª Edição, 1983.

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E acordou no corpo de carne.Era madrugada.Levantou-se e não mais dormiu.E desde aquele dia, sem comunicar a ninguém a

divina revelação que lhe vibrava na consciência, en-tregou-se aos necessitados e aos doentes, sem repouso sequer de um dia, servindo até à morte.

Eloisa

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Pai, a Luz do Filhocanal aberto

Canal Aberto

Deus, nosso Pai CelestialDe Misericórdia InfinitaPermite que tenhamos no ideal:Um pai como oportunidade bendita

Essa criatura que nos amaE que nós amamos tambémNos educa, e a nós emanaUm amor vindo do Mais Além

A eternidade não nos separaMas nos une cada vez maisPara o trabalho que a vida nos prepara:Levar a consolação e muita paz.

O pai ajuda e ampara seu filhoNa caminhada em direção à LuzTrazendo das páginas do EvangelhoOs exemplos e os ensinos de Jesus

O Mestre Divino nos ensinouQue a paternidade abençoadaÉ a que reconhece o filho que deixouNa viagem de ontem pela estrada

Estrada bendita que nos convidaA conviver com a humanidadeE que o pai nos ampara na vidaPara aprendermos em qualquer idade

Na caminhada pela existênciaProcuramos seguir seus passosE com o seu exemplo e assistênciaSuperamos a todos os percalços

Meu abençoado pai desta existênciaAjudou-me a crescer com JesusCom seus exemplos e paciênciaMe ama; e ora para eu alcançar a Luz

Nesta reencarnação me auxiliouA enobrecer meus sentimentosE ao Mais Alto também rogouQue eu não perdesse os meus momentos

A Luz se apresentou imortal Para o nosso coração tambémQuando retornou o coração paternalPara a vida no Mais Além

Pai, título de luz e de amorCriatura que eleva e enobreceNos auxilia na alegria e na dorDele a gente nunca se esquece

Estaremos juntos no trabalho renovadorCom as bênçãos do Nosso Mestre JesusCom o coração repleto de amorE de gratidão aos que me deram a Luz.

Roberto Patrício

11Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas Amor e Esperança

cantinho do verso em prosaCantinho do Verso em Prosa

Era um homem de bem, dono de um lar feliz;Recebera da vida tudo o quanto quis:Uma esposa distinta, uma vultosa herança,Um filho, — um filho só que lhe trouxera à vidaUma nora queridaE um neto que lhe abria um mundo de esperança.

Tudo era céu azul, no entanto, um dia, a morte, Sem o menor aviso, Num tremendo improviso,Arrebatou-lhe a esposa nobre e forte.E, desde então,Ele sentiu sangrar-lhe o coração.

Tangido pela dor,Chamou o filho em confidência,O filho em que encontrara o apoio da existência,E entregou-lhe em confiança,De modo comovente,

Tudo o que se lhe erguia em propriedadeDocumentadamente:As lojas da cidade,A formosa vivendaNa qual fizera o próprio lar,A casa grande da fazenda,Terras, benfeitorias,As ações em diversas companhiasE os créditos em bancos...Depois, falou ao filho em termos francos:— Filho, sem tua mãe já não tenho mais vida...Tudo o que é nosso é teu...Sou alguém a morrer com tarefa cumprida.Rogo que me reserves tão-somente Um quarto independente,Em nossa própria casaOnde eu possa viverNa saudade terrível que me arrasa...

O moço agradeceu, sorriu e, após uma semana,Deu ao pai, afinalUm estreito recanto, oculto no quintal,Por nova moradia;Um telheiro a cair que ele devia

Atingir através de porta lateral.O pai não se queixou, mas um tanto humilhado,Instalou-se no quarto, insalubre e isolado.Em seguida notou, admirado e atento,O filho transformado,A demonstrarGrave mudança de comportamento.

A mansão familiar perdera a paz antiga,Noite a noite, era festa, entre jogos de azar,Insultos e baldões, ostentação e briga,Estranhas situaçõesQue o triste genitor não podia evitar.

