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RELAÇAM DO LASTIMOSO NAVFRAGIO DA NAO CONCEIÇAM... / RANGEL , MANOEL 5 SÊC. XVI. RELAÇAM DO LASTIMOSO NAVFRAGIO DA NAO CONCEIÇAM CHAMADA ALGARAVIA A NOVA DE QUE ERA CAPITÃO FRANCISCO NOBRE A QUAL SE PERDEO NOS BAYXOS DE PERO DOS BANHOS EM 22 DE AGOSTO DE 1555. EM LISBOA, NA OFFICINA DE ANTONIO ALVAREZ, [16?0. 23p. ; 4? 20 cm.

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RELAÇAM DO LASTIMOSO NAVFRAGIO DA NAO CONCEIÇAM... / RANGEL , MANOEL 5 SÊC. XVI.

RELAÇAM DO LASTIMOSO NAVFRAGIO DA NAO CONCEIÇAM CHAMADA ALGARAVIA A NOVA DE QUE ERA CAPITÃO FRANCISCO NOBRE A QUAL SE PERDEO NOS BAYXOS DE PERO DOS BANHOS EM 22 DE AGOSTO DE 1555. EM LISBOA, NA OFFICINA DE ANTONIO ALVAREZ, [16?0.

23p. ; 4? 20 cm.

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D O L A S T I M O Z O N A V F R A G I O

DANAO CONCEIÇAM -" c h a m â d a a l g a r a v i a a n o v a

De que era Capltaõ Franciíco Nobre A Q U A L SE P E R D E O N O S B A Y X O S D E

Pero dos Banhos em 2z.de Agofto de i$ j y.

E M L I S B O A

NaOffícina de Antonio Alvares

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$ N A V F R A G I O

D A N AO C O N C E Y Ç AM ßjquä Je i^rdeo nos bayxos de Ter o dos

jBanhos erh 22.de iÀgoß0 de 155s.

AÕ na coufa maispezadade levar, & horrível para temer , -âò que & morte, como Dem difle o Filofofo Ariftoteles , 8c ainda melhor nos enfina a experiencia $ porém com

fcoa licença do Fi!ofofo, & dameíma experien-c ia , o medo da morte ainda parece que he peor quea mefma morte, como da guerra diz o pro-vérbio , que he peor o'medo da guerra imagina-d a que experimentada: a razão difto he,por-que a morte levada em realidade, nunca he mais que hüa fó; 6c morrer hun a fó vez he dita, como diíTe Seneca, mas a morte imaginada na imagi-nativa nor repetição cie medos, he morte muy-tas vezes repetida. Efte entre outros mãles tras comfigo o oaufragio , porque quantas ondaá confpiraõcontra a embarcação,tantas mortes bebe o naufragante:& por iflo he peor caftigo a morte muytas vezes temida, que hüa fó vez fo-frida, como bem diíle S. Jeronymo, Ôc em coníe-x . A z quen-

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5 Refdçao do naüfragio

quencia deftaverdade, diz ò mefmo Santo, que merecendo Caim muytas mortes pela cjue <ieua leu irmão Abel , lhe poz Deos hutn final p*rá 3 não matarem, & diz que if iomafs foy lanço àè juftiça3que effeyto de miíerrcor:iía?pòrq.üe ain-da que o não quiz matar, deyfoulhe medo con-tinuo , para que cuydaffe que rodos o queríaõ matar; & lançadas bem as con tas , mayor eafti-go^raomedo da morte repetida muytas vezes na imaginação, que padecida hüafó vez por ef-feyto.

