197
Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

  • Upload
    lamhanh

  • View
    256

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 2: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

resenhade política exterior do brasil

ministério das relações exteriores

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 3: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 4: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

síntese

1. O ano de 1977 marcou-se pelacontinuidade e intensificação de esforços

da diplomacia brasileira, sobretudo nasáreas de atuação consideradas de

interesse prioritário, destacando-se,especialmente, o relacionamento com as

nações da América Latina e da África.É o que afirma o Presidente Ernesto

Geisel em sua Mensagem ao CongressoNacional, na abertura da Sessão

Legislativa de 1978, onde ele assinala quea aplicação de uma política pragmática,realista e sobretudo dirigida a assegurar

as relações sempre corretas e mutuamentesatisfatórias com os países da AméricaLatina "tem sido um dos parâmetros da

política externa brasileira". O Presidentesalienta a iniciativa brasileira de propor

o Pacto Amazônico, ressalta as visitasfeitas ao Brasil pelos Presidentes da

Bolívia, Paraguai, Uruguai e Venezuela,que "prenunciam abertura de novoscampos de ação e desenvolvimentoacelerado das relações bilaterais",

e refere-se ao aumento da rede de missõesdiplomáticas na África, ao incremento

das exportações para aquele continente,à expansão dos programas de

cooperação técnica, à "firme posiçãodo Brasil quanto aos problemas de

discriminação racial e do colonialismoque persistem na África Meridional",

como fatos que dão testemunho doestreitamento das relações com os países

africanos. Geisel enfatiza ainda ointercâmbio com o Oriente Próximo,

a intensificação das relações comerciais,financeiras, científicas e tecnológicas

com os países desenvolvidos, aampliação da pauta de exportações para

o Leste Europeu, Ásia e Oceania, e ogrande número de missões oficiais quevieram ao Brasil, ou de missões brasileirasque foram ao exterior. Página 7.

2. Ao recepcionar o Presidente ErnestoGeisel, o Presidente mexicano, José LópezPortillo, destaca a semelhança degeografia, cultura e história entre oBrasil e o México, pois "pertencemos,ambos os povos, à comunidadelatino-americana que abriga desde suagestação um definido desejo de unidade".Ele sublinha que a visita do Presidentebrasileiro ao México demonstra aconsciência fraternal entre os dois povos,através da qual "abrimos novos canaisde entendimento". O Presidente brasileiro,em resposta a Portillo, declara: "Nummundo marcado por crises e apreensões,mas também pela consciência de quenovas oportunidades para uma cooperaçãomutuamente proveitosa podem serexploradas, nossos dois países se dispõema aproximar-se, tomando por base umalonga tradição de amizade, para, atravésdo diálogo e da compreensão, buscaremalargar a faixa em que os respectivosinteresses e aspirações convergem oucoincidem." Geisel observa que aexperiência histórica que o Méxicoacumulou lhe dá condições ideais paracompreender o sentido do esforço dosbrasileiros em prol da autonomiaenergética e do desenvolvimentonacional e assegura ainda que"o Brasil reconhece e valoriza o papelque o México tem desempenhado noâmbito latino-americano". Ele registra

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 5: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

também uma grande variedade de temasem que os dois países assemelham suas

posições e reafirma que, no planobilateral, são incontáveis as oportunidades

de proveito recíproco que umacooperação mais intensa entre brasileiros

e mexicanos pode ensejar. Páginas 23,167, 187 e 191.

3. Em Montevidéu, durante a assinaturade atos entre o Brasil e o Uruguai,

o Presidente Ernesto Geisel diz que acooperação brasileiro-uruguaia

desenvolve-se com invulgar dinamismoe que os dois países "perseguem, com

realismo, o objetivo comum de umacooperação crescente, em todos os setores,

entre suas forças nacionais, numapolítica sadia de integração horizontal,

baseada no respeito mútuo e queconsidera as peculiaridades de um e de

outro país". O Governo do Brasil,segundo Geisel, não poupa esforços

para manter diálogo franco e mutuamenteprofícuo com as nações limítrofes,

através de ações nacionais, binacionaise multilaterais. O Presidente Aparício

Méndez, na mesma solenidade, acentuaque os Governos brasileiro e uruguaio

têm se mantido firmes no relacionamentode amizade, "avançando, com ritmo,apoiados numa exemplar irmandade

internacional". No encontro com oPresidente do Conselho de Estado doUruguai, o Chefe da Nação brasileiraassevera que, apesar dos resultados

positivos na cooperação brasileiro-uruguaia,muito há ainda que realizar entre osdois países e acrescenta que os dois

povos acham-se empenhados em levara cabo um processo de cooperação inédito

na história sul-americana, baseado norespeito mútuo e na amizade tradicional

que une brasileiros e uruguaios. Aovisitar a sede da Alalc, o Presidente

Geisel frisa que o Governo brasileirocompartilha da visão construtiva daquele

organismo internacional e "está persuadidodo imperativo de preservarmos essa obra

multiforme de cooperação a que asconcessões tarifárias recíprocas deraminício e que, algum dia, encontrará seu

coroamento, quando alcançarmos a metade um modelo de integração plenamente

satisfatório para as nações docontinente". Geisel recorda tambémo respeito do Brasil aos compromissosassumidos no âmbito da Alalc, "muitasvezes resistindo ao assédio de problemasdo balanço de pagamentos".Páginas 47, 171 e 191.

4. O Presidente Ernesto Geisel, emBonn, ressalta que os resultadosexpressivos da cooperação teuto-brasileira"demonstram o quanto podem alcançardois países amigos quando decidem,honestamente, unir esforços em benefíciomútuo". Em sua opinião, o Brasile a RFA souberam aproveitar, de formacriadora, sua tradicional amizade e osvínculos de confiança recíproca parainstituir mecanismos de cooperaçãopacífica e mutuamente benéfica, comopor exemplo o Acordo sobre Cooperaçãonos Campos dos Usos Pacíficos daEnergia Nuclear, assinado em 1975. Porsua vez, o Presidente Walter Scheelrevela que o exemplo brasileiro inspirouconfiança ao mundo no futuro dosmodernos países em vias dedesenvolvimento e que a RFA nãopermanece alheia a esse processo decrescimento. Durante o almoço com oPrimeiro-Ministro, Helmut Schmidt, Geiselsalienta que o Brasil busca colaborar comtodos os povos, pois "estamos convencidosde que a cooperação internacional,conduzida de maneira franca e leal e quebeneficie equitativamente as partes nelasenvolvidas, serve para aproximar as naçõese contribuir para acelerar o seudesenvolvimento económico".O Primeiro-Ministro alemão dá ênfase aocrescimento político e económico doBrasil e assinala que o que foiconseguido até agora entre o Brasile a República Federal da Alemanhapode ser considerado exemplo dacooperação entre um país industrializadoe um país em desenvolvimento. Ao abriro Encontro Teuto-Brasileiro deEmpresários, o Presidente Geisel registrao dinamismo das relações comerciaisentre o Brasil e a RFA, acrescentandoque "temos pela frente enorme potencialde expansão, quer no campo do comércio,quer no do movimento de capitais".

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 6: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

O chanceler Azeredo da Silveira, noencontro com o Ministro dos Negócios

Estrangeiros da Alemanha, Hans DietrichGenscher, manifesta a opinião de quea visita do Presidente Ernesto Geisel

àquele país consolida todo o esquemade cooperação que "nós soubemos

estabelecer em um prazo relativamentecurto, que correspondia às nossas

tradições, mas que nunca tinha sidorealizado com esse ímpeto, com essa

franqueza e com esse desejo deentendimento". Genscher informa que a

intensificação das relações com os paísesda América Latina é preocupação do

Governo da RFA, pois o peso dospaíses latino-americanos, particularmente

o do Brasil, está crescendopermanentemente. Páginas 65, 180,

185 e 192.

5. Na recepção ao Presidente dosEstados Unidos, o Presidente Ernesto

Geisel destaca o relacionamento cordialentre brasileiros e norte-americanos

e considera que a presença de JimmyCárter no Brasil "é uma visita de amizade

que vem fortalecer os laços tradicionaisque unem nossos países". Para o

Presidente brasileiro, a amizade entreBrasil e Estados Unidos "é secular

e, hoje como ontem, e como amanhã, énosso desejo que ela se torne cada vezmais sólida e duradoura". O PresidenteJimmy Cárter, no Congresso Nacional,reconhece a existência de diversidade

de interesses entre os dois países, apesarde que "compartilhamos o sentimento

de que nossas nações estão ligadas entresi por correntes inquebrantáveis". Cárteracentua que o Brasil, durante os últimos

anos, "alcançou uma completapercepção de sua exata posição, seupapel legítimo no contexto mundial,embora não tenha ainda atingido os

limites de sua enorme potencialidade".O Presidente Geisel, na entrevista à

CBS, dos Estados Unidos, explica queum melhor conhecimento sobre o Brasilpor parte dos norte-americanos poderia

ser muito útil para melhorar odesenvolvimento das relações entre os

dois países. Por esse motivo, eleacredita ser importante a visita de

Cárter ao Brasil, pois "o contacto direto,o diálogo, permite que as pessoas secompreendam melhor". Página ,107.

6. "Bem sabemos como é complexa1 atarefa de harmonizar vontades soberanasaté de dois parceiros apenas. O que nãodizer, pois, de oito países compersonalidade própria e pontos de vistaparticulares, diante do desafio inéditode, pela primeira vez na História,representar o conjunto da Amazónia emtorno de uma mesa de negociação. E, •no entanto, através da diversidade desituações, emergiu, constante, o espíritode mútua compreensão e de concórdiaque caracterizou, como nota invariável, odesenrolar dos debates." A declaraçãoé do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, António F. Azeredo da Silveira,ao encerrara II Reunião Preparatória isobre Cooperação Multilateral na ! • ••Amazónia, realizada em Brasília, emmarço. Silveira aponta a aceitação daproposta brasileira, que, já na segundarodada de reuniões, deixou de ser umprincípio abstraio para passar ao"terreno concreto das formulaçõesjurídicas" e assinala faltarem poucospontos para se chegar a um consensoque consolide o texto do PactoAmazônico. Ao finalizar, o Chancelerbrasileiro evoca "não o otimismo maso realismo, pois estou seguro de que,a esta altura do processo, temos fundadasrazões para contar com o início breve deuma nova e promissora era na Históriada cooperação e da amizade entre asnações amazônicas". Páginas 125,186 e 193.

7. Em carta encaminhada ao Ministrodos Negócios Estrangeiros da Austrália,Andrew Peacock, o Chanceler Azeredoda Silveira pondera que apesar doprogresso das relações económicas entreos dois países, o pleno potencial desserelacionamento está longe de ter sidoatingido, pois, em sua opinião, existemdiversas oportunidades promissoraspara a cooperação brasileiro-australianano campo dos recursos minerais,agricultura e tecnologia, as quais

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 7: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

poderiam proporcionara base para umrelacionamento fundamentado na

complementaridade. "Estou certo —transmite Silveira ao seu colega

australiano — de que posso contarcom o apoio de seu Governo, como eulhe asseguro o apoio do meu Governo,para encorajar e facilitar, sempre que

apropriado, a feitura de ajustesinstitucionais que ampliariam as

perspectivas de concretização destasoportunidades." Em resposta, o Ministro

Andrew Peacock concorda com anecessidade de "formas aperfeiçoadas

de cooperação internacional no tocanteao comércio de produtos primários",

bem como a necessidade de umestreitamento das relações económicase comerciais entre Brasil e Austrália, e

assegura partilhar da opinião doChanceler Azeredo da Silveira quanto àpossibilidade de que as diferenças dos

contigentes populacionais e de mercadosconsumidores entre os dois países

"deveriam proporcionar uma base paraum relacionamento fundamentado na

complementaridade, o que poderiacontribuir grandemente para o

desenvolvimento de setores económicosespecíficos, aumentando a produtividade

e competitividade destes e elevando osníveis de emprego de ambos os

países". Páginas 129 e 178.

8. O Chanceler Azeredo da Silveira, nacerimónia de assinatura de atos entre

o Brasil e o Paraguai, afirma que odocumento realça a tradicional

preocupação dos brasileiros e paraguaiospelo cumprimento dos atos internacionaisvigentes e atesta o permanente empenho

de ambos os Governos em resolversatisfatoriamente, atendendo aos direitos e

interesses de cada país, as questões quesurgem inevitavelmente da proximidadegeográfica, do aumento do intercâmbio

e da intimidade de seus relacionamentos."O elenco de tais realizações concretas,

por si só tão expressivo, é aindaqualitativamente enriquecido pelo altograu de amadurecimento alcançado norelacionamento brasileiro-paraguaio esignificativamente realçado pelo climade entendimento fraterno e efetivo queo preside", acrescenta Azeredo daSilveira, para quem "esse espírito deentendimento, mercê de um convíviofranco e intenso, reflete, assim, nãosomente o dinamismo que caracterizaos projetos em que estamos empenhados,mas, principalmente, a atmosfera fraternaem que se desenvolvem nossas relações".O Chanceler Alberto Nogués respondedizendo que, pelo Tratado de Amizade eCooperação "estão dadas as condiçõesque nos estimulam a percorrer um largoe fecundo caminho, paralelo à marchaque empreendemos em Itaipu, portentosaempresa que enche de legítimo orgulhonossos dois Governos, tanto peloinusitado valor de sua magnitude física,como pela transcendente dimensão deseu significado político". Páginas 137,176 e 191.

9. Durante solenidade comemorativado cinquentenário da criação do Serviçode Fronteiras do Ministério dasRelações Exteriores, o Chanceler Azeredoda Silveira assinala que a demarcaçãode mais de 16 mil quilómetros dafronteira brasileira foi feita de modopacífico, fato que "constitui obrade primeira magnitude, possivelmenteuma das maiores realizações dadiplomacia contemporânea". OEmbaixador Álvaro Teixeira Soares,na mesma solenidade, conta a históriado Serviço de Fronteiras do Itamaratyao longo dos seus 50 anos de existência,recordando desde os primeirostrabalhos demarcatórios até sua atuaçãomais recente, no âmbito de umapolítica que "se traduz no propósitode aplainar e desenvolver comunicaçõescom os países vizinhos". Página 141.

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 8: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

américa latina e áfrica,áreas prioritárias

da diplomacia brasileiraTrecho sobre política externa brasileira, extraído daMensagem do Presidente Ernesto Geisel ao CongressoNacional, na abertura da Sessão Legislativa, em 1.° demarço de 1978.

As profundas transformações do cenário in-ternacional nas últimas décadas, com amultiplicação do número de novos Esta-dos e a crescente importância do Brasil,fruto do desenvolvimento interno e da con-sequente ampliação da faixa de interessesexternos, aumentam o grau de participaçãoe as responsabilidades do País no concertodas nações. Para responder a esse desafiofaz-se necessária uma diplomacia moderna,ágil e eficiente que, inspirada nos valoresda civilização ocidental e numa visão clarados interesses e das prioridades do País,seja capaz de colaborar, através da integra-ção com os demais membros da comunida-de internacional, tanto bilateralmente quan-to no seio dos organismos e das conferên-cias multilaterais, para a consecução dosobjetivos nacionais.

O ano de 1977 marcou-se pela continuidadee intensificação de esforços da diplomaciabrasileira, sobretudo nas áreas de atuaçãoconsideradas de interesse prioritário. Entreestas destaca-se o relacionamento com na-ções irmãs da América Latina e da África,às quais se liga o Brasil não só pela proxi-midade geográfica, mas também por heran-ça histórica e cultural comum. De impor-tância também são a continuada expansão

e diversificação das exportações e a capta-ção, junto a países desenvolvidos e orga-nismos financeiros internacionais, de capi-tais e conhecimentos tecnológicos, elemen-tos indispensáveis ao desenvolvimento na-cional. Participa o Brasil do esforço conjun-to com os países em desenvolvimento paramodificar, através de intenso diálogo comos desenvolvidos, as regras do comércio in-ternacional e alterar a distribuição mundialdos conhecimentos científicos e tecnológi-cos; acredita que a luta pela paz deve de-senvolver-se paralelamente tanto no planopolítico, nas negociações que visem a umdesarmamento real, quanto no plano eco-nómico, pois, na verdade, não pode haverpaz verdadeira sem que se tenham corrigi-das as graves distorções que separam ospaíses desenvolvidos do resto da humani-dade.

as grandes linhas de ação

No âmbito da América Latina, a aplicaçãode uma política pragmática, realista e so-bretudo dirigida a assegurar relações sem-pre corretas e mutuamente satisfatóriastem levado a um progressivo estreitamentodos laços entre o Brasil e seus vizinhos do

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 9: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

continente americano. Neste contexto cabesalientar a iniciativa brasileira de propor aconclusão de pacto amazônico, destinado apropiciar mecanismo adequado para trata-mento dos importantes problemas peculia-res à área. Intensificaram-se os contatoscom as altas autoridades latino-americanas,cabendo lembrar, particularmente, as visitasdos Presidentes da Bolívia, do Paraguai, doUruguai e da Venezuela que, através dosentendimentos então mantidos, numerosose importantes acordos assinados, prenun-ciam abertura de novos campos de ação edesenvolvimento acelerado das relações bi-laterais.

Paralelamente, a diplomacia brasileira temtrabalhado para ampliar os contatos com asnações africanas, às quais o País une-se portraços e interesses comuns. O aumento darede de missões diplomáticas na África, oincremento das exportações para aquelecontinente, a expansão dos programas decooperação técnica, a firme posição do Bra-sil quanto aos problemas de discriminaçãoracial e do colonialismo que persistem naÁfrica Meridional dão testemunho do estrei-tamento das relações com os vizinhos afri-canos.

O intercâmbio com o Oriente Próximo con-tinuou a desenvolver-se satisfatoriamente,sendo de assinalar a troca de visitas minis-teriais com o Iraque, e a assinatura de umimportante acordo comercial com o Irã.

Com os países desenvolvidos, as relaçõesdo Brasil continuam a se intensificar, par-ticularmente nos campos comercial, finan-ceiro e da cooperação científica e tecnoló-gica. Os programas relativos aos acordos econtratos firmados por ocasião das visitaspresidenciais à França, ao Reino Unido e aoJapão, em 1976, encontram-se em fase deimplementação, ao passo que com os Esta-dos Unidos da América manteve-se a polí-tica de contatos frequentes, especialmenteúteis para assegurar conhecimento e com-preensão de interesses e posições de cadaparte.

Com o leste europeu prosseguiu a políticade desenvolvimento das correntes de comér-cio, não só em volume, mas, sobretudo, me-diante ampliação da pauta de exportações

do País, contribuindo, assim, para diversifi-cação dos mercados para produtos brasilei-ros e das fontes de importações.

No domínio multilateral participou o Brasilativamente das reuniões das Nações Uni-das e das conferências internacionais espe-cializadas, nas quais procurou sempre, emcoordenação com os demais países em de-senvolvimento, conduzir debates e negocia-ções sobre temas ali tratados, de naturezapolítica, económica, comercial, científica oucultural, de conformidade com os ideais eos interesses superiores da nação.

américa latina

O relacionamento especial com os vizinhosda América Latina tem sido um dos parâ-metros da política externa brasileira. A Ar-gentina continua sendo o principal parceirocomercial na América Latina: análise do in-tercâmbio bilateral vem revelando que oBrasil figura como segundo principal com-prador de produtos da Argentina e seu ter-ceiro fornecedor.

A convite do Governo brasileiro, visitou ofi-cialmente o Brasil de 6 a 7 de julho o Pre-sidente do Uruguai, Aparício Méndez. Naoportunidade, os dois chefes de Estado pre-sidiram a cerimónia de assinatura de im-portantes atos bilaterais de atuação integra-da na área da bacia da Lagoa Mirim — oTratado de Cooperação para Aproveitamentodos Recursos Naturais e o Desenvolvimentoda Bacia da Lagoa Mirim (Tratado da Ba-cia da Lagoa Mirim) e o protocolo paraaproveitamento dos recursos hídricos dotrecho limítrofe do rio Jaguarão, anexo aoTratado (Protocolo do Rio Jaguarão). Naocasião, rubricou-se o Estatuto da Comis-são Mista Brasileiro-Uruguaia para o De-senvolvimento da Bacia da Lagoa Mirim.

No contexto das relações brasileiro-chile-nas, assinale-se a visita ao Chile, no mês demarço, do Ministro de Estado da Aeronáu-tica. De 17 a 24 de março esteve tambémno Chile o Chefe do Estado-Maior da Arma-da. De 7 a 10 de novembro realizou-se, emBrasília, a IV Reunião da Comissão Especialde Coordenação Chileno-Brasileira.

8

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 10: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

No ano de 1977 as relações brasileiro-para-guaias se mantiveram no mesmo nível deentendimento e colaboração recíproca queas tem caracterizado. No plano político me-rece especial destaque o encontro presi-dencial, em abril, no Rio de Janeiro. Esseencontro, o quinto que realizam os dois che-fes de Estado, deu ocasião a novas e frutuo-sas conversações sobre temas da atualidadeinternacional, de interesse de ambos ospaíses na esfera regional e bilateral.

No contexto multilateral da bacia do Prata,o Brasil continuou a prestar, durante o anode 1977, todo apoio às iniciativas destinadasa tornar mais efetivos os mecanismos decooperação previstos nos marcos institucio-nais vigentes. Nesse quadro, foi atuante aparticipação do Brasil nas medidas desti-nadas à implementação do Fundo Financei-ro, tendo efetuado, inclusive, em 1977, opagamento da parcela correspondente aoprimeiro exercício de seu funcionamento.Foi, assim, com fundamentado interesseque o Brasil participou da IV Reunião deChanceleres dos Países da Bacia do Prata,aportando aos seus trabalhos, que transcor-reram em clima de grande cordialidade,uma contribuição operativa e eficaz.

As relações Brasil-Bolívia foram assinala-das, de maneira especial, pela visita oficialao Brasil do Presidente da República da Bo-lívia e deu ocasião à assinatura de Tra-tado de Amizade, Cooperação e Comércio;de Convénio de Assistência Recíproca paraa Repressão do Tráfico Ilícito de Drogasque Produzem Dependência; de Convéniode Sanidade Animal para Áreas de Frontei-ra; de Ajuste Complementar ao Acordo Bá-sico de Cooperação Técnica, referente à co-operação em matéria de telecomunicaçõese serviços postais; e de Acordo por Trocade Notas Complementar ao Acordo de Co-operação e Complementação Industrial, de22 de maio de 1974. Entrou em vigor, naoportunidade da visita presidencial, o Acor-do sobre Cooperação Sanitária, assinado em8 de junho de 1972.

Prosseguindo a política de aproximação coma Colômbia e em cumprimento do AcordoBrasileiro-Colombiano sobre Carvão, de 18de junho de 1976, continuaram, no âmbitodo Comité Conjunto estabelecido segundo

aquele instrumento, os entendimentos rela-tivos à implementação da parte inicial doprograma previsto para prospecção de car-vão coqueificável naquele país e a viabili-dade técnica, económica e jurídica de suaexploração e comercialização, medianteeventual associação binacional de capitais.

No que se refere ao Equador, as relaçõescaracterizam-se por alto nível de entendi-mento, dentro do qual delegações dos doispaíses deram prosseguimento às negocia-ções para venda à Petrobrás de óleo cru epara fornecimento de bens e serviços brasi-leiros ao mercado equatoriano.

O Governo brasileiro deu início a estudos,com o Governo guianense, relativos à pre-paração da reunião da Comissão Mista Bra-sil-Guiana.

As relações brasileiro-peruanas demonstra-ram elevado padrão de entendimento: a vi-sita a Brasília do Ministro das Relações Ex-teriores do Peru e a IV Reunião da Comis-são Mista Brasileiro-Peruana de CooperaçãoEconómica e Técnica.

Brasil e Suriname estabeleceram contatosiniciais com vistas à realização da primeirareunião da Comissão Mista Brasil-Surina-me, instituída pelo Tratado de Amizade,Cooperação e Comércio, de 22 de junho de1976.

No que se refere à Venezuela, as relaçõesalcançaram altos níveis de entendimentocom a visita oficial do Presidente CarlosAndrés Pérez ao Brasil, entre os dias 16 e20 de novembro. Por ocasião da visita fo-ram assinados os seguintes instrumentos:Convénio de Amizade e Cooperação, Acordode Assistência Recíproca para Repressão doTráfico Ilícito de Drogas que produzem De-pendência, Acordo Complementar ao Con-vénio Básico de Cooperação Técnica emMatéria Sanitária para o Meio Tropical,Acordo Complementar ao Convénio Básicode Cooperação Técnica no campo daciência e tecnologia, e Troca de Notasque estabelece o quadro operacional parao funcionamento de sucursais bancá-rias em um e outro país. A visita, a primeiraque realizou ao Brasil um chefe de Estado

9

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 11: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

venezuelano, significou o propósito dos doisgovernos de estimular as relações bilaterais.

Dando sequência à política de progressivaaproximação com países da bacia Amazô-nica, o Brasil lançou a ideia de um acordo-quadro, amplo e flexível, capaz de não sóregular o que existe na matéria, mas, so-bretudo, de estimular novas áreas de açãoconjunta. O Ministério das Relações Exte-riores do Brasil encaminhou, nesse sentido,projeto de um Acordo da Região Amazôni-ca aos sete países da área-. Bolívia, Peru,Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana eSuriname. A convite do Governo brasileiro,delegações desses países participaram, emBrasília, de 28 a 30 de novembro, de Reu-nião Preparatória sobre Cooperação Multi-lateral na Região Amazônica. O encontroconsistiu na primeira reunião em nível re-gional realizada até hoje, com presença detodos os países amazônicos, e representoudemonstração eloquente da receptividadegeral da iniciativa brasileira.

A área da América Central e do Caribe con-tinua a merecer a atenção especial dadiplomacia brasileira. As relações com oMéxico evoluíram no ambiente de amizadee cordialidade que as tem caracterizado eque foi responsável pelos resultados positi-vos da IV Reunião da Comissão Mista, reali-zada no mês de maio, na cidade do México.Em agosto visitou o Brasil o Vice-Presidenteda Guatemala que, em nome do PresidenteKjell Laugend Garcia, condecorou o Presi-dente da República com o Grande Colar daOrdem de Quetzal. Em janeiro foi abertaembaixada na Jamaica, com sede em Kings-ton e, em junho, apresentou credenciais oprimeiro Embaixador do Brasil residentenaquela capital. O Ministro de Estado dasRelações Exteriores visitou oficialmenteTrinidad e Tobago, em outubro. No comu-nicado conjunto divulgado ao final da visi-ta do Chanceler brasileiro foi citada, entreoutros pontos, a concordância recíproca emadotar política de estreita colaboração eprosseguir francas e abertas consultas sobretemas de interesse comum.

A atuação do Brasil no Sistema EconómicoLatino-Americano — SELA — tem-se efeti-vado através da participação ativa no Comi-té de Ação de Apoio ao Programa de Recons-

trução da Guatemala. Outrossim, o Brasiltem acompanhado atentamente as ativida-des relacionadas com os demais comitésde ação já instalados ou em vias de instala-ção no âmbito do SELA, bem como as daIII Reunião do Conselho Latino-Americano,órgão máximo do Sistema.

Continuou o Brasil a prestigiar a AssociaçãoLatino-Americana de Livre Comércio —ALALC. A assiduidade e interesse dos téc-nicos governamentais foram acompanhadospor comparecimento de empresários, emnúmero até então inigualado, às reuniõessetoriais. No atinente a compromissos nocampo tarifário, sobretudo, o aumento dasmargens de preferências em favor dos pro-dutos negociados na ALALC, reorientarampara fornecedores da zona de livre comérciocorrentes de intercâmbio antes mantidascom outras áreas. Em consequência, chegoua registrar-se tendência deficitária no co-mércio do Brasil com a ALALC. Esse aspectonão escapou à atenção do Governo brasileiroe foi posto em evidência nos contatos bila-terais.

A Organização dos Estados Americanos —OEA — constitui um foro de grande impor-tância para o debate das questões de inte-resse da América em seu conjunto, já quedela fazem parte tanto a América Latinaquanto os Estados Unidos da América. NaVII Assembleia Geral Ordinária, realizadaem julho, em Granada, foram aprovadas re-soluções de especial relevância, notadamen-te em matéria de cooperação hemisféricadiante das disposições da Lei de ComércioExterior dos Estados Unidos e no campo dosdireitos humanos. Cumpre registrar, ade-mais, a eleição do Brasil, por aclamação,para a Comissão Interamericana de Solu-ções Pacíficas. Em setembro, realizou-se nasede da OEA, em Washington, solenidadede assinatura do Tratado sobre o Canal doPanamá, celebrado entre os Estados Uni-dos da América e a República do Panamá.Em representação do Governo brasileiro es-teve presente o Vice-Presidente da Repú-blica, Adalberto Pereira dos Santos.

O Brasil ratificou, em abril, o Protocolo deReformas do Tratado Interamericano de As-sistência Recíproca — TIAR, que fora fir-

10

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 12: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

mado na Costa Rica em 1975. O Protocolo,que entrará em vigor quando ratificado pordois terços dos Estados signatários, incluium item específico sobre segurança econó-mica coletiva para o desenvolvimento, decuja iniciativa participou ativamente oBrasil.

áfrica

De conformidade com as diretrizes traça-das, a cooperação do Brasil com os paísesafricanos foi aprofundada durante 1977 eabrangeu não somente os campos econó-mico e tecnológico mas também o político,em que o País continuou a prestar decididoapoio à causa da eliminação da discrimi-nação racial e dos remanescentes do colo-nialismo. As relações comerciais, por outrolado, continuaram a se intensificar, com asexportações brasileiras apresentando signi-ficativas taxas de crescimento. Durante1977 os primeiros embaixadores do Brasil noAlto Volta, no Benin e na Guiné apresenta-ram suas credenciais, passando a exercersuas funções em caráter cumulativo com achefia das missões diplomáticas em Abid-jan, Lagos e Dacar, respectivamente.

Entre as numerosas visitas ao Brasil de au-toridades africanas destacam-se as do Pre-sidente do Senegal, que veio acompanhadopelos Ministros dos Negócios Estrangeirose do Desenvolvimento Industrial e Meio Am-biente; do Ministro das Relações Exterioresda Nigéria, do Emir de Kano, Chefe religio-so tradicional de importante região da Ni-géria; do Secretário-Geral do Ministériodas Comunicações da Nigéria; do Ministrodos Negócios Estrangeiros do Togo; do Mi-nistro da Educação Nacional da Costa doMarfim; do Secretário de Estado do Comér-cio e do Turismo de Gana; do Ministro doComércio, Indústria e Transportes da Li-béria.

Marcando sua presença em eventos diver-sos que se realizaram na África ocidental ecentral, o Brasil se fez representar no IIFestival Mundial de Artes e Cultura Afro-Ne-gras, em Lagos, na Conferência Mundial deAção Contra o Apartheid, em Lagos; na IFeira Internacional de Lagos; no XVII Con-

gresso do Instituto Internacional de Ciên-cias Administrativas, em Abidjan; nas ceri-mónias de coroação do Imperador BokassaI, do Império Centro-Africano.

Foram dados ainda importantes passos comvistas a estimular as relações comerciaiscom as nações da África Ocidental, tais co-mo a inauguração, em fevereiro, de agênciado Banco Real em Abidjan, o primeiro ban-co privado brasileiro a se instalar no conti-nente africano, a inauguração, em junho, dalinha aérea regular e direta entre o Rio deJaneiro e Lagos e a assinatura, em novem-bro, de acordo comercial com a Libéria.

O relacionamento com os países africanosde expressão portuguesa se desenvolve deforma extremamente auspiciosa e significa-tiva, em todos os campos, em particular nodo intercâmbio comercial e da cooperaçãotécnica. Apoiando essa expansão do inter-câmbio comercial, o Brasil participou, comêxito, da Feira Internacional de Maputo,Moçambique, em agosto e setembro. Duran-te a visita do Ministro da Educação de Ca-bo Verde, em abril, foi assinado um AcordoBásico de Cooperação Técnica e Científica,que veio fornecer um enquadramento insti-tucional a programas que já se vinham de-senvolvendo. Por outra parte cresceu, quan-titativa e qualitativamente, a cooperaçãocom Guiné-Bissau, ao mesmo tempo emque se iniciaram importantes entendimentose programas de cooperação com São Tomée Príncipe, Angola e Moçambique, nos cam-pos da agricultura, indústria e comércio.Para tratar de diversos aspectos das rela-ções de seus respectivos países, visitaram oBrasil delegações de Angola, Moçambique,Guiné-Bissau e Cabo Verde. Em maio, dele-gação brasileira deslocou-se a Luanda, on-de concluiu negociações para a assinaturade um Acordo de Transportes Aéreos entreBrasil e Angola. Foram igualmente iniciadosentendimentos com vistas à celebração deum acordo sobre transportes marítimos en-tre os dois países.

Além da cooperação bilateral, o Brasilapoiou sistematicamente nos órgãos compe-tentes das Nações Unidas todas as iniciati-vas de assistência multilateral aos paísesde língua portuguesa.

11Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 13: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

No campo político, o Brasil, prosseguindona orientação há muito estabelecida, deufirme apoio à causa da eliminação do ra-cismo e dos resquícios do colonialismo naÁfrica. Participou da Conferência Interna-cional de Apoio aos Povos do Zimbabwe eda Namíbia, em Maputo, e da ConferênciaMundial de Ação contra o Apartheid, em La-gos. No Conselho de Segurança das Na-ções Unidas o Brasil, em nome da AméricaLatina, manifestou sua veemente condena-ção às agressões praticadas contra Moçam-bique por tropas rodesianas. Internamenteforam tomadas medidas legais e adminis-trativas adicionais para assegurar a maisestrita observância às sanções internacio-nais contra o regime da Rodésia. Foramigualmente adotadas medidas necessáriaspara aplicação do embargo obrigatório devenda de armas e munições à África do Sul,em observância à resolução do Conselho deSegurança da ONU.

missão governamental iraniana, destinada aestudar possibilidade de criação de novacompanhia brasileiro-iraniana de navega-ção, com vistas a facilitar o transporte demercadorias entre os dois países.

Outro país do Oriente Próximo com o qualse desenvolvem relações profícuas é o Ira-que, principal fornecedor de petróleo aoBrasil. No decorrer de 1977, firmaram-sedois importantes instrumentos diplomáticos:o Acordo sobre Transportes Aéreos e oAcordo de Cooperação Económica e Téc-nica.

No quadro do crescente aperfeiçoamentodas relações bilaterais, o Governo da Ará-bia Saudita, em iniciativa pioneira, conce-deu empréstimo, em termos concessionais,de riais sauditas equivalentes a US$ 55 mi-lhões ao Governo brasileiro.

oriente próximo

Como decorrência de um esforço conjugadode vários setores do Governo verificou-se,em 1977, maior aproximação com os paísesdo Oriente Próximo, sobretudo no campo co-mercial e da cooperação técnica. Realizou-se intensa troca de visitas governamentaise empresariais, entre as quais cumpremencionar especialmente a do Ministro daIndústria e do Comércio do Iraque e a Ar-gélia.

O estreitamento e diversificação das rela-ções econômico-comerciais com o Irã teveapreciável impulso durante 1977, pelo iní-cio da implementação de um programa decooperação delineado no âmbito da Comis-são Mista Ministerial de Cooperação Econó-mica e Técnica, e que cobre os setores agrí-cola, industrial, comercial, de serviços e f i -nanceiro. Estima-se que, nos primeiros cincoanos de operação, o valor global do comér-cio entre os dois países atingirá valor apro-ximado de US$ 6,5 bilhões. O acordo co-mercial assinado pelos dois Governos, emBrasília, a 22 de junho de 1977, deverá com-por o quadro institucional em que se pro-cessará o incremento do intercâmbio brasi-leiro-iraniano. Em outubro, visitou o Brasil

estados unidos da américa e canada

O relacionamento entre o Brasil e os Esta-dos Unidos da América se tem sempre ca-racterizado pela consciência da comunida-de de valores e ideais que inspiram e nor-teiam as duas nações e pelo reconhecimen-to mútuo das características próprias de ca-da povo.

O ano de 1977 foi marcado por frequentescontatos de autoridades brasileiras e nor-te-americanas. Em março visitou oficialmen-te o Brasil o Subsecretário de Estado. Emjunho veio ao País a senhora esposa doPresidente dos Estados Unidos que, na qua-lidade de Enviada Especial do primeiromandatário americano, expôs as ideias doPresidente sobre os grandes temas de in-teresse interamericano e mundial, na pautada política externa de seu país. Com o Se-cretário de Estado manteve o Ministro deEstado das Relações Exteriores do Brasilquatro encontros: em maio, em Paris, du-rante a Conferência sobre Cooperação Eco-nómica Internacional-, em junho, no decor-rer da Assembleia Geral da OEA, em Grana-da; em setembro, durante a Assembleia Ge-ral das Nações Unidas; e, em novembro, por

12

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 14: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

ocasião da visita do senhor Vance a Bra-sília. Paralelamente a esses contatos vie-ram ao País, em maio, o Secretário-Assis-tente para Assuntos Interamericanos, e, emagosto, delegações do Senado e Câmara deRepresentantes dos Estados Unidos daAmérica. Em setembro, no âmbito do memo-rando de entendimento assinado em 1976,reuniu-se em Washington a IV Sessão doSubgrupo Consultivo da Comissão Brasil-Estados Unidos da América.

Em 11 de março, por considerar inaceitáveisas novas condições da legislação norte-americana no que respeita à prestação deassistência militar, o Brasil denunciou oAcordo de Assistência Militar, firmado comos Estados Unidos em 1952. Como decorrên-cia dessa denúncia, o Brasil efetuou, em 19de setembro, a rescisão do Contrato, de 7de maio de 1942, sobre a missão naval nor-te-americana; a denúncia do Acordo, de 1.°de agosto e 20 de setembro de 1955, sobrea Comissão Militar Mista Brasil-EstadosUnidos da América; e a do Acordo, de 27de janeiro de 1967, sobre materiais cedidospelo Acordo de Assistência Militar de 1952.Por superado foi igualmente denunciado, naoportunidade, o Acordo para o Preparo deMapas Cartográficos e Cartas Aeronáuticas,de 2 de junho de 1952.

O Ministro das Relações Exteriores do Ca-nadá realizou visita oficial ao Brasil, em ja-neiro de 1977. Na oportunidade foram assi-nados entre os dois países memorando deentendimento relativo ao II Programa Na-cional de Cooperação Técnica com o Cana-dá 1977/1981 e memorando de entendimen-to sobre cooperação tripartite, objetivandocoordenar esforços e recursos comuns comvistas à cooperação técnica com países emdesenvolvimento que manifestaram interes-se nessa forma de cooperação. Ainda nessaocasião, os Ministros das Relações Exterio-res e da Fazenda do Brasil e o Ministro dasRelações Exteriores do Canadá assinaramacordo de empréstimo para financiamentode programa de treinamento, assistênciatécnica e administração de projetos, assimcomo aquisição de equipamento nas áreasde telecomunicação, eletricidade, minera-ção e consultoria técnica.

europa ocidental

Em 1977 continuaram a desenvolver-se asrelações do Brasil com a Europa Ocidental.Através da implementação do Acordo deCooperação no campo dos Usos Pacíficosda Energia Nuclear e da ampliação dosconvénios complementares ao Acordo Geralsobre Cooperação nos Setores da Pesquisae do Desenvolvimento Tecnológico, estreita-ram-se, ainda mais, as relações com a Re-pública Federal da Alemanha. Em maio, oMinistro do Trabalho visitou a RepúblicaFederal da Alemanha, quando manteve con-versações com o seu homólogo daquela na-ção e contatou entidades afetas à sua Pas-ta. Realizou-se em outubro, em Bonn, a VIIReunião da Comissão Mista Teuto-Brasilei-ra de Cooperação Científica e Tecnológica,tendo, na oportunidade, o Secretário-Geraldo MRE, chefe da delegação brasileira,mantido contatos com autoridades ministe-riais alemãs. Já em novembro teve lugar emBonn a IV Reunião da Comissão MistaTeuto-Brasileira de Cooperação Económica,durante a qual se tratou do financiamentodos investimentos alemães no Brasil, e seacordou o estudo de fórmulas tendentes aincrementar as exportações brasileiras paraaquele país.

Cabe registrar igualmente as visitas ao Rei-no Unido dos Ministros das Minas e Ener-gia, em maio, e da Indústria e do Comércio,em junho. Por sua vez, estiveram no Brasilo Ministro do Comércio do Reino Unido e oSubsecretário Parlamentar do Ministério daSaúde e Assistência Social daquele país.

Em outubro, esteve em visita oficial ao Bra-sil o Ministro dos Negócios Estrangeiros daDinamarca. Também nesse mês foi recebi-do em Brasília o Enviado Especial do Go-verno da Suécia.

No que concerne à França, cabe assinalaras visitas do Presidente da Assembleia Na-cional, em novembro, e do Enviado Pessoaldo Presidente Giscard d'Estaing, SenhorMichel Poniatowski. As conversações do Se-nhor Poniatowski em Brasília, a 27 de outu-bro, incluíram troca de opiniões sobre a si-tuação internacional, bem como cuidaramda preparação da próxima reunião da Gran-

13

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 15: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

de Comissão Brasil-França, a realizar-se em1978. Esteve também em Brasília, em abril,o Secretário de Estado junto ao Primeiro-Ministro da França.

Em fevereiro, visitou Brasília o Ministro dasRelações Exteriores dos Países Baixos, quemanteve conversações com o Ministro dasRelações Exteriores do Brasil.

Quanto às relações com a Espanha desta-ca-se a visita ao Brasil, em março, do Mi-nistro do Comércio, bem como a realizaçãoem Madri, em junho, da II Reunião da Co-missão Mista Económica Brasil-Espanha.

Em maio esteve em visita à Áustria o Mi-nistro das Minas e Energia, ocasião em quefoi assinado o novo contrato para exporta-ções brasileiras de minério de ferro.

Manteve também conversações proveitosasno Brasil o Subsecretário de Relações Exte-riores da Itália.

Registrou-se, por outro lado, o primeiro lan-çamento de bónus do Governo brasileiro nomercado suíço, a cuja cerimónia de assina-tura, no mês de novembro, em Genebra,compareceu o Ministro da Fazenda.

Finalmente, as relações entre o Brasil ePortugal continuaram a se desenvolver emclima de amizade, respeito mútuo e objeti-vidade. Nesse sentido, as três reuniões doGrupo de Contato Intergovernamental Bra-sil-Portugal contribuíram para o encaminha-mento de soluções quanto aos investimen-tos recíprocos.

europa oriental

Dentro da meta governamental de expandiras exportações entre o Brasil e os paísesdo leste europeu, desenvolveu-se, primor-dialmente, no sentido de ampliar e diversi-ficar o intercâmbio, inclusive através da in-clusão gradativa na pauta comercial de pro-dutos manufaturados e semimanufaturados.Procurou, ademais, o Governo brasileirodesenvolver novos mecanismos que possi-bilitem implementação de uma política co-mercial adaptada às peculiaridades do in-tercâmbio com a Europa Oriental.

A ação comercial brasileira se processa sobcoordenação da Comissão de Comércio coma Europa Oriental — Coleste, a qual foireestruturada para melhor atender às ne-cessidades atuais e futuras do intercâmbiocomercial com os países daquela área. En-trementes, o Decreto n.° 79.650, de 4 demaio de 1977, reformulou e ampliou atri-buições e composição do colegiado. Comesses novos poderes a Coleste deverá, em1978, ampliar sua atuação comercial no lesteeuropeu.

Nos meses de abril e junho realizaram-seas reuniões das comissões mistas entre Bra-sil e Polónia, Bulgária, Roménia e URSS.Nesses encontros, reforçou-se a cooperaçãoentre o setor público e a iniciativa privadapara o melhor aproveitamento das oportu-nidades comerciais nesses países. Realizou-se igualmente em Varsóvia, em setembro, aPrimeira Sessão do Comité Misto criadopelo Acordo de Transporte Marítimo Brasil-Polônia.

Atendendo à conveniência dos interessesnacionais, foram negociados e assinadosem julho os acordos de comércio com lu-goslávia e Tchecoslováquia, estabelecendomudança no sistema de pagamento regula-dor das relações comerciais, o qual passoude moeda de convénio para a de livre con-versibilidade.

Como resultado do apoio governamental àsiniciativas de companhias de comércio ex-terior privadas, foram assinados por consór-cio de tradings brasileiras, lideradas pelaCobec, e autoridades estatais da Hungriae da Polónia, memorandos de entendimentoprevendo, em cada caso, um fluxo de co-mércio da ordem de US$ 500 milhões emperíodo de cinco anos.

Missões técnicas e comerciais de países daEuropa Oriental estiveram no Brasil em1977, merecendo ser destacado o alto níveldas delegações que compareceram em no-vembro à Brazil Export 77, em São Paulo.Em visita oficial vieram ao Brasil, em ja-neiro, o Ministro da Indústria de Fabricaçãode Máquinas da Roménia; em junho, o Mi-nistro do Comércio Exterior da Tchecoslová-quia; em março, o Vice-Ministro do Comér-

14

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 16: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

cio Exterior da Polónia; em novembro o Vi-ce-Ministro do Comércio Exterior e da Co-operação Internacional da Roménia, o Vice-Ministro do Comércio Exterior da Bulgária eo Vice-Ministro do Comércio Exterior da Re-pública Democrática Alemã.

No tocante à promoção comercial no lesteeuropeu, o Brasil participou de quatro fei-ras em Leipzig, Poznan, Bmo e Budapeste,com excelentes resultados para as exporta-ções brasileiras. Em dezembro realizou-seem Moscou o IV Salão da Indústria Leve,com a abertura de novas possibilidades deexportação de produtos manufaturados e se-mimanufaturados para aquele mercado.

Visitou oficialmente o Brasil, em julho, oVice-Presidente da lugoslávia, acompanhadode diversos ministros de Estado.

ásia e oceania

Nesse contexto, as relações entre o Brasile o Japão se desenvolveram principalmenteem torno da implementação e acompanha-mento dos grandes projetos bilaterais acor-dados por ocasião da visita presidencial aoJapão, em 1976. Com o intercâmbio de inú-meras missões técnicas de ambos os Go-vernos, avançou-se sensivelmente na opera-cionalização dos projetos da Companhia Si-derúrgica de Tubarão, do porto de Praia Mo-le, do complexo de alumínio Albrás-Alunortee da Celulose Nipo-Brasileira (inauguradaem setembro de 1977), além do Projeto deDesenvolvimento Agrícola do Cerrado. OMinistro da Agricultura esteve em Tóquioentre 3 e 7 de outubro, mantendo amploscontatos com autoridades japonesas do se-tor agrícola. Foram também mantidos en-tendimentos finais acerca da implementa-ção do projeto conjunto na região dos cer-rados, que contará com a participação deentidades governamentais e privadas deambos os países.

As relações com a Austrália receberamatenção especial. Entre 26 de junho e 1.°de julho esteve em Camberra missão gover-namental, integrada pelos Secretários-Ge-rais do Ministério da Indústria e do Comér-cio e da Secretaria de Planejamento, para

avaliar com as autoridades australianas umprograma de expansão das relações econô-mico-comerciais bilaterais. Os entendimen-tos foram prosseguidos com resultados alta-mente satisfatórios em novembro, em Brasí-lia, quando da vinda da delegação oficialaustraliana; ao término das conversaçõesentão mantidas foram rubricados o texto deacordo comercial e outros textos comple-mentares. Está se desenvolvendo ainda umprograma de cooperação técnica nos setoresde pesquisa agrícola e industrial, sob o in-centivo de entidades governamentais depesquisa.

As relações com a República Popular daChina apresentaram-se igualmente satisfa-tórias, quase unicamente pelo aumento dasexportações brasileiras. Estão em fase con-clusiva os entendimentos para a assinaturade acordo comercial entre os dois países, oque certamente facilitará o incremento equi-librado do intercâmbio bilateral. Houve, ain-da, no decorrer do ano, trocas de delega-ções de parte a parte, ressaltando-se a ida,a título privado, de missão científica médicaa Pequim e a vinda de delegações governa-mentais chinesas para participar da feiraBrazil Export 77 e do Congresso Internacio-nal de Mineralogia, em São Paulo.

As relações com a República da Coreia fo-ram marcadas, em 1977, pela visita ao Bra-sil de enviado especial do Presidente ParkChung Hee, em março. Outrossim, de 29 demarço a 2 de abril visitou Brasília uma de-legação parlamentar coreana para contatoscom autoridades brasileiras. O grupo foi re-cebido pelo Ministro da Justiça, pelos pre-sidentes das duas Casas do Congresso eda Comissão de Relações Exteriores da Câ-mara dos Deputados.

Igualmente, esteve no Brasil, de 29 de se-tembro a 1.° de outubro, importante missãodo Conselho de Assessoramento Supremoda Indonésia, para realizar estudos compa-rativos sobre assessoramento executivo nosdois países. A missão foi recebida pelo Mi-nistro Chefe da Secretaria de Planejamen-to, bem como por autoridades do Ministé-rio das Relações Exteriores e representan-tes do Congresso Nacional.

15

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 17: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Em prosseguimento aos entendimentosmantidos pelo Ministro das Minas e Ener-gia, por ocasião de sua visita às Filipinasem julho de 1976, o Governo filipino envioumissão oficial a Brasília em fins de outu-bro, chefiada pelo Ministro de Obras, Trans-portes e Comunicações e pelo Vice-Ministroda Indústria, identificando amplas oportuni-dades para participação brasileira nos pro-jetos em curso naquele país. Por outro lado,as exportações brasileiras de minério deferro para as Filipinas atingiram 1,5 milhãode toneladas, no correr do ano, prevendo-seprogressivos aumentos a partir de 1978.

Cabe registrar, ainda, a instalação de escri-tórios do Banco do Brasil em Sydney e Cin-gapura, ampliando a sua presença opera-cional naqueles importantes centros finan-ceiros internacionais.

organismos internacionais

O Brasil manteve-se fiel à sua tradição departicipação ativa nos trabalhos desenvol-vidos nos organismos e conferências inter-nacionais, especialmente daqueles que serealizam sob a égide das Nações Unidas.Entre os numerosos itens constantes de suaagenda, a XXXII Assembléia-Geral da ONUanalisou com destaque questões relativas àdescolonização, dedicando ênfase especialaos problemas da Namíbia e Zimbabwe, aodesarmamento e ao terrorismo.

No correr do ano, os temas referentes àÁfrica Meridional haviam sido examinadosa nível multilateral em duas oportunidades:na Conferência Mundial sobre o Apartheid,realizada em Lagos, Nigéria, no mês deagosto, e na Conferência Mundial de Apoioaos Povos de Zimbabwe e Namíbia, reunidaem Maputo, Moçambique, no mês demaio. O Brasil participou de ambas as con-ferências, cujos resultados foram conside-rados auspiciosos para a luta pela erradica-ção das sequelas do apartheid e da discri-minação racial. A XXXII Assembléia-Geral,ao retomar o assunto, aprovou, com o de-cidido apoio brasileiro, uma série de reso-luções referentes à dramática situação daÁfrica Meridional. O Brasil incorporou, ade-mais, à sua legislação interna, a Resolução

418 (1977) do Conselho de Segurança, quedecretou o embargo mandatário de armascontra a África do Sul.

Participou o Brasil dos trabalhos da Confe-rência do Comité de Desarmamento, comsede em Genebra, da qual é membro origi-nário. Existem indícios de que possam seralcançados resultados positivos com relaçãoà proibição do uso de armas químicas e àproscrição das experiências com armas nu-cleares. Coube, também, ao Brasil integraro Comité Preparatório da Sessão Especialda Assembléia-Geral Dedicada ao Desarma-mento, a realizar-se em 1978, que deveráadotar um programa de ação e uma decla-ração de princípios suscetíveis de imprimirnovos rumos às negociações internacionaissobre desarmamento.

Como reflexo da crescente preocupaçãomundial com o grave problema do terroris-mo internacional, a XXXII Assembléia-Ge-ral das Nações Unidas continuou seus es-tudos com vistas à conclusão de uma Con-venção Internacional sobre Tomada de Re-féns e à adoção de medidas adicionais paraa segurança da aviação civil. A ambas ini-ciativas o Brasil prestou seu apoio.

Durante o 62.° período de sessões do Con-selho Económico e Social das Nações Uni-das, o Brasil foi eleito para mandato de trêsanos na Comissão de Direitos do Homem.

O Brasil participou, outrossim, de váriasconferências especializadas no âmbito daONU. Para tratar de temas relativos a meio-ambiente realizaram-se, em 1977, dois con-claves de âmbito mundial. O primeiro, aConferência das Nações Unidas para aÁgua, realizada em Mar dei Plata, no mêsde março, teve como objetivo principal pro-piciar o intercâmbio internacional do apro-veitamento de recursos hídricos. Nela o Bra-sil teve participação atuante com vistas afortalecer os mecanismos de ação multila-teral e especialmente regional relativos àpreservação dos recursos hídricos e, aomesmo tempo, resguardar a soberania na-cional sobre esses recursos, e o direito ina-lienável dos Estados de explorarem seus re-cursos naturais de acordo com os seus pla-nos e programas nacionais de desenvolvi-

16

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 18: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

mento. O segundo, a Conferência das Na-ções Unidas sobre Desertificação, teve porobjetivo avaliar dados e informações dispo-níveis sobre o fenómeno da desertificação,bem como formular um plano de ação paracombatê-lo.

No que se refere às atividades relativas àutilização do espaço exterior, o Brasil con-cluiu, a 20 de junho, com a Agência Espa-cial Europeia, acordo para estabelecimentoe utilização de meios de rastreamento e detelemedida a serem instalados em territó-rio brasileiro. O acordo, que tem duração de8 anos, podendo ser prorrogado por consen-timento mútuo das partes, prevê a coopera-ção da Agência à Comissão Brasileira deAtividades Espaciais para a implementaçãodo programa de lançadores "Ariane".

Por outro lado, prosseguiram os trabalhosda III Conferência das Nações Unidas parao Direito do Mar, que realizou em maio ejunho a sua VI Sessão. Avançou-se na ela-boração de um texto que reflete posiçõesdefendidas pelo Brasil, especialmente notocante à exploração dos fundos marinhose ao limite das jurisdições nacionais nasáreas costeiras.

Realizaram-se, no ano de 1977, no âmbitoda Organização das Nações Unidas paraAlimentação e Agricultura — FAO, as III eIV Sessões da Comissão de Políticas e Pro-gramas de Ajuda Alimentar. Nesta últimafoi aprovado o projeto Educação Nutricionale Alimentação Suplementar para Pré-Esco-lares no Norte do Brasil, que deverá ser de-senvolvido por um período de três anos,com inversão de recursos provenientes doPrograma Mundial de Alimentos, da ordemde US$ 8,231 milhões, o que representa, atéo momento, a iniciativa mais vultosa doPrograma em relação ao Brasil. Ainda noâmbito da FAO, o Brasil participou da IVSessão do Comité de Fertilizantes, quandocolaborou para a manutenção do EsquemaInternacional de Suprimento de Fertilizan-tes e apoiou o desenvolvimento de medidasde caráter internacional, voltadas para a es-tabilização dos preços do produto. O AcordoConstitutivo do Fundo Internacional para oDesenvolvimento Agrícola — FIDA, recebeu,em 1977, a adesão do Brasil.

Em 1977, o Brasil foi eleito para compor oComité Executivo da Organização Pan-Ame-ricana de Saúde — OPAS, e reeleito para oConselho da FAO, durante a XXV Reuniãodo Conselho da OPAS e a XIX ConferênciaGeral da FAO, respectivamente.

No tocante à energia nuclear, o Brasil par-ticipou da XXI Sessão Ordinária da Confe-rência Geral da Agência Internacional deEnergia Atómica — Al EA, assim como dasreuniões da Junta de Governadores da qualé membro desde a criação da Agência.Nessas reuniões, o Brasil tem reiterado suafirme intenção de levar avante seus progra-mas no campo nuclear e tem contado, nessesentido, com o apoio dos demais países emdesenvolvimento, em especial daqueles quejá possuem programa nuclear em fase deimplementação.

No mês de junho, o Brasil participou daLXIII Sessão da Conferência Internacionaldo Trabalho, com delegação chefiada peloMinistro do Trabalho e composta de repre-sentantes do Governo, dos empregadores edos empregados, de conformidade com acomposição tripartite da Organização. Comomembro eleito do Conselho de Administra-ção desse organismo, participou ativamentede todos os seus trabalhos. O Brasil é tam-bém membro de oito comissões de indús-tria da OIT, em cujas reuniões se faz re-presentar por técnicos governamentais e de-legados classistas.

Durante a X Assembléia-Geral da ComissãoOceanográfica Intergovernamental, o Brasilfoi reeleito para o Conselho Executivo, doqual faz parte desde sua criação.

temas económicos e promoçãocomercial

Em 1977, a política comercial brasileira sedefrontou com protecionismo crescente nosprincipais mercados industrializados. O Go-verno brasileiro, empenhado em aumentar ediversificar as exportações, desenvolveu in-tensa atividade diplomática de consulta enegociação para reduzir ou eliminar os efei-tos das medidas protecionistas adotadas ousimplesmente ameaçadas contra certos se-

17

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 19: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

tores altamente dinâmicos da exportaçãobrasileira, como, por exemplo, calçados, têx-teis e derivados de soja. Dentre os contatosrealizados com este objetivo, ressaltam areunião, em setembro, do Subgrupo Consul-tivo de Comércio Brasil-EUA, no quadro doMemorando de Entendimento entre os doispaíses, e as negociações com a Comunida-de Económica Europeia sobre a renovaçãodo acordo bilateral de têxteis, válido até 31de dezembro de 1977.

No âmbito do GATT, intensificaram-se ostrabalhos das Negociações Comerciais Mul-tilaterais, nas quais se empenha o Brasil nosentido da obtenção, tanto na negociaçãode barreiras ao comércio quanto de novasregras comerciais, de um tratamento dife-renciado e mais favorável para os países emdesenvolvimento, ao passo que se inicia-vam as atividades substantivas do Grupo deTrabalho sobre reforma do GATT, criado em1976 por iniciativa brasileira.

Dando prosseguimento aos trabalhos sobrematérias-primas individuais no âmbito doPrograma Integrado de Produtos de Baseda UNCTAD, foram realizadas várias reu-niões para tentar identificar possíveis me-didas internacionais visando à estabilizaçãodos mercados de vários desses produtos.

No âmbito do Acordo Internacional do Ca-cau, em vigor a título provisório a partir de1.° de outubro de 1976, após negociaçõesentre países produtores e consumidores,foi revista e alterada a faixa de preços doproduto, tendo o Brasil muito contribuídopara esse resultado e marcado sua presen-ça por uma participação ativa e destacada,desenvolvendo útil cooperação com seusparceiros da África e contribuindo semprepara a coesão entre os países produtores.

O Brasil fez-se representar em duas confe-rências sobre energia nuclear. A primeira,realizada em Salzburg, sob os auspícios daAgência Internacional de Energia Atómica,foi o mais importante encontro internacio-nal sobre o assunto nos últimos seis anos,tendo contado com a participação da maio-ria dos Estados-membros da Agência. Os as-pectos técnicos foram objeto de coberturaminuciosa, que atingiu praticamente todos

os campos do setor, desde os atuais reato-res convencionais até os reatores de fusão,que se espera venham a ser fonte quaseinesgotável de energia no futuro.

O Brasil fez-se igualmente representar naConferência Organizadora da Avaliação In-ternacional do Ciclo do Combustível Nuclear— INFCE, realizada em Washington de 19 a21 de outubro de 1977. O INFCE terá a du-ração de dois anos e seus trabalhos estãodistribuídos entre oito grupos de estudo eum Comité de Coordenação Técnica. Naocasião, a delegação brasileira comunicouque o Brasil participaria como membro dedois grupos de estudo: do Grupo 1 — sobreDisponibilidade de Combustível e de AguaPesada, e da parte B do Grupo 8 — Outrosconceitos de Reatores e de Ciclos do Com-bustível. O Brasil também participa comoobservador das reuniões do Comité Técnicode Coordenação.

No âmbito da Organização Internacional doCafé, merecem destaque as tarefas de apri-mora mento do sistema de controle das ex-portações dos países-membros, mediantealterações nos regulamentos relativos aoscertificados de origem. Conquanto os pre-ços do produto permanecessem em níveissatisfatórios, tornando desnecessária a apli-cação das cotas, iniciaram-se os estudosrelativos à criação de um fundo para o f i -nanciamento de estoque e à revisão dascláusulas económicas do Acordo de 1976.A Junta Executiva da Organização, comemo-rando os 250 anos de introdução do café noPaís, realizou sua sessão de dezembro noBrasil.

Concluiu-se com êxito, em outubro, a Con-ferência das Nações Unidas sobre Açúcar,tendo sido aprovado o novo Acordo Inter-nacional sobre o produto, o qual deverá en-trar em vigor provisoriamente a 1.° de janei-ro de 1978, estabelece uma faixa de preçose deverá contribuir para reverter a tendên-cia de queda nas cotações internacionaisdo produto, registrada ao longo de 1977.

Por ocasião das XXXII Reuniões Anuais dasAssembleias de Governadores do FundoMonetário Internacional e do Banco Mun-dial, realizadas em Washington, em outu-bro, das quais participou o Brasil, passa-

18

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 20: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

ram-se em revista as políticas de ajusta-mento da economia mundial e, nesse con-texto, deu-se especial ênfase à necessidadede manterem-se ritmos adequados de cres-cimento económico, com controle da infla-ção. Examinou-se, ainda, a contribuição queas entidades monetário-financeiras interna-cionais poderiam prestar àquele processo deajustamento, sobretudo no caso dos paísesem desenvolvimento. O Brasil participou,ainda, da XVIII Reunião Anual da Junta deGovernadores do Banco Interamericano deDesenvolvimento, que teve lugar na Guate-mala, em maio, e à qual compareceram, pelaprimeira vez, os países-membros extra-regio-nais admitidos com apoio do Brasil, pordecisão da XVII Reunião Anual. Esteve oBrasil também presente em Maurício, emmaio, à IV Reunião Anual da Junta de Go-vernadores do Fundo Africano de Desenvol-vimento, organismo regional de financia-mento ao desenvolvimento dos países afri-canos, do qual é membro-fundador. Naoportunidade, considerou aquela instituiçãode crédito alternativas para o aumento dosseus recursos financeiros, com vistas a am-pliar seu programa de assistência ao desen-volvimento dos países do continente africa-no, tendo o Brasil indicado sua disposiçãode cooperar nesse sentido.

Ao encerrar seus trabalhos, em julho de1977, em Paris, em encontro a nível minis-terial, após ano e meio de existência, aConferência sobre a Cooperação EconómicaInternacional não logrou alcançar o objeti-vo, que se propusera, de estabelecer efeti-vos esquemas de cooperação entre paísesdesenvolvidos e em desenvolvimento noscampos de produtos de base, do comércio,do desenvolvimento e das finanças, que te-riam criado condições para nova ordem eco-nómica internacional suscetível de atender,substancialmente, às necessidades dos paí-ses em desenvolvimento.

Durante 1977, continuou o Brasil a receberconsiderável fluxo de capitais externos, des-tinados ao financiamento de projetos ouprogramas prioritários de desenvolvimentosócio-econômico. Destinaram-se ao País,outrossim, recursos, para financiamentocomplementar a projetos que vêm sendoimplementados em regiões menos desenvol-

vidas. Por outra parte, na qualidade de mu-tuante, manteve o Brasil sua política de li-nhas de crédito para mutuários seleciona-dos, destinadas à exportação de produtos ouserviços nacionais, política da qual se be-neficiaram, no período, principalmente paí-ses latino-americanos e africanos.

Foram concluídas negociações, a nível téc-nico, sobre acordo para evitar a dupla tri-butação, com os Governos da Noruega, doCanadá, do Grão-Ducado do Luxemburgo eda Itália, ao passo que se trocavam instru-mentos de ratificação do protocolo que mo-difica e completa a convenção entre o Japãoe o Brasil para evitar a dupla tributação emmatéria de impostos sobre os rendimentos.A partir de 1.° de janeiro passou a produ-zir efeitos a convenção para evitar a duplatributação em matéria de impostos sobre arenda e o capital, concluída com o Governoda Áustria. O Brasil participou, ainda, dereuniões internacionais sobre dupla tribu-tação patrocinadas pela ALALC, UNESCO eONU.

No âmbito dos transportes aéreos, o ano de1977 assinalou a realização da XXII Sessãoda Assembléia-Geral da Organização deAviação Civil Internacional, durante a qualo Brasil foi reeleito mais uma vez para oConselho da Organização. No plano bilate-ral, foram negociados acordos sobre trans-portes aéreos com a República Popular deAngola e a República Federal da Nigéria.No intuito de rever e atualizar diversas nor-mas operativas do intercâmbio aeronáutico,realizaram-se conversações informais comautoridades da Bolívia e da Argentina, tendosido as conclusões desta última formaliza-das na VIII Reunião de Consulta Aeronáu-tica entre os dois países. Com o mesmo ob-jetivo, foram realizadas a IV Reunião deConsulta com Portugal, a V Reunião de Con-sulta com o Peru e a VIII Reunião de Con-sulta com a Espanha.

No setor dos transportes marítimos, o Brasile a República Federal da Alemanha assina-ram no mês de abril um acordo básico, emnível técnico, em Brasília, e em setembromantiveram, em Hamburgo, conversaçõesvisando a sua implementação. Em 1977 en-traram em vigor os acordos sobre transpor-tes marítimos concluídos pelo Brasil com a

19Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 21: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Polónia e a Roménia. No contexto da exe-cução de acordos já existentes, foram reali-zadas em Varsóvia e Paris, respectivamente,a I Reunião do Comité Misto Brasil-Polô-nia e a II Reunião da Comissão Mista Bra-sil-França. Foram ainda efetuadas em Wash-ington negociações preliminares com vistasà assinatura de um acordo sobre transpor-tes marítimos entre o Brasil e os EstadosUnidos da América. Em novembro, reuniu-se em Londres a Assembléia-Geral da Orga-nização Marítima Consultiva Internacional— INÇO, durante a qual o Brasil foi reeleitopara o Conselho da Organização.

Intensa atividade desenvolveu-se no campodos transportes terrestres. No primeiro tri-mestre reuniu-se por duas vezes a Comis-são Nacional Coordenadora dos Assuntosrelativos ao Convénio sobre Transporte In-ternacional Terrestre, de 1966, com vistas àpreparação da 8.a Reunião da Subcomissãode Transportes da Comissão Brasileiro-Ar-gentina de Coordenação — CEBAC, cujapauta abrangeu os mais importantes temasrelacionados com o transporte de passagei-ros e de carga entre o Brasil e a Argentina,e o Brasil e terceiros países com trânsitopelo território argentino. Em agosto, a 9.a

Reunião da Subcomissão da CEBAC adotoudecisões relevantes com relação ao tráfegobilateral em trânsito por terceiros países eà utilização de rodovias e de freteiros nosistema. A II Reunião dos Organismos deAplicação do Convénio sobre Transporte In-Internacional Terrestre Brasil-Paraguai ado-tou medidas visando à adequada regula-mentação dos transportes de passageiros ede carga entre ambos os países. Outrossim,no ensejo da I Reunião dos Organismos deAplicação do Convénio sobre Transporte In-ternacional Terrestre Brasil-Chile, as duaspartes trocaram informações sobre o esta-belecimento de linha de passageiros entreo Rio de Janeiro e Santiago e adotaramprincípios com relação ao transporte emtrânsito por terceiros países. Foi tambémrealizada a III Reunião dos Organismos deAplicação do Anexo II do Convénio sobreTransporte Internacional Terrestre, entre oDNER e a Dirección Nacional de Transpor-tes, do Uruguai, ocasião em que foram ado-tadas significativas facilidades para a cir-culação de veículos. O transporte interna-

cional terrestre em trânsito por terceirospaíses foi ainda objeto de reunião de con-sulta realizada em Brasília, com a participa-ção do Brasil, Argentina, Chile, Paraguai eUruguai, signatários do convénio de 1966,durante a qual foram examinados a questãoda justa compensação, a fixação de per-cursos e itinerários e o emprego de veí-culos de terceiros no sistema. Finalmente,realizou-se em Mar dei Plata, em novem-bro, a VIII Reunião de Ministros de ObrasPúblicas e de Transporte do Cone Sul, queteve por principal atividade a negociaçãofinal de novo Convénio sobre Transporte In-ternacional Terrestre, que substituirá o de1966.

No que concerne à promoção comercial, oMRE deu continuidade à reorganização dasunidades no exterior do seu Sistema de Pro-moção Comercial. Enquanto prossegue oprograma de aperfeiçoamento dos recursoshumanos utilizados no setor, através do Ci-clo de Treinamento de Especialistas emPromoção Comercial — CITRE.

Por outro lado, em prosseguimento ao pro-grama de cooperação com a Secretaria dePlanejamento, foi publicado e distribuídoao setor exportador nacional farto materialde pesquisas de mercados para produtos se-lecionados de interesse para o Brasil.

Ainda na área da promoção comercial, oMRE organizou 70 amostras de produtosmanufaturados brasileiros no exterior, em34 países diferentes, compreendendo 29eventos na América, 27 na Europa Ociden-tal, 2 na URSS e 12 na África e Ásia.

cooperação científica, técnica ecultural

No campo da ciência e tecnologia, cabe as-sinalar o desenvolvimento dos programasde cooperação científica e tecnológica, tan-to no âmbito bilateral como no multilateral.Nesse sentido, assinou-se em novembroacordo de cooperação entre o Conselho Na-cional de Desenvolvimento Científico e Tec-nológico — CNPq e o Conselho Nacionalde Ciência e Tecnologia da Venezuela —CONICITE, encontrando-se, por outro lado,

20Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 22: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

em fase inicial de estudos, projetos deacordos com a índia, o Chile, a Colômbia eo Japão, bem como esquemas de coopera-ção, no setor, com a Austrália. Ainda nocampo bilateral, realizou-se em outubro aVII Sessão da Comissão Mista Teuto-Brasi-leira de Cooperação Científica e Tecnológi-ca, ocasião em que foram revistos os pro-gramas conjuntos com a República Federalda Alemanha nos campos da física, quími-ca, computação, informática, oceanografia epesquisa aeroespacial.Registrou-se significativa intensificação dostrabalhos ligados à captação da informa-ção científica e tecnológica do exterior esua canalização para as instituições brasi-leiras especializadas, principalmente atra-vés da rede do Sistema de Informação Ci-entífica e Tecnológica, com vistas a dotaro Brasil de núcleos diversificados de infor-mação científica e tecnológica especiali-zada.

Continuam a ser progressivamente imple-mentadas as diretrizes brasileiras para o re-cebimento de cooperação técnica através deação diplomática junto aos grandes doado-res, bem como são continuamente aperfei-çoados os sistemas nacionais de estrutura-ção, revisão e avaliação de projetos. Encon-tram-se em plena execução os programasplurianuais com a República Federal daAlemanha, Canadá e Grã-Bretanha, enquan-to prosseguem em fase ascensional as ati-vidades com a França, Japão, Espanha, Itá-lia e Portugal. No plano multilateral, deu-se início ao plano quinquenal com o Pro-grama das Nações Unidas para o Desenvol-vimento — PNUD, cujo alcance está sendoaumentado através de contribuições adicio-nais brasileiras, possibilitando com isso in-tercâmbio maior de peritos e aperfeiçoa-mento de recursos humanos no exterior.

No que respeita à cooperação técnica ofe-recida pelo Brasil, há a assinalar uma am-

pliação significativa dos programas com aAmérica Latina e a África, em coordenaçãoestreita com os órgãos setoriais que tratamdas atividades internacionais em cada Mi-nistério. Após a assinatura, em anos ante-riores, de numerosos acordos básicos decooperação técnica e científica, ampliaram-se as atividades práticas, com projetos eoutras ações junto a quase todos os paísesda América Latina, nos mais diversos cam-pos, desde o emprego do álcool como com-bustível até construção naval, agropecuáriatropical, habitação, urbanização e sanea-mento. Tem o Brasil empreendido grandeesforço para incrementar a colaboração naárea técnica com o continente africano, es-pecialmente com os países de expressãoportuguesa. Exemplificam esse incrementoos programas em curso com Guiné-Bissaue Cabo Verde, a cooperação oferecida a SãoTomé e Príncipe, nos campos da saúde eda agricultura, a colaboração com Angolano setor de transporte e com Moçambiqueem formação profissional, enquanto que seelevou, sensivelmente, o volume de coope-ração com a Nigéria, Costa do Marfim e Ga-na.

No campo da difusão cultural, cabe assina-lar a adesão do Brasil a duas importantesconvenções: a Convenção Regional sobre oreconhecimento de Estudos, Títulos e Di-plomas de Ensino Superior e a Convençãosobre a Proteção do Património Mundial,Cultural e Natural. O Brasil participou ain-da, com destaque, do II Festival Mundialde Artes e Cultura Negras e Africanas — IIFESTAC em Lagos, na Nigéria.

Em 1977 foi complementada a modernizaçãoe o reequipamento de toda a rede de Cen-tros de Estudos Brasileiros, iniciada em1975. Procedeu-se, ainda, à nomeação denovos professores, medida que visou a aten-der ao desenvolvimento das atividades dosCentros.

21

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 23: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 24: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

geisel no méxico: diálogoamplia oportunidades

deDiscursos dos Presidentes mexicano (tradução nio-oficial)e brasileiro, em 16 de janeiro de 1978, na Cidade doMéxico, durante o banquete oferecido por JoséLópez Portillo a Ernesto Geisel, na Secretariade Relações Exteriores.

cooperação

PRESIDENTE MEXICANO

Senhor Presidente da República Federativado Brasil,Senhora Geisel,Senhoras e Senhores,

O México se sente honrado por esta visitade brasileiros. Ao receber Vossa Excelência,abrimos as portas do afeto a esse povo que-rido que é criação e alegria, grandeza espi-ritual e material e, sobretudo, um povoirmão.

Brasil e México estão unidos por natureza.Estamos unidos pela origem, pela históriae por uma problemática comum que nos in-dica mais ainda que a possibilidade, o im-perativo de um destino comum.

Somos, ambos, comunidades mestiças. Com-partilhamos antecedentes ibéricos no amál-gama de nossas raças novas. Somos produ-tos de antigas civilizações que, mescladas,geraram culturas originais com dinâmicaprópria, com capacidade para definir, por

si mesmas, soluções adequadas à sua na-tureza peculiar. Povos que conheceram aescravidão e a submissão, têm por defini-ção mesma uma vocação congénita à auto-nomia como grupos e à liberdade individuale coletiva.

O México, que construiu a sua nacionalida-de vencendo obstáculos geográficos, inte-grando povoações dispersas, criando valo-res e instituições próprias, pode bem aqui-latar o formidável esforço complementador,conduzido a partir da estreita faixa atlânticaaté o coração do continente, para a forma-ção dessa hoje vigorosa Nação brasileira.

Respeitamos o Brasil, que representa a sin-gular epopeia, que parecia impossível, defazer florescer a civilização contemporâneano âmbito tropical.

Admirável povo brasileiro que não se dei-xou subjugar pela violência da selva, aimensidão de suas barreiras naturais, a mag-nitude das distâncias, que transforma e tudodomina — esforço secular do bandeirante,coragem do sertanejo, atividade febril dopaulista — para converter sua vasta geogra-

23

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 25: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

fia em morada onde florescem a agricultu-tura e a indústria, a ciência e as artes. Pu-jança de São Paulo unida às investigaçõesdo Instituto Oswaldo Cruz, à imaginação deAleijadinho, à arquitetura de Oscar Nie-meyer, à música de Heitor Villa-Lobos, aospincéis de Cândido Portinari e às páginasde Machado de Assis ou de Carlos Drum-mond de Andrade. Toda essa cultura quesintetiza a tradição secular, a natureza e aatualidade deslumbrante, o trabalho e a fe-cunda imaginação.

impulso criativo irmana brasileirose mexicanos •

Como não nos sentirmos irmanados a esseimpulso criativo, os mexicanos, que, cotidia-namente, realizamos nossa identidade naconjunção do autóctone e o universal, emtodos os campos da vida social?

Fator, também, que nos vincula, por seusefeitos persistentes, é o haver sofrido umcolonialismo semelhante que deixou traçosprofundos, herança fértil pelos valores as-similados, mas ao mesmo tempo de forma-ção estrutural de dependência três vezescentenária.

Chegamos à independência política com agrave desvantagem de haver sido constran-gidos à condição de provedores de maté-rias-primas para centros de consumo dis-tantes e ocupados depois na árdua tarefada integração nacional, a conquista de nos-sos próprios territórios e a organização in-terna; iniciamos com atraso a difícil cruza-da de transformar os sistemas produtivosestabelecidos para a submissão, em organi-zações para assegurar a liberdade e a inde-pendência económica.

Pertencemos, ambos os povos, à comunida-de latino-americana que abriga desde suagestação um definido desejo de unidade;pertencemos a esse grupo de países pro-fundamente afins que dividem o sentimen-to de uma imperiosa necessidade de con-certar esforços e que, no entanto, permane-cem no desconcerto pela ação desintegra-dora de novas hegemonias.

Os caminhos de nossos países foram con-cebidos para a submissão e não para o de-senvolvimento; ligaram-nos a metrópolesimpostas, não nos ligaram a vizinhos e airmãos. Fomentaram diferenças e quiseramocultar semelhanças; transformaram-nos emferozes competidores quando, em nosso in-teresse, devemos ser complementares. Eapesar de tudo, a vitalidade de nossos po-vos nos aproxima ao conjunto da desejadaunificação. Integrado nosso enorme poten-cial e concertada nossa ação, podemos ven-cer obstáculos, negociar fortalecidos e en-frentar com êxito as enormes carências denossos povos para alcançar os mais altosníveis de civilização e bem-estar com jus-tiça.

Sua presença no México, Senhor Presiden-te Geisel, é uma demonstração dessa cons-ciência fraternal. Passamos em revista, jun-tos, a importante gama de pontos de con-tato, de áreas de cooperação, de fatores deapoio mútuo. Abrimos novos canais de en-tendimentos.

Muitos são os pontos na área económicanos quais a complementação do produto dosrecursos e do trabalho brasileiro e mexica-no pode revigorar nossas capacidades. Po-demos nos apoiar na siderurgia, na indús-tria de base e de bens de capital, assimcomo na energética e na petroquímica. O in-tercâmbio de produtos agrícolas e manufa-turados facilitará o abastecimento e nospermitirá lutar contra a fixação arbitrária depreços e as injustas barreiras protecionis-tas. A possibilidade de complementação àbase de co-inversões é ampla: exploremoseste campo a nível dos setores públicos eprivados. Nosso comércio já é importante epode ser incrementado a níveis muito su-periores, buscando o benefício mútuo. Acolaboração científica e técnica oferecetambém amplas possibilidades. O intercâm-bio cultural, por causa de nossas semelhan-ças, nos enriquecerá sem dúvida e afirma-rá os mais positivos de nossos valores. Es-tamos conscientes de que, para tanto, é in-dispensável ampliar nossa cooperação nascomunicações e nos transportes para a uni-ficação física.

24

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 26: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

fortalecer e multiplicar as nossascoincidências

E, se nas relações bilaterais, temos reafir-mado elementos comuns, é lógico encon-trar em nosso desempenho, nos diversos fo-ros internacionais, importantes coincidên-cias que haveremos de fortalecer e multi-plicar.

A posição internacional do México é inva-riável porque deriva de uma honesta proje-ção da filosofia que o povo plasmou naConstituição que nos rege. Pugnamos pelorespeito às soberanias, à não-intervenção, àigualdade jurídica dos Estados. Oferece-mos a amizade a todos os povos e deseja-mos ardentemente o fortalecimento denosso vínculo com as nações irmãs, no bila-teral e no multilateral para criar uma inter-relação de apoio, de verdadeira cooperaçãoregional e sub-regional, na qual não existamsupremacias nem predomínios, mas sim ir-mandade e ajuda, não somente visto comoposição altruísta, mas também como inte-resse de todos, como uma via prática parasuperar nossas respectivas limitações e po-der competir em um mundo de blocos e demercados integrados.

Desejamos o estabelecimento definitivo dapaz mundial; acreditamos na possibilidadeda solução pacífica de toda controvérsia;consideramos que as soluções de força sãouma ameaça para toda a humanidade, ma-nifestações da vontade de dominação querechaçamos desde que alcançamos a inde-pendência nacional e, por isso mesmo, pug-namos pelo fim da corrida armamentista epela não-proliteração de instrumentos nu-cleares de extermínio.

