73
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE DA INSERÇÃO DA CULTURA NEGRA NO CURRÍCULO ESCOLAR MARIA IVANILDES GONÇALVES DA SILVA BRAGA ORIENTADOR: PROF. MARCO ANTÔNIO LAROSA PEÇANHA FEVEREIRO/ 2007 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 2012-11-14 · História da África e dos africanos no currículo escolar do ensino fundamental e ... com esta medida, combater

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

DA INSERÇÃO DA CULTURA

NEGRA NO CURRÍCULO ESCOLAR

MARIA IVANILDES GONÇALVES DA SILVA BRAGA

ORIENTADOR:

PROF. MARCO ANTÔNIO LAROSA

PEÇANHA

FEVEREIRO/ 2007

DOCU

MENTO

PRO

TEGID

O PEL

A LE

I DE D

IREIT

O AUTO

RAL

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

DA INSERÇÃO DA CULTURA

NEGRA NO CURRÍCULO ESCOLAR

MARIA IVANILDES GONÇALVES DA SILVA BRAGA

Trabalho monográfico apresentado como

requisito parcial para obtenção do Grau de

Especialista Docência do Ensino Superior

PEÇANHA

FEVEREIRO/2007

EPÍGRAFE

“Não somos iguais, somos

diferentes, e não há na vida

nenhuma qualidade tão universal

como a diferença.”

Montaigne

DEDICATÓRIA

Às minhas filhas, Paula Cristina e

Fernanda Emmanuelle;

aos meus irmãos, Cláudio, Maria Helena e

Heleide , que não mediram esforços para

me apoiar, incentivando-me sempre,

estudando e pesquisando o tema comigo

e, em especial , ao meu irmão Cláudio,

que, além de fazer tudo acima citado,

revisou o produto e, principalmente,

presenteou-me com suas experiências e

as de seus colegas neste campo.

AGRADECIMENTOS

“Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, o que Deus preparou para nós,

um futuro certo cheio de esperança e paz...”. Compartilhar sonhos e crer que

são possíveis determina a vitória. Realizar qualquer trabalho não é uma tarefa

fácil e, mesmo que o fosse, nunca se faz só. Com este não foi diferente. Dentre

os muitos que dele participaram, ressalto:

Deus, que me fortalece e ilumina com Suas palavras: “não temas porque

Sou contigo. Eu te criei e te fiz mais do que um vencedor”;

minhas filhas, Paula Cristina e Fernanda Emmanuelle, meus pais, e

todos os meus irmãos, pelo incentivo a caminhar. Não há palavras suficientes

para expressar o quanto foram importantes. Cada um, a sua maneira, deu-me

amor, apoio, compreensão.

É um momento de glória e reconhecimento: a vocês a minha eterna

gratidão! É muito bom saber que posso contar com vocês.

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo discutir a introdução da cultura afro-brasileira e africana no currículo, mais precisamente a sua presença e necessidade na aprendizagem; estudar teorias que apresentam hipóteses favoráveis e contrárias ao seu objetivo; visitar obras de autores renomados na área; apresentar problemas relativos à aprendizagem do aluno devido à utilização de linguagem de nível inadequado na mesma; apontar falhas na utilização dos elementos da comunicação em sala de aula; enumerar sucessos na utilização da teoria que propõe e afirmar a possibilidade de se rever a eficiência da educação. Utilizou como metodologia a documentação indireta bibliográfica, obtendo textos de enciclopédias, dicionários e livros da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, da Biblioteca Pública Municipal de Belo Horizonte, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Biblioteca Pública Municipal de Contagem, jornais, revistas e documentos particulares de profissionais da área. Concluiu-se que há falhas enormes na educação e uma delas, talvez a principal, é a necessidade de um preparo adequado para os profissionais envolvidos. E que a mesma se dá pelo uso indevido de material e preparo de conteúdos inacessíveis ao aluno, o que resulta em uma aprendizagem ineficiente. Faz-se necessário utilizar o nível do aluno, os seus conhecimentos e a sua cultura, propiciando maior convívio entre os mesmos e entre alunos e professores, tendo como objetivo de conquistar o respeito e a confiança no meio do que a educação se propõe.

METODOLOGIA

O presente trabalho foi realizado a partir de uma documentação indireta,

envolvendo a pesquisa bibliográfica. Para esta foram obtidos textos de

enciclopédias, livros e dicionários da Biblioteca Pública Estadual de Minas

Gerais, jornais, revistas e documentos particulares de profissionais da área.

Também foram consultados jornais e revistas.

Uma pesquisa de campo foi feita: realizou-se uma visita à comunidade

dos Arturos, em Contagem (MG), em 22 de março de 2006, com o propósito de

conhecer as atividades de preservação da cultura negra lá executadas e

realizar a seguinte entrevista:

• Como é feito para que não se esqueçam as tradições e os

costumes africanos durante tantas gerações.

• Qual o maior desafio, na sua opinião, vivenciado pelos negros

brasileiros hoje em dia, e quais as sugestões para combatê-lo ou

amenizá-lo.

• O combate ao preconceito racial no Brasil existe? Como está

sendo feito? Haveria uma maneira diferente de ser realizado?

Qual?

• O Brasil é um país racista? Como eles vêm as oportunidades

criadas pelo governo em relação ao negro? Por exemplo, a

questão do número de vagas reservadas aos negros nas

faculdades, nas empresas, etc.

ÍNDICE

Epígrafe ..................................................................................................... III

Dedicatória .................................................................................................. IV

Agradecimentos .......................................................................................... V

Resumo ........................................................................................................ 07

Metodologia.................................................................................................. 08

Índice .......................................................................................................... 09

Introdução .................................................................................................... 10

Capítulo I - Fundamentação teórica ............................................................. 14

Capítulo II - A introdução do estudo da cultura afro brasileira e africana

no

currículo Escolar ...................................................................... 22

Capítulo III - Eliminando o preconceito ........................................................ 32

Capítulo IV - Onde, quando e o quê estudar ................................................ 41 Conclusão

Anexo I ................................................................................................. 56

Anexo II ................................................................................................ 58

Apêndices .................................................................................................. 62

Apêndice I ............................................................................................ 62

Apêndice II ........................................................................................... 70

INTRODUÇÃO

A cultura afro brasileira e africana foi introduzida no currículo escolar por

ordem do governo federal, desde março de 2003. Esse assunto levanta várias

dúvidas e controvérsias como, por exemplo, a importância dessa introdução,

como ela será vivenciada, sem se tornar um preconceito e ainda de qual(is)

área(s) ou conteúdo(s) específico(s) ela deverá fazer parte.

A lei de Diretrizes e Bases (LDB) 9.394/96 foi alterada pelo governo

federal, que sancionou, em março de 3003, a lei nº 10.639/03-MEC. Com a

intenção de corrigir injustiças, eliminar discriminações e promover a inclusão

social e a cidadania para todos, esta lei instituiu a obrigatoriedade do ensino da

História da África e dos africanos no currículo escolar do ensino fundamental e

médio, com o intuito de resgatar historicamente a contribuição dos negros na

construção e formação da sociedade brasileira.

O governo pretende, com esta medida, combater o racismo e promover

a igualdade de oportunidades entre diferentes grupos étnicos que compõem a

rica nação brasileira, e também romper com os entraves que impedem o

desenvolvimento pleno da população negra brasileira.

Garantir o exercício desta lei e forjar um novo modo de desenvolvimento

com a inclusão é um desafio que impõe ao campo de educação decisões

inovadoras e que merece um estudo detalhado sobre o assunto, competindo a

cada educador conhecê-lo, questioná-lo e adequá-lo ao seu contexto

profissional. Ou seja, para cada área ou conteúdo, para cada turma, uma

estratégia.

Na presente pesquisa, o autor se propõe a estudar o ponto de partida

para a execução de tal Lei. Estabelece a cultura popular como tal, vez que é

ela de que o aluno dispõe, e apresenta como arma que o mesmo utilizará

para evoluir. Visita obras de estudiosos do assunto, projetos de professores

renomados ou não, mas cujos resultados lhes conferem credibilidade. Cita

textos dignos de estudo e discute opiniões contrárias à idéia.

É objetivo do trabalho investigar e valorizar identidade, história e cultura

dos afro brasileiros, garantindo-lhes igualdade e valorização das raízes

africanas da nação brasileira; pesquisar os princípios e fundamentos para a

execução e avaliação da educação afim de formar cidadãos atuantes e

conscientes no seio da sociedade multicultural e pluriétnica do Brasil, buscando

relações étnicos-sociais, rumo à construção de uma nação democrática,

questionando as condições materiais e financeiras, assim como conteúdos e

competências, atitudes e valores a serem estabelecidos em situações de

discriminação, valorização e respeito à diversidade.

O Brasil, ao longo de sua história, estabeleceu um modelo de

desenvolvimento excludente, impedindo que milhões de brasileiros tivessem

acesso à escola ou nela permanecessem.

Ao analisar os dados que apontam a desigualdade entre brancos

e negros, na educação, constata-se a necessidades de políticas

específicas que revertam tal quadro. O ponto mais polêmico desta questão está

nas cotas dos vestibulares. Faz-se necessário, melhorar o ensino médio e

fundamental gratuito e, de quebra, auxiliar a população de baixa renda.

É importante que os negros se reconheçam parte da cultura nacional,

expressem visões de mundo próprias, manifestem-se, com autonomia

individual e coletiva, pensamentos. Faz-se necessário, que haja punição às

manifestações de racismo, garantias de que a lei criminal seja para todos,

incluir em propagandas, livros didáticos e manifestações artísticas. Encarar o

racismo de frente, pois a forma mais eficiente de reforçar o preconceito, é

achar que ele não existe, que é natural, e o principal problema não se encontra

em lutas sangrentas entre brancos e negros, mas bem velada, nos detalhes do

dia-a-dia, nas piadinhas sem conseqüências.

A cultura africana oferece elementos relacionados a todas as áreas do

conhecimento.”Não podemos esperar mais para virar essa página na nossa

história.”, diz OLIVEIRA, (s/d) professora da Faculdade de Educação da

Universidade Federal Fluminense. “Cada professor pode colocar um pouco de

África em seu plano de ensino.” Necessidade de buscar ações afirmativas são

apenas parte de uma grande tarefa. Buscar medidas que respeitem o negro, o

valorize e o trague para a margem da sociedade, vivendo uma democracia

racial ,esquecendo definitivamente que raças humanas existe é a louvável

missão onde o estudo sobre as representações do corpo negro no cotidiano

escolar poderá ser uma contribuição não só para o desvelamento do

preconceito e da discriminação racial na escola como, também, poderá nos

ajudar a construir estratégias pedagógicas alternativas que nos possibilitam

compreender a importância do corpo na construção da identidade étnico-racial

de alunos, professores negros, mestiços e brancos e como esses fatores

interferem nas relações estabelecidas entre esses diferentes sujeitos no

ambiente escolar.

Não pode deixar de lembrar que a sociedade e a escola brasileira da

atualidade tem construído representações sociais mais positivas sobre o negro

e a sua estética. É transformação, sem dúvida, que não se dá por honra e

glória da educação escolar. Ao pesquisar um pouco mais, encontra-se a ação

da comunidade negra organizada em movimentos sociais, dos grupos culturais

negros, das comunidades-terreiro como partes importantes no processo de

denúncia contra o racismo e de afirmação de identidade negra. Encontrará

também famílias negras que, atentas aos dilemas de seus filhos e filhas,

enfatizam de forma positiva e de diversas maneiras a herança cultural negra.

São grupos e famílias que sempre pressionaram a escola e cobraram desta

instituição uma responsabilidade social e pedagógica diante da questão racial,

não se limitando apenas à escola. Atinge a sociedade como um todo e, tem

tornado possível uma lenta inserção social do negro em alguns setores do

mercado de trabalho, a sua presença (mesmo tímida) nos meios de

comunicação e nos veículos publicitários e a sua entrada em maior número na

educação básica. Soma-se aos outros grupos sociais que lutam pela

democratização da sociedade, a comunidade negra tem conseguido mudar,

aos poucos, a situação do negro no Brasil. Mas ainda há muito que avançar.

Para criar uma relação que propicia o conhecimento, o alicerce é o

respeito e a admiração. Surgem no decorrer do assunto questões como:

§ Capítulo I - Fundamentação teórica.

O governo federal, a partir da eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,

redefiniu o papel do Estado como propulsor das transformações sociais, e

sancionou, em março de 2003, a lei nº 10.639/03-MEC que altera a LDB e

estabelece as Diretrizes Curriculares, que introduz o estudo da cultura afro

brasileira e africana no currículo escolar;

§ Capítulo II – A introdução da cultura afro brasileira e africana

no currículo escolar.

A Seppir ( Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Social),

considera importante estabelecer parcerias para o cumprimento da lei

10.639/03-ME, fazendo-se, assim, necessário um reconhecimento de que o

problema existe para, depois, combatê-lo;

§ Capítulo III – Eliminando o preconceito.

No Brasil, as pessoas tendem a negar e disfarçar o preconceito, tornando-o

assim mais vergonhoso. A diversidade cultural é uma questão de admiração e

respeito, devendo ser do conhecimento de todos;.

§ Capítulo IV – Onde, quando e o quê estudar.

A riqueza da cultura africana oferece elementos que deverão ser usados em

todas as áreas de conhecimento, resgatando e enaltecendo a memória

africana, sendo necessárias, assim, melhores informações por parte dos

profissionais da educação.

CAPÍTULO I

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

APRESENTAÇÃO DO SEPPIR

O Brasil, Colônia, Império e República, teve, historicamente, no aspecto

legal, uma postura ativa e permissiva diante da discriminação e do racismo que

atinge a população afro descendente brasileira até hoje. O Decreto nº 1.331, de

fevereiro de 1854, estabelecia que, nas escolas públicas do país, não seriam

admitidos escravos, e a previsão de instrução para adultos negros dependia da

disponibilidade de professores. O Decreto nº 7.031-A, de 06 de setembro de

1878, estabelecia que os negros só podiam estudar no período noturno e

diversas estratégias foram montadas no sentido de impedir o acesso pleno

dessa população aos bancos escolares.

