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Thiago Bernardi Vieira DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA E COOCORRÊNCIA EM PEIXES DE RIACHOS Orientador: Prof. Dr. Paulo De Marco Júnior GOIÂNIA - GO FEVEREIRO 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E EVOLUÇÃO

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Thiago Bernardi Vieira

DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA E COOCORRÊNCIA EM PEIXES

DE RIACHOS

Orientador: Prof. Dr. Paulo De Marco

Júnior

GOIÂNIA - GO

FEVEREIRO – 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E EVOLUÇÃO

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TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAR AS TESES E

DISSERTAÇÕES ELETRÔNICAS (TEDE) NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG

Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Goiás (UFG) a

disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD/UFG),

sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o documento conforme

permissões assinaladas abaixo, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de

divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data.

1. Identificação do material bibliográfico: [ ] Dissertação [X] Tese

2. Identificação da Tese ou Dissertação

Autor (a): Thiago Bernardi Vieira

E-mail: [email protected]

Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? [X]Sim [ ] Não

Vínculo empregatício do autor

Agência de fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior Sigla: CAPES

País: Brasil UF:GO CNPJ:

Título: Distribuição da riqueza e coocorrência em peixes de riachos

Palavras-chave: 1. Água Energia. 2. GWR. 3. Cerrado. 4. Metacomunidade. 5. Partição de Variância.

Título em outra língua: Species richness and co-ocurrence of stream's fishes

Palavras-chave em outra língua: 1. Water - Energy 2. GWR 3. Cerrado 4. Metacommunity 5. Variance

Partition

Área de concentração: Ecologia

Data defesa: (dd/mm/aaaa) 03/03/2015

Programa de Pós-Graduação: Ecologia e evolução

Orientador (a): Prof. Dr. Paulo De Marco Junior

E-mail: [email protected]

3. Informações de acesso ao documento:

Liberação para disponibilização?1 [X] total [ ] parcial

Em caso de disponibilização parcial, assinale as permissões:

[ ] Capítulos. Especifique: __________________________________________________

[ ] Outras restrições: _____________________________________________________

Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o envio do(s)

arquivo(s) em formato digital PDF ou DOC da tese ou dissertação.

O Sistema da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações garante aos autores, que os arquivos

contendo eletronicamente as teses e ou dissertações, antes de sua disponibilização, receberão

procedimentos de segurança, criptografia (para não permitir cópia e extração de conteúdo,

permitindo apenas impressão fraca) usando o padrão do Acrobat.

________________________________________ Data: ____ / ____ / _____

Assinatura do (a) autor (a)

1 Em caso de restrição, esta poderá ser mantida por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste

prazo suscita justificativa junto à coordenação do curso. Todo resumo e metadados ficarão sempre

disponibilizados.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E EVOLUÇÃO

Thiago Bernardi Vieira

DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA E COOCORRÊNCIA EM PEIXES

DE RIACHOS

Orientador: Prof. Dr. Paulo De Marco

Júnior

Tese apresentada à Universidade Federal

de Goiás, como parte das exigências do

Programa de Pós-graduação em Ecologia e

Evolução para obtenção do título de

Doutor.

GOIÂNIA - GO

FEVEREIRO – 2015

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IV

Ficha catalográfica elaborada automaticamente

com os dados fornecidos pelo(a) autor(a), sob orientação do Sibi/UFG.

Bernardi Vieira, Thiago

Distribuição da riqueza e coocorrência em peixes de riachos

[manuscrito] / Thiago Bernardi Vieira. - 2015.

9, 137 f.

Orientador: Prof. Dr. Paulo De Marco Junior.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Goiás, Instituto de

Ciências Biológicas (ICB), Programa de Pós-Graduação em Ecologia e

Evolução, Goiânia, 2015.

Bibliografia. Anexos.

Inclui mapas, fotografias, símbolos, gráfico, tabelas.

1. Água Energia. 2. GWR. 3. Cerrado. 4. Metacomunidade. 5. Partição de

Variância. I. De Marco Junior, Paulo, orient. II. Título.

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Dedicatória

Esta tese, juntamente com a minha carreira profissional, dedico a cinco pessoas, que se

me permitirem dizer, são os pilares de minha vida. Primeiramente dedico a minha mãe, Leila

Maria Bernardi Vieira e a meu pai, Luiz Antônio Vieira. Estes dois formam os pilares centrais

de minha vida e a permeiam de tal forma que é impossível dissocia – lós. Em seguida dedico

minhas conquistas à Monik Oprea, que aceitou um graduando confuso e petulante como

estagiário e o transformou em pesquisador (se me for permitido a outorga deste título). A quarta

pessoa a quem dedico minha carreira profissional é ao Professo Rogério Pereira Bastos, que me

mostrou o que é ser um pesquisador, professor e ser humano... espero ter compreendido bem.

Por fim, mas não menos importante, dedico à amiga Karina Dias da Silva, que me ensinou a ser

gente e me deu a mão quando até eu mesmo virei as costas para mim. Espero nunca desapontar

estas pessoas.

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Hypostomus sp fotografado em um riacho do município de Alto Paraiso de Goiás, GO.

“You Know Nothing Jon Snow” Ygritte (A

Clash of Kings – A Song of Ice and Fire

George R. R. Martin, 1998)

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Agradecimentos

Primeiramente agradeço à Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior - CAPES pela bolsa concedida durante os quatro anos de doutoramento.

Agradeço à Universidade Federal de Goiás – UFG e ao laboratório do professor Paulo

De Marco Júnior por terem me acolhido e cedido o espaço físico e a infraestrutura

necessária ao desenvolvimento de minha tese.

Agradeço a Carla Simone Pavanelli, Lilian Casatti, Renato Romero, Welber

Senteio Smith, Evanilde Benedito-Cecilio, Rosana Mazzoni, Jorge Iván Sánchez

Botero, Danielle Sequeira Garcez, Sergio Maia Queiroz Lima, Paulo dos Santos

Pompeu, Carlos Sérgio Agostinho, Luciano Fogaça de Assis Montag, Jansen Zuanon,

Pedro De Podestà Uchôa de Aquino, Mauricio Cetra, Francisco Leonardo Tejerina

Garro, Luiz Fernando Duboc, Ruanny Casarim Correâ, María Angélica Pérez Mayorga,

Gabriel Lourenço Brejão, Nadayca Thayane Bonani Mateussi, Míriam Aparecida de

Castro, Rafael Pereira Leitão, Fernando Pereira de Mendonça e a Renata Frederico que

disponibilizaram os bancos de dados, fruto de trabalho duro a um doutorando

desconhecido. Certamente sem vocês esse trabalho teria sido inviável. Sei que o

agradecimento maior será quando esses capítulos virarem publicações, estou

trabalhando duro nisso e espero suprir e superar a suas expectativas.

Na língua superior, falada entre os grandes pistoleiros dos baronatos no mundo

médio, existe uma palavra que ao ser traduzida para língua inferior é entendida como

destino. Esta palavra é Ka. Essa simples palavra é capaz de definir uma vida e ao redor

dela muitos ditados foram construídos. Dois deles me acompanham até hoje. “Ka is a

wheel” e “Ka is like a wind”. Uma tradução livre do primeiro ditado seria que o Ka é

como uma roda e parafraseando Roland Deschain de Gilead, ela gira. O segundo, por

sua vez, seria que o Ka é como o vento, e novamente roubando uma fala de Roland

Deschain de Gilead, seus planos resistirão à ele tanto quanto um celeiro à um ciclone.

Nessas duas frases encontro muito do que passei neste tempo de doutoramento, muitos

foram os altos e baixos e muitos foram os planos, apesar de perfeitamente arquitetados,

desfeitos. Entenda, não sou supersticioso, não acredito em movimentos cósmicos ou

mesmo em predestinação... mas não ignoro a existência do Ka, seja lá como ele se

manifeste. Assim, tenho de agradecer a todas as pessoas que estiveram comigo durante

o girar da roda do Ka, a todos os amigos do laboratório e aos que não são do

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laboratório, sei que não vou lembrar de citar todos, então já peço desculpas

antecipadamente.

Agradeço aos amigos de casa\laboratório\república\trabalho e muitas outras

barras.... Karina, Leandro, Leandro, Tatiane, Carmen, Carioca (vulgo Nessão), Leticia,

Renata e Fernanda por tornarem a estadia em Goiânia mais agradável do que qualquer

um poderia fazer. Agradeço ao meu orientador Professor Paulo De Marco Júnior, por ter

me guiado durante esse tortuoso percurso de aprendizagem, espero que ele tenha ficado

tão satisfeito com o “término” dessa etapa quanto eu estou. Agradeço em especial ao

Paulo por nunca ter sido condescendente comigo, essa atitude me fez decidir continuar a

trilhar esse caminho em lugar de desistir. Me fez ver que eu sou capaz de envergar e

depois voltar ao topo e mais alto ainda. Agradeço aos cafés que tomamos no

laboratório, aos puxões de orelha e as conversas diversas que tivemos, espero que um

dia eu possa ser um profissional tão competente e humano quanto o meu orientador.

Claro que falar de café e não lembrar do professor Rogério Bastos é impossível. A ele

tenho de agradecer a todo o conhecimento, profissional, burocrático e pessoal que me

apresentou e a todas as oportunidades que me deu. Quando eu crescer gostaria de ser um

profissional e uma pessoa assim como Professor Rogério é. A estes mestres, eu devoto

minha admiração e meus pedidos de parcerias, para a vida acadêmica futura.

Aqui abro um novo parágrafo para agradecer um suporte durante um período

obscuro de tela azul... Nesse período tenho de agradecer ao Cristiano, Karina, Paulo,

Rogério e Karen. Cada um me ajudou ao seu jeito mas, se tivesse de particionar a

variância dessas ajudas todas dariam 100%.

Neste novo parágrafo enterro minha tela azul e com um kit completo de upgrade

agradeço a Paola. Temos andado na mesma trilha a pouco tempo, mas nesse tempo ela

tem sido uma excelente e agradável companhia, muito mais do que um dia eu sonhei em

ter e, digo até, merecer. Obrigado por ser uma companheira, revisora e amiga. Obrigado

por ser quem e como você é ...

Ao amigo Cristiano relembro os momentos de discussões sobre a abstração,

centauros, contatos, motores elétricos e a combustão, capacitores, resistores,

embreagens, gráficos de potência, vida, morte e dor. Que a segunda metade de nossa

amizade se inicie logo. Agradeço ao Lenadro Juen que acreditou em um aluno de

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mestrado e o ajudou a se tornar um aluno um pouco mais conhecedor de estatitica.

Lembrar de amigos e não falar da Ka, é impossível... poderia falar páginas aqui, mas me

reservo a simplicidade de um simples, porém não fraco, obrigado por ser quem é e por

ser minha amiga. A estes dois devoto minha eterna amizade.

Aos meus pais, Luiz Antônio Vieira e Leila Maria Bernardi Vieira, juntamente

com minhas avós, Alaíde Binotte Vieira e Jaci Cetto Bernardi, e meu tio José

Guilherme Bernardi, eu separo um agradecimento especial pelo apoio incondicional em

todas as decisões, mesmo que alguma delas não tenham sido bem tomadas. Aproveito e

peço desculpas pela minha ausência nesse tempo, essas páginas são fruto dessa ausência

e espero que tenham valido... Nesta seção, família, tenho de agradecer a Monik, que foi

quem deu início a todo esse processo ainda na graduação e me ajudou em muitas coisas,

tanto pessoais quanto profissionais. Uma pessoa que admiro desde sempre e que guardo

em um lugar especial em minha vida.

Obrigado a todos e deixemos a roda e o vento do Ka agir!

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Sumário Resumo Geral .............................................................................................................................. 1

Introdução Geral ......................................................................................................................... 2

Objetivos Gerais .......................................................................................................................... 5

Literatura Citada ........................................................................................................................ 6

MULTIMODELOS NA EXPLICAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA DE

ESPÉCIES DE PEIXES DE RIACHOS ................................................................................... 9

Resumo ....................................................................................................................................... 10

Palavras Chaves: Água-Energia, Evapotranspiração, Heterogeneidade Climática, Hipótese

Energética, Produtividade Primária, Teoria Neutra. ................................................................... 10

Introdução .................................................................................................................................. 10

Materiais e Métodos .................................................................................................................. 13

Resultado .................................................................................................................................... 18

Discussão .................................................................................................................................... 24

Literatura Citada ...................................................................................................................... 27

Material Suplementar ............................................................................................................... 33

NÃO ESTACIONARIDADE NA DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA DE PEIXES DE

RIACHOS .................................................................................................................................. 37

Resumo ....................................................................................................................................... 38

Palavras Chaves: Água-Energia, Climática, Ecorregiões de Água Doce, GWR,

Heterogeneidade Temporal, Produtividade Primária. ................................................................. 38

Introdução .................................................................................................................................. 38

Materiais e Métodos .................................................................................................................. 41

Resultados .................................................................................................................................. 46

Discussão .................................................................................................................................... 57

Literatura Citada ...................................................................................................................... 61

PELA MÉDIA OU PELA VARIÂNCIA? POR TERRA OU POR ÁGUA? QUAL O

MELHOR CAMINHO QUANDO AVALIAMOS O PAPEL DOS PROCESSOS DE

NICHO E NEUTRO NA ESTRUTURAÇÃO DA COMUNIDADE DE PEIXES DE

RIACHOS DO CERRADO ...................................................................................................... 65

Resumo ....................................................................................................................................... 66

Palavras Chaves: Conectividade, Gradiente Ambiental, Ictiofauna, Partição de Variância, Rede

Dendrítica .................................................................................................................................... 67

Introdução .................................................................................................................................. 67

Materiais e Métodos .................................................................................................................. 70

Resultados .................................................................................................................................. 76

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Discussão .................................................................................................................................... 96

Literatura Citada .................................................................................................................... 100

PADRÕES DE COOCORRÊNCIA EM PEIXES DE RIACHOS NA BACIA DO ALTO

RIO PARANÁ ......................................................................................................................... 105

Resumo ..................................................................................................................................... 106

Palavras chaves: Cerrado, EMS, Espécies Núcleo, Guildas Tróficas, Metacomunidade. ...... 106

Introdução ................................................................................................................................ 106

Materiais e Métodos ................................................................................................................ 112

Resultados ................................................................................................................................ 117

Discussão .................................................................................................................................. 124

Literatura citada ..................................................................................................................... 129

Material Suplementar ............................................................................................................. 132

Conclusão Geral ...................................................................................................................... 134

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Resumo Geral

Encontrar um padrão de distribuição da diversidade de organismos aquáticos e

relacionar esse padrão a um gradiente ambiental ou espacial é o objetivo central dos

estudos de ecologia de sistemas aquáticos continentais. Três conceitos se destacam

nessa busca, o conceito de “rio contínuo” (River Continuum Concept - RCC), o

“domínio de processos” (Process Domain Concept – PDC) e a dinâmica do pulso de

inundação. Todos esses conceitos (RCC, PDC, pulso de inundação e modelos de

produtividade) apresentam as condições ambientais e os recursos como agentes

estruturadores do habitat que permitem a coexistência de espécies com diferentes

requerimentos ao longo da rede. A interação existente entre o corpo d’água e o meio

terrestre faz com que esses sistemas sejam considerados de grande complexidade e

excelentes modelos de estudos para a variação temporal e espacial de comunidades

bióticas. Além da relação entre a comunidade e as condições ambientais, não podemos

deixar de lado a influência de processos espaciais na estruturação da fauna aquática. Os

padrões de diversidade são então resultados de interações espécie-espécie, espécie-

ambiente e/ou dinâmicas neutras, em que a dispersão reflete a existência de filtros e\ou

barreiras entre as comunidades, representando a permeabilidade da matriz estudada. Por

isso a identificação de padrões de diversidade é uma ferramenta importante para

determinação de quais processos estão relacionados à estruturação da metacomunidade.

Os objetivos dessa tese são então; (i) avaliar a capacidade preditiva das hipóteses

macroecológicas no padrão de distribuição da riqueza de peixes de riachos; (ii)

quantificar a não estacionariedade presente nessas relações; (iii) determinar qual

abordagem é mais eficiente na representação de processos espacialmente explícitos em

comunidade de peixes de riachos. E qual a melhor forma de representação das

condições ambientais dos riachos e (iv) identificar qual o padrão de coocorrência de

espécies de peixes de riachos da bacia do rio Paraná e a qual gradiente ambiental a

metacomunidade se relaciona. De modo geral observamos que o conjunto de modelos

formado pelas hipóteses Água-Energia, Produtividade Primária Terrestre e

Heterogeneidade Temporal é o que melhor explicacou a riqueza da ictiofauna de riacho,

sendo que a relação não é estacionaria. Com relação as condições ambientais, nos

observamos que é necessário a inclusão de alguma medida da variação, como a

variância ou o desvio padrão dos paramentros. Além disso, observamos a necessidade

de inclusão de barreiras geográficas na representação dos processos espaciais. Por fim

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observamos a existência de dois conjuntos de espécies na bacia do Rio Paraná, um

conjunto de espécies núcleo, com o padrão de coocorrência Clementisiano, sob o efeito

do mecanismo de ocorrência de espécies (species sorting) e uma metacomunidade total

sendo estruturada pelo mecanismo de efeito de massa (mass effects).

Introdução Geral

Encontrar um padrão de distribuição da diversidade de organismos aquáticos e

relacionar esse padrão a um gradiente ambiental ou espacial é um dos principais

objetivos dos estudos de ecologia de sistemas aquáticos continentais (Thorp et al.,

2006). Para isso, alguns conceitos e teorias foram sendo desenvolvidos e hoje servem de

suporte para a compreensão desses padrões. Assim, a rede de drenagem continental é

conceituada como um gradiente longitudinal contínuo de condições físico-químicas,

onde as estratégias adotadas pelos organismos estão diretamente relacionadas à

dinâmica do sistema fluvial, o qual é formado pelas características físicas da rede de

drenagem (Vannote et al., 1980). Essa definição de sistema lótico foi publicada como o

conceito de “rio contínuo” (River Continuum Concept - RCC), proposto por Vannote et

al. (1980). O RCC propõe que esse sistema aquático é um contínuo de transformações

longitudinais, mas foi criticado pela não inclusão do efeito de pulsos de inundação e do

aumento de produtividade autóctone pontual, derivado de modificações na cobertura de

dossel (Thorp et al., 2006). Um terceiro conceito que deve ser mencionado é o “domínio

de processos” (Process Domain Concept – PDC) (Montgomery, 1999). Esse conceito

apresenta os corpos d’água como sendo um produto tanto das condições ambientais

citadas no RCC, quanto dos processos geomorfológicos, representados pela topografia,

clima e geologia. Todos esses conceitos (RCC, PDC, pulso de inundação e modelos de

produtividade) apresentam as condições ambientais e os recursos como estruturadores

do habitat, permitindo a coexistência de espécies com diferentes requerimentos ao longo

da rede.

O consenso entre esses conceitos é com relação a importância da vegetação

ripária. Os conceitos de RCC e de PDC trazem a ideia de que os riachos de pequena

ordem (ordem menos que quatro) possuem pouca matéria orgânica disponível,

considerados assim heterotróficos. A heterotrofia nesta parte do sistema é resultado do

sombreamento provocado pela mata ripária, que diminui a entrada de energia solar e

consequentemente a produtividade primária (Vannote et al., 1980; Montgomery, 1999).

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Apesar desse efeito negativo, o sombreamento pela vegetação ripária controla o micro

clima local favorecendo à manutenção da biota aquática (Karr & Schlosser, 1978).

Além disso, a vegetação ripária fornece energia para estes corpos d’água através da

entrada de material alóctone que ocorre de duas maneiras: (i) movimento vertical, ou

seja, queda de folhas, frutos ou outras estruturas vegetais; (ii) movimento lateral, isto é,

transporte de matéria orgânica decorrente de processo de chuvas e alagamentos

(Webster & Meyer, 1997).

Essa interação corpo d’água - meio terrestre, caracteriza de uma forma

simplificada, a dinâmica de modificações físicas, químicas e físico-químicas que os

corpos d’água experimentam ao longo do tempo e do espaço (Thorp et al., 2006). Essa

grande variação de condições e recursos torna o estudo desses sistemas além de

complexos e desafiadores (Thorp et al., 2006), excelentes modelos de estudos para a

variação temporal e espacial de comunidades bióticas, principalmente se tratamos de

riachos (Göthe et al., 2013). Riachos são considerados bons locais de estudos pois

possuem um dinâmica temporal de condições ambientais, representada em especial

pelas modificações causadas durante o período de seca e chuva. As variações nas

características hidráulicas causam modificações nas condições físico-químicas da água,

tais como oxigênio dissolvido e turbidez (Laudon & Bishop, 1999). Outro exemplo de

modificação está relacionado a absorção/retenção de energia e consequente modificação

da temperatura da água e da disponibilidade de alimento, via produtividade primária

(Schlosser, 1991; Giller & Malmqvist, 1998). Os parâmetros físico-químicos, por sua

vez, influenciam diretamente a composição da assembleia de peixes (Vannote et al.,

1980; Junk et al., 1989; Montgomery, 1999; Melo et al., 2009; Dias & Tejerina-Garro,

2010). Além dessa relação entre a comunidade e as condições ambientais, não podemos

deixar de lado a influência da extensão espacial na estruturação da fauna aquática. As

características dendríticas de formação das bacias de drenagens faz com que a dinâmica

de colonização e extinção local causem diferenças entre o padrão de diversidade

observado e predito, em grande parte relacionado aos processos existentes nos riachos

de pequenas ordens não serem semelhantes ao de grandes ordens (Brown & Swan,

2010; Brown et al., 2011). Essas diferenças fazem com que algumas espécies não

consigam se deslocar de riachos de pequenas ordens, localizados em uma porção da

drenagem, e colonizar outros riachos com características semelhante, porem em outra

porção da drenagem.

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Assim, chegamos a ideia de que os padrões de diversidade observados são

resultados da interação entre as comunidades com os fatores locais e regionais (Leibold

et al., 2004). Fatores locais são entendidos aqui como as condições (temperatura da

água e do ar, oxigênio dissolvido, produtividade primária, vazão, pluviometria) e

recursos (parceiros reprodutivos, competição, facilitação) que uma espécie necessita

para manter seu crescimento populacional constante, já os fatores regionais

compreendem os filtros de dispersão existentes e controlam a chegada de novas espécies

(Leibold et al., 2004). Os padrões de diversidade são, então, resultados de interações

espécie-espécie, espécie-ambiente e/ou dinâmicas neutras (Leibold & Mikkelson, 2002;

Leibold et al., 2004; Presley et al., 2010; Fernandes et al., 2013), em que a dispersão

reflete a existência de filtros e\ou barreiras entre as comunidades, representando a

permeabilidade da matriz estudada (Fernandes et al., 2013; Kennedy et al., 2014). Por

isso a identificação de padrões de diversidade (distribuição da riqueza de espécies e

coocorrência de espécies) é uma ferramenta importante para determinação de quais

processos estão relacionados à estruturação da metacomunidade.

O conceito metacomunidade atingiu um novo status como ferramenta nos

estudos de ecologia a partir de um estudo no ano de 2004 no qual Leibold e

colaboradores descrevem quatro mecanismos (dinâmica de manchas – PD - patch

dynamics, ocorrência de espécies - SS - species sorting, efeito de massa – ME - mass

effects e neutro - NE - neutrality), que formam os padrões de coocorrência de espécies.

Os mecanismos acima descritos são responsáveis por gerar os seis padrões de

coocorrência de espécies em metacomunidades (aninhado - nested subsets, tabuleiro de

xadrez - checkerboards, Clementsiano, Gleasoniano, gradientes igualmente espaçados -

evenly spaced gradients e aleatórios) (Leibold & Mikkelson, 2002; Leibold et al.,

2004); i) PD considera o ambiente como um mosaico de manchas de habitat, todas elas

com a mesma qualidade e disponibilidade de recursos e sofrendo tanto de extinções

estocásticas como determinísticas (Leibold et al., 2004). Esse mecanismo forma

metacomunidades com padrões conhecidos como “tabuleiro de xadrez”

(checkerboards), uma vez que a interação entre as espécies (competição e/ou

facilitação) é o mais importante na formação desse padrão; ii) SS assume uma forte

relação entre a comunidade e o ambiente com forte interação entre as espécies presentes

(Leibold et al., 2004), produzindo padrões de coocorrência como os observados no

elemento de sobreposição de bordas (Boundary Clumping); iii) ME, ambientes

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heterogêneos, tanto espacial quanto temporalmente, com processos de colonização e

extinção ocorrendo de forma constante (Leibold et al., 2004), gerando assim os padrões

presentes no elemento de turnover; e iv) NE, que assume a metacomunidade como um

produto da dispersão das espécies entre as comunidades presentes na metacomunidade

(Leibold et al., 2004).

Objetivos Gerais

O nosso objetivo nessa tese é identificar o padrão, e os processos que estruturam,

a distribuição da riqueza e a coocorrência de peixes em riachos brasileiros. Desta forma,

iniciamos nossos estudos com uma pesquisa mais abrangente, em que identificamos o

padrão de riqueza e o relacionamos aos processos macroecológicos. Com o

entendimento do padrão, e do processo, construímos um modelo preditivo da riqueza de

peixes em riachos neotropicais. Ao observar o ajuste do modelo surgiu um

questionamento acerca da estacionariedade das relações. Esse questionamento nos leva

a um trabalho mais conceitual, em que buscamos investigar se as diferentes regiões

geográficas apresentam o mesmo processo, estruturando a riqueza de peixes em riacho.

Uma vez entendida a relação, riqueza e variáveis macro ecológicas, afunilamos o nosso

estudo e buscamos descrever a dinâmica da relação ictiofauna e condições ambientais

locais. Nessa segunda metade da tese iniciamos um trabalho mais específico, com um

trabalho metodológico para identificar a melhor forma de se representar as condições

ambientais e os processos espaciais para peixes. Por fim, buscamos entender o padrão

de coocorrência das espécies e a qual gradiente ambiental esse padrão se relaciona.

Assim, a tese foi organizada em quatro capítulos, com o primeiro e o segundo

capítulo sendo uma abordagem teórica sobre o padrão de distribuição de riqueza de

peixes de riachos e o que causa este padrão observado. O terceiro capítulo foi

construído com uma visão mais metodológica a fim de definirmos qual a melhor

abordagem para controlar a autocorrelação espacial existente nos dados de diversidade

de peixes de riachos. O quarto e último capítulo traz uma visão integradora em que nós

tratamos de padrões de coocorrência de espécies de peixes de riachos. Aqui, nos

utilizamos o terceiro capítulo para definir o conjunto de dados trabalhados e o primeiro

e segundo capítulo para inferências acerca de mecanismos. Os objetivos, juntamente

com o título de cada capítulo estão listados abaixo.

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Capítulo 1 - MULTIMODELOS NA EXPLICAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DA

RIQUEZA DE ESPÉCIES DE PEIXES DE RIACHOS

O objetivo do capítulo é avaliar a capacidade preditiva das hipóteses

macroecológicas no padrão de distribuição da riqueza de peixes de riachos.

Capítulo 2 - NÃO ESTACIONARIDADE NA DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA DE

PEIXES DE RIACHOS

Este capítulo quantifica a não estacionariedade presente na relação riqueza de

espécies e o conjunto de hipóteses macroecológicas definidas como preditoras do

padrão de distribuição observado.

Capítulo 3 - PELA MÉDIA OU PELA VARIÂNCIA? POR TERRA OU POR

ÁGUA? QUAL O MELHOR CAMINHO QUANDO AVALIAMOS O PAPEL

DOS PROCESSOS DE NICHO E NEUTRO NA ESTRUTURAÇÃO DA

COMUNIDADE DE PEIXES DE RIACHOS DO CERRADO

Neste trabalho o objetivo é determinar qual abordagem é mais eficiente na

representação de processos espacialmente explícitos em comunidade de peixes de

riachos. E qual a melhor forma de representação das condições ambientais dos riachos.

Capítulo 4 - PADRÕES DE COOCORRÊNCIA EM PEIXES DE RIACHOS NA

BACIA DO ALTO RIO PARANÁ

Aqui pretendemos identificar qual o padrão de coocorrência de espécies de

peixes de riachos da bacia do rio Paraná e relacionar esse padrão às dinâmicas dos

processos de nicho ou processos neutros. Identificando o gradiente ambiental que

estrutura a metacomunidade e se o padrão observado na metacomunidade total é o

mesmo para as espécies núcleo e entre as guildas tróficas.

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Capítulo 1

MULTIMODELOS NA EXPLICAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA DE

ESPÉCIES DE PEIXES DE RIACHOS

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MULTIMODELOS NA EXPLICAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA DE

ESPÉCIES DE PEIXES DE RIACHOS

Resumo

Várias hipóteses são utilizadas para explicar o padrão de distribuição da riqueza de

espécies no globo terrestre. Dentre elas encontramos as hipóteses ambiente-energia,

água-energia, espécie-área, espécie-energia, produtividade primária terrestre,

heterogeneidade espacial ambiental e heterogeneidade temporal, com destaque para as

hipóteses espécie-área e espécie-energia, por serem apresentadas como as mais

promissoras. Apesar de existirem inúmeras hipóteses, essa questão continua sem uma

resposta definida. Desta forma, nós buscamos utilizar a abordagem de seleção de

modelos para avaliar a capacidade preditiva dessas múltiplas hipóteses para explicar o

padrão de diversidade de peixes de riachos do Brasil. Para o teste das hipóteses foi

utilizado a riqueza observada de peixes de riachos, derivado de coletas de campo dos

autores e complementado com dados da literatura e as variáveis originalmente

relacionadas às hipóteses testadas. Utilizamos a abordagem de seleção de modelose

como critério de escolha o Critério de Informação de Akaike – AIC e a metodologia de

auto-vetores espaciais como forma de controle da autocorrelação espacial dos dados. Os

modelos formados pelo conjunto das hipóteses Água-Energia, Produtividade e

Heterogeneidade Temporal foram os que melhor explicaram a riqueza da ictiofauna de

riachos tropicais. Esse resultado demonstra que, quando as hipóteses são consideradas

isoladamente elas não são suficientes para explicar o padrão observado, sendo

necessário a utilização de uma abordagem multi-modelo para a explicação do padrão de

riqueza de peixes de riachos tropicais.

Palavras Chaves: Água-Energia, Evapotranspiração, Heterogeneidade Climática,

Hipótese Energética, Produtividade Primária, Teoria Neutra.