Começou para ele, alma limpa e sincera, Um modo de viver que não quisera.Quando caía a noite, ei-lo em longas passadas...Ia em busca de antigos companheiros,Para escutar, de novo, histórias relembradasDe inesquecíveis parelheirosSeguindo cães velozes nas caçadas...Um cálice de aniz, em dado instante,Tornava a maioria mais falante;Ele sóbrio, porém, só bebia água pura,Água simples usada sem mistura...Tarde, voltava ele, o passo lento,Não desejava ver o filho amado,Em tresloucado movimento.

Nunca bebera alcoólicos e adendos,Entretanto, os vizinhosPara ele inventaramCasos injuriosos e escarninhos.O filho já tratava o pai por beberrãoNa base de calúnia e palavrão.

Certa manhã, o moço orgulhoso e excitado,Vara o quarto do pai, a fim de repreendê-lo...Ele está debruçadoSobre mesa pequena,A revelar enorme desmazelo.

Grita-lhe o filho irado:— Chega, velho infeliz,Estou certo de tudo o que se diz,Já conheço está cena:

Caminhos do AmorMaria DoloresFrancisco Cândido XavierEditora C.E.U.1983

Drama Paterno

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Bêbado até agora!...Vou removê-lo sem demora,Não o mais o quero aqui,Nada posso fazer, nem respondo por si...More onde quiser, com qualquer companhia,Nas espeluncas da periferia.Arranje, agora mesmo, a sua mala e suma!...A minha tolerância está no fim,Não quero vê-lo, em parte alguma,Afaste-se de mim...De hoje em diante, fuja de meu lado,Não mais aceito um pai embriagado...Levante-se, converse, venho ouvi-loNa nova condição de bêbado de asilo!...

No entanto, o interpeladoContinuava debruçadoSobre mesa pequena...

Arremessa-lhe o moço uma palavra obscena...Logo após, ostentando falso brio,Toca no genitorE vê que ele se encontra enrijecido e frio...Só então o rapaz sob espanto indizívelDesfere um grito horrível...

Chorando em desespero e desconforto,O filho descobriu que o pai estava morto.

Quantos lares na Terra aparentam alegria e felici-dade.

Quantos são aquinhoados materialmente, para for-marem uma bela família, construída com bases sólidas na fé, seja ela qual for, mas não deixando que só os bens materiais, sejam as principais fontes de aparente paz.

Desdobra-se a família em filhos, noras, genros e ne-tos.

O tempo passa. Chega o dia da partida do pai ou da mãe. A família começa a se dividir. As visitas, antes as-síduas, passam a ter longos intervalos, principalmente se a partida tenha sido do lado maternal, pois é este lado que mais procura a união familiar.

Os filhos se ausentam e passam aos seus rebentos o exemplo de não mais se importar, com a presença de quem ficou; ninguém lembra se a dor da saudade do ente que partiu, causou algum desconsolo e chagas no coração do chefe de família.

Sem mais nada, percebendo que os bens transitórios já não representam valor à vida, os pais designam aos filhos tudo o que tem, pedindo apenas um canto para continuar a viver.

Estes que só receberam, e nenhum esforço fizeram

para obter os bens materiais, de muito má vontade, dão para aquele que lhe deu a vida, um canto reservado a entulhos no fundo do quintal.

E geralmente, essas mansões se transformam em salões constantes de festas, de jogos, de bebidas etc. E os velhos continuam lá, no fundo do quintal. Se ficam doentes ou acamados, se estão asseados, se comem ou não, não importa. Mesmo morando a poucos passos, na bela casa, ninguém irá vê-los. Para quê? Para ter trabalho em removê-los para o hospital ou acompanha-los a médicos?

E esses pais solitários começam a procurar nas ruas ou nos passeios, alguma forma de vida. Mesmo em lugares indevidos, os que têm firme o pensamento no bem, não se contaminam, apenas meditam no que poderiam ter feito, para não estarem tão sós.

E a maledicência entre os que observam a vida do semelhante, passam a censurar e acusar esses velhos pais, que para preencher as horas, sentam nos bancos de jardins, com os olhares perdidos no vai e vem do que por eles transitam.