Após a promulgação da Constituição de 1988, o Brasil busca efetivar a

condição de um Estado democrático de direito com ênfase na cidadania e na

dignidade da pessoa humana; contudo ainda possui uma realidade marcada

por posturas subjetivas e objetivas de preconceito, racismo e discriminação aos

afro-descendentes, que, historicamente, enfrentam dificuldades para o acesso

e a permanência nas escolas.

A educação constitui-se em um dos principais ativos e mecanismos de

transformação de um povo e é papel da escola, de forma democrática e

comprometida com a promoção do ser humano na sua integralidade, estimular

a formação de valores, hábitos e comportamentos que respeitem as diferenças

e as características próprias de grupos e minorias. Assim, a educação é

essencial no processo de formação de qualquer sociedade e abre caminhos

para a ampliação da cidadania de um povo.

Nesse sentido, ao analisar os dados que apontam as desigualdades

entre brancos e negros na educação, constata-se a necessidade de políticas

especificas que revertam o atual quadro. Os números são ilustrativos dessa

situação. Veja-se: pessoas negras têm menor numero de anos de estudos do

que pessoas brancas (4,2 anos para os negros e 6,2 anos para brancos); na

faixa etária de 14 a 15 anos, o índice de pessoas negras não alfabetizadas é

12% maior do que o de pessoas brancas na mesma situação; cerca de 15%

das crianças brancas entre 10 e 14 anos encontram-se no mercado de

trabalho, enquanto 40,5% das crianças negras, na mesma faixa etária, vivem

essa situação.

O governo federal, a partir da eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da

Silva, passou a redefinir o papel do Estado como propulsor das transformações

sociais, reconhecendo as disparidades entre brancos e negros na sociedade

brasileira e a necessidade de intervir de forma positiva, assumindo o

compromisso de eliminar as desigualdades raciais, dando importantes passos

rumo à afirmação dos direitos humanos básicos e fundamentais da população

negra brasileira.

Nesse contexto, o governo federal sancionou, em março de 2003, a Lei

nº 10.639/03-MEC, que altera a LDB e estabelece as Diretrizes Curriculares

para a implementação da mesma. Esta Lei instituiu a obrigatoriedade do

ensino da História da África e dos africanos no currículo escolar dos ensinos

fundamental e médio. A decisão resgata historicamente a contribuição dos

negros na construção e formação da sociedade brasileira. Também criou,

em 21 de março de 2003, a Seppir (Secretaria Especial de Políticas de

Promoção da Igualdade Racial) e instituiu a Política Nacional de Promoção da

Igualdade Racial. Desta forma, recolocou a questão racial na agenda nacional

e a importância de se adotarem políticas públicas afirmativas de forma

democrática, descentralizada e transversal. O principal objetivo destes atos é

promover alteração positiva na realidade vivenciada pela população negra e

evoluir rumo a uma sociedade democrática, justa e igualitária, revertendo os

perversos efeitos de séculos de preconceito, discriminação e racismo.

O governo federal, por meio da Seppir, assume o compromisso

histórico de romper com os entraves que impedem o desenvolvimento pleno da

população negra brasileira. O principal instrumento para isto é o

encaminhamento de diretrizes que nortearão a implementações de ações

afirmativas no âmbito da administração pública federal. Além disso, busca a

articulação necessária com os estados, os municípios, as ONGs (Organizações

Não-Governamentais) e a iniciativa privada para efetivar os pressupostos

constitucionais e os tratados internacionais assinados pelo Estado Brasileiro.

Para exemplificar esta intenção, cabe ressaltar a parceria da Seppir com o

MEC por meio de suas secretarias e órgãos que estão imbuídos do mesmo

espírito, ou seja, construir as condições reais para as mudanças necessárias.

Por isso, a Seppir, no exercício de sua missão, considera importante

estabelecer parcerias para o cumprimento desse desafio, que é combater, de

uma vez por todas, o racismo e promover a igualdade de oportunidades entre

os diferentes grupos étnicos que compõem a rica nação brasileira.

Assim a sala de aula deve ser, essencialmente, o que se propõe, ou

seja, uma sala “de aula”, não de ensino, onde não se ensina nada a outrem,

mas trocam-se experiências. E estas, quanto mais diversas, melhores. Senão

se torna uma repetição, bloqueando o crescimento, restringindo-se ao novo,

privilegiando-o. Fica-se, em tal situação, sem norte, o que leva à incorreta

afirmação de que “o aluno não aprende”, de que “o aluno não tem cultura”.

Este é o problema: a aceitação da cultura alheia, e o conseqüente

desprezo do popular na cultura, mais notadamente, na linguagem, dentro da

sala de aula. Partindo-se do princípio de o quê se “ensina”, pode-se

desmembrá-lo em várias questões, quais sejam:

• A importância do estudo da cultura afro brasileira e africana.

É inegável que se conhece a importância da cultura negra na história brasileira.

Todavia a sua forma de apresentação nos meios educacionais reflete um

preconceito, um desprezo, incoerentes com a realidade. Quando se refere a

“estudar”, na verdade quer-se dizer “apresentar”, pois este é o problema.

Sempre se diz em sala de aula a respeito da inquestionável presença do negro

na formação cultural do brasileiro, porém o preconceito também se faz

presente em várias inserções, propositadamente ou não.

Segundo GENTILE, Paola, (2005),

“Os diversos povos que habitavam o continente africano muito antes da colonização feita pelos europeus, eram bambambãs

em várias áreas: eles dominavam técnicas de agricultura, mineração, ourivesaria e metalurgia; usavam sistemas matemáticos elaboradíssimos para não bagunçar a contabilidade do comércio de mercadorias; e tinham conhecimentos de astronomia e de medicina que serviram de base para a ciência moderna. A biblioteca de Tumbuctu, em Mali, reunia mais de 20 mil livros, que ainda hoje deixariam encabulados muitos pesquisadores de beca que se dedicam aos estudos da cultura negra.

Infelizmente, a imagem que se tem da África e de seus descendentes não é relacionada com a produção intelectual nem com a tecnologia. Ela descamba para moleques famintos e famílias miseráveis, povos doentes e em guerra ou paisagens de safáris e mulheres de cangas coloridas. (...)

O pouco caso com a cultura africana se reflete na sala de aula. O segundo maior continente do planeta aparece em livros didáticos somente quando o tema é escravidão, deixando capenga a noção de diversidade de nosso povo e minimizando a importância dos afro-descendentes.” (GENTILE, revista Nova escola, novembro de 2005, p.42)

O negro foi visto sempre como indolente, preguiçoso, caprichoso,

sensual, incapaz de raciocinar. Já o branco era o empreendedor, o

disciplinado, o inteligente e, por serem “superiores”, sentiam-se no direito de

explorar os “inferiores”, justificando assim o domínio colonial e a exploração do

europeu sobre outros povos. As desvantagens sociais, políticas, econômicas

ou culturais, passaram a ser atribuídas a desigualdades inatas entre os

homens. O termo ”inata”, é muito usada nos discursos racistas e, segundo eles,

determinavam que os grupos nascem com características diferentes e que os

habilitavam apenas para serem dominados e explorados.

Ainda segundo GENTILE,

“O ensino de História sempre privilegiou as civilizações que viveram em torno do Mar Mediterrâneo. O Egito estava entre elas, mas raramente é relacionado à África, tanto que junto com outros países do norte do continente pertence à chamada África Branca, termo que despreza os povos que ali viveram antes das invasões dos persas, gregos e romanos.” (GENTILE, revista Nova escola, novembro de 2005, p.42)

• formas de amenizar e eliminar o preconceito.

Coerente com o item anterior, não é o suficiente estudar a cultura afro-

brasileira e africana e conferir-lhe a devida importância. Faz-se necessário,

concomitantemente, estudar e praticar formas de amenizar e,

conseqüentemente, eliminar o preconceito que se vive na sociedade e se

reproduz na educação.

Segundo LOURENÇO, Cibele de, pesquisadora e professora da Bryant

University, de Rhoad Island, nos Estados Unidos, “boa parte da origem do

preconceito é resultado do pensamento dos colonizadores. Eles precisavam

justificar o tráfico das pessoas e a escravidão nas colônias e para iss isso

‘animalizaram’ os negros”. Ela conta que

“ no século XVI, alguns zoológicos europeus exibiram negros e indígenas em jaulas, colocando na mesma baia indivíduos de grupos inimigos, para que brigassem diante do público. Além disso, a Igreja na época considerava civilizado somente quem era cristão”. ( Lourenço, revista Nova escola, novembro de 2005, p.44)

A definição de racismo é, simultaneamente, simples e complexa. Pode o

mesmo ser visto como uma ideologia que defende a hierarquia entre grupos

humanos, classificando-os em raças inferiores e superiores, e tem como

ideologia o conjunto de idéias utilizadas para explicar determinada realidade,

no caso, as desvantagens dos negros em relação aos brancos. Esta ideologia

racial nasceu quando os europeus necessitaram de justificativas para

exploração de povos “diferentes”.

“O preconceito racial contraria uma regra básica nas relações entre quaisquer seres humanos: a afeição. Isto significa que, ao se relacionarem, as pessoas devem se tratar com consideração e respeito, aceitando as diferenças, já que todos são humanos. O preconceito racial é um conceito negativo que uma pessoa ou um grupo de pessoas tem sobre outra pessoa ou grupo diferente. È uma espécie de idéia preconcebida, acompanhada de sentimentos e atitudes negativas de um grupo contra outro. Além disso, é algo como uma predisposição – que não necessariamente resulta em ação, em prática.”

Segundo BENTO, (2003) “em países como o Brasil – onde o

preconceito racial é considerado vergonhoso, condenável – as pessoas tendem

a negar e disfarçar seus preconceitos” (BENTO, 2003, p.37). Os meios de

comunicação são considerados formadores de opinião. Dependendo do tipo de

imagem que divulgam, podem estimular as pessoas a terem uma posição

negativa ou positiva em relação a acontecimentos ou a grupos d pessoas.

Cabe aqui chamar a atenção para um ponto importante: se se perguntar a

crianças, adolescentes e adultos brancos o nome de um herói de filmes sobre a

África, certamente citarão Tarzan. Mas a África, onde Tarzan vive suas

aventuras, é um continente negro. Só que, para protagonizar o herói daquela

região, escolheu-se um branco.

Sem uma memória positiva, sem conhecer figuras de destaque de seu

povo, as conquistas importantes no campo das artes, das ciências, as crianças

negras têm muita dificuldades em formar uma imagem igualmente positiva de

seus iguais. Suas famílias muitas vezes também não formaram uma imagem

positiva sobre o grupo negro e acabaram por produzir o preconceito em casa .

• área ou disciplina especifica em que se inserirá o conteúdo

Todo local, área e conteúdo é propício à aprendizagem. Assim como

todo momento. Se a aprendizagem se dá pela apreensão de conhecimentos

alheios, e estes momentos se dão pelo contato com outrem, e também se dão

em tempo integral, a aprendizagem, então, também se dá ininterruptamente,

independentemente do lugar. Ou seja, corrige-se e amplia-se o outro e a si

mesmo constantemente.

A cultura africana oferece elementos relacionados a todas as áreas de

conhecimento. Se a escola não inclui esses conteúdos no planejamento, cada

professor deve colocar um pouco de África em seu plano de ensino. Pode-se

espalhar numa sala de aula desde a capoeira embalada pelo berimbau até as

influências musicais do batuque e a ginga do samba e dos instrumentos como

cuícas, atabaques e agogôs, passando pela culinária, enriquecida com vatapá,

o caruru e outros quitutes, o conhecimento da tecnologia africana, os

problemas enfrentados, a idéia de que são todos africanos, até as palavras

africanas.

Resgatar a memória de um povo significa não só resgate de si mesmo e

livrá-los das armadilhas da negação e do esquecimento, como também

reafirmar a presença ativa deste povo na história pan-africana e na realidade

universal dos seres humanos. O homem branco, considerado durante muito

tempo pela sociedade e por ele mesmo o resultado da mistura de três raças,

quais sejam: índio, branco e negro, foi escolhido pela sociedade como o

elemento ideal para constituir e representar a nação brasileira. É comum que a

história oficial do Brasil seja contada a partir das experiências e da visão de

mundo das pessoas que exercem ou servem ao poder. A valorização cultural

derruba a história dos senhores de escravos, paternalistas, dos escravos

dóceis e passivos, e toma conhecimento da violência escravocrata e pára de

negar a luta negra que há muito foi negada.

Os eventos não podem ser idealizados nem naturalizados como se

fossem previsíveis, algo comum. Ouvindo seus realizadores, vê-se que têm

histórias peculiares, demandam esforços de superação existenciais,

intelectuais e políticos, instituindo novos sujeitos e valores e impondo a nova

ética em muitas escolas. A tendência a sua naturalização constitui uma

grosseira mistificação e menosprezo à complexidade de conflitos que ocorrem

em unidades escolares, trazendo prejuízos à formação da consciência social e

à vida de todos(as). É um truísmo falar no orgulho nacional em resolver

problemas com o “jeitinho brasileiro”. É imprescindível aplicar a essas questões

“sabidamente problemáticas” à consciência social. Não cabe aqui comentar a

respeito do desinteresse pela temática questão racial/educação nas faculdades

de educação e de formação de professores. Se a exigência do “politicamente

correto” impõe a abordagem da pluralidade cultural e o multiculturalismo, é fácil

advinhar que, em geral, a questão racial fica sendo “aquele” sub-tema, talvez

abordado em certos momentos, sem “histórico” ou textos adequados, sem

maiores cuidados na preparação e, no máximo, com referências episódicas ao

que ocorre no país. É comum, então, se alegar desconhecimento ou que não é

oportuno, por gerar constrangimentos, ou porque professores não tiveram

formação para isso. Vale toda sorte de subterfúgios para tergiversar. Quase

sempre o que há é desimportância em relação ao tema para o exercício do

magistério.