Introdução

O estudo do padrão de distribuição da riqueza de espécies é de interesse central

nos programas de pesquisa de ecólogos, biogeógrafos e paleontólogos desde o início do

século XIX (Watkins Jr. et al., 2006; Gaston, 2000; Oberdorff et al., 2011). Ainda

assim, essa questão continua sem uma resposta definida (Oberdorff et al., 2011;

Eiserhardt et al., 2011). Diferentes grupos biológicos, tais como plantas (Eiserhardt et

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al., 2011; Kier et al., 2005), insetos (Keil et al., 2008; Novotny et al., 2006), anfíbios

(Rodríguez et al., 2005), répteis (Terribile, Diniz-Filho, et al., 2009; Terribile, Olalla-

Tárraga, et al., 2009), pássaros (Blackburn & Gaston, 1997) e peixes (Oberdorff et al.,

1995, 2011; Guégan et al., 1998; Novotny et al., 2006; Knouft, 2002; Mazzoni &

Lobón-Cerviá 2000) já foram utilizados em pesquisas sobre o padrão de distribuição da

riqueza. Na maior parte das vezes o tema é tratado através do estudo do gradiente

latitudinal na riqueza de espécies (Pianka, 1966), considerada a forma mais antiga de

explicar a distribuição da riqueza (Willig et al., 2003). O padrão observado geralmente é

de aumento da riqueza na direção do equador que pode ser explicado por várias

hipóteses, algumas delas elencadas por Hawkins et al. (2007), Oberdorff et al. (2011) e

Willig et al. (2003). No entanto, a diminuição da riqueza em direção aos polos é

dependente tanto da escala quanto do organismo estudado (Willig et al., 2003).

Várias hipóteses são utilizadas para explicar a distribuição da riqueza, sendo as

hipóteses espécie-área e a espécie-energia as que têm se destacado (Guégan et al.,

1998). A relação espécie-área (MacArthur & Wilson, 1967) prediz que a riqueza de

espécies aumenta exponencialmente em função do aumento da área. Por outro lado, a

hipótese espécie-energia (Wright, 1983), prediz que a riqueza de espécies é uma função

da quantidade de energia disponível no sistema. Uma terceira hipótese, utilizada para

explicar o gradiente de riqueza é a ambiente-energia (Turner et al., 1987), que é uma

derivação da hipótese espécie-energia, e prediz que há uma relação direta entre a

temperatura ambiente e a riqueza de espécies. A hipótese água-energia (O’Brien &

Road, 1998) prediz a riqueza de espécies como uma função da quantidade de água e da

evapotranspiração disponível no sistema. Assim, em baixas latitudes a riqueza

apresentaria maior relação com a quantidade de água disponível no sistema, uma vez

que energia não seria um fator limitante. Já nas altas latitudes esta relação se inverteria,

com a energia sendo o fator limitante (Eiserhardt et al., 2011; Gaston, 2000; Keil et al.,

2008). A hipótese da produtividade primária terrestre (Waid et al., 1999) prediz que a

riqueza de espécies seria limitada pela produtividade primária terrestre. No entanto, para

ambientes aquáticos esta relação não é tão simples, uma vez que a produtividade

primaria aquática tende a ser 90 vezes menor que a produtividade terrestre e os

ambientes aquáticos continentais temperados dez vezes menos produtivos que os

aquáticos continentais tropicais (Davies et al., 2008; Guégan et al., 1998; Hugueny et

al., 2010, Mazzoni & Lobón-Cervià, 2000). A hipótese de heterogeneidade espacial

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ambiental (Kerr & Packer, 1997) prediz que os locais que apresentam maior variação

nas características físicas ambientais (maior número de hábitats potencialmente

disponíveis) também manteriam uma maior riqueza de espécies, já que poderiam

suportar mais espécies em um mesmo local. Por fim, a hipótese de heterogeneidade

temporal climática (Currie et al., 1991) prediz que locais com maior variação das

características climáticas apresentariam maior riqueza, uma vez que suportariam mais

espécies ao longo do tempo.

Quando tratamos de dados estruturados espacialmente, como a riqueza de

espécies (Kissling & Carl, 2007; Legendre & Legendre, 1998, Hawkins et al., 2003;

Bini et al., 2009; Kühn, 2006) aumentamos a probabilidade de ocorrência do erro tipo 1,

descartar a hipótese nula quando essa é verdadeira (Legendre, 1993; Legendre et al.,

2002; Diniz-Filho et al., 2003). Além disso, a estruturação espacial dos dados pode

modificar a relação existente entre as variáveis dependente e independente,

apresentando um efeito negativo quando esse é positivo ou positivo quando é negativo

ou ainda um efeito nulo quando na verdade não é (Bini et al., 2009; Kühn, 2006). Ainda

assim, muitos estudos que explicam o gradiente de riqueza da ictiofauna não se

preocupam com esse efeito, sendo observados inúmeros estudos que não utilizam

nenhuma forma de controle ou de integração da estrutura espacial nas análises (e. g.:

Beisner et al., 2006; Das et al., 2012; Chick & Mclvor, 2011, Oberdorff et al., 2011 e

Guégan et al., 1998).

Há estudos que descrevem o gradiente de riqueza em rios como função da

produtividade primária terrestre, da área drenada pela bacia e da vazão na foz do rio

(Oberdorff et al., 2011 e Guégan et al., 1998); outros relacionam a riqueza de peixes em

riachos às variáveis físicas, tais como largura, profundidade e vazão (Beisner et al.,

2006; Das et al., 2012; Chick & Mclvor, 2011). Como estrutura teórica para as relações

encontradas, são elencadas as hipóteses energética, representada pela produtividade

primária terrestre (Guégan et al., 1998; Oberdorff et al., 1995, 2011), espécie-área,

representada pela área drenada pela bacia (Oberdorff et al., 1995), dispersão passiva,

representada pela vazão (Beisner et al., 2006), heterogeneidade espacial ambiental,

representada pela largura e profundidade e heterogeneidade temporal climática

representada pela variação da temperatura ambiente (Das et al., 2012). No entanto,

nenhuma dessas hipóteses, trabalhada de forma isolada, é capaz de explicar os padrões

de riqueza, sendo necessária a integração de duas ou mais hipóteses (Guégan et al.,

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1998). Além disso, a forma, a intensidade e qual combinação de hipóteses influencia o

padrão de riqueza da ictiofauna é incerta, uma vez que não existem trabalhos que

confrontem sistematicamente as hipóteses e as diferentes combinações de hipóteses com

o gradiente de riqueza de peixes. Desta forma, nós buscamos utilizar a abordagem de

seleção de modelos para avaliar a capacidade preditiva de hipóteses, tentando entender

quais hipóteses ou combinações de hipóteses seriam as mais adequadas para explicar os

padrões observados, utilizando as seguintes hipóteses iniciais: (i) energética, em que

comunidades de peixes de riachos estão relacionadas às taxas de evapotranspiração; (ii)

água-energia aonde a riqueza de espécies é estruturada em função da evapotranspiração

e da precipitação média anual; (iii) produtividade primária terrestre, em que a riqueza de

espécie é dependente da produtividade primária terrestre; (iv) heterogeneidade temporal,

utilizando a variação da temperatura e da precipitação anual como variáveis preditoras

para responder a riqueza de espécie de riachos; (v) área, em que a riqueza de espécies é

relacionada à quantidade de área disponível na bacia e (vi) neutra, com a distância

geográfica entre os locais coletados sendo a determinadora da riqueza de espécies de

riachos.

Materiais e Métodos

Banco de dados

Para o teste das hipóteses foram utilizados bancos de dados existentes de coletas

de campo dos autores. Para que a coleta fosse inserida no banco de dados era necessário

atender aos seguintes critérios: (1) coleta realizada em riachos de primeira a terceira

ordem; (2) riachos georreferenciados; (3) amostragem da ictiofauna realizada com pesca

elétrica, rede de arrasto e/ou rede de mão; (4) amostrado um trecho mínimo de 50

metros do riacho por ponto; (5) um único ponto amostral por riacho; (6) espécies

identificadas por pesquisadores experientes e que seguem a literatura taxonômica

vigente (e.g.: Agostinho et al., 2010, Alves & Pompeu 2001, Baumgartner et al., 2012,

Britski et al. 1988, Britski et al., 2007, Buckup, 1993, Garavello, 1977, Graça &

Pavanelli 2007, Malabarba et al., 2013, Mazzoni et al., 2012, Menezes, 1969, Oyakawa

et al., 2006, Santos et al., 2004, Vari, 1991), (7) lista de espécies por ponto amostrado e

(8) coletas realizadas em locais com o menor impacto antrópico possível.

Complementando este banco de dados foram compilados trabalhos científicos

publicados em periódicos, monografias, dissertações e teses. Para a busca da literatura

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foi utilizado o portal de periódicos da CAPES (http://www-periodicos-capes-gov-

br.ez49.periodicos.capes.gov.br/index.php?option=com_phome) e as palavras chaves

peixe*, fish*, stream*, riacho*, lista* e checklist*. Em todos os casos só foram

integrados ao banco de dados os estudos que cumpriam integralmente os critérios

previamente determinados para o estudo. Esses critérios foram escolhidos de forma a

garantir a comparabilidade entre as amostras e diminuir a heterogeneidade do banco de

dados. Ao final da pesquisa foram obtidos 18 trabalhos da literatura que contribuíram

com 89 riachos para o banco de dados (S1). Os riachos oriundos da literatura foram

compilados ao banco de dados dos colaboradores, inicialmente com 570 riachos,

totalizando 659 riachos (Figura 1).

Figura 1 – Localização espacial dos riachos analisados. Os pontos pretos representam os

riachos inseridos na análise.

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Variáveis macro-ecológicas

Para o teste das hipóteses foram utilizadas as variáveis originalmente

relacionadas às hipóteses em teste, ou seja, aquelas variáveis que os proponentes das

hipóteses determinaram como descritoras do gradiente de riqueza. Para o teste das

hipóteses foram utilizadas a evapotranspiração dos meses de janeiro (AETJan) e junho

(AETJun), produtividade primária (PP), variação da temperatura anual (TempVar),

precipitação média anual (PPMed), variação da precipitação anual (PPVar) e fluxo

acumulado (FAC), utilizado como substituto da área drenada pela bacia (Tabela 1 e S2).

O uso do FAC faz com que as análises sejam mais rápidas e simples e por possuírem

alta correlação com área drenada não causam perda de informação (Heine et al., 2004).

Os dados de AET e PP estão disponíveis no site do Laboratório de Processamento de

Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás – LAPIG UFG

(http://www.lapig.iesa.ufg.br/lapig /index.php/produtos/imagens-satelite). Os dados de

TemMed, TempVar, PPMed e PPVar foram extraídas do cenário climático IPCC: A1,

disponível no WORLDCLIM (http://www.worldclim.org). Os dados de FAC foram

retirados do modelo global Hydro-1K de elevação digital

(http://edcdaac.usgs.gov/gtopo30/hydro/).

O AET (disponíveis mensalmente) e o PP (disponível anualmente) são produtos

de imagens de satélites MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer)

sendo disponibilizadas as informações referentes ao ano de 2000 a 2012. Para as

análises foram consideradas as taxas médias dessas variáveis. Para o cálculo desses

valores obtivemos as imagens de AET, dos meses de janeiro e junho e de PP para os

anos de 2000 a 2012. As imagens dos diferentes anos foram somadas e divididas por 12,

compondo uma nova imagem que representa o valor médio da variável para os 12 anos.

Esse procedimento foi repetido para os dados de AET de janeiro e junho e de PP. As

variáveis TempVar, PPMed e PPVar são variáveis oriundas de modelos de interpolação

construídos com dados coletados entre os anos de 1950 a 2000 pelo Global Historical

Climate Network Dataset (GHCN). Já os dados de FAC e SLP são produtos de modelos

de elevação digital do projeto GTOPO30, desenvolvido U.S. Geological Survey's EROS

Data Center. Como a resolução (tamanho do pixel) de todas as imagens são

originalmente de 1 x 1 km, elas foram reescalonadas para 15 x 15 km, a informação

para cada ponto passa a ser um valor médio, produto de 225 pixels, e não apenas o valor

de um pixel.

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Tabela 1 – Estatística descritiva das variáveis utilizadas nos modelos.

Variáveis Média Desvio Padrão

Evapotranspiração de junho (mm dia-1) (AETJun) 66.735 39.275

Evapotranspiração de janeiro (mm dia-1) (AETJan) 100.028 41.490

Fluxo acumulado (FAC) 532.294 601.729

Precipitação média anual (PPMed) 1866.077 563.649

Produtividade primária (cal/m²/dia) (PP) 8086.156 3313.487

Riqueza de Espécie (RSP) 11.517 9.347

Variação da precipitação anual (mm) (PPVar) 57.131 22.580

Variação da temperatura anual (°C) (TempVar) 1023.135 783.507

Análises estatísticas

Para o teste da hipótese energética foi construído um modelo entre a riqueza de

espécies e o AETJan e AETJun, a fim de incluir a entrada de energia durante o período

mais quente e o mais frio do ano. Para o teste da hipótese Água-Energia, foi construído

um modelo entre a riqueza de espécies e o AETJan, AETJun e o PPMed, sendo que os

AET’s representam a entrada de energia no sistema e a PPMed a disponibilidade hídrica

anual. Para a hipótese de Produtividade, a riqueza de espécie foi relacionada à PP, que

representa a produtividade primária terrestre anual do local. A hipótese de

Heterogeneidade temporal foi testada utilizando as variáveis PPVar e TempVar, pois

essas variáveis representam a variação anual da precipitação e da temperatura. Para a

hipótese de área, a riqueza de espécies foi relacionada à FAC. Por fim, para o teste da

hipótese Neutra, foi feito um modelo entre a riqueza de espécies e a distância geográfica

dos pontos. Todos os modelos considerados (Tabela 2) foram modelos lineares de

mínimos quadrados – Ordinary Least Squares [OLS] e a distância geográfica utilizada

foi o mapa de autovetores espaciais (Dormann et al., 2007).

Para identificar a autocorrelação na riqueza de espécies, foi utilizado o índice de

Moran (Moran’s I). Para controlar a estrutura espacial, utilizamos o procedimento de

mapas de auto vetores espaciais (filtros espaciais) (Dormann et al., 2007), considerados

a melhor forma de se fazer o controle da estrutura espacial (Bini et al., 2009). A riqueza

da ictiofauna apresentou estrutura espacial igual a 0.453, segundo o índice de Moran,

sendo necessários 11 filtros espaciais para controlar o efeito da autocorrelação (S3). O

primeiro filtro espacial (SF1) apresentou os maiores valores para os riachos localizados

na parte superior da região amazônica (S3). O segundo filtro (SF2) mostrou os maiores

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valores localizados na porção norte da região do Paraná (S3). O quarto filtro (SF4)

apresentou valores altos para os riachos da porção mais ao sul da região amazônica e a

oeste do Paraná (S3). Os demais filtros não mostraram um padrão claro (S3). Todos os

filtros espaciais foram incorporados aos modelos como co-variáveis (Tabela 2), exceto

no modelo de teste da hipótese neutra, em que os filtros foram utilizados como variáveis

preditoras. Para todos os modelos foram apresentados o valor de I de Moran e o Critério

de informação de Akaike (AIC), sendo os modelos comparados pela variação do AIC.

Como alguns trabalhos já encontraram que uma única hipótese não é capaz de explicar a

variação da riqueza de peixes (e.g.: Guégan et al., 1998; Oberdorff et al., 1995), nós

testamos também as combinações entre os modelos Água-Energia, Produtividade

Terrestre, Heterogeneidade Temporal e Área. Para evitar a repetição de variáveis nos

testes, os modelos Energético e Neutro foram retirados das combinações, uma vez que

as variáveis que representam o modelo Energético já se encontram no modelo Água-

Energia, e o Neutro já está representado em todos os demais pelos filtros espaciais.

Desta forma, as hipóteses foram combinadas duas a duas, três a três e quatro a quatro.

As análises referentes aos mapas de auto vetores espaciais e às regressões foram feitas

utilizando o software SAM – Spatial Analysis in Macroecology (Rangel et al., 2010).

A colinearidade entre as variáveis foi medida pelo fator de inflação da variância

(VIF) que quantifica a multicolinearidade das variáveis preditoras. Este índice varia de

1 (ausência de colinearidade) ao infinito positivo e fornece uma estimativa de quanto a

variância de um coeficiente de regressão é aumentada pela colinearidade. Valores de

VIF inferiores a 10 são considerados aceitáveis. Após o teste das hipóteses, a riqueza de

espécies foi submetida a uma regressão múltipla, sem a utilização dos filtros espaciais e

utilizando apenas as variáveis significativas. O modelo obtido com essa análise foi

espacializado, gerando um mapa de riqueza de espécies de peixes em riachos. Para

testar o grau de precisão do modelo extraímos os valores preditos para cada riacho

presente nas análises e subtraímos o valor da riqueza observada do valor estimado,

assim, valores positivos representam pontos superestimados pelo modelo e valores

negativos representam valores subestimados pelo modelo. Com esses valores fizemos

uma regressão entre a riqueza de espécies predita e a observada, utilizando todos os

pontos conjuntamente e por bacia hidrográfica (Amazonas, Atlântico Leste, Atlântico

Nordeste Ocidental/Parnaíba/Oriental, Atlântico Sudeste/Sul, Paraguai/Paraná, São

Francisco, Tocantins-Araguaia e Uruguai). O modelo de regressão e o mapa foram

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feitos no software R (R Core Team 2013) utilizando os pacotes Dismo (Hijmans et al.,

2013), Raster (Hijmans, 2014) e Vegan (Oksanen et al., 2013).

Tabela 2 – Variáveis utilizadas para explicar a riqueza de espécies de peixes de riacho.

RSP – Riqueza de espécies, AETJan - evapotranspiração do mês de janeiro, AETJun -

evapotranspiração do mês de junho, PP - produtividade primária, TempVar - variação

da temperatura anual, PPMed - precipitação média anual, PPVar - variação da

precipitação anual e FAC – flow accumulation.

Hipótese Variáveis incluídas no modelo

Energética AETJan + AETJun

Água-Energia AETJan + AETJun + PPMed

Produtividade Terrestre PP

Heterogeneidade Temporal TempVar + PPVar

Área FAC

Neutro Filtros Espaciais

Resultado

Todos os modelos construídos para explicar a riqueza de espécie de peixes de

riacho foram significativos e possuíram ajustes variando de 30.1% a 41.6% (Tabelas 4 e

5), com todos os modelos apresentando forte componente espacial e compartilhado

possuindo baixo ajuste aos dados ambientais (Tabelas 3 e 4). Quando testados

individualmente (Tabela 3), segundo o critério de informação de Akaike, a hipótese de

Heterogeneidade Temporal foi a que melhor se ajustou à riqueza de espécies. No

entanto, quando testamos as hipóteses combinadas (Tabela 4) os modelos formados

pelas hipóteses Água-Energia, Produtividade e Heterogeneidade Temporal e por Água-

Energia, Produtividade, Heterogeneidade Temporal e Área foram os que melhor

explicaram a riqueza da ictiofauna de riacho.

Os modelos construídos com as combinações das hipóteses se ajustaram melhor

à distribuição da riqueza do que os modelos individuais, uma vez que o ∆ AIC entre o

melhor modelo individual (AIC = 4510.5) e o melhor modelo combinado (AIC =

4498.8) é de 11,7. A melhor combinação de hipóteses foi a Água-Energia,

Produtividade e Heterogeneidade Temporal com ajuste de 41.6%, e autocorrelação

espacial de 0.096 nos resíduos (Tabela 4), apresentando a riqueza de espécies como uma

função da AETJun, PP e da PPVar (Tabela 5 e Figura 2), sendo a PPVar a variável que

mais teve efeito sobre a riqueza de espécies, com coeficiente de 0.500 (Tabela 5, Figura

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2a). As variáveis AETJun e PP apresentaram menor efeito que a PPVar, sendo a PP

apresentando efeito negativo com coeficiente de -0.230 (Tabela 5, Figura 2b) e o

AETJun com coeficiente positivo de 0.155 (Tabela 5, Figura 2a). Nenhum dos modelos

foi afetado pela colinearidade das variáveis preditoras, uma vez que o VIF foi inferior a

10 (Tabela 5).

O mapa de riqueza da ictiofauna para riachos de ordem inferior a 3 mostra os

riachos mais ricos presentes na porção noroeste da região hidrográfica Amazônica, com

até 24 espécies de peixes e os mais pobres na parte norte da região hidrográfica do São

Francisco, sendo preditos uma única espécie para os riachos de cabeceira (Figura 3). O

sul da região hidrográfica do Paraná, toda a região hidrográfica do Uruguai e porções

medianas do Tocantins e Atlântico Norte/Nordeste apresentaram valores medianos de

riqueza (Figura 3). A análise de precisão do modelo como um todo mostra que temos

mais pontos subestimados que superestimados (S4), a subestimação do modelo chega

até a 40 espécies, já a superestimação do modelo, não ultrapassa 20 espécies. Quando

avaliamos cada bacia em separado identificamos que a Bacia do Atlântico Sudeste

apresentou pontos superestimados, chegando aproximadamente 12 espécies com poucos

pontos subestimados, dois pontos, apresentando erros de no máximo quatro espécies

(S4). A Bacia do Paraná e Bacia do Atlântico Leste apresentaram superestimava de até

10 espécies, sendo a Bacia do Araguaia - Tocantins a que apresentou menores valores

de superestimava, apenas cinco espécies (S4). Os maiores valores de subestimativa

estão presentes na Bacia Amazônica, que chegam a subestimar a riqueza e até 40

espécies, seguido pela Bacia do Paraná e Bacia do Araguaia - Tocantins que apresentam

subestimativa que chegam a 30 espécies (S4). Já a Bacia do São Francisco apresentou

subestimativa de 14 e superestimava de oito espécies e a Bacia do Atlântico

Norte\Nordeste superestimou em até oito e subestimou em até 12 espécies (S 4).

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Tabela 3 – Coeficientes de regressão e comparação entre as cinco hipóteses utilizadas para explicar a distribuição da riqueza de espécie de peixes

em riachos.

Hipóteses r² P AIC ∆ AIC Moran's I r²

Variáveis Compartilhada Filtro Residuos

Heterogeneidade Temporal 0.401 <0.001 4510.5 0.0 0.093 0.031 0.054 0.316 0.599

Energética 0.376 <0.001 4535.2 24.7 0.115 0.007 0.090 0.279 0.624

Área 0.301 <0.001 4538.4 27.9 0.122 0.005 0.053 0.316 0.626

Água-Energia 0.376 <0.001 4538.9 28.4 0.114 0.007 0.143 0.226 0.624

Neutra 0.369 <0.001 4539.9 29.4 0.128 0.631

Produtividade terrestre 0.370 <0.001 4541.6 31.1 0.131 0.001 0.001 0.370 0.628

Tabela 4 – Coeficientes de regressão e comparação entre a combinação das hipóteses utilizadas para explicar a distribuição da riqueza de espécie

de peixes em riachos.

Combinação de Hipóteses r² P AIC ∆ AIC Moran's I r²

Variáveis Compartilhada Filtro Resíduos

Água-Energia + Produtividade + Heterogeneidade Temporal 0.416 <0.001 4498.8 0.0 0.096 0.046 0.121 0.249 0.584

Água-Energia + Produtividade + Heterogeneidade Temporal + Área 0.416 <0.001 4500.4 1.7 0.096 0.047 0.120 0.249 0.584

Produtividade + Heterogeneidade Temporal 0.407 <0.001 4502.1 3.4 0.097 0.038 0.057 0.312 0.593

Produtividade + Heterogeneidade Temporal + Área 0.408 <0.001 4503.7 4.9 0.097 0.038 0.057 0.312 0.592

Heterogeneidade Temporal + Área 0.400 <0.001 4510.4 11.6 0.097 0.030 0.055 0.315 0.600

Água-Energia + Heterogeneidade Temporal 0.400 <0.001 4514.2 15.4 0.095 0.031 0.133 0.237 0.600

Água-Energia + Heterogeneidade Temporal + Área 0.401 <0.001 4515.5 16.8 0.095 0.031 0.132 0.237 0.599

Água-Energia + Produtividade 0.384 <0.001 4530.1 31.3 0.119 0.014 0.144 0.226 0.616

Água-Energia + Produtividade + Área 0.384 <0.001 4531.8 33.0 0.119 0.014 0.144 0.226 0.616

Água-Energia + Área 0.376 <0.001 4537.6 38.9 0.115 0.007 0.143 0.226 0.624

Produtividade + Área 0.370 <0.001 4540.4 41.6 0.132 0.001 0.001 0.369 0.630

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Tabela 5 – Resultado das análises de regressão utilizando o melhor conjunto de modelos como preditores da

riqueza de espécie e os filtros espaciais como co-variáveis. RSP – Riqueza de espécie, AETJan -

evapotranspiração do mês de janeiro, AETJun - evapotranspiração do mês de junho, PP - produtividade

primária, TempVar - variação da temperatura anual, PPMed - precipitação média anual e PPVar - variação

da precipitação anual.

Hipótese Variável Coeficiente

padronizado VIF T p

Ág

ua-

Ener

gia

+ P

rodu

tivid

ade

+ H

eter

ogen

eid

ade

Tem

po

ral

Constant 0.000 0.000 0.275 0.784

AETJan -0.069 2.172 -1.560 0.119

AETJun 0.155 5.634 2.159 0.031

PPMed 0.109 5.539 1.539 0.124

PP -0.230 3.375 -4.148 <0.001

TempVar <0.001 8.739 -0.007 0.995

PPVar 0.500 7.788 5.934 <0.001

SF1 0.376 10.745 3.803 <0.001

SF2 -0.342 6.007 -4.620 <0.001

SF3 -0.134 1.864 -3.255 0.001

SF4 0.328 1.219 9.832 0.000

SF5 0.064 2.850 1.250 0.212

SF6 0.180 2.053 4.170 <0.001

SF7 0.268 2.065 6.187 <0.001

SF8 0.295 1.651 7.597 <0.001

SF9 0.280 1.739 7.033 <0.001

SF11 0.073 1.241 2.182 0.029

SF17 0.205 1.032 6.677 <0.001

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a)

0 40 80 120

PPVar

0

10

20

30

40

50

Re

síd

uo

da

Riq

ue

za

de

Esp

écie

s

r = 0.500

b)

0 4000 8000 12000 16000 20000

PP

-30

-20

-10

0

10

20

30

Re

síd

uo

da

Riq

ue

za

de

Esp

écie

s

r = -0.230

c)

0 40 80 120 160 200 240

AETJun

-10

0

10

20

30

40

Re

síd

uo

da

Riq

ue

za

de

Esp

écie

s

r = 0.155

Figura 2 – Regressão parcial entre as variáveis preditoras que tiveram efeito sobre a riqueza de espécies de

riachos. a) Riqueza de espécies em função da variação da precipitação anual (PPVar); b) Riqueza de

espécies em função da produtividade primária terrestre (PP); c) Riqueza de espécies em função da

evapotranspiração do mês de Junho (AETJun).

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Figura 3 – Espacialização da predição da riqueza de espécies de peixes para riachos de

ordem 1 a 3 do Brasil. O mapa foi construído a partir da modelo de regressão

encontrado.

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Discussão

Os resultados do nosso trabalho demonstraram que, quando as hipóteses são

consideradas isoladamente, a Heterogeneidade Temporal é a que melhor explica a

distribuição da riqueza de peixes de riachos. No entanto, quando consideramos as

possibilidades de explicação conjunta das diversas hipóteses, observamos que o

conjunto formado pelas hipóteses Água-Energia, Produtividade e Heterogeneidade

Temporal é o que melhor descreve a distribuição da riqueza. Apesar de poder ser

considerado um modelo aceitável considerando o AIC, a adição da área a esse modelo

(variável FAC) não aumenta o ajuste do modelo. Isoladamente, a variável FAC não

possui efeito sobre a riqueza de peixes. Por outro lado, quando confrontamos a melhor

hipótese isolada (Heterogeneidade Temporal) com o melhor conjunto de hipóteses

(Água-Energia, Produtividade e Heterogeneidade Temporal) observamos um Δ AIC de

11,7 sustentando que a Heterogeneidade Temporal ainda é a melhor explicação geral

para o fenômeno estudado. A integração entre hipóteses já foi observada na literatura

por Guégan et al. (1998), que utilizou as hipóteses energética, espécie área e histórica

para explicar a riqueza de peixes em rios de cinco continentes. No estudo os autores

concluem que as hipóteses testadas de forma individual não são robustas, sendo

necessário considera-las sempre em conjunto. Oberdorff et al. (2011) utilizando os

mesmos dados de Guégan et al. (1998) e Oberdorff et al. (1995) identificaram a relação

entre a riqueza e as hipóteses espécie-área e energética (assim como originalmente

descrito por Guégan et al. (1998) e Oberdorff et al. (1995), além da relação entre a

riqueza e fatores históricos. No entanto, nenhum desses trabalhos tratou a

Heterogeneidade Climática Temporal como uma alternativa importante.

Em todos os modelos investigados existe forte relação entre a ictiofauna e o

espaço, com os filtros espaciais sendo responsáveis por mais de 50% do ajuste do

modelo. A autocorrelação espacial encontrada no componente de riqueza é uma

característica discutida de forma recorrente na literatura (Eiserhardt et al., 2011; Keil et

al., 2008; Novotny et al., 2006; Rodríguez et al., 2005; Terribile, Diniz-Filho, et al.,

2009; Terribile, Olalla-Tárraga, et al., 2009; Knouft, 2002). Para organismos aquáticos,

é esperado que o componente espacial das análises seja maior quanto maior for a

dependência destes com a água, uma vez que o sistema hidrológico é influenciado

lateral, longitudinal e verticalmente (Vannote et al., 1980; Das et al., 2012). Para

peixes, que não conseguem dispersar de outra forma se não pela própria hidrografia, é

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esperado um forte componente espacial (Beisner et al., 2006) assim como foi

encontrado em nosso estudo. Apesar da grande influência dos fatores espaciais, as

condições locais não podem ser descartadas, uma vez que influenciam na estruturação

da comunidade (Beisner et al., 2006, Cottenie, 2005). A contribuição do fator espacial

na distribuição da riqueza de peixes é um fator importante para a ictiofauna brasileira,

uma vez que, devido a fatores históricos foram formados vários pontos de endemismo

que apresentam distribuição agregada no espaço (Hilbert et al., 2007). Além disso, as

mudanças nas condições físicas, físico-químicas e químicas das drenagens também

refletem padrões espaciais, com mudanças gradativas das nascentes para a foz,

aumentando a riqueza de espécies neste mesmo sentido (Grossman & Sabo, 2010;

Roberts & Hitt, 2010; Hugueny et al., 2010). Há evidências que esse gradiente também

tem relação com o aumento da heterogeneidade local (McGarvey & Hughes, 2008;

Schlosser, 1987) e da estabilização das variações hidrológicas (Horwitz, 1978; Vannote

et al., 1980; Hugueny et al., 2010). Outros fatores que podem aumentar a autocorrelação

espacial é a relação que existe entre a área drenada, a vazão (Hugueny, 1989; Tedesco et

al., 2005; Horwitz, 1978; Oberdorff et al., 2011; Das et al., 2012; Oberdorff et al.,

1995; Guégan et al., 1998), a produtividade primária terrestre (Oberdorff et al., 1995;

Guégan et al., 1998; Oberdorff et al., 2011) e a riqueza regional (Oberdorff et al.,

1995). A área e a vazão são fatores importantes regionalmente, porém de menor

influência quando se trata de maiores escalas (Oberdorff et al., 2011, 1995; Das et al.,

2012). Em escalas maiores, espera-se que a estrutura da ictiofauna seja dependente dos

processos de colonização e extinção e menos influenciada pelos processos físicos,

químicos e físico-químicos (Olden et al., 2011; Angermeier & Schlosser, 1989; Beisner

et al., 2006).

