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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS: O CUIDAR/EDUCAR NA PERSPECTIVA DO MASCULINO Tamara Piazzetta RESUMO Este estudo tem como objetivo compreender as implicações para o masculino que atua na docência da Educação Infantil e Anos Iniciais, espaço de predominância da feminização. Atualmente tende-se a ter um número reduzido de docentes do sexo masculino, principalmente no que se refere aos níveis da Educação Infantil e Anos Iniciais, o que desperta para a relevância da análise do masculino que busca atuar nesse espaço. Pretendeu-se abordar a temática do masculino e sua relação com o cuidar/educar, aspectos que orientam a atuação docente junto à infância. O masculino nesse contexto, ao exercer uma profissão considerada feminina, personifica o conflito da expectativa social. Quando escolhe a docência, o masculino passa a ser questionado pelo social, principalmente em dois aspectos: sua capacidade profissional e sua orientação sexual. O docente masculino é atravessado pelas polarizações (feminino/masculino; heterossexual/homossexual) e, ocupando um dos polos, tende a ser julgado como incapaz para atuar na docência. Utiliza-se como metodologia de pesquisa a narrativa autobiográfica de docentes que atuam na Educação Infantil e Anos Iniciais em municípios da Serra Gaúcha, Brasil. A pesquisa permite considerar que há lacunas entre o reconhecimento das questões de gênero que atravessam a atuação docente do masculino e as alternativas para transformar essa realidade. Palavras-chave: Educação. Cuidar/Educar. Masculino. Relações de Gênero. 1 INTRODUÇÃO Historicamente, a passagem da hegemonia masculina para a feminina na docência relaciona- se a aspectos econômicos, culturais e sociais. Entretanto, a Educação Infantil e os Anos Iniciais seguem trajetórias diferentes dos demais níveis de ensino, pois desde o surgimento são entendidos como espaço do feminino. Diante disso, este estudo tem como objetivo refletir sobre as implicações para o masculino que atua na docência da Educação Infantil e/ou Anos Iniciais, espaço de predominância da feminização. Atualmente tende-se a ter um número reduzido de docentes do sexo masculino, principalmente no que se refere aos níveis da Educação Infantil e Anos Iniciais, o que desperta para a relevância de se analisar as implicações para o masculino que busca atuar nesse espaço. Neste estudo pretendeu-se abordar a temática do masculino e sua relação com o cuidado, aspecto que orienta a atuação assistencialista da Educação Infantil em seus primórdios. Partindo do pressuposto de que as formas de fazer educação são tão múltiplas quanto são os sujeitos nelas envolvidos, entende-se como necessário problematizar a polarização feminino/masculino na educação para que, como refere Sayão (2005, p. 60), “possamos dar visibilidade à pluralidade no interior de cada um dos pólos”. A partir destas perspectivas, o estudo pretende abordar as questões vinculadas ao masculino

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    DOCNCIA NA EDUCAO INFANTIL E ANOS INICIAIS:

    O CUIDAR/EDUCAR NA PERSPECTIVA DO MASCULINO

    Tamara Piazzetta

    RESUMO

    Este estudo tem como objetivo compreender as implicaes para o masculino que atua na docncia da Educao Infantil

    e Anos Iniciais, espao de predominncia da feminizao. Atualmente tende-se a ter um nmero reduzido de docentes

    do sexo masculino, principalmente no que se refere aos nveis da Educao Infantil e Anos Iniciais, o que desperta para

    a relevncia da anlise do masculino que busca atuar nesse espao. Pretendeu-se abordar a temtica do masculino e sua

    relao com o cuidar/educar, aspectos que orientam a atuao docente junto infncia. O masculino nesse contexto, ao

    exercer uma profisso considerada feminina, personifica o conflito da expectativa social. Quando escolhe a docncia, o

    masculino passa a ser questionado pelo social, principalmente em dois aspectos: sua capacidade profissional e sua

    orientao sexual. O docente masculino atravessado pelas polarizaes (feminino/masculino;

    heterossexual/homossexual) e, ocupando um dos polos, tende a ser julgado como incapaz para atuar na docncia.