CAPÍTULO II

A INTRODUÇÃO DO ESTUDO DA CULTURA AFRO

BRASILEIRA E AFRICANA NO CURRICULO ESCOLAR

O Estado e a sociedade tomam, através de uma emenda na Lei 9394/96

de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), medidas que visam ressarcir os

descendentes e africanos negros dos danos psicológicos, materiais, sociais,

políticos e educacionais sofridos sob o regime escravista, bem como em virtude

das políticas explicitas ou tácitas de branqueamento da população, de

privilégios exclusivos para grupos com poder de governar e de influir na

formulação de políticas, no pós-abolição. Visa também a que tais medidas se

concretizem em iniciativas de combate ao racismo e a toda sorte de

discriminações.

Segundo GENRO, Tarso (Junho, 2005):

“Políticas de reparações voltadas para a educação dos negros devem oferecer garantias a essa população, de ingresso, permanência e sucesso na educação escolar, de valorização do patrimônio histórico-cultural afro-brasileiro, de aquisição das competências e dos conhecimentos tidos como indispensáveis para continuidade nos estudos, de condições para alcançar todos os requisitos tendo em vista a conclusão de cada um dos níveis de ensino, bem como atuar como cidadãos responsáveis e participantes, além de desempenharem com qualificação uma profissão”. (GENRO, Junho 2005, p.11.)

Esse é mais um desafio proposto não só aos professores, mas também

aos centros de formação de professores. Além dele, há outros, dentre os quais:

o que se sabe sobre história e cultura afro-brasileira? o que se sabe sobre

história da África? como não reproduzir leituras e discussões estereotipadas

sobre o negro e sua cultura? que tema se deverá privilegiar dentro do vasto

campo de estudo sobre a cultura afro-brasileira? São questionamentos novos

que os docentes e os cursos de formação de professores começarão a se

fazer. Considera-se, assim, que existem diferentes e diversas formas e

modelos de educação, e que a escola não é o lugar privilegiado onde ela

acontece e nem o professor é o único responsável pela sua prática. Essa

reflexão é importante para se repensar os processos educativos, quer sejam

escolares ou não-escolares. Muitas vezes as práticas educativas que

acontecem paralelamente à educação escolar, desenvolvidas por grupos

culturais, ONG's, movimentos sociais e grupos juvenis, precisam ser

considerados pelos educadores escolares como legítimas e formadoras. Elas

também precisam ser estudadas nos processos de formação de professores.

O trabalho aqui proposto visa estudar o resgate da importância da

cultura afro-brasileira para a construção do sentido de brasilidade, esta

compreendida como a essência mesma da possibilidade da vivência

intercultural, através da citada emenda à Lei 9394/96. Esta perspectiva é

resultado de uma multiplicidade de inter-influências, produzindo um campo

eminentemente educativo no qual os desdobramentos não são unívocos, mas

múltiplos e complexos. Esta complexidade e a integralidade diz respeito aos

sujeitos destas vivências.

Ainda segundo GENRO,

“Esse reconhecimento implica justiça e iguais direitos sociais, civis, culturais e econômicos, bem como valorização da diversidade daquilo que distingue os negros dos outros grupos que compõem a população brasileira. Isto requer mudanças nos discursos, raciocínios, lógicas, gestos, posturas, modo de tratar as pessoas negras. Requer também a adoção de políticas educacionais e de estratégias pedagógicas de valorização da diversidade, a fim de superar a desigualdade étnico-racial presente na educação escolar brasileira nos diferentes níveis de ensino.” (GENRO,Junho 2005, p.12.)

Verifica-se uma construção discursiva da nação brasileira como

comunidade plural e multicultural, forçada a reconhecer diferenças culturais

apagadas no âmbito da vigência do discurso da mestiçagem. Tais

transformações são operadas com o concurso de fenômenos que se dão fora

das fronteiras nacionais: ensinar aos alunos as contribuições dos diferentes

grupos culturais na identidade nacional, mudar o currículo e a instrução básica,

refletindo as perspectivas e experiências dos diversos grupos culturais, étnicos,

raciais e sociais, realçar a convivência harmoniosa dos diferentes grupos, o

respeito e a aceitação dos grupos específicos na sociedade, o enfoque sobre a

redução de preconceitos e a busca de igualdade de oportunidades

educacionais e de justiça social para todos, o enfoque social que estimula o

pensamento analítico e crítico centrado na redistribuição do poder, da riqueza e

dos outros recursos da sociedade entre os diversos grupos, etc.

Compreender a cultura do “outro” é, antes de mais nada, olhar para si

mesmo, descobrir-se, redescobrir sua própria identidade e raízes, examinar

sua história. A cultura afro-brasileira está no centro desta redescoberta, na

medida em que conseguiu penetrar profundamente na formação nacional,

terminando por transformar-se em signo, símbolo e memória da diversidade de

influências culturais e étnicas. A noção de cidadania tem evoluído muito no

tempo e no espaço. Das premissas formais da questão legal de o quê o

cidadão deve ser, o conceito foi moldado pelas estratégias de classes

dominantes e pelas inúmeras lutas sociais. É um erro grosseiro considerar

cidadania como um caráter único. Este permanece estático na história

brasileira. Sob o prisma da Intercultura, as práticas afro-brasileiras apresentam-

se como um campo híbrido de construção de identidade no qual emergem

novas estratégias de organização que apontam novas perspectivas para a

educação intercultural.

Entender a importância da simbologia do corpo negro, a manipulação do

cabelo e dos penteados usados pelos negros de hoje como formas de

recriação e ressignificação cultural daquelas construídas pelos negros da

diáspora poderá ser um bom tema de estudo e debate dentro da discussão

sobre história e cultura afro-brasileira. Mas, para isso, será preciso que os

educadores alterem suas lógicas escolares e conteudistas, dialoguem com

outras áreas, valorizem a produção cultural negra constituída em outros

espaços sociais e políticos. Será preciso também ouvir e aprender as

estratégias, práticas e acúmulos construídos pelo movimento negro e pelos

movimentos culturais negros. O campo da formação de professores deverá se

abrir para dialogar com outros espaços em que negros constroem suas

identidades. Muitas vezes, serão espaços considerados pouco convencionais

pelo campo da educação, como por exemplo, os salões étnicos.

O atual contexto de implementação da Lei 10.639 é um momento

propício para a introdução no campo da formação de professores, quer seja

inicial, quer seja em serviço, de estudos e leituras sobre a relação corpo,

cultura e identidade negra. O desafio está colocado. Resta agora entender que

mais do que um desafio, a discussão sobre raça negra e educação, nos seus

múltiplos desdobramentos, é um dever dos educadores e também daqueles

responsáveis pela condução dos processos de formação docente.

Apesar de se levar em conta essa dimensão mais ampla e mais geral do

processo educativo, pretende-se privilegiar a educação que acontece no

interior da instituição escolar, tentando, porém, compreendê-la inserida no

processo cultural e articulada com outros espaços educativos não-escolares. A

escola é vista, aqui, como uma instituição em que se aprende e compartilha

não só conteúdos e saberes escolares, mas também valores, crenças e

hábitos, assim como preconceitos raciais, de gênero, de classe e de idade. É

essa visão do processo educativo escolar e sua relação com a cultura e a

educação – de uma maneira mais ampla – que permite aproximar e tentar

compreender melhor os caminhos complexos que envolvem a construção da

identidade negra e sua articulação com os processos formativos dos

professores e das professoras. É também essa visão que possibilita

compreender a presença da dimensão educativa em diferentes espaços sociais

e não somente no interior da escola. Construir uma identidade negra positiva

em uma sociedade que, historicamente, ensina ao negro, desde muito cedo,

que para ser aceito é preciso negar a si mesmo, é um desafio enfrentado pelos

negros brasileiros. É importante lembrar que a identidade construída pelo negro

se dá não só por oposição ao branco, mas também pela negociação, pelo

conflito e pelo diálogo com este. As diferenças implicam processos de

aproximação e distanciamento. Nesse jogo complexo, vai-se aprendendo, aos

poucos, que as diferenças são imprescindíveis na construção da identidade.

Segundo LANDES, Ruth , (A cidade das mulheres, 1961, p. 41)

"O Brasil precisa ser corretamente conhecido, especialmente a sua situação política, e já que vai estudar os negros, devo dizer que o nosso atraso político, que tornou esta ditadura necessária, se explica perfeitamente pelo nosso sangue, negro, infelizmente por isso estamos tentando expurgar esse sangue; e construirmos uma nação para todos limpando a raça brasileira." ( LANDES, 1961, p. 41)

É por isso que, no primeiro parágrafo do artigo 26, da Lei 10.639, de 09

de janeiro de 2003, que altera a Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional), explicita-se que o conteúdo programático a ser

desenvolvido pelas escolas no cumprimento da mesma deverá incluir o estudo

da história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura

negra brasileira e o negro na formação nacional, resgatando sua contribuição

nas áreas social, econômica e política pertinentes à história do Brasil.

Sendo entendida como um processo contínuo, construído pelos negros

nos vários espaços – institucionais ou não – nos quais circulam, pode-se

concluir que a identidade negra também é construída durante a trajetória

escolar desses sujeitos. Nesse percurso, os negros deparam-se, na escola,

com diferentes olhares sobre o seu pertencimento racial, sobre a sua cultura,

sua história, seu corpo e sua estética. Muitas vezes esses olhares chocam-se

com a sua própria visão e experiência da negritude, tanto no complexo campo

das identidades e das alteridades, das semelhanças e diferenças como diante

das diversas maneiras como estas são tratadas pela sociedade. Compreender

a complexidade na qual a construção da identidade negra está inserida,

sobretudo quando se leva em consideração a corporeidade e a estética, é uma

das tarefas e desafios colocados para os educadores.

Deveria, também, ser uma das preocupações dos processos de

formação de professores quando estes discutem a diversidade étnico-cultural.

Os professores trabalham cotidianamente com o seu próprio corpo. O ato de

educar envolve uma exposição física e mental diária. Porém, ao mesmo tempo

em que se expõem, também lidam com o corpo de seus alunos e de seus

colegas. Esses corpos são tocados, sentidos. A relação pedagógica não se

desenvolve só por meio da lógica da razão científica, mas também pelo toque,

pela visão, pelos odores, pelos sabores, pela escuta. Estar dentro de uma sala

de aula significa colocar a postos, na interação com o outro, todos os sentidos.

O estudo sobre as representações do corpo negro no cotidiano escolar poderá

ser uma contribuição não só para o desvelamento do preconceito e da

discriminação racial na escola como também poderá ajudar a construir

estratégias pedagógicas alternativas que possibilitem compreender a

importância do corpo na construção da identidade étnico-racial de alunos,

professores negros, mestiços e brancos e como esses fatores interferem nas

relações estabelecidas entre esses diferentes sujeitos no ambiente escolar. Na

escola, não só se aprende, mas também se reproduzem representações sobre

o cabelo crespo e o corpo negro. Quais serão essas representações? Em que

momentos aparecem e como elas aparecem? Como os sujeitos negros e

brancos vivem esses processos dentro e fora da escola? Como tais

representações se manifestam no currículo? Muitas vezes, esses processos

delicados e tensos passam despercebidos pela escola, pelos profissionais da

educação, e não constituem motivo de debates e estudos nos cursos de

formação de professores.

O estudo sobre o corpo e o cabelo como ícones da identidade negras

presentes nos processos educativos escolares e não-escolares poderá apontar

outros caminhos além da denúncia da reprodução de preconceitos e

estereótipos. Ver a manipulação do cabelo do negro como continuidade de

elementos culturais africanos ressignificados no Brasil poderá pôr todos em

contato com a história, memória e herança cultural africana presente na

formação cultural afro-brasileira. Muitos estudos poderão e deverão fazer parte

dos processos de formação de professores. A sua incorporação nos currículos

e nos processos pedagógicos de formação docente faz parte de lutas e

reivindicações históricas do movimento negro brasileiro que, há anos, tem

demandado o ensino da história da África e da cultura afro-brasileira nos

currículos escolares.

Segundo FLEURI, Reinaldo Matias. (Educação Intercultural e

complexidade, 1999, p.4),

“na atividade didática e formativa ressaltam-se as formas e conteúdos da cultura interiorizada pelos indivíduos na vida cotidiana, variedade dos canais e das experiências com que estabelecem contato de acordo com sua posição social...” (FLEURI, Educação Intercultural e complexidade, 1999, p.4)

Portanto, coloca-se como um desafio para a prática pedagógica compreender a

visão de mundo dos sujeitos envolvidos, bem como a relação entre tal visão e

os modelos transmitidos através de situações educativas.

A sociedade em evolução, em formação e os costumes sociais e

culturais é que definem os comportamentos, os valores e as novas estruturas

que se formam, na construção de um novo processo de vivência, convivência

e sobrevivência. Desta maneira, indivíduos ou alguns grupos tentam se

sobrepor a outros, no sentido de adequar as variadas culturas, seus modos e

costumes ao centro de sua cultura, quando da formação de um novo espaço

social. Uma nova comunidade em processo de mudanças e transformações,

neste sentido, se constrói, se estrutura conforme estes valores, as condutas e

os costumes propostos pelas ideologias de superioridade de um único grupo e

de uma só cultura, na formação desta nova comunidade.

