Do Idealismo Ativo Ao Materialismo Histórico Crítica Da Filosofia Do Direito

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    1Do idealismo ativo ao materialismo histrico

    Do idealismo ativo ao materialismo histrico

    Francisco Xaro1

    A melhor biografia intelectual j escrita sobre a formao do pensamento de Marx,

    talvez seja aquela redigida por ele prprio no prefcio de Para a crtica da economia

    poltica,de 18592. Nestas trs pginas, que antecedem seu primeiro trabalho maduro de

    economia poltica, o autor relembra seus dias de redator da Gazeta Renana3, quando se

    viu [...] pela primeira vez em apuros por ter que tomar parte na discusso sobre os

    chamados interesses materiais4.

    No prefcio, ele apresenta o itinerrio de seus estudos, identificando claramente o

    ponto de partida, os percalos e o ponto de chegada. Esclarece, por exemplo, que seus

    estudos iniciais eram sobre direito e jurisprudncia e que ainda assim s emergiam em

    segundo plano ao lado da filosofia e da histria. Esses ltimos assuntos ocupavam a maior

    parte de suas preocupaes desde a tese sobre a Diferena da Filosofia da Natureza de

    Demcrito e de Epicurode 18415com a qual obteve o ttulo de doutor em filosofia.

    Os debates e decises do parlamento renano sobre o furto de madeira e do

    parcelamento da propriedade fundiria, as controvrsias sobre os camponeses do vale doMosela, os debates sobre o livre-comrcio e proteo aduaneira alm da polmica aberta

    com o dirio conservador Jornal Geral (Allgemeine Augsburger Zeitung) que se

    publicava em Augsburgo desde 1810, provocaram suas primeiras incurses no terreno da

    economia. Pelo testemunho do autor percebe-se que os apuros derivam do confronto de

    suas ideias com a situao da Alemanha. Esse enfrentamento abalou profundamente suas

    convices filosficas at o ponto dele decidir por se retirar do cenrio pblico para o

    1Este texto a primeira seo do primeiro captulo de minha tese de doutorado Crise e Revoluo Lugar eModo da Transformao Social, segundo Karl Marx. Para reproduzir cite a fonte aqui:http://biblioteca.asav.org.br/vinculos/000007/00000731.pdf2MARX, K. [1859] Para a crtica da Economia Poltica; Salrio, preo e lucro; O rendimento e suas fontes; A economiavulgar. 2ed., So Paulo: Nova Cultural, 1986. (col. Os Economistas).3Rheinische Zeitung fr Politik, Handel und Gewerbe (Gazeta Renana de Poltica, Comrcio e Indstria), foi um dirioque se publicou em Colnia, maior e mais desenvolvida cidade da Rennia, entre 01 de Janeiro de 1842 e 31 de Marode 1843. A partir de Abril de 1842, Marx colaborou na Gazeta Renana, e a partir de Outubro do mesmo ano tornou-seum dos seus redatores chefes, passando o jornal a revestir-se de um carter democrtico revolucionrio. Foi na GazetaRenana que Marx encontrou-se com Friedrich Engels, pela primeira vez, em 16 de Novembro de 1842. Devido deciso dos acionistas de lhe atribuir um carter mais moderado para fugir da censura, Marx decide, em 17 de Marode 1843, deixar o jornal. Em 31 de Maro o Jornal foi fechado.4MARX, K. [1859] 1986, p. 24.5MARX, K. [1841] Diferena da Filosofia da Natureza de Demcrito e de Epicuro. Traduo de Conceio Jardim eEduardo Lcio Nogueira. Lisboa: Editorial Presena, 1972.

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    gabinete de estudos [...] para resolver a dvida que [lhe] assediava6. Marx no revela, no

    Prefcio de 59, a natureza da dvida que lhe assediava. Porm, ao relatar que o primeiro

    trabalho que empreendeu para resolv-la foi uma Crtica da filosofia do direito de Hegel7

    aponta o caminho para desvend-la8.

    Nesta obra, redigida em 1843, na forma de 39 cadernos e publicados,

    postumamente, em 1927, h uma anlise crtica do 261 ao 313, que tratam

    especificamente da questo do Estado, do livro de Hegel Princpios da Filosofia do

    Direito,publicado em 18209. O primeiro caderno que deveria conter, provavelmente, a

    crtica aos 257 a 260 desapareceu. Em vida, apareceu, em 1844, nos Anais Franco-

    Alemes10umaIntroduoque contm diferenas com o texto de 4311.

