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1 PLANO DE DESENVOLV TERRITÓRIO D VIMENTO TERRITORIAL RURAL DA CIDADANIA VALE DO MUCUR TEOFILO OTONI, OUTUBRO, 2010 L SUTENTÁVEL RI - MG

Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

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PLANO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL SUTENTÁVEL

TERRITÓRIO DA CIDADANIA VALE DO MUCURI

PLANO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL SUTENTÁVEL

TERRITÓRIO DA CIDADANIA VALE DO MUCURI

TEOFILO OTONI, OUTUBRO, 2010

PLANO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL SUTENTÁVEL

TERRITÓRIO DA CIDADANIA VALE DO MUCURI - MG

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Ficha Catalográfica Preparada pelo Serviço de Biblioteca/UFVJM

Bibliotecária: Luciana Angélica da Silva Leal – CRB6 nº 2326

A886 2010

Grupo de Pesquisa em Agricultura Familiar (GEPAF). Atualização do plano de desenvolvimento territorial rural

sustentável: território da cidadania Vale do Mucuri-MG / Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Pró-reitoria de Extensão. Grupo de Pesquisa em Agricultura Familiar. – Teófilo Otoni: UFVJM, 2010. 120 p.; il.

Documento final do Projeto “Atualização e Qualificação do PTDRS do Vale do Mucuri, MG.”

1. Agroecologia. 2. Desenvolvimento rural sustentável. 3. Politicas Publicas. 4. Educação do campo. I. Título.

CDD: 306.349

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“Cada Território tem seu ritmo, sua própria vivência, seu

modo de fazer, que devem se expressar num modo próprio

de planejar, de participar, de envolver-se e de comprometer-

se com os interesses coletivos pactuados no processo de

planejamento e materializados no PTDRS.(MDA 2005)”

Page 4: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

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INFORMAÇÕES INTITUCIONAIS

IDENTIFICAÇÃO

Contratante: APTA – ASSOCIAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO E SOLIDARIEDADE

Contratos de Repasse nº 268.199-45/2008 e 266.654-25/2008

Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável do Territórios Rurais.

Contratada: Fundação Diamantinense de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão/FUNDAEPE

Sediada em Diamantina, Rua da Glória, 187 - Centro, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 02.799.206/0001-

59, credenciada nos termos do edital 13/2009 da contratante.

Período de Realização: dezembro de 2009 a outubro de 2010.

Executor: Grupo de Extensão e Pesquisa em Agricultura Familiar dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

(GEPAF Vales), vinculado à UFVJM – Campus Mucuri, reúne professores, pesquisadores externos e

estudantes de diversas áreas do conhecimento. As principais linhas de atuação do GEPAF são:

Agroecologia, Desenvolvimento Rural Sustentável, Economia Popular Solidária e Educação do Campo.

Possui como objetivos: promover a agricultura ecológica, apoiar processos de autossustentabilidade e

oferecer subsídios por meio de informações socioeconômicas, referenciadas do Território para

implementação de políticas públicas nos territórios onde atua.

OBJETO

Atualização e Qualificação do Plano Territorial e Assessoria no Processo de Construção do Plano

(PTDRS) – Construção coletiva e participativa do Colegiado do PTDRS que expresse anseios, sonhos,

interesses, necessidades e potencialidades, tendo os/as agricultores/as familiares como protagonistas do

processo no Território do Território da Cidadania do Vale do Mucuri, Minas Gerais, nos termos do edital

013/2009.

Page 5: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

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OBJETIVOS

• Informações sobre o território, organizadas e disponibilizadas;

• Representantes do Colegiado Territorial capacitados para atuarem em processos de

constituição, funcionamento e fortalecimento do planejamento territorial e das redes;

• Organizações públicas e da sociedade civil mobilizadas a participar do processo;

• Ampliação do compromisso de apoio logístico e de participação formalizados;

• Co-responsabilização da população na definição de diretrizes, atores locais comprometidos com

o processo de desenvolvimento;

• Interesses coletivos devidamente expressos com respectivos grupos e segmentos devidamente

representados e comprometidos;

• Informações sobre o território coletados e analisados, diagnósticos do território consolidado,

potencialidades e dificuldades identificadas;

• Visão de futuro e eixos aglutinadores estabelecidos;

• Planos, Programas e Projetos de ação definidos e estruturados;

• Políticas Públicas articuladas e Plano de Desenvolvimento Territorial atualizado e qualificado

de forma participativa.

METODOLOGIA

As metodologias a serem utilizadas na qualificação do Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável

do Mucuri se referenciam na pesquisa-ação, como pressuposto para a construção participativa, o diálogo

de saberes e o empoderamento dos agentes de desenvolvimento do território. As ações serão negociadas e

compartilhadas com o colegiado territorial e realizadas em parceria com outras organizações presentes no

território, além da APTA.

Serão realizadas as seguintes atividades:

1 - Comunicação e Mobilização dos atores sociais para um novo ciclo de reflexão e formulação de

estudos territoriais.

Atividade preparatória para assegurar a participação dos atores sociais do território, com o objetivo,

também, de reavaliar junto ao colegiado territorial o nível de qualificação dos processos de elaboração do

diagnóstico, as dimensões, os eixos estruturantes e aglutinadores e as estratégias de sustentabilidade do

Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS) no território da cidadania.

2 - Revisão e Organização Documental e da base de dados e informações diagnósticas sobre o território.

A documentação histórica do território não foi consolidada, e muitas produções, inclusive o PDTRS, não

receberam tratamento adequado de organização e divulgação. A ARMICOPA (Associação Regional

Mucuri de Cooperação dos Pequenos Agricultores), entidade executora do diagnóstico participativo

Page 6: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

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territorial, dispõe de um considerável banco de dados com informações de 506 localidades de agricultura

familiar do território. Este material será totalmente revisado, e será referência para a atualização,

complementação e aprofundamento do diagnóstico territorial.

3- Pesquisa de campo de atualização diagnóstica

A organização documental permitirá a identificação das fragilidades das informações disponíveis e as

necessidades de atualização. Será organizada uma nova amostragem da base de dados e realizadas

atividades diagnósticas em localidades de agricultura familiar dos 27 municípios incluídos no território.

Serão utilizados métodos quantitativos, por meio de aplicação de questionários e qualitativos, por meio de

oficinas de DRPA (Diagnóstico Rápido Participativo de Agroecossistemas).

4- Estudos temáticos

Serão realizados estudos específicos de temas que não foram incluídos nos diagnósticos anteriores ou que

são considerados prioritários para a consolidação da política de desenvolvimento territorial. Dois temas

selecionados pelo colegiado são: Educação no Campo e Povos Tradicionais (Indígenas Maxacali,

Quilombolas, Pescadores), que não almejaram participação nas políticas públicas e/ou não adquiriram a

necessária visibilidade perante a sociedade regional.

5- Seminários de aprofundamento temático

Foram realizados quatro seminários territoriais para a qualificação específica de quatro eixos

aglutinadores do Plano, a saber:

-Educação do Campo;

- Terra e Território;

- Sustentabilidade Ambiental. Agua e Biodiversidade;

- Agricultras e Economias.

6- Seminário de validação do Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável

Seminário conclusivo do processo participativo com compartilhamento dos resultados dos estudos e

seminários temáticos e validação pela plenária territorial do Plano atualizado e qualificado.

7- Elaboração documento final

Elaboração de documento final em comunicação com a APTA, visando à produção de publicação para

ampla divulgação do Plano de Desenvolvimento Territorial Rural Sustentável do Vale do Mucuri.

Page 7: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

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Equipe de Execução do Projeto: Professores do GEPAF - UFVJM :

Nome Formação Leonel de Oliveira Pinheiro Sociólogo /Professor UFVJM - Coordenador Claudenir Fávero Agrônomo/Professor UFVJM - Colaborador Fábio Silva de Souza Estatístico/professor UFVJM- Colaborador Wedersom M. Alves Estatístico/Professor UFVJM- Colaborador

Assessores(as):

Nome Formação Antônio Barros Assumpção Agrônomo - Assessor do GEPAF Rosamaria Santana Paes Loures Agrônoma – Assessora do GEPAF Maria Eliza Cota e Souza Zootecnista – Assessora do GEPAF Fabrícia Gomes Jardim Assistente Social – Assessora GEPAF

Equipe Armicopa

Nome Formação Rosalino Pereira Borges Diretor da ARMICOPA Reginaldo Rodrigues Martins Coordenador Técnico-ARMICOPA Carolina Costa Rodrigues Engenheira Florestal- Tecn ARMICOPA

Equipe FUNDAEPE

Nome Formação Dulce Pimenta Secretária Executiva/FUNDAEPE Fabiano Oliveira Técnico-administrativo

Estudantes da UFVJM - Estagiários(as):

Nome Formação Clara Costa Camargos Estudante de Bacharelado em Ciência e Tecnologia/UFVJM Eduardo César Costa Estudante de Agronomia/UFVJM Erasmo Carlos Gomes de Almeida Estudante de Administração/UFVJM Erica Verdolin Fraga Estudante de Zootecnia/UFVJM Erikson Levy Farias Jrdim Estudante de Zootecnia/UFVJM Gabriel Dayer Lopes de Barros Estudante de Engenharia Florestal/UFVJM Geovane Assis Rocha Estudante de Agronomia/UFVJM Getúlio Santos Feitosa Estudante de Zootecnia/UFVJM Jackeline Canuto Mendes Estudante de Engenharia Florestal/UFVJM Lina de Anchieta Sales Estudante de Bacharelado em Ciência e Tecnologia/UFVJM Linda Marçal de Oliveira Santos Estudante de Engenharia Florestal/UFVJM Luiza Rachael Alves Salgado Costa Estudante de Engenharia Florestal/UFVJM Mateus Augusto Lima Quaresma Estudante de Agronomia/UFVJM Nacip Mahmud Láuar Neto Estudante de Agronomia/UFVJM Núbia Vieira Cardoso Estudante de Enfermagem/UFVJM Sidimara Cristina de Souza Estudante de Serviço Social/UFVJM Thiago Nogueira Rodrigues Estudante de Bacharelado em Ciência e Tecnologia/UFVJM Vinícius Moreno Nolasco Estudante de Zootecnia/UFVJM Vinícius Souza Mendonça Estudante de Engenharia Florestal/UFVJM Vladimir Dayes Lopes de Barros Estudante de Engenharia Florestal/UFV

Page 8: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

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Consultoria Externa.

Nome Formação Madsom Zaquine Candido Eng. Agrimensor -Diretor de Projetos e pesquisa da H3M/UFV

Organização do Texto:

Antonio Barros Assumpção

Leonel de Oliveira Pinheiro

Mapas:

Rosamaria Loures

Gabriel Dayer Lopes Moreira

Processamento e Análise Estatística:

Fábio Silva de Souza

Wedersom M. Alves

Antonio Barros Assumpção

Leonel de Oliveira Pinheiro

Sidmara Cristina de Souza

Revisão Textual:

Flávio Filipe de Castro Leal

Diagramação:

Leonel De Oliveira Pinheiro

Erasmo Carlos Gomes de Almeida

Parceiros do Projeto:

• Associação de Desenvolvimento e Solidariedade - APTA

• Associação Regional Mucuri de Cooperação dos Pequenos Agricultores -ARMICOPA;

• Associações Locais e Comunitárias do Vale do Mucuri;

• Colegiado Territorial do Território Cidadania do Vale do Mucuri Mucuri;

• Conselhos Municipais do Desenvolvimento Rural Sustentável -CMDR’s;

• Grupo Aranã de Agroecologia;

• Polo Regional da FETAEMG – Vale do Mucuri

• Secretaria Executivo do Território do Mucuri;

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• Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de:

� Águas Formosas Franciscópolis Caraí Ouro Verde

� Fronteira dos Vales Maxacalis Catuji Campanário

� Novo Oriente de Minas Poté Ataleia Betópolis

� Pavão Setubinha Teófilo Otoni Santa Helena de Minas

� Crisólita Itaipé Frei Gaspar Ataléia

• Prefeituras Municipais do Território do Vale do Mucuri:

� Águas Formosas Franciscópolis Caraí Ouro Verde

� Fronteira dos Vales Malacacheta Catuji Campanário

� Novo Oriente de Minas Poté Ataleia Itambacuri

� Pavão Setubinha Teófilo Otoni

� Umburativa Itaipé Frei Gaspar

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SUMÁRIO

Apresentação ..................................................................................................................................11

Resumo Executivo ..........................................................................................................................12

Diagnóstico Territorial Socioeconômico da Agricultura Familiar do TC Vale do Mucuri .................13

* Aspectos Metodológicos ..............................................................................................................13

* Caracterização do Território da Cidadania ................................................................................. .19

* Análise dos Dados Estatístico Socio Econômico da Agricultura Familiar por Eixo Temático..26

Visão de Futuro ...............................................................................................................................93

Objetivos Estratégicos ......................................................................................................................95

Valores ou Princípios ......................................................................................................................96

Diretrizes Principais .........................................................................................................................97

Eixos de Desenvolvimento ...............................................................................................................98

Programas e Projetos Estratégicos ...................................................................................................99

Proposta de Gestão do Plano Territorial ........................................................................................109

Considerações Finais .....................................................................................................................116

Referências ......................................................................................................................................117

Page 11: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

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APRESENTAÇÃO

O Território Rural do Vale do Mucuri foi constituído no âmbito do Programa Nacional de

Desenvolvimento de Territórios Rurais da Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT, do

Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA e aprovado em 09 de outubro de 2003 pelo Conselho

Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável – CEDRS. Constituiu-se em um espaço de participação,

discussão, proposição, deliberação, implantação, gestão e controle social das políticas públicas de

desenvolvimento rural sustentável que tem funcionamento permanente e inclui os seguintes municípios:

Águas Formosas, Ataléia, Bertópolis, Campanário, Caraí, Carlos Chagas, Catují, Crisólita,

Franciscópolis, Frei Gaspar, Fronteira dos Vales, Itaipé, Itambacuri, Ladainha, Machacalis, Malacacheta,

Nanuque, Novo Oriente de Minas, Ouro Verde de Minas, Pavão, Pescador, Poté, Santa Helena de Minas,

Serra dos Aimorés, Setubinha, Teófilo Otoni e Umburatiba. Desde 2004, os órgãos de gestão da política

de desenvolvimento do território do vale do Mucuri, tais como: o CIAT (Comissão de Implantação de

Ações Territoriais), o Colegiado e o atual Conselho Gestor, acumulam esforços de construção do Plano de

Desenvolvimento Territorial Sustentável. Em 2005, foi concluída uma primeira fase deste processo, com

a realização de um diagnóstico participativo e da elaboração da primeira versão do PDTRS, com cinco

programas estratégicos construídos e aprovados em plenárias territoriais.

Neste período foi produzido, ainda, um Estudo Propositivo para a dinamização econômica do território, o

Plano Safra Territorial e realizado o Monitoramento do PRONAF Infraestrutura.

A partir de 2007, o Território é incluído no Programa Territórios da Cidadania. No final desse mesmo

ano, foi realizada uma adequação do PTDRS às novas diretrizes do Programa. Em 2008, o Colegiado

Territorial é ampliado e passa a operar com a Matriz de Ações Territoriais, formulada pelo Governo

Federal para o Programa Territórios da Cidadania.

As mudanças no contexto e na abordagem da política do desenvolvimento territorial no Vale do Mucuri

(de rural à cidadania) trouxeram novos desafios e dificuldades de apropriação processual por parte dos

agentes de desenvolvimento territorial rural e a necessidade de um novo ciclo de qualificação do Plano de

Desenvolvimento Territorial Rural Sustentável.

Nesse sentido, para aprimorar e qualificar as demandas de ações de políticas públicas os processos de

gestão do PDTRS, a FUNDAEPE, instituição de gestão financeira ligada a UFVJM1, por meio do Grupo

de Extensão e Pesquisa em Agricultura Familiar dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha - GEPAF Vales - e

a Associação Regional Mucuri de Cooperação dos Pequenos Agricultores – ARMICOPA, executaram, de

dezembro de 2009 a outubro de 2010, o projeto “Atualização e Qualificação do PTDRS do Vale do

Mucuri, MG”. Para executar esse projeto, foram realizadas parcerias com o Colegiado Territorial do Vale

do Mucuri, CMDRS’s, Prefeituras Municipais, Sindicatos dos Trabalhadores e Associações Comunitárias

Rurais, e o Grupo Aranã de Agroecologia.

1 Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.

Page 12: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

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Resumo Executivo

O Território Rural do Vale do Mucuri foi constituído no âmbito do Programa Nacional de Desenvolvimento de Territórios Rurais da Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT, do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA e aprovado em 09 de outubro de 2003 pelo Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável – CEDRS. Constituiu-se em um espaço de participação, discussão, proposição, deliberação, implantação, gestão e controle social das políticas públicas de desenvolvimento rural sustentável que tem funcionamento permanente e inclui os seguintes municípios: Águas Formosas, Ataléia, Bertópolis, Campanário, Caraí, Carlos Chagas, Catují, Crisólita, Franciscópolis, Frei Gaspar, Fronteira dos Vales, Itaipé, Itambacuri, Ladainha, Machacalis, Malacacheta, Nanuque, Novo Oriente de Minas, Ouro Verde de Minas, Pavão, Pescador, Poté, Santa Helena de Minas, Serra dos Aimorés, Setubinha, Teófilo Otoni e Umburatiba. Desde 2004, os órgãos de gestão da política de desenvolvimento do território do vale do Mucuri, tais como o CIAT (Comissão de Implantação de Ações Territoriais), o Colegiado e o atual Conselho Gestor acumulam esforços de construção do Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável. Em 2005, foi concluída uma primeira fase deste processo, com a realização de um diagnóstico participativo e da elaboração da primeira versão do PDTRS, com cinco programas estratégicos construídos e aprovados em plenárias territoriais. Neste período foi produzido, ainda, um Estudo Propositivo para a dinamização econômica do território, o Plano Safra Territorial e realizado o Monitoramento do PRONAF Infra-estrutura. A partir de 2007, o Território é incluído no Programa Territórios da Cidadania. No final deste mesmo ano foi realizada uma adequação do PTDRS as novas diretrizes do Programa. Em 2008, o Colegiado Territorial é ampliado e passa a operar com a Matriz de Ações Territoriais formulada pelo Governo Federal para o Programa Territórios da Cidadania. As mudanças no contexto e na abordagem da política do desenvolvimento territorial no Vale do Mucuri (de rural à cidadania) trouxeram novos desafios e dificuldades de apropriação processual por parte dos agentes de desenvolvimento territorial rural e a necessidade de um novo ciclo de qualificação do Plano de Desenvolvimento Territorial Rural Sustentável, A primeira versão do Plano foi elaborada em 2005 com referência no Diagnóstico Participativo da Agricultura Familiar. Para aprimorar e qualificar o processo de gestão, o Grupo de Extensão e Pesquisa em Agricultura Familiar da UFVJM e a Associação Regional Mucuri de Cooperação dos Pequenos Agricultores - ARMICOPA executam, de dezembro de 2009 a outubro de 2010, o projeto “Atualização e Qualificação do PTDRS do Mucuri - MG”. A opção metodológica do projeto referencia-se na pesquisa-ação como premissa para a construção participativa e empoderamento dos sujeitos sociais. Além dos diálogos e aproximação com as realidades do campo, a metodologia proporcionou a formação de um grupo pesquisador atento a suas questões e desafios concretos, ampliando a rede de pessoas qualificadas para viabilizar uma proposta de (des) envolvimento centrada no fortalecimento e valorização cultural da Agricultura Familiar e dos Povos Tradicionais. A socialização da experiência do diagnóstico da realidadade da agricultura familiar do território por meio dos Seminários Temáticos Territoriais, propiciou a coonstrução participativa de projeto ofereça subsídios para elaboração das futuras politicas publicas no Território.

Palavras chaves: Território da Cidadania do Vale do Mucuri; Plano Territorial de Desenvolvimento

Rural Sustentável; Agricultura Familiar

Page 13: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

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DIAGNÓSTICO TERRITORIAL SOCIECONÔMICO DA AGRICULTURA FAMILIAR

TERRITÓRIO CIDADANIA VALE DO MUCURI - MG.

Aspectos metodológicos

A opção metodológica da atualização e qualificação do PTDRS do Mucuri referencia-se na pesquisa-ação

como premissa para a construção participativa, diálogo de saberes e empoderamento dos agentes de

desenvolvimento do território. Conforme o Guia para o Planejamento da Secretaria de Desenvolvimento

Territorial (MDA, 2005):

Cada Território tem seu ritmo, sua própria vivência, seu modo de fazer, que devem se expressar num modo próprio de planejar, de participar, de envolver-se e de comprometer-se com os interesses coletivos pactuados no processo de planejamento e materializados no PTDRS.

Rejeitando as noções positivistas de racionalidade e de objetividade, a pesquisa-ação reconhece o

contexto local e os participantes, como elementos chave no processo de investigação, contrapondo-se à

pesquisa convencional. Nesse tipo de pesquisa social, a comunidade é sujeito e objeto de conhecimento e

envolve-se, porque a pesquisa responde a seus interesses e preocupações (SOUZA, 1996).

Diferente de muitas abordagens científicas, a pesquisa proposta reconhece que há uma posição adotada

frente à realidade observada, que se reflete diretamente na metodologia utilizada. Com isso, no processo

de contato com a realidade local há, em algum nível, mudanças naquela realidade e, de forma mais

intensa, no/a próprio/a pesquisador/a.

Para melhor atingir os objetivos propostos e o bom andamento da pesquisa, a primeira fase foi dividida

nos quatro momentos detalhados abaixo. A figura 01 apresenta uma visão geral das atividades

executadas.

Figura 01 - Etapas da primeira fase do processo de atualização e qualificação do PTDRS

Page 14: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

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Atualização de informações e revisão documental do PTDRS de 2005

No primeiro momento de trabalho, a pesquisa atualizou, junto aos órgãos públicos (municipais, estaduais

e federais), às associações locais e aos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, dados e a relação de políticas

destinadas à agricultura familiar do vale do Mucuri. Realizou-se também a revisão e organização de

banco de dados com informações de 506 localidades de agricultura familiar, que se encontrava na sede da

ARMICOPA, entidade executora do diagnóstico participativo territorial, em 2005. Com base em

informações geográficas atualizadas fornecidas pelo IBGE, foi construído um mapa do Território do

Mucuri, dividido por microrregiões (figura 02).

Figura 02 - Mapa do Território do vale do Mucuri – MG

Page 15: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

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Elaboração de materiais de divulgação e comunicação interinstitucional

Com informações e arquivos de 2005 atualizados, iniciaram-se a criação e a divulgação de materiais

gráficos (cartazes e adesivos), de áudio (vinheta e programa de rádio) e comunicado institucional,

vinculados ao site da UFVJM e aos jornais de circulação regional, sobre o projeto e as visitas nas

comunidades rurais. Ocorreram reuniões com os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural

Sustentável, prefeituras municipais e demais órgãos públicos, sindicatos, associações e lideranças locais,

para formalizar parcerias, socializar objetivos do projeto e agenda inicial de trabalho.

Figura 03 - Cartaz de divulgação do projeto

Formação do grupo pesquisador

O estabelecimento dos grupos temáticos antecedeu as discussões sobre as metodologias adotadas e suas

ferramentas, permitindo diversos olhares na escolha e refinamento das técnicas utilizadas. O grupo

pesquisador foi composto um grupo de estudo temático, responsável pelo aprofundamento de um tema

específico e qualificação das observações, e equipes operacionais, constituídas por membros dos distintos

grupos temáticos e responsáveis pela ida a campo. Para além da coleta de informações, o grupo

pesquisador teve o papel de ampliar a articulação com os grupos e lideranças de agricultores/as,

garantindo a mobilização da comunitária.

A partir do estabelecimento de grupos de diálogos em temas relevantes para o processo, foram realizadas

discussões sobre as metodologias adotadas no trabalho. A distribuição dos temas entre os participantes foi

feito de acordo com a afinidade de cada um, constituindo dessa forma seis coletivos de quatro integrantes

cada, sendo estes:

Eixos temáticos

Educação do Campo

Água e Biodiversidade

Agriculturas e Economias

Terra e Território

Povos Tradicionais

Políticas Públicas

Page 16: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

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Os temas Gênero e Geração e Organização Social foram tratados de maneira transversal, perpassando as

discussões dos outros temas. A migração e suas conseqüências foram apontadas como um tema

importante para aprofundamento, e também será tratado como transversal. Os eixos nortearam as

modificações no questionário de 2005, alterando ou incluindo itens para garantir seu tratamento

adequado.

Em 2005, foi utilizado um modelo único para os diagnósticos de todas as comunidades visitadas. Nesta

atualização, os grupos temáticos e as equipes operacionais dialogaram, formando um grupo de análise

qualificada para cada tema. Uma das principais dificuldades no diagnóstico de 2005 foi a carência de

informações sobre a realidade trabalhada o que, no trabalho de 2010, foi parcialmente superada,

possibilitando maior aprofundamento. Para garantir a participação popular no processo do diagnóstico,

houve o esforço de compreender a complexidade das interações sociais, relação como ambiente e com

outros aspectos da agricultura familiar no Território.

O momento de formação do grupo pesquisador contou também com a realização de oficinas sobre duas

ferramentas importantes para concretização do que se idealizou com o projeto: Fundamentos da análise

estatística e Introdução ao georreferenciamento.

A primeira apresentou alguns elementos de estatística, com vistas à sua aplicação, obtenção e análise dos

dados, a serem obtidos com os questionários. Apresentou também o Software SPSS Statistics v.18.0

Série: 10190858, que possibilitou, a partir da construção de um espelho de dados, análises estatísticas

diversas. Como o Vale do Mucuri apresenta grande diversidade de contextos e realidades, exigiu uma

amostragem estratificada.

A amostra do universo pesquisado perfaz cerca de 428 questionários para o Território, com margem de

erro 5% e intervalo de confiança de 95% das informações levantadas, junto às famílias de

Agricultores(as) Familiares do Território da Cidadania do Vale do Mucuri.

A etapa de preparação para o processo de georreferenciamento foi conduzida a partir da divisão em

grupos, uma equipe de coleta e outra de organização e processamento de dados no software ArcView 9.3

Concurrent proposta comercial UFVJM-01/08. A equipe de coleta concentrou-se nas atividades de

configuração e manipulação do GPS e padronização de tabelas e códigos (tabela 1). Já o grupo de

organizadores concentrou-se nas principais aplicações e comandos do programa ArcView. Ao fim, houve

espaço onde as duas equipes, juntamente com os assessores do projeto, discutiram os principais locais a

serem mapeados.

Page 17: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

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Figura 04 - Reunião do grupo pesquisador

Trabalho de campo

Realizadas as articulações e mobilizações locais e o diálogo entre o grupo pesquisador e as realidades do

Território, iniciou-se a etapa de campo. O primeiro passo foi a distribuição das equipes operacionais, nas

cinco microrregiões do território, e a definição dos integrantes responsáveis pelo georreferenciamento das

localidades. Além do levantamento quantitativo, por meio dos questionários qualificados pela equipe e

mapeamento, o trabalho de campo objetivou coletar informações qualitativas por meio de relatórios

individuais das/os pesquisadores/as.

Para oferecer maior qualidade e precisão ao estudo comparativo, buscou-se entrevistar as mesmas

famílias visitadas em 2005. A tabela 02 destaca o número de comunidades e distribuição dos

questionários nas microrregiões e municípios. A distribuição irregular das comunidades nas microrregiões

pode ser explicada por condicionantes históricos, culturais, de ocupação, político, ambientais, entre

outros. O reduzido número de comunidades agricultoras na microrregião Leste, por exemplo, é reflexo de

mudanças decorrentes da implantação de grandes monoculturas (cana e pastagem) e do aumento da

concentração de terra e renda na região. Essas alterações são incompatíveis e inviabilizam a reprodução

sócio-cultural da agricultura familiar.

Tabela 01 - Identificadores do trabalho de georreferenciamento

Page 18: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

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Tabela 02 - Distribuição dos questionários por microrregiões e municípios

Os questionários aplicados apresentavam questões relativas à escolaridade, produção, tamanho e relação

com a terra, saúde e saneamento básico, recursos hídricos, acesso a políticas públicas, migração e cultura

local e origens étnicas. Algumas vezes as informações desejadas encontravam-se diluídas em locais não

facilmente à mostra, sendo importante o desenvolvimento da “escuta sensível” durante o diálogo com as

famílias. Outras vezes, as pessoas que possuíam as informações eram pessoas tímidas e precisavam ser

estimuladas a falar.

Diversos fatores, como o grande número de pesquisas de campo que não retornam os resultados e o

descaso historicamente destinado às populações do campo, contribuem para o surgimento de sentimentos

de desconfiança e insegurança em algumas famílias. Essa situação é contornada a partir do momento em

que há entendimento dos propósitos do trabalho e da importância da participação no processo de

construção das ações e políticas destinadas aos sistemas familiares de produção.

O trabalho de georreferenciamento foi acompanhado por agentes dos municípios e comunidades, que

informaram a localização dos principais pontos sócioecológicos de interesse nas comunidades (escolas,

Page 19: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

19

nascentes, equipamentos de uso coletivos, posto de saúde, igreja, entre outros). Além das coletas dos

pontos de localização geográfica, os/as pesquisadores/as responsáveis pelo mapeamento registravam, a

partir da percepção da comunidade, outras informações relevantes (situação das unidades escolares,

proteção ambiental, programas de saúde, etc.).

CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO DA CIDADANIA DO VALE DO MUCURI

BREVE HISTÓRICO

Desde finais do século XVIII, sucederam-se muitas aventuras frustradas de colonização do Território do

Mucuri. Enquanto muitos se perderam pela mata, outros foram vítimas do consumo de plantas venenosas

e/ou voltaram aterrorizados devido ao ataque sofrido pelos índios que habitavam a região, ao qual ficaram

conhecidos pelo pejorativo nome de Botocudos, devido aos botoques que utilizavam nos lábios e lóbulos

das orelhas.

A população indígena era composta por diferentes sociedades que ali construíram suas vidas: os macuni,

malai, machacali, naknenuk, aranau, bakuê, bituruna, jiporok e outras etnias. Portanto, podemos chegar à

conclusão que as matas no Mucuri não eram uma região intocada, havia uma ocupação humana, ela

somente não partia da sociedade branca, estatizada, imperial e cristã.

Fonte: Acervo CEDEFES

Page 20: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

20

A guerra contra os “botocudos”, denominada Guerra Justa, teve início oficialmente no Nordeste Mineiro

a partir de 1808, quando D. João VI, investindo na área estimulando a escravização dos índios,

fornecendo privilégios para os proprietários que se destina

mercantil foi desencadeador da proposta feita por Teófilo Benedito Otoni, em 1847, ao Governo da

Província de Minas Gerais de instalar a Companhia de Navegação e Comércio do Vale do Mucuri,

iniciando o processo de derrubada de matas, expulsão e escravidão da população nativa.

ocupação da região por europeus, principalm

outros, e uma das bases para a organização da Companhia foi a imigração, com grande subsídio do

Governo Imperial.

entre outras vantagens, três importantes freguesias, somando cerca de vinte e ci

Capelinha e Jacury) em troca das áreas inóspitas de outrora.

A seca de 1858 forçava a entrada das populações rurais na mata inaugurando novos caminhos que foram

percorridos e intensificados, marcando um processo acelerado de pov

A guerra contra os “botocudos”, denominada Guerra Justa, teve início oficialmente no Nordeste Mineiro

a partir de 1808, quando D. João VI, investindo na área estimulando a escravização dos índios,

fornecendo privilégios para os proprietários que se destinavam ao cultivo nesta região. O interesse

mercantil foi desencadeador da proposta feita por Teófilo Benedito Otoni, em 1847, ao Governo da

Província de Minas Gerais de instalar a Companhia de Navegação e Comércio do Vale do Mucuri,

errubada de matas, expulsão e escravidão da população nativa.

A arbitrariedade dos soldados frente à caça

generalizada dos indígenas era alvo de ferozes

críticas por parte do administrador da

Companhia. A estratégia utilizada por Teófilo

Otoni era a aproximação com os índios

o intuito de fornecer mão

interesse maior estava na obtenção de favores

dos índios na conquista de suas próprias terras.

A grande aspiração de Teófilo Otoni era a

ocupação da região por europeus, principalmente os germânicos, tidos como trabalhadores superiores aos

outros, e uma das bases para a organização da Companhia foi a imigração, com grande subsídio do

Em 1861, a Companhia de Navegação

e Comércio foi encampada pelo

Governo Imperial, após sérias

denúncias sobre as condições de

trabalho em que mantinham os

imigrantes na região. Outros fatores

que contribuíram com este processo

foram: a grande seca de 1858, caresti

fome e fuga em massa de colonos em

1859. Na época de liquidação da

Companhia do Mucuri, Minas Gerais

seria apontada como beneficiária de

sua ação, pois

entre outras vantagens, três importantes freguesias, somando cerca de vinte e cinco mil almas (Filadélfia,

Capelinha e Jacury) em troca das áreas inóspitas de outrora.

A seca de 1858 forçava a entrada das populações rurais na mata inaugurando novos caminhos que foram

percorridos e intensificados, marcando um processo acelerado de povoamento. Entre 1860 e 1920, a

A guerra contra os “botocudos”, denominada Guerra Justa, teve início oficialmente no Nordeste Mineiro

a partir de 1808, quando D. João VI, investindo na área estimulando a escravização dos índios,

vam ao cultivo nesta região. O interesse

mercantil foi desencadeador da proposta feita por Teófilo Benedito Otoni, em 1847, ao Governo da

Província de Minas Gerais de instalar a Companhia de Navegação e Comércio do Vale do Mucuri,

errubada de matas, expulsão e escravidão da população nativa.