    Utiliza-se como metodologia de pesquisa a narrativa autobiogrfica de docentes que atuam na Educao Infantil e Anos

    Iniciais em municpios da Serra Gacha, Brasil. A pesquisa permite considerar que h lacunas entre o reconhecimento

    das questes de gnero que atravessam a atuao docente do masculino e as alternativas para transformar essa realidade.

    Palavras-chave: Educao. Cuidar/Educar. Masculino. Relaes de Gnero.

    1 INTRODUO

    Historicamente, a passagem da hegemonia masculina para a feminina na docncia relaciona-

    se a aspectos econmicos, culturais e sociais. Entretanto, a Educao Infantil e os Anos Iniciais

    seguem trajetrias diferentes dos demais nveis de ensino, pois desde o surgimento so entendidos

    como espao do feminino. Diante disso, este estudo tem como objetivo refletir sobre as implicaes

    para o masculino que atua na docncia da Educao Infantil e/ou Anos Iniciais, espao de

    predominncia da feminizao.

    Atualmente tende-se a ter um nmero reduzido de docentes do sexo masculino,

    principalmente no que se refere aos nveis da Educao Infantil e Anos Iniciais, o que desperta para

    a relevncia de se analisar as implicaes para o masculino que busca atuar nesse espao. Neste

    estudo pretendeu-se abordar a temtica do masculino e sua relao com o cuidado, aspecto que

    orienta a atuao assistencialista da Educao Infantil em seus primrdios.

    Partindo do pressuposto de que as formas de fazer educao so to mltiplas quanto so os

    sujeitos nelas envolvidos, entende-se como necessrio problematizar a polarizao

    feminino/masculino na educao para que, como refere Sayo (2005, p. 60), possamos dar

    visibilidade pluralidade no interior de cada um dos plos.

    A partir destas perspectivas, o estudo pretende abordar as questes vinculadas ao masculino

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    na docncia na Educao Infantil e nos Anos Iniciais, retomando um breve histrico do surgimento

    dessa modalidade escolar e suas relaes com o feminino e o masculino, e posteriormente, trazendo

    alguns aspectos relacionados escolha e a permanncia do masculino na sala de aula.

    2 EDUCAO INFANTIL E ANOS INICIAIS COMO ESPAO DA DOCNCIA

    FEMININA

    Conforme Carvalho (1998, p. 77), a escola transita entre o espao masculino do saber

    cientfico tcnico-racionalista e a docilizao materna. Neste contexto de circulao de saberes,

    seria esperado que houvesse ampla e aberta discusso sobre as relaes de gnero, mas o que

    acontece na maioria das situaes a repetio de modelos socialmente postos.

    A escola, enquanto espao do social, replica seus modelos e preconceitos. Numa sociedade

    na qual as profisses so divididas entre masculinas e femininas, parece natural o lugar que a

    mulher ocupa na docncia, principalmente quela ligada s crianas pequenas.

    A mudana da predominncia masculina para a feminina ocorre em todos os nveis da

    educao a partir do sculo XIX, devido s condies de trabalho precrias, baixos salrios e a

    estratificao sexual da carreira docente (VIANNA, 2002). Outros aspectos que favorecem essa

    mudana so discursos que apontam os homens como moralmente inadequados para educar as

    meninas, ou ento como incapazes de ter a sensibilidade feminina necessria para cuidar das

    crianas (CUNHA, 2012).

    Entretanto, no que se refere feminizao da docncia, a Educao Infantil segue trajetria

    diferente dos demais nveis de ensino, pois desde o seu surgimento entendida como espao do

    feminino (CAMPOS, 1994). A Educao Infantil surge como um meio assistencialista de garantir

    que as mulheres estivessem disponveis para o mercado de trabalho. Dessa forma, a instituio

    deveria oferecer, aos filhos das trabalhadoras, cuidados semelhantes aos maternos (SOUZA, 2010).

    O enfoque da Educao Infantil no cuidar/educar4 surge como alternativa para suprimir as

    desigualdades sociais que tambm se apresentavam no contexto escolar. As diferenas entre o foco

    assistencialista (voltado s camadas mais pobres) e a funo pedaggica da creche (no caso das

    classes mais ricas) estariam implicitamente resolvidas a partir da nova abordagem (CAMPOS,

    1994; SAYO, 2005).