Apegados à nossa concepção interna de de-mocracia, de liberdade e de justiça, censu-ramos a ordem económica mundial estabe-lecida em detrimento das nações em desen-volvimento e não poupamos esforços naluta pacífica por sua transformação para al-cançar a democracia internacional políticae económica.

Senhor Presidente,

Receba do povo do México uma mensagemde amizade sincera. Suas palavras de cor-

dialidade para conosco, os propósitos queexpressou em favor da concórdia e da apro-ximação, foram ouvidos com beneplácito eprofundo interesse. Receba, Vossa Excelên-cia, além disso, a certeza de que existe umaautêntica solidariedade do povo mexicanocom os esforços desse nobre povo brasilei-ro, sentimento que se arraiga em uma iden-tidade profunda e transcendente.

PRESIDENTE BRASILEIRO

As palavras com que Vossa Excelência dis-tinguiu meu País e a mim mesmo calaramfundo no espírito de todos os brasileirosaqui presentes. Da mesma forma, a acolhi-da fraterna, amiga e aberta que nos foidada, desde que pisamos a terra mexica-na, é motivo para que fiquemos sumamen-te reconhecidos ao povo e ao Governomexicanos e, pessoalmente, a Vossa Exce-lência.

A cortesia e a gentileza no trato estão en-tre as grandes virtudes que o povo mexica-no tem evidenciado através de sua rica ecomplexa história, virtudes que nós, daAmérica Latina, sabemos reconhecer, assimcomo respeitamos e apreciamos a extraordi-nária tradição mexicana de coragem e dedignidade nacional. O convívio com a gentedeste País inspira e alenta. Os dotes mo-rais e espirituais do povo mexicano, a cria-tividade de sua cultura e de sua arte, bemcomo a determinação demonstrada em suapertinaz luta pela independência e pelo pro-gresso, constituem um estímulo para os po-vos que enfrentam desafios semelhantes narota de sua liberdade política e de desen-volvimento económico e social.

O convite que Vossa Excelência me dirigiupara visitar seu País foi recebido com ex-tremo agrado no Brasil e nossa pronta acei-tação evidencia o cabedal de simpatiaspelo México que sempre existiu entre osbrasileiros.

Logo nos primeiros meses de meu Gover-no, tive a honra e o prazer de receber em

25

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 27: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Brasília o ilustre antecessor de Vossa Ex-celência, o Presidente Luiz Echeverría Alva-rez. Guardo daquela visita a grata recorda-ção de que a mesma se constituiu num im-portante marco do processo de estreitamen-to das relações entre os nossos dois países,não só no contexto bilateral, mas tambémno de nossa atuação no continente. O pró-prio Presidente Echeverría assinalou, então,que sua ida ao Brasil ratificava uma voca-ção de fraternidade latino-americana e quesua visita aspirava cumprir um encontrohistórico entre dois povos. Foi nesse espíri-to e com o fim de melhor disciplinar o nossocrescente intercâmbio, que concluímos, na-quela oportunidade, uma série de instru-mentos. Em seu conjunto, os Acordos entãoassinados abriram caminho para que, agora,possamos dar um impulso maior às nossasrelações.

Senhor Presidente,

Coincidimos com as declarações de VossaExcelência no sentido de que os atuais pro-blemas mundiais não correspondem a umaperturbação transitória da vida internacio-nal, mas a um vasto abalo em sua estruturae que anuncia grandes modificações na eco-nomia, na cultura, nas relações entre os po-vos e, ainda, entre a sociedade, o homeme a natureza. É esse contexto internacio-nal, tão claramente definido por Vossa Ex-celência, que nos encoraja a promover aintensificação dos contactos entre os nossospaíses.

novas oportunidades úe cooperaçãopodem ser exploradas

Num mundo marcado por crises e apreen-sões, mas também pela consciência de quenovas oportunidades para uma cooperaçãomutuamente proveitosa podem ser explora-das, nossos dois países se dispõem a apro-ximar-se, tomando por base uma longa tra-dição de amizade, para, através do diálogoe da compreensão, buscarem alargar a faixaem que os respectivos interesses e aspira-ções convergem ou coincidem.

Estamos plenamente conscientes, SenhorPresidente, de que o Brasil e o México sãopaíses complexos, com experiências nacio-

nais diversificadas e de que, através denosso diálogo, muito teremos a aprender. Oque há de semelhança entre nós segura-mente facilitará nosso entendimento: a ca-pacidade de realização do Brasil e do Mé-xico, a disposição com que ambos os povosse engajam na porfia pelo desenvolvimentoe a vocação, que em ambos existe, para in-tegrar suas melhores tradições e suas maislídimas aspirações políticas. Em nossos paí-ses, coexistem e pacificamente se mesclamdiferentes grupos étnicos, de cuja contri-buição para a nacionalidade muito justa-mente nos orgulhamos. São sociedades, abrasileira e a mexicana, em que interagemdiferentes níveis ou horizontes históricos,em que setores modernos de produção eco-nómica e de pensamento convivem comáreas retardatárias. São, o Brasil e o Méxi-co, países que lutam por um desenvolvi-mento autêntico, autónomo e voltado paraa realização das potencial idades de seuspovos.

O Brasil almeja desenvolver-se pacificamen-te. O povo brasileiro vive em harmonia comos seus vizinhos e favorece soluções nego-ciadas para as disputas internacionais. Osideais de modo de vida ocidental fazem par-te de nossa vida e de nossa História. Dese-jamos aproveitar os avanços científicos etecnológicos à disposição da humanidadepara resolver nossos problemas económi-cos. Acreditamos seja dever das presentesgerações prover o país dos meios necessá-rios para que as aspirações, justas e pací-ficas, do homem brasileiro possam ser rá-pida e efetivamente atendidas. É esse onosso desiderato e essa a nossa política. Aexperiência histórica que o México acumu-lou, seguramente, lhe dá condições ideaispara compreender o sentido do esforço queo Brasil faz em prol da autonomia energé-tica e do desenvolvimento nacional.

De há muito, acompanha o Brasil a atua-ção internacional do México em favor dasgrandes causas da humanidade. Já o bene-mérito Juarez havia fixado em palavras pro-féticas, que vejo gravadas nesta sala, a prin-cipal diretriz da diplomacia mexicana: "En-tre os indivíduos, assim como entre as Na-ções, o respeito ao direito alheio é a paz"— princípio esse que Vossa Excelência hou-

26

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 28: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

ve por bem reafirmar sem qualificações. Aadesão invariável a esse princípio, que, emnossos dias, se traduz pelo respeito ao di-reito de autodeterminação dos povos e pelanão-intervenção, confere à política externamexicana a sua reconhecida maturidade einegável consistência.

Juntos, temos participado dos esforços mul-tilaterais em favor do fortalecimento da paze da segurança internacionais. Coincidimosna necessidade de fazer respeitar interna-cionalmente a independência de todos osEstados, qualquer que seja o seu tamanho,qualquer que seja o seu poder. Concorda-mos em que, para o relacionamento amis-toso entre os povos, é imprescindível a ob-servância plena dos princípios da autode-terminação, da não-ingerência e do respeitomútuo. São estranhas à nossa índole as am-bições de hegemonia e de preponderância,as quais rejeitamos com o mesmo vigorcom que as repudiamos se partidas de ou-tros países com relação aos nossos. Parti-cipamos da convicção de que o estabeleci-mento de uma nova ordem económica in-ternacional é tarefa essencial e urgente, afim de que sejam removidos os obstáculosinternacionais que pesam sobre os paísesem desenvolvimento na sua pugna para as-segurar a seus povos melhores padrões devida.

O Brasil reconhece e valoriza o papel queo México tem desempenhado no âmbito la-tino-americano. Motivo de orgulho paranossos países é haver amplamente floresci-do, na América Latina, o ideal enunciadopor Juarez, como demonstra o apego quenossa região tantas vezes tem demonstradopela paz, pela cooperação e pelo respeitomútuo. Se a inclinação mexicana é, hoje,acercar-se ainda mais de nossa convivênciafraterna, veremos essa presença acrescidado México como uma tendência positiva,que, ao concretizar-se, contribuirá para oenriquecimento político de nossa região. E,com ela, sairá fortalecida a solidariedadelatino-americana. A percepção de nossa co-munidade de interesses aumentará rapida-mente, como consequência mesma da co-operação em questões concretas de todanatureza.

relacionamento interamericanoapresenta múltiplos aspectos

No plano continental, considera o Brasilque o relacionamento interamericano apre-senta múltiplos e variados aspectos, dada aprópria diversidade que caracteriza os paí-ses do hemisfério. Não acreditamos que essasituação seja maléfica ou negativa. Pelocontrário, consideramos, em coincidênciacom o México, que a preservação dessa di-versidade, a afirmação das soberanias na-cionais e a resistência comum a quaisquerveleidades hegemónicas são e devem sertraços essenciais da política continental.

As questões de índole económica e, espe-cialmente, comercial, continuam a preo-cupar os países da América Latina. De ummodo geral, ainda não cessou a tendênciade queda na participação dos países latino-americanos e dos países em desenvolvimen-to no comércio internacional. Apesar de oproblema estar perfeitamente identificado eapesar dos apelos dos países das diversasregiões subdesenvolvidas, pouco tem sidofeito, em nível global, para reverter essatendência. Esta é, no entanto, apenas umadas graves questões que, em conjunto, de-vemos confrontar, no plano internacional.Há outras, entre as quais não devo deixarde mencionar a da proliferação de medidasrestritivas ao comércio dos países em de-senvolvimento. O Brasil, que frequentemen-te sofre dificuldades concretas nessa área,é particularmente sensível ao fato de queobstáculos externos, como os antepostos aoMvre fluxo de nossas exportações, em par-ticular de produtos industrialmente elabora-dos, continuem a prejudicar seriamente osesforços que, com grande sacrifício, temosfeito para desenvolver nosso aparelho pro-dutivo e para participar, em termos equita-tivos, dos benefícios da economia mundial.É nossa convicção que, para deter a ondaprotecionista, os Governos dos países de-senvolvidos devem estar preparados, desdelogo, a se comprometer internacionalmentea não impor novas restrições e, a mais lar-go prazo, a adotarem políticas internas dereestruturação industrial. Nesse reajusteeconómico, os Governos dos países desen-volvidos devem levar em conta as aspira-ções dos setores de exportação mais dinâ-

27

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 29: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

micos dos países em desenvolvimento, quesão justamente os mais diretamente atingi-dos pelas forças protecionistas.

Senhor Presidente,

Em quase todos estes temas, o Brasil e oMéxico têm encontrado semelhantes as suasposições e têm cooperado eficazmente, so-bretudo nos foros internacionais, sejam elesos de âmbito universal, sejam os de âmbitoregional como, entre outros, o Sistema Eco-nómico Latino-Americano. Essa cooperaçãodesejamo-la ampliada, ainda mais, no futu-ro. Temos todas as razões para acreditarque isso é o que ocorrerá.

No plano bilateral, são incontáveis as opor-tunidades de proveito recíproco que umacooperação mais intensa entre nossos doispaíses certamente ensejará. Sinto-me favo-recido por haver podido, com a minha visita,servir a essa causa que é de ambos os nos-sos povos.Ao agradecer a Vossa Excelência, em meunome e no dos que me acompanham, agentileza das homenagens que nos têm sidoprestadas, desejo pedir a todos os presen-tes que a mim^se unam em um brinde àNação mexicanaTà amizade entre os nossosdois povos e à saúde e ventura pessoal deVossa Excelência e da Senhora López Por-tillo.

a chegada do presidente brasileiro àcidade do méxico

Tradução não-oficial do discurso do Presidentemexicano, José López Portillo, em 14 de janeiro de 1978,

momentos após a chegada do Presidente ErnestoGeisel ao México; e a resposta do Presidente brasileiro.

SAUDAÇÃO DE PORTILLO

Senhor Presidente da República Federativado Brasil,

Senhora Geisel,

As relações entre o México e o Brasil ultra-passam ao simples tratamento oficial e àsrelações de intercâmbio. Vemos no Brasilum povo irmão e que admiramos por seusentido de vida, sua cultura, suas potencia-lidades, sua alegria, sua música, suas capa-cidades todas tão próximas de nosso povo.

Vocês constituem o país mais extenso daAmérica Latina e, como o México, o maispovoado. Temos raízes similares e proble-mas muito parecidos. Terras destinadas àmescla e à integração, tivemos que sofrer

em nossa História as mesmas questões, asmesmas necessidades, os mesmos proble-mas.

Nós nos identificamos, pois, ambos os paí-ses, somos países de futuro e com futuro.Aprender a defender nossos problemas e aresolvê-los, mantendo nossa independênciapolítica e económica é uma meta comum.E nessa meta comum, temos que tornar útila convivência, resolver seus problemas deliberdade, de justiça, de igualdade, com res-peito ao direito fundamental de nossa auto-determinação. Porque, nesse caminho, que-remos encontrar o Brasil, para integrarmo-nos em nossa América Latina, sonho de Bo-lívar, a respeito do qual temos que dar pas-sos sólidos que ultrapassem as simples de-clarações exaltadas e se concretizem ematos positivos que permitam tornar mais só-lido o nosso esforço comum.

28

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 30: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Isso, fundamentalmente, esperam os nossospovos desta reunião: que acertemos a con-solidação, o fortalecimento, o aprofunda-mento de nossas relações, que possamoscombinar nossos esforços. A unir-nos e jánão estarmos mais separados pela geogra-fia, como até agora. Muitas importantes ta-refas teremos pela frente, Senhor Presiden-te. Estou absolutamente certo que destareunião nossos povos tirarão benefícios po-sitivos. Sejam, Senhor Presidente e Senho-ra Geisel e honrada comitiva, bem-vindos aoMéxico.

RESPOSTA DE GEISEL

A visita que hoje inicio simboliza o apreçoe o respeito do povo e do governo brasilei-ros pelo México, e testemunha, também, aamizade fraterna que nos une, brasileirose mexicanos, em nossa comum identidadelatino-americana. As afinidades entre osnossos dois povos transcendem a coincidên-cia de preocupações conjunturais, políticasou económicas, para desabrochar no amplodomínio da sensibilidade humana e dos va-lores culturais que compartilhamos.

Sob a dinâmica liderança de Vossa Exce-lência — Senhor Presidente López Portillo— a Nação mexicana se dirige, a passos lar-

gos, para a concretização dos ideais nacio-nais de liberdade, de justiça e progresso. OBrasil acompanha, com admiração, a lutahistórica que o México empreende paraafirmar tais ideais e regozija-se pelas mag-níficas realizações que seu povo já al-cançou.

Como latino-americanos, sabemos valorizar,no Brasil, as clássicas virtudes do povo me-xicano — o sentido de dignidade, de corte-sia e de coragem — qualidades que alen-tam nosso convívio, facilitam o diálogo eestimulam amizade constante.

Países complexos, herdeiros de diferentese ricas contribuições étnicas e culturais, oBrasil e o México reúnem condições privile-giadas para reforçar laços de fraternidade,para participar ativamente no cenário lati-no-americano e para enfrentar, de formacriativa e responsável, os desafios que o sis-tema internacional diariamente a ambos nosimpõe.

Minha presença no México é sinal osten-sivo de nossa solidariedade e da comunhãolatino-americana. Os valores que defende-mos — independência nacional, igualdadesoberana, não-ingerência e respeito mútuo— asseguram que nosso diálogo há de serprofícuo e que nossos entendimentos nestahistórica e belíssima cidade, hão de balizaro caminho da amizade e da cooperaçãoentre nossos países. É este, Senhor Presi-dente, o espírito de minha visita.

cordialidade nos encontrosgeisel-lópez portillo

Discurso do Presidente Ernesto Geisel, em 16 de janeirode 1978, durante a cerimónia de recebimento das Chaves

da Cidade do México.

Senhor Chefe do Departamento do DistritoFederal.

Agradeço reconhecido e honrado a distinçãoque Vossa Excelência me concede ao fazer-

me entrega das Chaves da Cidade do Méxi-co e ao declarar-me Hóspede Oficial destabela Capital. Elas traduzem gesto cordial deVossa Excelência e serão por mim guarda-das com particular cuidado e satisfação.

29

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 31: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Os momentos que aqui passamos, SenhorRegente, constituem para mim, para minhafamília e para meus acompanhantes, mo-mentos inolvidáveis de prazer humano, es-tético e profissional.

O calor da amizade revelado pelos mexica-nos para com seus visitantes brasileiros temsido contínuo e expressivo. Isso não nossurpreende, pois sabidas são as qualidadesde generosidade do nobre povo deste país.Posso assegurar que, de nossa parte, sen-timentos de cordialidade devotamos tam-bém a nossos hospedeiros.

Tampouco nos têm faltado riquíssimas emo-ções no plano estético, desde o deslumbra-mento que a todos há de sempre causar oespetáculo cénico do conjunto arquiteturalde Teotihuacán, da encantadora apresenta-ção do bale folclórico mexicano até o rarovirtuosismo museológico que constitui oMuseu Nacional de Antropologia e História,de onde acabamos de sair. Mas é a cidade

inteira, em suas variegadas feições, tão bemsintetizadas na Praça das Três Culturas, quenos mantém sob incessante impacto debeleza.

No plano político, a cordialidade dos encon-tros que tenho mantido com o PresidenteLópez Portillo e com outras altas autorida-des mexicanas, confirma a certeza da ex-celente comunidade de pontos de vista en-tre nossos Governos sobre os magnos pro-blemas da vida internacional e continental.

Por tudo isso, hoje é um dia marcante paramim.

Peço a Vossa Excelência que seja o intér-prete, junto ao povo da Cidade do México,do meu grande apreço e do meu mais co-movido reconhecimento pelas homenagensque, em minha pessoa, foram prestadas ameu País.

A Vossa Excelência, meu sincero e profun-do agradecimento.

entre os brasileiros, uma espontâneasimpatia pelos mexicanos

Discurso do Presidente Ernesto Geisel, em 17 de janeirode 1978, por ocasião do banquete que lhe foi oferecido,

no "Lenzo Charro dei Pedregal", pelo Regente daCidade do México, Carlos Hank Gonzalez.

Senhor Chefe do Departamento do DistritoFederal:

Há, em todo brasileiro, uma espontâneasimpatia pelo México e pelos mexicanos.Não obstante a distância geográfica que nossepara, é possível que tenhamos do Méxicouma visão até mais clara do que a que pos-samos ter de outros países latino-america-nos, mesmo mais próximos do Brasil. Nessapercepção, a Cidade do México avulta emproeminência.

Sinto-me feliz e honrado por estar em terrarica de tantas glórias. Como Capital de umpovo que a História marcou para o heroís-mo, a Cidade do México, palco de tantaslutas pela independência e pela liberdade,é o próprio símbolo da alma nacional.

Rica de passado, a Cidade do México é,também, a bela promessa de progresso ede grandeza que o povo mexicano merecee constrói.

30Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 32: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Povos como o brasileiro e o mexicano têma virtude de fazer, das tradições, estímulopara a renovação construtiva, na contínuarealização das imensas potencialidades doser humano. No Brasil, não temos a inspi-rar-nos os episódios de grandeza de uma ci-vilização nativa das mais avançadas de quese tem notícia.

Temos, em contrapartida, a experiência re-cebida, em abundância, através de influxosvariados de raças e culturas que se amalga-maram para criar o homem franco e tole-rante que é o brasileiro de hoje. Assim, emambas as nossas tradições figura o ele-

mento de síntese de civilizações que tantavariedade e percepção introduz na alma denossos dois povos.

É, pois, com genuíno sentimento de frater-nidade, que nos regozijamos por este conví-vio com os mexicanos, nesta extraordináriaCidade do México.

A seu futuro formoso, à felicidade de seushabitantes e a Vossa Excelência, SenhorRegente, à saúde e ao êxito de sua missão,peço que bebam comigo, todos os pre-sentes.

geisel fala sobre o brasilpara os mexicanos

Entrevista do Presidente Ernesto Geisel à Televisa,do México, gravada em Brasília, em 11 de janeiro de 1978,

e transmitida ao povo mexicano dois dias depois;e a entrevista do Presidente brasileiro à Radiobrás,

em 14 de janeiro de 1978, transmitidasimultaneamente por uma rede de emissoras de rádio

e televisão do Brasil e do México.

ENTREVISTA À TELEVISA

Pergunta — Senhor Presidente, haveria mui-to que perguntar-lhe, mas, em razão do li-mitado tempo de que dispõe, tivemos queabreviar nossas perguntas. A primeira per-gunta é a seguinte: como definiria seu Go-verno no panorama da América Latina, comrelação a outros regimes militares? Acreditao Senhor que nossos povos latino-america-nos necessitam, de certo modo, de um Go-verno com disciplina militar ou que este é,talvez, o sistema mais eficaz para resolvernossos problemas atualmente? O próximoGoverno do Brasil, o do General Figueiredo,será o último Governo militar no Brasil?

Resposta — Eu acho que cada nação temcaracterísticas próprias, decorrentes desuas tradições, de seu sistema de vida. E

que um dos graves erros que se comete équerer copiar, um país do outro, as suasinstituições. As instituições políticas variamem função da natureza do país, das carac-terísticas que ele tem. É evidente que todosdesejamos viver no regime democrático,mas esse regime democrático tem que seadaptar às peculiaridades do país. Fala-seem governos militares na América Latina.Existem, de fato, alguns governos que têmcaracterísticas profundamente militares, ou-tros, têm características já mais atenuadase outros são considerados como militares,mas na realidade não o são. Veja que noBrasil nós tivemos uma Revolução em 1964.O México também teve a sua, foi uma revo-lução sangrenta que se prolongou por mui-tos anos, que se consolidou e que sobreviveaté hoje. A Revolução brasileira que foi fei-ta em 64, evoluiu ao longo desses 13 anosde existência. O Governo teve, de início,uma interferência militar muito grande, que

31

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 33: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

utilização do hidrogénio, que seria umanova alternativa energética.

Resposta — Eu realizarei a minha visita aoMéxico com extraordinária satisfação. Deum lado porque eu vou conhecer um paísde visu, quando até hoje eu o conheço atra-vés de relatórios e livros, ilustrações, ou deconversas com amigos que já estiveram porlá. Mas não há como a impressão própria,visual, para se formar ideia da realidade dopaís. Eu considero o México um país fasci-nante. Pela sua história, pelas suas realiza-ções. Acredito que a minha visita ao Méxicosirva para estreitar mais os entendimentosentre os nossos países. Nós vivemos umpouco distantes. A realidade é que o Brasile o México, ao longo desses anos todos,embora não tivessem problemas entre si,fossem sempre amigos e quase sempre t i -vessem concordado nos seus pontos de vis-ta, se mantiveram mais ou menos distantes.Eu não sei se é uma decorrência da geo-grafia ou se é uma falta dos homens e dosestadistas que governaram esses países.Pois bem, eu vou me esforçar para diminuiressa distância não só no sentido humano-social, mas também no económico. Achoque no campo económico o Brasil e o Mé-xico, se usarem a imaginação e procuraremexplorar este terreno, terão muitas áreasem que poderão cooperar e que se poderãocomplementar. E darão, assim, a outros paí-ses da América Latina, exemplo da coope-ração que todos nós devemos fazer, de in-teresse comum. Há, por exemplo, esse as-pecto a que a senhora se referiu que é oaspecto energético. Esta é uma das maioresvulnerabilidades do Brasil. Sabe que o Bra-sil até hoje é um país pobre em recursosenergéticos, sobretudo em petróleo e car-vão, recursos fósseis. Nós tivemos a grandefelicidade de ter uma extraordinária redehidráulica, os nossos rios é que até hojetêm produzido quase toda a energia que opaís consome. Mas estamos preocupadoscom o futuro. O México teve, agora, a ex-traordinária ventura de aumentar o seu po-tencial de petróleo e de gás que é umariqueza extraordinária e eu acredito queessa riqueza em si vai transformar o Mé-xico. O Brasil até agora não teve a mesmaventura, mas claro que temos outras vanta-gens, outras circunstâncias que nos permi-

tirão enfrentar esse problema. Mas, de qual-quer maneira, nós achamos que esses re-cursos, com o tempo, possivelmente no fimdo século, vão chegar ao fim e nós temosque encontrar outras fontes de energia e aíestá porque o Brasil luta por um programanuclear independente, embora seja um paíspacifista e absolutamente não pense emproliferar a arma nuclear. O país precisa,necessita urgentemente, de cuidar desseproblema, sobretudo tendo em vista a po-pulação futura que teremos. Achamos quehaverá outros processos além da energiasolar. Acreditamos que o hidrogénio tam-bém possa vir a ser um combustível a serutilizado e aí então a tecnologia terá queser desenvolvida. Mas, torno a lhe dizer queestou ansioso em chegar ao México e acre-dito que a minha viagem trará para mimduas satisfações íntimas. Uma, de conhecero México e a sua gente, não só os seus diri-gentes, mas o povo, num contato íntimoque me permita fazer alguns amigos a maisna minha vida. Mas de outro lado, de serútil ao Brasil e ao México, estabelecendorelações mais profundas e mais proveitosaspara ambos os países e conseqúentementeem benefício geral.

ENTREVISTA A RADIOBRAS

Pergunta — Com respeito à sua viagem aoMéxico, no final desta semana, quais os re-sultados que o senhor espera obter nestaviagem, sobretudo no campo económico etambém no campo político?

Resposta — Eu vou ao México a partir des-te sábado, retribuindo a visita que nos fezo Presidente Echeverría. Fui convidado es-pecialmente pelo Presidente Portillo e jul-guei do meu dever, apesar dos muitos afa-zeres que eu tenho aqui dentro do país, irao México. Então, em primeiro lugar, é umagentileza, é corresponder a uma viagem queo Presidente mexicano fez ao Brasil, e re-tribuir esta visita. Mas, evidentemente, nãoé só isto. O Brasil e o México são dois paí-ses amigos, identificados nas suas mani-

34

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 34: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

festações no campo internacional, ambosbuscando desenvolver-se, ambos buscandoo bem-estar de suas populações, sem diver-gências entre eles. Mas, que vivem, apesardisso, afastados. Não apenas pela distânciageográfica, mas vivem afastados no seu re-lacionamento efetivo, nos campos econó-mico, cultural, social. Um dos meus obje-tivos — e objetivo principal — é então verse diminuo essa distância, verificar se épossível juntar um pouco mais o Brasil e oMéxico. Fazer com que os dois países tra-balhem um pouco mais, juntos em todos ossentidos e em benefício recíproco. Acreditoque no campo económico, por exemplo, hámuita coisa que se pode fazer no sentido

de complementar as duas economias, combenefício para ambos os países, e, conse-qiientemente, para um melhor desenvolvi-mento. Acho também que no campo cultu-ral e no campo social há muitas coisas quepodem ser feitas no sentido de nos apro-ximar. No campo económico, há aspectosque deverão ser discutidos, evidentemente,entre a delegação que me acompanhará eos representantes do Governo do México.Mas, eu acredito e espero que dessas con-versações resultem, de fato, medidas dealcance objetivo, prático e que sejam bene-ficiadas para os dois países. Auguro a estaviagem um resultado que seja proveitosopara o Brasil.

a entrevista de azeredo da silveira àtelevisão mexicana

i Entrevista do Chanceler Azeredo da Silveira àTelevisa, do México, gravada em Brasília, em

janeiro de 1978.

Pergunta — 0 Governo brasileiro vai fazerformalmente um convite ao Presidente Ló-pez Portillo para visitar o Brasil?

Resposta — Sem dúvida. No Comunicado,que será divulgado ao final da visita, de-verá estar registrado o convite para que oPresidente Portillo visite o Brasil. E a visitado Presidente mexicano será certamenteum momento importante neste processo deintensificação de contactos entre mexicanose brasileiros.

Pergunta — Há alguma data prevista paraa vinda do Presidente?

Resposta — Ainda não há, e a sua fixaçãodependerá da conveniência do PresidentePortillo. Será marcada a data que lhe formais propícia, o que, aliás, está de acordocom a tradição brasileira de que os nossosconvidados oficiais devem ser tratados em

função de seus interesses e de suas conve-niências.

Pergunta — Além dos acordos que, no cam-po económico e comercial, vão ser concer-tados no México durante a visita do Presi-dente Geisel, que significado político, den-tro do panorama latino-americano, terá oencontro do Presidente do Brasil e do Presi-dente do México?

Resposta — O encontro é, sem dúvida, umfato de alta importância política para todaa América Latina. Em primeiro lugar, Brasile México são, entre os países em desenvol-vimento, dos mais industrializados, dos maisdesenvolvidos. Assim, com plena consciên-cia de participação no grupo dos países emdesenvolvimento, nossas condições própriascriam, para as duas nações, responsabili-dades novas, inclusive em relação ao pro-cesso mundial de negociação económica.

35

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 35: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Um segundo ponto a destacar é o fato deque não existe nenhuma área de fricção en-tre o Brasil e o México; não existem nemmesmo os atritos normais dos países muitopróximos, que têm relações no cotidiano di-plomático. Essa situação tem um peso po-lítico próprio, de abrangência continental.Assim, quando Brasil e México fixam en-tendimentos e posições comuns sobre pro-blemas continentais, as soluções tendem aser mais fáceis. E, quero enfatizar o "con-tinental", porque esta compreensão valetambém para as relações entre os dois paí-ses e os Estados Unidos.

Pergunta — 0 Senhor consideraria o Gover-no brasileiro como situado num lugar dife-rente dos outros governos na América La-tina?

Resposta — É evidente que todos os paísessão distintos, têm traços peculiares, e, poristo, não devemos aceitar fórmulas simpli-ficadas sobre a América Latina, que nostransformem numa "massa informe". Essasfórmulas nascem muitas vezes na Europa enos Estados Unidos, e são aceitas por nós,por alguma razão preguiçosa. Existem, po-rém, entre os países latino-americanos, for-tes denominadores comuns, não só quantoàs estruturas de nossa formação, mas tam-bém — e sobretudo — quanto a objetivosconcretos de desenvolvimento, de melhoriasocial, de criação de uma ordem económicamais equitativa, de criação de bases sóli-das para a paz mundial. São denominado-res comuns que nos unem a nós latino-americanos, e, num quadro maior, os paí-ses em desenvolvimento como um todo; po-rém, em vista mesmo de responsabilidadeshistóricas, nós, latino-americanos, temostido uma maior dose de consciência em re-lação a essa luta comum do que outras re-giões em desenvolvimento. Tocando, agora,no problema de nossa diversidade, só que-ria assinalar que ela deve ser um sinal denossa riqueza. O próprio fato da existênciadessa diversidade, da existência de perso-nalidades nacionais diferentes, é um dadoque facilita o progresso, porque cria fontepermanente de diálogo e de inovação. Para-lelamente, um outro dado que vale assi-nalar são as simplificações que adotamosem relação a terceiros. Projetamos simplifi-

cações, e este não é um processo corretode entender o outro. Isto acontece com aÁfrica. Creio que, agora, nós, latino-ameri-canos, devemos fazer um esforço para com-preender a África, com suas motivações pró-prias, com as suas peculiaridades nacionais,e não como um simplificado bloco homogé-neo. Aliás, a homogeneidade não existe emparte alguma do mundo, mesmo entre de-senvolvidos. O caso europeu é claro, comas diferenças entre países como a Alemanhae a Bélgica, com as diferenças internas dosbelgas. Em suma, não é possível ignoraros matizes de diferenciação nacional. Ago-ra, creio que cabe voltar ao nosso proble-ma Brasil-México. Em termos de etapa dedesenvolvimento, há similaridades entre aseconomias dos países. Chegamos, ambos, acriar indústria de ponta, e a questão agora,é produzir internamente os insumos paraessa indústria. Ambos compreendemos quea expansão industrial, porque baseada nu-ma tecnologia estrangeira, obriga a um pro-cesso de importação de insumos, com o quesão gerados problemas de balanço de paga-mentos. Assim, o momento é de resolveressa questão, com um esforço significativoque nos levará a um grau maior de inde-pendência económica. Politicamente, Mé-xico e Brasil têm também traços similares,sobretudo na área da política externa. Emtermos de política interna, cada qual segueum caminho próprio, com traços nacionais,o que talvez seja, em si mesmo, uma razãode afinidade.

Pergunta — Por que razão não se conseguiua integração dos países da América Latina?

Resposta — Este é um problema complexoe não admite diagnósticos simples e unila-terais. Ademais, não se deve considerar oproblema da integração como um problemafechado, acabado. Ao contrário, o Brasilacredita que esforços devam continuar, emtodos os campos, com o objetivo de aper-feiçoar as formas e os métodos da integra-ção. Um outro dado a considerar são os re-sultados já obtidos pelo processo. A ALALCprestou um serviço imenso à América La-tina, embora se possa admitir hoje que omecanismo atingiu um ponto de saturação.De fato, o sistema de integração através dereduções tarifárias das listas nacionais tal-

36Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 36: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

vez esteja, no momento, esgotado em suaspotencialidades; porém, o que importa as-sinalar é que, em determinada conjunturahistórica, o sistema propiciou um cresci-mento significativo do comércio intra-latino-americano. E, mais do que isto, o sistemaserviu para a tomada de consciência denossa dependência. De fato, em virtude doslaços históricos que nos atraíam para forado continente, o esforço maior da integra-ção teria que ser no sentido de procurarinverter as setas comerciais e económicas,que, em vez de apontar para as antigas me-trópoles, deveriam apontar para dentro daAmérica Latina. É uma tarefa gigantesca, dedimensões históricas, e, na ALALC, algunspassos importantes foram dados neste sen-tido. Veja-se o próprio caso do Brasil. Hoje,o nosso comércio com os países latino-americanos é essencial no quadro globalde nossas exportações e importações. Coma Argentina, as trocas anuais superam osoitocentos milhões de dólares; com o Uru-guai, país de alta renda per capita, o co-mércio já atingiu duzentos milhões de dó-lares, e somos os maiores vendedores ecompradores da Nação uruguaia. Em suma,a ALALC teve um papel catalizador impor-tantíssimo, e agora a tarefa é a de encon-trar caminhos novos, que prossigam as li-nhas abertas pela associação. Toda açãosolidária, que leve a empreendimentos con-juntos e frutíferos, deve ser estimulada. De-vemos sonhar com o dia em que, por exem-plo, México, Venezuela e Brasil, que são im-portadores de equipamento da indústria pe-trolífera, montem juntos a sua própria in-dústria nesta área. É preciso criar as basespara esses empreendimentos, não só no ní-vel económico, mas também nos níveis so-cial, educacional e político. É necessárioforjar a decisão de integrar, e acho que es-tamos caminhando neste sentido.

Pergunta — 0 Senhor considera que as di-ferenças políticas deveriam ser deixadas delado diante da importância do esforço deintegração?

Resposta — Devemos evitar colocações ma-niqueístas, e focalizar, em cada situação,seus matizes e peculiaridades. Devemos evi-tar oposições radicais entre economia e po-lítica, e também ligações simplistas entre

uma e outra. Tratando diretamente de suapergunta, queria assinalar, em primeiro lu-gar, que, em hipótese extrema, se poderiaadmitir um regime político de tal forma in-tolerável que não coubesse em mecanismosde integração. Mas, isto, repito, é uma hnpótese extrema. De alguma forma, haveriaque admitir movimentos paralelos; de umlado, a luta pelo aprimoramento institucio-nal, e, de outro, a necessidade de combatera miséria, a ignorância, a necessidade demelhorar as condições sociais e económicasdo cidadão. São tarefas inadiáveis, e, se nóspudermos dar ao povo de nossas naçõesmelhores condições de vida, seremos efe-tiva e realmente grandes países. Os paísesnão são grandes por seu tamanho, nempelo inventário dos fatores de poder, maspela qualidade de seus nacionais. E, paradar qualidade à vida humana, o desenvolvi-mento económico, que pode ser grandemen-te facilitado pela integração, é essencial.Voltando agora à equação regime político-integração, gostaria de lembrar que é sim-plista dizer que a similaridade de regimes éum fator de aproximação entre países. Oexemplo mais claro é o da cisão entre asduas maiores potências comunistas; mas háoutros exemplos de países socialistas, naÁfrica e na Ásia, em que a aproximaçãoideológica não serviu para atenuar razões deconflito. Enfim, não há fórmulas fáceis so-bre o problema da integração. Assim, fina-lizando minhas observações, queria fazeralgumas indicações gerais: deveríamos serhumanos e generosos com nossos irmãoslatino-americanos; deveríamos evitar a crí-tica a regimes, o que é sempre fácil; nãosou contra a crítica, que serve mesmo àconstrução política interna, mas certamentepoderia não cumprir as mesmas funções po-sitivas no quadro internacional, quando atin-ge o princípio de não-intervenção. Enfim,não é pela via fácil da crítica a regimes esim pela ação conjunta e integracionistaque, os países podem conseguir internacio-nalmente condições mais propícias paramelhorar a qualidade de vida de suas popu-lações.

Pergunta — 0 Senhor acredita que haja al-guma nação latino-americana mais podero-sa, e que possa auferir benefícios especiaisda integração?

37

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 37: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Resposta — Acredito que o processo de in-tegração não deve caminhar no sentido dosbenefícios desiguais, que favoreçam as na-ções mais desenvolvidas. Ao contrário, ospaíses que têm maiores possibilidades, têmtambém maiores deveres para com os ir-mãos latino-americanos. Por exemplo, oBrasil aceita a prática de dar tratamento es-pecial ao Paraguai, à Bolívia e ao Uruguai,que são considerados países de menor de-senvolvimento relativo. Porém, esta situa-ção não deve ser entendida como definiti-va: os países não devem estacionar nestaposição, e o objetivo da integração deve serexatamente o de procurar níveis de igual-dade entre os diversos países. Responden-do a pergunta de um outro ângulo, a ideiade nação mais poderosa deve ser qualifica-da. Devemos pensar nas comunidades me-nores que, afinal, formam a nação. Os paí-ses são feitos de comunidades pequenas, e,nestas, deve estar concentrada a atençãoquando se discute o problema do desenvol-vimento. Assim, poderemos discernir as dis-paridades internas, no âmbito de uma na-ção, e introduzir as qualificações de que fa-lávamos no conceito de nação latino-ameri-cana poderosa. Enfim, tomando esse eixode análise, percebemos, em suma, que nãohá ainda desenvolvimento uniforme emnossos países, e que nós devemos, emnossos esforços de progresso, olhar para adimensão global, que inclui o cuidado comas comunidades que tenham necessidadesmaiores.

Pergunta — Levando-se em conta os enor-mes recursos de que dispõe o Brasil, po-der-se-ia pensar que busca uma hegemoniana América Latina?

Resposta — Não existe o menor sentido emafirmações sobre pretensões hegemónicasdo Brasil na América Latina. Entre nós, la-tino-americanos, não existem hegemonias,e, além disto, para situar o problema, sem-pre é importante enfatizar que as verdadei-ras hegemonias são as que vêm de forado continente, e o artifício de torná-las in-tra-latino-americanas só pode ser entendido

como instrumento político para nos afastar,para dificultar a realização de nossa econo-mia. Falando agora do Brasil, gostaria delembrar alguns traços de nosso panoramainterno. Temos zonas difíceis, com obstá-culos importantes ao desenvolvimento. Es-tamos fazendo um enorme esforço no Nor-deste, temos ainda problemas de educação,existe uma imensa infra-estrutura a sermontada, enfim, existe uma imensa tarefainterna a desafiar os esforços e as realiza-ções dos brasileiros. Neste quadro, porquee para que o Brasil iria pretender hegemo-nias? Não traria nenhum tipo de benefícioe certamente iria criar problemas insolú-veis. Aliás, caberia aqui uma consideraçãode ordem geral: no mundo contemporâneo,com a criação dos meios nucleares de des-truição, o poder das super-potências se pa-ralisou, não pode ser usado como instru-mento de conquista. Por razões muito maisfortes, não se pode pensar em hegemoniasinternas na América Latina. Não quero, comisto, negar a diferença entre países. México,Argentina e Brasil têm dimensões físicas eeconómicas que os distanciam de seus vi-zinhos, mas, essa realidade física não temuma contrapartida em termos políticos, emtermos de dominação. Ao contrário, talvezhaja mesmo um preço a pagar em virtudedas dimensões maiores. Explico: quando oBrasil ou o México entram em negociaçõescom países menores, procuram fazer um es-forço adicional para eliminar qualquer ves-tígio de traço hegemónico, ainda que nuncatenha existido qualquer intenção neste sen-tido em nossos contatos latino-americanos.Assim, é recuperada plenamente, sem qual-quer tipo de sofisma, a igualdade absolutados negociadores, que em termos latino-americanos, é expressão jurídica e ao mes-mo tempo política.

Pergunta — Por que não se chamou o Go-verno argentino para a hidrelétrica de Itai-pu? Há algum ressentimento argentino emrelação ao acordo entre Brasil e Paraguai?

Resposta — A resposta é simples: em Itai-pu, o rio é comum ao Paraguai e ao Brasil,portanto não haveria razão para que a Ar-

38

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 38: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

gentina participasse do empreendimento.Não creio também que haja ressentimentoargentino. Nossa posição tem sido absolu-tamente jurídica, e estamos cumprindonossas obrigações de partes do Tratado daBacia do Prata, especialmente a de nãocausar qualquer prejuízo sensível à Argen-tina.

Pergunta — Há oposição argentina ao en-tendimento entre o Brasil e o Paraguai?

Resposta — Penso que não, e uma provadisto são as negociações tripartites que orase desenvolvem entre Brasil, Argentina eParaguai. Sobre as negociações, dois ele-mentos são importantes e, creio, facilita-ram o entendimento. Em primeiro lugar, éo fato de que, logo nos primeiros encontros,entregou-se ao Governo argentino o planode construção da represa, em grande nívelde detalhamento. Foram entregues, pois, osplanos que estão sendo efetivamente usa-dos na construção e não uma mera descri-ção do projeto, ao qual poderia ser mani-pulada. Com isto, foi possível iniciar o diá-logo em termos muito concretos e muitopromissores. Em segundo lugar, o Governobrasileiro sempre reconheceu as responsa-bilidades jurídicas advindas da construção,e, por isto, está perfeitamente conscientede que não deve causar prejuízos sensíveisà Argentina. Paralelamente, existem outrosaspectos de Itaipu que devem ser mencio-nados. Anteriormente, quando se negocia-vam empreendimentos comuns na AméricaLatina, os países de maior volume popula-cional pleiteavam parcelas proporcional-mente maiores dos benefícios do empreen-dimento. Não é essa a posição brasileira.O Governo brasileiro assinou a Ata das Ca-taratas que estatui que, sendo o rio comuma dois países, os benefícios devem ser di-vididos igualmente. Assim, em Itaipu, Bra-sil e Paraguai têm rigorosamente os mesmosdireitos. Itaipu é importante, pois, pelo va-lor económico, e também pelo valor jurídi-co, pela introdução do sentido de igualdadenas obras compartilhadas. Um outro dado éo da significação de Itaipu como fator dedinamismo económico. De fato, a constru-ção da represa tem servido ao processo eco-

nómico da região, e servirá de forma aindamais profunda depois que entrar em funcio-namento. Valerá para o Paraguai e para umazona brasileira importantíssima.

Pergunta — Que repercussões podem ter,para o seu país, no âmbito internacional, oreconhecimento de Angola?

Resposta — Fomos dos primeiros países areconhecer o Governo de Angola, que é umpaís de língua portuguesa e muito próximodo Brasil, cultural e historicamente. Quantoao reconhecimento, está baseado estrita-mente no princípio de não-intervenção, queé essencial à política externa brasileira. Nóstínhamos, antes mesmo da independência,uma representação em Angola junto ao Go-verno de transição. Fomos convidados a es-tabelecer a representação pelos três movi-mentos. Quando se completou o processode independência, a atitude brasileira, sem-pre baseada na não-ingerência, foi a de re-conhecer o país, e manter em Luanda anossa representação (com status diferen-te). Lembro, aliás, que o Presidente Agos-tinho Neto convidou o Presidente Geisel aassistir às comemorações da independência,o que não pôde fazer.

Pergunta — Haverá algum aumento nas re-lações comerciais e económicas com An-gola?

Resposta — Sem dúvida. Desde a indepen-dência de Angola, o comércio e a coopera-ção entre os dois países têm crescido demaneira significativa. É verdade que a com-petição comercial com os industrializadosé difícil, mas ainda assim temos muito aoferecer. E estamos fazendo todos os es-forços para concretizar a aproximação co-mercial.

Pergunta — Qual a sua opinião sobre a po-lítica que sustenta os Estados Unidos emrelação à América Latina? Com muita fre-quência se fala que o objetivo dessa políticaé impedir a integração latino-americana?

39

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 39: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Resposta — É difícil e ao mesmo tempo in-teressante responder à sua indagação. Apremissa que deve nos orientar, na respos-ta, é a seguinte: o desafio dos países lati-no-americanos é um desafio de eficiência,que deve chegar mesmo ao campo da po-lítica. Não devemos, pois, nos sustentar nabase de ser contra ou a favor de entes abs-tratos. Devemos, sim, ser a favor dos in-teresses nacionais de nossos países, a favorda América Latina. Com base nessas cate-gorias, devemos orientar a nossa ação. As-sim, se outros países agem em contradiçãocom nossos interesses, devemos resistir,evitar a ingerência. Ou seja: devemos serindependentes sem cultivar um espíritoagressivo contra tal ou qual país. O quedisse em termos gerais vale para as rela-ções entre o Brasil e os Estados Unidos:o Brasil não tem uma atitude anti-america-na, mas, quando se manifesta algum cho-que concreto de interesses, fazemos ques-tão de resistir e afirmar nossas posições.

Pergunta — O Governo norte-americanoexerceu certas pressões sobre o Brasil naquestão do Acordo Nuclear com a Ale-manha?

Resposta — Acredito que os momentos maisdifíceis desta divergência já estão parcial-mente superados. Sobre esse assunto, gos-taria de fazer algumas reflexões que expli-cam a posição brasileira. Em primeiro lu-gar, não é possível impedir a proliferaçãointelectual, a transferência de tecnologia.Caso se tente, os países seriam obrigadosa fazer esforços maiores, porém, mais cedoou mais tarde, acabariam por lograr seusobjetivos tecnológicos. Assim, não é atravésde bloqueios tecnológicos que se impediráa proliferação nuclear. Sobre esse assunto,o Brasil tem uma posição clara e consis-tente. Acreditamos que o instrumento váli-do para evitar a proliferação é o estabeleci-mento de salvaguardas eficazes, que, semimpedir a transferência de tecnologia, im-peçam efetivamente a utilização militar daenergia nuclear. Por isto, assinamos o Tra-tado de Tlatelolco, que nos proíbe de terarmas nucleares. Concluindo, voltaria aotema da proliferação intelectual com um

exemplo concreto sobre a questão do enri-quecimento de urânio. Quando se começoua utilizar a energia nuclear, havia somenteum processo de enriquecimento, que estavamonopolizado por determinados países.Agora, inventou-se um outro processo, o dacentrifugação, e vários países têm condi-ções de proceder ao enriquecimento, semque de nada tenha valido a exclusividadeinicial no domínio técnico. Com o reproces-samento, o mesmo deverá acontecer. Creioque essas observações reforçam a tese bra-sileira: o fundamental é impedir a fabrica-ção de armas nucleares, com a criação desalvaguardas adequadas; é inútil e contra-producente tentar evitar a proliferação in-telectual.

Pergunta — É verdade que, em sua viagemao México, o Presidente Geisel será acom-panhado por um grupo de empresários?

Resposta — De fato, um grupo empresarialacompanhará o Presidente, o que, aliás, re-flete a importância das relações entre osdois países a nível de empresa. Assim, noquadro geral do encontro, este grupo terásem dúvida um peso específico grande noesforço de aproximação brasileiro-mexica-na. O chefe do grupo será inclusive mem-bro oficial da delegação brasileira, e, para-lelamente aos encontros de autoridades go-vernamentais, haverá um programa especí-fico de reuniões de empresários. Estou cer-to de que a presença empresarial servirápara criar novas motivações e novos im-pulsos para a aproximação entre os dois paí-ses, seguindo o caminho aberto pela visitado Presidente Echeverría.

Pergunta — Que setores estarão represen-tados no grupo empresarial?

Resposta — Irão empresários de vários se-tores: siderúrgico, petrolífero, de manufatu-rados, de agricultura, de insumos indus-triais, e outros. Cabe lembrar, a respeito,que o Brasil e o México são, no âmbito daALALC, dos países que mais firmaram acor-dos de integração industrial. Assim, os vá-rios setores poderão utilizar a oportunidadedo encontro para dinamizar esses acordose abrir novas frentes de cooperação.

40

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 40: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

declaração conjunta brasil-méxico:incrementar a cooperaçãoeconómica e financeira

Declaração Conjunta Brasil-México,assinada na Capital mexioana, em 18 de janeiro de

1978, pelos Presidentes Ernesto Geisel eJosé López Portillo

A convite do Senhor Presidente dos Esta-dos Unidos Mexicanos, Doutor José LópezPortillo, o Senhor Presidente da RepúblicaFederativa do Brasil, Ernesto Geisel, acom-panhado de sua esposa, Senhora Lucy Mar-kus Geisel, realizou uma visita de Estadoao México, de 16 a 18 de janeiro de 1978.

O Presidente da República Federativa doBrasil se fez acompanhar pelos SenhoresSenador Petrônio Portella, Presidente doSenado Federal; Deputado Marco AntónioMaciel, Presidente da Câmara dos Depu-tados; Embaixador António F. Azeredo daSilveira, Ministro de Estado das RelaçõesExteriores; Doutor Angelo Calmon de Sá,Ministro de Estado da Indústria e do Comér-cio; Doutor Shigeaki Ueki, Ministro de Es-tado das Minas e Energia; General-de-Bri-gada Gustavo Moraes Rego Reis, Ministrode Estado, Chefe do Gabinete Militar da Pre-sidência da República, e por outras altasautoridades do Governo brasileiro.

Durante a sua permanência no México, oPresidente da República Federativa do Bra-sil recebeu as chaves da cidade das mãosdo Chefe do Departamento do Distrito Fe-deral, em uma cerimónia que se realizou no"Salão de Cabildos".

O Presidente da República Federativa doBrasil manteve, ainda, contatos com setoresempresariais e personalidades representa-tivas de várias associações mexicanas e dosmeios de comunicação.

O Presidente do Senado Federal e o Presi-dente da Câmara dos Deputados, do Brasil,foram recebidos pelo Presidente da GrandeComissão da Câmara de Senadores e pelo

Presidente da Grande Comissão da Câmarade Deputados.

Os dois Chefes de Estado mantiveram am-plas e amistosas conversações sobre diver-sos temas da atualidade internacional e deinteresse mútuo. Analisaram, com particularatenção, a situação da América Latina e asrelações entre ambos os países. Outrossim,os Ministros de Estado do Brasil, que acom-panharam o Presidente Geisel, examinaramaprofundadamente, com os Secretários deEstado mexicanos e outras autoridades me-xicanas, os assuntos relativos às suas áreasde competência.

Ambos os Mandatários reafirmaram a suafé nos princípios da Carta das Nações Uni-das e da Carta da Organização dos EstadosAmericanos. Estiveram de acordo ao consi-derar que os enunciados compreendidosnesses documentos são os melhores instru-mentos para manter a paz e a segurançainternacionais sobre bases justas e equita-tivas. Ao reafirmar a sua convicção a res-peito da validade desses princípios, coinci-diram na importância da participação no Co-mité da Carta das Nações Unidas e no for-talecimento da Organização, com o fim demodernizar e agilizar os mecanismos damesma.

Ratificaram a sua convicção quanto à ur-gência do desarmamento universal, geral ecompleto, sob eficaz controle internacional,destacando a importância da Primeira As-sembleia Extraordinária sobre Desarmamen-to, que se realizará este ano.

Ao examinar o estado em que se encon-tram as relações económicas internacionais,

41

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 41: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

os dois Presidentes reafirmaram o seu de-sejo de continuar o processo de instrumen-tação da nova ordem económica internacio-nal, cujos princípios já foram definidos noâmbito das Nações Unidas, ordem que deveproporcionar condições favoráveis ao exer-cício efetivo do direito de todos os paísesao desenvolvimento económico e social.Manifestaram profunda preocupação com oressurgimento de medidas protecionistasadotadas pelos países industrializados, asquais afetam as exportações dos países emdesenvolvimento.

modificar a estrutura económicainternacional

Expressaram o interesse de seus Governospela modificação da presente estrutura eco-nómica e comercial internacional e dasnormas que a regem, com o objetivo de fa-cilitar o acesso dos produtos de seus paísesaos mercados dos países industrializados.Concordaram, ademais, quanto à necessi-dade urgente, para os países em desenvol-vimento, de um tratamento especial e maisfavorável por parte dos países industriali-zados.

Ressaltaram a necessidade de fortalecer acooperação entre os países em desenvolvi-mento, como um dos elementos fundamen-tais para a consecução da nova ordem eco-nómica internacional.

Ressaltaram a conveniência de que, atravésde mecanismos internacionais adequados,especialmente estoques de estabilização,de que participem tanto os países produto-res quanto os consumidores, sejam assegu-rados preços justos e estáveis para as ex-portações de matérias-primas e produtosagrícolas dos países em desenvolvimento,de modo a proporcionar níveis adequadosde remuneração aos setores dedicados àsua produção.

Os dois Presidentes ressaltaram que sãofundamentais os direitos do indivíduo àalimentação, saúde, moradia, educação eemprego, e que, para assegurar esses ní-veis mínimos aos povos dos países em de-senvolvimento, é necessária uma nova or-

dem económica internacional mais justa eequitativa. A esse propósito, reafirmaram aadesão de seus dois países à DeclaraçãoUniversal sobre os Direitos do Homem.

Manifestaram a sua confiança em que aConferência das Nações Unidas sobre Ci-ência e Tecnologia alcance os seus objeti-vos e sejam criados mecanismos de coope-ração internacional, para fortalecer a ca-pacidade tecnológica dos países em desen-volvimento, para o que é necessário asse-gurar a esses o acesso, em condições favo-ráveis, às conquistas da ciência e da tec-nologia.

Externaram a esperança de que a TerceiraConferência das Nações Unidas sobre o Di-reito do Mar alcance resultados positivos,capazes de contar com a adesão universal.Congratularam-se com que, como resulta-do dos trabalhos que a Conferência realizouaté o presente, haja sido consolidada, comonova instituição do Direito do Mar, a zonade 200 milhas. Ao mesmo tempo, convie-ram em que os dois Governos continuarão,como até o momento, cooperando estreita-mente para conseguir a adoção de instru-mentos que, com apoio no fato de que osrecursos do fundo dos mares além das zo-nas de jurisdição nacional são patrimóniocomum da humanidade, assegurem a justae equitativa participação dos países em de-senvolvimento na exploração de tais re-cursos.

Reafirmaram a adesão de seus países aoprincípio da soberania plena e permanentedos Estados sobre os seus recursos natu-rais, para promover o desenvolvimento eco-nómico e social e o bem-estar dos seuspovos.

Os dois Chefes de Estado expressaram asua decisão de empreender esforços paralograr que, no mais breve prazo possível econforme o solicitou a última Assembléia-Geral das Nações Unidas, seja obtida a ple-na vigência dos Protocolos I e II do Tra-tado para a Proscrição das Armas Nuclearesna América Latina (Tratado de Tlatelolco).

O Presidente do México expressou a espe-rança de que o Brasil considere a conveni-ência de dispensar os requisitos a que se

42

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 42: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

refere o Artigo 28 do Tratado de Tlatelolco,a fim de que o citado instrumento entre emvigor para o Brasil.

Por sua vez, o Presidente do Brasil assina-lou que, havendo o Brasil assinado e ratifi-cado o Tratado de Tlatelolco, já existe parao País, em decorrência das normas do Di-reito Internacional sobre a vigência de atosinternacionais, a obrigação de não realizarações que frustrem o objetivo e os fins doTratado.

fins estritamente pacíficos para aenergia nuclear

Os dois Presidentes reafirmaram o direitoque têm todos os Estados de utilizar, noprocesso de seu desenvolvimento económi-co e social, a energia nuclear com fins es-tritamente pacíficos, sob salvaguardas in-ternacionais adequadas.

No âmbito da cooperação económica regio-nal, reafirmaram a sua fé nos propósitosque inspiraram a Associação Latino-Ameri-cana de Livre Comércio e manifestaram ointeresse em que os mecanismos de coor-denação, cooperação e integração, instituí-dos sob a égide da ALALC, possam fortale-cer-se e dinamizar-se. A esse respeito, assi-nalaram que a próxima Conferência deMinistros das Relações Exteriores, com pre-paração adequada, poderá trazer uma con-tribuição importante para a consecução detais objetivos.

Assinalaram, ainda, a comprovada utilidadedas formas de integração sub-regional e decooperação, tais como o Acordo de Carta-gena, o Tratado da Bacia do Prata, o Mer-cado Comum Centro-Americano, o MercadoComum do Caribe e a Organização Latino-Americana de Energia (OLADE), para lograrprogressos no processo de integração daAmérica Latina. Nesse mesmo contexto, re-afirmaram o seu apoio aos objetivos e dis-posições do Convénio do Panamá, constitu-tivo do Sistema Económico Latino-America-no (SELA).

Os dois Chefes de Estado constataram quedurante os últimos anos o intercâmbio co-

mercial entre os dois países registrou au-mentos muito importantes, porém sensivel-mente inferiores aos que implica o poten-cial económico de ambos os países.

Para lograr maiores níveis de comércio, con-vieram na necessidade de:

a) abrir novas linhas recíprocas de créditoe mecanismos que permitam o seu máximoe ágil aproveitamento;

b) estabelecer, reciprocamente, agênciasdas instituições financeiras de ambos ospaíses, para apoiar e estimular as corren-tes de comércio;

c) rever, pelas autoridades competentes deambos os países a situação atual dos fretesmarítimos, com o objetivo de transformá-losem um instrumento de apoio e estímulo aocomércio mútuo.

Concordou-se, também, que proximamentese trocarão listas de produtos a serem pro-movidos nos dois países. Acordou-se em re-alizar todos os esforços que estejam aoalcance de ambos os Governos, para remo-ver as restrições administrativas que criemobstáculos ao comércio entre os dois países.

Convieram em dinamizar e incrementar ointercâmbio técnico e científico-tecnológico,com vistas a apoiar os programas indus-triais que se efetuem entre os dois países.

Convieram, ademais, em acelerar os traba-lhos entre o Conselho de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico, do Brasil (CNPq),e o Conselho Nacional de Ciência e Tecno-logia, do México (CONACYT), com base noconvénio existente entre as duas institui-ções.

utilização plena do potencialeconómico de ambos os países

Reconhecendo as vantagens mútuas que re-sultam da plena utilização do potencial eco-nómico de ambos os países, convieram emincrementar a cooperação económica e f i -nanceira para apoiar os respectivos progra-mas de investimentos, particularmente nos

43

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 43: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

campos industrial, agrícola e de produçãode matérias-primas. Ressaltaram, de modoespecial, as possibilidades existentes paraa produção de bens de consumo durável,intermediários e de capital. Determinaramrecomendar, aos órgãos competentes deseus respectivos Governos, a realização deestudos sobre projetos de colaboração nossetores de mútuo interesse.

Com relação aos produtos energéticos, osdois Presidentes tomaram nota, com satis-fação, dos acordos a que chegaram a Pe-trobrás e Petróleos Mexicanos, para ampliara sua cooperação e o seu intercâmbio. Ade-mais, concordaram quanto à conveniênciade formular projetos para a realização deinvestimentos conjuntos no campo da petro-química.

Os dois Mandatários verificaram, com satis-fação, que os contatos mantidos por enti-dades empresariais e homens de negóciodos dois países foram frutíferos e ressalta-ram a sua importância como fator de es-tímulo ao desenvolvimento do intercâmbiocomercial e industrial. Concordaram, nessesentido, em prestar todo o apoio ao inter-câmbio de missões comerciais entre um eoutro país e em facilitar a participação emfeiras e exposições comerciais e indus-triais que se realizem no Brasil e no Mé-xico.

O Presidente do Brasil manifestou que oseu Governo apoiará a iniciativa mexicanano sentido de criar, no âmbito da Organiza-ção Internacional do Café, um mecanismode estoques internacionais de reserva, f i -nanciado pelos países importadores e expor-tadores membros da OIC, que atuem nomercado comprando e vendendo café, como objetivo de estabilizar os preços do grãodentro dos limites previamente estabele-cidos.

Os Mandatários expressaram, também, asua intenção de contribuir ativamente parao esforço que atualmente se empreende naJunta Executiva da OIC, para atualizar ospreços mínimos para a entrada em vigor das

quotas de exportação de café, estabelecidaspelo Convénio Internacional do Café de1976, a fim de que correspondam melhor àrealidade do mercado, aos atuais custos deprodução e ao aumento contínuo dos pre-ços dos produtos manufaturados que se im-portam dos países consumidores de café.

os acordos brasil-méxico

Dentro do espírito de cooperação que pre-sidiu as conversações entre os dois Chefesde Estado foram celebrados: um Acordo Bá-sico de Cooperação Industrial, com vistas apropiciar a constituição de empresas mistasbrasileiro-mexicanas; um Convénio entre oConselho de Não-Ferrosos e Siderurgia(Consider), do Brasil, e a Comissão Coor-denadora da Indústria Siderúrgica (CCIS),do México, sobre intercâmbio de informa-ções e de pessoal técnico; e um Acordosobre Sanidade Animal. No propósito deaperfeiçoar os meios de comunicação entreambos os países, concordou-se em que aEmpresa Brasileira de Correios e Telégra-fos e a Direção Geral dos Correios do Mé-xico prosseguirão os contatos já iniciadospara estabelecer um serviço de transportede correspondência agrupada.

Considerando a rica e diversificada culturado Brasil e do México, sublinharam as gran-des possibilidades de intercâmbio que exis-tem neste campo e concordaram em am-pliá-lo.

Os dois Presidentes manifestaram a sua sa-tisfação pelos Acordos alcançados duranteas suas conversações e concordaram nanecessidade de estabelecer uma ampla ba-se jurídica para a colaboração entre o Brasile o México e criar um mecanismo de con-sulta entre os dois países. Com esse fim,celebrou-se, em sua presença, um Convé-nio de Amizade e Cooperação, que estabe-lece os meios necessários para alcançaresses altos objetivos.

Ao finalizar sua visita, o Presidente ErnestoGeisel ressaltou a importância das conver-sações mantidas com o Presidente José Ló-pez Portillo e sua satisfação pela atmosferafraterna em que se desenvolveram. Agra-

44

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 44: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

deceu ao Chefe de Estado, ao Governo e ao O Presidente Ernesto Geisel convidou opovo mexicanos as gentilezas constantes Presidente José Lopez Portillo a visitar ofi-que lhe dispensaram e que simbolizam a cialmente o Brasil em data a ser acordadainalterável amizade que une o Brasil e o mutuamente. O Presidente José López Por-México. ti lio aceitou o convite com satisfação.*

* Os Acordos entre o Brasil e o México estão na seção Tratados, Acordos, Convénios, página 167; naseção Excertos e Ênfases, página 187, trechos dos discursos de Ernesto Geisel e José López Portillona solenidade de entrega do Grande Colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul ao Presidente mexi-cano; e na página 191, seção Mensagens, o texto das mensagens escritas pelo Presidente brasileiro noLivro de Visitantes da Zona Arqueológica de Teotihuacán e no Livro de Honra do Monumento à Inde-pendência do México.

45

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 45: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 46: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

o presidente do brasilvisita o uruguai

Entrevista do Presidente Ernesto Geisei, transmitidapor uma rede de emissoras de rádio e televisão doUruguai, em 24 de janeiro de 1978; e entrevista(tradução não-oficial) do Presidente Aparício Méndez,transmitida, na mesma data, por uma cadeia brasileirade rádio e televisão.

ENTREVISTA DE GEISEL

Pergunta — Senhor Presidente, que lugardestina o Brasil, no contexto de suas rela-ções internacionais, às relações que man-tém com o Uruguai?

Resposta — O Brasil é um País que tem, noquadro internacional, praticamente comtodos os países do mundo, relações amis-tosas, políticas, económicas, culturais.Quer dizer, um País pacífico, que vive nomundo procurando relacionar-se adequada-mente com todos os países. Mas é evidenteque, nessa escala de relações internacio-nais, elas se diferenciam. Há países comque os nossos contatos são bem íntimos, ehá outros países com que os contatos sãoapenas de caráter formal. No caso parti-cular do Uruguai eu acredito que as nossasrelações se caracterizem justamente poresse aspecto de maior intimidade. Desde aindependência do Uruguai, em 1828, feitasob a égide do Brasil e da Argentina, nóstemos procurado conviver e cada vez maisestreitar relações com o Uruguai, vendo no

Uruguai um País cujo povo é nosso irmão.Vivemos intimamente, sobretudo pela con-tiguidade geográfica. Temos uma fronteiracomum da ordem de 1.500 km praticamentepermeável, em que existem cidades gemi-nadas. Há pouco falávamos aqui em Quaraíe Artigas, nós temos Rivera e Livramento."Temos, do outro lado, Jaguarão — RioBranco e não só nessas cidades mas aolongo de toda a fronteira e mesmo no in-tercâmbio que se faz entre as populações,sobretudo as populações dos Estados doSul. Existe um sentimento de verdadeirafraternidade. Nós vemos o Uruguai, no nos-so relacionamento internacional, como umPaís de caráter excepcional. Damos a ele,dentro do nosso quadro político, económicoe social, uma posição de destaque. Não nospreocupa, absolutamente, a dimensão geo-gráfica nem o volume da população. O quenos preocupa é a Nação uruguaia comouma Nação vizinha e amiga do Brasil. Esempre temos feito tudo para que os nossospaíses se tornem cada vez mais amigos e,respeitando a soberania e a independênciade cada um, respeitando a vida interna decada um, as nossas duas Nações, cada vez

47

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 47: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

se entrelacem mais pelos sentimentos defraternidade.

Pergunta — Senhor Presidente, como vê oBrasil a integração económica latino-ameri-cana?

Resposta — É um trabalho que se vem de-senvolvendo já há vários anos e que pro-cura tirar partido das afinidades que exis-tem entre os países latino-americanos. Deum lado é a proximidade do continentelatino-americano, de outro lado é a afini-dade que existe na origem que é a origemcomum ibérica: uns vindos da Espanha,outros vindos de Portugal, mas vindos damesma região que é a região ibérica e quelhes trouxe uma série de afinidades, inclu-sive o idioma, que é pouco diferenciado.Mas essa integração económica latino-ame-ricana não é fácil. Ela é um desejo, um ob-jetivo a atingir. Só se faz progressivamente,porque de um lado ela se defronta com osinteresses próprios de cada um dos países.É evidente que cada um dos países procuraassegurar uma defesa para sua economiaprópria. Do outro lado, há problemas quetranscendem o âmbito latino-americano eque têm caráter global. Eu cito como exem-plo o problema do petróleo. O problema dopetróleo não se pode tratar no quadro lati-no-americano apenas, ele tem um caráterglobal, e, como o petróleo, é o problemaenergético, de uma maneira geral. Este pro-blema, hoje em dia, tem característicasmundiais e não pode ser resolvido no qua-dro latino-americano. Há outros. Há o pró-prio problema do minério de ferro, e assimpor diante, mas acho que se deve continuara fazer um esforço cada vez maior para as-segurar essa integração, no interesse recí-proco do desenvolvimento dos nossos paí-ses. A ALALC, por exemplo, está muito lon-ge de ser aquilo que se imaginou. Não atin-giu o ponto que se esperava quando ela foiconcebida. Produziu, entretanto, um granderesultado, o comércio entre os países daAmérica Latina se desenvolveu bastante. Opróprio Brasil que o diga, o nosso comér-cio hoje com o Uruguai é um comércio jábastante desenvolvido e, nos dois sentidos,está se aproximando dos 200 milhões dedólares. O nosso comércio com a Argenti-na se desenvolveu muito, da mesma manei-

ra que com o Chile, com o Paraguai e comesses países todos. E isto é, em grande par-te, fruto da ALALC. Mas torno a dizer queesta integração é um objetivo a atingir. Nãoé fácil, mas acredito que vale a pena per-severarmos nele.

Pergunta — Acredita o Senhor, Presidente,que o fenómeno terrorista se incrementariano curso do presente ano? Caso afirmativo,quais seriam, a seu critério, as medidasapropriadas que deveriam ser adotadas paracombatê-lo?

Resposta — Eu não posso fazer prognósti-cos sobre o desenvolvimento do terrorismoneste ano de 1978. O terrorismo existe nãosó nos nossos países como nos países daEuropa. Nos países do Oriente Médio, nosdemais países da América, nos países daÁsia. O fenómeno, muitas vezes de fun-do ideológico — e principalmente de fundoideológico — existe com fase de maior oumenor recrudesci mento. No Brasil, porexemplo, o terrorismo, durante alguns anos,se manifestou de maneira bastante intensae hoje está praticamente dominado. Mas eunão posso, absolutamente, dar certeza deque amanhã não ressurja, que a piratariaaérea, os sequestros, os assassinatos e as-sim por diante, reapareçam no Brasil comoexistem em outros países. Então o fenóme-no é histórico. Não é de hoje. Ele já existiumuitas vezes no passado e tem fases demaior ou menor desenvolvimento exigin-do maior ou menor ação repressiva. Eu creioque esse problema poderá ser em grandeparte, se não resolvido, pelo menos atenua-do nos seus efeitos, se os diferentes paísesdo mundo se entenderem e estabeleceremnormas entre eles, normas consentidas, deum combate comum. Acho que o terrorismoem si é extraordinariamente condenável,porque perturba a vida dos países, evita queos países se dediquem ao trabalho pacífico,cria um ambiente de inquietação, afora asbarbaridades criminosas que ocorrem emconsequência do terrorismo. Mas se os paí-ses do mundo se conjugarem no sentido decombaterem o terrorismo, sobretudo de nãoasilarem os terroristas, eu acredito que esseproblema passe a ter uma dimensão menore possa, inclusive, deixar de recrudescer emesmo aos poucos se extinguir. Eu, ao ter-

48

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 48: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

minar esta entrevista, desejo dizer-lhe e pe-dir-lhe que transmita ao povo uruguaio agrande satisfação com que eu irei reverMontevidéu, com minha senhora e minhafilha, na próxima visita que, em fins destemês, farei ao Uruguai. Já disse uma vez erepito, vivi ali momentos felizes de minhavida, tornei-me amigo de muitos uruguaios,aprendi a conhecer o povo uruguaio nosseus elevados sentimentos e será com mui-to prazer que eu irei fazer essa visita aoseu país. E alimento ao lado desta satisfa-ção, a esperança de que a minha visitapossa ser útil no sentido de que atravésdas conversações, das negociações, que omeu Governo venha a fazer com o Governouruguaio, que as nossas relações se desen-volvam ainda mais em todos os campos eque assim essa minha visita sirva para tor-nar o Brasil e o Uruguai cada vez maisamigos.

ENTREVISTA DE MÉNDEZ

Pergunta — Senhor Presidente, qual é, a juí-zo de Vossa Excelência, o sentido da visitado Presidente Geisel ao Uruguai?

Resposta — Encontro na visita desse ilus-tre e grande amigo três sentidos: um ame-ricanista, no sentido exato da palavra, dehomem de visão continental, que procuracercar-se de contatos; outro que podería-mos chamar de bilateral, que tem comoconteúdo os interesses recíprocos de nossospaíses; e um terceiro, pessoal, afetivo, quenos toca porque sabemos que Sua Excelên-cia nos honra com particular afeto. Isso elereiterou em Brasília. Ele esteve agregado àEmbaixada do Brasil em Montevidéu algunsanos. Aqui criou vínculos, afetos, amigos ecreio que agora deseja também voltar a seencontrar com essas pessoas e percorrerlugares conhecidos.

Pergunta — Considera Vossa Excelência queacordos firmados entre Brasil e Uruguai, emRivera, em 1975, ampliaram e aprofundaramas relações entre os dois países?

Resposta — Sim, até onde é possível, por-que se tratam de relações muito amplas eintensas. Esses acordos significaram iumpasso muito efetivo no plano de nossastradicionais relações. Houve um contato an-terior, no ponto mais meridional do Brasil,no Chuí, um encontro presidencial, mas ooutro, em Rivera, foi muito efetivo porqueocorreram reuniões do mais alto nível, acor-dos, declarações e soluções que já estãoem marcha.

Pergunta — Como vê Vossa Excelência oproblema da integração latino-americana,em especial a dos países da América do Sul?

Resposta — Eu distinguiria o que existe dedesejável, o que parece ideal daquilo quedemonstra a prática. No plano puramenteespeculativo se fala em unidade continen-tal, se fala em identidade racial, se pensano amanhã da América, mas acho que serealiza pouco. Até agora, os entendimentossão orientados mais para o plano econó-mico, mas nos aspectos políticos, que sãoos fundamentais, que são os que determi-nariam o potencial da América no contextomundial, creio que não estão dadas as con-dições para obtê-la. Cada país tem seus pro-blemas internos, problemas internacionais,aos quais parecem muito presos, para en-tregar-se de braços abertos a um concertodesinteressado do mais alto nível político.

Pergunta — Poderia Vossa Excelência co-mentar as relações do Uruguai com a Eu-ropa Ocidental?

Resposta — Esta pergunta me leva a me-ditar, porque é muito oportuna e inteligente.Creio que essas relações merecem um co-mentário. A velha Europa, pelo peso desuas culturas e por influência sanguíneade processos migratórios que formam nos-sos povos, tem influído muito em nossas vi-das e presidiu, durante muito tempo, nossasrelações em todos os planos. Mas noto queultimamente, nos aspectos económicos e noaspecto político, algo está mudando. Noplano económico, o fechamento do Merca-do Comum Europeu, as taxas aduaneiras, oprotecionismo até certo ponto intransigentetem impedido o acesso dos pólos america-nos que despertam, que criam indústrias eque necessitavam encontrar eco ali para

49Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 49: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

criar relações com interesses recíprocos. E,como é natural, isto está provocando o des-locamento das correntes comerciais paraoutros pontos. E, atrás do comércio, já nosensinavam os fenícios há 2 mil anos, vaia cultura, vão os acertos, vão as vincula-ções. Eu temo que se não houver uma mu-dança na política económica europeia, suainfluência em nossa vida cultural e espiri-tual vai enfraquecer-se. E, do ponto de vistapolítico, observo com pesar e lamento terque dizê-lo que, apesar da sabedoria de seusdirigentes, a Europa não soube aprendercom a experiência dos povos da Américacom o terrorismo e o comunismo.

E subestimando suas reações, suas forçasvivas, está-se deixando minar por eles. Eneste momento está vivendo as angústiasque nós tivemos de suportar há alguns anos.E, o que é mais lamentável, sem compreen-der que com isso está minando suas bases,se faz eco da propaganda subversiva, colo-cando-a a serviço de seus elementos dis-solventes. Eu creio que se a Europa nãoreagir passará por momentos políticos mui-to difíceis e vai pagar a injustiça que estácometendo com os povos americanos, espe-cialmente conosco.

Pergunta — Quais são os grandes propósi-tos do Governo de Vossa Excelência?

Resposta — Em termos genéricos a estaaltura do processo institucional em que nosencontramos, os propósitos básicos de nos-

so Governo são assegurar condições paraque o país possa voltar, sem solução decontinuidade, à normalidade institucional.Essas condições são fundamentalmente,uma reconstituição do processo económico,uma transformação dos aspectos espiri-tuais do país, no plano de ensino da culturaem geral, e uma preocupação em reelevar,porque havia caído, o nível de saúde noUruguai. Entendemos que, com esses ele-mentos e com a pacificação espiritual dopaís, estarão dados os pressupostos paraque possamos pensar, de acordo com o queem distintas oportunidades disse oficial-mente, em que o país possa voltar a tãoanunciada normalidade.

Pergunta — Gostaria o Senhor de transmi-tir alguma mensagem aos brasileiros?

Resposta — Com muito prazer. Eu lhe agra-deço por me ter dado esta oportunidade. Aoterminar esta simpática e amável entrevista,gostaria de fazer chegar ao grande povobrasileiro, com todo nosso afeto e admira-ção, o desejo caloroso do Governo e do povouruguaio, de que siga com sua pujança embusca do grande destino que a História lhetem reservado. Quero dizer-lhe que, assimcomo todo brasileiro é bem recebido noUruguai, com maior razão o primeiro dosbrasileiros, seu grande Presidente Geisel,será recebido pelo Governo e pelo povouruguaio com os braços abertos. Considera-remos os dias em que ele estiver conoscocomo dias de festas.

a chegada degeisel a montevidéu

Discursos dos Presidentes uruguaio (tradução não-oficial)e brasileiro, no Aeroporto Internacional de Carrasco,

em 25 de janeiro de 1978, logo após a chegada deGeisel a Montevidéu.

APARÍCIO MÉNDEZ

Senhor Presidente da República Federativado Brasil, Ernesto Geisel.

Excelentíssimo Senhor:

São dias de júbilo para o povo e o Governouruguaios os que Vossa Excelência haveráde passar entre nós, com sua ilustre famí-

50

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 50: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

lia e a comitiva que dignou trazer-nos. Vos-sa Excelência tem todos os títulos requeri-dos para proclamar nossa admiração: é ci-dadão da América, da livre América queluta contra tudo por seu destino, mas é tam-bém brasileiro e, por sua dignidade, o pri-meiro dos brasileiros. Aquilo, repito, impõenossa admiração; isto, nosso afeto frater-nal de sempre. Vossa Excelência afirmou, re-centemente, com correto juízo, que nossospovos têm uma profunda afinidade. Se, paradar valor apodítico à sua afirmação, fossenecessário algo, aqui o encontraria, a cadapasso e em cada lugar, com o carinho quedeixarão transparecer nossos olhares e nos-sos aplausos.

Sua presença, além do prazer e a honra quecomporta, será pródiga em consequênciaspara nossos países, já que nos permitirá,seguindo a invariável ação de aproximaçãode nossos Governos, materializar projetosem estudo, culminar etapas de realizaçõese deixar encaminhadas ideias para novosempreendimentos em comum.

Em nome do povo e Governo uruguaios,dou-lhe as mais afetuosas boas-vindas, agra-deço a honra desta insigne visita e desejoque Vossa Excelência desfrute da mesmaventura que nos embarga.

as excelentes relações entre nossos doispaíses. Recordar os passos dados é abrirnovas avenidas em nossa convivência.

Examinaremos, igualmente, importantes te-mas de interesse hemisférico e de ordemmundial, no espírito construtivo e francoque preside a tradicional amizade brasileiro-uruguaia.

Desde que assumi o Governo, em 1974, esteé o quarto encontro realizado entre os Che-fes de Estado do Brasil e do Uruguai. Porsi só, tal fato indica a intensidade a quechegou o entendimento entre nossos doispaíses.

Interpretando os anseios de uma e de outranacionalidade, os dois Governos vêm man-tendo diálogo ativo e franco no mais altonível, cujos frutos se fazem notar, inclusive,em relevantes acordos.

Animados por esse espírito, criamos um ar-cabouço jurídico-político, que ordena, im-pulsiona e diversifica nosso relacionamentoeconómico, financeiro, tecnológico e cien-tífico. Pusemos, assim, a serviço da cola-boração integrada entre o Brasil e o Uru-guai, a plenitude de nossos respectivos me-canismos de decisão nacional.

ERNESTO GEISEL

Senhor Presidente Aparício Méndez,

É com especial satisfação que, atendendoao convite formulado por Vossa Excelênciaem julho do ano passado, em Brasília, visi-to o Uruguai.

Nesta hospitaleira cidade de Montevidéu,teremos oportunidade de passar em revista

Senhor Presidente,

Incentivado pelo nível de relações alcança-do por nossos Governos e cujos resultadosjá estão espelhados em empreendimentos einiciativas concretas, venho ao Uruguaiconfiante em que a amizade e a cooperaçãobrasileiro-uruguaias nos reservem, dia a dia,possibilidades novas.

Ao agradecer as cordiais palavras de VossaExcelência, saúdo, em nome do Governo edo povo brasileiro, a nobre nação uruguaiacom a convicção de que, juntamente comVossa Excelência, manteremos, cada vezmais viva, a chama de nossa amizade fra-terna.

51Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 51: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

geisel: processo de cooperaçãobrasil-uruguai é inédito na história

Tradução não-oficial do discurso do Presidente doConselho de Estado do Uruguai, Hamlet Reyes, emMontevidéu, em 25 de janeiro de 1978; e o discurso

pronunciado pelo Presidente brasileiro na mesma ocasião.

HAMLET REYES

Excelentíssimo Senhor Presidente da Repú-blica Federativa do Brasil.

Cabe-me a honra de receber Vossa Excelên-cia em nome do Conselho de Estado.

Não é a ocasião de valorizar neste momentotudo aquilo que, historicamente, na paz co-mo na guerra nos identifica no que diz res-peito ao profundo sentido americanista.

Assim como um episódio bélico muitas ve-zes aproxima os povos, a paz, por mais dura-doura que seja, muitas vezes também ossepara.

Não é necessário dar exemplos. O exemploestá em nós, vivo durante todo o transcursode nossa formação institucional.

Tem correspondido e corresponderá sempreaos homens a honra que a História consagra,já que é através de suas ideias e de seusfeitos que recebeu o julgamento desse in-discutível tribunal.

"A história dos povos é a história de seusgrandes homens", afirmou Carlyle. "Não sãonunca as formas exteriores dos Estados quedeterminam o espírito e a atitude de umpovo, senão o caráter inato da nação, que,em última instância, imprime sua marca naHistória", confirma Sweig.

Assim, é à História que o Brasil deve suagrandeza e é à História que o Uruguai, den-tro de sua limitada extensão, deve igual-mente sua soberania e independência.

É comum ouvir o axioma de que a realidadesupera a imaginação, mas é também muitofrequente constatar que aquilo que no pas-sado acariciou a mente, que pareceu qui-mérico ou ideal inalcançável, cristaliza-se epermanece pela vontade de uns poucos ho-mens predestinados, cuja estirpe ultrapassaos limites precisos da nacionalidade.

Um renomado autor francês, num ensaioque intitulou "História hipotética", relata asperipécias de um historiador, que vagandodepois da morte pelas salas infinitas dosarquivos da eternidade, chega a um pórticosobre o qual está marcado com sinais de fo-go esta inscrição: "Arquivo dos possíveisnão realizados".

Aquilo que não existiu, pode deixar rastros?pergunta a seu guia. Ah! presunção humana,foi-lhe respondido. Todo pensamento queatravessa o espírito de Deus participa porisso de certa existência. Não existe um pas-sado privilegiado, existe uma infinidade depassados, todos de igual valor. Em cada mo-mento do tempo, por mais breve que seja,a linha dos acontecimentos divide-se comoum tronco do qual saem ramas gémeas.Uma delas representa a série de aconteci-mentos tal como os homens os conhece-ram; a outra, na combinação de espaço-tempo, aquilo que terá sido História se ape-nas um ato tivesse sido diferente daquiloque foi.

Desculpe-me, Vossa Excelência, por esta di-gresão. Tento explicar meu objetivo e comele o que teria sido a glória de um futuró-logo.

52Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 52: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

brasil, exemplo de luminoso futuro

Ninguém teria imaginado nesse passadocontingencial que o "Direito Missionário" doPadre Vitória, proveniente das bulas ponti-fícias, bem como o que foi decidido em Tor-desilhas, permitindo à futura pátria de Ca-mões fixar-se no sul do Continente america-no, originaria o Brasil atual, esse imenso ca-dinho, sem igual no mundo, onde estão am-paradas todas as raças e crenças, exemplode um luminoso futuro de dimensões incal-culáveis, nem mesmo na mais febril imagi-nação. Entretanto, a razão da conquistatransformou-se com o tempo, pela razão.

Eis o fruto da imortal realização dos homens,medida em suas dimensões morais e emsuas heróicas façanhas.

Alexandre de Gusmão, primeiro empreen-dedor da grandeza territorial do Brasil, co-mo foi qualificado por seus trabalhos porocasião do Tratado de Madri, teve, atravésdos anos, a continuidade de ilustres homenscomo aqueles que nos começos deste sé-culo se personificaram em Rui Barbosa eDa Silva Paranhos, homens de fé inquebran-tável nas normas do Direito Internacional.

O Barão do Rio-Branco, tornou seu nomeuniversalmente conhecido e, em especialno Uruguai. Bem o afirmou Rodo por oca-sião de sua morte:

"Constitui condição peculiar da morte doshomens ilustres que, na impressão que noscausa, sejam confundidas paradoxalmente asensação de uma ausência irremediável euma presença persistente e triunfal que amorte não pode aventar com suas asas desombra".

E nosso escritor com a frase "Ainda perma-nece", menciona a continuidade segura deuma política internacional de equidade, deconcordância, de solidariedade americana,que Já não vacilará em suas relações comas demais nações do Continente.

barão do rio-branco, exemplo perenede um grande povo

Permita-me Vossa Excelência explicar estepensamento. Sustento, com a maior ênfase,

que o Barão do Rio-Branco hoje está aquina presença física de Vossa Excelência comoexemplo perene do que é um grande povo,ao qual engrandecem as sombras notáveisde seus antecessores. Pontes de Ribeiro eCarlos de Carvalho, e em desigual cronologiaas de seus contemporâneos, brasileiros euruguaios, Nilo Peçanha, Teixeira Mendes,Rivadavia Corrêa, Lauro Múller, Rufino T.Dominguez, Eduardo Acevedo Díaz, Balta-sar Brun e tantos outros insignes vigilantesda paz e da civilização americana, que pro-fética e certamente estão esboçando umapaz universal.

O Barão do Rio-Branco, mentor de uma novapolítica internacional que ainda está vigen-te, está hoje aqui quando Vossa Excelênciafaz uma troca dos instrumentos de ratifica-ção que encerram o ciclo por ele inauguradoem 30 de outubro de 1909 no Rio de Janei-ro, porque o Tratado da Bacia da Lagoa Mi-rim e o Protocolo do Rio Jaguarão são ape-nas restos póstumos de tudo quanto se con-figurou nesse momento na solidariedadeamericana, num autêntico ibero-americanis-mo de nossos povos, passado, atual, futuroe sempre triunfal.

Tanto o Uruguai como o Brasil sofreramos ataques das obscuras forças da subver-são, aos quais se somou uma permanentepropaganda difamatoria concertada em altonível.

Mas já disse o Eclesiástico: "Corre o ventosoprando sobre toda a redondeza da Terra edepois volta a iniciar seus giros".

Aqueles que nos criticam injustamentequando defendemos nossos direitos dentrodo sistema ocidental de democracia re-publicana sofrem atualmente as mesmascontingências da violência que suportamosoutrora. Portanto, se merecemos viver, é anós mesmos que corresponde, com os maio-res sofrimentos e sacrifícios, defender as l i -berdades conquistadas por nossos anteces-sores nas lutas emancipadoras, tanto naguerra como na paz.

Senhor Presidente: desejo que Vossa Exce-lência guarde uma muito grata lembrançadesta visita ao Uruguai e que ela, no seufinal, possa estar de acordo com o expres-

53

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 53: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

sado no provérbio latino Horas non numeromisi serena. Somente conto as horas felizes,e entre elas as passadas neste solo oriental.

A vida, afirmou o sábio, não é a vida que vi-vemos; a vida é a honra, é a lembrança. Porisso existem mortos que no mundo vivem,e homens que vivem no mundo, mortos.

Muito obrigado.

ERNESTO GEISEL

Senhor Presidente do Conselho de Estado,Doutor Hamlet Reyes,

Sinto-me particularmente honrado por estavisita ao Conselho de Estado, num momentoem que nossas Nações se empenham, comtanto êxito, num processo singular de coope-ração internacional, baseado no respeito mú-tuo e na amizade tradicional que as une.A coordenação de esforços, que assim rea-lizamos, como já disse em outras oportu-nidades, não tem paralelo1 na história denosso relacionamento. Acionamos, para is-so, as forças e os mecanismos nacionaisde cada um dos países, conjugando-os har-monicamente num contexto feliz, cimenta-do através da celebração, em junho de 1975,dos Acordos de Rivera.

O Conselho de Estado, ao aprovar e incenti-var esse processo de colaboração, convali-dou, juntamente com o Congresso brasileiro,os anseios comuns de sadia integração hori-zontal para benefício de ambos os povos.Nos trabalhos deste órgão, cidadãos uru-guaios, notáveis por seu patriotismo e peladevoção aos princípios da fraternidade ame-ricana, incentivam-nos a cada vez mais nosempenharmos no fortalecimento da amizadebrasileiro-uruguaia. Os governantes do Bra-sil e do Uruguai devem sentir-se felizes emreceber, assim, pleno apoio dos setores ofi-ciais responsávesi, nessa tarefa, por todosdesejada, de consolidar e diversificar a am-pla gama das convergências que tanto nosaproximam.

cooperação brasil-uruguai apresentaresultados positivos

Apesar de resultados notoriamente positivosjá se fazerem sentir nessa cooperação, mui-to há ainda a realizar. As relações entre Es-tados são dinâmicas, surgindo, a cada dia,novas oportunidades que cabe aos Governosidentificar e explorar, particularmente quan-do a vizinhança geográfica e as positivas tra-dições históricas, como ocorre entre nossospaíses, facilitam a inter-relação harmónica.

Senhores Membros do Conselho de Estado,

0 Brasil e o Uruguai acham-se empenhadosem levar a cabo um processo de coopera-ção inédito na história sul-americana. Os de-safios que se nos deparam, longe de deses-timularem, incentivam-nos a aprofundar es-se processo. As realizações a que chega-mos, constituem clara prova do muito quepoderemos concretizar, confiantes em nossacapacidade criadora. Nos setores de infra-estrutura, do comércio, tecnologia, ciênciae finanças, para exemplificar, logramos fór-mulas novas e imaginativas de cooperaçãoque abrem, por sua vez, campos férteis paraoutras iniciativas.

Senhor Presidente do Conselho de Estado,

As referências feitas por Vossa Excelênciaà pessoa e à obra do Barão do Rio-Branco,e a outros ilustres brasileiros muito mesensibilizaram. Ao agradecer a evocação, de-sejo assegurar-lhe que continuam vivas noBrasil as melhores tradições do patrono daDiplomacia brasileira, mantendo-se em ple-na vigência seus ideais americanistas de in-tegração e harmonia, que hoje, como ontem,inspiram a política externa do meu País.

As espontâneas demonstrações de afetocom que me distinguem o Governo e o povouruguaios, entre as quais particularmenteme sensibiliza esta, no Conselho de Estado,são estímulo a que mais busquemos fazerainda em prol de nossos dois países e embenefício de todo o hemisfério.

Voltado para essa realidade, desejo a VossaExcelência e aos ilustres membros do Con-selho de Estado todo êxito no trabalho pro-fícuo a que se entregam, pela grandeza daNação uruguaia.

54

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 54: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

ao receber as chaves de montevidéu,geisel destaca oentendimento brasileiro-uruguaio

Discursos do Intendente Municipal de Montevidéu,Oscar Victor Rachetti (tradução não-oficial), e do

Presidente Ernesto Geisel, em 25 de janeiro de 1977,no Palácio Municipal, durante a solenidade de entrega

das Chaves simbólicas da Capital uruguaia aoPrimeíro-Mandatário brasileiro.

DISCURSO DO INTENDENTE

Senhor Presidente da República Federativado Brasil, General Ernesto Geisel:

A América renasce, Senhor Presidente, coma força ímpar de sua gloriosa história. Cami-nha para a luz, insinua-se em novas formas,palpita em preocupações, e torna realidadeimpulsos generosos, que se adaptam pro-gressivamente às novas necessidades.

A esperança de um futuro pleno de venturasurge com a força do passado, encarnada noespírito do presente, com otimismo realistae com fé indiscutível.

No passado nos visitaram os Excelentíssi-mos Senhores Presidentes das Repúblicasirmãs da Bolívia, Paraguai, Chile e Argenti-na, a quem recebemos nesta mesma Casa,coração de nossa cidade; ainda vibramoscom as reminiscências comuns e ainda sen-timos as ressonâncias desses encontros.

Faltava, porém, Vossa Excelência, que hojenos visita. E com Vossa presença sentimoso nobre influxo da cálida proximidade doBrasil e a afetuosa simpatia de Vosso povo-,portanto, aquilo que constitui ato formal derecebimento e exaltação ocasional, transfor-ma-se numa festa do sentimento, por tu-do o que simboliza esta visita.

Pois o seu País — esse sublime e magnífi-co país — tão rico e tão cabalmente huma-no, caminha compassada porém acelerada-mente para a frente. Imagina o futuro comintrepidez, aprofunda suas raízes com fir-

meza na selva agreste, conquista com sacri-fício sua própria terra.

Sua beleza é luz e vida em sua vegetaçãoexuberante. Desliza-se suavemente naságuas do oceano, e sua gente vibra cheiade alegria de viver, e explode autenticamen-te em seus cantos rítmicos e se exalta desincero e abnegado patriotismo.

Por isso constitui honra peculiar para nós,em demonstração de tudo o que encerra suavisita, o fato de declará-lo ilustre hóspededesta cidade de Montevidéu — Senhor Pre-sidente — e ao fazer entrega desta chave,estamos certos de abrir com ela, para VossaExcelência, o coração de todos os orientais.

Ao fazê-lo, renovamos nossa confiança noressurgimento da América, porque a ideia éação positiva, o cadinho converteu-se emforja, o entusiasmo em convicção, o propó-sito é realidade. E renovamos nossa con-fiança — muito particularmente — no afian-çamento dos laços que unem nossas pátrias.Damos a Vossa Excelência, nessa certeza,nossa mão fraterna e auguramos sincerosvotos de ventura pessoal.

DISCURSO DO PRESIDENTE

Senhor Intendente Municipal de Montevidéu,Doutor Oscar Victor Rachetti,

É com reconhecimento que recebo, dasmãos de Vossa Excelência, as Chaves sim-

55

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 55: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

bólicas da cidade de Montevidéu. Este ges-to de hospitalidade é também um testemu-nho da amizade que une Brasil e Uruguai.Pessoalmente, a cerimónia muito me toca,pois tive a grata oportunidade de aqui viverdois anos, cercado pela fidalguia deste povo.Minha mulher e eu guardamos desse perío-do, sensível e feliz recordação.

A cidade de Montevidéu tem uma tradiçãode feitos patrióticos que enobrece a Histó-ria da República Oriental. Por sua privile-giada situação geográfica e por sua voca-ção política e seu progresso material, cons-tituiu-se na primeira força autónoma da al-ma do país. Berço do sentimento nativista,o Cabildo de Montevidéu propiciou, igual-mente, as primeiras experiências de auto-governo do Uruguai, lançando, dada sua na-tural gravitação política, as bases do sistemaadministrativo do país.

Hoje, como outrora, a influência desta cida-de se faz sentir em todos os campos deatividade e alcança os mais distantes rin-cões do país, beneficiando a cada um deseus habitantes.

Na verdade, os reflexos positivos da vitalida-de de Montevidéu estendem-se além dasfronteiras nacionais do Uruguai, em benefí-cio dos países do continente. No processode integração, o papel de Montevidéu tem si-

do dos mais importantes. Sede tradicionalde reuniões internacionais, de nível hemis-férico e mundial, abriga hoje a AssociaçãoLatino-Americana de Livre Comércio e ou-tras entidades de caráter multilateral. O es-pírito acolhedor de seu povo espelha, porsua vez, os sadios princípios de convivên-cia fraternal e estimula a unidade entre ospovos do continente americano.

No quadro das relações entre o Brasil e oUruguai, Montevidéu, por sua condição demetrópole, tem dado contribuição especial-mente valiosa para dinamizar a cooperaçãoque, felizmente, existe. E, por suas tradiçõesde hospitalidade, vem propiciando o entendi-mento e o respeito mútuo entre nossos doispovos.

Senhor Intendente,

Com o pensamento centrado no relevantepapel exercido por Montevidéu para a ami-zade entre nossas duas Nações e para aconvivência entre os países americanos,agradeço sensibilizado a distinção com queme honra a Junta de Vecinos de Montevidéu.

E a Vossa Excelência desejo todas as ven-turas em seu trabalho patriótico de admi-nistrar uma cidade cada vez mais próspera,em que as realizações humanas continuema somar-se, num equilíbrio feliz, à preserva-ção de suas belezas naturais.

presidente brasileiro visitasede da alalc em montevidéu

Tradução não-oficial do discurso do representante daBolívia e Presidente do Comité Executivo Permanente

da Associação Latino-Americana de Livre Comércio(ALALC), Embaixador Raul Lema Pelaez, em 26 de

janeiro de 1978, durante a visita do Presidente ErnestoGeisel à sede da ALAC; e o discurso do

Presidente brasileiro na mesma ocasião.

RAUL LEMA PELAEZ

Excelentíssimo Senhor Presidente,

Excelentíssimos Senhores Ministros de Es-tado, Embaixadores e membros da comitivaque acompanha Sua Excelência,

Senhores Representantes,Senhoras e Senhores:O Comité Executivo Permanente da Associa-ção Latino-Americana de Livre Comércioconferiu-me a grande honra de dar as boas-vindas a Vossa Excelência, por ocasião desua visita à nossa Instituição.

56

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 56: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

A presença do ilustre Chefe de Estado deuma das Partes Contratantes, na sede daAssociação Latino-Americana de Livre Co-mércio e neste Órgão Permanente, não énem deve ser interpretada como um simplesato protocolar ou de cortesia. Constitui, fun-damentalmente, um gesto de afirmação po-lítica da vigência da Associação e da im-portância que todos os nossos países con-tinuam atribuindo-lhe como instrumento deseu desenvolvimento económico, acima dosproblemas eventualmente surgidos nos últi-mos anos, na busca de um quadro mais ope-racional para que a ALALC sirva efetiva, efi-ciente e equitativamente a seus países-membros.

O Senhor Presidente vem afirmando, emmúltiplas ocasiões, a importância funda-mental do processo de integração da Amé-rica Latina no fortalecimento da solidarie-dade e cooperação entre todos os Estadosda região, e reiterando a decisão de seuGoverno de prestar o máximo apoio para quea Associação Latino-Americana de Livre Co-mércio seja revitalizada.

Estas afirmações traduzem uma linha deconduta permanente de apoio ao processode integração económica latino-americana,adotada em todas as manifestações do paíscujos destinos Vossa Excelência tem con-duzido tão responsável e brilhantemente.

O Brasil figura, com efeito, entre os primei-ros propulsores e signatários do Tratado deMontevidéu e tem participado, também, emoutros movimentos de integração e coopera-ção económica regional surgidos na Amé-rica Latina, como o Tratado da Bacia doPrata e o Sistema Económico Latino-Ameri-cano, colocando em prática, igualmente —como forma de concretização realista e prag-mática da solidariedade latino-americana —uma intensa atividade de cooperação eco-nómica, em suas mais diversas modalida-des, com todos os países da ALALC.

objetivo da alaic é perseverar noprocesso de integração regional

As demais Partes Contratantes da ALALC,através de suas autoridades máximas oude fiéis porta-vozes de seus Governos, tam-

bém têm expressado, categoricamente, seupropósito e sua decisão de perseverar noprocesso de integração regional e de revita-lizar esta Associação.

Não é o momento nem a ocasião de historiara atividade da ALALC e o papel que tem de-sempenhado e pode desempenhar no âm-bito regional, tópicos que são bem conheci-dos pelo Senhor Presidente. Permita-mesimplesmente afirmar que se os Governos detodas as Partes Contratantes assim se têmmanifestado, é apenas uma questão de tem-po para que as diferenças de enfoque, deconteúdo e de matizes técnicos, que cadaum atribui a alguns aspectos ou mecanis-mos específicos ou concretos que fazemparte da tão desejada revitalização da Asso-ciação, desapareçam frente à decisão polí-tica e à notória vocação de unidade latino-americana, tão cara a todos os nossos paísese da qual o Senhor Presidente é uma altaexpressão.

Neste processo, o Brasil não somente nosfornece brilhantes diplomatas, distintos téc-nicos e hábeis negociadores, que deixarame estão deixando uma marca indelével naAssociação, como nos traz hoje, com suapresença nesta sala — que se honra comela — uma cálida demonstração de apreçoe apoio a todos aqueles que, em maior oumenor medida, consagramos nossos melho-res esforços à causa da integração. O Bra-sil, outrossim, tem contribuído, contribui ecertamente contribuirá ao esforço comumatravés do imenso potencial de seus recur-sos materiais e humanos, seu amadureci-mento político, seu progresso tecnológico,sua experiência e exemplo de desenvolvi-men económico e de condução responsávelde sua política exterior — mistura de idea-lismo e de pragmatismo, que constitui umaconstante de sua atuação e é tão neces-sária em nossos dias — e, principalmente,através de sua profunda consciência ibero-americana.

Sem dúvida alguma o país cujos destinosVossa Excelência dirige desempenhou e de-verá desempenhar futuramente um papelde singular importância na integração e nodesenvolvimento económico da região.

Excelentíssimo Senhor Presidente: desejoque estas modestas palavras traduzam as

57

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 57: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

manifestações de boas-vindas e a homena-gem do Comité Executivo Permanente a seupaís e a Vossa Excelência, bem como de-monstrem o júbilo e o estímulo que signi-fica para nós sua presença nesta sessão doComité Executivo Permanente.

ERNESTO GEISEL

Ao visitar a sede da Associação Latino-Ame-ricana de Livre Comércio quero deixar con-signados um testemunho e um propósito.

O testemunho é o da justa apreciação doGoverno brasileiro sobre a obra já realizadapela ALALC, para corrigir a atitude pessi-mista em que frequentemente incorremosquando confrontados com a magnitude datarefa por executar, com a multiplicidadedos percalços que a ela se antepõem ecom a frustração de esperanças não efeti-vadas.

Embora moderados em seus desígnios eprudentes quanto à maneira de persegui-los, nossos países, ao optarem, no iníciodos anos sessenta, pelo paulatino estabele-cimento de uma zona de livre comércio naAmérica Latina, não fugiram à natural ex-pectativa de que a integração pudesse serassimilada sem traumas e viesse solucio-nar a maioria dos problemas económicospartilhados em comum. Cedo se constatouque o rebaixamento das barreiras tarifáriasnão constituía, porém, senão a remoção deapenas um dos muitos fatores limitativos dodesenvolvimento regional. Mesmo o proces-so de desgravação, porém, encontrava ossérios óbices da tradição de protecionismo,a que já se haviam habituado empresáriose planejadores do setor público. Passamosa atribuir as dificuldades desde então en-contradas, resultado das próprias diferen-ças de desenvolvimento das Partes Contra-tantes, à inadequação dos mecanismos es-colhidos para a implantação da zona de li-vre comércio. Muitas vezes não se soubereconhecer na ALALC nem mesmo as virtu-des de flexibilidade, de transigência e deadaptação, que lhe permitiram preservar o

património de conquistas, ameaçado peloestanca mento do programa de liberação,quando a natureza mesma dos novos produ-tos a contemplar com benefícios tarifáriose as prioridades nacionais reexaminadas ar-refeceram o ânimo negociador de conces-sões.

Felizmente, parece prevalecer hoje, em rela-ção à ALALC, um enfoque mais realista que,para melhor interpretar o papel atual da ins-tituição, procura entendê-la no contexto dascircunstâncias prevalecentes nos onze paí-ses membros. Esse novo enfoque não negli-gencia nem subestima o acervo de realiza-ções no âmbito e sob a égide da ALALC.

governo brasileiro compartilha visãoconstrutiva da alalc

Quero afirmar que o Governo brasileiro com-partilha dessa visão construtiva. Preliminar-mente, pelo muito que tem significado aALALC no sentido de favorecer a diversifi-cação e a ampliação do intercâmbio. Masa ALALC não é, apenas, uma rede de con-cessões tarifárias. É o melhor conhecimen-to das realidades económicas do continente;é a modernização e a harmonização de ins-trumentos e técnicas do comércio exterior;é um sistema de pagamentos eficaz, umconjunto de acordos de créditos recíprocos,um dispositivo para atenuar deficiências deliquidez e um mecanismo para financiamen-to das exportações; é a colaboração entrenossos países nos setores tributário e adua-neiro, de comercialização e abastecimentode produtos agropecuários, de transporte,seguros e bancos, bem como na formaçãode pessoal capacitado para o bom desem-penho dessas atividades; é a presença doempresariado na formulação e na práticada integração; é o crisol de uma consciên-cia zonal, de uma comunhão de interesses,em que a solidariedade histórica e políticaadquire substrato económico; é um forode decisões multilaterais obrigatórias, queconsagram a necessidade de vantagenscompartidas e sancionam a prevalência decritérios discriminatórios em benefício dospaíses de menor desenvolvimento económi-co relativo.

58

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 58: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Meu Governo está persuadido do imperativode preservarmos essa obra multiforme decooperação a que as concessões tarifáriasrecíprocas deram início e que, algum dia,encontrará seu coroamento, quando alcan-çarmos a meta de um modelo de integraçãoplenamente satisfatório para as nações docontinente.

O Brasil tem contribuído para resguardaressa empreitada comum e acrescentar-lhenovas dimensões, seja através do trabalhode nossos especialistas, seja pelo fiel cum-primento dos compromissos pactuados.Nesse particular, posso afirmar-lhes quenosso escrupuloso respeito às concessõesnegociadas na ALALC tem resistido ao assé-dio de problemas do balanço de pagamen-tos, responsáveis por medidas restritivas àsimportações de outras procedências, reo-rientando-as, muitas vezes, em benefí-cio da zona, a ponto de anular o saldo sig-nificativo que ainda há dois anos o Brasilregistrava com o conjunto de seus parcei-ros regionais. É natural que esperemos re-ciprocidade na rigorosa observância dasobrigações assumidas na Associação, poisos descumprimentos por parte de uns po-dem gerar irresistíveis pressões para o des-cumprimento por parte de todos.

Se, por um lado, a preocupação de conser-var a operacionalidade dos instrumentos daALALC diz respeito à própria sobrevivênciadesta organização regional, seu futuro for-mato e o grau de utilidade de sua atuaçãovão depender do empenho que colocarmosno estudo, a curto prazo, de soluções alter-nativas para as dificuldades atuais, e, umavez escolhidos novos caminhos, da determi-nação política de percorrê-los ombro aombro.

Ao finalizar, desejo manifestar aos Senho-res o propósito do Governo brasileiro de,sem posições apriorísticas, estudar o elencode ideias suscetíveis de se transformaremem prescrições para a ALALC, na ocasião eno foro que vierem a ser aprovados peloconsenso dos países membros com vistas àsanção definitiva pelo Conselho de Minis-tros.

Acreditando, embora, que deva ser prorroga-do o período de transição estabelecido peloProtocolo de Caracas, para liberar essas ta-refas da pressão de um prazo já exíguo,não julgo demasiado otimismo formular vo-tos de que o ano de 1978 assinale uma níti-da e decisiva inflexão na trajetória daALALC.

Meu Governo não poupará esforços para talf im.

a assinatura de atosentre o brasil e o uruguai

Discursos dos Presidentes Aparício Méndez (traduçãonão-oficial) e Ernesto Geisel, em Montevidéu, em 27 dejaneiro de 1978, durante a solenidade de assinatura de

atos entre o Brasil e o Uruguai.

DISCURSO DE MÉNDEZ

Senhor Presidente Ernesto Geisel,

Disse-lhe, quando tive a honra de recebê-loem terra uruguaia, atendendo ao convite quelhe formulei em Brasília, que sua visita a

nosso país, independentemente do signifi-cado protocolar e político, seria pródiga embenefícios para a crescente ordem de rela-ções entre nossos povos.

Tudo parece nos impor uma firme condutanesse sentido: a história, a geografia, aeconomia, tudo dominado pela amizade tra-

59

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 59: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

dicional que nos impulsa a compartilhar deum destino. Felizmente, para nossos povos,ambos nossos governos têm-se mantido, in-variavelmente, firmes nessas correntes,avançando, com ritmo, apoiados numa exem-plar irmandade internacional.

Uma longa e acessível fronteira, definidapelo território mais meridional do Brasil,do rio Uruguai até o Oceano Atlântico, ge-rou uma convivência única, na qual os mar-cos delimitadores somente indicam a ma-terialidade de um limite atenuado pela uniãodos povos. No rio Quaraí, duas grandespontes internacionais, símbolos de irman-dade, são outras tantas fontes para nossocomércio e vias de aproximação permanen-te; em Rivera e Livramento, onde a cria-ção de adequados parâmetros fiscais cum-prirá nossos desejos, continuamos nospreocupando com os problemas imediatos.O Convénio de Previdência Social que ago-ra se realiza responde, sem dúvida, ao de-sejo e interesse de nossos povos, cujos ho-mens se espalham através da fronteira, le-vando energias, iniciativas e técnicas, inte-grando-se aos respectivos ambientes. Pos-teriormente, esse fluxo e refluxo humanosque têm unido famílias, criado interesses eirmanado nossos países, terão a tutela daprevidência social, livre das preocupaçõesque encerram esses serviços. Do ponto devista cultural, igual importância tem o acor-do sobre radioamadores, através do qualdá-se status ao intercâmbio permanente decomunicação num novo veículo de progres-so que tem demonstrado, ao mesmo tempo,capacidade de desempenhar um papel deci-sivo, em determinados momentos e circuns-tâncias. Se a isso se acrescentam os ajus-tamentos do convénio de sanidade animal edo regime comercial e industrial que nosvincula permanentemente, as iniciativastendentes a intensificar a cooperação emtodos os propósitos revelados nas conversa-ções presidenciais, para vencer dificulda-des circunstanciais criadas pela complexi-dade dos problemas internos de cada país,podemos afirmar, como já afirmamos, quesua visita Excelentíssimo Senhor Presiden-te, ficará marcada com a obtenção de re-

sultados positivos. Estão encaminhadas asobras do Palmar, com a colaboração da téc-nica e apoio financeiro de seu País, e esta-mos certos de que, num futuro próximo, es-sa colaboração será mais efetiva, deixandotransparecer, nos feitos, esta amizade queé condição de nossas relações internacio-nais.

Ao finalizar esta jornada de trabalho, desejodizer-lhe que, como se esperava, passamosmomentos muito gratos em companhia deVossa Excelência e de sua ilustre família,bem como da distinta comitiva que aquicompareceu. Ao agradecer-lhe, novamente,a visita e lhes desejar feliz regresso a seuslares, enviamos ao Brasil a mensagem desempre, do povo e governo uruguaios, com ovoto permanente pelo engrandecimento efelicidade de sua digna Pátria.

DISCURSO DE GEISEL

Senhor Presidente Aparício Méndez,

Atendendo à letra e ao espírito do Tratadode Amizade, Cooperação e Comércio, de 12de junho de 1975, nossos Governos enceta-ram negociações, que vieram a culminar,em julho do ano passado, com a celebração,em Brasília, do Tratado da Bacia da LagoaMirim e do Protocolo do Rio Jaguarão. Pre-sidimos, ambos, na oportunidade, a ceri-mónia pertinente, em que também se ru-bricou o Estatuto da Comissão Mista daBacia da Lagoa Mirim.

Aprovados os atos em apreço pelo Congres-so brasileiro e pelo Conselho de Estado doUruguai, tenho agora a honra de, juntamen-te com Vossa Excelência, presidir a cerimó-nia de troca dos instrumentos que os ratifi-cam, bem como de assinatura de outros atosde cooperação bilateral.

60

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 60: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Nesta oportunidade, decorridos pouco maisde seis meses desde que Vossa Excelênciavisitou o Brasil no ano passado, serão assi-nados um Acordo de Previdência Social, umAjuste Relativo à Sanidade Animal (com-plementar ao Acordo Básico de CooperaçãoCientífica e Técnica de 1975), um Acordosobre Radioamadorismo e um Convénio deParticipação Recíproca nos Contratos deResseguro Internacional. A formalizaçãodesses atos demonstra o rico desdobramen-to da cooperação ora levada a cabo pornossos Governos, em variados setores.

A cooperação brasileiro-uruguaia tem-se de-senvolvido, nestes últimos anos, com invul-gar dinamismo. A respeito, assinalo — efaço-o com especial satisfação — o bomandamento da nossa cooperação na constru-ção da central hidrelétrica de Palmar, bemcomo a plena execução do Protocolo deExpansão Comercial, iniciativas constantesdo Tratado de Amizade, Cooperação e Co-mércio firmado em Rivera, em 1975. A usi-na de Palmar, segundo o cronograma deobras, estará abastecendo de energia elétri-ca, em inícios da próxima década, granderegião do Oeste uruguaio, utilizando o po-tencial ainda não plenamente aproveitadodo Rio Negro. Seu funcionamento, atende-rá aos reclamos imperiosos do Plano Na-cional de Desenvolvimento da RepúblicaOriental nos setores energéticos, agrário eindustrial. O Protocolo de Expansão Comer-cial, por sua vez, já está ampliando e di-versificando nosso intercâmbio comercial,com benefícios mútuos, apresentando asvendas uruguaias, realizadas ao amparodaquele instrumento, saldos positivos. É-metambém grato referir, nesta oportunidade, acontribuição do Convénio de crédito de bensde capital, concluído em Rivera, sm 1975,pelo Banco do Brasil e o Banco Central doUruguai para a atual política de reequipa-mento e modernização do parque fabril uru-guaio, razão pela qual ambos os Governosconvieram em prorrogar seu prazo de utiliza-ção até 12 de junho do corrente ano. Emvista desse quadro promissor, podemos afir-mar que tendem, pois, a um melhor equilí-brio as trocas comerciais entre o Brasil e oUruguai, o que antes tanto preocupava osdois Governos.

Senhor Presidente,

Em diversas oportunidades tenho salientadoa especial transcendência que o Governobrasileiro atribui a seu relacionamento comos países vizinhos. O Brasil, nessa linha depensamento, não poupa esforços para man-ter diálogo franco e mutuamente profícuocom as nações limítrofes, através de açõesnacionais, binacionais e multilaterais. Pormeio de entendimentos amplos, em todosos níveis, estamos contribuindo efetivamen-te para acelerar a unidade continental, re-forçando, num plano maior, o entrosamentoda nossa região com a comunidade inter-nacional.

descobrir oportunidades económicas

A interdependência representa hoje um dosvetores mais importantes nas relações in-ternacionais, que orienta o comportamentodos Estados e lhes dá, ao mesmo tempo,condições de dinâmica atuação externa einterna reforçando sua independência e so-berania. Para que o processo seja equi-tativo, impõe-se, porém, que países de dife-rentes portes venham a ajustar sua colabo-ração, tendo presentes as dimensões desi-guais de seus respectivos sistemas produti-vos. Por outro lado, devem procurar apro-veitar ao máximo a complementaridadeexistente entre os mercados de produçãoe de consumo de cada um, de modo aque tal política seja auto-sustentada. AosGovernos, nesse contexto, cabe descobrir asoportunidades económicas e comerciais,bem como criar e desenvolver mecanismosde apoio e incentivo às forças vivas daNação, para orientá-las às áreas de con-vergência mútua.

À luz dessas premissas, o Brasil e o Uru-guai perseguem, com realismo, o objetivocomum de uma cooperação crescente, emtodos os setores, entre suas forças nacio-nais, numa política sadia de integração hori-zontal, baseada no respeito mútuo e queconsidera as peculiaridades de um e deoutro país. Os resultados dessa linha deação, Senhor Presidente, como disse hápouco, aí estão em empreendimentos e ini-ciativas diversas, a nível nacional e regio-nal, demonstrando o acerto das decisõestomadas por nossos Governos.

61

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 61: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

comunicado conjunto destacaos entendimentos do presidente geiselem montevidéu

Comunicado Conjunto Brasil-Uruguai,assinado emMontevidéu, em 27 de janeiro de 1978, pelos

Presidentes Aparício Méndez e Ernesto Geisel.

1. Atendendo ao convite de Sua Excelên-cia o Senhor Doutor Aparicio Méndez, Pre-sidente da República Oriental do Uruguai,Sua Excelência o Senhor Ernesto Geisel,Presidente da República Federativa do Bra-sil, realizou uma visita oficial ao Uruguai,entre 25 e 27 de janeiro de 1978, acompa-nhado dos Senhores Ministros de Estadodas Relações Exteriores, do Exército, daFazenda, da Agricultura, da Saúde, do Inte-rior e Chefe do Gabinete Militar da Presidên-cia da República.

2. O Presidente Ernesto Geisel avistou-secom o Presidente Aparicio Méndez e comos Comandantes-em-Chefe das Forças Arma-das do Uruguai, Tenente-General Júlio CésarVadora, Vice-Almirante Hugo Márquez e Te-nente-General Raul Bendahan. Os dois Che-fes de Estado passaram em revista as con-junturas mundial e continental, e se de-tiveram no exame pormenorizado das rela-ções brasileiro-uruguaias, notavelmente re-forçadas pela assinatura, por parte dos doisGovernos, dos atos de cooperação bilate-ral, em Rivera, aos 12 de junho de 1975,e pelo encontro que mantiveram em Bra-sília, em 6 e 7 de julho de 1977.

3. O Presidente Geisel visitou o Conselhode Estado, sendo recebido pelo seu Presi-dente, Dr. Hamlet Reyes. No Palácio Muni-cipal, o Intendente Municipal de Montevi-déu, Dr. Oscar Victor Rachetti, lhe fez entre-ga das chaves simbólicas da cidade.

4. Ao ensejo da visita do Presidente Gei-sel, o Ministro das Relações Exteriores doBrasil, Embaixador António F. Azeredo daSilveira, e o Ministro das Relações Exte-riores do Uruguai, Senhor Alejandro Rovira,mantiveram úteis conversações sobre temas

de relevante interesse para os dois países.Os Ministros de Estado do Brasil, que acom-panharam o Presidente Geisel em sua visitaao Uruguai, examinaram extensamente comseus colegas uruguaios temas das respecti-vas pastas. Das conversações, participaramtambém outros altos funcionários de ume de outro Governo.

5. Os Presidentes Geisel e Méndez presidi-ram a cerimónia de troca dos Instrumentosde Ratificação dos Atos de colaboraçãoregional na área da Bacia da Lagoa Mirim,a saber: o Tratado de Cooperação para oAproveitamento dos Recursos Naturais e oDesenvolvimento da Bacia da Lagoa Mirim(Tratado da Bacia da Lagoa Mirim) e o Pro-tocolo para o Aproveitamento dos RecursosHídricos do Trecho Limítrofe do Rio Jagua-rão (Protocolo do Rio Jaguarão), afiexo aoreferido Tratado, ambos os instrumentosconcluídos em Brasília, a 7 de julho de1977, na presença dos Chefes de Estado dosdois países.

fraterna cooperação entre brasil euruguai

6. Os Presidentes congratularam-se peloexcelente estado das relações de amizade efraterna cooperação entre os dois países.Nesse contexto, os Chanceleres do Brasile do Uruguai, na presença dos dois Chefesde Estado, subscreveram um Acordo de Pre-vidência Social; um Ajuste, Relativo à Sani-dade Animal, Complementar ao Acordo Bá-sico de Cooperação Científica e Técnica de12 de junho de 1975; e um Acordo sobre Ra-dioamadorismo. Foi igualmente firmado en-tre o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB)

62

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 62: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

e o "Banco de Seguros dei Estado", do Uru-guai, um Convénio de Participação Recípro-ca nos Contratos de Resseguro Internacio-nal.

7. Na mesma cerimónia, os Presidentesreceberam da Comissão Mista Brasileiro-Uruguaia para o Desenvolvimento da Ba-cia da Lagoa Mirim (CLM) o projeto básicode aproveitamento hidrelétrico do Passo doCenturião (Rio Jaguarão), que foi elaboradosob coordenação da Superintendência doDesenvolvimento da Região Sul (SUDESUL),órgão do Ministério do Interior do Brasil,e de técnicos uruguaios, assim como do-cumentação referente ao projeto final daBarragem de Talavera e sistema de irriga-ção, preparado em decorrência de convé-nios celebrados pelo Brasil e o Uruguaicom o PNUD. Os Presidentes manifestaramsua especial satisfação pela conclusão dosmencionados estudos, que marca o términode importante etapa no âmbito da coopera-ção bilateral na região da Lagoa Mirim eexpressaram o propósito de dar início efe-tivo, com a brevidade possível, às obrasque integram o Projeto Jaguarão. Com igualânimo, acolheram a comunicação da CLMsobre a instituição da Subcomissão Coorde-nadora para o Rio Jaguarão, que terá a seucargo a responsabilidade da execução doProjeto Jaguarão.

8. Os Presidentes comunicaram igualmen-te que autorizaram a Comissão da LagoaMirim a manter, junto aos órgãos de pla-nejamento e finanças dos respectivos paí-ses, gestões para a obtenção dos recursosnecessários para cobrir as despesas com asobras do Projeto Jaguarão.

9. O Presidente Geisel, atendendo a soli-citação do Presidente Méndez, prontificou-sea conceder financiamento para equipamen-tos e serviços brasileiros referentes à parteque corresponde ao Uruguai no Projeto Ja-guarão.

10. Ainda com relação ao empreendimentobinacional de desenvolvimento da região daLagoa Mirim, o Presidente Geisel anunciouque o Governo brasileiro está tomando pro-vidências para construir a estrada de acessode Herval, no Rio Grande do Sul, às obrasde Passo do Centurião. Por seu lado, o Pre-

sidente Méndez expressou que o Uruguaitem os mesmos propósitos com respeito àsvias de acesso da cidade de Melo a Passodo Centurião, ambas as obras consideradasindispensáveis para o início da construçãodaquela barragem.

11. Ambos os Presidentes destacaram quea construção de uma fábrica de cimento noDepartamento de Treinta y Três, na Re-pública Oriental do Uruguai, destinada acontribuir para o abastecimento da regiãoda Bacia da Lagoa Mirim, é de interessepara o desenvolvimento da zona. Nesse con-texto, examinou-se a possibilidade de queo Brasil financie a aquisição de equipa-mentos e serviços brasileiros destinados atal obra.

12. Ante o propósito do Governo da Re-pública Oriental do Uruguai de estudar apossibilidade de aderir ao Tratado da An-tártida, o Governo brasileiro manifestou suasimpatia e aceitou trocar informações sobrea matéria.

incrementar e diversificar o fluxode comércio

13. Os dois Presidentes externaram sua sa-tisfação pela implementação do Protocolode Expansão Comercial, firmado em Riveraa 12 de junho de 1975. Animados do dese-jo de incrementar e diversificar ainda maisos fluxos de comércio entre ambos os paí-ses, de modo a utilizar todas as possibilida-des derivadas da complementaridade entreas economias brasileira e uruguaia, assimcomo de aproveitar a experiência adquiridana execução do Protocolo, convieram emconvocar, em um prazo não maior de noven-ta dias, uma reunião da Subcomissão de Ex-pansão Comercial Brasil-Uruguai.

14. Outrossim, denotaram seu agrado peloandamento das obras de construção da cen-tral hidrelétrica de Palmar, de acordo com ocronograma previsto para o término da re-ferida usina, que incentivará poderosamentea economia uruguaia.

15. Os dois Presidentes concordaram nacriação de um Grupo Misto de Estudos para

63

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 63: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

analisar fórmulas de cooperação económi-ca no setor pesqueiro.

16. Concordaram os dois Presidentes emincrementar os esforços para promover odesenvolvimento de um maior intercâmbioturístico entre os dois países e em estimular,de forma coordenada, a difusão, nos merca-dos internacionais, dos recursos de interes-se mútuo que apoiam o setor turístico nosdois países e que constituem fatores deatração para os turistas. Concordaram ou-trossim em que os respectivos organismosnacionais projetem, em comum, as normase metodologia tendentes a ordenar circuitosturísticos integrados que compreendam asprincipais zonas do Brasil e do Uruguai.

17. Os Presidentes salientaram o desejode que se incrementem e aperfeiçoem osentendimentos, entre os dois países, sobreintercâmbio no setor da indústria automo-bilística.

18. Os dois Presidentes destacaram a im-portância do intercâmbio de energia elétri-ca entre os dois países, além da cooperaçãono desenvolvimento de estudos e projetosde geração hidrelétrica e de transmissão deenergia. Os resultados alcançados permi-tem prever novos empreendimentos de ge-ração, transmissão e intercâmbio de ener-gia, sempre que possível, em benefício daspopulações de ambos os países nas regiõespróximas da linha de fronteira. *

* Na página 171, seção Tratados, Acordos, Convénios, os Acordos entre o Brasil e o Uruguai; na seçãoMensagens, página 191, o texto do telegrama enviado pelo Presidente brasileiro ao Presidente uruguaiologo após sua visita àquele país.

64

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 64: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

viagem de geisel reafirmaa amizade com a

república federal da alemanhaDiscursos dos Presidentes da República Federal daAlemanha e do Brasil, durante o jantar oferecidopor Walter Scheel a Ernesto Geisel, na Capital alemã,em 6 de março de 1978.

WALTER SCHEEL

Senhor Presidente,

Excelentíssima Senhora Geisel,

Excelentíssimas Senhoras, meus Senhores,

Tenho grande prazer, Senhor Presidente daRepública Federativa do Brasil, Senhora Gei-sel, senhores membros da comitiva, em dar-lhes as boas-vindas à República Federal daAlemanha. Minha esposa e eu sentimo-noshonrados em poder retribuir a hospitalidadedispensada, com tanta cordialidade, ao Pre-sidente Federal Liibke, por ocasião da visitaque fez ao seu país. Desde então, passou-sequase uma década e meia e decorreu maisde um século desde a última visita oficialà Alemanha de um Chefe de Estado brasi-leiro, o Imperador D. Pedro I I .

Esta sua visita, Senhor Presidente, demons-tra amplamente o excelente nível que atin-giram as relações entre a República Federalda Alemanha e a República Federativa doBrasil e os estreitos elos que unem os nos-sos povos.

Vossa Excelência vem como representantede um país que desde o século XIX ocupalugar significativo na comunidade das na-ções, cujo peso na política mundial cresceconstantemente, e que, estamos convenci-dos até o fim deste século se incluirá entreas potências mundiais. Na sua pessoa sau-damos o estadista que, com segurança, con-duziu o país através de um período de gran-des transformações. E alegramo-nos queVossa Excelência, como brasileiro de ori-gem alemã, tenha vindo conhecer a pátriade seus antepassados.

Eu próprio evoco com prazer minhas visitasao Brasil. No seu país senti toda a vitali-dade da América Latina e o dinamismo eco-nómico de sua maior nação. Para nós, ale-mães, o Brasil tornou-se símbolo do vigor edas potencial idades dos países emergentesdo hemisfério sul. A amplidão do território,sua fertilidade tropical, a abundância dosrecursos naturais e, especialmente, o cará-ter amável do brasileiro revelam, para nósalemães, a vida rica e sedutora do seu país.A imaginação de seu povo nos fascina nobarroco brasileiro, com seu realismo mágico,e na elegância monumental de Brasília, ci-dade sem par. Admiramos o engenho com

65

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 65: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

que o brasileiro eleva suas festas popula-res, o carnaval e mesmo o futebol ao planoda arte. Testemunho das qualidades huma-nas do brasileiro é o nascimento de umanação, na qual convivem, lado a lado, pes-soas de diversas cores, raças e credos. OBrasil é considerado um país onde a capa-cidade de trabalho e ò estilo de vida dosmais diferentes grupos étnicos são aprecia-dos sem preconceitos, na medida de suacontribuição para a comunidade. A tolerân-cia é o princípio básico da "democracia ra-cial" brasileira.

Resolver os conflitos pacificamente é velhatradição de seu país. O caráter nacional bra-sileiro, que corresponde a esta atitudehumanística perante a vida, mostra umadmirável poder de assimilação: a índole pa-cífica e a solicitude, a cortesia e o tato,o humor e a dignidade parecem comuns aquase todos os brasileiros, independente-mente de sua proveniência. Estas qualida-des não apenas criaram um grande país,mas também uma grande comunidade.

exemplo brasileiro inspirou confiançaao mundo

Sabemos que seu povo também não ficouimune a tensões internas, dificuldades eco-nómicas e preocupações cotidianas com odireito e a justiça. O exemplo brasileiro,contudo, inspirou confiança ao mundo nofuturo dos modernos países em vias de de-senvolvimento.

Com um vigor admirável, o Brasil de hojeconstrói um moderno país industrializado.Nós, alemães, não permanecemos alheios aesse processo. Através da nossa cooperaçãocotidiana, procuramos conhecer melhor elevar em consideração os interesses e as ne-cessidades de seu grande país. E na medidaem que o Brasil lida com os problemas dasociedade industrial, cresce sua compreen-são para com os nossos próprios problemase dificuldades. As exportações de produtosindustrializados brasileiros para o mundo in-teiro, principalmente para a República Fe-deral da Alemanha, crescem em ritmo ace-lerado. Estamos instalando, juntos, setoresindustriais completos no Brasil. Os últi-mos anos demonstraram as enormes possi-

bilidades de ampliação de nossas relações.No campo económico isto pode ser quanti-ficado; estou, no entanto, convencido deque a intensificação da cooperação tambémem outros setores, especialmente no cultu-ral, traz benefícios para ambas as partes.Já faz algum.tempo que, num discurso noIbero-Club de Hamburgo, falei sobre as gran-des contribuições que a arte e a culturalatino-americanas podem dar à Europa.

Senhor Presidente, não foi só com o inícioda cooperação industrial que nossos povosse conheceram. Desde o começo, alemãesparticiparam da formação do Brasil. Cabral,descobridor do Brasil, contou com o conse-lho científico do astrónomo e geógrafo ale-mão Mestre João. No século XV, o escritore aventureiro Hans Staden tornou o Brasilconhecido na Europa Central. Na época co-lonial, colonos e comerciantes, soldados,pesquisadores e técnicos alemães concorre-ram para a formação do Brasil. Leopoldinade Habsburgo, filha do útlimo Imperadorromano-germânico, foi a primeira Imperatrizdo Brasil. Sua forte personalidade muitotem a ver com a concretização da Indepen-dência brasileira. Ela também trouxe aoBrasil os primeiros grupos organizados deimigrantes alemães. Nos séculos XIX e XXos imigrantes alemães, à procura de traba-lho, liberdade e felicidade, encontraram noBrasil uma nova pátria. O grande sociólogoGilberto Freyre afirmou que, sem a contri-buição dos brasileiros de origem alemã, te-riam faltado importantes forças e valorespara o desenvolvimento do Brasil.

Nossa comum herança europeia propiciouesta evolução favorável. Estas tradições es-pirituais e o reconhecimento da interdepen-dência no mundo moderno constituem ofundamento para uma associação que émais do que uma cooperação comercial.Queremos, conscientemente, aproveitar aoportunidade de ampla cooperação na eco-nomia e na política, na ciência e na cultura.Queremos empenhar a nossa amizade comoforça estabilizadora entre o Norte e o Sul,a Europa e a América Latina, os países oci-dentais e africanos. Uma associação dessanatureza terá o apreço de todos os povos domundo que com sinceridade empreendemesforços para cumprir pacificamente nos-sas grandes tarefas comuns: defender a

66

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 66: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

humanidade, em constante crescimento, dafome e da miséria, assegurar a paz e ven-cer os perigos impostos ao homem e à na-tureza pela tecnologia moderna.

Levanto minha taça para brindar à sua feli-cidade pessoal, ao futuro do povo brasileiroe à amizade entre os nossos países.

ERNESTO GEISEL

Excelentíssimo Senhor Presidente da Repú-blica Federal da Alemanha,

Excelentíssima Senhora Dra. Mildred Scheel,

Excelentíssimo Senhor Chanceler Federal

Excelentíssima Senhora Schmidt,

Excelentíssimo Senhor Ministro dos Negó-cios Estrangeiros,

Excelentíssima Senhora Genscher,

Excelências,

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

As palavras que Vossa Excelência — SenhorPresidente — acaba de pronunciar muitosensibilizaram a mim, a minha esposa e aosbrasileiros que me acompanham. Ficamostodos profundamente gratos a Vossa Exce-lência por mais esta manifestação de apre-ço e amizade para com o nosso país.

Esta manhã, nossa visita à República Fe-deral da Alemanha iniciou-se de maneira ex-tremamente cordial e promissora. As con-versas estimulantes e amigas que mantive-mos, o almoço que Vossa Excelência e aSenhora Scheel gentilmente nos oferecerame o programa que hoje já cumprimos per-mitiram-nos sentir a amizade de que somosalvos.

Senhor Presidente,

A República Federal da Alemanha é, por to-dos, reconhecida como um dos mais repre-sentativos países do Ocidente. Graças asuas qualidades morais e a seu génio cria-

tivo, pode o povo alemão exercer extraordi-nária influência nos destinos de nossa civi-lização. Na literatura, na arte e na música,assim como na filosofia e na ciência — emtodos os ramos, enfim, da atividade humana— a presença alemã causa enlevo e é fatorde esperança e de progresso.

Por outro lado, a participação ativa da Re-pública Federal nos variados foros de nego-ciação é fator altamente positivo para amanutenção da paz mundial e para o desen-volvimento da cooperação entre os povos.Por sua vitalidade económica e tecnológica,pelo caráter aberto e democrático de seupanorama político e pela disposição revela-da por seus homens públicos ao enfrenta-rem as difíceis responsabilidades que suasfunções lhes impõem, a República Federalda Alemanha tem demonstrado capacidadecrescente de atuação construtiva, no planomundial.

admiração e respeito pelo trabalhodo povo alemão

Confirmam-se, assim, na prática política con-temporânea, os reconhecidos dotes de espí-rito, de trabalho e determinação que, atra-vés dos séculos, granjearam para o povoalemão a admiração e o respeito universais.O Brasil, que mantém com este país as me-lhores relações, vê, com particular agrado,essa dinâmica participação da RepúblicaFederal na vida internacional.

Senhor Presidente,

Muito desejo que minha visita simbolizeprecisamente a amizade e o entendimentoque existem entre nossos dois países. Ecreio que nossas relações — não só peloque hoje representam, mas também por suastradições — autorizam amplamente seme-lhante expectativa. Vossa Excelência evo-cou, com rara felicidade, a antiguidade denossas relações e lembrou nomes justamen-te famosos, cujas contribuições ao enten-dimento entre brasileiros e alemães ilustrama riqueza que sempre apresentou esse rela-cionamento. Outros episódios e outras pes-soas importantes em nossa história comumacodem à minha memória. As relações ofi-ciais entre nós datam do alvorecer da vida

67

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 67: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

independente do Brasil, momento em quea Nação brasileira ainda buscava consoli-dar sua personalidade internacional e emque já se via a braços com a necessidade deobter condições equitativas para suas tro-cas comerciais.

Foi a 17 de novembro de 1827 que o Impé-rio brasileiro celebrou o Tratado de Comér-cio e Navegação com os Senados das Cida-des Livres e anseáticas de Lubeck, Bremene Hamburgo. Esse Tratado — permita-meque o assinale — merece ser recordado tan-to por haver servido de marco inicial dasrelações que hoje florescem, quanto porconter valiosos princípios de liberdade dointercâmbio de estímulo ao comércio e deampla reciprocidade nos benefícios deferi-dos às Partes, inclusive na concessão mútuado tratamento de nação mais favorecida.Concluído em época particularmente impor-tante da história política do Brasil, o Trata-do de 1827 caracterizou-se pela igualdade detratamento, antecipando o profícuo relacio-namento que pudemos estabelecer e desen-volver daí por diante.

Desde o início do século XIX, porém, já oBrasil atraía a curiosidade do espírito ale-mão, como testemunham os trabalhos devon Eschwege, de Guilherme Luiz Vamhagene de seu filho, o Visconde de Porto Seguro,assim como de von Martius e de von Spix.Da mesma forma que as personalidades ci-tadas por Vossa Excelência, esses nomes, emuitos outros que poderiam ser referidos,despertam em nós, brasileiros, profundas evariadas associações com o nosso passado.Os dois primeiros lembram iniciativas ver-dadeiramente pioneiras nos campos da geo-logia e da siderurgia; o Visconde de PortoSeguro foi um dos grandes mestres da his-toriografia brasileira e von Spix e von Mar-tius estão indelevelmente ligados ao conhe-cimento da ecologia, da etnografia e da lin-guística brasileiras.

A história da emigração alemã para o Brasilfoi encontrar sua origem nesse conjunto decontribuições notáveis. Criou-se na Alema-nha, em consequência delas, uma atmosfe-ra de interesse e fascínio pelas possibilida-des do novo país, sobre o qual o próprioGoethe procurou informar-se diretamentecom von Martius e von Eschwege. Em se-tembro de 1822, expressou ele, em carta,

sua admiração pela terra brasileira, escre-vendo: "O Brasil, esse continente imenso,desvenda-se cada vez mais à minha inteli-gência". E em 1825, compôs uma poesia so-bre temas brasileiros.

Início auspicioso veio a ter o movimento mi-gratório alemão, que atravessou o séculoXIX, para estender-se a este em que vive-mos.

episódio importante na formação dagente brasileira

A imigração germânica é, sem dúvida, epi-sódio importante na formação da gentebrasileira e, consequentemente, na aproxi-mação entre nossos dois povos. Sua contri-buição tem sido particularmente notável emmeu Estado natal e nos que lhe são pró-ximos; esses imigrantes, esses brasileiros,estão, há muitos anos, integrados na vidanacional e com seu trabalho valioso parti-cipam de nossa civilização, de nossa econo-mia e de nosso progresso.

Esta minha visita permite evocar o muitoque, no passado, ligou brasileiros e alemães.Servirá, também, creio, para sublinhar oque estamos fazendo, em nossos dias, noterreno da cooperação entre os dois países.Os resultados expressivos dessa cooperaçãodemonstram o quanto podem alcançar doispaíses amigos quando decidem, honesta-mente, unir esforços em benefício mútuo.

O Brasil e a República Federal da Alema-nha souberam aproveitar, de forma cria-dora, sua tradicional amizade e os vínculosde confiança recíproca para instituir meca-nismos de cooperação pacífica e mutuamen-te benéfica. Prova disso são os múltiplosinstrumentos que temos assinado e imple-mentado, entre os quais sobressai o Acordosobre Cooperação no Campo dos Usos Pa-cíficos da Energia Nuclear, de 1975.

Senhor Presidente,

Numa situação internacional como a pre-sente, em que nem sempre predomina aharmonia e em que, apesar de todos osavanços da tecnologia das comunicações, ospovos ainda não se conhecem suficiente-

68Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 68: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

mente, deixam às vezes de receber o devi-do reconhecimento, a magnitude e o sen-tido progressista dos esforços que nós, bra-sileiros, estamos fazendo para construiruma sociedade aberta, democrática e justa.

Na República Federal, quero crer, essa si-tuação de relativo desconhecimento dos pro-pósitos brasileiros vem sendo corrigida porforça mesmo da crescente importância denossas relações. É minha convicção quecabe a nós, homens de Estado, contribuirpara acelerar, ainda mais, esse processo deentendimento. O discurso que Vossa Exce-lência acaba de pronunciar é uma excelen-te contribuição no sentido de fomentar sim-patias recíprocas e de desfazer preconcei-tos ou enganos de percepção acaso exis-tentes. Nesse contexto, desejaria relembraras numerosas e produtivas visitas trocadaspor personalidades de nossos dois países, acomeçar pela que nos fez o Presidente

Luebke, há quinze anos passados. Recorda-ria, também, a proveitosa visita, que anosatrás, Vossa Excelência, na qualidade deMinistro dos Negócios Estrangeiros, fez ameu país e que correspondeu a uma etapaimportante no processo de amadurecimentode nossas relações.

Senhor Presidente,Espero que essas profícuas relações possam,ainda, ter maior desenvolvimento. O senti-do de minha visita amiga à República Fe-deral da Alemanha é o de propiciar condi-ções para que se intensifique a cooperaçãoexistente e se amplie o seu raio de ação.

Ao agradecer a magnífica acolhida que mefoi dada hoje, desejo levantar minha taça ebrindar à prosperidade crescente da Re-pública Federal da Alemanha e de seu povoe à felicidade pessoal de Vossa Excelência eda Senhora Scheel.

a homenagem de geisel aopresidente walter scheel

Palavras pronunciadas pelos Presidentes Ernesto Geisele Walter Scheel, em Bonn, em 7 de março de 1978,durante o jantar oferecido pelo Presidente brasileiro

ao Chefe de Estado da República Federal da Alemanha

ERNESTO GEISEL

Permita-me Senhor Presidente expressar,nesta ocasião, minha satisfação pessoal ea dos membros de minha comitiva em terconosco, esta noite, Vossa Excelência e aSenhora Scheel, bem como todos os ilus-tres convidados alemães.

A amizade entre o Brasil e a República Fe-deral da Alemanha está sendo amplamentereafirmada nestes dias. Nosso crescente en-tendimento já está produzindo seus frutosem benefício de ambos os países, em varia-dos campos. Tal situação alentadora é ates-tada, inclusive, pela presença, entre nós, es-ta noite, de homens de empresa diretamen-te interessados no intercâmbio comercial efinanceiro entre o Brasil e a República Fe-deral da Alemanha.

Convido os presentes a erguerem suas taçasem homenagem à República Federal daAlemanha e a seu povo, por suas realiza-ções presentes e futuras e pela felicidadepessoal do Presidente e da Senhora Scheele de todos os convidados que nos honramcom sua presença.

WALTER SCHEEL

Senhor Presidente,

Excelentíssima Senhora Geisel,

Tanto o indivíduo como a nação encontram-se a si próprios no contato com os demais.Suas palavras gentis de ontem à noite, Se-

69

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 69: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

nhor Presidente, nos deram a oportunidadede nos encontrarmos a nós próprios nosolhos de um povo amigo.

Estou consciente de que sua interpretaçãogenerosa da amizade teuto-brasileira excluias sombras que nas duas guerras mundiaiscaíram sobre as nossas relações. É verda-de, porém, que não é possível tornar evi-dente toda a multiplicidade das dependên-cias e enriquecimentos mútuos. A Alema-nha, por exemplo, não fosse pela imaginaçãofértil da brasileira Julia da Silva Bruhns,mãe de Thomas Mann, teria um grande es-critor a menos.

Vossa Excelência, Senhor Presidente, lamen-tou ontem que em nossa opinião pública,apesar das possibilidades oferecidas pelacomunicação moderna, faltasse o reconhe-cimento dos esforços brasileiros pela jus-tiça e pela democracia. Cumpre lembrarque os alemães simpatizam muito com aAmérica Latina e, especialmente, com oBrasil. A população aqui acompanha cominteresse o que se passa lá. Precisamente éo ritmo febril da comunicação moderna queprovoca, frequentemente, julgamentos pre-cipitados e imponderados. Nos tempos deHumboldt e Martius viajava-se e se julgavamais vagarosamente.

Estamos impressionados pelas realizaçõesenormes do desenvolvimento brasileiro. Vos-

sa Excelência encontrará de nossa parte,portanto, também compreensão para o fatode que não se pode solucionar, no mesmoritmo, todos os problemas sociais e econó-micos.

Vossa Excelência, Senhor Presidente, veioacompanhado de uma delegação numerosa,que nesses dias trabalhou e ainda trabalha-rá intensamente. Realizaram-se conversa-ções em todos os níveis, estatais e privados.Fizemos um balanço. Que foi alcançado,que pode ser melhorado, quais os proble-mas a serem solucionados ainda? E isso foinecessário.

Enfrentamos um novo surto do nosso inter-câmbio comercial. As conversações queVossa Excelência, Senhor Presidente, man-teve comigo mostraram-me que as nossaspossibilidades de consulta e cooperação po-lítica crescem na mesma medida. Sua vi-sita constitui para nós um encorajamento nosentido de lançar-nos à solução das tarefasque conjuntamente identificamos.

Senhor Presidente, Excelentíssima SenhoraGeisel, agradeço a Vossa Excelência, emnome de minha mulher e dos meus compa-triotas, a sua hospitalidade. Ergo minha ta-ça para brindar à nossa cooperação nostempos bons e árduos.

geisel na rfa: confiamos na cooperação,no diálogo e no respeito mútuo

Discursos do Primeiro-Ministro Helmut Schmidte do Presidente Ernesto Geisel, em Bonn, em

7 de março de 1978, durante almoçooferecido ao Presidente brasileiro.

0 PRIMEIRO-MINISTRO

Senhor Presidente,meus Senhores,

minhas Senhoras e

0 Governo Federal atribui grande impor-tância à visita de Vossa Excelência— à vi-sita do Chefe de Estado e Chefe do Governoda República Federativa do Brasil. Desejariaassegurar mais uma vez a Vossa Excelência,

70

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 70: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Senhor Presidente, e aos Ministros de Es-tados e colaboradores que o acompanham,quão extraordinariamente bem-vinda nos ésua visita e desejaria agradecer-lhe, oficial-mente, por esta visita. É para mim umagrande satisfação dar a Vossa Excelência,aos seus Ministros e aos demais membrosda sua delegação, as cordiais boas-vindasna sede do Governo Federal.

A longa conversação que acabamos de man-ter, com a participação do Senhor Ministrode Estado das Relações Exteriores, muitome impressionou. Permitiu-me entrever no-vas e adicionais possibilidades que se ofe-recerão de boas relações entre a Alemanhae o Brasil.

É a primeira visita de Vossa Excelência àAlemanha e, ao mesmo tempo, a primeiravisita de um Presidente brasileiro à Alema-nha. E talvez, ao lado do trabalho políticoe dos encargos oficiais, lhe dê um poucode alegria estar no país dos seus pais eavós.

Confesso que durante os últimos vinte anosnão estive no Brasil e não conheço, portan-to, o Brasil de hoje, de experiência própria.Mas sei muito bem da dinâmica e da vita-lidade potente com a qual se efetua o de-senvolvimento do seu grande país.

cresce o peso político e económicodo brasil

Reconhecemos aqui, muito claramente, etambém as nossas empresas, nossos cír-culos económicos reconhecem claramente,como o peso político e económico do Brasilestá crescendo consta ntemente, não só nosubcontinente sul-americano, mas tambémna economia mundial e na política mundial.

Por isso, ocupa o Brasil na nossa políticaexterna, uma posição importante. Não tive-mos com nenhum outro país do hemisfériosul, já em inícios do século passado, rela-ções contratuais tão estreitas como com oseu país. Como hamburguês, causa-me, na-turalmente, especial satisfação tenham sidoas cidades hanseáticas, como Bremen eHamburgo, as primeiras a reconhecer a cres-cente importância do Brasil. Foram elas as

primeiras a concluir, em 1827, no Rio deJaneiro, para a Alemanha, uma Convençãode Comércio e Navegação com o Brasil.

Em 7 de maio de 1876, o jornal Neues Ber-liner Tagesblatt publicou o seguinte texto:"De ano a ano, aumentam de intensidadeas relações comerciais entre a Alemanha eo Brasil, o que torna a situação financeira,a capacidade produtiva e as necessidadesculturais desse país de suma importânciapara o comércio e para o mercado alemães".Parece-me que estas palavras, escritas há100 anos, poderiam, da mesma forma, tersido escritas hoje. Pois, entrementes, asnossas relações económicas e culturais as-sumiram tanta importância que o Brasilocupa uma posição de excepcional destaquecomo nosso parceiro entre os países emdesenvolvimento do ultramar.

Desejaria, neste contexto, relembrar três ouquatro cifras. O valor total do nosso inter-câmbio de mercadorias monta, atualmente,a 5 bilhões de marcos e constitui não ape-nas um suporte muito importante para ocomércio exterior alemão, mas também paraa manutenção de lugares de trabalho naindústria alemã. Gostaria de salientar queos investimentos alemães no Brasil mon-tam, atualmente, a 4 bilhões de marcos. E,para completar o quadro, mencione-se que,nas nossas exportações, as transações como Brasil representam mais de 10 por centodo total coberto por nosso seguro de ex-portação. Finalizando, gostaria também defrisar a vantagem que os nossos amigos eparceiros brasileiros tiram do nosso rela-cionamento económico. As exportações bra-sileiras de produtos semimanufaturados emanufaturados para o nosso país acusamtaxas de crescimento anuais que, de ano aano, quase atingem 100 por cento.

Essa evolução global satisfatória trouxe pa-ra o Brasil em suas relações com o nossopaís um considerável superavit da balançacomercial, o que vemos com satisfação.Sou de opinião que essa evolução não porúltimo se deve atribuir também à nossaprópria política económica de expansão es-tável, isto é, de expansão, cautelosa, e aonosso próprio engajamento em favor de umsistema económico mundial aberto. Nãotenho a intenção de revelar aqui na mesaa troca de ideias que nós dois, Senhor Pre-

71

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 71: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

sidente, tivemos sobre questões de econo-mia mundial e de política monetária mun-dial. Mas acho que podemos dizer que nãoé apenas com base na experiência do pas-sado e do dia de hoje, mas também noreconhecimento político-teórico dos nossosinteresses mútuos, que nos empenhamospor um sistema económico mundial abertoe que ambos rejeitamos a formação decartéis.

Gostaria de terminar essas observações re-petindo a minha opinião de que o que atéagora foi conseguido em matéria de coope-ração económica entre nós e o Brasil podeser considerado como exemplo para a co-operação entre um país altamente industria-lizado, de um lado, e um país no limiar dodesenvolvimento, do outro. Desejaria que,nas relações Norte-Sul, no mundo inteiro,fosse possível, no decorrer do tempo, che-gar a uma cooperação igualmente provei-tosa.

Nesse contexto, quero salientar que o Go-verno Federal e a República Federal daAlemanha estão conscientes da responsa-bilidade que têm de assumir, na sua quali-dade de país industrializado e de parceiroimportante do comércio mundial, no âmbi-to dos múltiplos esforços atuais por ummelhoramento do sistema económico mun-dial. Estamos também, realmente dispostos— asseguro isto novamente a Vossa Exce-lência — a fazer esforços ainda maiores noâmbito do diálogo Norte-Sul. Faz parte de-les, por exemplo, o aumento, recentementedecidido pelo Parlamento, da nossa contri-buição, já respeitável para a assistência aodesenvolvimento, particularmente para ospaíses menos desenvolvidos.

Quero também acrescentar umas observa-ções francas, as quais, no entanto não sãodirigidas ao Brasil e muito menos ao Pre-sidente, mas que, na minha opinião, deve-riam ser divulgadas e deveriam merecer aatenção do Grupo dos 77, no qual o Brasiltem grande peso.

as condições para resultadosconcretos no diálogo norte-sul

Penso que a consecução de resultados eco-nómicos concretos no diálogo Norte-Sul

pressupõe o preenchimento de uma sériede condições:

Primeiro: é preciso que no mundo inteiruse compreenda que solidariedade não énunca uma via de mão-única, mas sempreuma via na qual há trânsito nos dois sen-tidos. Fiz essa primeira observação especial-mente com vistas a resoluções tomadas emorganismos internacionais.

Em segundo lugar, quero chamar a atençãopara o fato de que, junto com o Brasil, so-mos a favor de uma diminuição das oscila-ções de preços no setor das matérias-primas.Junto com o Brasil, somos a favor de queos países em desenvolvimento, que produ-zem e exportam matérias-primas, tambémrecebam preços adequados para elas. Masdizemos também, neste contexto, que algu-mas das propostas, feitas em discussão pú-blica de alcance mundial, não nos parecemmuito sensatas. De um lado, ouvi, porexemplo, no ano passado, que em primeirolugar o mais importante seria concluir umacordo de matérias-primas no tocante aotrigo; permito-me chamar a atenção para ofato de que quem maior benefício tirariade tal acordo seriam os próprios paísesdesenvolvidos: Estados Unidos, Canadá eAustrália. Ponho em dúvida a sabedoria dapolítica Norte-Sul no que se refere a umtal acordo. E se, por outro lado, se exigissea conclusão de um acordd de matérias-primas relativo ao ferro, os mais beneficia-dos seriam países desenvolvidos como aAustrália e, entre outros, também a Suécia,embora também outros países em desen-volvimento pudessem tirar proveito de talacordo. Ou tomemos, como exemplo, o al-godão. Tal acordo beneficiaria o Egito, masantes de mais nada, os estados do suldos Estados Unidos e a União Soviética. Nocaso do cobre, talvez o Chile e o Zaire fos-sem beneficiados, mas, em primeira linha,favoreceria a Polónia, os Estados Unidos eoutros. Por isso, parece-me que o Grupodos 77 deveria colocar em primeiro planoos interesses próprios, os interesses dospaíses em desenvolvimento.

A fim de ser bem compreendido, repito aobservação feita anteriormente: estamosdispostos a aceitar sacrifícios adicionaispara a nossa economia, nossos consumido-

72

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 72: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

res, nossa indústria transformadora e tam-bém para os nossos contribuintes, mas nãoa favor de todo o mundo, mas a favor dospaíses em desenvolvimento que realmentenecessitem de ajuda.

Gostaria de mencionar um terceiro pressu-posto: há hoje, entre os países em desen-volvimento, duas dúzias de países quepertencem à categoria dos most seriouslyaffected countries. São os países que, se-gundo se concordou em nível internacional,foram mais gravemente atingidos nos seusbalanços de pagamento pela explosão dospreços do petróleo. Não posso bem com-preender que essas dificuldades relativasde balanço de pagamento, que impedem aimportação de bens vitais por parte daque-les países, devam onerar os países indus-trializados, os quais, por sua vez, sofremda mesma forma pelo fato de terem de pagarpelo petróleo um preço cinco vezes maior.

Acho que, para o financiamento dos déficitsde balanço de pagamentos dos most seri-ously affected countries, deveriam, em pri-meira linha, ser chamados aqueles paísesque, devido à quintuplicação dos preços dopetróleo, registraram grandes superavits. Eacho que não é sensato que aqueles paísescom superavits devidos ao petróleo se apre-sentem nas Conferências Norte-Sul simul-taneamente como advogados dos países emdesenvolvimento.

E uma quarta observação: compreendo acategoria moral da qual partem muitos es-tadistas, líderes de países em desenvolvi-mento, exigindo de nós, os países industria-lizados, que ajudemos e façamos sacrifícios.E essa moral me seria muito mais com-preensível se as acusações dirigidas aospaíses industrializados ocidentais democrá-ticos fossem, com igual intensidade e deforma igualmente pública, dirigidas tambémà União Soviética e aos países comunistasa ela aliados, parte dos quais dispõe deuma capacidade de produção industrial ede um padrão de vida sem dúvida algumacomparáveis. Se isso — como até agora —não for feito, enquanto por outro lado pron-tamente se aceitam as armas vindas doLeste, então desvalorizam-se as categoriasmorais com as quais se argumenta.

Prezado Senhor Presidente, Vossa Excelên-cia sabe que essas observações não se di-rigem contra Vossa Excelência e contra oBrasil. Apresento-as a um dos países emdesenvolvimento dos mais importantes, demaior influência e com as maiores perspec-tivas para o futuro, dentro do Grupo dos 77,com o pedido de que as leve ao conheci-mento dos outros componentes desse Gru-po. Se tudo isso for rejeitado pelo Grupodos 77, será muito difícil chegar-se à aspi-rada solidariedade mútua e à mutuality ofinterests.

confiança na prosperidade daeconomia brasileira

Com o Brasil nunca tivemos diferenças deinteresses ou divergências no campo dodiálogo Norte-Sul. Ao contrário, nós, quetemos acompanhado com grande atenção odesenvolvimento do Brasil e, em parte, comojá mostrei com dados, prestamos nossacontribuição, estamos muito felizes com odesenvolvimento das nossas relações. Vi-mos com admiração como o Brasil, nasúltimas duas décadas, abriu enormes re-servas de matérias-primas e que está emvias de melhor aproveitar a mão-de-obra, asreservas humanas até agora não aproveita-das. A política orientada para a economiade mercado do seu Governo, Senhor Presi-dente, tornou possível um crescimento es-petacular da produção brasileira e, de ummodo geral, levou a uma confiança cres-cente na prosperidade da economia brasi-leira. Desejo dar-lhe sinceramente parabéns.

Não nos é desconhecido, naturalmente, oprocesso de transformação social no seupaís, forçosamente ligado a esse desenvol-vimento. Esse processo atingiu muitos paí-ses. Vossa Excelência, Senhor Presidente,escolheu desde o início de seu mandato ocaminho de uma nova organização da de-mocracia no seu país. Posso assegurar-lhede que acompanhamos esse caminho comconfiança. Temos a impressão de que, nofundo, temos as mesmas ideias básicas deuma comunidade organizada segundo oprincípio do Estado de Direito, na qual po-dem ser implementados os direitos funda-mentais do homem, na forma estipulada naCarta das Nações Unidas.

73

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 73: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Meus Ministros e eu tivemos oportunidadede apresentar a Vossa Excelência, SenhorPresidente, os problemas do nosso país, quesão diferentes dos problemas do Brasil, masque também são difíceis. Ao visitar Berlim,Vossa Excelência sentirá com especial ni-tidez um aspecto dos nossos problemas.Gostaria de agradecer expressamente a Vos-sa Excelência por sua visita à antiga capi-tal alemã.

Devido à divisão de nossa Nação e à situa-ção geográfica do nosso País, sempre sen-timos, no passado, de maneira especialmen-te forte, as oscilações nas relações Leste-Oeste. O processo de distensão da últimadécada levou a uma diminuição dessas os-cilações. Juntamente com os nossos parcei-ros da NATO e da Comunidade Europeia,empenhamo-nos pela continuação dessapolítica de distensão, a despeito das estag-nações e dos retrocessos ocorridos. Dessamaneira, e através dos nossos esforços si-multâneos, no sentido de garantir a nossaprópria segurança, esperamos que possa-mos ajudar e assegurar a paz no mundo ena Europa.

Senhor Presidente, estou convencido de quea sua visita à República Federal da Alema-nha dará novos impulsos às relações teuto-brasileiras. Estou convencido de que asconversaçes mantidas conosco em Bonn,por Vossa Excelência e os membros do seuGoverno, fortalecerão nossa mútua compre-ensão, confiança e cooperação.

Nesta convicção, gostaria de pedir aos con-vidados alemães nessa mesa que levantas-sem comigo suas taças e brindassem aobem-estar do Presidente do Brasil, a umfuturo feliz do Brasil e do povo brasileiroe, finalmente, à amizade entre os nossosdois povos e países.

0 PRESIDENTE

Excelentíssimo Senhor Chanceler Federal,

Senhores,

As generosas palavras que Vossa Excelên-cia dirigiu a meu País fazem com que todosos brasileiros lhe fiquemos extremamente

agradecidos. Como Presidente da República,desejo fazer-me intérprete desse reconhe-cimento, o qual, a cada dia de nossa visita,só faz crescer, tantas têm sido as atençõesque temos recebido por parte do Governoe do povo da República Federal da Ale-manha.

Nós, brasileiros, sabemos identificar e va-lorizar a hospitalidade, — porque ela é umdos traços marcantes de nossa gente — e,nas palavras de Vossa Excelência, tivemosa satisfação de reencontrar esse sentimentoacolhedor, que nos faz lembrar nossa pró-pria casa, a nossa própria terra.O Brasil reconhece, na República Federalda Alemanha, um país que participa, deforma altamente positiva e relevante, dasrelações internacionais contemporâneas. Avitalidade económica e tecnológica da Re-pública Federal, assim como seu elevadograu de maturidade política, lhe conquista-ram o respeito de todo o mundo. Aprecia-mos, no Brasil, a importante contribuiçãoque a República Federal tem prestado ànegociação das questões relativas à paz, aodesarmamento e à segurança internacional.Distinção de seu país é o interesse pelacooperação entre os povos e pelas possibi-lidades que a mesma abre para que maisrapidamente se solucionem os grandes pro-blemas que afligem a humanidade. Emconsequência, a República Federal revelouter condições especiais para bem compre-ender a determinação de países, como oBrasil, que. desejam seja a tecnologia mo-derna posta a serviço da paz e do desen-volvimento.

Nossas relações, Senhor Chanceler, se as-sentam sobre base firme. Os altos níveisde cooperação hoje vigentes não foram al-cançados em um só dia. São, ao contrário,lastreados por sólidas e antigas relações deamizade e pela objetividade e respeitomútuo com que elas têm sido conduzidas.Em anos recentes, instrumentos bilateraiscomo o Acordo Básico de Cooperação Téc-nica, o Acordo Cultural e o Acordo Geralsobre Cooperação nos Setores da Pesquisae do Desenvolvimento Tecnológico, foramgradualmente negociados e proporcionaramvaliosas experiências de trabalho conjuntoe de confiança recíproca. Seus resultadosalentaram-nos a prosseguir, decididamente,na trilha da cooperação.