A arbitrariedade dos soldados frente à caça

generalizada dos indígenas era alvo de ferozes

críticas por parte do administrador da

Companhia. A estratégia utilizada por Teófilo

imação com os índios, não com

o intuito de fornecer mão-de-obra escrava, o

interesse maior estava na obtenção de favores

dos índios na conquista de suas próprias terras.

A grande aspiração de Teófilo Otoni era a

ente os germânicos, tidos como trabalhadores superiores aos

outros, e uma das bases para a organização da Companhia foi a imigração, com grande subsídio do

a Companhia de Navegação

e Comércio foi encampada pelo

Governo Imperial, após sérias

denúncias sobre as condições de

trabalho em que mantinham os

imigrantes na região. Outros fatores

que contribuíram com este processo

a grande seca de 1858, carestia,

fome e fuga em massa de colonos em

1859. Na época de liquidação da

Companhia do Mucuri, Minas Gerais

seria apontada como beneficiária de

sua ação, pois a Província ganhara,

nco mil almas (Filadélfia,

A seca de 1858 forçava a entrada das populações rurais na mata inaugurando novos caminhos que foram

oamento. Entre 1860 e 1920, a

Page 21: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

21

população passou de 4.000 colonos para 160.000 habitantes e, apesar do crescimento natural, a maior

parte desta expansão deve ser creditada à migração.

A matança indiscriminada dos índios, as invasões e roubo de terras, as epidemias de sarampo, varíola e

gripe, provocadas de propósito através de roupas contaminadas, as comidas envenenadas, a discriminação

e raiva alimentada contra os índios são o alicerce de muitas pessoas, que possuem suas raízes históricas

no Vale do Mucuri.

Até por volta de 1930, mesmo sem a garantia de encontrar um pedaço de terra onde pudesse reproduzir

sua vida e de sua família, muitas migrações ocorreram, principalmente, provenientes da Bahia. Este

contingente que chegava às matas do Mucuri se dirigia às fazendas onde se alojavam como agregados,

dedicando-se à derrubada de matas para o plantio de subsistência e mão-de-obra barata para o serviço nas

fazendas.

A mata era a “cerca” das propriedades, que eram desmatadas pelos camponeses, a mando dos

latifundiários, mas aos poucos com a diminuição das matas a extração de madeira foi se tornando

desvantajosa

Figura 05 – Fluxos migratórios no Território do vale do Mucuri

Fonte: GEPAF-VALES, 2010

Em pouco tempo se altera a dinâmica de ocupação, pois os parceiros e agregados já não satisfaziam os

interesses dos grandes proprietários que se dedicavam prioritariamente à criação de gado (leite e corte). A

mão de obra para esta atividade não necessita de abundância, diferentemente das lavouras.

Page 22: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

22

A partir dos anos 1940, a BR116 integrou a região ao Centro-Sul e aos estados do Nordeste, abrindo a

possibilidade para que, a partir da década de 1970, outro movimento do capital colocasse a região como

alvo da agroindústia - café, laticínios e frigoríficos - marcando a penetração de grandes grupos

econômicos, movidos pelo deslocamento e pela reorganização do capital financeiro, estimulados por

subsídios governamentais e pelas guerras fiscais, entre as várias áreas da federação.

O resultado deste processo encabeçado pelas elites rurais foi o esvaziamento da zona rural. Poucos

camponeses conseguiram a posse de uma pequena propriedade, e os que não conseguiram migraram para

as cidades, outras fronteiras agrícolas, ou conseguiram ocupação como vaqueiros ou trabalhadores nas

lavouras de café que restaram.

A concentração fundiária continuou aumentando na década de 1970, principalmente com as políticas de

incentivos fiscais, uma das causas fundamentais da expansão das grandes empresas agropecuárias à custa

e em detrimento da agricultura camponesa.

Breve caracterização do Território do Vale do Mucuri no contexto atual

O território do Vale do Mucuri, no Nordeste de Minas Gerais, é formado por 27 municípios: Águas

Formosas, Ataléia, Bertópolis, Campanário, Caraí, Carlos Chagas, Catuji, Crisólita, Franciscópolis, Frei

Gaspar, Fronteira dos Vales, Itaipé, Itambacuri, Ladainha, Machacalis, Malacacheta, Nanuque, Novo

Oriente de Minas, Ouro Verde de Minas, Pavão, Pescador, Poté, Santa Helena de Minas, Serra dos

Aimorés, Setubinha, Teófilo Otoni e Umburatiba. Constituído entre os primeiros territórios de Minas

Gerais, ainda em 2003, a partir da abordagem do desenvolvimento territorial proposta pela SDT/MDA,

sua composição corresponde à área de atuação da Associação dos Municípios da Microrregião do Vale do

Mucuri (AMUC). De início, a articulação envolveu o IDENE e a AMUC. Posteriormente, foi envolvida a

Empresa de Assistência Técnica EMATER – MG e, finalmente, organizações da sociedade civil e de

representação da agricultura familiar. A partir daí, surgiu a proposta do território com os contornos atuais,

incluindo representantes das prefeituras municipais e do governo estadual, de movimentos sociais,

sindicatos de trabalhadores rurais, comunidades tradicionais e associações comunitárias e de organizações

não-governamentais.

Para fins operacionais, as ações territoriais têm se dado a partir de uma divisão do território do Vale do

Mucuri em cinco microrregiões, tal como disposto no quadro abaixo:

Page 23: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

23

(TABELA 03) MICRORREGIÕES E MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM AS MICRORREGIÕES, SEGUNDO TERRITÓRIO DO VALE DO MUCURI, MG

Microrregiões Municípios

Norte Águas Formosas, Bertópolis, Crisólita, Fronteira dos Vales, Machacalis, Novo Oriente de Minas,

Pavão, Santa Helena de Minas e Umburatiba

Noroeste Caraí, Catují, Itaipé e Ladainha

Oeste Franciscópolis, Malacacheta, Poté e Setubinha

Sul Campanário, Frei Gaspar, Itambacuri, Ouro Verde de Minas, Pescador e Teófilo Otoni

Leste Ataléia, Carlos Chagas, Nanuque e Serra dos Aimorés

Fonte: IDENE e ARMICOPA, 2005.

Com uma área aproximada de 23,2 mil km², o território está localizado na macrorregião do Jequitinhonha

e Mucuri e tem como limítrofes o Vale do Rio Doce e o estado do Espírito Santo ao sul, o Médio

Jequitinhonha ao norte, o Sul da Bahia e o Norte do Espírito Santo a leste e o Alto Jequitinhonha a oeste.

Integra as bacias hidrográficas dos rios Doce, São Mateus, Itanhém, Jequitinhonha, Peruipe, Itaunas e

Mucuri, sendo essa a bacia de maior importância, pois abrange aproximadamente 60% dos municípios.

Apresenta forte diversidade em seus aspectos físicos, com áreas de Mata Atlântica e de transição para o

Cerrado e com topografia que varia de um relevo ondulado e montanhoso, em que predominam unidades

produtivas de menor porte, a áreas planas, de maior concentração fundiária.

O Vale do Mucuri totaliza uma população de pouco mais de 430 mil habitantes (Tabela 1), parcela que

representa 2,4% da população do estado de Minas Gerais.

Page 24: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

24

TABELA 04 POPULAÇÃO TOTAL E RURAL E DENSIDADE DEMOGRÁFICA, SEGUNDO MUNICÍPIOS DO TERRITÓRIO DO VALE DO MUCURI E ESTADO DE MINAS GERAIS – 1991 E 2000

Municípios, Território e

Estado

População 1991 População 2000 Densidade

Total Rural %

Rural Total Rural

%

Rural

demográfica

(hab/km2)

Ataléia 17.890 10.851 60,7 16.747 9.186 54,9 9,1

Águas Formosas 16.687 6.015 36,0 17.845 5.251 29,4 21,7

Bertópolis 4.883 3.248 66,5 4.436 1.992 44,9 10,4

Campanário 3.100 1.117 36,0 3.419 993 29,0 7,7

Caraí 21.778 17.021 78,2 20.981 14.280 68,1 16,8

Carlos Chagas 23.287 9.577 41,1 21.994 7.804 35,5 6,7

Catuji 7.047 5.778 82,0 7.332 5.758 78,5 17,3

Crisólita 5.469 4.330 79,2 5.298 3.820 72,1 5,4

Franciscópolis 6.990 5.363 76,7 6.426 4.377 68,1 9,1

Frei Gaspar 7.007 5.689 81,2 5.975 4.268 71,4 9,5

Fronteira dos Vales 5.103 2.342 45,9 4.902 1.973 40,2 14,5

Itaipé 8.637 6.091 70,5 10.751 6.672 62,1 22,2

Itambacuri 21.195 9.199 43,4 22.668 8.676 38,3 15,8

Ladainha 16.601 13.056 78,6 15.832 11.849 74,8 18,2

Machacalis 6.870 1.421 20,7 6.917 1.026 14,8 20,9

Malacacheta 18.606 10.235 55,0 19.250 8.324 43,2 26,2

Nanuque 43.090 4.504 10,5 41.619 3.838 9,2 27,4

Novo Oriente de Minas 10.816 9.961 92,1 9.974 6.138 61,5 13,1

Ouro Verde de Minas 7.923 5.090 64,2 6.223 2.748 44,2 35,4

Pavão 14.973 9.406 62,8 8.912 3.735 41,9 14,8

Pescador 4.349 1.521 35,0 4.037 1.045 25,9 12,6

Pote 14.676 8.183 55,8 14.780 6.579 44,5 23,2

Santa Helena de Minas 5.690 3.250 57,1 5.753 2.991 52,0 20,7

Serra dos Aimorés 10.224 2.143 21,0 8.182 1.684 20,6 37,9

Setubinha 9.557 8.761 91,7 9.291 7.859 84,6 50,2

Teófilo Otoni 130.017 28.906 22,2 129.424 26.612 20,6 39,7

Umburatiba 2.945 1.423 48,3 2.872 1.269 44,2 7,8

Território 445.410 194.481 43,7 431.840 160.747 37,2 18,6

Minas Gerais 15.743.152 3.956.259 25,1 17.891.494 3.219.666 18,0 30,5

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil.

Page 25: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

25

Teófilo Otoni é o município de maior população do território, com 129.076 habitantes, enquanto

Umburatiba apresenta o menor conjunto populacional, de 2.863 habitantes. A densidade demográfica é

baixa, sendo inferior a 18 habitantes por km², e o grau de urbanização, mantendo no total populacional os

municípios mais populosos, é de cerca de 63%, o que significa que a população rural gira em torno dos

37%.

Gráfico 1.

No entanto, se não forem considerados os dois municípios mais populosos (Teófilo Otoni e Nanuque),

restarão 25 municípios cuja população total média é de cerca de 10 mil habitantes

participação da população rural cresce para 50%, percentual bastante superi

densidade demográfica equivale a pouco mais de um terço do índice estadual, conformando umas das

regiões menos densamente povoadas do estado. As informações censitárias sobre a população

demonstram a presença marcante dos mun

constituiu, nessa região, uma rede urbana expressiva, com cidades de médio e grande porte, implicando

na intensidade do dinamismo da economia regional.

83,8%

16,3%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Brasil

População urbana

Teófilo Otoni é o município de maior população do território, com 129.076 habitantes, enquanto

Umburatiba apresenta o menor conjunto populacional, de 2.863 habitantes. A densidade demográfica é

habitantes por km², e o grau de urbanização, mantendo no total populacional os

municípios mais populosos, é de cerca de 63%, o que significa que a população rural gira em torno dos

Gráfico 1. Distribuição Da População Rural no Brasil

não forem considerados os dois municípios mais populosos (Teófilo Otoni e Nanuque),

restarão 25 municípios cuja população total média é de cerca de 10 mil habitantes

participação da população rural cresce para 50%, percentual bastante superior à média estadual (18%), e a

densidade demográfica equivale a pouco mais de um terço do índice estadual, conformando umas das

regiões menos densamente povoadas do estado. As informações censitárias sobre a população

demonstram a presença marcante dos municípios rurais, na composição territorial

uma rede urbana expressiva, com cidades de médio e grande porte, implicando

na intensidade do dinamismo da economia regional.

92,1%85,6%

62,8%

7,9%14,4%

Sudeste Minas Gerais Vale do Mucuri

População urbana População do campo

Teófilo Otoni é o município de maior população do território, com 129.076 habitantes, enquanto

Umburatiba apresenta o menor conjunto populacional, de 2.863 habitantes. A densidade demográfica é

habitantes por km², e o grau de urbanização, mantendo no total populacional os

municípios mais populosos, é de cerca de 63%, o que significa que a população rural gira em torno dos

não forem considerados os dois municípios mais populosos (Teófilo Otoni e Nanuque),

restarão 25 municípios cuja população total média é de cerca de 10 mil habitantes. Nesse caso, a

or à média estadual (18%), e a

densidade demográfica equivale a pouco mais de um terço do índice estadual, conformando umas das

regiões menos densamente povoadas do estado. As informações censitárias sobre a população

na composição territorial, e indicam que não se

uma rede urbana expressiva, com cidades de médio e grande porte, implicando

62,8%

37,2%

Vale do Mucuri - MG

Page 26: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

26

ANÁLISE DOS DADOS ESTATÍSTICO

EIXO: EDUCAÇÃO DO CAMPO

O retrato da educação no campo do

desafios para a construção de um processo de aprendizagem de qualidade, com conteúdos apropriados

aos/às jovens e à agricultura familiar.

A ausência de interesse administrativo local e o número insuficiente de políticas públicas capazes de

efetivar uma proposta educativa, que crie possibilidades de permanência nas comunidades

observados na maioria dos municípios. O grande número de escolas desativadas nas localidades que

compõe o território é conseqüência desses fatores e contribui decisivamente para o distanciamento entre

ambiente escolar e comunidades rurais. A pesquisa revelou que apenas 4,1% das família

enxergam a escola como fonte de informações para seus lares. Apontou ainda que os principais meios de

comunicação acessados pelas comunidades são aqueles que transmitem, principalmente, os modos de

vida das cidades. Essa constatação adquire rele

compreender, a partir do acesso à informação e

sucesso profissional e qualidade de vida.

O grande fluxo migratório, observado no V

e de perspectivas de melhoria das condições de vida no campo. Mais da metade das famílias entrevistadas

Gráfico 2. Acesso à informação e ao conhecimento, nas comunidades

ESTATÍSTICOS POR EIXO TEMÁTICO

O retrato da educação no campo do Vale do Mucuri em 2010 demonstra que ainda são grandes os

desafios para a construção de um processo de aprendizagem de qualidade, com conteúdos apropriados

agricultura familiar.

A ausência de interesse administrativo local e o número insuficiente de políticas públicas capazes de

que crie possibilidades de permanência nas comunidades

cípios. O grande número de escolas desativadas nas localidades que

compõe o território é conseqüência desses fatores e contribui decisivamente para o distanciamento entre

ambiente escolar e comunidades rurais. A pesquisa revelou que apenas 4,1% das família

enxergam a escola como fonte de informações para seus lares. Apontou ainda que os principais meios de

comunicação acessados pelas comunidades são aqueles que transmitem, principalmente, os modos de

vida das cidades. Essa constatação adquire relevância na medida que oferece elementos para

informação e aos conhecimentos, o que os/as jovens idealizam como

issional e qualidade de vida.

observado no Vale do Mucuri, reflete claramente a ausência de escolarização

e de perspectivas de melhoria das condições de vida no campo. Mais da metade das famílias entrevistadas

Acesso à informação e ao conhecimento, nas comunidades agricultoras do vale do Mucuri

ale do Mucuri em 2010 demonstra que ainda são grandes os

desafios para a construção de um processo de aprendizagem de qualidade, com conteúdos apropriados

A ausência de interesse administrativo local e o número insuficiente de políticas públicas capazes de

que crie possibilidades de permanência nas comunidades, são fatores

cípios. O grande número de escolas desativadas nas localidades que

compõe o território é conseqüência desses fatores e contribui decisivamente para o distanciamento entre

ambiente escolar e comunidades rurais. A pesquisa revelou que apenas 4,1% das famílias do campo

enxergam a escola como fonte de informações para seus lares. Apontou ainda que os principais meios de

comunicação acessados pelas comunidades são aqueles que transmitem, principalmente, os modos de

vância na medida que oferece elementos para

conhecimentos, o que os/as jovens idealizam como

reflete claramente a ausência de escolarização

e de perspectivas de melhoria das condições de vida no campo. Mais da metade das famílias entrevistadas

agricultoras do vale do Mucuri - MG

Page 27: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

27

possue algum membro com residência fixa em outro estado e ou cidade, e 13,8% apontaram a existência

de atividades temporárias.

Gráficos 3 e 4. Migração temporária e permanente de acordo com as famílias pesquisadas

Juntamente com outras questões que incidem sobre a

e ao crédito, os limitantes ao acesso e permanência na educação formal relacionam

dos/as jovens. Os principais fatores são:

FATORES

Processo de Nucleação Escolar

Precárias condições de estradas

Educadores/as com péssimas condições de

trabalho

Apenas os anos iniciais do Ensino

Fundamental são ofertados em locais

próximos às comunidades

Inexistência de formação integral e

profissionalizante

Tabela 05. Principais fatores e evidências da falta de acesso e permanecia dos/as jovens da

Familiar nas escolas rurais

51,90%

48,10%

Membro de família

com residência fixa

em outro estado ou

cidade

Membro de família

sem residência fixa

em outro estado ou

cidade

membro com residência fixa em outro estado e ou cidade, e 13,8% apontaram a existência

Migração temporária e permanente de acordo com as famílias pesquisadas

Juntamente com outras questões que incidem sobre a Agricultura Familiar, como a falta de acesso

e ao crédito, os limitantes ao acesso e permanência na educação formal relacionam

dos/as jovens. Os principais fatores são:

EVIDÊNCIAS

Abandono de estruturas

condições de uso; distanciamento entre escolas,

famílias e comunidades; desenraizamento do/a

jovem do campo.

Mais da metade das estradas de acesso

comunidades é intransitável

Educadores/as com péssimas condições de Baixos salários, sobrecarga de funções, formação

inadequada à realidade dos/as jovens.

Apenas os anos iniciais do Ensino

Fundamental são ofertados em locais

Inexistência de formação integral e Materiais didáticos e ferramentas metodológicas

inapropriadas, poucas escolas técnicas

contextualizadas.

. Principais fatores e evidências da falta de acesso e permanecia dos/as jovens da

Membro de família

com residência fixa

em outro estado ou

cidade

Membro de família

sem residência fixa

em outro estado ou

cidade

13,79%

86,21%

Algum membro da família realiza

trabalho temporário em outra cidade ou

estado?

membro com residência fixa em outro estado e ou cidade, e 13,8% apontaram a existência

Migração temporária e permanente de acordo com as famílias pesquisadas

Agricultura Familiar, como a falta de acesso à terra

e ao crédito, os limitantes ao acesso e permanência na educação formal relacionam-se com a migração

Abandono de estruturas físicas em boas

condições de uso; distanciamento entre escolas,

famílias e comunidades; desenraizamento do/a

Mais da metade das estradas de acesso às

no período chuvoso.

Baixos salários, sobrecarga de funções, formação

realidade dos/as jovens.

Materiais didáticos e ferramentas metodológicas

inapropriadas, poucas escolas técnicas-

. Principais fatores e evidências da falta de acesso e permanecia dos/as jovens da Agricultura

Sim

Não

Algum membro da família realiza

trabalho temporário em outra cidade ou

estado?

Page 28: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

28

Imagem 1 e 2. Escola Pólo e estrutura escolar abandonada em áreas de Agricultura Familiar

A nucleação das escolas rurais multisseriadas em uma única sede, a Escola Pólo

década de 60 e rapidamente se disseminou por vários municípios. Sob justificativas de reduzir o número

de salas de aula e escolas “isoladas” e oferecer estrutura adequada para melhor

aprendizagem, este processo ocorreu em diversas localidades. A partir dos anos 90, com a

municipalização da educação, as mudanças se intensificaram, culminando com fechamento e abandono de

estruturas físicas de centenas de estabelecimentos

Se por um lado os/as educandos/as têm na escola pólo acesso a séries separadas, por outro, nota

grandes prejuízos devido, sobretudo, ao distanciamento entre escolas e comunidades. Arroyo (2006)

destaca que, “a escola do campo, o sistema ed

entrelaçarem com a própria organização dos povos do campo, com as relações de proximidade inerentes à

produção camponesa – a vizinhança, as famílias, os grupos, enraizar

centrada no grupo, na articulação entre as formas de produzir a vida.”

Neste sentido, o fechamento das escolas no espaço rural está em desacordo com o projeto de educação

para o Desenvolvimento Rural Sustentável, onde o contexto e os conhecimentos locais são

fundamentais. O grande número de estabelecimento de ensino desativados ou extintos no vale do Mucuri

demonstra como a nucleação escolar influenciou e continuando orient

nível municipal. De acordo com o mapeamento da

escolas no campo encontram-se desativadas e apenas 1,5% do número total de estabelecimentos est

construção.

2 Escola possuidora de localização geográfica que facilite o acesso a diversas localidades e de melhor estrutura física.

. Escola Pólo e estrutura escolar abandonada em áreas de Agricultura Familiar

A nucleação das escolas rurais multisseriadas em uma única sede, a Escola Pólo

disseminou por vários municípios. Sob justificativas de reduzir o número

de salas de aula e escolas “isoladas” e oferecer estrutura adequada para melhor

aprendizagem, este processo ocorreu em diversas localidades. A partir dos anos 90, com a

municipalização da educação, as mudanças se intensificaram, culminando com fechamento e abandono de

estruturas físicas de centenas de estabelecimentos de ensino.

Se por um lado os/as educandos/as têm na escola pólo acesso a séries separadas, por outro, nota

grandes prejuízos devido, sobretudo, ao distanciamento entre escolas e comunidades. Arroyo (2006)

destaca que, “a escola do campo, o sistema educativo do campo se afirmará na medida em que se

entrelaçarem com a própria organização dos povos do campo, com as relações de proximidade inerentes à

a vizinhança, as famílias, os grupos, enraizar-se e aproximar as formas de vida

rada no grupo, na articulação entre as formas de produzir a vida.”

Neste sentido, o fechamento das escolas no espaço rural está em desacordo com o projeto de educação

para o Desenvolvimento Rural Sustentável, onde o contexto e os conhecimentos locais são

fundamentais. O grande número de estabelecimento de ensino desativados ou extintos no vale do Mucuri

demonstra como a nucleação escolar influenciou e continuando orientando as políticas educacionais em

nível municipal. De acordo com o mapeamento das localidades de agricultura familiar quase 25% das

se desativadas e apenas 1,5% do número total de estabelecimentos est

Escola possuidora de localização geográfica que facilite o acesso a diversas localidades e de melhor estrutura física.

. Escola Pólo e estrutura escolar abandonada em áreas de Agricultura Familiar

A nucleação das escolas rurais multisseriadas em uma única sede, a Escola Pólo2, iniciou no Brasil na

disseminou por vários municípios. Sob justificativas de reduzir o número

de salas de aula e escolas “isoladas” e oferecer estrutura adequada para melhoria da qualidade da

aprendizagem, este processo ocorreu em diversas localidades. A partir dos anos 90, com a

municipalização da educação, as mudanças se intensificaram, culminando com fechamento e abandono de

Se por um lado os/as educandos/as têm na escola pólo acesso a séries separadas, por outro, notam-se

grandes prejuízos devido, sobretudo, ao distanciamento entre escolas e comunidades. Arroyo (2006)

ucativo do campo se afirmará na medida em que se

entrelaçarem com a própria organização dos povos do campo, com as relações de proximidade inerentes à

se e aproximar as formas de vida

Neste sentido, o fechamento das escolas no espaço rural está em desacordo com o projeto de educação

para o Desenvolvimento Rural Sustentável, onde o contexto e os conhecimentos locais são fatores

fundamentais. O grande número de estabelecimento de ensino desativados ou extintos no vale do Mucuri

ando as políticas educacionais em

s localidades de agricultura familiar quase 25% das

se desativadas e apenas 1,5% do número total de estabelecimentos está em

Escola possuidora de localização geográfica que facilite o acesso a diversas localidades e de melhor estrutura física.

Page 29: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

29

Figura 6. Mapa das escolas campo do vale do Mucuri, MG

Tabela 6. Números de escolas no campo por microrregiões

Em nível microrregional, notam-se os maiores percentuais de escolas ativas no Noroeste (94,4%), Sul

(76,5%) e Oeste (74,7%). Com o menor número de escolas em termos absolutos e percentuais, a

microrregião Leste possui os piores índices do Território. Municipalmente, Águas Formosas, Caraí,

Catuji, Itaipé e Ouro Verde de Minas destacam

Microrregião Número

de

escolas

Escolas

ativas

NORTE 91 60

LESTE 36 23

NOROESTE 89 84

OESTE 75 56

SUL 119 91

TOTAL 410 314 Gráfico 5. Percentuais da situação das escolas no

. Mapa das escolas campo do vale do Mucuri, MG

. Números de escolas no campo por microrregiões

se os maiores percentuais de escolas ativas no Noroeste (94,4%), Sul

(76,5%) e Oeste (74,7%). Com o menor número de escolas em termos absolutos e percentuais, a

ste possui os piores índices do Território. Municipalmente, Águas Formosas, Caraí,

Catuji, Itaipé e Ouro Verde de Minas destacam-se com mais de 95% de escolas ativas. O mapa abaixo

Escolas

desativadas

Escolas em

construção

30 1

13 0

4 1

16 3

27 1

90 6 Percentuais da situação das escolas no

Território

se os maiores percentuais de escolas ativas no Noroeste (94,4%), Sul

(76,5%) e Oeste (74,7%). Com o menor número de escolas em termos absolutos e percentuais, a

ste possui os piores índices do Território. Municipalmente, Águas Formosas, Caraí,

se com mais de 95% de escolas ativas. O mapa abaixo

Page 30: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

30

apresenta, por município, a representação gráfica e espacial da situação da

Mucuri.

Figura 7. Representação espacial e gráfica das escolas do campo no Território do Mucuri, MG

Indicadores da educação formal no campo

Considerado um dos grandes problemas sociais dos pa

plena, o analfabetismo é particularmente observado nos espaços rurais,

A porcentagem de pessoas sem educação formal no campo é seis vezes maior do que

(IPEA, 2009). Na Agricultura Familiar d

analfabetismo, que passou de 16,10%, em 2005, para 14,6% em 2010. Esta diminuição acompanha a

tendência da população do campo brasileiro em relação ao índice.

A pesquisa apontou que 36,7% da população do campo tem até

1,5% tem acesso à Educação Superior

últimos 05 anos relacionam-se com conclusão do Ensino Fundamental (de 16,7% pa

(5,3% para 11,2%).

apresenta, por município, a representação gráfica e espacial da situação das escolas no campo do vale do

. Representação espacial e gráfica das escolas do campo no Território do Mucuri, MG

Indicadores da educação formal no campo

Considerado um dos grandes problemas sociais dos país e limitante para desenvolvimento da cidadania

plena, o analfabetismo é particularmente observado nos espaços rurais, atingindo

A porcentagem de pessoas sem educação formal no campo é seis vezes maior do que

a Agricultura Familiar do Vale do Mucuri, observa-se uma queda na taxa de

analfabetismo, que passou de 16,10%, em 2005, para 14,6% em 2010. Esta diminuição acompanha a

tendência da população do campo brasileiro em relação ao índice.

que 36,7% da população do campo tem até 03 (três) anos de estudos e que apenas

à Educação Superior. Em termos quantitativos, os principais avanços observados nos

se com conclusão do Ensino Fundamental (de 16,7% pa

s escolas no campo do vale do

. Representação espacial e gráfica das escolas do campo no Território do Mucuri, MG

s e limitante para desenvolvimento da cidadania

atingindo quase ¼ da população.

A porcentagem de pessoas sem educação formal no campo é seis vezes maior do que áreas urbanas

se uma queda na taxa de

analfabetismo, que passou de 16,10%, em 2005, para 14,6% em 2010. Esta diminuição acompanha a

anos de estudos e que apenas

Em termos quantitativos, os principais avanços observados nos

se com conclusão do Ensino Fundamental (de 16,7% para 26,1%), e Médio

Page 31: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

31

Gráfico 6. Educação formal nas áreas de Agricultura Familiar no

Mesmo com melhorias no acesso em termos percentuais, o diagnóstico da educação formal no campo traz

números alarmantes: cerca de 88% da população não concluíram o ensino médio e 51% tem menos de

anos de estudos.

Escolaridae

Menos de 4 anos de estudos

Não concluíram ensino Fundamental

Não concluíram o Ensino Médio

Não concluíram o Ensino Superior

Tabela 7. Escolaridade da Agricultura Familiar do Território Mucuri

16,1%

37,3%

14,6%

36,7%

Não estudou Até 3 anos de estudos Anos iniciais do Ensino

Educação Formal

Gráfico 6. Educação formal nas áreas de Agricultura Familiar no Vale do Mucuri, MG

Mesmo com melhorias no acesso em termos percentuais, o diagnóstico da educação formal no campo traz

da população não concluíram o ensino médio e 51% tem menos de

2005

53,40%

Não concluíram ensino Fundamental 83,30%

90,50%

99,90%

Tabela 7. Escolaridade da Agricultura Familiar do Território Mucuri

46,6%

16,7%

5,3%

48,8%

26,1%

11,2%

Anos iniciais do Ensino

Fundamental

Anos finais do Ensino

Fundamental

Ensino Médio

Educação Formal - Anos de estudos Completos*

do Mucuri, MG

Mesmo com melhorias no acesso em termos percentuais, o diagnóstico da educação formal no campo traz

da população não concluíram o ensino médio e 51% tem menos de 04

2005 2010

53,40% 51,16%

83,30% 72,38%

90,50% 87,30%

99,90% 98,76%

0,1%

11,2%

1,5%

Ensino Superior

2005

2010

Page 32: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

32

Tabela 8. Alguns apontamentos do trabalho de campo

Realizado pela ARMICOPA, em 2005, o diagnóstico participativo da agricultura familiar expressou a

precariedade do sistema de ensino destinado às populações do campo. Carências estruturais e a falta de

acesso dos/as jovens às séries posteriores ao ensino fundamental foram pontos demasiadamente

destacados pelas comunidades. Mostrou também que o deslocamento dos/as estudantes às escolas nos

centros urbanos é um dos principais fatores da negação da cultura local e que necessidade de

deslocamento por longas distâncias, cotidianamente, é fonte de cansaço e desestímulo para os/as jovens, e

apreensão para pais e mães.

Noroeste • Está em fase de implantação a EFACIL (Escola Família Agrícola de Caraí, Catuji,

Itaipé e Ladainha) com abrangência microrregional e sede em Itaipé;

• Apesar de poucas escolas desativadas no campo, observaram-se muitas estruturas

precárias.

Norte • Maioria das escolas ativas multisseriadas (até 4º série) ou nucleadas;

• Transporte escolar e condições de estradas precárias;

• Em Águas Formosas, a Secretaria Municipal de Educação demonstra grande interesse

na implantação de uma EFA;

• O município de Pavão (comunidade de Limeira) possui EFA desativada.

Oeste • Está em fase de implantação a EFAOM (Escola Família Agrícola Oeste do Mucuri),

com abrangência microrregional e sede em Malacacheta (comunidade de Setúbal);

• Malacacheta possui três das seis escolas rurais em construção no território.

Sul • Na comunidade de Colônia Mestre Campos (Teófilo Otoni), está sendo implantado um

Centro Técnico Agrícola vinculado à Universidade Federal dos Vales do

Jequitinhonha e Mucuri;

• O município Ouro Verde de Minas apresenta a maior densidade de escolas no campo,

considerando-se o tamanho do município;

• A opção pela escola urbana é, muitas vezes, justificada pelo fácil acesso às rodovias.

Leste • A precariedade das estradas dificulta o transporte escolar e o acesso à educação, nas

comunidades rurais;

• O município de Serra dos Aimorés possui uma Escola Agrotécnica Federal desativada.

Page 33: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

33

Diante desse preocupante cenário, no mesmo ano

Plano de Desenvolvimento Territorial do Vale do Mucuri e a implantação de Escolas Famílias Agrícolas

como resposta aos anseios da população das

e Noroeste. A Escola Família Agrícola Oeste do Mucuri

EFAOM e a Escolas Família Agrícola de Caraí, Cat

ladainha – EFACIL atenderão jovens de

Malacacheta, Poté, Setubinha e Franci

oeste), Itaipé, Catuji, Caraí e Ladainha (microrregião noroeste).

No ano de 2009, em seminários com ampla

famílias e organizações sociais da agricultura familiar, ocorreram as fundações das associações gestoras

das duas escolas3.

Ao aliar pedagogia da alternância e protagonismo local, por meio da gerência dos/as próprios/as

agentes locais, as EFAs comprometem as famílias e as comunidades na

educação dos/as jovens, incentivam o espírito comunitário, provoca

tomada de consciência da necess

Proporciona

própria vida e que a Escola precisa ser um espaço integrado e não distante e alheio

2005).

O que determina a efetivação da gestão participativa e a superação da distância entre escola e comunidade

é justamente a parceria entre as famílias e outros agentes comunitários. Por isso, as associações gestoras

são fundamentais no processo de implantação das escolas.

Figuras 8 e 9. Seminário de Fundação da Associação Gestora e estrutura física da EFAOM

3 Encontros organizados via Projeto de Assessoria à Implementação das EFAs microrregionais no Território do Mucuri, do Grupo de Extensão e Pesquisa em Agricultura Familiar (GEPAF Vales) da UFVJM.