    Para Vianna (2002) atividades profissionais vinculadas ao cuidado, so implicitamente

    atreladas ao feminino, seja pela viso de uma responsabilidade natural ou como resultado da

    4 O termo (utilizado desta forma por Sayo, 2005) refere-se a uma das diretrizes da Poltica Nacional de Educao Infantil. O documento descreve que as particularidades desta etapa de desenvolvimento exigem que a Educao

    Infantil cumpra duas funes complementares e indissociveis: cuidar e educar, complementando os cuidados e a

    educao realizados na famlia ou no crculo da famlia. (MEC, 1994, p. 17)

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    socializao das mulheres. Diante disso, o universo escolar permanece atrelado ao feminino, tendo

    na mulher e na maternagem seu ponto de ancoragem (CARVALHO, 1998, p. 71). A associao

    quase que obrigatria entre o feminino e o materno acaba por embaralhar tambm a influncia do

    feminino na docncia, por vezes fazendo com que o discurso pedaggico seja um espelhamento do

    discurso materno (FRANCO, 2010, p. 68). Para a autora, este movimento surge da necessidade de

    validar o lugar e o saber do materno, restringindo a educao ao que vem do feminino.

    3 O MASCULINO E A DOCNCIA

    De acordo com as reflexes de Louro (1997), por um lado, a escola pode ser vista como

    feminina pelo seu carter relacional afetivo semelhante ao familiar; por outro, ela tambm

    masculina, pois mesmo que as educadoras possam ser mulheres, elas reproduzem o conhecimento

    historicamente oriundo do masculino.

    Em seus primrdios, a educao surge como um espao do/para o masculino, pois os

    primeiros educadores eram homens que tinham a funo de educar os meninos sobre o

    conhecimento construdo por outros homens. Segundo Louro (1997, p. 92) o mestre que inaugura a

    instituio escolar moderna sempre um homem; na verdade um religioso. Essa condio d

    origem viso da docncia como um caminho vocacional, combinado ao papel de paternidade que

    os religiosos s poderiam exercer por meio da docncia.

    A partir da imagem de um mestre exemplar, que era referncia tanto por seus saberes,

    quanto por ser um modelo a ser seguido (LOURO, 1997, p. 92), que se constituem as bases da

    escola moderna. Neste contexto, iniciam-se os movimentos para a igualdade de instruo para

    meninos e meninas, mesmo que no princpio houvesse a segregao por gnero: homens ensinavam

    os meninos; mulheres ensinavam as meninas; currculos, objetivos e avaliaes eram distintos para

    eles e elas.

    Com as transformaes econmicas, culturais e sociais, o masculino vai gradualmente

    migrando para outros espaos, deixando uma lacuna que passa a ser ocupada pelas mulheres, seja

    pela escassez de alternativas de trabalho ou pela possibilidade de ascenso que o ambiente escolar

    poderia proporcionar ao feminino na poca. Eugnio (2010, p. 01) refere que a feminizao docente

    no somente a presena macia das mulheres nos quadros docentes, mas a adequao do

    magistrio s caractersticas como cuidado, associadas historicamente ao feminino.

    No contexto atual, conforme refere Rabelo (2013, p. 909), o professor homem torna-se um

    corpo estranho nas sries iniciais do ensino fundamental, o que no se apresenta de forma distinta

    na Educao Infantil, pois a chegada de um homem num espao dominado por mulheres e

    supostamente feminino produz uma sensao de deslocamento, desconfiana e incmodo

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    (SAYO, 2005, p. 66). O masculino nesse contexto, ao exercer uma profisso considerada

    feminina, personifica o conflito da expectativa social, alm de indicar as excees aos padres de

    gnero ou tentativas de reafirmao de sua masculinidade (RABELO, 2013, p. 911).

    Quando escolhe a docncia, o masculino passa a ser questionado pelo social, principalmente

    em dois aspectos: sua capacidade profissional e sua orientao sexual. Ao contrrio das professoras,

    o docente masculino atravessado pelas polarizaes (feminino/masculino;

    heterossexual/homossexual) e, ocupando um dos polos, tende a ser julgado como incapaz para atuar

    na docncia.