N ã o lia em toda a natureza eí beftaculò rtiais horrível, que hum miferavel naufragio, quando indo os pafFageyros mais deíeuydados, entre-gues a liberdade das ondas, íe vem de improvifo aflalteados de hüa horrenda tempeffiade , ou de algum repentino tufacjno qual os ares,ôt os ftía* res, os rayos, 8c os cori(cos,& o M u n d o t c d o pa* rece que: fe conjura , & conípira em perdição dos triftes navegantes, obrigando-os ,€or(i a fa-ria do temporal a dar com a Náo através, 8c a desfazella em rachas ,,entre infames cachopos. A' vifta de tão lamentavel focceíío, & de tantas, repreíentações de morte deíeftrada , fepoaem chamar tres ,& quatro vezes bemaventurados ©&que morrèrao á força do ferro violento em

terra3

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terra, & não entre as ondas furiofas no mâr ira-do; t orque aquelies morrem huma fó v e s , Be a-cab^ô deprefla > como diziaí Epaminondas; po* rèm os que acá Saoem algum naufrágio quantas ondas os não m itaõ,tantas lhe dilataô a vida,pa-ri; os matar com n melraa vida,que para el lés he morte prolongaud»

Pelo que contàreyhum íaftimofo lT'«ufra-í gio do numero daquellés, cu que os nciíosPor* tuguezes fizerão celebre o mar Oceano : 8c por-que Diogo de Couto na fua SeptimaDécada ,3c íraticifco de Andrada na Vida delRey D.Joao o III. tocâobrevemente, Scelle tem muytoque contar pelo que nos pertence por razão dos nof-íos tres Padres da Companhia dejesv,que nelle ac?òára6, o quero aqui referir mais por extenío*

2 ai 2y. de Março de 1555. partirão cinco Jíáos dà barra de Lisboa para a índiar, das quaes» era Capitão Mor D. Leonardo de Soufa: quatro, lançár&õ ferro em Go? , porèm a 'Náo Concey* ção, tuamada Algaravia a nova, da qual era Ca-pitaõ Francifco N o b r e , em que hiaõ os noífos tres Re!igíoíos,o Padre André Gonçalves,o Pa-dre Paíchoal, Sc o Irmão Afíonfo Lopes, tomou a derrota por fora da Ilha de S. Loarenço,.& in-do demandar Cochim, navegando era. diftancia

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6 KefaçaÕdd mufrági&

de quinhentas legoas da cofta da índia , e/r 22; de Agofto de 1555. de noyte três horas 'antema-nhã , indocom as vèlas foltas , o u por culpa do Piloto, ou por deícuydo do Mef /re j ou por def-graça de todos ( porque n inguen quer attribuir a fy os cafos adverfos) o certo Ke, que foy a N á o fubitamentedar emhamarèít inga deareaynos bayxos quechamãode Pero dos Banhos, que eí-tão em altura de íete grãos do Sul , f icando logo em feco , 8c a gente certa do perigo, incerta do lugar aonde eftavaõ, bradando a Deos miíeri« cordia; 8c acrefccntando-fe o lerror d o c a z o , com a efcuridade da noyte , atèque eíclarecen-d o a manhaa, tiverão mais clara vifta de fua ma-» nifefta perdição, vendo-fe acabar com hum no-vo , 8c miíeravel naufrágio, pois fe viao perecer na terra, eftando todoi cercados de agua. Def -ícobrirão hua coroa de areamuyto pequena,que acháraõ (er I lheta, que com hum tiro de pedra fe podia paflar de mar, a mar, junto da qu?.l fe ti«» nha a N à o aííentado.

E para naõ deyxarem de acudir com todos os remedios, tentaraõ- fe primeyro os meyos poffi-veis, para ver fe podiaõ aliviar a N á o de maney^ ra que podeíle tornar a furgir, cortáraõ-lhe o mafto grande, alijáraõ todo o convés, baldeára5