Diante desse preocupante cenário, no mesmo ano a educação do campo surge como um eixo norteador do

Plano de Desenvolvimento Territorial do Vale do Mucuri e a implantação de Escolas Famílias Agrícolas

como resposta aos anseios da população das microrregiões Oeste

e Noroeste. A Escola Família Agrícola Oeste do Mucuri –

EFAOM e a Escolas Família Agrícola de Caraí, Catuji, Itaipé e

atenderão jovens de 08 municípios:

Malacacheta, Poté, Setubinha e Franciscópolis (microrregião

Itaipé, Catuji, Caraí e Ladainha (microrregião noroeste).

No ano de 2009, em seminários com ampla participação das

famílias e organizações sociais da agricultura familiar, ocorreram as fundações das associações gestoras

pedagogia da alternância e protagonismo local, por meio da gerência dos/as próprios/as

agentes locais, as EFAs comprometem as famílias e as comunidades na

educação dos/as jovens, incentivam o espírito comunitário, provoca

tomada de consciência da necessidade e exigência da formação permanente.

Proporcionam, então, a descoberta de que o maior aprendizado acontece na

própria vida e que a Escola precisa ser um espaço integrado e não distante e alheio

a gestão participativa e a superação da distância entre escola e comunidade

é justamente a parceria entre as famílias e outros agentes comunitários. Por isso, as associações gestoras

são fundamentais no processo de implantação das escolas.

. Seminário de Fundação da Associação Gestora e estrutura física da EFAOM

Encontros organizados via Projeto de Assessoria à Implementação das EFAs microrregionais no Território do Mucuri, do e Pesquisa em Agricultura Familiar (GEPAF Vales) da UFVJM.

As EFAs têm como modelo de gestão o associativismo. Uma associação gestora (AEFA), constituída de famílias, instituições locais e pessoas da própria comunidade, é responsável por representar e administrar a escola, e incentivar a envolvimento das famílias no processo de formação do/a jovem.

a educação do campo surge como um eixo norteador do

Plano de Desenvolvimento Territorial do Vale do Mucuri e a implantação de Escolas Famílias Agrícolas

famílias e organizações sociais da agricultura familiar, ocorreram as fundações das associações gestoras

pedagogia da alternância e protagonismo local, por meio da gerência dos/as próprios/as

agentes locais, as EFAs comprometem as famílias e as comunidades na

educação dos/as jovens, incentivam o espírito comunitário, provocam a

idade e exigência da formação permanente.

que o maior aprendizado acontece na

própria vida e que a Escola precisa ser um espaço integrado e não distante e alheio a ela (Nascimento,

a gestão participativa e a superação da distância entre escola e comunidade

é justamente a parceria entre as famílias e outros agentes comunitários. Por isso, as associações gestoras

. Seminário de Fundação da Associação Gestora e estrutura física da EFAOM

Encontros organizados via Projeto de Assessoria à Implementação das EFAs microrregionais no Território do Mucuri, do

As EFAs têm como modelo de o associativismo. Uma

associação gestora (AEFA), constituída de famílias, instituições locais e pessoas da própria comunidade, é responsável por representar e administrar a escola, e incentivar a envolvimento das famílias no processo de formação do/a

Page 34: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

34

EIXO: TERRA E TERRITÓRIO

BREVE HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO DOS CAMPONESES E A LUTA PELA TERRA NO

TERRITORIO

O Nordeste Mineiro foi pioneiro no processo de sindicalização, destacando as cidades de Governador

Valadares e Poté, em 1961/1962. A atuação do Sindicato de Poté, apesar das duras represálias sofridas

pelo poder local, conseguiu mobilizar os trabalhadores e posseiros da região. O sindicalismo embrionário

teve que se confundir com as ações religiosas, pois só existia espaço para ações que acontecessem juntas,

mas, mesmo assim, exprimia uma luta que confundia a experiência de lavradores migrantes, que passaram

de sitiantes ou agregados a excluídos e de excluídos a retornados.

No período de redemocratização, as lutas no campo ganham novo fôlego no Nordeste Mineiro,

estruturando-se a CPT (Comissão Pastoral da Terra) e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra), impulsionados pela organização de parte da Igreja inspirados sob a Teologia da Libertação.

As formas encontradas pelos movimentos organizados eram as ocupações de latifúndios improdutivos,

resultando na conquista de áreas que foram destinadas à Reforma Agrária.

Atualmente, cerca de 80% das famílias têm pelo menos um membro participante de uma organização

social, em que o Sindicalismo e o associativismo aparecem como movimentos mais expressivos.

Tabela 9. Organização das Famílias Agricultoras

Page 35: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

35

CARACTERIZAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR E AMBIENTE NO VALE DO MUCURI

Representada por cerca de 25 mil famílias, a agricultura familiar encontra-se dispersa em 656

comunidades rurais dos 27 municípios que compõe o Vale do Mucuri. São comunidades carregadas de

traços indígenas e negros, que sofrem as trágicas conseqüências sócio-ecológicas e culturais do processo

de modernização conservadora dos espaços rurais.

Por todo território observa-se intensa degradação dos solos, desmatamentos dos remanescentes da Mata

Atlântica, queimadas e assoreamento de córregos e rios. As porções oeste e noroeste do Território,

notadamente ocupadas pelas famílias agricultoras, apresentam as maiores áreas verdes. Desolador cenário

é observado na região leste: imensas monoculturas de cana e pastagens, forte concentração de terra e

renda, poucas comunidades rurais e elevado índice de desmatamentos.

Mesmo com as adversidades, a agricultura familiar resiste, vive e trabalha no campo. A maioria dos/as

agricultores/as do Mucuri não utiliza adubos químicos ou venenos, sendo notável a intensa diversificação

produtiva para autoconsumo e comercialização. A multiplicidade de práticas agrícolas notadas nos

sistemas familiares retrata as formas de viver, organizar e conhecer das populações identificadas com o

campo. A riqueza de espécies nos quintais, locais de característico cuidado feminino, evidencia o

importante papel das mulheres na conservação/ampliação da agrobiodiversidade e dos saberes associados

aos usos das plantas. Saberes estes presentes aos sábados nos mercados municipais, onde as feiras saúdam

os/as moradores/as das pequenas cidades com produtos alimentares, medicinais e ornamentais.

Para dar continuidade a sua reprodução sociocultural, a agricultura familiar tem como grande desafio a

melhoria/manutenção da saúde ambiental de suas áreas. Nos sistemas agrícolas, a qualidade dos solos,

água e ar são fatores determinantes e incidem diretamente na vida, produtividade e renda das famílias

agricultoras.

ESTRUTURA FUNDIÁRIA NO TERRITÓRIO DO MUCURI

Dos estabelecimentos existentes em Minas Gerais, 437.415 caracterizam-se como estabelecimentos de

agricultura familiar, abrangendo a área de 8.845.883 milhões de hectares. Por outro lado, 114.202

estabelecimentos não familiares ocupam uma área de 23.801.664 milhões de hectares.

Estes dados revelam como a concentração de terras se estabelece, em Minas Gerais, atentando que ao

longo dos anos a concentração de terras tem aumentado, tornando-se uma constante. Segundo dados do

CENSO Agropecuário 2006, mostrando a evolução do índice de Gini para o estado de Minas Gerais,

verifica-se um aumento da concentração da propriedade das terras. No ano de 2006, este índice era 0, 795,

sendo a média nacional de 0,872.

Nos dois gráficos abaixo, podemos ter uma análise visual do que representa a concentração de terras em

Minas Gerais, representando 79% dos estabelecimentos do Estado a agricultura familiar detém apenas

27% das terras.

Page 36: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

36

Gráfico 7. Participação da Agricultura Familiar no número de estabelecimentos no estado de Minas

Gerais.

Fonte: Censo Agropecuário, IBGE, 2006.

Gráfico 8. Participação da Agricultura Familiar na área ocupada no estado de Minas Gerais.

Fonte: Censo Agropecuário, IBGE, 2006.

Ao analisar os números do Censo Agropecuário referentes aos municípios pertencentes ao Vale do

Mucuri, pode-se perceber que esta região não foge à regra

Vale do Mucuri, o tamanho médio dos estabelecimentos da agricultura familiar é de 21,36 ha, enquanto

que para as grandes propriedades esta média é de 250,9 ha. Apesar de representar cer

estabelecimentos, a agricultura familiar detém apenas 24,30% das terras. Os estabelecimentos da

agricultura familiar do Vale do Mucuri representam 3,18% do total do Estado de Minas Gerais, sendo que

estas áreas ocupam 0, 91% da área do esta

Miranda (2006), ao analisar a estrutura fundiária do Nordeste Mineiro

pequenos estabelecimentos representam 83% do total e ocupam uma pequena

área). As grandes propriedades, além d

agricultáveis (34,65%). Outra leitura significativa é que 9.183.336 ha (93,47%) são utilizados para a

Agricultura Familiar

Agricultura Familiar

. Participação da Agricultura Familiar no número de estabelecimentos no estado de Minas

Fonte: Censo Agropecuário, IBGE, 2006.

. Participação da Agricultura Familiar na área ocupada no estado de Minas Gerais.

Fonte: Censo Agropecuário, IBGE, 2006.

Ao analisar os números do Censo Agropecuário referentes aos municípios pertencentes ao Vale do

região não foge à regra, em se tratando da concentração de terras. No

o tamanho médio dos estabelecimentos da agricultura familiar é de 21,36 ha, enquanto

que para as grandes propriedades esta média é de 250,9 ha. Apesar de representar cer

estabelecimentos, a agricultura familiar detém apenas 24,30% das terras. Os estabelecimentos da

agricultura familiar do Vale do Mucuri representam 3,18% do total do Estado de Minas Gerais, sendo que

estas áreas ocupam 0, 91% da área do estado (IBGE, 2006).

Miranda (2006), ao analisar a estrutura fundiária do Nordeste Mineiro, no ano de 1985

pequenos estabelecimentos representam 83% do total e ocupam uma pequena área das terras (19,5% da

s grandes propriedades, além de serem a minoria, (1,32%), ocupam a maior parte das terras

agricultáveis (34,65%). Outra leitura significativa é que 9.183.336 ha (93,47%) são utilizados para a

79%

21%

Agricultura Familiar Agricultura não Familiar

27%

73%

Agricultura Familiar Agricultura não Familiar

. Participação da Agricultura Familiar no número de estabelecimentos no estado de Minas

. Participação da Agricultura Familiar na área ocupada no estado de Minas Gerais.

Ao analisar os números do Censo Agropecuário referentes aos municípios pertencentes ao Vale do

em se tratando da concentração de terras. No

o tamanho médio dos estabelecimentos da agricultura familiar é de 21,36 ha, enquanto

que para as grandes propriedades esta média é de 250,9 ha. Apesar de representar cerca de 80,0% dos

estabelecimentos, a agricultura familiar detém apenas 24,30% das terras. Os estabelecimentos da

agricultura familiar do Vale do Mucuri representam 3,18% do total do Estado de Minas Gerais, sendo que

no ano de 1985, observou que os

área das terras (19,5% da

e serem a minoria, (1,32%), ocupam a maior parte das terras

agricultáveis (34,65%). Outra leitura significativa é que 9.183.336 ha (93,47%) são utilizados para a

Agricultura não Familiar

Page 37: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

37

pecuária de caráter extensivo, que utiliza grandes extensões de terra. O restante, 101.133 ha. (1,02%),

para a lavoura permanente.

Tabela 10 - Estabelecimento e área da agricultura familiar, segundo as Unidades da Federação,

Mesorregiões, Microrregiões e Municípios – 2006

Fonte: Censo Agropecuário, IBGE, 2006.

A concentração de terras no Vale do Mucuri, como se pode observar, é uma realidade que se mantém

após séculos de dominação. As comunidades de agricultura familiar estão literalmente estranguladas nas

áreas que não são de interesse dos fazendeiros, geralmente as propriedades se encontram nas áreas mais

altas, menos férteis, que apresentam maior dificuldade para o cultivo.

Na análise dos dados do IGBE (2006), percebe-se que as mais altas taxas de concentração nas

microrregiões Leste, nos municípios de Carlos Chagas, Nanuque e Serra dos Aimorés, onde as terras em

poder da Agricultura não-familiar (fazendas e empresas), são, respectivamente, 89%, 87% e 83%, apesar

de representarem somente 41%, 39% e 28% dos estabelecimentos, respectivamente.

Observa-se pelo mapa das comunidades do Vale do Mucuri como a maioria destas se encontram no Alto

Mucuri, região declivosa e de nascentes, enquanto que na região Leste onde as terras são mais planas e

mais férteis não se encontra muitas comunidades de agricultura familiar.

Page 38: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

38

Figura 10 - Distribuição das Comunidades no Vale do Mucuri. Fonte: GEPAF-VALES, 2010

O Tamanho da Propriedade e suas Conseqüências.

O acesso à terra é um dos primeiros requisitos necessários para a garantia de sobrevivência e permanência

das pessoas no campo. Não somente o acesso à terra garante esta condição, mas também o tamanho das

terras é decisivo para o desenvolvimento das condições de vida dos agricultores, garantindo alimentos

com qualidade e quantidades certas, visando à subsistência e à comercialização destes produtos.

No ano de 2005, os dados apontam que cerca de 81,15% das propriedades de agricultura familiar

possuem até 30 ha. Esta situação se agrava ainda mais quando consideramos que 55,69% das

propriedades possuem até 10 ha. A instabilidade causada pela baixa quantidade de terras contribui para

uma maior dependência do mercado externo, aumentando os índices de migração nas comunidades.

Page 39: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

39

Gráfico 9 – Tamanho das áreas de agricultura familiar, 2005.

Fonte: ARMICOPA, Diagnóstico do Território do Mucuri, 2005

No ano de 2010, a atualização desta informação indicou que poucas ações foram realizadas

uma maior distribuição das terras. Atualmente, no Vale do Mucuri

30 ha. As famílias, que apresentam sua propriedade com até 5

Gráfico 10 – Tamanho das áreas de agricultura familiar, 2010.

Fonte: GEPAF-VALES, 2010

Até 1 ha

1 a 5 há

6 a 10 ha

11 a 15 ha

16 a 20 ha

18,4

24

13,5

96,9

15,7

18,2

12,9

8,6 9,310,5

Tamanho das áreas de agricultura familiar, 2005.

Fonte: ARMICOPA, Diagnóstico do Território do Mucuri, 2005

a atualização desta informação indicou que poucas ações foram realizadas

uma maior distribuição das terras. Atualmente, no Vale do Mucuri, 80,7% das propriedades possu

que apresentam sua propriedade com até 5 há, representam 36,3% das entrevistadas.

Tamanho das áreas de agricultura familiar, 2010.

21 a 30 ha

31 a 40 ha

41 a 50 ha

51 a 60 ha

61 a 70 ha

71 a 80 ha

80 a 91 ha

91 a 100 ha

9,2

5,43 2,5 1,7 1,1 0,9 1

10,5

4,22,1 1,6 1,9 1,6 1,9

0,7

4

0,2

Tamanho das áreas de agricultura familiar, 2005.

a atualização desta informação indicou que poucas ações foram realizadas, objetivando

80,7% das propriedades possuem até

representam 36,3% das entrevistadas.

91 a 100 ha

+ de 100 ha

13,2

0,2

6,5

Page 40: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

40

O estrangulamento da pequena agricultura está intimamente associado à expansão das pastagens e a

política inadequada de “reflorestamento” (MIRANDA, 2006).

O tamanho da propriedade constitui

tendência que se observa nas pequenas áreas de agricultura familiar é um forte aumento do nível de

dependência econômica com o mercado.

Relação da Família com a Terra

Ao analisarmos os dados do ano de 2005 referente

34% das famílias moravam em terras cedidas por parentes. Esta quantidade é relativamente alta, pois,

considerando que as famílias no meio rural são compostas por um número maior de membros

por herança (ou mesmo quando os filhos se

em áreas menores, aumentando assim a pressão interna por terras.

As relações de arrendamento e parceria eram significativas no ano de 2005 representa

e 5,42%, respectivamente. Seguidas das famílias sem

No ano de 2010, observa-se um aumento da declaração de terras próprias e uma diminuição das terras

cedidas por parentes, uma vez que

resultado de multiplicação de propriedades de acordo com os espólios.

O estrangulamento da pequena agricultura está intimamente associado à expansão das pastagens e a

política inadequada de “reflorestamento” (MIRANDA, 2006).

constitui-se num elemento fundamental para a qualidade de vida no campo. A

tendência que se observa nas pequenas áreas de agricultura familiar é um forte aumento do nível de

dependência econômica com o mercado.

Ao analisarmos os dados do ano de 2005 referentes à relação com a terra, podemos observa

34% das famílias moravam em terras cedidas por parentes. Esta quantidade é relativamente alta, pois,

considerando que as famílias no meio rural são compostas por um número maior de membros

por herança (ou mesmo quando os filhos se estabelecem na propriedade formando outra família)

em áreas menores, aumentando assim a pressão interna por terras.

As relações de arrendamento e parceria eram significativas no ano de 2005 representa

eguidas das famílias sem-terra que representavam cerca de 2,1%.

se um aumento da declaração de terras próprias e uma diminuição das terras

uma vez que este fato pode ser explicado pela legalização das terras,

multiplicação de propriedades de acordo com os espólios.

O estrangulamento da pequena agricultura está intimamente associado à expansão das pastagens e a

num elemento fundamental para a qualidade de vida no campo. A

tendência que se observa nas pequenas áreas de agricultura familiar é um forte aumento do nível de

à relação com a terra, podemos observar que cerca de

34% das famílias moravam em terras cedidas por parentes. Esta quantidade é relativamente alta, pois,

considerando que as famílias no meio rural são compostas por um número maior de membros, a divisão

estabelecem na propriedade formando outra família) resulta

As relações de arrendamento e parceria eram significativas no ano de 2005 representando cerca de 6,94%

terra que representavam cerca de 2,1%.

se um aumento da declaração de terras próprias e uma diminuição das terras

este fato pode ser explicado pela legalização das terras, sendo

Page 41: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

41

Documentação da Terra

O histórico de ocupação do Vale do Mucuri revela que uma grande quantidade de famílias, em busca de

melhores condições de vida, migrou

Estas famílias foram se agregando próximas as grandes fazendas que ali se estabeleciam.

abertas em busca de terras férteis, devido às condições climáticas as lavouras e criações se adaptaram bem

à região.

A tomada de posse das terras devolutas do Vale do Mucuri possibilitou o desenvolvimento de povoados e

cidades, que ora prosperaram ora entravam em decadência.

Como não ocorreu um processo de ocupação legal, muitas famílias passaram por gerações sem possui

nenhum documento que comprovasse a sua posse, apesar de sentir a terra pertencente à sua família.

Como podemos observar no gráfico abaixo, no ano de 2005, 35,8% das famílias entrevistadas não

possuíam nenhum documento que comprovasse a sua posse da terra

O histórico de ocupação do Vale do Mucuri revela que uma grande quantidade de famílias, em busca de

ou rumo à “mata”.

s famílias foram se agregando próximas as grandes fazendas que ali se estabeleciam.

abertas em busca de terras férteis, devido às condições climáticas as lavouras e criações se adaptaram bem

A tomada de posse das terras devolutas do Vale do Mucuri possibilitou o desenvolvimento de povoados e

cidades, que ora prosperaram ora entravam em decadência.

omo não ocorreu um processo de ocupação legal, muitas famílias passaram por gerações sem possui

nenhum documento que comprovasse a sua posse, apesar de sentir a terra pertencente à sua família.

Como podemos observar no gráfico abaixo, no ano de 2005, 35,8% das famílias entrevistadas não

possuíam nenhum documento que comprovasse a sua posse da terra.

O histórico de ocupação do Vale do Mucuri revela que uma grande quantidade de famílias, em busca de

s famílias foram se agregando próximas as grandes fazendas que ali se estabeleciam. As matas foram

abertas em busca de terras férteis, devido às condições climáticas as lavouras e criações se adaptaram bem

A tomada de posse das terras devolutas do Vale do Mucuri possibilitou o desenvolvimento de povoados e

omo não ocorreu um processo de ocupação legal, muitas famílias passaram por gerações sem possuir

nenhum documento que comprovasse a sua posse, apesar de sentir a terra pertencente à sua família.

Como podemos observar no gráfico abaixo, no ano de 2005, 35,8% das famílias entrevistadas não

Page 42: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

42

Gráfico 13 –Documentação das áreas de Agricultura Familiar, 2005

Fonte: ARMICOPA. Diagnóstico do Território do Mucuri, 2005.

No ano de 2010, esta situação não mudou muito, como podemos observar há ainda no Vale do Mucuri

cerca de 33% das famílias que não apresentam nenhuma documentação de suas terras.

Além de não possuírem acesso às políticas públicas de produção, este agricultores ficam vulneráveis ao

avanço das áreas de fazendas, já que muitos foram os relatos de agricultores que foram sofrendo

constantes pressão para a venda de posses a valores abaixo do mercado.

A medição de terras está sendo realizada pelo (ITER) Instituto de Terras do Estado de Minas Gerais e

vinha sendo cumprida de maneira muito lenta. Recentemente, este órgão se mobilizou e várias equipes

estão em campo realizando a regularização de terras da agricultura familiar, com resultados ainda não

disponíveis para análise, mas com uma expectativa importante por parte do movimento sindical, uma vez

que a quantidade de cadastros realizados é muito expressiva.

Gráfico 14 – Documentação das áreas de agricultura familiar, 2010

Page 43: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

43

Ao abordamos esta questão, devemos atentar também para o pagamento de impostos, inerentes à

legalização da terra. O Imposto Territorial Rural (ITR) é cobrado

mais um empecilho para se ter o acesso legal

As relações de gênero, estabelecidas nas comunidades rurais, não se diferem das relações estabelecidas no

ambiente urbano. Observa-se a desvalorização do trabalho

autonomia.

Freqüentemente, observa-se que as mulheres não adiquirem posse das terras na documentação. Como se

observa no gráfico acima, apenas 20% das terras está no nome das mulheres,

situação de dominação e contribuindo para uma maior dependências destas com relação a seus maridos.

Assentamentos de Reforma Agrária

Dos assentamentos existentes, Sauer (2005) denomina que os oriundos do Programa Banco da Terra e

Crédito Fundiário são referentes à reforma agrária de mercado. Estes programas foram implantados no

Brasil em 1997, influenciado pelas diretrizes implementadas pelo Banco Mundial (BIRD)

maximizar as relações de compra e venda como meio preferencial de acesso à terra pelo

pobre.

A proposta de reforma agrária, encampada pelos movimentos sociais ligados à luta pela terra

não como um bem meramente econômico, passível de compra e venda,

social da terra seja cumprida, como assegura a Constituição Federal de 1988.

As dificuldades encontradas pelos assentados são características dos projetos de reforma agrária em vigor,

o pagamento dos empréstimos na maioria das vezes não consegue se concretizar, endividando os

assentados, além de não fornecer condições técnicas para a produção destes agricultores, comprometendo

devemos atentar também para o pagamento de impostos, inerentes à

legalização da terra. O Imposto Territorial Rural (ITR) é cobrado de todas as propriedades, criando assim

mais um empecilho para se ter o acesso legal à terra.

estabelecidas nas comunidades rurais, não se diferem das relações estabelecidas no

se a desvalorização do trabalho da mulher e também das suas condições de

se que as mulheres não adiquirem posse das terras na documentação. Como se

apenas 20% das terras está no nome das mulheres, estabelecendo

contribuindo para uma maior dependências destas com relação a seus maridos.

Assentamentos de Reforma Agrária

Dos assentamentos existentes, Sauer (2005) denomina que os oriundos do Programa Banco da Terra e

referentes à reforma agrária de mercado. Estes programas foram implantados no

Brasil em 1997, influenciado pelas diretrizes implementadas pelo Banco Mundial (BIRD)

maximizar as relações de compra e venda como meio preferencial de acesso à terra pelo

encampada pelos movimentos sociais ligados à luta pela terra

não como um bem meramente econômico, passível de compra e venda, pois estes lutam para que a funçã

como assegura a Constituição Federal de 1988.

As dificuldades encontradas pelos assentados são características dos projetos de reforma agrária em vigor,

o pagamento dos empréstimos na maioria das vezes não consegue se concretizar, endividando os

s, além de não fornecer condições técnicas para a produção destes agricultores, comprometendo

devemos atentar também para o pagamento de impostos, inerentes à

todas as propriedades, criando assim

estabelecidas nas comunidades rurais, não se diferem das relações estabelecidas no

da mulher e também das suas condições de

se que as mulheres não adiquirem posse das terras na documentação. Como se

estabelecendo-se mais uma

contribuindo para uma maior dependências destas com relação a seus maridos.

Dos assentamentos existentes, Sauer (2005) denomina que os oriundos do Programa Banco da Terra e

referentes à reforma agrária de mercado. Estes programas foram implantados no

Brasil em 1997, influenciado pelas diretrizes implementadas pelo Banco Mundial (BIRD), para

maximizar as relações de compra e venda como meio preferencial de acesso à terra pelo campesinato

encampada pelos movimentos sociais ligados à luta pela terra, visa à terra

estes lutam para que a função

As dificuldades encontradas pelos assentados são características dos projetos de reforma agrária em vigor,

o pagamento dos empréstimos na maioria das vezes não consegue se concretizar, endividando os

s, além de não fornecer condições técnicas para a produção destes agricultores, comprometendo

Page 44: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

44

significativamente a sua permanência na terra, sendo obrigado a recorrer a outras formas de obtenção de

renda.

Apesar dos dados representados no gráfico represe

Norte e Nordeste, estes mostram que os programas ligados

hegemonicamente ligados às lutas pela mesma,

INCRA.

O Banco da Terra, mesmo não representando uma Reforma Agrária que supra as necessidades dos

trabalhadores rurais, por ainda tratar a terra como uma mercadoria e também beneficiar os grandes

fazendeiros que a negociam, configura

considera também o Crédito Fundiário, que na prática é

representam 60% do total.

Figura 11. Mapa de acentamentos de reforma agrária

significativamente a sua permanência na terra, sendo obrigado a recorrer a outras formas de obtenção de

Apesar dos dados representados no gráfico representarem somente 02 micro-regiões do Mucuri, no caso,

Norte e Nordeste, estes mostram que os programas ligados à distribuição de terra ainda não são

lutas pela mesma, pois somente 40% dos Assentamentos são ligados ao

mesmo não representando uma Reforma Agrária que supra as necessidades dos

por ainda tratar a terra como uma mercadoria e também beneficiar os grandes

configura-se o “programa” de maior representação na região, quando se

considera também o Crédito Fundiário, que na prática é o mesmo que o programa anterior. A

Figura 11. Mapa de acentamentos de reforma agrária

significativamente a sua permanência na terra, sendo obrigado a recorrer a outras formas de obtenção de

regiões do Mucuri, no caso,

distribuição de terra ainda não são

somente 40% dos Assentamentos são ligados ao

mesmo não representando uma Reforma Agrária que supra as necessidades dos

por ainda tratar a terra como uma mercadoria e também beneficiar os grandes

ção na região, quando se

o mesmo que o programa anterior. Ambos

Page 45: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

45

EIXO: AGUA E BIODIVERSIDADE

Aspectos sócio-ambientais das primeiras ocupações no Vale do Mucuri Sec. XIX

A abertura dos portos brasileiros em 1808 proporcionou e incentivou os viajantes europeus a se

“aventurarem” pelas regiões desconhecidas do Brasil. Uma dessas regiões foi o Vale do rio Mucuri,

situado no nordeste da província de Minas Gerais, e juntamente com o Vale do Jequitinhonha eram

incluídos na “Comarca do Serro Frio”, no grande município de Minas Novas.

A Mata Atlântica presente no vale do rio Mucuri, até meados do século XIX, praticamente se encontrava

intocada pela civilização, “um enigma natural e etnográfico para vários viajantes que nas tentativas de

decifrá-lo percorreram ousadamente suas trilhas precárias”. Nessa terra, habitavam populações indígenas,

que viviam nas matas tropicais, e dependiam da coleta de frutos, da caça e da pesca, chamados de

botocudos pelos viajantes. Ainda neste período, a ocupação da população não índigena só ocorria na zona

das “cabeceiras do Mucuri, ainda relativamente próximas as áreas de garimpo do Jequitinhonha. Até

então, além das cabeceiras, do rio Mucuri somente se conhecia sua foz, no Oceano Atlântico ao sul da

sede do município de Caravelas, na Bahia.”

Para os exploradores, as populações indígenas que ali habitavam e a mata densa eram os principais

obstáculos a serem superados, na ocupação e colonização do território. Muitos defendiam a idéia da luta

árdua contra os botocudos, justificada pelo o que consideravam um modo de vida irracional e inferior. Já,

os naturalistas Saint-Hilaire e Maximilian, que percorreram o Vale do Mucuri, nos anos de 1816 e 1817,

propunham o aumento da ocupação, com a vinda de populações européias e a diminuição dos territórios

de caça. Dessa forma, substituiriam as grandes extensões de matas pela abertura de fazendas e áreas

agrícolas. Assim como, Teófilo Benedito Otoni, colonizador que dá nome a atual maior cidade e pólo

regional, que forçou uma colonização mais consistente, com a participação de mineiros oriundos do

Jequitinhonha e logo depois com imigrantes europeus, principalmente alemães, iniciando a integração da

região à sociedade nacional.

A mata do Mucuri era rica em madeira, pois havia jacarandá, cabreúva, jequitibás, cedro, vinháticos, ipês,

perobas, pau-brasil, frutas como jabuticabas, cambuás, ingás, guabirobas e bacuparis, palmito. Sobre os

troncos das árvores, encontravam-se plantas como orquídeas, bromélias e samambaias. A extração era

difícil para os colonizadores, porque necessitavam fazer o desmatamento, trazer escravos e trabalhadores

para a exploração, e alterar o ambiente habitado pelos indígenas. Da mesma forma, os colonizadores

tinham dificuldades com a caça e a coleta de alimentos na mata, pois lhes faltavam a astúcia de índio,

caçador e conhecedor das plantas apropriadas para o consumo, larvas, ovos e mel, “dominava todos os

saberes acerca de como se obter sustento”. Também consideravam a mata fonte de doenças, animais

peçonhentos e perigosos, e o ambiente quente e úmido, excessivamente incômodo aos colonos europeus.

Por volta de 1858, a região já se encontrava bastante desmatada e algumas fazendas estabelecidas, com

vistas a produção de alimentos para a região mineradora, para a produção de café, e a tentativa de ligação

Page 46: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

46

com a Bahia por meio da navegação no Mucuri. Nesse momento, muitos imigrantes alemães, austríacos e

suíços, entre outros, chegavam para construir novas vidas.

As terras antes ocupadas por índios iam dando lugar a um povo imigrante, que considerava a mata como o

insumo para sua ocupação efetiva, ”ela é madeira para as edificações; material para a construção de

navios e canoas, lenha para os fogões e para os vapores que percorreriam o rio; espaço onde as pastagens

seriam abertas para alimentar animais de carga, gado e rebanhos para consumo das populações que ali se

instalariam; áreas a serem queimadas para o cultivo de alimentos, imensas árvores a serem derrubadas

para que a luz do sol alcançasse finalmente o solo”. Acreditavam que os indígenas morreriam no embate

as populações brancas ou de fome, devido à substituição da floresta. Os brancos traziam consigo sua

cultura, plantas exóticas que se misturam as culturas, os animais domesticados e seus patógenos que

dizimavam os indígenas.

Saint-Hilaire constrói um evidente paralelo entre o domínio do gentio e o domínio da mata. A seus olhos,

forjar ali a vida humana dependia da extinção de ambos. Considerando a superioridade da agricultura e

dos animais domésticos, apresentava-os como formas de vida vicejantes sob o Sol que as tornaria

possíveis, após o desmate e o calor das queimadas. Fatalmente, desapareceriam as plantas nativas,

animais selvagens e homens nascidos na escuridão do seio da Mata Atlântica. Nas luzes da civilização, as

copas esplendorosas de árvores altaneiras deveriam tombar junto com a obscura vida dos seres que

abrigavam.

Esse processo histórico marca de forma profunda e persistente o relacionamento dos ocupantes com a

floresta, até os dias de hoje, refletindo a intensa degradação atual e a quase que completa ausência de

iniciativas para a recuperação e preservação dos remanescentes florestais.

Apenas em 1890, foi criada a Ferrovia Bahia-Minas, sendo possível promover a ligação do território com

um porto do mar, que ligava a cidade de Araçuaí-MG a Caravelas, na Bahia, atendendo à produção e

comércio de café e permitindo alto fluxo migratório para o Vale do Mucuri, oriundos da Bahia e do

Jequitinhonha. Foi também um período de exploração desenfreada dos recursos naturais, principalmente

madeira, para atender às necessidades do “desenvolvimento”. A interação da estrada de ferro foi curta,

pois, com a crise do café em 1930, a estrada caiu paulatinamente em desuso por falta de cargas até ser

fechada ao tráfego, e a partir deste período a base produtiva regional se concentra na pecuária e

mineração, beneficiamento e comercialização de pedras preciosas.

A região passa a ser alvo dos garimpeiros e se inicia a exploração intensiva das montanhas e cursos

d´água na busca de pedras preciosas, sem a devida consciência e orientação para minimizar os impactos

ao meio ambiente. Além disso, o incentivo à expansão agrícola e pecuária nas grandes fazendas.

Page 47: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

47

Caracterização da situação ambiental do Vale do Mucuri

O território do Vale do Mucuri atualmente inclui vinte e sete municípios, em uma área aproximada de

23.220 km², quase que a totalidade dentro do Bioma Mata Atlântica, e também áreas de transição com o

Cerrado, biomas prioritários para

preservação da biodiversidade em

nível mundial.