    Rabelo (2013, p. 916) refere que os professores so assinalados pelo preconceito, quando

    demonstram caractersticas femininas e so considerados homossexuais (logo, maus exemplos que

    no podem dar aulas para crianas) e quando se questiona sua capacidade, por apresentarem

    caractersticas masculinas (que no so boas para o ofcio).

    Para Sayo (2005, p. 216) no magistrio, especialmente na docncia com crianas

    pequenas, o ideal de ser reconhecido como homem pressupe certas provas e contra provas. Neste

    quadro, caractersticas socialmente consideradas femininas como afeto, sensibilidade, pacincia,

    entre outras no podem ser apresentadas pelo masculino, sob o risco de se questionar a prpria

    masculinidade.

    Alm disso, o masculino demarcado no espao escolar pelo medo de uma sexualidade que

    no pode ser exposta no ambiente pblico que a escola. Essa crena faz com que se evite que o

    homem, entendido como sexualizado, seja inserido neste locus, e a mulher seja a escolhida, por ser

    considerada como assexuada, assim como as crianas (RABELO, 2013).

    Carvalho (1998, p. 423) assinala que a presena do masculino na escola pode despertar para

    a ampliao e quebra de paradigmas, entretanto s vezes parece que seu comportamento acaba por

    reforar, ao menos em parte, esteretipos a respeito da masculinidade e do professor homem. De

    qualquer forma, a masculinidade presente (ou ausente) no contexto escolar tende a repercutir tanto

    nos profissionais, quanto nas crianas e seus familiares, pois a possibilidade de provocar

    mudanas nas experincias por eles vivenciadas (SAYO, 2005).

    Ao apontar estudos sobre a questo de gnero na docncia, Souza (2010, p. 29) refere que

    os discursos so consensuais ao defenderem a participao masculina na educao infantil. A

    autora questiona, entre outras coisas, se o homem deve modificar-se para adaptar-se ao universo da

    docncia feminina ou se a prpria docncia que precisa rever seus modelos, considerando que o

    modo como o masculino se insere no espao pode trazer limitaes, ao mesmo tempo em que novas

    perspectivas so possveis quando ele se faz presente neste contexto (SOUZA, 2010).

    De acordo com Tardif (2014, p. 244), seremos reconhecidos socialmente como sujeitos do

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    conhecimento e verdadeiros atores sociais quando comearmos a reconhecer-nos uns aos outros

    como pessoas competentes, pares iguais que podem aprender uns com os outros, ou seja, as

    mudanas se tornam possveis a partir do reconhecimento pessoal acerca da prpria atuao

    profissional, e por consequncia, da valorizao do lugar do outro em sua atuao.

    4 TRANSITORIEDADES ENTRE O MASCULINO E O FEMININO

    Sayo (2005, p. 07) aponta que a concepo de profisso feminina precisa ser repensada

    porque qualquer noo sobre as mulheres implica necessariamente suas relaes com os homens.

    Compreendendo as questes de gnero como a relao entre os diversos atores, suas crenas e seus

    contextos, torna-se imprescindvel questionar o lugar que o masculino ocupa ou aparentemente

    deixa de ocupar no que se refere Educao Infantil e aos Anos Iniciais.

    No que se refere ao papel do masculino nos cuidados parentais, em geral nota-se o

    distanciamento da figura paterna, que se torna coadjuvante s funes primordialmente exercidas

    pelas mes. Soma-se a isso o contexto social e poltico do Brasil, que no favorece sua participao:

    por exemplo, s mes destinada a licena maternidade de seis meses, enquanto aos pais oferecem-

    se meros cinco dias de licena paternidade. Em outros pases5, as polticas de licena

    maternidade/paternidade so diferenciadas, mas na maior parte deles ainda favorecem as mes em

    detrimento dos pais (SOUZA, 2010).