as

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as f rendas ao mar, guarnecerão bombas, 5c gá-mòt sde novo, vendo fe podiaõ vencer a agua, que já lhe entrava,como traidora^elocouce da-quilha, que ) o | ? Ih« arrebentou por alguas par-tes , com a par* ida que deu quando fe aííento^ fobre o hayxo. O tros çomtoda a preffa no me-fo defira confufaG, tratavão de lançar efpias ao mar, ajuftando calab*:ote3,& viradores para ver le podiaõ com o cabreftante darlhe ainda algum revòque. Porem vendo, q̂ ue todos eftes meyos craõ oaldados, íe vieraô finalmente a refolverj que enhu J^medio humano havia para a Náo efcapar daqueíle bayxo. Tratarão logo de íahiV em terra, que para ellcs era o mefmo, que cuy-darem , que entravão vivos na fepultura : Sáhiv rão com eUes os tres Religiofos da Companhia, que tom ira prefença, 8c t.xhortações, os esfor* favao ã íe conformar com a vontade Divina; a-nimando-os a que trataíTem de algum remediou porque aonde os perigos íaõ mayores, ahi me-lhor fe vem os cffeytos da Divina miféricordia. Acodiraõ também com toda a preffa a tirar da K á o algü mantimento, em quanto os máres lhe «lavão alguas tregoas, & naõ adesfaziaõempe* 4aços,como dahi a pouco íocedeo.

Logo que o Capitão Braacifco Nobre vio a

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% Refaçao doriaufrãpi

fua N á o varada na area, Sc f emlhe Valer reme» dio algum dos qué tinhao intentado,tratou com grande fegredo, com o Meftre, Piloto 3 Sc mais officiaes fobre o que devi ao fa7çr emcafo tão trabalhoío.: mandou meter nc batel os cofres delRey, Sc algüs barris deae*>i, 5c facos debif-coyto, Sc deixádo-o íurto ao mar,com o Contrai Meftre', & dez, ou doze u<.rinheyros em guarda delle, fe y eyo à terra em hum efquife, aonde de* pois de acudir no que pode aos triftes naufraga-» t e s , íe reíolveo em fe partir para a índia nodi to batel, fazendo-lhe algum modo de arrombadas dos tampãosdas cayxas, que fahiàô da N á o , pa« ra que defta maneyra fenaõ perdefTem todos, 5c chegando alguns à índia, tratalíem do remedio para os mais, que lhe ficavão naquella Ilheta de-serta. Embarcaraõ-fe íecretamente frinta pef-loas, quaíí todas gente do mar ̂ com o Gapitaõ, & outros dous homens de qualidade', íem íe def-pedir dos que ficavaõ em terra, pela grande ma* goa que tinha de os deyxar, & por efcuzar bri-ga«, Sc motins fobre a precedencia da embarca-ção. N a õ fe pôde explicar a grande confuíaõ , 5c trifteza , com repentinos aíTombramentos da morte, em que ficáraõ os demais, que eraõ pertc* de quatrocentos homens, vendo-fe em quatro , pai-̂

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'DaN/io ConceyçaÕ; 9 -palmos de terra, tantos em número, com ta© :pou£o mantimento, fem provifaõ para viver na terra, nem remédio para íaliír ao mar.

Para ter-ero. algum governo, em quanto a vi-da lhes dutavà elegerão logo por Capitão a D, Al varo de AtahL** filho legitimo de D. Al varo cie Atahide, 8c D . Èkna deCaftro , & rqbrinho do Conde da CaftanheyraJX Antonio de Ata-hide, mancebo de idade de dessoy to annos, dan-do-lhe por companheyro, 8c ladofeu a hum Ca-vai Icyro honrado, natural de Villa Franca, por nome Duarí? Rodrigues de Üulhaõ.,quefe tinha <yiíto em grandes, & vários tranzes em di verfas partes da índia,Sc de Europa,& como tão expe-rimentado, Sc calejado nos íucceíTos deíeftrados da, íortAna»,poderia bem aconíelhar aquelle ma* cebo, a qu?m fobejava a honra,mas faltava a ex» perienCia.Tratárao de novo de recolher em ter-ra todo o mantimento,que podefTem , & tudo o j^ais qne jlhe podeffe fervir de algum remedio$ porém a N à o ficou taõ maltratada da grande pancada que deo ^quando varou no bayxo* que logo fe começou a desfazer, Sc num inftante a entrarão, Sc a íoçobràraõ as aguas de tal maney-ra, que íó puderaõ alcançar o que o rolo do mar^ como por elmola lhes lançava em terra,que che-

B gáraõ

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gáraõ a fer ate trinta facos de bifcouto, 8c al^uas coníervas, & queyjos ,& fete /ou oyto pipas de vinho.