Em nossos resultados observamos o efeito da produtividade primária terrestre,

mas não observamos efeito do fluxo acumulado com a riqueza, o que reforça a ideia do

clima e da topografia como fortes preditores locais, porém poucos preditivos em maior

escala (Das et al., 2012; Oberdorff et al., 1995, 2011). A relação negativa observada

entre a produtividade primária terrestre e a riqueza de peixes também é descrita por

Guégan et al. (1998) e Oberdorff et al. (2011), explicando de 76 a 93% da variação da

riqueza da ictiofauna, através da área drenada da bacia, da vazão na foz do rio e da

produtividade primária terrestre. Oberdorff et al. (2011) e Guégan et al. (1998)

concluem que o aumento da disponibilidade de energia levaria ao acúmulo de biomassa

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terrestre que seria disponibilizado para os ambientes aquáticos através do carreamento

lateral. No entanto, a produtividade primaria terrestre tende a subestimar a

produtividade primária aquática em pelo menos 10 vezes (Davies et al., 2008; Guégan

et al., 1998; Hugueny et al., 2010). Quando consideramos ambientes tropicais abertos,

como o caso dos riachos de Cerrado, essa subestimação da produtividade aquática pela

terrestre é ainda maior (Brito et al., 2006), uma vez que em ambientes abertos ocorre

maior entrada de energia e consequente aumento da produtividade primária (Ringler &

Hall 1975; Noel et al. 1986). A entrada de material alóctone pode ocorrer tanto das

porções laterais dos riachos quanto das porções a montante do ponto amostrado, uma

vez que o material orgânico pode ser deslocado dentro do corpo d’água, no sentido

montante–jusante, durante o período chuvoso (Webster & Meyer, 1997, Whiles &

Wallace, 1997, De Paula et al 2011). Assim, a baixa relação existente entre a

produtividade primária terrestre e a riqueza da ictiofauna de riachos pode ser atribuída

tanto a subestimação da produtividade primária aquática quanto ao aporte de matéria

orgânica de porções a montante do ponto amostrado.

Além da produtividade primária terrestre, a evapotranspiração do mês de junho e

a variância da precipitação também demostraram uma relação positiva com a riqueza da

ictiofauna. A influência da evapotranspiração sobre padrões de diversidade é discutida

na literatura como esperada apenas para locais com altas latitudes (Eiserhardt et al.,

2011; Gaston, 2000; Keil et al., 2008), com o seu efeito nas baixas latitudes menos

evidente ou substituído completamente pelo efeito da quantidade de água presente no

sistema (Eiserhardt et al., 2011). A relação entre essas duas variáveis

(evapotranspiração e água) e a riqueza de espécies sugere que em baixas latitudes a

quantidade de energia não seria um fator limitante, uma vez que a energia disponível é

abundante, mas não a quantidade de água, a qual seria o fator limitante. Ao passo que

nas regiões de altas latitudes esta relação se inverteria, com a energia sendo o fator

limitante (Eiserhardt et al., 2011; Gaston, 2000; Keil et al., 2008). Esta relação é

encontrada para libélulas na Europa (Keil et al., 2008), para borboletas na Europa e

África (Hawkins & Porter, 2003; Hawkins et al., 2003) e para peixes neste estudo.

Hawkins et al. (2003) e Hawkins & Porter (2003) mostram que a temperatura é um

importante descritor para a Europa ao passo que a água é mais importante para áreas do

norte da África. Quando testamos a hipótese água-energia não identificamos a relação

descrita na literatura. No entanto, na hipótese de interação, observamos uma relação

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positiva entre a variação da precipitação e a riqueza, sendo que esta relação possui um

coeficiente maior que o da evapotranspiração.

Em qualquer análise em larga escala de processos ecológicos complexos, espera-

se que os resíduos, a parte não explicada das análises, possam ser altos e relacionados

em parte à complexidade e à possibilidade de variáveis não medidas afetarem os

resultados em diversas escalas. Nossos resultados sugerem que a inclusão de

Heterogeneidade Climática Temporal, previamente não incluída em estudos

semelhantes, foi um avanço importante desse trabalho. Com relação ao mapa preditivo

da riqueza de peixes observamos discrepâncias entre os valores encontrados em nosso

modelo e em outros trabalhos que apresentam modelos macroecológicos que apontam o

Brasil como país megadiverso (e.g.:Abell et al., 2008; Oberdorff et al. 2011). Abell et

al. (2008) mostra regiões brasileiras com valores de riqueza superiores a 200 espécies

por bacia. No entanto, temos de fazer ressalvas ao comparar o nosso modelo com os

modelos de Abell et al. (2008) e o de Oberdorff et al. (2011). Nossas predições foram

feitas apenas para riachos de primeira a terceira ordens e não para predições em grandes

rios e bacias (Oberdorff et al., 2011) ou ecorregiões (Abell et al., 2008). A segunda

ressalva a ser apresentada é com relação a precisão do nosso modelo, que apresenta

desde locais que foram mais superestimados, como Bacia do Atlântico Sudeste a locais

que foram extremamente subestimados, assim como Bacia Amazônica. Essa

subestimação da riqueza pode ser em consequência de fatores ambientais que não foram

contempladas no estudo, tais como o volume de água, descrito na literatura como

importante preditor da riqueza de peixes de riachos (Angermeier & Schlosser, 1989;

Hugueny et al., 2010). Ou então uma característica dos sistemas de água doce

continental, que apresentam relações não estacionárias entre as diferentes unidades

hidrográficas, ressaltando a importância de fatores históricos dos biomas, de regiões

hidrográficas e de ecorregiões.

Literatura Citada

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33

Material Suplementar

S1 – Referências bibliográficas e número de riachos inseridos nas análises.

Referência Total de Riachos

Abilhoa et al., 2008 1

Araújo et al., 2011 3

Braga & Andrada 2005 8

Dala-Corte et al., 2009 5

Ferreira 2007 3

Godoi 2004 2

Godoi 2008 8

Gonçalves & Braga 2012 11

Manzzoni et al., 2006 4

Manzzoni et al., 2010 1

Mattos & Iglesias 2010 1

Miranda & Manzzoni 2009 3

Serra et al., 2007 5

Smith et al., 2008 10

Súarez et al., 2009 7

Takahashi et al., 2013 7

Teresa & Langeani 2010 6

Trindade et al., 2010 4

Total 89

1

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34

a) b) c)

-40 -20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260

Evapotranspiration of June (mean)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

-50 0 50 100 150 200 250 300 350

Evapotranspiration of January (mean)

0

50

100

150

200

250

300

350

400

0.0 9676.8 19353.6

Flow Accumulation (mean)

0

100

200

300

400

500

600

700

d) e) f)

-500 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000

Precipitation (mean)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

220

240

-2000 2000 6000 10000 14000 18000

Primary Productivity (mean)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

220

240

-10 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60

Species Richness (mean)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

g) h)

-500 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500

Temperature (SD)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

220

240

260

280

-20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130

Precipitation (SD)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

220

S2 – Distribuição das variáveis utilizadas nos testes

das hipóteses.

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35

S3 - Os 11 filtros espaciais selecionados

para controlar a autocorrelação espacial da

riqueza de peixes de riachos. Todos os

filtros espaciais estão relacionados com

autocorrelação positiva. Os quadrados

estão posicionados sobre os riachos

presentes nas analises, sendo os maiores

valores marcados com quadrados pretos e

os menores valores de branco.

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36

a) b) c)

2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

Estimated Species Richness

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

Re

sid

ua

l (E

stim

ate

d -

Ob

se

rve

d S

pe

cie

Ric

hn

ess) y = 0.2466 - 0.0385*x; p = 0.6647; r2 = 0.0003

10.4 10.6 10.8 11.0 11.2 11.4 11.6 11.8 12.0

Estimated Species Richness

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

Re

sid

ua

l (E

stim

ate

d -

Ob

se

rve

d S

pe

cie

Ric

hn

ess) y = -31.397 + 3.347*x; p = 0.062; r2 = 0.227

6.5 7.0 7.5 8.0 8.5 9.0 9.5 10.0 10.5 11.0

Estimated Species Richness

-35

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0

5

10

15

Re

sid

ua

l (E

stim

ate

d -

Ob

se

rve

d S

pe

cie

Ric

hn

ess) y = 11.923 - 1.425*x; p = 0.056; r2 = 0.021

d) e) f)

9.4

9.6

9.8

10.0

10.2

10.4

10.6

10.8

11.0

11.2

11.4

11.6

11.8

12.0

12.2

Estimated Species Richness

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

Re

sid

ua

l (E

stim

ate

d -

Ob

se

rve

d S

pe

cie

Ric

hn

ess)

y = -28.519 + 2.471*x; p = 0.220; r2 = 0.065

6.5 7.0 7.5 8.0 8.5 9.0 9.5

Estimated Species Richness

-35

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0

5

10

Re

sid

ua

l (E

stim

ate

d -

Ob

se

rve

d S

pe

cie

Ric

hn

ess) y = -13.7993 + 1.382*x; p = 0.4127; r2 = 0.0125

10 12 14 16 18 20 22

Estimated Species Richness

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

Re

sid

ua

l (E

stim

ate

d -

Ob

se

rve

d S

pe

cie

Ric

hn

ess) y = -3.497 + 0.199*x; p = 0.402; r2 = 0.005

g) h)

3 4 5 6 7 8 9 10

Estimated Species Richness

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

Re

sid

ua

l (E

stim

ate

d -

Ob

se

rve

d S

pe

cie

Ric

hn

ess) y = -19.016 + 2.734*x; p < 0.001; r2 = 0.472

2 4 6 8 10 12 14 16 18

Estimated Species Richness

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

Re

sid

ua

l (E

stim

ate

d -

Ob

se

rve

d S

pe

cie

Ric

hn

ess) y = 5.421 - 0.522*x; p = 0.036; r2 = 0.122

S4 – Gráfico de dispersão entre a riqueza estimada de

espécies de peixes de riacho e a diferença entre a

riqueza observada e estimada para; a) todos os riachos

presentes na análise e para a b) bacia do Atlântico

Trecho Sudeste; c) bacia do Paraná; d) bacia do

Atlântico Trecho Leste; e) bacia do Araguaia -

Tocantins; f) bacia Amazônica; g) bacia do São

Francisco; e h) bacia do Atlântico Trecho

Norte\Nordeste

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Capítulo 2

NÃO ESTACIONARIDADE NA DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA DE PEIXES

DE RIACHOS

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NÃO ESTACIONARIEDADE NA DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA DE PEIXES

DE RIACHOS

Resumo

A existência de um gradiente de diversidade é observada em diversos grupos de

organismos, com a hipótese Água-Energia apresentando o maior efeito causal na

formação desse gradiente. A relação entre a diversidade de espécies e as variáveis que

representam a hipótese é geralmente considerada linear e assume estacionariedade

espacial, igual relação de causa e efeito ao longo de toda extensão geográfica. Em

muitos casos esse pressuposto de estacionariedade não é testado e nem observado em

gradientes de diversidade, produzindo assim modelos imprecisos. Assim, o nosso

objetivo é quantificar estacionariedade, através do uso de regressões locais

(Geographical Weight Regression – GWR) das relações existentes entre a ictiofauna de

riachos e as hipóteses Água-Energia, Produtividade e Heterogeneidade Temporal

considerado o melhor conjunto de hipóteses para explicar o padrão de riqueza de peixes

de riachos. No modelo evidenciamos a ausência de estacionariedade nas relações entre a

ictiofauna e as hipóteses testadas com a riqueza relacionada, principalmente, à variação

anual da temperatura, evapotranspiração do mês de Junho e a produtividade primária

terrestre. Além disso, observamos que a dinâmica água-energia é um possível

mecanismo de restrição metabólica agindo na estruturação da comunidade de peixes de

riachos. Esse mecanismo divide o Brasil em duas regiões: i) Amazônica, com clima

mais estável e populações pouco resistentes a amplitudes térmicas; e ii) Central, com

maiores amplitudes de temperaturas e populações mais resistentes a variações térmicas.

Palavras Chaves: Água-Energia, Climática, Ecorregiões de Água Doce, GWR,

Heterogeneidade Temporal, Produtividade Primária.

Introdução

A existência de um gradiente de diversidade, cujos máximos estão presentes na

região equatorial e os mínimos nas regiões polares, é observada em diversos grupos de

organismos (e.g. Hawkins et al., 2003; Willig et al., 2003). A explicação para esse

gradiente é atribuído a diversas hipóteses como: (i) Energética, (ii) Água-Energia, (iii)

Altitude, (iv) Heterogeneidade Climática, (v) Produtividade Primária, e (vi) Metabólica

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(Wright, 1983; Colwell & Lees, 2000; Hawkins & Porter, 2003). Sendo a hipótese

Água-Energia (O’Brien & Road, 1998) a que apresenta maior efeito causal na

distribuição da riqueza de espécies (Hawkins et al., 2003).

A hipótese Água-Energia (O’Brien & Road, 1998) prediz a riqueza de espécies

como um produto da quantidade de água disponível no local e da evapotranspiração. A

relação entre a diversidade biológica e as variáveis que descrevem a quantidade de água

e de energia não é a mesma ao longo do gradiente latitudinal (Hawkins et al., 2003). Em

baixas latitudes a quantidade de água disponível no sistema é o fator limitante da

diversidade, ao passo que nas altas latitudes a energia (evapotranspiração) é o

determinante do gradiente de riqueza (Gaston, 2000; Keil et al., 2008; Eiserhardt et al.,

2011). Isso ocorre porque locais com baixas latitudes sofrem pouca influência do

movimento de precessão da Terra, uma vez que estão localizados próximos ao equador.

Assim a entrada de energia (proveniente do sol) ocorre de forma uniforme ao longo do

ano e faz com que a água seja o fator limitante da diversidade. Por outro lado, as altas

latitudes sofrem maior influência do movimento de precessão, ocorrendo períodos do

ano em que o hemisfério norte está mais próximo ao sol (verão no hemisfério norte e

inverno no hemisfério sul) e períodos em que o hemisfério sul está mais próximo ao sol

(inverno no hemisfério norte e verão no hemisfério sul. A quantidade de água e de

energia interfere na diversidade biótica através de dois mecanismos não mutuamente

excludentes (Hawkins & Porter, 2003; Hawkins et al., 2003; Rodríguez et al., 2005): (i)

cascata trófica – maiores quantidades de energia e de água proporcionam aumento da

produtividade primária, com mais recursos disponíveis os consumidores primários

aumentam sua biomassa e disponibilizam mais recursos para os consumidores

secundários; e (ii) requerimentos metabólicos – com o aumento da latitude ocorre

também a diminuição da temperatura fazendo com que espécies menos tolerantes as

baixas temperaturas sejam eliminadas do pool (Hawkins et al., 2003).

A relação entre a diversidade de espécies e as variáveis que representam a(s)

hipótese(s) é geralmente linear e assume estacionariedade espacial (Angermeier &

Schlosser, 1989; Wylie & Currie, 1993; Oberdorff et al., 2005). Relações estacionárias

são caracterizadas por possuir igual relação de causa e efeito ao longo de toda extensão

geográfica dos dados (Osborne et al., 2007). Desta forma o modelo global (obtido

utilizando todos os dados) é igual aos modelos locais (obtidos a partir de um

subconjunto dos dados). De fato a estacionariedade é um pressuposto para a aplicação

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de modelos globais (Zar, 2010). Em muitos casos esse pressuposto não é testado e nem

observado em gradientes de diversidade (Foody, 2004; Cassemiro et al., 2007),

produzindo assim modelos globais imprecisos cujas estimativas locais são pouco

representativas (Foody, 2004). A não estacionariedade das relações dificulta identificar

os reais mecanismos estruturadores (Osborne et al., 2007) uma vez que a variação dos

coeficientes de regressão é ignorada e as relações são descritas pela sua média ao longo

do espaço geográfico (Foody, 2004). Variações morfológicas do relevo, como a

presença de montanhas, vales, rios e platôs ou a heterogeneidade, espacial ou temporal,

das condições ambientais são as principais causas de não estacionariedade nas relações

da diversidade com as hipóteses (O’Brien & Road, 1998; Bickford & Laffan, 2006).

Modificações no relevo podem isolar populações, provocando especiações alopátricas,

ou unir populações isoladas evitando assim as especiações. A heterogeneidade das

condições ambientais cria um ambiente com alta diversidade de nichos, permitindo a

coexistência de mais espécies (Bickford & Laffan, 2006). Assim, a não estacionariedade

na relação riqueza de espécies e ambiente é uma característica que não pode ser

desconsiderada nos estudos de gradientes de diversidade (Foody, 2004).

Uma forma de quantificar a não estacionariedade é através da utilização de

técnicas de estimativas locais como a Geographical Weighted Regression – GWR que

calcula o ajuste e os coeficientes de determinação para cada um dos pontos presentes no

banco de dados. O cálculo é feito através do particionamento do conjunto de dados em

subconjuntos, dado um critério de conectividade entre os pontos (Brunsdon et al.,

1998). Relações estacionárias apresentam os mesmos valores de coeficientes de

determinação e de correlação em toda a extensão geográfica, além de serem iguais ao do

modelo global de regressão. Em uma comparação entre a GWR e Ordinary Least

Square – OLS, Osborne et al.(2007) encontraram correlações maiores na GWR (r² =

0.47) que na OLS (r² = 0.18). Apesar da GWR ter melhor ajuste que a OLS, a GWR não

deve ser utilizada como uma alternativa, mas sim como complemento à OLS (Osborne

et al., 2007). Enquanto que a OLS fornece uma estimativa média global das relações, a

GWR mostra as peculiaridades presentes no banco de dados melhorando assim a

capacidade de predição e de explicação dos mecanismos e processos (Osborne et al.,

2007).

Para peixes de riachos tropicais em território brasileiro, foi demonstrado que a

distribuição da diversidade é produto da interação entre três hipóteses: (i) Água-

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Energia; (ii) Produtividade Primária Terrestre e (iii) Heterogeneidade Temporal

Climática, sendo essa conclusão feita com a utilização de uma OLS, com ajuste igual a

41,6% (Vieira et al., 2015). Apesar do elevado valor de ajuste, a área geográfica

brasileira apresenta uma grande heterogeneidade morfológica e climática isto é, regiões

com elevadas temperaturas e pluviosidades (região norte/nordeste do Brasil), regiões

com baixas temperaturas e elevada pluviosidade (região sul e parte do sudeste do Brasil)

e regiões com elevadas temperaturas e longos períodos secos (região centro- oeste e

nordeste do Brasil; Marengo & Valverde, 2007).

Assim, o nosso objetivo é quantificar o nível de estacionariedade das relações,

testando as seguintes hipóteses: i) A evapotranspiração será relacionada positivamente à

riqueza de espécies em áreas cuja restrição hídrica for menor (bacia Amazônica, trechos

Leste/Norte e nordeste da bacia Atlântica e parte leste da bacia do rio Paraná); ii) A

disponibilidade de água (precipitação média anual) será relacionada positivamente em

áreas cuja a restrição for maior (bacia do rio Tocantins e norte da bacia do rio Paraná);

iii) A produtividade primária terrestre se relacionará positivamente a riqueza de peixes

em toda a extensão, sendo que nas áreas centrais do Brasil essa relação será maior que

nas áreas Amazônicas e costeiras; e iv) A variação da precipitação será relacionada

positivamente nas áreas centrais do Brasil.

Materiais e Métodos

Banco de dados

Para o teste das hipóteses foram utilizados bancos de dados existentes de coletas

de campo dos autores. Para que a coleta fosse inserida no banco de dados era necessário

atender aos seguintes critérios: (1) coleta realizada em riachos de primeira a terceira

ordem; (2) riachos georreferenciados; (3) amostragem da ictiofauna realizada com pesca

elétrica, rede de arrasto e/ou rede de mão; (4) amostrado um trecho mínimo de 50

metros do riacho por ponto; (5) um único ponto amostral por riacho; (6) espécies

identificadas por pesquisadores experientes e que seguem a literatura taxonômica

vigente (e.g.: Agostinho et al., 2010, Alves & Pompeu 2001, Baumgartner et al., 2012,

Britski et al. 1988, Britski et al., 2007, Buckup, 1993, Garavello, 1977, Graça &

Pavanelli 2007, Malabarba et al., 2013, Mazzoni et al., 2012, Menezes, 1969, Oyakawa

et al., 2006, Santos et al., 2004, Vari, 1991), (7) lista de espécies por ponto amostrado e

(8) coletas realizadas em locais com o menor impacto antrópico possível.

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Complementando este banco de dados foram compilados trabalhos científicos

publicados em periódicos, monografias, dissertações e teses. Para a busca da literatura

foi utilizado o portal de periódicos da CAPES (http://www-periodicos-capes-gov-

br.ez49.periodicos.capes.gov.br/index.php?option=com_phome) e as palavras chaves

peixe*, fish*, stream*, riacho*, lista* e checklist*. Em todos os casos só foram

integrados ao banco de dados os estudos que cumpriam integralmente os critérios

previamente determinados para o estudo. Esses critérios foram escolhidos de forma a

garantir a comparabilidade entre as amostras e diminuir a heterogeneidade do banco de

dados. Ao final da pesquisa foram obtidos 18 trabalhos da literatura que contribuíram

com 89 riachos para o banco de dados. Os riachos oriundos da literatura foram

compilados ao banco de dados dos colaboradores, inicialmente com 570 riachos,

totalizando 653 riachos (Figura 1).

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Tabela 1 – Distribuição dos pontos entre os biomas, regiões hidrográficas e Ecorregiões

de Água Doce (FEOW).

Bioma Região Hidrográfica FEOW Número total

de riachos

Amazônia Amazônica

Estuário Amazônico e Drenagens Costeiras 27

Escudo Amazônico da Guiana 7

Terras Baixas Amazônicas 138

Escudo Brasileiro do Madeira 21

Rio Negro 70

Tapajós Juruena 26

Xingu 7

Atlântico Trecho Norte/Nordeste Estuário Amazônico e Drenagens Costeiras 17

Caatinga Atlântico Trecho Norte/Nordeste

Nordeste Caatinga e Drenagens Costeiras 17

São Francisco 1

São Francisco São Francisco 1

Cerrado

Paraná

Paraguai 6

Tocantins Araguaia 2

Alto Paraná 100

São Francisco São Francisco 26

Tocantins Tocantins Araguaia 54

Alto Paraná 2

Mata Atlântica

Atlântico Trecho Leste Fluminense 15

Paraíba do Sul 6

Atlântico Trecho Sudeste Laguna dos Patos 5

Ribeira de Iguape 11

Paraná

Paraíba do Sul 1

Ribeira de Iguape 6

Alto Paraná 87

Total 653

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Figura 1 – Localização espacial dos riachos analisados e divisão das regiões

hidrográficas existentes no Brasil. (Adaptado de Abell et al., 2008).

Variáveis macro-ecológicas e hipóteses utilizadas

Foi testada a relação entre a riqueza de espécies de peixes de riachos e três

hipóteses macroecológicas: i) Água - Energia; ii) Produtividade Primária e iii)

Heterogeneidade Climática Temporal. As hipóteses foram selecionadas de acordo com

Vieira et al. (2015), uma vez que essas hipóteses explicam a estrutura do gradiente de

diversidade. Desta forma, utilizamos as variáveis evapotranspiração dos meses de

janeiro (AETJan) e junho (AETJun) e a precipitação média anual (PPMed) como

representantes da hipótese Água-Energia, a produtividade primária terrestre (PP)

representando a hipótese de Produtividade Primária, e a variação anual da temperatura

(TempVar) e da precipitação (PPVar) como as representantes da hipótese de

Heterogeneidade Climática Temporal.

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Análises estatísticas

A quantificação da estacionariedade da relação riqueza de peixes e a variáveis

que representam as hipóteses Água-Energia, Produtividade Primária Terrestre e

Heterogeneidade Climática Temporal foi feita com o uso da análise Geografical Weight

Regression (GWR) seguindo o protocolo indicado na Figura 2. Esta análise faz

estimativas locais de ajustes e de coeficientes de regressão utilizando subconjuntos do

banco de dados considerado e definido segundo uma Spatial Weighting Function. Esta

função atribui um peso (ou importância) a cada local, o qual será utilizado na estimativa

dos coeficientes de um local foco. Assim, locais próximos (dado um critério de

conectividade) terão mais importância que os locais mais afastados do ponto foco,

sendo o limiar de perto e longe definido pelo raio (bandwidth) escolhido, que no nosso

caso é representado pelo a conectividade entre os pontos. Isto permite especificar a

heterogeneidade de relações e identificar regiões onde o modelo é mais (ou menos)

robusto e as variáveis são mais (ou menos) importantes para a explicação do padrão

encontrado. Neste estudo, a conectividade entre os pontos foi definida de três formas: i)

distância euclidiana entre todos os pontos; ii) distância euclidiana entre todos os pontos

(W Global) presentes em uma mesma bacia hidrográfica (W Bacia), assim pontos

localizados em diferentes bacias possuem conectividade zero; e iii) distância euclidiana

entre todos os pontos presentes em uma mesma ecorregião (W FEOW), da mesma

forma que na distância entre bacias hidrográficas os pontos em diferentes ecorregiões

possuem conectividade zero. O número de pontos inseridos nas estimativas locais pode

ser definido de duas formas: (i) fixo, ou seja, o número de pontos presentes em cada

estimativa é uma função apenas do raio de maneira que cada estimativa tem um número

variável de pontos dependendo da distribuição espacial dos dados; ou (ii) adaptativo,

isto é, o número de pontos em cada estimativa é constante porem variando o raio. Neste

estudo definimos o número de pontos segundo um raio fixo, com a escolha do raio feita

de modo a minimizar a autocorrelação espacial e maximizando o ajuste do modelo

expresso por um menor valor de AIC (Figura 2).

Para a quantificação da autocorrelação espacial, utilizando a matriz WGlobal

como critério de conectividade, definimos 17 classes de distância com igual número de

pontos em cada uma das classes. Para as matrizes WBacia e WFEOW foram definidas

classes que mantiveram distâncias equivalentes entre os centróides das classes. Definida

as distâncias, foi gerado um GWR para cada uma das classes (utilizando sua respectiva

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matriz W como critério de conectividade dos pontos) e calculado o AIC de cada

modelo. Os valores de Moran’s I e de AIC por classe de distância foram plotados em

um gráfico, e selecionada a classe de distância com o menor valor de AIC e Moran’s I

igual ou próximo a zero. Esse procedimento foi feito para cada uma das matrizes W

permitindo selecionar três modelos de GWR, um com a matriz WGlobal, outro com a

WBacia e um terceiro com a WFEOW (Figura 2). A autocorrelação de cada modelo foi

avaliada com o Scaterplot de Moran. Para o melhor GWR foi calculado o ajuste global

do modelo (r²), medida a autocorrelação espacial dos resíduos, e especializado os

coeficientes de determinação das variáveis. O GWR foi feito no programa SAM –

Spatial Analysis for Macroecology (Rangel et al., 2010) utilizando a Spatial Weighting

Function Gausiana, todos os modelos apresentam o valor de Moran’s I e o Critério de

informação de Akaike (AIC).

Figura 2 – Fluxograma dos procedimentos utilizados para seleção do melhor modelo

GWR.

Resultados

Para as três matrizes foram definidas 17 classes de distâncias, sendo que a matriz

WGlobal apresentou autocorrelação de 0.459 (Moran’s I = 0.459, p=0.005; Tabela 1), a

matriz WBacia autocorrelação de 0.495 (Moran’s I = 0.495, p=0.005; Tabela 2) e a

matriz WFEOW autocorrelação de 0.569 (Moran’s I = 0.569, p=0.005; Tabela 3) na

primeira classe de distância. O índice de Moran’s I considerando a matriz WGlobal

apresentou um padrão de autocorrelação positiva nas primeiras classes de distância,

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ausência de autocorrelação nas classes medianas e autocorrelação negativa nas últimas

classes (Tabela 1, Figura 3a). Os GWR considerando as classes de distâncias da matriz

WGlobal apresentaram r² entre 0.095 a 0.677 (Tabela 1) e ΔAIC máximo igual a

2496.270 (Tabela 1, Figura 3a). Observando a relação existente entre o índice de

Moran’s I e o AIC (Tabela 1, Figura 3a) selecionamos a quarta classe de distância como

o melhor raio para investigar a heterogeneidade espacial das relações. No caso da matriz

WBacia o índice de Moran’s I apresentou autocorrelação sempre positiva, sendo que as

últimas classes de distâncias apresentaram os maiores valores do índice (Tabela 2,

Figura 3b). Os GWR considerando as classes de distâncias da matriz WBacia

apresentaram r² variando de 0.195 a 0.376 (Tabela 2) e AIC entre 4532.436 a 4651.543

(Tabela 2, Figura 2b), sendo selecionada também, a quarta classe de distância como o

melhor raio para o GWR, segundo a relação existente entre o índice de Moran’s I e o

AIC (Tabela 2, Figura 3b). Quando considerada a matriz WFEOW O índice de Moran’s

I apresentou autocorrelação positiva na primeira classe de distância e ausência de

autocorrelação nas classes dois a quatro atingindo valores negativos nas classes

seguintes e com um comportamento senoidal nas últimas classes (Tabela 3, Figura 3c).

Os GWR considerando as classes de distâncias da matriz WFEOW apresentaram r²

variando de 0.180 a 0.250 (Tabela 3) e AIC entre 4609.100 a 4668.212 (Tabela 3,

Figura 3c), sendo selecionada a sexta classe de distância quando observamos a relação

existente entre o índice de Moran’s I e o AIC (Tabela 3, Figura 3c). Os três modelos

GWR selecionados como os melhores modelos em cada matriz de conectividade não

apresentam autocorrelação espacial nas classes de distância selecionadas (Figura 4).