É importante lembrar que a identidade construída pelo negro se dá não

só por oposição ao branco, mas também pela negociação, pelo conflito e pelo

diálogo com este. As diferenças implicam processos de aproximação e

distanciamento. Nesse jogo complexo, vai-se aprendendo, aos poucos, que as

diferenças são imprescindíveis na construção da identidade. Acreditar na

necessidade de estabelecer relações com os valores e instituições do Estado,

valorizando a sua identidade e mostrando a tradição comunitária herdada de

seus ancestrais, como uma nova forma de educação, permitirá a promoção da

autopercepção e auto-estima das pessoas envolvidas, ajudando-as a participar

da sociedade global, não apenas adquirindo conhecimento técnico e

informativo, mas mobilizando os valores comunitários. A maioria dos afro-

descendentes brasileiros são originários das comunidades remanescentes de

quilombos e, atualmente, vive à margem da sociedade e da assistência pública;

sobrevive praticando a agricultura tradicional, valendo-se de ferramentas e

conhecimento ancestral.

Em função do isolamento e da falta de assistência pública, em pleno

século XXI, ainda não tem acesso pleno ao crédito (para assegurar a

agricultura), infra-estrutura, assistência técnica e a outros serviços públicos, o

que torna essa comunidade quilombola alvo permanente de problemas sociais.

A cultura afro-brasileira se encaixa no universo da cultura popular, ao mesmo

tempo em que se destaca por sua especificidade: a luta contra o preconceito

racial e a busca da auto-afirmação são situações que o homem negro enfrenta

para definir sua identidade social. Esse mundo encaixado revela o conflito

entre diferentes visões de mundo e delineia a existência de um modelo cultural

alternativo: a cultura popular.

Segundo GENRO,

“Políticas de reparações e de reconhecimentos formarão programas de ações afirmativas, isto é, conjuntos de ações políticas dirigidas à correção de desigualdades raciais e sociais, orientadas para oferta de tratamento diferenciado com vistas a corrigir desvantagens e marginalização criadas e mantidas por estrutura social excludente e discriminatória. Ações afirmativas atendem ao determinado pelo Programa Nacional de Direitos Humano (Criado pelo Ministério da Justiça, Brasília,1996), bem como os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, como o objetivo de combate ao racismo e a discriminação, tais como: a Convenção da UNESCO de 1960, direcionada ao combate ao racismo em todas as formas de ensino, bem como a Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, xenofobia e Discriminação Correlatas de 2001.” ( GENRO, 2005, 12)

Assim sendo, a educação das relações étnico-raciais impõe

aprendizagens entre brancos e negros, trocas de conhecimentos, quebras de

desconfianças, projetos conjuntos para construção de uma sociedade justa,

igual e equânime. Para tal faz-se necessária uma reeducação das relações

étnico-raciais no Brasil, fazendo emergir as dores e os medos que têm sido

gerados. É preciso entender que o sucesso de uns tem o preço da

marginalização e da desigualdade imposta a outros. E então decidir que

sociedade se quer construir daqui para frente.

Segundo FRANTZ, Fanon. ( Os condenados da Terra, 1979, p. 46)

“Os descendentes dos mercadores de escravos, dos senhores de ontem, não têm, hoje, de assumir culpa pelas desumanidades provocadas por seus antepassados. No entanto, têm eles a responsabilidade moral e política de

combater o racismo, as discriminações e, juntamente com os que vêm sendo mantidos à margem, os negros, construir relações raciais e sociais sadias, em que todos cresçam e se realizem enquanto seres humanos e cidadãos. Não fossem por estas razões, eles a teriam de assumir, pelo fato de usufruírem do muito que o trabalho escravo possibilitou ao país.” (FRANTZ, 1979, p.46)

É importante tomar conhecimento da complexidade que envolve o

processo de construção da identidade negra em no país, processo esse

marcado por uma sociedade que, para discriminar os negros, utiliza-se tanto da

desvalorização da cultura de matriz africana como dos aspectos físicos

herdados pelos descendentes africanos. Nesse processo complexo, é possível,

no Brasil, que alguma pessoas de tez clara e traços físicos europeus, em

virtude de o pai ou a mãe, se negro(a), se designarem negros: que outros, com

traços físicos africanos, se digam brancos. É preciso lembrar que o termo

negro começou a ser usado pelos senhores para designar pejorativamente os

escravizados e este sentido negativo da palavra se estende até hoje. Contudo,

o Movimento Negro Unificado, ressignificou esse termo, dando-lhe um sentido

político e positivo. Podem ainda ser lembrados os motes muito utilizados no

final dos anos 1970 e no decorrer dos anos 1980,1990; “Negro é lindo!”

“Negra, cor da raça brasileira!”, “ Negro que te quero negro!” “100% Negro!”, “

Não deixe sua cor passar em branco!”. Este último utilizado na campanha do

censo de 1990.

Pedagogias de combate ao racismo e a discriminação precisam estar

atentas para que todos, negros e não negros, além de ter o acesso a

conhecimentos básicos tidos como fundamentais para a vida integrada à

sociedade, exercício profissional competente, recebam formação que os

capacite para forjar novas relações étnico-raciais. Foi atribuída aos

estabelecimentos de ensino a responsabilidade de acabar com o modo falso e

reduzido de tratar a contribuição dos africanos escravizados e de seus

descendentes para a construção da nação brasileira; de fiscalizar para que, no

seu interior, os alunos negros deixem de sofrer os primeiros e continuados atos

de racismo de que são vítimas.

CAPÍTULO III

ELIMINANDO O PRECONCEITO

A linguagem do silêncio marca muito as relações raciais. É comum as

pessoas, ao se referirem aos negros, ao invés de utilizarem tranqüilamente o

termo “negro”, usarem a expressão “pessoa de cor”, tentando mostrar

gentileza, polidez, silenciando-se sobre algo que consideram negativo - a cor

negra -, enquanto todos sabem que branco também é cor. No entanto, não se

utiliza a palavra cor para falar de brancos, como se só tivessem uma cor

aqueles que não são brancos – os índios, os chineses, os japoneses, os

negros, etc.

Para essas pessoas, a palavra “negro” é considerada algo ruim, tão ruim

que há uma necessidade de silenciar, amenizar o impacto causado por ela: ele

não é negro, é de cor. Não bastando isso, a associação entre palavras e

expressões é outro processo muito utilizado. A linguagem do dia-a dia cuida de

associar o negro a coisas ruins: “a coisa está preta”, “o período negro da

ditadura militar”, “uma página negra na nossa história”, e assim várias outras.

Associam ainda o negro ao diabo ou a outro animal como o macaco, muito

usado, principalmente, em divergências entre um negro e um branco. E assim

acha–se justificado, por alguns, negar a uns grupos de pessoas, sua condição

de humano, deixando-o em desvantagem, com tratamento desigual, repleto de

injustiças, e ainda abrindo caminho para piadinhas e brincadeirinhas que nunca

são neutras e que conduzem ao caminho do racismo e do preconceito.

Na maioria das vezes, a discriminação racial apresenta semelhanças com

o preconceito, pois ambos partem de idéias, sentimentos e atitudes negativos

de um grupo contra o outro. No entanto há uma significativa diferença entre

eles: a discriminação racial implica sempre a ação de uma pessoa ou de um

grupo de pessoas contra outra pessoa ou grupo de pessoas, ou seja, a

discriminação implica outra ação e, em muitos casos, é motivada pelo

preconceito. Já este é um conceito negativo sobre algo diferente. É uma idéia

preconcebida, acompanhada de sentimentos e atitudes negativos. Quando há

preconceito em relação a um

determinado grupo de pessoas e alguém fala sobre este grupo, imediatamente

surgem na mente do ouvinte imagens negativas, não deixando assim que o

membro estereotipado seja avaliado corretamente.

É em um contexto histórico que se deve entender a chamada identidade

negra, aqui no Brasil, num país onde quase não houve um discurso ideológico

articulado sobre a identidade “amarela” e a identidade “branca”, justamente

porque os que coletivamente são portadores das cores da pele branca e

amarela não passaram por uma história semelhante à dos brasileiros

coletivamente portadores da pigmentação escura. Essa história já faz parte do

Brasil: foram seqüestrados, capturados, arrancados de suas raízes e trazidos

amarrados aos países do continente americano, incluindo o Brasil, sem saber

por onde estavam sendo levados. É uma história completamente diferente da

dos imigrantes europeus, árabes, judeus e orientais que, voluntariamente,

saíram de seus respectivos paises, de acordo com as conjunturas econômicas

e históricas internas e internacionais que influenciaram suas decisões para

emigrar. Evidentemente, também sofreram rupturas que teriam provocado

alguns traumas, o que explicaria os processos de construção das identidades

particulares como a “italianidade brasileira”, a identidade gaúcha, etc. Mas, em

nenhum momento, a cor de sua pele foi objeto de representações negativas e

de construção de uma identidade idem que, embora inicialmente atribuída,

acabou sendo introjetada, interiorizada e naturalizada pelas próprias vitimas da

discriminação racial.

Segundo CHIEVANATO, Júlio José, (O negro no Brasil. Da senzala à

guerra do Paraguai São Paulo: Brasiliense, 1980, p.85).

"o racismo não tem a ver diretamente com a questão das diferenças. O que leva ao racismo não parece ser a incapacidade para suportar a diferença, pelo contrário, o que leva ao racismo é ver o deferente tornar-se o mesmo com direitos iguais. É ver o outro como muito parecido, por isso sentir-se ameaçado na sua identidade, como também no seu espaço, na sua hierarquia social.” (CHIEVANATO, 1980, p.85).

Dizendo de outra forma, o que assusta a “sociedade branca” é o negro

poder mostrar-se com todo seu potencial de ser. É imperativo básico, distinguir

as culturas africanas como aquelas que existem e resistem, independentemente

do tempo e espaço físico. Partindo deste princípio, faz-se necessária a

apreensão da realidade sócio cultural brasileira e, ao mesmo tempo, o

propósito de compreender a configuração da cultura africana, recriada pelo

contingente escravizado, expatriado para o Brasil.

Segundo RIBEIRO Matilde, (Diretrizes Curriculares Nacionais para a

educação das Relações Étnico-Raciais, 2005, p.16)

“É um grande equivoco afirmar que os negros se discriminam entre si e que são racistas também. Esta constatação tem de ser analisada no quadro da ideologia do branqueamento que divulga a idéia e o sentimento de que as pessoas brancas seriam mais humanas, teriam inteligência superior e, por isso, teriam o direito de comandar e de dizer o que é bom para todos. Cabe lembrar que, no pós-abolição, foram formuladas políticas que visavam ao branqueamento da população pela eliminação simbólica e material pela presença dos negros. Nesse sentido, é possível que pessoas negras sejam influenciadas pela ideologia do branqueamento e., assim, tendam a reproduzir o preconceito do qual são vítimas. O racismo imprime marcas negativas na subjetividade dos negros e também na dos que os discriminam.”(RIBEIRO, 2005, p.16.)

Os meios de comunicação são considerados formadores de opinião.

Dependendo do tipo de imagem que divulgam, podem estimular as pessoas a

terem uma posição negativa ou positiva em relação a acontecimentos ou a

grupos de pessoas. Justamente os meios de comunicação tem estimulado

sobremaneira o preconceito na sociedade, em particular sobre os negros. Na

televisão, por exemplo, as crianças norte-americanas, tomam contato com a

história dos seus antepassados no Velho Oeste, através de filmes de cowboy.

Para ela, é uma forma de transmitir de geração em geração as tradições, os

hábitos, os costumes, enfim, a cultura de diferentes povos. Também é através

da televisão brasileira que as crianças puderam conhecer melhor, dentre

outras, as histórias do Sítio do Pica

pau Amarelo, de Monteiro Lobato, que mostra as crenças, costumes, hábitos

da cultura brasileira.

Tantos os seriados nacionais quanto os internacionais raramente trazem

negros em papéis importantes. Num país onde metade, ou mais, da população

é negra, o significado dessa situação para a criança negra e branca é mostrar

para crianças e adolescentes brancas e negras sempre heróis brancos;

significa dizer a eles que a coragem, a inteligência, o destemor e o senso de

justiça são qualidades de apenas um grupo. Assim, crianças negras e brancas

acabam formando idéias distorcidas sobre os grupos aos quais pertencem. As

negras se vêem e se sentem numa condição de inferioridade; as brancas, de

superioridade.

Estudos revelam que, no espaço escolar, a criança branca é o principal

agente discriminador de crianças negras. Do total de crianças brancas, 44%

assume que discrimina as negras. Em situações de brigas e conflitos, as

palavras negro e preto sempre surgem como xingamento. Além disso, nas

conversas e brincadeiras, alguém sempre se lembra de uma piadinha sobre

negros. Geralmente as crianças não nascem racistas, ou com sentimentos de

superioridade ou inferioridade, pois o racismo é construído nas relações que

estabelecem na sociedade. Uma vez que a escola é uma das instituições que

faz parte da sociedade, ela também reproduz o racismo.

Em 1994, o Ministério da Educação divulgou um estudo que atestava que

os livros didáticos estimulavam o preconceito. A notícia estampada nos

principais jornais do país, partiu de um estudo realizado pelo próprio Ministério

da Educação, confirmando uma situação há muito detectada pelo movimento

negro e por estudiosos da área da Educação. Alguns historiadores chegaram a

mostrar que, nas poucas vezes em que apareciam, os negros estavam

associados a figuras demoníacas, desumanizadas, ou eram mostrados

realizando tarefas subalternas e desvalorizadas.

Um dos mais importantes veículos de reprodução do preconceito e do

racismo na escola é o conteúdo dos livros de História. Durante muitos anos a

história do Brasil foi deturpada, as pessoas fixaram imagens, idéias e

desenvolveram sentimentos negativos sobre povos cujos feitos e méritos foram

negados ou deturpados pelos historiadores, sendo essa uma das principais

conseqüências negativas do preconceito e da discriminação racial no sistema

escolar: a destruição histórica e social que determinado grupo fez do outro. Um

importante estudioso das relações coloniais, o francês Albert Memmi,

descreveu esse processo. O que ele mostra não é muito diferente do que se vê

no Brasil.