O Ilhéo era todo efteril, fero arvorts, íem a-ttimaes , íem ervas , & íem outr<\ remedio mais, que o que do Ceo lhes podte "ir;que aqui os naõ defemp ;ou de todo, porque o» proveode gran* de numero de aves, queerlo quafi cinco mil Al-catrazes, que naturalmente habitaõ em terra» deíertas,& dcfpovoadas: fazem feu ninho n* ter-ra nua, íem debayxo meterem herva ,ou pa!ha, ou mato , nem outra alguma cor (z : naõ fugiaõ da gente , antes fe deyxavaõ tomar ás mãos, Sc forao a melhor provifao, que aquella deíampa* rada gente allí teve.E tratando ainda de fe apro* veytardealgGas couías ( 'aNáo^jmõ rrade to-do desfeyta, fobreveyo huma tao eíp mtoía tro-raenta, que parecia q ate na mcfma Ilheta que* riaõ as ondas encapeladas períeguir,& comer os pobres naafragantes: efta tempefta'> icabou de desfazer a^Nâo de popa a proa, levando~lhe hum mar o c h a p i t è o i n t e y r o ^ a l c a c e v a ^ maf-toda mezena, Ôc logo a desfez toda, íem ficar mais que aquilha, com parte do cortado, debay-xo da area: Efta horrenda vifta os poz ainda em mayor defconfiança,por alli perderem naõ IcV

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Da N/w Comeygaõ. t *

os mantimentos, mas ate a madeyra, na qual ti* nhãoaindaefperançade poderem fazer alguma embarcação, N o meyo deita magoa o me faio mar lhes trotu\e á praya muyta parte da madey-ra que arranco i , pondo-a (obre hnns penados, tionde logo a vir Hão alando para apraya, antes que a refaça dah ondas a tornafle á rebatar.

Tanto que íe virão com madeyra, „ntrárao cm peníamentosde ordenar hü barco, não ten-do mais ferramenta que hum efeopro pequeno, & hfia enxó de tanoey ro, com outra de ripar , 8c huiài (o machado , fcmcarpinteyroalgum ,ncm quemíòubdle daquclla arte, mais que oaper-t o , 8c a neceffidade, que íaõ medres muy enge-nhoíos em femelhantes occafiões: 6c affim logo de hum montante fizeraõ ferra, forjarão l i m a ^ pregaduivi, 8c agulh para o leme, engenhand® íórja, oc preparando folies de duaf> pelle«, que a* charão, 8c de arcos de pipas, & de hum tampaõ de cayxa: 8c nao havendo remédio para cano dos fol ies , lhes deparou Deos na mefrna Ilha hfí pedaço de cana groífa da índia,que a agua tinha toda furada. Deita maneyra foy a neceffidadc cngenhoía,& preparando a embarcação com ta! prefla,que dentro em quatorze diasfahirão com humfe imofo barco acabado, a quem pu/erão

B % no-̂

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ií Usíaçao dou a ufr agi o

nomemifericordiade D e o s , pois íó nella efpé* ravão poder íal var as vidas : o trabalho era, que não havia com que brear a embarcação: eftan-do nefte aperto lhes lançou o mir em terra hS barril de breu, dos que tinhão ' .aido da Náo^. que ti verão por fucceffo mil^^olo*

Porém lobre todas eftas diligencias, & en> genhofos trabalhos dos pobres naufragantes, julgavão os mais entendidos, que o barco, não fervia para navegar, por cauía do taboado íer. delgado, & não poder fuftentar a e f topa ,c que o tinhâo calafetado, quando as onda*, Lhe deíTem no cofiado, mas também nefta defconfo-kçãoaeudio amiíericordia de Deos , trazende á terra hum pedaço de coitado da N á o , que tra-zia feis rolos de chumbo, &muy tos pelouros,le-vantárão todos as mãos ao C e o , donre lhes pa* recia que vinha efte foccorro, 6c batendo o chíí* bo em laminas* Sc tiras, afim de fortificar o bar* co , lhe percintárao todas as cofturas daquilh%

algüas do cortado, pregando-as com alguns pregos, que fe engenharão na forja^

Eftando tudo preparado para fazerem nadar o barco, tendo lançados dbus penedos ao mar com cabos, por não haver ou trás anchoras mais bem talingadas, para o deterem tanto que na*

dafíe;;