A Mata Atlântica estendia-se

originalmente do Rio Grande do Norte

aos limites do extremo sul do Brasil,

distribuindo-se continuamente ao

longo da costa e sobre superfícies

interioranas. Apesar de ser uma

estreita faixa costeira, adentrou as

escarpas ocidentais, em regiões onde a

precipitação viabilizava a existência

de florestas altas e estratificadas,

como em Minas Gerais e São Paulo.

Antes da ocupação portuguesa, a mata

atlântica cobria aproximadamente

38% do território mineiro (Machado

et. al., 1998). Hoje, está reduzida a

pouco mais de 3% de seu tamanho

original.

A fisionomia presente no Vale do

Mucuri é a Floresta Estacional

Semidecidual, formação esta condicionada por duas estações climáticas bem marcadas, uma seca e uma

chuvosa (de novembro a março). A precipitação anual varia de 1000 a 1200 mmm, e a temperatura média

anual de 17 a 24ºC. Difere das formações ombrófilas pela porcentagem de árvores (entre 20% e 50%),

que apresentam perda de suas folhas na estação seca.O Rio Mucuri nasce com o encontro dos rios Mucuri

do Norte e Mucuri do Sul, no município de Ladainha. Rio caudaloso percorre uma extensão de 321 km

por todo o Vale, formando áreas antes navegáveis, cachoeiras, até desaguar no mar, em Mucuri no Estado

da Bahia. Seus principais afluentes são os rios Todos Os Santos e Preto, pela margem direita, e os rios

Pampã e Marambáia, pela margem esquerda. Além destes, a bacia é formada por mais de 8.000 cursos

d’água, entre córregos, rios e ribeirões, e drena uma área de 18.177 km2.Os limites geográficos territoriais

do Vale do Mucuri são: a leste o Sul do Estado da Bahia e Norte do Espírito Santo; a norte a região do

Page 48: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

48

Médio Jequitinhonha de Minas Gerais, ao sul o Estado do Espírito Santo e região do Vale do Rio Doce e

a oeste a Região do Alto Jequitinhonha de Minas Gerais.

Os indicadores de Desenvolvimento Humano do Vale do Mucuri estão entre os piores do país. O índice

de analfabetismo é de 33% entre a população maior de 15 anos. O caso mais extremo é Novo Oriente de

Minas, com índices de 42,6 % de analfabetismo. Com relação ao acesso a recursos monetários, o IDHM -

Renda média dos municípios que compõem este Território é 0,55 e situa-se muito abaixo da média

estadual que é de 0,71. A expectativa de vida da população dos municípios da região é em média de 64

anos de idade e reflete as condições de saúde e salubridade do ambiente. Finalmente, as informações

sobre educação, longevidade e renda agrupadas indicam o médio desenvolvimento humano dos

municípios da regional, visto que o IDHM é de 0,63 muito aquém do IDH - estadual que é 0,76. E ainda,

42% dos municípios deste Território encontram-se entre os 50 municípios com os piores índices de

desenvolvimento humano do Estado. (IBGE. Atlas do Desenvolvimento Humano, 2000).

A maior parte dos problemas atuais é conseqüência histórica do modo de ocupação da paisagem, que

ocorreu de forma predatória, sem a necessária conservação dos recursos naturais. No território, é notória a

presença de grandes extensões de terra destinadas à pecuária intensiva e o direcionamento das políticas

públicas a este setor. Os incentivos governamentais e a extensão rural historicamente fomentam o

monocultivo, a mecanização e uso de insumos artificiais no campo. As conseqüências deste modelo de

agricultura são facilmente perceptíveis na paisagem: presença de pastagens degradadas e focos de

erosões, assoreamento dos córregos e de suas margens e a perda da produtividade das culturas agrícolas.

Para entendermos melhor esse processo de ocupação e, consequentemente, a degradação ambiental do

território, vamos percorrer um pouco da história das primeiras ocupações do Vale do Mucuri, e em

seguida apresentar a questão ambiental, a partir do diagnóstico rural participativo de 2005 e 2010,

elaborado pela Armicopa.

A diversidade étnica, cultural e de organização social da agricultura familiar inclui comunidades

tradicionais originadas por indígenas, afrodescendentes, migrantes e imigrantes. Os principais cultivos

são mandioca, milho, café, feijão, hortaliças, cana e banana. Predominam trabalho manual em pequenas

agroindústrias familiares ou comunitárias, sendo a produção voltada para o autoconsumo e

comercialização em feiras locais.

Vários dos parâmetros pesquisados como a posse, o tamanho e a relação com a terra, a relação com o

mercado e renda familiar, a migração de jovens e a educação formal dos adultos denunciam que

importantes limites e estrangulamentos para o desenvolvimento sustentável do Vale do Mucuri persistem

na maior parte das localidades onde vivem as famílias agricultoras.

O eixo sustentabilidade ambiental foi evidenciado nas oficinas de DRPA, com um nível de complexidade

muito alto. Os problemas de diminuição da qualidade e quantidade da água foram relatados por

agricultores e agricultoras de diversas comunidades, e em grande parte, estão relacionados pela destruição

Page 49: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

49

das Áreas de Preservação Permanentes (APPs) – topos de morros, nascentes, matas ciliares, encostas –

para sua utilização em práticas agropecuárias.

Apesar do grande número de nascentes e córregos que abastecem comunidades e originam os principais

rios, esses ambientes chamados de APPs, responsáveis pela proteção dos mananciais na maioria das vezes

encontram-se desmatados ou com vegetação escassa.

O excesso de desmatamento, a poluição do ambiente com lixo e o uso indevido de agrotóxicos foram

citados também como problemas importantes a serem enfrentados na melhoria das condições de vida do

campo.

A Conservação da Água foi indicada com prioridade na promoção da sustentabilidade ambiental e no

Desenvolvimento Sustentável do Território do Mucuri. Confirmando diagnósticos municipais e de

diversas comunidades distribuídas em todo o vale do Mucuri, a quantidade de água disponível vem se

reduzindo gradualmente ao longo dos anos; sua qualidade tem se deteriorado, e muitas pessoas são ainda

privadas ou tem acesso dificultado a fontes de água potável.

Em muitas localidades, há água contaminada por esgotos urbanos e rurais, mineração, criações de animais

e lixo. Na maioria dessas, não existe saneamento básico, e há enorme o número de residências sem

banheiros.

Também, foi denunciado que em algumas localidades do baixo Mucuri a construção de usinas

hidrelétricas estava impedindo a reprodução natural de peixes e afetando toda a população ribeirinha.

A degradação do Solo foi outro aspecto observado. Em muitas comunidades, a prática de um sistema de

manejo do solo que não assegura a sua conservação, favorecendo a erosão e o empobrecimento do solo, o

que compromete o sistema produtivo das famílias. Além disso, os processos erosivos contribuíram

fortemente para a redução da água descrita em todas as localidades do território.

O excesso de queimadas, o uso inadequado de máquinas, o plantio morro abaixo, a exposição do solo aos

agentes de erosão foram observados e relatados por todo o território. Da mesma forma, existem muitas

famílias que desenvolvem sistemas incorporando práticas de conservação do solo, e buscam desenvolver

inovações para recuperar a fertilidade da terra e a produtividade do sistema como um todo, incluindo

também diversificação de culturas.

Apesar da recorrência destes problemas, ainda são limitadas as iniciativas de educação ambiental, os

incentivos e a mobilização social para reversão deste quadro nas regiões e no território.

A região possuía apenas uma unidade de conservação, a Área de Proteção Especial Estadual "Todos

Santos", com 25.890 hectares, criada por meio de decreto em 1989, mas sem nenhuma efetividade. A

população residente desconhece o "status" da unidade, que deveria proteger as principais nascentes do

Rio Mucuri. As primeiras iniciativas para a proteção da área ocorreram, em 2005, com uma excursão de

mobilização para a organização do Comitê da Bacia do Todos os Santos. Em relação a RPPNs, estão

registradas apenas duas unidades entre setenta existentes no Estado, segundo dados disponíveis no

Instituto Estadual de Florestas.

Page 50: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

50

Análise Socio ambiental dos questionários aplicados em 2010

O georeferenciamento das localidades de agricultura familiar do

ocupação do território do Vale do Mucuri.

terra aumenta e as fazendas de gado

mais acidentadas, nas serras divisoras de águas entre

Mateus ao sul e do Alcobaça ao norte. Nestas

abastecem toda a bacia. No levantamento de campo,

quanto ao estado de conservação e condições de proteção,

Figura 12. Mapa de Recursos Hidricos

dos questionários aplicados em 2010

O georeferenciamento das localidades de agricultura familiar do Território mostrou claramente o modo de

ocupação do território do Vale do Mucuri. À medida que o relevo se torna mais suave,

gado dominam paisagem. A agricultura familiar

divisoras de águas entre as bacias dos rios Mucuri e Jequitinhonha,

norte. Nestas áreas se concentram as nascentes mais

levantamento de campo, as principais nascentes foram visitadas

quanto ao estado de conservação e condições de proteção, cujos dados são representados

Figura 12. Mapa de Recursos Hidricos

mostrou claramente o modo de

torna mais suave, a concentração da

familiar se concentra nas áreas

Mucuri e Jequitinhonha, do São

nascentes mais importantes que

foram visitadas e avaliadas

representados no mapa abaixo.

Page 51: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

51

Grafico 17. Fonte de Água que era utilizada para o consumo da família

O grande número de nascentes presentes nas áreas de agricultura familiar revela a importância dessas para

a sobrevivência e reprodução das famílias nas áreas. Como mostra o gráfico acima, 43,9% das famílias

entrevistadas têm a água de nascente na propriedade, como fonte de água utilizada para o consumo, sendo

utilizada no cuidado pessoal, alimentação, trato dos animais e plantios. Já, 18,2% tem as cisternas como

fonte de água, captada muitas vezes pela água da chuva; 9,1% possuem poço artesiano, 8,4% utilizam a

água de córrego. 6,1% possuem rede de abastecimento ou comunitária gratuita. Estas redes são

organizadas pela própria comunidade, e muitas vezes há uma pessoa responsável em monitorar a

distribuição e o bom funcionamento da rede. Adaptados ao meio e à cultura em que vivem e aos recursos

naturais que exploram, muitos desses/as agricultores/as demonstram excelentes gestores dos recursos

naturais. Dos entrevistados, 2,3% utilizam a rede da COPANOR e 10,3% outras alternativas.

Grafico 18. Encanemento de água

8,418,2

9,143,9

6,12,310,30,20,50,50,20,2

100

0 20 40 60 80 100 120

água de córrego

poço artesiano

rede de abastecimento municipal ou comunitária gratuita

outros

cisterna, água de nascente

nascente; abastecimento municipal

Total

Fonte de água que era utilizada para o consumo da

família.

69,9

21,3

8,9

100

0 20 40 60 80 100 120

Água encanada até dentro de casa

Água encanada até o quintal de casa

Não tem água encanada

Total

Encanamento da água das famílias.

Page 52: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

52

Em relação ao encanamento da água, 69,9% das famílias possuem água encanada até dentro de casa,

21,3% até o quintal de casa e 8,9% das famílias não possuem água encanada. Este último dado demonstra

que as famílias necessitam buscar a água, seja no córrego, poço artesiano etc. O gráfico abaixo se

relaciona à distância que essas famílias estão da fonte de coleta de água até a moradia.

Gráfico 19. Distância da fonte de coleta de água

Aproximadamente, 12% das famílias precisam buscar água, destas 5,4% têm a fonte até 100 m da casa,

4,7% entre 100 e 500 m da casa e 2,1% mais de 500 m da casa.

Gráfico 20. Qualidade de água utilizada para o consumo da família

Como vimos, mais de 70% das famílias possuem as nascentes, água do córrego, poços e cisternas como

fonte de água, e na maioria das vezes não têm conhecimento sobre a real qualidade da água utilizada. O

gráfico acima demonstra que 79,9% das famílias possuem água sem tratamento e sem contaminação

aparente e 15,4% a água sem tratamento, com possível contaminação doméstica ou animais. Somente

2,8% possuem água tratada e devem estar relacionadas às redes de distribuição, mostradas anteriormente.

5,4

4,7

2,1

86,9

0,9

100

0 20 40 60 80 100 120

Até 100 metros da casa

Entre 100 e 500 metros da casa

Mais de 500 metros da casa

Não se aplica

Não respondeu

Total

Distância da fonte de coleta de àgua até a moradia

da família.

79,9

15,4

1,2

0,2

2,8

0,5

100

0 20 40 60 80 100 120

Água sem tratamento e sem contaminação aparente

Água sem tratamento com possível cont. doméstica ou animais

Água com contaminação domestica ou de animais sem …

Água com contaminação por mineração ou indústria sem …

Água Tratada

Não respondeu

Total

Qualidade da água utilizada para o consumo da

família

Page 53: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

53

Apesar das inúmeras alternativas utilizadas para captação de água vista no território, nascentes, córregos,

poços e redes, muitas pessoas são ainda privadas ou têm acesso dificultado a fontes de água potável.

As principais fontes de contaminação da água são os esgotos urbanos e rurais, mineração, criações de

animais e lixo.

Gráfico 21. Tipo de esgotamento sanitário

Em relação ao tipo de esgotamento sanitário, demonstra que ainda existem famílias sem banheiros, 9,8%

e a maioria não possue rede de saneamento básico. 16,1% das famílias têm banheiro com fossa séptica.

57,5% têm banheiro com fossa negra. 10,7% possuem banheiros sem fossa. 4,9% das famílias possuem

banheiro com rede de esgoto sem tratamento e somente 0,9% com rede de esgoto e tratamento. Estes

dados estão fortemente ligados à qualidade das águas citada anteriormente, que muitas localidades

enfrentam pela falta de saneamento básico.

Gráfico 22. Destino do lixo doméstico e das atividades produtivas

O gráfico mostra que a situação, em relação ao destino do lixo doméstico e das atividades produtivos,

permanece como grande problemática a ser enfrentada. A queima dos resíduos alcança 73,3% utilizada

nas famílias entrevistadas, 17,3% despeja sobre o solo, e 3,1% enterra no solo. Dependendo do tipo de

lixo pode contaminar o solo, podendo chegar aos lençóis freáticos e córregos, rios e nascentes; e somente

10,7

57,5

16,1

0,9

4,9

9,8

100

0 20 40 60 80 100 120

Banheiro sem fossa

Banheiro com fossa negra

Banheiro com fossa séptica

Banheiro com rede de esgoto e tratamento

Banheiro com rede de esgoto sem tratamento

Não existem equipamentos sanitários

Total

Tipo de esgotamento sanitário.

73,3

3,1

17,3

4,5

1,3

0,2

100

0 20 40 60 80 100 120

Queima

Enterra no solo

Despeja sobre o solo

Coleta municipal

Outro

Não respondeu

Total

Destino do lixo doméstico e das atividades

produtivas.

Page 54: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

54

4,5% das famílias são beneficiadas pela coleta municipal do lixo.

A Lei das Águas e a criação dos Comitês de Bacia Hidrográficas

Em 1997, o Congresso Brasileiro normatizou a gestão e conservação de recursos hídricos com uma lei

que considera água um recurso vulnerável e finito. A Lei nº 9.433, denominada Lei das Águas, é a

reelaboração do Código das Águas Brasileiro de 1934.

Institui uma gestão participativa através dos Comitês de Bacia Hidrográfica, formados por representantes

dos usuários, sociedade civil e poderes públicos. A lei centraliza, na Agência Nacional das Águas (ANA),

a decisão final sobre projetos nas bacias hidrográficos (ORTEGA e TROMBIM, 2000). Apesar de

pressupor a participação da sociedade civil, os comitês têm priorizado os interesses empresariais que se

apressam na mobilização e organização devido à necessidade de regular o consumo.

(AGROANALYSIS,1998). Há outro aspecto relevante: a Lei ignora e afronta a gestão comunitária local

ao definir água como bem econômico, cuja disponibilidade deve ser autorizada por meio de outorga e

pagamento. Isto regula os grandes consumidores. Entretanto, e quanto aos pequenos consumidores, que

veem a água que têm zelado, gerido e conservado minguar, por ter sido outorgada para outros usos, como

ocorre nas disputas entre irrigantes e lavradores, ou entre empresas de energia e atingidos por barragens

(CAA, 2001)?

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Mucuri, criado em 2009, em fase de estruturação e formação, tem

em sua composição os segmentos distintos, sociedade civil, usuários e poderes públicos estaduais e

municipais. As questões principais debatidas são: controlar a poluição e esgotamento dos mananciais,

tratamento dos sistemas de saneamento dos esgostos das cidades do Vale, permeadas pela questão, o

“desenvolvimento” socioeconômico da região. Anseios privados demonstram o interesse de poucos de

introduzir a monocultura de eucalipto na região, como justificativa de modificar paisagens degradadas e

alternativa de renda e permanência do homem do campo.

Empresas, como Suzano Papel e Celulose, e Organizações da sociedade civil patrocinadas por estas

empresas compõem o Comitê.

Page 55: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

55

EIXO: POVOS TRADICIOAIS DO VALE DO MUCURI

Situação atual dos Povos e Comunidades Tradicionais

Nossos antepassados e nossos parentes mais novos estão enterrados aqui. Nossos filhos e a maioria de nós não sabe o que é viver sem guerra, sem discriminação e violência. Queremos a terra que é nossa por direito. Ela está molhada pelo sangue de nossos irmãos. Não é justo que seus corpos continuem pisados pelas patas dos bois. Queremos paz para fazer aldeias novas para casais jovens. Para fazer roças de onde tirar produto para fazer a religião. Precisamos do Rio Umburanas onde faremos de novo as pescarias sagradas! E então no terreiro da aldeia faremos uma linda casa de religião. E vamos fincar o mastro de Mimãnãu. E Topa virá anunciar para nós o futuro bom! E cantaremos noites e noites as nossas velhas canções! E cada homem, ao voltar para casa, saberá que na fogueira terá mandioca e batata cozinhando. E a mulher e os filhos felizes à sua espera.

(Carta dos Maxakali sobre a luta pela Terra, 1987)

Comunidades Indígenas

Figura 13. Mapa das áreas indígenas do Vale doMucuri

A população Maxacali possui demarcação de território constado na FUNAI, nos municípios de Ladainha

(Aldeia Verde), Teófilo Otoni (Aldeia Cachoeirinha), Bertópolis (Aldeia Pradinho) e Santa Helena

(Aldeia Água Boa).

Muito foi o preconceito encontrado das comunidades agricultoras com as comunidades tradicionais,

podendo haver reflexos destes olhares, sobretudo com os povos indígenas.

Há uma resistência relevante dos agricultores/as familiares e da população urbana com os índios, e até

mesmo certa tensão na relação entre eles.

Page 56: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

56

Houve a chegada do major Pinheiro, em Santa Helena, na década de 1970. A partir do seu contato com os

índios, o álcool foi introduzido na vida deles. Nesta época, conseguiram que os Maxacali formassem

exércitos entre si, que proporcionaram muitas brigas e agressões em seu meio. Segundo relatos, foi após

esse contato, que eles se tornaram agressivos em algumas situações com a população local, além da

dinâmica de entrar nas roças dos agricultores/as familiares para colher algum alimento cultivado. Foi a

partir daí que a relação entre as comunidades de Santa Helena e as aldeias indígenas passou a ser algo

conflituoso.

A terra que foi devolvida aos Maxacali é constituída, em sua maioria, por pastos, no qual praticam a

queimada, que gera mais conflitos com as comunidades, uma vez que o fogo é uma prática da cultura

indígena, intimamente ligada ao hábito de nômades que possuíam e/ou possui.

Existem fazendeiros em meio as suas terras, que também induzem o fogo. Ocorrem muitos conflitos entre

o povo Maxacali e os fazendeiros encontrados nos arredores do território ou mesmo entre as duas aldeias

(Pradinho e Água Boa). Por parte desses fazendeiros há exploração, indução de bebida, invasão do gado

no território bem como estratégias de manipulação para extermínio dessa população.

Esse modo de vida mais fechado, às vezes, mais agressivo, associado à resistência de manter a língua

maxacali, pode ser representado para nós como uma forma de resposta a tanta repressão e a tamanha falta

de respeito aos seus costumes e modos de vida. Com tanta marginalização desse povo, dificultar a real

percepção do seu meio é mais uma forma de resistência a tanta opressão e de manutenção da sua cultura

viva. Figura

Figura 14: Mapa das Comunidades Quilombolas

No território do Vale do Mucuri, encontram-se 05 comunidades quilombolas reconhecidas na Fundação

Cultural Palmares, sendo 04 em Ouro Verde de Minas (Água Preta de Baixo, Água Preta de Cima,

Carneiro e Santa Cruz) e 01 em Carlos Chagas (Marques). Acredita-se que existam muitas comunidades

Page 57: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

57

que ainda não foram reconhecidas como em Ataléia (Córrego dos Paulos), Pescador (Ferreira), Fronteira

dos Vales (Nunes, Prejuízo e Ventania), Teófilo Otoni (São Julião I) e Carlos Chagas (São Julião 2), que

se encontram em diferentes processos contextualizados a partir de suas especificidades.

Em Fronteira dos Vales, a comunidade de Ventania encontra-se em processo de auto-atribuição. Há a

percepção de que estão mais preocupados com o retorno financeiro que este reconhecimento trará.

Em muitas comunidades, observou-se muita resistência para relatar sobre as origens de ocupação daquele

território.

Algumas comunidades da região possuem históricos de ocupação semelhantes, assim como características

físicas, hábitos, núcleos familiares etc. com algumas comunidades que não se reconhecem quilombolas.

Estas comunidades estão perdendo a prática de suas atividades tradicionais. Em algumas localidades, por

exemplo, percebeu-se que lideranças evangélicas condenavam o alcoolismo. Parece que atividades como

o batuque estão sendo esquecidas, principalmente pela bebida está relacionada a esta prática. Além disso,

o êxodo dos jovens e a falta de interesse desses e de outros da comunidade com essas atividades

contribuem para a quase inexistência destas manifestações.

As denominações quilombos, mocambos, terra de preto, comunidades remanescentes de quilombos, comunidades negras rurais, comunidades de terreiro são expressões que designam grupos sociais afros-descendentes trazidos para o Brasil durante o período colonial, que resistiram ou, manifestamente, se rebelaram contra o sistema colonial e contra sua condição de cativo, formando territórios independentes onde a liberdade e o trabalho comum passaram a constituir símbolos de diferenciação do regime de trabalho adotado pela metrópole. (Fundação Cultural Palmares).

A comunidade de São Julião é remanescente quilombola, pertencente ao município de Teófilo Otoni, e se

destaca das outras dentro do município devido à preocupação com a cultura tradicional de seu povo, à

freqüência de atividades culturais e ao reconhecimento da origem quilombola por parte da população. Em

muitas outras situações durante a pesquisa expressões culturais afrodescendentes semelhantes às

vivenciadas em São Julião foram registradas, tais como práticas religiosas e festas. Existe muita memória

também do período de escravidão, vivido por antepassados próximos. Muitos relatam também a

descendência indígena, a recorrente história da bisavó pega no mato com cachorro bravo, ainda que a

maior parte dos entrevistados não tem uma identidade étnica, não conhece sua origem e a história da

família por mais de três gerações passadas.

Pela história da ocupação do Vale do Mucuri já se percebe a transferência dos índios para o agrego ou

escravidão nas fazendas. Com a derrubada da Mata e a concentração de terras, o grande número de povos

que ali vivia, migrou, guerreou entre si por causa de território, mas muitos se protegeram nas casas de

posseiros ou nas dependências das fazendas, outros, para assegurar a sobrevivência física, passaram a

viver como agricultores familiares.

Page 58: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

58

EIXO: AGRICULTURAS E ECONOMIAS

Breve caracterização dos agricultores familiares do território

São 24.762 famílias de agricultores, em 507 comunidades rurais, em todo o território do Vale do Mucuri

(IDENE e ARMICOPA, 2005). Desse total, aproximadamente, 16 mil famílias podem ser enquadradas no

Grupo B do Pronaf. Esse número equivale a 64% do total territorial, ou seja, o que indica, em média, a

grande representatividade desse grupo social nos municípios do Vale do Mucuri. A presença significativa

dos agricultores pobres no espaço territorial aparece associada à expressão que têm os agricultores do

Grupo C (cerca de 20% do total de famílias). Esse é o público de beneficiários do PST 2007/2008 do

território do Vale do Mucuri, considerando que, em 2006, apenas 27,9% delas tiveram acesso ao Pronaf.

As cadeias produtivas prioritárias do território, em que participam os agricultores familiares, são: pecuária

de corte e leite, mandioca e derivados, cafeicultura, cana-de-açúcar (aguardente), grãos (feijão e milho,

basicamente, e também arroz em várzea úmida, para autoconsumo), suinocultura e avicultura, fruticultura

(especialmente, banana, entre outras frutas), olericultura e piscicultura e apicultura (em menor escala de

importância).

De forma resumida, constata-se que as famílias de agricultores, em sua maioria, combinam:

(1) a produção de alimentos, especialmente mandioca, milho e feijão (lavouras com volume de produção

e nível de produtividade baixos e uso pouco intenso de força mecânica e insumos industriais, à exceção

da olericultura). Considere-se, igualmente, a cafeicultura de manejo pouco intensivo em alguns dos

municípios do território,

(2) a criação de pequenos e grandes animais (pecuária de corte e leite, aves e suínos), que serve como

forma de geração de renda (com a comercialização dos vários subprodutos), de poupança familiar (que

pode ser revertida em recursos monetários) e como fonte de alimentos (ovos, carne, leite e derivados),

(3) o beneficiamento de derivados da cana, leite e mandioca,

(4) a produção de mudas floríferas e frutíferas e de hortaliças e condimentos para consumo em alguns dos

municípios do território,

(5) e a obtenção de rendas monetárias, por intermédio de uma inserção mercantil reduzida

(comercialização dos excedentes na feira, no comércio local ou para laticínios e atravessadores,

especialmente), das migrações sazonais (especialmente para o trabalho em monoculturas no sul de Minas

Gerais, interior de São Paulo e norte do Espírito Santo), das diárias da venda da força de trabalho, da

aposentadoria e das políticas de assistência social. De um modo geral, entretanto, essas famílias produzem

em ambiente de circulação monetária restrita e sua renda depende de escassas fontes de recursos, dentro e

fora da unidade produtiva, e de fatores climáticos.

Em sua maioria, não tem condição de ampliar sua produção para fins comerciais (mesmos os produtores

de leite e café, produtos de grande importância comercial, enfrentam dificuldades para estabilizar sua

inserção mercantil). Isso porque, além das inúmeras dificuldades para beneficiar, transportar e

comercializar sua produção, os agricultores do Mucuri não tendem a tomar suas decisões produtivas com

Page 59: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

59

base nos mercados nacionais ou internacionais de commodities agrícolas, porém esperam garantir a

provisão dos recursos materiais para sustentar os membros da família e a criação animal a cada ciclo

produtivo e suavizar as oscilações sazonais de sua renda. São essas as metas que determinam, em grande

parte, as estratégias familiares de produção e comercialização na região. Para o cumprimento dessas

metas, o trabalho familiar, com a utilização de todas as forças plenas (homens e mulheres adultos) e

periféricas (idosos e jovens), é de fundamental importância.

Pode-se concluir, a partir das principais características do desenvolvimento rural do Vale do Mucuri, que

as localidades dispersas nesse território têm características diversas e os entraves relacionados aos

sistemas de produção, à agregação de valor e à comercialização são complexos e variados, somados,

ademais, aos problemas ambientais (assoreamento dos rios, degradação do solo, das nascentes dos rios e

das matas ciliares). Esses problemas, mais recentemente, intensificaram-se com a expansão da cultura

canavieira e dos maciços florestais de eucalipto, a partir da expansão das atividades das empresas de

papel e celulose, atuantes nos estados do Espírito Santo e da Bahia.

Tais características sinalizam que a aplicação das políticas públicas deve se dar de modo a articular os

instrumentos que favoreçam a entrada de uns nos mercados (particularmente, os agricultores enquadráveis

no Grupo B do Pronaf) e a estabilização da inserção mercantil de outros (Grupos C, basicamente, e

também do D), o que significa, tanto em um caso como no outro, a consolidação dos sistemas produtivos

em bases apropriadas e autônomas. Isso inclui o acesso dos agricultores ao crédito, à assistência e à

capacitação e os investimentos em infraestrutura de transporte, beneficiamento e comercialização — a

associação dos recursos do Pronaf e da assistência técnica aos programas de comercialização permite,

sem dúvida, um grande salto qualitativo. Este documento trata, em particular, das metas do crédito, da

assistência técnica e capacitação e da comercialização, via mercados institucionais.

Aspectos Econômicos do Território

Considerando a ocupação histórica do território, a mineração (basicamente, reservas naturais de rochas e

gemas, incluindo extração, beneficiamento e comercialização) e a pecuária, bastante integradas no

período inicial da colonização, foram as atividades econômicas decisivas para a ocupação do território,

permanecendo ainda determinantes na conformação da base produtiva regional. Note-se, no entanto, que

“a história da ocupação do vale do Mucuri está intimamente associada à controversa figura de Teófilo

Benedito Otoni e seu ousado projeto de garantir uma ligação entre a região de Minas Novas e o litoral e,

por essa via, incrementar o desenvolvimento de toda a região do Jequitinhonha e do Mucuri”, incluindo a

presença dos imigrantes europeus em uma região em que já estavam vários grupos indígenas e

comunidades quilombolas (MESOVALES, p. 35, 2005).

Atualmente, a região do Mucuri continua a se integrar na economia estadual e nacional por meio de sua

especialização no comércio de pedras semipreciosas e na exportação de produtos agropecuários de baixo

valor agregado, especialmente da pecuária leiteira. Em 2004, os Vales do Mucuri e do Jequitinhonha, que

Page 60: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

60

constituem uma mesma região de planejamento do governo estadual mineiro com 66 municípios e pouco

mais de 5% da população do estado, contribuíram com 1,87% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual. O

que predomina nas duas regiões é uma pecuária extensiva e uma agricultura de subsistência, tendo ambas

padrões tecnológicos de baixa sustentabilidade:

“Teófilo Otoni e Nanuque são os principais centros urbanos [do território do Vale do Mucuri] (...). Apesar

de serem predominantemente agrícolas, sobressaem, também, indústrias de beneficiamento de produtos

agrícolas, da pecuária e do extrativismo, sobretudo madeira e pedras preciosas. Teófilo Otoni constitui-se

como o maior centro lapidatório do Brasil, possuindo hoje cerca de três mil oficinas de lapidações”

(Ibidem, p. 36). Os dois municípios contribuem, respectivamente, com 0,33% e 0,12% do PIB de Minas

Gerais. Já os municípios de Itaipé e Caraí integram um dos eixos da cafeicultura em Minas Gerais

(formado por Capelinha, Angelândia, Minas Novas, Novo Cruzeiro, Itaipé e Caraí) e a microrregião

Leste, pelas características do relevo plano e da concentração fundiária, é área de expansão de maciços

florestais de eucalipto e da cultura canavieira (atividades que se expandem, especialmente, a partir do

norte do Espírito Santo e do sul da Bahia, como se explanará adiante). Nessa microrregião, encontra-se

também uma bacia leiteira mais bem estruturada, contando com a presença, inclusive, de

empreendimentos associativos e cooperativos. Observe-se, no entanto, que a presença de

empreendimentos cooperativos de maior porte sediados na região é, de um modo geral, bastante reduzida.

Ocorre, então, uma especialização regional na atividade agropecuária e certa divisão intra-regional do

trabalho no que se refere às atividades industriais (concentrada em alguns poucos municípios), sendo que

a maioria das indústrias está fortemente vinculada ao setor agropecuário e de alimentos. De um modo

geral, porém, predominam no território um dinamismo econômico pouco intenso e a escassez das

oportunidades de ocupação e geração de renda, sendo as transferências e os repasses governamentais uma

importante fonte de receita dos municípios que compõem esse território.

A precariedade da infraestrutura é um fator limitante do desenvolvimento regional, pois dificulta tanto a

produção quanto a comercialização dos produtos regionais, isso porque a região:

(a) possui uma malha rodoviária (são 17.420 km, incluindo as rodovias federais e estaduais e as estradas

vicinais, segundo o Projeto Territorial 2004) em condições pouco transitáveis em vários trechos, a se

considerar as ligações entre municípios ou entre a sede dos municípios e as comunidades rurais. Quanto

às estradas vicinais, são vários trechos de chão batido, em condições de tráfego bastante prejudicadas,

especialmente no período em que as chuvas se intensificam. As demandas dos representantes municipais

vão de mata-burros e bueiros à construção de pontes e nivelamento dos pontos críticos, além de meios de

transporte (ônibus e/ou caminhão) para transportar os produtores e seus produtos às feiras e mercados

municipais;

(b) ocorre uma baixa oferta de energia elétrica, nos municípios rurais, frente às necessidades de agregação

de valor aos principais produtos agropecuários, como a mandioca e o leite (segundo o Projeto Territorial

2004, estima-se que 58% das propriedades rurais são eletrificadas, sendo possivelmente uma das regiões

Page 61: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

61

com menor oferta de energia elétrica no meio rural de Minas Gerais). Essa restrição na oferta afeta a

instalação ou o funcionamento de unidades comunitárias de processamento dos principais produtos do

território, especialmente no caso da mandioca, da cana e do leite;

(c) apresenta débeis avanços no que tange aos aspectos sanitários dos produtos oriundos da produção

animal, pois, são raros os serviços de vigilância sanitária, fundamentais para a qualidade dos derivados do

leite. Também são precários os serviços de apoio à melhoria genética do rebanho regional (zootecnia e

fitotecnia);

(d) permanece expressiva a ausência de frigoríficos e abatedouros municipais, bem como de viveiros de

mudas e bancos de sementes municipais (fatores limitantes, tendo-se em conta as demandas para a

expansão dos sistemas produtivos familiares);

(e) considerando a importância da cultura da mandioca e dos seus derivados para a economia regional,

porém, particularmente, para as economias domésticas (“a mandioca faz parte da cultura da população

regional” e dela são produzidos a farinha, a goma, o beiju e o grolão, segundo ARMICOPA, 2005e), são

necessárias, além da implantação de unidades de beneficiamento, a adaptação das casas de farinha já

existentes às exigências sanitárias, a padronização da produção (MESOVALES, 2005) e a capacitação

dos produtores nos aspectos relacionados à qualidade e à embalagem dos produtos e às demandas do

mercado consumidor;

(f) existem poucos equipamentos públicos de armazenamento e comercialização dos produtos da

agropecuária regional, incluindo as áreas apropriadas para as tradicionais feiras e os entrepostos,

(g) e ocorre baixa titulação das terras na região, problema detalhado a seguir.