    A Crtica de 43 ou Crtica de Kreuznach, como tambm chamada a crtica da

    Terceira Parte dosPrincpios da Filosofia do Direito de Hegel centrada na questo do

    mtodo especulativo. O autor da Crtica ataca Hegel por ele partir de abstraes

    arbitrrias que a operao mental de derivar das ideias as coisas concretas. Hegel teria

    trocado o predicado pelo sujeito: enxergara o Estado constituindo a sociedade, quando

    a sociedade que constitui o Estado. Na leitura de Marx, em Hegel:

    A Ideia subjetivada e a relao realda famlia e da sociedade civil com oEstado apreendida como sua atividade interna imaginria.[...] por toda a

    parte, faz da Ideia o sujeito e do sujeito propriamente dito, assim como dadisposio poltica, faz o predicado12.

    OsPrincpios da Filosofia do Direito, no exame de Marx, no tratam de relaes

    reais, mas de relaes lgicas entre ideias. No apreende o objeto em sua especificidade,

    mas deriva sua particularidade da relao universal e necessria entre sujeito e predicado.

    O procedimento especulativo parte da Ideia subjetivada e procura para cada determinao

    singular as categorias abstratas correspondentes. Tal filosofia no encontra a

    contingncia, pois em tudo v a necessidade da Ideia em seu devir.

    6 MARX, K. [1859] 1986, p. 24.7MARX, K. [1843] Crtica da Filosofia do Direito de Hegel, 1843. 2ed. revista, So Paulo: Boitempo, 2010.8No mais somente a identificao hegeliana entre Estado racional e o Estado prussiano que ser questionada (comoem 1842), mas toda a teoria das relaes entre Estado e sociedade civil etc. LWY, M. [1970] A Teoria da revoluono Jovem Marx. Trad.: Anderson Gonalves. So Paulo: Boitempo, 2012. p. 68.9HEGEL, G. W. F. [1820] Princpios da Filosofia do Direito. So Paulo: Martins Fontes, 1997.10Deutsch-Franzsische Jahrbcher (Anais Franco-Alemes) foi publicado em Paris sob a direo de Karl Marx eArnold Ruge em lngua alem. Saiu apenas um nmero, duplo, em Fevereiro de 1844. Inclua as obras de Marx: Sobrea Questo Judaica e Para a Crtica da Filosofia do Direito de Hegel. Introduo, assim como as obras de Engels: Esboospara Uma Crtica da Economia Poltica e A Situao em Inglaterra: O Passado e o Presente, de Thomas Carlyle.Divergncias de princpios entre Marx e Ruge impediram a continuidade da revista.11Cf. ENDERLE, Rubens. Apresentao Crtica da filosofia do direito de Hegel. In.: MARX, K. Crtica da filosofiado direito de Hegel, 1843. 2ed. revista, So Paulo: Boitempo, 2010. p. 17.12MARX, K [1843] 2010, 262 e 267, p. 30 e 32.

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    Na glosa do 269 se aprofunda este ponto de vista, agora de forma mais

    determinada, tendo como mira a concepo organicista de Estado proposta por Hegel.

    Nas palavras de Marx:

    Hegel no faz seno dissolver a constituio poltica na abstrata Ideiauniversal de organismo [...]. Ele transformou em um produto, em umpredicado da Ideia, o que seu sujeito; ele no desenvolve seu pensamento apartir do objeto, mas desenvolve o objeto segundo um pensamentopreviamente concebido na esfera abstrata da lgica13.

    Ora, essa maneira de filosofar, aplicada aos problemas da situao da Alemanha

    dos anos 40 do sculo XIX, trazia tona do pensamento questes sem muito sentido. Essa

    ausncia do significado, sobre a gnese dos problemas sociais, comeou a incomodar

    Marx.

    Temos ento que j em 1843 a crtica de Marx deslocava-o da convivncia pacfica

    com o mtodo especulativo hegeliano. O arcabouo conceitual com o qual enfrentava,

    nos tempos da Gazeta Renana, os chamados interesses materiais era o do idealismo

    ativo dos jovens hegelianos de esquerda14, que pretendia, adaptando o hegelianismo a um

    programa de reforma democrtica de cunho liberal, transformar o Estado Prussiano no

    Estado racional proposto pelo mestre.

    Para os jovens hegelianos, incluso Marx at 1843, a crtica era arma suficiente

    para dissolver os ndulos de irracionalidades incrustados no Estado Prussiano que lhe

    impediam de se tornar um verdadeiro Estado, isto , em um Estado em conformidade

    com a razo15. A vivncia jornalstica, conforme testemunha o prprio Marx noPrefcio

    de 59, lhe obrigou a ter de resolver os chamados interesses materiais com os

    dispositivos tericos do Estado racional. Essa experincia mostrou os limites e

    inconsistncias de sua base filosfica. Aqui se desvenda a dvida que lhe incomodava