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BaNaoConceyçaÕ. •

dafíe : em lhe pondo a mão, com pouca dif icul-dade o virão ir correndo pela area , Sc em chega-do á agua, os dous cabos o tive rã o mão : tendo todos ifto por o í o milagrofo, como le affirma claramente na iformaçaô que íe fez deite nau-fragio. Ficando p o barco íobre aquellas duas •amarras, que engenharão (porque não cuydaf-fem qreeftava afortunaeíquecida de osperíe-guir ) eis, que fobre vem outra tromenta,que lhe fez trincar hua corda, ficando íó com a outra a Deos mifericordia ,que efte era o nome do bar-c o , eleita fóanchora era aefperança daquella gente. Paflada atromenta fe embarcarão o*Ca-pi íãoD. Alvarode Atahide, & afeuladoDuar-te Dias de Bulhão, dc outras pefToap, que por to-das erão cincoenta 8c oito,mas vendo que o bar-co íènão pv)dia marear com tantos>& que fe per-deriaõtodos, fe todos fequizeflem al!i falvar, com grande grita , & com mayor magoa, deyrá-raõ trezehomês em terra, ficando lós quarenta dc cinco.

Em todos eíles grandes trabalhos fempre os> tres Padres da Companhia foraõ os primeyros, êc quando foy ao embarcar naõ foraõ os últi-m o s ^ quem fe offereceo lugar, porém elles; (querendo antes ficar com os mais que ficavão

. B * mais» «Pr- - . •

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14 Relaçao do nanfragib \

mais arrifcades, que embarcar fe comosmeno«, que cuydavão h i | o menos perigofos ) nos derãa a todos grandiflimo exemplo da verdadeyra ca-ridade, porque pedindo os da embarcaçaõ ao menos hum para Confeflor, 8c < jmpanheyro da vida , ou da morte , não hor ve acabar com ue* nhum de!les}que quizeíTe antes aceytar efte me-lhoramento -.oíFerecia o Padre André Gonçal-ves ao Padre Paícoal, que íe embarcaffe com os que buícavão remédio para a vida , porque elle baftava para coníolação dos que ficavão nos braços da morte. A meíma offerta lhe fcm o Padre Pafcoal, dizendo, que não tinha animo paradividirle de lua Reverencia no perigo, fe-não foffe para ficár fó , a fim deelle que era feia fuperiorfalvar a vida. Porem porque os do bar-co não eftavão para muy tas detenças de com* primentos, fe licenceàrão dos mais , com gran-des gritos, 8c muy chorofas faudações, como os que fe davão o ultimo vale para nunca mais fe vierem.

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If

DO SUCCESSO, QUE TIVERAM OS QUE fe meterão nefte barco, é" do mr,ü que aconteceo

nejte naufrago aos Portuguezes, ̂ fie ar ao na Ilheta cm os tres Padres da Compa-

nhia f q: V finalmente morrerão ao puva.dezemparo.

DEÍla maneyra foy defaparecendb do Ilheo o barco Miíericordia, entregue íó à Divi-»

Ha, que os livrou de grandes perigos , 8c de ne-eeífidadesextremas, em que fe virão, 8c não foy o menor perigos o que tiverâõ tio principio da navegação, porque chegando-fe ao pobre barco hüa Balea, lhe de© hum valente encontra pela popa, alcançando lhe o leme com tanta fa-ria, que aqualqaer Navio muy poderoío faria-grande mal ( que quando a fortuna he adverfa, atè as Baíeas fe conjurão contra hum trifte fonas naufragante) porém o Senhor, em cuja miíeri-cordia hiaõ fiados, também em outros mayores trabalhos acodio, porque não íabendo elles por onde navegavaõ, nem em que rumo efta vaô, 8c fcchando-íeíera nenhum mantimento, & íeina-gua , lhes mandou por huma vez innumeraveiS' peyxes ao bordo, que pefcáraõ com hum anzol,, cjuefizfcraõ de hü furador de eftojo j & lhes cho -

v e i * u.