Ver a história do Brasil contada a partir de experiências e da visão de

mundo de pessoas que exerceram ou serviram ao poder era considerada

normal. Era a maneira mais fácil de explicar e usada na maioria das vezes para

suavizar e amenizar a escravidão; os senhores se escravos, paternalistas; os

escravos, dóceis e passivos. Toda a violência escravocrata e a luta negra

eram negadas, ao contar a história do país, em que o homem branco,

considerando-se o resultante da mistura de três raças, foi escolhido como

elemento ideal para constituir e representar a nação brasileira.

Os fatos históricos relatados nunca tinham como figura principal os

descendentes de africanos. De outro lado, furtos, desvios e outros crimes que

envolveram figuras ilustres, como o Barão de Iguape e o Conselheiro

Vergueiro, foram cuidadosamente ocultados. D.Pedro I e Duque de Caxias, são

considerados heróis pelos seus feitos e lutas, e nem se ouve falar em

autoritarismo e a quantidade de sangue derramada, enquanto que a luta dos

negros pela liberdade, como a de Zumbi, por exemplo, era, muitas vezes,

considerada ato de rebeldia por parte de muitos historiadores.

Aqui no Brasil, crianças brancas e negras aprendem sobre figuras e

fatos importantes de brancos – como Pedro Álvares Cabral e Tiradentes.

Porém pouco ou nada sabem sobre os descendentes de africanos, povo que

compõe metade da população brasileira. Se perguntar a uma criança branca

quais são seus heróis, líderes, sábios, ela saberá apontar alguns. A criança

negra, no entanto, terá dificuldade para identificar heróis negros, porque a

memória de seu grupo foi omitida ou deturpada.

Poucas crianças sabem que um dos principais escultores do Brasil, o

Aleijadinho, era negro, bem como o escritor Machado de Assis e o advogado

Luís Gama, os engenheiros Teodoro Sampaio e André Rebouças e tantos

outros personagens importantes do país. As estátuas, os monumentos, não

mostram os efeitos do povo negro. As festas na escola raramente comemoram

fatos históricos do povo negro. A forma como o negro é tratado pela Educação

pode levar a pelo menos duas conseqüências danosas:

• A criança negra não se reconhece no espaço escolar, e esse fato

influencia no aumento dos índices de atraso e evasão escolar dos negros.

Fúlvia Rosemberg (1985) afirmou que os maiores índices de atraso e evasão

escolar entre as crianças negras devem-se aos mecanismos de discriminação

racial presentes no sistema escolar.

• A criança negra forma uma idéia negativa sobre si própria e sobre

seus iguais.

Sem uma memória positiva, sem conhecer figuras de destaque de seu

povo e conquistas importantes no campo das artes, das ciências, a criança

negra tem muita dificuldade em formar uma imagem idem de seus iguais.

Conseqüentemente, não forma também uma imagem positiva de si próprias,

como negras. Suas famílias, muitas vezes, não conseguiram também formar a

imagem positiva de seu grupo negro e acabaram por reproduzir o preconceito

em casa. Por essa razão, estudiosos de povos que foram colonizados,

escravizados mostram que esse povo não tem um bom conceito de si e não se

valorizam, chegando a negar a sua cor, e se sentem envergonhados ao se

compararem ao grupo valorizado pela sociedade, no caso do Brasil, o branco.

Por conviver em uma sociedade, que os discrimina, que os associa

sempre a uma imagem negativa, muitos negros, internalizam uma imagem ruim

sobre seu povo e sobre si próprios, negando sua cor, criticando outros negros e

se esforçando para parecerem brancos. Chegam a se sentir inferiores e

perdem a autoconfiança, forjando assim o efeito mais perverso do racismo.

A lei proíbe a discriminação racial. Por isso o verdadeiro motivo para a

rejeição a um negro, em geral, é disfarçado com hipocrisia como: “Escolhemos

outro candidato com melhor qualificação”; “ A empresa resolveu adiar a

contratação”; “Aguarde nosso contato”, e outra preciosidades. Ai, esta a marca

do racismo brasileiro: o disfarce, a dissimulação, a ardilosidade. À medida que

a lei obriga o convívio com os negros, as pessoas começam a mudar a forma

de se afastar, sem deixar que a lei o flagre em infração.

Mais recentemente, contudo, estudo da História social, tem recuperado a

importância do negro como agente ativo no processo de formação da

sociedade brasileira, e ao contrario do método usado no passado, procura-se

recuperar o processo histórico, englobando a maioria das pessoas, as

diferentes formas de pensamento e de praticas de pessoas comuns. A

ampliação da autoconsciência e também da consciência sobre o racismo, por

influência de alguns movimentos negros e da convivência com outros negros e

brancos anti-racistas, tem feito com que os negros tenham cada vez mais

orgulho de sua raça. A educação é, como outras, uma fração do modo de vida

dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua

cultura, em sua sociedade. Formas de educação que produzem e praticam,

para que elas reproduzam, entre todos os que ensinam/aprendem, o saber que

atravessa as palavras da tribo, os códigos sociais de conduta, as regras do

trabalho, os segredos da arte ou da religião, do artesanato ou da tecnologia

que qualquer povo precisa para reinventar, todos os dias, a vida do grupo e a

de cada um de seus sujeitos, através de trocas sem fim com a natureza e entre

os homens, trocas que existem dentro do mundo social onde a própria

educação habita, e desde onde ajuda a explicar – às vezes a ocultar, a

necessidade da existência de sua ordem.

A constituição de 1988, que passou à história como uma constituição

cidadã, celebrou a transição para a democracia e marca, além disso, o

surgimento de uma sociedade civil forte e independente dos Estados no Brasil.

Os mais diversos movimentos sociais estiveram representados na constituinte

e lograram, de alguma maneira, que o novo texto constitucional contemplasse

suas demandas. Para o MNU (Movimento Negro Unificado), o momento da

Constituinte continha, alem disso, um sentido especial, porque era o ano em

que se comemorava os 100 anos de abolição de escravatura, fato que

propiciava ao movimento anti-racista uma legitimidade e um contexto político

particularmente favorável às suas mobilizações. Foi também neste ano, 1988,

que o presidente José Sarney, cria a Fundação Palmares, o primeiro órgão no

âmbito federal especializado no atendimento de demandas especificas da

população afro-descendente.

O estabelecimento de ensino terá que criar ações educativas de

combate ao racismo e a discriminação , uma consciência política e histórica da

diversidade, e um maior fortalecimento de identidades e de direitos, que

mostrem exigências de mudanças de mentalidades, de maneiras de pensar e

agir dos indivíduos em particular, assim como das instituições e de suas

tradições culturais.

Segundo RIBEIRO Matilde, (Diretrizes Curriculares Nacionais para a

educação das Relações Étnico-Raciais, 2005, p.16)

“ Mais um equivoco a superar é a crença de que a discussão sobre a questão racial se limita ao Movimento Negro e a estudiosos do tema e não à escola. A escola, enquanto instituição social responsável por assegurar o direito da educação a todo e qualquer cidadão, deverá se posicionar politicamente, como já vimos , contra toda e qualquer forma de discriminação. A luta pela superação do racismo e da discriminação racial, é, pois, tarefa de todo e qualquer educador, independentemente do seu pertencimento étnico-racial, crença religiosa ou posição política. O racismo, segundo o Artigo 5º da Constituição Brasileira, é crime inafiançável e isso se aplica a todos os cidadãos e instituições, inclusive, à escola.”(RIBEIRO, 2005, p.16.)

Mais um ponto que pode se esclarecer é o criado pela democracia racial

de que a ideologia do branqueamento só atinge os negros. São processos

estruturantes e constituintes da formação histórica e social brasileira, e estão

no imaginário social , atingindo negros, brancos e outros grupos étnicos-raciais.

As formas, os resultados e os níveis desses processos incidem de maneira

diferente sobre os diversos sujeitos e interpõem diferentes dificuldades nas

suas trajetórias de vida escolar e social. Por isso, a construção de estratégias

que visem ao combate do racismo é uma tarefa de todos os educadores,

independentemente do seu pertencimento étnico-racial.

CAPÍTULO IV

ONDE, QUANDO E O QUÊ ESTUDAR

Por mais que se diga que a perfeição não existe, pode-se questionar.

Ela existe e deve ser perseguida. O problema é que ela não se mantém

estática, sempre avançando, de que surge o desafio de sua busca permanente.

E, principalmente quando o objeto de ações é o ser humano, maior se torna

essa mobilidade, essa inconstância. E quando o meio de se atingir o ser

humano é a educação, percebe-se uma relação mais intrínseca, cujos pólos se

interligam, sendo eles causa e conseqüência, alternando-se nestas funções,

num círculo vicioso. Assim, uma corrente se forma entre ambos, cujos elos

serão o educando, entendendo-se este termo como aluno e/ou professor, pois

este também se educa permanentemente, no ato de educar o próximo. Como

se trata de evolução constante na educação, o “educador”, strictu sensu, ou

seja, o professor, deve-se educar(-se) para educar. Ou seja, aprender, não

necessariamente a, mas para ensinar. Ou seja, ensina-se para que o

conhecimento seja colocado em prática, o mesmo se dando, por extensão, com

a aprendizagem: aprende-se para ensinar. E, divagando mais ainda, aprende-

se a aprender. Se a aprendizagem não tiver utilidade – não for exposta, não se

dará como tal, ou seja, não terá praticidade. Conhecimento arquivado não se

dá nem mesmo com enciclopédias, já que estas são consultadas.

Sem dúvida, para assumir tais responsabilidades implica um

compromisso com o entorno sociocultural da escola, da comunidade onde esta

se encontra e a que serve, compromisso com cidadãos atuantes e

democráticos, capazes de compreender as relações sociais e étnico-raciais de

que participam e ajudam a manter e/ou a reelaborar, de decodificar palavras,

fatos e situações a partir de diferentes perspectivas, de desempenhar-se em

áreas de competências que lhes permitam continuar e aprofundar seus estudos

com diferentes níveis de formação.

Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das

Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura-Brasileira e

Africanas, p. 18,

“ Caberá, aos sistemas de ensino, às mantenedoras, à coordenação pedagógica dos estabelecimentos de ensino e aos professores, com base no parecer, estabelecer conteúdos de ensino, unidades de estudos, projetos e programas, abrangendo os diferentes componentes curriculares. Caberá, aos administradores dos sistemas de ensino e das mantenedoras prover as escolas, seus professores e alunos de material bibliográfico e de outros materiais didáticos, além de acompanhar os trabalhos desenvolvidos, a fim de evitar

que questões tão complexas, muito pouco tratadas, tanto na formação inicial como continuada de professores, sejam abordadas de maneira resumida, incompleta, com erros.”(Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação da Reações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura-Brasileira e Africana, p. 18, 2005. )

O ensino de Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana, evitando

distorções, envolverá articulações entre passado, presente e futuro no âmbito

de experiências, construções e pensamentos produzidos em diferentes

circunstâncias e realidades do povo negro. É um meio privilegiado para a

educação das relações étnico-raciais e tem por objetivos o reconhecimento e

valorização da identidade, história e cultura dos afro-brasileiros, garantia de

seus direitos de cidadãos, reconhecimento e igual valorização das raízes

africanas da nação brasileira, ao lado das indígenas, européias, asiáticas.

A questão recorrente a como ir além de posturas denunciadoras do

preconceito contra a identidade negra e incorporar elementos para sua

construção positiva, em políticas e práticas educacionais remete à necessidade

de compreensão dos mecanismos que participam da construção da identidade

negra, de forma a incorporá-los dentro de um quadro educacional que busque

ir além da homogeneização cultural ou "cegueira racial", mas que, ao mesmo

tempo, não recaia em perspectivas meramente folclóricas, em que a

diversidade cultural (incluindo a diversidade racial) sejam tratadas de forma

"exótica", circunstancial.

No caso do IBGE, o padrão utilizado para definir e identificar a

população negra parece ser o da cor, entendida como sinônimo de raça, com

as tonalidades que variam entre preta, parda, branca ou amarela, em contraste

com o universo de 136 tonalidades com as mais variadas terminologias,

empregadas pela população propriamente dita (Schwarcz, 2001). Para

complexificar a discussão, é importante notar que a categoria raça -

pressuposto da determinação biológica - foi derrubada pelos resultados do

projeto GENOMA (destinado ao mapeamento e deciframento do código

genético humano), destituindo-se o conceito de seu status de cientificidade e

neutralidade biológica. Entretanto, é interessante notar que alguns autores, tais

como Guimarães (1999), defendem seu uso e incorporação pelas Ciências

Sociais, a partir de sua compreensão como categoria socialmente construída e

não biologicamente pré-determinada. Nesse sentido, similarmente aos

pressupostos multiculturais, a idéia da categoria racial como construção,

remete-a a um outro patamar: ser negro, embora possa ter componentes

biológicos, não se esgota nos mesmos - é parte de uma construção identitária,

em que a identificação racial é social e culturalmente construída.

O ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana se fará por

diferentes meios, em atividades curriculares ou não, em que se explicitem,

busquem compreender e interpretar, na perspectiva de que formulem

diferentes formas de expressão e de organização de raciocínios e

pensamentos de raiz da cultura africana, promovendo oportunidades de

diálogos em que se conheçam, se ponham em comunicação diferentes

sistemas simbólicos e estruturas conceituais, bem como se busquem formas de

convivência respeitosa, alem da construção de projeto de sociedade em que

todos se sintam encorajados a expor, defender sua especificidade étnico-racial

e a buscar garantias para que todos os façam , incentivando atividades em que

pessoas, estudantes, professores, servidores, integrantes da comunidade

externa aos estabelecimentos de ensino, de diferentes culturas interatuem e se

interpretem reciprocamente, respeitando os valores, visões do mundo,

raciocínios e pensamentos de cada um.