    naquele tempo em que, o prprio autor admite [...] a boa vontade de ir em frente

    ocupava muitas vezes o lugar do conhecimento do assunto16

    . Ela pode ser descrita comoa questo da relao real entre a gnese dos conflitos e contradies que emergem na

    sociedade e sua expresso ou acolhimento pelos aparatos do Estado 17. Em suma, era a

    mesma problemtica da filosofia poltica moderna: a relao entre a universalidade

    13 MARX, K [1843] 2010, 269, p. 36.14Cf. FLICKINGER, Hans. MARX: Nas pistas da desmistificao filosfica do capitalismo. Porto Alegre: LPM, 1985.p. 8. Tambm NAVES, Mrcio Bilharinho. MARX: Cincia e Revoluo, So Paulo:Moderna; Campinas (SP): Editorada UNICAMP, 2000. p. 13, entre outros.15NAVES, M. B. 2000, p. 21.16 MARX, K. [1859] 1986, p. 24.17Cf. NETTO, J. P. Marxismo impenitente: contribuio histria da ideias marxistas. So Paulo: Cortez, 2004. p. 17.

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    requerida para a legitimidade das leis positivas do Estado e os particularismos da

    propriedade privada em uma sociedade desigual e dividida em classes. No entanto, se a

    problemtica era a mesma, veremos que a soluo completamente distinta.

    A base filosfica que animava as intervenes de Marx na Gazeta Renanaera,

    sem exagero, toda a tradio da filosofia poltica ocidental, expressa no idealismo alemo,

    que concebia a poltica, na forma do Estado racional, como o modo de ser do homem.

    Somente para ilustrar essa tradio, pois voltaremos a esse tema mais adiante, pincelamos

    duas passagens clssicas. Uma de Hegel:

    Se o Estado o esprito objetivo, ento s como membro que o indivduo temobjetividade,verdade e moralidade[grifo nosso]. A associao como tal overdadeiro contedo e o verdadeiro fim, e o destino dos indivduos est emparticiparem numa vida coletiva; quaisquer outras satisfaes, atividades e

    modalidades de comportamento tm o seu ponto de partida e o seu resultadoneste ato substancial e universal18.

    Outra de Aristteles:

    claro, portanto, que a cidade [Estado] tem precedncia por natureza[grifonosso] sobre o indivduo. [...] um homem incapaz de integrar-se numacomunidade ou que seja auto-suficiente a ponto de no ter necessidade de faz-lo, no parte de uma cidade, por ser um animal selvagem ou um deus 19.

    Bem entendido, a viso hegeliana do Estado o ponto culminante da concepo

    de mundo organicista dos gregos, s que aqui realizada pela Razo ao invs da natureza.

    Hegel resolve o problema da antinomia entre Estado e sociedade civil pela suprassuno

    (aufheben) desta naquele, de maneira que s como membro [do Estado] que o indivduo

    tem objetividade, verdade e moralidade. Antes de Hegel, tambm Rousseau, Hobbes e

    Locke buscaram na perfectibilidade do Estado Moderno a resposta para aquela

    contradio entre a universalidade do Estado e a particularidade da propriedade privada.

    Em todas essas filosofias polticas, o Estado, sob diversas formas, reafirmado como

    nica possibilidade de efetivao da razo e realizao dos atributos humanos. No estudo

    realizado por Boaventura de Sousa Santos20, essas solues so muitos diferentes:

    Rousseau ataca-a frontalmente, recusando separar a liberdade da igualdade edeslegitimando as desigualdades sociais com base na propriedade. Hobbessuprime e oculta a antinomia, reduzindo todos os indivduos a uma situao deextrema e idntica impotncia perante o soberano. Finalmente, Locke acolhe aantinomia, sem se exceder em consistncia, atravs de uma justificao que

    18 HEGEL, G. W. F [1820]; 1997, 258 [nota], p. 217.19 ARISTTELES. Poltica. 2 Ed; Trad. Mrio da Gama Kury. Braslia: Edunb, 1988. 1253a , p. 16.20 SANTOS, B. S. Crtica da Razo Indolente: contra o desperdcio da experincia. V. 1: Para um novo senso comum:a cincia, o direito e a poltica na transio paradgmtica. 7 ed.; So Paulo: Cortez, 2009. p. 138-139.

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    legitima, simultaneamente, a universalidade da ordem poltico-jurdica [EstadoModerno] e as desigualdades de propriedade [sociedade burguesa].

    Na sntese oferecida por Bobbio21, a filosofia do direito de Hegel pode ser lida

    como uma exasperao dessa trajetria. O acabamento, por assim dizer, da filosofia

    poltica moderna na obra de Hegel tambm a afirmao mais radical da poltica como

    substrato essencial para a definio da condio humana.