v •v •

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%6 Re laça o do nau/ripo

veo tão copioía agua, que (erviòpara remediò ã i fede prefente, 8calivio da que temiaõ ao diante.

Finalmente fem faberem em que altura,na-vegavão, chegáraõ a defcobrir térra, 8c no mef-mo ponto encontráraS a feu «^oprio Gapitaô Franciíco N o b r e , o qual chegando a Goa a íâl-vameríto no batel, dando conta da fua perdição a Franciíco Barreto, que já era Governador,por morte doVifo-Rey D. Pedro Maícarenhas,& dizendo da gente que ficava no I lhèo, mandou logo o Governador preparar dous fuftões, com o mefmo Franciíco Nobre em hum « Xe o Patrão mor em outro, para que foliem recolher aquel-lesdefemparados Portuguezes. N a õ fe pode fa-cilmente explicar a grande alegria que teve o Capitaõ, quando reconheceo a gente do barcò9

8c vendo a maravilha qre Deos obrára em os tra-zer a fal vamento naquelie pedaço de taboa, deo infinitas graças ao Senhor, obrador detaõ gran* de prodígio, fem fe fartar dedarmuy affe&uo-los abraços àquelles íeus companheyros, que imaginando mortos na Ilha,encontrava vivos no mar, :

Sentindo porem odefemparo dos mais, lo* gomandou que o Navio do Patraô Mor, dando hü cabo ao barco, oatoaffeatè o meter em Co*

chim*

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Da Nh Cünceyçâft*

€hitn,com©fuuCedeovçom taõ grande efpanta, & alvoroço de toda a Cidade, que os fahiraõ a receber em prociflao,eomo ahomés refufcita* dos , em quem Deos fizera ( como elles deziaõj, taõ evidente í^ilagre, trazendo-os em quatro páos taõ mat alinhavados, Sc com taõ fraco pro-cimento, atèos meter em porto íeguro.E no ou-tro Navio foy e lie em defcobrimento do Ilhèo, para ver íe podia dar reme í io áquelles feus deí-emparados companheyros, aos quaes he tempo^ que tornemos a vifitar. * SFicáraõ todos os mais Portugueses em com-

panhia dos tres Padres,entregues à Providencia Divina, com o peníamento na índia, a ver íe lhe acudia cora algum Navio,fem terem em que por ©solhos mais que no mar que os tinha de cerco* Sc no Ceo donde tinha© mais bem fundadas fuas efperanças*: Sc crefcenao por momentos a falta de agua, foy Deos fervido que lheschoveo muy copioía, com que feprovèraõ. O s tres Religio-íos ,quefoy aunica confolaçaõ, que lhes ficou nefte ultimo defemparo, os hiaõ entretendo c ã praticas Santas, com Prociffoés , 6c Ladainhas queordenavão.

Gom a grande falta que havia de todo o re* médio ncceffario, começpu a fome a,executar

C nefc

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•it RelaçaÕ do rniufracnè

neftes miferaveis homés!, íeus a ueis, 8c inevita« veis effeytos: já tinhao perdida a cor do roftof