74

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 74: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

acordo nuclear, ponto culminante dacooperação brasil-rfa

Há pouco menos de três anos, em junhode 1975, alcançávamos novo marco emnosso relacionamento, com a celebração,aqui mesmo, nesta bela e hospitaleira ci-dade de Bonn, do Acordo sobre a Coopera-ção nos Usos Pacíficos da Energia Nuclear,entre o Brasil e a República Federal daAlemanha. Esse Acordo constitui pontoculminante do processo de aproximação ede cooperação entre nossos dois países.Entretanto, olhando para o futuro, não he-sito em afirmar a convicção de que ele re-presenta, também, um ponto de partidapara novos esforços em comum, nas áreasde cooperação que viermos a selecionar.Minha visita, Senhor Chanceler, simbolizaessa disposição por parte do Brasil.

Temos encontrado restrições à nossa coo-peração no campo dos usos pacíficos daenergia nuclear. Não obstante, agindo sem-pre em comum, temos sabido conquistar aconfiança da comunidade internacional pa-ra nossos propósitos exclusivamente pací-ficos e para a legitimidade de nossas preo-cupações com o desenvolvimento tecnoló-gico e o abastecimento energético, livres dedependências. Mercê de nossos esforços,podemos afirmar com satisfação que a im-plementação do Acordo e, em particular, oPrograma Nuclear Brasileiro, se desenvol-vem em ritmo normal, e assim continuarão.

O Brasil é um país que se preocupa com apaz e a segurança internacionais. Conside-ra o Brasil que a urgente cessação da car-reira armamentista, sobretudo no plano nu-clear, é essencial para que se possa esta-belecer um convívio harmonioso entre osEstados. A acumulação de arsenais nuclea-res, além de ser fator de tensão internacio-nal põe em permanente risco a própriasobrevivência da humanidade.

0 Brasil é um país que busca colaborar comtodos os povos. Estamos convencidos deque a cooperação internacional, conduzidade maneira franca e leal e que beneficieequitativamente as partes nela envolvidas,serve para aproximar as nações e contri-buir para acelerar o seu desenvolvimentoeconómico. Nesse espírito, não só buscamos

a cooperação dos países económica e tec-nologicamente desenvolvidos, mas tambémtemos procurado, com os meios a nossoalcance, cooperar com os numerosos vizi-nhos da América Latina e da África, comos quais convivemos de forma harmoniosae solidária.

O Brasil é uma nação voltada para o desen-volvimento em benefício de cada um deseus filhos. Meu Governo, como os que oantecederam, empenha-se em reunir todasas forças do país para promover a supera-ção dos desequilíbrios sócio-econômicosexistentes e para a construção de uma so-ciedade aberta e democrática, uma socie-dade em que todos participem, de formaequitativa, dos frutos do progresso econó-mico. Esse magno empreendimento, no en-tanto, nem sempre tem sido perfeitamentecompreendido nos países economicamenteavançados.

Múltiplas serão, sem dúvida, as razões paratal incompreensão e a menor delas não seráo desconhecimento da realidade brasileira.Apesar de todos os avanços na tecnologiadas comunicações, vastos setores da huma-nidade continuam, paradoxalmente, a viverisolados e, o que é pior, os fluxos interna-cionais de informação são, notoriamente,mais densos no sentido Norte-Sul de quena direção inversa.

barreiras artificiais dificultam oentendimento

Persistem, assim, barreiras artificais quedificultam o entendimento, especialmentequando se somam a outros obstáculos, me-nos aparentes, ao diálogo e à compreensão.É frequente, por exemplo, que o esforçobrasileiro de desenvolvimento político, eco-nómico e social seja aferido a partir demodelos teóricos, elaborados com base navivência de outros países e de outros con-tinentes. A aplicação mecânica desses mo-delos a realidades distintas distorce as aná-lises e pode levar a conclusões erróneas,senão mesmo prejudiciais.

Nem sempre, permita-me citar um exemplo,vejo suficientemente valorizada, no exte-rior, a magna realização da sociedade bra-

75

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 75: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

sileira que foi e é, a conquista de nossaunidade nacional. Desde os tempos colo-niais, não foram poucos os obstáculos, masa Nação brasileira soube conservar sua per-sonalidade e feições próprias, ao mesmotempo que foi capaz de absorver variadíssi-mas contribuições étnicas e influênciasculturais. Nosso vasto território abriga, comodisse, uma população diversificada, masque fala a mesma língua, tem seus costumespróprios e está unida por valores e aspi-rações que lhe são comuns. Ainda hoje, asociedade brasileira preserva a inteireza deseu ca rate r, assim como mantém uma ati-tude positiva com relação às contribuiçõesque lhe vêm do exterior.

Somente clima de boa vontade e de enten-dimento, como o que felizmente predominanas relaçes entre os nossos dois países,permitirá superar as dificuldades de per-cepção, a que acabo de me referir. É minhaopinião que, no particular, o Governo daRepública Federal tem uma importantíssi-ma contribuição a prestar — e já o estáfazendo — para eliminar obstáculos e, mes-mo, para, construtivamente, facilitar o for-talecimento dos laços que ligam os doisGovernos, os dois países e os dois povos.

No terreno das relações económicas, porexemplo, existe claramente larga faixa por

onde poderá progredir o entendimento en-tre nossos dois países. Já provamos, nocampo da cooperação, tanto tecnológicaquanto financeira, que somos bons parcei-ros e que sabemos trabalhar num clima deconfiança recíproca. Agora, é chegado omomento de ampliarmos nossos horizontes.A pauta de comércio entre o Brasil e aRepública Federal da Alemanha merece umexame crítico por ambas as partes, comvistas não só a tornar mais dinâmico o fluxode trocas, mas também a dar-lhe compo-sição mais equilibrada.

Senhor Chanceler,

A mensagem que trouxemos a Bonn é extre-mamente positiva. Colocamos nossa con-fiança na cooperação, no diálogo e no res-peito mútuo. Nossa experiência comum éaltamente encorajadora e cabe a nós mes-mos encontrar caminhos para fazê-la aindamais ampla e proveitosa.

Permita-me reiterar-lhe meus agradecimen-tos pela acolhida que aqui estamos rece-bendo e convidar todos os presentes a le-vantarem suas taças pela prosperidadecrescente da República Federal da Alema-nha e de seu povo, pelo estreitamento doslaços que ligam brasileiros e alemães epela felicidade pessoal de Vossa Excelênciae da Senhora Schmidt.

música de beethoven na homenagemde bonn a geisel

Discursos do Presidente Ernesto Geisel e doBurgomestre de Bonn, Hans Daniels, em

6 de março de 1978, durante a homenagem por esteprestada ao Presidente brasileiro na antiga

sede da Câmara Municipal de Bonn (Rathaus).

DISCURSO DO PRESIDENTE

Excelentíssimo Senhor Prefeito,

Sinto-me particularmente feliz pela oportu-nidade de visitar esta bela e hospitaleira

cidade, situada às margens de um rio comoo Reno, de tão marcante presença na His-tória.

Berço do génio musical de Beethoven eimportante centro universitário e cultural,

76

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 76: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

a cidade de Bonn vê-se elevada hoje à po-sição destacada de sede do Poder Executivoe do Poder Legislativo do Governo da Re-pública Federal da Alemanha.

Como toda capital, Senhor Prefeito, Bonnabriga pessoas provindas de todas as re-giões do país. Seus habitantes refletem pois,em sua diversidade, um espectro popula-cional da República Federal. Eis por quedesejo, na oportunidade de minha visita aesta Prefeitura Municipal, salientar a ami-zade entre o povo brasileiro e o alemão,assim como expressar minha convicção doque os já antigos laços, que nos unem, sefortalecerão, ainda mais, no quadro de umacooperação sempre crescente. Agradeçomuito penhorado a lembrança que VossaExcelência me faz das músicas gravadasde Beethoven.

Senhor Prefeito,

Ao agradecer a cordial acolhida de VossaExcelência e manifestar-lhe satisfação porestarmos na sua cidade, peço-lhe que aceitemeus votos pela felicidade pessoal de Vos-sa Excelência e de todos os habitantes deBonn, bem como pelo êxito da atuação deVossa Excelência à frente do Executivo mu-nicipal.

DISCURSO DO BURGOMESTRE

Excelências

Minhas Senhoras e Meus Senhores!

Reuniram-se aqui o Conselho e os cidadãosda cidade de Bonn, bem como os principaisrepresentantes da Administração da Cida-de e da Universidade, para dar calorosa-mente as boas-vindas a Vossas Excelênciase sua comitiva na Antiga Câmara MunicipalFederal. Saudamos na pessoa de Vossa Ex-celência o representante do maior país,

•com a maior população da América Latina.Essa visita à República Federal da Alema-nha é para Vossas Excelências — como per-manência na téfra dos seus antepassados

— um acontecimento pessoal todo especial.

A América Latina e particularmente o Bra-sil foi sempre uma parte do mundo quepara nós, os alemães, exerceu extraordiná-ria fascinação. As boas e calorosas relaçõesentre os nossos dois povos baseiam-se, so-bretudo, na compreensão mútua da nossacultura e da nossa História, bem como nasótimas experiências que tivemos desde hámuito tempo.

Já no ano de 1800, o famoso cientista ale-mão Alexander von Humboldt explorou oseu país em viagens de pesquisa. WilhelmLudwig von Eschwege é considerado o fun-dador da mineração e da indústria siderúr-gica brasileira. Já na primeira metade doséculo XIX muitos alemães emigraram parao Brasil e lá colonizaram e exploraram so-bretudo o Sul. Na segunda metade do sé-culo XX os laços da cooperação económicateuto-brasileira tornaram-se ainda maisestreitos. Há quinze anos, como membroda Sociedade Teuto-Brasileira, tive pessoal-mente a sorte de viajar a seu país e deconhecê-lo melhor. Já nessa época sentique seu país tinha um grande futuro. Alémdos esforços imponentes de uma nação in-dustrializada emergente, fiquei particular-mente impressionado pela variedade dasraças que convivem em paz no seu país.

Os brasileiros e os alemães têm muitascoisas em comum das quais gostaria deressaltar as três seguintes:

futebol, carnaval e música.

Desde o nascimento de Ludwig von Beetho-ven, Bonn é considerada uma cidade damúsica. Por isso, já há muito tempo é cos-tume aqui oferecer aos nossos célebreshóspedes obras desse grande filho da nossacidade. Junto com essa lembrança, exter-namos o nosso desejo de que a harmoniae a sintonia tão excelentemente exprimidasna música de Beethoven acompanhem o seuGoverno e o futuro do seu grande povo.

Excelência! Objetivo especial do seu man-dato é diminuir o abismo entre pobres ericos, ainda existente em muitas partes doseu país. Em muitos países do mundo esseabismo é a célula germinativa do descon-tentamento e da ausência de paz. Deseja-mos a Vossa Excelência e ao seu povo feli-cidade e êxito nessa tarefa tão importante.

77

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 77: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

estabilidade política brasileiradá confiança aos empresários alemães

Discurso do Presidente Ernesto Geisel, naConfederação da Indústria Alemã, em Colónia, em 7 de

março de 1978, por ocasião da abertura dos trabalhosdo Encontro Teuto-Brasileiro de Empresários. O

discurso do Presidente brasileiro foi precedido deuma breve saudação do presidente da Confederação

das Indústrias Alemãs, Nikolaus Fasolt.

DISCURSO DE GEISEL

Minhas senhoras, meus senhores

Com grande satisfação venho saudá-los naabertura deste Encontro Teuto-Brasileiro deEmpresários, iniciativa que coincide de for-ma auspiciosa com minha visita oficial àRepública Federal da Alemanha.

Aqui se congregam os esforços de importan-tes entidades alemãs, notadamente a Con-federação da Indústria Alemã, a Associaçãodas Câmaras de Indústria e Comércio, aAssociação Alemã para o Comércio Ataca-dista e Exterior e Associação Ibero-Ameri-cana e suas congéneres brasileiras, asConfederações Nacionais da Indústria, doComércio e da Agricultura.

As relações comerciais e financeiras entrenossos dois países vêm-se desenvolvendocom notável dinamismo. A República Fede-ral da Alemanha é hoje o segundo parceirocomercial do Brasil, quer em volume deinvestimentos diretos quer em exportaçõese importações. Nossas contas de comércio,após um período de sistemáticos déficitsdo lado brasileiro, virtualmente se equili-braram em 1977. Os recentes lançamentosde empréstimos sindicados e bónus, da Re-pública Federativa do Brasil e de algumasdas maiores companhias brasileiras, têmencontrado excelente receptividade no mer-cado de capitais alemão. Essas posiçõesprovam, antes de mais nada, a confiançamútua entre nossos Governos e empresas.

isolacionismo e defesa unilateral éjogo de perdedores

Creio que temos pela frente enorme poten-cial de expansão, quer no campo do comér-cio quer no do movimento de capitais.Somos suficientemente complementaresem recursos naturais, capital e tecnologia,para tirarmos o maior proveito de nossasvantagens comparativas. Acreditamos naeficiência económica e no pluralismo socialproporcionados pelo funcionamento dosmecanismos de mercado e pela primaziada iniciativa privada no processo de desen-volvimento. Julgamos que um país que an-seia pelo rápido aumento da renda percapita, embora tendo que apoiar primordial-mente suas empresas nacionais, não deveprescindir da colaboração do capital es-estrangeiro, com seu aporte de recursos,experiência e tecnologia. Sabemos que ne-nhum processo de desenvolvimento dura-douro se pode construir sem a indispensávelestabilidade das instituições políticas e dasregras do jogo económico. E acreditamosimprescindível a cooperação económica in-ternacional, reconhecendo que o isolacio-nismo e a defesa unilateral dos interessesacaba por se transformar num jogo onde sóhá perdedores.

Vivemos uma era de intensos desafios quenos obrigam a repensar os princípios quedevem reger as políticas económicas na-cionais e as regras de cooperação entre asnações. A crise do petróleo trouxe à tonaproblemas de inflação, de desemprego, dedesajustes de balanço de pagamentos, paraos quais a civilização ocidental precisaencontrar soluções urgentes.

78Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 78: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

A curto prazo, o problema mais agudo é ode chegar-se a uma distribuição internacio-nal adequada para a contrapartida dos su-peravits estruturais da conta-corrente daOPEP, que anualmente se vêm repetindona faixa dos 30 a 40 bilhões de dólares.Enquanto esses superavits, que represen-tam o déficit coletivo dos países importado-res de petróleo, persistirem em semelhanteordem de magnitude, não é possível pen-sar verdadeiramente em equilíbrio interna-cional, mas apenas em uma distribuição,mais equitativa e pragmática, dos desequi-líbrios. Se cada país procura fugir à suaparticipação nesse déficit coletivo, isolan-do-se nos seus instrumentos de contençãomonetária e fiscal e no protecionismo adua-neiro, conseguiremos apenas a perpetuaçãodos problemas de desemprego, com a sis-temática debilidade do crescimento econó-mico e com a acumulação de déficit empaíses talvez pouco preparados para equa-cionar seus problemas de balanço de pa-gamentos.

Infelizmente esse problema de curto prazoestá longe de ter encontrado uma soluçãocooperativa satisfatória. Se os efeitos reces-sivos da crise do petróleo foram menosdramáticos do que vaticinaram alguns pro-fetas do pessimismo é certo que o ritmode crescimento da produção e do empregodas nações industrializadas está longe dese sustentar em taxas satisfatórias. Issosugere que a insuficiente cooperação entreas nações de alguma forma nos aproxima domodelo de nivelamento por baixo. Algunspaíses de alta renda per capita têm assu-mido grande participação no déficit coletivodos importadores de petróleo, mas à custado inevitável enfraquecimento de suas moe-das. E a maior parte desse déficit coletivotem recaído sobre as nações em desenvol-vimento, criando-lhes sérios problemas deendividamento externo e de balanço de pa-gamentos.

Faz parte da ordem económica natural queos países em desenvolvimento, como recep-tores de capital estrangeiro, apresentemalgum déficit na conta-corrente de seu ba-lanço de pagamentos e endividem-se paraacelerar seu desenvolvimento. O problemanão é o dos sinais, mas o das quantidades.Pela debilidade de seu mercado interno,

alguns países exportadores de petróleo tor-naram-se exportadores de capitais, emmontantes que não encontram precedentesna História Económica Mundial. Essas con-dições anómalas obrigam-nos a redimensio-nar os padrões aceitáveis de endividamento,de relações quanto ao serviço da dívida edos déficits em conta-corrente. Mas não háfórmula aceitável nesse redimensionamentoque leve um grupo de países a comprome-ter uma parcela perigosamente crescente desuas exportações, já não digo na amortiza-ção de empréstimos, mas no simples paga-mento de juros. O problema que hoje en-frentamos, no quadro financeiro mundial,não é o da reciclagem dos saldos da OPEP,a qual tem sido satisfatoriamente operadapelas instituições internacionais e, sobre-tudo, pelo sistema financeiro privado. Maso do balanceamento adequado dos déficitsem conta-corrente, encargos da dívida e ex-portações dos países devedores.

brasil vem superando efeitos da criseeconómica internacional

Com grandes sacrifícios, quer em termosde taxas de inflação, quer em matéria derenúncia às excepcionais taxas de cresci-mento do passado, o Brasil tem conseguidoequacionar sua quota-parte do problema,aumentando vigorosamente suas exporta-ções e detendo o crescimento de suas im-portações. Em 1974, sob o primeiro impactoda crise do petróleo, apresentamos 4,6 bi-lhões de dólares do déficit comercial, com8 bilhões de exportações e 12,6 bilhões deimportações. Graças aos sucessivos esfor-ços de contenção e substituição das impor-tações, estas limitaram-se, em 1977, a 12bilhões de dólares, não obstante o cresci-mento da economia brasileira e os aumentosinternacionais de preços. E, em três anos,aumentamos de 53% nossas exportações,passando do inquietante déficit comercialde 1974 para o pequeno, mas já expressivo,superavit de 138 milhões de dólares em1977. Nossas reservas cambiais que, emmeados de 1976, haviam caído a 3,3 bilhõesde dólares, chegaram a seu máximo histó-rico de 7,2 bilhões no final do ano passado.

79Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 79: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

O crescimento dinâmico das exportaçõestem permitido que os encargos da dívida seconservem em proporção adequada da re-ceita cambial. E o nível de reservas inter-nacionais é uma válvula de segurança pre-ciosa para enfrentar imprevistos e situaçõesde emergência.

A solução brasileira, todavia, não apenasexige ampla determinação de um povo e deum Governo. Ela só pode ser generalizadapara os países em desenvolvimento se hou-ver a compreensão das nações industriali-zadas.

Nesse sentido, a cooperação internacionalhá que lembrar os princípios da lógica. Háo consenso de que os superavits da OPEP,pelo menos a curto prazo, não podem sersubstancialmente reduzidos. Há o consensode que o déficit coletivo dos importadoresde petróleo, salvo talvez em 1977, está re-caindo em proporções exageradas sobre asnações de menor renda per capita, agra-vando-lhes o problema de endividamento.Logicamente se segue que não há outrasolução a não ser a rápida expansão dasexportações dos países em desenvolvimento.

Essas exportações, em parte, dependem doesforço individual de cada nação e o Brasiltem demonstrado que bons resultados po-dem ser conseguidos. Mas dependem igual-mente da expansão dos mercados dos paí-ses industrializados em função do seucrescimento interno e da diminuição dastendências protecionistas.

Compreendemos que os países desenvolvi-dos não desejem adotar fórmulas de coo-peração internacional que impliquem orecrudescimento de sua taxa de inflação.A alta desordenada dos preços é o piorimposto que se pode lançar sobre uma so-ciedade, e apreciamos a grande prioridadeque o povo alemão atribui à estabilidademonetária.

Em virtude de razões históricas adotamos,no Brasil, fórmulas que permitem conciliaro desenvolvimento com taxas pouco orto-doxas de inflação: a indexação dos salários,impostos, empréstimos e valores contratuaise, indiretamente, da taxa de câmbio, pelosistema das minidesvalorizações. Essasfórmulas, apesar de seus efeitos realimen-tadores das altas de preços, se têm revelado

profícuas entre nós. Mas não pretendemosexportá-las para as nações industrializadas,tradicionalmente habituadas à estabilidadedos preços. Deve-se notar que, mesmo noBrasil, apesar do efeito neutralizador dasdistorções proporcionado pela indexação, osmaiores reclamos da sociedade brasileirarecaem sobre a contenção das taxas de in-flação.

diminuir barreiras protecionistas podeser uma solução

A preocupação anti-inflacionária dos paísesindustrializados, a expansão de seu produtoe do seu nível de emprego e a melhor di-visão internacional dos déficits em conta-corrente dos países importadores de petró-leo, no entanto, não são objetivos incompa-tíveis. A conciliação pode ser encontradana diminuição das barreiras protecionistasque as nações industrializadas opõem àsexportações dos países em desenvolvimento.Um tratamento não paternalista, mas efe-tivamente preferencial a essas exportações,em tantos casos sujeitas a flutuações pelainstabilidade dos preços dos produtos pri-mários, parece condição imprescindível àmelhor composição do atua] quadro econó-mico mundial. A ninguém interessa a per-sistência de uma situação que possa levaralgumas nações em desenvolvimento a pro-blemas praticamente sem remédio.

Por certo, não há como eternizar, para ocomércio mundial, soluções que partem dopressuposto de que os países da OPEPcontinuarão com superavits anuais seme-lhantes aos registrados nos quatro últimosanos. Esse é um quadro de transição, sufi-cientemente importante para que procure-mos solucionar seus problemas, mas insu-ficientemente estável para que sobre elepossamos projetar o futuro.

O grande desafio para a humanidade dehoje é a busca de novas fontes de energiaque nos livrem da superdependência dopetróleo. Por certo, o quadro atual é o derelativa abundância da oferta. Também éinegável que os preços do óleo cru, a par-tir de outubro de 1973, tornaram economi-camente viável a prospecção e o aproveita-mento de reservas que anteriormente seriam

80

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 80: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

rejeitadas pelo seu alto custo. O caso maisimportante é o das explorações em plata-formas submarinas, onde o Brasil tem con-seguido resultados promissores e a Europaingressa na nova fase do Mar do Norte.

Nada indica, todavia, que esse quadro derelativa abundância se estabilize nos pró-ximos dez ou quinze anos. De um lado, épreciso retomar os esforços de conservaçãodas fontes não renováveis de energia. Nessesentido, é de se reconhecer que, pelo me-nos, parte do desequilíbrio mundial poderiaser atenuada pela diminuição do desperdí-cio de energia nas nações industrializadas.Mas, de outro lado, cabe ativar a coopera-ção internacional na direção do aproveita-mento de novas fontes. Nesse particular,devemos classificar, como marco histórico,o acordo nuclear firmado em 1975 entrenossos dois países. O maior aproveitamentodo carvão, do xisto betuminoso e de outrasreservas energéticas são alternativas quedevemos buscar, cada país explorando damelhor maneira, as suas potencialidadesnaturais.

Cumpre, ademais, aproveitar ao máximo asfontes de energia que, renovadas que sãopela natureza, não correm o perigo da exaus-tão. O exemplo clássico, que no Brasil éresponsável pela quase totalidade da gera-ção de energia elétrica no momento, é odo potencial hidráulico. Na linha dos re-cursos renováveis estamos, no Brasil, de-senvolvendo importante programa, o do usodo álcool carburante como substituto dosderivados de petróleo. Até que a tecnologiaconsiga, o que ainda parece distante, domara fusão do núcleo do hidrogénio para finspacíficos, são esforços desse teor que irãodeterminar os horizontes de bem-estar dahumanidade nas próximas décadas.

Meus senhores:

Concebemos o desenvolvimento como oaproveitamento organizado dos recursosnaturais, do capital, do trabalho e da tec-nologia em prol do bem-estar dos povos.Concebemos também esse processo como abusca de uma comunidade internacionaljusta e democrática, onde impere o respei-to mútuo entre os Estados. Os Governos doBrasil e da República Federal da Alemanhavêm dando importantes passos para forta-lecer, com dinamismo e criatividade, seu re-

lacionamento bilateral. Dentro de nossafilosofia económica, porém, os acordos go-vernamentais são apenas a moldura indis-pensável à atuação do setor privado na am-pliação do intercâmbio de mercadorias, ser-viços e capitais.

Ao declarar abertos os trabalhos do Encon-tro Teuto-Brasileiro de Empresários, querodesejar-lhes uma jornada de proveitosasdiscussões, que conduzam à abertura denovos caminhos para a cooperação econó-mica entre nossos países.

SAUDAÇÃO DE NIKOLAUS FASOLT

Senhor Presidente,

É para mim uma honra especial receberVossa Excelência e os membros de sua co-mitiva na casa da indústria alemã. Em nomede todos os representantes da economiaalemã aqui presentes, agradeço a VossaExcelência a honra que nos concede emvisitar-nos, como Presidente e Chefe de Es-tado da República Federativa do Brasil.Também desejo dar minhas calorosas boas-vindas às importantes personalidades doGoverno e da indústria de seu país queacompanham Vossa Excelência. Sentimosassim a importância que Vossa Excelênciae os empresários brasileiros atribuem à co-operação com a indústria alemã. Os Minis-tros de Estado e os Presidentes de impor-tantes instituições e sociedades que aquise encontram constituem, com sua presen-ça, garantia de que os contatos com osempresários alemães serão altamente pro-dutivos.

Recebemos com muito prazer a sugestãode seu Governo de promover um encontroteuto-brasileiro de empresários por ocasiãode sua visita à RFA. O eco entusiástico queo convite despertou entre os empresáriosbrasileiros e alemães comprova o grandeinteresse de ambos os lados na ampliaçãode nossa cooperação económica: essa am-pla ressonância constitui ao mesmo tempoum barómetro das boas relações entre osnossos dois países.

A reunião de Colónia representa um pros-seguimento de encontros anteriores no seu

81

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 81: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

país e em várias cidades alemães. Permi-to-me evocar um desses acontecimentos: oencontro teuto-brasileiro de empresários,que se realizou em agosto de 1974, na Con-federação Nacional da Indústria Brasileira,no Rio de Janeiro. Alegro-me de que o Dou-tor Sohl, que chefiou naquela época a de-legação da Confederação da Indústria Ale-mã, encontra-se hoje aqui entre nós. VossaExcelência, Senhor Presidente, concedeutambém naquela oportunidade a delegaçãoalemã a honra de uma audiência.

Os meios económicos alemães não apenasvêm seguindo com grande interesse os es-forços muito expressivos e eficazes de seuGoverno na promoção do desenvolvimentoeconómico e industrial de seu país, mastambém têm participado com grande esfor-ço na consecução dessa grande tarefa.

O Brasil atravessou, nos últimos vinte anos,um desenvolvimento industrial extraordiná-rio ao qual nós somente podemos dispensarnosso mais alto tributo. Falou-se inclusivede terceiro milagre económico acontecidono mundo, após os sucessos da Alemanhae do Japão. 0 atual estágio e as possibili-dades futuras de desenvolvimento da eco-nomia brasileira são um desafio para todoempresário. Isso tanto mais que se executano Brasil uma política económica que pro-move uma utilização eficiente dos recursostão amplamente existentes no país. VossaExcelência declarou várias vezes, pessoal-mente, que todas as funções de controleeconómico exercidas pelo Estado não deveminterferir na economia de mercado e quetodos os setores diretamente produtivos,também no futuro, devem ser domínio daeconomia privada. Esse espírito aberto comrelação à iniciativa privada no seu país re-presenta também um estímulo para o in-vestidor externo. Mais de 500 empresasalemães já investiram no Brasil. Com quaseDM 3,8 bilhões, os investimentos diretosalemães no Brasil são os maiores em umsó país fora da Europa e dos Estados Uni-dos da América.

defender o livre comérciointernacional

Muitas outras firmas alemãs desenvolvemrelações comerciais intensas com o Brasil.

O intercâmbio comercial constitui uma dasbases do bem-estar e do progresso da eco-nomia moderna. Nosso interesse comumconsiste em defender o livre comércio in-ternacional contra recursos ao protecionis-mo. Para o Brasil e a República Federal daAlemanha, o livre acesso aos mercados in-ternacionais na exportação e na importaçãoé igualmente vital. No ano passado, o Bra-sil teve pela primeira vez um superavit nocomércio com a RFA. Nós consideramosesse um sinal da crescente pujança da eco-nomia brasileira. Não obstante a diminuiçãodas exportações alemãs para o Brasil nosúltimos três anos, seu país continua a ser,como antes, um dos nossos mais impor-tantes mercados de além-mar. Também doponto de vista de nossas importações, seupaís tem grande significado para nós: oBrasil é um de nossos mais importantesfornecedores.

Também o setor do movimento de capitais,ambos os países concedem grande impor-tância à maior liberdade possível, no inte-resse da divisão internacional de trabalho.Essa liberdade tem contribuído grandementepara o desenvolvimento económico de nos-sos dois países.

Para encerrar, permita-me citar ainda umarazão pela qual tantos investidores tiveramsucesso em sua participação no Brasil: oclima de estabilidade política que reinanesse importante país, aliado à primaziaatribuída à competência com que grandestarefas e pequenos problemas de todos osdias são resolvidos. Isso dá a nós empre-sários, a certeza de que podemos ter con-fiança no futuro. Ademais, também a ama-bilidade e a tolerância do povo brasileirofazem com que o estrangeiro se sinta bem-vindo não só como o empresário, criadorde lugares de trabalho, mas também comopessoa humana.

Esperamos, Senhor Presidente, que a visitade Vossa Excelência na RFA contribua paraintensificar as boas relações entre nossospaíses e abrir caminho para novos laços.

Permita-me, enfim, passar a palavra a Vos-sa Excelência.

82

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 82: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

geisel visita o primeiro-ministrode baden-wurttemberg

Discursos de Hans Filbinger e de Ernesto Geisel, em8 de março de 1978, por ocasião da chegada do

Presidente brasileiro a Baden-Wúrttemberg; e brindesdos mesmos, por ocasião do almoço oferecido ao

Presidente Geisel, no Castelo de Schwetzingen, nomesmo dia.

DISCURSO DE FILBINGER

Senhor Presidente,

Minhas Senhoras e Meus Senhores!

Tenho grande prazer em dar as boas-vindasa Vossa Excelência e aos Senhores da suacomitiva:

Sejam bem-vindos em nome do Governo edo Parlamento Estadual de Baden-Wiirttem-berg, cuja população acompanha sua visitaà Alemanha com atenciosa e respeitosa sim-patia;

Seja bem-vindo, Senhor Presidente, a umapequena cidade do nosso Estado, cujo cas-telo há 200 anos faz parte do patrimónionacional, em sua qualidade de centro cul-tural europeu: Mozart Schiller, Hõlderlin eEichendorff gostaram de Schwetzingen epermaneceram com predileção nesse cas-telo e no seu parque. Já era esse o desejodo grande Voltaire: " . . . quero rever Schwet-zingen, essa ideia domina toda a minhaalma".

Seja bem-vindo, Senhor Presidente, aocastelo de Schwetzingen, que é ligado àantiga pátria do seu pai através da Bergs-trasse, a menos de 100 quilómetros afas-tado de Kronberg, no Taunus.

Seja bem-vindo em uma época na qual apolítica prudente e determinada do seu Go-verno iniciou uma nova fase da Históriabrasileira.

Vossa Excelência está empenhado em sin-cronizar o crescimento admirável da eco-nomia brasileira com o desenvolvimento nosetor social.

Vossa Excelência soube oferecer, a amploscírculos da população, participação no bem-estar e oferecer aos cidadãos possibilidadesde desenvolvimento.

No Brasil, a ideia da liberdade tem tradi-ção. Onde quer que no mundo um país en-vide esforços no sentido de atingir uma pazinterna e um equilíbrio social, um quê desegurança será ganho pela República Fe-deral da Alemanha; onde essa luta é per-dida, também perdemos nós.

brasil desempenhará um papel-chave

Por isso, Senhor Presidente, o êxito da suaobra também para nós é de maior valor,porque para nós o Brasil, ainda mais doque agora, desempenhará um papel-chave.Para a República Federal da Alemanha epara a Europa, as bases e os mercados dematérias-primas são de importância vital.O Brasil é um dos mais importantes arse-nais de matérias-primas do mundo. Nós nãotemos matérias-primas suficientemente im-portantes para mencioná-las, mas temosmuito know how e conhecimento técnicoem Baden-Wurttemberg, que é o Estadocom a indústria e a exportação mais inten-siva na República Federal da Alemanha.

Mas, mais importante para nós do que to-dos os problemas relativos a matérias-pri-

83

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 83: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

mas é a parceria económica com a Repú-blica Federativa do Brasil. Com muito prazere engajamento, o Estado Federal de Baden-Wurttemberg fará a sua contribuição noâmbito de tal parceria intensificada do"oferecer" e do "receber".

Estamos bem preparados para isso: nosúltimos 5 anos, o Instituto para RelaçõesExteriores em Stuttgart realizou 17 semi-nários sobre o Brasil, tendo assim prepa-rado cerca de 1000 pessoas — técnicos egerentes da indústria e do comércio (sobre-tudo de Baden-Wiirttemberg) — para oBrasil.

Reuniram-se hoje aqui os representantesda economia e da política desse Estado paraprestar homenagem a Vossa Excelência,Senhor Presidente.

Na sua pessoa, saudamos o mais alto re-presentante do país, com a maior extensãoterritorial e a maior população da AméricaLatina, que — no âmbito de um subconti-nente em vias de mudança — está cadavez mais no centro do interesse mundial.O desenvolvimento político e económico doBrasil também decidirá sobre o destino domundo transatlântico e de todo o mundoocidental.

Senhor Presidente:

A Europa e a América Latina percorreramjuntos um trecho da sua história. Múltiplossão os vínculos e as coisas em comum par-ticularmente entre o Brasil e a Alemanha;grande é o número de brasileiros de ascen-dência alemã que prestaram a sua contri-buição como bons cidadãos na sua novapátria: no desenvolvimento da economia,no exército, na política, ciência e técnica— e que contribuíram também para a cul-tura e a civilização do seu grande país.

Constituiu coincidência importante e sim-bólica quando o Brasil e a Alemanha, em1974, celebraram o 150.° aniversário da che-gada dos primeiros colonos alemães equando, no mesmo ano, pela primeira vezna História brasileira, o filho de um imi-

grante alemão, o General Ernesto Geisel,tomou em suas mãos o destino do quintomaior país do mundo. Também por isso,Vossa Excelência, as nossas boas-vindassão particularmente calorosas. Agradeço-lhe sinceramente por Vossa Excelência terdado a Baden-Wiirttemberg a honra de suavisita.

Mais uma vez, obrigado: Cordialmentebem-vindo a Baden-Wurttemberg!

DISCURSO DE GEISEL

Excelentíssimo Senhor Hans Filbinger,

Ministro-Presidente de Baden-Wúrttemberg

As palavras com que Vossa Excelência aca-ba de me saudar são muito importantes paranós, brasileiros, pelo que significam de ami-zade para com o nosso país. Foi com espe-cial satisfação que acolhi o convite paravir a Baden-Wiirttemberg, pois, desde logo,entrevi, nesta visita, excelente oportunidadepara reafirmarmos nosso entendimento ecooperação.

Baden-Wúrttemberg, por suas tradições edesenvolvimento material, bem pode serconsiderado uma síntese da moderna Re-pública Federal da Alemanha. Lado a ladocom a mais avançada tecnologia, represen-tada, de forma exemplar, pelas pesquisasnucleares pioneiras que se realizam emKarlsruhe, encontram-se vivos os valoresclássicos, associados eternamente aos no-mes das universidades de Heidelberg, deFreiburg e de Tubingen. O progresso, Se-nhor Ministro-Presidente, foi conquistado,nesta terra, em evidente harmonia com anatureza, com a história e com as maisaltas expressões do pensamento. Esta cons-tatação, a nós brasileiros, nos emocionaprofundamente, porque é esta a forma dedesenvolvimento que estamos empenhadosem constituir em nosso país.

84

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 84: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Temos recebido, com grande interesse, acontribuição da gente de Baden-Wúrttem-berg aos esforços de desenvolvimento querealizamos no Brasil. É nosso desejo quea cooperação já estabelecida tenha pros-seguimento e se intensifique, de modo aque possamos dela retirar resultados cadavez mais produtivos.

Ao saudar, na pessoa de Vossa Excelênciao Governo e o povo de Baden-Wiirttemberg,desejo, igualmente, significar nossos agra-decimentos pela acolhida cordial que eu eminha comitiva estamos recebendo.

Muito Obrigado.

leira, proverbialmente simpática e gentil,cujo mais alto representante temos a honrade ter hoje entre nós. Um sábio disse-mecerta vez: "Uma das grandes contribuiçõesdo Brasil para a cultura mundial é a cor-dialidade".

Nesse sentido, gostaria de agradecer-lhemais uma vez, convidando meus prezadoshóspedes a erguer comigo as taças parabrindar à saúde de Sua Excelência o Pre-sidente da República Federativa do Brasil,Senhor General Ernesto Geisel, às relaçõesteuto-brasileiras, amistosas e proveitosas, eao futuro de seu grande país.

Para a sua política de moderação e de equi-líbrio desejamos, Senhor Presidente, tam-bém muito êxito no futuro.

BRINDE DO PRIMEIRO-MINISTROViva o Brasil! Brindo à sua saúde!

Senhor Presidente,

Minhas Senhoras e meus Senhores,

"A boca fala do que o coração está cheio".Permitam-me por isso dar-lhes as boas-vindas, que são a expressão de minha ale-gria, da alegria de nós todos com a visitade Vossa Excelência a Baden-Wúrttemberg.

Desejo agradecer devidamente a Vossa Ex-celência por esta sua visita, como tambémlhe expresso meu agradecimento cordialpelo convite para visitar seu grande país.Já em inícios deste século foi publicado,por uma editora de Stuttgart, o livro Brasil— País do Futuro. Esse fato constitui, hojeainda mais — especialmente tendo em con-sideração a gigantesca obra de desenvol-vimento, Senhor Presidente — objeto dosnossos pensamentos e das nossas ponde-rações.

No entanto, à parte de todas as cogitaçõesde utilidade, desponta uma nota pessoal emnossa expectativa quanto à viagem ao Bra-sil: é a alegria de conhecer a gente brasi-

BRINDE DO PRESIDENTE

Excelentíssimo Senhor Ministro-Presidente,

Nos próximos dias, Vossa Excelência estaráviajando ao Brasil, para conhecer um poucomais de nossa terra e de nosso povo e paratrazer, a seus compatriotas, o testemunhoda dimensão humana e material do esforçobrasileiro de construção nacional. Baden-Wúrttemberg tem dado importantes contri-buições a esse esforço e a viagem de VossaExcelência, estou certo, estará destinada aestender e aprofundar mais ainda essacooperação.

Senhor Ministro-Presidente,

É com grande alegria que elevo este brindea Baden-Wúrttemberg, à saúde e felicidadepessoais da Senhora Filbinger e de VossaExcelência, e ao pleno êxito de sua pró-xima visita ao Brasil.

85

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 85: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

presidente brasileiroem berlim

Discursos do Prefeito de Berlim, DietrichStobbe, e do Presidente Ernesto Geisel, em 9 de marçode 1978, logo após a chegada do Primeiro-Mandatário

brasileiro àquela cidade alemã; discursos doPrefeito e do Presidente do Brasil, no

mesmo dia, durante a cerimónia em que o Chefe daNação brasileira colocou sua assinatura no Livro de

Ouro da cidade de Berlim; e brindes feitos por Stobbee Geisel, na mesma data, por ocasião do almoço

oferecido pelo Prefeito ao Chefede Estado brasileiro.

DISCURSO DE STOBBE NACHEGADA DE GEISEL

Senhor Presidente,

Muito prezada Senhora Geisel,

Tenho muito prazer em dar as boas-vindasa Vossas Excelências e a sua comitiva namaior cidade da Alemanha.

Sua visita à República Federal da Alema-nha é sinal da cooperação baseada na con-fiança entre nossos países e dos laços deamizade entre nossos povos. Estou certode que, também no futuro, poderemos in-tensificar ainda mais nossa amizade e nos-sa cooperação e considero sua visita comomais um passo dado nessa direção.

Vossas Excelências só permanecerão poucashoras aqui. Não obstante, espero que nesseperíodo possam obter a impressão de estarem uma cidade aberta para a disputa inte-lectual, eficiente na sua estrutura econó-mica e cheia de irradiação na sua ofertacultural.

Minhas calorosas boas-vindas!

RESPOSTA DO PRESIDENTE

Muito agradeço, Senhor Prefeito, as palavrasde acolhida que Vossa Excelência acaba depronunciar.

É com grande prazer que visito Berlim, ci-dade que é uma das mais importantesencruzilhadas da Europa e do mundo, eque sempre esteve ligada à América Latinae ao Brasil.

Espero que minha visita contribua para de-monstrar, uma vez mais, o apreço que opovo brasileiro dedica ao povo alemão e atudo que a cidade de Berlim simboliza.

DISCURSO DO PREFEITO NASOLENIDADE DE ASSINATURADO LIVRO DE OURO

A visita de Vossa Excelência a Berlim,Senhor Presidente, é apenas de curta dura-ção. É para nós motivo de grande satisfaçãoque Vossa Excelência tenha decidido visi-tar esta cidade que, como nenhuma outra,ilustra o destino do nosso país, do qualprovêm também os seus pais e muitos dosseus compatriotas brasileiros. Dou as cor-diais boas-vindas a Vossa Excelência, Se-nhor Presidente, cumprimento sua esposae me permito desejar também a todos osmembros da sua comitiva uma estada agra-dável em nossa cidade.

O Senhor Presidente Federal assinalouna segunda-feira à noite, em Bonn, as múl-tiplas e estreitas relações que existem en-

86Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 86: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

tre os nossos países e povos. Tenho o pra-zer de poder afirmar que também nós, berli-nenses, prestamos nossa contribuição parao bom desenvolvimento dessas relações.Quero lembrar o intenso intercâmbio eco-nómico entre o Brasil e Berlim. Muitos no-mes de grandes firmas relacionadas comBerlim gozam também no Brasil de reno-me. Menciono Siemens ou AEG-Telefun-ken, mas gostaria também de salientar acontribuição de empresas especializadasde porte médio. Por outro lado, o Brasilmantém bonscontatos com Berlim. Seu paísesteve e continua a estar representado eminúmeras feiras e exposições. Assim, porexemplo, inaugurei, nesse fim de semana,junto com o Presidente da Empresa Bra-sileira de Turismo, Senhor Farhat, a BolsaInternacional de Turismo que atualmente serealiza nesta cidade.

O Brasil se nos apresenta como país imen-samente grande, cheio de oportunidade ede potencialidades. Vemos um país emmarcha. Considero a ampliação das rela-ções económicas, comerciais, de turismo ede cooperação técnica uma oportunidadede fazer com que nossa cooperação, ba-seada na confiança, se torne uma força esta-bilizadora entre o Norte e o Sul. Sua visitaao nosso País e também à nossa cidade,Senhor Presidente, constituirá — assim oespero — um passo bem sucedido nessecaminho.

Nós berlinenses orgulhamo-nos das relaçõestradicionais com o continente sul-ameri-cano. Penso, naturalmente, no pioneirodessas relações, Alexandre von Humboldt,e menciono também o Instituto Ibero-ame-ricano em Berlim, único do seu género naEuropa. Seu rico acervo é utilizado, em me-dida considerável, também por pesquisa-dores sul-americanos, fato esse que mostra,de maneira especial, o nível do referidoInstituto.

Durante sua estada, Vossa Excelência pôdeter apenas uma breve impressão de nossacidade, que nos tempos do após-guerra teveque enfrentar graves provas. Essas provasforam vencidas. As garantias de nossaspotências protetoras — Estados Unidos,França e Grã-Bretanha — nossa estreitaligação com a República Federal da Alema-

nha e a firmeza dos berlinenses para issocontribuíram.

A política do equilíbrio parcial dos interes-ses tornou possível resolver para a cidade deBerlim, dividida, o que poderia ser resolvidosob as condições históricas existentes. As-sim, a paz foi melhor assegurada e nin-guém sabe apreciar isso melhor do que osberlinenses. O Acordo Quadripartite sobreBerlim ofereceu à nossa cidade novas opor-tunidades e nós as estamos aproveitando. Asolidariedade internacional, que pudemosexperimentar em anos difíceis do após-guerra, ensinou aos berlinenses a não esque-cerem, por sua parte, que no mundo inteirohá problemas que somente podem ser ven-cidos solidariamente. É importante saberque Berlim não desempenha apenas umpapel no conflito Leste-Oeste. Berlim prestatambém sua contribuição no diálogo Norte-Sul.

Na Declaração de Governo após a sua posse,Vossa Excelência, Senhor Presidente, mani-festou-se a favor de um "aperfeiçoamentolento, mas seguro, de democracia" no seupaís. Esse é, creio, apesar de toda a diversi-dade da situação inicial de que se parte,um dever com o qual todos os que têmresponsabilidade política se vêem confronta-dos. Formulo o desejo de que esse princípiose imponha ao mundo inteiro. A seu país eao seu povo desejo um bom futuro. A partici-pação decisiva que Vossa Excelência, Se-nhor Presidente, certamente terá nesse fu-turo, desejo muito êxito.

Rogo a Vossa Excelência conceder-nos ahonra de assinar o Livro de Ouro da Cidadede Berlim.

DISCURSO DO PRESIDENTE

Excelentíssimo Senhor Prefeito,

Esses meus momentos na cidade de Berlim,embora breves, deixam marcados em mi-nha memória imagens de uma força histó-rica certamente inesquecível. A ninguém

87

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 87: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

podem soar indiferentes os símbolos quesempre reconhecemos como património dacivilização: o Castelo Bellevue, a Igreja doKaiser Guilherme, o Reichstag, e esta obra-prima da arte barroca alemã, o Palácio deCharlottenburg.

Esses nomes antigos venho encontrá-los asalvo do tempo, testemunho presente de quea história de um povo é trabalho diário, coti-diano, de construção e de reconstrução. Nãosei o que mais admirar, se a cultura queproduziu exemplos tão notáveis de arte, ouse a energia que os foi resgatar à História.

São antigos e fortes os vínculos entre oBrasil e esta valorosa cidade. Espero queminha visita proporcione oportunidade paradarmos novo impulso a nosso intercâmbioem variadas áreas, inclusive a comercial.

Senhor Prefeito,

No Livro de Ouro desta cidade, encontram-seas assinaturas de Homens de Estado e depersonalidades das mais diversas nações doOcidente. Nenhum deles, estou seguro, veioaqui para cumprir um simples ato protocolarde visitante. Vieram, sim, trazer a Berlim aadmiração de seus povos e de seus Go-vernos, expressando seu apoio à causa daliberdade. Confesso-lhe minha emoção aodeixar aqui registrada a presença brasileirae também nosso tributo a tudo o que sim-boliza a cidade de Berlim.

BRINDE DE STOBBE NO ALMOÇO

Minhas senhoras, Meus senhores!

Convido-os a levantar suas taças e brindarcomigo ao bem-estar do nosso hóspede, oSenhor Presidente do Brasil, ao bem-estarda Senhora Geisel

ao bem-estar da República Federativa doBrasil e à amizade entre os povos brasileiroe alemão!

BRINDE DE GEISEL

Excelentíssimo Senhor Prefeito,

Muito obrigado. Devo destacar que Berlimsempre foi uma das cidades que maiorintercâmbio manteve com o Brasil. Devemos,portanto, colocar nosso empenho em incen-tivar nossas relações em todos os terrenos,particularmente o económico e o comercial.

Peço, assim, aos presentes que levantemsuas taças, em homenagem a esta intrépidacidade e ao seu povo. Peço ainda, a todos,que, junto comigo, desejem paz e prosperi-dade a Berlim e todas felicidades à SenhoraStobbe e ao Senhor Prefeito em seus im-portantes esforços à frente da municipa-lidade.

a visita do presidente do brasil adusseldorf

Discursos, de improviso, proferidos pelo Primeiro-Ministro da Renânia do Norte-Westfália, Hans Kiihn, epelo Presidente Ernesto Geisel, em 9 de março de

1978, em Dusseldorf, por ocasião do jantar oferecidoao Presidente brasileiro.

0 PRIMEIRO-MINISTRO

Senhor Presidente,Excelentíssima Senhora,Prezados amigos, prezados hóspedes,

Os dias de ontem e anteontem foram, Se-nhor Presidente, dias de conversas diplomá-ticas e políticas. O dia de hoje foi um diade viagens cansativas. Cada minuto era pla-nejado. Por isso não pretendo cansá-lo comum longo discurso, nem pretendo encorajar

88

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 88: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Vossa Excelência a proferir um longo dis- sa paisagem industrial, que de maneira ne-curso. nenhuma é sombria, mas verde e linda.

Só quero dizer algumas poucas palavras.

Desejo que Vossa Excelência se sinta emcasa, entre amigos. Certamente foi con-cluída ontem, em Bonn, a parte oficial daviagem. Vossa Excelência discutiu os gran-des problemas do nosso tempo com os lí-deres dos partidos políticos. E agora veiovisitar esta modesta província.

Não pretendo dizer muito a respeito do nos-so Estado porque nos conhecemos bem. Éo maior Estado federado da Alemanha e,com 17 milhões de habitantes, também ode maior população. Além disso, também éo Estado federado com maior indústria. Aquia indústria alemão teve seu começo, nabase de carvão e aço. Há 30 anos, depoisde 1945, no fim da Segunda Guerra Mun-dial, essa região foi a mais destruída daEuropa. Um campo de ruínas! As fábricasjá não eram locais de produção, mas sim-plesmente um emaranhado de aço e ferro.Nessa época, só poucas pessoas acredita-ram que dessas ruínas se pudesse construirum país viável, altamente industrializado,moderno e eficiente. Orgulhamo-nos de quea disciplina, a força de trabalho e a res-responsabilidade política dos trabalhadoresdo nosso Estado e a imaginação e a iniciati-va dos nossos empresários que, na base daparceria — em discussões frequentementeduras — sempre obtiveram resultados satis-fatórios para ambos os lados, tenham torna-do possível tudo isso. Nessa base, foi cria-da uma das paisagens industriais mais mo-dernas na Europa. Uma paisagem linda!Infelizmente, já era demasiado escuro paraque Vossa Excelência pudesse, durante ovôo, ver bem a cidade de Duisburg, o maiorporto fluvial da Europa, onde são diariamen-te descarregados 600 navios. Aí tambémchegam os minérios brasileiros que sãotransformados nas usinas siderúrgicas daregião do Ruhr. Se tivéssemos tido tempo,poderíamos ter sobrevoado essa maravilho-

Não desejo falar apenas com entusiasmo donosso País. Também temos problemas. Emum mundo no qual o carvão e o aço têmque defender suas posições, uma paisagemindustrial baseada em carvão e aço tem— como toda a indústria na República Fe-deral da Alemanha — os seus problemas,devido à recessão. Mas orgulhamo-nos deque tenhamos podido resolver nossos pro-blemas de uma maneira melhor do que ou-tras paisagens industriais do mundo.

Conhecemos o seu país, Senhor Presidente.

Acabei de explicar há pouco que aqui esta-mos em família. Mas alguém disse umavez: se colocarmos um microfone na frentede um político, ele certamente proferirá umdiscurso. Lembro-me da minha primeira vi-sita ao Brasil. Estava convidado pelo Con-selho Municipal de Blumenau. O discursoque proferi em alemão foi traduzido parao português por um padre franciscano. Oburgomestre, que naturalmente também ti-nha um nome alemão, respondeu em por-tuguês, o que também foi traduzido para oalemão. Nessa época — tão cedo na históriada República Federal — ainda não se co-nhecia o hino nacional. Assim, a guarda dehonra tocou a marcha "Velhos Camaradas".Foi uma visita linda!

brasil será a primeira naçãoda américa latina

Também fui a Belo Horizonte, onde nossovizinho industrial, a Mannesmann, possuigrandes instalações industriais. A indús-tria da Renânia do Norte-Westfália investiumais de meio bilhão de marcos alemães noBrasil. Também me lembro muito bem daminha visita à Volkswagen. Creio saber ecreio poder adivinhar que grande futuro es-pera o Brasil com todas as suas riquezasescondidas no subsolo. Um país rico — ecomo o Senhor Presidente me disse no heli-cóptero — não só em matérias-primas, mastambém em pessoas. Quando cada caboclofor um operário industrial qualificado, o Bra-sil será a primeira nação na América Latina.

89Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 89: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Desejamos que os nossos povos — unidospor laços de amizade — trabalhem em co-mum para o futuro e o bem-estar dos ho-mens pelos quais somos responsáveis.

O Brasil já não é país em desenvolvimento,mas está no limiar da industrialização e,nessa posição, cabem-lhe tarefas especiais.Nós queremos ajudar os Senhores e os Se-nhores devem nos ajudar. Na nossa troca deideias concordamos em que a maior ajudano mundo é a ajuda baseada na reciproci-dade. Não ajuda-se apenas a um outro,mas se ajuda a si próprio para se poderajudarão outro.

Ergo a minha taça para brindar à amizadeentre os nossos dois povos, a uma boacooperação também no futuro, em benefí-cio de ambos os países, e ao bem-estar pes-soal do Presidente da República, de sua es-posa e de sua filha.

0 PRESIDENTE

Afinal, acabei tratando de coisas sérias. Excelentíssimo Senhor Ministro-Presidente.

Agora penso no presente que Vossa Exce-lência me ofereceu. Eu pensei o que po-deria eu oferecer ao Presidente de um paístão grande. Aqui tenho um dos mais antigosmapas coloridos do Brasil, do século XVI.Alegrar-me-ia se Vossa Excelência encon-trasse um pequeno lugar para ele em umde seus escritórios ou na sua casa. Alémdisso, fui informado de que a ExcelentíssimaSenhora Geisel gosta de porcelana e demúsica. Há pouco conversamos sobre oVice-Primeiro-Ministro, de quem disse queseria tão sensível como Mozart. A Excelen-tíssima Senhora me respondeu que espera-va que ele tivesse uma vida mais longa doque a do grande compositor. Aceite essaporcelana com textos e motivos da "FlautaMágica" como lembrança da sua visita.Aliás, o produtor dessa porcelana é um dospoucos capitalistas social-democratas. OSenhor Rosenthal é um célebre fabricantede porcelana, mas também um excelentedeputado, que pode permitir cometer umerro. Aconteceu durante uma votação dra-mática no Parlamento quando, em vez decolocar a sua cédula de votação na urna,colocou a de seu vizinho, tornando nuloassim, o seu próprio voto. Em consequên-cia disso, fiz a proposta de que se deveriamproduzir cédulas de porcelana, para que nãocometesse esse erro de novo.

Desejo manifestar meu reconhecimentopelos votos que Vossa Excelência acaba deenunciar. A acolhida calorosa que nos foidada, aqui em Renânia do Norte-Westfália,ficará, em nossa memória, como um dosmomentos altos desta visita à RepúblicaFederal.

Visitar Dússeldorf é conhecer uma cidadeque sempre teve relevo pela arte e pelacultura. Berço do grande Heinrich Heine,Dússeldorf revelou também, há mais de umséculo, sua vocação industrial.

Os nomes dos grandes empreendimentos si-derúrgicos e metalúrgicos da Renânia doNorte-Westfália são mundialmente conheci-dos e respeitados como os testemunhos daimaginação e da capacidade de trabalhodeste povo.

Ao formular votos pela prosperidade da Re-nânia do Norte-Westfália e ao evocar a con-tribuição de sua gente ao desenvolvimentode meu país, convido os presentes a levan-tarem suas taças pela amizade entre o Bra-sil e a República Federal e pela felicidadepessoal do Ministro-Presidente e da Senho-ra Kiihn.

90Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 90: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

a assinatura da declaraçãoconjunta teuto-brasileira

Discursos do Primeiro-Ministro da República Federal daAlemanha, Helmut Schmidt, e do Presidente Ernesto

Geisel, em Bonn, em 10 de março de 1978, durantea solenidade de assinatura da Declaração Conjunta

teuto-brasileira.

O PRIMEIRO-MINISTRO O PRESIDENTE

Senhor Presidente,

Quem lê a Declaração Conjunta que acaba-mos de assinar, e que agora será publicada,verificará quão estreitas se tornarão as re-lações teuto-brasileiras no decorrer do tem-po, consolidadas ainda mais pela sua visita.Creio poder dizer que com nenhum outropaís do hemisfério sul nos unem laços tãofortes. As conversações mantidas com Vos-sa Excelência mostraram-me claramente quea qualidade especial de nosso relaciona-mento não resulta apenas do excelente fun-cionamento de um amplo intercâmbio emtodos os setores mas, em última análise,do fato de alemães e brasileiros terem osmesmos conceitos de valores. É esse tam-bém o motivo pelo qual damos grande im-portância ao julgamento dos nossos amigosbrasileiros e a razão pela qual, juntamentecom eles, queremos assumir responsabili-dades.

Gostaria de aproveitar esta oportunidadepara renovar-lhe os meus cordiais agradeci-mentos pela visita ao nosso País e pelavisita a Berlim. Ao mesmo tempo gostariade formular os melhores votos de felicidadepara seu povo, seu País e para Vossa Exce-lência.

Senhor Chanceler Federal,

Vim à República Federal da Alemanha aconvite do Presidente Walter Scheel. Che-guei a este País na expectativa de que mi-nha visita iria contribuir não só para con-solidar o relacionamento entre o Brasil e aRepública Federal, mas também para apro-fundá-lo, para dar-lhe novas e importantesdimensões. Não me decepcionei. Pelo con-trário, a Declaração Conjunta que acabamosde firmar e os demais entendimentos quealcançamos, Senhor Chanceler Federal, in-dicam, claramente, o grau de maturidadede nossas relações, bem como anunciam ainauguração de nova e animadora etapa decompreensão, consulta e cooperação. Re-torno, pois, ao Brasil na convicção de queesta visita foi amplamente produtiva e quenela pudemos dar poderoso impulso à nos-sa amizade recíproca. Ao despedir-me, de-sejo agradecer vivamente, em meu próprionome e no dos brasileiros que me acompa-nham, a acolhida calorosa e amiga que nosfoi dada, nestes dias de tantas realizações.Espero possamos retribuir toda a hospitali-dade que recebemos quando o PresidenteScheel e o Chanceler Schmidt nos visitaremem atendimento a convites que hoje tive oprazer de lhes fazer.

Muito Obrigado.

91

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 91: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

entrevistas do presidente geiselà televisão alemã

Entrevista que o Presidente Geisel concedeuaos jornalistas Rolf Pflúcke e Klaus Eckstein,

respectivamente do 1.° (ARD) e 2.° (ZDF) canais datelevisão alemã, gravadas em Brasília, em 24 de

fevereiro de 1978, e transmitidas na RepúblicaFederal da Alemanha em 6 de março de 1978.

1.° CANAL

Pergunta — 0 tema dos direitos humanostem atualmente grande importância em to-do o mundo. Organizações internacionais pe-riodicamente acusam o Brasil de não respei-tar bastante os direitos humanos. Sabemosque justamente o seu governo visava a pro-teger mais as liberdades civis. Como o Se-nhor vê a situação dos direitos humanos edas liberdades civis em seu país?

Resposta — Esse tema de direitos huma-nos realmente hoje em dia é moda. Emtoda a parte do mundo, em todo o lugar sefala em direitos humanos. Aqui no Brasilevidentemente também se fala. Entretanto,nem todos têm de direitos humanos o con-ceito suficientemente amplo nem conhecemas normas ou as regras que fixam os direi-tos humanos que estão na Carta das Na-ções Unidas, que aliás tiveram origem an-terior, pois foram consagradas pela Revolu-ção francesa. Nós nos preocupamos muitocom os direitos humanos aqui no Brasil eapesar das acusações que nos fazem eucreio que o Brasil pode, num confronto mun-dial, se apresentar bem em matéria de di-reitos humanos. Veja que no âmbito dosdireitos humanos nós colocamos a educa-ção, um dos pontos com que meu Governo,como o dos meus antecessores, se tempreocupado. O Brasil de hoje já tem umnúmero muito reduzido de analfabetos; osníveis de instrução são bastante promisso-res. Temos cerca de 1 milhão e duzentosmil alunos nas universidades. Nós nos preo-cupamos com a saúde da população, nospreocupamos com a alimentação, nos preo-cupamos em dar empregos. Nós temos no

Brasil, devido ao nosso crescimento popu-lacional, que criar todo ano cerca de 1milhão e meio de empregos, porque a nossapopulação cresce a uma taxa muito alta. Tu-do isso faz parte dos direitos humanos. Éclaro que também existem ainda os direi-tos políticos, que nós também respeitamos.Como a liberdade de pensamento e de ex-pressão. O que nós não aceitamos é ter-rorismo, subversão, nós não aceitamos quese perturbe a tranquilidade do País que pre-cisa trabalhar para se desenvolver. Quandohá fenómenos dessa natureza o Governo in-tervém no sentido de manter a tranquilidadee a harmonia dentro do país. As acusaçõesque nos fazem no exterior, por diversas en-tidades, têm sido examinadas por nós e têmsido respondidas. E verificamos que mui-tas vezes essas informações são tendencio-sas. Recordo-me de uma ocasião em queacusaram o Governo brasileiro de ter assas-sinado um determinado indivíduo que eraacusado de comunista ou coisa semelhante.Pois bem, o Governo apresentou esse ho-mem na televisão, mostrou que ele estavavivo. Vivo e em liberdade e que não havianada contra ele. De um lado é um temaque nos preocupa e que nós cuidamos bas-tante. De outro lado, as informações con-trárias nem sempre são merecedoras decrédito. Mesmo de entidades renomadasque existem na Europa, as informaçõesvêm através de cartas, vêm através de do-cumentos cuja validade não está comprova-da. Então é preciso ter cuidado quandose analisa esse problema. Agora, uma dasnossas características é de que nós consi-deramos que o problema dos direitos huma-nos no Brasil deva ser zelado pelos brasi-leiros e não pelos estrangeiros. Nós nãoadmitimos a interferência de nenhum paísdo mundo aqui no Brasil para fiscalizar osdireitos humanos, como nós também não

92

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 92: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

pretendemos ser fiscal de ninguém. O Bra-sil é um país soberano, que sabe cuidar desi, não precisa que os outros venham aquicuidar de nós. Sobretudo porque acreditoque não existe país no mundo onde os di-reitos humanos sejam respeitados 100%.Há a ação policial, há uma série de fato-res que muitas vezes escapam ao controledo Governo. Acredito que isto aconteça naInglaterra, aconteça na Alemanha, acon-teça nos Estados Unidos, aconteça em todaa parte. Mas, na sua generalidade, os direi-tos humanos aqui constituem uma preo-cupação tão grande como em qualquer outrolugar.

Pergunta — 0 Presidente Cárter virá aoBrasil em abril. Essa visita modificará algona política nuclear do Brasil? Por que o seupaís até agora não vem cumprindo as exi-gências dos Tratados de Não-ProliferaçãoNuclear?

Resposta — A visita do Presidente Cárter aoBrasil, que já estava programada anterior-mente e que ele teve que adiar, é muitobem-vinda. Nós recebemos o PresidenteCárter no Brasil com muita satisfação, por-que Brasil e Estados Unidos são tradicional-mente dois países amigos. E como todosbons amigos têm problemas, têm questõessobre as quais nem sempre concordam, oque é natural tanto na nossa vida indivi-dual quanto mais na vida coletiva. A visitado Presidente Cárter servirá para troca deideias, opiniões, e entre essas ideias e opi-niões indiscutivelmente está a questãonuclear, assunto em que o Brasil e os Es-tados Unidos divergem na maneira de con-duzir o problema. O Brasil, que é um paísdeficiente em petróleo e em carvão, achaque o seu futuro energético, depois que ti-ver aproveitado os mananciais que lhe dãoa energia hidráulica que hoje usamos, pre-cisa de novas fontes. E a fonte mais ade-quada para nós é a nuclear, justamente por-que estamos descobrindo cada vez maisquantidades de urânio. As nossas reservasde urânio crescem em função das pesqui-sas que estamos fazendo no nosso Territó-rio. E em matéria de urânio, se formos nosbasear nesse tipo de energia, nós não pode-

mos ser dependentes, como hoje em diasomos, em matéria de petróleo. A nossadependência em petróleo é muito grande.Um terço das nossas importações são dèpetróleo e o futuro do Brasil, um país dotamanho do Brasil, com a população que oBrasil tem, não pode ficar dependendo daboa ou da má vontade de um fornecedor deurânio enriquecido. Nós temos que produ-zir urânio enriquecido no Brasil e queremostambém reprocessar esse urânio. Alegamque isso poderá levar o Brasil a produzir aarma nuclear. Isto não é verdade. Em pri-meiro lugar porque o Brasil é um país pa-cifista e sempre o foi. Pela posição que eleocupa no mundo, do ponto de vista bélico,é um dos países mais desarmados que exis-te. Em segundo lugar, nós nos submetemosa todas as salvaguardas da Agência Interna-cional de Energia Nuclear de Viena, que éum órgão das Nações Unidas e que temassim o encargo de controlar e de evitar aproliferação da arma nuclear. O acordo queo Brasil fez com a Alemanha foi aprovadopor essa Agência, inclusive pela Rússia,pelos Estados Unidos e os demais países.E nós nos submetemos à salvaguarda dessecontrole justamente para evitar que o com-bustível nuclear possa ser desviado paraprodução de armas. O Senhor me perguntapor que nós não ratificamos o Tratado deNão-Proliferação da Arma Nuclear. Nósnão assinamos esse Tratado e não es-tamos de acordo com ele porque o Trata-do é discriminatório, o Tratado é injusto, oTratado divide o mundo em países que tême em países que não têm. Nós achamos quesó deveria haver países que não têm. Ne-nhum país do mundo deveria ter armanuclear, no interesse da humanidade. Nósassinamos um outro tratado, que se chamaTratado de Tlatelolco, assinado no México,que desnucleariza a América Latina, quer di-zer, todos os países da América Latina secomprometem a não ter armas nuclearesnem depositar armas nucleares em seusterritórios. Mas exigem que os paísesnucleares respeitem a América Latina. Nãoas usem nem as depositem em países daAmérica Latina. Este tratado nós assina-mos, ratificamos e cumprimos. Então veja

93

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 93: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

bem, de um lado o Brasil precisa de umdesenvolvimento nucler completo, tendo emvista o seu futuro. Em segundo lugar, o Bra-sil não pretende fazer armas e como com-provação de que não vai fazer armas elese submeteu ao Tratado de Tlatelolco eao controle da Agência de Energia Nuclear.E a maior prova do reconhecimento dessaposição brasileira está na própria Alema-nha, que assinou conosco esse Tratado.Acredito que ela só o assinaria reconhecen-do a nossa intenção e o nosso modo deproceder. Deus queira que os demais paí-ses do mundo se compenetrem de ideaissemelhantes aos do Brasil e deixem de pro-duzir armas nucleares.

Pergunta — De dez anos para cá, fa!a-se do"milagre económico brasileiro". Será que oenorme desenvolvimento económico se ope-rou demasiadamente às custas de uma dis-tribuição mais equitativa dos rendimentose em detrimento da política social?

Resposta — Eu não creio que seja verdadeo que se diz em relação ao milagre brasi-leiro. O Brasil não fez nenhum milagre, oque o Brasil está fazendo, há quinze anos,há cerca de quinze anos, é trabalhar. Tra-balhar para se desenvolver, para ter maisriqueza e, consequentemente, ter melhorbem-estar para seu povo. Em razão de umapolítica que o Governo adotou, desde 1954,o País tem um programa de desenvolvi-mento. Esse desenvolvimento é um desen-volvimento integrado, compreendendo atua-ções no campo económico, no campo polí-tico e no campo social. E, de certa forma,apesar das dificuldades que o mundo atra-vessa, nós temos tido êxito, e temos conse-guido crescer bastante. Basta considerarque a renda per capita no Brasil, no últimoano, atingiu a pouco mais de 1.400 dóla-res. O que para nós já é um número signi-ficativo. Embora ainda bastante inferior àdos países industrializados, mas como paísem desenvolvimento é uma renda per capitajá bastante satisfatória. Pois bem, acusa-seo Governo de, neste quadro de desenvolvi-mento, sobretudo de desenvolvimento eco-nómico, fazer uma má distribuição de ren-das e ter permitido que de um lado a ren-

da se concentre, e que os ricos fiquem ca-da vez mais ricos e que os pobres fiquemcada vez mais pobres, de outro lado. Issoé um velho slogan dos comunistas. É evi-dente que no Brasil há certa concentraçãode renda. É evidente que muitos ricos f i -caram mais ricos, mas eu posso assegurarque os pobres também melhoraram um pou-co. Enfim, a distribuição de renda que nóstemos, possivelmente, ainda não é a ideal,nem pode ser porque a renda é pequena,quer dizer, é preciso primeiro produzir al-guma coisa para depois se poder distribuir.De qualquer maneira a distribuição já se faz.E ela tem propiciado à população um bem-estar bem melhor do que nós tínhamos há10 ou 15 anos passados. Basta que se con-sidere o número de automóveis que aVolkswagen vendeu no Brasil e que estãosendo usados pelo povo brasileiro. O núme-ro de televisores, o número de máquinas delavar roupa e assim por diante. O númerode casas, de habitações que nós temos noPaís é índice de que a população está acom-panhando, de certa forma, esse desenvolvi-mento do País. Por outro lado nós pode-mos verificar, do ponto de vista social, oextraordinário progresso do País. Há poucoestávamos falando em direitos humanos.O número de escolas, o número de hospi-tais e de outras instalações de interessepopular muito grande. Hoje em dia, qua-se todas as cidades brasileiras estão abas-tecidas de água. Isto é um problema quena Europa não existe, mas aqui no Brasil apopulação não tinha água para beber, bebiaágua poluída. Hoje em dia a população temágua tratada para beber. As grandes cida-des estão sendo saneadas com esgotos sa-nitários. De maneira que há, no campo so-cial e sobretudo no campo da previdência,na assistência ao trabalhador rural ou aotrabalhador da cidade, uma formação demão-de-obra especializada de modo que otrabalhador possa conseguir melhor empre-go. Há uma série de programas em curso,que se vêm desenvolvendo há anos e quetem proporcionado à população de nívelmais baixo, à população mais carente, me-lhores condições de vida. Isto é uma formade distribuição de renda. De modo que esse

94

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 94: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

slogan dos ricos cada vez mais ricos e ospobres cada vez mais pobres não se aplicaao Brasil.

2.° CANAL

Pergunta — Perguntamos ao Presidente Gei-sel, que entende bem o alemão, mas não vairesponder em alemão, até que ponto ele en-tende a intensificação das relações com aEuropa Ocidental, e em particular com aAlemanha, como um contrapeso à tradicio-nal preponderância dos Estados Unidos naAmérica Latina.

Resposta — Eu realmente entendo um pou-co de alemão, mas o falo muito mal e, porisso, vou lhe responder em português. Mi-nha visita à Alemanha é consequência deum convite que me foi feito. Minha viagemé também de certa maneira uma consolida-ção das relações que nestes últimos anosse vêm desenvolvendo entre os nossos doispaíses. Com a crise mundial que atraves-samos desde 1973, em decorrência do au-mento do preço do petróleo e de outras cau-sas, tivemos que desenvolver extraordinaria-mente nosso comércio internacional, e pro-curamos desenvolvê-lo com todos os paí-ses do mundo onde podemos comprar evender. E é por isso que fomos à Ásia, aoJapão, estamos indo à Austrália, além detoda a América Latina, à América do Norte,à Europa e, mesmo, temos hoje em dia umgrande intercâmbio com a África.

Minha ida à Europa, as vinculações que ini-ciei em 1976 com a França e a Grã-Breta-nha e, agora, esta viagem à Alemanha, nãosignficam, absolutamente, qualquer modifi-cação na nossa política em relação aos Es-tados Unidos. É claro que os Estados Uni-dos, pelo fato de estarem no Continenteamericano, pela potência económica e finan-ceira que representam e pela amizade quetêm com o Brasil são um parceiro, no nossocomércio, nosso intercâmbio económico,cultural, etc.

Mas isso não exclui que nós procuremos terestas mesmas relações com outros países.Com a Alemanha, por exemplo, essas rela-ções são tradicionais. A Alemanha temcom o Brasil um comércio nos dois sentidossuperior a 2 bilhões de dólares. A Alema-nha é o segundo investidor de capitais noBrasil. Então creio que há muitas razõespara que eu procure a Europa Ocidental, euprocure a Alemanha, para intensificar esserelacionamento independentemente do de-senvolvimento que nós possamos dar àsnossas relações com os Estados Unidos.

Pergunta — O Brasil é visto como um Paísem transição do estágio de produtor de ma-térias-primas ao de nação industrializada.Qual é a posição brasileira diante do confli-to Norte-Sul?

Resposta — O Brasil é um país em desen-volvimento. É um país que ainda não estáindustrializado mas também não é um paísapenas produtor de matérias-primas. Co-mo o senhor bem disse, é um país que estáprocurando se desenvolver. Neste contextoque se convencionou chamar Norte-Sul, evi-dentemente que o Brasil está mais no Suldo que no Norte. Quer dizer, nós não atin-gimos ainda um estágio que nos permitaclassificar entre as nações do Norte. Nósestamos ainda entre as nações do Sul. Nósachamos que temos que trabalhar e nos de-senvolver, temos que crescer economica-mente porque só com o crescimento eco-nómico é que nós podemos resolver certosproblemas sociais e políticos e assegurarum melhor bem-estar às nossas populações.Achamos também que os países mais adian-tados, mais desenvolvidos, mais industria-lizados, como os Estados Unidos, França,Alemanha, Japão, Grã-Bretanha e outros, de-viam cooperar mais conosco; quando faloconosco, quero dizer com os países do Ter-ceiro Mundo. Para que não houvesse nomundo alguns países com elevado padrão eoutros, como existem muitos ainda, viven-do na miséria. Se nós nos entendêssemosmelhor, se tivéssemos maior espírito decooperação, sobretudo dentro do espíritocristão que preside a civilização ocidental,talvez o mundo fosse melhor.

95

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 95: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

walter scheel:amizade brasil-rfa pode servir demodelo para as relações norte-sul

Entrevista do Presidente da República Federal daAlemanha, Walter Scheel, à Agência Nacional,

transmitida por uma rede brasileira de emissorasde rádio e televisão, em 3 de março de 1978.

Pergunta — As emissoras brasileiras de tele-visão foram honradas com a disposição deSua Excelência o Senhor Presidente da Re-pública Federal da Alemanha, Doutor Wal-ter Scheel, de conceder esta entrevista atra-vés da Agência Nacional. Nesta oportunida-de, desejaríamos formular à Sua Excelên-cia as seguintes perguntas: As relações en-tre os países desenvolvidos e os países emdesenvolvimento foram marcadas historica-mente pelas dependências verticais. VossaExcelência acredita que o formato atualdas relações entre o Brasil e a Alemanhatenha quebrado de modo exemplar este pa-drão? As relações são entre países iguaiscom benefícios mútuos e paritários?

Resposta — Justamente o exemplo "Brasil"me dá esperança. Pois este é um dos maio-res e mais populosos países do mundo, comuma taxa de crescimento populacional decerca de 3% ao ano, um país que tem dado,com a sua própria força, um passo enormepara o futuro. O Brasil é hoje um país quetem uma estrutura entre a estrutura de umpaís industrializado e a de um país em de-senvolvimento. Infelizmente, isto traz aoBrasil os problemas de ambas estruturas,tanto os problemas que normalmente têmos países industrializados como os paí-ses em desenvolvimento. O Brasil exportaprodutos industrializados de alto valor parao mundo inteiro. As exportações de produ-tos semi-acabados e acabados para a Re-pública Federal da Alemanha têm crescidoanualmente de 100% nos últimos anos.

Assim se desenvolve entre nossos paísesuma relação de parceria múltipla.

Entre nós cresce aquela dependência mú-tua, aquela interdependência, que afinal es-

tá na base de toda solidariedade entre oshomens. Assim se desenvolve uma formamadura de parceria na qual cada um dosparceiros está consciente de sua depen-dência ao outro. Uma parceria deste tipoé o que desejo entre a Europa e a AméricaLatina, e em geral entre os países indus-trializados e os países em desenvolvimento.

Pergunta — Tratando do mesmo problemaem termos gerais, lembro que o Brasil e osoutros países em desenvolvimento têm lu-tado pela modificação da ordem económicamundial. Como vê Vossa Excelência as re-lações Norte-Sul e a perspectiva dessa mo-dificação?

Resposta — Nós estamos de acordo com osnossos amigos brasileiros que os bens e asoportunidades devem ser distribuídos demaneira mais justa entre os países ricos eos países pobres. Cada país tem que ter aoportunidade de participar, para o seu be-nefício, do comércio mundial. Para alcan-çar este objetivo, os países industrializadostambém deverão adaptar-se às circunstân-cias, e os políticos nos pasíes industriali-zados devem preparar hoje seus cidadãospara essa adaptação necessária. Mas eu nãoacredito que uma melhor ordem económicamundial possa ser alcançada, por exemplo,por um dirigismo global.

Nenhum super-organismo, nenhum super-organismo mundial pode substituir a fun-ção do mercado que — como nos tem ensi-nado a experiência — dirige, de maneiramais eficaz do que qualquer planejamento,as forças económicas certas aos lugarescertos. Tanto o Brasil como a RepúblicaFederal da Alemanha têm podido juntar ex-

96

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 96: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

pertencias extremamente positivas nestecampo.

A República Federal da Alemanha aspira auma ordem económica mundial melhorada,que mantenha a função do mercado e queinclua — plenamente — os países em de-senvolvimento nos processos económicosmundiais. E eu acho animador — animadorpara nós — o fato de o maior país da Amé-rica Latina preferir uma política de coope-ração a uma política de escalada de exi-gências máximas.

Acredito que aproximações e progressos quedois países como a República Federal daAlemanha e o Brasil alcançam juntamentepodem servir de modelo para as relaçõesNorte-Sul em geral.

Pergunta — 0 processo de integração euro-peia teve importância histórica, servindomesmo como inspirador para experiênciassimilares na América Latina. Como VossaExcelência descreveria o estado atual da in-tegração europeia em seus diferentes as-pectos?

Resposta — Eu sempre me alegrava quandoa comunidade europeia era considerada emoutras partes do mundo — e especialmentena América Latina — como um modelo paranovas iniciativas de cooperação regional.

De fato, a comunidade europeia realizouuma obra histórica de entendimento e re-conciliação, e criou novas e bem sucedi-das formas de integração económica e decooperação política. O estado atual da in-tegração europeia não me satisfaz. Os paí-ses da comunidade europeia têm que con-centrar suas forças políticas, mais do quenos últimos anos, para poderem correspon-der às exigências justas do terceiro mundo,para resolverem seus próprios problemaseconómicos, sociais e ecológicos, e tambémpara ajudarem a garantir o equilíbrio entre oOeste e o Leste na Europa.

Fico satisfeito com a expansão — esperadapara breve — da comunidade europeia parao Sul, com a admissão da Grécia, da Espa-nha e de Portugal — o que significa queem breve se falará também português na

comunidade europeia — e tenho confiançaem que as tarefas citadas produzirão, numfuturo não muito longe, um novo impulsode integração. Meus concidadãos na Re-pública Federal da Alemanha estão dispos-tos a participar de um processo deste tipo.Espero ser um dia eu mesmo cidadão deuma comunidade europeia que possa servista no mundo inteiro como um modelo, ummodelo de cooperação estreita, solidária epacífica entre os povos.

Pergunta — A viagem do Presidente Geiselestá sendo apresentada como um momentode coroamento político da amizade entre osdois países. Vossa Excelência aceita estainterpretação, que sublima o aspecto polí-tico da viagem? Haveria outras dimensõesa esperar nos contatos com o PresidenteGeisel? 0 que significa a viagem do Presi-dente Geisel para o desenvolvimento futurodas relações entre Brasil e a Alemanha?

Resposta — Uma visita de Estado é o coroa-mento formal das relações bilaterais entredois países. Eu me esforçarei para que onosso hóspede sinta que nós vemos, nestavisita, mais do que um coroamento formal,ou seja, uma manifestação de amizade vivae à altura da história entre os nossos povos.Esta amizade encontrou, através do impe-tuoso desenvolvimento do após-guerra emambos nossos países, novos interesses enovos objetivos, conduzindo ao aprofunda-mento de nossas relações em muitos seto-res. O papel que a República Federal daAlemanha e o Brasil desempenham na co-munidade de Estados e as nossas convic-ções fundamentais comuns fazem com quenaturalmente, durante a visita do Presiden-te brasileiro, não nos ocupemos somentecom as múltiplas facetas das nossas rela-ções bilaterais, mas também com muitasquestões urgentes da política mundial.