O Vale do Mucuri enfrenta ainda graves problemas de regularização fundiária e acesso à terra. Em

relação ao perfil agrário da região, há agricultores sem terra, que trabalham em comodato ou parceria, e

agricultores na condição de posseiros (que ocupam, em geral, terras devolutas) e de herdeiros (que estão

em terras cedidas pelo ou parente). A terra de herdeiros advém de situações em que há a cessão de

herança, com o fracionamento de uma unidade produtiva em sucessivas gerações. Note-se que,

dificilmente, é feita a regularização das novas unidades produtivas que se formam a partir do

fracionamento pelos custos financeiros e de transição envolvidos nesse procedimento. São agricultores

que foram diretamente afetados pelas transformações econômicas pelas quais passou o Vale do Mucuri,

ao longo das últimas décadas, e pelas formas de apropriação privada das terras que delas resultaram.

A questão fundiária pode ser um entrave no acesso ao crédito, pela falta de terras para o desenvolvimento

dos projetos de investimento (o tamanho da área disponível para o agricultor define o montante do

projeto) ou pelas dificuldades em comprovar a posse em caso de crédito pleiteado por agricultores dos

grupos C, D e E, ainda que as normas do Pronaf indiquem que o acesso possa ocorrer sem a exigência de

garantias materiais e a agricultores que detenham a posse pacífica do imóvel rural.

A comprovação da posse da terra que será explorada pode ser feita por intermédio da escritura, título,

contrato de arrendamento, parceria, comodato, meação ou similar ou outro registro que comprove a

Page 62: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

62

propriedade sobre o imóvel. O STR pode homologar o contrato, o que institucionaliza a situação, ou pode

emitir uma declaração de posse do imóvel, no caso de posseiros, assinada por duas testemunhas (é

admissível uma declaração dos confinantes). É interessante notar, todavia, uma das muitas dificuldades a

respeito da comprovação da posse das terras: no caso de unidades produtivas fracionadas entre a família

do detentor de sua posse (geralmente, o pai) e a dos filhos, a referência para a emissão do documento de

posse pelo STR é o título originário da terra, que pode não expressar o tamanho real da unidade

produtiva, ampliada por eventuais aquisições de terras pelos herdeiros. Os custos e as dificuldades dos

trâmites burocráticos são uma barreira para a regularização dos vários arranjos feitos pelos agricultores no

decorrer das gerações.

Sobre a questão fundiária, dois procedimentos, entre outros, são necessários, então, para enfrentar essa

questão no território: a regularização fundiária e/ou legitimação das posses e o reassentamento (seja pela

política de reforma agrária ou pelo programa de crédito fundiário), especialmente a se considerar a

situação dos filhos dos agricultores e o intenso fracionamento das unidades familiares de produção.

Page 63: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

63

DADOS DO DIAGNÓTICO ECONÔMIC

Composição da Renda Familiar

O total de 12,6% das famílias, cujos homens não

casas onde as mulheres, além de todas as tarefas já lhe são atribuídas rotineiramente, agora estão

garantindo o sustento de toda a sua família. Acontece ainda d

beneficiamento das matérias primas oriundas das produções da unidade sendo esta atividade nem sempre

considerada agregação de valor ao produto e contribuição na renda familiar.

Gráfico 23- Composição da renda familiar

Gráfico 24. Mulheres que contribuem para a

67,5% das famílias têm um único homem como provedor de renda

trabalhos agrícolas ou não.

ECONÔMICO DA AGRICULTURA FAMILIAR

Composição da Renda Familiar

s homens não contribuem para a renda familiar

casas onde as mulheres, além de todas as tarefas já lhe são atribuídas rotineiramente, agora estão

garantindo o sustento de toda a sua família. Acontece ainda de a mulher se responsabilizar pelo

das matérias primas oriundas das produções da unidade sendo esta atividade nem sempre

considerada agregação de valor ao produto e contribuição na renda familiar.

Composição da renda familiar

Gráfico 24. Mulheres que contribuem para a composição da renda familiar

m um único homem como provedor de renda, sendo este dinheiro

para a renda familiar, chama atenção para as

casas onde as mulheres, além de todas as tarefas já lhe são atribuídas rotineiramente, agora estão

a mulher se responsabilizar pelo

das matérias primas oriundas das produções da unidade sendo esta atividade nem sempre

sendo este dinheiro proveniente de

Page 64: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

64

Fonte de Renda Gráfico 25- Principal fonte de renda das famílias do Vale do

42,8% das famílias possuem como principal fonte de renda a aposentadoria ou pensão, seguidos pelos

19,2% que têm como via produtos agrícolas

caso, devido às atuais dificuldades para o plantio, as pessoas de

adquirir seus alimentos nos mercados. Vários fatores levam a este cenário: enfraquecimento da terra

sendo necessário o uso de insumos, uso de sementes melhoradas, invasão da monocultura do eucalipto,

diminuição dos fluxos d’água, políticas p

No entanto, somente 6,3% dos envolvidos consideram os programas de renda mínima como sua principal

fonte de renda, mostrando que muitas famílias ainda não fazem desse seu

A criação de animais representa uma porcentagem irrisória nesta modalidade de renda, somando todas as

espécies, teremos pouco mais de 1%, porém a obtenção de leite provinda da bovinocultura, muitas vezes

mista, é renda principal de 7,5%

programas como o PCPR, que estimula amplamente a atividade, beneficiando o

animais e equipamentos necessários para a atividade

também tem grande participação no incentivo da bovinocultura leiteira

uma das ações mais freqüentes da entidade.

Principal fonte de renda das famílias do Vale do Mucuri

famílias possuem como principal fonte de renda a aposentadoria ou pensão, seguidos pelos

via produtos agrícolas, reafirmando sua cultura e manejando sua terra. No primeiro

s atuais dificuldades para o plantio, as pessoas deixam geralmente de produzir e passam a

adquirir seus alimentos nos mercados. Vários fatores levam a este cenário: enfraquecimento da terra

sendo necessário o uso de insumos, uso de sementes melhoradas, invasão da monocultura do eucalipto,

luxos d’água, políticas públicas que mais aprisionam do que emancipam o agricultor/a.

somente 6,3% dos envolvidos consideram os programas de renda mínima como sua principal

fonte de renda, mostrando que muitas famílias ainda não fazem desse seu principal recurso.

A criação de animais representa uma porcentagem irrisória nesta modalidade de renda, somando todas as

espécies, teremos pouco mais de 1%, porém a obtenção de leite provinda da bovinocultura, muitas vezes

das famílias. Neste contexto, vale a pena analisar a influ

que estimula amplamente a atividade, beneficiando o

animais e equipamentos necessários para a atividade, como o tanque de resfriamento. A EMATER

ambém tem grande participação no incentivo da bovinocultura leiteira, através do programa balde cheio,

uma das ações mais freqüentes da entidade.

famílias possuem como principal fonte de renda a aposentadoria ou pensão, seguidos pelos

reafirmando sua cultura e manejando sua terra. No primeiro

ixam geralmente de produzir e passam a

adquirir seus alimentos nos mercados. Vários fatores levam a este cenário: enfraquecimento da terra,

sendo necessário o uso de insumos, uso de sementes melhoradas, invasão da monocultura do eucalipto,

e mais aprisionam do que emancipam o agricultor/a.

somente 6,3% dos envolvidos consideram os programas de renda mínima como sua principal

principal recurso.

A criação de animais representa uma porcentagem irrisória nesta modalidade de renda, somando todas as

espécies, teremos pouco mais de 1%, porém a obtenção de leite provinda da bovinocultura, muitas vezes

vale a pena analisar a influência de

que estimula amplamente a atividade, beneficiando o/a agricultor/a com

como o tanque de resfriamento. A EMATER

através do programa balde cheio,

Page 65: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

65

Gráfico 26- Segunda fonte de renda das famílias agricultoras familiares no Vale do Mucuri

É importante iniciar com o dado de que 30,8% das famílias não t

essas geralmente aquelas que têm como primeira renda aposentadoria ou pensão.

Da totalidade, 22% têm nos produtos agrícolas sua segunda fonte de renda

terem grande excedente para comercializar e ter nessa atividade sua principal fonte de renda, ela completa

o orçamento do/a agricultor/a e ainda lhe confere autonomia

parte de sua produção para o consu

Gráfico 27- Fonte renda eventual das famílias agricultoras familiares no Vale do Mucuri

Aproximadamente 70% das famílias não possuem eventual fonte de renda

das outras contribuições citadas. Uma vez que s

ser dependente de uma ou duas possibilidades de renda. O ideal seria a diversidade do sistema

permitindo a geração de fontes de rendas variad

agricultor/a pudesse lançar mão de outras formas de comercialização e obtenção de renda.

Segunda fonte de renda das famílias agricultoras familiares no Vale do Mucuri

e iniciar com o dado de que 30,8% das famílias não têm uma fonte secundária de renda, sendo

m como primeira renda aposentadoria ou pensão.

m nos produtos agrícolas sua segunda fonte de renda, mostrando q

terem grande excedente para comercializar e ter nessa atividade sua principal fonte de renda, ela completa

agricultor/a e ainda lhe confere autonomia, uma vez que o mesmo consegue estocar

parte de sua produção para o consumo de sua família

Fonte renda eventual das famílias agricultoras familiares no Vale do Mucuri

Aproximadamente 70% das famílias não possuem eventual fonte de renda, sendo estas então dependentes

das outras contribuições citadas. Uma vez que se almeja a emancipação do/a agricultor/a

ser dependente de uma ou duas possibilidades de renda. O ideal seria a diversidade do sistema

de rendas variadas e, num momento de crise ou fase improdutiva

agricultor/a pudesse lançar mão de outras formas de comercialização e obtenção de renda.

Segunda fonte de renda das famílias agricultoras familiares no Vale do Mucuri

m uma fonte secundária de renda, sendo

m como primeira renda aposentadoria ou pensão.

mostrando que apesar de não

terem grande excedente para comercializar e ter nessa atividade sua principal fonte de renda, ela completa

uma vez que o mesmo consegue estocar

mo de sua família

Fonte renda eventual das famílias agricultoras familiares no Vale do Mucuri

sendo estas então dependentes

agricultor/a, este não deverá

ser dependente de uma ou duas possibilidades de renda. O ideal seria a diversidade do sistema,

num momento de crise ou fase improdutiva, o/a

agricultor/a pudesse lançar mão de outras formas de comercialização e obtenção de renda.

Page 66: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

66

Cerca de 7% das famílias têm como renda eventual a comercialização de pequenos animais e fica curioso

vislumbrar então que a criação desses animais constitui, no contexto geral, representa a maior fonte de

renda eventual para essas famílias, mostrando a criação para autoconsumo e comercialização de possível

excedente.

Políticas Públicas

Tabela 11- Famílias atendidas por programas de combate a pobreza rural no Vale do Mucuri

Sua família é beneficiada por algum programa governamental de combate a pobreza e desnutrição?

2005 2010

Não 43,1 53,2 Programa Bolsa família 53,6 34,3 Programa Leite pela Vida 0,9 2,6 Outro 0,7 0,7 Mais de um programa 1,7 5,8 Beneficio prestação continuada ao idoso 0 2,1 Benefício prestação cont. ao deficiente 0 1,2

Tabela 12. Acesso a Programas governamentais de infrestrutura e saneamento

Acesso a programa governamental de infraestrutura e saneamento nos últimos 3 anos? 2005 2010 Não 91,6 76,2 Programa "Feijão pela Vida" 3,8 0 Outros 1,8 1,8 Minas Sem Fome 2,8 9,7 PCPR 0 4,3 PAA 0 1,2 Minas sem fome, PCPR 0 5,5 PAA; minas sem fome; PCPR 0 1,2

Apesar desses programas serem bem abrangentes e estarem disseminados em todo o país, na região,

52,6% das famílias ainda não recebem auxílio algum. O programa bolsa família é o mais acessado e

atende à 33,9% das famílias. É um programa de renda mínima e beneficia famílias que recebem até

140,00 reais por pessoa.

5,8% recebem mais de um dos auxílios citados.

O programa “Leite pela vida” atende família com crianças, jovens e idosos, porém muitas famílias não

recebem o beneficio por não se enquadrarem ns pré-requisitos, mas por não terem como buscar, em dias

alternados, o leite na sede do município. Inúmeros são os/as agricultores/as que não possuem um veículo

para transporte e inúmeras são as comunidades que não possuem transporte público, dificultando mesmo

o acesso das pessoas aos centros urbanos.

Page 67: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

67

O programa de prestação continuada ao idoso e ao deficiente atende 2,1% e 1,2%, respectivamente, das

famílias, valor baixo comparado à demanda, devido ao fato de muitas vezes as pessoas desconhecerem a

existência do programa.

Tabela 13- A família atendidas pelo financiamento de algum programa de crédito para agricultura familiar

Acesso as linhas 2005 2010

Não 66,78 52,8

PRONAF A 2,51 3,0

PRONAF B 24,52 31,8

PRONAF C 3,43 5,4

PRONAF D 0,33 2,3

PRONAF jovem - 0,2

PRONAF mulher - 0,5

Banco do Nordeste 0,08 0,5

PRONAF A ; PRONAF B. 0,33 0,5

PRONAF B: PRONAF C 0,33 1,2

PRONAF B; PRONAF jovem - 0,2

Não se aplica. 0,42 -

Não respondeu 1,26 1,6

Total 100,0 100,0

Para o PRONAF, agricultores familiares são aqueles cuja renda familiar provém 80% da atividade

agropecuária. Ainda, são os que detêm ou exploram estabelecimentos com área de até quatro módulos

fiscais, que exploram a terra na condição de proprietário, meeiro, parceiro ou arrendatário, utilizando

mão-de-obra predominantemente familiar. Podendo manter até dois empregados permanentes,

residem no estabelecimento ou em aglomerado rural ou urbano próximo dele, e geram uma renda

anual máxima de até vinte e sete mil e quinhentos reais.

Das famílias entrevistadas, 37% possuem como renda principal atividades agropecuárias, o que não

quer dizer que sejam 80%, podendo ser mais ou ser menos.

32% das famílias ainda não possuem documentação da terra, e dentre os que possuem a

documentação em diversos casos se encontra no nome do sogro, pai, mãe ou outro parente próximo.

Dessa forma, embora o programa tenha crescido quase 14% nos últimos 05 anos no Vale do Mucuri,

não atende a todos os agricultores, pois acaba por excluir alguns pequenos proprietários,

principalmente, os que produzem para o autoconsumo da família.

Nesse quadro pode-se inserir boa parte dos camponeses e camponesas do Vale do Mucuri onde, de

acordo com a pesquisa, 81,5% das famílias possuem propriedades de até 50 ha. 42,8% dos

agricultores, agricultoras e familiares não concluíram o ensino fundamental e 62,6% o ensino médio.

63% afirmam não ter acesso à assistência técnica, e 52,8% aos programas de crédito.

Page 68: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

68

Gráfico 28- Porcentagens de famílias agricultoras familiares que possuem o cartão do Produtor Rural no

Vale do Mucuri

Nesta pesquisa, 78% das famílias não possuem

necessário para legitimar a comercialização e o transporte dos produtos produzidos pelo agricultor

familiar. O cartão certifica a aplicação das vacinas obrigatórias para bovinos e também o plantel do

criador sem, no entanto, fornecer nenhum tipo de informação sobre os outros animais presentes no

sistema do agricultor.

Não há ainda nenhuma forma de incentivo à vacinação desses outros animais. Além disso, faz

necessário que o produtor se dirija ao esc

agregadas ao cartão, bem como para a sua criação.

Produção

Tabela 14. Produção agropecuária das famílias agricultoras familiares no Vale do Mucuri.

Produção Agropecuária das FamíliasProduz para Comercialização e para autoProduz para autoconsumoProduz apenas para comercializarNão produz nada Não se aplica Não respondeu. Total

A Diversidade de produtos comercializados compõe

derivados, cereais e pequenos animais.

Porcentagens de famílias agricultoras familiares que possuem o cartão do Produtor Rural no

78% das famílias não possuem cartão do Produtor Rural. Em 2005

necessário para legitimar a comercialização e o transporte dos produtos produzidos pelo agricultor

familiar. O cartão certifica a aplicação das vacinas obrigatórias para bovinos e também o plantel do

criador sem, no entanto, fornecer nenhum tipo de informação sobre os outros animais presentes no

Não há ainda nenhuma forma de incentivo à vacinação desses outros animais. Além disso, faz

necessário que o produtor se dirija ao escritório mais próximo de sua casa para obter as informações

agregadas ao cartão, bem como para a sua criação.

Produção agropecuária das famílias agricultoras familiares no Vale do Mucuri.

Produção Agropecuária das Famílias ara Comercialização e para autoconsumo

Produz para autoconsumo Produz apenas para comercializar

comercializados compõe a renda das famílias, desta

derivados, cereais e pequenos animais.

Porcentagens de famílias agricultoras familiares que possuem o cartão do Produtor Rural no

2005, eram 82%. Ele se faz

necessário para legitimar a comercialização e o transporte dos produtos produzidos pelo agricultor

familiar. O cartão certifica a aplicação das vacinas obrigatórias para bovinos e também o plantel do

criador sem, no entanto, fornecer nenhum tipo de informação sobre os outros animais presentes no

Não há ainda nenhuma forma de incentivo à vacinação desses outros animais. Além disso, faz-se

ritório mais próximo de sua casa para obter as informações

Produção agropecuária das famílias agricultoras familiares no Vale do Mucuri.

2005 2010 61 53,7 37,32 42,3 - 2,6 - 1,2 0,66 - 1,2 0,2 100 100

a renda das famílias, destacando-se o leite e seus

Page 69: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

69

53,7% das famílias entrevistadas produzem para autoconsumo e comercializam o excedente da

produção. Em relação a 2005, houve uma diminuição de 7,3% na produção para comercialização dos

excedentes e um aumento de 4,98% na produção para autoconsumo familiar. Dentre as famílias que

produzem produtos agropecuários, exclusivamente, para o autoconsumo, 55,62% possuem como

renda primária aposentadoria ou pensão, caracterizando uma agricultura pouco intensiva em capital

devido à composição familiar predominantemente com idosos e crianças.

Contudo autoconsumo é um indicativo da sustentabilidade quanto a reprodução familiar e soberania

alimentar da agricultura camponesa familiar. De acordo com o DESER (2003/2004), um dos

elementos estratégicos do desenvolvimento sustentável da agricultura está na produção para o

consumo interno. Assim, a renda total de uma propriedade não advém, essencialmente, da renda

monetária, mas também da renda não monetária, oriunda da contabilização da produção destinada

para o consumo interno. Desta forma, a produção destinada para o autoconsumo torna-se uma renda,

principalmente porque diminui as despesas com a manutenção alimentar e de saúde, garantindo

qualidade de vida e a própria segurança alimentar.

É importante notar ainda em relação à família, que a prática de produzir a própria alimentação

geralmente é realizada pelas mulheres, talvez seja esse um dos motivos para a invisibilidade

econômica da produção para autoconsumo familiar, uma vez que para as mulheres

Tabela 15. Principais Produtos Agropecuários Produzidos Para Fins de Comercialização

Principais Produtos Agropecuários Produzidos Para Fins de 2005 2010

Café 12,31 6,7 Farinha e goma 13,99 7,44 Cereais (arroz, feijão milho) 9,87 6,2 Frutas 5,69 1,42 Hortaliças e legumes 5,48 4,84 Leite e derivados 10,20 9,68 Gado 5,04 2,24 Pequenos animais 9,92 6,26 Cachaça e outros derivados de 1,42 1,42 Não comercializa produtos 2,72 2,72

Outro 0,71 0,71 Não se Aplica 21,61 21,61 Artesanato - 1,03 Não comercializa produtos agropecuários - 7,54 Não Respondeu 13,29 -

Total 100 100

Page 70: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

70

Em relação a 2005, as culturas de Cereais (arroz, feijão e milho) e Cachaça e outros derivados de cana de

açúcar permaneceram praticamente iguais.

As produções de café, farinha e goma, frutas, hortaliças e legumes diminuíram, ao mesmo tempo que as

produções de gado e leite e derivados foram as únicas que tiveram crescimento na produção. Indicando o

processo de pecuarização da agricultura familiar e expansão das culturas de eucalipto, fato explicado pela

dificuldade de se manter no campo devido a diversos fatores que vão além das práticas degradativas de

uso do solo que diminuem sistematicamente as produções, e perpassam por limitantes educacionais, de

saúde, e de infraestrutura em geral repercutindo na escolha por atividade que demandam menos mão-de-

obra para execução.

Tabela 16- Como as famílias agricultoras familiares do Vale do Mucuri comercializam sua produção.

2005 2010 Venda em feiras livres 18,17 17,2 Venda para atravessadores locais 26,95 14,9 Venda para associações e cooperativas 2,98 5,2 Venda direta para escolas e prefeituras 0,1 2,0 Venda para comercio local 13,85 13,7 Outra 2,83 8,7 Venda para vizinhos. 0,3 _ Não de aplica 11,6 38,0 Não respondeu. 23,2 _ Total 100,0 100,0

A venda em feiras livres teve uma pequena retração, em relação a 2005. A venda para atravessadores

locais teve uma queda acentuada. O comércio local praticamente não se alterou. A venda para escolas

e prefeituras teve um tímido crescimento, mostrando a pouca adesão dos agricultores familiares

camponeses do Vale do Mucuri ao programa de compra direta da agricultura familiar para a merenda

escolar.

O acesso ao mercado ainda é um grande desafio a ser enfrentado pelas camponesas e camponeses, já

que o modelo de comércio imposto, baseado nas grandes redes de supermercados, aliado à pressão

imposta pela indústria com seus alimentos e à subordinação e apropriação do excedente do trabalho

exercida pelo capital, muitas vezes desestimula a produção agrícola familiar.

Conservando as mesmas características há centenas de anos, as feiras têm substituído a tecnologia dos

modernos supermercados pela simplicidade e o contato direto entre feirantes e compradores,

eliminando assim o atravessador. Os camponeses comercializam produtos com significativa diferença

de qualidade e proporcionam a população urbana o acesso a alimentos saudáveis.

Com isso, as famílias agricultoras estão contribuindo para a conservação da agro-biodiversidade dos

recursos hídricos, e da conservação dos solos com possibilidade de planejar suas ações e participações na

Feira, mantendo sua produção e reprodução, definindo os produtos a serem comercializados e a forma de

produção.

Page 71: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

71

Além disso, historicamente, houve pouco reconhecimento do valor da mulher na produção da

agricultura, já que muitas vezes não era permitido que as mulheres tivessem acesso às fontes de renda

direta da família. A realidade começa a ser modificada e a Feira contribui de forma significativa para isto.

Tabela 17- Beneficiamento dos produtos agropecuários.

Os produtos comercializados possuem beneficiamento? 2005 2010 Não, são vendidos in-natura 12,11 20,6 Não, são vendidos in-natura por falta de equipamentos para o 26,78 11,4 Sim, são beneficiados com os equipamentos da associação local 1,99 3,3 Sim, são beneficiados com os equipamentos da cooperativa 0,33 0,9 Sim, são beneficiados com os equipamentos da prefeitura 0,25 - Beneficiados com equipamento próprio 11,53 13,3 Beneficiados com Equipamento de terceiros 4,98 7,2 Não de aplica 13,35 42,8 Não respondeu. 28,69 - Total 100,0

Aumentou a porcentagem de alimentos vendidos in natura em 8,49%, ao mesmo tempo em que subiu em

15,38% o número de famílias que alegaram não beneficiar os produtos por falta de equipamentos.

O beneficiamento agrega valor aos produtos agrícolas, contribuindo para melhoria da alimentação e

nutrição familiar e ao abastecimento alimentar local com maior qualidade.

No entanto, diversas são as dificuldades enfrentadas pela agricultura familiar para consolidar projetos de

beneficiamento dos seus produtos: incapacidade para instalar e operar equipamento, carência de

assistência técnica, inacessibilidade às embalagens competitivas, incapacidade de gestão da atividade e

legislação sanitária inadequada para empreendimentos de pequeno porte, além de outros entraves.

Tabela 18- A família atendidas pelo financiamento de algum programa de crédito para agricultura familiar

2005 2010 Não 66,78 52,8 PRONAF A 2,51 3,0 PRONAF B 24,52 31,8 PRONAF C 3,43 5,4 PRONAF D 0,33 2,3 PRONAF jovem - 0,2 PRONAF mulher - 0,5 Banco do Nordeste 0,08 0,5 PRONAF A ; PRONAF B. 0,33 0,5 PRONAF B: PRONAF C 0,33 1,2 PRONAF B; PRONAF - 0,2 Não se aplica. 0,42 - Não respondeu 1,26 1,6 Total 100,0 100,0

Page 72: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

72

Das famílias entrevistadas, 37% possuem como renda principal atividades agropecuárias, o que não

quer dizer que seja 80%, podendo ser mais ou ser menos.

32% das famílias ainda não possuem documentação da terra, e dentre os que possuem a

documentação em diversos casos se encontra no nome do sogro, pai, mãe ou outro parente próximo.

Dessa forma embora o programa tenha crescido quase 14% nos últimos 5 anos no Vale do Mucuri,

não atende a todos os agricultores. Pois acaba por excluir alguns pequenos proprietários,

principalmente os que produzem para o autoconsumo da família.

Nesse quadro, pode-se inserir boa parte dos camponeses e camponesas do Vale do Mucuri onde, de

acordo com a pesquisa, 81,5% das famílias possuem propriedades de até 50 ha. 42,8% dos

agricultores, agricultoras e familiares não concluíram o ensino fundamental, e 62,6% o ensino médio.

63% afirmam não ter acesso a assistência técnica, e 52,8% a programas de crédito.

Tabela 19. Organizaçãosocial

As organizações sociais possuem um papel importantíssimo, nas comunidades, junto à população, uma

vez que organizadas as pessoas se aproximam mais de sua emancipação. Entretanto, o que se nota são

organizações sendo criadas apenas para acessar determinada política pública e a necessidade de ações no

intuito de fortalecimento e capacitação dessas organizações para continuarem existindo com sentido real.

As associações favorecem o acesso às políticas públicas e nesse aspecto vale a pena fazer uma análise

sobre como é investido (ou não!) esse dinheiro, já que houve diversos registros, em todas a microrregiões,

sobre empreendimentos, principalmente do PCPR, mal planejados, subutilizados, nunca utilizados,

desativados, construções paralisadas, ou até mesmo aqueles concretizados, mas que acabam atendendo

aos grandes fazendeiros ao invés de beneficiar quem seria de direito, como casos relatados a respeito de

tratores, caminhões, maquinário para beneficiamento de produtos.

Variáveis 2005 2010

Associação Comunitária 30,99 35,0

Cooperativa 1,23 1,8

STR 48,74 38,7

Grupo de mulheres - 1,4

Grupo cultural - 1,3

Outra 0,48 3,5

Não participa de nenhuma organização 17 13,2

conselho municipal - 4,6

conselho regional - 0,2

Não respondeu 1,16 0,4

Não se aplica 0,41 -

Total 100,0 100,0

Page 73: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

73

As Cadeias Produtivas da Agricultura Familiar do Vale do Mucuri

No Vale do Mucuri, os agricultores familiares representam cerca de 80% dos estabelecimentos

agropecuários da região, de acordo com os dados do Censo Agropecuário de 1995/1996. Totalizavam

nesse período, aproximadamente, 13 mil unidades produtivas em que “propriedade e trabalho estão

intimamente ligados à família” e a produção é resultado do trabalho do conjunto dessas pessoas

(LAMARCHE, 1993, p 15).

O Plano de Desenvolvimento Territorial do Vale do Mucuri dá conta que, em 2005, eram cerca de 24 mil

famílias de agricultores, em 507 comunidades rurais, em todo o território (IDENE e ARMICOPA, 2005)

(Tabela 2). Desse total, aproximadamente 16 mil famílias podem ser enquadradas no Grupo B do Pronaf,

número que equivale a 64% do total territorial, o que indica, em média, a grande representatividade desse

grupo social nos municípios do Vale do Mucuri.

A presença significativa dos agricultores pobres no espaço territorial, associada à expressão que têm os

agricultores do Grupo C (cerca de 20% do total de famílias), na Tabela 2, é um elemento fundamental da

compreensão de como esse espaço se organiza econômica e socialmente e de como, conseqüentemente,

demanda as políticas públicas. Mesmo porque, possivelmente, como se observa em outros territórios

rurais, as características sociais e culturais dos agricultores dos grupos B e C não são tão acentuadas e não

os distanciam de forma definitiva uns dos outros: ainda que as condições objetivas em que se dá sua

reprodução sejam diferentes (como o tamanho da terra que possuem, basicamente, ou o documento que

comprove a posse dessa terra), as estratégias para garantir essa reprodução não são intensamente distintas.

Ademais, um agricultor enquadrado como C e responsável por um grupo familiar grande pode não

conseguir gerar renda suficiente para sua manutenção, ainda que tenha maior área de terra do que seu

vizinho do grupo B.

Page 74: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

74

TABELA20: NÚMERO TOTAL DE FAMÍLIAS DE AGRICULTORES E POR GRUPOS DO PRONAF, SEGUNDO MUNICÍPIOS E TERRITÓRIO DO VALE DO MUCURI 2005 E 2007

Municípios e Território Demanda N. de Famílias por grupos do Pronaf

Social Grupo A Grupo B Grupo C Grupo D Grupo E

Águas Formosas (**) 950 30 550 200 150 20

Ataléia (**) 1.030 - 600 150 250 30

Bertópolis 306 - 230 46 20 10

Campanário (**) 172 21 110 30 8 3

Caraí (**) 1.658 28 1.200 250 150 30

Carlos Chagas 653 - 250 140 203 60

Catuji (**) 1.002 9 648 240 80 25

Crisólita 447 20 227 50 125 25

Franciscópolis (**) 775 - 600 100 50 25

Frei Gaspar (**) 369 - 300 49 20 -

Fronteira dos Vales 414 - 300 50 50 14

Itaipé (**) 1.300 46 818 304 101 31

Itambacuri (**) 605 - 500 40 60 5

Ladainha 2.323 30 1.600 390 285 18

Machacalis (*) 208 - 94 91 24 -

Malacacheta 1.775 26 880 535 274 60

Nanuque (**) 560 - 399 119 22 20

Novo Oriente de Minas 1.103 10 800 250 30 13

Ouro Verde de Minas (**) 750 - 600 100 50 -

Pavão 449 - 259 100 80 10

Pescador (*) 186 - 105 63 19 -

Pote 1.628 - 1.523 80 20 5

Santa Helena de Minas (**) 738 420 260 40 15 3

Serra dos Aimorés (*) 259 - 90 114 55 -

Setubinha 1.565 - 939 548 62 16

Teófilo Otoni 3.287 205 1.907 900 175 100

Umburatiba (**) 250 - 164 40 43 3

TOTAL DO TERRITÓRIO 24.762 845 15.952 5.019 2.421 526

Fonte: IDENE e ARMICOPA, 2005; Questionários Municipais do PST do Território do Vale do Mucuri, 2007.

(*) Os municípios destacados em negrito não responderam o Questionário Municipal.

(**) Número de famílias ajustado a partir dos Questionários municipais.

Tais constatações sinalizam que a aplicação das políticas públicas deve se dar de modo a articular os

instrumentos que favoreçam a entrada de alguns nos mercados (institucional e consumidor) e a

estabilização da inserção mercantil de outros, o que significa, tanto em um caso como no outro, a

consolidação dos sistemas produtivos em bases apropriadas e autônomas. Isso inclui o acesso dos

agricultores ao crédito, à assistência técnica e à capacitação e os investimentos em infraestrutura de

transporte, beneficiamento e comercialização — a associação dos recursos do Pronaf e da assistência

técnica aos programas de comercialização, por exemplo, permitem um grande salto qualitativo.

Este documento trata, em particular, do crédito, da assistência técnica e capacitação e da comercialização,

via mercados institucionais. Contudo, os investimentos em infraestrutura, ou a ausência deles, combinada

aos problemas de gerenciamento dos empreendimentos e equipamentos existentes e aos entraves políticos

à evolução das parcerias entre os agentes locais, são, talvez, como se verá neste e nos itens a seguir,

Page 75: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

75

entraves fundamentais às oportunidades de geração de renda e ocupação dos agricultores familiares que

serão abertas no território, a partir da maior oferta das políticas planejadas neste documento.

Os relatos dos representantes territoriais indicam que, na maioria dos municípios que compõem o

território, são os agricultores familiares que dão sustentação à base econômica municipal. As principais

cadeias produtivas em que participam esses agricultores são: pecuária de corte e leite, mandioca e

derivados, cafeicultura, cana-de-açúcar (aguardente), grãos (feijão e milho, basicamente, e também arroz

em várzea úmida, para autoconsumo), suinocultura e avicultura, fruticultura (especialmente, banana, entre

outras frutas), olericultura, piscicultura e apicultura (essas duas em menor escala de importância).