A comparação entre os três melhores modelos de GWR (segundo a relação AIC

e o índice de Moran’s I; Tabela 4) apresentou a matriz WGlobal associada ao raio de

664.053 km como a melhor forma de captar a heterogeneidade espacial presente nas

relações. O GWR da matriz WGlobal apresentou ausência de autocorrelação espacial

em todas as classes de distâncias (Figura 5) além de apresentar um poder de predição de

40% (r² = 0.400; p = 0.000) da riqueza observada (Figura 6a). Quando consideramos

cada uma das unidades hidrográficas em separado, a bacia Amazônica apresentou uma

correlação maior que a global, 45.6% (r² = 0.456; p = 0.000; Figura 6b). O trecho

norte/nordeste da bacia Atlântica apresentou poder de predição de 21.2% (r² = 0.212; p

= 0.005; Figura 6c), sendo esta região a que tem o menor poder preditivo e a única a

apresentar uma relação menor que a global. Na bacia do rio Tocantins a correlação foi

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de 59.4% (r² = 0.594; p = 0.000; Figura 6d), na bacia do rio São Francisco foi de 72.9%

(r² = 0.729; p = 0.000; Figura 6e), no trecho leste da bacia Atlântica de 59.6% (r² =

0.596; p < 0.001; Figura 6f) e na bacia do rio Paraná 56.8% (r² = 0.568; p = 0.000;

Figura 6g). No trecho sudeste da bacia Atlântica o ajuste do modelo foi de 87.3% (r² =

0.873; p = 0.000; Figura 6h), sendo esta região a que tem o maior coeficiente de

correlação.

No modelo evidenciamos a ausência de estacionariedade nas relações entre a

ictiofauna e as hipóteses testadas (Água-Energia, Produtividade Primária Terrestre e

Heterogeneidade Climática Temporal; Figura 7). O GWR apresentou a riqueza da

ictiofauna de riachos relacionada principalmente à variação anual da temperatura

(Figura 7a), evapotranspiração do mês de Junho (Figura 7b) e a produtividade primária

terrestre (Figura 7c), uma vez que estas três variáveis são as que apresentam as maiores

relações com a riqueza de espécies. Em seguida observamos a média (Figura 7d) e a

variação (Figura 7e) da precipitação, com relações menores, e por último a

evapotranspiração do mês de Janeiro (Figura 7f).

A variação da temperatura (Figura 7a) apresenta dois gradientes: i) no sentido

leste oeste, com valores extremos negativos a oeste e menor magnitude a leste e ii) no

sentido noroeste-sudeste, com relações negativas a noroeste e positivas a sudeste

(Figura 7a). A evapotranspiração de Junho (Figura 7b) apresentou também um gradiente

noroeste-sudeste com relações negativas a noroeste e positivas a sudeste com relações

neutras na área costeira, transição Amazônica-Tocantins e extremo noroeste da região

Amazônica. A produtividade primária terrestre (Figura 7c) apresentou o inverso do

gradiente de variação da evapotranspiração de Junho (Figura 7b), com relações positivas

na bacia Amazônica e negativa nas áreas centrais do Brasil. A média da precipitação

(Figura 7d) apresentou uma relação positiva na bacia Amazônica, trecho norte/nordeste

da região Atlântica e na região do Tocantins, com relações neutras na bacia hidrográfica

do Paraná, São Francisco e trecho sudeste da região atlântica, e relações negativas no

trecho leste e sudeste da bacia Atlântica, evidenciando um gradiente norte-sul, com a

porção norte (mais próximo ao equador) sendo mais relacionada a quantidade de água

(precipitação média anual). A variação da precipitação (Figura 7e) mostra relações

positivas apenas para a bacia Amazônica e extremo oeste do trecho norte/nordeste da

bacia Atlântica. A evapotranspiração de Janeiro (Figura 7f) apresentou apenas alguns

valores positivos na Amazônia e no trecho norte/nordeste da bacia Atlântica.

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Na análise é possível discriminar três regiões com características bem distintas;

i) região amazônica, formada pelos pontos centrais e extremo oeste da bacia

Amazônica; ii) região de transição formada pelos pontos na borda lesta da bacia

Amazônica; e iii) região central do Brasil, formada pelos pontos presentes na bacia do

rio Tocantins, São Francisco e Paraná (Figura 7). Essas três regiões formam um

gradiente de relações, com a região de transição apresenta não relação entre a riqueza e

as variáveis (Figura 7). A região amazônica apresentou relação negativa com a variação

da temperatura (Figura 7a) e com a evapotranspiração do mês de Junho (Figura 7b) e

positiva com a produtividade primária terrestre (Figura 7c), média (Figura 7d) e

variação (Figura 7e) da precipitação. A região central do Brasil apresentou relações

inversas a da amazônica para as principais variáveis, relação positiva com a variação da

temperatura (Figura 7a) e com a evapotranspiração do mês de Junho (Figura 7b) e

negativa com a produtividade primária terrestre (Figura 7c). A média da precipitação

(Figura 7d) apresentou relação positiva na bacia do Tocantins e não relação nas bacias

do São Francisco e do Paraná. A variação da precipitação (Figura 7e) não apresentou

relação com a região central do Brasil. Assim, temos que a maior riqueza de peixes de

riachos, da região amazônica, está relacionada a locais que apresentam temperatura e

entrada de energia constante, com chuvas abundantes e distribuídas heterogeneamente

ao longo do ano e em locais cuja vegetação é mais densa (produtividade primária

terrestre maior). Já na região central do Brasil observamos que a maior riqueza está em

locais cuja temperatura e a entrada de energia são mais heterogêneas, com chuvas

abundantes e vegetação menos densa (produtividade primária terrestre menor).

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Tabela 2 – Autocorrelação espacial e GWR feita com a matriz de conectividade Global. Os valores em negrito indicam modelo o melhor modelo.

Estrutura espacial GWR

Classes Count Centróide

Moran's I p I (max) I/I(max) AIC Δ AIC r² F (r²) p (r²) Graus Km

1 25044 0.599 66.561 0.459 0.005 1.138 0.404

2 25042 2.330 258.910 -0.008 0.053 0.689 -0.012

5571.410 1372.366 0.309 1.222 0.033

3 25040 4.275 475.038 0.220 0.005 0.891 0.247

5981.492 1782.448 0.095 0.486 0.908

4 25042 5.976 664.053 -0.017 0.011 1.050 -0.016

4199.044 0.000 0.677 17.888 0.000

5 25044 7.368 818.732 0.190 0.005 0.859 0.221

4272.902 73.858 0.614 18.617 0.000

6 25046 8.386 931.852 0.026 0.010 1.221 0.021

4328.759 129.715 0.567 18.406 0.000

7 25040 9.444 1049.417 -0.047 0.005 1.431 -0.033

4368.214 169.170 0.533 18.586 0.000

8 25046 11.010 1223.431 0.031 0.005 0.638 0.048

4411.888 212.844 0.489 19.292 0.000

9 25042 13.073 1452.672 0.113 0.005 0.654 0.172

4440.411 241.367 0.454 21.354 0.000

10 25036 14.884 1653.910 -0.114 0.005 0.701 -0.162

4454.316 255.272 0.436 23.541 0.000

11 25042 16.414 1823.924 -0.090 0.005 0.577 -0.155

4473.099 274.055 0.415 24.662 <0.001

12 25042 17.771 1974.714 -0.036 0.005 0.361 -0.099

4494.688 295.644 0.392 24.722 <0.001

13 25044 19.364 2151.728 -0.027 0.005 0.658 -0.041

4527.241 328.197 0.357 23.395 0.000

14 25042 20.994 2332.853 -0.265 0.005 0.800 -0.331

4555.093 356.049 0.325 22.088 <0.001

15 25038 22.416 2490.866 -0.140 0.005 0.593 -0.237

4574.017 374.973 0.302 21.275 0.000

16 25042 24.124 2680.659 -0.095 0.005 0.531 -0.178

4594.016 394.972 0.276 20.403 0.000

17 25044 29.731 3303.709 -0.227 0.005 1.178 -0.192

4624.170 425.126 0.235 20.230 <0.001

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51

Tabela 3 – Autocorrelação espacial e GWR feita com a matriz de conectividade por Bacia. Os valores em negrito indicam modelo o melhor

modelo.

Estrutura espacial GWR

Classes Count Centríide

Moran's I p I (max) I/I(max) AIC Δ AIC r² F (r²) p (r²) Graus Km

1 19134 0.518 57.560 0.495 0.005 1.135 0.436

4610.038 77.602 0.276 15.324 <0.001

2 9282 1.555 172.792 0.007 0.568 0.432 0.016

4557.103 24.667 0.343 25.443 <0.001

3 6450 2.592 288.023 0.067 0.005 0.954 0.070

4540.771 8.335 0.365 31.100 0.000

4 10778 3.628 403.143 0.128 0.005 1.073 0.119

4532.436 0.000 0.376 35.314 0.000

5 7618 4.665 518.375 0.173 0.005 1.360 0.127

4541.966 9.530 0.361 36.083 <0.001

6 12698 5.702 633.606 0.019 0.095 1.654 0.011

4557.798 25.362 0.335 34.963 <0.001

7 11982 6.739 748.838 0.144 0.005 0.967 0.149

4572.779 40.343 0.311 33.480 0.000

8 19400 7.775 863.958 0.128 0.005 1.091 0.117

4585.271 52.835 0.291 32.113 0.000

9 13806 8.812 979.189 -0.045 0.005 1.558 -0.029

4598.359 65.923 0.271 30.619 0.000

10 11400 9.849 1094.421 0.167 0.005 2.013 0.083

4612.604 80.168 0.251 28.824 0.000

11 3462 10.885 1209.541 0.410 0.005 2.310 0.178

4624.404 91.968 0.234 27.316 0.000

12 1342 11.922 1324.773 0.096 0.025 2.152 0.045

4633.497 101.061 0.221 26.189 <0.001

13 2548 12.959 1440.004 0.451 0.005 1.755 0.257

4639.173 106.737 0.213 25.513 <0.001

14 1682 13.996 1555.236 0.566 0.005 4.701 0.121

4643.624 111.188 0.207 25.010 0.000

15 874 15.032 1670.356 0.647 0.005 3.786 0.171

4646.860 114.424 0.202 24.676 <0.001

16 206 16.069 1785.587 0.036 0.633 0.387 0.093

4649.417 116.981 0.199 24.416 0.000

17 590 17.106 1900.819 0.391 0.005 3.447 0.113 4651.543 119.107 0.195 24.194 <0.001

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52

Tabela 4 – Autocorrelação espacial e GWR feita com a matriz de conectividade por FEOW. Os valores em negrito indicam modelo o melhor

modelo.

Estrutura espacial GWR

Classes Count Centróide

Moran's I p I (max) I/I(max) AIC Δ AIC r² F (r²) p (r²) Graus Km

1 15942 0.398 44.226 0.569 0.005 1.351 0.421

4668.212 59.112 0.180 16.562 <0.001

2 4568 1.194 132.677 0.103 0.005 0.841 0.122

4634.513 25.413 0.218 23.128 0.000

3 4146 1.991 221.240 0.079 0.010 1.116 0.071

4620.315 11.215 0.235 26.970 0.000

4 2532 2.787 309.691 0.015 0.533 1.568 0.010

4613.912 4.812 0.244 29.257 0.000

5 4912 3.583 398.143 0.127 0.005 1.807 0.070

4610.083 0.983 0.249 30.684 <0.001

6 2512 4.380 486.706 0.024 0.357 2.083 0.012

4609.100 0.000 0.250 31.404 <0.001

7 3602 5.176 575.157 -0.256 0.005 2.614 -0.098

4611.414 2.314 0.247 31.346 <0.001

8 3246 5.972 663.609 -0.261 0.005 3.495 -0.075

4614.653 5.553 0.242 31.009 <0.001

9 2138 6.769 752.171 0.090 0.005 3.926 0.023

4619.448 10.348 0.236 30.288 <0.001

10 7150 7.565 840.623 0.466 0.005 1.811 0.257

4624.757 15.657 0.229 29.399 0.000

11 5276 8.361 929.074 0.067 0.010 3.192 0.021

4630.194 21.094 0.221 28.456 <0.001

12 4618 9.157 1017.526 -0.291 0.005 3.483 -0.084

4635.239 26.139 0.215 27.593 <0.001

13 4804 9.954 1106.088 0.210 0.005 3.858 0.054

4639.779 30.679 0.209 26.832 0.000

14 410 10.750 1194.540 -0.371 0.005 10.667 -0.035

4643.826 34.726 0.204 26.163 <0.001

15 450 11.546 1282.992 -0.094 0.136 1.143 -0.082

4647.291 38.191 0.199 25.594 <0.001

16 86 12.343 1371.554 0.013 0.915 2.418 0.006

4650.201 41.101 0.195 25.120 0.000

17 302 13.139 1460.006 -0.116 0.111 4.144 -0.028 4652.602 43.502 0.192 24.733 <0.001

Tabela 5 - Comparação entre os três modelos de conectividade Os valores em negrito indicam modelo o melhor modelo.

Modelo W

Estrutura espacial GWR

Classes Count Centróide

Moran's I P I (max) I/I(max) AIC Δ AIC r² F (r²) p (r²) Graus Km

Global 4 25042 5.976 664.053 -0.017 0.011 1.050 -0.016

4199.044 0.000 0.677 17.888 0.000

Bacia 4 10778 3.628 403.143 0.128 0.005 1.073 0.119

4532.436 333.392 0.376 35.314 0.000

FEOW 6 2512 4.380 486.706 0.024 0.357 2.083 0.012 4609.100 410.056 0.250 31.404 <0.001

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53

a) b) c)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

Classes de Distâncias

4000

4200

4400

4600

4800

5000

5200

5400

5600

5800

6000

6200

AIC

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

Mo

ran

's I

Akaike Information Criterion (AICc)

Moran's I

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

Classes de Distâncias

4520

4540

4560

4580

4600

4620

4640

4660

AIC

-0.1

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

Mo

ran

's I

Akaike Information Criterion (AICc)

Moran's I

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

Classes de Distâncias

4600

4610

4620

4630

4640

4650

4660

4670

4680

AIC

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

Mo

ran

's I

Akaike Information Criterion (AICc)

Moran's I

Figura 3 – Gráfico do AIC e da autocorrelação espacial por classe de distância para as matrizes: Global (a), Bacia (b) e FEOW (c).

a) b) c)

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Riqueza Observada

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

dia

de

Riq

ue

za

do

s V

izin

ho

s (

Cla

sse

de

Dis

tân

cia

)

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Riqueza Observada

13.70

13.75

13.80

13.85

13.90

13.95

14.00

14.05

14.10

14.15

dia

de

Riq

ue

za

do

s V

izin

ho

s (

Cla

sse

de

Dis

tân

cia

)

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Riqueza Observada

14.5

14.6

14.7

14.8

14.9

15.0

15.1

dia

de

Riq

ue

za

do

s V

izin

ho

s (

Cla

sse

de

Dis

tân

cia

)

Figura 4 – Scaterplot de Moran para matrizes: Global (a), Bacia (b) e FEOW (c).

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54

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

Classes de Distâncias

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

Mo

ran

's I

Riqueza Observada

Residuos

Figura 5 – Autocorrelação da riqueza e do resíduo do GWR feito com a matriz.

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55

a) b)

-10 0 10 20 30 40 50 60

Riqueza Observada

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

GW

R R

esíd

uo

s

y = -4.156 + 0.360*x; r2 = 0.400; p = 0.000

-10 0 10 20 30 40 50 60

Riqueza Observada

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

GW

R R

esíd

uo

s

y = -6.271 + 0.401*x; r2 = 0.456; p = 0.000

c) d)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26

Riqueza Observada

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

GW

R R

esíd

uo

s

y = -2.397 + 0.215*x; r2 = 0.212; p = 0.005

-5 0 5 10 15 20 25 30 35 40

Riqueza Observada

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

25

GW

R R

esíd

uo

s

y = -5.988 + 0.531*x; r2 = 0.594; p = 0.000

e) f)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

Riqueza Observada

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

GW

R R

esíd

uo

s

y = -7.259 + 0.844*x; r2 = 0.729; p = 0.000

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28

Riqueza Observada

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

GW

R R

esíd

uo

s

y = -6.833 + 0.677*x; r2 = 0.5962; p < 0.001

g) h)

-5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Riqueza Observada

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

GW

R R

esíd

uo

s

y = -3.203 + 0.480*x; r2 = 0.568; p = 0.000

0 2 4 6 8 10 12 14 16

Riqueza Observada

-4

-2

0

2

4

6

8

10

GW

R R

esíd

uo

s

y = -4.754 + 0.864*x; r2 = 0.873; p = 0.000

Figura 6 – Ajuste global do modelo de GWR feito com a matriz W Global para os dados a) totais, das bacias

b) amazônicas, c) atlântico trecho Norte/Nordeste, d) Tocantins, e) São Francisco, f) atlântico trecho Leste,

g) Paraná e h) atlântico trecho Sudeste

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56

Figura 7 – Espacialização dos coeficientes de regressão da GWR e classificação dos pontos segundo as

Bacias Hidrográficas; a) Variação da Temperatura Anual, b) Evapotranspiração do mês de Junho, c)

Produtividade Primária Terrestre, d) Média da Precipitação Anual, e) Variação da Precipitação Anual e f)

Evapotranspiração do mês de Janeiro.

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57

Discussão

Quando tratamos da distribuição da riqueza de espécies em um espaço

geográfico duas características devem ser consideradas: i) a autocorrelação espacial dos

dados e ii) a estacionariedade das relações. A autocorrelação nos dados modifica tanto

as relações, como a significância das relações entre a variável de interesse e a(s)

preditoras(s) (Bini et al., 2009). No nosso estudo a autocorrelação espacial presente nos

dados foi controlada, uma vez que foi escolhido um raio para a GWR cujo índice de

Moran’s I fosse próximo de zero, isolando a segunda característica (estacionariedade

das relações), e facilitando sua análise.

A ausência de estacionariedade nos resultados pode ser derivada da

heterogeneidade ambiental, geralmente associada à variação de altitude que causam

anomalias climáticas e modificações das condições locais (Kerr & Packer, 1997;

O’Brien et al., 2000; Rahbek & Graves, 2001). Dependendo da localização e da

variação da altitude essa heterogeneidade do relevo pode aumentar ou diminuir a

diversidade. Em regiões com altitudes elevadas, tal como a serra do Mar e do

Espinhaço, é comum ser observado baixas temperaturas nas regiões altas e maiores

temperaturas (em comparação às regiões altas) nas porções mais baixas. Essa diferença

de temperatura pode fazer com que a diversidade de espécies seja menor que a predita

para região, devido à extinção local de espécies menos tolerantes ao frio (Girard et al.,

2014; Mas-Martí et al., 2014). Esse mecanismo poderia ocorrer em regiões que

possuem altitude elevada, como o observado no Brasil Central. Por outro lado a

heterogeneidade geográfica (quantificada pela topografia) pode criar habitats mais

complexos e proporcionar a coexistência de mais espécies com o aumento da

heterogeneidade ambiental (Bickford & Laffan, 2006), considerando aqui regiões com

elevações não tão conspícuas, como no caso de planaltos e chapadas. A presença de

cadeias de montanhas, como a serra do Mar, ocasiona aumento da umidade em sua face

de barlavento, onde ocorre a retenção de correntes e massas de ar, e criação de áreas

mais secas e quentes em sua face de sotavento, uma vez que a umidade e os ventos

ficaram barrados na face de barlavento. Com a variação local de temperatura,

precipitação e regime de ventos ocorrem modificações no microclima e

consequentemente na disponibilidade e na qualidade de habitat. Assim, locais

favorecidos pelo barlavento podem apresentar maior riqueza de espécies da mesma

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forma que os locais sob influência do sotavento poderiam apresentar menor riqueza de

espécies que o predito pelos modelos. O efeito da heterogeneidade geográfica foi

observado para pteridófitas na península Ibérica, onde a variação topográfica foi a

variável com o maior efeito sobre a riqueza do grupo, sendo mais importante até que as

variáveis climáticas (Bickford & Laffan, 2006). Além disso, a heterogeneidade

geográfica aumenta a área geográfica (O’Brien et al., 2000) e possibilita eventos de

especiação alopátrica que ocorrem pela interrupção do fluxo gênico entre populações

pelo surgimento de barreiras físicas como cordilheiras ou cânions (Rahbek & Graves,

2001). Com o aumento da área disponível, mais indivíduos podem ocupar a região e

consequentemente têm-se mais espécies.

Com relação às variáveis, observamos que o clima foi a que mais influenciou na

distribuição da riqueza de peixes de riachos. Sessenta por cento dos gradientes de

diversidade encontra em fatores climáticos a explicação para o padrão observado, com

alguns ocorrendo ajustes próximos a 90% (Hawkins et al., 2003). Sendo que os fatores

mais importantes para a determinação da riqueza de espécies são a disponibilidade de

água e a entrada de energia (Hawkins et al., 2003). A não estacionariedade da relação

riqueza e clima também foi abordada por Hawkins et al. (2003) que observaram a

temperatura como mais importante em altas latitudes (locais mais frios) que em baixas

latitudes (regiões tropicais). Neste estudo, observamos a variação da temperatura como

o fator de maior influência na diversidade de peixes apresentando relações positivas na

região central e negativas na região Amazônica. A não estacionariedade da relação

riqueza de peixes de riachos e variação da temperatura pode ser explicada pela

heterogeneidade climática da área estudada e pela influência do clima na diversificação

taxonômica do grupo. Populações de peixes presentes na região central do Brasil estão

em áreas de clima tropical com uma estação seca bem definida e chuvas concentradas

em apenas uma época do ano (Marengo & Valverde, 2007). Este tipo climático é

caracterizado por possuir períodos cuja precipitação pode atingir os 250 mm mensais ou

não passar dos 10 mm mensais, além de apresentar a temperatura do solo variando entre

20 e 40 °C (Santos et al., 2011a). Os peixes presentes na região Amazônica estão em

áreas de clima equatorial, cuja precipitação anual é de 2000 mm distribuídos

equivalentemente ao longo dos meses do ano, apresentando temperatura média do solo

de 27 °C com variações inferiores a 3 °C (Santos et al., 2011b). Assim, populações de

peixes presentes em áreas savânicas (região central do Brasil) estão expostas a uma

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maior amplitude de variação da temperatura o que possivelmente direcionou a seleção

de espécies com grande tolerância térmica na região central e explicaria a correlação

positiva encontrada entre a variação da temperatura e a riqueza de peixes de riachos.

Nas áreas amazônicas, onde a amplitude térmica é menor, a tolerância à variação da

temperatura não deve ter sido um fator chave na seleção das espécies. Assim,

observamos tanto espécies tolerantes quanto espécies não tolerantes à variação da

temperatura, por isso a relação negativa entre variação da temperatura e a riqueza de

peixes de riachos.

A relação não estacionária, entre temperatura e riqueza, também foi observada

em cobras (Elapidae) e atribuída a fatores históricos de diversificação recentes do grupo

(Braga et al., 2014). A influência da temperatura (e também da precipitação)

direcionando a diversificação recente de grupos e formando os gradientes de

diversidade tem tido ampla aceitação na literatura recente (e.g. Hawkins & Porter, 2003;

Hawkins et al., 2003; Rodríguez et al., 2005). Dois mecanismos são propostos para a

influência da temperatura no gradiente de riqueza: i) cascata trófica - maior energia

disponibilizada no sistema faz com que ocorra um aumento da produtividade primária,

ou então ii) requerimentos metabólicos - diferentes espécies com diferentes tolerâncias a

temperatura (Hawkins et al., 2003).

Os peixes dos riachos amostrados neste estudo apresentam uma interação entre o

mecanismo de cascata trófica e as restrições metabólicas. A AET de Junho, que

representa a medição da entrada de energia no sistema, é a segunda variável de maior

magnitude na determinação do padrão de riqueza observado. Esta variável apresentou

relação negativa com a área amazônica e positiva com a área central do Brasil, dando

suporte assim à ideia de restrições fisiológicas. Este resultado fortalece a hipótese de

que peixes amazônicos apresentam baixa tolerância à amplitude térmica o inverso

ocorrendo com peixes da região central. Adicionalmente, observamos que a

produtividade primária terrestre é preditora da riqueza de peixes, sugerindo assim o

mecanismo de cadeia trófica. Alta produtividade primária terrestre está associada a

áreas que possuem densa cobertura vegetal (England & Rosemond, 2004). A cobertura

vegetal aumenta a disponibilidade de recursos alóctones para os riachos de pequena

ordem (Vannote et al., 1980) como é o caso dos riachos amostrados (1ª a 3ª ordem). A

entrada de recursos oriundos da vegetação terrestre ocorre de duas formas; i)

verticalmente – queda de folhas, frutos, sementes e partes vegetais diretamente dentro

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dos riachos; e ii) horizontal - lixiviação desses recursos das áreas adjacentes ao corpo

d’água durante o período de chuvas e/ou pulsos de inundação (Junk et al., 1989). Com a

entrada de recursos alóctones há o aumento da disponibilidade de recursos para os

consumidores primários, suportando assim uma teia trófica mais rica e abundante.

Uma peculiaridade da produtividade primária terrestre observada neste estudo é

o efeito negativo da mesma sobre a riqueza de peixes na região central do Brasil,

sugerindo que o mecanismo de restrição metabólica é mais importante que o mecanismo

de cascata trófica. Nesta região os organismos, incluindo os aquáticos, estão expostos a

uma maior amplitude térmica (Marengo & Valverde, 2007), a qual aliada ao o aumento

de produtividade primária terrestre limita a riqueza de espécies. Esse efeito ocorre,

possivelmente, pelo sombreamento da superfície do canal principal do riacho decorrente

do adensamento da vegetação, principalmente da mata ripária, visto que uma maior

produtividade primária está relacionada com áreas com vegetação mais densa (England

& Rosemond, 2004). A vegetação densa estabiliza o micro clima local (Monadjem &

Reside, 2008; Vieira et al., 2015) diminuindo a heterogeneidade climática (água fria) e a

complexidade do habitat e consequentemente a riqueza de espécies, possivelmente pela

extinção local de espécies cujo ótimo ocorre em temperaturas mais elevadas. A

influência do mecanismo metabólico é reforçada pela relação da água (precipitação

média anual) com a riqueza de peixes de riachos. A precipitação média anual apresentou

relação positiva nos pontos próximos à linha do Equador e relação menos conspícua ou

ausente nos pontos mais distantes da referida linha. Esse padrão forma um gradiente

norte-sul de dependência da água, onde os locais mais frios, como o sul do Brasil, são

menos dependentes da água, assim como o descrito por Hawkins et al. (2003).

No mecanismo fisiológico observamos a prevalência da hipótese Água-Energia

como a principal preditora da riqueza de espécies (Hawkins et al., 2003). Na hipótese

Água-Energia é predito a relação positiva da riqueza de espécie e a quantidade de água

nas menores latitudes e energia nas porções de maiores latitudes (Hawkins et al., 2003).

Essa relação foi observada em nosso estudo para a riqueza de peixes de riachos do

Brasil, com as porções próximas ao Equador (região Amazônica) relacionadas

positivamente à quantidade de água (precipitação média anual) e negativamente à

entrada de energia (AET de Junho). Já as porções com maiores latitudes (região central

do Brasil) a entrada de energia teve efeito positivo ao passo que a água não teve relação.

A inversão da importância entre a água e energia e a diversidade parece ser mais

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dependente da falta de água do que pela restrição energética. Hawkins et al. (2003)

encontraram que a precipitação anual é a variável que determina o padrão de

diversidade de aves do continente australiano, contrariando o esperado pela literatura,

uma vez que a região se localiza em uma área de alta latitude. Essa anomalia foi

explicada pela ocorrência de regiões áridas no continente. Em outro trabalho Kessler

(2001) encontrou a riqueza de pteridófitas como uma função da precipitação. Essa

relação foi observada nas regiões andinas, onde o esperado seria a ter energia

(temperatura, AET) como fator limitante (Hawkins et al., 2003). Essas duas relações

mostram que a heterogeneidade geográfica e climática cria relações não estacionárias e

dão suporte a nossa hipótese de que o mecanismo metabólico age de forma mais

determinística que o mecanismo de cascata trófica, apesar de que ambos não são

mutuamente excludentes conforme Hawkins et al. (2003).

Assim concluímos que o padrão de diversidade de peixes de riachos se apresenta

como uma função das variáveis climáticas e da produtividade primária terrestre, com a

dinâmica água-energia evidenciada e o mecanismo de restrição metabólica mais

conspícua. O mecanismo de restrição metabólica divide o Brasil em duas regiões: i)

Amazônica, com clima mais estável e populações pouco resistentes a amplitudes

térmicas; e ii) Central, com maiores amplitudes de temperaturas e populações mais

resistentes a variações térmicas.

Literatura Citada

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Capítulo 3

PELA MÉDIA OU PELA VARIÂNCIA? POR TERRA OU POR ÁGUA? QUAL

O MELHOR CAMINHO QUANDO AVALIAMOS O PAPEL DOS PROCESSOS

DE NICHO E NEUTRO NA ESTRUTURAÇÃO DA COMUNIDADE DE PEIXES

DE RIACHOS DO CERRADO

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PELA MÉDIA OU PELA VARIÂNCIA? POR TERRA OU POR ÁGUA? QUAL

O MELHOR CAMINHO QUANDO AVALIAMOS O PAPEL DOS PROCESSOS

DE NICHO E NEUTRO NA ESTRUTURAÇÃO DA COMUNIDADE DE PEIXES

DE RIACHOS DO CERRADO

Resumo

A interpretação das relações entre condições ambientais e a composição de

comunidades de peixes está intimamente ligada à Teoria de Nicho, por outro lado,

processos relacionados à teoria neutra não podem ser deixados de lado na ecologia. Um

dos modelos desenvolvidos para explicar padrões de composição em metacomunidades

sugere que é exatamente a relação entre a comunidade e as condições ambientais o

mecanismo básico do processo de seleção de espécies. No entanto os trabalhos que

descrevem essa relação não consideram a heterogeneidade ambiental, uma vez que as

condições são quantificadas por medidas únicas ou de médias espaciais e/ou temporais.