A segurança da paz mundial, a situação naÁfrica, especialmente no sul do continente,as relações entre o Norte e o Sul são temaspara os quais nos são oportunos o parecere as propostas de solução dos nossos ami-gos brasileiros; o mesmo é válido para asrelações entre o Mercado Comum e a Amé-

97

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 97: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

rica Latina e para a ordem económica mun-dial futura.

Acredito que a discussão básica de cadauma destas questões mostrará como é im-portante o interesse em concepções co-muns. Os últimos anos provaram a exis-tência de grandes possibilidades de expan-são e aprofundamento das nossas relações.

O setor económico é mensurável, mas eu es-tou convencido que o aprofundamento dacooperação em outros campos, especialmen-te no da cultura, é proveitoso para amboslados.

Há algum tempo, no meu discurso em Ham-burgo, referi-me pormenorizadamente àgrande importância da arte e da culturalatino-americana para a Europa. Existemmuitos setores, para os quais olhando parao futuro, nos inspiram inquietação. O fu-turo^ das relações germano-brasileiras, po-rém, olho com grande e confiada esperança.

Pergunta — Nos últimos anos tem sido sig-nificativo o estreitamento das relações en-tre o Brasil e Alemanha; um dos marcos doprocesso é, sem dúvida, o Acordo Nuclearfirmado entre os dois países em 1975. Doponto de vista brasileiro, o Acordo, além deservir à produção de energia, abre importan-tes perspectivas na área de desenvolvimentotecnológico. E para a Alemanha, qual seria,no entendimento de Vossa Excelência, o sig-nificado do Acordo?

Resposta — O nosso Acordo sobre a Utili-zação Pacífica da Energia Atómica parece-me um exemplo destacado da cooperaçãoentre o Norte e o Sul, entre um país indus-trializado e um país em desenvolvimento.Empreendemos a construção em comum deum novo setor industrial no Brasil. Parece-me de grande interesse os termos que sal-vaguardam os interesses justos da comuni-dade das nações, através de um acordo ga-rantindo as medidas internacionais de se-gurança, pelo uso exclusivo da energia ató-mica para fins pacíficos.

silveira a genscher:viagem do presidente geiseconsolida esquema de cooperação brasil-rfa

Discursos do Ministro dos Negócios Estrangeiros daRepública Federal da Alemanha, Hans-Dietrich Genscher,

e do Ministro de Estado das Relações Exterioresdo Brasil, António F. Azeredo da Silveira, por ocasião

do almoço oferecido ao Chanceler brasileiro, em Bonn,em 6 de março de 1978.

GENSCHER

Senhor Ministro das Relações Exteriores,

Excelentíssima Senhora Azeredo da Silveira,

Senhores Ministros, Excelências, Minhas Se-nhoras e Meus Senhores,

É para minha mulher e para mim motivo dehonra e prazer dar as boas-vindas à delega-ção brasileira, hoje à tarde nesta mesa.Alegra-me que a estada de Sua Excelênciao Presidente Geisel, em Bonn, me ofereçaa possibilidade de continuar a troca deideias com meu colega e amigo Azeredo daSilveira.

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 98: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Desde a nossa decisão há três anos, no sen-tido de realizar consultas regulares, reu-nimo-nos pelo menos duas vezes ao ano emBonn, Brasília, Nova York, ou em conferên-cias, para discutir todas as questões de in-teresse comum dos dois governos. Nessasocasiões, identifiquei em Vossa Excelênciae caro amigo um realizador prudente e de-cisivo da política exterior do "pragmatismoresponsável" do Brasil e um parceiro justoe amigo de nosso país.

Hoje a cooperação teuto-brasileira abrangetodos os setores da nossa vida: o político eeconómico, bem como o científico e cultu-ral. Ela está firmemente baseada em umatradição antiga e comprovada e na concor-dância dos nossos governos no que se refereaos princípios básicos do convívio dos po-vos.

Uma densa rede de contratos e acordosde caráter mais diverso representa a basejurídica da nossa cooperação. Partindo dacooperação económica, financeira e técnica,passando pela utilização pacífica da ener-gia nuclear até à co-produção cinematográ-fica, quase não há setor que tenha sido omi-tido.

Duas comissões mistas reúnem-se regular-mente para discutir questões económicas,científicas e tecnológicas. Essa cooperação— sustentada por compreensão e confiançamútuas — é suscetível de realizar um dosobjetivos mais importantes da política exte-rior alemã, isto é, a participação da Repú-blica Federal da Alemanha na garantia dapaz mundial.

Particularmente, nós, os alemães, vemosisso cada vez mais claro: um mundo depaz — como base da nossa existência —não pode ser realizado sem se adaptar, emprimeiro lugar, a ordem económica às exi-gências e necessidades dos países em de-senvolvimento. Como sabe Vossa Excelên-cia, fizemos nossos os interesses fundamen-tais do Terceiro Mundo. Mas, por outro lado,consideramos indispensáveis a capacidadee a eficiência dos países industrializados.Economias saudáveis e fortes são o impulsoe a garantia para o futuro desenvolvimento,e condição prévia para isso é — ao nossover — a economia de mercado. Se ela forsubstituída pelo dirigismo burocrático e a

distribuição forçada dos recursos existentes,a perda da eficiência económica seria aconsequência.

alemanha coopera com odesenvolvimento brasileiro

No seu país, Senhor Ministro, princípios daeconomia de mercado foram decisivos parao surto económico. Nós, na República Fe-deral da Alemanha, estamos empenhadosem promover tal desenvolvimento através,também, da transferência de tecnologia edos investimentos da economia alemã.

Sabemos que não foram atendidas plena-mente as esperanças dos nossos amigosbrasileiros porque o Governo Federal nemsempre conseguiu realizar esforços sériosno sentido de combater as tendências pro-tecionistas. Mas não diminuiremos os nos-sos esforços para eliminar os entraves detoda espécie ao comércio.

A futura intensificação das relações com ospaíses da América Latina é preocupação im-portante do Governo Federal. Vimos quetambém o Brasil está muito interessado emcooperar com as outras nações. A AméricaLatina procura parceiros particularmenteaqui na Europa. Estamos dispostos a aceitarisso. Cremos que uma cooperação intensivaentre povos estreitamente ligados e eco-nomias complementares significa uma van-tagem para ambos os lados. Sabemos apre-ciar o valor de uma América Latina amiga.

O peso dos países da América Latina, par-ticularmente do Brasil, está crescendo per-manentemente. Dificilmente poder-se-á su-perestimar a importância da América La-tina como elemento estabilizador na políti-ca mundial. A harmonia, a força e a inde-pendência da região, bem como os seusvínculos com a comunidade de povos oci-dentais e, ao mesmo tempo, com o TerceiroMundo, capacitam a América Latina a umequilíbrio — talvez até a tornar-se umaponte entre o Norte e o Sul. Nesse contex-to, o Brasil — como maior país da AméricaLatina, no limiar de país industrializado —desempenha um papel decisivo. Tambémdentro da Comunidade Europeia, o Gover-no Federal fará tudo para tornar a coopera-

99

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 99: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

ção com a América Latina ainda mais es-treita. A República Federal da Alemanha eo Brasil preenchem todas as condições pré-vias para lançar-se ao trabalho comum, comboas perspectivas de êxito, para a paz e obem-estar de todos os povos!

No seu discurso perante a 32.a Assembléia-Geral das Nações Unidas, Vossa Excelênciae caro amigo disse com toda a razão quenão nos devemos deixar desencorajar naprocura de novos caminhos.

Um provérbio alemão diz: "Com amigosfiéis ao nosso lado, o caminho mais com-prido é curto e a carga mais pesada éleve". Nesse sentido, levanto minha taçapara brindar ao bem-estar de seu Presidente,a seu bem-estar pessoal e à amizade teuto-brasileira!

SILVEIRA

Excelentíssimo Senhor Ministro dos Negó-cios Estrangeiros da República Federal daAlemanha,

Excelentíssima Senhora Genscher,

Senhoras e Senhores,

Em primeiro lugar, eu quero agradecer aomeu caro amigo Genscher as palavras queele me dirigiu tão generosamente e tam-bém o fato de ele ter dito que, nesses anosde entendimento, em que nos temos encon-trado muitas vezes, os nossos pontos devista são muito semelhantes. Isso é umaverdade. Eu pessoalmente creio que parase entender bem a vida é preciso que nóstodos nos demos conta de que a única rea-lidade da vida é a relação entre seres huma-nos. Todo o resto nós construímos em voltadisso, as nações, o interesse das pequenascomunidades. Mas é a vida do ser humanoe o seu relacionamento que tem importânciafundamental em tudo aquilo que nós po-demos fazer. E a verdade é que eu me or-gulho dessa amizade e desse relacionamen-to que nós pudemos construir ao longo des-ses anos, amizade e relacionamento que

também são compartidos por nossas mulhe-res, Barbara e May, que se entendem mui-to bem. Assim, que, quando chego à Ale-manha, sinto-me inteiramente em casa e foiassim que me senti ontem à noite quandopudemos jantar em completa intimidade econseguimos resolver em pouco tempo to-dos os problemas que tínhamos ainda queenfrentar nessa visita. Nosso encontro dehoje se dá em circunstâncias particularmen-te felizes. Desde 1975, quando visitei Bonnpara a assinatura do Acordo sobre Coopera-ção Nuclear entre nossos dois países, te-nho tido, como já disse, o privilégio de es-tar com Vossa Excelência em diversas opor-tunidades. Assim, em 1976, recebemos Vos-sa Excelência com agrado em Brasília, e, na-quele mesmo ano e no seguinte, mantive-mos amistosos contatos em Nova York du-rante a Assembléia-Geral das Nações Uni-das. Em 1977, no momento da Conferênciasobre Cooperação Económica Internacional,nos reencontramos em Paris.

Não é só para mim motivo de especial satis-fação retornar hoje a esta magnífica e tra-dicional cidade, mas também alegra-me so-bremaneira fazê-lo na qualidade de mem-bro da comitiva que acompanha Sua Exce-lência o Senhor Presidente da RepúblicaErnesto Geisel. Quando eu estive aqui em1975, nunca pensei que pudesse voltar àAlemanha com tanta alegria. Mas agora queacompanho o Presidente da República doBrasil eu creio que esta viagem ainda vaiser mais importante. Vai ser uma viagemde consolidação de todo o esquema decooperação que nós soubemos estabelecerem um prazo relativamente curto, que cor-respondia às nossas tradições, mas quenunca tinha sido realizado com esse ímpeto,com essa franqueza e com esse desejo deentendimento.

A própria composição da comitiva presentea esta sala indica claramente a alta signi-ficação que o Brasil atribui aos seus elosde amizade com a República Federal, assimcomo à variedade e importância dos inte-resses que nos aproximam nos campos po-lítico, económico, tecnológico e cultural.

Meu caro Ministro e amigo,

Como sabe Vossa Excelência, a política ex-terna do Brasil se orienta pelos princípios

100

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 100: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

interligados da paz, da cooperação e dodesenvolvimento. Como país pacífico, temostodo o interesse no avanço das diferentesfrentes em que se negociam as questõesvitais relativas à manutenção da paz, ao de-sarmamento e ao fortalecimento da segu-rança internacional. É nossa esperança queesses progressos se reflitam em novas ini-ciativas de cooperação e que estas, por suavez, contribuam para que se intensifiquemos esforços em prol do desenvolvimentoeconómico e social.

Estamos convencidos das vantagens do es-tabelecimento de uma atmosfera de harmo-nia entre as nações e, por essa razão, acom-panhamos com bons olhos a participaçãoativa da República Federal para a diminui-ção das tensões internacionais e para o es-tabelecimento de condições favoráveis àconvivência entre Estados com diferentesmodos de organização social.

diplomacia brasileira busca novasoportunidades de cooperação

No governo do Presidente Ernesto Geisel, adiplomacia brasileira se tem caracterizadopelo esforço para maximizar as possibilida-des de entendimentos internacionais. Tem,especialmente, o Brasil se empenhado naampliação sistemática das áreas em que osseus interesses nacionais coincidem ou con-vergem com os de outros países, em parti-cular os que formam entre os nossos prin-cipais interlocutores. Em consequência, te-mos procurado com toda assiduidade iden-tificar novas oportunidades de cooperação,bem como estabelecer mecanismos operati-vos e eficazes para executá-las.

Ao mesmo tempo, o Brasil busca desempe-nhar, nos limites de suas capacidades, umpapel construtivo no difícil diálogo entre ospaíses do Norte e do Sul sem radicalismosestéreis, mas com firmeza e moderação.Acreditamos que o estabelecimento de umanova ordem económica internacional, à qualVossa Excelência se referiu, beneficiará nãoapenas os países em desenvolvimento, mastambém os desenvolvidos com o aumentoda eficiência global do sistema económicomundial. Desejaríamos pudesse repetir-se,no plano mais amplo das negociações eco-

nómicas multilaterais, as experiências bemsucedidas que estamos acumulando nos di-ferentes diálogos que mantemos com osparceiros que nos são mais chegados. A res-peito do diálogo Norte-Sul, eu gostaria dedizer que aqui na Alemanha eu tenho ouvi-do com frequência a afirmação de que oBrasil, sendo um país com zonas industria-lizadas e com zonas ainda menos privilegia-das economicamente e com grande neces-sidade de desenvolvimento; que essa estru-tura económica brasileira faz com que oBrasil possa compreender ao mesmo tem-po o problema dos países industrializadose dos países em desenvolvimento e que,portanto, o Brasil pode ter nesse diálogoentre os dois mundos um papel importante.E esses dois mundos só são economicamen-te diferentes porque existem outras clas-sificações e todos nós somos ocidentais eligados por uma solidariedade ocidental. Euacho que essas observações alemãs são cor-retas, mas gostaria de dizer também que omundo industrializado não é simétrico, eletambém tem suas assimetrias, e tenho omaior prazer em declarar aqui uma coisaque me parece apenas uma justiça: dizer dopapel de compreensão que tem exercido aRepública Federal nesse diálogo Norte-Sul.A Alemanha tem se esforçado por compre-ender os problemas dos países em desen-volvimento e tem se esforçado por estendersua mão aos países em desenvolvimento,e isso é muito mais importante do que ape-nas criticar certas situações de miséria noTerceiro Mundo. Evidentemente que o Ter-ceiro Mundo não tem áreas de miséria por-que quer; tem porque ainda não pôde de-senvolver-se adequadamente. De maneiraque esse papel construtivo da Alemanhaque eu tenho o maior prazer de ressaltaré que aquele que nós gostaríamos de verseguido por todos os países industrializadosdo mundo.

Na sua órbita de ação, o Governo brasileirotem se empenhado em manter relaçõesamistosas e mutuamente benéficas com to-dos os países do mundo que o desejam eque respeitam os princípios da igualdadesoberana e da não-intervenção em nossosassuntos. Nesse particular, o Brasil se bene-ficia de uma longa experiência de convívioamistoso e solidário com seus vizinhos daAmérica Latina, experiência que agora se

101

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 101: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

estende cada vez mais do outro lado doAtlântico, aos países da África a que nosunem tantos laços de geografia, história ecultura. Em outro nível, é também valiosaa experiência de cooperação que pudemosestabelecer com os principais países da Eu-ropa Ocidental, particularmente a Repú-blica Federal. Não é esse, creio, o momentode fazermos um balanço dessa cooperação,mas devo seguramente indicar a Vossa Ex-celência a satisfação do Governo brasileirocom os altos níveis já alcançados e com omodo pelo qual nossas atividades comunsvêm se desenvolvendo em benefício mútuo.Creio, Senhor Ministro, que essa situaçãoaltamente encorajadora é consequência dadisposição que partilhamos de cooperar sé-ria e honestamente e de enfrentar os obstá-culos que se têm anteposto no nosso cami-nho. É expectativa brasileira que os resulta-dos já alcançados constituam uma sólidaplataforma para novas iniciativas, reforçan-do-se assim ainda mais os interesses e as-pirações que compartilhamos. Nossa vonta-

de é abrir novas portas e explorar novas pos-sibilidades. Acreditamos, a propósito, nadahaver de exclusivista em nossos objetivosde cooperação, nada haver que nos impeça,no devido momento, e pesadas as circuns-tâncias de cada caso, de formular projetosou programas comuns com a participaçãode terceiros países especialmente os emdesenvolvimento. Esta é uma opção quesem dúvida poderemos oportunamente con-siderar como um passo adiante em nossorelacionamento cooperativo.

Antes de finalizar estas palavras, permita-me, Senhor Ministro, agradecer-lhe sincera-mente mais uma vez a acolhida amistosacom que hoje nos honrou e formular votospela felicidade pessoal do Presidente Scheele de sua senhora, pela prosperidade da Re-pública Federal da Alemanha e sua conti-nuada influência em prol da paz internacio-nal, pela amizade entre os nossos dois paí-ses e pela felicidade pessoal da senhoraGenscher e de Vossa Excelência.

declaração conjuntabrasil-república federal da alemanha

Declaração Conjunta Brasil-República Federal daAlemanha, assinada pelo Presidente brasileiro,Ernesto Geisel, e pelo Primeiro-Ministro alemão,Schmidt, em Bonn, em 10 de março de 1978.

O Presidente da República Federativa doBrasil

Ernesto GeiseleO Chanceler da República Federal da Ale-manha

Helmut Schmidt,

Recordando o espírito de tradicional amizadeque caracteriza as relações entre o Brasil ea República Federal da Alemanha, consci-entes do proveito que ambos os países têm

auferido da cooperação inspirada na confi-ança mútua,

Reconhecendo as vantagens recíprocas queresultam de um intercâmbio mais intenso eequilibrado em todos os campos,

Reiterando sua adesão aos propósitos e prin-cípios da Carta das Nações Unidas,

Tendo em vista o direito de todos os paísesao desenvolvimento económico e social, e

Empenhados em que todos os Estados coo-perem nos campos económico, social, cul-

102Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 102: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

tural, bem como científico e tecnológico,com base na equidade e em benefício dohomem, acordam, por ocasião da visita ofi-cial do Presidente Ernesto Geisel à Repú-blica Federal da Alemanha, de seis a dezde março de 1978, a seguinte declaraçãoconjunta:

1. Ambas as partes concordam em aper-feiçoar e aprofundar sua compreensão ecooperação, assim como intensificar a trocade pontos de vista sobre questões de inte-resse comum, com base nas firmes e tradi-cionais relações de amizade que unem osdois países. Sublinham a utilidade de umdiálogo contínuo entre dirigentes dos doispaíses, em especial a importância que temencontros periódicos entre os dois Minis-tros das Relações Exteriores. Reafirmamsua determinação comum de ampliar eaprofundar os contatos e as consultas, emtodos os níveis, que se tornaram elementointegrante da cooperação entre os doispaíses.

Sublinham o particular significado da coo-peração de ambos os países, especialmenteno seio das Nações Unidas e em outrosorganismos e conferências internacionais, eacordam em aprofundar e ampliar essa coo-peração mediante consultas.

2. Ambas as partes salientam q signifi-cado que atribuem à ampliação e intensifi-cação da cooperação económica, industrial,científica e tecnológica, que constitui umadas colunas-mestras das relações entre oBrasil e a República Federal da Alemanha.Consideram positivos os resultados já alcan-çados nessa cooperação e assinalam suadisposição de, também no futuro, dedicaruma atenção especial à expansão das rela-ções económicas e à intensificação da coo-peração industrial, científica e tecnológica,bem como ao desenvolvimento do inter-câmbio comercial.

positivo intercâmbio comercialbilateral

Congratulam-se com o desenvolvimento po-sitivo do intercâmbio comercial bilateral.Reafirmam a necessidade de prosseguirenergicamente a colaboração no intuito de

continuar a melhorar a estrutura da trocade produtos e aumentar o volume de co-mércio bilateral.

Reconhecem, ainda, a importância de quese reveste a ampliação das relações doBrasil com a Comunidade Económica Eu-ropeia, o que a República Federal da Ale-manha, como Estado-Membro da Comuni-dade, apoiará na medida de suas possibili-dades.

Ambas as partes apreciam o progresso jáalcançado no campo da cooperação indus-trial e estão convencidas de que projetoseconómicos a longo prazo e em moldesamplos são de especial valor para a inten-sificação da cooperação económica e in-dustrial. Também nesse contexto a Comis-são Mista Teuto-Brasileira de CooperaçãoEconómica deverá desempenhar um papelcada vez mais importante.

3. Ao analisarem o estágio atual das rela-ções económicas e suas perspectivas, am-bas as partes verificaram que, apesar dodesenvolvimento positivo, nem todas aspotencialidades neste campo têm sidoaproveitadas.

Manifestam o seu especial interesse e asua disposição de apoiar o desenvolvi-mento da cooperação inter-empresarial.Desejam, igualmente, fomentar o desenvol-vimento da cooperação em terceiros mer-cados, principalmente no tocante à implan-tação de indústrias e aos projetos de infra-estrutura económica.

promover projetos de cooperação

Ambas as partes acentuam, também, anecessidade de realizar esforços para apromoção, mais ampla possível, de proje-tos de cooperação. Em conformidade comeste objetivo, empenham-se em examinar,no âmbito de suas competências e na me-dida de suas possibilidades, todas asquestões que entravem o desenvolvimentoprogressivo da cooperação económica.

4. Ambas as partes congratulam-se como desenvolvimento favorável da coopera-ção entre os dois países no âmbito doAcordo Básico de Cooperação Técnica, de30 de novembro de 1963, e do Acordo Ge-

103Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 103: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

ral sobre a Cooperação nos Setores daPesquisa Científica e do DesenvolvimentoTecnológico, de 9 de junho de 1969, queacompanham com especial interesse. Ex-pressam o desejo de intensificar aindamais essa cooperação.

Ambas as partes se empenharão no sen-tido de que se facilite a todas as Naçõeso acesso à pesquisa cientifica e ao desen-volvimento tecnológico.

Assinalam o trabalho da Comissão MistaTeuto-Brasileira de Ciência e Tecnologia,a qual pretendem apoiar, também futura-mente, de maneira ainda mais eficaz.

5. Ambas as partes, decididas a coo-perar no campo nuclear com fins exclusi-vamente pacíficos, registram com especialsatisfação o elevado nível de cooperaçãoque se concretiza no âmbito da implemen-tação do Acordo sobre Cooperação noCampo dos Usos Pacíficos da Energia Nu-clear, de 27 de junho de 1975, com basenuma política efetiva de não-proliferaçãode armas nucleares.

6. As duas partes notam, com satisfação,que as intensas e múltiplas relações cul-turais teuto-brasileiras se têm desenvol-vido continuamente, com base no AcordoCultural, de 9 de junho de 1969, e nosconvénios subsequentemente concluídosnos campos da educação e ciência.

Essas relações, que se têm desenvolvidocom fundamento nos laços historicamenteestreitos entre os dois povos, ganhamcrescente importância, da mesma formaque a cooperação política e económica.

Ambas as partes declaram sua disposiçãode, na medida dos seus meios, promovere ampliar, no futuro, a cooperação e o diá-logo nos campos da cultura, educação eciência.

política de distensão pode serindivisível e universal

7. Ao examinarem a conjuntura interna-cional, os dois Governos reafirmam suadeterminação de persistirem na política de

manutenção da paz, fortalecimento da se-gurança internacional e promoção da coo-peração entre as nações. Salientam que apolítica de distensão deve ser indivisívele universal, devendo ser aprofundada ain-da mais. Opõem-se com firmeza a quais-quer tentativas de estabelecer zonas de in-fluência.

A República Federativa do Brasil e a Re-pública Federal da Alemanha manifestam-se de forma decidida pelos princípios dasoberania, da igualdade dos Estados, danão-intervenção em seus assuntos inter-nos, bem como da exclusão da ameaça,ou do uso da força, na vida internacional.Declaram-se, inequivocamente, a favor dasolução pacífica das controvérsias interna-cionais por meio de negociações, arbitra-gem e outros métodos pacíficos recomen-dados na Carta das Nações Unidas. Asduas partes expressam seu decidido apoioà adoção de medidas eficazes de desarma-mento, inclusive nuclear, sob estrito e efe-tivo controle internacional. Consideramque essas medidas contribuirão para o re-laxamento das tensões e para o fortaleci-mento da segurança internacional. Indi-cam, a propósito, sua disposição de pres-tar contribuição positiva à próxima sessãoextraordinária da Assembléia-Geral dasNações Unidas sobre o desarmamento,para tanto cooperando entre si .

8. Ambas as partes atribuem à Organi-zação das Nações Unidas importância pre-dominante para a manutenção da paz e ofortalecimento da segurança internacional,bem como acreditam que as Nações Uni-das são o principal foro para a cooperaçãointernacional igualitária. Defendem enfati-camente que o papel das Nações Unidasdeve ser reforçado e mais desenvolvido.Consideram a cooperação internacionalpara a afirmação dos direitos humanos, emtodos os seus aspectos, como um dos maisnobres objetivos das Nações Unidas.

9. As duas partes julgam necessária aintensificação da cooperação internacional,que sirva à elaboração de medidas eficazespara garantir a segurança da aviação civil,prevenir e combater a pirataria aérea, bemcomo a tomada de reféns, particularmentenas Nações Unidas e em outros organismosinternacionais.

104Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 104: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

As duas partes estão persuadidas de que ofuturo progresso económico, no mundo,tanto nos países em desenvolvimento,quanto nos países industrializados, só po-derá ser assegurado através da cooperaçãointernacional.

Para reduzir e eliminar as iniquidades eco-nómicas, existentes entre países em desen-volvimento e países industrializados, as duaspartes continuarão a empenhar-se, em es-treita cooperação, para o estabelecimentode uma ordem económica internacional,justa e equitativa. Consideram necessária,para um justo equilíbrio de interesses entreos países em desenvolvimento e industria-lizados, uma maior abertura dos mercadosnos países industrializados para os produ-tos provenientes dos países em desenvolvi-

mento, não apenas para matérias-primas,mas também para produtos semi-acabados efinais. São de opinião que esses esforçosdeverão ser realizados igualmente por todosos países industrializados, tanto no Ociden-te, quanto no Leste. Nesse sentido, assina-lam sua preocupação com o ressurgimentode medidas de caráter protecionista.

Entendem que uma duradoura parceria eco-nómica, baseada nos princípios da econo-mia de mercado, atendidas as particulari-dades de cada país, favorecerá o equilíbriode interesses visado a nível internacional.Nesse sentido, a transferência de tecnologiapoderá tornar-se fator de fundamental impor-tância. Ambas as partes acentuam o caráterexemplar da cooperação bilateral entre oBrasil e a República Federal da Alemanha.*

* Na seção Tratados, Acordos, Convénios, página 180, o convénio entre a STI e a KFA para coope-ração no campo da tecnologia industrial; na seção Comunicados e Notas, página 185, a nota do Itama*raty à imprensa anunciando a visita do Presidente Geisel à RFA; na seção Mensagens, página 192, o textodo telegrama enviado pelo Presidente brasileiro a Walter ScheeI e a carta dos empresários paulistas des-tacando o êxito da visita de Geisel à Alemanha.

105

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 105: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 106: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

no brasil, o presidente dosestados unidos,

jimmy cárterSaudação do Presidente Ernesto Geisel ao Presidentedos Estados Unidos, Jimmy Cárter, logo após o seudesembarque na Base Aérea de Brasília, em 29 demarço de 1978; e a tradução não-oficial doagradecimento do Presidente norte-americano, namesma ocasião.

GEISEL

Excelentíssimo Senhor Presidente,

Em nome do Governo e do povo brasileiros,desejo apresentar a Vossa Excelência e àSenhora Cárter, bem como aos membros dacomitiva que os acompanham, os nossos me-lhores votos de boas vindas e da mais agra-dável estada no Brasil.

A presença de Vossa Excelência, em nossopaís, bem traduzirá o estágio a que alcan-çaram as tradicionais relações de amizadeque ligam o Brasil e os Estados Unidos daAmérica.

Alegra-me, portanto, que Vossa Excelênciatenha podido concretizar seus planos deviagem. E devo dizer-lhe que compreendi,perfeitamente, a decisão que Vossa Exce-lência teve de tomar com relação ao adia-mento da data originalmente prevista paraesta visita.

Vossa Excelência já esteve em nosso paísantes de assumir suas altas responsabilida-

des e a Senhora Cárter, mais recentemente,nos deu o prazer de seu amável convívio,quando nos visitou no ano passado.

Como ocorreu anteriormente, Vossa Excelên-cia e a Senhora Cárter serão acolhidos,pelos brasileiros, como amigos. A hospitali-dade que dedicamos aos que nos visitamcordialmente os acompanhará durante todoo tempo em que estiverem em nossa terra.

Ficaremos extremamente satisfeitos se apresente visita puder contribuir para queVossa Excelência e a Senhora Cárter formemjusta opinião sobre a realidade brasileira.Pessoalmente, acredito que nossas conver-sações serão proveitosas e permitirão darnovo impulso às relações entre nossos doispaíses.

CÁRTER

Obrigado Senhor Presidente por suas gentispalavras de acolhimento. Esta é a segunda

107Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 107: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

visita que faço a Brasília, sua linda cidade-capital. E desta vez é para transemitir comagrado não só os meus votos pessoais, masespecialmente também a saudação da mi-nha pátria. E venho ao Brasil na plena cons-ciência de que as nossas duas nações com-partilham as responsabilidades das grandespotências mundiais. Existem muitas coisasna História das nossas nações que fazemcom que possamos nos compreender mutua-mente, que nos têm ensinado a nos tratarcom amizade e respeito. Ambos se liberta-ram de potências coloniais europeias, e nes-te século os nossos soldados combateramlado a lado na Europa, durante a GuerraMundial, para levarmos a paz e a liberdadea outros povos.

Ambos desbravamos vastas regiões inexplo-radas dos nossos territórios nacionais, emface dos mais difíceis desafios e os maioresinfortúnios, e soubemos aproveitar a deter-minação e os talentos dos nossos povospara vencermos os obstáculos dos caminhos.Foi o espírito verdadeiramente pioneiro queforjou as atitudes do Brasil e dos EstadosUnidos. Ambos construímos novas capitaisem atos de fé no futuro. O Brasil há 18 anos,aqui no sertão. Os nossos ancestrais, quase200 anos atrás, às margens do rio Potomac.Ambos nos orgulhamos da diversidade hu-mana da nossa gente e prezamos o nossopatrimónio cultural, que estamos firmemen-te decididos a preservar. Eu vi a grandezado Brasil durante minhas visitas a Manaus,Belém, Recife, São Paulo e Rio de Janeiro.

brasil é potênciaverdadeiramente grande

O advento do Brasil à sua posição de lide-rança no mundo conquistou a admiração detodos os povos, mas principalmente a dopovo norte-americano. O Brasil é a quintanação do mundo em extensão territorial e asexta em população. Seu Produto NacionalBruto já colocou sua economia em oitavolugar e a sua taxa de crescimento está entreas mais elevadas do mundo. O Brasil possuia visão, a energia, e a criatividade de umapotência verdadeiramente grande e o mundodeverá contar com esse país para a aplica-

ção desses talentos aos problemas que atin-gem todos nós.

Ambas as nações estão recorrendo à ener-gia nuclear como uma das soluções para osproblemas energéticos e ambos acreditamosque o uso pacífico da energia atómica não éincompatível com a necessidade de evitar aproliferação nuclear. Como vocês, nossa na-ção acredita que o sistema comercial domundo deve tornar-se mais justo e abertoe que cada nação deve desfrutar de igualoportunidade de participação. Hoje estamosnos unindo num esforço global em prol dacausa da liberdade humana e do estado dedireito. Esta é uma luta que só será vitoriosaquando estivermos dispostos a reconheceras nossas próprias limitações e a falarmosuns com os outros, com franqueza e con-preensão.

A nossa amizade com o Brasil é de longadata. Em 1824, os Estados Unidos foram aprimeira nação a reconhecer a sua indepen-dência. Esta amizade poderá fortalecer-seainda mais agora, ao aceitarmos, na quali-dade de parceiros iguais, as responsabilida-des que o mundo deposita em nós. SenhorPresidente, não posso deixar de mencionaro nosso agradecimento ao Brasil por ter par-tilhado conosco um dos mais valiosos tesou-ros nacionais na pessoa de quem talvez sejao maior atleta brasileiro de todos os tem-pos, o incomparável Pele. Ele é amigo meue a bravura dele nos campos de futeboltem servido de inspiração ao povo norte-americano.

Minha esposa, Rosalynn, visitou seu país oano passado, e as palavras dela sobre ahospitalidade brasileira e as trocas de ideiasmuito úteis que ela manteve com Vossa Ex-celência, Senhor Presidente, intensificarama minha vontade de visitar o Brasil de novo.Nós sabemos que o contato pessoal dos di-rigentes pode gerar o entendimento entrenações e estou convencido que as nossasconversações resultarão em uma reafirma-ção do respeito mútuo e da amizade que temabençoado as nossas duas nações ao longode tantos anos. Muito obrigado.

108Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 108: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

na homenagem a cárter,geisel dá ênfase aorelacionamento brasil-eua

Discurso do Presidente Ernesto Geisel, em 29 de marçode 1978, durante o jantar oferecido ao Presidente

Jimmy Cárter, no Palácio da Alvorada, em Brasília; oPresidente norte-americano respondeu, de improviso, ao

brinde do Presidente brasileiro.

Senhoras e Senhores,

Temos o grato prazer de acolher entre nósSua Excelência o Presidente dos EstadosUnidos da América e a Sra. Cárter, bemcomo os eminentes membros de sua comi-tiva.

É esta a primeira vez em muitos anos queo Chefe de Estado dessa Nação visita o Bra-sil. E é uma visita de amizade que vem for-talecer os laços tradicionais que unem nos-sos países.

A história de nossa amizade é secular e,hoje como ontem, e como amanhã, é nosso

desejo que ela se torne cada vez mais só-lida e duradoura.

Tal aspiração não atende apenas aos inte-resses de nossas duas nações, mas corres-ponde também aos anseios do continenteamericano e à esperança de paz e de har-monia mundiais.

Desejo, portanto, reafirmar minha alegria emrecebê-lo, alegria compartilhada por todo opovo brasileiro.

Peço a todos que ergam suas taças e brin-dem comigo à harmonia constante, à ami-zade sempre mais profunda entre nossos po-vos e à felicidade pessoal do Presidente eda Senhora Cárter.

a visita do presidente norte-americano

ao congresso nacionalDiscursos do Senador Eurico Rezende e do Deputado

Erasmo Martins Pedro, em 30 de março de 1978, durantea sessão solene conjunta do Congresso Nacional,

realizada em homenagem ao Presidente Jimmy Cárter; ea tradução não-oficial da resposta do Presidente

norte-americano.

EURICO REZENDE

Excelentíssimo Senhor Presidente,

Coube-nos a insigne honra de dirigir aVossa Excelência a saudação do Senado

Federal. Não poderíamos estar mais sensi-bilizados com a incumbência que nos foicometida.

Vossa Excelência é a mais alta autoridadede uma Nação tradicionalmente amiga doBrasil. São naturalmente diferentes as tra-

109

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 109: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

jetórias que nossos dois países têm percor-rido na História, mas através dos temposmantivemos em comum certos valores es-senciais, como o apego à democracia, acrença na importância do indivíduo e a con-vicção de que o progresso e a felicidade sãodireitos de todos.

Os Estados Unidos da América são, há dé-cadas, a potência líder do Ocidente. Essaposição privilegiada permite ao Governo deVossa Excelência exercer uma influência di-reta nos destinos do Mundo Ocidental. Cer-tamente, é essa uma pesada responsabili-dade, pois, a cada momento, deverá VossaExcelência saber entender, mantendo emequilíbrio, o que é do interesse específicode seu país e o que corresponde às aspira-ções das demais nações ocidentais, desen-volvidas ou em desenvolvimento. Tal distin-ção, de tanta importância, condiciona o pró-prio funcionamento de nossa comunidade denações, pelo que formulamos sinceros votosde que Vossa Excelência bem desempenheessa tarefa.

O Brasil, conservando sua plena solidarie-dade ocidental, soube acompanhar os sinaisdos tempos e exercitar sua autonomia. Vos-sa Excelência conhece bem o nosso País.Sabe, portanto, de nossos problemas e dosobstáculos que lutamos para superar. Sabeque sempre formamos ao lado dos EstadosUnidos da América nos momentos críticos eque nossa compreensão e nossa colaboraçãoforam naturais e espontâneas.

brasileiros estão voltados para umaobra de construção nacional

Hoje, Senhor Presidente, estamos voltadospara uma obra grandiosa de construção na-cional. Nos países industriais o progresso sedeu através de uma evolução natural, emseu próprio ritmo e com suficiência de re-cursos. É diferente a história brasileira. Nospaíses em desenvolvimento o progresso temque ser um fenómeno induzido. Os poucosrecursos para investir têm que ser distribuí-dos segundo prioridades económicas e, tam-bém, sociais. Bem vê Vossa Excelênciacomo são distintas as realidades de cada umdesses mundos.

O povo brasileiro tem buscado captar asenergias que são mais intimamente suas eprocurado conciliar os reclamos de sua vo-cação democrática e os imperativos ,dodesenvolvimento nacional. Nesse esforço,temos posto nosso empenho em solucionar,com a harmonia possível, as dificuldadesinerentes ao processo político nacional. Damesma forma, temos procurado corrigir, comespírito de justiça, as disparidades sócio-econômicas existentes, estruturas que her-damos de um longo passado colonial.

Possuímos nós consciência, no CongressoNacional, de que todas essas questões sãoproblemas internos do Brasil, que ao povobrasileiro cumpre equacionar e solucionar.Estamos abertos, como é de nossa tradição,às contribuições externas, mas sabemoscomo são escassos os aportes desinteressa-dos, bem como os que vêm respaldadospor gestos reais de renúncia e de sacrifício.Portanto, vemos nossa tarefa de construçãonacional como integrada, de forma autó-noma, no cenário internacional, e obedecen-do a mecanismos económicos de mercadoe a formas consagradas de convivência po-lítica. Por conseguinte, ao cumprirmos nos-sos deveres para com nosso povo e nossoPaís, sentimos estar afirmando, da melhormaneira, os ideais de uma comunidade oci-dental de nações livres, solidárias, prósperase soberanas.

Senhor Presidente,

É contrário ao espírito brasileiro criar ou ali-mentar polémicas. Preferimos sempre acen-tuar aquilo que une, a acentuar o que podeseparar. Em seus contatos, durante sua vi-sita, Vossa Excelência poderá seguramenteavaliar quão positivos e construtivos são ossentimentos do povo brasileiro e de suasautoridades, em relação aos Estados Unidosda América e a seu Presidente. É essa nossatradição e nossa vontade. O respeito mútuoé condição bastante para que tão forte de-sejo de entendimento se traduza, de modoconcreto, em uma cooperação harmónica econtínua. Muito é possível realizar, quandose parte de valores morais recíprocos equando se reconhece que o progresso, emtodos os campos da atividade humana, é umdireito e um dever que une indissociavel-

110

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 110: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

mente todos os povos e todas as nações, exi-gindo sacrifícios comuns.

Nesse sentido, entendemos que o relacio-namento entre o Brasil e os Estados Unidosda América está a exigir que sejam explo-radas fórmulas novas de cooperação. Bemsabe Vossa Excelência como é bem recebidanesta terra a cooperação estrangeira, queconsideramos como complemento essencialà poupança nacional. Essa participação, noentanto, é de reconhecer, e como é muitonatural, está equacionada em termos demercado, portanto, de riscos e de remune-ração de capitais. Não se satisfaz completa-mente, dessa forma, o sentido de responsa-bilidade moral, de participação volitiva, tãointimamente ligado a nossas preocupaçõescomuns de luta contra a miséria humana.Acreditamos, sem querer propor o retorno aformas passadas e mal sucedidas de pro-gramas assistenciais, que, com maior graude compreensão é possível buscar umacooperação mais compensadora, principal-mente nos campos do comércio, das finan-ças e do livre desenvolvimento científico etecnológico.

Senhor Presidente,

Bem-vindo seja Vossa Excelência à terrabrasileira. Que sua estada em nosso Paísrepresente um marco na história do relacio-namento entre o Brasil e os Estados Unidosda América. Que sinta Vossa Excelência,nesses dois dias, a estima e admiração quedevota o povo brasileiro ao povo norte-ame-ricano.

ERASMO MARTINS PEDRO

Excelentíssimo Senhor Presidente JimmyCárter,

A presença do Presidente dos Estados Uni-dos da América no Congresso Nacional bra-sileiro transcende ao cumprimento de meranorma protocolar. Ela significa uma inequí-voca afirmação de fé e de confiança do povoamericano, por seu Presidente, no Poder Le-

gislativo, sustentáculo imprescindível dequalquer democracia, e faz-nos evocar comorgulho a exaltação de Rui Barbosa, de suarelevância ao dizer que no regime constitu-cional o parlamento é o largo pulmão poronde a vida nacional se oxigena livremente.

Nesta Casa, através de representantes ungi-dos de legitimidade pela escolha livre dovoto direto e secreto, o povo fala à Naçãona abordagem dos seus problemas, na con-denação de suas desventuras, na crítica àsinjustiças ou aos abusos, e na busca dasveredas dos altos destinos de nossa Pátria eigualmente também vozes se alteiam,conscientes dos seus deveres para com to-dos os homens, feitos à imagem e seme-lhança do seu Criador, defendendo-lhes ina-lienáveis direitos, reconhecidos pelo concei-to universal de dignidade, liberdade e jus-tiça.

Mas essas mesmas vozes também falam àsnações amigas com a mesma sinceridade,independência e consciência cívica, quandoaqui comparecem seus eminentes mandatá-rios.

harmonia preside o relacionamentobrasil-estados unidos

A amizade entre o Brasil e os Estados Uni-dos da América é antiga e sólida. Remonta,em verdade, aos duros tempos em que opaís de Vossa Excelência recém adquirira aindependência e em que o nosso lutava paralivrar-se da dominação colonial. Ao longodos anos, nossa amizade nutriu-se dos es-forços que, em comum, fizemos para en-frentar desafios e adversários. Soubemos,assim, construir um relacionamento quesempre esteve acima de oscilações conjun-turais e de eventuais diferenças de opinião.

Em nossa longa convivência, formamos umimportante património de harmonia e com-preensão, que, além de lastrear nossas atu-ais relações, anima um e outro a tudo fazerpara que nossos laços ainda mais se desen-volvam e se consolidem. É esse o espíritoque historicamente presidiu o relaciona-mento entre brasileiros e norte-americanos,um espírito de construção, de amizade e derespeito recíproco.

111

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 111: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Quis a Providência Divina, Senhor Presi-dente, que a mais modesta destas vozes fos-se, nesta oportunidade, a portadora da sau-dação dos integrantes da Câmara dos Depu-tados a Vossa Excelência e da mensagem decarinho, admiração e apreço de todos nós aonobre e generoso povo da Norte América.

Permita-me, Senhor Presidente Jimmy Cár-ter, a emoção de recordar a sua visita aoantigo Estado da Guanabara, quando tive aventura de recebê-lo em minha casa, e de,atendendo a seu pedido, levá-lo à IgrejaPresbiteriana de Copacabana, onde, não oentão Governador da Geórgia, mas o lealservo do Senhor Jesus Cristo, ocupou o púl-pito para anunciar as eternas verdades doevangelho, que pregou com palavras ines-quecíveis, e que vive com impressionantefidelidade como Presidente dos EstadosUnidos.

Embora todo o mundo conheça hoje as suasorigens, as suas ideias, as suas lutas, a suaprópria vida, cabe-me na convencional praxedas saudações em ocasiões como esta, fazero elogio da sua personalidade.

Não quero, nem devo fugir à regra. Mas de-sejo fazê-lo repetindo suas próprias expres-sões, ao definir-se com comovente simplici-dade e a singeleza dos humildes, tocadospela Graça: "Sou sulista e norte-americano,sou agricultor e engenheiro, pai e marido,cristão, político e ex-governador, planejador,homem de negócios, físico nuclear, oficialnaval, canoeiro e, entre outras coisas, admi-rador das canções de Bob Dylan e da poesiade Dylan Tomas."

Enfatizo a afirmação, da qual decorre, Se-nhor Presidente, todo o seu estilo de ser: —"sou cristão".

Infelizmente esta é uma confissão que mui-tos homens, públicos não fazem, pois nãotêm coragem de proclamar ao mundo a suafé em Cristo, esquecidos da verdade pro-clamada pelo Apóstolo Paulo em sua II Cartaa Timóteo: "Porque Deus não nos deu oespírito do medo, mas de fortaleza e de mo-deração".

E foi revestido dessa coragem e com esse es-pírito que Vossa Excelência, inspirado nas

Sagradas Escrituras, traçou os rumos do seuprocedimento, como Chefe da Maior Demo-cracia do Mundo, ao declarar no seu jura-mento de posse:

"Aqui está, diante de mim, a Bíblia, usadana posse de nosso primeiro Presidente, em1789, e acabo de prestar juramento sobre aBíblia que minha mãe me deu há algunsanos, aberta em uma advertência intertem-poral do velho profeta Miquéias: "Ele temostrou, ó homem, o que é Deus, e o queo Senhor exige de t i , mas que faças comjustiça e ames a misericórdia e caminheshumildemente com teu Deus."

Daí, Senhor Presidente, sua devoção ao pró-ximo, à Justiça, à causa da Liberdade e daDemocracia, devoção que estimula Vossa Ex-celência a promover o respeito aos DireitosHumanos, em escala universal. Essa mesmadevoção levou Vossa Excelência a lançar-se,em seu próprio País, à tarefa de recuperá-lodos graves traumas que sofreu na últimadécada.

Ao colocar sua luta em prol dos DireitosHumanos num elevado plano de preocupa-ção moral, o povo norte-americano nos dáamplas razões para crermos na justeza desua campanha e alimenta nossa convicçãode que a mesma responde aos mais profun-dos reclamos da consciência ética e não aconveniências políticas ditadas pela conjun-tura internacional.

Como brasileiros, reconhecemos a humil-dade, a pureza e o desassombro com queVossa Excelência busca assegurar o respeitoaos Direitos Humanos, empreendimento semdúvida universal, pois a violação desses di-reitos afeta a cada pessoa, onde quer quese encontre. O apelo que Vossa Excelênciadirige à consciência dos Governos e dos po-vos tem, pois, sua razão de ser e merece denossa parte todo o apoio. Acreditamos queesse apelo não se choca com os requisitosda soberania nacional.

direitos humanos devem ser tratadoscomo um todo

Tem Vossa Excelência demonstrado ampla-mente que sociedade nacional alguma pode

112

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 112: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

ser tida como perfeita. Em todas elas sem-pre se coloca, de uma forma ou de outra,a questão do respeito aos Direitos Humanos.Estamos, pois, diante de um problema queaflige a humanidade, como um todo, e que,conseqiientemente, só poderá ser tratado deforma produtiva por meio da cooperaçãointernacional, respeitada a soberania decada país. Continuaremos a ver em VossaExcelência um paladino privilegiado desseesforço, não só pelas suas convicções pes-soais e sua fé, como por representar asaspirações que movem o seu povo nessanobre campanha.

Estamos convencidos de que é dever primor-dial do Estado assegurar a todos os cida-dãos a sua liberdade e a sua integridadefísica, mas igualmente deve proporcionar-lhes condições para que se libertem domedo, da fome, da ignorância e da doença,enfim, condições que lhes permitam vivercom dignidade e exprimir livremente suasopiniões.

No entando, a obtenção desse alvo sesubordina à compreensão dos chamadospaíses desenvolvidos. Cria-se para eles umaobrigação moral inescapável: eliminar asdificuldades aos objetivos de desenvolvi-mento nacional dos demais povos.

Cumpre-lhe estabelecer condições interna-cionais favoráveis ao comércio e ao desen-volvimento desses países, pois, uma infra-estrutura económica mais forte e uma socie-dade mais rica seguramente facilitam aobservância generalizada dos direitos fun-damentais da pessoa humana.

No Brasil, estamos, sem distinção, profun-damente comprometidos com o esforço dedesenvolvimento nacional. Queremos aper-feiçoar nosso sistema democrático, da mes-ma forma queremos reformar estruturassócio-econômicas que não mais correspon-dem às nossas necessidades. Estamos deci-didos a livrar o país das dependências eco-nómicas e tecnológicas que ainda perdu-ram. Para tanto, contamos ter a compreen-são e o apoio de todos os Governos e par-ticularmente do Governo do seu País, aoqual demos, em momentos difíceis, provasinsofismáveis de nossa solidariedade.

Senhor Presidente,

Ao homenageá-lo, os membros do CongressoNacional sentem-se também homenageadoscom a presença de Vossa Excelência nestaCasa.

Ao desejar-lhe uma feliz estada em nossoPaís, cujo povo o admira e estima, esperosejam alcançados os altos objetivos de suavisita à nossa Pátria, conseguidas as aspi-rações mútuas de nossos povos, e que cadavez mais seja fortalecida a nossa tradicio-nal amizade.

Quisera que o Brasil e os Estados Unidospudessem repetir a uma voz as palavras deVossa Excelência dirigidas ao povo, em seudiscurso de posse: "Aprendamos juntos,alegremo-nos juntos, trabalhemos juntos,oremos juntos, confiantes de que no fimtriunfaremos juntos, dentro do Direito".

Para isto não lhe faltarão forças.

Senhor Presidente, Vossa Excelência temconfessado ao mundo que sua esperançana dura lufa pela Liberdade e pela Demo-cracia está posta no Deus Altíssimo emquem confia, e por isso mesmo há de reno-var-se as suas forças nesse combate, poisa promessa do Senhor, contida em Isaías 40,v. 31, é esta:

"Os que esperam no Senhor renovam assuas forças, sobem com asas como águias,correm e não se cansam, caminham e nãose fat igam..."

JIMMY CÁRTER

Ilustres líderes do grande Governo do Brasil,do Senado e da Câmara dos Deputados.

Uma das maiores honras da minha vida éencontrar pessoas que compartilham comos Estados Unidos dos mesmos anteceden-tes dos mesmos compromissos e do mesmofuturo.

113

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 113: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Gostaria de agradecer em especial ao Sena-dor Eurico Rezende e ao meu bom e velhoamigo Deputado Erasmo Martins Pedro suaspalavras inspiradas. Não há meios de alcan-çar sua eloquência ou de melhorar o quedisseram, e suas palavras de elogio à minhapessoa, imerecidas, serão uma inspiraçãopara o futuro.

Já estive aqui antes, nesta mesma Câmara,em seu país, e fiquei muito impressionadocom a grandiosidade do Brasil.

Tenho observado a compatibilidade entre oseu povo e o meu, as origens do seu país,a sua luta pela liberdade contra o regimecolonial, a coragem e a tenacidade, a dedi-cação exigida no meu país e no seu paraexplorar novas fronteiras, para conquistar-mos melhor vida e uma posição de liderançaatravés de todo o mundo.

Reconheço que no seu país e no meu, háuma grande diversidade de interesses, di-ferenças entre pessoas e uma constante eincessante luta, quase sempre vitoriosa,para trazer harmonia ante as diferenças epara enfrentar nossos compromissos emcomum, que acrescerão forças de todos es-ses povos unidos para atingir um destinoainda de maior inspiração do que o passadojá nos deu.

duas nações ligadas por correntesinquebrantáveis

Compartilhamos de uma religião em comumentre muitos de nossos cidadãos, uma es-perança em comum para a paz; compartilha-mos o sentimento de que nossas naçõesestão ligadas entre si por correntes inque-brantáveis; compartilhamos da percepçãode que a amizade é forte o suficiente parasuportar diferenças de opiniões. Podemostrocar ideias, livremente, sem limitações, enesse processo aprender um do outro e tal-vez melhorar a atitude das pessoas nos Es-tados Unidos e também no Brasil. Estamosaprendendo juntos, no hemisfério ocidental,que ainda tem o vigor da novidade, de comopodemos exercer nossa liderança através doresto do mundo, lutando contra a fome e odesespero, lutando pelos direitos básicos da

pessoa humana. Entendemos o sentido latodessas duas importantes palavras. O direitoà liberdade, o direito de criticar um Governo,o direito de as pessoas terem entre si, cole-tivamente, a autoridade máxima, o direitoà educação, o direito à boa saúde, a umhabitação, o direito à alimentação, o direitode compartilhar de forma mais equitativadas riquezas com as quais Deus nos brindou,o direito de externar opiniões, o direito determos nossa própria individualidade, o di-reito de buscar soluções coletivas para pro-blemas públicos e privados o direito de ex-plorar a grandeza de nossas próprias naçõesque amamos.

Estou grato pelo convite para comparecera este Congresso pelo fato de minha própriacarreira política ter-se iniciado no Legisla-tivo. Sei da importância do bom relaciona-mento entre o Presidente e o Congresso Na-cional, e junto-me aos Senhores na hora deentender que o desígnio supremo de qual-quer corpo Legislativo é garantir que o povopossa participar através dos Senhores dasdecisões que afetam suas vidas.

Há 31 anos, outro Presidente americanoapresentou-se perante o Congresso brasi-leiro — outro Congresso brasileiro — emoutra cidade, pois Brasília ainda não sehavia tornado realidade. Gostaria então, decitar palavras de Harry Truman: não é exa-gero descrever nosso relacionamento comoo de velhos amigos. Ele perguntou: "Porquesão tão estreitos os laços que unem os Es-tados Unidos e o Brasil? A distância entrenossos países é grande, e até poucos anosatrás as comunicações eram lentas e difí-ceis; proximidade física por si só não fazamigos e vizinhos. O que realmente contaé o fato de termos interesses comuns, pro-blemas comuns e ideais comuns." Essas pa-lavras ainda se aplicam hoje e formam oconceito básico que une nossas nações, per-manentemente baseados no qual estamosnas nossas realizações e nas nossas espe-ranças, nossas expectativas para uma ami-zade futura, estabilidade e fortalecimentopara os anos vindouros.

Durante os últimos anos, o Brasil alcançouuma completa percepção da sua exata po-sição, seu papel legítimo no contexto mun-

114

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 114: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

dial, embora não tenha ainda atingido oslimites de sua enorme potencialidade. Apóstodos esses anos, ainda podemos tratar-noscomo amigos, com aquele vínculo que nostraz à memória o sacrifício que fizemosem uma luta comum, com a perda de vidasbrasileiras e americanas, com o direito dedesagradar, por vezes até vigorosamente,sem amargura ou desconfiança. Como disseeu ontem ao encontrar-me com o seu Presi-dente, o mundo precisa, o mundo espera e omundo se beneficiará por sua criatividade,sua energia e seu sucesso.

Milhões de problemas de que partilhamos,como membros da família humana, jamaisserão resolvidos a menos que os mais há-beis entre nós dediquem o que há de melhora esta causa do desenvolvimento económico,para justa distribuição da riqueza mundial,a um sistema de trocas mais aberto e maisequitativo, para ajuda na solução dos pro-blemas energéticos que ambos temos em

comum, o uso pacífico da energia atómicasem os riscos de proliferação, de produçãoem massa de armas com o incentivo a nego-ciação, mesmo a respeito da mais remotapossibilidade de criação desses artefatos.

Na promoção da liberdade do homem, deum Governo democrático e do estado de Di-reito, nesse esforço é que os Estados Uni-dos precisam da sua amizade, da sua coo-peração, e ó mundo precisa de sua ajuda,da sua liderança. E estamos certos de quenão o desapontamos.

Uma vez que meu amigo citou a Bíblia,gostaria de fazer o mesmo. Tanto em inglêscomo em português, a Bíblia nos diz quemuito será pedido a quem muito foi dado.Nossas duas nações têm sido muito aben-çoadas por Deus e temos muito a dar emtroca.

Muito obrigado.

supremo tribunal federal recebe opresidente cárter

Discurso do Ministro Thompson Flores, em 30 de marçode 1978, durante a visita do Presidente Jimmy Cárter aoSupremo Tribunal Federal; e a tradução não-oficial da

resposta do Presidente norte-americano

THOMPSON FLORES

Senhor e Senhora Presidente Jimmy Cárter,

O Supremo Tribunal Federal, aqui reunido,informalmente, como do expresso desejode Vossa Excelência, mas com a presençada totalidade de seus Juizes e do Procura-dor-Geral da República, sente-se honradocom a visita que lhe faz o Chefe da Naçãoirmã e sua esposa.

A amizade que une Estados Unidos e Brasilremonta há mais de século e meio. Data de

nossa independência política para a qualcontribuíram patrícios de Vossa Excelência,da estirpe de Thomas Jefferson, e se temconsolidado na paz e na guerra.

O Supremo Tribunal Federal do Brasil foicriado em 1891, à semelhança da SupremaCorte dos Estados Unidos, e os seus julga-dos têm servido de inspirações a muitas dasdecisões mais importantes que aqui temosproferido.

A nossa competência originou-se, em parte,das afirmações da Corte Suprema do país

115

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 115: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

de Vossa Excelência, através de lições dogrande juiz Marshall — notadamente no per-tinente à inconstitucionalidade das leis eatos dos demais Poderes — e os ensina-mentos de grandes juizes, como Black, Ben-jamin Cardoso e outros são aqui seguida-mente invocados.

Fazendo votos para que este encontro con-tribua para estreitar as relações de amizadeentre nossos países, permito-me apresentara Vossa Excelência e digníssima esposa asnossas saudações, as quais peço, ao regres-sar, transmita aos eminentes juizes da Su-prema Corte, a par da nossa admiração.

JIMMY CÁRTER

Senhor Presidente. Gostaria de formularuma breve resposta à sua saudação. Gos-taria de dizer, Senhor Presidente, que asemelhança entre a Corte Suprema dosEstados Unidos e o Supremo Tribunal Fe-deral do Brasil é, justamente, fonte de se-gurança e tranquilidade para nós, porqueilustra, mais uma vez, de mais uma forma,a compatibilidade e a semelhança de nossospatrimónios e aspirações, no sentido de umcomum compromisso para com o direito e ajustiça, e a determinação de defender e pre-servar os direitos dos oprimidos.

O papel que desempenha nesse sentido oTribunal é, realmente, força estabilizadorana sociedade, de importância crucial nummundo em transição constante e tambémum motivo de fortalecimento para asseguraraos nossos governos, aos nossos povos,exemplos duradouros.

Os julgados do Supremo Tribunal do Brasiltêm proeminência nos casos de qualquerdivergência entre os atos do Governo. Daías interpretações e as decisões do SupremoTribunal Federal sobre as leis do Brasil,realmente, constituírem uma verdadeirafonte de segurança para o povo brasileiro, etambém mostra da compatibilidade com onosso sistema judiciário.

Os julgados emitidos aqui têm, realmente,mostrado, em anos recentes, as novasoportunidades que cabem aos nossosrespectivos sistemas judiciários para corri-gir muitos erros e injustiças. Isso, natural-mente, contribui também para a válida pro-moção dos direitos, para que nossos povospossam desfrutar de justiça e da possibili-dade de determinar seus próprios destinos.

Por isso, Senhor Presidente, gostaria de fri-sar que nos sentimos, minha Senhora e eu,profundamente honrados por este encontrocom os ilustres Ministros, e estamos imen-samente gratos pela possibilidade destavisita. E gostaria de renovar a expressão domeu prazer em constatar o profundo sensode harmonia, do património comum do nos-so compromisso para com os destinos dosnossos povos.

a entrevista do presidentegeisel à cbs, dos estados unidos

Entrevista do Presidente Ernesto Geisel à CBS, dosEstados Unidos, em 27 de março de 1978, a propósitoda visita do Presidente norte-americano, Jimmy Cárter,

ao Brasil.

Pergunta — Senhor Presidente, gostaria defazer a primeira pergunta a Vossa Excelên-cia: o que caracteriza, neste momento, as

relações entre os Estados Unidos e o Bra-sil; qual é o estado das relações entre osdois países?

116

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 116: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Resposta — O Brasil e os Estados Unidossão dois países tradicionalmente amigos.Esta amizade vem desde a nossa indepen-dência, tem mais de 150 anos, portanto;sempre fomos amigos, inclusive em momen-tos difíceis de nossas histórias. E creio queexistem grandes fundamentos para esteinter-relacionamento, para esta amizade en-tre os nossos dois países. Há interesses co-muns, de natureza política, de natureza eco-nómica e mesmo de natureza social. O Bra-sil e os Estados Unidos integram o MundoOcidental e nós reconhecemos nele a lide-rança dos Estados Unidos. Nós nos inte-gramos no modo de ver e de considerar ascoisas do Mundo Ocidental. De outro lado,Estados Unidos e Brasil têm grandes laçoseconómicos; basta dizer que os Estados Uni-dos são o maior investidor estrangeiro noBrasil. Nosso comércio é altamente desen-volvido nos dois sentidos, assim como asnossas relações de natureza financeira. Háum grande relacionamento entre nossas po-pulações, sendo bem verdade que os doispaíses apresentam quadros completamentedistintos em vários aspectos. Os EstadosUnidos são um país altamente industrializa-do, desenvolvido, com uma forte estruturaeconómica e social, ao passo que o Brasilé um país que ainda está por ser descobertoem grande parte de seu território. É um paíscom grande reserva potencial e que precisaser desenvolvido. Tem carência de recursosfinanceiros. No campo tecnológico, sobre-tudo, está ainda atrasado. Enquanto os Es-tados Unidos talvez sejam a nação mais de-senvolvida do mundo, o Brasil está em fasede desenvolvimento; é um país subdesen-volvido, que luta e trabalha para conseguirse desenvolver. É claro que entre os povos,por mais amigos que sejam, ocorrem diver-gências. Como há pouco tempo tive opor-tunidade de declarar na Alemanha, acreditoque os pontos convergentes sejam em maiornúmero do que aqueles sobre os quais di-vergimos. Isso me permite dizer que, ape-sar dessas divergências, considero que osEstados Unidos e o Brasil são países ami-gos. Considero que as relações não são tãomás. Podemos até mesmo considerá-lasboas, se olharmos para outras partes domundo. Evidentemente, essas relações po-deriam ser melhores.

Pergunta — Senhor Presidente, que deve-riam fazer os Estados Unidos para melhoraressas relações?

Resposta — Acho que, em primeiro lugar;eles deveriam conhecer melhor o Brasil. Masnão será possível conhecê-lo melhor se oenxergarem segundo a ótica americana, di-ferente da nossa. É preciso viver no Brasil,conhecer seus problemas, seu povo, sua ín-dole, suas dificuldades, para então chega-rem a uma avaliação adequada do que sejaeste país, do que ele pretende, do que eleprecisa. Nossas relações, assim, poderiamser de fato melhores. Os analistas que exa-minam os problemas brasileiros, não apenasdos Estados Unidos, mas também da Euro-pa, o fazem segundo seus próprios padrões.Querem que o Brasil seja igual a eles. Nãopode ser. É um país diferente. A dificulda-de está em transplantar o seu pensamentopara as realidades que o país vive, em for-mar um juízo sobre o que de fato aconte-ce e o que de fato necessita ser feito. Acre-dito, assim, que um melhor conhecimentodo Brasil seria muito útil para um melhordesenvolvimento de nossas relações. Nãome refiro apenas ao caso dos Estados Uni-dos; esse mesmo problema existe, também,com relação aos que ainda não nos conhe-cem convenientemente.

Pergunta — Um dos tópicos que surgiu nasrelações Brasil-Estados Unidos desde a pos-se do Presidente Cárter é o dos direitoshumanos; de modo geral, o Senhor acha quea política dos direitos humanos do Presiden-te Cárter tem sido boa ou má, tem interferidocom as boas relações dos Estados Unidoscom o seu país e com o resto do mundo?

Resposta — Eu acho que o problema dosdireitos humanos é de extraordinária impor-tância. O Brasil o reconhece, tanto assimque é um dos signatários da Carta das Na-ções Unidas, em que se propugna pelo res-peito aos direitos humanos. Acontece, en-tretanto, que quando se fala em direitoshumanos, limita-se a análise a problemasde natureza política. Eu tenho a convicçãode que o problema dos direitos humanos émuitíssimo mais vasto; direitos humanos en-volvem direitos económicos e principalmen-te direitos sociais. Em um país pobre, ondea economia não está suficientemente desen^

117Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 117: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

volvida, onde há, conseqúentemente, proble-mas sociais e onde o povo está sujeito àexploração por ideologias estranhas, não épossível que o quadro político seja idênticoou semelhante àquele dos países ricos, ouque os parâmetros da vida democrática se-jam exatamente iguais. Acho, pois, que osdireitos humanos não são apenas políticos,são também de natureza econômico-sociale nos preocupam muito. Veja que o Brasil,com sua população de 110 milhões, cres-cendo à taxa elevadíssima de 2,7% ao ano,tem problemas muito sérios de habitação,de educação, de saúde, de emprego, denutrição; e tudo isso são direitos humanosque temos de cuidar. O Governo brasileirotem feito um esforço extraordinário nessesentido. Eu não condeno, de forma alguma,a campanha do Presidente Cárter em favordos direitos humanos. Acho que é justa, ra-zoável, necessária mesmo. O que nós nãoaceitamos é interferência externa nesse pro-blema no Brasil. Cabe a nós, brasileiros,tratarmos dos direitos humanos dos bra-sileiros. E isso nós temos feito. Nossapreocupação fundamental é o bem-estar dohomem brasileiro.

Pergunta — Prosseguindo no assunto, comoresultado de desentendimentos que o Se-nhor acaba de mencionar sobre a naturezada política de direitos humanos do Presi-dente Cárter, o Brasil rompeu o acordo deassistência militar com os Estados Unidos;o Senhor teve oportunidade de lamentarisso; o Brasil foi prejudicado de algumaforma?

Resposta — O acordo foi suspenso porque,embora em vigor, sua execução, da parteamericana, ficaria dependendo de um rela-tório sobre a situação interna do Brasil aser enviado ao Senado americano. Conside-ramos isto uma interferência nos assuntosinternos brasileiros, que não podemos admi-tir.

Pergunta — Prejudicou ao Brasil de algumamaneira o rompimento deste acordo?

Resposta — As nossas relações militarescom os Estados Unidos sempre foram mui-to boas. Evidentemente, estas relações, ago-ra, não vão ficar mais no mesmo nível, maseu, sinceramente, acho que o que o Brasil

praticou foi justo. Era a demonstração quenós tínhamos que dar do nosso grau de in-dependência. O Brasil não poderia ficar,nessa matéria, na dependência do Senadoamericano ou de relatórios que lhe fossemenviados.

Pergunta — É aspiração de Vossa Excelên-cia tornar o Brasil totalmente independentede qualquer potência estrangeira?

Resposta — Acho que no mundo não hápaíses independentes. Todos somos inter-dependentes. Variadas questões de nature-za política e económica sobretudo, fazemcom que o Mundo seja cada vez mais inter-dependente, mas em determinados proble-mas não podemos aceitar a interferência deum país em outro. Não podemos aceitar quea execução de um tratado, em vigor há maisde vinte anos, fique na dependência da boaou má vontade do Senado americano. Creioque os Estados Unidos nunca aceitariamuma solução dessa natureza.

Pergunta — Senhor Presidente, o rompimen-to desse tratado de assistência militar foianalisado como mais um sinal de que osEstados Unidos estão perdendo a sua in-fluência aqui no Brasil; de que o Brasil sedirige cada vez mais, a outros países quenão os Estados Unidos para suas relaçõesmais estreitas. Essa impressão é correta, de-vem os americanos se preocupar com essatendência?

Resposta — Não creio, pois acho que a ami-zade que existe entre o Brasil e os EstadosUnidos é muito importante. Ela tem funda-mentos históricos, geográficos, de toda na-tureza, enfim, e não há porque essas rela-ções não continuem a se desenvolver, nãoacredito que a ruptura desse acordo acar-rete uma redução nas nossas relações. Éevidente que o Brasil, como já fazia antes,mantém relações com todos os países domundo, menos um, e procure desenvolveressas relações sobretudo no sentido eco-nómico, sem que isso signifique afetar asnossas relações com os Estados Unidos. Eu,pessoaimente, estou convencido de que oBrasil e os Estados Unidos devem semprecaminhar juntos.

Pergunta — Senhor Presidente, haveria al-guma coisa que o Presidente Cárter poderia

118Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 118: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

lhe dizer que mudasse sua posição sobre otratado nuclear que o Brasil mantém com aAlemanha?

Resposta — Não sou adivinho, não sei oque o Presidente Cárter vai me dizer, masambos temos um ponto em comum relativa-mente ao problema nuclear: somos partidá-rios de que não deve ocorrer proliferaçãode armas nucleares no mundo. O Brasil éum país extremamente pacifista; é contratodo e qualquer armamento nuclear. Acha-mos, inclusive, que todos os países quepossuem armas nucleares deveriam eliminá-las. Mas, a partir daí, nós começamos adivergir, porque o Presidente Cárter, atéagora, nas manifestações que tenho recebi-do, é contra a proliferação que ele chamade sensível, isto é, a da tecnologia. Achoque esse problema não se resolve impedin-do o acesso à tecnologia; se resolve atra-vés de adequados controles, de salvaguar-das exigidas pela Agência Internacional deEnergia Nuclear de Viena. O Brasil se sub-meteu a todos essas salvaguardas; elas fo-ram, inclusive, aprovadas pelo Governo ame-ricano. O Brasil é, também, signatário doTratado de Tlatelolco, que desnucleariza aAmérica Latina, mas quer ter acesso à tec-nologia; primeiro, porque é da naturezahumana — o cérebro humano não admiterestrições à sua cultura e ao seu conheci-mento — em segundo lugar, porque o Bra-sil não quer ter maiores dependências emassuntos de energia. Temos poucas reser-vas de combustíveis fósseis; temos poucocarvão, pouco petróleo e a nossa dependên-cia do exterior é extraordinariamente gran-de. As nossas possibilidades de aproveita-mento hidrelétrico estão chegando ao fime temos que procurar outras soluções parao problema energético. Uma delas é a ener-gia nuclear. Temos reserva de urânio equeremos transformar este urânio em com-bustível. Queremos ficar em condições dereprocessá-lo, o que nos obriga a dispor datecnologia. Assim, divergimos do PresidenteCárter porque não queremos aceitar que, apretexto de proibir a fabricação de armas,nós não tenhamos acesso à tecnologia. Achoque nós temos o direito de conhecer essatecnologia e usá-la para fins pacíficos, obri-gando-nos, como também devem os demaispaíses, à fiscalização internacional, que éda Agência Internacional de Viena.

Pergunta — Vossa Excelência poderia afir-mar que o Brasil jamais desenvolverá qual-quer tipo de armamento nuclear?

Resposta — Pelo menos este é o ponto devista de todos os brasileiros. O Brasil éum país extraordinariamente pacífico, nósvivemos com dez vizinhos, em harmonia,bem como com todos os países do mundo,exceto com um com o qual não temos re-lações, que é Cuba. Sempre fomos parti-dários do diálogo, dos acordos, da arbitra-gem. Resolvemos todos os nossos proble-mas de fronteiras. Sempre defendemos, nasconferências de Genebra, o desarmamentototal do mundo. Então, não vamos fabri-car armas nucleares, não temos interessenenhum nisso. Veja se faz sentido o Brasilfabricar uma arma nuclear, para jogar con-tra quem?, usá-la contra quem? Em primeirolugar nós não temos adversários e tão cedoos teremos num mundo que deve caminharpara a paz. Em segundo lugar, estamos em-penhados em nos conquistar a nós mesmos,em desenvolver nosso país. Não temos re-cursos para aplicar na fabricação de umaarma nuclear sem nenhum objetivo. Seriaum verdadeiro contra-senso. Por outro lado,nós estamos obrigados, não só pelo Tratadode Tlatelolco, de nos submetermos à fisca-lização. Mesmo se algum dia algum gover-nante brasileiro, desatinado, quisesse fazeresta arma, há o controle internacional, aoqual nos submetemos. E é muito melhorsubmetermos ao controle internacional doque amanhã alguém querer fazer essa ar-ma de forma clandestina, como já o fize-ram em outros países no mundo. Renovo aconvicção de que o Brasil não pensa nempensará jamais em usar uma arma tão ter-rível como a arma nuclear.

Pergunta — Com relação ao Acordo Nuclearcom a Alemanha Ocidental, se Vossa Exce-lência diz que não mudará de posição, háalgo que discutir sobre o assunto com oPresidente Cárter?

Resposta — Se o Presidente Cárter quiserabordar essa questão, evidentemente queconversarei com ele sobre isso. Nosso obje-tivo é a manutenção desse Acordo. O Acor-do foi aprovado pela Agência Internacionalde Viena, inclusive com voto dos EstadosUnidos. Então, não vejo porque deixar de

119

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 119: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

cumpri-lo, quando não vejo nenhum mal ne-le. É um Acordo legítimo, legal e tem fina-lidades inteiramente pacíficas.

Pergunta — Senhor Presidente, que resulta-do Vossa Excelência espera desta próximavisita do Presidente Cárter?

Resposta — Eu recebo a visita do PresidenteCárter com muita satisfação, como recebianteriormente a visita da Senhora Cárter.Embora nós, em certas situações, não te-nhamos pontos de vista comuns, em outros,como já disse, comungamos das mesmasideias. A visita é importante. Em primeirolugar, para que nos conheçamos melhor.Acho que o contato direto, o diálogo, per-mite que as pessoas se compreendam me-lhor. Segundo, muitas questões e muitasdúvidas poderão se esclarecer. De qualquerforma, nós demonstraremos aos nossos po-vos, pelo menos eu ao povo brasileiro, deque somos amigos, de que não há motivospara que nós não continuemos a caminharjuntos onde possível e sempre que possível.

Pergunta — Vossa Excelência vê algumapossibilidade de solucionar essas divergên-cias consideradas históricas?

Resposta — Eu não diria que essas diver-gências sejam históricas. Elas surgem àmedida que os países se desenvolvem.Acho, por exemplo, que na questão dos di-

reitos humanos é possível que o Presiden-te Cárter passe a ter uma visão um pouco di-ferente em relação ao Brasil, depois deconversar comigo. Sobre o problemanuclear, talvez seja mais difícil nós encon-trarmos uma concordância. Mas nós temostambém outros problemas de natureza co-mercial, que nos afetam sobretudo pela ne-cessidade que temos em desenvolver nos-so comércio exterior. Quando hoje em dia,nos defrontamos com barreiras protecionis-tas que se levantam, não só nos EstadosUnidos, mas também nos países da Comu-nidade Europeia, surge outro problema: océlebre problema que se costuma chamar deNorte-Sul. Acho que, com as conversaçõescom o Presidente Cárter, muitas das ques-tões que se referem a esses problemas co-merciais e das vinculações Norte-Sul po-derão encontrar um caminho de solução.

Pergunta — Senhor Presidente, haveria maisalguma coisa que o Senhor gostaria deacrescentar ou dizer ao povo americano?

Resposta — Agradeço a oportunidade queme deram com essa entrevista, onde pudeexpressar como nós, aqui no Brasil, pensa-mos em relação a certos problemas, e so-bretudo dirijo uma mensagem de saudaçãoao povo americano, pois como no passado,vejo o nosso futuro, que é o do dois paísese dois povos que se tornam cada vez maisamigos.

comunicado conjuntobrasil-estados unidos

Comunicado Conjunto de imprensaBrasil-Estados Unidos, assinado no Palácio do

Planalto, em Brasília, em 30 de março de 1978,pelos Presidentes Ernesto Geisel e Jimmy Cárter.

O Presidente dos Estados Unidos da Amé-rica e a Senhora Jimmy Cárter visitaramo Brasil nos dias 29 a 31 de março de 1978,como parte de uma série de visitas a im-portantes países. Acompanhando o Presi-

dente Cárter vieram o Secretário de Esta-do Cyrus Vance, o Assessor Presidencialpara Assuntos de Segurança Nacional,Dr. Zbigniew Brzezinski, o Subsecretário deEstado para Assuntos Interamericanos, Te-

120

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 120: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

rence A. Todman, o Diretor de Planejamen-to Político do Departamento de Estado, W.Anthony Lake e Robert Pastor, da equipedo Conselho de Segurança Nacional.

O Presidente da República Federativa doBrasil e a Senhora Ernesto Geisel recebe-ram o Presidente dos Estados Unidos daAmérica e a Senhora Jimmy Cárter comohóspedes oficiais do Governo brasileiro. OPresidente Geisel acolheu a visita comouma clara expressão da importância dasrelações e dos laços históricos que unem osdois países.

Durante sua permanência em Brasília, oPresidente e a Senhora Cárter visitaram SuaExcelência o Presidente do Supremo Tribu-nal Federal e outros membros desse Tri-bunal. O Presidente Cárter visitou tambémo Congresso Nacional, reunido em sessãosolene conjunta. O Presidente e a SenhoraCárter expressaram seu profundo reconheci-mento por essas oportunidades de reunirem-se com o Supremo Tribunal e o CongressoNacional.

A visita reflete o desejo dos Presidentes deaumentar o entendimento recíproco e deampliar as grandes áreas de coincidênciaque existem entre os dois Governos. A visi-ta também representa a crescente impor-tância e complexidade das relações entreos dois países e a necessidade de reduzira um mímino as inevitáveis diferenças depontos de vista que resultam dessa com-plexidade.

As conversações entre os dois Presidentestranscorreram em uma atmosfera de fran-queza, cordialidade e respeito mútuo. Exa-minaram acontecimentos internacionais re-centes, a nível global e regional, e trocaramopiniões sobre as políticas e pontos de vistade seus Governos. Reconhecendo as respec-tivas responsabilidades de seus dois paísesna solução de importantes questões glo-bais, os dois Presidentes acentuaram osinteresses e objetivos comuns que ambos ospaíses compartilham na construção de umaordem internacional justa e pacífica. Rei-,teraram seu firme apoio aos princípios daCarta das Nações Unidas e da Carta da Or-ganização dos Estados Americanos e aosprincípios de soberania, igualdade e não-

intervenção nos assuntos internos dos Es-tados, de abstenção do uso da força nasrelações internacionais, e a outros princí-pios do Direito Internacional que regem asrelações entre os Estados. Concordaram so-bre a necessidade de perseverar nos es-forços para manter a paz internacional, for-talecer a segurança mundial, intensificara cooperação entre os Estados e resolveras questões internacionais pendentes, con-forme os meios pacíficos previstos na Cartadas Nações Unidas.

No contexto desse exame global, os doisPresidentes assinalaram a importância dasNações Unidas e de outras instituições in-ternacionais e regionais, na resolução dequestões e disputas internacionais e con-cordaram que seus dois Governos devemmanter e expandir sua cooperação paraapoiar esses mecanismos e sqa eficáciacrescente. Concordaram também em am-pliar as consultas anuais entre seus doisGovernos que precedem as sessões daAssembléia-Geral das Nações Unidas, tra-zendo para o âmbito dessas consultas ou-tras negociações e encontros realizados sobos auspícios das Nações Unidas, tais comoa Conferência sobre o Direito do Mar e asConferências das Nações Unidas sobre Ciên-cia e Tecnologia para o Desenvolvimento esobre Cooperação Técnica entre Países emDesenvolvimento.

intensificar esforços para uma pazjusta, integral e durável

Os Presidentes trocaram ideias a respeitoda situação do Oriente Médio e deplorarama recente violência que ocorreu nessa área.Concordaram que é necessário e urgenteintensificar esforços para alcançar uma pazjusta, integral e durável, baseada nas reso-luções 242 e 338 do Conselho de Segurançadas Nações Unidas. Acentuaram a impor-tância de um recuo em todas as frentes,nos termos da resolução 242, e da soluçãode todos os aspectos da questão palestina.

Os Presidentes sublinharam sua preocupa-ção com a corrida armamentista e reitera-ram apoiar firmemente a adoção de me-didas de desarmamento sob estrito e efetivocontrole internacional. Ademais, manifesta-

121

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 121: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

ram os Presidentes sua dedicação comumà participação construtiva de seus respecti-vos países na Sessão Especial da Assem-bléia-Geral das Nações Unidas dedicada aodesarmamento e afirmaram sua vontade co-mum de que a Sessão Especial conduza apassos positivos no sentido de uma redu-ção, e eventual eliminação, de armamento edo relaxamento das tensões internacionais.