O que se deve ensinar na Escola – e demais ambientes onde a

aprendizagem ocorra – é o respeito a si mesmo. Esse respeito anuncia a sua

constante evolução, que se dá através de troca. Troca de informações,

sobretudo. Está-se no tempo da informação, do conhecimento. E informação

ocorre em via de mão dupla, como já se disse. Neste processo, a crítica e a

auto-crítica são fundamentais. Todavia, há limites para ambas. O que traça tais

limites são o respeito e a admiração. A si e ao outro. Ao que é seu e ao que é

de outrem.

Que isso é conseqüência de políticas mal formuladas pelas áreas

responsáveis, tanto em esferas municipais, quanto estaduais e federais, não se

questiona. Todavia, há nuances da “performance” da educação que se referem

especificamente ao professor; há determinados “erros” que compete ao

professor corrigir. Se tal não lhe foi passado quanto de sua habilitação para o

exercício do Magistério - devidamente questionada -, o aperfeiçoamento na

área de atuação é de sua responsabilidade. Daí provém o chamado

“sacerdócio” do magistério, tão impropriamente questionado. É-se profissional,

acima de tudo; porém, exatamente por sê-lo, cobra-se do mesmo uma maior

dedicação, uma busca constante de evolução, devidas, especialmente, à sua

área de atuação: a formação do ser humano. Não obstante, ter-se-á uma

escala crescente, avassaladora, de seres incompetentes, que se reproduzirão.

Faz-se necessário “quebrar” tal corrente. Este papel é dos governos, sem,

entretanto, descartar a fundamental participação do professor.

O ensino de Historia Afro-Brasileira, se desenvolverá no cotidiano das

escolas, nos diferentes níveis e modalidades de ensino, como conteúdos de

disciplinas, particularmente Educação Artística, Literatura e História do Brasil,

sem prejuízo das demais, em atividades curriculares ou não, trabalhos em sala

de aula, nos laboratórios de ciências e de informática, na utilização de sala de

leitura, biblioteca, brinquedoteca, áreas de recreação, quadra de esportes e

outros ambientes escolares. Abrangerá, entre outros conteúdos, iniciativas e

organizações negras, incluindo a historia dos quilombos, a começar pelo de

Palmares, e de remanescentes de quilombos que tem contribuído para o

desenvolvimento de comunidades, bairros, localidades, municípios e regiões,

com destaque para acontecimentos e realizações próprias de cada região e

localidade.

Algumas datas significativas serão devidamente assinadas. O 13 de

maio, Dia Nacional de Denuncia contra o racismo, será tratado como o dia de

denúncia das repercussões das políticas de eliminação física e simbólica da

população afro-brasileira no pós-abolição, e de divulgação dos significados da

Lei Áurea para os negros. O dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência

Negra, também será lembrado, entendendo-se consciência negra em termos

explicitados anteriormente. Entre outras datas de significado histórico e político,

será assinalado o dia 21 de março, Dia Internacional de Luta pela eliminação

da Discriminação Racial.

Em historia da África, tratada em perspectiva positiva, não só de

denúncia da miséria e discriminações que atingem o continente, nos tópicos

pertinentes se fará articuladamente com a historia dos afrodescendentes no

Brasil e serão abordados temas relativos ao papel dos anciãos e dos griots

como guardiões da memória histórica, à historia da ancestralidade e

religiosidade africana, aos núbios e aos egípcios, civilizações que contribuíram

decisivamente para o desenvolvimento da humanidade, às civilizações e

organizações políticas pré-coloniais, como o reino de Mali, do Congo e do

Zimbabwe, ao tráfico e à escravidão do ponto de vista dos escravizados, ao

papel de europeu, de asiáticos e também de africanos no tráfico.

Será destacado no ensino de Cultura Afro-Brasileira o jeito próprio de se

viver e pensar manifestado tanto no dia-a-dia quanto em celebrações como

congadas, moçambiques, ensaios, maracatus, rodas de samba, entre outras.

Abrangerá ainda as contribuições do Egito para a ciência e filosofia ocidental,

as universidades africanas de Timbuktu, Gao, Djene que floresciam no século

XVI, as tecnologias de agricultura, de beneficiamento de cultivo, de mineração

edificações trazidas pelos escravizados, bem como a produção cientifica,

artística (artes plásticas, literatura, música, dança, teatro ), política, na

atualidade.

Esse estudo se fará por diversos meios, inclusive, a realização de

projetos de diferentes natureza, no decorrer do ano letivo, com vistas a

divulgação e ao estudo de participação dos africanos e de seus descendentes

em episódios da história do Brasil, na construção econômica, social e cultural

da nação, destacando-se a atuação de negros em diferentes áreas do

conhecimento, de atuação profissional, de criação tecnológica e artística, de

luta social, tais como: Zumbi, Luiza Nahim, Aleijadinho, Padre Mauricio, Luiz

Gama, Cruz e Souza, João Cândido, André Rebouças, Teodoro Sampaio, José

Correa Leite, Solano Trindade, Antonieta de Barros, Edison Carneiro, Lélia

Gonzáles, Beatriz Nascimento, Milton Santos, Guerreiro Ramos, Clóvis Moura,

Abdias do Nascimento, Henrique Antunes Cunha, Tereza santos, Emmanuel

Araújo, Cuti, Alzira Rufino, Inaicyra Falcão dos Santos, entre outros). Em se

tratando de episódios mundiais. Citar-se-ão entre outros: rainha Nzinga,

Toussaint-L’Ouverture, Martin Luther King, Malcom X, Marcus Garvey, Aimé

Cesaire, Léopold Senghor, Mariama Ba, Amílcar Cabral, Cheik Anta Diop,

Steve Biko, Nelson Mandela, Aminata Traoré, Christiane Taubira ).

Para que este estudo seja feito com qualidade, os sistemas de ensino e

os estabelecimentos de educação Básica, nos níveis de Educação Infantil,

Educação Fundamental, Educação Media, Educação de Jovens e Adultos,

Educação Superior, precisarão providenciar um registro da história não contada

dos negros brasileiros, tais como em remanescentes de quilombos,

comunidades e territórios negros urbanos e rurais, apoio sistemático aos

professores na elaboração de planos, projetos, seleção de conteúdos e

métodos de ensino, cujo foco principal seja a História e Cultura Afro-Brasileira e

Africana, mapeamento e divulgação de experiências pedagógicas de escolas,

estabelecimentos de ensino superior, secretarias de educação, assim como

levantamento das principais dúvidas e dificuldades. Também será necessário

encaminhamento de medidas para resolver os problemas enfrentados pela

administração dos sistemas de ensino e por Núcleos de estudos Afro-

Brasileiros; instalação de grupo de trabalho para discutir e coordenar

planejamento e execução de cursos de formação de professores e outros

profissionais da educação, para atender ao disposto no parecer, análise das

relações sociais e raciais no Brasil, de conceitos e de suas bases teóricas, tais

como o racismo, discriminações, intolerância, preconceito, estereotipo, raça,

etnia, cultura, classe social, diversidade, diferença, multiculturalismo, incluindo

praticas pedagógicas, materiais e textos didáticos, na perspectiva da

reeducação das relações étnico-raciais e do ensino e aprendizagem da História

e Cultura dos Afro-Brasileiros e dos Africanos.

Faz-se necessário, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação da Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura-

Brasileira e Africana, p.24,

Previsão, nos fins, responsabilidades e tarefas dos conselhos

escolares e de outros órgãos colegiados, do exame e

encaminhamento de solução para situação de racismo e de

discriminações, buscando-se criar situações educativas em

que as vitimas recebam apoio requerido para superar o

sofrimento e os agressores, orientação para que

compreendam a dimensão do que praticaram e ambos,

educação para o reconhecimento, valorização e respeito

mutuo. (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação da

Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura-

Brasileira e Africana, p.24,2005).

Também é necessário um maior incentivo por parte dos sistemas de

ensino a pesquisas sobre processos educativos orientados por valores, com

uma nova visão do mundo, conhecimentos afro-brasileiros e indígenas com o

objetivo de ampliação e fortalecimento de bases teóricas para a educação

brasileira, em que ocorrerá uma coleta de informações sobre a população

negra, com vistas à formulação de políticas públicas de estado, comunitárias e

institucionais.; divulgação de bibliografia afro-brasileira e de outros materiais

como mapas da diáspora, da África, de quilombos brasileiros, fotografias de

territórios negros urbanos e rurais, reprodução de obras de artes afro-brasileira

e africana a serem distribuídos nas escolas da rede, com vistas à formação de

professores e alunos para que aja o combate à discriminação e ao racismo;

adequação dos mecanismos de avaliação das condições de funcionamento dos

estabelecimentos de ensino, tanto da educação básica quanto superior, ao

disposto no parecer, com a inclusão de formulários, preenchidos pelas

comissões de avaliação, nos itens relativos a currículo, atendimento aos

alunos, projetos pedagógicos, plano institucional de quesitos que contemplem

as orientações exigidas pela lei.

Segundo SANTOS, Rafael Sânzio Araújo, coordenador do Centro de

Cartografia Aplicada e Informação Geográfica da UnB (revista Nova Escola,

novembro de 2005). A África pode ser estudada e mostrada não como um país,

e sim como um continente . “há uma tendência em falar da África como se

todos que ali vivem tivessem os mesmos hábitos e tradições”, e para

comprovar o que afirma, sugere que, durante a aula, o professor localize em

mapas os diversos povos que vieram para o Brasil e as riquezas de cada

região, como as minas de ouro e diamante. Com esta exploração feita nos

mapas, a turma entenderá melhor um dos motivos da exploração. A cultura

africana oferece elementos relacionados a todas as áreas do conhecimento.

Sendo assim fica fácil, para cada professor levar um pouco da África para sua

sala de aula, ou em seu plano de ensino. Pode-se sugerir material que poderão

ser incluídos nas áreas de Geografia, Atualidades, História, Ciências Naturais,

Matemática, Língua Estrangeira e Portuguesa sem falar nas Artes e a

Educação Física.

No infográfico da revista Nova Escola de novembro de 2005, págs 46 e

47, o professor do Ensino Médio Jorge Euzébio Assumpçãp, do Colégio

Estadual Presidente Arthur da Costa e Silva, em Porto Alegre, afirmou que o

continente africano era dividido em reinos antes da chegada dos europeus.

Livros, internet e textos produzidos pelo professor Assumpção, são fonte para

estudantes perceberem a estrutura social e política dos diversos povos. O reino

do Congo, por exemplo, era dividido em aldeias familiares, distritos e províncias

e todos os governadores eram conselheiros do rei. No império de Gana, os

monarcas se reuniam todos os dias com os súditos para papear, ouvir

reclamações e tomar decisões. “ A tradição oral era forte nas culturas

africanas, mas os povos também sabiam ler, escrever e viviam em cidades

desenvolvidas”, destaca Assumpção.

Ao falar sobre os diversos povos, é possível destacar as contribuições de

cada um para a economia do Brasil Colônia. “Eles trouxeram para cá a melhor

tecnologia dos trópicos”, informa Rafael. Tanto que os donos das terras

encomendavam aos mercadores mão-de-obra especializada para a atividade

de seus domínios. Muita gente não sabe mais instrumentos como a enxada, o

arado e algumas técnicas de irrigação vieram para o Brasil com os negros.

Durante os séculos XIV e XV, foram trazidos para o Brasil, alguns habitantes

do Império de Mali, com técnicas de plantio e de irrigação por canais, o que

favoreceu a expansão da agricultura, principalmente durante os ciclos da

cultura de açúcar e do café.

Há 7 milhões de anos houve a separação entre a linhagem do macaco e

do que viria a ser o homem mais tarde. Os fósseis mais antigos de nossos

ancestrais humanos foram encontrados no Vale da Grande Fenda, formação

que atravessa a Etiópia o Quênia e a Tanzânia. Milhões de anos depois, o

Homo Erectus partiu dessa região e povoou a Ásia e a Europa, onde se

transformou em homem de Neanderthal. Os que continuaram na África

evoluíram para a espécie sapiens, que mais uma vez migrou, dizimando ou

substituindo os neandertais e os hominídeos asiáticos. E assim o planeta foi

povoado. A importância de mencionar isso ao abordar a evolução das

espécies, em Ciências Naturais está no fato de esclarecer que biologicamente

todos os seres humanos são parecidos e as pequenas diferenças físicas não

interferem na capacidade intelectual, ajudando também a desmontar o falso

embasamento cientifico que subdividiu a humanidade em raças, no século XIX,

e que perduram até hoje.

Ao conhecer a cultura egípcia, os alunos logo começam a se maravilhar

com as gravuras que retratam a construção de monumentos, como as

pirâmides, encantando-se com os triângulos, tentando estimar a quantidade de

pessoas que trabalharam na obra e de tijolos usados. Essa interpretação feita

pelos alunos é pura Matemática, onde alguns símbolos egípcios ajudam a ler

imagens e onde pode ser usado como interdisciplinar, no estudo do corpo

humano. Na área de Língua Estrangeira, o Reggae, pode ser muito bem

aproveitado, através de letras de músicas do afro-descendente jamaicano Bob

Marley, por exemplo, e de outros cantores negros e textos em inglês sobre a

vida de lideranças como os americanos Malcom X e Martin Luther King,

fazendo com que o aprendizado se aproxime cada vez mais dos afro-

descendentes. Os falares africanos no Brasil, têm muita influência. Então, no

estudo da Língua Portuguesa pode-se pesquisar um pouco as centenas já

incorporadas ao nosso vocabulário, além, é claro, as lendas e históricas

africanas que tratem da diversidade e que não são poucas, as milhares de

47

poesias que trata a cultura negra com leveza e beleza como “O laço de fita” e

“O navio negreiro” do grande “poeta dos escravos”, Castro Alves. Vários são os

livros como “Menina bonita do laço de fita”, de Ana Maria Machado, e “O

passaro-da-chuva”, de Kersti Chaplet , que poderão ser usados para atividades

de leitura e escrita. Pessoa da comunidade podem ser convidadas a contar

histórias de sua vida, informações que poderão ser transformadas em textos.