    Todos os filsofos, a comear por Plato, o fundador da filosofia poltica

    ocidental, at Marx em 1842, so unnimes em afirmar que fora do Estado enquanto tal

    no h sociabilidade possvel, nem se poderia sequer falar em humanidade. o que

    Chasin descreveu como a determinao onto-positivada poltica22. Esta determinao

    apresentada como ontolgica porque desde a fundao do pensamento poltico

    ocidental, na obra de Plato, at seu aperfeioamento final na obra de Hegel, entende-sea poltica como atributo do ser humano, isto , ser humano o mesmo que ser um zon

    politikn23. A traduo do animal polticode Aristteles por animal socialde Toms de

    Aquino24revela apenas a incapacidade da filosofia para pensar o ser social como instncia

    ontolgica prpria (sujeito e no predicado). Para a determinao onto-positiva da

    poltica, explica Chasin25:

    [...] o atributo da politicidade no s integra o que de mais fundamental do

    ser humano-societrio intrnseco a ele mas tende a ser considerado comosua propriedade por excelncia, a mais elevada, espiritualmente, ou a maisindispensvel pragmaticamente; tanto que conduz indissolubilidade entrepoltica e sociedade, a ponto de tornar quase impossvel, at mesmo para asimples imaginao, um formato social que independa de qualquer forma depoder poltico.

    Realizamos essa digresso esquemtica sobre o desenvolvimento da relao

    Estado e sociedade civil na filosofia moderna, para realar o fato de que Marx chega ao

    gabinete deKreuznach,em 1843, nadando em guas da tradio do idealismo alemo, ou

    seja, tentando resolver a dvida que lhe assediava pela radicalizao do aperfeioamentodo Estado, na forma de uma radicalizao da democracia. Agora preciso mostrar que

    no foi s a vivncia jornalstica que lhe imps uma reviso de sua base filosfica.

    21 BOBBIO, N. Nem com Marx, nem contra Marx. Trad.: Marco Aurlio Nogueira. So Paulo: Unesp, 2006. p. 152.22CHASIN, J. Posfcio; Marx: Estatuto Ontolgico e resoluo metodolgica. In.: TEIXEIRA, Francisco Jos Soares.Pensando com Marx: uma leitura crtico comentada de O Capital. So Paulo: Ensaio, 1995. p. 368.23ARISTTELES, 1988, 1253a, p. 15. Mrio da Gama Kury, seguindo a tradio medieval da traduo de Aristteles,verte zon politikn para o portugus como animal social, denunciando com isso o quanto a determinao onto-positiva

    da politicidade est naturalizada no pensamento ocidental.24 AQUINO, T. . Suma Teolgica. Trad. Aimom-Marie Roguet et. al. So Paulo: Loyola, 2001. v. II, IV. I, 96, 4, C.25 CHASIN, J., op. cit, loc. cit

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    preciso olhar tambm o programa de reforma dos jovens hegelianos de esquerda para

    rastrear ali a origem da Crtica de 43.

    Os jovens hegelianos de esquerda foram um grupo de estudantes e jovens

    professores da Universidade de Berlim, onde lecionou Hegel desde 1818 at sua morte

    em 1831, auto-denominadoDie Freien(Os Livres) e que formavam oDoktorclub Clube

    dos doutores, em fins dos anos 30 e meados dos 40 do sculo XIX26. As figuras centrais

    desse grupo foram: Max Stirner, Bruno Bauer, David Strauss e Arnold Ruge. Membros

    mais jovens foram August von Cieszkowski, Karl Schmidt, Edgar Bauer, Ludwig

    Feuerbach, Friedrich Engels e Karl Marx. O tema comum dos jovens hegelianos era a

    aplicao do mtodo dialtico especulativo de Hegel, no sentido de radicalizao da

    crtica das formas histricas inacabadas em relao ao Estado racional, com o intuito de

    fundamentar a necessidade da transformao burguesa do Estado Prussiano. Isso se

    materializou em crticas radicais religio, sendo as mais conhecidas delas A Vida de

    Jesusde David Strauss eA Essncia do Cristianismode Ludwig Feuerbach27.

    Os jovens hegelianos se opuseram ao popular grupo dos hegelianos de direita ou

    velhos hegelianos que detinham as ctedras da Universidade e outras posies de

    prestgio no governo Prussiano. A diviso entre os dois grupos dizia respeito

    interpretao do sistema de Hegel. Para os velhos, o mestre teria concludo, no plano das

    ideias, as sries de evolues dialticas histricas. O Estado Prussiano, realmente

    existente, seria a culminao de todo o desenvolvimento social anterior, representando o

    Estado Racional em sua forma histrica, pois j havia desenvolvido um extenso sistema

    de servios civis, boas universidades, industrializao e alta empregabilidade. Os jovens

    hegelianos acreditavam que ainda haveria mudanas dialticas mais extensas para

    acontecer, e que a sociedade da Prssia da poca estava longe da perfeio, no era mais

    que uma caricatura do Estado Racional hegeliano, pois continha focos de pobreza,

    censura e os no luteranos sofriam com a discriminao religiosa. Para uns a histriahavia chegado ao fim, o sistema fechou, para outros o sistema estava em aberto. Para os

    velhos hegelianos j havia se completado a plena adequao do Esprito do mundo a si

    mesmo. Para os jovens era preciso completar a crtica da religio28.