Um segundo mecanismo traz a ideia de dinâmica neutra como um mecanismo

responsável pela estruturação da metacomunidade, utilizando a distância linear entre

pontos como variável explanatória. Para peixes esta distância pode ser pouco

informativa, uma vez que esses organismos só conseguem se deslocar via rede

hidrográfica e essa abordagem acaba conectando pontos presentes em diferentes

unidades hidrográficas. Assim o nosso objetivo foi quantificar a proporção da

importância dos processos relacionados as dinâmicas de Nicho (condições ambientais) e

Neutra (distância entre os riachos), identificando qual a melhor representação das

condições locais e se a distância linear e a distância hidrográfica são equivalentes na

representação dos processos Neutros. Foram realizadas regressões múltiplas da riqueza

e da diversidade beta de peixes de riachos, utilizando a média e a variância das

condições ambientais como representante dos processos de nicho e três mapas de auto

vetores espaciais, calculados com diferentes matrizes de conectividade, como

representante dos processos neutros. Os modelos foram comparandos pelo critério de

informação de Akaike - AIC. Tanto a riqueza quanto a diversidade beta de peixes de

riacho do Cerrado apresentaram o modelo linear, que inclui as médias e os desvios das

condições com os mapas de auto vetores calculados a partir da matriz W Local, como

melhor modelo. Esse resultado aponta para a existência do mecanismo de Species

Sorting ou então da interação entre Mass Effects e Species Sorting.

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Palavras Chaves: Conectividade, Gradiente Ambiental, Ictiofauna, Partição de

Variância, Rede Dendrítica

Introdução

A teoria de nicho prediz que os recursos e as condições de determinado ambiente

ditam a distribuição das espécies ao longo do espaço e do tempo. O termo nicho

representa um hipervolume em um espaço multidimensional de recursos e condições

onde uma determinada espécie consegue atingir adequabilidade ótima e crescimento

populacional positivo quando condições (e.g.:temperatura da água, oxigênio dissolvido,

tipo de substrato) e recursos (e.g.:locais de refúgio, alimento) são adequados à espécie

(Hutchinson, 1957). As relações entre a adequabilidade das espécies às condições e aos

recursos, devido às restrições impostas pelas características do nicho de cada espécie,

têm um impacto importante na atual teoria de metacomunidades. De fato, um dos

modelos desenvolvidos para explicar padrões de composição em metacomunidades

sugere que é exatamente essa adequabilidade diferencial das espécies o mecanismo

básico do processo de seleção de espécies presentes na comunidade (species-sorting)

(Leibold et al., 2004). Neste mecanismo é assumido que o gradiente ambiental é o único

fator responsável pela estruturação das comunidades (Leibold et al., 2004).

Na literatura sobre ictiofauna de riachos tropicais é comum observarmos a

relação entre a comunidade de peixes e descritores de condições ambientais tais como a

velocidade da correnteza, oxigênio dissolvido e temperatura da água (e.g.:Penczak et

al., 1994; Benedito-Cecilio et al., 2004; Ferreira & Casatti, 2006; Aquino et al., 2009;

Dias & Tejerina-Garro, 2010; e.g.:Zeni & Casatti, 2013). Trabalhos que descrevem a

relação entre a ictiofauna e as condições físicas, físico-químicas e ou químicas de

riachos, são muitas vezes derivados de medidas únicas (e.g.:Aquino et al., 2009;

Esguícero & Arcifa, 2011) das variáveis selecionadas, ou de médias espaciais e/ou

temporais que estas variáveis apresentam (e.g.:Ferreira & Casatti, 2006; Araújo &

Tejerina-garro, 2007; Melo et al., 2009; Takahashi et al., 2013). A heterogeneidade

ambiental dentro de cada comunidade é, portanto, colocada de lado na interpretação dos

mecanismos que controlam a composição de espécies. No entanto, uma visão baseada

em respostas individuais das espécies aos gradientes ambientais (Vandermeer, 1972;

Whittaker, 1972) sugere que uma maior variação espacial nas condições ambientais,

dentro de cada riacho, deve ser um importante preditor da riqueza tanto de peixes

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(e.g.:Angermeier & Schlosser, 1989; Beisner et al., 2006; Das et al., 2012) (Figura 1)

quanto de outras comunidades aquáticas (e.g.:Fukaya et al., 2014; Vieira et al., 2015).

Um exemplo empírico dessa importância é a relação existente entre a diversidade da

comunidade de macroinvertebrados aquáticos com a heterogeneidade do substrato, com

a velocidade da correnteza e com a profundidade do canal em riachos (Bond & Downes,

2000; Olsen et al., 2001; Landeiro et al., 2012)

Por outro lado, processos relacionados à teoria neutra não podem ser

negligenciados em ecologia. A Teoria Neutra (Hubbell, 2001) é uma derivação da teoria

de biogeografia de ilhas de MacArthur & Wilson (1967). Ela propõe que todos os

indivíduos, de uma mesma guilda trófica, possuem a mesma capacidade de competição

(independente dos recursos e condições presentes no local), possuindo assim

crescimento constante em qualquer ambiente. Para Hubbell (2001) a única forma de

diversificação da comunidade seria pela imigração e pela especiação local. Desta forma,

espera-se que o componente espacial (distância entre os locais amostrados) ou barreiras

geográficas (obstáculos físicos que dificultam ou impedem a migração entre locais)

sejam os únicos mecanismos responsáveis pela estruturação da comunidade. Essa

dinâmica neutra também é apresentada por (Leibold et al., 2004) como um mecanismo

(Neutral perspective) responsável pela estruturação da metacomunidade. Neste

mecanismo, assim como o proposto por Hubbell (2001) a capacidade de dispersão das

espécies e as barreiras geográficas seriam os únicos responsáveis pela estruturação da

comunidade.

A simples dicotomia entre comunidades estruturadas por processos de nicho ou

processos neutros não é uma regra na natureza (Cottenie, 2005), uma vez que muitas das

comunidades naturais são estruturadas tanto pela relação das espécies com as condições

e os recursos locais (processos relacionados à teria de Nicho) quanto pela capacidade

dessas espécies dispersarem e chegarem a outros locais (processos relacionados à teoria

Neutra) (Cottenie, 2005; Thompson & Townsend, 2006). Dessa forma, a relação entre

nicho e neutro pode ser estudada à luz dos quatro mecanismos propostos por Leibold et

al (2004). Comunidades que se relacionam unicamente ao gradiente ambiental seriam

estruturadas pelo mecanismo de Species Sorting, comunidade que se relacionam apenas

com o espaço seriam estruturadas pelos modelos Neutro e de Patch Dynamics e a

interação entre o espaço e o gradiente ambiental é apresentado como comunidades cujo

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69

mecanismo de Mass-Effect é o predominante na estruturação da comunidade (Leibold et

al., 2004; Cottenie, 2005).

A quantificação da importância relativa entre os processos de Nicho e Neutro

pode ser feita através da utilização de técnicas de partição de variância (Cottenie, 2005;

Beisner et al., 2006; Peres-Neto & Legendre, 2010), que quantifica a porcentagem de

explicação relacionada unicamente ao conjunto de condições (processos de nicho),

unicamente ao espaço (processos neutros), à interação entre os dois (geralmente

associada a autocorrelação espacial existente nas variáveis que representam as

condições) e a porcentagem não explicada (resíduo da análise) (Legendre & Legendre,

1998). Os mapas de auto vetores espaciais são bons representantes da estrutura espacial

presente nos dados (Bini et al., 2009) apresentando a possibilidade de identificação da

estruturação local (autovalores pequenos), regional (autovalores médios) e global

(autovalores maiores), sendo assim bons representantes da variável espaço em estudos

que objetivam a partição da variância entre processos de Nicho e Neutro (Blanchet et

al., 2008; Landeiro et al., 2011, 2012).

Uma análise da literatura de ecologia de riachos mostra que muitos trabalhos

usam a menor distância linear entre os pontos amostrados como uma medida de

conectividade. No entanto, para peixes esta distância pode ser pouco informativa, uma

vez que esses organismos só conseguem se deslocar pela rede hidrográfica. Estimativas

de conectividade baseadas no curso de rios, no entanto, começam a ser utilizadas para

interpretar padrões em comunidades ícticas de riachos (e.g.:Fullerton et al., 2010) e de

outros organismos aquáticos (e.g.:Obolewski et al., 2009; Landeiro et al., 2011;

Grönroos et al., 2013; Jacobson & Faust, 2014). Um dos problemas presentes nas

análises que desconsideram a rede hidrográfica é a comparação de pontos presentes em

diferentes unidades hidrográficas. Riachos que possuem alta conectividade, localizados

dentro de uma mesma bacia hidrográfica, tendem a apresentar maior similaridade

faunística que riachos em diferentes unidades, mesmo que as condições e recursos

sejam parecidas (Landeiro et al., 2012).

Com a possibilidade de diferentes abordagens para a representação das

condições ambientais (valores médios e/ou heterogeneidade) e do espaço (distância

linear ou hidrográfica), nós pretendemos: (i) quantificar a proporção da importância dos

processos relacionados as dinâmicas de Nicho (condições ambientais), à dinâmica

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70

Neutra (distância entre os riachos) e à interação entre essas duas dinâmicas na

estruturação da ictiofauna de riachos no Cerrado; (ii) identificando qual a melhor

representação das condições locais (média ou média junto com a variância dos recursos)

e se a (iii) distância linear e a distância hidrográfica são equivalentes na representação

dos processos Neutros.

Figura 01 – Representação da distribuição de adequabilidade (vértice da parábola) e da

tolerância (diferença entre as raízes da parábola) de seis espécies em um gradiente

ambiental hipotético. As barras identificadas com por A) e B) representam a variação

desse gradiente em dois locais hipotéticos, sendo que o local A apresentaria condições

adequadas a mais espécies (seis) que o local B (quatro), apesar de apresentarem a

mesma média de condição no gradiente ambiental.

Materiais e Métodos

Para os testes, utilizamos um banco de dados formado por 76 pontos, localizados

no domínio do bioma Cerrado e pertencentes a três regiões hidrográficas: i) Araguaia-

Tocantins; ii) Paraná; e iii) São Francisco (Figura 2). Para serem inseridos nas análises

os pontos deveriam seguir os seguintes critérios: i) Amostragem realizada em riachos de

primeira a terceira ordem; ii) Pontos georeferênciados; iii) Coleta da ictiofauna

realizada por rede de arrasto ou pesca elétrica; iv) Amostragem em no mínimo 50m do

canal; v) Lista de espécies por ponto amostrado; vi) Possuir informações de turbidez,

condutividade, Ph, oxigênio dissolvido, velocidade da correnteza, largura e

profundidade aferidos em pelo menos três pontos do trecho amostrado.

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71

Figura 2 – Localização dos 76 riachos (pontos) em três regiões hidrográficas no bioma

Cerrado utilizados nas análises.

Como os pontos amostrados estão geograficamente agregados, foi testada a

autocorrelação espacial dos dados, através do Índice de Moran. Uma vez identificada a

autocorrelação nos dados, foi aplicado o procedimento de mapas de auto vetores

espaciais (filtros espaciais) controlando assim a autocorrelação espacial dos resíduos.

Para a confecção dos mapas de auto vetores é necessário que seja informado,

através da matriz de conectividade – Matriz W, qual a relação existente entre os pares

de pontos presente na análise (Griffith & Peres-Neto, 2006). Desta forma definimos

quatro matrizes “W”: i) W Global, definida pela distância linear entre todos os pontos

presentes no banco de dados; ii) W Local, definida pela distância linear entre os pontos

presentes em uma mesma unidade hidrográfica, assim, pontos que não estão contidos na

mesma unidade apresentam valores de conectividade iguais a zero; iii) W Hídrica,

definida pela distância hidrográfica entre os pares de pontos, sendo que pontos presentes

em unidades hidrográficas diferentes apresentam valores de conectividade zero; e iv) W

HídAlt, definida pela distância hidrográfica entre os pontos ponderada pela declividade

do terreno.

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72

Para a definição da matriz W Global foi calculada a distância euclidiana entre

todos os pares de pontos, independente de qual unidade hidrográfica o ponto estava

contido, sendo utilizadas as coordenadas geográficas dos pontos como variáveis. Assim,

as distâncias foram dadas por:

(eq 1)

onde, é a distância euclidiana entre os pontos i e j, lat é o valor da latitude do ponto

e long o valor da longitude do ponto. Como a distância euclidiana pode variar de zero a

infinito nós fizemos a padronização dessa distância através de:

(eq 2)

onde, W Globalij é o valor da conectividade entre o par de ponto, Dij é a distância

euclidiana (1) entre os pontos e max (D) o maior valor de distância euclidiana presente

na matriz D.

Para o cálculo da matriz W Local os pontos foram classificados segundo a

unidade hidrográfica que estão inseridos; i) Araguaia-Tocantins; ii) Paraná; e iii) São

Francisco. Após esse procedimento, foi calculada a distância euclidiana (eq 1) e feita a

padronização da distância (eq 2) para cada um dos conjuntos de pontos. Após isso as

três matrizes foram unidas e as células referentes aos pares de pontos localizados em

unidade hidrográficas distintas foram preenchidas com zeros, formando assim a matriz

W Local.

Na matriz W Hídrica foi necessária a geração da carta de drenagem, a

delimitação das bacias e o posterior cálculo das distâncias. A carta de drenagem foi

confeccionada no ArcGis 10.1 (ESRI, 2013) através das ferramentas Flow

Accumulation, Flow Direction e Con (Spatial Analyst Tool), utilizando fluxo acumulado

maior que 50 para caracterizar um corpo d’água. Esses procedimentos foram aplicados

em um mosaico de imagens de radar (Shuttle Radar Topography Mission – SRTM) que

traz a informação de altitude do terreno com resolução igual a 30 metros. As imagens

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73

utilizadas foram a SD-22-X-A, SD-22-X-B, SD-22-X-C, SD-22-X-D, SD-22-Y-B, SD-

22-Y-D, SD-22-Z-A, SD-22-Z-B, SD-22-Z-C, SD-22-Z-D, SD-23-V-A, SD-23-V-B,

SD-23-V-C, SD-23-V-D, SD-23-Y-A, SD-23-Y-B, SD-23-Y-C, SD-23-Y-D, SD-23-Z-

C, SE-21-X-D, SE-21-Y-D, SE-21-Z-B, SE-21-Z-C, SE-21-Z-D, SE-22-V-A, SE-22-V-

B, SE-22-V-C, SE-22-V-D, SE-22-X-A, SE-22-X-B, SE-22-X-C, SE-22-X-D, SE-22-

Y-A, SE-22-Y-B, SE-22-Y-C, SE-22-Y-D, SE-22-Z-A, SE-22-Z-B, SE-22-Z-C, SE-22-

Z-D, SE-23-V-A, SE-23-V-B, SE-23-V-C, SE-23-V-D, SE-23-X-A, SE-23-X-B, SE-

23-X-C, SE-23-X-D, SE-23-Y-A, SE-23-Y-B, SE-23-Y-C, SE-23-Y-D, SE-23-Z-A,

SE-23-Z-B, SE-23-Z-C, SE-23-Z-D, SF-21-V-B, SF-21-V-D, SF-21-X-A, SF-21-X-B,

SF-21-X-C, SF-21-X-D, SF-21-Y-B, SF-21-Z-A, SF-21-Z-B, SF-21-Z-C, SF-21-Z-D,

SF-22-V-A, SF-22-V-B, SF-22-V-C, SF-22-V-D, SF-22-X-A, SF-22-X-B, SF-22-X-C,

SF-22-X-D, SF-22-Y-A, SF-22-Y-B, SF-22-Y-C, SF-22-Y-D, SF-22-Z-A, SF-22-Z-B,

SF-22-Z-C, SF-22-Z-D, SF-23-V-A, SF-23-V-B, SF-23-V-C, SF-23-V-D, SF-23-X-A,

SF-23-X-C, SF-23-Y-A, SF-23-Y-B, SF-23-Y-C, SF-23-Z-A, SG-21-X-B, SG-22-V-A,

SG-22-V-B, SG-22-V-C, SG-22-V-D e SG-22-X-A, disponíveis no site Brasil em

Relevo (http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br/download/). Após a geração da carta de

drenagem os corpos d’água foram delimitados pelo shape de Ottobacias nível 1

(http://sosgisbr.com/2011/07/14/ottobacias-shapefiles-para-download/) e sobrepostos

aos pontos coletados na unidade hidrográfica de interesse. A distância hidrográfica entre

os pares de pontos, presentes na unidade, foi calculada seguindo a equação:

(eq 3)

1

onde, n é o número de segmentos hidrográficos necessários para conectar o ponto i ao

ponto j e d é o tamanho de cada segmento, medido em quilômetros. Da mesma forma

que a distância euclidiana essa a distância hidrológica (eq 3) pode variar de zero a

infinito, assim fizemos a padronização dessa distância através de:

(eq 4)

1

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74

onde, W Hídricoij é o valor da conectividade entre o par de ponto, Hidij é a distância

hidrográfica (3) entre os pontos e max (Hid) o maior valor de distância hidrográfica

presente na matriz Hid. O procedimento de cálculo da distância (eq 3) e padronização

das distâncias (eq 4) foi feito para cada uma das unidades hidrográficas presentes no

banco de dados. Da mesma forma que na matriz W Local as três matrizes geradas com

os procedimentos anteriores foram unidas e as células referentes aos pares de pontos

localizados em unidade hidrográficas distintas foram preenchidas com zeros,

constituindo assim a matriz W Hídrica. Na matriz W HídAlt foi calculada a diferença de

altitude entre os pares seguindo:

(eq 5)

1

onde, é a diferença de altitude entre o ponto i e o ponto j, a altitude do ponto j e a

altitude do ponto i. Essa diferença de altitude foi também padronizada seguindo:

(eq 6)

1

onde, Hij é a matiz de diferença de altitude padronizada entre os pontos, hij a diferença

de altitude entre o ponto i e j e max (h) o maior valor encontrado na matriz h. Após isso

a matriz W HídAlt foi definida por:

(eq 7)

1

onde, W HídAlt é o valor de conectividade entre o par de pontos, W Hídrica e distância

hídrica padronizada e Hij a diferença padronizada de declividade. Diferentemente das

outras matrizes de conectividade esta matriz não é simétrica, a influência do ponto i ao

ponto j não é a mesma que do ponto j ao ponto i. Além disso, com a possibilidade de

haver valores de conectividade negativos foi adotado o procedimento de transformação

dos valores negativos em zero, uma vez que não faria sentido biológico um ponto

influenciar negativamente outro simplesmente pela conectividade.

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75

Foram adotados dois tipos de medidas de diversidade: (i) riqueza de espécies e

(ii) diversidade beta. A riqueza de espécies foi definida como o número de espécies

presentes no local de interesse. A diversidade beta foi calculada segundo o

procedimento descrito por Baselga (2010), que define a diversidade beta como o índice

de dissimilaridade de Sorensen. O índice gera uma matriz triangular com a diagonal

principal formada por zeros, assim, consideramos a média da diversidade beta do ponto

nas análises. O cálculo da riqueza de espécies e da diversidade beta foi feito tanto para

comunidade total, quanto para as guildas dos detritívoros, insetívoros e onívoros.

Para identificar qual a melhor forma de representar as condições ambientais para

as comunidades de peixes de riachos foram construídos modelos lineares generalizados

(GLM) entre a riqueza e a diversidade beta total e as médias das condições ambientais e

as médias junto com os desvios padrões das condições ambientais. Cada um desses

modelos foi repetido quatro vezes, um com cada tipo de matriz W (tabela 2). Para

eliminar a multicolinearidade foi feita uma PCA com os valores médios, e uma segunda

PCA com os valores médios juntos com os valores do desvio padrão dos descritores,

sendo os eixos da PCA utilizados como variáveis preditoras nos modelos. Após

identificadas as melhores condições ambientais (média ou média junto com desvio

padrão) foram construídos GLM’s entre a riqueza e a diversidade beta de cada guilda

trófica (utilizando cada uma das 4 matrizes W), identificando assim se o resultado

encontrado para toda a comunidade se mantém quando particionamos a comunidade nos

seus diferentes componentes. As análises foram feitas utilizando o software SAM –

Spatial Analysis for Macroecology (Rangel et al., 2010), todos os modelos apresentam o

valor de I de Moran e o Critério de informação de Akaike (AIC), sendo assim possível a

comparação dos modelos, que apresentam a mesma variável resposta, pela variação do

AIC. Além disso, a variância explicada pelos modelos foi particionada em: i) variância

atribuída apenas ao conjunto de variáveis que descrevem as condições ambientais; ii)

variância atribuída ao conjunto que descreve o espaço; iii) variância compartilhada entre

os dois conjuntos; e iv) variância não explicada.

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76

Tabela 2 – Modelos utilizados para a determinação do melhor conjunto de descritores

das condições ambientais e da estrutura espacial, considerando a riqueza e a diversidade

beta da ictiofauna.

Descritor Matriz W Descritores das Condições

Riqueza

W Global Média

Média + Desvio Padrão

W Local Média

Média + Desvio Padrão

W Hídrico Média

Média + Desvio Padrão

W HídAlt Média

Média + Desvio Padrão

Diversidade Beta

W Global Média

Média + Desvio Padrão

W Local Média

Média + Desvio Padrão

W Hídrico Média

Média + Desvio Padrão

W HídAlt Média

Média + Desvio Padrão

Resultados

A riqueza da ictiofauna, total e por guilda trófica, e a diversidade beta total

apresentaram estrutura espacial significativa com valores do Moran’s I superior a 0.1

(Tabela 3). Sendo a riqueza de espécies da guilda trófica dos onívoros a que apresentou

a maior estruturação espacial (Moran’s I = 0.316, p < 0.001) e a riqueza de espécies da

guilda trófica dos detritívoros a que apresentou a menor estruturação espacial (Moran’s

I = 0.120, p = 0.010). A diversidade beta das guildas tróficas dos detritívoros,

insetívoros e onívoros apresentou autocorrelação espacial não significativa e valores

Moran’s I abaixo de 0.100, sendo que a diversidade beta da guilda trófica dos onívoros

apresentou autocorrelação espacial negativa (Moran’s I = -0.039, p = 0.618).

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77

Tabela 3 – Índices de autocorrelação de Moran (Moran’s I) calculado para a riqueza e a

diversidade beta total e para as guildas dos detritívoros, insetívoros e onívoros.

Descritor Ictiofauna Moran's I P I (max) I/I(max)

Riqueza

Total 0.234 <0.001 0.737 0.318

Detritívoro 0.120 <0.010 0.610 0.198

Insetívoro 0.180 <0.001 0.628 0.287

Onívoros 0.316 <0.001 0.807 0.392

Beta

Total 0.208 <0.001 0.758 0.274

Detritívoro 0.052 <0.211 0.680 0.076

Insetívoro 0.020 <0.517 0.551 0.037

Onívoros -0.039 <0.618 0.748 -0.052

A PCA que descreveu o padrão das condições ambientais médias apresentou

33.26% de explicação no primeiro eixo e 18.79% no segundo eixo, somando 52.05% de

explicação nos dois primeiros eixos (Figura 3a, Tabela 4). O padrão encontrado pela

ordenação foi: (i) Condutividade, Ph, Oxigênio Dissolvido e a Largura do Canal

relacionados positivamente ao primeiro eixo; (ii) Turbidez e Velocidade da Correnteza

positivamente ao segundo eixo; e (iii), Profundidade do Canal negativamente ao

segundo eixo (Figura 3a, Tabela 4). A PCA que descreveu as condições ambientais

médias junto com o desvio padrão presentou 21.02% de explicação no primeiro eixo e

16.66% no segundo eixo, somando 37.68% de explicação nos dois primeiros eixos

(Figura 3b, Tabela 5). O padrão encontrado pela ordenação foi: (i) Desvio padrão da

Largura do Canal, Desvio padrão e Média da Turbidez e da Velocidade da Correnteza

relacionados positivamente ao primeiro eixo; (ii) Desvio padrão e Média da

Profundidade do canal e o Desvio Padrão do Ph, Condutividade e Oxigênio dissolvido

negativamente ao primeiro eixo; e a (iii) Média da Largura do Canal, Ph, Oxigênio

dissolvido e Condutividade e o Desvio padrão da Temperatura da Água positivamente

ao segundo eixo (Figura 3b, Tabela 5).

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78

1

a)

Turb (M)

Cond (M)Ph (M)

OD (M)

Vel (M)

Prof (M)

Lar (M)

-1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0

PCA 1(33.26%)

-1.0

-0.5

0.0

0.5

1.0

PC

A 2

(1

8.7

9%

)

Turb (M)

Cond (M)Ph (M)

OD (M)

Vel (M)

Prof (M)

Lar (M)

b)

Turb (M)

Cond (M)

Ph (M)

OD (M)

Vel (M)

Prof (M)

Lar (M)

Turb (SD)

Cond (SD)

Ph (SD)

OD (SD)

Temp (SD)

Vel (SD)Prof (SD)

Lar (SD)

-1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0

PCA 1 (21.02%)

-1.0

-0.5

0.0

0.5

1.0

PC

A 2

(1

6.6

6%

)

Turb (M)

Cond (M)

Ph (M)

OD (M)

Vel (M)

Prof (M)

Lar (M)

Turb (SD)

Cond (SD)

Ph (SD)

OD (SD)

Temp (SD)

Vel (SD)Prof (SD)

Lar (SD)

Figura 3 – Gráfico de PCA realizada com as condições médias (a) e as condições

médias junto com o desvio padrão (b). Cond (M) -Condutividade Média, Cond (SD) -

Desvio padrão da Condutividade, Lar (M) - Largura Media, Lar (SD) - Desvio padrão

da Largura, OD (M) - Oxigênio dissolvido Media, OD (SD) - Desvio padrão do

Oxigênio dissolvido, Ph (M) - Ph Média, Ph (SD) - Desvio padrão do Ph, Prof (M) -

Profundidade Média, Prof (SD) - Desvio padrão da profundidade, Temp (SD) - Desvio

padrão da Temperatura da água, Turb (M) - Turbidez Média, Turb (SD) - Desvio padrão

da turbidez, Vel (M) - Velocidade da Correnteza Média, Vel (SD) - Desvio padrão da

Velocidade da Correnteza.

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79

Tabela 4 – Loadings das variáveis utilizadas na PCA feita com as médias das condições

ambientais. Cond (M) -Condutividade Média, Cond (SD) - Desvio padrão da

Condutividade, Lar (M) - Largura Media, Lar (SD) - Desvio padrão da Largura, OD

(M) - Oxigênio dissolvido Media, OD (SD) - Desvio padrão do Oxigênio dissolvido, Ph

(M) - Ph Média, Ph (SD) - Desvio padrão do Ph, Prof (M) - Profundidade Média, Prof

(SD) - Desvio padrão da profundidade, Temp (SD) - Desvio padrão da Temperatura da

água, Turb (M) - Turbidez Média, Turb (SD) - Desvio padrão da turbidez, Vel (M) -

Velocidade da Correnteza Média, Vel (SD) - Desvio padrão da Velocidade da

Correnteza.

Variáveis PCA1M PCA2M PCA3M PCA4M PCA5M PCA6M PCA7M

Cond (M) 0.446 0.265 -0.621 0.136 -0.565 0.065 -0.061

Lar (M) 0.719 -0.315 -0.142 0.325 0.375 0.221 -0.265

OD (M) 0.865 0.182 -0.063 -0.088 0.200 0.131 0.387

Ph (M) 0.806 0.084 0.250 0.013 -0.040 -0.520 -0.089

Prof (M) 0.325 -0.518 0.605 0.120 -0.453 0.196 0.048

Turb (M) 0.225 0.766 0.402 -0.332 -0.018 0.233 -0.188

Vel (M) -0.242 0.501 0.230 0.794 0.027 -0.010 0.077

Eigenvalues 2.328 1.315 1.053 0.887 0.707 0.434 0.275

Proportion 0.333 0.188 0.150 0.127 0.101 0.062 0.039

Acum.Prop. 0.333 0.520 0.671 0.798 0.899 0.961 1.000

Broken Stick 0.370 0.228 0.156 0.109 0.073 0.044 0.020

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80

Tabela 5 – Loadings das variáveis utilizadas na PCA feita com as médias e os desvios padrão das condições ambientais. Cond (M) -Condutividade Média, Cond

(SD) - Desvio padrão da Condutividade, Lar (M) - Largura Media, Lar (SD) - Desvio padrão da Largura, OD (M) - Oxigênio dissolvido Media, OD (SD) -

Desvio padrão do Oxigênio dissolvido, Ph (M) - Ph Média, Ph (SD) - Desvio padrão do Ph, Prof (M) - Profundidade Média, Prof (SD) - Desvio padrão da

profundidade, Temp (SD) - Desvio padrão da Temperatura da água, Turb (M) - Turbidez Média, Turb (SD) - Desvio padrão da turbidez, Vel (M) - Velocidade

da Correnteza Média, Vel (SD) - Desvio padrão da Velocidade da Correnteza.