Como a cultura dos povos africanos é pouco conhecida entre nós, é fácil

se deslumbrar com o diferente e esquecer de dar valor às culturas africanas em

sua essência o que muitas vezes, torna-se um desafio não revelar o

preconceito e nem cair no encantamento do exótico. Na disciplina de Artes e

Educação Física, usam-se muitos elementos da cultura dos povos africanos,

trabalhando também conceitos de arte abstrata e geometria , através das

danças, mitos , adereços e mascaras, relacionando essas produções às

manifestações artísticas do continente europeu. Para disciplina que se dedica à

educação do corpo, brincadeiras que privilegiam as competições em equipe,

como exemplo tem oiitop, o mbube-mbube (ou o tigre e o impala ) a mamba, e

jogos como o yote e a mancala. Pode se iniciar contando a história do jogo e os

valores da cultura africana presentes em cada um.

A cada órgão normativo cabe, pois, a tarefa de adequar o proposto no

parecer à realidade de cada sistema de ensino. E, a partir daí, deverá ser

competência dos órgãos executores, administrações de cada sistema de

ensino, das escolas, definir estratégias que quando postas em ação,

viabilizarão o cumprimento efetivo da Lei de Diretrizes e Bases que estabelece

a formação básica comum, o respeito aos valores culturais, como princípios

constitucionais da educação tanto da dignidade da pessoa humana,

garantindo-se a promoção do bem de todos, sem preconceitos, a prevalência

dos direitos humanos e repúdio ao racismo .

CONCLUSÃO

Cumprir a lei é responsabilidade de todos e não apenas do professor em

sala de aula. No plano político, a questão racial, ocupa um espaço crescente

na mídia e nos debates públicos. De simples contravenção penal, o racismo

passou a ser considerado crime. Nas Universidades, cresce o número de

professores e pesquisadores negros que se ocupam de revisar e criticar as

produções cientificas que serviram somente à reprodução do racismo. Agora já

é uma realidade: a cultura africana faz parte do currículo. O pouco caso que se

fazia com o segundo maior continente do planeta, e que se refletia em sala de

aula e deixava de lado a noção de diversidade de nosso povo, minimizava a

importância dos afro-descendentes, agora é passado. Sabe-se que uma

norma apenas não muda a realidade de imediato, mas pode ser um impulso

para trabalhar em sala de aula um conteúdo novo, rico em conhecimentos,

valores e assim reparar um pouco das injustiças que se tem cometido até

agora, diminuindo o preconceito e a discriminação em nossa sociedade.

Educar é um ato, acima de tudo, de responsabilidade social. Acima da

pessoal. Encontra-se em jogo o futuro de pessoas, senão de nações.Todo

profissional da educação deve ser, acima de tudo, ousado e comprometido.

Não pode se ater a teorias que lhe foram repassadas quando de sua formação.

Estas sempre se encontram ultrapassadas, inadequadas sempre para o

momento de sua aplicação. É preciso estudar sempre,repensar, ampliar

conceitos, fazendo de sua formação apenas a base para a aquisição de novos

comportamentos no exercício do magistério, de acordo com a especificidade de

cada sociedade em que o mesmo é exercido. Cada uma tem diferentes

características, comportamentos. E necessidades. Educa-se diversamente,

para as diversidades. Hoje, não interessa o nível que cada cidadão irá

alcançar. Cultura não é pode ser considerado algo concreto, mensurável.

Muito mais que isso, o conteúdo a ser ministrado, deve-se não só estabelecer

objetivos finais variados, mas também pontos de partida e caminhos idem. E,

para tal, é essencial usar o conhecimento de que o aluno dispõe. E quanto

mais diversificado, mais natural em sua vida, mais autêntico, próprio e efetivo.

A valorização de sua cultura cria no aluno a vontade de preservá-la; para

preservá-la, precisa conhecê-la mais; para conhecê-la mais, precisa discuti-la,

expô-la, compará-la.

Compete à Escola incentivar a preservação da cultura própria de cada

um, pois, denegrindo-a, torna-se incoerente, já que prega autenticidade,

respeito, convivência, e não pode, então, exercitar segregação, discriminação,

preconceito, criticando a ditadura em seus mais variados aspectos, mas,

paradoxalmente, ministrando conteúdos “importados”, usando nível de

linguagem inacessível ao aluno, desconhecido até mesmo dos professores,

haja vista os erros gramaticais que os mesmos cometem, na ânsia de “falar

bonito e bem”, em um arroubo de hipercorreção. Mas não é apenas o respeito

à cultura popular o que se prega neste trabalho; é a sua real utilização como

estratégia de ensino/aprendizagem.

Assim, conclui-se que a educação é a mola que move e sustenta o

progresso: individual e coletivo. É a arma de que se dispõe para enfrentar as

barreiras sócio-econômico-políticas que tanto afligem o mundo na atualidade.

Quaisquer problemas devem e podem ser enfrentados e extirpados através da

educação. Então, esta merece estudos mais práticos e menos teóricos; mais

efetivos e menos “belos”; mais simples e menos “chamativos”; mais respeitosos

e menos preconceituosos. Para tanto, fazem-se necessários não alunos

“diferentes”, como tanto se prega em outros termos, mas profissionais

“diferentes”, realmente pensadores, paradoxalmente apaixonados e racionais.

Que trabalhem com projetos, ou seja, a cada ação se movam a partir de

estratégias bem pensadas, discutidas, definidas, que sejam objeto de

avaliação constante quanto a sua aplicabilidade e efetividade. Que sejam

desafiadores, questionadores. Que ousem enfrentar a pecha de incompetentes,

de descompromissados, mercenários. Que se coloquem no mesmo patamar do

aluno: educandos.

BIBLIOGRAFIA

AGIER, Michel . Espaço urbano, família e status social. O novo operariado baiano nos seus bairros. 1990.Cadernos CRH (Salvador)

AZEVEDO, Thales. Cultura e situação racial no Brasil. 1966. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

BENTO,Maria Aparecida Silva. Cidadania em Preto e Branco. Ática. 3ªed. 2003

BERGERON, Louis. Níveis de Cultura e Grupos Sociais. Martins Fontes, Lisboa(PORT), 7ª, 1967

BOSI, Alfredo. Cultura Brasileira. Temas e Situações. Ática. 1987. 8ªed. São Paulo

CARNEIRO, Manuela. Negros e estrangeiros. Brasiliense. 1985. São Paulo

CHOR Maio, Marcos e Ricardo Ventura Santos. Raça, ciência e sociedade. eds. 1996. Rio de Janeiro: Ed. da Fiocruz.

DANTAS, Beatriz Góis. Vovó Nagô e Papai Branco. Uso e abuso da África no Brasil.1988. Rio de Janeiro: Graal.

GUIMARÃES, A. S. A. Racismo e Anti-Racismo no Brasil. 1999. São Paulo: Ed. 34.

HALL, S. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva & Guacira Lopes Louro. 1997. Rio de Janeiro: DP&A Editora.

NABUCO, Joaquim. A Escravidão. Nova Fronteira. 1999. São Paulo.

SILVA, Vagner Gonçalves. Orixás da metrópole. 1995. Petrópolis: Vozes.

VASCONCELOS, Gilberto F. cultura no Período Colonial. Brasiliense. 1983.5ªed. São Paulo.

DIRETRIZES Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico- Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília (DF), 2005.

REIS, João. Rebelião escrava no Brasil: a história dos levantes dos malês 1986. S.Paulo: Brasiliense.

REVISTA RAÇA BRASIL – Símbolo Ed., São Paulo, 88, 2005.

REVISTA NOVA ESCOLA – Ed. Abril, Fundação Victor Civita, 187, 2005.

RODRIGUES, Raymundo Nina. Os Africanos no Brasil. 1932. São Paulo: Editora. Ática

TRINDADE, A Multiculturalismo: mil e uma faces da escola. 1999. Rio de Janeiro: DP&A Editora.

ANEXO I

UM JOGO DE TABULEIRO QUE VEIO DA ÁFRICA

O kalah, desenvolve a atenção, a concentração e a capacidade da

criançada, pois uma jogada errada se transforma em vantagem para o

adversário. A capacidade de antecipação é outra importante competência que

os alunos adquirem. O objetivo dos competidores é acumular o maior numero

de sementes, mas nem sempre a melhor jogada é a que possibilita conseguir

uma grande quantidade delas de uma só vez . Pode ser jogado

individualmente ou até por quatro pessoas, e é composto pelo mesmo tipos de

peças – um tabuleiro de madeira com covas e sementes populares da África. É

indicado para crianças a partir de 6 anos de idade. Durante a brincadeira, os

pequenos vão ficar craques na contagem, já que precisam controlar as

sementes a cada jogada. Depois de assimilar as regras, deverão ser criadas

situações-problemas para os participantes, como dispor as peças no tabuleiro

e perguntar qual é a próxima jogada.

Regras do jogo:

A cada jogada participam duas crianças uma sentada de frente para a

outra e tendo o tabuleiro entre elas. Cada jogador fica com um lado do

tabuleiro e com um potinho à sua direita (chamada de casa de acumulação ou

reservatório). São colocadas três sementes em cada cova. O primeiro jogador

pega as sementes de uma delas e as redistribui, uma por cova, no sentido anti-

horário. Sempre que o percurso incluir o próprio reservatório, ele deposita aí

uma semente - que passa a pertencer apenas a ele. Ao passa pelo

reservatório adversário, o jogador não coloca sementes. Toda vez que a ultima

semente cair no reservatório da própria criança, ela joga de novo. Ela pode

partir de qualquer cova de seu campo. Há outra maneira de se apropriar de

sementes. Quando a ultima semente do monte que está sendo distribuído cair

em uma cova vazia do próprio campo, o jogador pode pegar todas as

sementes que estão na cova da frente, no campo do adversário. O jogo

termina quando as sementes já estiverem nos reservatórios dos jogadores ou

quando não houver mais sementes no próprio campo para jogar. Vence quem

acumular mais sementes.

ANEXO II

VISITA À COMUNIDADE DE ARTUROS

DATA: 01/03/2006 ~ 28/04/2006

LOCAL: Contagem, B.H.

PÚBLICO-ALVO: Alunos do ensino Fundamental e médio da

E.E. Dr. Antônio da C. Pereira.

DISCIPLINAS ENVOLVIDAS: História e Geografia

PROFESSORA RESPONSÁVEL: Maria Ivanildes Gonçalves da Silva Braga

COORDENADOR DA OFICINA: Erlane

JUSTIFICATIVA

A história da escravidão em Minas Gerais se caracterizou pela força da

presença da Igreja, criando-se aqui uma religiosidade negra de confraria. Num

contexto em que o poder eclesiástico se aliava tão definitivamente à ação do

Estado, o negro oprimido parecia fadado a perder seu universo mítico, adotando

o modelo europeu de conceptualização do mundo. Mas a resistência cultural do

homem negro criou espaços para a permanência e a reelaboração de seus

valores simbólicos, reinstalando-se nas Minas Gerais uma vivência de África: ao

viver o sagrado, em suas festas e ritos, o negro mineiro se alimenta de suas

raízes ancestrais. Os autores demonstram essa resistência, às vezes tão

sutilmente dissimulada, através do estudo da Comunidade dos Arturos, situada

em Contagem (MG). O perfil do negro Arturo revela uma experiência histórica

enriquecida pela religiosidade. Nas celebrações rituais e no cotidiano, os Arturos

vivenciam o percurso da fragmentação social (o escravismo e suas heranças) e

a conquista da plenitude existencial (quando o sagrado reintegra o homem ao

seu grupo social). A base interdisciplinar que orienta a coleta e a análise dos

dados soma-se à visão de mundo dos informantes para organizar um arcabouço

teórico capaz de enfocar os diversos aspectos da cultura popular como um

modelo alternativo, sistemático e significativo, experimentado pelo homem das

camadas sociais subalternas. A cultura afro-brasileira se encaixa no universo da

cultura popular, ao mesmo tempo em que se destaca por sua especificidade: a

luta contra o preconceito racial e a busca da auto-afirmação são situações que o

homem negro enfrenta para definir sua identidade social.

Arturos, uma comunidade formada há 110 anos. São todos descendentes

de Artur Camilo Silvério. Filho de escravos, criou a família em uma pequena vila,

na cidade de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Hoje, 430

pessoas ainda vivem aqui. E mantêm as tradições do Congado e da cultura

negra. As festas nos Arturos representam uma transição entre dois mundos: o

profano e o sagrado. No mundo cotidiano, os homens e as mulheres enterram-se

no duro trabalho para sobrevivência, mas, no mundo festivo, a comunidade tem

uma consciência coletiva sobre os Cosmos e as figuras religiosas. O homem

religioso que festeja retorna ao tempo das origens, reveste-se da força da

criação e, penetrando a eternidade, reencontra a plenitude. Alimentando na

fonte primordial, ele agrega em si a força dos antepassados e, quando retorna

ao tempo profano, tem condições de reintegrar-se temporariamente no cotidiano.

O projeto que se propõe tem como escopo a comunidade a que se

referiu, e como objetivo exatamente, não o resgate, mas o renascimento da

valorização das festas e culturas afro, assim como outras manifestações

artísticas injustamente marginalizadas, no currículo de cada graduando. Apesar

das dificuldades, ou mesmo graças a elas.

OBJETIVO GERAL

Apreciar e valorizar a cultura afro-brasileira inserida em contextos variados.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Incentivar os alunos a executarem o projeto.

• Inserir o estudo da cultura afro-brasileira no dia-a-dia dos alunos.

• Valorizar o trabalho de uma comunidade afro.

• Conhecer a história da comunidade de Arturos.

• Incentivar a busca da auto-afirmação que o homem negro enfrenta para

definir sua identidade social.

• Reconhecer a luta contra o preconceito racial .

• Valorizar a cultura afro-brasileira pela perspectiva mais educada e

libertada.

• Exercitar o resgate da auto-estima.

• Provocar o auto-conhecimento em relação à cultura africana.