    26 Cf. McLELLAN, D.Karl Marx: vida e pensamento. Trad.: Jaime Clasen, Petrpolis: Vozes, 1990. p. 42 et seq.27Cf. FEDOSSEIEV, P. N. (org.).Karl Marx: biografia. Lisboa: Avante; Moscou: Progresso, 1983. p. 27 et seq.28NAVES, M. B. 2000, p. 14.

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    Foi a essa tarefa que se props Feuerbach nAessncia do Cristianismo29.Marx

    no menciona na breve autobiografia intelectual de 1859, a influncia que recebeu dessa

    obra, publicado em 1841, nem das Teses Provisrias para a Reforma da Filosofia30,

    escritas em 1842 e publicadas em 1843, ePrincpios da Filosofia do Futuro31, editada em

    julho de 1843. Ele reconhecera essa influncia nosManuscritos econmico-filosficos32,

    redigidos em Paris em 1844 e publicados, em Russo, pela primeira vez em 1932. Engels,

    emLudwig Feuerbach e o Fim da filosofia Clssica Alem, publicado em 1886, admite

    que a leitura dA essncia do cristianismo causou uma impresso to forte que [...]

    momentaneamente todos ns nos transformamos em feuerbachianos33. E possvel

    rastrear na obra de Feuerbach a fonte da Crtica de 43, pois foi ele o pioneiro no

    desmantelamento da metafsica hegeliana. Foi o primeiro a contestar o pressuposto

    hegeliano de que o pensamento era o sujeito, o ser era o predicado e a lgica era o

    pensamento que se pensava a si prprio.

    Para Feuerbach, e por influncia dele, depois tambm para Marx, o absoluto nunca

    poderia ser sujeito porque se o fosse necessariamente teria de dissolver-se no predicado.

    Portanto, a entificao do absoluto, sua transformao em sujeito resultou na deteriorao

    do sujeito em predicado. As determinaes reais do objeto e que garantem seu

    conhecimento s podem ser apreendidas do prprio objeto. O que o ser determinado s

    se define por suas prprias particularidades e contingncias e nunca pelas especificaes

    do absoluto.

    Na explicao mais clara de Feuerbach:

    As determinaes que garantem o conhecimento real so sempre apenas as quedeterminam o objecto [sic] pelo prprio objecto - as suas determinaesprprias, individuais portanto no so universais, como as determinaeslgico-metafsicas que, por se estenderem a todos os objectos sem distino,no determinam objecto algum. Com toda a razo, pois, Hegel transformou asdeterminaes lgico-metafsicas de determinaes de objectos em

    determinaes autnomas autodeterminaes do conceito; de predicados,

    29FEUERBACH, L.[1841] A essncia do Cristianismo. Trad. e notas de Jos da Silva Brando. Petrpolis (RJ): Vozes,2007.30 FEUERBACH, L. [1842] Teses Provisrias para a Reforma da Filosofia (1842). Disponvel em: acesso em 19/09/2011.31 FEUERBACH, L. [1843] Princpios da Filosofia do Futuro. Disponvel em:http://www.lusosofia.net/textos/feuerbach_ludwig_principios_filosofia_futuro.pdfacesso em 19/09/2011.32De Feuerbach data, em primeiro lugar, a crtica positiva humanista e naturalista. Quanto menos ruidosa, tanto maissegura, profunda, extensa e duradoura a eficcia dos escritos feuerbachianos, os nicos nos quais desde aFenomenologia e a Lgica de Hegel se encerra uma efetiva (wirkliche) revoluo terica. MARX, K. [1844]Manuscritos econmico-filosficos. Traduo, apresentao e notas de Jesus Ranieri. So Paulo: Boitempo, 2004. p.

    20.33ENGELS, F. [1886] Ludwig Feuerbach e o Fim da filosofia Clssica Alem. In.: ENGELS, F.; MARX, K. Textos I.So Paulo: Edies Sociais, 1975. p. 87.

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    que elas eram na antiga metafsica, fez sujeitos, e deu assim metafsica ou lgica a significao do saber auto-suficiente e divino34.