Variáveis PCA1MV PCA2MV PCA3MV PCA4MV PCA5MV PCA6MV PCA7MV PCA8MV PCA9MV PCA10MV PCA11MV PCA12MV PCA13MV PCA14MV PCA15MV

Cond (M) 0.254 0.618 0.102 -0.175 -0.008 0.461 -0.143 0.321 -0.403 -0.034 0.063 -0.045 0.034 -0.076 -0.003

Cond (SD) -0.628 -0.151 0.204 0.316 -0.238 0.211 -0.330 0.309 0.290 0.014 0.094 -0.142 -0.147 -0.012 -0.002

Lar (M) -0.330 0.663 0.438 <0.001 0.105 -0.307 0.111 0.015 0.099 0.164 0.201 0.186 -0.041 -0.173 -0.004

Lar (SD) -0.037 0.150 0.738 -0.270 -0.175 -0.317 0.320 0.169 -0.103 -0.079 -0.187 -0.127 -0.156 0.070 0.008

OD (M) -0.132 0.676 -0.120 0.453 0.023 -0.104 -0.250 -0.217 -0.086 0.320 -0.250 -0.111 -0.033 0.007 0.011

OD (SD) -0.507 -0.085 -0.468 0.303 0.363 -0.022 0.181 0.413 -0.002 -0.045 -0.249 0.153 -0.014 -0.043 <0.001

Ph (M) -0.052 0.821 -0.141 0.201 0.183 -0.273 -0.084 0.116 0.095 -0.231 0.126 -0.021 0.101 0.215 -0.013

Ph (SD) -0.641 -0.271 -0.293 0.165 0.383 -0.100 0.246 -0.081 -0.265 0.081 0.229 -0.202 -0.089 0.011 -0.012

Prof (M) -0.586 0.091 0.219 0.480 -0.188 0.200 -0.035 -0.325 -0.180 -0.351 -0.033 0.142 -0.103 -0.010 -0.002

Prof (SD) -0.611 -0.200 0.461 0.335 -0.280 0.107 0.201 0.056 -0.055 0.143 -0.006 -0.014 0.321 0.043 -0.002

Temp (SD) -0.024 0.468 0.103 -0.109 0.300 0.642 0.386 -0.152 0.275 0.033 -0.041 -0.052 -0.034 0.037 <0.001

Turb (M) 0.519 0.229 -0.331 0.510 -0.311 -0.135 0.275 0.013 0.104 -0.190 0.004 -0.181 0.056 -0.185 <0.001

Turb (SD) 0.584 -0.011 -0.196 0.504 -0.392 0.108 0.238 0.118 -0.076 0.219 0.119 0.149 -0.144 0.137 -0.003

Vel (M) 0.569 -0.270 0.514 0.420 0.377 <0.001 -0.088 0.009 -0.002 0.002 -0.044 -0.010 <0.001 -0.016 -0.108

Vel (SD) 0.501 -0.258 0.466 0.493 0.449 0.010 -0.062 0.036 -0.009 -0.039 0.052 -0.007 0.013 0.001 0.103

Eigenvalues 3.161 2.537 2.027 1.857 1.209 1.040 0.741 0.612 0.481 0.429 0.302 0.228 0.207 0.146 0.023

Proportion 0.211 0.169 0.135 0.124 0.081 0.069 0.049 0.041 0.032 0.029 0.020 0.015 0.014 0.010 0.002

Acum.Prop. 0.211 0.380 0.515 0.639 0.719 0.789 0.838 0.879 0.911 0.940 0.960 0.975 0.989 0.998 1.000

Broken Stick 0.221 0.155 0.121 0.099 0.082 0.069 0.058 0.048 0.040 0.033 0.026 0.020 0.014 0.009 0.004

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81

Tanto a riqueza quanto a diversidade beta de peixes de riacho do Cerrado

apresentaram o modelo linear, que inclui as médias e os desvios das condições com os

mapas de auto vetores calculados a partir da matriz W Local, como melhor modelo

(Tabela 6). O modelo da riqueza apresentou ajuste de 62.30% (r² = 0.623, p >0.001),

sendo 56.30% exclusivos das condições ambientais, 6% exclusivos dos mapas espaciais

e apenas 0.3% compartilhado entre as condições e o espaço. Já a diversidade beta

apresentou ajuste de 75.80% (r² = 0.758, p >0.001), sendo 64.40% exclusivos das

condições ambientais, 6.70% exclusivos dos mapas espaciais e 4.80% compartilhado

entre as condições e o espaço. A riqueza de espécies apresentou relação positiva com o

primeiro (b = 1.801, p > 0.001) (Tabela 7, Figura 4a), segundo (b = 1.926, p > 0.001)

(Tabela 7, Figura 4b) e terceiro eixo da PCA (b = 1.169, p > 0.001) (Tabela 7, Figura

4c) da PCA e negativa com o eixo quinto (b = -2.070, p > 0.001) (Tabela 7, Figura 4d) e

décimo quinto eixo da PCA (b = -9.282, p = 0.010) (Tabela 7, Figura 4e) e o primeiro

mapa de auto vetor espacial (b = -24.601, p = 0.000) (Tabela 7, Figura 4f). Para a

diversidade beta encontramos relação positiva com o nono (b = 0.037, p = 0.002)

(Tabela 7, Figura 5d) e negativa com o segundo (b = - 0.044, p < 0.001) (Tabela 7,

Figura 4a), quinto (b = - 0.025, p = 0.012) (Tabela 7, Figura 5b), oitavo (b = - 0.023, p =

0.014) (Tabela 7, Figura 5c) e décimo primeiro (b = - 0.052, p > 0.001) (Tabela 7,

Figura 5e) eixo da PCA e o primeiro mapa de auto vetor espacial (b = - 0.383, p =

0.003) (Tabela 7, Figura 5f).

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82

Tabela 6 – Modelos de regressão linear entre a PCA feita com as médias e com médias mais desvio padrão das condições ambientais considerando a

diversidade beta e riqueza total da comunidade de peixes de riachos do Cerrado.

Matriz W Descritores das Condições r² F P AIC Δ AIC CN Est. Morans's i Res Morans's i

Partição da Variância

A.B A:B B.A 1-

(A+B)

Riq

uez

a

W Global Média 0.346 4.433 <0.001 481.831 10.977 1.802 0.759 -0.007 0.217 0.098 0.031 0.654

Média + Desvio Padrão 0.553 4.566 <0.001 477.503 6.649 3.692 0.447 -0.059 0.425 0.103 0.026 0.447

W Local Média 0.335 4.226 <0.001 483.071 12.217 1.887 0.586 0.001 0.308 0.008 0.020 0.665

Média + Desvio Padrão 0.623 5.320 <0.001 470.854 0.000 3.381 0.468 -0.077 0.563 0.003 0.060 0.377

W Hídrico Média 0.349 4.493 <0.001 481.476 10.622 1.539 0.480 0.005 0.230 0.085 0.034 0.651

Média + Desvio Padrão 0.535 4.239 <0.001 480.570 9.716 1.841 0.684 -0.046 0.416 0.112 0.007 0.465

W HídAlt Média 0.380 3.983 <0.001 483.364 12.510 2.539 0.442 -0.003 0.158 0.157 0.064 0.620

Média + Desvio Padrão 0.578 4.334 <0.001 480.467 9.613 2.880 0.563 -0.045 0.356 0.171 0.050 0.422

Div

ersi

dad

e B

eta W Global

Média 0.740 18.504 <0.001 204.389 37.178 3.054 0.315 -0.150 0.248 0.389 0.093 0.260

Média + Desvio Padrão 0.773 10.759 <0.001 188.237 21.026 4.236 0.307 -0.146 0.281 0.411 0.081 0.227

W Local Média 0.680 9.262 <0.001 176.345 9.134 3.170 0.340 -0.084 0.566 0.081 0.034 0.320

Média + Desvio Padrão 0.758 7.540 <0.001 167.211 0.000 4.811 0.294 -0.112 0.644 0.048 0.067 0.242

W Hídrico Média 0.665 14.566 <0.001 187.973 20.762 2.318 0.296 -0.085 0.604 0.043 0.019 0.335

Média + Desvio Padrão 0.723 8.925 <0.001 177.066 9.855 2.751 0.262 -0.110 0.662 0.029 0.032 0.277

W HídAlt Média 0.726 12.633 <0.001 191.297 24.086 2.891 0.220 0.045 0.595 0.052 0.079 0.274

Média + Desvio Padrão 0.786 9.437 <0.001 180.815 13.604 3.306 0.238 0.088 0.655 0.037 0.094 0.214

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83

Tabela 7 – Coeficientes parciais de regressão da riqueza e da diversidade beta total com

os eixos da PCA construído com as médias mais os desvios padrão (PCA M) das

variáveis descritoras das condições ambientais.

Variável Coeficiente.

Coeficiente

padronizado VIF

Erro

Padrão T P

Riq

uez

a

Constant 10.276 0.000 0.000 0.509 20.201 <0.001

PCA1MV 1.801 0.521 2.156 0.423 4.257 <0.001

PCA2MV 1.926 0.499 1.003 0.322 5.982 <0.001

PCA3MV 1.690 0.391 1.495 0.440 3.844 <0.001

PCA4MV -0.098 -0.022 1.290 0.427 -0.229 0.820

PCA5MV -2.070 -0.370 1.266 0.524 -3.951 <0.001

PCA6MV -0.708 -0.118 1.000 0.502 -1.411 0.164

PCA7MV -0.534 -0.075 1.021 0.601 -0.889 0.378

PCA8MV 0.547 0.070 1.000 0.655 0.835 0.407

PCA9MV 1.086 0.123 1.018 0.745 1.458 0.150

PCA10MV -0.632 -0.067 1.022 0.790 -0.799 0.427

PCA11MV -1.115 -0.100 1.001 0.932 -1.197 0.236

PCA12MV 2.183 0.169 1.034 1.091 2.001 0.050

PCA13MV 0.482 0.036 1.005 1.127 0.427 0.671

PCA14MV 1.651 0.102 1.010 1.349 1.223 0.226

PCA15MV -9.282 -0.228 1.059 3.485 -2.663 0.010

Spatial Filter nº 1 -24.601 -0.462 3.380 8.153 -3.017 0.000

Div

ersi

dad

e B

eta

Constant 0.680 0.000 0.000 0.007 98.481 0.000

PCA1MV 0.006 0.100 2.863 0.007 0.877 0.384

PCA2MV -0.044 -0.682 2.038 0.006 -7.075 <0.001

PCA3MV 0.004 0.054 3.303 0.009 0.437 0.664

PCA4MV <0.001 0.006 1.645 0.007 0.070 0.945

PCA5MV -0.025 -0.268 2.342 0.010 -2.589 0.012

PCA6MV -0.015 -0.150 2.044 0.010 -1.552 0.127

PCA7MV 0.007 0.056 1.210 0.009 0.752 0.455

PCA8MV -0.023 -0.177 1.070 0.009 -2.534 0.014

PCA9MV 0.037 0.249 1.218 0.011 3.333 0.002

PCA10MV 0.008 0.052 1.215 0.012 0.702 0.486

PCA11MV -0.052 -0.275 1.235 0.014 -3.665 <0.001

PCA12MV 0.031 0.142 1.095 0.015 2.009 0.050

PCA13MV 0.015 0.065 1.054 0.016 0.940 0.352

PCA14MV 0.032 0.117 1.311 0.021 1.515 0.136

PCA15MV -0.013 -0.019 1.197 0.050 -0.250 0.803

Spatial Filter nº 1 -0.383 -0.429 4.274 0.125 -3.074 0.003

Spatial Filter nº 2 -0.178 -0.200 3.486 0.112 -1.584 0.119

Spatial Filter nº 3 0.093 0.104 3.506 0.113 0.821 0.415

Spatial Filter nº 4 -0.036 -0.040 1.227 0.067 -0.540 0.591

Spatial Filter nº 6 -0.007 -0.007 1.477 0.073 -0.091 0.928

Spatial Filter nº 7 -0.007 -0.008 1.743 0.080 -0.091 0.928

Spatial Filter nº 10 -0.047 -0.053 1.126 0.064 -0.735 0.465

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84

a) b)

-6 -4 -2 0 2 4 6 8

PCA1MV

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A1

MV

95% confidence

-4 -2 0 2 4 6 8

PCA2MV

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A2

MV

95% confidence

c) d)

-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6

PCA3MV

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A3

MV

95% confidence

-3 -2 -1 0 1 2 3 4 5

PCA5MV

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A5

MV

95% confidence

e) f)

-0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6

PCA15MV

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A1

5M

V

95% confidence

-0.25 -0.20 -0.15 -0.10 -0.05 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20

Spatial Filter nº 1

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

Re

sid

ua

l +

B *

Sp

atia

l F

ilte

r n

º 1

95% confidence

Figura 4 – Gráficos de regressão linear parcial da riqueza de espécies com os eixos da

PCA que construídos com os valores médios e de desvio padrão das condições

ambientais. Relação linear entre a riqueza e o (a) primeiro, (b) segundo, (c) terceiro, (d)

quinto e o (e) décimo quinto eixo da PCA e o (F) primeiro mapa de auto vetor espacial.

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85

a) b)

-4 -2 0 2 4 6 8

PCA2MV

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

0.1

0.2

0.3

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A2

MV

95% confidence

-3 -2 -1 0 1 2 3 4 5

PCA5MV

-0.20

-0.15

-0.10

-0.05

0.00

0.05

0.10

0.15

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A5

MV

95% confidence

c) d)

-2.0 -1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5

PCA8MV

-0.20

-0.15

-0.10

-0.05

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A8

MV

95% confidence

-2.5 -2.0 -1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0

PCA9MV

-0.20

-0.15

-0.10

-0.05

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A9

MV

95% confidence

e) f)

-2.0 -1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0

PCA11MV

-0.15

-0.10

-0.05

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A1

1M

V

95% confidence

-0.25 -0.20 -0.15 -0.10 -0.05 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20

FiltroBetaTotal1

-0.20

-0.15

-0.10

-0.05

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

Re

sid

ua

l +

B *

Filtr

oB

eta

To

tal1

95% confidence

Figura 5 – Gráficos de regressão linear parcial da diversidade beta de espécies com os

eixos da PCA construídos com os valores médios e de desvio padrão das condições

ambientais. Relação linear entre a riqueza e o (a) segundo, (b) quinto, (c) oitavo, (d)

nono e (e) décimo primeiro eixo da PCA e o (f) primeiro mapa de auto vetor espacial.

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86

Quando a comunidade é particionada em guildas tróficas, os insetívoros e

onívoros apresentaram os mapas de auto vetores espaciais derivados da matriz W Local

como a melhor representação dos processos espaciais (Tabela 8), tanto para a riqueza

quanto para a diversidade beta. Já a guilda trófica dos detritívoros, apresentou a matriz

W HídAlt como a melhor representação dos processos espaciais.

A riqueza de peixes detritívoros apresentou relação positiva com o segundo

(Tabela 9, Figura 6a), terceiro (Tabela 9, Figura 6b), oitavo (Tabela 9, Figura 6c),

décimo (Tabela 9, Figura 6d) e décimo quarto (Tabela 9, Figura 6e) eixo da PCA. Além

de efeito negativo do primeiro mapa de auto vetor espacial (Tabela 9, Figura 6f). A

riqueza de insetívoros apresentou relação positiva com o segundo eixo (Tabela 9, Figura

7a) e negativa com o sétimo mapa de auto vetor espacial (Tabela 9, Figura 7b). Os

peixes onívoros apresentaram relação positiva com o primeiro (Tabela 9, Figura 8a),

segundo (Tabela 9, Figura 8b) e terceiro (Tabela 9, Figura 8c) eixo da PCA e negativa

com quinto (Tabela 9, Figura 8d), décimo primeiro (Tabela 9, Figura 8e) e décimo

quinto (Tabela 9, Figura 8f) eixo da PCA e o primeiro mapa de auto vetor espacial

(Tabela 9, Figura 8g).

A diversidade beta de peixes detritívoros apresentou relação positiva com o

quarto eixo da PCA (Tabela 10, Figura 9). A diversidade beta de insetívoros apresentou

relação positiva com o primeiro eixo (Tabela 10, Figura 10a) e décimo segundo eixo da

PCA (Tabela 10, Figura 10c) e negativa com o quinto (Tabela 10, Figura 10b) e décimo

quinto eixo da PCA (Tabela 10, Figura 10d) e o primeiro mapa de auto vetor espacial

(Tabela 10, Figura 10e). A diversidade beta de onívoros apresentou relação positiva

com o nono (Tabela 10, Figura 11a) e décimo terceiro (Tabela 10, Figura 11c) eixo da

PCA e o terceiro mapa de auto vetor espacial (Tabela 10, Figura 11d) e negativa com

décimo primeiro eixo da PCA (Tabela 10, Figura 11b).

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87

Tabela 8 – Modelos de regressão linear entre a riqueza e a diversidade beta por guilda trófica e os eixos da PCA feita com as médias e o desvio padrão das

condições ambientais.

Guilda Matriz W r²: F P AIC Δ AIC CN Est. Morans's i Res Morans's i Partição da Variância

A.B A:B B.A 1-(A+B)

Riq

uez

a

Detritívoros

W HídAlt 0.612 5.820 <0.001 305.729 0.000 2.758 0.255 -0.073 0.438 0.072 0.102 0.388

W Local 0.606 4.865 <0.001 314.247 8.518 4.139 0.232 -0.058 0.408 0.101 0.096 0.394

W Hídrico 0.542 4.371 <0.001 318.292 12.563 1.841 0.396 -0.056 0.407 0.103 0.033 0.458

W Global 0.517 3.942 <0.001 322.446 16.717 3.692 0.316 -0.042 0.475 0.035 0.007 0.483

Insetívoros

W Local 0.508 3.517 <0.001 369.312 0.000 2.745 0.408 -0.040 0.284 0.146 0.077 0.492

W HídAlt 0.481 3.422 <0.001 369.698 0.386 2.758 0.517 -0.025 0.308 0.123 0.050 0.519

W Global 0.502 3.438 <0.001 370.181 0.869 3.876 0.282 -0.028 0.391 0.040 0.071 0.498

W Hídrico 0.438 2.879 0.002 375.737 6.425 1.841 0.622 -0.005 0.325 0.106 0.007 0.562

Onívoros

W Local 0.569 4.496 <0.001 311.615 0.000 3.502 0.656 -0.106 0.395 0.115 0.059 0.431

W Hídrico 0.564 4.416 <0.001 312.389 0.774 2.751 0.701 -0.103 0.436 0.073 0.055 0.436

W Global 0.511 3.856 <0.001 317.529 5.914 3.692 0.680 -0.078 0.326 0.183 0.002 0.489

W HídAlt 0.534 3.376 <0.001 325.031 13.416 2.949 0.781 -0.085 0.403 0.107 0.025 0.466

Div

ersi

dad

e B

eta

Detritívoros

W HídAlt 0.307 3.256 0.002 46.594 0.000 1.577 0.088 <0.001 0.188 0.020 0.100 0.693

W Global 0.261 2.962 0.007 48.748 2.154 1.859 0.534 -0.030 0.169 0.039 0.054 0.739

W Local 0.249 2.428 0.019 52.767 6.173 1.922 0.162 -0.035 0.185 0.022 0.041 0.751

W Hídrico 0.216 2.308 0.030 53.267 6.673 1.680 0.235 -0.024 0.196 0.012 0.008 0.784

Insetívoros

W Global 0.332 2.170 0.020 23.221 0.000 2.806 0.067 -0.049 0.064 0.016 0.252 0.668

W Local 0.101 0.938 0.491 28.034 4.813 1.887 0.150 -0.053 0.071 0.009 0.021 0.899

W Hídrico 0.096 0.892 0.528 28.411 5.190 1.680 0.103 -0.055 0.081 0.001 0.016 0.904

W HídAlt 0.084 0.765 0.634 29.456 6.235 2.413 0.125 -0.043 0.083 -0.003 0.004 0.916

Onívoros

W Global 0.231 2.200 0.033 4.718 0.000 2.334 0.101 -0.084 0.027 -0.029 0.133 0.769

W Local 0.185 1.084 0.389 11.528 6.810 3.158 0.185 -0.088 0.135 -0.038 0.087 0.815

W Hídrico 0.180 0.808 0.671 22.033 17.315 3.450 0.120 -0.074 0.118 -0.020 0.082 0.820

W HídAlt 0.253 1.475 0.148 8.172 3.454 2.881 0.017 -0.071 0.134 -0.036 0.155 0.747

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88

Tabela 9 – Coeficientes parciais de regressão da riqueza por guilda trófica com os eixos da PCA construídos

com as médias mais os desvios padrão (PCA M) das variáveis descritoras das condições ambientais.

Guilda Variável Coeficiente. Coeficiente padronizado VIF Erro Padrão T P

Det

rití

vo

ros

Constant 2.263 0.000 0.000 0.172 13.183 <0.001

PCA1MV 0.188 0.157 1.002 0.097 1.932 0.058

PCA2MV 0.474 0.354 1.530 0.134 3.534 <0.001

PCA3MV 0.324 0.217 1.224 0.134 2.416 0.019

PCA4MV -0.191 -0.122 1.208 0.139 -1.367 0.177

PCA5MV -0.036 -0.019 1.000 0.157 -0.229 0.820

PCA6MV -0.120 -0.058 1.081 0.176 -0.683 0.497

PCA7MV -0.230 -0.093 1.032 0.204 -1.130 0.263

PCA8MV 0.479 0.176 1.025 0.224 2.139 0.037

PCA9MV 0.248 0.081 1.025 0.252 0.986 0.328

PCA10MV 0.987 0.303 1.127 0.280 3.523 <0.001

PCA11MV -0.082 -0.021 1.053 0.323 -0.254 0.800

PCA12MV 0.722 0.162 1.010 0.364 1.983 0.052

PCA13MV -0.080 -0.017 1.001 0.380 -0.210 0.834

PCA14MV 1.217 0.218 1.115 0.478 2.545 0.014

PCA15MV -1.836 -0.130 1.000 1.143 -1.606 0.114

Spatial Filter 1 -9.209 -0.499 2.434 2.335 -3.944 <0.001

Inse

tív

oro

s

Constant 4.276 0.000 0.000 0.257 16.642 0.000

PCA1MV 0.105 0.067 1.106 0.153 0.689 0.493

PCA2MV 0.678 0.385 1.418 0.193 3.508 <0.001

PCA3MV 0.337 0.171 1.294 0.207 1.632 0.108

PCA4MV 0.274 0.133 1.165 0.205 1.338 0.186

PCA5MV -0.097 -0.038 1.139 0.251 -0.385 0.702

PCA6MV -0.323 -0.117 1.097 0.266 -1.217 0.229

PCA7MV -0.150 -0.046 1.043 0.307 -0.489 0.627

PCA8MV 0.166 0.046 1.027 0.335 0.496 0.622

PCA9MV 0.384 0.095 1.055 0.383 1.004 0.320

PCA10MV -0.272 -0.063 1.207 0.434 -0.626 0.534

PCA11MV -0.799 -0.156 1.063 0.485 -1.647 0.105

PCA12MV 0.702 0.119 1.014 0.546 1.286 0.204

PCA13MV 0.092 0.015 1.018 0.573 0.160 0.873

PCA14MV 0.957 0.130 1.146 0.726 1.318 0.193

PCA15MV -2.685 -0.145 1.009 1.719 -1.562 0.124

Spatial Filter 2 -4.162 -0.171 2.345 3.430 -1.213 0.230

Spatial Filter 7 -7.826 -0.322 1.457 2.704 -2.895 0.005

On

ívo

ros

Constant 3.053 0.000 0.000 0.176 17.364 <0.001

PCA1MV 0.635 0.550 2.572 0.160 3.976 <0.001

PCA2MV 0.335 0.260 1.086 0.116 2.897 0.005

PCA3MV 0.551 0.383 1.630 0.159 3.475 <0.001

PCA4MV -0.151 -0.101 1.446 0.156 -0.970 0.336

PCA5MV -0.879 -0.471 1.440 0.193 -4.549 <0.001

PCA6MV 0.014 0.007 1.272 0.196 0.074 0.941

PCA7MV -0.312 -0.131 1.025 0.208 -1.501 0.139

PCA8MV 0.044 0.017 1.001 0.226 0.194 0.847

PCA9MV 0.012 0.004 1.094 0.267 0.046 0.963

PCA10MV -0.388 -0.124 1.068 0.279 -1.391 0.170

PCA11MV -0.653 -0.175 1.006 0.323 -2.021 0.048

PCA12MV 0.428 0.100 1.072 0.384 1.115 0.269

PCA13MV 0.075 0.017 1.005 0.390 0.193 0.848

PCA14MV 0.533 0.099 1.081 0.482 1.105 0.274

PCA15MV -2.487 -0.183 1.061 1.206 -2.062 0.044

Spatial Filter 1 -6.637 -0.373 3.447 2.846 -2.332 0.023

Spatial Filter 3 4.527 0.255 2.413 2.381 1.901 0.062

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89

a) b)

-4 -2 0 2 4 6 8

PCA2MV

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5R

esid

ua

l +

B *

PC

A2

MV

95% confidence

-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6

PCA3MV

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A3

MV

95% confidence

c) d)

-2.0 -1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5

PCA8MV

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A8

MV

95% confidence

-2.0 -1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5

PCA10MV

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A1

0M

V

95% confidence

e) f)

-1.2 -1.0 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2

PCA14MV

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A1

4M

V

95% confidence

-0.4 -0.3 -0.2 -0.1 0.0 0.1 0.2

FiltroRiquezaDetritivoro1

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

6

Re

sid

ua

l +

B *

Filtr

oR

iqu

eza

De

tritiv

oro

1

95% confidence

Figura 6 – Gráficos de regressão linear parcial da riqueza de peixes detritívoros com os

eixos da PCA construídos com os valores médios e de desvio padrão das condições

ambientais. Relação linear entre a riqueza e o (a) segundo, (b) terceiro, (c) oitavo, (d)

décimo e (e) décimo quarto eixo da PCA e o (f) primeiro mapa de auto vetor espacial

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90

1

a) b)

-4 -2 0 2 4 6 8

PCA2MV

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A2

MV

95% confidence

-0.3 -0.2 -0.1 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7

FIltroRiquezaInsetivoro7

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

Re

sid

ua

l +

B *

FIltr

oR

iqu

eza

Inse

tivo

ro7

95% confidence

Figura 7 – Gráficos de regressão linear parcial da riqueza de peixes insetívoros com os

eixos da PCA construídos com os valores médios e de desvio padrão das condições

ambientais. Relação linear entre a riqueza e o (a) segundo eixo da PCA e o (b) sétimo

mapa de auto vetor espacial.

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91

a) b) c)

-6 -4 -2 0 2 4 6 8

PCA1MV

-6

-4

-2

0

2

4

6

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A1

MV

95% confidence

-4 -2 0 2 4 6 8

PCA2MV

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A2

MV

95% confidence

-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6

PCA3MV

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

6

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A3

MV

95% confidence

d) e) f)

-3 -2 -1 0 1 2 3 4 5

PCA5MV

-5

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A5

MV

95% confidence

-2.0 -1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0

PCA11MV

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A1

1M

V

95% confidence

-0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6

PCA15MV

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A1

5M

V

95% confidence

g)

-0.25 -0.20 -0.15 -0.10 -0.05 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20

FiltroRiquezaOnivoro1

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

Re

sid

ua

l +

B *

Filtr

oR

iqu

eza

On

ivo

ro1

95% confidence

Figura 8 – Gráficos de regressão linear parcial da

riqueza de peixes onívoros com os eixos da pca

construídos com os valores médios e de desvio padrão

das condições ambientais. Relação linear entre a riqueza

e o (a) primeiro, (b) segundo, (c) terceiro, (d) quinto, (e)

décimo primeiro e (f) e décimo quinto eixo da PCA e o

(g) primeiro mapa de auto vetor espacial.

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92

Tabela 10 – Coeficientes parciais de regressão da diversidade beta por guilda trófica com os eixos da PCA

construídos com as médias mais os desvios padrão (PCA M) das variáveis descritoras das condições

ambientais.

Guilda Variável Coeficiente. Coeficiente padronizado VIF Erro Padrão T P

Det

rití

vo

ros

Constant 0.631 0.000 0.000 0.034 18.424 0.000

PCA1MV -0.012 -0.065 1.003 0.019 -0.633 0.529

PCA2MV 0.015 0.073 1.054 0.022 0.686 0.495

PCA3MV 0.012 0.050 1.023 0.024 0.483 0.631

PCA4MV 0.090 0.367 1.017 0.026 3.538 <0.001

PCA5MV -0.047 -0.154 1.006 0.031 -1.495 0.140

PCA6MV -0.058 -0.175 1.055 0.035 -1.658 0.103

PCA7MV -0.027 -0.070 1.025 0.041 -0.671 0.505

PCA8MV -0.013 -0.029 1.199 0.048 -0.260 0.796

PCA9MV 0.076 0.158 1.064 0.051 1.490 0.142

PCA10MV 0.062 0.121 1.084 0.055 1.125 0.265

PCA11MV -0.074 -0.122 1.005 0.063 -1.181 0.243

PCA12MV 0.044 0.063 1.024 0.073 0.607 0.546

PCA13MV -0.069 -0.094 1.025 0.077 -0.906 0.369

PCA14MV 0.074 0.084 1.006 0.091 0.811 0.421

PCA15MV -0.065 -0.029 1.006 0.229 -0.284 0.778

Spatial Filter 3 0.419 0.145 1.404 0.354 1.186 0.241

Spatial Filter 16 -0.652 -0.225 1.191 0.326 -2.001 0.050

Inse

tív

oro

s

Constant 0.677 0.000 0.000 0.028 24.335 0.000

PCA1MV 0.058 0.390 2.156 0.023 2.511 0.015

PCA2MV -0.007 -0.042 1.003 0.018 -0.394 0.695

PCA3MV 0.037 0.197 1.495 0.024 1.527 0.132

PCA4MV 0.022 0.114 1.290 0.023 0.946 0.348

PCA5MV -0.064 -0.267 1.266 0.029 -2.246 0.029

PCA6MV -0.010 -0.037 1.000 0.027 -0.353 0.725

PCA7MV -0.006 -0.021 1.021 0.033 -0.194 0.847

PCA8MV 0.007 0.022 1.000 0.036 0.206 0.837

PCA9MV 0.006 0.017 1.018 0.041 0.156 0.877

PCA10MV 0.010 0.025 1.022 0.043 0.232 0.817

PCA11MV -0.096 -0.199 1.001 0.051 -1.881 0.065

PCA12MV 0.144 0.260 1.034 0.060 2.421 0.019

PCA13MV -0.012 -0.021 1.005 0.062 -0.203 0.840

PCA14MV 0.136 0.197 1.010 0.074 1.850 0.069

PCA15MV -0.430 -0.245 1.059 0.191 -2.257 0.028

Spatial Filter 1 -1.357 -0.592 3.380 0.446 -3.045 0.003

On

ívoro

s

Constant 0.647 0.000 0.000 0.025 26.101 0.000

PCA1MV 0.031 0.244 1.585 0.018 1.763 0.084

PCA2MV 0.011 0.079 1.965 0.022 0.511 0.612

PCA3MV -0.049 -0.309 2.038 0.025 -1.965 0.055

PCA4MV 0.016 0.097 1.193 0.020 0.802 0.426

PCA5MV 0.004 0.018 1.419 0.027 0.135 0.893

PCA6MV -0.053 -0.240 1.990 0.035 -1.544 0.129

PCA7MV -0.003 -0.010 1.174 0.031 -0.087 0.931

PCA8MV -0.011 -0.037 1.088 0.033 -0.324 0.747

PCA9MV 0.082 0.251 1.208 0.040 2.074 0.043

PCA10MV 0.034 0.097 1.247 0.043 0.787 0.435

PCA11MV -0.129 -0.313 1.212 0.050 -2.580 0.013

PCA12MV 0.072 0.152 1.044 0.053 1.354 0.181

PCA13MV 0.116 0.232 1.031 0.056 2.080 0.042

PCA14MV 0.026 0.044 1.115 0.069 0.381 0.705

PCA15MV 0.205 0.137 1.154 0.177 1.156 0.253

Spatial Filter 2 0.660 0.336 3.205 0.387 1.706 0.094

Spatial Filter 3 0.915 0.466 3.328 0.394 2.320 0.024

Spatial Filter 4 -0.037 -0.019 1.221 0.239 -0.157 0.876

Spatial Filter 6 -0.058 -0.030 1.458 0.261 -0.223 0.825

Spatial Filter 10 -0.012 -0.006 1.124 0.229 -0.054 0.957

Spatial Filter 11 0.210 0.107 1.124 0.229 0.915 0.364

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93

-3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7

PCA4MV

-1.0

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A4

MV

95% confidence

Figura 9 – Relação linear parcial da diversidade beta de peixes detritívoros com o

primeiro eixo da PCA construído com os valores médios e de desvio padrão das

condições ambientais.