    Carvalho (1998, p. 417) refere que a feminilidade e atitudes maternais e de cuidado tm

    sido tomadas como opostos de disciplina, controle e masculinidade. na contrariedade que

    distancia o masculino do cuidado que se encontram os sujeitos alvo deste estudo, homens que

    assumem o papel de cuidado associado educao.

    Conforme aponta Sayo (2005), o cuidado pode apresentar duas perspectivas opostas: o

    sagrado atrelado a valores universais de sobrevivncia da espcie e o profano vinculado

    ao corpo e ao afeto. Segundo a autora, a segunda perspectiva que confere ao cuidado o carter de

    tabu, gerando supostos impedimentos para que o mesmo seja executado pelo masculino,

    considerado como ameaador.

    O cuidado, entendido no seu sentido amplo, envolve as questes corporais/fsicas, afetivas e

    sociais, sendo requisito primordial para a existncia sadia de qualquer ser humano, e por isso no

    pode estar dissociado da educao (CAMPOS, 1994; GIBIM; LESSA, 2001). Em funo disso, o

    cuidado no necessariamente uma atribuio inata do feminino, mas um processo que pode e deve

    ser aprendido por todos, pois assim como as mulheres, no s os homens aprendem a cuidar, mas

    5 De acordo com Faria (2002), o primeiro pas do mundo a transformar a licena maternidade em um modelo em que

    me e pai fossem beneficiados, foi a Sucia em 1974. Desde ento, vrios pases tm adotado a licena compartilhada,

    auxiliando no combate discriminao sexual aps o parto.

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    homens diferentes cuidam de formas diferentes e mulheres diferentes cuidam de formas diversas

    (SAYO, 2005, p. 167).

    A autora ainda refere que o gnero no o nico demarcador das prticas, sejam elas

    concebidas como cuidado ou como educao (SAYO, 2005, p. 183) e que neste processo surgem

    as diferenas entre concepes de criana, infncia e papel da Educao Infantil como definidora

    de posturas e aes pedaggicas na instituio (idem). Pode-se inferir que, a partir dos valores

    socialmente construdos, que determinam aos sujeitos o que adequado ou no, tende-se a restringir

    ou ignorar outras possibilidades de atuao.

    5 MATERIAIS E MTODOS

    Por meio do delineamento qualitativo, utilizou-se a pesquisa exploratria sobre a temtica,

    visando identificar as repercusses para o masculino que atua na Educao Infantil e Anos Iniciais

    do Ensino Fundamental.

    Num primeiro momento, procedeu-se a busca pelos sujeitos da pesquisa em instituies de

    ensino localizadas na regio da Serra Gacha, contatando as Secretarias Municipais de Educao e

    solicitando que indicassem escolas que possuem homens atuando junto Educao Infantil ou Anos

    Iniciais.

    Foram identificados dois sujeitos, um Auxiliar de Educao Infantil e um Pedagogo atuando

    na regio. Os sujeitos tm faixa etria mdia de 35 anos e ambos trabalham em mais de um local e

    funo. Foi realizado o contato com os mesmos, informando sobre o estudo e convidando-os a

    participar da pesquisa. Agendou-se com cada sujeito individualmente, em horrio que julgasse mais

    adequado, para a apresentao do questionamento.

    A coleta de dados ocorreu por meio de narrativa autobiogrfica (SCHTZE, 2011), na qual

    os sujeitos foram convidados a descrever, em forma de autobiografia, o que os levou a escolher a

    profisso e como se percebem na profisso atualmente. A narrativa foi coletada por escrito, e para

    tal foi disponibilizado duas folhas de ofcio e uma caneta. Tambm foi solicitado que atribussem

    um ttulo e assinassem ao final da autobiografia. Cada participante assinou o Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido.

    Optou-se pelas narrativas, pois elas permitem ao pesquisador abordar o mundo emprico at

    ento estruturado do entrevistado, de um modo abrangente (FLICK, 2009, p. 164). Alm disso,

    conforme Schtze (2011), as narrativas biogrficas so uma boa forma de coletar dados em

    Cincias Sociais, pois podem trazer dados de ciclo de vida dos grupos de interesse da pesquisa.