A inserção mercantil dos agricultores familiares do Vale do Mucuri é, no entanto, bastante restrita e os

principais produtos comercializados são o café em coco, o leite e derivados e a mandioca e seus

subprodutos (farinha e goma) — considere-se, ainda, que, no caso da microrregião Sul do território,

polarizada por Teófilo Otoni, a comercialização de hortaliças, legumes e mudas de plantas ornamentais

têm peso na formação da renda de parcela das famílias no meio rural, especialmente daquelas

comunidades mais próximas do município-pólo do território. São inúmeras as barreiras para uma inserção

mercantil estável dos agricultores, já que ainda não foram solucionados os problemas relativos à

infraestrutura de transporte e beneficiamento, oferta de assistência técnica, dificuldades de acesso ao

crédito rural e falta de acesso à terra (ARMICOPA, 2005a). Resulta que os sistemas produtivos

organizados pelos agricultores familiares pouco utilizam a mecanização (faltam máquinas e equipamentos

para o preparo do solo e as demais operações, como plantio, capinas e colheita) e apresentam baixas

rentabilidade e produtividade para todos os seus principais produtos (COMISSÃO, 2003).4

Tal conjunto de problemas afeta a expansão da área plantada e o volume produzido pelos agricultores,

reduzindo a produção a níveis de subsistência e tornando a renda das famílias dependente dos recursos

públicos (aposentadoria e programas de seguridade social) (ARMICOPA, 2005a). Também a falta de

equipamentos para o beneficiamento da produção faz predominar a comercialização de produtos in

natura. No caso do café, em particular, na ausência de uma estrutura mínima para a seleção e a secagem

dos grãos pouco se agrega de valor ao produto comercializado pelos produtores, pois, o processamento

pós-colheita é determinante na qualidade do café e, conseqüentemente, dos preços obtidos pelo produto.

Os agricultores do Mucuri vendem o café apenas limpo, sem conseguir obter maior nível de qualidade.5

Os produtos são comercializados essencialmente em feiras livres, no comércio local e em entrepostos

varejistas de cidades maiores (Teófilo Otoni e Governador Valadares) e por intermédio de atravessadores

e também laticínios, no caso do leite. Sem desconsiderar, todavia, que, ainda que com pequena presença

4 O padrão tecnológico utilizado pelos agricultores do Mucuri inclui práticas tradicionais, atualmente insustentáveis do ponto de vista ambiental, como o freqüente uso do fogo para limpeza do terreno, a ausência de práticas de conservação, correção e fertilização dos solos e a utilização de um material reprodutivo de baixa qualidade, contaminado por fitopatógenos resistentes e com pequena diversidade genética (COMISSÃO, 2003). 5 Considere-se, ainda, que os produtores de café de alguns dos municípios do território, como Itaipé, não têm acesso ao Pronaf para essa cultura, já que o zoneamento agrícola para café de sequeiro não incorporou o referido município, entre outros do território.

Page 76: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

76

nos mercados, os agricultores familiares conseguem reunir condições de manutenção autônoma pelas

interações com o meio físico em que desenvolvem suas atividades, como no caso da extração vegetal, e

pela cesta variada de produtos que produzem em suas unidades produtivas, combinando suas estratégias

de autoconsumo (no caso do milho e feijão, por exemplo) e de beneficiamento artesanal à da

comercialização de poucos excedentes e dos pequenos animais.

Uma das microrregiões do território se diferencia, todavia, no que tange à intensidade da inserção

mercantil dos agricultores familiares: a microrregião Leste, em que mais de 80% das famílias

responderam que produzem para a comercialização (ARMICOPA, 2005e) — pelos mesmos dados, nas

outras quatro microrregiões, o percentual dos que produzem para o mercado é entre 50% e 70%. Os

agricultores dessa microrregião apresentam, inclusive, uma menor dependência de recursos públicos e

relação mais ampla com os mercados, à medida que a maioria das famílias comercializa uma produção

diária de leite (ARMICOPA, 2005e).

Embora o leite seja uma das principais atividades econômicas da região, e não apenas da microrregião

Leste, onde a atividade está mais organizada, sua situação não difere da descrita anteriormente para os

sistemas produtivos familiares: essa atividade está totalmente fundamentada na bovinocultura extensiva,

caracterizada pelo baixo nível de tecnologia e de melhoria genética. No Mucuri, menos de 10% das

unidades produtivas utilizam grau médio de tecnologia na pecuária leiteira; a grande parcela dessas

unidades tem produção inferior a 50 litros ao dia (PROJETO TERRITORIAL, 2004). Porém, na citada

microrregião Leste, em que a pecuária de leite é a principal atividade comercial para grande parte das

famílias, a produtividade média é de 4 a 5 litros ao dia por vaca em lactação (ARMICOPA, 2005e).

De novo, sobre a comercialização dos produtos da agricultura familiar no Vale do Mucuri, é evidente a

importância das feiras e do comércio local na formação da renda das famílias rurais. As feiras são um

importante espaço de comercialização para os produtos da agricultura familiar nos municípios rurais de

Minas Gerais, pois “aumentam a renda de produtores rurais, abastecem com regularidade as cidades e

estimulam o comércio urbano. Quanto menor for o município, maiores serão as vantagens para os

produtores, os consumidores e o comércio da própria cidade” (FAEPE/UFLA, 2004, p. 349). Todavia, há

até o presente municípios do território sem espaço reservado para a organização de feiras locais.

A presença do atravessador é muito significativa, não só nas unidades produtivas, mas também nas feiras.

Os atravessadores têm presença efetiva no território, já que os instrumentos e equipamentos de

comercialização e beneficiamento (públicos e privados) da produção são bastante fragmentados ou até

inexistentes e as condições de transporte da produção são deficientes. A ausência dessa infraestrutura

torna os agricultores mais dependentes da atuação dos atravessadores.

Até os grupos de produtores de leite, que integram cadeias produtivas mais estruturadas, inclusive

baseadas em empreendimentos cooperativos de grande porte, permanecem bastante dependentes dos

atravessadores para comercializar sua produção, já que são precárias as condições de infraestrutura de

armazenagem e transporte no território: o leite é vendido em sua maior parte no latão para os laticínios

Page 77: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

77

(há também a venda para os resfriadores pertencentes a vizinhos mais estruturados ou às associações de

produtores) e o queijo artesanal é vendido sem inspeção sanitária, inclusive para outros municípios. O

mesmo ocorre com os produtores de café: sem condições, como se observou, de agregar valor ao seu

produto, os agricultores vendem sua produção para atravessadores municipais e cafeeiras de outros

municípios.

A agroindústria artesanal de alimentos (de fundo de quintal, como designam muitos), com freqüência,

baseada em empreendimentos de base comunitária, como as casas de farinha ou as tendas comunitárias, é

outra importante fonte de renda para as famílias de agricultores do Vale do Mucuri. “As casas de farinha

familiares são, na maioria, estruturas precárias, sem piso, paredes, instalações hidráulicas e sanitárias. Os

equipamentos comuns são a prensa de madeira, ralador com motor e forno de chapa de ferro com

movimentação manual”; já as estruturas comunitárias têm fornos automáticos e melhores equipamentos

(ARMICOPA, 2005e, p. 09).

Parte dos empreendimentos comunitários foi constituída, a partir dos anos 1980, com a alocação de

recursos de programas coordenados pela EMATER ou por organizações não-governamentais religiosas

ou de assistência social, como o Programa de Apoio ao Pequeno Produtor (PAPP I e II – MG) e, mais

recentemente, o Programa Mutirão pela Segurança Alimentar e Nutricional em Minas Gerais (PROSAN,

atual Programa de Promoção do Direito Humano à Segurança Alimentar e Nutricional em Minas Gerais –

PRODHASAN) e o Pronaf Infraestrutura. Observe-se, entretanto, que garantir o funcionamento desses

equipamento comunitários, construídos com recursos públicos ou oriundos de agências multilaterais, não

é tarefa trivial para os poderes públicos, os agricultores e suas organizações: desde a falta de energia

elétrica, investimentos para a expansão das lavouras ou meios de transporte para transportar a matéria-

prima ou o produto beneficiado, ou mesmo de capacidade gerencial do empreendimento ou de articulação

a diferentes mercados consumidores para comercializar o produto beneficiado, são inúmeros os fatores

que afetam o funcionamento das unidades de beneficiamento existentes no território e as tornam

estruturas subutilizadas.

Sobre as empreendimentos comunitários, observe-se que predominam entre os agricultores do Vale do

Mucuri os laços de sociabilidade primária, que moldam as formas de organização social, com relativa

importância atribuída às formas de organização de base comunitária (associações comunitárias), muitas

formalizadas. Essas associações e suas lideranças desempenham papel relevante nos arranjos constituídos

para a mediação das políticas públicas com o apoio de sindicatos e parceiros, como no acesso ao Pronaf

tratado adiante ou no acesso direto a programas de base comunitária, como os mencionados PAPP I e II e

o PROSAN, ou mesmo de aquisição de alimentos pelo governo federal. A maioria das associações

comunitárias tem recebido apoio das prefeituras municipais, sindicatos de trabalhadores rurais ou dos

escritórios locais da EMATER para sua efetiva formalização.

Ao longo dos anos, o acesso dos agricultores familiares do Vale do Mucuri às políticas públicas tem sido

precário e limitado. Para compreender os fatores que determinam as dificuldades envolvidas nesse acesso,

Page 78: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

78

considere-se o próprio formato normativo das políticas públicas, que somente na última década passaram

a focar mais claramente aquele grupo social, em particular a partir da criação do Pronaf, em meados dos

anos 1990, e o ambiente institucional local, componente fundamental na viabilização do acesso dos mais

pobres aos instrumentos de política pública.

Também as especificidades da ocupação histórica das terras (a pecuária extensiva, ainda uma das mais

importantes atividades da região, e a monocultura do café), do quadro natural (relevo acidentado e

vegetação e clima diversificados) e as já mencionadas características dos sistemas produtivos dos

agricultores do Vale do Mucuri, que têm relação direta com aquelas especificidades, determinaram certo

grau de impermeabilidade da região às políticas focadas nesse grupo social, pouco adaptadas a essas

especificidades. Em relação ao acesso ao Pronaf, tratado com mais detalhes à frente, nota-se um

crescimento expressivo do número de contratos em anos recentes, a se considerar o período entre 2000 e

2006 — esse crescimento baseia-se, no entanto, quase que exclusivamente na ampliação das operações

dos agricultores do Grupo B do programa, fundamentada nas parcerias entre gestores públicos, técnicos

da extensão rural, lideranças sindicais e agente financeiro (especialmente o Banco do Nordeste – BNB).

Note-se que os avanços pontuais e localizados, ainda insuficientes para a generalização de um processo

sustentável de desenvolvimento para a região, têm sido promovidos justamente a partir do fomento a

projetos comunitários e das ações de capacitação, incluindo os estímulos ao associativismo, associadas à

oferta de assistência técnica, iniciativas empreendidas por instituições públicas, organizações não-

governamentais e sindicatos (COMISSÃO, 2003).

Pode-se concluir, a partir da explanação das principais característica do desenvolvimento rural do Vale do

Mucuri, que as localidades dispersas nesse território têm características diversas e os entraves

relacionados aos sistemas de produção, à agregação de valor e à comercialização são complexos e

variados, somados, ademais, aos problemas ambientais (assoreamento dos rios, degradação do solo, das

nascentes dos rios e das matas ciliares).

Os problemas ambientais decorrem, no entanto, não tanto das práticas produtivas tradicionais, e sim do

avanço de grandes maciços florestais de eucaliptos, a partir da expansão das atividades das empresas de

papel e celulose atuantes nos estados do Espírito Santo e da Bahia. A expansão do plantio de eucalipto é

mais intensamente sentida no Vale do Jequitinhonha, pela pressão que exerce há mais tempo sobre os

ecossistemas regionais (especialmente, sobre as nascentes de rios) e as unidades produtivas familiares

(inclusive, com o arrendamento ou a aquisição das terras dessas unidades e a maior concentração da renda

regional), porém, vem se tornando um importante desafio também à permanência dos agricultores

familiares no Vale do Mucuri pelos impactos ambientais e socioeconômicos que tem. Ainda muito

recente, a discussão que se faz é em torno do papel que o governo do estado vem desempenhando,

transferindo para a iniciativa privada as terras públicas, antes ocupadas por pequenos posseiros.

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79

EIXO POLITICAS PÚBLICAS PARA AGRICULTURA FAMILIAR

Evolução Recente das Políticas para o Desenvolvimento Rural no Vale do Mucuri

A discussão sobre a evolução recente da oferta de políticas para o desenvolvimento rural no Vale do

Mucuri passa pela análise da aplicação do Pronaf, nesse território, e de ações complementares ao crédito,

além de outros instrumentos de fortalecimento da agricultura familiar, disponibilizados por instituições

públicas e organizações sociais. Além das ações do Ministério do Desenvolvimento Agrário, nesse caso

por meio da própria SDT, da Secretaria da Agricultura Familiar e do INCRA, é preciso mencionar a

implementação de programas e ações dos governos estadual e federal, visando ao desenvolvimento

socioeconômico do Vale do Mucuri, tais como: os programas sociais e com fins produtivos coordenados

pelo IDENE e EMATER-MG (inclusive programas com recursos federais, cuja gestão é de

responsabilidade do governo estadual); o Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável da

Mesorregião do MESOVALES Jequitinhonha e Mucuri, implementado pela Secretaria de Programas

Regionais do Ministério da Integração Nacional, e as ações do Ministério do Desenvolvimento Social.

Neste documento, a discussão sustenta-se, basicamente, no histórico do acesso dos agricultores ao crédito

e nas dificuldades, barreiras e avanços desse acesso. Fez-se, nesse sentido, uma análise mais detalhada,

logo a seguir, da atuação das organizações e instituições locais no repasse das políticas do governo

federal, basicamente as prefeituras municipais, a empresa de assistência técnica e os sindicatos de

trabalhadores rurais, os principais agentes na intermediação das políticas públicas para os agricultores

familiares no municípios do Vale do Mucuri.

Os Mediadores das Políticas Públicas

Uma das hipóteses deste diagnóstico diz respeito à importância da percepção que os gestores públicos, e

também outros agentes responsáveis pelas políticas, têm da realidade local e das demandas do público-

alvo, por sua influência no funcionamento dos programas públicos e na formatação dos elementos

envolvidos na aplicação dos recursos. Tal percepção, em conjunto com as condições operacionais em que

funcionam as prefeituras municipais e suas secretarias, é, então, fundamental na definição da oferta de

políticas públicas nos municípios.

As prefeituras desempenham um importante papel de mediação por conta dos vínculos que estabelecem,

ou deveriam estabelecer, entre os agricultores e as políticas e ações governamentais, a começar pelo

acesso ao Pronaf, mas também a outros programas do governo estadual e federal, às ações de assistência

técnica, compras institucionais, bancos de mudas e sementes, beneficiamento e comercialização da

produção etc. Note-se que grande parcela das políticas públicas de nível federal e estadual, não só

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80

programas como o de aquisição de alimentos, vem sendo operacionalizada em parceria com as prefeituras

municipais, especialmente desde a promulgação da Constituição de 1988.

Atualmente, os programas implementados pelo MDS, como o PAA, por exemplo, têm nas prefeituras seu

principal parceiro, bem como os instrumentos importantes para a sustentabilidade da aplicação do Pronaf,

como o Garantia Safra, que combina a adesão dos três níveis de governo e dos agricultores familiares a

um fundo. Nos municípios em que as prefeituras são mais atuantes e estabelecem, em alguma medida,

relações diferenciadas com o sindicato de trabalhadores rurais e o escritório local da EMATER, o

resultado é bastante positivo.

No acesso ao crédito, o posicionamento das prefeituras em relação aos agricultores familiares é

fundamental para sensibilizar os agentes financeiros, ou na resposta dada às estratégias de atuação desses,

e a própria empresa de assistência técnica. Por isso, possui importância nessa relação o convênio fechado

entre prefeitura e EMATER para a manutenção do escritório local: além da prefeitura dar o apoio material

para o escritório funcionar (de material de informática a combustível), um prefeito mais atento às

demandas sociais pode exercer pressão para que o técnico priorize o atendimento de um grupo social mais

vulnerável, como os agricultores do Pronaf B.

Sem o apoio direto da prefeitura, o ônus da mediação das políticas públicas junto aos agricultores

familiares é maior para a EMATER e o STR. As palavras das lideranças sindicais revelam o significado

dessa afirmação: “o governo federal tem disponibilizado várias políticas importantes para a agricultura

familiar, mas tem muita dificuldade para operacionalizar essas políticas pela falta de preparo das

organizações, problema que é maior quando as prefeituras não dão apoio a essas organizações”.

Sobre a assistência técnica, o relato dos interlocutores deste diagnóstico não difere do que tem sido

observado em outros territórios da região Sudeste, pois a assistência técnica é afetada pelas imensas

dificuldades estruturais dessa oferta, sendo esse um importante limitante na ampliação do acesso ao

Pronaf e a outros instrumentos de política pública. Atualmente, são 85 técnicos distribuídos nos 27

municípios do território do Vale do Mucuri, o que representa, em média, três técnicos por município. Nos

municípios de menor porte, geralmente, encontram-se disponíveis um ou dois técnicos no escritório da

EMATER, com apoio administrativo. Em alguns municípios, a ARMICOPA e outros órgãos do governo

do estado, como o Instituto de Florestas (IEF), também disponibilizam técnicos para conteúdos

específicos (para maiores detalhes quanto à oferta de assistência técnica nos municípios do território do

Vale do Mucuri, consultar Quadro 1A, no Anexo).

O papel do técnico da assistência técnica é fundamental na mediação de várias políticas, havendo uma

concentração de atribuições no escritório local da extensão rural. No caso do Pronaf, o papel do técnico

da assistência técnica é fundamental em várias das etapas para o acesso ao crédito, por exemplo: desde a

divulgação do programa, propriamente, em consonância com a atuação do STR, passando pelo

enquadramento da renda do agricultor para a emissão da DAP, até a elaboração do projeto ou da proposta

― fundamental na relação com o agente financeiro ― e o acompanhamento técnico posterior. Nos

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81

municípios em que existem pontos de apoio do Banco do Nordeste ou a utilização do sistema do Banco

do Brasil (Canal Facilitador de Crédito – CFC6), o técnico apenas assina as propostas de crédito. Um

técnico pouco disposto ou sem condições materiais para trabalhar pode ser uma barreira intransponível

para os agricultores acessarem o crédito e outros instrumentos de desenvolvimento; sua ausência se

reflete também no grau de adimplência das operações de crédito, pois a divulgação das condições do

acesso ao crédito e o acompanhamento de sua aplicação são os elementos determinantes de uma baixa

inadimplência.

Sendo assim, por diferentes razões, o que se constata, com freqüência, é uma baixa permeabilidade do

ambiente institucional local às demandas sociais. Já nos municípios em que os gestores públicos estão

mais sensíveis a essas demandas, ocorre maior comprometimento com as mesmas, com correspondência

nos níveis de execução dos programas e de aplicação dos recursos.

Do ponto de vista da organização da demanda pelas políticas de desenvolvimento rural no território, o

outro lado da moeda do acesso a essas políticas, por assim dizer, é preciso analisar as ações das

organizações sociais, basicamente os sindicatos de trabalhadores rurais. Deve-se atentar para as

dificuldades e a precariedade que os STR enfrentam na mediação das políticas de fortalecimento da

agricultura familiar, como o restrito volume de informações que as lideranças sindicais têm das políticas.

Essas dificuldades e precariedade resultam de um somatório de variáveis que afeta o alcance da atuação

das organizações sindicais, a começar pela estrutura pequena que apresentam (faltam apoio técnico e

financeiro e uma estrutura operacional), mas igualmente pelo conjunto de habilidades sociais

(FLIGSTEIN, 2001) que puderam desenvolver no contexto político e histórico em que se dão suas ações e

se expressam as correlações de forças entre diferentes grupos sociais no território. Tal constatação diz

respeito aos focos da atuação das organizações locais de representação da agricultura familiar: o apoio

direto às atividades que os agricultores desenvolvem, como a difusão de tecnologias apropriadas às

condições agro-ambientais do território ou a implementação de formas variadas de comercialização da

produção, e a mediação das políticas públicas dos governos federal e estadual, que exige um constante

aprendizado organizacional e cuja efetivação dos resultados não é, geralmente, compatível ao esforço que

as organizações empreendem.

As políticas públicas estão atualmente sustentadas, basicamente, em metodologias de participação e

negociação entre diferentes atores sociais e que são aplicadas em espaços de articulações intermunicipais,

como as ações do MDA (territórios rurais) e do MDS (consórcios de desenvolvimento local e segurança

alimentar), ou inter-regionais (mesorregiões), como no caso do Ministério da Integração Nacional. Desse

modo, ao falar do papel dos sindicatos de trabalhadores rurais na mediação das políticas públicas, não

está se considerando apenas o papel que esses sindicatos desempenham no repasse aos agricultores de

6 Nesse sistema, os agricultores preenchem o cadastro e a proposta de crédito on line e, aprovada a proposta pelo Banco do Brasil, buscam apenas o cheque na agência do banco, o restante das etapas se dá nas comunidades e na sede da entidade parceira do banco.

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direitos previdenciários (seria outro âmbito de análise, pela influência que o exercício dessa função exerce

no cotidiano dos sindicatos), está se levando em conta principalmente a representação social que são

convidados a exercer nos espaço de negociação, discussão e gestão dos programas e políticas. Nesses

espaços de atuação, os sindicatos precisam se relacionar com diferentes atores sociais, com freqüência

buscando formas de cooperação com atores com os quais não comungam as mesmas posições sociais e

percepções sobre a aplicação dos instrumentos de política pública no território ou sobre as demandas dos

agricultores familiares. A construção das habilidades sociais por parte das organizações da agricultura

familiar pode ser, nesse sentido, bastante difícil, custosa e lenta. O que se observa, no momento, é que são

ainda restritos o conhecimento das lideranças sindicais sobre as políticas públicas, seus normativos e

condições de operacionalização e sua capacidade de articular diferentes parceiros, intervindo de forma

ativa nessas articulações e cobrando dos gestores públicos o funcionamento das políticas.

Desse modo, a atuação dos sindicatos é afetada pela intensidade de suas conexões a redes sociais mais

amplas, compostas por atores locais e atores externos, como instituições governamentais, organizações

não-governamentais de atuação estadual e nacional e organismos de cooperação internacional. A

dificuldade de inserção em redes constituídas por uma diversidade maior de nós e vínculos institucionais

do que as formas de cooperação estabelecidas no espaço local é um limitante considerável à atuação dos

sindicatos de trabalhadores rurais — quando se trata da mediação das políticas públicas significa, entre

outras conseqüências, arcar com parte significativa dos custos e das etapas do aprendizado organizacional

já mencionado, o que inclui acesso a informações, apoio técnico e operacional, articulações políticas,

capacidade de proposição, amplitude das oportunidades de desenvolvimento etc.

As parcerias dos sindicatos têm ocorrido, basicamente, com as associações de base comunitárias, os

representantes dos conselhos municipais (basicamente o de desenvolvimento rural, mas não somente, pois

as lideranças sindicais também participam dos conselhos de saúde e de educação) e dos pólos regionais da

Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (FETAEMG), o escritório local

da empresa de assistência técnica e as prefeituras e suas formas de representação, como as associações de

municípios — e, em alguns casos, também diretamente com o agente financeiro.

As relações com as administrações municipais variam de intensidade, ocorrendo embates políticos

bastante tensos em alguns municípios, enquanto em outros se nota uma maior proximidade entre as

posições desses diferentes agentes políticos, o que resulta em maior sintonia entre as políticas públicas e

as demandas expressas pelas organizações da agricultura familiar.

As ações da Igreja Católica (por intermédio, especialmente, da Comissão Pastoral da Terra) e de

organizações não-governamentais (como a ARMICOPA) têm sido essenciais para ampliar a atuação dos

sindicatos, seus espaços de inserção social e política, suas articulações a organismos de cooperação

internacional e o acesso a programas governamentais e outras fontes de recursos. As referidas

organizações tanto permitem a expansão da ação sindical, como também garantem envergadura aos seus

projetos a partir dessa ação, ou podem mesmo resultar da ação dos sindicatos, à medida que esses

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83

constituem, por exemplo, fóruns para a discussão de questões que afetam toda a região. Essas

organizações, conjuntamente com os sindicatos, empreendem esforços em diferentes direções e

conseguem consolidar resultados importantes (ligados, especialmente, a questões ambientais, de produção

e comercialização). Tais parcerias, entretanto, ainda não conseguem, por diferentes razões, a começar

pela história recente de algumas das experiências, irradiar sua ação de forma homogênea pelo território,

estando mais concentrada em alguns municípios e grupos de agricultores.

Do ponto de vista dos agricultores, é preciso considerar a importância da rede local por onde circulam as

informações sobre as políticas públicas, constituídas a partir de diferentes arranjos, a depender do

município, entre técnicos das prefeituras e da EMATER, técnicos e lideranças dos STR, técnicos de

organizações não-governamentais ou religiosas, representantes dos conselhos municipais, representantes

de associações comunitárias ou de grupos comunitários e, finalmente, os agricultores. Quanto mais

articulados estiverem os nós dessa rede, mais facilmente a informação circula e chega até os agricultores.

A mediação de uma diversidade maior de atores locais — entram aqui os representantes comunitários ou

presidentes das associações comunitárias — é fundamental para diminuir a resistência observada entre os

agricultores quanto a estabelecer um vínculo creditício com o banco, transmitindo aos agricultores uma

maior confiança no andamento do processo, e facilitar o acesso à política de crédito e a outras ações.

Pode-se afirmar, inclusive, que há uma interdependência da ampliação do acesso às políticas públicas ao

conjunto mais amplo de relações (políticas, institucionais e pessoais) no nível local, envolvendo os

agentes mencionados.

Os agricultores que não são alcançados pelas organizações sociais continuam, entretanto, enfrentando

dificuldades no acesso às políticas, mesmo porque esse alcance depende não só da atuação direta das

organizações sociais, e dos limitantes que enfrentam, mas também do grau da organização comunitária

dos agricultores: a presença de uma associação comunitária atuante pode ser fundamental para determinar

o acesso às políticas públicas, e não apenas ao crédito. As associações comunitárias, muitas formalizadas,

desempenham papel relevante nos arranjos constituídos para a intermediação de instrumentos como o

Pronaf B e a comercialização de produtos via programas da CONAB.

O fato é que os vínculos a uma associação comunitária ou a um sindicato, ou a ambos, tendem a facilitar

o acesso dos agricultores ao conjunto das políticas públicas, e não apenas ao crédito.

Page 84: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

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O Acesso ao PRONAF

Considerando as características dos sistemas produtivos dos agricultores familiares do território do Vale

do Mucuri, pode-se perguntar como o crédito entra, ou pode entrar, na lógica de gestão dessas unidades

produtivas? O crédito é, com freqüência, uma importante fonte de injeção de liquidez, que se soma às

políticas de assistência social ou à aposentadoria e à venda dos excedentes da colheita anual, basicamente

com o intuito de garantir o sustento da família, como vem ocorrendo na ampliação do acesso ao crédito

dos agricultores do Grupo B do Pronaf.

Pode-se estender a formulação da questão, tendo em conta, além daquelas características, os entraves ao

desenvolvimento rural do Vale do Mucuri; a partir daí, seria importante indagar também qual pode ser o

papel do crédito rural e das ações complementares articuladas neste PST em um contexto assim descrito.

A resposta (ou as respostas) a tal questão é respondida ao longo deste relatório, à medida que,

sistematizadas e analisadas as condições atuais da oferta das políticas de fortalecimento da agricultura

familiar e da organização da demanda por essas políticas, refletiu-se sobre os avanços e os arranjos

institucionais necessários (e possíveis) a partir de tais condições.

Em período recente, o que se nota é que o acesso ao Pronaf se ampliou nos municípios do território, já

que, entre os anos de 2000 e 2006, o número de contratos cresceu, saltando de um total de 449 operações

para cerca de 7.000, em 2006 (Quadro 2). No Quadro 2, optou-se por destacar apenas os dados relativos a

quatro anos do período de 2000 a 2006: o ano de 2000 é o primeiro disponível no banco de dados

fornecido pela SDT/MDA aos consultores do PST, enquanto 2003 é o ano em que o número de operações

do Pronaf B foi ampliado significativamente, ainda que as primeiras operações (cerca de 523 contratos)

tivessem sido realizadas em 2001; já 2005 e 2006 são os dados mais recentes acerca do acesso ao Pronaf

no território.

QUADRO 23;NÚMERO DE OPERAÇÕES DO PRONAF POR ANO NO TERRITÓRIO DO VALE DO MUCURI

Em 2000 Em 2003 Número de

Pronaf

B

Pronaf C, D e

E Total Pronaf B Pronaf C, D e E Total famílias (2005)

0 415 449(*) 3.551 742 4.293

24.762

Em 2005 Em 2006

Pronaf

B

Pronaf C, D e

E Total Pronaf B Pronaf C, D e E Total

4.791 1.098 5.889 5.434 1.465 6.899

Fonte: SDT e SAF/MDA, 2007; IDENE e ARMICOPA, 2005. Elaborado pela autora.

(*) Neste total, estão somados ainda 34 contratos do Grupo A do Pronaf.

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Tomando os dois últimos anos da série, entre os anos de 2005 e 2006, quando o território alcançou o

maior número de operações em todo o período analisado, o crescimento se deu, em média, a uma taxa de

17,2% a.a. no território (Tabela 4). No entanto, o ritmo do crescimento do acesso ao Pronaf variou

bastante em cada município e, por isso, o percentual de atendimento da demanda social é ainda

relativamente pequeno, se considerado o conjunto das unidades produtivas familiares no território: em

2006, 27,9% da demanda social do território foi atendida pelo Pronaf (Tabela 4).

Foi o crescimento do número de contratos do Grupo B, já a partir de 2001, mesmo que em ritmo menos

acelerado até 2003, que sustentou a evolução positiva do número de operações do Pronaf (Tabela 4). Em

2006, cerca de 80% do total dos contratos foram do Pronaf B. Pode-se afirmar, então, que no território do

Vale do Mucuri é o Pronaf B que está permitindo o acesso dos agricultores familiares ao crédito, em um

território em que a maioria deles é pobre e no qual há fatores estruturais, climáticos e educacionais que

limitam as oportunidades de geração de renda.

Já o acesso dos grupos C, D e E permanece relativamente restrito (Tabela 4), havendo, no entanto, uma

demanda reprimida, especialmente para o investimento pecuário (para melhorias da pastagem e

implantação e ampliação das capineiras) e para o custeio da safra (preparo e manutenção da lavoura e

colheita da safra). O acesso restrito deve-se, em grande medida, à institucionalidade do Pronaf, que

demanda um maior grau de estruturação dos agentes locais, pela maior complexidade inerente à

operacionalização das operações com esses grupos e, por conseqüência, pelas maiores dificuldades de

relacionamento com o agente financeiro.

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86

TABELA 24 NÚMERO DE OPERAÇÕES DO PRONAF POR ANO CIVIL, GRUPOS E TAXA DE CRESCIMENTO, SEGUNDO MUNICÍPIOS E TERRITÓRIO DO

MUCURI - 2000, 2005 E 2006

Municípios e Número de operações do Pronaf Cobertura da demanda Crescimento Território Em Em 2005 Em 2006 social em 2006 (%) (**) n. operações 2000 Total B % C D e Total B % C D E Total B C D E 2006/2005 Águas Formosas 19 420 387 92,1 14 19 355 344 96,9 4 7 0 37,4 62,5 2,0 4,7 0,0 -15,5 Ataléia 5 142 127 89,4 3 12 643 379 58,9 34 226 4 62,4 63,2 22,7 90,4 13,3 352,8 Bertópolis 0 67 60 89,6 1 6 53 44 83,0 1 5 3 17,3 19,1 2,2 25,0 30,0 -20,9 Campanário 0 26 25 96,2 0 1 50 43 86,0 0 7 0 29,1 39,1 0,0 87,5 0,0 92,3 Caraí 78 390 371 95,1 9 10 324 242 74,7 57 25 0 19,5 20,2 22,8 16,7 0,0 -16,9 Carlos Chagas 40 116 59 50,9 5 52 236 138 58,5 17 71 10 36,1 55,2 12,1 35,0 16,7 103,4 Catuji 1 218 217 99,5 0 1 95 94 98,9 0 1 0 9,5 14,5 0,0 1,3 0,0 -56,4 Crisólita 0 120 104 86,7 3 13 196 180 91,8 4 5 7 43,8 79,3 8,0 4,0 28,0 63,3 Franciscópolis 21 234 200 85,5 1 33 361 315 87,3 3 38 5 46,6 52,5 3,0 76,0 20,0 54,3 Frei Gaspar 2 218 216 99,1 0 2 257 238 92,6 8 11 - 69,6 79,3 16,3 55,0 - 17,9 Fronteira dos Vales 1 75 74 98,7 0 1 241 240 99,6 1 0 0 58,2 80,0 2,0 0,0 0,0 221,3 Itaipé 29 365 238 65,2 84 43 128 79 61,7 21 26 2 9,8 9,7 6,9 25,7 6,5 -64,9 Itambacuri 60 288 249 86,5 11 28 569 502 88,2 27 37 3 94,0 100,4 67,5 61,7 60,0 97,6 Ladainha 32 460 320 69,6 81 59 415 210 50,6 110 92 3 17,9 13,1 28,2 32,3 16,7 -9,8 Machacalis 0 14 7 50,0 4 3 36 35 97,2 0 0 1 17,3 37,2 0,0 0,0 - 157,1 Malacacheta 34 238 207 87,0 6 25 414 370 89,4 16 25 3 23,3 42,0 3,0 9,1 5,0 73,9 Nanuque 22 212 56 26,4 131 25 435 314 72,2 112 9 0 77,6 78,7 94,1 40,9 0,0 105,2 Novo Oriente de Minas 0 661 661 100,0 0 0 247 245 99,2 2 0 0 22,4 30,6 0,8 0,0 0,0 -62,6 Ouro Verde de Minas 1 175 175 100,0 0 0 337 319 94,7 0 18 - 44,9 53,2 0,0 36,0 - 92,6 Pavão 2 349 226 64,8 66 57 187 92 49,2 48 47 0 41,6 35,5 48,0 58,8 0,0 -46,4 Pescador 0 10 6 60,0 2 2 42 15 35,7 12 15 - 22,6 14,3 19,0 78,9 - 320,0 Poté 66 262 185 70,6 48 29 171 92 53,8 45 34 0 10,5 6,0 56,3 170,0 0,0 -34,7 Santa Helena de Minas 0 54 54 100,0 0 0 110 108 98,2 2 0 0 14,9 41,5 5,0 0,0 0,0 103,7 Serra dos Aimorés 2 64 47 73,4 13 4 111 88 79,3 22 1 - 42,9 97,8 19,3 1,8 - 73,4 Setubinha 20 268 262 97,8 2 4 237 231 97,5 1 5 0 15,1 24,6 0,2 8,1 0,0 -11,6 Teófilo Otoni 14 442 257 58,1 157 28 649 477 73,5 141 31 0 19,7 25,0 15,7 17,7 0,0 46,8 Umburatiba 0 1 1 100,0 0 0 0 0 0,0 0 0 0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 -100,0 TOTAL DO 449 5.889 4.791 81,4 641 457 6.899 5.434 78,8 688 736 41 27,9 34,1 13,7 30,4 7,8 17,2

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Fonte: SAF/MDA, 2005 e 2006; IDENE e ARMICOPA, 2005; Questionários, 2007. Elaborado pela autora.