Os falatórios são constantes, pois acham os vizinhos que melhor seriam internarem esses velhos em asilos, do que viverem nessas condições.

Os filhos afetados em seus orgulhos e vaidades fe-ridas, repreendem duramente essas criaturas. Muitas vezes já os encontram desanimados, cabisbaixos, de-pressivos.

Exaltam-se, esses filhos, chamando-os de inúteis e incompreensíveis, por não corresponderem aos “cui-dados”, em não querê-los a misturar-se com a vida so-cial da família.

E os velhos pais continuam ali, debruçados em suas dores, relembrando o passado distante e a pergunta “onde foi que erramos?”

Mas os moços, achando-se em plena razão con-tinuam a esbravejar em palavras ofensivas, deixando claro o empecilho que esses pais se tornaram em suas vidas.

Chega, porém, um dia, em que esses velhos já não levantam mais as cabeças. Os filhos os vêm rijos e frios. Seus braços não se mexem, e embora o desespero, e quem sabe o arrependimento, descobrem que aqueles velhos inúteis e embaraçosos, finalmente entregam seus espíritos a Deus.

Jorram muitas lágrimas dos olhos desses filhos equivocados, pois com certeza “no amanhã”, eles tam-bém envelhecerão e o drama se repetirá.

Eloisa

13Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas Amor e Esperança

Ouvimos constantemente: “Mãe é uma só!”. Buscamos então entender quantos pais fazem parte

de nossa vida.Lembramos de imediato aquele paizinho carinhoso,

cujo abraço nos separa das maio-res guerras. Aquele paizinho que com seu amor, nos ensina os caminhos sinuosos de nossa vida e os caminhos de nossas vitórias, que conhecemos tanto.

Pensemos então em nosso primeiro Pai. Deus, nosso cria-dor, que nos fez participar de sua maior obra: o universo.

Embelezou nossos dias com a natureza e deu-nos o sol. Suas árvores, fornecendo os mais deliciosos frutos e em suas sombras, recolhermos o néctar da paz. Teceu as mais belas flores, para que coloris-sem nossos olhos.

E suas águas?!! Não bastasse sua importância, preparou-nos surpresas em seus riachos, cascatas, rios, mares, chuvas e tantas outras maravilhas. Cobriu o céu de prata através da lua e colocou pequenos cristais, para envolver nossas noites.

Como Pai amoroso, deu-nos um corpo carnal, para proteger as mais finas partículas de nosso corpo eté-reo. Para manter esse corpo carnal sempre sadio, deu-nos os mais ricos e diversificados alimentos.

Pensou também em nossa solidão, concedendo-nos a oportunidade de partilharmos com seres à nossa semelhança e, confiando em sua obra, concedeu-nos a oportunidade de procriarmos seus filhos tão amados.

Quando percebeu que estávamos seguindo caminhos equivocados, pede a Jesus que viesse em nosso socor-ro.

Jesus torna-se nosso Pai. O Cristo toma os nossos erros como seus, junta-se

a nós, orienta-nos, dá seu testemunho de amor e sim-plicidade. Prova o poder do seu Pai, ensina-nos a orar e o caminho correto em direção à felicidade eterna.

E, em obediência ao Pai, retorna à Ele, mas com a responsabilidade de acompanhar e recolher até o último de seus filhos. Confia que estaremos juntos.

Para que não nos sentíssemos in-seguros, manda-nos o Consolador, que se torna o nosso Pai de sabedoria, complementando e esclarecendo as lições que ainda não nos era per-mitido conhecer. Este cobre-nos com seu conhecimento e protegendo-nos, aguarda enquanto coloquemos em prática os ensinamentos que nos dará a paz e a verdadeira felicidade, quan-do da chamada de retorno ao Templo de Deus.

Assim, vamos reconhecendo como somos privilegiados na concessão de

tantos pais de magnífica grandeza.Lembramos neste momento: Somos os bons filhos

que esperam nossos pais?Abracemos os nossos pais com o nosso carinho,

amor e agradecimento, por tudo que recebemos e que ainda não conseguimos vivenciar em sua total gran-deza, e que onde estiverem, possam continuar nos perdoando, amando e protegendo.