as faces efcaveyradas , os olhos encovados, 8c com lhes luzirem muyto, hiaõ perdendo a vifta; os mébros fracos,& debilitados,, não pòdiaõ fufc tentar os cançadcs corpos: deftamaneyra,ou vi« inhão a perder a vida , ou chegavaõ aíaudar a trl* ite morte. Metidos neftagraviflima tribulaçao^ xjue remedios naô teFHáraõ?quemeyos naõexpe* r imentárão, para ver fe a fortuna; lhes abria algu caminho para efcapar de taõ evidente perigo: 8c como o defejo da vida he efficaíiiíirno,^ a defe^ peraçaqhe temeraria, por todas as viasbuíca* vaõ os remedios por mais difficultofos que fe ré* prefentaíTem; atè que vendo- fe no mez de Abril de 1556. fendo paílados oyto mezes depois de íeu trifte Naufragio, não tendo jà que comer, fe refolveraõem fazer hüa jangada deflas relíquias da madeyra, que pela praya achárão, com titulo de provar ventura, & bufcar algum mantimen« to para fy, 8c para os companheyros, q alli ficai-fem (que nos mayores males os remedios teme i rarios tal vez melhor aprovey taõ) porém foy tal o aparelho da jangada,que não havia quê fe atrer

veííe a meter nella;a efte fim os Padres fe embar* cáraõ, feguindo-os alguns Portuguezes dos que

rinhaS , 4

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m NãoCoweyçâd. %f

tinhaõ cpinii" , que ai li perto havia outros fw Ihèos, ainda poderiaõ achar algum mantimento para os que tícavão na Ilha deíerta; que naõ ha< couía a que lepão períuadão, os que eftaõ per-íuadidos a morrer.

Metidospóis neffies quatro paos, entreguei á braveza das ondas, fem governo, nem outro1

remedio mais que algüs poucos taçalhos de tu-barões curados, & hum íó quarto, Sc dous bar-ris de agua. Àndáraõ dous mezes inteyros, que parece coufa incrível, fobre as aguas, lidando com a fúria dos mares, Sc lutando com os alfom-bras da morte, íemdefcobrirem Ilha, nem terra alguma; & já tinhaõ lançado ao mar quatro ho-iiQêSj que eftaláraõ com a violência da fome, atè que íorao dar, como acazo, em huma Ilheta pe-quena,tão efteril como aquedeyxavão; Sc deí-cobrindodalli outra, que em diftancia de huma legoa aparecia, a foraõ demandar, Sc acometen-do-a por duas vezes, lhe fby o t empo taõ contra-rio, Sc ponteyro, o mar taõ groífo, o impeto do vento taõ incomparável, Sc de refegas taõ furio-ias, que por nenhum cazo a podèraõ aferrar , an-tes por cada vez , que arribavaõ ael la , fe viaõ quafi perdidos : pelo que tratando hüs de tornar àmefrna porfia, os outros delenganados deíua < G x , pouca

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m Èelaçaodo naufragii

pouca fortuna,fe déraõ por c o n t a t e s de ficar n i Ilheta eíteril (que a quem foge da tempeftade* qualquer furgidourolhebaftapara por to )com eftes Portuguezes que aqui íahiraõ fe ficáraõ os tres Religioíos da Companhia, animando a (tus companheyros com a vifta de íeis palmeyrae, dasquaes podiaô comer os palmitos, & algumas ortigas, que eftes eraô os doces, as frutas , & as teáras alegres, que n^iuella terra le davlo.

Refolveraõ-fe os outros, que ficárão na jan« gada, a furgir terceyra vez na outra Ilheta,&foy Deos fervido,q a pudera© ferrar,& nella acháraô muy ta copia de palmeyras, com muy tos coco» frefcos,& outros já curados c o m o tempo: acha-rão também muy tas hervas, de que fe podiaõ a-proveytar, 8c muytas fontes, 8c ribeyrasde agua doce. Porém (como euf ama fucceder nas gran-des fomes ) meteraõ-íe nas hervas, 8c nos coco% com tanta preça,que em breve tempo adoecè-rão todos íem ficar quem pudeíTe tornar na jan« gada a buícar os compenheyros, que na 1 lha ve* linha á fua vifta eftavão perecendo: nem foy pof* fivel tornar a elles, íenão dahi a hum mez,quan-do já fó achárão a dous Portuguezes vivos, 8c to-dos os mais erao mortos; 8c com elles os tres Re^ iigiofos da Companhia, que alli íantamente pe«

recèi

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'Da NãoConceyçadc ^

í ecèrãoàforç i U fome,& nos braços do defem* paro 5 acabando-os muyto mais a compayxaõ, Sc fentimento que tinhaõ de ver toda aquella po«* bre gente , dividida por tantas partes, femlhe poderem íer bons, mais que no ef pi ri tual ? com que nunca lhes fakárão ate efpirar , naorrer com elles, com raros, 8c extraordinários exem-plos de charidade, como cohtavão os doas Por« íuguezes , que os da jangada tornando àIlheta acharão vivos.