(*) Nos totais não estão incluídas as operações enquadradas como exigibilidade bancária.

(**) Percentual entre o número de contratos total e por grupos e o número de famílias total e por grupo.

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Na ampliação do acesso de agricultores ao Pronaf B, foram fundamentais os arranjos institucionais

formados no nível local, baseados em parcerias entre poder público municipal, sindicato de trabalhadores

rurais e técnicos do escritório local da EMATER – MG. O próprio Banco do Nordeste, que vem

intensificando sua atuação junto ao grupo B desde 2003, estimula a formação dos arranjos entre os

parceiros locais, de modo a garantir capilaridade para sua ação e maior compromisso na aplicação do

crédito. As mudanças normativas do programa por orientação do Governo Federal em anos recentes

principiaram as condições favoráveis para a maior aplicação de recursos do Pronaf B, ao reduzirem os

entraves burocráticos dessa aplicação.

Os arranjos permitem reduzir os custos de transação envolvidos nas operações e favorecem, além da

pulverização da atuação dos agentes financeiros, um menor distanciamento social na relação dos

agricultores pobres com os bancos, ao mediarem a relação entre as duas pontas da operação de crédito.

Geralmente, o alcance dos bancos, em maior ou menor medida, a depender do banco, permanece restrito

aos agricultores que acessam outros serviços financeiros nas agências, além do crédito do Pronaf, por

isso, esses dependem de arranjos institucionais mais diversificados para ampliarem o número de

operações do programa. Onde a parceria não funciona, o acesso é mais difícil e os custos de transação são

maiores para os atores que se envolvem diretamente, em geral, o STR e a EMATER, bem como, tendem a

ser altas as taxas de inadimplência das operações.

Note-se, porém, que a percepção dos agentes financeiros — determinada pela demanda manifestada nas

agências, independentemente das dificuldades que agricultores e organizações sociais encontram para

manifestá-la e pela avaliação de que os agricultores têm receio de lidar com bancos e de que a divulgação

do programa ainda é pequena — é fundamental na definição da oferta de crédito. Considerando que a

atribuição de responsabilidades pelos agentes financeiros aos parceiros tem um ônus, relativo à

organização e à divulgação, que deve ser assumido integralmente por esses parceiros, nem sempre em

condições ou dispostos a assumi-lo, significa que, quando os agentes locais não conseguem organizar as

parcerias para mais bem distribuir os custos de transação, dificilmente os agricultores conseguirão acessar

o crédito, já que os agentes financeiros têm limitações para atenderem a demanda por crédito que chega

(ou, na maioria das vezes, nem chega) de forma pulverizada e/ou desorganizada nas agências.

De um modo geral, as etapas essenciais para o acesso ao Pronaf são:

(i) a divulgação do Pronaf (finalidades e formas de acesso) nas comunidades rurais e entre os agricultores,

pela EMATER e/ou o STR;

(ii) o fornecimento da DAP, por intermédio da EMATER e/ou do STR;

(iii) a elaboração do projeto de crédito, unicamente pela EMATER, às vezes, com algum apoio de um

técnico da prefeitura, disponibilizado para o atendimento no ponto de apoio do BNB, no caso do Grupo B

do Pronaf,

(iv) e a operacionalização e a avaliação do crédito pelos bancos, que pode seguir padrões diversos no

Banco do Brasil e no Banco do Nordeste.

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No que tange ao item i, parece não ocorrerem problemas de grande monta à medida que os agricultores

passam a conhecer e demandar o Pronaf, sem desconsiderar os limitantes estruturais para o acesso das

comunidades rurais à sede do município, no STR e na EMATER, ou mesmo dos agentes locais para

visitarem as comunidades mais distantes ou pouco articuladas a uma forma de representação social ou

sindical. Entretanto, no caso da segunda etapa, a falta de informações sobre os agricultores que solicitam

a DAP, quando não existe uma parceria entre sindicato, associações comunitárias e técnico da EMATER,

e para o enquadramento da renda dos agricultores pelos parceiros, sobre o que considerar ou não

considerar nesse enquadramento, dificultam a emissão da DAP. Os agricultores que migram todos os anos

para outras regiões, como o interior de São Paulo ou o Sul de Minas, para o corte da cana e a colheita do

café reclamam que ficam de fora no enquadramento do grupo B, pelo montante da renda que recebem

anualmente com registro em carteira nessas atividades. Os problemas parecem se concentrar, de forma

preponderante, nas etapas iii e iv do acesso ao crédito, porém, mesmo as etapas i e ii somente asseguram

maior escala e facilidades no acesso dos agricultores ao crédito quando existem, como já se afirmou,

parcerias articuladas nos municípios do território.

As estratégias de atuação dos bancos que operam o Pronaf

Por intermédio do CFC, o Banco do Brasil terceiriza a operacionalização do custeio dos grupos C e D e,

mais recentemente, do investimento do Grupo B do Pronaf. Já a contratação de recursos do investimento

é feita apenas na agência. Na terceirização, a base cadastral do BB é a DAP; a entidade parceira,

geralmente o STR ou a Prefeitura, preenche o cadastro do agricultor, faz a consulta ao SPC e elabora a

proposta para a formalização do crédito. No entanto, a maioria dos municípios do Vale do Mucuri ainda

não começou a operar o Pronaf B com o Banco do Brasil, nem na agência, nem via CFC.

Representantes do Banco do Brasil admitem que a falta de parceiros é um gargalo para ampliar sua

atuação e o atendimento dos agricultores, especialmente em municípios pequenos, nos quais os parceiros

têm estrutura deficiente, inclusive de equipamentos, e a organização dos agricultores também é restrita.

Os gerentes das agências devem executar operações do Pronaf, porém, se sentem mais seguros quando

tratam com as organizações representativas dos agricultores familiares (agricultores organizados) do que

com indivíduos, pois a parceria serve não apenas para o repasse do recurso, porém também para a

aplicação e condução do crédito.

Se a terceirização da operacionalização do Pronaf não é pré-requisito para o acesso ao crédito, é, no

entanto, uma estratégia fundamental do banco, o que, no final das contas, é determinante para a aplicação

do Pronaf B e do custeio C e D. Especialmente, a se considerar que, por enquanto, poucos municípios do

território têm operado o sistema, justamente porque para o funcionamento do CFC é preciso ter, pelo

menos, um computador on line (quando o acesso a internet ainda é restrito em alguns lugares) e um

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funcionário capacitado e dedicado ao atendimento dos agricultores, ao preenchimento da proposta e às

devidas consultas cadastrais, uma demanda que acaba sendo grande para a pequena estrutura que têm

prefeituras e sindicatos nos municípios rurais. Os dirigentes sindicais relatam sempre a mesma coisa: as

dificuldades para gerir o sistema operacional e a falta de funcionários para essa função. Retenha-se que os

STR atendem inúmeras demandas dos agricultores e funcionam como uma espécie de agência, garantindo

a oferta de serviços de saúde e de encaminhamento dos benefícios sociais. Disponibilizar um funcionário

para o atendimento dos agricultores que querem crédito pode ser bastante difícil e oneroso para os

sindicatos. Nesse sentido, a ampliação do Pronaf B e do custeio, por intermédio do Banco do Brasil,

depende exclusivamente dos parceiros, pois, ainda que o banco tenha uma estratégia para atender os

agricultores por intermédio de parcerias, não na um empenho constante em fomentá-las.

Apesar da importância do BNB na operacionalização das operações de investimento, especialmente do

Pronaf B (incluindo a criação de uma metodologia própria para realizar essas operações, o

AGROAMIGO), a presença do banco no território é ainda pequena. É apenas uma agência atendendo os

27 municípios do Vale do Mucuri, sediada em Teófilo Otoni. O volume de projetos, pelo tamanho da área

abrangida pela agência, é muito grande e o quadro de recursos humanos acaba sendo pequeno para dar

agilidade ao processamento das operações e intensificar o relacionamento com os municípios atendidos e

as iniciativas dos parceiros. A distância física (e as condições estruturais das vias de acesso) entre a

agência que concede o crédito e os municípios em que residem os agricultores e estão sediadas as

organizações que fazem a intermediação também pode ser um complicador, pois essa distância implica

elevados custos aos agricultores, e mesmo ao banco, e dificulta a atuação das organizações.

A atuação do Banco do Nordeste, buscando ampliar sua capilaridade, tem sido bastante similar nas

regiões em que atua em Minas Gerais, já que tem estimulado nos municípios a constituição de pontos de

apoio e de parcerias com atores locais.

Os pontos de apoio do BNB resultam de parcerias com as prefeituras municipais (também fazem

parcerias com os STR e com a EMATER). A prefeitura cede o atendente e o material logístico e de

expediente para o funcionamento do ponto, no mesmo horário da prefeitura. O atendente passa por um

treinamento na agência do BNB para prestar alguns serviços básicos ou recebe orientações sobre sua

função dos agentes de desenvolvimento e dos gerentes de suporte de negócios. O ponto serve para dar

apoio as ações do BNB nos municípios.7

Pode-se afirmar, para concluir, que a forma como o agente financeiro e os parceiros locais se apropriam

das normas do Pronaf (ou de outras políticas) é fundamental para sua aplicação. A percepção dos agentes

financeiros, por exemplo, é determinada, obviamente, pela demanda manifestada na agência bancária,

independentemente das dificuldades que agricultores e organizações sociais encontram para manifestar

essa demanda junto ao banco; já os parceiros locais, como os técnicos da extensão rural, as lideranças

7 Por exemplo: um cliente chega para pagar o crédito, o atendente do ponto de apoio liga para a agência, que envia manda o boleto via fax para o cliente efetuar o pagamento em qualquer banco.

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sindicais e os gestores públicos, avaliam que os agricultores têm receio de lidar com o banco, o que,

ademais as dificuldades para apresentar garantias patrimoniais, dificultaria uma repercussão mais positiva

da disponibilidade de crédito para os agricultores dos grupos C e D do Pronaf na região.

Desse modo, pouca eficácia terão medidas do Governo Federal diminuindo a burocratização do acesso ao

crédito se as agências bancárias não incorporam as novas normas, simplesmente, ou se têm dificuldades

de incorporá-las pela rigidez institucional que caracteriza suas estruturas, ou ainda se a informação sobre

as mudanças circula de forma truncada entre os parceiros locais. Com alguma freqüência, os gerentes

bancários acabam por definir os critérios de acesso ao Pronaf de acordo tão somente com a lógica

bancária e não em concordância com as normas do programa. Por essa razão, linhas direcionadas aos

grupos especiais do Pronaf, como as mulheres e os jovens, acabam tendo abrangência quase nula.

Pode-se indagar onde está dificuldade de comunicação: nas agências dos bancos, que demoram a

incorporar as mudanças e continuam a exigir os documentos já desnecessários, ou nos parceiros, que

assumem o ônus de se capacitarem para mediar a política no decorrer do processo e têm acesso a poucas

informações sobre os processos de liberação do crédito?

O Acesso aos Programas de Comercialização

Quanto à aquisição de produtos da agricultura familiar, in natura ou beneficiados, pelo Programa de

Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), pelo programa de compra direta da Companhia

Nacional de Abastecimento (CONAB) ou para mercados institucionais ainda é bastante reduzido o

número de experiências em funcionamento nos municípios do território, basicamente Teófilo Otoni, Frei

Gaspar e Pavão. As dificuldades são inúmeras, algumas delas pontuadas a seguir:

(1) a circulação de informação ainda é restrita sobre os programas nos municípios do território; resulta

que os agentes locais, e mesmo os agricultores e suas famílias, não se sentem preparados ou motivados a

implementar os programas. No município de Teófilo Otoni, por exemplo, os agricultores e seus

representantes desconheciam a possibilidade de reajuste da proposta inicial, substituindo produtos que

tiveram os preços alterados pelo órgão e alterando quantidades de outros para compensar esse ajuste, o

que levou muito a sentirem lesados ao receberem o pagamento inferior ao valor que havia sido

inicialmente proposto por eles;

(2) as exigências de formalização das organizações que vão operar as compras, presentes nos editais de

aquisição e/ou licitação dos órgãos públicos (é difícil, por exemplo, que uma associação comunitária,

ainda que formalizada, esteja com toda a documentação necessária em dia) e falta de recursos para

regularizar as associações comunitárias e para a implementação dos projetos de comercialização (custos

com a emissão de nota fiscal avulsa na Receita Estadual para os produtos beneficiados, por exemplo, já

que produtos in natura são isentos do tributo estadual). Especialmente, nesse caso, quando faltam recursos

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para legalizar as associações ou implementar o projeto, note-se que, de novo, a base do problema está na

dificuldade das associações em acompanharem o passo a passo e as obrigações dessa implementação,

ainda que pouco burocratizada: o ideal é que, de posse de um conjunto mais preciso de informações, a

direção da associação comunitária pudesse planejar a partilha dos gastos contábeis e fiscais inerentes à

formalização e à comercialização entre os associados beneficiados, sem afetar o andamento do processo

(a prestação de contas e a liberação dos pagamentos);

(3) a inexistência de contadores em alguns dos municípios para a emissão dos documentos fiscais

necessários para a prestação de contas;

(4) a ausência de fiscalização sanitária dos produtos de origem animal (não existem serviços de inspeção

municipal);

(5) as dificuldades de transporte dos produtos a serem comercializados pelos agricultores das unidades

produtivas e comunidades para um almoxarifado central, onde essa produção é distribuída para as escolas

públicas ou instituições de caridade;

(6) as restrições operacionais que enfrentam as prefeituras municipais (principal parceira do MDS na

execução do projeto e respectivo plano de trabalho do PAA e responsável direta no planejamento da

compra e distribuição para mercados institucionais). Por isso, na implementação do PAA (ou mesmo no

apoio aos programas da CONAB, que, mesmo sem depender diretamente das prefeituras, não prescindem

desse apoio), a participação do poder público municipal não depende apenas de uma atuação mais intensa

dos mandatários. Para as prefeituras, o custo para a implementação dos programas de aquisição de

produtos dos agricultores familiares acaba sendo alto: no caso do PAA, há o custo para a instalação e a

manutenção do ponto de apoio para o recebimento dos alimentos (salário do funcionário e custeio mensal

do banco de alimentos);

(7) as restrições da oferta de produtos disponíveis para a comercialização (para além do autoconsumo

familiar ou do comércio local), pois, em uma região em que predomina a bovinocultura, acaba sendo

pequena e/ou pouco freqüente e variada, à exceção da mandioca e dos seus derivados ou daquelas

comunidades que se especializaram nos produtos da olericultura, como o “cinturão verde” no entorno de

Teófilo Otoni;

(8) a ausência de organizações cooperativas ou associativas que, tradicionalmente, atuem no sentido de

organizar a oferta de produtos dos agricultores familiares, levando-se em conta que, como se afirmou, a

oferta é pequena e pulverizada no território,

(9) por fim, o que se observa é que todos esses fatores relacionados anteriormente, potencializados ou

decorrentes da falta de organização social dos agricultores e de seus representantes diretos, traduzem-se

em duas situações diferentes: na impossibilidade de disponibilizar o programa aos agricultores e

instituições beneficiárias ou, no caso dos projetos aprovados, no atraso do pagamento aos agricultores.

Em ambos os casos, o efeito é de desmobilização desses agricultores, que passam a responsabilizar, em

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particular, a prefeitura municipal, geralmente o principal apoiador da implementação dos programas de

comercialização do governo federal.

VISÃO DE FUTURO

A integridade do Território do Vale do Mucuri será determinada pelas populações humanas que mantém

estreito relacionamento com a natureza local. O acesso aos recursos naturais necessários à reprodução

social, cultural e econômica e a segurança alimentar para as famílias que vivem no campo, em condições

de gerar renda e praticar uma agricultura sustentável são elementos que orientam a construção do futuro

desejado para os membros da agricultura familiar, das mais diversas categorias da diversidade presente no

Território do Mucuri.

A ocupação do espaço territorial tem que evoluir no sentido de promover a convivência harmoniosa entre

os diferentes grupos étnicos e populações presentes, tendo como pressuposto assegurar o direito a plena

reprodução cultural dos indígenas da etnia Maxacali e outras presentes, dos quilombolas e outros povos e

comunidades tradicionais. A demarcação dos territórios para os povos e populações tradicionais deve ser

realizada, para assegurar o Direito e promover a paz na ocupação do espaço territorial.

A agricultura familiar precisa de maior acesso à terra e à água.

A correção das graves distorções na distribuição da terra no território, com a demarcação dos territórios

indígenas e quilombolas e um amplo programa de reforma agrária promoverá justiça social, dinamização

econômica e proteção dos recursos naturais.

A dinamização econômica das pequenas e médias cidades do Vale do Mucuri será assentada na

estruturação e fortalecimento das principais cadeias produtivas da agricultura familiar, bem como na

valorização da diversificação da produção e estratégias de comercialização dos produtos locais. A ação do

Estado por meio das Políticas Públicas deve fortalecer iniciativas com respeito às diversidades étnicas,

culturais e sociais existentes no Vale do Mucuri, as quais expressam desejos e necessidades diferentes.

A participação com representatividade na gestão social do Território tem que resultar no aperfeiçoamento

das Políticas Públicas, proporcionando efeitos sensíveis sobre os indicadores para o desenvolvimento

sustentável local. Esta percepção por parte dos sujeitos e instituições que estão experimentando a

participação na Política de desenvolvimento Territorial é essencial para a sustentabilidade da política.

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O Futuro da Agricultura Familiar está profundamente relacionado com a construção da Educação no

campo. Investimentos consistentes devem ser realizados em um amplo programa de Educação no Campo,

com valorização de todos os profissionais da Educação no campo e recursos para a realização de bons

projetos políticos pedagógicos que promovam a formação integral, cidadã, contextualizada e universal,

diferenciada e intercultural.

Com estes principais referenciais na construção de um futuro desejado, são estabelecidos resultados para

cinco anos. No início de 2015, serão parâmetros da realidade do Território do Vale do Mucuri:

� Trinta mil famílias viverão na agricultura familiar no Vale do Mucuri. Todos os seus membros

terão atendimento digno e satisfatório no sistema público de saúde e de proteção e seguridade

social.

� Todos os domicílios nas unidades produtivas sejam pequenas propriedades, parcelas de reforma

agrária, posses, áreas coletivas ou da união terão abastecimento de energia elétrica e água potável.

� As crianças e jovens da agricultura familiar dispõem de melhores escolas, tendo sido revertido a

tendência da nucleação, e com pelo menos cinco escolas famílias agrícolas em funcionamento.

� Os diferentes grupos étnicos e culturais terão assegurado seu direito nos territórios demarcados e a

educação diferenciada. Deverão estar demarcados novas áreas para os Maxacali, e pelo menos as

cinco áreas quilombolas em estudo.

� Os projetos de crédito fundiário terão sido reformulados, as pendências financeiras equacionadas e

as famílias assentadas em condições de promover a dinamização da agricultura sustentável.

� Os agricultores interessados terão acesso ao crédito agrícola e assistência técnica adequados aos

seus desejos e necessidades, promovendo sistemas sustentáveis e com capacidade de impactar

positivamente a renda das famílias.

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OBJETIVOS ESTRATÉGICOS

I. Apoiar o fortalecimento das organizações dos sujeitos sociais locais e ao fortalecimento

institucional relacionado a participação social nas políticas para o desenvolvimento sustentável,

tais como os Sindicatos de trabalhadores rurais, as associações e redes e cooperação, os grupos de

mulheres, os grupos quilombolas e organizações indígenas;

II. Promover a gestão participativa e o controle social das políticas de desenvolvimento rural

sustentável e o fortalecimento da agricultura familiar; no território, viabilizando ao funcionamento

regular dos Conselhos Municipais, Setoriais e Territoriais com representatividade e diversidade;

III. Aperfeiçoar permanentemente o Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável como

um instrumento coletivo apropriado para a gestão social participativa com vistas ao

desenvolvimento rural com equidade;

IV. Acelerar o programa de reforma agrária no território, com prioridade para os membros da

agricultura familiar sem terra ou de famílias com muito pouca terra. O programa de crédito

fundiário tem que ser reestruturado para que possa ser retomado em condições que permitam ás

famílias participar do desenvolvimento nacional e territorial;

V. Reconhecer e Demarcar os territórios quilombolas;

VI. Destinar novas áreas para a expansão do território Maxacali;

VII. Fortalecer as cadeias produtivas da pequena pecuária leiteira e de corte, da mandioca, do café, de

hortifrutigranjeiros no cinturão de teófilo otoni, estruturando programas de revitalização de

sistemas produtivos em bases sustentáveis, e sistemas de captação, armazenamento,

beneficiamento e distribuição destes produtos;

VIII. Fortalecer as feiras livres nos 27 municípios do Território;

IX. Ampliar a participação da agricultura familiar no fornecimento da alimentação escolar em pelo

menos 50% do total, ampliar a participação no PAA;

X. Estruturar um sistema territorial de monitoramento e melhoria das estradas rurais, visando

assegurar o transporte de pessoas e mercadorias;

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XI. Ampliar e qualificar os programas de geração de renda, articulando com mais eficácia as políticas

federais, estaduais e municipais;

XII. Assegurar o pleno funcionamento das escolas rurais já existentes, realizar estudos para a

reativação de boas estruturas públicas fechadas pela política de nucleação urbana dos jovens do

campo;

XIII. Assegurar o pleno funcionamento de cinco escolas famílias agrícolas no território;

XIV. Ampliar e tornar Federal a escola técnica de Serra dos Aimorés;

XV. Implantar programa de recuperação de nascentes em todas as localidades de agricultura familiar.

VALORES OU PRINCÍPIOS

I. A participação efetiva de diferentes atores sociais no âmbito da agricultura familiar;

II. A construção coletiva do conhecimento;

III. O respeito à eqüidade e à diversidade sócio-cultural;

IV. A promoção da solidariedade, justiça e da inclusão social;

V. O resgate do sentimento de identidade histórico-cultural, étnico e racial;

VI. A promoção da gestão e do controle social das Políticas Públicas;

VII. A disseminação de práticas agroecológicas e gestão ambiental atráves da educação, capacitação e

formação social;

VIII. O respeito mútuo nas relações de gênero, geração e poder;

IX. O respeito e estímulo à auto-organização e à representatividade dos agricultores e agricultoras;

X. O fortalecimento de ações que promovam a segurança alimentar e nutricional;

XI. A promoção de Educação adequada à realidade do campo;

XII. A efetiva participação dos atores nas intervenções que possam causar impactos ambientais.

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DIRETRIZES PRINCIPAIS

O PDTRS não dá conta de abarcar todas as dimensões e implicações para o desenvolvimento sustentável

do Universo Rural do Vale do Mucuri. Construído no contexto de Política Pública coordenada pelo

MDA, o recorte da participação social e institucional no Colegiado Territorial é a Agricultura familiar. A

participação de agentes públicos é mais relacionada aos programas de dimensão econômica, ater, crédito,

projetos de geração de renda, e muito mais reduzida em outras dimensões e outros setores, como Meio

Ambiente, Saneamento e Saúde. A representação do movimento social nos colegiados municipais e

territoriais inclui uma diversidade maior e a possibilidade de qualificação do PDTRS pode ser

permanente. Os programas estratégicos presentes estão sendo construídos, analisados, debatidos e

aprimorados em cada instancia territorial. Uma das diretrizes na organização do PDTRS é a que este se

constitua em um instrumento dinâmico para a gestão social dos Programas de Desenvolvimento, e que

reúna governabilidade dentro dos arranjos institucionais executoras das políticas publicas. Com esta

abordagem, o fortalecimento da gestão social pressupõe dinamizar, nos territórios, espaços de negociação,

construção coletiva de conhecimento, monitoramento e análise crítica das políticas e instrumentos para o

desenvolvimento sustentável.

As organizações representativas e autônomas da sociedade civil, as redes sociais de cooperação, os fóruns

e Conselhos setoriais de saúde, meio ambiente, educação, desenvolvimento rural, Segurança Alimentar,

Assistência Social e Economia Solidária são os espaços onde se materializam as condições objetivas e

necessárias aos processos de desenvolvimento. Nas dinâmicas das organizações sociais em diálogo com

os poderes locais, o PDTRS adquire coerência e legitimidade. Fortalecer estas organizações e redes,

apoiando as iniciativas em andamento, possibilitando condições para a ampliação de competências

organizacionais e pessoais, das relações solidárias e complementares, será diretriz do PDTRS.

A dinamização econômica é uma diretriz do PDTRS, e significa potencializar as vocações, cadeias e

sistemas existentes no território, fortalecendo as iniciativas locais e regionais, valorizando e respeitando a

diversidade sociocultural e as necessidades e desejos dos diferentes grupos. As pequenas e médias cidades

do Vale do Mucuri vivem um processo de estagnação econômica e demográfica que pode ser impactado

positivamente com investimentos em infraestrutura e organização de serviços de apoio à produção,

industrialização e comércio, contribuindo para o aumento das taxas de retorno econômico e social.

Page 98: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

98

EIXOS DE DESENVOLVIMENTO

Terra e Território

A ocupação, domínio e utilização do espaço territorial é uma dimensão essencial para o desenvolvimento

do Vale do Mucuri. A maior parte das famílias agricultoras tem restrição de terra para aumento da

produção e reprodução familiar. Milhares de famílias não têm a documentação da terra. Centenas de

famílias assentadas não conseguem a auto-sustentação em suas parcelas e milhares de famílias de povos e

comunidades tradicionais não tem ainda seu direito constitucional assegurado.

Água e biodiversidade

As localidades de agricultura familiar são mais freqüentes nas áreas mais acidentadas do território, e

concentram grande parte das nascentes das bacias do Mucuri, São Mateus e Alcobaça. O modo de

ocupação e a ineficácia das políticas ambientais na região construíram uma situação atual de grande

degradação destes recursos, bem como dos últimos remanescentes de mata atlântica do território, que não

dispõem de nenhuma unidade de conservação. O uso do fogo é generalizado pelos pecuaristas, levando a

processos erosivos generalizados, comprometendo inclusive a infraestrutura das zonas urbanas, que

recebem enormes descargas de terra das encostas no entorno. A dimensão ambiental é crítica na região, e

reverter estes processos é um dos eixos para o desenvolvimento sustentável do Mucuri.

Agriculturas e Economias

A designação deste eixo tem a intenção de fortalecer o princípio da diversidade social, cultural e

ambiental do Território. Os diferentes grupos em diferentes regiões desenvolveram sistemas e estratégias

de ocupação produtiva da paisagem com características próprias. As demandas e desejos são também

diferenciados em relação ao mercado, a necessidade de geração de renda monetária e a produção para

autossustentação e segurança alimentar. O desenvolvimento sustentável pressupõe a valorização das

múltiplas iniciativas locais, integrando-as em redes e cadeias de dinamização econômica. São muitas as

agriculturas, desde os povos tradicionais até os horticultores descendentes da imigração européia.

As políticas públicas devem possibilitar o fortalecimento de todos os grupos e organizações da agricultura

familiar, principalmente, por meio da participação direta na gestão e execução de projetos com recursos

públicos, como o PAA, a Merenda Escolar, o PRONAT, e outras. A nova política de ATER possibilita

que os grupos de agricultura familiar sejam atendidos em suas especificidades.

Ao mesmo tempo, o diagnóstico delineou as abrangências das culturas mais importantes de produtos para

a comercialização, e identificou a necessidade de construção de planos prioritariamente para as cadeias

Page 99: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

99

produtivas da Mandioca, da pequena pecuária e do Café. A estruturação de unidades de processamento,

agroindústrias, abatedouros, frigoríficos, armazéns e outros têm que ser mais acelerada.

Um problema prioritário de infraestrutura em todo o território é a locomoção de pessoas e produtos na

zona rural. Além de todos os transtornos na vida das pessoas, a insegurança gerada pela precariedade das

estradas no período chuvoso reduz a produção agrícola para o mercado. Esta questão deve ser tratada na

dimensão territorial, com os municípios em consórcio e participação dos governos estadual e federal, na

construção e execução de um plano de recuperação e manutenção das estradas rurais do Território.

Educação no campo

O retrato da educação básica no campo revelou o grande distanciamento das escolas e reais interesses

dos/as estudantes e das comunidades rurais. O processo de nucleação foi analisado insustentável,

conduzindo jovens e crianças para escolas urbanas, fora de suas comunidades e contextos, expostas aos

riscos diários nas centenas de veículos terceirizados pelas prefeituras para o transporte escolar. Este

processo deve ser freado e revertido. É uma mudança fundamental na política de educação atual.

O colegiado territorial do Vale do Mucuri prioriza a educação no campo e define como desafio prioritário

do PDTRS a construção de um sistema educacional voltado aos desafios e aos contextos das comunidades

rurais. Diante disso, a adoção de pedagogia e materiais didáticos adequados desde os anos iniciais do

ensino fundamental são condições fundamentais. As implantações das Escolas Famílias Agrícolas em

Malacacheta (EFAOM), Itaipé (EFACIL) e Águas Formosas, são iniciativas promissoras no Território do

Vale do Mucuri. As EFAs têm como princípio a pedagogia da alternância, que visa à aproximação entre

vida escolar, família do estudante e comunidade. Foi definida a criação de uma comissão em nível

territorial para ampliar o debate em torno de uma proposta educativa que fortaleça e valorize o campo e

suas populações, fruto do crescimento da participação de educadores e da mobilização social em torno

deste tema.

PROGRAMAS TERRITORIAIS E PROJETOS ESTRATÉGICOS

Programa da Terra

Objetivos:

� Assegurar o acesso e permanência na Terra para toda a agricultura familiar e povos tradicionais do

Território do Mucuri;

� Assegurar a legalidade da Terra em posse da Agricultura Familiar;

Page 100: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

100

� Assegurar a disponibilidade de Terra e água para as localidades ameaçadas com a Monocultura do

eucalipto.

Projetos Estratégicos

Identificar e reconhecer territórios indígenas e comunidades quilombolasAÇÕES

Assegurar a representatividade dos indígenas e quilombolas no Colegiado Territorial;

Criar grupo de estudo para apoiar e articular os estudos territoriais sobre povos e comunidades

tradicionais;

Elaborar uma proposta de revisão do território Maxacali, em diálogo com os todos grupos e

aldeias atuais;

Fortalecer iniciativas das comunidades indígenas e quilombolas para a segurança alimentar e

geração de renda ;

Fortalecer as iniciativas de preservação e recuperação ambiental nas áreas indígenas e

quilombolas;

Divulgar e dar visibilidade as questões étnicas do território do Mucuri.

Realizar novos projetos de assentamento de Reforma Agrária

AÇÕES

Mobilizar e Organizar movimentos de pressão para acelerar o programa de reforma agrária;

Apoiar a divulgação dos programas de reforma agrária, levando informação às comunidades;

Pressionar a estruturação do INCRA no Território;

Apoiar o levantamento das terras improdutivas e devolutas do território;

Executar os projetos de assentamento dos acampados em todo o Território;

Realizar levantamento e cadastramento das famílias agricultoras sem terra ou com muito pequena

propriedade.

Page 101: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

101

Reestruturar os assentamentos do Território para dar condições de produção e acelerar o

programa de Crédito Fundiário

AÇÕES

Rediscutir programa de Crédito; renegociar dívidas;

Promover seminários, em nível municipal, regional e territorial, com participação e

representatividade civil e pública;

Pressionar Governo para estruturar ITER/UTE no Território; monitorar e avaliar programa;

Levantar oferta de terra para aquisição pelo programa de Crédito Fundiário;

Pressionar Governos para aprimorar o sistema de crédito fundiário, desburocratizar e

disponibilizar mais recursos para a aquisição da terra e investimentos em infraestrutura;

(Realizar Estudos locais de viabilidade)

Realizar programa de documentação de Terras

AÇÕES

Articular parcerias entre os órgãos responsáveis e os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais para a

organização da campanha de legalização de Terra;

Fazer campanha para divulgação da lei que garante a gratuidade na legalização da terra até 100

hectares;

Promover mutirão para regularização documental da Terra.