    6 ANLISE DOS DADOS

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    Para fins da anlise de dados, sero apresentadas as narrativas autobiogrficas dos dois

    pesquisados, num primeiro momento de forma individual, de modo a apontar as reflexes

    desencadeadas por cada uma delas e, posteriormente, a comparao contrastiva entre as narrativas,

    demonstrando as aproximaes e as discrepncias entre os resultados encontrados.

    6.1 Um Estranho no Ninho

    Jack6 descreve em sua autobiografia alguns dos motivos pelos quais optou por trabalhar com

    crianas. Conforme ele, o fato de no ter filhos e o tempo disponvel foram os principais motivos

    para esta escolha. O pesquisado tambm descreve que uma vivncia de estgio7 anterior ao cargo

    exercido despertou seu interesse pela rea, pois se percebeu aceito pelo contexto. Ele relata que,

    aps ter atuado nas diferentes faixas-etrias da Educao Infantil, prefere atuar no Berrio I, onde

    est atualmente.

    O primeiro ponto de anlise trata-se do ttulo atribudo a autobiografia, Um Estranho no

    Ninho, expresso popular que descreve uma pessoa ou coisa que se encontra em um local ao qual

    no pertence. Supe-se que a expresso tenha origem no comportamento de algumas espcies de

    pssaros, como os cucos, que depositam seus ovos em ninhos de outras espcies, sendo o filhote

    criado por outra famlia, numa forma de parasitismo.

    A utilizao desta expresso carrega significados mltiplos, que podem ser relacionados ao

    foco do estudo. Pensando no masculino atuando na Educao Infantil, pode-se entender que o

    sujeito se reconhece como o estranho no ninho, aquele que se encontra em um espao ao qual no

    pertence, j que a predominncia do feminino.

    Por outro lado, ao ocupar esta posio, atua como o pssaro que cuida de filhotes que no

    so seus, como um pai adotivo, ao invs de ser o filhote intruso. Essa suposio tem

    consonncia com o que Jack articula como um dos indicadores (sic) da sua opo pelo trabalho

    na Educao Infantil, que vem da necessidade natural de lidar com crianas, pelo fato de eu ainda

    no ter filhos, pois eu e minha esposa temos problemas patolgicos de infertilidade (sic).

    Pode-se cogitar que o desejo de ter filhos, a expectativa social para tornar-se pai e pertencer

    ao grupo dos homens com filhos o conduzem a uma resoluo para superar (integral ou

    parcialmente) suas dificuldades com as questes biopsicossociais relacionadas infertilidade. Outro

    trecho da autobiografia refora esta ideia: me equilibro com os bebezinhos, tanto pela minha

    necessidade e sonho de poder ter um, e ser chamado de pai (sic). O papel profissional atrelado

    paternidade retoma a atuao dos religiosos que, impedidos moralmente de gerarem descendentes,

    6 Nome fictcio, escolhido em referncia ao ator Jack Nicholson, que interpretou o personagem principal no filme norte-americano One Flew Over the Cuckoo's Nest (1975), cujo ttulo no Brasil Um Estranho no Ninho. 7 O pesquisado cursava Pedagogia, curso que no concluiu at o momento.

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    exerciam a docncia como uma viso paternalista (LOURO, 1997).

    Jack refere que uma experincia como estagirio foi importante para despertar seu interesse

    pela atuao na Educao Infantil: fiz um estgio de dois anos num CEACRI centro de

    atendimento a crianas de baixa renda, e a vi que fui aceito pelas crianas e direo e colegas da

    entidade (sic). Ao que parece, Jack partiu de uma expectativa de no aceitao do masculino no

    espao educacional, mas deparou-se com o oposto disso, o que alimentou ainda mais seu desejo por

    atuar neste contexto. A aceitao social do masculino na Educao Infantil um ponto reforado

    por Jack, sobre o qual refere que atualmente se percebe como uma pessoa socialmente aceita (...)

    para esta atividade (sic).

    Por fim, o fato de Jack optar pela Educao Infantil, principalmente com atuao junto ao

    Berrio I pode estar associado crena de assexualismo da criana pequena: vejo os recm-

    nascidos mais puros e menos contaminados pelo meio (pais e sociedade) (sic), salienta ele. Outra

    reflexo possvel a partir desta fala est ligada aos pr-conceitos vindos do contexto social, pois

    mesmo sem ter relatado uma experincia discriminatria, o pesquisado supe que poderia ser

    julgado ou discriminado pelas crianas maiores.