    A partir da leitura da obra de Feuerbach ficou claro para Marx que a crtica

    filosfica no poderia restringir-se a confrontar o carter racional do Estado moderno com

    a irracionalidade do real. Isso ele j havia experimentado em sua atividade jornalstica e

    defrontou-se com a insuficincia desse procedimento. Nos artigos da Gazeta Renana, em

    especial naquela srie dedicados a debater as deliberaes do parlamento Renano sobre o

    furto de madeira e As Novas Instrues do Governo Prussiano acerca da Censura, o

    jovem Marx exercitou esse procedimento crtico a exausto. Aparece ali a contraposio

    do carter universal do Estado com a circunstncia especifica da existncia da

    propriedade privada. J nestes artigos transparecia o ceticismo de Marx sobre a

    capacidade de o Estado prussiano impedir a infiltrao dos interesses materiais eirracionais no mago da racionalidade poltica, ou seja, do prprio Estado35.

    Ouve-se o eco do ponto de vista filosfico naturalista-humanista de Feuerbach na

    concluso de Marx na anlise do 270 daFilosofia...,ao censurar Hegel por no cuidar

    de compreender o objeto, mas apenas consider-lo [...] como determinaes lgico-

    metafsicas em sua forma mais abstrata36. O que a Crtica...contestava era a dissoluo

    das determinaes prprias do objeto, aqui especificamente o Estado, nas determinaes

    gerais da lgica. O ataque especulao levava com ele tambm derrocada dos produtosda mesma, ou seja, o Estado racional. Assim, se o pensamento no o sujeito, se o ser

    no predicado dele e a lgica no pode ser o pensamento pensando a si mesmo, ento

    o estatuto da prpria filosofia praticada at ali que estava sendo questionada. E se a

    filosofia especulativa no alcana compreender o objeto em suas prprias determinaes,

    ento as qualidades especficas nomeadas por esta filosofia no so mais que abstraes

    lgico-metafsicas, incapazes de dizer: eis o Estado Prussiano em sua singularidade.

    Aprofunda-se e ganha contornos de ruptura o estranhamento do jovem Marx comuma tradio de pensamento poltico que no permitia que a filosofia frequentasse ruas e

    praas, que no protestasse, que no gritasse ou chorasse com o sofrimento da

    humanidade. Uma filosofia que olhava com desconfiana e at desprezo pelos negcios

    humanos, a ponto de absorver o contedo concreto, as determinaes que garantem o

    conhecimento real na forma inteiramente abstrata das determinaes lgico-metafsicas

    34FEUERBACH, L. [1843] Princpios..., p. 68.35Cf. Eidt, C. A razo como tribunal da crtica: Marx e a Gazeta Renana. Ensaios AD HOMINEM 1, Tomo IV DossiMarx; So Paulo: Estudos e edies Ad Hominem; Ijui: EdUnijui, 2001. p. 79-100, passim.36MARX, K [1843] 2010, 270, p. 38.

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    que, por se estenderem a todos os objectos sem distino, no determinam objecto

    algum. Marx, ao contrrio, queria a filosofia nos jornais prximo do homem comum e

    rejeitava a filosofia contemplativa antipopular37.

    Esta crtica da especulao38deriva imediatamente das leituras marxianas de

    Feuerbach como reformador da filosofia e transforma-se em uma rebelio contra toda a

    tradio da filosofia poltica ocidental que sempre buscou uma forma de Estado que

    pudesse livrar o filsofo dos interesses materiais e permiti-lo viver ad aeternun no

    mundo das ideias. O que a vivncia jornalstica ensinou a Marx que por mais que o

    filsofo tente sair do mundo material ele pertence a esse mundo e sua cabea mundana,

    embora na imaginao do filsofo aparea como apartada do corpo [da esfera material].

    Nesse sentido, interessante o argumento de Arendt39sobre por que afinal, no

    mito da caverna de Plato, o filsofo retorna do mundo das ideias se l era o lugar onde

    ele sempre quis estar? Para ela o retorno a admisso de Plato de que a alma no

    sobrevive sem o corpo e se assim, o filsofo deve providenciar o ordenamento deste

    mundo material para que seja liberado a retornar ao seu verdadeiro habitat: o mundo da

    contemplao das ideias. De forma precipitada ela conclui que o fim da tradio poltica

    ocidental em Marx se d pelo salto da filosofia para a histria e pela inteno dele,

    frustrada, segundo ela, de realizar a filosofia na histria. Veremos que possvel deduzir

    da negao da especulao operada por Marx uma fuga para a histria enquanto processo

    de produo do homem, mas esse no o movimento que Marx faz. Se Plato fugiu da

    caverna dos negcios humanos para ver melhor a verdade fulgurante das ideias, porque a

    escurido da caverna lhe impedia de ver a verdade, Marx abandona o mundo das ideias

    pelo excesso de claridade que o cega e lhe impede de ver a realidade. Sua opo por tatear

    na penumbra entre os chamados interesses materiais no puramente metodolgica;

    no simplesmente aliviar a vista do excesso de explicao hegeliana, a confisso de

    que primeiro precisa-se entender o corpo para chegar a compreenso da alma. Mais graveainda, talvez o que Marx quisesse dizer que tal separao no faz sentido, que s

    podemos compreender o homem como unidade, atravs de sua autoatividade na histria.