Vanda

tema atualTema Atual

Quantos Pais?

Reuniões: 2ª, 4ª e 5ª às 20:00 h 3ª e 6ª às 15:00 h

Tratamento Espiritual: 2ª às 19:45 h 6ª às 14:45 h

Núcleo de E s t u d o s Espír i tas

AMOR eESPERANÇA

Rua Turmalinas, 56 - Jardim Donini Diadema - SP

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familiaFamília

Reconciliar-se com os AdversáriosConcilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás

no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira alguma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil. Mateus, capítulo 5, versículos 25 e 26.

Quando lemos o trecho do Evangelho citado acima, achamos que dirige-se a pessoas que cultivam ódios doentios, perseguições ferrenhas e desequilibradas, mas ela foi recomendada por Jesus até para as pequenas con-tendas do dia a dia.

Se atentarmos para o nosso modo de ser e de tratar o nosso semelhante, chegaremos à conclusão que, por onde passamos, vamos deixando um rastro de pequenos desentendimentos que, se não corrigidos, poderão co-locar as nossas vítimas na posição dos adversários que Jesus mencionou.

Quase sempre os grandes desentendimentos ou ini-mizades, iniciaram-se por pequenas “alfinetadas” que não fazemos questão de corrigir ou, no caso, pedir des-culpas e diminuir os rancores.

Observemos a natureza do corpo humano. Quando ficamos nervosos ou agitados, há o ressecamento das mucosas, que pode gerar uma dor de estômago e, se não tratada, transforma-se em uma gastrite e que final-mente, se continuarmos na mesma atitude de descaso, surgir uma úlcera que deverá sofrer uma intervenção drástica que é a cirurgia.

No nosso comportamento dá-se do mesmo jeito.Hoje provocamos uma contrariedade ao nosso com-

panheiro e não notamos. Amanhã conseguiremos irritá-lo e depois partiremos para a discussão nervosa e instalaremos o quadro de mais um inimigo. Em todas estas fases, temos a oportunidade de utilizar um eficien-te remédio que é o respeito ao próximo, pedindo perdão aos que nos rodeiam e que são as nossas vítimas, cor-rigindo os nossos erros e vigiando para não errarmos mais.

Caso deixemos esta doença progredir, transforman-do-se na úlcera da alma, Deus, como Médico das Al-mas, utilizar-se-á de uma intervenção drástica: reúne os inimigos em uma mesma família para que eles possam curar-se através do entendimento.

Hoje vemos muitas discussões entre familiares.

Pais e filhos que não se entendem, irmãos que não se falam, cônjuges que só trocam monossílabos. Alguns dizem que é melhor cada um ir para um lado e nunca mais se verem, mas, se examinarmos estas situações pela ótica da reencarnação, veremos que, enquanto não houver o perdão, não haverá afastamento.

Hoje nascemos como irmãos e não trocamos uma palavra, de tanto ódio que temos um do outro.

Amanhã nasceremos como pais e filhos, para aprendermos a amar um ao outro, mas, quando adoles-cente e adultos, as brigas retornam.

No futuro, renasceremos e assumiremos o matrimônio, tendo que dividir a mesma cama com o inimigo de ontem.

Se mesmo assim não conseguirmos superar o ódio, começaremos nascendo como gêmeos para, desde a gestação, conviver com aquele que necessitamos amar e, se mesmo assim não houver o entendimento, chegar-se-á ao extremo de gêmeos xipófagos.

Todo esse mecanismo é utilizado por Deus para fazer nascer o amor, através do perdão.

O ódio amarra as criaturas umas às outras, como vi-mos nos exemplos acima, já o amor liberta.

Reflitamos na nossa condição dentro de nossa famí-lia atual.

Estamos respeitando aquele que divide o mesmo teto conosco?

Podemos acusar os nossos familiares?Será que não provocamos a discórdia em outras re-

encarnações e hoje somos cobrados pelo amor que ne-gamos no passado?