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94

a) b)

-6 -4 -2 0 2 4 6 8

PCA1MV

-1.0

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A1

MV

95% confidence

-3 -2 -1 0 1 2 3 4 5

PCA5MV

-1.0

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A5

MV

95% confidence

c) d)

-1.2 -1.0 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4

PCA12MV

-1.0

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A1

2M

V

95% confidence

-0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6

PCA15MV

-1.0

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A1

5M

V

95% confidence

e)

-0.25 -0.20 -0.15 -0.10 -0.05 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20

FiltroBetaInsetivoro1

-1.0

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

Re

sid

ua

l +

B *

Filtr

oB

eta

Inse

tivo

ro1

95% confidence

Figura 10 – Gráficos de regressão linear parcial da diversidade beta de peixes

insetívoros com os eixos da PCA construídos com os valores médios e de desvio padrão

das condições ambientais. Relação linear entre a riqueza e o (a) primeiro, (b) quinto, (c)

décimo segundo e (d) décimo quinto eixo da PCA e o (e) primeiro mapa de auto vetor

espacial.

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95

1

a) b)

-2.5 -2.0 -1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0

PCA9MV

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A9

MV

95% confidence

-2.0 -1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0

PCA11MV

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A1

1M

V

95% confidence

c) d)

-1.4 -1.2 -1.0 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2

PCA13MV

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

Re

sid

ua

l +

B *

PC

A1

3M

V

95% confidence

-0.4 -0.3 -0.2 -0.1 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4

FiltroBetaOnivoro3

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

Re

sid

ua

l +

B *

Filtr

oB

eta

On

ivo

ro3

95% confidence

Figura 11 – Gráficos de regressão linear parcial da diversidade beta de peixes onívoros

com os eixos da PCA construídos com os valores médios e de desvio padrão das

condições ambientais. Relação linear entre a riqueza e o (a) nono, (b) décimo primeiro,

e (c) décimo terceiro eixo da PCA e o (d) terceiro mapa de auto vetor espacial.

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96

Discussão

Com relação as formas de representar o componente espaço nas análises de

partição de variância, observamos que a distância linear sem considerar as barreiras

físicas que separam as comunidades (chamado aqui de modelo W Global) foi

inapropriada. O uso da distância euclidiana, assim como já descrito na literatura, é uma

forma simplista e insuficiente de representação dos processos espaciais da ictiofauna de

riachos (Landeiro et al., 2011). No entanto, a distância euclidiana discutida nos

trabalhos que concluem dessa forma é usada para relacionar todos os pontos presentes

na análise sem considerar as barreiras geográficas existentes (e.g.: unidades

hidrográficas). Quando consideramos as barreiras geográficas (chamada aqui de W

Local) (no caso dos peixes, as bacias hidrográficas) a distância linear é capaz de

representar bem os processos de dispersão da ictiofauna, com performance melhor que a

distância dendrítica (W Hídrico), que por sua vez é considerada a melhor representação

dos processos de dispersão em peixes (Landeiro et al., 2011). Quando utilizamos a

distância euclidiana para pontos em uma mesma unidade hídrica (W Local)

identificamos uma forma simples e robusta de representar os processos espaciais e

considerar as barreiras físicas que separam as comunidades. Esse resultado é consistente

tanto com a riqueza e a diversidade beta total, quanto com a riqueza de peixes onívoros

e insetívoros.

A interpretação do componente espacial (e sua associação à dispersão), feita a

partir do uso de mapas de auto vetores espaciais, tem de ser feita de forma cautelosa,

uma vez que esses mapas trazem, além da estruturação espacial, a informação das

condições ambientais que não foram mensuradas e que apresentam correlação com a

distribuição das espécies (Diniz-filho et al., 2003; Hawkins et al., 2007). Nas análises

feitas com a riqueza e a diversidade beta total e a riqueza por guilda trófica o

componente de condições ambientais captura a maior parte da variação encontrada,

sugerindo que as condições ambientais foram representadas de forma satisfatória e o

componente espacial contribuiu pouco na estruturação da comunidade. No entanto, a

diversidade beta por guilda, principalmente a da guilda dos insetívoros e a dos onívoros,

apresentou pouca relação com o componente de variação exclusivo do ambiente e uma

maior relação com o componente exclusivo do espaço, apesar de haver pouco

compartilhamento entre os dois componentes. Esse resultado pode ser um caso em que

o componente espacial está representando mais as variáveis não mensuradas que o

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97

espaço propriamente dito. Uma explicação alternativa seria a de que as espécies

presentes na guilda dos peixes insetívoros e onívoros possuem uma grande capacidade

de dispersão. Essa grande capacidade de dispersão oculta o efeito do gradiente

ambiental, uma vez que as espécies estariam sempre colonizando os locais que possuem

condições não favoráveis, suprimindo assim o efeito da extinção local (Grönroos et al.,

2013). Se esse for o caso da guilda dos insetívoros e dos onívoros, podemos concluir

que o mecanismo que estrutura a metacomunidade seria o Mass Effects. Ao passo que a

guilda trófica dos detritívoros e a comunidade total seria estruturada pela dinâmica de

Species Sorting ou então uma interação entre Mass Effects e Species Sorting (Cottenie,

2005).

Uma segunda característica dos nossos resultados está relacionada à dispersão de

peixes detritívoros, que não pode ser representada como uma simples função da

distância entre pontos, seja essa linear, considerando ou não barreiras, ou hidrológica.

Para representar a dispersão nos peixes detritívoros é necessário a aplicação de modelos

que considerem tanto a distância dendrítica entre os pontos quanto a direção do fluxo

(chamado aqui de W HídAlt). A aplicação de modelos de conectividade associados à

direção de fluxo é defendida por alguns autores como sendo o mais adequado para

organismos aquáticos (Peterson et al., 2007; Isaak et al., 2010; Peterson & Ver Hoef,

2010). No entanto, com a análise dos nossos dados, observamos que essa abordagem,

mais complexa e demorada que o cálculo da distância linear considerando as barreiras

geográficas, foi necessária apenas quando analisamos peixes detritívoros.

Mesmo o modelo W Local sendo a melhor representação do espaço para toda a

comunidade de ictiofauna, observamos uma fraca relação entre a comunidade (riqueza e

diversidade beta total) e o componente espacial. Essa fraca associação pode ter ocorrido

em função de dois fatores: (i) A capacidade dos peixes em selecionar ativamente o

habitat, ou seja, o gradiente ambiental seria mais importante que a dispersão. Isso

poderia indicar que a metacomunidade de peixes de riachos é estruturada segundo o

mecanismo de Species-Sorting (Leibold et al., 2004), que é recorrentemente descrito na

literatura como sendo o mecanismo responsável pela estruturação das metacomunidades

(Cottenie, 2005; Van der Gucht et al., 2007; Vanschoenwinkel et al., 2007, 2010;

Landeiro et al., 2011). (ii) Os “caminhos” que os peixes têm que percorrer, para se

dispersar, são ambientalmente inadequados restringindo assim a sua dispersão

(Grönroos et al., 2013). Apesar das características dos pontos terem sido controladas a

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fim de serem o mais próximo do natural possível, a conexão entre esses pontos não foi

controlada. Assim, pode ser que os locais, apesar de íntegros, estejam sendo conectados

por drenagens não íntegras representando uma barreira e limitando a dispersão da

ictiofauna (Grönroos et al., 2013). A pouca dispersão presente na ictiofauna de riachos é

evidenciada na relação negativa entre a comunidade e os filtros espaciais. Considerando

que autovalores pequenos são relacionados à estruturação local e os autovalores maiores

à estruturação em maior escala (Griffith & Peres-Neto, 2006; Blanchet et al., 2008),

interpretamos que a ictiofauna de riachos está dispersando apenas em pequenas escalas,

uma vez que a riqueza e a diversidade beta se relacionaram negativamente com os

filtros. Esse resultado é um suporte a ideia de manchas preservadas conectadas por

“caminhos” alterados. Espécies que dispersam pouco tendem a expressar a estrutura

espacial de modo mais evidente que as espécies que dispersam muito (Thompson &

Townsend, 2006; Astorga et al., 2011). Assim, se houvesse uma estrutura espacial

decorrente da dispersão dos organismos ela seria evidenciada nas análises. Desse modo,

ainda que seja fraca, a relação da comunidade com o componente espacial não pode ser

ignorada.

O modelo de ocorrência de espécies (Species-Sorting - SS) (Leibold et al., 2004)

prevê uma correlação da metacomunidade apenas com o gradiente ambiental. A

interação do espaço (dispersão) e do ambiente na estruturação da metacomunidade é

atribuído unicamente ao modelo de efeito de massa (Mass Effects – ME) (Leibold et al.,

2004). No entanto Cottenie (2005) diz que não é possível a separação entre esses dois

mecanismos, sendo que, metacomunidades que apresentam relação tanto com o espaço

quanto com o ambiente são entendidas como sendo estruturadas pela interação entre SS

e ME. Essa junção de mecanismos é devido a dificuldade de se separar

metacomunidades puramente estruturadas pelo ME e metacomunidades estruturadas por

SS com limite a dispersão (Cottenie, 2005). Essa interação entre os mecanismos de SS e

ME foi encontrada em 29% (46) das metacomunidades analisadas por Cottenie (2005),

sendo também encontrada para peixes amazônicos (Landeiro et al., 2011). Apesar dessa

interação entre os processos espaciais e de condições ambientais, a ictiofauna de riachos

apresenta maior relação com as condições ambientais que com processos espaciais, o

que sugere o mecanismo de SS (37% das metacomunidade analisadas por Cottenie

(2005) estruturando a ictiofauna de riachos. Esse resultado não descarta a ocorrência de

dispersão (Cottenie, 2005), apenas reforça a ideia de dispersão ocorrendo em uma escala

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99

mais local e de forma menos evidente (mesmo resultado apresentado pela relação

negativa com os autos vetores espaciais).

O mecanismo de SS é relacionado a muitos organismos de água doce, tal como

macroinvertebrados (Grönroos et al., 2013; Heino et al., 2013), caracóis (Hoverman et

al., 2011) e bactérias (Van der Gucht et al., 2007). A prevalência do mecanismo de SS

nas análises de comunidades em grandes escalas foi encontrada por Heino et al. (2014),

apresentando que não houve variação na metacomunidade entre três bacias estudadas,

porém ocorrendo uma variação contínua segundo um gradiente ambiental. Esse

resultado evidencia que a dispersão influencia pouco a estruturação da metacomunidade

em grandes escalas (Grönroos et al., 2013; Heino et al., 2014). O efeito da dispersão

tende a diminuir com o aumento da escala espacial, da mesma forma que o efeito do

gradiente ambiental, tende a aumentar quando tratamos de escalas maiores (Astorga et

al., 2011; Grönroos et al., 2013). Além disso, peixes só conseguem migrar utilizando as

drenagens e algumas espécies tendem a não migrar ou então são impedidas de migrar

devido a existência de barreiras físicas, como cachoeiras ou barragens. Além disso,

espécies que dispersam de forma ativa tendem a selecionar o ambiente em que irão se

estabelecer, o que diminui ainda mais a estruturação espacial (Grönroos et al., 2013).

Trabalhos que particionam a variância da comunidade entre condições

ambientais e o espaço geográfico, geralmente associam esses dois conjuntos de

informações à teoria do nicho, para aquelas cuja maior porção de variação é explicada

pelas condições ambientais, ou a teoria neutra, para aquelas comunidades que

apresentam relação com o espaço geográfico (Smith & Lundholm, 2010). Alguns

trabalhos defendem a ideia que comunidades não são frutos de apenas uma dessas duas

teorias, mas sim da inteiração entre elas (Juen & de Marco, 2012). Um ponto de vista

mais recente (e.g.:Cottenie, 2005; Van der Gucht et al., 2007; Heino, 2011; Grönroos et

al., 2013) é a associação da comunidade aos mecanismos propostos por Leibold et al.

(2004), sendo a relação entre comunidades e fatores ambientais relacionados ao

mecanismo de SS, a relação entre comunidade e espaço aos mecanismos de dinâmica de

manchas (Pach Dinamic – PD) e neutro, sendo a interação entre o espaço e as condições

relacionado ao mecanismo de ME (Cottenie, 2005). No entanto a separação entre os

mecanismos de ME e SS não é trivial, uma vez que a limitação da dispersão dentro do

SS pode gerar um padrão de relação da comunidade tanto com as condições ambientais

quanto com o espaço (Cottenie, 2005). Em nosso estudo foi observado uma forte

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100

relação das condições ambientais com a ictiofauna e uma fraca relação com o espaço, o

que sugere o mecanismo de SS como estruturador da comunidade. Seguindo a ideia de

Cottenie (2005), a relação entre espaço e as condições ambientais seria um produto de

interação entre mecanismos ME e SS, podemos concluir assim, que a ictiofauna de

riachos do Cerrado estão sendo estruturadas por essa interação entre esses dois

mecanismos. Essa conclusão só não é possível para o componente de diversidade beta

de insetívoros e de onívoros, cuja relação mais forte foi com o espaço, sugerindo o

modelo neutro ou de PD ou a não representação das condições ambientais relacionadas

ao grupo. Por fim, temos que a distância linear que leva em consideração as barreiras

físicas (W Local) é a melhor representação do espaço, quando tratamos da comunidade

íctica total e as guildas dos insetívoros e onívoros. Porém quando tratamos as guildas

dos detritívoros é necessário aliar a direção do fluxo no modelo de conectividade (W

HídAlt). Para a diversidade beta das guildas insetívoras e onívoras não é possível ter

conclusões sólidas, uma vez que não sabemos se a dispersão é o mais importante ou se a

má representação das condições ambientais atribui ao componente espacial a maior

importância. Com relação as condições, é necessário que estas sejam representadas não

somente pelas médias mas também por alguma métrica que mensure sua variação, uma

vez que todos os nossos modelos selecionados foram os que consideraram a

heterogeneidade ambiental presente no local.

Literatura Citada

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105

Capítulo 4

PADRÕES DE COOCORRÊNCIA EM PEIXES DE RIACHOS NA BACIA DO

ALTO RIO PARANÁ

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PADRÕES DE COOCORRÊNCIA EM PEIXES DE RIACHOS NA BACIA DO ALTO

RIO PARANÁ

Resumo

Os padrões de coocorrência de espécies em uma metacomunidade são resultados da existência de

um gradiente de condições (características físicas, químicas, físico-químicas e climáticas) e

recursos (e.g.: disponibilidade de alimento, predação e reprodução) presentes no habitat

juntamente com a capacidade de dispersão intrínseca a cada espécie. Dentre os mecanismos

responsáveis pela estruturação da metacomunidade identificamos alguns relacionados a

processos de nicho, a processos neutros e a interação entre esses dois processos. Desta forma, a

identificação do mecanismo possibilita determinar a importância de cada processo, identificando

as condições e os recursos que são importantes para a determinação do padrão de distribuição

das espécies na metacomunidade. Assim, os objetivos do trabalho são; i) identificar se a

coocorrência de espécies de peixes de riachos da bacia do rio Paraná está estruturada segundo

uma dinâmica de nicho ou neutra, relacionando o padrão de coocorrência ao gradiente ambiental

e espacial e identificar se o padrão observado na metacomunidade total é o mesmo para as

espécies núcleo e para as guildas. Os resultados mostram um conjunto de espécies núcleo, com o

padrão de coocorrência Clementisiano, sob o efeito do mecanismo de ocorrência de espécies

(species sorting) e uma metacomunidade total sendo estruturada pelo mecanismo de efeito de

massa (mass effects). O padrão Clementsiano e o de perda de espécies igualmente espaçadas,

encontrada para as metacomunidades por guilda e total, indicam a existência de barreiras entre as

comunidades presentes na metacomunidade de peixes de riachos da bacia do rio Paraná,

indicando a perda de espécies sem a possibilidade de recolonização.

Palavras chaves: Cerrado, EMS, Espécies Núcleo, Guildas Tróficas, Metacomunidade.

Introdução

Os padrões de coocorrência de espécies em uma metacomunidade são resultados das

interações espécie-espécie, espécie-ambiente e/ou dinâmicas neutras (Leibold & Mikkelson,

2002; Leibold et al., 2004; Presley et al., 2010; Fernandes et al., 2013). De fato, a coocorrência

de espécies é resultado da existência de um gradiente de condições (características físicas,

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107

químicas, físico-químicas e climáticas) e recursos (e.g.: disponibilidade de alimento, predação e

reprodução) presentes no habitat juntamente com a capacidade de dispersão, intrínseca a cada

espécie (Leibold & Mikkelson, 2002; Presley et al., 2010; Fernandes et al., 2013). A dispersão

das espécies também pode refletir a existência de filtros e/ou barreiras entre as comunidades,

representando a permeabilidade da matriz estudada (Fernandes et al., 2013; Kennedy et al.,

2014).

O conceito de metacomunidade atingiu um novo status como ferramenta nos estudos de

ecologia a partir do artigo “The metacommunity concept: a framework for multi-scale community

ecology” de 2004 no qual os autores descrevem quatro mecanismos (dinâmica de manchas -

patch dynamics, ocorrência de espécies - species sorting, efeito de massa - mass effects e neutro -

neutrality) responsáveis pela formação dos padrões de coocorrência das espécies (Leibold et al.,

2004). Esses mecanismos são resultados da influência de fatores locais (condições e recursos

presentes no habitat) e regionais (permeabilidade da matriz) sobre a metacomunidade (Leibold et

al., 2004). Desta forma, a identificação do mecanismo possibilita determinar a importância de

cada fator na distribuição das espécies dentro da metacomunidade (Cottenie, 2005; Beisner et al.,

2006; Fernandes et al., 2013).

O mecanismo de dinâmica de manchas (Patch-dinamics - PD) considera o ambiente

como um mosaico de manchas de habitat, todas elas com a mesma qualidade e disponibilidade,

sem evidências de filtros ambientais e colonizadas por espécies com grande capacidade de

dispersão ou de competição (Leibold et al., 2004). Esse mecanismo forma padrões de

coocorrência do tipo tabuleiro de xadrez (checkerboards), uma vez que a interação entre as

espécies (competição e/ou facilitação) é o único filtro existente. Outro mecanismo relacionado à

dinâmica neutra é o efeito neutro (Neutral-effects - NE), que assume que a metacomunidade é

formada por espécies ecologicamente similares, assim, a coocorrência das espécies é produto de

processos estocásticos como extinções locais e colonizações (Leibold et al., 2004) gerando

padrões de coocorrência do tipo randômico. Esses dois mecanismos (PD e NE) são identificados

pela relação exclusiva da metacomunidade com fatores regionais (geralmente representados pela

distância entre as comunidades) (Cottenie, 2005). Por outro lado temos os mecanismos mais

relacionados às dinâmicas de nicho (Göthe et al., 2013) ocorrência de espécies (Species-sorting -

SS) e efeito de massa (Mass-Effect - ME) que assumem a existência de um gradiente ambiental e

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da relação entre a metacomunidade e esse gradiente (Leibold et al., 2004). O ME difere do SS

quanto à capacidade de dispersão das espécies presente nas comunidades. O SS considera as

espécies como fracas dispersoras (espécies que apesar de se deslocarem pelas comunidades não

são capazes de modificar o padrão de coocorrência observado) e relaciona a comunidade

exclusivamente aos fatores locais (Leibold et al., 2004). Já o ME é evidenciado quando existem

espécies com alta capacidade de dispersão gerando colonização e extinção local de forma

constante (Leibold et al., 2004), permitindo a existência de espécies em comunidades cujas as

condições locais de habitat não são favoráveis (Mouquet & Loreau, 2002). Com isso, o ME é

caracterizado pela interação entre os fatores locais e regionais na estruturação da

metacomunidade formando padrões aninhados de coocorrência de espécies, diferindo do SS que

relaciona a comunidade exclusivamente a fatores locais com padrões de troca de espécies

(turnover) ao longo do gradiente.

Os padrões descritos para a metacomunidade são organizados em três conjuntos; i)

Coerência; ii) Turnover e iii) Sobreposição de Bordas (Boundary Clumping), que são referidos

como Elementos de Estrutura de Metacomunidade (Elements of Metacommunity Structure -

EMS) e identificáveis pela ordenação dupla da matriz de incidência de espécies da

metacomunidade (Leibold & Mikkelson, 2002). A coerência é definida como o número de

ausências localizadas entre as presenças, quanto maior o número de ausências entre as presenças,

menos coerente será a matriz (figura 1) (Leibold & Mikkelson, 2002). O Turnover é medido pela

substituição de duplas de espécies nos pares de locais, sendo que quanto maior a substituição,

maior a troca de duplas de espécie (Figura 1) (Leibold & Mikkelson, 2002). O elemento de

Sobreposição de Bordas é o grau com que a borda da distribuição de uma espécie é convergente

com as das demais, é medida pelo índice de Morizita (Leibold & Mikkelson, 2002).

Adicionalmente a estes seis padrões descritos por Leibold & Mikkelson (2002), Presley et al.

(2010) introduz a ideia de perda de espécies espaçadas, aleatórias e agrupadas nas

metacomunidades aninhadas (Figura 1). Um segundo conceito introduzido por Presley et al.

(2010) está relacionado às quase estruturas (Figura 1), que são padrões pouco expressivos

derivados de fracas relações entre as comunidades e o gradiente (Presley et al., 2010).

Na associação entre as comunidades e as condições ambientais, e entre as comunidades e

os mecanismos, a análise de EMS se destaca entre as inúmeras formas de se medir a

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109

coocorrência das espécies, sendo possível a inferência sobre processos históricos e

biogeográficos (Leibold & Mikkelson, 2002; Leibold et al., 2004; Presley & Willig, 2010;

Presley et al., 2010; Henriques-Silva et al., 2013). Padrões de coocorrência em tabuleiro de

xadrez evidenciam comunidades compostas por espécies que são mutuamente excludentes e que

não respondem a um gradiente ambiental explícito. Por outro lado, metacomunidades

caracterizadas por troca de duplas de espécies são moldadas exclusivamente segundo um

gradiente ambiental, e podem ser associadas a três mecanismos de acordo com a perda de espécie

no gradiente ambiental (Leibold et al., 2004). Metacomunidades que apresentam perda de

espécies agrupadas em blocos em que as bordas da distribuição das espécies são contíguas são

nomeadas de Clementisianas (Figura 1) (Leibold et al., 2004). Esta forma de coocorrência indica

a existência de blocos de metacomunidade dentro da metacomunidade total, esses blocos seriam

formados por conjuntos de espécies que facilitam a existência uma da outra. Por outro lado a

perda de espécies de forma dispersa ao longo do gradiente com as bordas suaves caracterizam

comunidades igualmente dispersas (Evenly Spaced) no gradiente ambiental (Figura 1) indicando

a existência de espécies cujas tolerâncias ao gradiente ambiental não se sobrepõem (Leibold et

al., 2004). Uma terceira forma de ocorrência de perda de espécies é observada em comunidade

Glesonianas, cujas bordas de distribuição das espécies não apresentam um padrão claro,

indicando que as espécies respondem de forma única ao gradiente ambiental observado (Figura

1).

A ocorrência de espécies raras na matriz de incidência é outra questão a ser observada

nas análises de EMS (Pandit et al., 2009) A forma mais comum de se tratar essa heterogeneidade

da matriz é através da identificação de espécies núcleo (core) e satélite (Hanski & Gyllenberg,

1993). As espécies núcleo são as mais distribuídas na metacomunidade, e geralmente as

responsáveis pela formação de padrões não aleatórios (random) (Hanski & Gyllenberg, 1993;

Ulrich & Zalewski, 2006). Já as espécies satélites são as que possuem menor ocorrência e

geralmente apresentam um padrão aleatório de coocorrência (Ulrich & Zalewski, 2006;

Livingston & Philpott, 2010).

Dada a possibilidade de identificar o padrão de coocorrência presente na

metacomunidade e inferir acerca dos mecanismos que estão estruturando as comunidades, os

objetivos do trabalho são: i) identificar se a coocorrência de espécies de peixes de riachos da

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bacia do rio Paraná está estruturada segundo uma dinâmica de nicho ou neutra; ii) relacionando o

padrão de coocorrência ao gradiente ambiental e espacial; e iii) identificar se o padrão observado

na metacomunidade total é o mesmo para as espécies núcleo e para as guildas tróficas. As

hipóteses testadas são que a metacomunidade total e núcleo apresentarão um padrão aninhado de

coocorrência dando suporte ao mecanismo ME. Já as guildas tróficas terão a coocorrência

seguindo um o padrão de tabuleiro de xadrez, sendo estruturadas pelo mecanismo de PD em que

a competição entre as espécies é o único filtro presente na comunidade.

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111

Figura 1 – Relação entre os três elementos de metacomunidade (EMS) e os possíveis padrões de coocorrência

de espécies na metacomunidade. Figura adaptada de Leibold & Mikkelson (2002) e Presley et al. (2010)

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112

Materiais e Métodos

Definição da Metacomunidade

Como o conceito de metacomunidade traz a premissa de que as comunidades locais estão

potencialmente conectadas por meio da dispersão, mesmo que o processo não seja observado ou

não esteja ocorrendo (Leibold & Mikkelson, 2002; Leibold et al., 2004; Presley et al., 2010), a

delimitação da metacomunidade tem de ser feita considerando a capacidade de dispersão das

espécies. Essa restrição sugere a existência de um conjunto de espécies (pool) regional que é

capaz de colonizar cada uma das comunidades existentes. Há várias formas de determinar o

conjunto de espécies regional e considerar limites de metacomunidades na literatura, sendo esse

um tema de importante debate (e.g.:Pärtel et al., 1996; Lepš, 2001; Naeslund & Norberg, 2006;

Carstensen et al., 2013). Considerando as características particulares de sistemas dendríticos

fluviais, nós utilizamos a conectividade desses sistemas para delimitarmos a metacomunidade,

como os riachos de primeira à terceira ordem presentes na bacia do rio Paraná (Figura 2).

Caracterizando assim cada riacho como uma comunidade e o conjunto como a metacomunidade.

Essa escolha está também baseada na evidência empírica de que a fauna de peixes de riacho de

pequenas ordens é bem definida e guarda pouca e às vezes nenhuma similaridade de composição

com sistemas com mais do que a terceira ordem (Araújo & Tejerina-garro, 2007; Melo et al.,

2009; Dias & Tejerina-Garro, 2010). A definição da bacia do Paraná como a metacomunidade

nos dá uma extensão geográfica grande, com variação das condições e dos recursos e segue a

premissa de potencial conectividade via dispersão, uma vez que todos os riachos presentes nas

análises possuem um ponto em comum dentro da bacia.

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113

Figura 2 – Distribuição espacial dos riachos de primeira a terceira ordem da bacia do rio Paraná

inseridos na análise.

Banco de dados

Utilizando a definição de metacomunidade supracitada, compilamos um banco de dados

formado por 66 pontos (Figura 2; material suplementar S1), com riqueza variando de uma a 27

espécies e um pool regional de 143 espécies. Para serem inseridos nas análises os pontos

deveriam seguir os seguintes critérios: i) Amostragem realizada em riachos de primeira a terceira

ordem; ii) Pontos georrefenciados; iii) Coleta da ictiofauna realizada por rede de arrasto ou pesca

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114

elétrica; iv) Amostragem em no mínimo 50m do canal; v) Lista de espécie por ponto amostrado

e; vi) Possuir informações de turbidez, condutividade, pH, oxigênio dissolvido, velocidade da

correnteza, largura e profundidade aferidos em pelo menos três pontos do trecho amostrado.

Se a metacomunidade estudada funciona como um grupo de distintas espécies regidas por

diferentes mecanismos, a abordagem de EMS não consegue encontrar um padrão de

coocorrência claro (Leibold & Mikkelson, 2002), assim adotamos um procedimento de

desconstrução da metacomunidade em guildas tróficas. As espécies presentes no banco de dados

foram classificadas seguindo informações disponíveis na literatura ou através da classificação

prévia feita pelos próprios pesquisadores apenas as guildas que apresentaram riqueza maior que

15 espécies foram analisadas, sendo elas: i) detritívoros, ii) insetívoros e, iii) onívoros. Para

definir as espécies núcleo calculamos a porcentagem de ocorrência de cada espécie e a média de

ocorrência das espécies na metacomunidade, assim, espécies que apresentaram ocorrência maior

ou igual à média foram classificadas como núcleo e as com ocorrência menor que a média como

satélite (material suplementar S2).

Análises estatísticas

A coerência de uma matriz de coocorrência é definida como o número de ausências

localizadas entre as presenças, quanto maior o número de ausências entre as presenças menos

coerente é a matriz (figura 1) (Leibold & Mikkelson, 2002). O turnover é medido pela

substituição de duplas de espécies nos pares de locais, sendo que quanto maior a substituição

maior o turnover (figura 1) (Leibold & Mikkelson, 2002). O elemento de sobreposição de bordas

(boundary clumping) é o grau com que a borda da distribuição de uma espécie é convergente

com as das demais, e é medido pelo índice de Morizita (Leibold & Mikkelson, 2002). Os padrões

são identificados dentro desses três elementos, sendo feita hierarquicamente e na seguinte

sequência: ao identificamos que uma comunidade apresenta uma coerência menor que o

esperado por uma estimativa nula, a metacomunidade é dita como tendo o padrão de tabuleiro de

xadrez; quando a coerência é maior que a esperada pela estimativa nula é necessário a análise do

elemento de turnover de espécies; e quando a coerência é não significativa classificamos a

metacomunidade como aleatória (Leibold & Mikkelson, 2002) (figura 1). Dentro do elemento de

turnover é possível a distinção entre aninhamento (Figura 1), turnover menor que o esperado

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pela expectativa nula e a sobreposição de bordas (Figura 1), caso o turnover seja maior que o

esperado pela expectativa nula. Dentro do elemento sobreposição de bordas é feito a distinção

entre três padrões de coocorrência através do índice de Morizita (Leibold & Mikkelson, 2002).

Igualmente espaçado (Figura 1), quando o índice de Morizita apresenta valores significativos e

maiores que um (que é a expectativa nula para o índice) (Figura 1), Clementsiano (Figura 1) para

os valores de Morizita significativos e menores que um, e Gleasoniano (Figura 1) para valores de

Morizita não significativos (Leibold & Mikkelson, 2002).