Referindo eftes em particular, com grande copia de lagrimas, que chegára a tal fraqueza o Padre Catiçaives, que hindo para tomar hü ca-ranguejo, que ornar tinha lançado na praya, de pura fraqueza cahio,fem mais íe poder levantar, acabando o fervo d e D e o s , Sc morrendo desfey-to da violência da fome, tão animado porèmpor outra parte,que não íe podendo já fuftentar a fy, dava animo, 8c a judava com fantas palavras aos fracos, 8c defanimados companheyros, 8c aflim finalmente acabou com o Santifíimo nome de JESUS na boca,Sc no coração: que defta maney- " ra com taes apertos, & defempáros, nefte thea-tro de miíerias, apurou Deos a paciência de íeus íervos, primiando hoje com eternos contenta-mentos a muy ta charidade,que exercitarão com

C j aquel*

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f~*> Kelagao dQiduf%agm

aquelles pobresnaufragantes. i Vendo pois os que ficarão com vida naqueíi

la Ilha, quaõ certa tinhaõ nella a morte ( & que não podião acudir aos queficavão no í lheo do primeyro naufragio) providos de alguns coco?, fe tomarão a meter na jangada, & fe entregarão* outra vez ès aguas do mar. Socedeo nefte come-nos, eftando hum dia pregando era Goa o Padrç Gonçalo da Silveyra , o qual tinha chegado no Agoftodaquelle annode i.jjá* quede repente encoftou a cabeça no púlpito e(portandodií-fe claramente, que eraõ chegados àlndia algun« homés, que efcapárão da Náo de Franciíco N o -lire. Poucas efperaíiças havia já de femelhantes relíquias: porem efte dito do Padre íahio certo,, porqpe finalmente com grande eípanto dos ho-m é s , 5c admiração da mefma natureza , depois de morrerem no mar air m d e delles , vencendo a fúria de aigüas tromentas, & atropelando a ti-rania da mefma fortuna, que tão pertinaz os per-íeguia , vierão a portar a Gochim a 27. de N o -vembro do mefmoanno de 1556. havendo quâfi quinze mezes, que andavaõ lutando com os ma-res , com a fome, com a morte, 8t com feus far-dos: foraõ recebidos em Cochim mais como monftros marinhos 3.íahidos das lapas do O c -

çeanos,

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Da Nh Conceyçm s H

ceano", que como homês vivos, que vinhao [de-mandar terra. Porem os que ficarão naprimey-ra Ilheta do naufragio, que era a mayor parte da gente , por naõ lhes vk Íoccorro algum , nem o Capitaõ Franciíco Nobre com o Piloto dacar-rey ra, poder dar com elles, acabàraó finalmente todos, fervindolhe a fahid^em terra mais de fa-sertregoas com a morte, qu€ de ter penhores certos de ter vida*

O particular de íer o Padre Gonçalo da Sil-veyra o que profetizou o cafo da chegada, que fez à índia, a gente que efcapou na jangada, conc-itava ., entre outros, Pedralves de Mancellos fi-dalgo da cafa de Sua Mageftade , filho de Anto-nio de Mancellos, Capitaõ Mor das Armadas nefte Rey nojo qual Pedralves de Mancellos foy homem de muy ta verdade,Sc íe achou entaõ na índia prefente àquelle Sermão , & o contava muytas vezes em Portugal por coufacertiffima* Ôc que teve por tefteriipnhas todos os que Sermão fe acháraõ prefentes*

L A U S D E O