    6.2 Minha Vida Feliz

    Para Mark8, a escolha da carreira docente reflete realizao pessoal e profissional, pois tudo

    o que tenho hoje, eu conquistei dando aula (sic). Sua trajetria profissional iniciou pelo

    Magistrio, na busca concomitante por duas licenciaturas (Pedagogia e Educao Fsica), e

    continuou em especializaes e no Mestrado em Educao. No momento Mark encontra-se em

    seleo para o Doutorado, o que reflete o desejo de contnuo aperfeioamento.

    Sobre a escolha profissional, Mark relata que houve influncia do contexto familiar: a

    docncia permeou a minha infncia uma vez que sou filho de professora e a minha irm mais velha

    divide comigo a misso de educar (sic). Para ele, as vivncias da me e da irm despertaram a

    curiosidade pela profisso. Observa-se que o interesse provm de vivncias femininas da profisso,

    o que no impediu que Mark desejasse e construsse suas prprias vivncias enquanto masculino na

    carreira docente.

    Outro ponto evidenciado pelo pesquisado a ideia de educar como uma misso, o que se

    pode relacionar origem religiosa da escola moderna e ao lugar do professor com carter

    vocacional (LOURO, 1997).

    Para Mark foi o contato com a Educao Infantil, na qual atuou por 10 anos, que o tornou

    8 Nome fictcio, escolhido em referncia ao professor Mark Thackeray, personagem principal no filme britnico To Sir, with Love (1967), cujo ttulo no Brasil Ao Mestre com Carinho.

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    de fato um homem com sentido (que deu sentido a minha profisso) (sic). Ele relata essa

    experincia como essencial, apesar de ao longo da trajetria ter vivenciado um momento de

    desconforto por estar atuando nesta faixa escolar. Sobre isso, ele apenas refere que foi um momento

    pontual, e que ao retornar entendeu que precisava do contato com as crianas: estar com as

    crianas me traz vida (sic).

    Atualmente, o pesquisado concilia diferentes trabalhos, entretanto todos ligados carreira

    docente. Ele leciona para o 4 ano, professor de Educao Fsica e tambm docente em curso de

    Graduao. Sobre essa variedade, ele diz que as atividades profissionais se contemplam, me

    complementam (sic). Mais uma vez demonstra o movimento de aperfeioamento e de autodesafio.

    6.3 Caminhos que se cruzam: a comparao contrastiva

    Jack inicia sua escrita elencando os motivos que o levaram a trabalhar com crianas, relata

    vivncias na educao anteriores ao cargo que ocupa, as percepes sobre a profisso atualmente,

    alm de apontar a preferncia pelo trabalho com os bebs, relatando que tambm trabalhou com os

    demais nveis da Educao Infantil.

    Mark, por sua vez, inicia sua autobiografia por sua infncia, apresentando as influncias

    familiares para a escolha da profisso, sua extensa trajetria de formao, do magistrio ao

    doutorado, e as diferentes experincias profissionais que possui, desde a Educao Infantil at o

    Ensino Superior. Finaliza apresentando suas percepes e sentimentos sobre a profisso que

    escolheu.

    Em ambas narrativas se percebem docentes otimistas e realizados com a carreira, o que se

    evidencia na satisfao por estar na profisso atualmente. Este foi um dos diferenciais deste

    trabalho com relao aos estudos apresentados por Carvalho (1998), Eugnio (2010) e Rabelo

    (2010), nos quais se observam discursos mais pessimistas e descontentes com relao profisso.

    Os termos utilizados nas autobiografias tambm representam a viso que cada sujeito tem

    sobre seu lugar na profisso. Enquanto Jack faz referncia ao lugar profissional e nomeia sua ao

    simplesmente como o ato de trabalhar, Mark utiliza diversas nomenclaturas como atuar, ser

    professor, estar com as crianas, lecionar e dar aula, demonstrando os distintos papis que o

    docente ocupa no espao escolar. A utilizao destes termos tambm evidencia as diferenas entre

    os pesquisados, com relao ao nvel de formao e trajetria profissional.