    O questionamento da filosofia especulativa conduz concluso, implcita na

    Crtica..., de que o momento filosfico a compreenso do Ser em todas as suas

    37 EIDT, C. Op. Cit., p. 97.38Cf. CHASIN, M. A Crtica da Especulao nas Glosas de Kreuznach. Ensaios AD HOMINEM 1, Tomo IV Dossi

    Marx; So Paulo: Estudos e edies Ad Hominem; Ijui: EdUnijui, 2001. p. 145-161.39ARENDT, H. Entre o Passado e o Futuro [A tradio e a poca moderna]. 2ed., Trad.: Mauro Barbosa de Almeida;So Paulo: Perspectiva, 1988. p. 64.

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    determinaes. A atitude filosfica por excelncia seria solucionar a relao pensamento

    e objeto pela lgica da coisa, isto , pela apreenso das determinaes reais do objeto,

    no caso da Crtica..., do Estado. A relao do pensamento com as irracionalidades do

    mundo sensvel levaria, no mbito da autoconscincia, contradio que moveria o

    filsofo do pensamento ao contra o prprio mundo e seu carter irracional, mas de

    outro modo tambm conduziria ao retorno ao pensamento rebelando-se contra suas

    prprias insuficincias filosficas. Talvez seja essa a compreenso subjacente ao

    procedimento crtico que obriga Marx a concluir o julgamento do 270 afirmando que:

    O verdadeiro interesse [de Hegel] [...] no a filosofia do direito, mas a lgica.O trabalho filosfico no consiste em que o pensamento se concretize nasdeterminaes polticas, mas em que as determinaes polticas existentes sevolatilizem no pensamento abstrato. O momento filosfico no a lgica da

    coisa, mas a coisa da lgica. A lgica no serve demonstrao do Estado,mas o Estado serve demonstrao da lgica40.

    Comeava a surgir aqui, na forma de uma crtica da especulao, os contornos da

    soluo marxiana da dvida que ele carregou para Kreuznach. O momento filosfico seria

    compreender a coisa, o mundo material, fsico em sua prpria manifestao. Significa

    descer caverna e romper os grilhes ali onde eles aprisionam os homens e mulheres.

    Mas, por mais paradoxal que possa parecer, isso no quer dizer que a filosofia no seja

    mais possvel, pois o que a especulao v como determinaes do conceito lgico nacompreenso dos objetos, a nova perspectiva que brota da crtica especulao, v a coisa

    em sua prpria lgica. preciso registrar que nem mesmo Marx, provavelmente, estivesse

    totalmente consciente e seguro desse passo, pois em Kreuznach ele ainda entendia

    filosofia como sinnimo do idealismo alemo.

    Ao analisar a nota de Hegel do 302, Marx retoma e aprofunda a crtica ao mtodo

    especulativo enquanto mtodo filosfico. Ele censura o que qualifica como erro da

    filosofia especulativa ao tomar a contradio da manifestao do mundo material como

    unidade no ser, na Ideia. Marx categrico: Extremos reais no podem ser mediados

    [...] eles no precisam de qualquer mediao, pois eles so seres opostos41. O

    procedimento especulativo, sempre segundo a leitura de Marx, mistura essncia e

    existncia, como se fossem meras categorias lgicas. Sua insistncia nesse aspecto da

    crtica que pratica uma boa pista para encontrarmos o caminho que vai trilhar mais

    40MARX, K [1843] 2010, 270, p. 38-39.41 MARX, K.[1843] 2010, 302 [nota], p. 105.

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    adiante na soluo [...] da antinomia deEstado poltico e sociedade civil, da contradio

    do Estado poltico abstrato consigo mesmo42.

    O autor da Crtica de 43, se vale da prpria argumentao hegeliana, para, atravs

    de uma crtica imanente s suas categorias, fazer aparecer a contradio do mtodo

    especulativo. Ainda dialtica, mas com incio na negao do negado pela especulao.