Tomando por base as tradições comuns derespeito pelo império da lei e seu empenhoem melhorar as condições de vida de seuspovos, os Presidentes concordaram que oprogresso da humanidade será aferido, emgrande parte, pelos avanços que se reali-zam para garantir e assegurar os direitospolíticos, económicos e sociais de todos ospovos.

direitos humanos e energia nuclear

O Presidente Cárter sublinhou o compro-misso fundamental de seu país com a pro-moção dos direitos humanos e das liberda-des democráticas como fundamento do pro-cesso de construção de um mundo mais jus-to e afirmou que a Declaração Universaldos Direitos Humanos e a Carta da OEArepresentam os padrões para a ação inter-nacional nesta área. A esse respeito, o Pre-sidente Geisel relembrou que a cooperaçãointernacional para a afirmação dos direitoshumanos em todos os seus aspectos, é umadas mais nobres tarefas das Nações Unidas.Acentuou a preocupação do Governo bra-sileiro com a observância dos direitos huma-nos e assinalou o papel essencial do de-senvolvimento económico, social e políticopara que se alcancem progressos nessaárea.

O Presidente Cárter expôs o escopo globalda política de não-proliferação dos EstadosUnidos da América, ilustrou a implementa-ção prática dessa política, internamente,nos próprios Estados Unidos da América, eexplicou os presentes esforços de sua admi-nistração para evitar a proliferação, tantovertical como horizontal, numa base univer-sal. Sublinhou que a política dos EUA tempor objetivo conter a difusão de armasnucleares, e ao mesmo tempo estimular acooperação internacional no desenvolvimen-

to dos usos pacíficos da energia atómica.O Presidente Geisel registrou a igual preo-cupação do Brasil com a não-proliferaçãodas armas nucleares, tanto horizontal comovertical. Nesse contexto, acentuou que oBrasil apoia com firmeza os esforços inter-nacionais em prol do desarmamento; que oPrograma Nuclear Brasileiro tem objetivosestritamente pacíficos e foi estruturado paraatender as necessidades energéticas dopaís; e que o Brasil apoia a adoção dassalvaguardas internacionais não-discrimina-tórias da Agência Internacional de EnergiaAtómica.

as perspectivas da economia mundial

Os dois Presidentes examinaram a situaçãoe as perspectivas da economia mundial.Analisaram a estreita relação entre o com-portamento da economia dos Estados Uni-dos da América e a estabilidade e o cres-cimento mundiais, bem como a presençadinâmica do Brasil no sistema económicointernacional. Acentuaram a importância deos países industrializados, como um todo,adotarem políticas adequadas que assegu-rem a retomada de um crescimento econó-mico mundial mais rápido, para o que sãotambém necessárias políticas apropriadasnos países em desenvolvimento para man-ter um desempenho favorável de suas eco-nomias. Acolheram com satisfação a deci-são da OPEP, tomada em Caracas, em de-zembro, no sentido de manter o atual nívelde preços do petróleo.

O Presidente Cárter deu ênfase ao compro-misso de sua administração com a maior li-beralização do comércio. O Presidente Gei-sel acentuou a importância do crescimentodas exportações para o desenvolvimentobrasileiro. A esse respeito os dois Presi-dentes sublinharam sua decisão de traba-lhar em prol de um sistema de comérciomundial mais aberto e mais justo, de com-bater o protecionismo, e de cooperar parao êxito das Negociações Comerciais Multi-laterais. Os dois Presidentes concordaramque as maiores contribuições nesse campodevem ser dadas pelos países desenvolvi-dos. O Presidente Cárter sublinhou o empe-nho dos Estados Unidos em negociar, sem-pre que possível e adequado, tratamentosespeciais e mais favoráveis aos países em

122Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 122: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

desenvolvimento. Registrou também ser de-sejável que os países em desenvolvimentocontribuam para a liberalização comercial.O Presidente Geisel expressou que o Bra-sil estará pronto para, juntamente com ou-tros países, contribuir para a liberalizaçãodo comércio mundial. Os dois Presidentesconcordaram quanto à importância de sechegar a um entendimento sobre os códigosde subsídios à exportação, direitos compen-satórios, salvaguardas e outros mecanismosde política comercial. Concordaram tambémquanto à necessidade de amplas consultas,na medida em que as negociações em Ge-nebra se aproximam de sua fase final. Osdois Presidentes concordaram em que aquinta sessão do Subgrupo de ComércioBrasil-EUA se realizará em Brasília, emmaio. O principal objetivo dessa sessão seráo exame bilateral das questões substanti-vas existentes na fase atual das Negocia-ções Comerciais Multilaterais.

Os dois Presidentes deram seu firme en-dosso ao papel muito importante das ins-tituições financeiras internacionais, tais co-mo o Banco Mundial e o Banco Interameri-cano de Desenvolvimento. A esse respeito,examinaram as várias medidas adotadas noano passado e concordaram com a impor-tância de essas instituições disporem de umnível mais elevado de recursos financeiros.Os dois Presidentes realçaram a importân-cia das contribuições dos países desenvol-vidos e dos países em desenvolvimento aessas instituições e também registraram,acolhendo com agrado, os crescentes esfor-ços dos próprios países em desenvolvimentopara fortalecer a cooperação mútua emapoio a seu desenvolvimento. Mencionaramcom satisfação os esforços no sentido de secriar um grupo de cooperação económicano Caribe.

Os dois Presidentes concordaram sobre aimportância de estabilizar os preços dos pro-dutos primários a níveis justos, para produ-tores e consumidores, e sobre o papel quemecanismos financeiros apropriados pode-rão desempenhar com relação aos acordosde estabilização de preços de produtos pri-mários.

Os Presidentes afirmaram que continuarão aapoiar as estreitas relações de trabalho

existentes entre as autoridades económicase financeiras de ambos os países.

Os dois Presidentes discutiram seu interessecomum em reduzir a dependência das im-portações de petróleo e examinaram os pro-gramas de seus respectivos países no cam-po da pesquisa e desenvolvimento energéti-co. Concordaram em estabelecer um pro-grama de cooperação que confira impor-tância às áreas de tecnologia avançada deambos os países, assegurando um fluxo re-cíproco de benefícios na mineração, proces-samento e conversão do carvão mineral, naprodução de álcool a partir do açúcar e deoutros produtos agrícolas, e na economia daenergia utilizada na indústria e no transpor-te. Essa decisão será implementada atravésde reuniões de técnicos destinadas a ela-borar programas específicos de cooperaçãoe a examinar a possibilidade de seu finan-ciamento conjunto.

Os dois Presidentes também examinaram asituação da agricultura mundial e concor-daram que o Brasil e os Estados Unidos daAmérica, como principais exportadores mun-diais de produtos agrícolas, podem contri-buir de forma importante para minorar osproblemas mundiais nesse campo. Decidi-ram estabelecer, nos termos do Memoran-dum de Entendimento, de 21 de fevereirode 1976, um Subgrupo de Agricultura. OSubgrupo tratará de problemas de interessemútuo e realizará sua primeira reunião emfuturo próximo.

Os dois Presidentes também registraramque as experiências compartilhadas que de-rivam do intercâmbio empresarial, profissio-nal, cultural e educacional constituem va-liosa base para a amizade duradoura e oentendimento mútuo entre os dois países.

Os dois Presidentes registraram especifica-mente a comemoração, no ano passado, dovigésimo aniversário da Comissão Fuibrightpara o Intercâmbio Educacional entre osEstados Unidos da América e o Brasil deque tem participado professores universitá-rios de uma ampla variedade de disciplinas.

Os dois Presidentes sublinharam os objeti-vos comuns de seus povos em favor de umanova era de paz e progresso que contribuapara relações económicas mais justas entre

123

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 123: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

o Norte e o Sul, que promova maior seguran-ça económica para todos os países, queassegurem uma melhor qualidade de vidapara todos os povos, que propicie uma distri-buição mais equitativa dos benefícios docrescimento e que incentive um desenvolvi-mento nacional mais acelerado.

Os dois Presidentes concordaram quanto àimportância de consultas frequentes e deíntima cooperação, entre os dois Governos.Concordaram em que os mecanismos e osprocedimentos de consulta estabelecidossob o Memorandum de Entendimento, de 21de fevereiro de 1976, devem continuar a serutilizados, havendo para tanto instruído seusrespectivos Ministros do Exterior. Os doisPresidentes manifestaram seu propósito decontinuar a manter comunicações pessoais

constantes, de forma a permitir sua inter-venção direta e imediata em assuntos deespecial interesse para seus dois países.

Os dois Presidentes expressaram grande sa-tisfação pessoal por ter resultado de suasconversações — conduzidas em uma atmos-fera de amizade e de respeito mútuo —uma troca de pontos de vista bastante útil,abrangente e mutuamente benéfica, sobreuma ampla gama de questões multilaterais ebilaterais, com plena compreensão das opi-niões de cada um.

Ao término de sua visita, o Presidente e aSenhora Cárter agradeceram ao Presidentee à Senhora Geisel a cordial hospitalidade aeles oferecida pelo povo e pelo Governobrasileiros.

124Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 124: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

a segunda reuniãopreparatória sobre

cooperação multilateralna amazonia

Discurso do Chanceler Azeredo da Silveira, em 31 demarço de 1978, por ocasião do encerramento daII Reunião Preparatória sobre Cooperação Multilateral naAmazónia, realizada no Palácio Itamaraty de Brasília;e o discurso do Chefe do Departamento das Américas doMinistério das Relações Exteriores, Embaixador JoãoHermes Pereira de Araújo, na sessão de abertura damesma reunião, no dia 27 de março de 1978.

AZEREDO DA SILVEIRA

Senhores Chefes de Missão acreditados jun-to ao Governo brasileiro,

Senhores Chefes de Delegação,

Senhores Delegados.

O volume e a qualidade do trabalho que estareunião produziu, nos últimos quatro dias,demonstram, em definitivo, que a coopera-ção amazônica é uma ideia predestinada aosucesso.

Não basta, com efeito, a vontade de um oumais países para que uma iniciativa comoesta se complete. É preciso não só que asemente seja boa, mas que a receba um so-lo fértil, no tempo certo.

Mal se cumpriu um ano desde o impulsoinicial de consultas que pôs em marcha oprocesso. Seguiram-se, em ritmo constante,as reações positivas, o primeiro anteprojetode Tratado, a reunião preparatória que oanalisou e discutiu, as contribuições queconduziram ao novo texto, revisto e aperfei-çoado.

Coube à presente reunião, que ora se encer-ra com o sentimento do dever cumprido,desincumbir-se de parte complexa da tarefa.Competiu-lhe, de fato, traduzir, do geral parao particular, a aceitação de um princípio,de início abstraio, para o terreno concretodas formulações jurídicas.

tratado-quadro regerá relações de 8países amazônicos

Assistimos assim, ao crescimento orgânicodeste projeto de um grande tratado-quadro,destinado a reger as relações de cooperaçãode oito integrantes dessa imensa área, adesafiar nossa imaginação e esforços cria-dores.

Em poucos dias, com precisão e objetivida-de, os Delegados aqui presentes definiramos princípios e as linhas gerais da açãoconjunta, delimitaram-lhe as zonas de apli-cação, refinaram conceitos e políticas, arma-ram, enfim, o arcabouço básico de sustenta-ção do processo.

Se fosse possível destacar pontos altos nodesempenho uniformemente expressivo dos

125

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 125: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

últimos dias, dois aspectos mereceriam mi-nha preferência: a harmonia em que se de-senvolveram os trabalhos e a atuação par-ticipante e intensa de todas as Delegações.

Bem sabemos como é complexa a tarefa deharmonizar vontades soberanas até de doisparceiros apenas. O que não dizer, pois, deoito países com personalidade própria epontos de vista particulares, diante do de-safio inédito de, pela primeira vez na His-tória, representar o conjunto da Amazóniaem torno de uma mesa de negociação. E, noentanto, através da diversidade de situações,emergiu, constante, o espírito de mútuacompreensão e de concórdia que caracteri-zou, como nota invariável, o desenrolar dosdebates.

Ao mesmo tempo deve-se, por justiça, res-saltar o valor das contribuições e o nível departicipação das Delegações, cuja sintoniapossibilitou autêntico trabalho de equipe.

restam poucos pontos para o consenso

Chegou-se, dessa forma, a consolidar numtexto-síntese, elaborado com o concurso detodos, a maior parte dos temas debatidos.Prossegue, a partir de hoje, o esforço dearticular, nesse texto, poucos pontos querestam ainda para que se chegue a umconsenso.

Abre-se, agora, mais uma fase, mais brevee acelerada que a anterior, uma vez que,dentro de 45 dias, temos encontro marcadoem Caracas, para o prosseguimento dos tra-balhos iniciados em Brasília.

Por essa decisão, quero aqui deixar cons-tância da satisfação do Governo brasileiro,porque a realização da próxima reunião denegociações num país vizinho constitui sím-bolo eloquente do engajamento participantedos demais países amazônicos numa inicia-tiva brasileira, que pertence porém a todospor igual, conforme vem sendo demonstradopelo caráter coletivo de sua elaboração.

Mais uma vez, ao congratular-me com ospresentes pelo trabalho realizado, agradeçoa contribuição esclarecida e enriquecedorados Senhores Delegados que nos honraramcom sua participação e ajuda.

Ao apresentar-lhes minhas cordiais despedi-das, já não evoco, como de outras vezes,para justificar nossas esperanças, o otimis-mo mas o realismo, pois estou seguro deque, a esta altura do processo, temos fun-dadas razões para contar com o início bre-ve de uma nova e promissora era na Histó-ria da cooperação e da amizade entre asnações amazônicas.

JOÃO HERMES PEREIRA

Senhores Embaixadores acreditados junto aoGoverno brasileiro,

Senhores Chefes de Delegação,

Senhores Delegados,

A reunião que ora se inaugura é prova deque, antes mesmo de chegar à plena reali-zação, a ideia de promover a cooperaçãomultilateral na Região Amazônica começa jáa alcançar seu primeiro objetivo: o de esti-mular e regularizar os contatos entre osGovernos da área.

Essa animadora realidade imprime nova epositiva dimensão à satisfação com que es-tendo os votos de boas-vindas do Governobrasileiro às Delegações que aqui se reen-contram para a retomada das conversaçõesiniciadas em fins de novembro do ano pas-sado.

Naquela ocasião, que constituiu o primei-ro encontro histórico de todos os paísesamazônicos para discutir as possibilidadesda colaboração regional, o próprio ineditis-mo do esforço representou um desafio es-pecial a ser vencido.

Tratava-se, com efeito, de dar partida aodiálogo em comum sobre uma iniciativa atéentão estudada individualmente por cadapaís, faltando definir a pauta mesma dessasdiscussões e traçar-lhes um rumo geral, ta-refas dificultadas pelo desconhecimento dasconvicções e propósitos dos participantes.

Estes logo se incumbiram de demonstrarque vinham animados de idêntico e motiva-do entusiasmo, aliado a sincero espírito decooperação e harmonia.

126

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 126: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Tais características permaneceram a notaconstante dos trabalhos e contribuíram, deforma decisiva, para o saldo excepcional-mente produtivo daquele contato inicial.

Foi assim possível registrar consenso geralem torno da desejabilidade da institucionali-zação, entre os Governos da área, de ummecanismo permanente de contatos e decooperação.

coincidência quanto aos camposprioritários de cooperação

Da mesma forma, verificou-se completacoincidência quanto aos campos considera-dos prioritários para essa cooperação e emrelação às linhas gerais do mecanismo or-ganizativo proposto.

Muito mais expressivo, porém, do que osubstancial avanço permitido pelo exameconjunto dos principais aspectos suscita-dos pelo tema foi o inalterável clima deharmoniosa colaboração que, desde o pri-meiro momento, se estabeleceu entre os paí-ses representados. A essa atmosfera de ri-gorosa igualdade e de respeito de todos aosinteresses e necessidades de cada um sedeve sobretudo o notável alargamento daárea de convergência que resultou da reu-nião anterior.

Para isso não foi preciso renunciar ao de-bate, sem inibições mas também sem ares-tas, das perspectivas diferentes porventuraexistentes, dentro de espírito de objetivida-de que soube evitar os riscos de discussõesperiféricas ou estranhas aos trabalhos empauta.

A mesma atitude construtiva de cooperaçãoinspirou, no período entre a primeira e apresente reunião, inúmeras sugestões e ini-ciativas de diversos países com vistas querao aperfeiçoamento dos textos em estudo,quer à elucidação de aspectos que interes-sam de perto a um ou a mais países.

documento harmoniza conceitos,sugestões e pontos de vista

O invariável resultado de todos esses es-forços tem sido a gradual e constante am-pliação do núcleo de coincidência entre osoito países, o enriquecimento da propostamediante a incorporação de perspectivas no-vas e promissoras e o esclarecimento rápi-do e completo de questões e dúvidas levan-tadas na fase inicial do encaminhamento daideia.

Como expressão e síntese criativa de todoesse complexo e variado processo, procurouo Brasil recolher e harmonizar, num do-cumento revisto, os conceitos, sugestões epontos de vista que pareciam melhor aten-der às aspirações gerais e dessa forma ser-vir de base ao consenso que todos perse-guimos.

É esse documento que proponho aos Se-nhores Delegados como subsídio e roteiropara o intercâmbio de ideias que nos pre-paramos a encetar, sem prejuízo, é claro, deoutras contribuições que acaso venham aser apresentadas pelos participantes.

Na reunião que ora inauguramos, de igualmaneira que na anterior, o princípio cons-tante que nos há de orientar será a maisampla e positiva consideração das posiçõese aspirações de cada país e a sincera dis-posição de tudo fazer para conciliar essespontos de vista numa construção harmonio-sa e convergente.

Somente assim, acreditamos, será possíveledificar obra que, por ser o resultado davontade coletiva e de uma comunidade deesforços, engajará, por igual, o interesse eo entusiasmo de cada uma das Partes, ga-rantia da solidez e da permanência dasinstituições diplomáticas.

Com essa nota de esperança, agradeço arenovada participação dos Delegados aquipresentes e dou por abertos os trabalhosdesta II Reunião Preparatória sobre Coope-ração Multilateral na Região Amazônica. *

* Na seção Comunicados e Notas, página 186, o Comunicado do Itamaraty à imprensa sobre a II Reu-nião Preparatória do Pacto Amazônico; na seção Notícias, página 193, uma informação sobre o apoioda Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas ao Pacto Amazônico.

127

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 127: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

senvolvimento do comércio nos dois sen-tidos e da cooperação económica, e sugiroque nossos Governos considerem quais no-vos métodos seriam cabíveis para consoli-dar os atuais vínculos económicos e paraestabelecer novos vínculos nas áreas maispromissoras relacionadas com o desenvol-vimento comercial e com a cooperação noscampos da indústria, da agricultura e datecnologia.

um relacionamento fundamentado nacomplementaridade

As diferenças, tanto dos respectivos contin-gentes populacionais e mercados consumi-dores quanto das reservas de recursos na-turais de nossos países, deveriam propor-cionar uma base para um relacionamentofundamentado na complementaridade, oque muito poderia contribuir para o de-senvolvimento de setores económicos es-pecíficos, aumentando sua produtividade ecompetitividade e elevando os níveis deemprego de ambos os países.

Existem diversas oportunidades promisso-ras para cooperação nos campos de recur-sos minerais, agricultura e tecnologia, bemcomo oportunidades consideráveis para in-vestimentos diretos em cada país por par-te de empresas do outro — com vistas àcriação de capacidade produtiva e à ele-vação dos níveis de produtividade, levandoassim ao incremento dos fluxos de comér-cio bilateral. Estou certo de que posso con-tar com o apoio de seu Governo, como eulhe asseguro o apoio do meu Governo, paraencorajar e facilitar, sempre que apropria-do, a feitura de ajustes institucionais queampliariam as perspectivas de concretiza-ção destas oportunidades.

Com vistas a dar substância a estas inten-ções e a promover sua realização, e tendoconsultado os órgãos competentes de meuGoverno, considero necessários o exame ea troca de informações sobre os meios defacilitar investimentos, particularmenteempreendidos conjuntos, em setores de in-teresse em nossos países.

Registrei com satisfação o estabelecimento,em Sydney, de um escritório de represen-

tação do Banco do Brasil. O Governo bra-sileiro está interessado na criação emcolaboração com instituições financeirasaustralianas, de uma financeira que seocuparia da captação de recursos de capi-tal nos dois países e em terceiros merca-dos a fim de participar no financiamentodo comércio recíproco e de dar apoio aosinvestimentos das empresas de cada paísno outro.

Do lado brasileiro, há intenção de tomaruma pronta iniciativa a este respeito, pelasubmissão de uma proposta específica aoAustralian Foreign Investment ReviewBoard.

Não obstante reconhecer que o desenvol-vimento de projetos específicos de coope-ração na área industrial seria da responsa-bilidade das empresas e organizações dosdois países, vejo a necessidade de se en-corajar e facilitar — por todos os meiosapropriados e em consonância com as leis,regulamentos e políticas de cada um dosdois países — o desenvolvimento de talcooperação industrial. A este propósito,sugiro que, com respeito aos projetos dedesenvolvimento de recursos, as empresase organizações relevantes de nossos paí-ses deveriam ser encorajadas no sentidode pesquisarem oportunidades para a ce-lebração de contratos de longo prazo refe-rentes ao suprimento de tais produtos aopaís importador.

estimular as atividades de importaçãoe exportação

A luz do elevado potencial identificadopara o desenvolvimento do comércio nosdois sentidos, e tendo em mente afacilidade que representaria a existên-cia de um sistema institucional capazde acelerar de forma adequada tais trocas,é intenção do Brasil adotar medidas nosentido do estabelecimento de compa-nhias de comércio cujo objetivo seria esti-mular as atividades de importação e expor-tação dos dois países e estabelecer, emáreas apropriadas, armazém alfandegado,o que facilitaria a entrada de mercadoriasnos mercados dos dois países, reduzindoo fator tempo que ainda os separa.

130

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 128: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Como Vossa Excelência e eu reconhece-mos, as condições de clima e solo de vá-rias áreas de nossas respectivas agricultu-ras são similares, proporcionando amplasoportunidades de colaboração para o de-senvolvimento da produtividade, para atroca de informações e para o estabeleci-mento de vinculações complementaresnos programas de pesquisa agrícola dosdois países. Meu Governo, por conseguinte,registra o entendimento, a que chegaram oPresidente da Embrapa e o Presidente daCSIRO, para a consideração de projetos decolaboração entre as duas organizações.Amplas oportunidades de colaboração tam-bém existem em outros campos, indicando,creio eu, a possibilidade de laços institucio-nais mais estreitos entre as comunidades ci-entífica e tecnológica de ambos os países.

Com relação a esforços necessários ao esta-belecimento de atividades económicascomplementares no campo dos recursos mi-nerais, notei com interesse o progresso jáalcançado em negociações específicas entreas empresas e organizações relevantes denossos países. Como é do conhecimento deVossa Excelência, é substancial a escalatanto da atual indústria siderúrgica brasi-leira, quanto do programa para expansãoda produção de aço e de metais não-ferro-sos, não cabendo dúvida de que a Austráliaterá interesse considerável em suprir insu-mos básicos para esta expansão, particular-mente nas áreas de carvão coqueificável,equipamentos e tecnologia. Meu Governoexpressou seu interesse no êxito das nego-ciações de contratos de suprimento a lon-go prazo nestas e em outras áreas impor-tantes, bem como seu apoio para a conclu-são rápida e satisfatória das mesmas.

Estou convencido de que a evolução dasrelações entre nossos países e as perspec-tivas de sua aceleração serão de molde aexigir reuniões periódicas em nível ministe-rial. Nesse sentido, propus a meu Governoa conveniência de reuniões periódicas entreMinistros encarregados de assuntos equiva-lentes, a fim de preparar o caminho paramaior diversificação e intensificação das re-lações entre nossos respectivos Governos.Tais reuniões dariam continuidade às recen-tes visitas feitas à Austrália pelo Secretário-

Geral do Planejamento e pelo Secre-tário-Geral da Indústria e do Comércio doBrasil, e à presente visita do Secretário-Ge-ral das Relações Exteriores do Brasil.

Reconheço que o desenvolvimento de trans-porte marítimo entre nossos países é fun-damental para todas as atividades já inicia-das ou planejadas, e creio que há necessi-dade de um intercâmbio de ideias e de coo-peração neste campo. A esse respeito, o Se-cretário-Geral das Relações Exteriores doBrasil é portador de uma carta do Ministrodos Transportes do Brasil, a qual contémuma proposta para conversas e consultasentre as competentes autoridades de trans-portes de nossos países.

Na expectativa de substanciais fluxos de in-vestimentos entre nossos países, pode serdesejável estudar ajustes que facilitem taisinvestimentos. Nesse sentido, gostaria deexpressar o interesse do Governo brasileirono início de negociações de acordo paraevitar a bitributação, assunto a que me pro-ponho dar seguimento através dos canais di-plomáticos.

Aproveito a oportunidade para renovar aVossa Excelência os protestos de minhamais alta consideração.

RESPOSTA DE PEACOCK

Embaixador António F. Azeredo da SilveiraMinistro das Relações Exteriores do Governoda República Federativa do BrasilBrasília

Senhor Ministro,

Tenho a honra de referir-me à carta de Vos-sa Excelência, datada de 22 do corrente, ede dizer-lhe do meu desapontamento dianteda impossibilidade da realização de sua pla-nejada viagem à Austrália este mês, com oobjetivo de concluir as negociações e de as-sinar o Acordo Comercial entre o Governoda República Federativa do Brasil e o Go-

131

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 129: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

verno da Austrália. Compartilho sinceramen-te da sua esperança de que nos possamosreencontrar brevemente, na Autrália.

2. Nesse ínterim, tive grande prazer emreceber em Camberra, em 23 de fevereiro, oSecretario-Geral das Relações Exteriores doBrasil, seu representante pessoal devida-mente acreditado, Embaixador Ramiro Sarai-va Guerreiro, com quem foi concluída umaprofícua série de conversações, culminandona assinatura formal do Acordo Comercialentre nossos dois Governos, na data de hoje.

item multilateral-comérciointernacional de produtos primários

3. Eu também reconheço a necessidade deformas aperfeiçoadas de cooperação inter-nacional no tocante ao comércio de produ-tos primários, e confirmo o apoio do meuGoverno a acordos internacionais eficazessobre produtos primários, concebidos tantopara aperfeiçoar as condições de comérciode produtos de interesse para nossos doispaíses, quanto para proporcionar um maiorgrau de estabilidade e de previsibilidadeneste comércio.

assuntos bilaterais

4. Coincido em que, embora, em anos re-centes, se tenha verificado muito progressono desenvolvimento de relações económicase comerciais mais estreitas entre nossosdois países, o pleno potencial desse rela-cionamento está longe de ter sido atingido,e que ajustes aperfeiçoados sobre matériainstitucional financeira e sobre transportespoderiam facilitar o desenvolvimento do co-mércio nos dois sentidos e da cooperaçãoeconómica. Meu Governo registra com inte-resse sua proposta de que consideremosque novos métodos seriam cabíveis paraconsolidar os atuais vínculos económicos epara estabelecer novos vínculos nas áreasmais promissoras relacionadas com o desen-volvimento comercial e com a cooperaçãonos campos da indústria, da agricultura e datecnologia.

complementaridades

5. Partilho sua opinião de que as diferen-ças, tanto dos respectivos contingentespopulacionais e mercados consumidoresquanto das reservas de recursos naturais denossos países, deveriam proporcionar umabase para um relacionamento fundamentadona complementaridade, o que poderia contri-buir grandemente para o desenvolvimentode setores económicos específicos, aumen-tando a produtividade e competitividadedestes e elevando os níveis de emprego deambos os países.

investimentos

6. Concordo que existam diversas oportu-nidades promissoras para cooperação noscampos de recursos naturais, agricultura etecnologia, e partilho de sua opinião de quehá oportunidades consideráveis para inves-timentos diretos em cada país por parte deempresas do outro, visando à criação de ca-pacidade produtiva e à elevação dos níveisde produtividade, levando assim ao incre-mento dos fluxos de comércio bilateral.

7. O Governo australiano acolhe com satis-fação investimentos do exterior, em conso-nância com sua política sobre investimen-tos estrangeiros, e é intenção do meuGoverno encorajar e facilitar, sempre queoportuno, a feitura de ajustes institucionaisque alargariam as perspectivas de concre-tização destas oportunidades.

8. Após consulta aos organismos compe-tentes do meu Governo, afirmo que, a fimde dar substância a estas intenções e a pro-mover sua realização, existe a necessidadede se examinarem modos de encorajar e defacilitar investimentos, particularmente em-preendimentos conjuntos em setores deinteresse dos países, e de se trocarem infor-mações sobre os mesmos.

financeira

9. Tal como Vossa Excelência, registreicom satisfação o estabelecimento, em

132

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 130: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Sydney, de um escritório de representaçãodo Banco do Brasil. Também tomei nota dointeresse do Governo brasileiro na criação,em colaboração com instituições financeirasaustralianas de uma financeira que seocuparia do levantamento de capitais nosdois países e em terceiros mercados, a fimde participar do financiamento do comérciorecíproco e de dar apoio aos investimentosdas empresas de cada país no outro país.

10. Notei com interesse sua afirmação daintenção, do lado brasileiro, de tomar umapronta iniciativa a este respeito, pela sub-missão de uma proposta específica ao Aus-tralian Foreign Investiment Review Board —contratos de longo prazo.

11. Não obstante notar que o desenvolvi-mento de projetos específicos de coopera-ção na área industrial seria da responsabili-dade das empresas e organizações dos doispaíses, também vejo a necessidade de seencorajar e facilitar — por todos os meiosapropriados e em consonância com as leis,regulamentos e políticas de cada um dosdois países — o desenvolvimento de tal coo-peração industrial. Destarte, tomo nota desua sugestão no sentido de que, com res-peito aos projetos de desenvolvimento de re-cursos naturais, as empresas e organizaçõesrelevantes de nossos países deveriam serencorajadas no sentido de pesquisaremoportunidades para a celebração de contra-tos de longo prazo referentes ao suprimentode tais produtos ao país importador.

companhias de comércio e armazémalfandegado

12. Notei com satisfação que, à luz do ele-vado potencial identificado para o desenvol-vimento do comércio nos dois sentidos, etendo em mente a finalidade que poderia re-presentar a existência de um sistema insti-tucional capaz de acelerar de forma adequa-da tais trocas, é intenção do Brasil adotarmedidas no sentido de estabelecimento decompanhias de comércio, cujo objetivo seriaestimular as atividades de importação e ex-portação dos dois países e estabelecer, emáreas apropriadas, armazém alfandegado, oque facilitaria a entrada de mercadorias nos

mercados dos dois países, reduzindo o fatortempo que ainda os separa.

13. Com relação aos elementos da propos-ta brasileira compreendidos na área de res-ponsabilidade do Governo australiano, aspropostas deveriam ser submetidas às auto-ridades australianas competentes, aí incluí-dos o Foreign investment Review Board e oDepartment of Business and Consumer Af-fairs.

ciência e tecnologia

14. Concordo com Vossa Excelência queas condições de clima e solo de várias áreasde nossas respectivas agriculturas são simi-lares, proporcionando amplas oportunidadesde colaboração para o desenvolvimento daprodutividade, para a troca de informaçõese para o estabelecimento de vinculaçõescomplementares nos programas de pesquisaagrícola dos dois países. Meu Governo tam-bém registra o entendimento, a que chega-ram o Presidente da Embrapa e o Presidenteda CSIRO, para a consideração de projetosde colaboração entre as duas organizações.Partilho a opinião de Vossa Excelência deque também existem amplas oportunidadesde colaboração em outros campos, indi-cando a possibilidade de laços institucio-nais mais estreitos entre as comunidadescientíficas e tecnológicas de ambos ospaíses.

suprimentos de longo prazo

15. Com relação ao estabelecimento de ati-vidades económicas complementares nocampo dos recursos minerais, a que VossaExcelência menciona em sua carta, tambémnotei com interesse o progresso já alcança-do em negociações específicas entre as em-presas e organizações relevantes de nossospaíses. A escala tanto da atual indústria si-derúrgica brasileira quanto do programapara expansão da produção de aço e de me-tais não-ferrosos é substancial, e confirmoo interesse da Austrália em suprir insumosbásico para esta expansão, particularmentenas áreas do carvão coqueificável, equipa-mentos e tecnologia.

133

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 131: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

16. Meu Governo também expressa seuinteresse no êxito das negociações de con-tratos de suprimento a longo prazo nesta eem outras áreas importantes, bem como seuapoio para a conclusão rápida e satisfatóriadas mesmas.

reuniões ministeriais

17. Partilho sua convicção de que a evolu-ção das relações entre os dois países, e asperspectivas de uma aceleração desta evo-lução serão de molde a exigir reuniões pe-riódicas em nível Ministerial. Nesse senti-do, também tenciono propor a meu Governoa conveniência de reuniões periódicas entreMinistros encarregados de assuntos equi-valentes, a fim de preparar o caminho paramaior diversificação e intensificação das re-lações entre nossos respectivos Governos.Tais reuniões darão continuidade às recen-tes visitas feitas à Austrália pelo Secretário-Geral de Planejamento e pelo Secretário-Geral da Indústria e do Comércio do Brasil,e à presente visita do Secretário-Geral dasRelações Exteriores do Brasil.

transporte marítimo

18. Reconhecendo, como Vossa Excelência,que o desenvolvimento do transporte marí-timo entre os dois países é fundamentalpara todas as atividades já iniciadas ou pla-nejadas, creio que há necessidade de umintercâmbio de ideias e de cooperação nes-te campo e notei com satisfação que o Se-cretário-Geral das Relações Exteriores doBrasil trouxe consigo uma carta do Ministrodos Transportes do Brasil, a qual contémuma proposta para conversas e consultasentre as competentes autoridades de trans-portes dos dois países, e que foi transmitidaao meu colega, o Ministro dos Transportes.

bitributação

19. Registrei o interesse do Governo bra-sileiro no início de negociações de um acor-do para evitar a bitributação e sua intençãode dar seguimento ao assunto através doscanais diplomáticos.

Aproveito a oportunidade para renovar aVossa Excelência os protestos de minhamais alta consideração.

novo relacionamento de comércioentre brasil e austrália

Discursos do Vice-Primeiro-Ministro e Ministro doComércio e Recursos Nacionais da Austrália, Douglas

Anthony, e do Secretário-Geral do Ministério dasRelações Exteriores, Ramiro Saraiva Guerreiro, em

Camberra, em 22 de fevereiro de 1978, durante asolenidade de assinatura do Acordo Comercial entre o

Brasil e a Austrália.

VICE-PRIMEIRO-MINISTRO

Embaixador Guerreiro, Secretário-Geral doMinistério das Relações Exteriores do Brasil,

Tenho grande prazer em desejar, formal epublicamente, a Vossa Excelência e à suadelegação, as boas-vindas a Camberra. Faço

isto não somente em meu nome, mas tam-bém em nome do Governo australiano e dopovo da Austrália.

Há muito tempo, a Austrália e o Brasil têmtrabalhado juntos, e de modo estreito, cor-dial e efetivo, na busca de objetivos comunsem comércio internacional. Ambos são im-portantes exportadores de géneros alimentí-

134

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 132: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

cios vitais e de matérias-primas. Tornam-secada vez mais importantes suas posiçõesnesta área. Ambos são países de considerá-veis realizações e de imenso potencial. OBrasil é um país líder do Terceiro Mundo.O desenvolvimento económico que o Brasilatingiu na última década tornou-se umexemplo para outros países.

A Austrália e o Brasil têm muito que apren-der mutuamente e muito que oferecer reci-procamente.

Porém, o intercâmbio comercial e a coope-ração industrial e económica não atingiramníveis altos. E é a convicção comum de queexiste um alto potencial para o desenvolvi-mento das relações nestas áreas que nostraz a esta cerimónia.

Entendo que o Acordo Comercial que iremosassinar é um marco no desenvolvimento docomércio e das relações económicas entreo Brasil e a Austrália. É um sinal claro davontade política de ambos os Governos nosentido de trabalhar em comum para apro-fundar e ampliar o relacionamento econó-mico e comercial.

Embora esta cerimónia seja simples, elanão é, de forma alguma, uma mera formali-dade que signifique apenas a soma de maisum instrumento à série de tratados entre osdois países. O Acordo Comercial não é umfim em si mesmo. Na verdade, é somenteum passo na direção de nossos objetivos.

Ele cria uma moldura para um novo e vigo-roso relacionamento para o trabalho comumvisando a explorar o grande potencial quesabemos existir para a expansão do comér-cio e para a cooperação industrial. Asseguraaos empresários e comerciantes de ambosos países que seus esforços para utilizaras oportunidades que nasçam para o incre-mento do comércio e empresas serão respal-dados e encorajados pelos dois Governos.Cria condições para uma revisão periódica euma avaliação da relação comercial e, as-sim, assegura o clima propício para que es-timulem as relações económicas e comer-ciais.

Este é um acordo benéfico, e aproveito aoportunidade para expressar o reconheci-

mento australiano pelo sentido objetivo,construtivo e cordial da atitude do Go-verno brasileiro e dos negociadores que par-ticiparam de sua conclusão.

SECRETÁRIO-GERAL DO MRE

Senhor Vice-Primeiro-Ministro e Ministro doComércio e Recursos Nacionais,

É para mim um privilégio participar da assi-natura deste Acordo, que representa a con-clusão de uma longa série de negociaçõesentre nossos dois Governos .

É recompensador, todavia, saber que essedocumento transcende, em muitos aspectos,ao acordo comercial bilateral clássico. Aocontrário da prática tradicional, não estamostentando disciplinar o fluxo de comércio bi-lateral; na realidade, empenhamo-nos,agora, para criar, em bases significativas,um fluxo de comércio inteiramente novo,que estará baseado em enorme potencialpara trocas proveitosas.

Certamente, é necessário mencionar, SenhorMinistro, que foi Vossa Excelência quem,primeiramente, compreendeu a existênciadeste potencial e chamou-nos a atenção noBrasil, em 1972, para a necessidade de umaação positiva visando à sua realização.

O sucesso completo das negociações que le-varam a este Acordo, e as inovações neleincorporadas são, em parte, consequênciade uma filosofia comum em relações inter-nacionais. Elas foram facilitadas pelo fatode que nossas economias são fundamental-mente baseadas na livre empresa, que am-bos consideramos como elemento essencialpara o sucesso económico e também comouma base para a construção da própria de-mocracia. Entretanto, acima de tudo, o su-cesso de nossos esforços é resultado domais legítimo auto-interesse. Nossos países,estou certo, beneficiar-se-ão substancial-mente do incremento do comércio e da in-tensificação das relações económicas demaneira geral.

135

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 133: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

brasil dá alta prioridade à austrália

O Brasil, como uma comunidade de amplasdimensões, humanas e geográficas, e comoPaís em processo de desenvolvimento, estáconsciente de que o comércio mais intensotorna mais fácil o alcance de um estágiode desenvolvimento, acelerado. Sabemosque ainda há muito que aprender dacomunidade internacional. Também sabe-mos que são, talvez, poucos os êxitosjá obtidos. Esta é, pois, uma parte es-sencial de nossa política exterior: desenvol-ver completamente nossas relações com to-dos os países do mundo. Temos dado a maisalta prioridade à Austrália, país de tãogrande importância económica e política,que a distância geográfica que nos separanão mais deve justificar nosso relativo iso-lamento. Hoje, estamos dando um passo sig-nificativo para superar esse isolamento.

Este Acordo cria uma Comissão Mista queajudará na intensificação do comércio e deoutras relações; contém cláusulas que fa-cilitarão as atividades de consultores e em-presários; seus 10 anos iniciais de vida dãoa perspectiva necessária para que a inicia-tiva privada de ambos os países se encar-regue do planejamento a longo prazo e ini-cie atividades que criarão uma sólida e du-

radoura base para o desenvolvimento docomércio e outras relações económicas; ele,certamente, permitirá a continuação e esti-mulará o rápido término de uma série decontratos de fornecimentos, a longo prazo,já iniciados por ambos os países.

Finalmente, porém não com menor impor-tância, deve ser mencionado que este Acor-do deve ser visto no quadro da perspectivamais ampla criada pelas cartas trocadas,ontem, entre o Ministro dos Negócios Es-trangeiros da Austrália, Senhor AndrewPeacock, e o Ministro das Relações Exterio-res do Brasil, Embaixador Azeredo da Sil-veira. Nessas cartas, trocaram-se, com apoiorecíproco, ideias muito estimulantes no quediz respeito aos próximos passos a seremdados. Iniciativas para melhorar o trans-porte e o fluxo de mercadorias, o financia-mento para empreendimentos adequadosaos interesses de ambos os países foramexaminadas e anunciadas.

Podemos olhar com confiança em direçãoao futuro, seguros de que muito foi feitopara unir nossos povos num esforço comumvisando ao maior conhecimento mútuo e aum relacionamento mais profundo.

Agradeço muito pela gentileza da atençãodispensada.*

O texto do Acordo Comercial Brasil-Austrália está na página 178, seção Tratados, Acordos, Convénios.

136

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 134: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

assinatura de atos mostraamadurecimento

nas relaçõesbrasileiro-paraguaias

Discursos dos Chanceleres brasileiro e paraguaio(tradução não-oficial), António F. Azeredo da Silveira eAlberto Nogués, no Palácio Itamaraty de Brasília, em15 de fevereiro de 1978, durante a assinatura de atosentre o Brasil e o Paraguai.

AZEREDO DA SILVEIRA

Senhor Ministro das Relações Exteriores daRepública do Paraguai, Embaixador AlbertoNogués.

É com grata satisfação e renovado prazerque recebo Vossa Excelência, acompanhadode tão ilustre comitiva, no Palácio Itama-raty, para comigo presidir essa expressivacerimónia, em que, mais uma vez, os Go-vernos do Brasil e do Paraguai celebramsignificativos atos internacionais.

A formalização do Acordo entre nossos Go-vernos para a adjudicação, às respectivassoberanias, de 67 ilhas e bancos situadosno trecho fronteiriço do rio Paraguai, entrea foz do rio Apa e o desaguadouro da BaíaNegra, reveste-se de sentido especial.

Registro, com especial agrado, que a pre-sente troca de Notas constitui a conclusãode um trabalho conjunto que nossos doisGovernos decidiram empreender, através daComissão Mista de Limites e de Caracteri-

zação da Fronteira Brasil-Paraguai, em umextenso trecho fronteiriço, correspondendoao integral cumprimento do Protocolo Adi-cional ao Tratado de Limites de 21 de maiode 1927, concluído quando da visita, em1975, de sua Excelência o Senhor Presiden-te Ernesto Geisel a Assunção. O sentidoque o Brasil e o Paraguai imprimiram a estanobre tarefa e o espírito com que se em-penharam em realizá-la foram assinalados,nos seguintes termos, pelo Primeiro-Manda-tário brasileiro, em discurso pronunciadopor ocasião da assinatura do Tratado deAmizade e Cooperação, celebrado na Capi-tal paraguaia em 4 de dezembro daqueleano:

"O Protocolo Adicional ao Tratado de Limi-tes de 21 de maio de 1927, que ora se firma,constitui demonstração cabal dos vínculosfraternos de boa vizinhança que nos uneme permitem, assim, alcançar entendimentoefetivo e sereno sobre todos os aspectosde nossas relações. O Protocolo é maisuma demonstração exemplar e irretorquíveldo respeito de ambos os Governos às esti-pulações consagradas em atos internacio-nais de que são partes e do alto espírito

137Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 135: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

com que timbram em orientar suas rela-ções."

A celebração deste Acordo realça a tradi-cional preocupação do Brasil e do Paraguaipelo cumprimento dos atos internacionaisvigentes e atesta o permanente empenhode ambos os Governos em resolver satisfa-toriamente, atendendo aos direitos e inte-resses de cada país, as questões que sur-gem inevitavelmente da proximidade geo-gráfica, do aumento do intercâmbio e daintimidade de nossas relações.

É, portanto, com a mais justificada satis-fação que assistimos, hoje, ao fiel cumpri-mento de um compromisso que nossos doisGovernos assumiram no contexto da dinâ-mica e real cooperação que tem caracteri-zado, de forma exemplar, nossos projetosde colaboração em toda uma vasta e varia-da gama de setores.

alto grau de amadurecimento nasrelações brasileiro-paraguaias

O Acordo, também por troca de Notas, peloqual os dois Governos declararam instalada,a partir de hoje, a Comissão Geral de Co-operação e Coordenação Brasileiro-Para-guaia instituída pelo artigo II do Tratado deAmizade e Cooperação, bem demonstra,aliás, a decisão política de ambos os Go-vernos de implantar o referido Tratado,aproveitando o contexto jurídico nele esbo-çado, para levar avante, diversificar e am-pliar o programa de colaboração entre oBrasil e o Paraguai. O elenco de tais reali-zações concretas, por si só tão expressivo,é ainda qualitativamente enriquecido peloalto grau de amadurecimento alcançado norelacionamento brasileiro-paraguaio e signi-ficativamente realçado pelo clima de enten-dimento fraterno e efetivo que o preside.

As Notas que, por outro lado, acabamos detrocar para formalizar, em nome de nossosGovernos, os entendimentos havidos entrea Empresa Brasileira de Telecomunicações(Embratel) e a Administração Nacional deTelecomunicações (Antelco), com vistasa que aquela empresa brasileira representesua congénere paraguaia, em caráter per-

manente, na junta de Governadores da In-telsat, em Washington, atestam, de ma-neira expressiva, não só a cordialidade e operfeito entrosamento das entidades de ume outro país, mas simbolizam também aconfiança que mutuamente as inspiram.

Prezado Chanceler e Amigo,

Ao lançarmos a vista no horizonte de nossorelacionamento, é mister salientar, por suamagnitude, Itaipu. Creio que é de toda jus-tiça reiterar, aqui, o legítimo sentimento deorgulho de nossos dois Governos com o rit-mo de construção da obra. Seu cronogramavem sendo seguido graças aos esforços in-quebrantáveis do Brasil e do Paraguai, comvistas à sua conclusão dentro dos prazosprevistos.

Esse espírito de entendimento, mercê deum convívio franco e intenso, reflete, as-sim, não somente o dinamismo que caracte-riza os projetos em que estamos empenha-dos, mas, principalmente, a atmosfera fra-terna em que se desenvolvem nossas rela-ções. É justamente nesse positivo contextoque se insere esta cerimónia, que marca, deforma tão significativa, o vigor da amizadeentre nossos dois países, a cujo crescenteaprimoramento dedicamos todos o melhorde nossos esforços.

ALBERTO NOGUÉS

Senhor Ministro de Estado das RelaçõesExteriores da República Federativa doBrasil,

Embaixador António Azeredo da Silveira:

Juntamente com altas personalidades demeu país e com funcionários do Ministérioa meu cargo, cheguei ontem a Brasília paramanter com Vossa Excelência e seus dis-tintos colaboradores, importantes conversa-ções que agilizarão o trâmite de assuntospendentes entre nossas respectivas Chance-larias. Já se tornou habitual, felizmente,

138

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 136: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

esta forma de comunicação diplomática di-reta, que facilita, em não poucos casos, amelhor solução para questões que estavamantes sujeitas a demoras inconvenientes.Agradeçamos pois à técnica contemporâneaesta valiosa contribuição que diariamentenos presta para a aproximação física e es-piritual entre homens e nações.

Porém estamos também aqui, Senhor Chan-celer, para dar cumprimento a um compro-misso contraído como consequência do Tra-tado que fixou os limites sobre o rio Para-guai no trecho compreendido entre a de-sembocadura do rio Apa ao desaguadourode Baía Negra já que se fazia necessária ademarcação do referido trecho povoado deilhas e bancos que há muito tempo aguar-davam a definição de sua soberania. É ver-dade, Senhor Ministro, como acaba de re-cordar, que temos a imperiosa obrigaçãode resolver todas as questões derivadas daproximidade geográfica e das exigências deuma vizinhança cada vez mais dinâmica.Este é, precisamente, o espírito que animaa intenção política e a conduta internacionaldo Governo do Excelentíssimo Senhor Pre-sidente Stroessner que reclama para meuPaís o mesmo respeito que o Paraguai pra-tica no trato com as demais nações.

A troca de Notas que declara instalada aComissão Geral de Cooperação e Coordena-ção Paraguaio-Brasileira prevista no Tratadode Amizade e Cooperação de 4 de dezembrode 1975 é o passo inicial para vitalizar esteinstrumento que assinala um marco signi-ficativo no contexto de nossas relações eque deu tão oportuna como ampla rubrica àvisita de Estado que o Excelentíssimo Se-nhor Presidente Ernesto Geisel realizou aoParaguai naquela data. Neste Tratado deAmizade e Cooperação estão dadas as con-dições que nos estimulam a percorrer umlargo e fecundo caminho, paralelo à mar-cha que empreendemos em Itaipu, porten-

tosa empresa que, como Vossa Excelênciaacaba de dizer, enche de legítimo orgulhonossos dois Governos tanto pelo inusitadovalor de sua magnitude física como pelatranscendente dimensão de seu significadopolítico. Apraz-me, Senhor Ministro, reite-rar aqui no Itamaraty, sede natural em quese assenta o prestígio da diplomacia brasi-leira, o convencimento de que Itaipu é parao Governo paraguaio testemunho de uma in-declinável vontade que serve tanto ao pró-prio interesse de meu país como à fraternaamizade que felizmente nos preside.

Manifesto os agradecimentos da Adminis-tração Nacional de Telecomunicações (An-telco) de meu país pela valiosa colaboraçãoda Empresa Brasileira de Telecomunicações(Embratel) ao concordar em representar aAntelco na Junta de Governadores da In-telsat de Washington com o objetivo de con-verter em realidade a ativa participação doParaguai nos novos e promissores horizon-tes que se lhe abrem com a iminente inau-guração oficial de seu moderníssimo siste-ma de comunicações mundiais via satélite.Tenho o direito de dizer, com justificadoorgulho, que esta é uma evidência mais doritmo com que o Paraguai progride com oGoverno do Presidente Stroessner.

Senhor Chanceler e querido amigo:

Em nome das pessoas que me acompanha-ram nesta viagem a Brasília e em meu pró-prio, apresento-lhe nosso cordial agradeci-mento pelas gentis atenções que, uma vezmais, nos proporcionou a hospitalidade bra-sileira. Pode Vossa Excelência ter a absolutasegurança de que estamos e estaremos sem-pre dispostos a oferecer nossos melhoresempenhos para fortalecer e multiplicar osestreitos laços de amizade que unem para-guaios e brasileiros: assim o pedem o mo-mento atual e a nossa posteridade.*

* Na página 176, seção Tratados, Acordos, Convénios, o texto dos três Acordos formalizados entre oBrasil e o Paraguai; na seção Mensagens, página 191, o texto da mensagem de Alberto Nogués ao Chan-celer Azeredo da Silveira.

139

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 137: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 138: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

itamaraty comemoracinquentenário da criação

do serviço de fronteirasDiscursos do Ministro de Estado António F. Azeredoda Silveira e do Embaixador Álvaro Teixeira Soares, noPalácio Itamaraty de Brasília, em 21 de fevereiro de 1978,por ocasião da cerimónia comemorativa do cinquentenárioda criação do Serviço de Fronteiras do Ministério dasRelações Exteriores.

AZEREDO DA SILVEIRA

Estamos hoje reunidos para comemorar acriação do Serviço de Fronteiras deste Mi-nistério. Há 50 anos, em 1928, o Itamaratyiniciava os trabalhos sistemáticos de demar-cação, dando prosseguimento à obra se-cular das expedições demarcatórias realiza-das pelas Comissões de Limites, que ti-nham, até então, caráter temporário.

Nessa metade de século, logramos trans-por, para o terreno, o direito consagradonos tratados, materializando a linha defronteiras em marcos e balizas. Com efeito,completando as tentativas de demarcaçãoempreendidas nos períodos colonial e im-perial, ao Serviço de Fronteiras coube em-preender a demarcação definitiva do nossoterritório num total de mais de 16 mil km.A demarcação pacífica de tão extenso perí-metro fronteiriço constitui obra de primeiramagnitude, possivelmente uma das maioresrealizações da diplomacia contemporânea.Não obstante sua inequívoca grandeza, tra-ta-se de trabalho pouco conhecido. A pró-pria índole diplomática da tarefa de demar-

cação, realizada em clima discreto, contri-buiu a um só tempo para sua conclusãoexitosa e para o seu relativo desconheci-mento.

A guisa de avaliação da tarefa cumprida,caberia evocar a observação do DoutorOctávio Mangabeira, Ministro das RelaçõesExteriores, que, quando da criação do Ser-viço de Fronteiras, recordou que "entre as-sentar, no papel, as características de umafronteira e estabelecê-la, de fato, na suarealidade geográfica, vai, efetivamente, umadistância muitas vezes maior do que pa-rece".

Não poderíamos, portanto, deixar de assina-lar, através de um ato de elevado conteú-do cívico, a passagem do jubileu do Serviçode Fronteiras. Imaginamos, pois, prestaruma tríplice homenagem aos eminentesbrasileiros, civis e militares, que, atuandosob a coordenação do Itamaraty, fizeram ahistória desses 50 anos dedicados ao deli-neamento do perfil do território nacional.

A realização desta Sessão Solene, com apresença de altas autoridades da Repúbli-

141Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 139: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

ca, a semana que dedicamos aos estudossobre fronteiras e a cunhagem de uma me-dalha que rememora a efeméride é a formaque encontramos para prestar justo e sen-tido reconhecimento a esta galeria de gran-des brasileiros ligados intimamente à tarefademarcatória.

justiça e paz no relacionamento dobrasil com seus vizinhos

Com a medalha, procuramos evocar o espí-rito que tem presidido invariavelmente orelacionamento do Brasil com seus vizi-nhos: a convergência da Justiça e da Paz.Esta medalha reproduz, no seu anverso, ochamado marco do Jauru, belíssimo exem-plar de marco do Tratado de Madrid, as-sentado na confluência do rio Jauru com orio Paraguai em 1754 e que, hoje, se en-contra numa praça pública em São Luís deCáceres, em Mato Grosso. Dele já afirmouJaime Cortesão:

"Era necessário dar ao Tratado um rematesimbólico: celebrar sobre o próprio terrenoo êxito e a execução do convénio, procla-mando, por forma monumental, o espíritode concórdia e de respeito mútuo dos in-teresses, que inspirara as negociações. Ale-xandre de Gusmão, que tinha alma de ar-tista, imaginou e fez construir esse felizsímbolo".

O lema da medalha, inspirado num versículobíblico e inscrito no marco do Tratado deMadrid, tem caracterizado rigorosamente,através dos séculos, a atuação da diploma-cia brasileira. Na verdade, como já tiveoportunidade de expressar, a "política ex-terna brasileira foi, é e continuará a seruma política pela paz e a diplomacia quelhe serve de instrumento é modelada paratal fim: manter-se fiel aos interesses do Bra-sil e eficiente na busca da harmonia inter-nacional".

É, portanto, com justo orgulho, que, ao en-sejo deste Cinquentenário, prestamos umasincera e fraternal homenagem a todos ospaíses vizinhos aqui representados pelosExcelentíssimos Senhores Embaixadores. Oespírito de boa vizinhança e fraternidade

que preside nosso relacionamento com ca-da um dos países lindeiras é motivo de or-gulho e uma das mais caras tradições doItamaraty.

Agradeço, finalmente, muito sensibilizado,em nome da Casa de Rio-Branco, a presen-ça dos Senhores Chefes de Missão, dos Se-nhores Ministros de Estado e demais au-toridades, que honram com suas presençasesta solenidade de profundo sentido cívico,dedicada aos heróicos e tantas vezes es-quecidos demarcadores das fronteiras doBrasil.

Ao Embaixador Álvaro Teixeira Soares, emi-nente internacionalista e historiador, que,com grande autoridade, pode versar essamatéria, confiamos a tarefa de analisar osextraordinários serviços prestados pelo Ita-maraty à causa da definição de nossas fron-teiras. Convido, pois, os presentes a ouvi-lo.

TEIXEIRA SOARES

Vossa Excelência, Senhor Ministro de Esta-do, honrou-me com o alto convite para, emsessão solene e perante tão ilustre audiên-cia, ocupar pela terceira vez esta nobilíssi-ma tribuna.

Faço-o com profunda emoção. Sob o signoglorioso do nosso sempre presente Rio-Branco, reunimo-nos nesta comemoração do50.° aniversário da fundação do Serviço deFronteiras do Ministério das Relações Ex-teriores com o pensamento posto nesta nos-sa Casa, bem como com o pensamento re-cordativo daqueles que a serviram nas ba-lizas extremas do nosso território. São no-mes que se perfilam no fundo do horizontecomo os picos de um sistema orográfico.Desde logo, acode-nos lembrar o preceitobásico: "O serviço a ser prestado na de-marcação de fronteiras prefere, em tempode paz, a qualquer outra comissão", lê-senum dos decretos normativos do desenvolvi-mento do Serviço, precisamente no de 4 deJaneiro de 1934. Mas, não é só o servir à

142Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 140: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

nossa Casa: é a sideralização de todos osnossos esforços pela grandeza deste nossoimenso património comum, que se chamaPátria.

Recuemos no tempo. Fundado precisamenteem 21 de janeiro de 1928, na administra-ção do Presidente Washington Luis, sendoOctávio Mangabeira Ministro de Estado dasRelações Exteriores, mais tarde, por De-creto de 4 de janeiro de 1934, do Presiden-te Getúlio Vargas, foram definidas as Co-missões de Limites; e pelo Decreto de 29de maio de 1934 ficou aprovado o Regula-mento para o Serviço de Fronteiras do Mi-nistério das Relações Exteriores. Dentre asmuitas atribuições conferidas aos demarca-dores, estabeleceu-se que colheriam "dadosde interesse para a geografia do país epara a ciência em geral". Neste particular,assinalemos a valiosa contribuição publica-da pela Comissão Rondon sobre a vida am-biental dos nossos índios do Planalto Cen-tral, de Mato Grosso e da Guiana brasileira,bem como as excelentes monografias escri-tas por dois notáveis demarcadores, BrazDias de Aguiar e Renato Barbosa RodriguesPereira, a primeira a respeito da geografiafísica e humana das nossas fronteiras comas guianas inglesa e holandesa (como aotempo eram denominadas); e a segunda so-bre a geografia da fronteira com a Colôm-bia, bem como sobre os limites do Brasilem geral. Por conseguinte, esses dois de-marcadores carrearam contribuições impor-tantes à geografia do Brasil, e também aoconhecimento físico da América do Sul.

Mas, no momento em que comemoramos o50.° aniversário do Serviço de Demarcaçãode Fronteiras do Ministério das RelaçõesExteriores, parece-nos oportuno fazermos al-gumas considerações tendentes não apenasa dar ênfase à comemoração em si, masainda em historiar, a traços rápidos, aobra imensa da demarcação dos nossos lin-des. Assinalemos, desde já, que esse in-gente trabalho foi sempre realizado em per-feita consonância com as nossas aspiraçõespermanentes de claro entendimento comos países vizinhos. Os técnicos brasileirossempre encontraram, de parte dos técnicosde outros países, perfeito ambiente de com-preensão, o que só serve para exaltar a qua-lidade do trabalho feito de mão comum.

os primeiros trabalhos demarcatórios

Desde a primeira demarcação parcial, de1752 a 1759, feita pelo Sargento-Mor-de-Ba-talha Gomes Freire de Andrada, Conde deBobadela, Capitão-General e Governador dasCapitanias do Rio de Janeiro e de MinasGerais, em cumprimento do Tratado de Ma-drid (1750), até aos dias de hoje, vem oBrasil procurando-se a si mesmo através dacartografia, através dos grandes mapeamen-tos, bem como das indagações e estudosfeitos por técnicos do Serviço de Fronteirasdo Ministério das Relações Exteriores aolongo do parâmetro das nossas raias terres-tres, e das nossas fronteiras oceânicas porintermédio do Serviço de Hidrografia da nos-sa Marinha de Guerra. Ademais, o ServiçoGeográfico do Exército, fundado em 1920,vem realizando importantes levantamentoscartográficos com vistas à interpretação deáreas do território nacional. A propósitodessas atividades cartográficas, tanto dopassado como do presente, aduzirei exem-plo curioso: nas minhas andanças pela Se-ção de Manuscritos da Biblioteca Nacionaldo Rio de Janeiro, topei um códice, sobrecota de registro 1-28-28-19, que contém a"Lista e Conta das caixas de instrumentosque foram embarcados em a Nau NossaSenhora da Lampadosa para servirem aosengenheiros que se mandaram para a de-marcação dos Confins do Brasil, da parte doSul". Nesses velhos documentos, amareleci-dos pelo tempo, mas vivendo aquela vidamisteriosa que todos os documentos históri-cos vivem nos arquivos, encontrei a enume-ração dos instrumentos que Gomes Freirede Andrada levou para a demarcação, taiscomo teodolitos ou grafômetros ingleses,relógios solares, estojos contendo instru-mentos matemáticos de precisão, níveis,lanternas, bússolas grandes, pranchetas deferro redondo com ponteiros para formar so-bre elas a linha do meridiano, quadrantes,compassos fiéis, armilares pequenos paratomar o sol, telescópios astronómicos de 25palmos e terrestres de 22 e 14 palmos, —em suma, quantidade imensa de objetos eaparelhos, que de muito proveito foram paraos engenheiros, astrónomos, cartógrafos, mi-litares, pontoneiros, balizadores, em totalsuperior a 100 homens que acompanharamo notável demarcador ao longo de um ter-ritório a estender-se desde Castilhos Gran-

143

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 141: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

des, sobre o litoral norte do rio da Prata,perto da atual Punta dei Este, até a desem-bocadura do rio Jauru, no rio Paraguai, emMato Grosso, anos a fio de incessante tra-balho demarcatório. Ao lermos tais do-cumentos, claro que nos emocionamos coma dedicação extrema desses demarcadoresdos Confins do Brasil, consoante a expres-são geopolítica cunhada por Alexandre deGusmão.

Imensa é, por certo, a distância que nossepara do primeiro plano de levantamentocartográfico do Brasil, de 1873. Houve, atra-vés do tempo, aperfeiçoamentos extraordiná-rios; mas tal não nos impede que rendamospreito de homenagem a beneméritos, comoo Senador Cândido Mendes de Almeida, comseu "Atlas do Brasil"; como o Barão de Ca-panema (Guilherme Schuch de Capanema,nascido em 1824 e falecido em 1904) e oCoronel Jourdan, ao tempo do Império; e,nos dias da República, ao Barão Homem deMelo, com seu "Atlas do Brasil"; a OlavoFreire, ao Marechal Rondon, com seus le-vantamentos do Brasil Central e com suaesplêndida "Carta Geral do Estado de Ma-to Grosso", a Aroldo de Azevedo e aos inte-grantes da "Escola de Geografia" da Univer-sidade de São Paulo, bem como a técnicosque não podem ser esquecidos, como Ja-guaribe de Matos, Gabriel Botafogo, JorgeZarur, António Teixeira Guerra, Hilgard0'Reilly Sternberg, Cristóvão Leite de Castroe Fábio Macedo Soares Guimarães. Assim,individualizamos personalidades volvidas àverdadeira conquista do Brasil, de dentropara a periferia, pelos processos cartográ-ficos mais atuantes e mais dinâmicos.

A importância excepcional da Política deFronteiras encontra-se exemplificada noconceito de um estadista inglês, afeito aproblemas de fronteiras com os quais jogouem conferências internacionais, pertinentesao Próximo Oriente, ao Afganistão e à ín-dia: quero referir-me a Lord Curzon. Disseeste na sua famosa conferência sobreFronteiras, na Universidade de Oxford, em1907: As a branch of the science of govern-ment frontier policy is of first practical im-portance and has a more profound effectupon the peace and warfare of nations thanany other factor, political or economic. Porisso, imbuídos de uma missão a cumprir, os

nossos grandes demarcadores do passadoporfiaram numa peleja silenciosa contraobstáculos físicos de qualquer natureza; eesses demarcadores, que se foram na gló-ria de Deus, chamaram-se Soares de An-dreia (Barão de Caçapava), o Barão de Peri-ma, o Visconde de Maracaju, o Barão de Te-fé, o Barão de Ladário, Luis Cruls, DionisioCerqueira, Taumaturgo de Azevedo, BrazDias de Aguiar, Renato Barbosa RodriguesPereira, Almirante Ferreira da Silva, Belar-mino de Mendonça e, the last but not theleast, Euclydes da Cunha. Por isso, importasempre termos à mão a lição do passado.Ela contém ensinamentos demonstrativos dealta sagacidade política e fino espírito deprevisão por parte de personalidades dessenosso passado.

Apenas um exemplo. A respeito do Tratadode Madrid, Mably assinalou que sua arqui-tetura representava, do ponto de vista doDireito das Gentes, admirável conquista so-bre os costumes do tempo; e, frisou que, aocelebrá-lo, a Espanha perdia, porquanto es-tancando um foco de contrabando como eraColónia do Sacramento, iria ficar com largafronteira aberta ao mesmo. Era como sehouvesse fechado uma janela e aberto vá-rias portas. (1) Diplomata e escritor uru-guaio, estudou o Tratado de Madrid, afir-mando que com dois atos diplomáticos im-portantes — o Tratado de Tordesilhas, es-tabelecendo o domínio português na Améri-ca e o Tratado de Madrid, transformandoesse domínio em vasto império — a obrapolítica lusitana, bem como a de Alexandrede Gusmão, tiveram persistência de propó-sitos e visaram a altas finalidades. (2). Masfoi no preâmbulo do Tratado que se esta-beleceram, milagrosamente para o seu tem-po, os princípios norteadores da fixação delimites, que vale a pena repetir pela audá-cia de concepção que representaram paraa época: "O primeiro, e mais principal, éque se assinalem os Limites dos dois Domí-nios, tomando por balizas as paragens maisconhecidas, para que em nenhum tempo seconfundam, nem dêem ocasião a disputas,como são a origem e curso dos rios, e osmontes mais notáveis. O segundo, que ca-da parte há de ficar com o que atualmentepossue; à exceção das mútuas cessões queem seu lugar se dirão; as quais se farãopor conveniência mútua, e para que os Con-

144Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 142: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

fins fiquem, quanto for possível, menos su-jeitos a controvérsias". Na realidade Ale-xandre de Gusmão foi o primeiro pan-ameri-canista histórico do Continente — conceitomeu, encontrado no meu 0 Marquês dePombal (Rio, 1961) que mereceu ser repro-duzido e louvado por Wilson Martins no 1.°volume da sua notável História da Inteligên-cia Brasileira (às págs. 365, São Paulo, 1977);contudo, eu poderia acrescentar que a obrade Gusmão consagrou plenamente a concei-tuação política do Bandeirismo em sua in-coercível dinâmica, tal como foi definida porCassiano Ricardo em sua Marcha para Oes-te: "Cada expedição demarcadora, como ade Silva Pontes, a de um Tefé, a de umTaumaturgo, a de um Euclydes, tem algo deuma bandeira na luta com a geografia, coma floresta, com os rios encachoeirados,com os igarapés, com as nascentes ocultasdo labirinto amazônico — e ainda com osíndios, doenças, feras e monstros na fixa-ção da fronteira". (Op. cit., às págs. 321,do 2.° vol., 3.a edição, Rio, 1959). A propó-sito de Gusmão, não deixarei de referir-meaos nove volumes publicados pelo InstitutoRio-Branco do Ministério das Relações Exte-riores, cometimento que só faz honra à nos-sa cultura e que foi dirigido pelo historiadorJaime Cortesão.

Por certo que se demarcaram fronteiras an-tes da fundação do Serviço de Demarca-ção de Fronteiras do Ministério das Rela-ções Exteriores. No tempo do Império, porexemplo, Soares de Andréa demarcou, de1853 a 1858 a fronteira com o Uruguai,havendo na fase derradeira dessa demarca-ção os trabalhos sido dirigidos pelo Brigadei-ro Pedro de Alcântara Bellegarde. Assim, onome do Marechal Barão de Caçapava e doBrigadeiro Bellegarde encontram-se ligadosna demarcação de uma fronteira de 1.003quilómetros de extensão, a primeira a serdemarcada no tempo do Império. Mas, tam-bém no Império, o então Coronel RufinoGustavo Enéias Galvão, depois Barão e Vis-conde de Maracaju, de 1872 a 1874, demar-cou a fronteira com o Paraguai.

Essas demarcações representavam encargosespecíficos, cometidos a técnicos de pri-meira ordem, quase sempre militares, querecebiam instruções bem como verbas atra-vés do Ministério dos Negócios Estrangeiros

do Cais da Glória, ou do Ministério das Re-lações Exteriores, sediado no Palácio Itama-raty. Munidos de instruções, iam os demar-cadores afrontar tarefas gigantescas. O Ba-rão de Parima iniciou a demarcação da nos-sa fronteira com a Venezuela. Dos seus tra-balhos apresentou relatório ao ConselheiroSoares Brandão, Ministro dos Negócios Es-trangeiros, em 1885, no qual aduziu infor-mações curiosas a respeito do abandonodas construções militares levantadas porordem do Marquês de Pombal no séculoanterior, em particular em Barcelos, que foia primeira capital da Capitania de São Josédo Rio Negro, de São Gabriel. Ladário ini-ciou a demarcação da nossa fronteira como Peru, a qual na República teve como con-tinuadores o Barão de Tefé, o General Tau-maturgo de Azevedo, o Comandante CunhaGomes, Luis Cruls o verdadeiro descobridorda nascente do Javari, o Coronel Belarmi-no de Mendonça, Euclydes da Cunha e oAlmirante Ferreira da Silva. Maracaju ini-ciou a demarcação da nossa fronteira coma Bolívia, que o Comandante António Cláu-dio Soido apenas aflorara em seus primei-ros contatos com os representantes boli-vianos. Etapas históricas, por certo; etapashistóricas de uma Política geral com os paí-ses vizinhos, que representavam a conscien-tização de um Império que jamais celebrariaalianças extra-continentais; e que saberiaser pan-americanista com José Bonifácio, oprimeiro Ministro dos Negócios Estrangeirosde Dom Pedro I, antes que tivesse surgidoo Pan-americanismo.

uma política geral de fronteiras

Se em pauta estava uma Política geral deFronteiras, também havia excelentes exe-cutores dessa Política. Por exemplo, Duar-te da Ponte Ribeiro, ademais de haver sidoo grande negociador do Tratado de 23 deoutubro de 1851, que fixou os limites com oPeru, foi exímio teorista do estudo das nos-sas fronteiras com todos os vizinhos. Assim,é de 15 de maio de 1842 sua Memória sobrea necessidade de melhor assegurar a fron-teira Mato Grosso-Paraguai. (3) Outro exem-plo: quando Varnhagen, "Pai da nossa His-tória", era Ministro do Império em Caracas,ajustou com o Governo venezuelano, em1862, um acordo pelo qual embarcações bra-

145

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 143: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

sileiras e venezuelanas utilizariam o canalde Cassiquiare, em ambas as direções, e emmútuo benefício das Partes contratantes.Assim, os negociadores do Império forambuscar na Geografia das Fronteiras seuapoio fáctico, seu Tatbestand, como dizemos alemães.

Outro exemplo curioso da capacidade deobservação dos nossos agentes diplomáticosdaqueles tempos encontra-se no ofício de14 de janeiro de 1833, pelo qual AntónioCândido Ferreira, Encarregado de Negóciose Cônsul-Geral do Brasil em Buenos Aires,comunicava ao Governo imperial as indaga-ções feitas por uma comissão da Marinhaargentina, composta do Coronel JoaquinHidalgo, do Capitão William Bathurst e doPrático Maior Benito Aispurna sobre o re-conhecimento do novo banco entre o Bancode Ortiz e a Ponta do índio, no Estuário dorio da Prata. (4) Tudo era motivo de obser-vação e anotação para esses agentes. Eassim também procediam os demarcadoresna fronteira com a Bolívia, Venezuela, Perue Paraguai: observavam e anotavam.

Os dois grandes geógrafos Jean Brunhes eCamille Vallaux, mestres da Escola de Geo-grafia humana, lançada pelos franceses, emseu livro La Géographie de 1'Histoire (de1921), salientaram expressivamente que ofenómeno chamado Fronteira tenha sido es-tudado principalmente por geógrafos, de-marcadores ou não. Paulo de Lapradelle, noseu notável estudo La Frontière (1928), assi-nalou com muita propriedade: "O geógrafo,ávido de enumerar e de classificar todasas formas da atividade humana aplicada aosolo, estudou a fronteira como manifestaçãoda atividade humana, como criação da vidacoletiva ,como um órgão do Estado. A partirdeste momento, a fronteira cessou de serum fato geográfico puro, tornando-se, naciência geográfica, um fato político adap-tado. Não existem outras fronteiras senãoas políticas".

Sabemos que o IBGE (órgão da Secretariade Planejamento) vem procurando superarcada programa de trabalho com as ativida-des ainda maiores de novos programas. Ocampo das atividades do IBGE comportadesdobramentos inéditos,- e isto porque ocampo das atividades desse órgão é o nossoBrasil. Grandes são os nossos problemas.

Por conseguinte, maiores deverão ser as so-luções dadas a esses problemas. A recentepublicação do IBGE intitulada "ImagensERTS . . . suas possibilidades" desvenda vir-tualidades extraordinárias quanto ao apro-veitamento das imagens proporcionadas peloSatélite ERTS-1, da NASA, tanto no cam-po da geografia convencional, como nocampo da geografia temática, visando prin-cipalmente ao conhecimento do territórionacional, sobre os aspectos físicos e geoló-gico, em particular nas regiões de difícil to-pografia, como ocorre na Amazónia seten-trional no vasto arco desde a geodésicaApapóris-Tabatinga ao rio Oiapoque. Assim,na Amazónia, o Projeto RADAM corrigiu arealidade geográfica quanto ao posiciona-mento de acidentes topográficos. Por con-seguinte, além da aquisição cartográfica,processa-se também a reavaliação de áreas,dantes mapeadas. A organização do monu-mental "Atlas do Brasil — ERTS 1" repre-senta cometimento que demanda tempo,bem como singular conjugação de esforços.Mapear o Brasil representa uma tarefa delongo tempo e longa vontade.

De ano para ano, desde 1928, os técnicosdo nosso Serviço de Fronteiras estão acumu-lando experiência pragmática, derivada dotrato com realidades físicas e humanas dasnossas raias, que tanto podem ter o aspectocartográfico, como o aspecto sócio-econômi-co do viver de populações ao longo delas,ou ao longo da nossa plataforma submarina.Que o digam os atuais demarcadores, e quetambém pudessem dizê-lo os que, no pas-sado, estiveram à testa desse Serviço deFronteiras, como Arthur Gouveia Portella,Guimarães Rosa, Teixeira Soares, GuimarãesBastos, Fonseca Hermes e Orlando Leite Ri-beiro. Poderemos afirmar que todos aque-les que lidaram com problemas de frontei-ras e os viveram intensamente jamais fica-rão livres de uma espécie de sortilégio quelhes iluminará a vida por aí afora.

A técnica impõe a implantação dos marcosprimários, secundários ou terciários. Os pri-mários, os principais, de cimento armado,têm uns 3m60 de altura; os secundáriostêm 2m20. Na implantação de marcos,exige a boa técnica, ou pelo menos preconi-za a intervisibilidade dos marcos pela téc-nica de campo (prova azimutal). Assim, nosrecentíssimos trabalhos realizados na Serra

146

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 144: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

de Ricardo Franco, na fronteira com a Bo-lívia, marcos terciários serão chantados coma distância de dois a dez quilómetros. Épreciso assinalar que o tamanho ou formatodos marcos variam de fronteira a fronteira.

Recordemos que os marcos atuais fazempensar naqueles belos marcos principaisque os portugueses fincaram em CastilhosGrandes, perto da atual Punta dei Este, ena foz do rio Jauru — de mármore, com maisde três metros de altura e ostentando afamosa inscrição tirada do verso bíblico doSalmo 116: Justitia et Pax osculatae sunt.Beijaram-se aqui a Justiça e a Paz. Estesmarcos demonstravam o esplendor a quesubira o reinado de Dom José I, sendo oMarquês de Pombal o poderoso Primeiro-Ministro — esplendor derivado do ouro edos diamantes do Brasil, em primeiro lu-gar, assinale-se a bem da verdade. E emsegundo lugar, derivado da política de con-córdia internacional realizada no reinadoanterior, o do Dom João V, durante o qualPortugal jamais se envolveu em guerrascontinentais, preferindo manter-se neutro econfiando sempre nos recursos de hábilação diplomática.

Mas, as demarcações na Amazónia foramparticularmente difíceis e eu poderia acres-centar; verdadeiramente heróicas. Foram asdemarcações realizadas por Pereira Caldase Lobo d'Almeida, através de um emaranha-do de desentendimentos com os contrin-cantes espanhóis. Neste particular, convémseja objeto de releitura o trabalho "Limi-tes e Demarcações na Amazónia brasileira",de Arthur César Ferreira Reis, publicado naRevista do Instituto Histórico e GeográficoBrasileiro, vol. 244, ano de 1959.

a espacialidade estratégica

Na conceituação geopolítica dos Estadosmodernos, desde logo impõe-se atentar naespacialidade estratégica desses Estados.As duas grandes guerras mundiais, a de1914/18 e a de 1939/45, deram ao Estadomoderno uma blindagem especial, resultan-te do fortalecimento das instituições portasadentro, bem como do desenvolvimento deuma política internacional previdente e coe-rente. Este conceito de espacialidade estra-

tégica depende, fundamentalmente, de umaextensão territorial que lhes permita pos-suírem muito fundo territorial. Assim, a es-pacialidade estratégica de um país como aChina, o Canadá, os Estados Unidos, a UniãoSoviética, a Austrália e o Brasil é muito di-ferente da espacialidade estratégica de umpaís de menor superfície. Os Estados Uni-dos, dotados de extenso território, são ser-vidos por três oceanos, porque o Alaska ébanhado pelo Oceano Glacial Ártico. O Ca-nadá dispõe também de três oceanos, sendoo terceiro o Oceano Glacial Ártico. A UniãoSoviética dispõe também do Oceano GlacialÁrtico. A Colômbia e a Argentina dispõemde dois oceanos. No caso da Argentina, oChamado Pasaje de Drake separa a Terrado Fogo, do Oceano Glacial Antártico.

O Território Nacional da Terra do Fogo, An-tártica e Ilhas do Atlântico Sul é a unidadeadministrativa argentina que conglomera to-dos esses territórios. A Colômbia é um"país de esquina", como a definiu o Chan-celer López de Mesa. A Inglaterra e o Ja-pão, se sofrem limitação territorial, pos-suem, no entanto, uma "política de ímpetospara o mundo exterior", para usarmos con-ceito de Haushofer, o fundador da Escolade Geopolítica de Munich. A Austrália e aNova Zelândia constituem mundo anglo-saxão à parte, com vocação política e eco-nómica volvida para as largas rotas marí-timas.

No caso do Brasil, a caracterização do seuterritório terá de ser equacionai em funçãodos elementos básicos que o integram: ter-ritório físico; território marítimo (mar territo-rial); e espaço aéreo.

Talvez a primeira demonstração de fronteirase encontre no que conta Plutarco nas suasVidas Paralelas: o herói mitológico Teseumandou erigir uma coluna entre a Jônia eo Peloponeso com duas inscrições, de umlado — "Isto é Jônia, e não Peloponeso" —,e do outro, "Isto é Peloponeso, e não Jônia".

Se relancearmos os olhos a um mapa denosso país, verificaremos que sua espacia-lidade estratégica está condicionada: a) porum extenso litoral, quase uniforme em seurecorte, que nos projeta às grandes corren-tes económicas e marítimas do AtlânticoNorte, da Europa, da África equatorial emeridional, e da própria Antártida. Esse l i-

147Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 145: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

toral foi objeto de levantamentos feitos peloAlmirante Ámédée Mouchez, que o descre-veu na sua obra em 4 volumes, Les Cotesdu Brésil, publicada em 1868. Ademais,Mouchez estudou o rio da Prata e o rioParaguai no seu Nouveau manuel de naviga-tion dans le Rio de Ia Plata, de 1871. b)por extensa fronteira terrestre, que repre-senta der Rahmen des Bildes, isto é, a mol-dura do quadro.

Essa fronteira terrestre está detalhada daseguinte maneira:

1.2.3.4.5.6.7.8.9.

10.