    Como justificativas para a escolha profissional, os pesquisados tambm apresentam

    trajetrias diferentes. Mark relata a influncia familiar das vivncias da me e da irm que o

    instigaram a optar pela misso da carreira docente. Por outro lado, para Jack a escolha parte de

    um interesse laboral, aliado a vivncia de paternidade. Existe aqui um contraponto entre a influncia

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    Seminrio Internacional Fazendo Gnero 11 & 13th Womens Worlds Congress (Anais Eletrnicos), Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X

    e o interesse pela carreira docente. Entretanto, em ambos os casos, se atravessa a origem vocacional

    atribuda ao masculino na carreira docente.

    Pode-se inferir que, nestes casos, o masculino que atua junto Educao Infantil ou Anos

    Iniciais busca realizao pessoal e/ou profissional neste espao e, de certa forma, suporte s

    questes biopsicossociais relacionadas s suas vivncias anteriores e atuais. Atrelado a isso, fica

    evidente o desejo que surge de interao com o universo infantil, exemplificado na busca por atuar

    neste espao, na profissionalizao e na vivncia afetiva evidenciada pelos relatos.

    As questes de gnero so apontadas sutilmente, na forma de estranhamento, dvida ou

    desconforto perante o lugar que ocupam, o que pode indicar certa discriminao camuflada do

    contexto. O esforo para reforar a ideia de aceitao social do profissional pode ser entendido

    como mais um indicador desta hiptese. Entretanto, ambos relatam que esto felizes com suas

    escolhas profissionais, indicando que o impacto de uma possvel discriminao pode no ser

    significativo nestes casos.

    7 CONSIDERAES FINAIS

    Observa-se que, para os sujeitos pesquisados, a docncia foi, alm de uma escolha

    profissional, uma escolha de vida. A realizao na profisso evidencia principalmente a satisfao

    que ambos tm em atuar na profisso, especialmente no que se refere aos nveis da Educao

    Infantil e Anos Iniciais.

    A pesquisa demonstrou-se efetiva por apresentar reflexes sobre as percepes dos docentes

    sobre sua prpria atuao profissional. Alm disso, permite considerar que h lacunas entre o

    reconhecimento das questes de gnero que atravessam a atuao docente do masculino e as

    alternativas para transformar essa realidade.

    Entende-se que as implicaes para o masculino que atua na docncia da Educao Infantil e

    Anos Iniciais presentes nos relatos tendem a apontar para vivncias do prprio sujeito, mas que no

    se distanciam de expectativas sociais relacionadas ao masculino de maneira geral, como pode ser o

    caso da paternidade e por consequncia, do papel de cuidador.

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    TEACHING IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION AND EARLY YEARS: CARING

    FOR AND EDUCATING IN THE PERSPECTIVE OF THE MALE

    ABSTRACT

    This study aims to understand the implications for the male who works in the teaching of Early

    Childhood Education and Early Years, a predominance of feminization. Currently, there is a

    tendency to have a small number of male teachers, especially regarding the levels of Early

    Childhood Education and Initial Years, which awakens to the relevance of the masculine analysis

    that seeks to act in this space. The aim was to address the issue of the masculine and its relationship

    with the caring / educating, aspects that guide the teaching performance with the childhood. The

    masculine in this context, when exercising a profession considered feminine, personifies the conflict

    of the social expectation. When he chooses teaching, the masculine becomes questioned by the

    social, mainly in two aspects: his professional capacity and his sexual orientation. The male teacher

    is crossed by polarizations (female / male, heterosexual / homosexual) and, occupying one of the

    poles, tends to be judged as incapable of teaching. The autobiographical narrative of teachers who

    work in Early Childhood Education and Early Years in municipalities of Serra Gacha, Brazil, is

    used as research methodology. The research allows to consider that there are gaps between the

    recognition of the gender issues that cross the teaching performance of the masculine and the

    alternatives to transform this reality.

    Keywords: Education, Caring / Educating, Male, Gender Relations