ANTECEDENTES DO PROJETO “Visita a Comunidade de Arturos”

• Durante as três semanas que antecedem a apresentação do Projeto, para

os alunos do ensino fundamental e médio da E.E.Dr. Antonio da Cunha Pereira,

de Peçanha, haverá um trabalho de pesquisa de campo, associado, e intercalado,

ao estudo teórico do conteúdo formal sobre a África e a cultura afro. Este trabalho

será valorizado em 10 (dez) créditos.

ESTRATÉGIAS

Ø DA PESQUISA DE CAMPO

• Conhecer com a turma a história de Arturos.

• Pesquisar sobre sua vida e costumes.

• Estabelecer os critérios de avaliação da pesquisa, quais sejam.

Ø Observação dos critérios da realização da pesquisa.

Participação em todas as etapas da pesquisa.

ü Efetiva participação na socialização dos resultados da pesquisa.

ü Conhecimento adquirido em relação a:

o costumes

o crenças

o hábitos

o brincadeiras

• Paralelamente ao trabalho de pesquisa, questionar a utilização da cultura

afro nas demais disciplinas.

• Comentar o trabalho anterior, acentuando sua complexidade, provocando

o auto-conhecimento.

• Trabalho dirigido, através da historia de alguns personagens de Arturos,

incentivando a imaginação, através da produção individual.

• Uso da música, e a dança no dia-a-dia de cada integrante.

• Exibição de duas fitas de vídeo, destacando a cultura afro.

• Relatar fragmentos da história nacional, mundial, traçando a

comparações.

PROVIDÊNCIAS

• Providenciar a apresentação do Projeto para cada turma de alunos

participantes.

• Apresentar o Projeto para a Coordenação Escolar.

• Enviar convites aos demais professores da escola.

• Providenciar material e local para a exposição dos trabalhos realizados.

• Providenciar o que será questionado.

VALORAÇÃO

A valoração do Projeto se dará em:

• crédito de 10 (vinte) pontos de trabalho para cada participante.

AVALIAÇÃO

• a avaliação ocorrerá no decorrer do trabalho.

APÊNDICE I

TRAGÉDIA NO LAR

Castro Alves

Na Senzala, úmida, estreita,

Brilha a chama da candeia,

No sapé se esgueira o vento.

E a luz da fogueira ateia.

Junto ao fogo, uma africana,

Sentada, o filho embalando,

Vai lentamente cantando

Uma tirana indolente,

Repassada de aflição.

E o menino ri contente...

Mas treme e grita gelado,

Se nas palhas do telhado

Ruge o vento do sertão.

Se o canto pára um momento,

Chora a criança imprudente ...

Mas continua a cantiga ...

E ri sem ver o tormento

Daquele amargo cantar.

Ai! triste, que enxugas rindo

Os prantos que vão caindo

Do fundo, materno olhar,

E nas mãozinhas brilhantes

Agitas como diamantes

Os prantos do seu pensar ...

E voz como um soluço lacerante

Continua a cantar:

"Eu sou como a garça triste

"Que mora à beira do rio,

"As orvalhadas da noite

"Me fazem tremer de frio.

"Me fazem tremer de frio

"Como os juncos da lagoa;

"Feliz da araponga errante

"Que é livre, que livre voa.

"Que é livre, que livre voa

"Para as bandas do seu ninho,

"E nas braúnas à tarde

"Canta longe do caminho.

"Canta longe do caminho.

"Por onde o vaqueiro trilha,

"Se quer descansar as asas

"Tem a palmeira, a baunilha.

"Tem a palmeira, a baunilha,

"Tem o brejo, a lavadeira,

"Tem as campinas, as flores,

"Tem a relva, a trepadeira,

"Tem a relva, a trepadeira,

"Todas têm os seus amores,

"Eu não tenho mãe nem filhos,

"Nem irmão, nem lar, nem flores".

A cantiga cessou. . . Vinha da estrada

A trote largo, linda cavalhada

De estranho viajor,

Na porta da fazenda eles paravam,

Das mulas boleadas apeavam

E batiam na porta do senhor.

Figuras pelo sol tisnadas, lúbricas,

Sorrisos sensuais, sinistro olhar,

Os bigodes retorcidos,

O cigarro a fumegar,

O rebenque prateado

Do pulso dependurado,

Largas chilenas luzidas,

Que vão tinindo no chão,

E as garruchas embebidas

No bordado cinturão. A porta da fazenda foi aberta;

Entraram no salão.

Por que tremes mulher? A noite é calma,

Um bulício remoto agita a palma

Do vasto coqueiral.

Tem pérolas o rio, a noite lumes,

A mata sombras, o sertão perfumes,

Murmúrio o bananal.

Por que tremes, mulher? Que estranho crime,

Que remorso cruel assim te oprime

E te curva a cerviz?

O que nas dobras do vestido ocultas?

É um roubo talvez que aí sepultas?

É seu filho ... Infeliz! ...

Ser mãe é um crime, ter um filho - roubo!

Amá-lo uma loucura! Alma de lodo,

Para ti - não há luz.

Tens a noite no corpo, a noite na alma,

Pedra que a humanidade pisa calma,

- Cristo que verga à cruz!

Na hipérbole do ousado cataclisma

Um dia Deus morreu... fuzila um prisma

Do Calvário ao Tabor!

Viu-se então de Palmira os pétreos ossos,

De Babel o cadáver de destroços

Mais lívidos de horror.

Era o relampejar da liberdade

Nas nuvens do chorar da humanidade,

Ou sarça do Sinai,

- Relâmpagos que ferem de desmaios...

Revoluções, vós deles sois os raios,

Escravos, esperai! ...

Leitor, se não tens desprezo

De vir descer às senzalas,

Trocar tapetes e salas

Por um alcouce cruel,

Que o teu vestido bordado

Vem comigo, mas ... cuidado ...

Não fique no chão manchado,

No chão do imundo bordel.

Não venhas tu que achas triste

Às vezes a própria festa.

Tu, grande, que nunca ouviste

Senão gemidos da orquestra

Por que despertar tu'alma,

Em sedas adormecida,

Esta excrescência da vida

Que ocultas com tanto esmero?

E o coração - tredo lodo,

Fezes d'ânfora doirada

Negra serpe, que enraivada,

Morde a cauda, morde o dorso

E sangra às vezes piedade,

E sangra às vezes remorso?...

Não venham esses que negam

A esmola ao leproso, ao pobre.

A luva branca do nobre

Oh! senhores, não mancheis...

Os pés lá pisam em lama,

Porém as frontes são puras

Mas vós nas faces impuras

Tendes lodo, e pus nos pés.

Porém vós, que no lixo do oceano

A pérola de luz ides buscar,

Mergulhadores deste pego insano

Da sociedade, deste tredo mar.

Vinde ver como rasgam-se as entranhas

De uma raça de novos Prometeus,

Ai! vamos ver guilhotinadas almas

Da senzala nos vivos mausoléus. - Escrava, dá-me teu filho!

Senhores, ide-lo ver:

É forte, de uma raça bem provada,

Havemos tudo fazer.

Assim dizia o fazendeiro, rindo,

E agitava o chicote...

A mãe que ouvia

Imóvel, pasma, doida, sem razão!

À Virgem Santa pedia

Com prantos por oração;

E os olhos no ar erguia

Que a voz não podia, não. - Dá-me teu filho! repetiu fremente

o senhor, de sobr'olho carregado.

- Impossível!...

- Que dizes, miserável?!

- Perdão, senhor! perdão! meu filho dorme...

Inda há pouco o embalei, pobre inocente,

Que nem sequer pressente

Que ides...

- Sim, que o vou vender!

- Vender?!. . . Vender meu filho?!

Senhor, por piedade, não

Vós sois bom antes do peito

Me arranqueis o coração!

Por piedade, matai-me! Oh! É impossível

Que me roubem da vida o único bem!

Apenas sabe rir é tão pequeno!

Inda não sabe me chamar? Também

Senhor, vós tendes filhos... quem não tem?

Se alguém quisesse os vender

Havíeis muito chorar

Havíeis muito gemer,

Diríeis a rir - Perdão?!

Deixai meu filho... arrancai-me

Antes a alma e o coração!

- Cala-te miserável! Meus senhores,

O escravo podeis ver ...

E a mãe em pranto aos pés dos mercadores

Atirou-se a gemer.

- Senhores! basta a desgraça

De não ter pátria nem lar, -

De ter honra e ser vendida

De ter alma e nunca amar!

Deixai à noite que chora

Que espere ao menos a aurora,

Ao ramo seco uma flor;

Deixai o pássaro ao ninho,

Deixai à mãe o filhinho,

Deixai à desgraça o amor.

Meu filho é-me a sombra amiga

Neste deserto cruel!...

Flor de inocência e candura.

Favo de amor e de mel!

Seu riso é minha alvorada,

Sua lágrima doirada

Minha estrela, minha luz!

É da vida o único brilho

Meu filho! é mais... é meu filho

Deixai-mo em nome da Cruz!...

Porém nada comove homens de pedra,

Sepulcros onde é morto o coração.

A criança do berço ei-los arrancam

Que os bracinhos estende e chora em vão!

Mudou-se a cena. Já vistes

Bramir na mata o jaguar,

E no furor desmedido

Saltar, raivando atrevido.

O ramo, o tronco estalar,

Morder os cães que o morderam...

De vítima feita algoz,

Em sangue e horror envolvido

Terrível, bravo, feroz?

Assim a escrava da criança ao grito

Destemida saltou,

E a turba dos senhores aterrada

Ante ela recuou.

- Nem mais um passo, cobardes!

Nem mais um passo! ladrões!

Se os outros roubam as bolsas,

Vós roubais os corações! ...

Entram três negros possantes,

Brilham punhais traiçoeiros...

Rolam por terra os primeiros

Da morte nas contorções.

Um momento depois a cavalgada

Levava a trote largo pela estrada

A criança a chorar.

Na fazenda o azorrague então se ouvia

E aos golpes - uma doida respondia

Com frio gargalhar! ...

APÊNDICE II

LAVAGEM CEREBRAL

Gabriel, O Pensador

Racismo preconceito e discriminação em geral

É uma burrice coletiva sem explicação

Afinal que justificativa você me dá para um povo que precisa de união

Mas demonstra claramente

Infelizmente

Preconceitos mil

De naturezas diferentes

Mostrando que essa gente

Essa gente do Brasil é muito burra

E não enxerga um palmo à sua frente

Porque se fosse inteligente esse povo já teria agido de forma mais consciente

Eliminando da mente todo o preconceito

E não agindo com a burrice estampada no peito

A "elite" que devia dar um bom exemplo

É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento

Num complexo de superioridade infantil

Ou justificando um sistema de relação servil

E o povão vai como um bundão na onda do racismo e da discriminação

Não tem a união e não vê a solução da questão

Que por incrível que pareça está em nossas mãos

Só precisamos de uma reformulação geral

Uma espécie de lavagem cerebral

Não seja um imbecil

Não seja um Paulo Francis

Não se importe com a origem ou a cor do seu semelhante

O quê que importa se ele é nordestino e você não?

O quê que importa se ele é preto e você é branco?

Aliás branco no Brasil é difícil porque no Brasil somos todos mestiços

Se você discorda então olhe pra trás

Olhe a nossa história

Os nossos ancestrais

O Brasil colonial não era igual a Portugal

A raiz do meu país era multirracial

Tinha índio, branco, amarelo, preto

Nascemos da mistura então porque o preconceito?

Barrigas cresceram

O tempo passou...

Nasceram os brasileiros cada um com a sua cor

Uns com a pele clara outros mais escura

Mas todos viemos da mesma mistura

Então presta atenção nessa sua babaquice

Pois como eu já disse racismo é burrice

Dê a ignorância um ponto final:

Faça uma lavagem cerebral

Negro e nordestino constróem seu chão

Trabalhador da construção civil conhecido como peão

No Brasil o mesmo negro que constrói o seu apartamento ou quelava o chão

de uma delegacia

É revistado e humilhado por um guarda nojento que ainda recebe osalário e o

pão de cada dia graças ao negro ao nordestino e atodos nós

Pagamos homens que pensam que ser humilhado não dói

O preconceito é uma coisa sem sentido

Tire a burrice do peito e me dê ouvidos

Me responda se você discriminaria

Um sujeito com a cara do PC Farias

Não você não faria isso não...

Você aprendeu que o preto é ladrão

Muitos negros roubam mas muitos são roubados

E cuidado com esse branco aí parado do seu lado

Porque se ele passa fome

Sabe como é:

Ele rouba e mata um homem

Seja você ou seja o Pelé

Você e o Pelé morreriam igual

Então que morra o preconceito e viva a união racial

Quero ver essa musica você aprender e fazer

A lavagem cerebral

O racismo é burrice mas o mais burro não é o racista

É o que pensa que o racismo não existe

O pior cego é o que não quer ver

E o racismo está dentro de você

Porque o racista na verdade é um tremendo babaca

Que assimila os preconceitos porque tem cabeça fraca

E desde sempre não para pra pensar

Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe ensinar

E de pai pra filho o racismo passa

Em forma de piadas que teriam bem mais graça

Se não fossem o retrato da nossa ignorância

Transmitindo a discriminação desde a infância

E o que as crianças aprendem brincando

É nada mais nada menos do que a estupidez se propagando

Qualquer tipo de racismo não se justifica

Ninguém explica

Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse lixo que é uma herança

cultural

Todo mundo é racista mas não sabe a razão

Então eu digo meu irmão

Seja do povão ou da "elite"

Não participe

Pois como eu já disse racismo é burrice

Como eu já disse racismo é burrice

Como eu já disse racismo é burrice

Como eu já disse racismo é burrice

Como eu já disse racismo é burrice

E se você é mais um burro

Não me leve a mal

É hora de fazer uma lavagem cerebral

Mas isso é compromisso seu

Eu nem vou me meter

Quem vai lavar a sua mente não sou eu

É você