Guiana FrancesaSurinameRepública da GuianaVenezuelaColômbiaPeruBolíviaParaguaiArgentinaUruguai

km655593

1.6052.1991.6442.9953.1251.3391.2621.003

Total da fronteiraterrestre do Brasil 16.420

Temos, por conseguinte, muito "espaço demanobra" situado entre o litoral e as fron-teiras setentrionais e ocidentais; mas, esse"espaço de manobra" é menor em relaçãoao território, portas adentro, das nossasfronteiras meridionais. Capistrano de Abreufez observação muito interessante: "Comoo cabo de Orange, limite com a Guiana fran-cesa, dista 37 graus do Chuí, limite com oUruguai, salta logo aos olhos a insignificân-cia da periferia marítima; repete-se o espe-táculo observado na África e na Austrália:nem o mar invade, nem a terra avança; fal-tam mediterrâneos, penínsulas, golfos, ilhasconsideráveis; os dois elementos coexistemquase sem transições e sem penetração;com recursos próprios o homem não podeir além da pescaria em jangadas".

fronteiras vivas, fronteiras dormentese fronteiras silentes

Quanto às nossas fronteiras terrestres, des-de logo avulta uma ideia a estabelecer fla-grante distinção — temos fronteiras vivas,fronteiras dormentes e fronteiras que pode-

ríamos, talvez com algum exagero, conside-rar silentes. Assim, se temos fronteiras deintensa sensibilidade política, económica esocial com o Uruguai e com a Argentina,temos em contrapartida, fronteiras silentes,como a fronteira com a República da Guia-na, e fronteiras quase adormecidas comocom o Suriname e a própria Guiana fran-cesa, apesar da praticabilidade do rioOiapoque. A fronteira com a Bolívia, a maisextensa das nossas fronteiras, apresenta donosso lado os seguintes pólos de arranqueeconómico: Porto Velho, Guajaramirim, SãoLuís de Cáceres e Corumbá. Reconheçamosque são ainda diluídos os pólos de arranqueeconómico existentes numa fronteira de3.125 kms de extensão. Logo, impõe-se pro-mover o adensamento demográfico dessaraia fronteiriça, o qual trará imediatamenteo adensamento económico. A fronteira coma Colômbia só tem a área de convizinhançaconstituída por Letícia, colombiana, e Taba-tinga, Benjamin Constant e Atalaia do Nor-te. O resto dessa fronteira é selvaticidade emesmo desolação do ermo.

Assim, as nossas fronteiras ainda não pos-suem uniforme desenvolvimento económi-co, mas estão a caminho do adensamentodemográfico, como é o caso da fronteiraBrasil-Uruguai. Desde logo salta aos olhoso problema vital do aproveitamento econó-mico da faixa federal da fronteira, a qual éde 150 quilómetros ao longo das nossas lin-des, respeitando-se assim o disposto na Lein.° 2.597, de 12 de setembro de 1955, e naLei n.° 4.947, de 1966. A Lei n.° 2.597 dis-pôs taxativamente sobre "zonas indispensá-veis à defesa do País". É claro que só po-deríamos desejar que o Governo Federal seutilizasse ao máximo da faixa federal defronteira para lhe dar vitalidade demográfi-ca e económica realmente forte. Velha Lein.° 601, de 1850, estabeleceu em 10 léguasou 66 quilómetros a faixa de fronteira dodomínio direto do Governo central, o queprovava o interesse do Governo Imperialpela possível segurança das nossas raias.Esta Lei ainda está em vigor, porque ja-mais foi revogada. Por conseguinte, temostrês diplomas acautelatórios das nossasfronteiras. (A respeito desde assunto exis-te interessante parecer, de 19 de março de1967, de Adroaldo Mesquita da Costa, entãoConsultor-Geral da República).

148

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 146: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Essa desigualdade de "comportamento", di-gamos assim, das fronteiras, não ocorre ape-nas no Brasil, ocorre também noutros paí-ses; motivo por que Camille Vallaux enca-rou em sua obra, Le Sol et 1'État, as fron-teiras como vivas, mortas e esboçadas. Hápouco, Kei Wakaisumi, da Universidade San-gyo, de Kioto, Japão, dividiu as fronteirasem impermeáveis, permeáveis e residuais.As fronteiras impermeáveis são as frontei-ras estabelecidas por longo processo decristalização histórica, política, económica esocial. As fronteiras permeáveis são as fron-teiras que ainda não chegaram àquela for-ma de cristalização, podendo ser submeti-das a posteriores modificações. Será o ca-so da fronteira entre a Somália e a Etiópiana área chamada o "Chifre da África", fron-teira onde ocorre verdadeira guerra, a qualterá por desfecho a posse do território deDjibouti, antiga colónia francesa, dotado deum porto de primeira ordem. As fronteirasresiduais, na classificação de Kei Wakaisumi,são as divisas que separam Estados dentrode uma federação, ou a "divisa histórica"que separa a Grã-Bretanha da Escócia.

O internacionalista A. O. Cuckwurah refere-se também às "fronteiras geométricas", con-siderando-as "fronteiras artificiais"; e diz:"porque linhas geométricas sobre mapasplanos podem ter propriedades muito dife-rentes de linhas através de pontos corres-pondentes sobre a superfície da terra. Estasdiferenças originam-se do fato de que umasuperfície encurvada está sendo projetadasobre uma superfície plana. Afinal de con-tas, a terra não é chata como um mapa,nem perfeitamente esférica como um glo-bo". (5) Motivo porque o geodesista entraem ação, diz o mesmo internacionalista,para determinar a posição exata de tais li-nhas sobre a superfície da terra.

Ratzel, o pai da Geopolítica, considerou afronteira como o "órgão periférico do Esta-do"; e o francês Jacques Ancel, em sua no-tável Geographie des Frontières, definiu abusca de fronteiras como a necessidade vi-tal dos Estados modernos. Por isso, Ratzelem sua Politische Geographie definiu a guer-ra da seguinte forma: "É passear a fronteirasobre o terreno alheio". Quando o Iraquesurgiu em 1921 como Estado independente,foi descrito por alguém da seguinte manei-

ra: possuía uma capital, Bagdad, e um rei(hoje, o Iraque é República), mas de 1922 a1937 teve de procurar suas isóbaras políticas(definição de fronteira, dada por Ancel) coma Síria, Jordânia, Turquia, Iran, Kuwait eArábia Saudita. Tudo isso foi realizado pormeio de um processo negociatório, que sófez honra ao Governo de Bagdad. JacquesAncel definiu a fronteira como uma isóbarapolítica que fixa o equilíbrio entre duaspressões.

Quando a nossa Comissão Demarcadora deLimites do Ministério das Relações Exterio-res demarca um trecho, qualquer trecho, dafronteira, o que representa o resultado deuma "campanha", o trabalho realizado nes-sa "campanha" é transvertido ao mapa, comtodas as indicações precisas de latitudes elongitudes.

É muito curioso assinalar que os portugue-ses, no período áureo dos seus descobri-mentos, procediam também a esse trabalhode "compilação" na Chancelaria do Reino ouna Casa da índia, confrontando cartas, am-pliando-as ou completando-as à luz das in-formações dos roteiros, redigidos por seusnavegantes. Coube a Dom João II a gló-ria de haver inaugurado a prática da implan-tação dos padrões de pedra no litoral afri-cano. Numa síntese admirável, eis o quenos ensina Luciano Cordeiro: "Afirmando,mal assuma o poder, o propósito e o títuloao senhorio das terras áfrico-atlânticas, mili-tarmente pela construção da fortaleza daMina, diplomaticamente pela embaixada àInglaterra e nas negociações com Castela,Dom João II manda em 1482, Diogo Cãoseu escudeiro, continuar a descoberta parao S., firmando-a não já com as cruzes demadeira que não simbolizavam, caracteristi-camente, um direito nacional, mas com pa-drões de pedra, que formalmente o expri-miam e simbolizavam a intenção e a posseda soberania e do poder político. Diogo Cãodescobre o esteiro (foz) do Zaire, coloca naponta S. o padrão de São Jorge (6.° 6'), eprosseguindo a descoberta da costa para oS. assenta o padrão de Santo Agostinho (13.°27' 15"). É a primeira viagem descrita peloscronistas: somente a sua data é esta: 1482-1483 Parte então, novamente, Dio-go Cão, em 1484 depois de meado de abril;em princípios de 1485 coloca no Cabo Ne-

149

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 147: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

gro (15.° 40' 30") um novo padrão, e pas-sando além, prossegue a descoberta até àSerra Parda, — Cabo da Serra, Cross point(21.° 48') — estando a expedição de volta aLisboa em 1486. É a segunda ou últimaviagem de Cão, a que os cronistas se re-ferem". (6)

É muito importante assinalar esses avançosdos portugueses de Quatrocentos e de Qui-nhentos na arte da Marinharia, bem comono desenvolvimento da cartografia das ter-ras descobertas na África, nas índias e noBrasil, representando contribuição de trans-cendente importância para o conhecimentodo mundo.

as fonteiras lineares

Fica-se então pensando na fronteira linear,como aparece em todos os mapas do mundo.

É muito curiosa a história da fronteira linear.Recorrendo à doutrina abalizada de Paul deLapradelle, diremos que coube ao Rei LuísXIV o haver estabelecido, de acordo comVauban, um "plano estratégico da frontei-ra". Pelo Tratado dos Pireneus, de 1659,os "Montes Pireneus" passaram a ser afronteira natural entre a França e a Espanha.E informa Lapradelle: "Para dar uma basecientífica às negociações diplomáticas, im-porta levantar com precisão o plano daslisières (ourelas) do território. O Rei, nosseus últimos anos, toma a peito corrigir odesdém afetado pelos seus predecessorespela geografia da França. Por sua ordem, oengenheiro Masse (1650-1737) começa o le-vantamento dos planos da fronteira do Ocea-no. Iniciados no final do reinado de Luís XIV,os trabalhos foram terminados em 1724.Nesta data, Masse foi encarregado por LuísXV de dirigir o levantamento dos "planos doRei" sobre a fronteira do Norte, trabalho ár-duo e de longo fôlego".

Os primeiros trabalhos geodésicos empre-endidos com o propósito de levantar umacarta geral da França, em grande escala,foram inaugurados em 1666 pela criaçãoda Academia das Ciências, que, em colabo-ração com o Observatório, buscou a medidado meridiano de Paris, ponto de partida datriangulação. A Carta da França, devido à

iniciativa de Colbert, foi começada por umadinastia de sábios que o ministro mandouvir da Itália: Jean-Dominique Cassini e seusdescendentes. Começada em 1750, a CarteGénérale de Ia France foi terminada em1789. Sua montagem levou 39 anos. Come-çada por Cassini foi terminada por CassiniThury.

Ernest Lavisse, notável historiador e porta-voz da Escola francesa de Geografia huma-na, afirmou que "presentemente as frontei-ras entre os povos são duras e abruptas,quando moles eram outrora". Comentandoeste pensamento de Lavisse, Jacques Ancelacrescentou que, mais precisamente, essasfronteiras eram outrora indecisas.

Coube à Revolução francesa criar o que sechamou "espírito nacional", sendo a naçãoa solidariedade consciente de todas as suaspartes e de todos os seus integrantes. Vidalde La Blache, outro mestre da Escola fran-cesa de Geografia humana, assinalou que nodia 18 de junho de 1790, os habitantes deStrasburgo hastearam sobre a ponte doReno a bandeira com o lema lei commencele pays de Ia Liberte. Para Vidal de La Bla-che essa afirmação de vontade nacionalcriou l'esprit de frontière.

Lapradelle informa que a Carta da Europa,pelo menos de mais da metade da Europacentral, no século seguinte, representotu cré-dito importante para Napoleão, grand lec-teur de cartes, bem como para seus enge-nheiros-geógrafos. Foi graças ao trabalho demuito tempo que se pôde estabelecer a Car-ta atual da França ao 80.000, que constitui,tanto para a paz como para a guerra, umainstituição fundamental do Estado.

Esses estudos geodésicos tiveram excepcio-nal vantagem e muito contribuíram para asolução de velhos ou arquivelhos litígiosterritoriais que a França mantinha no séculoXVIII, litígios vinculados com as pertençasterritoriais do Rei, tanto em relação à Alsá-cia, como em relação aos Países Baixos.Como se tratasse de assuntos delicados, asinstruções passadas aos embaixadoresfranceses primavam pelas reticências. As-sim, as instruções passadas ao Conde deLa Marck em missão secreta junto ao Elei-

150Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 148: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

tor Palatino, diziam: " . . . mas, faz-se misterque esta insinuação seja feita com toda adescrição a fim de que não se possa crerque S.M. tenha tido conhecimento dessa in-sinuação nem que dela se prevaleça no fu-turo como de uma declaração ou de umoferecimento feito da sua parte". A insinua-ção referia-se aos pequenos territórios deQueich e de Lauter, na Alsácia.

Coube, pois, à Revolução francesa "por umapolítica de demarcação linear nos tratados,o advento da solução moderna do problemados limites, a linha ininterrupta", consoantea síntese de Lapradelle. Num interessantís-simo estudo, intitulado Maps as evidencein international boundary disputes: a reap-praisal, Guenter Weissberg ocupou-se dopapel representado pela cartografia na juris-prudência internacional, aduzindo algunscasos submetidos à Corte Internacional deJustiça. Assim, o intemacionalista norte-americano sublinhou a importância do con-flito territorial ocorrido entre a China e aíndia. "Nesse litígio, as Partes confiaram-senos seus mapas, em mapas alheios, eem mapas neutrais para darem validadeaos seus argumentos", afirmou o ju-rista norte-americano. Por nota de 22 demarço de 1959, o Primeiro-Ministro Nehruinformou ao Primeiro-Ministro Chou EnLai de que não poderiam subsistir dú-vidas quanto às fronteiras, tal como seencontravam "em mapas publicados". ChouEn Lai rebateu o alegado de Nehru, afir-mando que os primeiros mapas inglesesou indianos levantados a respeito da fron-teira foram tão "rústicos quanto os mapaschineses". Na reunião de 1960, os represen-tantes chineses e indianos, lidando com oassunto, dividiram seu trabalho da seguintemaneira: os indianos citaram 36 mapas ofi-ciais indianos e 8 mapas oficiais chineses;e os chineses citaram 13 mapas oficiais in-dianos. (7) Assim, pelo estudo dos mapasbem como de outras provas aduzidas du-rante os trabalhos, China e índia resolverammansamente o delicado litígio da linha defronteira no Himalaia. Nunca será demais in-sistir na surpreendente vitória que represen-tou a aceitação do uti possidetis, tanto peloBrasil como pelas nações hispano-america-nas da América do Sul, para a solução de di-fíceis problemas de fronteiras. Direi que osdois tratados assinados pelo Império com o

Peru, o de 1841 (no seu art. 14), tratadoque não foi aprovado pelo Governo imperial,e o de 1851 (no seu art. 7.°), reconheceram oprincípio do uti possidetis para a soluçãodo problema dos limites.

O tratado de 1841 foi o primeiro tratado delimites que o Brasil negociou; o segundofoi o Tratado de Limites com o Uruguai, assi-nado no Rio de Janeiro, em 12 de outubrode 1851; e o terceiro Tratado de Limitesfoi o de 23 de outubro de 1851, assinadocom o Peru. Estes dois últimos tratadosestão vigentes.

a demarcação da fronteira brasileira

A partir de 1928, o Serviço de Frontei-ras desvelou-se em sucessivas campanhasde demarcação das nossas fronteiras com aGuiana francesa, com o Suriname (entãoGuiana Holandesa), com a Guiana Inglesa,com a Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia eParaguai. Relatarei que a 26 de fevereiro de1943, como membro da Delegação especialdo Brasil, presidida pelo Ministro AlexandreMarcondes Filho, assisti à inauguração daPraça Internacional, situada entre as cida-des de Rivera e de SanfAna do Livramento,projetada e construída pela Comissão Mistade Limites e Caracterização da FronteiraBrasil-Uruguai. Esta praça internacional re-presentara a suma periódica, digamos as-sim, de inúmeros projetos aventados e de-fendidos no passado, mas não cumpridos naprática. Acontecimento de excepcional im-portância que jamais se apagará dos meusolhos, a demonstrar o grau de geminaçãodas populações de ambos os países nessaraia fronteiriça. Cavalgadas de gaúchos adesfraldarem bandeiras, lanças enfeitadaspor galhardetes com as cores nacionais dosdois países, a meninada das escolas pú-blicas dos dois lados num regozijo excep-cional de comunicação, comunhão de inte-resses e amor à concórdia internacional. Ver-dadeiramente inesquecível.

Ainda a propósito do Uruguai, desejo assi-nalar que, pelo Decreto-Legislativo n.° 53,de 1974, o Congresso Nacional aprovou otexto do Acordo sobre a Definitiva Fixaçãoda Barra do Arroio Chuí, concluído com o

151

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 149: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Governo do Uruguai, em Montevidéu, portroca de Notas de 21 de julho de 1972.Vale a pena assinalar que, mal iniciadapor Soares de Andreia e pelo Coronel Reyesa demarcação da linha da fronteira, o AltoComissário brasileiro assinalou a mobili-dade da Barra do Arroio Chuí; o que Para-nhos, então Ministro do Império em Monte-vidéu, ressalvou pelo acordo de 22 de abrilde 1853 assinado com Florentino Castella-nos, Ministro das Relações Exteriores doUruguai. Pouca gente conhece esse prece-dente histórico de um assunto que levoumais de cem anos para ser definitivamenteresolvido. Estivemos o Coronel Engel, o En-genheiro Longcamp e eu em Montevidéu, em1972, para estabelecermos as bases de li-quidação desse assunto, bases que foramaceitas pelo Governo uruguaio.

Quanto à fronteira com a Colômbia e com oPeru, nunca será por demais insistir naadmirável mediação de Afrânio de MeloFranco no litígio de Letícia, quando váriasintervenções da velha Liga das Nações ha-viam fracassado. E justamente Melo Francolhe deu solução final na Conferência do Riode Janeiro, de 1934, quando já não era maisMinistro das Relações Exteriores. Demons-tração ímpar, fúlgida e perfeita da políticade boa vizinhança, política que, no entenderde um internacionalista norte-americano,marcou o abandono do uso da força pelosEstados Unidos em suas relações com ospaíses latino-americanos. (8) Em conse-quência dessa decisão mediatória daqueleque foi meu Chefe no Itamaraty, porquantofui seu Oficial-de-Gabinete, o trapézio ter-ritorial de Letícia entrou em progresso ma-terial aos 3.° e 4.° trimestres de 1966, o geó-grafo Joaquin Molano Campuzano escreveunotável monografia sobre o "Perfil geográ-fico e económico da Comissária Especial doAmazonas", isto é, sobre o trapézio territo-rial de Letícia, porto fluvial da Colômbia so-bre o rio Amazonas, e que hoje conta comuma população de 12.000 habitantes.

Letícia, situada ao lado de Tabatinga e emfrente de Ramón Castillo (território perua-no), como pólo de arranque económicomuito importante para toda a região dosbelíssimos Lhanos Orientais da Colômbia.Bem perto de Letícia encontra-se Atalaia

do Norte (a antiga Remate de Males), sobreo rio Javari, localidade que, com soberbo ím-peto, está crescendo.

A demarcação da fronteira Brasil-Colômbiacongregou demarcadores brasileiros como oCoronel Temístocles Paes de Souza Brasile o Coronel Renato Barbosa Rodrigues Pe-reira, e os colombianos Belisário Ruiz Wil-ches, Francisco Andrade e Luís LaverdeGoubert — todos proficientes demarcadores.

Assinalemos que, em 9 de agosto de 1971, osPresidentes Mediei e Pastrana Borrero seencontraram em Letícia. Desse encontro dosdois Presidentes (o primeiro encontro dePresidentes do Brasil e da Colômbia) — en-contro histórico, como lhe chamou o Presi-dente Pastrana Borrero — surgiu a "Decla-ração Conjunta de Letícia".

A fronteira com o Peru entrou agora em fasede conhecimento direto, por parte das au-toridades de ambos os países vizinhos. OPetróleo de Pastaza, da região amazônica dePastaza, em franca exploração por 11 com-panhias estrangeiras que assinaram contra-tos de risco com a Petroperu, deu extraordi-nária vitalidade àquela área, ao mesmo tem-po que prosseguem os trabalhos de cons-trução de duas rodovias que deverão atingira fronteira do Brasil e vincular-se com osistema rodoviário do Acre. Do lado do Bra-sil, pesquisadores da Petrobrás fizeram son-dagens de petróleo na Serra Contamana,denominada Serra do Divisor pelo geólogoPedro Moura. Na Serra do Divisor encontra-se o ponto astronómico e geográfico maisocidental do Brasil (identificado em 1926pelo Almirante Ferreira da Silva, com as se-guintes coordenadas, Longitude O. Gr. 73.°59' 32" 45, e Latitude Sul 7.° 33' 12", 85).Nas proximidades desse ponto, nasce o rioMoa, afluente da margem esquerda do Ju-ruá. Suspeifa-se que entre o Javari e o Juruáexista uma área rica não apenas de petróleo(a repetir o caso do petróleo peruano da re-gião do rio Pastaza), mas de minérios. Essaregião foi palmilhada, no tempo do Império,pelo Barão de Ladário, notável demarcadore iniciador da demarcação da fronteira como Peru. Os trabalhos de demarcação foramsubsequentemente ampliados pelo Barão deTefé, Taumaturgo de Azevedo, Luis Cruls,

152Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 150: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Belarmino de Mendonça, Euclydes da Cunhae Almirante Ferreira da Silva.

Depois do recente encontro dos PresidentesGeisel e Bermúdez, novas possibilidadeseconómicas abriram-se através dos rios daAmazónia, porquanto um dos pontos maismovimentados da região é justamente o deIquitos, no Peru.

Sem dúvida alguma, merece relevo especialo trabalho de demarcação da fronteira Bra-sil-Venezuela, fronteira estabelecida peloTratado de Limites de 1859, assinado emCaracas por Filipe José Pereira Leal comLuis Sanojo, Ministro das Relações Exte-riores — penosa demarcação iniciada peloCoronel de Engenheiros Francisco XavierLopes de Araújo, depois Barão de Parima,demarcação iniciada em 1880. Parima tevesob suas ordens nessa demarcação três no-mes que se tornariam conhecidos em pro-blemas de fronteira: Dionísio Cerqueira, Gui-lherme C. Lassance e Joaquim Xavier deOliveira Pimentel. Depois, tivemos outraetapa, a de Braz Dias de Aguiar; mas, a de-marcação da fronteira Brasil-Venezuela ter-minou definitivamente em 1973. A Ata deCaracas de Descrição Geral da Linha deFronteira foi assinada, em 23 de agosto de1973, pelo General Bandeira Coelho e porGeorges Panchenko, Comissário da Vene-zuela. O Pico da Neblina, de 3.014 metrosde altura, ficou sendo o mais alto do territó-rio nacional. Bandeira Coelho determinouque o Pico da Neblina fosse atingido e es-calado, em 31 de março de 1965, por umaturma chefiada pelo técnico brasileiro JoséAmbrósio de Miranda Pombo, que contoucom a participação de um técnico venezue-lano, bem como com a de Dilermando deMoraes Mendes e Valdomiro Pompeu Sales.Miranda Pombo e Dilermando de Moraes f i -zeram as seguintes declarações ao jornalA Província do Pará, de 9 de agosto de 1969:"Depois de lances perigosos e muita perse-verança, os participantes da expedição con-seguiram finalmente alcançar o ponto cul-minante do Brasil, hipótese que ficou con-firmada quando verificaram a altura do picoda Neblina: 3.014 metros. Também ficou,na oportunidade, esclarecida definitivamen-te a questão da posse da elevação: estava

dentro do território brasileiro, afastado daVenezuela cerca de 687 metros". Nessa li-nha de fronteira, encontra-se o ponto maismeridional da Venezuela, locado sobre o di-visor de águas da Serra Imeri (marco EE-11).O segundo pico mais alto do Brasil é o 31de Março, na mesma serra, com 2.992 me-tros de altura. A fase final dessa demar-cação, na etapa Bandeira Coelho-GeorgesPanchenko, fase verdadeiramente heróica,foi representada pelas Cordilheiras de Pa-rima e Pacaraíma, trecho de uns 700 quiló-metros de extensão, e que apresentou obstá-culos físicos realmente impressionantes.

Meus Senhores:

No dia 20 de fevereiro de 1972, os Presiden-tes Mediei e Rafael Caldera encontraram-seem território venezuelano, em Santa Elenadei Uraien. Antes, os dois Chefes de Estadoavistaram-se no marco BV-8, a alguma dis-tância do rio Surumaú. Em Santa Elena deiUraien assinaram uma Declaração Conjunta,constante de 27 itens, bem como um AcordoBásico de Cooperação Técnica.

Pode dizer-se que desse encontro resultouo aproveitamento económico imediato doTerritório de Roraima, Terra dos Diamantes.Devido aos esforços do nosso Exército,perto do marco BV-8 está nascendo a cidadebrasileira de Tacaraíma, a 1.050 metros dealtura e a uns 250 km da Boa Vista.

Ultrapassamos, pois, o limiar empolganteda extraordinária Aventura da Amazónia,que deve ser ativada em todas as direções.Pensemos no conceito norteador do Mare-chal Castelo Branco, em seu discurso deManaus, de 3 de dezembro de 1966: "É, por-tanto, fundamental ao interesse superior epermanente da Nação conduzir as correntesmigratórias internas, tanto a que historica-mente promana do Nordeste, quanto a quetem origem no Centro-Sul, num sentido queassegure a um só tempo, a ocupação huma-na da Região, a conquista gradual, progres-siva e planificada de seus espaços vazios.Pois daí advirá a expansão e interligação desuas ilhas económicas internas, a vivifica-ção das faixas de fronteiras e a definitiva li-gação da Região com o resto do País".

153

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 151: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

o serviço de demarcação defronteiras do itamaraty

Ademais, poder-se-á considerar o Serviço deDemarcação de Fronteiras do Ministério dasRelações Exteriores (com sua ala em Belémdo Pará) um instrumento de propulsão doPrograma do Trópico Úmido, instituído peloDecreto presidencial n.° 70.999, de 17 deagosto de 1972, o qual, dividido em seis sub-programas, vem conferindo nova dimensão,bem como um sentido de organicidade aoprograma de pesquisas realizado na Amazó-nia com o duplo propósito — o de valorizaro homem e o de estudar as virtualidades dosolo sob todos os seus aspectos.

É claro que o Serviço de Fronteiras, atentoàs responsabilidades que tem, vive numapreocupação constante, a qual se traduz nopropósito de aplainar e desenvolver comu-nicações com os países vizinhos; desvelarpela sorte das populações das raias frontei-riças; cuidar da melhoria de pontos de con-tato na fronteira entre gentes brasileirase gentes doutros países; estabelecer prote-ção adequada aos marcos plantados e subs-tituí-los, quando estiverem em mau estado;proceder à constante caracterização dessasfronteiras, como acontece agora na fron-teira Brasil-Venezuela, já demarcada, masnão totalmente caracterizada; e dar cum-primento aos tratados internacionais, comoaconteceu recentemente com a adjudica-ção das 67 ilhas e ilhotas no trecho desem-bocadura do Apa até Baía Negra, no rio Pa-raguai, em consequência do Tratado de 21de maio de 1927. Neste particular, foi valiosaa colaboração técnica da Diretoria de Hidro-grafia e Navegação da nossa Marinha deGuerra. Temos outro exemplo no plano deaproveitamento energético do rio Jaguarãocom a construção das hidrelétricas de Tala-vera e Centurião, cometimento que resultouda ação do Presidente Geisel junto aos nos-sos amigos uruguaios. Este belo plano re-presentará a irrigação de uma área do Bra-sil e do Uruguai de 74.000 km2, levandoimensos benefícios aos Departamentos deCerro Largo, Melo e Rocha, no Uruguai. Fi-nalmente, contemplemos as realizações emcurso, no campo do aproveitamento hidrelé-trico na Bacia Paraná-Paraguai-Uruguai.Pensemos que o rio Tietê, afluente do Pa-

raná, e, por conseguinte, rio platino, nasce a18 km da Serra do Mar, no setor de Santos.Portanto, a Bacia do Prata estende-se atéaos contrafortes orientais da nossa Serra doMar. E pensemos que 60.000.000 de brasi-leiros vivem no Centro-Sul, num ecúmenoonde o rio Paraná representa o pólo irradi-ante não apenas de interesses económicosimediatos, mas da construção, pedra a pe-dra, de uma fabulosa obra de avanço sobreo futuro em termos de criação, na Américado Sul, de um gigantesco parque energéticoe industrial. Conta o venezuelano Angel Gri-sant que, mal despontada a aurora, Bolívare Sucre assomavam a cavalo às cumeeirasandinas e se embebiam na contemplação dohorizonte, sonhando grandezas para seuspovos — e para a própria América. É o quefazem os demarcadores, interessados emproceder com clareza nos problemas quepossam surgir na sua esfera de ação. Finca-dos no passado, devassam as perspectivasdo presente e do futuro.

Não sei se fui feliz em traçar este panoramado que vem a ser o trabalho incansável doServiço de Demarcação de Fronteiras do Mi-nistério das Relações Exteriores. Cumpre-nos assinalar, exaltar, nobilitar, tanto em ter-mos do passado como em termos do pre-sente, o que foi feito pelo serviço de Fron-teiras. Velho clássico latino dissera, certavez, certa verdade: Parvum parva decent, oque em Português significa, "aos pequenosconvém as coisas pequenas". Ora, não po-demos assim pensar, porque sempre tere-mos de encarar os problemas das nossasfronteiras terrestres e oceânicas através demetro largo. São problemas permanentes ademandarem soluções permanentes em pro-porções macrométricas.

Um país-continente, como o Brasil, dependefundamentalmente dos seus aperfeiçoamen-tos cartográficos. Dentre estes sobreleva acartografia das nossas fronteiras. Por isso,não será exagero afirmar que o nosso pres-tígio internacional esteja na razão direta dointeresse, do cuidado, da vigilância que de-dicamos às nossas fronteiras terrestres ma-rítimas e aéreas. Ademais de maturidadeplena, é indiscutível conscientização inter-nacional.

154Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 152: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

notas

(1) Mably, Le Droit Publique de 1'Europs,t. I l l , cap. XVI, Londres, 1789.

(2) Virgílio Sampognaro, "El Tratado deMadrid, sus causas, su celebración", naRevista de Estúdios Políticos, Madrid, vol.XIV, 1946.

(3) O original, por nós compulsado, encon-tra-se na Seção de Manuscritos da Biblio-teca Nacional do Rio de Janeiro — 981-7-R.

(4) Arquivo Nacional, Caixa 418 Pac.l.

(5) A. O. Cukwurah, The settlement ofboundary disputes in international Law,Manchester University Press, 1967, páginas22 e 23.

(6) Luciano Cordeiro, Diogo Cão-Memóriaapresentada à 10.a sessão do Congresso In-ternacional dos Orientalistas, Lisboa. 1892.

(7) Estudo estampado no American Journalof International Law, volume 57, outubro de1963.

(8) Consultar a obra de Bryce Wood, no-tável aliás, The Making of the Good NeighborPolicy, Columbia University Press, NovaYork, 1961.

bibliografia

Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Ja-neiro, vol. LI II, Documentos sobre o Tratadode 1750, Rio de Janeiro, 1938.

Isa Adonias, A Cartografia da Região Ama-zônica, Rio de Janeiro, 1963.

Barão do Rio-Branco, Efemérides Brasileiras,vol. VI das Obras do Barão do Rio-Branco,edição Itamaraty, 1946.

V. Adami, National Frontiers in Relation toInternational Law, Londres, 1927.

S. W. Boggs, International Boundaries, AStudy of Boundary Functions and Problems,Columbia University Press, Nova York, 1940.

J. L. Brierly, The Law of Nations, 6.a edição,Oxford, 1963.

Lord Curzon of Kedleston, Frontiers, TheRomanes Lectures, Oxford, 1907.

C. B. Fawcett, Frontiers, A Study in PoliticalGeography, Oxford, 1918.

G. Ireland, Boundaries, Possessions andConflicts in South America, Harvard Uni-versity Press, 1938.

Lord Nacnair, The Law of Treaties, Oxford,1938.

A. K. Weinberg, Manifest Destiny: A Studyof Nationalist Expansion in American Histo-ry, Baltimore, 1935.

Moyses Vellinho, Fronteira, Porto Alegre,1975.

Nelson Saldanha, "Situação Histórica daTeoria Pura do Direito", em Revista de In-formação Legislativa, do Senado Federal,janeiro e março de 1977, Brasília.

Alfredo Ellis Júnior, Meio Século de Ban-deirismo (1590-1640) Universidade de SãoPaulo, 1939.

Cardeal Dom Manuel Gonçalves Cerejeira,A Idade Média na História da Civilização,2a. edição, Coimbra, 1953.

J. F. de Almeida Prado, Primeiros Povoado-res do Brasil (1500-1530), 4.a edição, SãoPaulo, 1966.

155

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 153: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 154: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

governador de baden-wíirttembergvisita brasília

Discurso do Chanceler Azeredo da Silveira, no PalácioItamaraty de Brasília, em 22 de março de 1978, porocasião do almoço oferecido ao Governador do Estadode Baden-Wiirttemberg (RFA), Hans Filbinger.

Senhor Governador,

É para mim uma grande satisfação poderrecebê-lo e à Senhora Filbinger, hoje, nestaCasa, e renovar o contato que tivemos porocasião da visita do Senhor Presidente daRepública ao seu país,

A vinda de Vossa Excelência culmina umasérie de visitas de importantes autoridadesestaduais, o que bem reflete as estreitasrelações entre o Brasil e a República Fede-ral da Alemanha. Em agosto de 1977, tiveo prazer de receber o Ministro EduardAdorno, representante de seu Estado juntoao Governo Federal em Bonn. Posteriormen-te, em outubro, aqui esteve o Ministro daEconomia e Viação, Doutor Rudolf Eberle,à frente de importante comitiva, compostapor deputados estaduais, empresários ebanqueiros.

O Estado que Vossa Excelência representa,Senhor Governador, sendo o terceiro em po-pulação — com mais de 9 milhões de habi-tantes — e um dos mais bem dotados eco-nomicamente — com um produto internobruto na faixa de 170 bilhões de marcos —

não poderia deixar de ser responsável porparcela significativa do fecundo relaciona-mento entre o Brasil e a República Federalda Alemanha. Cabe-me assinalar, a propó-sito, que Baden-Wiirttemberg é uma uni-dade federativa de onde se origina parteponderável dos investimentos alemães noBrasil. Com efeito, das mais de 500 indús-trias com participação alemã atualmenteexistentes no Brasil, há cerca de 150 pro-venientes de Baden-Wurttemberg, aí in-cluídas grandes empresas e, sobretudo, pe-quenas e médias, estas de alta relevânciapara o aporte de tecnologia. O ano de 1976foi bem indicativo da intensidade dos in-vestimentos de empresas do seu Estado noBrasil. Naquele período, as inversões líqui-das montaram a 242 milhões de marcos, cifraque correspondeu a, aproximadamente, 21%dos investimentos de Baden-Wúrttembergno exterior e a cerca de 42% dos investi-mentos alemães no Brasil.

Releva, igualmente, mencionar a importân-cia do fluxo de comércio. Nos três últimosanos, o Estado de Baden-Wúrttembergabsorveu, em média, 9% das exportaçõesbrasileiras para a República Federal da Ale-

157

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 155: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

manha e participou com cerca de 18% dototal das exportações alemães para oBrasil.

A densidade das relações entre o Brasil eBaden-Wúrttemberg não se restringe, noentanto, Senhor Governador, aos setoreseconômico-financeiro e comercial. Contandocom universidades de prestígio invejável,como as de Heidelberg e Freiburg e comcentros de estudos de importância mundial,como o de Pesquisa Nuclear de Karlsruhe,o Estado de Baden-Wiirttemberg sobressai,também, no campo do intercâmbio cultural,científico e tecnológico. Neste particular,desejo registrar o Convénio recentementefirmado entre a Comissão Nacional de Ener-gia Nuclear e o Centro de Pesquisa Nuclearda Karlsruhe, que amplia o quadro da coo-peração entre o Brasil e a República Fe-deral da Alemanha no campo dos usos pa-cíficos da energia nuclear.

Senhor Governador,

Antes de terminar, desejaria expressar umavez mais os nossos agradecimentos pelahospitaleira acolhida que Vossa Excelênciaproporcionou ao Presidente Ernesto Geisel,a mim e aos demais membros da comitivana visita ao seu Estado e por ocasião doalmoço no belo Castelo de Schwetzingen.

Estou seguro, Senhor Governador, de quea sua visita muito contribuirá para estreitarainda mais os laços entre o Brasil e a Re-pública Federal da Alemanha. Rogo a todosaqui presentes que ergam suas taças parabrindar a prosperidade crescente da Repú-blica Federal da Alemanha e, em particular,de Baden-Wiirttemberg, formulando, aomesmo tempo, os melhores votos pela feli-cidade pessoal de Vossa Excelência e daSenhora Filbinger.

158

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 156: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

bolívia instala escritório da ypfbno brasil

Discurso do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, António Azeredo da Silveira, no PalácioItamaraty de Brasília, em 16 de fevereiro de 1978, porocasião da cerimónia de assinatura de Acordo parainstalação de escritório da Yacimientos PetrolíferosFiscales Bolivianos (YPFB) no Brasil.

Senhor Embaixador,

É para mim motivo de grande satisfaçãopresidir, com Vossa Excelência, a cerimóniade assinatura de um acordo que, ao esta-belecer mais um elo na longa série de atosentre o Brasil e a Bolívia, demonstra a vi-talidade e o dinamismo crescente de nossasrelações, cerimónia essa que está sendohoje prestigiada pela presença, que agra-deço, do Senhor Ministro de Estado dasMinas e Energia, Doutor Shigeaki Ueki, edo Doutor Paulo Vieira Belotti, Diretor daInterbrás.

O Acordo sobre a Instalação do Escritórioda Yacimientos Petrolíferos Fiscales Boli-vianos representa o desdobramento naturaldo aumento e intensificação das relaçõeseconómicas e comerciais entre os dois paí-ses nos últimos anos. Essa evolução atingiufinalmente o nível de complexidade queexige, por razões de eficiência e rapidez, apresença direta da representação de umadas mais importantes empresas estatais bo-livianas junto à comunidade económicabrasileira.

Além dos motivos económicos e comerciaisespecíficos que inspiram a medida, a insta-lação do escritório da Yacimientos Petrolí-feros certamente haverá de contribuir paraa rápida implementação do Acordo de Co-operação e Complementação Industrial, fir-mado pelos Presidentes Geisel e Banzer,em Cochabamba, em 1974, e que constituium dos empreendimentos de colaboraçãoeconómica de maior envergadura e proveitomútuo em todo o Continente.

Senhor Embaixador, estou certo de que asolidez deste e de outros projetos brasileiro-bolivianos decorre da consciência partilha-da pelos nossos povos e Governos de quea cooperação e conjugação de esforços nosmais diversos campos servem com equilí-brio aos interesses e objetivos nacionaistanto do Brasil como da Bolívia.

Nessa convicção, congratulo-me com VossaExcelência pela assinatura deste documentoe formulo votos para que ele contribua paradesenvolver um novo capítulo dos laços deamizade que sempre marcaram as relaçõesentre nossos dois países. *

* O Acordo entre o Brasil e a Bolívia para funcionamento da YPFB está na seção Tratados, Acordos,Convénios, página 177.

159

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 157: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 158: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

a conferência das nações unidassobre ciência e tecnologia

para o desenvolvimentoDiscurso do Ministro de Estado, interino, dasRelações Exteriores, Ramiro Saraiva Guerreiro, no PalácioItamaraty de Brasília, em 6 de março de 1978, durantea abertura da Conferência das Nações Unidas sobreCiência e Tecnologia para o Desenvolvimento.

É com prazer especial que dou as boas-vindas ao Secretário-Geral da Conferênciadas Nações Unidas sobre Ciência e Tecno-logia para o Desenvolvimento e aos repre-sentantes de diversas organizações e ór-gãos do sistema das Nações Unidas (bemcomo da OEA e do Governo argentino). De-sejo igualmente agradecer a presença defuncionários brasileiros que têm colaboradono trato da referida Conferência.

A realização deste Seminário constitui maisuma manifestação da importância que oBrasil vem atribuindo ao desenvolvimentocientífico-tecnológico e ao papel que as Na-ções Unidas podem desempenhar no senti-do de que a cooperação internacional nessecampo se dinamize de acordo com o po-tencial da ciência e da tecnologia como pro-pulsionadoras do desenvolvimento económi-co e social.

Coerente com essa orientação, o Governobrasileiro tem dedicado considerável aten-ção às reuniões e ao trabalho das organiza-ções e órgãos do sistema das Nações Uni-das que se ocupam da cooperação cientí-fico-tecnológica e da transferência de tec-

nologia, participando de forma construtivano enorme esforço envolvido na tarefa deconcretizar a aplicação da nova ordem eco-nómica internacional aos mecanismos atra-vés dos quais aquela cooperação e a trans-ferência de tecnologia se realizam.

Em relação especificamente à Conferênciadas Nações Unidas sobre Ciência e Tecno-logia para o Desenvolvimento, o Brasil temparticipado das reuniões internacionaispreparatórias e vem intensificando os tra-balhos internos, com o objetivo de empres-tar à Conferência uma contribuição corres-pondente à realidade diversificada do paíse conforme a sua situação de país em de-senvolvimento, que tem promovido nos úl-timos anos consideráveis transformações emsua estrutura económica.

Dentro deste espírito está sendo concluídaa redação do documento nacional brasileiro,visando a sua apresentação dentro do prazoprogramado no calendário preparatório daConferência.

Ainda no quadro dos preparativos nacionaishouve por bem o Governo brasileiro promo-

161

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 159: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

ver o presente Seminário, que estou certo rança de que algumas dessas ideias possamproporcionará útil troca de ideias entre fun- constituir subsídios proveitosos para outroscionários brasileiros encarregados da pre- países membros da organização e que aparação da participação brasileira na Con- reunião contribua assim para entendimentosferência e representantes do sistema das de conteúdo positivo no âmbito da coope-Nações Unidas. Manifesto, por fim, a espe- ração internacional.

162Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 160: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

relações diplomáticas

designação deembaixadores brasileiros

ítalo Zappa, junto ao Lesoto (cumulativa-mente com Moçambique), em 1.° de feve-reiro de 1978;

André Teixeira de Mesquita, junto à Islândia(cumulativamente com a Noruega), em 1.°de fevereiro de 1978;

Marcos António de Salvo Coimbra, junto aoEgifo, em 16 de março de 1978;

Vasco Mariz, junto ao Chipre (cumulativa-mente com Israel), em 28 de março de1978;

Ramiro Elysio Saraiva Guerreiro, junto àFrança, em 28 de março de 1978.

entregade credenciais

De Embaixadores brasileiros:

Octávio Luiz de Berenguer César, ao Go-verno de Honduras, em 5 de janeiro de 1978;

Aldo de Freitas, ao Governo de Bangladesh,em 24 de janeiro de 1978;

Fernando Paulo Simas Magalhães, ao Go-verno de Costa Rica, em 1.° de fevereiro de1978;

Carlos Frederico Duarte Gonçalves da Ro-cha, ao Governo de Luxemburgo, em 10 defevereiro de 1978;

Hélio António Scarabôtolo, ao Governo daDinamarca, em 20 de fevereiro de 1978;

Celso Diniz, ao Governo da República Do-minicana, em 22 de fevereiro de 1978;

De Embaixadores estrangeiros:

Jirí Sobotka, da Tchecoslováquia, em 2 defevereiro de 1978;

Jean Coradin, do Haiti, em 23 de fevereirode 1978;

Walter Magrutsch, da Áustria, em 23 de fe-vereiro de 1978;

Zahir Mohammad Farooqi, do Paquistão, em23 de fevereiro de 1978;

Punch Coomaraswamy, de Cingapura, em 3de março de 1978;

Hans G. Andersen, da Islândia, em 3 demarço de 1978.

163

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 161: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 162: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

]"O importante e fundamental é procurar

explicitar as convergências tácitas emaximizar o produto das negociações

inspiradas no interesse nacional das partes,uma vez que os tratados só são realmente

estáveis e duradouros na medida em querepresentam a harmonização de posições,

condição imprescindível à perenidade dospactos" — Azeredo da Silveira.

acordo comercialbrasil-república da china

Acordo Comercial entre o Brasil e aRepública Popular da China, assinadoem Pequim, em 7 de janeiro de 1978,pelo Embaixador brasileiro, AluízioNapoleão de Freitas Rego, e peloMinistro do Comércio Exterior,Li Chiang.

O Governo da República Federativa do Brasil e oGoverno da República Popular da China, a seguirdenominados "Partes Contratantes", animados pelopropósito de reforçar a amizade entre os dois povose de fortalecer e desenvolver suas relações co-merciais em base de igualdade e os benefíciosrecíprocos, resolveram celebrar o presente AcordoComercial:

artigo I

As Partes Contratantes se comprometem a envidaros maiores esforços e tomar as medidas necessáriaspara fomentar e ampliar o comércio entre os doisPaíses, aumentar gradualmente a variedade de in-tercâmbio de mercadorias e fazer o possível paramanter o seu equilíbrio comercial.

Em conformidade com as respectivas legislaçõessobre comércio exterior e câmbio, as Partes Con-tratantes conceder-se-ão reciprocamente as neces-sárias facilidades para importação e exportação demercadorias produzidas respectivamente por cadauma das Partes Contratantes.

artigo II

As Partes Contratantes conceder-se-ão reciproca-mente o tratamento da nação mais favorecida, não

inferior ao que cada uma delas concedeu ou venhaa conceder a terceiro país, em relação aos licen-ciamentos, direitos aduaneiros e demais taxas eimpostos da importação e exportação das merca-dorias, bem como aos regulamentos, formalidadese procedimentos aduaneiros.

As disposições acima mencionadas não serãoaplicadas:

a) aos benefícios especiais, preferências, privilé-gios e insenções que cada uma das Partes Contra-tantes concedeu ou venha a conceder a paíseslimítrofes, a fim de facilitar o comércio fronteiriço;

b) aos benefícios especiais que cada uma dasPartes Contratantes concedeu ou venha a concedera terceiro país em virtude da sua participação emconvénios regionais e sub-regionais de integração-,

c) aos benefícios especiais que cada uma dasPartes Contratantes concedeu ou venha a concedera terceiro país em virtude de sua participação emacordos comerciais multilaterais entre países emdesenvolvimento.

artigo III

A fixação dos preços das mercadorias, objeto deintercâmbio entre os dois Países, que terá por re-ferência cotações de mercadorias de qualidade eespecificações iguais ou comparáveis no mercadointernacional, será feita por comprador e vendedornos contratos comerciais respectivos.

artigo IV

Os pagamentos nas operações comerciais entre osdois Países efetuar-se-ão, em moedas livrementeconversíveis, acordadas pelo comprador e vendedor,em conformidade com os regulamentos vigentesem cada um dos dois Países com respeito aoregime de controle de câmbio.

165

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 163: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

artigo V

As Partes Contratantes tomarão todas as medidasno sentido de que as proporções de manufaturadose semimanufaturados de exportação de ambas asPartes aumentem gradualmente, sem prejuízo dointercâmbio de novos produtos e das mercadoriastradicionais.

artigo VI

As Partes Contratantes concordam em que o in-tercâmbio de mercadorias entre os dois Países seráefetuado pelas pessoas jurídicas ou físicas que sedediquem na República Federativa do Brasil aocomércjo exterior e pelas corporações estatais decomércio da República Popular da China.

Comprador e vendedor poderão assinar, a qualquermomento, durante o período de vigência do pre-sente Acordo, convénios e contratos de importaçãoe exportação de mercadorias considerados neces-sários por ambas as Partes, a fim de facilitar odesenvolvimento do comércio entre os dois Países.

artigo VII

Com o propósito de desenvolver as relações co-merciais entre os dois Países, as Partes Contratan-tes procurarão promover o intercâmbio de delega-ções de caráter comercial, bem como a realizaçãode feiras e exposições comerciais e, com esse obje-tivo, serão concedidas de Parte a Parte as diversasfacilidades e condições normalmente oferecidasnesses domínios, de conformidade com as respec-tivas legislações em vigor.

artigo VIII

As estipulações do presente Acordo não se aplicamàs medidas restritivas que qualquer uma das Par-tes Contratantes possa tomar para proteção da se-gurança nacional, da saúde pública e da sanidadeda fauna e flora, bem como para a proteção dopatrimónio artístico, histórico e arqueológico na-cional.

artigo IX

As Partes Contratantes concordam em estabeleceruma Comissão Mista Comercial, cujas tarefas serãoexaminar o cumprimento do presente Acordo e estu-dar as possibilidades e medidas de ampliar o co-mércio de benefícios recíprocos.A referida Comissão reunir-se-á, em princípio, umavez cada dois anos, alternadamente em Pequim eBrasília, e a data concreta do encontro será esta-belecida de comum acordo entre as Partes Con-tratantes.

artigo X

Após a expiração deste Acordo, todos os contratoscomerciais e convénios financeiros relacionados aocomercio, assinados de conformidade com o pre-sente Acordo durante a sua vigência, continuarãoa ser cumpridos segundo as disposições neleprevistas.

artigo XI

O presente Acordo entrará em vigor, provisoria-mente, a partir da data de sua assinatura e passaráa vigorar definitivamente desde o dia em que ambasas Partes se informem, reciprocamente, do cumpri-mento de suas formalidades legais internas. Opresente Acordo vigorará por um período de trêsanos e será automaticamente prorrogado por su-cessivos períodos de um ano, salvo se uma dasPartes Contratantes notificar a outra, por escrito,três meses antes do término do seu prazo devigência, de sua intenção de denunciá-lo.

Assinado em Pequim, em 7 de janeiro de 1978, emdois exemplares, nas línguas portuguesa e chinesa,sendo os dois textos igualmente válidos.

brasil e canada colocam em vigoro memorando de entendimento

Troca de Notas entre o Ministro deEstado das Relações Exteriores,António F. Azeredo da Silveira, e oEmbaixador Extraordinário ePlenipotenciário da Embaixada doCanadá, James Howard Stone, em 9 dejaneiro de 1978, colocando em vigor oMemorando de Entendimento entre osdois países, celebrado em Ottawa, em10 de outubro de 1977, pelosMinistros brasileiro e canandense daAgricultura.

A Sua Excelência, o Senhor James Howard Stone,Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário daEmbaixada do Canadá.

Senhor Embaixador,

Tenho a honra de informar Vossa Excelência deque foram cumpridas as exigências necessárias àentrada em vigor, para o Brasil, do Memorando deEntendimento entre o Ministério da Agricultura doBrasil e o Ministério da Agricultura do Canadá,celebrado em Ottawa a 10 de outubro de 1977.

2. O Governo brasileiro entende que as atividadesdo Grupo de Trabalho Conjunto sobre Agricultura,previsto no parágrafo 4 do Memorando de Enten-dimento, complementarão as desenvolvidas pelaComissão Mista Brasil—Canadá sobre Comércio erelações Económicas, criada através de troca deNotas realizada em Brasília a 28 de junho de 1976.

3. A presente Nota e a de Vossa Excelência, eminglês e francês, desta mesma data e de idênticoteor, determinam a entrada em vigor do Memo-rando de Entendimento, conforme disposto em seuparágrafo B.

166Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 164: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Aproveito a oportunidade para renovar a Vossa Ex-celência os protestos da minha mais alta consi-deração.

António F. Azeredo da SilveiraMinistro de Estado das Relações Exteriores doBrasil *

os acordos entre brasileirose mexicanos

Resolveram celebrar um Convénio de Amizade eCooperação e, para esse f im, nomearam seus Ple-nipotenciários, a saber:

O Presidente da República Federativa do Brasil,o Senhor Embaixador António F. Azeredo da Sil-veira, Ministro de Estado das Relações Exteriores;

O Presidente dos Estados Unidos Mexicanos, o Se-nhor Doutor Santiago Roei, Ministro das RelaçõesExteriores,

Os quais acordaram o seguinte:

Convénio de Amizade e Cooperaçãoentre o Brasil e o México, assinado nacidade do México, em 18 de janeirode 1978, pelos Ministros de Estado dasRelações Exteriores brasileiro,António F. Azeredo da Silveira,e mexicano, Santiago Roei; Acordosobre Sanidade Animal e AcordoBásico de Cooperação IndustrialBrasil-México, assinados no mesmo locale data, por Silveira e Roei; e oConvénio Complementar ao Acordo quecriou a Comissão Mista Brasil-México(Combramex), entre o Conselho deNão-Ferrosos e de Siderurgia (Consider)e a Comisión Coordinadora de IaIndustria Siderúrgica (CCIS),assinado também na cidade do México,em 18 de janeiro de 1978, peloMinistro de Estado da Indústria edo Comércio, Angelo Calmon de Sá,e pelo Secretário de Património eDesenvolvimento Industrial do MéxicoJosé Andrés de Oteyza.

CONVÉNIO DE AMIZADE E COOPERAÇÃO

O Presidente da República Federativa do Brasil,Ernesto Geisel,

O Presidente dos Estados Unidos Mexicanos, JoséLópez Portillo,

Inspirados pelo propósito de afirmar os laços fra-ternos de amizade que unem o Brasil e o México;

Cônscios de que os interesses dos dois países sãoconvergentes em uma grande variedade de assuntos;

Decididos a levar avante um amplo programa parao incremento de suas relações nos campos econó-mico, comercial, financeiro, industrial, cultural,técnico e científico;

Convencidos de que, com esse objetivo, é neces-sário estabelecer mecanismos apropriados de co-operação bilateral,

artigo I

As Altas Partes Contratantes convêm em instaurare aperfeiçoar mecanismos permanentes de coope-ração, entendimento e troca de informações, sobreassuntos de interesse comum.

artigo II

Os mecanismos a que se refere o Artigo I proces-sar-se-ão pela via diplomática ou por intermédioda Comissão Mista de Coordenação Brasileiro-Me-xicana.

artigo III

1. Fica instituída a Comissão Mista de Coorde-nação Brasileiro-Mexicana, que terá por finalidadefortalecer a cooperação entre os dois países, anali-sar e acompanhar os assuntos de interesse comume propor aos respectivos Governos as medidasque julgar pertinentes, com ênfase nos seguintescampos:

a) projetos económicos de interesse para as re-lações bilaterais;

b) intercâmbio comercial e as medidas para asse-gurar seu incremento e diversificação;

c) aperfeiçoamento dos meios de transporte ecomunicações entre os dois países;

d) cooperação técnica e intercâmbio cultural,científico e tecnológico.

2. A Comissão Mista será composta de uma seçãode cada Parte;

3. As seções nacionais da Comissão Mista serãopresididas pelos Ministros das Relações Exteriorese integrada por delegados designados pelos respec-tivos Governos;

4. A Comissão Mista reunir-se-á ao menos umavez por ano, alternadamente, no Brasil e no México;

Na seção Notícias, página 193, uma informação sobre o Memorando de Entendimento Brasil-Canadá.

167Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 165: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

5. A Comissão Mista redigirá o seu próprio regu-lamento, que será aprovado pelos dois Governos,por troca de Notas;

6. A Comissão Mista examinará e proporá a ambosos Governos a forma de organizar em Subcomissõesas Comissões Mistas atualmente em exercício.

artigo IV

As Altas Partes Contratantes empenharão os seusmáximos esforços para lograr a progressiva am-pliação e diversificação do intercâmbio comercial,mediante a utilização adequada das oportunidadesque se apresentarem.

artigo V

Considerando os benefícios que podem resultar deuma estreita, colaboração na execução de seusplanos de expansão industrial, as Altas Partes Con-tratantes encorajarão os investimentos de um paísno outro, tanto no setor público como no setorprivado, conforme as suas respectivas legislaçõesnacionais.

artigo VI

Levando em conta os programas específicos deinfra-estrutura, brasileiros e mexicanos, com efetivaincidência no desenvolvimento económico e social,as Altas Partes Contratantes comprometem-se apromover medidas para facilitar a participaçãomútua de suas empresas em projetos e obras nessesetor, em ambos os países.

artigo VII

Reconhecendo o especial interesse, para o desen-volvimento da economia regional, da criação de umainfra-estrutura eficaz de comunicações entre osdois países, as Altas Partes Contratantes convêmem promover um sistema de cooperação mútuanesse campo, que preveja o estabelecimento detelecomunicações, o fornecimento de equipamentose o intercâmbio técnico e de informações, inclusivena área dos serviços postais.

artigo VIII

A fim de impulsionar a cooperação no setor agro-pecuário, ambos os países trocarão informaçõese experiências, prestando-se reciprocamente a maiorassistência possível em matéria de produções etécnicas agrícolas.

artigo IX .

As Altas Partes Contratantes convêm em estimular,ainda mais, as atividades de cooperação técnicae científica previstas no Acordo Básico de Coope-ração Técnica e Científica, de 24 de julho de 1974.

artigo X

As Altas Partes Contratantes confirmam seus pro-pósito de pôr em prática formas eficazes de co-

operação bilateral nos campos cultural e educa-cional, no espírito do Convénio de IntercâmbioCultural, de 20 de janeiro de 1960.

artigo XI

Com o objetivo de propiciar a perfeita organizaçãodos serviços de transporte marítimo entre o Brasile o México, as Altas Partes Contratantes promo-verão a revisão do Convénio sobre TransportesMarítimos, concluído em Brasília a 24 de julho de1974, de modo a ajustá-los às realidades do trá-fego entre os dois países.

artigo XII

Além dos instrumentos internacionais previstos nopresente Convénio e dentro do elevado espírito queo informa, as Altas Partes Contratantes celebrarão,sempre que as circunstâncias o aconselhem, acor-dos adicionais ou outros tipos de atos internacionaissobre quaisquer assuntos de interesse comum.

artigo XIH

O presente Convénio entrará em vigor na data datroca dos instrumentos de ratificação e terá vi-gência até que as Altas Partes Contratantes, me-diante novo acordo, adotem decisão que estimemconveniente.

Em fé do que, os Plenipotenciários acima mencio-nados assinam o presente Convénio, em dois exem-plares, em português e espanhol, sendo ambos ostextos igualmente autênticos.Feito na Cidade do México, aos 18 dias do mês dejaneiro de 1978.

ACORDO SOBRE SANIDADE ANIMAL

O Governo da República Federativa do Brasil

O Governo dos Estados Unidos Mexicanos,

Constando que o Brasil vem aumentando suasexportações de bovinos em pé e de sémen paradiversos países;

Levando em conta que o nível tecnológico e hi-giênico-sanitário das centrais de inseminação arti-ficial do Brasil atende plenamente às exigênciaszoo-sanitárias, de acordo com as normas interna-cionais;

Reconhecendo que os reprodutores em regime decoleta de sémen são submetidos periodicamenteno Brasil às provas laboratoriais para evitar a ocor-rência de agentes Patogênicos passíveis de vei-culação através do sémen;

Considerando que o estabelecimento de um me-canismo de cooperação servirá para o comércioentre ambos os países e para assegurar que o

168Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 166: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

mesmo obedecerá às normas internacionalmente re-conhecidas,

Acordam no seguinte:

artigo 1

Com o objetivo de proporcionar o desenvolvimentodo comércio de sémen bovino do Brasil para oMéxico, o Governo brasileiro compromete-se a:

a) selecionar, junto com técnicos que para tal fimforem designados pelas autoridades mexicanas com-petentes, as centrais brasileiras de inseminaçãoartificial que serão especialmente credenciadaspara exportar sémen para o México;

b) realizar os testes laboratoriais para assegurara qualidade sanitária e tecnológica do materialespermático;

c) auxiliar os técnicos mexicanos na seleção zo-otécnica dos touros doadores;d) propiciar aos técnicos mexicanos o apoio ne-cessário ao acompanhamento das operações deexportação em todas as suas fases.

artigo II

O Governo mexicano compromete-se a enviar mé-dicos-veterinários ao Brasil para elaborar, com téc-nicos, a programação necessária à exportação desémen, bem como para acompanhar todas asfases das operações de exportação.

artigo III

O presente Acordo entrará em vigor na data da suaassinatura e sua vigência será de cinco anos, pror-rogáveis por iguais períodos, salvo se uma dasPartes comunicar à outra, com antecedência mí-nima de seis meses, sua decisão em contrário.

Assinado na cidade do México, aos 18 dias do mêsde janeiro de 1978, em dois exemplares originais,nas línguas portuguesa e espanhola, sendo ambosos textos igualmente válidos.

ACORDO DE COOPERAÇÃO INDUSTRIAL

trutural das suas economias, com vistas a aceleraros respectivos processos de desenvolvimento eco-nómico e social;

Tendo Presente que a cooperação industrial foimeta do Acordo que estabeleceu um Grupo Mistode Cooperação Industrial, concluído em 9 de abrilde 1962, e que um dos principais objetivos dacriação da Comissão Mista Brasil-México, criada portroca de Notas de 22 de agosto de 1969, é o deacelerar a complementação económica entre osdois Países;

Cônscios de que, para dar plenos frutos, essa co-operação deve ser encarada no sentido amplo,abrangendo, entre outros, os aspectos econômico-financeiros, de cooperação técnica, e de pesquisacientífica e tecnológica;

Concordam no que se segue:

artigo I

1. As Partes Contratantes comprometem-se a pro-mover investimentos conjuntos no setor industrial,com a finalidade de produzir, em um ou outroPaís, bens de consumo durável, de equipamentoe intermediários, destinados aos mercados respec-tivos e aos de terceiros países.

2. O capital de tais empresas será constituídopor fundos públicos ou privados de propriedade depessoas físicas ou jurídicas que sejam nacionaisdos respectivos Países.

3. As Partes Contratantes se empenharão em che-gar, oportunamente, a acordos com vistas a harmo-nizar os regimes fiscais aplicáveis aos rendimentosdecorrentes da implementação do presente Acordo.

artigo II

Em apoio aos objetivos estabelecidos no artigo I,as Partes Contratantes comprometem-se a estabe-lecer programas de cooperação científica e técnica;com vistas à troca de experiências específicas e àformação de pessoal, em todos os níveis, destinadoaos setores cobertos pelas empresas binacionaisque se formarem nos termos deste Acordo.

O Governo da República Federativa do Brasil

O Governo dos Estados Unidos Mexicanos,

Desejosos de ampliar a cooperação existente entreambos os Países nos mais diversos campos, comoexpressão da tradicional amizade que os une;Conscientes de que tal cooperação se reveste degrande importância para o desenvolvimento de suasrespectivas economias, pelas possibilidades decomplementação que se oferecem;

Convencidos de que, ampliando essa complemen-tação no campo industrial e dos serviços, estarãocontribuindo para mais rápida transformação es-

artigo III

Do mesmo modo, as Partes Contratantes compro-metem-se a estabelecer programas que permitam ofornecimento da tecnologia de que necessitem ascompanhias binacionais que se formarem nos ter-mos do presente Acordo.

artigo IV

Sem caráter exclusivo, as Partes Contratantes orien-tarão seus esforços especialmente aos campos daindústria siderúrgica, dos metais não-ferrosos, dosbens de capital, da construção nayal e de máquinase equipamentos destinados à agricultura e ao pro-cessamento de produtos agrícolas.

169

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 167: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

artigo V

1. O presente Acordo terá validade por cincoanos, prorrogáveis automaticamente por iguais pe-ríodos, salvo se uma das Partes comunicar à outra,por escrito, com antecedência mínima de seismeses, sua decisão em contrário.

2. Cada uma das Partes Contratantes notificaráa outra da conclusão das formalidades exigidas porsua legislação para a vigência do presente Acordo,o qual entrará em vigor na data da última dessasnotificações.

3. Em caso de término do presente Acordo, osprogramas e projetos em execução não serão afe-tados, salvo quando as Partes convierem diversa-mente.

Assinado no México, D.F., aos 18 dias do mês dejaneiro de 1978, em dois exemplares originais, naslínguas portuguesa e espanhola, sendo ambos ostextos igualmente válidos.

CONVÉNIO COMPLEMENTAR CONSIDER-CCIS

O Conselho de Não-Ferrosos e de Siderurgia, doBrasil, e a Comisión Coordinadora de Ia IndustriaSiderúrgica, do México,

Constatando a importância da colaboração entreo Brasil e o México no campo da metalurgia;

Referindo-se ao Acordo, celebrado por troca de no-tas de 22 de agosto de 1969, pelo qual se criou aComissão Mista Brasil-México;

Desejosos de intensificar essa cooperação e deorganizar melhor o intercâmbio entre os dois Paí-ses nesse campo; e

Tendo Presente a recomendação contida na AtaFinal da IV Reunião da Comissão Mista, no sentidode que os Governos brasileiro e mexicano examinemas possibilidades de estabelecer um convénio en-tre os respectivos órgãos de planejamento side-rúrgico;

Celebram o presente Convénio de Cooperação, peloqual ambas as Partes concordam em criar um grupotécnico de investigação e estudo, com o pessoaldas duas entidades, para desenvolver o seguinteprograma de ação:

I. Troca de informações técnicas e mercadológicas:

O Consider e a CCIS trocarão regularmente infor-mações de caráter técnico e mercadológico, comvistas a:

1. Consecução por parte de ambas as entidades,a cada 3 (três) meses, de dados atualizados sobre

o mercado, os excedentes exportáveis e as neces-sidades de importação de produtos siderúrgicos, noBrasil e no México, com vistas ao intercâmbiocomercial entre os dois Países.

2. Análise de problemas siderúrgicos, notadamentequanto a produtos e bens de capital.

3. Estudo de possibilidades de investimentos con-juntos ("Joint ventures") entre empresas brasilei-ras e mexicanas nos setores de siderurgia e debens de capital.

4. Identificação de projetos específicos nas áreasou setores mencionados.

5. Integração de subgrupos de especialistas, paraavaliar os projetos específicos, a fim de precisara sua viabilidade.

6. Utilização da siderurgia como fator de desen-volvimento da indústria de bens de capital.

7. Determinação de meios para expandir a side-rurgia nos países em desenvolvimento.

8. Determinação de outras áreas e setores nãomencionados, inclusive tecnológicos, nos quais po-deriam identificar-se projetos de ação conjunta oucomplementar de ambas as entidades.

I I . Capacitação de pessoal

O Consider e a CCIS estudarão meios de desen-volvimento conjunto de programas de capacitaçãode pessoal, visando à utilização de conhecimentoe ao aprimoramento profissional a todos os níveisgerenciais, bem como acordam em intercambiarprogramas de simpósios, seminários, conferênciase outros eventos no campo da metalurgia.

Para o melhor cumprimento do previsto nos itensacima, o Consider e a CCIS efetuarão anualmenteuma reunião, alternadamente, no Brasil e no Mé-xico.

As conclusões parciais ou finais do programa deinvestigação e estudo serão dadas a conhecer, pelogrupo técnico, simultaneamente, a ambas as enti-dades. Estas, de comum acordo, apresentarão pro-postas concretas de ação às autoridades de seusrespectivos Governos.

O presente Convénio entrará em vigor na data desua assinatura e poderá ser denunciado por qual-quer das Partes, através de comunicação, por es-crito, à outra Parte. Em caso de denúncia, os pro-jetos e programas em execução não serão afetados,salvo quando as Partes o decidirem.

Feito em dois exemplares, nas línguas portuguesae espanhola, sendo ambos os textos igualmenteválidos.

Assinado na Cidade do México, em 18 de janeirode 1978.*

* Na seção Excertos e Ênfases, página 187, trechos dos discursos de Geisel e Portillo, na solenidadede entrega da Cruzeiro do Sul ao Presidente mexicano; na seção Mensagens, página 191, o texto dasmensagens do Presidente Geisel escritas no Livro de Visitantes da Zona Arqueológica de Teotihuacáne no Livro de Honra do Monumento à Independência do México.

170

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 168: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

os acordos firmados entrebrasil e urugai

Acordo de Previdência Social entre oBrasil e o Uruguai, assinado emMontevidéu, em 27 de janeiro de 1978,pelos Ministros brasileiro e uruguaiodas Relações Exteriores, António F.Azeredo da Silveira e Alejandro Rovira;Notas trocadas pelos dois Chanceleressobre ajuste relativo a Sanidade Animal— complementar ao Acordo Básico deCooperação Científica e TécnicaBrasil-Uruguai; Nota do ChancelerAzeredo da Silveira ao Ministro dasRelações Exteriores do Uruguaipropondo um Acordo entre os dois paísessobre operação de radioamadores; Atada troca dos Instrumentos de Ratificaçãodo Trabalho da Bacia da Lagoa Mirim edo Protocolo do rio Jaguarão (celebradosem Brasília, em 7 de julho de 1977, epublicados por esta Revista, em seunúmero 14, página 127); e o Convénio deParticipação Recíproca nos Contratos deResseguro Internacional, assinado nomesmo dia pelo presidente do Institutode Resseguros do Brasil, José Lopesde Oliveira, e pelo Vice-Presidente (noexercício da presidência) do Banco deSeguros dei Estado, Coronel TabaréGregorio Alvarez.

ACORDO DEPREVIDÊNCIA SOCIAL

O Governo da República Oriental do Uruguai e oGoverno da República Federativa do Brasil,

Imbuídos do desejo de estabelecer normas queregulem as relações entre os dois Estados em ma-téria de previdência social, e

Tendo presente o artigo XXII do Tratado de Ami-zade, Cooperação e Comércio firmado pelos doisGovernos a 12 de junho de 1975,

Resolvem celebrar um Acordo de Previdência So-cial nos seguintes termos:

capítulo I

disposições gerais

artigo 1.°

O presente Acordo será aplicado, nos Países Con-tratantes, à legislação de previdência social refe-rente às prestações existentes em um e outro, naforma, condições e extensão aqui estabelecidas.

artigo 2.°

O presente Acordo será executado pelas entidadesde previdência social dos Países Contratantes, con-forme se dispuser nos Ajustes Administrativos quedeverá complementá-lo.

artigo 3.°

1 — O presente Acordo se aplicará, igualmente, aostrabalhadores uruguaios no Brasil e aos trabalha-dores brasileiros no Uruguai, os quais terão os mes-mos direitos e as mesmas obrigações dos nacio-nais do Estado Contratante em cujo território re-sidam.

2 — 0 presente Acordo se aplicará, também, aostrabalhadores de qualquer outra nacionalidade queprestem ou tenham prestado serviços no Brasil ouno Uruguai, quando residam em um dos EstadosContratantes.

artigo 4.°

1 — 0 princípio estabelecido no artigo 3.° terá asseguintes exceções:

a) o trabalhador de uma empresa com sede emum dos Estados Contratantes que for enviado aoterritório do outro por um período limitado conti-nuará sujeito à legislação do Estado de origem,pelo prazo máximo de doze meses. Essa situaçãopoderá ser mantida, excepcionalmente, por prazomaior, mediante prévio e expresso consentimentoda Autoridade Competente do outro Estado;

b) o pessoal de vôo das empresas de transporteaéreo e o pessoal de trânsito das empresas detransporte terrestre continuarão exclusivamentesujeitos à legislação do Estado em cujo territórioa empresa respectiva tenha sede;

c) os membros da tripulação de navio sob ban-deira de um dos Estados Contratantes estarão su-jeitos à legislação do mesmo Estado. Qualqueroutra pessoa que o navio empregar em tarefas dede carga e descarga, conserto e vigilância, quandono porto, estará sujeita à legislação do Estadosob suja jurisdição se encontre o navio;

d) os membros das representações diplomáticas econsulares, organismos internacionais, e demaisfuncionários e empregados dessas representações,bem como os seus empregados domésticos, serãoregidos, no tocante à previdência social, pela le-gislação, tratados e convenções que lhes sejamaplicáveis.

artigo 5.°

1 — 0 direito já adquirido às prestações pecuniá-rias a que se aplica o presente Acordo será con-servado integralmente perante a Entidade Gestorado Estado de origem, nos termos da sua próprialegislação, quando o trabalhador se transferir emcaráter definitivo ou temporário para o território dooutro Estado Contratante.

2 — Os direitos em fase de aquisição serão regi-dos pela legislação do Estado Contratante peranteo qual se façam valer.

3 — 0 trabalhador que em razão de transferênciade um Estado Contratante para o outro tiver tidosuspensas as prestações a que se aplica o presen-

171

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 169: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

te Acordo poderá, a pedido, voltar a percebê-las,sem prejuízos das normas vigentes nos EstadosContratantes sobre caducidade e prescrição dos di-reitos relativos à previdência social.

capítulo II

disposições particulares

artigo 6.°

1 — A assistência médica, farmacêutica e odonto-lógica será prestada a toda pessoa abrangida pelaprevidência social de um dos Estados Contratan-tes em seu deslocamento para o território do outroEstado, temporária ou definitivamente, desde quea entidade competente do Estado de origem reco-nheça o direito e autorize a prestação.

2 — A extensão e a forma da assistência previstano parágrafo 1 serão determinadas consoante alegislação previdenciária do Estado Contratanteonde essa assistência for prestada. A sua duraçãoserá estabelecida pela legislação do Estado deorigem.

3 — As despesas referentes à assistência prestadacorrerão por conta do Estado de origem. Os Esta-dos Contratantes fixarão, de comum acordo, o va-lor que será considerado para o reembolso e esta-belecerão a forma deste.

artigo 7."

1 — Os períodos de serviço cumpridos em ambosos Estados Contratantes poderão, desde que nãose superponham, ser totalizados para concessãodas prestações.

2 — 0 cômputo desses períodos se regerá pela le-gislação do país onde tenham sido prestados osserviços respectivos.

artigo 8.°

1 — Cada Entidade Gestora determinará, de acordocom a sua própria legislação e com base no totaldos períodos cumpridos em ambos os Estados Con-tratantes, se o interessado reúne as condições ne-cessárias para a concessão de prestação.

2 — Em caso afirmativo, determinará o valor daprestação como se todos os períodos tivessemsido cumpridos sob a sua própria legislação e cal-culará a parcela a seu cargo, na proporção dos pe-ríodos cumpridos exclusivamente sob essa legisla-ção.

artigo 9.°

Quando o trabalhador, mediante a totalização, nãosatisfizer, simultaneamente, as condições exigidasnas legislações dos dois Estados Contratantes, oseu direito será determinado nos termos de cadalegislação, à medida em que se vão cumprindoessas condições.

artigo 10

0 interessado poderá optar pelo reconhecimentodos seus direitos nos termos do artigo 7.° ou, sepa-radamente, de acordo com a legislação de um dosEstados Contratantes, independentemente dos pe-ríodos cumpridos no outro.

artigo 11

1 — Os períodos de serviço cumpridos antes doinício da vigência do presente Acordo somente se-rão considerados quando os interessados tenhamperíodos de serviço a partir dessa data.

2 — 0 disposto neste artigo não prejudica a apli-cação das normas sobre prescrição ou caducidadevigentes em cada Estado Contratante.

artigo 12

1 — O trabalhador que tenha completado no Esta-do de origem o período de carência necessário àconcessão de auxílio-doença e auxílio-natalidade,terá assegurado, no caso de não se encontrar f i-liado à legislação do Estado de acolhimento, o di-reito a esses auxílios, nas condições estabelecidaspela legislação do Estado de origem e a cargodeste.

2 — Quando o trabalhador já estiver vinculado àprevidência social do Estado de acolhimento, essedireito será reconhecido se o período de carênciafor coberto pela soma dos períodos de serviço.Neste caso as prestações serão devidas pelo Es-tado de acolhimento e segundo sua legislação.

3 — Em nenhum caso se reconhecerá direito aorecebimento de auxílio-natalidade nos dois EstadosContratantes em decorrência do mesmo evento.

capítulo III

disposições finais

artigo 13

1 — As Entidades Gestoras dos Estados Contratan-tes pagarão as prestações pecuniárias em moedado seu próprio país.

2 — As transferências de numerário para o paga-mento de prestações se efetuarão conforme forassentado entre os Estados Contratantes.

artigo 14

Os exames médicos solicitados pela Entidade Ges-tora de um Estado Contratante, relativamente asegurados que se encontrem no território do Estado,serão levados a efeito pela Entidade Gestora desteúltimo, por conta daquela.

artigo 15

1 — As prestações pecuniárias concedidas de acor-do com o regime de um ou de ambos os EstadosContratantes não serão objeto de redução, sus-

172

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 170: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

a) criação de uma Subcomissão Mista Agro-Pe-cuária Uruguaio-Brasileira de Sanidade Animal, emcaráter permanente, para assessoramento aos res-pectivos Governos;

b) promoção de acordos de cooperação mútua,englobando: pessoal, equipamentos, vacinas, pro-dutos zooterápicos e outros elementos indispensá-sáveis ao controle da situação sanitária, sempre decomum acordo entre as partes integrantes da sub-comissão Mista;

c) autorização para o trânsito de veículos e fun-cionários na área fronteiriça, sempre que necessá-rio para o cumprimento dos objetivos deste Ajuste;

d) estabelecimento e manutenção de uma coorde-nação estreita e permanente das medidas destina-das ao controle do trânsito de animais e produtosderivados, na fronteira de ambos os países, deconformidade com à legislação vigente nos mes-mos;

e) cooperação paralela no ajuste e revisão dasnormas sanitárias de cada país, sempre que fornecessário para a melhor realização dos objetivosdeste Ajuste;

f) reconhecimento dos certificados oficiais decontrole de vacinas, de ambos os países, desde queas amostras de produção de vírus sejam suficien-tes para dar cobertura imunológica aos vírus in-cidentes na região, com o compromisso de ambosos Governos de certificar e autorizar, eventual-mente, a exportação de vacinas para atender asnecessidades que porventura venham a surgir;

g) sincronização das datas de vacinação antiaf-tosa ou de qualquer outra atividade que seja jul-gada conveniente, nas áreas abrangidas pelo Ajus-te.

3) O Governo da República Oriental do Uruguaie o Governo da República Federativa do Brasilconcordam em denominar a Subcomissão referidano item 2(a), Subcomissão Mista Agro-PecuáriaUruguaio-Brasileira, que terá a seguinte composição:

a) Diretor-Geral dos Serviços Veterinários do Mi-nistério da Agricultura e Pesca do Uruguai; Dire-tor do Departamento Nacional de Produção Ani-mal do Ministério da Agricultura do Brasil; Diretorde Sanidade Animal do Ministério da Agriculturae Pesca do Uruguai; Coordenador-Geral do PlanoNacional de Luta contra a Febre Aftosa do Minis-tério da Agricultura do Brasil; Diretor de Luta con-tra a Febre Aftosa do Ministério da Agricultura ePesca do Uruguai; Diretor da Divisão de DefesaSanitária Animal do Departamento Nacional deProdução Animal do Ministério da Agricultura doBrasil.

4) Fica estabelecido que a Subcomissão Mista reu-nir-se-á, de preferência, na região fronteiriça, or-dinariamente uma vez por ano e extraordinaria-mente tantas vezes quantas forem necessárias.

5) A fim de alcançar os objetivos do presenteAjuste, corresponderá à mencionada SubcomissãoMista a formulação de um Plano de Ação a sercriado por Grupos de Trabalho especialmente cons-tituídos para elaborá-lo.

6) O presente Ajuste terá a duração do Acordo Bá-sico de Cooperação Científica e Técnica e entraráem vigor por troca de Notas entre os dois Gover-nos.

7) Cada uma das Partes Contratantes poderá de-nunciar o presente Ajuste quando assim o desejar,porém os seus efeitos só terminarão transcorridosseis meses de sua denúncia.

Caso o Governo da República Federativa do Brasilconcorde com as propostas contidas nos itens 1 a7, a presente Nota e a de resposta de Vossa Ex-celência, em que se expresse a concordância deseu Governo, constituirão um Ajuste entre nossosdois Governos, a entrar em vigor na data da Notade resposta de Vossa Excelência."

2. Em resposta, informo Vossa Excelência de queo Governo brasileiro concorda com os termos daNota acima transcrita, a qual, juntamente com apresente, passa a constituir um Ajuste entre nos-sos dois Governos, a entrar em vigor na data de ho-je.

Aproveito a oportunidade para renovar a Vossa Ex-celência os protestos da minha mais alta estimae consideração.

António F. Azeredo da SilveiraMinistro de Estado das Relações Exteriores do Bra-sil

ACORDO DERADIOAMADORES

A Sua Excelência o Senhor Alejandro Rovira,

Ministro das Relações Exteriores.