A definição dos padrões de coocorrência seguiu o procedimento de análise de EMS

modificado de Leibold & Mikkelson (2002) por Presley et al. (2010) (Figura 3). Para a análise, a

matriz de incidência de espécies foi ordenada duplamente, tanto pela riqueza de espécies nos

locais (somatória das linhas) quanto pela distribuição das espécies na metacomunidade

(somatória das colunas) (Leibold & Mikkelson, 2002). A ordenação faz com que as espécies que

apresentam distribuição similar na metacomunidade fiquem agrupadas, da mesma forma que os

locais com composição de espécie semelhante (Presley et al., 2010). Na ausência de um

gradiente explicitamente predeterminado, como ambiental ou de integridade, a ordenação dupla

da matriz é a abordagem mais eficiente na busca de padrões (Leibold & Mikkelson, 2002). Após

a ordenação da matriz é necessário a quantificação dos três elementos da metacomunidade

(coerência, turnover e sobreposição de bordas). O cálculo da coerência da matriz foi feito pela

quantificação do número de ausências existentes entre as presenças, sendo que com coerência

não significativa, a metacomunidade é classificada como aleatório (Figura 3), com coerência

menor que a esperada pelo acaso (Observado/Simulado maior que um), a metacomunidade e

classificada como tabuleiro de xadrez (Figura 3) e com coerência maior que o esperado pelo

acaso (Observado/Simulado menor que um) a metacomunidade é caracterizada pelo elemento de

turnover (Figura 3), quantificado pelo número de substituições de pares de espécies (Figura 3).

Matrizes com menos substituições que o esperado pelo modelo nulo (Observado/Simulado

menor que um), metacomunidades aninhadas (Figura 3) e matrizes com mais substituições que o

esperado pelo modelo nulo (Observado/Simulado maior que um) são caracterizadas pelo

elemento de sobreposição de bordas (Figura 3), avaliado através do índice de Morizita. Valores

do índice não significativos caracterizam metacomunidades Gleasoniano (Figura 3), índice

menor que um, caracteriza metacomunidades igualmente espaçado (Figura 3) e índice maior que

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um, metacomunidade Clementsiano (Figura 3) (Leibold & Mikkelson, 2002; Presley et al.,

2010).

Dentro do elemento de turnover, Presley et al. (2010) faz duas adaptações do modelo

original: i) a introdução das chamadas quase-estruturas (Figura 3), mesmo que o elemento de

turnover seja não significativo devemos continuar com a análise de EMS e referir aos padrões

encontrados como quase-estruturas; e ii) análise do sobreposição de bordas para

metacomunidades aninhamento, que classifica a perda de espécies nas comunidades em dispersa

(Figura 3) (valores do índice de Morizita maiores que um), aleatório (Figura 3) (valores não

significativos do índice de Morizita) e agrupada (Figura 3) (valores menores que um do índice de

Morizita) (Presley et al., 2010).

Além da quantificação dos EMS’s fizemos a ordenação de cada uma das

metacomunidade, seguindo o algoritmo de Presley et al. (2010) e as plotamos como figuras,

identificando as presenças como células pretas e as ausências como células brancas. Como

modelo nulo utilizamos o método “r1”, que fixa a somatória das linhas (riqueza de espécies

observada nas comunidades) fazendo com que as espécies tenham probabilidade equiprovável de

ocorrerem nas comunidades (Presley et al., 2010). Para identificar o gradiente ambiental que

estrutura a metacomunidade utilizamos uma Árvore de Regressão Múltipla (MRT). A variável

resposta considerada foram os scores do primeiro eixo da Análise de Correspondência (CA),

método utilizado para a ordenação das linhas na análise de EMS de (Presley et al., 2010). As

variáveis turbidez, condutividade, pH, oxigênio dissolvido, temperatura da água, largura e

profundidade do canal foram as variáveis preditoras da análise de MRT. A análise de EMS foi

realizada no R (Team, 2013), utilizando a função Metacommunity do pacote metacom (Dallas,

2014), para a MRT foi utilizado a função rpart do pacote rpart (Therneau et al., 2006). Todas as

análises forma feitas para a metacomunidade total, por guilda e para espécies núcleo.

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Figura 3 – Fluxograma representando todos os possíveis resultados obtidos na análise de EMS

segundo Presley et al. (2010).

Resultados

A metacomunidade total apresentou riqueza igual a 143 espécies e coerência significativa

maior que a esperada pelo modelo nulo (Tabela 1). O elemento de turnover apresentou menos

substituição de pares de espécies que o esperado pelo modelo nulo e foi não significativo,

caracterizando uma quase estrutura com distribuição de espécies aninhada na metacomunidade

(Tabela 1, Figura 4a). A análise do índice de Morizita indicou uma perda de espécies agrupada

(Tabela 1). A metacomunidade utilizada na análise de EMS para a guilda dos detritívoros,

insetívoros e onívoros foi formada respectivamente por 52, 66 e 56 riachos e apresentaram

riqueza igual a 40, 63 e 27 espécies. Todas as guildas apresentaram coerência significativa e

maior que a esperada pelo modelo nulo, com o elemento de turnover menor que o esperado pelo

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modelo nulo e não significativo, caracterizando quase estrutura com distribuição de espécies

aninhada nas metacomunidades (Tabela 1, Figura 4b, c e d). A metacomunidade core foi

formada por 94 espécies e com ocorrência em todos os 69 riachos. Essa metacomunidade

apresentou coerência significativa e maior que a esperada pelo modelo nulo com o elemento de

turnover não significativo, porém com mais substituições de pares de espécies que o esperado

pelo modelo nulo (Tabela 1), caracterizando uma metacomunidade quase estrutura com o padrão

de distribuição de espécies Clementsiana (Tabela 1, Figura 4e).

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Tabela 1 – Resultado da análise de EMS para a bacia do rio Paraná.

Metacomunidade

Total Detritívoro Insetívoro Onívoro Núcleo

Riqueza de espécies 143 (94 - 65%) 40(27 – 67.5%) 63(39 – 61.9%) 27(23 – 85.1%) 94

Coerência

Observado 3188 430 937 259 2143

Simulado 5936 697 1774 371 3814

Observado/Simulado 0.537 0.616 0.528 0.698 0.561

P <0.001 <0.001 <0.001 0.039 <0.001

Turnover

Observado 874297 20448 73385 9296 462675

Simulado 1089300 36009 138166 17085 374948

Observado/Simulado 0.802 0.567 0.531 0.544 1.233

P 0.576 0.090 0.112 0.066 0.470

Sobreposição

de Bordas

Índice de Morizita 7.565 3.42 3.44 3.08 5.05

P <0.001 <0.001 <0.001 <0.001 <0.001

Df 140 37 60 24 91

EMS Perda de Espécies

Igualmente

Espaçada

Perda de Espécies

Igualmente

Espaçada

Perda de Espécies

Igualmente Espaçada

Perda de Espécies

Igualmente Espaçada Clementisiano

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O padrão de distribuição da metacomunidade total (Figura 5a - b) foi atribuído a

cinco descritores das condições locais. Primeiramente observamos comunidades que são

dependentes de locais com oxigênio dissolvido maior que 8.5 mg*L-1 (16 riachos

representados em vermelho), os riachos com oxigenação menor que 8.5 mg*L-1

apresentaram cinco comunidade distintas: uma dependente de pH maior que 7.6 (oito

riachos representados em azul claro), uma segunda encontrada em riachos com

profundidade menor que 20cm (nove riachos representados em azul), uma terceira em

riachos com condutividade maior que 55.9 µs (14 riachos representados em rosa), uma

quarta relacionada a temperatura da água menor que 21.2°C (15 riachos representados em

azul escuro) e uma quinta relacionada temperatura da água maior que 21.2°C (sete riachos

representados em amarelo) (Figura 5a - b).

Para a metacomunidade de peixes detritívoros (Figura 5c - d) observamos uma

comunidade relacionada a riachos com condutividade maior que 111.3 µs (nove riachos

representados em azul claro) e uma comunidade relacionada à condutividade menor que

111.3 µs. Na comunidade associada a riachos com condutividade menor, observamos um

conjunto de espécies dependentes de locais rasos (profundidade menor que 40 cm) e um

segundo conjunto relacionada a locais profundos (profundidade maior que 40 cm). O

conjunto de espécies relacionada a locais mais profundos apresentou uma preferência por

menores concentrações de oxigênio da água, concentração menor que 7.3 mg*L-1 (sete

riachos representados em azul) e o outro conjunto de espécies encontrado em locais cuja

oxigenação é maior que 7.3 mg*L-1 (14 riachos representados em rosa). No conjunto de

espécies relacionadas a locais profundos observamos uma divisão semelhante, um grupo de

comunidades relacionadas aos locais com a oxigenação maior que 8.0 mg*L-1 (nove riachos

representados em amarelo) e um segundo grupo de comunidades relacionada a riachos com

oxigenação menor que 8.0 mg*L-1 (nove riachos representados em vermelho) (Figura 5c -

d).

A guilda trófica dos insetívoros apresentou um grupo de comunidades relacionadas

à condutividade e a turbidez (Figura 5e - f). O primeiro grupo é formado por peixes com

preferência por águas com alta condutividade, maior que 167.4 µs (nove riachos

representados em vermelho). Dentre a comunidade de águas com condutividade baixa,

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observamos uma comunidade de águas claras, turbidez menor que 4.1 NTU e uma

comunidade de águas mais turvas, turbidez maior 4.1 NTU. A comunidade de águas claras

apresentou uma subdivisão para turbidez maior que 3.7 NTU (11 riachos representados em

rosa) e menor que 3.7 NTU (13 riachos representados em azul escuro). A comunidade de

águas escuras apresentou um conjunto de espécies específicas de riachos com

condutividade maior que 39.8 µs (15 riachos representados em amarelo) e um segundo

grupo, dividido em águas menos escuras, turbidez menor que 13.9 NTU (oito riachos

representados em azul claro) e em águas mais escuras, turbidez maior que 13.9 NTU (12

riachos representados em azul) (Figura 5e - f).

A guilda trófica dos onívoros (Figura 5g - h) apresentou relação apenas com o pH e

a profundidade. A guilda apresentou quatro comunidades (Figura 5g - h): uma comunidade

encontrada em riachos com pH de neutro a básico, pH maior que 6.9, e subdividida em

comunidades de riachos mais (profundidade maior que 30 cm – 15 riachos representados

em azul) e menos (profundidade menor que 30 cm – 13 riachos representados em

vermelho) profundos e uma comunidade de águas mais ácidas, pH menor que 6.9, sendo

um grupo de águas mais ácidas pH menor que 6.6 (12 riachos representados em azul) e

outra de águas menos ácidas, pH maior que 6.6 (oito riachos representados em azul claro)

(Figura 5g - h).

A metacomunidade núcleo apresentou sete grupos de comunidades, relacionadas a

três condições ambientais (Figura 5i - j). A primeira comunidade foi encontrada em riachos

largos, largura do canal maior que 4.8 metros (16 riachos representados em roxo). Nas

comunidades encontradas em riachos estreitos (largura menor que 4.8 metros) observamos

comunidades relacionadas a riachos com largura menor que 2.1 metros, com a comunidade

subdividida em comunidades relacionadas aos riachos com maior (condutividade maior que

39.8 µs – oito riachos representados em rosa escuro) e menor (condutividade menor que

39.8 µs – 15 riachos representados em rosa) condutividade. A comunidade core relacionada

a riachos com largura maior que 2.1 metros apresentou dois tipos de comunidades: as

relacionadas a águas claras, turbidez menor que 4.1 NTU (sete pontos representados em

vermelho) e comunidades de riachos com águas mais escuras, que podem ser agrupadas em

riachos largos, largura maior que 3.6 m (13 pontos representados em amarelo) e riachos

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mais estreitos, largura menor que 3.6 m (10 pontos representados em azul claro) (Figura 5i

- j).

Figura 5 - Espacialização dos pontos amostrados classificados segundo a Análise de Árvore

de Regressão Múltipla para a ictiofauna total (A e B), detritívoros (C e D), insetívoros (E e

F), onívoros (G e H) e núcleo (I e J). Os valores na legenda representam a média dos

escores do grupo no primeiro eixo da Análise de correspondência (CA)

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Discussão

A metacomunidade total de peixes de riachos da bacia do rio Paraná, apresentou

coerência significativa e menor que a esperada pelo modelo nulo, caracterizando assim a

existência de um gradiente ambiental e/ou espacial, na estruturação da metacomunidade

(Presley & Willig, 2010). De fato, podemos observar que existe um gradiente ambiental e

não espacial na distribuição das espécies nas metacomunidades, uma vez que a MRT

mostrou todas as metacomunidades relacionadas apenas as condições ambientais e não as

distâncias geográficas entre os pontos.

Quando descontruímos a metacomunidade, através de sua classificação por guilda e

em espécies núcleo, observamos que o padrão foi consistente em todas as formas de análise

da metacomunidade, corroborando assim a ideia de um gradiente ambiental na estruturação

da metacomunidade de peixes de riachos da bacia do rio Paraná. Na análise do elemento de

troca de espécies (turnover) identificamos que a metacomunidade total apresentou um

padrão aninhado de coocorrência e com menos trocas de duplas de espécies que o esperado

pelo modelo nulo, caracterizando assim uma metacomunidade estruturada pela interação

entre o gradiente ambiental juntamente com a capacidade de dispersão das espécies

(Presley & Willig, 2010). A interação entre os gradientes ambientais e a capacidade de

dispersão das espécies foi também observada em todas as guildas tróficas analisadas. A

exceção a essa regra foi encontrada na metacomunidade de espécies núcleo, cujo padrão de

coocorrência observado foi Clementisiano (boundary clumping), que é diretamente

relacionado a existência de um gradiente ambiental com mínima contribuição da dispersão

(Leibold et al., 2004).

A diferença no padrão de coocorrência entre as metacomunidades total e núcleo

pode ser explicado por um processo de coexistência de dois grupos de espécies. Um grupo

de espécies com histórico de colonização mais antigo (espécies núcleo) e estruturado

ambientalmente, coexistindo com um segundo conjunto de espécies com histórico de

colonização mais recente (espécies satélites) e menos estruturado ambientalmente. O

mecanismo por trás desse processo seria que as espécies com históricos de colonização

mais antigos já teriam se dispersado por toda a rede de drenagem e se estabelecido nos

locais cujas condições do habitat atendem a suas necessidades fisiológicas e sido extintas

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localmente em sítios cujas condições são desfavoráveis. Por outro lado as espécies com

histórico de colonização recente ainda estariam passando pelo processo de dispersão pela

rede de drenagem, ocupando tanto locais que atendem suas restrições fisiológicas como

locais que não atendem. Esse mecanismo explica então a existência de uma

metacomunidade núcleo Clementisiana, que responde quase exclusivamente ao gradiente

ambiental e uma metacomunidade total aninhada que é moldada tanto pelas condições

ambientais quanto pela capacidade de dispersão das espécies presentes. Na verdade o

padrão aninhado de coocorrência das espécies na metacomunidade total seria o resultado da

coexistência dos dois conjuntos de espécies, enquanto o conjunto de espécies antigas

responde ao gradiente ambiental o conjunto de espécies recentes responde às distâncias

geográficas, por isso, quando retiramos as espécies raras (que seriam as espécies de

colonização recente) observamos o padrão quase Clementisiano.

O núcleo da metacomunidade (as espécies núcleo) geralmente formado por espécies

que compartilham da mesma restrição fisiológica e evolutiva (formando o padrão de

sobreposição de bordas) (Presley et al., 2010), podem ser espécies que estão presentes no

sistema a um intervalo de tempo longo, dando a assim a oportunidade de adaptação dessas

populações às condições locais. Espécies comuns relacionadas a padrões de trocas de

duplas de espécies (turnover) foram observados em metacomunidades de insetos aquáticos

(Heino & Soininen, 2010) e espécies terrestres de planta (Tuomisto et al., 2003). Assim, a

diferença encontrada entre a metacomunidade núcleo e as demais metacomunidades seria

consequência da presença de espécies raras nas análises, uma vez que as análises realizadas

com a metacomunidade total e por guilda, considera tanto espécies núcleo quando satélites.

Outra explicação para a diferença entre a metacomunidade núcleo e as demais

metacomunidades está relacionada às condições ambientais as quais as espécies estariam

adaptadas. Espécies satélites poderiam ser adaptadas a condições ambientais diferentes das

encontradas na rede de drenagem estudada, por isso elas seriam menos abundantes e mais

relacionadas à dinâmica neutra que as espécies núcleo.

Dos quatro mecanismos, propostos por Leibold et al. (2004) para explicar a

dinâmica de coocorrência das espécies em uma metacomunidade observamos dois como

possíveis estruturadores da metacomunidade de peixes de riachos da bacia do rio Paraná: (i)

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ocorrência de espécies (species sorting - SS) e (ii) efeito de massa (mass-effect - ME).

Ambos os mecanismos apresentam a composição da metacomunidade como dependente

das condições ambientais, porem diferem com relação a capacidade de dispersão dos

indivíduos. De fato, a única diferença existente entre os mecanismos SS e ME é com

relação à capacidade de dispersão atribuída às espécies presentes na metacomunidade. Se

por um lado o SS considera as espécies como apresentando pouca capacidade de dispersão

e sendo distribuídas nas comunidades de acordo com as condições ambientais, ME

considera que as espécies como boas dispersoras, assim, a distribuição das espécies nas

comunidades seria uma interação entre as condições ambientais e a capacidade de dispersão

(Leibold et al., 2004).

A capacidade de dispersão das espécies cria um processo semelhante ao observado

no tipo fonte-sumidouro, em que as espécies colonizam locais com condições ambientais

desfavoráveis, são extintas localmente e voltam a recolonizar esse sítio devido a existência

de uma fonte (local cujas condições ambientais são adequadas) próxima (Mouquet &

Loreau, 2002). Quando analisamos a metacomunidade total e por guilda trófica podemos

inferir que o mecanismo de ME é o que está estruturando estas metacomunidades, uma vez

que observamos um padrão de coocorrência aninhado, atribuído tanto ao filtro ambiental

quanto a capacidade de dispersão das espécies. No entanto quando retiramos as espécies

satélites e analisamos apenas a metacomunidade núcleo observamos uma estruturação pelo

mecanismo de SS, em que o filtro ambiental é o principal estruturador da metacomunidade.

Essa diferença de mecanismos entre a metacomunidade núcleo e as que incorporam as

espécies satélites, reforça a ideia de dois conjuntos de espécies formando a

metacomunidade de peixes de riachos do rio Paraná, sendo que um conjunto de espécies

está sob o regime do SS, espécies provenientes de um evento de colonização antigo

estruturadas segundo as condições ambientais e formando um padrão de coocorrência

Clementisiano e um segundo conjunto de espécies, oriundas de um evento de colonização

recente e que a distribuição espacial segue uma dinâmica neutra. A união desses dois

conjuntos de espécies leva então a um padrão de coocorrência aninhado estruturado pelo

mecanismo de ME, interação entre o gradiente ambiental (espécies núcleo) e dinâmica

neutra (dispersão das espécies satélites nas comunidades).

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Apesar de a metacomunidade núcleo ter sido caracterizada como Clementisiana e

relacionada assim ao mecanismo de SS, não podemos desconsiderar o efeito da dispersão

(Leibold et al., 2004; Cottenie, 2005). Uma vez que o processo de dispersão ocorre, ainda

que este não seja suficiente para modificar a estrutura da metacomunidade (Cottenie, 2005).

O predomínio das condições ambientais sob os processos ligados as dinâmicas neutras, em

metacomunidades aquáticas, já foi observado para peixes de lagos temperados (Magnuson

et al., 1998), invertebrados aquáticos (Göthe et al., 2013) e peixes de planície de inundação

(Henriques-Silva et al., 2013) e é considerado o principal estruturador das

metacomunidades naturais (Cottenie, 2005). Apesar disso, o mecanismo de ME é

considerado como o principal estruturador da metacomunidade de redes dendrítica, uma

vez que este sistema possui alta conectividade e potencial de dispersão (Göthe et al., 2013)

que são as duas condições para que o mecanismo de ME ocorra (Leibold et al., 2004).

O padrão de coocorrência aninhado, encontrado na metacomunidade total e por

guilda trófica, é geralmente associado a locais que possuem condições ambientais temporal

ou espacialmente heterogêneas (Magnuson et al., 1998; Fang & Stefan, 2000; Fernandes et

al., 2013; Henriques-Silva et al., 2013). Em um estudo realizado com espécies florestais de

gastrópodes terrestres o padrão de aninhamento foi relacionado à variação da temperatura e

de umidade (Bloch et al., 2007). O mesmo padrão de aninhamento foi observado para a

metacomunidade de peixes de lagos temperados, sendo então relacionado à presença de

geleiras nas cabeceiras dos riachos que drenam para o lago (Magnuson et al., 1998; Fang &

Stefan, 2000). Para a metacomunidade de peixes de riachos tropicais podemos relacionar o

padrão de aninhamento à variação do volume de água dos riachos nos períodos de seca e

chuva. A heterogeneidade hídrica de rios e riachos é um fator chave na determinação de

padrões de riqueza e de diversidade de organismos aquáticos (Vinson & Hawkins, 2003;

Astorga et al., 2011). Um possível mecanismo por traz da relação aninhamento - variação

hídrica é a perda de determinadas espécies nas comunidades durante o período de chuva.

Durante o período chuvoso o aumento da vazão do riacho promoveria o

deslocamento da fauna para áreas mais a jusante da drenagem, e durante o período de seca,

época em que a vazão do corpo d’água é menor e o deslocamento contra correnteza seria

facilitado, essas espécies teriam de recolonizar o local original. Esse processo de

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recolonização seria mais eficiente com espécies mais abundantes, segundo uma abordagem

mais ligada a processos neutros, ou então para as espécies mais adaptadas às condições

locais de habitat, segundo uma abordagem mais relacionada aos processos de nicho. As

espécies menos abundantes ou menos adaptadas seriam menos eficientes na rescolonização

dessas áreas o que originaria o padrão aninhado de distribuição da fauna. Esse mecanismo

reforça a ideia de uma metacomunidade formada por dois conjuntos de espécies, um

conjunto núcleo bem adaptado as condições locais e sendo distribuída na metacomunidade

segundo o gradiente ambiental e um segundo conjunto menos adaptado a condições locais,

e consequentemente sofrendo mais severamente as variações naturais das condições locais

de habitat.

Assim, podemos concluir que as espécies núcleo, com o padrão de coocorrência

Clementisiano, estão sob o efeito do mecanismo SS, ou seja, sua coocorrência é

determinada em grande parte pelas condições locais de habitat com espécies possuindo de

baixa a moderada capacidade de dispersão. Diferentemente das espécies satélites, que

estariam sendo moldadas por uma dinâmica neutra (dinâmica de manchas ou neutro) em

que apenas a capacidade de dispersão é importante para distribuição as espécies, assim,

quando analisamos toda a comunidade (núcleo + satélite) observamos o mecanismo ME

metacomunidades afetadas pelas condições locais (possivelmente as especeis core) porem

com indivíduos (espécies satélites) que conseguem se dispersar a ponto de modificar o

padrão o observado. Tanto o padrão Clementsiano quanto o de perda de espécies

igualmente espaçadas indicam a existência de barreiras entre as comunidades presentes na

metacomunidade de peixes de riachos da bacia do rio Paraná. O padrão Clementsiano

remete a ideia de comunidades agrupadas em conjuntos com pouco ou nenhum

compartilhamento de espécies entre eles. Já a perda de espécies igualmente espaçada

aponta para a perda de espécies específicas, quando nos deslocamos em um gradiente

ambiental, sem a possibilidade de recolonização. Uma sugestão de eixo ambiental seria à

variação pluviométrica desses locais, no entanto, para o teste dessa hipótese seria necessária

a comparação de padrão de coocorrência das espécies durante os períodos de seca e chuva.

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132

Material Suplementar

S1 – Coordenadas geográficas dos riachos inseridos na analise e riqueza de espécies

observadas.

Riacho long lat Riqueza de

Espécies Riacho long lat

Riqueza de

Espécies

P1 -49.191 -18.242 1 P34 -52.976 -18.297 4

P2 -49.244 -18.223 17 P35 -53.009 -18.133 4

P3 -49.165 -18.218 8 P36 -51.885 -19.087 13

P4 -49.136 -18.205 5 P37 -51.475 -19.188 27

P5 -49.151 -18.202 17 P38 -51.669 -19.163 23

P6 -49.148 -18.196 9 P39 -51.752 -19.153 14

P7 -49.362 -18.093 5 P40 -52.149 -19.050 17

P8 -49.346 -18.086 12 P41 -47.667 -15.593 10

P9 -49.358 -18.046 4 P42 -47.952 -15.667 4

P10 -48.958 -17.928 17 P43 -47.919 -15.735 11

P11 -48.942 -17.867 10 P44 -48.006 -15.638 2

P12 -49.348 -17.806 18 P45 -47.973 -15.755 5

P13 -49.260 -17.764 5 P46 -47.718 -15.591 12

P14 -48.893 -17.737 9 P47 -47.851 -15.676 5

P15 -48.912 -17.706 16 P48 -47.505 -15.581 9

P16 -49.216 -17.679 24 P49 -47.664 -15.741 16

P17 -49.191 -17.666 11 P50 -47.702 -15.699 7

P18 -49.140 -17.655 25 P51 -47.717 -15.622 7

P19 -48.940 -17.597 10 P52 -46.991 -19.211 8

P20 -48.945 -17.438 24 P53 -47.048 -19.165 9

P21 -48.963 -17.430 4 P54 -47.033 -19.127 6

P22 -48.796 -17.354 4 P55 -47.036 -19.206 11

P23 -48.086 -17.345 4 P56 -47.149 -19.231 4

P24 -48.046 -17.271 13 P57 -47.847 -19.761 2

P25 -48.929 -17.245 11 P58 -47.741 -20.171 5

P26 -49.060 -17.201 8 P59 -47.792 -19.753 11

P27 -48.996 -17.139 17 P60 -47.800 -19.787 9

P28 -56.752 -20.759 14 P61 -47.716 -19.831 4

P29 -56.778 -20.685 14 P62 -49.544 -18.917 2

P30 -56.633 -20.104 5 P63 -50.661 -18.789 5

P31 -56.616 -21.035 11 P64 -49.510 -18.815 11

P32 -56.435 -21.300 25 P65 -50.531 -18.516 9

P33 -56.616 -21.030 11 P66 -50.664 -18.408 4

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133

0 20 40 60 80 100 120 140 160

Espécies

-0.05

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

0.45

0.50

Oco

rrê

ncia

(%

)

Mediana = 0.029

25%-75% = (0.014, 0.086)

Outliers

Extremos

S2 – Grafico representando a relação entre a ocorrência das espécies na metacomunidade e a mediana da

abundancia. Os números do eixo de especeis são equivalentes aos ID’s da tabela S2.

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134

Conclusão Geral

A primeira conclusão que tiramos é que a Heterogeneidade Climática Temporal é um

importante preditor do padrão de riqueza de peixes de riachos. Além disso temos que a

riqueza de peixes de riachos não é função de uma única hipótese macroecologica, mas sim de

um conjunto de hipóteses, formado pelas hipóteses Água-Energia, Produtividade Primária

Terrestre e Heterogeneidade Temporal. O mapa preditivo da riqueza de peixes representa

uma projeção desse conjunto de hipóteses para os riachos de primeira a terceira ordens,

assim, esse modelo pode ser utilizado para indicar a riqueza presente em riachos com essas

características e não para predições em grandes rios e/ou bacias. Um segundo ponto está

relacionado a precisão do nosso modelo, que apresenta desde locais que foram mais

superestimados, como Bacia do Atlântico Sudeste, a locais que foram extremamente

subestimados, assim como Bacia Amazônica. A imprecisão de algumas áreas no modelo

aponta para duas possíveis características; (i) fatores ambientais que não foram inseridos na

análise e apresentam grande importância para a distribuição da riqueza; (ii) ou então uma

característica dos sistemas de água doce continental, que apresentam relações não

estacionárias entre as diferentes unidades hidrográficas, ressaltando a importância de fatores

históricos dos biomas, de regiões hidrográficas e de ecorregiões. Seguindo o resultado do

segundo capítulo, podemos concluir que a segunda hipótese levantada, não estacionariedade

na relação riqueza de espécies, é a mais plausível, uma vez que as relações entre a riqueza de

espécies e as condições ambientais não se mostraram as mesmas em todo a extensão

geográfica analisada.

Em riachos observamos a uma forte relação entre a riqueza de espécies e a hipótese

Água-Energia nas áreas próximas ao Equador (região Amazônica) relacionadas

positivamente à quantidade de água (precipitação média anual) e negativamente à entrada de

energia (AET de Junho) e nas áreas com maiores latitudes (região central do Brasil)

negativamente à entrada de energia. Essa inversão de importância nos parâmetros é descrita

pela literatura e parece ser mais dependente da falta de água do que pela restrição energética.

Demonstrando assim que o padrão de diversidade de peixes de riachos se apresenta como

uma função das variáveis climáticas e da produtividade primária terrestre, com a dinâmica

água-energia evidenciada e o mecanismo de restrição metabólica mais conspícuo.

Observamos também que o mecanismo de restrição metabólica divide o Brasil em duas

regiões: i) Amazônica, com clima mais estável e populações pouco resistentes a amplitudes

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135

térmicas; e ii) Central, com maiores amplitudes de temperaturas e populações mais resistentes

a variações térmicas.

Com relação a representação das condições ambientais e do espaço, temos que as

médias das condições ambientais não são suficientes para representar o habitat, sendo

necessário a inserção de alguma medida de variação das condições. Para o espaço,

observamos que a melhor representação foi a que incluiu as barreiras geográficas, limites de

bacias, nas análises (W Local). Para a ictiofauna do Cerrado encontramos uma forte relação

da ictiofauna com as condições ambientais e uma fraca relação com o espaço, o que sugere o

mecanismo de SS como estruturador da comunidade. No entanto a relação, mesmo que fraca,

com o componente espacial sugere o mecanismo ME como estruturador. Assim, teríamos a

ictiofauna de riachos do cerrado como um produto da interação entre os mecanismos ME e

SS. Mais precisamente, teríamos um conjunto de espécies núcleo, com o padrão de

coocorrência Clementisiano, sob o efeito do mecanismo SS e um segundo grupo de espécies,

as espécies satélites, sendo moldadas por uma dinâmica neutra (dinâmica de manchas ou

neutro) em que apenas a capacidade de dispersão é importante para distribuição das espécies.

Por isso, quando analisamos toda a metacomunidade (núcleo + satélite) observamos o

mecanismo ME como estruturador da metacomunidade. A fraca relação encontrada entre a

ictiofauna e o espaço seria em detrimento das espécies satélites serem raras na

metacomunidades, diferentemente das espécies núcleo que são mais abundantes e possuem

ampla distribuição. Uma sugestão com relação ao eixo ambiental seria a variação

pluviométrica, através da comparação dos padrões de coocorrência e de riqueza de espécies

durante os períodos de seca e chuva.