Monitorar e controlar a expansão da Monocultura do eucalipto no Território

AÇÕES

Fiscalizar e informar a sociedade civil do Território;

Realizar seminários e intercâmbios com a participação de atingidos pela monocultura do

eucalipto em outros regiões (Vale do Jequitinhonha e Extremo Sul da Bahia e outras regiões

afetadas) ;

Mobilizar a sociedade do território para a gravidade da expansão permanente da Monocultura e

limitar a entrada do plantio de eucalipto no território.

(municípios limitem área plantada de eucalipto)

Page 102: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

102

Programa de Sustentabilidade Ambiental

Objetivos

Promover a educação ambiental em todos os espaços da agricultura familiar do Território do Mucuri,

mobilizando os membros da agricultura familiar para ações positivas de recuperação ambiental;

Assegurar a quantidade e a qualidade da água para a agricultura familiar do Território;

Assegurar a conservação e a recuperação de reservas florestais da Mata Atlântica do Território do

Mucuri;

Assegurar o ambiente rural livre da poluição por acumulação de lixo;

Projetos Estratégicos

Programa de Educação Ambiental territorial com prioridade para a Preservação da água

AÇÕES

Construir parceria entre organizações e órgãos públicos para Educação Ambiental;

Formar agricultores e agricultoras a partir das associações;

Incluir a formação do CMDRS nos temas ambientais;

Organizar reuniões e mutirões ambientais e cursos de capacitação de agentes multiplicadores,

dias de campo, intercâmbios;

Ativação dos CODEMAS em todos os municípios.

Programa de Proteção de Nascentes

AÇÕES

Realizar levantamento de nascentes nas comunidades rurais;

Oferecer trabalhos educativos e assistência técnica com cursos de capacitação agroecológica; Oferecer

recursos financeiros para recomposição das nascentes;

Trabalhar o amparo da lei que prevê o incentivo fiscal.

Page 103: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

103

Programa de saneamento e abastecimento de água

AÇÕES

Mobilização para projetos de saneamento básico;

Fazer o tratamento adequado nas instalações produtivas que poluem os córregos e rios;

Evitar depositar o lixo às beiras dos rios e córregos;

Oferecer Trabalho de conscientização e alternativas para o correto destino do lixo;

Acompanhar as ações da COPANOR na construção de estações de tratamento de esgoto e no

abastecimento de água nas comunidades rurais;

Construção de fossas sépticas, de banheiros e poços artesianos. Elaboração de projetos junto às

comunidades rurais, com apoio de agentes de saúde.

Preservar o solo, evitando a erosão e o assoreamento dos córregos, baixas e lagoas

AÇÕES

Aprofundar os estudos ambientais no território e fomentar a formulação de novos projetos e ampliação

das iniciativas existentes para a recuperação dos recursos naturais, solo, água e biodiversidade da Mata

Atlântica remanescente;

Fazer barragens secas;

Fornecer maquina para a construção dessas barragens, e fazer trabalho de orientação técnica;

Preservar as matas; plantio e reflorestamento;

Fornecimento de mudas e orientações técnicas;

Utilização de tratores agrícolas de forma ecologicamente correta e uso adequado do solo;

Oferecer orientação técnica para o operador e os agricultores.

Promover o Controle do Uso do Fogo

AÇÕES

Promover a agroecologia;

Promover cursos de capacitação dos agricultores;

Conscientizar os agricultores para a fiscalização comunitária;

Placas indicativas na beira das estradas advertindo o risco de fogo;

Não permitir que se queime as áreas promovendo a fiscalização e Divulgação educativa;

Mobilização entre prefeituras e entidades locais para cobrar eficácia aos órgãos responsáveis;

Criar mecanismos de incentivos fiscais para a recuperação e conservação ambiental (redução de

impostos).

Page 104: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

104

Promover a recuperação de áreas de Mata Atlântica

AÇÕES

Apoiar projeto de recuperação ambiental do território Maxacali;

Apoiar programas e projetos de recuperação ambiental e de agricultura sustentável;

Realizar fiscalização em parceria com órgãos competentes.

Programa de Tratamento do lixo rural.

AÇÕES

Mobilização das pessoas e conscientização. Coleta seletiva do lixo;

Fazer depósitos onde não há coleta regular. Assistência técnica, cursos, capacitação;

Construir em cada município seu aterro sanitário;

Promover programas para reciclagem do lixo;

Livrar o meio ambiente e o ser humano da contaminação pelo uso de agrotóxicos.

Programa de Educação no Campo.

Objetivos

Construir um currículo voltado para a realidade e valorização da Agricultura Familiar e povos tradicionais

do Vale do Mucuri;

Assegurar um Transporte Escolar seguro e regular para os jovens da agricultura familiar;

Aprimorar os programas de Educação de Adultos.

Page 105: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

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PROJETOS ESTRATÉGICOS

Melhoria das condições da Educação Básica nas localidades. Nucleação rural até o ensino médio

AÇÕES

Capacitação de professores para adoção de uma pedagogia adequada a meio rural;

Capacitação de professores/as para adoção de uma pedagogia adequada ao campo, contemplando

os/as agricultores/as familiares e comunidades tradicionais;

Apoiar a manutenção das escolas no campo;

Diminuição do número mínimo de alunos para abrir uma escola no meio rural;

Melhoria das condições de trabalho dos/as educadores/as, pedagógicas e infraestrutura das

Escolas;

Mobilização das entidades ligadas ao meio rural sobre a importância da participação das famílias

no processo de educação no campo;

Organizar escolas por setores ou distrito rurais a partir dos anos finais do ensino fundamental;

Adoção de materiais didáticos adequados a realidade (local e regional) do campo;

Mobilizar colegiados escolares para reunir e debater uma proposta de educação de qualidade no

campo;

Organizar escolas por setores ou distrito rurais.

Apoiar junto a sociedade civil a criação EFAS e Escolas técnicas públicas regionais.

AÇÕES

Apoiar a implantação da EFA de Malacacheta;

Apoiar a implantação a EFA de Itaipé;

Apoiar a implantação a EFA de Águas Formosas;

Apoiar a reestruturação da EFA de Pavão;

Apoiar a Escola Agrícola de Serra dos Aimorés.

Acesso dos filhos da Agricultura Familiar no Ensino Superior

AÇÕES

Garantir o acesso gratuito dos jovens à universidade;

Promover cursos preparatórios gratuitos;

Garantia de cota para jovens da agricultura familiar , indígenas e quilombolas.

Transporte escolar eficiente de qualidade para toda a Agricultura familiar

Page 106: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

106

AÇÕES

Mobilização das comunidades escolares para participar, cobrar do Conselho de Educação

melhorias no sistema. Fiscalização mais rigorosa e rotineira;

Educação dos jovens para a conservação dos veículos;

Planejar melhor o sistema; ampliar frota, garantir transporte seguro com manutenção dos veículos

e formação de condutores;

Assegurar o transporte dos professores;

Melhoramento e cascalhamento das estradas.

Apoiar programas de Alfabetização de Jovens e Adultos

AÇÕES

Incentivar os agricultores a participar dos programas de alfabetização de jovens e adultos;

Participar das mesas de gestão dos programas de Educação de Adultos.

FORTALECIMENTO DOS SISTEMAS PRODUTIVOS

Objetivos

Planificar demandas de estruturas e serviços para o aumento da produção e da produtividade de modo

sustentável;

Fortalecer as iniciativas das organizações da agricultura familiar.

Projetos Estratégicos

Elaboração de Diagnósticos e Planos específicos para estruturação e consolidação das principais cadeias

produtivas da agricultura familiar

AÇÕES

Construir Plano de Recuperação da região produtora de Café (microrregiões noroeste e oeste);

Apoiar o funcionamento das unidades de beneficiamento associativas;

Apoiar a aquisição de equipamentos para secagem e armazenamento de café;

Apoiar a recuperação, melhorias e construção de pequenas unidades familiares de processamento de

mandioca;

Apoiar a implantação de tanques de resfriamento de leite prioritariamente nas regiões norte e leste do

território;

Implantar abatedouros municipais para assegurar o mercado de carne local.

Page 107: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

107

Qualificação do Plano Safra Territorial ( Crédito e Assistência Técnica)

AÇÕES

Monitorar e avaliar o Plano Safra territorial;

Acompanhar e avaliar a assistência técnica;

Estruturar melhor a rede bancária publica no território.

Assegurar a disponibilidade, quantidade, qualidade e diversidade de material genético para o

desenvolvimento dos sistemas produtivos

AÇÕES

Criação de bancos de sementes;

Criação de bancos de sêmen;

Programa de distribuição de sementes, mudas e pequenos animais.

Construir projeto da unidade de pesquisa da Agricultura Familiar no Mucuri com enfoque na

agroecologia.

AÇÕES

Integrar órgãos para gestão da unidade de pesquisa;

Promover a agroecologia nas escolas.

Fomentar a criação de Micro cooperativas e associações locais

AÇÕES

Organizar programa de formação para o fortalecimento do Associativismo;

Capacitação de lideranças;

Melhorar atendimentos dos órgãos de apoio;

Mobilizar associações locais;

Fortalecer centrais de associações.

Fortalecer a participação das organizações nos fóruns de gestão do Desenvolvimento Sustentável da

Agricultura Familiar

AÇÕES

Fortalecer Conselhos com recursos e estrutura física.

Fortalecer as redes de Cooperação entre as entidades da Agricultura Familiar

AÇÕES

Page 108: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

108

Criar pontos de comercialização;

Criar cooperativas de crédito.

Assegurar a disponibilidade de infra estrutura coletiva para apoiar o desenvolvimento dos sistemas de

produção locais

AÇÕES

Aquisição de máquinas e equipamentos;

Fortalecer patrulhas mecanizadas;

Difundir sistemas de tração animal ;

Incrementação da Agroindústria dos Agricultores Familiares como: farinheira, beneficiamento do

café, fabricas de doces, cachaça, beneficiamento do leite, resfriadores de leite comunitários;

Reativação da Usina de produção de calcário de Poté.

Assegurar um sistema de transporte para a produção da agricultura familiar satisfatório e com custo

compatível com a geração de renda das famílias

Mapeamento das estradas, visando à priorização na ação, com identificação de pontos críticos e

obras de drenagem, pontes, demanda de mataburros;

Criação de estruturas regionais, formando consórcios municipais;

Dimensionar a demanda de máquinas a nível regional para a conservação das estradas;

Adquirir ou alugar as máquinas para conservação das estradas em parcerias municipais;

Adquirir caminhões para atendimento exclusivo aos Agricultores Familiares;

Estruturação de sistema de transporte da produção.

Ampliar e Melhorar as condições de mercado e a agregação de valor aos produtos da Agricultura Familiar

AÇÕES

Estruturação dos processos de beneficiamento dos produtos da Agricultura Familiar;

Desenvolvimento da capacidade de gestão de empreendimentos coletivos;

Campanhas de comunicação para valorização dos produtos da Agricultura Familiar regional;

Divulgação nos meios de comunicação; Participação em feiras livres;

Criação de informativo regional;

Planejamento da produção regional;

Ampliar a participação da Agricultura Familiar no mercado institucional (merenda escolar,

instituições sociais e de atendimento a saúde);

Estimular produção e beneficiamento coletivo com marca própria da Agricultura Familiar;

Investir em espaços da economia solidária para a agricultura familiar, indígenas e quilombolas;

Reestruturar as feiras livres e criá-las onde não existem as feiras cobertas nos municípios;

Page 109: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

109

Reestruturar o sistema de comercialização no atacado (CEASA de Teófilo Otoni);

Estruturação de Cooperativas de produção e Comercialização da Agricultura Familiar;

Promover o associativismo e o cooperativismo entre os produtores familiares.

PROPOSTA DE GESTÃO DO PDTRS

O Território Vale do Mucuri, constituído no âmbito do Programa Nacional de Desenvolvimento de

Territórios Rurais da Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT, do Ministério do

Desenvolvimento Agrário – MDA e aprovado em 09 de outubro de 2003 pelo Conselho Estadual de

Desenvolvimento Rural Sustentável - CEDRS, é um espaço de participação, discussão, proposição,

deliberação, implantação, gestão e controle social das políticas públicas de desenvolvimento rural

sustentável com funcionamento permanente, regido por Regimento Interno e pelas normas aplicáveis.

Os municípios que compõem o Território são: Águas Formosas, Ataléia, Bertópolis, Campanário, Caraí,

Carlos Chagas, Catuji, Crisólita, Franciscópolis, Frei Gaspar, Fronteira dos Vales, Itaipé, Itambacuri,

Ladainha, Machacalis, Malacacheta, Nanuque, Novo Oriente de Minas, Ouro Verde de Minas, Pavão,

Pescador, Poté, Santa Helena de Minas, Serra dos Aimorés, Setubinha, Teófilo Otoni e Umburatiba.

Constituído entre os primeiros territórios de Minas Gerais, sua composição corresponde à área de atuação

da Associação dos Municípios da Microrregião do Vale do Mucuri (AMUC), entidade que, em parceria

com o IDENE, articulou a apresentação da proposta do território do Mucuri no contexto da Política

apresentada pela SDT/MDA, em colaboração também com a EMATER/MG. Em momentos posteriores,

ocorreram a inclusão e adesão de organizações da sociedade civil, principalmente dos sindicatos de

trabalhadores rurais e redes de associações de agricultores familiares. Entre as Prefeituras, a participação

se restringiu a representantes das secretarias de agricultura, exceção a alguns poucos prefeitos. Não

existiam redes sociais na abrangência do território antes da implementação da política. Pelas próprias

dimensões do território e dificuldade de locomoção, as dinâmicas de desenvolvimento são muito locais ou

em redes de abrangência menores e setoriais, sem a construção coletiva de identidades territoriais ou

negociações para um desenvolvimento comum. A Política de Desenvolvimento Territorial inaugura uma

nova dinâmica de encontros entre representantes da sociedade civil e órgãos públicos dos 27 municípios,

e uma nova abordagem de analise e reflexão sobre desenvolvimento sustentável e a agricultura familiar.

O processo é de aprendizagem e construção de conhecimento novo, e também de disputas e conflitos. A

nova mudança de abordagem, com a criação do Território da Cidadania, trouxe novos atores com uma

expectativa maior de captação de recursos para projetos locais e setoriais e desarrumou os arranjos

políticos que possibilitaram o avanço e qualificação da política de desenvolvimento territorial e a

aplicação dos recursos vinculados ao PRONAT. Em 2010, houve uma reacomodação no processo de

gestão, principalmente retomando a configuração anterior, com foco nas políticas públicas para a

Page 110: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

110

agricultura familiar e predomínio das entidades representativas da categoria e dos setores públicos

relacionados.

Visando a assegurar maior participação, diversidade e representatividade nos processos de decisão sobre a

política de desenvolvimento territorial no Mucuri, desde o início foi desenhado uma proposta de gestão

em rede, na qual o Colegiado Territorial se constitui no fórum síntese desta Rede. Esta elaboração foi

contextualizada na realidade territorial e nos limites de recursos operacionais para implantação de uma

gestão social participativa. O território é constituído de 27 municípios. Considera-se uma representação

mínima dois representantes por municípios, além de entidades regionais civis e governamentais, levando

o colegiado a mais de 70 membros. Ainda assim é incapaz de abrigar a diversidade e pluralidade de cada

município. Por outro lado, é intenção coletiva a permanência e valorização dos Conselhos Municipais de

Desenvolvimento Rural Sustentável, fórum que, em sua somatória, inclui a maior representação das mais

de 600 localidades de agricultura familiar do território. Foram constituídas microrregiões, como uma

subdivisão territorial, com base na facilidade de articulação e locomoção de representantes para ações de

gestão social do Plano em intervalos menores e maior participação local. Esta estratégia permitiu uma

divulgação e internalização maior da abordagem de desenvolvimento territorial, mas enfrentou resistência

dos agentes externos interlocutores do MDA e os fóruns regionais foram desconsiderados na estrutura de

gestão territorial, embora permaneçam na dinâmica de negociação dos projetos do PRONAT.

Microrregiões Municípios

Norte Águas Formosas, Bertópolis, Crisólita, Fronteira dos Vales, Machacalis, Novo Oriente de Minas,

Noroeste Caraí, Catují, Itaipé e Ladainha

Oeste Franciscópolis, Malacacheta, Poté e Setubinha

Sul Campanário, Frei Gaspar, Itambacuri, Ouro Verde de Minas, Pescador e Teófilo Otoni

Leste Ataléia, Carlos Chagas, Nanuque e Serra dos Aimorés

Fonte: IDENE e ARMICOPA, 2005.

As prefeituras desempenham um importante papel de mediação por conta dos vínculos que estabelecem,

ou deveriam estabelecer, entre os agricultores e as políticas e ações governamentais, a começar pelo

acesso ao Pronaf, mas também a outros programas do governo estadual e federal, às ações de assistência

técnica, compras institucionais, bancos de mudas e sementes, beneficiamento e comercialização da

produção etc. Note-se que grande parcela das políticas públicas de nível federal e estadual, não só

programas como o de aquisição de alimentos, vêm sendo operacionalizadas em parceria com as

prefeituras municipais, especialmente desde a promulgação da Constituição de 1988.

Atualmente, os programas implementados pelo MDS, como o PAA, por exemplo, têm nas prefeituras seu

principal parceiro, bem como os instrumentos importantes para a sustentabilidade da aplicação do Pronaf,

como o Garantia Safra, que combina a adesão dos três níveis de governo e dos agricultores familiares a

um fundo. Nos municípios em que as prefeituras são mais atuantes e estabelecem, em alguma medida,

Page 111: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

111

relações diferenciadas com o sindicato de trabalhadores rurais e o escritório local da EMATER, o

resultado é bastante positivo.

As políticas públicas estão atualmente sustentadas, basicamente, em metodologias de participação e

negociação entre diferentes atores sociais e que são aplicadas em espaços de articulações intermunicipais,

como as ações do MDA (territórios rurais) e do MDS (consórcios de desenvolvimento local e segurança

alimentar), ou inter-regionais (mesorregiões), como no caso do Ministério da Integração Nacional. Desse

modo, ao falar do papel dos sindicatos de trabalhadores rurais na mediação das políticas públicas, não

está se considerando apenas o papel que esses sindicatos desempenham no repasse aos agricultores de

direitos previdenciários (seria outro âmbito de análise, pela influência que o exercício dessa função exerce

no cotidiano dos sindicatos), está se levando em conta principalmente a representação social que são

convidados a exercer nos espaço de negociação, discussão e gestão dos programas e políticas. Nesses

espaços de atuação, os sindicatos precisam se relacionar com diferentes atores sociais, com freqüência

buscando formas de cooperação com atores com os quais não comungam as mesmas posições sociais e

percepções sobre a aplicação dos instrumentos de política pública no território ou sobre as demandas dos

agricultores familiares.

As relações com as administrações municipais variam de intensidade, ocorrendo embates políticos

bastante tensos em alguns municípios, enquanto em outros se nota uma maior proximidade entre as

posições desses diferentes agentes políticos, o que resulta em maior sintonia entre as políticas públicas e

as demandas expressas pelas organizações da agricultura familiar.

As ações da Igreja Católica e de organizações não-governamentais (como a ARMICOPA) têm sido

essenciais para ampliar a atuação dos sindicatos, seus espaços de inserção social e política, suas

articulações a organismos de cooperação internacional e o acesso a programas governamentais e outras

fontes de recursos. As referidas organizações tanto permitem a expansão da ação sindical, como também

garantem envergadura aos seus projetos a partir dessa ação, ou podem mesmo resultar da ação dos

sindicatos, à medida que esses constituem, por exemplo, fóruns para a discussão de questões que afetam

toda a região. Essas organizações, conjuntamente com os sindicatos, empreendem esforços em diferentes

direções e conseguem consolidar resultados importantes (ligados, especialmente, a questões ambientais,

de produção e comercialização). Tais parcerias, entretanto, ainda não conseguem, por diferentes razões, a

começar pela história recente de algumas das experiências, irradiar sua ação de forma homogênea pelo

território, estando mais concentrada em alguns municípios e grupos de agricultores.

Do ponto de vista dos agricultores, é preciso considerar a importância da rede local por onde circulam as

informações sobre as políticas públicas, constituídas a partir de diferentes arranjos, a depender do

município. Quanto mais articulados estiverem, mais facilmente a informação circula e chega até os

agricultores. Há uma interdependência da ampliação do acesso às políticas públicas ao conjunto mais

amplo de relações (políticas, institucionais e pessoais) no nível local, envolvendo os agentes

mencionados.

Page 112: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

112

Os agricultores que não são alcançados pelas organizações sociais continuam, entretanto, enfrentando

dificuldades no acesso às políticas, mesmo porque esse alcance depende não só da atuação direta das

organizações sociais, e dos limitantes que enfrentam, mas também do grau da organização comunitária

dos agricultores: a presença de uma associação comunitária atuante pode ser fundamental para determinar

o acesso às políticas públicas, principalmente se integrada nesta rede de articulações em torno dos

CMDRS. Considera-se, portanto, que o processo de gestão da política territorial se inicia nas

comunidades organizadas, passa pelas organizações locais e municipais e pelas articulações regionais

antes de convergir (para depois irradiar) no Colegiado Territorial, que é a primeira e principal instância de

gestão formal do PDTRS, mas que só adquire legitimidade em conexão com as redes locais.

As Instâncias Territoriais oficiais são:

1- Colegiado de Desenvolvimento Territorial

2- Grupo Gestor

3-Secretaria Executiva

O Colegiado de Desenvolvimento Territorial é o nível deliberativo máximo e possui como atribuições

principais:

Orientar a condução dos programas, projetos e planos, com base em diretrizes e objetivos gerais

estabelecidos pelas políticas públicas e programas governamentais e não governamentais nos níveis

federal, estadual e municipal de acordo com a realidade local; Definir prioridades e deliberar sobre a

proposição e execução de projetos bem como acompanhar e fiscalizar a execução dos mesmos; Deliberar

sobre a ação do Grupo Gestor; Conceber o Território Rural como uma unidade de planejamento

participativo e gestão social, tendo como base o diagnóstico e o Plano Territorial de Desenvolvimento

Rural Sustentável - PTDRS elaborado, garantindo a flexibilidade para os ajustes pertinentes de acordo

com as deliberações da Plenária Territorial; Apoiar e garantir a implementação e gestão dos planos

municipais, do PTDRS e dos projetos específicos a serem implantados; Criar mecanismos de

monitoramento e avaliação das ações incluídas no PTDRS, de forma a efetivar um processo de revisão e

de aperfeiçoamento do mesmo; Promover a articulação entre as demandas sociais, selecionadas por

consenso como de caráter territorial, e que contemplem as prioridades definidas pelo PTDRS e as

políticas públicas voltadas para o desenvolvimento rural sustentável da agricultura familiar; Viabilizar a

divulgação interna e externa das potencialidades, demandas e ações desenvolvidas no território; Construir

e propor soluções para a dinamização cultural, social e econômica do território; Publicitar as ações e

políticas, de modo a evitar clientelismo, corporativismo e bairrismo, que levam à apropriação restrita das

políticas públicas em detrimento do interesse público; Apoiar efetivamente a realização das reuniões,

oficinas, encontros, seminários e outros, visando ampliar e consolidar a participação da população rural

nas decisões do Território; Incentivar e acompanhar a criação, reformulação, organização e

funcionamento dos CMDRS em todos os municípios;

Page 113: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

113

O Colegiado de Desenvolvimento Territorial é constituído por 03(três) representantes de cada município

que compõe o território, sendo 01(um/a) representante do Poder Público Municipal, ligado à agricultura e

indicado pelo Executivo Municipal e 02(dois) representantes da agricultura familiar, inseridos em

organizações de agricultura familiar, tais como: sindicatos, associações rurais, assentamentos dentre

outros, indicado formalmente pela respectiva instituição.

O Grupo Gestor é Nível Decisório Gerencial dos programas, projetos e planos e tem as seguintes

atribuições:

Sensibilizar, mobilizar e estabelecer o diálogo e o comprometimento dos atores que atuam no território –

governamentais e não governamentais, da sociedade civil e da iniciativa privada – legitimando as

decisões e promovendo o envolvimento destes na implementação das ações estratégicas para o

desenvolvimento territorial; Incentivar o compartilhamento de responsabilidades e de estratégias entre os

atores sociais do Território, a formação de parcerias e a atuação solidária visando à coesão social e

territorial; Promover e estimular a participação das comunidades rurais, assentamentos, sindicatos,

associações rurais, acampamentos, remanescentes de quilombolas, indígenas e outros, no planejamento e

na execução dos planos e obras de interesse da população rural do Território;

O Grupo Gestor possui caráter permanente e é constituído por 03 (três) representantes do poder público e

03 (três) da sociedade civil da agricultura familiar, sendo que cada órgão tem direito a um/a representante

que terá direito a voz e voto nas reuniões.

À Secretaria Executiva, cabe oferecer o apoio técnico e administrativo às ações territoriais, dando suporte

permanente ao funcionamento das instâncias e às entidades executoras na elaboração dos Planos de

Trabalho e no encaminhamento da documentação junto aos órgãos competentes;

Para cada projeto encaminhado para financiamento do PRONAT, é realizado um termo de gestão,

atribuindo responsabilidades ao Colegiado, como responsável pelo acompanhamento geral do projeto e

articulador de parcerias e das políticas públicas de caráter federal, estaduais e municipais

Aos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável, cabe acompanhar, em nível

municipal, a implementação dos projetos territoriais e exercer o monitoramento do projeto territorial na

área de abrangência do município, mantendo um estreito relacionamento com os colegiados territoriais

para informar sobre o monitoramento dos projetos territoriais em cada município do território. A entidade

executora do projeto se compromete a cumprir o plano de trabalho aprovado e fornecer as informações ao

colegiado e ao conselho municipal (onde houver) necessárias ao monitoramento e avaliação do projeto

territorial.

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114

Na elaboração do Plano foram destacados dois objetivos estratégicos para a Gestão Territorial no

Mucuri

Objetivo 1.

Garantir a legalidade do CMDRS e a participação dos representantes dos Agricultores Familiares

AÇÕES

Criar Conselhos Territoriais microrregionais;

Apoio financeiro dos municípios ao Conselho Microrregional e aos CMDRS;

Processo permanente de capacitação para conselheiros municipais;

Criação de um fundo para manutenção dos CMDRs.

Objetivo 2

Assegurar o acesso às informações sobre recursos e políticas públicas pra os Agricultores Familiares

AÇÕES

Organizar os Agricultores Familiares pra garantir a presença de seus representantes nos espaços de

discussão e definição das políticas públicas (CMDRS, CIAT);

Realizar mapeamento das rádios comunitárias e divulgar informações;

Publicar mensalmente o boletim da Agricultura Familiar;

Mobilizar maior presença dos órgãos públicos nas comunidades;

Fornecer informações sobre a situação das obras municipais e recursos públicos.

Monitoramento e Avaliação do Desenvolvimento no Território do Vale do Mucuri, Minas Gerais.

A principal estrutura de apoio aos processos de monitoramento e avaliação do Plano de Desenvolvimento

Territorial do Vale do Mucuri é a Célula de Acompanhamento, vinculada à Universidade Federal dos

Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM, com apoio do CNPq. O objetivo principal da Célula é

promover processos de acompanhamento, monitoramento e avaliação das condições de vida e do

desenvolvimento no Território do Vale do Mucuri, contribuindo assim, para o estabelecimento do

Sistema de Gestão Estratégica do Programa de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais.

A célula realiza as seguintes ações, em diálogo com o Colegiado territorial:

Page 115: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

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• Levantamento e sistematização em um banco de dados: todas as informações existentes/produzidas

sobre o Território do Mucuri, relacionadas ao Programa de Desenvolvimento Sustentável de

Territórios Rurais;

• Monitoramento e avaliação dos indicadores Índice de Condições de Vida (ICV) e Índice de Desenvolvimento

Sustentável (IDS) do Território do Mucuri;

• Alimentação constante do Sistema de Gestão Estratégica do Programa de Desenvolvimento Sustentável de

Territórios Rurais, com informações sobre o funcionamento e a agenda de trabalho do Colegiado de

Desenvolvimento Territorial do Mucuri, a ocorrência de eventos e a execução de projetos relacionados ao

Programa;

• Alimentação da rede de comunicação do Território, com informações de interesse do Programa e subsidiar o

Colegiado com os resultados do acompanhamento, monitoramento e avaliação visando ao aperfeiçoamento

do processo de gestão territorial.

• Estratégias para o monitoramento

Todas as ações relacionadas ao monitoramento serão debatidas e planejadas no Colegiado Territorial (em

suas diferentes instâncias), não somente pelo entendimento da sua necessidade política, mas também,

principalmente, pelo entendimento de que todo processo de monitoramento e avaliação das condições de

vida e do desenvolvimento territorial deve se dar de forma participativa em que todos os atores sociais

envolvidos com as ações territoriais devem compreender, apreender e conceber os indicadores que estarão

sendo utilizadas, bem como os resultados obtidos.

O arranjo institucional para a execução das atividades se dará pela institucionalização da Célula de

Acompanhamento e Informação do Mucuri (CAI-M) como parte integrante do GEPAF-Vales (Grupo de

Pesquisa em Agricultura Familiar dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – Cadastrado no CNPq),

constituída por todos os Docentes e Discentes envolvidos diretamente com o projeto, além do

Profissional-Bolsista.

O Profissional-Bolsista atuará em estreita interação com o Articulador Territorial, acompanhando todas as

atividades do Colegiado Territorial, e será o elo da CAI-M com o Colegiado.

Em cada município que compõe o Território, serão identificados Técnicos/as e Lideranças das

Instituições/Organizações, presentes nos municípios e relacionadas às ações de desenvolvimento

territorial, independente de fazerem ou não parte do Colegiado Territorial, para servirem de apoio e

referência para o processo de acompanhamento, monitoramento e avaliação. Essas referências se

constituirão em uma rede de comunicação e informação para o processo.

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Resultados Esperados

a) um banco de dados contendo todas as informações produzidas sobre o Território do Mucuri,

relacionadas ao Programa de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais – PDSTR;

b) informações acerca dos indicadores Índice de Condições de Vida (ICV) e Índice de Desenvolvimento

Sustentável (IDS) do Território do Mucuri, para subsidiar estratégias e ações do PDSTR, orientando o

aperfeiçoamento dos processos e favorecendo a geração e sistematização de conhecimentos, bem como a

aprendizagem sobre as realidades, dinâmicas e especificidades do desenvolvimento rural e regional,

segundo a abordagem territorial;

c) geração de dados que servirão como subsídio à qualificação/aperfeiçoamento do processo de gestão

territorial ao Colegiado Territorial;

d) disponibilizar para a UFVJM dados e informações que possam constituir insumos relevantes às

atividades de pesquisa, ensino e extensão;

e) gerir recursos que possam apoiar os avanços nos sistemas de planejamento, avaliação e gestão, bem

como na diversificação e na inovação; e

f) além disso, institucionalizar a Célula de Acompanhamento e Informação do Mucuri (CAI-M), para que

esta, juntamente com a atuação de Docentes e Discentes da UFVJM, possa acompanhar, monitorar e

avaliar as condições de vida e do desenvolvimento no Território em análise.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O território é a unidade que melhor dimensiona os laços de proximidade entre pessoas, grupos sociais e

instituições que podem ser mobilizadas e convertidas em um trunfo crucial para o estabelecimento de

iniciativas voltadas para o desenvolvimento. No entanto, a abordagem territorial não significa apenas uma

escala dos processos de desenvolvimento a ser considerada, ela implica, também, um determinado

método para favorecê-los. Nela, o desenvolvimento não é decorrência da ação verticalizada do poder

público, mas sim da criação de condições para que os agentes locais se mobilizem em torno de uma visão

de futuro, de um diagnóstico de suas potencialidades e limitantes, e dos meios para perseguir um projeto

próprio de desenvolvimento sustentável. É assim que a perspectiva territorial do desenvolvimento rural

sustentável permite a formulação de uma proposta centrada nas pessoas, que leva em consideração os

pontos de interação entre os sistemas socioculturais e os sistemas ambientais e que contempla a

integração produtiva e o aproveitamento das potencialidades desses recursos como meios que

possibilitam a cooperação e co-responsabilidade ampla de diversos atores sociais.

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Trata-se, portanto, de uma visão integradora de espaços, atores sociais, mercados e políticas públicas de

intervenção, através da qual se pretende alcançar: a geração de riquezas com eqüidade; o respeito à

diversidade; a solidariedade; a justiça social; a inclusão social.

O processo de contrução e execução da atualização e qualificação do PTDRS evidenciou a necessidade de

incorporação de processos mais participativos nas iniciativas de Desenvolvimento Rural. Mostrou

também que a política territorial adotada no âmbito do Progrma Territórios da Cidadania ainda não se

incorporou no cotidiano dos/as agentes regionais e das entidades representativas da Agricultura Familiar

do vale do Mucuri.

Os desafios de de contrução de processos participativos de estratégias de desenvolvimento integrado e

sustatável, ainda se montram enormes e desafiadores no universo da agricultura familiar do Vale do

Mucuri. Nesse cenário, um dos principais objetivos do PDTRS é a socialização das informações

dfundidos aos gestores e órgãos públicos, e organizações sociais do Território.

Page 118: Documento Final Atualizao do PDTRS Vale do Mucuri

118

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