Senhor Ministro,

Tenho a honra de referir-me às conversações en-tre representantes do Governo uruguaio e do Go-verno brasileiro relativas à possibilidade de seconcluir um Acordo entre os dois Governos, con-cernente à autorização recíproca para que os ra-dioamadores licenciados num dos países possamoperar suas estações no outro país, de acordo com0 previsto no Artigo 41 do Regulamento de Radio-comunicações, anexo à Convenção Internacional deTelecomunicações, sob as condições seguintes:

1 — Toda pessoa tendo a nacionalidade de umadas Partes Contratantes pode ser autorizada a efe-tuar emissão de radiofrequência por intermédio deuma estação de radioamador no território da outraParte com a condição de que ela seja titular deuma licença emitida pelas suas autoridades nacio-nais para a utilização de uma estação de radioama-dor.

II — A solicitação de autorização deve ser endere-çada às autoridades competentes da Parte Contra-tante no territcrio da qual a estação será utilizada.

III — As autoridades administrativas competentesde cada Parte Contratante podem emitir a autori-

174Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 171: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

pensão, ou extinção exclusivamente pelo fato de0 beneficiário residir no outro Estado Contratante.

artigo 16

1 — Os documentos que tenham de ser produzidospara os fins do presente Acordo independerão detradução oficial, visto e legalização pelas autori-dades diplomáticas e consulares e de registro pú-blico, desde que tenham tramitado por qualquerórgão de Ligação nele previsto.

2 — A correspondência entre as Autoridades Com-petentes, órgãos de Ligação e Entidades Gestorasdos Estados Contratantes será redigida no respecti-vo idioma oficial.

artigo 17

Os requerimentos, recursos e outros documentosproduzirão efeito ainda que, devendo ser apreciadosem um dos Estados Contratantes, sejam apresen-tados no outro, dentro dos prazos estabelecidospela legislação do primeiro.

artigo 18

As autoridades consulares dos Estados Contratantespoderão representar, sem mandato especial, os na-cionais do seu próprio Estado perante as Autori-dades Competentes e As Entidades Gestoras emmatéria de previdência social do outro Estado.

artigo 19

1 — Para aplicação do presente Acordo, a Autori-dade Competente de cada Estado Contratante po-derá instituir órgãos de Ligação, mediante comu-nicação à Autoridade Competente do outro EstadoContratante.

2 — Para os fins do presente Acordo entende-sepor Autoridades Competentes o Ministro de Estadoda Previdência e Assistência Social do Brasil e oMinistro de Estado do Trabalho e Previdência So-cial do Uruguai.

artigo 20

1 — Cada um dos Estados Contratantes notificará0 outro da conclusão das formalidades estabeleci-das pelas respectivas disposições constitucionaispertinentes.

2 — 0 presente Acordo entrará em vigor no pri-meiro dia do mês seguinte ao da troca dos instru-mentos de ratificação.

artigo 21

1 — o presente Acordo terá duração indefinida,salvo denúncia escrita por qualquer dos EstadosContratantes, que somente surtirá efeito seis me-ses após a data da notificação.

2 — As situações decorrentes de direitos em fasede aquisição no momento da expiração do presenteAcordo serão reguladas de comum acordo pelosEstados Contratantes.

artigo 22

A aplicação do presente Acordo será regulada porajustes administrativos, cuja elaboração poderá seratribuída pelas Autoridades Competentes a umaComissão Mista, integrada por delegações dos Es-tados Contratantes.

Feito na cidade de Montevideu aos vinte e sete diasdo mês de janeiro do ano de mil novecentos e se-tenta e oito em quatro exemplares originais, doisem português, dois em espanhol, cujos textos fa-zem igualmente fé.

AJUSTE SOBRESANIDADE ANIMAL

A Sua Excelência o Senhor Alejandro Rovira,

Ministro das Relações Exteriores.

Senhor Ministro,

Tenho a honra de acusar o recebimento da notade Vossa Excelência, datada de hoje, cujo teor emportuguês, é o seguinte:

"Senhor Ministro,

Tenho a honra de propor a Vossa Excelência, emnome do Governo da República Oriental do Uru-guai, tendo em vista o Convénio Interamericanode Saúde Animal, firmado no Rio de Janeiro em18 de julho de 1967, e a Declaração Presidencial,assinada no Chuí em 11 de maio de 1970, o se-guinte Ajuste, relativo a sanidade animal, com-plementar ao Acordo Básico de Cooperação Cien-tífica Brasil—Uruguai, celebrado em Rivera a 12 dejunho de 1975:

1) O Governo da República Oriental do Uruguaie o Governo da República Federativa do Brasilestabelecerão ação coordenada de sanidade animalentre os dois países, dando prioridade à luta con-tra a febre aftosa e propondo-se a adotar todas asmedidas que julgarem necessárias para um melhorcontrole das doenças animais, com base nos se-guintes princípios:

a) coordenação das medidas de ação para com-bater as doenças animais na região fronteiriça;

b) intercâmbio de colaboração técnica nos aspec-tos relacionados ao controle de vacina e produtoszooterápicos, diagnósticos, pesquisas e outros as-pectos que forem de interesse;c) intercâmbio e treinamento de técnicos;d) intercâmbio permanente de informações epizo-otiológicas da região fronteiriça, bem como outrasinformações de interesse para o controle das do-enças animais.

2) Visando a implementar o presente Ajuste, oGoverno da República Oriental do Uruguai e o Go-verno da República Federativa do Brasil compro-metem-se a adotar, ainda, as seguintes medidase precauções:

173

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 172: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

zação em questão sob reserva do direito, a todomomento e por qualquer causa que haja, de rejei-tar uma solicitação, de suspender ou revogar todaa autorização, de realizar modificações nas con-dições de emissão da referida autorização, sem queestejam obrigadas a fazer conhecer o motivo de suadecisão.

IV — O radioamador que tenha obtido uma licençapara operar sua estação no território da outra Par-te, de acordo com o item I, está obrigado a obede-cer os preceitos referentes ao serviço, previsto nalegislação interna deste país.

Caso o Governo uruguaio concorde com as dispo-sições acima, proponho que a presente Nota e ade resposta de Vossa Excelência, de igual teor,constituam um Acordo entre os dois Governos, aentrar em vigor na data de resposta e podendo sersuspenso, por qualquer dos dois Governos, medi-ante aviso escrito com antecedência de 6 (seis)meses.

Aproveito a oportunidade para renovar a Vossa Ex-celência os protestos de minha mais alta estima econsideração.

António F. Azeredo da SilveiraMinistro de Estado das Relações Exteriores do Bra-sil

ATA DA TROCA DOS INSTRUMENTOS DERATIFICAÇÃO DE TRATADO E PROTOCOLO

Na Casa de Governo, reunidos o ExcelentíssimoSenhor Presidente da República Oriental do Uru-guai, Doutor Aparício Méndez, e o ExcelentíssimoSenhor Presidente da República Federativa doBrasil, Ernesto Geisel, Sua Excelência o SenhorMinistro das Relações Exteriores da República Ori-ental do Uruguai, Alejandro Rovira, e Sua Exce-lência o Senhor Ministro de Estado das RelaçõesExteriores da República Federativa do Brasil, Em-baixador António Francisco Azeredo da Silveira,devidamente autorizados pelos respectivos Gover-nos, procedem à troca dos Instrumentos de Rati-ficação do Tratado de Cooperação para o Aprovei-tamento dos Recursos Naturais e Desenvolvimentoda Bacia da Lagoa Mirim (Tratado da Bacia da La-goa Mirim) e do Protocolo para o Aproveitamentodos Recursos Hídricos do Trecho Limítrofe do RioJaguarão, anexo ao Tratado da Bacia da Lagoa Mi-rim (Protocolo do Rio Jaguarão), celebrado entreo Governo da República Oriental do Uruguai e oGoverno da República Federativa do Brasil, na ci-dade de Brasília, no dia sete de julho de mil no-vecentos e setenta e sete.

Depois de haver examinado os originais desses do-cumentos, encontrados em boa e devida forma,efetuaram a troca de seus respectivos Instrumen-tos de Ratificação.

Em fé do que os Plenipotenciários acima mencio-nados assinam a presente Ata elaborada em doisexemplares de um mesmo teor, nos idiomas espa-nhol e português, ambos igualmente válidos, emMqntevidéu, aos vinte e sete dias do mês de ja-neiro do ano mil novecentos e setenta e oito.

Alejandro RoviraPelo Governo da República Oriental do Uruguai

António F. Azeredo da SilveiraPelo Governo da República Federativa do Brasil

CONVÉNIO DERESSEGUROS

Na Cidade de Montevidéu, República Oriental doUruguai, aos vinte e sete dias do mês de janeiro demil novecentos e setenta e oito, o Banco de Se-guros dei Estado, de uma parte, representado porseu Vice-Presidente — no exercício da Presidên-cia — Coronel (R) Tabaré Gregorio Alvarez, e oInstituto de Resseguros do Brasil (I.R.B.), deoutra parte, representado por seu Presidente JoséLopes de Oliveira, resolvem celebrar, de comumacordo, o seguinte convénio:

1.°) As duas Partes se oferecem participação re-cíproca prioritária nos contratos automáticos deresseguro internacional, particularmente nos queassociem ao maior volume de prémios a melhorqualidade técnica dos riscos.

2.°) Os prémios relativos à participação do I.R.B.nos resseguros internacionais do Banco de Segurosserão integralmente mantidos, por prazo indeter-minado, em depósito na Agência do Banco do Bra-sil S.A. em Montevidéu, para cobertura dos saldosfinanceiros, contratuais e para aplicação no mer-cado financeiro local.

3.°) Em seus contratos internacionais, o Institutode Resseguros do Brasil e o Banco de Seguros es-tabelecerão entre si o aumento recíproco de umterço (1/3) à profit commission fixada pelos demaisco-participantes.

4.°) Para aperfeiçoamento constante do intercâm-bio aqui previsto, cada entidade designará, dentrode trinta (30) dias, um técnico encarregado do con-tacto permanente com a outra Parte, estabelecen-do-se dessa forma um fluxo mútuo e contínuo deinformações e procedimentos administrativos, emcondições, ademais, de garantir eficiente execuçãodas obrigações contratuais de ambas as entidades.

De conformidade e depois da leitura, os SenhoresRepresentantes de ambas as Instituições o subs-crevem no lugar e data antes indicados.*

* Na página 191 seção Mensagens, o texto do telegrama enviado pelo Presidente Geisel ao PresidenteAparício Méndez, após sua visita ao Uruguai.

175

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 173: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

troca de notas formaliza três acordosentre o brasil e o paraguai

Notas trocadas pelos Chanceleres Azeredoda Silveira e Alberto Nogués, no PalácioItamaraty de Brasília, em 15 de fevereirode 1978, sobre a instalação da ComissãoGeral de Cooperação e CoordenaçãoBrasileiro—Paraguaia, sobre osentendimentos para que a Embratel(Empresa Brasileira de Telecomunicações)represente a Antelco (AdministraçãoNacional de Telecomunicação) na Juntade Governadores da Intelsat, e sobreo traçado de limites da fronteirabrasileiro—paraguaia, entre a foz do rioApa e o desaguadouro da Baía Negra.

NOTA SOBRE A COMISSÃO GERAL

A Sua Excelência o Senhor Embaixador Alberto No-gués,

Ministro das Relações Exteriores da República doParaguai

Senhor Ministro,

De acordo com as conversações mantidas com Vos-sa Excelência, nesta Capital, é-me grato manifestar-lhe a disposição do Governo brasileiro de considerarinstalada, a partir desta data, dentro do espírito eda letra do Artigo II do Tratado de Amizade e Co-operação, celebrado entre a República Federativado Brasil e a República do Paraguai, em 4 de de-zembro de 1975, a Comissão Geral de Cooperação eCoordenação Brasileiro-Paraguaia, que "terá por f i-nalidade fortalecer a cooperação entre os dois paí-ses, analisar e acompanhar os assuntos de interessecomum e propor dos respectivos Governos as medi-das que julgar pertinentes".

2. Por via diplomática, e no mais breve prazo, seráestabelecido o número dos delegados de cada umdos Governos que integrarão as respectivas SeçõesNacionais, após o que o Governo brasileiro designa-rá os integrantes da sua Seção Nacional que, comos delegados a serem nomeados pelo Governo Pa-raguaio, se reunirão a fim de redigirem, segundo oparágrafo 3.° do Artigo II do Tratado de Amizade eCooperação acima referido, o Regulamento da Co-missão Geral.

3. A Comissão Geral, ex vi do Parágrafo 4.° do mes-mo Artigo II, examinará e proporá a ambos os Go-vernos a forma pela qual as atuais Comissões Mistase Grupos de Trabalho ad hoc poderão passar a cons-tituir Subcomissões da mencionada Comissão Geral.

4. A presente Nota e a de idêntico teor e mesmadata de Vossa Excelência constituem acordo entrenossos dois Governos.

Aproveito a oportunidade para renovar a Vossa Ex-celência os protestos da minha mais alta conside-ração

a) António F. Azeredo da SilveiraMinistro de Estado das Relações Exteriores do Bra-sil

NOTA SOBRE OS ENTENDIMENTOSEMBRATEL-ANTELCO

À Sua Excelência o Senhor Embaixador Alberto No-gués,

Ministro das Relações Exteriores da República doParaguai

Senhor Ministro,

Tenho a honra de informar Vossa Excelência de que,em contatos mantidos entre a Empresa Brasileira deTelecomunicações (EMBRATEL) e a AdministraçãoNacional de Telecomunicações (ANTELCO), a em-presa brasileira propôs-se a representar a empresaparaguaia, em caráter permanente, na Junta de Go-vernadores da INTELSAT, em Washington.

2. Havendo a proposta da empresa brasileira sidoaceita pela empresa paraguaia, tenho a honra depropor-lhe que esta Nota e a resposta de Vossa Ex-celência constituam o ato de formalização entre oGoverno brasileiro e o Governo Paraguaio do referidoentendimento, nas condições a serem por eles opor-tunamente estabelecidas.

Aproveito a oportunidade para renovar a Vossa Ex-celência os protestos da minha mais alta conside-ração.

a) António F. Azeredo da SilveiraMinistro de Estado das Relações Exteriores do Bra-sil

NOTA SOBRE O TRAÇADO DE LIMITES

A Sua Excelência o Senhor Embaixador Alberto No-gués

Ministro das Relações Exteriores da República doParaguai

Senhor Ministro,

Como é do conhecimento de Vossa Excelência, reu-niu-se em Assunção, em sua XXX Conferência, a Co-missão Mista de Limites e de Caracterização daFronteira Brasil—Paraguai, com o objetiyo de, interalia, examinar, em nível técnico, o projeto de tra-çado da linha limítrofe e de adjudicação das ilhasdo rio Paraguai, no trecho compreendido entre afoz do rio Apa e o desaguadouro da Baía Negra.

2. Na oportunidade, tendo presentes os tratados edemais instrumentos sobre a matéria, vigentes en-tre o Brasil e o Paraguai, em especial o Tratado deLimites, complementar ao de 1872, firmado no Riode Janeiro a 21 de maio de 1927, o Protocolo de Ins-

176

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 174: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

truções para a demarcação e caracterização da fron-teira Brasil—Paraguai, firmado no Rio de Janeiro a9 de maio de 1930, bem como, em data recente, oProtocolo Adicional ao Tratado de Limites de 21 demaio de 1927, firmado em Assunção a 4 de dezembrode 1975, a Comissão Mista de Limites e de Caracte-rização da Fronteira Brasil—Paraguai, em ata damencionada Conferência, realizada de 11 a 17 deoutubro de 1977, resolveu aprovar o projeto de tra-çado da linha limítrofe e de adjudicação das ilhasdo rio Paraguai no trecho compreendido entre a fozdo rio Apa e o desaguadouro da Baía Negra, elabora-do no curso da reunião técnica da Comissão mistaBrasil—Paraguai, realizada na cidade do Rio deJaneiro a 26 de março de 1977, bem como conside-rar como anexos à Ata da XXX Conferência o referidoprojeto de traçado da linha limítrofe e de adjudica-ção das ilhas do rio Paraguai e a ata da reuniãotécnica acima citada.

3. Em vista do que precede, tenho a honra de ma-nifestar a Vossa Excelência a concordância do Go-verno brasileiro em tomar, juntamente com o Gover-no paraguaio, através da Comissão Mista de Limitese de Caracterização da Fronteira Brasil—Paraguai edentro do mais breve prazo possível, as providên-cias necessárias à demarcação das ilhas cujas so-beranias ficaram definitivamente adjudicadas a ume a outro país.

4. A presente Nota e a de Vossa Excelência, damesma data e idêntico teor, constituem acordo en-tre nossos dois Governos sobre a matéria.

Aproveito a oportunidade para renovar a Vossa Ex-celência os protestos da minha mais alta conside-ração.

a) António F. Azeredo da SilveiraMinistro de Estado das Relações Exteriores do Bra-s i l *

acordo autoriza a ypfb a operar noterritório brasileiro

Acordo entre os Governos do Brasile da Bolívia, pelo qual aYacimientos Petroliferos FiscalesBolivianos (YPFB) é autorizada a funcionarem território brasileiro, assinadono Palácio Itamaraty de Brasília,em 16 de fevereiro de 1978,pelo Chanceler Azeredo da Silveira e peloEmbaixador boliviano,Ambrosio Garcia Rivera.

A República Federativa do Brasil

e

A República da Bolívia

Considerando que, pelo Decreto n.° 75.567, de 7 deabril de 1975, o Presidente da República Federativa

do Brasil concedeu à Yacimientos Petrolíferos Fis-cales Bolivianos, pessoa jurídica de direito públicoboliviano, criada por lei para a exploração de ativi-dade económica, autorização para funcionar noterritório brasileiro;

Desejosos de fortalecer e aprofundar as relaçõesamistosas que mantêm no campo económico ecomercial e

Cientes de que a manutenção destas relaçõesconstitui a base do presente Acordo,

Convieram no seguinte:

artigo 1.°

Fica Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos,pessoa jurídica de direito público boliviano criadapor lei para a exploração da atividade económica edirigida pelo Governo da República da Bolívia,isenta da proibição constante do parágrafo 2.° doartigo 11 da Lei brasileira n.° 4.657, de 4 de se-tembro de 1942 — Lei de Introdução ao CódigoCivil Brasileiro.

artigo 2.o

Pelo período de 6 (seis) meses a contar da datada entrada em vigor deste Acordo Yacimientos Pe-troliferos Fiscales Bolivianos gozará de isenção deimposto brasileiro de importação na introdução noBrasil de até 3 (três) automóveis de fabricaçãoestrangeira, bem como de bens destinados à ins-talação de um escritório na cidade do Rio de Ja-neiro.

artigo 3.°

Cada servidor do escritório de que trata o artigo 2.°que não seja brasileiro nem resida permanente-mente no Brasil gozará, pelo prazo de 6 (seis) mesesa contar da data da sua chegada ao Brasil, daisenção do imposto de importação na introduçãono país de seus móveis e objetos, inclusive 1 (um)automóvel de fabricação estrangeira.

artigo 4.°

As isenções previstas nos artigos 2.° e 3.° desteAcordo, para a importação de automóveis, poderãoser substituídas pelo direito de aquisição, em idên-ticas condições, de veículos de produção brasileira,com isenção do imposto sobre produtos industria-lizados, desde que o referido automóvel seja adqui-rido de estabelecimento contribuinte deste impos-to, assegurado o direito à utilização dos créditosde matérias-primas e produtos intermediários uti l i -zados na produção dos veículos.

artigo 5.°

Até a data a que se refere o artigo 3.° deste Acordo,Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos poderáadquirir, com isenção do imposto brasileiro sobreprodutos industrializados, produtos destinados à

* Na página 191, seção Mensagens, o texto da mensagem do Chanceler Alberto Nogués a Azeredo daSilveira.

177Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 175: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

instalação do Escritório de que trata o artigo 2.°deste Acordo, desde que os referidos produtos se-jam de fabricação brasileira e adquiridos de esta-belecimento contribuinte deste imposto, asseguradoo direito à utilização dos créditos de matérias-primas, produtos intermediários e materiais de em-balagem utilizados na produção e comercializaçãodos produtos adquiridos.

artigo 6.°

A República da Bolívia, em reciprocidade, conce-derá autorização para a instalação e funcionamentoem seu território, de um escritório de uma pessoajurídica brasileira, criada por lei para exploraçãode uma atividade económica de natureza similarà do escritório instalado pela Yacwnientos Petro-liferos Fiscales Bolivianos em território brasileiro.Essa pessoa jurídica será designada pelo Governobrasileiro.

artigo 7.°

A República da Bolívia concederá à pessoa jurídicade que trata o artigo 6.° deste Acordo, isençãotributária análoga à concedida nos artigos 2.°,4.° e 5° deste Acordo e, aos servidores do escri-tório da dita pessoa jurídica na Bolívia, isençãotributária análoga à concedida nos artigos 3.° e 4.°deste Acordo.

artigo 8.°

Este Acordo entrará em vigor na data em que aRepública Federativa do Brasil e a República daBolívia trocarem notas informando-se mutuamentede que foram cumpridos os requisitos constitucio-nais necessários para a sua entrada em vigor.

artigo S.°

Qualquer das Partes Contratantes pode denunciareste Acordo depois de decorrido um período de 3(três) anos a contar da data de sua entrada emvigor, mediante notificação de denúncia à outraParte Contratante, por via diplomática, a qual pro-duzirá efeito 6 meses após a data da referidanotificação.

Feito em Brasília aos 16 de fevereiro de 1978, emdois exemplares, nos idiomas português e espanhol,sendo ambos os textos igualmente autênticos.

o acordo comercial entre obrasil e a austrália

Acordo Comercial entre os Governosdo Brasil e da Austrália,assinado em Camberra,em 22 de fevereiro de 1978, peloSecretário-Geral do Ministério dasRelações Exteriores,Ramiro Saraiva Guerreiro, e peloVice-Primeiro-Ministro e Ministro deComércio e Recursos Nacionaisdaquele país, Douglas Anthony.

O Governo da República Federativa do Brasil

O Governo da Austrália,

Convencidos da importância do fortalecimento,expansão e diversificação das relações comerciais,económicas e de intercâmbio entre os dois países,em bases equitativas e mutuamente vantajosas edentro de uma perspectiva de longo prazo,

Reconhecendo que a configuração de recursos na-turais e o desenvolvimento económico, industriale demográfico dos dois países podem abrir viaspromissoras de cooperação,

Reconhecendo ainda os benefícios mútuos resul-tantes da cooperação económica, comercial e in-dustrial entre empresas e organizações relevantesdos dois países,

Tendo presentes os respectivos direitos e obriga-ções internacionais como partes contratantes doAcordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio,a participação de um ou ambos os países em outrosacordos multilaterais relativos a comércio, e suacondição de membro do Fundo Monetário Inter-nacional,

Acordaram no seguinte:

artigo I

Os dois Governos tomarão todas as medidas apro-priadas para facilitar, fortalecer e diversificar ocomércio entre seus países, no que se refere àsexportações correntes e potenciais de bens e ser-viços, com vistas a atingir uma contínua e mutua-mente vantajosa expansão desse comércio.

artigo II

O comércio entre os dois países será realizadoem consonância com os direitos e as obrigaçõesmutuamente aplicáveis, adquiridos e assumidaspelos dois países, como partes contratantes doAcordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio.

artigo III

Para promover a consecução dos objetivos do ar-tigo I do presente Acordo, os dois Governos:

a) encorajarão e facilitarão a negociação de con-tatos em bases comerciais entre as empresas eorganizações relevantes dos dois países;

b) declaram apoiar, em princípio, ajustes de longoprazo mutuamente vantajosos, em bases comerciais,relativos ao suprimento e aquisição de mercadoriase encorajarão as empresas e organizações relevan-tes a explorar as oportunidades para tais ajustese, quando apropriado, concluir tais ajustes.

artigo IV

Os dois Governos, na forma apropriada, encorajarãoe facilitarão o desenvolvimento da cooperação

178Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 176: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

económica, comercial e industrial, incluindo inves-timentos em empreendimentos conjuntos, entreempresas e organizações relevantes dos respectivospaíses. A decisão de participar em projetos espe-cíficos de cooperação e os ajustes contratuais parasua implementação serão da responsabilidade dasempresas e organizações participantes.

artigo V

A fim de promover a consecução dos objetivos dopresente Acordo, os dois Governos, na forma apro-priada:

a) encorajarão e facilitarão o intercâmbrio derepresentantes, grupos e delegações comerciais,industriais e técnicas entre os dois países;

b) cooperarão no tocante a estudos e pesquisasrelacionados com o intercâmbio mencionado nosubparágrafo (a) deste Artigo; e

c) trocarão informações relevantes sobre produtosde interesse para as economias dos dois países,incluindo pormenores sobre estimativas e metas deprodução e sobre consumo, demanda e estoques.

artigo VI

Cada Governo, na forma apropriada, encorajará efacilitará no seu país a realização, pelas empresase organizações do outro país, de feiras e expo-sições comerciais e outras atividades promocionaisnos campos do comércio e da tecnologia, e aparticipação de tais entidades nesses eventos.Cada Governo isentará do pagamento de impostosde importação e taxas, e permitirá que sejamreexportados, os artigos destinados a exibição emfeiras e exposições, assim como as amostras demercadorias para fins promocionais, importadostemporariamente do país do outro Governo. Taisartigos e amostras serão reexportados do país peloqual foram importados e não serão alienados nestepaís, a menos que para tanto tenha sido obtidaautorização prévia das autoridades competentesdeste país e efetuado o pagamento dos impostosde importação e taxas cabíveis.

artigo VII

Cada Governo empreenderá os melhores esforçospara assegurar que, em seu território, consultoresprofissionais e empreiteiros de construção do outropaís tenham oportunidade de desenvolver suas ati-vidades, e para conceder a tais atividades trata-mento não menos favorável do que aquele conce-dido a firmas ou indivíduos de qualquer terceiropaís.

artigo VIII

Todos os pagamentos decorrentes do comércio eoutras transações entre os dois países serão efe-tuados em moedas conversíveis mutuamente acei-táveis, em consonância com a legislação cambialem vigor nos dois países.

artigo IX

A fim de promover a consecução dos objetivos dopresente Acordo, fica constituída uma ComissãoMista, composta de representantes designados pe-los respectivos Governos. A Comissão se reuniráuma vez por ano, salvo entendimento em contrário,alternadamente no Brasil e na Austrália. No âm-bito do presente Acordo, entre outras atribuições,a Comissão:

a) passará em revista e manterá sob consideraçãoa implementação das disposições do presenteAcordo;

b) examinará o desenvolvimento do comércio bila-teral e apresentará propostas que objetivem maxi-mizar as trocas mutuamente vantajosas de bense serviços entre empresas comerciais e organiza-ções dos dois países;

c) estudará propostas, feitas por qualquer dosdois Governos, que objetivem a contínua expansãoe diversificação do comércio bilateral de formaharmoniosa, com a devida atenção aos objetivoscomerciais de longo prazo de cada país, e, naforma apropriada, aconselhará quanto à implemen-tação de tais propostas;

d) identificará, e trará à atenção dos dois Go-vernos, áreas de cooperação económica, comerciale industrial que poderiam ser exploradas pelas em-presas e organizações relevantes dos dois países,particularmente as áreas que ofereçam perspec-tivas para o desenvolvimento de relações comerciaismutuamente vantajosas;

e) examinará e desenvolverá propostas para a so-lução de problemas que possam surgir na execuçãodo presente Acordo ou na evolução do comércioentre os dois países.

artigo X

Cada Governo poderá levantar junto ao outroquestões decorrentes da execução do presenteAcordo ou vinculadas à mesma. Qualquer questãolevantada merecerá pronta e total consideração e,na forma apropriada, poderá ser objeto de con-sultas entre os dois Governos.

artigo XI

Nada no presente Acordo obrigará um dos doisGovernos, ou as empresas e as organizações dopaís de um dos dois Governos, a tomar qualquermedida que possa ser incompatível com as leis,regulamentos ou políticas desse país.

artigo XII

Cada Governo notificará o outro, através dos canaisdiplomáticos, do cumprimento das formalidadesque se fizerem necessárias a fim de que o presenteAcordo possa entrar em vigor. O Acordo entraráem vigor na data da última dessas notificações epermanecerá em vigor por um período inicial de(cinco) (dez) anos. Depois deste período inicial, o

179

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 177: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Acordo permanecerá em vigor até cento e oitentadias após a data em que qualquer dos dois Go-vernos receber do outro notificação escrita da in-tenção de terminar o Acordo.

No caso de término do presente Acordo, todas asobrigações pendentes contraídas em conformidadecom o mesmo serão cumpridas em consonânciacom suas disposições.

No momento de sua entrada em vigor, o presenteAcordo revogará e substituirá o Acordo Comercialpor Troca de Notas concluído em dezenove de julhodo ano de mil novecentos e trinta e nove entreo Governo do Brasil e o Governo do Commonwealthda Austrália.

Em fé do que, os abaixo assinados, devidamenteautorizados pelos respectivos Governos, assinam opresente Acordo.

Feito em Camberra, aos 22 dias de fevereiro demil novecentos e setenta e oito, em dois exem-plares nas línguas portuguesa e inglesa, sendo cadatexto igualmente autêntico.

NOTA INTERPRETATIVA

Com relação ao Acordo Comercial entre o Governoda República Federativa do Brasil e o Governo daAustrália, assinado hoje, os representantes dosdois Governos desejam deixar constância dos se-guintes entendimentos estabelecidos durante anegociação do Acordo pelas delegações dos doisGovernos:

1) O Artigo II do Acordo compreende garantiasmútuas, por parte dos dois Governos, de que, naadministração de políticas e de procedimentos deregulamentação quantitativa de importações desti-nadas a cada país, o tratamento acordado a essasimportações não será menos favorável do que oaplicado às importações oriundas de qualqueroutro país;

2) Nada no Acordo obriga qualquer dos dois Go-vernos a conceder incentivos através de medidasque envolvam ajustes sobre imposto de renda;

3) O vocábulo "serviços" constante dos artigos Ie IX do Acordo não deve ser entendido comoabrangendo serviços de transporte.

brasil e austrália mantêmentendimentos sobre serviços

de navegação marítima

Notas trocadas pelosMinistros dos Transportes do Brasil,Dyrceu Araújo Nogueira, e da Austrália,P. J. Nixon, em 23 de fevereiro de 1978,sobre entendimentos a respeitode navegação marítima entreos dois países.

A Sua Excelência o Senhor P. J. Nixon

Ministro dos Transportes do Governo da Austrália

Senhor Ministro,

Tenho a honra de acusar recebimento da carta deVossa Excelência, datada de 23 do corrente, doteor seguinte:

"Tenho a honra de referir-me às discussões entrerepresentantes de nossos dois Governos sobrequestões relativas à navegação marítima. Tenho ahonra de informar Vossa Excelência do entendi-mento, do Governo australiano, de que cada Go-verno aceitará iniciativas do outro para estabelecerdiscussões e consultas, entre as autoridades com-petentes, a respeito de serviços de navegação ma-rítima entre os dois países. Tenho, outrossim, ahonra de solicitar a Vossa Excelência a bondadede confirmar que seu Governo participa de talentendimento.

Aceite, Excelência, os protestos de minha maisalta consideração."

2. Conforme solicitado na carta de Vossa Exce-lência, e em nome do Governo da República Fe-derativa do Brasil, apraz-me confirmar que o enten-dimento acima é aceitável para meu Governo.

Aproveito a oportunidade para apresentar os pro-testos da minha mais alta consideração com queme subscrevo,

de Vossa Excelência,

Dyrceu A. NogueiraMinistro de Estado dos Transportes da RepúblicaFederativa do Brasil

Convénio sti/kfa para cooperaçãono campo da tecnologia industrial

Convénio entre a Secretaria de TecnologiaIndustrial do Ministério da Indústriae do Comércio e o Centro de PesquisasNucleares de Julich (KFA) para desenvolvimentode programas de cooperação no campo datecnlogia industrial, firmado em Julich, em8 de março de 1978, pelo Secretário de TecnologiaIndustrial do MIC, José Walter Bautista Vidal,e pelo Chefe do Centro de PesquisasNucleares, Karl Heinz Deckurts.

artigo 1.°

A Secretaria de Tecnologia Industrial do Minis-tério da Indústria e do Comércio (STI) e o Centrode Pesquisas Nucleares de Julich (KFA) firmam opresente acordo sob forma de convénio especial,nos termos do artigo 1.°, parágrafo 3.°, do AcordoGeral de Cooperação nos Setores da Pesquisa Cien-

180Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 178: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

tífica e do Desenvolvimento Tecnológico, assinadopelos Governos da República Federativa do Brasile da República Federal da Alemanha, em 9 de junhode 1969, em Bonn.

artigo 2.°

(1) A STI e o KFA desenvolverão programas decooperação no campo da tecnologia industrial. Estacooperação se realizará sob a forma de projetosque despertem interesse mútuo, com vistas a pro-mover a tecnologia industrial e a cooperação entreos dois países. Os seguintes setores foram esco-lhidos de comum acordo para o início da coope-ração, podendo tal lista ser ampliada no futuro:

1 — metalurgia de metais especiais e suas ligas;

2 — tecnologia de soldagem;

3 — corrosão;

4 — controle de qualidade de materiais e produtosmanufaturados;

5 — Aplicação de biotecnologia no processamentode materiais orgânicos.

(2) A cooperação compreenderá a execução inte-gral de certos projetos ou a execução de parcelasespeciais de projetos, tais como o intercâmbio depessoal e cessão de equipamento para a realizaçãode testes e desenvolvimento em escala de labo-ratória, em plantas-piloto, bem como em escala deprodução semi-industrial. Em cada projeto seráespecificada a participação das partes envolvidase, eventualmente, de firmas industriais dos paísesdas partes contratantes, por estes convidados, ten-do por objetivo uma adequada distribuição detarefas.

(3) Quando empresas industriais e/ou outros parti-cipantes dos dois países ou de um deles foremconvidados a participar de projetos no âmbitodesse Acordo, as relações entre os participantesdo projeto poderão ser estabelecidas medianteentendimentos especiais que necessariamente le-varão em conta as disposições deste ConvénioEspecial. Condições adicionais a este Convénio Es-pecial deverão ser aprovadas pela STI e KFA.

artigo 3.°

A STI e o KFA coordenarão encontros de especia-listas nos setores escolhidos, a fim de definir edetalhar projetos específicos, com atribuições deencargos.

artigo 4.°

(1) Os cientistas e técnicos brasileiros enviadosno quadro do presente Convénio, com os quais oKFA, ou a instituição por ele designada, concluircontrato de trabalho, serão equiparados de plenodireito, durante o exercício das atividades a elesatribuídas, aos cientistas e técnicos alemães emfunções análogas. Ficarão sujeitos às disposições

do Direito de Trabalho alemão e serão seguradoscontra acidentes do trabalho. Cientistas e técnicosaos quais entidades alemãs concederem bolsas-de-estudo estarão sujeitos às condições usuais naconcessão de tais bolsas, além das condições esta-belecidas por entendimentos especiais entre elese o KFA. Serão segurados contra acidentes de tra-balho pela instituição onde estejam trabalhando.

(2) Da mesma forma, os cientistas e técnicos ale-mães enviados no âmbito do presente Convénio,com os quais a STI, ou a instituição por ela desig-nada, concluir um contrato de trabalho, serãoequiparados a seus colaboradores. Serão remune-rados segundo os níveis de vencimentos fixadospara cientistas e técnicos estrangeiros e seguradoscontra acidentes de trabalho.

(3) Os cientistas e técnicos enviados por curtoperíodo, no quadro do presente Convénio, que nãosejam contratados na forma prevista nos parágrafos1.° e 2.° e que não recebam bolsas-de-estudo naparte alemã, receberão da parte contratante rece-bedora, durante o período da sua visita ao paísrecebedor, uma indenização calculada por dia deestada. O montante da diária será fixado pelaspartes contratantes, cada vez, pelo período de umano calendário, levando-se em consideração o custode vida na Alemanha e no Brasil, respectivamente.

(4) As despesas de viagem dos cientistas e téc-nicos enviados no âmbito do presente Convénioserão custeadas pela parte contratante que osenvia. Esta parte responde igualmente pela conti-nuidade dos salários dos cientistas e técnicosenviados, com os quais a parte contratante, rece-bedora ou a instituição por ela designada nãoconclui contrato de trabalho. Nesse caso, contudo,a parte contratante recebedora deverá, adicional-mente, pagar a indenização mencionada no pará-grafo 3.°.

artigo 5.°

(1) As invenções feitas por cientistas ou técnicosde uma das das partes contratantes, no exercíciodas atividades previstas neste Convénio Especial,no país da outra, aplicam-se as seguintes dispo-sições.

(2) Se uma invenção for feita exclusivamente, oupelo menos em 50%, por cientista ou técnicoenviado segundo o Artigo 4.° do presente ConvénioEspecial, com o qual a parte contratante recebedoraou instituição por ela designada não tenha con-cluído contrato de trabalho, e se a parte contra-tante ou empregador que o enviou reivindicar essainvenção, deverá ser concedida à parte contra-tante recebedora uma licença sobre a patente con-cedida no seu país para essa invenção. A licençaé isenta de taxas, desde que a invenção seja usadaexclusivamente para fins de pesquisa. Em caso deuma utilização comercial da invenção, deverá serpaga uma taxa de licença adequada. Ao fixar-se omontante da taxa, serão concedidas as condiçõesmais favoráveis. A licença não é exclusiva e irre-vogável. Poderão ser concedidas sublicenças, ementendimento com o titular dos direitos de patente.

181Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 179: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Se a parte contratante ou empregador que reivin-dicar a invenção não tiver interesse direto emrequerer a concessão de patente no país da partecontratante recebedora, esta deverá ser consultadasobre seu interesse em apresentar tal requerimentode patente. Em caso afirmativo, a parte contratanterecebedora solicitará à outra parte contratante querequeira a patente no país da parte contratanterecebedora, reembolsando-lhe todas as despesasvinculadas ao requerimento do registro e à conser-vação dos direitos de patente.(3) Se uma invenção for feita exclusivamente, oupelo menos em 50%, por um cientista ou técnicoenviado segundo o Artigo 4.° do presente ConvénioEspecial, com o qual a parte contratante recebe-dora ou instituição por ela designada concluiu umcontrato de trabalho e se a parte contratante rece-bedora ou o empregador reivindicar essa invenção,deverá ser concedida à parte contratante que enviauma licença sobre patente concedida no seu paíspara essa invenção. A licença é isenta de taxas,desde que a invenção seja usada exclusivamentepara fins de pesquisa. Em caso de utilização comer-cial da invenção deverá ser paga uma taxa delicença adequada. Ao fixar-se o montante da taxa,serão concedidas à parte contratante que envia ascondições mais favoráveis. A licença não é exclu-siva e irrevogável. A parte contratante que enviapoderá, em entendimento com o titular do direitoda patente, conceder sublicenças no seu país. Sea parte contratante recebedora ou empregador quereivindicou a invenção não tiver interesse diretoem requerer patente no país da parte contratanteque envia, esta deverá ser consultada sobre seuinteresse em apresentar tal requerimento de pa-tente. Em caso afirmativo, a parte contratante queenvia solicitará à parte contratante recebedora querequeira a patente no país da parte contratanteque envia e reembolsando-lhe todas as despesasresultantes do registro e da conservação dos di-reitos de patente.

(4) Caso os cientistas ou técnicos enviados noquadro do presente Convénio exerçam suas ativi-dades em estabelecimentos pelos quais a parte con-tratante recebedora não é juridicamente respon-sável, esta se esforçará para que o responsável peloestabelecimento conceda à parte contratante queenvia o tratamento a que se referem os pará-grafos 2.° e 3.°.(5) Com relação a outras formas específicas decooperação, inclusive projetos especiais de pes-quisa em comum, as Partes estabelecerão a distri-buição dos direitos relativos a invenções ou desco-bertas que resultem de tal cooperação, levando emconsideração os lucros, direitos e contribuições dasPartes.

artigo 6.°Conhecimentos e experiência não publicados, queos técnicos enviados no âmbito do presente Acordoadquiram em instituições do país da parte recebe-

dora, deverão ser tratados confidencialmente. Nasnegociações referentes a cada projeto deverá serespecificado o grau de confidencialidade a man-ter-se, especialmente no que concerne à utilizaçãodesses conhecimentos na produção industrial e asua transferência para terceiros.

artigo 7.°A STI e o KFA se reunirão periodicamente paraavaliação dos programas e manterão a ComissãoMista Teuto-Brasileira informada sobre o estado dacooperação mediante relatórios anuais sobre o pro-grama de cooperação.

artigo 8.°

(1) As Partes não se responsabilizarão por pre-juízos causados por cientistas ou técnicos enviadosno quadro do presente Convénio.

(2) Os cientistas ou técnicos enviados no quadrodeste Convénio somente serão responsáveis perantea parte recebedora quando houverem causado da-nos intencionalmente.

(3) No caso de danos causados por cientistas outécnicos enviados durante o exercício da atividadeprevista no presente Convénio, a parte contratanterecebedora os isentará de pretensões de terceiros,a menos que tenham causado o dano intencional-mente.

artigo 9.°

O presente Convénio entrará em vigor uma vezaprovado pelos respectivos governos, mediante trocade notas.

artigo 10

O presente Convénio poderá ser rescindido porqualquer das partes, mediante aviso prévio de pelomenos doze meses.

artigo 11

O presente Convénio Especial foi assinado em doisoriginais em línguas alemã e portuguesa, sendo osdois textos igualmente idênticos.*

promulgação eaprovação de acordos

atos diplomáticos submetidosao congresso nacional

Acordo de Comércio, firmado entre o Brasil e aLibéria, em Brasília, em 21 de novembro de 1977.

* Na seção Comunicados e Notas, página 185, nota do Itamaraty à imprensa anunciando a visita doPresidente Geisel à RFA; na seção Mensagens, página 192, o texto do telegrama enviado pelo Presidentebrasileiro a Walter Scheel e a carta dos empresários paulistas destacando o êxito da visita de Geisel àAlemanha.

182Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 180: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Acordo Internacional do Cacau, de 1975, assinadopelo Brasil, na sede da Organização das NaçõesUnidas, em Nova York, em 9 de junho de 1976.

Acordo Básico de Cooperação Industrial entre aBrasil e o México, celebrado na cidade do México,em 18 de janeiro de 1978.

Convénio de Amizade e Cooperação entre o Brasile o México, concluído na cidade do México, em18 de janeiro de 1978.

Acordo entre o Brasil e a Agência Espacial Euro-peia para o Estabelecimento e Utilização de Meiosde Rastreamento e de Telemedida a serem insta-lados em Território brasileiro, celebrado em Bra-sília, em 20 de junho de 1977.

Acordo de Previdência Social entre o Brasil e oUruguai, firmado em Montevidéu, em 27 de janeirode 1978.

Acordo Comercial entre o Brasil e a Austrália, cele-brado em Camberra, em 23 de fevereiro de 1978.

Acordo Comercial entre o Brasil e a China, cele-brado em Pequim, em 7 de janeiro de 1978.

Acordo Brasil-Peru sobre a instalação e funciona-mento, na cidade de São Paulo, de um Escritórioda Minero-Peru Comercial, celebrado a bordo donavio da Armada peruana, fundeado no rio Ama-zonas, na linha da fronteira brasileiro-peruana, em5 de novembro de 1976.

Textos dos Protocolos Adicionais números 1, 244,que modificam a Convenção para a Unificação deCertas Regras Relativas ao Transporte Aéreo Inter-nacional, concluído em Varsóvia, em 12 de outubrode 1929, e emenda pelo celebrado em Haia, em28 de setembro de 1955.

183

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 181: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 182: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

a visita do presidente geisel àrepública federal da alemanha

Comunicado do Itamaraty à imprensa,divulgado em 3 de janeiro de 1978:

Atendendo a convite do Presidente federal WalterScheel, o Presidente da República Federativa doBrasil, Ernesto Geisel, obtida a autorização doCongresso Nacional, visitará oficialmente a Repú-blica Federal da Alemanha, no período de seis adez de março de 1978.*

Ao contrário, o Ministro das Relações Exterioresmanifestou a esperança de que a política nuclearbrasileira possa ser melhor compreendida nos Es-tados Unidos da América, uma vez que atende àsmais escrupulosas preocupações com salvaguardascontra a proliferação de armas nucleares.

chancelaria brasileira anunciavisita de ramalho eanes ao brasil

Comunicado do Itamaraty à Imprensa,em 20 de janeiro de 1978:

entrevista de silveira adeputados norte-americanos

Atendendo a convite que lhe dirigiu o Presidenteda República Federativa do Brasil, Ernesto Geisel,o Presidente da República Portuguesa, GeneralAntónio Ramalho Eanes, visitará oficialmente oBrasil no período de 22 a 26 de maio de 1978.

Nota do Ministério das RelaçõesExteriores à imprensa, em

12 de janeiro de 1978:

parlamento holandês aprova exportaçãode urânio enriquecido para o brasil

A propósito de notícias publicadas hoje, dia 12,relativamente à audiência concedida ontem peloMinistério das Relações Exteriores a um grupode Deputados norte-americanos, cabe ao Itamaratyesclarecer que, durante a referida entrevista, nadafoi dito, insinuado ou perguntado sobre a possibi-lidade de modificação de qualquer aspecto dapolítica nuclear brasileira.

Em 1.° de fevereiro de 1978 oMinistério das Relações Exteriores

divulgou o seguinte Comunicado Oficial:

A Embaixada do Brasil na Haia acaba de darconhecimento à SERE de que o Parlamento ho-landês aprovou a exportação de urânio enriquecido,

* Na seção Mensagens, página 192, o texto do telegrama enviado pelo Presidente brasileiro a WalterScheel e a carta dos empresários paulistas destacando o êxito da visita de Geisel à Alemanha.

185

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 183: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

dentro de determinadas condições, e a ampliaçãoda usina de Almelo, sujeita a certos requisitos.

2. Nessa questão, o Governo brasileiro nada maisfez do que aceitar, sem qualquer modificação, oque lhe foi proposto pelos 3 países consorciadosna URENCO, em matéria de salvaguardas paraarmazenamento de plutônio.

3. O Governo brasileiro aguardará esclarecimentosque certamente lhe serão prestados antes de fazerqualquer pronunciamento adicional sobre o assunto.

a segunda reunião preparatóriado pacto amazônico

Comunicado do Itamaraty à imprensa,em 31 de março de 1978, a propósito da

II Reunião Preparatória sobreCooperação Multilateral na Amazónia:

A convite do Governo brasileiro, Delegações daBolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Surinamee Venezuela participaram em Brasília, de 27 a 31de março, juntamente com a Delegação do Brasil,dos trabalhos da Segunda Reunião Preparatóriasobre Cooperação Amazônica.

O encontro constituiu demonstração eloquente dopropósito que anima os referidos países de alcan-çar, no mais breve prazo, a institucionalização deum sistema de cooperação multilateral com vistasao desenvolvimento dos respectivos territóriosamazônicos.

Durante a reunião, as Delegações participantesprocederam a um exame profundo e objetivo deaspectos específicos do futuro mecanismo de coope-

ração, tomando por base o documento de trabalhoorganizado pela Delegação brasileira, as sugestõese propostas alternativas apresentadas durante ostrabalhos.

O alto espírito construtivo que inspirou as Dele-gações durante suas atividades propiciou um avan-ço significativo no sentido de um consenso posi-tivo em torno aos pontos principais do mecanismoproposto.

O Excelentíssimo Senhor Ministro de Estado dasRelações Exteriores do Brasil, Embaixador AntónioF. Azeredo da Silveira, dando expressiva demons-tração de seu interesse pefo processo ora emestudo, teve a gentileza não somente de receberos Senhores Chefes das Delegações, mas tambémde presidir a sessão de encerramento da Reunião,oportunidade em que expressou sua satisfação pe-los trabalhos efetuados.

As Delegações visitantes concordaram unanime-mente em deixar constância de sua homenagemde agradecimento ao ilustre Governo do Brasil e,em especial, ao Excelentíssimo Senhor ChancelerAntónio F. Azeredo da Silveira, pela hospitalidadee atenções que lhes foram dispensadas durantesua permanência na cidade de Brasília. Da mesmaforma, resolveram, consignar suas felicitações aoEmbaixador João Hermes Pereira de Araújo e aoConselheiro Rubens Ricupero pela forma inteli-gente e atinada com que souberam dirigir as deli-berações assim como ao pessoal de Secretaria eTradução do Itamaraty pela eficiente colaboraçãoprestada aos delegados.

A fim de prosseguir e culminar o processo deapreciação e análise das conclusões alcançadas napresente reunião, as Delegações acordaram em en-caminhar a seus Governos o oferecimento do Go-verno da Venezuela para que a próxima reunião serealize em Caracas, a partir de 15 de maio docorrente ano.*

* Na seção Notícias, página 193, uma informação sobre o apoio da Assembleia Legislativa do Estadodo Amazonas ao Pacto Amazônico.

186Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 184: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

geisel deixa duas mensagensescritas para os mexicanos

presidente brasileiro agradeceacolhida no uruguai

Mensagens do PresidenteErnesto Geisel escritas no Livro deVisitantes da Zona Arqueológica deTeotihuacán, em 15 de janeiro de 1978,e no Livro de Honra do Monumentoà Independência do México, em 16 dejaneiro de 1978:

MENSAGEM DE TEOTIHUACÁN

A visita que fiz hoje com os brasileiros que meacompanham no México é de extraordináriaexpressão, além da imagem que este conjunto arqui-tetônico restaurado proporciona do que foram ascivilizações que aqui se desenvolveram. Deixo aqui,a expressão de amor com que os mexicanos, comjusto sentimento nacional cultuam o seu passadoe preparam patrioticamente as gerações que irãoconstruir o futuro desta grande Nação.

MENSAGEM DO MONUMENTO AINDEPENDÊNCIA

A Pátria é a construção do povo, é o resultado daconjugação dos esforços de cada cidadão. Há emtoda geração, porém, aqueles que têm a vocação ouo privilégio de darem de suas vidas mais do queo comum dos homens para que triunfem dos valo-res superiores que cimentam a nação.

A esses é justo que se rendam sempre as homena-gens dos que se beneficiam de seus feitos.

Aos heróis mexicanos, que são heróis de toda alatinidade americana, dedico a admiração e o re-conhecimento do povo brasileiro.

Mensagem do PresidenteErnesto Geisel ao Presidente

uruguaio, em 27 de janeirode 1978:

A Sua Excelência o SenhorDoutor Aparício MéndezPresidente da República Oriental do UruguaiPalácio do GovernoMontevidéu.

Ao deixar o espaço aéreo uruguaio, de regressoa Brasília, ao término de minha visita oficial àRepública Oriental, desejo reiterar a Vossa Exce-lência — e, por seu intermédio, à nobre naçãouruguaia — a expressão de meu sincero agrade-cimento pelas atenções com que, em companhiade minha mulher e filha, e comitiva, fomos cer-cados desde nossa chegada a Montevidéu.

Nesta oportunidade, formulo a Vossa Excelência,ao Governo e ao povo uruguaios, afetuosos votosde prosperidade, paz e bem-estar.Muito cordialmente,Ernesto GeiselPresidente da República Federativa do Brasil

alberto nogués enviamensagem a silveira

Mensagem do Ministro das RelaçõesExteriores do Paraguai, Alberto Nogués,ao Chanceler Azeredo da Silveira,em 17 de fevereiro de 1978:

191

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 185: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Excelentíssimo Senhor Embaixador António F. Aze-redo da SilveiraMinistro das Relações Exteriores do BrasilBrasília

Ao regressar a Assunção, meus acompanhantes eeu reiteramos a Vossa Excelência nosso cordialagradecimento pelas atenções recebidas em Bra-sília, de onde trouxemos a melhor recordação denossa breve permanência. Receba, querido amigoe eminente Chanceler, os sentimentos de minhamais alta consideração.

Alberto NoguésMinistro das Relações Exteriores do Paraguai

a mensagem do presidente geisela walter scheel

Mensagem do Presidente Ernesto Geiselao Presidente da RFA, Walter Scheel, enviadade bordo da aeronave presidencialbrasileira, em 11 de março de 1978:

Ao deixar o espaço aéreo da República Federalda Alemanha, de regresso ao Brasil, ao término deminha visita oficial, desejo renovar a Vossa Exce-lência — e, na sua pessoa, ao Governo e ao nobrepovo de seu País — as expressões do mais sinceroe profundo agradecimento por todas as atençõescom que, desde nossa chegada ao solo alemão,fomos cumulados, minha mulher, minha filha eos brasileiros, do Governo e da iniciativa privada,que me acompanharam nesta jornada, de que guar-daremos, todos, as mais gratas recordações. For-mulando a Vossa Excelência e à Senhora Scheel, aoGoverno e ao povo da República Federal da Ale-manha sinceros votos de felicidades e prosperi-dade, paz e bem-estar, subscrevo-me, de VossaExcelência, muito cordialmente,

Ernesto GeiselPresidente da República Federativa do Brasil

empresários paulistas destacamêxito da viagem de geisel à rfa

Carta do presidente da Federaçãoe Centro das Indústrias do Estadode São Paulo (Fiesp — Ciesp),Theobaldo De Nigris, ao Ministro deEstado das Relações Exteriores,António F. Azeredo da Silveira, em16 de março de 1978:

Excelentíssimo Senhor Embaixador António Fran-cisco Azeredo da SilveiraDigníssimo Ministro das Relações Exteriores

Senhor MinistroCumprimentando-o cordialmente, desejamos mani-festar a Vossa Excelência, em nome da indústriapaulista, a nossa satisfação e as nossas congra-tulações pelo êxito obtido na recente viagem doExcelentíssimo Senhor Presidente da República àRepública Federal da Alemanha.Creia-nos, Senhor Ministro, que, como integranteda comitiva de empresários e como brasileiro, pu-demos sentir de perto não apenas uma cordialacolhida, mas, igualmente, o alto respeito e o pres-tígio que as autoridades e os empresários alemãesemprestaram à visita.Indubitavelmente, para o êxito e sucesso alcança-dos, contribuiu decisivamente o Ministério alta-mente dirigido por Vossa Excelência e é com agradoe emoção que destacamos a sua atuação pessoal,brilhante e dignificante, e a de seus nobres co-laboradores, Embaixador Paulo Tarso Flecha deLima e Conselheiro Renato Prado Guimarães.Ao transmitir a Vossa Excelência esta manifesta-ção da Federação e do Centro das Indústrias doEstado de São Paulo, ao destacar, com entusias-mo, o alto nível dos entendimentos mantidos e que,estamos certos, oferecem novas e amplas perspec-tivas no nosso relacionamento comercial e econó-mico, desejamos reiterar-lhe as congratulações doempresariado industrial de São Paulo pelo magní-fico sucesso que representou a viagem presidencialàquele país amigo.Valemo-nos do ensejo, Senhor Ministro, para rei-terar-lhe as expressões de nossa estima e maiorconsideração.

Theobaldo De NigrisPresidente da Fiesp — Ciesp

192

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 186: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

assembleia legislativa do amazonasapoia o pacto amazônico

O Ministro de Estado das Relações Exteriores, An-tónio F. Azeredo da Silveira, recebeu ofício doPresidente da Assembleia Legislativa do Estado doAmazonas, deputado Natanael Bento Rodrigues, in-formando haver sido aprovado naquela Casa, em25 de novembro de 1977, por unanimidade, umrequerimento de autoria da deputada Socorro Dutradando integral apoio ao Pacto Amazônico.

O documento, segundo esclarece o ofício encami-nhado ao Chanceler Azeredo da Silveira, reconheceno Pacto Amazônico "o valor das decisões his-tóricas", ensejando o desenvolvimento económicoda região e a efetiva aproximação cultural dospovos americanos.

mre/seplan assinam convéniocom o pnud

S,.=- l/DrMf ln

ma,NuacioJ ial de Co°PeraÇão TécnicaBrasil/PNUD, elaborado para o período 1977/81compreende um total de 62 projetos de cooperaçãotécnica, desenvolvidos em instituições brasileirascom a participação das agências especializadasdas Nações Unidas, através de peritos estrangeirosTornecimento de equipamento e realização de pro-gramas de treinamento. O II PCNT Brasil/PNUD dáênfase especial ao setor Ciência e Tecnologia queífJ?,rf^enta 78 p o r c e n t 0 d0 Programa. O aporte doPNUD no quinquénio é de US$ 30 milhões e o daSubin, em cruzeiros, equivale a US$ 12 milhõesperfazendo um total de US$ 42 milhões.

O convénio foi assinado pelo Secretário-Geral doMinistério das Relações Exteriores, EmbaixadorRamiro Saraiva Guerreiro, pelo Secretário-Geral daSecretaria de Planejamento, Élcio Costa Coutopelo Chefe do Departamento de Cooperação Cultu-ral, Científica e Tecnológica do Itamaraty, MinistroGuy Mane de Castro Brandão, pelo Secretário daSubin, Conselheiro Álvaro Gurgel de Alencar epelo Representante Residente do PNUD no BrasilLuiz Mana Ramirez-Boettner.

O Ministério das Relações Exteriores, a Secretariade Planejamento da Presidência da República, aSubin e a representação do PNUD no Brasil assi-naram, em 1.° de fevereiro de 1978, um convéniono valor de 45 milhões de cruzeiros visando opagamento dos custos em moeda nacional relativoaos projetos financiados pelo PNUD no âmbito doII Programa Nacional de Cooperação Técnica (IIPNCT Brasil/PNUD), com a finalidade de liberarrecursos em divisas e assim elevar o desembolosoefetivo em dólares do programa do PNUD parao País no decorrer deste ano. Esse desembolsodeverá ser de, pelo menos, 9 milhões de dólares,dos quais US$ 2,6 milhões correspondem aos re-cursos em cruzeiros propiciados pela Subin atravésdo convénio assinado.

em vigor o memorando deentendimento brasil-canadá

Brasil e Canadá, através do Chanceler Azeredo daSilveira e do Embaixador canadense, James HowardStone, assinaram, em Brasília, em 9 de fevereirode 1978, uma troca de Notas colocando em vi-gência o Memorando de Entendimento entre osdois países firmado em Ottawa, em outubro de1977, pelos Ministros de Estado da AgriculturaAlyson Paulinelli, e Eugene Whelan.

O Memorando de Entendimento Brasil-Canadá obje-tiva incrementar a cooperação entre os dois paísesno campo da agricultura e foi elaborado para pro-

193

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 187: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

mover trocas de tecnologia, incluindo pesquisasem agricultura, intercâmbio de cientistas, peritose pessoal técnico em campos como genética dasplantas, criação de animais, ciência veterinária eprodutividade agrícola. O Memorando brasileiro-ca-nadense cria também um Grupo de Trabalho emagricultura, sob a égide da Comissão Mista Eco-nómica Brasil-Canadá, e completa os objetivos dessaComissão promovendo o comércio bilateral e asrelações económicas entre o Brasil e o Canadá.

O Brasil, cuja exportação de produtos agrícolasfoi da ordem de US$ 8 bilhões em 1977, e o Canadá,com vendas ao exterior de produtos agrícolas queexcederam a US$ 4 bilhões, são dois dos maioresprodutores e exportadores de géneros alimentíciosdo mundo. As relações comerciais entre os doispaíses nesse setor foram também muito signifi-cativas, tendo, durante os 9 primeiros meses de1977, atingido o valor global de US$ 130 milhões,nos dois sentidos. O Brasil importou do CanadáUS$ 65 milhões em produtos agrícolas, especial-mente trigo, gado de raça, aves, gelatina e sémenanimal, tendo, no mesmo período, vendido àquelepaís outros US$ 65 milhões em produtos alimen-tares, principalmente carne, peixe, suco de laranjaconcentrado, nozes, café, cacau, algodão e vegetaisenlatados.

brasil e bolívia debatem novasformas de cooperação comercial

Com o objetivo de identificar novas formas decooperação entre o Brasil e a Bolívia, na área depromoção de exportações, realizou-se em Brasília,Rio de Janeiro e São Paulo, no período de 1.° a10 de março de 1978, o I Encontro de CooperaçãoTécnica em Promoção Comercial Bolívia-Brasil. Ainiciativa, promovida pelo Ministério das RelaçõesExteriores, teve a participação de funcionários dosetor público, dirigentes de entidades de classe eempresários bolivianos, que aqui estiveram a con-vite do Governo brasileiro.

O encontro, aberto em Brasília, teve prossegui-mento nos dias 6, 7 e 8, no Rio de Janeiro, e nosdias 9 e 10, em São Pau|o, durante o qual osparticipantes bolivianos obtiveram informações so-bre a estrutura e os procedimentos operacionaisdos instrumentos brasileiros de promoção de ex-portações.

Foram indicados pelo Governo boliviano para par-ticipar do I Encontro de Cooperação Técnica emPromoção Comercial Bolívia-Brasil os técnicos Car-los Paz e Eduardo Landivar, do Ministério das Re-lações Exteriores e Culto, Gabriel Loza, do Minis-tério da Indústria e Comércio, Walter Freudenthal,da Câmara Nacional de Comércio, Tornas Guerra,da Câmara Nacional de Indústrias, e Ofélia Grandi,da Câmara Nacional de Exportadores da Bolívia.Pelo lado brasileiro, participaram diplomatas lo-tados no Departamento de Promoção Comercial do

Itamaraty, funcionários da Carteira de ComércioExterior do Banco do Brasil (Cacex), dirigentes etécnicos das Secretarias da Confederação Nacionalda Indústria, da Associação dos ExportadoresBrasileiros e da Federação das Indústrias do Estadode São Paulo.

conversações brasileiro-argentinassobre itaipu-corpus

Representantes dos Governos do Brasil e da Ar-gentina reuniram-se em Brasília, entre os dias 1e 2 de março de 1978, com o objetivo de manterconversações a respeito dos aproveitamentos hi-drelétriços de Itaipu e Corpus. As delegações dosdois países trocaram ideias e pontos de vista sobreo assunto, num clima de cordialidade e franqueza,tendo os delegados argentinos feito ampla expo-sição sobre o tema.

Ambas as delegações assinalaram que, por suaprópria natureza, o tema central dessas conversa-ções é de competência dos três Governos interes-sados (Brasil, Argentina e Paraguai) e concordaramem prosseguir os entendimentos durante a reuniãotripartite, realizada em Assunção, em 14 de março.

No dia 2 de março, por ocasião do encerramentodas reuniões sobre Itaipu e Corpus, o Itamaratyofereceu um almoço aos membros das delegaçõesbrasileira e argentina, do qual participaram o Se-cretário-Geral do Ministério das Relações Exteriores,Embaixador Ramiro Saraiva Guerreiro, e o Embai-xador da Argentina no Brasil, Embaixador OscarHéctor Camilión.

a 44.a conferência da comissão mistabrasileiro-venezuelana de limites

O Secretário-Geral do Ministério das Relações Exte-riores, Embaixador Ramiro Saraiva Guerreiro, inau-gurou, no dia 14 de março de 1978, os trabalhosda 44.a Conferência da Comissão Mista Brasileiro-Venezuelana Demarcadora de Limites, cujo objetivoprincipal foi a programação dos trabalhos para den-sificar um trecho de 60 quilómetros de fronteiraentre os dois países, ao longo da cordilheira dePacaraíma.

Atualmente, a referida Comissão dedica-se à tarefade densificar a linha de fronteira — que se en-contra totalmente demarcada desde 1973, épocaem que foi concluída a Carta-Geral do curso dalinha divisória — tendo já erigido 662 marcos. Paraos trabalhos da 44.a Conferência da Comissão MistaBrasileiro-Venezuelana, o Governo da Venezuela en-

194

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 188: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

viou os seguintes representantes.- Contra-AImiranteLuis Rafael Luces Morales, que a chefiou; o Chefedo Departamento de Demarcações, Georges Pant-chenko,- e o Coordenador, coronel Pedro A. LealMorales. Pelo lado do Brasil participaram o Chefeda Divisão de Fronteiras do Itamaraty, ConselheiroJ. J. Moscardo de Souza, o coronel Ivonilo DiasRocha (Chefe), o Comandante António CarlosSanfAnna Sampaio, e o Senhor Dilermando deMoraes Mendes.

Tendo em vista que a densidade demográfico nafaixa fronteiriça brasileira é inferior a 0,1 habi-tante por quilómetro quadrado, o Governo do Brasil,através de seus diferentes órgãos, vem procurandoimplantar e desenvolver projetos visando ofereceratrativos económicos para estabilizar as populaçõessituadas naquela área. Nesse contexto, o Territóriode Roraima aprovou um projeto de criação da ci-dade de Pacaraíma, junto à BR-174, a 12 quilómetrosdo marco BV-8. Por outro lado, a Venezuela vemseguindo uma política de vivificação da área suldo Orinoco, através do fomento de atividades indus-triais, haja vista a implantação da siderurgia vene-zuelana em La Guayana, que, somada à usinahidrelétrica ali existente, formará um importantepólo de desenvolvimento.

itamaraty avisa estudantes brasileiros

O Ministério das Relações Exteriores, em 17 demarço de 1978, alertou os estudantes brasileiros,que pretendam realizar cursos nos Estados Unidos,sobre a necessidade de solicitar previamente ovisto apropriado nas repartições consulares norte-americanas sediadas no Brasil. Segundo o Itama-raty, a medida decorre do rigor que está sendoadotado pelas autoridades daquele país com oobjetivo de impedir que estudantes portadores dovisto de turista entrem em seu território tencio-nando cursar alguma escola mediante a transfor-mação daquele visto no de estudante. Procederdesse modo, de acordo com o Itamaraty, viola alegislação de imigração dos EUA, podendo acar-retar no reembarque do estudante para o Brasil,com a retenção de seu passaporte.

empresa brasileira recebe medalhade ouro na feira de leipzig

o xviii congressoda união postal universal

O Governo brasileiro e o Escritório Internacionalda União Postal Universal assinaram, no dia 16de março de 1978, em Brasília, um acordo para arealização, no Rio de Janeiro, do XVIII Congressoda União Postal Universal. O Congresso será reali-zado no Centro Internacional Riotur, entre 12 desetembro e 25 de outubro de 1979, devendo todaa parte de infra-estrutura ser organizada pela Em-presa Brasileira de Correios e Telégrafos.

O acordo entre o Governo brasileiro e a UniãoPostal Universal foi assinado pelo Ministro deEstado das Comunicações, Euclides Quandt de Oli-veira, pelo Diretor-Geral da União Postal Universal,Mohamed I. Sobhi, pelo presidente da EmpresaBrasileira de Correios e Telégrafos, Adwaldo CardosoBotto de Barros, e por representantes da UniãoPostal Universal e do Ministério das RelaçõesExteriores.

A empresa Café Solúvel Brasília foi premiada commedalha de ouro pela Feira de Leipzig, realizadaem março de 1978, na República DemocráticaAlemã, em razão da originalidade e da qualidadedas pastilhas de café solúvel apresentado naquelecertame. O prémio — o segundo concedido esteano a produtos brasileiros expostos em feiras doLeste europeu — foi entregue ao Diretor do Pavi-lhão brasileiro na Feiraa Secretário Otto Maia, noestande da Coleste.

Algumas semanas antes, o café tipo Santos 4, apre-sentado pelo Instituto Brasileiro do Café e a In-terbrás na Feira de Salima, na Tchecoslováquia,havia recebido o trofeu "Salima de Ouro", que éo prémio máximo daquela mostra. Nessa ocasião,a Interbrás recebeu também um diploma de mé-rito pela apresentação do produto premiado emseu estande. Além do Brasil, mais 12 países, quese destacaram com produtos de alta qualidade,receberam aquele trofeu: Tchecoslováquia, Repú-blica Federal da Alemanha, Estados Unidos, Suécia,Dinamarca, França, Japão, União Soviética, Hungria,Roménia, Espanha e República Democrática Alemã.

195Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 189: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 190: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

mdice

síntese

américa latina e áfrica, áreas prioritárias da diplomacia brasileira

trecho sobre política externa brasileira, extraído da mensagem do presidente ernesto geisel aocongresso nacional, em 1.° de março de 1978 7

geisel no méxico: diálogo amplia oportunidades de cooperação

discursos dos presidentes josé lópez portillo e ernesto geisel, durante banquete oferecido aopresidente brasileiro, na cidade do méxico 23

a chegada do presidente brasileiro à cidade do méxico

discurso (tradução não-oficial) de lópez portillo e de ernesto geisel logo após a chegada dopresidente brasileiro à cidade do méxico 28

cordialidade nos encontros geisel-lópez portillo

discurso do presidente geisel ao receber as chaves da cidade do méxico 29

entre os brasileiros, uma espontânea simpatia pelos mexicanos

discurso do presidente brasileiro no banquete que lhe foi oferecido pelo regente da cidadedo méxico, carlos hank gonzales 30

geisel fala sobre o brasil para os mexicanos

entrevistas do presidente ernesto geisel à televisa, do méxico, e à radiobrás, do brasil, am-bas transmitidas ao povo mexicano 31

a entrevista de azeredo da silveira à televisão mexicana

entrevista do chanceler azeredo da silveira à televisa, do méxico 35

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 191: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

declaração conjunta brasil-méxico: incrementar a cooperação económica e financeira

declaração conjunta brasil-méxico, assinada ao final da visita do presidente geisel àquele país 41

o presidente do brasil visita o Uruguai

entrevista do presidente ernesto geisel transmitida por uma rede uruguaia de emissoras derádio e televisão; e entrevista (tradução não-oficial) do presidente aparício méndez transmi-tida por uma cadeia brasileira de rádio e televisão 47

a chegada de geisel a montevidéu

discursos dos presidentes uruguaio e brasileiro, no aeroporto internacional de carrasco, logoapós a chegada de geisel a montevidéu 50

geisel: processo de cooperação brasil-uruguai é inédito na história

discursos do presidente do conselho de estado do uruguai, hamlet reyes, e do presidente er-nesto geisel, em montevidéu 52

ao receber as chaves de montevidéu, geisel destaca o entendimento brasileiro-uruguaio

discursos do intendente municipal de montevidéu, oscar victor rachetti, e do presidente ernestogeisel, durante a solenidade de entrega das chaves simbólicas da capital uruguaia ao chefede estado brasileiro 55

presidente brasileiro visita sede da alalc em montevidéu

tradução não-oficial do discurso do presidente do comité executivo permanente da alalc, raúllema pelaez, durante a visita de ernesto geisel àquele organismo internacional; e o pronun-ciamento do presidente brasileiro na mesma ocasião 5o

a assinatura de atos entre o brasil e o uruguai

discursos de méndez (tradução não-oficial) e geisel, na solenidade de assinatura dos acordosentre o brasil e o uruguai 59

comunicado conjunto destaca os entendimentos do presidente geisel em montevidéu

comunicado conjunto brasil-uruguai, assinado ao final da visita do presidente brasileiro amontevidéu BZ

viagem de geisel reafirma a amizade com a república federal da alemanha

discursos dos presidentes walter scheel e ernesto geisel, durante banquete oferecido pelo pre-sidente alemão ao chefe de estado brasileiro "5

a homenagem de geisel ao presidente walter scheel

discursos dos presidentes brasileiro e alemão, durante jantar oferecido por geisel a walterscheel 69

geisel na rfa: confiamos na cooperação, no diálogo e no respeito mútuo

discursos do primeiro-ministro helmut schmidt e do presidente ernesto geisel, durante almoçooferecido pelo governo alemão ao primeiro-mandatário brasileiro 'u

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 192: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

música de beethoven na homenagem de bonn a geisel

discurso do presidente brasileiro ao chegar à prefeitura de bonn; e discurso do burgomestrebe bonn, hans daniels, por ocasião da homenagem por este prestada ao presidente ernestogeisel 76

estabilidade política brasileira dá confiança aos empresários alemães

discurso de geisel ao abrir os trabalhos do encontro teuto-brasileiro de empresários; e asaudação do presidente da confederação das indústrias alemãs, nikolaus fasolt, antes dopronunciamento do presidente brasileiro 78

geisel visita o primeiro-ministro de baden-wiirttemberg

discursos de hans filbinger e de ernesto geisel, por ocasião da chegada do presidente brasileiroa baden-wurttemberg; e brindes dos mesmos, durante almoço no castelo de schwetzingen 83

presidente brasileiro em berlim

discursos do prefeito de berlim, dietrich stobbe, e do presidente ernesto geisel, logo após a che-gada do chefe de estado brasileiro àquela cidade alemã; discurso dos mesmos na cerimónia emque geisel colocou sua assinatura no livro de oure de berlim; e brindes feitos por stobbe egeisel durante almoço oferecido ao presidente brasileiro 86

a visita do presidente do brasil a dússeldorf

discursos do primeiro-ministro da renânia do norte-westfália, hans kuhn, e do presidente er-nesto geisel, por ocasião do jantar oferecido ao presidente brasileiro naquela cidade alemã 88

a assinatura da declaração conjunta teuto-brasileira

discursos do chanceler alemão e do presidente brasileiro durante a assinatura da declaraçãoconjunta entre o brasil e a república federal da alemanha 91

entrevistas do presidente geisel à televisão alemã

entrevistas que o presidente brasileiro concedeu ao 1.° (ard) e ao 2.° (zdf) canais de televi-são alemã, gravadas em brasília 92

walter scheel: amizade brasil-rfa pode servir de modelo para as relações norte-sul

entrevista do presidente da rfa à agência nacional, transmitida por uma rede brasileira derádio e televisão 96

silveira a genscher: viagem do presidente geisel consolida esquemade cooperação brasil-rfa

discursos do ministro dos negócios estrangeiros da rfa, hans-dietrich genscher, e do ministrode estado das relações exteriores do brasil, antonio f. azeredo da silveira, por ocasião do al-moço oferecido ao chanceler brasileiro 98

declaração conjunta brasil-república federal da alemanha

declaração conjunta entre o brasil e a rfa, assinada ao final da visita do presidente brasileiroàquele país 102

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 193: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

no brasil, o presidente dos estados unidos, jimmy cárter

saudação do presidente ernesto geisel ao presidente norte-americano, logo após o seu desem-barque na base aérea de brasília; e a traduçãonão-oficial do agradecimento de jimmy cárterna mesma ocasião 107

na homenagem a cárter, geisel dá ênfase ao relacionamento brasil-eua

discurso do presidente brasileiro durante o jantar que ofereceu ao chefe de estado norte-ame-ncanc

a visita do presidente norte-americano ao congresso nacional

109

discursos do senador eurico rezende, do deputado erasmo martins pedro e do presidentecárter (tradução não-oficial), durante a sessão solene conjunta do congresso nacional, realizadaem homenagem ao presidente norte-americano 109

supremo tribunal federal recebe o presidente cárter

discursos do ministro thompson flores e de jimmy cárter (tradução não-oficial) por ocasião davisita do presidente norte-americano ao stf 115

a entrevista do presidente geisel à cbs, dos estados unidos

entrevista do presidente brasileiro à cbs, dos estados unidos, a propósito da visita de jimmycárter ao brasil 116

comunicado conjunto brasil-estados unidos

comunicado conjunto de imprensa brasil-estados unidos, assinado ao final da visita do presi-dente cárter 120

a segunda reunião preparatória sobre cooperação multilateral na amazônia

discurso do chanceler azeredo da silveira ao encerrar a segunda reunião preparatória sobre opacto amazônico; e o discurso do embaixador joão hermes pereira de araújo na abertura damesma reunião 125

acordo comercial intensifica intercâmbio com a austrália

carta do ministro de estado das relações exteriores, antonio f. azeredo da silveira ao minis-tro dos negócios exteriores da austrália, andrew peacock, encaminhada através do secretário-ge-ral do itamaraty, ramiro saraiva guerreiro; e a resposta (com força de comunicado conjunto)do chanceler australiano 129

novo relacionamento de comércio entre brasil e austrália

discursos do vice-primeiro-ministro e ministro do comércio e recursos nacionais da austrália,douglas anthony, e do secretario-geral do mre, ramiro saraiva guerreiro, em camberra, durantea assinatura do acordo comercial brasileiro-australiano 134

assinatura de atos mostra amadurecimento nas relações brasileiro-paraguaias

discursos dos chanceleres azeredo da silveira e alberto nogués (tradução não-oficial), por oca-sião da assinatura de atos entre o brasil e o paraguai 137

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 194: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

jtamaraty comemora cinquentenário da criação do serviço de fronteiras

discursos do ministro de estado antonio f. azeredo da silveira, e do embaixador ályaro teixeirasoares, durante a cerimónia comemorativa do cinquentenário da criação do serviço de fron-teiras do ministério das relações exteriores 141

governador de baden-wurttemberg visita brasília

discurso do chanceler azeredo da silveira, por ocasião do almoço oferecido ao governador doestado de baden-wurttemberg (rfa), hans filbinger 157

bolívia instala escritório da ypfb no brasil

discurso de azeredo da silveira, por ocasião da assinatura de acordo entre brasil e bolíviapara operação da yacimientos petrolíferos fiscales bolivianos (ypfb) no território brasileiro 159

a conferência das nações unidas sobre ciência e tecnologia para o desenvolvimento

discurso do ministro de estado, interino, das relações exteriores, ramiro saraiva guerreiro, du-rante a abertura da conferência das nações unidas sobre ciência e tecnologia para o desen-volvimento 161

relações diplomáticas

designação de embaixadores brasileiros 163

entrega de credenciais 163

tratados, acordos, convénios

acordo comercial brasil-república da china, acordo comercial entre o brasil e a china, as-sinado em pequim 165

brasil e canada colocam em vigor o memorando de entendimento, troca de notas entre o chan-celer brasileiro e o embaixador canadense no brasil colocando em vigor o memorando deentendimento entre os dois países, assinado em outubro de 1977 166

os acordos entre brasileiros e mexicanos

convénio de amizade e cooperação 167

acordo sobre sanidade animal 168

acordo de cooperação industrial 169

convénio complementar consider-ccis 170

os acordos firmados entre brasil e uruguai

acordo de previdência social 171

ajuste sobre sanidade animal 173

acordo de radioamadores 174

ata da troca dos instrumentos de ratificação de tratado e protocolo 175

convénio de resseguros 175

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 195: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

troca de notas formaliza três acordos entre o brasil e o paraguai

nota sobre a comissão geral 176

nota sobre os entendimentos embratel-antelco 176

nota sobre o traçado de limites 176

acordo autoriza a ypfb a operar no território brasileiro, acordo entre o brasil e a bolívia paraque a yacimientos petrolíferos fiscales bolivianos possa funcionar no território brasileiro 177

o acordo comercial entre o brasil e a austrália, acordo de comércio entre o brasil e a austrália,assinado em camberra "8

brasil e austrália mantêm entendimentos sobre serviços de navegação marítima, notas sobre en-tendimentos no setor de navegação marítima entre o brasil e a austrália, trocadas pelos minis-tros dos dois países 180

convénio sti/kfa para cooperação no campo da tecnologia industrial, convénio entre a sti e akfa para desenvolvimento de programas de cooperação industrial 180

promulgação e aprovação de acordos

atos diplomáticos submetidos ao congresso nacional 182

comunicados e notas

a visita do presidente geisel à república federal da alemanha 185

entrevista de silveira a deputados norte-americanos 185

chancelaria brasileira anuncia visita de ramalho eanes ao brasil 185

parlamento holandês aprova exportação de urânio enriquecido para o brasil 185

a segunda reunião preparatória do pacto amazônico 186

excertos e ênfases

cruzeiro do sul para o presidente lópez portillo 187

governo brasileiro condecora ministro da agricultura da costa do marfim 188

embaixador dos estados unidos deixa suas funções em brasília , 189

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 196: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

mensagens

geisel deixa duas mensagens escritas para os mexicanos 191

presidente brasileiro agradece acolhida no uruguai 191

alberto nogués envia mensagem a silveira 191

a mensagem do presidente geisel a walter scheel 192

empresários paulistas destacam êxito da viagem de geisel à rfa 192

notícias

assembleia legislativa do amazonas apoia o pacto amazônico 193

mre/seplan assinam convénio com o pnud 193

em vigor o memorando de entendimento brasil-canadá 193

brasil e bolívia debatem novas formas de cooperação comercial 194

conversações brasileiro-argentinas sobre itaipu-corpus 194

a 44.a conferência da comissão mista brasileiro-venezuelana de limites 194

o XVIII congresso da união postal universal 195

itamaraty avisa estudantes brasileiros 195

empresa brasileira recebe medalha de ouro na feira de leipzig 195

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Page 197: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Documento digitalizado pela equipe de Mundorama ... pontos para se chegar a um consenso ... com o apoio de seu Governo,

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).