    O resultado uma crise no interior da dialtica hegeliana que a revela como uma dialtica

    dogmtica, porque fechada, auto-referenciada e totalizante. A sada do sistema no por

    uma crtica comum, vulgar que procura solucionar a crise atacando os termos da

    contradio, mas sim por uma crtica filosfica verdadeira, radical que ataca a contradio

    em si. Na explicao de Marx43:

    A crtica vulgar cai em um erro dogmticooposto. [...] lutacontra seu objeto,do mesmo modo como, antigamente, o dogma da santssima trindade eraeliminado por meio da contradio entre um e trs. [...] a crticaverdadeiramente filosfica [...] no indica somente contradies existentes; elaesclareceessas contradies, compreende sua gnese, sua necessidade. Ela asapreende em seu significado especfico. Mas esse compreenderno consiste,como pensa Hegel, em reconhecer por toda parte as determinaes do Conceitolgico, mas em apreender a lgica especfica do objeto especfico.

    Talvez por isso, Avineri44conclua que o surgimento de uma dialtica materialista

    elaborada por Marx pode ser chamada de uma das consequncias dialticas da filosofia

    especulativa de Hegel. Seria seu lado negativo. Penso que mais do que isso. A dialticamaterialista marxiana a anttese da dialtica especulativa hegeliana, mais que sua

    oposio sua negao. O resultado da crtica verdadeiramente filosfica de Marx foi

    sua sada do sistema hegeliano45.

    Essa consequncia foi interpretada por especialistas na obra de Marx como a

    negao da filosofia strictu sensu. Tal leitura dominou por tanto tempo os crculos

    acadmicos e polticos que se tornou senso comum que Marx deixou a filosofia pela

    economia poltica. Trocou o mundo de ideias abstratas e conceitos verdadeiros, que seria

    o mundo da filosofia, pelas categorias operacionais da economia e da pragmtica poltica.

    Extinguiu a filosofia ao realiz-la na poltica. Transformou os conceitos filosficos de

    42Ibid. [nota], p. 107.43Ibid. [nota], p. 108.44AVINERI, S. The social & political thought of Karl Marx. Cambridge: University Press, 1968. p. 06.45Essa concepo da histria, que fz poca, foi a premissa terica direta da nova concepo materialista,e j isso criava tambm um ponto de ligao para o mtodo lgico. [...] Marx era e o nico que se podia

    entregar ao trabalho de retirar da lgica hegeliana a medula que encerra as verdadeiras descobertas de

    Hegelneste campo e de restaurar o mtodo dialtico, despojado da sua roupagem idealista, na simples

    nudez em que aparece como a nica forma exata do desenvolvimento do pensamento. ENGELS, F. AContribuio Crtica da Economia poltica de Karl Marx. In.: MARX, K.; ENGELS, F. Textos, Vol

    3., 1975. p. 309-310.

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    Hegel em categorias econmicas e sociais. Sua obra, desde os primeiros escritos,

    expressa a negao da filosofia46.

    Tal opinio do senso comum filosfico pode ter sido formado, como de resto se

    formam todas as opinies do senso comum, por um preconceito oriundo dos hegelianos

    que tratam o seu sistema no como uma filosofia, mas como a filosofia. De outra parte,

    com a colaborao de certa hermenutica da imputao do marxismo vulgar que atribuiu

    a filosofia de Marx o duvidoso epteto de no uma, mas a cincia da histria.

    Em ambos os pontos de vista se exclui a deduo de Marx do carter

    revolucionrio da filosofia hegeliana, ou antes, de uma nova filosofia assentada em

    pressupostos negados pela especulao. Quando o plo positivo da dialtica hegeliana

    dissolvido no plo negativo de seus prprios pressupostos o que se obtm, estou

    convencido de que essa tambm a opinio de Marx, no simplesmente uma mudana

    metodolgica, uma alterao de lugar de observao, um deslocamento de procedimento

    cientfico ou tcnico. O resultado uma filosofia daprxissocial47.

    46 MARCUSE, H.Razo e Revoluo: Hegel e o advento da teoria social. 4 ed., Traduo de Marlia Barroso.Rio deJaneiro: Paz e Terra, 1978. (Col. O Mundo Hoje; V. 28), p. 239. Ponto de vista diverso apresentado por Korsch aoesclarecer que [...] no parece legtimo declarar la teora materialista de Marx como uma teora ya no filosfica por elsolo hecho de que no tenga que cumplir una tarea puramente terica, sino a sua vez prtico-revolucionria. KORSCH,K. Teora Marxista y Accin Poltica, 1979, p. 189.47 Antonio Gramsci, nos Cadernos do crcere, que vai utilizar pela primeira vez a expresso filosofia da prxis

    para referir-se ao marxismo. LWY, Michael. A centelha se acende na ao: a filosofia da prxis no pensamento deRosa Luxemburgo.Margem Esquerda, 15, Out. 2010, p. 83. Ver tambm VSQUEZ, A. S. Filosofia da Prxis. 4ed., Trad.: Luiz Fernando Cardoso. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.