Perdoemos enquanto Deus nos dá a chance de es-tarmos reencarnados junto aos nossos credores, porque, se deixarmos para o futuro, mais sofrimento estaremos amontoando dentro de nosso Espírito.

Jesus foi o exemplo do perdão. Mesmo sendo en-tregue aos guardas por Judas, após a crucificação Ele foi buscá-lo, perdoando-o para que ele pudesse liber-tar-se da culpa.

Se somos vítimas, perdoemos.Se somos algozes, procuremos nossas vítimas para

pedir perdão.Jesus estará sempre a fortalecer o Espírito daquele

que procura redimir-se.Wilson

15Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas Amor e Esperança

Quando nos referimos a falsos profetas, não esta-mos só falando das criaturas que convivem diariamente conosco no mundo dos encarnados, os adivinhos, os supostos líderes religiosos e muitos outros que tentam nos seduzir através de fatos maravilhosos, fenômenos e milagres; que fogem à lei da natureza ou que a ciência não comprova.

Um estudo mais profundo das leis divinas trazem luz à questão.

O verdadeiro profeta se prova pelo efeito moral, que não é qualquer um que pode produzi-lo.

A criatura que tenta explorar os fenômenos mediúnicos em proveito próprio, em se fazendo passar por Deus, pelo próprio Cristo e outros, não vão muito longe, pois elas mesmas se contradizem cometendo atos que mostram as suas verdadeiras origens, que se prova pela falta de qualidades morais.

O Espiritismo nos revela outras categorias de fal-sos cristos e falsos profetas que não se encontram en-tre nós encarnados, mas também entre os desencarna-dos.

São criaturas que quando encarnadas usavam a in-teligência para enganar, explorar e iludir os semelhantes, tirando disso proveito próprio, continuando com este

kardec em estudoKardec em Estudo

Não creiam em todos os espíritosinstinto e atuação no plano invisível.

Muitos acreditam que só pelo fato da criatura desencarnar, ela muda de personalidade. Uma pessoa orgulhosa, prepotente e ambiciosa, após ter desencarna-do, não se modifica e continua exatamente agindo como quando estava no corpo físico, utilizando as intuições e influenciações para que muitos encarnados se ajustem a eles, por terem as mesmas inclinações inferiores.

Por isso o Evangelho nos alerta para que não creiamos em todos os espíritos, mas certifiquem-se de que são de Deus.

Assim como a ciência humana nos mostra as leis do mundo material, o Espiritismo nos revela as leis universais que regem as relações entre o mundo cor-poral e o espiritual, todas regidas por uma lei maior: A Lei do Amor.

Os espíritos superiores nos alertam para que nos lembremos de que cada criatura traz sob sua cabeça, mas sobretudo no que faz, o sinal de sua grandeza ou de sua inferioridade espiritual.

Ruth

“Amados, não acrediteis em todos os espíritos, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. (João, Epístola I, capítulo 4, versículo 1).

O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo XXI, itens 6 e 7 ”.

livro em focoLivro em Foco

Roque Jacintho, com sua linguagem esclarecedora e precisa, nos traz nesta obra o entendimento maior da con-tinuidade da missão de Kardec, o Codificador do Espiritismo, que nos trouxe o Cristianismo Redivivo, e as obras de Emmanuel, na psicografia de Francisco Cândido Xavier. Nos mostra uma visão evolutiva, desde os tempos remotos até a atualidade, fazendo com que nossa alma se banhe nas luzes imortais e benditas das páginas que nos foram legadas por Kardec, e as que nos são proporcionadas por Emmanuel, para sentirmos que, através de ambos, Jesus cresce em nosso mundo íntimo, semelhante a benção silenciosa de um raio de sol à superfície de um pântano infecto.

Para que examinemos Emmanuel para compreendermos Kardec, e estudemos Kardec, para identificarmos as pérolas de Emmanuel.

Um livro que devemos não apenas ler, mas estudá-lo.

Kardec e EmmanuelKardec e EmmanuelRoque JacinthoEditora Luz no Lar80 páginas

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